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SENASP

LOCAL DE CRIME: ISOLAMENTO


E PRESERVAÇÃO - NOÇÕES BÁSICAS

1 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
Secretaria Nacional de Segurança Pública
Diretoria de Ensino e Pesquisa
Coordenação Geral de Ensino
Núcleo Pedagógico
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Reformuladores
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Antonio Guaraná Mendes
Gleidison Antônio de Carvalho
Revisão Pedagógica
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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Victor Rocha Freire Silva

Programação
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Salésio Eduardo Assi
Thiago Assi

Audiovisual
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Rafael Poletto Dutra BY NC ND

Rodrigo Humaita Witte Todo o conteúdo do Curso Local de Crime: Isolamento e


Preservação - Noções Básicas, da Secretaria Nacional de
Segurança Pública (SENASP), Ministério da Justiça e Segurança
Pública do Governo Federal - 2020, está licenciado sob a Licença
Pública Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem
Derivações 4.0 Internacional.

Para visualizar uma cópia desta licença, acesse:

https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR

2 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Sumário

APRESENTAÇÃO DO CURSO...............................................................................6
MÓDULO 1 – NOÇÕES GERAIS DE LOCAIS DE CRIME E INVESTIGAÇÃO
POLICIAL..............................................................................................................7
Apresentação.................................................................................................................8
Objetivos do módulo.............................................................................................................................. 8
Estrutura do módulo.............................................................................................................................. 9
Aula 1 – Investigação Criminal ................................................................................10
Contextualizando................................................................................................................................. 10
Conceito................................................................................................................................................ 10
Aula 2 – Conceito e Caracterização de Local de Crime........................................16
Contextualizando................................................................................................................................. 16
Conceito................................................................................................................................................ 16
Aula 3 – Conceitos Essenciais: Vestígio, Evidência e Indício.................................20
Contextualizando................................................................................................................................. 20
Conceito................................................................................................................................................ 20
Aula 4 – Exame do Local de Crime: Idoneidade do Vestígio....................................25
Contextualizando................................................................................................................................. 25
Aspectos conceituais.......................................................................................................................... 25
Aula 5 – Custódia da Prova .......................................................................................31
Contextualizando................................................................................................................................. 31
Conceito................................................................................................................................................ 31
Central de custódia.............................................................................................................................. 40
Aula 6 – Local Idôneo e Inidôneo...............................................................................43
Contextualizando... ............................................................................................................................. 43
O que é local idôneo e inidôneo.......................................................................................................... 43
Exercícios de Fixação...................................................................................................46
Perguntas............................................................................................................................................. 46
Resolução............................................................................................................................................. 46
Referências...................................................................................................................49
MÓDULO 2 – TAREFAS DO PRIMEIRO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA
PÚBLICA NO LOCAL DO CRIME........................................................................ 52
Apresentação...............................................................................................................53
Objetivos do módulo............................................................................................................................ 53
Estrutura do módulo............................................................................................................................ 53
Aula 1 – Situação Preliminar Encontrada .............................................................54
Contextualizando................................................................................................................................. 54
Profissional de segurança pública...................................................................................................... 54
Situação do local de crime antes da chegada do primeiro profissional de segurança pública .... 57
Aula 2 – Segurança no Local de Crime.....................................................................60
Contextualizando................................................................................................................................. 60
Segurança pessoal.............................................................................................................................. 60
Procedimentos de aproximação do local de crime........................................................................... 61
Procedimentos de entrada no local de crime.................................................................................... 63
Procedimentos de saída do local do crime........................................................................................ 72
Aula 3 – Delimitação da Área a Ser Preservada.....................................................75
Contextualizando................................................................................................................................. 75
Considerações gerais para delimitação da área................................................................................ 75
Aula 4 – Procedimentos Padronizados e Recomendações ao Primeiro
Interventor na Cena do Crime ..................................................................................80
Contextualizando................................................................................................................................. 80
Padronização dos procedimentos operacionais............................................................................... 80
A preocupação da ONU com o primeiro interventor.......................................................................... 82
Exercício de Fixação.....................................................................................................87
Perguntas............................................................................................................................................. 87
Resolução............................................................................................................................................. 88
Referências...................................................................................................................92
MÓDULO 3 – CASOS REAIS QUE DEMONSTRAM A IMPORTÂNCIA DO
ISOLAMENTO E DA PRESERVAÇÃO DE LOCAIS DE CRIME............................. 95
Apresentação...............................................................................................................96
Objetivos do módulo............................................................................................................................ 96
Estrutura do módulo............................................................................................................................ 96
Aula 1 – Caso Isabella Nardoni.................................................................................97
Contextualizando................................................................................................................................. 97
O crime................................................................................................................................................. 97
O local do crime................................................................................................................................... 99
O trabalho da Polícia Científica......................................................................................................... 102
Reflexões sobre o caso..................................................................................................................... 104
Aula 2 – Caso Josilei Gaspar.................................................................................. 105
Contextualizando............................................................................................................................... 105
O crime............................................................................................................................................... 105
O local do crime................................................................................................................................. 106
O trabalho da Polícia Científica......................................................................................................... 107
Reflexões sobre o caso..................................................................................................................... 109
Aula 3 – Caso Mikaely Ferraz................................................................................. 110
Contextualizando............................................................................................................................... 110
O crime............................................................................................................................................... 110
O local do crime................................................................................................................................. 111
O trabalho da Polícia Científica......................................................................................................... 112
Reflexões sobre o caso..................................................................................................................... 114
Aula 4 – Caso Valcir Tenório.................................................................................. 115
Contextualizando............................................................................................................................... 115
O crime............................................................................................................................................... 115
O local do crime................................................................................................................................. 116
O trabalho da Polícia Científica......................................................................................................... 116
Reflexões sobre o caso..................................................................................................................... 118
Aula 5 – Caso Bruna Ferreira................................................................................. 119
Contextualizando............................................................................................................................... 119
O crime............................................................................................................................................... 119
O local do crime................................................................................................................................. 120
O trabalho da Polícia Científica......................................................................................................... 121
Reflexões sobre o caso..................................................................................................................... 122
Exercícios de Fixação................................................................................................ 123
Perguntas........................................................................................................................................... 123
Resolução........................................................................................................................................... 124
Referências................................................................................................................ 125
Apresentação do Curso

Bem-vindo ao curso Local de Crime: Isolamento e Preservação


- Noções Básicas.

Neste curso, você terá acesso a conceitos básicos


relacionados aos procedimentos e atitudes que deverão ser
adotados pelo primeiro agente interventor do local do crime.
Dessa forma, no decorrer das aulas, esperamos destacar
a importância da preservação do local do crime enquanto
principal gerador de sinais e provas da materialidade e autoria
do fato. Afinal, é no local do crime que começa a persecução
penal a fim de comprovar, indiscutivelmente, todos os atos que
o autor do crime cometeu, ou o contrário.

Considerando isso, é dever da primeira autoridade a chegar


ao local de crime proceder os métodos específicos para
isolar e limitar onde ocorreu o fato delituoso, utilizando-
se dos objetos próprios para isso. Nossa proposta é dar
ênfase para a desmistificação da ideia de que a preservação
do local de crime é uma tarefa irrelevante: uma vez que o
trabalho de isolamento e preservação do local de crime seja
bem executado, a identificação dos atores de um crime e a
condenação destes torna-se possível.

Por isso, neste curso, vamos apresentar diversas situações reais


de investigação que podem contribuir para seu conhecimento
prático e teórico, bem como para reflexão sobre a necessidade
de integração entre os órgãos envolvidos no processo
investigativo e a importância do primeiro agente interventor no
local do crime, além de reconhecer a diferença entre vestígio,
evidência e indício, elementos essenciais da investigação.

Desejamos-lhe um excelente estudo!

Equipe do curso.
MÓDULO 1

NOÇÕES GERAIS DE
LOCAIS DE CRIME E
INVESTIGAÇÃO POLICIAL
7 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial
Apresentação

Seja bem-vindo ao primeiro módulo do nosso curso.

Aqui você terá acesso às noções gerais sobre local de crime,


como reconhecimento, isolamento e preservação do corpo de
delito e investigação criminal. Mas antes de entrarmos nas
noções básicas, vamos refletir sobre a importância das ações
integradas dos vários órgãos envolvidos na preservação
do local de crime, pois o esclarecimento de um crime não é
possível sem a participação efetiva e o envolvimento de vários
segmentos da segurança pública e outras instituições.

Além disso, vamos refletir sobre o conceito e a


caracterização de um local de crime, bem como sobre os
conceitos de corpo de delito, vestígio, indício e evidência,
ideias importantes e que são complementares durante a
investigação criminal. Dentro dessa ideia, vamos entender
como o funcionamento das investigações depende da
utilização de procedimentos corretos no momento da
coleta das evidências, para não resultar na alteração dos
possíveis vestígios do crime. Ou seja, neste módulo, vamos
entender aspectos básicos da investigação criminal, desde o
funcionamento integrado até a coleta de evidências.

OBJETIVOS DO MÓDULO
Compreender o que significa investigação e crime, assim
como o funcionamento integrado do processo de investigação
criminal; reconhecer a necessidade de preservar o local do
crime para análise dos vestígios e saber diferenciar vestígio,
evidência e indício; compreender o conceito de idoneidade, no
contexto do local do crime, assim como entender a relação das
etapas da custódia das provas e do procedimento do perito.
Ainda pensando sobre a proteção do local do crime, refletir
sobre a noção de local idôneo e inidôneo, e as consequências
desta tese para a investigação criminal.

8 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


ESTRUTURA DO MÓDULO
• Aula 1 – Investigação Criminal.
• Aula 2 – Conceito e Caracterização de Local de Crime.
• Aula 3 – Conceitos Essenciais: Vestígio, Evidência e Indício.
• Aula 4 – Exame do Local de Crime: Idoneidade do Vestígio.
• Aula 5 – Custódia da Prova.
• Aula 6 – Local Idôneo e Inidôneo.

9 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Aula 1 – Investigação Criminal

CONTEXTUALIZANDO...
Você consegue diferenciar investigação, crime e investigação
criminal? Nesta aula, veremos o conceito de cada um desses
termos, e refletiremos acerca do trabalho integrado de
inúmeros órgãos públicos e privados, de segurança pública
ou não, para a concretização do processo de investigação
criminal. Você vai perceber que a investigação é constituída
por três eixos principais:

• Investigação policial.
• Exames periciais.
• Policiamento ostensivo.

Continue seus estudos e confira!

CONCEITO
Para entendermos o que é uma investigação criminal, primeiro
precisamos entender o conceito de cada termo.

Investigação é o processo de busca de informações a


respeito de um determinado fato que ajudem a aflorar
a verdade. Criminal é tudo que está relacionado com
ações ilícitas, como infrações ou delitos.

Não há, na legislação brasileira, nenhum dispositivo legal que


defina o conceito de investigação criminal.

A Constituição Federal e o Código de Processo Penal, embora


façam citação à atividade de investigação criminal, não
apresentam uma definição específica. Dessa forma, do ponto de
vista legal, não há conceito definido de investigação criminal.

10 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Por outro lado, é possível entender, por meio da leitura desses
documentos, que a investigação criminal tem como objetivo
a apuração das infrações penais e que essa incumbência é
atribuição da Polícia Judiciária.

As Polícias
Judiciárias, no Para entendermos a investigação criminal, devemos ter bem
Brasil, são a Polícia definidos alguns conceitos, são eles: crime, notícia-crime,
Civil e a Polícia investigação pericial e policial. Confira!
Federal. A Polícia
Civil é responsável
pelos 26 estados INVESTIGAÇÃO POLICIAL
brasileiros e o
Distrito Federal, É o instrumento formal de
a Polícia Federal, investigações, compreendendo o
por sua vez, é conjunto de diligências realizadas
responsável por agentes policiais para apurar o
no âmbito da fato criminoso e descobrir sua autoria
federação. É uma ou a atipicidade ou, ainda, alguma
polícia que atua causa excludente de ilicitude ou de
com base no CRIME
culpabilidade. É a documentação
inquérito policial, das diligências efetuadas pela Pensando em termos jurídicos, é
após a ocorrência Polícia Judiciária, conjunto ordenado toda conduta típica, antijurídica
de um delito.
cronologicamente e autuado das (ou ilícita) e culpável,
peças que registram praticada por um
as investigações. ser humano.
INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL
INVESTIGAÇÃO NOTÍCIA-CRIME
PERICIAL
Notitia criminis, ou notícia-
A atividade pericial em si crime, é o conhecimento de
fundamenta-se na técnica, no um fato criminoso, que se leva à
planejamento e na precisão, e autoridade. Ela pode se materializar
concretiza-se nas diversas etapas e por meio de um boletim de
Figura 1: Conceitos nos passos que devem ser dados ao ocorrência ou de uma petição,
da investigação longo de uma investigação pericial. entre outras formas, e pode ser
criminal.
Fonte: labSEAD- dirigida ao delegado de polícia, ao
UFSC (2020). Ministério Público ou ao juiz.

A lei não impõe um rigor formal para a notícia-crime, mas


espera-se que a comunicação da narrativa do fato tenha
todas as nuances e a indicação (com possível qualificação)
de quem é o provável autor do crime. Para entender a

11 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


formalização da notícia-crime, é preciso entender também a


noção de crime, por definição.

“Crime é uma violação da lei penal, ou seja, é uma


ação ou omissão que se proíbe e se procura evitar,
ameaçando-a com pena, porque constitui ofensa

(dano ou perigo) a um bem jurídico individual ou
coletivo.” (VELHO; COSTA; DAMASCENO, 2013).

Uma vez que se apresenta a hipótese de crime, através da


comunicação do fato, será responsabilidade da investigação
pericial realizar o trabalho sistemático para buscar e
demonstrar a verdade dos fatos investigados, através de
um conjunto de procedimentos e firmando-se no método
científico, com o propósito de cumprir uma meta estabelecida
e alcançar um resultado almejado de forma a não deixar
espaço à sorte e ao acaso.

Segundo Silva Netto e Espindula (2016),


esclarecer um crime é algo que proporciona a
volta do equilíbrio social, pois oferta à Justiça os
elementos de comprovação da existência em si do
crime, suas circunstâncias, as vítimas envolvidas
e os respectivos acusados da autoria de ação
delituosa, a fim de que a Justiça efetive esse
restabelecimento do equilíbrio.

A Polícia Judiciária responsável pela investigação policial


será denominada, legalmente, por inquérito policial e deverá
apurar a verdade do fato, supostamente criminoso, e reunir os
elementos necessários (provas) da prática de uma infração
penal e sua autoria (autoria e materialidade).

Investigação criminal
Compreendidos os conceitos acima, avançamos para o
conceito de investigação criminal, segundo Espindula (2009).

12 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


A investigação criminal é o conjunto de
procedimentos e de tarefas capazes de criar as
condições necessárias para se esclarecer um crime.

A investigação criminal é o ponto de partida da persecução


penal. É o início da atividade de verificação de determinado
fato, supostamente criminoso.
Persecução penal
é o conjunto
de atividades
desenvolvidas O ponto inicial da discussão sobre o exercício do
pelo Estado que
sistema de persecução penal reside justamente na
possibilitam
atribuir punição ao notícia-crime. A sua importância é fundamental
autor de um crime para o regular desenvolvimento da investigação
cometido. preliminar. Uma compreensão equivocada a respeito
É, portanto, a soma
do seu significado pode resultar em prejuízo
da investigação
criminal com o considerável ao procedimento investigativo.
processo penal.

Na investigação criminal, existem tarefas diversas, cada uma


delas executada ou coordenada por determinado segmento
dos órgãos de segurança pública.

Por conta disso, a visão que se tem é que a investigação


criminal é um processo fragmentado, justamente pela falta de
coordenação e integração dos vários segmentos responsáveis
por importantes partes desse processo, tornando seu
resultado muito longe do desejado.

Nesse sentido, apesar de serem vistos como elementos


isolados, a investigação policial, os exames periciais e o
policiamento ostensivo são uma coisa só:

13 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


INVESTIGAÇÃO
POLICIAL

Figura 2:
Investigação POLICIAMENTO EXAMES
criminal como OSTENSIVO PERICIAIS
processo integrado.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

Há uma interdependência entre cada trabalho e, quando


não há essa articulação entre as atividades, temos como
consequência prejuízos incalculáveis que impedem a
possibilidade de resposta satisfatória à sociedade.

Apesar da visão de que cabe apenas aos organismos policiais


trabalhar pelo esclarecimento dos crimes, a execução das
tarefas na investigação criminal também pode contar com
a participação de outros órgãos públicos dentro do próprio
sistema de segurança pública, como:

• Perícia.
• Bombeiros.
• DETRAN.
• Defesa Civil.

E ainda outros órgãos públicos fora desse contexto, como


o Banco Central, Receita Federal, fiscalizações municipais e
estaduais de meio ambiente, laboratórios de pesquisa etc.,
bem como instituições privadas.

Um aspecto importante diz respeito à visão simplista e


empírica que alguns segmentos policiais têm sobre a

14 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


investigação criminal. Disso resultam comportamentos
distorcidos ou aquém do desejado em termos de resultado.

É preciso incentivar a cientificidade na investigação, pois


ainda impera neste meio a concepção de que somente a
perícia trabalha com tecnologia e pesquisa científica.

A investigação criminal não é propriedade de ninguém,


mas unicamente norteadora do objetivo final, que é o
esclarecimento de fatos de um crime!

15 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Aula 2 – Conceito e Caracterização de
Local de Crime

CONTEXTUALIZANDO...
O local do crime é imprescindível para o início de uma
investigação criminal. É nele que a perícia poderá colher os
elementos necessários para iniciar o processo investigativo. Por
esse motivo, nesta aula abordaremos as medidas necessárias
para manter o local de um crime preservado, sem que haja
prejuízos para os elementos relacionados ao crime. Veja mais a
seguir!

CONCEITO
O local de crime pode variar de acordo com as situações. Existem
locais cujos elementos são simples e de fácil observação a
olho nu, como um carro abandonado ou o corpo de uma vítima
de morte violenta, e há locais de crime onde os elementos se
encontram latentes, havendo a necessidade de uso de métodos
específicos de revelação para encontrar o vestígio.

Eraldo Rabello (1996), autor do curso de criminalística,


comenta o local do crime fazendo uma reflexão, confira!

Palavra do Especialista
Local de crime constitui um livro extremamente frágil e delicado,
cujas páginas por terem a consistência de poeira, desfazem-se,

 não raro, ao simples toque das mãos imprudentes, inábeis ou


negligentes, perdendo-se desse modo para sempre, os dados
preciosos que ocultavam à espera da argúcia dos peritos.

Observando o conceito de Rabello, é possível perceber que


o local de crime deve ser tratado com máximo cuidado, de
forma organizada, para evitar e minimizar o prejuízo aos
elementos relacionados ao crime.

16 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Nesta linha de pensamento, o local de crime é
o conjunto de elementos que compõe o corpo
de delito que precisa ser analisado científica e
tecnicamente, visando o futuro esclarecimento dos
fatos a ele relacionados.

Relacionado a isso, o legislador percebeu a necessidade de


preservação do corpo de delito, através do Art. 6 do CPP.
Dessa forma, logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial presente no local do
crime deverá dirigir-se ao local e providenciar para que não se
alterem o estado e a conservação das coisas até a chegada
dos peritos criminais.

Quem é a autoridade no local de crime? A autoridade policial


é sempre aquele agente de segurança pública que toma
conhecimento do fato e inicia o processo de reconhecimento
e isolamento. Chamaremos essa autoridade de profissional
primeiro interventor.

O local de crime é um instituto momentâneo, de


onde se deve extrair o máximo de informações.
Dessa forma, o primeiro agente de segurança pública
no local sempre deve orientar os cidadãos quanto
à necessidade de preservação dos vestígios ali
presentes e deve tomar as medidas imprescindíveis
para o isolamento e a preservação do local do crime.

Assim, após as devidas comunicações, essa responsabilidade


é transmitida do primeiro agente de campo, que normalmente
é uma guarnição da Polícia Militar ou Guarda Civil, para a
Polícia Judiciária, que iniciará a investigação ao comparecer
e confirmar a necessidade de exame pericial, e acionará a
Perícia Oficial para realização de exame em local de crime.

17 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Figura 3:
Preservação do
local do crime.
Fonte: Shutterstock
(2019).

O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer


dia e a qualquer hora. Por isso, é muito importante que, ao
tomar conhecimento da situação, o agente de segurança
pública transmita as informações sobre a necessidade de
preservação do que foi encontrado, orientando todos, para
proceder o isolamento e preservação da área, na medida do
possível, até a chegada da Perícia Oficial ao local.

Cabe ressaltar que o exame de corpo de delito pode sofrer


alterações quando realizado a posteriori, levando-se em
consideração questões técnicas ou quando realizado sob
determinadas condições (climáticas, iluminação e de segurança),
que podem ocasionar prejuízos ao levantamento de elementos
relacionados ao crime ou à vida dos envolvidos no exame.

Na Prática

 Imagine um caso de investigação no período da noite em que será


necessário buscar marcas de escaladas. Como você procederia?

Marcas de escalada são pouco visíveis em momentos de


baixa luminosidade, sendo recomendado o retorno ao local
de crime pela manhã, à luz do sol. Nesses casos, é preciso
proceder de forma administrativa.

18 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Informe ao solicitante o retorno para o local e
a necessidade de manutenção do isolamento
e preservação da área por mais tempo.
Posteriormente, essas informações devem ser
comunicadas no laudo.

Essas informações estão em conformidade com o parágrafo


primeiro do Art. 169 do Código de Processo Penal. Assim,
todos os peritos devem registrar no laudo as alterações do
estado das coisas, sendo as consequências dessas alterações
discutidas posteriormente em relatório.

Atualmente, em virtude da existência de centro integrados de


operações e informações, onde trabalham todos agentes de
segurança pública de forma integrada em um único lugar, a
informação é trabalhada de forma ágil e direcionada, criando um
caminho eficiente que busca a melhor resposta à sociedade.

Continue seus estudos e confira a seguir como identificar e


conceituar os elementos de um local de crime: os vestígios, as
evidências e os indícios.

19 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Aula 3 – Conceitos Essenciais: Vestígio,
Evidência e Indício

CONTEXTUALIZANDO...
Os elementos contidos no local de crime são peças fundamentais
para compreender os fatos do crime. Assim, nesta aula, vamos
identificar tanto a diferença entre vestígio, evidência e indício
quanto a relação desses três elementos na investigação policial.

Para isso, confira os estudos de caso que serão apresentados


a seguir, com as informações técnicas referentes à busca
pelos elementos essenciais para a investigação, através de
autores da área e do que consta no Código de Processo Penal.

CONCEITO
O local de crime é uma “caixinha de surpresas”, e muitas
vezes não é tão simples visualizar determinados elementos
ali presentes, mas todo elemento presente no local deve fazer
parte da investigação.

Para referendarmos as diferenças entre vestígio, evidência e


indício, usaremos um exemplo a seguir.

Estudo de Caso

Uma faca foi encontrada em um local de crime de homicídio, e


foi considerada um importante elemento para entender o caso.
Porém, após analisadas as lesões na vítima, identificou-se a
incompatibilidade entre lesões perfuro-contusas, semelhantes
às causadas por projetil de arma de fogo, e o instrumento, neste
caso a faca, que provocaria lesões perfuro-incisas.

Dessa forma, a faca foi considerada um vestígio e irá compor


a investigação, mas não terá um papel de compatibilidade
quando relacionada à morte da vítima.

20 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Vestígio
Reforçando o exemplo apresentado anteriormente, todos os
vestígios encontrados em um local de crime, num primeiro
momento, são importantes e necessários para elucidar os
fatos, ou seja, na prática, o vestígio é assim chamado para
definir qualquer informação concreta que possa ter, ou não,
alguma relação com o crime, segundo Espindula (2003).

Vestígio é todo material bruto constatado e/ou


recolhido em um local de crime para análise posterior.

De acordo com o parágrafo 3º do Art. 158-A do Código de


Processo Penal, vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou
latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal.

Segundo Silva Netto e Espindula (2016), vestígio é tudo. Esse


conceito é amplamente difundido na área da criminalística,
mas é importante destacar que ele se aplica quando tudo é
desconhecido pelo perito.

Retornando ao exemplo anterior, a faca encontrada na cena


de crime não apresentava compatibilidade com as lesões
na vítima para ser considerada o instrumento do crime
que lesionou a vítima, portanto é apenas um vestígio sem
conexão aparente com a morte dela. Confira a continuação
do estudo de caso:

Estudo de Caso

Ao examinar a faca em laboratório, foram coletadas amostras


de DNA, que, posteriormente, foram comparadas com o DNA
da vítima, cujo resultado foi negativo. Porém, o resultado
apresentou a presença de DNA feminino, assim, depreendeu-se
que a faca estivera em contato (posse ou propriedade) com um
ser humano do sexo feminino.

21 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Percebe-se um limiar muito tênue entre vestígio e evidência,
isso será definido pelo tratamento adequado do elemento.

Evidência
Tomando como exemplo o referido estudo de caso, uma vez
que é possível realizar alguns exames para correlacionar
a propriedade da faca à vítima, o vestígio passa a ser
denominado evidência e será devidamente fixado, coletado,
armazenado e encaminhado para exames específicos em
laboratório. Segundo Espindula (2003), a evidência pode ser
entendida da seguinte maneira:

Evidência é o vestígio depois de feitas as análises,


em que se constata técnica e, cientificamente, a sua
relação com o crime.

Assim, a etapa final de evolução do elemento de local de


crime se dá quando um vestígio foi analisado cientificamente
e dele se extraem informações correlacionadas ao crime e
importantes ao processo investigativo.

Figura 4: Exames de
análise do sangue.
Fonte: Shutterstock
(2019).

Retornando ao nosso caso, confira as próximas etapas


da investigação.

22 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Estudo de Caso
Avançando na investigação do exemplo anterior, a autoridade
investigou e surgiram novos fatos que levaram à possibilidade
de uma mulher, que teve relacionamento amoroso com a
vítima, ter ido ao encontro desta e tentado agredi-la. Assim,
a autoridade solicitou a coleta de DNA dessa mulher e, após
análise comparativa dos DNAs, o resultado foi positivo.

Você deve ter percebido que essa análise coloca a mulher


no local de crime, mas não a relaciona ao uso de arma
de fogo, o provável instrumento do homicídio, conforme
lesões encontradas na vítima. Nesse momento, percebemos
inúmeras indagações que precisam ser respondidas.

Indício
Vestígio e evidência, tecnicamente, são usados no âmbito
da perícia. Quando essas informações são tratadas na fase
processual, elas passam a ser chamadas de indício.


Considera-se indício a circunstância conhecida e
provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por
indução, concluir-se a existência de outra ou outras
circunstâncias. (BRASIL, 1941).

Indício é uma expressão utilizada no meio jurídico que


significa cada uma das informações (periciais ou não)
relacionadas com o crime.
Processo penal

Figura 5: Processo
evolutivo e a
relação entre
vestígio, evidência Vestígio Evidência Indício
e indício.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

Processo investigativo

23 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Após analisados, os vestígios evoluem para evidências e
estas passam a ser denominadas indícios no meio jurídico
(ESPINDULA, 2006). Em outras palavras: tudo que compõe
o núcleo da investigação e é apresentado ao meio jurídico
passa a ser denominado indício.

24 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Aula 4 – Exame do Local de Crime:
Idoneidade do Vestígio

CONTEXTUALIZANDO...
Você já ouviu falar nos casos de investigação criminal em
que os autores do crime deixaram vestígios para confundir
o trabalho dos envolvidos na investigação? Um vestígio
encontrado no local do crime pode ser um vestígio deixado ou
produzido pelo autor do crime com propósito de confundir os
caminhos e induzir a uma conclusão errada sobre o caso.

Nesta aula, vamos falar sobre vestígio verdadeiro, forjado


e ilusório, e as diferenças de cada um, e entender como se
aplica o Princípio da Transferência, de Locard (1932), no
contexto das investigações.

ASPECTOS CONCEITUAIS
Vamos começar falando sobre idoneidade do vestígio. Esse
termo está baseado no conceito de idôneo, ou seja, algo que
serve perfeitamente para determinado propósito, ou, em termos
jurídicos, algo que pode ser confiável. Neste sentido, idoneidade
do vestígio é a legitimidade do vestígio enquanto prova.

A idoneidade do vestígio é de suma importância


para correta persecução penal, tornando a prova
robusta e inquestionável.

Os autores Velho, Costa e Damasceno (2013) e Silva Netto e


Depuração é a Espindula (2016) reforçam a importância da idoneidade do
ação de limpar e vestígio, subdividindo-os em verdadeiro, forjado e ilusório:
remover impurezas
de um corpo ou
determinado local.
• Vestígio verdadeiro
É definido com a depuração total dos elementos

25 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


encontrados no local de crime, pois somente são
verdadeiros aqueles produzidos diretamente pelos atores
da infração e, ainda, que sejam produto direto das ações do
cometimento do delito em si.

• Vestígio Forjado
Entendemos que todo elemento encontrado no local
de crime, cujo autor teve a intenção de produzi-lo com
objetivo de modificar o conjunto dos elementos originais
gerados pelos atores da infração.

Um vestígio forjado poderá ser produzido por qualquer


pessoa que tenha interesse em modificar a cena de crime,
por razões diversas. Um dos grandes produtores desse tipo
de vestígio são os próprios autores do delito, que o fazem na
intenção de dificultar as investigações que as levem até eles.

• Vestígio Ilusório
Vestígio ilusório é todo elemento encontrado no local de crime
que não esteja relacionado às ações dos atores da infração e
cuja produção não tenha ocorrido de maneira intencional.

É bastante comum a ocorrência de locais de crime em


ambientes abertos, nos quais há um trânsito permanente
de pessoas, bem como aglomeração pessoas curiosas
antes da chegada de agentes de segurança pública,
sendo possível que ocorram alterações, supressões e
desaparecimento dos vestígios, bem como a inserção
de outros elementos que criem dúvida ou norteiem
investigação para caminhos difusos.

Vestígios forjado e ilusório desperdiçam dinheiro público,


dificultando o trabalho investigativo e criando caminhos que
não convergem. Ambos são considerados fraude processual,
com previsão legal no Código Penal.

Fraude processual
Segundo o Código Penal, fraude processual é “Inovar

26 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


artificiosamente, na pendência de processo civil ou
administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o
fim de induzir a erro o juiz ou o perito” (BRASIL, 1940).
A pena para este crime é detenção, de três meses a dois anos,
e multa, e sua previsão legal pode ser encontrada no Art. 347
do CP. O parágrafo único reitera: “Se a inovação se destina a
produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as
penas aplicam-se em dobro”.

Saiba mais
Para mais informações, acesse: https://www.jusbrasil.com.br/

 topicos/10595371/artigo-347-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-
dezembro-de-1940.

Esse delito é conhecido como estelionato processual e pode


ser entendido da seguinte forma:

Inovar, que significa mudar, substituir, alterar artificiosamente,


ou seja, alterar de forma fraudulenta no decorrer do processo
ou, no caso criminal, ainda que ele não tenha se iniciado, com
o intuito de induzir a erro o juiz ou o perito. É necessário que
o processo judicial – civil ou administrativo – já tenha sido
instaurado e não tenha sido encerrado ainda.

Quanto ao procedimento penal, de acordo com o parágrafo


único do Art. 347 do Código Penal, não é necessário que a
ação penal já tenha sido proposta, basta elementos no sentido
de que será iniciada.

Princípio da transferência de Locard


O princípio da transferência foi amplamente debatido por
Edmond Locard, em 1932, que discorreu sobre os “princípios
das trocas”, afirmando que o autor do crime leva com ele
algo da vítima e/ou do local onde aconteceu o fato, podendo
também levar instrumentos ou até mesmo objetos que foram
utilizados, bem como deixa algo dele no local do crime.

27 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial




No contato entre dois elementos, sempre haverá uma
permuta. (LOCARD, 1932).

A teoria de Locard embasou inúmeros estudos e fomentou a


ampliação dos conhecimentos aplicados a ciências forenses.
Esses estudos, inicialmente, tratavam da busca por vestígios
latentes de impressões digitais – método ainda bastante
utilizado – e hoje permitem até a pesquisa de DNA no suor de
uma luva de látex.

Figura 6:
Investigação pela
perícia.
Fonte: Shutterstock
(2019).

Segundo Paul Kirk (1953), quaisquer que sejam os passos,


quaisquer objetos tocados pelo autor do crime, o que quer
ele deixe, mesmo que inconscientemente, servirá como uma
testemunha silenciosa contra ele.

28 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Palavra do Especialista
Não apenas as pegadas ou dedadas do autor, mas o seu cabelo,
as fibras das suas calças, os vidros que ele porventura quebre,
a marca da ferramenta que ele deixe, a tinta que ele arranhe, o
sangue ou sêmen que deixe. Tudo isso, e muito mais, carrega um
testemunho contra ele. Essa prova não se esquece. É distinta
 da excitação do momento. Não é ausente como as testemunhas
humanas são. Constitui-se em evidência factual. A evidência
física não pode estar errada, não pode cometer perjúrio por
si própria, não se pode tornar ausente. Cabe aos humanos,
procurá-la, estudá-la e compreendê-la, somente os humanos
podem diminuir o seu valor (KIRK,1953).

Esse princípio chama atenção para importância da


preservação e cuidado com o vestígio, lembrando que serve
para todos no processo, desde o primeiro a chegar no local
de crime até o perito que irá processar determinado elemento,
incluindo o cidadão que reconhece aquele cenário, e que por
curiosidade possa ter alterado de alguma forma o elemento,
o que pode resultar numa linha de investigação equivocada e
mudar o rumo desta.

Por isso, a atitude de preservação do local deve


ser amplamente informada aos cidadãos, logo que
se chegue ao local de crime, conscientizando-os
da necessidade de isolamento e preservação do
local, bem como envolvendo-os no trabalho como
de forma importante para elucidação dos fatos a
ele relacionados.

Dessa forma, familiares da vítima e pessoas curiosas no local


podem auxiliar no trabalho de isolamento e preservação.

29 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Como exemplo da importância da materialidade da prova
pericial, a legislação reforçou e legitimou, através da Lei
13.964/2019, um passo a passo legal do vestígio dentro da
cadeia de custódia, o tópico que veremos em sequência.

30 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Aula 5 – Custódia da Prova

CONTEXTUALIZANDO...
A cadeia de custódia é um termo recorrente no processo
investigativo. Esse termo faz referência a todos os
procedimentos e cuidados aplicados nos vestígios coletados
pela perícia. Nesta aula, vamos ver no que consiste cada um
desses procedimentos.

CONCEITO
Partindo de uma definição legal, conforme o Art. 158-A do
Código de Processo Penal, o termo cadeia de custódia é o
conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter
e documentar a história cronológica do vestígio coletado em
locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e
manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.

O início da cadeia de custódia ocorre com a preservação do


local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais
nos quais seja detectada a existência de vestígio.

O agente público que reconhecer um elemento como de


potencial interesse para a produção da prova pericial fica
responsável por sua preservação. Desta forma, é dever de
qualquer agente público a adoção de medidas administrativas
referentes a qualquer elemento que esteja, possivelmente,
ligado a infração penal.

A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio


nas seguintes etapas.

31 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Reconhecimento

Descarte Isolamento

Armazenamento Fixação

CADEIA DE
CUSTÓDIA

Processamento Coleta

Recebimento Acondicionamento
Transporte
Figura 7:
Fluxograma da
cadeia de custódia. Confira a seguir em que consiste cada etapa da cadeia de
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020). custódia dos vestígios de um crime.

Reconhecimento
Esta etapa se refere ao ato de distinguir um elemento como de
potencial interesse para a produção da prova pericial.

A identificação de um elemento como potencial


vestígio de local de crime é, normalmente, feita por
cidadãos, os quais informam às autoridades

32 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


competentes a respeito da existência do vestígio
em questão. As autoridades, então, se dirigem ao
local para a devida confirmação do fato e tomada de
medidas administrativas correspondentes.

O encontro com possível corpo de delito pode variar muito, a


depender da situação. Desde simples janela arrombada num
sítio até um veículo abandonado em estrada vicinal com um
corpo em seu interior com características de agressão.

Isolamento
O isolamento é o ato de evitar que se altere o estado das
coisas, com intuito de isolar e preservar o ambiente imediato,
mediato e relacionado aos vestígios e local de crime.

• Local imediato
É aquele onde se encontra o corpo de delito e os vestígios
materiais próximos; é onde ocorreu o fato em si.

• Local mediato
Área adjacente de onde ocorreu o fato criminoso; é
espacialmente próximo ao local imediato, onde poderá
haver vestígios.

• Local relacionado
É o local sem relação geográfica direta com o local do
crime em si. No entanto, pode possuir vínculo com o
respectivo local.

O isolamento é atividade inerente ao trabalho pericial e visa


contribuir para o desenvolvimento da dinâmica dos fatos com
relação ao corpo de delito.

33 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


O isolamento é considerado um dos pontos mais
importantes do processo, visto que é o momento em
que o Estado toma providências sobre o elemento
encontrado, confirma sua possível importância para
uma investigação criminal e inicia sua preservação
através do isolamento.

Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a


infração, a autoridade providenciará imediatamente medidas
para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos
peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos.

Figura 8: Amarração
do vestígio
identificado no
corpo de delito.
Fonte: Silva,
Mendes e Carvalho
(2020).

Ao analisar o local imediato, o perito descreverá o estado das


coisas, estabelecendo pontos referenciais dos objetos: corpo,
quando for homicídio, ou um veículo, quando um acidente
de carro, por exemplo. Assim, o perito fará uso de ponto
de amarração georreferenciada (coordenadas de latitude e
longitude) para correto posicionamento do vestígio.

34 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Ponto de amarração
Essa prática, denominada amarração do local (ponto fixo que
servirá de referencial ao perito), permitirá que o cenário seja
a qualquer tempo reproduzido, caso haja necessidade de
novas diligências.

Para exemplificar, tomemos como exemplo o caso


Isabella Nardoni. As posições e caraterísticas de
gotas de sangue latente encontradas no corredor de
acesso ao apartamento de Alexandre Nardoni e Ana
Carolina Jatobá foram determinantes para concluir
que a menina Isabela fora carregada já agredida,
apresentando lesão com escorrimento sanguíneo
para o interior do apartamento.

A amarração do vestígio identificado no corpo de delito


passa a ser parte do exame pericial e posteriormente integra
o laudo pericial.

Fixação
A fixação é a descrição detalhada do vestígio, conforme se
encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua
posição na área de exames.

Figura 9: Fixação no
local do crime.
Fonte: Silva,
Mendes e Carvalho
(2020).

35 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


A fixação pode ser ilustrada por fotografias, filmagens ou
croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial
produzido pelo perito responsável pelo atendimento. A partir
disso, podemos seguir para a etapa de coleta, confira!

Coleta
A etapa de coleta trata-se, especificamente, do ato de recolher
o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando
suas características e sua natureza.

Figura 10: Coleta de


vestígios em local
de crime.
Fonte: Shutterstock
(2019).

A coleta deverá ser realizada preferencialmente por perito


oficial, que dará o devido encaminhamento para a central
de custódia, mesmo quando for necessária a realização de


exames complementares.

É proibida a entrada em locais isolados bem como a


remoção de quaisquer vestígios de locais de crime
antes da liberação por parte do perito responsável,

sendo tipificada como fraude processual a sua
realização. (BRASIL, 1941).

Como dito anteriormente, a fraude processual é um crime


previsto no Art. 347 do Código Penal. Consiste em modificar

36 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


o local do crime, os objetos relacionados a ele ou mesmo o
estado das pessoas envolvidas, com a finalidade de induzir o
magistrado ou o perito ao erro.

Acondicionamento
Acondicionamento é o procedimento por meio do qual cada
vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de
acordo com suas características físicas, químicas e biológicas,
para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de
quem realizou a coleta.

Figura 11:
Invólucros para
acondicionamento
de vestígios.
Fonte: Silva,
Mendes e Carvalho
(2020).

O recipiente para acondicionamento do vestígio será


determinado pela natureza do material e deverá individualizar
o vestígio, preservar suas características, impedir
contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado
e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo.

Transporte
A etapa do transporte diz respeito ao ato de transferir o
vestígio de um local para o outro, utilizando as condições
adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras),
de modo a garantir a manutenção de suas características
originais, bem como o controle de sua posse.

37 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Figura 12: Caixa
para transporte de
evidências.
Fonte: Silva,
Mendes e Carvalho
(2020).

Considerando o Art. 158-D do Código de Processo Penal, todos


os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração
individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a
idoneidade do vestígio durante o transporte.

Recebimento
O recebimento é o ato documentando de transferência da
posse do vestígio com as seguintes informações.

• Número de procedimento.
• Unidade de Polícia Judiciária relacionada.
• Local de origem.
• Nome de quem transportou o vestígio.
• Código de rastreamento.
• Natureza do exame.
• Tipo do vestígio.
• Protocolo.
• Assinatura.
• Identificação de quem o recebeu.

Em seguida, vamos para a etapa de processamento, ou seja,


o exame que deverá ser formalizado em laudo produzido
por perito.

38 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Processamento
O processamento é o exame pericial em si, manipulação do
vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas
características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter
o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo.

Em casos em que um material irá passar por mais


de um procedimento pericial, em que a metodologia
do exame possa criar prejuízo para o próximo
procedimento de análise, deve-se minimizar os riscos
para que um procedimento não prejudique o outro.

O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à


análise e, quando necessário, por pessoa autorizada. Após cada
rompimento de lacre, considerando o procedimento padrão,
deve constar na ficha de acompanhamento de vestígio, junto
com o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a
finalidade, e as informações referentes ao novo lacre utilizado.

Veja a seguir o caso envolvendo dois procedimentos periciais


para entender mais sobre a etapa de processamento.

Estudo de Caso

A perícia precisa realizar um exame de coleta de impressões


digitais em arma de fogo e um teste de eficiência e natureza.

No caso de uma requisição que solicite os dois exames, como


no caso acima, o exame de coleta de impressões digitais deve
ser feito antes da manipulação da arma para um teste de
eficiência e natureza.

O lacre rompido deverá ser mantido no interior do novo


recipiente. Após a realização da perícia, o material deverá ser
devolvido à central de custódia.

39 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Armazenamento
O armazenamento é o procedimento referente à guarda, em
condições adequadas, do material a ser processado para
realização de contraperícia, descartado ou transportado, junto
com o número do laudo correspondente.

Material biológico
É recomendada a
 guarda em ambiente
refrigerado;

Armas de fogo
Condições É recomendada a guarda
em cofres ou estruturas
Adequadas
semelhantes, com baixa
umidade relativa do ar;

Figura 13: Papéis e roupas


Condições É recomendada a guarda
adequadas para
armazenamento de
 em ambiente ventilado e
cada material. com baixa umidade.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

Descarte
O descarte, por sua vez, é o procedimento referente à
liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e,
quando pertinente, mediante autorização judicial.
Essa etapa, por sua vez, encerra as fases que compõem o
rastreamento dos vestígios.

Agora que chegamos ao fim de todas as etapas de cadeia


de custódia das provas, veja a seguir como funciona e as
características de uma central de custódia, assim como a
sua importância para a investigação criminal.

CENTRAL DE CUSTÓDIA
No Art. 158 do Código do Processo Penal encontramos as
informações pertinentes à custódia e às perícias em geral.
Segundo o documento, todos os Institutos de Criminalística

40 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


deverão ter uma central de custódia destinada à guarda
e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada
diretamente ao órgão central de perícia oficial de
natureza criminal.

Local de Crime
Locais de coleta 1 Local relacionado
Local de busa e apreensão

Órgãos de Perícia 2 Centro de custódia geral

Laboratório/
locais de
exames
3 Centro de custódia temporária

Armazenamento 4 Centro de custódia permanente

Devolução
Destino final 5 Descarte (legislação vigente,
autorização judicial)
Figura 14:
Fluxograma da
cadeia de custódia. Partindo do CPP, toda central de custódia deve possuir os
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020). serviços de protocolo. Confira cada um deles a seguir:

• Local
Local para conferência, recepção, devolução de materiais
e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e
a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro
e apresentar condições ambientais que não interfiram nas
características do vestígio.

• Entrada e saída de vestígio


A entrada e a saída deverão ser protocoladas,
consignando-se informações sobre a ocorrência no
inquérito que a eles se relacionam.

41 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


• Acesso ao vestígio somente para pessoas autorizadas
Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio
armazenado deverão ser identificadas e deverão ser
registradas a data e a hora do acesso.

• Registro das ações


Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas
as ações deverão ser registradas, consignando-se a
identificação do responsável pela tramitação, a destinação,
a data e horário da ação.

Caso a central de custódia não possua espaço ou condições


de armazenar determinado material, deverá a autoridade
policial ou judiciária determinar as condições de depósito do
referido material em local diverso, mediante requerimento do
diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal.

42 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Aula 6 – Local Idôneo e Inidôneo

CONTEXTUALIZANDO...
Você deve se lembrar das reflexões acerca da idoneidade dos
vestígios, ou seja, das condições de preservação dos vestígios
encontrados no local do crime. Nesta aula, vamos refletir sobre
o conceito de idoneidade do local do crime, ou seja, se há ou
não impossibilidade de exame pericial em locais ditos idôneos.
Vamos entender mais sobre este assunto? Siga os estudos e
confira!

O QUE É LOCAL IDÔNEO E INIDÔNEO


A partir da compreensão do significado de idôneo, visto
anteriormente, é possível entender que local de crime idôneo
seria aquele que estaria completamente intocável, com
vestígios preservados e com as condições deixadas pelos
agentes do delito (vítima e agressor).

Essa questão traz muitas polêmicas e interpretações


diversas sobre o que seja um local idôneo ou inidôneo e até
se tal fato deve ser considerado em uma primeira abordagem
no local de crime.

Para o perito, um local inidôneo é aquele cujos


vestígios foram perdidos e não há como depreender
pelos elementos existentes, as dinâmicas, relações
com a atividade delituosa e nexo causal.

Como você viu até agora no curso, o resultado sobre as


informações que os vestígios e o próprio local de crime
podem trazer aos peritos criminais só será possível se
forem empregadas as técnicas criminalísticas adequadas
de constatação, registro, identificação e análise de cada um
desses vestígios.

43 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Figura 15: Local
idôneo e inidôneo.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

No entanto, a prática tem mostrado que mesmo com o


precário isolamento e preservação dos locais de crime, ou
seja, locais que seriam, em tese, considerados inidôneos,
ainda assim é possível obter grandes resultados na análise
de vestígios em um local de crime.

Portanto, em tese, será muito comum encontrar os locais já


inidôneos, mas isso jamais deverá ser motivo para que os
peritos criminais deixem de realizar o exame. Os doutrinadores
da criminalística consagraram que esse tipo de classificação
para os locais de crime traz prejuízos para o desenvolvimento
de possíveis investigações periciais, considerando que
qualquer avaliação preliminar sobre as condições de

44 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


conservação de vestígios é prematura e desprovida de
fundamentação técnica.

Neste sentido, reiterando as informações vistas no curso até


o momento, somente o exame esclarecerá se o local é ou não
idôneo. Por isso, o exame sempre deverá ser realizado.

45 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Exercícios de Fixação

As questões a seguir servem de guia para assimilar o seu


conhecimento sobre o conteúdo aprendido. Você pode utilizar
seu caderno de apontamentos para construir sua reflexão e
conferir as respostas na seção Resolução.

PERGUNTAS

1. Segundo Espindula (2009), como se define a


investigação criminal?

2. Onde inicia a investigação criminal?

3. Qual a relevância das ações integradas das autoridades


para a preservação do local de crime?

4. Quais sãos as diferenças entre vestígio, evidência e indício.

5. Qual é a diferença entre vestígio forjado e vestígio ilusório?

6. Qual é o fator que mais contribui para a produção de


vestígios ilusórios?

7. Explique o que é reconhecimento?

8. O que é o isolamento de um local de crime?

9. Como deve ser a coleta dos vestígios?

RESOLUÇÃO

1. É o conjunto de procedimentos e de tarefas capazes de criar


as condições necessárias para se esclarecer um crime.

46 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


2. A investigação criminal é o ponto de partida da persecução
penal. É o início da atividade de verificação de determinado
fato, supostamente criminoso. O ponto inicial da discussão
sobre o exercício do sistema de persecução penal
reside justamente na notícia-crime. A sua importância
é fundamental para o regular desenvolvimento da
investigação preliminar. Uma compreensão equivocada
a respeito do seu significado pode redundar em prejuízo
considerável ao procedimento investigativo.

3. Apesar de serem vistos como elementos isolados, a


investigação policial, os exames periciais e o policiamento
ostensivo são uma coisa só: a investigação criminal. Esses
trabalhos são, portanto, interdependentes, ou seja, sem o
trabalho de todos há prejuízos incalculáveis que impedem
uma resposta satisfatória à sociedade.

4. Vestígio é qualquer elemento encontrado em local


de crime. Evidência é o vestígio após realizado o
procedimento pericial. Indício é nomenclatura jurídica de
evidência apresentada com laudo pericial.

5. Ambos são elementos inseridos no corpo de delito e


podem desviar a investigação, porém o forjado se dá por
meio de ação intencional e o ilusório é quando foi inserido
de forma descuidada.

6. Aglomerações no local de crime, entrada de curiosos no


local de crime e isolamento inadequado.

7. Identificar um elemento que possa estar relacionado a um


crime, é a etapa mais vulnerável, visto que, normalmente, é
feita por cidadãos e, posteriormente, pelo primeiro agente
de segurança pública que chegar ao local de crime.

8. É o ato de evitar que se altere o estado das coisas,


devendo-se isolar e preservar o ambiente imediato,
mediato e relacionado aos vestígios e local de crime. É a

47 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


etapa posterior ao reconhecimento, em que o agente de
segurança pública toma as primeiras providências para
preservação do local de crime.

9. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente


por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário
para a central de custódia, mesmo quando for necessária a
realização de exames complementares.

48 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


Referências
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
Brasília, DF: Presidência da República, 2019. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del2848compilado.htm. Acesso em: 7 fev. 2020.

BRASIL. Decreto-Lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941.


Brasília, DF: Presidência da República, 2019. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del3689compilado.htm. Acesso em: 7 fev. 2020.

BRASIL. Lei n. 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa


a legislação penal e processual penal. Brasília, DF: Presidência
da República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm. Acesso
em: 3 fev. 2020.

CAMILO, L. S. Preservação da cena de crime pelo enfermeiro


no serviço de atendimento móvel de urgência: uma revisão
integrativa. Caderno de Graduação-Ciências Biológicas e da
Saúde-UNIT, Aracaju, v. 4, n. 2, p. 184, 2017.

DAS CHAGAS, A. F. A preservação do local de crime e sua


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DOMINGOS, L. F. Fraude processual, crime da pessoa que


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ESPINDULA, A. Isolamento e preservação, exames periciais e


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2003.

49 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


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50 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


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51 • Módulo 1 Noções Gerais de Locais de Crime e Investigação Policial


MÓDULO 2

TAREFAS DO PRIMEIRO
PROFISSIONAL DE
SEGURANÇA PÚBLICA NO
LOCAL DO CRIME
52 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime
Apresentação

Olá, cursista! Vamos seguir com nossos estudos!

Neste módulo, você estudará os procedimentos preliminares e


tarefas que devem ser realizadas por qualquer profissional da
segurança pública interventor em um local de crime. Mesmo
focado na necessidade de preservação de vidas e aplicação
da lei, o profissional deverá garantir o correto isolamento
e preservação do local de crime, a fim de que os trabalhos
do ciclo de persecução criminal decorrentes da primeira
intervenção possam ocorrer como previsto.

OBJETIVOS DO MÓDULO
A intenção é que, ao final deste módulo, você seja capaz de
listar as providências preliminares a serem realizadas no
local de crime e enumerar a sequência de procedimentos
necessários para os locais. Além disso, conhecerá
procedimentos operacionais padronizados pelas instituições
e, por fim, saberá identificar os procedimentos corretos e
auxiliadores da investigação.

ESTRUTURA DO MÓDULO
• Aula 1 – Situação Preliminar Encontrada.
• Aula 2 – Segurança do Local de Crime.
• Aula 3 – Delimitação da Área a Ser Preservada.
• Aula 4 – Procedimentos Padronizados e Recomendações
ao Primeiro Interventor na Cena do Crime.

53 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Aula 1 – Situação Preliminar Encontrada

CONTEXTUALIZANDO...
Nesta aula, vamos estudar sobre a importância dos cuidados
que o profissional de segurança pública deve ter com a situação
inicial encontrada na cena do crime. Para isso, vamos pontuar a
necessidade de preservação do local e demonstrar como esses
procedimentos podem ajudar os agentes a desvendarem e
comprovarem a sucessão de fatos ocorridos.

PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA


Seguindo com os estudos, você lembra do ciclo de persecução
criminal? Como vimos anteriormente, chamamos de
persecução penal o conjunto de atividades desenvolvidas pelo
Estado que possibilitam atribuir punição ao autor de um crime
cometido. É, portanto, a soma da investigação criminal com o
processo penal. Nesse sentido, a persecução será completa se
todas as fases de seu ciclo estiverem completas.

Dentro das fases que compõem o ciclo, temos a


situação preliminar encontrada pelo profissional de
segurança pública; ou seja, o primeiro contato com a
cena do crime!

Por mais que pareça fácil de ser compreendido, o termo


profissional de segurança pública envolve diversos
profissionais, elencados no Art. 144 da Constituição Federal, e
outros que, direta ou indiretamente, fazem parte da segurança
pública. Quanto aos profissionais de segurança pública
previstos na Constituição Federal, temos:

54 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


PF PRF PFF PC

PM CBM FNSP GCM

Polícias Peritos Médicos Papilos-


penais criminais legistas copistas

Figura 1:
Profissionais de Técnicos de Agentes de Guarda
segurança pública. necropsia trânsitos SAMU portuária
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

Como forma de ampliar seu entendimento sobre esse assunto,


a recente criação do Sistema Único de Segurança Pública
(SUSP), a partir da Lei 13.675, de 2018, apresentou com mais
clareza os órgãos responsáveis pela segurança pública nas
três esferas: federal, estadual e municipal.

Profissionais que exerçam algum cargo efetivo ou contratado,


com nomenclaturas diferentes das acima citadas, mas com
as mesmas atribuições e responsabilidades, que integrem
os órgãos de segurança pública e defesa social podem atuar
como primeiro agente na situação preliminar, preservando e
isolando o local do crime para fins de persecução criminal.


Segundo Camilo et al. (2017, p. 1),

As primeiras pessoas que chegam ao local de crime


desempenham papel fundamental no processo de
perícia. Em circunstâncias aonde profissionais de
saúde chegam antes da polícia técnica-científica ou
judiciária, os procedimentos de registro do local, dos

vestígios e de todas as atividades ocorridas durante o
atendimento, devem ser realizados por eles.

55 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Um exemplo importante acerca do primeiro interventor no local
de crime é o caso de profissionais de emergência, em especial
do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Em boa
parte das cidades brasileiras, o atendimento é presente e tem
grande importância na integração entre os órgãos.

Legitimidade e representatividade do profissional


de segurança pública
A atuação do profissional de segurança pública, independente
de qual for a instituição, é a personificação do Estado nas ruas,
certo? Conforme previsão penal, em sua atividade legal, os
atos de um servidor público não são mais do cidadão.

Toda atividade desempenhada pelo profissional


de segurança pública será em nome do Estado, por
isso, muitas dúvidas surgem quando o profissional
de folga intervém em situação de crime. Nesse
caso, é preciso saber que, ao adotar a postura de
intervir, o cidadão deixa de lado sua folga e passa a
exercer a função pública.

Assim que o agente incorporar a natureza pública da


função, ele estará sob risco de não somente ser processado
criminalmente por adulterar cenas de crimes como também
causar repercussão negativa da instituição da qual faça parte.

Na Prática

 Você conhece algum caso em que o profissional adotou postura


diversa da prevista legalmente?

Segundo Espindola (2009), se você está efetuando o primeiro


atendimento em um local de crime, não importa a sua
categoria funcional ou atribuições primárias que executa no
órgão em que atua, você deve compreender e valorizar cada

56 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


circunstância e ato que possa praticar enquanto ali estiver,
pois estará acumulando informações valiosíssimas para o
esclarecimento do crime.

SITUAÇÃO DO LOCAL DE CRIME


ANTES DA CHEGADA DO PRIMEIRO
PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA
É evidente que qualquer crime, por mais simples que seja, gera
a comoção social e, não raras vezes, aglomeração de pessoas
curiosas. Nesse contexto, o local de crime começa a sofrer as
interferências que podem torná-lo inidôneo antes da chegada
do profissional de segurança pública.

Aliado a isso, o primeiro agente no local de crime,


se não estiver capacitado quanto a sua atribuição e
responsabilidades, poderá interferir negativamente no cenário,
fazendo com que o crime, antes passível de investigação
através do serviço pericial, jamais seja desvendado.

A preocupação com a formação dos profissionais


de segurança pública no Brasil ganhou diversos
reforços nos últimos anos. A temática de preservação
e valorização da prova é obrigatoriedade nas
formações profissionais e está contida na Matriz
Curricular Nacional para Ações Afirmativas dos
Profissionais da Área de Segurança Pública.

Entretanto, as práticas cotidianas, ainda que sejam


consideradas as formações e capacitações nas três esferas,
quando errôneas, acabam refletindo negativamente nos
demais casos de sucesso.

57 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Outra necessidade urgente é a de sensibilizar
o cidadão para a preservação do local de crime.
Infelizmente a exposição nas redes sociais de crimes,
por parte do cidadão, leva-o a descaracterizar o local
de crime para obter “a melhor cena”.

A situação não somente é reprovável como também


caracteriza-se como crime de vilipêndio a cadáver, previsto no
Art. 212 do Código Penal Brasileiro.

Figura 2:
Curiosidade no Os locais de crimes, quando não sofridas as primeiras
local do crime. intervenções pelos profissionais da segurança pública, são, não
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020). raras vezes, descaracterizados por diversos fatores, entre eles:

58 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Pessoas aleatórias,
curiosas ou Familiares e
correlacionados parentes próximos.
ao fato.

Profissionais da
Figura 3:
Curiosidade no
Membros da segurança pública
local do crime imprensa e não imbuídos
pode atrapalhar as mídia geral. da missão de
investigações.
Fonte: labSEAD-
preservação.
UFSC (2020).

Dos possíveis cidadãos citados acima, os mais comuns de


se encontrar nos ambientes são os curiosos. Entretanto,
essa situação deve receber o mesmo trato com relação à
intervenção: a ordem legal de afastamento e preservação
do local de crime, considerando que todos os elementos
encontrados na cena são considerados vestígios.

Levando em consideração o conceito de vestígio, então, é


necessário que o primeiro profissional a intervir no local de
crime não descarte nada, não faça juízo preliminar de valor,
sob risco de comprometer todo o isolamento e preservação
daquele local.

59 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Aula 2 – Segurança no Local de Crime

CONTEXTUALIZANDO...
Quando falamos de segurança no local de crime, falamos
também da segurança do próprio profissional, pois, além de
elucidar o crime e dar a resposta que a sociedade espera, o
profissional precisa voltar vivo para seu lar, após cumprida sua
missão constitucional.

Para isso, ele deverá atentar-se, principalmente, para sua


segurança e a de terceiros. Como veremos mais adiante,
nos procedimentos padronizados pelos estados quanto ao
isolamento e preservação de local de crime, a segurança do
profissional dependerá, dentre outros fatores, de atividades
críticas. Confira a seguir mais detalhes sobre esse assunto!

SEGURANÇA PESSOAL
Atividades críticas são atividades que merecem atenção
redobrada, considerando os possíveis riscos atuais ou
iminentes ao interventor. Entre tais atividades, estão:

• Avaliação do local.
• Socorro aos feridos.
• Prisão dos infratores da lei.
• Delimitação da cena do crime.
• Preservação do local.
• Atenção à imprensa.
• Atenção aos familiares, parentes e envolvidos no local
do crime.
• Atenção às demais forças de segurança pública e
autoridades.

Como dito anteriormente, o primeiro cuidado que se deve ter


é com a avaliação do local. A visão do primeiro interventor
se caracteriza como um quarto escuro: não se sabe qualquer
informação, até que se avalie preliminarmente o local.

60 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Tal situação precisa ocorrer com a máxima brevidade
possível, visto o fato de agressor/culpado/infrator poder
estar ainda no local do ocorrido.

O principal objetivo do Estado é preservar vidas e aplicar a lei.


De nada adiantará se, em um local de crime com possíveis
vítimas, talvez fatais, você seja mais uma vítima acrescida, certo?

Se não houver muito cuidado na avaliação preliminar, o


profissional não somente poderá descaracterizar provas
importantes do local como também expor sua própria vida
e de terceiros, na intenção de buscar as informações para
subsidiar a resposta do Estado.

PROCEDIMENTOS DE APROXIMAÇÃO DO
LOCAL DE CRIME
Todo cuidado é pouco, ao se tratar de sua segurança e a de
terceiros. Logo, ao se aproximar de um local de crime, você
deverá observar procedimentos básicos, caso esteja em serviço:

61 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Você precisa se certificar de que as
informações preliminares colhidas
1 são suficientes para se aproximar
do local com máxima segurança.

Observe toda a proximidade do local,


tenha em mente a possibilidade de
2 serem encontrados envolvidos na
situação fazendo tentativa de fuga.

Utilize procedimentos padronizados


para parar e estacionar a viatura,
3 sempre em local seguro e estratégico,
para uso imediato ou mesmo facilitar
iluminação local.

Durante o deslocamento, observe


a presença de eventuais vestígios
Procedimentos
básicos
4 deixados no trajeto, como marcas de
frenagens, pneus, projéteis ou cápsulas
e outras informações importantes.

Desembarque da viatura utilizando


as regras de segurança previstas
5 e utilize um ponto estratégico para
visualização de todo o cenário.

Realize todo o procedimento


acompanhado de outro profissional,
6 estabelecendo a supremacia de
força e a segurança mútua.

Figura 4:
Procedimentos
básicos de Tenha atenção para
aproximação do
local do crime. 7 não ser acometido
pela “visão em túnel”.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

62 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Dos procedimentos básicos elencados acima, cabe destacar
o último item. Você já ouviu falar de visão em túnel?
Vamos falar um pouco sobre a explicação fisiológica desse
fenômeno. Quando estamos concentrados em uma situação,
seja em que área for da nossa vida, tendemos a focar nossa
atenção unicamente no objeto da ação.

A visão em túnel ocorre em situações de estresse


extremo, quando a íris se abre, tornando a pupila
maior. Com essa dilatação da pupila, haverá uma
debilidade na acuidade visual, o que dificultará a
visibilidade focada em objetos que estejam nas
proximidades. À medida que isso ocorre, o profissional
da segurança pública passará por um processo de
encurtamento do campo visual de fora para dentro,
perdendo a capacidade visual da área periférica.

Poucos são os que, sem treino, conseguem ter uma visão


mais abrangente, quebrando o que chamamos de visão de
túnel. Recomenda-se treinamento e controle.

PROCEDIMENTOS DE ENTRADA NO
LOCAL DE CRIME
Uma regra básica para entrar ou não em locais de crime é a
dúvida acerca de a vítima estar morta ou não.

Para todos os efeitos, a partir do entendimento


de que adentrar na cena de crime é necessário,
devem ser adotados alguns procedimentos,
visando comprometer da menor forma possível a
preservação dos vestígios.

Assim que possível, o perito criminal deve ser informado dos


trâmites adotados pelo primeiro profissional interventor.

63 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


• Acidentes de trânsito
Conforme as Leis 6.174/1974 e 5.970/1979, nas ocorrências
de trânsito em que se verifiquem apenas danos patrimoniais
nos veículos envolvidos, sem qualquer pessoa que tenha sido
vítima de lesão corporal ou morte, não há, em tese, crime
a ser apurado; motivo pelo qual não há a necessidade de
preservação do local.

Na Prática
Você sabe dizer, através dos seus conhecimentos, quais os
 procedimentos necessários para entrar corretamente no local
de crime?

A seguir, serão propostas quatro situações de local de crime


e como proceder da maneira mais correta ao chegar em um
local de crime!

Primeiro momento
Você é o primeiro profissional de segurança pública a chegar
no local de crime. Estacione a viatura e desça do veículo para
observar a área e localizar a vítima.

Figura 5: Primeiro
profissional a
chegar.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

64 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Escolha deslocar-se em linha reta para fazer o menor trajeto.

Figura 6: Direção
correta de
aproximação.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

No momento em que se dirigir até a vítima, preste atenção


para que a visão do profissional que permaneceu próximo à
viatura não fique encoberta, de modo que ele também veja a
vítima no caso de necessidade de ação.

65 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Segundo momento
Você fez o menor trajeto e chegou até a vítima. E agora, qual
deve ser o próximo passo?

Figura 7: Cheque os
sinais vitais sem
tocar em nada.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

Primeiro, você deve parar próximo à vítima e checar os seus


pontos vitais sem tocar em nenhum objeto do local de crime.

66 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Terceiro momento
A vítima neste caso infelizmente está morta. O que fazer?

Figura 8: Observe a
vítima a distância,
sem tocá-la.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

Você não deve encostar na vítima, mesmo que saiba que ela
está morta. Mantenha-se sempre a distância para observá-la.

Quarto momento
Você está ao lado, muito próximo do cadáver, o que lhe
resta fazer para contribuir na investigação do crime e na
preservação dos vestígios?

67 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Figura 9: Inspecione
o local do crime.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

Aproveite que está próximo do cadáver para fazer uma


inspeção visual de toda a área, a partir de uma visão de
dentro para fora, com o objetivo de captar o maior número de
informações possível.

Esse é o momento de fazer uma inspeção visual mais


acurada, sem muita movimentação. Não se deve tocar em
nada! Apenas observe tudo com muita atenção! Circule ao
redor da vítima e do local de crime para coletar os vestígios
deixados no local, principalmente armas e munições.

Existem algumas peculiaridades nos estados da federação


em relação às regras de aproximação, mas o preenchimento

68 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


de ocorrências e o desfecho seguem ditames básicos. Saiba
quais poderão ser as ações nesses casos:

Observar toda a área para localizar onde se encontra a vítima a


partir do local em que a viatura ficou.

Elaborar um plano de ação, com base na avaliação dos riscos,


acionando apoio quando necessário.

Sempre que possível, apenas um profissional deve adentrar no


local de crime e realizar a abordagem primária.

Ao adentrar no local, você deve aproximar-se da vítima pelo


caminho mais curto, ou seja, normalmente em linha reta.

Ao chegar até a vítima, fazer a abordagem primária, ou seja,


a checagem dos pontos vitais da vítima, para certificação de
condições e posteriores tarefas.

APROXIMAÇÃO, Vítima ainda em vida, adotar os procedimentos correlatos.


PREENCHIMENTO
E DESFECHO DE
OCORRÊNCIAS
A vítima já morta, não movimentar em hipótese alguma o cadáver.

Realizar inspeção visual de toda a área, a partir de uma visão de


dentro para fora, com o objetivo de captar o maior número de
informações sobre o local, para repasse à autoridade judiciária.

Buscar permanecer com os pés na mesma posição, enquanto


estiver próximo ao cadáver.

Jamais recolher material da cena do crime, mesmo objetos ilícitos


(munições, armas, capsulas, etc.) ou comprometedores.

Solicitar para que demais profissionais realizem o cerco primário.

Figura 10: Ações previstas pelo Estado.


Fonte: labSEAD-UFSC (2020).

69 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Veja, a seguir, como proceder quando estiver no momento de
socorrer uma vítima.

Socorro às vítimas do local


Já em segurança, o profissional interventor deve focar sua
atenção em eventuais vítimas, as quais ainda sejam passíveis
de socorro profissional. Se por um lado a preocupação
está na resolução do crime, por outro, este fator poderá ser
severamente comprometido, caso o primeiro interventor não
adote regras básicas de atendimento às eventuais vítimas
ainda vivas.

Na Prática
Você conhece algum caso de primeiro interventor cujo

 atendimento foi equivocado e, consequentemente, resultou em


morte de uma vítima? Houve consequências para o primeiro
interventor?

A Matriz Curricular Nacional para Ações Formativas dos


Profissionais da Área de Segurança Pública prevê a disciplina
de Atendimento Pré-hospitalar.

A proposta de se ensinar atendimento pré-


hospitalar possui o foco de deixar o profissional
capacitado para prestar primeiros socorros e aplicar
técnicas e procedimentos à situação, atuando com
conhecimentos mínimos necessários para o caso.

Note que esses agentes de segurança são, via de regra,


os primeiros a chegarem ao local de acidentes, tendo que
assumir uma postura de liderança, que passe confiança aos
presentes, em nome do Estado que representam.

70 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


No caso de dúvidas, certifique-se sempre das
condições da vítima, como checar artéria carótida,
pulso, pupila, respiração via objetos polidos ou
espelho embaixo das narinas (o objeto ficará
meio embaçado ao menor sinal de respiração).
Caso qualquer checagem resulte positivo, procure
imediatamente prestar os primeiros socorros.

Existem diferentes entendimentos acerca de isolamento e


preservação de local de crime quando há vítimas a serem
socorridas. Alguns estados da federação chegaram a publicar
normas e regras para que policiais prestem socorro às vítimas
de crimes ou de confrontos. A medida tem como objetivo,
entre outros propósitos, impedir a descaracterização dos
locais em que os crimes ocorreram.

Por outro lado, mesmo nesses locais em que o atendimento pelo


profissional de segurança pública é vetado, há casos aceitos.

Casos em que o resgate especializado não esteja


disponível ou o tempo de resposta previsto pelos
bombeiros ou pelo Serviço de Atendimento Móvel de
Emergência (SAMU) não seja adequado à situação,
o profissional encontra respaldo para prestar
atendimento à vítima.

Por isso, a regra é atender a vítima, com respaldo na legislação


nacional, que pune a omissão de socorro. Segundo o Art. 135
do Código Penal, omissão de socorro é “deixar de prestar
assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não
pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública.”

71 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Figura 11: Omissão
de socorro.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

A pena pode variar entre detenção, de um a seis meses, ou


multa. O parágrafo único do artigo ainda prevê que a pena
pode ser aplicada em dobro, se a omissão resultar em lesão
corporal de natureza grave, ou triplicada, se resultar a morte.

PROCEDIMENTOS DE SAÍDA DO LOCAL


DO CRIME
Finalizadas as leituras do ambiente, caso se trate de uma
ocorrência apenas com vítimas fatais, não haverá necessidade
de fazer atendimentos às vítimas que necessitem de socorro
profissional e, nesse caso, a atenção passa a ser centrada na
preservação do local de crime e preservação dos vestígios
para posterior exame pericial.

72 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Procedimentos recomendados para a saída do
local de crime
O direito punitivo do Estado, ou jus puniendi, a partir de
concretizado com o fato criminoso, deve receber o máximo
de informações necessárias para que o ciclo de persecução
criminal se concretize.

Figura 12: Sair do


local do crime.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

Sendo assim, é pertinente retornar ao local de origem, seja a


viatura policial ou local de monitoramento, pelo mesmo trajeto
de entrada.

Uma questão pertinente em relação ao local do crime está


na cobertura dos corpos das vítimas. Não há regra explícita

73 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


sobre cobertura de corpos, mas, por razões sentimentais e de
respeito, cobre-se o cadáver.

Mas, ressalvadas as cenas de grande comoção social ou


exposição desnecessária de corpos nus ou similares, é
pertinente que se deixe o corpo do jeito encontrado, sob
risco de apagar ou prejudicar vestígios importantes para o
entendimento da dinâmica criminal.

Em relação ao isolamento do local, você deve providenciar


um isolamento segmentado, lembrando das áreas que
devem ser destinadas:

• Para a cena do crime.


• Para a atuação policial.
• Para as mídias, familiares e autoridade.

Por fim, deve informar os detalhes colhidos à autoridade


policial judiciária presente e aos peritos criminais, para
andamento dos trabalhos.

74 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Aula 3 – Delimitação da Área a Ser
Preservada

CONTEXTUALIZANDO...
As diversas ações policiais acabam por trazer mais astúcia
e perspicácia policial. Entretanto, a rotina de se realizar algo
pode, por outro lado, comprometer regras básicas, pelo
automatismo com que elas são executadas. Alguns aspectos
são necessários e sempre precisam ser lembrados.

CONSIDERAÇÕES GERAIS PARA


DELIMITAÇÃO DA ÁREA
No momento da atuação, o profissional deverá observar
a melhor forma de isolar e preservar o local de crime,
considerando suas especificações. Se for um ambiente
interno, limitados por paredes, coberturas, pavimentos, grades
ou qualquer forma de cerco, podem ser utilizadas as próprias
barreiras naturais para isolamento do local.

Mas, se for o caso de um ambiente externo, como as áreas


abertas e de fácil acesso pelo público, é importante você
analisar o ambiente imediato e o ambiente mediato.

• Ambiente imediato: é aquele onde se encontra o corpo


delito e os vestígios materiais próximos; é onde ocorreu o
fato em si.
• Ambiente mediato: área adjacente de onde ocorreu o fato
criminoso; é espacialmente próximo ao local imediato, onde
possivelmente poderá haver vestígios.

Seja qual ambiente for, é necessário fazer a demarcação, pôr


limites e restringir acesso, pois o acesso ao local do crime
não pode permanecer público. A não preservação de locais de
crimes é apontada em relatórios realizados por instituições de
controle da atividade policial.

75 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Figura 13: Área
delimitada.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020).

A falta de preservação do local de um crime, de laudos


periciais e de tecnologias mais avançadas de investigação
estão entre as causas que dificultam a apuração de casos
de morte por intervenção policial. Veja, a seguir, um caso
hipotético de um relatório produzido por uma instituição de
segurança pública, escrito por responsáveis pela investigação
de óbitos em supostos confrontos com a polícia.

Estudo de Caso

Conforme as informações colhidas no documento, não houve


preservação das cenas de locais em que ocorreu a ação policial
com morte. A situação atrapalhou o esclarecimento dos fatos,
podendo ser citadas ações como: remoção de arma de fogo e dos
elementos da munição, como estojos e fragmentos.

Você já deve ter percebido que não há regra estipulada para


o isolamento e preservação do local. Mas é importante
que a área isolada seja suficiente para preservar qualquer
possibilidade de encontrar indícios, mesmo que para isso
ocasione transtorno temporário aos cidadãos, como a
impossibilidade de transitar no espaço do crime. Nesse caso,

76 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


o intuito de se aplicar a lei e punir os responsáveis sobrepõe
o direito de ir e vir das pessoas.

Objetos para isolamento e preservação


Os equipamentos utilizados para isolamento do local de crime
são de grande importância para a preservação do local, nesse
sentido, os equipamentos mais adequados geram os resultados
mais esperados. Entre os equipamentos técnicos, existem os
meios de fortuna, você sabe o que significa este termo?

Meios de fortuna
são todo e Vejamos alguns exemplos de objetos que podem ser
qualquer material utilizados como meios de fortuna:
empregado em
uma operação
• Cordas e fitas de isolamento
de socorro, em
substituição a As cordas e as fitas de isolamento possuem a mesma
outros específicos. finalidade e são naturalmente reconhecidas pelo cidadão.
Trata-se de Conhecidas também como fitas zebradas (impressas em
improvisação,
amarelo e preto), possuem impacto visual e clareza da
utilizados com
finalidade de obter informação de imposição de limites. Empresas já fabricam
êxito em situações fitas contendo inscrições de ordem, como “Local de Crime
nas quais o – não ultrapasse”. A posse desses materiais, nas viaturas
material técnico e/
policiais e de socorro, é essencial para o isolamento e correta
ou o profissional
especializado está preservação dos locais de crime.
ausente ou em
situação de risco. • Bastão
O bastão sinalizador servirá, em muitos casos
noturnos, para a correta identificação de acesso,
trajetos, impedimentos e possibilidades de fluxo de
pessoas e veículos. Em muitos estados brasileiros, há a
obrigatoriedade de porte desses materiais, mas, não raras
vezes, sem fornecimento por parte do estado.

• Sacos plásticos
Os sacos plásticos com vedação deverão ser utilizados
em último caso, quando não há a presença da autoridade
policial ou perito criminal, seja por qual motivo for. Assim,
o primeiro profissional interventor deverá, após colhidas as
informações necessárias, captar os vestígios encontrados

77 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


e colocar com o máximo cuidado em sacos plásticos com
vedação, garantindo a inscrição de informações necessárias
à elucidação dos fatos.

• Plástico ou lona impermeável


Já o plástico ou lona impermeável poderá ser utilizado nos
casos mencionados acima, em que a grande repercussão,
inviabilidade de exposição, situação vexatória ou
constrangedora possam ensejar o uso desse recurso para
cobrir o cadáver.

É importante você se lembrar da necessidade de não


comprometer a cena do crime ao fazer o isolamento do
local, sob risco de inviabilizar permanentemente a perícia e
esclarecimento dos fatos.

Manchas de sangue no local


Um cuidado muito especial que se deve ter é com a
identificação de manchas de sangue, visto estas mostrarem a
dinâmica do crime.

Casos criminais mudaram drasticamente o rumo


das investigações a partir de provas colhidas no
local do crime, mas em dias posteriores.

Um importante trabalho desenvolvido por Monteiro (2010),


sobre vestígios hemáticos no local de crime e sua importância
médico-legal, reforça nossa discussão realizada até agora.
Para a autora, o volume de informação reflete diretamente na
identificação dos recursos necessários e na importância de
cada vestígio, estabelecendo prioridades. Confira!

78 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime



O estabelecimento de prioridades assume particular
importância quando um vestígio pode ser submetido
a mais do que uma análise, sendo que os métodos
de colheita e preservação, para um determinado
tipo de exame, podem prejudicar a realização de
outros. Nestes casos, a troca de informações, entre
os peritos, pode ser crucial, permitindo uma reflexão

mais completa e ponderada sobre a importância dos
vestígios. (MONTEIRO, 2010, p. 22.).

Infelizmente situações de não isolamento e preservação do


local fazem com que todo o trabalho inicial acabe sendo inócuo,
visto a dinâmica dos fatos, e mudam o rumo das análises.

79 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Aula 4 – Procedimentos Padronizados e
Recomendações ao Primeiro Interventor
na Cena do Crime

CONTEXTUALIZANDO...
Agora que você teve acesso às informações teóricas sobre
o local de crime, vamos entender como o primeiro agente
interventor deve agir de fato? Nesse caso, vamos entender,
nesta aula, como são definidos os procedimentos padrões
e quais estados possuem documentos de padronização
operacional. Além disso, você vai ver os procedimentos básicos
do primeiro agente interventor no local e as atitudes que
corroboram para que não sejam encontrados vestígios do crime
no local do crime. Será que existe crime perfeito? Confira!

PADRONIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS


OPERACIONAIS
A segurança pública brasileira possui uma multiplicidade
de ações e formas de empenho, não somente devido à
diversidade cultural mas também em razão da extensão
territorial. Entretanto, tem-se buscado motivar, cada vez mais,
a padronização de procedimentos a serem adotados pelos
profissionais de segurança pública no Brasil.

Na Prática
Você já ouviu falar em Procedimento Operacional Padrão (POP)?
 Sua instituição possui POP para padronizar procedimentos
relacionados a isolamento e preservação de local de crime?

A padronização de processos permite a ação do primeiro


interventor em local de crime baseada na lei e confere
credibilidade à segurança pública. Além disso, a padronização
fornece subsídios para a imprensa e o Judiciário acerca da
atuação profissional, em casos de questionamentos.

80 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime



O POP é um documento que tem caráter oficial, mas
não é impositivo, pois respeita a autonomia do policial
militar na tomada de decisões durante os encontros,
cuja previsibilidade não pode ser alcançada no todo.
Entretanto, ele tende a reduzir a margem de erro policial
à medida que trata das situações cotidianas com

riqueza de detalhes e orienta a forma ótima de agir, sem
inibir a discricionariedade do policial (PINC, 2007, p. 8).

Nós já sabemos que a padronização de procedimentos


é importante por vários aspectos, certo? Dos estados
da federação, alguns procedimentos padronizados na
segurança pública foram incorporados em manuais e
doutrinas, seja em unidades de policiamento especializado,
seja para a tropa em geral.

Nas Guardas Municipais, procedimentos


padronizados em atendimentos, prevenções e até
mesmo palestras têm surtido efeito positivo para
que a administração pública realize seus feitos
segundo o mandamento constitucional.

Um levantamento realizado pela SENASP em 2020 mostra que


as polícias militares de 18 estados possuem POP instituídos.
Nos demais estados, duas possuem o documento, mas não
foi publicado; ou seja, não tem aplicabilidade. Já os outros
sete estados não possuem o documento, apenas apresentam
previsões de construção.

81 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Estados com Procedimento Operacional Padrão
institucionalizado

RR AP

AM
PA MA CE
RN
PB
PI PE
AC
AL
TO
RO SE
BA
MT

DF
GO

MG
MS ES
POP instituído SP
RJ
PR
POP não instituído

SC

RS
Figura 14: Estados
com Procedimento
Operacional Padrão
institucionalizado.
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020). A padronização de procedimentos traz muitos benefícios
à atividade da segurança pública, através de seus POP. A
seguir, vamos entender a preocupação da ONU em relação à
intervenção do Estado em crimes e a garantia direitos humanos.

A PREOCUPAÇÃO DA ONU COM O


PRIMEIRO INTERVENTOR
A atuação do Estado diante de um crime é acompanhada por
mecanismos nacionais e internacionais de direitos humanos.
Um exemplo disso é a Organização das Nações Unidas (ONU),
que, através do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e

82 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Crime (UNODC), produziu o Manual de Conscientização sobre
o Local de Crime e as evidências materiais, em especial, para
pessoal não forense. Trata-se de um manual para um público
profissional não pericial forense, especialmente os chamados
first responders, ou primeiro interventor, como tem sido
chamado durante este curso.

O manual aponta, ainda, para qualquer pessoa envolvida


no processo de levantamento de um local de crime sem
treinamento pericial completo, para ajudá-la a compreender
a importância de suas ações e as consequências decorrentes
da não aplicação dos princípios das boas práticas.

A preocupação com formação e capacitação deve ser


constante, pois o profissional interventor produzirá reflexos
na investigação criminal. Acerca de capacitação, confira o que
nos dizem os pesquisadores Onofre e Souza (2019, p. 14):

Palavra do Especialista
No Brasil, não há um costume cultural construído de cuidado
com o procedimento de preservação e isolamento dos locais de
crime e pesquisas que indicam que a maior parte dos erros da

 ação da perícia está relacionada a falta de comprometimento


na preservação do local do crime. Portanto, faz-se necessário
mudar essa realidade para que haja mais comprometimento
com a investigação criminal e companheirismo entre os
trabalhadores, sejam eles policiais ou peritos.

Considerando as previsões constitucionais de cada


instituição, a atuação do primeiro interventor não nega,
necessariamente, apoio nas demais fases da investigação
criminal. Veja a seguir quais são as recomendações para o
primeiro interventor na cena do crime.

83 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Recomendações ao primeiro interventor na cena
do crime
Você deve procurar acumular o máximo de informações, sem
atribuir juízos de valor, pois ainda não tem domínio de toda
a dinâmica do crime. Ainda em relação às recomendações
dadas ao primeiro interventor na cena do crime, temos:

Atenção

Tenha atenção às imediações do local, analisado aos comentários das


pessoas que possuem conhecimento local, circunstancial ou mesmo
envolvimento direto ou indireto com o fato. Esses depoimentos podem ser
superficiais, mas podem levar a entendimentos sobre o crime.

Observação

Observe atitudes suspeitas, incluindo olhares desconfiados ao profissional


interventor, saídas repentinas ou mesmo interesse excessivo em saber o
que houve no local.

Catalogação

Catalogue possíveis testemunhas, visto estas serem voláteis e passíveis de


saírem do local sem o consentimento do primeiro interventor.

Figura 15: Como Outras posturas não diretamente ligadas à ação do primeiro
deve agir o primeiro
interventor da cena interventor, correlacionadas com o local de crime, podem
do crime. trazer respostas ao fato observado. Existem algumas razões
Fonte: labSEAD-
UFSC (2020). comuns que levam à falha na recuperação de elementos de
prova na cena de um crime.

84 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Supondo que não existe um crime perfeito, quais são as
justificativas para não se encontrarem provas do crime?
Segundo o princípio de Locard, não existe crime perfeito, mas
as seguintes atitudes impedem o sucesso da investigação e
esclarecimento do crime:

Realizar uma abordagem rápida no local, sem calma e deliberação.

Delimitar e definir a cena do crime de forma insatisfatória.

Isolar e proteger o local de forma errônea.

Preservar a cena e respetivos vestígios de forma insuficiente.

Utilizar torneiras ou toalhas, comer ou fumar no local do crime.

RAZÕES PARA
INSUCESSO NA Contaminação do local.
INVESTIGAÇÃO
Descuidar da higiene e segurança no local. Tudo deve ser levado do local.

Ignorar o que se passa ao redor do local, fora do perímetro estabelecido.

Responder inconscientemente aos órgãos de comunicação social.

Abandonar o local ou o perímetro sem as equipes finalizarem o trabalho.

Ausência de liderança e falta de coordenação.

Figura 16: Ações


que impedem o
levantamento de Considerando as atividades que impedem o sucesso da
provas.
Fonte: labSEAD- investigação, é preciso lembrar que se espera de um agente
UFSC (2020). de segurança pública a habilidade de perceber os detalhes de
forma diferente. Nesse sentido, você já ouviu falar em tirocínio
policial? Tirocínio policial é a capacidade de percepção que vai
além dos sentidos habituais, é uma capacidade adquirida e
reiterada pela prática de uma profissão ou ofício.

85 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


O tirocínio faz com que suspeições, coleta de
informações, análise preliminar e perspicácia
investigativa elucidem o caso antes mesmo de este
fazer parte da investigação propriamente dita.

Não confunda, aqui, com o papel das polícias judiciárias, no


tocante à condução do inquérito policial. Cabe aqui o papel de
apoio, auxílio para que a investigação criminal tenha subsídios
suficientes para apontar a autoria, com a devida materialidade
e responsabilização.

A previsão de integração entre as forças de segurança,


previstas na lei do SUSP, são claras, quando afirmam, em
seu Art. 5, a necessidade de integração entre os poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário no aprimoramento e na
aplicação da legislação penal, segundo a Política Nacional de
Segurança Pública e Defesa Social.

Toda a informação que puder ser coletada para


subsidiar o inquérito policial será de grande valia.

Você conseguiu perceber a importância das ações do primeiro


interventor no local de crime? Suas atitudes serão cruciais
para o desenvolver da ocorrência e, consequentemente, da
elucidação do crime.

Entender melhor a situação preliminar encontrada nos


locais de crime faz com que a postura do profissional
interventor seja amoldada e, assim, ele exerça o seu trabalho
preocupando-se com a segurança do local de crime e com
os seus riscos, garantindo muito mais êxito nos isolamentos
e preservações de locais de crime, com o foco em preservar
vidas e aplicar a lei.

86 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Exercício de Fixação

As questões a seguir servem de guia para assimilar o seu


conhecimento sobre o conteúdo aprendido. Você pode utilizar
seu caderno de apontamentos para construir sua reflexão e
conferir as respostas na seção Resolução.

PERGUNTAS

1. As ações dos profissionais de segurança pública refletem


na imagem do Estado ou são ações pontuais e não
repercutem na sociedade?

2. Dê exemplos de ações negativas, por parte de profissionais


de segurança pública, que podem refletir na imagem do
Estado perante a sociedade?

3. A presença do profissional representa o Estado?

4. Profissionais de segurança pública são uma categoria


abrangente e de grande capilaridade. Cite ao menos
sete representantes considerados como profissionais da
segurança pública.

5. Ao se deparar com um local de crime, qual deverá ser a


atenção primeira do profissional de segurança pública?

6. Cite pelo menos três cuidados necessários ao se aproximar


de um local de crime.

7. Adentrar e sair dos locais de crime pode ser considerado


de risco elevado para a preservação dos vestígios. Sendo
assim, a respeito dos procedimentos de entrada no local
de crime, quais proposições abaixo são consideradas
corretas:

87 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


a) O policial deve escolher um trajeto mais prático, a fim de
atender com rapidez a situação encontrada.
b) A busca e recolhimento de vestígios é prioridade e deve
ser apoiada por todos, inclusive quem estiver disponível,
desde que solicitada pelo primeiro interventor.
c) A fim de o primeiro interventor identificar uma vítima
fatal, a melhor forma de verificação é documental,
devendo ser procurada nas vestimentas da vítima, mas
sem alterar a cena do crime.
d) O planejamento do primeiro interventor é primordial
para se adentrar em local de crime, de preferência com
deslocamento em linha reta.
e) As informações coletadas pelo primeiro interventor, no
local, devem ser compartilhadas com a perícia criminal e
representante da polícia judiciária.

8. Sobre delimitação do local de crime, quais proposições


abaixo são consideradas corretas:
a) As cordas e as fitas de isolamento, conhecidas como
fitas zebradas, possuem a mesma finalidade e são
naturalmente reconhecidas pelo cidadão.
b) A posse de materiais de isolamento de local de crime
na viatura é essencial para o isolamento e correta
preservação dos locais pelo primeiro interventor.
c) Caso o corpo esteja exposto, mesmo com vestígios
substanciais, deve-se primar pela cobertura do cadáver,
mesmo com a perda de vestígios, visto a dignidade do ser
humano sobrepor o trabalho pericial.
d) A preocupação principal do primeiro profissional é a
preservação dos vestígios para o posterior exame pericial,
e não a vítima.

RESOLUÇÃO

1. As ações refletem diretamente na imagem do Estado, podendo


resultar em descredibilidade social, falta de envolvimento e
comprometimento da sociedade na segurança pública.

88 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


2. São exemplos dessa natureza os primeiros interventores
que filmam e divulgam imagens de cadáveres, adulteram
cenas de crime para forjar a investigação criminal ou
atuam de forma displicente e sem preocupação com o
resultado investigativo.

3. Sim, quando um profissional da segurança pública chega


a um local de crime, a sua presença está simbolizando a
presença do ente público. É o representante do Estado,
nos termos da legislação penal, que está assumindo
a execução de uma tarefa que lhe é de exclusiva
competência: a titularidade da ação penal. Por isso a
importância desse profissional e a responsabilidade que
cabe ele quando incumbido dessa tarefa.

4. De acordo com o Sistema Único de Segurança Pública


(SUSP), a partir da Lei 13.675, de 2018, são considerados
profissionais de segurança pública da esfera Federal,
Estadual e Municipal:
• Polícia Federal;
• Polícia Rodoviária Federal;
• Polícia Ferroviária Federal;
• Polícias Civis;
• Polícias Militares;
• Corpos de Bombeiros Militares;
• Membros da Força Nacional de Segurança Pública;
• Guardas Municipais;
• Policiais penais;
• Peritos criminais;
• Médicos legistas;
• Papiloscopistas;
• Técnicos de necropsia;
• Agentes de trânsito;
• Membros do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência;
• Guarda portuária;
• Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.
Cabe, ainda, citar qualquer outro cargo, efetivo ou
contratado, com nomenclaturas diferentes mas com a

89 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


mesma atribuição e responsabilidades, que integrem os
órgãos de segurança pública e defesa social, sujeitos a
funcionarem como primeiro profissional de segurança
pública (pelo cargo e função exercida), nos locais que
demandem isolamento e preservação, para fins de
persecução criminal.

5. A primeira atenção do profissional de segurança pública


em local de crime deverá ser necessariamente a sua
segurança e de terceiros. Posteriormente entram as
leituras de planejamento e execução das ações voltadas
ao local de crime.

6. Procedimentos básicos na aproximação de um local de crime:


• Certificar-se de que as informações preliminares colhidas são
suficientes para aproximar do local com a máxima segurança.
• Observar toda a proximidade do local, visto a possibilidade
de serem encontrados, em deslocamento, envolvidos no
episódio a ser verificado.
• Utilizar de procedimentos padronizados para parada e
estacionamento da viatura, em local seguro e estratégico,
para uso imediato ou mesmo facilitar iluminação local.
• Preocupar-se, ainda durante o deslocamento, com a
possibilidade de eventuais vestígios deixados no trajeto,
como marcas de frenagens, pneus, projéteis ou cápsulas e
outras informações importantes.
• Desembarcar da viatura utilizando as regras de segurança
previstas, bem como utilizar, em um primeiro momento, um
ponto estratégico para visualização de todo o cenário.
• Realizar todo o procedimento acompanhado de outro
profissional, estabelecendo a supremacia de força e a
segurança mútua.
• Muita atenção para não ser acometido pela “visão em túnel”.

7. As proposições D e E. Lembre-se de que o planejamento do


primeiro interventor é primordial para se adentrar em local
de crime, de preferência com deslocamento em linha reta,
e as informações coletadas pelo primeiro interventor, no

90 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


local, devem ser compartilhadas com a perícia criminal e
representante da polícia judiciária.

8. As proposições A e B estão corretas. Lembre-se de que


as cordas e as fitas de isolamento possuem a mesma
finalidade e são naturalmente reconhecidas pelo cidadão,
as mais conhecidas são as fitas zebradas. É indispensável
a presença de materiais de isolamento de local de crime
nas viaturas, pois são essenciais para isolamento e correta
preservação dos locais pelo primeiro interventor.

91 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


Referências
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92 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


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93 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


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94 • Módulo 2 Tarefas do Primeiro Profissional de Segurança Pública no Local do Crime


MÓDULO 3

CASOS REAIS QUE


DEMONSTRAM A
IMPORTÂNCIA DO
ISOLAMENTO E DA
PRESERVAÇÃO DE LOCAIS
DE CRIME
95 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Apresentação

Neste módulo, queremos desmistificar a ideia de que a


preservação do local de crime no Brasil é uma tarefa irrelevante.
Desde que o trabalho de isolamento e preservação do local de
crime seja bem executado, a identificação dos atores de um
crime e a condenação dos responsáveis poderá acontecer.

Assim, serão apresentados cinco casos ocorridos no Brasil,


nos quais a preservação dos vestígios encontrados nos locais
de crime foi determinante para o sucesso do trabalho da
Polícia Científica e, consequentemente, para a elucidação do
crime e a condenação dos autores, ainda que o isolamento
executado não tenha ocorrido da forma mais adequada.

OBJETIVOS DO MÓDULO
Entender que um local de crime bem isolado e preservado
pode ser o divisor de águas e pode determinar que uma
denúncia venha a ser um crime esclarecido e seus autores
identificados, julgados e condenados; perceber, em cada um
dos casos apresentados, que o isolamento e a preservação de
vestígios são fundamentais para a elucidação do crime; por
fim, reconhecer a importância de seu papel ativo como agente
público na investigação e elucidação do crime.

ESTRUTURA DO MÓDULO
• Aula 1 – Caso Isabella Nardoni.
• Aula 2 – Caso Josilei Gaspar.
• Aula 3 – Caso Mikaely Ferraz.
• Aula 4 – Caso Valcir Tenório.
• Aula 5 – Caso Bruna Ferreira.

96 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Aula 1 – Caso Isabella Nardoni

CONTEXTUALIZANDO...
O primeiro crime que analisaremos é o assassinato de Isabella
Nardoni. Apresentaremos detalhes da investigação policial, com
foco nos vestígios encontrados no local do crime, que foram
cruciais para identificar os responsáveis pelo crime.

O CRIME
Na noite dia 29 de março de 2008, o casal Alexandre
Nardoni e Anna Carolina Jatobá retornam de uma ida ao
supermercado com Isabella Nardoni, de 5 anos de idade, filha
do primeiro relacionamento de Alexandre, e os dois filhos do
casal, Piretro e Cauã.

Estudo de Caso
Isabella Nardoni morreu após ser
arremessada do sexto andar do
Edifício London, localizado na
região do Carandiru, zona norte da
cidade de São Paulo. A primeira
pessoa a ver a criança no gramado
foi o porteiro. Ele escutou um forte
barulho e, quando olhou, percebeu a
menina caída no jardim.
Um morador do primeiro andar
Figura 1: Isabella Nardoni.
Fonte: labSEAD-UFSC
teria escutado o mesmo barulho
(2020) adaptada de Lima e e, ao se deslocar até a sacada do
Bertoni (2016).
apartamento, também viu o corpo
estendido no jardim. Esse morador teria sido o primeiro
a acionar o resgate. A menina encontrava-se em parada
cardiorrespiratória. O resgate tentou reanimar Isabella por 34
minutos, sem sucesso. O laudo do Instituto Médico Legal (IML)
revelou que a causa mortis foi parada cardiorrespiratória, com
evidências claras de asfixia e/ou sufocamento.

97 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Em depoimento na delegacia, Alexandre disse que, naquela
noite, ao chegar à garagem do edifício com a mulher, os três
filhos dormiam no banco traseiro do carro. Ele afirmou ter
subido para o apartamento com Isabella no colo e que teria
posto a menina na cama, tendo deixado ela dormindo. Depois
retornou à garagem para ajudar Anna Carolina a subir com os
dois filhos do casal.

Chegando ao apartamento, o casal não teria encontrado


Isabella na cama. Conforme a versão contada por Alexandre,
ele teria percebido que a luz do quarto ao lado do de Isabella,
onde dormiam os irmãos dela, estava acesa e que havia um
buraco na tela de proteção da janela.

Ainda, segundo a versão de Alexandre, ele aproximou-se da


janela e então percebeu o corpo da menina estirado no jardim
do condomínio. Naquela ocasião, Alexandre disse suspeitar
que a filha tivesse sido atirada do sexto andar do prédio por
algum desafeto seu.

O início das investigações


A empresa responsável pelo rastreador por GPS instalado no
carro de Alexandre Nardoni revelou que o veículo foi desligado
às 23h36min11s. Alexandre disse, em seu depoimento, que
gastou cerca de cinco minutos no percurso até o apartamento
no 6º andar e pôr Isabella na cama, gastando cerca de 4
minutos no retorno até a garagem, onde estariam Anna
Carolina e os dois filhos do casal. Desta forma, Alexandre teria
chegado ao apartamento por volta de 23h41min11s.

23h36min11s 23h49min59s
O veículo foi Primeira chamada para o resgate,
desligado realizada pelo morador do 1º andar

Figura 2:
Depoimento de
Alexandre Nardoni.
Fonte: labSEAD- Entre a saída de Alexandre do apartamento
UFSC (2020). e a 1ª ligação, passaram-se menos de 9 minutos

98 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Assim sendo, seriam 9 minutos para que um suposto invasor
destrancasse a porta, asfixiasse a menina, cortasse a tela de
proteção da janela do quarto de Pietro e Cauã, fosse no quarto
vizinho buscar Isabella e a atirasse pelo buraco, limpasse
alguns vestígios e depois se retirasse do apartamento sem ser
visto por ninguém.

Cabe ainda a informação de que um vizinho contou à polícia


que ouviu gritos de uma criança dizendo “para, pai” antes
de Isabella ser jogada. Disse ainda que o casal brigava
constantemente e que, antes do crime, os dois tiveram uma
briga “de desespero”.

O LOCAL DO CRIME
No apartamento do casal, foram encontradas várias manchas
de sangue: nos dormitórios, corredor, na maçaneta da porta de
entrada da residência do casal e no lençol de uma das camas
do quarto dos irmãos de Isabella. Os locais de maior acúmulo
de sangue foram limpos, sendo identificados pela perícia com
o uso de luminol e equipamento de luz forense.

Figura 3: Vestígios
de sangue que
foram limpos, mas
identificados pela
perícia.
Fonte: Instituto de
Criminalística SSP/
SUPTC (2008).

Conforme laudo pericial, o sangue encontrado no apartamento


pingou de uma distância entre 1,20 metros e 1,30 metros,
compatível com a altura do pai carregando Isabella no colo.

99 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Figura 4: Exame
pericial demonstrou
que Isabella foi
carregada por
alguém de 1,80
metros.
Fonte: Instituto de
Criminalística SSP/
SUPTC (2008).

Perto do sofá ficou a maior concentração de sangue, indicando


onde a menina permaneceu em repouso a maior parte do tempo.

A tela de proteção da janela do apartamento foi cortada.


De acordo com a perícia, ela foi seccionada com uma tesoura
multiuso e uma faca doméstica, encontradas na pia da
cozinha do apartamento. Na tesoura, foi encontrado um
fragmento de fio da rede. Ele estava preso na parte central da
tesoura, logo abaixo do mecanismo de articulação.

Figura 5: Tesoura
multiuso e uma
faca doméstica
apreendidas no
apartamento.
Fonte: Instituto de
Criminalística SSP/
SUPTC (2008).

Marcas de solado de calçado constatadas pela perícia no lençol


da cama de um dos irmãos de Isabella foram comparadas com
as impressões do solado da sandália pertencente a Alexandre,
obtendo-se perfeita correspondência.

100 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Segundo a perícia, as marcas foram produzidas quando
Alexandre subiu na cama para cortar a tela de proteção da
janela para jogar Isabella.

Figura 6: Marcas
de solado
encontradas em
lençol, compatíveis
com a sandália de
Alexandre Nardoni.
Fonte: Instituto de
Criminalística SSP/
SUPTC (2008).

Foram encontradas marcas de remoção das sujidades do


revestimento externo do edifício, logo abaixo da janela.

Conforme alegou a Polícia Científica, tal remoção foi produzida


pelos dedos da mão direita de Isabella, ao ser jogada pela janela.

Figura 7: Marcas
de remoção
de sujidades
encontradas no
revestimento
externo do edifício.
Fonte: Instituto de
Criminalística SSP/
SUPTC (2008).

Marcas das sujidades da tela de proteção da janela foram


encontradas na camisa que Alexandre usava no dia do crime.
Foram realizadas várias simulações, a fim de verificar como
teriam sido produzidos os vestígios encontrados na camiseta de
Alexandre. Confira.

101 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Figura 8: Posição,
conforme simulado,
em que foram
produzidas as
marcas da tela
na camisa de
Alexandre.
Fonte: Instituto de
Criminalística SSP/
SUPTC (2008).

Apenas a posição de quem joga Isabella é compatível com as


marcas encontradas na camisa de Alexandre.

O TRABALHO DA POLÍCIA CIENTÍFICA


A perícia encontrou sangue com perfil genético compatível com o
de Isabella na lateral esquerda da cadeirinha de bebê do irmão, no
encosto de cabeça do banco do condutor e no assoalho posterior
ao referido banco, lugar onde Isabella estaria acomodada no
Romboide é o veículo de Alexandre.
formato visto
em chaves para
fechadura, anéis Segundo as conclusões da perícia, a madrasta, Anna Carolina,
ou similares. ainda no interior do veículo, feriu Isabella na testa com um
instrumento de formato romboide.

Figura 9: Ferimento
encontrado na
testa de Isabella.
Fonte: Instituto de
Criminalística SSP/
SUPTC (2008).

102 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
No trajeto do carro até o apartamento não foram encontrados
vestígios de sangue, significando que o ferimento foi
tamponado. Durante as investigações, foi encontrada uma
fralda de pano no interior de um balde, mergulhada em água
com amaciante. A fralda, quando submetida a exames com
a utilização de luminol, deu resultado positivo para sangue.

Figura 10: Aspecto


da fralda após
a aplicação do
reativo.
Fonte: Instituto de
Criminalística SSP/
SUPTC (2008).

Segundo a perícia, a fralda foi utilizada para estancar o


sangue do ferimento na testa de Isabella neste trajeto.

A condenação dos réus


Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram condenados
pelo crime de homicídio triplamente qualificado (meio cruel,
por asfixia, sem chance de defesa, Isabella estava inconsciente
ao cair da janela, alteração do local de crime, para ocultar
crime anterior).

Alexandre foi condenado à pena de 31 anos, 1 mês e 10 dias


de reclusão, a ser cumprida inicialmente em regime fechado
pelo crime de homicídio triplamente qualificado.

Anna Jatobá foi condenada a pena de 26 (vinte e seis) anos e


08 (oito) meses de reclusão, a ser cumprida inicialmente em
regime fechado.

103 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
A pena maior de Alexandre decorreu do agravante dele ser pai
da menina. Posteriormente, ocorreu a redução da pena aplicada
a Alexandre Nardoni em 11 meses. A correção foi devido a um
erro de cálculo cometido quando foi fixada a sentença original.
Os réus também foram condenados pela prática do crime de
fraude processual qualificado à pena de 8 meses de detenção a
ser cumprida inicialmente em regime semiaberto.

REFLEXÕES SOBRE O CASO


Este caso provocou comoção nacional, tendo como
consequência uma enorme pressão sobre os peritos
criminais envolvidos na investigação do caso. Felizmente,
boa parte das evidências encontrava-se preservada, sendo
este um fato fundamental para o trabalho da Polícia Científica
na elucidação do caso.

104 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Aula 2 – Caso Josilei Gaspar

CONTEXTUALIZANDO...
O caso de Josilei Gaspar apresenta diversos elementos
importantes para o processo de investigação criminal. A perícia
encontrou diversos vestígios no local, permitindo identificar os
responsáveis pelo assassinato. Confira!

O CRIME
O dentista Josilei da Silva Gaspar, de 37 anos, teve a casa invadida,
sendo sequestrado na noite de sábado do dia 23 de setembro de
2017, no município de Juara (MT), a 695 km de Cuiabá.

Estudo de Caso

O roubo seguido pelo sequestro


aconteceu por volta das 22h30.
Após tomar conhecimento das
imagens, amigos e parentes do
dentista se mobilizaram com o
objetivo de encontrar Josilei.
O veículo foi localizado pela Polícia
Militar na manhã do domingo (24),
no município de Cáceres (MT),
Figura 11: Josilei Gaspar.
Fonte: Gaspar (2017). a 690 km de Juara, na região de
fronteira com a Bolívia.
Ainda no domingo, por volta das 16h30, Josilei foi encontrado sem
vida por amigos que faziam buscas por ele na região. Ele estava
com uma marca de tiro na nunca e outra nas costas e com as mãos
e pés amarrados.

As imagens das câmeras de segurança da residência mostravam


Josilei sendo amarrado por três indivíduos encapuzados.

105 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
O LOCAL DO CRIME
Embora o corpo tenha sido encontrado por volta das 16h30, ainda no
período diurno, o trabalho pericial foi iniciado apenas às 19h10, já no
período noturno.

Figura 12:
O isolamento foi
iniciado tão logo a
polícia chegou ao
local.
Fonte: Porto
Notícias (2017).

O lapso temporal entre o chamado e a chegada da equipe pericial ao


local do evento decorreu em virtude de a sede da Gerência Regional
responsável pelo atendimento de Juara ser localizada em Juína, a
190 km de distância da primeira.

Figura 13:
Direção das marcas
de calçados na
trilha.
Fonte: A Verdade
dos Fatos (2017).

Apesar desse lapso, os profissionais responsáveis pelo


isolamento e preservação do local fizeram um excelente
trabalho, mantendo o local isolado até o encerramento
do trabalho pericial, fato relevante para a preservação de
vestígios que ajudaram a desvendar o caso.

106 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Figura 14:
Marca de solado de
calçado verificado
na calça da vítima.
Fonte: Dentista...
(2017).

Mesmo sendo um vestígio frágil, de fácil destruição, até


mesmo por estar exposto às intempéries, a perícia encontrou
dois rastros formados por solados de calçados diferentes
entre si, como também incompatíveis com o solado do par
de sapatos utilizado pela vítima. Os rastros iam da estrada
até o local onde estava o corpo de Josilei. Além dos rastros
encontrados no solo, na calça da vítima havia uma marca de
solado de calçado na região glútea.

Confira a seguir o trabalho da polícia científica na coleta e


análise dos vestígios encontrados no local do crime.

O TRABALHO DA POLÍCIA CIENTÍFICA


Além do exame realizado no local, foram apreendidos e
encaminhados à perícia três pares de calçados pertencentes aos
suspeitos para exame de comparação de impressões plantares:
um par de botinas, um par de tênis e um par de sandálias.

Figura 14:
Solado do par de
tênis apreendido e
marca encontrada
no solo.
Fonte: Perícia
Oficial e
Identificação
Técnica (2017).

107 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Realizada a comparação, a perícia concluiu que os desenhos
dos solados do par de botinas e do par de tênis seguiam
o mesmo padrão das marcas de solado encontradas no
solo pelo perito responsável pelo exame do local. A marca
encontrada na calça da vítima era compatível com o desenho
do solado do par de tênis examinado.

Cabe ressaltar que os pares de calçados examinados pela perícia


pertenciam aos suspeitos que conduziam o veículo furtado e que
inicialmente negavam a participação na execução de Josilei.

A prisão dos suspeitos e condenação dos réus


O Grupo Especializado em Policiamento de Fronteira (GEFRON),
informado de que uma Hilux com placa de Juara e com as
mesmas características do carro do dentista trafegava na rodovia
MT-343, em direção a Cáceres, ficou em alerta na estrada.

Assim que os policiais avistaram o veículo, deram ordem de


parada, porém os dois ocupantes não obedeceram a essa
ordem e seguiram em alta velocidade. Houve perseguição
e troca de tiros. Na entrada de uma fazenda, os elementos
pararam o veículo e evadiram na mata fechada.

No dia seguinte, manhã de segunda-feira (25), Policiais do


6º Batalhão de Polícia Militar de Cáceres prenderam os dois
suspeitos, Fábio Almeida dos Santos e Raul César de Oliveira
Corandi, quando
saíam de uma área de
mata onde estavam
escondidos desde a
manhã de domingo.
Em posse dos
suspeitos, os policiais
Figura 16: apreenderam uma
Os quatro
envolvidos no aliança e os óculos que
crime. a vítima usava no dia
Fonte: Barbosa
(2018). em que foi morta.

108 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Inicialmente, os dois suspeitos confirmaram participação apenas
no roubo, sendo responsáveis somente por levar a caminhonete
até Cáceres, e que nada teriam a ver com o sequestro e o
assassinato do dentista. Posteriormente, confessaram a
participação no assassinato do dentista. Disseram, ainda, que o
veículo da vítima seria trocado por drogas.

Uma operação conjunta das Polícias Civil e Militar de Juara


prendeu, na manhã do dia 29, Cleber Ferreira Nogueira, autor
dos disparos. O quarto integrante, Renato Nascimento de
Oliveira, foi preso posteriormente.

Os quatro réus foram condenados pelos crimes de


organização criminosa e latrocínio. As maiores penas foram
aplicadas a Fábio e a Cléber. Ambos foram condenados à pena
de 34 anos de reclusão. Raul firmou acordo de colaboração
premiada com a Justiça e teve a pena atenuada, sendo
condenado à pena de 19 anos e 7 meses de reclusão. Renato
foi condenado à pena de 18 anos de reclusão, uma vez que
não participou diretamente do latrocínio. Todas as sentenças
previam o cumprimento inicial da pena em regime fechado.

REFLEXÕES SOBRE O CASO


Neste caso particular, foi fundamental a ação rápida no
isolamento do local, o que permitiu a preservação de pegadas na
areia (vestígio de fácil destruição), as quais foram fundamentais
na confirmação da identidade dos autores do crime.

109 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Aula 3 – Caso Mikaely Ferraz

CONTEXTUALIZANDO...
O caso que inicialmente foi investigado como suicídio
surpreendeu a todos ao final da investigação. Mikaely,
namorada de Gleidson Maciel, cabo da Polícia Militar do Pará,
morreu com um tiro de pistola calibre .40. Confira a seguir
como as investigações foram importantes para entender a
morte de Mikaely.

O CRIME
Na noite de 31 de agosto de 2016, em sua residência na
cidade de Parauapebas (PA), Mikaely Steffany Ferraz Spinola,
de 22 anos, supostamente teria cometido suicídio, fazendo
uso de uma pistola calibre .40, pertencente à Polícia Militar e
cautelada ao cabo PM Gleidson Maciel, com quem a jovem
mantinha um relacionamento amoroso.

Estudo de Caso

Segundo Gleidson, ambos saíram


para comer um espetinho, logo
retornando à residência da vítima,
lugar onde teria ocorrido uma
discussão motivada por ciúmes.
Em dado momento, Gleidson estaria
assistindo televisão na sala quando
Mikaely teria entrado no quarto.
Logo em seguida, o militar teria
recebido uma mensagem de texto
Figura 17: Mikaely Steffany
Ferraz Spinola. dizendo que, a partir daquele
Fonte: Zé Dudu (2016). momento, ele poderia se sentir livre
para ficar com uma garota chamada Danny e em seguida teria
escutado o barulho do disparo. O policial militar encontrava-se no
interior da residência de Mikaely naquele momento.

110 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Logo após o ocorrido, o cabo PM entrou em contato com seus
superiores no 23º BPM e foram realizados os procedimentos de
praxe, incluindo o isolamento do local, impedindo a entrada de
outras pessoas até o término do trabalho pericial.

O LOCAL DO CRIME
Os exames realizados foram concentrados na sala, na cozinha e
em especial no quarto, onde se encontrava o corpo da vítima.

Na cozinha, sobre a geladeira, e no quarto, sobre uma cômoda,


foram encontrados alguns medicamentos, mas nenhum deles
associado ao tratamento de transtornos mentais. Tratava-
se de fármacos da classe dos analgésicos, antibióticos,
antifúngicos e anti-inflamatórios.

Este fato causou desconfiança no perito que atendeu a


ocorrência. Na parede da cabeceira, havia manchas de sangue
por projeções de alta energia em formato radial, provenientes
da lesão no corpo da vítima.

O corpo de Mikaely foi encontrado estendido sobre a cama,


cabeça sobre o travesseiro, próximo à parede da cabeceira.
O braço direito encontrava-se projetado para fora da cama.

No corpo da vítima, a perícia constatou um ferimento de


entrada de projétil de arma de fogo (PAF), localizado na região
clavicular à direita, ligeiramente elíptico, apresentando zona
de chamuscamento, característico de disparo efetuado com
cano encostado, porém ligeiramente descolado da pele.

No rosto da vítima, face direita, também havia manchas de


sangue produzidas por projeções de alta energia, porém,
mais agrupadas que as verificadas na parede. A arma estaria
inclinada na direção da parede para o ferimento.

Veja a seguir a imagem do corpo no local do crime, você


perceberá que as manchas são projetadas na parede,
conforme verificou a polícia pericial.

111 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Figura 18:
Projeção de
manchas de
sangue.
Fonte: Centro de
Perícias Científicas
Renato Chaves
(2016).

Você verá em seguida como se deu a análise dos vestígios


pela polícia científica, confira!

O TRABALHO DA POLÍCIA CIENTÍFICA


De posse das informações colhidas no local do crime, bem
como das informações fornecidas pelo exame necroscópico,
a perícia paraense procedeu a reprodução simulada com o
intuito de testar as hipóteses de suicídio e de homicídio.

Figura 19:
Simulação do
suicídio.
Fonte: Centro de
Perícias Científicas
Renato Chaves
(2016).

Testada a hipótese de suicídio, verificou-se que a vítima


teria extrema dificuldade para manter a arma na posição que
provocaria os efeitos na lesão, os vestígios no rosto e na parede
e o trajeto do projétil no corpo no momento de acionar o gatilho,
tanto ao utilizar a mão direita, como também, a esquerda.

112 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Figura 20:
Simulação do
homicídio.
Fonte: Centro de
Perícias Científicas
Renato Chaves
(2016).

Em seguida, foi testada a hipótese do homicídio. No evento,


quando foi testada a posição para utilização da mão esquerda
para segurar a pistola, foi verificado grau de dificuldade médio
para a execução do disparo, porém era possível executar
tal movimento. Já com o teste utilizando a mão direita para
segurar a pistola, foi verificada ergonomia compatível para
posicionar a arma na posição (que provocaria os efeitos na
lesão e o trajeto do projétil no corpo) e acionar o gatilho, sendo
esta a posição mais provável adotada pelo executor.

O laudo cita, ainda, Rabello (1982), o qual afirma que:

Palavra do Especialista
O gesto do suicida, normalmente, é aquele que lhe demandar
menor esforço e, pois, o mais cômodo, espontâneo e natural
e, ao mesmo tempo, aquele que, mesmo empiricamente, o
 indivíduo sabe, ou supõe, ser o mais eficaz. Por isso, a preferência
dominante é a dos tiros na cabeça, sendo pouco frequente se
decidir o suicida por tiro no peito e raríssimo escolher outra
região de sua anatomia (RABELLO, 1982).

Segundo o autor, tiros na cabeça normalmente ocorrem


na região temporal, na esquerda ou direita, considerando o
indivíduo ser destro ou canhoto. Na ordem de preferência, está
o ouvido e, com menor frequência, a boca.

113 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Apoiada em Rabello, nos vestígios encontrados no local,
nas informações fornecidas pelo exame necroscópico e nas
circunstâncias verificadas na reprodução simulada, a Polícia
Científica concluiu que Mikaely fora de fato assassinada.

A condenação do réu
Além da perda do cargo policial, o acusado foi condenado a 19
anos e 3 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado.
Na sentença, foi considerada a qualificadora do motivo fútil,
dado o ciúme excessivo. Concorreu em desfavor do acusado
o fato do crime ter sido perpetrado mediante recurso que
dificultou a defesa da vítima.

REFLEXÕES SOBRE O CASO


A preservação do local foi determinante para o sucesso da
execução da reprodução simulada dos fatos, provocando uma
reviravolta no caso.

114 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Aula 4 – Caso Valcir Tenório

CONTEXTUALIZANDO...
Valcir Leite Tenório morreu após ser encontrado, com vida,
em Pindorama (AL). Neste curso, o caso de Valcir é o único
em que a vítima pôde dar depoimento para auxiliar a polícia
na investigação. Confira a relação da investigação com os
depoimentos colhidos, assim como os vestígios encontrados
no local do crime.

O CRIME
Na manhã do dia 20 de agosto de 2019, Valcir Leite Tenório,
37 anos, foi encontrado em um canavial por moradores do
Povoado Pindorama, zona rural do município de Coruripe
(AL), apresentando queimaduras de 2º grau em quase toda a
extensão do corpo e com perfurações de arma branca.

Estudo de Caso
Ainda com vida, Valcir foi
procurado na Unidade de Pronto
Atendimento de Coruripe.
Ele contou que, na noite anterior,
conduzia sua caminhonete e, ao
reduzir a velocidade para passar

Figura 21: Valcir Leite Tenório.


por um quebra-molas, teria
Fonte: Borges (2016). sido abordado por dois homens
que o arrancaram do veículo e
o espancaram. Na sequência o esfaquearam, ateando fogo em
seu corpo logo em seguida. Nessa ocasião, Valcir revelou várias
características físicas de seus agressores.
A vítima também contou que estava consciente, mas não
tinha condições de andar, então arrastou-se pelo chão de terra
enquanto pedia ajuda. A população acionou a Polícia Militar, que
o levou à Unidade de Pronto Atendimento de Coruripe. Dada a
gravidade dos ferimentos, foi transferido para o Hospital Geral

115 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
do Estado. Três dias depois do atentado, apesar dos cuidados
médicos, Valcir não resistiu e veio a falecer.

O veículo da vítima foi encontrado abandonado à beira da


rodovia AL-110, zona rural do município de São Sebastião, a
mais de 20 km de onde Valcir foi encontrado.

O início das investigações


A partir do relato acima, a Polícia Civil iniciou as investigações,
que apontaram como suspeitos do crime Willames França da
Silva e Allan Chrystian da Silva.

Figura 22:
Allan Chrystian da
Silva e Willames
França da Silva.
Fonte: Exclusivo...
(2019).

A motivação do crime seria uma dívida que Allan tinha com


Valcir, mas faltava a prova pericial.

O LOCAL DO CRIME
Assim que o veículo foi localizado, policiais militares foram
acionados e seguiram até o local, mas evitaram manusear o
veículo, uma vez que verificaram a existência de impressões
papilares e manchas de sangue. O veículo foi preservado até a
chegada da Polícia Científica.

O TRABALHO DA POLÍCIA CIENTÍFICA


A perícia alagoana realizou um trabalho meticuloso e rigoroso
de varredura na busca de vestígios que pudessem confirmar a
participação dos suspeitos no crime.

116 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Figura 23:
A PM aguardou a
chegada da perícia,
fator decisivo na
preservação.
Fonte: Perícia
Oficial do Estado de
Alagoas (2019).

Confira o trabalho realizado pela polícia científica no local do crime.

Figura 24:
Coleta de
impressões latentes
no retrovisor
interno.
Fonte: Perícia
Oficial do Estado de
Alagoas (2019).

Os peritos identificaram e coletaram vestígios biológicos e vários


fragmentos papiloscópicos em diversas regiões do veículo.

Figura 25:
Perícia confirma
que fragmentos
papiloscópicos
encontrados no
retrovisor são de
José Willames.
Fonte: Perícia
Oficial do Estado de
Alagoas (2019).

117 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Dois dos fragmentos papiloscópicos encontrados no espelho
do retrovisor interno convergiram para o polegar direito de
José Willames, quando comparados com a ficha datiloscópica
do instituto de identificação, confirmando a presença do
suspeito no veículo.

Dada a repercussão do caso à época e com o progresso das


investigações, Allan Chrystian e Willames França fugiram.
Willames foi capturado na casa de familiares em Arapiraca
(AL), na manhã do dia 15 de outubro de 2019.

Caso ainda aguarda julgamento


Até o início de fevereiro de 2020, as últimas informações
davam conta de que Allan Chrystian ainda se encontrava
foragido da Justiça. Dada a recenticidade do caso exposto,
o processo ainda corria na Justiça e não havia data marcada
para o julgamento.

REFLEXÕES SOBRE O CASO


É uma grande tentação para os agentes de segurança
vasculharem o veículo à procura de pistas que possam ajudar
nas investigações, sobrepondo, desta forma, suas próprias
impressões papilares sobre as do suspeito. Mesmo que tal
atitude seja realizada de boa-fé, este caso demonstra ser
fundamental a preservação do local.

118 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Aula 5 – Caso Bruna Ferreira

CONTEXTUALIZANDO...
O caso de Bruna Ferreira será estudado com objetivo de entender
a importância de preservar o local do crime e o corpo de vítimas
sem vida, permitindo que a polícia e perícia possa realizar o
exame pericial do local. Continue os estudos e confira!

O CRIME
Por volta das 13 horas da tarde do dia 15 de outubro de 2013,
policiais civis encontraram o corpo de uma menina de 11 anos
parcialmente coberto de lama e vegetação. Tratava-se do
corpo de Bruna Ferreira da Costa Ribeiro, que desde a tarde do
dia anterior estava desaparecida.

Estudo de Caso

O corpo foi encontrado em uma região coberta por vegetação


de médio porte, a cerca de 250 metros da chácara onde residia
Moisés Alves, primo da garota, que, dadas as circunstâncias,
tornar-se-ia o principal suspeito do crime.

Ele era o único que estava junto com Bruna quando ela
desapareceu, além de ser usuário de entorpecentes. O exame
superficial do corpo revelou diversas feridas corto-contusas na
região frontal e na face, indicando que a menina fora agredida.
Havia a ainda a suspeita de estupro.

Após o exame do local, a vítima foi removida para o necrotério do


Instituto Médico-Legal de Curitiba para ser submetida ao exame
de necropsia, no qual foi confirmado que Bruna fora estuprada.

119 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
O início das investigações
O relato de Moisés sobre a ordem dos acontecimentos
relacionados à morte de Bruna deu início às investigações.

Segundo Moisés, ele estaria na piscina com Bruna, momento em


que, na intenção de caçar passarinhos, teria ido para o interior da
residência pegar chumbinhos para utilizar com uma espingarda
de pressão, que estaria sobre uma mureta ao lado da piscina.

Em seguida, disse que, quando retornava para a piscina, teria


ouvido gritos de socorro de Bruna e que, ao chegar à piscina,
teria avistado Bruna sendo arrastada por dois homens, que
também carregaram a espingarda. Moisés afirmou que passou
a persegui-los a distância.

No momento em que estaria em uma região de mata mais


fechada e bem mais próximo aos supostos agressores, um
deles teria percebido sua presença, o que teria feito com que ele
tentasse fugir, sendo perseguido e alcançado.

Nesse momento, teria sido agredido com um pedaço de pau de


cerca de um metro e não muito grosso, o que seria a causa de
ferimentos encontrados em suas mãos, por tê-las utilizado para
defender-se. Afirmou ainda que o agressor o agarrou pelo calção,
mas conseguiu desvencilhar-se do agressor, que teria ficado
com seu calção nas mãos, e que, então, teria conseguido fugir.

Inicialmente, o trabalho pericial foi dividido em duas frentes:


os exames do local em si concomitantes à coleta de vestígios
para posterior exame em laboratório e a Reprodução Simulada
dos Fatos.

O LOCAL DO CRIME
Durante a realização dos exames do local, além de constatar as
condições em que a vítima foi encontrada, entre outros vestígios,
foram observados dois fragmentos que unidos formavam
uma espingarda de pressão, sendo constatada a presença
de pequenas manchas de coloração avermelhada nesses

120 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
fragmentos, bem como um fio de cabelo aderido à alça de mira
da referida arma.

Ao lado do corpo de Bruna, foi encontrado um galho de árvore


no qual foi encontrada uma mancha de coloração avermelhada
semelhante a sangue dessecado.

Figura 26: Materiais


recolhidos no
local de crime. Em
destaque, o galho de
árvore.
Fonte: Instituto de
Criminalística do
Paraná (2013).

Coletados o fio de cabelo e amostras das manchas de sangue,


estes materiais foram enviados aos laboratórios de Sexologia
Forense do Instituto Médico Legal e de Genética Molecular (DNA)
do Instituto de Criminalística. A espingarda foi encaminhada
ao Instituto de Identificação para busca de eventuais vestígios
latentes de impressões papilares.

O TRABALHO DA POLÍCIA CIENTÍFICA


O solo estava encharcado, formando muita lama, devido às
chuvas registradas na noite do dia anterior. O corpo de Bruna
foi encontrado parcialmente submerso em lama, apresentando
as feridas já mencionadas.

Figura 27:
Reprodução
simulada dos fatos.
Fonte: Deslandes
(2013).

121 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Concernente à Reprodução Simulada dos Fatos, em resumo
foram percebidas várias inconsistências na versão contada
por Moisés. Ademais, em vários momentos ele titubeava
enquanto contava o que teria ocorrido, caindo em contradição
por diversas vezes.

No dia 21 do mês seguinte, a Polícia Científica do Paraná


emitiu o laudo que comprovaria a participação de Moisés no
crime, através das seguintes conclusões:

• O exame da mancha avermelhada presente no galho de


árvore encontrado ao lado do corpo de Bruna comprovou
que se tratava de sangue humano.
• O material foi então enviado ao Laboratório de DNA, o qual
constatou que o sangue pertencia a Moisés Alves, que,
confrontado com esse resultado, finalmente confessou o crime.

Dadas as circunstâncias, Moisés recebeu voz de prisão tão


logo encerrada a Reprodução Simulada dos Fatos.

Caso ainda aguarda julgamento


Moisés Alves foi indiciado pelos crimes de estupro de
vulnerável, homicídio e ocultação de cadáver. Apesar de
passados mais de 6 anos do crime, até meados de fevereiro de
2020, o caso ainda aguardava julgamento.

REFLEXÕES SOBRE O CASO


O papel da prova pericial foi fundamental no processo, mas isto
não seria possível caso o local não estivesse preservado, apesar
das condições climáticas adversas observadas na noite anterior.

122 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
Exercícios de Fixação

As questões a seguir servem de guia para assimilar o seu


conhecimento sobre o conteúdo aprendido. Você pode utilizar
seu caderno de apontamentos para construir sua reflexão e
conferir as respostas na seção Resolução.

PERGUNTAS

1. No caso Isabella Nardoni, o isolamento e a preservação do


local de crime foram determinantes para o sucesso do trabalho
pericial. Aponte pelo menos uma dessas contribuições.

2. Considerando o caso Josilei Gaspar, o isolamento do local


era garantia inequívoca da preservação dos vestígios?
Justifique sua resposta.

3. No caso Mikaely Ferraz, havia, na parede do quarto e


no rosto da jovem, manchas de sangue produzidas
por projeções de alta energia, vestígio preservado que
foi imprescindível para afastar a hipótese de suicídio.
Qual destas atividades realizadas pela Polícia Científica
comprovou que a tese de suicídio não se sustentava?
a) Perinecroscopia.
b) Exame Papiloscópico.
c) Exame genético (DNA).
d) Reprodução simulada dos fatos.
e) Nenhuma das alternativas acima.

4. Por que o isolamento do veículo pertencente a Valcir Tenório


e a consequente preservação dos vestígios ali encontrados
foi determinante da presença, em algum momento, do
suspeito José Willames no interior do veículo?

5. Apesar das condições climáticas adversas observadas na


noite anterior ao dia em que o corpo de Bruna Ferreira foi

123 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
encontrado, o isolamento do local propiciou à perícia a
chance de examinar vários vestígios ainda preservados.
O resultado do exame de um objeto específico apontava
para Moisés Martins, que finalmente confessou o crime.
Com base no relato, responda:
a) Que objeto era esse e onde ele estava?
b) Qual vestígio foi encontrado nesse objeto?
c) Quais foram os resultados dos exames realizados no
referido objeto?

RESOLUÇÃO

1.
• Demonstração de que a versão contada por Alexandre
Nardoni para o crime não era verdadeira.
• Determinação da dinâmica do evento.
• Determinação da autoria do crime.

2. Não, lembre-se de que um dos vestígios mais importantes


era a trilha formada na areia por solados de calçados, que
poderia ser facilmente destruída por intempéries antes da
chegada da perícia.

3. A reprodução simulada dos fatos realizada pela Polícia


Científica comprovou que a tese de suicídio não se sustentava.

4. O correto isolamento e a consequente preservação dos


vestígios permitiram à Polícia Científica alagoana coletar
uma impressão papiloscópica com qualidade suficiente para
a realização do exame de comparação, o qual concluiu que a
referida impressão pertencia a José Willames.

5. O objeto era um galho de árvore que estava ao lado do


corpo da vítima. O vestígio encontrado no galho de árvore
foi uma mancha avermelhada, sendo posteriormente
comprovado por exames que se trata de sangue
pertencente ao suspeito Moisés Alves.

124 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime
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DELEGADO afirma que Roubo da Toyota Hilux de dentista


morto em latrocínio foi planejado um mês antes. Cáceres
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130 • Módulo 3 Casos Reais que Demonstram a Importância do Isolamento e da Preservação de Locais de Crime

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