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Ldia11 Teste 1 Sermao Matriz Resolucao
Ldia11 Teste 1 Sermao Matriz Resolucao
º ano
Grupo I
Parte A
Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.
Nesta viagem, de que fiz menção, e em todas as que passei a Linha Equinocial, vi debaixo dela
o que muitas vezes tinha visto e notado nos homens, e me admirou que se houvesse estendido
esta ronha, e pegado também aos peixes. Pegadores se chamam estes, de que agora falo, e com
grande propriedade, porque sendo pequenos, não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte
5 se lhes pegam aos costados que jamais os desaferram. De alguns animais de menos força e
indústria1 se conta que vão seguindo de longe aos Leões na caça, para se sustentarem do que a
eles sobeja.
O mesmo fazem estes Pegadores, tão seguros ao perto, como aqueles ao longe; porque o peixe
grande não pode dobrar a cabeça, nem voltar a boca sobre os que traz às costas, e assim lhes
10 sustenta o peso, e mais a fome. Este modo de vida, mais astuto que generoso, se acaso se passou,
e pegou de um elemento a outro, sem dúvida que o aprenderam os peixes do alto depois que os
nossos Portugueses o navegaram; porque não parte Vizo-Rei 2 ou Governador para as Conquistas
que não vá rodeado de Pegadores, os quais se arrimam 3 a eles, para que cá lhes matem a fome, de
que lá não tinham remédio. Os menos ignorantes, desenganados da experiência, despegam-se, e
15 buscam a vida por outra via; mas os que se deixam estar pegados à mercê e fortuna dos maiores
vem-lhes a suceder no fim o que aos Pegadores do mar.
Rodeia a Nau o Tubarão nas calmarias da Linha com os seus Pegadores às costas, tão
cerzidos4 com a pele que mais parecem remendos ou manchas naturais que os hóspedes, ou
companheiros. Lançam-lhe um anzol de cadeia com a ração de quatro Soldados, arremessa-se
20 furiosamente à presa, engole tudo de um bocado, e fica preso. Corre meia companha 5 a alá-lo
acima, bate fortemente o convés com os últimos arrancos, enfim, morre o Tubarão, e morrem com
ele os Pegadores. [...]
Considerai, Pegadores vivos, como morreram os outros, que se pegaram àquele peixe grande,
e porquê. O Tubarão morreu porque comeu, e eles morreram pelo que não comeram. Pode haver
maior ignorância, que morrer pela fome, e boca alheia? Que morra o Tubarão porque comeu, matou-o
a sua gula; mas que morra o Pegador pelo que não comeu: é a maior desgraça que se pode imaginar!
VIEIRA, Padre António, 2014. «Sermão de Santo António». In Obra Completa
(Direção de José Eduardo Franco e Pedro Calafate). Tomo II. Volume X (Sermões Hagiográficos I).
Lisboa: Círculo de Leitores (pp. 157-159)
1. «O mesmo fazem estes Pegadores, tão seguros ao perto, como aqueles ao longe» (l. 7).
Justifica a perspetiva de Vieira, salientando o contributo do «peixe grande» (l. 7) para o
comportamento dos Pegadores censurado pelo pregador.
2. Relaciona o valor da apóstrofe presente no último parágrafo com a advertência produzida nesse
momento do texto.
3. Interpreta a interrogação retórica das linhas 22-23, considerando a intenção crítica do pregador no
último parágrafo.
Parte B
Lê o excerto da cantiga de Martim Moxa. Se necessário, consulta as notas.
Martim Moxa, in LOPES, Graca Videira (ed. coord.), 2016. Cantigas medievais galego-
-portuguesas. Corpus integral profano – Vol. 2. Lisboa: Biblioteca Nacional, Instituto de
Estudos Medievais e Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (p. 94)
Parte C
7. Escreve uma breve exposição sobre a intenção persuasiva do Sermão de Santo António (aos
peixes), de Padre António Vieira.
A tua exposição deve incluir:
– uma introdução ao tema;
– um desenvolvimento no qual explicites a intenção persuasiva do sermão e identifiques dois
recursos que a concretizam no discurso;
– uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
Grupo II
Lê os excertos do discurso de Mia Couto, na cerimónia de atribuição do título «Doutor Honoris Causa»
pela Universidade Politécnica de Maputo.
Caros amigos,
Irei falar sobre a erosão dos valores morais e de como pode um escritor ajudar na
reabilitação do tecido moral da sociedade.
Escolhi este tema porque não conheço ninguém que não se lamente da perda de valores
5 morais. Este é um assunto sobre o qual temos um imediato consenso nacional. Todos estão
de acordo, mesmo os que nunca tiveram nenhum valor moral. E até os que tiram vantagem
da imoralidade, até esses, depois de lucrarem com a ausência de regras, se queixam de que
é preciso travar a falta de decoro.
Um dos caminhos que nos pode ajudar a resgatar essa moral perdida pode ser o da
10 literatura. Refiro-me à literatura como a arte de contar e escutar histórias. Falo por mim: as
grandes lições de ética que aprendi vieram vestidas de histórias, de lendas, de fábulas. Não
estou aqui a inventar coisa nenhuma. Este é o mecanismo mais eficiente e mais antigo de
reprodução da moralidade. Em todos os continentes, em todas as gerações, os mais velhos
inventaram narrativas para encantar os mais novos. E por via desse encantamento
15 passavam não apenas sabedoria, mas uma ideia de decoro, de decência, de respeito e de
generosidade. [...]
Caros amigos,
Um dia destes, um jovem funcionário propôs-me o pagamento de um suborno para
emitir um documento. Aquilo não correu bem porque ele, num certo momento,
reconheceu-me e recuou nos seus propósitos.
COUTO, Mia, 2015. «Aula de Mia Couto durante a cerimónia Doutor Honoris Causa».
Jornal de Maputo, 22 de setembro de 2015. https://www.folhademaputo.co.mz/pt/noticias/nacional/aula-
de-mia-couto-durante-a-cerimonia-doutor-honoris-causa-completa/ (Consult. 2022-03-22)
4. No início do parágrafo das linhas 27 a 33, a repetição de «que vale a pena» contribui para
(A) salientar o valor do trabalho individual.
(B) criticar a obsessão atual pelo enriquecimento.
(C) denunciar a corrupção associada ao mercado de trabalho.
(D) censurar formas de estar na vida moralmente reprováveis.
5. Na passagem «Pois eu acho mais preocupante ainda que os nossos jovens cresçam sem
referências morais.» (ll. 35-36) estão presentes deíticos
(A) pessoais e temporais.
(B) pessoais e espaciais.
(C) temporais e espaciais.
(D) temporais, pessoais e espaciais.
7. Classifica a oração subordinada «que a honestidade vale a pena» (l. 24) e refere a função sintática
que desempenha.
Grupo III
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras, faz a apreciação crítica do cartoon abaixo apresentado, da autoria de Amin Famil
Baghestani.
O teu texto deve incluir:
– a descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua composição;
– um comentário crítico, fundamentando devidamente a tua apreciação e utilizando um discurso
valorativo;
– uma conclusão adequada aos pontos de vista desenvolvidos.
BAGHESTANI, Amin Famil (Irão), 2012. Escravo. In XIV Porto Cartoon World Festival.
Porto: Museu Nacional da Imprensa (p. 216)
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2022/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
Cotações
Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I 104
16 16 16 8 16 16 16
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 56
8 8 8 8 8 8 8
III Item único 40
TOTAL 200
7. 8 pontos