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O homem e a geração de resíduos

Olá, sejam bem-vindos à esta aula. Vamos conhecer a geração de


resíduos ao longo dos séculos. A geração de resíduos é inerente a toda
forma de vida. Sempre geramos algum tipo de resíduo, desde os
orgânicos (oriundos do processo fotossintético, ou aqueles oriundos de
algum ser vivo) até os inorgânicos (como os metais e plásticos, por
exemplo). Convidamos você a refletir conosco sobre as
transformações que ocorreram na composição e na quantidade dos
resíduos gerados ao longo dos anos.
Via de regra, os resíduos são produzidos quando utilizamos algum
recurso natural para atender às nossas necessidades, seja para a
produção de calor ou para aproveitamento da energia disponível nos
alimentos que é necessária à sobrevivência dos organismos vivos.
Esses resíduos podem ser desde restos de alimentos a utensílios
diversos, até mesmo os dejetos oriundos de nosso metabolismo. Então,
é correto afirmar que os resíduos podem variar à medida que
variam/mudam nossas necessidades.
Objeto de Aprendizagem
Para conhecer uma síntese de como a geração de resíduos acompanhou a
evolução do homem, clique e veja o objeto A evolução do homem e da
geração de resíduos.
Como eram os nossos ancestrais, que habitaram as
cavernas? Quais eram as suas necessidades?

O modo de vida do homem das cavernas definia os resíduos que eles


produziam. Suas necessidades consistiam, basicamente, em obter
comida, abrigo e proteção. Eles eram nômades e viviam da caça e da
coleta de alimentos. Esgotados os recursos de uma região, partiam
para outra em busca de seu sustento.
Basicamente produziam resíduos orgânicos (restos da caça e de algum
outro alimento, seus excrementos, algumas peles de animais etc.). Não
produziam muito mais que isso. Estas eram suas necessidades e os
resíduos gerados correspondiam ao suprimento de suas necessidades.
O seu objetivo era manter-se vivo.
É plausível supor que utilizavam alguns materiais inorgânicos, como a
pedra, seja para proteção ou para abrir algum fruto. Mas esses
materiais inorgânicos não passavam por grandes transformações,
apenas eram quebrados ou desbastados para obter algum objeto
cortante ou pontiagudo.
Como eram em pequeno número e produziam basicamente matéria
orgânica, o impacto no ambiente era menor, o material orgânico
decompunha-se e era reabsorvido pelo solo e plantas, causando por
vezes uma poluição pontual e de pequena monta, não alterando
significativamente o ambiente natural.
Então é correto supor que, para atender às suas necessidades, o
homem das cavernas se utilizava de recursos naturais orgânicos e
produziam, basicamente, resíduos orgânicos e, como não possuíam
tecnologia avançada, as transformações que proporcionavam no
ambiente natural e na modificação ou transformação de recursos
naturais inorgânicos eram mínimas e limitavam-se a obter material
absolutamente rústico e rudimentar.
Em determinado momento de sua história, o Homem passa por uma
revolução importantíssima (revolução simbólica), que permite a maior
utilização de sua capacidade cognitiva. Neste momento, o homem
passa a se utilizar de símbolos para dar significância a suas ações e
objetos. Com o tempo, esta revolução simbólica permite ao homem
criar símbolos para a representação escrita de seus pensamentos,
criando, assim, a linguagem escrita, com toda a complexidade que isso
encerra. Sua evolução cognitiva é significativa e o habilita a novos
relacionamentos com o ambiente natural. Passamos a ser seres
pensantes e mais complexos.

Este avanço cognitivo marca o avanço evolutivo da espécie humana e


permite ao Homem dar uma nova significância à sua vida. Aliado a
esta revolução dos símbolos, o homem experimenta uma nova e
marcante revolução, a revolução agrícola.

Dominando as técnicas de plantio e obtenção de alimento em uma


pequena faixa de terra, permite ao homem se fixar no campo,
contribuindo para a formação das vilas, povoados e cidades e de um
novo passo evolutivo da espécie humana.
Com o desenvolvimento da agricultura e com a fixação do homem no
campo, surge o problema da posse da terra e da necessidade de
segurança. Percebe-se que as chances de defesa são maiores quando se
agrupam em aglomerados maiores. Entramos em uma fase onde os
feudos se consolidam e avançam para uma nova transformação social
que denominamos como Era Medieval.
Em todos esses momentos nossas necessidades passam também por
transformações. Nossa evolução cognitiva nos permite avançarmos no
desenvolvimento de novas tecnologias de transformação do meio
ambiente e extração de Recursos Naturais antes indisponíveis para
nós.
Com isso nosso poder de interferência no meio é grandemente
potencializado. Dominamos a arte de transformar minerais em ferro,
cortamos e modificamos materiais (como a pedra) para a construção
de moradias, pois não mais vivemos em cavernas, mas em cidades que
precisam ser projetadas e protegidas.
Repare que, mudando nossas necessidades e nosso conhecimento
tecnológico, mudamos também a composição de nossos resíduos
gerados. Agora fazem parte de nossos resíduos as escórias de
produção das fundições que fabricam escudos, espadas e armaduras,
pedaços de metal, mercúrio, tinturas e outros produtos, mas
continuamos a produzir uma enorme quantidade de materiais
orgânicos como resíduos.

A partir do que foi visto até aqui, observe o tipo de


resíduos que você descarta atualmente. O que os seus
resíduos possuem que não encontrávamos nas épocas do
homem das cavernas e da época medieval?

Bem, como estamos vendo, os resíduos variavam em sua composição


ao longo dos anos, e essas mudanças foram capitaneadas por
momentos especiais na história da humanidade. Estas transformações
mudaram a forma como nos relacionamos com o meio ambiente e
entre nós. Evoluímos e tornamos nossas relações e nossas
necessidades mais complexas.
Com relação à produção de resíduos, uma outra revolução foi
essencial para um novo salto evolutivo em nossas relações de trabalho
e de nossas relações sociais. Falo da Revolução Industrial. A partir
dela, nossa relação com o meio ambiente foi radicalmente modificada.
Criamos maquinários que possibilitam o aumento da produção e a
criação de objetos dos mais variados, como o carro e a bicicleta.
Com a revolução industrial vem a reboque uma nova filosofia
econômica, o capitalismo, que prega, amparado pela revolução
industrial, a produção maciça de produtos e, através da propaganda
e marketing, criam novas necessidades que estimulam o consumo.
Cria-se no sistema de produção a figura da obsolescência planejada e
da obsolescência perceptiva. Com isso a febre por produtos que
podem nos “auxiliar” nos afazeres diários e nos trazer mais “conforto”
vai a seu ápice, e a geração de resíduos ganha contornos alarmantes.
Resíduos novos e mais complexos são gerados e surge o problema de
seu descarte. Só que esses resíduos, por seu volume e complexidade,
aliados a uma explosão demográfica que aumenta consideravelmente
o número de seres humanos na Terra, provocam graves danos ao
ambiente. Os locais para descartar os resíduos de maneira segura não
são muitos, sendo habitual, há alguns anos, descartar esses resíduos
em qualquer terreno, a céu aberto, provocando sérios problemas
ambientais como poluição da água, do solo, do ar e perda da qualidade
de vida e de valor econômico dos imóveis do entorno desses lixões.
A evolução de nossa capacidade cognitiva, de nossas relações sociais
aliadas ao avanço tecnológico que proporcionaram a exploração e
extração de variados recursos naturais, nos coloca diante da
necessidade de gerar muita energia para manter esses processos
funcionando. Com isso são criados sistemas de geração de energia
sofisticados, aproveitando várias fontes primárias de energia, como o
Sol, a água e a energia nuclear.
Entramos no século XXI e as conquistas tecnológicas nos permitem
confortos e facilidades nunca antes imaginados, a comunicação tem
um salto extraordinário, assim como os meios de transporte. A internet
vem revolucionar a comunicação e proporcionar uma facilidade de
acesso às informações mais variadas possíveis. Os estímulos ao
aumento no consumo e à expansão dos meios produtivos, aliados ao
grande crescimento populacional, tornam a geração de resíduos um
problema grave e complexo a ser enfrentado.

Somado a esta crescente geração de resíduos, temos também o


problema do aumento na geração de efluentes industriais e
domésticos, líquidos e gasosos que são produzidos nas grandes
cidades e muitas vezes não recebem o tratamento adequado, sendo
descartados de maneira inapropriada e provocando perda da qualidade
de vida e degradação da qualidade do ambiente natural.
Alguns pensadores como Serge Latouche sugerem uma sociedade
onde a diminuição nos padrões de consumo é considerada condição
indispensável para a sustentabilidade, mas concretamente as
discussões não apontam para uma solução de consenso em curto
espaço temporal.
Atividade 1
A geração de resíduos é inerente a qualquer ser vivo. De igual maneira,
o modo de vida que levamos faz variar a composição e a quantidade dos
resíduos gerados. Neste contexto, imagine um homem, chamado agora
de Sr. X, que habita cavernas, vive em uma extensa área de floresta e
não tem nenhum contato com a chamada “civilização” moderna.
Por outro lado, outro homem, que passamos a chamar de Sr. Y, que
mora em uma cidade de médio porte, trabalha como funcionário público
e mora em um apartamento de quarto e sala localizado em bairro de
classe média.
Observe os itens abaixo e marque com a letra (X) aqueles que você
identifica como os possíveis resíduos gerados pelo Sr. X e marque com
a letra (Y) aqueles que você identifica como os possíveis resíduos
gerados pelo Sr. Y.
1. XSr. X
2. YSr. Y

 Lascas de pedra.

 Embalagens plásticas descartáveis.

 Cinzas oriundas de fogueira.

 Latas de refrigerante.

 Restos de pele, pelos e ossos de animais de caça.

 Baterias de celular;

conferir
Atividade 2
Alguns resíduos são produzidos em grande escala nos dias atuais.
Observe as opções abaixo e marque aquela que apresenta apenas
resíduos gerados em larga escala pela sociedade moderna.
1. aArmaduras e espadas medievais; sucata eletroeletrônica; escudos de ferro
para defesa pessoal.
2. bPneus velhos, baterias de celulares, armaduras medievais.
3. cRestos de alimentos industrializados, pneus velhos, brilhantes lapidados.
4. dSucata eletrônica, armaduras medievais e computadores novos.
5. eSucata eletrônica, pneus velhos, baterias de celular com defeito.
Aumento de renda, aumento da geração per capita de
resíduos
Bem, vimos na aula anterior que os resíduos evoluíram
juntamente com a evolução cognitiva e social do homem.
Vimos ainda que os resíduos são, atualmente, gerados em
profusão, acarretando uma série de problemas a serem
enfrentados. Para podermos gerir de maneira satisfatória os
resíduos, precisamos de algumas informações sobre eles.
Dentre as muitas informações importantes, três se destacam
e são apresentadas na tabela.

Informação Utilidade

Geração Através desta informação podemos quantificar os r


per capita determinada cidade. Refere-se à quantidade de res
Informação Utilidade

pessoa em um intervalo de tempo, que pode ser ca


geração diária, mensal ou anual.

Composição dos Podem vir a subsidiar ações de planejamento de co


resíduos processos de reciclagem e redução na geração de d

Informação importante para que se determine a ne


tratamento prévio do resíduo antes de depositá-lo
Classificação além da determinação do tipo de recipiente necess
dos resíduos armazenamento e se é um resíduo perigoso para a

O trabalho é árduo, uma vez que as fontes geradoras são


difusas e controlá-las exige muita disciplina e organização.
Imagine controlar os resíduos produzidos em uma grande
cidade: você consegue perceber a complexidade da ação?
Cada apartamento, cada comércio, todos os locais onde seres
humanos residam ou trabalhem são, potencialmente,
geradores de resíduos.
Para termos valores mais precisos de geração per capita e
composição destes resíduos, é necessária uma coleta
eficiente e mais abrangente, uma vez que não teremos
controle sobre os resíduos que foram gerados mas não foram
recolhidos. Estima-se que esse percentual de coleta efetiva
varie, no Brasil, de 78% (região nordeste) a 97% (região
sudeste). Assim, os resíduos não coletados perfazem um total
que pode variar de 22% a 3%.
Como os dados estatísticos sobre os resíduos são
pouquíssimos, e apurar a produção per capita e a composição
dos resíduos exige ações que muitas vezes são inviabilizadas
por falta de recursos financeiros, falta de materiais, carência
de infraestrutura e poucos recursos humanos, os gestores
públicos e organizações não governamentais utilizam, muitas
vezes, de modelagens matemáticas ou indexação a índices
econômicos para quantificar e estimar a composição destes
resíduos.
A nível mundial, a OECD utiliza como ferramenta de gestão de
resíduos a indexação a índices econômicos para apurar a
geração per capita e a composição dos resíduos gerados
pelos países afiliados. Assume a premissa que o consumo e a
classe social estão intrinsecamente ligados à geração de
resíduos, delimitando o conteúdo e a quantidade dos
resíduos gerados.
Assim, tomando por base a variação do PIB (Produto Interno
Bruto), a Instituição busca produzir informações que auxiliem
na gestão dos resíduos. Em seus bancos de dados, a OECD
reúne estimativas da geração per capita e da composição dos
resíduos gerados em seus países filiados, conforme tabela
abaixo.
Informações Faixas de PIB

$5.000 - $15.000 (ex.


< $5.000 (ex. Índia, Brasil, Argentina, >
PIB (per capita) Egito, Países Africanos) Singapura). I

Resíduos 250 – 550 (Kg/per


Sólidos 150 – 250 (Kg/per capita/ano) ou 0,70 – 3
Urbanos capita/ano) ou 0,42 – 1,53 (Kg/per c
coletado 0,70 (Kg/per capita/dia) capita/dia) 2

Taxa de coleta
dos RSU < 70% 70% - 95% >

E
Sem estratégia nacional Estratégia nacional a
ambiental; regulação ambiental; agência n
praticamente nacional ambiental; r
inexistente; sem dados legislação ambiental; c
Regulação estatísticos. poucas estatísticas. e
Tabela 1: Geração de resíduos baseado na variação do PIB.
Adaptação da tabela disponível em Caderno Especial –
Panorama Mundial dos Resíduos Sólidos, 2007.
Observe que esta metodologia infere informações sobre o
sistema de regulação dos resíduos sólidos, apontando as
possíveis fragilidades que devem ser superadas. Grosso
modo, a regulação tende a ser mais eficiente em países onde
o PIB per capita é maior, contribuindo para que os graves
problemas ambientais provocados pela má gestão dos
resíduos seja particularmente alarmante nos países do
Terceiro Mundo já combalidos e explorados, acentuando as
desigualdades.
Repare que tanto na geração per capita quanto na eficiência
do sistema de coleta os índices aumentam gradativamente à
medida que evolui o PIB do país, da cidade ou do bairro.
Imagine uma cidade como São Paulo, onde o PIB per capita é
da ordem de R$ 32.493,96 (IBGE, 2008), o equivalente a U$
13.362,10 (cotação do dólar em R$ 2,43).

De acordo com a tabela, podemos estimar que o PIB do


município de São Paulo é 89% do valor máximo de US
15.000,00, considerado na tabela. Assim, é lícito supor que a
geração/per capita/ano para os cidadãos que residem na
cidade seria de 489,5 Kg, ou o equivalente a 1,36 Kg/per
capita/dia. Agora imagine o tamanho do problema. Levando-
se em conta que a população da cidade de São Paulo é da
ordem de 11.253.503 habitantes (IBGE, 2010) e considerando
que cada pessoa gera cerca de 1,36 Kg de resíduos por dia,
significa que a cidade de São Paulo gera, diariamente, cerca
de 15.304.764 Kg de resíduos.
Quando levamos em conta a média nacional brasileira de
1,041 Kg/per capita/dia, apurada pela ABRELPE (Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais) e calculada sobre o quantitativo estimado de
resíduos gerado e divulgada em seu Panorama dos Resíduos
Sólidos no Brasil, versão 2013, vemos que os valores são
compatíveis.
Da mesma forma, podemos também estimar a composição
dos resíduos de acordo com os índices econômicos.

Informações Faixas de PIB

$5.000 - $15.000 (ex.


< $5.000 (ex. Índia, Brasil, Argentina,
PIB (per capita) Egito, Países Africanos) Singapura).

Composição
dos RSU: Em %

Resíduos
orgânicos 50 – 80 20 – 65

Papel/papelão 4 – 15 15 – 40
Informações Faixas de PIB

Plástico 5 – 12 7 – 15

Metal 1–5 1–5

Vidro 1–5 1–5

Depósitos não Aterros sanitários > 90%


autorizados (lixões) > Início de coleta seletiva
Tratamento dos 50% Reciclagem e reciclagem
RSU informal de 5% a 15% organizadas: 5%

Tabela 2: Composição dos resíduos baseado na variação do


PIB. Adaptação da tabela disponível em Caderno Especial –
Panorama Mundial dos Resíduos Sólidos, 2007.
Utilizando o mesmo exemplo da cidade de São Paulo,
teríamos um PIB, em dólares, na ordem de U$ 13.362,10 per
capita. Considerando que estamos tomando por base o maior
valor apontado e calculando o percentual do PIB sobre este
valor, devemos utilizar o mesmo percentual (89%) sobre os
percentuais máximos da composição dos resíduos.
Poderíamos estimar que a composição dos resíduos
produzidos e efetivamente coletados seria:
Perceba que, através desta simples informação, já é possível
visualizar e quantificar o volume de materiais passíveis de
serem reciclados, auxiliando no planejamento de um sistema
municipal de coleta seletiva. Por exemplo, se temos uma
geração diária na ordem de 15.304.764 Kg de resíduos e se na
composição dos resíduos eu estimo que 57,9% deles serão
resíduos orgânicos, posso inferir que o total de resíduos
orgânicos produzidos pela cidade de São Paulo é da ordem de
8.861.458,3 Kg por dia. Em um ambiente sem dados
empíricos confiáveis este modelo auxilia bastante, não é?
E tem mais, possibilita ainda obter informações sobre a
situação da regulamentação a nível federal, estadual e
municipal no tocante aos resíduos e à sua gestão, que
segundo esta metodologia da OECD, variam também de
acordo com a evolução do PIB. Assim, locais com
regulamentação inexistente e sem dados estatísticos
confiáveis são características de países, estados ou
municípios com baixo PIB e um ambiente com estratégias de
gestão eficientes, dados estatísticos confiáveis, regulação
rigorosa e complexa são características encontradas em
países, estados ou municípios com PIB elevado.
Possibilita também obtermos informações sobre a situação
da deposição final destes resíduos. Via de regra, a deposição
dos resíduos em países com PIB abaixo de US$ 5.000,00 é
feita na maioria das vezes em lixões, com percentuais acima
de 50% na utilização deste expediente incorreto de descarte.
Normalmente, as iniciativas de coleta seletiva são informais,
não havendo envolvimento do Poder Público na organização
de ações de coleta seletiva. Cobrem normalmente de 5 a 15%
dos resíduos coletados.

Já nos locais onde o PIB é superior à US$ 20.000,00, a


deposição dos resíduos é feita prioritariamente em aterros
sanitários, com índices de utilização deste modo de
deposição na casa dos 95%. Os processos de coleta seletiva e
aproveitamento energético dos resíduos são, normalmente,
organizados pelo Poder Público e alcançam cerca de 20% do
material coletado.
Fica assim evidente que o grau de eficiência da ação do Poder
Público varia bastante de acordo com o valor do PIB. A
tendência é os governantes serem mais eficientes em países
do primeiro mundo e bem menos eficientes nos países ditos
do terceiro mundo. A gestão pública, principalmente no
tocante aos resíduos, tende a ser mais eficiente para os mais
afortunados financeiramente do que para os menos
afortunados.

Na próxima aula, vamos abordar a situação dos resíduos


sólidos urbanos no Brasil, onde a tendência na geração
desses resíduos tem sido de alta. A cada ano que passa
produzimos cada vez mais resíduos e pelos indicativos ao
longo dos anos, a situação deve se agravar. Vamos discutir
este e outros assuntos na próxima aula.
Para modificarmos a forma como encaramos e gerenciamos
nossos resíduos, é preciso que comecemos a considerá-lo
uma mercadoria e não um subproduto indesejável.
Para se ter uma ideia da importância dos resíduos e de sua
gestão correta, você sabia que existem casos policiais que
foram resolvidos a partir do conteúdo dos resíduos do
acusado? Temos muitos segredos que são revelados pelos
nossos resíduos.
Atividade
Observe a tabela abaixo e responda ao que se pede:

< $5.000 ( ex. Índia, $5.000 - $15.000 (ex.


PIB (per Egito, Países Brasil, Argentina, > $20
capita) Africanos) Singapura). Ingla

Resíduos 150 – 250 (Kg/per 250 – 550 (Kg/per 350 –


Sólidos capita/ano) ou 0,42 – capita/ano) ou 0,70 – capit
Urbanos 0,70 (Kg/per 1,53 (Kg/per 2,08
coletados capita/dia) capita/dia) capit

Coleta dos
RSU > 95% 70 % - 95 % < 70

É sabido que a coleta dos resíduos tende a ser mais eficiente


nos países com PIB elevado e menos eficiente nos países com
PIB baixo, assim como a geração per capita tende a crescer
dos países de baixo PIB para os países de PIB elevado. A
tabela acima possui um erro. Marque a opção que aponta a
correção que deve ser feita para adequar a tabela à realidade
prevista pela OECD:
1. aPara acertar a tabela é preciso trocar as taxas de coleta
de RSU dos países de menor PIB (US$5.000,00) com a
dos países de maior PIB (US$ 20.000,00), ficando os de
menor PIB com taxa de coleta menor que 70% e nos
países e PIB maior com taxa de coleta acima de 95%.
2. bPara acertar a tabela é preciso trocar os valores da
geração per capita dos resíduos coletados dos países de
PIB elevado com a dos países de PIB baixo, pois quanto
maior o PIB do país maior é a consciência ecológica da
população e menor é a geração per capita dos resíduos.
3. cPara acertar a tabela é preciso alterar a taxa de coleta
de resíduos dos países com PIB acima de US$ 20.000,00
para uma taxa de valor acima dos 100%.
4. dPara acertar a tabela é preciso que o Japão saia do
grupo de países de PIB elevado (acima de US$
20.000,00) e seja inserido no grupo de países com PIB
menor que US$ 5.000,00.
5. ePara acertar a tabela é preciso excluir as taxas de coleta
de RSU, pois estas não são estimadas pelos cálculos da
OECD.
Panorama geral da situação dos resíduos sólidos no Brasil

Bem, como você deve estar percebendo, a gestão dos resíduos é um


processo complexo e requer método. Como as informações sobre os
resíduos são precárias, não existindo muitos dados históricos sobre
a sua geração, algumas empresas, organizações não governamentais
e mesmo alguns municípios se articulam para elaborar um
diagnóstico de seus resíduos, visando gerar subsídios para a
elaboração do processo de gestão.
No Brasil destaca-se a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE – que desde 2003
acompanha a situação dos resíduos sólidos no Brasil em sua
publicação “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil”, fornecendo
uma boa base de dados sobre os resíduos de vários locais do Brasil.
Nesta aula iremos apresentar para você um breve panorama dos
resíduos, utilizando como fonte de informações o “Panorama dos
Resíduos Sólidos” do ano de 2013, onde é apresentada uma
comparação da evolução da geração e do sistema de coleta e
tratamento dos resíduos.
Os dados apontam uma pequena e constante evolução na geração
dos resíduos. Estima-se que em 2013 a geração dos resíduos cresceu
cerca de 4,1%, quando comparado com o ano de 2012, apontando
para um total de geração no Brasil na ordem de 209.280 toneladas
de resíduos produzidos DIARIAMENTE. A geração per capita também
apresentou evolução positiva, passando de 1,037 Kg/hab/dia para
1,041 Kg/hab/dia, uma evolução de 0,39%.

Tabela 1: Evolução
na geração de resíduos. Adaptação de Panorama dos Resíduos
Sólidos no Brasil, ABRELPE/2013.
Percebe-se a ineficácia de nossos esforços em atender ao principal
objetivo na gestão dos resíduos, proposto pela Política Nacional de
Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), que diz respeito à NÃO
GERAÇÃO dos resíduos. Não temos conseguido sucesso no trabalho
de não gerar ou mesmo reduzir os resíduos gerados pois,
historicamente, a geração tem aumentado sistematicamente ao
longo dos anos.
Agora vejam, para manter um planejamento eficiente na gestão dos
resíduos, é necessário que eles sejam coletados e, após,
encaminhados para a deposição final ambientalmente correta.
Perceba que o fato de os resíduos serem coletados não garante que
terão como destino um aterro sanitário ou mesmo um programa de
coleta seletiva.
Com relação à coleta dos resíduos, temos apresentado evolução
positiva. No Brasil estima-se que, em média, 90,41% dos resíduos
gerados são coletados, com uma evolução de cerca de 4,4% em
relação ao ano de 2012. A maior eficiência das coletas ocorre na
região Sudeste e os piores índices de coleta estão nas regiões Norte
e Nordeste, que apresentam índices abaixo da média nacional.
Agora, acompanhe : estima-se que são gerados cerca de 209.280 T
de resíduos por dia e, levando em conta que nós coletamos, em
média, 90,41% temos que, diariamente, cerca de 20.070 T de
resíduos/dia não são sequer coletados, indo parar em terrenos
baldios, margens de rio, encostas, lagoas, no mar ou mesmo no
interior das redes coletoras de águas pluviais, entupindo-as e
provocando alagamentos em épocas de chuva. Observe que os
efeitos desta má gestão afetam principalmente a parcela mais
carente da população e provocando sérios problemas de saúde
pública.

Percebemos que as regiões Norte e Nordeste, as regiões com menor


IDH no Brasil, apresentam percentual de coleta de resíduos bem
abaixo da média nacional, evidenciando que a geração e a eficiência
da coleta dos resíduos avançam proporcionalmente à condição
econômica de sua população, sendo as populações com melhor
poder econômico as que desfrutam de melhor qualidade de vida e
recebem maior atenção dos gestores públicos em um processo de
perversa exclusão social.
Apesar de, a nível nacional, os números serem bons, eles apontam
algumas contradições. A primeira diz respeito à destinação final
destes resíduos. Dados apontam que de todos os resíduos coletados
no Brasil apenas 58,26% tem destinação adequada e 41,74%
continuam sendo depositados de maneira inapropriada em lixões e
aterros controlados (os aterros controlados são considerados lixões
um pouco melhorados e não são ambientalmente adequados para a
deposição final dos resíduos sólidos urbanos). Mais uma vez
percebemos a exclusão econômica, pois os estados do Norte e
Nordeste são aqueles que apresentam maiores índices de deposição
inadequada dos resíduos coletados.

Deposição dos resíduos em lixões.


Foto de Luiz Teixeira, 2012.
Você sabe quais são as diferenças entre um lixão, um aterro
controlado e um aterro sanitário?
LixãoAterro controladoAterro sanitário
É um depósito de lixo a céu aberto. Os resíduos são depositados
diretamente no solo e amontoados em algum terreno. Não há
impermeabilização do solo e, por conta disso, o chorume (líquido
produzido da decomposição dos resíduos) penetra no solo,
contaminando o solo e as águas subterrâneas. Como os resíduos não
recebem cobertura de terra, o mau cheiro é intenso atraindo
urubus, garças, e vários outros vetores como baratas, mosquitos e
ratos.
Para saber mais sobre o assunto, leia o texto: Entenda a diferença
entre lixão, aterro controlado e aterro sanitário.

Catadores vivem da coleta e separação do lixo.


Foto: Agência Brasil/Vladimir Platonow, 2010.
Quando depositamos os resíduos de maneira incorreta, estamos
contribuindo para a degradação do meio ambiente e acentuando as
desigualdades sociais (assistir ao vídeo da unidade). Nos lixões, é
comum vermos a presença de catadores de lixo remexendo nos
resíduos e coletando alguns materiais recicláveis diretamente na
célula do lixo. Vale lembrar que a presença de pessoas nas células
de lixo é proibida por Lei (Lei 12.305/2010 – PNRS).
Em um projeto de gestão de resíduos, o resgate cidadão dessas
pessoas é de fundamental importância para o sucesso do projeto. As
informações sobre a composição dos resíduos que os catadores de
lixo possuem podem e devem ser aproveitadas no processo de
levantamento de dados, chamando esta categoria para as
discussões sobre a gestão dos resíduos do município. Ninguém
conhece melhor o lixo do que aquela pessoa que, durante anos a fio,
ganha a vida remexendo/revirando os resíduos em busca de
materiais que possam ser vendidos/aproveitados.
Além disso, a Política Nacional de Resíduos Sólidos estimula os
municípios a capacitarem, incentivarem e auxiliarem os catadores
em sua formação profissional e no estímulo à implantação de
cooperativas que irão atuar na linha de frente do processo de
organização dos resíduos. Neste sentido, o Poder Público deve se
empenhar em dar suporte técnico e financeiro até que os grupos de
catadores estejam preparados para assumir a gestão da cooperativa.
Trata-se de resgatar a cidadania desta parcela da população,
capacitando, profissionalizando, inserindo-o no mercado de trabalho
e contribuindo concretamente para o sucesso na gestão pública dos
resíduos.
Vídeo da Unidade
Assista agora ao vídeo desta unidade: Gestão de resíduos e
exclusão social. A fim de obter mais informações a respeito da
importância de se conhecer o processo histórico da educação.
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Atividade
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS - Lei 12.305/2010)
informa quais devem ser os objetivos a nortear a elaboração de uma
política de gestão de resíduos, e entre esses objetivos o principal
deles é o que aponta para ações que levem à não geração dos
resíduos. Nesse sentido, desde o ano de 2010 temos observado
redução constante na geração de resíduos, atendendo ao que
preconiza a PNRS.
A partir do parágrafo acima, leia atentamente as opções abaixo e
marque a opção correta:
1. aA informação está incorreta, pois apesar de haver
redução constante na geração dos resíduos desde 2010,
o objetivo que prioriza a não geração de resíduos não
existe na Lei 12.305/2010.
2. bA informação está correta, temos apresentado um
padrão de geração decrescente desde 2010, conforme
demonstrado pelo governo em seu Relatório de 2009.
3. cA informação está incorreta, pois a redução na geração
de resíduos só foi percebida em 2012, ano em que o
governo iniciou grande mobilização nacional pela coleta
dos resíduos.
4. dA informação está correta. Realmente, desde 2010
temos apresentado geração decrescente de resíduos,
conforme preconiza a Lei 12.305/2010, atendendo-a em
todos os seus preceitos.
5. eA informação está incorreta, pois apesar de a não
geração ser o objetivo primeiro nos processos de gestão
de resíduos, a geração de resíduos tem aumentado ao
longo do tempo.

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