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Loteamento
Loteamento
A ARQUITETURA
E URBANISMO
André Huyer
A noção de planejamento
urbano
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Você sabia que, atualmente, 80% da população brasileira vive em cida-
des? Isso quer dizer que a tendência é a população rural ser cada vez
menor. Uma das principais ferramentas para termos cidades boas
de se viver é um planejamento urbano adequado. Essa ciência têm
instrumentos decisivos para determinar como será a qualidade de vida
nas cidades. Por meio de um bom planejamento e da correta execução
dele, as cidades podem ser locais ordenados, sustentáveis e equilibrados.
Neste texto, você conhecerá os princípios que norteiam o planejamento
urbano e suas consequências para as cidades.
Na prática
Além do IA, geralmente, são permitidos mais algumas quantidades de metros qua-
drados para cada terreno, que são as chamadas áreas não computáveis, ou isentas.
Por exemplo, ninguém mora ou trabalha na escada de um edifício, nem na garagem,
nem nos corredores ou sacadas. Então essas áreas não contam no IA, pois não vão
influir na densidade do bairro.
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Ainda há outros controles que limitam o tamanho dos prédios, como a altura,
que é estipulada em quantidade de pavimentos ou metros; e as distâncias que
os prédios devem manter das divisas. Outro importante instrumento é a taxa
de ocupação (TO), que se trata de uma porcentagem, usualmente variando
entre 60% e 90% do terreno. É a porcentagem de superfície do terreno sobre
a qual podemos construir.
Não é permitida a ocupação total dos terrenos, pois isso resultaria em
problemas de infiltração das águas das chuvas, bem como falta de ventilação
e insolação dos prédios vizinhos. Todos esses instrumentos limitam o tamanho
que um prédio pode ter e, consequentemente, sua densidade.
O planejador urbano e o gestor das cidades também podem dispor de uma série
de outras ferramentas para trabalhar, muitas das quais são relativamente recentes
e pouco empregadas. Há, portanto, ainda um grande potencial de alternativas
para enfrentar as questões urbanas atuais. Um desses instrumentos é o instituto
do “Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios” de imóveis urbanos.
Para você entender o princípio que move esse instrumento, imagine um terreno
baldio cercado de edifícios, com rua pavimentada, água encanada, eletricidade,
iluminação pública, ônibus e recolhimento de lixo (infraestrutura urbana). Agora,
imagine uma família ou uma empresa, que precisa morar ou se instalar. Se esse
terreno baldio não for disponibilizado (vendido, alugado, construído), o interes-
sado terá que ir procurar em um local mais distante, que, muitas vezes, será nas
bordas da cidade, onde ainda não há toda essa infraestrutura urbana disponível.
Dessa forma, a prefeitura terá que levar até esse local distante a infraestrutura
que ainda não há lá, mas já estava disponível em frente ao terreno baldio. Isso
gera custos excessivos para o poder público, sem beneficiar ninguém.
O instrumento do parcelamento compulsório visa forçar o proprietário
do terreno ocioso (vazio urbano) a dar uma ocupação a ele. A construir ou
vender. Na legislação, isso é denominado de função social da propriedade. A
prefeitura deve fazer constar no plano diretor as áreas da cidade onde pretende
aplicar o instrumento. Posteriormente, uma série de outras medidas podem
ser tomadas, como aumentar o imposto territorial acima da inflação, que é
chamado de “Imposto progressivo no tempo”.
O direito de preempção é quando a prefeitura tem o direito de preferência
de compra de um terreno ou prédio, se seu proprietário pretender comercializa-
-lo. Ela pode utilizar esse direito para viabilizar regularização fundiária,
implantação de equipamentos urbanos, entre outros.
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A outorga onerosa do direito de construir está cada vez mais sendo em-
pregada nas grandes cidades, e pode, também, ser denominada “solo criado”.
Aqui, retomamos o conceito de IA, anteriormente descrito. O plano diretor
estabelece um limite de IA para cada zona e, também, um IA máximo, maior
do que o IA básico. O proprietário utiliza o IA básico e, querendo, pode
adquirir mais uma determinada porcentagem de direito de construção. Pelo
solo criado ele paga um montante à prefeitura.
A variação da outorga onerosa é a “Transferência de potencial construtivo”,
ou seja, é um instrumento muito útil na preservação do patrimônio cultural
e de áreas de preservação do meio ambiente natural. Imagine o proprietário
de um prédio tombado, cujo índice de aproveitamento está subutilizado. A
tentação de demolir o prédio histórico para construir algo maior no mesmo
local é desafiadora, mas, em vez disso, o proprietário pode vender o excedente
de IA para outro empreendedor empregar em outro local, no qual ele queira
utilizar a outorga onerosa, que no outro imóvel será solo criado.
O atual “menu” de ferramentas de planejamento urbano é bastante amplo.
Algumas ferramentas são agrupadas e utilizadas conjuntamente sob deter-
minadas condições, transformando-se, por exemplo, em “Operações urbanas
consorciadas”, que são utilizadas por prefeituras quando estas querem promover
o desenvolvimento ou a revitalização de alguma área da cidade, em conjunto
com a iniciativa privada.
Vários desses instrumentos são regulados em legislações superiores, como o
Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), que regulamenta artigos da Constituição
Federal, ou na Lei do Parcelamento do Solo (Lei nº 6.766/1979), que determina
condições a serem atendidas por obrigações dos loteadores e dos municípios.
Conflitos de miscigenação
Você já viu o que é o zoneamento, suas origens e tendências de aplicação
atual. Após os excessos do urbanismo modernista, que resultaram em zonas
segregadas, onde de dia só se trabalhava e de noite e finais de semana não
havia ninguém, vemos, hoje, um discurso contrário, que é fruto da tese da
miscigenação, inicialmente levantada por Jane Jacobs (2011), conforme já
explanado. Porém, a miscigenação também deve ter limites, não pode ser
extrema, pois, igualmente, resultará em problemas.
Zonas com indústrias não podem ter residências muito próximas, pois
mesmo que hoje as indústrias não possam poluir, devido às exigentes legislações
ambientais, elas ainda não podem prescindir do transporte pesado, que sempre
causará incômodo em áreas residenciais. Barulho, fumaça dos motores diesel,
atrapalham o trânsito, exigem reforço na pavimentação, etc. As indústrias,
quanto mais pesadas forem, devem preferencialmente ser localizadas junto
às grandes vias regionais (estradas), a fim de evitar os conflitos do transporte
pesado e eventuais poluições, como a geração de ruídos, que, muitas vezes,
é inerente aos processos produtivos e de difícil contenção.
Além das indústrias pesadas, pequenos prestadores de serviços também
podem ser incômodos as suas vizinhanças, por exemplo, serralherias, mar-
cenarias, depósitos de materiais de construção, entre outros, que também
devem receber a devida atenção na determinação dos zoneamentos urbanos.
Há, ainda, indústrias ou atividades com reais potenciais perigosos na even-
tualidade de ocorrerem acidentes, como atividades com riscos de explosões,
com riscos de contaminação do ar, do solo e da água. Podem ser necessárias,
portanto, zonas de transição entre a localização desses empreendimentos e
as demais zonas urbanas. Essas zonas de transição, podem ser muito úteis
na urbanização, pois podem ser parques (facilmente evacuados em caso de
acidentes), podem ser acidentes naturais, que preservados vão embelezar a
paisagem, reservas biológicas, entre outros.
Não é apenas a indústria que causa incômodos aos moradores. As casas
noturnas e similares (templos religiosos, que hoje utilizam equipamentos
de amplificação sonora) são grandes geradores de reclamações de poluição
sonora. O planejamento urbano pode restringir as atividades recreacionais em
determinadas zonas, nas quais os conflitos com moradores sejam moderados.
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Cidade compacta
A densidade nas cidades deve ficar dentro de alguns limites. Por exemplo, se a
densidade for muito baixa, a cidade ficará muito cara, considerando questões
como o transporte coletivo, que terá poucos passageiros, o que impõe tarifas
altas. Contudo, cidades com densidades muito altas também são antieconô-
micas, pois, por exemplo, o transporte coletivo deverá ser de massas, como
o metrô, que é de implantação extremamente custosa. Logo, o planejamento
urbano deve buscar um meio termo.
Pesquisas indicam que a cidade de densidade excessiva resulta em problemas
de trânsito congestionado e, consequentemente, necessidade obras de vulto
(viadutos, etc.). O congestionamento da infraestrutura também é um problema,
como as redes de abastecimento de água – possibilidade de falta de água; esgoto
pluvial – possibilidade de alagamentos em dias de chuva; fornecimento de
eletricidade e pavimentação das vias, necessitando refazer todas essas obras.
Por outro lado, a densidade muito baixa resulta em deseconomias, como
os serviços públicos extremamente caros, transporte público ineficiente, ruas
desertas, equipamentos públicos subutilizados. Ambos os casos são facilitadores
da criminalidade e falta de segurança. A título ilustrativo, para fins de referência,
a densidade ótima para cidades brasileiras de grande porte, é entre 250 e 400
habitantes por hectare (densidade líquida, somente os terrenos sem contar as
vias públicas). Para obter essas densidades os índices de aproveitamento oscilam
entre 1,3 e 2 (MASCARÓ; MASCARÓ, 1996). Porém, esses valores não devem
ser adotados como regra, pois cada cidade deve ser estudada caso a caso.
Outras questões que o planejamento urbano e os planos diretores, devem
atender são saneamento, mobilidade, política habitacional, regularização fun-
diária, política de patrimônio cultural, defesa civil, resíduos sólidos, estudos
de impacto ambiental e de vizinhança.
Por fim, você deve lembrar que as cidades não estão sozinhas no mapa.
Elas têm suas vizinhas e, eventualmente, suas regiões metropolitanas. O pla-
nejamento urbano deve considerar o conjunto de cidades próximas e, conforme
o caso, necessita de um plano diretor metropolitano ou regional.
Enfim, você agora sabe que o planejamento urbano é uma ciência muito
rica, repleta de instrumentos para gestão das cidades e muito importante, uma
vez que a qualidade de vida a qual estamos sujeitos está, em grande parte,
relacionada a decisões de planejamento urbano!
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Leituras recomendadas
ACIOLY JUNIOR, C.; DAVIDSON, F. Densidade urbana: um instrumento de planejamento
e gestão urbana. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
BENEVOLO, L. História da cidade. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2009.
BRASIL. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Brasília, DF, 1979. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6766.htm. Acesso em: 25 out. 2017.
BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Brasília, DF, 2001. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm. Acesso em: 25 out. 2017.
CHOAY, F. O urbanismo. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.
CONGRESSO INTERNACIONAL DE ARQUITETURA MODERNA. Carta de Atenas. Brasília,
DF: IPHAN, 1933. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/
Carta%20de%20Atenas%201933.pdf. Acesso em: 26 out. 2017.
HOWARD, E. Cidades-jardins de amanhã. São Paulo: Annablume; Hucitec, 2002.
MASCARÓ, J. L. Aplicação eficiente dos recursos públicos em infraestrutura urbana. Porto
Alegre: UFRGS, 2008. Material de disciplina da universidade.
MASCARÓ, J. L. Desenho urbano e custos de urbanização. Brasília, DF: MHU-SAM, 1987.
MASCARÓ, L. E. A. R. Ambiência urbana. 2. ed. Porto Alegre: +4, 2004.
SOUZA, M. L. Mudar a cidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. 2. ed. São Paulo: Studio Nobel, 2001.
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