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EDUCAÇÃO:

CRÍTICA & REFLEXÃO

COLETÂNEA DE ARTIGOS

Geisse Martins Sabará - MG


Organizador 2022
Dedico esse livro ao meu pai e mentor Moacir Martins, a
pessoa mais fascinante que eu tive o privilégio de
conhecer.
Foi o meu sábio pedagogo.
Ensinou-me a ler e escrever.
Incentivou-me a tentar ler o mundo através de outras
óticas, para que eu pudesse ir em busca da verdade.

Pai, amigo e mentor


EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Prefácio
“Penso, logo existo”. Essa é uma famosa frase do filósofo francês René
Descartes. Através dessas poucas palavras somos encorajados a aprofundar
nossas perspectivas quanto a importância do pensamento, da reflexão, do
discernimento e da meditação. Quando nos propomos a pensar e refletir
sobre a vida, somos transportados para um mundo de constante aprendizado,
aprimoramento e evolução. Isso nos faz sentir vivos, nos faz desejar mais, nos
estimula a romper barreiras e a conquistar lugares ainda não explorados em
nossa mente.

René Descartes morreu em 1650 d.C. e de lá pra cá muita coisa mudou quanto
ao modo pelo qual nós acessamos, exploramos, processamos e
compartilhamos o conhecimento, e isso é fantástico. É maravilhoso viver em
uma época de maior acesso, com mais caminhos a serem explorados, mais
capacidade de processamento e de uma maneira muito especial, viver num
tempo em que existem ainda mais possibilidades de se compartilhar o saber.

Compartilhar o conhecimento é a principal proposta do livro “EDUCAÇÃO:


CRÍTICA & REFLEXÃO”, nele você é convidado a participar desse processo de
aprimoramento e crescimento educacional. Através dele, você terá acesso a
uma série de artigos científicos escritos por diversos especialistas, que darão a
você uma oportunidade ímpar de aprofundar seus conhecimentos e aumentar
sua capacidade analítica e reflexiva quanto a relevantes temas da atualidade.

“EDUCAÇÃO: CRÍTICA & REFLEXÃO", não é um livro que objetiva exaurir ou


concluir temas e assuntos, muito pelo contrário, a proposta é a de aguçar seu
desejo por conhecimento. Compilando diversas áreas do saber, o livro oferece
ao leitor inúmeras possibilidades. É provável que ao longo da leitura você seja
surpreendido, talvez você seja confrontado, em alguns momentos
possivelmente você ficará intrigado e em outros, você até poderá se sentir
desconfortável. Mas serão esses sentimentos que te trará aquela sensação
maravilhosa de estar vivo.

“Penso, logo existo”, no livro “EDUCAÇÃO: CRÍTICA & REFLEXÃO", você é


convidado a testar sua existência refletindo, criticando, avaliando, meditando e
principalmente explorando incontáveis possibilidades do magnífico mundo do
conhecimento.

Profª Débora Ornellas de Almeida


EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Apresentação
Discorrer sobre os temas que compõe a educação de forma crítica e reflexiva,
em um primeiro momento pode parecer que é uma tarefa fácil e simples, uma
vez que esse assunto permeia a vida de todas as pessoas e na atual
conjuntura suscita até paixões. Sem pautar por nenhuma ideologia, e com foco
centrado em análises científicas acerca dos temas que permeiam todo o
universo dos espaços de aprendizagem, as proposições e inquietações
contidas nos artigos que já foram publicados, conduz o leitor por novas
perspectivas com base não somente pela ciência, mas também pelas
experiências vividas pelo autor.

Nesse livro, há considerações sobre a integração de novas tecnologias em sala


de aula, e o diálogo que existe com as teorias de aprendizagem. O autor
explora também o ensino híbrido e como essa metodologia tem impacto na
contemporaneidade. Outro tema que é trazido à baila, é sobre o papel da
pedagogia na educação profissional, explicita nesse texto, os desafios e os
paradoxos.

Sem deixar de trazer considerações sobre os sistemas avaliativos, há o texto


que esmiúça os sistemas de avaliação em grande escala e foca no ethos
contemporâneo. Com efeito, e entrelaçado com o uso e aplicação de novas
tecnologias à educação 4.0, também figura nessa obra e traz à lume,
considerações importantes e atuais acerca da interligação de saberes.

Sem deixar de fora a inclusão escolar, um dos artigos apresenta um estudo de


caso de um programa educacional, que vem revolucionando a educação
inclusiva no Brasil e no exterior. Ainda nessa direção e sentido, o autor através
de uma pesquisa minuciosa sobre o ensino hibrido na inclusão escolar, faz
uma análise do cenário brasileiro no clímax da pandemia, ao que tange ao uso
e aplicação de tecnologia.

Aproveite a leitura e a jornada rumo a efervescência de ideias, análises, e ao


conhecimento que será exposto.

O autor
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Sumário

1
TECNOLOGIAS INTEGRADAS À SALA DE 11
AULA: DIÁLOGOS COM AS TEORIAS DE
APRENDIZAGEM
INTRODUÇÃO 12
DESENVOLVIMENTO 13
CONSIDERAÇÕES FINAIS 14
REFERÊNCIAS 15

2
ENSINO HÍBRIDO: DISRUPÇÃO COMO 20
ALTERNATIVA
INTRODUÇÃO 21
EVOLUÇÃO DO ENSINO HÍBRIDO 22
O PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO HÍBRIDO 24
O PAPEL DOS APRENDIZES 25
SISTEMAS AVALIATIVOS 26
PLANEJAMENTO 28
CONSIDERAÇÕES FINAIS 29
REFERÊNCIAS 31

3
PAPEL DA PEDAGOGIA NA EDUCAÇÃO 32
PROFISSIONAL: DESAFIOS E PARADOXOS
INTRODUÇÃO 33
METODOLOGIA 34
RESULTADOS E DISCUSSÃO 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS 49
REFERÊNCIAS 52
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

4
INTELIGÊNCIA DE NEGÓCIOS NAS 54
AVALIAÇÕES EM GRANDE ESCALA DA
QUEBRA DE AXÍOMAS TERATOLÓGICOS ATÉ
O ETHOS CONTEMPORÂNEO
INTRODUÇÃO 55
METODOLOGIA 57
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS 63
REFERÊNCIAS 65

5
TECNOLOGIA EDUCACIONAL ADAPTATIVA: 66
ESTUDO DE CASO DA PLATAFORMA
EDUCACIONAL SIMPLIX
INTRODUÇÃO 67
OBJETIVOS 71
OBJETIVO GERAL 71
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 71
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 74
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 74
ESTUDO DE CASO: PLATAFORMA 77
EDUCACIONAL SIMPLIX
AMBIENTES DIGITAIS DE APRENDIZAGEM 78
VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE E DO 82
CONHECIMENTO
A MEDIAÇÃO ADAPTATIVA COM 83
TECNOLOGIAS COMO PRÁTICA DE
INTERVENÇÃO
MODELOS DE PRANCHA PARA A MEDIAÇÃO 83
PEDAGÓGICA
REFERÊNCIAS 87

6
EDUCAÇÃO 4.0 90
INTERLIGANDO PESSOAS E SABERES POR
MEIO DA TECNOLOGIA
INTRODUÇÃO 91
DESENVOLVIMENTO 92
TECNOLOGIA X METODOLOGIA 96
METODOLOGIAS ATIVAS 97
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR 99
CULTURA DIGITAL 100
CONSIDERAÇÕES FINAIS 101
REFERÊNCIAS 102
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

7
O ENSINO HÍBRIDO COMO ALTERNATIVA NA 105
INCLUSÃO ESCOLAR? ANÁLISE DO CENÁRIO
BRASILEIRO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL
INCLUSIVA EM TEMPOS DE PANDEMIA
INTRODUÇÃO 106
METODOLOGIA 107
DESENVOLVIMENTO 108
O CENÁRIO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO 108
BRASIL
O CENÁRIO DO USO DE TECNOLOGIAS 111
CONSIDERAÇÕES FINAIS 125
REFERÊNCIAS 127

8
A EDUCAÇÃO INFANTIL E A INFLUÊNCIA DAS 128
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO
INTRODUÇÃO 129
EMBASAMENTO TEÓRICO 131
PROJETO: TEÓRICOS 138
RELEVÂNCIA E APLICAÇÃO DO TRABALHO NA 144
SOCIEDADE
CONSIDERAÇÕES FINAIS 146
REFERÊNCIAS 147

9
ECONOMIA DIGITAL: ESCASSEZ DE MÃO DE 149
OBRA EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
INTRODUÇÃO 150
DESENVOLVIMENTO 153
CONSIDERAÇÕES FINAIS 163
REFERÊNCIAS 166
1
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Tecnologias Integradas à Sala de Aula:


diálogos com as teorias de
aprendizagem¹
Geisse Martins

INTRODUÇÃO

Fato é que, nos últimos anos, a tecnologia vem mudando a forma de se


comunicar e, também, de aprender. Com efeito, tudo isso tem um impacto
considerável nos ambientes de aprendizagem e, diretamente, na sala de aula.

Todos esses elementos, entrelaçados numa cultura digital, reformulam a


maneira de se comunicar, entreter, transacionar e de se aprender na
sociedade do conhecimento. Novos elementos tecnológicos e o crescimento
exponencial da informação e do conhecimento, impactam a educação do
século XXI. Esses impactos, não acontecem somente no “modus operandi”, mas,
além disso, impactos de ordem comportamental e atitudinal.

Dentro desse universo de descobertas e avanços tecnológicos da comunicação


e da informação, inúmeras teorias surgiram e ainda surgem, para tentar
compreender de onde vem o conhecimento e como ele se transforma. Para
tanto, grandes teorias como behaviorismo, cognitivismo, construtivismo e,
muito recentemente, o conectivismo, através de seus pensadores, buscam
compreender essas questões.

Esse trabalho tem como objetivo tentar compreender como os princípios


tecnológicos e pedagógicos, para o uso de tecnologias na sala de aula,
dialogam com as teorias de aprendizagem existentes, frente aos desafios
propostos pelo impacto nos comportamentos, usos, costumes e, sobretudo,
nos processos do ensino e aprendizagem.

[1] Esse texto é uma versão adaptada do artigo publicado na Revista Científica Multidisciplinar
Núcleo do Conhecimento Ano 05, Ed. 09, Vol. 02, pp. 21-29, setembro de 2020. ISSN: 2448-
0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/tecnologias-
integradas, DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/tecnologias-integradas.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

DESENVOLVIMENTO

Desde o início dos tempos, a curiosidade e a vontade de saber, moveram a


humanidade e impulsionaram a espécie humana em sua trajetória de
desenvolvimento e evolução, até os dias atuais. Passamos a manifestar
conquistas, desafios, comportamentos e rituais expressos em desenhos nas
paredes das cavernas.

O uso de símbolos e da escrita, das tábuas de argila e da escrita cuneiforme,


do antigo Egito, tudo isso influenciou o surgimento de civilizações como a
Grécia e Roma, mais adiante, com o advento do papel e a invenção da prensa
de Gutenberg, que impulsionou as artes, a ciência, a literatura, através da
escrita, e, também, a produção e a difusão do conhecimento através dos livros
impressos.

Figura 1| Educação no antigo Egito

Fonte: Upklyak, Freepik (2022).

Segundo a inteligência de Lucci (2000, p.5):

[…] essa nova sociedade, que está se formando, e que tem por
base o capital humano ou intelectual, é chamada de Sociedade
do Conhecimento. Nessa sociedade onde as ideias, portanto,
passam a ter grande importância, estão surgindo, em várias
partes do mundo, os Think Thanks, que nada mais são do que
grupos ou centros de pensamentos para a discussão de ideias.
Esses centros têm por objetivo a construção de um mundo, de
uma sociedade mais saudável, do ponto de vista econômico e
social, que possa desfrutar de uma melhor qualidade de vida
(LUCCI, 2000, p. 5).

A velocidade de produção e propagação de informação e conhecimento, é


cada vez mais curta e se propaga por diversos meios e mídias. Toda essa
dinâmica e transformação nos diversos processos, também influenciam,

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

diretamente, no comportamento das pessoas, frente ao uso de tecnologias.

Questões éticas, comportamentais e de ordem de convívio social, tais como:


assédios (sexual, virtual, escolar);
segurança digital;
cidadania digital e;
direitos e responsabilidades.

Todas essas questões permeiam a chamada sociedade da informação e, agora,


do conhecimento. Sociedade subdividida em inúmeras subclasses que criam
novas possibilidades, para os setores econômicos, político, cultural e social.
Diante de todo esse cenário, em que se instala uma assimetria entre o uso das
tecnologias e dos princípios e valores humanos. Faz-se necessário evocar as
principais teorias de aprendizagens existentes, que possam estabelecer um
diálogo com os princípios tecnológicos e pedagógicos, para o uso de
tecnologias na sala de aula, não somente para potencializar o conhecimento,
mas, também, para permitir um enfrentamento de questões, tão amplas e
complexas, e que fazem parte de todo esse contexto.

As teorias de aprendizagem que se apoiam na cognição, no comportamento e


na construção do conhecimento (via de regra, fundamentadas numa tradição
epistemológica), possuem sua ótica alicerçada em pensadores que tentam
explicar como o ser humano constrói o conhecimento e as suas dinâmicas,
entrelaçadas no comportamento humano.

Para Imbérnom (2010, p.36):

Para que o uso das TIC signifique uma transformação


educativa que se transforme em melhora, muitas coisas terão
que mudar. Muitas estão nas mãos dos próprios professores,
que terão que redesenhar seu papel e sua responsabilidade
na escola atual. Mas outras tantas escapam de seu controle e
se inscrevem na esfera da direção da escola, da administração
e da própria sociedade (IMBÉRNOM, 2010, p. 36).

Na mesma direção e sentido, Lévy (1993) nos oferece a seguinte afirmação: ”as
novas tecnologias, utilizadas como ferramentas pedagógicas nas escolas,
redefinem as funções docentes, pois, agregam às práticas de ensino e
aprendizagem, novos modos de acesso aos conhecimentos”.

Sendo o ser humano, um ser social, não está imune ao que lhe acontece ao
seu entorno. Vygotsky (1991), é enfático nas suas considerações sobre como
ocorre a aprendizagem, e afirma que o interacionismo é o ponto e a força axial
no que se refere ao processo de aprender das pessoas.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Por conseguinte, quando se trata de interação social, mediada por uso de


tecnologias dentro da sala de aula, pontos centrais, como respeito entre
pessoas e suas singularidades, são determinantes para uma construção
salutar nos processos do ensino e da aprendizagem. Ainda na mesma linha de
raciocínio Ivic (2010, p. 19) afirma:

Para Imbérnom (2010, p.36):

Analisando o papel da cultura no desenvolvimento individual,


Vygotsky desenvolve duas ideias análogas. No conjunto das
aquisições da cultura, centraliza sua análise sobre aquelas que
são destinadas a comandar os processos mentais e o
comportamento do homem. São os diferentes instrumentos e
técnicas (incluindo as tecnologias) que o homem assimila e
orienta para si mesmo, para influenciar suas próprias funções
mentais. Assim, cria-se um sistema gigantesco de “estímulos
artificiais e externos” pelos quais o homem domina seus
próprios estados interiores (IVIC, 2020, p.19).

Nas relações sociais e histórico-culturais, as questões de ordem psicológicas


são o pilar de apoio e, também, se justapõem com a cultura que é a parte
fundamental no processo da construção humana que, não raro, acontece,
também, nos ambientes de aprendizagem, sejam eles físicos ou virtuais.

Como bem preconizou Piaget (1978), nas suas afirmações sobre equilibração
majorante (nos conceitos de assimilação, acomodação e desequilibração), com
efeito, o uso de novas tecnologias nos processos de ensinar e aprender
podem colaborar para que se possa existir um constante e cíclico
desequilíbrio, uma vez que se utilizam outras fontes e formas de aprender (uso
de tecnologias adaptativas, ensino híbrido, sala de aula invertida, uso de vídeos
e plataformas de colaboração).

Importante ressaltar que, aprender tem a ver, também, com mudança de


comportamento e ajustamento social. Há de se atentar que, em salas de aula
que utilizam tecnologia, e que pessoas hiperconectadas precisam ter em
mente que não basta apenas conteúdos em mídias interessantes ou mesmo
com dispositivos ultramodernos, como a realidade aumentada ou a realidade
virtual, mas, sobretudo, com o processo atual de aprendizagem e com os
valores e princípios que norteiam a sociedade.

Gardner (2006) e sua teoria das Inteligências Múltiplas pode ser evocada, e
suas ideias se colocam em marcha no sentido de consubstanciar que o
elemento essencial em ambientes de aprendizagem é uma participação ativa
(dos seus agentes) e a troca de experiências (teóricas e empíricas) mediadas
pelo diálogo e com interação dialógica/dialética que privilegie o intercâmbio de
novas ideias, mas, sobretudo, em impelir o desenvolvimento da cognição, bem

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

como, também, melhoria nas relações interpessoais, inclusive as que são


mediatizadas por uso de tecnologias.

As proposições do professor de Harvard harmonizam-se com as novas formas


de aprender e ensinar, que acontecem dentro das atuais salas de aula, que se
beneficiam com a aprendizagem mediatizada por uso de tecnologias.

Mais recentemente, os pensadores da linha do conectivismo vêm lançando luz


em áreas de sombra, no tocante à aprendizagem, uma vez que todos esses
novos elementos tecnológicos e suas implicações não estavam ao alcance e
radar das teorias do behaviorismo, cognitivismo e construtivismo.

De acordo a teoria conectivista, na aprendizagem em sala de aula, mediatizada


por uso de tecnologias, há integração entre os atores participantes e que estes
estão imersos em princípios explorados pelo caos, redes de relacionamentos
(ativas e passivas), e com alto grau de complexidade e auto-organização, e que
essas nebulosas de elementos estão em constantes movimentos de mudança
e com, até descontrole dos limites do raio de ação na construção do
conhecimento. Em suma, tudo muda constantemente e é de difícil controle.

Na perspectiva de Siemens (2004, p.3):

As teorias da aprendizagem estão preocupadas com o


processo atual de aprendizagem, não com o valor do que está
sendo aprendido. Em um mundo ligado em rede, a espécie
exata de informação que adquirimos é explorando a sua
importância. A necessidade de avaliar a importância de
aprender alguma coisa é uma meta-habilidade que é aplicada
antes da própria aprendizagem começar. Quando o
conhecimento é sujeito à parcimônia, o processo de avaliar a
importância é assumido como intrínseco à aprendizagem.
Quando o conhecimento é abundante, a avaliação rápida do
conhecimento é importante. Preocupações adicionais surgem
do rápido aumento da informação. Nos ambientes atuais,
frequentemente, a ação é necessária sem aprendizagem
pessoal – isto é, é preciso agir buscando informações fora do
nosso conhecimento primário. A habilidade de sintetizar e
reconhecer conexões e padrões é uma habilidade valiosa
(SIEMENS, 2004, p. 3).

Não obstante, desse caudaloso caos, que possa sugerir uma anarquia digital,
compreender que novas informações estão sendo continuamente produzidas,
compartilhadas e, como consequência, novos conhecimentos em sua gênese
podem surgir. É vital ensinar a habilidade de distinguir entre o que é
importante e o que não é. O que se pode fazer e o que não se pode fazer, as
balizas mestras da ética, dos bons costumes, da moral estabelecida em
sociedade, precisam estar sempre no cerne de todo e qualquer processo de

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

aprendizagem, e, mais ainda, em salas de aula. Tudo isso precisa ser


explicitado e amplamente investigado pelos alunos e alunas.

Em sintonia com as proposições de Siemens e suas teorias do conectivismo, a


pedagogia contemporânea tem agora, por horizonte, analisar estratégias de
ensino e aprendizagem que privilegiam a autoria e a colaboração em rede.

Em salas de aula que se utilizam de tecnologias, é imprescindível que todos os


envolvidos compreendam que a aprendizagem e a construção de
conhecimentos se apoiam na diversidade de opiniões, e que atos de assédio,
exclusão e, até mesmo crimes cibernéticos, não contribuem em nada para a
sociedade.

Figura 2| Educação escolar no Brasil – uso de tecnologia

Fonte: Gpointstudio, Freepik (2022).

Ao se apropriar dos princípios do conectivismo, as práticas pedagógicas,


sempre que possível, poderão amadurecer conceitos e propor mudanças de
comportamento, pois, mais do que nunca, faz-se necessário cultivar e manter
conexões para facilitar a aprendizagem contínua, ancorada no respeito e em
total harmonia com a cidadania digital.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ritmo alucinante em que o uso de novas tecnologias causa na sociedade, é


um fato. Em ambientes de aprendizagem, isso ocorre de forma ainda mais
acelerada e requer a adoção de novas estratégias pedagógicas, frente aos
novos desafios que surgem com o advento e o uso de novas tecnologias.

Sendo a escola um extrato da sociedade, que também vivencia toda e


qualquer mudança, frequentemente, é o local de maior difusão da informação,
arte, cultura e profusão do conhecimento. Com efeito, a aplicação de
tecnologias em salas de aula, também, convida a pedagogia a estabelecer e
estruturar acompanhamento, para que questões relacionadas a cidadania
digital, segurança digital e responsabilidades, façam parte e estejam presentes
diante deste novo cenário que é passível de mudança a todo o instante.

Não obstante, possa parecer que as teorias de aprendizagem estejam


desconexas com esse momento dentro das salas de aula, em que o uso e as
aprendizagens acontecem mediatizadas pelas tecnologias, ao contrário as
abordagens e análises das teorias não são estéreis, possuem total aderência
para contribuir para elevar o nível de entendimento e efusiva participação de
todos os atores envolvidos com a educação contemporânea.

Por conseguinte, as teorias de aprendizagem não somente são evocadas, para


trazerem um melhor entendimento, mas, sobretudo, para poderem ancorar as
decisões de planeamento pedagógico e de novas estratégias de ensino e
aprendizagem, frente aos princípios tecnológicos, já instalados, operantes nas
salas de aulas, e que, de certa maneira, provocam alterações no
comportamento, na cultura e no social.

Novas abordagens teóricas, como o conectivismo, trazem novas proposições,


uma vez que, a tecnologia é a força axial que tenciona todas as variáveis, nesse
cenário de mutações alucinantes, bem como, têm uma influência sobre os
atores envolvidos em educação, cujas práticas são mediatizadas pelo uso das
TICs.

E por fim, não basta apenas ensinar sobre a tecnologia e com a tecnologia,
imperativamente, nos dias atuais, é mais que necessário, educar para a
cidadania digital, para que se possa extrair o máximo que a tecnologia
proporcione, ao mesmo tempo em que se possa construir uma sociedade
mais justa, mais humana e fraterna, com o uso que o conhecimento
impulsiona à humanidade.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

REFERÊNCIAS

HOWARD.G. Multiple intelligences: New Horizons. New York: Basic Books,


2006

IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança


e a incerteza. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

IVIC, E. P. C. Lev Semionovich Vygotsky. Fundação Joaquim Nabuco. Editora


Massangana. Recife, 2010.

LEVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da


informática. Editora 34. Rio de Janeiro, 1993.

LUCCI. E. A. A era pós-industrial, a sociedade do conhecimento e a


educação para o pensar. São Paulo. Editora Saraiva, 2000.

GPOINTSTUDIO. Figura 2. Disponível em: https://www.freepik.com/free-


photo/teamwork-teacher-s-
laptop_13132958.htm#query=Gpointstudio&position=14&from_view=search.
Acesso em: 23 jan. 2022.

PIAGET. J. Epistemologia genética. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, ColeçãoOs


Pensadores, 1978.

SIEMENS. G. Conectivismo: Uma teoria de Aprendizagem para a idade digital.


2004.

UPKLYAK. Figura 1. Disponível em: https://www.freepik.com/free-


vector/ancient-egypt-papyrus-scroll-cartoon-with-
hieroglyphs_5066681.htm#query=Egito&position=32&from_view=search.
Acesso em: 23 jan. 2022.

VIGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade


escolar.In: LURIA, A.
R. et al. Psicologia e pedagogia: Bases psicológicas da aprendizagem e do
desenvolvimento. v. 1 2. ed. Lisboa: Estampa, 1991.

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2
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Ensino Híbrido: disrupção como


alternativa²
Geisse Martins

INTRODUÇÃO

Um arquétipo da educação que ainda perdura, é o conceito fundante de


Paideia. Com origem na Grécia, a teoria tinha como pilar, o homem ciente de
uma educação voltada à aplicação do conhecimento em sua vivência na
sociedade. Nesse período, a educação já contemplava em sua gênese, uma
mescla de atividades que orientava para uma visão integral de ser humano.

Fato é que muita coisa mudou dessa realidade presente na educação grega,
passando pela Idade Média e pela Idade Moderna. Ou seja, da Grécia para a
contemporaneidade, esse ideal filosófico (ideal centrado na busca pelo pensar,
como foi proposto por exemplo, por Sócrates e Platão), ainda permanece no
ideário e na busca filosófica, de que as pessoas com educação possam se
constituir como seres humanos e, na mesma medida e proporção, também as
sociedades sejam livres, democráticas e, de forma mais holística, integrem
todos e todas em prol de um bem comum.

Mais recentemente, na última década, houve transformações sociais,


econômicas e tecnológicas, que podem ser observadas de forma mais aguda
nos ambientes de ensino. Sobre isso, Bauman (2013, p. 15) é enfático:

Essa notável transformação ocorreu muito pouco tempo atrás,


nas últimas décadas, em consequência do ritmo radicalmente
acelerado da mudança no cenário social dos dois principais
conjuntos de atores da educação: professores e alunos
(BAUMAN, 2013, p. 15).

Na mesma medida em que essas mudanças, em ritmo acelerado, ocorrem no


mundo e nos ambientes de ensino, as metodologias ativas se apresentam para
os novos modelos do ensino, direcionados para o ensino sociodigital
(assíncrono ou síncrono), expondo uma real necessidade de planejamento
adequado, para melhor gerir o que é entendido como ensino híbrido.

A melhor forma de se adaptar a essas mudanças que incorporam as

[2] Esse texto é uma versão adaptada do artigo publicado na Revista Científica Multidisciplinar
Núcleo do Conhecimento Ano 06, Ed. 07, Vol. 09, pp. 130-143. Julho de 2021. ISSN: 2448-0959,
Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/disrupcao-como-
alternativa.

21
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDICs), é mediante um


planejamento pedagógico que conceba e que permita, dentro das
possibilidades dos recursos disponíveis em cada realidade, abarcar um
conjunto de ferramentas e atividades que contemplam o cerne das
especificidades do ensino híbrido. Cabe ressaltar que os papéis dos agentes
envolvidos no ensino híbrido, são modificados e novos elementos são trazidos
para a dinâmica do ensino e da aprendizagem.

EVOLUÇÃO DO ENSINO HÍBRIDO

Desde Grécia até os dias atuais, a educação e os princípios filosóficos são na


realidade uma mistura. Tudo em educação é uma mescla; de fato, tudo é
híbrido. Da filosofia grega até os dias atuais, em que há complexidade em
quase tudo, esse “quase tudo” se mistura ao mesmo tempo que evolui em
velocidade alucinante.

Ainda sobre a Grécia, Aranha (2008, p. 50) aponta que:

A educação grega estava, portanto, centrada na formação


integral — corpo e espírito —, embora, de fato, a ênfase se
deslocasse ora mais para o preparo militar ou esportivo, ora
para o debate intelectual, conforme a época ou o lugar
(ARANHA, 2008, p. 50).

Nesse contexto de mudanças e misturas que se interpolam na educação


tradicional, o ensino híbrido (blended learning) impele modelos pedagógicos
disruptivos e inovadores. E a educação nos modelos prussianos de ensino, que
ainda está presente nos ambientes educacionais, vem cedendo lugar a
modelos ou estruturas de ensino que privilegiam uma educação holística.

Com efeito, o ensino híbrido tem uma maior aderência em instituições que
buscam inovar em suas práticas pedagógicas, e ampliam seus horizontes para
instituir uma educação alicerçada em potencializar as habilidades e as
competências, não somente de seus alunos e suas alunas, mas também dos
profissionais de educação que integram suas fileiras.

É importante ressaltar que o temo “educação” aqui aplicado, precisa ser


compreendido como um projeto de vida, cujo cerne é a preparação plena das
pessoas para atuarem como protagonistas em suas trajetórias de vida. Cabe
destacar como esse protagonismo lhes permite serem também pessoas
plenas no contexto da vida em sociedade, sendo capazes de responder
ativamente inclusive no enfrentamento de problemas e desafios que se
apresentam. Conforme Bacich e Moran (2018, p. 16):

22
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

É preciso reinventar a educação, analisar as contribuições, os


riscos e as mudanças advindas da interação com a cultura
digital, da integração das TDIC, dos recursos, das interfaces e
das linguagens midiáticas à prática pedagógica, explorar o
potencial de integração entre espaços profissionais, culturais e
educativos para a criação de contextos autênticos de
aprendizagem midiatizados pelas tecnologias (BACICH;
MORAN, 2018, p. 16).

Decerto, a vida contemporânea cercada por sua complexidade — humana,


filosófica, social, econômica, psicológica — no clímax da pandemia causada
pelo SARS-CoV-2, viu alterados consideravelmente todos os setores da
sociedade, afetando de forma ainda mais aguda o setor da educação.

Assim, todos os atores (comunidade, pais e responsáveis, alunos, profissionais


da educação, gestores e entidades públicas ou privadas), foram deslocados de
suas respectivas zonas de conforto e impelidos a repensar tudo que está
relacionado com a educação; sobretudo ao que se refere às práticas
pedagógicas e também ao uso e à aplicação de novas tecnologias nos
ambientes de aprendizagem.

Planejamentos educacionais, que em um passado recente direcionavam as


ações e as práticas, ruíram como castelos de cartas, dando lugar a novos
elementos que perpassavam fora dos limites escolares e que são agora
trazidos à baila para o contexto da educação digital (síncrona ou assíncrona). O
ensino híbrido, embora não seja um conceito recente, figura como uma
alternativa possível, interessante, aderente e imediata para aplacar as
demandas sociais e educacionais das pessoas no apogeu da pandemia. O
ensino híbrido tem em sua composição alguns elementos:
uso de novas tecnologias digitaisda informação e comunicação (TDICs);
papéis que oscilam(alunos e professores);
modelos pedagógicos diametralmente opostos aos tradicionais;
sinergia entre aprendizes e ensinantes;
ambientes virtuais de aprendizagem e colaboração;
ensino multidisciplinar (junçãode mais de um professor ou disciplina);
projetos voltados para problemas e desafios reais e mais próximos da
comunidade escolar;
uso da tecnologia como meio, e não como fim;
transversalidade dos conteúdos.

De acordo com Bacich et al. (2015), alguns modelos fazem parte dessa
modalidade de ensino. O diagrama da Figura 2 mostra alguns modelos no
ensino híbrido.

23
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 1 | Diagrama modelos – ensino híbrido

Fonte: Elaborada pelo autor (2021).

Esses modelos de ensino híbrido, objetivam proporcionar novas abordagens


para execução de atividades ou mesmo tarefas. Esses novos
exercícios/atividades que transcendem os espaços físicos na mesma medida
em que abrem novos espaços para o uso e aplicação de novas propostas
didáticas, mesclam teoria com experimentações apoiadas no uso de novas
tecnologias, que não raro, vislumbram a possibilidade de colaboração coletiva
(de alunos e similarmente entre os professores) nos processos do ensino e da
aprendizagem significativas.

O PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO HÍBRIDO

No ensino híbrido, o papel do professor difere, e muito, dos modelos


tradicionais, cuja centralidade de atuação é sedimentada na figura do docente
que é o difusor do conhecimento. Na metodologia híbrida, essa centralidade
esmaece e o professor tem uma atuação mediada e com total sinergia, como
um orientador ou mesmo como um curador dos processos de ensino e
aprendizagem.

Nessa direção e sentido, Castro et al. (2015 p. 48) afirmam que:

O acesso às tecnologias é outro fator preponderante para o a


implantação do ensino híbrido. Os alunos e professores
precisam se familiarizar com as tecnologias existentes e
desenvolver a capacidade de manipular, interagir e produzir
conteúdo dentro do ambiente virtual para que as atividades
interativas on-line tenham sucesso. Temos consciência de que,
embora, muitos alunos tenham familiaridade com as novas
tecnologias, é preciso que eles sintam a necessidade de utilizá-
las voltada para o ambiente educacional. Os professores, por
sua vez, precisam estar atentos ao uso das novas tecnologias,
apropriarem destas ferramentas buscando novas formas de
lidar com os conteúdos de suas disciplinas, a fim de que
estejam mais próximos da realidade de uma geração que já

24
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

nasceu utilizando as novas tecnologias e de outra bastante


resistente ao uso delas (CASTRO et al. 215, p. 48).

Com efeito, essa mediação promove mais eficiência e eficácia nas abordagens,
nos projetos e na jornada pelo conhecimento, que agora não está mais
centralizado na figura docente e, sim, pautada em planejamento
multidisciplinar e transversal. Como um curador, o professor articula ações
buscando a integralidade de todos os agentes envolvidos e promove um
acolhimento individual com orientações pontuais, específicas, mas, por vezes,
também genéricas.

Ainda nesse sentido, uma curadoria educacional inovadora, tem como


premissa inspirar e orientar. Mas, sendo o conhecimento uma jornada que
pode ser árida e que requer perseverança e acompanhamento, a mediação
efetiva desse novo papel dos professores, exige uma nova postura e um novo
horizonte também de pesquisa e conhecimento do uso e da aplicabilidade das
novas tecnologias nos processos do ensino e da aprendizagem.

O PAPEL DOS APRENDIZES

A utilização de novas tecnologias por parte de alunos e alunas, de modo geral,


é intensa, mas, nos ambientes de aprendizagem, ainda é um tanto tímida, e
isso pode ser entendido como um choque entre gerações. Se, por um lado, a
tecnologia invade a vida das pessoas em suas mais diversas dimensões
(entretenimento, comércio, comunicação etc.), no que tange à educação, a
capilaridade e o raio de atuação são ainda mais multifacetados, complexos, e
parecem existir em um descompasso claudicante. Não é estranho encontrar
alunos e alunas hábeis no uso de novas tecnologias, e professores não
funcionais no uso e na aplicação de tecnologias da informação e da
comunicação. De acordo com Bacich e Moran (2018, p. 23):

Os estudantes do século XXI, inseridos em uma sociedade do


conhecimento, demandam um olhar do educador focado na
compreensão dos processos de aprendizagem e na promoção
desses processos por meio de uma nova concepção de como
eles ocorrem, independentemente de quem é o sujeito e das
suas condições circundantes. No mundo atual, marcado pela
aceleração e pela transitoriedade das informações, o centro
das atenções passa a ser o sujeito que aprende, a despeito da
diversidade e da multiplicidade dos elementos envolvidos
nesse processo (BACICH; MORAN, 2018, p. 23).

Por conseguinte, nas práticas e ações do ensino híbrido, há uma troca


sinérgica entre os players (jogadores), de tal sorte que professores também
aprendem com seus alunos, havendo entre os alunos, da mesma forma, uma
intensa troca de informações e construção de conhecimento acerca não

25
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

somente do uso, mas também na aplicabilidade de novas tecnologias na


dinâmica de ensinar e aprender.

Nessa linha de raciocínio, Schell (2015) afirma que as salas de aula invertida, de
alguma forma podem se valer da disponibilização não somente dos vídeos
(multimídia), mas também ir além de apenas realizar o trabalho em casa, pode-
se avançar dentro do conceito de Just-in-time Teaching, que é um ensino sob
medida, bem como da instrução pelos colegas, denominada peer instruction.

SISTEMAS AVALIATIVOS

No ensino híbrido, um ponto dissonante das práticas tradicionais são os


sistemas avaliativos. No ensino tradicional, não raro, a avalição tem por
objetivo avaliar o que o aluno aprendeu dentro de um lapso temporal, e de
acordo com o que foi disponibilizado de conteúdo. Já no blended learning, os
sistemas avaliativos têm determinações distintas e com objetivos mais
determinísticos.

Para iniciar os trabalhos, é aconselhável utilizar uma avaliação diagnóstica


junto aos aprendizes, para subsidiar os professores com um conhecimento
mais real acerca dos saberes prévios que esses aprendizes trazem em relação
aos conteúdos que serão propostos. Como bem determina Bacich et al. (2015,
p. 89):

Toda atividade, seja de ensino híbrido ou não, deve começar


com uma avaliação diagnóstica dos alunos. Como ensinar um
conteúdo se o professor não conhece seus alunos, suas
dificuldades de aprendizado e suas potencialidades? Nesse
sentido, torna-se necessário avaliar os estudantes antes de
cada etapa nova do trabalho no processo de ensino e
aprendizagem. Essa avaliação, seja por meio de uma prova, de
um trabalho em grupo ou da observação e anotação do
professor, dará subsídio para que a atividade que será
proposta aos alunos seja mais efetiva e tenha maior
assertividade (BACICH et al. 2015, p. 89).

Não obstante, a avalição no contexto do ensino híbrido procura compreender


dimensões que vão além dos mecanismos tradicionais de medição dos
conteúdos aplicados, com uma proposta mais holística que visa avaliar e
analisar pontos que extrapolam apenas a retenção de conteúdo, não raro
engessados em contextos desconexos da realidade. Cabe, agora, ao ensino
híbrido, propor uma avaliação que procure evidenciar habilidades e
competências e que coadune com o que se espera de uma pessoa na sua vida
futura, isto é, que ela consiga aplicar o conhecimento obtido nos ambientes de
aprendizagem de forma mais plena e com autonomia. Na Figura a seguir, tem-
se a análise de habilidades e competências dos alunos no ensino híbrido.

26
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 2 | Análise de habilidades e competências dos alunos

Fonte: Elaborada pelo autor (2021).

A Figura 3, a seguir, discorre sobre o comportamento dos alunos no ensino


híbrido.

Figura 3 | Análise comportamental dos alunos no ensino híbrido

Fonte: Elaborada pelo autor (2021).

As Figuras 2 e 3, que são gráficos em radar, ilustram bem as habilidades e


competências que, geralmente, são esperadas na sociedade do conhecimento
que têm demandas ou problemas que exigem muito mais do que os currículos
escolares tradicionais tendem a oferecer. Não será com velhas metodologias
que se pressupõe capazes para resolver novos problemas do presente e/ou
do futuro.

27
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

PLANEJAMENTO

Frente aos desafios propostos do ensino híbrido, o planejamento é fator


determinante para a eficiência e a eficácia dos processos. Além de construir, os
espaços e as dinâmicas mesclam itens da educação tradicional e de uma
educação digital e, assim, os seguintes pontos precisam figurar em um
planejamento pedagógico que visa alcançar eficiência e eficácia nos processos
do ensino e da aprendizagem. Nesse sentido, pode-se destacar:
descrição do plano de aula;
definição clara dos objetivos (geral e específicos) que a disciplina visa
alcançar;
determinação das temáticas que figurarão no cerne da trajetória rumo ao
conhecimento;
exposição das metodologias que serão utilizadas;
definição dos recursos disponíveis para os alunos (laboratórios, bibliotecas,
livros, computadores, robótica, realidade aumentada, acesso à internet,
entre outros);
proposição de um cronograma com flexibilidade de adaptação;
definição das metodologias e dos sistemas avaliativos (priorizar o uso de
sistemas avaliativos eletrônicos);
definição dos índices e itens que serão utilizados para dimensionar, medir
e analisar as competências que vão para além da retenção de conteúdo;
determinação de fontes de pesquisas e referências bibliográficas que
figurarão no contexto da aprendizagem.

Nesse contexto, Bacich e Moran (2018,p. 22) afirmam que:

A variedade de estratégias metodológicas a serem utilizadas


no planejamento das aulas é um recurso importante, por
estimular a reflexão sobre outras questões essenciais, como a
relevância da utilização das metodologias ativas para favorecer
o engajamento dos alunos e as possibilidades de integração
dessas propostas ao currículo (BACICH; MORAN, 2018, p. 22).

O planejamento também precisa considerar uma integração entre família e


escola. É de suma importância que as famílias dos aprendizes sejam envolvidas
nesse processo, tanto para apoiar, como para motivar esses aprendizes, a fim
de que não se sintam à deriva.

28
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do modelo de educação integral da Paideia, oriunda da Grécia e que


influenciou principalmente a educação ocidental, chegando aos dias atuais, é
preciso destacar que na estrutura da educação, a mescla de teorias,
abordagens e até mesmo de experimentações, sempre existiu e sempre
existirá, com destaque, nesse ponto, para a Maiêutica de Sócrates e o Mito da
Caverna de Platão que, lá na Grécia Antiga, convidava a pensar e a refletir
sobre tudo que estivesse à volta das pessoas.

Destarte, a educação é representada na indubitável capacidade do ser


humano de misturar, de mesclar e de reinventar. Da mesma forma, as
sociedades compostas por pessoas, existem em virtude dessa imensurável
capacidade de associar novos elementos, e de incorporar ao que é tradicional
o novo ou o que se projeta para o futuro.

De tal sorte, o advento da pandemia ao mesmo tempo forçou o


distanciamento social entre as pessoas, com impacto considerável nos
espaços de aprendizagem, mas também acelerou processos que estavam em
estágios gestacionais ou hibernando e que agora foram trazidos para a
realidade educacional, em que o tradicional e o analógico se mesclam ao
digital e ao on-line.

Nesse contexto, o ensino híbrido se apresenta com seus métodos associados


e entrelaçados com o potencial que as metodologias ativas consubstanciam.
Essas metodologias impulsionam os alunos a novas experiências de
aprendizagem, na medida em que traz novas práticas pedagógicas inovadoras
e promovem uma forma de aprender e ensinar disruptiva e, de acordo com o
entendimento de Bacich e Moran (2018), está sedimentado no conceito de que
as pessoas são diferentes e logo, não aprendem da mesma maneira.

Aliando estruturas constantes nos modelos denominados clássicos ou


tradicionais ao uso e à incorporação de novas tecnologias, a gama quase
infinita de possibilidades que oferecem, permite direcionar os processos do
ensino e da aprendizagem. Nesse sentido e direção intercambiando a
experiência de uma aprendizagem significativa e voltada para fomentar o
desenvolvimento da autonomia dos aprendizes, têm-se novas possibilidades
de consolidação de habilidades e competências que transcendam a pura e
simples retenção de conteúdo.

O ensino híbrido tem por objetivo permitir aos atores envolvidos — por meio
dos contratos didáticos arrimados no compromisso, na ética e na efetiva
participação, com o uso e aplicação da tecnologia, dispondo disciplinas e

29
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

conteúdo que visam à solução de problemas reais. Com efeito, há novas


possibilidades em conduzir todos os players (comunidade, alunos, pais e
responsáveis, e também os professores), para arquitetar habilidades e
competências que se integram a todos. Desse modo, estarão todos
plenamente preparados para o enfrentamento dos desafios reais que lhes
surgirão hodiernamente ao longo do protagonismo de suas respectivas vidas
em sociedade no futuro que lhes aguardam.

30
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

REFERÊNCIAS

ARANHA, M. L. de A. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3.


ed. São Paulo: Moderna, 2008.

BACICH, L. et al. Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação.


Porto Alegre: Penso, 2015

BACICH, L.; MORAN, J. (Orgs.). Metodologias ativas para uma educação


inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

BAUMAN, Z. Sobre educação e juventude: conversas com Riccardo Mazzeo.


Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2013.

BIOTAVARES. Os Processos Educacionais Gregos e Romanos. 2011.


Disponível em: https://biotavares.blogspot.com/2011/07/os-processos-
educacionais-gregos-e.html. Acesso em: 14 jan. 2022.

CASTRO, É. A. et al. Ensino híbrido: desafio da contemporaneidade? Periódico


Científico Projeção e Docência, [online], v. 6, n. 2, p. 47-58,2015. Disponível
em:
http://revista.faculdadeprojecao.edu.br/index.php/Projecao3/article/viewFile/56
3/506. Acesso em: 25 jan. 2022.

SCHELL, J. Sete Mitos sobre sala de aula invertida. Disponível em:


https://peerinstruction.wordpress.com/sete-mitos-sobre-a-metodologia-sala-
de-aula- invertida-flipped-classroom-uma-serie-interativa-de-perguntas/.
Acesso em: 01 jul. 2021.

31
3
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Papel da Pedagogia na Educação


Profissional: desafios e paradoxos³
Geisse Martins
Diana da Silva de Oliveira
Maria Carolina Cavalcanti de Almeida Menezes
Mariana Laura Queiroz Ribeiro

INTRODUÇÃO

O Brasil se destaca internacionalmente no que se refere a sua economia, e


também em relação aos maciços investimentos em educação, cujos desafios e
paradoxos em relação à educação profissional, instalam-se para a pedagogia.
Esse país, cujas dimensões são continentais, apresenta-se na atualidade com
um sistema educacional fundamental e médio com qualidade em declínio,
políticas governamentais com maciços investimentos, mas sem planejamento a
longo prazo. Um contexto histórico em que a pedagogia, frequentemente se
mantém a margem do planejamento estratégico da educação profissional ou
então, passa tímida por todo o processo.

Analisar e tentar compreender cenários no tocante à educação profissional, é


um exercício da práxis. Como afirma Krishnamurti (1974), “compreender é
mudar o que há”. Esse artigo livre de qualquer pretensão política ou ideológica
e centrado numa análise técnico-científica, lança-se como uma alternativa de
reflexão e de proposição de mudanças possíveis no campo da educação
profissional, cujo ponto fulcral é o de promover o acesso das pessoas ao
mercado de trabalho, bem como impulsionar as engrenagens da economia
brasileira.

Educar para o trabalho profissional é também um labor de arestas e vértices


que se convergem e divergem, na mesma medida em que se projeta o futuro
de uma nação. A pedagogia contemporânea não pode passar alheia a todas as
dinâmicas, sem a sua epistemologia e o seu caráter crítico e reflexivo, uma vez
que a educação profissional também é um campo de atuação e pesquisa desta
ciência.

[3] Esse texto é uma versão adaptada do artigo publicado no CINTED/Editora Realize disponível
em: https://www.editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/74171.

33
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

METODOLOGIA

Utilizando uma metodologia de pesquisa qualitativa, apoiada sobre as


argumentações e considerações de autores que versam sobre essa imensa
seara. Apresenta-se um estudo de caso que é sustentado por um referencial
teórico, que orienta as questões e proposições do estudo, reúne uma gama de
informações obtidas por meio de diversas técnicas de levantamento de dados
e evidências (MARTINS, 2008). O diálogo com as argumentações e afirmações
dos autores, somado às experiências adquiridas ao longo de mais de 20 anos
de atuação efetiva em educação profissional em diversas instituições públicas,
privadas e do terceiro setor, irá tentar trazer à baila um conjunto de
considerações pertinentes, reflexivas, em que o papel da pedagogia na
educação profissional de jovens e adultos se faz necessária, imperiosa e com
atuação incisiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisar e tentar compreender cenários no tocante à educação profissional é


um exercício da práxis. Como afirma Krishnamurti (1974) que “compreender é
mudar o que há”. Este artigo livre de qualquer pretensão política ou ideológica
e centrado numa análise técnico-científica, lança-se como uma alternativa de
reflexão e de proposição de mudanças possíveis no campo da educação
profissional, cujo ponto fulcral e o de promover o acesso das pessoas ao
mercado de trabalho, bem como impulsionar as engrenagens da economia
brasileira.

Educar para o trabalho profissional é também um labor de arestas e vértices


que se convergem e divergem, na mesma medida em que se projeta o futuro
de uma nação. A pedagogia contemporânea não pode passar alheia a todas as
dinâmicas sem a sua epistemologia e o seu caráter crítico e reflexivo, uma vez
que a educação profissional também é um campo de atuação e pesquisa desta
ciência.

Ao longo da história, a Pedagogia foi constituindo como ciência, que tem como
objeto de reflexão a educação e seus desdobramentos, envolvendo os
processos de ensino e aprendizagem que visam educar as novas gerações,
constituídas por crianças e jovens que são percebidos como sujeitos
socioculturais. Conforme Eboli (2004):

[...] a Pedagogia se refere à reflexão sistemática sobre


educação de crianças e adolescentes; é a ciência da educação,
é a arte e a técnica de ensinar e está intimamente relacionada
com a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia etc. (EBOLI, 2004).

34
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Desde a Antiga Grécia, berço da ciência em seus conceitos iniciais, a educação


já possuía uma inclinação determinada para o trabalho. Esparta possuía uma
educação que se destacava das outras cidades, ao preparar os seus infantes
filhos para a atuação no exército, que estava sob o controle do Estado. Platão,
o educador e filosofo de referência na época, evoca esses princípios e os
explicita em seus livros “A república” e “Leis”.

No ideário proposto pelo referido filósofo, a educação era obrigatória, estava


sob a tutela do Estado e representava uma estratégia interessante e vital para
aquele momento. Seu predecessor Aristóteles, pôde comprovar isso de tal
modo que o seu pupilo Alexandre o Grande, conquistou o mundo combinando
o conhecimento adquirido nos moldes da academia grega com estratégias de
guerra, como nos orienta Manacorda (1982, p. 34, apud EBOLI, 2004, p. 33):

[...] na Grécia, embora de maneira menos rígida e com forte


ênfase em formas de democracia educativa, também havia
distinção dos processos educativos segundo as classes sociais.
Para as classes governantes, a escola visava a preparar para as
tarefas do poder, que são o pensar ou o falar (isto é, a política)
e o “fazer” a esta inerente (isto é, as armas); para os
produtores governados não existia nenhuma escola
inicialmente, apenas um treinamento no trabalho. Havia duas
tradições culturais, a dos aristocratas guerreiros e a do povo
de produtores. (MANACORDA, 1982, p. 34, apud EBOLI, 2004,
p. 33).

Já na Idade Média, ao menos no ocidente, a educação estava sob os cuidados


da igreja católica, que também possuía um braço militar em suas fileiras
(Templários). Todo o conhecimento estava restrito aos crivos dogmáticos, de
tal forma que poucas eram as escolas em que a formação profissional se
desenvolvera naquele período da história. Contrariando as leis vigentes
naquela época, Martinho Lutero foi um dos poucos que sugeriu ao governo a
criação de escolas, cujo objetivo era a preparação profissional.

Em consonância, João Calvino que também comungava das ideias de Lutero,


no que se refere à educação, fundou uma série de escolas com cunho
profissional em Genebra, na Suíça.

Com precisão, é que na Prússia, em meados de 1807, emerge a escola com o


formato de obediência, gratuita e com frequência obrigatória, sob a
responsabilidade total e irrestrita do Estado, atendendo aos anseios dos
iluministas, mas com o propósito focado no controle do Estado para obter
“Homo docibilis”, como é denominado por Ramirez- Nogueira (2011), ou seja,
obter corpos obedientes. A escola do modelo prussiano, cujos fins e objetivos
convergiam para uma educação voltada para o trabalho, era alicerçada pelas

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

ideias de Pestalozzi, que defendia uma educação baseada na ação. Com efeito,
o modelo despótico prussiano de educação que se instaura no mundo
moderno como modelo inspirador adotado por vários países, inclusive pelos
Estados Unidos da América, tem como premissa fundamental a preparação
para o trabalho, sobretudo para o trabalho em Estados em tempo de guerra.

Com um formato fragmentado do conhecimento, ofertado em linha crescente,


objetivando o aumento da eficiência no nível operacional em consonância com
o modelo taylorista, predominante no mesmo período nos EUA, tal modelo foi
rapidamente disseminado tanto pela Europa, como por outros continentes.

Nos EUA, Calvin Ellis Stowe (1802-1886), foi o principal difusor do modelo
prussiano despótico de educação, cujo principal objetivo – como já foi dito -
era a preparação em massa da população, sobretudo dos infantes para
atuação militar. John Dewey (1859-1952) foi sem sombra de dúvida o ícone e o
difusor na América Latina da educação que vivenciou um período de entre
guerras internas americanas, bem como o emergir da segunda revolução
industrial dentro do solo americano, em que ancorou suas ideias de uma
educação moldada pelo modelo prussiano fundamentada no pragmatismo. Na
década de 1930 no Brasil, tanto o modelo prussiano de educação, bem como
as ideias pragmáticas de Dewey, eram verdadeiras joias para um país que
possuía uma gigantesca massa de analfabetos num contexto efetivamente
agrário e de incipiente industrialização, com o governo autoritário e populista
de Getúlio Vargas que simpatizava com as ideias fascistas vindas da Europa.
Segundo Lopes, Filho e Veiga (2000, p. 2016):

[...] no período situado entre 1929 e 1957, o incremento do


modelo industrial foi da ordem de 475%, fatores esses que
vieram a contribuir para colocar o Brasil entre as dez maiores
economias do mundo. Esse modelo, além de provocar
mudanças na estrutura do Estado, que teve de imprimir uma
nova forma de organização para se articular a essa nova lógica,
fez com que fossem adotadas novas estratégias. Para a
preparação da força de trabalho (L0PES; FILHO; VEIGA, 2000, p.
2016).

Fato é que, até mesmo para o governo populista brasileiro, o modelo


prussiano ia ao encontro das premissas de universalização e acesso a escolas
pelas classes mais necessitadas, e isso era de muito bom tom aos interesses
do governo, seja no cenário interno como no cenário externo. Com efeito, a
legislação trabalhista implantada pelo governo getulista, muito fora
influenciada pelo modelo fascista europeu que coadunava com o modelo
prussiano de ensino voltado para a preparação para o trabalho. Importante
ressaltar que essa tríade (escola gratuita, obrigatória, sob o controle do Estado,
formando corpos dóceis para atuar em fábricas), somada a leis trabalhistas
que visavam um controle rígido de um poder ditatorial, juntamente com um

36
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

governo populista que possuía uma enorme necessidade de mão de obra


barata, que necessitava de ações assistencialistas num período da nascente
industrialização. Era terreno fértil para reformas educacionais, pois, o Brasil
não possuía uma educação de qualidade nem tão pouco de amplitude,
difusora e organizada.

Nesse contexto histórico, Moraes (1990, p. 1, apud BATISTA, 2013, p. 32), nos
convida para a seguinte reflexão:

[...] este é o mesmo entendimento de Moraes (1990, p.1),


quando observa que “[...] a instalação das unidades industriais
no Brasil foi realizada sob o padrão da grande indústria,
através da importação de equipamentos europeus e, depois,
americanos”. Entende ainda que, “[...] ao não atravessar o
período manufatureiro, o empresário industrial local não
enfrentaria imediatamente a necessidade de destruir o
trabalho qualificado preexistente”. O problema que os
industriais brasileiros enfrentavam nesse período era em
“formar a força de trabalho para o desempenho das atividades
fabris (MORAES, 1990, p. 1, apud BATISTA, 2013, p.32).

Todo esse cenário agradava não somente a elite, que emergia sob a estrutura
da industrialização brasileira, mas também a classe menos favorecida, carente
de emprego e condições de subsistência. O Brasil do Estado Novo, saia de um
modelo de exploração colonial tanto na economia quanto em seus meios de
produção, e rumava para um modelo industrial, em que a mão de obra era
quase inexistente e as escolas, inspiradas num modelo despótico e voltada
para fins militares, cuja estrutura deixou marcas indeléveis. Sobre a política
educacional do Estado Novo, Manfredi (2003, p. 95) afirma que ela:

[...] legitimou a separação entre o trabalho manual e o


intelectual, erigindo uma arquitetura educacional que
ressaltava a sintonia entre a divisão sócia do trabalho e a
estrutura escolar, isto é, um ensino secundário destinado às
elites condutoras e os ramos profissionais do ensino médio
destinados às classes menos favorecidas. Outra característica
desse período é o papel central do Estado como agente de
desenvolvimento econômico, [que promoveu] a substituição
do modelo agroexportador pelo modelo de industrialização
(incentivado pelo processo de substituições de importações na
produção de bens duráveis e bens de capital) (MANFREDI,
2003, p. 95).

Vale ressaltar que nesse ínterim, com o movimento escolanovista de 1932,


liderado por Anísio Teixeira (1900-1971), influenciado pelas ideias de John
Dewey, colocou em marcha no Brasil uma nova proposta educacional, mais
humanista, focada na valorização da experiência dos educandos, contudo,
ainda permanece um hiato entre a realidade escolar e a realidade para o

37
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

trabalho.

Fato é que, depois veio a ditadura militar em 1964, com a consequente


importação do modelo tecnicista que mais servia a seus interesses, e a
pedagogia se restringiu apenas a participar à sombra de todos esses eventos,
sem uma contribuição efetiva e transformadora até o ano de 1996.

Há de fazer aqui uma digressão, a lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, a


Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional – LDBEN, apenas tratava
superficialmente, tão somente, de assuntos relacionados à educação
tradicional e a debacle, trouxe poucos avanços no tocante à educação
profissional. Os tempos eram nebulosos e inconstantes.

Um tanto diferente, a lei 5.692 de 11 de agosto de 1971, essa sim, trouxe


algumas novas determinações. Dentre outras coisas, é possível destacar a
inserção de disciplinas como moral e civismo e também, organização social e
política do Brasil dentro do currículo. De certa forma, valorizava a educação
profissional e instituía o ensino obrigatório dos sete aos 14 anos, e determinou
a criação do ensino, representando um ganho para os educandos e também
na educação de jovens e adultos, cujos índices de evasão advindos no ensino
regular potencializava esse tipo de educação.

Com o advento da Constituição de 1988, a educação é tema centrado em


questões econômicas, sociais e políticas, objetivando convergir o caminho
paralelo que a educação e o trabalho perfaziam.

Assim, em relação à educação, a Constituição de 1988 permitiu uma sólida


estrada assegurando-a como um direito fundamental, determinando os papéis
dos agentes envolvidos, mas, sobretudo, lançou sementes fecundas no que se
refere à convergência entre trabalho e educação. A referida constituição ao
determinar as ações de seus protagonistas (família, sociedade, Estado e
profissionais da educação), fomenta uma maior participação democrática no
que se refere a educação de modo geral, de forma ampla e irrestrita. Por
conseguinte, diz o artigo 205 da Constituição Federal de 1988:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho (BRASIL, 1988, [n. p.]).

Nesse contexto, a pedagogia e os profissionais da educação retomam


juntamente com os outros protagonistas da educação (família, estado e
sociedade), lugar de destaque com desafios ainda maiores.

38
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Não obstante, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – a LDBEN -


estabeleceu as novas diretrizes e bases da educação nacional - tratando e
destacando a convergência entre educação e trabalho. Já na introdução é
determinante, incisiva e enfática na congruência total entre educação e
trabalho, mas é no seu artigo 2º, que a lei é clara e elucidativa:

Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos


princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana,
tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho (BRASIL, 1996, [n. p.]).

Como é possível perceber, a LDBEN de 1996 não se limitou apenas em propor


a convergência da educação para a atuação junto ao mercado de trabalho,
como também determinou e preconizou, que até mesmo os conteúdos
curriculares observem essa congruência. Na tratativa do Ensino Médio, a
vontade do legislador expressada na lei, compreende que a educação como
um todo, como o Ensino Médio, o Ensino Profissionalizante e todos os agentes
envolvidos (sociedade, escola, pais, professores e profissionais ligados à
educação), deverão envidar todos os esforços, para que se fomente uma
educação voltada para a preparação de cidadãos aptos ao trabalho e para o
exercício da plena cidadania. Sobre a reforma do ensino profissionalizante,
Manfredi (2003, p. 113) afirma que:

[...] a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96


e o Decreto Federal 2.208/97), instituíram as bases para a
reforma do ensino profissionalizante. Do ponto de vista formal,
significa que todas as instituições públicas e privadas de
Educação Profissional terão de ajustar-se às novas diretrizes
educacionais estabelecidas pela legislação em vigor. Por conta
disso, desde o final da década de 1990, vem se gestando uma
nova institucionalidade no campo da Educação Profissional no
Brasil (MANFREDI, 2003, p. 113).

Nesse sentido e direção, a pedagogia amplia o seu raio de atuação, que


outrora estava restrito apenas ao aspecto do conhecimento do homem e de
seu “modus operandi”, faz-se agora necessário um olhar científico para a
condução dos discentes, para atuar não somente como cidadãos críticos e
reflexivos, bem como para uma preparação adequada para o trabalho,
envolvendo por assim dizer o seu “modus vivendi”. Dessa forma, abrem-se
novos precedentes, novas perspectivas e ademais, novos paradoxos e desafios
se instalam. Na mesma proporção e direção, a UNESCO⁴ propõe, segundo
Delors (1998), os quatro pilares em que apoia a educação para o novo milênio:
Saber Conhecer, Saber Fazer, Saber Ser e Saber conviver. Sem prejuízo, o MEC
(Ministério da Educação e Cultura) em sua Resolução CNE/CP Nº 1, de 15 de

[4] UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.

39
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

maio de 2006, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de


graduação em pedagogia, licenciatura e a atuação dos seus respectivos
profissionais. Enfaticamente o seu artigo 2º determina:

Art. 2º. As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia


aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na
Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em
cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio
escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos
conhecimentos pedagógicos (CNE/CP Nº 1, 2006, art. 2º, p. 1).

Novamente e sem prejuízo para o campo de atuação do profissional em


pedagogia, no parágrafo único da referida resolução de 2006, seção 1, temos
que:

[...] as atividades docentes também compreendem


participação na organização e gestão de sistemas e instituições
de ensino, englobando: (...) j) estudo das relações entre
educação e trabalho, diversidade cultural, cidadania,
sustentabilidade, entre outras problemáticas centrais da
sociedade contemporânea; [grifos nossos] (BRASIL, 2006,
Seção 1, p. 11).

Somando-se a tudo isso, nas duas primeiras décadas do Terceiro Milênio,


ainda há um mundo em plena transformação geopolítica, social e econômica,
em que o conhecimento aliado à tecnologia é o combustível alucinante que
impulsiona toda a engrenagem na passagem da sociedade industrial para a
sociedade da informação, e em direção a sociedade do conhecimento,
notadamente a partir dos anos 1970, nos chamados países centrais.

No tocante à convergência do trabalho com a educação, empresas e escolas


passaram a ter paradoxos e desafios cada vez mais lancinantes, em que a
Pedagogia é convidada a contribuir com seu olhar científico, de tal sorte a
investigar e trazer à luz respostas para uma sociedade em que o
conhecimento e a informação impulsionados pela tecnologia e sua
capilaridade, tornaram-se os principais impulsionadores do desenvolvimento
capitalista.

Na inteligência de Manfredi (2003, p. 33), o trabalho neste contexto é a base:

[...] o trabalho é a base para a estruturação de categorias sócio


profissionais, faz nascer praticas coletivas, ordena os ritmos e
a qualidade de vida, enfim determina as relações entre os
diferentes grupos classes e setores da sociedade, mediante os
quais se definem parâmetros de identidade social e cultural.
(MANFREDI, 2003, p. 33).

40
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Isso está em consonância com as ideias de Eboli (2004, p. 32, apud SILVEIRA,
2011, p. 35):

[...] a educação designa o processo de desenvolvimento e


realização do potencial intelectual, físico, espiritual, estético e
afetivo existente em cada ser humano; também designa o
processo de transmissão da herança cultural às novas
gerações. Portanto, Educação diz respeito à influência
intencional e sistemática sobre o ser humano, como o
propósito de formá-lo e desenvolvê-lo em uma sociedade, a
fim de conservar e transmitir a existência coletiva. A mantém
viva a memória de um povo e dá condições para sua
sobrevivência (EBOLI, 2004, p. 32, apud SILVEIRA, 2011, p.35).

Ainda de acordo com a sapiência de Manfredi (2003, p. 15) e diante do


exposto, atualmente os profissionais da pedagogia estão de frente a novos
cenários e desafios, já que:

[...] ser professor requer saberes e conhecimentos científicos,


pedagógicos, educacionais, sensibilidade, indagação teórica e
criatividade para encarar as situações ambíguas, incertas,
conflituosas e, por vezes violentas, presentes nos contextos
escolares e não escolares. É da natureza da atividade docente
proceder à mediação reflexiva e crítica entre as
transformações sociais concretas e a formação humana dos
alunos, questionando os modos de pensar, sentir, agir e de
produzir e distribuir conhecimentos (MANFREDI, 2003, p. 15).

Com efeito, não se restringe mais ao campo de atuação do profissional


graduado em pedagogia, apenas lecionar para a educação Infantil e para os
anos iniciais do ensino fundamental. Como atuar em cenários e estruturas que
se modificam tão rapidamente? Como abandonar velhos conceitos frente a
uma sociedade cada vez mais alicerçada pela evolução constante da tecnologia
da informação e do conhecimento? Essas indagações e inquietações, formam a
base de atuação dos profissionais da pedagogia sem a perspectiva do campo
do trabalho, de modo a contribuir para a educação de cidadãos críticos e
reflexivos, para que possam atuar efetivamente num mundo em total
transformação.

Grande parte dos alunos ingressantes nos cursos profissionalizantes no Brasil,


sejam eles na modalidade aprendizagem, qualificação profissional, técnicos ou
tecnólogos, são normalmente egressos dos cursos regulares tanto de escolas
públicas, quanto de escolas privadas. É perceptível o baixo rendimento escolar
dos alunos ingressantes, sobretudo no que tange aos conhecimentos
fundamentais de matemática e português. De acordo com o INEP⁵ (2020):

41
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

No maior estudo sobre educação do mundo, o Programa


Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), apontou que o
Brasil tem baixa proficiência em leitura, matemática e ciências,
se comparado com outros 78 países que participaram da
avaliação. A edição 2018, divulgada mundialmente nesta terça-
feira, três de dezembro, revela que 68,1% dos estudantes
brasileiros, com 15 anos de idade, não possuem nível básico
de matemática, o mínimo para o exercício pleno da cidadania.
Em ciências, o número chega a 55% e, em leitura, 50%. Os
índices estão estagnados desde 2009 (INEP, 2020).

Ainda segundo o instituto (INEP, 2020):

Quando comparado com os países da América do Sul


analisados pelo Pisa, o Brasil é pior país em matemática,
empatado estatisticamente com a Argentina, com 384 e 379
pontos, respectivamente. Uruguai (418), Chile (417), Peru (400)
e Colômbia (391) estão à frente. Em ciências, o país também
fica em último lugar, junto com os vizinhos Argentina e Peru,
com empate de 404 pontos. Estão melhor classificados Chile
(444), Uruguai (426) e Colômbia (413). Quando o assunto é
leitura, o Brasil é o segundo pior do ranking sul-americano,
com 413 pontos, ao lado da Colômbia (412). Em último lugar,
estão Argentina (402) e Peru (401) (INEP, 2020).

Esse é o primeiro dos desafios do grande paradoxo da educação


contemporânea no Brasil. Há muito esforço nos anos iniciais da escolarização
dos alunos (tanto para garantir a oferta, a ampliação de vagas, a permanência
e também para assegurar o ingresso junto às escolas), e se percebe que há
uma participação efetiva dos pedagogos e pedagogas, para que possam, na
medida do possível, serem todos os alunos e alunas frequentes e
alfabetizados, e que sejam expostos ao encantamento da matemática. No
entanto, ocorre uma verdadeira celeuma ao final do Ensino Médio, pois,
estudos do INAF – Indicador de Analfabetismo Funcional no período de 2001 à
2018, demonstram um acentuado grau de analfabetismo funcional no Brasil.

Os níveis de habilidade e competências em língua portuguesa e matemática de


acordo com o Programa Internacional de Avaliação de estudantes (PISA) está
abaixo dos países integrantes da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em se tratando de letramento em língua
portuguesa, o índice dos países integrantes da OCDE cujo escore mínimo de
698 pontos é de 1,3%, o Brasil figura com apenas 0,2%.

A média de proficiência dos jovens brasileiros em letramento


em Leitura no PISA 2018 foi de 413 pontos, 74 pontos abaixo
da média dos estudantes dos países da OCDE (487). A métrica
para a escala de Leitura, estabelecida em 2000, baseou-se em

[5] INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

42
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

uma média dos países da OCDE de 500 pontos, com desvio-


padrão de 100 pontos (PISA, 2018, p. 68).

No que se refere ao desempenho do Brasil em letramento matemático, sob


uma perspectiva internacional não é muito animador, e de acordo com o
relatório do Pisa (2018, p. 106), o Brasil figura abaixo da média se comparado
com os países integrantes da OCDE. Como consta no relatório:

A média de proficiência dos jovens brasileiros em Matemática


no PISA 2018 foi de 384 pontos, 108 pontos abaixo da média
dos estudantes dos países da OCDE (492). A métrica para a
escala de Matemática, estabelecida em 2003, baseou-se em
uma média dos países da OCDE de 500 pontos, com desvio-
padrão de 100 pontos (PISA, 2018, p. 106).

Em matemática, dentro do escore mínimo de 669 pontos, dos países


participantes o percentual é de 2,4 e o do Brasil, 0,1%. Essa é a realidade, e se
apresenta como o principal desafio dos profissionais da pedagogia que atuam
nas empresas e ou no ensino profissionalizante: como preparar e qualificar
uma mão de obra para o mercado e trabalho, que está cada vez mais exigente
de conhecimentos de Matemática, domínio da língua nas suas diversas formas
(linguagem escrita e falada), utilização de tecnologias computacionais, de
informação e telecomunicações?

Diferentemente da escola tradicional, em que o aluno pode até deixar a escola


sem o conhecimento na totalidade, um curso profissionalizante não se pode
dar o luxo de fazê-lo, pois é impensável um profissional que não saiba
executar suas tarefas básicas junto as empresas. Para Manfredi (2003, p. 57), o
pedagogo é assim desafiado constantemente e, em sua prática:

[...] é preciso considerar que a atividade profissional de todo


professor possui uma natureza pedagógica, isto é, vincula-se a
objetivos educativos de formação humana e a processos
metodológicos e organizacionais de transmissão e apropriação
de saberes e modos de ação. O trabalho docente está
impregnado de intencionalidade, pois visa à formação humana
por meio de conteúdos e habilidades, de pensamento e ação,
o que implica escolhas, valores compromissos éticos
(MANFREDI, 2003, p. 57).

Para se ancorar nas afirmações acima, um bom exemplo é o caso clássico na


educação profissional dos padeiros e em demais profissionais. Via de regra,
não se pode colocar no mercado de trabalho padeiros que não saibam fazer
pães, ou pedreiros que não saibam erguer uma parede de tijolos, marceneiros
que não saibam medir e fazer móveis. É tão profundo e aterrador este
problema que, com a ampliação de ofertas de curso de qualificação
profissional no Brasil, financiados pelos governos federais e estaduais, os
índices de concluintes é inferior a 18% (menos da metade das matrículas) ou

43
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

integralizados que é inferior a 2%, e o nível de abandono é superior a 10%, e o


índice de reprovação é de exatos 1,81%, como pode ser observado nos dados
da educação profissional no Brasil de acordo com o MEC.

Outro complicador, e não menos desafiante, é no tocante ao material didático.


Na formação escolar regular, há a oferta de material didático disponibilizado
com a chancela do governo federal no que diz respeito a todas as exigências
legais como preconiza a lei, como é o caso do PNLD – Plano Nacional do Livro
Didático. Nos cursos profissionalizantes, o material didático utilizado dentro
dos cursos e, ofertado aos alunos, não raro é produzido pelos próprios
instrutores, sem nenhum acompanhamento da Pedagogia, responsável pela
tratativa em relação à norma culta, formatação e aprovação junto às empresas
demandantes do setor. Frequentemente, também esse material é copiado e
disponibilizado indiscriminadamente na internet, e repassado amiúde sem
nenhum acompanhamento pedagógico. Essa prática é comum inclusive nos
institutos federais de ensino.

Muito embora a citada resolução do MEC de 2006, determine que o


profissional de pedagogia seja formado com a capacidade de atuar no campo
da educação profissional, há, no entanto, um choque entre o que determina a
lei e a realidade no que tange a formação do profissional em pedagogia. Isso
ocorre, porque o cenário da educação profissional impulsiona para um
conjunto de saberes muito superficial de conhecimento teórico acerca da
atuação com a educação profissional em ambientes escolares e não escolares,
enquanto os documentos oficiais determinam que:

[...] a formação profissional deve enfatizar o desenvolvimento


de habilidades e conhecimentos básicos, específicos e de
gestão, voltados para o desenvolvimento de um indivíduo que
é, ao mesmo tempo, trabalhador e cidadão, competente e
consciente (MTE, 1995, p.9).

Não obstante, a lei 11.741/2008, art. 36-A, determina que os estabelecimentos


regulares que ofertam o ensino médio, poderão também se articular para
oferecer qualificação profissional aos alunos. Outro grande complicador,
significa que as escolas regulares em que atuam os profissionais da pedagogia
outrora atuando apenas com o ensino regular, precisarão se adequar não
somente a demanda, mas também as determinações legais, no tocante a
educação profissional articulada.

No Brasil, historicamente a pedagogia atua silenciosamente. Algumas vezes,


incólume no que se refere ao ensino profissionalizante, e não raro, as
universidades optam por um curriculum centrado na Educação Infantil e nos
anos iniciais do ensino fundamental.

44
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A atuação do profissional da pedagogia em ambientes educacionais de


formação profissional, exige outra formação e outro curriculum, pois, tais
ambientes têm em sua estrutura uma modelagem do aparato profissional, ou
seja, traz para os ambientes de formação dos sujeitos aprendizes, simulações
bem próximas da realidade vivenciada dentro das organizações. Nos auxilia o
entendimento de Colombo e Cols (2004, p. 180):

[...] A mudança pedagógica almejada é a passagem de uma


educação totalmente baseada na transmissão da informação,
na instrução, para a criação de ambientes de aprendizagem
nos quais o aluno interage com o conhecimento já produzido e
constrói o seu conhecimento. Essa mudança deve repercutir
em alterações na escola como um todo: nas estruturas
funcionais, no espaço físico, na sala de aula, no papel do
professor e do aluno, na relação dos mesmos com o
conhecimento (COLOMBO; COLS, 2004, p. 180).

Isso implica na exigência de que haja laboratórios (de eletrônica, elétrica,


informática, patologia clínica e outros), para que se pratique o estudado
teoricamente. Nos processos do ensino e da aprendizagem desses ambientes,
é necessária a utilização de ferramentas e instrumentos de precisão. Por
conseguinte, os professores e instrutores que, por cadeia hierárquica
deveriam ser acompanhados durante todo o processo pelos profissionais da
pedagogia, não o são, e sistematicamente são abandonados à própria sorte
em suas respectivas jornadas em educar para o exercício das profissões.

Desse modo, espera-se da pedagogia em ambientes de ensino


profissionalizante os seguintes pontos: atuar incisivamente para fomentar o
desenvolvimento das habilidades e competências necessárias a cada profissão,
valorizar o conhecimento empírico e o conhecimento cientifico, ambos com o
mesmo grau de importância e desenvolver e estimular a capacitação do corpo
docente para que esse potencialize o aprendizado individual, uma vez que
cada sujeito em itinerário formativo é único e singular.

Em sintonia com os anseios do mercado de trabalho, o profissional da


pedagogia atuando como protagonista dentro da educação profissional seja
capaz de possibilitar e criar condições para a aprendizagem organizacional, ou
seja, que também as organizações possam aprender e ensinar de forma
colaborativa; estimular a ampliação dos processos do ensino e da
aprendizagem em espaços presenciais e virtuais, pois não raramente os
egressos do curso de Pedagogia pautam e se polarizam por determinar
apenas o sistema de aprendizagem presencial, e tendem naturalmente a não
fazer mesclar essas duas modalidades de ensino. Bem como nos apresenta
Colombo e Cols. (2004, p. 176):

45
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A escola de hoje requer profissionais mais críticos, criativos


que participem, que empreendam, um profissional mais inteiro
e com mais consciência pessoal e profissional (COLOMBO;
COLS, 2004, p. 176).

Com efeito, e diante dos painéis apresentados, há o convite para que a


pedagogia contemporânea, possa se engajar para oferecer, e, disponibilizar
atividades educacionais de difusão em massa, de fácil acesso, como o ensino
eletrônico, (E-learning – Blended Learning) de modo a propiciar condições
favoráveis (inclusive econômicas) para que todas as pessoas realizem a
aprendizagem em qualquer lugar do planeta. A este respeito, evocamos
novamente a inteligência de Eboli (2004, p. 160):

[...] “o e-learning ou ensino eletrônico não trata apenas de


informação técnica, mas também da ampliação e da aplicação
do conhecimento”, afirma o vice-presidente de recursos
humanos da Embratel. Uma característica do novo cenário
profissional é a vontade de aprender, cabendo à empresa
moderna agilizar esse processo. O ensino por intermédio da
web acaba sendo excelente para a organização, pois permite
levar rapidamente ao maior número possível de empregados o
conhecimento a um custo menor que o de criar uma estrutura
de aprendizado convencional (EBOLI, 2004, p. 160).

Assim, seriam funções da pedagogia contemporânea: realizar diagnósticos das


competências críticas, tanto dos alunos quanto dos professores e instrutores;
projetar e divulgar dados estatísticos de modo a contribuir positivamente no
desenvolvimento geral, dentro e fora dos processos de ensino e
aprendizagem; arquitetar, envolver e comprometer a alta administração das
organizações de ensino com o processo de aprendizagem e os resultados
tanto quantitativos, bem como qualitativos dos egressos; alinhavar o sistema
de educação às estratégias de negócios, de modo a diminuir o hiato entre a
realidade das empresas e a dos alunos, bem como o processo vivencial em
comunidades colaborativas e efetivamente participativas dos alunos;
estabelecer critérios para que a arte e a cultura não se dissociem nos
processos de aprendizagem de jovens e adultos, para que não se instale o
mecanicismo dentro dos ambientes instrucionais. Nesse aspecto Colombo e
Cols (2004, p. 175), ofertam a seguinte afirmação:

Com as megatendências mundiais imprevisíveis e aceleradas,


percebemos a introjeção de novos conceitos e valores como: a
valorização da força humana, o renascimento da arte e da
espiritualidade, a preocupação com o meio ambiente e com a
qualidade de vida do homem no planeta, nos espaços sociais
de convivência e em suas relações nesses ambientes, inclusive
no seu trabalho (COLOMBO; COLS, 2004, p. 175).

46
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Também seria de bom tom, que os profissionais com formação em pedagogia,


pudessem estabelecer métodos e estratégias para mitigar o processo de
reprodução simbólica da educação tradicional, de tal sorte e forma a permitir a
inovação através da arte e a criatividade como mola propulsora da capacidade
humana em se desenvolver por meio da educação para o trabalho. Nessa
perspectiva Manfredi (2003, p. 230) nos propõe:

[...] trabalhar as manifestações de arte vinculadas à história e à


cultura das quais [o sujeito] é portador reforça a dimensão de
si mesmo e do mundo ao redor de cada um. Possibilita seduzir
os educandos para a arte e o belo, convivendo com as mais
diferentes formas de expressão artística através da música, da
dança, fazendo o elo entre o particular e o universal. Na
prática educativa do trabalho com arte, impõe-se a relação
pedagógica entre o ensinamento e a aprendizagem para além
do conhecimento técnico em si. Busca-se uma transmissão de
conhecimento (sic) que inclua as questões que permeiam a
vida, o momento de cada um e as especificidades do oficio
(MANFREDI, 2003, p. 230).

Nessa lógica, a pedagogia contemporânea poderia cogitar trabalhar em


projetos de desenvolvimento de métodos e estratégias de ensino e
aprendizagem, que pudessem corrigir déficits de conteúdo ao mesmo tempo
em que potencializassem o aprendizado ao longo de toda a trajetória
acadêmica presente e futura dos alunos. Sempre que possível, incentivar o
corpo de professores instrutores a prática da arte de estudar, da pesquisa e
da investigação crítica. Em total sintonia Colombo e Cols (2004, p. 172)
afirmam:

[...] Os programas de especialização, mestrado e doutorado,


além de não os ajudarem a avançar em suas práticas, são
muitas vezes, acometidos de um grande déficit de pensamento
crítico. (COLOMBO; COLS, 2004, p. 172).

Ainda por esse ângulo, sugere-se que no labor do profissional da Pedagogia


haja uma atenção redobrada no quesito sistemas avaliativos, isto porque não
raro os mecanismos avaliativos, sobretudo na educação profissional, são falhos
e desprovidos do acompanhamento da pedagogia.

Sendo a educação o objeto e o cerne da pedagogia, no que tange à educação


profissional, há de se ter, atenção diferenciada nos objetivos principais de
aprendizagem para que a perguntas incômodas, tais como: que perfil de
homem devemos formar para viver no contexto político-social-econômico dos
novos tempos? Os ambientes instrucionais disponíveis serão capazes de
formar cidadãos mais justos, mais humanos e mais fraternos? Ou, como afirma
Lipnizky (2012): “Todo mundo fala sobre a paz, mas ninguém educa para a paz?
Pessoas são treinadas para a competição, e a competição é o começo de uma

47
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

guerra."

A pedagogia para a próxima década terá que lidar também com a capacidade
de atrair, capacitar e reter talentos, ser capaz de gerir competências e
conhecimento, planejar ações centradas em entregar para o mercado o perfil
de profissional demandados pelos respectivos setores da economia, uma vez
que há uma demanda reprimida por profissionais que possam atuar em time,
e com forte formação em princípios éticos, como nos auxilia Eboli (2004, p. 44):

[...] as organizações precisam consolidar e disseminar seus


valores e princípios básicos de forma consistente, para que
eles sejam incorporados pelas pessoas, tornando-se
norteadores de seu comportamento e permitindo o
direcionamento entre objetivos e valores individuais e
organizacionais, construindo-se assim a identidade cultural. E
fundamentalmente, do ponto de vista do indivíduo, ele precisa
alcançar um patamar de maturidade e autoconhecimento que
proporcione uma conscientização e internalização do real
sentido da aprendizagem e desenvolvimento contínuos, para
garantir as competências humanas fundamentais ao sucesso
da empresa onde trabalha (EBOLI, 2004, p. 44).

Não obstante, espera-se dos profissionais da pedagogia em seu exercício


diário nas organizações de formação profissional, a arte de incentivar ações
pragmáticas sustentadas pelos pilares do conhecimento, da habilidade e da
atitude, de tal modo que tanto os alunos quanto o corpo docente sejam
capazes de ampliar o saber, o poder e o querer. Como nos salienta Eboli
(2004), todas essas ações apontam para a tríade: Porque fazer? O que fazer? E
como fazer? Essas indagações e inquietudes devem ser o balizador para o
profissional da Pedagogia que também deverá se situar com muita sintonia
diante dos aspectos econômicos, bem como nos brinda Colombo e Cols
(2004).

Isso se deve ao fato de que os ambientes de formação profissional estão se


ampliando para universidades coorporativas, sindicatos, OSCIPs, parcerias
entre órgãos públicos e privados, o que implica que já não se pode estabelecer
com precisão onde se aplica a educação profissional no Brasil e qual a
modalidade, uma vez que a educação presencial e a educação virtual se
confundem e também se fundem muitas das vezes.

A pedagogia contemporânea tem que lidar também com o advento da gestão


do conhecimento: numa sociedade globalizada, em que os mecanismos de
comunicação são transformados em ritmo alucinante, a difusão da informação
e o alto valor do conhecimento dentro das organizações também se fundam
como seara para desafios ainda maiores para o pedagogo, tais como aprender
a lidar com a rápida obsolescência do conhecimento, sobretudo no campo da

48
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

profissionalização da informática e das telecomunicações, o que exige


métodos de pesquisa no campo da Pedagogia que potencializem o campo de
investigação sobre a educação profissional.

E também segundo Eboli (2004), a utilização de forma intensiva e inteligente da


tecnologia aplicada à gestão do conhecimento, transformada numa prática
social saudável e moderna, permite unir o universo técnico ao cultural, ao
estruturar processos para viabilizar a transformação de conhecimento tácito
em conhecimento explícito e responsabilizar e envolver líderes e gestores pelo
processo de gestão do conhecimento e da aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil investe por volta de 6% do PIB em educação, sendo que esse


montante é superior à média dos países que compõem a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e os índices de proficiência
em Português e Matemática estão abaixo da média dos países que compõe a
OCDE.

Por conseguinte, a LEI 11.741 de 16 de julho de 2008, considerada a


atualização da LDB, que determina que a educação profissional poderá
acontecer concomitantemente como ensino médio, inclusive no mesmo
espaço físico, paradoxalmente não abarca questões reais e presentes dentro
do cenário da educação profissional. Conclusivamente, algumas questões
inquietantes se apresentam:

Qualificação dos pedagogos (as) para atuarem nesse cenário. Uma vez que
grande parte destes profissionais já atuantes não foram qualificados para
atuarem com o público de jovens e adultos no tocante a formação
profissional; via de regra em nível nacional, as grades curriculares dos
cursos de licenciatura em pedagogia não contemplam formação no uso de
novas mídias e tecnologias nos processos do ensino e aprendizagem.
Desconhecimento do parecer de 2006, que embora não restringe a área
de atuação da pedagogia, sobre tudo no tocante à educação profissional,
no entanto, não é o que acontece na formação acadêmica do profissional
em pedagogia na grande maioria das universidades.
Capacitação em tecnologia dos(as) pedagogos(as) que não são
expostos(as) a gama de recursos disponíveis e que não foram
preparados(as) na universidade para atuarem com tais tecnologias.
Valorização do capital humano. É histórico a desvalorização do capital
humano em pedagogia, que possui baixa remuneração e como
consequência, as instituições escolares são carentes dos bons
profissionais, que não raro são atraídos para outras áreas em detrimento a

49
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

baixa remuneração no setor educacional, sendo essa realidade agravada


no setor público. Se nos centros de formação profissional, exige-se um
capital intelectual preparado para ensinar e preparar para o mercado de
trabalho, esses profissionais são bem mais remunerados que os
profissionais concursados ou designados para atuarem no serviço público,
gerando assim descontentamentos e desmotivação, e como consequência,
abandono do objetivo central que é a preparação dos alunos para a efetiva
atuação no mercado de trabalho.
Adequação dos espaços escolares, tais como: laboratórios tecnológicos,
Acessibilidade, logística interna, simuladores, instrumentos e biblioteca
adequadas. A grande maioria das escolas públicas brasileiras estão em
péssimas condições estruturais, ainda estão enquadradas nas
argumentações de Michel Foucault, sendo estruturadas em prédios antigos
que mais se assemelham a presídios ou manicômios, mal cuidadas e
incapazes de reformulação ou reformas, tão pouco adequação para
receber cursos técnicos.
Distanciamento das escolas tradicionais das escolas de formação
profissional. Há um verdadeiro hiato entre projetos políticos pedagógicos
da escola tradicional e conservadora, e dos centros de formação
profissional. Dois mundos que embora se orbitem, mas as disciplinas,
conteúdos, programas e currículos não dialogam. Enquanto os centros de
formação, por estarem em sintonia com o mercado de trabalho, possuem
uma dinâmica um tanto mais acelerado que a escola tradicional. De tal
sorte que nem mesmo os programas e currículos são esgotados na
modalidade do ensino tradicional com currículos conservadores, na
formação profissional se isso acontecer compromete todo o trabalho no
quesito qualidade da mão de obra egressa que será entregue ao mercado
de trabalho;
Material didático inexistente. Se na formação tradicional há os PCNS como
guia norteador, bem como os livros determinados pelo MEC para suportar
os programas e currículos dos discentes, no que tange a educação
profissional, sobre tudo para as escolas tradicionais e conservadoras, eles
simplesmente inexistem, e ao se aventurar em captar material disponível
abertamente na internet, há o sério risco de se incorrer em dois grandes
problemas: ferir o direito autoral, e, utilizar material defasado ou em
dissonância, discrepância com os propósitos de formação dos alunos, com
grave consequências ao ofertar esse aluno egresso não preparado com
material de qualidade;
Determinação de processo avaliativo dos alunos egressos da modalidade
de ensino dual (ensino médio/profissionalizante). Se na escola tradicional o
Enem é o instrumento de avaliação que determina e apura os índices de
qualidade tanto dos alunos egressos bem como as instituições. Nesse
quesito os sistemas avaliativos inexistem. Comprometendo todo o

50
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

arcabouço de estatística capaz de fornecer dados e diagnósticos capazes


de intervenção a curto, médio ou longo prazo, e como agravante há o
comprometimento do planejamento, organização e controle pedagógico.
Silêncio estatístico velado em relação a evasão escolar nos cursos técnicos
e profissionalizantes. De acordo com um estudo da pesquisadora
Rosemary Dore Heijmans, da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), referenciado pela mestra Priscila Rezende Moreira (UFMG),
determina que embora inúmeras pesquisas no Brasil que versam sobre a
evasão escolar em cursos técnicos, há poucos estudos sobre um tema tão
pertinente e explícito.
Diante desse panorama complexo e também repleto de oportunidades, o
profissional da pedagogia é convidado a participar, analisar e ter uma
atuação crítica e reflexiva, de maneira a atuar incisivamente para a
construção de uma sociedade trabalhadora mais justa, humana e
democrática.

51
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

REFERÊNCIAS

A Educação Proibida – Pedagogia da Vida. Disponível em:


<www.pedagogiadavida.com.br/a-educação-proibida>. Acesso em 05 abr.
2022.

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da Educação Nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1988. Disponível em:
<http://www.portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/Idb.pdf>. Acesso em 15 mar. 2015.

BATISTA, E. L. Trabalho e educação profissional nas décadas de 1930 e


1940 no Brasil: análise do pensamento e das ações da burguesia industrial a
partir do IDORT. Biblioteca digital da Unicamp, 2013.

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competências. São Paulo: Pearson PrenticeHall, 2004.

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Bookman: Artmed, 2004.

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Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

MTE - Ministério do Trabalho. Secretaria de Formação e Desenvolvimento


Profissional. Educação Profissional: um projeto para o desenvolvimento
sustentado. Brasília, 1995.

INEP - Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Novo Pisa –


resultados. Disponível em:
http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/pisa-
2018- revela-baixo-desempenho-escolar-em-leitura-matematica-e-ciencias-no-
brasil/21206. Acesso em: 12 ago. 2020.

MANACORDA, M., A. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias.


Tradução Gaetano Lo Monaco. São Paulo: Cortez, 1989.

MANFREDI, S. M. Educação Profissional no Brasil. Rio de Janeiro: Cortez,


2003.

52
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

MARTINS, G. A. Estudo de caso: uma reflexão sobre a aplicabilidade em


pesquisas no Brasil. Revista de Contabilidade e Organizações, [online], v. 2,
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MOREIRA, P. R. Evasão escolar nos cursos técnicos do PROEJA na Rede


Federal de Educação Profissional e Tecnológica de Minas Gerais. 2012.
Dissertação de Mestrado. Curso Pós-Graduação em Educação. Universidade
Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, MG, 2012.

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https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/avaliacoes_e_exames_d
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REGATTIERI, M.; CASTRO, J. M. (Orgs.). Ensino médio e educação


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desenvolvimento humano. 2011. 442 f. Tese (Doutorado em Educação) -
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

53
4
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Inteligência de negócios nas


avaliações em grande escala da
quebra de axiomas teratológicos até
o Ethos contemporâneo⁶.
Geisse Martins

INTRODUÇÃO

Prevalece no senso comum, que a avaliação escolar é algo ruim e


desnecessária. Fato é, que as avaliações escolares em grande escala é uma
realidade no Brasil, e estão presentes desde a educação infantil até o término
da graduação. Todas as redes públicas e privadas se utilizam de sistemas
avaliativos, não somente entre os alunos, mas também junto aos professores,
gestores e até mesmo, mais recentemente, em parcerias público-privadas.

Não raro a aplicação de avaliação, até bem pouco tempo no Brasil, tinha um
caráter muito mais próximo do punitivo. Todavia, com o advento de novas
tecnologias, como o Business Inteligence e suas versões análogas, uma nova
ótica vem se estabelecendo por parte dos gestores educacionais, em todos os
níveis. Seguindo uma tendência internacional, esses instrumentos de
tecnologia são capazes de auxiliar na consolidação de dados e informações
que, por sua vez, podem ser utilizados para produzir conhecimento acerca do
universo educacional de uma nação. Isso porque o conhecimento abstraído da
fonte primária de dados, que as avaliações em grande escala proporcionam
para a análise, auxiliam na tomada de decisões e, até em última instância, nas
proposições de políticas públicas. Conforme Souza e Ferreira (2019, p. 14):

Desse período, até meados da década de 1970/80, a avaliação


educacional recebeu contribuições significativas e se
consolidou como uma teoria com objeto e métodos próprios
para a realização de diagnósticos cada vez mais precisos sobre
o desempenho do aluno, do docente, da instituição escolar e
do próprio sistema de ensino (SOUZA;FERREIRA, 2019, p. 14).

Com camadas cada vez mais densas em seus níveis de tomada de decisão, as
instituições escolares (federais, estaduais e municipais) e as organizações
privadas, precisam revisar perenemente as práticas pedagógicas e as

[6] Esse texto é uma versão adaptada do artigo publicado na revista RCMOS – Revista Científica
Multidisciplinar o Saber. Disponível em:
http://revistacientificaosaber.com.br/ojs/envieseuartigo/index.php/rcmos/article/view/97/72.

55
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

estratégias do ensino e da aprendizagem, sempre tendo como norte a


melhoria contínua dos resultados e desempenhos dos seus estudantes.

Avaliar em grande escala, tendo como base a inteligência artificial e uso de


tecnologias de estatística, aplicadas à análise computacional, proporciona uma
maior celeridade nos processos (logísticos e operacionais), mas, sobretudo, na
tratativa relacionada ao planejamento didático e pedagógico nos processos do
ensino e da aprendizagem.

Com efeito, os sistemas avaliativos em grande escala têm um protagonismo


que vai além do que simplesmente avaliar primariamente. A avaliação nas
grandes redes tem um caráter de intervenção social; transcende os muros dos
ambientes de aprendizagem, seus efeitos resvalam-se nas esferas políticas,
econômicas e sociais.

Avaliar em escala, e com o uso de ferramentas computacionais que possam


trazer à baila perspectivas e prismas outrora não utilizados ou mesmo
revelados, possibilita aos gestores, distribuídos em suas hierarquias distintas,
obter dados e informações que se sustentam por dois pilares fundamentais:
diagnóstico e regulação.

Nessa perspectiva, a administração escolar se utiliza-se de business inteligence


ou inteligência de negócios, como é conhecida no Brasil, não somente para
coleta, mas como organização, análise e monitoramento das informações, que
as avaliações permitem abstrair.

Toda a transformação e o processamento das informações contidas dentro


desse grande volume de dados, ou como é conhecido, o big date, dá suporte
para tratativas de correção de rotas e de planejamentos, auxilia na
interpretação de tendências e comportamentos, também oportuniza a quebra
ou a desconstrução de axiomas cristalizados sobre a educação e suas mazelas,
seja de forma global ou até mesmo pontual. Com uma perspectiva mais
realista e fundamentada em números, essa inteligência de negócios impele, de
certa forma, para uma interpretação mais racional, e na mesma proporção
descortina novas oportunidades e se coaduna com estratégias efetivas que
precisam ser alicerçadas em dados e informações, para promover tomadas de
decisões mais assertivas em curto e médio prazo. Nessa perspectiva, Costa,
Vidal e Vieira discorrem (2019, p.12):

A avaliação da educação no Brasil, como forma de regulação, é


possibilitada pelo aperfeiçoamento da produção e difusão dos
dados estatísticos educacionais. Em outros espaços do globo,
esse fator também será decisivo para inserção de uma cultura
de responsabilização, visto que, com os avanços
metodológicos e técnicos na avaliação de larga escala da

56
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

aprendizagem, estabeleceram-se instrumentos mais precisos e


sofisticados. (COSTA; VIDAL; VIEIRA, 2019, p. 12).

Diante do exposto, algumas questões incômodas se apresentam: Como essas


ferramentas de avaliação em grande escala, disponíveis no mercado, e suas
funcionalidades se apresentam para saciar a demanda por dados e
informações das redes de ensino no Brasil? Uma vez utilizadas, o que elas
oferecem do ponto de vista qualitativo e quantitativo, para subsidiar a tomada
de decisões? Como o business inteligence, integrado a essas ferramentas,
pode contribuir para a mudança de cenário no campo da gestão educacional
brasileira?

METODOLOGIA

Este artigo possui o caráter de pesquisa exploratória ancorada em


levantamentos bibliográficos que fundamentam reflexões teóricas, a fim de
documentar a estrutura, fomentar as análises e ampliar o cerne das
discussões e questões que se apresentam no ao uso e na aplicação de
inteligência de negócios no campo da educação, mais especificamente na
gestão educacional.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O cenário avaliar para planejar melhor. Esta é uma máxima em administração,


e não poderia ser diferente no ramo educacional. De acordo com o portal da
transparência (CGU, 2021), a educação foi o setor econômico brasileiro que
fechou o ano de 2020 com o orçamento consolidado de R$ 88,15 bilhões.

Esse paradoxo, investimento versus resultados em proficiência, está


sedimentado no tecido social brasileiro. Nesse aspecto avaliar em grande
escala, abstrair dados e informações que possam direcionar as decisões em
nível de gestão, impõem-se imperativamente.

Souza e Ferreira (2019), afirmam que a avaliação de larga escala já alcançou


um bom nível no Brasil e tem possibilidade de orientar o planejamento de
Secretarias estaduais e municipais, bem como o Ministério da Educação.

57
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 1 | Total de despesas executadas para a área da educação no Brasil (2018-2020)

Fonte: Elaborado pelo autor, baseado nos dados do Portal da Transparência


(CGU, 2018, 2019 e 2020).

Gráfico 2 | Despesas por área

Fonte: CGU (2019).

Figura 1 | Despesas por localidade do gasto em Educação

Fonte: CGU (2019).

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP,


2019), em seu portal, informa que:

O maior estudo sobre educação do mundo, o Programa


Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa),apontou que o
Brasil tem baixa proficiência em leitura, matemática e ciências,
se comparado com outros 78 países que participaram da
avaliação. A edição 2018, divulgada mundialmente em 3 de
dezembro, revela que 68,1% dos estudantes brasileiros, com
15 anos de idade, não possuem nível básico de matemática, o
mínimo para o exercício pleno da cidadania. Em ciências, o
número chega a 55% e, em leitura, 50%. Os índices estão
estagnados desde 2009. (INEP,2019).

Ainda nesse sentido, o INEP é preciso em afirmar, que quando comparado o


nível de proficiência em matemática em relação a estudantes de outros países,
como Uruguai, Chile e Colômbia, os brasileiros ficam atrás, em uma posição
classificada como a pior.

Gráfico 3 | Habilidade e Competência em Leitura.

Fonte: INEP (2019).

Gráfico 4 | Habilidade e Competência em Matemática.

Fonte: INEP (2019).

59
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Diante dos fatos expostos e ao trade off⁷ instalado, a associação do business


inteligence nos processos de avaliação em grande escala, contribuiu
positivamente. Avaliar então, transcende e amplia as dimensões pedagógicas
nas quais os sistemas avaliativos eram utilizados.

As dimensões políticas, econômicas e sociais com o advento da inteligência de


negócios, entrelaçada e articulada nos exames, permite oferecer aos gestores
uma gama maior de dados e informações, cuja aplicabilidade vai desde
questões simples e cotidianas, até em implementações de políticas públicas,
ações práticas econômicas e até intervenções sociais. De acordo com Bauer,
Alavarse e Oliveira (2015, p. 1369), as reformas educativas implantadas nas
últimas décadas, caracterizam-se por um conjunto de medidas que articulam
os seguintes aspectos:

centralização dos sistemas de avaliação, que passam a ser


utilizados como instrumentos de gestão e alimentam
políticas de responsabilização aliadas a desenhos
censitários de avaliação externa;
descentralização dos processos de gestão e financiamento,
que fortalecem o discurso da autonomia e da gestão
democrática da escola, numa perspectiva de melhoria dos
resultados, o que inclui a autonomia financeira para buscar
novas fontes de recursos, que não as fontes públicas
tradicionais, e novas formas de gerenciamento da
educação pública, o que inclui autonomia de gestão
financeira e autonomia de gestão (school based
management);
ampliação das possibilidades de escolha (choice),
estimulando mecanismos de competição entre as escolas,
o que induziria à melhoria de sua qualidade; e
valorização dos resultados e busca de maior efetividade do
serviço ofertado (school effectiveness) (BAUER; ALAVARSE;
OLIVEIRA, 2015, p. 1369).

A extração — transformação e carga do conteúdo de dados e informações


disponíveis — com a aplicação dos exames, descortina-se, e de certo modo,
desconstrói o axioma cristalizado do senso comum acerca da educação e de
suas propriedades. Por conseguinte, a melhor forma de prever o futuro é
planejá-lo. De tal sorte que as ferramentas computacionais de Inteligência de
Negócios (BI), consolidam-se como uma alternativa que permite aos gestores,
além de planejamento, organização e controle, para aplicar os cinco princípios
da administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência.

[7] Trade Off é o nome que se dá a uma escolha que se faz em detrimento de outra. Por
exemplo: as pessoas enfrentam o trade off entre consumo e lazer. Ou seja, para obter mais
consumo é necessário trabalhar mais, logo, abdicar de tempo de lazer.

60
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A avaliação é uma poderosa aliada nas práxis docentes. Tem,


fundamentalmente, a premissa de uma possibilidade de verificação do alcance
dos objetivos propostos no planejamento dos conteúdos que serão oferecidos
aos estudantes independentemente da modalidade, forma ou grau de ensino.
Estruturalmente, serve como um instrumento de reflexão sobre os processos
de ensino e da aprendizagem no tocante ao pedagógico.

Com efeito, estabelecer uma cultura avaliativa que esteja efetivamente a


serviço da convergência entre didática e aprendizagem é, por vezes, dificultada
no Brasil, em detrimento de uma cultura da não valorização da organização e
do controle. Agrava-se à questão postulada, nas redes de ensino, problemas
de ordem social dos professores (remuneração, ordenamento curricular,
descontinuidade de programas) e, não rara, a pressão de avaliações externas,
como é o caso do PISA.

É importante ressaltar que, na prática, os processos avaliativos carregam em


suas composições um constructo de abordagens teóricas organizadas, não
somente da aprendizagem, mas também sobre o tecido social em que os
avaliados estão inseridos.

Sendo assim, os dados e as informações coletadas pelo sistema no processo


de avaliação, precisam ser fonte de coleta e abstração para que uma vez
analisados, possam gerar indicadores. Nesse sentido, as ferramentas de BI
oferecem a possibilidade de trabalhar componentes de visualização de
indicadores para explicitar a informação tanto para as tratativas do pedagógico
quanto as de administração para os gestores.

Um ponto interessante sobre o BI, que é importante destacar, é a capacidade


de visionar o conhecimento e a habilidade, que por vezes está implícita na
gama de dados, e que somente pessoas com habilidades técnicas e
matemáticas, com treinamento específico, teriam acesso, porém com as
ferramentas de BI isso fica acessível para todos. Uma vantagem que se
apresenta a inteligência de negócios é a capacidade de estabelecer pontos de
mensuração que são conhecidos como indicadores, cuja principal
característica é sinalizar especificamente uma situação por meio de signos.

Em sua estrutura, existem medidas calculadas e formadas por métricas, o que


o torna um poderoso analista. Esses indicadores são os KPI’s – Key
Performance Indicators (Indicador-chave de Perfomance). Em avaliações de
grande escala, o uso desses indicadores é fundamental, pois, permite, dentro
de parâmetros pré-determinados básicos ou complexos, ao final do processo
de abstração e modelagem dos dados, dar suporte ao acompanhamento das
metas traçadas ou associadas ao desenvolvimento planejado ou esperado do
desempenho das populações.

61
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 2 | Representação de materialização dos KPI’s em disposições gráficas.

Fonte: Elaborada pelo autor (2021).

Todo o planejamento desenvolvido com o uso desses indicadores, não raro


podem estabelecer os limites das frequências dos dados (limites inferiores e
limites superiores), que se apresentam com o comportamento das pessoas
envolvidas no processo avaliativo. No uso de inteligência de negócios em
sistemas avaliativos, a serviço dos gestores, dois pontos devem ser
ressaltados:

Teoria a resposta do item (TRI): em síntese, pode ser entendida que, a


partir de um agrupamento de respostas apresentadas por um
conglomerado de respondentes a um conjunto de itens, a TRI concede a
estimação dos parâmetros dos itens e dos indivíduos escalonados por
medida. Em suma, a TRI qualifica o item de acordo com três parâmetros (1.
Poder de discriminação, que é a capacidade de um item distinguir os
estudantes que tem a proficiência requisitada daqueles quem não a tem;
2. Grau de dificuldade; 3. Possibilidade de acerto ao acaso conhecido como
chute).
Mitigação da curva do esquecimento: pressupõe a queda da retenção
do conhecimento adquirido, e presente na memória ao longo do tempo.
Essa curva explicita a dinâmica de como os conhecimentos se esmaecem
ao longo do tempo, quando não há esforços em retê-los. Com sistemas
avaliativos recorrentes e em intervalos de tempo determinados, permitem
a correção de rota do planejamento e ações incisivas junto aos estudantes
de forma a mitigar ou mesmo interferir na curva do esquecimento.

62
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 5 | Curva do Esquecimento.

Fonte: Sambatech (2019).

Esses dois elementos consubstanciam uma evolução no que se refere ao uso


de tecnologias em sistemas de avaliação, e em grande monta desconstrói os
axiomas teratológicos acerca da educação, com as análises sustentadas por
dados estratificados estatisticamente, e com representações gráficas e visuais,
o que subsidia a tomada de decisões, direciona as ações efetivas para o ethos
e suas demandas políticas, econômicas e sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gestão escolar das grandes redes de ensino, exige dos administradores,


tomada de decisões que tem profundo impacto em questões pedagógicas,
econômicas e sociais. As decisões dos gestores escolares em suas respectivas
esferas e redes, exigem, atualmente, uma amplitude maior de dados. Tais
informações podem ser conseguidas mediante a avaliação em larga escala.

Esse instrumento, quando associado a inteligência de negócios (BI), visa


automatizar a produção dos resultados obtidos, favorecendo as devolutivas
técnicas e pedagógicas, seja tanto por meio da construção de visões
estruturadas dos dados quanto pela produção e disponibilização de consultas
(sintéticas e analíticas) dos resultados. A partir da produção de comparativos,
que podem ser em grupos ou mesmo de forma individual, sobre o
desempenho dos participantes (turmas, agrupamentos, escolas em específico),
há também a capacidade de analisar o desempenho das turmas e das escolas
em diversos níveis ou etapas de ensino e componentes curriculares. As
ferramentas de inteligência de negócios propiciam a produção de análises
(quantitativas e qualitativas), acerca da aprendizagem, relativas às habilidades e
competências educacionais avaliadas. A utilização de avaliação em grande

63
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

escala transcende as questões e tratativas pedagógicas. Não somente permite


automatizar os procedimentos operacionais inerentes à aplicação de avaliação
da aprendizagem (seja de forma impressa ou on-line).

Ao que se refere a questões econômicas, essas ferramentas permitem avaliar,


por meio das análises de proficiência, como o grupo de pessoas atingido está
estratificado quanto ao impacto da educação em seus desempenhos, frente
aos investimentos que foram destinados ou os esforços financeiros envolvidos
e aplicados. Com efeito, todas as análises dispostas dentro de um dashboard
servem para uma melhor interpretação e consequentemente para ações
efetivas de ordem social, inclusive de políticas públicas que têm impacto direto
no social dos grupos envolvidos na avaliação.

Portanto, pode-se concluir que os sistemas de avaliação em grande escala que


se utilizam de inteligência de negócios, são ferramentas capazes de fornecer
informações e subsidiar aos gestores, um conjunto de dispositivos, inclusive
gráficos, para a tomada de decisões.

64
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

REFERÊNCIAS

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sistematização do debate. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 41, n. spe., p.
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Transparência. 2018. Disponível em:
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CGU - CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO. Educação. Portal da


Transparência, 2019.Disponível em:
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CGU - CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO. Educação. Portal da


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COSTA, A. G.; VIDAL, E. M.; VIEIRA, S. L. Avaliação em larga escala no Brasil:


entre a coordenação federativae o ethos do Estado-avaliador. Revista
Educação em Questão, [online], v. 57, n. 51, p. 1-29, 2019. DOI:
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INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.


Relatório Brasil no Pisa 2018. 2019. Disponível em:
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a_educacao_basica/relatorio_brasil_no_pisa_2018.pdf. Acesso em: 25 mai.
2021.

SAMBATECH. Curva do esquecimento: como atrair mais alunos no seu EAD?


2019. Samba Tech. Disponível em: https://sambatech.com/blog/insights/curva-
esquecimento-como-atrair- mais-alunos-no-seu-ead/. Acesso em: 25 mai.
2021.

SOUSA, C. P. de; FERREIRA, S. L. Avaliação de larga escala e da aprendizagem


na escola: um diálogo necessário. Psicologia da Educação, [online}, v. 48, p. 13-
23. 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/2175-3520.20190003.

65
5
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Tecnologia Educacional Adaptativa:


estudo de caso da Plataforma
Educacional Simplix
Geisse Martins⁸

INTRODUÇÃO

Sobre a comunicação e as tecnologias na Educação Inclusiva. A comunicação


humana é um processo que envolve troca de informações e utiliza sistemas
simbólicos (abstratos, concretos, gestuais e sonoros) como base para esse fim.

Estamos rodeados de ambientes físicos, mas, sobretudo, circundados pelo


meio ambiente social e cultural, repletos de pessoas com as quais nos
relacionamos e das quais dependemos: somos seres sociais por natureza,
criadores e resultado da nossa própria sociedade e cultura.

A comunicação não existe sozinha, como algo separado da vida e da


sociedade: tudo é comunicação, e é por meio dela que partilhamos quem
somos e expressamos o que sentimos. Ela é o canal pelo qual nossa condição
de vida, nossas crenças, valores e características culturais nos foram
transmitidas.

Trata-se de uma necessidade básica dos humanos, do ser social, e se


confunde com a própria vida, pois todos os dias, do nascer ao morrer e do
acordar ao dormir, realizamos inúmeros atos de comunicação: desde um beijo
de bom-dia, passando pela escolha das roupas e produtos de cuidados e
beleza que vamos usar, a leitura de placas no caminho, o papo descontraído
na hora do cafezinho ou do almoço, a discussão de relatórios no trabalho, a
conversa em família no jantar, ao mesmo tempo em que assistimos à novela
na televisão, até o boa-noite, na hora de dormir.

O ser humano percorreu um longo caminho entre a comunicação primitiva –


com a simples linguagem dos gestos, posturas, gritos e grunhidos, como os
demais animais – e os ideogramas, até chegar à estrutura da linguagem
(verbal, não verbal, escrita e gestual), e alcançar maneiras claras e evoluídas de
comunicação, abrindo, com a tipografia, a era da comunicação social.

Todos nós precisamos ser entendidos e entendermos os outros, e foi

[8] Tese de mestrado do autor

67
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

justamente a partir dessa necessidade que ganhamos o principal fator de


vantagem evolutiva: a comunicação.

Comunicação é uma palavra derivada do termo latino "communicare", que


significa "partilhar, participar algo, tornar comum". A comunicação ocorre
quando o emissor traduz a sua ideia para uma linguagem ou código que possa
ser compreendido pelo receptor.

Segundo Harari (2015), o surgimento de novas formas de pensar e se


comunicar, entre 70 e 30 mil anos atrás, constitui a revolução cognitiva que
possibilitou uma mudança sem precedentes na maneira de pensar e se
comunicar. Tais habilidades, a de pensar e comunicar, permitem a
humanidade, ao longo de sua existência, cooperar uns com os outros. A
comunicação é, portanto, característica intrínseca da evolução humana.

A comunicação humana é o meio pelo qual as pessoas se relacionam e


mantêm contato com os outros. É ela que propicia trocas significativas e a
apropriação cultural. A comunicação e a interação interpessoal são realizadas
de forma abrangente: usamos a linguagem oral, acompanhada ou não por
expressões faciais, os gestos, a escrita e outros elementos comunicativos que
nos permitem compreender e sermos compreendidos.

A linguagem é adquirida conforme o sujeito vai sendo inserido na sociedade,


ou seja, é produto desse processo de desenvolvimento humano. A criança
adquire a linguagem à medida que interage com o meio e com os seus pares.
Por meio da própria linguagem, ela vai construindo a noção de realidade.

Dessa forma, fica claro que, durante atividades de interação e


compartilhamento, ocorre uma troca de experiências culturais significativas, e,
para tanto, é necessário haver algum tipo de comunicação. A partir da
importância da linguagem e do funcionamento comunicativo para o
desenvolvimento e a formação humana, pessoas que possuem ausência ou
déficit de comunicação necessitam de auxílio para realizar uma forma de
comunicação e expressão que propicie, também, o desenvolvimento da
cognição.

A comunicação alternativa se propõe, então, a compensar a dificuldade das


pessoas com deficiência de se comunicarem, de forma temporária ou
permanente, transformando-se, também, em recursos enriquecedores da
Educação Inclusiva, propiciando, por fim, o pleno desenvolvimento delas, uma
vez que, de acordo com Vygotsky (1997), o defeito não produz um ser menos
desenvolvido, mas que apresenta um desenvolvimento qualitativamente
diferenciado.

68
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Nesse cenário, a Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), enfatiza formas


diversificadas de comunicação, visando a promover e suplementar a fala,
garantindo, assim, uma forma alternativa de comunicação para o indivíduo que
tem ausência, comprometimento ou prejuízo nesse sentido.

A comunicação alternativa, dessa forma, enfoca a promoção da capacidade


comunicativa, assegurando autonomia e oportunizando participação efetiva
em diversos contextos de comunicação: nos ambientes familiar, social, escolar
e profissional.

Nos dias atuais, graças aos avanços tecnológicos, as novas mídias estão ao
alcance da maioria das pessoas, e inseri-las nos processos do ensino e da
aprendizagem, como ferramentas riquíssimas e facilitadoras, favorece a
ampliação do conhecimento e a melhoria da qualidade do ensino.

Um dos principais objetivos norteadores da introdução das Tecnologias da


Informação e Comunicação (TICs) na educação é o de disponibilizar conteúdos
de qualidade, que favoreçam a aprendizagem e fomentem a inovação nas
práticas pedagógicas.

No ambiente educacional, a tecnologia possibilita a criação de inúmeras


formas de envolver, estimular e explorar novas estratégias, de acordo com as
necessidades do mundo atual, expandindo a experiência de aprendizado, o
que torna a comunicação e o ensino mais dinâmicos e interativos.

Também na gestão educacional são várias as instâncias nas quais o emprego


das TIC pode agregar e assumir papel relevante, a exemplo da viabilização do
planejamento, o monitoramento das ações pedagógicas, da aprendizagem dos
estudantes e da alocação de recursos.

As TIC se apresentam ainda, com um papel importantíssimo na formação


continuada dos professores e profissionais atuantes na educação, para que
eles não sejam apenas detentores de conteúdo, mas agentes de
transformação, uma vez que seus papéis estão sendo permanentemente
ressignificados e reconstruídos, visando ao desenvolvimento pleno das
pessoas.

Já é sabido que as tecnologias educacionais ampliam os poderes cognitivos e


podem ajudar o desenvolvimento, por meio da comunicação e de trocas
constantes. No mundo globalizado e competitivo em que vivemos, terá
vantagem quem souber onde buscar informações e conhecimento, fazer uma
observação crítica e trabalhar de forma colaborativa.

69
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A tecnologia voltada para a educação, no entanto, precisa ser uma ferramenta


que se baseia numa concepção de aprendizagem interacionista e colaborativa,
na qual tanto o estudante quanto o professor sejam sujeitos atuantes, fazendo
uso dos recursos disponíveis para construir espaços de aprendizagem, pois
(VYGOTSKY, 1988, p. 115-118):

[...] o aprendizado humano pressupõe uma natureza social


específica e um processo através do qual as crianças penetram
na vida intelectual daquelas que a cercam, [...] um aspecto
essencial do aprendizado é o fato de ele criar a zona de
desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta
vários processos internos de desenvolvimento, que são
capazes de operar somente quando a criança interage com
pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus
companheiros. Uma vez internalizados, esses processos
tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento
independente da criança (VYGOTSKY, 1988, p. 115-118).

No Brasil, a importância da tecnologia já foi descrita no Plano Nacional de


Educação (2014-2024). Consta, na Meta 5, “alfabetizar todas as crianças, no
máximo, até o final do 3º ano do ensino fundamental” e a tecnologia é
reconhecida, então, como uma estratégia valiosa:

Estratégia 5.3 – selecionar, certificar e divulgar tecnologias


educacionais para a alfabetização de crianças, assegurada a
diversidade de métodos e propostas pedagógicas, bem como
o acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino
em que forem aplicadas [...] (Brasil, 2015, [n. p.]).

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017, também


reconhece a importância da tecnologia e a inclui entre as dez competências
gerais a serem desenvolvidas por todos os estudantes brasileiros:
Competência nº 5:

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação


e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética
nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se
comunicar, acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e
autoria na vida pessoal e coletiva. (Brasil, 2018, [n. p.]).

Sabemos que, à medida que as tecnologias digitais evoluem, elas passam a


servir a diferentes objetivos e atores, e, fato é que de nada adiantará a
tecnologia, se ela não servir ao trabalho pedagógico e não estiver voltada
inteiramente para favorecer a aprendizagem e a inclusão sociodigital.

A educação Inclusiva e, especialmente, a promoção da acessibilidade por meio


da tecnologia assistiva, são meios capazes de criar condições para a
autonomia do estudante, além de atuarem como instrumentos mediadores da

70
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

aprendizagem.

Nesse sentido, é preciso valorizar a diferença como condição humana, e


considerar que a diversidade de desenvolvimento é uma realidade que
necessita ser atendida.

Como já vimos, educar para a cidadania é uma meta transversal das políticas
educacionais e precisa ser incorporada nos projetos pedagógicos por meio da
valorização das necessidades, na elaboração de novos espaços de socialização,
novas manifestações culturais, na questão mais ampla da acessibilidade e na
inclusão de recursos específicos, que proporcionem o acesso às TIC como
instrumento de aprendizagem, de modo a possibilitar o desenvolvimento
cognitivo e criativo dos estudantes.

Diante de tudo isso, fica evidente que o entrelaçamento entre o uso das
tecnologias digitais e educação é uma discussão extremamente importante
quando pensamos na aprendizagem e no desenvolvimento de habilidades,
pois a tecnologia passa a atuar como instrumento e alternativa para a
construção do conhecimento.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Apresentar um estudo de caso de uma empresa brasileira que desenvolve


tecnologias educacionais adaptativas para serem utilizadas nas intervenções
com pessoas com deficiência.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

compreender a importância da comunicação nos processos de


aprendizagem das pessoas com deficiência;
analisar as várias formas de aplicação de tecnologias adaptativas em suas
mais diversas teorias e abordagens;
compreender o uso e a adaptação de métodos e abordagens da
comunicação alternativa, bem como de atividades interativas junto a
pessoas com deficiência; e
compreender a aplicação e o uso de tecnologias educacionais adaptadas
para intervenções pedagógicas, psicopedagógicas e
neuropsicopedagógicas por profissionais da educação junto às pessoas
com deficiência.

71
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A tecnologia se compatibiliza com as demandas e os objetivos previstos no


plano de ensino e na política da Educação Inclusiva e Integral em todo Brasil.
Atuando como instrumento de apoio para a construção e/ou o
desenvolvimento de atividades que irão subsidiar intervenções pedagógicas,
psicopedagógicas, neuropsicopedagógicas e diagnósticas, no âmbito do
Atendimento Educacional Especializado (AEE). Contribuindo com a melhoria
quantitativa e qualitativa dessas intervenções, assim como com o
aprimoramento dos processos do ensino e da aprendizagem, empreendidos
principalmente nos campos da comunicação alternativa e aumentativa e na
alfabetização inicial.

Outro fator motivador do processo de criação e disponibilização de uma


tecnologia disruptiva que fosse capaz de atender uma demanda das pessoas
com deficiência não somente, mas também no mundo. De acordo com a
Unesco:

Mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo vive com


alguma forma de deficiência, destas quase 93 milhões são
crianças. No Brasil, são 45,6 milhões de pessoas, que
representam quase 24% da população brasileira com algum
tipo de deficiência. (“Educação inclusiva no Brasil, c2019, seção
pessoas com deficiência).

Anualmente, é realizado o Censo Escolar/MEC/Inep nas escolas de educação


básica, que permite a aferição e o acompanhamento dos indicadores da
Educação Especial, tais como: acesso e matrícula, ingresso nas classes comuns,
oferta do atendimento educacional especializado, acessibilidade nas escolas,
municípios com matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais,
formação docente para o atendimento às necessidades educacionais especiais
e outros.

Os dados de 2019 revelam, que o número de matrículas de alunos com


deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, em salas de aula comuns, cresceu em todas as etapas de
ensino (INEP, 2019).

De acordo com a Política Nacional de Educação Especial (PNEE): equitativa,


inclusiva e com aprendizado ao longo da vida, oriundo da Secretaria de
Modalidades Especializadas de Educação, desde 2008, o número de matrículas
na educação especial inclusiva apresentou um crescimento exponencial: em
apenas 12 anos, houve um crescimento na ordem de 256% no número de
matrículas na rede regular de ensino (Brasil, 2020).

72
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 1 | Micro dados Censo Escolar – INEP/MEC (2008-2019).

Fonte: Inep (2019).

Com um aumento real na ordem de 79,8% no período que compreende de


2008 a 2019, houve, nesse intervalo de tempo, um aumento de 696 mil
matrículas para mais de 1,25 milhão em 2019. Sendo que, de acordo com o
documento, em 2008, 320 mil matrículas foram referentes a classes exclusivas
e 376 mil referiam-se a escolas comuns (convencionais ou regulares). Segundo
o Censo Escolar de 2019, 87,2% dos estudantes do público-alvo da educação
especial inclusiva estavam matriculados em classes comuns e 12,8% estavam
em escolas especializadas.

Figura 1 | Educação Especial no Brasil. Matrículas em classes comuns e


exclusivas – Censo MEC/2019.

Fonte: MEC (2019).

Importante enfatizar que, diametralmente oposto, o censo apurou uma queda


de 50% no número de matrículas de pessoas com deficiência em idade escolar
na educação especial, e que estavam devidamente matriculadas na rede
regular de ensino. De acordo com esse relatório, em 2008, como já dito, foram
registradas 320 mil matrículas em classes especiais; porém, em 2019, o
número era de apenas 160 mil.

73
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

É com base no cenário apresentado que a tecnologia adaptativa, objeto dessa


análise, foi criada, para suprir as demandas existentes.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a análise, foi utilizada a metodologia de pesquisa qualitativa (estudo de


caso), associada com a técnica de observação, aplicada com fundamentação
teórica bibliográfica.

Conforme argumenta Minayo (2001, p. 22):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares.


Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de
realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha
com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que
não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis
(Minayo, 2001, p. 22).

Na mesma direção e sentido, Musse (2011, p. 14), em seus comentários, sobre


o fato social de Durkheim, afirma:

O estudo sociológico da educação permite compreender, de


forma geral e resumida, as modalidades de constituição do ser
social ao longo da história. Mas também possibilita o exame da
determinação cultural da consciência, isto é, dos
procedimentos que levam os indivíduos a interiorizar ideias,
valores, crenças e sentimentos coletivos. Abre-se caminho
para a investigação das modificações das representações
coletivas (encarregadas de manter ou reforçar a consciência
individual) pela interferência de outros aspectos da vida social
(Durkheim, 2011, p. 14).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A construção do arcabouço legal referente a educação inclusiva no Brasil, foi


constituída por lutas e conquistas de toda a sociedade que objetiva alcançar
uma cultura inclusiva que se entrelaça em todo o tecido social.

De acordo com o IBGE (2010), cerca de 24% da população se declara com


algum tipo de deficiência. Nesse sentido e direção, a educação de pessoas com
deficiência no Brasil na última década, apresentou um crescimento
exponencial no que se refere ao aumento das matrículas na rede regular de
ensino.

74
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

De acordo com o Censo Escolar de 2019, 87,2 dos estudantes do público-alvo


da educação, especial estavam regularmente matriculados em classes comuns.
O gráfico a seguir, demonstra o total de matrículas da educação especial nos
sistemas de ensino regular no período de 2008 a 2019, tanto nas classes
especializadas quanto nas classes comuns.

Gráfico 2 | Matrículas de pessoas com deficiência no Brasil.

Fonte: MEC (2019, p..20).

As políticas públicas referentes às pessoas que precisam de atendimento


educacional especializado, são uma realidade nas escolas públicas, que
absorvem o maior contingente do extrato da população, frente a esse desafio
de prover um mercado com tecnologias que vão ao encontro das demandas
reprimidas deste setor, bem como também, coadunar com as determinações
de oferecer consubstancialmente produtos e serviços para o setor da
educação que atua incisivamente com a inclusão de pessoas com deficiência.

Com efeito, há também um contingente de profissionais da educação com


formação continuada nos campos da educação especial, e essa estratificação
tem uma relevância importante nesse cenário, isso porque esses profissionais
compreendem questões determinantes no uso de novas tecnologias como
parte fundamental para a educação de pessoas com deficiência.

75
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 3 | Matrículas no AEE, no Brasil, de 2009 a 2019.

Fonte: MEC (2020, p..23).

A ampliação do número de matrículas do público-alvo da educação especial,


reforça a necessidade de tecnologias educacionais planejadas para a inclusão
deste público. Assim, neste estudo, foi possível analisar cientificamente um
estudo de caso de uma empresa brasileira, e compreender como se pode
aplicar essas tecnologias educacionais como ferramentas para subsidiar maior
eficiência e eficácia nas intervenções junto às pessoas com deficiência
alinhavadas com as políticas públicas e o cenário nacional brasileiro sobre
educação inclusiva.

Evidentemente, o papel do professor se torna fundamental para que a


inclusão aconteça. É nessa direção e sentido, que aliar a sua prática
(intervenções) com o uso e aplicação da tecnologia, fundamenta-se como uma
espécie de simbiose.

O mais importante é a credibilidade do professor, sua capacidade de


estabelecer laços de empatia, de afeto, de colaboração, de incentivo, de
manter o equilíbrio entre flexibilidade e organização. [...] A parte principal,
aquilo no qual o professor é relevante, que é ajudar o aluno a desenvolver
competências cognitivas, socioemocionais, visão de futuro, isso a tecnologia
não vai fazer. O papel fundamental do professor é o de mentor, o de orientar
(Brandão, 2000).

Além da importância do perfil inclusivo dos professionais que trabalham


diretamente com este público nas escolas, faz-se necessária uma reflexão
sobre as tecnologias educacionais adaptativas para pessoas com deficiência,
que, via de regra, proporciona conhecer a atualidade de um tema muito
importante que está inclusive alicerçado por um rol de legislação que versa
sobre esse assunto:

76
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

LBI (Lei Brasileira de Inclusão), nos artigos 27 e 28;


Constituição Federal, nos artigos 205, 206 e 227;
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 9089/1990);
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9394/1996);
Plano Nacional de Educação (Lei n. 10.179/2001); e
Política Nacional de Educação Especial (Decreto n. 10.502, de 30 de
setembro de 2020).

[...] o aprendizado humano pressupõe uma natureza social


específica e um processo através do qual as crianças penetram
na vida intelectual daquelas que a cercam; [...] um aspecto
essencial do aprendizado é o fato de ele criar a zona de
desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta
vários processos internos de desenvolvimento, que são
capazes de operar somente quando a criança interage com
pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus
companheiros. Uma vez internalizados, esses processos
tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento
independente da criança (VYGOTSY, 1998, p. 118).

A inclusão escolar, via de regra, está alicerçada por três grandes pilares: o
primeiro é o contingente de pessoas com deficiências e suas necessidades, o
segundo são as políticas públicas e seus investimentos para o setor, e o
terceiro, é o conjunto de tecnologias educacionais disponíveis para atender às
demandas.

ESTUDO DE CASO: PLATAFORMA EDUCACIONAL SIMPLIX

Desde 2017, o Grupo Actcon disponibilizou no mercado brasileiro e em países


como Estados Unidos, Chile e nos Emirados Árabes Unidos, uma plataforma
educacional disruptiva e com tecnologias embarcadas como Business
Intelligence.

Grande parte dos atendimentos especializados educacionais para as pessoas


com deficiência, são fundamentalmente feitos por meio de intervenções
pedagógicas, psicopedagógicas e neuro psicopedagógicas.

Os temas importantes no contexto da Educação Inclusiva, são explicitados em


suas práticas por meio de intervenções, com o uso das pranchas de
comunicação multimídia da Plataforma Educacional Simplix, centralizando
sempre o enfoque nas possibilidades da pessoa atendida e não, na deficiência
ou limites que ela apresenta.

Isso se alinha, fundamentalmente, com os pressupostos da teoria


sociointeracionista, Vygotsky, (1991); com as múltiplas inteligências, conforme

77
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gardner (1995); com a taxonomia dos objetivos educacionais de Bloom,


Krathwohl e Masia (1956); com as considerações da inclusão escolar na
atualidade de Mantoan (2006); com as novas formas de ensinar e aprender em
contextos digitais e as teorias do conectivismo de Siemens (2005); e, com a
neuroplasticidade de Feuerstein, Klein e Tannenbaum (1994) que, numa visão
dialética, examinam não só as possíveis limitações da pessoa, mas, em uma
ampla análise, as suas inúmeras possibilidades.

Ao evidenciar a importância dos recursos oferecidos na Comunicação


Alternativa ou Aumentada (CAA), e nos processos do ensino e da
aprendizagem, pressupõe-se dialogar com essas teorias e seus pensadores.

As contribuições desses referenciais teóricos são mais do que atuais, e trazem


luz para a compreensão das práticas relativas à Educação Inclusiva e para a
busca de uma intervenção inovadora. Os pressupostos apresentados têm ricas
implicações nas práticas pedagógicas, psicopedagógicas e neuro
psicopedagógicas e foram cruciais para dar suporte ao desenvolvimento dos
conceitos de modelos de pranchas, que possuem o uso de signos e imagens,
para consubstanciar a CAA ou os processos do ensino e da aprendizagem e da
socialização nos ambientes educacionais, bem como parte da inclusão
sociodigital.

AMBIENTES DIGITAIS DE APRENDIZAGEM

A construção de ambientes de comunicação e aprendizagem, mediados pela


tecnologia, abre um universo de possibilidades pedagógicas que podem
contribuir para que os estudantes desenvolvam habilidades e competências
compatíveis com as novas demandas sociais, construindo um caminho peculiar
de aprendizagem em seu próprio ritmo e a partir de suas necessidades. As
tecnologias digitais ampliam e estimulam a cognição humana. O processo de
aprendizagem não se trata mais de apenas receber e transmitir o
conhecimento como outrora, mas de criar, construir e compartilhar novos
saberes.

O processo de aprendizagem, mediado pelo uso de pranchas de comunicação


multimídia e por intervenções interativas, tem como premissa fundamental a
relação humana e, como consequência, a gênese do aprendizado (PIAGET,
1978). O conhecimento é produzido graças a uma interação do indivíduo com
o seu meio, de acordo com estruturas que fazem parte dele, permitindo que o
estudante seja o protagonista de seu processo de aprendizagem.

O uso da tecnologia ultrapassa barreiras arquitetônicas e transcende no


tempo e no espaço, refletindo na maneira como nos comunicamos e na

78
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

construção do conhecimento, não se restringindo nos espaços educativos,


mas adentrando nas relações sociais e na vida das pessoas. Por isso, ao
pensar sobre os processos de aprendizagem mediados pelo professor e
entrelaçados com as tecnologias e a cognição, é importante considerar a
perspectiva vygotskyana, que pressupõe as tecnologias digitais como
instrumentos auxiliares, estimuladores na prática pedagógica, com um forte
impacto em alguns aspectos psicológicos e com capacidade mediadora na
promoção de processos inter e intramentais, promotores do desenvolvimento
cognitivo.

Um dos maiores desafios na educação inclusiva é o de adaptar os objetos de


conhecimento ao mesmo tempo que se propõem estratégias didáticas para
facilitar e ampliar o aprendizado. Nesse ponto, a Plataforma Educacional
Simplix se apresenta como uma ferramenta enriquecedora, por meio da qual
se ampliam todas as possibilidades de intervenções, que miram a eficiência e a
eficácia dos processos de ensino e de aprendizagem no AEE.

Figura 2 | Tela: Principal da Plataforma Educacional Simplix.

Fonte: Grupo Actcon (2018).

Figura 3 | Tela: Comunicação Alternativa da Plataforma Simplix.

Fonte: Grupo Actcon (2018).

79
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 4 | Tela: Atividades Interativas da Plataforma Simplix.

Fonte: Grupo Actcon (2018).

Figura 5 | Tela: Exemplo de intervenção pedagógica – Alfabetização da


Plataforma Simplix.

Fonte: Grupo Actcon (2018).

Figura 6 | Tela: Exemplo de intervenção neuro psicopedagógica da Plataforma


Simplix.

Fonte: Grupo Actcon (2018).

80
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 7 | Tela: Exemplo de intervenção Psicopedagógica da Plataforma Simplix.

Fonte: Grupo Actcon (2018).

Figura 8 | Tela: Exemplo de intervenção neuropsicopedagógica da Plataforma Simplix.

Fonte: Grupo Actcon (2018).

As possibilidades de aplicação das pranchas de comunicação multimídia,


contribuem para gerar um ambiente de aprendizagem diferenciado e mais
prazeroso, incentivando a interação, ao mesmo tempo que promovem a
autonomia e a inclusão digital.

As pranchas multimídia, em especial, proporcionam estratégias que visam não


somente facilitar a aprendizagem, mas também atuam como um instrumento
poderoso que favorece o trabalho dos aspectos responsáveis pela construção
de conhecimentos outrora determinados no planejamento da sua prática
(constantes no Plano de Desenvolvimento Individual – PDI) e, também, visam
atender às especificidades de cada pessoa atendida, em total sintonia com
suas peculiaridades e respeitando a sua diversidade.

É nesse bojo, então, que o processo educativo, aliado à tecnologia, passa a

81
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

garantir e a possibilitar um espaço educacional em que o estudante se torna


sujeito ativo de sua aprendizagem, intercambiando com os mais variados
espaços sociais, permitindo, de fato, que as práticas inclusivas se tornem
possíveis.

VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE E DO CONHECIMENTO

Há diferenças e há igualdades, e nem tudo deve ser igual nem tudo deve ser
diferente, [...] é preciso que tenhamos o direito de ser diferente quando a
igualdade nos descaracteriza, e o direito de ser iguais quando a diferença nos
inferioriza (MANTOAN, 2006, p. 7-8).

A valorização da diversidade, como agente de transformação da consciência


social, é o princípio da construção de uma sociedade inclusiva. E é por meio
dela que daremos vez e voz às pessoas, de modo a viabilizar a participação
social e o pleno exercício da cidadania.

A educação inclusiva é uma proposta que veio para provocar mudanças de


concepção da prática pedagógica e reestruturação do ambiente escolar. Ela
surgiu justamente da necessidade de olhar as singularidades, a diversidade e
de combater qualquer forma de discriminação, determinando que uma
pessoa, independentemente de quais sejam as suas deficiências, limitações ou
dificuldades de aprendizagem, tem o seu direito, como qualquer cidadão, à
educação e à aprendizagem.

Figura 9 | Pranchas de alfabetização Sociodigital.

Fonte: Elaborada pelo autor (2021).

Nessa direção, a plataforma coaduna com as determinações da BNCC


(Habilidades n. 4 e 6).

Na perspectiva de uma educação inclusiva e integral, utilizam-se os diversos


tipos e métodos de alfabetização, a fim de propiciar condições de ensino que
criam a possibilidade de inclusão, com a finalidade de desfazer a reprodução
das desigualdades baseadas no uso exclusivo de um único método. A ideia é a

82
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

de que, a partir das diferenças e necessidades educacionais dos estudantes, a


plataforma reforce as oportunidades educacionais.

Para tanto, utilizaram-se, também, os métodos de alfabetização amplamente


empregados pelos profissionais da educação: métodos sintéticos (alfabético,
silábico e fônico) e os métodos analíticos (palavração, sentenciação, global e
misto).

É dessa forma, então, que a plataforma contribui para o desenvolvimento


comunicacional e intelectual, respeitando e valorizando as diversas formas de
aprender e abrindo novas possibilidades de acesso à informação, à interação,
às práticas mediadas pela tecnologia e apoio aos processos escolares.

A MEDIAÇÃO ADAPTATIVA COM TECNOLOGIAS COMO


PRÁTICA DE INTERVENÇÃO

A Plataforma Educacional Simplix permite, por meio da aplicação das pranchas


de comunicação multimídia, tornar as intervenções mais significativas e
inclusivas, ao combiná-las com os diversos métodos e abordagens da CAA e
com processos da aprendizagem significativa, todos cientificamente
difundidos. São exemplos: Método PECS, Método ABA, Método TEACCH e AVD.

Dessa forma, à medida que apoia e oportuniza a realização da comunicação,


rompendo barreiras comunicacionais, a plataforma propicia condições
favoráveis para que as pessoas possam expressar necessidades, emoções e
vontades a serem compreendidas.

MODELOS DE PRANCHA PARA A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA

Os modelos de pranchas da Plataforma Educacional Simplix, voltadas à


mediação pedagógica, visam proporcionar mediações apoiadas no lúdico e
apontam para concepções que oportunizam ou aceleram o processo de
aprendizagem, desenvolvimento e inclusão social. Por meio dessa ludicidade,
elas asseguram elementos necessários para propor diferentes oportunidades
e situações de aprendizagem, facilitam o acesso aos objetos de conhecimento,
ao desenvolvimento de habilidades e às múltiplas formas de aprender.

Na ação pedagógica com as pranchas, o professor é um mediador do processo


educacional, que levará o estudante a “aprender a aprender”. A construção de
intervenções pedagógicas eficazes e a construção do saber, estão diretamente
ligadas às vivências e as experiências que ocorrem entre educadores e
educandos. Portanto, considera-se que, nos processos de aquisição do

83
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

conhecimento, a mediação proposta que apropria e fundamenta sua prática à


luz das principais teorias da educação, é condição fundamental para estimular
a cognição dos estudantes.

A aquisição de conhecimento só ocorre mediante a consolidação das


estruturas de pensamento e, portanto, sempre se dá após a consolidação do
esquema que a suporta; da mesma forma a passagem de um estágio a outro
depende da consolidação e superação do anterior (PIAGET, 1977). Também,
nas palavras Juan Delval, aluno de Piaget, professor da Universidade Autônoma
de Madri na Espanha:

A aprendizagem depende dos conhecimentos anteriores de


cada um e de suas experiências. Para ampliá-las, além de
propor situações que desestabilizem os conhecimentos
estabelecidos, é preciso que os estudantes se sintam
motivados a realizar um esforço cognitivo para superar o
problema. (Delval, [n.d.], apud Fernandes, 2011, p. 134).

Nessa perspectiva, os modelos de pranchas para mediação pedagógica,


propõem situações de aprendizagem que permitem ao estudante ampliar o
seu nível cognitivo quando aprende algo novo. Para tanto, os desafios são
propostos em níveis, com o intuito de possibilitar a assimilação e a
acomodação (a construção de um novo conhecimento com base nos
preexistentes, mas ampliando-os), permitindo que os conceitos já assimilados
passem por um processo de desestabilização e posterior reorganização,
desencadeando a evolução das estruturas cognitivas, as quais Piaget (1996),
deu o nome de equilibração majorante.

Nesse contexto, a aplicação dos modelos de pranchas para mediação


pedagógica permite não somente ganhos na CAA, mas também na realização
de práticas pedagógicas que enfatizam a interação e a colaboração, de tal
forma que tragam ganhos ao desenvolvimento da proposta curricular e da
aprendizagem, participando de atividades que possam estar contextualizadas
com a alfabetização inicial do estudante.

Desse modo, fomentar uma alfabetização sociodigital é também permitir que o


estudante utilize diversos espaços: públicos, escolares e sociais, pois, a
aprendizagem quando entendida como um processo centrado no aluno e na
sua atividade, deve ser caracterizada pelo seu aspecto significativo, ativo,
interativo, social e reflexivo. Tal concepção vê o estudante como parte do
processo, dentro de um espaço e tempo, como ser político, protagonista da
sua própria história, capaz de viver sua cidadania de forma plena.

Na prática, as pranchas do módulo “Atividades Interativas” da tecnologia

84
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

adaptativa Simplix para a mediação pedagógica pretendem, numa perspectiva


de aprendizagem ativa, estimular ideias e fazer conexões na aprendizagem dos
estudantes enquanto o professor trabalha ao lado deles, fazendo perguntas,
fornecendo recursos e fazendo sugestões em resposta às ideias apresentadas
na execução das pranchas de comunicação multimídia. O professor cria as
possibilidades para os estudantes, dando o suporte necessário para capacitá-
los a trabalhar de forma independente e autônoma. Para tanto, o profissional
docente deve tentar desencadear aprendizagens ainda não iniciadas,
considerando a zona de desenvolvimento proximal do estudante, com o intuito
de ajudá-lo a progredir, planejando o seu trabalho pedagógico para o
conhecimento que o estudante ainda não tem, criando, assim, novas
possibilidades de aprendizagem.

Enfatiza-se desse modo, a importância da mediação pedagógica e se confirma


que a interação social é fundamental para a construção do conhecimento. Do
mesmo modo, a referência vinda por meio do educador é o caminho pelo qual
se consegue conhecer os diferentes significados que podem ser dados ao uso
das tecnologias digitais nos processos de ensino e aprendizagem.

Nesse prisma, a aplicação das pranchas da plataforma se torna uma poderosa


aliada do professor em sua prática pedagógica, uma vez que seu uso subsidia
promover ao máximo as potencialidades de cada estudante, visando ao
desenvolvimento de suas capacidades mentais e a ativação dos processos
internos de assimilação. É nesse mesmo indivíduo que devem ser buscadas as
possibilidades de superação, compensação e equilíbrio funcionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É de extrema importância para o desenvolvimento humano, a apropriação das


experiências presentes em sua cultura e, sob essa óptica, as tecnologias
digitais adaptativas viabilizam práticas socioculturais que permitem alterar as
competências cognitivas ao propiciar novas formas de comunicação,
socialização, aquisição e construção do pensamento.

A plataforma educacional adaptativa Simplix, voltada à mediação pedagógica,


visa proporcionar mediações apoiadas no lúdico e aponta para concepções
que oportunizam ou aceleram o processo de aprendizagem, de
desenvolvimento e de inclusão social. Por meio dessa ludicidade, ela assegura
elementos necessários para propor diferentes oportunidades e situações de
aprendizagem, facilita o acesso aos objetos de conhecimento, ao
desenvolvimento de habilidades e às múltiplas formas de aprender. Sendo
assim, é afirmada a suposição de que a tecnologia pode fornecer meios de
promover uma comunicação alternativa para pessoas com dificuldades

85
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

comunicacionais.

A aquisição de conhecimento só ocorre mediante a consolidação das


estruturas de pensamento e, portanto, sempre se dá após a consolidação do
esquema que a suporta, da mesma forma a passagem de um estágio a outro
depende da consolidação e superação do anterior (PIAGET, 1977).

Nessa perspectiva, fica evidente que o emprego de tecnologias


computacionais educacionais adaptativas que se utilizam de som e imagens
(com natureza semiótica), permite uma mediação e uma interposição entre as
pessoas, suas relações com o mundo e seus objetos de conhecimento, que é
exatamente a proposta apresentada neste estudo de caso. A plataforma,
então, apoia o processo de desenvolvimento da comunicação (alternativa e
aumentativa), com vistas à inclusão e à integração educacional (digital,
inclusive) e aos processos educacionais, bem como amplia e estimula a
Modificabilidade das estruturas da cognição mediadas por uso de tecnologias
adaptativas para pessoas com deficiência.

Essa tecnologia adaptativa já é uma realidade e está presente e operacional


em cidades como em Recife (PE), Curitiba (PR), Santo André (SP), Guarulhos (SP)
e São Luiz (MA). Ela atinge, atualmente, mais de 5.000 pessoas com deficiência
em todo o Brasil. No ano de 2018, essa tecnologia adaptativa brasileira
recebeu prêmios nos Estados Unidos da América, no Chile e nos Emirados
Árabes Unidos.

86
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

REFERÊNCIAS

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CRÍTICA & REFLEXÃO

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CRÍTICA & REFLEXÃO

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6
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Educação 4.0:
interligando pessoas e saberes por
meio da tecnologia
Geisse Martins

INTRODUÇÃO

Sempre existiu um descompasso claudicante entre a educação tradicional e o


universo da tecnologia, uma vez que a educação tem sido alicerçada nos
modelos clássicos em que a disciplina e a passividade são tidas como regra
fundamental, sendo, muitas vezes, desconsideradas as inúmeras inovações
que perpassavam os centros de aprendizagem.

A inovação tecnológica no mundo contemporâneo transforma a vida de


inúmeras pessoas ao redor do mundo. E as tecnologias digitais da
comunicação e informação, por meio de funcionalidades que permitem a
comunicação, a colaboração e a produção de conhecimento que interligam
todo o mundo, vêm promovendo essa revolução tecnológica que transforma
consideravelmente a maneira como as pessoas produzem bens, produtos e
prestam serviços, alterando sensivelmente as relações de entretenimento, o
consumo e os processos do ensino e da aprendizagem.

Sendo os ambientes de aprendizagem um estrato social pulsante dentro da


sociedade contemporânea, seus atores não estão incólumes, tampouco
dissociados do que acontece tecnologicamente na atualidade. Educar pessoas
na contemporaneidade não pode desprender-se das distâncias em termos
globais cada vez menores em virtude do alcance das tecnologias e da
velocidade com que as informações circulam e do conhecimento que
permanece disponível para as pessoas.

Os dispositivos eletroeletrônicos e suas interconexões em rede crescem não


somente em produção escalar, mas, sobretudo, em acesso em nível de
hardware e software. Toda essa dimensão de acesso e disponibilidade traz
repercussões profundas e transformações agudas de ordens econômica e
social.

Esses impactos causados pelo uso e pela aplicação de novas tecnologias


digitais (eletroeletrônicas) podem ser considerados de ordem crescente e
exponencial, uma vez que se apropriam de novos elementos (tecnologias e
metodologias) que se apresentam aos processos do ensino e da

91
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

aprendizagem.

Na mesma direção e sentido, a indústria contemporânea se projeta para as


demandas de futuro, assim como a Educação 4.0, que se firma como uma
nova realidade em que o uso constante e massivo de tecnologias digitais de
informação e conhecimento (TDICs), já é parte do cotidiano das pessoas,
atendendo, de certa forma, aos propósitos de informação e conhecimento que
se colocam instantaneamente.

Com efeito, toda essa multiplicidade entre desejo de acesso e avidez por
informação e conhecimento é fomentado pela colaboração que impulsiona a
construção de conhecimento no mundo atual e permeia a vida das pessoas de
forma irrestrita e independentemente da localização.

Muito embora a aplicação dos conceitos referentes à Educação 4.0 já se firme


como uma realidade, alguns questionamentos permanecem: O que é a
Educação 4.0? Modelos clássicos de ensinar e aprender têm aderência junto às
gerações atuais? Qual a relação da Educação 4.0 com a Indústria 4.0?

Este estudo, ao utilizar uma metodologia de análise social associada à revisão


bibliográfica, busca responder às questões que se inclinam sobre esse tema
por meio de uma investigação contemporânea de fatos sociais reais e à luz de
argumentações e pesquisas de autores que versam sobre o assunto.

DESENVOLVIMENTO

Em inúmeros países ocidentais, após o século XVIII, a educação foi alicerçada


no sistema prussiano de ensino, que remonta a um período da história
classificado como “Despotismo Esclarecido”, que, em sua gênese, estruturou o
conceito de que a educação deveria ser pública, apoiada na gratuidade e na
obrigatoriedade. Essa concepção fundante veio da antiga Prússia e tinha a
intenção de aplacar as insurreições revolucionárias que aconteceram na
França (1789-1799), como explica Aranha (2006, p. 190):

Em 24 de setembro de 1770, um edital da Real Mesa Censória


torna pública uma lista de livros proibidos por conterem
doutrina “ímpia, falsa, temerária, blasfema, herética, cismática,
sediciosa, ofensiva da paz e sossego público”. Na longa lista
figuram Hobbes, Diderot, Rousseau, Voltaire, La Fontaine,
Espinosa etc. De todos os livros recolhidos e condenados
mandou o marquês de Pombal proceder a grandes fogueiras
no Terreiro do Paço e na Praça do Pelourinho, em Lisboa.

A metodologia prussiana de ensino engendrou uma educação com aspectos


iluministas, mas que, intrinsecamente, mantinha o rigor do Absolutismo. Esse

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

sistema tinha como cerne implantar a docilidade e a obediência irrestrita das


pessoas, ao mesmo tempo que estimulava o individualismo, o consumo e a
competição e uma certa predisposição para as guerras. Tal modelo tradicional
de ensino se disseminou por inúmeros países, e perdura até os dias atuais em
muitos espaços educacionais.

Tendo como ponto de partida a 1ª Revolução Industrial, o uso de tecnologias


se fez presente no trabalho, e a troca de experiências entre as pessoas se
tornou uma máxima. Na cadência desse modus operandi industrial, que estava
em ascendência no século XVIII e teve seu apogeu no século XIX, é possível
destacar o fordismo, o modo de fazer e produzir coisas que adentrou os
ambientes escolares que incorporaram em suas estruturas pedagógicas, toda
essa dinâmica. Dessa forma, foi estabelecido entre alunos e professores um
modo mecanicista de ensino, e novos elementos foram incorporados aos
ambientes de aprendizagem. A eletrônica e seus derivativos (hardware e
software), ainda que de forma acessória, também se faziam presentes. Aranha
(2006, p. 209), nesse sentido, esclarece:

Após a derrota da França pela Prússia, no período conhecido


como Terceira República, os franceses retomaram a discussão
sobre a necessidade da escola pública e muito elogiaram o
mestre-escola alemão. Uma lei de 1882 instituiu de novo a
escola laica, gratuita e obrigatória, tendo como modelo a
Alemanha. Além da atenção à formação de professores, foi
reorganizado o ensino técnico, diante da necessidade de
formar “chefes de oficina” e bons operários (ARANHA, 2006, p.
209).

Um pouco mais adiante, por volta dos anos 1950, os modelos de ensino
passaram por uma transmutação considerável. A colaboração passa a ser o
esteio para os processos do ensino e da aprendizagem, modelos híbridos
germinam com mais intensidade, as modalidades presenciais e a distância
mesclam-se e inicia-se o uso de múltiplos recursos tecnológicos com destaque
para a utilização da multimídia. Em paralelo, estudos pedagógicos são
dimensionados e ancorados cientificamente:
estudos do sociointeracionismo de Vygotsky, Luria e Leontiev (2019);
análises e epistemologia genética de Jean Piaget (1973);
investigações comportamentais de Skinner (2003);
taxonomia de Bloom (1986), e a estruturação da declaração dos objetivos
interligados ao desenvolvimento da cognição (afetivo, cognição e
psicomotricidade);
aprendizagem significativa, com ponderações de Rogers (1973) e Ausubel,
Novak e Hanesian (1980).

Uma referência acerca desse período, é de Engelbart (1968) com suas


proposições sobre as novas formas de interação entre homem e máquinas,

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

que permitiram criar a ideia da hipermídia, ou seja, a interatividade entre


mídias que se convergem como imagens, sons ou mesmo animações.

Com efeito, até mesmo a Sétima Arte explicitou esses conceitos, como no filme
de Stanley Kubrick “2001: uma odisseia no espaço”, baseado na obra
homônima de 1968 de Arthur C. Clarke, que trouxe a relação entre humano e
máquina, tal qual uma tessitura que se enlaça numa projeção de passado e do
futuro.

Na mesma direção e sentido, Ted Nelson, na década de 60⁹, concretizou as


proposições de Engelbart, e instituiu os termos “hipertexto” e “hipermídia”, que,
posteriormente, são materializados por Tim Bernes Lee, nos anos de 1990[10]
com sua célebre criação: a world wide web (www), que nada mais é que um
sistema que suporta documentos de hipermídia interconectados e executados
na internet. Com o advento da Web, uma nova revolução acontece. Assim,
tem-se o momento em que as tecnologias digitais se tornam protagonistas,
com a Internet das Coisas (IoT), Big Data (BD) e Inteligência Artificial (IA),
robótica, tudo isso deixa de ser apenas ficcional como nos livros de Isaac
Asimov, e passa a ser concreto.

Então, com novas necessidades, principalmente para atender às demandas do


mercado profissional, surge o conceito de 4ª Revolução Industrial ou
simplesmente Indústria 4.0. A Figura a seguir, mostra o caminho percorrido
entre a 1ª e a 4ª Revoluções Industriais.

Figura 1 | Caminho percorrido entre a 1ª e 4ª Revoluções Industriais.

Fonte: Feimec (2021).

[9] Disponível em: <https://shfpucsp.wordpress.com/2012/02/26/37/>. Acesso em: 14 jul. 2021.


[10] Disponível em: <https://www.w3.org/People/Berners-Lee/Longer.html>. Acesso em: 14 jul.
2021.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Não obstante, a incipiente 4ª Revolução Industrial passa a incorporar as


inovações tecnológicas que, por sua vez, levam a mudanças radicais,
modificando e remodelando a indústria nos últimos anos.

Schwab (2016), em seu livro “A Quarta Revolução Industrial”, como numa


espécie de profecia, afirmou que essa revolução tecnológica transformaria
fundamentalmente a forma como as pessoas vivem, trabalhar e se relacionam.
E, de fato, a 4ª Revolução Industrial não se resume apenas ao conjunto de
tecnologias emergentes finitas em si mesmo, mas pode ser entendida como
uma transição veloz em direção aos novos sistemas que foram construídos
sobre a infraestrutura de uma revolução digital. São novas formas de aprender
e ensinar, mediatizadas por novas tecnologias emergentes e, assim, se faz
necessário e imperativo uma educação que coadune com essas novas
demandas. Por conseguinte, é preciso incorporar nesses novos processos de
ensinar e de aprender questões como:
a interconectividade global e a facilidade de acesso aos dispositivos e ao
conhecimento;
as máquinas inteligentes, as automações e os sistemas robotizados;
as novas mídias, Big Data e Inteligência Artificial, como ferramentas de
aprendizado;
a implacável velocidade da inovação;
a exigência constante de desenvolvimento de novas habilidades e
competências, e novos conhecimentos.

Em simetria com as Revoluções Industriais, as tecnologias educacionais digitais


estão sendo criadas e utilizadas em sintonia com as necessidades
contemporâneas.

O termo Educação 4.0 faz referência ao uso e à aplicação da internet e de suas


derivações (aplicativos e ferramentas) que são direcionados aos usuários
(internautas) em suas personalizações do uso e também relacionados com a
interatividade. Diante desse fato, está a característica fundamental da
presença cada vez maior das tecnologias digitais na comunicação e informação
cotidianas e, resguardadas as proporções, também nos ambientes de
aprendizagem.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 2 | Caminho percorrido entre Educação 1.0 e Educação 4.0.

Fonte: Elaborada pelo autor (2021).

Essa evolução disponibiliza para os profissionais da Educação, a possibilidade


de promover a troca de conhecimento, sendo que essa disponibilidade de
recursos que as tecnologias oferecem fomenta o estímulo à curiosidade, à
inventividade, à disrupção, proporcionando ludicidade, tendo como exemplos
reais a gameficação e as redes de colaboração que transcendem até mesmo
as fronteiras e barreiras como idiomas e a cultura. Destarte, a cultura, a arte e
a produção de conhecimento se beneficiam de tudo que as tecnologias têm a
oferecer.

TECNOLOGIA x METODOLOGIA

Nas últimas duas décadas, a educação de forma geral incorporou novas


tecnologias e, com o advento da pandemia da Covid-19, todos os processos
que eram embrionários ou estavam estacionários foram acelerados. Nesse
sentido, os recursos tecnológicos possibilitam alunos e alunas irem além da
simples utilização de equipamentos e dispositivos. Com planejamento
pedagógico adequado para estimular as habilidades e competências
necessárias para atuar em um mundo que exige cada vez mais
interconectividade e construção de conhecimento coletivo e comunitário,
tecnologia e metodologias ativas se fundem harmoniosamente, e direcionam a
educação no presente e para o futuro. Computadores, tablets e notebooks
assumem o lugar dos cadernos, lousas digitais e streaming tornam obsoletos a
lousa tradicional; as costumeiras avaliações em papel cedem lugar para
sistemas avaliativos em grande escala, utilizando celulares e tendo no processo
o Business Intelligence e a inteligência artificial.

Esses novos sistemas avaliativos abandonam antigos propósitos e propiciam

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

aos gestores educacionais a tomada de decisão mais assertiva, direcionada


por análises mais eficientes e eficazes, que demonstram quais são as melhores
estratégias pedagógicas e quais as adaptações pedagógicas que podem ser
implementadas juntos às turmas e às comunidades escolares (e suas
especificidades). São inúmeros os benefícios dessas implementações, que
podem ativar as trocas de experiências, proporcionando esse ciclo virtuoso,
que vai desde o aguçar da investigação, até as descobertas científicas
suportadas pelas ferramentas tecnológicas, retornando novamente ao início
de todo o processo.

METODOLOGIAS ATIVAS

Originado da língua inglesa, o termo Adaptive Learning pode ser


compreendido como metodologia de ensino adaptativa, e tem como principal
objetivo traduzir as necessidades e especificidades de cada aluno para atendê-
lo em suas singularidades de aprendizagem.

Para tanto, leva-se em consideração não somente o ritmo de aprendizagem de


cada aluno ou aluna, mas também seus estilos e ciclos de aprendizagem, de
acordo com as argumentações de Kolb (1984). Muito embora possa parecer
que metodologia ativa seja recente, ela remonta aos anos de 1970, quando foi
denominada por Fox (2004), como Sistema Personalizado de Ensino (PSI).

Fato é que, com a propagação e o uso de novas Tecnologias de Informação e


Comunicação (TICs), dentre as quais se destacam a computação cognitiva, a
inteligência artificial, a realidade aumentada e a realidade virtual, foi ampliada a
capacidade de aplicação.

Ahlert, Wildner e Padilha (2017) afirmam que metodologia ativa é um processo


amplo e possui como principal característica a inserção do aluno/estudante
como agente principal responsável pela sua aprendizagem, comprometendo-
se com seu aprendizado.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 3 | Ciclo de aprendizagem de Kolb.

Fonte: Adaptada de Kolb (1984).

Nesse contexto, metodologia ativa pode ser entendida como um predicado de


incumbências que preenche os processos de ensino e aprendizagem dos
estudantes na mesma proporção e medida, que os convida a raciocinarem
efetivamente sobre o que estão executando como formas de aprendizagem.
Efetivamente, os estudantes passam a interagir com o assunto ou o objeto de
estudo de forma mais contundente e abrangente, em vez de receber
passivamente dados e informações análogas oriundas do professor. Esse,
então, assume a posição de um ator que orienta, supervisiona, facilita e
medeia a aprendizagem, não sendo a única fonte de consulta dos estudantes.
Sendo assim, os estudantes trazem para si o protagonismo de estudar
efetivamente, com um contrato didático em que assumem a postura de
construtores de seus conhecimentos.

É importante ressaltar que as novas tecnologias digitais permitem a


customização do ensino de modo a atender especificidades individuais e
também coletivas no tocante à aprendizagem em redes de conhecimento. Isso
é possível porque as metodologias ativas disponibilizam um arsenal de
ferramentas vinculadas à inteligência artificial, à realidade virtual e à realidade
aumentada, que buscam melhorar quantitativa e qualitativamente habilidades
e competências individuais e coletivas. Além disso, busca reconhecer as
maneiras e as formas como cada estudante desenvolve seu aprendizado, sem
desvencilhar de questões relacionadas a horários, conteúdos disponibilizados
em seus diversos formatos (textos, vídeos, sons) mais aderentes a cada perfil
de estudante.

Por conseguinte, a aplicabilidade de todos esses conceitos exige o


envolvimento de plataformas on-line (courseware) que, por meio de
diagnósticos, testes e simulações proporcionam uma personalização

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

adequada a cada perfil de estudantes. A Figura a seguir, mostra alguns


exemplos de metodologias ativas.

Figura 3 | Metodologias ativas.

Fonte: Elaborada pelo autor (2021).

Embora possam parecer um tanto ficcionais, as metodologias ativas coadunam


com as proposições acerca da percepção, da interação e da relação das
pessoas em seus ambientes (vida e aprendizagem) e, nessa perspectiva,
harmonizam-se com novos conceitos sobre computação, cognição e semiose.
Como demonstrado na Figura 4, que ilustra sobre as principais estratégias que
integram o conceito acerca das metodologias, destaca-se a aprendizagem
baseada em projeto, tendo como exemplos a sala de aula invertida, Steam,
ensino híbrido e Cultura Maker, cada um com sua peculiaridade.

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

No Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é o documento que


direciona e traz determinações sobre as aprendizagens indeclináveis, que
todos os estudantes precisam desenvolver ao longo da educação básica, de
forma sucessiva e estruturada por áreas de conhecimento (habilidades e
competências), primando por uma formação holística e integral, com o objetivo
de construir uma sociedade mais justa, mais humana, democrática e inclusiva.
No texto da BNCC (2018, p. 9), mais especificamente na 5ª competência geral,
propõe-se:

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação


e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética
nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se
comunicar, acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e
autoria na vida pessoal e coletiva (BNCC, 2018, p. 9).

99
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Essa fundamentação vai ao encontro do artigo 35 da Lei de Diretrizes e Bases


da Educação (LDB), que determina:

I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos


adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos;
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz
de se adaptar com flexibilidade a novas condições de
ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico;
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática,
no ensino de cada disciplina (LEI Nº 9.394, 1996, art. 35. [n. p.]).

Evidencia-se que, ao integrar ferramentas tecnológicas nos ambientes de


aprendizagem, essa integração provoca um intercâmbio de consideráveis
mudanças em que se fundem a realidade e o mundo virtual, de forma que
esses recursos tecnológicos e suas dimensões multifacetadas passem a
representar poderosos recursos didático-pedagógicos no contexto
educacional, possibilitando a estudantes e professores aderência ao
desenvolvimento de habilidades e competências de forma muito mais
interativa e avolumando a cultura digital.

CULTURA DIGITAL

Considerando que as novas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação


(TDICs) estão presentes na vida das pessoas, “colaborar”, “criar”, “pesquisar” e
“compartilhar” são verbos que se incorporam ao modo de vida das pessoas.
Sendo a escola parte integrante e indissociável dessa sociedade cultural digital
que está cada vez mais conectada, os ambientes educacionais não podem se
afastar dessa cultura que fomenta o aprender por meio da experimentação e
de novas experiências e vivências, para além das habilidades cognitivas e
socioemocionais que a sociedade contemporânea exige dos egressos dos
ambientes escolares, uma autonomia efetiva e um protagonismo dos
estudantes no enfrentamento de problemas que se apresentarão na vida.
Nessa direção e sentido, encontram-se as metodologias ativas com suas
dinâmicas inovadoras e disruptivas dentro do contexto dos ambientes de
aprendizagem nesse momento histórico de mudanças exponenciais. E pode-se
afirmar que colaboram substancialmente para a consolidação de uma cultura
digital.

Essas argumentações coadunam com as afirmações de Camargo e Daros


(2018, p. 14):

100
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

O grande desafio deste momento histórico é a prática de


metodologias que possibilitem uma práxis pedagógica capaz
de alcançar a formação do sujeito criativo, crítico, reflexivo,
colaborativo, capaz de trabalhar em grupo e resolver
problemas reais. As metodologias ativas de aprendizagem
desenvolvem-se nesse contexto, como alternativa necessária a
essa finalidade (CAMARGO; DAROS, 2018, p. 4).

O uso e a aplicação de TDICs em ambientes de aprendizagem, apoiam ou


direcionam metodologias ativas para consubstanciar a construção ágil de
conhecimento para estudantes em sua imensidade. Ao arrimar as estratégias
didático-pedagógicos diversificadas e ancoradas numa gama de tecnologias, ao
mesmo tempo que coaduna com a legislação que determina promover
conhecimento e habilidades para uso de novas tecnologias, direciona-se para
uma relação direta entre a educação 4.0 e a Indústria 4.0, diante das
necessidades da sociedade contemporânea que vive uma efervescência de
cultura digital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola contemporânea, que “surfa na crista da onda” da Revolução 4.0,


compreende que o aprendizado é agora em conjunto, quase sempre
mediatizado por novas tecnologias digitais. Trata-se de um novo aprender de
forma colaborativa.

Professores, tutores e demais profissionais da educação foram deslocados do


centro do processo e estão sendo convidados a experimentar novas formas de
ensinar e aprender e, nessa afluência digital, esses novos atores recebem
formação continuada para atuarem como mediadores ou facilitadores que
constroem comunidades de aprendizagem concentradas em redes.

Não obstante serem neófitos, aos professores cabe estimular talentos,


fomentar habilidades e competências com modelos atualizados que
convergem para o conectivismo de Siemens (2009), dissociando-se dos
modelos clássicos de ensinar, que visam transformar, instituir a docilidade e a
obediência, insuflando pessoas para a competitividade que leva à guerra.

Utilizando-se das novas tecnologias disponíveis, como inteligência artificial e


Big Data, os centros de aprendizagem têm agora diferentes formas de
promover uma aprendizagem significativa, preparando alunos e alunas não
somente como repositórios acumulativos de dados, mas impelindo o senso
crítico e reflexivo. Isso se mostra primordial para que possam enfrentar os
desafios que se apresentam, a partir de constructos de sapiência, e procurem
soluções ou até mesmo desenvolvam novos conhecimentos que lhes
permitam combater o imponderável. Deve-se estimular as inteligências

101
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

individual e coletiva, insuflando o trabalho em equipe, apoiado no que as novas


tecnologias podem oferecer.

As novas TDICs trazem novas aderências na construção do conhecimento, ao


mesmo tempo que permitem às gerações atuais e às futuras, beneficiarem-se
do conhecimento desenvolvido como legado positivo para as incertezas que
ainda virão.

102
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

REFERÊNCIAS

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103
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

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Aprendizagem. 11. ed.São Paulo: Ícone, 2019.

104
7
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

O Ensino Híbrido como alternativa na


inclusão escolar? Análise do cenário
brasileiro na educação especial
inclusiva em tempos de pandemia.
Geisse Martins

INTRODUÇÃO

A tecnologia está mudando o mundo, e levando todos para um cenário ainda


desconhecido. É inegável que o uso e a aplicação de tecnologia, faz parte da
vida de muitas pessoas (não de todas), em todo o mundo. As necessidades e
capacidades de aprender e também de reaprender são imperativas,
sobretudo, em um cenário de mudanças rápidas e alucinantes como na
contemporaneidade. Diante de uma realidade na qual tudo muda o tempo
todo, cada vez mais se torna complicado, e até difícil, tentar compreender
quais capacidades (habilidades e competências), precisarão ser utilizadas em
um futuro de incertezas constantes. Nesse contexto, as tecnologias digitais de
informação e comunicação, apresentam-se como ferramentas capazes de
facilitar a compreensão de quais aptidões são necessárias em um futuro
próximo.

Gráfico 1 | Total de Matrículas da educação especial – Período de 2008 a 2019.

Fonte: MEC/INEP (2020).

106
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

No âmbito educacional, cada vez mais, as pessoas com deficiência ocupam os


seus espaços de direito. Isso se dá, em parte, graças as habilidades adquiridas
devido a inserção das TDICs. Prova disso é o crescente número de matrículas
no ensino regular, por parte das pessoas com deficiência.

Vale ressaltar que pessoas sem deficiência, também podem apresentar


necessidades de adaptação no processo de ensino-aprendizagem, portanto
suas características e singularidades também precisam ser acolhidas e
respeitadas, principalmente em cenários caóticos e desconexos como os que
se vivencia no apogeu da pandemia causada pela Covid-19.

Diante desse intrincado caminho que se bifurca, em um lado há o uso e a


aplicação de tecnologias digitais de informação e comunicação para todas as
pessoas, enquanto em outro lado, o uso de metodologias tradicionais de
ensino. Como resultado disso, uma questão inquietante se apresenta: O
ensino híbrido pode ser considerado uma alternativa para a educação
inclusiva?

No afã de tentar responder a essa intrigante inquietação, este artigo vai


apresentar e discorrer sobre a questão. E, para tanto, traz à lume das
considerações, as experiências do autor e afirmações de outros autores que
versam sobre o tema. Apresentará uma análise sobre dados estatísticos
extraídos de pesquisa da Cetic.br, do censo escolar do ano de 2020, efetuada
pelo Ministério da Educação (MEC), e de uma pesquisa realizada por um
consórcio de organizações que, por meio de uma parceria público privada,
buscou compreender os desafios da educação escolar durante a pandemia em
2019, a exemplo, do uso de aplicação de tecnologias digitais de informação e
comunicação no ensino de pessoas com deficiência.

METODOLOGIA

Este artigo apresenta abordagem qualitativa e para tal, utilizou a metodologia


de análise de fatos sociais, de dados e pesquisas, associada com a técnica de
observação e revisão teórica bibliográfica.

Conforme argumenta Minayo (2001, p. 22):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares.


Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de
realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha
com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que
não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis
(MINAYO, 2001, p. 22).

107
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Na mesma direção e sentido, Musse apud Durkheim (2011, p. 14) em seus


comentários sobre o fato social de Durkheim, afirma:

O estudo sociológico da educação permite compreender, de


forma geral e resumida, as modalidades de constituição do ser
social ao longo da história. Mas também possibilita o exame da
determinação cultural da consciência, isto é, dos
procedimentos que levam os indivíduos a interiorizar ideias,
valores, crenças e sentimentos coletivos. Abre-se caminho
para a investigação das modificações das representações
coletivas (encarregadas de manter ou reforçar a consciência
individual) pela interferência de outros aspectos da vida social
(DURKHEIM, 2011, p. 14).

DESENVOLVIMENTO

O CENÁRIO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL

A Educação Inclusiva no Brasil é uma realidade. Ela figura não somente no


panteão das leis do nosso país, mas também está presente na vida das
pessoas e, com ênfase, nas escolas dessa imensa nação.

A atuação de pais e responsáveis juntamente a outros atores, na construção e


execução inclusiva, é resultado de inúmeras batalhas e conquistas vencidas
com suor, lágrimas e dedicação de uma gama enorme de profissionais
envolvidos nessa belíssima arte de ensinar aos que, via de regra, são vítimas de
preconceitos, abandono, descaso e até mesmo da ausência ou falta de voz e
vez na sociedade.

Nesse universo, cabe aqui destacar o papel importantíssimo dos profissionais


da educação pelo trabalho de competência, abnegação e que vai até mesmo
em direção a um certo altruísmo. Esses profissionais da educação, que estão
imersos em seu quase sacerdócio em ensinar as pessoas com deficiência,
merecem todo o louvor, a admiração e o respeito, pois são verdadeiros heróis
que lutam e vencem uma batalha por vez.

A educação especial e Inclusiva é muito ampla, e requer um estudo profundo e


detalhado de temas que são fundamentais na práxis de todo e qualquer
professor. Acolher e compartilhar são as palavras de ordem. A inclusão é um
processo dinâmico e gradual, que reafirma os princípios da comunidade, da
cooperação, da solidariedade, do respeito e da valorização das diferenças e de
melhoria das condições de vida para todas as pessoas.

De acordo com o censo do IBGE (2010), há no Brasil uma população de


aproximadamente 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência

108
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

(população que se declara com algum tipo de deficiência). Ainda segundo esse
instituto, 6,7% da população tem dificuldades para enxergar, ouvir, caminhar,
são deficientes mentais ou intelectuais.

Figura 1 | Educação Inclusiva no Brasil – Matrículas Educação Básica.

Fonte: MEC/INEP (2020).

Dados do Ministério da Educação do Brasil (MEC), censo escolar de 2020,


afirmam que há um contingente de 1,3 milhões de pessoas com deficiência,
regularmente matriculadas na rede de ensino de todo país. De acordo com o
MEC, do total de matrículas na educação básica classificadas em redes Pública
e Privada, a rede pública recebe e acolhe o maior contingente.

Figura 2 | Educação Inclusiva no Brasil – Matrículas Educação Básica (tipos de


classes).

Fonte: MEC/INEP (2020).

109
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Já no que se refere às matrículas por tipo de classes, segundo os dados do


censo escolar de 2020, pode ser observada uma maior concentração das
matrículas nas classes comuns. Tal resultado demonstra um alinhamento das
políticas públicas com as metas estabelecidas na Política Nacional de Educação
Especial Inclusiva (PNEEI), e com as lutas por direitos das pessoas com
deficiência, que há mais de meio século vêm buscando equidade social.

Gráfico 2 | Educação Inclusiva no Brasil – Matrículas Educação Básica (Evolução


Classes Comuns).

Fonte: : INEP (2020).

Conforme visto no gráfico anterior, em 13 anos há um crescimento


exponencial das matrículas nas classes comuns. Essa realidade exige, de todos
os envolvidos com a educação inclusiva, planejamento, organização e controle
não somente das políticas públicas acerca do acolhimento, mas também de
permanência e possibilidades equitativas de oportunizar as mesmas
experiências e inserir essas pessoas dentro dos processos do ensino e da
aprendizagem.

Com efeito, é importante salientar que, no que tange ao acesso e uso de novas
tecnologias por parte das pessoas com deficiência nos ambientes escolares
brasileiros, isso está muito distante de uma realidade esperada. A educação
brasileira, no que concerne, sobretudo, à educação pública, é claudicante no
uso de novas tecnologias para as pessoas com deficiência.

110
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 3 | Educação Inclusiva no Brasil – Matrículas Educação Básica.

Fonte: : INEP (2020).

É importante ressaltar que desse total de mais de 1,3 milhões de matrículas na


educação inclusiva, 2,7% se refere à educação básica, ou seja, são 47,2 milhões
de pessoas e 123,5 mil estabelecimentos de ensino que possuem Atendimento
Educacional Especializado (AEE), o que corresponde à exatos 69% de um total
de 179,5 mil. Embora possam parecer números expressivos, grande parte
desses estabelecimentos ainda utilizam formas tradicionais de ensino
(analógicas e síncronas), sem nenhum planejamento de médio ou longo prazo
para implementar o uso e a aplicação de recursos computacionais no ensino e
na aprendizagem da pessoa com deficiência.

O CENÁRIO DO USO DE TECNOLOGIAS

O Brasil é um país de dimensões continentais, com concentração populacional


de ordem diversa, difusa, com enormes bolsões de pobreza, construído em
uma base histórica e social pautada em discriminação, pré-conceitos e
segregação das minorias.

Tudo isso que se argumenta a respeito das discriminações das minorias e


violação de direitos está bem ilustrado, registrado e fundamentado nas obras
Casa Grande e Senzala (1933), de Gilberto Freyre, Dicionário do Folclore
Brasileiro (1952), de Câmara Cascudo e, O Povo Brasileiro: a formação e o
sentido do Brasil (1995), de Darcy Ribeiro.

Deixando a digressão e voltando para uma realidade mais atual, no ano de


2020, um consórcio de empresas¹¹ realizou uma pesquisa denominada

[11] Fundação Carlos Chagas (FCC), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES) e a Universidade de São Paulo (USP).

111
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

“Inclusão escolar em tempos de Pandemia”, cujo foco era tentar entender e


identificar quais os desafios encontrados pelos profissionais e estudantes da
educação básica no cenário escolar na pandemia de Covid-19. Com um
universo pesquisado, de mais de 1.500 pessoas que atuam diretamente na
educação especial inclusiva.

De acordo com o relatório da pesquisa, mais de 1.500 pessoas participaram


respondendo às perguntas. Os entrevistados foram divididos em quatro
grandes grupos, sendo o grupo com maior prevalência atuante na educação
especial inclusiva ou inclusão escolar. Na Figura 6, temos o perfil dos
respondentes.

Gráfico 3 | Perfil dos Respondentes.

Fonte: : FCC (2020).

Na dispersão geográfica dos profissionais que atuam em classes comuns e


também no Atendimento Educacional Especializado (AEE), de acordo com os
resultados da pesquisa, é possível observar (Figura 7) uma maciça
concentração no Sudeste e uma baixíssima concentração no Norte/Nordeste.
Evidenciando que ainda há uma forte discriminação social no Brasil, quando se
compara as regiões do sudeste e do nordeste.

112
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 4 | Perfil dos Respondentes / Dispersão Geográfica.

Fonte: : FCC (2020).

Quanto a atuação profissional, os resultados encontrados na pesquisa


coadunam com os dados estratificados do MEC no que tange ao crescimento
do número de matrículas em classes comuns e o que preconiza a Política
Nacional de Educação Especial Inclusiva (PNEEI).

Outro dado levantado no relatório da pesquisa, é que mais de 90% dos


respondentes possuíam vínculos diretamente relacionados com a rede pública
de ensino, com grande concentração de profissionais atuantes no
atendimento educacional especializado, vide gráfico a seguir.

Gráfico 5 | Atuação Profissional/tempo e tipo de rede (pública ou privada).

Fonte: : FCC (2020).

113
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Ao que se refere as etapas e modalidades de ensino no Brasil, a pesquisa


trouxe à luz que há uma maior concentração de estudantes (PcDs) na
Educação Infantil – Anos Iniciais, e que essa concentração não se mantém
constantes nos Anos Finais, caindo consideravelmente no Ensino Médio e
quase inexistente no Ensino Técnico. Essa realidade dos números encontrados
vai ao encontro de uma não preparação adequada para o mercado de
trabalho que, na realidade mundial, cada vez mais exige habilidades e
competências para uso de novas tecnologias.

Gráfico 6 | Atuação Profissional / Dispersão geográfica.

Fonte: : FCC (2020).

Como pode ser visto no gráfico acima, no tocante às estratégias para o ensino
remoto, o relatório informa que, em meados de julho de 2020, as redes ou as
escolas não tinham nenhum tipo de organização para o ensino remoto. Em
sua grande maioria, ainda estavam realizando algum tipo de atividade não
presencial (com uso de material impresso, por exemplo) tanto nas classes
comuns quanto no atendimento educacional especializado. Em alguns casos,
aulas estavam sendo gravadas, mas em modo experimental com recursos
tecnológicos dos próprios professores.

114
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 7 | Estratégias utilizadas no Ensino remoto.

Fonte: : FCC (2020).

Essa constatação da pesquisa, ao mesmo tempo que escancara a realidade do


despreparo das escolas brasileiras em sua capacidade de adaptação frente à
desafios propostos no clímax da pandemia, também explicita a fragilidade do
ensino e do atendimento especializado da pessoa com deficiência quanto ao
uso e a aplicação de tecnologias na educação.

O despreparo não perpassa somente pela formação estruturante dos


profissionais envolvidos com a inclusão. Esses números evidenciam que há um
despreparo total dos gestores públicos, que não envidam esforços e não
empregam investimento em instrumentalizar a Educação Especial e Inclusiva
com novas tecnologias. Muito embora exista, em nível elevado de aporte
financeiro em educação no Brasil, isso não significa que esses recursos
chegam para as pessoas que precisam de fato e de direito.

Na pesquisa realizada pelo consórcio em 2020, ficou evidente que os


professionais envolvidos com a Educação Especial e a Inclusão, não dispunham
de instrumentos tecnológicos digitais planejados e preparados para serem
utilizados no ápice da pandemia.

As estratégias se concentraram em ações com uso de material analógico


(impresso), e não no uso e aplicação de tecnologias digitais da informação e
comunicação, como é demonstrado no gráfico sobre estratégias para ensino
remoto. É imperativo informar que, ainda em 2020, uma pesquisa da Data
Folha detectou que apenas 29% das escolas Públicas no Brasil não possuíam
acesso à internet.

Na mesma linha, outra pesquisa importante do CETIC.BR, em 2019, apurou

115
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

também que há uma discrepância social quanto ao acesso à internet. Também


demonstrou que:
20 milhões de domicílios não possuem Internet (28%);
domicílios com internet passam dos 50% na área rural;
ausência de produtos e serviços de TICs atinge 50% nas classes D e E;
redução da presença de computadores nos domicílios;
grande diferença por classe social;
crescimento de banda larga por cabo ou fibra ótica;
um a cada quatro brasileiros não usa a Internet;
47 milhões de não usuários (26%);
134 milhões de usuários de Internet (74%);
usuários de internet não ultrapassa os 50% na área rural e nas classes D e
E;
celular é o dispositivo mais usado (99%);
58% acessam a internet somente pelo celular;
área rural (79%) e classes D e E (85%) concentram uso exclusivo.

Gráfico 8 | Domicílios com computador.

Fonte: : CGI.br/NIC.br (2019).

Outra constatação importante da pesquisa CETIC.BR (2019), é que há um hiato


social considerável quanto ao uso da internet por atividades realizadas na
dualidade educação e trabalho. As classes D e E estão muito distantes da
realidade das classes A. Evocando aqui as determinações de Bourdieu (1983)
em suas pesquisas e afirmações acerca das relações de poder no campo
social, aqui com ênfase nos ambientes educacionais em que o intelecto é
disputado entre dominantes e dominados. No caso específico do Brasil, na luta
entre dominantes e dominados, os dominados estão sempre em total
desvantagem. Os gráficos a seguir, trazem alguns resultados dessa pesquisa.

116
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 9 | Domicílios com acesso à internet no Brasil

Fonte: : CGI.br/NIC.br (2019).

Gráfico 10 | Usuários de internet (por atividades realizadas) – Educação e trabalho.

Fonte: : CGI.br/NIC.br (2019).

117
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 11 | Usuários de internet (por atividades realizadas) – Educação e trabalho.

Fonte: : CGI.br/NIC.br (2019).

Gráfico 12 | Atividades realizadas na Internet - Multimídia.

Fonte: : CGI.br/NIC.br (2019).

118
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Por conseguinte, para além do uso e da aplicação da internet nos lares do


Brasil, ao expor os dados apresentados do consórcio referente à
acessibilidade, a pesquisa trouxe ao conhecimento geral, que não foram
providenciados recursos para acessibilidade ao público-alvo das aulas remotas
no período mais crítico da pandemia. Uma educação inclusiva que não inclui.
Um paradoxo se instaura. A educação é em sua gênese inclusiva, e não pode
jamais, ser excludente em seus processos.

Gráfico 13 | Estratégias utilizadas no Ensino remoto.

Fonte: : FCC (2020).

Ainda que exista um sentimento de apoio por parte dos professores e das
professoras que atuam no AEE, em relação à rede/escola, via de regra, esse
apoio deriva de um histórico de solidariedade e assistencialismo que permeia
a Educação Especial Inclusiva, e que faz parte da cultura brasileira em assumir
e insistir para um sentimento de complacência mesclado com pena para com
as pessoas com deficiência. Tal sentimento cultural deveria ser substituído por
respeito com as pessoas com deficiência e para fazer valer os direitos
conquistados ao longo de décadas, conquistados através de lutas homéricas,
diga-se de passagem.

Observa-se aqui, que há um distanciamento da proposta de incluir todas as


pessoas independentemente das suas singularidades e, ainda sob a
perspectiva de Bourdieu (1983), os dominados seguem em total desvantagem.

119
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 14 | Acessibilidade nas aulas remotas.

Fonte: FCC (2020).

Tabela 1 | Apoio da Rede/Escola.

Fonte: FCC (2020).

120
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Ao que se propõe as atividades on-line e as alterações da rotina das pessoas


com deficiência, no ponto culminante da pandemia o relatório da pesquisa é
enfático em afirmar que as atividades identificadas como on-line
representavam, até aquele momento, uma das principais alterações na rotina
dos professionais da educação no contexto da pandemia, isso em classes
comuns, no Atendimento Educacional Especializado (AEE) e, também, nas
classes especiais. Cabe ressaltar que o relatório explicitou que o planejamento
e o preparo de materiais (com baixa tecnologia – copias reprográficas) com
alguma acessibilidade com consequente envio para os familiares (inclui-se
nesse processo sugestões de algumas atividades que podem ser aplicadas
junto aos estudantes-alvo da educação inclusiva).

Ainda nesse sentido, os números demonstraram um movimento tímido em


relação ao uso e à aplicação de tecnologias digitais, a dinâmica em relação às
atividades on-line não cresceu tanto quanto se esperava. Em parte, pode-se
analisar que alguns entraves dificultaram essa dinâmica. Entraves como uso de
computadores e ausência de acesso à internet em computadores nos lares
brasileiros.

Gráfico 15 | Apoio da Rede/Escola.

Fonte: : FCC (2020).

Quando se analisa o binômio atenção da gestão escolar e aprendizagem dos


alunos público-alvo da educação inclusiva, de acordo com os números da
pesquisa, embora exista um sentimento positivo e crescente em virtude da
atenção da gestão escolar. Este não resvala na aprendizagem dos alunos e
está desconexo na medida em que há não somente uma certeza de que
diminuiu, mas dúvida por parte dos pesquisados que não souberam informar
sobre a aprendizagem dos estudantes na inclusão escolar.

121
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 4 | Apoio da Rede/Escola.

Fonte: FCC (2020).

Não obstante, na dualidade da Relação família-escola e Valorização do


professor pela família, na pesquisa da FCC, ficou sedimentado que há um
reconhecimento por parte da sociedade, não somente quanto a importância
da relação família-escola, mas também, por parte da família, a valorização do
trabalho do professor que atua com inclusão. Esse reconhecimento
harmoniza-se com os dados apresentados pelo MEC uma vez que o maior
contingente de pessoas da inclusão é acolhido nos estabelecimentos públicos
de ensino em todo o Brasil, como pode ser visto a seguir.

Figura 5 | Apoio da Rede/Escola.

Fonte: FCC (2020).

122
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Vale ressaltar aqui, que esses números também são reflexo do belíssimo
trabalho dos profissionais da educação que se dedicam na inclusão da pessoa
com deficiência. Ainda que em condições precárias de trabalho, jornadas
extenuantes, ausência de quase tudo, esses profissionais atuam como
verdadeiros Atlas, da mitologia grega, carregando em suas costas um mundo
pesado de problemas, são resilientes, porém sem deixar o afeto, a dedicação,
os estudos, as pesquisas e o sentimento de altruísmo, envidando esforços
para promover a inclusão de fato e de direito para as pessoas com deficiência.

Por conseguinte, essas dificuldades existentes no mundo da inclusão escolar


nas condições normais, que já eram desafiadoras, com o advento da pandemia
e consequentemente com todas as questões sanitárias com destaque para o
distanciamento social acentuaram os problemas.

Nesse aspecto, o relatório da pesquisa compartilhou sobre as principais


barreiras enfrentadas pelo público da Educação Especial e Inclusiva,
identificando que mais de 70% dos profissionais da educação, com ênfase para
os professores e professoras que lidam diretamente no Atendimento
Educacional Especializado, perceberam alterações na rotina, sendo essas
alterações as principais barreiras. A ausência da mediação feita pelos
professores junto aos estudantes da Educação Especial Inclusiva teve um
impacto considerável nos processos do ensino e da aprendizagem de pessoas
com deficiência.

Com entraves consideráveis, os professores (de acordo com os números da


pesquisa), reconhecem que dentre os principais obstáculos se sobressai a
alteração de rotina dos estudantes associada à realização de atividades de sala
de aula sendo resolvidas apenas em casa, e, em sequência, a dificuldade no
acesso à internet. Nesse quesito a pesquisa da FCC vai ao encontro do que a
pesquisa do CETIC.BR, em 2019, já havia detectado. Somado a esse ínterim, a
maior estratificação dos tipos de deficiência é a deficiência intelectual,
representando maior prevalência (acima de 50%) de acordo com o censo
escolar de 2020 (micro dados do MEC/INEP), isso é, de fato, um grande
complicador, pois para as pessoas com deficiência intelectual utilizarem novas
tecnologias é necessário todo um acompanhamento. Todavia, a participação
efetiva dos estudantes da Educação Especial Inclusiva, mesmo com os desafios
propostos, mostrou-se regular e atuante.

123
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Tabela 2 | Apoio da Rede/Escola.

Fonte: FCC (2020).

Gráfico 16 | Apoio da Rede/Escola.

Fonte: FCC (2020).

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Dentre as tecnologias digitais de informação e comunicação empregadas nas


atividades remotas, de acordo com os dados coletados na pesquisa, destacam-
se:
WhatsApp;
Google (Classroom, Meet, Drive);
Facebook,
Zoom;
Teams;
Moodle;
sites das secretarias de educação ou das escolas;
contatos telefônicos;
e-mail.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Educar pessoas com deficiência na atual conjuntura, requer muito mais que
formas analógicas amplamente utilizadas num passado recente.

Em uma era cada vez mais digital, pensar novas alternativas para a educação e
para os processos do ensino e da aprendizagem se tornou essencial. As
práticas docentes se adaptam conforme a necessidade e os avanços que o
cenário tem proporcionado, tanto para educadores quanto para estudantes.
Diante desse contexto de pandemia, é preciso se atentar às mudanças e ao
que elas podem trazer de melhor. É imprescindível discutir, planejar, organizar
e controlar as ações e as práticas pedagógicas em face dos desafios propostos
à educação e que a pandemia impôs de forma geral, não se esquecendo de
que para a Educação Especial Inclusiva, esses desafios são ainda mais
complexos.

Comunicar ao mesmo tempo que aprende é o desafio atual para todas as


pessoas envolvidas na Educação Especial Inclusiva. Não há mais dissociação
desses contextos.

Alguns paradoxos se apresentam ao procurar respostas para ensino híbrido


com público-alvo da Educação Especial Inclusiva. As análises das pesquisas
direcionam o seu foco para o uso de tecnologia, de forma geral, e,
especificamente para o universo da Educação Especial Inclusiva. No clímax da
pandemia em 2020, as pesquisas evidenciam um conjunto de situações que
demonstram claramente que as pessoas com deficiência, de modo geral,
foram prejudicadas com as aulas remotas, ou mesmo com um ensino híbrido
claudicante.

É preciso reconhecer que existiu todo um esforço por parte dos professores e

125
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

também dos profissionais envolvidos com a Educação Inclusiva, para minorar


os impactos do distanciamento social imposto em virtude das determinações
sanitárias. Contudo, esses honrados esforços não foram suficientes para
aplacarem as discrepâncias sociais do uso e da dificuldade de acesso a novas
tecnologias digitais da informação e comunicação no Brasil. As classes sociais
D e E, que concentram um enorme contingente de pessoas com deficiência,
sentem em suas vidas o processo de exclusão sociodigital e todo esse jogo
intelectual ilustra as proposições de poder e dos campos de dominação social
amplamente determinado por Bourdier.

Não bastassem os obstáculos encontrados na sociedade brasileira em tempos


de pandemia, no tocante a Educação Especial Inclusiva, esses obstáculos se
mostraram ainda maiores, mais agudos e revelaram o quanto são necessários
investimentos na Educação Inclusiva, para poder atender às pessoas com
deficiência que, em 2020, já ultrapassaram um milhão e trezentas mil pessoas
devidamente matriculadas nas redes públicas e privadas do país.

Portanto, pode-se concluir que a inclusão escolar e a inclusão sociodigital no


Brasil, no ápice da pandemia em 2020, ficou a desejar, e muito, na inclusão de
fato e de direito de todas as pessoas com deficiência.

O ensino remoto adotado foi precário e insuficiente para poder dar suporte e
continuação às práticas pedagógicas propostas. O ensino híbrido como
alternativa, precisa ser pensado e articulado com práticas inclusivas reais e que
possa contemplar e abarcar todas as pessoas, sem ser excludente em seus
processos.

126
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

REFERÊNCIAS

BORDIEU, P. Sociologia. São Paulo: Ática, 1983.

BRASIL. Decreto Nº 10.502, de 30 de setembro de 2020. Institui a Política


Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao
Longo da Vida. Diário Oficial da União, seção 1, Brasília, DF, ed. 189, 2020.
Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.502-de-30-
de-setembro-de-2020-280529948. Acesso em: 28 jun. 2021.

CASCUDO, L. C. Dicionário do folclore brasileiro. 6. ed. Belo Horizonte:


Itatiaia, 1993.

DURKHEIM, É. O Fato social e divisão do trabalho. São Paulo: Ática, 2011.

MEC - Ministério da Educação. PNEE: Política Nacional de Educação


Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Brasília:
MEC; Semesp, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-
br/assuntos/noticias/mec-lanca-documento-sobre-implementacao-da-pnee-
1/pnee-2020.pdf. Acesso em: 29 jun. 2021.

FREYRE, G. Casa-grande & senzala. 42. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

FCC - FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. Pesquisa: Inclusão escolar em tempos de


pandemia. [S. l.]: Fundação Carlos Chagas, 2020. Disponível em:
https://www.fcc.org.br/inclusao-escolar-em-tempos-de-pandemia/#sobre.
Acesso em: 20 jun. 2021.

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.


Plano Nacional de Educação PNE 2014-2024: Linha de Base. Brasília: Inep,
2015. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/centrais-de-
conteudo/acervo-linha-editorial/publicacoes-institucionais/plano-nacional-de-
educacao/plano-nacional-de-educacao-pne-2014-2024-linha-de-base. Acesso
em: 28 jun. 2021.

MINAYO, Maria C. S. (org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro. A formação e o Sentido do Brasil. São Paulo:


Companhia das Letras, 1995.

127
8
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A Educação Infantil e a Influência das


Tecnologias da Informação
Elisa Ribeiro Castelo Branco Drummond
Débora Ornellas de Almeida

INTRODUÇÃO

O tema abordado por este trabalho, trata-se de observar e agregar


informações relevantes a respeito da utilização de tecnologias como forma de
entretenimento em substituição do “brincar tradicional” dentro da educação
infantil, sendo definido, portanto, como tema o título: “A Educação Infantil e a
influência das tecnologias da Informação.”

A partir de uma abordagem descritiva, foi feito um estudo detalhado por meio
de levantamento de informações técnicas, análise do objeto de estudo,
levantamento teórico e pesquisas, para assim chegarmos ao aprofundamento
do conhecimento acerca do tema em questão.

Como base para o tema abordado, foram utilizados três teóricos relevantes na
área de educação: Jean William Fritz Piaget, Lev Semyonovich Vygotsky, e
Augusto Cury. Piaget (1997), aborda a importância do relacionamento da
criança com o objeto de conhecimento, e é um dos pioneiros no
desenvolvimento da teoria do Construtivismo.

Nesta obra, o autor aborda a teoria pela qual as crianças devem experimentar
e processar o conhecimento através do ambiente, ele afirmava que a infância é
o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano, logo esse período
deveria ser explorado da melhor forma possível. O ensino deveria ser baseado
em criar situações em que estruturas podem ser descobertas (PIAGET, 1997).

Vygotsky (1989), por sua vez, nos fará perceber a importância da relação social
no convívio infantil, ponto que está sendo posto de lado por conta do uso
excessivo e solitário dos eletrônicos. O autor afirmava que a criança já nasce
inserida num meio social, a família, e nela estabelece as primeiras relações
com a linguagem, na interação com os outros.

Cury (2017), afirma que atualmente o uso demasiado de tecnologia já tem


produzido muitas doenças psíquicas nessa geração, como por exemplo, SPA
(Síndrome do Pensamento acelerado), depressão, TDA (Transtorno do Déficit
de Atenção), TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), e

129
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

muitas outras. O autor faz uma análise da mudança de comportamento


encontrada nas crianças atualmente, comprovada principalmente pelos
profissionais da área de psicologia e da área de educação, devido ao uso
exagerado de ferramentas tecnológicas.

Antigamente, as crianças se divertiam e se ocupavam por conta de sua própria


criatividade, bastava uma árvore, uma garrafa plástica, lápis e papel ou um
pedaço de papelão, tudo facilmente se transformava em imaginação.

Hoje vivemos em um contexto bem diferente. Na sociedade atual, as mulheres


trabalham mais, os empregos demandam mais capacitação, o custo de vida e
os desejos de consumo aumentaram, o tempo diminuiu, e a tecnologia deu um
salto; eletrônicos, celulares, aplicativos, redes sociais, canais de comunicação
abertos e atualizações diárias, tornando tudo novo e mais atrativo a cada dia.

Com esse progresso da tecnologia da informação, nos deparamos com uma


realidade aonde as crianças constantemente recorrem aos seus celulares para
brincar e se ocupar. Nos restaurantes, nas escolas, em casa, nas ruas e no
shopping, crianças estão canalizando todo o seu potencial apenas em jogos e
aplicativos. Diante desse cenário podemos nos deparar com o seguinte
problema: Quais são as consequências do uso demasiado ou precoce de
tecnologias da informação na educação infantil?

Essa pesquisa será realizada com o objetivo geral de descobrir as


consequências de curto a longo prazo do excesso da utilização e
aproveitamento dessas ferramentas eletrônicas dentro da primeira infância, e
tem como objetivos específicos as seguintes metas:
Relacionar o tema com metodologias importantes com autoria de teóricos
específicos, que tem grande influência na temática da Educação.
Informar e esclarecer os responsáveis e profissionais da educação a
respeito das possíveis consequências do uso exagerado de tecnologia
dentro da Educação Infantil, através de relatos, entrevistas, notícias e
pesquisas gerais de diferentes fontes e autorias.
Comparar a forma de entretenimento e aprendizado atual, com a forma
utilizada em tempos passados.
Conscientizar, e despertar reflexão a quem possa interessar dos danos
causados pelo excesso do uso do eletrônico, e despertar o interesse por
outras estratégias e metodologias, para alcançar o desenvolvimento
integral das crianças dentro da Educação Infantil.

O intuito e a delimitação dessa pesquisa englobam a investigação do impacto


negativo (que muitas vezes passa desapercebido em visto da comodidade), do
uso desses recursos no crescimento e no desenvolvimento integral da criança,
ou seja, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social.

130
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A partir de uma abordagem descritiva, foi feito um estudo detalhado por meio
de levantamento de informações técnicas, análise do objeto de estudo,
referências bibliográficas e pesquisas, chegando assim ao aprofundamento do
conhecimento acerca do tema em questão.

Para isso, foram adotados procedimentos de pesquisa bibliográfica e


documental, tendo como fonte as informações e conhecimentos encontrados
em textos, livros, artigos e demais materiais de caráter científico e
pedagógicos, como também conhecimentos em qualquer tipo de conteúdo
informai útil, como jornais, revistas, Internet entre outras fontes.

Essa pesquisa se destina a todo público que interage e se relaciona de alguma


forma com a Educação e o Desenvolvimento Infantil. Aos pais, mães e
responsáveis, aos professores, auxiliares, profissionais da área, e todo aquele
que tenha interesse pelo tema. Questão que está em ascensão e
desenvolvimento, que é relativamente nova e está ganhando espaço de
discussão a cada dia, pois se acredita que junto com o surgimento de toda
ferramenta nova, deve-se manter a observação, o diálogo, a crítica e a
constante análise de seu uso, assim como os seus desdobramentos e seu
resultado final.

EMBASAMENTO TEÓRICO

Para a Teoria Construtivista, todo conhecimento é resultado de interpretação


pessoal e experiência de vida, logo, cada pessoa tem uma forma particular de
ver o mundo. Piaget (1997), desenvolveu uma das vertentes mais famosas do
Construtivismo, a Epistemologia Genética.

O autor defende o papel ativo do sujeito na construção da aprendizagem, aqui


o conhecimento não é pronto, ele é literalmente construído a partir do
desenvolvimento biológico e das experiências com o meio ambiente. O
conhecimento só passa a existir quando, por exemplo, uma criança interage
com os estímulos e dá o seu próprio significado a esses estímulos. Logo, o
estímulo é interpretado. A partir dessa teoria podemos perceber a importância
da curiosidade, do contato real com os objetos de conhecimentos e estímulos
externos (PIAGET, 1997).

Hoje muitos desses estímulos podem estar se perdendo por conta da falta de
experiências ao ar livre por exemplo. Existe uma grande diferença de ver uma
árvore na televisão e de ter a possibilidade de experimentar o contato com a
mesma, sentir o aroma da sua folha, o frescor da sua sombra e a textura do
seu caule, por exemplo.

131
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Para a Teoria Socioconstritivista, destaca-se a importância da interação social


para o desenvolvimento e o aprendizado. Vygotsky (1989), ao estudar a
aprendizagem humana, desenvolveu um conceito chamado de Zona de
Desenvolvimento Proximal. Esse conceito aborda realizações que podem ser
feitas de forma independente pelo indivíduo, outras que somente são
realizadas com a mediação de outra pessoa, e ainda as que não podem ser
efetuadas pelo mesmo.

Logo, existem conhecimentos que precisam da interação social, ou seja, do


convívio e influência de outro indivíduo para que se estabeleça a efetivação do
conhecimento. A partir dessa teoria pode-se dar a devida importância às
relações humanas necessárias para o desenvolvimento de uma criança, seja
com um grupo de crianças na escola, na praça ou até mesmo na igreja. Hoje
parte dessa convivência social, tem sido substituída por uma convivência
“virtual”, o que de fato não podemos afirmar ter a mesma relevância e
efetividade da tradicional.

Cury (2017), por sua vez, aborda o contraste da robusta evolução tecnológica e
de lazer com a drástica queda de inteligência e saúde emocional, observada na
geração atual. A constante insatisfação, o aumento de casos de depressão e
suicídio, a apuração de doenças psíquicas como nunca houve na história, tudo
isso devido a possível substituição de valores e princípios fundamentais para a
manutenção de uma mente saudável pelo uso de eletrônicos.

A velocidade pela qual às informações chegam até nós nesses dias, pode estar
além daquilo que podemos administrar. A substituição dos relacionamentos
reais pelos quais são forjados caráteres, vínculos, elos de segurança e
referência, estão sendo substituídos por emoticons e mensagens virtuais. Para
o autor não só as crianças devem ter uma relação cautelosa e regulamentada
com os eletrônicos como também os adultos, tendo em vista a manutenção de
sua saúde emocional (CURY, 2017).

Pode-se analisar também, algumas outras opiniões de profissionais


relacionados com o objeto de conhecimento da presente pesquisa,
profissionais da própria área da tecnologia, por exemplo.

Bill Gates, o criador da Microsoft, afirmou em 2017 que sua família não
permitia telefones na mesa na hora da refeição, e só permitia celulares para
seus filhos quando completassem 14 anos (FORBES, 2017). Algo muito
semelhante foi dito por Steve Jobs, criador da Apple, em entrevista ao The New
York Times em 2010, o mesmo afirmou que proibia os filhos de usarem o
recém criado iPaid, e que o uso da tecnologia era limitado para os mesmos em
sua casa.

132
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

No mesmo jornal, o ex-diretor da revista Wired, Chris Anderson, comparou o


uso excessivo de tecnologia dentro de uma escala de vícios ao consumo do
crack. Se olharmos pelo ponto de vista desses relevantes especialistas,
podemos concluir que os mesmos que criaram e conhecem o impacto do
consumo exagerado dos seus próprios produtos, orientam a administração
dos mesmos com equilíbrio e moderação.

Inclusive os filhos de administradores da Apple, Google e outros grandes


impérios tecnológicos, estudam em uma escola particular chamada “Waldorf
School of the Peninsula”, em que as telas só entram quando eles chegam ao
ensino médio.

Entende-se, por exemplo, nessa escola, que se um círculo perfeito é feito pelo
computador, ele deixa de ser feito através de uma tentativa humana de
alcançar a perfeição.

Acredita-se também, que o que desencadeia o aprendizado é a emoção, o que


só pode naturalmente ser produzido por humanos e não máquinas.

Julgam que a criatividade é algo essencialmente humano, e que se uma criança


tem uma tela diante dela, ela é limitada em suas habilidades motoras, em seu
potencial de expansão e em sua capacidade de concentração.

Cristiano Nabuco, coordenador do grupo de Dependências Tecnológicas do


Programa Integrado dos Transtornos do Impulso, do Instituto de Psiquiatria do
hospital das clínicas da faculdade de medicina da USP, afirmou que no Brasil
muita gente não entende que a dependência virtual é um grande problema, e
mencionou casos na China onde essa realidade já se tornou um problema de
saúde pública, inclusive com aberturas de 150 centros de tratamento para
dependentes de games.

Aqui no Brasil, se continuarmos caminhando de forma irresponsável e


ignorante diante desses fatos, levando ainda em consideração a falta de
informação e campanhas que alertem para o perigo desse vício, podemos
chegar a um desfecho bem pior.

Podemos listar aqui alguns dos sintomas resultantes do uso demasiado de


aparelhos eletrônicos segundo o neuropediatra Christian Muller, membro da
sociedade brasileira de pediatria, dores de cabeça, alterações posturais,
prejuízo na visão, e insônia (visto que a luz emitida pelos aparelhos altera a
liberação de Melatonina, que é o hormônio que regula o sono e que só pode
ser liberado no escuro).

133
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Sem considerar o atraso no desenvolvimento, e o prejuízo significativo na


capacidade das crianças prestarem atenção, retardando então o
desenvolvimento cerebral e físico.

De acordo com especialistas, existem quatro fatores que melhoram o


desenvolvimento dos pequenos, que são: movimento, toque, conexão e
natureza. O que por muitas vezes tem sido limitado ou anulado pelos “games”.

As crianças não estão mais manipulando o suficiente como costumavam nas


diversas brincadeiras “tradicionais”. Reflexos arcaicos não são ativados, os
músculos não se tonificam, e isso influencia negativamente o seu aprendizado.

De acordo com a pirâmide do psiquiatra americano William Glasser, a


porcentagem para o aprendizado mediante apenas a visualização está
calculada com retenção de 30% do conteúdo, quando para o aprendizado
mediante escrita e prática está calculada com retenção de 80% do conteúdo.

Logo, pode-se concluir que a escrita por exemplo, é uma base fundamental do
processo ensino-aprendizagem, visto que a matéria é registrada de forma
diferenciada pelo cérebro. Porém, 0muitas escolas têm substituído a escrita
manual por digitação e consulta em web sites, por exemplo.

É confirmado por especialistas na área de psicopedagogia que quando uma


criança escreve a mão, ela registra melhor, pensa melhor e ela elabora suas
ideias de forma mais organizada, logo esse processo de construção de
conhecimento se torna mais significativo e efetivo.

Nesse processo, pais e professores precisam se unir em favor do que é mais


importante e eficaz dentro dessa trajetória, ao invés de escolher apenas pelo
caminho mais fácil.

Alguns professores reclamam, por exemplo, que quando enviam deveres para
as crianças fazerem de forma manual em casa, como de recorte e colagem, os
pais começam a questionar e reclamar pois se pudesse ser uma atividade
digital, eles terminariam mais rápido.

Para que essa realidade seja observada e cuidada, de maneira que nossas
crianças sejam desenvolvidas em seu potencial máximo, nós precisamos do
empenho de todos os envolvidos da comunidade escolar, incluindo
autoridades relacionadas e responsáveis.

Sabe-se através de pequenos relatos e afirmações, fazer uma análise de custo


e benefício da utilização em excesso de eletrônicos principalmente na primeira
infância.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A American Academy of Pediatrics recomenda que os pais não deixem as


crianças assistirem a televisão antes dos dois anos. A Organização Mundial da
Saúde – OMS, recomenda que crianças até 5 anos de idade não deveriam
passar mais de uma hora por dia diante de uma tela de smartphone,
computador ou televisão.

A recomendação feita em 2019 alerta ainda, que bebês com menos de um ano
de idade não devem passar nem um minuto sequer na frente dos dispositivos.

A Digital Diares, pesquisa realizada desde 2010, pela AVG Technologies com
mães de todo o mundo, mostraram em 2014 um relatório que alegava que na
faixa etária entre três e cinco anos, 66% das crianças conseguiam operar jogos
de computador e 47% delas sabiam usar um smartphone. Em contrapartida,
somente 14% eram capazes de amarrar os cadarços e só 23% sabiam nadar.

A sociedade moderna precisa despertar e mudar a sua atitude diante dos fatos
que já foram apurados, as crianças trocaram a brincadeira, o movimento, a
relação com os amigos, e a criatividade, tudo isso por um período em
aplicativos, bebês de quatro meses já possuem uma pequena televisão
acopladas em seus carrinhos.

Talvez seja bem interessante para os próprios pais e responsáveis, não terem
as crianças correndo, gritando, pulando, pintando as paredes, ou penteando o
cachorro com a escova da mamãe, ao invés disso ter silêncio e tranquilidade
para chegar do trabalho, tomar um banho e receber amigos em casa, sabendo
que o filho estará em silêncio jogando online.

A questão é: o que é confortável agora pode ser extremamente prejudicial


para os pequeninos com o passar do tempo, principalmente na primeira
infância, que compreende os seis primeiros anos de vida, e é considerada a
primeira etapa da educação básica.

As pesquisas de neurologia mostram que esse período é fundamental ao


desenvolvimento cerebral. Durante esse momento as crianças absorvem tudo
como esponjas, hábitos bons e ruins por exemplo.

A partir de rotina e imitação, eles vão enraizando sua personalidade e seus


valores, são como uma massa de modelar que está no ponto certo de maior
mobilidade para serem ensinados, para entenderem o que é certo, o que é
errado, empatia, educação, respeito, criatividade, disciplina, responsabilidade
entre mil outros valores que serão necessários para seu bom convívio social.

No livro “Crianças Dinamarquesas: o que as pessoas mais felizes do mundo


sabem sobre criar filhos confiantes e capazes”, a autora Iben Dissing Sandahl

135
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

aborda a importância do brincar livremente e de forma autônoma.

Na brincadeira livre as crianças podem escolher, inventar, dividir equipes,


perder, ganhar, escolher um líder, obedecer às regras, calcular seus próprios
riscos ao correr muito rápido ou escalar uma árvore, e também fazer escolhas
de forma individual, afetando e influenciando também um grupo.

As crianças que praticam exercícios e brincadeiras ao ar livre têm menos risco


de serem sedentárias, terem insônia, obesidade, depressão, aprendem a lidar
melhor com as consequências das próprias escolhas, e são mais treinadas nos
relacionamentos interpessoais.

A Internet em excesso tem privado as crianças de se desenvolverem de forma


integral em sua melhor fase para o aprendizado.

Abaixo segue a imagem dos direitos de aprendizagens orientados pela Base


Nacional Comum Curricular para a etapa da Educação Infantil (BNCC, 2017).

Figura 1 | Direitos de aprendizagem.

Fonte: : BNCC (2017).

136
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

É importante ressaltar que a base é utilizada como um padrão para toda a


educação nacional, a ser complementada por parte diversificada de acordo
com a escola e a sociedade em que está inserida, resguardando assim os
direitos fundamentais de aprendizagem e desenvolvimento para todas as
crianças do país e os campos de experiências que elas devem vivenciar em sua
infância.

Logo, o próprio Estado resguarda a infância com suas experiências únicas,


lúdicas, e imaginativas, essenciais ao desenvolvimento sadio e integral das
crianças.

Nos direitos de aprendizagem encontramos princípios de conviver, brincar,


participar, explorar, expressar e se conhecer, logo crianças que se isolam com
seus celulares não estão explorando seu direito no âmbito da convivência
social por exemplo.

Se relacionar com um amigo on-line não tem a mesma relevância de um


conflito com olho no olho, onde ele precisa controlar sua agressividade e
medir suas reações.

A brincadeira precisa ter caráter participativo e explorador, a criança precisa


ter contato com a natureza, compreender o aspecto ambiental, ter seus
sentidos aguçados através de experiências sensoriais como por exemplo com
o cheiro de uma flor ou a textura da terra, tudo isso é fundamental para sua
construção do conhecimento.

A criança precisa se conhecer, controlar-se, expressar-se, tudo isso é


conquistado em meio a manutenção de relacionamentos reais.

Nos campos de experiência, a BNCC (2017) orienta que a fase da primeira


infância trabalhe diretamente os seguintes temas;
1. O eu, o outro e o nós.
2. Corpo, gestos e movimentos.
3. Traços, sons, cores e formas.
4. Oralidade e escrita.
5. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.

A tecnologia pode somar em alguns desses temas, porém pode subtrair em


tantos outros. A questão é encontramos o equilíbrio, de forma que a mesma
não seja uma completa substituta de todas as ricas experiências que a criança
precisa vivenciar de maneira real.

O campo “o eu, o outro e o nós” por exemplo, trata-se de algo que tem sido

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

gravemente afetado em decorrência dessa corrida tecnológica. A sociedade


agora se expressa melhor de forma virtual do que de forma real, temos um
aumento relevante nas estatísticas de suicídio, depressão, e procura por
acompanhamento psicológico. Falta inteligência emocional, diálogo e
sociabilidade, que são pilares imprescindíveis nesse campo de experiência.

Relacionado ao campo “corpo, gestos e movimentos”, podemos refletir e nos


assustar com o número crescente de crianças obesas e sedentárias presente
na realidade escolar.

A atividade e a brincadeira ao ar livre já não fazem parte da rotina das famílias.


O brincar livremente não é incentivado, e muitas vezes é substituído pela
tecnologia.

No campo de “oralidade e escrita”, é possível meditar sobre a grande


quantidade de casos de crianças com dificuldade de escrever que são
registrados por conta da falta de prática com atividades manuais, elas são
rápidas em digitar, porém atrasadas no processo para adquirir controle
muscular para escrever, tornaram-se preguiçosas, querem trabalhos para
serem feitos no computador e se desesperam com a pesquisa escrita e
manual.

Pelo menos é o que relatam, os muitos profissionais da área. Logo, conclui-se


que precisamos unir esforços, investir recursos e criar estratégias para trazer
uma conscientização por parte da sociedade a respeito dos pontos negativos
dessa ferramenta tão elementar no momento atual, e criar caminhos para a
administração do recurso de forma sadia e equilibrada.

PROJETO: TEÓRICOS

Jean William Piaget, mais conhecido como Piaget, é um dos teóricos


referenciais na área da educação e do processo de aprendizagem. Viveu de
1896 até 1980, era biólogo, psicólogo e epistemólogo suiço, foi considerado
um dos mais importantes pensadores do século XX, e defendia uma
abordagem interdisciplinar para a investigação epistemológica (PIAGET, 1997).

Fundou ainda outras teorias, e alegava que o processo de aprendizagem se dá


pela busca do equilíbrio, partindo sempre de um ponto de curiosidade,
desconforto e ansiedade. Algo inusitado que traz certo desconforto; o novo.
Depois desse ponto temos a assimilação e a acomodação do objeto, ou seja,
quando uma criança se depara com alguma novidade ela precisa se
reorganizar, com o tempo ela incorpora os novos elementos que estão
presentes no meio. Assim ela transforma o seu conhecimento mesclando com

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

o novo objeto de conhecimento.

Em uma perspectiva da equilibração, deve-se procurar nos


desequilíbrios uma das fontes de progresso no
desenvolvimento dos conhecimentos, pois só os desequilíbrios
obrigam um sujeito a ultrapassar seu estado atual e procurar
seja o que for em direções novas (PIAGET, 1976, p. 98).

A partir desse conceito, todo elemento novo, seja um objeto, uma


circunstância, ou uma experiência, vai causar um desequilíbrio na criança. Algo
simples pode se tornar um desafio complexo, cheio de estímulos e
informações em excesso. A partir dessa experiência, a criança pode
compreender completamente a experiência e alcançar a evolução cognitiva e
intelectual, indicada pelo autor no trecho acima, pode também entender de
forma parcial, ou em muitos casos não digerir bem o desafio proposto e ser
desestimulada.

Atualmente especialistas alegam algo semelhante, que bebês, por exemplo,


devem ter contato com o novo de forma cautelosa e controlada, para eles
muitas vezes uma saída diferente com uma luz diferente e mais barulho já é o
suficiente para deixá-los exaustos, ou causar insônia. A questão é que as
crianças da educação infantil, ainda estão em seus primeiros anos de
formação, e também deveriam continuar tendo a mesma atenção em suas
experiências com o novo.

A tecnologia com todos os seus efeitos mirabolantes, sons e cores incontáveis


é algo extremamente estimulante, a cada minuto existe um novo aplicativo,
com novos efeitos e cores mais vibrantes. São inúmeras figuras, paisagens e
informações que são descarregadas de forma acelerada na frente dos olhos
dos pequeninos, imagine o quanto de desequilíbrio e desconforto pode ser
causado com todo esse conteúdo diante de uma mente em formação.

A revista PAIS & FILHOS (2020), publicou uma matéria informando que A
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que as crianças de até dois
anos não tenham acesso a telas digitas, e que a partir de dois anos não usem
por mais que uma hora por dia. Alegando que os efeitos negativos podem ser
drásticos.

As crianças são definitivamente super estimuladas em seus sentidos, são


vítimas de uma descarga de conteúdos que mentalmente não estão
preparadas para receber, aumentando assim suas chances de desenvolverem
transtornos de déficits de atenção e hiperatividade. A SBP ressalta ainda a
grande probabilidade de que a criança desenvolva uma vida sedentária e mais
propensa a doenças.

139
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Além de todos os possíveis prejuízos, temos ainda a questão psicológica, e


emocional das crianças. Somos seres sociáveis e vivemos em comunidade, o
uso demasiado de eletrônicos priva os relacionamentos e o estreitamento dos
vínculos entre familiares e amigos, que é essencial para o desenvolvimento
emocional da criança, principalmente dentro da Educação Infantil.

Dessa forma, a criança perde, de acordo com Vygotsky (1989), muito de suas
atividades dominantes dentro da primeira infância. O eletrônico se torna o
substituto de práticas fundamentais como a comunicação direta com o adulto
e a manipulação de objetos.

Lev Semionovitch Vygotsky, é também um teórico relevante na área da


Educação, viveu de 1896 até 1934, era psicólogo, foi proponente da Psicologia
Cultural Histórica. Ele alegava que o desenvolvimento humano acontece
baseado em suas relações sociais, cultura e história. O indivíduo internaliza as
influências externas advinda dos seus relacionamentos e constrói dessa forma
seu conhecimento (VYGOTSKY, 1989).

Vygotsky (1989), considera a idade de zero a três anos a fase da primeira


infância, que tem por suas atividades dominantes a Comunicação Emocional
Direta e a Atividade Objetal Manipulatória. Na comunicação emocional direta
os pais da criança, seus professores ou aqueles com as quais ela tem contato
constante, são responsáveis por criar um vínculo positivo com a criança,
principalmente através de relações de comunicação direta como, por exemplo,
o contato visual, respostas, sinais, e uso da linguagem. Na atividade objetal
manipulatória a criança passa a entender o significado e propósito das coisas,
o uso social dos objetos, passando por três estágios:
1. Uso indiscriminado, aonde a criança terá contato com o objeto, porém não
utilizará de forma apropriada, ela tocará, morderá, e terá reações com as
quais já está acostumada, em seu primeiro contato com o objeto ela estará
se familiarizando apenas.
2. Função social específica do objeto, aonde alguém mostrará a função do
objeto, e ensinará o uso social, a criança vai entendendo sua função e
começa, por exemplo, a utilizar o pente com o propósito correto de
pentear o seu cabelo.
3. Uso livre do objeto, em que a criança entende completamente a função do
objeto e começa a usar de forma livre, aonde desejar, não só apenas de
uma única forma, por exemplo, o pente pra pentear o cachorro ou as
bonecas.

Segundo o autor é de extrema importância à comunicação entre a criança e o


adulto, coisa que tem sido substituída cada vez mais pelo uso constante e
exagerado dos eletrônicos. Ao invés da construção do vínculo afetivo e social
sugerido por Vygotsky, a criança nos dias atuais se distrai de forma isolada

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

com aplicativos, jogos e vídeos.

A perda com relação à manipulação sensorial também é enorme, crianças


estão visualizando apenas virtualmente os objetos. Os três pontos importantes
do processo da atividade objetal manipulatória estão perdendo força, os
pequeninos perdem a manipulação física e o contato direto com os objetos de
conhecimento. Com isso se perde o desenvolvimento perceptivo, sensorial e a
construção do conhecimento proposta através de experiências concretas.

Sendo assim, a população está formando indivíduos menos sociáveis, mais


sedentários, com um conhecimento baseado mais em teorias do que
experiências reais, além de viciados em tecnologia. O ser humano é um ser
sociável, totalmente dependente de relacionamentos para sua saúde física,
mental e psicológica. Inúmeros estudos apontam o isolamento como um fator
negativo para a vida do indivíduo, é constantemente ligado ainda a outras
doenças como depressão e síndrome do pânico, por exemplo.

Não podemos alimentar esse mau hábito, para as próximas gerações.


Incentivar o isolamento em favor de tecnologia, é um desfavor a humanidade,
e principalmente a educação de seres em processo de formação. “A interação
social é a origem e o motor da aprendizagem” (VIGOTSKI, 1989, p.127).

Para Vygotsky (1989), a interação social é a base do desenvolvimento da


aprendizagem. Através da teoria da zona de desenvolvimento proximal, o
autor também afirma que existe desafios e conquistas intelectuais que só
serão alcançadas pela criança através da mediação e do exemplo de um adulto
ou uma criança mais velha. Através da imitação, do auxílio e da repetição as
crianças conquistam progresso em seu aprendizado.

A verdade é que, por mais que estudemos em um curso de graduação toda


teoria relativa, a nossa área de atuação, quando nos deparamos de fato com a
vaga, o cargo ou a função designada num novo emprego por exemplo,
aprenderemos muito mais com a experiência que será passada por alguém
que já exerce aquela mesma função, de forma prática vamos agregar muito
conhecimento. A experiência é fundamental, para todos, e não podemos achar
que isso pode ser diferente da Educação Infantil.

Com base nos dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)


de 2018, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), fez um relatório chamado de Políticas Eficazes Escolas de Sucesso.
Nesse relatório, 79 tiveram suas políticas e práticas educacionais avaliadas. O
resultado mostra que os países com os melhores resultados no PISA oferecem
uma combinação de escolas com mais autonomia e suporte maior aos

141
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

professores. O desenvolvimento da autonomia e a independência devem ser


pontos importantes a serem trabalhados dentro da Educação.

Crianças educadas dentro de um ambiente de isolamento, sem experiências


concretas, com pouco contato social, sedentárias, depressivas, e dependentes
de eletrônicos não estão dentro de um perfil de indivíduo ativo, autônomo e
independente.

Augusto Cury é psiquiatra, psicoterapeuta, cientista e escritor, autor da Teoria


da Inteligência Multifocal que estuda a formação do Eu, os papéis da memória
e a construção dos pensamentos, é também o criador do programa Escola da
Inteligência para ser introduzido na grade curricular com enfoque na educação
da emoção e no desenvolvimento da inteligência. Cury (2017), afirma que uma
pesquisa pessoal realizada com diversos profissionais tem revelado um alto
índice de sintomas psíquicos e psicossomáticos, entre eles ansiedade,
irritabilidade, déficit de concentração, cefaleia, fadiga excessiva, opressão no
peito, alteração do sono e hiperprodução de pensamentos.

O pesquisador alega que esses sintomas são consequência de um mundo


moderno, que mais parece com uma fábrica de stress e ansiedade, que a
mente humana não estava preparada para o excesso de estimulação psíquica
gerada pelo mundo moderno, que as principais vítimas são os mais novos que
muitas vezes são portadores de uma síndrome chamada de SPA (Síndrome do
Pensamento Acelerado).

A SPA tem como um dos sintomas mais perceptíveis na área da Educação o


fato de que seu portador fica com uma baixa capacidade de pensar antes de
reagir e a procura desesperada por novos estímulos para satisfazer sua
emoção insatisfeita. Por isso vemos com tanta frequência crianças tão
inquietas e com nível de concentração tão baixo.

A SPA não permite que a mente do indivíduo desligue, o pensamento não


desacelera, o humor fica flutuante e irritadiço. A mente é bombardeada por
tantas informações e estímulos que nem se quer os adultos, com seu
organismo formado, são capazes de administrar tudo, que diremos então, das
crianças que ainda estão em processo de formação.
Uma edição como a do jornal New York Times contém mais
informações do que uma pessoa comum poderia incorporar
durante toda a sua existência no século XVII nos EUA. Trilhões
de informações são produzidas anualmente. Precisaríamos de
mil anos para receber o que se produz em um mês no mundo
[...] O excesso de estímulo gera uma hiperexcitação da leitura
da memória que produz uma hiper aceleração dos
pensamentos, que por sua vez gera uma hiper excitação da
energia emocional, fechando assim o ciclo da SPA (Naisbitt
apud Wurman, 1992, p.32).

142
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A Educação Escolar e suas metodologias, precisam ser repensadas. A forma


como os responsáveis escolhem distrair seus filhos precisa ser repensada, a
ciência precisa ser repensada, e se formos de fato honestos, e enfrentarmos o
estado da sociedade atual, a humanidade precisa ser repensada.

É preciso desacelerar, precisamos preservar a próxima geração, incentivar o


altruísmo, o relacionamento, a simplicidade, a conservação do meio ambiente
e as experiências mais “normais” possíveis. Caso essa reformulação de
pensamento e hábitos não seja efetuada, continuaremos acelerando ainda
mais a nossa jornada, e isso, de acordo com os diagnósticos precedentes já
nos apontam para uma tragédia ainda maior.

Colheremos uma porção amarga de desumanização, insensibilidade,


impaciência, falta de cooperação, isolamento social, falta de qualidade de vida,
a insatisfação constante, o consumismo exacerbado, o egoísmo, a falta de
experiências relevantes, sedentarismo, valores invertidos, com as máquinas e a
tecnologia acima do relacionamento humano, e no final diremos que estamos
diante de “evolução”, e nos perguntaremos evolução de quê.

Existem outros caminhos que podemos utilizar para o desenvolvimento


integral das crianças, hoje existem escolas, que proíbem que os seus alunos
levem brinquedos eletrônicos para a escola, nessas mesmas escolas as
crianças tem contato com horta, animais e brinquedos tradicionais feitos de
madeira. Segue na lista ainda espaço de faz de conta, peças de montagem,
quebra-cabeças, bonecas e as mais diversas opções estão disponíveis.

As crianças são incentivadas a brincar de forma independente e autônoma, no


período de recreio, por exemplo, nada é direcionado por um adulto, elas
brincam livremente, escolhem seus amigos, suas regras, e sua brincadeira,
alimentam sua imaginação e desenvolvem sua criatividade.

Nessa metodologia podemos andar dentro do processo de aprendizado de


mãos dadas com a experiência. As crianças podem tocar fazer, e criar. Elas
fazem os cálculos e decidem, aprendem com o erro e o acerto, com o desafio e
a vivência.

Essa metodologia é muito presente na Dinamarca, as crianças lá são


incentivadas ao máximo a brincarem de forma independente, sem intervenção
dos adultos, ou eletrônicos. Eles calculam o risco de escalar uma árvore, tem
suas próprias experiências e os adultos quase não fazem intervenção. Eles
acreditam que é extremamente saudável a criança resolver seus próprios
problemas com amigos, e dentro da realidade deles. Isso ajuda a eles a
crescerem de forma resiliente, e a resolverem seus problemas quando forem
maiores.

143
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Acredito que temos muito para aprender com diversas metodologias e


culturas diferentes. Seguimos o caminho do conhecimento, agregando
informação e amadurecendo nossa mentalidade, encontraremos assim a
busca constante pelo aprimoramento, e daremos as crianças o melhor suporte
possível para seu desenvolvimento.

RELEVÂNCIA E APLICAÇÃO DO TRABALHO NA SOCIEDADE

O trabalho tem como objetivo alertar pais e responsáveis para as possíveis


consequências negativas que o uso excessivo de tecnologias pode causar as
crianças. Além dos atrasos físicos, emocionais e sociais, a sociedade deveria se
atentar para os conteúdos. Muitas vezes algumas plataformas não bloqueiam
conteúdo impróprio ou classificam o conteúdo de forma indevida.

Existem relatos em pesquisas recentes de crianças que ficam mais agressivas,


irritadas ou desobedientes de acordo com o tipo de conteúdo que acessam.
Crianças menores de seis anos muitas vezes não conseguem separar a
fantasia da realidade, por exemplo, portanto, deveriam ser mais protegidas da
violência virtual.

Jogos online com cenas de tiroteios com mortes ou desastres que ganhem
pontos de recompensa como tema principal, não são apropriados em
qualquer idade, pois banalizam a violência como sendo aceita para a resolução
de conflitos, sem expor a dor ou sofrimento causado às vítimas, contribuem
para o aumento da cultura de ódio e intolerância, e devem ser proibidos
(AZEVEDO, 2016).

Muitos pais e responsáveis, devido a insegurança das ruas nos dias atuais, a
carga de trabalho intensa, somado ao período longo gasto em trânsito e
locomoção, e por fim terem de estar muito tempo ausentes, acabam optando
por deixar seus filhos de forma irresponsável em aparelhos celulares ou
computadores, sem observar o que assistem e quanto tempo gastam
assistindo.

É preciso que a sociedade tenha acesso a informações a respeito desse


assunto, as crianças precisam ser supervisionadas, não só em termo de tempo
mais em termo de conteúdo também. Temas como ciberbullying e pedofilia
são ainda mais perigosos e pouco falados. A sociedade precisa ser alertada e
informada a respeito desses assuntos, e acessar caminhos possíveis para
acompanhar seus filhos e protegê-los.

Existem aplicativos que podem limitar tempo e conteúdo, existem meios de


fazermos denúncias de conteúdos impróprios ou de bloqueá-los. Tudo isso

144
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

precisa ser trabalhado de forma a ajudar a comunidade escolar e a sociedade,


para que juntos possamos proteger nossas crianças. Um exemplo de um bom
aplicativo é o kidsplace, a partir dele os responsáveis podem bloquear a tela
inicial do aparelho e garantir que o telefone seja usado dentro dos limites
estabelecidos pelo mesmo. O aplicativo permite por exemplo que os pequenos
só utilizem aplicativos autorizados pelos pais, evitando assim o download de
jogos e canais impróprios para a idade específica da criança. O Kidsplace
também fornece plugins extras para o controle dos pais que podem coibir o
acesso a conteúdo inadequado de sites, vídeos e imagens. Ainda temos outros
aplicativos como o Spyzie, Webwatcher, Qustodio e Phonesheriff.

Lembrando também que um dos pilares da educação infantil é a


aprendizagem por imitação, portanto, os pais também precisam dar o exemplo
e investir mais tempo em atividades com a família sem estarem conectados
aos telefones, como jogos de tabuleiro, futebol, caminhadas ao ar livre, e
contato frequente com animais e com a natureza.

Escolas e profissionais da educação também deveriam ajudar as famílias, e se


empenhar em projetos e orientação para a comunidade escolar a respeito
desse tema. Muito pode ser feito para ajudar, vivemos num período onde a
utilização da Internet é inevitável, porém precisamos ser orientados e
informados a respeito da melhor maneira de lidar com ela.

O tema deve ser abordado não só de forma positiva, que com certeza existe,
mas também deve ser abordado de forma preventiva, de forma a trazer mais
consciência de seus malefícios a curto e longo prazo.

Soluções preventivas e corretivas podem ser tomadas a partir do


conhecimento e da informação, e esse é o objetivo dessa pesquisa. Trazer a
partir do conhecimento, informação, alerta, e reflexão para pais e responsáveis
e profissionais conectados a educação infantil, para que juntos possamos
cuidar mais de nossas crianças.

145
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa traz a reflexão de um novo modelo de sociedade em qual estamos


inseridos, aonde os relacionamentos familiares e sociais estão mudando. A
reflexão a respeito do estilo de vida acelerado e virtual em que estamos
vivendo também traz suas críticas. Abordamos a diferença que encontramos
hoje em como as crianças estão sendo criadas, estimuladas e ensinadas.

Esse é realmente um progresso? Existem muitos indícios de que se não


dosarmos a quantidade de tempo que nossas crianças gastam na vida virtual,
estaremos de fato atrasando a sua vida real. Também observamos a
importância de dosarmos os conteúdos que os mesmos têm acesso, pois, as
informações estão cada vez mais acessíveis e liberais.

A pesquisa também possibilitou a análise do uso excessivo de tecnologia da


informação na educação infantil, e seu impacto nas diversas áreas do
desenvolvimento da criança. A partir de observações de diversos artigos e
diferentes profissionais, podemos constatar que de fato a criança que tem
contato demasiado ou indevido com a Internet e eletrônicos, principalmente
na faixa da Educação Infantil, sofre diversos prejuízos no seu desenvolvimento.

Portanto, a partir da pesquisa se conclui que a sociedade, os pais,


responsáveis e educadores, precisam repensar as ferramentas e caminhos
preventivos, informativos e de correção para os vícios e os problemas
desencadeados por conta do assunto abordado. Um trabalho que deve ser
feito em conjunto entre família, comunidade escolar e políticas públicas.

146
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

REFERÊNCIAS

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https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2014/05/29/noticias-
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CURY, A. Treinando a emoção pra ser feliz. 2. ed. São Paulo: Academia,
2017.

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KIEFER, S. Exagero de tecnologia deixa crianças e adolescentes desconectados


do mundo real. Minas Gerais: Jornal do Estado de Minas Gerais, 2014.
Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/05/25/interna_gerais,532336/
exagero-de-tecnologia-deixa-criancas-e-adolescentes-desconectados-do-
mundo-real.shtml: Acesso em: 23 mar. 2020.

METLIFE. Desenvolvimento Pessoal. Brasil. 2019. Disponível em:


https://www.metlife.com.br/blog/desenvolvimento-pessoal/aplicativos-que-
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eletrônicos por crianças de até 5 anos. Brasil: Nações Unidas Brasil, 2019.
Disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-divulga-recomendacoes-sobre-
uso-de-aparelhos-eletronicos-por-criancas-de-ate-5-anos/. Acesso em: 23 mar.
2020.

147
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

PAIS E FILHOS, Uol. Crianças e o uso das telas, você não precisa evitar se
é impossível para a sua família. Brasil: Uol. Disponível em
https://paisefilhos.uol.com.br/blogs-e-colunistas/bianca-sollero/criancas-e-o-
uso-das-telas-voce-nao-precisa-evitar-100-se-e-impossivel-para-a-sua-familia/.
Acesso em: 02 out. 2020.

PIAGET, J. A equilibração das estruturas cognitivas: problema central do


desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

PIAGET, J. O desenvolvimento do pensamento: Equilibração das estruturas


cognitivas. Lisboa: Dom Quixote, 1977.

RFI, Jornal. Uso excessivo de tecnologia pode afetar a capacidade das


crianças de escrever avaliam professores. Rio de Janeiro: Globo; Educação,
2019. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/09/19/uso-
excessivo-de-tecnologia-pode-afetar-capacidade-das-criancas-de-escrever-
avaliam-professores.ghtml. Acesso em: 23 mar. 2020.

SANTOS, T. A. S. et al. O Acesso as Tecnologias pelas Crianças: necessidade de


monitoramento. Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias da
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R7, Notícias. Pisa escolas que apostam em autonomia tem melhor


desempenho. Brasil: Record. Disponível em:
https://noticias.r7.com/educacao/pisa-escolas-que-apostam-em-autonomia-
tem-melhor-desempenho-29092020. Acesso em: 02 out. 2020

SANDAHI, I. D. Crianças Dinamarquesas: O que as pessoas mais felizes do


mundo sabem sobre criar filhos confiantes e capazes. 1. ed. Rio de Janeiro:
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VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

WURMAN, R. S. Ansiedade de informação. São Paulo: Cultura, 1992.

148
9
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Economia Digital: escassez de mão de


obra em tecnologia da informação
Geisse Martins¹²
Débora Ornellas de Almeida¹³

INTRODUÇÃO

Na mitologia Grega, Hefesto, filho de Zeus e rejeitado por sua mãe a Deusa
Era, desenvolveu incomensuráveis habilidades e competências na área da
metalurgia; utilizando-se de lava de vulcões, ele criava as mais poderosas
armas e as mais belas joias. Hefesto, o artista rejeitado e habilidoso, é a
inspiração mitológica que representa o deus do fogo e da metalurgia que tem
domínio sobre as tecnologias, e o criador das armas de muitos dos deuses do
Olimpo.

Figura 1 | Hefesto - Deus da Tecnologia.

Fonte: Coustou (2006). Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Hefesto#/media/Ficheiro:Vulcan_Coustou_Louvre_MR1814.jpg

[12] Graduado em Pedagogia e Telecomunicações, possui MBA em Gestão Estratégica e


especialização em: Neurociência e Aprendizagem, Psicopedagogia, Coordenação/Supervisão
Escolar, Inspeção Escolar com ênfase em Educação Especial Inclusiva e Pedagogia Empresarial.
Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação, mestrando em Administração pela Must
University e doutorando em Educação pela Eikon University. E-mail: geisse@geisse.com.br.
[13] Graduada em Administração com linha de formação específica em Comércio Exterior pela
PUC Campinas, Especialista em Gestão de Pessoas e Psicologia Organizacional pela Umesp e
Mestre em Administração com Linha de Pesquisa em Psicologia da Saúde do Trabalhador pela
Unimep. E-mail: ornellasdebora@yahoo.com.br.

150
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

A representação de Hefesto no imaginário coletivo, tendo em vista seu


protagonismo na titanomaquia¹⁴. Com efeito, esse protagonismo ao logo do
tempo sempre faz uma alusão moderna às habilidades e competências
relacionadas com as novas tecnologias digitais da informação e do
conhecimento (TDICs).

Com um salto da Grécia antiga até os dias atuais, em que essas novas
tecnologias se apresentam como propostas para disrupção, ao impelir novos
desafios aos administradores, é preciso uma breve digressão para poder
compreender ao que se pretende investigar.

Do início dos anos de 1990 até os dias atuais, as tecnologias digitais da


informação e comunicação (TDICs), revolucionam o mundo e promovem
mudanças drásticas no ambiente gerencial das empresas e organizações.

Algoritmos, inteligência artificial, Big Data, realidade aumentada e aprendizado


de máquinas (machine learning), estão cada vez mais presentes dentro do
contexto empresarial.

Com mercados cada vez mais aquecido em virtude do uso da internet para
transações comerciais, somado ao acesso e uso de tecnologias que propiciam
acesso à internet (smarthones, tabletes, notebooks, computadores).

Nesse sentido nos orienta Schwab (2016, p. 28):

Até recentemente, o uso de robôs estava confinado às tarefas


rigidamente controladas de industrias especificas; a
automotiva, por exemplo. Hoje, no entanto, os robôs são cada
vez mais utilizados em todos os setores e para uma ampla
gama de tarefas, seja na agricultura de precisão, seja na
enfermagem. Em breve, o rápido progresso da robótica irá
transformar a colaboração entre seres humanos e maquinas
em uma realidade cotidiana. Além disso, por causa de outros
avanços tecnológicos, os robôs estão se tornando mais
adaptáveis e flexíveis, pois a concepção estrutural e funcional
deles passou a ser inspirada por estruturas biológicas
complexas (uma extensão de um processo chamado
biomimetismo, pelo qual imitam-se os padrões e as estratégias
da natureza (SCHWAB, 2016, p. 28).

Nesse curto espaço de tempo, em que essas novas tecnologias emergem e se


tornam pervasivas, e, permeiam todos os espaços da vida contemporânea das
pessoas. Como havia preconizado Pierré Lévy em sua obra seminal

[14] A Titanomaquia, na mitologia grega, foi a guerra entre os titãs, liderados por Cronos,
contra os deuses olímpicos, liderados por Zeus, que definiria o domínio do universo. Zeus
conseguiu vencer Cronos após resgatar seus irmãos depois de uma luta que durou dez anos.

151
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Cibercultura, “Esse tipo de dispositivo de comunicação pode servir a jogos,


ambientes de aprendizagem ou de trabalho, a prefigurações urbanísticas, a
simulações de combate etc”. Fato é que essa transformação digital, vem
trazendo também alguns complicadores para os gestores, no tocante a atrair e
reter mão de obra qualificada para trabalhar com tecnologia da informação.
Há um crescimento na oferta de postos de trabalho para o setor de tecnologia
da informação e na mesma proporção, uma ausência de qualificação de
profissionais em todos os níveis (operacionais, técnicos e em nível superior) no
Brasil.

Demandas crescentes e exponenciais para atender as exigências de mercado


através do uso e aplicação de novas tecnologias no universo circunscrito dos
negócios, cada vez mais exige mão de obra qualificada e preparada, para
inovar e também de forma disruptivas, criar e desenvolver produtos e serviços
para um mundo exponencial do ponto de partida das tecnologias da
informação, e também do conhecimento.

Por conseguinte, os gestores das organizações contemporâneas, precisam se


articular para tentar atrair e reter mão de obra que possua competências e
habilidades para trabalhar com o uso e aplicação de novas tecnologias digitais.
As circunstâncias atuais exigem habilidades e competências que vão para além
de utilizar as novas tecnologias digitais restritas, apenas nas ações
operacionais dentro das organizações. Tal qual no abismo de Charles Percy
Snow (1959) em “As duas Culturas” a ciência das contratações e as
humanidades, que estão de frente a questões inquietantes e lancinantes. As
questões que se propõe investigar nesse trabalho são:
Por quê há um aumento de oferta de trabalho para os profissionais de TI?
Quais as ações dos gestores e das organizações para atrair e reter talentos
na área de Ti?
O que a economia digital sinaliza para o mercado, no tocante a contratação
de profissionais que atuam com desenvolvimento de TDICs?

No afã de compreender esse fenômeno econômico, social e contemporâneo


para tanto, utilizou-se a metodologia qualitativa, a partir da observação de
fatos sociais e econômicos contemporâneos. Conforme argumenta Minayo
(2001, p. 22):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares.


Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de
realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha
com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que
não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis
(MINAYO, 2001, p. 22).

152
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Não obstante, empregou-se de análise do contexto atual das organizações,


bem como de referências bibliográficas que versam e discorrem sobre o tema.

DESENVOLVIMENTO

A economia digital vive na contemporaneidade, a sua versão tecnológica da


Titanomaquia. Tal qual a famigerada guerra dos titãs que foi liderada por
Cronos, as empresas de forma geral e irrestrita, lutam para sobreviver no
mundo no pós-pandemia causada pela covid-19. A pandemia que surgiu em
2020, acelerou processos que estavam ancorados sobre novas tecnologias
digitais da informação e do conhecimento (TDICs), que antes estavam
estacionados, ou mesmo em gestação. Ao que se refere o uso e aplicação
dessas TDICs, não mais como meros objetivos operacionais, mas sobretudo
com um protagonismo em arrimar novos negócios. ou mesmo alavancar
projetos de inovação e disrupção.

Com o advento da pandemia, existiu um êxodo gigantesco de pessoas e


empresas que se deslocaram não somente para raias da internet, bem como
emergiu também novas startups¹⁵ de base tecnológica que atuam em diversos
níveis dentro do ecossistema das empresas. Mesmo diante de um cenário de
instabilidade para inúmeros setores da economia oriundos do isolamento
social e das incertezas inerentes advindas da causa da pandemia, também
exigiu que as empresas acelerassem seus processos em transformação digital,
de tal sorte que o conhecimento e as habilidades em novas tecnologias digitais
passaram a ser prioridade máxima.

Sem óbices, as BigTechs (empresas que são consideras as gigantes como


Apple, Amazon, Microsoft e Google) surfaram na crista da onda e ainda
investiram maciçamente em ampliar o seu raio de atuação em seus
respectivos nichos, e também investindo em novos projetos que estavam
ancorados em tecnologia da informação.

Nessa direção e sentido, transacionar tendo como base novas tecnologias,


deixou de ser uma tendência para ser uma necessidade de adaptação e
sobrevivência das organizações, independentemente de seu tamanho ou raio
de atuação. Velocidade e agilidade nesse processo direciona a nova dinâmica,
e demoveu inúmeros gestores de suas respectivas zonas de conforto e de
suas inércias naturais.

[15] De acordo com o SEBRAE uma startup pode ser definida como um grupo de pessoas
iniciando uma empresa, trabalhando com uma ideia diferente, escalável e em condições de
extrema incerteza.

153
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Há de se ter agora, por parte dos gestores, um melhor entendimento da


economia digital atual ao que se refere a habilidades e competências dos
colaboradores que atuam diretamente com tecnologias digitais da informação
e do conhecimento (TDICs), haja visto que a tecnologia sempre representou
um ativo, e até impactante nas dimensões políticas, sociais e econômica dentro
das empresas. Mais do que antes, essas habilidades e competências figuram
dentro dos propósitos e dos planejamentos em estratégia e vantagem
competitiva das organizações.

No clímax da pandemia, a relevância da convergência entre necessidade de


adaptar tecnologicamente das empresas e a inexorável oxigenação do capital
intelectual (em nível e dimensões das TDICs) de forma endógena das
organizações, provocou uma explosão de novas possibilidades, e com efeitos
novos postos de trabalho relacionados com as novas tecnologias surgiram em
escalas exponenciais.

O Estudio NSC Total de notícias em março de 2021, informou que um


levantamento realizado pela GeekHunter, startup de consultoria, referência em
recrutamento de profissionais de TI, mostrou que o total de vagas abertas no
setor de tecnologia da informação em 2020 teve um aumento de 310%. E, de
acordo com dados do Banco Mundial, até 2024 haverá a criação de,
aproximadamente, 420 mil novas vagas de emprego na área. São números
bastante expressivos, ainda mais se levarmos em consideração a crise
econômica que atravessamos e a alta taxa de desemprego.

As duas macros áreas que mais demandam profissionais ligados a tecnologia


da informação foram a saúde e educação, isso de acordo com a pesquisa WW
Covid-19 Impact on IT Spending Survey¹⁶.

Com o setor de tecnologia, está em franca expansão e com perspectiva de


crescimento exponencial estimada na casa de bilhões isso de acordo com o
relatório da Associação Brasileira de Tecnologia da Informação e comunicação
(BRASCOM).

[16] Fonte: Impacto COVID-19 na pesquisa de gastos de TI: O impacto do COVID-19 no gasto
de segurança esperado varia de acordo com a vertical do mercado e o tamanho dos negócios
(idc.com)

154
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 3 | Produção e crescimento dos Subsetores TIC e TI In House em 2020.

Fonte: BRASCOM (2021, p. 3).

Com uma dinâmica global se direcionando para uma economia digital latente,
em que as organizações além dos investimentos em infraestrutura em novas
tecnologias, também criaram novos produtos e serviços, investiram em
reestruturação de marketing e com consequente alterações nas força de
venda e marketplace digitais e também ampliaram suas plataformas de
prospecção e relacionamento com clientes internos e externos, tudo dentro de
um espaço de tempo com alto grau de incerteza e com orçamentos cada vez
mais restritivos.

Nessa linha de raciocínio, de acordo com a reportagem da Revista Exame


(2021, [n. p.]), que informou que a consultoria Michael Page na pessoa da sua
gerente de Tecnologia da Informação Luana Castro:

A alta demanda dos profissionais de tecnologia é global, não é


só uma questão do Brasil. A pandemia acelerou ainda mais.
Houve um crescimento da digitalização das empresas, que
criaram produtos, investiram em vendas online, vendas de
plataformas, etc (EXAME, 2021, [n. p.]).

Sendo o Brasil um país que se destaca no cenário mundial, não somente como
um país industrializado, mas sobretudo como parte integrante da grande teia
da tecnologia informação. Com efeito, esse país de dimensões continentais
também sente os impactos da escassez da mão de obra qualificada para o
respectivo setor. Com questões sociais ainda não resolvidas no Brasil e que
resvalam na economia do país, como a questão da qualidade do ensino que
não raro sempre está em queda na comparação internacional, somado ao
baixo nível de proficiência da língua inglesa por parte da população.

Por conseguinte, a educação tradicional não consegue entregar a quantidade

155
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

de profissionais de Tecnologia da Informação na quantidade e qualidade


demanda pelas empresas e organizações. O crescimento na oferta de vagas do
setor, pode ser compreendido através do estudo que a empresa de
recrutamento e seleção Catho disponibilizou somente na cidade de São Paulo,
que faz parte de um ponto pulsante no cenário mundial.

Gráfico 1 | Salto na oferta de vagas entre 2019 e 2020.

Fonte: Catho apud Exame (2020).

Em sintonia com a análise da Catho, a ABRASCOM fez um levantamento a


respeito do número de profissionais no macro setor de TIC em 2020, e foi
possível identificar crescimento considerável em todos os eixos que formam a
estrutura de Tecnologia da Informação no Brasil.

Gráfico 2 | Número de profissionais no macro setor TIC- 2020.

Fonte: BRASCOM (2021, p. 4).

156
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 3 | Evolução dos Empregos no macro setor TIC - 2020.

Fonte: BRASCOM (2021, p. 5).

Ao observar os gráficos que explicitam o crescimento da demanda por mão de


obra especializada no setor de tecnologia da informação, esses números
refletem diretamente na capacidade de folego das empresas de modo geral
em migrar seus negócios de uma economia baseada no analógico para o
digital.

Nessa perspectiva novos desafios se apresentam para os administradores ao


que se refere a remuneração dos profissionais que também na mesma direção
e sentido aumentaram na comparação média setorial e nacional.

Sem óbices, um novo panorama dos cargos e salários perpassa pelo


planejamento financeiro, tal qual a titanomaquia grega, em que os gestores em
suas ações precisaram articular forças e rever estratégias econômicas e
financeiras. Isto pode ser observado nos gráficos abaixo que além da
comparação da remuneração apresenta o retrato nacional da distribuição de
empregos do setor de TI em território nacional.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 4 | Comparação da remuneração média de TIC com salários médios


setoriais e nacional.

Fonte: BRASCOM (2021, p. 6).

O gráfico acima, ao demonstrar a comparação da remuneração média de TIC


com salários médios setoriais e nacional evidencia que nos setores de alto
valor como o de software e de tecnologia da informação, apresentaram uma
variação positiva e cresceu na ordem de 1,4%, isso dentro de um cenário de
pandemia com alto grau de instabilidade e incertezas. Ainda como um agente
complicador, vale destacar que a tecnologia de modo geral muda em ritmo
alucinante e novas linguagens de programação surgem a todo instante, de tal
sorte que os profissionais de TI precisam estar atualizados o que também não
deixa de ser uma batalha homérica.

Ainda dentro do panorama da remuneração do setor de tecnologia da


informação, é possível afirmar que a maior concentração de mão de obra está
no Sudeste, seguido do Nordeste, Norte e também no Distrito Federal como
demonstra o gráfico abaixo. Essa concentração no Sudeste sinaliza que em
outras regiões do país a escassez de mão de obra do setor de TI é ainda mais
aguda e traz impactos negativos de toda a ordem.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 4 | Retrato nacional da distribuição de empregos.

Fonte: BRASCOM (2021, p. 6)..

Gráfico 5 | Levantamento – Salto dos salários na área da tecnologia 2019-2020.

Fonte: Revelo apud Exame (2020).

Um outro fator de impacto positivo que faz aumentar a oferta de trabalho para
os profissionais de TI é a taxa de crescimento da oferta de serviços de
telecomunicações, associadas com os investimentos em infraestrutura e
também acesso aos dispositivos tais como smartphones, tablets,
computadores e seus similares. Importante ressaltar que não somente o
trabalho remoto demandou uma nova estrutura no parque tecnológico
(interno e externo), mas também interferiu nas relações de trabalho que
precisaram ser apoiadas de tecnologia para otimizar os tempos e os
movimentos que balizam colaboradores e as lideranças dentro das
organizações.

As perspectivas menos otimistas variam entre 1 a 10%, em apenas dois anos


de comparação como pode ser observado no painel abaixo.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Figura 4 | Perspectiva da taxa de crescimento do setor de TI 2018-2020 e a variação


entre 2019-2020.

Fonte: BRASCOM (2021, p. 8).

Frente a tudo que isso que foi explicitado e analisado, é imperioso que seja
lembrado que aos gestores o desafio lancinante de atrair e reter mão de obra
qualificada para atuação efetiva no tocante a estratégia e vantagem
competitiva das organizações dentro do cenário de mudança para uma
economia digital em que as novas tecnologias são ferramentas poderosas
como foram as armas feitas por Hefesto lá na Grécia antiga e entregues aos
Deuses do Olimpo liderados por Zeus. Dominar o uso e aplicação das novas
TDICs é condição “sine qua non” para estarem preparados para outras
batalhas titânicas que o futuro não encerra.

Aos gestores e administradores é preciso não somente aprender com as


experiências da pandemia, no tocante ao atrair e reter os colaboradores de TI
no presente, isto porquê de acordo como relatório da ABRASCOM o mercado
brasileiro irá demandar um contingente na ordem de 420 mil profissionais
entre 2018 e 2024, isso significa que serão necessários setenta mil
profissionais ao ano até 2024 para ocupar os postos que serão
disponibilizados pelas empresas em seus diversos setores da economia. E
ainda segundo o mesmo relatório se não existir mudanças é esperado um
déficit por volta de 260 mil profissionais (diretos e indiretos) da tecnologia da
informação.

Os dois maiores titãs desta titanomaquia contemporânea que se apresenta na


frente dos administradores e suas organizações são:
atrair e reter os melhores talentos;
desoneração da folha de pagamento.

160
EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

O primeiro tem uma relação direta com a dinâmica da formação e


aproveitamento dos egressos das universidades e escolas técnicas. Há um
intrincado problema relacionado a isso, que é a oferta de vagas nos cursos
superiores (bacharelados e tecnólogos) com um baixo índice de matrículas, em
contra partida há alto índice de desistência ao longo dos cursos e um
baixíssimo índice de concluintes, sendo que desses o índice de
aproveitamento é questionável o que afunila as possibilidades de contratação
e permanência nos postos de trabalhos ofertados no setor das TDICs. Isso
pode ser facilmente analisado no painel abaixo que foi desenvolvido com
dados e informações em parceria da ABRASCOM com o INEP/MEC.

Figura 5 | Característica de oferta de formação e aproveitamento..

Fonte: BRASCOM (2021, p. 12).

O Segundo item relacionado, a desoneração da folha de pagamento tem


impacto direto em todo o planejamento estratégico de médio e longo prazo.
Esse impacto causa fissuras em pontos radiais e axiais. Os radiais que são
econômicos vibram e repercutem em pontos nevrálgicos como custos (diretos
e indiretos) e os axiais que são os de planejamento estratégico ecoam nas
bases estruturais, como são o de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos
produtos e serviços. O gráfico abaixo demonstra o nível da complexidade
dessa desoneração.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 6 | Desafios do setor de TIC – Desoneração da folha de pagamento.

Fonte: BRASCOM (2021, p. 13).

Ambos (Atrair talentos e desonerar a folha de pagamento) se apoiam no ponto


fulcral da decisão de fazer parte da economia digital em que a disrupção, seja
coração desses novos produtos e serviços com alto valor agregado. Esse
desafio de ter que desonerar a folha de pagamento precisa ter uma precisão
cirúrgica. Os administradores estarão entre a fúria dos titãs (investimentos
com rigoroso controle fiscal e orçamentário) e a energia dos deuses do Olimpo
(atrair e reter os melhores talentos para inovar junto ao mercado oferecendo
produtos e serviços com alto valor agregado).

É possível observar a dimensão deste intrincado problema através do gráfico


de projeção para o setor de TI até o ano de 2025 e também o gráfico que
demonstra a perspectiva de investimento no setor até o ano de 2025 que está
estimado na ordem de R$413,5 bi com um crescimento de 22,7% a.a.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Gráfico 7| Perspectivas de investimento de 2021-2024 (em bilhões).

Fonte: BRASSCOM (2021, p. 14).

É inexorável que aos administradores e gestores que nessa batalha haverá


perdas e danos. A economia digital é algo novo e não fora previsto no
arcabouço teórico da formação da grande maioria dos empreendedores e
administradores que versa sobre essa temática.

Por conseguinte, tudo é muito recente e a velocidade em que tudo se


desenrola exige um novo mindset. Novas formas de contratação e de retenção
de talentos com foco muito mais em parceria precisam ser estabelecidas e
fortalecidas para enfrentamento dessa escassez generalizada de profissionais
de TI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando da Titanomaquia na mitologia grega, Cronos foi quem liderou a


insurgência contra os deuses do Olimpo sendo esses liderados por Zeus e
possuíam armas que foram forjadas pelo Deus da Tecnologia Hefesto. Na
contemporaneidade, essa alusão ao deus da tecnologia se materializa através
dos números de um setor que segundo a ABRASCOM tem uma receita bruta
na ordem de quinhentos e cinquenta bilhões no macro setor de Tecnologia da
Informação e Comunicação o que representa 6,8 no PIB. Mesmo em face do
cenário inóspito da pandemia em 2020, o crescimento do setor auferiu 4,4%
com empregabilidade de 1,62 mil profissionais com incremento balizado de
59,1 novos postos de trabalho.

O aumento na oferta de postos de trabalho no setor de tecnologia da

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

informação pode ser explicado por fatores que vão desde os efeitos sociais e
econômicos diligentes pela pandemia causada pela covid19 que impulsionou e
acelerou processos das organizações que agora para sobreviver lançaram-se
na economia digital através de seus negócios, produtos e serviços suportados
por novas tecnologias e também aos processos transacionais até pela
mudança de modelos analógicos por modelos digitais. Há um cambiar de uma
subjetividade linear e cartesiana para uma subjetividade complexa mediatizada
pelo uso de novas tecnologias em todos os níveis dentro das empresas. Essa
mudança ocorre de forma consciente em muitos casos e inconsciente em
alguns poucos casos.

O aumento da oferta de tecnologias com acesso à internet como smatphones,


tablets, notebooks e computadores tanto para pessoas físicas bem como para
as empresas e também o alto investimento no setor que mobiliza bilhões de
reais no mundo e também no Brasil que possui enorme representatividade do
setor no mundo. Com questões sociais e econômicas ainda não resolvida o
Brasil em relação a educação não consegue suprir a demanda reprimida por
mão de obra qualificada em tecnologia da informação.

Diante de alguns paradoxos estão os administradores e os gestores das


empresas que precisam entender o modo de execução imperfeita do
desconhecido como afirmou certa vez Kevin Kely. Significa que os
administradores nesse instante precisam entender que as TDICs que são
agora pervasivas e que fomenta a evolução instrumentada pela própria
tecnologia não cabe ou não garante tempo para seus colaboradores criativos e
com sede de disrupção, possam tentar aprender e desenvolver novos
produtos e serviços. Nesse aspecto assim como na titanomaquia o Deus
Cronos insurge para uma batalha em que impõe searas complexas como atrair
e reter os melhores talentos em tecnologia da informação ao mesmo tempo
em que é imperativo desonerar a folha de pagamento dentro das
organizações.

Não bastasse esse trabalho digno de Atlas ainda tem os complicadores do


afunilamento do conhecimento que existe dentro das universidades brasileiras
(sejam nos cursos de bacharelados ou tecnólogos) que via de regra
disponibilizam pouquíssimos profissionais com formação adequada com
habilidades e competências para forjar novos produtos e serviços com alto
valor agregado para ser entregue ao mercado que cresce exponencialmente.
Com efeito, ainda tem as estimativas mais otimistas que apontam que até o
ano de 2024 a escassez de mão de obra será ainda mais acentuada ao mesmo
tempo em que as previsões indicam um superaquecimento do setor.

As principais tendências apontam para maciços investimentos de tecnologia na

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

Nuvem que pode mobilizar 3,0 bilhões e com crescimento projetado para
acima de 45%. A Edge Computing somente na parte de modernização da
infraestrutura, cuja objetivo é melhorar a eficiência e eficácia via automação
com otimização de processos e conseguinte redução de custo está estimada
com crescimento escalar de 16% ao ano. A inteligência artificial vai movimentar
mais de quatrocentos mil dólares até 2023, na mesma direção e sentido as
plataformas digitais de gestão (na Nuvem) irá representar 14% dos gastos das
organizações com soluções de ERP. Sem óbices mobilidade e conectividade
(dados e banda larga) é esperado uma movimentação não menor que 431
bilhões em todo o mundo um aumento previsto de 4,6% ao ano.

Portanto, pode-se concluir que o futuro que se apresenta não encerra as


batalhas titânicas que estão por vir para os administradores e gestores, que
assim como na mitologia precisam forjar novas armas como as de Hefesto
para lutarem bravamente empregando habilidades e competências em
tecnologia da informação para a perenidade das organizações.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

REFERÊNCIAS

BRASSCOM. Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação


e Comunicação. 2021. Relatório Setorial 2020 Macrossetor de TIC -
Brasscom. [online]. Disponível em: https://brasscom.org.br/relatorio-setorial-
2020-macrossetor-de-tic/. Acesso em: 02 nov. 2021.

Dickson, F. COVID-19 Impact on IT Spending Survey: COVID-19 Impact on


Expected Security Spend Varies by Market Vertical and Size of Business. IDC:
The premier global market intelligence company. [online]. 2021.
Disponível em: https://www.idc.com/getdoc.jsp?containerId=US46541020.
Acesso em: 02 nov. 2021.

EXAME. 260.000 vagas sem dono: um raio-x das vagas mais quentes
agora (e no futuro). [online] Exame, 2021. Disponível em:
https://exame.com/carreira/260-000-vagas-de-trabalho-sem-dono-conheca-o-
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LEVY, P. Cibercultura. 2009. São Paulo (SP): Ed. 34.

MINAYO, M.; DESLANDES, S.; Gomes, R. Pesquisa social. Petrópolis, RJ: Vozes,
2001.

SCHWAB, K.; Davis, N. Aplicando a Quarta Revolução Industrial. [place of


publication not identified]: EDIPRO, 2016.

SHOW, C.; SMOLUCHOWSKI, R. The Two Cultures and the Scientific Revolution.
Physics Today, [impresso], 14(9), pp.62-63, 1959.

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO

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EDUCAÇÃO:
CRÍTICA & REFLEXÃO
O LIVRO EDUCAÇÃO: CRÍTICA E REFLEXÃO APRESENTA
UMA COLETÂNEA DE ARTIGOS QUE TRATAM DAS NOVAS
ABORDAGENS SOBRE O ENSINO-APRENDIZAGEM DO
SÉCULO XXI EM DIÁLOGO COM AS PRÁTICAS
PEDAGÓGICA E ANDRAGÓGICA. O LIVRO FAZ
CONSIDERAÇÕES SOBRE A INTEGRAÇÃO DE NOVAS
TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA E O DIÁLOGO QUE
EXISTE COM AS TEORIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM.
EXPLORA TAMBÉM O ENSINO HÍBRIDO E COMO ESSA
METODOLOGIA TEM IMPACTO NA
CONTEMPORANEIDADE. ABORDA SOBRE O PAPEL DA
PEDAGOGIA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL. TRAZ
TAMBÉM CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SISTEMAS
AVALIATIVOS. COM EFEITO E ENTRELAÇADO COM O
USO E APLICAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS À
EDUCAÇÃO 4.0, TAMBÉM FIGURA NESSA OBRA E TRAZ
À LUME, CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES E ATUAIS A
RESPEITO DA INTERLIGAÇÃO DE SABERES, SEM DEIXAR
DE FORA A INCLUSÃO ESCOLAR.

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