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---A região dos Grandes Lagos---

O texto aborda a região dos Grandes Lagos na África e a formação de Estados nessa área. Ele
destaca a convivência pacífica entre agricultores e pastores por um longo período, até o século
XV, quando começou o processo de constituição de Estados, levando à distinção de classes
sociais. A história da região é dividida em quatro partes: o complexo de Kitara, o complexo de
Kintu, o complexo de Ruhinda e o complexo de Rwanda. O complexo de Kitara é considerado o
mais antigo sistema estatal da região e é associado à chegada de grupos de invasores como os
batembuzi, bachwezi e babito. Além disso, menciona a presença dos povos de língua banto na
região, explicando, além disso, a história do clã baranzi, a dinastia bachwezi e as tensões
internas que levaram à destruição do Império de Kitara. O complexo de Ruhinda abrange os
atuais territórios de Kigezi, Ankole, Bukoba, Burundi e Ruanda, e destaca os Estados de Nkore e
os Estados buhaya. Nessa região, os agricultores banto se estabeleceram, desenvolvendo um
sistema clânico com chefes de família e posteriormente desenvolveram organizações políticas
com clãs e líderes territoriais. Alguns clãs banto já tinham dinastias estabelecidas no século XV.

Esse tópico também aborda a história da região de Ruanda e Buganda antes do


estabelecimento dos reinos de Nyiginya. Ele menciona a presença dos primeiros habitantes,
batwa, que viviam de caça e coleta, e a chegada dos agricultores de língua banto. Esses
agricultores se organizavam em clãs e linhagens, com chefes respectivos. No século XV, muitos
desses povos banto já estavam organizados em pequenos Estados, semelhantes ao complexo
de Ruhinda. O Estado de Ruanda foi fundado pelas linhagens renge do clã singa e expandiu-se,
anexando outros Estados renge. Além disso, o texto destaca a importância dos povos banto na
formação dos Estados da região dos Grandes Lagos, como os clãs de Kintu, que fundaram
vários pequenos Estados, incluindo o de Buganda. O período de migração e implantação desses
reinos encerrou-se por volta de 1500.

---As bacias do Zambeze e do Limpopo, entre 1100 e 1500---

No período entre 1100 e 1500, a região entre os rios Zambeze e Limpopo, no sul da África
Central, era habitada por povos que praticavam a agricultura de subsistência. Esses povos
criavam animais e cultivavam cereais como sorgo e milhete, além de caçar e coletar alimentos.
A partir do século XI e XII, surgiram novas sociedades na região, como a tradição de Leopard’s
Kopje, que se destacava pela criação de gado e pela mineração e trocas comerciais. O poder
político e a riqueza se concentravam nas mãos de uma elite, que vivia nos maiores centros
urbanos. Outras tradições culturais, como a de Musengezi e Harare, também surgiram nesse
período e estavam associadas a grupos linguísticos como o chikalanga e o zezuru. Essas culturas
passaram por transformações políticas e econômicas significativas após o século XII.

Assim, vemos algumas tradições culturais que sobreviveram até recentemente, com
modificações significativas. O shona é a principal família linguística representada na área, com
diferentes grupos de dialetos. Embora o shona não esteja diretamente relacionado ao banto do
sudeste, supõe-se que as tradições culturais descritas possam ter ligações com alguns desses
grupos. O Grande Zimbábue, localizado perto da cidade moderna de Masvingo, é uma das
partes mais notáveis dessas transformações. O local foi construído com materiais locais e
seguindo princípios arquitetônicos desenvolvidos ao longo de séculos. Por volta do século XII,
povos da Idade do Ferro Recente se estabeleceram no Grande Zimbábue, trazendo
transformações significativas, como melhorias na cerâmica, importações de contas de vidro e
objetos diversos, e a construção de muros e muralhas de pedra. Por volta de 1300, o Grande
Zimbábue se tornou o centro de um Estado poderoso que dominava uma vasta região. A
agricultura de subsistência e fatores políticos e econômicos desempenharam papéis
importantes na evolução social do Grande Zimbábue. O monumento é impressionante,
dividido em três fases e cercado por muralhas maciças de pedra. Embora sua arquitetura siga
práticas africanas, suas dimensões o tornam excepcional. O Grande Zimbábue sugere a
existência de uma autoridade política e religiosa poderosa, baseada em crenças unificadoras
compartilhadas pela população. As fronteiras do Estado do Grande Zimbábue ainda não estão
totalmente definidas, mas sua base estava localizada no centro de Mashonalândia.

Provando o comércio costeiro na região norte da Mashonalândia e no Vale do Zambeze nos


séculos XIV e XV, foram encontrados estabelecimentos de trabalho e comércio de cobre,
metalurgia de cobre e ferro, produção têxtil e cerâmica de qualidade. Esses estabelecimentos
mantinham relações com o Grande Zimbábue e o Vale do Zambeze. No final do século XV, o
Grande Zimbábue começou a ser abandonado, possivelmente devido à deterioração dos
campos circundantes. Por volta de 1500, o sul da África Central passou por transformações
políticas e econômicas, com o surgimento de unidade política e estratificação social,
impulsionados pelo comércio de longa distância e pela evolução interna das sociedades
africanas. A agricultura de subsistência e as redes comerciais foram determinantes para o
crescimento e prosperidade do Estado do Grande Zimbábue.

---A África equatorial e Angola: as migrações e o surgimento dos primeiros Estados---

O surgimento dos primeiros Estados na África equatorial e em Angola: Utilizando dados


linguísticos, é possível inferir que as grandes migrações já haviam ocorrido antes do ano 1100.
A agricultura era praticada em toda a região, com exceção de algumas áreas florestais e do
interior de Angola meridional. O comércio regional também se desenvolveu, com o uso de
moedas de cobre e sal. A sociedade se organizou em linhagens patrilineares e os chefes
políticos surgiram desde o início. Alguns desses chefes conseguiram impor sua autoridade
sobre outras linhagens e formaram Estados que englobavam várias aldeias. A autoridade dos
chefes era considerada sagrada e eles tinham conselheiros e funcionários para ajudá-los a
administrar o Estado. Em alguns casos, não surgiram Estados, mas sim sistemas políticos
baseados em igualdade ou confederações de linhagens. A realeza era considerada sagrada em
todos os reinos, mas havia diferenças entre eles devido aos processos independentes de sua
formação.

A região também tinha o culto dos espíritos e dos ancestrais, com o comércio se
desenvolvendo cedo e uma aristocracia estabelecida. O Kongo, em particular, foi fundado por
Nimi Lukeni e dividido em seis províncias. O país era densamente povoado e possuía uma
sólida estrutura administrativa, com o rei exercendo autoridade, mas não poder absoluto. Além
disso, havia o senhor kabunga, que desempenhava as funções de sumo sacerdote.

No texto, são apresentadas informações sobre a capital do Reino do Kongo e a vida na corte no
século XV, com base em descrições detalhadas de F. Pigafetta e D. Lopes. A capital, chamada
Banza, era uma praça-forte localizada no centro do reino, permitindo o envio rápido de socorro
para qualquer região. A cidade era bem construída, cercada por muralhas de pedra, e era uma
importante metrópole comercial, recebendo as principais rotas comerciais da costa e do
interior. A produção era controlada e comercializada pelo Estado, indicando um longo período
de desenvolvimento comercial intenso. Não havia especialização em tempo integral em
atividades artesanais, exceto para duas especialidades – tecer a ráfia e fundir o ferro – que
eram reservadas à nobreza. As principais rotas de comércio levavam à capital a partir de
Luanda, baixo Zaire, Lago Malebo, Mbamba e Matamba. A sociedade era estratificada em três
ordens: aristocracia, homens livres e escravos. A aristocracia formava uma casta e não poderia
se casar com plebeus. Dentro das duas ordens livres, os casamentos eram usados como
instrumentos de aliança entre as famílias, sugerindo a existência de casamentos preferenciais.

---A África meridional: os povos e as formações sociais ---

Esse texto aborda a história da África meridional, destacando o período entre 1000 e 1500
como crucial para a região. Nesse período, ocorreram mudanças significativas nos modos de
vida dos povos, como a criação de gado pelos khoi-khoi e o aumento da importância do gado
entre outros povos de língua banto. As línguas banto da região são ramificações do banto
oriental. É citada também a segunda Idade do Ferro, que ocorreu entre 1100 e 1600, e destaca
a presença de mineradores e comerciantes na região, além do desenvolvimento da indústria
metalúrgica de Phalaborwa. As transformações ocorridas no norte do Rio Vaal também são
destacadas, assim como as descobertas de sítios de ocupação em Botsuana. No entanto, o
texto não menciona as estruturas de poder e as formações sociais da região, porém discute a
influência dos khoi-khoi na África meridional, especialmente nas regiões de Natal, Cabo
Oriental e Botsuana. Os khoi-khoi eram um povo de pastores que tinham uma grande
quantidade de gado e ovelhas, e sua mobilidade permitia a difusão da sua língua por grandes
distâncias. Sua expansão afetou profundamente os povos de língua banto em termos
linguísticos e culturais. Além disso, os khoi-khoi também influenciaram os herero e outros
povos de línguas banto ocidentais. Politicamente, os khoi-khoi eram organizados em grupos de
clãs e formavam unidades políticas maiores quando o número de cabeças de gado aumentava.
No entanto, conflitos internos e a redução da quantidade de animais podiam enfraquecer sua
autoridade e riqueza.

A influência dos khoi-khoi entre os caçadores autóctones era alta já que eram criadores de
ovelhas e caçadores do litoral na África meridional. Então presença dos khoi-khoi teve um
impacto significativo nessas comunidades, levando à perda de rebanhos de ovelhas e a uma
competição por recursos. Os grupos que viviam nas áreas de pastagens também foram
dominados pelos khoi-khoi. Além disso, o texto destaca a difusão da língua banto e a expansão
dos khoi-khoi na região .

---Madagáscar e as ilhas vizinhas, do século XII ao XVI---

A colonização e povoamento de Madagáscar e ilhas vizinhas entre os séculos XII e : A


população de Madagáscar foi formada por migrantes africanos, árabes, hindus e indonésios. A
interação étnica e cultural ao longo desse período resultou em uma identidade original para a
ilha. As tradições orais mencionam guerras entre os reis e as populações autóctones,
conhecidas como vazimba. No entanto, a existência dos vazimba é incerta e alguns estudiosos
acreditam que o termo se refere aos ancestrais. A formação dos reinos ocorreu após o século
XII, com a reunião de clãs estruturados. O reino do sudeste, islamizado, teve uma grande
influência, e sua dinastia teria origem no sudoeste indiano. Outras dinastias do oeste também
são associadas a estrangeiros que desembarcaram na ilha.

A chegada dos últimos imigrantes da Ásia pode ser situada entre os séculos XIII e XV. Os recém-
chegados merina, betsileo e outros tornaram-se gradualmente os senhores do território e
organizaram os reinos, contando com a contribuição econômica e cultural dos muçulmanos. A
influência árabe e muçulmana, política, econômica e cultural, tornou-se muito forte na ilha e
ilhas vizinhas nos séculos XII, XIII e XIV. Houve um fluxo contínuo de intercâmbio entre a ilha e a
costa leste da África, consolidado pelas “colônias” de populações muçulmanas que se
instalaram nas Ilhas Comores e em certas regiões de Madagáscar. Os empórios do noroeste
malgaxe e de Comores apresentavam semelhanças com as cidades da costa da África Oriental.
Pouco se sabe sobre o período prévio às chegadas dos recém-chegados asiáticos, mas a
agricultura já existia nessa época. A agricultura já existia em Madagascar antes do período
estudado, com a cultura do arroz, inhame, banana e cacau espalhando-se pela ilha após o
século XII. Os animais domésticos, como bois e aves, eram de origem africana. A pesca também
desempenhava um papel importante na alimentação, com os habitantes da ilha utilizando
pirogas para navegar no mar. A cultura material nas regiões do sul, oeste e parte do norte era
predominantemente africana, enquanto a técnica de cultivo de arroz em campos inundados
era de origem indonésia. Os últimos migrantes do século XIV introduziram os modelos políticos
e rituais que favoreceram a formação dos primeiros reinos em Madagascar. As dinastias
malgaxes possuíam laços de parentesco com as dinastias árabes que se estabeleceram nas Ilhas
Comores. A religião em Madagascar é uma mistura de elementos africanos, indonésios e da
influência do Islã. O principal deus malgaxe é Zanahary, divindade da Indonésia, e os espíritos
dos ancestrais também são invocados. Os rituais funerários também seguem uma prática
dupla, semelhante à Indonésia. Esses elementos culturais remontam à época de síntese entre
os séculos XII e XVI.
---Relações e intercâmbios entre as várias

regiões---

Durante os séculos XII e XVI, a África desempenhou um papel importante nas rotas comerciais
do Velho Mundo, conectando a Europa e a Ásia através do Mediterrâneo e do Oceano Índico. O
comércio interno na África já existia desde a pré-história, e nesse período houve um aumento
significativo nas trocas comerciais. No entanto, o comércio de escravos trouxe interrupções e
impactos negativos, impedindo um maior desenvolvimento econômico na África. O continente
experimentou grandes intercâmbios culturais em todas as direções, impulsionados pelo
comércio. A região do Saara foi uma passagem importante, e o comércio transaariano atingiu
seu auge entre os séculos XI e XV, com rotas terrestres e fluviais conectando o Sahel e a savana
florestal. Os nômades do deserto se beneficiaram do comércio, fornecendo guias para as
caravanas. O ouro era uma mercadoria valiosa, e regiões como Gana acumularam riqueza com
seu monopólio sobre as minas de ouro. O sal também desempenhou um papel importante no
comércio, servindo como moeda comercial e sendo controlado pelos líderes locais. O cobre
também era um artigo valioso no comércio, principalmente na região ocidental da África. As
cidades do Sahel e do Saara funcionavam como pontos de parada e centros comerciais, e o
comércio de escravos também era uma parte significativa dessas rotas.

O tráfico de escravos tinha como objetivo fornecer empregados domésticos, principalmente


para a aristocracia árabo-berbere. Embora o comércio de escravos tenha existido nesse
período, sua exportação não alcançou níveis preocupantes, uma vez que os árabes estavam
mais interessados no ouro do Sudão. Além do ouro, o Sudão também exportava marfim, peles,
ônix, couro e cereais para o Magrebe. As dinastias de comerciantes ricos, incluindo as
comunidades judaicas, desempenharam um papel importante no comércio transaariano. No
século XV, os navegadores portugueses estabeleceram contato direto entre a Europa e o Sudão
através do Atlântico. Como resultado do comércio, muitos árabo-berberes se estabeleceram no
Sudão e a islamização ocorreu pacificamente através da influência desses comerciantes. O
árabe se tornou a língua dos letrados e cortesãos nas cidades sudanesas e houve intercâmbios
culturais entre as universidades do Sudão e do Magrebe. Os soberanos sudaneses cercaram-se
de juristas e conselheiros árabes, e os muçulmanos exerceram um papel significativo no sul do
Saara. Além disso, o Sudão central e os países da bacia do Lago Chade tiveram relações
comerciais ativas com o Magrebe, a Líbia e o Egito.

No século XIV, o reino de Kanem tinha uma política de abertura para o norte, com várias rotas
comerciais importantes que ligavam o Chade ao Egito, Tibesti, Ghāt, Ghadames, Túnis e Trípoli.
Essas rotas eram movimentadas e envolviam o comércio de couro, escravos e presas de
elefante. Os haussa eram os principais protagonistas do comércio na região central do Sudão,
atuando como intermediários entre a savana e a floresta. A floresta não era uma barreira
intransponível, mas sim um filtro para as correntes econômicas, ideias e técnicas. Havia um
comércio antigo entre a savana e a floresta, e muitos povos da floresta eram originários da
savana. Na África Oriental e Central, há poucos registros dos artigos de luxo que chegavam aos
portos do Oceano Índico, mas há evidências de rotas comerciais que ligavam a Etiópia ao
Zambeze, como o comércio de sal. Minas de sal eram exploradas no sul da Tanzânia, e a
mineração de sal nessa região remonta aos séculos V ou VI d.C. A densa floresta equatorial não
impedia as relações entre as savanas do norte e do sul, e os povos migravam em todas as
direções, aproveitando as brechas abertas pela mudança climática e pela intervenção humana.

O comércio de cobre era uma prática estabelecida na região desde os primeiros séculos da Era
Cristã, com barras e ligas de cobre sendo negociadas a longa distância. O cobre também era
apreciado como joia e usado como marca de prestígio político em várias regiões,
possivelmente até mesmo como moeda. Na savana arborizada ao sul da floresta equatorial, as
minas de Shaba atraíram diferentes povos, resultando em uma expansão do comércio de longa
distância. Os reinos luba e o Império lunda floresceram nessa região, e a influência luba se
estendia até as províncias do Zambeze. O ouro da África meridional já era conhecido pelos
muçulmanos no século X e a mineração começou no século VII ao sul do Zambeze, se
expandindo pelo planalto até o século XV. O comércio do ouro era importante nos séculos XIII e
XIV, sendo exportado dos planaltos dos shona e vendido para a aristocracia governante do
Zimbábue. No entanto, a riqueza do Zimbábue não se baseava apenas no ouro, mas também
no desenvolvimento da criação de gado. As civilizações da África meridional estavam
interligadas e apresentavam uma unidade cultural. Além disso, recentemente tem sido
destacada a importância das relações comerciais entre Madagáscar, as Ilhas Comores e a costa
oriental da África. A possibilidade de influências e difusão de produtos ao longo da costa até
Kilwa questiona os limites meridionais das rotas de navegação na região do Oceano Índico.

---A África nas relações intercontinentais---

O texto aborda a percepção e o conhecimento que as culturas periféricas, como o mundo


muçulmano e asiático, tinham sobre a África nos séculos XI a XV. Destaca-se que os wangara,
povos da região sudanesa, tinham conhecimento da geografia do mundo muçulmano, inclusive
do Egito e do Magrebe. Os zandj e os swahili, que viviam às margens do Oceano Índico,
também conheciam o mundo árabe oriental, a Índia e possivelmente a China. O comércio entre
a África e esses povos era intenso, com comerciantes negros do Sudão e da África Oriental
fazendo missões comerciais até as cidades árabes. É mencionado ainda que a África
setentrional obtinha importantes recursos, como o ouro, das regiões meridionais através do
comércio com o mundo muçulmano. Os impérios do Mali e de Gana, por exemplo, organizaram
um sistema de controle das exportações e taxação sobre os bens importados. A pressão militar
e comercial dos europeus cristãos também aumentava nesse período. A África, até a faixa da
floresta, passou a fazer parte do espaço de exploração econômica do sul pelo norte, com o
Egito sendo o único a controlar o comércio europeu em seus portos.

Cada país buscava obter vantagens comerciais, mas suas capacidades econômicas e
estratégicas eram diferentes. Inicialmente, Egito e a bacia oriental do Mediterrâneo eram mais
interessantes para Veneza do que a África em si. No século XIV, a região do Magrebe e do
Mediterrâneo eram importantes para os genoveses, mas a conquista otomana os afastou dessa
região e eles passaram a se concentrar no comércio com o norte da África. Os espanhóis foram
os primeiros a fornecer grandes volumes de açúcar, o que levou a uma colaboração com os
genoveses, que por sua vez se associaram à política portuguesa de exploração, introduzindo o
cultivo da cana-de-açúcar nas ilhas atlânticas ocupadas pelos portugueses. Esse interesse dos
genoveses despertou o interesse dos italianos pela construção naval e os levou a participar da
exploração marítima. O ouro e os escravos extraídos da África foram os principais produtos que
tornaram a presença africana evidente na economia mediterrânea. Inicialmente, o ouro
africano contribuiu para as moedas do norte da África, mas gradualmente os europeus
começaram a obter ouro do sul da África, acumulando lucros e desenvolvendo uma classe de
comerciantes poderosos. A captura de escravos também foi uma constante nas relações
belicosas entre muçulmanos e cristãos, sendo que no século XII houve uma reversão da
tendência e os cristãos passaram a ter mais escravos para empregar ou vender, incluindo
negros da África setentrional e regiões mais ao sul. Os primeiros contatos entre cristãos e
negros ocorreram através dos muçulmanos, e no século XIV e XV, o tráfico de escravos esteve
sob domínio dos mercadores cristãos, como os catalães. Diversos portos e países ocidentais
aumentaram suas importações de mão de obra negra, como Nápoles e Sicília.

Os escravos negros passaram a ser vendidos a preços baixos e sua condição de vida era
extremamente precária. A luta pelo controle do Oceano Índico, a expansão otomana e a
expansão europeia rumo ao Atlântico tiveram graves consequências para a África,
interrompendo seu crescimento econômico. Os europeus estabeleceram-se rapidamente no
“Mediterrâneo atlântico” devido à busca de ouro e à expectativa de produção em larga escala
de culturas úteis nas ilhas do Atlântico. A exportação de mão de obra africana estava
diretamente ligada a esse esforço. A África foi reduzida ao papel de fornecedora de mão de
obra e sua atenção foi desviada para as perspectivas econômicas do Novo Mundo e da Ásia. Os
portugueses conseguiram o controle das feitorias do Marrocos, contornaram o Cabo Bojador e,
após 60 anos, navegavam regularmente pelo Oceano Índico.

---conclusão---

Os europeus, especialmente espanhóis e portugueses, encontraram novas rotas marítimas


para as Américas, o Sudão e as Índias, assumindo o controle do comércio mundial. A
descoberta de ouro e prata nas Américas superou as minas de ouro e metais preciosos da
África. No plano político, os reinos e impérios africanos se desenvolveram, com o Islã
exercendo influência na África setentrional e o comércio favorecendo o rápido
desenvolvimento social no Sudão. A religião tradicional baseada no culto dos ancestrais
continuou a desempenhar um papel importante, mesmo entre os povos governados por
soberanos islâmicos. O texto destaca também a resistência dos grupos étnicos africanos às
tentativas de assimilação e a formação de federações de clãs.

O texto destaca a ligação entre o Magrebe, Egito e o Oriente muçulmano através do Islã. No
entanto, o Islã estava em declínio no plano político, com os cristãos lançando ofensivas na Itália
e na Península Ibérica e conquistando Granada, o último reino árabe da Espanha. Os
portugueses estabeleceram-se em Ceuta com o objetivo de usar o Marrocos como ponto de
partida para sua penetração na África. Os soberanos da Península Ibérica iniciaram expedições
terrestres e marítimas em busca de rotas para a região do Sudão, que era rica em ouro.
O desenvolvimento político na África deve ser destacado, desenvolvimento onde, os clãs
passaram a se agrupar em reinos e, posteriormente, em impérios. Havia reinos e impérios na
extremidade meridional do continente desde antes do século XII, como evidenciado pela
presença de formações políticas estruturadas, como o Zimbábue. A civilização do Zimbábue-
Mapungubwe, por exemplo, mostra uma mistura da cultura banto com a de povos mais
antigos, como os khoi-khoi. As pesquisas sugerem que o trabalho com o ferro pode ter
ocorrido na África meridional antes da Era Cristã.

No aspecto econômico e cultural, destaca-se a intensidade das relações comerciais entre


diferentes regiões e continentes, impulsionadas por mercadores de diferentes origens. Os
reinos negros tinham consciência do valor econômico e político de minérios como ouro, cobre
e ferro, cuja exploração era controlada. A costa leste da África, do Chifre até Sofala, estava
aberta para o Oceano Índico, o que possibilitava o contato direto com o mundo oriental.
Enquanto as cidades comerciais costeiras refletiam influências externas, os reis do interior,
especialmente os senhores dos metais, construíam cidades e monumentos que refletiam a
cultura africana sem influência exterior.

No período abordado no texto, o comércio na África baseava-se na troca de tecidos, armas e


outros produtos provenientes da savana e floresta, que eram vendidos até mesmo na China e
Indonésia. Madagáscar e outras cidades da costa realizaram uma simbiose entre as culturas
africana e oriental, tanto linguística quanto economicamente. O comércio também trouxe
novas plantas, como o algodão, da Ásia para a África, através dos árabes. Houve um
florescimento do comércio de livros em Gao e Tombuctu, e uma literatura negro-muçulmana
surgiu no Sudão, com destaque para a teologia e a história. Houve também dispersão dos
povos banto por toda a África Central, influenciando a região com sua técnica agrícola mais
eficiente. Nas regiões ao sul do Saara, onde já existiam civilizações brilhantes, a agricultura era
a base econômica, apoiada na exploração familiar e com grupos de populações escravizadas.
Os ofícios eram reservados às castas, e os mercadores desempenhavam um papel importante
nas relações regionais e comerciais. O Islã teve influência, mas as civilizações africanas
desenvolveram-se com base na tradição africana, e até mesmo os estados islamizados
preservaram a identidade cultural. A agricultura era a base da economia, com os camponeses e
artesãos formando a maior parte da população, enquanto a propriedade privada da terra não
foi a base da evolução social e econômica na África. Descrevendo também a evolução social e
econômica da África negra, destacando que a terra era considerada um bem coletivo antes da
introdução da economia monetária. Os reis e imperadores possuíam terras exploradas por
coletividades escravizadas, mas essa escravidão era mais semelhante à servidão. No entanto,
em algumas regiões, os escravos desempenhavam um papel essencial na economia e no
exercício do poder, como no Sudão central. Nas cidades haussa, parte do exército era formada
por escravos. O número de escravos nunca ultrapassou o número de camponeses livres, e os
homens livres trabalhavam a terra por conta própria, mas também deviam serviços aos
soberanos ou senhores locais.

Tomando assim como final as seguintes conclusões:

1. Apesar de a economia fundamentar-se na agricultura e na criação de gado, a propriedade


privada não era generalizada; o direito principal pertencia à comunidade. A classe de
mercadores começava a realizar certa acumulação de capital, mas acabou não formando uma
verdadeira burguesia.
2. A África não era um continente subpovoado, fato extremamente impor-tante. O continente
era muito povoado, principalmente a África ao sul do Saara:

No Vale do Senegal, no delta interior do Níger, ao redor do Lago Chade, havia centenas de
aldeias agrícolas, centros comerciais e cidades. As primeiras escava-ções arqueológicas nessas
regiões permitem a afirmação categórica nessa questão.

É difícil se fazer uma estimativa da população; no entanto, o grande número de cidades


comerciais bem povoadas e a construção de monumentos como os do Zimbábue levam a supor
uma população densa. Nessa época de expansão comercial, as cidades podiam totalizar 10% da
população global do continente.

No entanto, de norte a sul e de leste a oeste a população se espalhava desigual-mente, devido


à existência de desertos e densas florestas. A África dessa época deve ter sofrido epidemias,
períodos de seca ou grandes inundações, mas os documentos de que dispomos falam pouco de
fome. Os viajantes árabes subli-nharam com frequência a abundância de víveres. Para o
continente como um todo, pode-se estimar uma população de, no mínimo, 200 milhões.

3. O comércio de escravos foi praticado antes de 1600 na África, mas os números envolvidos
eram limitados. Não há nenhuma comparação com o tráfico negreiro que a Europa iria impor
ao mundo negro a partir de 1500.

Para melhor conhecer a história do período do século XII ao século XIV, as pesquisas devem se
apoiar cada vez mais na arqueologia, na linguística, na antropologia e, também, nas tradições
orais. Estas podem, por um lado, ser com-frontadas com os escritos e, por outro, podem guiar
os arqueólogos em campo. A busca de manuscritos deve continuar; parece que existem bem
mais documentos escritos sobre esse período do que se pensava.

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