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PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA, QUALIDADE TOTAL E BS 8800:


O QUE É, O QUE DEVERIA SER E COMO DEVE FICAR.

INTRODUÇÃO

Os efeitos lesivos do ruído são bem conhecidos e os mecanismos para evitá-los também.
Mesmo assim empregados que trabalham expostos ao ruído ocupacional continuam a perder a
audição. Legislacão que indica o que fazer para evitar perdas auditivas está em vigor desde
1978: são as Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho, relativas à Segurança
e Medicina do Trabalho, estabelecidas pela Portaria no 3.214, sendo que em dezembro de 1995
as NRs 7 e 9 foram aprimoradas Apesar disso, persiste a perda auditiva entre os indivíduos
expostos ao ruído ocupacional.
"O que é que está errado?" é a pergunta que deve ser feita, quando as coisas não estão
dando certo. Isso, pelo menos, é o que manda o bom-senso. Ocorre que como essa questão não é
formulada, as empresas não encontram as razões para o descompasso entre o suposto
investimento em recursos humanos e instrumentais (fonoaudiólogos, audiômetros, cabinas
acústicas, EPIs) e a continuidade da perda auditiva entre os expostos. Assim, continuam sem
muito sucesso a seguir fórmulas ultrapassadas.
Se houvesse um genuíno interesse em resolver esse problema, a pergunta seria feita e
uma grande quantidade de explicações surgiriam. Uma delas, dura e contundente, é que temos
um discurso e uma prática, que não são necessariamente a mesma coisa. É claro que a
conservação da audição de empregados expostos ao ruído ocupacional não é o único objetivo
das ações de saúde e segurança nas empresas, mas esse assunto, assim como outros descasos, é
emblemático de uma postura que vêm se mantendo há muito tempo.
Optamos pelo progresso e pela globalização, pelo neo-liberalismo e pela qualidade total,
pela qualificação das ISO-9000, 9001, 9002 e 14000. Adotamos as novidades, mesmo que não
tenham importância e sejam apenas modismos passageiros mas que proporcionam "status", sem
realmente implementar ações sociais às relações utilitaristas. Estamos dissociados da nossa
realidade social, cultuando uma auto-imagem primeiro-mundista com uma prática egoísta e
autoritária, típica de terceiro-mundo. A convivência com a sonegação da educação, saúde,
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justiça, segurança pessoal e patrimonial revela uma face preconceituosa, repressora e agressiva,
embora queiramos que o nosso espelho nos mostre bons e generosos. Não queremos mais ser
uma sociedade patriarcal mas não assumimos a responsabilidade que envolve uma sociedade que
se pretende complexa e desenvolvimentista.
A prática da cidadania exige uma prática social adequada para os designios que
almejamos para esse país. Os contratos sociais só poderão funcionar se forem cumpridos por
todos os participantes. Segundo Archie B. Carrol (1) a "responsabilidade social das organizações
diz respeito às expectativas econômicas, legais, éticas e sociais que a sociedade espera que as
empresas atendam, num detrminado período de tempo". As ideologias de sucesso necessitam de
análise e comprometimento.
A conservação auditiva só será obtida quando a classe empresarial estiver consciente de
sua responsabilidade, que há muito deixou de ser medida apenas pelos seus resultados
operacionais e contábeis. A unidade econômica de produção que visa o lucro transformou-se no
mundo inteiro numa instituição que debate suas políticas, suas crenças e principalmente, faz
profunda autocrítica. "O que é que está errado?" é a pergunta que deve ser feita e respondida.

Conservação Auditiva e Qualidade Total.

O Brasil é, proporcionalmente, o campeão mundial de empresas certificadas com a ISO


9000, que confere ao produto e à toda atividade empresarial a qualificação de "Qualidade
Total". Essa entretanto, quanto a conservação auditiva, passou "a lo largo". Todo programa de
Qualidade Total quer elevar a moral do público interno, melhorar as relações trabalhistas,
aumentar o orgulho pela empresa e pelo trabalho, reduzir potenciais reclamatórias, propiciar
cumprimento da legislação, aumentar os níveis de produção e reduzir custos operacionais. Com
exceção dos dois últimos objetivos - talvez os primeiros e únicos desejados - as demais
proposições foram alcançadas na área do ruído ocupacional?
Na sua empresa as atividades relacionadas no Quadro 1, específicas para cada fase da
conservação auditiva, são realizadas? (2)
Sei que sua empresa não executou todas essas atividades. Mas penso que mais do nunca,
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e ainda está em tempo, devem ser adotadas medidas como as preconizadas pelos jogadores de
futebol quando explicam um resultado insatisfatório: "Hoje não deu certo, mas vamos trabalhar
durante toda a semana, o professor vai corrigir os defeitos e certamente no domingo
conseguiremos uma vitória para alegrar essa grande torcida".
A grande torcida não é apenas a empresa, pois ela não é a única cliente que deve ser
considerada. Talvez para administradores das empresas que contratam profisionais somente para
realizar testes audiométricos isso seja especialmente verdadeiro, Nesse caso, poderia ser
compreensível que administradores desinformados não soubessem o que é a conservação
auditiva, atribuindo ênfase desproporcional ao teste audiométrico, mas profissionais da área não
podem contentar-se apenas com o fornecimento do "papel audiométrico", que geralmente mais
traz problemas do que benefícios. Como podem não exigir outros aspectos como
acompanhamento sequencial das audiometrias, correlação estatística entre perdas auditivas e
setores críticos, entre perdas e EPIs inadequados? Como podem ignorar a necessidade de um
trabalho profissional voltado para a motivação, treinamento e escolha adequada para o uso do
EPI? Como podem comunicar doenças auditivas profissionais (emitir uma CAT) baseando-se
em testes espúrios, com perdas nem sempre causadas pelo ruído? Que trabalho desenvolvem
voltado para a conservação auditiva se nem sequer tem meios adequados para avaliar os
resultados de suas atividades?

Conservação Auditiva e as Ondas de Atividade.

A conservação auditiva vem se realizando nesses anos todos através de "ondas" e agora
estou convencido de que atingimos a terceira onda da conservação auditiva. Isso não significa
que todas as empresas estejam nesse estágio: algumas ainda estão na primeira onda.
Primeira onda.
Essa onda caracteriza-se pelo nada, sendo bem definida pelo Capítulo 1, versículo 2 do
Livro de Genesis: " E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo...".
Mesmo com uma legislação em vigor, nada é feito.
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Segunda onda:
Surgiu numa data variável para cada empresa entre 1978 e 1994, com a realização
errática dos testes audiométricos e a entrega inconsequente de EPIs aos empregados.
Predomina o culto da produção, no qual os encarregados dos setores detem todo o poder,
liberando ou não o empregado para realizar o teste conforme a urgência da entrega do pedido. A
autoridade da comunidade de segurança frequentemente inexiste, assim como tambem do
pessoal da área de recursos humanos. A responsabilidade de todos escalões é dirigida apenas
para a produção e não com segurança no trabalho. Exigências legais são entraves, geralmente
cumpridos parcialmente para "fazer de conta".
A mensuração do ruído foi integrada nas práticas e processos produtivos, mas realizada
de forma precária, apenas como mais um "documento" que é preciso contar; a sofisticação da
instrumentalização necessária para o mapeamento de níveis de ruído foi dispensada, já que o
destino das informações sobre áreas ruidosas é o arquivamento para futura implementação do
controle do ruído, implementação cuja cronologia nunca será esabelecida.
A audiometria, quando realizada, é encarada como se fosse a finalidade última do
processo de conservação auditiva, na suposição de que a execução do teste milagrosamente
protega a audição. O sonho dourado de toda empresa nessa onda é contar com uma cabina
audiométrica, um audiômetro sofisticado e uma fonoaudióloga treinada. "Já temos todo o
equipamento e estamos realizando nosso programa de conservação auditiva" dizem orgulhosos e
desinformados.
Quanto a entrega de EPIs aos empregados, a confiança exagerada no "CA" do
equipamento e a ausência de medidas de controle para o uso adequado ao meio e ao indivíduo
também são características dessa onda. A despeito do custo em recursos humanos e materiais
essa solução nunca se mostrou eficaz, tendo seus "benefícios" sido questionados pelos
empregados em ações trabalhistas e/ou ações cíveis indenizatórias. O término dessa fase deveu-
se a diversos fatores: mudança da NR-7, datada de 24 de dezembro de 1994, que criou a figura
do Médico Coordenador; aumento das reclamatórias cíveis por alegadas perdas auditivas
ocupacionais; estabilização da moeda em que os custos puderam ser bem avaliados;
globalização da economia onde competitividade e produtividade realmente têm consistência.
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Terceira onda:
Essa onda surge pelos mesmos fatores que determinaram o término da anterior mas
também com o advento das Normas Internacionais da Série ISO, quer sejam elas ligadas a
qualidade do produto (ISO 9000), a gestão de meio ambiente (ISO 14000) e recentemente com
a BS 8800 (ISO ?). O fenômeno da globalização dos mercados exige das organizações que a
qualidade dos produtos, a proteção ao meio ambiente ou a preservação da saúde dos empregados
deixem de ser ações realizadas apenas pelo temor da fiscalização ou uma exigência punida com
multas e sanções, passando a inscrever-se em um quadro de incertezas e/ou possibilidades, cujas
consequências podem significar ganhos na posição diante da concorrência, a permanência ou a
saída do mercado.
É nesse quadro que deve firmar-se o conceito de excelência empresarial, que avalia a
indústria não só por seu desempenho produtivo e econômico, mas também pela qualidade de
seus produtos, por sua performance em relação ao meio ambiente e principalmente pela saúde de
seus colaboradores internos.
Esta onda está começando e caracteriza-se pela necessidade de realmente implementar as
ações dirigidas para a conservação auditiva. Sua origem fundamenta-se na retrospectiva do que
foi executado nesses anos todos, onde se observa que não fizemos a coisa certa: empregados
continuaram a perder a audição, apesar do investimento material e pessoal dirigido para que isso
não acontecesse.
Nessa fase pode ser respondida a questão: O que estamos fazendo de errado e como
implementar correções ? A empresa moderna não deve continuar fechada em suas contradições e
prosseguir no culto da eficiência e da qualidade, se esses valores estiverem restritos apenas aos
produtos

Conservação auditiva e a BS 8800.

Atualmente surge uma excelente perspectiva de realmente implantar um Programa de


Conservação Auditiva (PCA) baseado na BS-8800. Essa constitui-se num guia para a
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Administração da Segurança e Saúde no Trabalho (AS&ST) que fornece abordagens para


proteger empregados e outros cujas condições de saúde e segurança possam ser afetados pelas
atividades da empresa. As diretrizes propostas são baseadas em princípios gerais de boa
administração e concebidas para facilitar a integração da AS&ST com todo o sistema de
administração. Muitos dos aspectos desse guia são idênticos às práticas dirigidas para a
qualidade total. Por isso as ações dirigidas para a AS&ST não interessam apenas às empresas
mas também a outros grupos: empregados, clientes, supridores, contratados, franqueados,
comunidade, seguradoras, orgãos de fiscalização.
Um bom desempenho na AS&ST não ocorre por acaso. As empresas deveriam dar a
mesma importância a esse aspecto como dão a outras atividades de seu negócio. Isso requer a
adoção de uma estrutura que identifique os riscos e avalie o trabalho a êles relacionado.
A implantação do PCA depende do grau de conscientização da questão social "ruído"
dentro da empresa. Assim, as respostas da indústria ao novo desafio ocorrem nas tres ondas
citadas: a maioria das organizações perfilam-se na primeira e na segunda onda e apenas uma
minoria na já amadurecida terceira.
Os elementos da AS&ST, mostrados no Quadro 2, são:

1. REVISÃO DA SITUAÇÃO INICIAL.

É preciso considerar os aspectos existentes. A revisão deveria ser executada para


providenciar informações que pudessem influenciar decisões quanto ao objetivo, adequação e
implementação do sistema corrente, bem como fornecer condições para que o progresso possa
ser mensurado. Essa atividade deve responder a questão: Onde estamos agora?
A revisão deveria comparar os aspectos existentes com:
a) exigências da legislação referente a AS&ST;
b) existência de diretrizes na AS&ST na organização;
c) melhores práticas e desempenhos no setor operacional;
d) eficiência e efetividade dos recursos existentes destinados a AS&ST.

2. MÉTODOS.
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A alta administração deveria definir, documentar e autorizar seus métodos de AS&ST. A


administração deveria assegurar que os métodos incluam compromisso com:
a) reconhecer a AS&ST como parte integral do desempenho de suas atividades;
b) alcance de alto nível de desempenho da AS&ST, que implique no cumprimento das
disposições legais como um mínimo e prossiga com melhoras efetivas;
c) oferta de adequados e apropriados recursos para implementar os métodos;
d) colocar a AS&ST como uma responsabilidade importante, desde o mais alto executivo até o
nível de supervisores;
e) assegurar o entendimento, implementação e manutenção em todos níveis da organização;
f) envolver o empregado para obter aceitação dos métodos e sua implementação;
g) revisões periódicas dos métodos, do sistema de administração e auditoria para cumprimento
dos métodos;
h) assegurar que os empregados em todos os níveis recebam apropriado treinamento e estejam
capacitados para desempenhar suas funções com responsabilidade.

3. PLANEJAMENTO.

É importante para o sucesso que a atividade planejada possa ser bem estabelecida. Isso
envolve a identificação das necessidades da AS&ST, definindo claros critérios de desempenho
que devem ser executados, quem são os responsáveis, quando devem ser realizadas as tarefas
propostas e qual o retorno esperado. Enquanto na prática, a organização, planejamento e
implementação funcionam de forma superpostas, a empresa deveria proceder uma completa
avaliação dos riscos, com os seguintes objetivos:.
- Estabelecer as bases aqui expressas de acordo com suas próprias necessidades,
considerando a natureza de seu trabalho e a severidade e complexidade de seus riscos.

A avaliação dos riscos envolve tres etapas básicas:


a) Identificação das origens do dano potencial;
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b) Estimar o risco de cada uma dessas origens - a possibilidade e a severidade de cada


dano;
c) Decidir se o risco é tolerável.

Os empregadores estão legalmente obrigados a avaliar o risco. O principal propósito é


determinar se os controles existentes são adequados. A intenção é de que os riscos devam ser
controlados antes de que o dano possa ocorrer.
Atualmente, é reconhecido que a avaliação dos riscos é a base da AS&ST e que
procedimentos sistemáticos são necessários para assegurar o sucesso.

4. IMPLEMENTAÇÃO E OPERAÇÃO.

A responsabilidade final das AS&ST é da alta administração. Em todos os níveis da


organização, as pessoas necessitam ser:

a) responsáveis pela saúde e segurança por eles mesmos e daqueles que comandam;
b) conscientes de suas responsabilidades pela saúde e segurança das pessoas que possam
ser afetados pelas atividades que controlam;
c) conscientes da influência que sua ação ou omissão possa ter na efetividade das
AS&ST.

Os seguintes aspectos também são importantes:


a) Treinamento, conscientização e competência.
b) Comunicação:
A empresa necessita estabelecer e manter uma planificação para:
- a efetiva e aberta comunicação das informações das AS&ST;
- contar com consultores especializados nessa área;
- envolver os empregados nas AS&ST.
c) Documentação das AS&ST.
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A documentação é um elemento importante para capacitar a empresa em


implementar uma adequada AS&ST. É também importante para coletar e manter todas as
informações que possibilitem o conhecimento da AS&ST.
d) Controle operacional.
É importante que a AS&ST esteja completamente integrada através da
organização e em todas suas atividades, qualquer que seja seu tamanho e natureza de seu
trabalho. Para isso a empresa deveria planificar para:
- definir o estabelecimento de responsabilidades na estrutura administrativa;
- assegurar que as pessoas tenham a necessária
autoridade para conduzir suas responsabilidades;
- providenciar adequados recursos compatíveis com seu tamanho e
natureza.

5. INSPEÇÕES E AÇOES CORRETIVAS.

Mensuração do desempenho é o caminho correto para fornecer informações, sobre a


efetividade da AS&ST. Tanto medidas quantitativas como qualitativas devem ser consideradas
como apropriadas. Elas mostrarão que os objetivos estão sendo alcançados e incluem:
- medidas proativas de desempenho que monitorem o cumprimento das ações planejadas;
- medidas reativas de desempenho que monitorem os acidentes, incidentes e outras
evidencias históricas de deficiencia nas AS&ST.

Quando as deficiências forem observadas, a origem das causas deveria ser identificada e
as ações corretivas tomadas.

Em adição as monitorizações de rotina do desempenho da AS&ST, há a necessidade de


auditorias periódicas que proporcionem uma profunda e crítica avaliação de todos os elementos
da AS&ST. Essa auditoria deveria responder as seguintes questões:
a) está toda a organização capaz de alcançar os padrões necessários para o desempenho
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da AS&ST ?
b) está toda a organização cumprindo com todas suas obrigações com respeito a
AS&ST ?
c) quais são os pontos fortes e quais as deficiências da AS&ST ?

6. REVISÃO ADMINISTRATIVA

A empresa deveria definir a frequência e o objetivo das revisões periódicas das AS&ST,
conforme suas necessidades. Essas revisões deveriam considerar:

a) todo o desempenho da AS&ST;


b) o desempenho de elementos individuais no sistema;
c) os achados da auditoria;
d) fatores internos e externos, como alterações na estrutura da organização, legislacão,
introdução de nova tecnologia, etc.
Tambem é ncessário identificar que ações são necessárias para corrigir toda a deficiência.

CONCLUSÃO

Os elementos do PCA podem prevenir a perda auditiva num expressivo número de


indivíduos. Onde falhamos é em não atribuir importância a natureza sinérgica dos fatores
constituintes do programa.
As avaliações dos níveis de ruído são realizadas através de inadequada
instrumentalização e não são utilizadas para implementar medidas de proteção coletiva, nem
para estabelecer correlações com perdas auditivas e auxiliar na escolha de EPIs adequados ao
meio; os audiogramas são realizados uma vez ao ano por prestadores de serviço que oferecem o
menor custo e não são avaliados sequencialmente, não sendo as perdas auditivas analisadas para
detectar o porque; os EPIs são distribuidos aos empregados e utilizados (?) quando são
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confortáveis, não ocorrendo qualquer tentativa de motivação ou treinamento, e nem sendo


escolhidos adequadamente de forma individual, além de que os empregados com perdas não tem
sua proteção revisada; perdas auditivas são sempre atribuidas ao ruído, desconsiderando-se a
nosoacusia, socioacusia, presbiacusia e fatores de risco.
As ações isoladas atualmente adotadas por grande número de empresas não integram
todos os elementos essenciais do programa. Administradores de empresas mantem um
distanciamento dos aspectos ligados à saúde e segurança, que seriam "atividades dos médicos e
engenheiros". Muitos até sabem que associar saúde e segurança às suas operações diárias pode
resolver alguns dos seus problemas, mas quase nunca têm motivação adequada para fazê-lo.
Com isso, mantem um falso clima de controle a respeito de seus "programas de conservação
auditiva".
Vivemos sob a égide dos Sistemas de Gestão: da Qualidade, Ambiental e da Segurança e
Saúde no Trabalho. Da BS 5750, de 1979, originou-se em 1987 a ISO 9000, que define a gestão
da Qualidade. A BS 7750, de 1992, foi a base da ISO 14000, datada de 1995, que disciplina a
Gestão Ambiental. Da BS 8800 de 1996, possívelmente, originar-se-á a ISO 18000, que terá por
objetivo a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, como parte integrante da cultura
organizacional das empresas. Essa última fornece um excelente guia de como implantar e
manter adequada Administração da Segurança e Saúde no Trabalho (AS&ST). Por sua vez, o
PCA é constituido por elementos que combinam perfeitamente com as proposições da BS 8800.
A BS 5750 levou 18 anos para transformar-se na ISO 9000; a BS 7750 apenas 4 anos
para levar à ISO 14000; quanto tempo demorará a BS 8800 para chegar à ISO 18000? Mesmo
que venha ela ou não a ser incorporada a ISO-14000 ou a transformar-se em uma nova "ISO",
constitui-se inegavelmente num modelo de boa prática da AS&ST.
Através dela as organizações passarão a integrar os controles de qualidade, ambiental e
da segurança e saúde ocupacional em sua gestão administrativa, projetando-os nas mais altas
esferas de decisão. Atender ao presente e gerar respostas setoriais e estanques passou a não ser
suficiente; olhar o futuro, horizontalizar a análise e planejar corporativamente é o caminho
natural.
Finalmente, é importante ressaltar a grande responsabilidade do pessoal que integra a
comunidade de segurança na alteração do atual processo pelo qual as empresas administram as
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ações de saúde e segurança no trabalho. Precisamos insistir na implantação de medidas


profissionais para prevenir a perda auditiva e auxiliar as empresas em alcançar esse objetivo,
implantando na comunidade industrial a cultura de segurança, finalidade maior da nossa
atividade prevencionista.

Bibliografia:

1. Carrol, A.B. In "Gestão ambiental na empresa", de Denis Donaire, pg. 22. Ed. Atlas, 1995.

2. A Practical guide to effective hearing conservation programs in the workplace. US


Department of Health and Human Services, NIOSH. Ed. por Suter AH & Franks JR, 1990.

Agradecimento: O autor agradece ao Eng. Paulo Costa Ebbesen pela valiosa contribuição em
tópicos significativos.

QUADRO 1

1. Quanto a monitorização dos níveis de ruído:

1 - O essencial para monitorar os níveis de ruído foi feito?


2 - O propósito de cada medição foi claramente estabelecido?
3 - A instrumentalização foi adequada, pela utilização do medidor de nível de pressão
sonora por banda de frequência e do audio-dosímetro?
4 - Os empregados expostos ao ruído foram notificados desta exposição e informados dos
riscos auditivos?
5 - Foram os resultados rotineiramente transmitidos aos executores da conservação
auditiva?
6 - Foram os resultados colocados com destaque nas áreas críticas?
7 - Ocorreram alterações nas áreas, equipamentos ou processos que possam ter alterado os
níveis de ruido?
8 - Foram tomadas medidas para incluir na conservação auditiva empregados expostos
nestas áreas em que se alteraram os níveis de ruído?
2. Quanto as medidas de controle de engenharia e administrativas:

1 - As medidas de controle foram priorizadas?


2 - Estão os empregados e supervisores informados das medidas de controle?
3 - Existem recursos próprios ou serão necessários recursos externos para executar os
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trabalhos?
4 - Foram os operários e os supervisores consultados na operação e manutenção das
medidas?
5 - Todas as possíveis medidas administrativas foram tomadas?
6 - Ocorreram alterações nos regulamentos federais? Os procedimentos adotados na
empresa foram modificados para adequar-se à estas alterações?
7 - Existem equipamentos de segurança disponíveis, ou êles podem ser adquiridos em
curto espaço de tempo?
8 - O desempenho do pessoal que executa a conservação auditiva é avaliado
periodicamente? Se êste desempenho é menos que aceitável, são tomadas medidas
corretivas?
3. Quanto as medidas de controle dos testes audiométricos:

1 - O audiômetro utilizado é calibrado ao menos anualmente?


2 - O nível de ruído presente na cabine audiométrica permite a obtenção de testes
confiáveis?
3 - A pessoa que efetua os testes audiométricos está adequadamente treinada? Ela obtem
testes confiáveis? Instrue os empregados efetivamente? Existe fonoaudiólogo ou médico
responsável pelos testes?
4 - Estão os limiares auditivos razoavelmente consistentes de teste para teste? Se não, as
razões para a inconsistência foram investigadas prontamente?
5 - São os testes audiométricos comparados com os anteriores para identificar alterações
de limiares?
6 - Os empregados que mostram alteração nos limiares são encaminhados à reteste?
- Os resultados dos testes são informados aos empregadores e aos empregados?
7 - São tomadas ações corretivas quando os testes mostram piora dos limiares auditivos?
- Os empregados que necessitam de avaliação complementar com
8 otorrinolaringologista, são encaminhados?

4. Quanto as medidas de controle dos EPIs:

1 - Os EPIs estão disponíveis a todos empregados que trabalham em níveis de ruído igual
ou superior à 80 dB, em qualquer escala?
2 - A empresa dispõe de uma variedade de EPIs para que os empregados tenham
possibilidade de escolha?
3 - Os empregados usam o EPI cuidadosamente, atendendo à atenuação e ao confôrto?
- Se os empregados usam EPIs que necessitam de reposição com grande periodicidade,
4 esta substituição se processa com facilidades?
- Algum empregado é incapaz, por razões médicas, de usar algum tipo de EPI?
5 - Algum empregado desenvolve acúmulo de cerumen no conduto auditivo externo ou
refere otite externa? Estas condições são tratadas rapidamente?
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6 - Os empregados que apresentam alteração dos limiares auditivos tem revisados os EPIs
que utilizam?
7 - As pessoas que supervisionam o uso dos EPIs são competentes para administrar os
muitos problemas que podem ocorrer?
8 - Os empregados referem que os EPIs interferem com a capacidade de executar seu
trabalho, dificultando ouvir instruções ou sinais de alerta? Se isto acontece, são tomadas
9 atitudes imediatas para corrigir o problema?
- Os empregados são incentivados à levar seus EPIs para casa, se forem executar
alguma atividade com ruido não-ocupacional?
10 - Novos tipos de EPIs são avaliados?

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5. Quanto as medidas de controle da motivação, treinamento e educação:

1 - Os empregados estão suficiente motivados para o uso?


2 - Os conteúdos dos programas de educação e motivação são acessíveis e de interesse
dos empregados?
3 - Êstes conteúdos renovam-se anualmente?
4 - As pessoas que conduzem as sessões de educação e motivação estão capacitadas? São
bem recebidas pelos grupos?
5 - Os empregadores e supervisores estão diretamente envolvidos nestes processos?
- Os empregados recebem treinamento para o uso, não só no ínicio mas ao menos uma
6 vêz por ano?
- As pessoas que executam este treinamento são qualificadas?
7 - Cada programa de treinamento é avaliado?
8 - Aos supervisores e chefes de setor foram dadas informações adequadas, bem como
9 atribuidas responsabilidades específicas, para supervisionar o uso adequado e os
cuidados com os EPIs por parte de seus subordinados?
- Os próprios supervisores e chefes de setor usam EPIs nas suas respectivas áreas?
10 - Filmes, cartazes e folhetos são usados como reforços pedagógicos?
- São tomadas enérgicas ações disciplinares quando os empregados repetidamente
11 recusam-se a usar os EPIs?
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6. Quanto as medidas de controle da conservação das informações:

1 - Todas as informações sôbre a conservação auditiva são adequadamente arquivadas?


- Qualquer dado à respeito de um empregado pode ser rápida e adequadamente
2 acessado?
- Os dados atendem a ética das informações médicas?
3 - As informações são acessíveis aos empregados?
4 - As informações são suficientes para proporcionar a empresa um respaldo legal?
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7. Quanto a auditoria da atividade de conservação auditiva:

1 - Existem mensurações do desempenho das atividades de conservação auditiva?


- Essas mensurações são quantitativas e qualitativas?
2 - Elas mostram que os objetivos estão sendo alcançados ?
3 - As medidas proativas de desempenho monitoram o cumprimento das ações
4 planejadas ?
- As medidas reativas de desempenho monitoram os agravamentos auditivos, a
5 incidência da patologia e outras evidencias históricas de deficiencia nas ações de
conservação auditiva?
- Está toda a organização capaz de alcançar os padrões necessários para o desempenho
6 da conservação auditiva?
- Está toda a organização cumprindo com todas suas obrigações com respeito a
7 conservação auditiva?
- O desempenho de elementos individuais no sistema está sendo deficiente ?
8 - Quais são os pontos fortes e quais as deficiências da conservação auditiva?
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