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TCC o Fracasso Da Intervenção Norte-Americana No Afeganistão
TCC o Fracasso Da Intervenção Norte-Americana No Afeganistão
SÃO PAULO - SP
2022
GIOVANNA SCHIAVO VELASCO
SÃO PAULO - SP
2022
SUMÁRIO
RESUMO 1
INTRODUÇÃO 2
CONSIDERAÇÕES FINAIS 22
REFERÊNCIAS 24
1
RESUMO
ABSTRACT
The American intervention in Afghanistan took place after the attacks of September 11,
2001. With that, the American government acted in order to end Al-Qaeda and the
Taliban regime and, as of October of the same year, troops were sent to Afghanistan.
During the first months, the Taliban government was removed and in 2002, a
stabilization process began in Afghanistan, since for the past two decades the country
was marked by numerous conflicts that did not allow it for a government to develop.
Therefore, the objective of this project is to analyze how the twenty years of US
intervention were ineffective, by making a retrospective of the history of Afghanistan,
showing its complexity and the lack of results of the invasion itself.
INTRODUÇÃO
Tendo isso em vista, muito se tem contestado sobre o sucesso das iniciativas
norte-americanas no Afeganistão durante duas décadas no país, e esse é o objetivo
geral deste trabalho.
O tipo de pesquisa utilizada no presente artigo básico foi descritiva em relação aos
objetivos. Assim, para construir as hipóteses, a metodologia envolve a análise e o
estudo de dissertações e afins, ligados direta e indiretamente com o problema
pesquisado.
3
Em seguida nas considerações finais será mostrado como a retirada apressada dos
Estados Unidos, no final de agosto de 2021, quando comparada com os custos (tanto
materiais quanto humanos) da ocupação, representa a culminação de vinte anos de
esforços desperdiçados ou mal alocados.
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Todos esses fatores, aliados a uma história de guerras e divisões oriundas desde
a dinastia Timúrida e Mongol, acabaram por levar o Afeganistão a ser um Estado em
constante conflito, onde o povo precisou lutar contra tiranos nacionais e países
europeus tentando colonizar seu território.
Os Pashtuns são a etnia mais numerosa e ocupam a área mais extensa, ao sul
de Kandahar, possuindo uma língua própria, havendo tantos pashtuns no lado
paquistanês da fronteira, como no Afeganistão. Os Tadjiques (sunitas, incluindo
os Hymaks; 25-30% da população), os Uzebeques (7-10% da população), os
Turcomenos (menos de 2% da população) ocupam uma ampla faixa no norte
junto das fronteiras das repúblicas centro-asiáticas. Os Hazaras (xiitas; 10-15%
da população) ocupam o centro do país e acentuam a complexidade do quadro
afegão, quer pelas suas características físicas quer pelo fato de serem uma
minoria xiita num país maioritariamente sunita, tendo sido, por isso
marginalizados política e economicamente ao longo da história. Grupos
menores, como os Quirguizes, os Balouches, os nouristanis, os pamiris,
representam menos de 2% da população, por cada comunidade e espraiam-se
pelas fronteiras internacionais, testemunhos da arbitrariedade do antigo poder
colonial. (Baptista, 2006, p. 12)
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saída para o oceano Índico. Com isso, eclodem três guerras anglo-afegãs. A primeira
guerra (1839-1842) foi marcada por uma derrota inglesa, que tentou implantar seu
modelo colonial criando assim uma revolta armada. Já a segunda guerra (1878-1879),
foi desenvolvida por um conflito de influência de russos e ingleses, que foi finalizado
com o tratado de Gandamak (permitindo ao Reino Unido a implementação de uma
delegação na cidade de Cabul e uma orientação na política externa do Afeganistão).
(BAPTISTA, 2006, p. 6)
A União Soviética tomou controle do governo afegão por algum tempo, mas logo,
com o fim da Guerra Fria, retirou suas tropas do território, que estava dominado pelo
Talibã. (SALIBA, 2009, p. 389)
que ao longo do tempo, após a retirada da União Soviética do país, foi ganhando mais e
mais força globalmente, angariando apoio de várias comunidades muçulmanas ao redor
do planeta e entrando em conflitos contra regimes que eram considerados por eles
“Desviados do sentido real do Islã”. (AUREO, T.; MICHELLE, M, 2018, p. 10)
Após os eventos do conflito afegão, bin Laden retornou para a Arábia Saudita,
mas, com grande descontentamento, descobriu tropas ocidentais em território
muçulmano considerado sagrado. Após envolvimento com opositores do governo
saudita da época, bin Laden se tornou “persona non grata”, o que levou sua retirada do
país e sua ida ao Sudão, local onde ele encontrou espaço propício para o
assentamento do seu grupo e para o aumento de suas tropas, tudo isso, em acordo
com o governo sudanês, que recebeu de Osama um grande investimento financeiro
para infraestrutura do território. (AUREO, T.; MICHELLE, M, 2018, p. 11)
Após ser convidado a se retirar do Sudão pelo próprio governo sudanês por
pressão ocidental ocasionado pelos ataques às embaixadas americanas, Osama e seus
parceiros deixaram o país e foram de encontro ao Afeganistão, que na época já estava
completamente dominado pelo Talibã. (AUREO, T.; MICHELLE, M, 2018, p. 11)
complicado já que os dois lados tinham filosofias bem parecidas e um grande desgosto
com a forma com que o ocidente tratava os países islâmicos. Essa aliança foi fechada
por Osama bin Laden e Mullah Omar (Líder do Talibã na época), e o tratado deles
começou a ser tão vantajoso para o Talibã que, logo na segunda metade dos anos 90,
eles deram permissão para que a Al Qaeda criasse centros de treinamento para as
suas tropas a um custo anual médio de 25 milhões de dólares, ato que reforçava tanto a
independência de ambos os grupos, mas que, ao mesmo tempo, mostrava que o ator
dominante da região continuava sendo o Talibã. (AUREO, T.; MICHELLE, M, 2018, p.
11)
Como percebemos no capítulo anterior sobre a história afegã por duas décadas,
marcadas por guerras e conflitos dentro do território afegão - criou-se uma situação de
turbulência interna, e a partir de 2002 o Afeganistão começou seu processo de
estabilização visto que o país se encontrava com as infraestruturas políticas e
econômicas destruídas, uma vez que o governo nunca teve a chance de desenvolver
sua influência no país, diante de tantos conflitos e invasões. (FREITAS, 2009, p. 1)
Para o ex-embaixador dos EUA no Afeganistão, Ryan Crocker (2021), o pior dos
problemas era a corrupção endêmica dos americanos e a falta de reconhecimento
dessa problemática, pois com a corrupção a reconstrução da economia afegã beirava o
impossível. As reconstruções de rodovias, cidades e campos eram constantemente
paralisadas pela falta de verba e incompetência administrativa nos projetos
relacionados. (SIGAR, 2021, p. 13)
Casos assim eram bem recorrentes. Ano após ano, soldados americanos
acreditavam que, no seu ano de alocação no Afeganistão eles conseguiriam fazer a
diferença, mas no final de seu tempo de serviço, os melhores acabavam entregando
uma diferença mínima na situação em que foram alocados, o que escancarou a falha
americana em colocar as pessoas corretas em cargos chaves nos momentos certos,
visto que pessoas desqualificadas e com pouco treinamento eram constantemente
realocados para cargos que exigiam mais do que sua formação poderia assegurar ou
pela alta rotatividade do exército e a difícil retenção de pessoas realmente qualificadas,
o que prejudicava constantemente a hierarquia do exército. (SIGAR, 2021, p. 51)
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A ideia era criar um projeto sustentável de longo prazo, que não desperdiçasse
vidas americanas, afegãs e dinheiro, tanto na questão do combate, quanto na questão
da reconstrução do Afeganistão pós-conflitos, mas todas essas imprecisões de logística
e chefia acabavam com as chances de qualquer tentativa de melhoria. (SIGAR, 2021, p.
84)
Mesmo com uma alta taxa de investimento e relativa mão de obra, quase todos
os projetos americanos em solo afegão já estavam afetados pela falta de coordenação
e preparo. Isso, alinhado à falta de estrutura do país que perpetuou do começo ao fim
da intervenção, gerou a incapacidade dos planos de serem realizados da melhor
maneira possível. (LIMA, 2012, p. 65)
Parte das expectativas afegãs também eram baseadas em datas limites surreais
que eram apresentadas ao povo pelo exército americano (principalmente datas de
reconstruções). Essa pressa acabava criando várias situações passíveis de corrupção e
cortava exponencialmente a eficácia dos programas. (SIGAR, 2021, p. 87).
milhões de refugiados segundo a ACNUR até 2018. De acordo com o Poverty Status
Update do Banco Mundial, realizado entre 2013-2014, a taxa de desemprego estava em
22% e a de pobreza em 39%.
intervenções e guerras, no final de 2016 foi estimado que estavam em solo afegão
cerca de 25,197 pessoas terceirizadas junto a 9,800 soldados americanos, o que
mostra que nesse momento 72% da força americana era de serviço contratado.
(PALMER, 2018 ,p.7)
Por várias vezes seguidas, essas companhias militares privadas, que deveriam
representar a força americana e ajudar o povo afegão, se mostraram pouco
interessados em utilizar os métodos de auxílio do exército e se preocupavam mais em
utilizar a força bruta, acreditando poderem burlar as convenções, tratados e acordos de
guerra. (PALMER, 2018, p. 26)
Não é à toa que ao longo dos anos, a empresa (Blackwater) mudou de nome três
vezes, juntando a repercussão negativa dos relatos dos afegãos e de todas as ações
judiciais que envolvem exportação ilegal de armas e explosivos, ficaria quase
impossível para o governo americano contratar eles sem o mundo questionar o porque
deles ainda agirem aliados com essa milícia que age com extrema violência, falta de
ética e de respeito pelos direitos e pela vida humana das pessoas que eles deveriam
supostamente proteger. (PALMER, 2018, p. 26)
Por se tratar de um serviço bem mais barato para a máquina governamental do que
desenvolver e aprimorar a própria força militar e além disso a possibilidade de fugir de
responsabilidade pelos atos desses agentes militares terceirizados cada vez mais essa
forma de serviço militar se torna mais atrativa. (OLIVEIRA, 2010, p.71-75)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo a porta voz do ACNUR, Shabia Mantoo, em uma coletiva de imprensa dia
13 de agosto 2021, em Genebra, a crise humanitária no Afeganistão é alarmante pois
segundo dados do ACNUR, 250 mil afegãos foram obrigados a sair de suas casas
desde o final de maio e a situação se agrava. Se formos analisar os números anteriores
desde o início do ano, 400 mil pessoas deixaram suas casas por conta de conflitos que
se soma a 2,9 milhões deslocados internos, registrados no final de 2020. Por isso o
ACNUR pede a ajuda da comunidade internacional em forma de assistência a essas
pessoas.
A retirada americana do Afeganistão encerra uma guerra que teve seus objetivos
alterados ao longo de 20 anos e não alcançou nenhum deles, apesar do custo trilionário
e da perda de dezenas de milhares de vidas, a maioria afegãs. Em agosto de 2021
ocorreu a retirada das tropas norte-americanas, e a maneira como foi feita de modo
apressado e mal planejada, indicou a falta de controle e o abandono dos EUA ao
deixarem o país, pois encerraram a guerra de 20 anos entregando o talibã de volta ao
poder, o que demonstrou o fracasso da intervenção norte-americana. (BARINI, 2021)
24
REFERÊNCIAS
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