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s7in012023, 20:34 PDFs viewer FALSA IDENTIDADE E USO DE DOCUMENTO FALSO COMO EXERCICIOS DE AUTODEFESA - ANALISE JURISPRUDENCIAL! Aline Aparecida de Miranda ‘Aluna regularmente matriculada no SAD, sob o RA n° 14504. Monitora de Direito Processual Penal, sob a supervisio do professor doutor Roberto Ferrcira Archanjo da Silva Resumo: Em que pese serem criminalizados o uso de documento falso ca alsa identi do Cédigo Penal, Tribunais Pitrios tém decidido pela atipi nos artigos 304 e 307, respectivamente, dda conduta, ainda que se amolde a algum desses tipos penais, na hipétese de o agente encontrar-se em condigéo de foragido do sis ‘ema prisional. Dentre outros argumentos, &reconhecido princi- ppalmente que, em tal cicunstincia peculiar, o autor do fito estaria cexercendo sex dircto 3 autodefesa, Por outto lado, nioé pacifca a adogio desse entendimento na juisprudéncia, ha do em érgios jugadores acé mesmo divergéncia interna quanto ao tema. Visa diver: do a uma anilise nacional ampla, com o escopo de afi sidade de posicionamencos adotados pelo Pode Judictiro, foram uutilizadas como fonte da pesquisa decisesrecentes proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, pelo Superior Tribunal de Jusiga, bem ‘como pelos Tribunais de Justica dos Estados. Palavras-chave: alsa identidade; uso de documento falso; autode- fesa;atipicidade; tipickdade. 7 ‘Artigp xposto no Tl Congreso Jrilio-Cienlc, promovido pela Facldade de Dir de Sto Bernardo do Campo on 2011 hitpssrevistas dieitosbe briindex.php/CIClartcleview113173 ane s7in012023, 20:34 10 PDFs viewer Cadernos de Iniciagato Cientifica 9 INTRODUGAO Paucado em julgamentos proferides por 70043245406, Relator Derembargador ‘Marcelo Bandeta Feces, Quarta Cimara Criminal, juleado as 15 de stembro de 2011). 5 Documento Ako. Uso. Autodefes, O wo de documento flo para econdet a vedadcra ‘ended cv com o objetivo de acuaramecedn tes ciminas,€ também o ito de ter mandado de Piso conte seuado, configura ctticio de suto- defo e fasta esponsibilagio do agent. por a Dida de conducs. (T)RO, Apelgio 1001357 55.2009 822.0014, Relaora Dexembargadors Zlte Ana Carico, julgado aos 15 de abil de 2010). hitpssrevistas dieitosbe briindex.php/CIClartcleview113173 Depreende-se, assim, que hi uma plus ude de drglos do Poder Judicidrio que, diante de um cenério expecifico, decidem, ‘em regra pela atipicidade da conduta de uso de documento falso ou de idencidade falsa, sendo imprescindfvel para tanto, porém, que ‘o agente figure-se come foragido, Ressalva-se, todavia, que muito embora alguns tribunais tenham decidido de forma hhomogénea, como o Tribunal de Justia do Rio Grande do SuP, outros s40 datados in- clusive de divergéncia interna quando dos julgamentos. Cie-se, nessa situagio, © Supe- rior Tribunal de Justia, cuja Seata Turma™, certa vez, julgou de forma diversa da Quinta Turma", tendo somente esta reconhecido & axipicidade da cond. ‘A mesma divengéncia se opera também perante o Tribunal de Justiga do Estado de Sio Paulo, haja vista que, muito embora ji tena decidido pel atipicidade, conforme demonstrado alhures", em outras oporta- tnidades restou por condenar 6 ru, reconhe- cendo a tipicidade, independentemente das condiges em que ee se encontrava”, 2. DATIPICIDADE DA CONDUTA Em que pese a numerosa argumentagio a fim de sustentar a atipicidade do uso de 5 “Apalages Ceiminas we 70043245406, 70035193184, 70081346594, 1 Habeas Corpus w 205.666, julgado 208 23 de agosto de 2011. " ‘Agave tcrno no Recuso Especial 1.154.821, jolgado aoe 22 de mao de 2011, 12 ———_Apeagso Crna ne 99009, 1412244 8 ‘Apcagto Criminal we 0003969- 28,2009.8.26 0642, ma s7in012023, 20:34 16 PDFs viewer Cadernos de Iniciagio Cientifica 9 3B Eee ide, sendo ‘agente foragido, esse entendimento, embo- 12 acolhido por diversos érgios julgadores, como demonstrada, & nadmitide por outros. documento false da fal ide ‘Com respeito tori da aeipiidade,en- tendem que, como exercicio de autodefss, poeta o rf mente sobre o ito em do impatido, contudo, de falsar a verdade sobre 2 sun veradcia identidade. £ que, des forma, ele arena conta af plea eo interes comum. Haveria, portato, uma relativizagio no exercicio da autodefesa, en- contrando como reo regular andamento da persecugio penal A respeito do dircivo 20 siléncio, assim apontam Marco Antonio Marques da Silva Jayme Walmer de Freitas (2012, p. 315): Entdo, @ réu pode mentir? Sim, no thd qualquer sangio, de nacureza ma- terial ou processual, Mas, no caso de auroacusagio falsa, responderi pelo crime prescito no art. 341 do Cé- digo Penal. Mais. A mentira quanto A sua Klentificagio pessoal resulta no crime de falsa identidade (CP, at. 307). Sey maldosamente, imputar pritica de crime & pessoa inocente, ‘esta poderi responder pelo crime de denuneiagio caluniosa (CR art. 339). ‘Desa forma, seria inaceitivel que o agente cometesse um crime perfeitamente tpificado com 0 fito de se defender ou se resguardar, sendo mister a admissio da ilciude do ato, cem virtade de estar configurada a adequasio centre a conduta ea Figura tipiea concernente hitpssrevistas dieitosbe briindex.php/CIClartcleview113173 Adepto constance da corremte que tejeita a conduta em anilise como exerccio de auto defeea é 0 Supremo Tribunal Federal. De for~ ‘ma habitual, tem rejetado as teses defensivas que se pautam na atipicidade da conduta, condenando 0 acusado is penas cominadas no artigo 304, do Cédigo Penal. Todavia, excepcionalmente resalia que, a0 conttitio do que ocorre no uso de documento falso, cm determinadas circunstineias fala iden~ tidade, prevista no artigo 307, do mesmo Codigo, pode ser clasificada como condua atipica, pois nesta no ha apresentagio de do- ‘cumento, mas apenas 2 alegagao fasa quanto identificagio pelo agente HABEAS CORPUS, DIREITO PE- NAL. AGENTE QUE SE UTILI- ZA DE DOCUMENTO FALSO PARA OCULTAR SUA CONDI- ‘GAO DE FORAGIDO. CONDU- ‘TA QUE SE AMOLDA AO DE- LITO DESCRITO NO ART. 304 DO CP ORDEM DENEGADA 1. A wiiiragio de documento faso para ocular a condigio de foragido do agente nfo descaracterica © del- to de wo de documento fas (art 304 do CP), 2. Nio se confunde ‘uso de documento falso com o crime de als identidade (art 307 do CP), posto que neste io hd apresentagio de qualquer documento, mas to sa alegaciofilia quarto & identidade, 3. © principio da autodefesa rem sido aplicado nos casos de erime de fsa identidad, em que oindiciado iden ana s7in012023, 20:34 PDFs viewer Falsa identidade e uso de documento falso como exercicios de autodetesa - analisejurisprudencial uv tifca-se como outra pessoa perante a auroridade policial para ocular sua ccondigio de condenado ou foragi- do, 4. Writ denegado. (STR, Habeas Corpus n° 103314-MS, Relatora Mi- nistra Ellen Gracie, Segunda Tun julgado a0s 24 de maio de 2011). Por outro lado, evidenciando-se diver- bres proferidos pela Suprema Corte que negam a atipicidade ida em se tratando da conduea prevista no ico de fala identidade: igéncia interna, hi AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINA- RIO. CONSTITUCIONAL E PENAL. ATRIBUIGAO DE FAL- SA IDENTIDADE PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL COM © FITO DE OCULTAR MAUS ANTECEDENTES. CONDUTA ‘TIPICA NAO AFASTADA PELO EXERCICIO DA AUTODEFESA (ARTIGO 5°, XII, DA CONS- TETUIGAO FEDERAL). AGRAVO REGIMENTAL NO. RECURSO EXTRAORDINARIO DESPRO- VIDO. 1, Avibuir-se filsn ident dade com 0 fito de acobertar maus ancecedentes perante a autoridade ppolical consubstancia fato tipico, porquanto no encontra amparo na ara 5 prevista no artigo 5°, LXII, da Constituigio Federal. 2. Precedentes: RE 561.704-AgR, Rel. Min, Rica constitucional de autodefe- hitpssrevistas dieitosbe briindex.php/CIClartcleview113173 do Lewandowski, 14 Turma, DJe de 02/04/2009; HC 92.763, Rel. Min. Eros Grau, 2* Turma, DJe de 24104/2008; HC 73.161, Rel. Min. Sydney Sanches, 14 ‘Turma, DJ de 03/09/1996; HC 72.377, Rel. Min Carlos Velloso, 2° Turma, DJ de 30/06/1995. 3. Agravo Regimental desprovido. (STF, Agravo Regimen- tal no Recurso Extraordindrio ne (639.732, Relator Minisero Luiz Fux, Primeira Turma, julgado aos 25 de agosto de 2011), © Superior Tribunal de Justga, por sua vex, ressalte-se,j4 decidiu tanto pela atipic dade, de forma mais constante, quanto pela tipicidade, ainda que em menor frequéncia, adotando o entendimento de que, mesmo na condigio de foragido, seria inaplicivel 2 teo- ria da autodefess ry HABEAS CORPUS. USO DE DO- CUMENTO FAISO - ART, 301 DO CODIGO PENAL. NAO-APRESENTACAO_ AOS. AGEN. TES POLICIAIS, INCURSAO NO CONTEXTO EATICO-PROBATORIO DOS AUTOS, IMPOS- SIBILIDADE. AUTODEFESA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. IMPOSSIBILIDADE. INCOM. PETENCIA DA JUSTICA FEDFRAL, QUESTA PREJUDICADA. ORDEM DENEGADA. 1, A apresenasso ou io, de documentos fils ao age tes polis €ctcusticla que no pode se ei pois demand incusio no acer fcc probate thos autos, media inivel em sd de abr corp 2 Auta de documento fo pata camer a ‘ondigio de foragido nio descaracerica dali de two de documento iso - a. 304 do CP Iaplciel ets reuntincas arse deadliest, ex i _agto restringese 30 dl preito no at. 307 do ‘Cidigo Pena: Pecedentcs do STE 3 Incompetincia db Jusiga Feel Questo prejadicns, 4. Order pcialmente conhecdne, net exten, denega ana s7in012023, 20:34 18 PDFs viewer Cadernos de Iniciagéo Ciemifica 9 8 EEEOes= Julgamentos distintos a espeito também jf foram proferidos pelo Tribunal de Justiga, do Estado de Sio Paulo, que manteve a con- denagio de réu que se encontrava nas mesmas ircunstincias de outro que fora absolvido, posicionando-se no sentido de que falsear a verdade no se confundiria com o direiro de _mentir, ou sea, de permanecer calado ou de no produsir provas contra si mesmo". Denire os Tiibunais Estaduais que deci- ‘dem habitualmente pela des dos julgamentos realizados pelo Supremo “Tebual Federal, destaca-s o Tribunal de Jus- tiga do Estado de Santa Catarina, que profere Aecisio condenatéxia mesmo que exista man- dade, nos mol- dado de prisio expedido conten o séu"™ (Habeas Corps © 208.666, Rear Miso Vasco Dall Gist, Sexta Tuma judo 20523 de po rode 2011). 15 APELAGAO- FALSA IDENTIDADE - AUTODEFESA - ATIPICIDADE -Inpesibilida te: lsat a verdade sobre sa Wdentidade € condita tiple, antjriica€ nose confunde com 0 dicio {de meni para se defender Recuso nio provide, (TISE. Apslagio Criminal? 0003969-28.2009, Relator Desernbargador J. Mains, Décima Quit (Camara de Dice Ctisinal, ldo 20s 22 de - rembro de 2011) 16 APELAGAO CRIMINAL. USO DE DOCUMENTO FALSO (ART. 304 DO CODI GO PENAL). RECURSO DA DEFESA. PLETTO [ABSOLUTORIO POR ATIPICIDADE DA CON: DUTA, AGENTE QUE, AO SER ABORDADO POR FOLICIAIS, APRESENTA DOCUMENTOS FALSOS (CARTEIRA DE IDENTIDADE, CNH E CPR), COM INTUITO DE SE EXIMIR DO CUMPRIMENTO DE MANDADO DE PRISAO CONTRA SL EXPEDIDO. ABSOLVICAO IN- VIAVEL. TESTIGOS POLICIAIS UNISSONOS. EM ATESTAR A. ERETIVA UTILIZAGAO DA DOCUMENTACAO PELOREU, ALEGAGAO DE. AUTODEFESA. - INADMISSIBILIDADE CRIME. CARACTERIZADO. HIROTESE QUE NAO CONFIGURA A EXCLUDENTE. CON: hitpssrevistas dieitosbe briindex.php/CIClartcleview113173 Alerese, desse modo, que hd érgios jul sgadores que negam a teoria da atpicidade da conduta, pautando-e na sua previsio em nor- 1a penal ineriminadora sendo o Supremo Tii- ‘buna Federal a maior referéncia desta negativa CONCLUSAO notivel a desarmonia existente entre os julgamentos referents is condutas de uso de documento falso € de atibuigio a si mesmo de fala identidade, quando for © agemte fo- ragido do sistema carceririo. Salvo excegies, parte significativa dos ‘Teibunais Esraduais vem decidido pela ai picidade, reconhecendo watarse, em tais circunstincias, de exercicio de autodefesa, intrinseco &la defesa, por visara impedir co cerceamento de lberdade. Somado. tal va- lor, é mencionado, igualmente,o direico deo acusado permanecer calado. ‘Outro espeque para a sustentago da at cidade €a auséncia de lesio ow ameaga delesio, 20 objeto jridico tutelado pelos artigos 304 & 307 do Cédigo Penal, qual seja a fE piblica. ‘Afinal, no sera ese a pretensio do agente, mas apenas a manutengio desta hiberdade. No entanto, hi precedentes no sentido de que, independente do cenirio em que se encontre o acusado, havendo a perfita ade- quagio de sua conduta ao tipo penal sta afasada qualquer tese de atpicidade. Mesmo porque, rorna-se reconhecida a selativizagic DENAGAO MANTIDA. RECURSO IMPROVI- DO. (Aplin Criminal 201 0049643, Relator Desemborgador Talo. Piro. Segunda Camara Criminal, jlgado 208 21-de junbo de 2011, Dle 71201 son s7in012023, 20:34 PDFs viewer Falsa identidade ¢ uso de documento falso como exercicios de autodetesa - lise jurisprudencial do exercicio de autodefesa, 0 qual nio pode- ria comprometer a atuacio estatal. Embora determinados érgios, como 0 Supremo Taibunal Federal, de forma reite- sada, adorem esse segundo entendimento ¢ prolatem decisées condenaeéria, afere-e ser ‘maior a inclinagio dos julgadores ao primei- ro, haja visa a numerosidade expressiva de decisescollridas favordveis& aipicidade das BIBLIOGRAFIA: ai, 2002, 19. conduess,prferdas pelo Supeior Tibunal de Justiga ¢ pela maior dos Tiibunais de Justia estaduais examinados. Contudo, haja vist, indusve, as vergineias incemas nos tribunals quanto 30 tema, € possvel s mutabilidade das orien- tagées adotadas, ainda que 0 éxgo proltor enka, om outra ocasiso, admitido a consol dagio de seu entendimento. DELMANTO, Celso et. Ciigo Penal Comentad, Gd, Ro de Jancto: Renova, 2002, FERNANDES, Antonio Scarance Aree defnva impute, Sto Paul: Revista dos Tibu- 3 Proce Penal Contitcional. ed, Sho Paulo: Revista dos Tribunals, 2010 4. FRETTAS, Jayme Walmer de; SILVA, Marco Antonio Marques da. Gig de Proce Penal Co ‘menses, St Paulo Saraiva, 2012. 5. POZZER, Renedivo Roberto Gasca, Cele entre acuapi eentenca no proces penal brale- ‘rp, Sio Paul: IBCCRIM, 2001 hitpssrevistas dieitosbe briindex.php/CIClartcleview113173 anne s7in012023, 20:34 PDFs viewer hitpssrevistas dieitosbe briindex.php/CIClartcleview113173 rane

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