You are on page 1of 258

Organizador

Copyright© 2020 by Paulo César Busato


Editor Responsável: Aline Gostinski
Paulo César Busato
Capa e Diagramação: Carla Botto de Barros
Coordenadores
Luís Greco
CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO: Paulo César Busato
Eduardo Ferrer Mac-Gregor Poisot
Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Investigador do Instituto de
Investigações Jurídicas da UNAM - México
Juarez Tavares
Catedrático de Direito Penal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Brasil
Luis López Guerra
Magistrado do Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Catedrático de Direito Constitucional da
Universidade Carlos III de Madrid - Espanha
Owen M. Fiss
Catedrático Emérito de Teoria de Direito da Universidade de Yale - EUA
Tomás S. Vives Antón
RESPONSABILIDADE PENAL
DE PESSOAS JURÍDICAS
Catedrático de Direito Penal da Universidade de Valência - Espanha

ANAIS DO III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA


R342 Responsabilidade penal de pessoas jurídicas : anais
do III seminário Brasil-Alemanha (v. 2, 2019, Berlin)
[livro eletrônico] Organizador Paulo César Busato;
coordenadores Luís Greco ; Paulo César Busato. –
1.ed. – São Paulo : empório do direito. com : Tirant lo VOLUME 2
Blanch, 2020.
2 Mb ; ebook

ISBN: 978-85-9477-475-0

1.Direito penal. 2. Seminário. I. Título.


(projeto PROBRAL CAPES-DAAD)
CDU: 343.222

É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, inclusive quanto às características gráficas e/
ou editoriais.
A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art.184 e §§, Lei n° 10.695, de 01/07/2003), sujeitando-se
à busca e apreensão
R342 e indenizações diversas (Lei n°9.610/98).
Responsabilidade penal de pessoas jurídicas : anais
Todos os direitos desta edição reservados à Tirant Empório do Direito Editoral Ltda.
do III seminário Brasil-Alemanha (v. 2, 2019, Berlin)
Organizador Paulo César Busato; coordenadores
“O presente livro foi realizado com financiamento de projeto de pesquisa pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-
Luís
soal de Nível Superior – Brasil Greco
(Capes), ; Paulo
no âmbito CésarProbral,
do Programa Busato. – 1.ed.
processo – São
nº 99999.008159/2015-07".
Paulo : empório do direito. com : Tirant lo Blanch,
2020.
512 p.
Todos os direitos desta edição reservados à Tirant lo Blanch.
Avenida Nove de Julho nº 3228, sala 404, ed. First Office Flat
ISBN: 978-85-9477-474-3
Bairro Jardim Paulista, São Paulo - SP
CEP: 01406-000
1.Direito penal. 2. Seminário. I. Título.
www.tirant.com.br - editora@tirant.com.br

Impresso no Brasil / Printed in Brazil


CDU: 343.222
APRESENTAÇÃO

O livro que o leitor tem nas mãos é produto da segunda fase de um pro-
jeto PROBRAL, com duração de quatro anos, iniciado por uma parceria que
atualmente se desenvolve entre a UFPR e a Humbolt Universität –Berlin.
A par de várias colaborações entre os professores de uma e outra
instituição, encontra-se ativo um extenso trabalho de discussão de respon-
sabilidade penal de pessoas jurídicas, tema em torno do qual são realizados
vários encontros, seminários e publicações.
O presente volume reúne os anais de um Seminário realizado na Hum-
bolt Universität–Berlin no dia 6 junho de 2019, dentro do calendário geral
do Rechtsphilosophisches Donnerstag-Seminar.
Este seminário, subsidiado parcialmente pela CAPES-DAAD, dentro
do projeto PROBRAL desenvolvido, consistiu na apresentação e discussão de
seis trabalhos dos professores brasileiros do Grupo, na Universidade alemã.
A apresentação – realizada em inglês – gerou a produção de textos
bilíngues.
Ao lado dos textos apresentados, alguns pesquisadores membros do
Núcleo de Pesquisas Sistema Criminal e Controle Social da UFPR, que
não puderam estar presentes no seminário berlinense também oferece-
ram seus trabalhos em formato bilíngue de modo a compor um volume
bastante consistente.
Explorou-se nos trabalhos, tanto as sérias questões dogmáticas rela-
tivas à auto-responsabilidade penal das pessoas jurídicas, a distribuição da
carga penal entre autores e partícipes, pessoas físicas e jurídicas, quanto
questões relacionadas às consequências jurídicas do delito, tais como penas
e medidas de segurança.
A reunião dos textos pretende reafirmar o espaço de discussão do
tema da responsabilidade penal de pessoas jurídicas no Brasil e, ao mesmo
tempo, estimular uma maior difusão das atividades do Grupo de pesquisas
reunido para o projeto, com o formato bilíngue, visando alcançar públicos
6 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

não lusófonos. SUMÁRIO


Agradecemos às instituições CAPES-DAAD pelo apoio no projeto,
bem como aos professores de Direito penal da Humbolt Universität – HETERORRESPONSABILIDADE E AUTORRESPONSABILIDADE
Berlin, em especial ao Prof. Dr. Luís Greco, comigo coordenador de todo PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS. ESPECIAL REFERÊNCIA AO
FATO DE CONEXÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
o projeto. Ângela dos Prazeres
Paulo César Busato

Curitiba, agosto de 2019. A PREVENÇÃO GERAL POSITIVA NA SANÇÃO APLICÁVEL À


PESSOA JURÍDICA: CRÍTICA E SUGESTÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Paulo César Busato Gustavo Britta Scandelari
Guilherme Oliveira de Andrade

SANÇÃO PECUNIÁRIA NA RESPONSABILIDADE PENAL DA


PESSOA JURÍDICA: A EFICÁCIA COMO PREMISSA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Alexey Choi Caruncho
Felipe Atet

MEDIDAS DE SEGURANÇA COMO CONSEQUÊNCIA JURÍDICA


AO DELITO COMETIDO POR PESSOAS JURÍDICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Samuel Ebel Braga Ramos
Rodrigo J. Cavagnari

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA E ATUAÇÃO


DO MINISTÉRIO PÚBLICO: HISTÓRIA E PRÁTICA NO COMMON
LAW . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
André Thiago Pasternak Glitz
Thayse Pozzobon

RESPONSABILIDADE PENAL DO CHIEF COMPLIANCE OFFICER:


A INTERVENÇÃO DELITIVA NO DOMÍNIO DA ORGANIZAÇÃO . . . . . 151
Caio Fernando Ponczek do Prado
Ana Paula Kosak

CRÍTICA AO CRIMINAL COMPLIANCE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179


Fábio Augusto Tamborlin

ANÁLISE DO MODELO DE RESPONSABILIZAÇÃO DE PESSOAS


JURÍDICAS POR ATOS DE CORRUPÇÃO NO BRASIL A PARTIR DO
PARADIGMA ITALIANO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
Roberson Henrique Pozzobon
Suzana Rososki de Oliveira

A PESSOA JURÍDICA COMO RÉ NO PROCESSO PENAL:


ATRIBUIÇÃO DE GARANTIAS PROCESSUAIS E VEDAÇÃO DE
AUTOINCRIMINAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233
Décio Franco David
8 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

INDEX

CRIMINAL HETERO-LIABILITY AND SELF-LIABILITY OF LEGAL


PERSONS. SPECIAL REFERENCE TO THE CONNECTION FACT . . . . . . 265
HETERORRESPONSABILIDADE E
Ângela dos Prazeres AUTORRESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS
Paulo César Busato JURÍDICAS. ESPECIAL REFERÊNCIA AO FATO DE
THE POSITIVE GENERAL PREVENTION IN THE SANCTION CONEXÃO
APPLICABLE TO THE LEGAL ENTITY: CRITICAL ANALYSIS AND
SUGGESTIONS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291
Gustavo Britta Scandelari Ângela dos Prazeres1
Guilherme Oliveira de Andrade
Paulo César Busato2
MONETARY SANCTION IN THE CRIMINAL LIABILITY OF THE
LEGAL ENTITY: EFFECTIVENESS AS AN ASSUMPTION . . . . . . . . . . . . . 321
Alexey Choi Caruncho RESUMO: O objetivo deste artigo é explorar a possibilidade de um sistema de responsa-
Felipe Atet bilidade criminal direta e independente para pessoas jurídicas que possa ser chamado de
autorresponsabilidade sem apelo à falácia do fato de conexão. Para tanto, começa com o
SECURITY MEASURES AS A LEGAL CONSEQUENCE OF THE diagnóstico do sistema de responsabilidade criminal que foi aplicado inicialmente às orga-
CRIME COMMITTED BY LEGAL ENTITIES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353 nizações empresariais, o chamado modelo de heterorresponsabilidade, na forma do sistema
Samuel Ebel Braga Ramos de representação ou pelo sistema vicariante. Depois disso, apresenta fórmulas enunciadas por
Rodrigo J. Cavagnari alguns autores mais recentes como sistemas de autorresponsabilidade, demonstrando que,
ao final, é possível identificar que não passam de intenções não comprovadas. Em seguida o
CRIMINAL LIABILITY OF THE LEGAL ENTITY AND ACTION OF artigo explora as possibilidades de desvelar quais são as exigências teóricas de um verdadeiro
THE PUBLIC PROSECUTOR’S OFFICE: HISTORY AND PRACTICE modelo de autorresponsabilidade para as pessoas jurídicas, identificando o requisito de ação
IN COMMON LAW . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 375 como o ponto básico do princípio da culpabilidade, eis que somente é possível responder
André Thiago Pasternak Glitz por um fato que lhe seja próprio. A proposta de solução, passa pela concepção significativa
Thayse Pozzobon da ação como ponto de partida, chegando à responsabilidade da pessoa jurídica, derivada do
resultado produzido por suas próprias ações como expressões de sentido.
CHIEF COMPLIANCE OFFICER’S CRIMINAL LIABILITY: THE
CRIMINAL INTERVENTION IN THE ORGANIZATION . . . . . . . . . . . . . . 405 Palavras-chave: Responsabilidade criminal de pessoas jurídicas. Fórmulas de imputação.
Caio Fernando Ponczek do Prado Responsabilidade pela conexão. Responsabilidade pelo resultado produzido.
Ana Paula Kosak

REVIEW OF CRIMINAL COMPLIANCE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 431


INTRODUÇÃO
Fábio Augusto Tamborlin * A responsabilidade penal de pessoas jurídicas3 não é novidade, sendo
uma figura jurídica conhecida não apenas no Direito Anglo-Saxão, mas no
ANALYSIS OF THE MODEL OF LEGAL ENTITIES LIABILITY FOR
ACTS OF CORRUPTION IN BRAZIL BASED ON THE ITALIAN próprio Direito continental, desde a Idade Média4. Conquanto tenha per-
PARADIGM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 455 manecido sempre presente no common law, pode-se dizer que no ambiente
Roberson Henrique Pozzobon do civil law caiu no esquecimento, retornando à baila no plano teórico na
Suzana Rososki de Oliveira

THE LEGAL ENTITY AS A DEFENDANT IN THE CRIMINAL 1. A autora é pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Sistema Criminal e Controle Social da UFPR e do
Grupo de Pesquisas Modernas Tendências do Sistema Criminal da FAE e advogada criminalista.
PROCEEDING: ASCRIBING OF PROCEDURAL GUARANTEES AND 2. O autor é Doutor em Problemas Atuais do Direito penal pela Universidad Pablo de Olavide, de Sevi-
IMPEDIMENT OF SELF-INCRIMINATION . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 481 lha, Espanha, Professor da UFPR e da FAE-Centro Universitário e Procurador de Justiça do Ministério
Décio Franco David Público do Estado do Paraná.
3. Doravante, no texto, abreviada como RPPJ.
4. Cf. SMANIO, Gianpaolo Poggio. Princípios de tutela penal dos interesses difusos ou direitos difu-
sos, in Revista Justitia. São Paulo, n. 64, (197), jul. /dez. /2007, p. 225.
10 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 11

segunda metade do século XIX, por força do advento da teoria da realidade, o princípio de culpabilidade.
de Otto von Gierke5 em contraposição a teoria da ficção, de Savigny6. Ainda Por último, sob forma propositiva, abordar-se-á as possibilidades de
assim, permaneceu ausente do plano legislativo até o último quarto do Século desenvolvimento de um sistema de autorresponsabilidade penal das pessoas ju-
XX, quando retornou e espalhou-se pela Europa continental do Século XXI. rídicas a partir de um sistema de imputação ancorado na filosofia da linguagem.
Durante o período de ausência de previsão da responsabilidade penal
de pessoas jurídicas (doravante RPPJ) ocorreu o desenvolvimento de vários e 1. FÓRMULAS DE IMPUTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE
sucessivos sistemas de imputação penal no Direito continental que a desco- PENAL ÀS PESSOAS JURÍDICAS
nheceram completamente. A doutrina penal continental8 admite existirem certas fórmulas de RPPJ
Um dos principais eixos estruturais de tais sistemas de imputação é que confessamente constituem heterorresponsabilidade, mas também aponta
composto pela ideia de responsabilidade individual, corolário do princípio existirem outros já desenvolvidos que efetivamente são de autorresponsabili-
de culpabilidade. Este, por sua vez, é produto da ascensão da racionalidade dade e, inusitadamente, ao menos na Espanha, a partir do seu Código penal
Iluminista, focada na individualidade do homem7, a mesma que conduziu – de 2015, parte da doutrina9 qualifica ter se constituído ali um sistema misto
no direito continental – à abolição completa das responsabilidades coletivas (mescla de autorresponsabilidade e heterorresponsabilidade).
que se possa impor a quem quer que seja.
1.1. SISTEMAS DE HETERORRESPONSABILIDADE
Daí que uma das questões centrais em termos de imputação penal,
São considerados de reconhecida heterorresponsabilidade – por ter em
verdadeiro princípio inegociável, é que qualquer réu só pode responder por
comum a necessidade de afirmação da responsabilidade de uma pessoa física
fatos próprios e jamais por fatos alheios.
– o sistema denominado vicariante ou vicarious liability e o sistema de iden-
Portanto, se existe um avanço em direção à adoção de um modelo con- tificação. Ambos deitam raízes na ideia geral de uma construção oriunda do
tinental de RPPJ, é preciso discutir a formatação de um efetivo sistema de Direito civil10, o chamado respondeat superior.
autorresponsabilidade que logre separar a responsabilidade penal das próprias
pessoas jurídicas frente à responsabilidade penal das pessoas físicas que dela 1.1.1. Respondeat Superior: uma preliminar fundamental
participam e este é o objeto do presente trabalho. A doutrina do respondeat superior é um conceito fundamental da jurispru-
Para tanto far-se-á uma análise dos modelos propostos até hoje para dência anglo-americana, com reflexos em múltiplos campos e que define um
a RPPJ, com o objetivo de comprovar se efetivamente algum deles cor- tipo de relação fiduciária11 entre pessoas naturais e pessoas jurídicas que surge
responde a uma fórmula de autorresponsabilidade ou todos constituem quando uma organização – principal – , consciente de que outra – o agente – ,
fórmulas de heterorresponsabilidade, caso em que, estariam confrontando
8. Veja-se, por todos a referência de GALÁN MUÑOZ, Afonso. La responsabilidad penal de la perso-
na jurídica tras la reforma de la LO 5/2010: entre la hetera y la autorresponsabilidad, in Revista
5. As corporações são “La institución que mejor refleja la peculiar concepción jurídica del pueblo ale- General de Derecho Penal. Barcelona, n. 16, 2011, p. 7.
mán”. A teoria da realidade mostrou-se fundamental para os germanistas, no sentido de entenderem de 9. Por todos, SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Fundamentos del Derecho penal de la Empresa. Mon-
fato a ideia de corporação, enxergando esta como um corpo único, composto por homens, é certo, mas tevideo-Buenos Aires: Edisofer S. L., 2016, p. 367.
com vontade, identidade e existência próprias, em oposição à noção clássica do Direito romanista de 10. Mais especificamente na responsabilidade por danos, onde segue vigendo hoje, no cenário jurídico an-
que só o homem é sujeito de direitos GIERKE, Otto von. Teorias políticas de la edad media. Madrid: glo-americano e canadense, tendo se incorporado à matéria penal por volta do Século XVIII. O tema é
Centro de Estudios Constitucionales, 1995, p. 214. explorado detalhadamente, em suas origens em BRICKEY, Kathleen F. Corporate Criminal Accou-
6. “O conceito primitivo de pessoa, de sujeito de direito, deve coincidir com o conceito de homem, e ntability: A Brief History and an Observation. Washington: Washington University Law Review,
esta primitiva identidade dos dois conceitos pode ser expressa com a seguinte fórmula: qualquer ser 1982, p. 416. Veja-se, também, WEAVER, Russell L.; MARTIN, Eduard C.; KLEIN, Andrew R. Mas-
humano, e apenas o ser humano, tem capacidade de direito”. SAVIGNY, Federico Carlo Di. Sistema tering Tort Law. Durham: Carolina Academic Press Mastering Series, 2009, p. 165-166; SAYRE,
del diritto romano attuale. Trad. Vittorio Scialoja, v. II. Torino: Unione tipografico, editrice, 1888, p. Francis Bowes. Criminal Responsibility for the Acts of Another. Cambridge: HARv. L. Ver., 1930,
02. p. 689- 691; e ESER, Albin. Criminal Responsibility of Legal and Collective Entities. International
7. A racionalidade da culpabilidade provém do Direito canônico, da ideia de culpa que cada um tem pelo Colloquium. Berlim: Freiburg im Breisgau, 1999, p. 161-162.
pecado que comete derivado de seu próprio livre arbítrio. Veja-se comentários detalhados em BRAN- 11. Cf. ÁNGELES VILLEGAS GARCÍA, María. La responsabilidad criminal de las personas jurídi-
DÃO, Cláudio. Culpabilidade: sua análise na dogmática e no Direito penal brasileiro, in Ciências cas. La experiencia de los Estados Unidos. Pamplona: Thomson Reuters/Editorial Aranzadi, 2016,
Penais, vol. 1, jul.-dez. de 2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, pp. 171-184. p. 169. Grifos nossos.
12 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 13

a qual controla, atua em seu nome, ou age em sua representação. Três são as ca- Transpôs-se a doutrina civil de responsabilidade para o âmbito da responsa-
racterísticas próprias desta relação: um mútuo acordo entre as partes; o controle bilização penal de entes coletivos.
do agente pelo principal; a atuação do agente em nome do principal. O ponto de referência que terminou por consolidar tal tendência no
Daí deriva o princípio do respondeat superior, consistente em um crité- Direito estadunidense foi a sentença prolatada pela Suprema Corte, em 1909,
rio de atribuição de responsabilidade ao ente principal pelas consequências no caso New York Central & Hudson River Railroad vs. United Estates, onde a
legais dos atos praticados pelo agente controlado. Ou seja, a pessoa jurídica, corte adotou uma visão pragmática e utilitarista do Direito penal, confiando
representando o ente principal seria responsável pelos atos praticados pelo ser um instrumento próprio para evitar abusos16.
agente, que são seus empregados ou representantes, que agem e atuam no O mesmo modelo foi reconhecido no Direito Inglês, em época similar,
âmbito de suas funções. pela absorção das teses organicistas de Gierke17, com as quais se permitia re-
O fundamento básico desta proposição é a ideia de que uma vez que o conhecer o actus reus e a mens rea da pessoa natural (agente acessório) como
ente principal se beneficia da atuação do agente, deve responder pelos atos por transferidas para a pessoa jurídica (principal), desde que a conduta criminosa
ele praticados em seu benefício. Além disso, a doutrina12 aponta outras razões tivesse sido praticada por um empregado da organização quando do exercício
de ordem lógica para esta classe de responsabilidade, quais sejam, o fato de de suas funções e que o crime tivesse sido praticado com intenção de benefi-
que a vítima não seja capaz de identificar facilmente o empregado diretamente ciar a organização (mesmo que tal benefício não ocorresse)18.
responsável do dano, e sim a empresa que ele representa e o empregado, por Reconhece-se, por isso, tratar-se de um modelo de heterorresponsa-
sua solvência limitada, não ser capaz de enfrentar todas as necessárias com- bilidade penal das pessoas jurídicas19, com clara violação do princípio de
pensações dos danos causados. culpabilidade, em sua vertente de responsabilidade pessoal20. Entende-se,

1.1.2. Modelo Vicariante 16. Cf. ÁNGELES VILLEGAS GARCÍA, María. Op., cit., p. 173-174. Veja-se, também, Justia US Supreme
Court. Case New York Central R. Co. vs. United States, 212 U.S. 481 (1909). Disponível em: https://
supreme.justia.com/cases/federal/us/212/481/. Acesso em: 26 de mar. de 2018. “Em ações criminosas,
O modelo vicariante é o tipo mais comum de responsabilidade indireta uma corporação pode ser responsabilizada por danos causados em virtude dos atos praticados por seus
baseado no princípio do respondeat superior13. agentes no âmbito das suas funções, sejam atos cometidos de forma deliberada, de forma imprudente ou
contra as ordens expressas por seu superior. O ato de um agente que exerce a autoridade de uma empresa
que é uma transportadora designada para praticar taxas para o sistema de transporte pode ser controlado,
Nele, a responsabilidade penal do sujeito, pessoa natural, “cambia”, no interesse da política pública, impondo, assim, o seu ato ao próprio transportador e impondo, também,
sanções para a transportadora. Conquanto corporações não podem fisicamente cometer crimes, elas po-
“troca”, “vicaria” para a pessoa jurídica. Portanto, a responsabilidade da pessoa dem, sim, cometer crimes que consistem em propositadamente praticar atos proibidos pelo estatuto, e
moral provém de atuação de pessoa diversa dela mesma14. nesse caso elas podem ser acusadas de conhecimento dos atos de seus agentes que agem dentro da au-
toridade que lhe fora conferida. O tribunal vai reconhecer que a maior parte do comércio interestadual é
conduzida por corporações, e não vai aliviá-las da punição”. Comentando o caso veja-se, ainda, ORTIZ
Aponta-se15 que o modelo de responsabilidade vicariante foi construído DE URBINA GIMENO, Íñigo. Responsabilidad penal de las personas jurídicas: the American Way,
in: Responsabilidad de la empresa e compliance: programas de prevención, detección e reacción penal.
por decisões dos Tribunais Federais dos Estados Unidos da América que pau- Santiago Mir Puig; Mirentxu Corcoy Bidasolo e Víctor Gómez Martín [dir.]. Juan Carlos Hortal Ibarra e
latinamente reconheceram as pessoas jurídicas como penalmente responsáveis Vicente Valiente Ivañez [orgs.]. Madrid: Edisofer-BdeF, 2014, p. 41-42.
17. Nesse sentido o comentário de GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. Corporate Criminal Liability: algu-
pelos delitos praticados por qualquer de seus representantes ou empregados, nas cuestiones sobre la responsabilidad penal corporativa em los EE. UU, in La responsabilidad
penal de las personas jurídicas, órganos y representantes. Percy García Cavero Mendoza [org.]. Edi-
sempre que suas condutas tivessem sido praticadas no exercício das funções ciones jurídicas, 2004, p. 205-210.
18. Cf. ORTIZ DE URBINA GIMENO, Íñigo. Op., cit., p. 41-42.
que desempenham dentro da organização e com a intenção de beneficiá-la. 19. Nesse sentido, MACHADO, Fábio Guedes de Paula. Reminiscências da responsabilidade penal
da pessoa jurídica e sua efetividade. Revista da Faculdade de Direito de Uberlândia v. 36: 155-181,
2008, p. 166-167.
12. Cf. SALVADOR Coderch, Pablo. Respondeat Superior I. Barcelona: InDret, 2002, p. 4. 20. Cf. TIEDEMANN, Klaus. Responsabilidad penal de personas jurídicas y empresas en derecho
13. Cf. SALVADOR Coderch, Pablo. Ibidem. comparado, in Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 11, 1995, jul.-set, p. 21-35 e NIETO
MARTÍN, Adán. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: esquema de un modelo de
14. Cf. GUARAGNI, Fábio André; LOUREIRO, Maria Fernanda. Responsabilidade penal da pessoa responsabilidad penal. Madrid: Tirant lo Blanch, 2013, p. 8. Há quem sustente que este é o modelo
jurídica: rumo à autorresponsabilidade penal, in: Aspectos contemporâneos da responsabilidade adotado na França. Veja-se o comentário de DECKERT, Katrin. A responsabilidade penal da pessoa
penal da pessoa jurídica. Tomo II. Fauzi Hassan Chourk, Maria Fernanda Loureiro, et. al. [orgs.]. São jurídica na França, in Aspectos contemporâneos da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Fauzi
Paulo: FECOMERCIO, 2015, p. 127. Hassan Choukr, Fernanda Lourenço, Ivens Martins, Abran Szajman e Ivette Senize Ferreira [orgs.].
15. Cf. ÁNGELES VILLEGAS GARCÍA, María. Op., cit., p. 173-174. Volume I São Paulo: FECOMERCIOSP, 2015, p. 198.
14 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 15

portanto, que um agente subordinado, de menor porte, não é mais do que responsabilidade de uma organização, na medida em que os crimes poderiam
“o braço” da entidade jurídica cuja responsabilidade penal não é, portanto, ter sido impedidos por uma melhor escolha ou por um controle mais efetivo27.
pessoal, mas derivada de uma conduta alheia. Importa notar que a “conduta”,
aqui tomada como base, é um dado do plano físico. 2. Os modelos pretendidamente de autorresponsabilidade. O
defeito na auto-organização
1.1.3. Modelo de Responsabilidade por Identificação
É bastante difundida na doutrina mais recente28 a opinião de que a
Nesta fórmula, a responsabilização da pessoa coletiva é construída ex- fórmula de imputação baseada em problemas de auto-organização seria uma
clusivamente a partir da transferência da responsabilidade da pessoa natural classe de autorresponsabilidade dos entes coletivos. Ou seja, afirma-se que é
que atua como órgão: o que realiza o órgão da pessoa jurídica é imputável uma forma de imputar a responsabilidade penal diretamente à pessoa jurídica,
a ela própria21. Entende-se que quando a pessoa natural que representa a a partir de defeitos que esta apresente em sua organização.
empresa age de modo a praticar um delito, então a própria empresa também
Este modelo, segundo Gomez-Jara Díez, seu principal defensor, parte
o está praticando. Portanto, tratar-se-ia de uma fórmula de atribuição de
da assunção da “corrente epistemológica da teoria dos sistemas sociais au-
responsabilidade penal às pessoas jurídicas segundo a qual existe uma relação
topoiéticos”29 ou seja, a fórmula mais radical da teoria luhmanniana dos
de identificação entre o ente coletivo e a pessoa natural que atua em seu nome
sistemas30 que, mesclada ao construtivismo operativo de Teubner31, preten-
e interesse22, como seu verdadeiro alter ego23.
de-se sustentar que a pessoa jurídica possui uma organização estruturada
Aponta-se24 que a base desta fórmula é a ideia de que em se tratando em um sistema, frente ao qual, o fato criminoso praticado por alguém
de pessoas coletivas, compreendidas como construções abstratas, é preciso envolvendo a empresa representa unicamente um input desfuncional, ao
identificar a sede da sua vontade em quem tem conhecimento e controle da qual o sistema reagirá através de um rechace ou incorporação.
ação dirigente, ou seja, no conhecimento e vontade das pessoas que detém o
Os defensores desta perspectiva assumem a ideia de autorreferenciali-
controle organizacional dirigente. Imputa-se à pessoa jurídica os comporta-
dade da empresa e que é o direito quem gera a condição de pessoa. Portanto,
mentos praticados pelos seus órgãos administrativos25.
seja pessoa jurídica ou física, a pena tem o sentido de estimular a adoção de
Os fundamentos desta classe de responsabilização repousam na ideia de uma postura de cidadão fiel ao Direito32. A partir disso a ideia é afirmar que as
que haveria a violação dos deveres de vigilância por parte da empresa frente à
modelo de responsabilidad penal. Resumo monográfico La responsabilidad penal de las personas
prática criminosa e suas condutas seriam as práticas de seus órgãos adminis- jurídicas: un modelo legistivo. Iustel. Madrid. 2008, p. 8-9.
trativos, consistentes especialmente na violação da “necessidade de prevenção” 27. GÜNTER, Heine. Op., cit., p. 23-25 e GUARAGNI, Fábio André; LOUREIRO, Maria Fernanda. Op.,
cit., p. 127.
e dos “deveres de vigilância”. Assim, poder-se-ia estabelecer a lesão da vigi- 28. Defendendo com detalhes, atualmente, esta posição, GOMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. Fundamentos
modernos de la responsabilidad penal de las personas jurídicas. Bases Teóricas, regulación
lância do dever de uma longa cadeia de autores na hierarquia da empresa. internacional y nueva legislación española. Montevideo-Buenos Aires: BdeF, 2010, pp. 30-33.
De modo parecido ONTIVEROS ALONSO, Miguel. La responsabilidad penal de las personas
Em algumas versões da fórmula de identificação, basta que a infração tenha jurídicas en Mexico, in: La responsabilidad penal de las personas jurídicas. [Miguel Ontiveros
sido realizada como consequência de um exercício defeituoso de seus poderes Alonso – Coord.], Valencia: Tirant lo Blanch, 2014, p. 357. De todos modos, convém referir que
estas propostas atuais e melhor acabadas têm por origem claramente a Organisationsverschulden,
de vigilância e controle26, logo, qualquer trabalhador poderia determinar a proposta por Klaus Tiedemann em TIEDEMANN, Klaus. Die Bebußung von Unternehmen nach
dem Zweiten Gesetz zur Bekämpfung der Wirtschaftskriminalität, in: Neue Juristische Wo-
chenschrift. Frankfurt am Main: C. H. Beck, 1988, pp. 1169.
21. Cf. HEINE, Günter. La responsabilidad penal de las empresas: evolución internacional y con- 29. Cf. GOMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. Op., cit., p. 13.
secuencias nacionales, in Responsabilidad penal de las personas jurídicas / coord. por José Hurtado
Pozo, 1997, pp.19-45, p. 23-25. 30. Veja-se LUHMANN, Niklas. Sistemas sociales: lineamientos para una teoría general. Trad. Silvia
22. Comenta tratar-se de uma classe de responsabilidade por atribuição ROBLES PLANAS, Ricardo. Pappe y Brunhilde Erker. Barcelona: Anthropos, 1998, pp. 27-35.
¿Delitos de personas jurídicas? A propósito de la Ley austriaca de responsabilidad de las agru- 31. Para Teubner, a distinção entre autorreferência e heterorreferência ocorre dentro do sistema autopoiéti-
paciones por hechos delictivos. InDret 2/2006, pp. 5-6. co, de modo que as próprias operações cognitivas seriam as responsáveis pela formulação da realidade
23. A expressão é utilizada por TIEDEMANN, Klaus. Op., cit., p. 27. conceitual de sistema e entorno e a unidade e a identidade do sistema decorreria da autorreferenciali-
dade de suas operações e seus processos. A fonte referida por Gomez Jara-Díez é TEUBNER, Gün-
24. Cf. HEINE, Günter. Op., cit., p. 23-25. ther. O Direito como sistema autopoiético. Trad. José Engrácia Antunes. Lisboa: Fundação Calouste
25. Os problemas são explorados por HEINE, Günter. Ibidem. Gulbenkian, 1999, pp. 30 e ss.
26. Cf. NIETO MARTÍN, Adán. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: esquema de un 32. Esta fórmula de equiparação como base – um conceito autopoiético de pessoa como sistema – é tam-
16 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 17

pessoas só são responsáveis pela própria estrutura organizacional, pela forma Afirma-se tratar-se de um sistema de autorresponsabilidade por conta
como reagem às irritações do sistema. de que se atribui a responsabilidade em face de um defeito organizativo da
No que refere especificamente à pessoa jurídica, afirma-se33 ser possível própria empresa e não de atividade alheia. No entanto, todos os sistemas
a RPPJ, estando presentes os seguintes requisitos: um fato de referência; a cir- baseados na auto-organização exigem um ato de referência para a atribuição
cunstância de que a pessoa jurídica tenha se organizado de tal modo a gestar de responsabilidade36. Ou seja, exige-se conduta criminosa de pessoa física.
um risco acima do permitido de ocorrência de fatos como o de referência; Se efetivamente o ilícito da pessoa jurídica consistisse em um defeito da
que tal risco tenha se realizado no resultado lesivo concreto; que se tenha organização completamente independente de qualquer realização de pessoas
atuado em nome ou por conta da pessoa jurídica e que tudo tenha sido feito físicas, este objeto – o defeito da organização – é que deveria ser castigado, e não
de acordo com o interesse da pessoa jurídica. a conduta típica. Ou seja, havendo o defeito, já se justificaria o reconhecimento
À margem das evidentes sobreposições de alguns destes requisitos às da reprovação penal. No entanto, não é isso o que ocorre nem é lógico que seja.
exigências dos modelos que expressamente professam uma heterorresponsa- Então, de que classe de autorresponsabilidade estamos falando? É certo
bilidade, a verdadeira fraude desta argumentação reside no chamado ato de que a possível responsabilidade da empresa não deriva do ato praticado em
referência, que não é mais do que “a existência de uma conduta cometida por si, mas de uma suposta falta de controle sobre sua evitação, provocada pelo
uma pessoa física que lesione ou ponha em perigo um bem jurídico protegido, defeito de organização. Por outro lado, não existe um crime omissivo de
ou seja, que cumpra a vertente objetiva do tipo penal”34. Aí aparece a trans- não se organizar. Isso não se imputa à pessoa jurídica. O crime que se lhe
posição artificial da responsabilidade da pessoa física para a pessoa jurídica. imputa é precisamente o que a doutrina chama, eufemisticamente, de ato de
Note-se que, por um lado, abandona-se a ideia de ação em favor da referência. Este ato de referência é nada menos do que o tipo penal gerador da
ideia de organização, ou seja, não se imputa fazer, mas sim organizar-se, com responsabilidade da empresa!
o propósito de elidir o problema da imputação por conduta alheia, mas, ao
final, se usa um artifício retórico, através de uma denominação vaga, para 3. As exigências teóricas de um verdadeiro modelo de
associar a conduta de uma pessoa física à RPPJ. autorresponsabilidade
À margem da discussão dos outros múltiplos problemas da proposta Por sistemas de autorresponsabilidade37 só se pode aceitar aqueles cuja
do defeito na organização, que vão desde os seus fundamentos teóricos imputação da pessoa jurídica seja completamente independente da imputação
de base até a admissão de uma válvula de escape através dos programas movida contra pessoas físicas, vale dizer, cuja atribuição de consequências
de cumprimento, já de início, percebe-se que se trata de um sistema de derive de um injusto praticado pela própria pessoa jurídica, sem que seja
heterorresponsabilidade com flagrante violação do princípio de legalidade, necessária a identificação de qualquer classe de conduta delitiva de parte de
imputando à pessoa jurídica um fato alheio35. pessoas físicas ainda que estas possam, eventualmente, ocorrer. Esta ocorrên-
cia eventual derivaria, então, em responsabilidade sob forma de concurso de
bém, em certa medida, incorporada pelas idéias de Heine (confira-se HEINE, Günter. Modelle ori-
ginärer (straf-) rechtlicher Verantwortlichkeit von Unternehmen, in: Reform des Sanktionsrecht.
pessoas entre pessoa jurídica e pessoa física.
Bd. III: Verbandstrafe. [Michael Hettinger – ed.], Baden-Baden: Nomos, 2002) e Lampe (confira-se
em LAMPE, Hans-Joachim. Zur ontologischen Struktur des strafbaren Unrechts, in: Festschrift
für Hans Joachim Hirsch zum 70. Geburtstag am 11.April 1999. [Thomas Weigand e Georg Küpper – Tirant lo Blanch, 2014, pp. 501-502.
eds.], Berlin-New York: Walter de Gruyter, 1999), na defesa de fórmulas similares para a atribuição de 36. Nesse sentido PÉREZ, Ana Isabel. Op., cit., p. 35.
responsabilidade penal às pessoas jurídicas a partir de defeitos de organização, embora estes autores o
façam de forma menos completa que Gómez-Jara Díez. 37. Há quem aceite, indevidamente, como sistema de autorresponsabilidade construções onde não existe
33. Assim PÉREZ, Ana Isabel. Modelos tradicionales de imputação de responsabilidad penal a las a agente pessoa física, mas também aquelas onde ele “quase desaparece”. NIETO MARTÍN, Adán.
personas jurídicas, in: Responsabilidad penal de las personas jurídicas [José Luis de ka Cuesta Arza- La responsabilidad penal de las personas jurídicas: un modelo legislativo. Madrid: Iustel, 2008,
mendi – dir.], Cizur Menor: Thomson-Aranzadi, 2013, p. 35. p. 127. Não se pode concordar com esta proposição, justamente pela sua imprecisão. O que é “quase
desaparecer”? Que classe de “semi-desaparecimento” poderia ser considerada uma autorresponsabili-
34. PÉREZ, Ana Isabel. Op., cit., p. 35. dade? Aparentemente, o autor só cria esta artificialidade para procurar encaixar sua própria proposta de
35. No mesmo sentido a crítica de SCHÜNEMANN, Bernd. La responsabilidad penal de las empresas, responsabilidade penal de pessoa jurídica em algo que ele conseguiria, mediante este artifício, incluir
in: La responsabilidad penal de las personas jurídicas. [Miguel Ontiveros Alonso – Coord.], Valencia: no esquema de autorresponsabilidade.
18 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 19

Isto porque, a responsabilidade penal é sempre individual38. Nestes e seu rotundo fracasso dogmático42.
termos, se todo crime consiste em um duplo desvalor: desvalor de ação e Os fenômenos jurídicos não são meros processos causais e, portanto, o
desvalor de resultado, para que se possa atribuir uma responsabilidade penal controle destes processos é insuficiente para identificação de uma ação. Para
a uma pessoa jurídica é necessário que se estruture tal responsabilidade sobre que o conceito de ação tenha alguma capacidade de rendimento no sistema
um resultado e uma ação produzidos pela própria pessoa jurídica. de imputação, deve estar expresso em uma dimensão de sentido e esta só pode
Naturalmente, isso implica uma dupla afirmação: que a pessoa jurídi- ser apreendida contextualmente43.
ca é capaz – por si só – de realizar uma ação e que é capaz de produzir um A superação do conceito de ação ontológico, no entanto, em um primei-
resultado típico. ro momento, não se deu por sua reorientação teórica, mas sim pelo simples
3.1. Uma conduta da própria pessoa jurídica abandono da ação como categoria fundante da teoria do delito, através da
adoção de modelos funcionalistas, baseados na imputação44. Embora isso
A mais comum oposição dogmática à RPPJ é sua suposta incapacida-
afaste o problema da ação ontológica, não resolve a questão da RPPJ, sim-
de de ação. Esta afirmação, porém, deita suas raízes em concepções de ação
plesmente porque, mesmo que se abandone um conceito pré-jurídico de
ontológicas que remontam à virada do Século XIX para o Século XX39, hoje
ação como categoria básica estruturante do delito, não é possível abandonar
já amplamente superadas.
a ideia de que a culpabilidade é um princípio estruturante do Direito penal
Não cabe aqui detalhar a derrocada completa das pretensões de organi- e ele exige, como garantia, que somente se possa imputar a cada um aquilo
zar a teoria do delito a partir de concepções de verdade apriorística assentada, que deriva de sua própria conduta. Vale dizer: o abandono da ação como
usualmente, em um conceito pré-jurídico de ação40, basta assinalar sua inca- categoria do delito não resolve o problema de que a atribuição de resultados
pacidade de oferecer rendimento como categoria básica da teoria do delito41 desvaliosos deve estar em relação direta com a prática de uma conduta que
38. Trata-se de uma decorrência lógica do princípio de culpabilidade, consoante refere Mir Puig em MIR
se possa atribuir diretamente a alguém, para que se justifique a reprovação.
PUIG, Santiago. Derecho penal. Parte General. 5a ed., Barcelona: Reppertor, 1998, pp. 95-96. Para
detalhes sobre as garantias derivadas do princípio de culpabilidade, veja-se BUSATO, Paulo César. Não é um acaso que a substituição da ação pela imputação como catego-
Direito penal. Parte Geral. 4a ed., São Paulo: GEN-Atlas, 2018, pp. 67 e ss.
ria fundante, esbarrando na questão da culpabilidade, levasse, nas construções
39. Vários autores defenderam concepções de ação ontológicas e pré-jurídicas neste período, tais como Von
MERKEL, Adolf. Derecho penal. Parte General. Trad. Pedro Dorado Montero, Montevideo-Buenos funcionalistas, sempre a uma culpabilidade própria da pessoa jurídica, diver-
Aires: BdeF, 2004, p. 22; PRINS, Adolphe. Science pénale et Droit Positif. Bruxelles-Paris: Bruylant-
-Christophe & Cie.-Librairie A. Marescq, 1899, pp. 107-109; LISZT, Franz. Tratado de Derecho penal. sa da das pessoas físicas45, o que certamente é um caminho espinhoso e de
Trad. de Luis Jiménez de Asúa, 4a ed., Madrid: Reus, 1999, p. 262. BELING, Ernst von. Esquema
de derecho penal. La doctrina del delito tipo. Trad. Sabastián Soler, Buenos Aires: el Foro, 2012, ch, 2011, p. 129. Nesse sentido ROXIN, Claus. Op., cit., p. 247; ROXIN, Claus. Kriminalpolitik und
pp. 44-45; ROCCO, Arturo. El objeto del delito y de la tutela jurídica. Trad. Genónimo Seminara, Strfrechtssystem. Berlin: Walter de Gruyter, 1973, p. 5; BAUMANN, Jurgen. Alternativ-Entwurf
Montevideo-Buenos Aires: BdeF, 2001, p. 327; WELZEL, Hans. Derecho penal Alemán. Trad. de Juan eines Strafgesetzbuches: Allgemeiner Teil. Tübingen: J. C. B. Mohr, 1969; SCHMIDHÄUSER,
Bustos Ramírez e Sérgio Yáñez Pérez, Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 1997, pp. 39 e GRISPIGNI, Eberhard. Strafrecht : allgemeiner teil. Tübingen: J.C.B. Mohr, 1970; KAUFMANN, Arthur. Die
Felippo. Diritto Penale Italiano. Milano: Griuffrè, 1952, pp. 23 e ss., porém, mesmo antes deste período ontologische Struktur, in: Festschrift f. H. Mayer, cit., p. 80 e SCHÖNKE, Adolf e SCHRÖDER,
já havia quem estruturasse o sistema de imputação sobre a base de uma ação pré-jurídica. Veja-se, por Horst. Strafgesetzbuch, Kommentar. 15ª.ed., München: C.H. Beck,1970.
exemplo, KLEIN, Ernst Ferdinand. Grundsätz des gemeinen Deutschen peinlichen Rechts. Halle:
Hemmerde und Schwetschke, 1799, pp. 78 e ss., quem propõe o conceito de ação como um dos elemen- 42. Sobre o tema, veja-se comentários críticos em KAUFMANN, Arthur. Die ontologische Struktur der
tos básicos para a imputação é BERNER, Albert Friedrich. Lerherbuch des Deutschen Strafrechts. Handlung, in: Schuld und Strafe, 2ª ed., Carl Heynemanns, Köln: 1983, p. 11 e ss. e p. 26; ROXIN,
Leipzig: Bernhard Tauchnitz, 1857, pp. 138 e ss., no capítulo intitulado “Ação e Imputação”; além do Claus. Contribuição para a crítica da teoria finalista da ação, in: Problemas fundamentais do Di-
multicitado trabalho de Heinrich Luden, Strafrechtliche Abhandlungen de 1840 (Referem-se ao texto reito penal. Trad. Ana Paula dos Santos Luís Natscheradetz, 3a ed., Lisboa: Vega, 1998, p. 109; FRIS-
em questão ROXIN, Claus. Strsfrecht. Allgemeiner Teil. I. 4a ed., München: Beck, 2006, p. 240 e JI- TER, Helmut. Strafrecht. Allgemeiner Teil. Ein Studienbuch. 6ª ed., München: Beck, 2013, pp. 90
MÉNEZ DE ASÚA, Luis. Tratado de Derecho penal. Tomo III. Buenos Aires: Losada, 1965 p. 331). e ss.; DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito penal. Parte Geral. Tomo I. Coimbra: Coimbra Editora,
Para um apanhado detalhado sobre o cenário técnico jurídico-penal a respeito do conceito de ação pré-ju- 2004, pp. 244-246; MUÑOZ CONDE, Francisco e GARCÍA ARÁN, Mercedes. Direito penal. Parte
rídico em termos de teoria do delito, veja-se MARINUCCI, Giorgio. El delito como acción. La crítica General. 8ª ed., Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, p. 217 e LUZÓN PEÑA, Diego-Manuel. Lecciones
de un dogma. Trad. Jose Eduardo Sáinz-Cantero Caparrós, Madrid: Marcial Pons, 1998, pp. 27-43. de Derecho penal. Parte General. Valencia: Tirant lo Blanch, 2012, p. 131-132.
40. Já detalhei tal superação em BUSATO, Paulo César. Direito penal e ação significativa. 2a ed., Rio de 43. Confira-se os detalhes da crítica em VIVES ANTÓN, Op., cit., p. 123-124.
Janeiro: Lúmen Juris, 2010. É conclusiva, a respeito, a entrevista de Luís Greco, concedida ao jornal 44. Especialmente representadas em ROXIN, Claus. Strsfrecht. Allgemeiner Teil. I. Grundlagen. Der
eletrônico Âmbito Jurídico, na qual deixa claro que o papel cumprido pelas teorias clássicas baseadas Aufau der Verbrechenslehre. 4a ed., München: Beck, 2006; ROXIN, Claus. Strsfrecht. Allgemei-
em uma ação pré-jurídica esgotou-se no cenário europeu, especialmente no alemão. Cf. GRECO, Luís. ner Teil. II. Berondere Erscheinungsformen der Straftat. 4a ed., München: Beck, 2006 e JAKOBS,
En Alemania, el finalismo está muerto. Disponível em: https://www.ambitojuridico.com/noticias/ Günther. Strafrecht, Allgemeiner Teil. Die Grundlagen und die Zurechnungslehre. 2a ed., Berlin:
invitado/educacion-y-cultura/en-alemania-el-finalismo-esta-muerto. Acesso em: 03 de jun. 2018. De Gruyter, 1993.
41. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal. 2ª ed., Valencia: Tirant lo Blan- 45. Servem como exemplos a proposta de Dannecker, dividindo entre Individualschuld e Verbandschuld
20 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 21

duvidosos resultados46. A ação se identifica não pela ideação ou pela consecução de um fim, mas
sim pela característica de seguir uma regra, que é de onde deriva a expressão de
3.1.1. A concepção significativa da ação como ponto de partida. sentido que permite diferenciar as ações dos meros acontecimentos como ex-
O problema de delimitação do que é ou não é ação para o Direito penal, pressão de intenções, pretensões e propósitos. Claro está que estes só ganham
deve ser abordado não a partir da discussão sobre se podemos ou não dizer existência no contexto de sua realização.
que a conduta comissiva e a omissão são efetivamente ações a partir da busca Daí que, nas palavras de Vives Antón, a ação passe a ser entendida
de um substrato comum, e sim buscando entender porque, a despeito de que “não como substrato conductual suscetível de receber um sentido, mas como
tenham ou não substrato comum, podem ambas serem interpretadas confor- sentido que, conforme um sistema de normas, pode ser atribuído a deter-
me seu sentido47. Vale dizer: um sistema jurídico-penal de imputação não é minados comportamentos”51.
mais do que a estruturação linguística de uma praxis que consiste em cotejar
A concepção significativa da ação oferece um ponto de partida mais
normas e ações com o objetivo de afirmar, do modo mais justo possível, que
promissor para a discussão deste tema, já tendo sido antes empregada
algumas destas ações são crime e outras não.
como argumento para a afirmação da RPPJ, por alguns dos seguidores
Este sentido de uma ação deve ser buscado no pensamento do segundo desta perspectiva52.
Wittgenstein48, para quem, tal sentido surge da interação social mediada por
Compreender a ação como o significado do que se faz leva a que a
regras, cuja inteligibilidade só é possível no contexto de uma forma de vida
ação só possa ter sentido jurídico desde que interpretada em conjunto com
comum. As formas de vida comuns permitem-nos entendermo-nos acerca dos
seu entorno. Deste modo, como bem refere Carbonell Mateu, “o relevante
usos costumeiros de uma palavra para significar algo e para que uma ação seja
não é nem o movimento, nem sua ausência, mas precisamente esse código
identificada como tal, bem como para identificar de que tipo de ação se trata.
comunicativo”53 que faz identificar a ação como tal. Isto porque “o fato de
Neste ponto, resulta decisiva a contribuição de Habermas49, com sua que tenha uma significação não converte um movimento em ação; simples-
teoria da ação comunicativa, tomada por Vives Antón50 para o desenvolvi- mente a ação se manifesta através do movimento; o significado se manifesta
mento da chamada teoria da ação significativa. através do movimento ou de sua ausência, que deixaram de ser ações para
converter-se em meros suportes físicos – possivelmente prescindíveis – de um
(in: DANNECKER, Gerhard. Zur Notwendigkeit der Einführung kriminalrechtlicher Sanktionen significado social”54.
gegen Verbände. Überlegungen zu den Anforderungen und zur Ausgestaltung eines Verbandss-
trafrechts, in Goltdammer‘s Archiv für Strafrecht, 2001, pp. 112 e ss.), a de Schroth (SCHROTH, Sendo assim, se partimos de que a única coisa que converte uma ausên-
Hans-Juergen. Unternehmen als Normadressalten und Sanktionssubjekte: eine Studie zum Un-
ternehmensstrafrecht. Gießen: Brühlscher, 1993, especificamente, pp. 203 e ss) de culpabilidade fun- cia de movimentos em ação é seu sentido; e que a omissão não requer suporte
cional do órgão (funktionale Organschuld); a de Anne Ehrhardt (EHRHARDT, Anne. Unternehmen-
delinquenz und Unternehmensstrafe: Sanktionen gegen juristische Personen nach deutschem material algum, podemos afirmar, com Carbonell Mateu, que as concepções
und US-amerikanischem Recht. Berlin: Dunker & Humblot, 1994, pp. 186 e ss.), da reprovação por
falta de controle interno, ou as de Lampe (LAMPE, Ernst J.. Systemunrecht und Unrechtssysteme, clássicas de interpretação do que seja uma ação ou omissão, desde um ponto
in: Zeitschrift für die gesamte Strafrechtswissenschaft no 106, Berlin: Walter de Gruyter, 1994, pp. 683
e ss.) e Heine (HEINE, Günter. Modelos de autorresponsabilidad penal empresarial. Propuestas
globales contemporáneas. Cizur Menor (Navarra): Aranzadi, 2006, pp. 47-51) que claramente não se 51. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., p. 221
referem precisamente a determinada ação, mas sim ao seu modo de ser, à sua “tendência criminosa”
(kriminell Anfällig) ou cultura criminosa. 52. Veja-se CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Aproximación a la dogmática de la responsabilidad
46. Confira-se, neste volume, o trabalho de Tracy Joseph Reinaldet dos Santos, Lucas Dalmolin e Pedro penal de las personas jurídicas, in: Constitución, Derechos Fundamentales y Sistema Penal. Sem-
Athayde, quem, por via absolutamente diversa à tomada pelos autores funcionalistas, oferece um con- blanzas y estudios con el motivo del setenta aniversario del Profesor Tomás Salvador Vives Antón.
torno dogmático à culpabilidade de pessoas jurídicas. Tomo I. [J.C. Carbonell Mateu, J.L. González Cussac e E. Orts Berenguer – orgs. ], Valencia: Tirant
lo Blanch, 2009, pp. 317-318; MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. Derecho penal económico y de
47. Cf. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., p. 147. la empresa. 4a ed., Valencia: Tirant lo Blanch, 2014, p. 306; BUSATO, Paulo César e DAVID, Décio
48. WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas. 2a ed., Barcelona: Crítica, 2002, pp. 516-517. Franco. A empresa é capaz de ação? Uma proposta de discussão sobre a capacidade de rendi-
49. O passo a mais de Habermas é valorado por Vives Antón como o intento de buscar as bases de uma mento da concepção significativa da ação no Direito penal empresarial, in: Comentários ao Direito
sociologia que proceda em termos de análise de linguagem, o que vai adiante da mera pretensão “tera- penal Econômico Brasileiro. [José Danilo Tavares Lobato; João Paulo Orsini Martinelli e Humberto
pêutica” de Wittgenstein, que visava apenas o esclarecimento de conceitos. A explicação aparece em Souza Santos – orgs. ], Belo Horizonte: De Plácido, 2017, pp. 19 e ss.
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador Op., cit., p. 209. 53. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Op., cit., p. 316.
50. Veja-se VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., pp. 208-213. 54. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Ibidem.
22 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 23

de vista jurídico, estiveram equivocadamente atreladas a “um pensamento car- Se tem sentido tudo o que, de acordo com a nossa linguagem social e
tesiano e uns vestígios naturalistas irredutíveis”55 completamente incorretos, comunicativa comum, possa ser fonte de significado, ou seja, se uma ação ou
já que “a ação não era o não fazer, mas seu sentido comunicativo”56. omissão, em sentido jurídico, é a expressão comunicativa de um fazer ou não
Portanto, a concepção significativa da ação, ancorada na associação entre fazer, traduzida em um verbo típico que expressa intenções, segundo a lingua-
ação e linguagem traçada pelo Wittgenstein tardio em seus jogos de linguagem, gem comum, parece ser possível afirmar que uma pessoa jurídica efetivamente
abre um novo e promissor campo de exploração do sentido comunicativo do atue. Afinal, há evidente sentido comum nas expressões: a empresa anunciou
que possa ser ação para fins do Direito penal. contratações; a companhia contaminou o rio; pretendendo evitar uma denúncia
criminal, a empresa Z recolheu os impostos que se lhe apontava como devidos. Todas
Não se ignora que o próprio Wittgenstein, ao explorar os jogos de lin-
são, induvidosamente, expressões de sentido denotativas de fins da pessoa jurídica
guagem pareceu referir-se a ações humanas, na medida em que refere a que a
especificamente e não necessariamente das pessoas físicas que a compõem58.
linguagem é uma praxis, o que equivale a referir uma atividade humana guiada
por regras. No entanto, dado que é notório que ele foi acérrimo crítico até Se as formas de linguagem complexas só podem se desenvolver sobre
mesmo da interpretação que de seus trabalhos fizeram seus seguidores mais comportamentos normativos, o que se encontra no fundo dos jogos de lingua-
próximos, é bastante provável que não se logre jamais uma univocidade sobre gem é sempre uma ação, que é a condição última para a prática do fenômeno
a leitura de seus aforismos. linguístico. Então, se faz sentido linguístico comum afirmar um fazer de
pessoas jurídicas, é porque estas ações são algo que se encontra no fundo do
Portanto, ciente de que se trata de uma leitura tendenciosa e parcial
desenvolvimento da própria linguagem com sentido e é o que se lhe permite
a que aqui se faz, gostaria de apontar algumas das proposições contidas nas
reconhecer enquanto tal.
investigações filosóficas que, segundo vejo podem, no mínimo, nos pontos em
que tocam à concepção significativa da ação, esboçar um caminho de trabalho E se, de acordo com a pragmática, as regras da linguagem são o que
em direção a uma fórmula de autorresponsabilidade penal de pessoas jurídicas, permite avaliar e julgar por padrões de correção os usos e significados das pa-
permitindo falar, ao menos, de uma ação que lhe seja própria. lavras, e somente os usos normais podem ser prescritos, ou seja, como falar
corretamente59, caso realmente postular uma ação de pessoas jurídicas fosse um
Partindo da ideia de que os jogos de linguagem compreendem não
contrassenso, deveria ser também um contrassenso linguístico. Porém, o que se
somente as expressões da linguagem, mas todas as ações com as quais estas
vê é justamente o contrário. É tão possível descrever linguisticamente ações de
expressões estão interligadas57, conforma esse campo uma totalidade de sen-
pessoas físicas quanto de pessoas jurídicas, ainda que não sejam coisas idênticas.
tido como produto de sociabilidade ou interatividade. Deste modo, os jogos
de linguagem referem-se a atividades linguísticas específicas, isto é, a certos Os usos das palavras – consequentemente, o reconhecimento das ações
modos de aplicação e instrumentalização da linguagem, não havendo uma – não só não são iguais, como os usos diferentes que fazemos das palavras
característica única partilhada por todos os jogos que constituem a linguagem, constituem a própria linguagem.
portanto, tampouco a respeito de todas as ações. Portanto, se falamos de ações de pessoas jurídicas no entorno do direito,
Isto significa que o sentido da ação de uma pessoa jurídica simplesmente o uso comum jurídico do termo produz sentido comum entre os usuários da
não tem porque se sobrepor ao sentido da ação da pessoa física. O que sim, linguagem jurídica. Trata-se de um uso específico, mas comum, no sentido
parece necessário, é que ambas façam sentido, quando de seu uso na lin- de que é compartilhado por uma comunidade. É por isso que todo sujeito
guagem comum.
58. A respeito das possibilidades de isolamento entre a vontade penal das pessoas jurídicas frente às pesso-
55. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Op., cit., p. 317. as físicas que a compõem, já me pronunciei, detidamente em BUSATO, Paulo César. Vontade penal
56. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Ibidem. da pessoa jurídica, in Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de janeiro: Lúmen Juris,
57. Wittgenstein, Ludwig. Investigações filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cultural, 2011, pp. 211-224.
1979, p. 7. 59. Veja-se Wittgenstein, Ludwig. Op., cit., p. 141.
24 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 25

de direito que descumpra uma norma pode ser objeto de atribuição de sen- siste no reconhecimento de que a pessoa jurídica é perfeitamente capaz de
tido60. Se esta atribuição de sentido se plasma na exigência do cumprimento ter realizações próprias pelas quais será responsável, em estreita obediência
das normas pela submissão de seu comportamento a estas, é bastante claro ao princípio de culpabilidade. Portanto, o mais lógico é que tais resulta-
que quem se submete ou não a tais normas é quem tem capacidade de ação61. dos, quando desvaliosos juridicamente, sejam atribuídos aos entes coletivos,
Enfim, o significado de uma palavra – em nosso caso, as palavras que sempre e quando estes possam ser atribuídos a eles.
compõem os tipos delitivos – não é determinado por um objeto jurídico ou E quando poderão ser atribuídos? Quando forem derivados da conduta
material nem por uma entidade que as realiza (seja física ou jurídica), mas das pessoas jurídicas, vale dizer, quando forem produto da sua vontade, exi-
simplesmente por seu uso na linguagem62, ou seja, por sua aplicação nas gência básica do princípio de culpabilidade.
diferentes circunstâncias que compõem os variados jogos de linguagem63.
Se o limite é o sentido e hoje é possível usar, com sentido jurídico, a 4. As exigências da culpabilidade
expressão a companhia X fraudou balanços, é porque vivemos um contexto em Não se pretende resolver aqui a questão da exigência da culpabilidade
que tal uso é compartilhado por práticas afirmadas. como elemento do delito. Pensamos que a elaboração da categoria da cul-
pabilidade supõe certos requisitos que dificilmente resultariam compatíveis
3.2. A responsabilidade de pessoa jurídica pelo resultado por ela
com as pessoas jurídicas e que, quiçá, a consequência da prática do injusto
produzido
da pessoa jurídica esteja focada muito mais em sua periculosidade do que na
O mesmo entendimento a respeito do desvalor de ação se distende, sem própria culpabilidade.
qualquer dificuldade ao desvalor de resultado.
O estudo que aqui se desenvolve visa precisamente afirmar o plano da
Desde um ponto de vista da linguagem comum, não se pode deixar de culpabilidade enquanto princípio. Afinal, independentemente da base teórica
reconhecer que se atribui certos resultados a pessoas jurídicas como “seus”. Vale que se adote, a responsabilidade penal sempre deve contar com uma dimensão
dizer, é perfeitamente possível reconhecer que uma pessoa jurídica produziu, subjetiva65, o que constitui precisamente uma das garantias que figuram como
causou ou provocou determinado resultado jurídico-penalmente desvalioso. exigências do princípio de culpabilidade. Vale dizer: para que se possa falar
São perfeitamente dotadas de sentido – dentro da linguagem comum de ilícito penal, da possibilidade de atribuição de RPPJ também desde um
– as seguintes expressões: – A companhia de óleo produziu uma contaminação ponto de vista subjetivo, deve-se afirmar a reprovação pessoal66.
da baía da Guanabara; – Atrasando a obra, a empresa X produziu um enorme Portanto, é preciso demonstrar que a pessoa jurídica seja capaz de con-
prejuízo à população; – A empresa Y provocou um enorme prejuízo aos cofres tribuir subjetivamente para o ilícito. “Assim como às pessoas naturais só se
públicos, ao sonegar impostos falseando seu balanço. pode imputar sua conduta auto-determinada, também às pessoas jurídicas
Se estas expressões fazem sentido desde um ponto de vista linguístico, só se pode imputar jurídico-penalmente, em todo caso, a conduta auto-de-
não é razoável que o direito simplesmente as despreze em nome de uma terminada”67, ou seja, uma conduta orientada por dolo ou imprudência. A
absurda pretensão de verdade científica64. Um resultado jurídico justo, con- dimensão subjetiva da imputação (pretensão subjetiva de ilicitude) é atribui-
60. “Quem pode descumprir um dever exigível é sujeito de direito. E ninguém duvida da capacidade de ção de dolo ou imprudência à conduta.
uma pessoa jurídica para descumprir obrigações e adquirir, com isso, responsabilidades patrimoniais
ou inclusive de qualquer outra índole”, logo, “se a ação é significado, as pessoas jurídicas têm capa- Do ponto de vista da imprudência é preciso perceber que se trata de
cidade de ação; podem ser sujeitos de delitos”. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Op., cit., pp.
317-318.
61. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Op., cit., p. 317. 65. A respeito disso, a doutrina é unânime. Veja-se, por todos, LUZÓN PEÑA, Diego-Manuel. Lecciones
62. Wittgenstein, Ludwig. Op., cit., 43. de Derecho penal. Parte General. Valencia: Tirant lo Blanch, 2012, pp. 30-31.
63. Wittgenstein, Ludwig. Op., cit., 197. 66. Neste sentido, comenta Frister: “[...] o princípio de culpabilidade manda submeter à pena só aquelas
64. Na concepção de Vives Antón, a qual aqui se subscreve, tal pretensão deve ser substituída por uma formas de conduta que dependem de uma decisão de vontade”. FRISTER, Helmut. Strafrecht. Allge-
pretensão de justiça. Veja-se detalhadamente em VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., pp. 488- meiner Teil. Ein Studienbuch. 6ª ed., München: Beck, 2013, p. 33.
489. 67. FRISTER, Helmut. Op., cit., p. 35.
26 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 27

uma dupla falta de compromisso: a falta de compromisso para com a produ- responsabilidade penal individual de todos ou de alguns dos partícipes do
ção do resultado e a falta de compromisso para o cumprimento dos deveres órgão colegiado pelas decisões emanadas dele que, levadas a cabo, se tradu-
de evitação deste mesmo resultado68. Esta verificação tem caráter claramente zem em uma infração penal, ou se cumpre identificar uma responsabilidade
atributivo-normativo69. proveniente de um direcionamento de vontade absolutamente diversa da
Por outro lado, no que refere ao dolo, é preciso demonstrar que a pessoa vontade individual dos participantes do colegiado.
jurídica manifesta um compromisso para com a produção do resultado70, Imagine-se o exemplo de uma empresa que ao ampliar suas instalações
fórmula esta que, conquanto seja também normativo-atributiva, atribui uma construiu um novo galpão às margens de um rio, desobedecendo a distância
intenção, ou seja, a expressão de sentido do direcionamento de uma vontade. regulamentar e destruindo a vegetação das margens, sem qualquer licença
Portanto, para permitir a atribuição de RPPJ dolosa como reprovação da autoridade competente73. Constata-se que a referida edificação foi levada
pessoal, é necessário demonstrar que a pessoa jurídica possui vontade própria, a cabo por funcionários da empresa cumprindo ordens diretas de seu órgão
diversa de seus sócios, e que esta vontade é capaz de dirigir a conduta. de decisões, que é um colegiado. Inclusive, as pessoas que trabalharam na
obra nem sempre foram as mesmas, dadas as faltas de alguns funcionários,
No campo empresarial as decisões são tomadas – de regra – no âmbito
demissão de outros, etc., como é comum em uma obra de largo fôlego. Resta
dos colegiados, diluindo entre votos a tomada de decisões, intervenção que é
presente a figura do executor material fungível que faz parte de um aparato
mais próxima de preparação que de uma execução do ato punível. Há casos
de poder que leva a cabo uma decisão colegiada.
que envolvem decisões colegiadas em que efetivamente não se pode falar de
responsabilidade penal individual das pessoas envolvidas e ao mesmo tempo Identificado o crime ambiental consistente na remoção não autorizada
não se pode negar que há uma vontade que expressa um domínio sobre as de matas ciliares, verifica-se que o órgão de decisão da empresa é composto
ações dos executores materiais fungíveis, orientando sua vontade na direção da por três pessoas ou três grupos de pessoas que podemos nominar A, B e C.
realização do ato ilícito. Isto é, paira sobre a execução do evento delitivo uma As regras de gestão da referida empresa propõem que as deliberações serão
orientação da vontade, produto de uma atividade de pessoa jurídica que não tomadas por maioria simples em votação aberta e simultânea. Apurada a ata
se resume a um mero defeito organizacional, mas sim uma orientação positiva, de reunião em que se deliberou pela ampliação da fábrica, constata-se que a
uma deliberação que produz uma ordem de realização concreta do delito. votação foi fracionada em três etapas, sendo que cada votante, sem conhecer
os votos dos demais, e nem o resultado das decisões das demais etapas, deveria
A situação de identificação da autoria no âmbito de órgãos empre-
votar sim ou não a três distintas perguntas: 1a) Devemos ampliar a fábrica
sariais colegiados é comtemplada em forma de ampla discussão por Elena
com uma nova construção? 2a) Podemos construir no único terreno que
Nuñez Castaño71. Reconhece-se, em seu trabalho, que “é perfeitamente
possuímos, devastando mata ciliar? 3a) Devemos pedir autorização do órgão
possível que a decisão que toma o órgão colegiado se revista dos elementos
de controle ambiental para realizar desmatamento em nosso terreno? Postas
típicos da conduta delitiva”72. A questão decisiva, porém, é identificar se há
estas questões, e colhidos os votos, concluiu-se que: à primeira pergunta, A
e B votaram pela ampliação da fábrica, que não era desejada por C, o qual
68. Sobre o tema, veja-se VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., pp. 258-259 e BUSATO, Paulo
César. Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2011, pp. 255- votou contra sua realização; à segunda pergunta, A e C votaram a favor de que
310.
69. Não é somente desde um ponto de vista da filosofia da linguagem que se percebe que a imprudência tivesse lugar a remoção da mata, construindo-se às margens do rio, tema em
é juízo de valor atributivo. O próprio Roxin, desde um ponto de vista funcionalista, já tinha antes afir- que foi vencido B, ao qual agradaria que a construção fosse realizada em novos
mado que a essência da imprudência é completamente normativa-atributiva, vinculada ao princípio do
incremento do risco. Veja-se, a respeito ROXIN, Claus. Violação do dever e resultados nos crimes andares sobre os já existentes; finalmente, em terceira votação, B e C optam
negligentes, in: Problemas fundamentais do Direito penal. Trad. Ana Paula dos Santos Luís Natsche-
radetz, 3a ed., Lisboa: Vega, 1998, pp. 235-272.
70. Sobre o tema, veja-se VIVES ANTÓN, Op., cit, pp. 623-662 e BUSATO, Paulo César. Op., cit, pp. 227-254. 73. Lei 9.605 de 12, de fevereiro de 1998 (Lei de crimes contra o meio ambiente). Art. 60. Construir,
reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimen-
71. NUÑEZ CASTAÑO, Elena. Responsabilidad penal en la empresa. Valencia : Tirant lo Blanch, tos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais
2000, pp. 149 e ss. competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena – detenção, de um
72. NUÑEZ CASTAÑO, Elena. Ibidem. a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
28 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 29

por não requerer licença da autoridade para o desmatamento, à vista de que Esta só pode ser identificada como manifestação de vontade da pessoa jurídica,
tem por política não se submeterem às regras administrativas do Estado nem já que é claramente diversa da orientação da vontade de cada um dos sócios.
sequer sob o ponto de vista fiscal e temem que um pedido possa levar a uma Portanto, identificada a possibilidade de expressão de vontade de uma
verificação estatal de outra ordem na empresa, tema em que foi vencido A. pessoa jurídica, nota-se que não é descartável um dolo atributivo para a con-
Ora, analisado o fato, há induvidosamente uma ação criminosa levada a duta da pessoa jurídica.
cabo materialmente por agentes fungíveis obedientes a um aparato de poder Este resultado implica a superação da questão da reprovação pessoal,
legal, que nesse momento, age ilegalmente movido por uma vontade que pois se esta reside na possibilidade de orientação da conduta no sentido da
provém de decisão colegiada. Assim, o caminho normal é buscar a respon- produção de um resultado desvalioso, seja por imprudência, seja por dolo,
sabilidade penal a partir da identificação da pessoa que determina quando, conclui-se inevitavelmente atendido o princípio de culpabilidade para a atri-
onde, como e se irá ocorrer o ilícito, cuja vontade é expressa na ação. buição de RPPJ.
Voltando-se contra A, B e C, depara-se com o primeiro alegando A conduta passa a ser própria da pessoa jurídica, reprovada como tal,
que manifestou claramente sua vontade de solicitar autorização legal para o que mostra claramente viável a atribuição da RPPJ de modo absoluta-
o desmatamento, pelo que o fato realizado não expressa sua vontade; com mente autônomo das condutas das pessoas físicas, sejam funcionários, sejam
o segundo alegando que também não pode ser responsabilizado, pois não dirigentes.
queria que fosse construído o galpão às margens do rio, mas em outro lugar
e o terceiro dirá que votou expressamente contra a própria ampliação da CONCLUSÃO
fábrica, então o ilícito realizado não representa a sua vontade. Não é possível
Conclui-se, pois, que não obstante os modelos clássicos de RPPJ tenham
responsabilizar os sócios, porque cada um deles, na própria ata de delibera-
sido configurados a partir de uma importação espúria de conteúdo teórico do
ção, manifesta sua desconformidade para com o realizado. Por outro lado,
Direito civil, com flagrante inviabilidade de adaptação frente ao choque com
resulta injusto impor responsabilidade aos executores da ordem, por conta
o princípio de legalidade, igualmente as propostas modernas, ancoradas no
de que a estrutura hierarquizada e a fungibilidade destes, revela não ser seu
defeito na organização, porque apoiadas em estruturas que procuram disfarçar
o controle sobre a realização do ilícito.
a conexão com as condutas de pessoas físicas (os fatos de conexão), não dão
Surge o resultado de uma vontade determinante de uma ação criminosa conta de resolver o problema da heterorresponsabilidade.
que, no entanto, não pode ser atribuída individualmente a ninguém.
Uma verdadeira autorresponsabilidade penal de pessoas jurídicas de-
O problema requer uma volta às razões pelas quais se nega a responsabi- pende, basicamente, de que seja imputada à pessoa jurídica uma conduta
lidade penal da pessoa jurídica, na medida em que se aceita, conforme Savigny, que ela própria realize que corresponda a um resultado antijurídico. Ade-
que a vontade da empresa nada mais é do que a somatória da vontade de seus mais, é exigido que tal desvalor de ação e de resultado sejam produzidos no
sócios. O que a situação descrita nos mostra é que a vontade da pessoa jurídica marco de culpabilidade da própria pessoa jurídica, ou seja, que lhe possam
não deriva de uma mera somatória, compreendida simplesmente como vonta- ser imputados como ato seu, como sua contribuição individual e subjetiva.
des em direção favorável ou contrária ao ato injusto, mas sim – para não fugir Afinal, é precisamente o princípio de culpabilidade que difere o ilícito civil
dos conceitos provenientes da física – , uma resultante, que em um problema do ilícito penal.
de forças que agem sobre um corpo, pode determinar um resultado para uma
O caminho mais alvissareiro a trilhar para resolver este problema apare-
direção diferente de todas as forças que interferem sobre o objeto.
ce com a filosofia da linguagem aplicada ao Direito penal, cujas bases teóricas
O Direito penal somente pode atribuir responsabilidade a quem real- foram desenhadas por Tomás S. Vives Antón. A partir da concepção significa-
mente determinou a realização deste fato, cuja “vontade” no âmbito da ação. tiva de ação é possível identificar a ação como expressão de sentido realizada
30 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 31

pela própria pessoa jurídica bem como compreender o resultado antijurídico DECKERT, Katrin. A responsabilidade penal da pessoa jurídica na França, in Aspectos contempo-
râneos da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Fauzi Hassan Choukr, Fernanda Lourenço, Ivens
como expressão de sentido da própria atividade da pessoa jurídica além de Martins, Abran Szajman e Ivette Senize Ferreira [orgs.]. Volume I São Paulo: FECOMERCIOSP, 2015.
ser possível atribuir dolo à pessoa jurídica. DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito penal. Parte Geral. Tomo I. Coimbra: Coimbra Editora, 2004.
Diante deste quadro, se os sistemas do direito continental têm procu- DOTTI, René Ariel. A incapacidade criminal da pessoa jurídica (uma perspectiva do direito brasi-
leiro), in Revista brasileira de ciências criminais vol. 3, nº 11, jul.-set. de 1995. São Paulo: Revista dos
rado alinhar seu Direito positivo à RPPJ, resulta imprescindível, sob pena de Tribunais, 1995.
violação do princípio da culpabilidade, trilhar os caminhos desbravados por EHRHARDT, Anne. Unternehmendelinquenz und Unternehmensstrafe: Sanktionen gegen juris-
Vives Antón, da intersecção entre Direito penal e Filosofia da Linguagem, tische Personen nach deutschem und US-amerikanischem Recht. Berlin: Dunker & Humblot, 1994.

que arranca das concepções básicas do Wittgenstein tardio. ESER, Albin. Criminal Responsibility of Legal and Collective Entities. International Colloquium.
Berlim: Freiburg im Breisgau, 1999.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. São Paulo:
REFERÊNCIAS Saraiva, 1995.
ÁNGELES VILLEGAS GARCÍA, María. La responsabilidad criminal de las personas jurídicas. La
experiencia de los Estados Unidos. Pamplona: Thomson Reuters/Editorial Aranzadi, 2016. FERREIRA, Ivete Senise. A tutela penal ambiental, in Revista Consulex, Ano I, v. 7. São Paulo:
Consulex, 1997.
BASTOS, Celso Ribeiro e MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. Vol. 7.
São Paulo: Saraiva, 1990. FREITAS, Wladimir Passos e FREITAS, Gilberto Passos; SNICK, Valdir. Direito penal ambiental.
São Paulo: Ícone, 2001.
BAUMANN, Jurgen. Alternativ-Entwurf eines Strafgesetzbuches: Allgemeiner Teil. Tübingen: J. C.
B. Mohr, 1969. FRISTER, Helmut. Strafrecht. Allgemeiner Teil. Ein Studienbuch. 6ª ed., München: Beck, 2013.

BELING, Ernst von. Esquema de derecho penal. La doctrina del delito tipo. Trad. Sabastián Soler, GALÁN MUÑOZ, Afonso. La responsabilidad penal de la persona jurídica tras la reforma de la LO
Buenos Aires: el Foro, 2012. 5/2010: entre la hetera y la autorresponsabilidad, in Revista General de Derecho Penal. Barcelona,
n. 16, 2011.
BERNER, Albert Friedrich. Lerherbuch des Deutschen Strafrechts. Leipzig: Bernhard Tauchnitz,
1857. GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2a ed., Belo Horizonte: Del Rey,
2003.
BRANDÃO, Cláudio. Culpabilidade: sua análise na dogmática e no Direito penal brasileiro, in
Ciências Penais, vol. 1, jul.-dez. de 2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. GIERKE, Otto von. Teorias políticas de la edad media. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales,
1995.
BRICKEY, Kathleen F. Corporate Criminal Accountability: A Brief History and an Observation.
Washington: Washington University Law Review, 1982. GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. Corporate Criminal Liability: algunas cuestiones sobre la respon-
sabilidad penal corporativa em los EE. UU, in La responsabilidad penal de las personas jurídicas,
BUSATO, Paulo César e DAVID, Décio Franco. A empresa é capaz de ação? Uma proposta de discus- órganos y representantes. Percy García Cavero Mendoza [org.]. Ediciones jurídicas, 2004.
são sobre a capacidade de rendimento da concepção significativa da ação no Direito penal empre-
sarial, in: Comentários ao Direito penal Econômico Brasileiro. [José Danilo Tavares Lobato; João Paulo GOMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. Fundamentos modernos de la responsabilidad penal de las personas
Orsini Martinelli e Humberto Souza Santos – orgs. ], Belo Horizonte: De Plácido, 2017. jurídicas. Bases Teóricas, regulación internacional y nueva legislación española. Montevideo-Bue-
nos Aires: BdeF, 2010.
______. Direito penal e ação significativa. 2a ed., Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2010.
GRECO, Luís. En Alemania, el finalismo está muerto. Disponível em: https://www.ambitojuridico.
______. Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2011. com/noticias/invitado/educacion-y-cultura/en-alemania-el-finalismo-esta-muerto. Acesso em: 03 de
jun. 2018.
______. Vontade penal da pessoa jurídica, in Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de
janeiro: Lúmen Juris, 2011. GRISPIGNI, Felippo. Diritto Penale Italiano. Milano: Griuffrè, 1952.
______. Direito penal. Parte Geral. 4a ed., São Paulo: GEN-Atlas, 2018. GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal do ente coletivo: pilastras político-criminaias
derivadas das noções de sociedade de risco e alteridade, in: Aspectos contemporâneos da respon-
CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Aproximación a la dogmática de la responsabilidad penal sabilidade penal de pessoas jurídicas. Vol. II. [Fauzi Hasan Choukr, Maria Fernanda Loureiro e John
de las personas jurídicas, in: Constitución, Derechos Fundamentales y Sistema Penal. Semblanzas y Verbvaele – org.], São Paulo: Fecomércio, 2014.
estudios con el motivo del setenta aniversario del Profesor Tomás Salvador Vives Antón. Tomo I. [J.C.
Carbonell Mateu, J.L. González Cussac e E. Orts Berenguer – orgs. ], Valencia: Tirant lo Blanch, 2009. ______; LOUREIRO, Maria Fernanda. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: rumo à autor-
responsabilidade penal, in: Aspectos contemporâneos da responsabilidade penal da pessoa jurídica.
CERNICCHIARO, Luiz Vicente e COSTA JR., Paulo José da. Direito penal na constituição. 3ª ed., Tomo II. Fauzi Hassan Chourk, Maria Fernanda Loureiro, et. al. [orgs.]. São Paulo: FECOMERCIO,
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. 2015.
DANNECKER, Gerhard. Zur Notwendigkeit der Einführung kriminalrechtlicher Sanktionen ge- HEINE, Günter. Modelos de autorresponsabilidad penal empresarial. Propuestas globales contem-
gen Verbände. Überlegungen zu den Anforderungen und zur Ausgestaltung eines Verbandsstra- poráneas. Cizur Menor (Navarra): Aranzadi, 2006.
frechts, in Goltdammer’s Archiv für Strafrecht, 2001.
______. La responsabilidad penal de las empresas: evolución internacional y consecuencias nacio-
32 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 33

nales, in Responsabilidad penal de las personas jurídicas / coord. por José Hurtado Pozo, 1997. ______. Reflexões sobre os crimes econômicos, in Revista brasileira de ciências criminais vol. 3, nº 11,
jul.-set. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.
______. Modelle originärer (straf-) rechtlicher Verantwortlichkeit von Unternehmen, in: Reform
des Sanktionsrecht. Bd. III: Verbandstrafe. [Michael Hettinger – ed.], Baden-Baden: Nomos, 2002. ONTIVEROS ALONSO, Miguel. La responsabilidad penal de las personas jurídicas en Mexico,
in: La responsabilidad penal de las personas jurídicas. [Miguel Ontiveros Alonso – Coord. ], Valencia:
JAKOBS, Günther. Strafrecht, Allgemeiner Teil. Die Grundlagen und die Zurechnungslehre. 2ª ed., Tirant lo Blanch, 2014.
Berlin: De Gruyter, 1993.
ORTIZ DE URBINA GIMENO, Íñigo. Responsabilidad penal de las personas jurídicas: the Ame-
JIMÉNEZ DE ASÚA, Luis. Tratado de Derecho penal. Tomo III. Buenos Aires: Losada, 1965. rican Way, in: Responsabilidad de la empresa e compliance: programas de prevención, detección
KAUFMANN, Arthur. Die ontologische Struktur der Handlung, in: Schuld und Strafe, 2ª ed., Carl e reacción penal. Santiago Mir Puig; Mirentxu Corcoy Bidasolo e Víctor Gómez Martín [dir.]. Juan
Heynemanns, Köln: 1983. Carlos Hortal Ibarra e Vicente Valiente Ivañez [orgs.]. Madrid: Edisofer-BdeF, 2014.
KAUFMANN, Arthur. Die ontologische Struktur, in: Festschrift f. H. Mayer, cit., p. 80 e SCHÖN- PÉREZ, Ana Isabel. Modelos tradicionales de imputação de responsabilidad penal a las personas
KE, Adolf e SCHRÖDER, Horst. Strafgesetzbuch, Kommentar. 15ª.ed., München: C.H. Beck, 1970. jurídicas, in: Responsabilidad penal de las personas jurídicas [José Luis de ka Cuesta Arzamendi – dir.],
Cizur Menor: Thomson-Aranzadi, 2013.
KLEIN, Ernst Ferdinand. Grundsätz des gemeinen Deutschen peinlichen Rechts. Halle: Hemmerde
und Schwetschke, 1799. PIMENTEL, Manoel Pedro. Crimes contra o sistema financeiro nacional. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1987.
LAMPE, Ernst J.. Systemunrecht und Unrechtssysteme, in: Zeitschrift für die gesamte Strafrechtswis-
senschaft no 106, Berlin: Walter de Gruyter, 1994. PRINS, Adolphe. Science pénale et Droit Positif. Bruxelles-Paris: Bruylant-Christophe & Cie.-Librai-
rie A. Marescq, 1899.
______. Zur ontologischen Struktur des strafbaren Unrechts, in: Festschrift für Hans Joachim Hirs-
ch zum 70. Geburtstag am 11. April 1999. [Thomas Weigand e Georg Küpper – eds.], Berlin-New York: ROBLES PLANAS, Ricardo. ¿Delitos de personas jurídicas? A propósito de la Ley austriaca de
Walter de Gruyter, 1999. responsabilidad de las agrupaciones por hechos delictivos. InDret 2/2006.
LISZT, Franz. Tratado de Derecho penal. Trad. Luis Jiménez de Asúa, 4a ed., Madrid: Reus, 1999. ROCCO, Arturo. El objeto del delito y de la tutela jurídica. Trad. Genónimo Seminara, Montevideo-
-Buenos Aires: BdeF, 2001.
LUHMANN, Niklas. Sistemas sociales: lineamientos para una teoría general. Trad. Silvia Pappe y
Brunhilde Erker. Barcelona: Anthropos, 1998. ROTHENBURG, Walter Claudius. Pessoa Jurídica Criminosa. Curitiba: Juruá, 1997.
LUZÓN PEÑA, Diego-Manuel. Lecciones de Derecho penal. Parte General. Valencia: Tirant lo ROXIN, Claus. Contribuição para a crítica da teoria finalista da ação, in: Problemas fundamentais
Blanch, 2012. do Direito penal. Trad. Ana Paula dos Santos Luís Natscheradetz, 3a ed., Lisboa: Vega, 1998.
MACHADO, Fábio Guedes de Paula. Reminiscências da responsabilidade penal da pessoa jurídica ______. Kriminalpolitik und Strfrechtssystem. Berlin: Walter de Gruyter, 1973.
e sua efetividade. Revista da Faculdade de Direito de Uberlândia v. 36: 155-181, 2008. ______. Strsfrecht. Allgemeiner Teil. I. 4ª ed., München: Beck, 2006.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 9.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001. ______. Strsfrecht. Allgemeiner Teil. I. Grundlagen. Der Aufau der Verbrechenslehre. 4ª ed., Mün-
MARINUCCI, Giorgio. El delito como acción. La crítica de un dogma. Trad. Jose Eduardo Sáinz- chen: Beck, 2006.
Cantero Caparrós, Madrid: Marcial Pons, 1998. ______. Violação do dever e resultados nos crimes negligentes, in: Problemas fundamentais do Di-
MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. Derecho penal económico y de la empresa. 4ª ed., Valencia: reito penal. Trad. Ana Paula dos Santos Luís Natscheradetz, 3a ed., Lisboa: Vega, 1998.
Tirant lo Blanch, 2014. SALVADOR Coderch, Pablo. Respondeat Superior I. Barcelona: InDret, 2002.
MERKEL, Adolf. Derecho penal. Parte General. Trad. Pedro Dorado Montero, Montevideo-Buenos SANCTIS, Fausto Martin de. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva, 1999.
Aires: BdeF, 2004.
SAVIGNY, Federico Carlo Di. Sistema del diritto romano attuale. Trad. Vittorio Scialoja, v. II. Tori-
MILARÉ, Edis. Direito ambiental. Doutrina, prática, jurisprudência, legislação. 2ª ed., São Paulo: no: Unione tipografico, editrice, 1888.
Revista dos Tribunais, 2001.
SAYRE, Francis Bowes. Criminal Responsibility for the Acts of Another. Cambridge: HARv. L. Ver.,
MIR PUIG, Santiago. Derecho penal. Parte General. 5ª ed., Barcelona: Reppertor, 1998. 1930.
MUÑOZ CONDE, Francisco e GARCÍA ARÁN, Mercedes. Direito penal. Parte General. 8ª ed., SCHMIDHÄUSER, Eberhard. Strafrecht: allgemeiner teil. Tübingen: J.C.B. Mohr, 1970.
Valencia: Tirant lo Blanch, 2010.
SCHROTH, Hans-Juergen. Unternehmen als Normadressalten und Sanktionssubjekte: eine Studie
NIETO MARTÍN, Adán. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: esquema de un mode- zum Unternehmensstrafrecht. Gießen: Brühlscher, 1993.
lo de responsabilidad penal. Madrid: Tirant lo Blanch, 2013.
SCHÜNEMANN, Bernd. La responsabilidad penal de las empresas, in: La responsabilidad penal de
______. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: esquema de un modelo de responsabi- las personas jurídicas. [Miguel Ontiveros Alonso – Coord. ], Valencia: Tirant lo Blanch, 2014.
lidad penal. Resumo monográfico La responsabilidad penal de las personas jurídicas: un modelo
legistivo. Iustel. Madrid. 2008. SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1998.
NUÑEZ CASTAÑO, Elena. Responsabilidad penal en la empresa. Valencia: Tirant lo Blanch, 2000.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Fundamentos del Derecho penal de la Empresa. Montevideo-Bue-
OLIVEIRA, Antonio Claudio Mariz de. A responsabilidade penal e os crimes tributários, in Reper- nos Aires: Edisofer S. L., 2016.
tório IOB de Jurisprudência, nº 8. São Paulo: IOB, 1995.
34 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25a ed., São Paulo: Malheiros,
2005.
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, Direito Penal e Lei Anti-
corrupção. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 172.
SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Responsabilidade penal da pessoa jurídica na Lei 9.605/98, in Revista
dos Tribunais, vol. 784, Fev-2001. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.
A PREVENÇÃO GERAL POSITIVA NA SANÇÃO
SMANIO, Gianpaolo Poggio. Princípios de tutela penal dos interesses difusos ou direitos difusos,
in Revista Justitia. São Paulo, n. 64, (197), jul. /dez. /2007. APLICÁVEL À PESSOA JURÍDICA: CRÍTICA E
TEUBNER, Günther. O Direito como sistema autopoiético. Trad. José Engrácia Antunes. Lisboa: SUGESTÕES
Fundação Calouste Gulbenkian, 1999.
TIEDEMANN, Klaus. Die Bebußung von Unternehmen nach dem Zweiten Gesetz zur Bekäm-
pfung der Wirtschaftskriminalität, in: Neue Juristische Wochenschrift. Frankfurt am Main: C. H. Gustavo Britta Scandelari1
Beck, 1988.
Guilherme Oliveira de Andrade2
TIEDEMANN, Klaus. Responsabilidad penal de personas jurídicas y empresas en derecho compa-
rado, in Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 11, 1995.
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal. 2ª ed., Valencia: Tirant lo Blanch, Resumo: A pesquisa desenvolve crítica no sentido de que a prevenção geral positiva é
2011. incompatível com a punição de empresas, basicamente porque foi pensada exclusivamente
WELZEL, Hans. Derecho penal Alemán. Trad. Juan Bustos Ramírez e Sérgio Yáñez Pérez, Santiago: para pessoas físicas. Após, veicula sugestões de finalidades alternativas possivelmente com-
Editorial Jurídica de Chile, 1997. patíveis com a natureza dos entes morais.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cul- Palavras-chave: Empresas. Pena. Prevenção geral positiva. Incompatibilidade. Sugestões.
tural, 1979.
______. Investigações Filosóficas. 2ª ed., Barcelona: Crítica, 2002.
Introdução
Quando se trata de avaliar a viabilidade teórica da responsabilização penal
de pessoas jurídicas, a literatura majoritária constata incompatibilidades entre
a teoria do crime utilizada e a natureza do destinatário da sanção3. Com essa
concentração de esforços nesse âmbito mais dogmático do assunto, outro ponto

1. Doutorando e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor de Direito
Penal no Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) e em Cursos de Pós-Graduação em Direito.
Advogado.
2. Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). Mestre em Direito pelo
Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA). Professor de Direito Penal no Centro Universitário
Curitiba (UNICURITIBA). Advogado.
3. “A responsabilidade penal autônoma das pessoas jurídicas, no Brasil, depende do desenvolvimento de
uma nova teoria do delito que explique, de maneira coerente, a possibilidade de que a pessoa jurídica
possa realizar condutas ilícitas e por elas ser punida” (COSTA, Antonio Diego da. “A responsabilidade
penal da pessoa jurídica e seu tratamento legislativo brasileiro”. In BUSATO, Paulo César; SÁ, Pris-
cilla Placha; SCANDELARI, Gustavo Britta [Org.]. Perspectivas das ciências criminais: coletânea
em homenagem aos 55 anos de atuação profissional do Prof. Dr. René Ariel Dotti. Rio de Janeiro: GZ,
p. 675); “Neste aspecto, alinhado a essa política criminal moderna voltada ao ente coletivo, o desafio
se mostra na reformulação da teoria do delito e das consequências jurídicas do delito” (ANDRADE,
Andressa Paula de; CARVALHO, Érika Mendes de. “Criminal compliance ambiental: medidas prévias
ao delito e comportamento pós-delitivo positivo corporativo”. In Revista dos Tribunais | vol. 959/2015
| p. 209 – 239 | Set / 2015 DTR\2015\12623); “A jurisprudência do STJ, de forma reiterada, enfatiza
que ‘é incabível, de fato, a aplicação da teoria do delito tradicional à pessoa jurídica, o que não pode
ser considerado um obstáculo à sua responsabilização, pois o direito é uma ciência dinâmica, cujos
conceitos jurídicos variam de acordo com um critério normativo e não naturalístico’ (REsp 564.960/
SC)” (CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de. “Direito penal de risco e
responsabilidade penal das pessoas jurídicas: a propósito da orientação jurisprudencial do STJ”. In
Doutrinas Essenciais de Direito Penal Econômico e da Empresa | vol. 1 | p. 939 – 962 | Jul / 2011
DTR\2011\2164).
36 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 37

de interesse permanece pouco explorado: trata-se das teorias da pena, princi- finalidades comumente atribuídas à sanção criminal, opta-se, aqui, pelo re-
palmente no que dizem respeito às finalidades das sanções aplicáveis a pessoas corte da prevenção geral positiva quando da aplicação da sanção8. Em primeiro
jurídicas. O problema, aqui, é o seguinte: é viável o uso da base teórica da pre- lugar, porque essa é a finalidade mais frequentemente atribuída às sanções
venção geral positiva para a punição de pessoas jurídicas? Esse tema é relevante criminais destinadas a pessoas jurídicas9; em segundo lugar, porque a indaga-
porque representa um modo de se tentar melhor atender ao comando consti- ção acerca das finalidades de retribuição, prevenção geral e especial (positivas
tucional de individualização das penas no que diz respeito a pessoas jurídicas4. e negativas) aumentaria demais a extensão do presente artigo, inviabilizando
A hipótese a ser examinada é a de que essa finalidade da pena foi de- seu propósito específico.10 Também não serão examinadas: a culpabilidade
senvolvida exclusivamente para pessoas físicas e tal circunstância faz com como fundamento (ou não) de legitimidade da responsabilização penal da
que seu instrumental teórico careça de sentido quando meramente trans- pessoa jurídica11; a natureza jurídica da sanção (pena, medida de seguran-
plantado para a sanção dos entes morais. A investigação de tal proposta ça12, consequência acessória ou outra), embora sejam todas, evidentemente,
seguirá o método da revisão bibliográfica das criações originais de tal fim questões importantes e correlatas ao objeto do presente texto. É claro que o
da pena, bem como a análise de ideias contrárias, como as que sugerem ser debate sobre o fundamento da reprovação (tradicionalmente, a culpabilidade)
afirmativa a resposta ao problema indicado acima5. Parte-se do pressuposto é indissociável do estudo das finalidades da pena, todavia, procura-se manter,
da viabilidade de um sistema de autorresponsabilidade6, tentando-se evitar, aqui, foco na crítica da pretensa compatibilidade entre a finalidade de pre-
com isso, possíveis ramificações advindas da punição simultânea de pessoa venção geral positiva e a natureza da pessoa jurídica.
jurídica e pessoa física coautores do mesmo fato7.
1. O paradigma da prevenção no Direito penal
A pesquisa seguirá os seguintes passos: exposição da prevenção como um
paradigma no Direito penal; demonstração da prevalência, na literatura, da Dentre várias características, uma das que são atribuídas ao Direito
prevenção geral positiva como finalidade atribuída às sanções aplicáveis a pes- penal é a preventiva13. Decorre disso a admissão da finalidade de prevenir
soas jurídicas; revisão da base teórica da prevenção geral positiva. Em seguida, crimes das sanções jurídico-penais (de acordo com as teorias tradicionais
parte-se à crítica: os problemas que geram a incompatibilidade da base teórica da pena), as quais se dividem nas conhecidas espécies da prevenção geral
da prevenção geral positiva com as sanções aplicáveis a pessoas jurídicas, rela-
tivos ao referencial humano exclusivo e da abrangência restrita da prevenção 8. Evitando-se a discussão a respeito da legitimidade da finalidade de prevenção geral do ato de cominar
penas. Para visão crítica a respeito, especialmente sobre a prevenção geral positiva, vide: GRECO,
que deveria ser geral (a motivação indireta). Para que o presente estudo não Luís. Lo vivo y lo muerto en la teoría de la pena de Feuerbach. Una contribución al debate actual
sobre los fundamentos del Derecho penal. [Trad. Paola Dropulich e José R. Béguelin]. Marcial Pons:
se limite a críticas, ao fim serão feitas sugestões de possíveis finalidades para as Madrid, 2015, p. 316-339. Em suma, para GRECO: “o fato de que uma proibição represente aos
homens razões para comportarem-se segundo nossas concepções somente porque isso corresponde
sanções aplicáveis a pessoas jurídicas, com base na noção de controle social do ao juízo sobre o correto representado na proibição não é uma razão para estabelecer uma proibição”
(idem, p. 337). Dito de outra forma, não é justificável que o Estado pretenda ensinar (educar) pessoas
crime e nas possibilidades representadas pelos princípios do Guidelines Manual. para que entendam o caráter certo ou errado de uma conduta pela sua declaração (ao cominar penas)
de que elas serão privadas de suas liberdades caso venham a praticá-la (idem, p. 362 e 365).
Embora o presente questionamento caiba em relação a todas as 9. Uma relação exemplificativa de autores cuja análise suporta essa afirmação consta do item 2.
10. Mas a análise em relação a esses outros fins da pena em relação a pessoas jurídicas parece tão importante
4. Na Constituição Federal brasileira: art. 5º XLVI, b, c, d e e. quanto a que se faz aqui. Em outro trabalho (SCANDELARI, Gustavo Britta. “As sanções criminais aplicá-
5. Vide item 4.2. veis às pessoas jurídicas: uma nova teoria das penas?” In BUSATO, Paulo César [Org. e Coord.]; GRECO,
6. Vide, a respeito de tal sistema, o artigo “Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade penal de pessoas Luís [Coord.]. Seminário Brasil-Alemanha: Responsabilidade Penal de Pessoas Jurídicas. Florianópolis:
jurídicas. Especial referência ao fato de conexão”, de Paulo César Busato e Ângela dos Prazeres, na presente Tirant lo Blanch, 2018, p. 89-113) foi testada – embora não de modo mais detido, como se faz aqui – a com-
coletânea. No Brasil, há jurisprudência no sentido de que, em crimes ambientais, a pessoa jurídica pode ser patibilização das finalidades de retribuição, prevenção geral e prevenção especial com a punição de pessoas
responsabilizada isoladamente, isto é, sem a concorrência de pessoa física: “o art. 225, § 3º, da Constituição jurídicas. Alguns elementos daquele texto, por pertinentes, são utilizados na presente pesquisa.
Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea 11. Objeto do seguinte artigo desta coletânea: “A culpabilidade pragmática da pessoa jurídica”, de Tracy
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa” (STF, RE 548181, Rel. Min. Reinaldet, Lucas Dalmolin e Pedro Franco.
Rosa Weber, DJe de 30.10.14). No mesmo sentido: STJ, AgRg no RMS 48851, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 12. Nesse sentido, vide: “Medidas de segurança como consequência jurídica ao delito cometido por pes-
DJe 26.2.18; STJ, RMS 39173, Rel. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca, DJe de 13.08.2015. soas jurídicas”, de Samuel Ebel Braga Ramos e Rodrigo J. Cavagnari, na presente coletânea.
7. Não parece ser o caso de se revolver o antigo debate sobre as teorias da ficção (especialmente Savigny) 13. MIR PUIG, Santiago. Funcion de la pena y teoria del delito en el Estado social y democratico de De-
e as teorias da realidade (vários autores, como Gierk, Zitelman, Ferrara etc.). Aqui, entende-se a pessoa recho. 2. ed. Barcelona: Bosch, 1982, p. 37-40; HASSEMER, Winfried. Direito penal: fundamentos,
jurídica como uma abstração normativa que, como tal, não é senciente. estrutura, política. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2008, p. 297.
38 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 39

(positiva e negativa) e da prevenção especial (positiva e negativa).14 De fato, se o objeto dessa determinação era (e se ainda é) exclusivamente uma conduta
“o Direito penal de um Estado social e democrático de Direito exige atribuir humana ou se tinha em vista também a conduta de uma pessoa jurídica.
à pena a função de prevenção de delitos”15. A pena tem a “missão política” de
realizar uma “regulação ativa da vida social que assegure seu funcionamento 2. A prevalência, na literatura, da prevenção geral positiva como
satisfatório”, decorrendo daí a “necessidade de conferir à pena a função de finalidade atribuída às sanções aplicáveis a pessoas jurídicas
prevenção” dos fatos que atentem contra os bens jurídicos tutelados pela lei Quando mencionam ser possível e necessária a responsabilidade
penal16. Como reconhece HASSEMER, “a prevenção é o paradigma reinante penal da pessoa jurídica, as obras consultadas apontam, geralmente de
de nossa época e também de nossa Política criminal”17. forma superficial21, que a pena cumpriria a finalidade da prevenção geral
Mas, hoje, debate-se a responsabilização penal da pessoa jurídica e, em positiva da sanção22. Menos autores identificam a possibilidade de preven-
seu bojo, torna-se possível discutir o funcionamento da ideia de prevenção ção especial23 e não se localizou defesas detalhadas da viabilidade de uma
de crimes no Direito penal quando relacionada à punição de empresas.
de destinatários da norma, de outro lado da lassidão lingüística que prevalece entre nós, em virtude
Afinal, “afirmar que a função do Direito penal [deve ser] vista como uma da qual – poderíamos dizer com certo exagero – a idéia de dever sempre surge quando faltem as
concepções concretas, ou quando a aplicabilidade das mesmas ainda tenha de ser esclarecida” (KAU-
efetiva proteção de bens jurídicos nada diz acerca da forma como este ob- FMANN, Armin. Teoria da norma jurídica. [Trad. Verlag Otto Schwartz & Co., Göttingen]. Rio de
Janeiro: Editora Rio – Sociedade Cultural Ltda., 1976, p. 174. SILVA SÁNCHEZ e ZAFFARONI re-
jetivo deverá ser alcançado”.18 memoram a longa discussão que surgiu, seguindo-se aos estudos de Karl Binding (em Die Normen und
ihre Übertretung, 1.1, Normen und Strafgesetze, 3. ed., Leipzig, 1916; t. II, Schuld, Vorsatz, Irrtum,
A noção de que o Direito penal (e, consequentemente, as penas que Leipzig, 1877) e Armin Kaufmann (especialmente em Lebendiges und Totes in Bindings Normentheo-
rie, Göttingen, 1954; obra cuja tradução ao português foi citada nesta nota de rodapé), sobre se a norma
aplica) tem missão preventiva já era, desde WELZEL, ligada à proteção de implicava determinação ou valoração. Essa discussão, no âmbito criminal ao menos, perdeu, posterior-
mente, relevância diante da percepção de que a norma penal é mista, pois comporta ao mesmo tempo
valores “ético-sociais” dos indivíduos e à “solidificação de um mundo de as dimensões de valoração e de determinação (SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Normas y acciones em
conceitos morais”19. Essa concepção parece atribuir grande força à feição de derecho penal. Buenos Aires: Hammurabi, 2003, 15-18; ZAFFARONI, Eugenio Raul; ALAGIA, Ale-
jandro; SLOKAR, Alejandro. 2. ed. Derecho penal, parte general. Buenos Aires: Ediar, 2002, p. 100).
determinação da norma penal20. Pretende-se verificar, na sequência deste texto, 21. São exceções: BAIGÚN, David. La responsabilidad penal de las personas jurídicas (ensayo de un
nuevo modelo teórico). Buenos Aires: Depalma, 2000; GÓMES-JARA DÍEZ, Carlos. A responsa-
bilidade penal da pessoa jurídica. Teoria do crime para pessoas jurídicas (Trad. Carolina de Freitas
14. CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. “Función de la pena y suspensión de su ejecución. ¿Ya no ‘se Paladino; Cristina Reindolff da Motta; Natalia de Campos Grey). São Paulo: Atlas, 2015; GALÁN
atenderá fundamentalmente a la peligrosidad criminal del sujeto’?”. In InDret – Revista para El Aná- MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y limites de la responsabilidade penal de las personas jurídicas tras
lisis del Derecho, n. 4, oct./2015, p. 4-5. As ideias de prevenção especial e de prevenção geral da pena la reforma de la LO 1/2015. Valencia: Tirant lo Blanch, 2017. Essas obras tratam de forma individu-
não estão, porém, isentas de críticas: “(...) a teoria de prevenção especial enfrenta a questão sobre qual alizada do tema das finalidades das sanções criminais aplicáveis a pessoas jurídicas, mencionando
o direito do Estado para educar e tratar cidadãos adultos (...)” e “não se sabe o que fazer com os autores expressamente a finalidade retributiva e as preventivas.
que não carecem de ressocialização”; “o princípio da prevenção geral também apresenta consideráveis 22. Por exemplo: BACIGALUPO, Silvina. “Responsabilidad penal de las personas jurídicas”. In BACIGA-
deficiências (...)” porque “não inclui nenhuma medida para a delimitação da duração da pena (...)” e LUPO, Enrique (dir.). Curso de Derecho Penal Económico. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 2005, p. 104;
não oferece justificativas para que o sofrimento do apenado não lhe renda efeito benéfico algum, pois DE LA CUESTA, José Luis. “Responsabilidad penal de las personas jurídicas em el derecho español”. In
somente provoca efeitos na sociedade (ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – tomo I: funda- Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 101, mar./abr. 2013, DTR\2013\2664, p.18; BAJO FER-
mentos. La estrutura de la Teoría del Delito [Trad. Diego-Manuel Luzón Peña; Miguel Díaz y García NÁNDEZ, Miguel; FEIJOO SANCHEZ, Bernardo José; GOMES-JÁRA DÍEZ, Carlos. Tratado de res-
Conlledo; Javier de Vicente Remesal]. Madrid: Civitas, 1997, p. 88-89; p. 93). Além disso, criticando ponsabilidad penal de las personas jurídicas. 2. ed. Pamplona: Civitas/Thomson Reuters, 2016, p. 108;
especialmente a finalidade de prevenção geral positiva, BUSATO identifica um “reducionismo já que AGUDO FERNÁNDEZ, Enrique; JAÉN VALLEJO, Manuel; PERRINO PÉREZ, Ángel Luis. Derecho
o foco da pena se reduz a um dos efeitos que ela produz, que é, sem dúvidas, o estímulo ao comporta- penal de las personas jurídicas. Madrid: Dykinson, 2016, p. 31; GALÁN MUÑOZ, Alfonso. Fundamen-
mento obediente às regras”, o que gera um problema de legitimidade, pois se admite como fundamento tos y limites..., p. 267; CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de. “Direito penal
da pena meramente aquilo que ela produz, acarretando a “rendição das missões do direito penal” aos de risco e responsabilidade penal das pessoas jurídicas: a propósito da orientação jurisprudencial do STJ”.
efeitos da pena (BUSATO, Paulo César. Direito Penal..., p. 759). De modo crítico: “devemos nos In Doutrinas Essenciais de Direito Penal Econômico e da Empresa | vol. 1 | p. 939 – 962 | Jul / 2011
despedir da prevenção geral positiva também como teoria de imposição da pena. O Estado não pode DTR\2011\2164; BRODT, Luís Augusto Sanzo. “Responsabilidade penal da pessoa jurídica: um estudo
ameaçar nem impor coação para mostrar aos cidadãos o que é correto ou incorreto jurídica ou moral- comparado”. In Revista dos Tribunais | vol. 961/2015 | p. 245 – 273 | Nov / 2015 DTR\2015\13359;
mente. (...) esses efeitos que se verificam não podem ser invocados para justificar a pena”, embora SHECAIRA, Sérgio Salomão. “Responsabilidade penal das pessoas jurídicas: uma perspectiva do direito
possam servir para descrevê-la (GRECO, Luís. Lo vivo y lo muerto..., p. 365-366). brasileiro”. In Revista dos Tribunais | vol. 921/2012 | p. 281 – 294 | Jul / 2012 DTR\2012\44819; SIQUEI-
15. MIR PUIG, Santiago. Funcion de la pena…, p. 37. RA, Tânia Bahia Carvalho. “A reponsabilidade penal no contexto do licenciamento ambiental”. In RUIZ
16. Idem, p. 40. FILHO, Antonio; SICA, Leonardo. Responsabilidade penal na atividade econômico-empresarial – dou-
17. HASSEMER, Winfried. Direito penal..., p. 297-298. trina e jurisprudência comentada. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 414; MIR PUIG, Santiago. “Las
nuevas ‘penas’ para personas jurídicas: una classe de ‘penas’ sin culpabilidad”. In MIR PUIG, Santiago;
18. AMBOS, Kai. Direito Penal – fins da pena, concurso de pessoas, antijuridicidade e outros aspectos CORCOY BIDASOLO, Mirentxu; GÓMEZ MARTÍN, Víctor (Dir.); HORTAL IBARRA, Juan Carlos;
(Trad. Pablo Rodrigo Alflen da Silva). Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006, p. 30. VALIENTE IVAÑEZ, Vicente (Coord). Responsabilidad de la empresa y compliance – programas de
19. WELZEL, Hans. Derecho penal, parte general (Trad. Carlos Fontán Balestra). Buenos Aires: Roque prevención, detección y reacción penal. Buenos Aires: B de F, 2014, p. 10.
Depalma Editor, 1956, p. 8-9. 23. Essas penas, então, possuiriam caráter “preventivo-especial (inocuizador ou, excepcionalmente, res-
20. Conforme KAUFMANN, “a equiparação entre a norma e o dever, repetidamente levada a efeito por socializador)” (SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Fundamentos del derecho penal de la empresa [Col.
Binding, não tem fundamento (...). Essa equiparação resultou de um lado da limitação do círculo Raquel Montaner Fernández; Lorena Varela]. Buenos Aires: B de F, 2014, p. 277-278).
40 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 41

finalidade de retribuição.24 cômodo, então, o simples empréstimo das teorias preventivas da pena já
A literatura normalmente parte da afirmação de que é necessário conhecidas, afinal, a ideia é a mesma: prevenção. Mas o funcionamento da
punir criminalmente pessoas jurídicas para a melhor repressão da cri- pena – mais especificamente os seus objetivos – talvez não se dê da mesma
minalidade empresarial atual25 e deduz disso, sem maiores reflexões, forma para os entes coletivos. Nesse contexto, é possível que a base teóri-
a conclusão de que a pena cumpriria a finalidade de prevenção geral. ca da prevenção geral positiva da pena tal qual é hoje conhecida não possa
Vê-se que o objetivo é explicar o fundamento de legitimidade da res- simplesmente ser emprestada para as pessoas jurídicas como resultado auto-
ponsabilidade penal de empresas e não, propriamente, a base teórica da mático da justa pretensão de se prevenir os crimes praticados por empresas.
finalidade da sanção. Por isso, a exploração mais detida de como se daria Essa reflexão permite seguir adiante.
tal prevenção geral (bem como as eventuais outras finalidades da pena)
não é abordada, como regra. 3. A base teórica da prevenção geral positiva
Chega-se a apontar a natureza jurídica mais apropriada das sanções Para analisar criticamente a aspiração de que a sanção criminal cumpra
(penas criminais 26, medidas de segurança 27 ou sanções administrati- a finalidade de reforço da vigência da norma penal29 violada quando o agente
vas28), mas dificilmente se abordam em profundidade quais deveriam ser os punido é exclusivamente uma pessoa jurídica é indispensável rever os traços
objetivos dessas sanções criminais quando aplicáveis a empresas. Torna-se básicos das formulações que hoje são as mais conhecidas da prevenção geral
positiva da pena30. Existem muitas formulações e suas correspondentes va-
24. GALÁN MUÑOZ entende que todas as funções mais comuns da pena, inclusive a retributiva, são
cumpridas normalmente quando se sanciona a pessoa jurídica. Os efeitos da pena se dariam indireta- riações31 e, por isso, não se pode pretender esgotá-las. Opta-se, aqui, pelas
mente, isto é, afligindo terceiros (pessoas físicas) (Fundamentos y limites..., p. 257-282). Essa opinião
é analisada criticamente no item 4.2.
25. Como se vê pelo seguinte raciocínio exemplificativo: “quando ocorre um delito de natureza econômica
o agente imediato é punido, mesmo não obtendo qualquer benefício direto com o cometimento do 29. Essa expressão designa quase que um lugar comum na literatura a respeito, mas não há, a rigor,
delito. No mais das vezes, a verdadeira beneficiária – a empresa – obtém as vantagens do crime sem uma “definição conceitual canônica da prevenção geral positiva” (GRECO, Luís. Lo vivo y lo
sofrer qualquer conseqüência legal ou patrimonial” (SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade muerto..., p. 316). Em igual sentido: “a prevenção geral positiva pode ser definida de modos
penal da pessoa jurídica (de acordo com a Lei 9.605/98). São Paulo: RT, 1998, p. 148). muito distintos” (VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Derecho Penal – acci-
26. “A punição da empresa com medidas de segurança carece de fundamento lógico. As respostas ad- ón significativa y derechos constitucionales. 2. ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, p. 452.
ministrativa e civil são insuficientes em face da moderna criminalidade (...)”. Assim, “para um ato Itálicos originais).
ilícito cometido pela empresa a melhor resposta estatal é, sem dúvida alguma, a imposição de uma 30. Mas não parece necessária a elaboração de um tópico histórico a respeito da teoria. É suficiente men-
pena. A inflição de uma pena que tenha uma caráter público, de prevenção geral positiva combinada cionar que não há consenso sobre a origem da ideia de prevenção geral positiva da pena. ROXIN,
com uma prevenção especial não marcada pelo retributivismo” (SHECAIRA, Sérgio Salomão. Res- aludindo à ideia moderna de prevenção geral, refere que ela “foi desenvolvida em sua forma mais
ponsabilidade penal..., p. 107). eficaz” por Paul Johann A. v. Feuerbach e sua teoria da coação psicológica. Na obra consultada, o
27. “A opção político-criminal derivada do reconhecimento de um comportamento perigoso é passível de autor não distinguiu as origens da vertente positiva das origens da vertente negativa da prevenção
controle social tanto por pena – quando se trata de agente capaz de compreender e internalizar a norma, geral, parecendo creditar a Feuerbach a autoria da contribuição original mais importante a ambas
reagindo a esta – quanto por medida de segurança – quando a relação do autor do ilícito com a norma (ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – tomo I..., p. 89-90). Para DURÁN MIGLIARDI (La
simplesmente não se realiza no plano psíquico da compreensão e reação” (BUSATO, Paulo César; prevención general positiva..., p. 279), a primeira formulação da prevenção geral positiva se atribui a
GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica – fundamentos criminológi- WELZEL, quando enfatizava a função ético-social do Direito penal (vide WELZEL, Hans. Derecho
cos, superação de obstáculos dogmáticos e requisitos legais do interesse e benefício do ente coletivo penal aleman, parte general. (Trad. da 11ª ed. alemã por Juan Bustos Ramírez e Sergio Yáñez Pérez).
para a responsabilização criminal. Curitiba: Juruá, 2012, p. 51). Sérgio Salomão SCHECAIRA rejeita Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 1970, p. 13-17). WELZEL sustentava que a missão do Direito
essa possibilidade basicamente porque se trata, em sua essência, de um método curativo destinado a penal é a “proteção dos valores elementares na vida em comunidade” e essa proteção somente se reali-
pessoas físicas e não haveria como avaliar a recuperação da empresa. Ademais, a medida de segurança, za pela reprovação (desvalorização), mediante pena, de ações destinadas a violá-los (WELZEL, Hans.
em seu caráter de tratamento de saúde pessoal, teria somente uma finalidade de prevenção especial e Derecho penal aleman..., p. 13. Itálicos nossos). Ao realizar essa missão, “o Direito Penal (...) cumpre
não geral – o que não faria sentido em termos de punição (SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabi- uma importante função de formação ética. (...) A firmeza do juízo ético-social do indivíduo depende
lidade penal..., p. 104-106). essencialmente da firmeza com que o Estado manifesta e impõe seus juízos de valor” (Idem, p. 16-
28. “Para se tentar preservar a compatibilidade das penas aplicáveis às pessoas jurídicas com o princípio 17. Itálicos nossos). WELZEL reconhecia que, nessa formulação teórica, a ideia de proteção de bens
da culpabilidade, deve-se concluir serem tais penas muito diferentes das penas das pessoas físicas, jurídicos é secundária porque “tem somente um fim preventivo” simbólico, já que, quando o Estado
sem o significado simbólico de reprovação que lhes caracteriza. As consequências jurídicas do cri- “entra efetivamente em ação, já é demasiado tarde”. Assim, “mais essencial do que a proteção de bens
me para as empresas somente são admissíveis se estiverem próximas de sanções administrativas e jurídicos” é a “missão mais profunda” de “dar forma ao juízo ético-social dos cidadãos e fortalecer
de medidas de segurança” (MIR PUIG, Santiago. “Las nuevas ‘penas’”..., p. 8). SILVA SÁNCHEZ sua consciência de permanente fidelidade jurídica” (idem, p. 13, itálicos nossos). Efetivamente, mas
afirma que são basicamente duas as possibilidades de fundamentação das penas criminais em rela- sem prejuízo de outras fontes, estão presentes, em seu pensamento, as bases teóricas da ideia de esta-
ção às pessoas jurídicas: 1) as penas são autênticas penas criminais e a) a pena da pessoa jurídica é bilização normativa mediante a garantia do respeito ao ordenamento jurídico.
igual à da pessoa física; b) a pena da pessoa física pressupõe sua culpabilidade; c) a pena da pessoa 31. Vide, nesse sentido, as pesquisas de FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y prevención general
jurídica pressupõe sua culpabilidade; 2) as penas não são autênticas penas criminais e a) a pena – un estudio sobre la teoría de la pena y las funciones del Derecho Penal. Buenos Aires: B de F, 2007,
da pessoa jurídica não é igual à pena da pessoa física; b) a pena da pessoa física pressupõe sua p. 312-358; DEMETRIO CRESPO, Eduardo. Prevención general e individualización judicial de la
culpabilidade; c) não há razão para a pena da pessoa jurídica pressupor sua culpabilidade (SILVA pena. 2. ed. Buenos Aires: B de F, 2016, p. 130-148. Há referências a modelos sociológicos, psicoló-
SÁNCHEZ, Jesús-María. Fundamentos..., p. 282). gicos e psicoanalíticos, p.ex.
42 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 43

ideias divulgadas por JAKOBS32, HASSEMER33 e ROXIN34, que serão abaixo consequências.”41 Seja como for, é sempre “imprescindível que a pena tenha
revistas apenas no que diz respeito a suas definições essenciais35, pois é isso o um mínimo de respaldo cognitivo para a estabilização de sua eficácia.”42 A
que permitirá prosseguir com o objetivo do presente texto; desprezando-se, literatura normalmente aproxima os pensamentos de WELZEL e JAKOBS
consequentemente, as diversas críticas que já se divulgaram individualmente no ponto, pois ambos sustentam que o Direito penal deve assegurar a fide-
a cada uma delas36. Sugere-se ao leitor especial atenção aos trechos doravante lidade da coletividade ao ordenamento com o objetivo específico de garantir
destacados em itálico: o vocabulário empregado pelos autores será retomado o fim orientador da norma penal, ao invés de valores sociais43. SCHÜNE-
como parte da análise crítica seguinte, nos itens 4, 4.1 e 4.2. MANN classifica a teoria de JAKOBS como “uma nova teoria absoluta da
JAKOBS37 inicia sua explicação da finalidade de prevenção geral posi- pena na qual o antigo conceito de retribuição foi simplesmente substituído
tiva da pena aduzindo que constitui “falta normativa” a “violação” da norma pelo discurso da reafirmação comunicativa da norma”44.
pelo “causador da frustração” da expectativa social de que as leis sejam As ideias de HASSEMER sobre a prevenção geral positiva são simila-
respeitadas. “Exemplo: prende-se o delinquente para demonstrar que seu res às de JAKOBS. Como prevenção geral, ela também cumpre a finalidade
comportamento é incorreto”. Todo o desenvolvimento saudável da sociedade de “estabilização normativa”. A diferença é que tal finalidade somente será
depende de que “as instituições elementares funcionem regularmente” e tal válida se houver, nela, “uma consideração sociológica” que é a existência
funcionamento é diretamente dependente de que “a esfera organizatória de do “Direito penal como um setor formalizado do controle social”45. A for-
cada pessoa” esteja em ordem, evitando-se, para isso, que “reações externas malização do Direito penal é a sua especificidade e o que lhe justifica,
possam causar danos”. A “estabilidade dessa expectativa é imprescindível”38, realizando-se na “proteção de interesses humanos elementares contra agres-
pois, sem ela, “ninguém pode viver de maneira totalmente planejada” e “esse sões do infrator da norma”, sempre de acordo com uma “técnica protetora
é o momento da necessidade de uma sanção”39. formalizada e princípios valorativos46”. Essa é a prevenção geral positiva na
Para o autor, a prevenção geral positiva atende exclusivamente à vertente limitadora47.
“necessidade da segurança da eficácia normativa”40, fazendo com que se HASSEMER explica que “a lei penal protege os bens jurídicos e, sem
“exercitem” a “confiança normativa”, a “fidelidade jurídica” e a “aceitação das esse seu reconhecimento, não poderíamos mais, atualmente, viver em socieda-
de (...)”. “Desse ponto de vista, a pena se orienta tanto no passado quanto no
32. JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal – teoria do injusto penal e culpabilidade (Trad. Gercélia
Batista de Oliveira Mendes e Geraldo de Carvalho). Belo Horizonte: Del Rey, 2009. futuro. Ela é a resposta corretora para o rompimento de uma norma, a qual
33. Especialmente em: HASSEMER, Winfried. Direito penal: fundamentos, estrutura, política. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2008; HASSEMER, Winfried; MUÑOZ CONDE, Francisco. Intro-
ducción a la criminología y al derecho penal. Valencia: Tirant lo Blanch, 1989.
34. Basicamente em: ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – tomo I..., p. 91-92 e 97. 41. Idem, p. 32. Itálicos nossos.
35. Há uma conhecida classificação que “distingue aqueles que outorgam à prevenção geral posi- 42. Idem, p. 34. Itálicos nossos. JAKOBS diferencia as finalidades dos efeitos da pena: “a pena pode
tiva o papel de fundamentar a pena – como faz Jakobs – daqueles que lhe conferem um papel impressionar de tal forma o indivíduo punido ou terceiros que eles se abstenham de praticar
limitador (Hassemer, Zipf, Roxin). Essa distinção é, sem dúvida, da maior importância, tanto crimes no futuro. Esses efeitos causados não pelo reconhecimento da norma, mas pelo temor são
de um ponto de vista político – que não é relevante aqui – quanto para determinar que classe de efeitos complementares da pena que podem ser desejados, mas não é função da pena provocá-los”
funcionalismo se professa (...)” (VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Derecho (Idem, p. 34).
Penal – acción significativa y derechos constitucionales. 2. ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 43. DEMETRIO CRESPO, Eduardo. Prevención general e individualización judicial de la pena. 2. ed.
2010, p. 452). Buenos Aires: B de F, 2016, p. 142. Há menção, na literatura, de que Welzel foi profesor de Jakobs:
36. Como, p.ex., a de que a prevenção geral positiva redunda em um criticável “estatalismo ético”; “(…) ainda dentro deste quadro teórico que reconhece uma função instrumental do Direito penal, de-
vale-se da “instrumentalização” do condenado, o que viola a dignidade da pessoa humana; a ve-se destacar o entendimento de HANS WELZEL, (…) até mesmo para que (…) possamos confron-
finalidade de prevenção geral positiva está muito próxima da teoria absoluta clássica; sofre de tar o seu posicionamento com a tese de seu aluno, GÜNTHER JAKOBS” (MEROLLI, Guilherme.
ausência de “legitimação empírica” etc. (DEMETRIO CRESPO, Eduardo. Prevención gene- Fundamentos Críticos de Direito Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 27).
ral…, p. 148-55). 44. SCHÜNEMANN, Bernd. La culpabilidad: estado de la cuestión. In ROXIN, Claus; JAKOBS, Gün-
37. As expressões entre aspas neste parágrafo foram retiradas de: JAKOBS, Günther. Tratado de direito ther; SCHÜNEMANN, Bernd; FRISCH, Wolfgang; KÖHLER, Michael. Sobre el estado de la teoría
penal..., p. 22-24. Optou-se por mantê-las assim, no original (em que pese traduzidas do alemão), pois del delito (Seminario en la Universitat Pompeu Fabra). Madrid: Civitas, 2000, p. 116.
o vocabulário em si empregado será importante para o desenvolvimento, adiante feito, da crítica (itens 45. HASSEMER, Winfried; MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción..., p. 161-162. Itálicos nossos.
4, 4.1 e 4.2). As expressões mais importantes para tal desiderato são grafadas, agora, em itálico. 46. Tais princípios são, p.ex.: proporcionalidade, culpabilidade, legalidade, direito de defesa, in dubio
38. JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal..., p. 22-23. Itálicos nossos. pro reo, duplo grau de jurisdição, devido processo legal, nemo tenetur se detegere etc. (HASSEMER,
39. Idem, p. 24. Winfried; MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción..., p. 120).
40. Idem, p. 21. 47. Idem, p. 162.
44 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 45

é irrenunciável para a nossa vida coletivizada.”48 Mas, ao mesmo tempo em 4. Crítica: problemas que geram a incompatibilidade da base
que cabe à pena transmitir à coletividade a necessidade de respeito à norma teórica da prevenção geral positiva com as sanções aplicáveis a
penal, “a justiça penal é uma justiça de casos individuais. A culpa é calculada pessoas jurídicas
individualmente e é indissolúvel da pessoa do autor do ato delituoso, restando Independentemente da existência, em tese, de outras razões para essa
vinculada às suas especificidades; a imputação da pena e sua execução devem incompatibilidade, apresentam-se, nos itens 4.1 e 4.2, dois problemas que im-
corresponder de forma justa ao autor do delito.”49 possibilitam o mero transplante dos conhecimentos teóricos de base da ideia de
ROXIN, cujas ideias a respeito são semelhantes, em essência, às de prevenção geral positiva para as sanções aplicáveis a pessoas jurídicas. O primei-
HASSEMER, aduz que, ao cumprir a prevenção geral positiva, a pena ro e principal problema é o inelutável referencial humano exclusivo. Dele deriva
pode provocar três efeitos complementares50: a) um “efeito de aprendi- o segundo problema: a prevenção que, ao invés de geral, passa a ser restrita.
zagem, motivado sócio-pedagogicamente”; b) um “efeito de confiança
4.1. O problema do referencial humano: um vício de origem
no Direito”, que “nasce no povo pela atividade da justiça penal”; c) um
efeito de “pacificação”, produzido na “consciência jurídica geral”, a qual O primeiro problema tem relação com a essência da finalidade de pre-
se “tranquiliza” por conta da punição da conduta que infringiu a lei.51 venção geral positiva. Independentemente das peculiaridades de cada corrente,
Para o autor, tais finalidades são dependentes da missão do Direito penal a sua base teórica veicula a pretensão de que a pena possa “educar um grupo
– “ponto de partida ideológico” – que é a proteção subsidiária de bens social” para que acate os valores fundamentais que as normas básicas de con-
jurídico-penais fundamentais52. vivência protegem. Nesse sentido, é um “mecanismo regulador de condutas”
humanas, um “instrumento de conformação da consciência jurídica coletiva”,
À crítica de que esse fim seria meramente simbólico, ROXIN pon-
que restabelece “a confiança e a fidelidade do cidadão na norma jurídica”57. É
dera que “todos os dispositivos penais almejam não só impedir e punir
inegável que o destinatário da norma penal, nesse raciocínio, somente pode
determinados delitos, como também atuar sobre a consciência jurídica da
ser o “cidadão”, em cuja “consciência individual” a norma penal atua58.
população”, de modo que, quando o Estado protege a “vida, a integridade
física, a propriedade etc., tenta ele fortalecer na população o respeito por SCHÜNEMANN, ao comentar a possibilidade de aplicação do Direito
estes valores. Nisto não há nada de problemático. Esta prevenção geral po- penal a pessoas jurídicas, afirma que é possível tentar verificar, nesse contexto,
sitiva é, muito mais, uma das finalidades reconhecidas do direito penal”53. se a teoria de JAKOBS respeita suas premissas, no que diz respeito à reprova-
Seja como for, ROXIN considera que essa teoria “se baseia certamente em ção penal. “Como se sabe”, argumenta o autor, “JAKOBS considera que todos
suposições psicológico-sociais”54, devendo “conservar sua função motivado- os pressupostos da pena seriam, em princípio, igualmente adequados para as
ra”55 de condutas conforme a lei. Para o autor, a pena deve cumprir apenas empresas, pelo que poderiam ser aplicadas a elas sem nenhuma adaptação
finalidades preventivas (geral e especial), sempre limitadas pela medida da prévia.”59 Todavia, afirma SCHÜNEMANN, isso é falso, porque, desde a sua
culpabilidade do agente.56 formulação mais antiga, “o fundamento da pena implica um fundamento
moral, é dizer, subjetivo-auto-reflexivo”60, razão pela qual não se pode simples-
48. HASSEMER, Winfried. Direito penal libertário (trad. Regina Greve). Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. mente transferir a teoria de base, formatada para as pessoas físicas, às jurídicas.
89.
49. HASSEMER, Winfried. Direito penal..., p. 90. Itálicos nossos. Essa base teórica foi pensada exclusivamente para o caso de o destinatário
50. ROXIN afirma que na prevenção geral positiva há “três fins e efeitos distintos, apesar de imbricados
entre si (...)” (ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – tomo I..., p. 91).
51. Idem, p. 91-92. Itálicos nossos. 57. DURÁN MIGLIARDI, Mario. “La prevención general positiva como limite constitucional de la pena.
Concepto, ámbitos de aplicación y discución sobre su función”. In Revista de Derecho (Valdivia) – Fa-
52. Idem, p. 92. cultad de Ciencias Jurídicas y Sociales de la Universidad Austral de Chile , vol. XXIX, n. 1, jun./2016,
53. ROXIN, Claus. Estudos de Direito Penal (Org. e Trad. Luís Greco). Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. p. 279. Itálicos nossos.
47. Itálicos nossos. 58. DURÁN MIGLIARDI, Mario. “La prevención general positiva”..., p. 282. Itálicos nossos.
54. ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – Tomo I..., p. 92. Itálicos nossos. 59. SCHÜNEMANN, Bernd. “La culpabilidad...”, p. 118. O autor discorria sobre o fundamento da repro-
55. Idem, p. 97. Itálicos nossos. vação; mas sua conclusão parece igualmente válida para as finalidades da pena.
56. Idem, p. 103. 60. Idem, p. 119. Itálicos nossos.
46 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 47

dela ser uma pessoa física. Isso fica claro em todas as expressões destacadas dificuldade da perda completa de um referencial humano a ser punido65 no
em itálico no item 3, acima, e também no funcionamento do raciocínio em qual se poderia espelhar a coletividade e consequentemente experimentar a
si: quando as pessoas veem seu semelhante sendo punido por ter infringido sensação de pedagógica esperança no cumprimento das leis66.
a norma, intuitivamente projetam em si tal experiência – comportamento A premissa de que a pena cumpre alguma finalidade reside na pressu-
humano comum diante de um ser igual – e internalizam a mensagem de que posta “capacidade do ser humano de atuar livre e racionalmente”67, regido
a lei é válida, deve ser respeitada e de que o Estado age para cobrar tal respeito. que é, em sua relação com a pena, por “medo, princípios e expectativas”68.
Diferentemente da prevenção geral negativa, que dialoga com o cidadão no O homem, no contexto das funções da pena, sempre foi a única referência
idioma do medo, a prevenção geral positiva apela para a sua razão61. material: um ser natural, reflexivo e autocentrado, cujo paradigma de ação é o
A rigor, não poderia ser diferente, pois o Direito penal que hoje vigora próprio corpo em sua relação com o mundo exterior e com as outras pessoas
ainda é devedor, em grande parte, da quebra de paradigma que se deu na físicas integrantes do mesmo grupo.
França de 1789. Como lembra LÜDERSEN, “a Ilustração colocou em evi- Recorde-se, por oportuno, das três funções atribuídas à pena por
dência, ou melhor, cultivou duas raízes do pensamento e da atuação humana ROXIN69, no contexto da prevenção geral positiva: a) um “efeito de apren-
reciprocamente independentes: a liberdade do ser humano de determinar dizagem, motivado sócio-pedagogicamente”; b) um “efeito de confiança no
por si próprio seus interesses e seu merecimento de proteção, bem como de Direito”, que “nasce no povo pela atividade da justiça penal”; c) um efeito de
calcular os meios para essa proteção.”62 A legitimação da pena e de suas funções “pacificação”, produzido na “consciência jurídica geral”, que se “tranquiliza”
preventivas é feita em referência a pessoas físicas também porque a ideia de por conta da punição da conduta que infringiu a lei. Verifica-se facilmente
culpabilidade decorre do atendimento do princípio da dignidade da pessoa que nenhuma delas pode ser realmente cumprida se o destinatário da sanção
humana63. Tem razão WEELZEL quando argumenta que as pessoas jurídicas for, isoladamente, uma pessoa jurídica.
nunca farão, por si sós, um “reexame de consciência” como consequência de
O nível de comprometimento teórico das finalidades da pena com a figura
uma punição criminal, já que elas simplesmente não compartilham com as
de uma pessoa natural é grande, a ponto de se tornar barreira insuperável ao
pessoas físicas a mesma natureza64.
seu uso para uma pessoa jurídica70. É a mentalidade do homem (individual ou
Quando se imaginam hipóteses em que a pessoa jurídica seja punida
em conjunto com uma (ou mais de uma) pessoa física, talvez existam menos
65. MOREIRA, Rômulo de Andrade. “Responsabilidade penal da pessoa jurídica e o sistema processual
dificuldades, pois as finalidades da pena aplicada ao agente humano seriam penal”. In PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em
defesa do princípio da imputação penal subjetiva. 2. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 326.
as mesmas de sempre e, por possível aproveitamento de conveniência, elas se 66. Embora não seja objeto do presente artigo, um interessante excurso do desenvolvimento desse ar-
gumento poderia ser realizado com base em pesquisa de Jesús-María SILVA SÁNCHEZ e Lorena
manteriam legítimas – ao menos formalmente – por reflexo, pois produzi- VARELA. Afirmam que o processo de tomada de decisões humanas é condicionado por vieses cog-
riam na coletividade (de pessoas humanas) o reforço de confiança nas leis do nitivos (“sesgos cognitivos”) de fundamento situacional, que podem distorcer a adequada percepção,
pelo autor do fato, do significado ético daquilo que ele realiza. Isso significa que a atribuição de
Estado. Mas, para a pessoa jurídica punida isoladamente (lembrando que, aqui, responsabilidade pode não ter fundamento exclusivo em uma atuação fundada em racionalidade, mas
na capacidade da pessoa de identificar e corrigir seus padrões de atuação. Empresas podem, assim,
parte-se do pressuposto da autorresponsabilidade da pessoa jurídica) existe a ter responsabilidade quando contribuem para a criação e a preservação de ambientes em que a cultura
corporativa favoreça atuações contrárias à lei (SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA, Lorena.
“Responsabilidades Individuales en Estructuras de Empresa. La Influencia de Sesgos Cognitivos y
Dinámicas de Grupo”. In Fundamentos del Derecho Penal de la Empresa. Madrid: Edisofer, 2016, p.
61. GRECO, Luís. Lo vivo y lo muerto..., p. 317. 248-252; 279-281).
62. LÜDERSSEN, Klaus. “La función preventivo-general del sistema del delito”. In NAUCKE, Wolf- 67. CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. “Función de la pena...”, p. 8.
gang; HASSEMER, Winfried; LÜDERSSEN, Klaus. Principales problemas de la prevención general 68. CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. “Función de la pena...”, p. 7.
(Trad. Gustavo Eduardo Aboso e Tea Löw). Montevideo: B de F, 2006, p. 95. 69. Citações já feitas no item 3. Vide: ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – Tomo I..., p. 91-92.
63. CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. “Función de la pena y suspensión de su ejecución. ¿Ya no ‘se Itálicos nossos.
atenderá fundamentalmente a la peligrosidad criminal del sujeto’?”. In InDret – Revista para El Aná- 70. MIR PUIG explica que se o que se pretende com a pena é “motivar ao cidadão para que deixe de
lisis del Derecho, n. 4, oct./2015, p. 4. praticar crimes”, então somente poderá haver êxito com relação a um “comportamento humano”. “É
64. WEELZEL, Alex. “Contra la responsabilidad penal de las personas jurídicas”. In ONTIVEROS a função que se atribui às normas penais no Estado moderno o que determina a necessidade de um
ALONSO, Miguel (Coord.). La responsabilidad penal de las personas jurídicas: fortalezas, debilida- comportamento humano (...)”, já que apenas ele é que pode ser alvo da “motivação” da qual depende
des y perspectivas de cara al futuro. Valencia: Tirant lo Blanch, 2014, p. 619. a “função de prevenção” da pena (MIR PUIG, Santiago. Funcion de la pena..., p. 49-50).
48 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 49

coletivo) que a finalidade preventiva da pena sempre desejou (e ainda deseja) além de sua realidade; afinal, é uma empresa (às vezes um grupo econômico)
impactar, precipuamente em seu aspecto de norma de determinação. O pro- que está recolhendo a multa (com seus próprios e frequentemente fartos recur-
blema evidente é que as pessoas jurídicas não têm mentalidade na acepção sos) e não uma pessoa natural.
biopsicológica. Elas, por si próprias, não “sentem” medo, não “confiam”, não Ainda que se possa pretender elaborar teoria no sentido de um hipo-
“aprendem”, são desprovidas de “consciência ético-jurídica”, de “moral” e tam- tético empréstimo da mentalidade humana às empresas – tendo por fato de
pouco “anseiam” pela estabilização normativa que a punição, em tese, transmite. conexão interssubjetiva conduta ontológica punida – não se pode esquecer
É possível argumentar, em sentido contrário, que o que se almeja com a que as pessoas físicas que integram as empresas são intercambiáveis, tanto nos
prevenção geral positiva seria apenas provocar o efeito geral na população de cargos que ocupam na mesma empresa quanto em outras empresas. Assim, as
que aquele fato praticado pela empresa é errado e, como somente pessoas físicas pessoas que eventualmente deixem o cargo que ocupavam quando da prática
conduzem as empresas e compõem a sociedade, não haveria problema algum. do fato pela empresa ou troquem de emprego e sejam contratados por outra
Mas tal raciocínio não convence. Em primeiro lugar, porque, ele é circular ao pessoa jurídica antes de haver a condenação da empresa anterior jamais assi-
reafirmar o mesmo problema de origem: as bases teóricas de tal finalidade da milarão os efeitos da aplicação de uma sanção quando vier a ser aplicada, no
pena foram mesmo pensadas exclusivamente para pessoas físicas. Afetá-las é o futuro, à empresa autora do fato ilícito.
que importa, mesmo que às custas da punição de pessoas jurídicas. Em segun- Ainda que alguma pessoa física venha a ser punida em conjunto com
do lugar, a valer tal ideia o Direito penal jamais poderia pretender produzir a pessoa jurídica, é possível que, apesar de teoricamente impactada pelas
nenhuma teoria voltada especialmente para os entes morais. Uma teoria que finalidades da sanção, ela sequer tenha capacidade e/ou poder de mudar o
embasasse a ação, o dolo ou a culpabilidade da pessoa jurídica seria totalmente comportamento da empresa, determinando ou fomentando suas ações. A
sem sentido, pois não levaria em conta, necessariamente, pessoas físicas como maioria dos funcionários não tem a ideia do todo da companhia; mesmo
objeto da formulação teórica, de modo que esse possível argumento deve rejei-
alguns diretores não a têm71. Algo semelhante pode ocorrer com a própria
tar, de plano, a possibilidade de responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Em
pessoa jurídica. Por exemplo: “quando houver a sucessão da pessoa jurídica
terceiro lugar, é evidente que as pessoas físicas e as jurídicas não se identificam
responsável por outra não se poderá prosseguir a ação penal contra a suces-
entre si: humanos não veem seus semelhantes nas imagens mentais que repre-
sora, por absoluta falta de previsão legal.”72 Ou seja, se a pessoa jurídica que
sentam das empresas e, consequentemente, tendem a não compreender como
praticou o fato for, após tal prática, sucedida por outra, a finalidade preventiva
algo bom ou ruim diretamente para si as sanções aplicadas a pessoas jurídicas.
de eventual pena futura fica truncada: quem receberá a sanção não será mais
Até porque a maior parte dos crimes mais graves praticados por empresas nunca
a mesma pessoa jurídica que praticou o fato.
poderiam ser realizados por uma pessoa física apenas: os desastres ambien-
tais, as evasões de divisas, corrupções etc. sempre envolvem distintos órgãos Precisamente por notar a diferença de funcionamento das sanções quando
empresariais e vários cidadãos. Ademais, corporações recebem sanções muito aplicadas a pessoas físicas e a pessoas jurídicas é que BAIGÚN defendeu uma
diferentes daquelas já assimiladas por pessoas físicas como sendo consequências grande mudança teórica quando forem destinadas a empresas. “É óbvio”, para o
comuns de crimes: elas não sofrem as mazelas do sistema carcerário (as quais, autor, “que os fins da pena (...) na órbita de atuação das pessoas jurídicas devem
querendo ou não, acabam por integrar a pena em si), ou seja, elas não sofrem ter sua fonte em um esquema axiológico com contornos próprios, elaborado a partir
dor, solidão ou vergonha. Frequentemente, submetem-se a restrições de direitos das disfunções que o comportamento desviado provoca na estrutura econômica
não exercidos pelas pessoas físicas em geral (suspensão de licenças, proibição de e no âmbito político-social.”73 Isso porque, basicamente, “a pessoa jurídica é um
contratar com poder público, paralisação de atividades, intervenções por parte 71. SHECAIRA, Sérgio Salomão. “Responsabilidade penal das pessoas jurídicas: uma perspectiva do
direito brasileiro.” In Revista dos Tribunais | vol. 921/2012 | p. 281 – 294 | Jul / 2012 DTR\2012\44819.
das autoridades competentes etc.) e realizam diminuições patrimoniais que a
72. GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
maioria dos cidadãos (a coletividade que a prevenção geral pretende impactar) 2003, p. 118. Quando apontou a falta de previsão legal, o autor referiu-se apenas ao ordenamento
jurídico brasileiro.
não compreende perfeitamente (sociedades por ações) ou sabe que estão muito 73. BAIGÚN, David. La responsabilidad penal de las personas jurídicas (ensayo de un nuevo modelo te-
50 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 51

protagonista qualitativamente diferente do homem de carne e osso ao redor do qual que as sanções aplicáveis a pessoas jurídicas possuem natureza jurídica de
se estruturaram as conhecidas doutrinas da pena. O papel da pessoa jurídica no penas e, por isso, cumprem com todas as funções que elas sempre cumpriram
tecido social (...) não é idêntico ao do indivíduo, nem são iguais os efeitos de em relação a pessoas físicas. Sobre a finalidade de prevenção geral positiva
sua ação”74. Prossegue: “(...) o fim preventivo geral positivo das penas e medidas especificamente, assim explica seu posicionamento:
de segurança aplicáveis às pessoas jurídicas aponta, também, à consolidação do “(...) essas penas, como não poderia ser diferente, também desempenham
ordenamento jurídico, mas a nota qualitativamente diferente reside em que uma função de prevenção geral negativa e positiva ou integradora quanto às
o nível ético-político, do qual emanam as valorações, deve ser construído a entidades que não são punidas. (...) Nesse sentido, é indubitável que a exis-
partir das disfunções da formação econômica e social” das pessoas jurídicas, e tência da ameaça da possível imposição das citadas penas a pessoas jurídicas
é perfeitamente idônea por motivar a todos os indivíduos que conformam
não com base no desenho teórico elaborado para as pessoas físicas75. Aí, então, e dirigem os destinos de tais entidades a que lhes organizem e atuem ade-
BAIGÚN concluiu que a teoria das finalidades da sanção para pessoas jurídicas quadamente em suas funções (...). Nessa mesma linha, tampouco parece
requer “pautas próprias”76. discutível que a efetiva aplicação das penas às entidades infratoras, além de
reafirmar a vigência da norma infringida e restaurar a confiança social nela
4.2. O problema da abrangência restrita da prevenção que deveria (prevenção geral positiva), também, e como reconhece o próprio FEIJÓO
ser geral: a motivação indireta SÁNCHEZ, embora falando exclusivamente da multa, ‘... produz efeitos em
WEELZEL, opondo-se à possibilidade de responsabilização penal de sujeitos distintos daquele que sofre a pena pecuniária (...)’.”79
pessoas jurídicas, aduz, quanto às sanções que se lhes poderiam aplicar, que Em resumo, “deve-se entender que (...) juntamente com a motivação
“o efeito preventivo da pena não se dirige à pessoa jurídica enquanto tal, mas da empresa condenada”, ocorre a “motivação indireta de seus integrantes para
àqueles que a controlam ou administram e, desde um ponto de vista preven- que se organizem de forma preventivamente adequada”.80 Mais adiante, o
tivo geral, àqueles que controlam ou administram outras pessoas jurídicas.”77 autor afirma que “todas as penas contempladas no art. 33.7 do nosso Código
Partindo dessa constatação, o autor indaga: “se é um fato que o destinatário penal81 para as pessoas jurídicas cumprem com todas as funções aflitivas, sim-
da sanção ‘corporativa’ é a pessoa natural, faz sentido insistir que o infrator é a bólicas, motivadoras e preventivas que tradicionalmente têm cumprido, ou,
pessoa jurídica?”78 Para ele, a resposta é negativa. Sua conclusão é uma reação pelo menos, que se têm atribuído como finalidades para as pessoas físicas.
natural à constatação feita no item anterior: o raciocínio do funcionamento da Isso ocorre, certamente, de modo diverso de como se dá para as pessoas físicas, mas
prevenção geral positiva somente faz sentido se a sanção for aplicada diretamen- ocorre (...)”, razão pela qual se deve admiti-las, neste mesmo formato tradi-
te a seres humanos. Do contrário, passa-se a defender a possibilidade de punir cional de finalidades, também para as pessoas jurídicas, sem qualquer ajuste.82
entes morais com o incômodo objetivo de atingir destinatários diversos que Como o visto, o jurista afirma, de um lado, que as penas para as pes-
podem não ter tido relação alguma com o fato: as pessoas físicas (o que pode soas jurídicas cumprem com as mesmas finalidades que sempre cumpriram
desafiar o princípio da personalidade das penas). Esse desvio evidentemente não para as pessoas físicas. Porém, de outro lado, registra que o cumprimento
corresponde à lógica do citado fim da pena tal como é conhecida. dessas finalidades “ocorre, certamente, de modo diverso de como se dá para
Embora seja favorável à responsabilidade penal de pessoas jurídicas, as pessoas físicas”83. Há aí uma contradição. Sua explicação deixa isso evidente
GALÁN MUÑOZ não vê problemas quanto ao ponto em debate. Afirma quando, ao discorrer sobre como tais finalidades se realizam, conclui que elas
necessitam atingir terceiros diversos do efetivo destinatário formal da pena (a
órico). Buenos Aires: Depalma, 2000, p. 247 (itálicos nossos). A tais disfunções o autor chama “dano empresa). Ocorre que, nos casos em que a pessoa jurídica é a única autora
social”.
74. BAIGÚN, David. La responsabilidad penal..., p. 250. Itálicos nossos.
75. Idem, p. 254-255. 79. GALÁN MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y limites..., p. 281.
76. Idem, p. 257. Itálicos nossos. Motivada por essa conclusão, a presente pesquisa apresenta as sugestões 80. Idem, p. 281. Itálicos nossos.
que se encontram a partir do item 5. 81. Refere-se ao Código Penal espanhol.
77. WEELZEL, Alex. “Contra la responsabilidad...”, p. 619. 82. Idem, p. 281-282. Itálicos nossos.
78. Idem, p. 620. 83. Idem, ibidem.
52 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 53

do fato, pretender que a sua pena cumpra qualquer finalidade impactando Como já afirmado ao final do item 4.1, a investigação sobre as finalidades
exclusivamente um grupo restrito de terceiros (pessoas físicas) alheios à prática teóricas das sanções destinadas a pessoas jurídicas carece de “pautas próprias”86.
do fato em si (o diretor, o administrador, a mesa diretora etc.) é algo muito Não se almeja, aqui, formular uma nova teoria da pena que seja adap-
diferente da finalidade de prevenção geral que se destina a pessoas físicas. Não tada para as pessoas jurídicas87, mas somente demonstrar as discrepâncias
são necessários desvios ou atalhos em sua base teórica, como se viu. existentes entre a finalidade de prevenção geral positiva e a natureza do ente
Não se trata, aqui, dos efeitos que a pena produz em terceiros quando moral. A sugestão de finalidades que as sanções poderiam buscar quando
aplicada a pessoas físicas (p.ex.: o autor do delito é punido, mas é a sociedade forem aplicadas a pessoas jurídicas é um estímulo a esse debate.
que sente os efeitos da estabilização normativa e de reforço de fidelidade ao A tentativa de se contribuir para a alteração desse cenário de defasagem
Direito). Trata-se de efeitos que são produzidos exclusivamente sobre um grupo pede, inicialmente, que se mencione o aspecto que talvez seja o mais lembrado
muito restrito de terceiros (os diretores e/ou funcionários da somente daquela a respeito da prevenção geral positiva: trata-se de uma finalidade simbólica
que empresa que foi sancionada), o que é diferente de toda a coletividade (como da pena. HASSEMER, abordando o assunto, constatou que “a pena possui
se dá na prevenção geral clássica) que poderão não ter ciência de quem, como pelo menos a força ‘simbólica’ da evidenciação da norma (...). Isso pode estar
ou quando o fato foi praticado. Não é uma prevenção geral positiva normal: correto.” Contudo, esse simbolismo somente é suportável se for mantido um
é um efeito preventivo indireto e individualizado exclusivamente sobre um grupo “projeto para substituir o direito penal por algo melhor, pois esse direito retira
de pessoas físicas potencialmente alheias ao fato que foi praticado por uma pessoa sua força simbólica dos ossos dos seres humanos: pela limitação da liberdade e
jurídica. Ou seja: não é prevenção geral positiva. Nesse esquema novo, a ideia a sanção dos comportamentos.”88 A verdade é que essa finalidade se “baseia
de “prevenção” recai sobre a pessoa jurídica apenas formalmente, já que suas na esperança da ocorrência de um efeito que ninguém sabe se e quando se
consequências reais são todas sentidas unicamente por pessoas físicas84. realiza”89, sempre ao custo do apenamento de pessoas.
É claro que o autor escreveu a partir do Código Penal espanhol, cuja É inegável a contradição existente na lesão ou perigo de lesão (real) de
sistemática exige a prática de fato de conexão por pessoa física para que se bens jurídicos e a finalidade de prevenção (teórica), que é criticada como uma
possa imputá-lo à pessoa jurídica (o pode explicar seu posicionamento). Mas promessa não cumprida.90 Como se tem, agora, a oportunidade de rediscutir
isso, por si só, não parece permitir a afirmação de que a teoria de base da o que se espera poder obter com a aplicação de sanções criminais a pessoas
finalidade de prevenção geral (que se atribui às penas destinadas a pessoas jurídicas, um bom critério é dado por FEIJOO SÁNCHEZ: “a confiança
físicas) funciona de forma idêntica para as pessoas jurídicas. A necessidade nas normas é incentivada exclusivamente mediante um controle eficaz de suas
de uma “motivação indireta” o demonstra claramente. violações.”91 Essa confiança “será tanto maior quanto mais conscientes sejam

5. Sugestões de possíveis finalidades para as sanções aplicáveis


2005, p. 48. O autor cita que as principais correntes que se propuseram a tanto foram: a teoria da ficção,
a pessoas jurídicas a teoria organicista e a teoria da dissolução da pessoa individual na personalidade jurídica (p. 49).
86. BAIGÚN, David. La responsabilidad..., p. 257.
Aos autores que pretendem adotar as teorias clássicas das penas para as 87. Tal propósito exigiria, antes, o exame do fundamento de legitimidade da reprovação, bem como o
pessoas jurídicas “somente sobra a possibilidade de demonstrar a semelhança enfrentamento da crítica da potencial existência de tratamento jurídico discriminatório entre pessoas
físicas e jurídicas, o que não se realiza no presente estudo.
essencial das pessoas naturais e das pessoas jurídicas”85, o que não é possível. 88. HASSEMER, Winfried. Direito penal..., p. 98. Itálicos nossos.
89. HASSEMER, Winfried. “Prevención general...”, p. 73. Itálicos nossos.
84. Ao possível argumento contrário de que podem existir pessoas jurídicas alheias ao fato que “sentiriam” 90. “O déficit da tutela real dos bens jurídicos é compensado pela criação, junto ao público, de uma ilusão
o impacto da prevenção da sanção aplicada sobre a pessoa jurídica autora do delito, é possível opor de segurança e de um sentimento de confiança no ordenamento e nas instituições que tem uma base
que cada pessoa jurídica representa uma realidade distinta e possuiu dinâmica própria, o que tornaria real cada vez mais fragilizada. De fato, as normas continuam sendo violadas; e a cifra obscura das
inócua a ideia de prevenção. De todo modo, no máximo o efeito de prevenção seria sentido por um infrações permanece altíssima, enquanto que as agências de controle penal continuam a medir-se com
grupo restrito de empresas também: aquelas que exploram o mesmo ramo de atividade econômica ou tarefas instrumentais de realização impossível” (BARATTA, Alessandro. “Funções instrumentais e
que realizam a mesma atividade ilícita punida. simbólicas do direito penal – lineamentos de uma teoria do bem jurídico”. In Revista Brasileira de
85. BACIGALUPO, Enrique. “Teorías de la pena y responsabilidade penal de las personas jurídicas”. In Ciências Criminais, vol. 5, jan./mar. 1994, p. 12).
BACIGALUPO, Enrique (dir.). Curso de Derecho Penal Económico. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 91. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y prevención general..., p. 838-839. Itálicos nossos.
54 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 55

os cidadãos da eficácia da detenção e da persecução de crimes.”92 Tratando-se, basicamente, de significados novos, a utilização de novo
É compatível com o apego à esperança veiculado na citação de HASSE- vocabulário é recomendável para lidar com a aplicação de sanções penais a
MER, acima, a ideia que DURÁN MIGLIARDI atribui à punição, de que o pessoas jurídicas. Propõe-se, assim, o abandono da expressão prevenção geral
mais importante é que as sanções transmitam o sentido de que o Estado leva positiva para sancioná-las, pois ela está indissociavelmente ligada a preten-
a sério a prevenção da criminalidade, defendendo a vigência da lei e de seus sões que somente fazem sentido em relação a pessoas físicas97. Pode-se, assim,
valores implícitos, para que não se consolide a imagem de um Direito penal imaginar controle social como uma possibilidade para sua substituição. Seria,
fantasioso.93 Convém, então, examinar a ideia de controle como finalidade da na linha de HASSEMER, um controle social formalizado, isto é, de acordo
pena possivelmente compatível com a natureza das pessoas jurídicas. com a matriz principiológica correspondente aos valores sociais tutelados pelo
ordenamento98. Mas não apenas isso.
5.1. O controle social do crime
Veja-se que tal finalidade não pretende criar nenhum estado de espírito
DURÁN MIGLIARDI propõe um novo uso para a ideia de prevenção em quem recebe a reprimenda, o que seria impossível, com se viu. Tal enfoque
geral positiva: a prevenção deve levar em conta a “convicção de que o objetivo é especialmente compatível com pessoas jurídicas, cujas ações são normalmente
último não é erradicar o crime, mas controlá-lo razoavelmente”94. Ela pode ser mensuráveis apenas objetivamente. Para que seja viável pensar na pessoa jurídica
redesenhada para provocar uma alteração real na sociedade, o que é diferente de como um ator efetivo dessa dinâmica de racionalidade preventiva pelo controle
simplesmente esperar a prevenção geral pela mera punição do autor de um fato: é necessário considerar que quem sofre o efeito da sanção não é uma entidade
“(...) a prevenção geral positiva ou integradora, na minha opinião, em si, que não existe ontologicamente, mas uma imagem dela: a imagem sócio-
deveria implicar prestações positivas, aportações e esforços solidários que neu- corporativa da pessoa jurídica. Trata-se da representação dela feita mentalmente
tralizem situações de carência, conflitos, desequilíbrios (...), pois somente pelo público em geral; isto é, a sua reputação perante o mercado, seus consu-
reestruturando a convivência social, redefinindo positivamente a relação entre midores, a sociedade global e o seu o público interno também.
os membros do sistema social e deles com o sistema se pode conseguir avançar Essa imagem é dissociável das pessoas físicas que integram a empresa, pois
na prevenção do crime.”95 é uma entidade distinta para fins de sanção criminal. Esse ajuste poderia evitar,
Esse formato de finalidade que contempla o viés expressivo de um sen- em primeiro lugar, a exigência teórica de extravasamento da sanção ou de suas
tido claro (contenção da criminalidade por atuações positivas) é plenamente consequências a terceiros que não têm relação com o fato. E poderia solucionar a
compatível com a missão de controle social do intolerável, que BUSATO crítica feita por WEELZEL (vide item 4.2), já que o destinatário da sanção seria
atribui ao Direito penal. Diz o autor: “todas as normas são igualmente des- mesmo a pessoa jurídica, porém agora devidamente representada pela imagem
tinadas a permitir a vida em sociedade, portanto, a exercer certo nível de que cultiva perante o mercado e a avaliação subjetiva, feita pelas pessoas físicas
controle social” e, com isso, “a missão do Direito penal – e também da pena, em geral, do conjunto de caraterísticas que a individualizam. Em segundo lugar,
por coerência – é a realização do controle social do intolerável”, sem abrir mão tal consideração cobra eficácia e sentido na medida em que a tal imagem tende,
da necessária referência à pretensão de proteção de bens jurídicos essenciais frequentemente, a ser seu bem mais valioso: a sua identidade social, com valor
ao desenvolvimento do indivíduo em sociedade.96 agregado difícil de mensurar. Qualquer revés que lhe afete atinge o âmago do

92. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y prevención general..., p. 840. 97. Pretensões que são, ademais, tradicionalmente frustradas; ao menos no Brasil.
93. DURÁN MIGLIARDI, Mario. “La prevención general positiva como limite constitucional de la pena. 98. FEIJOO SÁNCHEZ aponta uma normativização exagerada na ideia de controle social formalizado de
Concepto, ámbitos de aplicación y discución sobre su función”. In Revista de Derecho (Valdivia) – Fa- HASSEMER, o que a distancia muito de garantir resultados empíricos seguros, ainda que comprová-
cultad de Ciencias Jurídicas y Sociales de la Universidad Austral de Chile , vol. XXIX, n. 1, jun./2016, -los seja algo a longo prazo e muito complexo (FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y preven-
p. 280. ción general..., p. 385-387). Por tal razão é que, no presente texto, sugere-se a exploração de sanções
94. DURÁN MIGLIARDI, Mario. “La prevención general positiva...”, p. 291. Itálicos originais. que impactem a imagem sócio-corporativa da empresa, como adiante se verifica. Uma indicação de
caminhos concretos pode, talvez, aproximar a teoria um pouco mais da realidade, contribuindo com
95. Idem, p . 290. Itálicos originais. sua verificabilidade empírica. Afinal, como o próprio autor considera, “não se poderá fazer um bom
96. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 16-17. trabalho empírico até que se conte com uma construção teórica adequada” (idem, p. 584).
56 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 57

ente abstrato. É nesse nível que a sanção deve poder atuar. redução do patrimônio da empresa condenada se desse também por outros
A tendência de aplicação preventivo-geral da pena pode fomentar san- meios, como o já sugerido impacto em sua imagem sócio-corporativa, o que
ções de “publicidade do processo” mediante o uso de “meios de difusão em também tende a se realizar em perdas financeiras, embora não exclusivamente
massa”99. Isso é potencializado quando se trata de punir (as imagens das) e também não de modo tão previsível.
corporações especialmente na atualidade, em que o uso cotidiano das redes 5.2. As possibilidades representadas pelos princípios do Guidelines
sociais pelas populações é uma realidade. Ou seja, “no âmbito do mercado, a Manual
publicidade da sentença, custeada pela pessoa jurídica, gera efeitos significa- Não se ignoram as grandes dificuldades inerentes à simples transposição
tivos não somente pela exemplaridade da sanção em si mesma, mas também de normas oriundas de um país a outro, especialmente quando há sistemas
porque realiza a desqualificação do ente coletivo”100. de base muito distintos (common law e civil law). O propósito aqui não
Não é por outra razão que a sistemática repressora de crimes corporativos é esse. Mas se deve reconhecer que, como os Estados Unidos da América
em países que lidam com tal questão há mais tempo, como o Reino Unido e os (entre outros países) têm larga experiência na sanção criminal de empresas,
Estados Unidos, adotam as chamadas sanções de shame. São consequências que os mecanismos normativos lá utilizados podem ter alguma relevância para
realizam, de diversas maneiras, a exposição negativa (publicidade adversa) da o objeto da presente pesquisa, ao menos para indicar um (dentre outros)
imagem da empresa condenada perante a sociedade e/ou seu mercado específico caminho possível de investigação futura mais profunda acerca de hipotéticas
de atuação, de modo proporcional à gravidade do fato101. Podem ser atrelados, finalidades de sanções criminais mais adequadas a pessoas jurídicas. É o que
ainda, mecanismos de recuperação da imagem sócio-corporativa, mediante a se procura demonstrar a seguir.
reparação dos danos, atendimento às vítimas, ações comunitárias e educativas O Guidelines Manual aqui analisado foi divulgado pela United States
e investimentos em programas de prevenção (compliance), o que coaduna com Sentencing Commission (USSG) em novembro de 2016104. Trata-se de um ar-
a ideia de DURÁN MIGLIARDI de solidariedade social por prestações (ações) quivo de 628 páginas formulado pelo Judiciário norte-americano e destinado
positivas como método de controle mais eficaz, acima vista. a fornecer as bases, princípios e orientações detalhadas aos magistrados sobre o
A multa comumente figura como primeira opção para a punição de ato de sentenciar pessoas físicas e jurídicas. O capítulo 8 trata somente de sen-
empresas. O motivo mais conhecido para isso é a avaliação geral de “que as tenças para pessoas jurídicas. As ideias expostas neste item sobre as finalidades
empresas reagem ante a possibilidade de uma pena não por razões de temor das penas foram motivadas especialmente pelo conteúdo dessa produção105.
ou intimidação, mas pelo cálculo dos ganhos e das perdas, pelas vantagens Nas suas instruções de aplicação, fica claro que seu propósito é o
e desvantagens.” Mas, justamente por ser sempre quantificável de antemão, controle do crime106. Possivelmente, a experiência dos operadores jurídicos
“a irrepetibilidade que se pretende com [essa] prevenção tem um alcance daquele país, que pune criminalmente pessoas jurídicas há mais tempo,
limitado”102. Isso recomenda que não se faça da multa o principal método de indicou que o objetivo de controle é compatível com a natureza abstrata
controle103. É claro que a multa tem sim sua utilidade, mas o ideal seria que a dos entes coletivos. Isso também pode reforçar a noção, aqui veiculada,
de inadequação da teoria da prevenção geral positiva para o controle da
99. HASSEMER, Winfried. “Prevención general y aplicación de la pena”. In NAUCKE, Wolfgang; HAS-
SEMER, Winfried; LÜDERSSEN, Klaus. Principales problemas de la prevención general (Trad. criminalidade de empresas.
Gustavo Eduardo Aboso e Tea Löw). Montevideo: B de F, 2006, p. 50-51. Itálicos nossos.
100. BAIGÚN, David. La responsabilidad penal..., p. 268. Itálicos nossos. 104. In: http://www.ussc.gov/sites/default/files/pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf, acesso em 9 de
101. Esse mecanismo foi explorado de modo mais detido em: SCANDELARI, Gustavo Britta; POZ- novembro de 2018.
ZOBON, Roberson Henrique. “Shaming como uma via para a sanção criminal de pessoas jurídicas 105. O comentário introdutório do capítulo 8 revela ser ele voltado às condenações simultâneas de pessoas
no Brasil”. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 151, a. 27, p. 75-114. São Paulo: RT, jurídicas e físicas. Mas isso não impede o estudo dos objetivos das penas nele dispostos como referên-
jan./2019. cia para uma possível reformulação da finalidade de prevenção geral positiva quando afete exclusiva-
102. BAIGÚN, David. La responsabilidad penal..., p. 278. mente a pessoa jurídica.
103. Para uma análise crítica da aplicação de penas pecuniárias para pessoas jurídicas, vide o artigo “Sanção 106. “A maioria dos comentadores da lei penal concorda que o objetivo último da lei e da punição, em
pecuniária na responsabilidade penal da pessoa jurídica: a eficácia como premissa”, de Alexey Choi particular, é o controle do crime” (Capítulo 1, item 3, em https://www.ussc.gov/guidelines/2016-gui-
Caruncho e Felipe Atet, desta coletânea. delines-manual/2016-chapter-1#NaN, acesso em 9 de novembro de 2018).
58 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 59

Todo o sistema de punição de empresas delineado no Guidelines sição do erário seria possível em crimes contra a Administração Pública111.
Manual está pautado por quatro princípios sobre os quais pretende sustentar Do segundo princípio, que é cumprido por sanções de inviabilização
e realizar o aludido controle da criminalidade: 1) deve-se, sempre que pos- permanente ou temporária da empresa (exaurimento do seu patrimônio por
sível, determinar que a empresa repare todos os danos porventura causados altas multas; suspensão de suas atividades; proibição de contratar com o poder
com os seus atos ilícitos, dando a todas as vítimas satisfação plena; 2) se a público; interdições parciais; cassação de licenças; dissolução etc.), exsurge
empresa houver sido utilizada primariamente com propósitos criminais, a uma finalidade inocuizadora. Trata-se de tornar um instrumento criado ou
multa deverá ser suficientemente alta para que todos os seus recursos sejam pervertido para servir exclusivamente ao crime ineficaz para esse intento.
consumidos por ela; 3) o valor da multa para os outros tipos de empresas A gravidade da sanção dependerá do nível de comprometimento da pessoa
será baseado na gravidade do crime e na reprovabilidade da empresa. A jurídica com o propósito escuso.
gravidade do crime levará em conta o ganho ou a perda patrimonial. A
Já no terceiro princípio, que é realizado observando-se a proporcio-
reprovabilidade será avaliada segundo fatores como: o grau de tolerância da
nalidade do castigo devido a empresas que são dedicadas à exploração de
atividade criminosa; os antecedentes da empresa; a eventual desobediência a
atividades lícitas, deixa-se entrever a finalidade preservadora. A preservação da
alguma decisão ou autorização pública; a obstrução da justiça; a existência
empresa ocorre sempre que ela não é totalmente inviabilizada. Isto é: organi-
ou não de programa efetivo de compliance; a autodenúncia, cooperação ou
zações criadas com intentos lícitos deverão ter sua existência defendida pelo
aceitação de responsabilidade; 4) pode-se submeter a empresa a um período
Direito. Mesmo que devam ser punidas por terem cedido ao crime momen-
de prova para assegurar o cumprimento de sanções ou para garantir que a
taneamente, não haveria justiça em sua inocuização permanente. Preservar
empresa adotará medidas e criará mecanismos aptos a impedir a ocorrência
a sua existência jurídica é uma finalidade implícita das sanções que não lhes
futura de crimes107.
tornam inviáveis de modo definitivo.
Esses princípios estão refletidos nas espécies de sanções previstas108
Finalmente, advém do quarto princípio – que permite a ingerência do
e visam oferecer às empresas incentivos para que eliminem ou reduzam a
poder público na administração da empresa – a finalidade recuperadora. É
atividade criminal por meio da estruturação de métodos de autocontrole e
possível que a lei formate um relacionamento entre Estado e condenado, pro-
fiscalização.109 Partindo-se desses quatro princípios e das sanções idealizadas
movido por força de sanção criminal (ou previamente, por medida cautelar),
especialmente para as corporações, pode-se vislumbrar e, doravante, sugerir
em que o jurisdicionado se submeta a um período de fiscalização dos seus
algumas finalidades que poderiam, cada qual a seu modo – mas preferen-
controles de prevenção, de detecção e de comunicação de práticas suspeitas.
cialmente em conjunto – contribuir para o controle da criminalidade de
A depender da qualidade desses controles, o Estado pode exigir mudanças e
pessoas jurídicas.
otimizações como parte da sanção. O objetivo é claro: habilitar ou promover
No primeiro princípio, que é cumprido por sanções eminentemente o programa empresarial de atendimento à lei e aos valores que a inspiram.
patrimoniais (bloqueio de bens, congelamento de contas bancárias, inde-
nização mínima na condenação criminal, restituição de valores, confisco de essencialmente para a consecução dos fins da pena”, já que “pode fomentar um reconhecimento das
normas” e oferecer “uma contribuição considerável à restauração da paz jurídica” (ROXIN, Claus.
bens etc.), vislumbra-se uma finalidade reparadora110. Inclusive a recompo- Derecho penal, parte general – Tomo I..., p. 108). Em outro texto: “o atrativo do fomento do instituto
da reparação em Direito penal radica, em primeiro lugar, no seu efeito preventivo geral em seu melhor
sentido” (ROXIN, Claus. La evolución de la Política criminal..., p. 35). O autor não discutia a punição
107. USSG, in: http://www.ussc.gov/sites/default/files/pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf, acesso
de empresas em tais obras, mas a reparação como finalidade da sanção criminal a elas dirigida parece
em 9 de novembro de 2018, p. 525. funcionar de modo semelhante ao explicado por ele (já que não se faz aportes aplicáveis exclusiva-
mente a pessoas físicas).
108. Reparação de danos, serviços sociais, instituição de programas de ética e compliance, multa, probation 111. Para ilustrar: por força do protocolo nº 9379/2016, o Ministério Público do Paraná concluiu pela viabi-
(vários tipos de condições variáveis de acordo com as circunstâncias do fato praticado e que as empre- lidade de transação com pessoas jurídicas inclusive no âmbito da Lei de Improbidade Administrativa
sas podem ser obrigadas a cumprir por determinado tempo), intervenção pública, perda de bens etc. (o que foi tornado público por meio do Informativo nº 1, de 3.2.17, do Centro de Apoio Operacional
(idem, p. 530-572). das Promotorias de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público e a Ordem Tributária do Ministério Pú-
109. Idem, p. 525. blico do Paraná). Em igual sentido: Resolução º 179, de 26.7.17, do Conselho Nacional do Ministério
110. Não se trata de mera indenização. ROXIN, ao discorrer sobre a finalidade reparadora do dano cau- Público. A base de tal posição institucional foi a maior eficiência para a obtenção de informações sobre
sado pelo delito, explica que ela não é somente “uma questão jurídico-civil, pois contribui também os atos ímprobos e crimes em si, bem como para o ressarcimento dos cofres públicos.
60 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 61

Uma das grandes diferenças de se punir pessoas físicas e pessoas ju- específico sobre tal finalidade da pena deixa claro que ela somente se cumpre,
rídicas reside na possibilidade de verificação objetiva do comportamento em tese, se houver a possibilidade de compreensão de funcionamento do
da empresa durante e após a aplicação da sanção112. Desde a realização de mundo humano por parte do destinatário da pena. Não somente o vocabu-
comportamentos pós-delitivos positivos determinados (ou não) por pro- lário, mas também a lógica empregada pelos estudiosos que se debruçaram
grama interno de cumprimento normativo (quando existe), passando pela sobre a maneira como a pena alcançaria tal desiderato são direcionados a seres
eliminação de falhas internas de controle, pelo investimento em melhorias humanos, falantes e sencientes, com seus característicos sentimentos, receios
preventivas113, o cumprimento (mais ou menos rigoroso) das medidas e san- e emoções. Isso torna a sobredita finalidade da pena incompatível com o
ções (administrativas e/ou patrimoniais) dentro de prazos pré-estipulados, apenamento de pessoas jurídicas.
até o ressarcimento de danos vê-se indicadores externos seguros de que a Essa incompatibilidade também foi constatada na análise crítica da pro-
empresa assimilou, ou não, as consequências de seu fato, o que está dentro posição de que a prevenção geral positiva seria realizável perfeitamente em
do escopo de controle da sanção a ela aplicada. relação a pessoas jurídicas pelo impacto que a pena produz nas pessoas físicas
Logo, esses quatro objetivos (reparação, inocuização, preservação e recupe- delas integrantes (motivação indireta). Mas esse raciocínio oculta uma cons-
ração) são compatíveis com a ideia de controle que pode dialogar, teoricamente, trução teórica nova, discrepante da formulação original da prevenção geral e
de maneira mais adequada com o ente destinatário das medidas de controle que produz tensão com o princípio da personalidade da pena.
do crime (a pessoa jurídica) e entregar resultados menos simbólicos no trato Diante desse desajuste teórico, e visando contribuir para uma maior
da criminalidade corporativa. Apresenta-se, com isso, a possibilidade de de- efetividade do disposto no art. 5º, XLVI, b, c, d e e da Constituição Federal
senvolvimento de uma nova base teórica sancionatória a permitir incursões brasileira (individualização da reprimenda aplicável a pessoas jurídicas) – já
científicas voltadas a descrição de finalidades sancionatórias compatíveis com que as sanções criminais também podem ser aplicadas exclusivamente a em-
a natureza abstrata (normativa) que é própria das empresas, diferentemente presas sem a concorrência de pessoas naturais – o texto sugeriu finalidades
da ontológica (natural), própria das pessoas físicas. sancionatórias que podem, aparentemente, ser compatíveis com a natureza
específica do ente moral. O mesmo objetivo de prevenção geral de crimes
Conclusão
pode, assim, ser buscado com a ideia de controle do crime. Na realidade, não
A antiga ideia de que o Direito penal cumpre missão preventiva tem são noções excludentes, mas complementares.
levado juristas a transplantar, pura e simplesmente, a finalidade de preven-
A atuação da sanção na imagem sócio-corporativa da empresa – nutri-
ção geral positiva da pena para as sanções aplicáveis a pessoas jurídicas. A
da subjetivamente pelas pessoas físicas que com ela se relacionam – poderia
grande maioria dos autores não questiona, antes, se tal operação é viável de
promover o controle da criminalidade corporativa, o que tem o potencial de
um ponto de vista teórico.
gerar um resultado de prevenção de futuros ilícitos, mas sem exigir o uso da
Feito o resgate dos contornos originários da ideia da finalidade de pre- (incompatível) base teórica da prevenção geral positiva.
venção geral (positiva) da pena, foi possível perceber que ela foi cunhada para
A finalidade de controle do crime se apresenta como teoricamente com-
impactar unicamente pessoas físicas. A revisão de referencial bibliográfico
patível com a pretensão de prevenir crimes no contexto corporativo. Partindo
112. Não se pode negar que, “objetivamente falando, a reparação e outros comportamentos positivos diver- desse objetivo geral de controle, podem-se derivar outras finalidades da sanção
sos e posteriores ao delito por parte do ente coletivo revelam um retorno à legalidade, assim como a
re(estruturação) de um programa de governança corporativa mantém a conformidade jurídica, preve- criminal (reparação, inocuização, preservação e recuperação), aqui apresentadas
nindo e afastando novas condutas ilícitas, pois o fundamento primário do programa de Compliance é
o afastamento de responsabilidades jurídico-penais, demandando uma vigilância constante por parte como meras sugestões extraídas da experiência norte-americana e que parecem
do núcleo responsável” (ANDRADE, Andressa Paula de; CARVALHO, Érika Mendes de. “Criminal
compliance ambiental...”, p. 209-239.). adequadas haja vista a natureza normativa de tais entes abstratos.
113. As páginas 533-538 do USSG contêm uma série de recomendações e itens a serem observados no
contexto da punição criminal das empresas para que se possa concluir para existência (ou não) de um
programa idôneo de compliance na empresa.
62 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 63

BIBLIOGRAFIA FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y prevención general – un estudio sobre la teoría de la
pena y las funciones del Derecho Penal. Buenos Aires: B de F, 2007.
AGUDO FERNÁNDEZ, Enrique; JAÉN VALLEJO, Manuel; PERRINO PÉREZ, Ángel Luis. Dere-
cho penal de las personas jurídicas. Madrid: Dykinson, 2016. GALÁN MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y limites de la responsabilidade penal de las personas
jurídicas tras la reforma de la LO 1/2015. Valencia: Tirant lo Blanch, 2017.
AMBOS, Kai. Direito Penal – fins da pena, concurso de pessoas, antijuridicidade e outros aspectos
(Trad. Pablo Rodrigo Alflen da Silva). Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006.CARDENAL GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
MONTRAVETA, Sergi. Función de la pena y suspensión de su ejecución. ¿Ya no “se atenderá fundamen- 2003.
talmente a la peligrosidad criminal del sujeto”?. In InDret – Revista para El Análisis del Derecho, n. 4,
GÓMES-JARA DÍEZ, Carlos. A responsabilidade penal da pessoa jurídica. Teoria do crime para
oct./2015.
pessoas jurídicas (Trad. Carolina de Freitas Paladino; Cristina Reindolff da Motta; Natalia de Campos
ANDRADE, Andressa Paula de; CARVALHO, Érika Mendes de. Criminal compliance ambiental: Grey). São Paulo: Atlas, 2015.
medidas prévias ao delito e comportamento pós-delitivo positivo corporativo. Revista dos Tribunais
GRECO, Luís. Lo vivo y lo muerto en la teoría de la pena de Feuerbach. Una contribución al
| vol. 959/2015 | p. 209 – 239 | Set / 2015 DTR\2015\12623.
debate actual sobre los fundamentos del Derecho penal. (Trad. Paola Dropulich e José R. Béguelin).
BACIGALUPO, Enrique. Teorías de la pena y responsabilidade penal de las personas jurídicas. In BACI- Marcial Pons: Madrid, 2015.
GALUPO, Enrique (dir.). Curso de Derecho Penal Económico. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 2005.
HASSEMER, Winfried. Direito penal: fundamentos, estrutura, política. Porto Alegre: Sergio Anto-
BACIGALUPO, Silvina. Responsabilidad penal de las personas jurídicas. In BACIGALUPO, Enrique nio Fabris, 2008.
(dir.). Curso de Derecho Penal Económico. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 2005.
. Direito penal libertário (trad. Regina Greve). Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
. Derecho Penal: parte general. 2. Ed. Buenos Aires: Hammurabi, 2007.
. Prevención general y aplicación de la pena. In NAUCKE, Wolfgang; HASSEMER, Winfried; LÜDER-
BAIGÚN, David. La responsabilidad penal de las personas jurídicas (ensayo de un nuevo modelo SSEN, Klaus. Principales problemas de la prevención general (Trad. Gustavo Eduardo Aboso e Tea
teórico). Buenos Aires: Depalma, 2000. Löw). Montevideo: B de F, 2006.
BAJO FERNÁNDEZ, Miguel; FEIJOO SANCHEZ, Bernardo José; GOMES-JÁRA DÍEZ, Carlos. ; MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción a la criminología y al derecho penal. Valencia: Tirant
Tratado de responsabilidad penal de las personas jurídicas. 2. ed. Pamplona: Civitas/Thomson Reu- lo Blanch, 1989.
ters, 2016.
JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal – teoria do injusto penal e culpabilidade (Trad. Gercélia
BARATTA, Alessandro. Funções instrumentais e simbólicas do direito penal – lineamentos de uma teoria do Batista de Oliveira Mendes e Geraldo de Carvalho). Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
bem jurídico. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 5, jan./mar. 1994.
JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz. Finalidades da Pena. Barueri: Manole, 2004.
BRODT, Luís Augusto Sanzo. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: um estudo comparado.
KAUFMANN, Armin. Teoria da norma jurídica. (Trad. Verlag Otto Schwartz & Co., Göttingen). Rio
Revista dos Tribunais | vol. 961/2015 | p. 245 – 273 | Nov / 2015 DTR\2015\13359.
de Janeiro: Editora Rio – Sociedade Cultural Ltda., 1976.
BUSATO, Paulo César. Direito Penal, parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
LÜDERSSEN, Klaus. La función preventivo-general del sistema del delito. In NAUCKE, Wolfgang; HAS-
; GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica – fundamentos crimino- SEMER, Winfried; LÜDERSSEN, Klaus. Principales problemas de la prevención general (Trad.
lógicos, superação de obstáculos dogmáticos e requisitos legais do interesse e benefício do ente Gustavo Eduardo Aboso e Tea Löw). Montevideo: B de F, 2006.
coletivo para a responsabilização criminal. Curitiba: Juruá, 2012.
MIR PUIG, Santiago. Funcion de la pena y teoria del delito en el Estado social y democratico de
CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. Función de la pena y suspensión de su ejecución. ¿Ya no “se aten- Derecho. 2. ed. Barcelona: Bosch, 1982.
derá fundamentalmente a la peligrosidad criminal del sujeto”?. In InDret – Revista para El Análisis del
. Las nuevas “penas” para personas jurídicas: una classe de “penas” sin culpabilidad. In MIR PUIG, Santia-
Derecho, n. 4, oct./2015.
go; CORCOY BIDASOLO, Mirentxu; GÓMEZ MARTÍN, Víctor (Dir.); HORTAL IBARRA, Juan
COSTA, Antonio Diego da. A responsabilidade penal da pessoa jurídica e seu tratamento legislativo brasi- Carlos.
leiro. In BUSATO, Paulo César; SÁ, Priscilla Placha; SCANDELARI, Gustavo Britta (Org.). Perspecti-
MEROLLI, Guilherme. Fundamentos Críticos de Direito Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
vas das ciências criminais: coletânea em homenagem aos 55 anos de atuação profissional do Prof.
Dr. René Ariel Dotti. Rio de Janeiro: GZ. MOREIRA, Rômulo de Andrade. Responsabilidade penal da pessoa jurídica e o sistema processual penal.
In PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa
CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de. Direito penal de risco e responsa-
do princípio da imputação penal subjetiva. 2. ed. São Paulo: RT, 2010.
bilidade penal das pessoas jurídicas: a propósito da orientação jurisprudencial do STJ. Doutrinas
Essenciais de Direito Penal Econômico e da Empresa | vol. 1 | p. 939 – 962 | Jul / 2011 DTR\2011\2164. POSSAS, Mariana Thorstensen. O problema da inovação da teoria da prevenção geral positiva: uma com-
paração entre Jakobs e Luhmann. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 56, set./out. 2005.
DEMETRIO CRESPO, Eduardo. Prevención general e individualización judicial de la pena. 2. ed.
Buenos Aires: B de F, 2016. ROXIN, Claus. A Proteção de Bens Jurídicos Como Função do Direito Penal (Trad. André Luís
Callegari). Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009
DE LA CUESTA, José Luis. Responsabilidad penal de las personas jurídicas em el derecho español. In Re-
vista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 101, mar./abr. 2013, DTR\2013\2664. . Derecho penal, parte general – tomo I: fundamentos. La estrutura de la Teoría del Delito (Trad.
Diego-Manuel Luzón Peña; Miguel Díaz y García Conlledo; Javier de Vicente Remesal). Madrid: Ci-
DURÁN MIGLIARDI, Mario. La prevención general positiva como limite constitucional de la pena. Con-
vitas, 1997.
cepto, ámbitos de aplicación y discución sobre su función. In Revista de Derecho (Valdivia) – Facultad de
Ciencias Jurídicas y Sociales de la Universidad Austral de Chile , vol. XXIX, n. 1, jun./201. . Estudos de Direito Penal (Org. e Trad. Luís Greco). Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
64 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

. La evolución de la Política criminal, el Derecho penal y el Processo penal (Trad. Carmen Gómez
Rivero; María del Carmen García Cantizano). Valencia: Tirant lo Blanch, 2000.
SCANDELARI, Gustavo Britta. As sanções criminais aplicáveis às pessoas jurídicas: uma nova teoria das
penas? In BUSATO, Paulo César (Org. e Coord.); GRECO, Luís (Coord.). Seminário Brasil-Alema-
nha: Responsabilidade Penal de Pessoas Jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018.
SCANDELARI, Gustavo Britta; POZZOBON, Roberson Henrique. Shaming como uma via para a
sanção criminal de pessoas jurídicas no Brasil. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 151, a. SANÇÃO PECUNIÁRIA NA RESPONSABILIDADE
27, p. 75-114. São Paulo: RT, jan./2019. PENAL DA PESSOA JURÍDICA: A EFICÁCIA
SCHÜNEMANN, Bernd. La culpabilidad: estado de la cuestión. In ROXIN, Claus; JAKOBS, Günther;
SCHÜNEMANN, Bernd; FRISCH, Wolfgang; KÖHLER, Michael. Sobre el estado de la teoría del
COMO PREMISSA
delito (Seminario en la Universitat Pompeu Fabra). Madrid: Civitas, 2000.
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica (de acordo com a Lei Alexey Choi Caruncho1
9.605/98). São Paulo: RT, 1998.
. Responsabilidade penal das pessoas jurídicas: uma perspectiva do direito brasileiro. Revista dos Felipe Atet2
Tribunais | vol. 921/2012 | p. 281 – 294 | Jul / 2012 DTR\2012\44819.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Fundamentos del derecho penal de la empresa (Col. Raquel Mon-
taner Fernández; Lorena Varela). Buenos Aires: B de F, 2014. RESUMO: A possibilidade de responsabilizar a pessoa jurídica em distintas esferas pela via
pecuniária sugere que se defina um espaço de tutela para cada área sancionatória. O artigo
. Normas y acciones em derecho penal. Buenos Aires: Hammurabi, 2003. tem por hipótese que esta definição exige uma maior precisão conceitual da eficácia da
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA, Lorena. Responsabilidades Individuales en Estructuras de sanção pecuniária. Na condição de um dos valores da pretensão de justiça de toda norma
Empresa. La Influencia de Sesgos Cognitivos y Dinámicas de Grupo. In Fundamentos del Derecho jurídica, a eficácia exige investigar os sentidos (aflitivo, preventivo e reparador) que servem
Penal de la Empresa. Madrid: Edisofer, 2016. de parâmetro para evidenciar a sanção pecuniária eficaz. Só a partir da correção desta pre-
SIQUEIRA, Tânia Bahia Carvalho. A reponsabilidade penal no contexto do licenciamento ambiental. In missa é que se pode pretender um uso proporcional desta via sancionatória.
RUIZ FILHO, Antonio; SICA, Leonardo. Responsabilidade penal na atividade econômico-empre-
sarial – doutrina e jurisprudência comentada. São Paulo: Quartier Latin, 2010. Palavras-chave: Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Sanção pecuniária. Eficácia.
UNITED STATES SENTENCING GUIDELINES (USSG). In http://www.ussc.gov/sites/default/files/
pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf, acesso em 17 de abril de 2018. INTRODUÇÃO
VALIENTE IVAÑEZ, Vicente (Coord). Responsabilidad de la empresa y compliance – programas
de prevención, detección y reacción penal. Buenos Aires: B de F, 2014. Numa manhã de julho de 2000, o rompimento de um oleoduto da
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Derecho Penal – acción significativa y derechos
Refinaria Presidente Getúlio Vargas, na cidade de Araucária, no sul do país,
constitucionales. 2. ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010. resultou no vazamento de cerca de quatro milhões de litros de óleo cru, com
WELZEL, Hans. Derecho penal aleman, parte general. (Trad. da 11ª ed. alemã por Juan Bustos Ra- graves danos à flora e fauna locais. Após atingir uma várzea e percorrer 40 qui-
mírez e Sergio Yáñez Pérez). Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 1970.
lômetros por rios da região, o derramamento levou a atividades de contenção
WELZEL, Hans. Derecho penal, parte general (Trad. Carlos Fontán Balestra). Buenos Aires: Roque
Depalma Editor, 1956. que duraram dois dias, replicando um cenário vivenciado numa dezena de
WEELZEL, Alex. Contra la responsabilidad penal de las personas jurídicas. In ONTIVEROS ALONSO, outros acidentes registrados em anos anteriores.3 Comprometendo o ecos-
Miguel (Coord.). La responsabilidad penal de las personas jurídicas: fortalezas, debilidades y pers-
pectivas de cara al futuro. Valencia: Tirant lo Blanch, 2014. 1. O autor é doutorando em Ciências Jurídicas e Políticas pela Universidade Pablo de Olavide (Sevilha/
ZAFFARONI, Eugenio Raul; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. 2. ed. Derecho penal, parte Espanha) e mestre em Criminologia e Ciências Forenses pela mesma Instituição e em Ciências Sociais
Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR. É Professor da Fundação Escola do Minis-
general. Buenos Aires: Ediar, 2002. tério Público do Estado do Paraná (FEMPAR) e Promotor de Justiça no Ministério Público do mesmo
estado.
2. O autor é pesquisador do Núcleo de Pesquisas Sistema Criminal e Controle Social da UFPR e do Gru-
po de Pesquisas Modernas Tendências do Sistema Criminal da FAE e Assessor do Ministério Público
do Estado do Paraná.
3. Consta que ao executar seu ‘plano de contingência’, verificou-se sua ‘incontestável fragilidade’, espe-
cialmente por não possuir mapas topográficos dos rios, nem fotos aéreas, rotas de fácil e rápido acesso,
maquinários adequados para a contenção do óleo, equipamentos adequados de proteção aos funcioná-
rios, nem equipe responsável pelo resgate da fauna (cf. Ação Civil Pública n. 2001.70.00.000582-0/
PR, proposta pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do Estado do Paraná em face
da Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras).
66 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 67

sistema ciliar e o lençol freático, elementos tóxicos causaram grave prejuízo Neste cenário, ao tempo em que se mostra bastante frequente a afirma-
à subsistência das populações ribeirinhas por um período que se estendeu ção de que, em tema de responsabilidade penal da pessoa jurídica, a multa
muito além daquela data. figuraria como «a pena por excelência»,13 o que se indaga é se esta modalidade
Diante do dispositivo constitucional brasileiro4 que prevê uma respon- de sanção tem efetivamente condições de assumir este papel. Afinal, o evento
sabilidade por danos ambientais cumulativa em três esferas, o fato ensejou acima dá mostras de como o ordenamento jurídico brasileiro vem permitin-
ações coletivas cíveis5 que, a título compensatório, condenaram a empresa do a existência de uma grande dissonância na aplicação das consequências
ao pagamento de danos materiais e morais de cerca de 2,9 bilhões de reais6. pecuniárias derivadas da infração ambiental, fazendo com que a eficácia da
No campo das consequências administrativas, até onde se conseguiu aferir,7 responsabilidade penal, sob esta perspectiva, possa inclusive ser contestada.14
quatro foram as autuações sancionatórias8 que, em relação às sanções pecu- Neste trabalho, admite-se como hipótese que esta dissonância tem
niárias, atingiram um montante de 218 milhões de reais. Por fim, no âmbito origem na ausência de uma mais clara definição do espaço de tutela que deve
penal, o evento levou a uma imputação da conduta descrita no artigo 54 da estar reservado a cada uma destas consequências pecuniárias.15 Tem-se que
Lei n.º 9.605/98,9 que comina a título sancionatório uma pena privativa de esta indefinição decorre da má compreensão de certos efeitos derivados da
liberdade cumulada com uma pena de multa. Embora tenha sido reconhecida sanção pecuniária com implicações imediatamente relacionadas à sua eficácia.
a extinção da punibilidade da pessoa jurídica imputada10, o grau máximo da
consequência pecuniária que poderia ter existido caso esta ação tivesse pros- nas aplicáveis às pessoas jurídicas, devendo seu cálculo ser fixado conforme o montante do prejuízo
seguimento11 seria de cerca de um milhão de reais de multa penal.12 causado, a partir da «perícia de constatação do dano ambiental», desde que, porém, respeitados «os
critérios do Código Penal» (art. 17). Caso a multa penal se revele ineficaz, esta mesma Lei prevê que
ela poderá ser «aumentada até três vezes» (art. 18). Assim, de forma mais precisa, pode-se dizer que
4. Constituição da República, Art. 225, § 3º: «As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio no evento noticiado, em seu grau máximo, a multa seria fixada em R$ 815.400,00. Este valor toma
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, inde- como referência tanto o valor máximo de dias-multa previsto pelo parágrafo 1º do artigo 49 do Código
pendentemente da obrigação de reparar os danos causados». Penal brasileiro – ou seja, cinco vezes o valor do salário-mínimo a época dos fatos (que, nos termos
5. Refere-se, aqui, às seguintes ações civis públicas: ACP n. 2000.70.00.020133-0; ACP n. do art. 5º da Lei n. 9.971/2000, era de R$ 151,00) -, como o máximo de dias-multa previsto pelo caput
2000.70.00.017448-0; e ACP n. 2001.70.00.000582-0. Tendo sido reconhecida a conexão entre elas, do mesmo dispositivo (ou seja, 360 dias-multa), considerando, finalmente, o aumento do triplo deste
todas seriam julgadas conjuntamente, em julho de 2013, pela Vara da Justiça Federal de Curitiba/PR. valor previsto pelo artigo 17 da Lei n. 9.605/98.
6. Neste particular, identificou-se que a condenação efetuou a seguinte distinção: 10 milhões de reais, a 13. Neste sentido, cf. FARALDO CABANA, Patricia. “¿Es multa una sanción apropiada para las per-
título de danos materiais à fauna; 100 milhões de reais, a título de danos materiais à flora; 100 milhões sonas jurídicas?”, in Proceso penal y responsabilidad penal de personas jurídicas. Cizur Menor:
de reais, a título de danos materiais à água; 66 milhões de dólares, a título de danos ao solo; e, final- Thomson Reuters Aranzadi, 2017, pp. 303-332 (311). DÍEZ RIPOLLÉS, José Luiz. “Las penas
mente, 708 milhões de dólares, a título de danos à qualidade do ar. de las personas jurídicas en la regulación española”, in Direito Penal como crítica: estudos em
7. A ressalva é necessária, pois, até os dias atuais, dúvida ainda existe a respeito dos valores finalmente homenagem a Juarez Tavares por seu 70º Aniversário. Madri: Marcial Pons, 2012, p. 179. GALÁN
incidentes à empresa, especialmente diante da existência de termos de ajustamento entre empresa e MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y límites de la responsabilidad penal de las personas jurídicas tras
poder público que não raro fazem com que as multas administrativas sofram significativos descontos. la reforma de la LO 1/2015. Valencia: Tirant lo Blanch. 2017, p. 272. BAUCELIS I LLADÓS, Joan.
8. Reporta-se, neste caso, ao Auto de Infração n. 19.638, formalizado pelo Instituto Ambiental do Paraná “Sistema de penas para la delincuencia económica en derecho español”, in La delincuencia econó-
(IAP), e aos Autos de Infração n. 89.824, n. 89.826 e n. 89.827 lavrados pelo Instituto Brasileiro do mica: Prevenir y sancionar. Valencia: Tirant lo Blanch. 2014, pp. 393-423, quem, após analisar os
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). cinco grupos de delitos econômicos previstos na legislação espanhola, reconhece que a multa ainda
é prevista como principal sanção penal (Íd., p. 158).
9. Lei n. 9.605/98, Art. 54: «Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam 14. Muito embora tenhamos tomado como exemplo referencial evento afeto ao ordenamento jurídico
resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição signifi- brasileiro, a questão do descompasso da aplicação das consequências pecuniárias é tema corriquei-
cativa da flora: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa (…) § 2º Se o crime: I – tornar uma área, ro não apenas em outros ordenamentos do entorno continental, mas também do anglo-saxão. Para
urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II – causar poluição atmosférica que provoque a uma perspectiva mais generalizada a respeito no cenário continental, cf. ALENZA GARCÍA, José
retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da Francisco. “Las sanciones administrativas y penales en materia ambiental: funciones y problemas de
população; III – causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de articulación”, in Derecho penal de la empresa. Pamplona: Universidad Pública de Navarra, 2002, pp.
água de uma comunidade; IV – dificultar ou impedir o uso público das praias; V – ocorrer por lançamento 593-612; CANO CAMPOS, Tomás. “El concepto de sanción y los límites entre el Derecho penal y
de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as el Derecho administrativo sancionador”, in Derecho administrativo y derecho penal: reconstrucción
exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena – reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas de los límites. Madrid: Bosch. 2017. pp. 207-236. No entorno anglo-saxão, a referência obrigatória é
mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade O’MALLEY, Pat. The currency of justice: fines and damages in consumer societies. Abingdon, Oxon;
competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível». New York, NY, Routledge-Cavendish, 2009, em especial Cap. 3.
10. Cf. Supremo Tribunal Federal, RE 548.181, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, julgado em 15. A expressão «espaço de tutela» deve ser entendida a partir da sua correspondência com o primeiro
06/08/2013. dos critérios que costumam estar associados à concepção de proporcionalidade – a saber, a «idonei-
11. O exercício dedutivo, aqui, toma por referência o quanto previsto no caput do artigo 54 da Lei dade» -, seguindo a clássica estruturação que, embora não unânime, é referida por ALEXY, Robert.
9.605/98, seja pela ausência de qualquer especificidade da redação original da denúncia (cf. referido Theorie der Grundrechte. Frankfurt: am Main, Suhrkamp, 1986. Neste trabalho, foi manejada a versão
no julgamento do RE 548.181, Rel. Min. Rosa Weber), seja pela inexistência de cominação de pena de espanhola traduzida por Carlos Bernal Pulido. Teoría de los derechos fundamentales. Madrid: Centro
multa no preceito secundário afeto às figuras qualificadas dos parágrafos 2º e 3º do artigo 54 daquela de Estudios Políticos y Constitucionales, 1986. A respeito de seus reflexos no âmbito penal, cf. COBO
Lei. DEL ROSAL, Manuel e VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Derecho penal: Parte general. Valencia:
12. Dispõem os artigos 19 e 21 da Lei n.º 9.605/98 que a multa figura como uma das hipóteses de pe- Tirant lo blanch, 1999. Em especial, Parte Primera, II.
68 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 69

Isto tem feito com que esta modalidade sancionatória seja, invariavelmente, compreendido como eficácia neste âmbito, verificados por meio de práticas
percebida no nosso entorno como o mero pagamento de uma conta do dia a que são tidas como relevantes para evidenciar o conteúdo eficaz da norma.
dia, abstraída de qualquer conteúdo aflitivo, dissuasório ou mesmo reparador. Considerada como um pressuposto sancionatório, isto é, como uma condição
Este significado vem fazendo, inclusive, com que os tratamentos legislativo e à própria possibilidade de sancionar,19 a eficácia será alçada à posição de eixo
doutrinário e, por vezes, o próprio uso judicial dispensado às sanções pecu- central, cujo equívoco no manejo estaria implicando em grande descompasso
niárias seja relegado a um segundo plano, considerando esta potestade como no âmbito político sancionatório.
algo de menor importância.16 A partir daí, tomando como referência ilustrativa o evento trazido nas
Por isto, observando os limites deste espaço, a proposta cinge-se a firmar linhas iniciais, será possível compreender ao menos um dos motivos que le-
uma premissa que aqui se assume como imprescindível para introduzir uma varam à desproporção de valores verificada, com um uso comum de medidas
reordenação político criminal que almeje o efetivo aproveitamento da poten- restritivas pecuniárias igualmente dotadas de finalidades punitivas20. As conse-
cialidade sancionatória da via pecuniária. Acredita-se que é a inobservância quências desta opção legislativa serão objeto de uma análise conclusiva, que se
desta premissa que vem contribuindo, significativamente, com o rumo ado- propõe a descortinar este cenário de desproporção que, em certa medida, vem
tado por distintos processos legislativos que se relacionam ao tema, servindo sendo presenciado no âmbito das políticas públicas sancionatórias pecuniárias.
aqui de exemplo a perspectiva infracional ambiental, pois única área na qual Espera-se que, com este diagnóstico, estará devidamente legitimada a
o legislador ordinário pátrio procurou, em alguma medida, positivar a res- apresentação de uma pauta investigatória futura, que possa contribuir político
ponsabilidade penal da pessoa jurídica.17 criminalmente com um uso mais coerente das sanções pecuniárias. Quer-se
Esta premissa refere-se à necessidade de entregar-se um maior rigor ao crer que somente a partir deste reconhecimento preliminar é que será possível,
significado da expressão «sanção eficaz». Mais do que dar-lhe uma definição em distinto espaço, verificar os limites que devem ser observados para fazer
arbitrária, adota-se aqui um referencial voltado à uma precisão conceitual com que o potencial político criminal deste instrumento possa ser melhor
que parta da perspectiva sociológica para interferir na argumentação jurídi- aproveitado pelos ordenamentos jurídicos, a ponto de tratá-lo, de fato, como
ca18. A concretização desta proposta será realizada com um estudo da função «sanção por excelência» na responsabilização penal da pessoa jurídica.
que os efeitos sancionatórios possuem na delimitação do quanto deve ser
1. A EFICÁCIA NO ÂMBITO SANCIONATÓRIO
16. Esta afirmação, necessariamente, deve ser compreendida dentro do contexto do ordenamento brasilei-
ro. Em outros entornos, como o alemão, a pena de multa costuma corresponder a cerca de 80% das san- É comum referir que vigência, justiça e eficácia seriam três dimensões
ções penais aplicadas. Cf. HASSEMER, Winfried e MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción a ala
criminología. Valencia: Tirant lo Blanch. 2001, Cap. X, B.1; MUÑOZ CONDE, Francisco e GARCÍA relacionadas ao direito21 que, na sua tradicional condição de técnica normati-
ARÁN, Mercedes. Derecho penal. Parte general. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, p. 521. Para mais va de organização e integração sociais,22 apresentaria uma configuração ideal
dados estadísticos a este respeito no ambiente alemão, cf. JESCHECK, Hans-Heinrich e WEIGEND,
Thomas. Tratado de derecho penal: parte general. Granada: Comares, 2010, em especial § 5, V.
17. Refere-se, aqui, a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e admi- 19. Cf. BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica. Bauru: Edipro. 2001 [1958]. p. 156, que recorda
nistrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. que «o fim da sanção é a eficácia da norma, ou seja, a sanção é um expediente para conseguir que as
18. Muito embora, tradicionalmente, o estudo das teorias e dos aspectos argumentativos do Direito centra- normas sejam menos violadas ou que as consequências da violação sejam menos graves».
va-se, essencialmente, nas razões afetas à atividade judicial, desde o final do século XX, a expressão 20. Não se desconhece que o reconhecimento da presença de um elemento aflitivo na reparação de danos
«argumentação jurídica» passou a ser compreendida em âmbitos alheios ao judicial, para abarcar a não é questão pacífica. A este respeito, cf. ALASTUEY DOBÓN, M. Carmen. La reparación a la
argumentação de dogmáticos e também de legisladores. Para uma aproximação à extensão do estu- víctima en el marco de las sanciones penales. Valencia: Tirant lo Blanch, 2000; GALAIN PALER-
do da argumentação jurídica, sob uma perspectiva legislativa, cf. ATIENZA RODRÍGUEZ, Manuel. MO, Pablo. La reparación del daño a la víctima del delito. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010. Deve-se
“Argumentación y legislación”, in La profliferación legislativa: Un desafío para el Estado de Dere- reconhecer, porém, que cada vez mais se assiste um desvirtuamento da reparação do dano no âmbito
cho. Cizur Menor: Thomson Aranzadi, 2004, pp. 89-112. Para um estudo monográfico a respeito da civilista, em especial daquele de cunho moral. Sobre isto, cf. BARRIENTOS ZAMORANO, Marcelo.
argumentação legislativa, segue atual ATIENZA, Manuel. Contribución a una teoría de la legislación. El resarcimiento por daño moral en España y Europa. Salamanca: Ratio Legis, 2007.
Madrid: Civitas, 1997. Sob uma perspectiva penal, são referências atuais os trabalhos de DÍEZ RI-
POLLES, José Luis. La racionalidad de las leyes penales. Madrid: Editorial Trotta, 2003. PAREDES 21. Cf. BOBBIO, op. cit., em especial Cap II. Precisamente por isto, há quem entenda que, enquanto a
CASTAÑÓN, José Manuel. La justificación de las leyes penales.Valencia: Tirant lo Blanch, 2013; vigência interessaria especialmente aos teóricos do direito positivo, a justiça seria objeto de estudo dos
RODRÍGUEZ FERRÁNDEZ, Samuel. La evaluación de las normas penales. Madrid: Dykinson, filósofos do direito, estando por fim, a eficácia entregue aos sociólogos do direito (SORIANO, Ramón.
2016; e a recente obra coletiva NIETO MARTÍN, Adan; MUÑOZ DE MORALES ROMERO, Marta Sociología del derecho. Barcelona: Ariel, 1997, p. 401).
e BECERRA MUÑOZ, José. Hacia una evaluación racional de las leyes penales. Madrid: Marcial 22. A tradicional perspectiva que atribui ao Direito a condição de técnica de organização, integração e
Pons, 2016. controle social é, essencialmente, de cunho sociológico. A este respeito, cf. REHBINDER, Manfred.
70 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 71

sempre que reunisse estas características a um só tempo.23 Ressalta-se que o A análise destas investigações demonstra o quão recorrente é o uso de
propósito desta reunião estaria em buscar um plexo de comandos que, de duas explicações para compreender por quê as pessoas cumprem as normas, sendo
forma concomitante, pudesse se mostrar como legal, legítimo e aplicável.24 uma de cunho instrumental e outra, chamada, normativa.30 Enquanto a pri-
Afirma-se, por isto, que para que conseguisse regular certas condutas sociais, meira aposta na clássica função dissuasória da norma, aceitando que as pessoas
mais que positivado, bastaria que o direito observasse a realidade para qual moldam sua forma de agir motivadas por um sistema de incentivos e sanções
está voltado, considerando o momento histórico e os interesses vinculados à estatais,31 a segunda busca evidenciar que as pessoas cumprem a norma por
concepção de mundo a ser regulamentado.25 força da internalização de um sentimento de justiça que as leva a reconhecer
Este tradicional propósito ordenador do direito, particularmente no uma legitimidade da autoridade responsável por fazer a norma ser cumprida.32
que diz respeito à terceira das dimensões mencionadas, remeteria ao estudo É, precisamente, o fato de serem enunciadas como as duas únicas expli-
da eficácia das normas jurídicas.26 Um tema cuja relevância, senão derivasse do cações deste respeito para com as normas33 que evidencia a fragilidade desta via
quanto posto pela filosofia do direito,27 decerto partiria do seu vínculo com argumentativa. Com efeito, enquanto a primeira (instrumental) mostra sua de-
a questão da aplicabilidade do direito28. E, sob uma perspectiva sociológica, bilidade ao confiar num poder dissuasório da norma que, historicamente, jamais
pesquisar sobre o direito aplicável nada mais representa do que aferir a razão se conseguiu comprovar34, a segunda (normativa) fragiliza-se ao adotar uma
pela qual as normas são respeitadas e obedecidas dentro de um contexto social.29 perspectiva cuja aferição se daria a partir do grau de internalização moral de um
sentimento de justiça, com dificuldades comprobatórias ainda mais manifestas35.
“Las funciones sociales del Derecho”, in Revista Chilena de Derecho, 5. 1981, pp. 125-135, quem,
ao tempo em que reconhece que a partir do Estado social esta perspectiva já demandaria uma revisão,
não deixa de advertir que mesmo a clássica noção de organização deve ser compreendida como abran- BINSON, Paul H. “Why does the Criminal Law care what the layperson thinks is just? Coercive versus
gente da função reguladora do direito (normas de primeira ordem, que prescrevem uma orientação Normative crime control”, in Virginia Law Review. 86/N. 8, 2000, pp. 1839-1869; ROBINSON, Paul
de comportamento) e da função integradora do direito (normas de segunda ordem, que cuidam da H. e DARLEY. John M. Justice, liability and blame: community views and the criminal law., New Di-
resolução de conflitos). rections in Social Psychology. Boulder: Westview, 1997; ROBINSON, Paul H. e DARLEY, John M..
23. Cf. SORIANO, op. cit. p. 401, o Direito assumiria uma condição «imperfeita» na medida em que The utility of desert, in Northwestern University Law Review 91. 1997 p. 453 ss. No âmbito do direct
apresentasse uma absorção de um destes aspectos pelo outro, pretendendo assumir só ser válido o penal econômico, cf. SIMPSON, Sally S., GARNER, Joel e GIBBS, Carole. “Why Do Corporations
direito justo, ou só ser justo o direito válido, ou ainda só ser direito aquilo que se aplica. Obey Environmental Law? Assessing Punitive and Cooperative Strategies of Corporate Crime Con-
24. Não se desconhece que, no âmbito da teoria do direito, os conceitos de «aplicabilidade», «legalida- trol”, in U.S Department of Justice. 2007; e o trabalho monográfico de SIMPSON, Sally. Corporate
de» e «legitimidade», individualmente considerados, implicariam por si só em intensa pauta investi- crime, law and social control. New York: Cambridge University Press, 2002.
gatória que este espaço não comporta. Para uma aproximação da densidade de cada um destes temas, 30. Sobre esta diferenciação, cf. TYLER, Tom R., op cit., em especial, Cap. 1. A expressão «normativa»
confira-se: sobre a aplicabilidade, NAVARRO, Pablo E. La eficacia del Derecho: una investigación aqui não deve ser confundida com a «concepção normativista do direito» que refere-se à tendência,
sobre la existencia y funcionamiento de los sistemas jurídicos. Madrid: Centro de Estudios Políticos certamente de maior aceitação, de ver o direito essencialmente como uma série de normas, de único ou
y Constitucionales, 1990; e NAVARRO, Pablo E. Dinámica y eficacia del Derecho: una análisis con- variados tipos, sejam elas enunciados linguísticos, mandatos de autoridade ou formas lógicas. Sobre a
ceptual de la obediencia, México: D. F., Biblioteca de Ética, Filosofía del Derecho y Política, 2017; so- extensão desta última expressão, confira-se ATIENZA, Manuel. Filosofía del derecho y transformaci-
bre legalidade, SHAPIRO, Scott J. Legalidad, Colección Filosofía y Derecho. Madrid: Marcial Pons, ón social. Madrid: Trotta, 2018, pp. 15 ss, quem refere que inclusive sociólogos do direito costumam
2014. Ediciones Jurídicas e Sociales; sobre legitimidade, indispensável as distintas perspectivas de partir de uma concepção normativista do direito, ainda que não se limitem a considerar a validez das
KELSEN, Hans. Teoría pura del derecho. México: Universidad Nacional Autónoma de México,1982 normas, mas a dimensão de sua eficácia.
[1960]; e HABERMAS, Jürgen. Facticidad y validez. Sobre el derecho y el Estado democrático de 31. O que, com um exemplo do âmbito sancionatório, implicaria na aceitação de que o incremento e a
derecho en términos de teoría del discurso. Madrid: Editorial Trotta, 2000 [1992]. certeza da punição levariam a uma efetiva redução das taxas de criminalidade. Sob uma perspectiva
25. Cf. DÍAZ, Elías. Sociología y filosofía del Derecho. Madrid: Taurus, 1993, p. 11. da filosofia jurídica, cf. NAVARRO, Pablo E., op. cit., em especial Cap. VI, 5, quem recorda que já
26. Para fins do presente, a expressão normas assume o sentido de «regras que interferem no controle Kelsen teria verificado que, mais do que a ameaça de castigo, seria o medo ao castigo que, como
social», como resultado dos sentidos construídos a partir de uma interpretação sistemática, que bus- regra, poderia motivar a obediência da norma, tornando sua desobediência como um comportamento
que evitar o «reducinismo da norma à sua [mera] expressão legislativa». Cf. BUSATO, Paulo César. de exceção (Ib. pp. 88-90).
Direito penal: parte geral. São Paulo: Editora Atlas, 2015, pp. 153-154. 32. TYLER, Tom R., op. cit., pp. 3-4.
27. Que, embora trate do tema da eficácia de forma «fragmentária» e «esporádica», costuma alçar a 33. Ibidem., em especial, Cap. 1.
eficácia das normas como «condição necessária à existência do próprio sistema jurídico». Cf. NA- 34. Sobre isto, no âmbito sancionatório penal, é obrigatória a referência a MARTINSON, Robert. What
VARRO, Pablo, op. cit. No mesmo sentido, HIERRO, Liborio. La eficacia de las normas jurídicas. works? Questions and answers about prison reform. The Public Interest, 35/NYC. 1974. pp. 22-54.
Barcelona: Ariel, 2003, p. 13. Ainda que reconhecendo a fragilidade do discurso dissuasório, porém, buscando resgatá-lo, cf. KEN-
28. Ainda que sob o risco de simplificar, deve-se ressaltar que a aplicabilidade do direito está vinculada NEDY, David M. Disuasión y prevención del delito. Reconsiderando la expectativa de pena. Madrid:
ao tempo e, por isto, não pode, por si só, corresponder à noção de eficácia do direito. Neste sentido, cf. Marcial Pons. 2016.
A advertência de NAVARRO, op. cit., em especial Cap. I, 6. 35. Neste sentido, basta ver as inúmeras ressalvas efetuadas ao longo do estudo empírico de TYLER, op.
29. Quiçá um maior aprofundamento desta matéria possa ser visto no âmbito do direito anglo-saxão. Neste cit. em particular, Cap. 3. Sob a perspectiva da doutrina continental, por todos, serve como referência
particular, serve como referência introdutória TYLER, Tom R. Why people obey the law. Princeton: a crítica de VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal 2ª. Valencia: Tirant lo
Princeton University Press. 2006. Especificamente vinculado ao âmbito criminal, merecem menção Blanch. 2011. pp. 372 ss. e 799 ss., quem refere que a confusão entre direito e moral (moral-virtud)
os trabalhos de SIMONS, Kenneth W. “Understanding the Topography of Moral and Criminal Law leva a uma indevida restrição das liberdades mais básicas do ser humano, em especial, ao direito do
Norms”, in Philosophical foundations of criminal law. Oxford: Oxford University Press, 2011; RO- livre desenvolvimento da personalidade, que constitui o núcleo de um sistema democrático.
72 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 73

De toda forma, a debilidade argumentativa dessas explicações não se a razão da obediência da norma –, o que se faz é tratar o direito como objeto,
limita a esta vertente probatória. É que embora sigam por rumos distintos, isto é, como algo dado e não como uma atividade ou uma prática construída
ambas apresentam pontos débeis que parecem ter uma origem comum, já e adotada dentro de um determinado contexto social41.
que buscam ser totalizantes, assumindo uma concepção ontológica prévia ao Insista-se, desde logo, que o que se propõe com o uso da expressão prática
direito de que existiria uma estrutura de norma obediente que, praticamente, social refere-se à admissão de uma concepção de direito que possa concebê-lo
vincularia o legislador no momento de configurar o sistema de proteção. não apenas como um fato social, mas como um instrumento desenvolvido para
Ademais, a tentativa de aferir se uma norma é aplicável, porque é ou atingir determinados propósitos e valores. Mais do que tão só assumir uma
não dissuasória, ou porque foi ou não internalizada pelas pessoas, leva a ques- condição finalística, do que se trata é referir a um conjunto de atividades que
tões que buscam respostas no passado, ignorando, com isto, que o cerne do levam a uma ideia de justiça que passe a ser interpretada a partir de valores
problema da eficácia demanda uma prévia análise do tema da pretensão da morais objetivos42, ou seja, a partir de valores extraídos de normas que tenham
norma, sobre o qual o máximo a perseguir está em tentar saber o que se pode como componente básico, essencialmente, uma noção de não arbitrariedade43.
pretender com a sua edição.36 Sob este viés, muito mais do que um resultado, o direito passa a ser con-
Este distinto enfoque já demonstra que a questão relacionada à eficácia das cebido como um processo, possibilitando uma aferição argumentativa de cada
normas está longe de ater-se à mera adoção de uma perspectiva conceitual que uma de suas etapas.44 De fato, como prática social, o direito assume a condição
pudesse ser modificada sem se preocupar com suas consequências. Na realida- de instrumento dotado de normas que – além de sua tradicional concepção
de, trata-se de tema que diz respeito à própria forma como o direito é concebido. imperativa refletida em determinações de poder diretivas de condutas45 -, também
E, neste particular, ainda que não seja necessário deixar de assumi-lo se apresentarão como determinações de razão, isto é, como determinações que
como um sistema de normas, é fundamental que o direito também possa ser existem para justificar a imposição daqueles imperativos.46
compreendido como uma pratica social37, isto é, como uma atividade voltada É que na atual configuração dos Estados democráticos de direito não
a atingir certos propósitos de caráter prático que, além de normas, também
41. ATIENZA, M. Filosofía del derecho…, p. 16.
refira-se a procedimentos, valores, ações, operadores38 e percepções sociais.39 42. A respeito dos reflexos de cada uma destas características do direito visto como «prática social», cf.
Ibidem., Cap I, 4. Este autor, entretanto, ao menos desde 2006 já identificava um «giro argumentati-
Mais do que um mero complemento semântico, o que esta opção ressalta é vo» que deu ensejo a um novo paradigma no âmbito da filosofia do direito, sendo um dos reflexos,
a insuficiência da concepção normativista do direito,40 negando que esta possa precisamente, a consideração de que o direito não seria mais apenas um instrumento para atingir in-
teresses sociais, senão que teria passado a incorporar «valores morales y que esos valores no perte-
dar conta adequadamente de toda a realidade jurídica. necen simplemente a una determinada moral social, sino a una moral racionalmente fundamentada»
(ATIENZA, Manuel. El Derecho como argumentación: concepciones de la argumentación, Madrid:
Ariel. 2006. pp. 55-56).
Até porque, ao limitar sua compreensão à condição de uma série de 43. ATIENZA, M. Filosofía del derecho…, p. 42.
normas – algo assumido pelas duas explicações sociológicas que tentam aclarar 44. Não se desconhece que, tanto na Teoria Pura do Direito, quanto na Teoria Geral do Direito e do Es-
tado, Kelsen referia a uma distinção entre estática e dinâmica. Esta diferenciação, porém, em nada se
36. Neste sentido, Cf. BUSATO, op. cit, p. 161, quem adverte que «a norma não deve ser [investigada] a assemelha ao ora mencionado. Na realidade, o que Kelsen tinha em consideração não era a dinâmica
partir de sua construção, mas sim a partir de sua pretensão». do direito enquanto fenômeno social e histórico, mas a dinâmica interna do direito, considerando este
último exclusivamente como um sistema de normas válidas. Cf. ATIENZA, ibidem. pp. 16-17.
37. A referência ao Direito visto como uma «prática social» e uma «atividade» busca apresentar um 45. A respeito da insuficiência e da incompletude das concepções imperativas em suas distintas vertentes, cf.
complemento à tradicional concepção normativista do Direito, que se limita a concebê-lo como um VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op. cit., capítulo séptimo. Recordando, porém, que a primeira destas
«sistema de normas». A respeito desta diferença ontológica, cf. ATIENZA, Manuel, op. cit., em espe- vertentes, a chamada «doutrina do mandato», refere-se a uma polêmica de cunho bem mais antigo e pro-
cial Cap. I, quem não demora a ressaltar que já na obra de Ihering pode ser buscada a origem da ideia funda, cf. WELZEL, Hans. Introducción a la filosofía del derecho: derecho natural y justicia material,
do Direito como prática social. 2ª. Madrid: Aguilar, 1971, em especial, Caps. I e II, quem inclusive trata de mencionar que toda a história
38. A referência aos «operadores» demonstra a incompletude do quanto proposto por BOBBIO, Norber- do direito natural está calcada numa discussão relacionada ao sentido da norma, que leva a uma contínua
to. “Scienza del direto e analisi del linguaggio”, in Saggi sulla scienza giuridica. Torino: Giappichelli. distinção entre ratio e voluntas, isto é, entre direito natural ideal e direito natural existencial (Ibidem, p.
2011 [1950]. pp. 13, 15 ss., que, embora tenha avançado ao tratar o direito como uma linguagem e, 5).
portanto, as normas jurídicas como simples expressões de linguagem, limitou esta perspectiva ao dis- 46. Como refere VIVES, mais do que um mero problema de etiquetas, na essência, se trata de saber se as
curso do legislador. No mesmo sentido, GUASTINI, Riccardo. Las fuentes del derecho: fundamentos normas devem ser entendidas como «decisiones del poder o si, por el contrario pertenece también a
teóricos. Lima: Raguel adiciones, 2016 [2010], pp. 7-9. su esencia que hayan de ser justificadas e interpretadas como determinaciones de la razón». Se na pri-
39. A expressão é de ATIENZA, Manuel, op. cit., p. 20 y 107. meira concepção a norma nada mais é do que um «meio» para impulsionar a conduta, não fará parte
40. Sobre a concepção normativista do direito, cf. ATIENZA, Manuel. El sentido del derecho. Barcelona: da sua fundamentação o discurso jurídico, o juízo de valor, nem a razão, mas o mero discurso ético ou
Editorial Ariel. 2001, Cap. 3. político. Cf. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op. cit., pp. 352-353.
74 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 75

existe mais espaço para aceitar-se uma dimensão diretiva da norma que não às normas penais. É que ao aceitar-se que o Direito penal deve figurar como
esteja acompanhada da demonstração de sua respectiva pretensão de justiça. apenas mais um de seus instrumentos de controle social, este modelo estatal
Uma pretensão que deve ser compreendida, enfim, dentro do marco de um tem como corolário que, desde o momento da atividade legislativa, deverá
processo de argumentação racional47, cujo objetivo fundamental seja o de satis- estar presente uma diretriz de pretensão de justiça que pondere, de forma
fazer os direitos fundamentais dos indivíduos.48 racional e igualitária, todos os aspectos (valorativos e funcionais) que possam
Até mesmo porque, ao tomar-se como valor fundamental esta ideia de delimitar as condutas a serem penalmente proibidas e a forma de sancioná-las
justiça, restam imediatamente refletidos no direito todos os demais valores que em caso de descumprimento. Isto faz com que todos os valores já referidos
estão vinculados a esta ideia.49 Com isto, por exemplo, validez e legitimidade devam ser considerados no momento da elaboração de quaisquer das catego-
passam a ser consideradas aspirações das normas jurídicas. E, ao invés de serem rias do sistema penal,52 não sendo a pena uma exceção.
aferidas por meio de expressões com pouca concretude ou estarem reservadas Numa tal ordem de ideias, portanto, deve-se admitir que a eficácia
a estudos e disciplinas setorizadas, que não raro se apoiam em definições também figure como um dos valores a serem considerados para atender a
metajurídicas, estas aspirações (validez e legitimidade) passam a exigir uma diretriz que toda e qualquer norma deve possuir dentro de um Estado demo-
justificação procedimental para demonstrar que seu atributo de imperatividade crático de direito, contribuindo à busca pela pretensão de justiça. Ao invés de
derivou de razões que justificaram a norma e que foram observadas desde o ser extraída de uma concepção abstrata, porém, esta pretensão e seus distintos
momento inaugural de um processo racional de elaboração legislativa.50 valores devem ser dotados de «conceitos interpretativos», que partam de uma
O mesmo se diga em relação a todos os demais valores que também se ideia53 que só assuma algum sentido quando analisados dentro de um contexto
mostram relevantes para aquela configuração de modelo de Estado. De fato, de práticas interpretativas.54 De fato, para que possa ser objetivamente consi-
uma materialização da pretensão de justiça como valor central do ordenamento derado, todo valor afeto à pretensão de justiça deve ser extraído de atividades
só será viável na presença de outros valores, como segurança jurídica, liberdade e práticas presentes num dado contexto social. É que serão elas que possibili-
e, no que aqui importa, eficácia, que «no son sino aspectos parciales de la idea tarão objetivar o sentido de valores como o da eficácia.
central de justicia que el ordenamiento jurídico pretende encarnar».51 Se é assim, se o que se busca nesta pesquisa é, precisamente, uma forma
Na realidade, particularmente no que diz respeito à seara penal, a pró- de aferir a existência de eficácia de uma norma sancionatória, será necessário
pria concepção estatal democrática de direito já entregaria similares atributos que, como passo prévio, sejam identificadas estas práticas que expressam um
sentido de aplicabilidade deste tipo de norma. Ou seja, será preciso que se iden-
47. Uma análise aprofundada desta concepção e do quanto dela decorre, cf. VIVES ANTÓN, ibidem., em
especial Cap. VI. Para uma aproximação, cf. MARTÍNEZ BUJÁN PÉREZ, Carlos. Derecho penal tifiquem aquelas atividades que evidenciam que a norma sancionatória, uma
económico y de la empresa. Parte general, 3 ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011, pp. 38 ss.
48. ATIENZA, M. Filosofía del derecho…, p. 22.
vez editada, será pretensamente respeitada e obedecida num dado entorno. É
49. Sobre a adoção da pretensão de justiça como valor fundamental do ordenamento jurídico, cf. VIVES que só por meio desta prévia aferição é que será possível valorar objetivamente
ANTÓN, Tomás Salvador, op. cit., cuja concepção significativa da ação parte do «giro pragmático»
efetuado na filosofia por Wittgenstein, adotando esta reflexão na doutrina da ação e na teoria da
norma, ainda que a partir de uma metodologia que segue a teoria da ação comunicativa (teoria do
discurso) de Habermas. 52. No mesmo sentido, MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos, op. cit., p. 45.
50. No mesmo sentido, MARTÍNEZ BUJÁN PÉREZ, Carlos, op. cit., p. 42 quem, com base em Haber- 53. Sobre a distinção entre o caráter finalístico das «ideias» e a noção descritiva dos «conceitos», cf.
mas, destaca como a legitimidade das normas jurídicas se fundamentará na racionalidade do processo ATIENZA, M. Filosofía del derecho..., Cap. I, 2.
legislativo de sua criação, no qual inclusive coincidem conteúdos de diversas índoles: morais, ético 54. DWORKIN, Ronald. Justice in Robes. Harvard University Press, Cambridge (Mass.) 2006. , trad. cast.
sociais e compromissos entre interesses e aspectos pragmáticos. Sobre a nacionalidade legislativa, de M. Iglesias Vila e Í. Ortiz de Urbina, La justicia con toga. Marcial Pons: Madrid. 2007. p. 21. Muito
confiram-se, ainda, como referências obrigatórias, ATIENZA, M. Filosofía del derecho..., com uma embora os questionamentos dos diferentes conceitos de direito tenham sido concebidos pelas mais
proposta de teoria de argumentação jurídica legislativa; DÍEZ RIPOLLES, José Luis, op. cit., bus- distintas doutrinas, foi aquele que envolve a discussão entre Hart e Dworkin que aqui interessa. Com
cando concretizar uma proposta de racionalidade legislativa penal; e VOGEL, Joachim. “Legislación efeito, na obra referida, Dworkin contrasta o conceito criteriológico de direito de Hart com o conceito
penal y ciencia del Derecho penal (Reflexiones sobre una doctrina teórico-discursiva de la legislación interpretativo de direito. Enquanto o conceito criteriológico seria aquele que possui certas proprieda-
penal)”, in Revista de derecho penal y criminología, 2ª época, n. 11. 2003. pp. 249-265, outorgando des identificáveis que permitem inferir de forma lógica o significado que se deseja definir, o conceito
uma dimensão de validez à norma, cuja legitimação requer um discurso ético-político de índole prag- interpretativo de Dworkin não é obtido através de uma fórmula matemática. Para ele o significado do
mática em termos de racionalidade prática, exigindo uma justificação procedimental para a identifica- direito depende de interpretações judiciais, práticas, fatos concretos, etc., de modo a fazer com que
ção dos bens jurídicos penalmente protegidos. seu uso correto só possa ser aferido a partir da identificação da melhor interpretação desta prática. No
51. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op. cit., p. 489. mesmo sentido, ATIENZA, Manuel, op. cit. p. 29.
76 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 77

a eficácia da norma sancionatória que aqui interessa. Assume-se, por hipótese, que no contexto atual existe um conjunto
Frequentemente analisadas por investigações sociológicas na condição de práticas que demonstram serem três os efeitos que devem estar cumulati-
de fatores que contribuem para a eficácia,55 no âmbito sancionatório penal, estas vamente pretendidos na edição de uma norma sancionatória no campo da
práticas podem ser estudadas a partir da correlação que possuem com os efeitos responsabilidade penal da pessoa jurídica para que o valor eficácia potencial-
pretendidos com a edição de uma norma sancionatória. E serão, justamente, mente se faça presente. De fato, admite-se que a norma sancionatória deve
estes efeitos que poderão servir de parâmetro para avaliar se a norma editada expressar (i) um sentido aflitivo, já que inerente à toda noção retributiva que
tem potencial para gerar obediência e ser aplicável. serve de fundamento justificante às sanções. Exige-se, ainda, que a norma
apresente (ii) um sentido preventivo que, além de figurar como um limite
Assim, a pergunta inicial que surge volta-se a saber quais efeitos podem
justificante, por meio de suas distintas vertentes expressará a utilidade do ins-
ser pretendidos com a edição de uma norma sancionatória dentro de um modelo
trumento sancionatório.56 E, por fim, ainda é necessário que a norma expresse
estatal democrático de direito. Uma vez identificados estes efeitos, a indagação
(iii) um sentido reparador, viabilizando uma satisfação social e, em certos
seguinte estará voltada a verificar as atividades que podem estar atreladas à busca
casos, também uma de cunho individual pela parte ofendida. Em síntese, no
destes efeitos. Estes enfrentamentos podem ser feitos de forma conjunta, pois
âmbito da responsabilidade penal da pessoa jurídica, admite-se que figura
longe de serem estranhos para o Direito penal, na realidade, tocam direta-
como sanção eficaz aquela que, de forma concomitante, é capaz de gerar um
mente ao tema dos efeitos sancionatórios das normas penais.
sentido aflitivo, preventivo e reparador.
É, precisamente, a existência deste vínculo que guia esta pesquisa.
Muito embora não se desconheça a grande densidade argumentativa
Afinal, dentro dos fins propostos, o que resta a saber refere-se aos efeitos que
de cada uma destas vertentes,57 bem como dos conflitos que geram quando
devem ser pretendidos com a edição de uma norma sancionatória para que ela
possa ser considerada eficaz no âmbito da responsabilização penal da pessoa jurí- 56. A respeito da existência de um duplo fundamento na sanção penal, onde parte atua de modo positivo
dica, aferindo-se, para tanto, as práticas e atividades que estão vinculadas a estes na sua justificação e parte opera negativamente, servindo-lhe como delimitador, cf. VIVES ANTÓN,
Tomás Salvador, “Régimen penitenciario y Derecho penal (Reflexiones críticas)”, in Cuadernos de
efeitos. Quer-se crer que, a partir de tais subsídios, será possível verificar se a via política criminal, v. 3, 1977, p. 246 – 263, quem ressalta que «ha de reconocerse que … la ‘justa
proporción’ que reclama el principio retributivo solamente puede establecerse sobre la base de valo-
pecuniária, de fato, pode servir para fins sancionatórios penais neste âmbito. raciones culturales, cambiantes e inseguras. De modo que, si bien la retribución ha de operar como
límite máximo de la medida de la pena, en modo alguno cabe deducir de ella un límite mínimo a ésta.
Hoy como ayer, la retribución es el único fundamento de justicia que cabe hallar a la imposición de la
pena. Pero se trata de un fundamento tan relativo y dudoso que no cabe deducir de él la necesidad de su
2. PARÂMETROS PARA AFERIR A EFICÁCIA DA SANÇÃO imposición efectiva en todos los casos en que parezcan concurrir sus presupuestos. De cualquier modo,
PENAL PECUNIÁRIA pienso que es un fundamento insuficiente para determinar la imposición de la pena allí donde ésta apa-
rezca com inútil o contraproducente. Si es injusto castigar cuando no se ha cometido delito, también
lo es castigar el delito cometido cuando de ese castigo no se siga beneficio alguno ni al individuo ni a
Foi mencionado que a concepção de eficácia da norma aqui assumida la comunidad. En ese sentido, los fines de la pena deben también cumplir una función limitativa» (Íd.,
pp. 261-262).
traz o desafio de saber quais são aquelas práticas que, ao expressarem de- 57. A respeito da clássica questão das finalidades das sanções, sem qualquer pretensão totalizadora, no
terminados efeitos sancionatórios, contribuem para entregar a um dado âmbito jurídico-penal e a partir de uma perspectiva contemporânea e monográfica, confira-se FEIJOO
SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y Prevención General: Un estudio sobre la teoría de la pena y las
instrumento um sentido de sanção eficaz no âmbito da responsabilidade penal funciones del Derecho Penal. Montevideo: B de F, 2007, e uma síntese do mesmo em FEIJOO SÁN-
CHEZ, Bernardo. La pena como institución jurídica: Retribución y prevención general. Buenos Aires:
da pessoa jurídica. Observando-se os limites propostos, é preciso que estas Edisofer, 2014; CID MOLINÉ, Josep ¿Pena justa o pena util? El debate contemporáneo en la doctrina
penal española. Madrid: Ministerio de Justicia, Secretaría General Técnica, Centro de Publicaciones,
práticas sejam, ao menos, referidas, já que somente a partir delas é que será 1994; GARCÍA VALDÉS, Carlos. Teoría de la pena. Madrid: Tecnos, 1985; GRACIA MARTÍN.
Tratado de las consecuencias jurídicas del delito. Valencia: Tirant lo Blanch, 2006; LANDROVE
possível verificar um eventual protagonismo que possa ser entregue à sanção DÍAZ, Gerardo. Las consecuencias jurídicas del delito. Madrid: Tecnos, 1985; MAPELLI CAFFA-
RENA, Borja. Las consecuencias jurídicas del delito, 5ª ed. Cizur Menor, Navarra: Thomson Civitas,
pecuniária nesta seara. 2011; RIGHI, Esteban. Teoría de la pena. Buenos Aires: Hammurabi, 2001; ROCA AGAPITO, Luis.
El sistema de sanciones en el derecho penal español. Barcelona: J.M. Bosch Editor, 2007; SOUTO,
Miguel Abel. Teorías de la pena y límites al «ius puniendi» desde el estado democrático, Paracuellos
55. Para um aprofundamento a respeito não apenas destes fatores como daqueles considerados como pres- del Jarama. Madrid: Dilex, 2006; STRATENWERTH, Günter. ¿Qué aporta la teoría de los fines de la
supostos da eficácia jurídica, cf. SORIANO, Ramón, op. cit., pp. 403 e ss.; REHBINDER, Manfred, pena?. Bogotá: Universidad Externado de Colombia. Centro de Investigaciones de Derecho Penal y
op. cit. pp. 125-135. Para um estudo a respeito das várias perspectivas sob a qual o tema é aborda- Filosofía del Derecho, 1996; TONRY, Michael H. Why punish? How much?: a reader on punishment.
do, cf. EVAN, William M. Sociology of Law: A Social-Structural Perspective. New York: The Free Oxford; New York, N.Y, Oxford University Press. 2011; VILAJOSANA RUBIO, Josep María. Las
Press,1980. razones de la pena. Valencia: Tirant lo Blanch, 2015.
78 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 79

tratadas de forma cumulativa58 – o que, por si só, evidenciaria a necessidade de intencionalmente ao infrator65.
pautas investigatórias próprias -, dentro dos limites traçados, parece oportuno No âmbito da responsabilidade pela via pecuniária, entretanto, o que
que, ao menos, sejam mencionados os principais pontos que justificam a razão se deve aferir é até que ponto a utilização de um instrumento que restrinja
da eleição desses sentidos no contexto da responsabilização penal referido. direitos vinculados ao dinheiro tem o potencial de gerar algum sentido aflitivo.
2.1. O SENTIDO AFLITIVO DA SANÇÃO PECUNIÁRIA O enfrentamento desta indagação demanda um recorte histórico-socio-
A atividade sancionatória se distingue das demais por ser fruto do lógico. Isto porque, se é certo que a restrição da liberdade ambulatorial, desde
exercício de uma potestade atribuída a determinados órgãos do Estado que, os albores da sanção moderna, tomou por base o trabalho como eixo central
incumbidos de impor as consequências previstas para o descumprimento e estruturante de toda a sociedade66 – uma circunstância que conduziria a
das normas, atuam de forma cogente sempre que presentes pressupostos para uma forma de castigo em que a restrição do tempo de trabalho fomentaria a
tanto.59 A ideia de cogência figura como uma nota exclusiva das sanções ju- disciplina e a emancipação das pessoas para poder alcançar o máximo grau de
rídicas60, sendo elas as únicas cujo cumprimento se dá de forma inevitável61. desenvolvimento de suas capacidades67 – , desde ao menos o último quarto
do século passado,68 o eixo passou a ser o consumo.
Mais do que a cogência, porém, será a exigência de aflição que cor-
responderá à característica que aqui cumpre destacar. É que somente a A partir daí, a liberdade passou a significar mais do que a mera ausência de
atividade jurídica punitiva se expressa através de uma medida dotada de restrições, estando diretamente afeta ao próprio êxito das atuações individuais,
conteúdo aflitivo, algo inerente a toda concepção de castigo.62 Costuma-se particularmente naquilo que diz respeito à possibilidade de possuir bens e recur-
dizer que é, precisamente, a aflição que faz com que a sanção seja sentida sos.69 Natural, por isto, que dentro de uma ética de consumo, a realização pessoal,
como um sofrimento, ou seja, um desprazer.63 Mais do que de dor,64 pode-se a autonomia e a liberdade só consigam ser supridas por meio de compensações
referir a um mal, enquanto legítima privação de um bem desejado, produzido materiais.70 E, dentro desta perspectiva, a restrição do dinheiro passa a significar
65. FALCÓN Y TELLA e FALCÓN Y TELLA, op. cit., p. 23, quem, além de fazer uma análise detalhada
de todos os elementos do castigo (Íd., pp. 21-34), assinalam que será esta ideia de privação intencional
58. Afinal, nos termos da advertência de NAUCKE, ao fazer uso de argumentos que provêm de âmbitos de um bem desejado que vai diferenciar a sanção das outras medidas estatais cogentes (v.g. quarentena,
distintos, e por isto incomparáveis, o que se afigura é um intento de união que não solucionaria as como sofrimento não intencional) e de medidas que seriam desejadas pelo ofensor.
dificuldades de cada proposta argumentativa, senão que as encobriria por um compromisso. Cf. NAU- 66. ROLDÁN BARBERO, Horacio. El dinero, objeto fundamental de la sanción penal: un estudio histó-
CKE, Wolfgang. Derecho penal: una introducción, Trad. Leonardo Germán Brond. Buenos Aires: rico de la moderna pena de multa. Madrid: Akal, 1983.
Astrea, 2006, p. 51, que refere, ainda, que desde o século XIX, já se sabe que não seriam os argumentos
filosóficos que permitem decidir entre as teorias da pena, senão que se trata de uma decisão tomada 67. BERLIN, Isaiah. Dos conceptos de libertad; El fin justifica los medios; Mi trayectoria intelectual. Ma-
«por razones cotidianas de conveniencia política». drid: Alianza Editorial. 2001 [1969], pp. 47-49. No mesmo sentido, SÁNCHEZ FERRIZ, Remedio,
59. Para o conceito de «sanção», cf. COBO DEL ROSAL, Manuel e VIVES ANTÓN, op. cit., 1999. p. Estudios sobre las libertades. Valencia: Tirant lo blanch, 1995, p. 44.
64. 68. Desde os anos setenta do século XX, tal qual seria notada na configuração dos tradicionais componen-
60. Não se ignora que imperatividade e cogência, tecnicamente, são conceitos distintos. Seus reflexos, tes estatais, a concepção do chamado «Estado de bem-estar» deixaria de ser uma realidade. Sobre o
porém, não se aplicam no que segue, cf. FALCÓN Y TELLA, María José; FALCÓN Y TELLA, Fer- impacto desta mudança na perspectiva dos instrumentos estatais, cf. BOBBIO, Norberto. Estado, go-
nando. Fundamento y finalidad de la sanción: un derecho a castigar?. Madrid: Marcial Pons, Ediciones bierno y sociedad: por una teoría general de la política. México: Fondo de cultura económica, 1992;
Jurídicas y Sociales, 2005. pp. 88-89. Sobre a cogência como uma característica peculiar do Direito, FERRAJOLI, Luigi. Derechos y garantías. La ley del más débil. Madrid: Editorial Trotta, 2010, em
cf. por todos WEBER, Max. Economía y sociedad. Esbozo de sociología comprensiva, Trad. J. Medi- especial Tema 5; HABERMAS, Jürgen. La constelación posnacional: ensayos políticos. Barcelona:
na Echevarría et.. México: Fondo de Cultura Economica, 1964 [1922], p. 28). Paidós, 2000. HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Impero: il nuovo ordine della globalizzazione.
Milano: Rizzoli, 2001; HÖFFE, Otfried. Ciudadano economico, cuidadano del Estado, ciudadano del
61. FALCÓN Y TELLA e FALCÓN Y TELLA, op. cit. p. 89. mundo: ética política em la era de la globalizacion. Buenos Aires: Katz, 2007; HÖFFE, Otfried. A
62. Nesta investigação, ainda que com certas relativizações, aceita-se a distinção traçada por FALCÓN Y democracia no mundo de hoje. Trad. Titio Lívio Cruz Romão. São Paulo: Martins fontes, 2005. Sobre
TELLA, María José; FALCÓN Y TELLA, Fernando, ibidem, pp. 16-17, que diferenciam o conceito a crise fiscal que se produziu neste período e que traria notáveis reflexos para as políticas sociais,
mais amplo de castigo, de um mais concreto referente à sanção e de um menos genérico referente à contribuindo na deslegitimação da função assistencial estatal que, até então, representava a estrutura
pena. Para estes autores, ademais, o termo punição deve referir-se a aquelas medidas vinculadas a central de todo o sistema anterior, cf. O’CONNOR, James. La crisis fiscal del Estado. Barcelona,
disciplinas estranhas ao Direito penal. Península, 1994; PAVARINI, Massimo. Control y dominación: teorías criminológicas burguesas y
63. Sobre os riscos que pode supor a estipulação do sofrimento como características distintiva, cf. BETE- proyecto hegemónico. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores Argentina, 2002. Primeira parte, 2, X e
GÓN, Jerónimo. “Sanción y coacción”, in El derecho y la justicia. Madrid: Trotta, 2000, pp. 355-366, XI; BERGALLI, Roberto. “La forma-Estado social y el sistema penal. Experiencias municipales en
que adverte para a criação de um tipo de «barrera definicional» que poderia acabar com a possibilida- Barcelona a través de sus servicios sociales”, in Sistema penal e intervenciones sociales. Barcelona:
de de certos argumentos que buscam justificar a reforma ou a reabilitação do delinquente (Íd. p. 361). Editorial Hacer, 1993. pp. 219-286.
64. Certos autores fazem um uso exclusivo do termo «desprazer», diferenciando-o de «dor», o qual esta- 69. Já em Georg Simmel há o reconhecimento de que a liberdade não se reduz a sua significação negativa,
ria mais relacionado à tortura e ao flagelo, o que o impediria de ser representativo dos castigos. Neste pois da mesma forma que a liberdade «es libertad frente a algo, también es libertad para algo» (SIM-
sentido, FLEW, Antony G. N. “The Justification of Punishment”, in Philosophy, 29, n. 111, 1954, pp. MEL, Georg. Filosofía del dinero. Granada: Editorial Comares, 2003 [1900], p. 513).
291-307 (293). 70. Não se ignora que em qualquer modelo de sociedade se encontram características próprias de con-
80 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 81

a restrição da liberdade, isto é, de uma liberdade de consumir. individuales, sino también nuestro yo relacionales”.75
Não se trata, ressalte-se, de um consumo relacionado à mera compra Uma tal concepção permite algumas conclusões no âmbito desta pesquisa.
e posse de bens, nem tampouco à capacidade de aumentar riqueza. Na A primeira é que o dinheiro, hoje, não é só dinheiro, ou seja, uma quan-
realidade, do que se trata é de um consumo de bens com capacidade de dis- tia monetária carente de uma significação subliminar. Deve-se diferenciar
tinguir, ou seja, bens com potencial de servir como «insígnia de pertencer ao o dinheiro do valor do dinheiro. Em certa medida, se trata de aceitar uma
lado correto», implicando numa constante luta por símbolos e por indícios compreensão que supera, prontamente, o que Georg Simmel entendia sobre
visuais que possibilitem a distinção entre as pessoas.71 Se trata, portanto, o valor do dinheiro, compreendendo que o dinheiro não poderia prescindir
de adquirir bens para conseguir uma aprovação e diferenciação da posição de sua qualidade de valor76.
social conforme o estilo de vida.72
De fato, conforme menciona Viviana Zelizer ao tratar do chamado «mar-
Este consumo, portanto, exige perceber o dinheiro além de sua simples cado do dinheiro», é justamente a sua diferenciação social que se expressa como
concepção econômica, própria de um período que hoje deve ter-se por ul- nota distintiva do dinheiro na atualidade. Assim, ainda que o dinheiro seja
trapassado. Até porque, partindo de distintas perspectivas, investigações do facilmente transferível, deve-se reconhecer que, não raro, as pessoas se esforçam
final do século XX já denunciavam o quão rígido e desatualizado se apresen- para vinculá-lo a certas relações sociais. E, embora reconheça-se que o dinheiro
tava o conceito de homo economicus. Não por outro motivo, mesmo alguns é um instrumento racional importante para o mercado econômico moderno,
economistas que aceitavam os modelos de eleição racional ampliaram sua também devem ser reconhecidas suas funções fora deste âmbito, nas quais ficará
perspectiva para oferecer explicações relacionais sobre a economia da vida evidenciada uma profunda influência das estruturas culturais e sociais.77
cotidiana.73 Passou a ser cada vez mais reconhecido que, embora as escolhas
Precisamente por isto, deve-se admitir distintos significados e expressões
e incentivos pessoais pudessem explicar grande parte do comportamento
que decorrem do dinheiro, isto é, múltiplas classes de dinheiro, que passa a
econômico, os relacionamentos sociais exercem um papel determinante que
ser marcado a partir de uma diversidade de interações dentro da sociedade,
não pode ser menosprezado. Afinal, o que se reconhece é que a quantia que
que criam significados distintos para diferentes contextos. Isto significa que
se gasta, poupa, investe, doa e empresta importa tanto como saber quando,
o dinheiro não está «livre» de limitações sociais, senão que se refere a um tipo
para quem e com quem esta transação ocorrerá. Daí a sociologia econômica74
distinto de moeda criada socialmente, sujeita a certas redes de relações sociais
referir que, na ação econômica, não mais importa tão só “nuestro yo
e, portanto, submetida ao seu próprio conjunto de valores e normas.78
sumo, pois ninguém pode sobreviver sem consumir. Quando se refere a uma sociedade de consumo, Sob esta perspectiva, o reconhecimento de uma pretendida liberdade e
portanto, do que se trata é de enfatizar algo mais. Ou seja, de enfatizar a existência de uma obrigação
de ser consumidor, em um âmbito regulado por um princípio de prazer e de desejos imediatos que não de um poder ilimitado do dinheiro se apresentam pouco aceitáveis. Afinal, as
admitem demora (ENRIQUE ALONSO, Luis. “Cultura y desigualdad: el concepto de consumismo en
Zygmunt Bauman”, in Revista Anthropos, n.º 206. Barcelona: Anthropos Editorial, 2005, pp. 36-51). estruturas culturais e sociais criam limites inevitáveis ao processo monetário,
71. Dos mais variados tipos, estes indícios incluem desde a forma do próprio corpo até os lugares frequen-
tados e os gostos de uma pessoa (BAUMAN, Zygmunt. A liberdade. Lisboa: Editorial Estampa, 1989 introduzindo controles e restrições no fluxo e na liquidez do dinheiro.79 Na
[1988], p. 123).
72. BOURDIEU, Pierre, La distinción: criterios y bases sociales del gusto. Madrid: Taurus, 2000. 75. Ibidem, p. 17.
73. Assim o denuncia, ZELIZER, Viviana A. Vidas económicas. Cómo la cultura da forma a la economía. 76. No seu dizer, «apesar de todas as diferenças que possa existir entre o dinheiro e tudo aquilo cujo valor
Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas, 2015. p.16. se mede com ele, como ambos têm valor, ambos haverão de coincidir; e ainda que o valor não seja
74. Recorda Viviana A. Zelizer que «no se puede negar que el estudio sociológico de los procesos econó- nada mais do que um sentimento subjetivo com o qual representamos nossas impressões a respeito
micos tiene una larga estirpe. Karl Marx, Max Weber y Emile Durkheim fueron quienes abrieron cami- das coisas, aquela qualidade que, apesar de não ser identificável, é o meio pelo qual ambos influem no
no. En la década de los cincuenta, en los Estados Unidos, Talcott Parson, Neil Smelser se enbarcaron sentimento humano de valor, tem que ser a mesma em ambos os casos» (SIMMEL, Georg, op. cit., p.
en la tarea de sintetizar los enfoque económicos y sociológicos, pero sus esfuerzos fueron vanos y no 118).
cristalizaron en una nueva especialidad. Lo que ahora se conoce como ‘nueva sociología económica’ 77. ZELIZER, Viviana. El significado social del dinero. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica,
despegó en la década de los ochenta. La trayectoria de la sociología económica en Europa difiere de 2011, p. 34.
la seguida en los Estados Unidos por dos razones principales: en primer lugar, la economía a la que
responden los europeos es muy distinta en su enfoque, reflejando en mucha mayor medida el trasfondo 78. De forma ilustrativa, refere Zelizer o quão surpresa se mostraria uma pessoa diante do «mal uso» do
institucional, histórico y comparativo que la economía de los Estados Unidos. En segundo lugar, la dinheiro numa circunstância ou relação social equivocada, como oferecer uma nota de 500 euros para
sociología económica conecta mucho más estrechamente con programas de reformas y aplicados en pagar um jornal ou dar uma gorjeta ao dono de um restaurante (Ibidem, 35).
Europa que su homóloga estadounidense (Ibidem., p. 26-27). 79. Ibidem, 35.
82 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 83

realidade, mesmo a valoração de uma quantidade de dinheiro requer estima- pecuniária desempenhem um papel mais importante, haja vista sua capaci-
ções sociais que implicam em algo mais do que em meros cálculos racionais dade de impactar nas possibilidades financeiras de uma pessoa, diminuindo
de mercado. Simmel, por exemplo, assinalava que o dinheiro em quantidades e, inclusive, anulando sua capacidade de consumo e, por conseguinte, in-
elevadas daria um novo sentido a sua mera natureza quantitativa,80 fazendo fluenciando na posição social que ocupa.
com que esta quantia passasse a estar dotada de «infinitas possibilidades81» que
2.2. O SENTIDO DE PREVENÇÃO DA SANÇÃO PECUNIÁRIA
transcenderiam os números.
Isoladamente, porém, a presença de um conteúdo aflitivo nos termos
Advirta-se, porém, que não apenas as grandes fortunas têm essa possibi-
analisados não se mostra como suficiente para evidenciar a eficácia da via
lidade de se apartar da objetividade dos números. Mesmo somas de dinheiro
pecuniária para sancionar. É que o sentido aflitivo, por si só, não se refere a
de distinta expressão podem apresentar igual significado. Neste particular,
um tipo exclusivo de sanção. Existe aflição não apenas em institutos jurídi-
basta recordar daqueles ordenamentos nos quais existe a figura dos danos
co-penais, mas também naqueles de natureza extrapenal. Afinal, tal qual a
punitivos (punitive damages),82 na condição de regras de responsabilidade civil
privação da liberdade figura como uma manifestação aflitiva, também assim
que vão além da compensação financeira, para aplacar, por exemplo, a dor da
se apresenta uma execução civil forçada, ou mesmo certas restrições adminis-
perda de um filho decorrente da prática de um ato ilícito. São sistemas que,
trativas de direitos. Esta linha divisória entre as distintas searas fica ainda mais
portanto, optam por prever uma soma simbólica de dinheiro, representando
nebulosa quando a questão é analisada a partir do viés pecuniário, pois não
um equivalente digno a esta perda afetiva.83
parece que exista qualquer diferença aflitiva significativa entre multa penal,
Aplicadas à responsabilização da pessoa jurídica, estas reflexões per- sanção administrativa pecuniária e reparação do dano moral.
mitem visualizar como a restrição de bens e recursos tem o potencial de
Precisamente por isto, é necessário que à aflição seja somado um se-
interferir na sua capacidade de se distinguir das demais. Neste particular, basta
gundo sentido, que permita identificar outras práticas que, gradativamente,
que se tome como exemplo a relevância do capital social e da qualificação
possam ir compondo uma norma sancionatória penal potencialmente eficaz
econômico-financeira de uma determinada pessoa jurídica para definir a sua
para o âmbito que aqui interessa.
capacidade de participar de específicos certames licitatórios.84
Diante deste contexto é que ganha importância o sentido preventivo.
Tudo a indicar, desta forma, que existe um contexto que deslegiti-
Com efeito, será ele que se expressará através de práticas que vão evidenciar
ma aqueles tradicionais prejuízos a respeito da inexistência de um sentido
que uma determinada medida se mostra útil para o fim a que foi proposta.
aflitivo nos institutos pecuniários sancionatórios, já que ainda partem de
Advirta-se, desde logo, que esta menção à utilidade deve ser compreendida
perspectivas eminentemente, senão exclusivamente, econômicas. É de se
em toda sua inteireza.85
supor, por isto, que dentro deste contexto sociológico as sanções de natureza
É que, no âmbito penal, não se pode olvidar que a utilidade se refere,
80. SIMMEL, Georg, op. cit., p. 327-329. num primeiro momento, à própria justificação da norma sancionatória, apre-
81. Ibidem, 517.
82. Para uma breve aproximação quanto aos chamados danos punitivos, cf. KOZIOL, Helmut e WILCOX, sentando-se como um dos valores que compõem seu duplo fundamento.
Vanessa. Punitive damages: common law and civil law perspectives, Tort and insurance law. New Com efeito, invariavelmente representado pela expressão «tutela jurídica»,
York: Springer, 2009; GOTANDA, John Y. “Punitive Damages: A Comparative Analysis”, in Colum-
bia Journal of Transnational Law, 42, n. 2. 2004. pp. 391-444; e ALISTE SANTOS, Tomás Javier. este duplo fundamento passa a exigir que toda norma sancionatória só se
“El origen histórico de los punitive damages como presupuesto de su rechazo procesal en los países
de civil law, Práctica derecho daños”: in Revista de Responsabilidad Civil y Seguros, 119, 2014. pp. justifique por sua utilidade, a qual, manifestada por meio de seus efeitos pre-
20-28.
83. ZELIZER, V., El significado social…, 35. ventivos (gerais e especiais) e dentro de determinados limites, expressará uma
84. Neste sentido, dispõem os §§ 1º a 5º do artigo 31 da Lei n. 8.666/93 que, na documentação a ser ideia de justiça distributiva própria do modelo estatal prevalente em nosso
apresentada para participação em licitações, a Administração poderá exigir, dentre outros, «capital
mínimo ou de patrimônio líquido mínimo … como dado objetivo de comprovação da qualificação eco-
nômico-financeira dos licitantes e para efeito de garantia ao adimplemento do contrato...», bem como
que «poderá ser exigida, ainda, a relação dos compromissos assumidos pelo licitante que importem 85. A respeito da densidade envolvida na tentativa de conciliar utilidade e eficácia, cf. BERMUDO ÁVI-
diminuição da capacidade operativa...». LA, José Manuel. Eficacia y justicia: posibilidad de un utilitarismo moral. Barcelona: Horsori, 1992.
84 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 85

entorno.86 Com isto, admite-se que se, de um lado, o fundamento justificante Como se nota, a referência, agora, diz àquelas atividades que levam à
de toda pena passa a estar representado na noção de retribuição, sendo que obediência da norma. Retoma importância, com isto, o significado de eficácia
sua utilidade assumirá a condição de limite. E, apesar desta concomitante vista como algo derivado da correspondência entre o que dispõe a norma e os
referência ao fundamento e ao limite da pena, não se estará diante de ideias atos que realizam seus destinatários, no sentido de que uma norma só poderá
contrapostas87, mas de uma demonstração daquilo que atua de modo positivo pretender ser eficaz se vier a ser obedecida de maneira geral pelos destinatários
na justificação da pena e do que opera negativamente, servindo-lhe como de- e, sendo descumprida, restar aplicada a sanção correspondente90.
limitador conceitual88. Isto demostra, a relevância entregue ao valor utilidade A obediência, nesta perspectiva, passa a ser vista como uma prática in-
dentro do atual modelo estatal, indicando que o problema da justificação da dicadora de eficácia das normas jurídicas, dando ensejo ao que a Sociologia
norma sancionatória não se resolve pela aceitação ou rechaço integral de um costuma denominar «eficácia como cumprimento»91. Segundo esta concepção,
dado ponto de vista, mas «elaborando un modelo integrado, en el que la idea a eficácia de uma norma depende da obediência que receba por parte dos
de utilidad juegue dentro de ciertos principios distributivos»89. destinatários, ensejando um estado intencional por parte dos indivíduos que
De toda forma, se não bastasse esta perspectiva conceitual justificante, realizam o que a norma obriga, justamente, por sua mera existência.92 Por
sob o viés da demonstração da eficácia da via pecuniária no âmbito da res- esta noção, uma norma pode ser mais ou menos eficaz em função do grau de
ponsabilidade da pessoa jurídica, é válida uma menção ainda ao quanto há cumprimento que obtenha, ou seja, da amplitude do conjunto de pessoas que
pouco referia-se. Ou seja, à existência de determinadas práticas que expressam a obedeçam em relação com o conjunto de destinatários e da quantidade de
efeitos preventivos e que, portanto, servem como indicadores de que uma dada atos de obediência que gere. Sob este viés, enfim, a norma será eficaz quando
sanção pode pretender ser eficaz. cumprida, isto é, quando sua pretensão de cumprimento for satisfeita.93
86. O único fundamento justificativo do Direito penal – e, portanto, também da pena – decorre de uma
Desta digressão extrai-se que o que vai interessar para a valoração do
ideia de tutela através do princípio de utilidade, enquanto que os princípios que se vinculam à ideia de sentido preventivo da eficácia de uma norma refere-se à forma de determinar
justiça distributiva representam um limite da intervenção. Com efeito, conforme COBOS/VIVES, a
tutela jurídica é, inicialmente, uma tutela de bens e interesses, a qual por isto incorpora a ideia de uma seu «grau de obediência». E, para isto, será necessário observar os atos de de-
justificação da pena em virtude do princípio da utilidade, ou seja, por suas consequências benéficas.
Mas, obviamente, não se trata de qualquer classe de tutela, mas apenas de uma tutela jurídica que não sobediência, já que o maior número de atos de desobediência, em princípio,
pode ser obtida a qualquer preço, senão que deve respeitar também os direitos do imputado, em virtude
do princípio distributivo próprio de qualquer regime constitucional. De este modo, a justificação da corresponderá a um menor grau de eficácia. Daí porque, mais do que eficácia,
pena por sua capacidade de tutelar bens jurídicos só pode ter lugar dentro dos limites derivados do
princípio da proibição de excesso ou proporcionalidade em sentido amplo. Cf. COBO DEL ROSAL, deveria aludir-se a um «certo grau de eficácia».94
Manuel e Tomás Salvador VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op. cit., pp. 822 ss.
87. Cf. ROXIN, Claus. “Sentido y límites de la pena estatal”, in Problemas básicos del derecho penal. Uma expressão que, em certa medida, explica a razão pela qual Norberto
Madrid: Reus, 1976 [1966], p.11 – 36. Tal qual refere BERMUDO ÁVILA, José Manuel, op. cit.,
p. 215, «más que dos concepciones excluyentes son dos aspectos de problemático equilibrio de la Bobbio alertava da existência de normas que são seguidas, universalmente,
acción de la justicia». de modo espontâneo; das que são seguidas na maior parte dos casos quando
88. Tal qual ressalta VIVES, «ha de reconocerse que … la ‘justa proporción’ que reclama el principio
retributivo solamente puede establecerse sobre la base de valoraciones culturales, cambiantes e inse- providas de uma espécie de coação; das que não são seguidas apesar da coação;
guras. De modo que, si bien la retribución ha de operar como límite máximo de la medida de la pena,
en modo alguno cabe deducir de ella un límite mínimo a ésta. Hoy como ayer, la retribución es el único e, finalmente, de algumas que são violadas sem que nem sequer seja aplicada
fundamento de justicia que cabe hallar a la imposición de la pena. Pero se trata de un fundamento tan
relativo y dudoso que no cabe deducir de él la necesidad de su imposición efectiva en todos los casos
en que parezcan concurrir sus presupuestos. De cualquier modo, pienso que es un fundamento insufi-
ciente para determinar la imposición de la pena allí donde ésta aparezca com inútil o contraproducente. 90. De forma similar, veja-se VILAJOSANA RUBIO, J. M. “Eficacia normativa y existencia del dere-
Si es injusto castigar cuando no se ha cometido delito, también lo es castigar el delito cometido cuando cho”, Teoría y derecho, in Revista de pensamiento jurídico, vol. 8, n.º Tirant lo Blanch. 2010. p. 109.
de ese castigo no se siga beneficio alguno ni al individuo ni a la comunidad. En ese sentido, los fines Ainda que não se ignore que, nos termos do que restou reconhecido, estaremos utilizando «el concepto
de la pena deben también cumplir una función limitativa. Cf. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op. más débil de eficacia», temos que, ao menos em parte, concordar com Pablo Navarro para quem talvez
cit., pp. 261-262. Também conciliando ambas as vertentes, porém, sob distinta perspectiva, confira-se seja um esforço em vão encontrar «um» conceito básico de eficacia que possa servir para prestar con-
MUÑOZ CONDE, Francisco. Derecho penal y control social. Jerez: Fundación Universitaria de Jerez. tas de todas as complexas relações entre normas e condutas (NAVARRO, Pablo E., op. cit. pp. 26-27).
1985, p. 51, que refere que «el derecho penal no solo es un medio de represión, sino también un medio 91. Cf. VILAJOSANA RUBIO, J. M., op. cit., p. 106.
de prevención y lucha contra la delincuencia».
89. A advertência é de COBO DEL ROSAL, Manuel e VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op cit., p. 822, 92. Neste sentido, recorda HIERRO, Liborio, op. cit., p. 15, que «a pretensão de cumprimento das normas
nota 55, com clara fonte em RAWLS, John, Teoría de la justicia, México: Fondo de Cultura Económi- forma parte de seu próprio significado».
ca. 1979 (1971). pp. 216 ss., para quem «la decisión no es de todo o nada; es un problema de sopesar 93. Ibidem, p. 17.
las pequeñas variaciones en la extensión y definición de las diferentes libertades». 94. Cf. VILAJOSANA RUBIO, J. M., op. cit., p. 107.
86 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 87

a coação correspondente.95 Até mesmo porque a distinção entre posições sociais sempre foi utilizada
Esta diferenciação ganha importância ao despertar para a aferição das como um dos elementos a serem levados em consideração para o exercício
razões pelas quais uma norma possuirá um grau maior ou menor de eficácia, do controle social102.
um tema que leva ao estudo dos fatores que contribuem para a obediência da Trasladada às peculiaridades da pessoa jurídica, esta ordem de ideias
norma. Especificamente sob uma vertente sancionatória, esta é uma questão aponta para a potencialidade intimidatória que certas sanções sociais podem
que remete, necessariamente, à compreensão do processo de aceitação do direito. representar, seja através da mera reprovação da conduta praticada, seja por
De fato, a eficácia da norma sancionatória deriva, imediatamente, da aceitação meio da exclusão de determinados espaços.103 Ao se reconhecer que grande parte
do direito, que não por outra razão, sob o viés sociológico, é considerado como da coesão de um grupo social é devida à uniformidade de comportamentos,
o mais importante fator que contribui para uma norma eficaz.96 É que se trata admite-se que «a reação do grupo à violação das normas que garantem esta
de uma aceitação que corresponde, na realidade, a uma adesão às normas, que coesão [seria] um dos mais eficazes meios de controle social», o que tornaria
pode decorrer de um comportamento espontâneo (porque a pessoa entende este tipo de sanção pouco contestável.104 Neste sentido, passam a se mostrar
que deve obedecer a norma e os poderes públicos)97 ou de uma conduta reflexiva como sugestivas aquelas práticas que se ancoram no constrangimento, podendo
(pela pessoa crer que deve fazê-lo em razão dos benefícios que a norma lhe traz). admitir-se, ao menos em princípio, que seria viável o seu uso na condição de
Enquanto a primeira forma de aceitação decorre de um sentimento, a segunda alternativa sancionatória.105
deriva de uma convicção jurídica98, em relação a qual cobrará importância às No âmbito da responsabilidade da pessoa jurídica, entretanto, o desa-
clássicas questões afetas ao caráter dissuasório da norma sancionatória, sugerindo fio estará em verificar como fazer para que os valores pecuniários voltados
a imediata indagação de saber até que ponto é possível existir uma prática que à intimidação não sejam absorvidos entre os custos da própria conduta de-
envolva a restrição pecuniária e que tenha um efeito intimidador. litual.106 Trata-se de um desafio que, como visto, envolve a prévia aferição de
Pois bem, dentro de um contexto sociológico de consumo, parece razoá- saber quais, de fato, são as práticas que devem ser utilizadas para intimidar
vel supor que, em determinadas circunstâncias delitivas, a sanção pecuniária as entidades coletivas107.
possa, de fato, apresentar um componente intimidador eficaz. Afinal, trata-se 102. Que este elemento, não poucas vezes, seja desvirtuado não significa que ele não possa existir. A este
de um contexto social voltado a diferenciar, no qual a aquisição de bens e respeito, dentre uma inabarcável referência bibliográfica, cf. DE GIORGI, Alessandro. A miséria go-
vernada através do sistema penal. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia e Revan, 2006;
propriedades objetiva impactar a capacidade de distinguir99, expressando uma GARLAND, David. A cultura do controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de
Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2008 [2001].
simbologia e indicativos visuais que possibilitam a distinção entre os integran- 103. A respeito das sanções sociais, cf. BOBBIO, N., Teoria da norma jurídica..., pp. 157-159.
tes de um dado agrupamento social.100 Trata-se, enfim, de um cenário no qual 104. Ibidem, pp.157-158, o qual chega a afirmar que «não há nenhuma dúvida de que sanções deste gênero
são eficazes».
a obtenção de bens se dá em prol da aprovação dentro de um espaço social, 105. Neste particular, servem como referências obrigatórias os trabalhos de BRAITHWAITE, John. Crime,
shame and reintegration. Cambridge: Cambridge University Press, 1989; e SIMPSON, Sally, op. cit.
possibilitando uma diferenciação da posição de cada pessoa entre consumi- 106. Sobre tais aspectos, sem qualquer pretensão de abranger a extensa bibliografia a respeito, servem
dores e não consumidores.101 como referências iniciais os tradicionais trabalhos de COASE, Ronald Harry. “The Problem of So-
cial Cost”, in Journal of Law and Economics, 3/The University of Chicago Press, 1960. Pp. 1-44
e, no âmbito criminal, BECKER, Gary S. “Crime and punishment: An economic approach”, in
Se é assim, é possível admitir-se que, ao menos em princípio, esta Journal of Political Economy, 76/The University of Chicago Press. 1968. Pp. 169-217. Malgrado
frequentemente referido como o início do estudo da análise econômica do direito, o artigo de COA-
distinção efetivamente poderá servir para intimidar em determinados casos. SE longe está de poder assumir esta condição. Neste sentido, refere POSNER, Richard A. El análisis
económico del derecho. México: Fondo de Cultura Económica. 2000., que a relação entre direito
eficácia é conhecida, ao menos, «desde la discusión de Hobbes sobre la propiedad en el siglo XVII.
David Hume y Adam Smith discutieron las funciones económicas del Derecho. La contribución de
95. BOBBIO, N., Teoria da norma jurídica..., , pp. 47-48. Jeremy Bentham fue fundamental, tanto para extender el pensamiento económico a las conductas
96. SORIANO, Ramón, op. cit. P. 405. no comerciales cuanto en aplicarlo al Derecho penal. En el continente europeo, Max Weber realizó
97. A respeito da adesão espontânea, cf. BOBBIO, N., Teoria da norma jurídica..., pp. 162-165. importantes contribuciones para comprender el papel económico del Derecho».
98. SORIANO, Ramón, op. cit., 1997, p. 405. 107. A respeito das dificuldades dogmáticas penais que esta questão envolve, confira-se, nesta obra, SCAN-
99. BAUMAN, Zygmunt, op. cit., p. 137. DELARI, Gustavo Britta; ANDRADE, Guilherme Oliveira de. «A prevenção geral positiva na sanção
aplicável à pessoa jurídica: crítica e sugestões», em especial, item 4, os quais não tardam a reconhecer,
100. Ibidem., p. 145. com BAIGÚN, neste âmbito requer-se o desenvolvimento de «pautas próprias», construídas a partir
101. BOURDIEU, Pierre, op. cit., 2000. das «disfunções da formação econômica e social» das pessoas jurídicas.
88 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 89

Seja como for, o certo é que a aceitação do direito assume a condição de Pois bem, muito embora, sob um viés sociológico, esta concepção se
fator que contribui para a eficácia das normas. E, com isto, adquire pronta apresente como um complemento argumentativo ao tradicional conceito
relevância a questão relacionada à credibilidade do direito como instrumento entregue à expressão eficácia, no âmbito do exercício estatal da potestade
de resolução de conflitos. De fato, tida como uma das funções sociais do Direito,108 punitiva, trata-se de uma noção que poderia ser perfeitamente extraída da con-
a adequada solução de conflitos deve estar em consonância com a própria cepção retributiva da norma sancionatória. Afinal, aquele originário conceito
percepção social de justiça. de retribuição há muito restou superado e também ele deve estar relacionado,
Esta exigência faz com que toda reação à violação de uma norma de no momento atual, a um sentido de remuneração ou contraprestação113. Foi,
conduta, além de buscar evitar a perda da confiança que lhe havia sido depo- precisamente, esta noção de contraprestação pelos serviços recebidos que as-
sitada, tenha também por fim uma satisfação reparatória.109 E é, precisamente, sumiu especial importância a partir de um contexto de Estado regulador, que,
neste ponto que ganha importância o terceiro sentido que, neste espaço, ainda com um uso cada vez mais alargado e banalizado de suas potestades adminis-
merece menção. trativas, passou a debilitar a percepção social sobre o significado retributivo
presente nas sanções pecuniárias.114
2.3. O SENTIDO DE REPARAÇÃO DA SANÇÃO PECUNIÁRIA
É importante notar, porém, que o sentido reparador ao qual aqui se
A ideia tradicional de eficácia da norma «como cumprimento», na atua- faz referência não é, exclusivamente, de cunho econômico e ressarcitório.
lidade, já não esgota todos os usos que se faz deste termo110. Por isto a ela deve Afinal, nem sempre a satisfação social ou do ofendido pode ser expressada
ser somada a concepção da eficácia como uma valoração de satisfação expres- pela via numerária.
sada pelos destinatários de uma dada política pública, atendendo ao que a
Este aspecto resta evidenciado, em especial, no tocante à busca de uma
sociologia denomina de «eficácia social».111 Ou seja, para ser eficaz também
pretensa satisfação da vítima. É que, como já advertia Winfried Hassemer
é necessário que a norma produza efeitos voltados a satisfazer os interesses
desde a virada do século, a vítima já não aparece como uma simples figura de
sociais e, se o caso, das pessoas individualizáveis prejudicadas pelo descum-
papel, mas como uma pessoa viva, cujos legítimos interesses também devem
primento de uma dada norma de conduta.112 Sendo assim, tão só quando
ser considerados pela teoria sancionatória. Com isto, ao observar os interesses
presente uma prática que implique em satisfação é que se considerará presente
da vítima, assume nova importância uma visão retrospectiva, levando em
o sentido reparador.
conta o ocorrido para estabelecer um efeito mais para a sanção. Se trata, na
realidade, de um efeito que supere a mera lesão abstrata da norma e que passe
108. A este respeito, cf. REHBINDER, Manfred, op. cit. Pp. 125-135 (126).
109. A este respeito, cf. Ibidem, pp. 125-135 (128).
a estar relacionado com o caso concreto115. Como se vê, trata-se de um viés
110. Esta advertência também é feita por HIERRO, Liborio, op. cit., p. 18.
111. Existem certos autores que analisam a eficácia das normas a partir de dois níveis. Num primeiro 113. Conforme Höffe, não se pode ignorar que «Vergeltung» (remuneração) tem a mesma raiz que
nível, a eficácia das normas supõe o cumprimento de suas finalidades imediatas, importando aqui se «Geld» (dinhero), e remete à forma básica de intercâmbio humano. Por isto, a remuneração levaria à
as normas são ou não obedecidas pelos destinatários e se os operadores do direito as fazem ser cum- aquela contraprestação pelos serviços recebidos, isto é, a aquela devolução que, no caso dos serviços
pridas. Num segundo nível, a eficácia está voltada à «ficácia social», que constitui uma perspectiva positivos, consistiria em uma retribuição e, só nos casos dos serviços negativos, no «pago con la
introduzida pelo enfoque funcionalista e se refere aos efeitos sociais, econômicos, etc. que derivam do misma moneda», ou seja, em castigos e represálias. Daí porque, ao seu dizer, há um erro em consi-
fato de a norma ser cumprida, ou seja, refere-se às consequências sociais da eficácia das normas. Cf. derar o conceito de retribuição como vingança pessoal ou derivada do ódio, o que inclusive contraria
ACOSTA, Rolando Pavó. “Las Iinvestigaciones sociojurídicas acerca de la eficacia y efectividad del Kant (1797) ao afirmar que «ninguna pena, sea de quien sea, puede ser infligida por odio» (HÖFFE,
Derecho: algunas alternativas metodológicas”, in Revista Internacional Consinter de Direito, II, 2016, Otfried. “¿Existe un derecho penal intercultural?”, in Derecho intercultural. Barcelona: Gedisa, 2000
pp. 437-462 (443). No âmbito da Teoria Geral do Direito, por distintos caminhos, certos estudos tam- [1999], p. 15-161 [§10, 104-105]).
bém chegam a esta mesma ideia de eficácia, considerando que, no debate político cotidiano, a eficácia 114. Na realidade, faz-se uso de uma prática que desde sempre esteve muito presente nas políticas públicas,
também deva ser vista «como eixo da norma enquanto instrumento para alcançar um estado de coisas mas que parece não ter sido de todo notada.
boas ou desejáveis» (HIERRO, Liborio, op. cit., p. 20). 115. HASSEMER, Winfried. “¿Por qué y con qué fin se aplican las penas? Sentido y fin de la sanción
112. Determinados autores limitam a idea de eficacia social ao «cumplimiento de los objetivos volitivos penal”, in Revista de derecho penal y criminología, 3/Uned. 1999. pp. 317-334. De fato, «con la aten-
propuestos con su creación, es decir, cuando se logran los propósitos económicos, sociales y políticos ción a la víctima se añade algo más al concepto normativo de los fines de la pena: la satisfacción o la
como derivado de hecho de que la norma se cumpla, obteniéndose los fines sociales previstos». Estes reparación a la víctima no solo significa la reposición material del daño causado; con la reparación a la
mesmos autores, porém, não demoram em considerar que também a «conciencia jurídica» – entendi- víctima se hace referencia también a algo normativo; a saber, la rehabilitación de la persona lesionada,
da como um conjunto de valorações dos indivíduos acerca do sistema jurídico – de certa forma, acaba la reconstrucción de su dignidad personal, el trazado inequívoco de la línea entre un comportamiento
sendo uma das causas da eficácia e da ineficácia de uma norma; Cf. ACOSTA, Rolando Pavó, op. cit., justo y uno injusto, la constatación ulterior para la víctima de que, efectivamente, ha sido víctima» (Íd.
pp. 437-462 (447 e item 4). p. 323).
90 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 91

que entrega especial importância à satisfação da vítima como destinatária da Trata-se de uma satisfação que deve ser aferida a partir de um sentido reparador,
política criminal, permitindo uma valoração mais precisa da «eficácia social»116 expressando a percepção social e, conforme o caso, a percepção do ofendido para
da norma sancionatória, nos termos referidos117. com a sanção aplicada no caso concreto.
Este objetivo satisfatório, contudo, vai ainda além. É que, no âmbito ju- Não se desconhece os riscos de que seja assumida uma tal vertente.
rídico penal, há muito também se considera que agressor e ofendido «no están Por isto, sua legitimidade exigirá uma irrestrita observância aos limites da
solos», já que a sociedade, igualmente, aparece como elemento afetado118. Daí ad- intervenção punitiva estatal.122 De fato, tratando-se de uma característica que
mitir-se que a previsão das consequências sancionatórias também deva depender deita suas raízes numa concepção retributiva, ela só pode ser aceita quando
de uma apreciação normativa de convivência social. Disto resulta a importância exercida desde uma perspectiva limitadora que derive das próprias normas
de considerar-se a própria percepção social em relação às consequências a serem jurídicas concebidas dentro de um Estado verdadeiramente democrático de
previstas para o descumprimento das normas sociais. De fato, da mesma forma direito. Ainda que estes limites nem sempre sejam de todo evidentes, deve
que a transparência na aplicação da sanção importa para a subsistência da norma existir uma contínua pretensão de buscar sua observância.
de conduta descumprida, também contribui para isto evidenciar que não serão Seja como for, estas digressões levam a refletir a respeito dos seus reflexos
tolerados, nem aprovados, descumprimentos da norma, preservando-a de qual- para fins de responsabilização da pessoa jurídica pela via pecuniária. Com
quer tipo de negação.119 Daí porque, independentemente da forma de sancionar, efeito, o que desde logo deve-se indagar é até que ponto, neste âmbito, será
que isto ocorra já é algo indispensável para que possam persistir sendo vincu- possível verificar a existência de práticas e atividades que evidenciem um efeito
lantes as restrições impostas aos direitos das pessoas. reparador produzido pela via pecuniária que, em alguma medida, supere o
Desta digressão derivam várias consequências e basta destacar aquela mero conteúdo econômico do evento causado, gerando uma percepção social
que efetivamente interessa para este espaço120. É que ao reconhecer-se que a de satisfação a partir da norma sancionatória aplicada.
aplicação da sanção penal só terá sentido como uma «representação pública», Numa primeira aproximação, parece certo que a atual configuração
torna-se imprescindível aceitar-se que a aplicação da norma, para pretender do ordenamento brasileiro não está dotada de um instrumento que con-
ser eficaz, deva ter um sentido claro e confiável à sociedade, «porque de otra siga atender a este sentido nos termos referidos. Para tanto, basta recordar
manera se puede alcanzar una estabilización de la norma desde una perspec- o destino que, invariavelmente, é entregue a quaisquer das consequências
tiva teórica, pero desde luego no en la realidad cotidiana»121. pecuniárias existentes na atualidade. De fato, assim como a multa penal
Por isto é que se diz que a referência à satisfação, social ou do ofendido, longe está de possibilitar qualquer tipo de percepção positiva de reprovação
não deva ser interpretada tão só como uma reparação de ordem econômica. pela conduta praticada,123 tampouco a multa administrativa e as consequências
pecuniárias civis são sentidas como medidas verdadeiramente satisfatórias,
116. ACOSTA, Rolando Pavó. “Las Iinvestigaciones sociojurídicas acerca de la eficacia y efectividad del sendo na maioria das vezes consideradas como meras consequências de
Derecho: algunas alternativas metodológicas”, in Revista Internacional Consinter de Direito, II, 2016,
pp. 437-462 (443). menor expressão vinculadas às contas de rotina.
117. Não se ignora que esta tentativa de satisfazer os interesses das vítimas através das normas sancionató-
rias figura como um grande desafio. A este respeito, confira-se a advertência de DUFF, R. A. e MAR- Num tal cenário, ao menos em princípio, resta evidenciado que, embora
SHALL, S. E. “Communicative punishment and the role of the victim”, in Criminal Justice Ethics, 23,
n.2, 2004, pp. 39-50, os quais não tardam em reconhecer que o desafio existirá para «any penal theory
that claims to take victims and their rights seriously» (Íd., p. 41). Por isto, o propósito aqui foi tão 122. Sobre os limites deste caráter retributivo e dos riscos que seu desvio supõe, confira-se MUÑOZ CON-
somente o de referir que a norma sancionatória, para pretender ser eficaz, deve apresentar entre seus DE, Francisco; GARCÍA ARÁN, Mercedes. Derecho penal: parte general, 9ª ed. Valencia: Tirant lo
efeitos algum tipo e contribuição de interesses vitimológicos. Blanch. 2015 pp. 36-37.
118. HASSEMER, Winfried, op. cit., pp. 317-334 (323) 123. Neste sentido, basta recordar que, normativamente, a multa penal figura como um dos recursos que
119. Ibidem, pp. 317-334 (324)
compõem o Fundo Penitenciário Nacional (Lei Complementar n. 79/1994, art. 2º, V), apresentando-
-se, portanto, dissociada até mesmo de um vínculo econômico e reparatório à sociedade ou à vítima.
120. Para o rol de algumas destas consequências no âmbito jurídico penal, confira-se HASSEMER, Win- Mesmo no âmbito jurisprudencial, não são poucas as decisões do Superior Tribunal de Justiça que
fried, op. cit., pp. 317-334 (324). Para um aprofundamento destes aspectos, confira-se do mesmo autor reconhece a possibilidade de extinção da execução penal da multa ainda não paga «quando já con-
em HASSEMER, Winfried. ¿Por qué castigar? Razones por las que merece la pena la pena, Valencia, cluídas todas as formalidades voltadas à sua cobrança» (STJ, Embargos de Divergência em Recurso
Tirant lo Blanch, 2016 [obra póstuma]. Especial n. 845.902/RS), ou mesmo quanto já tiver havido «apenas o cumprimento da pena privativa
121. Ibidem, pp. 317-334 (324) de liberdade» (STJ, Recurso Especial n. 1.519.777).
92 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 93

exista uma significativa potencialidade da via pecuniária para servir como ATIENZA, Manuel. Contribución a una teoría de la legislación. Madrid: Civitas, 1997.
importante instrumento sancionador, sua relevância vem sendo menospre- ______. El sentido del derecho. Barcelona: Editorial Ariel. 2001.
zada desde o momento da definição das políticas públicas relacionadas à ______. “Argumentación y legislación”, in La profliferación legislativa: Un desafío para el Estado de
Derecho. Cizur Menor: Thomson Aranzadi, 2004.
esta potestade sancionatória. O corolário deste desprezo é que, na prática,
______. El Derecho como argumentación: concepciones de la argumentación, Madrid: Ariel. 2006.
passa a ser frequente a utilização destas consequências pecuniárias de forma
______. Filosofía del derecho y transformación social. Madrid: Trotta, 2018.
absolutamente desproporcional, tal qual ilustrado em nossas linhas iniciais.
BARRIENTOS ZAMORANO, Marcelo. El resarcimiento por daño moral en España y Europa. Salaman-
CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS ca: Ratio Legis, 2007.
BAUCELIS I LLADÓS, Joan. “Sistema de penas para la delincuencia económica en derecho español”,
Este breve estudo se propôs a verificar até que ponto a via pecuniária in La delincuencia económica: Prevenir y sancionar. Valencia: Tirant lo Blanch. 2014.
pode ser um instrumento sancionatório eficaz no âmbito da responsabilidade BAUMAN, Zygmunt. A liberdade. Lisboa: Editorial Estampa, 1989 [1988],
penal da pessoa jurídica. BECKER, Gary S. “Crime and punishment: An economic approach”, in Journal of Political Economy,
76/The University of Chicago Press. 1968.
Chegado a este ponto, mostra-se possível concluir que esta indagação:
BERGALLI, Roberto. “La forma-Estado social y el sistema penal. Experiencias municipales en Barcelo-
(i) pressupõe, necessariamente, aceitar uma maior precisão no conceito en- na a través de sus servicios sociales”, in Sistema penal e intervenciones sociales. Barcelona: Editorial Hacer,
tregue à sanção eficaz; (ii) para tanto, deve-se admitir que a eficácia também 1993.
figura como um dos valores a serem considerados por toda norma que busque BERLIN, Isaiah. Dos conceptos de libertad; El fin justifica los medios; Mi trayectoria intelectual. Madrid:
Alianza Editorial. 2001 [1969].
contribuir à pretensão de justiça; (iii) neste sentido, o valor eficácia deve ser
BERMUDO ÁVILA, José Manuel. Eficacia y justicia: posibilidad de un utilitarismo moral. Barcelona:
extraído daquelas práticas e atividades que expressam sentidos que servem Horsori, 1992.
de parâmetro para demonstrar que a sanção pecuniária pode pretender ser BETEGÓN, Jerónimo. “Sanción y coacción”, in El derecho y la justicia. Madrid: Trotta, 2000.
eficaz; (iv) existem práticas relacionadas à via pecuniária que, de fato, expres- BOBBIO, Norberto. Estado, gobierno y sociedad: por una teoría general de la política. México: Fondo de
sam sentidos aflitivos, preventivos e reparadores; (v) na atualidade, porém, a cultura económica, 1992.
ausência desta compreensão tem contribuído para a inobservância do espaço ______. Teoria da norma jurídica. Bauru: Edipro. 2001 [1958].
de tutela que deveria estar reservado a cada uma das consequências sancio- ______. “Scienza del direto e analisi del linguaggio”, in Saggi sulla scienza giuridica. Torino: Giappi-
chelli. 2011 [1950].
natórias pecuniárias; (vi) por isto, até onde se nota, existe campo para um
BOURDIEU, Pierre, La distinción: criterios y bases sociales del gusto. Madrid: Taurus, 2000.
aperfeiçoamento normativo sancionatório penal onde a via pecuniária possa,
BRAITHWAITE, John. Crime, shame and reintegration. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
de maneira eficaz, assumir um real protagonismo no âmbito da responsabi-
BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. São Paulo: Editora Atlas, 2015.
lização penal da pessoa jurídica.
CANO CAMPOS, Tomás. “El concepto de sanción y los límites entre el Derecho penal y el Derecho
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS administrativo sancionador”, in Derecho administrativo y derecho penal: reconstrucción de los límites. Ma-
drid: Bosch. 2017.
ACOSTA, Rolando Pavó. “Las investigaciones sociojurídicas acerca de la eficacia y efectividad del Dere-
cho: algunas alternativas metodológicas”, in Revista Internacional Consinter de Direito, II, 2016. CID MOLINÉ, Josep ¿Pena justa o pena util? El debate contemporáneo en la doctrina penal española.
Madrid: Ministerio de Justicia, Secretaría General Técnica, Centro de Publicaciones, 1994.
ALASTUEY DOBÓN, M. Carmen. La reparación a la víctima en el marco de las sanciones penales. Va-
lencia: Tirant lo Blanch, 2000. COASE, Ronald Harry. “The Problem of Social Cost”, in Journal of Law and Economics, 3/The Univer-
sity of Chicago Press, 1960.
ALENZA GARCÍA, José Francisco. “Las sanciones administrativas y penales en materia ambiental:
funciones y problemas de articulación”, in Derecho penal de la empresa. Pamplona: Universidad Pública COBO DEL ROSAL, Manuel e VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Derecho penal: Parte general. Va-
de Navarra, 2002. lencia: Tirant lo blanch, 1999.
ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Trad. Carlos Bernal Pulido, Madrid: Centro de DE GIORGI, Alessandro. A miséria governada através do sistema penal. Rio de Janeiro: Instituto Carioca
Estudios Políticos y Constitucionales, 1986. de Criminologia e Revan, 2006.
ALISTE SANTOS, Tomás Javier. “El origen histórico de los punitive damages como presupuesto de su DÍAZ, Elías. Sociología y filosofía del Derecho. Madrid: Taurus, 1993.
rechazo procesal en los países de civil law, Práctica derecho daños”: in Revista de Responsabilidad Civil y
Seguros, 119, 2014. DÍEZ RIPOLLES, José Luis. La racionalidad de las leyes penales. Madrid: Editorial Trotta, 2003.
94 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 95

______. “Las penas de las personas jurídicas en la regulación española”, in Direito Penal como crítica: 2000 [1999] .
estudos em homenagem a Juarez Tavares por seu 70º Aniversário. Madri: Marcial Pons, 2012.
______. A democracia no mundo de hoje. Trad. Titio Lívio Cruz Romão. São Paulo: Martins fontes,
DUFF, R. A. e MARSHALL, S. E. “Communicative punishment and the role of the victim”, in Crimi- 2005.
nal Justice Ethics, 23, n.2, 2004.
______. Ciudadano economico, cuidadano del Estado, ciudadano del mundo: ética política em la era de la
DWORKIN, Ronald. Justice in Robes. Harvard University Press, Cambridge (Mass.) 2006, trad. cast. de globalizacion. Buenos Aires: Katz, 2007.
M. Iglesias Vila e Í. Ortiz de Urbina, La justicia con toga. Marcial Pons: Madrid. 2007.
JESCHECK, Hans-Heinrich e WEIGEND, Thomas. Tratado de derecho penal: parte general. Granada:
ENRIQUE ALONSO, Luis. “Cultura y desigualdad: el concepto de consumismo en Zygmunt Bau- Comares, 2010.
man”, in Revista Anthropos, n.º 206. Barcelona: Anthropos Editorial, 2005.
KENNEDY, David M. Disuasión y prevención del delito. Reconsiderando la expectativa de pena. Madrid:
EVAN, William M. Sociology of Law: A Social-Structural Perspective. New York: The Free Press,1980. Marcial Pons. 2016.
FALCÓN Y TELLA, María José; FALCÓN Y TELLA, Fernando. Fundamento y finalidad de la sanción: KELSEN, Hans. Teoría pura del derecho. México: Universidad Nacional Autónoma de México,1982
un derecho a castigar?. Madrid: Marcial Pons, Ediciones Jurídicas y Sociales, 2005. [1960].
FARALDO CABANA, Patricia. “¿Es multa una sanción apropiada para las personas jurídicas?”, in Pro- KOZIOL, Helmut e WILCOX, Vanessa. Punitive damages: common law and civil law perspectives, Tort
ceso penal y responsabilidad penal de personas jurídicas. Cizur Menor: Thomson Reuters Aranzadi, 2017. and insurance law. New York: Springer, 2009.
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. La pena como institución jurídica: Retribución y prevención general. LANDROVE DÍAZ, Gerardo. Las consecuencias jurídicas del delito. Madrid: Tecnos, 1985.
Buenos Aires: Edisofer, 2014.
MAPELLI CAFFARENA, Borja. Las consecuencias jurídicas del delito, 5ª ed. Cizur Menor, Navarra:
______. Retribución y Prevención General: Un estudio sobre la teoría de la pena y las funciones del De- Thomson Civitas, 2011; RIGHI, Esteban. Teoría de la pena. Buenos Aires: Hammurabi, 2001.
recho Penal. Montevideo: B de F, 2007.
MARTÍNEZ BUJÁN PÉREZ, Carlos. Derecho penal económico y de la empresa. Parte general, 3 ed.
FERRAJOLI, Luigi. Derechos y garantías. La ley del más débil. Madrid: Editorial Trotta, 2010. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011.
FLEW, Antony G. N. “The Justification of Punishment”, in Philosophy, 29, n. 111, 1954. MARTINSON, Robert. What works? Questions and answers about prison reform. The Public Interest,
35/NYC. 1974.
GALAIN PALERMO, Pablo. La reparación del daño a la víctima del delito. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010.
MUÑOZ CONDE, Francisco. Derecho penal y control social. Jerez: Fundación Universitaria de Jerez.
GALÁN MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y límites de la responsabilidad penal de las personas jurídicas 1985.
tras la reforma de la LO 1/2015. Valencia: Tirant lo Blanch. 2017.
MUÑOZ CONDE, Francisco e GARCÍA ARÁN, Mercedes. Derecho penal. Parte general. Valencia:
GARCÍA VALDÉS, Carlos. Teoría de la pena. Madrid: Tecnos, 1985. Tirant lo Blanch, 2010.
GARLAND, David. A cultura do controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de Janei- ______;______. Derecho penal. Parte general, 9ª ed. Valencia: Tirant lo Blanch. 2015.
ro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2008 [2001].
NAUCKE, Wolfgang. Derecho penal: una introducción, Trad. Leonardo Germán Brond. Buenos Aires:
GRACIA MARTÍN. Tratado de las consecuencias jurídicas del delito. Valencia: Tirant lo Blanch, 2006. Astrea, 2006.
GOTANDA, John Y. “Punitive Damages: A Comparative Analysis”, in Columbia Journal of Transnatio- NAVARRO, Pablo E. La eficacia del Derecho: una investigación sobre la existencia y funcionamiento de los
nal Law, 42, n. 2. 2004. sistemas jurídicos. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 1990.
GUASTINI, Riccardo. Las fuentes del derecho: fundamentos teóricos. Lima: Raguel adiciones, 2016 [2010]. ______. Dinámica y eficacia del Derecho: una análisis conceptual de la obediencia, México: D. F., Biblio-
HABERMAS, Jürgen. Facticidad y validez. Sobre el derecho y el Estado democrático de derecho en términos teca de Ética, Filosofía del Derecho y Política, 2017.
de teoría del discurso. Madrid: Editorial Trotta, 2000 [1992]. NIETO MARTÍN, Adan; MUÑOZ DE MORALES ROMERO, Marta e BECERRA MUÑOZ, José.
______. La constelación posnacional: ensayos políticos. Barcelona: Paidós, 2000. Hacia una evaluación racional de las leyes penales. Madrid: Marcial Pons, 2016.
HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Impero: il nuovo ordine della globalizzazione. Milano: Rizzoli, O’CONNOR, James. La crisis fiscal del Estado. Barcelona, Península, 1994.
2001. O’MALLEY, Pat. The currency of justice: fines and damages in consumer societies. Abingdon, Oxon; New
HASSEMER, Winfried. “¿Por qué y con qué fin se aplican las penas? Sentido y fin de la sanción penal”, York, NY, Routledge-Cavendish, 2009.
in Revista de derecho penal y criminología, 3/Uned. 1999. PAREDES CASTAÑÓN, José Manuel. La justificación de las leyes penales.Valencia: Tirant lo Blanch,
______. [obra póstuma]): ¿Por qué castigar? Razones por las que merece la pena la pena, Valencia, Tirant 2013.
lo Blanch. 2016. PAVARINI, Massimo. Control y dominación: teorías criminológicas burguesas y proyecto hegemónico. Bue-
HASSEMER, Winfried e MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción a ala criminología. Valencia: Ti- nos Aires: Siglo Veintiuno Editores Argentina, 2002.
rant lo Blanch. 2001. POSNER, Richard A. El análisis económico del derecho. México: Fondo de Cultura Económica. 2000.
HIERRO, Liborio. La eficacia de las normas jurídicas. Barcelona: Ariel, 2003. TYLER, Tom R. Why people obey the law. Princeton: Princeton University Press. 2006.
HÖFFE, Otfried. “¿Existe un derecho penal intercultural?”, in Derecho intercultural. Barcelona: Gedisa, RAWLS, John, Teoría de la justicia, México: Fondo de Cultura Económica. 1979 (1971).
96 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

REHBINDER, Manfred. “Las funciones sociales del Derecho”, in Revista Chilena de Derecho, 5. 1981
ROBINSON, Paul H. “Why does the Criminal Law care what the layperson thinks is just? Coercive
versus Normative crime control”, in Virginia Law Review. 86/N. 8, 2000, pp. 1839-1869.
ROBINSON, Paul H. e DARLEY. John M. Justice, liability and blame: community views and the crimi-
nal law., New Directions in Social Psychology. Boulder: Westview, 1997.
______; ______. The utility of desert, in Northwestern University Law Review 91. 1997. MEDIDAS DE SEGURANÇA COMO
ROCA AGAPITO, Luis. El sistema de sanciones en el derecho penal español. Barcelona: J.M. Bosch Editor, CONSEQUÊNCIA JURÍDICA AO DELITO
2007.
COMETIDO POR PESSOAS JURÍDICAS
RODRÍGUEZ FERRÁNDEZ, Samuel. La evaluación de las normas penales. Madrid: Dykinson, 2016.
ROLDÁN BARBERO, Horacio. El dinero, objeto fundamental de la sanción penal: un estudio histórico de
la moderna pena de multa. Madrid: Akal, 1983. Samuel Ebel Braga Ramos1
ROXIN, Claus. “Sentido y límites de la pena estatal”, in Problemas básicos del derecho penal. Madrid:
Reus, 1976 [1966]. Rodrigo J. Cavagnari2
SÁNCHEZ FERRIZ, Remedio, Estudios sobre las libertades. Valencia: Tirant lo blanch, 1995, p. 44.
SHAPIRO, Scott J. Legalidad, Colección Filosofía y Derecho. Madrid: Marcial Pons, 2014. RESUMO: O objetivo do presente artigo é promover um olhar sobre a hipótese de apli-
cação das medidas de segurança como reposta ao delito cometido por pessoas jurídicas,
SIMMEL, Georg. Filosofía del dinero. Granada: Editorial Comares, 2003 [1900].
oportunizando sua viabilidade através da noção de periculosidade conferida às empresas.
SIMONS, Kenneth W. “Understanding the Topography of Moral and Criminal Law Norms”, in Philo- Para tanto, verifica-se a inexistência de óbices à aplicação das medidas de segurança para
sophical foundations of criminal law. Oxford: Oxford University Press, 2011. a pessoa jurídica, no âmbito criminal, pois é possível observar a periculosidade da pessoa
SIMPSON, Sally. Corporate crime, law and social control. New York: Cambridge University Press, 2002. jurídica quando esta desenvolve um instrumental com o intuito de absorver o ilícito como
prática de atuação em sua área, bem como ao enfrentamento e prevenção da criminalidade
SIMPSON, Sally S., GARNER, Joel e GIBBS, Carole. “Why Do Corporations Obey Environmental
Law? Assessing Punitive and Cooperative Strategies of Corporate Crime Control”, in U.S Department na contemporaneidade.
of Justice. 2007. Palavras-Chave: Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. Periculosidade. Medidas de
SORIANO, Ramón. Sociología del derecho. Barcelona: Ariel, 1997. Segurança.
SOUTO, Miguel Abel. Teorías de la pena y límites al «ius puniendi» desde el estado democrático, Paracuel-
los del Jarama. Madrid: Dilex, 2006.
INTRODUÇÃO
STRATENWERTH, Günter. ¿Qué aporta la teoría de los fines de la pena?. Bogotá: Universidad Externa-
do de Colombia. Centro de Investigaciones de Derecho Penal y Filosofía del Derecho, 1996. A responsabilidade penal de entes empresariais ainda ostenta grande
TONRY, Michael H. Why punish? How much?: a reader on punishment. Oxford; New York, N.Y, Ox- debate, malgrado o tema já ser amplamente difundido e aceito em países de
ford University Press. 2011. tradição common law e no continente europeu. No Brasil, a responsabilidade
VILAJOSANA RUBIO, Josep María. “Eficacia normativa y existencia del derecho”, Teoría y derecho, penal da pessoa jurídica apresenta resistência em setores da doutrina, porém,
in Revista de pensamiento jurídico, vol. 8, n.º Tirant lo Blanch. 2010.
não se pode resistir quanto ao enfrentamento à delicada preposição da apli-
______. Las razones de la pena. Valencia: Tirant lo Blanch, 2015.
cação de sanções penais aos delitos por empresas cometidos, em resposta ao
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, “Régimen penitenciario y Derecho penal (Reflexiones críticas)”, in
Cuadernos de política criminal, v. 3, 1977. cenário contemporâneo da criminalidade empresarial.
______. Fundamentos del sistema penal 2ª. Valencia: Tirant lo Blanch. 2011. O objeto do presente estudo é verificar a hipótese da aplicação das medi-
WEBER, Max. Economía y sociedad. Esbozo de sociología comprensiva, Trad. J. Medina Echevarría et.. das de segurança como consequência ao delito cometido por pessoas jurídicas,
México: Fondo de Cultura Economica, 1964 [1922].
permitindo uma ponderação inaugural quanto sua viabilidade através de uma
WELZEL, Hans. Introducción a la filosofía del derecho: derecho natural y justicia material, 2ª. Madrid:
Aguilar, 1971. concepção de periculosidade conferida às empresas.
ZELIZER, Viviana. A. El significado social del dinero. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica, 2011
______. Vidas económicas. Cómo la cultura da forma a la economía. Madrid: Centro de Investigaciones 1. Mestre em Direito. Professor de Direito Penal na Faculdade de Educação Superior do Paraná – FESP.
Sociológicas, 2015. Advogado.
2. Advogado. Professor da FAE Centro Universitário (Law Experience).
98 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 99

Inicialmente, discorre-se sobre a possibilidade da aplicação das medidas sua nova redação5. No Brasil, algumas dessas medidas, de lege ferenda, foram
de segurança aos entes empresariais, amparado por legislações estrangeiras e elencadas como pena no Projeto de Lei do Senado – PLS nº 236/2012, na
com o diagnóstico da lege ferenda em elaboração no Brasil. Para tanto, não se redação proposta para os artigos 42 e 43.
escusa ao olhar sobre os pressupostos, limites e garantias asseguradas quando Entretanto, em análise dos dispositivos propostos e em comparativo
da aplicação de medidas de segurança na legislação brasileira. Neste caminho, com as medidas de segurança utilizadas como consequência jurídica ao delito
dá-se início em uma hipótese de estruturação da ideia de periculosidade para em leis penais estrangeiras, em um primeiro momento, tem-se que o legislador
as pessoas jurídicas, verificando as bases da psiquiatria e da psicologia no brasileiro buscou formas punitivas (proibição de participação em licitações e
conceito de periculosidade das pessoas físicas, para após investigar as condutas contratos com o poder público – art. 43, III) e preocupou-se, inclusive, com
empresariais, vieses cognitivos e heurísticas na idealização de um comporta- o caráter ressocializador (suspensão e/ou interdição temporária de atividade
mento perigoso para os entes empresariais. por prazo de um ano, conforme art. 43, parágrafo 1º e 2º), como forma de
Neste pensar, assim, considerada como válida a capacidade da pessoa jurí- reinserção da pessoa jurídica em sua atividade empresarial.
dica delinquir, há de se concluir ser viável a aplicação das medidas de segurança Com isto, em uma primeira reflexão sobre as medidas de segurança
para as pessoas jurídicas que cometem injustos penais como forma de inter- como forma de sanção penal aplicáveis as pessoas jurídicas, pensa-se em um
venção na empresa, visando a readequação para o retorno às suas atividades. caráter preventivo e com o objetivo futuro voltado ao retorno da atividade
empresarial outrora exercida, do que a justificativa da pena em si mesma, em
1. MEDIDAS DE SEGURANÇA E PESSOAS JURÍDICAS LEGE um mero caráter punitivo e de retribuição ao injusto penal cometido.
LATA E LEGE FERENDA – O PROJETO DE LEI DO SENADO Nº
Verifica-se, por exemplo, que no referido projeto, o legislador pátrio
236/2012
concebeu como pena (art. 43) algumas sanções que foram concebidas como
As medidas de segurança têm sido utilizadas em ordenamentos jurí- medidas de segurança nas legislações estrangeiras. Atente-se que em alguns
dicos estrangeiros3, de lege lata, como forma de sanção penal para os delitos casos as medidas são as mesmas. Todavia, a pena é, de fato, a sanção que
praticados por pessoas jurídicas. As medidas adotadas com maior frequência promove maior garantia à pessoa jurídica? O presente trabalho visa incutir
utilizadas são confisco de ativos, cancelamento de licença de funcionamento, essa reflexão nos integrantes do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, para
publicidade de sentenças judiciais, impedimento de financiamentos e contra- que haja uma discussão técnico-jurídica sobre a forma de sanção penal mais
tos com a administração pública. adequada às pessoas jurídicas à luz da linguagem de mundo em que elas estão
Com isto, as legislações penais buscaram suprir a necessidade de uma inseridas, e não a partir da linguagem de mundo da pessoa física.
solução penal para os delitos praticados por pessoas jurídicas, tratando esta Constatada a existência de diplomas alienígenas que já autorizam o
como um ente que visa a ressocialização (com forte lastro na prevenção geral), uso da medida de segurança nesses casos, bem como a leitura dos dispositi-
bem como assumindo que os organismos empresariais, em tese, se apresentam vos aventados na proposta de reforma do Código Penal Brasileiro analisa-se,
como uma fonte de perigo e devem ser controladas e, se possível, eliminada4. em seguida, a viabilidade técnico-jurídica do uso das medidas de segurança
Com a propositura de uma reforma do Código Penal Brasileiro, a discussão como forma de sanção aos crimes praticados por pessoas jurídicas pelo
da questão jurídico-penal em relação ao pressuposto da capacidade prévia de ordenamento jurídico pátrio.
ação das pessoas jurídicas tem sua baliza superada, consoante disposições de
3. As medidas de segurança para delitos praticados por pessoas jurídicas podem ser encontradas: (i) no 2. PRESSUPOSTO: A PERICULOSIDADE CRIMINAL
Código Penal Turco (art. 60); (ii) na Lei de Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica da República
de Montenegro (art. 28); (iii) na Lei de Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica da República Sérvia A aplicação de uma medida de segurança, atualmente na legislação
(art. 23); e, (iv) na Lei de Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica da República da Croácia (art. 15).
4. Neste sentido, CAVERO, Percy García. Derecho Penal Económico: Parte Geral. 3ª ed. Lima: Juristas
Editores, 2014, p. 202. 5. Conforme disposição do caput do art. 4 do Projeto de Lei do Senado nº 236/2012.
100 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 101

brasileira, é duplamente condicionada: (i) à realização prévia de um injusto o crime, para prevenir a realização em ato da ameaça contida na pessoa18.
típico (= tipo de ação com pretensão de ilicitude6); e, (ii) à periculosidade cons- Em um Estado de Direito, a periculosidade só se justifica como crité-
tatada em face desse delito praticado7. rio se é referida a um juízo de prognóstico concreto de que o sujeito levará a
Em primeiro lugar, a medida de segurança tem como condição para ser cabo um injusto penal no futuro. Como essa previsão não pode se constituir
aplicada a prática de um fato definido na lei como crime8. A exigência de um em uma pretensão do direito penal, a periculosidade criminal se revela,
fato definido como um injusto típico para a aplicação da medida resulta tanto unicamente, na realização do injusto típico, o que constitui o fundamento
da previsão legal9 da conduta delituosa quanto da relevância do ataque que a único das medidas de segurança.19
ação representa a bens jurídicos10 da vítima. Deve, além disso, ser um ilícito ju- Acentue-se que o estado perigoso é uma situação de fato, e a sua
rídico, um ato contrário ao Direito, que nenhuma causa de justificação exclua existência deve, em princípio, ser determinada diretamente20. Desse modo,
o seu caráter de antijuridicidade11. Em face da prática de um delito, a pessoa o estado de desajustamento social capaz de fundamentar o juízo de pro-
é posta legitimamente sob a persecução do Estado e pode ser submetida às babilidade da prática de um crime deve ser julgado diante de cada caso
medidas de segurança, segundo as normas do Direito brasileiro. particular21. Há certo contexto em que se desenvolve a ação da pessoa, certas
Em segundo lugar, a medida de segurança, considerada uma consequên- circunstâncias particulares do fato, que, flagrantemente, denunciam a pro-
cia excepcional12, só pode ser aplicada quando constatada a periculosidade babilidade da pessoa tornar a delinquir, de modo que se concretiza aí a
criminal da pessoa que tenha realizado o injusto típico. noção do estado perigoso22.
A periculosidade pode ser conceituada, em sentido amplo, como o Por conseguinte, é caso a caso que a investigação, pelos profissio-
estado grave de desajustamento da pessoa às normas de convivência social13 nais técnicos ou apenas pelo juiz, tem de definir a periculosidade criminal
ou, ainda, como um estado subjetivo mais ou menos duradouro de anti-so- da pessoa23. Assim, constatado um injusto típico, sem estar presente a pe-
ciabilidade14. E, em sentido jurídico, na fórmula da probabilidade de delinquir riculosidade criminal ou que se evidencie no sujeito um prognóstico de
diante de certos indícios15, ou, do juízo de probabilidade de que esta pessoa probabilidade de comissão de um delito no futuro, falece legitimidade à
voltará a delinquir16. imposição de uma medida de segurança24.
Veja-se que o sistema aplica medidas de segurança a pessoas que apre- Nesse ponto, cabe a advertência de que a sanção que tenha como
sentam probabilidade de praticar novos atos que a lei define como crimes,17 e 18. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 289.
é a periculosidade que justifica a aplicação desse meio de defesa social contra 19. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 826.
20. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 290.
6. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 823 e ss. 21. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 289
7. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 826. e ss. Juarez Cirino dos Santos tece sua crítica apontando para uma possível crise das medidas de
segurança. O autor afirma que “a crise das medidas de segurança decorre da inconsistência desses fun-
8. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1. 14ª ed. São Paulo: damentos: primeiro, nenhum método científico permite prever o comportamento futuro de ninguém;
Saraiva, 2009, p. 745 e ss. segundo, a capacidade da medida de segurança para transformar condutas anti-sociais de inimputáveis
9. MESTIERI, João. Manual de Direito Penal, Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 310. em condutas ajustadas de imputáveis não está demonstrada.” Em SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito
10. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 299 e ss. Penal: Parte Geral. 3ª Ed. ICPC-Lumen Juris, 2008, p. 654.
11. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 299 e ss. 22. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 290.
12. BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal, Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 381. 23. A verificação da periculosidade da pessoa jurídica será objeto de estudo nos tópicos seguintes desse
13. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 289 e trabalho.
ss. O autor utiliza a expressão perigosidade criminal no texto da obra. 24. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 826. Neste sen-
14. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1. 14ª ed. São Paulo: tido: “Consiste a periculosidade real na constatação pelo juiz e mediante perícia médica que o autor
Saraiva, 2009, p. 746. é doente mental ou portador de desenvolvimento mental incompleto ou retardado. A prática do ilícito
15. FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal, Parte Geral. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, penal pelo sujeito, em uma dessas condições, determinará a aplicação de medida de segurança de
1995, p. 390. internamento ou tratamento ambulatorial (Código Penal Brasileiro, art. 26, parágrafo único c/c/ o art.
97. A periculosidade é presumida quando a lei determina que o inimputável por doença mental ou
16. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1. 14ª ed. São Paulo: desenvolvimento mental incompleto (Código Penal Brasileiro, art. 26) deve ser internado (art. 97).
Saraiva, 2009, p. 746. Enquanto a periculosidade real é verificada pelo juiz, a periculosidade presumida decorre de lei.”
17. FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal, Parte Geral. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, Em DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos
1995, p. 390. Tribunais, 2013, p. 772.
102 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 103

pressuposto o critério da periculosidade, desvinculada do critério da prática pressuposto e um limite mínimo, ou seja, uma vez cessada a periculosidade, não
de um injusto penal, acaba por ser ilegítima25. Isso porque, em todo sistema se justifica mais a intervenção”.
de Direito Penal que seja assentado sobre as garantias do Estado de Direito, Delineada a periculosidade como pressuposto jurídico para o uso das
deduz-se um Direito Penal de fato, em contraposição às características de um medidas de segurança, resta saber se os fundamentos elencados pela doutrina
odioso Direito Penal de autor26. É a referência ao fato objetivo (injusto penal tradicional – com relação à pessoa física – são suficientes para servir de alicerce
– tipo de ação com pretensão de ilicitude) que deve servir como referência da à análise da periculosidade da pessoa jurídica.
periculosidade criminal do autor. Justifica-se a advertência, porque, como
assinala Busato: “é possível que sob um discurso de política criminal efetiva se 3. A PERICULOSIDADE DA PESSOA JURÍDICA
construam estados de periculosidade que em nada respondam aos critérios de
Os fenômenos econômicos e avanços tecnológicos possuem dinâmica
política criminal de necessidade”.27
própria e com enormes repercussões na sociedade. Desta forma, não se pode
Ilegítimo, também, é o uso da periculosidade como um limite máximo, ignorar seu efeito negativo e a consequente criação de novos riscos e ameaças
traduzido na ideia de que enquanto persista a periculosidade se deve continuar aos cidadãos, bem como para a toda sociedade31.
aplicando a medida28.
A delinquência corporativa se amolda como uma forma de crimina-
Segundo o texto do Código Penal Brasileiro (art. 97, § 1º), as medidas lidade organizada que expõe os cidadãos e o próprio Estado a estes “novos
de segurança serão por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for riscos”. Deve-se enfrentar as novas realidades jurídico-penais, com o sur-
averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. gimento de novos bens jurídicos e a possível legitimação de sua defesa por
Na jurisprudência, instado a decidir uma quaestio iuris sobre esse dis- meio do Direito Penal32.
positivo, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Habeas Corpus nº As relações empresariais possuem reflexos econômicos e jurídicos,
97.621 (Relator Ministro Cezar Peluso, j. 02/06/2009), tornou pacífico o quando sua atividade empreendedora e seu comportamento competitivo
entendimento de que a medida de segurança deve perdurar enquanto não haja tornam-se perigosos não somente à partes envolvidas, mas sim para toda a
cessado a periculosidade do agente, limitada, contudo, ao período máximo coletividade. Há de se pensar que atividades especialmente perigosas neces-
de trinta anos, assim como o limite máximo do cumprimento das penas pri- sitam da permissão (e intervenção) estatal, como por exemplo, empresas de
vativas de liberdade, ex vi do artigo 75, caput, do Código Penal. serviços financeiros, extrativistas e de grande domínio econômico33.
Na doutrina pátria, Bitencourt assinala que embora não prevista A pessoa jurídica se apresenta como uma nova realidade enquanto
expressamente no Código Penal, a medida de segurança, tendo como pres- detentora de uma organização institucional complexa e desenvolvedora de
suposto a periculosidade, não pode ultrapassar o limite máximo de pena
abstratamente cominada ao delito, pois esse seria o limite da intervenção 31. Ver PAVARINI, Massimo. Castigar al enemigo: criminalidad, exclusión e inseguridad. Quito: Flacso
Equador, 2009; SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. A Expansão do Direito Penal: aspectos da política
estatal na liberdade do indivíduo29. Busato30 aduz que a periculosidade nunca criminal nas sociedades pós-industriais. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013; BECK,
Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010.
pode se converter em limite máximo: “se é que a periculosidade pode ser um 32. Neste sentido: “O Direito Penal é um instrumento qualificado para a proteção de bens jurídicos es-
pecialmente importantes. Fixado este ponto, parece obrigatório levar em conta a possibilidade de que
25. No mesmo raciocínio: “Las medidas de seguridad sólo deben aplicarse como consecuencia de la co- sua expansão obedeça, ao menos em parte, já à aparição de novos bens jurídicos – de novos interesses
misión de un hecho delictivo que revele la peligrosidad de su autor y ser, por tanto, post-delictuales.” ou de novas valorações de interesses preexistentes.” SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. A Expansão do
Em MUÑOZ CONDE, Francisco; ARÁN, Mercedes García. Derecho Penal, parte general. 5ª ed. Direito Penal: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais. 3ª ed. São Paulo: Editora
Valencia: Tirant lo Blanch, 2002, p. 594. Revista dos Tribunais, 2013, p. 33.
26. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 827. 33. Sobre os aspectos criminológicos do Direito Penal Econômico, Klaus Tiedemann afirma que “Las
27. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 826. concepciones que parten de aspectos criminológico se basan, en parte, en las extensas repercusiones
28. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 826. que geran los delitos económicos. A partir da dogmatica jurídica, o autor afima que “se aprecia hoy
en día la peculiaridad de los delitos económicos y Derecho penal económico, principalmente, en la
29. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1. 14ª ed. São Paulo: protección de bienes jurídicos supraindividuales (sociales o coletivos, interesses de la comunidad).”
Saraiva, 2009, p. 749. TIEDEMANN, Klaus. Derecho Penal Económico: introducción y parte general. Primera edición.
30. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 826. Lima: Editora y Lebreria Jurídica, 2009. p. 72-73.
104 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 105

atividades que se caracterizam como risco34 coletivo e social. Sua periculosi- tendimento da proporção das consequências do desenvolvimento científico
dade deve ser mensurada e a probabilidade de delinquir pode ser objeto de e industrial, sendo estes um conjunto de riscos que não podem ser conti-
análise e prevenção. Segundo Feijoo Sánchez35, “a moderna dogmática jurí- dos espacial ou temporalmente. Para o autor, os riscos da modernização são
dico-criminal está tendo que evoluir para lidar adequadamente com novos big business. Eles são as necessidades insaciáveis que os economistas sempre
fenômenos das sociedades contemporâneas contra as quais as respostas tra- procuraram. A fome, lembra Beck, pode ser saciada, necessidades podem
dicionais são insuficientes”. ser satisfeitas, mas os riscos civilizatórios são um barril de necessidades sem
Por consequência disto, assumindo que determinadas organizações em- fundo, interminável, infinito, autoproduzível38.
presariais alcançam níveis de complexidade que – assim como ocorre com a Porém, Beck afirma que a canibalização econômica dos riscos que são
psique do ser humano – começam a mostrar caracteres de autorreferencialida- desencadeados através dela, a sociedade industrial produz situações de ameaça
de, autocondução e autodeterminação36, abre-se a premissa para a construção e o potencial político da sociedade de risco39. Neste fluxo de pensamento,
de uma noção de periculosidade para as pessoas jurídicas. tem-se que a produção da riqueza na modernidade é acompanhada da pro-
dução do risco. O processo de industrialização e busca incessante do lucro
3.1. O comportamento empresarial e o risco contemporâneo
pelas organizações empresariais é indissociável do processo de produção de
A assertiva de que possíveis problemas ou tragédias decorrentes do pro- riscos, vez que a consequência do desenvolvimento científico industrial bem
gresso econômico e do modo imperativo com que as sociedades empresariais como da maximização de seus resultados é a exposição das pessoas aos riscos.
se comportam em busca da maximização do lucro, acaba por encontrar gua-
Estes riscos apresentam efeitos colaterais sociais, econômicos e políticos
rida no âmbito da vida diária das pessoas jurídicas, sendo enfrentadas como
e geram novos efeitos colaterais como perdas de mercado, depreciação de ca-
meras fatalidades ou situações adversas normais no desenvolvimento da ati-
pital, controles burocráticos de decisões empresariais, novos mercados e custos
vidade empresarial.
astronômicos procedimentos judiciais e perda de prestígio. Emerge, assim,
No entanto, a perseguição a qualquer custo do lucro e da efetividade da na sociedade de risco, o potencial político das catástrofes. A prevenção e o
atividade empresarial não se assemelha ao modo como a sociedade entende manejo pode envolver novas reorganizações de poder e de responsabilidades.
a pessoa jurídica na contemporaneidade. Os riscos da atividade empresarial A sociedade de risco é uma sociedade catastrófica. Nela, conclui o autor, o
devem ser mensurados e possíveis transgressões às normativas podem dese- estado de exceção ameaça converter-se em normalidade40.
nhar a legitimação do Direito Penal em tais casos.
3.2. É possível uma periculosidade da pessoa jurídica?
Sobre estes riscos, Ulrich Beck37 apresenta uma perspectiva para o en-
Sob o ângulo da periculosidade humana e um possível comportamento
34. “Denominar de “direito penal do risco” um direito penal que deve ter um papel decisivo (ou pelo
menos não ficar como espectador passivo) na tarefa de tornar seguro o futuro desta nossa sociedade, de risco das empresas, verifica-se, em uma hipótese preliminar, que as pessoas
que está, devido ao progresso tecnológico (daí “risco” e não “perigo”) à beira da autodestruição, e que jurídicas podem ser detentoras de condutas41 que se desenham como perigosas
precisa ser reformulado para cumprir esta finalidade.” PRITTWITZ, Cornelius. O direito penal entre
direito penal do risco e direito penal do inimigo: tendências atuais em direito penal e política criminal.
Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 47/2004, p. 31-45, Mar-Abr, 2004.
e alguns de seus modos de operação apresentam convergência com atitudes
35. No original: “La dogmática jurídico-penal moderna está teniendo que evolucionar para poder tratar descritas na literatura médica a respeito da periculosidade. Desta maneira,
adecuadamente nuevos fenómenos de las sociedades contemporáneas frente a las que las respuestas
tradicionales resultan insuficientes”. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José. Derecho Penal de la Empre- busca-se uma resposta para uma possível sanção penal aplicável as pessoas
sa e Imputación Objetiva. 1ª ed. Santiago: Ediciones Olejnik, 2017. p. 132.
36. Cf. GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: teoria do crime para
jurídicas diante o cometimento de delitos e a sua oportunidade de correção,
pessoas jurídicas. São Paulo: Atlas, 2015, p. 72. Para análise do entendimento do autor na relação das
organizações empresariais como sistemas autopoiéticos, ver GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. Autoorga-
nización empresarial y autorresponsabilidad empresarial: Hacia una verdadera responsabilidad penal 38. BECK, Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010, p. 28.
de las personas jurídicas. in: Revista electrónica de ciencia penal y criminología, n. 8, 2006 e GÓ-
MEZ-JARA DIEZ, Carlos. Modelos de autorresponsabilidad penal empresarial: Propuestas globales 39. BECK, Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010, p. 28.
contemporáneas. 1ª ed. Navarra: Editorial Aranzadi, 2006. 40. BECK, Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010, p. 28-29.
37. Em sua obra denominada Risikogesellschaft – Auf dem Weg in eine andere Moderne, publicada em 41. Ver BUSATO, Paulo César; PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade
1986. penal de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão.
106 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 107

evitando-se, assim, a prática de novos injustos penais típicos. Não se trata em desenvolver medidas privativas de liberdade44 para o
No comportamento psicopático humano42, características como falta ente empresarial, mas buscar soluções para medidas que afetem direitos de
de empatia, desprezo pelas regras e a incapacidade de autoanálise dos forma a conter a periculosidade e se evitar delitos futuros. Desta forma,
próprios atos são enfrentados como traços para o reconhecimento de um como aponta Patricia Ziffer45, as medidas são instrumentos de coação estatal
comportamento enfermo. Expandindo a verificação para as pessoas jurídi- que se impõem a uma pessoa (assumindo a possibilidade da pessoa jurídica)
cas, alguns desses comportamentos eventualmente podem ser identificados a fim de se evitar possíveis ações delitivas por parte dela. O fundamento das
em certas condutas externadas pelas pessoas jurídicas na contemporaneida- medidas é a periculosidade do autor. Desta forma, as medidas de segurança
de, principalmente quando da busca incessante da majoração do benefício tem se revelado como possíveis nos delitos praticados por pessoas jurídicas.
esperado com a atividade de risco ou da prática de procedimentos em de- Formas de controle podem, em tese, repelir a pessoa jurídica da prática de
sacordo com a legislação penal. delitos, sendo uma forma razoável de prevenção de atos futuros em contra-
riedade as normativas penais.
As pessoas jurídicas acabaram por desenvolver um instrumental com o
intuito de enfrentamento as crescentes demandas e incertezas, incorporando Delimitada uma proposta de análise da periculosidade para a pessoa
o cálculo dos riscos em seu processo decisório. Avaliando os riscos financeiros jurídica, explora-se o cotejo dessa ideia com o princípio da culpabilidade
de suas operações, não surpreende o fato das empresas também, em certos (limite) e as garantias relacionadas às medidas de segurança.
casos, absorver o ilícito como forma prática de atuação em suas áreas. Assim, 3.3. O desvio do comportamento da empresa como periculosidade
a busca pelo sucesso da atividade torna o risco plenamente aceito, permeando
Com o aumento da criminalidade oriunda das pessoas jurídicas e seus
a sociedade empresarial de seu grau de periculosidade, tanto no risco de sua
diferentes modos de agressão aos bens jurídicos, apresenta-se como possível
atividade, bem como dos fatos reprováveis por ela produzidos.
a criação de um contorno inicial da ideia de periculosidade para os entes
A periculosidade da pessoa jurídica poderá ser verificada quando da morais. Seria possível prever ou determinar o potencial de comportamentos
aplicação de uma sanção penal que atenda sua finalidade de prevenir ativi- perigosos oriundos da empresa? Um olhar sobre a periculosidade da pessoa
dades criminosas futuras e, atendendo as finalidades de prevenção especial jurídica pode ser feita através de um paralelo da análise da psicopatia, o com-
da pena, reintegrar a empresa em suas atividades. Com esta análise, as medi- portamento criminoso e a atividade empresarial.
das de segurança podem ser pensadas como resposta ao delito cometido por
O comportamento psicopático é aquele que revela tendência à práticas
entes empresariais. As medidas de segurança, conforme Julio Leal Medina,
criminais, com padrão recidivista46 e encontrada em indivíduos que apresen-
passaram a serem inseridas nos códigos penais e nos textos preventivos para
tam uma personalidade transtornada47. O psicopata é plenamente consciente
apontar um tipo de pessoa para quem a pena não parece intimidadora. A
periculosidade passou a ser analisada subjetivamente, como um conjunto de
circunstâncias pessoais e particulares enraizadas no indivíduo que as fazem 44. Sobre as medidas de segurança: “Se suele mencionar como objetivo de las “medidas” privativas de
libertad, a fin de justificarlas, la prevención de delito, colocando en el primer plano finalidades de
prever que irão cometer crimes43. Em vista disso, a atividade de risco da pessoa prevención especial, positiva o negativa. Así, usualmente se distingue entre las “medidas curativas o
de corrección”. Impuestas con el propósito de curar o de resocializar al afectado, y las “medidas de
jurídica pode ser encarada como um indicativo de sua periculosidade no seguridad”, dirigidas específicamente impedir que cometa nuevos delitos por medio de la coacción fí-
sica, en los casos en que se alcanzar ese objetivo por medio de la resocialización no parece un objetivo
momento da análise de seu comportamento perigoso perante a sociedade. realizable.” Em ZIFFER, Patricia S. Medidas de seguridad. Prognósticos de peligrosidad en derecho
penal. Buenos Aires: Hammurabi, 2008, p. 65.
45. ZIFFER, Patricia S. Medidas de seguridad. Prognósticos de peligrosidad en derecho penal. Buenos
42. Edwin Sutherland, por exemplo, já apontava que os criminosos do colarinho branco não se enxergam Aires: Hammurabi, 2008, p. 144.
como pertencentes ao estereótipo de “criminoso” e desenvolvem raciocínios projetados para esconder 46. “A criminalidade da empresa, como a de ladrões profissionais, é persistente: grande parte dos crimi-
seus atos criminosos. Conclui o autor afirmando que os crimes praticados pela empresa são delibera- nosos é reincidente.” SUTHERLAND, Edwin H. Crime do colarinho branco. 1ª ed. Rio de Janeiro:
dos e organizados, amoldando-se a uma versatilidade criminal elencada na escala forense em análise. Revan, 2016, p. 334.
Cf. SUTHERLAND, Edwin H. Crime do colarinho branco. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2016, p. 341. 47. ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. Avaliação de risco de violência. In: Abdalla-Filho E;
43. MEDINA, Julio Leal. La historia de las medidas de seguridad: de las instituciones preventivas más Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria forense em Taborda. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed,
remotas a los criterios científicos penales modernos. Pamplona: Editorial Aranzadi, 2006, p. 22. 2016, p. 301.
108 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 109

do que faz e porquê o faz, e sua conduta é o resultado de sua escolha livre- Já o PCL-R (Psychopathy Checklist-Revised), segundo a literatura médica
mente realizada48. Tratando sobre os crimes da empresa, Sutherland49 aponta forense, tem se demonstrado como instrumento útil de avaliação de risco de
que estes crimes não são violações discretas e involuntárias a regulamentos violência, incluindo a identificação de prováveis reincidentes. Desta forma,
técnicos. Eles são deliberados e têm uma unidade relativamente consistente. tem o mérito de ser um recurso tanto diagnóstico (identificar os indivíduos
A expansão do poder empresarial dentro da sociedade desencadeou um com psicopatia) quanto prognóstico (avaliar a probabilidade recidiva). O
panorama diferenciado na organização e constituição de pessoas jurídicas, PCL-R foca exclusivamente na personalidade do indivíduo, diferentemente
principalmente em seus mais altos cargos: buscou-se pessoas com grande do HCR-20, o qual inclui elementos externos na avaliação de risco53. Com
habilidade de manipulação, inteligentes e sem dúvidas quanto a distorcer os pontuação de 0 a 2 para cada item, somando-se o valor de 30 pontos, consi-
atos que possam levar-lhes aos mais altos cargos50. dera-se o diagnóstico da psicopatia.
No Brasil, os profissionais da saúde mental – em especial, os médicos Em análise dos 2054 itens que compõem a escala PCL-R, estes se mos-
psiquiatras – utilizam-se de instrumentos de avaliação de risco51 os quais tram oportunos para um pensamento inicial da forma em que se comporta
embasam as decisões em seus laudos indicativos para a aplicação de medida o ente empresarial e sua eventual periculosidade. Através desta análise e a
de segurança, sendo o HCR-20 (Historical Clinical and Risk Management partir de uma perspectiva individual, busca-se o correlato na pessoa jurídica
scale 20) que se constitui na escala mais utilizada no mundo para a avaliação com a verificação da influência das modificações comportamentais e suas
de risco de violência, seguido pelo PCL-R (Psychopathy Checklist-Revised). consequências. Por intermédio do ponto de vista do indivíduo, Sustein, Jolls e
Ambos os instrumentos se encontram validados no Brasil e são amplamente Thaler reconhecem que as pessoas exibem racionalidade limitada: elas sofrem
utilizados na psiquiatria forense. de certos preconceitos, como o otimismo excessivo e concepções de justiça
próprias; eles seguem heurísticas55, como disponibilidade, que levam à erros;
Em análise ao primeiro instrumento, o HCR-20 se vale de 20 itens52: 10
e eles se comportam de acordo com a teoria prospectiva56. As pessoas também
referentes ao passado e a vida pregressa do examinado, 5 correspondentes a
fatores presentes do ponto de vista clínico e os últimos 5 relacionados a fatores 53. ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. Avaliação de risco de violência. In: Abdalla-Filho E;
Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria forense em Taborda. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed,
futuros (gerenciamento de risco). Os peritos avaliadores tem condições de 2016, p. 302.
perceber um alto risco de violência do periciando na presença de um simples 54. “Elementos que compõem a escala PCL-R: 1. Loquacidade/charme superficial; 2. Superestima; 3.
Necessidade de estimulação/tendência ao tédio; 4. Mentira patológica; 5. Vigarice/manipulação; 6.
fator de risco. A psicopatia encontra-se descrita como o item H7, relacionado Ausência de remorso ou culpa; 7. Insensibilidade afetivo-emocional; 8. Indiferença/falta de empatia;
9. Estilo de vida parasiterio; 10. Descontroles comportamentais; 11. Promiscuidade sexual; 12. Trans-
aos itens históricos do periciando. tornos da conduta na infância; 13. Ausência de metas realistas e de longo prazo; 14. Impulsividade;
15. Irresponsabilidade; 16. Incapacidade de aceitar responsabilidade pelos próprios atos; 17. Muitas
relações conjugais de curta duração; 18. Delinquência juvenil; 19. Revogação da liberdade condicio-
48. GARRIDO, Vicente. El Psicopata. Un camaleón en la sociedade actual. Barcelona: Editorial Círculo nal; 20. Versatilidade criminal”. Em ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. Avaliação de risco
de Lectores, 2001, p. 41. de violência. In: Abdalla-Filho E; Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria forense em Taborda.
3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016, p. 302.
49. SUTHERLAND, Edwin H. Crime do colarinho branco. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2016, p. 333. 55. Pela análise da psicologia, heurística é uma regra em que o inconsciente reformula uma situação-pro-
50. GARRIDO, Vicente. El Psicopata. Un camaleón en la sociedade actual. Barcelona: Editorial Círculo blema e o altera para algo mais simplificado, o qual poderá ser resolvido facilmente, quase que auto-
de Lectores, 2001, p. 172. maticamente, ou seja, é uma espécie de artifício mental para facilitar as tomadas de decisões. Segundo
51. “O HCR-20 (Historical Clinical and Risk Management scale 20) se constitui na escala mais utilizada Kahneman e Tversky, “The biases with which we are concerned, like perceptual erros and illusions,
no mundo para a avaliação de risco de violência, seguido pelo PCL-R (Psychopathy Checklist-Revi- are characteristic of the cognitive operations by which impressions and judgments are formed. These
sed) Ambos os instrumentos se encontram validados no Brasil”. Em ABDALLA-FILHO, E.; TEL- cognitive biases are distinct from the better-known intrusions of emotional and motivational factors
LES, L. E. de T. Avaliação de risco de violência. In: Abdalla-Filho E; Chalub, M; Telles, L. E. de T. into judgment, such as wishful thinking and the intentional distortions of judgment induced by payoffs
(Org.) Psiquiatria forense em Taborda. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016, p. 299. and penalties”. Em KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. Judgment under uncertainty: Heuristic
52. “Itens históricos: 1. Violência prévia; 2. Idade precoce no primeiro incidente violento; 3. Instabilidade and biases. Science, New Series, v. 185, n. 4157. Sep. 27, p. 1124-1131, 1974, p. 1130.
nos relacionamentos; 4. Problemas no emprego; 5. Problemas com Uso de Substâncias; 6. Doença 56. “Uma das principais fontes de diferenças entre os julgamentos reais e as previsões imparciais é o uso
mental importante; 7. Psicopatia; 8. Desajuste precoce; 9. Transtorno de personalidade; 10. Fracasso de regras práticas. Como ressaltado no trabalho pioneiro de Daniel Kahneman e Amos Tversky, regras
em supervisão prévia. Itens clínicos: 1. Falta de insight; 2. Atitudes negativas; 3. Sintomas ativos de gerais como a heurística de disponibilidade – na qual a frequência de algum evento é estimada julgan-
doença mental importante; 4. Impulsividade; 5. Sem resposta ao tratamento. Itens de manejo de risco: do como é fácil lembrar outras instâncias desse tipo (como “disponível”). “Tais exemplos são” – nos
1. Planos sem viabilidade; 2. Exposição a fatores desestabilizantes; 3. Falta de apoio pessoal; 4. Não levam a conclusões errôneas. As pessoas tendem a concluir, por exemplo, que a probabilidade de um
aderência às tentativas de tratamento; 5. Estresse”. Em ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. evento (como um acidente de carro) é maior se recentemente testemunharam uma ocorrência desse
Avaliação de risco de violência. In: Abdalla-Filho E; Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria evento do que se não tivessem ocorrido. O que é especialmente importante no trabalho de Kahneman
forense em Taborda. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016, p. 300-301. e Tversky é que isso mostra que atalhos e regras práticas são previsíveis. Embora as heurísticas sejam,
110 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 111

têm força de vontade limitada; eles podem ser tentados e às vezes são míopes. aos traços de comportamentos considerados problemáticos. O perfil da
Eles tomam medidas para superar essas limitações57. criminalidade da pessoa jurídica se mostra coincidente com alguns dos itens
Silva Sánchez e Lorena Varela apresentam, sob o prisma da racionalidade elencados, tais como a dificuldade de aceitar a responsabilização pelos seus
limitada desenvolvida pela tese da behavioral law and economics, que qualquer próprios atos, a manipulação e falta de empatia.
agente opera com limitações cognitivas tais como erros de percepção, erro Em análise desses comportamentos, pode-se, enquanto construção
de análise e juízos enviesados, que se manifestam, por exemplo, na existência acadêmica, verificar o paralelo do modus operandi da pessoa jurídica e do
dos denominados atalhos heurísticos, os quais refletem distorções dos vieses psicopata clássico descrito na literatura da medicina forense: uma super-
cognitivos e, consequentemente, repetição de hábitos como as pautas siste- valorização do imediatismo na obtenção de resultados, a despreocupação
matizadas de condutas. Ainda, podem se apresentar como “força de vontade com o Direito, a ausência de avaliar os desajustamentos do comportamento
limitada”, que indica que o agente humano dispõe de um autocontrole limi- pessoal, a incapacidade para avaliar as consequências de suas ações e de ter
tado, normalmente tomando decisões em benefício do aumento da satisfação vontade de assumir responsabilidades61.
em curto prazo, ignorando eventuais prejuízos e objetivos no longo prazo58 A grande expansão do poder empresarial desencadeou o debate acerca
(congênere ao item 13 do PCL-R, Psychopathy Checklist-Revised). da periculosidade dos entes empresariais e a aparente ausência de comporta-
Partindo do pressuposto que a pessoa jurídica possa ser imbuída de mento ético perante a sociedade. Com isto, verifica-se o paralelo da medicina
capacidade de entendimento e lucidez sobre os seus atos perpetrados e da re- forense e a forma como a empresa se comporta na contemporaneidade, sendo
provabilidade enquanto conduta típica59, o ente empresarial, de forma similar, possível a construção da gênese da periculosidade da pessoa jurídica.
pode estar diante de desvios de operações cognitivas – vieses cognitivos – pelas
quais impressões e julgamentos são formados. No contexto da empresa, os 4. LIMITE: O PRINCIPIO DA CULPABILIDADE
vieses podem se apresentar como erros de percepção da realidade e confiança A culpabilidade – como princípio de Direito Penal – revela-se em sua
excessiva em práticas que se amoldam em injustos penais, sem haver a devida função político-garantista de limite ao poder punitivo62. Trata-se de uma refe-
empatia ou remorso pela busca do resultado mais benéfico. rência limitadora de excessos, porque serve: (i) para evitar aplicações desmedidas
Nos crimes cometidos pelas pessoas jurídicas, tem-se que um dos ob- de consequências delitivas; (ii) para proibir a responsabilidade penal meramente
jetivos principais é a maximização de um lucro ou resultado em detrimento objetiva; e, (iii) para delimitar a aplicação da medida de segurança.63
de valores éticos, morais, crenças e normas, e aproveita-se das oportunidades O princípio de culpabilidade, como juízo normativo de reprovação, já
que se deparam no dia a dia para efetivar seu objetivo60. O grau da empresa se desvinculou e ultrapassou a sua ideia fundante, qual seja, o livre-arbítrio64,
no ajustamento de sua vida diária pode ser medido como forma de busca aproximando-se muito mais, nos dias atuais, da dupla ideia de igualdade e
proporcionalidade. A culpabilidade, portanto, tem plena aplicabilidade no
em média, úteis (o que explica como elas se tornam adotadas), elas levam a erros em determinadas âmbito da medida de segurança sob a forma de princípio limitador do Di-
circunstâncias. O modelo oferecido por Kahneman e Tversky, chamado de teoria do prospecto, parece
fazer um bom trabalho ao explicar muitas características do comportamento observado”. Em SUNS- reito Penal. Isso porque, seria ilógico ver o sistema jurídico-penal responder
TEIN, Cass Robert.; JOLLS, Christine; THALER, Richard H. A Behavioral Approach to Law and
Economics, 50 Stanford Law Review, 1998, p. 1477-1478. limitadamente aos fatos delitivos realizados por pessoas que apresentam
57. JOLLS, Christine; THALER, Richard H. A Behavioral Approach to Law and Economics, 50 Stanford
Law Review, 1998, p. 1545. 61. BRENNER, Geraldo. Entendendo o comportamento criminoso: educação, ensino de valores morais
58. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA, Lorena. Responsabilidades individuales en estructuras de e a necessidade de coibir o comportamento criminoso: uma contribuição da teoria econômica e um
empresa. La influencia de sesgos cognitivos y dinámicas de grupo. In: Fundamentos del derecho penal recado para nossas autoridades. Porto Alegre: AGE, 2009, p 118.
de la Empresa. 2 ed. cap. V, Madrid: Edisofer, 2016, p. 248-249. 62. MANTOVANI, Ferrando. Diritto Penale, Parte Generale. 9ª ed. Padova: CEDAM, 2015, p. 286 e ss.
59. Ver REINALDET, Tracy Joseph; DALMOLIN, Lucas. A culpabilidade pragmática das pessoas jurí- 63. BUSATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação.
dicas. In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tri-
60. BRENNER, Geraldo. Entendendo o comportamento criminoso: educação, ensino de valores morais bunais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 983 e ss.
e a necessidade de coibir o comportamento criminoso: uma contribuição da teoria econômica e um 64. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Sistema Penal. 2ª ed. Valencia: Tirant lo Blanch,
recado para nossas autoridades. Porto Alegre: AGE, 2009, p. 48. 2011, p. 835 e ss.
112 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 113

consciência de contrariar o ordenamento jurídico, e, por outro lado, vê-lo de limite a todas as categorias de consequências jurídicas de práticas delitivas.67
responder ilimitadamente àqueles que não podem compreender ou reagir Nesse ponto, os autores se filiam aos defensores da periculosidade do
de acordo com essa compreensão. Assim, reconhece-se, por irrecusável, que fato, com algumas variantes terminológicas, como, por exemplo, Muñoz
o princípio da culpabilidade limita também a aplicação da medida de segu- Conde, quando se inclina por admitir preferentemente o princípio da cul-
rança, e que esta não pode ser mais gravosa que a pena a que corresponderia pabilidade como limite à imposição de uma medida de segurança. Ele o
o fato se o sujeito fosse imputável.65 expressa nos seguintes termos: “me inclino no sentido de que o princípio da
As reservas em admitir a culpabilidade como limite das medidas de culpabilidade [...] possa servir de limite para a imposição de uma medida de
segurança estão em duas razões. A uma, porque a expressão culpabilidade segurança, na medida em que se entenda que a ideia de proporcionalidade,
pode ser confundida com um elemento do delito, onde se limita a casos traduzida em limites temporais fixados legalmente, também é, de certo modo,
relacionados a autores imputáveis. A duas, porque, na atualidade, começa a uma ideia imanente à ideia de culpabilidade.”68 O fato de considerar a culpa-
se questionar a culpabilidade como categoria no âmbito do delito, uma vez bilidade como apropriada para a limitação das medidas de segurança resulta
que é um conceito muito fluido e que admite os mais distintos contornos. compreensível, já que aproxima a ideia de identidade entre as penas e me-
Ainda assim, parece preferível falar de princípio de culpabilidade, na medida didas de segurança, que vem sendo progressivamente exigida pela doutrina
em que, aqui, a culpabilidade atua como princípio, e não como categoria do mais moderna69. Sobre essa aproximação constata Hassemer que “na praxis
delito, sendo que as críticas da doutrina contemporânea residem sobre esta.66 não existe mais esta diferença tão acentuada descrita teoricamente entre penas
Ademais, acentue-se que toda a estrutura político-garantista do princí- e medidas [...] a execução de penas e a execução de medidas há um longo espaço
pio de culpabilidade não pode ser substituída, simplesmente, pela expressão de tempo movem-se uma em direção da outra”.70
proporcionalidade, porquanto, ab initio, esta já é incapaz de gerar segurança Desse modo, as medidas de segurança não poderão ser nem mais nem
semântica, como se pode observar das indagações seguintes. Qual propor- menos gravosas nem de maior duração do que a pena que corresponderia a
cionalidade se refere no âmbito da medida de segurança? Que a medida seja uma pessoa física ou jurídica. Com efeito, é compreensível certa reserva em
proporcional ao delito ou que sua periculosidade aponte como possível em admitir a culpabilidade como limite das medidas de segurança. Ainda assim,
uma nova prática criminosa? Ao delito que praticou? Ao grau de sua pericu- parece preferível falar do princípio de culpabilidade como limite das medidas de
losidade? Percebe-se que no âmbito da linguagem a insegurança semântica segurança, sempre e quando se admita a possibilidade de diferenciar entre um
repele o uso proporcionalidade como mero substitutivo do princípio da culpa- significado político-criminal de culpabilidade que não coincide necessariamente
bilidade na função de garantia de uma sanção em face de uma pessoa física ou com o conceito de culpabilidade estritamente dogmático.71 O que se pretende,
jurídica. Além de tudo, não se pode olvidar que o próprio princípio de culpa- em suma, é o exercício real da função político-garantista do princípio da cul-
bilidade conduz ao princípio de proporcionalidade, ou seja, o reconhecimento pabilidade como forma de limitação do poder de punir do Estado.72
da culpabilidade já, por si, determina a necessidade de proporcionalidade,
pelo que diferenciar entre culpabilidade como princípio e proporcionalidade 67. BUSATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação.
In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tri-
também como princípio não faz sentido, já que o segundo está contido no bunais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 983 e ss.
68. MUÑOZ CONDE, Francisco. Hacia una Construcción Latinoamericana de la Culpabilidad. XI Congres-
primeiro. Assim, o princípio de culpabilidade, como expressão mais elabora- so Latinoamericano y III Iberoamericano de Derecho Penal y Criminología. Montevideo, 1999, p. 13.
da, onde está contida a ideia de proporcionalidade, é mais adequado a servir 69. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 830 e ss.; BU-
SATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação. In:
CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tribu-
65. BUSATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação. nais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 983 e ss.
In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tri- 70. HASSEMER, Winfried. Introdução aos Fundamentos do Direito Penal. Trad. Pablo Rodrigo Alflen
bunais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 983 e ss. da Silva. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2005, p. 318.
66. BUSATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação. 71. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 831.
In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tri- 72. MANTOVANI, Ferrando. Diritto Penale, Parte Generale. 9ª ed. Padova: CEDAM, 2015, p. 286 e ss.;
bunais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 983 e ss. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, p. 831.
114 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 115

Aqui, prima facie, parece claro que o uso das medidas de segurança Os custos da punição77 incluem todas as sanções formais e informais,
como sanção penal à pessoa jurídica colore o significado político-criminal bem como os custos pecuniários decorrentes de processos judiciais (perda
do princípio da culpabilidade, sendo capaz de proporcionar, de modo mais de rendimentos e honorários advocatícios). As sanções formais incluem
equilibrado, uma sanção que transmita o sentido de pretensão de justiça multas, várias formas de encarceramento e assim por diante. As sanções
almejado pela norma penal. relacionadas ao estigma social causado por prisão e sanções formais devem
ser adicionadas. O incômodo associado ao comparecimento ao tribunal e as
5. VIABILIDADE ECONÔMICA E UTILIDADE PENAL DA reações do empregador, da família e dos amigos podem ter um efeito mais
MEDIDA DE SEGURANÇA forte do que as sanções tradicionais.
Por fim, cumpre acentuar que no âmbito empresarial o agente possui Os economistas adpetos à escola Law and Economics sugerem que uma
alto grau de racionalidade e calcula a quantidade de ganho com a probabilida- sanção penal deve ser, além do seu caráter inibidor, eficiente. Não se nega
de de ser pego e condenado73. O custo marginal74 muitas vezes é internalizado que os crimes praticados pela pessoa jurídica possuem contornos de um crime
pela empresa, exercendo suas funções de maneira a incorporar o possível custo racional, ou seja, o decisor racional78 leva a probabilidade da pena em consi-
da pena a ser aplicada. deração enquanto completa o ato criminoso79. Busca-se, então, uma forma
De outro turno, uma sanção penal para os delitos praticados pelas pessoas de sanção penal que se apresente como eficiente na reprimenda penal, em
jurídicas – em um olhar econômico – também deve levar em consideração seu atenção ao custo/benefício nela empregados.
caráter inibidor. Deve uma punição estar relacionada ao prejuízo causado pelo Sob o viés econômico, as medidas de segurança se amoldam possíveis,
cometimento do crime. Neste sentido, Silva Sánchez percebeu que seria necessá- pois não possuem custos elevados para sua aplicação. De forma a exemplificar,
rio tornar os custos da penalização inferiores aos custos da tolerância do delito. e em uma visão inicial, tem-se que medidas de segurança aplicáveis para as
Segundo ele, os custos do delito para o delinquente não são dados diretamente pessoas jurídicas tais como a incapacitação em contratar com o poder públi-
pela gravidade da pena. Se assim fosse, o único elemento de controle das taxas co e a suspensão parcial ou total de suas atividades, em tese, não requerem a
do delito seria o aumento ou diminuição dessa gravidade75. dispensa de valores consideráveis para sua efetivação, ou seja, não dependem
O princípio básico por trás da visão econômica das sanções legalmente de dotação orçamentária elevada ou custos marginais, como a construção de
impostas é garantir que aqueles que violam a lei internalizem as externalidades presídios e ônus na guarda de apenados.
que impõem aos outros. Várias questões surgem neste contexto: (1) qual é
77. Para aprofundar o tema, a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos vinculada à Presidência da Re-
o tamanho da externalidade, (2) sobre quem a penalidade deve ser imposta, pública publicou em junho do ano de 2018 o Relatório de Conjuntura: Os custos econômicos da crimi-
e (3) se a penalidade deve tomar a forma de sanções criminais ou civis ou nalidade no Brasil, onde desenvolve uma metodologia para estimar os custos econômicos no período
compreendido entre 1996-2015. No escopo deste relatório, os custos econômicos da criminalidade
possivelmente apenas através da perda de reputação76. podem ser sumarizados em seis categorias, cada uma delas diretamente influenciada por decisões de
desenho de política pública: (a) custos de segurança pública e privada; (b) custos de encarceramento;
(c) custos de danos materiais e seguros; (d) custos de perda produtiva; (e) custos com processos judi-
ciais; e (f) custos dos serviços médicos e terapêuticos. Não estão inclusos no escopo deste relatório: os
custos das agências militares e de inteligência; os efeitos indiretos sobre investimento em capital físico
73. Sobre esta prática racional presente no corpo das pessoas jurídicas, Silva Sanchez e Lorena Varela afir- e humano; as perdas intangíveis com dor, sofrimento psicológico e qualidade de vida. As principais
mam que se deve ter cuidado e prestar atenção no momento de tomada de decisões por parte de seu centro conclusões deste relatório são que os custos econômicos da criminalidade são substanciais, orbitando
decisório, evitando-se, assim, a influência dos vieses cognitivos e heurísticas, concorrendo para os atos ao redor de 4% do PIB brasileiro. Disponível em:<http://www.secretariageral.gov.br/estrutura/secreta-
prudentes através do devido cuidado. Em SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA, Lorena. Respon- ria_de_assuntos_estrategicos/publicacoes-e-analise/relatorios-de-conjuntura/custos_economicos_cri-
sabilidades individuales en estructuras de empresa. La influencia de sesgos cognitivos y dinámicas de minalidade_brasil.pdf/view>.
grupo. In: Fundamentos del derecho penal de la Empresa. 2 ed. cap. V, Madrid: Edisofer, 2016, p. 265. 78. COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito & Economia. Porto Alegre: Booksman, 2010, p. 476.
74. O criminoso racional escolhe a gravidade do crime para maximizar seu lucro liquido, que é o retorno 79. Sob o vies econômico, há a associação entre crimes e danos: “Since almost all crimes are also torts,
esperado com o cometimento do crime menos a pena esperada. COOTER, Robert; ULEN, Thomas. there is really no such thing as a boundary between tort law and criminal law. The correct description
Direito & Economia. Porto Alegre: Booksman, 2010, p. 478 of the separation between doctrines is that the categories of socially undesirable and market- bypas-
75. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. Eficiência e Direito Penal. Barueri: Manole, 2004, p. 38-39. sing conduct describe areas in which tort and criminal law co-exist, while the category of potentially
76. JUNIOR, John R. Lott. Corporate Criminal Liability. In Encyclopedia of Law and Economics. Bou- socially desirable conduct is one to which tort law alone applies.” HYLTON, Keith N. The Theory of
ckaert, Boudewijn and De Geest, Gerrit (eds.), Volume I. The History and Methodology of Law and Penalties and the Economics of Criminal Law. Boston University School of Law. Working Paper nº.
Economics, Cheltenham, Edward Elgar, 2000, p. 493. 02-17, January 2005, p. 184.
116 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 117

CONCLUSÃO para a responsabilização criminal. Paulo Cesár Busato, Fábio André Guaragni. Curitiba: Juruá, 2012.
_______. Fundamentos para um direito penal democrático. São Paulo: Atlas, 2013.
Sob o ângulo da realidade criminal, é possível levantar a imperiosa
_______. Projeto de Código Penal em Debate – Imputação da pessoa jurídica no projeto do novo
necessidade da discussão sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica CP. Disponível em: https://www.ibccrim.org.br/boletim_artigo/5401-Projeto-de-Codigo-Penal-em-
no Brasil, em especial da aplicação de sanções penais. Atualmente, a grande -Debate-Imputacao-da-pessoa-juridica-no-projeto-do-novo-CP

parte das agressões aos bens jurídicos são cometidos por entes empresariais e _______. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018.
são dotados de enorme repercussão e custos à sociedade. _______; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação. In CLÈVE,
Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tribunais Supe-
Considerada a capacidade da pessoa jurídica delinquir, buscou-se riores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 983 e ss.
neste trabalho cotejar se certas atividades empresariais e determinados com- BRASIL. Ministério da Justiça. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. Série “Pensando o Direito.
nº 18/2009. Disponível em: http://www.justica.gov.br/seus-direitos/elaboracao-legislativa/pensando-o-
portamentos se adequam em uma conduta de risco, atribuindo aos entes -direito/publicacoes/anexos/18pensando_direito_relatorio.pdf, p. 13. Acesso em 16/12/2017.
empresariais contornos de periculosidade. Na presente investigação, com CAVERO, Percy García. Derecho Penal Económico: Parte Geral. 3ª ed. Lima: Juristas Editores, 2014
fundamento na literatura médica forense e na psicologia comportamental COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito & Economia. Porto Alegre: Booksman, 2010.
como fontes teóricas na construção da pessoa jurídica enquanto ente dotado DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tri-
de periculosidade, esboçou-se o diagnóstico onde certos comportamentos bunais, 2013
empresariais se alinham a traços de psicopatia e desvios comportamentais FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José. Derecho Penal de la Empresa e Imputación Objetiva. 1ª ed.
Santiago: Ediciones Olejnik, 2017.
cognitivos.
GARRIDO, Vicente. El Psicopata. Un camaleón en la sociedade actual. Barcelona: Editorial Círculo
Neste cenário, floresce a aplicação das medidas de segurança para as de Lectores, 2001.
pessoas jurídicas que cometem injustos penais típicos como forma de inter- GRACIA MARTIN, Luis. La cuestión de la responsabilidad penal de las propias personas jurídicas.
In: Responsabilidad Penal de las Empresas y sus Órganos y Responsabilidad por el Producto. Barcelona,
venção na empresa, visando a readequação para o retorno à suas atividades, J. Bosch, 1996.
bem como prevenir o cometimento de delitos no futuro. GONZÁLEZ CUSSAC, José L.; BUSATO, Paulo César. O modelo espanhol de responsabilidade
penal das pessoas jurídicas do CP de 2010. Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol. 132. ano 25.
Por fim, o presente trabalho buscou amparo nas legislações estrangeiras p. 39-60. São Paulo: Ed. RT, jun, 2017.
que admitem as medidas de segurança enquanto sanção penal às pessoas jurí- GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: teoria do crime para
dicas, como forma de aproximação com a proposta de alteração da legislação pessoas jurídicas. São Paulo: Atlas, 2015.
brasileira atinente a matéria, concluindo pela viabilidade de tais medidas HASSEMER, Winfried. Introdução aos Fundamentos do Direito Penal. Trad. Pablo Rodrigo Alflen
da Silva. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2005.
como forma de enfrentamento aos delitos cometidos pelas organizações
JUNIOR, John R. Lott. Corporate Criminal Liability. In Encyclopedia of Law and Economics.
empresariais. Bouckaert, Boudewijn and De Geest, Gerrit (eds.), Volume I. The History and Methodology of Law
and Economics, Cheltenham, Edward Elgar, 2000.
REFERÊNCIAS KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. Judgment under uncertainty: Heuristic and biases. Scien-
ce, New Series, v. 185, n. 4157. Sep. 27, p. 1124-1131, 1974.
ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. Avaliação de risco de violência. In Abdalla-Filho E;
Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria forense em Taborda. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, MANTOVANI, Ferrando. Diritto Penale, Parte Generale. 9ª ed. Padova: CEDAM, 2015.
2016.
MEDINA, Julio Leal. La historia de las medidas de seguridad: de las instituiciones preventivas más
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Vol. 1: parte geral. 13ª Ed. São Paulo: remotas a los criterios científicos penales modernos. Pamplona: Editorial Aranzadi, 2006.
Saraiva, 2008.
MUÑOZ CONDE, Francisco. A delinqüência econômica e o provérbio societas delinquere non
BECK, Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010. potest. Tradução de Rodrigo Sánchez Rios. Jornal do Estado do Paraná, 18 abr. 1993. Caderno Direito
e Justiça, p. 26.
BRENNER, Geraldo. Entendendo o comportamento criminoso: educação, ensino de valores mo-
rais e a necessidade de coibir o comportamento criminoso: uma contribuição da teoria econômica MUÑOZ CONDE, Francisco; ARÁN, Mercedes García. Derecho Penal, parte general. 5ª ed. Valen-
e um recado para nossas autoridades. Porto Alegre: AGE, 2009 cia: Tirant lo Blanch, 2002.
BUSATO, Paulo César. Responsabilidade Penal da pessoa juridica: fundamentos criminológicos, _______. MUÑOZ CONDE, Francisco. Hacia una Construcción Latinoamericana de la Culpabi-
superação de obstáculos dogmáticos e requisites legais do interesse e beneficio do ente coletivo lidad. XI Congresso Latinoamericano y III Iberoamericano de Derecho Penal y Criminología. Monte-
118 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

video, 1999, p. 13.


PRITTWITZ, Cornelius. O direito penal entre direito penal do risco e direito penal do inimigo:
tendências atuais em direito penal e política criminal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol.
47/2004, p. 31 – 45, Mar – Abr / 2004.
RIOS, Rodrigo Sanchez. Indagações sobre a possibilidade da imputação penal à pessoa jurídica no âm-
bito dos delitos econômicos. In: Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio
da imputação penal subjetiva. Coordenação Luiz Régis Prado, René Ariel Dotti – 4. ed. – São Paulo: RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA
Editora Revista dos Tribunais, 2013. E ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO: HISTÓRIA
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: Parte Geral, 3ª Ed. ICPC-Lumen Juris, 2008. E PRÁTICA NO COMMON LAW
_______. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. In: Responsabilidade penal da pessoa jurídica:
em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. Coordenação Luiz Régis Prado, René Ariel Dotti
– 4. ed. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. André Thiago Pasternak Glitz1
SCHÜNEMANN, Bernd. Cuestiones Básicas de dogmática jurídico-penal y de política criminal acerca
de la criminalidad de empresa. In: Anuário de Derecho Penal y Ciencias Penales. Madrid, tomo XLI, Thayse Pozzobon2
fasc. 1, p 529-58, enero/abril, 1988.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Eficiência e Direito Penal. Barueri: Manole, 2004.
Resumo: O artigo resume a história do desenvolvimento da responsabilidade penal da
_______. A expansão do direito penal: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais. pessoa jurídica no sistema do common law, com ênfase nos Estados Unidos e aborda a
3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. prática do Ministério Público dos Estados Unidos de utilizar instrumentos de justiça penal
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA, Lorena. Responsabilidades individuales en estructuras de consensual com a finalidade de promover modificações na cultura institucional de empresas
empresa. La influencia de sesgos cognitivos y dinámicas de grupo. In: Fundamentos del derecho penal acusadas da prática de crimes.
de la Empresa. 2 ed. cap. V, Madrid: Edisofer, 2016, p. 247-283.
Palavras-chave: Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Common law. Acordos. Mi-
SUNSTEIN, Cass Robert.; JOLLS, Christine; THALER, Richard H. A Behavioral Approach to Law
nistério Público.
and Economics, 50 Stanford Law Review, 1998.
SUTHERLAND, Edwin H. Crime do colarinho branco. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2016.
TIEDEMANN, Klaus. Derecho Penal Económico: Introducción y parte general. Primera edición.
INTRODUÇÃO
Lima: Editora y Lebreria Jurídica, 2009. p. 72-73. É cada vez mais reconhecida a crescente aproximação entre o Direito
ZIFFER, Patricia S. Medidas de seguridad. Prognósticos de peligrosidad en derecho penal. Buenos de países anglo-saxões (common law) para com os da Europa Continental
Aires: Hammurabi, 2008
e América latina (civil law).3O fenômeno já supera o da mera influência,
apresentando-se múltiplos casos de efetiva adoção de institutos jurídicos con-
cebidos e desenvolvidos originariamente em sistemas jurídicos do common law
por países de tradição legal romano-germânica, sendo a recíproca verdadeira.4
Nessa tendência de mútua confluência, desde meados do século XX,
diversos países da América Latina e Europa Continental vêm ampliando os

1. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Promotor de Justiça do Ministério
Público do Estado do Paraná. Masters of Laws (LL.M.) pela Columbia Law School, USA/NY. Professor
de Processo Penal na Fundação Escola Superior do Ministério Público do Paraná (FEMPAR). Contato:
andreglitz@gmail.com.
2. Mestre e bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Especialista em Direito
Público pela Escola da Magistratura do Paraná. Advogada. Professora Universitária de Direito Penal e
Processo Penal. Contato: tcpozzobon@gmail.com.
3. Beck se refere aos efeitos de disseminação e incorporação de outras facetas da sociedade estaduni-
dense para os demais países do globo como fenômeno da “macdonaldização”. BECK. Ulrich. O que é
globalização? Equívocos do globalismo: respostas à globalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999. p.85.
4. Identificando essa interpenetração como um processo de aplicação da Política Jurídica: BUSATO,
Paulo. A Política Jurídica como Expressão da Aproximação entre o Common Law e o Civil Law. In:
Reflexões sobre o Sistema Penal do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p.3-42.
120 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 121

espaços de soluções consensuais de casos penais5, verificando-se, mais recen- terá o objetivo de identificar, na realidade estadunidense, possíveis lições
temente, uma tendência dos sistemas jurídicos do civil law reincorporarem a acerca do uso de acordos em casos de RPPJ para o sistema jurídico-penal
responsabilidade penal da pessoa jurídica em seus ordenamentos6. A pretensão brasileiro, sem desprezar as peculiaridades deste último.
do artigo é apresentar os possíveis efeitos dessa combinação, tomando-se por
base a experiência estadunidense, em que os casos de responsabilização penal PARTE I
de pessoas jurídicas são, em sua imensa maioria, resolvidos por acordos.
Transplante ou tradução de institutos jurídicos estrangeiros?
A Parte I apresentará as razões que justificam a escolha do tema e Responsabilidade penal de pessoas jurídicas e justiça penal consensual
os Estados Unidos como país de referência no emprego de alternativas à A interpenetração de institutos, conceitos e práticas jurídicas entre dife-
instrução plena e julgamento de mérito dos casos penais em situações de rentes países se apresenta como um fenômeno deveras complexo. Dos estudos
responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Por sua vez, a Parte II fará sobre o tema extraem-se duas características que surgem como relevantes para
resumida apresentação do desenvolvimento histórico do tema da responsa- o presente trabalho. A primeira diz respeito ao fato de que, via de regra, a mi-
bilidade penal da pessoa jurídica, no sistema do common law, com destaque gração se dá do centro para a periferia, ou seja, os países considerados como em
para os Estados Unidos. A Parte III enfocará o relativamente recente fenô- desenvolvimento são aqueles que acabam incorporando em seu Direito interno
meno do uso de soluções negociadas em casos de responsabilidade penal institutos oriundos de países desenvolvidos.8 A segunda, que pode ser considera-
de pessoas jurídicas, notadamente na justiça federal estadunidense, pelo da como um efeito da primeira, refere-se à forma como essa transposição ocorre,
emprego dos non-prosecution agreements e deferred-prosecution agreements. opondo a metáfora reducionista do transplante jurídico ao complexo processo
Além disso, apresentar-se-ão as principais críticas que têm sido desenvol- de tradução e transformação pelo qual o conceito ou instrumento sofre ao ser
vidas sobre a política do Department of Justice em responsabilizar pessoas incorporado por um diferente sistema jurídico.9
jurídicas na esfera penal quase que exclusivamente com a celebração de
Essas características têm por efeito uma inclinação à crítica e ao desprezo
acordos de não persecução ou de persecução diferida. A Parte IV tratará da
para com experiências do Direito Comparado por parte de doutrinadores e
influência da justiça penal consensual do sistema anglo-saxão no processo
acadêmicos de países em desenvolvimento, notadamente quando o sistema
penal latino-americano, em especial, no brasileiro.7 A derradeira Parte V
de origem é de matriz anglicista. Entretanto, ainda que algum romantismo
5. Por soluções negociadas toma-se por base o referencial teórico de LEITE a respeito da expressão anti-imperialista possa arrebanhar adeptos simpáticos à xenofobia jurídico-in-
justiça consensual penal, englobando “os acordos nos quais há efetiva negociação entre os sujeitos
integrantes do processo, bem como aqueles em que o imputado adere a proposta apresentada pelo telectual, é imprescindível responsabilidade e maturidade científica para evitar
acusador, ainda que não haja contatos diretos ou contrapropostas”. A nota característica marcante que
se apresenta como relevante para este trabalho não é o grau de autonomia das partes no processo de repulsas generalizadas, bem como aceitações acríticas de institutos estrangeiros.
negociação, mas estarmos tratando de um “(…) modelo de processo penal que atribui maior relevância
à manifestação de vontade dos envolvidos – órgão acusador, imputado e, eventualmente, vítima – de
modo que a convergência de desígnios entre eles tenha papel decisivo para o pronunciamento judicial
que marca o desfecho do processo ou do procedimento”. LEITE, Rosimeire Ventura. Justiça consen- (segundo consta, no âmbito da “Operação Lava Jato! Foram celebrados 11 acordos de leniência. In-
sual e efetividade do processo penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2013. p.23-24. formações em: http://www.mpf.mp.br/para-o-cidadao/caso-lava-jato/atuacao-na-1a-instancia/parana/
6. Apresentando as razões deste hiato e destacando que a responsabilidade penal de pessoas jurídicas resultado. Acesso em: 09 de dezembro de 2018) e os termos de compromisso de ajustamento de con-
estava prevista no Código Criminal do Império de 1830 e na parte especial do Código Penal da Re- duta em casos de pessoa jurídica autora de ato de improbidade administrativa da Lei 8.429/92 (art.1º,
pública, de 1890: BUSATO, Paulo César. Razões político-criminais para a responsabilidade penal §2º, da Resolução 179, CNMP) evidenciam esse movimento e são instrumentos que, no Brasil, já se
de pessoas jurídicas. In: Seminário Brasil-Alemanha: responsabilidade penal de pessoas jurídicas. apresentam com potencial de aproximação da realidade estadunidense, embora não tenham por objeto
Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. p.39-48. Aliás, o PLS 236/2012, que institui o novo Código o Direito Penal.
Penal brasileiro, prevê em seu texto a responsabilização penal das pessoas jurídicas. A seu respeito: 8. Afirmando a tendência de movimentos reformistas ocorrerem do centro para a periferia, ou seja, de pa-
BUSATO, Paulo César. Responsabilidade penal de pessoas jurídicas no projeto (e no texto substituti- íses desenvolvidos para países em desenvolvimento, ver: LANGER, Máximo. Revolution in latin Ame-
vo) do novo Código Penal brasileiro. In: Reforma Penal: A crítica científica à Parte Geral do Projeto rican Criminal procedure: Diffusion of Legal ideas from the Periphery. The American Journal of Com-
de Código Penal. (PLS 236/2012). Org.Alaor Leite. São Paulo: Atlas, 2015. p.159-188. parative Law, vol55, p.617-676. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Maximo_Langer/
7. Não se trata de uma tendência exclusiva do processo penal, mas processual como um todo, conforme publication/228189838_Revolution_in_Latin_American_Criminal_Procedure_Diffusion_of_Legal_
se verifica da regra do art. 90, do Código de Processo Civil brasileiro de 2015: “Art. 190. Versando o Ideas_from_the_Periphery/links/546f701d0cf2d67fc03113d8/Revolution-in-Latin-American-Criminal-
processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular -Procedure-Diffusion-of-Legal-Ideas-from-the-Periphery.pdf. Acesso em: 12 de outubro de 2018.
mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus 9. A respeito, conferir: LEGRAND, Pierre. The Impossibility of Legal Transplants. 4 Maastricht J. Eur. &
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo”. Ademais, tanto os Comp. L. 111 (1997). Disponível em: https://heinonline.org/HOL/LandingPage?handle=hein.journals/
acordos de leniência celebrados com pessoas jurídicas sujeitas à responsabilização da Lei 12.846/2013 maastje4&div=13&id=&page. Acesso em: 14 de novembro de 2018.
122 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 123

No primeiro viés, não deve o jurista se descurar da realidade imposta Este artigo abordará a responsabilidade penal da pessoa jurídica neste con-
pela chamada sociedade de risco, na qual os valores consagrados constitucio- texto, sem olvidar do alerta BUSATO a respeito de não se tratar de uma
nalmente são expostos a perigos e lesões num ambiente de interatividade novidade para o sistema romano-germânico: “muito ao contrário do que se
integral e em tempo real. É fato: estamos todos online, everywhere, worldwide costuma afirmar, a ausência de RPPJ é um soluços histórico exclusivo do Direito
e full time10, nessa que é a etapa póstuma da sociedade industrial, na qual os continental tendo estado presente historicamente em todo o desenvolvimento do
riscos aos direitos fundamentais “já não provêm de acontecimentos naturais, Direito do common law, e na maior parte do Direito penal continental”.15
mas sim, de criações humanas, que, não obstante, não derivam de ações próximas No Brasil, a RPPJ tem sido objeto cada vez mais frequente de discussões
e claramente identificáveis, mas sim, de providências tecnológicas massificadas e e reflexões, sendo, inclusive, uma das principais novidades do PLS 236/2012,
globais, cuja fonte real é desconhecida ou disseminada”.11 que institui o novo Código Penal brasileiro.16 Sob a perspectiva político-cri-
Por outro lado, tampouco a incorporação automática de institutos minal, a Constituição Federal de 1988 e o legislador federal (Lei 9.605/98,
alienígenas é recomendável. Bem-vinda é a análise refletida e a crítica bem art.3º) optaram pela possibilidade de intervenção penal em desfavor das pes-
fundamentada frente ao transplante jurídico, o “copia e cola” de conceitos soas jurídicas.17 No âmbito da jurisprudência, o Supremo Tribunal Federal e
estranhos ao sistema jurídico de destino que apresenta riscos relacionados ao o Superior Tribunal de Justiça já reconheceram como legítima a escolha reali-
próprio funcionamento de determinados instrumentos em estruturas conce- zada pelo constituinte originário, bem como, como constitucional a previsão
bidas sob princípios jurídicos e realidades sociais distintas. Na feliz metáfora legislativa atinente aos crimes ambientais.18
de CARNELUTTI, um sistema jurídico opera como um relógio, sendo que No âmbito processual, a justiça consensual é realidade legislada no pro-
a mais sutil alteração em uma de suas engrenagens é, por si só, capaz de com- cesso penal brasileiro desde a década de 90.19 Aqui, o país segue a tendência
prometer todo o seu funcionamento.12
9.099/95; Resolução 181/2017, CNMP e Projeto de Lei Anticrime).
Logo, como este trabalho pretende abordar temas de Direito Compa- 15. BUSATO, 2018, p.63.
rado, a partir da experiência estadunidense, de bom alvitre o alerta inicial de 16. A respeito da regulamentação da RPPJ pelo PL 236/2012 ver BUSATO, 2012, p.53-86.
17. Eis os textos de ambos os dispositivos da Constituição Federal de 1988 que evidenciam a opção po-
que qualquer “importação jurídica” não prescinde de um processo de tradu- lítico-criminal em favor da RPPJ: Art.173, §5º: “A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual
dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às sanções
ção prévia, de releitura do instituto à luz do sistema jurídico de destino. No compatíveis com a sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra
âmbito do Direito Penal e do Processo Penal, a adaptação de novas engrena- a economia popular”. Art. 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
gens demandam redobrada cautela, a fim de preservar o binômio intervenções e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (…) § 3º
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
graves/garantias máximas13 e os princípios estruturantes e fundantes do sistema físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados. A Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais), por seu turno, dispõe em seu art.
criminal de cada país. 3º que: “As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o
disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal
Curiosamente, são justamente o Direito Penal e o Processo Penal dos ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único.
A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou
países de matriz originária do civil law disciplinas que têm sofrido constantes partícipes do mesmo fato”.
18. E. Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordinário nº 548.181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, j.
influxos das experiências estrangeiras, particularmente dos Estados Unidos.14 06/08/2013. Na jusrisprudência do Superior Tribunal de Justiça são paradigmáticos dois julgados: o pri-
meiro da 5ª Turma, Recurso Especial nº 564.960/SC, Rel. Min. Felix Fischer, j. 17/04/2007; o segundo,
10. MAGALHÃES, Vlamir Costa. O crime de lavagem de ativos no contexto do direito penal econômico também da 5ª Turma, o Recurso em Mandado de Segurança nº 39.173/BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da
contemporâneo: criminal compliance, delinquência empresarial e o delineamento da responsabilida- Fonseca, j. 06/08/2015. Em oposição, vários e qualificados doutrinadores rejeitam a RPPJ, apontando-a
de penal no âmbito das instituições financeiras. Porto Alegre: Núria fabris, 2018. p.33. como ilegítima e inconstitucional. A respeito, ver: GRECO, Luís. Por que é ilegítimo e quase de todo
11. BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo global. Tradução de Rosa S. Carbó, Barcelona: Paidós, 2007, inconstitucional punir pessoas jurídicas. In: Seminário Brasil-Alemanha: responsabilidade penal de pes-
apud BUSATO, 2012. p.35. soas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. p.69-76.; LEITE, Alaor. Observações provisórias
sobre a responsabilização penal das pessoas jurídicas. In: Seminário Brasil-Alemanha: responsabilidade
12. CARNELUTTI, Francesco. Sistema de Direito Processual Civil. Trad. Hiltomar Martins Oliveira. São penal de pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. p.77-89; LUISI, Luiz. Notas sobre a
Paulo: Classic Book, 2000. responsabilidade penal das pessoas jurídicas. In: Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa
13. BUSATO, 2018, p.56. do princípio da imputação penal subjetiva. São Paulo: RT, 2001. p.91.
14. No sistema penal brasileiro podem ser citados como exemplos da influência do Direito dos Estados 19. A lei nº 9.099/095 introduziu no ordenamento jurídico brasileiro três instrumentos de justiça penal
Unidos o sistema nacional preventivo à lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98); as chamadas técnicas negociada, a saber: a composição civil dos danos (art.74); a transação penal (art.76) e a suspensão
especiais de investigação (Lei 12.850/2013) e a ampliação dos espaços de justiça penal negociada (Lei condicional do processo (art.89).
124 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 125

latino-americana de incorporar, a partir da segunda metade do século XX, político-criminais, responsabilizar penalmente pessoas jurídicas.24
métodos de resolução consensual para casos penais. Neste ponto, os sistemas Semelhantes obstáculos teóricos permeavam a discussão acerca da
anglo-saxões se apresentam como inegável fonte de inspiração, desafiando RPPJ nos países do common law por volta da segunda metade do século
a adaptação normativa desse instrumental aos sistemas processuais penais XIX. Resumindo o entendimento predominante de que entes coletivos
estruturados em bases europeias continentais. não poderiam ser autores de crimes, BLACKSTONE dizia que são puníveis
A perspectiva de acolhimento da responsabilidade penal da pessoa jurí- apenas aqueles seres dotados de liberdade de vontade e capazes de dela abusar.
dica pelo ordenamento jurídico brasileiro apresenta, portanto, desafios ainda Esta capacidade Deus conferiu ao homem… empresas não podem praticar
não devidamente explorados20, em especial na forma como serão empregadas crimes de traição, ou delito algum.25
as alternativas à instrução plena e ao julgamento do mérito de infrações penais Havia, portanto, majoritária rejeição à acomodação da RPPJ frente a
praticadas por empresas. histórica e consolidada responsabilidade criminal do common law, reconhe-
Portanto, exsurge como relevante a análise crítica da forma como os cida a partir da comprovação de dois elementos: o actus reus e o mens rea.26. O
prosecutors estadunidenses, particularmente no âmbito da Justiça Federal surgimento e desenvolvimento da RPPJ nos sistemas jurídicos anglo-saxões
daquele país, têm atuado em casos penais envolvendo pessoas jurídicas. originou-se na jurisprudência inglesa, impulsionada pelas transformações
Antes, contudo, imprescindível que se realize um resumido apanhado his- socioeconômicas da Revolução Industrial.27Embora haja menção a decisões
tórico da responsabilização criminal de pessoas jurídicas pelos sistemas do admitindo-a ainda no século XVI – em casos de omissão no cumprimento
common law, com ênfase para os Estados Unidos, até o estado atual da arte,
24. Apresentando os argumentos daqueles que afastam a RPPJ por razões dogmáticas relacionadas ao
consubstanciado na chamada strict vicarious criminal liability21, consagrada conceito de ação, dolo e culpabilidade; e superando cada um deles: BUSATO, 2015. p.159-188.
pela decisão da Suprema Corte em New York Central v& Hudson River 25. Tradução livre do autor. No original:“Punishments are… only inflicted for that abuse of that free will,
which God has given to a man”. “[a] corporation cannot commit treason, or felony, or other crime”.
Railroad Company v. United States (1909)22. (William Blackstone).
26. Enquanto o actus reus diz respeito ao elemento externo do crime, ou objetivo, como o resultado da
conduta e a ação praticada pelo agente, o mens rea é o elemento interno, anímico. Quanto a este há
PARTE II duas referências básicas para se identificar e apreender o seu conteúdo no Direito dos Estados Unidos.
A primeira é a sua construção histórico-jurisprudencial via estudo dos cases, própria do método da
common law. Aqui, o sentido das diferentes expressões empregadas para identificação do elemento
A responsabilidade penal da pessoa jurídica nos Estados Unidos: uma subjetivo diverge quase sempre do significado comum que os vocábulos possuem na própria língua
inglesa, o que cria uma especial dificuldade na identificação de seu conteúdo, variando de acordo com
prática em busca de uma teoria o país, o órgão julgador e a espécie de crime. Logo, àquele que se propõe o desafio de extrair os senti-
dos de uma gama extensa de expressões representativas de mens rea como corruptly, scienter, willfully,
A repulsa à RPPJ pelos países do civil law é um acontecimento relativa- maliciously, fraudulently, wantonly, feloniously, willful neglect, recklessly, negligently, wanton and
wilful não basta a memorização de conceitos, mas um estudo histórico contextualizado e detalhado
mente recente e está diretamente relacionado ao desenvolvimento da teoria do de seu desenvolvimento e aplicação. Não surpreende, portanto, que uma segunda referência tenha
surgido, pela via legislada do Código Penal Modelo (Model Penal Code). De maneira mais familiar ao
delito a partir de uma concepção ontológica do conceito de conduta huma- jurista do civil law, o CPM procura sistematizar analiticamente e conceituar as diferentes categorias
de mens rea desenvolvidas pela jurisprudência do common law. Nele, o elemento subjetivo de um
na.23É a construção teórica sólida e consistente de um sistema de imputação crime estará presente quando todos os elementos materiais da ofensa (o actus reus: conduct, circums-
tance e result) tiverem sido praticados mediante uma das seguintes espécies de mens rea: “purpose”,
penal que supere esse paradigma, portanto, o maior desafio aos países de “knowledge”, “recklessness” e “negligence”. Importante notar, para evitar reducionismos e traduções
tradição romano-germânica que pretendem, premidos por relevantes razões equivocadas desses conceitos, que o mens era não equivale aos conceitos de dolo ou culpa do Direito
Penal brasileiro. Sobre o mens rea ver: BONNIE, Richard J.; COUGHLIN, Anne M.; JEFFRIES, John
C.; LOW, Peter W. Criminal Law. 3 ed. New Tour: Thomson Reuters, 2010. p.233-343.
27. A conjuntura sócio-econômica que impulsionou esse giro foram abordadas pela Suprema Corte dos
20. Sobre algumas particularidades do processo penal em imputações em face de pessoas jurídicas ver, no Estados Unidos no julgamento do caso Morissette v. United States (1952): “[A Revolução Industrial]
Brasil: BRANCO, Fernando Castelo. A pessoa jurídica no processo penal. São Paulo: Saraiva, 2001; Multiplicou o número de pessoas expostas a lesões ao lidar com complexos e poderosas máquinas,
GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurí- além de provocar um descontrolado aumento populacional nas cidades, que passaram a ficar conges-
dica. In: Seminário Brasil-Alemanha: Responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Org. Paulo César tionadas de pessoas em locais que demandavam regulamentações sanitárias e sociais impensadas em
Busato. Coord. Luís Greco e Paulo César Busato. Florianópolis: Tirant Lo Blanch, 2018. p.153-165. épocas anteriores. [Além disso] a ampla da distribuição de bens e serviços tornou-se instrumento de
21. O que seria algo como “responsabilidade penal objetiva por fato de terceiro”. ampliação dos riscos de danos quando os responsáveis pelos alimentos, bebidas, remédios e valores
mobiliários deixavam de observar padrões mínimos de qualidade, integridade, informação e cuidado
22. New York Central v& Hudson River Railroad Company v. United States 212 U.S. 481 (1909). dos produtos. [Consequentemente, o Estado passou a implementar], regulamentações cada vez mais
23. De fato, ainda na Idade Média era habitual era frequente a aplicação de repressões penais visando detalhadas e numerosas de modo a demandar daqueles responsáveis por determinados setores econô-
coibir os atos praticados pelas pessoas jurídicas. BRANCO, Fernando Castelo. Op. Cit. p.41. micos com potencial para afetar a segurança, a saúde ou o bem-estar das pessoas”.
126 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 127

de deveres regulamentares28 –, foi apenas no século XIX que na Inglaterra pela tomada de decisões dos entes coletivos, pudessem ser atribuíveis à própria
se formou um corpo jurisprudencial no sentido de ser possível a responsa- empresa.32 Entretanto, a extensão da responsabilidade individual “dos cére-
bilização penal de empresas, ao menos, de início, para os chamados public bros da empresa” ao ente coletivo não se aplicava “às mãos da empresa”. De
welfare crimes.29 fato, de acordo com a teoria, condutas delituosas praticadas por indivíduos
Em tais public welfare crimes (crimes de desobediência a uma ordem públi- situados nos escalões inferiores das empresas, como nas linhas de produção,
ca) a imputação tinha como ponto central uma omissão no cumprimento de não autorizavam a responsabilização do ente coletivo.
determinada regra relacionada à atividade empresarial, de modo a prescindir Neste sentido, esclarecedora a lição de CELIA WELLS ao comentar a
de elemento anímico (mens rea), ou de um ato comissivo por parte da em- decisão no caso Tesco v. Nattrass:
presa. Em alguma medida, os public welfare crimes procuravam compensar A doutrina adotada em Tesco v. Nattrass restringe a responsabilidade penal das
a ausência de ação e de mens rea com a previsão de sanções penais menos pessoas jurídicas na medida em que apenas aqueles indivíduos que controlam
gravosas, como pequenas multas, incapazes de afetar o funcionamento ou a ou gerenciam a empresa são considerados como capazes de, pelas suas decisões,
reputação de pessoas jurídicas30 representar (incorporar) o próprio ente coletivo. A ideia é que os empregados de
uma empresa podem ser categorizados entre os que agem como as mãos e os que
No final do século XIX o common law inglês passou a admitir a respon- agem como o cérebro da companhia, a chamada abordagem antropomórfica. A
sabilidade penal de pessoas jurídicas por atos comissivos de seus agentes.31 O teoria da identificação significa, em essência, que a empresa seria responsabilizada
crescente número de entes coletivos e o fato das corporações se dedicarem por uma infração penal grave apenas quando um de seus principais dirigentes
fosse também pessoalmente responsabilizado.33
a atividades de elevado potencial nocivo à população – como a exploração
de ferrovias – levou ao desenvolvimento da chamada alter ego theory (teoria É interessante notar como a RPPJ na Inglaterra se desenvolveu gra-
da identificação), a qual reconhece uma vontade coletiva, ou corporativa, dualmente, sendo que a alter ego theory permaneceu quase que inalterada,
correspondente a individual, a partir de determinados critérios estabelecidos sendo consistentemente aplicada, até que uma série de acidentes com graves
pela jurisprudência. consequências deflagrou uma alteração legislativa promovida pelo Parla-
mento inglês no ano de 2007.34 O Corporate Manslaughter and Homicide Act,
Na Inglaterra, a alter ego theory mostrou-se particularmente útil para que
condutas criminosas de órgãos diretivos, ou daqueles indivíduos responsáveis 32. Lennard´s Carrying Company Ltd. v. Asiatic Petroleum Comapny Ltd. (1915); VERÍSSIMO des-
taca que o modelo inglês “trabalha com uma ideia de mens rea corporativo, baseado no estado
mental culposo de uma pessoa que age em nome da organização numa posição de alta adminis-
tração”. A mesma autora cita, ainda, o caso Tesco Supermarkets Ltd. v. Nattras (1972) A.C. 153
28. BRICKLEY menciona o julgamento do Case of the Langforth Bridge, 79 Eng. Rep. 919 (K.B. 1635). (H.L.), o qual teria sido o precursor da teorização do managerial mens rea ao absolver um su-
BRICKEY, Kathleen F. Corporate Criminal Accountability: A Brief History and Observation, 60 permercado da acusação de fazer publicidade de produtos com preços inferiores ao efetivamente
Wash. U. L.Q. 393 (1982). praticados, sob o fundamento de que a culpa do gerente responsável pelo delito não poderia ser
29. VERÍSSIMO, Carla. Compliance: incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo: Saraiva, imputada à empresa, uma vez que: (i) não havia nenhuma falta imputável ao supermercado; (ii)
2018. p.30. Segundo SHECAIRA: “A primeira decisão, decorrente de desobediência a uma ordem o gerente não estava posicionado na alta hierarquia do supermercado, de maneira que sua falta
pública dada pela autoridade competente, foi registrada no caso de Reg. v. Birmingham and Glou- pudesse ser considerada como uma conduta da própria empresa.
cester Railway Co., em 1840. Uma companhia férrea foi condenada por haver desobedecido à ordem 33. Tradução livre do autor, sendo o original: “The relatively narrow droctrine developed via… Tesco v.
judicial de demolição de uma ponte construída sobre rua e que considerava causadora de danos (nui- Nattrass had as its governing principle that only those who control or manage the affairs of a company
sance)”. SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Rio de Janeiro: are regarded as embodying the company itself. The underlying theory is that company employees can
Elsevier, 2011. p.28. be divided into those who act as the hands and those who repreent the brains of the company, the
30. Conforme referido pela Suprema Corte dos Estados Unidos em Morissette, 342, U.S. p.256 e Staples v. só-called anthropomorphic approach. The identification principle essentially meant that a company
United States, 511 U.S. 600, 616 (1994). Entretanto, a strcit vicarious criminal liability de dirigentes de would be liable for a serious criminal offence (only) where one of its most senior officers had acted
empresas, passíveis de responsabilização criminal pela sua posição de autoridade e responsabilidade with the requisite fault”. WELSS, Celia. Corporations and Criminal Responsability, 2. ed. Osford
na estrutura corporativa - quando comprovado conhecimento prévio da violação - a partir das decisões University Press, 2001.
da Suprema Corte em United States v. Dotterweich 320 U.S. 277 (1943) e United States v. Park, 421 34. Em 05 de outubro de 1999 dois trens colidiram em Londres, no acidente que ficou conhecido como
U.S. 658, 668 (1975), persecuções penais por violações ao Food, Drug and Cosmetics Act (FDCA) “Ladbroke Grove rail crash” ou – Paddigton rail crash”, matando 31 pessoas e ferindo outras 258. A
passaram, mais recentemente, a afetar substancialmente direitos individuais, mesmo em casos de não investigação do caso revelou que vários fatores teriam contribuído para o acidente, dentre eles: (a)
comprovação do elemento do conhecimento prévio por parte do dirigente. Neste sentido: United States treinamento inapropriado dos condutores; (b) manutenção precária dos trilhos e da sinalização. Não
v. Purdue Frederick Co., 495 F.Supp. 2D 569, 570 n.2 (W.D. Va. 2007). obstante, os promotores ingleses não lograram êxito em processar criminalmente as empresas envol-
31. SHECAIRA identifica como emblemática neste sentido a decisão do “Queen´s bench em 1846 no caso vidas pelos homicídios e lesões decorrentes do acidente, dada a prevalência da alter ego theory na
Reg. V. Great North of England Railway Co., no qual uma companhia ferroviária havia interrompido jurisprudência. O caso, assim como outros (v.g., o caso do naufrágio do Herald of Free Enterprise ferry,
e alterado, enquanto construía uma ponte, uma rua comunal então utilizada, causando um forte pre- de fabricação inglesa, que matou 193 passageiros no dia 6 de março de 1987, no porto de Zeebrugge,
juízo a todos os usuários da rua e colocando a paz pública em perigo”. Op. Cit. p.28. na Bélgica) gerou a percepção de que o Direito inglês deveria reformular a lei aplicável à responsabi-
128 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 129

2007, c. 19, § 1 (Eng.)35 expandiu as possibilidades de responsabilidade penal pela Suprema Corte dos Estados Unidos no julgamento do caso New York
das pessoas jurídicas – ao menos em relação aos critérios que norteavam a Central v& Hudson River Railroad Company v. United States (1909).41
alter ego theory – ao implementar uma espécie de responsabilidade por defeito A doutrina identifica alguns fatores que teriam contribuído nesse
na organização36, embora ainda relativamente atrelada às condutas individuais processo que culminou com a decisão da Corte Suprema em 190942, mas
dos dirigentes da empresa.37 parece ter sido a consolidação jurisprudencial de que uma série de direitos
Noutros países de matriz consuetudinária BEALE identifica similar individuais seriam também assegurados aos entes coletivos que lançou
tendência de expansão, relacionada a incidentes de grandes proporções que as bases para a consagração da RPPJ estadunidense no início do século
resultaram em repercussão na opinião pública e mobilização social. A autora XX.43 A lógica é bem resumida pelas palavras do Justice Antonin Scalia
destaca a Austrália e o Canadá como expoentes desta inclinação, dentre os em seu voto no caso Citizens United v. Federal Election Commission, 558
países do common law, com importantes modificações legislativas ocorridas U.S. 310 (2010), no qual se assegurou o direito à liberdade de expressão
em 1995 e 2009, respectivamente, ambas facilitando a responsabilização para pessoas jurídicas:
penal de entes coletivos no âmbito federal.38 Enquanto nesses países a RPPJ "todos os dispositivos da Carta de Direitos referem-se a Direitos individuais de
apenas recentemente parece ter ganho contornos mais amplos, nos Estados homens e mulheres… Contudo, o direito individual de uma pessoa à liberdade
Unidos o movimento foi deflagrado mais precocemente. de expressão inclui a possibilidade de se expressar também quando associada a
outros indivíduos".44
Por volta de 1850, prosecutors39 americanos enfrentavam o mesmo ce-
ticismo acadêmico e doutrinário acerca da RPPJ, o que não os impedia de Foi natural, portanto, que os espaços de responsabilização de pessoas
adotar uma ousada e agressiva postura, imputando crimes a empresas tanto jurídicas viessem também a ser ampliados, com uma percepção cada vez mais
no âmbito dos Estados (common law), como na esfera federal (statutory aceita e difundida no corpo social de que ilícitos empresariais possuem poten-
law).40 Foi a prática desses prosecutors do século XIX, por vezes acolhida cial suficiente para afetar significativamente as vidas de pessoas, comunidades
no âmbito do Poder Judiciário, que ganharia densidade até ser chancelada e nações, além de gerar reflexos na economia mundial.
Em New York Central v. Hudson River Railroad Company v. United States
lização de pessoas jurídicas, inclusive as de Direito público. (1909)45, a Suprema Corte dos Estados Unidos reconheceu que, se as corpo-
35. Disponível em: http://www.legislation.gov.uk/ukpga/2007/19/notes/contents. Acesso em: 10 de de-
zembro de 2018. 41. DISKANT, Edward B. Comparative Corporate Criminal Liability: Exploring the Uniquely American
36. A ideia de culpa pela organização de TIEDEMANN apresentada na Alemanha foi acatada pelo Tri- Doctrine Through Comparative Criminal Procedure, 118 Yale L.J. 126, 134-138 (2008).
bunal Supremo espanhol na primeira decisão que condenou criminalmente uma empresa em 2016. 42. COFFEE, John. No soul to damn: no body to kick: an unscandalized inquiry into the problem of cor-
Tribunal Supremo. STS 154, 29 feb. 2016. porate punishment. Michigan Law Review, v.79, p.386-459, jan.1981 aponta os seguintes fatores: (i) a
37. O Corporate Manslaughter and Homicide Act autoriza a responsabilização penal de empresas pela capacidade do Direito Penal operar um juízo de censura pública sobre o agente do fato; (ii) o fato de os
prática de homicídios ou lesões corporais quando, em razão de suas atividades, a corporação possuir o casos criminais serem resolvidos mais celeremente que os casos civis, podendo a condenação criminal
dever de adotar medidas para garantir a segurança das pessoas, havendo evidências de que sua gestão resultar em ressarcimento às vítimas num momento mais próximo ao da ocorrência da infração; (iii) a
ou organização tenha contribuído para uma grave violação daquele dever, resultando em mortes ou existência de um maior número de agentes públicos com atuação criminal – promotores federais e esta-
lesões. A forma como as atividades da corporação foram gerenciadas ou organizadas pelos seus diri- duais – comparativamente aos servidores públicos com atribuições civis/administrativas – advogados
gentes é um elemento substancial para aferir a existência de uma grave violação de dever por parte do de agências regulatórias
ente coletivo. Sobre o ato ver o documento “A guide do the Corporate Manslaughjter and Corporate 43. Cuida-se da predominância da teoria da realidade sobre a teoria da ficção, hoje positivada no U.S.
Homicide Act 2007”, disponível em: https://www.gkstill.com/Support/Links/Documents/2007-justice. Code, ao igualar a pessoa jurídica à pessoa física no U.S.C. §1. Disponível em: http://uscode.house.
pdf. Acesso em: 10 de dezembro de 2018. gov/. Acesso em: 06 de março de 2019. Essa prevalência passou a permear as decisões da Suprema
38. BEALE menciona a Bill C-45 (2009) no Canadá e o Código Criminal Federal australiano (1995) Corte: Dartmouth College v. Woodward, 17 U.S. 518 (1819) (reconheceu às empresas o direito de ce-
como exemplos da citada expansão. BEALE, Sara Sun. A response to the critics of corporate criminal lebrar contratos); Smyth v. Anes, 169 U.S. 466, 546 (1898) (direito das empresas serem compensadas
liability. American Criminal Law Review. (2009), Vol. 46:1497-1500. por eventuais medidas do Estado que afetem sua propriedade); First Nat`l Bank v. Bellotti 435 U.S.
39. Nos Estados Unidos a função de acusar foi gradualmente sendo estruturada no âmbito dos Poderes Exe- 765, 792 (1978) (reconhecendo às pessoas jurídicas o direito de petição).
cutivos dos Estados durante o século XVIII, sendo hoje uma atividade exercida por agentes eleitos nas 44. Tradução livre do autor. Em inglês, no original: “all the provisions of the Bill of Rights set forth the
esferas locais (District Attorneys) ou indicados pelo Poder Executivo Federal para um dos 93 U.S. Attor- rights of individual men and women… But the individual person´s right to speak includes the right to
neys Offices espalhados pelo país. Neste trecho do texto, a expressão prosecutors refere-se a ambos. speak in association with other individual persons”. Citizens United v. Federal Election Commission,
40. Desde as decisões da Suprema Corte em United States v. Hudson & Goodwin, 11 U.S. 32 (1812) e 558 U.S. 310 (2010)130 S. Ct. At 928 (Scalia, J., concurring).
United States v. Bevans, 16 U.S. 336 (1818) consolidou-se o entendimento de que crimes federais 45. New York Central v. Hudson River Railroad Company v. United States (1909)212 U.S. 481 (1909).
devem ser exclusivamente criados por leis (statutes) produzidas pelo Congresso Nacional dos Estados Importante notar que no âmbito das justiças estaduais a jurisprudência já vinha reconhecendo a RPPJ
Unidos. desde o século XIX, em casos como People v. Corporation of Albany (1834) e Susquehannah & Bath
130 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 131

rações assumiram tamanho protagonismo na sociedade atual, a manutenção a responsabilização criminal de empresas. Ocorre que a tese consagrada em
de uma antiga teoria de que pessoas jurídicas são incapazes de cometer crimes 1909 passou a ser usada indistintamente para todas as leis penais federais,
eliminaria a principal forma de o Estado corrigir (retribuir) e evitar (prevenir) ainda que ausente disposição expressa em relação aos entes coletivos, como
seus mais graves abusos. Para a Corte, a exploração da atividade e do lucro fizera o legislador do Elkins Act.
que dela derivam justificam a punição criminal, a qual não pode ser obstada Segundo GREENBERG, houve uma distorção da decisão da Suprema
por nenhuma teoria jurídica, ou política.46 Corte em New York Central pelas Cortes Federais dos Estados Unidos, as
Aplicou-se ao caso a doutrina civilista do respondeat superior, que imputa quais, aproveitando-se da ausência de indicação dos critérios legais para a
ao principal (no caso, a empresa) a responsabilidade por atos de seus em- RPPJ na decisão de 1909, passaram a reconhecê-la independentemente de
pregados ou agentes, sob a premissa de que o ente coletivo será capaz de dispositivo legal semelhante ao do Elkins Act.49
arcar com os prejuízos, diferentemente dos indivíduos. Utilizou-se, portanto, Cria-se, então, uma responsabilidade penal objetiva por ato de terceiro
fundamentos e premissas da responsabilidade civil de pessoas jurídicas para (strict vicarious criminal liability) aplicável genericamente para toda a legis-
amparar a responsabilidade penal47: lação penal federal dos Estados Unidos, sendo a empresa responsabilizada
"Aplicando o princípio atinente a responsabilidade civil [da empresa], avança- sempre que: (i) seu empregado tenha agido no escopo de suas funções no
mos aqui apenas um passo ao reconhecer que a ação do empregado, enquanto no âmbito da empresa; (ii) o empregado tenha agido com a intenção, ao menos
exercício da autoridade a ele delegada para definir as taxas de transporte, pode
em parte, de beneficiar a empresa.
ser controlada, em nome do interesse público, ao atribuir a responsabilidade de
seu ato ao seu empregador, impondo sanções a corporação em nome da qual ele E na medida em que a jurisprudência foi identificando o conteúdo
está agindo".48 desses dois elementos, ficava evidente a fragilidade dos parâmetros fixados
A decisão inédita da Suprema Corte, admitindo a responsabilidade pela Suprema Corte em 1909.
penal de pessoas jurídicas por ato de seus empregados/agentes teve por base Em relação a primeira exigência, a decisão em United States v. Potter,
a lei federal então questionada (Elkins Act), a qual expressamente autorizava 463 F3d 9, 25 (1st Cir. 2006) bem retrata os contornos do que se passou a
considerar como uma atuação no escopo das funções por parte do empregado/
Turnpike Co. vs. People (1836), citados por BUSATO, 2018, p.18. agente, para fins de responsabilização penal da pessoa jurídica:
46. A decisão afirmou a constitucionalidade de lei federal - Elkins Act (1903) - que expressamente previa a
possibilidade de responsabilização criminal a empresas de transporte ferroviário e aos seus contratan- "As regras legais de imputação de responsabilidade penal às pessoas jurídicas
tes, pelas condutas de ofertar e aceitar descontos para transportar cargas, violando a regulamentação foram erigidas pela aplicação análoga das regras de responsabilidade civil. Por
das tarifas pela Comissão Interestadual de Comércio. considerados ilegais à época por afetar as. A le-
gislação autorizava expressamente a punição da empresa prevendo a imposição de multa como sanção óbvias razões práticas, a fim de perquirir se a conduta do empregado se encontra
por infrações praticadas pelos seus empregados, dispositivo cuja constitucionalidade foi reconhecida à abrangida pelo escopo de suas funções não se pode exigir que existam ordens es-
unanimidade. Ver a íntegra da decisão em:
47. ORLAND, Leonard. The transformation of corporate criminal law. Disponível em: https:// pecíficas pelo conselho ou presidência [da empresa]; é suficiente que exista mera
brooklynworks.brooklaw.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1169&context=bjcfcl. Acesso em: 15 de autorização para a prática da conduta individual (celebrar um contrato; dirigir
novembro de 2018.GREENBERG observa que a Suprema Corte dos Estados Unidos sempre foi re-
lutante na adoção irrestrita de uma vicarious criminal liability, ou seja, aplicar irrestritamente a teoria um veículo para efetuar entregas). (…) a jurisprudência rejeitou argumen-
civilista para responsabilizar também a pessoa jurídica criminalmente, A Corte, portanto, interpreta ao tos no sentido de que a pessoa jurídica pode evitar a responsabilização
longo dos anos a legislação federal criminal dos Estados Unidos, que é baseada em leis emanadas pelo
Congresso Nacional, de modo a reconhecer como insuficiente o mero silêncio do legislador quanto a [criminal] pela adoção de diretivas abstratas de que seus empregados
necessidade de presença do elemento do mens rea para imputar responsabilidade criminal à empresa. se abstenham de celebrar acordos ilícitos de fixação de preços ou de que
É necessário que exista alguma indicação expressa de que o legislador federal americano, para aquele
delito específico, dispensou a presença de mens era. Em outras palavras, há uma presunção em favor seus motoristas não excedam o limite de velocidade... Até mesmo uma
da necessidade do mens rea, a qual deve ser afastada para o reconhecimento da prática do delito. GRE- orientação específica [da empresa] ou esforços concretos no sentido de ver
ENBURG, Joshua D.; BROTMAN, Ellen C. Strict vicarious criminal liability for corporations and
corporate executives: streching the boundaries of criminalization. suas diretivas observadas são incapazes de automaticamente isentá-la
48. Tradução livre do autor. No original, em inglês: “Applying the principle governing civil liability, we go de responsabilidade [criminal] pelos atos ilícitos de seus empregados”.50
only a step farther in holding that the act of the agent, while exercising the authority delegated to him
to make rates for transportation, may be controlled, in the interest of public policy, by imputing his act
to his employer and impsing penalties upon the corporation for which he is acting in the premises”. 49. GREENBERG; BROTMAN, Op. Cit. p.84.
New York Central v. Hudson River Railroad Company v. United States (1909)212 U.S. 481 (1909). 50. Tradução livre do autor; em inglês, no original: “The legal rules for imputing criminal responsability
132 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 133

Já quanto à intenção de favorecer a empresa pelo empregado/agente, inglesa; a strategic mens rea (culpabilidade estratégica) considera a política or-
além de não ser exigido nenhum benefício concreto à pessoa jurídica, o fato ganizacional da pessoa jurídica; a composite mens era (culpabilidade composta
de a conduta acarretar prejuízos ao ente coletivo, ou a existência de moti- ou agregada) é obtida pelo somatório de conhecimentos de vários indivíduos
vações individuais diversas, são insuficientes para afastar a responsabilidade no bojo da organização; a reactive corporate fault (culpa empresarial reativa)
criminal da corporação.51 leva em conta a reação da empresa depois de detectado o ilícito.56
Em termos práticos, nesse modelo de heterorresponsabilidade52, quando Um importante componente do mens rea corporativo – especialmente
o agente/empregado é criminalmente responsabilizado, a empresa torna-se na concepção de culpa empresarial reativa – passa a ser a existência de um
automaticamente corresponsável.53 Trata-se de uma consequência da ausência efetivo programa de criminal compliance adotado pela pessoa jurídica, fato que
de uma teoria autônoma para a responsabilidade penal de pessoas jurídicas, no modelo estadunidense atual não é capaz de afastar a RPPJ57, interferindo
que buscou seus contornos teóricos no Direito Civil. apenas na dosimetria da pena (sentencing guidelines)58 conforme se infere do
Entretanto, alguns modelos de autorresponsabilidade54 têm sido debati- manual de diretrizes de atuação dos federal prosecutors:
dos nos Estados Unidos, a partir de critérios de imputação voltados a adequar programas de compliance serem voltados à detecção e prevenção de atos ilícitos,
e dissociar a RPPJ da responsabilidade criminal do indivíduo (responsabilida- garantindo que as atividades da empresa sejam desempenhadas com observância
de regulamentos e regras civis e criminais, razão pela qual são inclusive estimula-
de vicarial). Tratam-se de propostas que procuram trabalhar com parâmetros
dos pelo Departamento de Justiça, sua existência não é suficiente, por si só, para
relacionados à estrutura organizacional das empresas, substituindo o tradi- fundamentar decisão de não persecução penal em desfavor de uma empresa em
cional mens rea da pessoa física por um mens rea corporativo. razão de ilícitos praticados por seus órgãos, diretores, empregados ou represen-
FISSE relaciona as principais vertentes dessa tentativa de construir uma tantes. Além disso, a natureza de determinadas infrações penais (v.g., legislação
criminal antitruste) impõe ao promotor federal o dever de processar a empresa,
teoria de responsabilidade penal empresarial autônoma, a partir de um mens mesmo existindo programa de compliance.59
rea empresarial.55 A managerial mens era (culpabilidade gerencial) atribui à em-
A desconsideração de programas de criminal compliance enquanto
presa o estado anímico de agente(s)/empregado(s) responsáveis pela tomada
elemento da RPPJ é criticada por alguns doutrinadores como sendo um de-
de decisões em nome da empresa, assemelhando-se a teoria da identificação
sincentivo à sua adoção, cuja efetividade seria justamente representada pela
to corporations are built upon analogous rules for civil liability. For obvious practical reasons, the detecção de desvios de comportamento que são levados ao conhecimento
scope of employment test does not require specific directives from the board or president for every
corporate action; it is enough that the type of conduct (making contracts, driving the delivery truck)
is authorized. (…) case law rejected arguments that the corporation can avoid liability by adopting 56. FISSE, Brent. Reconstructing corporate criminal law: deterrence, retribution, fault and sanctions. S.
abstract rules that no agent can make an unlawful price-fixing contract or no driver exceed the speed Cal. L. Rev. n. 1141, 1982/1983.
limit… Even a specific directive to an agent or employee or honest efforts to police such rules do not
automatically free the company for the wrongful acts of agents”. United States v. Potter, 463 F3d 9, 25 57. Neste sentido: United States v. Automated Med. Labs., Inc., 770 F.2d 399, 406 (4th Cir. 1985); United
(1st Cir. 2006). Ver também United States v. Singh 518 F.3d 236 (4th Cir. 2008) “A corporation may States v. Potter, 463 F.3d 9, 25 (1st Cir. 2006); United States v. Ionia Mgmt. S.A., 555 F.3d 303, 309 (2d
be responsible for the actions of its agents done or made within the scope of their authority; The term Cir. 2009).
“scope of employment” refers to acts on the corporation´s behalf in performance of an agent´s general 58. Apesar de a legislação federal não adotar tais possibilidades de defesa, as grandes corporações esta-
line of work. To be acting within the scope of his employment, those acts must be motivated, at least in dunidenses têm investido significativamente em programas de compliance, focados especialmente no
part, by an intent to benefit the corporation; and An agent may act for his own benefit while also acting cumprimento dos complexos aspectos regulatórios relacionados as suas atividades. Logo, na esfera da
for the benefit of the corporation”. justiça penal federal esforços de compliance que repercutam na esfera penal acabaram sendo incor-
51. Conforme as decisões em: Standard Oil Co. Of Tex. v. United States, 307 F.2d 120, 128 (5th Cir. 1962) porados às sentencing guidelines e são considerados na eventual fixação da pena, de modo a permitir
e United States v. Automated Medical Laboratories, 770 F.2d 399 (4th Cir. 1985). uma significativa redução da sanção penal.
52. Modelos em que a responsabilidade penal da pessoa jurídica é condicionada à responsabilidade penal 59. Tradução livre do autor; no original, em inglês: “Compliance programs are established by corporate
individual, fazendo-se necessária uma dupla imputação. management to prevent and detect misconduct and to ensure that corporate activities are conducted in
53. desde aquelas que as concebem como ficções : (i) pessoas jurídicas são ficções; (ii) a responsabilização accordance with applicable criminal and civil laws, regulations, and rules. The Department encoura-
civil é suficiente; (iii) a responsabilidade penal objetiva por fato de outrem é extremamente ampla, ges such corporate self-policing, including voluntary disclosures to the government of any problems
permitindo que empresas sejam responsabilizadas criminalmente sem que sobre o ente coletivo seja that a corporation discovers on its own. See JM 9-28.900. However, the existence of a compliance
culpável; (iv) as punições são excessivas e atingem terceiros inocentes; (v) há excessivo poderes con- program is not sufficient, in and of itself, to justify not charging a corporation for criminal misconduct
feridos aos promotores americanos em casos de persecução penal de pessoas jurídicas undertaken by its officers, directors, employees, or agents. In addition, the nature of some crimes,
e.g., antitrust violations, may be such that national law enforcement policies mandate prosecutions of
54. Modelos nos quais a responsabilidade penal da pessoa jurídica é autônoma, independendo de eventuais corporations notwithstanding the existence of a compliance program. Principles of federal prosecution
imputações individuais, que podem ocorrer, ou não. of business organizations”. (9-28.800). Disponível em https://www.justice.gov/jm/jm-9-28000-princi-
55. Sobre o conceito de mens rea ver a nota de rodapé n.31. ples-federal-prosecution-business-organizations#9-28.800. Acesso em: 18 de novembro de 2018.
134 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 135

das autoridades.60 Argumenta-se que, desta forma, as empresas implemen- O que se conclui deste resumo que procura situar o leitor sobre a forma
tam e estruturam seus programas de compliance de modo a observar aspectos como a RPPJ está estruturada e como alguns temas relevantes vêm sendo de-
regulatórias, relegando temas de criminal compliance a um segundo plano. batidos nos Estados Unidos é que há uma certa similitude para com questões
De fato, a própria Suprema Corte dos Estados Unidos tem limitado o atualmente discutidas no Brasil. Torna-se evidente, então, que o estudo da
escopo da responsabilidade civil de empresas por atos de seus agentes/empre- RPPJ estadunidense pode servir para que estejamos alertas para simplifica-
gados para fins de indenizações a título de punitive damages.61 De acordo com a ções ou meros transplantes de modelos estrangeiros que já apresentaram suas
jurisprudência consolidada da Suprema Corte, a pessoa jurídica tem direito a limitações alhures, como a strict vicarious criminal liability.
apresentar em sua defesa a existência de diretrizes corporativas razoavelmente É que, se por um lado pode soar absurda a ideia de uma responsabili-
efetivas para impedir determinadas condutas por parte de indivíduos, já que, dade penal objetiva, desenvolvimentos teóricos insuficientes ou superficiais
do contrário, a empresa teria perversos incentivos.62 sobre a responsabilidade penal das pessoas jurídicas podem levar a graves
WEISSMANN entende que esse conjunto de decisões deve produzir equívocos, como se infere do seguinte trecho de julgado do Supremo Tribunal
efeitos na seara criminal, uma vez que: Federal, reconhecendo a adoção de um sistema penal de autorresponsabilida-
de de pessoas jurídicas pela Constituição Federal de 1988:
"trata-se, precisamente, dos desincentivos que pessoas jurídicas enfrentam no atual
cenário de responsabilização criminal, cujos critérios falham em criar estímulos "(…) O que nós vamos decidir aqui é uma questão jurídica quase que em tese, que
para implementação de mecanismos internos capazes de prevenir desvios de con- diz respeito, eu diria, à responsabilidade objetiva ou não da pessoa jurídica,
dutas, uma vez que não distinguem empresas que possuem efetivos programas de independentemente de qualquer sujeito. (…) O fato do art.225, §3º, não fazer
compliance daquelas que não o possuem".63 menção específica à exclusividade da pessoa jurídica, ou a possibilidade de responsa-
bilidade seja estabelecida sem que se subjetive a culpabilidade em uma pessoa, é uma
Portanto, para WEISSMANN, as decisões da Suprema Corte em dicção, de certa forma, semelhante ao do art.37, §6º, que estabelece a responsabili-
matéria de responsabilidade civil de pessoas jurídicas alteraram, ainda que dade objetiva das pessoas jurídicas de Direito Público e das pessoas privadas
implicitamente, o escopo da RPPJ por ato de seus agentes, eis que, (a) a que prestem serviços públicos, igualmente sem distinguir entre responsabili-
empresa pode apresentar como defesa a existência de programas imple- dade subjetiva e objetiva, um pouco a caracterizar que onde a Constituição
não distingue é porque está admitindo qualquer tipo de responsabilização”.65
mentando diretrizes que obstem determinadas práticas ilícitas por parte
de seus agentes/empregados; (b) há uma limitação da responsabilidade E os caminhos já percorridos pelos norte-americanos podem ser úteis
criminal da empresa pela conduta de seus agentes/empregados situados não apenas à dogmática penal, sendo também rica quando se analisam os
em posições de gerência.64 efeitos da combinação desta com um processo penal no qual predominam
instrumentos de justiça penal consensual.
60. ARLEN, Jennifer. The Potentially Perverse Effects of Corporate Criminal Liability, 23 J. Legal Stud.
833, 836 (1994).
61. Em português a expressão inglesa punitive damages foi acolhida no Brasil com base na Teoria do Valor do
Desestímulo, autorizando indenizações punitivas por danos morais. Sobre o tema ver o trabalho de FILHO,
PARTE III
Rau Araújo. Punitive damages e sua aplicabilidade no Brasil. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/publi-
cacaoinstitucional/index.php/Dout25anos/article/view/1117/1051. Acesso em: 06 de março de 2019. A era dos pre-trial diversion agreements: a predominância dos acordos
62. Kolstad v. American Dental Ass`n, 527 U.S. 526 (1999); Faragher v. City of Boca Raton, 524 U.S. 775 em casos de responsabilização penal de pessoas jurídicas na Justiça
(1998); Burlington Industries, Inc. v. Ellerth, 524 U.S. 742 (1998).
63. Tradução livre do autor; no original, em inglês: “This is precisely the disincentive responsible corporations
Federal dos Estados Unidos
face in the criminal context: the current criminal liability standard fails to properly incentivize internal
deterrence by refusing to distinguish companies that actively engage in compliance from those that do not”. Durante as últimas décadas, o Department of Justice transformou
WEISSMANN, Andrew; ZIEGLER, Richard; MC LOUGHLIN, Luke; MC FADDEN, Joseph. Reforming dramaticamente a forma de responsabilizar penalmente pessoas jurídicas,
corporate criminal liability to promote responsible corporate behavior. Disponível em: https://www.institu-
teforlegalreform.com/uploads/sites/1/WeissmannPaper.pdf. Acesso em 1º de março de 2019.
64. Entretanto, seja enquanto elemento a ser comprovado para responsabilizar criminalmente uma em- cing phase, by contrast, holds companies accountable for the actions of their agents, as well as for the
presa, seja como uma defesa capaz de elidir a responsabilidade criminal coletiva, o tema do criminal failures of their compliance programs”. RICHMAN, Daniel; STITH, Kate; Stuntz, William. Defining
compliance permanece sendo controverso. Neste sentido, ver o comentário de RICHMAN: “Consider Federal Crimes. Wolters Kluwer Law & Business: New York, 2014. p.764.
that due diligence defense would absolve a corporation of liability by virtue of its having employed a 65. Trechos do voto do Min. Luis Roberto Barroso em: E. Supremo Tribunal Federal, Recurso Extraordi-
compliance program that failed to work. Factoring in compliance programs at the charging and senten- nário nº 548.181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, j. 06/08/2013.
136 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 137

empregando instrumentos de justiça penal consensual na grande maioria Nos Estados Unidos, ainda durante o século XVIII, o Estado passou
dos casos e com um objetivo singular. O momento da mudança que hoje a assumir a responsabilidade pela acusação, função desempenhada por
predomina nos casos federais parece ter sido o julgamento que resultou na órgãos inseridos no âmbito dos Poderes Executivos Federal e dos Esta-
condenação da empresa de contabilidade Arthur Andersen LLP, consequên- dos69. Desde 1789, federal prosecutors cumprem o dever de processar todas
cia de um dos maiores e mais complexos casos criminais envolvendo pessoas as infrações penais praticadas contra a União, fazendo-o com tamanha
jurídicas na história dos Estados Unidos: o escândalo em torno da Enron, discricionariedade que lhes é possível selecionar os casos e os crimes cuja
tornado público em outubro de 2001. investigação e o processo, na sua avaliação, interessam para a sociedade e
Desde então, federal prosecutors possuem todos os incentivos institu- para o Governo Federal.
cionais para evitar o processo e o julgamento de pessoas jurídicas na Justiça A ampla discrição acusatória é a marca característica da atuação crimi-
Federal dos Estados Unidos. O emprego de acordos para resolver casos nal do Ministério Público dos Estados Unidos, seja na Justiça Federal, seja
penais ainda na fase de investigação foram a solução do Department of Justice nas Justiças Estaduais. YUE MA identifica no Poder Judiciário o impulso
para evitar os efeitos colaterais de um processo criminal e de uma eventual para o desenvolvimento dessa cultura de larga discricionariedade:
condenação que, em termos práticos, representam a morte da pessoa jurí- “Os promotores norte-americanos, contudo, são praticamente os únicos a contar
dica, como ocorreu em relação a Arthur Andersen LLP. com uma discrição demasiadamente ampla e em grande parte livre de controle.
(…) A autoridade do promotor norte-americano para tomar decisões quanto
Ademais, os acordos acabam por afastar do Poder Judiciário a decisão de
à acusação, por outro lado, não está sujeita nem ao reexame judicial, nem à
mérito do caso penal, como a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos contestação da vítima. O judiciário norte-americano adotou uma abordagem
que reverteu a condenação no caso Arthur Andersen.66Considere-se, ainda, que extremamente deferencial em relação à tomada de decisão acusatória. A origem
os acordos que têm sido empregados nos casos de RPPJ não consistem em guilty dessa abordagem deferencial pode remontar à segunda metade do século XIX,
pleas, ou seja, mesmo com o reconhecimento de culpa pela empresa não há quando os promotores públicos ganharam proeminência. A autoridade do pro-
motor de não mover ações ou de desistir daquelas já iniciadas derivava do poder
aplicação de pena e sentença penal condenatória, o que, além de gerar reflexos do procurador-geral inglês de apresentar o mandado de nolle prosequi (FRIED-
na esfera cível, reduz os danos à imagem da corporação. MAN, 1985). O poder do promotor de exercer essa autoridade foi apoiado pelos
Contudo, antes de detalhar como essa peculiar dinâmica tem fun- tribunais desde o começo da existência da nação norte-americana”.70
cionado no país da América do Norte, torna-se essencial destacar algumas Para além disso, consolidou-se na jurisprudência da Suprema Corte dos
características básicas do processo penal estadunidense. Estados Unidos uma interpretação do Princípio Constitucional da Separação
A forma como o chamado processo penal adversarial se desenvolveu dos Poderes que obsta interferências do Poder Judiciário sobre as discricio-
historicamente, com a proeminência de uma cultura de acusação privada na nárias decisões do Ministério Público e da defesa.71 Por conseguinte, a grande
Inglaterra durante os séculos XVII e XVIII67 e, consequentemente, norteado maioria dos casos penais é resolvida pelas partes, protagonistas do proces-
por uma lógica de absoluta disponibilidade dos interesses em disputa, fez so penal adversarial, na medida em que as decisões tomadas na primeira
com que a assimilação de espaços de consenso ocorresse sem maiores trau- fase da persecução penal são revestidas de ampla discricionariedade e estão
mas, quase que com uma certa naturalidade ante a incapacidade operacional
dos órgãos encarregados da persecução penal em absorver uma demanda Summary.pdf. Acesso em: 15 de fevereiro de 2019.
69. Nos Estados Unidos a função de acusar foi gradualmente sendo estruturada no âmbito dos Poderes
crescente em números e em complexidade.68 Executivos dos Estados durante o século XVIII, sendo hoje uma atividade exercida por agentes eleitos
nas esferas locais (District Attorneys) ou indicados pelo Poder Executivo Federal para um dos 93 U.S.
Attorneys Offices espalhados pelo país.
66. Arthur Andersen LLP v. United States, 544 U.S. 696 (2005). 70. MA, Yue. Exploring the origins of public prosecution.
67. LANGBEIN, John H. Understanding the short history of plea bargaining. Tale Law School Faculty 71. A jurisprudência da Suprema Corte dos Estados Unidos é pródiga em afirmar a impossibilidade de o
Scholarship. 1-1-1979. Poder judiciário efetuar qualquer supervisão das decisões dos District Attorneys e dos U.S. Attorneys
68. Atualmente, no sistema de justiça criminal federal americano, cerca de 95% dos casos são resolvi- Offices. Neste sentido: United States v. Nixon, 418, U.S. 683, 693 (1974); Heckler v. Chaney, 470 U.S.
dos com acordos. Dados disponíveis em: https://www.bja.gov/Publications/PleaBargainingResearch- 821, 832 (1985); Greenlaw v. United States, 554, U.S. 237, 246 (2008).
138 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 139

imunizadas de controles externos posteriores.72 persecução penal de pessoas jurídicas. A partir de uma atuação exclusivamente
Neste contexto é que, desde a década de 90, promotores estaduais e retrospectiva, passou a compreender sua persecução penal como uma função
federais passaram a propor às empresas a celebração dos chamados pre-trial também e principalmente prospectiva, de supervisão e controle não apenas
diversion agreements em casos de RPPJ, acordos nos quais a persecução penal de grandes empresas, algumas multinacionais, mas de inteiros setores econô-
é diferida (deferred prosecution agreements) ou não exercida (non-prosecution micos, sujeitos a complexos aspectos regulatórios.
agreements). Assim, além de ser preservada a atividade empresarial, evitando-se Entretanto, os pre-trial diversion agreements tem dividido a opinião de
os efeitos colaterais advindos de um processo criminal ou de um acordo de especialistas no país. Para um primeiro grupo, os acordos propiciam uma
guilty plea, o foco dos acordos passou a ser o ajuste de condições capazes de série de vantagens: ao Ministério Público é dada a oportunidade de, pelas
enfrentar as causas institucionais relacionadas à ocorrência do ilícito. condições estipuladas, enfrentar as causas institucionais que possibilitaram,
“Em um típico acordo, o Ministério Público concorda em abrir mão do processo ou em alguns casos fomentaram, a ocorrência do ilícito, além de impor
penal desde que a empresa assuma a prática do ilícito; aceite cooperar com as pesadas sanções pecuniárias capazes de produzir efeitos de prevenção geral
investigações, inclusive contra seus próprios empregados; arque com o pagamento negativa; há economia de recursos públicos e de tempo em complexos pro-
de indenizações e sanções pecuniárias; implemente melhorias em seus sistemas de cessos derivados da responsabilização penal de empresas; os efeitos colaterais
controle e programas de compliance, reduzindo as chances de futuros desvios de
conduta relacionados às suas atividades. No caso de a empresa descumprir com advindos de um processo criminal, como a perda de empregos e de valor
alguma das obrigações assumidas no acordo, o Ministério Público está autorizado da corporação, são minimizados com uma solução rápida e com menor
a prosseguir com a persecução penal”.73 exposição à opinião pública.
Como mencionado, o emprego desses acordos teve um crescimento Há, no entanto, um segundo grupo que apresenta uma série de críticas
exponencial depois do caso Enron e da experiência em torno do julgamento da à política dos acordos empregada nos casos de RPPJ. Em primeiro lugar, a
Arthur Andersen LLP. De acordo com a base de dados mantida por GARRET, obrigação da empresa em colaborar com o Ministério Público estimularia a
professor da Virginia Law School, no período de 20 anos entre 1992 e 2002 pessoa jurídica a expor as condutas de funcionários e agentes e seu envolvi-
foram registrados 20 casos de acordos de não persecução ou de persecução mento com os ilícitos investigados. De acordo com RICHMAN:
diferida, número que, nos 16 anos seguintes, entre 2003 e 2019, atingiria “Apesar de a privação de liberdade não ser uma consequência necessária de todas
o total de 492 acordos.74 as persecuções criminais, ela ainda é percebida como sinônimo de sucesso e êxito
para os membros do Ministério Público, os quais tendem a preferir uma prisão
O crescimento vertiginoso no número de DPAs e NPAs revela que
a convicção criminal de uma empresa. A ameaça da persecução penal à empresa
o Ministério Público estadunidense passou a reconsiderar as finalidades da é um meio para alcançar o objetivo da prisão das pessoas físicas envolvidas nos
fatos investigados, já que, sem a primeira, a corporação tenderia a proteger os
72. LANGER apresenta duas formas pelas quais são resolvidas a maior parte dos casos penais dos Es- autores da ilicitude, ainda mais quando se tratarem de pessoas em posições de
tados Unidos: (i) unilateral plea bargain - há um protagonismo do Ministério Público, o qual acaba
por impor coercitivamente sua vontade sobre a da defesa e, em última análise, transforma a decisão destaque na estrutura empresarial. E um processo criminal invariavelmente será
unilateral do promotor na solução adequada e resposta final àquele caso penal, sendo materializada em um sinal de que há algo errado, talvez alguma recalcitrância por parte da pessoa
um “acordo” apresentado ao Poder Judiciário (prosecutorial adjudication); (ii) bilateral plea bargain –
há um equilíbrio entre acusação e defesa, traduzido num acordo cujo conteúdo é formado por mútuas jurídica que é considerada pelo Ministério Público como uma falta de disposição
concessões de ambas as partes, de modo que a solução final seja o produto de um conjunto de decisões em cooperar, ou um sinal de que há uma cultura, uma tolerância, para com
tomadas pelo Ministério Público e pelo acusado e sua defesa técnica (adversarial adjudication). LAN-
GER, Maximo. Rethinking Plea Bargaining: The Practice and Reform of Prosecutorial Adjudication ilicitudes no âmbito da organização”.75
in American Criminal Procedure. Am. J. Crim. L. Vol.33:3. p.223-299.
73. Tradução livre do autor; no original, em inglês: “In a typical agreement, the government agrees to 75. Tradução livre do autor; no original, em inglês: “Sending someone to prison is not the sine qua non of
forgo prosecution if a company admits to wrongdoing; cooperates with any ongoing investigatios, criminal prosecutions, but it is the gold standard, and prosecutors would far prefer going after indivi-
including those against individual employees; pays monetary penalties and fines; and improves its duals to seeking a corporate conviction. Threatening to procesute the entity itself is a means to that end,
compliance prgrams to better insure against future wrongdoing”. ABRAMOWITZ, Alkan; BOHRER, for, without this threat, the entity would be far more tempted to protect the individuals and indeed may
Barry A. The debate about deferred and non-prosecution agreement. N.Y.L.J. Nov.6, 2012. still do so if the individuals have sufficient sway within the organization. But an actual prosecution
74. BRANDON GARRET mantém a mais atualizada e confiável base de dados sobre casos de RPPJ e will generally be a sign that something has gone wrong – perhaps real or perceived recalcitrance by
seus desfechos, seja no âmbito da União ou dos Estados americanos. De acordo com as informações. the corporation that the government takes as both a failure to cooperate and a sign of a “culture” of
http://lib.law.virginia.edu/Garrett/corporate-prosecution-registry/index.html. wrongdoing within the organization”. RICHMOND, Richard. Decicions about coercion: the corpora-
140 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 141

Portanto, os riscos de importantes conflitos de interesses entre empresa de possuírem as habilidades necessárias para avaliar decisões de compliance.
e seus funcionários são consideravelmente maiores e invariavelmente acabam As condições destes órgãos em produzir informações e coletar a opinião da
população reduz o risco de serem impostos caros e ineficientes mecanismos de
por beneficiar apenas as primeiras.76 Em um importante contraponto, na sua
controle pelas autoridades federais. Por fim, agências reguladoras têm condições
icônica obra sobre o tema, GARRET afirma que em 2/3 dos acordos por ele de conduzir processos mais específicos e especializados para a estruturação de
estudados não houve a prisão de nenhum empregado das empresas envolvidas, programas de compliance voltados às especifidades de determinados setores da
o que soa igualmente problemático em razão do dever de cooperar se tratar indústria e, enfim, determinar acerca da necessidade de serem implementadas
de uma das bases para a celebração dos ajustes.77 reformas mais amplas e profundas”.78

Em segundo lugar, os críticos à cultura dos acordos em casos de RPPJ A crítica, neste ponto, torna-se ainda mais convincente quando se
questionam o papel desempenhado pelo Ministério Público em negociações infere que muitos acordos buscam implementar reformas estruturais pela
que acabam por estabelecer condições para reformas estruturais de empresas imposição de condições que não são requeridas por lei ou pela regula-
multinacionais e sujeitas a complexos aspectos regulatórios. Há quem diga mentação do setor de atuação da empresa. Some-se a essa circunstância,
que os federal prosecutors estadunideneses tornaram-se superreguladores, decorrência natural da ampla discricionariedade e ausência de controle
usurpando funções de outros setores do Estado e fazendo-o sem o conheci- sobre as atividades dos federal prosecutors, cláusulas que por vezes cruzam
mento técnico adequado. os limites da razoabilidade e da ética profissional.79
Neste sentido, observa a professora JENNIFER ARLEN, da New York É comum, em razão dessa falta de expertise e necessidade de fiscalização
University: do cumprimento das condições fixadas nos acordos, que sejam apontados
especialistas que passam a atuar como fiscais das empresas, indicados pelos
“Em geral, membros do Ministério Público não deveriam utilizar acordos de
persecução penal diferida e de não persecução penal visando induzir empresas membros do Ministério Público responsáveis pelo caso. Com o tempo, vários
a adotar reformas estruturais, como programas de compliance, uma vez que os problemas acabaram surgindo em relação a essa figura, conhecida como corpo-
contornos destes envolvem difíceis juízos de valor acerca de quando e para onde rate monitors, passaram a surgir, impelindo o Department of Justice a estabelecer
serão centralizados os poderes decisórios e como a informação será coletada e os parâmetros e uma série de regras relacionadas ao processo de escolha desses
transmitida. No mundo empresarial há uma enorme variação acerca das áreas
profissionais, bem como regulando a forma de se relacionarem com a empresa
e se os benefícios de compliance e centralização dos poderes decisórios e controle
excedem os seus custos. Membros do Ministério Público raramente possuem
experiência suficiente acerca do cenário empresarial, quanto menos sobre espe-
cíficos e especializados conhecimentos de determinados setores da indústria, a 78. Tradução livre do autor; no original, em inglês:“prosecutors generally should not use DPAs and
NPAs to induce firms ro adopt structural reforms, such as compliance programs, because com-
fim de que possam tomar decisões confiáveis. Por outro lado, autoridades fede- pliance program design involves difficult judgements about when and where to centralize deci-
rais de setores reguladores estão mais propensas a possuírem tais conhecimentos sion-making and to collect and channel information. Industries and firms vary enormously as to
whether, and in what areas, the compliance benefits of decision-making centralization and oversight
especializados, ao menos em relação aos setores específicos nos quais atuam. exceed the costs. Prosecutors rarely have sufficient experience working in any business, much less
Para além disso, membros do Ministério Público estão sujeitos a poucos, ou adequate industry specific expertise, to make these decisions reliably. By contrast, civil federal
regulatory authorities are more likely to have this expertise, at least with respect to the industries
nenhum, mecanismo de controle externo de suas atividades ao intervirem nos they regulate. In addition, prosecutors are subject to little, if any, external oversight when they in-
negócios das empresas. Ademais, esses profissionais não possuem procedimentos tervene in internal corporate affairs. Moreover, prosecutors` officers do not have a formal process
for assembling and evaluating data on different compliance programs and monitoring plans to
e protocolos formais acerca do processo de captação e análise de informações assess their effectiveness. By contrast, regulatory agencies are subject to greater oversight … and
de diferentes programas de compliance, ou de como aferir sua efetividade. Em have the information-gathering abilities to assess compliance decisions. Agencies` ability to gather
information and collect public comments reduces the risk that federal authorities will mandate ex-
contraste, agências reguladoras são submetidas a uma supervisão maior … além pensive, but ultimately ineffective, measures. Finally, regulatory agencies are in a position to con-
duct more widespread, industry-specific, and formal assessments of compliance to determine if any
form-specific mandated reforms should be adopted on a more widespread basis”. ARLEN, Jennifer.
Removing prosecutors from the boardroom. In: Prosecutors in the Boardroom: Using criminal law
te attorney-client waiver problem, 57 DePaul L. Rev. 295, 322-323 (2008). to regulate corporate conduct. New York University Press: New, Yor, 2011. p.62.
76. No caso United States v. Stein, 541 F.3d 130 (ed Cir. 2008) a Justiça Federal reconheceu como abusiva 79. Como a exigência constante do acordo com a empresa Bristol-Myers Squibb, em que se exigia da
a pressão que teria sido exercida por federal prosecutors sobre a empresa KPMG para que esta não empresa o financiamento de um departamento dedicado a lições de ética profissional e governança
pagasse os honorários das defesas daqueles sócios que não se dispusessem a cooperar. corporativa na Seton Hall University School of Law, na qual estudara o federal prosecutor Chris Chris-
77. GARRET, Brandon L. Too Big Too Jail. tie, que atuara no caso pelo Department of Justice.
142 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 143

e com os federal prosecutors durante o processo de monitoração.80 (StPO), a proposta sintetizava as bases do movimento reformista do pro-
De fato, os memorandos do Department of Justice têm se mostrado cesso penal latino-americano que ganhou força a partir da segunda metade
instrumentos reveladores da política implementada pelo Governo Federal em do século XX e serviu de influência para outras legislações codificadas que
relação à persecução penal de empresas pela Justiça federal estadunidense. Em surgiram nos anos seguintes.
1999, o então Attorney General Eric Holder emitiu o primeiro documento De fato, entre 1991 e 2014 foram promulgados dezesseis novos Có-
dessa natureza, nominado “Bringing Criminal Charges Against Corporations” digos de Processo Penal em países latino-americanos82, havendo um certo
(Processando criminalmente pessoas jurídicas); em 2003, seguiu-se aquele consenso de significativa parte da doutrina, de organizações internacionais e
que é considerado o documento mais agressivo contra as empresas, “Federal dos próprios envolvidos nos movimentos de reformas, de que seu eixo central
Prosecutions of Business Organizations” (Persecuções penais federais de cor- consistiria no abandono dos sistemas inquisitoriais prevalentes na região para
porações), do Attorney General Larry Thompson; na sequência, em 2006 e sistemas acusatórios/adversariais de processo penal.83
2008, sobrevieram outros dois memorandos: McNulty Memo e Filip Memo, LANGER aponta dois fatores como centrais e comuns ao movimento
respectivamente, os quais não reverteram a severidade recomendada aos fe- reformista. Em primeiro lugar, as transições políticas de regimes de Governo
deral prosecutors pelo documento de 2003. marcadamente autoritários para modelos mais democráticos – incorporando
Para o grupo que critica a política adotada pelo Department of Justice, preceitos do movimento dos Direitos Humanos da década de 70 – contribuí-
quando avaliados os incentivos institucionais e práticos dos acordos ante ram para o reconhecimento de que os standards de devido processo legal eram
a amplitude da strict vicarious criminal liability, há um desequilíbrio entre significativamente baixos na região.84 Em segundo lugar, particularmente nos
Ministério Público e pessoas jurídicas investigadas. Em outras palavras: anos 90, as taxas delitivas (reais ou percebidas) da América Latina indicavam
muitos acordos carecem de voluntariedade, sendo uma opção quase que números demasiadamente elevados, passando a eficiência do sistema de justiça
inevitável às empresas apanhadas em investigações criminais dos federal criminal a integrar a agenda de reformas de muitos países.
prosecutors americanos. Em suma, as mudanças teriam as seguintes características principais: o
Em que medida essa combinação interessa a nós brasileiros, que assisti- abandono de investigações e processos judiciais secretos e escritos para um
mos à ampliação das soluções de justiça penal consensual no processo penal modelo centrado em julgamentos públicos marcados pela oralidade e realiza-
pátrio, é o tema da parte seguinte deste trabalho. dos diante de um julgador imparcial, no qual as partes teriam a oportunidade
de ativa e diretamente testar as teses de seus oponentes. Para além disso, a
PARTE IV regra da obrigatoriedade (ou legalidade) da ação penal pública, tida como uma
A ampliação dos espaços de justiça penal consensual no Brasil víncias argentinas, especialmente nas décadas de 40, 50 e 60, do século XX. LANGER, Maximo.
Revolution in Latin American Criminal Procedure: Diffusion of Legal Ideas from the Periphery.
Em 1988, durante a 11ª Conferência do Instituto Ibero-americano de p.18-25. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1026778. Acesso
em: 31 de julho de 2018.
Direito Processual, os professores Julio Maier (Argentina) e Ada Pellegrini 82. Argentina (1991, adotando um novo Código Procesal Penal de la Nación em dezembro de 2014);
Grinover (Brasil) apresentaram o Código de Processo Penal Modelo para a Bolívia (1999); Chile (a reforma se deu gradualmente entre os anos 2000 e 2005); Colômbia (2004);
Costa Rica (1996); República Dominicana (2002); Equador (2000); El Salvador (1996); Guatemala
Ibero-América. Inspirado sobretudo no Projeto de Código de Processo Penal (1992); Honduras (1999); México (2014); Nicarágua (2001); Paraguai (1998); Peru (2004); Uruguai
(2014, com modificações significativas promovidas em 2017); Venezuela (1999).
para a República da Argentina (1986)81 e no Código de Processo Penal alemão 83. PULECIO-BOEK, Daniel. The genealogy of prosecutorial discretion in Latin America: a comparative
and historical analysis of the adversarial reforms in the region. Richmomf Journal of Global Law and
Business. Vol.13. p.77: “Several jurisdictions in Latin America over the past decades midified their
80. Algumas das medidas, além de outras sugestões, estão detalhadas no trabalho de KHANNA, Vikra- Criminal Procedure codes in order to leave behind inquisitorial models and adopt adversarial sche-
maditya. Reforming the Corporate Monitor?In: Prosecutors in the Boardroom: Using criminal law to mes or structures”.
regulate corporate conduct. New York University Press: New, York, 2011. p.226-248. 84. No mesmo sentido, afirmando ser a reforma do processo penal “tema recorrente na realidade latino-
81. O Projeto de Código de Processo Penal para a República da Argentina apresentado por Julio Maier -americana dos anos noventa com o início da redemocratização nos países que passaram pelas expe-
em 1986 fora inspirado no Código de Processo Penal da Província de Córdoba (1939), de Sebas- riências autoritárias das décadas de sessenta, setenta e oitenta”, AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi. A
tian Soler e Alfredo Vèlez Mariconde, e nos chamados códigos modernos adotados em várias Pro- reforma do processo penal no Brasil e na América Latina. Método: São Paulo, 2001. p.11
144 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 145

característica típica de sistemas inquisitoriais, passou a ser relativizada, abrindo principais representações dos chamados instrumentos de diversão, em que
espaços à chamada oportunidade/discricionariedade regrada.85 há solução do caso penal sem qualquer determinação de culpa.
De fato, teoricamente, o poder e a discrição que se encontravam con- De acordo com BRANDALISE:
centrados no órgão julgador migram para o órgão do Ministério Público, (…) a diversão (diversion) caracteriza-se por ser uma forma de resolução de con-
que assume o protagonismo da fase investigatória, ao mesmo tempo em que flitos processuais penais em que há a retirada de acusações ou a descontinuidade
surgem defensorias públicas estruturadas e eficientes, capazes de testar a tese delas com a presença de advertências ou imposição de condições a serem cumpridas
acusatória em sua plenitude. Essa troca de poder trouxe, com as reformas, pelo acusado. Em geral, é aplicada em crimes de menor gravidade e, caso cumpri-
das as condições, resultará na conclusão do processo, sem qualquer condenação.
instrumentos de soluções abreviadas para o processo penal, com relativização Especialmente nos ordenamentos influenciados pelo sistema continental europeu,
da regra compulsória do julgamento pleno para todos os casos. necessária é a observância de regras e condições estabelecidas em lei.87
Porquanto, com uma aparente uniformidade e singularidade das re- Não é raro, aliás, que infrações penais de menor potencial ofensivo
formas que apresenta fortes características do processo penal anglicista, não sejam objeto de uma das citadas soluções de diversão dispostas na Lei nº
é de se admirar a presença de densas e volumosas referências na literatura à 9.099/95 – notadamente a transação penal –, em acordos entre Ministério
influência dos Estados Unidos no movimento. De fato, afirma-se que en- Público e empresas, notadamente em casos de crimes ambientais (arts.29
quanto a Agency for International Development´s (USAID) (Agência para o a 69-A, da Lei nº 9.605/98). Entretanto, talvez por se estar diante de uma
Desenvolvimento Internacional) fomentou as mudanças financiando a cria- infração penal de menor potencial ofensivo, com as limitações legislativas de
ção e a manutenção de organismos como o Centro de Estudios de Justicia de imposição de uma pena restritiva de direitos ou de multa e em não havendo
las Americas (CEJA), os Departamentos de Estado e da Justiça estadunidene- reconhecimento de culpa com posterior sentença penal condenatória contra
ses teriam criado uma série de programas visando capacitar operadores para a pessoa jurídica, pouca atenção tem sido dedicada a tais casos.
funcionarem como multiplicadores das concepções de um processo penal
Ferramentas similares de justiça penal consensual constam da Resolu-
adversarial no continente Latino-Americano.
ção nº 181/2017, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)
Embora pesquisas recentes tenham questionado essa suposta unifor- e do chamado Projeto de Lei Anticrime, recém encaminhado pelo Poder
midade e o modelo estadunidense como fonte originária das inspirações que Executivo Federal ao Congresso Nacional. Cuidam-se dos acordos de não-
marcaram o movimento exponenciado por BINDER, ainda assim reconhece-se -persecução penal. Neste, de acordo com a proposta legislativa de inserção
que se há uma nota comum normativa a todas as novas legislações que surgem de um art.28-A ao texto do Código de Processo Penal brasileiro, Ministério
a partir dos impulsos transformadores do processo penal latino-americano: a Público e investigado podem celebrar um acordo para evitar o processo
flexibilização da regra da obrigatoriedade da ação penal pública.86 criminal nos crimes praticados sem violência ou grave ameaça e cuja pena
No Brasil, apesar da não adoção de um novo Código de Processo Penal, máxima seja inferior a quatro anos. Nesses casos, há maior probabilidade
as alternativas à obrigatoriedade começam a surgir na legislação ainda na de que uma futura condenação corresponda à aplicação de pena privativa
década de 90. A composição civil dos danos, a transação penal e a suspen- de liberdade passível de substituição por uma ou mais pena(s) restritiva(s)
são condicional do processo (arts.74, 76 e 89, da Lei nº 9.099/95) são as
87. BRANDALISE, Rodrigo da Silva. Justiça Penal Negociada. Curitiba: Juruá, 2016. p.24. O mesmo
autor cita como exemplos das diferentes espécies de diversão: (i) o § 153 do StPO r o art.280º do
85. A título de exemplo, a monografia de GEMAQUE, referindo-se à transação penal: “É nítida a influên- Código de Processo Penal português seriam casos de diversão simples, em que se arquiva o processo
cia do sistema da Common Law no Direito de base continental, bastando citar, como exemplo, no caso sem qualquer imposição ao investigado/acusado; (ii) o § 153a do StPO ; o art.281º do Código de
do Processo Penal, o instituto da transação penal, e que tem se alastrado pelos países da Europa”. Processo Penal português; a transação penal e a suspensão condicional do processo seriam casos de
GAMAQUE, Sílvio César Arouck. A necessária influência do processo penal internacional no pro- diversão com intervenção, ou seja, o encerramento do processo depende do cumprimento de condições
cesso penal brasileiro. Série: Monografias do Centro de Estudos Jurídicos. Brasília: CJF, 2011. p.37 pelo investigado/acusado. Há, ainda, a diversão encoberta (há a extinção da punibilidade a partir da
86. PULECIO-BOEK, Daniel. The genealogy of prosecutorial discretion in Latin America: a comparative determinação de atos ao investigado/acusado, os quais levam à impossibilidade de oferecimento de
and historical analysis of the adversarial reforms in the region. Richmomf Journal of Global Law and uma acusação) e a diversão com repreensão num processo de mediação (presença de um árbitro que
Business. Vol.13. encontra solução conciliatória para os envolvidos).
146 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 147

de direitos, nos termos do art.44, do Código Penal.88 PARTE V


Tratam-se, todas essas medidas de diversão espécies similares às de pre- Conclusão
-trial diversion agreements que têm dominado os casos de RPPJ na Justiça
Ao final, se pretende ter despertado o leitor para o fato de que é
Federal dos Estados Unidos, conforme já explicado. Na eventualidade de
essencial a superação das empoeiradas bases teóricas que obstaculizam a
aprovação da proposta de regulamentação legal do acordo de não persecução
compreensão dogmática a respeito da RPPJ no Brasil, sem comprometer
penal, diferentemente do quanto referido em relação à transação penal, há
princípios de ordem constitucional.90Nos Estados Unidos, o afã por respon-
previsão de ser possível o estabelecimento de condições diversas daquelas ex-
sabilizar penalmente pessoas jurídicas acabou por atropelar o necessário
pressamente previstas no dispositivo legal, a serem indicadas pelo Ministério
desenvolvimento teórico, com a jurisprudência emprestando critérios de
Público, com prazo determinado e desde que proporcional e compatível com
responsabilização dos entes coletivos de outros ramos do Direito, de ques-
a infração penal imputada.89
tionável compatibilidade com o sistema jurídico-penal anglo-saxão.
Surge, portanto, ao menos prospectivamente, um espaço de consenso
Com frágeis bases de ordem material aliadas a retumbantes fracassos
semelhante ao existente nos Estados Unidos e com potencial de aplicação às
em casos emblemáticos, que tiveram desfechos negativos tanto para empre-
pessoas jurídicas autoras de infrações penais, havendo, inclusive, espaço para
sas processadas, como para o Departament of Justice, restou facilitada uma
que o Ministério Público brasileiro ajuste condições voltadas a implementação
política de acordos para casos de RPPJ. Como visto, a prática é fortemente
de reformas estruturantes no âmbito da empresa, relacionadas a programas
contestada por acadêmicos que apontam um desequilíbrio na relação pro-
de criminal compliance.
cessual-penal entre as partes, de modo que a empresa se vê coagida a evitar
Há, porquanto, que se estudar e aprender com os Estados Unidos, o processo e aceitar propostas que não pactuaria em condições normais.
considerando as reflexões advindas da junção entre um frágil sistema de
A título de síntese podem ser destacados, pontualmente, alguns alertas
imputação de responsabilidade penal de pessoas jurídicas e a discriciona-
que exsurgem do estudo da RPPJ nos Estados Unidos e na forma como os
riedade ilimitada conferida aos membros do Ministério Público naquele
membros do Ministério Público têm tratado esses casos:
país para a celebração de acordos que têm sido objeto de intenso debate
em solo norte-americano. a) Em primeiro lugar, deve haver uma preocupação no desen-
volvimento dogmático de um sistema de autorresponsabilidade penal de
88. A medida é, de fato, praticamente idêntica ao acordo de não persecução penal instituído pelo art. 18, pessoas jurídicas, compatível com princípios constitucionais formadores
da Resolução nº 181/2017, do Conselho Nacional do Ministério Público, com alguns refinamentos que
se tornaram tecnicamente possíveis de serem implementados agora que se busca fazê-lo pela pela via e estruturantes do Direito Penal brasileiro, dentre eles destacando-se o da
legislativa. A diferença mais significativa diz respeito ao fato de a normativa do CNMP autorizar o
acordo em infrações penais com pena mínima inferior a 4 anos, enquanto o art.28-A permite o acor- culpabilidade;
do em delitos com pena máxima inferior a 4 anos. Há diversos defensores da inconstitucionalidade
formal do acordo de não persecução penal em razão de ter sido criado por um ato normativo do CNMP b) Em segundo lugar, as soluções de justiça penal consensual devem
e não por lei em sentido estrito, sendo objeto de duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade junto ao
E. Supremo Tribunal Federal: 5790 e 5793, propostas pela Associação dos Magistrados Brasileiros e ser traduzidas para o sistema jurídico brasileiro, de modo a: (i) compatibi-
Ordem dos Advogados do Brasil, respectivamente.
89. Art. 28-A. Não sendo o caso de arquivamento e tendo o investigado confessado circunstanciadamente lizar-se com o processual penal brasileiro, prevenindo consensos coercitivos
a prática de infração penal, sem violência ou grave ameaça, e com pena máxima não superior a quatro e assegurando meios eficientes de controle, interno e externo, dos acordos;
anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e sufi-
ciente para a reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições, ajustadas cumulativa
ou alternativamente: I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo Ministério Público como instrumentos, 90. A exemplo do quanto realizado por BUSATO, ao redefinir as bases da dogmática jurídico-penal bra-
produto ou proveito do crime; III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período sileira em torno dos conceitos de ação e dolo, superando-os a partir do conceito significativo ou in-
correspondente à pena mínima cominada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indi- tersubjetivo de ação, deixando de considerá-la “como algo que os homens fazem” para tê-la como “o
cado pelo Ministério Público; IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do significado do que os homens fazem”, de modo a acolher a possibilidade de pessoas jurídicas figurarem
Código Penal, a entidade pública ou de interesse social a ser indicada pelo Ministério Público, devendo como autoras de infrações penais. Em relação à culpabilidade, o autor trabalha com a possibilidade de
a prestação ser destinada preferencialmente àquelas entidades que tenham como função proteger bens aplicação de medidas de segurança às pessoas jurídicas. BUSATO, Paulo César. Razões criminológi-
jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; e V - cumprir, por prazo deter- cas, político-criminais e dogmáticas para a adoção da responsabilidade penal de pessoas jurídicas
minado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a na reforma do Código Penal brasileiro. In: Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá,
infração penal imputada. 2012. p.31-53.
148 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 149

(ii) compatibilizarem-se com o perfil constitucional conferido ao Ministério _______. A Política Jurídica como Expressão da Aproximação entre o Common Law e o Civil Law. In:
Reflexões sobre o Sistema Penal do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
Público pela Constituição Federal de 1988;91
CARNELUTTI, Francesco. Sistema de Direito Processual Civil. Trad. Hiltomar Martins Oliveira. São
c) Em terceiro lugar, atuação coordenada e integrada entre os dife- Paulo: Classic Book, 2000.
rentes Ministérios Públicos, nas suas diversas áreas de atuação, bem como, COFFEE, John. No soul to damn: no body to kick: an unscandalized inquiry into the problem of corpo-
rate punishment. Michigan Law Review, v.79, (1981).
entre esses e os demais órgãos de Estado com funções de regulamentação,
DISKANT, Edward B. Comparative Corporate Criminal Liability: Exploring the Uniquely American
fiscalização e responsabilização de atividades desenvolvidas pelas pessoas Doctrine Through Comparative Criminal Procedure, 118 Yale L.J. 126, 134-138 (2008).
jurídicas sob investigação. FISSE, Brent. Reconstructing corporate criminal law: deterrence, retribution, fault and sanctions. S. Cal.
L. Rev. n. 1141, 1982/1983.
Referências bibliográficas GAMAQUE, Sílvio César Arouck. A necessária influência do processo penal internacional no processo
penal brasileiro. Série: Monografias do Centro de Estudos Jurídicos. Brasília: CJF, 2011.
ABRAMOWITZ, Alkan; BOHRER, Barry A. The debate about deferred and non-prosecution agreement.
N.Y.L.J. Nov.6, 2012. GARRET, Brandon L. Too Big Too Jail: How prosecutors Compromise with Corporations. Harvard
University Press: Cambridge, 2016.
AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi. A reforma do processo penal no Brasil e na América Latina. Método:
São Paulo, 2001. GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. In:
Seminário Brasil-Alemanha: Responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Org. Paulo César Busato.
ARLEN, Jennifer. Removing prosecutors from the boardroom. In: Prosecutors in the Boardroom: Using
Coord. Luís Greco e Paulo César Busato. Florianópolis: Tirant Lo Blanch, 2018.
criminal law to regulate corporate conduct. New York University Press: New, Yor, 2011.
GRECO, Luís. Por que é ilegítimo e quase de todo inconstitucional punir pessoas jurídicas. In: Seminário
______. The Potentially Perverse Effects of Corporate Criminal Liability, 23 J. Legal Stud. 833, 836
Brasil-Alemanha: responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018.
(1994).
p.69-76.; LEITE, Alaor. Observações provisórias sobre a responsabilização penal das pessoas jurídicas.
BEALE, Sara Sun. A response to the critics of corporate criminal liability. American Criminal Law Re- In: Seminário Brasil-Alemanha: responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo
view. (2009). Blanch, 2018.
BECK. Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo: respostas à globalização. São Paulo: Paz GREENBURG, Joshua D.; BROTMAN, Ellen C. Strict vicarious criminal liability for corporations
e Terra, 1999. and corporate executives: streching the boundaries of criminalization.Am. Crim. L. Rev. 79 (Winter
2014 issue).
BONNIE, Richard J.; COUGHLIN, Anne M.; JEFFRIES, John C.; LOW, Peter W. Criminal Law.
3 ed. New Tour: Thomson Reuters, 2010. KHANNA, Vikramaditya. Reforming the Corporate Monitor?In: Prosecutors in the Boardroom: Using
criminal law to regulate corporate conduct. New York University Press: New, York, 2011.
BRANCO, Fernando Castelo. A pessoa jurídica no processo penal. São Paulo: Saraiva, 2001.
LANGBEIN, John H. Understanding the short history of plea bargaining. Tale Law School Faculty
BRANDALISE, Rodrigo da Silva. Justiça Penal Negociada. Curitiba: Juruá, 2016. Scholarship. 1-1-1979.
BRICKEY, Kathleen F. Corporate Criminal Accountability: A Brief History and Observation, 60 Wash. LANGER, Máximo. Revolution in latin American Criminal procedure: Diffusion of Legal ideas from the
U. L.Q. 393 (1982). Periphery. The American Journal of Comparative Law, vol55.
BUSATO, Paulo César. Razões político-criminais para a responsabilidade penal de pessoas jurídicas. ______. Rethinking Plea Bargaining: The Practice and Reform of Prosecutorial Adjudication in American
In: Seminário Brasil-Alemanha: responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Criminal Procedure. Am. J. Crim. L. Vol.33:3.
Blanch, 2018.
LEGRAND, Pierre. The Impossibility of Legal Transplants. 4 Maastricht J. Eur. & Comp. L. 111
_______. Responsabilidade penal de pessoas jurídicas no projeto (e no texto substitutivo) do novo Código (1997).
Penal brasileiro. In: Reforma Penal: A crítica científica à Parte Geral do Projeto de Código Penal. (PLS
236/2012). Org.Alaor Leite. São Paulo: Atlas, 2015 LEITE, Rosimeire Ventura. Justiça consensual e efetividade do processo penal. Belo Horizonte: Del Rey,
2013.
LUISI, Luiz. Notas sobre a responsabilidade penal das pessoas jurídicas. In: Responsabilidade penal da
91. A forma como essas diferentes formas de acordo de sentença penal tem sido traduzidas para sistemas pessoa jurídica: em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. São Paulo: RT, 2001.
da civil law já foi objeto de importantes pesquisas, com destaque para o trabalho de MAXIMO LAN-
GER, professor de Direito Comparado e Diretor do Programa Transnacional de Justiça Criminal da MAGALHÃES, Vlamir Costa. O crime de lavagem de ativos no contexto do direito penal econômico con-
Universidade de Los Angeles (UCLA). Segundo LANGER, embora possuam uma origem comum, temporâneo: criminal compliance, delinquência empresarial e o delineamento da responsabilidade penal
as diferenças entre os modelos de negociação de sentença de países da civil law e do plea bargain no âmbito das instituições financeiras. Porto Alegre: Núria Fabris, 2018.
anglo-saxão são tão profundas que não é possível afirmar a existência de uma “americanização” dos
processos penais romanos-germânicos. Para ele, a influência americana no processo penal de países ORLAND, Leonard. The transformation of corporate criminal law. Brook. J. Corp. Fin. & Com. L.
da civil law – em especial, do plea bargaining -, não fez com que houvesse uma americanização destes, (2006).
mas, sim, uma fragmentação dentre os próprios sistemas da civil law, os quais outrora apresentavam
uma relativa homogeneidade entre si. LANGER, Maximo. From Legal Transplants to Legal Transla- PULECIO-BOEK, Daniel. The genealogy of prosecutorial discretion in Latin America: a comparative
tions: The Globalization of Plea Bargaining and the Americanization Thesis in Criminal Procedure. and historical analysis of the adversarial reforms in the region. Richmomf Journal of Global Law and
Harvard International Law Journal. Vol.45.
150 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

Business. Vol.13
RICHMAN, Daniel; STITH, Kate; Stuntz, William. Defining Federal Crimes. Wolters Kluwer Law
& Business: New York, 2014.
RICHMOND, Richard. Decicions about coercion: the corporate attorney-client waiver problem, 57 De-
Paul L. Rev. 295, 322-323 (2008).
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. RESPONSABILIDADE PENAL DO CHIEF
VERÍSSIMO, Carla. Compliance: incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2018. COMPLIANCE OFFICER: A INTERVENÇÃO
WEISSMANN, Andrew; ZIEGLER, Richard; MC LOUGHLIN, Luke; MC FADDEN, Joseph. Refor- DELITIVA NO DOMÍNIO DA ORGANIZAÇÃO
ming corporate criminal liability to promote responsible corporate behavior.
WELSS, Celia. Corporations and Criminal Responsability, 2. ed. Osford University Press, 2001.
Caio Fernando Ponczek do Prado1
Ana Paula Kosak2

RESUMO: O estudo objetiva tratar sobre as formas de intervenção delitiva em face da


responsabilização penal do compliance officer. Para tanto, o texto perpassará à análise de
posicionamentos teóricos em torno da autoria mediata e coautoria em delitos empresariais,
a fim de fazer uma análise crítica sobre seus efeitos na distribuição de responsabilidades
dentro de uma empresa e implicações na imputação de crimes ao compliance officer.
Palavras-chave: Responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Modelos de imputação.
Formas de intervenção delitiva. Distribuição de responsabilidades.

INTRODUÇÃO
O chamado compliance, que até o fim do século passado apresentava
repercussão quase que unicamente nas searas da gestão de ativos das com-
panhias estadunidenses e dos regulamentos próprios do campo de atuação
de tais empresas, passou a apresentar nas últimas décadas grande relevância
em vários setores jurídicos, mormente no Direito Penal, onde passou a ser
qualificado como criminal compliance.
Como é cediço, a ascensão do compliance em matéria penal se deu em
um contexto marcado por graves escândalos de corrupção envolvendo algu-
mas3 empresas de grande porte; dentre os referidos escândalos, o caso Siemens

1. O autor é Mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná, pesquisador do Núcleo
de Pesquisas Sistema Criminal e Controle Social da UFPR, pesquisador do Grupo de Pesquisas Obser-
vatório da Mentalidade Inquisitória e advogado criminalista.
2. A autora é Mestranda em Direito pelo Centro Universitário Internacional – UNINTER, especialista em
Direito Penal e Criminologia pelo Instituto de Criminologia e Política Criminal (ICPC/UNINTER),
pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Sistema Criminal e Controle Social da UFPR e do Núcleo de
Estudos Criminais da UFPR e advogada criminalista.
3. Dentre tais escândalos de corrupção, destacam-se aqueles envolvendo as multinacionais WorldCom,
Enron, Parmalat e Siemens. Sobre o assunto: BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La interven-
ción delictiva del compliance officer. In: [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina
Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 171-172.
152 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 153

se apresenta, notadamente, como o caso de maior repercussão e paradigma própria empresa.


dessa aproximação entre os programas de cumprimento e os delitos cometidos Obviamente que o presente estudo não pretende tratar de todas as hipó-
no âmbito das grandes empresas4. teses de concurso e identificar a forma de distribuição da responsabilidade do
Nesse cenário, tendo em vista o surgimento do criminal compliance e CCO em todas elas, mas sim explorar uma das hipóteses, a qual – adianta-se
de sua principal figura, o compliance officer5, algumas questões passaram a se desde já – será aquela que envolve o concurso entre pessoas físicas e jurídicas.
tornar controvertidas no horizonte da dogmática penal, mormente em torno Com isso, na sequência são apresentadas as hipóteses de concurso de
da intervenção delitiva. Isto é, das possibilidades de responsabilização penal pessoas, sendo que ao final será apontado o critério que mais interessa no pre-
do CCO na qualidade de autor, coautor ou partícipe de delitos empresariais, sente estudo quando voltados os olhos para a responsabilização penal do CCO.
bem como em relação aos limites em torno de tais formas de intervenção,
objeto do qual o presente texto pretende esboçar algumas linhas e realizar, 2.1. AS POSSÍVEIS HIPÓTESES DE CONCURSO DE PESSOAS NA
CRIMINALIDADE EMPRESARIAL
em alguma medida, uma análise crítica.
Inicialmente, é preciso ter em conta que existem dois modelos de res-
Com isso, o presente artigo objetiva analisar o aparato teórico respon-
ponsabilização penal de pessoas jurídicas: o da imputação direta, própria e
sável por estabelecer critérios de responsabilização penal do CCO, a fim de
independente (não vinculado à atuação das pessoas físicas); e o critério da
trazer à baila uma visão crítica em torno da maneira pela qual esta figura se
responsabilidade por atribuição, derivada ou por transferência (vinculada à
encontra posicionada nos programas de cumprimento.
atuação das pessoas físicas, que recebem a responsabilidade penal a partir de
Para tanto, o estudo iniciará com a demonstração de qual critério será critérios de imputação)8.
explorado ao longo do texto em relação ao concurso de pessoas; seguirá com
Nesse contexto, desde logo é possível perceber que, para a identificação
a abordagem de alguns6 posicionamentos teóricos sobre a responsabilização
da responsabilidade do compliance officer, deve-se ter em conta o modelo de
penal no âmbito da empresa, para, ao final, apresentar considerações críticas
responsabilização criminal, sendo também necessária a separação das formas
sobre a responsabilização penal do CCO, partindo das formas de atribuição
que o sujeito poderá concorrer para os delitos.
de responsabilidade sugeridas pelas teorias.
Assim, a pergunta inicial a ser feita é a seguinte: as condutas praticadas
2. O CONCURSO DE PESSOAS NO ÂMBITO DA EMPRESA por pessoas físicas no âmbito de estruturas empresariais poderão ou não ser
Para que seja possível buscar eventual delimitação da responsabilida- imputadas também às pessoas jurídicas? Tal definição, certamente, toca no
de penal do chief compliance officer em uma estrutura empresarial, é preciso assunto concernente à distribuição de competências dentro da empresa9, e
antes tecer algumas considerações sobre o concurso entre pessoas físicas e/ servirá para a delimitação da responsabilidade do compliance officer, haja vista
ou jurídicas. Isso porque, assim como ocorre na criminalidade comum7, um que a distinção fato individual/fato coletivo antecede à distinção fato doloso/
fato delituoso dentro de uma empresa pode ser praticado tanto por um fato imprudente10.
só indivíduo, como em concurso com duas ou mais pessoas, incluindo a Como já referido, existem dois modelos de responsabilização criminal
que, ao que tudo indica, refletem na possibilidade de concurso de pessoas
4. KUHLEN, Lothar. Cuestiones fundamentales de compliance y Derecho penal. In: [Lothar Kuhlen,
Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. 8. Sobre o tema, ver nessa coletânea o artigo de Paulo César Busato e Ângela dos Prazeres intitulado
Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 52. “Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade penal de pessoas jurídicas. Especial referência ao
5. Abreviado no presente texto também como CCO (Chief Compliance Officer). fato de conexão”. Ver também: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La evolución ideológica de la discu-
6. Em especial o posicionamento de Claus Roxin, Francisco Muñoz Conde e Ricardo Robles Planas. sión sobre la responsabilidad penal de las personas jurídicas. In: Derecho penal y criminología. v. 29,
7. DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral – 5. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora n. 86-87, p. 130.
Revista dos Tribunais, 2013, p. 473: “[...] o crime pode resultar de um fato coletivo. A realização do 9. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas.
ilícito reúne duas ou mais pessoas que se unem, facultativamente, para o melhor êxito da empreitada In: Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, p. 16.
delituosa ou obrigatoriamente, quando o próprio tipo legal exige essa concorrência de atuações. 10. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas.
Apresenta-se então, o concurso de pessoas (crime plurissubjetivo).” – grifos no original. In: Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, p. 27.
154 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 155

em delitos praticados dentro de uma companhia11. Na Espanha, país que ponsabilização na Espanha está ainda em construção, mas que a sentença
adota desde 2010 um modelo amplo de responsabilização penal de pessoas indica que um modelo de responsabilidade próprio da pessoa jurídica seria
jurídicas, e que inspirou a redação do projeto do novo Código Penal Brasi- o mais adequado18.
leiro (PLS 236/2012)12, a responsabilização criminal dos entes coletivos é em O caso analisado tratava de um grupo de pessoas físicas e jurídicas, es-
parte apontada como sendo por atribuição ou transferência13, assim como truturado hierarquicamente e liderado por um agente que planejou operações
a aplicação da multa em matéria administrativa na Alemanha14. Por esse de narcotráfico a partir do contato com organizações criminosas sediadas
modelo, a responsabilidade pelo fato delitivo se transfere à pessoa jurídica, em outros países. O trabalho consistia na utilização de empresas comerciais
na medida em que se considera que os atos das pessoas físicas são também para simular operações de importação e exportação de máquinas, com drogas
da pessoa jurídica15. ilícitas em seu interior, a fim de comercializar e fornecer substâncias entorpe-
No âmbito da Sentença 154/2016 do Supremo Tribunal de Espanha centes para outros países.
(STS 154/201616) é possível vislumbrar sólidos critérios de configuração do Na oportunidade, foram condenadas quatro pessoas físicas pela prática
concurso entre pessoas físicas e pessoas jurídicas, havendo manifestações no de crime contra a saúde pública (dentre outros) e três pessoas jurídicas por
sentido de que o Tribunal tratou o art. 31bis do CP como um tipo penal sua participação como instrumento jurídico na prática dos mesmos crimes.
autônomo imputado às pessoas jurídicas, o que seria contrário ao modelo Uma das empresas sofreu a pena de dissolução, o que foi oportunamente
que o Código Penal espanhol adota17, e no sentido de que o modelo de res- reformado no recurso de cassação no Tribunal.
11. Veja-se, por exemplo, a posição de Sérgio Salomão Shecaira, afirmando a existência de uma coautoria Com o julgamento do recurso (STS 154/2016), o Tribunal manteve
necessária ao falar da Lei Brasileira n.º 9.605/98 que trata dos crimes ambientais e da responsabiliza-
ção penal de pessoas jurídicas. Em: SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa praticamente19 a totalidade da sentença recorrida, sendo que especialmente
jurídica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, p. 168: “A empresa – por si mesma – não comete atos deli-
tuosos. Ela o faz através de alguém, objetivamente uma pessoa natural. Sempre através do homem é quanto ao tema da responsabilização das pessoas jurídicas, entendeu pela
que o ato delituoso é praticado. Se se considerar que só haverá a persecução penal contra a pessoa
jurídica, se o ato for praticado em benefício da empresa por pessoa natural estreitamente ligada a existência de uma responsabilidade própria daqueles entes coletivos, o que
pessoa jurídica, e com a ajuda do poderio desta última, não se deixará de verificar a existência de significa que o delito corporativo seria uma figura delitiva tipificada especial-
um concurso de pessoas. Sem desconsideração de situações mais complexas, o que em alguns casos é
possível ocorrer, teremos sempre, no mínimo, a existência de dois autores: haverá, portanto, coautoria mente no artigo 31bis do Código Penal espanhol20.
necessária.”.
12. GONZÁLEZ CUSSAC, José L. O modelo espanhol de responsabilidade penal das pessoas jurídicas
do CP de 2010. In: Revista brasileira de ciências criminais. Ano 25, vol. 132, jun/2017, p. 40.
Com isso, afirmou-se como sendo requisitos para a responsabilização
13. GONZÁLEZ CUSSAC, José L. O modelo espanhol de responsabilidade penal das pessoas jurídicas do ente coletivo que o delito tenha sido praticado em proveito da empresa –
do CP de 2010. In: Revista brasileira de ciências criminais. Ano 25, vol. 132, jun/2017, p. 55: “Não
cabe dúvida que o modelo introduzido pela reforma de 2010 corresponde ao denominado de atribui- entendido como qualquer classe de vantagem para a pessoa jurídica21 – e que
ção, seja entendido como de responsabilidade vicariante ou como de identificação. E, nesse senti-
do,estimo que, seja qual for dos dois, propõe idênticos problemas com relação ao princípio de culpa- se evidencie a ausência de um programa de medidas eficazes de prevenção e
bilidade, na medida em que em ambos late aparentemente a responsabilidade por fato alheio ou por controle de delitos dentro da pessoa jurídica – o que foi controvertido22 no
uma responsabilidade objetiva.”.Ver também: CASTELLANOS MORENO, Carlos. Comentario a la
STS 154/2016, de 29 de febrero, primer pronunciamiento condenatorio del Alto Tribunal que aprecia
la responsabilidad penal de las personas jurídicas. In: Alliantia. Disponível em: http://www.aranzadi. 18. VILLEGAS GARCÍA, María Ángeles. Hacia un modelo de autorresponsabilidad de las personas
es/sites/aranzadi.es/files/creatividad/alliantia/pdf/Comentario_STS_154_2016_Resp_penal_31_bis. jurídicas. La STS (Pleno de la Sala de lo Penal) 154/2016, de 29 de febrero. Diario La Ley, nº 8721,
pdf. Acesso em: 23 fev 2019, p. 06. Sección Doctrina, 14 de Marzo de 2016, p. 10.
14. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La evolución ideológica de la discusión sobre la responsabilidad 19. Com exceção da exclusão da pena de dissolução aplicada a uma das empresas.
penal de las personas jurídicas. In: Derecho penal y criminología. v. 29, n. 86-87, p. 131. 20. A afirmação é feita em: FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. El delito corporativo en el código penal
15. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La evolución ideológica de la discusión sobre la responsabilidad español: cumplimiento normativo y fundamento de la responsabilidad penal de las empresas. 2. ed.
penal de las personas jurídicas. In: Derecho penal y criminología. v. 29, n. 86-87, p. 130. Pamplona: Civitas, 2016, p. 101.
16. Sentencia del Tribunal Supremo de España STS 154/2016, del Pleno de la Sala Segunda del Tribunal 21. Conforme explanado na Sentença: “Por essa razão, deve ficar claro desde já que o termo “lucro”
Supremo. (ou “benefício”) refere-se a qualquer tipo de vantagem, mesmo de simples expectativa ou refere-se a
17. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. El delito corporativo en el código penal español: cumplimiento nor- aspectos como a melhoria da posição em relação a outros concorrentes etc. rentável para o lucro ou
mativo y fundamento de la responsabilidad penal de las empresas. 2. ed. Pamplona: Civitas, 2016, p. para a mera subsistência da pessoa jurídica em cujo seio o crime de seu representante, administrador
100-101: “[...]considero infeliz a configuração do art. 31 bis como um tipo penal autônomo diferente ou subordinado hierárquico, é cometido” – tradução livre dos autores.
da que é atribuído à pessoa natural, isto é, como se fosse uma espécie de crime atribuído à corporação 22. O ponto foi controvertido, tendo em vista que contou com voto divergente, no qual consignou-se que
consistindo na ausência de mecanismos de controle adequados. [...] Parece que o que estabelece a não concordam com o entendimento de que a ausência de um programa de prevenção e controle seja o
sentença é que a pessoa natural executará o tipo correspondente da parte especial, enquanto a pessoa núcleo da tipicidade ou que possa ser tratado como um elemento autônomo do tipo objetivo do art. 31
jurídica responderia pelo art. 31 bis como um tipo criminal diferente” – tradução livre dos autores. bis do CP Espanhol.
156 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 157

julgamento. 2.2. O CRITÉRIO A SER ESTUDADO


Portanto, segundo a sentença, a afirmação da relevância da ação da As funções desempenhadas dentro de uma empresa pelo compliance
pessoa jurídica, para fins de determinar sua responsabilidade penal, deve se dar officer não são definidas de forma homogênea; motivo pelo qual, a depender
com base na análise sobre se o crime cometido pela pessoa física foi possível da empresa, as atribuições podem ser distintas25.
ou facilitado pela ausência de uma cultura de respeito pelo Direito (cultura No entanto, certo é que suas funções são diretamente relacionadas com
de integridade e mesmo programas de compliance). o propósito de um programa de compliance, que possui a característica de
Sendo assim, vê-se que o crime praticado por uma pessoa física pode ou ser preventivo e de buscar o controle interno da organização. Tais funções,
não ser em coautoria com outra pessoa física – a depender do delito praticado geralmente, são associadas ao desenho de um programa; sua implementação,
e da atribuição de cada um no interior da empresa23 – assim como em concurso bem como o controle interno do seu cumprimento (no qual se inserem os
com a própria pessoa jurídica, como o foi no caso assinalado. deveres de vigilância e controle)26.
E, seguindo essa linha, também é plenamente possível a hipótese de Esses deveres voltados a prevenir a prática de crimes dentro da empresa
pessoas jurídicas concorrerem para a prática de um crime, o que também são originalmente do administrador, já que faz parte da atividade empresarial.
é visto no caso trazido como exemplo, já que foram simuladas operações Entretanto, essas funções são delegadas ao compliance officer27 e caso este venha
comerciais internacionais entre pessoas jurídicas, no intuito de que as a agir de algum modo em desacordo com suas funções, infringindo seu dever,
máquinas pudessem ser exportadas com o entorpecente em seu interior. é possível questionar se seria possível uma imputação de crime em conjunto
Além disso, se é possível subcontratar24 empresas para que realizem ativi- com a própria pessoa jurídica.
dades que em princípio seriam da empresa contratante, nada impede que Evidenciado que a responsabilidade do CCO vem de uma delegação,
também haja a subcontratação de empresas para fins ilícitos; ou seja, pode deve haver, portanto, uma limitação dessa responsabilidade, a fim de iden-
haver o acordo entre duas pessoas jurídicas para a prática de um crime tificar até que ponto poderá ser responsabilizado sem que seja tratado como
que beneficie ambas. um verdadeiro administrador da empresa.
Em conclusão, respondendo ao questionamento inicial, é factível o con- Assim, para o presente estudo, o critério a ser adotado para o desen-
curso entre pessoas físicas, entre pessoas jurídicas, assim como entre pessoas volvimento do trabalho será o da possível responsabilização em concurso
físicas e jurídicas em delitos empresariais, o que é vivenciado por aqueles entre pessoas físicas e jurídicas, notadamente a figura do CCO e a pessoa
países que adotam de forma mais ampla a responsabilização penal de pessoas jurídica para a qual o seu trabalho é desenvolvido. Além disso, o modelo
jurídicas. Além disso, a escolha do modelo de responsabilização penal inter- que se terá como base será o da imputação independente, que não vincu-
fere na forma de concurso quando da atribuição das responsabilidades. la a atuação da pessoa jurídica com a das pessoas físicas. E a partir dessa
23. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas.
In: Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, p. 15: “Com relação ao tema 25. DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de garante del compliance officer por infración del “de-
que nos interessa aqui, deve-se notar que o nível de confiança permitido no campo da empresa depen- ber de control”: una aproximación tópica. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán.
de do nível em que uma pessoa se movimenta e da posição que ocupa dentro da organização, este nível (directores). El derecho penal en la era compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013, p. 165-189, p.
de confiança não é o mesmo para todos. Isto é uma consequência do fato de que os deveres que geram 168. Ver também BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance
responsabilidade criminal dependem do cargo ocupado na empresa” – tradução livre dos autores. officer. In: [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance
24. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas. y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 181.
In: Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, p. 16-17: “Tudo o que foi dito 26. BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lo-
aqui com relação à confiança nos membros da empresa pode ser transferido para a problemática nada thar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del
estranha que é a prática em que os gestores da empresa delegam ou subcontratam alguma fração da Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 182-183.
atividade ou sua gestão de riscos em outra empresa (por exemplo, uma fábrica de cerveja contrata 27. BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lothar
outra empresa para instalar um sistema de esgoto que evita a poluição da água, ou uma empresa Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho
contrata outra empresa para gerenciar seus resíduos, ou uma empresa confia a outra empresa de sol- Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 202. No mesmo sentido, sobre a delegação de funções: ROBLES
ventes um estudo e um relatório sobre os perigos na instalação de uma empresa, ou uma construtora PLANAS, Ricardo. El responsable de cumplimiento («Compliance Officer») ante el derecho penal. In:
subcontrata com outra a instalação de portas à prova de fogo, elevadores ou pilares de um edifício)” SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. (Dir.)/MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel (Coord.), Criminalidad de
– tradução livre dos autores. empresa y Compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona, 2013, p. 321.
158 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 159

delimitação, necessário o enfrentamento da questão sobre como os agentes será imediata, nas hipóteses em que o agente vier a realizar, por suas próprias
(CCO e empresa) podem figurar. mãos, todos os elementos do tipo penal, ainda que isto venha a se realizar por
vontade de outro indivíduo31.
3. O DOMÍNIO DO FATO E A RESPONSABILIDADE OMISSIVA Já o domínio da vontade de outrem ocorre quando um terceiro passa
Cumpre ressaltar, inicialmente, que a presente pesquisa parte da análi- a ser reduzido a mero instrumento nas mãos – longa manus – da pessoa que
se da intitulada Teoria do Domínio do Fato, desenvolvida na década de 60 exerce o domínio da vontade, ou seja, do autor mediato32. Nesse contexto,
pelo jurista alemão Claus Roxin28, na medida em que a teoria é que deu azo ao as formas de domínio da vontade são elencadas em três possibilidades:
posterior desenvolvimento de um conceito a que Roxin e outros autores pas- podendo se dar por meio de coação do terceiro (instrumento); por meio
sariam a denominar de domínio da organização (Organisationsherrschaft)29. de sua indução ao erro33, ou ainda, por meio de um aparato de poder or-
A partir dela e da responsabilização por omissão, outras manifestações ganizado34 – forma evidentemente mais complexa na seara do domínio da
são verificadas na doutrina ao tratar da responsabilização de pessoas jurídicas, vontade e que interessa sobremaneira no estudo da responsabilidade penal
as quais servirão para atingir o objeto do presente estudo. das pessoas jurídicas.
Por fim, haverá o chamado domínio funcional do fato quando os
3.1. O DOMÍNIO DA ORGANIZAÇÃO NO DOMÍNIO DO FATO
agentes – dois ou mais – atuarem mediante divisão de tarefas, cada qual
A proposta trazida por Roxin para a construção de um sistema de contribuindo para um ato relevante do tipo penal, mas tendo cada um o
autoria e participação no direito penal tem como norte a noção de que o domínio sobre o todo35. Em tais casos haverá coautoria.
autor de um fato consubstancia-se na figura central do acontecer típico30,
Nessa estrutura, dentro das hipóteses de autoria mediata, o domínio
ao passo que o partícipe teria, portanto, uma contribuição lateral, isto é,
da vontade decorrente de um aparato de poder organizado vem a ser a ca-
secundária ao fato delituoso.
tegoria que apresenta maior interesse para o desenvolvimento do presente
Nesse contexto, para identificar a figura central do delito em um estudo, na medida em que há amplo debate sobre sua aplicação a estruturas
determinado caso concreto, Roxin apresenta três manifestações da ideia empresariais36.
de domínio do fato, quais sejam: o domínio da ação (autoria imediata), o
Sendo assim, apresentadas as premissas teóricas gerais acerca do domí-
domínio da vontade (autoria mediata) e o chamado domínio funcional do
nio da organização segundo a proposta de Roxin, mostra-se necessário tratar
fato (coautoria).
Não se pretende aqui exaurir a explicação de cada uma destas manifes- 31. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto-
ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Serrano González
tações da ideia de domínio do fato dentro da teoria formulada por Roxin, de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 151-152.
32. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto-
mas tão somente apresentar onde reside o domínio da organização nessa ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Serrano González
de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 165-166.
estrutura teórica. 33. Nesse ponto, Roxin propõe uma teoria escalonada dos vários tipos de erro que podem fundamentar a
autoria. O fundamento que sustenta a autoria é o conhecimento da pessoa que induz o outro ao erro,
Para a teoria, haverá o domínio da ação e, por conseguinte, a autoria utilizando o agente executor da ação típica como mero instrumento para atingir o seu objetivo e, por-
tanto, transformando-o em uma espécie de “marionete” quando da prática de um delito.
28. Tal teoria foi desenvolvida por Roxin e publicada em 1963, mas em realidade, sua criação se deve a 34. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto-
Welzel, expoente do finalismo e defensor da ideia de que toda ação humana dirige-se a uma finalidade, ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Serrano González
razão pela qual autor seria aquele que tivesse controle do fato delituoso. Veja-se: WELZEL, Hans. de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 166.
Derecho penal alemán. 4. ed. Trad. de Juan Bustos Ramírez e Sérgio Yáñez Peréz. Santiago: Editorial 35. De acordo com Roxin, o ato relevante estaria na fase de execução e não na fase preparatória. ROXIN,
Jurídica de Chile, 1997. p. 39-45. Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Autoría y
29. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto- dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Serrano González de
ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Serrano González Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 307-308.
de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000. 36. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de
30. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto- empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí-
ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Serrano González nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São
de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 44-45. Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 101.
160 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 161

na sequência sobre alguns pontos controvertidos que acabam refletindo na ou mesmo o da fungibilidade dos executores. Entretanto, para Roxin41 e
definição da responsabilização penal em contextos empresariais, especialmen- Schünemann42, apenas as organizações de natureza criminosa é que se ade-
te em relação à posição ocupada pelo compliance officer nessa estrutura. quariam aos aparatos de poder organizado; assim, quando o superior de uma
empresa (vinculada à ordem jurídica) ordena algo ilegal que não configure
3.2. ASPECTOS EM TORNO DA AUTORIA MEDIATA E COAUTORIA
uma coação ou erro (demais hipóteses de autoria mediata), restaria presente
Como visto, o domínio da organização se insere em uma das formas apenas a instigação e, portanto, o emissor da ordem constituir-se-ia em
de autoria mediata no âmbito da teoria do domínio do fato. Com isso, mero partícipe do delito43.
questões fundamentais devem ser abordadas acerca da autoria mediata e
Em realidade, quando a estrutura não é dissociada do direito, a exemplo
da coautoria no âmbito de estruturas empresariais, pois suscitam alguns
das empresas, e o emissor da ordem age de forma desvinculada do direito, o
pontos de contato quando se está diante da responsabilização penal dentro
agente não estaria atuando de acordo com o aparato organizado, mas sim,
de uma organização.
contrário a ele44. Daí porque, de acordo com o argumento de Roxin, não es-
3.2.1. O domínio da organização nas estruturas empresariais tariam preenchidos todos os requisitos do domínio da organização45.
Como se sabe, Roxin dirige sua construção teórica às organizações Especialmente sobre o requisito da desvinculação da ordem jurídica, Kai
criminosas estruturadas de forma semelhante às empresas, a exemplo das Ambos não o exclui, mas o considera prescindível46, muito embora não afirme
máfias, e sobre estruturas de poder organizadas que ocuparam a jurispru- a possibilidade de pessoas jurídicas serem responsabilizadas pela aplicação do
dência no período pós-guerra37, aduzindo que o domínio caracteriza-se pelo domínio da organização.
fato de que o autor mediato tem à sua disposição uma “máquina” pessoal, Com isso, vê-se que, da forma como proposto por Roxin, o domínio
quase sempre organizada e que o auxilia no cometimento de delitos. da organização não é adequado para abarcar pessoas jurídicas.
Nesse contexto, três seriam os requisitos exigidos para a configu- 41. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto-
ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serrano González
ração da autoria como domínio da organização 38: (i) uma organização de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 729.
verticalmente estruturada; (ii) dissociada do direito e (iii) a fungibilidade 42. SCHÜNEMANN, Bernd. Responsabilidad penal en el marco de la empresa: Dificultades relativas a
la individualización de la imputación. Anuario de derecho penal y ciencias penales, Tomo 55, Fasc/
dos executores39. Mes 1, 2002, p. 19.
43. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto-
Nesse ponto, Greco e Assis afirmam40 que os autores que empregam ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serrano González
de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 729.
o domínio da organização às estruturas empresariais geralmente negam a 44. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto-
ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serrano González
necessidade de que haja o requisito de desvinculação da ordem jurídica de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 277.
45. ROXIN, Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría mediata. In: Revista
37. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto- de Estudios de la Justicia. n. 7. Año 2006, p. 21: “Mas aqui não se pode fundamentar uma autoria
ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Serrano González mediada de superiores apoiada nas regras do domínio da organização, que induzem os empregados
de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 270. a cometerem crimes. Das quatro condições do domínio da organização, faltam ao menos três: as em-
presas não funcionam como regra desvinculadas do Direito, enquanto as atividades criminosas não
38. Em manifestações mais recentes, todavia, Roxin passou a sustentar a existência de quatro elementos são desde o seu início. Falta também a fungibilidade [Austauschbarkeit] daqueles que estão dispostos
configuradores da autoria mediata por aparatos de poder organizado: (i) o poder de mando da auto- a ações criminosas. E tampouco se pode falar em um alto nível de disponibilidade para a prática de
ridade que pode dar a ordem; (ii) a desvinculação do ordenamento jurídico; (iii) a fungibilidade do delitos pelos membros da empresa porque, como mostra a realidade, a prática de crimes econômicos
executor imediato e (iv) a alta disposição para a realização do fato pelo executor. Desta forma, restando e contra o meio ambiente acarreta um considerável risco de punibilidade e também o risco de perda
ausente qualquer um destes requisitos, não se teria como falar em domínio da organização. Ver em: dos postos na empresa” – tradução livre dos autores.
ROXIN, Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría mediata. In: Revis- 46. AMBOS, Kai. Dominio del hecho por dominio de voluntad en virtud de aparatos organizados de po-
ta de Estudios de la Justicia. n. 7. Año 2006, p. 15-20. der. Disponível em: http://ley.exam-10.com/pravo/36794/index.html. Acesso em: 21.ago.2018: “[...]
39. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto- o domínio da organização depende unicamente da estrutura da organização em questão e do número
ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serrano González de executores fungíveis. Ainda mais: se o aparelho não está “fora do ordenamento jurídico” (como o
de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 272-277. critério de dissociação do Direito exige), mas é em si mesmo a ordem legal ou parte dele, o domínio
40. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de do fato por parte do homem de trás é ainda maior do que no caso do aparato desvinculado do Direito.
empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí- [...] A desvinculação do direito desses aparatos de poder não precisa ser excluída, mas não constitui
nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São condição suficiente ou necessária do domínio da organização. Portanto, é dispensável como um ele-
Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 102-104. mento estrutural do domínio da organização “. – tradução livre dos autores.
162 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 163

Entretanto, na tentativa de buscar uma solução equilibrada, que res- Partindo do modelo de Roxin, em estruturas horizontais, nas quais as
peite a distinção dogmática entre autoria e participação, e ao mesmo tempo decisões são tomadas, por exemplo, por vários diretores da mesma hierarquia
solucione o problema de definir a responsabilização de agentes em uma (a depender, é claro, da organização funcional da empresa), a coautoria ocor-
estrutura empresarial47, Muñoz Conde sustenta que o fundamento dogmá- reria quando verificados o plano comum e a contribuição relevante de todos
tico para a responsabilização dos dirigentes não só deve se encontrar na os agentes, pois nesses casos o ato seria realizado por “pessoas que atuam num
estrutura e modo de funcionamento da empresa como também na própria mesmo plano, em princípio decidindo e executando”52.
natureza do delito48. Em tais casos, todos os agentes que viessem a deliberar em um colegiado
E com essa posição é possível concordar, já que é inegável que os di- sobre uma determinada matéria, pelo óculo da teoria do domínio do fato,
rigentes de empresas, assim como elas próprias têm uma responsabilidade viriam a ser considerados como coautores do fato, em decorrência da contri-
que deve ser assumida, e não apenas delegada aos funcionários (como, por buição de cada um para a decisão e, por consequência, da execução do delito53.
exemplo, o CCO), de modo a isentar de responsabilidade a própria empresa Já em estruturas verticais, em que há um superior hierárquico e um
ou o seu dirigente49. executor da ordem, a coautoria seria duvidosa. Primeiramente, porque a ver-
Com isso, quando uma empresa delega funções a um compliance officer, ticalidade existente em alguns casos (empresas de grande porte, por exemplo)
não extingue os deveres originários50, sendo necessária sua responsabilização, pode evidenciar que há uma considerável distância entre aquele que dá o co-
ainda que não seja segundo o domínio da organização. Sendo assim, é opor- mando e aquele que pratica o delito. Com isso, seria difícil afirmar a existência
tuno analisar como se daria a coautoria no contexto empresarial. de coautoria, tendo em vista a grande chance de inexistir um plano comum
ou mesmo uma contribuição relevante para a execução54.
3.2.2. Coautoria no contexto empresarial
Segundo esse posicionamento, não seria possível que se configurasse
Para a responsabilização com fundamento na coautoria, alguns autores51 a coautoria em casos em que não há o acordo de vontades55, ou quando um
buscam identificar as responsabilidades a partir da organização da empresa,
especialmente a partir de estruturas horizontais e estruturas verticais.
52. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de
empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí-
47. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico, nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São
o ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 90.
realización de un delito en el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n. 09. Barce- 53. Para Greco e Assis, comparando com a estrutura do atual Código Penal Brasileiro, que considera causa
lona, 2002, p. 61. “a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido” (art, 13, caput, do CP), a aplicação
48. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico, da coautoria nos moldes da teoria do domínio do fato seria mais extensa. Isto porque, quando em um
o ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la colegiado a decisão não é unânime, mas decidida por maioria simples, qualquer dos agentes poderia
realización de un delito en el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n. 09. Barce- invocar o art. 13 do CP e excluir a sua responsabilidade para dizer que seu voto não foi a conditio
lona, 2002, p. 76. sine qua non do resultado. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do
49. Neste sentido, veja-se: CARO CORIA, Dino Carlos. Empresas criminales y autoría mediata. In: fato para a criminalidade de empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS,
BÖSE, Martin; SCHUMANN, Kay H.; TOEPEL, Friedrich (directores). Festschrift für Urs Kindhaü- Augusto. Autoria como domínio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito
ser. Baden-Baden: Nomos, 2019. penal brasileiro. 1. ed. – São Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 90. Nesse ponto, há posição no sentido
50. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas. de que o Código Penal brasileiro, muito embora parta de um princípio unitário, acaba tendo um perfil
In: Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, p. 16: “A delegação de fun- diferencia dor, já que diferencia a pena do que atua como autor daquele que atua como partícipe; com
ções corporativas dos níveis superiores aos níveis mais baixos da empresa não extingue os deveres isso, mostra-se possível ou mesmo necessário que se recorra à teoria do domínio do fato para poder
dos primeiros, mas os transforma. Esta transformação é o resultado da tensão entre a manutenção aplicar a pena. BUSATO, Paulo César. CAVAGNARI, Rodrigo. A teoria do domínio do fato e o código
residual das funções de controle, supervisão e vigilância e a responsabilidade própria dos subor- penal brasileiro. In: Delictae, vol. 2, n. 2, Jan.-Jun. 2017, p. 97: “[...] o Código Penal brasileiro adota,
dinados no desempenho de suas funções (não há um dever geral de tratar os subordinados como na verdade, um perfil diferenciador em sentido dualista. O princípio é unitário, porém, expressamente
pessoas irresponsáveis enquanto eles têm capacidade mínimo para desempenhar suas funções)” – se reconhece a necessidade de matizações e bipartições que obrigam a considerar a hipótese de ne-
tradução livre dos autores. cessária diferenciação entre autores e partícipes”.
51. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina; 54. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí-
de derecho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São
2016, p. 487-488. E, partindo de Claus Roxin, também GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que sig- Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 91.
nifica a teoria do domínio do fato para a criminalidade de empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. 55. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto-
TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domínio do fato: estudos introdutórios sobre o ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serrano González
concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 89-90. de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p. 316.
164 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 165

dos agentes não dominasse o curso do acontecer típico56, razão pela qual, do delito, Francisco Muñoz Conde entende de maneira diversa. Parte o pena-
diante de um contexto empresarial, aderir de forma tácita ao plano elabora- lista do entendimento de que os conceitos de autoria necessitam de uma revisão
do pelo superior hierárquico, por exemplo, não seria o mesmo que decidir e adequação, de modo a adaptar-se à realidade da criminalidade empresarial59.
em conjunto com ele57. Muñoz Conde leciona que há intervenções que são muito mais de-
Por essa interpretação do modelo, pode-se concluir que, se o superior cisivas para a realização do delito do que aquelas ações executivas; ou
hierárquico não participa de nenhum modo da execução do delito, não seja, os “centros de decisão”, por serem determinantes, podem ser mais
seria possível a configuração de coautoria, por exemplo, entre um diretor importantes do que os “centros de execução”60. Deste modo, seria neces-
e um funcionário. sária a revisão do conceito de autor para incluir nele as pessoas que têm
Assim, vê-se que a coautoria não seria excluída por completo sim- a principal responsabilidade61.
plesmente pelo fato de o executor estar distante do superior hierárquico; a Assim, quando se trata de responsabilização de quem delibera, mas
depender da estrutura da organização, pode não haver distância entre essas não executa, o autor entende que o domínio da organização, na forma como
figuras, o que facilitaria a existência de um plano comum e a contribuição proposto por Roxin, não se aplicaria às estruturas empresariais, mas sim a
para a execução. Entretanto, na maioria das vezes, é muito mais fácil se vis- coautoria, como domínio funcional do fato62.
lumbrar a responsabilidade penal do dirigente na qualidade de partícipe, ou Isso porque, quando ocorre, por exemplo, uma deliberação por parte
mesmo como autor, não de forma dolosa, mas pela infração de um dever58. de um órgão colegiado, determinante para que outras pessoas executem uma
Deste modo, percebe-se que a distância entre o executor e o superior tarefa ilícita, a decisão (fase preparatória) é tão intimamente vinculada à exe-
hierárquico pode definir se o caso será de coautoria ou não, não significando, cução que deve ser valorada como um todo, permitindo a configuração de
todavia, que a posição hierárquica per si seja determinante, já que dependerá coautoria e excluindo a necessidade dos requisitos (plano comum e contri-
também de como se deu o delito (se houve a definição de um plano comum buição para a execução63).
e a contribuição para a execução). Muñoz Conde, quando propõe tal interpretação, não está tratando do
E ainda, sobre esse ponto, algumas variações de entendimento são iden-
tificadas na doutrina, especialmente quanto à não participação do superior 59. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico,
o ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la
na execução do fato e sobre as posições ocupadas na empresa, as quais são realización de un delito en el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n. 09. Barce-
lona, 2002, p. 75: “Parece, então, que a dogmática jurídico-penal, com construções como a teoria do
tratadas na sequência. domínio do fato conseguiu superar as insuficiências da teoria objetivo-formal para fundamentar a
responsabilidade direta do autor mediato, também tem que levar à cabo uma revisão do conceito de
autoria, mediata ou coautoria, adaptando-a à realidade da fenomenologia criminal da delinquência
3.2.2.1. Sobre a ausência do superior na execução cometida no âmbito de grandes grupos ou organizações” – Tradução livre dos autores.
60. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económi-
Quanto aos casos em que o superior não venha a participar da execução co, o ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden
la realización de un delito en el ámbito de la delincuencia económica?. In: Revista Penal. n. 09.
Barcelona, 2002, p. 77.
61. A necessidade político criminal de responsabilização de dirigentes inclusive é reconhecida por Roxin
56. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Auto- em outros trabalhos: ROXIN, Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría
ría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serrano González mediata. In: Revista de Estudios de la Justicia. n. 7. Año 2006, p. 21.
de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, p, 320. 62. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico,
57. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de o ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la
empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí- realización de un delito en el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n. 09. Barce-
nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São lona, 2002, p. 82.
Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 92-93. 63. Muñoz Conde considera que os requisitos (acordo de vontades e execução conjunta do delito) são
58. ROXIN, Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría mediata. In: Revista consequência de uma teoria objetivo-formal que acaba sendo insuficiente para abarcar condutas
de Estudios de la Justicia. n. 7. Año 2006, p. 22: “Considero mais adequado recorrer ao conceito mais relevantes na execução do delito, como é o caso de uma deliberação colegiada para a prática de
jurídico desenvolvido por mim sobre os delitos cometidos pela violação de um dever [Pflichtdelikte] um crime. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal
e, com sua ajuda, fundamentar uma autoria aos cargos diretivos, porquanto lhes seja atribuída uma económico, o ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas,
posição de garante para salvaguardar a legalidade das ações da empresa [Garantenstellung zur Wa- deciden la realización de un delito en el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n.
hrung der Legalität]” – tradução livre dos autores. 09. Barcelona, 2002, p. 66.
166 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 167

compliance officer. Entretanto, é possível ver manifestações64 no sentido de que em seu topo e os subordinados na base da estrutura – obviamente que
o CCO poderá ser responsabilizado como autor, ainda que não intervenha na podem existir posições intermédias, mas a estrutura permanece vertical –;
fase de execução do delito. e pela divisão de trabalho (em plano horizontal), visualiza-se a distribuição
Isso porque, a responsabilidade penal do compliance officer viria delimi- de competências diferentes dentro de um mesmo nível hierárquico, havendo
tada pelo contrato celebrado entre ele e a empresa, o que permitiria identificar neste caso a divisão de tarefas.
os deveres do CCO e o da direção65. Ou seja, na medida em que a empresa A mescla desses dois princípios formaria uma grande rede de âmbitos
delega suas funções para o CCO, este adquire tais competências em virtude de trabalho, os quais definiriam a competência de cada sujeito dentro de
da assunção das mesmas. uma empresa e, por consequência, delimitariam a parcela da responsabili-
Entretanto, é de se frisar que a competência para decisões deve per- dade de cada um.
manecer com o administrador ou conselho de administração (responsáveis A partir daí se identificaria a parcela de responsabilidade de cada agente,
pela atividade empresarial) sob pena de isentar totalmente a empresa ou seu incluindo a do compliance officer, ao passo que a infração das competências indi-
administrador de qualquer ilícito que seja praticado e desvirtuar a função do viduais68 é que serviria para orientar eventual responsabilização de ordem penal.
compliance officer para torná-lo verdadeiro administrador da empresa. Em suma, cada nível dentro de uma empresa possui competências diferentes, o
Sendo assim, a decisão determinante de que fala Muñoz Conde pode, que gera fundamentos distintos da responsabilização penal69.
ao que parece, ser atribuída ao administrador ou à própria empresa, quando Em conclusão, diante dos posicionamentos trazidos, é clara a ne-
ordene uma ação que consista na prática de um delito, embora executado cessidade de responsabilização da empresa, como o faz Muñoz Conde, ao
por um funcionário. interpretar a teoria de Roxin. Entretanto, o que se vê é que o CCO, ao
De qualquer modo, vê-se que a responsabilidade penal do CCO pode assumir as responsabilidades por delegação, se coloca em uma posição em
ser delimitada pela assunção de competências no contrato celebrado com que poderá ser responsabilizado como autor, ainda que não tenha praticado
a empresa. E, em decorrência disso, a organização da empresa também in- atos de execução. Como o ponto se refere a uma suposta omissão e não
fluirá na definição da responsabilidade, tema este trabalhado por Ricardo comissão, surge a questão sobre o dever de garante do CCO.
Robles Planas. 3.3. RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO E POSIÇÃO DE GARANTE
3.2.2.2. O princípio de competência Bem se sabe que a teoria do domínio da organização, nos moldes tra-
Ricardo Robles Planas considera a organização vertical e horizontal
66 zidos por Roxin, não é aplicável aos delitos omissivos impróprios, os quais
de uma estrutura empresarial a partir de um princípio de competência67, só podem ser praticados por garantidores. Sendo assim, saímos da esfera de
resultado da composição de tais formas de organização empresarial: pela análise da responsabilidade por comissão, para analisar o que se diz sobre a
hierarquia (em plano vertical), pode-se identificar o órgão de administração omissão e a posição de garante do compliance officer.
Considerando as atribuições geralmente conferidas ao CCO (desenho do
64. BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lo-
thar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del programa, implementação, vigilância e controle), alguns autores70 afirmam que
Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 192-193.
65. BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lo-
thar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del 68. Acerca das competências do CCO, veja-se: DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de garante
Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 184. del compliance officer por infración del “deber de control”: una aproximación tópica. In: ARROYO
66. ROBLES PLANAS, Ricardo. El responsable de cumplimiento («Compliance Officer») ante el derecho ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán. (directores). El derecho penal en la era compliance. Va-
penal. In: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. (Dir.)/MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel (Coord.), Crimi- lencia: Tirant Lo Blanch, 2013, p. 165-189.
nalidad de empresa y Compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona, 2013, p. 329. 69. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas.
67. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina; In: Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, p. 17.
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios 70. DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de garante del compliance officer por infración del “de-
de derecho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, ber de control”: una aproximación tópica. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán.
2016, p. 487 e 488. (directores). El derecho penal en la era compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013, p. 174.
168 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 169

esse profissional assume uma posição de garante, na mesma medida daquela Diante de tais posicionamentos, verifica-se que há uma real necessidade
do administrador, em relação aos crimes cometidos dentro de uma empresa. de definir até que ponto o CCO responderia como garante pelos crimes come-
Por tais posições, quando há um defeito no programa de compliance tidos dentro da empresa. Ao que parece, o dever de garante viria respaldado
que culmine com a prática de um delito por um terceiro dentro da empresa, pelo contrato assinado entre ele e o empregador, o que o inseriria na regra do
o compliance officer apenas poderá responder caso a sua omissão permita a art. 13, §2º, b do Código Penal Brasileiro75.
imputação do crime na modalidade culposa71. Fora isso, o compliance officer Com isso, sem entrar da discussão sobre a crítica existente no sentido
apenas responderá na modalidade dolosa quando tenha tolerado de propó- de que um contrato não poderia determinar o dever de garantia (critério
sito alguma conduta, ou mesmo tenha deixado de atuar a fim de permitir material) e, com isso, não poderia prever o dever de evitar um resultado,
que um crime fosse praticado por um terceiro. Além disso, se o defeito ou e tendo em conta que o Código Penal Brasileiro adota a posição contrária,
insuficiência do programa de compliance se deu por falta de recursos finan- no sentido de que o contrato pode ser fonte do dever de garantia (critério
ceiros da empresa, mas não por uma atuação desconforme do CCO, a ele formal)76, algumas considerações merecem ser feitas.
não pode ser imputado o crime ocorrido72. Primeiramente, ao receber os poderes de vigilância e controle, o CCO
Ainda, segundo essa posição, quanto à recepção de denúncias internas não excluiria o dever de garante originário do administrador, o qual per-
e sobre o reporte, não há que se falar em responsabilização por um delito manece com o poder de decisão e de vigilância sobre o delegado77. Assim, a
já consumado e que só depois chegou ao conhecimento do CCO. Apenas implementação de um programa de compliance serve como verdadeiro ins-
poderá ser responsabilizado por omissão no caso em que a sua não ação trumento para o controle que a empresa e seu administrador devem ter sobre
tolere, possibilite ou favoreça a prática de um delito futuro ou que esteja em os delitos ali cometidos, bem como deve ser implementado para detectar o
andamento. Ou seja, deve ser possível alguma ação do CCO para impedir quanto possível a prática de delitos.
a prática e apenas quando haja omissão poderá responder. Sendo instrumento de controle e de implementação de uma cultura de
Já segundo a posição de Atahuaman , muito embora afirme a existên-
73
integridade, não deve o CCO ter responsabilidade pela tomada de decisões
cia de um dever de garante, limita esse ônus ao dever de informação e de sobre os casos envolvendo a iminente prática de crime; não tem, portanto, o
vigilância – ambos delegados pelo administrador de uma empresa ao CCO dever de diretamente impedir um crime.
– sendo que o administrador permanece como garante originário. Sendo Considerar que o CCO receberia toda a responsabilidade, eximindo o
assim, o administrador delega as funções de controle e vigilância ao CCO, administrador de responsabilidade por qualquer crime, corresponderia a uma
que se limitará a detectar os riscos e informar ao administrador.
trativa de las personas jurídicas en el Perú. In: CARO CORIA, Dino Carlos (director) REYNA ALFA-
Nesse contexto, o CCO não teria poder de decisão, o qual permanece RO, Luis Miguel (Editor). Anuario de derecho penal económico y de la empresa n° 4. Ideas Solución
Editorial, 2018, p. 147: “Pelo que foi dito, como o empresário apenas delega aos oficiais sua função de
com o administrador da empresa. Por isso, se o CCO cumpre a sua função vigiar o cumprimento das regras, concluímos que os oficiais de compliance não são garantes de evitar
os riscos. Estes somente podem ser evitados pelo garante originário, a quem o Compliance Officer
informativa, estaria isento de responsabilidade74. informará. Os responsáveis diretos serão os delegados de administrar os riscos, mas se dessas ações
o compliance officer comunicou devidamente o garante originário, estaríamos também imputando a
este último. Se cumpre sua função comunicativa, o compliance officer estará simplesmente isento de
71. DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de garante del compliance officer por infración del “de- responsabilidades”. – Tradução livre dos autores.
ber de control”: una aproximación tópica. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán. 75. Código Penal. Art. 13 – O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a
(directores). El derecho penal en la era compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013, p. 178. quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
72. URBANO CASTRILLO, Eduardo de. La responsabilidad penal del “compliance officer”. In: Revista (...) § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resul-
Aranzadi Doctrinal. num. 4/2016, Cizur Menor: Estudio Editorial Aranzadi, 2016, p. 06. tado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
73. ATAHUAMAN, Jhuliana. La fundamentación de la responsabilidad penal del compliance officer a b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento
través de su especial posición de garante. A propósito de la ley que regula la responsabilidad adminis- anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
trativa de las personas jurídicas en el Perú. In: CARO CORIA, Dino Carlos (director) REYNA ALFA- 76. CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito penal: parte geral. – 7. ed. rev. atual. e ampl. – Florianópolis:
RO, Luis Miguel (Editor). Anuario de derecho penal económico y de la empresa n° 4. Ideas Solución Empório do Direito, 2017, p. 206-207.
Editorial, 2018, p. 147. 77. LASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Antonio. La delegación como mecanismo de prevención y genera-
74. ATAHUAMAN, Jhuliana. La fundamentación de la responsabilidad penal del compliance officer a ción de deberes penales. In: NIETO MARTÍN, Adán. (Dir.). Manual de cumplimiento penal en la
través de su especial posición de garante. A propósito de la ley que regula la responsabilidad adminis- empresa. Madrid: Tirant lo Blanch, 2015, p. 145.
170 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 171

verdadeira utilização do CCO como bode expiatório, quando em realidade 4. A DISTRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES E A FIGURA
o administrador é o principal responsável pelo exercício da atividade empre- DO COMPLIANCE OFFICER
sarial78 e que, portanto, tem implícito o dever de evitar a prática de delitos, O que mais parece pesar para a delimitação das responsabilidades dentro
quando possível. da empresa é a organização estrutural do ente moral, assim como a forma
Em segundo lugar, segundo os elementos do tipo objetivo do tipo omis- de distribuição das responsabilidades, o que delimitaria a competência dos
sivo79, o CCO apenas poderia responder a título de autor por omissão nas agentes. Até porque, a simples posição na empresa não é determinante para a
hipóteses em que: (i) há um perigo para o bem jurídico; (ii) o CCO possa identificação das responsabilidades, mas deve ser levada em conta, juntamente
concretamente agir; (iii) não execute a ação mandada; (iv) ocorra um resul- com as obrigações assumidas ou eventualmente delegadas.
tado típico; e (v) seja garante do bem jurídico. Com isso, pode-se perceber que a identificação da coautoria, da autoria
Aqui, a ação do CCO é centrada na ideia de informação, reporte, estru- mediata e da responsabilidade por omissão em estruturas empresariais deve
turação e implementação de um programa de compliance voltado à detecção partir da forma pela qual se encontra estruturada a empresa; quando não
de ilícitos – e aqui reside o ponto decisivo para definir a limitação da respon- muito, ao menos é um ponto extremamente importante para a identificação
sabilidade do CCO. Isso porque, quando o CCO implementa um programa de responsabilidades de ordem penal.
de compliance e mesmo assim é identificado um perigo para o bem jurídico, Assim, realizados os apontamentos anteriores acerca de algumas das
será isento de responsabilidade quando tenha detectado e informado o órgão controvérsias que residem em torno da autoria mediata, da coautoria, e da
de administração sobre o fato, a fim de que, após a decisão do administrador, responsabilidade por omissão, cumpre trazer à tona a distribuição das res-
seja impedida a consumação. ponsabilidades penais na seara empresarial, em plano vertical, horizontal e
Sendo assim, apenas quando a omissão de informação facilitar a prática por transferência, a partir da identificação da posição do compliance officer.
do crime é que o CCO responderá pelo crime, e ainda assim na modalidade
4.1. A POSIÇÃO DO COMPLIANCE OFFICER
culposa, caso existente. E caso venha a se omitir com a consciência e vontade
de permitir que o crime ocorra, responderá de forma dolosa pelo delito. Primeiramente, cabe realizar uma breve exposição em torno dos cargos
de direção existentes nas empresas, a fim de diagnosticar exatamente onde se
Com isso, vê-se que o dever de garante poderá possibilitar a respon-
encontra a figura do compliance officer dentro de uma estrutura organizacional.
sabilidade penal do compliance officer. Entretanto, esse dever de garante não
isenta o administrador ou a própria pessoa jurídica, quando puderem tomar Como se sabe, no cenário recente dos negócios globais, tornou-se
decisões para evitar a prática do crime, já que permanecem como garantes. comum a adoção de nomenclaturas aos cargos de chefia das grandes empre-
sas, destacando-se o CEO (Chief Executive Officer), o CFO (Chief Financial
E se pelo modelo brasileiro o CCO pode assumir o dever de garante
Officer), COO (Chief Operating Officer), CHRO (Chief Human Resources Of-
através de um contrato, quanto mais amplos os poderes do compliance officer,
ficer)80, dentre inúmeras outras nomenclaturas destinadas aos diretores de cada
mais fácil será de vislumbrar a sua responsabilidade. Assim, reservar o dever
um dos setores da companhia.
de decisão ao administrador ou ao colegiado, limitando a atuação do CCO
ao dever de informação, detecção dos riscos e organização de um programa Mostra-se importante para o presente estudo a diferenciação em torno
de compliance parece ser o mais adequado a fim de manter a competência do das figuras do CEO (Chief Executive Officer) e do CCO (Chief Compliance
principal responsável pela operação da empresa e seus efeitos. Officer), a fim de que não sejam cometidos equívocos em torno da compe-
tência de cada um dentro da empresa e, em decorrência disso, falhas quanto
78. LASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Antonio. La delegación como mecanismo de prevención y genera-
ción de deberes penales. In: NIETO MARTÍN, Adán. (Dir.). Manual de cumplimiento penal en la à responsabilização penal de cada uma dessas figuras quando da imputação
empresa. Madrid: Tirant lo Blanch, 2015, p. 146-147.
79. CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito penal: parte geral. – 7. ed. rev. atual. e ampl. – Florianópolis: 80. GROOT, Cornelis de. Corporate Governance as a Limited Legal Concept. New York: Wolters Kluwer
Empório do Direito, 2017, p. 202. Law & Business, 2009. p. 58.
172 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 173

de determinado delito. conta o limitado alcance de suas competências82.


Isso porque, enquanto o CEO, traduzido propriamente como Diretor A partir desta assertiva, resta claro que isso se modifica na medida em
Executivo, exerce funções típicas da administração da companhia e, por- que são analisados postos mais elevados dentro da empresa. Isso em virtude
tanto, funções executivas em torno dos negócios da empresa, o CCO possui do princípio de competência estabelecido aos profissionais que os ocupam;
funções próprias de prevenção de condutas contrárias às normativas externas assim, no exemplo de um empregado que despeja resíduos lesivos ao meio
e internas, restando claro que suas funções, no mais das vezes, possuem ambiente, por evidente a responsabilidade penal será do superior que lhe
caráter consultivo. atribui tal atividade.
Veja-se, o cargo de CEO é tido como o posto mais alto dentro de uma A par disso é que surge a discussão em torno da posição de garante
companhia, sendo seu ocupante o responsável pela tomada das decisões dos empresários ou, em outros termos, em que medida é que serão res-
mais importantes da empresa, razão pela qual, se pode ver em alguns casos, ponsáveis pelos delitos cometidos pela empresa e por seus funcionários; há
o Presidente tomar também para si a função de CEO, o que é, todavia, arris- nesse momento uma necessidade de reflexão em torno dos próprios postos
cado, pois nem sempre o Presidente de uma empresa mostrar-se-á como de trabalho e suas funções, de acordo com o princípio de competência de
um bom Executivo. que fala Robles Planas83.
O cargo de compliance officer, por seu turno, se apresenta como o posto Sendo assim, como se pode vislumbrar, a grande tônica da distribui-
de diretor do departamento de compliance, estando dessa forma subordinado ção vertical de responsabilidades se dá em relação ao cargo ocupado pelo
à figura do executive officer, assim como ocorre com os diretores dos demais indivíduo em uma dada estrutura organizacional, bem como às atividades
departamentos. É o CCO o responsável por realizar uma reestruturação orgâ- provenientes de tal cargo, fatores que estão intimamente ligados à própria
nica da empresa, a fim de que esta se encontre, a partir disso, organizada em hierarquização dentro da empresa.
consonância com o Direito81.
4.3. DISTRIBUIÇÃO HORIZONTAL
À vista disso, a diferenciação dessas duas figuras não apresenta rele-
Em relação à distribuição horizontal, o princípio de competência
vância tão somente terminológica, mas tem singular importância na medida
aludido por Robles Planas manifesta-se de maneira semelhante à distri-
em que a distribuição de competências e responsabilidades jurídicas, prin-
buição vertical, com a diferença de que busca contrapor postos de igual
cipalmente as de ordem criminal, demandam que se saiba qual cargo ocupa
hierarquia de acordo com cada um de seus deveres de garantia; neste
cada um dos membros da empresa, possibilitando saber quais os limites de
sentido, o autor acentua que, o que incumbe a um garante não incube
cada um nestes postos.
aos demais, ainda que os últimos tenham conhecimento seguro acerca da
4.2. DISTRIBUIÇÃO VERTICAL atividade delitiva do primeiro84.
Em relação à distribuição vertical, deve partir-se do princípio de que
82. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina;
os superiores são quem detêm a responsabilidade por delitos empresariais, FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios
de derecho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Madrid: Editorial Universitaria Ramón Areces.
afinal não seria crível – a prima facie – que um mero empregado viesse a 2016, p. 488: “Assim, usando um exemplo já clássico nesta problemática, não responde como um
interveniente em um crime ecológico o funcionário de uma empresa química cujo trabalho consiste
responder por delitos cometidos em prol da companhia. Razão pela qual, em despejar recipientes no rio com os resíduos gerados pela atividade industrial, ainda que tenha co-
nhecimento da natureza prejudicial desses atos para o meio ambiente “ – Tradução livre dos autores.
entende-se que aqueles empregados das camadas inferiores da empresa, a 83. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Sil-
exemplo dos operários, como regra não respondem penalmente, tendo em vina; FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.)
Estudios de derecho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón
Areces. Madrid, 2016.
84. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina;
81. COCA VILA, Ivó.¿Programas de cumplimiento como forma de autoregulación regulada? In: [Jesús FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios
María Sánchez – dir.] Criminalidad de empresa y compliance: prevención y reacciones corporativas. de derecho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid,
Barcelona: Atelier, 2013. p. 59. 2016, p. 493.
174 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 175

Desta forma, resta evidenciado que o compliance officer, assim como os à prevenção de delitos na companhia, por outro lado volta sua mão punitiva
demais diretores, somente devem responder penalmente por aqueles delitos justamente em direção a esses profissionais, o que por si só deixa claro a exis-
que tenham relação direta com sua atividade85. tência de um problema em torno de tais delegações de deveres e a suposta
Sendo a atividade do CCO voltada ao desenho, implementação e posição de garante deste profissional.
controle de um programa de cumprimento estruturado de acordo com as Como referido anteriormente, em tais hipóteses o CCO acabaria res-
especificidades da empresa86, resta claro que sua responsabilização penal so- pondendo por infrações penais, a depender do quanto tenha se submetido a
mente ocorrerá em hipóteses nas quais o delito não tenha sido identificado em assumir as delegações originárias dos dirigentes da empresa. Assim, a tendên-
tempo por conta de uma falha ou fraude no desenho do compliance, por conta cia, na prática, é de que assuma os deveres do dirigente e da própria empresa,
de uma implementação inadequada ou na hipótese de que o CCO venha a atenuando ou mesmo excluindo suas responsabilidades.
infringir seus deveres de informação ao conselho de administração em relação A partir desta crítica, repisa-se a controvérsia doutrinária acerca de ser o
a um fato que poderia ser evitado a partir de uma decisão do administrador. CCO uma criação empresarial levada a cabo justamente com este intento. Isto
Isso porque, não faria sentido algum tencionar a imposição de responsa- é, servir como uma espécie de “bode expiatório” ao cometimento de delitos
bilidade penal decorrente de um delito ambiental, por exemplo, ao diretor do por parte de seus superiores, diretos ou indiretos, como se qualquer delito
departamento de recursos humanos de uma determinada companhia, assim cometido pela empresa e pelos seus funcionários fosse decorrente de algum
como tentar imputar um delito de sonegação fiscal ao diretor de publicidade, problema no programa de compliance.
na medida em que cada um desses profissionais possui sua competência e O mais correto seria a assunção de competências de forma a manter o
campo de atuação dentro da companhia. E assim também o compliance officer. administrador e a própria empresa com o poder de tomar decisões quando
4.4. DISTRIBUIÇÃO POR TRANSFERÊNCIA diante da prática de um delito, ao passo que o CCO assumiria o dever de
implementar um programa de compliance voltado à prática da integridade
No que concerne à distribuição por transferência, há grandes controvér-
dentro da empresa, bem como facilitando o fluxo de informações para de-
sias doutrinárias na medida em que toca no campo de delegação de deveres
tectar o quanto antes a iminência de um delito, reportando essa informação
– conforme já tratado sobre a posição de garante -, o que em grande medida,
à cúpula diretiva da empresa.
ao menos quando se trata do compliance officer, acaba inevitavelmente trazen-
do certa desconfiança por parte da doutrina mais crítica.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como bem pontua Cornelius Prittwitz87, a posição de garante do CCO
A partir do que foi abordado no presente estudo, é possível extrair
é deveras questionável, na medida em que, se de um lado o Estado coage as
conclusões no que se refere à responsabilização penal do compliance officer,
empresas à contratação de compliance officers, com o objetivo de que procedam
inserido no tema sobre responsabilização penal de pessoas jurídicas.
85. Partindo da dogmática penal alemã, os betriebsbezogenen delikten seriam aqueles delitos vincula- Inicialmente, foi possível constatar que em países que adotam a respon-
dos diretamente à uma atividade, ao passo que em sentido oposto estariam os Exzesstaten. ROBLES
PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina; FEIJOO sabilização penal de pessoas jurídicas de forma mais ampla, é factível que a
SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios de derecho
penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, 2016, p. condenação criminal se dê pelo concurso entre pessoas físicas e jurídicas, o
488.
86. ROBLES PLANAS, Ricardo. El responsable de cumplimiento («Compliance Officer») ante el dere-
que permite afirmar a possibilidade de responsabilizar o compliance officer em
cho penal. In: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. (Dir.)/MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel (Coord.), concurso com uma pessoa jurídica.
Criminalidad de empresa y Compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona, 2013, p.
320-321.
87. PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (en especial, posición de garante) de los compliance of-
Nesse contexto, para verificar a forma de responsabilização do compliance
ficers. In: [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y officer, a teoria do domínio do fato permitiu dar alguns contornos à pesquisa;
teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 211-212: “se eles não cumprem suas tarefas
como se deseja, não apenas perderão seu trabalho, mas, eventualmente, também poderão receber uma sendo possível constatar que não foi idealizada para a responsabilização de
punição penal” – Tradução livre dos autores.
176 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 177

pessoas jurídicas. REFERÊNCIAS


AMBOS, Kai. Dominio del hecho por dominio de voluntad en virtud de aparatos organizados de poder.
Nos delitos comissivos, a coautoria entre a empresa e o compliance Disponível em: http://ley.exam-10.com/pravo/36794/index.html. Acesso em: 21.ago.2018.
officer também foi suscitada, sendo possível perceber que é possível atribuir ATAHUAMAN, Jhuliana. La fundamentación de la responsabilidad penal del compliance officer a tra-
à empresa a responsabilidade como autora por uma decisão sobre um fato vés de su especial posición de garante. A propósito de la ley que regula la responsabilidad administrativa
de las personas jurídicas en el Perú. In: CARO CORIA, Dino Carlos (director) REYNA ALFARO, Luis
que consistiu na prática de um delito, mesmo que não tenha participado Miguel (Editor). Anuario de derecho penal económico y de la empresa n° 4. Ideas Solución Editorial, 2018.
da execução desse fato, executado pelo CCO ou mesmo por outro fun- BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lothar
cionário responsável. Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal.
Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 171-205.
Em relação aos delitos omissivos, considerando que o Código Penal Bra- BUSATO, Paulo César. CAVAGNARI, Rodrigo. A teoria do domínio do fato e o código penal brasilei-
sileiro permite a assunção do dever de garante por meio de um contrato, em ro. In: Delictae, vol. 2, n. 2, Jan.-Jun. 2017, p. 83-132.
sendo amplas as atribuições assumidas contratualmente pelo CCO (como o CARO CORIA, Dino Carlos. Empresas criminales y autoría mediata. In: BÖSE, Martin; SCHUMANN,
Kay H.; TOEPEL, Friedrich (directores). Festschrift für Urs Kindhaüser. Baden-Baden: Nomos, 2019.
poder de tomar decisões para evitar a prática de um delito), a responsabilidade
CASTELLANOS MORENO, Carlos. Comentario a la STS 154/2016, de 29 de febrero, primer pro-
da empresa ou dos administradores restaria mitigada na prática. nunciamiento condenatorio del Alto Tribunal que aprecia la responsabilidad penal de las personas ju-
rídicas. In: Alliantia. Disponível em: http://www.aranzadi.es/sites/aranzadi.es/files/creatividad/alliantia/
Com isso, ao ser identificado o cometimento de um crime, a empresa pdf/Comentario_STS_154_2016_Resp_penal_31_bis.pdf. Acesso em: 23 fev 2019.
ou mesmo os dirigentes poderiam imputar o problema no programa de com- CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito penal: parte geral. – 7. ed. rev. atual. e ampl. – Florianópolis:
pliance desenvolvido pelo CCO, que, pelo contrato, teria o dever de impedir Empório do Direito, 2017.
a prática de crimes. Por isso, a prática tende a colocar o compliance officer COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autoregulación regulada? In: [Jesús Ma-
ría Sánchez – dir.] Criminalidad de empresa y compliance: prevención y reacciones corporativas. Barcelona:
como um “bode expiatório” no cometimento de delitos dentro da empresa. Atelier, 2013.
A proposição, portanto, é no sentido de que o compliance officer deve DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de garante del compliance officer por infración del “de-
ber de control”: una aproximación tópica. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán.
assumir competências apenas de implementar um programa de compliance (directores). El derecho penal en la era compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013, p. 165-189.
voltado à uma cultura de integridade na empresa, de modo que sejam DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral – 5. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora
identificadas de forma rápida as possíveis fontes de crime, tendo o CCO Revista dos Tribunais, 2013.
o dever de reportar esses assuntos para a administração da empresa, de FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas. In:
Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008.
modo consultivo. Pode-se dizer que a função do CCO é de meio (preven-
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. El delito corporativo en el código penal español: cumplimiento normativo
tivo) e não de fim. y fundamento de la responsabilidad penal de las empresas. 2. ed. Pamplona: Civitas, 2016.
Mas caso não cumpra suas atribuições, poderá responder pelo crime GONZÁLEZ CUSSAC, José L. O modelo espanhol de responsabilidade penal das pessoas jurídicas do
CP de 2010. In: Revista brasileira de ciências criminais. Ano 25, vol. 132, jun/2017, p. 39-60.
ocorrido na empresa, caso preenchidos os elementos típicos para a res-
GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de
ponsabilidade por omissão, dentre eles a possibilidade de agir (informar empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domínio do
a direção da empresa para que esta decida). fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São Paulo: Marcial
Pons, 2014, p. 81-122.
Para tanto, a partir do estudo desenvolvido, alguns pontos devem ser GROOT, Cornelis de. Corporate Governance as a Limited Legal Concept. New York: Wolters Kluwer Law
levados em conta para o início da promoção de uma verdadeira delimi- & Business, 2009.
tação da responsabilidade do CCO; como o de que sua responsabilidade KUHLEN, Lothar. Cuestiones fundamentales de compliance y Derecho penal. In: [Lothar Kuhlen, Juan
Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid:
seja limitada pelas funções assumidas, mas desde que seja mantida a res- Marcial Pons, 2013.
ponsabilidade originária da empresa ou de seus dirigentes, e de modo LASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Antonio. La delegación como mecanismo de prevención y generación
que a imputação ao CCO esteja diretamente relacionada a uma violação de de deberes penales. In: NIETO MARTÍN, Adán. (Dir.). Manual de cumplimiento penal en la empresa.
Madrid: Tirant lo Blanch, 2015.
suas atribuições.
MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico,
178 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

o ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la rea-
lización de un delito en el ámbito de la delincuencia económica?. In: Revista Penal. n. 09. Barcelona,
2002.p. 59-98.
PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (en especial, posición de garante) de los compliance of-
ficers. In: [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría
del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 207-218.
ROBLES PLANAS, Ricardo. El responsable de cumplimiento («Compliance Officer») ante el derecho CRÍTICA AO CRIMINAL COMPLIANCE
penal. In: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. (Dir.)/MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel (Coord.), Cri-
minalidad de empresa y Compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona, 2013, p. 319-330.
ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina;
Fábio Augusto Tamborlin1
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios de
derecho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, 2016,
p. 487-504. RESUMO: Pouco ou mesmo nenhum. Esse parece ser o espaço destinado à ocupação pelo
compliance no âmbito do sistema criminal. Em que pese à possibilidade do etiquetamento
ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Trad. Espanhola da 7. ed.. Autoría
y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serrano González de dos programas de integridade como solução para diversos problemas penais, esses instru-
Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000. mentos causam tensões insuportáveis ao viés público e à legalidade penais, corroborando,
ainda, com um contexto de irresponsabilidade organizada e seletiva.
ROXIN, Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría mediata. In: Revista
de Estudios de la Justicia. n. 7. Año 2006, p. 11-22. Palavras-Chave: Compliance. Sistema criminal. Problemas penais. Legalidade. Irrespon-
SCHÜNEMANN, Bernd. Responsabilidad penal en el marco de la empresa: Dificultades relativas a la sabilidade organizada.
individualización de la imputación. Anuario de derecho penal y ciencias penales, Tomo 55, Fasc/Mes 1,
2002, p. 9-38.
INTRODUÇÃO
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La evolución ideológica de la discusión sobre la responsabilidad penal O potencial rendimento do compliance no que concerne ao sistema
de las personas jurídicas. In: Derecho penal y criminología. v. 29, n. 86-87. criminal parece ser diretamente proporcional ao afastamento dele em relação
VILLEGAS GARCÍA, María Ángeles. Hacia un modelo de autorresponsabilidad de las personas jurídicas. ao ambiente penal. Por mais paradoxal que possa parecer essa afirmação a
La STS (Pleno de la Sala de lo Penal) 154/2016, de 29 de febrero. Diario La Ley, nº 8721, Sección Doc-
trina, 14 de Marzo de 2016. estrutura de cumprimento normativo poderá ser um melhor instrumento
WELZEL, Hans. Derecho penal alemán. 4. ed. Trad. de Juan Bustos Ramírez e Sérgio Yáñez Peréz. San- político-criminal de contenção e de prevenção delitiva se não estiver inserida
tiago: Editorial Jurídica de Chile, 1997. no cerne da persecução penal, não ocupando, assim, uma posição de destaque
no aparato criminal. Os programas de integridade devem atuar em um espaço
que não é penal, existindo algum ponto de intersecção entre eles tão somente
de modo secundário, reflexo ou indireto.
Para convencer o leitor disso, o trabalho em apreço problematizará os
influxos que a instauração de um programa de compliance pode, a depender
da opção legislativa realizada, ocasionar no tocante ao sistema penal como
um todo. Para tanto, parte-se da premissa de que a responsabilidade penal da
pessoa jurídica, a adoção de um modelo de autorregulação (regulada ou não)
e a implementação de um código de cumprimento normativo configuram
três fenômenos distintos, sendo que nenhum deles se consubstancia como
um pressuposto necessário para a existência do outro.

1. O autor é Mestre estre em Direito pelo programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Fede-
ral do Paraná, na área de Direito de Estado - linha de pesquisa: Direito, Poder e Controle, e pesquisador
do Núcleo de Pesquisas Sistema Criminal e Controle Social da UFPR.
180 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 181

Primeiramente, serão expostas algumas possibilidades de modelos de desenvolvem-se as principais manifestações a respeito das espécies regulatórias
regulação com o propósito de clarificar o discurso da autorregulação para, na que serão expostas no presente trabalho a partir do tópico a seguir.
sequência, defender-se a manutenção, no tocante ao direito penal, da hete-
1.1. AUTORREGULAÇÃO PURA
rorregulação. Em seguida, serão problematizadas as implicações que a adoção
de um modelo autorregulatório aliada à implementação de um programa de Na autorregulação pura as próprias empresas elaboram um sistema de
integridade pode dar ensejo no que tange à conjuntura jurídico-penal. regulação interno, à margem dos poderes públicos, ou seja, sem a interferência
estatal. Nesse modelo, o Estado permanece excluído, tanto no que tange à
Em um primeiro momento, isso será realizado com o foco direcionado
elaboração das normativas, quanto no que se refere à supervisão e à sanção4.
aos desafios já enfrentados pelo direito penal inserido no paradigma social do
As empresas, na fruição de sua autonomia, regulam-se do modo que melhor
risco e, posteriormente, a partir dos debates decorrentes da análise da legisla-
lhes aprouver, sem serem condicionadas por agentes externos, adotando os
ção brasileira e dos dispositivos legais internacionais a respeito do compliance
sistemas de gestão de riscos que lhes pareçam mais adequados.
e da responsabilização criminal do ente coletivo.
1.2. METARREGULAÇÃO
1. FUNDAMENTOS E TENDÊNCIAS PARA UMA Outro modelo regulatório possível de ser adotado trata-se da metar-
AUTORREGULAÇÃO regulação. Por meio dessa espécie regulatória o Estado estabeleceria alguns
Há diversas formas regulatórias a partir das quais se desenvolvem as padrões gerais ou diretrizes a serem adotadas pelas empresas, e, em um mo-
relações entre o Estado e as entidades empresariais. Vislumbra-se uma ten- mento posterior, outorgaria incentivos ou benefícios visando a despertar o
dência de proposições visando aumentar o espaço de liberdade das entidades interesse das pessoas jurídicas em relação à observância dos parâmetros gerais
privadas em detrimento de interferências advindas das instituições públicas2. estabelecidos pelo ente estatal5.
Nesse sentido, observam-se alguns discursos que almejam atribuir legitimação Nesse contexto, o Estado não realizaria uma efetiva regulação, apenas
ao referido movimento. apresentaria alguns marcos gerais e abstratos, restando uma ampla margem
Existe a corrente que se ancora na autonomia dos cidadãos corpo- discricionária às empresas, a fim de que elas possam, a partir dessas dire-
rativos. Outra vertente, de matriz tecnocrática, baseia-se no argumento trizes, elaborar seus respectivos instrumentos normativos da maneira que
eficiência, e, a partir de um pensamento utilitarista, assevera que as in- lhes for mais oportuna6.
tromissões estatais atrapalham o desenvolvimento econômico, sobretudo 1.3. AUTORREGULAÇÃO REGULADA
em razão da inferioridade técnica do ente estatal em comparação com as
empresas, as quais conseguem proporcionar uma regulação mais eficiente. Outra hipótese refere-se à autorregulação regulada, ou corregulação,
Uma terceira possibilidade funda-se no argumento democrático, vez que modelo regulatório no âmbito do qual o ente privado ingressa no processo de
a autorregulação daria azo a uma devolução do poder por parte do Estado regulação, contudo permanecendo, ao menos em tese, subordinado ao Estado
em favor de entidades privadas, logrando-se, dessa forma, a consecução de e aos fins por ele perseguidos, prevalecendo o interesse público. Dessa forma,
mecanismos de regulação mais democráticos3. o Estado manteria um papel de destaque na tarefa regulatória, recorrendo às
empresas a fim de obter uma colaboração no que se refere à elaboração e ao
Por intermédio de um desses discursos de legitimação, ou mesmo em cumprimento de dispositivos normativos7.
virtude da soma de parte ou da totalidade dos argumentos acima sintetizados,
4. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada? in
[Jesús María Silva Sánchez – dir.] Criminalidad de empresa y compliance: prevención y reacciones
2. MAROTO-CALATAYUD, Manuel. Liberalismo vs. Neocorporativismo: los discursos de la autor- corporativas. Barcelona: Atelier, 2013. p. 49.
regulación como discursos legitimantes. p. 73-95 in Autorregulación y sanciones. 2. ed. Thomson 5. Ibidem. p. 50-51.
Reuters Aranzadi. 6. Idem
3. MAROTO-CALATAYUD, Manuel. Liberalismo vs. Neocorporativismo... op. cit. p. 73-95. 7. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?…
182 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 183

Essa autorregulação pode ser delegada, quando o Estado delega pon- Um dos principais argumentos em defesa da autorregulação é a in-
tualmente a faculdade de regulação, mas mantém o poder de revisão, de capacidade estatal de lidar com as questões complexas de uma sociedade
supervisão e de sanção. Também pode ser classificada como autorregulação globalizada e altamente desenvolvida no que tange ao aspecto tecnológico.
transferida, hipótese em que o Estado transfere o poder de regulação, de su- Esses altos níveis de tecnicidade também impactam e fundam as estruturas
pervisão e de sanção, mas mantém o poder de revisão. Ademais, numa terceira empresariais. A especialização e a profissionalização das atividades inerentes
possibilidade, o Estado trabalha pari passu com a empresa na elaboração de às grandes organizações, assim como os modelos de gestão por elas adotados,
sistemas de regulação, havendo uma cooperação entre os dois segmentos dessa impossibilitariam a existência de sistemas gerais de heterorregulação14.
interação do público com o privado8. Aos argumentos acima expostos acrescenta-se a alegação de que o Estado
Em virtude do acima exposto, para COCA VILA9 os modelos de au- social encontra-se em uma profunda crise, não possuindo, por exemplo, capa-
torregulação regulada seriam os mais aptos a propiciar a consecução de um cidade financeira para arcar com os custos relativos aos processos de regulação,
interesse estatal de intervir à distância, utilizando as empresas para cumprir de supervisão e desanção15.
os fins do Estado. Desse modo, ou o particular participa do processo de re- De fato, hodiernamente há um descompasso entre a complexidade dos
gulação, ou o Estado lhe concede maior liberdade de agir. mais variados seguimentos sociais e a capacidade estatal de tratar as questões
De fato, a autorregulação regulada, sob a perspectiva doutrinária, a eles relacionadas. BAUMAN e BORDONI16 vislumbram esse contexto a
parece figurar como a espécie preferencial entre parcela relevante dos au- partir da análise de que o neoliberalismo se apropria de determinada parcela
tores, ou, ao menos, a ela é direcionado um olhar otimista10. As aparentes da responsabilidade estatal, favorecendo um processo, gradual, de privatização
vantagens desses modelos regulatórios, assim como dos programas de com- de atividades desempenhadas pelo poder público.
pliance, se manifestariam claramente em uma sociedade do risco, global e Em virtude dessa perda de poder ocorre uma diminuição no atendi-
complexa11. Segundo SIEBER12, as regulações derivadas das empresas fre- mento às políticas públicas essencialmente econômicas. Ou seja, o Estado
quentemente podem ser consideradas melhores e mais efetivas em relação torna-se incapaz de tomar decisões no âmbito econômico e essa vicissitude
aos instrumentos regulatórios do direito penal e do direito administrativo, dá ensejo a lacunas e a falhas no tocante às prestações de serviços sociais.
por exemplo. Por intermédio de uma interação funcional entre os sistemas Em razão disso, o ente público em crise deixa de prover o bem estar social
de regulação privados e estatais seria possível aprimorar o nível de eficiência e se transforma em uma espécie de parasita da sociedade, extraindo dos
do controle da criminalidade empresarial13. segmentos sociais muito mais do que sua capacidade de fornecimento, preo-
cupando-se tão somente com a sua subsistência17.
op. cit p. 50-51; SIEBER, Ulrich. Programas de ‘compliance’ en el Derecho penal de la empresa,
in [Adán Nieto – org.] El derecho penal económico en la era de La compliance. Valencia: Tirantlo No atual jogo político, o Estado opera uma espécie de controle em re-
Blanch, 2013. p.10.
8. COCA VILA, Ivó.¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op. lação aos cidadãos sem, todavia, se responsabilizar por eles, desempenhando
cit. p. 51-52. um papel semelhante a uma governança neoliberal, em um cenário no qual o
9. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op.
cit.p. 51-52 poder é administrado por mercados e grupos financeiros. Nessa conjuntura,
10. Nesse sentido: GOMES-JARA DÍEZ, Carlos. La incidência de la autorregulación en el debate
legislativo y doctrinal actual sobre la responsabilidad penal de las personas jurídicas. p. 249-318 os laços entre Estado e cidadãos perdem força, e a sociedade, ao perder coesão,
in Autorregulación y Sanciones. 2 ed. Thomas Reuters Aranzadi; SIEBER, Ulrich. Programas de torna-se líquida, incerta e menos solidária, em razão da ausência de vínculos,
‘compliance’ en el Derecho penal de la empresa, p.63-110 in [Adán Nieto – org.] El derecho penal
económico en la era compliance. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013. SILVEIRA, Renato de Mello Jorge;
SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, direito penal e lei anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2015.
NIETO MARTÍN, Adan. Problemas fundamentales del cumplimiento normativo en el Derecho
penal in [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y 14. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op.
teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. cit. p. 45-46.
11. SIEBER, Ulrich. Programas de ‘compliance’ en el Derecho penal de la empresa... op. cit. p. 22-23. 15. Ibidem. p. 46-48.
12. Idem. 16. BAUMAN, Zygmunt; BORDONI, Carlo. Estado de crise. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. p. 28.
13. Idem. 17. Ibidem. p.28.
184 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 185

típico do vigente vulcão civilizatório global18. mais variadas áreas sociais, é preciso problematizar se a privatização das
Sendo assim, o Estado sucumbe em grande medida ao poder econômico, atividades do Estado, ou a minimização da heterorregulação, são as melho-
adotando medidas compatíveis com o neoliberalismo visando à manutenção, res, ou mesmo as únicas, alternativas possíveis. Lançando-se um olhar em
ao menos, o status quo. Desse cenário, resulta um estatismo sem Estado, dei- direção às peculiaridades inerentes à sociedade de risco global e os influxos
xando de lado todas as promessas do welfare state por meio de um governo penais dela advindos, é possível vislumbrar uma opção distinta. O próximo
sem responsabilidade final em relação aos cidadãos19. tópico buscará esmiuçar as questões atinentes a essa temática.
O fenômeno acima elucidado é nitidamente percebido quando se
2. TENSÕES RELATIVAS À INTERSECÇÃO DOS PROGRAMAS
vislumbra que 69 das 100 maiores entidades econômicas do mundo, ou
DE INTEGRIDADE COM O DIREITO PENAL
então 153 entre as 200 primeiras do ranking, são corporações e não países,
tendo-se em vista as receitas relativas ao ano de 201520. Ressalta-se, ainda, O presente ponto visa expor e problematizar tensões atinentes à im-
que essa disparidade está em expansão e a tendência é que as corporações plementação de um programa de cumprimento normativo, especialmente
ganhem ainda mais protagonismo. Ademais, o referido crescimento econô- no que concerne a um direito penal inserido num contexto de autorregu-
mico das entidades empresariais auxilia na compreensão da profusão dos lação regulada.
discursos favoráveis ao aumento de liberdade das corporações em detrimen- Segundo COCA VILA22, as barreiras impostas em relação à aceitação
to de intervenções estatais. do referido modelo regulatório são inversamente proporcionais ao grau de
intervenção do Estado. Dessa forma, quanto maior o espaço de regulamen-
1.4. A OPÇÃO PELA HETERORREGULAÇÃO
tação ocupado pelo ente estatal mais legitimada a forma de autorregulação
Primeiramente, é imperioso destacar que o objeto de estudo da presente regulada estará. Além disso, o nível tolerável de flexibilização do princípio
pesquisa permeia e perpassa, especificamente, o direito penal. Sendo assim, da legalidade depende dos efeitos jurídicos que o poder público está dis-
os debates, os argumentos e as críticas no que tange aos modelos regulatórios posto a ceder ao regulado.
são descritos e problematizados sob o prisma jurídico-penal, em detrimento
Na sociedade de risco, o processo de modernização torna-se reflexivo,
do viés econômico, ou mesmo de outras questões jurídicas relevantes sob as
transformando a si próprio em um tema problema. Nesse contexto, ocorre
perspectivas inerentes ao direito civil ou administrativo.
uma autoconfrontação do modelo social em comento. Sendo assim, a mo-
Em que pese a exposição a respeito dos modelos autorregulatórios o dernidade reflexiva, atual estágio do referido paradigma social, significa
presente trabalho filia-se à heterorregulação, por meio de um posicionamen- essa autoconfrontação com os riscos advindos da modernização, os quais
to crítico em relação autorregulação no âmbito do direito penal21. Apesar não podem ser abordados mais da mesma forma e, portanto, recorre-se
das dificuldades que o modelo estatal encontra no tocante à regulação das a outros mecanismos de controle23. É justamente nesse espaço que ganha
força o debate a respeito do compliance como instrumento de prevenção de
18. Idem. delitos, auxiliando o direito penal na tarefa de controle social. Ocorre que,
19. BAUMAN, Zygmunt; BORDONI, Carlo. Estado de crise... op. cit. p. 46-47.
20. Críticas e problemas derivados desse fenômeno são expostas nos documentários “The Corporation” e como consequência o aparato penal pode perder características essenciais,
“Na rota do dinheiro sujo”. Os dados informados foram divulgados pelo Global Justice Now. Disponí- conforme se passará a expor.
vel em: https://www.globaljustice.org.uk/news/2016/sep/12/10-biggest-corporations-make-more-mo-
ney-most-countries-world-combined.
21. Em sentido semelhante ao posicionamento de autores tais como: ORTIZ DE URBINA GIMENO,
Iñigo. Compliance y sanciones penales para La empresa in [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e
Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons,
2013; KUHLEN, Lothar. Cuestiones fundamentales de compliance y Derecho penal in [Lothar
Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho 22. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op.
Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013; PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (en especial, po- cit. p. 52.
sición de garante) de los compliance officers p. 207-218 in Compliance y teoría del Derecho Penal. 23. BECK, Ulrich in BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: polí-
Madrid: Marcial Pons, 2013. tica, tradição e estética na ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2012. p. 18-22.
186 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 187

2.1. PRIVATIZAÇÃO DO DIREITO PENAL penal, por exemplo27.


A princípio, o estabelecimento de um código ético por determinada Investigações internas realizadas pelas empresas além de deixarem os
empresa não representa nenhum inconveniente ao poder público, pois essa trabalhadores em uma posição ainda mais vulnerável podem ser manejadas
atividade está inserida no âmbito da autonomia privada, configurando um como um filtro que depure o conteúdo apurado conforme o interesse da cor-
exercício de autorregulação voluntária. Os problemas surgiriam a partir do poração, em detrimento do interesse público. Dessa forma, seriam remetidas
momento em que os dispositivos normativo internos incorporassem determi- às autoridades apenas as informações que interessassem de algum modo o
nados efeitos jurídicos os quais, via de regra, são assumidos pelo poder público. setor privado, o qual realizaria uma espécie de seletividade penal “ex ante”28.
COCA VILA24 aduz, no entanto, que a aceitação de uma norma pri- Nesse contexto, haveria, concomitantemente uma espécie de privatização da
vada como determinante, ou como codeterminante - para a aferição da persecução penal aliada a um adiantamento dessa intervenção, agora promo-
reprovação penal - representa uma cessão encoberta da competência legisla- vida pelo ente privado e sem a observância da totalidade dos direitos e das
tiva a um ente ou a um grupo de entidades privadas, situação inconciliável garantias do indivíduo, via de regra respeitadas pelo ente público, criando-se
com a noção de direito penal, e, por conseguinte, de Estado de direito. um ambiente propício a abusos e ações invasivas.
Essa privatização significa, também, o abandono da pena estatal com con- 2.2. DESNATURALIZAÇÃO DO APARATO PENAL
sequente regresso a uma solução privada em relação aos casos penais, os
Os debates acerca da autorregulação e dos ruídos que a implementação
quais configuram os conflitos mais graves da sociedade. Isso, sem nenhuma
de um programa de integridade pode causar no sistema penal não representam
dúvida, compõe o déficit de legitimidade da autorregulação regulada em
um ponto fora da curva. Pelo contrário, estão inseridos numa conjuntura em
relação às questões penais.
que o direito penal está se autoconfrontando, problematizando a si próprio a
O direito penal é essencialmente público, além disso, a noção de pena se fim de adaptar-se ao estágio atual do paradigma social do risco29.
diluiria em um sistema em que sujeitos privados decidiriam o que configura,
As grandes narrativas se desfazem e os pontos de referência se diluem,
ou não, delito25. Ao se considerar o compliance como forma de autorregula-
corroborando com um direito penal líquido30 e dificultando o exercício da
ção verifica-se a existência de alguns problemas normativos. Primeiramente,
função de dique de contenção do Estado de Direito31. Nesse contexto, tenta-se
levanta-se a dúvida em relação à legitimidade da delegação de funções regula-
propiciar soluções aos novos problemas penais por intermédio da utilização
doras estatais a setores privados. KUHLEN26, remetendo a uma analogia feita
de instrumentos que dão ensejo a outros questionamentos. Diante disso,
por SCHÜNEMANN, questiona se isso não seria similar a colocar a raposa
princípios tão fundamentais como o da legalidade, o da intervenção mínima
para cuidar do galinheiro.
e do respeito às garantias processuais são tensionados.
Configuram-se como problemas relevantes as consequências que o com-
O direito penal reativo, visando a reprimir condutas ativas que produ-
pliance proporciona ao sistema de justiça penal. A instauração de um desses
zem resultado lesivo (dano) via de regra a bens jurídicos individuais, torna-se
programas implicaria uma redução, ou mesmo um afastamento, das sanções
um instrumento de controle social que se preocupa preponderantemente em
advindas do Estado e direcionadas às empresas. Outro ponto fulcral concer-
ne aos resultados obtidos pelas investigações internas levadas a cabo pelas
27. Idem.
empresas e até que ponto eles poderiam ser utilizados no âmbito do processo 28. GÓMEZ MARTÍN, Víctor. Compliance y Derechos de los trabajadores in [Lothar Kuhlen, Juan
Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid:
24. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op. Marcial Pons, 2013. p. 130-132.
cit.p. 52. 29. BECK, Ulrich in BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: políti-
25. Ibidem. p.69. ca, tradição e estética na ordem social moderna... op. cit. p. 18-22.
26. KUHLEN, Lothar. Compliance y Derecho penal en Alemania,in [Santiago Mir Puig, Mirentxu Cor- 30. BAUMAN, Zygmunt. Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio
coy Bidasolo e Victor Gómez Martín – dir.] Responsabilidad penal de la empresa y compliance. Pro- de Janeiro: Zahar, 2005. p. 56-58.
gramas de prevención, detección y reacción penal. Madrid-Buenos Aires-Montevideo: Edisofer-BdeF, 31. ZAFFARONI, Eugenio Raul. O inimigo no direito penal. Trad. Sérgio Lamarão. 2. ed. Rio de Janei-
2014. p. 106-107. ro: Revan, 2007. p. 172-177.
188 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 189

prevenir a ocorrência de crimes, sobretudo de perigo (abstrato ou concreto), ameaças advindas do modelo social hodierno se concretizem. Para tanto,
advindos de condutas muitas vezes omissivas (próprias ou impróprias) e que o aparato penal utiliza mecanismos acima citados com os quais adiantam
ofendem bens jurídicos de caráter supraindividual32. a punibilidade de modo a aprimorar o seu viés preventivo em detrimento
Norma penal em branco, perigo abstrato, bem jurídico supraindi- do aspecto reativo34.
vidual, crime omissivo impróprio e delitos culposos são elementos que Essa antecipação colide, em certa medida, com os princípios da legalida-
promovem um adiantamento das barreiras de imputação ou, sendo mais de e da intervenção mínima, distorcendo o caráter de ultima ratio do direito
claro, da intervenção criminal. O nível desse adiantamento será diretamente penal. Ademais, a fronteira entre as esferas penal e administrativa torna-se
proporcional à quantidade desses instrumentos dogmáticos visualizados em cada vez menos decifrável, configurando-se como uma linha muito tênue35.
um determinado tipo penal. Portanto, deve-se impor limites aos avanços das barreiras de imputação,
O compliance é mais uma peça nesse tabuleiro. Contudo, no atual no intuito de que o direito penal não se consubstancie como um aparato de
estágio da discussão dos problemas penais ele está ocupando uma posição punição ante factum, mantendo-se como um instrumento post factum, visto
central, pois aos programas de integridade está se incumbindo um dever de que uma característica inerente ao sistema criminal é estar atrasado, ou seja,
apaziguamento de grande parte dos problemas jurídico-penais. A respon- atuar após a ocorrência da lesão ou do perigo de lesão, sob pena de vigorar
sabilidade penal da pessoa jurídica, a privatização da persecução penal, o um direito penal autoritário, baseado em probabilidades e estigmas.
anseio por maior eficiência no tocante à intervenção criminal e a prevenção Os programas de integridade podem ser caracterizados como um ins-
da ocorrência de delitos, são temas que parecem orbitar em torno dos sistemas trumento apto, em determinadas circunstâncias, a auxiliar na prevenção de
de cumprimento normativo. ilícitos, inclusive de fatos delitivos. Sendo assim, essas estruturas corroboram
No entanto, é importante salientar que as supostas soluções, em relação às com o viés preventivo que permeia o sistema penal vigente36. Contudo, há
quais há um otimismo empolgante, muitas vezes dão ensejo a outros problemas duas formas distintas de se observar o compliance enquanto mecanismo pre-
ainda mais difíceis de serem contornados, corroborando para a intensificação ventivo. Primeiramente, no âmbito de um modelo de heterorregulação ele
de aspectos negativos. Nesse sentido, é válida a advertência promovida por atuaria em um momento pré-penal, ou seja, “não penal”, não corroborando
MONTIEL FERNÁNDEZ33 segundo a qual a aplicação equivocada de um necessariamente com um adiantamento da punibilidade.
programa de compliance pode ter o mesmo efeito do que apagar um incêndio Do contrário, verificando-se como pressuposto um modelo de autorre-
com gasolina, uma vez que as práticas defeituosas podem implicar o aumento gulação (regulada ou não), em que há uma transferência de atribuições estatais
dos riscos penais. O problema em si não reside nesse instrumental, mas sim no ao particular, o qual passa a ter uma margem de atuação muito maior, repre-
nível de discricionariedade dos entes coletivos e na falta de controle das ações sentando sob determinado aspecto, uma espécie de privatização, ainda que
das empresas, assim como na classificação da implementação de um programa parcial, da justiça penal, observa-se que o compliance terá um papel relevante
de cumprimento de normas como uma cláusula de isenção de pena, tema que
será tratado com mais detalhes adiante.
34. BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Crimes de perigo abstrato e o princípio da precaução na sociedade de
Diante disso, o direito penal buscando a consecução do seu papel de risco. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013 p. 71-74.
35. FEIJÓO SÁNCHEZ, BERNARDO. Sobre a “administrativização” do direito penal na “socie-
gestor de parcela dos riscos antecipa a sua atuação a fim de evitar que as dade do risco”. Notas sobre a política criminal no início do século XXI in Revista Liberdades, nº
7, maio- agosto, 2011. p. 01. Disponível em: http://www.revistaliberdades.org.br/site/outrasEdicoes/
outrasEdicoesExibir.php?rcon_id=84 Acesso em: 01/02/2019.
36. “Os comportamentos passam a ser criminalizados não porque são socialmente inadequados, mas para
32. Nesse sentido as obras de MACHADO, Marta Rodriguez de Assis. Sociedade do risco e direito pe- que passem a sê-lo. Em lugar de resposta e retribuição, a ênfase está na prevenção de futuras pertur-
nal: uma avaliação de novas tendências político-criminais. São Paulo: IBCCRIM, 2005; MENDOZA bações de grande magnitude. ’Não se trata de compensar a injustiça, mas de prevenir o dano; não se
BUERGO, Blanca. El derecho penal en La sociedad del riesgo. Madrid: Civitas, 2001. trata de castigar, mas de controlar; não se trata de retribuir, mas de produzir segurança; não se trata do
33. MONTIEL, Juan Pablo. Autolimpieza empresarial: Compliance programs, investigaciones internas passado, mas do futuro’”. FEIJÓO SÁNCHEZ, Bernardo. Sobre a “administrativização” do direito
y neutralización de riesgos penales. [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gi- penal na “sociedade do risco”... op. cit. p. 32. http://www.revistaliberdades.org.br/site/outrasEdico-
meno – eds.], in Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 242-243. es/outrasEdicoesExibir.php?rcon_id=84. Acesso em: 01/02/2019.
190 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 191

no tocante ao adiantamento das barreiras de imputação, uma vez que o siste- possível apenas em alguns casos específicos de crimes ambientais. Além
ma penal, ou algo que o valha (investigações internas e sanções advindas do disso, ainda não está vigente nenhuma lei penal, ou ao menos expressamente
ente privado instituidor do programa de cumprimento normativo) incidirá denominada como tal, que faça referência aos programas de integridade. A
em um momento ainda mais antecipado. Essa antecipação, como se verá no discussão sobre esses temas, sob o prisma criminal, possui maior difusão e
próximo ponto, é organizada e direcionada a destinatários específicos. profundidade no ambiente doutrinário, sendo mais restrita no tocante às
Sendo o direito penal um dique de contenção do Estado de polícia37, perspectivas legislativa e jurisprudencial.
assegurando, portanto, o Estado de direito, é oportuno expor que, mutatis O projeto de Lei n° 236/2012, proposto pelo Senado Federal e ainda
mutandis, as estruturas básicas do direito devem ser resguardadas e uma priva- em trâmite nessa casa legislativa, diz respeito a um novo Código Penal cuja
tização de tarefas tipicamente penais e processuais penais tem que ser evitada, redação prevê a ampliação da responsabilidade penal dos entes coletivos40,
visando-se à manutenção do direito penal enquanto uma barreira de proteção dando indícios de uma possível mudança legislativa. Por conseguinte, a pro-
em face de um Estado autoritário, bem como frente a uma irresponsabilidade posição defendida no presente trabalho possui uma conotação de lege ferenda.
auto-organizada e sofisticada do mundo corporativo38. Nos últimos anos, houve algumas previsões legislativas, ao menos no
Diante do exposto, verifica-se que o compliance pode ter um papel que se refere ao compliance. A Lei anticorrupção vigente desde 2013 trouxe,
secundário no que tange ao aprimoramento do controle da empresa sobre ela no artigo 7°, a previsão de que seria levada em consideração no momento de
própria, contudo não deve se caracterizar como algo soberano em relação ao aplicação de sanções a existência de mecanismos e procedimentos internos de
Estado, tampouco pode ser apto a afastar ou a substituir a atuação estatal, vez integridade, auditoria e incentivo denúncia de irregularidades e a aplicação
que a heterorregulação é imprescindível. Os programas de cumprimento não efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica.
podem representar um adiantamento excessivo das barreiras de imputação, O Decreto n° 8.420/2015, que regulamenta a Lei 12.846/2013, além
assim como não devem ocupar um papel protagonista em espaços de atuação de trazer uma definição de “programa de integridade”41 elenca dezesseis parâ-
ocupados pelo Estado, sob pena de violação dos princípios da intervenção metros que deverão ser avaliados no momento de dosimetria da penalidade a
mínima e da legalidade, respectivamente. ser imposta no âmbito da responsabilização administrativa da pessoa jurídica42.
No próximo item dar-se-á continuidade à análise das tensões relacionadas ordenamentos jurídicos a possibilidade de responsabilizar penalmente as pessoas jurídicas.
às consequências, sobretudo penais, da efetivação de um código de cumpri- 40. BRASIL. SENADO FEDERAL. Projeto de Lei n° 236/2012. Disponível em: https://www25.senado.
leg.br/web/atividade/materias/-/materia/106404. Acesso em: 17 de novembro de 2018.
mento normativo. Todavia, as problematizações serão extraídas dos dispositivos 41. “Art. 41. Para fins do disposto neste Decreto, programa de integridade consiste, no âmbito de uma
legais, ou da aplicação dada a eles, no âmbito nacional e internacional, com a pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e in-
centivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas
finalidade de se proporcionar um nível maior de concretude ao debate. e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados
contra a administração pública, nacional ou estrangeira. ”
42. I - comprometimento da alta direção da pessoa jurídica, incluídos os conselhos, evidenciado pelo apoio
visível e inequívoco ao programa; II - padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimen-
3. OS PROGRAMAS DE INTEGRIDADE INSERIDOS NA tos de integridade, aplicáveis a todos os empregados e administradores, independentemente de cargo
REALIDADE LEGISLATIVA BRASILEIRA ou função exercidos; III - padrões de conduta, código de ética e políticas de integridade estendidas,
quando necessário, a terceiros, tais como, fornecedores, prestadores de serviço, agentes intermediários
e associados; IV - treinamentos periódicos sobre o programa de integridade; V - análise periódica de
Diferentemente de diversos ordenamentos jurídicos, a legislação brasi- riscos para realizar adaptações necessárias ao programa de integridade; VI - registros contábeis que
reflitam de forma completa e precisa as transações da pessoa jurídica; VII - controles internos que
leira ainda é incipiente no tocante à responsabilização criminal das pessoas assegurem a pronta elaboração e confiabilidade de relatórios e demonstrações financeiros da pessoa
jurídica; VIII - procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no âmbito de processos lici-
jurídicas39. Motivo pelo qual, a imputação de delitos ao ente coletivo é tatórios, na execução de contratos administrativos ou em qualquer interação com o setor público, ainda
que intermediada por terceiros, tal como pagamento de tributos, sujeição a fiscalizações, ou obtenção
37. ZAFFARONI, Eugenio Raul. O inimigo no direito penal. Trad. Sérgio Lamarão. 2. ed. Rio de Janei- de autorizações, licenças, permissões e certidões; IX - independência, estrutura e autoridade da instân-
ro: Revan, 2007. p. 172-177. cia interna responsável pela aplicação do programa de integridade e fiscalização de seu cumprimento;
X - canais de denúncia de irregularidades, abertos e amplamente divulgados a funcionários e terceiros,
38. BECK, Ulrich. Sociedade de risco mundial: em busca da segurança perdida. Edições 70, 2015. p. e de mecanismos destinados à proteção de denunciantes de boa-fé; XI - medidas disciplinares em caso
63-64. de violação do programa de integridade; XII - procedimentos que assegurem a pronta interrupção de
39. Estados Unidos, Itália, Chile e Espanha são exemplos de países que preveem em seus respectivos irregularidades ou infrações detectadas e a tempestiva remediação dos danos gerados; XIII - diligên-
192 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 193

Por meio da observância desses requisitos é possível lograr uma redução da A normativa australiana46 aponta e a legislação brasileira segue no
multa, por exemplo. Além disso, por intermédio dos acordos de leniência é mesmo sentido. O comportamento da alta direção no que tange ao progra-
possível impor à empresa que instaure ou que aperfeiçoe o respectivo pro- ma de integridade é o primeiro entre os cinco pilares principais elencados
grama de integridade. Percebe-se, ainda, um engajamento da Controladoria pela Controladoria Geral da União47. Ademais, é o primeiro princípio con-
Geral da União no tocante ao estímulo e ao desenvolvimento de programas tido na Lei 12846 de 2013 e o primeiro parâmetro de avaliação de um
de integridade, sobretudo na perspectiva da administração pública43. programa de integridade constante no decreto 8420 de 2015. Esse compro-
No âmbito estadual, merecem destaque os diplomas legislativos do Rio metimento não pode ser contaminado por meio de um sistema no qual a
de Janeiro44 e do Distrito Federal45. Ambos previram a obrigatoriedade da exis- busca por uma blindagem face à possibilidade de imputação penal torne-se
tência de um programa de integridade para que as empresas contratem com uma premissa, pois essa nuance desvirtuaria desde a gênese a finalidade do
a Administração Pública sob determinadas circunstâncias relativas à modali- estabelecimento de um programa de integridade.
dade de contratação e aos valores envolvidos. Tendo-se em vista a conjuntura internacional, assim como a profu-
Esses dispositivos legais, federais, estaduais ou distritais, embora não são dos debates doutrinários e os diplomas legais disciplinando o tema,
regulamentem os programas de cumprimento sob a perspectiva penal, trazem sobretudo no que concerne ao direito administrativo e ao direito civil, é
alguns indícios relevantes. Primeiramente, eles preveem a redução da pena- latente a disciplina penal desse instrumento. Ou seja, é muito provável que
lidade e não a isenção de responsabilidade, em decorrência da existência de em breve seja regulamento algum aspecto ou efeito de natureza penal em
um compliance aparentemente eficiente e que cumpra os parâmetros esta- decorrência da estruturação, ou não, de um programa de integridade no
belecidos pela legislação. Ademais, assim como documentos internacionais, âmbito das corporações.
ressaltam que o comprometimento da alta hierarquia é um dos principais Essa é uma realidade cada vez mais evidente. Não é sem motivo que
parâmetros de consecução de um código de ética eficiente. um dos maiores portais de notícias do Brasil divulgou uma matéria a respeito
de empresas que “aumentam investimentos em ‘compliance’ com o objetivo
de reconstruir a reputação, cumprir exigências de acordos de leniência e
cias apropriadas para contratação e, conforme o caso, supervisão, de terceiros, tais como, fornecedores, prosseguir com negócios”48. Ademais, uma dessas corporações procurou a
prestadores de serviço, agentes intermediários e associados; XIV - verificação, durante os processos
de fusões, aquisições e reestruturações societárias, do cometimento de irregularidades ou ilícitos ou RINA, uma das maiores certificadoras mundiais, a fim de obter as certifica-
da existência de vulnerabilidades nas pessoas jurídicas envolvidas; XV - monitoramento contínuo do
programa de integridade visando seu aperfeiçoamento na prevenção, detecção e combate à ocorrência ções a respeito da observância das ISO’s 19.600/2014 e 37.001/2016, que
dos atos lesivos previstos no art. 5º da Lei no 12.846, de 2013; e XVI - transparência da pessoa jurídica atestam, respectivamente, que a empresa implementou modelos padrões de
quanto a doações para candidatos e partidos políticos.
43. CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO. Coleção Programa de Integridade. Disponível em gestão de compliance e antissuborno49.
http://www.cgu.gov.br. Acesso em 03 de janeiro de 2019. Esse esforço do governo brasileiro faz parte,
também, de uma estratégia que visa ao ingresso do país na Organização para a Cooperação e Desen- Corrobora com esse contexto, ainda, o fato de que o Ministério Pú-
volvimento Econômico (OCDE), a qual vem sendo desenvolvida desde que o Brasil virou signatário
da Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações blico Federal no âmbito da Orientação Conjunta n° 1/2018, que disciplina
Comerciais Internacionais, concluída em Paris, em 17 de dezembro de 1997, conforme decreto 3678
de 2000, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3678.htm. os acordos de colaboração premiada, recomendou, no item 32.1, a inclusão
44. Lei n° 6112 de 2018 do Distrito Federal. Art. 1º “Fica estabelecida a obrigatoriedade de implementa-
ção do Programa de Integridade em todas as empresas que celebrem contrato, consórcio, convênio, de obrigações de governança corporativa e de compliance como espécie de
concessão ou parceria público-privada com a Administração Pública do Distrito Federal, em todas
as esferas de Poder, cujos limites de valor sejam iguais ou superiores aos da licitação na modalidade 46. Australian Standard 3806-2006. Disponível em: http://aeaecompliance.com/images/documentos/AS-
tomada de preço, estimados entre R$ 80.000,00 e R$ 650.000,00, ainda que na forma de pregão eletrô- 3806-2006-Compliance-Standard.pdf . Acesso em 12 de janeiro de 2019.
nico, e o prazo do contrato seja igual ou superior a 180 dias.”
45. Lei n° 7753 de 2017 do Rio de Janeiro. Art. 1° “Fica estabelecida a exigência do Programa de Integri- 47. Disponível em: https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/manual-gestao-de-
dade às empresas que celebrarem contrato, consórcio, convênio, concessão ou parceria público-priva- -riscos.pdf. Acesso em 06 de janeiro de 2019.
do com a administração pública direta, indireta e fundacional do Estado do Rio de Janeiro, cujos limi- 48. Matéria publicada em 09 de Julho de 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/negocios/
tes em valor sejam superiores ao da modalidade de licitação por concorrência, sendo R$ 1.500.000,00 noticia/para-virar-a-pagina-empresas-da-lava-jato-investem-em-planos-anticorrupcao.ghtml. Acesso
(um milhão e quinhentos mil reais) para obras e serviços de engenharia e R$ 650.000,00 (seiscentos e em: 16/11/2018.
cinquenta mil reais) para compras e serviços, mesmo que na forma de pregão eletrônico, e o prazo do 49. Disponível em: https://www.construtoraqueirozgalvao.com.br/construtora-queiroz-galvao-brasil-ado-
contrato seja igual ou superior a 180 (cento e oitenta) dias.” ta-praticas-internacionais-de-gestao-anticorrupcao/ Acesso em 12 de novembro de 2018.
194 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 195

contrapartida a ser exigida do colaborador50. Destaca-se, primeiramente, dispositivos legais atinentes à responsabilização criminal do ente coletivo
que o primeiro regramento de natureza penal a respeito dos programas de e ao estabelecimento de códigos éticos51. O voto divergente de Cándido
integridade adveio do parquet e não do legislativo brasileiro. Ademais, no Conde Pumpido Tourón, acompanhado de outros magistrados componen-
ano de 2015, mesmo sem a formalização da referida orientação ministerial, tes do Tribunal Superior Espanhol, criticou alguns pontos polêmicos da
em sede do termo de acordo de colaboração premiada constante na Petição referida decisão. Nesse voto minoritário, refutou-se, em razão do princípio
n° 5624 (Supremo Tribunal Federal), foi prevista como pena acessória ao da legalidade, a tese vencedora, na qual se impôs que a existência de um
colaborador a implementação e a evolução de um programa de compliance, programa de integridade configuraria um elemento componente do núcleo
assim como de princípios de governança, na gestão empresarial das empre- da tipicidade. Esse argumento possui um teor indevido de abertura e in-
sas UTC/CONSTRAN e subsidiárias. Por conseguinte, conclui-se que a determinação, pois inexiste disposição legal expressa que lhe de suporte,
disciplina de aspectos penais relativos à temática em apreço está, a cada dia não sendo observado, portanto, o postulado da certeza, inerente ao direito
que passa, mais candente. penal, à legalidade e à tipicidade52.
Após esse panorama brasileiro da previsão legal das estruturas de cum- Nesse julgado foi discutida a questão probatória, uma vez que de
primento normativo, é importante filtrar algumas das tensões oriundas da acordo com o voto vencedor caberia à acusação realizar a prova da ine-
aplicação dos dispositivos legais penais relativos aos programas de integridade, xistência, no que tange às pessoas jurídicas imputadas, de uma cultura de
no cenário internacional, o que se fará a seguir. cumprimento normativo eficiente, estabelecendo-se uma espécie de modelo
privilegiado de exceção, beneficiando-se as pessoas jurídicas no que concer-
4. ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A APLICAÇÃO ne à questão probatória. A fundamentação dessa alegação residiria no fato
DOS PROGRAMAS DE INTEGRIDADE NO CENÁRIO de que a ausência de medidas eficazes de prevenção e controle, ou seja, a
INTERNACIONAL inexistência de um programa de integridade eficaz comporia o núcleo da
Desde logo, ressalta-se que serão expostas algumas divergências existentes tipicidade, sendo um elemento autônomo do tipo objetivo, cujo ônus da
em países que já lidam com a temática em tela no tocante ao direito penal, não prova, portanto, recairia sobre a acusação.
havendo a pretensão de se realizar uma análise de direito comparado. Na reali- Vislumbra-se, por conseguinte, que o voto vencedor tenta mudar a po-
dade espanhola, o debate está bastante candente, pois em 2015 a Lei orgânica sição do compliance no âmbito do conceito analítico do crime, retirando-o
n°1 acrescentou alguns tópicos ao artigo 31 do Código Penal Espanhol visando de hipótese de exclusão de responsabilidade penal para elemento constituti-
à disciplina de questões relativas ao compliance. O artigo 31 bis declara que as vo do tipo penal53. Desse modo, para que haja a responsabilização criminal
pessoas jurídicas serão eximidas de responsabilidade penal caso haja o cumpri- da pessoa jurídica seria necessário que se demonstrasse que o programa de
mento de algumas condições. Esses requisitos, em conjunto, exigidos do ente integridade não é eficiente. Todavia, de acordo com o voto minoritário o
coletivo, configuram a existência um programa de cumprimento. compliance figuraria como uma espécie de causa absolutória e como todas as
O Tribunal Supremo Espanhol ao condenar criminalmente pela pri- demais possibilidades de isenção de responsabilidade penal, em consonância
meira vez uma pessoa jurídica, por intermédio do julgamento da Sentença com a jurisprudência dominante no ordenamento jurídico espanhol, a carga
n° 154/2016, deu azo a alguns debates a respeito da aplicação judicial dos probatória deve ser suportada por quem a alega, ou seja, a empresa que está
se defendendo no processo criminal54. Esse é o modus operandi em relação às
50. 32.1. Nos casos em que o colaborador for o titular do controle societário de pessoa jurídica envolvida 51. ESPANHA. Tribunal Supremo. Sentença n° 154 de 2016. Disponível em: http://www.poderjudicial.
nos atos, é recomendável e podem ser incluídas nos acordos de colaboração, obrigações de governança es/cgpj/es/Poder-Judicial/Noticias-Judiciales/El-Tribunal-Supremo-aprecia-por-primera-vez-la-res-
corporativa e compliance, inclusive nas demais empresas por ele controladas direta ou indiretamente, ponsabilidad-penal-de-las-personas-juridicas. Acesso em: 07 de novembro de 2018.
emissão de relatórios periódicos de atividades, afastamento das atividades empresariais por período 52. ESPANHA. Tribunal Supremo. Sentença n° 154 de 2016. p. 88.
certo, assim como o monitoramento e auditorias externas aprovadas pelo Ministério Público Federal,
às expensas do colaborador.” Disponível em: http://www.mpf.mp.br/atuacao- tematica/ccr5/orientaco- 53. Ibidem. p.87.
es/orientacao-conjunta-no-1-2018.pdf. Acesso em: 20 de março de 2019. 54. Ibidem. p. 85-86.
196 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 197

pessoas físicas e não há nenhuma disposição em contrário legitimando uma cômputo da redução da sanção criminal61. Na realidade americana, em
inversão dessa vicissitude55. virtude da estruturação de um programa de integridade pode ocorrer uma
Ademais, o Ministério Público espanhol, por intermédio da Circular diminuição da multa imposta ao ente coletivo, ou mesmo a desistência da
n° 1/2016, detalhou diversas preocupações a respeito da responsabilização persecução penal por parte do Ministério Público, inexistindo processo
criminal das pessoas jurídicas56. Primeiramente, alertou para a possibilidade criminal, nessa última hipótese. Em razão do nível de minúcia a que esse
de um esvaziamento da temática em virtude da possibilidade de eximir o ente manual dá azo incide a advertência de que muitas empresas estruturam
coletivo da sanção penal em decorrência da instauração de um programa de códigos de ética “sub-ótimos” visando ao preenchimento dos requisitos
integridade em tese efetivo57. elencados no “Guidelines Manual” e, por meio disso, dos benefícios ali
constantes, em detrimento de um programa de cumprimento verdadeira-
Essa consequência seria muito potencializada caso o ônus probatório a
mente voltado à observância das normas62.
respeito da existência ou não de um programa efetivo de compliance recaísse
sobre a acusação. Nessa conjuntura, a implementação de uma estrutura de Tanto a análise realizada pelo Ministério Público Espanhol quanto os
cumprimento normativo funcionaria como uma espécie de seguro das cor- argumentos expostos nos votos do Tribunal Supremo Espanhol em sede de
porações frente à estrutura de persecução penal. julgamento da sentença 154/2016 deixam nítido que o legislador brasileiro
deve ter muita cautela ao trazer temas de compliance para o âmbito da nor-
Outra inquietação expressada pelo parquet espanhol diz respeito às
matividade penal. Até o momento a legislação brasileira parece seguir num
certificações que dispõem sobre a idoneidade do programa de integridade.
caminho adequado, prevendo apenas a possibilidade de redução de penali-
Em que pese possa atribuir uma valoração positiva ao mecanismo de cum-
dade em virtude da existência de uma estrutura de cumprimento normativo.
primento adotado pelo ente coletivo, essa documentação privada somente
pode auxiliar o magistrado na formação do juízo de valor, não substituin-
5. PROPOSIÇÃO DE LEGE FERENDA
do a análise judicial, tampouco significando uma presunção de veracidade
apta a corroborar com uma inversão do ônus da prova58. Em um sistema de Neste tópico, que encerra o presente artigo, serão trazidos a lume argu-
responsabilidade penal do ente coletivo calcado no defeito da organização mentos sobre os efeitos que a estruturação de um sistema de conformidade
esses documentos podem configurar uma isenção de pena ex ante, visto não deve acarretar no ambiente criminal e, na sequência, procurar-se-á de-
que atestariam que determinada empresa consubstancia-se como uma boa limitar o espaço jurídico-penal passível de ocupação, ou de atuação, pelos
cidadã corporativa59. programas de integridade.
Mesmo em um contexto em que o tema já é mais estável, como no 5.1. IRRESPONSABILIDADE ORGANIZADA 2.0
ordenamento jurídico norte americano, críticas são proferidas60. Os “sen- A isenção da responsabilidade penal da pessoa jurídica em razão da
tencing guidelines” dispõem sobre os parâmetros que devem ser observados implementação de um programa de integridade não se mostra adequa-
por um compliance, assim como preveem os quantificadores referentes ao da perante um direito penal do fato. Um bom cidadão corporativo que
55. ESPANHA. Tribunal Supremo. Sentença n° 154 de 2016. p. 85-86. pratique um delito deve ser responsabilizado pela prática criminosa63. O
56. MINISTÉRIO PÚBLICO DA ESPANHA. Circular n° 1 de 2016. Sobre la responsabilidad penal
de las personas jurídicas conforme a la reforma del código penal efectuada por ley orgánica 61. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Guidelines manual. 2016. Disponível em: http://www.ussc.
1/2015. gov/sites/default/files/pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf, acesso em 12 de dezembro de 2018.
57. Ibidem. p. 40. No mesmo sentido que o voto divergente relativo à Sentença n° 154 de 2016 do Tribunal Mais comentários sobre o “Guidelines Manual” estão disponíveis no artigo “A prevenção geral po-
Supremo da Espanha. p. 85-89. sitiva na sanção aplicável à pessoa jurídica: crítica e sugestões”, desta coletânea, produzido por
58. MINISTÉRIO PÚBLICO DA ESPANHA. Circular n°1 de 2016. p. 51-53; 62-63. Gustavo Gustavo Britta Scandelari e Guilherme Oliveira de Andrade.
59. MATUS ACUÑA, Jean Pierre “La certificación de los programas de cumplimiento”. in ARROYO 62. WELLNER, Philip A. Effective compliance programs and corporate criminal prosecutions. Car-
ZAPATERO, Luis y Adán NIETO MARTÍN. El Derecho Penal Económico en la Era Compliance. dozo Law Review. New York, vol.27-1, p. 497, Outubro de 2005. p. 505-508.
Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013. p.148-151. 63. MATUS ACUÑA, Jean Pierre “La certificación de los programas de cumplimiento”. in ARROYO
60. WELLNER, Philip A. Effective compliance programs and corporate criminal prosecutions. p. ZAPATERO, Luis y Adán NIETO MARTÍN. El Derecho Penal Económico en la Era Compliance.
497-528. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013. p. 148-150.
198 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 199

passado da corporação deverá ser levado em consideração, em observância lhe restou: punir os indivíduos em relação aos quais foi promovida uma
aos princípios da culpabilidade e da individualização das penas, para fins transferência de responsabilidade penal.
de redução da penalidade. Todavia, isentar uma empresa que buscou imple- O Compliance como excludente da responsabilização penal da pessoa
mentar a cultura empresarial de cumprimento normativo, mas que apesar jurídica coaduna com essa conjuntura da irresponsabilidade. Ou melhor, da
disso praticou delitos, ou punir uma corporação que não teve os mesmos responsabilização seletiva organizada, no âmbito da qual determinados bodes
cuidados, a qual não se configura como uma cidadã corporativa zelosa, mas, expiatórios ou maçãs podres são inseridos no radar das autoridades públicas,
que, apesar disso, não causou danos relevantes a bens jurídicos tutelados em prol do ocultamento de alguns indivíduos e pessoas jurídicas, consubs-
penalmente, representaria um regresso ao direito penal do autor, no âmbito tanciando-se uma cifra branca.
do qual a seletividade penal, as injustiças, os autoritarismos e as cifras, das
Nesse contexto, haveria uma ausência de responsabilidade mais so-
mais variadas colorações, se intensificam64.
fisticada, por intermédio da falsa aparência de responsabilização dos entes
Por conseguinte, isso apenas auxilia na compreensão de que os progra- coletivos, pois em que pese à admissão legal da imputação penal das pessoas
mas de integridade, por si só, não podem afastar a responsabilidade penal jurídicas, observar-se-ia um movimento estruturado direcionado à isenção da
do ente coletivo. De igual modo, uma pessoa física que tenha um histórico punibilidade da corporação que houver adotado um programa de integridade
de prudência e de comportamento normativo e que obtenha um doutorado, o qual preencha ao menos aparentemente determinados requisitos.
oriundo de instituição pública ou privada, não deve ser blindada, apesar
Dessa forma, ele seria instrumentalizado e utilizado como um escudo
dessas nuances, da intervenção penal caso pratique condutas delitivas65. A
em prol das pessoas jurídicas. Nessa gangorra da responsabilização penal
manutenção de um direito penal do fato deve ocorrer tanto para as pessoas
o lado mais pesado (corporação e alta direção), via de regra, estará imune
físicas, quanto para as jurídicas, havendo uma coerência do sistema penal.
às sanções criminais, em detrimento do lado mais frágil, qual seja, os fun-
Além do adiantamento das barreiras de imputação, já destacado cionários que ocupam espaços mais baixos na hierarquia empresarial, bem
anteriormente, o programa de integridade ainda pode ser o instrumento como o compliance officer68.
utilizado para a consecução de um sistema penal em que vigore a irrespon-
sabilidade penal 2.066, seletiva, que permite a responsabilidade criminal de 5.2 O ESPAÇO A SER DESTINADO AOS PROGRAMAS DE
INTEGRIDADE
determinados bodes expiatórios, por meio da difusão do entendimento de
que o problema era uma peça e não a engrenagem, quando na verdade a SILVEIRA69 elabora, e reputa ser fundamental à compreensão da te-
engrenagem é constituída de modo a colocar em evidência determinados mática em tela, três questionamentos os quais foram sendo respondidos no
sujeitos em favor da ocultação de outros tantos67. decorrer do presente artigo e cujas conclusões serão sintetizadas a seguir. As
estruturas de cumprimento normativo não podem substituir a atuação estatal
Essa seletividade inclusive pode ser terceirizada, pois a depender das
no que se refere à criminalização primária e tampouco no que tange à crimi-
disposições legislativas a empresa pode realizar a seletividade penal e entregar
nalização secundária, sob pena de violação insuportável da taxatividade e da
de bandeja os seletos para que o carrasco direito penal cumpra a tarefa que
certeza que compõem o princípio da legalidade.
64. MATUS ACUÑA, Jean Pierre “La certificación de los programas de cumplimiento... op. cit. p. 148-
150. 68. PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (em especial, posición de garante) de los compliance
officers... op. cit. p. 216-218.
65. Ibidem. p. 150-154.
69. Os questionamentos são realizados nos seguintes termos “Até que ponto o Direito Penal poderia utili-
66. Uma versão atualizada do termo cunhado por Ulrich Beck. zar as normas de comportamento precedentes dos sistemas corporativos privados como complemento
67. Sobre a cifra branca: PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (em especial, posición de garan- de normas penais. A segunda questão diria respeito ao próprio teor das sanções próprias do sistema au-
te) de los compliance officers. p. 207-218 in Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial torregulador e se elas poderiam, de qualquer forma, garantir o cumprimento de suas normas. Por fim,
Pons, 2013. p. 209-2010; A respeito das maças podres: PRITTWITZ, Cornelius. A função do direito a fundamental questão estratégica: como poderia atuar o Direito (Penal) para favorecer ou melhorar
penal na sociedade globalizada do risco: defesa de um papel necessariamente modesto, in AMBOS, a autorregulação. Se respondidas tais questões, poderá, ou não, haver também uma logicidade penal
Kai, BÖHM,María Laura. (coord.). Desenvolvimentos atuais das ciências criminais na Alemanha. nesta autorregulação.”. SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance,
Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. p. 64-65. direito penal... op. cit. p.73.
200 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 201

O direito penal é a ultima ratio do ordenamento jurídico, vez que efeitos instantâneos negativos em relação às pessoas jurídicas. Ou seja, por
corresponde ao mais gravoso instrumento de intervenção do direito, não mais que elas consigam se blindar da condenação criminal por meio da
admitindo a terceirização da imposição de sanções e da persecução penal. formalização, provavelmente certificada, de uma estrutura de cumprimen-
Trata-se, portanto, de uma área do direito em que a natureza pública é to normativo sub-ótima ou aparente70, e, diante disso, logrem esquivar-se
realçada, inadmitindo-se privatizações de funções precípuas do Estado no de multas e de outras espécies de punições, os efeitos penais simbólicos e
tocante à aplicação desse aparato. Diante disso, verifica-se que à corporação instantâneos, característicos de uma civilização do espetáculo71, já terão in-
não pode ser transferida a faculdade, ou o ônus, da previsão de um proce- cidido e se disseminado pelos meios de comunicação de massa, dando azo
dimento interno similar ou substituto ao processo penal e que imponha, a prejuízos financeiros e reputacionais, os quais poderão ser reversíveis, ou
aos funcionários ou aos colaboradores, sanções similares à pena. Ou seja, não, perante a opinião pública, o mercado e os consumidores72.
a autorregulação “regulada” não pode corresponder a um processo penal
antecipado e privatizado, no qual não sejam observadas as devidas garantias 6. CONCLUSÃO
legais e que sirva como um filtro daquilo que será objeto de apreciação das O objetivo do presente artigo residiu na delimitação das influências
autoridades públicas. jurídico-penais as quais poderiam ser derivadas da implementação de um
O direito penal é um instrumento jurídico de controle social formula- programa de integridade. Visando a essa finalidade, primeiramente foram
do para um ambiente público de heterorregulação. Sendo assim, pouco ou expostos alguns dos principais modelos regulatórios elencados pela doutrina,
nada tem a aportar à autorregulação, a qual é desenvolvida a partir de uma optando-se pela manutenção e adequação de um modelo heterorregulató-
lógica privada, a não ser estabelecer com clareza quais as condutas são aptas rio em detrimento da autorregulação, ainda que regulada, partindo-se da
a acionarem o gatilho da intervenção penal, a fim de que as empresas, dentro premissa, conforme exposto na introdução, de que não há uma relação
do exercício da atividade que lhes é cabível e compatível, reúnam as condi- necessária entre responsabilização penal das pessoas jurídicas, compliance
ções adequadas para a tomada das providências que reputarem necessárias ao e autorregulação.
devido cumprimento da legislação vigente. No tópico posterior, foram problematizados alguns pontos de tensão
O compliance é essencialmente bom e as certificações, especialmente as existentes notadamente entre as estruturas autorregulatórias e o direito penal
de maior seriedade, são essencialmente boas, o que se questiona são os influxos inserido em um sistema que as privilegie. A privatização de parcela da perse-
que ambos podem tomar a depender do valor a eles atribuídos no segmento cução penal aliada ao adiantamento indevido das barreiras de imputação são
jurídico-penal. Justamente, com a finalidade de se evitar o desvirtuamento dois prováveis efeitos que corroboram com a desnaturalização dos alicerces
dessa estrutura de cumprimento normativo é que são lançados os questiona- básicos do direito penal: legalidade e intervenção mínima.
mentos e as inquietações constantes no presente trabalho. Na sequência, buscou-se expor alguns dos principais debates que ocor-
Diante do que foi exposto até aqui, chega-se à conclusão de que é rem no cenário internacional a respeito dos programas de integridade e dos
melhor manter os programas de integridade afastados do direito penal. A influxos jurídicos, sobretudo penais, que possam decorrer da instalação dessas
obtenção de uma vantagem em relação à sanção criminal pode ser uma con- estruturas de controle interno. Em que pese na conjuntura brasileira essa
sequência advinda da implementação de um código de conduta, mas nunca discussão ainda ser de “lege ferenda”, parece nítido que paulatinamente vem
uma premissa a partir da qual se desenvolverá uma aparente cultura empre- perdendo o status de latência, em razão da publicação de diversos dispositivos
sarial de cumprimento normativo. 70. WELLNER, Philip A. Effective compliance programs and corporate criminal prosecutions… op.
cit. p. 505-508.
As corporações também devem perceber essa vantagem, inclusive sob 71. VARGAS LLOSA, Mario. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa
o viés econômico, pois no atual estágio do paradigma social do risco vis- cultura. Trad. Ivone Benedetti. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. p. 29-32.
72. BARRILARI, Claudia Cristina. Crime empresarial, autorregulação e compliance. São Paulo:
lumbra-se um direito penal espetacularizado. Nesse ambiente, verificam-se Thomson Reuters Brasl, 2018. p. 82-83.
202 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 203

legais, ainda não de caráter penal, a respeito do tema em comento. Madrid, 22 de enero de 2016. Disponível em:https://www.fiscal.es/fiscal/PA_WebApp_SGNTJ_NFIS/
descarga/Circular_1-2016.pdf?idFile=81b3c940-9b4c-4edf-afe0-c56ce911c7af Acesso em: 10 de agos-
Concluiu-se, ao final da presente pesquisa, que os programas de inte- to de 2018.
gridade podem ter como efeito jurídico-penal a redução de eventual sanção GLOBAL JUSTICE NOW. Disponível em: https://www.globaljustice.org.uk/news/2016/sep/12/10-
biggest-corporations-make-more-mone-most-countries-world-combined. Acesso em: 08 de novembro
criminal imposta à empresa, mas não devem exercer um papel de protagonis- de 2018.
mo no âmbito da persecução penal, sob pena de desvirtuamento da estrutura GOMES-JARA DÍEZ, Carlos. La incidência de la autorregulación en el debate legislativo y doctri-
de cumprimento normativo, com o consequente desenvolvimento de uma nal actual sobre la responsabilidad penal de las personas jurídicas. p. 249-318 in Autorregulación y
Sanciones. 2 ed. Thomas Reuters Aranzadi.
espécie de irresponsabilidade organizada 2.0, ainda mais sofisticada que a
GÓMEZ MARTÍN, Víctor. Compliance y Derechos de los trabajadores in [Lothar Kuhlen, Juan
anterior e permeada por um viés seletivo. Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid:
Marcial Pons, 2013.

REFERÊNCIAS KUHLEN, Lothar. Cuestiones fundamentales de compliance y Derecho penal in [Lothar Kuhlen,
Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal.
AUSTRALIAN STANDARD 3806-2006. Disponível em: http://aeaecompliance.com/images/docu- Madrid: Marcial Pons, 2013.
mentos/AS-3806-2006-Compliance-Standard.pdf. Acesso em 12 de janeiro de 2019.
_____. Compliance y Derecho penal en Alemania, in [Santiago Mir Puig, Mirentxu Corcoy Bidasolo
BECK, Ulrich. Sociedade de risco mundial: em busca da segurança perdida. Edições 70, 2015. e Victor Gómez Martín – dir.] Responsabilidad penal de la empresa y compliance. Programas de preven-
_____; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ción, detección y reacción penal. Madrid-Buenos Aires-Montevideo: Edisofer-BdeF, 2014.
ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2012. LASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Antonio. 2013 “Compliance, debido control y unos refrescos”. p.
BARRILARI, Claudia Cristina. Crime empresarial, autorregulação e compliance. São Paulo: Thom- 111- in ARROYO ZAPATERO, Luis y Adán NIETO MARTÍN. El Derecho Penal Económico en la
son Reuters Brasl, 2018. Era Compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio MACHADO, Marta Rodriguez de Assis. Sociedade do risco e direito penal: uma avaliação de novas
de Janeiro: Zahar, 2005. tendências político-criminais. São Paulo: IBCCRIM, 2005.

_____; BORDONI, Carlo. Estado de crise. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. MAROTO-CALATAYUD, Manuel. Liberalismo vs. Neocorporativismo: los discursos de la autorre-
gulación como discursos legitimantes. p. 73-95 in Autorregulación y sanciones. 2. ed. Thomson Reuters
BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Crimes de perigo abstrato e o princípio da precaução na sociedade de Aranzadi.
risco. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
Matéria publicada em 09 de Julho de 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/negocios/
BRASIL. SENADO FEDERAL. Projeto de Lei n° 236/2012. Disponível em: https://www25.senado. noticia/para-virar-a-pagina-empresas-da-lava-jato-investem-em-planos-anticorrupcao.ghtml Acesso em:
leg.br/web/atividade/materias/-/materia/106404 Acesso em: 17 de novembro de 2018. 16/11/2018.
CGU. Disponível em: https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/manual-ges- MATUS ACUÑA, Jean Pierre. “La certificación de los programas de cumplimiento”. in ARROYO
tao-de-riscos.pdf. Acesso em 06 de janeiro de 2019. ZAPATERO, Luis y Adán NIETO MARTÍN. El Derecho Penal Económico en la Era Compliance.
COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada? in [Jesús Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013. pp. 145-154.
María Silva Sánchez – dir.] Criminalidad de empresa y compliance: prevención y reacciones corporati- MENDOZA BUERGO, Blanca. El derecho penal en La sociedad del riesgo. Madrid: Civitas, 2001.
vas. Barcelona: Atelier, 2013.
MONTIEL, Juan Pablo. Autolimpieza empresarial: Compliance programs, investigaciones internas y
CONSTRUTORA QUEIROZ GALVÃO. Disponível em: https://www.construtoraqueirozgalvao.com. neutralización de riesgos penales in Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno
br/construtora-queiroz-galvao-brasil-adota-praticas-internacionais-de-gestao-anticorrupcao/. Acesso – eds. in Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013.
em 12 de novembro de 2018.
NA ROTA DO DINHEIRO SUJO. Netflix. 2018.
ESPANHA. Tribunal Supremo. Sentença n° 154 de 2016. Disponível em: http://www.poderjudicial.
es/cgpj/es/Poder-Judicial/Noticias-Judiciales/El-Tribunal-Supremo-aprecia-por-primera-vez-la-respon- NIETO MARTÍN, Adan. Problemas fundamentales del cumplimiento normativo en el Derecho
sabilidad-penal-de-las-personas-juridicas. Acesso em: 07 de novembro de 2018. penal in [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y
teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013.
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Guidelines manual. 2016. Disponível em: http://www.ussc.
gov/sites/default/files/pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf. Acesso em 12 de dezembro de 2018. ORTIZ DE URBINA GIMENO, Iñigo. Compliance y sanciones penales para La empresa in [Lothar
Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho
FEIJÓO SÁNCHEZ, BERNARDO. Sobre a “administrativização” do direito penal na “socie- Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013.
dade do risco”. Notas sobre a política criminal no início do século XXI in Revista Liberdades, nº
7, maio-agosto, 2011. p. 01. Disponível em: http://www.revistaliberdades.org.br/site/outrasEdicoes/ PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (em especial, posición de garante) de los compliance
outrasEdicoesExibir.php?rcon_id=84. Acesso em: 01/02/2019. officers p. 207-218 in Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013.

FISCALÍA GENERAL DEL ESTADO. Circular 1/2016 sobre la Responsabilidad Penal de las Per- PRITTWITZ, Cornelius. A função do direito penal na sociedade globalizada do risco: defesa de um
sonas Jurídicas conforme a la reforma del Código Penal efectuada por Ley Orgánica 1/2015. papel necessariamente modesto, in AMBOS, Kai, BÖHM, María Laura. (coord.). Desenvolvimentos
204 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

atuais das ciências criminais na Alemanha. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013.


SIEBER, Ulrich. Programas de ‘compliance’ en el Derecho penal de la empresa, p.63-110 in [Adán
Nieto – org.] El derecho penal económico en la era compliance. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. Fundamentos del Derecho penal de la empresa. 2. ed. amp. Y ac-
tual. IBdeF. 2016.
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, direito penal e lei anticor- ANÁLISE DO MODELO DE RESPONSABILIZAÇÃO
rupção. São Paulo: Saraiva, 2015.
DE PESSOAS JURÍDICAS POR ATOS DE
THE CORPORATION. Direção: Joel Bakan, Jennifer Abbott e Mark Achbar. Produção: Jennifer Ab-
bott e Mark Achbar. Canadá: Big Picture Media Corporation, 2003. 145 min. Disponível em: www. CORRUPÇÃO NO BRASIL A PARTIR DO
youtube.com.
PARADIGMA ITALIANO
VARGAS LLOSA, Mario. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa
cultura. Trad. Ivone Benedetti. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
WELLNER, Philip A. Effective compliance programs and corporate criminal prosecutions. Cardo- Roberson Henrique Pozzobon1
zo Law Review. New York, vol.27-1. Outubro de 2005.
Suzana Rososki de Oliveira2
ZAFFARONI, Eugenio Raul. O inimigo no direito penal. Trad. Sérgio Lamarão. 2. ed. Rio de Janeiro:
Revan, 2007.
_____; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 11 ed. rev. E RESUMO: Analisa convergências e divergências entre os regimes italiano e brasileiro de
atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. responsabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção. Verifica se as críticas tecidas ao
Decreto Legislativo nº 231/01, na Itália, no sentido de que possuiria natureza penal e não
administrativa, seriam pertinentes ao regime brasileiro, regido pela Lei nº 12.846/2013.
Palavras-chave: Pessoas jurídicas. Responsabilização. Corrupção. Brasil. Itália.

1. Alegoria de Lonetal e as ficções jurídicas que ganham vida


Em 1939, no estado alemão de Baden-Württemberg, na caverna de
Hohlenstein-Stadel, localizada no vale do rio Lonetal, o arqueólogo Otto
Volzing resgatou escultura com mais de 32.000 anos, batizada de “homem-
leão” ou “leão-mulher”3. Conforme rememorou Yuval Noah Harari4, em
sua célebre obra “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, esse foi o
símbolo escolhido pela Peugeot para adornar o capô dos milhares de veícu-
los por ela fabricados, em todo o mundo. E isso não foi por acaso, haja vista
que a Peugeot, montadora que hoje emprega mais de 200 mil pessoas em
todo globo e fatura cerca de 55 bilhões de euros por ano, começou como um
negócio familiar no vilarejo de Valentigney, a cerca de 300 quilômetros da

1. Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Paraná (2017-2021). Mestre em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2010). Procurador da República em Curitiba/PR. Inte-
grante da Força-Tarefa Lava Jato desde 2014. Professor de Direito Penal e Processual Penal na Escola
Superior do Ministério Público da União (ESMPU). Foi Delegado de Polícia no Paraná (2008-2011).
2. Pós-graduanda em Compliance e Direito. Graduanda em Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
Membro do Compliance Women Commiittee e da Comissão de Inovação e Gestão da OAB/PR. Parti-
cipa do Grupo Permanente de Discussões sobre Compliance Digital e Cybersecurity.
3. Estudiosos divergem acerca do gênero do ícone, havendo quem diga que a estatueta representa o corpo
de um humano com uma cabeça de leão, enquanto outros dizem que a cabeça seria de uma leoa.
4. HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Tradução de Janaína Marcoanto-
nio. 5ª Ed., Porto Alegre: L&PM, 2015, p. 36-40.
206 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 207

caverna de Stadel, onde o “homem-leão” ou “leão-mulher” foi encontrado. são devidos. Em decorrência disso e do progressivo aumento da quantidade,
A Peugeot, prossegue Harari, não é os milhares de veículos por ela autonomia e poder dessas pessoas jurídicas em todo o mundo, é cada vez
produzidos (todos eles poderiam ser concomitantemente destruídos em fer- mais difícil encontrar direitos das pessoas humanas que não sejam também
ros-velhos num mesmo dia, o que não impediria que novos fossem fabricados estendidos aos entes coletivos6.
e que a empresa continuasse a existir); não é as centenas de fábricas, maqui- Por outro lado, é relativamente recente, no âmbito global, a adesão de
nários e showrooms que detêm (toda essa estrutura poderia ser vendida e um número maior de nações ao movimento que busca o reconhecimento
substituída, do dia para noite e a empresa não deixaria de existir); não é os da capacidade de pessoas jurídicas serem submetidas à responsabilização por
milhares de seus empregados (eles poderiam ser demitidos em massa, para delitos e infrações por elas cometidos7. Gradualmente, contudo, a realidade
recontratação de outros, sendo que mesmo nesse caso a empresa não deixaria mostrou que os entes coletivos muitas vezes possuem potencial lesivo con-
de existir); e também não é seus acionistas (todas as suas ações poderiam sideravelmente superior, ao praticar infrações, do que as pessoas naturais8.
vendidas repentinamente sem que a empresa deixasse de existir)5. Se as pessoas jurídicas, ao funcionar adequadamente, trazem grande
Particularmente ao que interessa ao presente estudo, e nesse ponto é utilidade à vida em sociedade, também é verdade que, quando desviam de
que se justifica o resgate da alegoria, cumpre salientar que tanto a estatueta seus deveres e finalidades, possuem um potencial nocivo muito maior do
do “homem-leão” ou “leão-mulher” de Stadel, quanto a grande montadora que os indivíduos, principalmente quando lhes é reservado um espaço no
Peugeot, não passam de representações humanas, produtos de nossa imagi- ordenamento jurídico de relativa irresponsabilidade.
nação. Particularmente no que se refere a Peugeot, trata-se de ficção jurídica O reconhecimento dessa grande potencialidade lesiva das corporações
do gênero “empresa de responsabilidade limitada”, categoria que é chamada norteia a cada vez mais premente necessidade de identificação e aprovação de
nos Estados Unidos de corporação. Uma ironia, conforme destacou Harari, medidas legislativas adequadas para lidar com o fenômeno nos últimos anos9.
visto que o termo “corporação” deriva de “corpus”, ou “corpo”, em latim,
Pretende-se analisar no presente trabalho, portanto, se as balizas co-
justamente o que as corporações não têm.
locadas pelo ordenamento jurídico brasileiro para a responsabilização de
A ausência de corpo, contudo, não impediu que as corporações nasces- pessoas jurídicas por atos de corrupção, por intermédio da Lei 12.846/2013,
sem, crescessem e se reproduzissem por todo o mundo. Ficções jurídicas criadas qualificam nosso modelo como eminentemente administrativo, conforme
com a finalidade primordial de aprimorar a vida das pessoas de carne e osso em expressamente declarado pela lei, ou penal.
sociedade, as corporações tornaram-se gigantes atrizes da vida moderna.
Considerando que idêntico exame já vem sendo feito, há praticamente
Ao contrário das pessoas naturais, detentoras de consciência e dignidade
própria, possuidoras de direitos pelo simples fato de serem humanas, as pes- 6. O entendimento jurisprudencial consolidado no Brasil, por exemplo, é no sentido de que as pessoas
jurídicas podem sofrer danos morais. Nesse sentido, cite-se a súmula n. 227 do Superior Tribunal de
soas jurídicas, que dependem dos humanos e existem para lhes servir, recebem Justiça, publicada em 1999 com o seguinte teor: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. Para
reconhecer que uma pessoa jurídica pode sofrer danos morais e, nessa medida, ser indenizada por
direitos para que melhor possam cumprir suas finalidades. isso, o STJ aludiu que a honra pode ser de duas espécies: i) subjetiva, atinente à dignidade, autoestima,
respeito próprio e, portanto, inaplicável às pessoas jurídicas; e ii) objetiva, relativa ao respeito ou con-
Em que pese sejam ficções jurídicas, as corporações ganharam “vida” no sideração que as pessoas, físicas ou jurídicas, possuem junto a uma comunidade. Esse raciocínio foi
explicitado no julgamento do Recurso Especial n. 129.428-RJ (97.289818), in: Revista de Súmulas do
mundo contemporâneo e estão em constante expansão. Desde que surgiram Superior Tribunal de Justiça. Ano 5. Vol. 17 (mar. 2011). Brasília: STJ, 2011. F. 85-86.
7. ARBIA, Elisa. Dal brocardo societas delinquere non potest ala graduale responsabilizzazione dela
têm se tornado cada vez mais importantes e presentes na vida social, motivo persona giuridica. Sapienza Legal Papers, 53 (2012), p. 53.
pelo qual paulatinamente buscam ampliar o espectro de direitos que lhe 8. Reconhecer às pessoas jurídicas a possibilidade de praticar atos lícitos em nome próprio, sem permitir,
ao mesmo tempo, que elas sejam responsabilizadas pelos atos ilícitos que porventura vierem a praticar,
seria estabelecer uma zona de privilégio e imunidade manifestamente injustificável. In “POSTERA-
5. Isso também não significa que a Peugeot seja invulnerável ou imortal. Conforme bem ressalvado pelo RO, Nicola; ROLLI, Renato Rolli. Responsabilita Degli Enti Dipendente da Reato Analisi Sommaria
autor israelense, bastaria uma ordem judicial de dissolução da empresa para que, em que pese a manu- dell’Apparato Sanzionatorio e del Suo Regime Prescrizionale, La, 3 Bocconi Legal Papers 149 (2014),
tenção de toda sua estrutura física e de pessoal, deixasse de existir (in HARARI, Yuval Noah. Sapiens: p. 152/154.”
uma breve história da humanidade. Tradução de Janaína Marcoantonio. 5ª Ed., Porto Alegre: L&PM, 9. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas
2015, p. 37). publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, p. 265.
208 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 209

duas décadas, a partir do ordenamento jurídico italiano, que passou a per- 1º da Lei 12.846/2013 estipulou: “esta Lei dispõe sobre a responsabilização
mitir a responsabilização de entes jurídicos por atos de corrupção por meio objetiva administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra
do Decreto Legislativo nº 231/01, o fio condutor do presente artigo será o a administração pública, nacional e estrangeira”.
cotejamento de ambos os diplomas normativos. Conforme adiante será exposto, apesar das sensíveis diferenças entre os
Nesse contexto, a proposta do presente trabalho é refletir se opção legis- regimes brasileiro e italiano de responsabilização de pessoas jurídicas por atos de
lativa expressamente declarada em lei na Itália e no Brasil, de responsabilizar corrupção, as semelhanças entre a Lei nº 12.846/2013 e o Decreto Legislativo
administrativamente pessoas jurídicas por atos de corrupção, de fato se con- nº 231/01 não se restringem a natureza de responsabilização declarada por lei.
forma com a realidade dos dispositivos normativos previstos lá e cá.
2.1. Gêneses congêneres
Para tanto serão analisadas, nos dois primeiros capítulos, as convergên- Em 08 de junho de 2001 entrou em vigor no ordenamento jurídico
cias e divergências entre os regimes italiano e brasileiro de responsabilização italiano o Decreto Legislativo nº 231/01. Nesse diploma normativo foi estabe-
de pessoas jurídicas por atos de corrupção, disciplinados na Itália por meio lecida a possibilidade de responsabilização de pessoas jurídicas pela prática de
do Decreto Legislativo nº 231/01 e no Brasil através da Lei 12.846/2013, determinadas espécies de crimes, inclusive os delitos de corrupção e concussão.
também conhecida como Lei Anticorrupção.
Não se pode dizer, entretanto, que a aprovação desse Decreto Legis-
Na sequência, e a partir das simetrias (capítulo 2) e assimetrias (capítulo lativo revelou o pioneirismo da Itália, no mundo ou no território europeu,
3) encontradas entre ambos os marcos legislativos, será averiguado se críti- na viabilização da responsabilização de corporações. Ao contrário, a apro-
cas realizadas ao Decreto nº 231/01, no sentido de que possuiria natureza vação do Decreto 231/01 ocorreu em um contexto no qual a Itália buscava
eminentemente penal e não administrativa, seriam pertinentes ao regime de purgar sua mora perante a comunidade internacional no que se refere a
responsabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção no Brasil, disci- regulamentação do tema.
plinado pela Lei 12.846/2013.
Com efeito, o rápido incremento dos crimes corporativos no mundo,
O estudo, portanto, lança mão a metodologia comparativa, mas não se cujos reflexos, muitas vezes, transbordam as fronteiras nacionais, somado ao
propõe a realizar uma análise de direito comparado propriamente dita. fato de que muitos países na Europa já tinham estabelecido a possibilidade de
responsabilização de pessoas jurídicas por tais ilícitos (França, Reino Unido,
2. Convergências entre os regimes italiano e brasileiro de Holanda, Dinamarca, Portugal, Irlanda, Suíça e Finlândia)12, e, ainda, aos
responsabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção compromissos assumidos pela Itália perante a comunidade internacional13,
Tanto na Itália de 2001, quanto no Brasil de 2013, os legisladores opta- culminaram na aprovação da Lei Delegada 300, de 29/09/2000. Esse diplo-
ram por expressamente consignar no Decreto Legislativo nº 231/01 e na Lei ma normativo, em seu artigo 11, delegou ao Governo Italiano a disciplina
12.846/2013, respectivamente, que a natureza de responsabilização das pes- da responsabilidade administrativa das pessoas jurídicas14, o que veio a ser
soas jurídicas por atos de corrupção não seria criminal, mas administrativa. Se mento jurídico italiano era até então em larga medida pautado pelo brocardo romano “societas de-
na Itália constou expressamente do art. 1º do Decreto Legislativo nº 231/0110 linquere non potest” (in SANT’ORSOLA, Fabrizio di; GIAMPAOLO, Silvia. Liability of Entities in
Italy: Was it Not Societas Delinquere Non Potest, 2 New J. Eur. Crim. L. 59 (2011), p. 60.
que seu objetivo é a regulamentação da “responsabilidade das instituições 12. RUGGIERO, Rosa Anna. Cracking down on Corporate Crime in Italy, 15 Wash. U. Global Stud. L.
Rev. 403 (2016), f. 02.
por infrações administrativas dependentes de um crime”11, no Brasil, o art. 13. Notadamente a Convenção de 26 de Julho de 1995 sobre a proteção dos interesses financeiros das Co-
munidades Europeias, a Convenção relativa à luta contra a corrupção em que participam funcionários
10. “Art. 1º, 1. Il presente decreto legislativo disciplina la responsabilita degli enti per gli illeciti ammi- das Comunidades Europeias ou funcionários dos Estados-Membros da União Europeia, elaborado
nistrativi dipendenti da reato.” Disponível em: “http://www.camera.it/parlam/leggi/deleghe/01231dl. pelo Conselho em 26 de Maio de 1997 e, por último, a Convenção da OCDE, de 17 de Novembro de
htm”. Acesso em 20.09.2018. 1997, relativa à luta contra o suborno de funcionários públicos estrangeiros em operações comerciais
11. Embora o legislador italiano não tenha expressamente estabelecido no Decreto Legislativo nº 231/01 internacionais (in: SANT’ORSOLA, Fabrizio di; GIAMPAOLO, Silvia. Liability of Entities in Italy:
um regime de responsabilização criminal das pessoas jurídicas, ao criar uma relação objetiva entre a Was it Not Societas Delinquere Non Potest, 2 New J. Eur. Crim. L. 59 (2011), p. 60).
violação pessoal pelos gestores da corporação e sua responsabilidade administrativa, promoveu uma 14. Os artigos 11 e 14 da Lei n. 300, de 29 de setembro de 2000, delegaram ao governo italiano aprovar,
mudança bastante significativa, pois, conforme será objeto de detalhamento na sequência, o ordena- no prazo de oito meses, um decreto legislativo que regulamentasse a responsabilidade administrativa
210 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 211

realizado, no ano seguinte, com o Decreto 231/01. 2.2. Sanções em larga medida coincidentes
A oportunidade para a introdução da responsabilização coletiva de pes- O Decreto Legislativo nº 231/01 e a Lei nº 12.846/2013 convergem
soas jurídicas na Itália foi, assim, a ratificação de diversos atos internacionais em larga medida, ademais, no tocante às sanções passíveis de aplicação às
que conduziram a criação, por meio do Decreto 231/01, de sistema autônomo corporações que infringem seus dispositivos.
que passou a disciplinar – substancial e processualmente – a responsabilidade O Decreto nº 231/01 enumera, em seu art. 9º, as seguintes sanções
das pessoas jurídicas15. administrativas: a) sanção pecuniária; b) sanções de interdição; c) confisco; d)
A aprovação da Lei 12.846/2013 no Brasil também foi em larga medida publicação de sentença. Em seguida, ainda no art. 9º, especifica que as sanções
impulsionada por compromissos assumidos internacionalmente pelo Brasil de interdição incluem: a) a interdição do exercício da atividade; b) suspensão
em prol do enfrentamento da corrupção16. Merecem destaque entre os tratados ou revogação de autorizações, licenças ou concessões funcionais à comissão
internacionais assinados pelo Brasil sobre o tema: a Convenção Interamericana do delito; c) a proibição de contratar com a administração pública, exceto
contra a Corrupção (OEA); a Convenção Internacional contra a Corrup- para obter os serviços de um serviço público; d) exclusão de facilitações, em-
ção (ONU); a Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado préstimos, subvenções ou subsídios e a possível revogação dos já concedidos;
Transnacional (Convenção de Palermo) e a Convenção sobre o Combate da e e) proibição de publicidade de bens ou serviços.
Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais No artigo 16 do Decreto Legislativo nº 231/01 foram estabelecidas,
Internacionais, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econô- ainda, as chamadas sanções de interdição de caráter definitivo, aplicáveis aos
mico (OCDE)17. casos em que o ente coletivo, por exemplo: i) tiver lucrado com os crimes
Não obstante o sistema jurídico brasileiro já estabelecesse há bastante e já tiver sido condenado por, pelo menos, três vezes nos últimos sete anos;
tempo três esferas de responsabilização (administrativa, civil e criminal) para ii) for usado permanentemente com a exclusiva finalidade de permitir ou
as pessoas físicas que se envolvessem em práticas de corrupção, não havia facilitar a prática de infrações.
no Brasil, até 2013, base legal específica para responsabilização de pessoas A Lei Anticorrupção brasileira, ao seu turno, estipula duas esferas de
jurídicas por tais ilícitos. responsabilização: administrativa e civil (judicial). Estabelece que, na esfera
Essa lacuna na legislação brasileira anticorrupção chamou bastante aten- administrativa, podem ser aplicadas às corporações dois tipos de sanções
ção de autoridades estrangeiras no ano de 2010, enquanto o Brasil estava sob (art. 6º, da Lei 12.846/2013): a) multa; e b) publicação extraordinária da
avaliação do Grupo de Trabalho da OCDE sobre Suborno. Houve, em decor- decisão condenatória.
rência disso, forte pressão internacional sobre o Poder Executivo brasileiro pela Já na esfera judicial, são passíveis de aplicação, nos termos da Lei
regulamentação do tema, o que veio a impulsioná-lo a encaminhar o projeto 12.846/2013 (art. 19), as seguintes espécies de sanções, isolada ou cumu-
legislativo que mais tarde foi aprovado pelo Congresso sob o nº 12.846/201318. lativamente: a) perdimento dos bens, direitos ou valores que representem
vantagem ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração; b) sus-
das pessoas coletivas e sociedades, associações ou organismos sem personalidade jurídica que não de-
sempenhem funções de importância constitucional. Disponível em: “http://www.parlamento.it/parlam/ pensão ou interdição parcial de suas atividades; c) dissolução compulsória da
leggi/00300l.htm”, acesso em 09/09/2018. pessoa jurídica; e d) proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções,
15. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas
publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, p. 266. doações ou empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições
16. CAPANEMA, Renato de Oliveira. Inovações da Lei no 12.846/2013. In: NASCIMENTO, M. D. do
(Org.). Lei Anticorrupção Empresarial. Aspectos críticos à Lei 12.846/2013. Belo Horizonte: Editora financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo mínimo
Fórum, 2014. de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos.
17. QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Responsabilização Judicial da pessoa jurídica na Lei Anticorrupção.
In: SOUZA, J. M.; QUEIROZ, R.P. de.; (org.). Lei Anticorrupção. Salvador, Bahia: JusPodivm, 2015, p.
284. Percebe-se, assim, que as sanções previstas em abstrato pelo Decreto
18. PRADO, Mariana Mota; CARSON, Lindsey; CORREA, Izabela. The Brazilian Clean Company Act: italiano e pela Lei Anticorrupção brasileira são em larga medida semelhantes.
Using Institutional Multiplicity for Effective Punishment, 53 Osgoode Hall L. J. 107 (2015), p. 115.
212 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 213

Para melhor visualização das coincidências, verifique-se a tabela abaixo: definitiva ou não, de determinadas autorizações e licenças da pessoa jurídica
Decreto Legislativo nº 231/01 Lei nº 12.846/2013
(exemplo: revogação da licença de funcionamento a partir das 22:00 horas,
(Itália) (Brasil) para uma casa noturna), ou a proibição de contratar com a administração
pública para uma empresa que só participa de licitações públicas, podem
Sanção pecuniária Multa
ocasionar o mesmo efeito prático que uma dissolução compulsória.
Perdimento dos bens, direitos ou
Confisco
valores que representem vantagem 2.3. Foco nas corporações “recuperáveis”
ou proveito direta ou indiretamente
obtidos da infração Ambos os modelos de responsabilização de entes jurídicos por atos de
Publicação extraordinária da decisão corrupção, italiano e brasileiro, foram arquitetados com base nas corporações
Publicação de sentença que lançaram mãos a estratagemas ilícitos para buscar resultados econômicos
condenatória
Interdição do exercício Suspensão ou interdição parcial de legítimos e não nos empreendimentos intrinsecamente ilícitos19.
da atividade suas atividades De outra parte, embora não tenha sido o principal prisma de análise
Suspensão ou revogação de dos dois diplomas normativos ora cotejados, ambos estabeleceram sanções
autorizações, licenças ou
concessões funcionais à co-
_ duras para as pessoas jurídicas que se enquadrarem nessa segunda categoria.
missão do delito Se a Lei Anticorrupção brasileira previu a possibilidade de dissolução
Proibição de contratar com a compulsória nos casos em que restar comprovado: “ter sido a personalidade
administração pública, exceto jurídica utilizada de forma habitual para facilitar ou promover a prática de
_
para obter os serviços de um
Sanções de serviço público atos ilícitos; ou ter sido constituída para ocultar ou dissimular interesses ilíci-
interdição tos ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados” (art. 19, § 1o, I e II),
Proibição de receber incentivos,
subsídios, subvenções, doações ou o Decreto italiano estabeleceu interdições permanentes para as corporações
Exclusão de facilitações,
empréstimos, subvenções ou
empréstimos de órgãos ou entidades que se enquadrarem em situações desse tipo.
públicas e de instituições financeiras
subsídios e a possível revoga-
ção dos já concedidos
públicas ou controladas pelo poder 2.4. Registros nacionais dos “antecedentes” das pessoas jurídicas
público, pelo prazo mínimo de 1 punidas
(um) e máximo de 5 (cinco) anos
Tanto o DL nº 231/01, art. 80, quanto a Lei nº 12.846/13, art. 22, trazem
Proibição de publicidade de a previsão de cadastros nacionais de empresas sancionadas nos seus termos.
-
bens ou serviços
A Lei Anticorrupção brasileira não apenas estabeleceu, em seu artigo 22
Dissolução compulsória da pes-
_
soa jurídica o Cadastro Nacional de Empresas Punidas – CNEP, destinado a tornar públi-
cas as penalidades aplicadas às pessoas jurídicas que tenham infringido seus
Uma evidente assimetria entre os dois diplomas normativos diz res- dispositivos, como também o tornou de utilização obrigatória por todos os
peito ao fato de que a sanção de dissolução compulsória da pessoa jurídica, poderes e esferas de governo. No CNEP devem ser inseridas, além dos dados
uma espécie de pena de morte da corporação, foi prevista apenas no diploma de identificação da pessoa punida, informações acerca do tipo de sanção,
normativo brasileiro. As sanções de suspensão ou revogação de autorizações, data de aplicação e data final da vigência do efeito limitador ou impeditivo
licenças ou concessões funcionais e de proibição de contratar com a admi- da sanção, quando for o caso.
nistração pública, por outro lado, foram estipuladas apenas pelo Decreto
Conforme destacado pelo Ministério da Transparência e
Legislativo nº 231/01.
19. BEVILACQUA, Marco. La Responsabilita Degli enti ex d.lgs. n. 231/01: Una Comparazione tra
É verdade, todavia, que em determinados casos a suspensão ou revogação, Civil Law e Common Law, 4 Sapienza Legal Papers 47 (2015), p. 49.
214 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 215

Controladoria-Geral da União, tal cadastro, como uma medida de trans- Delegada 300/2000, que mais tarde resultou no Decreto 231/01, chocou-se,
parência ativa, possibilita à sociedade civil o controle do cumprimento no início desse século, com uma grande celeuma entre os operadores jurídicos
da própria Lei nº 12.846/1320. e doutrinadores naquele país acerca da possibilidade de responsabilização
O DL nº 231/01 estabelece, em art. 80, de forma muito semelhante penal de pessoas jurídicas.
à Lei Anticorrupção brasileira, um registro nacional de sanções administra- Ecoou na Itália por um longo período a máxima latina “societas delin-
tivas no qual deverão inscritos os estratos das sentenças condenatórias que quere non potest”, sintetizadora do entendimento de que as pessoas jurídicas
aplicarem sanções administrativas definitivas que tenham sido aplicadas à não poderiam praticar crimes. Conforme mencionado por Maristela Amisa-
corporações que infringiram os seus termos. no Tesi21, os refratários a essa forma de responsabilização dos entes coletivos
sustentavam-se no artigo 27 da Constituição Italiana, que estabelece que “a
2.5. Regimes prescricionais
responsabilidade penal é pessoal”22. Segundo eles o “pessoal” a que se refere o
Os regimes prescricionais estabelecidos pelo DL nº 231/01 e pela Lei citado dispositivo constitucional seria ligado ao indivíduo, motivo pelo qual
nº 12.846/2013, típicos de direito administrativo, são bastante semelhantes. a responsabilização penal de pessoas jurídicas não seria cabível. Além disso,
O Decreto italiano estabelece, em seu art. 22, que um prazo prescricio- questionavam a responsabilização penal de entes coletivos com base no argu-
nal de 5 anos para as sanções administrativas nele previstas. Estipula, ainda, mento de que o direito penal seria apenas “para o homem-sujeito pensante,
que o prazo de prescrição será interrompido quando houver a aplicação de que pode ser livremente determinado”23.
medidas cautelares ou quando houver a contestação do ilícito administrativo. A corrente antagônica, ao seu turno, defende que a correta interpretação
A Lei nº 12.846/2013, em seu art. 25, também estipulou que as infra- do artigo 27 da Constituição Italiana não exclui a possibilidade de respon-
ções nela previstas prescrevem em 5 (cinco) anos contados da data da ciência sabilizar penalmente das pessoas jurídicas, mas simplesmente estipula que
da infração ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que pessoas não podem ser penalmente responsabilizadas por atos de terceiros.
tiver cessado. Expressamente consignou no parágrafo único do art. 25, ademais, Os adeptos dessa corrente advogam que, se a “teoria do órgão” permite que
que, tanto na esfera administrativa como judicial, a prescrição será interrompida sejam atribuídos diretamente às pessoas jurídicas os atos legais praticados em
com a instauração de processo que tenha por objeto a apuração da infração. seu interesse por seus representantes, o mesmo raciocínio deveria se aplicar
aos atos ilegais (crimes) por eles praticados no interesse das corporações24.
3. Divergências entre os regimes italiano e brasileiro de A Constituição brasileira possui dispositivo semelhante àquele previsto no
responsabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção art. 27 da Constituição italiana, qual seja, o artigo 5º, inciso XLV: “nenhuma
Não obstante as semelhanças entre os regimes italiano e brasileiro de pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e
responsabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção que acabaram a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos suces-
de ser pontuadas, há também entre tais regimes diferenças dignas de nota. sores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”.
Algumas delas – as principais, no que interessa ao objetivo do presente estudo O dispositivo constitucional brasileiro, assim como o italiano, dispõe
– serão destacadas nesse capítulo. que a responsabilidade penal necessariamente será pessoal, ou seja, que pessoas
3.1. Notável diferença entre dispositivos constitucionais semelhantes
21. TESI, Maristela Amisano. A responsabilidade penal das pessoas jurídicas no sistema italiano. In Re-
O forte incentivo externo que impeliu os italianos a aprovarem a Lei vista de Direito Brasileira, 2012, f. 305.
22. Disponível em: “https://www.senato.it/application/xmanager/projects/leg18/file/repository/relazioni/
libreria/novita/XVII/COST_PORTOGHESE.pdf”, acesso em 09/09/2018.
20. Lei anticorrupção: manual de responsabilização administrativa da pessoa jurídica. Ministério da 23. TESI, Maristela Amisano. A responsabilidade penal das pessoas jurídicas no sistema italiano. In Re-
Transparência e Controladoria-Geral da União. Brasília, 2018. P. 94. (Disponível em: “https://www. vista de Direito Brasileira, 2012, f. 305.
cgu.gov.br/Publicacoes/responsabilizacao-de-empresas/ManualdeResponsabilizaoAdministrativade- 24. RUGGIERO, Rosa Anna. Cracking down on Corporate Crime in Italy, 15 Wash. U. Global Stud. L.
PessoasJurdicasMaio2018.pdf”, acesso em 09.FEV.2019). Rev. 403 (2016), f. 03.
216 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 217

somente podem ser responsabilizadas penalmente por seus próprios atos. A do DL nº 231/01), quanto subordinada (art. 5º, 1, “b”, do DL nº 231/01)28.
forma como o artigo 5º, inciso XLV, da Constituição brasileira foi redigido, Para que a pessoa jurídica possa ser responsabilizada na Itália, portanto, é
contudo, nem sequer admite a interpretação antropocêntrica defendida por necessário que um delito seja cometido por um sujeito que preencha determina-
parte da doutrina italiana, no sentido de que a responsabilização criminal seria das qualificações, ou seja, que pertença às categorias enunciadas no artigo 5 do
exclusiva às pessoas físicas. Tanto isso é verdade que a própria Constituição DL nº 231/01. Dentro dessas categorias estão inclusos os grandes executivos da
brasileira expressamente consignou, em seu art. 225, § 3º, que, “as condutas empresa, sujeitos que formalmente desempenhem atividades de representação,
e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, administração e decisão em nome da empresa, indivíduos que executem tais
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independen- funções de controle ou gestão de fato. O legislador italiano, portanto, aderiu
temente da obrigação de reparar os danos causados”. a uma abordagem funcional e pragmática na identificação da alta gerência da
3.2. Diferentes gatilhos de responsabilização corporação, inserindo nessa categoria não apenas os sujeitos formalmente inves-
tidos nessas posições, como também daqueles que as desempenham na prática29.
Conforme mencionado acima, tanto o Decreto Legislativo nº 231/01,
quanto a Lei Anticorrupção brasileira (Lei 12.846/2013) optaram por A lei anticorrupção brasileira (LAC), Lei nº 12.846/13, por outro lado,
expressamente consignar, em seus primeiros artigos, que a natureza da res- não atrelou a responsabilização administrativa ou civil de pessoas jurídicas ao
ponsabilização das pessoas jurídicas por eles prevista é administrativa (no caso cometimento de crimes por seus prepostos ou representantes. Ao contrário,
brasileiro, também civil). estipulou em seu artigo 2º que “as pessoas jurídicas serão responsabilizadas
objetivamente, nos âmbitos administrativo e civil, pelos atos lesivos previstos
Ademais, tanto a Lei 12.846/13, art. 2º25, quanto o DL nº 231/01, art.
nesta Lei praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não”, estabele-
5º26, estabeleceram que, para que a pessoa jurídica possa ser responsabilizada, é
cendo, em seguida, em seu artigo 5º, uma série de atos lesivos à administração
necessário que o ato ilícito tenha sido praticado no seu interesse ou benefício.
pública nacional ou estrangeira que, atentando contra o patrimônio públi-
Por outro lado, em que pese em ambos os diplomas normativos se tenha co (nacional ou estrangeiro), os princípios da administração pública ou os
optado por tal explicitação, os requisitos estipulados por cada uma das leis compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, são passíveis de ensejar
para a incidência da responsabilização administrativa das corporações são a responsabilização administrativa ou civil das pessoas jurídicas.
bastante diferentes.
Para a responsabilização de pessoas jurídicas no Brasil por atos de cor-
No Decreto Legislativo nº 231/01 os italianos lançaram mão à expressão rupção, portanto, ao contrário do que acontece na Itália, não é preciso que
“responsabilidade das instituições por infrações administrativas dependentes um crime tenha sido praticado, seja pela própria pessoa jurídica, seja por um
de um crime”, atribuindo às corporações responsabilidade administrativa por de seus prepostos ou representantes.
crimes cometidos por indivíduos que agiram em seu favor, o que não deixa
Se na Itália as pessoas jurídicas são responsabilizadas administrativa-
de ser uma opção um tanto quanto ambígua27.
mente por “crimes [entre os quais crimes contra a administração pública]
Na Itália, portanto, a responsabilidade surge por meio da conexão entre cometidos em seu interesse ou em seu benefício”, no Brasil o legislador nem
um crime, incluído entre aqueles estritamente indicados pelo legislador no De- sequer fez remissão aos tipos penais de corrupção ou outros crimes contra a
creto Legislativo nº 231/01, praticado uma pessoa física vinculada à instituição administração pública no Código Penal, mas estipulou condutas específicas
por uma relação funcional, que tanto pode ser representativa (art. 5º, 1, “a”,
28. BEVILACQUA, Marco. La Responsabilita Degli enti ex d.lgs. n. 231/01: Una Comparazione tra
25. Art. 2. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas objetivamente, nos âmbitos administrativo e civil, Civil Law e Common Law, 4 Sapienza Legal Papers 47 (2015), p. 49.
pelos atos lesivos previstos nesta Lei praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não. 29. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am-
26. Art. 5. Responsabilita’ dell’ente 1. L’ente e’ responsabile per i reati commessi nel suo interesse o a suo missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Disponível
vantaggio. em: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natu-
27. RUGGIERO, Rosa Anna. Cracking down on Corporate Crime in Italy, 15 Wash. U. Global Stud. L. ra-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti-
Rev. 403 (2016), f. 05. -dellente. Acesso em 08.Fev.19.
218 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 219

no próprio bojo da Lei Anticorrupção (art. 5º) que podem ensejar a respon- administrativa das pessoas jurídicas por corrupção é objetiva (art. 2º). Já
sabilização das corporações. o Decreto italiano, em que pese tenha reconhecido em seu art. 8º que a
Essa diferença entre as leis é significativa. Note-se, por exemplo, as responsabilização da pessoa jurídica não deixará de existir nos casos em que
diferenças entre o tipo penal da corrupção ativa, previsto no art. 333 do o infrator não for identificado ou não for reconhecido como responsável33,
Código Penal brasileiro30, e a infração administrativa prevista no art. 5º, estipulou regras específicas de isenção de responsabilidade da corporação por
inciso I, da Lei Anticorrupção31. Se para a materialização do crime de cor- crimes cometidos por seus altos executivos e empregados.
rupção ativa é necessário que a promessa ou oferecimento de vantagem Nos casos em que o crime foi cometido por uma pessoa que ocupa po-
indevida ao agente público tenha sido feita com o especial fim de obter dele sição gerencial dentro da pessoa jurídica, por exemplo, estabelece o Decreto
uma ação, omissão ou retardamento de um ato de ofício, a pessoa jurídica nº 231/01 que a entidade não será responsabilizada se comprovar que, antes
poderá ser responsabilizada, nos termos da Lei Anticorrupção, mediante a do crime ou violação, adotou e efetivamente implementou modelos organi-
simples promessa, oferecimento ou dação de vantagem indevida ao agente zacionais e de gestão adequados para evitá-lo (art. 6º do Decreto nº 231/01),
público, independentemente dos eventuais benefícios que almeja atingir ou, ainda, se demonstrar que esse gerente cometeu o crime em seu próprio
com tais pagamentos. interesse ou vantagem (art. 5º, item 2, do Decreto nº 231/01)34.
A quadratura fixada pela Lei nº 12.846/13 para que se considere pra- Insta salientar, de todo modo, que no dia 9 de maio de 2013, na
ticado um ato de corrupção por uma corporação e, nessa medida, ela possa sentença nº 20060/2013, o Tribunal de Cassação da Itália decidiu que a
ser punida, é mais abrangente do que a quadratura fixada pela lei penal para responsabilidade administrativa de um Banco (Citibank) não poderia ser
que se possa imputar um crime a um indivíduo que tenha agido em seu favor. automaticamente excluída em decorrência da absolvição de um de seus ge-
Assim, no Brasil, haverá casos em que a pessoa jurídica poderá ser respon- rentes, originalmente responsabilizado. Conforme expressamente consignado
sabilizada nos termos da Lei Anticorrupção sem que um crime tenha sido pelo Tribunal a responsabilidade (administrativa) do banco “tem um caráter
cometido por um de seus representantes, situação frontalmente diversa do autônomo e pode, portanto, existir mesmo na ausência de uma condenação
que ocorre no ordenamento jurídico italiano. concreta do subordinado ou da alta administração da empresa”35. Conforme
consignou a Corte, para que a responsabilidade administrativa da empresa
3.3. Responsabilidade objetiva X subjetiva vinculada
subsista basta que o crime seja cometido por um representante da empresa,
Itália e Brasil adotaram o sistema de responsabilização de pessoas jurídicas não sendo necessário a identificação e condenação desse.
por atos de corrupção baseado na “teoria do fato autônomo”, segundo a qual
A autonomia entre as esferas de responsabilização de pessoas físicas e
a corporação será responsabilizada inclusive nos casos em que não for possível
jurídicas preconizada pela Lei 12.846/13 no Brasil, por outro lado, é bem
identificar a pessoa física infratora32. Fizeram-no, contudo, em diferentes graus.
mais ampla. A Lei Anticorrupção brasileira expressamente consignou em seu
A Lei Anticorrupção brasileira estabeleceu que a responsabilidade art. 3º que “a pessoa jurídica será responsabilizada independentemente da
responsabilização individual” das pessoas naturais. Além disso, o dispositivo
30. “Art. 333. – Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a pra-
ticar, omitir ou retardar ato de ofício: expressamente proclama que a “responsabilização da pessoa jurídica não exclui
Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcioná- a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores ou de
rio retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional”.
31. “Art. 5º. Constituem atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira, para os fins desta
qualquer pessoa natural, autora, co-autora ou partícipe do ato ilícito”.
Lei, todos aqueles praticados pelas pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo único do art. 1o, que
atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração públi-
ca ou contra os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos:
I – prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a tercei- 33. Disponível em: “http://www.camera.it/parlam/leggi/deleghe/01231dl.htm”. Acesso em 20.10.2018.
ra pessoa a ele relacionada.” 34. SANT’ORSOLA, Fabrizio di; GIAMPAOLO, Silvia. Liability of Entities in Italy: Was it Not Societas
32. ARBIA, Elisa. Dal brocardo societas delinquere non potest ala graduale responsabilizzazione dela Delinquere Non Potest, 2 New J. Eur. Crim. L. 59 (2011), p. 65.
persona giuridica. Sapienza Legal Papers, 53 (2012), p. 57. 35. Corte di Cassazione, sentenza n 20060/2013.
220 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 221

3.4. Tipicidade estrita lá; cá nem tanto fundamental para que o administrado possa ter o necessário, prévio e seguro
Entre os princípios basilares do direito penal está o princípio da le- conhecimento acerca de quais os comportamentos que deve evitar ou praticar
galidade e seus corolários, os princípios da anterioridade e da tipicidade. para que não cometa uma infração e seja punido.
Enquanto garantia fundamental à aplicação do Direito, mormente o Direito Se tanto o direito penal quanto o direito administrativo sancionador
Penal, o princípio da legalidade está expressamente previsto na Constituição exigem precisão em seus tipos, não o exigem na mesma proporção. O grau
brasileira (art. 5º, XXXIX), a qual dispõe que “não há crime sem lei anterior de precisão do tipo exigido pelo primeiro é maior do que aquele exigido pelo
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. segundo. Conforme aduz Fábio Medina Osório, a Administração Pública
pode, desde que não recaia em arbítrio, conceder “espaços generosos de mo-
A aplicação do princípio da legalidade na seara penal exige não apenas
vimentação” lançando mão a cláusulas gerais para proibir comportamentos39.
que haja uma lei penal e que ela seja anterior ao crime, mas também que essa
lei tenha aplicação restrita (não se admitindo, por exemplo, analogia com o 3.5. Processamento dos ilícitos perante foros com diferentes
fim de incriminar o réu) e certa (a descrição do crime não pode ser muito naturezas
vaga a ponto de ser considerada indeterminada). Uma diferença sensível entre os regimes italiano e brasileiro de respon-
Nessa perspectiva, é de extrema importância na seara criminal o esta- sabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção diz respeito aos foros
belecimento de tipos penais, ou seja, descrições abstratas precisas de ações onde os processos de responsabilização devem correr.
proibidas ou permitidas36. O DL nº 231/01 estabelece em seu art. 36, 1, que a competência para
O Decreto nº 231/01 e a Lei Anticorrupção brasileira diferem consi- processar os ilícitos administrativos praticados por pessoas jurídicas é do Juízo
deravelmente no que diz respeito a precisão da descrição das condutas que criminal que detém atribuição para processar os crimes a ele relacionados.
consideram ilícitas. O Decreto nº 231/01 se remete aos tipos incriminadores Em outras palavras, será competente para processar e julgar a pessoa jurídica
do Código Penal italiano37, bastante estritos, portanto. Já a Lei no 12.846/13, que praticou um ato de corrupção o mesmo Juízo criminal responsável por
que estipula seus próprios tipos, estipula descrições concretas de condutas processar as pessoas físicas que praticaram os crimes antecedentes, ou seja,
mais gerais e elásticas. Cite-se, por exemplo, a conduta proibida descrita no os crimes pelos quais a pessoa jurídica será processada administrativamente40.
art. 5º. IV, “d”: “fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente”. Já a Lei Anticorrupção brasileira estipula dois ritos que podem ser ado-
É verdade que o critério da segurança, que veda tipos muitos abertos tados para a responsabilização das pessoas jurídicas por atos de corrupção,
no direito penal, também é buscada no âmbito do direito administrativo um administrativo e outro judicial, nenhum dos quais de natureza penal. O
sancionador. Celso Bandeira de Melo, por exemplo, entende que a “configu- procedimento administrativo para apuração da responsabilidade de pessoa
ração das infrações administrativas, para ser válida, há de ser feita de maneira jurídica, nos termos do art. 8o da Lei nº 12.846/13, deverá ser instaurado,
suficientemente clara, para não deixar dúvida alguma sobre a identidade do instruído e julgado pela autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos
comportamento reprovável”.38 Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Já o artigo 21 da Lei nº 12.846/13
estabelece que, quando judicial, o procedimento a ser adotado é o previsto
De fato, a exatidão dos tipos no direito administrativo sancionador é
na Lei nº 7.34/85, que regula a ação civil pública41. Trata-se de procedimento
36. TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 84.
37. Cite-se, nesse sentido, o art. 25 do Decreto n. 231/01, com o seguinte teor: “1. Em relação à prática dos 39. OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 2a ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
crimes previstos nos artigos 318, 321 e 322, parágrafos 1º e 3º do Código Penal, aplica-se multa de até Editora Revista dos Tribunais, 2005. p. 277.
duzentas ações. 2. Relativamente à prática dos crimes referidos nos artigos 319.º, 319.º, n.º 1, 321.º e 40. DE SIMONE, GIULIO. La responsabilità da reato degli enti: natura giuridica e criteri (oggetti-
322.º, n.ºs 2 e 4, do Código Penal, aplica-se à entidade uma sanção pecuniária de duzentas a seiscentas vi) d’imputazione, 2012, p. 17. Disponível em: https://www.penalecontemporaneo.it/upload/
quotas. 3. Em relação à prática de crimes referidos nos artigos 317, 319, agravados nos termos do ar- 1351253564De%20Simone%20definitivo.pdf. Acesso em Acesso em 16.Fev.19.
tigo 319- bis, quando a entidade tiver obtido um lucro significativo, parágrafo 319, parágrafo 2, e 321 41. Lei anticorrupção: manual de responsabilização administrativa da pessoa jurídica. Ministério da
do art. Código Penal, a sanção pecuniária de trezentas a oitocentas cotas é aplicada à instituição”. Transparência e Controladoria-Geral da União. Brasília, 2018. P. 50. (Disponível em: “https://www.
38. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 22a ed. rev. e atual. São Paulo: cgu.gov.br/Publicacoes/responsabilizacao-de-empresas/ManualdeResponsabilizaoAdministrativade-
Malheiros, 2007. p. 818. PessoasJurdicasMaio2018.pdf”, acesso em 09.FEV.2019).
222 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 223

perante juiz cível, portanto. inconstitucional, pois contrastaria com o disposto no artigo 27 da Constitui-
Ademais, oportuno destacar que, em que pese o Decreto Legislativo nº ção italiana, que estabelece o princípio da presunção de inocência44.
231/01 tenha afirmado que a natureza de sua responsabilização é de natu- De outro lado, uma parte da doutrina italiana argumenta, pelas razões
reza administrativa, consignou, em seu art. 34, as disposições do Código de que serão expostas abaixo, que o legislador italiano, ao expressamente quali-
Processo Penal seriam aplicáveis, quando compatíveis, ao procedimento de ficar a natureza de responsabilização do DL nº 231/01 como administrativa,
responsabilização das pessoas jurídicas por ele previsto42. valeu-se de uma “fraude na etiqueta”45 a fim de superar o velho problema
A Lei nº 12.846/2013, ao seu turno, não estipulou expressamente a expresso pelo brocardo: societas delinquere non potest46.
aplicação subsidiária ou complementar de nenhum diploma normativo penal. O presente artigo não se propõe a avaliar se de fato houve no Decreto
Legislativo nº 231/01 uma fraude na qualificação da natureza jurídica da
4. Críticas que, ao atravessar o oceano, perdem vida responsabilização ou, se de fato fosse esse o caso, averiguar quais foram as
Os regimes de responsabilização de pessoas jurídicas por atos de cor- razões para tanto. O objetivo do presente trabalho, ao contrário, é apenas
rupção no Brasil e na Itália, regidos pela Lei nº 12.846/2013 e pelo Decreto pontuar algumas das razões invocadas pela doutrina italiana para qualificar
Legislativo nº 231/01, respectivamente, partilham da mesma natureza pro- a natureza de responsabilização do DL nº 231/01 como criminal para, logo
clamada: administrativa. em seguida, verificar se tais motivos apresentados também seriam aplicáveis,
Não obstante a natureza declarada, há uma grande divisão na doutrina ou pertinentes, à Lei nº 12.846/2013, que também expressamente declarou
italiana entre os que defendem que a natureza da responsabilização trazida uma reponsabilidade administrativa de pessoas jurídicas.
pelo Decreto Legislativo nº 231/01 é de natureza administrativa de fato e os Assim, uma vez que já foi realizada uma análise comparativa entre as
que defendem que sua natureza é eminentemente penal. duas leis nos capítulos anteriores, oportuno consolidar nesse momento quais
Aqueles que defendem a natureza administrativa da responsabilização são as razões apresentadas por aqueles que entendem que o regime de respon-
das corporações se arvoram na natureza declarada por lei, bem como no sabilização do DL nº 231/01 seria criminal e não administrativo.
regime prescricional previsto pelo DL nº 231/01, art. 22, tipicamente de Um primeiro argumento apresentado decorre da circunstância de o
regime administrativo. DL nº 231/01 traz em seus dispositivos garantias típicas de direito penal,
Argumentam, ainda, que o reconhecimento do caráter administrativo como por exemplo o princípio da legalidade e taxatividade (art. 2º) e da não
da responsabilização das corporações adequa-se ao art. 27 da Constituição retroatividade (art. 3º), as quais estão expressamente previstas nos artigos 7 a
Italiana, que estipula o princípio da responsabilidade penal pessoal43. Reco- 10 do Código Penal italiano47.
nhecem eles, ademais, que tal interpretação constitucional do DL nº 231/01 Esse argumento, contudo, é apontado pela própria doutrina italiana
também é uma forma de protegê-lo de alegações de inconstitucionalidade. como fraco, eis que tais princípios são comuns ao direito sancionatório em
Um exemplo disso decorre do artigo 6.º do DL nº 231/01, que estabelece,
conforme já mencionado nesse trabalho, que a corporação pode se eximir de 44. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am-
missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Dispo-
responsabilidade (administrativa) quando demonstrar a ausência de culpa. nível em: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-
natura-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-conf-
Se a natureza da responsabilidade fosse considerada criminal a regra seria ronti-dellente. Acesso em 08.Fev.19.
45. DIVINCENZO, Mariele. Responsabilità degli enti ai sensi dell’art. 25-septies d.lgs. 231/01 e compiti
dell’organismo di vigilanza. Tesi di Laurea in Diritto e procedura penale degli enti, LUISS Guido Carli,
42. “Art. 34. Disposizioni processuali applicabili 1. Per il procedimento relativo agli illeciti amministrativi relatore Elisa Scaroina, 2015/2016, p. 12. Disponível em: https://tesi.luiss.it/id/eprint/18688. Acesso em
dipendenti da reato, si osservano le norme di questo capo nonche’, in quanto compatibili, le disposi- 08.Fev.19.
zioni del codice di procedura penale e del decreto legislativo 28 luglio 1989, n. 271” (Disponível em: 46. BRUNI, Glan Bruno. New Law on Direct Liability of Companies in Italy. International Business
“http://www.camera.it/parlam/leggi/deleghe/01231dl.htm”. Acesso em 20.01.2019). Lawyer, Abril/2003, p 71.
43. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas 47. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas
publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, p. 277. publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, p. 277.
224 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 225

geral e não exclusivos do direito penal. Tanto isso é verdade que, no or- Contra argumenta-se que tal aplicação do CPP italiano ao procedi-
denamento jurídico italiano, tais garantias também estão contidas na Lei mento do DL nº 231/01 somente se daria quando houvesse compatibilidade
689/1981, chamada de “Lei de Despenalização”, na qual estão previstas uma com o regime de responsabilização administrativa. De todo modo, a questão
série de infrações administrativas48. é igualmente inaplicável ao regime da Lei nº 12.846/2013, que não esti-
Sem prejuízo ao importante contra-argumento, bastante pertinente, pulou expressamente a aplicação subsidiária ou complementar de nenhum
o fato é que o argumento da invocação expressa de princípios ou garantias diploma normativo penal.
típicas de direito penal (ou sancionador) pelo DL nº 231/01 se mostra de Argumentam, ainda, os defensores da natureza penal do DL nº 231/01,
todo impertinente no que diz respeito à Lei Anticorrupção brasileira, já que que a determinação de registro das penalidades administrativas aplicadas às
não previu expressamente essas garantias (legalidade, taxatividade, vedação pessoas jurídicas em um cadastro nacional (art. 80) seria, na verdade, uma
de retroatividade, etc). espécie de registro de antecedentes criminais das corporações51.
Argui-se, ainda, em prol da natureza criminal da responsabilização Tal crítica não se revela muito acercada, haja vista que o fato de exis-
prevista no Decreto Legislativo nº 231/01, o seu artigo 36, que atribui ao tirem cadastros nacionais onde são registradas punições impostas a pessoas
Juízo criminal a competência para processar e julgar os delitos praticados jurídicas de modo algum tem o condão de qualificar a natureza dessas
pelas pessoas jurídicas49. Trata-se de argumento forte em prol da natureza sanções, que podem ser de natureza penal, administrativa ou mesmo civil.
penal, mas igualmente inaplicável ao contexto brasileiro, pois nenhum dos Tanto isso é verdade que a Lei nº 12.846/2013 estabelece em seus artigos
dois ritos expressamente estipulados pela Lei nº 12.846/2013, a serem ado- 22 e 23 a utilização de dois cadastros no Brasil, o Cadastro Nacional de
tados para a responsabilização das pessoas jurídicas por atos de corrupção, Empresas Punidas – CNEP e o Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas
tem é conduzido perante Juízo criminal. O procedimento na esfera adminis- e Suspensas – CEIS. Enquanto o primeiro se destina a registrar as sanções
trativa é instruído e julgado perante a autoridade máxima de cada órgão ou aplicadas em decorrência de infrações a própria Lei Anticorrupção, o segun-
entidade dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Já o procedimento do tem por finalidade tornar públicas as infrações a normas de licitações e
judicial tramita, nos termos do artigo 21 da Lei nº 12.846/13, perante Juízo contratos, indubitavelmente de caráter administrativo.
cível, conforme o da ação civil pública. Outra particularidade que é apontada para defender a natureza cri-
Outro argumento que é trazido em favor da corrente que defende a minal da responsabilização de pessoas jurídicas no DL nº 231/01 decorre
natureza penal do DL nº 231/01 relaciona-se com o fato de que o Decreto, do fato de que ela exige, na Itália, tenha sido praticado um crime, em seu
em seu art. 34, proclamou a aplicação das disposições do Código de Processo proveito ou interesse, por uma pessoa física ligada à corporação52. Seria um
Penal, quando compatíveis, ao procedimento de responsabilização das pessoas contrassenso, de acordo com essa linha de raciocínio, classificar como ad-
jurídicas nele previsto50. ministrativo um delito cujo pressuposto é um crime completo, com todos
os seus elementos constitutivos53.
48. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am-
missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Disponível O argumento é bastante forte, mas novamente inaplicável a realidade
em: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natu-
ra-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti-
-dellente. Acesso em 08.Fev.19. 51. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas
49. DIVINCENZO, Mariele. Responsabilità degli enti ai sensi dell’art. 25-septies d.lgs. 231/01 e compiti publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, p. 278.
dell’organismo di vigilanza. Tesi di Laurea in Diritto e procedura penale degli enti, LUISS Guido Car- 52. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am-
li, relatore Elisa Scaroina, 2015/2016, p. 13, Disponível em: https://tesi.luiss.it/id/eprint/18688. Acesso missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Disponível
em 08.Fev.19. em: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natu-
50. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am- ra-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti-
missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Disponível -dellente. Acesso em 08.Fev.19.
em: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natu- 53. DE SIMONE, GIULIO. La responsabilità da reato degli enti: natura giuridica e criteri (oggetti-
ra-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti- vi) d’imputazione, 2012, p. 16. Disponível em: https://www.penalecontemporaneo.it/upload/
-dellente. Acesso em 08.Fev.19. 1351253564De%20Simone%20definitivo.pdf. Acesso em Acesso em 16.Fev.19.
226 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 227

brasileira. Para que uma pessoa jurídica possa ser responsabilizada por um ilícito qualificação declarada pelo legislador nacional, mas na natureza da infração,
nos termos da Lei Anticorrupção não é necessário que ela ou, qualquer de seus nos tipos e graus de severidade das sanções que em decorrência dela podem
representantes, tenha praticado um crime. Conforme já mencionado acima, a ser aplicadas.59
própria Lei nº 12.846/2013 traz em seu art. 5º a descrição das infrações pelas Esse argumento, ao contrário dos anteriores, pode ser direcionado
quais, nos seus termos, as pessoas jurídicas podem ser responsabilizadas. também aos dispositivos da Lei Anticorrupção brasileira. Conforme exposto
Há quem defenda54 55 que a Lei Anticorrupção possui facetas de natureza no item anterior, as sanções passíveis de aplicação às corporações por meio
penal justamente em virtude de uma descrição de atos ilícitos que, segundo do DL nº 231/01 são muito semelhantes àquelas que podem ser impostas
eles, estaria próxima das tipificações de corrupção ativa e passiva da legisla- nos termos da Lei nº 12.846/2013. Desta feita, para que possa ser melhor
ção penal56. refletida, a questão será abordada em apartado, no próximo item.
De fato, a Lei Anticorrupção brasileira descreve certos ilícitos também
tipificados no código penal57, como por exemplo o contido em seu art. 5º, 5. Gravidade das penas e naturezas de responsabilização
I, também previsto no art. 333 do código penal. As redações, conforme A Constituição da República de 1988 assenta que pessoas jurídicas
mencionado acima não são idênticas e, mesmo que fossem, não seria a podem ser responsabilizadas por atos ilícitos nas esferas penal, cível e
primeira vez em que uma conduta do infrator pode ser qualificada, conco- administrativa, além de ser expressa no tocante a possibilidade de respon-
mitantemente, como crime e infração administrativa, o que, considerando sabilização penal de corporações por condutas lesivas ao meio ambiente.
a independência entre as instâncias é plenamente compatível com a ordem Assim, o Brasil adota o sistema de independência de instâncias, de modo
jurídica brasileira58. A doutrina e jurisprudência uníssona dos Tribunais Su- que uma única conduta pode justificar mais de um tipo de responsa-
periores é no sentido entendimento no sentido de que as esferas penal e bilização60. Um ato ilícito pode, ao mesmo tempo, ensejar àquele que
administrativa são independentes, com exceção das hipóteses de absolvição o praticou, pessoa física ou jurídica, responsabilização nas esferas civil,
por inexistência do fato criminoso. administrativa e penal.
Por fim, um outro argumento utilizado por aqueles que advogam a Os pressupostos para responsabilização do agente causador do ilícito
tese de que a natureza do DL nº 231/01 é penal e não administrativa, as- em cada uma dessas esferas são diferentes, não obstante possam compartilhar
senta-se sobre a gravidade das sanções que podem ser aplicadas às pessoas de alguns pressupostos comuns. Esses diferentes prismas de responsabili-
jurídicas nos termos do Decreto, capazes de afetar significativamente as zação também se diferem no tocante às sanções passíveis de aplicação, ao
atividades da empresa. No tocante a esse aspecto, cumpre-se pontuar que, menos no que diz respeito às sanções aplicáveis às pessoas físicas, pois penas
por mais de uma vez a Corte Europeia de Direitos Humanos, declarou que restritivas de liberdade somente são admitidas no ordenamento jurídico
o mais importante para definir a natureza de uma penalidade não está na brasileiro quando aplicadas pela via penal61.
Com efeito, é o que se depreende da Lei de Introdução do Código
54. GUARAGNI, Fábio André; CAMBI, Eduardo. Lei Anticorrupção. Comentários à Lei 12.846/2013.1ª Penal, que em seu artigo 1º classifica como crime a infração penal cuja
Edição. São Paulo: Almedina. Página 55.
55. Nesse mesmo sentido: BOTTINI, Pierpaolo. A lei Anticorrupção como uma lei penal encoberta. Con- 59. DIVINCENZO, Mariele. Responsabilità degli enti ai sensi dell’art. 25-septies d.lgs. 231/01 e compiti
sultor Jurídico. dell’organismo di vigilanza. Tesi di Laurea in Diritto e procedura penale degli enti, LUISS Guido Carli,
56. Em sentido contrário: VERÍSSIMO, Carla. Compliance: incentivo à adoção de medidas anticorrup- relatore Elisa Scaroina, 2015/2016, p. 14. Disponível em: https://tesi.luiss.it/id/eprint/18688. Acesso em
ção. São Paulo: Saraiva, 2018. 08.Fev.19.
57. Sob este aspecto, cabe destacar os verbos dar, oferecer e prometer, os quais encontram-se elencados 60. JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito Administrativo. Editora Revista dos Tribunais, São Paulo,
nos dispositivos normativos. 2016. P. 1342.
58. Guaragni, ao seu turno, classifica a Lei Anticorrupção como pertencente a um terceiro gênero, dis- 61. A par dessa classificação, após a consolidação do entendimento do STF e do STJ acerca da impossi-
correndo acerca de sua “hibridização”, fato já que de acordo com ele já foi observado no Brasil, nas bilidade de prisão civil do depositário infiel, ainda subsistem no ordenamento jurídico brasileiro duas
últimas décadas, com a Lei de improbidade administrativa e crimes ambientais. (Em: GUARAGNI, hipóteses de imposição de sanção privativa de liberdade por uma infração que não uma infração penal
Fábio André; CAMBI, Eduardo. Lei Anticorrupção. Comentários à Lei 12.846/2013.1ª Edição. São (crime): i) a prisão administrativa militar; ii) a prisão civil do devedor de alimentos, contida na Lei nº
Paulo: Almedina. Página 47. 5.478/1968 e no diferentes de Processo Civil, art. 528.
228 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 229

pena seja de reclusão ou detenção, podendo, inclusive, ser cumulada com pelo DL nº 231/01 e Lei nº 12.846/2013: i) multa; ii) prestação de serviços
a pena de multa. à comunidade; iii) suspensão parcial ou total de atividades; iv) interdição
Assim, se são diversas e variadas as espécies de sanções passíveis de apli- temporária de estabelecimento, obra ou atividade; e v) proibição de con-
cação em decorrência da prática de um ilícito (advertência, multa, suspensão tratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções
temporária de direitos, privativa de liberdade etc.), o legislador elegeu, ao ou doações.
menos no que diz respeito às pessoas físicas, a pena privativa de liberdade Em termos de gravidade, contudo, a Lei Anticorrupção brasileira foi
como a espécie sancionatória que caracteriza os crimes, distinguindo-os das além do previsto tanto pelo DL nº 231/01, quanto pela Lei nº 9.605/98. A
infrações de demais naturezas. Ilícitos administrativos e cíveis não ensejam Lei nº 12.846/2013 estipulou a mais gravosa das penas passíveis ser aplicada
a imposição da pena de prisão aos seus autores. às pessoas jurídicas: de dissolução compulsória63. Enquanto verdadeira “pena
Por uma simples razão, contudo, esse critério trazido pela Lei de In- capital” ou “pena de morte”64 das corporações a Lei no 12.846/2013, art.
trodução ao Código Penal não é aplicável quando o autor do ilícito for uma 19, § 1º, reservou sua aplicação apenas para os casos em que (i) a pessoa
corporação: pessoas jurídicas não podem ser presas. jurídica foi constituída para ocultar interesses ilícitos ou a identidade dos
beneficiários dos atos praticados; ou ii) houver o uso habitual da personali-
A mais gravosa das sanções que pode ser imposta a uma pessoa física
dade jurídica para facilitar ou promover a prática de atos lesivos.
em tempos de paz – a restrição da liberdade – e que, justamente nessa
medida, somente pode ser imposta pela via de responsabilização penal, é O fato de a Lei Anticorrupção brasileira ter previsto como passível
inaplicável às pessoas jurídicas. de aplicação às pessoas jurídicas que tenham infringido suas normas a mais
grave de todas as sanções, de dissolução compulsória, desqualifica o seu
Nessa medida, faz-se necessário perquirir se existe alguma outra es-
regime de responsabilização como administrativo e o qualifica como penal?
pécie de sanção que, por seu rigor, somente poderia ser aplicada às pessoas
jurídicas pela via penal. Uma melhor análise do direito brasileiro, que também contempla
outras hipóteses de dissolução compulsórias extrapenais das pessoas jurídi-
Conforme mencionamos no item anterior: i) o rigor das penas estipu-
cas, parece sugerir que não.
ladas pelo DL nº 231/01 é invocado como razão para qualificar a natureza
da responsabilização nele prevista como penal e não administrativa; ii) as Veja-se, por exemplo, que o próprio Código Civil brasileiro estabelece
sanções estipuladas pelo DL nº 231/01 são em larga medida coincidentes em seu art. 1.033, V, que uma pessoa jurídica poderá ser dissolvida quando
com aquelas previstas na Lei nº 12.846/2013. for extinta, na forma da lei, a sua “autorização para funcionar”. Estabelece
o Código Civil, ainda, em seu art. 1.125, que o “Poder Executivo é faculta-
De fato, ambos os diplomas normativos estabelecem como possíveis
do, a qualquer tempo, cassar a autorização concedida a sociedade nacional
sanções passíveis de aplicação às pessoas jurídicas as penas de multa, perdi-
ou estrangeira que infringir disposição de ordem pública ou praticar atos
mento de bens/confisco, publicação de sentença condenatória; suspensão ou
contrários aos fins declarados no seu estatuto”.
interdição de atividades e proibição de recebimento de incentivos, subsídios
ou empréstimos. Assim, se é possível civilmente dissolver uma empresa que infringe
disposição de ordem pública ou pratica “atos contrários aos fins declara-
Interessante notar que a Lei nº 9.605/98, que disciplina no Brasil a
dos no seu estatuto”, não faz o menor sentido reservar ao prisma penal
responsabilização penal de pessoas jurídicas por crimes ambientais62, também
estipula, em seus artigos 21 e 22, penas muito semelhantes àquelas previstas 63. OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. “O sistema brasileiro
de combate à corrupção e a Lei no 12.846/2013 (Lei Anticorrupção)”. Revista Brasileira de Direito
Público – RBDP, Belo Horizonte, ano 12, n. 44, p. 9-21, jan./mar. 2014. P. 17.
64. Lei anticorrupção: manual de responsabilização administrativa da pessoa jurídica. Ministério da
62. Lei nº 9.605/98, Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente Transparência e Controladoria-Geral da União. Brasília, 2018. Disponível em: “https://www.cgu.gov.
conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu represen- br/Publicacoes/responsabilizacao-de-empresas/ManualdeResponsabilizao AdministrativadePesso-
tante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. asJurdicasMaio2018.pdf”, acesso em 09.FEV.2019. P. 50.
230 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 231

a possibilidade trazida pela Lei Anticorrupção brasileira de disolver em virtude das diferenças substanciais entre normas, quanto em decorrência
judicialmente empresas constituídas para ocultar interesses ilícitos ou rei- de outras particularidades do ordenamento jurídico pátrio. Conclui-se, por-
teradamente utilizadas para facilitar ou promover a prática de atos lesivos tanto, que, na realidade normativa brasileira é possível atribuir ao modelo
à administração pública. de responsabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção, formal e
No mesmo sentido, desde 1976 está autorizada pela Lei das Socie- materialmente, de natureza jurídica administrativa.
dades Anônimas (art. 206 da Lei n. 6.404/76) a dissolução compulsória
de pessoa jurídica “por decisão de autoridade administrativa competente”. Referências Bibliográficas
ARBIA, Elisa. Dal brocardo societas delinquere non potest ala graduale responsabilizzazione dela persona
Entre os motivos que podem resultar na dissolução da pessoa jurídica giuridica. Sapienza Legal Papers, 53 (2012).
pela autoridade administrativa estão: i) a constatação da impossibilidade de BEVILACQUA, Marco. La Responsabilita Degli enti ex d.lgs. nº 231/01: Una Comparazione tra Civil
Law e Common Law, 4 Sapienza Legal Papers 47 (2015).
cumprimento da atividade que constitui o objeto contratual da empresa; ii)
CAPANEMA, Renato de Oliveira. Inovações da Lei no 12.846/2013. In: NASCIMENTO, M. D. do
o exercício de uma atividade não compreendida no seu objeto contratual; (Org.). Lei Anticorrupção Empresarial. Aspectos críticos à Lei 12.846/2013. Belo Horizonte: Editora
e iii) inatividade da empresa, que não exerceu qualquer atividade durante Fórum, 2014.
dois anos consecutivos. DE SIMONE, GIULIO. La responsabilità da reato degli enti: natura giuridica e criteri (oggettivi) d’im-
putazione, 2012. Disponível em: https://www.penalecontemporaneo.it/upload/1351253564De%20
Finalmente, também não se pode desconsiderar o fato de que as so- Simone%20def initivo.pdf. Acesso em Acesso em 16.Fev.19.
ciedades anônimas também podem ser dissolvidas se falirem, ou seja, se não DIVINCENZO, Mariele. Responsabilità degli enti ai sensi dell’art. 25-septies d.lgs. 231/01 e compiti
dell’organismo di vigilanza. Tesi di Laurea in Diritto e procedura penale degli enti, LUISS Guido Car-
possuir patrimônio direito suficiente para honrar o pagamento de todos os li, relatore Elisa Scaroina, 2015/2016, Disponível em: https://tesi.luiss.it/id/eprint/18688. Acesso em
seus credores, o que, em verdade, torna inexequível qualquer objetivo a que 08.Fev.19.
ela tenha se proposto65. GIAMUNDO NETO, Giuseppe; GAROFANO, Rafael Roque; CASTRO E SILVA, Philippe Am-
brosio. “Considerações sobre a responsabilização objetiva da pessoa jurídica por atos de corrupção (Lei
Se a empresa pode ser dissolvida compulsoriamente, na esfera civil, por 12.846/2013)”. Revista de Direito Administrativo, v. 2017, p. 02-23, 2017.
não possuir patrimônio suficiente para honrar suas dívidas, não é a previsão HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Tradução de Janaína Marcoantonio.
5ª Ed., Porto Alegre: L&PM, 2015.
de sanção de dissolução compulsória de corporações que praticaram graves
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito Administrativo. Editora Revista dos Tribunais, São Paulo,
ilícitos administrativos que qualificará a Lei Anticorrupção brasileira como 2016.
de natureza penal. Lei anticorrupção: manual de responsabilização administrativa da pessoa jurídica. Ministério da Trans-
parência e Controladoria-Geral da União. Brasília, 2018. Disponível em: “https://www.cgu.gov.br/Pu-
A Lei nº 12.846/2013 e o DL nº 231/01 foram diplomas normativos blicacoes/responsabilizacao- de-empresas/ManualdeResponsabilizaoAdministrativadePessoasJurdicas
concebidos e aprovados em contextos semelhantes, impulsionados a partir Maio2018.pdf ”, acesso em 09.FEV.2019.
compromissos assumidos – tanto pelo Brasil, como pela Itália – perante a co- MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 22a ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros, 2007.
munidade internacional no sentido de aperfeiçoar o combate à corrupção em
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. “O sistema brasileiro de
seus ordenamentos jurídicos. Ambos os diplomas normativos expressamente combate à corrupção e a Lei no 12.846/2013 (Lei Anticorrupção)”. Revista Brasileira de Direito Público
declararam, ademais, que a natureza da responsabilização por eles disciplinada – RBDP, Belo Horizonte, ano 12, n. 44, p. 9-21, jan./mar. 2014.

é administrativa. OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 2a ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Edi-
tora Revista dos Tribunais, 2005.
O presente estudo permitiu verificar que as críticas tecidas na Itália no PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas publica
tocante à natureza administrativa de responsabilização declarada pelo Decreto delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011.
Legislativo nº 231/01 não se aplicam à Lei nº 12.846/2013. Isso se dá tanto PRADO, Mariana Mota; CARSON, Lindsey; CORREA, Izabela. The Brazilian Clean Company Act:
Using Institutional Multiplicity for Effective Punishment, 53 Osgoode Hall L. J. 107 (2015).
POSTERARO, Nicola; ROLLI, Renato Rolli. Responsabilita Degli Enti Dipendente da Reato Analisi
65. TOMAZETTE, Marlon. Curso de empresarial: teoria geral e direito societário. Volume 1. 9. ed., São Sommaria dell’Apparato Sanzionatorio e del Suo Regime Prescrizionale, La, 3 Bocconi Legal Papers 149
Paulo: Saraiva Educação, 2018 [livro eletrônico].
232 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

(2014).
QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Responsabilização Judicial da pessoa jurídica na Lei Anticorrupção.
In: SOUZA, J. M.; QUEIROZ, R.P. de.; (org.). Lei Anticorrupção. Salvador, Bahia: JusPodivm, 2015.
Revista de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça. Ano 5. Vol. 17 (mar. 2011). Brasília: STJ, 2011.
RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e ammissi-
bilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti d e l l ’ e n t e . A PESSOA JURÍDICA COMO RÉ NO
Disponível em: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-
2312001-natura-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile- proposta-direttamente- PROCESSO PENAL: ATRIBUIÇÃO DE
-nei-confronti-dellente. Acesso em 08.Fev.19. GARANTIAS PROCESSUAIS E VEDAÇÃO DE
RUGGIERO, Rosa Anna. Cracking down on Corporate Crime in Italy, 15 Wash. U. Global Stud. L. Rev.
403 (2016).
AUTOINCRIMINAÇÃO
SANT’ORSOLA, Fabrizio di; GIAMPAOLO, Silvia. Liability of Entities in Italy: Was it Not Societas
Delinquere Non Potest, 2 New J. Eur. Crim. L. 59 (2011). Décio Franco David1
TESI, Maristela Amisano. A responsabilidade penal das pessoas jurídicas no sistema italiano. In Revista de
Direito Brasileira, 2012, f. 305.
RESUMO: Diante do presente contexto político-criminal em que a responsabilização penal
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. São Paulo: Saraiva, 1994. de entes coletivos se torna necessária, o presente trabalho pretende auxiliar na resolução dos
TOMAZETTE, Marlon. Curso de empresarial: teoria geral e direito societário. Volume 1. 9. ed., São problemas processuais incidentes sobre a imputação penal de pessoas jurídicas, com enfoque
Paulo: Saraiva Educação, 2018 [livro eletrônico]. específico na possibilidade de serem estendidas às pessoas jurídicas as garantias decorrentes de
direitos fundamentais de réus em processo penal. Além de demonstrar a importância acadê-
mica e prática do tema entre os problemas processuais da atualidade, propõe algumas soluções
para os principais entraves instrumentais relativos ao principio da não autoincriminação.
Desta forma, o artigo objetiva auxiliar na reflexão sobre os critérios e instrumentos processuais
capazes de promover uma relação processual penal que respeite marcos processuais de um
sistema acusatório e democrático, limitando a pesquisa à solução da seguinte indação: “É
possível estender à pessoa jurídica as garantias e os direitos fundamentais de réus em processo
penal, em especial o direito de não autoincriminação?”. Para solucionar o problema avençado,
o trabalho parte da matriz significativa e de sua adequação à Teoria da Empresa para, então,
demonstrar como as pessoas jurídicas podem ser titulares de direitos fundamentais e terem
os princípios processuais penais respeitados em seu favor. Quanto aos mecanismos metodo-
lógicos, o artigo foi escrito por meio de pesquisa bibliográfica, utilizando-se como método
de abordagem o dedutivo e como técnica de coleta a documentação indireta.
Palavras-chave: Pessoas Jurídicas. Processo Penal. Direitos fundamentais. Nemo tenetor
sine detegere.

1. APRESENTAÇÃO DO TEMA
A necessidade do debate acerca dos fundamentos político-criminais,
criminológicos e dogmáticos da responsabilidade penal da pessoa jurídica
surge como um dos principais temas em destaque sobre a definição dos limi-
tes, formas e situações em que a alusiva responsabilidade deve incidir2. Como

1. Doutorando e Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).
Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de Direito Penal da FAE
Centro Universitário (FAE). Advogado criminalista. E-mail: decio@dfdavid.com
2. Em destacado evento sobre Direito penal econômico, realizado em outubro de 1984, no Cairo, a As-
sociação Internacional de Direito Penal também se manifestou favorável à responsabilização penal
das pessoas jurídicas nas recomendações finais do evento. Recomendação no 13: “A responsabilidade
234 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 235

bem aponta Paulo César Busato superada a discussão sobre “se” a imputação a óptica dos fundamentos estruturais do Direito penal se direciona na efetiva
é necessária, precisamos discutir “como” tal instrumentalização ocorrerá3. preservação do princípio da culpabilidade, em especial em sua garantia de
Assim, antes de qualquer aprofundamento sobre o tema, informa-se que este responsabilidade subjetiva (ou culpabilidade em sentido estrito)8.
trabalho tem como objeto a seguinte indagação: É possível estender à pessoa Assim, acrescido dos diversos fundamentos político-criminais e
jurídica as garantias e os direitos fundamentais de réus em processo penal, criminológicos que o tema apresenta9, bem como, diante do avanço das
em especial o direito de não autoincriminação?. práticas econômicas que justificam uma revisitação ao debate sobre o siste-
O questionamento decorre da necessidade de se reconhecer, em um ma jurídico a ser adotado10, é preciso adotar a responsabilização penal das
Estado Democrático de Direito, a aplicação das garantias processuais a todos pessoas jurídicas como via efetiva no controle da delinquência economia e
os réus. E, em especial atenção ao princípio do nemo tenetur se detegere, de de empresa. Desta forma, é imprescindível realizar uma análise profunda e
imediato já se torna compreensível que uma pessoa jurídica, enquanto ré pro- detalhista acerca das técnicas penais e extrapenais que poderão ser usadas
cessual penal, não deve ser impelida a produzir provas contra si mesma, tais nesse intuito. Ocorre que parcela significativa da doutrina apresenta crité-
como “instada a comprovar quem são seus representantes legais, tampouco rios e fundamentos seguros para que ocorra tal imputação, superando as
a fornecer atas das reuniões para a tomada de decisão em questão, já que tais tradicionais críticas quanto à impossibilidade de conduta, elemento subje-
elementos integram a estrutura de imputação”4. tivo e culpabilidade aos entes coletivos, ressaltando que não há, ainda, uma
São raros os trabalhos específicos sobre os aspectos processuais da res- proposta uniforme sobre como a imputação deve ocorrer11. Na doutrina
ponsabilidade penal de pessoas jurídicas em solo pátrio5. Certamente, o brasileira, respeitando as diferenças estruturais e teóricas entre cada uma das
pequeno número se dá pelo fato de que “a maioria da doutrina penal repele propostas, merecem menção os escritos de Paulo César Busato12, Alamiro
a ideia com veemência poucas vezes vista”6. Corroborando tal constatação, Velludo Salvador Netto13, Sérgio Salomão Shecaira14, Tracy Reinaldet15, Fábio
verifica-se (ainda que sob um ponto de vista exclusivamente pessoal) que a defesa do princípio da imputação subjetiva. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
publicação mais utilizada em trabalhos acadêmicos no país sobre o tema cor- 8. Sobre o assunto: DAVID, Décio Franco. Fundamentação principiológica do Direito Penal Econômi-
co: um debate sobre a autonomia científica da tutela penal na seara econômica. 2014. Dissertação (Mes-
responde a uma obra coletiva organizada pelos Professores René Ariel Dotti trado em Ciência Jurídica) – Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, Paraná, p. 214-215.
9. Sobre o assunto LOUREIRO, Maria Fernanda. Necessidade político-criminal e superação dos obs-
e Luiz Régis Prado, a qual tem por objetivo refutar a implementação da res- táculos dogmáticos da teoria do delito para a responsabilidade penal das pessoas jurídicas. 2012.
ponsabilização penal de pessoas jurídicas7. Assim, inicialmente, o debate sob Dissertação (Mestrado em Direito) – Centro Universitário Curitiba, Curitiba, Paraná, p. 18-56.
10. VIANA FILHO, Flávio. Responsabilização criminal da pessoa jurídica: justificação autopoiética. In:
FRANCO, Alberto Silva; LIRA, Rafael. Direito Penal Econômico: Questões Atuais. São Paulo: Re-
penal das pessoas jurídicas é reconhecida em um número crescente de países como uma via apropriada vista dos Tribunais, 2011, p. 201-234; GÓMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. A responsabilidade penal da
para controlar a delinquência econômica e de empresa. Os países que não reconhecem tal classe de pessoa jurídica: Teoria do crime para pessoas jurídicas. São Paulo: Atlas, 2015, p. 13-70.
responsabilidade poderiam considerar a possibilidade de impor outras medidas contra tais entidades”. 11. Apenas a título introdutório, além dos trabalhos já mencionados acima, ROTHENBURG, Walter Clau-
3. BUSATO, Paulo César. Razões criminológicas, político-criminais e dogmáticas para a adoção da respon- dius. A pessoa jurídica criminosa. Curitiba: Juruá, 1997, p. 211-218; SALLES, Carlos Alberto de. Res-
sabilidade penal de pessoas jurídicas na reforma do código penal brasileiro. in: BUSATO, Paulo César; ponsabilidade penal da pessoa jurídica e a proteção ao meio ambiente: finalidade e aplicação. Revista
GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá, 2012, p. 18. Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 9, n. 36, p. 51-67., out./dez. 2001; CABETTE, Eduardo
Isso serve para superar as argumentações rasas fundadas em “porque sim” (ou “porque não”) quando se Luiz Santos. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: breve estudo crítico. Revista Brasileira de Ci-
trata desse tema. Como por exemplo, a eterna discussão sobre a constitucionalidade da responsabilização ências Criminais, São Paulo, v. 11, n. 41, p. 152-178, jan./mar. 2003; QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo.
da Pessoa Jurídica, a qual, obviamente, já está mais do que superada. Sobre o assunto: TANGERINO, Responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v.
Davi de Paiva Costa. A responsabilidade penal da pessoa jurídica para além da velha questão de sua 11, n. 45, p. 224-244, out./dez. 2003; SARCEDO, Leandro. Compliance e responsabilidade penal da
constitucionalidade. Boletim IBCCRIM, São Paulo, v. 18, n. 214, p. 17-18., set. 2010. pessoa jurídica: construção de um novo modelo de imputação baseado na culpabilidade corporativa.
4. COSTA, Helena Regina Lobo da. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: Um panorama sobre 2014. Tese. (Doutorado em Direito Penal) – Universidade de São Paulo, São Paulo, p. 140-252.
sua aplicação no Direito brasileiro. In: IBCCRIM 25 Anos. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, p. 103. 12. BUSATO, Paulo César. Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
Provocação igualmente feita por ESTELLITA, Heloisa. Aspectos processuais penais da responsabili- 2011, p. 99-128 e p. 211-226; BUSATO, Paulo César. Razões criminológicas, político-criminais e dogmáti-
dade penal da pessoa jurídica prevista na lei n. 9.605/98 à luz do devido processo legal. In: VILARDI, cas para a adoção da responsabilidade penal de pessoas jurídicas na reforma do Código Penal brasileiro. In:
Celso Sanchez; PEREIRA, Flavia Rahal Bresser; DIAS NETO, Theodomiro (coord.). Direito penal Revista Liberdades. Edição Especial: Reforma do Código Penal. São Paulo, 2012, p. 98-128.
econômico: crimes econômicos e processo penal. São Paulo: Saraiva, 2008. (GVLaw). p. 203-248. 13. SALVADOR NETTO, Alamiro Velludo. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. São Paulo:
5. Cf. se verificam nas referências abaixo. Revista dos Tribunais, 2018.
6. SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Autorregulação, responsabilidade empresarial e criminal com- 14. SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. 3. ed. Rio de Janeiro:
pliance. In: SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, Direito Penal Elsevier, 2010; SHECAIRA, Sérgio Salomão. A responsabilidade das pessoas jurídicas e os delitos
e Lei Anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 163. ambientais. In: Boletim IBCCRIM, nº 65. São Paulo: IBCCRIM, abril 1998, p. 3.
7. PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: Em 15. REINALDET, Tracy Joseph. A responsabilidade penal da pessoa jurídica. O exemplo brasileiro e a
236 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 237

André Guaragni16 e Fernando Galvão17. demonstra certa ausência de preocupação com os mecanismos processuais para
No entanto, frisando que o presente trabalho tem como marco teórico responsabilização de pessoas jurídicas, resultando, em uma crítica extremada,
um sistema significativo, o qual se estrutura na perspectiva vinculativa entre no deslocamento da esfera processual a uma segunda mão do Direito penal21, o
direito e linguagem e é construído em perspectiva dogmático-crítica, destaca- que, evidentemente, não pode acontecer.
-se o rendimento do alusivo marco para o reconhecimento da possibilidade de Outrossim, ao se tratar de imputação processual, nunca é demais re-
superação das críticas tradicionalmente apresentadas à responsabilização penal lembrar que considerável parcela doutrinária tem se esforçado em defender
da pessoa jurídica18, especialmente quando respeitadas as premissas teóricas a independência da estrutura técnica e doutrinária do processo penal diante
do Direito empresarial e da Teoria da Empresa19. do processo civil22. Tal posicionamento merece enorme reconhecimento, pois
Todavia, embora existam grandes propostas dogmáticas para uma corre- objetiva resolver problemas de forma séria, ao invés de fazer, apenas, um
ta imputação material de natureza penal às pessoas jurídicas, há, ainda, uma “malabarismo lingüístico, contorcionismos para uma adaptação impossível”23.
grande inobservância de como tal proposta se materializará na esfera processual. A verdade é que o processo penal não gira sob o mesmo cerne que o
Infelizmente, essa omissão denota que a preocupação processual represente um processo civil24. Seu âmbito de atuação deve estar relacionado ao Direito penal.
resquício daquilo que não merece ser explorado penalisticamente. Em outras Como bem destaca Paulo César Busato, é impossível desvincular o Direito
palavras, essa omissão teórica e normativa acaba por relegar o processo penal penal do Direito processual penal25. Por tal razão, defende que é preciso ter o
aos institutos do processo civil diante da determinação expressa do artigo 3º mesmo nível de preocupação com defesa e efetivação das garantias processuais
do Código de Processo Penal. Além dessa inserção inadequada de institutos
processuais civis (os quais possuem como objeto processual a lide, elemento ina-
Direito penal. Assim, para o Estado remanesce somente um dever de punir e jamais um direito” (BU-
dequado para o processo penal20), a omissão teórica processualista sobre o tema, SATO, Paulo César. Direito penal. Op. cit., p. 19). Ademais, sobre a necessidade de unificação entre
a função da pena e a função do Direito penal enquanto exercício do controle social do intolerável pela
seleção de bens jurídicos: BUSATO, Paulo César. Por que, afinal, aplicam-se penas? In: SCHMIDT,
experiência francesa. Curitiba: IEA academia, 2014. Andrei Zenkner. Novos Rumos do Direito Penal Contemporâneo – Livro em homenagem ao Prof.
16. GUARAGNI, Fábio André. “Interesse ou benefício” como critérios de responsabilização da pessoa Dr. Cezar Roberto Bittencourt. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 511-523
jurídica decorrente de crimes – A exegese italiana como contributo à interpretação do art. 3º da Lei 21. “O processo não pode ser visto como um simples instrumento a serviço do poder punitivo (Direito
9.605/98. In: BUSATO, Paulo César; GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade Penal da Pessoa Penal), senão que desempenha papel de limitador do poder e garantidor do indivíduo a ele submetido.
Jurídica. Curitiba: Juruá, 2012, p. 93-131. Há que se compreender que o respeito às garantias fundamentais não se confunde com impunidade, e
17. GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 4. ed. Belo Horizonte: D’Plácido, jamais se defendeu isso. O processo penal é um caminho necessário para chegar-se, legitimamente, à
2017. pena. Daí porque somente se admite sua existência quando ao longo desse caminho forem rigorosa-
18. Conforme se verifica em DAVID, Décio Franco; BUSATO, Paulo César. A empresa é capaz de ação? mente observadas as regras e garantias constitucionalmente asseguradas (as regras do devido processo
Uma proposta de discussão sobre a capacidade de rendimento da concepção significativa da ação legal)” (LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 44).
no Direito penal empresarial. In: LOBATO, José Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo Orsini; 22. Em especial, COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. A lide e o conteúdo do processo penal. Curiti-
SANTOS, Humberto Souza (Org.). Comentários ao Direito Penal Econômico Brasileiro. Belo Ho- ba: Juruá, 1989, p. 138; MELCHIOR, Antonio Pedro. A teoria crítica do processo penal. Revista Bra-
rizonte: D’Plácido, 2017, p. 19-44 e, especialmente, em: BUSATO, Paulo César. Reflexões sobre o sileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 25, n. 128, p. 27-64., fev. 2017; LOPES JÚNIOR, Aury.
sistema penal do nosso tempo. Loc. cit. (Re)discutindo o objeto do processo penal com Jaime Guasp e James Goldschmidt. Revista Brasileira
19. Conforme se verifica em: DAVID, Décio Franco. Reflexões sobre os fundamentos teóricos da respon- de Ciências Criminais, São Paulo, v. 10, n. 39, p. 103-124., jul./set. 2002; LOPES JÚNIOR, Aury.
sabilidade penal da pessoa jurídica a partir da teoria da empresa. In: BUSATO, Paulo César (Org.). (Re)pensando as condições da ação processual penal desde as categorias jurídicas próprias do processo
GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: se- penal. In: FAYET JÚNIOR, Ney. Ciências penais e sociedade complexa I. Organização de André
minário Brasil-Alemanha. Florianópolis: Tirant lo blanch, 2018, p. 133-152. Machado MAYA. Porto Alegre: Nuria Fabris, 2008. p. 79-100; LOPES JR, Aury. Direito Processual
Penal. Op. cit., p. 49-51; ROSA, Alexandre Morais da. Decisão no processo penal como bricolage
20. Sobre o assunto, COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. A lide e o conteúdo do processo penal. de significantes. 2004. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
Curitiba: Juruá, 1989, p. 132. No processo penal é analisado um conflito de interesses distinto, origina- Paraná, p. 266; SILVEIRA FILHO, Sylvio Lourenço da. O processo penal como procedimento em
do pela pretensão punitiva, pretensão resistida, dever punitivo ou até mesmo na pretensão do dever de contraditório: (re)discussão do locus dos sujeitos processuais penais. 2011. Dissertação. (Mestrado
punição do Estado. Segundo Víctor Rodríguez, além da função imediata de tutela de bens jurídicos, o em Direito) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, p. 85.
Direito penal possui duas outras funções mediatas: exercício do controle social e limitação do “Direito 23. COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Op. cit., p. 142.
de punir do Estado” (RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. Fundamentos de Direito Penal Brasileiro: Lei
penal e Teoria Geral do Crime. São Paulo: Atlas, 2010, p. 1-6). No entanto, não nos parece acertada a 24. “Daí a inviabilidade completa da pretensão de alguns em estabelecer uma teoria geral do processo
expressão “Direito de punir”. Afinal, “O Estado não é, em realidade, portador de direitos. Nem pode capaz de abarcar o processo civil e o processo penal. Essa concomitância é impossível, posto que en-
ser, porquanto não é indivíduo e não realiza o ato de mútua convivência. Só pode ser portador de quanto o processo civil visa equilibrar as disputas de interesses entre indivíduos, o processo penal, tal
direitos quem pode exigir, para si, em prol de seu próprio interesse, alguma atitude de outro. Tudo o qual a lei penal incriminadora e a lei de execuções penais, visa firmar uma barreira contra a intervenção
que o Estado exige de cada um não é de seu próprio interesse, mas de interesse dos demais indivíduos. estatal na vida do indivíduo. Daí que o processo penal partilha princípios com todos os ramos jurídicos
Assim, o Estado não é detentor de direitos, é mero gestor de direitos alheios (dos indivíduos). Portan- que compõem o sistema penal e não com os demais ramos do sistema processual” (BUSATO, Paulo
to, não existe um direito de punir, posto que não é o Estado quem exige nada para si. São os demais César. Direito penal: parte geral. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 39, rodapé 69).
indivíduos que exigem como direito seu que o Estado empregue o mecanismo de controle social do 25. BUSATO, Paulo César. Direito penal. Op. cit., p. 38-39 e p. 983-984.
238 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 239

que é dado no âmbito do direito material26. No mesmo sentido, George Flet- Daí, decorre o problema que orienta a presente reflexão (É possível estender
cher explica, ao tratar da relação de proximidade e diferença entre o Direito à pessoa jurídica as garantias e os direitos fundamentais de réus em processo
material e processual, que a realização do silogismo legal prescinde da relação penal, em especial o direito de não autoincriminação?).
entre o Direito material e processual penais. Segundo ele, a premissa maior é Desta forma, dada a proposta do II Seminário Brasil-Alemanha sobre
definida por normas de direito material, enquanto que as premissas menores Responsabilidade Penal de Pessoas Jurídicas, este trabalho pretende colaborar,
são um problema fático, o qual é estabelecido pelas regras processuais27. ainda que apenas sobre dois aspectos processuais (titularidade de garantias
Seguindo essa linha argumentativa e identificando na prática forense as fundamentais e aplicação da não autoincriminação), com os novos caminhos
dificuldades para a correta implementação processual da responsabilização em para uma dogmática harmonizada entre os sistemas penal e processual penal.
matéria penal de entes coletivos, podem ser identificados problemas técnicos Por isso, este escrito parte da delimitação teórica de um sistema acusatório29
que necessitam de um devido estudo, principalmente pela completa ausência e democrático, razão pela qual, desde já, destaca-se a necessidade de respeito
de previsão legal de natureza processual para a referida responsabilização28. às garantias processuais penais constitucionais e aos princípios processuais
inerentes ao réu, seja ele pessoa física ou jurídica30.
26. Essa preocupação também está presente na doutrina de Alexandre Morais da Rosa, para quem a corre-
lação entre os saberes penais material e processual devem buscar uma profunda identificação de fina-
lidades, isto é, uma verdadeira fusão de horizontes (ROSA, Alexandre Morais da. Direito e processo
penal juntos? (des)caminhos do ensino jurídico. Revista brasileira de direito processual penal, Porto
2. IMPUTAÇÃO DE PESSOAS JURÍDICAS A PARTIR DA
Alegre, vol. 1, n. 1, p. 202-217, 2015). TEORIA DA EMPRESA
27. FLETCHER, George P. Basics concepts of Criminal Law. New York: Oxfor University Press, 1998,
p. 8-9. Nas palavras do autor: “Our reflections on establishing guilt under the law are summarized in Apenas para demarcar o quadro de mundo que a presente reflexão parte,
the following syllogism:
Major: Whoever intentionally kills another person is guilty of murder. reitera-se que o modelo significativo não apenas supera as críticas sobre
Minor: On January 1, 1996, John Jones intentionally killed Bruce Barnes.
Conclusion: John Jones is guilty of murder. capacidade de ação de pessoas jurídicas como também possibilita uma har-
This is the “syllogism of legal guilt.” The major premise is defined by the rules of substantive law. The monização entre as esferas jurídicas penal e empresarial, conforme trabalho
minor premise is a matter of fact, and the facts are established by following the procedures laid down
in procedural rules, namely, the rules for conducting a fair trial” (FLETCHER, George P. Op. cit., p. 8). apresentado por Décio Franco David como conclusão dos debates do I Se-
28. Nesse sentido, podem ser indicadas as seguintes questões ainda necessitadas de solução: a) como deve se
proceder a citação processual penal da pessoa jurídica? Esse problema decorre da necessidade de, além minário Brasil-Alemanha sobre Responsabilidade Penal de Pessoas Jurídicas31.
de se definir quem é o representante processual da pessoa jurídica, confirmar uma teoria do processo
harmônica a uma teoria de imputação processual. Em outras palavras, faz-se necessário criar critérios Vejamos os principais pontos justificantes do modelo proposto:
adequados para tratar do âmbito da pessoa jurídica dentro de um processo penal, haja vista a incompati-
bilidade dos institutos processuais civis ao objeto do processo penal. Igualmente, recorda-se das normas A modificação de paradigma ocorrida no conhecimento técnico do Di-
inerentes à citação processual em matéria penal, a qual exige, como regra geral, a citação pessoal (art.
351, do CPP). Do mesmo modo, é preciso haver delimitação sobre quem é o devido representante proces- reito comercial, convertendo-o em Direito empresarial, deu novos rumos aos
sual, a pessoa que constar na data do fato ou na data do ato (O mesmo questionamento é feito por CHOU-
KR, Fauzi Hassan. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Canal Ciências debates sobre as atividades e ações produzidas por pessoas jurídicas. Se, ante-
Criminais. Disponível em: <https://canalcienciascriminais.com.br/aspectos-processuais-da-responsabi-
lidade-penal-da-pessoa-juridica/>. Acesso em: 15 jul. 2018). b) problemas de imputação: em especial riormente, o paradigma era fundado no sistema francês dos atos de comércio
a delimitação clara e inequívoca da individualização da conduta do agente da pessoa jurídica em seu (conceito objetivo)32, atualmente, com a adoção da teoria da empresa (conceito
favorecimento. Mas, sem possibilitar uma situação de criptoimputação como bem destaca Ricardo Ja-
cobsen Gloeckner (GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Nulidade na imputação criminal: Operação Lava
Jato e o art. 383 do CPP. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 24, n. 122, p. 281- rianópolis: Tirant lo blanch, 2018, p. 153-165) e, em sentido bastante crítico e contrário a possibilidade
307., ago. 2016) e/ou denúncias genéricas ou duplas. Outrossim, há a necessidade de se definir quanto à de responsabilização de pessoas jurídicas, Helena Regina Lobo da Costa (COSTA, Helena Regina Lobo
imputação quando ocorrer, nos moldes do atual modelo adotado de heterorresponsabilidade, sobre o fato da. Op. cit., p. 91-108).
do gestor se tornar incapaz ou falecer antes da citação ou no curso do processo. A sucessão de sócios ou 29. Definido como aquele em que a gestão da prova não esteja na mão do magistrado, mas pertença, ape-
a dissolução parcial ou total da pessoa jurídica possibilitaria uma continuidade processual? c) problemas nas, às partes conforme defende, entre vários autores, Aury Lopes Jr.: “é reducionismo pensar que bata
probatórios: como deve ser realizado o interrogatório da pessoa jurídica? E, como devem ser tratados o ter uma acusação (separação inicial das funções) para constituir-se um processo acusatório. É neces-
conflito e a duplicidade das versões apresentadas pelo gestor ou administrador da empresa quando este sário que se mantenha a separação para que a estrutura não se rompa e, portanto, é decorrência lógica
aparece como corréu do processo? Além disso, qual a natureza jurídica do depoimento do representante e inafastável, que a iniciativa probatória esteja (sempre) nas mãos das partes. Somente isso permite a
legal diante da imputação da empresa? Ele é um delator? É meio de prova ou ele aparece como tes- imparcialidade do juiz” (LOPES JR., Aury. Fundamentos do processo penal: introdução crítica. São
temunha do fato? Afinal, dependendo do papel processual por ele desempenhado, ter-se-á significado Paulo: Saraiva, 2015, p. 153).
jurídico distinto. d) problemas sobre medidas cautelares: quais medidas processuais são compatíveis com 30. No mesmo sentido, ESTELLITA, Heloisa. Loc. cit. COSTA, Helena Regina Lobo da. Loc. cit.
a natureza da pessoa jurídica? Quais não se tornam uma antecipação da pena? Quais não inviabilizam
a atividade a ser desempenhada ainda que haja uma absolvição, etc. Sobre essas indagações, merecem 31. Novamente, DAVID, Décio Franco. Reflexões sobre os fundamentos teóricos da responsabilidade
referência os trabalhos com análise mais ampla de Ricardo Gloeckner (Aspectos processuais penais da penal da pessoa jurídica a partir da teoria da empresa. Op. cit.
responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: BUSATO, Paulo César (Org.). GRECO, Luís; BUSATO, 32. “A teoria dos atos de comércio resume-se, rigorosamente falando, a uma relação de atividades econô-
Paulo César (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: seminário Brasil-Alemanha. Flo- micas, sem que entre elas se possa encontrar qualquer elemento interno de ligação, o que acarreta inde-
240 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 241

subjetivo moderno de origem italiana)33, passa-se a compreender que o atuar por meio da qual se modificam as bases demarcadoras dos elementos da teoria
empresarial corresponde ao exercício pleno de atividades economicamente do delito (tradicionalmente organizados em conduta, tipicidade, antijuridicida-
organizadas de produção ou circulação de bens ou serviços34. de e culpabilidade), sistematizando-se o delito39 em: 1) Pretensão de relevância
No entanto, observa-se que assim como no Direito penal, na esfera em- (tipo de ação); 2) Pretensão de ilicitude40; 3) Pretensão de reprovabilidade (cul-
presarial é mantida a pessoa física como núcleo conceitual das normas que pabilidade)41; e, 4) Pretensão de Punibilidade42. O recorte teórico alicerce da
regulam a atividade empresarial. Isso, no olhar de Coelho, dá ensejo a confusões teoria é a Filosofia da Linguagem do segundo Wittgenstein, especificamente das
entre empresários pessoa jurídica e os sócios desta, ampliando-se o problema Investigações Filosóficas, notadamente a ideia de jogos de linguagem como fórmula
pela distância entre os conceitos técnicos do Direito e da linguagem coloquial da identificação da ação como expressão de sentido, bem assim, a concepção de
que produzem confusões terminológicas35. Desta forma, o mais adequado seria ação comunicativa (ainda que não o método discursivo) de Jürgen Habermas.
promover o “ajuste entre o texto legal e a realidade que se pretende regular, de Para o presente trabalho, basta a análise da pretensão de relevância
modo que a disciplina geral da empresa (isto é, do exercício da atividade em- (ou tipo de ação), a qual é composta por duas categorias: uma pretensão
presarial) fosse a relativa ao empresário pessoa jurídica, reservando-se algumas conceitual (chamada por Tomás Salvador Vives Antón de pretensão de inteli-
poucas disposições especiais ao empresário pessoa física”36. Esse mesmo ajuste gibilidade43) correspondente à comprovação de que uma determinada conduta
deveria acontecer em todas as esferas jurídicas, notadamente quando se tenta corresponde a um tipo e uma pretensão de ofensividade correspondente à
definir as atividades realizadas por pessoas jurídicas sujeitas a sansões penais. comprovação de que um bem jurídico-penal foi ofendido em um nível sufi-
O exemplo principal disso é que ao se tratar de pessoas jurídicas do cientemente relevante para que seja acionado o maquinário penal44.
âmbito empresarial, necessita-se o abandono da concepção de ação nos moldes Com o modelo significativo, a atenção deixa de ser sobre o aspecto
tradicionais do Direito penal, pois uma pessoa jurídica realiza atividade juri-
paz de ação? Uma proposta de discussão sobre a capacidade de rendimento da concepção significativa
dicamente valorada, que, no atual sistema teórico adotado são expressas pelas da ação no Direito penal empresarial. In: LOBATO, José Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo
Orsini; SANTOS, Humberto Souza (Orgs.). Comentários ao Direito Penal Econômico Brasileiro.
atividades adjetivadas de empresárias. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2017, p. 19-44.
39. A origem doutrinária dessa classificação está em Tomás Salvador Vives Antón, especificamente em:
Nesse sentido, o recorte teórico da conduta tradicionalmente apresenta- VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal. Valencia: Tirant lo Blanch, 1996,
p. 484-487. No Brasil, o trabalho precursor é BUSATO, Paulo César. Direito Penal e ação significa-
do no Direito penal se demonstra insuficiente para tratar do tema em análise, tiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. Não obstante este livro (correspondente a sua dissertação de
mestrado), Busato aprofunda ainda mais alguns elementos de sua proposta em sua tese doutoral sobre
sendo necessária a superação de uma projeção ôntica da conduta, assim como tentativa: BUSATO, Paulo César. La tentativa del delito: Análisis a partir del concepto significativo
de la acción. Curitiba: Juruá, 2011, p. 40-44.
ocorreu com a própria determinação da natureza jurídica da pessoa jurídica37. 40. A pretensão de ilicitude é dividida em objetiva e subjetiva. A pretensão objetiva de ilicitude correspon-
de à antijuridicidade formal, na qual estão inseridas as instâncias normativas permissivas. A pretensão
Por isso, adota-se como recorte teórico a teoria significativa da conduta38, subjetiva de ilicitude corresponde aos aspectos subjetivos do injusto que são referidos pelo tipo penal,
representados pelas categorias dolo e culpa (cf. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., p. 485).
finições no tocante à natureza mercantil de algumas delas” (COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito 41. Consistente na reprovação do autor do tipo de ação que deveria ter agido de modo diverso. Como
Comercial, vol. 1. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 15). Uma das dificuldades centrais dessa teoria é bem assinala Vives Antón: “Es uma consecuencia inevitable de postular, de uma parte, la validez de la
definir o que são atos de comércio, conforme ampla exposição teórica de Rubens Requião (REQUIÃO, norma y, de outra, de situarse ante el presunto infractor em acitude participativa, esto es, de no consi-
Rubens. Curso de Direito Comercial. 1. vol. 29. ed. rev. e atual. por Rubens Edmundo Requião. São derarlo meramente como um objecto de manipulación, sino como persona” (VIVES ANTÓN, Tomás
Paulo: Saraiva, 2010, p. 36-37) e, também, de Tomazette (TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Salvador. Op. cit., p 487).
Empresarial, vol. 1: Teoria geral e direito societário. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 10-12). 42. A pretensão de punibilidade corresponde à necessidade da pena, por isso está intimamente relacionada
33. “A teoria da empresa é, sem dúvida, um novo modelo de disciplina privada da economia, mais adequa- ao princípio constitucional da proporcionalidade. (VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Loc. cit.). Como
do à realidade do capitalismo superior” (COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 18). No mesmo sentido, bem ressalva Busato, esta forma de punibilidade “não corresponde ao conceito estrito de punibilidade,
REQUIÃO, Rubens. Op cit., p. 39. ou seja, das questões a ela relacionadas que têm lugar no momento da realização da conduta incrimina-
34. Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., p. 63. da (condições objetivas de punibilidade e causas pessoais de exclusão da pena), mas sim a um conceito
amplo, que inclui não apenas esses elementos citados, mas também as circunstâncias que, conquanto
35. COELHO, Fábio Ulhoa. Loc. cit. sejam posteriores à ação incriminada – mas antes da sentença condenatória – , também tornam injus-
36. COELHO, Fábio Ulhoa. Loc. cit. tificada a imposição de uma pena (tais como todas as medidas de graça previstas no ordenamento
37. Cf. DAVID, Décio Franco. Reflexões sobre os fundamentos teóricos da responsabilidade penal da pes- jurídico positivo, e até mesmo aquelas não previstas expressamente pelo ordenamento)” BUSATO,
soa jurídica a partir da teoria da empresa. In: BUSATO, Paulo César (Org.). GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César. Direito Penal. Op. cit., p. 579, destaques no original.
Paulo César (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: seminário Brasil-Alemanha. 43. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., p. 484.
Florianópolis: Tirant lo blanch, 2018, p. 133-140. 44. BUSATO, Paulo César. Direito Penal: Parte Geral. Op. cit., p. 269-270; BUSATO, Paulo César. La
38. Proposta já defendida anteriormente: DAVID, Décio Franco; BUSATO, Paulo César. A empresa é ca- tentativa del delito. Op. cit., p. 40-41.
242 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 243

subjetivo residente na mente do homem para se projetar especificamente necessita de um agir em sentido ontológico, mas, sim, significativo.
sobre a dimensão social da atuação humana45. Os fundamentos do conceito Observa-se que a presente análise de objetiva reinterpretar o debate da
significativo de ação estão na “ideia de percepção da ação como algo que responsabilização penal da pessoa jurídica a partir do Direito empresarial,
transmite um significado”46. Essa perspectiva decorre da inserção da filosofia da motivo pelo qual é justamente na compreensão da capacidade da pessoa ju-
linguagem nos estudos dogmáticos do Direito penal, realizados inicialmente rídica que reside um dos seus grandes dilemas. Há críticas duras da doutrina
por Vives Antón e George Patrick Fletcher. quanto à incapacidade de agir da pessoa jurídica, as quais, como já fora afir-
A noção comunicativa pela linguagem permite o desenvolvimento de mado, são superadas pela proposta da ação significativa51. Mas, essas críticas
uma abordagem humanística do conceito de ação, de modo que ela não e, igualmente, essa declinação sobre a necessidade de se superar o dilema da
inicia com o estudo da intenção do agente, “mas com a maneira com a conduta não levou em consideração uma constatação pontual: a pessoa ju-
qual nós, enquanto observadores, entendemos se o movimento ou nenhum rídica empresarial exerce atividades, isto é, não pratica condutas no sentido
movimento constituem ação”47. Em outras palavras, a delimitação e com- tradicional do termo para o Direito penal52.
preensão do agir ocorrem da mesma maneira com a qual é compreendido Conforme explicado acima, empresa significa atividade, logo, a estrutura-
o significado de uma palavra ou uma frase. As palavras não transmitem ção do exercício da capacidade da pessoa jurídica deve estar vinculada ao objeto
significados em abstrato, mas apenas no contexto da interação humana48. definido em seu ato constitutivo como atividade (empresa). O abandono da
O mesmo vale para os eventos que são definidos como ação. A teoria signi- matriz ôntica da natureza jurídica da pessoa jurídica, por si só, possibilita a
ficativa abandona a compreensão da ação enquanto elemento composto de compreensão de que os atos jurídicos e negócios jurídicos por ela exercidos são
um fato físico (movimento corporal) acrescido a um fato mental (volição) interpretados vinculados às atividades empresariais desempenhadas pela pessoa
e passa a compreender a ação não como algo que os homens fazem, mas jurídica53. Essa compreensão supera, inclusive, o extenso debate realizado no Di-
como o significado do que fazem49. Deste modo, a “ação só pode ter sentido reito penal sobre a vontade da pessoa jurídica54. E, caso fujam dessa vinculação,
jurídico desde que interpretada em conjunto com seu entorno”50.
51. Novamente, DAVID, Décio Franco; BUSATO, Paulo César. A empresa é capaz de ação? Uma propos-
Com isso, a pretensão de relevância corresponde à correta assimilação ta de discussão sobre a capacidade de rendimento da concepção significativa da ação no Direito penal
empresarial. Revista Justiça e Sistema Criminal, v. 9, n. 16, p.205-232, jan./jun. 2017.
da teoria da empresa como estruturação do agir empresarial, promovendo um 52. Sobre a adoção de um conceito técnico de conduta que se vincule a um conceito cotidiano (leigo):
acerto dogmático para a responsabilização penal de pessoas jurídicas. Afinal, ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro, v.
1: Parte Geral. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 353 e ss.
possibilidades jurídicas relevantes de dano do bem jurídico e seus significados 53. Em sentido próximo, fundamentando e limitando a responsabilização aos atos que se amoldem como
juridicamente devidos à sua natureza: TIEDEMANN, Klaus. Manual de Derecho Penal Económico:
devem ser analisados segundo as exigências materiais de legitimidade, as quais Parte general y especial. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, p. 178.
54. Sobre a vontade da pessoa jurídica: BUSATO, Paulo César. Reflexões sobre o Sistema Penal do nosso
decorrem da própria noção de pretensão de relevância (tipo de ação) que não tempo. Op. cit, p. 211-225. Idêntico entendimento está contido na doutrina civilista de Caio Mário da Silva
Pereira afirmava que “Realizando os interesses humanos ou as finalidades sociais que se propõem, as pes-
soas jurídicas procedem, no campo do direito, como seres dotados de ostensiva autonomia. É preciso, então,
reconhecer-lhes vontade própria, que se manifesta através as emissões volitivas das pessoas naturais, mas
45. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., p. 244 e ss. que não se confunde com a vontade individual de cada um, porém é a resultante das de todos” (PEREIRA,
46. BUSATO, Paulo César. Direito Penal e ação significativa. Op. cit., p. 155. Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. I: introdução ao Direito civil; teoria geral de direito
47. FLETCHER, George Patrick. The Grammar of Criminal Law: American, comparative, and interna- civil. 20. ed. Atualizado por Maria Celina Bodin de Moraes. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 308).
tional, v. I. New York: Oxford University Press, 2007, p. 282. Em sentido próximo ao defendido até esta parte do trabalho estão algumas considerações de Dimitri
48. FLETCHER, George Patrick. The Grammar of Criminal Law. Loc. cit. Dimoulis: “Comparando a pessoa jurídica com a física, percebemos que o alcance dos direitos e obri-
gações da pessoa segunda é mais amplo, A pessoa jurídica não pode praticar atos de natureza pessoal
49. MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. La ‘concepción significativa de la acción’ de T. S. Vives y como a pessoa física que casa, constitui família e dispõe de seus bens por meio de testamento, não
su correspondencia sistemática con las concepciones teleológico-funcionales del delito. Anuario da exerce direito políticos e não pode ser responsabilizada com base em critérios subjetivos. Como dizer
Facultade de Dereito da Universidade da Coruña, n. 5. 2001, p. 1078-1079. Disponível em: <http:// que uma pessoa jurídica teve ‘dolo’ ou ‘culpa’? Essa constatação é verdadeira só em parte. Certamente,
ruc.udc.es/bitstream/2183/2100/1/AD-5-51.pdf>. Acesso em 30 nov. 2015. Idêntica passagem em: a pessoa jurídica não pode praticas atos pensados para pessoas físicas, como os relacionados com a
MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. La ‘concepción significativa de la acción’ de T. S. Vives y su órbita familiar. Do resto, porém, não se diferencia da física. Nada impede que a pessoa jurídica possa
correspondencia sistemática con las concepciones teleológico-funcionales del delito. Revista Elec- ser penalmente responsabilizada. Isso ocorre em vários países, inclusive no Brasil para alguns crimes,
trónica de Ciencia Penal y Criminología, v. 1, n. 1. 1999. Disponível em: <http://criminet.ugr.es/ como os ambientais (art. 3º da Lei 9.605, de 1998). Além disso, as pessoas jurídicas de direito público
recpc/recpc_01-13.html>. Acesso em: 30 nov. 2015. A mesma observação consta em: BUSATO, Paulo exercem competências de cunho político, expressando sua vontade mediante negociações e votações
César. Direito Penal e ação significativa. Op. cit., p. 156. no âmbito dos organismos internacionais” (DIMOULIS, Dimitri. Manual de introdução ao estudo
50. BUSATO, Paulo César. Direito Penal e ação significativa. Op. cit., p. 162. do Direito. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 225).
244 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 245

pode vir a ocorrer a desconsideração da personalidade jurídica do ente coletivo, 3. A PESSOA JURÍDICA COMO TITULAR DE GARANTIAS
como ocorre tradicionalmente nas distintas áreas extrapenais55. PROCESSUAIS PENAIS
Essa perspectiva permite uma correta adequação e harmonização das Dada a delimitação de espaço e temática do presente trabalho, torna-se
distintas áreas jurídicas de incidência sobre o tema em análise, respeitando, imperioso reiterar que enquanto o campo teórico-dogmático material penal
portanto, uma das características centrais do Direito penal econômico que é esteja amplamente escorado para defender a responsabilização de pessoas ju-
a tipicidade superposta ou sobreposta56. Essa sobreposição normativa de distintas rídicas, a dogmática processual penal está bastante desamparada. Apenas para
áreas necessita, repete-se, ser harmônica, sob o risco de ocorrer confusões entre enfatizar a ausência de mecanismos processuais adequados, destaca-se que
ramos distintos ao tratar da mesma temática. Feitas as ressalvas de sistema- no PLS 156/2012 (Projeto de Reforma do CPP) há apenas poucas menções
tização, é preciso compreender melhor como se apresenta a fundamentação do termo “pessoa jurídica”, sendo que tais menções dizem respeito a noti-
das atividades de uma pessoa jurídica empresária. Para tanto, parte-se da ficações no procedimento do Juizado Especial Criminal, cautelares pessoais
consequência lógica e natural da atribuição de personalidade jurídica aos e cautelares reais60. Em outras palavras, não existe um diploma legal próprio
entes coletivos, que é a instituição de sua capacidade. Assim, se possuem para realizar o processamento de pessoas jurídicas em matéria penal no Brasil
“aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações, obviamente hoje61. Dessa constatação decorre a pergunta inicial deste artigo: É possível
se lhes deve atribuir o poder necessário, e, mais ainda, a aptidão específi- estender à pessoa jurídica as garantias e os direitos fundamentais de réus em
ca para exercê-los”57. Mas, diferente da capacidade plena inerente à pessoa processo penal, em especial o direito de não autoincriminação?
física, a pessoa jurídica goza de capacidade apenas para os atos vinculados à Para responder tal indagação, é preciso respeitar o marco teórico apre-
finalidade para a qual foi criada. Obviamente, a esfera de atuação da pessoa sentado. Desta forma, a resposta partirá, igualmente, das matrizes teóricas do
jurídica não é restrita a atividades patrimoniais. Pelo contrário. Ao “ganhar modelo significativo, com especial ênfase à filosofia da linguagem.
vida” por intermédio do registro perante o órgão competente (junta comer-
3.1. O JOGO PROCESSUAL COMO JOGO DE LINGUAGEM
cial), a pessoa jurídica passa a gozar de direitos patrimoniais, obrigacionais,
MATERIALIZADOR DE GARANTIAS PROCESSUAIS PENAIS DO RÉU
sucessórios (pode adquirir por causa mortis), recebe denominação e proteção
Como amplamente sabido, a partir do século XX, a Filosofia passa
a seu nome, a sua imagem e honra, adota domicílio, adquire nacionalidade e
a adotar a linguagem como um dos seus principais objetos de estudo, o
todos os demais atributos da personalidade58, devidamente compatíveis com
que resulta, posteriormente, no chamado giro linguístico (linguistic turn)62.
sua natureza59, inclusive, como se verá adiante, garantias processuais.
Uma das principais características dessa virada foi a constatação de que a
55. Há previsões expressas em diversas áreas do Direito nacional vinculando à expansão do objeto em- linguagem é uma atividade intersubjetiva63. Essa constatação tem origem nos
presarial, obviamente com adequações aos requisitos dos objetivos político-normativos de cada área,
conforme se depreende da análise dos seguintes dispositivos: a) art. 50 do Código Civil; b) art. 28 do trabalhos de Ludwig Wittgenstein, principalmente em virtude da própria
Código de Defesa do Consumidor (com aplicação subsidiária ao Direito do Trabalho pela autorização
normativa dos artigos 8º e 769 da Consolidação das Leis do Trabalho); e , c) art. 135 do Código Tribu- virada ocorrida em seus trabalhos64.
tário Nacional.
56. ESTELLITA, Heloisa. Tipicidade no Direito Penal Econômico. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, Para o segundo Wittgenstein, é impossível existir uma referência linguística
René Ariel. Direito Penal Econômico e da Empresa: Direito Penal econômico. Coleção doutrinas es-
senciais; v. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 153-174. Acerca de uma estruturação punitiva
penal respeitadora do princípio da intervenção mínima com nivelamento de injustos por meio de tipos Direito Civil dá ao problema da responsabilidade da pessoa jurídica deve ser considerada pelo Direito
superpostos de acordo com o grau de ofensividade: DAVID, Décio Franco. Delitos de acumulação Penal para a construção de seu peculiar edifício teórico” (GALVÃO, Fernando. Op. cit., p. 69-70).
e proteção ambiental. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2017, p. 248-259 e 269-292. Quanto à
relação de verificar os níveis de injusto entre o Direito civil e o penal, porém, tratando do tema pela 60. Artigos 294 (notificação de pessoa jurídica); 533, VI e XV; 596; 605; 615; 635; 652 (medidas cautela-
violação ao ordenamento jurídico: GALVÃO, Fernando. Op. cit., p. 70. res contra pessoas jurídicas).
57. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Op. cit., p. 310-311. A partir do reconhecimento da personalidade 61. Tampouco a Lei no 9.605/1998 traz mecanismos processuais diversificadores ou autônomos.
jurídica decorrem efeitos inerentes à capacidade das pessoas jurídicas (titularidade negocial, titulari- 62. DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Direitos Fundamentais e Teoria Discursiva: dos pressupostos
dade processual plena e a autonomia patrimonial), vide: COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito teóricos às limitações práticas. Salvador: Editora JusPodvim, 2018, p. 56.
Comercial, vol. 2: Direito de empresa. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 14-16). 63. DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Loc. cit.
58. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004 (coleção direito 64. Sobre o assunto: STEGMÜLLER, Wolgang. A filosofia contemporânea: introdução crítica. Tradução
civil; v. 1), p. 264. de Adaury Fioritti e Edwino A. Royer, et alii. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012, p. 402 e
59. Na doutrina nacional, Fernando Galvão apresenta posicionamento idêntico: “A solução que hoje o ss.
246 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 247

independente de relações interpessoais (comunidade e falantes65), isto é, por tradicionais, isso não irá obstaculizar o jogo, afinal, as regras estarão manti-
meio dos jogos de linguagem (Sprachspiele) e das formas de vida (Lebensform)66. das74. Disso decorre a conclusão que “não são os instrumentos utilizados no
A “expressão ‘jogo de linguagem’ deve salientar aqui que falar uma língua é parte jogo que determinam o que ele é, mas a composição de suas regras compar-
de uma atividade ou de uma forma de vida”67, uma vez que “todo o jogo de tilhadas com os demais jogadores”75.
linguagem se baseia no reconhecimento de palavras e objetos”68. Deste modo, O mesmo pode ser estendido ao jogo linguístico processual penal. Se a
quando Wittgenstein se refere à linguagem como parte de uma forma de vida, Constituição Federal atribui um conjunto de regras limitadoras de atuação es-
ele está sugerindo que a linguagem não envolve apenas o falar, mas, igualmente, tatal perante um Réu, são essas regras que caracterizam o jogo e, mudando-se as
outras atividades, como expressões corporais, faciais, observações, etc., como regras, muda-se o jogo. Logo, se o processo penal é instituído sob a marquise das
ocorre, por exemplo, com a Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS)69. garantias constitucionais, não é possível refutá-las a nenhum réu, seja ele pessoa
Assim, quando se fala de jogos de linguagem, se está fazendo referência física ou jurídica. A adoção de regra processual conflitante com a Constituição
aos múltiplos usos da linguagem que fazem da fala uma fala com sentido70, Federal implicará, obrigatoriamente, na mudança do jogo76, o que exigirá novos
enquanto que as demais atividades ou múltiplos usos correspondem aos as- jogadores. Para elucidar melhor essa questão, basta pensar em diversas equipes
pectos da forma de vida71. Isso implica em reconhecer que ao “usar a expressão de distintas modalidades de uma mesma associação desportiva. Observa-se que
formas de vida, Wittgenstein estaria incorporando à linguagem justamente o time de basquete, assim como o de handebol e futebol de salão, possui um
essas situações intersubjetivas que, apesar de múltiplas, não seriam ainda atleta que realiza a função de pivô e que usa, nas três modalidades, o mesmo
linguagem, não envolvendo, portanto, argumentos”72, mas as práticas em que uniforme (podemos até atribuir a ele o mesmo número do uniforme). No en-
os indivíduos compartilham significados. tanto, não se pode afirmar que seja o mesmo pivô para as modalidades distintas.
Isso é melhor compreendido se for utilizado o mesmo exemplo do filó- Afinal, o que caracteriza cada quadro de mundo ou cada forma de vida (atividade
sofo austríaco com relação ao jogo de xadrez73, de modo que se dois jogadores esportiva) é o seu próprio conjunto de regras (jogos de linguagem).
convencionarem que em sua partida usarão outras peças no lugar das Logo, se o registro de uma pessoa jurídica perante a Junta Comercial
atribui a ela efetivamente direitos e deveres, entre estes estarão as garantias
processuais, pois, conforme afirma Gema Rosado Iglesias, os direitos e “a
65. Essa relação indivíduo x comunidade é um dos alicerces estruturantes da linguagem, conforme anotam
Cleverson Leite Bastos e Kleber B. B. Candiotto: “Uma língua é um sistema de valor compartilhado capacidade processual é, em suma, consequência de ser titular de direitos e
grupalmente que envolve fatores psicossociais e valores que devem ser subsumidos pelo indivíduo,
primeira condição para que ele permaneça e pertença ao seu grupo linguístico” (BASTOS, Cleverson obrigações e possuir as condições necessárias para exercê-los”77. Esta é uma
Leite; CANDIOTTO, Kleber B. B. Filosofia da Linguagem. Petrópolis: Editora Vozes, 2007, p. 31).
66. Daí a incapacidade de vincular a filosofia da linguagem de Wittgenstein à filosofia da linguagem de
constatação inerente ao modelo constitucional de processo penal instituído
Heidegger, haja vista que para este, a linguagem “é a morada do ser” (HEIDEGGER, Martin. Carta so- a partir de 1988 no Brasil. Afinal, se o modelo instituído pela Constituição
bre o humanismo. In: HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. Tradução de Enio Paulo Giachini
e Ernildo Stein. Petrópolis: Editora Vozes, 2008, p. 326). Federal é o de um Estado de Direito, tal modelo deve ser, obrigatoriamente,
67. WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Tradução Marcos G. Montagnoli. 8. ed. Petró-
polis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2013, p. 27. o de um Estado de democracia e dos direitos fundamentais78. Essa constatação
68. WITTGENSTEIN, Ludwig. Da Certeza. Edição bilíngue. Tradução: Maria Elisa Costa. Lisboa: Edi- é reforçada com a base teórica da filosofia da linguagem acima apresentada e
ções 70, 2012, p. 277, aforismo 455.
69. “Sabemos apenas que, de algum modo, falar é falar a linguagem. ‘Linguajar a linguagem’. Torná-la também defendida pela renomada penalista Silvina Bacigalupo, que afirma
patente. No linguajar da linguagem acontece a fala, o gesto, a mensagem, o intercâmbio, a língua e
o idioma” (BONACCINI, Juan Adolfo. Breve Ensaio em Torno à Linguagem. Princípios: Revista de que é necessário proteger os direitos da pessoa jurídica em virtude de estar
Filosofia (UFRN), v. 2, n. 02, 6 out. 2010, p. 62).
70. “Dizer que uma proposição com a forma de informação tem um uso, não é ainda dizer algo sobre o
tipo de uso que ela tem” (WITTGENSTEIN, Ludwig. Anotações sobre as cores. Edição bilíngue. 74. Igual constatação em DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Op. cit., p. 57.
Tradução de Filipe Nogueira e Maria João Freitas. Lisboa: Edições 70, 2018, p. 195, aforismo 336). 75. DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Op. cit., p. 57.
71. VELLOSO, Araceli. Forma de vida ou formas de vida? Philósophos – Revista de Filosofia [S.I.], v. 8, 76. Como bem define Vives Antón, um sistema penal que subtrai princípios e garantias se converte em
n. 2, jan. 2008, p. 164. Disponível em: <https://revistas.ufg.br/philosophos/article/view/3211/3195>. uma fraude (VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., p. 668).
Acesso em: 08 jan. 2019. 77. ROSADO IGLESIAS, Gema. La titularidad de derechos fundamentales por la persona jurídica.
72. VELLOSO, Araceli. Op. cit., p. 182. Valencia: Tirant lo Blanch, 2004, p. 57.
73. WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Op. cit., p. 111-113, §§195-200. 78. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., p. 680.
248 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 249

em uma situação idêntica a de uma pessoa física79. destacando-se, inclusive, que tal preceito possui previsão expressa em outros
Por tal razão, repete-se: é preciso reiterar a necessidade de respeito às países. Na Alemanha, o item 3 do artigo 19, da Lei Fundamental da Repúbli-
garantias fundamentais a toda pessoa que figure no polo passivo de um pro- ca define que “Os direitos fundamentais também são válidos para as pessoas
cesso penal, seja ela pessoa física ou jurídica80. Segundo Ada Peligrini Grinover, jurídicas sediadas no país, conquanto, pela sua essência, sejam aplicáveis às
“as garantias constitucionais do processo aplicam-se inquestionavelmente ao mesmas”84. Do mesmo modo, o artigo 12, item 2, da Constituição de Portu-
intentado em face da pessoa jurídica, como normas supralegais de incidência gal, afirma que “As pessoas coletivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos
geral”81. Ainda segundo a saudosa processualista: deveres compatíveis com a sua natureza”85.
Embora historicamente relacionadas à proteção do indivíduo submetido à Luis Castillo-Córdova, em artigo específico sobre o tema, expõe que a
persecução penal, seu valor não pode ser menosprezado quando se admite titularidade de direitos fundamentais pela pessoa jurídica decorre dos demais
hoje a responsabilização penal da pessoa jurídica, pois se a simples ins- direitos expressos em textos constitucionais, reconhecendo que, em regra, um
tauração do processo penal sempre representou um dos maiores dramas
para a pessoa humana, não são menores as repercussões que uma acusação
texto constitucional indica um rol mínimo de direitos inerentes aos entes
criminal dirigida a uma empresa pode acarretar ao normal desenvolvimen- coletivos, sobre os quais já é possível vincular titularidade às pessoas jurídi-
to de suas atividades e, sobretudo, ao seu conceito e de seus dirigentes e cas86, entendimento compartilhado por Angel Gomez-Montoro87. Destaca-se,
funcionários no seio da comunidade. ainda, que já em 1989, muito antes do ordenamento espanhol reconhecer,
Ademais, é preciso salientar que tais garantias não representam apenas direi- por meio de previsão legal (Art. 31-Bis, Código Penal Espanhol) , a responsa-
tos públicos subjetivos das partes, numa ótica individualista, mas constituem, bilidade penal de pessoas jurídicas, José Manuel Diaz Lema já se pronunciava
antes disso, garantias de um justo processo, segundo uma visão publicista sobre a necessidade de se reconhecer direitos fundamentais à pessoa jurídica,
que dá relevância ao interesse geral na justiça da decisão.
desde que compatíveis com sua natureza, motivo pelo qual também destacava
Daí não ser possível distinguir, nesse importante terreno, o processo penal a necessidade de se partir de direitos já reconhecidos a grupos coletivos para,
que chamaríamos tradicional, voltado à imposição de sanções punitivas ao
indivíduo, de um novo tipo de processo, que objetiva agora a responsabili-
então, atribuir titularidade de direitos fundamentais a pessoas jurídicas88. Ve-
zação das pessoas jurídicas. Assim, presunção de inocência, devido processo rifica-se, inclusive, que antes mesmo da reforma de 2015, o Superior Tribunal
legal, contraditório, ampla defesa, direito ao recurso, direito ao silêncio etc. Constitucional da Espanha, no Recurso de amparo no 83/1994, decidido pela
são garantias que se aplicam a qualquer situação em que se apure a ocorrência Sentença no 139/1995, reconheceu a titularidade de direitos fundamentais
de um fato que possa resultar na aplicação de uma pena de natureza criminal.82 por pessoas jurídicas, ressalvando apenas a necessidade do direito ser compa-
Na mesma toada, Jordi Gimeno Beviá defende que os direitos funda- tível com sua natureza de ente coletivo, conforme se verifica no item 4 dos
mentais de uma ré pessoa física devem ser estendidos às rés pessoas jurídicas83; fundamentos jurídicos da decisão, a conclusão pelo reconhecimento se deu
em virtude da existência de outros direitos previamente dispostos no texto
79. BACIGALUPO, Silvina. Los derechos fundamentales de las personas jurídicas.Revista del Poder
Judicial, Madrid, n. 53, 1999, p. 51. constitucional89, mantendo-se a mesma linha de raciocínio.
80. Sobre o assunto, acertadamente afirma Angel Gomez-Montoro que “Entre los derechos que claramen-
te parecen atribuibles a las personasjurídicas están, en primer lugar, los contenidos en el artículo 24, (ULBRA), v. 7-2, p. 281-289, 2006.
aparta-dos 1 y 2 (derecho a la tutela judicial efectiva con todo lo que elloimplica, derecho al juez ordi- 84. ALEMANHA. Lei Fundamental da República Federal da Alemanha. Disponível em: <https://
nario, a la defensa y asistencia letrada, a serinformadas de las acusaciones que se formulen contra ellas, www.btg-bestellservice.de/pdf/80208000.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2018.
a un procesopúblico sin dilaciones indebidas y con todas las garantías, a la presunciónde inocencia e
incluso a no declarar contra sí mismas y a no declararseculpables)” [GOMEZ-MONTORO, Angel. 85. PORTUGAL. Constituição da República Portuguesa. Disponível em: <http://www.parlamento.pt/
(2000). La titularidad de derechos fundamentales por personas jurídicas: (análisis de la jurisprudencia Legislacao/paginas/constituicaorepublicaportuguesa.aspx> Acesso em: 01 ago. 2018.
del Tribunal Constitucional español). Cuestiones Constitucionales. 2. 71, p. 56]. 86. CASTILLO-CÓRDOVA, Luis. La Persona Jurídica Como Titular de Derechos Fundamentales. Ac-
81. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Re- tualidad jurídica: información especializada para abogados y jueces, tomo 167. Piura: Repositororio
vista de Direito Ambiental. Ano 9, v. 35. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, Julho- Setembro Institucional Pirhua-Universidad de Piura, 2007, p. 8-10.
de 2004, p. 9-25 (p. 2 do arquivo disponível no sistema RT on line). 87. GOMEZ-MONTORO, Angel. Op. cit., p. 54 e ss.
82. GRINOVER, Ada Pellegrini. Loc. cit. 88. DÍAZ LEMA, José Manuel. ¿Tienen derechos fundamentales las personas jurídico-públicas? Revista
83. GIMENO BEVIÁ, Jordi. Compliance y proceso penal. El proceso penal de las personas jurídicas. de Administración Pública, no 120. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales. Sep-
Madrid: Civitas, 2016, p. 234. No mesmo sentido, STEINMETZ, Wilson Antônio; PINDUR, Flávia tembre-Decembre/1989, p. 79-126.
Letícia de Mello. A titularidade de direitos fundamentais por pessoas jurídicas. Direito e Democracia 89. “La Constitución española no contiene ningún pronunciamiento general acerca de la titularidad de dere-
250 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 251

Em situação jurídica de anomia idêntica à existente no ordenamento individual”91. Analisando esses fundamentos e, igualmente, os constantes em
pátrio, o Tribunal Constitucional Peruano se manifestou, em 2006, favorável à outras decisões da Corte Peruana, Luis Castillo-Córdova apresenta uma divisão
titularidade de direitos fundamentais por pessoas jurídicas, ainda que não exista entre os direitos fundamentais que são passíveis de titularidade e exercício por
no ordenamento peruano nenhum dispositivo prevendo tal extensão90, tendo pessoas jurídicas92 e aqueles que não o são93, ressaltando que as garantias proces-
como matriz para solução o fato de que “as pessoas jurídicas não podem ser suais decorrentes de direitos fundamentais são extensíveis às pessoas jurídicas.
consideradas um fim em si mesmas, senão como um meio que torna possível A exposição do autor se alinha ao defendido neste trabalho, haja vista que na
alcançar determinados fins que são de difícil ou impossível realização de maneira relação processual o ente coletivo atua como parte, figura jurídica que não exige
elementos estruturantes de matriz ontológica.
Seguindo a linha de raciocínio apresentada pelo Tribunal Constitucio-
chos fundamentales de las personas jurídicas, a diferencia, por ejemplo, de la Ley Fundamental de Bonn
de 1949, en la que expresamente su art. 19.3 reconoce que los derechos fundamentales rigen para las per- nal Peruano, para que ocorresse o reconhecimento de garantias processuais da
sonas jurídicas nacionales en tanto y en cuanto, por su naturaleza, sean aplicables a las mismas. De todos
modos, si bien lo anterior es cierto, también lo es que ninguna norma, ni constitucional ni de rango legal, pessoa jurídica em matéria processual penal, bastaria a menção ao artigo 5º, LV,
impide que las personas morales puedan ser sujetos de los derechos fundamentales. La Constitución, da CF, no qual está previsto que “aos litigantes, em processo judicial ou adminis-
además, contiene un reconocimiento expreso y específico de derechos fundamentales para determinados
tipos de organizaciones. Así, por ejemplo, la libertad de educación está reconocida a los centros docentes
(art. 27 C.E.); el derecho a fundar confederaciones está reconocido a los sindicatos (art. 28.1 C.E.); la
trativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
libertad religiosa se garantiza a las asociaciones de este carácter (art. 16 C.E.) o las asociaciones tienen com os meios e recursos a ela inerentes”, de modo que as expressões linguísticas
reconocido el derecho de su propia existencia (art. 22.4 C.E.). Junto a este reconocimiento, expreso o im-
plícito, de titularidad de derechos fundamentales a las personas jurídicas, el texto constitucional delimita utilizadas se aplicam perfeitamente ao instituto jurídico dos entes coletivos94. E,
una peculiar esfera de protección. Nuestra Constitución configura determinados derechos fundamentales
para ser ejercidos de forma individual; en cambio otros se consagran en el Texto constitucional a fin de ainda que algumas disposições processuais façam menção ao termo “ninguém”
ser ejercidos de forma colectiva. Si el objetivo y función de los derechos fundamentales es la protección
del individuo, sea como tal individuo o sea en colectividad, es lógico que las organizaciones que las (v.g. art 5º, LVII, CF: ninguém será considerado culpado até o trânsito em
personas naturales crean para la protección de sus intereses sean titulares de derechos fundamentales, en
tanto y en cuanto éstos sirvan para proteger los fines para los que han sido constituidas. En consecuencia, julgado de sentença penal condenatória), os mesmos são aplicáveis às pessoas
las personas colectivas no actúan, en estos casos, sólo en defensa de un interés legítimo en el sentido jurídicas desde que compatíveis com sua natureza; afinal, são garantias decor-
del art. 162.1 b) de la C.E., sino como titulares de un derecho propio. Atribuir a las personas colectivas
la titularidad de derechos fundamentales, y no un simple interés legítimo, supone crear una muralla de rentes de direitos fundamentais inerentes à posição de parte processual95.
derechos frente a cualesquiera poderes de pretensiones invasoras, y supone, además, ampliar el círculo de
la eficacia de los mismos, más allá del ámbito de lo privado y de lo subjetivo para ocupar un ámbito colec-
tivo y social. Así se ha venido interpretando por este Tribunal, y es ejemplo reciente de esta construcción Infelizmente, além da ausência de previsão normativa expressa no
la STC 52/1995 por la que se reconoce a la empresa “Amaika, Sociedad Anónima”, dedicada a la difusión ordenamento jurídico brasileiro, o Supremo Tribunal Federal, conforme
de publicaciones, el derecho a expresar y difundir ideas, pensamientos y opiniones, consagrado en el art.
20.1 a) C.E. Sin embargo, la protección que los derechos fundamentales otorgan a las personas jurídicas expõem Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy e Patrícia Perrone Campos
no se agota aquí. Hemos dicho que existe un reconocimiento específico de titularidad de determinados
derechos fundamentales respecto de ciertas organizaciones. Hemos dicho, también, que debe existir un Mello 96, em precedentes de matéria próxima, acabou por não reconhecer
reconocimiento de titularidad a las personas jurídicas de derechos fundamentales acordes con los fines
para los que la persona natural las ha constituido. En fin, y como corolario de esta construcción jurídica,
debe reconocerse otra esfera de protección a las personas morales, asociaciones, entidades o empresas, 91. PERU. Tribunal Constitucional Peruano. Expediente no 1567-2006-PA/TC, fundamento jurídico no 7, p. 7.
gracias a los derechos fundamentales que aseguren el cumplimiento de aquellos fines para los que han 92. Direitos de igualdade, liberdades de informação, opinião, expressão e difusão de pensamento mediante
sido constituídas, garantizando sus condiciones de existencia e identidad. Cierto es que, por falta de una a palavra oral ou escrita ou a imagem, por qualquer meio de comunicação social; direito à informação;
existencia física, las personas jurídicas no pueden ser titulares del derecho a la vida, del derecho a la direito à honra e à boa reputação; direito à inviolabilidade de domicílio; liberdade de residência; liber-
integridad física, ni portadoras de la dignidad humana. Pero si el derecho a asociarse es un derecho consti- dade de contratar; direito de propriedade; direito ao devido processo e a todas as garantias jurisdicio-
tucional y si los fines de la persona colectiva están protegidos constitucionalmente por el reconocimiento nais; liberdade de trabalho (CASTILLO-CÓRDOVA, Luis. Op. cit., p. 13-14).
de la titularidad de aquellos derechos acordes con los mismos, resulta lógico que se les reconozca también 93. Direito à vida; direito à identidade; direito à integridade moral, psíquica e física e ao livre desenvolvimen-
constitucionalmente la titularidad de aquellos otros derechos que sean necesarios y complementarios para to e bem-estar; a liberdade de consciência; direito `intimidade pessoa e familiar; direito à voz e à imagem;
la consecución de esos fines. En ocasiones, ello sólo será posible si se extiende a las personas colectivas direito à manter silêncio por suas convicções políticas, filosóficas, religiosas ou de qualquer outra índole;
la titularidad de derechos fundamentales que protejan -como decíamos- su propia existencia e identidad, direito à identidade étnica e cultural; direito à paz, à tranquilidade, ao disfrute de tempo livre e ao descan-
a fin de asegurar el libre desarrollo de su actividad, en la medida en que los derechos fundamentales que so, assim como gozar de um ambiente equilibrado e adequado ao desenvolvimento de sua vida; direito à
cumplan esta función sean atribuibles, por su naturaleza, a las personas jurídicas”. (ESPANHA. Superior legítima defesa; o direito à liberdade e a segurança pessoais; direito ao matrimônio; direito à proteção da
Tribunal Constitucional. Sentença no 139/1995, Sala Primeira, julgado em 26 de setembro de 1995, saúde; direito à seguridade social (CASTILLO-CÓRDOVA, Luis. Op. cit., p. 12-13).
fundamento jurídico, no 4).
90. “Siendo no excepcional que las personas jurídicas sean parte de distintos tipos de procesos o procedi- 94. Gema Rosado Iglesias afirma que é a partir de instrumentais processuais que se tornou viável o reco-
mientos en sede judicial o administrativa, es razonable afirmar que en este ámbito les debe ser reconocido nhecimento de titularidade de direitos fundamentais por pessoas jurídicas no ordenamento espanhol
el derecho al debido proceso y la tutela procesal efectiva. En tal mérito, resulta plenamente factible que com a constituição de 1978, em especial os direito ao recurso de amparo (art. 162, CE) e tutela judicial
una persona jurídica entable un proceso constitucional en tutela de sus derechos fundamentales, puesto efetiva (art. 24, CE), cf. ROSADO IGLESIAS, Gema. Op. cit., p. 138-163.
que su reconocimiento exige que se cuente con mecanismos de defensa adecuados para su protección” 95. Curiosamente, destaca-se que em matéria processual civil, tais garantias nunca sofreram questiona-
(PERU. Tribunal Constitucional Peruano. Expediente no 1567-2006-PA/TC, fundamento jurídico no 9, mentos quanto a sua aplicabilidade.
p. 8). 96. GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes; MELLO, Patrícia Perrone Campos. A titularidade dos direi-
252 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 253

de forma ampla direitos para pessoas jurídicas, notadamente àqueles vin- flagrantemente sem justa causa, exclusivamente contra uma pessoa jurídica
culados ao exercício de direitos fundamentais, como patrocínio de partidos não encontrará remédio em nosso ordenamento”.
políticos, impetração de mandado de injunção, etc. A indagação do Ministro Lewandowski é de extrema importância. Não
Quanto à extensão de determinadas garantias e liberdades às pessoas 97
pode uma pessoa jurídica estar desassistida de instrumentos processuais em uma
jurídicas rés em processos de natureza criminal, a Primeira Turma do STF se situação idêntica à avençada. O presidente da Turma, Ministro Marco Aurélio,
manifestou contrária à possibilidade de uma pessoa jurídica ter legitimidade encerra o debate afirmando que seria possível a pessoa jurídica se socorrer de um
ativa para impetrar habeas corpus, conforme fora decidido no HC 92.921/ mandado de segurança, postura esta bastante questionável. Afinal, a categoria
BA. O relator, Min. Ricardo Lewandowski, afirmou em seu voto que o caso de direito líquido e certo não se amolda à situação narrada pelo Ministro Relator.
refletia “a perplexidade de nosso sistema penal que ainda não está plenamen- Assim, certamente, o entendimento que deve prevalecer não pode ser o
te aparelhado para reconhecer a responsabilidade penal de pessoa jurídica”, do STF, haja vista que a partir do momento que se assume um posicionamen-
reconhecendo, entretanto, ser “viável a interposição de habeas corpus para to político criminal de persecução penal de pessoas jurídicas, atribuindo-lhes
sanar eventual ilegalidade ou abuso de poder originados de ação penal em o papel de rés em processo penal, nada mais justo que sejam a elas estendidos
que figure no pólo passivo pessoa jurídica, sobretudo tendo em conta a os instrumentos processuais, ainda que não sejam os mecanismos instrumen-
falta de adequação do sistema processual à nova realidade representada pela tais mais adequados, haja vista que a favor do réu pode ser utilizada a analogia.
criminalização das ações praticadas por tais entes”.
Em síntese, os direitos fundamentais são aplicáveis a qualquer réu em
Contudo, foi voto vencido, podendo-se resumir os votos dos demais processo penal, independente de ser uma pessoa física ou jurídica. Afinal, os
ministros no fato de que a pessoa jurídica não goza de liberdade de locomo- direitos e as garantias fundamentais são aplicáveis a qualquer pessoa que esteja
ção, motivo pelo qual o writ não se aplicaria aos entes coletivos (fundamento submissa às ações ou coações estatais, isto é, que, no processo penal, figurem
constante na manifestação do Ministro Marco Aurélio). Além disso, para o como parte ré98. Por isso, os princípios reitores do processo penal também
Ministro Menezes de Direito, aceitar que uma pessoa jurídica impetre habeas devem ser estendidos à pessoa jurídica, como, por exemplo, o direito a não
corpus em seu próprio favor configuraria uma lesão à doutrina tradicional do se autoincriminar99 e a presunção de inocência.
writ, destacando que “a nossa jurisprudência tem acompanhado religiosamen-
te a ideia de que o habeas corpus deve cingir-se à defesa contra pena privativa 3.2. BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A VEDAÇÃO DE
AUTOINCRIMINAÇÃO COMO GARANTIA PROCESSUAL PENAL
de liberdade”. Para a Ministra Carmen Lúcia a liberdade é inerente ao ser
DA PESSOA JURÍDICA
humano, sendo tal fundamento seguido pelo Ministro Carlos Ayres Britto,
o qual ainda fez profunda reflexão sobre os termos constantes de dispositivos O devido processo legal não apresenta imposições de regras processuais
constitucionais e sua vinculação a pessoas físicas. apenas, mas se expressa como efetiva tutela material (substancial) de garantias
do acusado100. Esse é o modelo adotado pela CF/1988, por isso é imprescindí-
Todavia, embora o resultado tenha sido contrário às considerações aqui
vel anotar que “o processo penal deve ser lido à luz da Constituição e não ao
apresentadas, o ponto de maior reflexão do julgado consiste na indagação
contrário”101, do que decorre sua função instrumental, ou seja, o processo penal
apresentada pelo Ministro Lewandowski ao final do julgamento: “Apenas o
que me causa uma certa perplexidade – quero assinalar isso como últimas
palavras minhas – é o seguinte: Uma ação penal instaurada sem justa causa, 98. “Reconhecer a pessoa jurídica como titular de direitos fundamentais, não é nada mais que receonhcê-la como
sujeito de Direito também na esfera dos Direitos Fundamentais” (BACIGALUPO, Silvina. Op. cit., p. 51).
99. “Si la persona jurídica puede ser sujeto passivo del proceso penal, lo ha de ser a todos lós efectos, es
tos fundamentais por parte de pessoas jurídicas. A empresa como agente de efetivação dos direirtos decir, com todos los derechos y garantías procesales. El derecho fundamental a no autoincriminarse, es
sociais: notas introdutórias ao direito empresarial constitucional. Rev. Bras. Polít. Públicas (Online), absolutamente predicable por las socierdades em el proceso penal” (GIMENO BEVIÁ, Jordi. Loc. cit.).
Brasília, v. 6, nº 3, 2016 p. 99-119. 100. Cf. BONATO, Gilson. Devido processo legal e garantias processuais penais. Rio de Janeiro: Lumen
97. Em determinadas ações não se tratam de direitos fundamentais de liberdades, como a liberdade ambu- Juris, 2003, p. 30 e ss.
latorial no habeas corpus. 101. LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. Op. cit., p. 45.
254 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 255

deve estar a “serviço da realização do projeto democrático”102. Daí a importân- direito de se recusar a entregar documentos e de praticar qualquer comporta-
cia de respeito aos princípios do processo penal e às garantias fundamentais mento ativo que incrimine o réu; 5) recusa de participar de reconhecimento,
e liberdades dos réus. Dentro desse contexto que o princípio de vedação da acareação ou reprodução simulada dos fatos; 6) direito de ser dispensado do
autoincriminação (nemo tenetur sine detegere) – que no ordenamento pátrio interrogatório; 7) vedação de perguntas capciosas ou em tom de ameaça; 8)
possui hierarquia de norma supralegal103 – , deve ser analisado. direito de não se submeter à teste de alcoolemia; 9) possibilidade de invocar
Mas, a vedação em análise é extensível à pessoa jurídica como ré no pro- o princípio diante de qualquer autoridade ou tribunal; 10) não caracterização
cesso penal? Segundo André de Carvalho Ramos, no âmbito internacional dos de delitos como falso testemunho ou desacato e desobediência; 11) disponi-
Direitos Humanos e no Direito Comparado, os “direitos fundamentais são bilidade de poder realizar colaboração na forma da lei; 13) apesar do direito
reconhecidos às pessoas jurídicas sempre que se trate de direitos que, por sua na- ao silêncio, dever de se identificar na primeira fase do interrogatório; 14)
tureza, possam ser por ela exercidos. Assim, direito à propriedade, à proteção da legalidade de provas não invasivas108.
honra objetiva, acesso à justiça, entre outros, são direitos comumente exercita- Observa-se que tal fracionamento dos efeitos do princípio não obstam a
dos”104. Segundo o autor, caso isso não seja reconhecido, “os próprios indivíduos extensão de sua aplicabilidade a outras circunstâncias, como a delimitação de
que se organizam em associações, pessoas jurídicas comerciais, sindicatos, entre ônus da prova, que decorre do estado de não culpabilidade109. Nesse sentido, ao
outros, restariam desprotegidos em vários momentos de suas vidas”105. analisar a implicação do princípio no campo probatório processual envolvendo
Segundo Paulo Queiroz, o princípio da não autoincriminação possui a pessoa jurídica, algumas reflexões precisam ser feitas, porém sempre a partir
não apenas um aspecto negativo (direito de não ser coagido a produzir prova das garantias fundamentais estendidas à pessoa jurídica, razão pela qual, repete-
contra si mesmo), mas, igualmente, um aspecto positivo, o qual se apresenta se que a pessoa jurídica possui a garantia da presunção de não-culpabilidade, o
como o “direito de produzir de impugnar prova”106. Obviamente, esse aspecto que impede a produção de provas contra si (nemo tenetur se detegere) e a inversão
positivo decorre diretamente do contraditório e da ampla defesa e não apenas do ônus da prova, mecanismos praticáveis em outras áreas do Direito, como,
do princípio em comento. Importante mencionar que o nemo tenetur garante por exemplo, nas relações de consumo (6º, inciso VIII do CDC).
ao acusado, via de regra, uma omissão (não se autoincriminar), o que não Em especial atenção ao ônus da prova, Adán Nieto Martín destaca que
corresponde à prática de ações ilícitas como destruir provas ou coagir testemu- diversos países determinam a inversão do ônus, principalmente quando há
nhas107. Ainda com guarida na doutrina de Paulo Queiroz, é possível identificar programa de compliance instalado e em funcionamento110. Para o autor, as norma-
quatorze consequências práticas do princípios: 1) o direito ao silêncio; 2) a tivas europeias sobre a responsabilização penal de pessoas jurídicas e suas regras
necessidade de ser informado previamente sobre a garantia ao silêncio; 3) probatórias acabam por produzir uma privatização da investigação criminal em
privilégio de não prestar juramento ou compromisso de dizer a verdade; 4) delitos econômicos111, o que exige uma reflexão quanto ao alcance das vedações
108. QUEIROZ, Paulo. Op. cit., p. 120-121.
102. LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. Op. cit., p. 50.
109. Segundo Coral Aranguüena Fanego tais garantias estão imbricadas na forma como a Convenção Euro-
103. O referido princípio vem expresso no artigo 8.2, “g” da Convenção Americana de Direitos Humanos e peia de Direitos Humanos tratou do assunto: “La jurisprudencia europea ha considerado que el derecho
Garantias Processuais, sendo que no RE no 466.343/SP, o STF decidiu que tratados internacionais de al silencio, a no declarar contra sí mesmo y a no declararse culpado, si bien no citados expressamente en
direitos humanos subscritos pelo Brasil possuem status normativo supralegal. Sobre o assunto: BA- el art-6 CEDH, representan elementos esenciales de la noción de proceso justo directamente vinculado a
DARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 33-38. la presuncíon de inocencia y em tal sentido se ha recogido de manera expressa de la Directiva 2016/343/
Importante consignar que para Maria Elizabeth Queijo, o princípio do nemo tenetur possui status de UE”(ARANGÜENA FANEGO, Coral. Proceso penal frente a persona jurídica: garantías procesales.
garantia fundamental de réus em processo penal, cf. QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não pro- Diritto Penale Contemporaneo: Rivista Trimestrale. Milano: 02/2018, p. 36. Disponível em: <http://
duzir prova contra si mesmo: o princípio ‘nemo tenetur se detegere’ e suas decorrências no processo dpc-rivista-trimestrale.criminaljusticenetwork.eu/pdf/aranguena.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2019).
penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 77-78.
110. NIETO MARTÍN, Adán. Compliance, criminologia e responsabilidade penal de pessoas jurídicas. In:
104. RAMOS, André de Carvalho. O Direito da Concorrência e o privilégio contra a auto-incriminação: a NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes (Co-
experiência da União Européia e o Brasil. In: ROCHA, João Carlos de Carvalho; MOURA JÚNIOR, ord. Brasileira). Manual de cumprimento normativo e responsabilidade penal das pessoas jurídicas.
Flávio Paixão de; DOBROWOLSKI, Samantha Chantal; SOUZA, Zani Tobias de. (Org.). Lei Anti- Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, p. 118-119.
truste 10 anos de combate ao abuso de poder econômico. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 20.
111. NIETO MARTÍN, Adán. Op. cit., p. 119-122; NIETO MARTÍN, Adán. Investigações internas. In:
105. RAMOS, André de Carvalho. Loc. cit. NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes (Co-
106. QUEIROZ, Paulo. Direito Processual Penal. Salvador: Jus Podivm, 2018, p. 119. ord. Brasileira). Manual de cumprimento normativo e responsabilidade penal das pessoas jurídicas.
107. QUEIROZ, Paulo. Op. cit., p. 120. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, p. 324-325.
256 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 257

e limites em matéria investigativa; notadamente, quanto à delimitação entre que uma vedação absoluta de entrega de documentos não apenas impediria
esfera privada e pública de produção de provas112. Isso sem mencionar a neces- investigações justas, como também geraria enorme confusão nas demais áreas
sidade de serem criados mecanismos para poder valorar adequadamente, na de controle estatal. Parece-nos que a solução esteja na imposição de limites
esfera judicial, as provas produzidas internamente pelas pessoas jurídicas, como ao compartilhamento de provas para o processo penal, tema que não cabe ser
as produzidas em investigações internas e canais de denúncias113; ressaltando-se analisado no presente momento. Em suma, reitera-se, portanto, a necessida-
que essas provas não podem infringir direitos fundamentais114. de de observar a posição processual de parte e não se se está diante de uma
A título informativo, destaca-se que no ordenamento norte-americano pessoa física ou jurídica. Essa ponderação criaria um sistema desarmônico e
essa a vedação de autoincriminação não protege a pessoa jurídica de forma direcionado a um modelo de sistema processual de autor.
plena. Em monografia temática, Sandra Oliveira e Silva analisa diversos jul- Além disso, pelo nemo tenetur ainda se garante que o silêncio não pode
gados de cortes americanas em que fora determinado que o pessoal interno da ser entendido como confissão ficta, conforme afirma Vicente Greco Filho117.
pessoa jurídica fora impelido a entregar documentos e materiais115. O funda- Como repetido ao longo deste trabalho, afirma-se, novamente, que “todas as
mento de tais determinações tenta justificar a medida no fato de que o nemo garantias constitucionais se aplicam à ação penal intentada contra a pessoa
tenetur possui característica pessoal (ontológica), o que não nos parece correto. jurídica. Por isso, antes de ingressar no tema do interrogatório da pessoa
Segundo Coral Arangüena Fanego, esse é o direcionamento adotado jurídica, convém destacar que ela também, enquanto ré, goza da garantia
pelo STC na Espanha. Todavia, o fundamento justificante é distinto. De do direito ao silêncio”118. Ressalta-se, com isso que, em virtude do direito ao
acordo com ampla doutrina e jurisprudência citada pela Catedrática de Dere- silêncio e o interrogatório estarem intimamente ligados, “o interrogatório há
cho Procesal Universidad de Valladolid, o STC não reconhece como infração à de ser a decorrência da escolha do imputado (pessoa física ou jurídica), como
garantia fundamental o dever de entregar documentos decorrentes de obriga- manifestação de vontade livre e consciente”119.
ções legais de áreas distintas ao processo penal, como ocorre, v.g., em deveres Quanto ao exercício de autodefesa em interrogatório, Ada Peligrini
de informação para lançamento tributário116 ou documentos apresentados em Grinover defendia a necessidade de ser realizado o ato na pessoa de seu ad-
processos licitatórios. No entanto, isso traz à tona a necessidade de se repensar ministrador120, não sendo possível a realização por preposto121. Contudo,
um modelo harmonizado de mecanismos penais e extrapenais de exercício do surgem maiores problemas diante de eventuais conflitos de interesses entre o
controle social. Uma possível solução seria a proibição de compartilhamento depoimento do administrador e da própria pessoa jurídica, de modo que uma
desses documentos entre as esferas persecutórias, o que é bastante dificultoso, solução poderia ser a interessante proposição existente no Direito francês de
notadamente quando se trata de analisar os indícios fáticos e jurídicos que ser nomeado um administrador para o processo conforme artigo 706-43 do
materializam a justa causa para a ação penal. Esses elementos indiciários são Code de procédure pénale122).
identificados a partir de dados constantes em investigações estatais, de modo Entretanto, parece ter maior razão Ricardo Jacobsen Gloeckner ao
afirmar que “o ato de interrogatório somente faz sentido diante de acusações
112. Cf. GRECO, Luís; CARACAS, Christian. Internal Investigations e o princípio da não auto-incriminação.
In: LOBATO, José Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo Orsini; SANTOS, Humberto Souza (Org.).
Comentários ao Direito Penal Econômico Brasileiro. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, p. 787-819. José 117. GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 58.
Raimundo Leite Filho afirma que na esfera privada de investigação não vale o nemo tenetur (LEITE FI- 118. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Re-
LHO, José Raimundo. Corrupção Internacional, criminal compliance e investigações internas: limites vista de Direito Ambiental. Op. cit. (p. 6 do arquivo disponível no sistema RT on line).
à produção e valoração dos interrogatórios privados. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018, p. 230). 119. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Re-
113. NIETO MARTÍN, Adán. Investigações internas. Op. cit., p. 333-334; Sobre o uso das investigações vista de Direito Ambiental. Loc. cit.
internas no Direito penal brasileiro: BELTRAME, Priscila Akemi. Investigações internas. In: NIETO 120. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. In:
MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes (Coord. Bra- GOMES, Luiz Flávio (coord). Responsabilidade penal da pessoa jurídica e medidas provisórias e
sileira). Manual de cumprimento normativo e responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Florianó- direito penal. Loc. cit.
polis: Tirant lo Blanch, 2018, p. 335-342. 121. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Re-
114. BELTRAME, Priscila Akemi. Op. cit., p. 338-339. vista de Direito Ambiental. Op. cit. (p. 11 do arquivo disponível no sistema RT on line).
115. SILVA, Sandra Oliveira e. O arguido como meio de prova contra si mesmo: considerações em torno 122. Article 706-43. L’action publique est exercée à l’encontre de la personne morale prise en la personne
do princípio nemo tenetur se ipsum accusare. Coimbra: Almedina, 2018, p. 247 e ss. de son représentant légal à l’époque des poursuites. (FRANÇA. Code de procédure pénale. Disponí-
116. ARANGÜENA FANEGO, Coral. Op. cit., p. 37. vel em: <https://www.legifrance.gouv.fr/> Acesso 01 ago. 2018).
258 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 259

contra pessoas físicas, não existindo os menores traços de adequação rela- incentivos para que ocorram acordos de colaboração127.
tivamente ao processamento da pessoa jurídica”123, motivo pelo qual são Enfim, todas as situações aqui indicadas são apenas reflexões para im-
necessárias reinterpretações do ato. Uma terceira hipótese poderia corres- pulsionar o debate sobre o tema, sendo necessárias construções legislativas
ponder à reestruturação do ato para atuação conforme ocorre em demais norteadoras e harmonizadas ao modelo constitucional128, uma vez que todo e
esferas processuais, no sentido de que a própria pessoa jurídica designasse qualquer meio de coação no processo penal só “podem se mover dentro dos
alguém para falar em seu nome no ato processual dentro do limite de con- limites já prescritos, de antemão, pelo princípio do nemo tenetur”129.
teúdo deliberado pela assembleia de sócios ou diretoria. Afinal, a vontade
da pessoa jurídica, nos termos aqui defendidos, corresponde a uma resul- 4. CONCLUSÕES
tante e não a um somatório124. Porém, sem esquecer que o interrogatório
1. A responsabilização penal de pessoas jurídicas é um caminho certo
corresponde ao exercício de autodefesa, far-se-ia necessário uma deliberação
para o Direito penal, motivo pelo qual se faz necessário não apenas identificar
interna que estivesse direcionada ao exercício de defesa em prol do melhor
a teoria mais adequada, como também propor instrumentos processuais para
interesse da pessoa jurídica. De modo que o mais próximo dessa possibili-
efetivar tal responsabilização;
dade deveria ser a determinação legal de que o interrogatório fosse realizado
na pessoa do gestor ou havendo conflito de interesses entre este e a pessoa 2. O modelo com arcabouço teórico mais adequado à proposta é o sis-
jurídica, que seja instituída normativa direcionando ao corpo societário ou tema significativo, pois ao respeitar as propostas teóricas do campo jurídico
diretoria a indicação de pessoa apta a realizar o ato ou, ainda, o fizesse por empresarial, reforça a esfera penal como ultima ratio;
escrito em formato próximo ao já previsto no artigo 199 no pertinente à 3. A pessoa jurídica ao passar a integrar o polo passivo de uma ação
confissão fora do interrogatório. Afinal, se é permitido tal conteúdo para penal deve gozar dos direitos, liberdades e garantias fundamentais inerentes à
uma forma de autodefesa (confissão) deve ser estendido a toda forma de toda pessoa que figura como ré em processo penal, sob pena de se estruturar
manifestação em interrogatório. um mecanismo punitivo não democrático;
Refletindo sobre tal problema, José Luis Gonzáles Cussac analisa uma 4. A proposta significativa ao usar a filosofia da linguagem do segundo
situação bastante peculiar: caso haja uma confusão de interesses entre o gestor/ Wittgenstein possibilita uma correta compreensão da extensão dos direitos
administrador e a pessoa jurídica, não por diferenciações, mas por identidade fundamentais dos réus à pessoa jurídica por intermédio da delimitação do
absoluta e substancial entre as duas pessoas, deverá, segundo o autor espanhol, quadro de mundo e dos jogos de linguagem identificadores de uma parte
haver apenas a imputação da pessoa física, em respeito à responsabilidade processual. O reconhecimento de que a pessoa jurídica possa ser titular de
pessoal125. Interessante ressalva é feita por Adán Nieto Martín, para quem os direitos fundamentais já é realidade em diversos ordenamentos, tais como
conflitos de interesse e versões sobre os fatos podem ser mais bem elucidados Alemanha, Portugal, Espanha e Peru;
pelas investigações internas que serão, posteriormente, levadas aos autos judi- 5. Ao estruturar um modelo impulsionador de garantias fundamentais,
ciais126, o que acabaria com tais conflitos. Nieto Martín destaca, ainda, que há a Constituição Federal de 1988 implementou como característica instrumen-
na normativa espanhola, assim como em outros países por ele mencionados, tal do processo o respeito aos direitos e liberdades fundamentais, de modo que
123. GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Aspectos processuais penais da responsabilidade penal da pessoa
ainda que se refute a proposta teórica da filosofia da linguagem, é necessário
jurídica. Op. cit., p. 164. reconhecer a extensão de direitos fundamentais à pessoa jurídica pelos demais
124. Sobre o assunto: BUSATO, Paulo César. Vontade penal da pessoa jurídica: um problema prático de im-
putação de responsabilidade criminal. Revista da Escola de Magistratura do Estado de Rondônia,
v. 08, n.8. Porto Velho: TJ/RO, 2001, p. 289-306.
125. GONZÁLES CUSSAC, José Luis. O modelo espanhol de responsabilidade penal de pessoas jurídicas. 127. NIETO MARTÍN, Adán. Investigações internas. Op. cit., p. 322.
In: OLIVEIRA, William Terra de; LEITE NETO, Pedro Ferreira; ESSADO, Tiago Cintra; SAAD-DI- 128. Cf. TREVIZAN Flávia. A pessoa jurídica no processo penal. in: CÂMARA, Luiz Antonio (Coord.).
NIZ, Eduardo. Direito penal econômico: Estudos em homenagem aos 75 anos do Professor Klaus Crimes contra a Ordem Econômica e a Tutela de Direitos Fundamentais. Curitiba: Juruá, 2009, p.
Tiedmann. São Paulo: Liber Ars, 2013, p. 390. 170.
126. NIETO MARTÍN, Adán. Investigações internas. Op. cit., p. 327-328. 129. GRECO, Luís; CARACAS, Christian. Op. cit., p. 801-802.
260 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 261

direitos indicados no texto constitucional aos grupos coletivos ou em virtude ______. Por que, afinal, aplicam-se penas? In: SCHMIDT, Andrei Zenkner. Novos Rumos do Direito
Penal Contemporâneo – Livro em homenagem ao Prof. Dr. Cezar Roberto Bittencourt. Rio de Janeiro:
de determinada posição jurídica (v.g. litigante) Lumen Juris, 2006, p. 511-523.

6. Se as garantias são estendidas às pessoas jurídicas, outra decorrência BUSATO, Paulo César. Vontade penal da pessoa jurídica: um problema prático de imputação de res-
ponsabilidade criminal. Revista da Escola de Magistratura do Estado de Rondônia, v. 08, n.8. Porto
lógica será a necessidade de se respeitarem os princípios informadores do Velho: TJ/RO, 2001, p. 289-306.
processo penal, entre os quais figuram a vedação de autoincriminação (nemo CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: breve estudo crítico. Re-
vista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 11, n. 41, p. 152-178., jan./mar. 2003.
tenetur) e a presunção de inocência; CASTILLO-CÓRDOVA, Luis. La Persona Jurídica Como Titular de Derechos Fundamentales. Ac-
tualidad jurídica: información especializada para abogados y jueces, tomo 167. Piura: Repositororio
7. O nemo tenetur deve delimitar toda forma de atuação estatal sobre Institucional Pirhua-Universidad de Piura, 2007.
uma pessoa jurídica ré em um processo penal, necessitando-se estabelecerem CHOUKR, Fauzi Hassan. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Canal
regras limítrofes e adequadas ao compartilhamento de provas decorrentes de Ciências Criminais. Disponível em: <https://canalcienciascriminais.com.br/aspectos-processuais-da-
-responsabilidade-penal-da-pessoa-juridica/>. Acesso em: 15 set. 2017.
deveres legais de outras áreas do Direito, tais como determinações tributárias COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 1. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
e procedimentos licitatórios. Certamente o debate está longe de ser concluído, COSTA, Helena Regina Lobo da. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: Um panorama sobre sua
porém se o presente artigo servir para ampliar a discussão e verticalizar o tema aplicação no Direito brasileiro. in: IBCCRIM 25 Anos. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, p. 91-108.
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. A lide e o conteúdo do processo penal. Curitiba: Juruá, 1989.
de forma sistematizada às matrizes constitucionais, já terá cumprido seu papel.
DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Direitos Fundamentais e Teoria Discursiva: dos pressupostos teóri-
cos às limitações práticas. Salvador: Editora JusPodvim, 2018.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DAVID, Décio Franco. Delitos de acumulação e proteção ambiental. Belo Horizonte: Editora D’Plá-
ALEMANHA. Lei Fundamental da República Federal da Alemanha. Disponível em: <https://www. cido, 2017.
btg-bestellservice.de/pdf/80208000.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2018. ______. Fundamentação principiológica do Direito Penal Econômico: um debate sobre a autono-
ARANGÜENA FANEGO, Coral. Proceso penal frente a persona jurídica: garantías procesales. Diritto mia científica da tutela penal na seara econômica. 2014.263. Dissertação (Mestrado em Ciência Jurídi-
Penale Contemporaneo: Rivista Trimestrale. Milano: 02/2018, p. 24-42. Disponível em: <http://dpc- ca) – Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, Paraná.
-rivista-trimestrale.criminaljusticenetwork.eu/pdf/aranguena.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2019. ______. Reflexões sobre os fundamentos teóricos da responsabilidade penal da pessoa jurídica a par-
BACIGALUPO, Silvina. Los derechos fundamentales de las personas jurídicas.Revista del Poder Judi- tir da teoria da empresa. In: BUSATO, Paulo César (Org.). GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César
cial, Madrid, n. 53, 1999, p. 49-105. (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: seminário Brasil-Alemanha. Florianópolis:
Tirant lo blanch, 2018, p. 133-152.
BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015
______; BUSATO, Paulo César. A empresa é capaz de ação? Uma proposta de discussão sobre a capaci-
BASTOS, Cleverson Leite; CANDIOTTO, Kleber B. B. Filosofia da Linguagem. Petrópolis: Editora dade de rendimento da concepção significativa da ação no Direito penal empresarial. In: LOBATO, José
Vozes, 2007. Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo Orsini; SANTOS, Humberto Souza (Org.). Comentários
BELTRAME, Priscila Akemi. Investigações internas. In: NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); ao Direito Penal Econômico Brasileiro. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, p. 19-44.
SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes (Coord. Brasileira). Manual de cumprimento nor- ______; ______. A empresa é capaz de ação? Uma proposta de discussão sobre a capacidade de ren-
mativo e responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, p. 335-342. dimento da concepção significativa da ação no Direito penal empresarial. Revista Justiça e Sistema
BONACCINI, Juan Adolfo. Breve Ensaio em Torno à Linguagem. Princípios: Revista de Filosofia Criminal, v. 9, n. 16, p.205-232, jan./jun. 2017.
(UFRN), v. 2, n. 02, 6 out. 2010, p. 60-75. DÍAZ LEMA, José Manuel. ¿Tienen derechos fundamentales las personas jurídico-públicas? Revista de
BONATO, Gilson. Devido processo legal e garantias processuais penais. Rio de Janeiro: Lumen Administración Pública, no 120. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales. Septembre-
Juris, 2003. -Decembre/1989, p. 79-126,
BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015. DIMOULIS, Dimitri. Manual de introdução ao estudo do Direito. 6. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014.
______. Direito Penal e ação significativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.
ESPANHA. Constitución Española . Disponível em: <http://www.lamoncloa.gob.es/documents/
______. La tentativa del delito: Análisis a partir del concepto significativo de la acción. Curitiba: Juruá, constitucion_es1.pdf>. Acesso em 30 mar. 2019.
2011.
ESPANHA. Superior Tribunal Constitucional. Sentença no 139/1995, Sala Primeira, julgado em 26
______. Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. de setembro de 1995.
______. Razões criminológicas, político-criminais e dogmáticas para a adoção da responsabilidade pe- ESTELLITA, Heloisa. Aspectos processuais penais da responsabilidade penal da pessoa jurídica prevista
nal de pessoas jurídicas na reforma do Código Penal brasileiro. In: Revista Liberdades. Edição Especial: na lei n. 9.605/98 à luz do devido processo legal. In: VILARDI, Celso Sanchez; PEREIRA, Flavia Rahal
Reforma do Código Penal. São Paulo, 2012, p. 98-128. Bresser; DIAS NETO, Theodomiro (coord.). Direito penal econômico: crimes econômicos e processo
______. Razões criminológicas, político-criminais e dogmáticas para a adoção da responsabilidade pe- penal. São Paulo: Saraiva, 2008. (GVLaw). p. 203-248.
nal de pessoas jurídicas na reforma do código penal brasileiro. in: BUSATO, Paulo César; GUARAGNI, ______. Tipicidade no Direito Penal Econômico. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel. Direi-
Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá, 2012, p. 17-92. to Penal Econômico e da Empresa: Direito Penal econômico. Coleção doutrinas essenciais; v. 2. São
262 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 263

Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 153-174. (Mestrado em Direito) – Centro Universitário Curitiba, Curitiba, Paraná.
FLETCHER, George P. Basics concepts of Criminal Law. New York: Oxfor University Press, 1998. MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ,Carlos. La ‘concepción significativa de la acción’ de T. S. Vives y su
______. The Grammar of Criminal Law: American, comparative, and international, v. I. New York: correspondencia sistemática con las concepciones teleológico-funcionales del delito. Revista Electró-
Oxford University Press, 2007. nica de Ciencia Penal y Criminología, v. 1, n. 1. 1999. Disponível em: <http://criminet.ugr.es/recpc/
recpc_01-13.html>. Acesso em: 30 nov. 2015.
FRANÇA. Code de procédure pénale. Disponível em: <https://www.legifrance.gouv.fr/> Acesso 01
ago. 2018. ______. La ‘concepción significativa de la acción’ de T. S. Vives y su correspondencia sistemática con las
concepciones teleológico-funcionales del delito. Anuario da Facultade de Dereito da Universidade da
GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 4. ed. Belo Horizonte: D’Plácido, Coruña, n. 5. 2001, p. 1075-1104. Disponível em: <http://ruc.udc.es/bitstream/2183/2100/1/AD-5-
2017. 51.pdf>. Acesso em 30 nov. 2015.
GIMENO BEVIÁ, Jordi. Compliance y proceso penal. El proceso penal de las personas jurídicas. MELCHIOR, Antonio Pedro. A teoria crítica do processo penal. Revista Brasileira de Ciências Cri-
Madrid: Civitas, 2016. minais, São Paulo, v. 25, n. 128, p. 27-64., fev. 2017.
GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Nulidade na imputação criminal: Operação Lava Jato e o art. 383 NIETO MARTÍN, Adán. Compliance, criminologia e responsabilidade penal de pessoas jurídicas.
do CPP. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 24, n. 122, p. 281-307., ago. 2016. In: NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes
______. Aspectos processuais penais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: BUSATO, Paulo (Coord. Brasileira). Manual de cumprimento normativo e responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Flo-
César (Org.). GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas rianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, p. 61-122.
jurídicas: seminário Brasil-Alemanha. Florianópolis: Tirant lo blanch, 2018, p. 153-165. ______. Investigações internas. In: NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ,
GÓMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: Teoria do crime para Eduardo; GOMES, Rafael Mendes (Coord. Brasileira). Manual de cumprimento normativo e responsabi-
pessoas jurídicas. São Paulo: Atlas, 2015. lidade penal das pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, p. 293-334.
GOMEZ-MONTORO, Angel. (2000). La titularidad de derechos fundamentales por personas jurídicas: PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. I: introdução ao Direito civil; teoria
(análisis de la jurisprudencia del Tribunal Constitucional español). Cuestiones Constitucionales. 2. 71. geral de direito civil. 20. ed. Atualizado por Maria Celina Bodin de Moraes. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
GONZÁLES CUSSAC, José Luis. O modelo espanhol de responsabilidade penal de pessoas jurídicas. PERU. Tribunal Constitucional Peruano. Expediente no 1567-2006-PA/TC, fundamento de julga-
In: OLIVEIRA, William Terra de; LEITE NETO, Pedro Ferreira; ESSADO, Tiago Cintra; SAAD-DI- mento no 9.
NIZ, Eduardo. Direito penal econômico: Estudos em homenagem aos 75 anos do Professor Klaus PORTUGAL. Constituição da República Portuguesa. Disponível em: <http://www.parlamento.pt/
Tiedmann. São Paulo: Liber Ars, 2013, p. 390.379-391 Legislacao/paginas/constituicaorepublicaportuguesa.aspx> Acesso em: 01 ago. 2018.
GRECO, Luís; CARACAS, Christian. Internal Investigations e o princípio da não auto-incriminação. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: Em
LOBATO, José Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo Orsini; SANTOS, Humberto Souza (Org.). defesa do princípio da imputação subjetiva. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
Comentários ao Direito Penal Econômico Brasileiro. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, p. 787-819.
QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo: o princípio ‘nemo
GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. tenetur se detegere’ e suas decorrências no processo penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Revista QUEIROZ, Paulo. Direito Processual Penal. Salvador: Jus Podivm, 2018.
de Direito Ambiental. Ano 9, v. 35. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, Julho- Setembro de
2004, p. 9-25. QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, São Paulo, v. 11, n. 45, p. 224-244, out./dez. 2003.
______. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. In Aspectos processuais da
responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: GOMES, Luiz Flávio (coord). Responsabilidade penal da RAMOS, André de Carvalho. O Direito da Concorrência e o privilégio contra a auto-incriminação: a
pessoa jurídica e medidas provisórias e direito penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 46-50. experiência da União Européia e o Brasil. In: ROCHA, João Carlos de Carvalho; MOURA JÚNIOR,
Flávio Paixão de; DOBROWOLSKI, Samantha Chantal; SOUZA, Zani Tobias de. (Org.). Lei Anti-
GUARAGNI, Fábio André. “Interesse ou benefício” como critérios de responsabilização da pessoa ju- truste 10 anos de combate ao abuso de poder econômico. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 1-36.
rídica decorrente de crimes – A exegese italiana como contributo à interpretação do art. 3º da Lei
9.605/98. In: BUSATO, Paulo César; GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade Penal da Pessoa REINALDET, Tracy Joseph. A responsabilidade penal da pessoa jurídica. O exemplo brasileiro e a
Jurídica. Curitiba: Juruá, 2012, p. 93-131. experiência francesa. Curitiba: IEA academia, 2014.

HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. In: HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1. vol. 29. ed. rev. e atual. por Rubens Edmundo
Tradução de Enio Paulo Giachini e Ernildo Stein. Petrópolis: Editora Vozes, 2008. Requião. São Paulo: Saraiva, 2010.

LEITE FILHO, José Raimundo. Corrupção Internacional, criminal compliance e investigações in- RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. Fundamentos de Direito Penal Brasileiro: Lei penal e Teoria Geral do
ternas: limites à produção e valoração dos interrogatórios privados. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018. Crime. São Paulo: Atlas, 2010.

LOPES JR., Aury. Fundamentos do processo penal: introdução crítica. São Paulo: Saraiva, 2015. ROSA, Alexandre Morais da. Decisão no processo penal como bricolage de significantes. 2004. Tese
(Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná.
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
______. Direito e processo penal juntos? (des)caminhos do ensino jurídico. Revista brasileira de direi-
______. (Re)discutindo o objeto do processo penal com Jaime Guasp e James Goldschmidt. Revista to processual penal, Porto Alegre, vol. 1, n. 1, p. 202-217, 2015.
Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 10, n. 39, p. 103-124., jul./set. 2002.
ROSADO IGLESIAS, Gema. La titularidad de derechos fundamentales por la persona jurídica.
______. (Re)pensando as condições da ação processual penal desde as categorias jurídicas próprias do Valencia: Tirant lo Blanch, 2004.
processo penal. In: FAYET JÚNIOR, Ney. Ciências penais e sociedade complexa I. Organização de
André Machado MAYA. Porto Alegre: Nuria Fabris, 2008. p. 79-100. ROTHENBURG, Walter Claudius. A pessoa jurídica criminosa. Curitiba: Juruá, 1997.

LOUREIRO, Maria Fernanda. Necessidade político-criminal e superação dos obstáculos dogmá- STEINMETZ, Wilson Antônio; PINDUR, Flávia Letícia de Mello. A titularidade de direitos funda-
ticos da teoria do delito para a responsabilidade penal das pessoas jurídicas. 2012. Dissertação mentais por pessoas jurídicas. Direito e Democracia (ULBRA), v. 7-2, p. 281-289, 2006.
264 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

SALLES, Carlos Alberto de. Responsabilidade penal da pessoa jurídica e a proteção ao meio ambiente: finali-
dade e aplicação. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 9, n. 36, p. 51-67., out./dez. 2001.
SALVADOR NETTO, Alamiro Velludo. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. São Paulo: Re-
vista dos Tribunais, 2018.
SARCEDO, Leandro. Compliance e responsabilidade penal da pessoa jurídica: construção de um
novo modelo de imputação baseado na culpabilidade corporativa. 2014. Tese. (Doutorado em Direito
Penal) – Universidade de São Paulo, São Paulo. CRIMINAL HETERO-LIABILITY AND SELF-
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. 3. ed. Rio de Janeiro: El-
sevier, 2010.
LIABILITY OF LEGAL PERSONS. SPECIAL
______. A responsabilidade das pessoas jurídicas e os delitos ambientais. In: Boletim IBCCRIM, nº 65. REFERENCE TO THE CONNECTION FACT
São Paulo: IBCCRIM, abril 1998, p. 3.
SILVA, Sandra Oliveira e. O arguido como meio de prova contra si mesmo: considerações em torno
do princípio nemo tenetur se ipsum accusare. Coimbra: Almedina, 2018. Ângela dos Prazeres1
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Autorregulação, responsabilidade empresarial e criminal complian-
ce. In: SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, Direito Penal e Lei Paulo César Busato2
Anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 25-239.
SILVEIRA FILHO, Sylvio Lourenço da. O processo penal como procedimento em contraditório:
(re)discussão do locus dos sujeitos processuais penais. 2011. Dissertação. (Mestrado em Direito) – Uni- ABSTRACT: The purpose of this paper is to explore the possibility of a direct and inde-
versidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná. pendent criminal liability system for legal persons that can be called self-liability without
STEGMÜLLER, Wolgang. A filosofia contemporânea: introdução crítica. Tradução de Adaury Fiorit- appealing to the fallacy of the connection fact. To do so, it begins with the diagnosis
ti e Edwino A. Royer, et alii. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012. of the system of criminal liability that was initially applied to business organizations
TANGERINO, Davi de Paiva Costa. A responsabilidade penal da pessoa jurídica para além da velha (hetero-liability), by means of representation or by the vicarious system. After that,
questão de sua constitucionalidade. Boletim IBCCRIM, São Paulo, v. 18, n. 214, p. 17-18., set. 2010. the work presents formulas recently created as systems of self-liability, demonstrating
TIEDEMANN, Klaus. Manual de Derecho Penal Económico: Parte general y especial. Valencia: Ti- that, in the end, they are merely unproven intentions. Finally, the article explores what
rant lo Blanch, 2010. are the requirements of a true model of self-liability for legal entities. The meaningful
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial, vol. 1: Teoria geral e direito societário. 7. ed. action theory is proposed as the mandatory starting point for ascribing liability for the
São Paulo: Atlas, 2016. facts of the company itself.
TREVIZAN Flávia. A pessoa jurídica no processo penal. in: CÂMARA, Luiz Antonio (Coord.). Crimes Keywords: Criminal liability of legal entities. Liability systems. Liability by connection.
contra a Ordem Econômica e a Tutela de Direitos Fundamentais. Curitiba: Juruá, 2009, p. 153-175.
Liability by the actual result.
VELLOSO, Araceli. Forma de vida ou formas de vida? Philósophos – Revista de Filosofia [S.I.], v. 8, n.
2, jan. 2008, p. 159-184. Disponível em: <https://revistas.ufg.br/philosophos/article/view/3211/3195>.
Acesso em: 08 jan. 2019. INTRODUCTION
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004 (coleção direito civil; v. 1).
VIANA FILHO, Flávio. Responsabilização criminal da pessoa jurídica: justificação autopoiética. In:
The criminal liability of legal entities is not a novelty, once it’s a legal
FRANCO, Alberto Silva; LIRA, Rafael. Direito Penal Econômico: Questões Atuais. São Paulo: Revista figure known not only in Anglo-Saxon law, but also in continental Law itself,
dos Tribunais, 2011, p. 201-234.
since the Middle Ages3. Although it has always been present in common law,
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal. Valencia: Tirant lo Blanch, 1996.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Tradução Marcos G. Montagnoli. 8. ed. Petró-
it can be said that in civil law environment it fell into oblivion, returning to
polis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2013. the scene, at the theoretical level, in the second half of the 19th century, due
WITTGENSTEIN, Ludwig. Da Certeza. Edição bilíngue. Tradução: Maria Elisa Costa. Lisboa: Edi- to the appearance of Otto von Gierke’s4 theory of reality in opposition to
ções 70, 2012.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Anotações sobre as cores. Edição bilíngue. Tradução de Filipe Nogueira
e Maria João Freitas. Lisboa: Edições 70, 2018. 1. The writer is a researcher at the Criminal System and Social Control Research Nucleus of UFPR and
of the Modern Trends of the Criminal System Research Group of FAE and a criminal lawyer.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro, v. 2. The writer has Doctor’s Degree in Current Problems of Criminal Law from Universidad Pablo de
1: Parte Geral. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. Olavide, in Sevilla, Spain, Professor at UFPR and at FAE-Centro Universitário and Public Prosecutor
of the State of Paraná. Henceforth, in the text, abbreviated as CLLP.
3. Refer to SMANIO, Gianpaolo Poggio. Princípios de tutela penal dos interesses difusos ou direitos
difusos, in Revista Justitia. São Paulo, n. 64, (197), Jul. /Dez. /2007, page 225.
4. The corporations are “La institución que mejor refleja la peculiar concepción jurídica del pueblo ale-
mán” The theory of reality was crucial for the Germanists, in the sense of actually understanding the
idea of Corporation, seeing it as a single body, composed of men, obviously, but with its own will,
266 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 267

Savigny’s5 theory of fiction. Nevertheless, it remained absent at the legislative of charging anchored in the philosophy of language.
level until the last quarter of the 20th century, when it returned and spread
throughout continental Europe of the 21st century. 1. FORMULAS FOR THE CHARGING OF CRIMINAL LIABILITY
During the period of absence of provision for criminal liability of TO LEGAL PERSONS
legal persons (henceforth CLLP), several and successive systems of crim- The Continental criminal doctrine7 admits that there are certain CLLP
inal charging were developed in continental Law, which were totally formulas that evidently constitute hetero-liability, but it also points out that
unaware of it. there are others already developed that are effectively of self-liability and,
One of the main structural axes of such charging systems is com- surprisingly, at least in Spain, based on its Criminal Code of 2015, part of the
prised by the idea of individual
​​ liability, a corollary of the principle of doctrine8 misqualifies that a mixed system was constituted therein (a mixture
culpability. This, in turn, is the result of the rise of Illuminist rationality, of self-liability and hetero-liability).
focused on the individuality of man6, the same one that led – in conti- 1.1. HETERO-LIABILITY SYSTEMS
nental law – to the complete abolition of collective liabilities that can be
The systems considered as of recognized hetero-liability – since they
imposed on anyone.
have in common the necessity of affirmation of the liability of an individual –
That is why one of the main questions in terms of criminal charging, a are the system denominated vicarious liability and the system of identification.
true non-negotiable principle, is that any defendant can only be accountable Both take root in the general idea of a​​ construction derived from civil Law9,
for their own acts and never for other person’s actions. the so-called respondeat superior.
Therefore, if there is any progress towards adopting a continental
model of CLLP, it is necessary to discuss the format of an effective system of 1.1.1. Respondeat Superior: a fundamental pre-judgment claim
self-liability capable of separating the criminal liability of the legal entities The doctrine of respondeat superior is a fundamental concept of the
themselves from the criminal liability of the individuals who participate in Anglo-American case law, with effects on multiple fields and defining a kind
them, and that is the object of the paper herein. of fiduciary relationship10 between individuals and legal entities that arises
For that intent, the models proposed until the current date for the when an organization – principal – conscious that another – the agent – ,
CLLP will be analyzed, in order to evidence whether any of them actually
corresponds to a formula of self-liability or if they are all formulas of hetero-li- 7. See, for all, the reference by GALÁN MUÑOZ, Afonso. La responsabilidad penal de la persona
jurídica tras la reforma de la LO 5/2010: entre la hetera y la autorresponsabilidad, in Revista
ability, in which case, they would be confronting the principle of culpability. General de Derecho Penal. Barcelona, n. 16, 2011, page 7.
8. For all, refer to SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Fundamentos del Derecho penal de la Empresa.
Finally, by means of a proposal, the possibilities of developing a system Montevideo-Buenos Aires: Edisofer S. L., 2016, page 367. In fact, the so called mixed system is no-
thing but a denomination that cames from the fact that there are two different rules at the Spanish Penal
of criminal self-liability of legal entities will be addressed, based on a system Code that compose a paradox. One of they pointing to a identification system of liability and another
one focused on the organizational failure. This kind of mix is the reason for some part of the Spain
doctrine call it as a third way. But, as explained, it is not exist, and because of that we will not develop
any further commentaries about it.
identity and existence, in opposition to the classical notion of the Roman Law that only man is a 9. More specifically in the liability for damages, where currently it continues in effect, in the Anglo-
subject of law GIERKE, Otto von. Teorias políticas de la edad media. Madrid: Centro de Estudios -American and Canadian legal scenario, being incorporated into the criminal matter around the 18th
Constitucionales, 1995, page 214. Century. The subject matter is explored, in details, in its origins in BRICKEY, Kathleen F. Corporate
5. “The primitive concept of person, of subject of law, must be coincident with the concept of man, and Criminal Accountability: A Brief History and an Observation. Washington: Washington Univer-
this primitive identity of the two concepts can be expressed with the following formula: any human sity Law Review, 1982, page 416. Also refer to WEAVER, Russell L.; MARTIN, Eduard C.; KLEIN,
being and only the human being has the capacity of being a subject of law”. SAVIGNY, Federico Andrew R. Mastering Tort Law. Durham: Carolina Academic Press Mastering Series, 2009, pages
Carlo Di. Sistema del diritto romano attuale. Translation by Vittorio Scialoja, v. II. Torino: Unione 165-166; SAYRE, Francis Bowes. Criminal Responsibility for the Acts of Another. Cambridge:
tipografico, editrice, 1888, page 02. HARv. L. Ver., 1930, pages 689- 691; and ESER, Albin. Criminal Responsibility of Legal and Col-
6. Rationality of culpability derives from the canonic Law, from the idea of guilt that everyone has for the lective Entities. International Colloquium. Berlim: Freiburg im Breisgau, 1999, pages 161-162.
committed sin, derived from their own free will. For detailed comments, refer to BRANDÃO, Cláudio. 10. Refer to VILLEGAS GARCÍA, María Ángeles. La responsabilidad criminal de las personas jurí-
Culpabilidade: sua análise na dogmática e no Direito penal brasileiro, in Ciências Penais, vol. 1, dicas. La experiencia de los Estados Unidos. Pamplona: Thomson Reuters/Editorial Aranzadi, 2016,
Jul.-Dec. de 2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, pages 171-184. page 169. Emphasis added.
268 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 269

controlled by it, acts on its behalf, or acts on its representation. There are transposed into the scope of criminal liability of collective entities.
three characteristics specific of this relationship: a mutual agreement between The point of reference that ultimately consolidated such a trend in the
the both; control of the agent by the principal; the agent’s performance on United States law was the sentence handed down by the Supreme Court,
behalf of the principal. in 1909, in the New York Central & Hudson River Railroad v. United Estates
The principle of the respondeat superior derives thereof, consisting of a case, where the court adopted a pragmatic and utilitarian view of criminal
criterion of ascribing of liability to the principal entity for the legal conse- Law, relying on it as a proper instrument to prevent abuse15.
quences of the acts practiced by the controlled agent. That is, the legal person, The same model was recognized in English Law, at a similar time, by
representing the principal entity would be accountable for the acts practiced the absorption of Gierke’s16 organic theses, which allowed the recognition
by the agent, who are its employees or representatives, who act and operate of the actus reus and the mens rea of the
​​ natural person (accessory agent)
within the scope of their functions. as transferred to the legal entity (principal), provided that the criminal
The foundation of this proposition is the idea that once the principal conduct had been perpetrated by an employee of the organization in the
benefits from the action of the agent, it must be accountable for the latter’s exercise of his or her functions and that the crime had been committed
acts in its benefit. In addition, the doctrine11 points out other logical reasons with the intention of benefiting the organization (even if such a benefit
for this class of liability, namely, that the victim is not able to easily identify was not attained)17.
the employee directly responsible for the damage, but rather the company It is therefore recognized that this is a model of criminal hetero-lia-
he/she represents and the employee, for his/her limited solvency, is not able bility of legal entities18, with a clear violation of the principle of culpability,
to face all the necessary compensation for the damages caused. in its trend of personal liability19. It is thus understood that a subordinate

1.1.2. The Vicarious Model 15. See Justia US Supreme Court. Case New York Central R. Co. vs. United States, 212 U.S. 481
(1909). Available at: https://supreme.justia.com/cases/federal/us/212/481/. Accessed on: March 26,
2018. “In criminal claims, a Corporation can be held liable for damages caused as a result of the
The vicarious model is the most common type of indirect liability based acts practiced by its agents within the scope of their functions, whether deliberated acts, imprudent
on the principle of respondeat superior12. acts, or acts against the express orders by their superior. The acts of an agent exercising authority of
a company who is the carrier assigned to practice fares for the transportation system can be control-
led, at the interest of the public policy, thus imposing its act on the carrier itself and also imposing
In this model, the criminal liability of the individual, “switches”, “vicars” sanctions to the carrier company. Although corporations cannot physically commit crimes, they can
actually commit crimes consisting of intentionally practicing acts prevented in the bylaws and, in
to the legal entity. Therefore, the liability of the legal persons comes from the that case, they might be charged of being aware of the acts of their agents who take actions pursuant
performance of someone other than themselves13. to the authority that was vested on them. The court will recognize that most of the interstate trade
is carried out by corporation and will not relieve them from punishment”. Commenting on the case,
ORTIZ DE URBINA GIMENO, Íñigo. Responsabilidad penal de las personas jurídicas: the
Indications14 show that the model of vicarious liability was constructed American Way, in: Responsabilidad de la empresa e compliance: programas de prevención, detec-
ción e reacción penal. Santiago Mir Puig; Mirentxu Corcoy Bidasolo e Víctor Gómez Martín [dir.].
by decisions of the Federal Courts of the United States of America that grad- Juan Carlos Hortal Ibarra e Vicente Valiente Ivañez [orgs.]. Madrid: Edisofer-BdeF, 2014, pages 41-
ually recognized legal entities as criminally liable for the crimes committed by 42. For further details on evoluto of the subject matter in common law, refer to, in this volume, the
work by André Glitz and Thayse Pozzobon, “Responsabilidade penal de pessoas jurídicas e justiça
any of their representatives or employees, whenever their conduct had been consensual penal: lições da experiência estadounidense”.
16. GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. Corporate Criminal Liability: algunas cuestiones sobre la responsa-
practiced in the exercise of the functions they perform within the organiza- bilidad penal corporativa em los EE. UU, in La responsabilidad penal de las personas jurídicas, órga-
nos y representantes. Percy García Cavero Mendoza [org.]. Ediciones jurídicas, 2004, pages 205-210.
tion and with the intention of benefiting it. The civil doctrine of liability was 17. Refer to ORTIZ DE URBINA GIMENO, Íñigo. Op. cit., pages 41-42.
18. MACHADO, Fábio Guedes de Paula. Reminiscências da responsabilidade penal da pessoa jurí-
dica e sua efetividade. Revista da Faculdade de Direito de Uberlândia v. 36: 155-181, 2008, pages
11. Refer to SALVADOR Coderch, Pablo. Respondeat Superior I. Barcelona: InDret, 2002, pages 4. 166-167.
12. Refer to SALVADOR Coderch, Pablo. Ibidem. 19. Refer to TIEDEMANN, Klaus. Responsabilidad penal de personas jurídicas y empresas en dere-
cho comparado, in Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 11, 1995, Jul.-Sept., pages 21-35
13. Refer to GUARAGNI, Fábio André; LOUREIRO, Maria Fernanda. Responsabilidade penal da pes- and NIETO MARTÍN, Adán. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: esquema de un
soa jurídica: rumo à autorresponsabilidade penal, in: Aspectos contemporâneos da responsabilida- modelo de responsabilidad penal. Madrid: Tirant lo Blanch, 2013, pages 8. There are those who
de penal da pessoa jurídica. Tomo II. Fauzi Hassan Chourk, Maria Fernanda Loureiro, et. al. [orgs.]. claim that this is the model adopted in France. Refer to the comment by DECKERT, Katrin. A respon-
São Paulo: FECOMERCIO, 2015, page 127. sabilidade penal da pessoa jurídica na França, in Aspectos contemporâneos da responsabilidade
14. Refer to ÁNGELES VILLEGAS GARCÍA, María. Op. cit., pages 173-174. penal da pessoa jurídica. Fauzi Hassan Choukr, Fernanda Lourenço, Ivens Martins, Abran Szajman e
270 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 271

agent, of smaller proportion, is no more than the “arm” of the legal entity exercise of its powers of surveillance and control25, hence, any worker could
whose criminal liability is not, therefore, personal but derived from conduct determine the liability of an organization, to the extent that the crimes
of others. It should be noted that the “conduct”, taken here as the basis, is could have been prevented by a better choice or by more effective control26.
a data of the physical sphere.
2. THE INTENDED MODELS OF SELF-LIABILITY. THE SELF-
1.1.3. Model of Liability by Identification ORGANIZATION FAILURE
In this formula, the liability of the legal person is built exclusively In the more recent doctrine27, several authors share the opinion that
based on the transfer of liability of the individual who acts as a body: what the formula of charging based on problems of self-organization would be a
the body of the legal entity performs is attributable to itself20. It is under- class of self-liability of collective entities. That is, the claim is that it is a way
stood that when the individual who represents the company acts in order to of charging criminal liability directly to the legal entity, based on the failure
commit an offense, then the company itself is also practicing it. Therefore, presented in its organization.
that would be a formula for assigning criminal liability to legal entities ac-
This model, according to Gómez-Jara Díez, its main defender, is based
cording to which there is a relation of identification between the collective
on the assumption of the “epistemological current of the theory of autopoietic
entity and the individual acting in its name and behalf21, as its true alter ego22.
social systems”28, that is, the most radical formula of the Luhmannian theory
It is pointed out23 that the basis of this formula is the idea that in the of systems29 which, mixed with Teubner’s30 operative constructivism, intends
case of legal persons, understood as abstract constructs, it is necessary to to maintain that the legal entity has an organization structured in a system,
identify the seat of their will in those who are aware of and hold control of whereby the criminal fact practiced by someone involving the company rep-
the leading action, that is, in the knowledge and will of people who hold resents solely a dysfunctional input, to which the system will react through
the leading organizational control. The legal entity is charged with the rejection or incorporation.
behaviors practiced by its administrative bodies24.
The defenders of this perspective assume the idea of ​​self-reference of
The rationale for this class of liability rests on the idea that there the company and that it is the law that generates the condition of person.
would be a violation of the company’s duty of surveillance towards the
criminal practice and its conduct would be the practices of its adminis- 25. Refer to NIETO MARTÍN, Adán. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: esquema de
trative bodies, mainly consisting in violation of the “need for prevention” un modelo de responsabilidad penal. Resumo monográfico La responsabilidad penal de las personas
jurídicas: un modelo legistivo. Iustel. Madrid. 2008, pages 8-9.
and of the “duties of surveillance”. Thus, it would be possible to establish 26. GÜNTER, Heine. Op., cit., pages 23-25 and GUARAGNI, Fábio André; LOUREIRO, Maria Fernan-
da. Op. cit., page 127.
the injury of the surveillance of the duty of a long chain of authors in the 27. Currently defending this position in detail, refer to GOMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. Fundamentos
company’s hierarchy. In some versions of the identification formula, it is modernos de la responsabilidad penal de las personas jurídicas. Bases Teóricas, regulación in-
ternacional y nueva legislación española. Montevideo-Buenos Aires: BdeF, 2010, pages 30-33. In
sufficient that the violation was carried out as a consequence of a faulty a similar manner, ONTIVEROS ALONSO, Miguel. La responsabilidad penal de las personas ju-
rídicas en Mexico, in: La responsabilidad penal de las personas jurídicas. [Miguel Ontiveros Alonso
– Coord.], Valencia: Tirant lo Blanch, 2014, pages 357. By all means, it is worth mentioning that these
current and better finished proposals clearly originate from the Organisationsverschulden, proposed
by Klaus Tiedemann in TIEDEMANN, Klaus. Die Bebußung von Unternehmen nach dem Zweiten
Ivette Senize Ferreira [orgs.]. Volume I São Paulo: FECOMERCIOSP, 2015, page 198. Gesetz zur Bekämpfung der Wirtschaftskriminalität, in: Neue Juristische Wochenschrift. Frank-
furt am Main: C. H. Beck, 1988, page 1169.
20. Refer to HEINE, Günter. La responsabilidad penal de las empresas: evolución internacional y con- 28. Refer to GOMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. Op., cit., page 13.
secuencias nacionales, in Responsabilidad penal de las personas jurídicas / coord. por José Hurtado
Pozo, 1997, pages19-45, pages 23-25. 29. Refer to LUHMANN, Niklas. Sistemas sociales: lineamientos para una teoría general. Translation
21. It is said that this is a class of liability by assignment ROBLES PLANAS, Ricardo. ¿Delitos de perso- by Silvia Pappe y Brunhilde Erker. Barcelona: Anthropos, 1998, pages 27-35.
nas jurídicas? A propósito de la Ley austriaca de responsabilidad de las agrupaciones por hechos 30. For Teubner, the distinction between self-reference and hetero-reference occurs within the autopoietic
delictivos. InDret 2/2006, pages 5-6. system, so that the cognitive operations themselves would be responsible for formulating the con-
22. The expression. Is used by TIEDEMANN, Klaus. Op., cit., page 27. ceptual reality of system and surrounding and the system unit and identity would derive from the
self-reference of its operations and processes. The source referred by Gomez Jara-Díez is TEUBNER,
23. Refer to HEINE, Günter. Op. cit., pages 23-25. Günther. O Direito como sistema autopoiético. Translation by José Engrácia Antunes. Lisboa: Fun-
24. The problems are explored by HEINE, Günter. Ibidem. dação Calouste Gulbenkian, 1999, pages 30 et seq.
272 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 273

Therefore, whether legal entity or individual, the penalty has the sense of violation of the principle of culpability, charging to the legal entity another
encouraging the adoption of a position of citizen loyal to the Law31. Based person’s actions34.
on that, the idea is to assert that people are only responsible for their own The claim is that this is a system of self-liability because the liability is
organizational structure, by the way they react to the irritations of the system. assigned in view of an organizational failure of the company itself and not
Specifically concerning the legal entity, it is claimed32 that the CLLP is of other people’s activities. However, all systems based on self-organization
possible, in the presence of the following requirements: an connection fact; the require a connection fact (act of reference) for assigning liability35 witch means
circumstance that the legal entity was organized in such a way as to manage that a criminal conduct of an individual is required.
a risk above what is allowed as occurrence of facts such as the connection If the wrongful act of the legal entity was in fact an organizational
one; that such risk occurred in the actual harmful result; that the action was failure completely independent of any act of individuals, this object – the
performed in the name or on behalf of the legal entity and that everything organizational failure – is what should actually be punished, not the criminal
was done according to the interest of the legal entity. conduct described by the law. In other words, if there is a failure, the acknowl-
Apart from the evident overlaps of some of these requisites with the edgment of the criminal disapproval would already be justified. However, this
requirements of models expressly professing hetero-liability, the real fraud of is not what happens, nor is it logical to be.
this argument lies in the so-called connection fact (or act of reference), which So, what kind of self-liability are we talking about? Obviously, the pos-
is no more than “the existence of conduct committed by an individual that sible liability of the company does not derive from the practiced act itself,
harms or endangers a protected legal asset, in other words, that fulfills the ob- but from a supposed lack of control over its avoidance, caused by the or-
jective aspect of the criminal liability’s attribution”33. There shows the artificial ganizational failure. On the other hand, there is no neglectful crime of not
transposition of the liability of the individual to the legal entity. organizing itself. That is not charged to the legal entity. The crime charged
Therefore, on one hand, the idea of ​​action is abandoned in favor of on it is precisely what the doctrine euphemistically calls the connection fact.
the idea of ​​organization, that is, the charge is not on the doing, but rather This connection fact is nothing less than the law’s description of a criminal
on the organizing, with the purpose of eluting the problem of charging by conduct that generates the liability of the company!
conduct of others, but in the end a rhetorical device is used, by means of a
vague denomination, to associate the conduct of an individual to the CLLP. 3. THE THEORETICAL REQUIREMENTS OF A TRUE MODEL
Apart from the discussion of the other multiple problems of the propos- OF SELF- LIABILITY
al of the organizational failure, ranging from its basic theoretical foundations It is only possible to accept as self-liability systems36 those whose charging
to the admission of an escape valve through the compliance programs, from of the legal entity is completely independent of the charging filed against
the outset it is observed that it is a system of hetero-liability with flagrant individuals, that is to say, which assignment of consequences derives from
an criminal act practiced by the legal entity itself, without the need to iden-
31. This formula of equivalence as the basis – an autopoietic concept of the person as a system – is
tify any class of conduct on the part of individuals even though they might
also, to a certain extent, incorporated by Heine’s ideas (refer to HEINE, Günter. Modelle originärer
(straf-) rechtlicher Verantwortlichkeit von Unternehmen, in: Reform des Sanktionsrecht. Bd. III: 34. Refer to the review by SCHÜNEMANN, Bernd. La responsabilidad penal de las empresas, in: La
Verbandstrafe. [Michael Hettinger – ed.], Baden-Baden: Nomos, 2002) and Lampe (LAMPE, Hans- responsabilidad penal de las personas jurídicas. [Miguel Ontiveros Alonso – Coord.], Valencia: Tirant
-Joachim. Zur ontologischen Struktur des strafbaren Unrechts, in: Festschrift für Hans Joachim lo Blanch, 2014, pages 501-502.
Hirsch zum 70. Geburtstag am 11.April 1999. [Thomas Weigand e Georg Küpper – eds.], Berlin-New 35. For this matter, refer to PÉREZ, Ana Isabel. Op. cit., page 35.
York: Walter de Gruyter, 1999), in defending similar formulas for charging of criminal liability to the 36. There are those who, inevitably, accept as self-liability system constructions where there is no agent
legal entities based on organizational failures, although these writers do it in a less comprehensive as individual, but also where the agent “almost disappears”. NIETO MARTÍN, Adán. La responsabi-
manner than Gómez-Jara Díez. lidad penal de las personas jurídicas: un modelo legislativo. Madrid: Iustel, 2008, pages 127. It is
32. Refer to PÉREZ, Ana Isabel. Modelos tradicionales de imputação de responsabilidad penal a las impossible to agree with this proposition, precisely for its inaccuracy. What is it to “almost disappear”?
personas jurídicas, in: Responsabilidad penal de las personas jurídicas [José Luis de ka Cuesta Arza- What type of “semi-disappearance” could be considered as self-liability? Apparently, the writer only
mendi – dir.], Cizur Menor: Thomson-Aranzadi, 2013, page 35. creates this artificiality to try to fit its own proposal of criminal liability of legal entity in something
33. PÉREZ, Ana Isabel. Op. cit., page 35. that he would, through this artifice, include into the self-liability scheme.
274 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 275

occur. This eventual occurrence would derive, then, in liability by mean of to offer yielding as basic category of the theory of crime40 and its resounding
contribution of people between the legal entity and the individual. dogmatic failure41.
That is because criminal liability is always individual37. Hence, if every Legal phenomena are not mere causal processes, and therefore, control
crime consists of a double devaluation: devaluation of action and devaluation over these processes is insufficient to identify an action. To have some yield
of result, in order to assign a criminal liability to a legal entity, it is necessary capacity in the attribution system, the concept of action must be expressed
to structure such liability on a result and an action produced by the legal in a dimension of sense and it can only be understood in context42.
entity itself. The superseding of the ontological concept of action, however, did
Naturally, this implies a double affirmation: that the legal entity is ca- not initially result from its theoretical reorientation, but by the simple
pable – by itself – of carrying out an action and that is capable of producing abandonment of action as a founding category of the theory of crime,
a criminal result. through the adoption of functionalist models, based on atributtion43. Al-
though this removes the problem of ontological action, it does not solve
3.1. A conduct of the legal entity itself
the matter of the CLLP simply because, even if a pre-juridical concept of
The most common dogmatic opposition to CLLP is its supposed inabil- action is abandoned as the basic category for structuring the crime, it is
ity to act. This statement, however, lays its roots in conceptions of ontological not possible to abandon the idea that culpability is a principle structur-
action dating back to the turn from the 19th century to the 20th century38, ing the criminal Law and it requires, as a guarantee, that each one can
widely surpassed, nowadays. only be charged whatever derives from his own conduct. That is saying:
It is unfeasible to detail herein the complete overthrow of the intents to abandoning action as a category of crime does not solve the problem
organize the theory of crime based on conceptions of a prior truth usually set that the assignment of devaluated results must be directly related to the
on a pre-juridical concept of action39, it should suffice to indicate its inability perpetration of a conduct that can be assigned directly to someone, in
order to justify the rejection thereof.
37. That is a logical result of the principle of culpability, as referred by Mir Puig in MIR PUIG, Santiago.
Derecho penal. Parte General. 5a ed., Barcelona: Reppertor, 1998, pages 95-96. For details on the
guarantees derived from the principle of culpability, refer to BUSATO, Paulo César. Direito penal. classic theories based on a pre-juridical action has exhausted in the European scenario, mainly in the
Parte Geral. 4a ed., São Paulo: GEN-Atlas, 2018, page 67 et seq. German scene. Refer to GRECO, Luís. En Alemania, el finalismo está muerto. Available at: https://
38. Several writers defended conceptions of ontological and pre-jurical actions during that period, such as www.ambitojuridico.com/noticias/invitado/educacion-y-cultura/en-alemania-el-finalismo-esta-muer-
Von MERKEL, Adolf. Derecho penal. Parte General. Translation by Pedro Dorado Montero, Mon- to. Accessed on: June 03, 2018.
tevideo-Buenos Aires: BdeF, 2004, page 22; PRINS, Adolphe. Science pénale et Droit Positif. Bru- 40. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal. 2ª ed., Valencia: Tirant lo Blan-
xelles-Paris: Bruylant-Christophe & Cie.-Librairie A. Marescq, 1899, pages 107-109; LISZT, Franz. ch, 2011, page 129. To this effect, refer to ROXIN, Claus. Op. cit., page 247; ROXIN, Claus. Krimi-
Tratado de Derecho penal. Translation by de Luis Jiménez de Asúa, 4a ed., Madrid: Reus, 1999, page nalpolitik und Strfrechtssystem. Berlin: Walter de Gruyter, 1973, page 5; BAUMANN, Jurgen. Al-
262. BELING, Ernst von. Esquema de derecho penal. La doctrina del delito tipo. Translation by ternativ-Entwurf eines Strafgesetzbuches: Allgemeiner Teil. Tübingen: J. C. B. Mohr, 1969; SCH-
Sabastián Soler, Buenos Aires: el Foro, 2012, pages 44-45; ROCCO, Arturo. El objeto del delito y de MIDHÄUSER, Eberhard. Strafrecht: allgemeiner teil. Tübingen: J.C.B. Mohr, 1970; KAUFMANN,
la tutela jurídica. Translation by Genónimo Seminara, Montevideo-Buenos Aires: BdeF, 2001, page Arthur. Die ontologische Struktur, in: Festschrift f. H. Mayer, cit., page 80 and SCHÖNKE, Adolf e
327; WELZEL, Hans. Derecho penal Alemán. Translation by Juan Bustos Ramírez e Sérgio Yáñez SCHRÖDER, Horst. Strafgesetzbuch, Kommentar. 15ª.ed., München: C.H. Beck,1970.
Pérez, Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 1997, page 39 and GRISPIGNI, Felippo. Diritto Penale
Italiano. Milano: Griuffrè, 1952, pages 23 et seq., however, even before that period there were already 41. On this subject matter, refer to the critical comments in KAUFMANN, Arthur. Die ontologische
those who structured the system of charging on the basis of a pre-juridical action. For example, refer Struktur der Handlung, in: Schuld und Strafe, 2ª ed., Carl Heynemanns, Köln: 1983, pages 11 et seq.
toKLEIN, Ernst Ferdinand. Grundsätz des gemeinen Deutschen peinlichen Rechts. Halle: Hem- and page 26; ROXIN, Claus. Contribuição para a crítica da teoria finalista da ação, in: Problemas
merde und Schwetschke, 1799, pages 78 et seq., the concept of action as one of the basic elements fundamentais do Direito penal. Translation by Ana Paula dos Santos Luís Natscheradetz, 3a ed., Lis-
for charging is proposed by BERNER, Albert Friedrich. Lerherbuch des Deutschen Strafrechts. boa: Vega, 1998, page 109; FRISTER, Helmut. Strafrecht. Allgemeiner Teil. Ein Studienbuch. 6ª
Leipzig: Bernhard Tauchnitz, 1857, pages 138 et seq., in the chapter entitled “Action and Charging”; ed., München: Beck, 2013, pages 90 et seq.; DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito penal. Parte Geral.
besides the manifold cited work by Heinrich Luden, Strafrechtliche Abhandlungen, from 1840 (Said Tomo I. Coimbra: Coimbra Editora, 2004, pages 244-246; MUÑOZ CONDE, Francisco e GARCÍA
text is referred by ROXIN, Claus. Strsfrecht. Allgemeiner Teil. I. 4a ed., München: Beck, 2006, page ARÁN, Mercedes. Direito penal. Parte General. 8ª ed., Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, page 217
240 and JIMÉNEZ DE ASÚA, Luis. Tratado de Derecho penal. Tomo III. Buenos Aires: Losada, and LUZÓN PEÑA, Diego-Manuel. Lecciones de Derecho penal. Parte General. Valencia: Tirant lo
1965 page 331). For a detailed review on the criminal law technical scenario of the pre-juridical con- Blanch, 2012, pages 131-132.
cept of action in terms of theory of crime, refer to MARINUCCI, Giorgio. El delito como acción. La 42. For the details of the review, refer to VIVES ANTÓN, Op. cit., pages 123-124.
crítica de un dogma. Translation by Jose Eduardo Sáinz-Cantero Caparrós, Madrid: Marcial Pons, 43. Specially represented in ROXIN, Claus. Strsfrecht. Allgemeiner Teil. I. Grundlagen. Der Aufau
1998, pages 27-43. der Verbrechenslehre. 4a ed., München: Beck, 2006; ROXIN, Claus. Strsfrecht. Allgemeiner Teil.
39. Regarding this superseding, refer to BUSATO, Paulo César. Direito penal e ação significativa. 2a II. Berondere Erscheinungsformen der Straftat. 4a ed., München: Beck, 2006 e JAKOBS, Günther.
ed., Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2010. The interview of Luís Greco, given to the electronic journal Strafrecht, Allgemeiner Teil. Die Grundlagen und die Zurechnungslehre. 2a ed., Berlin: De Gruy-
Âmbito Jurídico is conclusive in this regard, wherein he makes clear that the role performed by the ter, 1993.
276 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 277

It is not by chance that the substitution of the action for the attribution communicative action, taken by Vives Antón49 for the development of the
as a founding category, facing the issue of culpability, in functionalist con- so-called theory of meaningful action, is decisive.
structions, always led to a culpability specific of the legal entity, different from The action is identified not by the attainment of an end, but by the
that of individuals44, which is certainly a thorny path and of dubious results45. characteristic of following a rule, which is from where the expression of mean-
ing derives, which allows differentiating actions – as expressions of intentions,
3.1.1. The meaningful action theory as a starting point
pretensions and purposes – from mere events. It is clear they only gain exis-
The problem of delimitation of what is or is not action in criminal Law tence in the context of their realization.
should be approached not with the discussion on whether or not we can
Hence, in the words of Vives Antón, action is understood “not as a
say that commissive conduct and omission are effectively actions based on
behavioral substrate that can receive meaning, but as meaning that, according
the search for a common substrate, and rather, seeking to understand why,
to a system of norms, can be attributed to certain behaviors”50.
regardless of whether or not they have a common substrate, both can be in-
terpreted according to their meaning46. In other words, a criminal law system The significant conception of action offers a more promising starting
of charging is nothing more than the linguistic structuring of a praxis that point for the discussion of this topic, having already been used as an argument
consists of combine norms and actions, at their own circumstances, with the for the affirmation of the CLLP, by some of the followers of this perspective51.
purpose of stating, in the fairest possible way, that some of these actions are Understanding the action as the meaning of what is done leads to the
criminal and others are not. understanding that action can only have legal meaning if interpreted together
This meaning of an action must be sought in the second Wittgenstein’s47 with its surroundings. Thus, as Carbonell Mateu rightly points out, “what
thinking, for whom such a meaning arises from social interaction mediated is relevant is neither movement nor its absence, but precisely this commu-
by rules which intelligibility is only possible in the context of a common way nicative code”52 that identifies action as such. Actually, “the fact that it has a
of life. Common ways of life allow us to understand the customary uses of a meaning does not convert a movement into action; action simply manifests
word to mean something and for an action to be identified as such, as well itself through movement; the meaning manifests itself through movement
as to identify what is that kind of action. or its absence, which ceased to be actions to become mere physical supports
– possibly dispensable – of a social meaning.” 53
In this regard, the contribution of Habermas48, with his theory of
So, if we start from the fact that the only thing that converts an ab-
44. Examples of that would be the proposal by Dannecker, dividing between Individualschuld and Ver- sence of movements into action is its meaning, and that omission does not
bandschuld (in: DANNECKER, Gerhard. Zur Notwendigkeit der Einführung kriminalrechtlicher
Sanktionen gegen Verbände. Überlegungen zu den Anforderungen und zur Ausgestaltung eines require any material support, we can say that the classical conceptions of
Verbandsstrafrechts, in Goltdammer‘s Archiv für Strafrecht, 2001, pages 112 et seq.), that of Schro-
th (SCHROTH, Hans-Juergen. Unternehmen als Normadressalten und Sanktionssubjekte: eine
Studie zum Unternehmensstrafrecht. Gießen: Brühlscher, 1993, specifically, pages 203 et seq) of ceeds in terms of language analysis, which goes beyond the mere “therapeutic” intent of Wittgenstein,
functional culpability of the entity (funktionale Organschuld); that of Anne Ehrhardt (EHRHARDT, who aimed only to clarify concepts. The explanation is found in VIVES ANTÓN, Tomás Salvador
Anne. Unternehmendelinquenz und Unternehmensstrafe: Sanktionen gegen juristische Perso- Op., cit., page 209.
nen nach deutschem und US-amerikanischem Recht. Berlin: Dunker & Humblot, 1994, pages 186 49. Refer to VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., pages 208-213.
et seq.), rejection for lack of internal control, or those of Lampe (LAMPE, Ernst J.. Systemunrecht 50. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., page 221.
und Unrechtssysteme, in: Zeitschrift für die gesamte Strafrechtswissenschaft no 106, Berlin: Walter 51. Refer to CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Aproximación a la dogmática de la responsabilidad
de Gruyter, 1994, pages 683 et seq.) and Heine (HEINE, Günter. Modelos de autorresponsabilidad penal de las personas jurídicas, in: Constitución, Derechos Fundamentales y Sistema Penal. Sem-
penal empresarial. Propuestas globales contemporáneas. Cizur Menor (Navarra): Aranzadi, 2006, blanzas y estudios con el motivo del setenta aniversario del Profesor Tomás Salvador Vives Antón.
pages 47-51) that clearly do not precisely refer to a particular action, but to its way of being, to its Tomo I. [J.C. Carbonell Mateu, J.L. González Cussac e E. Orts Berenguer – orgs. ], Valencia: Tirant
“criminal tendency” (kriminell Anfällig) or criminal culture. lo Blanch, 2009, pages 317-318; MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. Derecho penal económico y
45. Observe, in this volume, the work of Tracy Joseph Reinaldet dos Santos and Lucas Dalmolin, who, de la empresa. 4a ed., Valencia: Tirant lo Blanch, 2014, page 306; BUSATO, Paulo César e DAVID,
by a path totally different from the one take by the functionalist writers, offers a dogmatic contour to Décio Franco. A empresa é capaz de ação? Uma proposta de discussão sobre a capacidade de
culpability of legal entities. rendimento da concepção significativa da ação no Direito penal empresarial, in: Comentários
46. Refer to VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., page 147. ao Direito penal Econômico Brasileiro. [José Danilo Tavares Lobato; João Paulo Orsini Martinelli e
47. WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas. 2a ed., Barcelona: Crítica, 2002, pages 516- Humberto Souza Santos – orgs. ], Belo Horizonte: De Plácido, 2017, pages 19 et seq.
517. 52. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Op., cit., page 316.
48. Habermas’ next step is valued by Vives Antón as the intent to seek the bases for a sociology that pro- 53. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Ibidem.
278 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 279

interpretation of what an action or omission is, from a legal point of view, and communicative language, can be a source of meaning, that is, whether
were mistakenly linked to “a Cartesian thinking and some irreducible natu- an action or omission, in a legal sense, is the communicative expression of
ralistic remnants”54 completely incorrect, since “the action was not the not doing or not doing, translated into a verb, used by the law, that expresses
doing, but its communicative meaning”55. intentions, according to the common language, it seems to be possible to
Therefore, the meaningful conception of action, anchored in the associa- state that a legal entity effectively acts. After all, there is obvious common
tion between action and language drawn by late Wittgenstein in his language meaning in the expressions: the company announced hires; the company con-
games, opens a new and promising field of exploration of the communicative taminated the river; intending to avoid a criminal complaint, company Z paid
sense of what might be action for the purposes of criminal Law. the taxes indicated as due. They all are, undoubtedly, expressions of meaning
denotative of purposes of the legal entity specifically and not necessarily of
It is not ignored that Wittgenstein himself, in exploring language
the individuals that compose it57.
games, seemed to refer to human actions, to the extent that he refers that
language is a praxis, which corresponds to referring to human activity guided If complex language forms can only develop on normative behaviors,
by rules. However, since it is notorious that he was a severe critic even of the what lies at the bottom of language games is always an action, which is the
interpretation of his work by his closest followers, it is quite probable that a ultimate condition for the practice of the linguistic phenomena. So, if it has
univocity will never be achieved on the reading of his aphorisms. common linguistic meaning to affirm a doing of legal entities, it is because
these actions are something that lies at the bottom of the development of
Therefore, aware that the one herein is a biased and partial reading,
meaningful language itself, and that is what allows recognizing them as such.
we would like to point out some of the propositions contained in the Phil-
osophical Investigations which, it seems, can at least at the points referring to And if, according to pragmatics, the rules of language are what allows
the meaningful action theory, outline a working path towards a formula of us to assess and judge by correction patterns the uses and meanings of words,
criminal self-liability of legal entities, allowing to speak at least of an action and only normal uses can be prescribed, that is, how to speak correctly58, if
that is specific thereof. postulating an action of legal entities was actually meaningless, it should also
be linguistically meaningless. However, we observe precisely the opposite. It is
Starting from the idea that language games comprise not only the
as possible to linguistically describe actions of individuals as of legal entities,
language expressions, but all the actions with which these expressions are
although they are not identical things.
interconnected56, this field encompasses a totality of meaning as a product of
sociability or interactivity. Thus, language games refer to specific linguistic The uses of words – consequently, the recognition of actions – are
activities, that is, to certain modes of application and instrumentalisation not only not equal, but the different uses we make of words constitute lan-
of language, which means there is not a unique characteristic shared by all guage itself.
the games that constitute the language, therefore, nor with respect to all Therefore, if we speak of actions of legal entities in the legal environ-
the actions. ment, the common legal use of the term produces common meaning among
This means that the meaning of action of a legal entity simply does not users of legal language. It is a specific but common usage in the sense that it is
have to overlap the meaning of action of the individual. What does seem nec- shared by a community. That is why every subject of law who disobeys a norm
essary is that both make sense, when they are used in the common language. can be the object of attribution of meaning59. If this attribution of meaning
If there is meaning in everything that, according to our common social 57. Regarding the possibilities of isolation between the criminal will of the legal entities towards the indi-
viduals that compose it, I have already expressed myself in details in BUSATO, Paulo César. Vontade
penal da pessoa jurídica, in Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de Janeiro: Lúmen
54. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Op., cit., page 317. Juris, 2011, pages 211-224.
55. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Ibidem. 58. Refer to Wittgenstein, Ludwig. Op., cit., page 141.
56. Wittgenstein, Ludwig. Investigações filosóficas. Translation by José Carlos Bruni. São Paulo: Abril 59. “Whoever can violate a demandable duty is the subject of law. And nobody doubts the legal entity’s
Cultural, 1979, page 7. capacity of violating obligations and thereby attain equity liabilities or also of any other nature”, thus,
280 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 281

is based in the requirement of compliance with norms by submitting their are attributed to collective entities, whenever and as long as they can be
behavior to them, it is quite clear that the one who submits to such norms, attributed to them.
or not, is the one who has the capacity for action60. And when can they be attributed? When they are derived from the
Well, the meaning of a word – in our case, the words that compose the conduct of legal entities, which means, when they are the outcome of their
crime’s description on law – is not determined by a legal or material object or will, a basic requirement of the principle of culpability.
by an entity that performs them (whether individual or legal), but simply by
its use in language61, that is, by its application in the different circumstances 4. THE REQUIREMENTS OF CULPABILITY
that make up the various language games62. Here, there is no intention to resolve the matter of the requirement of
If the limit is the meaning and today it is possible to use, with legal culpability as an element of the crime analytical concept. We think that the
meaning, the expression company X defrauded balance sheets, it is because we elaboration of the category of culpability presupposes certain requirements
live in a context in which such use is shared by established practices. that would hardly be compatible with legal entities and that, perhaps, the
consequence of the practice of the wrongful act of the legal entity is much
3.2. The liability of a legal entity for the result produced by it
more focused on its dangerousness than on the culpability itself.
The same understanding about the devaluation of action is extended,
The study developed herein aims precisely at affirming the plan of cul-
without any difficulty to the devaluation of result.
pability as a principle. After all, despite of the theoretical basis adopted,
From a common language point of view, it is necessary to recognize criminal liability must always have a subjective dimension64, which is precisely
that certain results are attributed to legal entities as “theirs.” That is to say, it one of the guarantees that appear as requirements of the principle of culpa-
is perfectly possible to acknowledge that a legal entity produced, caused or bility. That is: in order to speak of a criminal offense, of the possibility of
provoked a certain result devaluated by criminal law. assigning CLLP also from a subjective point of view, the personal reprobation
The following expressions are perfectly endowed with meaning – in must be affirmed as well65.
the common language: – The oil company produced a contamination of the Therefore, it is necessary to demonstrate that the legal entity can sub-
Guanabara Bay; – Delaying the work, company X produced a huge loss to the jectively contribute to the offense. “Likewise the self-determined conduct can
population; – Company Y has caused huge loss to the public treasury, by concealing only be charged to legal entities, legal entities can only be charged in any case,
taxes and distorting its balance sheet. self-determined conduct66”, that is, a conduct driven by intent or recklessness.
If these expressions make sense from a linguistic point of view, it is not The subjective dimension of liability (subjective pretension of illegality) is the
reasonable for law to simply dismiss them in the name of an absurd preten- attribution of intent or recklessness to a conduct.
sion of scientific truth63. A fair legal result consists of the acknowledgement From the point of view of negligency and also some cases of reckless-
that the legal entity is perfectly capable of having its own achievements for ness, one must realize that it is about a double lack of commitment: the
which it will be accountable, strictly observing the principle of culpabil- lack of commitment to produce the result and the lack of commitment to
ity. Therefore, it is most logical that such results, when legally devalued, comply with the duties of avoiding this same result67. This verification is clearly

64. The doctrine is unanimous in this regard. For all, refer to LUZÓN PEÑA, Diego-Manuel. Lecciones
“if the action is meaning, the legal entities have capacity for action; they can be subjects of crimes”. de Derecho penal. Parte General. Valencia: Tirant lo Blanch, 2012, pages 30-31.
CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Op., cit., pages 317-318. 65. About this matter, Frister comments: “[...] the principle of culpability demands submitting penalty
60. CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Op., cit., page 317. only to those forms of conducts depending on a decision of will”. FRISTER, Helmut. Strafrecht.
61. Wittgenstein, Ludwig. Op., cit., 43. Allgemeiner Teil. Ein Studienbuch. 6ª ed., München: Beck, 2013, page 33.
62. Wittgenstein, Ludwig. Op., cit., 197. 66. FRISTER, Helmut. Op., cit., page 35.
63. In the concept of Vives Antón, subscribed herein, such intent has to be replaced by an intent of justice. 67. On the subject matter, refer to VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., pages 258-259 and BU-
For further details, refer to VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op., cit., pages 488-489. SATO, Paulo César. Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de Janeiro: Lúmen Juris,
282 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 283

attributive-normative68. arising from a driving of will absolutely different from the individual will of
On the other hand, concerning willful misconduct, it is necessary to the participants of the board.
demonstrate that the legal entity have a commitment with the production of Imagine the example of a company that, when expanding its facilities,
the result69, a formula that, although it is also normative-attributive, attributes built a new shed on the banks of a river, disobeying the regulatory distance
an intention, that is, the expression of meaning of directing a will. and destroying the bordering vegetation without any license from the com-
Therefore, in order to allow the attribution of intentional CLLP as a petent authority72. It is noticed that the said building was carried out by
personal reprobation, it is necessary to demonstrate that the legal entity has a employees of the company, responding to direct orders of its decision-making
will of its own, different from that of its members, and that this will is capable body, which is a board. In fact, the people who worked on the construction
of driving the conduct. work were not always the same, given the absences of some employees, the
dismissal of others, etc., which is ordinary in large construction works. The
In the corporate field, decisions are taken – as a rule – by the boards,
figure of the fungible material executor is evidenced, which is part of an ap-
diluting the decision-making among votes, an intervention that is closer to
paratus of power that carries out a board decision.
preparation than to an execution of the punishable act. There are cases in-
volving board decisions in which one cannot effectively speak of individual Once the environmental crime is identified, consisting of unauthorized
criminal liability of the persons involved and at the same time it cannot be removal of riparian forests, it is verified that the decision-making body of the
denied that there is a will that expresses a control over the actions of the fun- company is composed of three persons or three groups of persons, who we
gible material executors, guiding their will in the direction of the unlawful act. may nominate A, B and C. The management rules of that company propose
That is, the orientation of the will hangs over the execution of the criminal that the deliberations will be taken by simple majority in open and simulta-
event, the product of a legal entity’s activity that is not a mere organizational neous voting. Consulting the minutes of the meeting in which it was decided
failure but a positive orientation, a deliberation that produces an order for to expand the plant, it is verified that the voting was divided into three stages,
the concrete realization of the crime. and each voter, without knowing the votes of the others, nor the result of the
decisions of the other stages, should vote yes or no to three different ques-
The situation of identifying the authorship in the scope of board cor-
tions: 1st) Should we expand the plant with a new building? 2nd) Can we build
porate instrumentalities is contemplated in the form of broad discussion by
on the only land we own, devastating riparian forest? 3rd) Should we request
Elena Nuñez Castaño70. In her work, it is acknowledged that “it is perfectly
permission from the environmental control agency to carry out deforestation
possible that the decision taken by the board is covered by the elements of
on our land? Having posed these questions, and collected the votes, it was
the criminal conduct described by the law.71” The decisive matter, however,
concluded that: to the first question, A and B voted for the expansion of the
is to identify whether there is individual criminal liability of all or of some
plant, which was not wanted by C, who voted against its realization; to the
of the members of the board for the decisions emanating from it that, if car-
second question, A and C voted in favor of removing the forest, building on
ried out, result in a criminal offense, or if there must be identified a liability
the banks of the river, a topic in which B was defeated, who would like to see
2011, pages 255-310. the construction carried out in new stages over the existing ones; finally, in
68. It is not only from the point of view of the philosophy of language that it is observed that recklessness
is a attributive value judgment. Roxin himself, from a functionalist point of view, had already pre- the third vote, B and C choose not to apply for a permit from the authority
viously stated that the essence of recklessness is totally normative-attributive, linked to the principle for deforestation, since there is the policy of not being submitted to the ad-
of increase of risk. In this regard, refer to ROXIN, Claus. Violação do dever e resultados nos crimes
negligentes, in: Problemas fundamentais do Direito penal. Translation by Ana Paula dos Santos Luís ministrative rules of the State, not even from a fiscal point of view, and they
Natscheradetz, 3a ed., Lisboa: Vega, 1998, pages 235-272.
69. On this subject matter, refer to VIVES ANTÓN, Op., cit, pages 623-662 and BUSATO, Paulo César. 72. The exemple, from brazilian law, is the Law 9.605, dated February 12, 1998 (Law on environmental
Op., cit, pages 227-254. crimes). Article 60. To build, remodel, expand, install or make operational, in any part of the national
70. NUÑEZ CASTAÑO, Elena. Responsabilidad penal en la empresa. Valencia : Tirant lo Blanch, territory, potentially polluter facilities, civil construction works or services, without permit or authori-
2000, pages 149 et seq. zation from the competent environmental agencies, or contradicting the applicable legal and regulatory
71. NUÑEZ CASTAÑO, Elena. Ibidem. norms: Penalty – imprisonment, from one to six months or fine, or both penalties, accumulated.
284 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 285

fear that a request may lead to another type of governmental inspection at the members.
the company, a topic in which A was defeated. Therefore, once the possibility of expressing the will of a legal entity
Now, in analyzing this fact, there is undoubtedly a criminal action sub- has been identified, it is noted that an intent attributable to the conduct of
stantially carried out by fungible agents who are obedient to an apparatus of the legal entity is not refutable.
legal power, which at that moment acts illegally driven by a will resulting from This result implies the overcoming of the matter of personal repro-
a board decision. Thus, the normal path is to seek criminal liability based on bation, since if it lays on the possibility of driving the conduct towards the
the identification of the person who determines when, where, how and if the production of a devaluing result, either by recklessness or by intent, it is in-
unlawful act will occur, whose will is expressed in action. evitably concluded that the principle of culpability for attribution of CLLP
Turning against A, B and C, we come across the first claiming that he has been fulfilled.
clearly manifested his will to request legal authorization for deforestation, The conduct becomes specific of the legal entity, which is disapproved as
and therefore the fact carried out does not express his will; with the second such, clearly showing that it is possible to ascribe the CLLP totally separately
claiming that he cannot either be held responsible as he did not want the from the conduct of individuals, be them employees or managers.
shed to be built on the banks of the river, but in another place and the third
one will say that he expressly voted against the very expansion of the plan, CONCLUSION
so the unlawful act carried out does not represent his will. It is not possible
It is concluded, therefore, that although the classic models of CLLP
to hold members accountable, because each of them, in the very minutes of
have been set based on a spurious import of theoretical content of the Civil
deliberation, manifests their disagreement with the act performed. On the
Law, with obvious impossibility of adaptation in view of the clash with the
other hand, it is unfair to impose liability on the executors of the order, since
principle of legality, likewise the modern proposals, anchored in the organi-
the hierarchical structure and their fungibility reveals that it they do not hold
zational failure, since they are supported in structures that seek to disguise
control over the execution of the crime.
the connection with the behaviors of individuals (the facts of connection), are
There is the result of a will determining a criminal action, which, how- not able to solve the problem of hetero-liability.
ever, cannot be individually attributed to anyone.
True criminal self-liability of legal entities basically depends on the
The problem requires a return to the reasons why the criminal liability legal entity being charged a conduct performed by itself, corresponding to
of the legal entity is denied, to the extent that it is accepted, according to an unlawful outcome. In addition, it is necessary that such devalue of action
Savigny, that the will of the company is nothing more than the sum of the and of result be produced within the framework of culpability of the legal
will of its members. What the described situation shows us is that the will of entity itself, that is, that they can be charged as its own act, as its individual
the legal entity does not derive from a mere summing up, understood simply and subjective contribution. After all, it is precisely the principle of culpability
as wills in a favorable or contrary direction to the criminal act, but rather – in that differs the civil offense from the criminal offense.
order not to escape the concepts derived from physics -, a resultant, that in a
The most promising path to solve this problem appears with the phi-
problem of forces acting on a body, can determine a result towards a direction
losophy of language applied to criminal law, which theoretical bases were
that is different from all the forces that interfere on the object.
designed by Tomás S. Vives Antón. According to meaningful action theory,
Criminal law can only attribute liability to who actually determined it is possible to identify action as an expression of meaning made by the legal
the accomplishment of this fact, whose “will” was expressed in the scope of entity itself as well as to understand the anti-juridical result as an expression
action. This can only be identified as a manifestation of the will of the legal of the actual activity of the legal entity, besides being possible to attribute
entity, since it is clearly different from the orientation of the will of each of intent to the legal entity.
286 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 287

In view of this outlook, if continental law systems have sought to align DOTTI, René Ariel. A incapacidade criminal da pessoa jurídica (uma perspectiva do direito bra-
sileiro), in Revista brasileira de ciências criminais vol. 3, nº 11, Jul.-Sept., 1995. São Paulo: Revista dos
their positive Law with the CLLP, it is essential, under penalty of violation of Tribunais, 1995.
the principle of culpability, to trace the paths pioneered by Vives Antón, of EHRHARDT, Anne. Unternehmendelinquenz und Unternehmensstrafe: Sanktionen gegen juris-
the intersection between criminal Law and Philosophy of Language, which tische Personen nach deutschem und US-amerikanischem Recht. Berlin: Dunker & Humblot, 1994.

starts from the basic conceptions of late Wittgenstein. ESER, Albin. Criminal Responsibility of Legal and Collective Entities. International Colloquium.
Berlim: Freiburg im Breisgau, 1999.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. São Paulo:
BIBLIOGRAPHICAL REFERENCES Saraiva, 1995.
ÁNGELES VILLEGAS GARCÍA, María. La responsabilidad criminal de las personas jurídicas. La
FERREIRA, Ivete Senise. A tutela penal ambiental, in Revista Consulex, Ano I, v. 7. São Paulo:
experiencia de los Estados Unidos. Pamplona: Thomson Reuters/Editorial Aranzadi, 2016.
Consulex, 1997.
BASTOS, Celso Ribeiro e MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. Vol. 7.
FREITAS, Wladimir Passos e FREITAS, Gilberto Passos; SNICK, Valdir. Direito penal ambiental.
São Paulo: Saraiva, 1990.
São Paulo: Ícone, 2001.
BAUMANN, Jurgen. Alternativ-Entwurf eines Strafgesetzbuches: Allgemeiner Teil. Tübingen: J. C.
FRISTER, Helmut. Strafrecht. Allgemeiner Teil. Ein Studienbuch. 6ª ed., München: Beck, 2013.
B. Mohr, 1969.
GALÁN MUÑOZ, Afonso. La responsabilidad penal de la persona jurídica tras la reforma de la LO
BELING, Ernst von. Esquema de derecho penal. La doctrina del delito tipo. Translation by Sabastián
5/2010: entre la hetera y la autorresponsabilidad, in Revista General de Derecho Penal. Barcelona,
Soler, Buenos Aires: El Foro, 2012.
n. 16, 2011.
BERNER, Albert Friedrich. Lerherbuch des Deutschen Strafrechts. Leipzig: Bernhard Tauchnitz,
GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2ª ed., Belo Horizonte: Del Rey,
1857.
2003.
BRANDÃO, Cláudio. Culpabilidade: sua análise na dogmática e no Direito penal brasileiro, in
GIERKE, Otto von. Teorias políticas de la edad media. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales,
Ciências Penais, vol. 1, Jul.-Dec., 2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
1995.
BRICKEY, Kathleen F. Corporate Criminal Accountability: A Brief History and an Observation.
GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. Corporate Criminal Liability: algunas cuestiones sobre la respons-
Washington: Washington University Law Review, 1982.
abilidad penal corporativa em los EE. UU, in La responsabilidad penal de las personas jurídicas,
BUSATO, Paulo César e DAVID, Décio Franco. A empresa é capaz de ação? Uma proposta de dis- órganos y representantes. Percy García Cavero Mendoza [org.]. Ediciones jurídicas, 2004.
cussão sobre a capacidade de rendimento da concepção significativa da ação no Direito penal
GOMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. Fundamentos modernos de la responsabilidad penal de las personas
empresarial, in: Comentários ao Direito penal Econômico Brasileiro. [José Danilo Tavares Lobato; João
jurídicas. Bases Teóricas, regulación internacional y nueva legislación española. Montevideo-Bue-
Paulo Orsini Martinelli e Humberto Souza Santos – orgs. ], Belo Horizonte: De Plácido, 2017.
nos Aires: BdeF, 2010.
______. Direito penal e ação significativa. 2ª ed., Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2010.
GRECO, Luís. En Alemania, el finalismo está muerto. Available at: https://www.ambitojuridico.
______. Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2011. com/noticias/invitado/educacion-y-cultura/en-alemania-el-finalismo-esta-muerto. Accessed on: June
03, 2018.
______. Vontade penal da pessoa jurídica, in Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de
janeiro: Lúmen Juris, 2011. GRISPIGNI, Felippo. Diritto Penale Italiano. Milano: Griuffrè, 1952.
______. Direito penal. Parte Geral. 4ª ed., São Paulo: GEN-Atlas, 2018. GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal do ente coletivo: pilastras político-criminais
derivadas das noções de sociedade de risco e alteridade, in: Aspectos contemporâneos da respons-
CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Aproximación a la dogmática de la responsabilidad penal abilidade penal de pessoas jurídicas. Vol. II. [Fauzi Hasan Choukr, Maria Fernanda Loureiro e John
de las personas jurídicas, in: Constitución, Derechos Fundamentales y Sistema Penal. Semblanzas y Verbvaele – org.], São Paulo: Fecomércio, 2014.
estudios con el motivo del setenta aniversario del Profesor Tomás Salvador Vives Antón. Tomo I. [J.C.
Carbonell Mateu, J.L. González Cussac e E. Orts Berenguer – orgs. ], Valencia: Tirant lo Blanch, 2009. ______; LOUREIRO, Maria Fernanda. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: rumo à autor-
responsabilidade penal, in: Aspectos contemporâneos da responsabilidade penal da pessoa jurídica.
CERNICCHIARO, Luiz Vicente e COSTA JR., Paulo José da. Direito penal na constituição. 3ª ed., Tomo II. Fauzi Hassan Chourk, Maria Fernanda Loureiro, et. al. [orgs.]. São Paulo: FECOMERCIO,
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. 2015.
DANNECKER, Gerhard. Zur Notwendigkeit der Einführung kriminalrechtlicher Sanktionen ge- HEINE, Günter. Modelos de autorresponsabilidad penal empresarial. Propuestas globales contem-
gen Verbände. Überlegungen zu den Anforderungen und zur Ausgestaltung eines Verbandsstra- poráneas. Cizur Menor (Navarra): Aranzadi, 2006.
frechts, in Goltdammer’s Archiv für Strafrecht, 2001.
______. La responsabilidad penal de las empresas: evolución internacional y consecuencias nacio-
DECKERT, Katrin. A responsabilidade penal da pessoa jurídica na França, in Aspectos contem- nales, in Responsabilidad penal de las personas jurídicas / coord. por José Hurtado Pozo, 1997.
porâneos da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Fauzi Hassan Choukr, Fernanda Lourenço, Ivens
Martins, Abran Szajman e Ivette Senize Ferreira [orgs.]. Volume I São Paulo: FECOMERCIOSP, 2015. ______. Modelle originärer (straf-) rechtlicher Verantwortlichkeit von Unternehmen, in: Reform
des Sanktionsrecht. Bd. III: Verbandstrafe. [Michael Hettinger – ed.], Baden-Baden: Nomos, 2002.
DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito penal. Parte Geral. Tomo I. Coimbra: Coimbra Editora, 2004.
JAKOBS, Günther. Strafrecht, Allgemeiner Teil. Die Grundlagen und die Zurechnungslehre. 2ª ed.,
288 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Ângela dos Prazeres – Paulo César Busato 289

Berlin: De Gruyter, 1993. in: La responsabilidad penal de las personas jurídicas. [Miguel Ontiveros Alonso – Coord. ], Valencia:
Tirant lo Blanch, 2014.
JIMÉNEZ DE ASÚA, Luis. Tratado de Derecho penal. Tomo III. Buenos Aires: Losada, 1965.
ORTIZ DE URBINA GIMENO, Íñigo. Responsabilidad penal de las personas jurídicas: the Amer-
KAUFMANN, Arthur. Die ontologische Struktur der Handlung, in: Schuld und Strafe, 2ª ed., Carl ican Way, in: Responsabilidad de la empresa e compliance: programas de prevención, detección
Heynemanns, Köln: 1983. e reacción penal. Santiago Mir Puig; Mirentxu Corcoy Bidasolo e Víctor Gómez Martín [dir.]. Juan
KAUFMANN, Arthur. Die ontologische Struktur, in: Festschrift f. H. Mayer, cit., p. 80 e SCHÖN- Carlos Hortal Ibarra e Vicente Valiente Ivañez [orgs.]. Madrid: Edisofer-BdeF, 2014.
KE, Adolf e SCHRÖDER, Horst. Strafgesetzbuch, Kommentar. 15ª.ed., München: C.H. Beck,1970. PÉREZ, Ana Isabel. Modelos tradicionales de imputação de responsabilidad penal a las personas
KLEIN, Ernst Ferdinand. Grundsätz des gemeinen Deutschen peinlichen Rechts. Halle: Hemmerde jurídicas, in: Responsabilidad penal de las personas jurídicas [José Luis de ka Cuesta Arzamendi – dir.],
und Schwetschke, 1799. Cizur Menor: Thomson-Aranzadi, 2013.
LAMPE, Ernst J.. Systemunrecht und Unrechtssysteme, in: Zeitschrift für die gesamte Strafrechtswis- PIMENTEL, Manoel Pedro. Crimes contra o sistema financeiro nacional. São Paulo: Revista dos
senschaft no 106, Berlin: Walter de Gruyter, 1994. Tribunais, 1987.
______. Zur ontologischen Struktur des strafbaren Unrechts, in: Festschrift für Hans Joachim PRINS, Adolphe. Science pénale et Droit Positif. Bruxelles-Paris: Bruylant-Christophe & Cie.-Librai-
Hirsch zum 70. Geburtstag am 11. April 1999. [Thomas Weigand e Georg Küpper – eds.], Berlin-New rie A. Marescq, 1899.
York: Walter de Gruyter, 1999. ROBLES PLANAS, Ricardo. ¿Delitos de personas jurídicas? A propósito de la Ley austriaca de
LISZT, Franz. Tratado de Derecho penal. Translation by Luis Jiménez de Asúa, 4a ed., Madrid: Reus, responsabilidad de las agrupaciones por hechos delictivos. InDret 2/2006.
1999. ROCCO, Arturo. El objeto del delito y de la tutela jurídica. Translation by Genónimo Seminara,
LUHMANN, Niklas. Sistemas sociales: lineamientos para una teoría general. Translation by Silvia Montevideo-Buenos Aires: BdeF, 2001.
Pappe y Brunhilde Erker. Barcelona: Anthropos, 1998. ROTHENBURG, Walter Claudius. Pessoa Jurídica Criminosa. Curitiba: Juruá, 1997.
LUZÓN PEÑA, Diego-Manuel. Lecciones de Derecho penal. Parte General. Valencia: Tirant lo ROXIN, Claus. Contribuição para a crítica da teoria finalista da ação, in: Problemas fundamentais
Blanch, 2012. do Direito penal. Translation by Ana Paula dos Santos Luís Natscheradetz, 3a ed., Lisboa: Vega, 1998.
MACHADO, Fábio Guedes de Paula. Reminiscências da responsabilidade penal da pessoa jurídica ______. Kriminalpolitik und Strfrechtssystem. Berlin: Walter de Gruyter, 1973.
e sua efetividade. Revista da Faculdade de Direito de Uberlândia v. 36: 155-181, 2008.
______. Strsfrecht. Allgemeiner Teil. I. 4ª ed., München: Beck, 2006.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 9.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001.
______. Strsfrecht. Allgemeiner Teil. I. Grundlagen. Der Aufau der Verbrechenslehre. 4ª ed.,
MARINUCCI, Giorgio. El delito como acción. La crítica de un dogma. Translation by Jose Eduardo München: Beck, 2006.
Sáinz-Cantero Caparrós, Madrid: Marcial Pons, 1998.
______. Violação do dever e resultados nos crimes negligentes, in: Problemas fundamentais do Di-
MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. Derecho penal económico y de la empresa. 4ª ed., Valencia: reito penal. Translation by Ana Paula dos Santos Luís Natscheradetz, 3ª ed., Lisboa: Vega, 1998.
Tirant lo Blanch, 2014.
SALVADOR Coderch. Pablo. Respondeat Superior I. Barcelona: InDret, 2002.
MERKEL, Adolf. Derecho penal. Parte General. Translation by Pedro Dorado Montero, Montevi-
deo-Buenos Aires: BdeF, 2004. SANCTIS, Fausto Martin de. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva, 1999.
MILARÉ, Edis. Direito ambiental. Doutrina, prática, jurisprudência, legislação. 2ª ed., São Paulo: SAVIGNY, Federico Carlo Di. Sistema del diritto romano attuale. Translation by Vittorio Scialoja, v.
Revista dos Tribunais, 2001. II. Torino: Unione tipografico, editrice, 1888.
MIR PUIG, Santiago. Derecho penal. Parte General. 5ª ed., Barcelona: Reppertor, 1998. SAYRE, Francis Bowes. Criminal Responsibility for the Acts of Another. Cambridge: HARv. L. Ver.,
1930.
MUÑOZ CONDE, Francisco e GARCÍA ARÁN, Mercedes. Direito penal. Parte General. 8ª ed.,
Valencia: Tirant lo Blanch, 2010. SCHMIDHÄUSER, Eberhard. Strafrecht: allgemeiner teil. Tübingen: J.C.B. Mohr, 1970.
NIETO MARTÍN, Adán. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: esquema de un mod- SCHROTH, Hans-Juergen. Unternehmen als Normadressalten und Sanktionssubjekte: eine Studie
elo de responsabilidad penal. Madrid: Tirant lo Blanch, 2013. zum Unternehmensstrafrecht. Gießen: Brühlscher, 1993.
______. La responsabilidad penal de las personas jurídicas: esquema de un modelo de responsab- SCHÜNEMANN, Bernd. La responsabilidad penal de las empresas, in: La responsabilidad penal de
ilidad penal. Resumo monográfico La responsabilidad penal de las personas jurídicas: un modelo las personas jurídicas. [Miguel Ontiveros Alonso – Coord. ], Valencia: Tirant lo Blanch, 2014.
legistivo. Iustel. Madrid. 2008.
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. São Paulo: Revista dos
NUÑEZ CASTAÑO, Elena. Responsabilidad penal en la empresa. Valencia: Tirant lo Blanch, 2000. Tribunais, 1998.
OLIVEIRA, Antonio Claudio Mariz de. A responsabilidade penal e os crimes tributários, in Rep- SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Fundamentos del Derecho penal de la Empresa. Montevideo-Bue-
ertório IOB de Jurisprudência, nº 8. São Paulo: IOB, 1995. nos Aires: Edisofer S. L., 2016.
______. Reflexões sobre os crimes econômicos, in Revista brasileira de ciências criminais vol. 3, nº 11, SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25a ed., São Paulo: Malheiros,
Jul.-Sept. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. 2005.
ONTIVEROS ALONSO, Miguel. La responsabilidad penal de las personas jurídicas en Mexico, SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, Direito Penal e Lei Anti-
290 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

corrupção. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 172.


SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Responsabilidade penal da pessoa jurídica na Lei 9.605/98, in Revista
dos Tribunais, vol. 784, Feb-2001. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.
SMANIO, Gianpaolo Poggio. Princípios de tutela penal dos interesses difusos ou direitos difusos,
in Revista Justitia. São Paulo, n. 64, (197), Jul. /Dec. /2007.
TEUBNER, Günther. O Direito como sistema autopoiético. Translation by José Engrácia Antunes. THE POSITIVE GENERAL PREVENTION IN THE
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999.
SANCTION APPLICABLE TO THE LEGAL ENTITY:
TIEDEMANN, Klaus. Die Bebußung von Unternehmen nach dem Zweiten Gesetz zur Bekämp-
fung der Wirtschaftskriminalität, in: Neue Juristische Wochenschrift. Frankfurt am Main: C. H. CRITICAL ANALYSIS AND SUGGESTIONS
Beck, 1988.
TIEDEMANN, Klaus. Responsabilidad penal de personas jurídicas y empresas en derecho com- Gustavo Britta Scandelari1
parado, in Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 11, 1995.
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal. 2ª ed., Valencia: Tirant lo Blanch, Guilherme Oliveira de Andrade2
(year 2011.
WELZEL, Hans. Derecho penal Alemán. Translation by Juan Bustos Ramírez e Sérgio Yáñez Pérez, Abstract: The research develops critical analysis pointing out that positive general pre-
Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 1997.
vention is incompatible with the punishment of corporations because it was designed
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Translation by José Carlos Bruni. São Paulo: exclusively for individuals. Afterwards, the article conveys suggestions of alternative func-
Abril Cultural, 1979. tions for criminal sanctions that seem compatible with the nature of legal entities.
______. Investigações Filosóficas. 2ª ed., Barcelona: Crítica, 2002. Keywords: Corporations. Sanction. Positive general prevention. Incompatibility.
Suggestions.

Introduction
When it comes to assessing the theoretical feasibility of criminal liabili-
ty of legal entities, the majority literature finds incompatibilities between the
theory of crime used and the nature of the addressee of the sanction3. With this
concentration of efforts in that more dogmatic scope of the subject, another
1. Doctor’s (in course) and Master’s Degree in Law from Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pro-
fessor of Criminal Law at Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA) and in Post-Graduate Cou-
rses in Law. Lawyer.
2. Doctor’s Degree in Law from Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). Master’s Degree
in Law from Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA). Professor of Criminal Law at Centro
Universitário Curitiba (UNICURITIBA). Lawyer.
3. “The autonomous criminal liability of legal entities in Brazil depends on the development of a new
theory of crime that explains, in a coherent way, the possibility that the legal person can carry out
illicit conduct and be punish for them” (COSTA, Antonio Diego da. “A responsabilidade penal da
pessoa jurídica e seu tratamento legislativo brasileiro”. In BUSATO, Paulo César; SÁ, Priscilla Placha;
SCANDELARI, Gustavo Britta [Org.]. Perspectivas das ciências criminais: coletânea em homena-
gem aos 55 anos de atuação profissional do Prof. Dr. René Ariel Dotti. Rio de Janeiro: GZ, page 675);
“In this respect, in line with this modern criminal policy aimed at the collective entity, the challenge is
presented in the reformulation of the theory of crime and the legal consequences of crime” (ANDRA-
DE, Andressa Paula de; CARVALHO, Érika Mendes de. “Criminal compliance ambiental: medidas
prévias ao delito e comportamento pós-delitivo positivo corporativo”. In Revista dos Tribunais | vol.
959/2015 | pages 209 – 239 | Sept / 2015 DTR\2015\12623); “The case law of the Higher Court of
Justice has repeatedly emphasized that ‘it is impossible to actually apply the traditional theory of crime
to the legal entity, which can not be considered as an obstacle to its liability, since law is a dynamic
science which legal concepts vary according to a normative criterion and not a naturalistic one’ (Spe-
cial Appeal 564.960/SC)” (CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de. “Direito
penal de risco e responsabilidade penal das pessoas jurídicas: a propósito da orientação jurisprudencial
do STJ”. In Doutrinas Essenciais de Direito Penal Econômico e da Empresa | vol. 1 | pages 939 – 962
| Jul / 2011 DTR\2011\2164).
292 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 293

point of interest remains little explored: those are the theories of penalty, especial- entities, based on the notion of social control of crime and the possibilities
ly regarding the purposes of sanctions applicable to legal entities. The problem represented by the principles of the Guidelines Manual.
here is the following: is it feasible to use the theoretical basis of positive general Although the questioning herein applies to all the purposes commonly
prevention for the punishment of legal entities? That issue is relevant because it attributed to criminal sanction, this paper opted for the cut of positive general
represents a way of attempting to better comply with the constitutional com- prevention upon applying the sanction8. First, because this is the purpose most
mand of individualization of penalties with respect to legal entities4. often attributed to criminal sanctions for legal entities9; second, because the
The hypothesis to be examined is that this purpose of the penalty was question about the purposes of retribution, general and special prevention
developed exclusively for individuals and such circumstance causes its theoret- (positive and negative) would exceedingly increase the scope of this article,
ical instrumental to lack meaning when merely transplanted to the sanction rendering its specific purpose impossible10. The following will not be exam-
of the moral entities. The investigation of such a proposal will follow the ined either: culpability as the grounds (or not) for the legitimacy of criminal
method of bibliographical revision of the original creations of such purpose of liability of the legal entity11; the legal nature of the sanction (penalty, security
the penalty, as well as the analysis of contrary ideas, such as those suggesting measure12, ancillary consequence or otherwise), although obviously they are
that the answer to the problem indicated above is affirmative5. We start from all important matters and related to the subject of this text. Certainly the
the assumption of the feasibility of a system of self-liability6, thereby trying to debate on the basis of reprobation (traditionally, culpability) is inseparable
avoid possible diversifications resulting from the simultaneous punishment from the study of the purposes of the penalty, however, we try to maintain
of legal entity and individual co-authors of the same fact7. here a focus on the criticism of the alleged compatibility between the purpose
The research will progress by the following steps: exposure of prevention of positive general prevention and nature of the legal entity.
as a paradigm in criminal Law; demonstration of the prevalence, in the lit- 1. The paradigm of prevention in criminal Law
erature, of positive general prevention as the purpose attributed to sanctions
Among several characteristics, the preventive13 is one of those attributed
applicable to legal entities; review of the theoretical basis of positive general
to criminal Law. That results into the admission of the purpose of prevent-
prevention. Subsequently, the criticism will be presented: the problems gen-
ing crimes of legal-criminal sanctions (according to the traditional theories
erating incompatibility of the theoretical base of positive general prevention
with the sanctions applicable to legal entities, relating to the exclusive human 8. Avoiding the discussion about the legitimacy of the prupose of general prevention of the act of registe-
ring penalties. For a critical view in this regard, mainly on positive general prevention, refer to: GRE-
reference and the restricted scope of prevention that should be general (indi- CO, Luís. Lo vivo y lo muerto en la teoría de la pena de Feuerbach. Una contribución al debate actual
sobre los fundamentos del Derecho penal. [Translated by Paola Dropulich e José R. Béguelin]. Marcial
rect motivation). In order not to limit the study herein to criticism, ultimately Pons: Madrid, 2015, pages 316-339. In summary, for GRECO: “the fact that a prohibition represents to
men reasons to behave according to our conceptions merely because that corresponds to the judgment
suggestions will be made of possible purposes for sanctions applicable to legal on the correctness represented in the prohibition is not a reason for establishing a prohibition” (ibid.,
page 337). In other words, it is not justifiable for the State to intend to teach (educate) people to un-
derstand the right or wrong character of a conduct by its declaration (in registering penalties) that they
4. In the Brazilian Federal Constitution: article 5 XLVI, b, c, d and e. will be deprived of their liberties in case they practice it (ibid, pages 362 and 365).
5. Refer to item 4.2. 9. An exemplifying list of writers whose analysis supports this claim has been included in item 2.
6. Concerning this system, refer to the article “Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade penal 10. But the analysis related to these other purposes of penalty in relation to legal entities seems as impor-
de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão”, by Paulo César Busato and Ângela dos tant as the one made here. In another work (SCANDELARI, Gustavo Britta. “As sanções criminais
Prazeres, in this collection. In Brazil, the case law is in the sense that, in environmental crimes, the aplicáveis às pessoas jurídicas: uma nova teoria das penas?” In BUSATO, Paulo César [Org. e Coord.];
legal entity can be held isolately responsible, that is, without the contribution of individuals: “article GRECO, Luís [Coord.]. Seminário Brasil-Alemanha: Responsabilidade Penal de Pessoas Jurídicas.
225, § 3, of the Federal Constitution does not condition the criminal liability of the legal entity for envi- Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, pages 89-113) the compatibility of the purposes of return, gene-
ronmental crimes to the simultaneous criminal prosecution of the individuals theoretically responsible ral prevention and special prevention with the punishment of legal entities was tested – although not in
within the company” (Supreme Federal Court, Extraordinary Appeal 548181, Rapporteur Justice Rosa as many details as here. Some elements of that text, for their applicability, are used in this research.
Weber, electronic Justice Gazette dated 10.30.14). In the same sense: Higher Court of Justice, Internal 11. Object of the following article of this collection: “A culpabilidade pragmática da pessoa jurídica”, by
Interlocutory Appeal in the Appeal of Writ of Mandamus 48851, Rapporteur Justice Nefi Cordeiro, Tracy Reinaldet, Lucas Dalmolin and Pedro Franco.
electronic Justice Gazette 02.26.18; Higher Court of Justice, Appeal in the Writ of Mandamus 39173, 12. In this sense, refer to: “Medidas de segurança como consequência jurídica ao delito cometido por
Rapporteur Justice Reynaldo Soares Da Fonseca, electronic Justice Gazette dated 08.13.2015. pessoas jurídicas”, by Samuel Ebel Braga Ramos and Rodrigo J. Cavagnari, in this collection.
7. It does not seem the case of revolving the old debate on the theories of fiction (mainly Savigny) and 13. MIR PUIG, Santiago. Funcion de la pena y teoria del delito en el Estado social y democratico de
the theories of reality (several writers, such as Gierk, Zitelman, Ferrara etc.). The legal entity is unders- Derecho. 2. ed. Barcelona: Bosch, 1982, pages 37-40; HASSEMER, Winfried. Direito penal: funda-
tood, here, as a normative abstration that, as such, is not sentient. mentos, estrutura, política. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2008, page 297.
294 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 295

of penalty), which are divided into the known species of general prevention of determination of the criminal norm20. In the sequence of this text, we intend
(positive and negative) and special prevention (positive and negative)14. In fact, to ascertain whether the object of that determination was (and still is) exclusive-
“the criminal Law of a social and democratic State governed by the Rule of ly human conduct or whether the conduct of a legal entity was also envisaged.
Law requires assigning to the penalty the function of crime prevention”15. The
penalty has the “political mission” of carrying out an “active regulation of social 2. The prevalence in the literature of positive general prevention
life that ensures its satisfactory functioning”, therefrom resulting in the “need as a purpose attributed to sanctions applicable to legal entities
to confer on penalty the function of prevention” of the facts that threaten the When they mention that criminal liability of the legal entity is pos-
legal assets protected by criminal law16. As Hassemer acknowledges, “prevention sible and necessary, the consulted works indicate, generally in a superficial
is the prevailing paradigm of our time and also of our criminal Policy.17” manner21, that the penalty would serve the purpose of the positive general
But, today, the criminal liability of the legal entity is debated and, in prevention of the sanction22. Fewer writers identify the possibility of special
its scope, it becomes possible to discuss the operation of the idea of ​​crime
20. According to KAUFMANN, “the equivalence between the norm and the duty, repeatedly carried out
prevention in the criminal Law when it relates to the punishment of com- by Binding, has no ground (...). This equivalence resulted from one side of the limitation of the circle
of addressees of the norm, on the other side of the linguistic lassitude prevailing among us, by virtue of
panies. After all, “to assert that the function of criminal Law [should be] which – we might say with some exaggeration – the idea of duty always arises when concrete concep-
seen as an effective protection of legal assets says nothing about how this tions are lacking, or when their applicability has yet to be clarified” (KAUFMANN, Armin. Teoria da
norma jurídica. [Translation by Verlag Otto Schwartz & Co., Göttingen]. Rio de Janeiro: Editora Rio
objective should be achieved.18” – Sociedade Cultural Ltda., 1976, page 174. SILVA SÁNCHEZ and ZAFFARONI recall the extensive
discussion that arose following the studies by Karl Binding (in Die Normen und ihre Übertretung, 1.1,
Normen und Strafgesetze, 3. ed., Leipzig, 1916; t. II, Schuld, Vorsatz, Irrtum, Leipzig, 1877) and Ar-
The notion that criminal law (and, consequently, the penalties it applies) min Kaufmann (mainly in Lebendiges und Totes in Bindings Normentheorie, Göttingen, 1954; a work
has a preventive mission was already, since WELZEL, linked to the protection which translation into Portuguese was cited in this footnote), about whether the norm implied deter-
mination or valuation. That discussion, at least in the criminal range, later on lost relevance in view of
of “ethical-social” values ​​of individuals and to the “solidification of a world of the finding that criminal rule is mixed, since it simultaneously accepts the dimensions of valuation and
determination (SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Normas y acciones em derecho penal. Buenos Aires:
moral concepts.19” This conception seems to assign great power to the character Hammurabi, 2003, 15-18; ZAFFARONI, Eugenio Raul; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro.
2. ed. Derecho penal, parte general. Buenos Aires: Ediar, 2002, page 100).
21. The following are excceptions: BAIGÚN, David. La responsabilidad penal de las personas jurídicas
14. CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. “Función de la pena y suspensión de su ejecución. ¿Ya no ‘se (ensayo de un nuevo modelo teórico). Buenos Aires: Depalma, 2000; GÓMES-JARA DÍEZ, Carlos.
atenderá fundamentalmente a la peligrosidad criminal del sujeto’?”. In InDret – Revista para El Aná- A responsabilidade penal da pessoa jurídica. Teoria do crime para pessoas jurídicas (Translation
lisis del Derecho, n. 4, oct./2015, pages 4-5. The ideas of special prevention and general prevention of by: Carolina de Freitas Paladino; Cristina Reindolff da Motta; Natalia de Campos Grey). São Paulo:
the penalty are not, however, without criticism: “(...) special prevention theory faces the question of Atlas, 2015; GALÁN MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y limites de la responsabilidade penal de las
what is the right of the State to educate and treat adult citizens (... )” and “we do not know what to do personas jurídicas tras la reforma de la LO 1/2015. Valencia: Tirant lo Blanch, 2017. Those works
with perpetrators who do not need resocialization”; “the principle of general prevention also presents separately consider the subject matter of the purposes of criminal sanctions applicable to legal entities,
considerable deficiencies (...)” because “it does not include any measure for the delimitation of the expressly mentioning the retributive and preventive purposes.
duration of the penalti (...)” and does not offer rationale so that the suffering of the convicted party does 22. For instance: BACIGALUPO, Silvina. “Responsabilidad penal de las personas jurídicas”. In BACIGA-
not have any beneficial effect because it has only effects on society (ROXIN, Claus. Derecho penal, LUPO, Enrique (dir.). Curso de Derecho Penal Económico. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 2005, page 104;
parte general – tomo I: fundamentos. La estrutura de la Teoría del Delito [Translation by Diego-Ma- DE LA CUESTA, José Luis. “Responsabilidad penal de las personas jurídicas em el derecho español”.
nuel Luzón Peña; Miguel Díaz y García Conlledo; Javier de Vicente Remesal]. Madrid: Civitas, 1997, In Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 101, Mar./Apr. 2013, DTR\2013\2664, page18; BAJO
pages 88-89; page 93). Moreover, especially criticizing the purpose of positive general prevention, FERNÁNDEZ, Miguel; FEIJOO SANCHEZ, Bernardo José; GOMES-JÁRA DÍEZ, Carlos. Tratado de
BUSATO identifies a “reductionism since the focus of the penalty is reduced to one of the effects that responsabilidad penal de las personas jurídicas. 2. ed. Pamplona: Civitas/Thomson Reuters, 2016, page
it produces, which is undoubtedly the stimulus to behavior obedient to the rules”, which generates 108; AGUDO FERNÁNDEZ, Enrique; JAÉN VALLEJO, Manuel; PERRINO PÉREZ, Ángel Luis. De-
a problem of legitimacy, since it admits as the basis of the penalty merely what it produces, leading recho penal de las personas jurídicas. Madrid: Dykinson, 2016, page 31; GALÁN MUÑOZ, Alfonso.
to the “surrendering of the missions of criminal law” to the effects of the penalty. (BUSATO, Paulo Fundamentos y limites..., page 267; CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de.
César. Direito Penal …, page 759). Critically: “we should bid farewell to positive general prevention “Direito penal de risco e responsabilidade penal das pessoas jurídicas: a propósito da orientação juris-
also as a theory of imposition of penalty. The State can neither threaten nor impose coercion to show prudencial do STJ”. In Doutrinas Essenciais de Direito Penal Econômico e da Empresa | vol. 1 | pages
citizens what is right or wrong either legally or morally. (...) those effects that are not verified cannot 939 – 962 | Jul / 2011 DTR\2011\2164; BRODT, Luís Augusto Sanzo. “Responsabilidade penal da pessoa
be invoked to justify the penalty,” although they may serve to describe it (GRECO, Luís. Lo vivo y lo jurídica: um estudo comparado”. In Revista dos Tribunais | vol. 961/2015 | pages 245 – 273 | Nov / 2015
muerto..., pages 365-366). DTR\2015\13359; SHECAIRA, Sérgio Salomão. “Responsabilidade penal das pessoas jurídicas: uma
15. MIR PUIG, Santiago. Funcion de la pena…, page 37. perspectiva do direito brasileiro”. In Revista dos Tribunais | vol. 921/2012 | pages 281 – 294 | Jul / 2012
16. Idem, page 40. DTR\2012\44819; SIQUEIRA, Tânia Bahia Carvalho. “A reponsabilidade penal no contexto do licen-
17. HASSEMER, Winfried. Direito penal..., pages 297-298. ciamento ambiental”. In RUIZ FILHO, Antonio; SICA, Leonardo. Responsabilidade penal na atividade
econômico-empresarial – doutrina e jurisprudência comentada. São Paulo: Quartier Latin, 2010, page
18. AMBOS, Kai. Direito Penal – fins da pena, concurso de pessoas, antijuridicidade e outros aspectos 414; MIR PUIG, Santiago. “Las nuevas ‘penas’ para personas jurídicas: una classe de ‘penas’ sin culpa-
(Translation by Pablo Rodrigo Alflen da Silva). Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006, page bilidad”. In MIR PUIG, Santiago; CORCOY BIDASOLO, Mirentxu; GÓMEZ MARTÍN, Víctor (Dir.);
30. HORTAL IBARRA, Juan Carlos; VALIENTE IVAÑEZ, Vicente (Coord). Responsabilidad de la empresa
19. WELZEL, Hans. Derecho penal, parte general (Translated by Carlos Fontán Balestra). Buenos Aires: y compliance – programas de prevención, detección y reacción penal. Buenos Aires: B de F, 2014, page
Roque Depalma Editor, 1956, pages 8-9. 10.
296 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 297

prevention23 and we did not locate detailed defenses of the feasibility of a difficult to see in-depth what the purposes of such criminal sanctions should
purpose of return24. be when applied to corporations. It becomes convenient, then, the simple
The literature usually starts with the statement that it is necessary to lending of the preventive penalty theories, already known, after all, the idea is
criminally punish legal entities for the best reprehension of current corporate the same: prevention. But the functioning of the penalty – more specifically
criminality25 and draws from that, without further consideration, the conclusion its purposes – may not be the same for collective bodies. In that context, it
that the penalty would serve the purpose of general prevention. It is observed that is possible that the theoretical basis of positive general penalty prevention as it
the objective is to explain the grounds for legitimacy of criminal liability of cor- is known today cannot simply be lent to legal entities as an automatic result
porations and not, properly, the theoretical basis of the purpose of the sanction. of the just intent to prevent crimes committed by corporations. This consid-
For this reason, the more detailed exploration of how such general prevention (as eration allows us to move forward.
well as any other purposes of the penalty) is not addressed, as a rule.
3. The theoretical basis of positive general prevention
The most appropriate legal nature of sanctions (criminal penalties26,
security measures27 or administrative sanctions28) is even outlined, but it is In order to critically analyze the aspiration that the criminal sanction
fulfills the purpose of reinforcing the validity of the criminal norm29 violated
when the punished agent is exclusively a legal entity, it is indispensable to
23. Those penalties, then, would have a “preventive-special character (innocuator or, exceptionally, re-
socializer)” (SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Fundamentos del derecho penal de la empresa [Col. review the basic features of the formulations that are currently the ones best
Raquel Montaner Fernández; Lorena Varela]. Buenos Aires: B de F, 2014, pages 277-278).
24. GALÁN MUÑOZ understands that all the most common functions of the penalty, including retributi- known of the positive general prevention of penalty30. There are many formu-
ve, are normally fulfilled when the legal entity is sanctioned. The effects of the penalty would be attai- lations and their corresponding variations31, and therefore, we do not claim
ned indirectly, that is, afflicting third parties (individuals) (Fundamentos y limites ..., pages 257-282).
This opinion is analyzed critically in item 4.2.
25. “As it can be seen from the following exemplary rationale: “When an economic offense occurs the 29. This expression designates almost a common place in the literature in this respect, but there is not, strictly
immediate agent is punished, even if he does not obtain any direct benefit from the commission of the speaking, a “canonical conceptual definition of positive general prevention” (GRECO, Luís. Lo vivo y
crime. Most of the times, the true beneficiary – the company – obtains the advantages of the crime wi- lo muerto..., page 316). In the same sense: “general positive prevention can be defined in very different
thout suffering any legal or property consequence” (SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade ways” (VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Derecho Penal – acción significativa y
penal da pessoa jurídica (de acordo com a Lei 9.605/98). São Paulo: RT, 1998, page 148). derechos constitucionales. 2. ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, p. 452. Original Italics).
26. “The punishment of the company with security measures lacks a logical rationale. The administra- 30. But it does not seem necessary to elaborate a historical topic about theory. It is enough to mention
tive and civil responses are insufficient in view of modern criminality (...)”. Thus, “for an unlawful that there is no consensus on the origin of the idea of ​​general positive prevention of penalty. ROXIN,
act committed by the company, the best state response is undoubtedly the imposition of a penalty. alluding to the modern idea of general
​​ prevention, refers that it “was developed in its most effective
The imposition of a public penalty, of positive general prevention character combined with a special form” by Paul Johann A. v. Feuerbach and his theory of psychological coercion. In the consulted work,
prevention not remarked by retributivism” (SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal..., the writer did not distinguish the origins of the positive trend from the origins of the negative trend
page 107). of general prevention, seeming to credit Feuerbach with the authorship of the most important original
27. “ The political-criminal option derived from the recognition of a dangerous behavior is liable to social contribution to both (ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – tomo I..., pages 89-90). For
control both by penalty – in the case of an agent capable of understanding and internalizing the norm, re- DURÁN MIGLIARDI (La prevención general positiva..., page 279), the first formulation of positive
acting to it – and by a security measure – when the relation of the author of the wrongful act with the norm general prevention was attributed to WELZEL, when he emphasized the ethical-social function of
simply is not materialized on the psychic plane of understanding and reaction” (BUSATO, Paulo César; criminal Law (refer to WELZEL, Hans. Derecho penal aleman, parte general. (Translation of the 11th
GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica – fundamentos criminológicos, German edition by Juan Bustos Ramírez e Sergio Yáñez Pérez). Santiago: Editorial Jurídica de Chile,
superação de obstáculos dogmáticos e requisitos legais do interesse e benefício do ente coletivo para a 1970, pages 13-17) WELZEL argued that the mission of criminal Law is the “protection of elementary
responsabilização criminal. Curitiba: Juruá, 2012, page 51). Sérgio Salomão SCHECAIRA rejects this ​​ community life” and that protection is only achieved through the reprobation (devaluation),
values in
possibility basically because it is essentially a curative method aimed for individuals and it would not be through penalty, of actions aimed at violating them (WELZEL, Hans. Derecho penal aleman..., page
possible to assess recovery of the corporation. In addition, the security measure, in its character of perso- 13. Italics added). In carrying out this mission, “Criminal Law (...) fulfills an important function of
nal healthcare would only have a purpose of special prevention, and not general – which would not make ethical training. (...) The firmness of the ethical-social judgment of the individual depends essentially
sense in terms of punishment (SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal..., pages 104-106). on the firmness with which the State manifests and imposes its value judgments” (Idem, page 16-17,
28. “In order to try to preserve the compatibility of the penalties applicable to legal entities with the prin- Italics added). WELZEL acknowledged that, in that theoretical formulation, the idea of protection
​​ of
ciple of culpability, it must be concluded that such penalties are very different from the penalties of legal assets is secondary because it “has only a preventive purpose”, which is symbolic since when
individuals, without the symbolic meaning of reproach that characterizes them. The legal consequen- the State “actually enters into action, it is too late.” Thus, “more essential than the protection of legal
ces of crime for business are only admissible if they are close to administrative sanctions and security assets” is the “deeper mission” of “shaping the ethical-social judgment of citizens and strengthening
measures” (MIR PUIG, “Santiago,Las nuevas ‘penas’;”… page 8). SILVA SÁNCHEZ states that there their awareness of permanent legal fidelity” (idem, page 13, italics added). Effectively, but without
are basically two possibilities for establishing penalties in relation to legal entities: 1) penalties are impairment of other sources, his thinkings include the theoretical bases of the idea of normative
​​ stabi-
authentic criminal penalties; and a) the penalty of a legal person is equal to that of the individual; b) lization through guaranteeing respect for the legal order.
the penalty of the individuals presupposes their culpability; c) the penalty of the legal entity presuppo- 31. In this sense, refer to the researches by FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y prevención
ses its culpability; 2) the penalties are not authentic criminal penalties and a) the penalty of the legal general – un estudio sobre la teoría de la pena y las funciones del Derecho Penal. Buenos Aires: B de
entity is not equal to the penalty of the individual; b) the penalty of the individuals presupposes their F, 2007, page 312-358; DEMETRIO CRESPO, Eduardo. Prevención general e individualización judi-
culpability; c) there is no reason for the penalty of the legal entity to pressuppose its culpability (SILVA cial de la pena. 2. ed. Buenos Aires: B de F, 2016, pages 130-148. There are references to sociological,
SÁNCHEZ, Jesús-María. Fundamentos..., page 282). psychological and psycho-analytical models, for example.
298 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 299

to exhaust them. We have opted here for the ideas disclosed by JAKOBS32, of “normative confidence”, “legal fidelity” and “acceptance of consequences”41.
HASSEMER33 and ROXIN34, which will be reviewed below only in terms of Anyway, it is always “imperative that the penalty has a minimum of cogni-
their essential definitions35, as that is what will allow us to proceed with the ob- tive support for the stabilization of its effectiveness.42” The literature usually
jective of this text; consequently disregarding the various criticisms that have brings together the thoughts of WELZEL and JAKOBS in this regard, since
already been individually publicized to each of them36. The reader is advised both maintain that criminal law must ensure the fidelity of the community
to assign special attention to the following excerpts in italics: the vocabulary to the regulations, with the specific objective of guaranteeing the guiding
used by the writers will be resumed as part of the following critical analysis, purpose of the criminal norm, rather than social values.43 SCHÜNEMANN
in items 4, 4.1 and 4.2. classifies JAKOBS’ theory as “a new absolute theory of penalty in which the
JAKOBS37 begins his explanation of the purpose of positive general old concept of retribution has simply been replaced by the speech of the
penalty prevention by stating that it is a “normative fault” the “violation” communicative reaffirmation of the norm” 44.
of the norm by the “frustrator” of the social expectation that laws shall HASSEMER’s ideas about positive general prevention are similar
be respected. “Example: the offender is arrested to demonstrate that his to those of JAKOBS. As a general prevention, it also serves the purpose
behavior is incorrect”. All healthy development of society depends on of “normative stabilization”. The difference is that such purpose will
“elementary institutions functioning regularly” and such functioning is only be valid if it has “a sociological consideration” that is the existence
directly dependent on “the organizational sphere of each person” being in of “Criminal law as a formalized sector of social control. 45” The formali-
order, therefore avoiding that “external reactions can cause harm.” The zation of criminal Law is its specificity and what justifies it, taking place
“stability of this expectation is essential,”38 since without it “no one can in the “protection of elementary human interests against aggression of
live in a totally planned manner” and “that is the moment of the need the offender of the norm,” always according to a “formalized protective
for a sanction.39” technique and valuation principles.46” This is the positive general pre-
For the writer, positive general prevention exclusively addresses the vention in the limiting trend47.
“need for security of normative effectiveness”40, leading to the “exercising” HASSEMER explains that “criminal law protects legal assets and,
without this recognition, we could no longer live in society today (...)”.
“From this point of view, the penalty is oriented both in the past and
32. JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal – teoria do injusto penal e culpabilidade (Translation by
Gercélia Batista de Oliveira Mendes e Geraldo de Carvalho). Belo Horizonte: Del Rey, 2009. in the future. It is the corrective response to the breaking of a norm,
33. Specially in: HASSEMER, Winfried. Direito penal: fundamentos, estrutura, política. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris, 2008; HASSEMER, Winfried; MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción a la 41. Idem, page 32. Italics added.
criminología y al derecho penal. Valencia: Tirant lo Blanch, 1989. 42. Idem, page 34. Italics added. JAKOBS distinguishes the purposes from the effects of the penalty:
34. Basically in: ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – tomo I..., pages 91-92 and 97. “penalty may be so impressive on the punished individual or third parties that they refrain from prac-
35. There is a well known classification which “distinguishes those who grant the general positive preven- ticing crimes in the future. Those effects caused not by the recognition of the norm, but by the fear are
tion the role of being the grounds of the sanction – as does Jakobs – from those who see in the penalty complementary effects of the penalty that may be desired, but it is not the penalty’s function to provoke
a limiting role (Hassemer, Zipf, Roxin). This distinction is undoubtedly of the utmost importance from them” (Idem, page 34).
a political point of view – that is not relevant here – and to determine what kind of functionalism is 43. DEMETRIO CRESPO, Eduardo. Prevención general e individualización judicial de la pena. 2. ed.
being professed (VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Derecho Penal – acción signi- Buenos Aires: B de F, 2016, page 142. The literature mentions that Welzel was Jakobs’ professor: “(…)
ficativa y derechos constitucionales. 2. ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, p. 452. Original Italics). yet within this theoretical framework that acknowledges an instrumental function of the criminal Law,
36. Such as, for example, the one that the positive general prevention results into a criticized “ethical state it should be highlighted the understanding of HANS WELZEL, (…) also to (…) we can compare his
control”; it uses the “instrumentalization” of the convicted party, which violates dignity of the human positioning with the thesis of his student, GÜNTHER JAKOBS” (MEROLLI, Guilherme. Fundamen-
being; the purpose of positive general prevention is very close to the classical absolute theory; it lacks tos Críticos de Direito Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, page 27).
“empirical legitimacy” etc. (DEMETRIO CRESPO, Eduardo. Prevención general…, pages 148-55). 44. SCHÜNEMANN, Bernd. La culpabilidad: estado de la cuestión. In ROXIN, Claus; JAKOBS, Gün-
37. The expressions between quotes in this paragraph were taken from: JAKOBS, Günther. Tratado de di- ther; SCHÜNEMANN, Bernd; FRISCH, Wolfgang; KÖHLER, Michael. Sobre el estado de la teoría
reito penal ..., pages 22-24. We decided to keep them in the original (although they are translated from del delito (Seminario en la Universitat Pompeu Fabra). Madrid: Civitas, 2000, page 116.
German), since the vocabulary itself will be important for the subsequent development of criticism 45. HASSEMER, Winfried; MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción..., pages 161-162. Italics added.
(items 4, 4.1 and 4.2). The most important expressions for this purpose are now italicized. 46. Those principles are, for example: proportionality, culpability, lawfulness, right to defense, in dubio
38. JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal..., pages 22-23. Italics added. pro reo, double degree of jurisdiction, due process of law, nemo tenetur se detegere etc. (HASSEMER,
39. Idem, page 24 Winfried; MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción..., page 120).
40. Idem, page 21. 47. Idem, page 162.
300 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 301

which cannot be renounced for our collectivized life. 48” But while it is 4. Criticism: problems that generate the incompatibility of the
incumbent upon the penalty to convey to the collectivity the need to theoretical basis of positive general prevention with the sanctions
respect the criminal norm, “criminal justice is a justice of individual applicable to legal entities
cases. The guilt is calculated individually and is indissoluble of the person Irrespective of the existence, in theory, of other reasons for this incom-
of the author of the offense, being tied to its specificities; the charging of patibility, items 4.1 and 4.2 present two problems that make it impossible
the penalty and its execution must correspond fairly to the perpetrator the mere transplant of basic theoretical knowledge from the idea of positive
​​
of the offense” 49. general prevention to sanctions applicable to legal entities. The first and main
ROXIN, whose ideas are similar in essence to those of Hassemer, argues problem is the ineluctable exclusive human reference. It gives rise to the
that by complying with positive general prevention, the penalty can have second problem: prevention that, instead of general, becomes restricted.
three complementary effects50: a) a “learning effect, with socio-pedagogic
4.1. The problem of the human referential: a fault of origin
motivation”; b) an “effect of confidence in Law”, which “is born in the people
by the activity of criminal justice”; c) a “pacification” effect, produced in the The first problem is related to the essence of the purpose of positive
“general legal consciousness”, which is “pacified” by the punishment of conduct general prevention. Regardless of the peculiarities of each trend, its theoretical
that has violated the law.51 For the writer, such purposes depend on the mis- basis conveys the claim that the penalty can “educate a social group” so that it
sion of criminal Law – “ideological starting point” – which is the subsidiary follows the fundamental values protected by ​​the basic norms of coexistence.
protection of fundamental criminal law assets52. In this sense, it is a “mechanism regulating human conduct”, an “instrument
of conformation of the collective legal conscience”, which restores “the confidence
To the criticism that this would be a merely symbolic purpose, ROXIN and the fidelity of the citizen in the legal norm”57. It is undeniable that the ad-
weights that “all criminal provisions seek not only to prevent and punish dressee of the criminal norm, in that reasoning, can only be the “citizen”, in
certain crimes, but also to act on the legal conscience of the population,” so whose “individual conscience” the criminal norm operates58.
that when the State protects “life, physical integrity, property, etc., it tries
to strengthen respect for these values ​​in the population. There is nothing SCHÜNEMANN, commenting on the possibility of applying criminal
problematic about this. This positive general prevention is, much more, one Law to legal entities, states that it is possible to try to verify, in this context,
of the recognized purposes of criminal law.53” Anyway, ROXIN considers that whether the theory of JAKOBS respects its assumptions, with respect to
this theory “is certainly based on psychological-social assumptions54” and it must criminal disapproval. “As you know,” argues the writer, “JAKOBS considers
“maintain its motivating function55” of conduct according to the law. For the that all the prerequisites of the penalty would, in principle, be equally suitable
writer, the penalty must fulfill only preventive purposes (general and special), for the companies and therefore could be applied to them without any prior
always limited by the extent of the culpability of the agent56. adaptation.59” However, says SCHÜNEMANN, that is false, because, since
its earliest formulation, “the foundation of penalty implies a moral ground,
that is to say, subjective-self-reflexive,60” which is the reason why one cannot
48. HASSEMER, Winfried. Direito penal libertário (translation by Regina Greve). Belo Horizonte: Del simply transfer the basic theory, formatted for individuals, to legal entities.
Rey, 2007, page 89.
49. HASSEMER, Winfried. Direito penal..., page 90. Italics added. This theoretical basis was designed exclusively for the event that its
50. ROXIN states that general positive prevention has “three different purposes and effects, although in-
terconnected (...)” (ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – tomo I..., page 91).
51. Idem, pages 91-92. Italics added. 57. DURÁN MIGLIARDI, Mario. “La prevención general positiva como limite constitucional de la pena.
Concepto, ámbitos de aplicación y discución sobre su función”. In Revista de Derecho (Valdivia) – Fa-
52. Idem, page 92. cultad de Ciencias Jurídicas y Sociales de la Universidad Austral de Chile , vol. XXIX, n. 1, Jun./2016,
53. ROXIN, Claus. Estudos de Direito Penal (Org. e Translated by Luís Greco). Rio de Janeiro: Renovar, page 279. Italics added.
2006, page 47. Italics added. 58. DURÁN MIGLIARDI, Mario. “La prevención general positiva”..., page 282. Italics added.
54. ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – Tomo I..., page 92. Italics added. 59. SCHÜNEMANN, Bernd. “La culpabilidad...”, page 118. The writer referred to the founds of reproba-
55. Idem, page 97. Italics added. tion, but his conclusion seems equally valid for the purposes of the penalty.
56. Idem, page 103. 60. Idem, page 119. Italics added.
302 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 303

recipient being an individual. That is clear in all of the expressions highlighted which the community could take as example and consequently experience
in italics in item 3, above, and also in the functioning of reasoning itself: when the feeling of pedagogical hope for law enforcement66.
people see their peers being punished for infringing the norm, they intuitively The assumption that the penalty serves some purpose lies in the pre-
project on themselves such experience – common human behavior in view supposed “human capacity to act freely and rationally,67” which is governed,
of an equal being – and internalize the message that the law is valid, must in its relation with penalty, by “fear, principles and expectations.68” Man, in
be respected and that the State acts to demand such respect. Unlike general the context of the functions of the penalty, has always been the only mate-
negative prevention, which dialogues with the citizen in the language of fear, rial reference: a natural, reflexive and self-centered being whose paradigm of
positive general prevention appeals to the citizen’s reason61. action is the body itself in its relation with the outside world and with other
In fact, it could not be different, since the criminal Law that is still in individuals belonging to the same group.
force today is still a debtor, in large part, to the paradigm break that occurred It should be recalled, as appropriate, the three functions that ROXIN69
in France, in 1789. As LÜDERSEN recalls, “Illustration has put in evidence, attributed to the penalty, in the context of positive general prevention: a) a
or rather cultivated two mutually independent roots of human thought and “learning effect, with socio-pedagogic motivation”; b) an “effect of confidence
action: the freedom of the human being to determine for himself his interests in Law”, which “is born in the people by the activity of criminal justice”; c) a
and his merit of protection, as well as to calculate the means for such protec- “pacification” effect, produced in the “general legal consciousness”, which is
tion.62” The legitimacy of the penalty and of its preventive functions is made “pacified” by the penalty of conduct that has violated the law. It can easily be
in reference to individuals also because the idea of culpability
​​ derives from the seen that none of them can actually be fulfilled if the addressee of the sanction
fulfillment of the principle of the dignity of the human person63. WEELZEL is, in isolation, a legal entity.
is right when he argues that legal entities will never, on their own, make a
The level of theoretical commitment of the purposes of the penalty with
“conscience reexamination” as a consequence of criminal punishment, since
the figure of an individual is great, to the point of becoming an insurmountable
they simply do not share the same nature with individuals64.
barrier to its use for a legal entity70. It is the mentality of man (individual or
When one imagines hypotheses in which the legal entity is punished collective) that the preventive purpose of the penalty has always wished (and still
together with one (or more than one) individual, perhaps there are less diffi- wishes) to impact, primarily in its aspect of determination norm. The obvious
culties, since the purposes of the penalty applied to the human agent would
be the same as always and, for possible advantage of convenience, they would
penal”. In PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em
remain legitimate – at least formally – by reflex, for they would produce in the defesa do princípio da imputação penal subjetiva. 2. ed. São Paulo: RT, 2010, page 326.
66. Although not an object of this article, an interesting study of the development of this argument could
collectivity (of human persons) the strengthening of confidence in the laws be carried out based on research by Jesús-María SILVA SÁNCHEZ and Lorena VARELA. They affirm
of the State. But for the legal entity punished in isolation (remembering that, that the process of human decision-making is conditioned by cognitive biases grounded on situations,
which can distort the proper perception, by the author of the fact, of the ethical meaning of what he per-
here, we are based on the assumption of self-liability of the legal entity) there forms. This means that the charging of liability might not be based exclusively on an action grounded
on rationality, but on the person’s ability to identify and correct their performance standards. Compa-
is the difficulty of the complete loss of a human reference to be punished65 nies can thus be accountable when they contribute to the creation and preservation of environments in
which corporate culture favors acts contrary to the law (SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA,
Lorena. “Responsabilidades Individuales en Estructuras de Empresa. La Influencia de Sesgos Cogni-
61. GRECO, Luís. Lo vivo y lo muerto..., page 317. tivos y Dinámicas de Grupo”. In Fundamentos del Derecho Penal de la Empresa. Madrid: Edisofer,
62. LÜDERSSEN, Klaus. “La función preventivo-general del sistema del delito”. In NAUCKE, Wolf- 2016, pages 248-252; 279-281).
gang; HASSEMER, Winfried; LÜDERSSEN, Klaus. Principales problemas de la prevención general 67. CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. “Función de la pena...”, page 8.
(Translated by Gustavo Eduardo Aboso e Tea Löw). Montevideo: B de F, 2006, page 95. 68. CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. “Función de la pena...”, page 7.
63. CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. “Función de la pena y suspensión de su ejecución. ¿Ya no ‘se 69. Quotes already made in item 3. Refer to: ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general – Tomo I...,
atenderá fundamentalmente a la peligrosidad criminal del sujeto’?”. In InDret – Revista para El Aná- pages 91-92. Italics added.
lisis del Derecho, n. 4, oct./2015, page 4. 70. MIR PUIG explains that if the intention of the penalty is to “motivate the citizen to stop practicing
64. WEELZEL, Alex. “Contra la responsabilidad penal de las personas jurídicas”. In ONTIVEROS crimes,” then it can only be successful in relation to “human behavior”. “It is the function attributed
ALONSO, Miguel (Coord.). La responsabilidad penal de las personas jurídicas: fortalezas, debilida- to criminal rules in the modern State that determines the need for human behavior (...)”, since it alone
des y perspectivas de cara al futuro. Valencia: Tirant lo Blanch, 2014, page 619. can be the target of the “motivation” on which the “preventive function” of the penalty depends (MIR
65. MOREIRA, Rômulo de Andrade. “Responsabilidade penal da pessoa jurídica e o sistema processual PUIG, Santiago. Funcion de la pena..., pages 49-50).
304 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 305

problem is that legal entities do not have mentality in the bio psychological abundant resources) and not an individual.
meaning. They, by themselves, do not “feel” fear, do not “trust”, do not “learn”, Although it is possible to intend to elaborate theory in the sense of a
are devoid of “ethical-legal conscience” or “moral” nor do they “hope” for nor- hypothetical lending of the human mentality to the companies – having as
mative stabilization than punishment, in theory, conveys. a matter of inters subjective connection the punished ontological conduct
It is possible to argue, on the opposite sense, that what is intended – one cannot forget that the individuals who integrate the companies are
with positive general prevention would be only to cause the general effect in interchangeable, as much in the positions they occupy in the same company
the population that the fact practiced by the company is wrong and, since as in other companies. Thus, persons who eventually leave the position they
only individuals lead companies and comprise the society, there would be no held when practicing the fact by the company or change jobs and are hired
problem. But such reasoning is not convincing. First, because it is circular in by another legal entity before the previous company is convicted will never
reaffirming the same problem of origin: the theoretical bases of such purpose assimilate the effects of applying a sanction when it is actually applied in the
of the penalty were actually designed exclusively for individuals. To affect future to the company that has committed the wrongful act.
them is what matters, even if at the expense of punishment of legal entities. Even if an individual is punished together with the legal entity, it is
Second, in order to validate such an idea, criminal law could never claim to possible that, although theoretically impacted by the purposes of the sanc-
produce any theory aimed especially to moral entities. A theory that based the tion, that person does not even have the capacity and/or power to change
action, the intent or culpability of the legal entity would be totally meaning- the behavior of the company, determining or fomenting its actions. Most
less, since it would not necessarily take into account individuals as the object employees do not get the whole idea of the ​​ company; even some directors do
of the theoretical formulation, so that this possible argument should promptly not . Something similar can occur with the legal entity itself. For example,
71

reject the possibility of criminal liability of legal entities. Third, it is clear that “when there is a succession of the legal entity responsible for another one, it
individuals and legal entities do not identify with each other: humans do not is not possible to proceed with the criminal action against the successor, for
see their peers in the mental images they represent of companies and therefore total lack of legal provision.72” In other words, if the legal entity that practiced
tend not to understand the sanctions applied to legal entities as something the fact is, after such practice, succeed by another legal entity, the preventive
good or bad directly to themselves. Also because most of the most serious purpose of a possible future penalty will be truncated: whoever receives the
crimes committed by companies could never be carried out by an individual sanction will no longer be the same legal entity that practiced the fact.
alone: ​​environmental disasters, currency evasion, corruption, etc. always in-
Precisely for noting the difference in the functioning of the sanctions
volve different corporate bodies and several citizens. In addition, corporations
when applied to individuals and legal entities, BAIGÚN defended a major
receive sanctions which are very different from those already assimilated by
theoretical change when they were aimed at companies. “It is obvious”, for the
individuals as common consequences of crimes: they do not suffer the evils of
writer, “that the ends of the penalty (...) in the sphere of operation of legal enti-
the prison system (which, anyway, end up integrating the penalty itself ), that
ties must have their source in an axiological scheme with its own contours, drawn
is, they do not suffer pain, loneliness or shame. Frequently, they are subject
up based on the dysfunctions that the deviated behavior causes in the economic
to restrictions of rights not exercised by individuals in general (suspension
structure and in the political-social scope.73” In fact, basically, “the legal entity is a
of licenses, prohibition of contracting with public authorities, interruption
of activities, interventions by the competent authorities, etc.) and realize de-
71. SHECAIRA, Sérgio Salomão. “Responsabilidade penal das pessoas jurídicas: uma perspecti-
creases in property that most citizens (the collectivity that general prevention va do direito brasileiro.” In Revista dos Tribunais | vol. 921/2012 | pages 281 – 294 | Jul / 2012
intends to impact) do not understand perfectly (joint-stock companies) or DTR\2012\44819.
72. GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003,
know that they are far beyond their reality; after all, it is a company (some- page 118. When indicating the lack of legal provision, the writer referred only to the Brazilian system of law.
73. BAIGÚN, David. La responsabilidad penal de las personas jurídicas (ensayo de un nuevo modelo
times an economic group) that is collecting the fine (with its own and often teórico). Buenos Aires: Depalma, 2000, page 247 (italics added). Those dysfunctions are named by the
writer “social damage”.
306 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 307

protagonist qualitatively different from the man of flesh and blood around which the penalties and therefore fulfill all the functions they have always fulfilled in
well-known doctrines of penalty were structured. The role of the legal entity in the relation to individuals. About purpose of positive general prevention, specif-
social fabric (...) is not identical with that of the individual, nor are the effects ically, he explains his positioning as follows:
of its action equal.74” He continues saying: “(...) the positive general preventive “(...) such penalties, as it could not be otherwise, also play a general negative
purpose of penalties and security measures applicable to legal entities also points or positive or integrative prevention function for entities that are not pun-
to the consolidation of the legal system, but the qualitatively different note is ished. (...) In this sense, it is undoubted that the existence of the threat of
that the ethical-political level, from which the valuations emerge, must be built the possible imposition of the aforementioned penalties on legal entities is
perfectly adequate since it motivates all the individuals who form and direct
based on the dysfunctions of economic and social composition” of the legal en- the destinies of those entities to organize them and to operate properly in
tities, and not based on the theoretical design elaborated for individuals75. There, their functions (...). In the same wake, it does not seem to be arguable that
then, BAIGÚN concluded that the theory of the purposes of the sanction for the effective application of the penalties to offending entities, besides reaf-
legal entities requires “its own agenda”76. firming the validity of the violated norm and restoring social confidence in
it (positive general prevention), as well, and as FEIJÓO SÁNCHEZ himself
4.2. The problem of the restricted scope of prevention that should acknowledges, although speaking exclusively of the fine, ‘... produces effects on
be general: indirect motivation subjects other than those who are subject to a monetary penalty (...)’.”79
WEELZEL, opposing the possibility of criminal liability of legal entities, In short, “it must be understood that (...) together with the motivation
states concerning the sanctions that could apply to them, that “the preventive of the convicted company”, there is the “indirect motivation of its members
effect of the penalty is not directed at the legal entity as such, but at those who to organize themselves in an adequately preventive way”80. Further, the writer
control or administer it and, from a general preventive point of view, to those states that “all the penalties included in article 33.7 of our Criminal Code81
who control or administer other legal entities.77” Based on this finding, the for legal entities fulfill all the distressing, symbolic, motivating and preven-
writer asks: “if it is a fact that the addressee of the ‘corporate’ sanction is the tive functions that they have traditionally fulfilled, or at least that have been
individual, does it make sense to insist that the offender is the legal entity?78” For attributed as purposes for individuals. This certainly takes place differently from
him, the answer is no. His conclusion is a natural reaction to the observation what happens to individuals, but it does (...)”, which is the reason why they
made in the previous item: the rationale of the operation of positive general must be admitted, in this same traditional format of purposes, also for legal
prevention only makes sense if the sanction is applied directly to human beings. entities, without any adjustment82.
Otherwise, the possibility of punishing moral entities with the uncomfortable As observed, the jurist affirms, on the one hand, that the penalties for
purpose of reaching diverse addressees who might be totally unconnected to legal entities fulfill the same purposes that they have always fulfilled for indi-
the fact shall be defended: the individuals (which may challenge the principle viduals. However, on the other hand, he records that the fulfillment of these
of the personality of penalties). This deviation evidently does not correspond purposes “certainly occurs in a different way than it does for individuals.83” There
to the logic of the referred purpose of the penalty as it is known. is a contradiction. His explanation makes that clear when, in discussing how
Although being favorable to criminal liability of legal entities, GALÁN such purposes are realized, he concludes that they need to reach third parties
MUÑOZ does not see any problems regarding the point under discussion. other than the actual formal addressee of the penalty (the company). However,
He states that sanctions applicable to legal entities have the legal nature of in cases where the legal entity is the only author of the act, to intend that its
penalty fulfills any purpose exclusively impacting a restricted group of third
74. BAIGÚN, David. La responsabilidad penal..., page 250. Italics added.
75. Idem, pages 254-255. 79. GALÁN MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y limites..., page 281.
76. Idem, page 257. Italics added. Motivated by that conclusion, this research presents the suggestions 80. Idem, page 281. Italics added.
included starting in item 5. 81. Refers to the Spanish Criminal Code.
77. WEELZEL, Alex. “Contra la responsabilidad...”, page 619. 82. Idem, pages 281-282. Italics added.
78. Idem, page 620. 83. Idem, ibidem.
308 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 309

parties (individuals) alien to the practice of the fact itself (the director, the stated at the end of item 4.1, investigation on the theoretical purposes of
administrator, the board of directors, etc.) is something very different from the sanctions aimed for legal entities lacks its “own agenda”86.
purpose of general prevention that is intended for individuals. No deviations There is no purpose here to formulate a new theory of penalty that is
or shortcuts are necessary in his theoretical basis, as it has been observed. adapted to legal entities87, but only to demonstrate the discrepancies between
Here, it is not the matter of the effects that penalty produces on third the purpose of positive general prevention and the nature of the moral being.
parties when applied to individuals (e.g., the perpetrator of the crime is pun- The suggestion of purposes that sanctions could seek when applied to legal
ished, but it is the society that feels the effects of normative stabilization and entities is an encouragement to that debate.
reinforcement of fidelity to the Law). These are effects that are produced The attempt to contribute to the change in this scenario of discrepancy
exclusively on a very restricted group of third parties (the directors and/or em- initially calls for mentioning of what might be the most remembered aspect of
ployees of only that one company that has been sanctioned), which is different positive general prevention: it is a symbolic purpose of the penalty. HASSE-
from the whole collectivity (as what happens in classical general prevention) MER, addressing the subject matter, found that “the penalty has at least
who may be unaware of who, how or when the fact was practiced. It is not a the ‘symbolic’ force of the evidence of the norm (...). This may be correct.”
normal positive general prevention: it is an indirect and individualized preven- However, this symbolism can only be sustained if maintaining a “project to
tive effect exclusively on a group of individuals potentially alien to the fact that was substitute criminal law for something better, since that right takes its symbolic
practiced by a legal entity. That is: it is not positive general prevention. In this force from the bones of human beings: by limiting freedom and sanctioning
new scheme, the idea of ​​”prevention” falls on the legal entity only formally, behaviors.88” The truth is that this purpose is “based on the hope that an
since its real consequences are all felt only by individuals84. effect will occur that nobody knows if and when it is realized89”, always at the
Obviously the writer wrote based on the Spanish Criminal Code, which expense of assigning penalty on persons.
systematically requires the practice of a connected fact by an individual so that There is an undeniable contradiction in the injury or danger of injury
it can be charged to the legal entity (which can explain his stance). But that, (real) of legal assets and the purpose of prevention (theoretical), which is
alone, does not seem to allow the claim that the basic theory of the purpose criticized as an unfulfilled promise90. As we now have the opportunity to
of general prevention (which is assigned to penalties aimed for individuals) re-discuss what is expected to be achieved by applying criminal sanctions
functions in the same way for legal entities. The need for “indirect motiva- to legal entities, a good criterion is presented by FEIJOO SÁNCHEZ: “the
tion” clearly demonstrates this. confidence in norms is encouraged exclusively through an effective control
of their violations.91” Such confidence “will be as greater as citizens are more
5. Suggestions of possible purposes for sanctions applicable to
legal entities
of fiction, the organicist theory and the theory of dissolution of the individual person in the legal per-
The writers who intend to adopt the classical theories of penalties for sonality (page 49).
86. BAIGÚN, David. La responsabilidad..., page 257.
legal entities “are left only with the possibility of demonstrating the essential 87. That purpose would require, first, the examination of the grounds of legitimacy of the reprobation, as
similarity of individuals and legal entities”85, which is not possible. As already well as the examination of the criticism of the potential existence of discriminatory legal treatment
between individuals and legal entities, which is not realized in the study herein.
88. HASSEMER, Winfried. Direito penal..., page 98. Italics added.
84. To the possible opposite argument that there may be legal entities who are aline to the fact that would 89. HASSEMER, Winfried. “Prevención general...”, page 73. Italics added.
“feel” the impact of the prevention of the sanction imposed on the legal entity who committed the cri- 90. “ The deficit of the real protection of legal assets is offset by the creation, with the public, of an illusion
me, it is possible to oppose that each legal entity represents a distinct reality and has its own dynamics, of security and of a sense of confidence in the system and the institutions that have a real base more
which would make the idea of prevention void of effect. Anyway, at most the prevention effect would and more weakened. In fact, the rules continue to be violated; and the obscure figure of the infractions
be felt by a restricted group of companies as well: those that explore the same branch of economic remains very high, while the agencies of criminal control continue to be measured with instrumental
activity or that carry out the same illegal activity punished. tasks of impossible accomplishment” (BARATTA, Alessandro. “Funções instrumentais e simbólicas
85. BACIGALUPO, Enrique. “Teorías de la pena y responsabilidade penal de las personas jurídicas”. In do direito penal – lineamentos de uma teoria do bem jurídico”. In Revista Brasileira de Ciências Cri-
BACIGALUPO, Enrique (dir.). Curso de Derecho Penal Económico. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, minais, vol. 5, jan./mar. 1994, page 12).
2005, page 48. The writer mentions that the main chains proposing themselves to that were: the theory 91. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y prevención general..., pages 838-839. Italics added.
310 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 311

aware of the effectiveness of detention and prosecution of crimes.92” recommended to deal with the application of criminal sanctions to legal
The idea that DURÁN MIGLIARDI attributes to the punishment is entities. It is proposed, therefore, to abandon the expression positive general
compatible with the attachment to hope expressed in HASSEMER’s above prevention to sanction them, since it is inextricably linked to intents that only
quote, that the most important thing is that the sanctions convey the sense make sense in relation to individuals.97 One can thus imagine social control as
that the State takes crime prevention for serious, defending the validity of the a possibility for its replacement. It would be, in HASSEMER’s line, a formal-
law and its implicit values, so that the image of a fanciful criminal Law is not ized social control, that is, according to the matrix of principles corresponding
consolidated93. It is, therefore, necessary to examine the idea of control
​​ as the to the social values ​​protected by the system98. But that is not all.
purpose of the penalty possibly compatible with the nature of legal entities. Observe that this purpose is not intended to create any state of mind in
those who receive the reprimand, which would be impossible, as it has been
5.1. The social control of crime
observed. Such an approach is especially compatible with legal entities, whose
DURAN MIGLIARDI proposes a new use for the idea of ​​positive actions are normally only objectively measurable. In order to be able to think
general prevention: prevention must take into account the “conviction that of the legal entity as an effective actor of this dynamic of preventive rationality
the ultimate goal is not to eradicate crime, but to reasonably control it.94” It can by control it is necessary to consider that those who suffer the effect of sanc-
be redesigned to cause a real change in society, which is different from simply tion is not an entity in itself, that does not exist ontologically, but an image
waiting for general prevention by merely punishing the author of a fact: of it: the social-corporate image of the legal entity. It is the representation of it
“... positive general or integrative prevention, in my opinion, should imply made mentally by the general public; that is, its reputation to the market, its
positive measures, contributions and solidarity efforts that neutralize situations consumers, the global society and its internal audience as well.
of need, conflicts, imbalances (...), since only by restructuring social coex-
istence, positively redefining the relationship between the members of the This image is separable from the individuals who compose the com-
social system and of them with the system it might be possible to progress pany, as it is a different entity for the purposes of criminal sanction. That
in crime prevention.”95 adjustment could avoid, first, the theoretical requirement of extravasation of
This format of purpose that encompasses the expressive bias of a clear the sanction or its consequences to third parties unrelated to the fact. And
sense (containment of crime by positive actions) is fully compatible with it could solve the criticism made by WEELZEL (refer to item 4.2), since
the mission of social control of the intolerable, which BUSATO attributes to the addressee of the sanction would actually be the legal entity, but now
criminal Law. The writer says that “all norms are equally designed to allow life properly represented by the image that it cultivates before the market and
in society, therefore, to exercise a certain level of social control” and, thereby, the subjective evaluation done by the individuals in general, of the set of
“the mission of criminal Law – and also of the penalty, by coherence – is characteristics that individualize it. Second, such a consideration demands
the realization of social control of the intolerable,” without giving up the effectiveness and meaningful to the extent that such an image often tends
necessary reference to the intent of protection of legal assets essential to the to be its most valuable asset: its social identity, with added value difficult to
development of the individual in society.96 measure. Any setback that affects its reaches the core of the abstract being. It
Basically referring to new meanings, the use of new vocabulary is is at this level that the sanction must be able to operate.

92. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y prevención general..., page 840. 97. Intents that are, in addition, traditionally frustrated; at least in Brazil.
93. DURÁN MIGLIARDI, Mario. “La prevención general positiva como limite constitucional de la pena. 98. FEIJOO SÁNCHEZ points out an exaggerated normativization in the idea of HASSEMER’s formali-
Concepto, ámbitos de aplicación y discución sobre su función”. In Revista de Derecho (Valdivia) – Fa- zed social control, which places it too far from guaranteeing safe empirical results, although proving
cultad de Ciencias Jurídicas y Sociales de la Universidad Austral de Chile , vol. XXIX, n. 1, jun./2016, them is something to be done at the long-term and very complex (FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo.
page 280. Retribución y prevención general..., pages 385-387). For this reason, in this text, we suggest the ex-
94. DURÁN MIGLIARDI, Mario. “La prevención general positiva...”, page 291. Original italics. ploration of sanctions that impact the company’s social-corporate image, as subsequently verified. An
indication of concrete paths may perhaps bring the theory a little closer to reality, contributing to its
95. Idem, p . 290. Original italics. empirical confirmation. After all, as the writer himself says, “no good empirical work may be done
96. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018, pages 16-17. until there is a proper theoretical construction” (idem, page 584).
312 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 313

The trend towards the general preventive application of penalty can tends to be materialized in financial losses, although not exclusively and also
foster sanctions of “process publicity” through the use of “mass diffusion not so predictably.
media”99. That is enhanced when it comes to punishing (the images of ) cor-
5.2. The possibilities represented by the principles of the
porations especially in the present time, where the daily use of social networks Guidelines Manual
by populations is a reality. That is, “in the scope of the market, publicity of
The great difficulties inherent in the simple transposition of norms
the sentence, borne by the legal entity, generates significant effects not only
from one country to another are not disregarded, especially when there are
for the example of the sanction itself, but also because it carries out the dis-
very different basic systems (common law and civil law). That is not the
qualification of the collective entity.100”
purpose here. However, it should be recognized that, since the United States
That is why the systematic repression of corporate crimes in countries of America (among other countries) has a long experience in the criminal
that have dealt with this issue for a longer time, such as the United Kingdom sanction of companies, the normative mechanisms used therein may have
and the United States, have adopted so-called shame sanctions. These are some relevance to the object of the research herein, at least to indicate one
consequences that, in various ways, promote the negative exposure (adverse (among others) possible path for future deeper investigation into the hypo-
publicity) of the convicted company’s image to society and/or its specific op- thetical purposes of criminal sanctions more appropriate to legal entities.
erating market, in proportion to the seriousness of the fact101. There might also This is what we try to demonstrate below.
be connected social and corporate image restoration mechanisms, through
The Guidelines Manual reviewed here was released by the United States
compensation for damages, care for the victims, community and educational
Sentencing Commission (USSG) in November, 2016104. That is a 628-page
actions and investments in prevention programs (compliance), which is in line
file prepared by the US Judiciary Authority and intended to provide the
with DURÁN MIGLIARDI’s idea of social ​​ solidarity by positive performance
bases, principles and detailed guidelines for judges on the act of sentencing
(actions) as the most effective method of control, seen above.
individuals and legal entities. Chapter 8 deals only with sentences for legal
The fine is commonly seen as the first choice for corporate punish- entities. The ideas expressed in this section on the purposes of penalties were
ment. The most well-known reason for that is the general assessment that especially motivated by the content of this production105.
“companies react to the possibility of a penalty not for reasons of fear or
In its application instructions, it is clear that its purpose is to control
intimidation, but for the calculation of profits and losses, advantages and
crime106. Possibly, the experience of legal operators in that country, which
disadvantages.” But, precisely for always being quantifiable in advance, “the
criminally punishes legal entities for a longer time, indicated that the control
unrepeatability intended with [such] prevention has a limited reach.102” That
objective is compatible with the abstract nature of collective entities. That
recommends not making the fine the main method of control103. Obviously
may also stress the notion, conveyed herein, of the inadequacy of the theory
the fine has its usefulness, but the ideal thing would be that the reduction of
of positive general prevention for the control of corporate crime.
the equity of the convicted company were also made by other means, such
as the already suggested impact on its social and corporate image, which also The entire system of corporate punishment outlined in the Guidelines
Manual is guided by four principles on which it intends to sustain and carry
99. HASSEMER, Winfried. “Prevención general y aplicación de la pena”. In NAUCKE, Wolfgang; HAS-
SEMER, Winfried; LÜDERSSEN, Klaus. Principales problemas de la prevención general (Transla-
tion by Gustavo Eduardo Aboso e Tea Löw). Montevideo: B de F, 2006, pages 50-51. Italics added. 104. In: http://www.ussc.gov/sites/default/files/pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf, accessed on No-
100. BAIGÚN, David. La responsabilidad penal..., page 268. Italics added. vember 9, 2018.
101. That mechanism was explored in further details in: SCANDELARI, Gustavo Britta; POZZOBON, 105. Chapter 8 introduction comment reveals that it is aimed at simultaneous convictions of legal entities
Roberson Henrique. “Shaming como uma via para a sanção criminal de pessoas jurídicas no Brasil”. and individuals. However, that does not impede the study of the objectives of the penalties provided
In Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 151, a. 27, pages 75-114. São Paulo: RT, jan./2019. therein as reference for possible reformulation of the purpose of positive general prevention when
102. BAIGÚN, David. La responsabilidad penal..., page 278. exclusively affecting the legal entity.
103. For the critical analysis of monetary penalties application for legal entities, refer to the article “Sanção 106. “Most of the reviewers of the criminal law agree that the ultimate purpose of the law and of the punish-
pecuniária na responsabilidade penal da pessoa jurídica: a eficácia como premissa”, by Alexey Choi ment, in particular is crime control” (Chapter 1, item 3, in https://www.ussc.gov/guidelines/2016-gui-
Caruncho and Felipe Atet, of this collection. delines-manual/2016-chapter-1#NaN, accessed on November 9, 2018).
314 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 315

out the aforementioned crime control: 1) whenever possible, it must deter- be possible in crimes against the Public Administration111.
mine that the company repairs all damages eventually caused by its unlawful The second principle, which is fulfilled by sanctions of permanent or
acts, giving all victims full satisfaction; 2) if the company has been used temporary unfeasibility of the company (exhaustion of its equity by high fines;
primarily for criminal purposes, the fine must be high enough so that all suspension of its activities; prohibition of contracting with the government;
its resources are consumed by it; 3) the value of the fine for other types of partial interdictions; revocation of licenses; dissolution, etc.) an ineffectiveness
companies will be based on the severity of the crime and the reproaching of purpose. It is about making an instrument created or perverted to serve exclu-
the company. The seriousness of the crime will take into account the equity sively the crime inapt for that purpose. The seriousness of the sanction will
gain or loss. The reproaching will be evaluated according to factors such as: depend on the level of commitment of the legal entity for the wicked purpose.
the degree of tolerance of criminal activity; the background of the company;
The third principle, in turn, which is realized observing the proportion-
eventual disobedience to any public decision or authorization; the obstruction
ality of punishment due to companies that are dedicated to the exploration
of justice; the existence or not of an effective compliance program; self-in-
of lawful activities, it is possible to glimpse the preserving purpose. The pres-
dictment, cooperation or acceptance of liability; 4) the company may be
ervation of the company occurs whenever it is not totally unfeasible. That is:
subjected to a probationary period to ensure compliance with sanctions or to
organizations created with lawful intent should have their existence defended
ensure that the company will take measures and create mechanisms capable
by Law. Even if they should be punished for having temporarily being enticed
of preventing the future occurrence of crimes107.
to the crime, there would be no justice in their permanent innocuousness.
Those principles are reflected in the types of sanctions set forth108 and Preserving their legal existence is an implicit purpose of sanctions that do not
are intended to offer companies incentives to eliminate or reduce criminal make them permanently unfeasible.
activity by structuring self-control and inspection methods109. Starting from
Finally, the fourth principle – which allows for the interference of public
those four principles and from sanctions idealized especially for corporations,
authority in the management of the company – the recovery purpose. It is pos-
it is possible to glimpse and henceforth suggest some purposes that could,
sible for the law to format a relationship between the State and the convicted
each in their own way – but preferably together – contribute to the control
party, promoted by criminal sanction (or previously, by precautionary measure),
of criminality of legal entities.
in which the governed party is subject to a period of supervision of its controls
In the first principle, which is fulfilled by eminently property sanctions on the prevention, detection and communication of suspicious practices. De-
(blockage of assets, freezing of bank accounts, minimum indemnification pending on the quality of those controls, the State may demand changes and
in criminal conviction, restitution of values, confiscation of assets, etc.), a improvements as part of the sanction. The objective is clear: to enable or pro-
restorative purpose110 is envisaged. Even public treasury re-composition would mote the business program of compliance with the law and its inspiring values.
107. USSG, in: http://www.ussc.gov/sites/default/files/pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf, accessed One of the major differences in punishing individuals and legal entities
on November 9, 2018, page 525.
108. Restoration of damages, social services, institution of ethics and compliance programs, fine, probation is the possibility of objective verification of the company’s behavior during and
(several types of conditions varying with the circumstances of the fact practiced and that companies
may be forced to comply for a certain period of time), public intervention, loss of assets, etc. (idem, after the application of the sanction112. Since the performance of positive post-
pages 530-572).
109. Idem, page 525. 111. To illustrate: pursuant to protocol no. 9379/2016, the Public Prosecutor’s Office of Paraná concluded
110. This is not mere compensation. ROXIN, in describing the restorative purpose of the damage caused for the feasibility of a transaction with legal entities, also in the scope of the Law on Administrative
by the crime, explains that it is not only “a legal-civil matter, since it also contributes essentially to Malfeasance (which was made public by means of Newsletter no. 1, dated 02.03.17 , the Operatio-
the achievement of the purposes of the penalty”, since “it can foster a recognition of the norms” and nal Support Center of the Public Attorney General’s Offices for Protection of Public Equity and the
offer “a considerable contribution to the restoration of legal peace” (ROXIN, Claus, Derecho penal, Tax Order of the Public Prosecutor’s Office of Paraná). In the same sense: Resolution no. 179, dated
parte general – Tomo I..., page 108). In another text: “the appeal of fostering the institute of restoration 07.26.17, of the National Council of the Public Prosecutor’s Office. The basis of such an institutional
in criminal law lies, first of all, in its general preventive effect in its best sense” (ROXIN, Claus, La stance was the greater efficiency to obtain information about the dishonest acts and crimes themselves,
evolución de la Política criminal. ..., page 35) . The writer did not discuss the punishment of companies as well as for the reimbursement of the public treasuries.
in such works, but the restoration as the purpose of the criminal sanction addressed to them seems to 112. It can not be denied that, “objectively speaking, restoration and other positive and various post-crime
work in a similar way to that explained by him (since there are not contributions applicable exclusively behaviors by the collective entity reveal a return to lawfulness, just as the re(structuring) of a corporate
to individuals). governance program maintains legal compliance, preventing and removing new unlawful conduct,
316 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 317

crime behaviors determined (or not) by internal compliance program (if any), makes the referred purpose of the penalty incompatible with the sentencing
undergoing the elimination of internal control failures, investment in preven- of penalties to legal entities.
tive improvements113, compliance (more or less rigorous) of the measures and This incompatibility was also found in the critical analysis of the prop-
sanctions (administrative and/or property) within pre-established periods, until osition that positive general prevention would be perfectly achievable in
the reimbursement of damages, it is possible to observe external undoubted relation to legal entities by the impact that the penalty generates on the
indicators that the company has or has not assimilated the consequences of its individuals who are members thereof (indirect motivation). But this rea-
fact, which is within the scope of control of the sanction applied to it. soning conceals a new theoretical construction, diverging from the original
Therefore, these four objectives (restoration, ineffectiveness, preservation formulation of general prevention and producing tension with the principle
and recovery) are compatible with the idea of ​​control that can theoretical- of the personality of the penalty.
ly more adequately dialogue with the entity that is the addressee of the In view of this theoretical mismatch, and aiming to contribute to a
crime control measures (the legal entity) and deliver less symbolic results greater effectiveness of the provisions in article 5, XLVI, b, c, d and e of the
in handling of corporate crime. Hence, the possibility of developing a new Brazilian Federal Constitution (individualization of the reprimand applicable
theoretical sanctioning base is presented to allow scientific incursions aimed to legal entities) – since criminal sanctions can also be applied exclusively
at describing sanctioning purposes compatible with the abstract (normative) to companies without the contribution of individuals – the text suggested
nature typical of companies, as opposed to the ontological (natural) nature sanctioning purposes that may, apparently, be compatible with the specific
typical of individuals. nature of the moral entity. The same objective of general crime prevention
can, thus, be pursued with the idea of crime
​​ control. In fact, they are not
Conclusion exclusive but complementary notions.
The old idea that criminal Law fulfills a preventive mission has led ju- The operation of the sanction in the social-corporate image of the com-
rists to purely and simply transpose the purpose of positive general prevention pany – subjectively nourished by the individuals that are related to it – could
of penalty to the sanctions applicable to legal entities. Most of the writers promote the control of corporate crime, which has the potential to generate a
do not previously question if such an operation is feasible from a theoretical result of prevention of future wrongful acts, but without demanding the use
point of view. of the (incompatible) theoretical basis of positive general prevention.
Once the original contours of the idea of ​​the purpose of general (pos- The purpose of crime control is presented as theoretically compatible
itive) prevention of the penalty were retrieved, it was possible to notice that with the claim of preventing crimes in the corporate context. From this gen-
it was coined to impact only individuals. Review of a specific bibliographical eral control objective, other purposes of the criminal sanction (restoration,
reference on this purpose of the penalty makes clear that it is only fulfilled, ineffectiveness, preservation and recovery) can be derived, presented here as mere
in theory, if there is the possibility of understanding the functioning of the suggestions taken from the United States experience and that seem appropri-
human world, by the addressee of the penalty. Not only the vocabulary, but ate, in view of the normative nature of such abstract entities.
also the logic used by the scholars who have assessed the way by which the
penalty would achieve such purpose are addressed to human beings, speak- Bibliographical References
ing and sentient, with their characteristic feelings, fears and emotions. That AGUDO FERNÁNDEZ, Enrique; JAÉN VALLEJO, Manuel; PERRINO PÉREZ, Ángel Luis. Dere-
cho penal de las personas jurídicas. Madrid: Dykinson, 2016.
since the primary ground of the Compliance program is the removal of legal-criminal liabilities, re-
quiring constant vigilance on the part of the responsible nucleus” (ANDRADE, Andressa Paula de; AMBOS, Kai. Direito Penal – fins da pena, concurso de pessoas, antijuridicidade e outros aspec-
CARVALHO, Érika Mendes de. “Criminal compliance ambiental...”, pages 209-239.). tos (Translated by Pablo Rodrigo Alflen da Silva). Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006.
113. Pages 533-538 of the USSG contain several recommendations and items to be observed in the context CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. Función de la pena y suspensión de su ejecución. ¿Ya no “se atenderá
of criminal punishment of companies to conclude for the existence (or not) of an adequate compliance fundamentalmente a la peligrosidad criminal del sujeto”? In InDret – Revista para El Análisis del Dere-
program in the company. cho, n. 4, oct./2015.
318 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Gustavo Britta Scandelari – Guilherme Oliveira de Andrade 319

ANDRADE, Andressa Paula de; CARVALHO, Érika Mendes de. Criminal compliance ambiental: Campos Grey). São Paulo: Atlas, 2015.
medidas prévias ao delito e comportamento pós-delitivo positivo corporativo. Revista dos Tribu-
nais, vol. 959, sep. 2015, pages 209 – 239. GRECO, Luís. Lo vivo y lo muerto en la teoría de la pena de Feuerbach. Una contribución al
debate actual sobre los fundamentos del Derecho penal. (Translated by Paola Dropulich and José R.
BACIGALUPO, Enrique. Teorías de la pena y responsabilidade penal de las personas jurídicas. In BACI- Béguelin). Marcial Pons: Madrid, 2015.
GALUPO, Enrique (dir.). Curso de Derecho Penal Económico. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 2005.
HASSEMER, Winfried. Direito penal: fundamentos, estrutura, política. Porto Alegre: Sergio Anto-
BACIGALUPO, Silvina. Responsabilidad penal de las personas jurídicas. In BACIGALUPO, Enrique nio Fabris, 2008.
(dir.). Curso de Derecho Penal Económico. 2. ed. Madrid: Marcial Pons, 2005.
. Direito penal libertário (translated by Regina Greve). Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
. Derecho Penal: parte general. 2. Ed. Buenos Aires: Hammurabi, 2007.
. Prevención general y aplicación de la pena. In NAUCKE, Wolfgang; HASSEMER, Winfried; LÜDERS-
BAIGÚN, David. La responsabilidad penal de las personas jurídicas (ensayo de un nuevo modelo SEN, Klaus. Principales problemas de la prevención general (Translated by Gustavo Eduardo Aboso
teórico). Buenos Aires: Depalma, 2000. and Tea Löw). Montevideo: B de F, 2006.
BAJO FERNÁNDEZ, Miguel; FEIJOO SANCHEZ, Bernardo José; GOMES-JÁRA DÍEZ, Carlos. ; MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción a la criminología y al derecho penal. Valencia: Tirant
Tratado de responsabilidad penal de las personas jurídicas. 2. ed. Pamplona: Civitas/Thomson Re- lo Blanch, 1989.
uters, 2016.
JAKOBS, Günther. Tratado de direito penal – teoria do injusto penal e culpabilidade (Translated by
BARATTA, Alessandro. Funções instrumentais e simbólicas do direito penal – lineamentos de uma teoria do Gercélia Batista de Oliveira Mendes and Geraldo de Carvalho). Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
bem jurídico. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 5, jan./mar. 1994.
JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz. Finalidades da Pena. Barueri: Manole, 2004.
BRODT, Luís Augusto Sanzo. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: um estudo comparado.
Revista dos Tribunais, vol. 961, nov. 2015, pages 245 – 273. KAUFMANN, Armin. Teoria da norma jurídica. (Translated by Verlag Otto Schwartz & Co., Göttin-
gen). Rio de Janeiro: Editora Rio – Sociedade Cultural Ltda., 1976.
BUSATO, Paulo César. Direito Penal, parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
LÜDERSSEN, Klaus. La función preventivo-general del sistema del delito. In NAUCKE, Wolfgang;
; GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica – fundamentos crimi- HASSEMER, Winfried; LÜDERSSEN, Klaus. Principales problemas de la prevención general
nológicos, superação de obstáculos dogmáticos e requisitos legais do interesse e benefício do ente (Translated by Gustavo Eduardo Aboso and Tea Löw). Montevideo: B de F, 2006.
coletivo para a responsabilização criminal. Curitiba: Juruá, 2012.
MIR PUIG, Santiago. Funcion de la pena y teoria del delito en el Estado social y democratico de
CARDENAL MONTRAVETA, Sergi. Función de la pena y suspensión de su ejecución. ¿Ya no “se atenderá Derecho. 2. ed. Barcelona: Bosch, 1982.
fundamentalmente a la peligrosidad criminal del sujeto”?. In InDret – Revista para El Análisis del Dere-
cho, n. 4, oct./2015. . Las nuevas “penas” para personas jurídicas: una classe de “penas” sin culpabilidad. In MIR PUIG, Santi-
ago; CORCOY BIDASOLO, Mirentxu; GÓMEZ MARTÍN, Víctor (Dir.); HORTAL IBARRA, Juan
COSTA, Antonio Diego da. A responsabilidade penal da pessoa jurídica e seu tratamento legislativo brasile- Carlos.
iro. In BUSATO, Paulo César; SÁ, Priscilla Placha; SCANDELARI, Gustavo Britta (Org.). Perspecti-
vas das ciências criminais: coletânea em homenagem aos 55 anos de atuação profissional do Prof. MEROLLI, Guilherme. Fundamentos Críticos de Direito Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
Dr. René Ariel Dotti. Rio de Janeiro: GZ. MOREIRA, Rômulo de Andrade. Responsabilidade penal da pessoa jurídica e o sistema processual penal.
CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de. Direito penal de risco e respons- In PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa
abilidade penal das pessoas jurídicas: a propósito da orientação jurisprudencial do STJ. Doutrinas do princípio da imputação penal subjetiva. 2. ed. São Paulo: RT, 2010.
Essenciais de Direito Penal Econômico e da Empresa | vol. 1 | pages 939 – 962 | Jul / 2011. POSSAS, Mariana Thorstensen. O problema da inovação da teoria da prevenção geral positiva: uma com-
DEMETRIO CRESPO, Eduardo. Prevención general e individualización judicial de la pena. 2. ed. paração entre Jakobs e Luhmann. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 56, Sept./Oct. 2005.
Buenos Aires: B de F, 2016. ROXIN, Claus. A Proteção de Bens Jurídicos Como Função do Direito Penal (Translated by André
DE LA CUESTA, José Luis. Responsabilidad penal de las personas jurídicas em el derecho español. In Re- Luís Callegari). Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009
vista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 101, Mar./Apr. 2013. . Derecho penal, parte general – tomo I: fundamentos. La estrutura de la Teoría del Delito (Trans-
DURÁN MIGLIARDI, Mario. La prevención general positiva como limite constitucional de la pena. Con- lated by Diego-Manuel Luzón Peña; Miguel Díaz y García Conlledo; Javier de Vicente Remesal). Ma-
cepto, ámbitos de aplicación y discución sobre su función. In Revista de Derecho (Valdivia) – Facultad de drid: Civitas, 1997.
Ciencias Jurídicas y Sociales de la Universidad Austral de Chile, vol. XXIX, n. 1, Jun./2016. . Estudos de Direito Penal (Organized and Translated by Luís Greco). Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y prevención general – un estudio sobre la teoría de la . La evolución de la Política criminal, el Derecho penal y el Processo penal (Translated by Carmen
pena y las funciones del Derecho Penal. Buenos Aires: B de F, 2007. Gómez Rivero; María del Carmen García Cantizano). Valencia: Tirant lo Blanch, 2000.
GALÁN MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y limites de la responsabilidade penal de las personas SCANDELARI, Gustavo Britta. As sanções criminais aplicáveis às pessoas jurídicas: uma nova teoria das
jurídicas tras la reforma de la LO 1/2015. Valencia: Tirant lo Blanch, 2017. penas? In BUSATO, Paulo César (Org. and Coord.); GRECO, Luís (Coord.). Seminário Brasil-Ale-
GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, manha: Responsabilidade Penal de Pessoas Jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018.
2003. SCANDELARI, Gustavo Britta; POZZOBON, Roberson Henrique. Shaming como uma via para a
GÓMES-JARA DÍEZ, Carlos. A responsabilidade penal da pessoa jurídica. Teoria do crime para sanção criminal de pessoas jurídicas no Brasil. In Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 151, a.
pessoas jurídicas (Translated by Carolina de Freitas Paladino; Cristina Reindolff da Motta; Natalia de 27, p. 75-114. São Paulo: RT, Jan./2019.
320 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

SCHÜNEMANN, Bernd. La culpabilidad: estado de la cuestión. In ROXIN, Claus; JAKOBS, Günther;


SCHÜNEMANN, Bernd; FRISCH, Wolfgang; KÖHLER, Michael. Sobre el estado de la teoría del
delito (Seminario en la Universitat Pompeu Fabra). Madrid: Civitas, 2000.
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica (de acordo com a Lei
9.605/98). São Paulo: RT, 1998.
. Responsabilidade penal das pessoas jurídicas: uma perspectiva do direito brasileiro. Revista dos
Tribunais | vol. 921/2012 | pages 281 – 294 | Jul / 2012 DTR\2012\44819. MONETARY SANCTION IN THE CRIMINAL
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Fundamentos del derecho penal de la empresa (Col. Raquel Mon- LIABILITY OF THE LEGAL ENTITY:
taner Fernández; Lorena Varela). Buenos Aires: B de F, 2014. EFFECTIVENESS AS AN ASSUMPTION
. Normas y acciones em derecho penal. Buenos Aires: Hammurabi, 2003.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA, Lorena. Responsabilidades Individuales en Estructuras de
Empresa. La Influencia de Sesgos Cognitivos y Dinámicas de Grupo. In Fundamentos del Derecho Alexey Choi Caruncho1
Penal de la Empresa. Madrid: Edisofer, 2016.
Felipe Atet2
SIQUEIRA, Tânia Bahia Carvalho. A reponsabilidade penal no contexto do licenciamento ambiental. In
RUIZ FILHO, Antonio; SICA, Leonardo. Responsabilidade penal na atividade econômico-empre-
sarial – doutrina e jurisprudência comentada. São Paulo: Quartier Latin, 2010.
ABSTRACT: The possibility of ascribing liability to the legal entity in different areas through
UNITED STATES SENTENCING GUIDELINES (USSG). In http://www.ussc.gov/sites/default/files/ the monetary means suggests a clear definition of the scope of each form of social control.
pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf, accessed on April 17, 2018. The article assumes that this definition requires greater concept accuracy for the effectiveness
VALIENTE IVAÑEZ, Vicente (Coord). Responsabilidad de la empresa y compliance – programas of the monetary sanction. As one of the values of the intention of justice borne by any legal
de prevención, detección y reacción penal. Buenos Aires: B de F, 2014. rule, the effectiveness requires to investigate the meanings and senses (retribution, deterrence
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Derecho Penal – acción significativa y derechos and reparation) that serve as a parameter to evidence the effective monetary sanction. Only
constitucionales. 2. ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010. after that will it be possible to claim a proportional use of this sanctioning mean.
WELZEL, Hans. Derecho penal aleman, parte general. (Translated from the 11th German edition by Keywords: Criminal liability of the legal entity. Monetary sanction. Effectiveness.
Juan Bustos Ramírez and Sergio Yáñez Pérez). Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 1970.
WELZEL, Hans. Derecho penal, parte general (Translated by Carlos Fontán Balestra). Buenos Aires:
Roque Depalma Editor, 1956. INTRODUCTION
WEELZEL, Alex. Contra la responsabilidad penal de las personas jurídicas. In ONTIVEROS ALONSO, One morning in July 2000, the rupture of an oil pipeline at the Pres-
Miguel (Coord.). La responsabilidad penal de las personas jurídicas: fortalezas, debilidades y per-
spectivas de cara al futuro. Valencia: Tirant lo Blanch, 2014.
idente Getúlio Vargas Oil Company, in the city of Araucária, located in the
ZAFFARONI, Eugenio Raul; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. 2. ed. Derecho penal, parte
South of Brazil, resulted in the leakage of about four million liters of oil,
general. Buenos Aires: Ediar, 2002. with serious damage to local flora and fauna. After reaching a floodplain
and travelling 40 kilometers across the rivers in the region, the overflow led
to containment activities lasting for two days, replicating a scenario experi-
enced in a dozen other accidents recorded in previous years.3 Compromising

1. The writer has a Doctor’s Degree in Legal and Political Sciences from the Universidad Pablo de Olavide
(Seville/Spain) and a Master’s Degree in Criminology and Forensic Sciences from the same Institution
and in Applied Social Sciences from the State University of Ponta Grossa (Ponta Grossa/Brazil). He is a
Professor of the Fundação Escola do Ministério Público (Public Prosecutor’s Office School Foundation)
of the State of Paraná (FEMPAR) and a Public Prosecutor in the Public Prosecutor’s Office of the same
state.
2. The author is a researcher at the Research Nucleus of the Criminal System and Social Control of UFPR
and of the Modern Trends of the Criminal System Research Group of FAE and Advisor to the Public
Prosecutor’s Office of the State of Paraná.
3. It is said that in carrying out its ‘contingency plan’, its ‘undeniable fragility’ was verified, primarily
because it does not have topographic maps of the rivers, or aerial photos, easy and fast access routes,
adequate machinery for oil containment, adequate equipment for employees protection, nor a team
responsible for rescuing the fauna (refer to Civil Public Action no. 2001-70.00.000582-0/PR, proposed
by the Federal Public Prosecutor’s Office and by the State of Paraná Public Prosecutor’s Office against
322 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 323

the ecosystem and the water, toxic elements caused serious damage to the approximately one million Brazilian Reais of a criminal fine.12
subsistence of the riverine populations, for a period that lasted well beyond In this scenario, while it is very frequent to affirm that, in terms of
that date. criminal liability of the legal entity, the fine would appear as “the penal-
According to the Brazilian constitutional rule4 that provides liability ty par excellence”13, the question is whether this modality of sanction is
in three areas for environmental damages, the fact gave rise to civil class effectively able to assume this role. After all, the above event shows how
actions5 that, as compensation, sentenced the company to the payment of the Brazilian legal system has allowed the existence of great dissonance
property and non-property damages amounting to approximately 2.9 billion in applying the monetary consequences derived from the environmental
Brazilian Reais.6 In terms of administrative consequences, to the extent that infraction, allowing the effectiveness of criminal liability, under this per-
we could verify7, there were four sanctioning assessments8 that, in relation to spective, to be even challenged.14
the monetary sanctions, reached the amount of 218 million Brazilian Reais. This work assumes as a hypothesis that this dissonance derives from the
Finally, in the criminal sphere, the event led to the charging of the conduct absence of a clearer definition of the scope that should be reserved for each
described in article 54 of Law no. 9.605/989, which entails, as sanction a of these monetary consequences.15 This lack of definition results from the
penal fine. Although possibility of punishment of the charged legal entity10 misunderstanding of certain effects derived from the pecuniary sanction with
was recognized as been extinguished, the maximum degree of the monetary
consequence that could have existed if this action were continued11 would be 12. Articles 19 and 21 of Law no. 9.605/98 provide that the fine is one of the hypotheses of penalties
applicable to legal entities, and their calculation should be fixed according to the amount of the damage
caused, based on the “expert assessment confirming the environmental damage”, provided, however,
that “the criteria of the Criminal Code” (article 17) are respected. If the criminal fine is ineffective, this
Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras). same Law provides that it may be “increased up to three times” (article 18). Thus, more accurately, it
4. Constitution of the Republic, Article 225, § 3: “The conducts and activities considered to be harmful can be said that in the reported event, in its maximum degree, the fine would be set at BRL 815,400.00.
to the environment shall subject the offenders, whether individuals or legal entities, to criminal and This value takes as reference both the maximum amount of days-fine provided for in paragraph 1 of
administrative sanctions, regardless of the obligation to repair the damages caused.” article 49 of the Brazilian Criminal Code – that is, five times the value of the minimum wage at the
5. Reference here is made to the following civil class actions: ACP n. 2000.70.00.020133-0; ACP n. time of the facts (which, according to article 5 of Law no. 9.971/2000, was BRL 151.00)- , and the ma-
2000.70.00.017448-0; and ACP n. 2001.70.00.000582-0. Since the connection among them was de- ximum number of days-fine provided for by the caput of the same rule (that is, 360 days-fine), finally
termined, they would all would be judged jointly, in July, 2013, by the Federal Justice Circuit Court of considering an increase of three times this value provided for in article 17 of Law no. 9.605/98.
Curitiba/PR. 13. In this sense, refer to FARALDO CABANA, Patricia. “¿Es multa una sanción apropiada para las
6. In this regard, it has been identified that the conviction made the following distinction: 10 million Bra- personas jurídicas?”, in Proceso penal y responsabilidad penal de personas jurídicas. Cizur Menor:
zilian Reais, as property damages to the fauna; 100 million Brazilian Reais, as property damage to the Thomson Reuters Aranzadi, 2017, pages 303-332 (311). DÍEZ RIPOLLÉS, José Luiz. “Las penas
flora; 100 million Brazilian Reais, as property damage to the water; 66 million US Dollars as damage de las personas jurídicas en la regulación española”, in Direito Penal como crítica: estudos em ho-
to the soil; and, lastly, 708 million US Dollars as damage to air quality. menagem a Juarez Tavares por seu 70º Aniversário. Madri: Marcial Pons, 2012, page 179. GALÁN
7. The qualification is necessary because until nowadays, there is still doubt about the values finally
​​ inci- MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y límites de la responsabilidad penal de las personas jurídicas tras
dent to the company, especially in view of consent decrees between the company and public authority la reforma de la LO 1/2015. Valencia: Tirant lo Blanch. 2017, page 272. BAUCELIS I LLADÓS, Joan.
that often cause administrative fines to incur significant discounts. “Sistema de penas para la delincuencia económica en derecho español”, in La delincuencia económi-
ca: Prevenir y sancionar. Valencia: Tirant lo Blanch. 2014, pages 393-423, who, after analyzing the
8. In this case, reference is made to the Tax Infraction Notice no. 19.638, formalized by the Environmen- five groups of economic offenses set forth in the Spanish legislation acknowledges that the fine is still
tal Institute of Paraná (IAP), and to the Tax Infraction Notices no. 89.824, no. 89.826 and no. 89.827 foreseen as the main criminal sanction (Íd., page 158)
issued by the Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources (IBAMA). 14. Although our referential example has been an event related to the Brazilian legal system, the matter
9. Law no. 9.605/98, Article 54: “To cause pollution of any type at levels that result or may result in of un-matching of applying the monetary consequences is an ordinary topic not only in other systems
damage to human health, or that lead to the death of animals or the significant destruction of flora: in our continent surroundings, but also in the Anglo-Saxon continent. For a broader perspective on the
Penalty – imprisonment, from one to four years, and fine (...) § 2 If the crime: I – makes an area, urban continental scenario, refer to ALENZA GARCÍA, José Francisco. “Las sanciones administrativas y
or rural, unfit for human occupation; II – causes atmospheric pollution that generates the withdrawal, penales en materia ambiental: funciones y problemas de articulación”, in Derecho penal de la empre-
even if momentary, of the dwellers of the affected areas, or that causes direct damages to the health of sa. Pamplona: Universidad Pública de Navarra, 2002, pages 593-612; CANO CAMPOS, Tomás. “El
the population; III – causes water pollution that requires the interruption of the public water supply of concepto de sanción y los límites entre el Derecho penal y el Derecho administrativo sancionador”, in
a community; IV – hinders or prevents public use of beaches; V – occurs by discharge of solid, liquid Derecho administrativo y derecho penal: reconstrucción de los límites. Madrid: Bosch. 2017. pages
or gaseous waste, or debris, oils or oily substances, in disagreement with the requirements set forth in 207-236. In the Anglo-Saxon law, the mandatory reference is O’MALLEY, Pat. The currency of justi-
laws or regulations: Penalty – imprisonment, from one to five years. §3. The same penalties provided ce: fines and damages in consumer societies. Abingdon, Oxon; New York, NY, Routledge-Cavendish,
for in the previous paragraph shall apply to those who fail to adopt, when required by the competent 2009, specially Chapter 3.
authority, the precautionary measures in case of risk of serious or irreversible environmental damage.” 15. The expression “protection scope” has to be understood based on its correspondence with the first of
10. Refer to the Federal Supreme Court, Extraordinary Appeal 548.181, Rapporteur Justice Rosa Weber, the criteria usually associated to the concept of proportionality – namely the “competence”-, following
First Panel, judged on 08.06.2013. the classical structuring that, although not unanimous, is referred by ALEXY, Robert. Theorie der
11. The exercise of deduction here refers to what is provided for in the caput of article 54 of Law 9.605/98, Grundrechte. Frankfurt: am Main, Suhrkamp, 1986. This work has handled the Spanish version trans-
either for the lack of any specificity of the original wording of the complaint (as referred in judgment of lated by Carlos Bernal Pulido. Teoría de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios
the Extraordinary Appeal 548.181, Rapporteur Justice Rosa Weber), or due to the inexistence of regis- Políticos y Constitucionales, 1986. Concerning its effects in the criminal sphere, refer to COBO DEL
tration of penalty of fine in the secondary precept applicable to the characters qualified of paragraphs ROSAL, Manuel e VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Derecho penal: Parte general. Valencia: Tirant
2 and 3 of article 54 of that Law. lo blanch, 1999. Specially, Parte Primera, II.
324 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 325

implications immediately related to its effectiveness. This has been causing this should be understood as effectiveness in this scope, verified through practices
type of sanctioning modality to be invariably perceived in our surroundings considered as relevant to evidence the effective content of the rule. Con-
as the mere payment of a routine bill, with no retribution, deterrence or even sidered as a sanctioning presupposition, that is, as a condition to the actual
reparation content. This meaning has also been causing the legislative and possibility of sanctioning19, the effectiveness will be raised to the position
doctrinal treatments, and sometimes even the judicial use assigned to mone- of central axis, which mismanagement would imply in a great mismatch in
tary sanctions, to be relegated to the background, considering this power as the political-sanctioning scope.
something of a lesser importance.16 Based on that, and taking the event stated in the initial lines as an
Thus, in the limits of this paper, the proposal is aimed at determining illustrative reference, it will be possible to understand at least one of the
an assumption that is herein assumed as essential to introduce a criminal reasons that led to the verified disproportion of values, with a common use
political reordering that seeks to use the sanctioning potential of the mon- of restrictive monetary measures also endowed with punitive purposes.20
etary path. We believe that it is the non-observance of this assumption The consequences of this legislative option will be the subject matter of a
that has significantly contributed to the direction adopted by different conclusive analysis, intended to unveil this scenario of disproportion that,
legislative processes related to the theme, with the environmental infraction to a certain extent, has been experienced in the scope of monetary sanc-
perspective serving here as an example, since it is the only area in which the tioning public policies.
ordinary Brazilian legislature sought, to some extent, to impose criminal Through this diagnosis, we intend that the presentation of a future
liability on the legal entity.17 research agenda that can contribute, at the political and criminal sphere, to
This assumption refers to the need to be tougher with the meaning a more consistent use of the monetary sanctions will be duly supported. We
of the expression ‘effective sanction’. More than assigning an arbitrary defi- want to believe that it is only based on this preliminary recognition that it
nition to it, a reference adopted here is focused on a conceptual precision will be possible, in a different investigation, to verify the limits that must be
that is based on the sociological perspective to interfere in the legal argu- observed in order to make the criminal political potential of this instrument
mentation.18 The implementation of this proposal will be carried out with a better applied by legal systems, in order to really consider it as a “quintessen-
study of the sanctioning effects function in the delimitation of how much tial sanction” in the criminal liability of the legal entity.

16. This statement must be understood within the context of the Brazilian legal system. In other surrou-
ndings, such as the German, the penalty of fine commonly corresponds to about 80% of the applied
1. EFFECTIVENESS IN THE SANCTIONING SCOPE
criminal sanctions. Refer to HASSEMER, Winfried e MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción a
ala criminología. Valencia: Tirant lo Blanch. 2001, Cap. X, B.1; MUÑOZ CONDE, Francisco e GAR- It is commonly said that validity, justice and effectiveness would be three
CÍA ARÁN, Mercedes. Derecho penal. Parte general. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, page 521. dimensions related to the law21 that, in its traditional condition of normative
For other statistical data on this regard, in the German law, refer to JESCHECK, Hans-Heinrich e
WEIGEND, Thomas. Tratado de derecho penal: parte general. Granada: Comares, 2010, specially §
5, V.
17. Reference here is made to Law no. 9.605, dated February 12, 1998, which provides for the criminal 19. Refer to BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica. Bauru: Edipro. 2001 [1958]. page 156, who
and administrative sanctions derived from environment offensive conducts and activities. recalls that “the purpose of the sanction is the effectiveness of the rule, i.e., the sanction is a mean to
18. Although traditionally the study of the theories and argumentative aspects of Law was primarily ba- ensure that the rules are less infringed or that the consequences of the infraction are less serious”.
sed on the reasons related to the judicial activity, since the end of the 20th Century the expression 20. It is not ignored that the acknowledgment of including a distressing element in the remediation of
“legal argument” is understood in ranges alien to the judicial sphere, to encompass the arguments of damages is not an uncontested matter. In this regard, refer to ALASTUEY DOBÓN, M. Carmen. La
dogmatists as well as of legislatures. To approach the extent of the legal argumentation study, under a reparación a la víctima en el marco de las sanciones penales. Valencia: Tirant lo Blanch, 2000; GA-
legislative perspective, refer to ATIENZA RODRÍGUEZ, Manuel. “Argumentación y legislación”, in LAIN PALERMO, Pablo. La reparación del daño a la víctima del delito. Valencia: Tirant lo Blanch,
La profliferación legislativa: Un desafío para el Estado de Derecho. Cizur Menor: Thomson Aranzadi, 2010. However, it should be acknowledged that we are more and more observing deviation in the
2004, pages 89-112. For monograph study on legislative argumentation, refer to the current ATIENZA, damage remediation in the civil scope, moreover the one bearing moral character. In this regard, refer
Manuel. Contribución a una teoría de la legislación. Madrid: Civitas, 1997. Under criminal perspec- to BARRIENTOS ZAMORANO, Marcelo. El resarcimiento por daño moral en España y Europa.
tive, current references are the works by DÍEZ RIPOLLES, José Luis. La racionalidad de las leyes Salamanca: Ratio Legis, 2007.
penales. Madrid: Editorial Trotta, 2003. PAREDES CASTAÑÓN, José Manuel. La justificación de las 21. Refer to BOBBIO, op. cit., specially Chapter II. Precisely for that, there are those who understand that,
leyes penales.Valencia: Tirant lo Blanch, 2013; RODRÍGUEZ FERRÁNDEZ, Samuel. La evaluación while the validity would be of particular interest to the theorists of the affirmative law, justice would
de las normas penales. Madrid: Dykinson, 2016; and the recent collective work NIETO MARTÍN, be the subject matter studied by philosophers of law, and, finally, the effectiveness would be subjected
Adan; MUÑOZ DE MORALES ROMERO, Marta e BECERRA MUÑOZ, José. Hacia una evaluaci- to the sociologists of law (SORIANO, Ramón. Sociología del derecho. Barcelona: Ariel, 1997, page
ón racional de las leyes penales. Madrid: Marcial Pons, 2016. 401).
326 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 327

technique of social organization and integration22, would present an ideal The analysis of these investigations demonstrates how recurrent the use
configuration whenever it gathered these characteristics at the same time23. of two explanations to understand why people comply with the rules is, being
It should be emphasized that the purpose of this reunion would be to seek a one of instrumental character and another, referred to as normative.30 While
plexus of commands that could concomitantly prove to be legal, legitimate the former bets on the classic dissuasive function of the rule, accepting that
and applicable.24 It is therefore stated that in order to regulate certain social people shape their way of acting motivated by a system of governmental in-
conducts, rather than being confirmed, it would suffice for the law to observe centives and sanctions31, the latter seeks to evidence that people comply with
the reality to which it is directed, considering the historical moment and the the rule by virtue of the internalization of a feeling of justice that leads them
interests linked to the conception of the world to be regulated25. to recognize a legitimacy of the authority responsible for enforcing the rule32.
This traditional ordering purpose of law, particularly concerning the It is precisely the fact that they are enunciated as the only two explana-
third of the reported dimensions, would refer to the study of the effectiveness tions of this respect for the rules33 that evidence the fragility of this argumentative
of legal rules.26 A topic which relevance, if not deriving from the content pre- way. In fact, while the former (instrumental) shows its weakness by relying
sented by the philosophy of law27, would certainly start from its bond with on a dissuasive power of the rule that, historically, has never been proven34, the
the matter of the application of the law.28 And from a sociological perspective, latter (normative) is weakened by adopting a perspective which determination
research on the applicable law represents nothing but determining the reason would be based on the degree of moral internalization of a sense of justice, with
why the rules are respected and obeyed within a social context29. even more obvious hindrances to prove.35
22. The traditional perspective which assigns to Law the technical condition of social organization, inte- obey the law. Princeton: Princeton University Press. 2006. Specifically linked to the criminal scope,
gration and control basically is of a sociological character. In this regard, refer to REHBINDER, Man- special attention can be assigned to the works by SIMONS, Kenneth W. “Understanding the Topo-
fred. “Las funciones sociales del Derecho”, in Revista Chilena de Derecho, 5. 1981, pages 125-135, graphy of Moral and Criminal Law Norms”, in Philosophical foundations of criminal law. Oxford:
who, while acknowledging that since the social State this perspective would already require a review, Oxford University Press, 2011; ROBINSON, Paul H. “Why does the Criminal Law care what the
does not refrain from warning that even the classical notion of organization should be understood as layperson thinks is just? Coercive versus Normative crime control”, in Virginia Law Review. 86/N.
encompassing the regulatory function of the law (rules of first order, which prescribe a behavioral 8, 2000, pages 1839-1869; ROBINSON, Paul H. e DARLEY. John M. Justice, liability and blame:
orientation) and of the integrative function of the law (rules of second order, which deal with conflicts community views and the criminal law., New Directions in Social Psychology. Boulder: Westview,
resolution). 1997; ROBINSON, Paul H. e DARLEY, John M. The utility of desert, in Northwestern University
23. Refer to SORIANO, op. cit. page 401, the Law would assume an “imperfect” condition to the extent Law Review 91. 1997 page 453 et seq. Within the scope of the economic criminal law, refer to
that an absorption of these aspects by the other would be presented, intending to assume that only the SIMPSON, Sally S., GARNER, Joel e GIBBS, Carole. “Why Do Corporations Obey Environmental
fair value is valid, only being fair the valid law, or yet only being law what is applied. Law? Assessing Punitive and Cooperative Strategies of Corporate Crime Control”, in U.S Depart-
24. It is not ignored that, within the scope of the theory of law, the concepts of “application”, “legality” ment of Justice. 2007; and the monographic work by SIMPSON, Sally. Corporate crime, law and
and “legitimacy”, individually considered, would alone imply intense research agenda that this in- social control. New York: Cambridge University Press, 2002.
vestigation cannot bear. For an approximation of the density of each one of those topics, refer to: on 30. On this differentiation, refer to TYLER, Tom R., op cit., specially Chapter 1. The term “normative”
application, NAVARRO, Pablo E. La eficacia del Derecho: una investigación sobre la existencia y here is not to be confused with the “normative concept of law” which refers to the tendency, ob-
funcionamiento de los sistemas jurídicos. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, viously better accepted, of seeing the law essentially as a series of rules, of single or varied types,
1990; and NAVARRO, Pablo E. Dinámica y eficacia del Derecho: una análisis conceptual de la whether being linguistic statements, commands from authorities or logical forms. Regarding the ex-
obediencia, México: D. F., Biblioteca de Ética, Filosofía del Derecho y Política, 2017; on legality, tension of the latter expression, refer to ATIENZA, Manuel. Filosofía del derecho y transformación
SHAPIRO, Scott J. Legalidad, Colección Filosofía y Derecho. Madrid: Marcial Pons, 2014. Ediciones social. Madrid: Trotta, 2018, pages 15 et seq., who refers that also sociologists of law usually start
Jurídicas e Sociales; on legitimacy, indispensable the different perspectives of KELSEN, Hans. Teoría from a normative concept of law, even if they are not limited to considering validity of the rules, but
pura del derecho. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1982 [1960]; and HABER- the dimension of their effectiveness.
MAS, Jürgen. Facticidad y validez. Sobre el derecho y el Estado democrático de derecho en términos 31. Which, with an example of the sanctioning scope, would entail acceptance that the increase and cer-
de teoría del discurso. Madrid: Editorial Trotta, 2000 [1992]. tainty of the punishment would lead to effective reduction of the crime rates. On a perspective of the
25. Refer to DÍAZ, Elías. Sociología y filosofía del Derecho. Madrid: Taurus, 1993, page 11. legal philosophy, refer to NAVARRO, Pablo E., op. cit., specially Chapter VI, 5, who recalls that since
26. For the purposes hereof, the term rules assumes the sense of “rules interfering in the social control”, Kelsen verified that more than the threat of the punishment, would be the fear of the punishment that,
as a result of the senses developed based on a systematic interpretation, seeking to avoid the “reducing as a rule, could motivate obedience of the rule, causing its disobedience an exceptional behavior (Ib.
of the rule to its [mere] legislative expression.” Refer to BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte pages 88-90).
geral. São Paulo: Editora Atlas, 2015, pages 153-154. 32. TYLER, Tom R., op. cit., pages 3-4.
27. That, although referring to the topic of effectiveness in a “fragmented” and “sporadic” manner, usually 33. Ibidem., specially Chapter 1.
raises effectiveness of the rules as “necessary condition for the existence of the actual system of law”. 34. On this regard, in the criminal sanctioning scope, a mandatory reference is MARTINSON, Robert.
Refer to NAVARRO, Pablo, op. cit. In the same sense, HIERRO, Liborio. La eficacia de las normas What works? Questions and answers about prison reform. The Public Interest, 35/NYC. 1974. pages
jurídicas. Barcelona: Ariel, 2003, page 13. 22-54. Although acknowledging the fragility of the dissuasive speech, but trying to redeem it, refer
28. Although under the risk of simplifying, it should be noted that application of law is linked to the time to KENNEDY, David M. Disuasión y prevención del delito. Reconsiderando la expectativa de pena.
and, therefore, it cannot alone correspond to the notion of effectiveness of law. In this sense, refer to A Madrid: Marcial Pons, 2016.
advertência de NAVARRO, op. cit., specially, Chapter I, 6. 35. In this sense, it would be sufficient to observe the numberless qualifications made throughout the
29. Maybe more in-depth consideration of this subject matter can be seen within the scope of the Anglo- empirical study by TYLER, op. cit. in particular, Chapter 3. Under the perspective of the continental
Saxon law. In this particular sense, an introduction reference can be TYLER, Tom R. Why people doctrine, by everyone, a relevant reference is the review by VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Funda-
328 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 329

Anyway, the argumentative weakness of these explanations is not limit- – something assumed by the two sociological explanations that attempt to
ed to this aspect of proving. In fact, although they follow different directions, clarify the reason for the obedience of the rule – what is done is to treat law
both have weak points that seem to have a common origin, since they seek to as an object, that is, as something given and not as an activity or a practice
be totalizing, assuming an ontological conception prior to the law that there built and adopted within a certain social context.41
would be a structure of obedient rule that, practically, would tie the legislature It is important to emphasize herein that what is proposed with the use
at the time of configuring the protection system. of the expression social practice refers to the admission of a conception of law
In addition, the attempt to determine whether a rule is applicable, be- that can conceive of it not only as a social fact but as an instrument developed
cause it is or it is not dissuasive, or because it has or has not been internalized to achieve certain purposes and values. More than just assuming a finalistic
by people, leads to questions that seek answers in the past, ignoring, therefore, condition, it is actually related to refer to a set of activities that lead to an
that the core of the problem of effectiveness requires a previous analysis of the idea of ​​justice that shall be interpreted based on objective moral values42, that
subject of the intent of the rule, on which the maximum to pursue is to try to is, based on values ​​extracted from rules which basic component is essentially
know what can be intended with its enactment.36 a notion of non-arbitrariness.43
This different focus already demonstrates that the matter related to the Under this bias, much more than a result, the law is conceived as a pro-
effectiveness of the rules is far from being limited to adopting a conceptual cess, enabling an argumentative determination of each of its stages.44 In fact, as
perspective that could be modified without concern for its consequences. In a social practice, law assumes the condition of an instrument endowed with
fact, it is a topic related to the very form in which law is conceived. rules that – in addition to its traditional imperative conception reflected in
And in this respect, even though it is not necessary to not taking it as determinations of power guiding conducts45 – will also be presented as determi-
a system of rules, it is crucial that law can also be understood as a social prac- nations of reason, that is, as determinations that exist to justify the imposition
tice,37 that is, as an activity aimed at achieving certain practical purposes that, of those imperatives.46
besides rules, also refers to procedures, values, actions, operators38 and social
perceptions39. More than a mere semantic complement, what this option em- 41. ATIENZA, M. Filosofía del derecho…, page 16.
42. Regarding the effects of each of such characteristics of law seen as “social practice” refer to Ibidem.,
phasizes is the insufficiency of the normative conception of the law40, denying Chapter I, 4. However, this writer, at least since 2006 already identified an “argumentation turnover”
that it can adequately account for the whole legal reality. that gave rise to a new paradigm in the scope of the philosophy of law, with one of the reflexes thereof
being precisely the consideration that the right would no more be just an instrument to reach those so-
cial interests, but that it incorporated “valores morales y que esos valores no pertenecen simplemente a
In fact, in limiting its understanding to the condition of a series of rules una determinada moral social, sino a una moral racionalmente fundamentada” (ATIENZA, Manuel. El
Derecho como argumentación: concepciones de la argumentación, Madrid: Ariel. 2006. pages 55-56).
mentos del sistema penal 2ª. Valencia: Tirant lo Blanch. 2011. pages 372 et seq. and 799 et seq., who 43. ATIENZA, M. Filosofía del derecho…, page 42.
refers that the confusion between the law and the virtue (moral-virtud) leads to undue restriction of the 44. It is not ignored that both in Teoria Pura do Direito, and in Teoria Geral do Direito e do Estado, Kelsen
most basic liberties of the human being, especially that of the right to personality development, which referred to a distinction between statics and dynamics. However, this distinction is not at all similar to
is a nucleus of the democratic system. what is mentioned herein. In fact, what Kelsen considered was not the dynamics of law as a social and
36. In this sense, refer to BUSATO, op. cit, page 161, who warns that “the rule should not be [investigated] historical phenomenon, but the internal dynamics of law, considering the latter solely as a system of
based on its construction, but actually based on its intent”. valid rules. Refer to ATIENZA, ibidem. pages 16-17
37. Reference to Law as a “social practice” and an “activity” seeks to present a complement to the tradi- 45. Regarding the insufficiency and non-completeness of the imperative conceptions in their different
tional normative concept of Law, limited to conceiving it as a “system of rules”. On this ontological branches, refer to VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op. cit., chapter seven. However, recalling that
difference, refer to ATIENZA, Manuel, op. cit., specially Chapter I, who promptly emphasizes that the first of those branches, the so-called “doctrine of mandate” refers to a much older and deeper
already in the work by Ihering it is possible to seek origin of the idea of Law as a social practice. polemics, refer to WELZEL, Hans. Introducción a la filosofía del derecho: derecho natural y jus-
ticia material, 2ª. Madrid: Aguilar, 1971, specially Chapters I and II, who also mentions that the
38. Reference to the “operators” demonstrate the non-completement of what was proposed by BOBBIO, whole history of natural law is grounded on a discussion related to the sense of the rule, which leads
Norberto. “Scienza del direto e analisi del linguaggio”, in Saggi sulla scienza giuridica. Torino: Gia- to a continuous distinction between ratio and voluntas, i.e., between the ideal natural law and the
ppichelli. 2011 [1950]. pages 13, 15 et seq., that, although progressing in addressing law as a language existential natural law (Ibidem, page 5).
and, therefore, the legal rules as simple expressions of the language, limited this perspective to the 46. As referred by VIVES, more than a mere problem of labels, in essence it refers to knowing whether
speech of the legistature. In the same sense, GUASTINI, Riccardo. Las fuentes del derecho: funda- the rules should be understood as “decisiones del poder o si, por el contrario pertenece también a su
mentos teóricos. Lima: Raguel adiciones, 2016 [2010], pages 7-9. esencia que hayan de ser justificadas e interpretadas como determinaciones de la razón”. If in the first
39. The expression is from ATIENZA, Manuel, op. cit., page 20 y 107. concept the rule is merely a “mean” to leverage the conduct, the legal speech, the value judgment and
40. On the normative conception of law, refer to ATIENZA, Manuel. El sentido del derecho. Barcelona: the reason will not be part of its grounds, but the mere ethical or political speech. Refer to VIVES
Editorial Ariel. 2001, Capage 3. ANTÓN, Tomás Salvador, op. cit., pages 352-353.
330 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 331

In fact, in the current configuration of democratic states governed by rules. By accepting that criminal Law should be included as just one of its
the rule of law there is no more space to accept a guiding dimension of the instruments of social control, this state model has as a corollary that, since
rule that is not accompanied by the demonstration of its respective intent of the instance of the legislative activity, a guideline of intent of justice should be
justice. An intent that must be understood, actually, within the framework of present which considers, in a rational and egalitarian manner, all the aspects
a process of rational argumentation,47 which fundamental objective is to satisfy (value and function) that can define the conducts to be criminally prohibited
the fundamental rights of individuals.48 and how to sanction them in case of non-compliance. This causes all the values
Actually, when this idea of ​​justice is taken as fundamental value, all other already mentioned to be taken into account at the time of the elaboration of
​​ are bound to this idea are immediately reflected in the law.49 Hence,
values that any of the categories of the criminal system52, with penalty being no exception.
for example, validity and legitimacy are considered aspirations of legal rules. In such an organization of ideas, therefore, it must be admitted that
And, instead of being determined by expressions with little concreteness or effectiveness also appears as one of the values ​​to be considered in order to
being reserved for sector separated studies and disciplines, which often rely on comply with the guideline that any and every rule must evidence within a
meta-juridical definitions, these aspirations (validity and legitimacy) require democratic state governed by the rule of law, contributing to the search for
a procedural justification to demonstrate that their feature of imperativeness the intent of justice. Rather than being drawn from an abstract conception,
derived from reasons that justified the rule and that have been observed since however, this intent and its different values must
​​ be endowed with “interpreta-
the initial instance of a rational process of legislative elaboration.50 tion concepts”, based on an idea that only assumes some sense when analyzed
53

The same applies to all other values ​​that are also relevant for that state within a context of interpretation practices.54 Indeed, in order to be objectively
model configuration. In fact, a materialization of the intent of justice as a core considered, every value related to the intent of justice must be drawn from
value of the system will only be feasible in the presence of other values, such activities and practices present in a particular social context. They will be able
as legal certainty, liberty and, in what is relevant herein, effectiveness, which “no to objectify the sense of values ​​as that of effectiveness.
son sino aspectos parciales de la ideal central de justicia que el ordenamiento If this is so, if what is sought in this research is precisely a way of assess-
jurídico pretende encarnar”.51 ing the existence of effectiveness of a sanctioning rule, it will be necessary that,
In fact, particularly regarding the criminal sphere, the very democratic as a previous step, the identification of these practices that express a sense of
state conception of law would already render similar features to the criminal application of this type of rule. That is, it will be necessary to identify those
activities evidencing that the sanctioning rule, once it is edited, will be al-
47. For an in-depth analysis of this concept and of what derives from it, refer to VIVES ANTÓN, ibidem., legedly respected and obeyed in a given environment. It is only through this
specially Chapter VI. For an approximation, refer to MARTÍNEZ BUJÁN PÉREZ, Carlos. Derecho
penal económico y de la empresa. Parte general, 3 ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011, pages 38 et seq. prior verification that it will be possible to objectively assess the effectiveness
48. ATIENZA, M. Filosofía del derecho…, page 22. of the sanctioning rule that concerns us here.
49. On adoption of intent of justice as fundamental value in the legal system, refer to VIVES ANTÓN,
Tomás Salvador, op. cit., which significant concept of action is based on the “pragmatic turnover”
made in the philosophy by Wittgenstein, adopting this consideration in the doctrine of action and in
the doctrine of rule, even if based on a methodology that follows the theory of communicative action 52. In the same sense, MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos, op. cit., page 45.
(theory of speech) by Habermas. 53. Regarding the distinction between the finalistic character of the “ideas” and the descriptive notion of
50. In the same sense, MARTÍNEZ BUJÁN PÉREZ, Carlos, op. cit., page 42 who, based on Habermas, the “concepts”, refer to ATIENZA, M. Filosofía del derecho..., Cap. I, 2
emphasizes how legitimacy of the legal rules will be grounded on rationality of the legislative process 54. DWORKIN, Ronald. Justice in Robes. Harvard University Press, Cambridge (Mass.) 2006. , Trans-
of its creation, in which there are also coincident concept of several characters: moral, ethical-social lated in Spanish by M. Iglesias Vila e Í. Ortiz de Urbina, La justicia con toga. Marcial Pons: Madrid.
and compromises between interests and pragmatic aspects. Regarding the legislative nationality, also 2007. page 21. Although the questions about the different concepts of law have been conceived by
refer to, as mandatory references, ATIENZA, M. Filosofía del derecho..., with a proposal of legislative the most varied doctrines, the one involving the discussion between Hart and Dworkin is the one of
juridical argumentation theory; DÍEZ RIPOLLES, José Luis, op. cit., seeking to realize a proposal of interest hereto. In fact, in the referred work, Dworkin contrasts the criterion concept of law, by Hart,
criminal legislative reasonableness; and VOGEL, Joachim. “Legislación penal y ciencia del Derecho with the interpretation concept of law. While the criterion concept would be the one bearing some
penal (Reflexiones sobre una doctrina teórico-discursiva de la legislación penal)”, in Revista de dere- identifiable properties that allow the logical understanding of the meaning intended to be defined,
cho penal y criminología, 2ª época, n. 11. 2003. pages 249-265, granting the dimension of validity to the interpretation concept by Dworkin is not achieved through a mathematical formula. For him, the
the rule, which legitimacy requests an ethical-political speech of pragmatic character in terms of prac- meaning of law depends on judicial, practical interpretations, concrete facts, etc., in order to cause its
tical rationality, requiring a procedural rationale for identifying the criminally protected legal assets. correct use to be determined based on the identification of the best interpretation of this practice. In the
51. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op. cit., page 489. same sense, refer to ATIENZA, Manuel, op. cit. page 29.
332 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 333

Often analyzed by sociological investigations as factors that contribute intended in the enactment of a sanctioning rule in the field of criminal lia-
to the effectiveness,55 in the criminal sanctioning scope, these practices can be bility of the legal entity so that the effectiveness value is potentially present.
studied based on their correlation with the effects intended with the issuing In fact, it is accepted that the sanctioning rule must express (i) a retributive
of a sanctioning rule. And there will be precisely these effects that may serve sense, since it is inherent in any notion of punishment that serves as rationale
as a parameter to evaluate if the issued rule has the potential to generate for the sanctions. It is also required that the rule presents (ii) a deterrence
obedience and to be applicable. sense that, besides being a justifiable limit, through its different aspects it will
Thus, the initial question that arises is to know what effects can be in- express the usefulness of the sanctioning instrument.56 And, finally, it is still
tended with the issue of a sanctioning rule within a model of democratic state necessary for the rule to express (iii) a reparation sense, enabling social satis-
governed by the rule of law. Once these effects are identified, the next question faction, and in certain cases also an individual satisfaction for the offended
will be focused on verifying the activities that may be linked to the search for party. In summary, within the scope of criminal liability of the legal entity, it
these effects. These considerations can be made jointly, because far from being is admitted that an effective sanction is that which, concomitantly, is capable
foreign to criminal Law, in fact, they directly address the subject of the sanc- of generating a retribution, deterrence and reparation sense.
tioning effects of criminal rules. Although it is not unknown the great argumentative density of each of
It is precisely the existence of this link that guides this research. After all, these aspects57, as well as the conflicts that they generate when treated cumula-
within the proposed purposes, what remains to be understood refers to the tively58 – which, in itself, would evidence the necessity of specific investigative
effects that should be intended with the enactment of a sanctioning rule so that 56. Regarding the existence of a double ground of the criminal sanction, where part has positive operation
it can be considered effective in the criminal liability of the legal entity, therefore for its rationale and part has negative operation, serving as a borderline for it, refer to VIVES ANTÓN,
Tomás Salvador, “Régimen penitenciario y Derecho penal (Reflexiones críticas)”, in Cuadernos de
determining the practices and activities that are linked to these effects. We hope política criminal, v. 3, 1977, page 246 – 263, who emphasizes that “ha de reconocerse que … la ‘justa
proporción’ que reclama el principio retributivo solamente puede establecerse sobre la base de valo-
that, from such subsidies, it will be possible to verify if the monetary way, in raciones culturales, cambiantes e inseguras. De modo que, si bien la retribución ha de operar como
límite máximo de la medida de la pena, en modo alguno cabe deducir de ella un límite mínimo a ésta.
fact, can serve for criminal sanctioning purposes in this scope. Hoy como ayer, la retribución es el único fundamento de justicia que cabe hallar a la imposición de la
pena. Pero se trata de un fundamento tan relativo y dudoso que no cabe deducir de él la necesidad de su
imposición efectiva en todos los casos en que parezcan concurrir sus presupuestos. De cualquier modo,
2. PARAMETERS TO DETERMINE THE EFFECTIVENESS OF pienso que es un fundamento insuficiente para determinar la imposición de la pena allí donde ésta apa-
rezca com inútil o contraproducente. Si es injusto castigar cuando no se ha cometido delito, también
THE MONETARY CRIMINAL SANCTION lo es castigar el delito cometido cuando de ese castigo no se siga beneficio alguno ni al individuo ni a
la comunidad. En ese sentido, los fines de la pena deben también cumplir una función limitativa” (Id.,
pages 261-262).
It was mentioned that the conception of effectiveness of the rule as- 57. Regarding the classical issue of the purposes of the sanctions, without any intent to be exhaustive, in
sumed herein poses the challenge of knowing which are those practices that, the legal-criminal sphere and based on a contemporary and monographic perspective, refer to FEIJOO
SÁNCHEZ, Bernardo. Retribución y Prevención General: Un estudio sobre la teoría de la pena y las
in expressing certain sanctioning effects, contribute to render to a given in- funciones del Derecho Penal. Montevideo: B de F, 2007, and a summary of the same in FEIJOO SÁN-
CHEZ, Bernardo. La pena como institución jurídica: Retribución y prevención general. Buenos Aires:
strument a sense of effective sanction in the scope of criminal liability of the Edisofer, 2014; CID MOLINÉ, Josep ¿Pena justa o pena util? El debate contemporáneo en la doctrina
penal española. Madrid: Ministerio de Justicia, Secretaría General Técnica, Centro de Publicaciones,
legal entity. Observing the proposed limits, it is necessary that these practices 1994; GARCÍA VALDÉS, Carlos. Teoría de la pena. Madrid: Tecnos, 1985; GRACIA MARTÍN.
Tratado de las consecuencias jurídicas del delito. Valencia: Tirant lo Blanch, 2006; LANDROVE
are at least referred to, since only based on them will it be possible to verify a DÍAZ, Gerardo. Las consecuencias jurídicas del delito. Madrid: Tecnos, 1985; MAPELLI CAFFA-
RENA, Borja. Las consecuencias jurídicas del delito, 5ª ed. Cizur Menor, Navarra: Thomson Civitas,
possible main role that can be assigned to the monetary sanction in this area. 2011; RIGHI, Esteban. Teoría de la pena. Buenos Aires: Hammurabi, 2001; ROCA AGAPITO, Luis.
El sistema de sanciones en el derecho penal español. Barcelona: J.M. Bosch Editor, 2007; SOUTO,
It is assumed, by hypothesis, that in the current context there is a set of Miguel Abel. Teorías de la pena y límites al “ius puniendi” desde el estado democrático, Paracuellos
del Jarama. Madrid: Dilex, 2006; STRATENWERTH, Günter. ¿Qué aporta la teoría de los fines de la
practices that demonstrate that there are three effects that must be cumulatively pena?. Bogotá: Universidad Externado de Colombia. Centro de Investigaciones de Derecho Penal y
Filosofía del Derecho, 1996; TONRY, Michael H. Why punish? How much?: a reader on punishment.
Oxford; New York, N.Y, Oxford University Press. 2011; VILAJOSANA RUBIO, Josep María. Las
55. For in-depth analysis not only of these factors but also of those considered as presuppositions of the razones de la pena. Valencia: Tirant lo Blanch, 2015.
legal effectiveness, refer to SORIANO, Ramón, op. cit., pages 403 et seq.; REHBINDER, Manfred, 58. After all, under the terms of the warning by NAUCKE, by using arguments that come from different
op. cit. pages 125-135. For a study on the various perspectives by which the topic is addressed, re- scopes and therefore cannot be compared, what is verified is an intent of reunion that could not re-
fer to EVAN, William M. Sociology of Law: A Social-Structural Perspective. New York: The Free solve the difficulties of each argumentation purpose, but would cover them by a commitment. Refer
Press,1980. to NAUCKE, Wolfgang. Derecho penal: una introducción, Translated by Leonardo Germán Brond.
334 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 335

agendas -, within the limits set, it seems adequate that at least mention should In the context of liability by the monetary way, however, what should be
be made of the main points justifying the reason for the choice of those senses assessed is to what extent the use of an instrument that restricts rights linked
in the context of criminal liability. to money has the potential to generate some retributive sense.
2.1. THE RETRIBUTIVE SENSE OF MONETARY SANCTION The confrontation of this question requires a historical-sociological cut.
In fact, if it is true that the restriction of freedom of movement, since the dawn
The sanctioning activity is distinguished from the others because it is the
of modern sanction, has been based on work as the central and structuring
result of the exercise of a power attributed to certain agencies of the state that,
axis of the whole society66 – a circumstance that would lead to a form of pun-
vested with the duty to impose the expected consequences for noncompliance
ishment in which the restriction of time of labor would foster the discipline
with the rules, act in a cogent manner, whenever there are presuppositions to
and emancipation of people in order to reach the maximum degree of devel-
do so.59 The idea of c​​ ogency is an exclusive note of legal sanctions60, which are
opment of their abilities67 -, since at least the last quarter of last century68, the
the only ones which fulfillment is inevitable.61
axis has become the consumption.
More than the cogency, however, it will be the condition of distress
From there onwards, liberty came to mean more than the mere ab-
that will correspond to the characteristic that must be emphasized herein.
sence of restrictions, being directly related to the actual success of individual
In fact, only the punitive legal activity is expressed through a measure en-
actions, particularly concerning the possibility of possessing goods and re-
dowed with retributive content, something inherent in any conception of
sources.69 Therefore, naturally within a consumer ethic, personal fulfillment,
punishment.62 It is often said that it is precisely the distress that causes the
autonomy and liberty can only be met by material compensation.70 And, from
sanction to be felt as suffering, that is, a displeasure.63 More than pain,64 one
this perspective, the restriction of money comes to mean the restriction of liberty,
can refer to an evil, as a legitimate deprivation of a desired good, intention-
ally produced to the offender.65
66. ROLDÁN BARBERO, Horacio. El dinero, objeto fundamental de la sanción penal: un estudio histó-
rico de la moderna pena de multa. Madrid: Akal, 1983.
Buenos Aires: Astrea, 2006, page 51, which also refers that since the 19th Century it is known that the 67. BERLIN, Isaiah. Dos conceptos de libertad; El fin justifica los medios; Mi trayectoria intelectual. Ma-
philosophical arguments would not enable deciding between the theories of penalty, but it is a decision drid: Alianza Editorial. 2001 [1969], pages 47-49. In the same sense, SÁNCHEZ FERRIZ, Remedio,
taken by “por razones cotidianas de conveniencia política”. Estudios sobre las libertades. Valencia: Tirant lo blanch, 1995, page 44.
59. For the concept of “sanction” refer to COBO DEL ROSAL, Manuel e VIVES ANTÓN, op. cit., 1999. 68. Since the 70’s of the 20th century, as it would be observed in the configuration of the traditional state
page 64. components, the concept of the so called “Welfare State” ceased to be a reality. On the impact of that
60. It is not unknown that the imperative and cogency are technically different concepts. However, their change in the perspective over the state instruments, refer to BOBBIO, Norberto. Estado, gobierno
effects do not apply to the following, refer to FALCÓN Y TELLA, María José; FALCÓN Y TELLA, y sociedad: por una teoría general de la política. México: Fondo de cultura económica, 1992; FER-
Fernando. Fundamento y finalidad de la sanción: un derecho a castigar?. Madrid: Marcial Pons, Edi- RAJOLI, Luigi. Derechos y garantías. La ley del más débil. Madrid: Editorial Trotta, 2010, spe-
ciones Jurídicas y Sociales, 2005. pages 88-89. On cogency as a peculiar characteristic of Law, refer cially Theme 5; HABERMAS, Jürgen. La constelación posnacional: ensayos políticos. Barcelona:
to for all WEBER, Max. Economía y sociedad. Esbozo de sociología comprensiva, Translated by J. Paidós, 2000. HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Impero: il nuovo ordine della globalizzazione.
Medina Echevarría et.. México: Fondo de Cultura Economica, 1964 [1922], page 28). Milano: Rizzoli, 2001; HÖFFE, Otfried. Ciudadano economico, cuidadano del Estado, ciudadano
61. FALCÓN Y TELLA e FALCÓN Y TELLA, op. cit. page 89. del mundo: ética política em la era de la globalizacion. Buenos Aires: Katz, 2007; HÖFFE, Otfried.
A democracia no mundo de hoje. Translated by Titio Lívio Cruz Romão. São Paulo: Martins fontes,
62. In this investigation, although with some relative stance, the distinction outlined by FALCÓN Y 2005. On the fiscal crisis produced during that period and which would bring notable effects to the
TELLA, María José; FALCÓN Y TELLA, Fernando, ibidem, pages 16-17, is accepted, since they social policies, contributing for withdrawing legitimacy of the state assistance function that, until
distinguish the broader concept of punishment, from a more concrete related to sanction and from a then, represented the core structure of the whole prior system, refer to O’CONNOR, James. La
less generic referring to penalty. For these writers, the term punishment should refer to those measures crisis fiscal del Estado. Barcelona, Península, 1994; PAVARINI, Massimo. Control y dominación:
tied to disciplines alien to the Criminal law. teorías criminológicas burguesas y proyecto hegemónico. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores
63. Regarding the risks that may suppose the definition of suffering as a distinctive characteristic, refer to Argentina, 2002. First part, 2, X and XI; BERGALLI, Roberto. “La forma-Estado social y el sistema
BETEGÓN, Jerónimo. “Sanción y coacción”, in El derecho y la justicia. Madrid: Trotta, 2000, pages penal. Experiencias municipales en Barcelona a través de sus servicios sociales”, in Sistema penal e
355-366, who warns that the creation of a type of “barrera definicional” which could end up with the intervenciones sociales. Barcelona: Editorial Hacer, 1993. pages 219-286.
possibility of certain arguments that seek to reformulate or rehabilitate the offender (Íd. page 361). 69. In Georg Simmel there is the recognition that liberty is not reduced to its negative meaning, since like
64. Certain writers assign exclusive use for the term “displeasure”, distinguishing it from “pain”, which liberty “es libertad frente a algo, también es libertad para algo” (SIMMEL, Georg. Filosofía del dinero.
would be more related to torture and scourge, which would prevent it from representing the punish- Granada: Editorial Comares, 2003 [1900], page 513).
ments. In this sense, refer to FLEW, Antony G. N. “The Justification of Punishment”, in Philosophy, 70. We are aware that in any model of society there are specific consumption characteristics, since no
29, n. 111, 1954, pages 291-307 (293). one can survive without consuming. When it refers to a consumer society, therefore, it is a matter of
65. FALCÓN Y TELLA and FALCÓN Y TELLA, op. cit., page 23, who, besides making a detailed asses- emphasizing something else. In other words, to emphasize the existence of an obligation of being a
sment of all the elements of punishment (Íd., pages 21-34), noted that it will be the idea of intentional consumer, in a scope regulated by the principle of immediate pleasure and desires that do not accept
deprivation of a desired good that will differentiate the sanction from other cogent governmental ac- the delay (ENRIQUE ALONSO, Luis. “Cultura y desigualdad: el concepto de consumismo en Zyg-
tions (e.g., quarantine, as non-intentional suffering) and from the measures desired by the offender. munt Bauman”, in Revista Anthropos, n.º 206. Barcelona: Anthropos Editorial, 2005, pages 36-51).
336 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 337

that is, the liberty to consume. The first is that money today is not just money, that is, a monetary
It is not a question of consumption related to the mere purchase and amount lacking a subliminal meaning. One should differentiate money from
possession of goods, it should be emphasized, or to the capacity to increase the value of money. To a certain extent, it is a matter of accepting an under-
wealth. In reality, it refers to a consumption of goods with the capacity to standing that promptly goes far beyond what Georg Simmel understood
distinguish, that is, goods with the potential to serve as “insignia of belonging about the value of money, understanding that money could not disregard
to the right side”, implying a constant struggle for symbols and visual indica- its quality of value.76
tions that allow the distinction between people.71 It is, therefore, a matter of In fact, as Viviana Zelizer mentions when addressing so-called “money
acquiring goods to achieve an approval and differentiation of social position market”, it is precisely its social differentiation that expresses itself as a dis-
according to the lifestyle.72 tinctive note of money today. So even though money is easily transferable,
This consumption, therefore, requires perceiving the money beyond it must be recognized that people often strive to link it to certain social
its simple economic conception, proper of a period that today must be relations. And while it is recognized that money is an important rational
considered outdated. Actually, based on different perspectives, inves- instrument for the modern economic market, its functions outside this
tigations from the late 20th century already denounced how rigid and scope must also be recognized, in which a profound influence of cultural
outdated the concept of homo economicus was. For no other reason, and social structures will be evidenced.77
even some economists who accepted rational choice models expanded Precisely for that, one must admit different meanings and expressions
their perspective to offer relational explanations about the economy of deriving from money, that is, multiple classes of money, which begins to be
everyday life.73 It has become increasingly recognized that, while personal marked based on a diversity of interactions within society that create dif-
choices and incentives could explain much of economic behavior, social ferent meanings for different contexts. This means that money is not “free”
relationships play a determining role that cannot be overlooked. After from social limitations, but rather refers to a distinct type of socially created
all, what is recognized is that the amount spent, saved, invested, donated currency, subject to certain networks of social relations and therefore subject
and lent matters as much as knowing when, for whom and with whom to its own set of values ​​and rules.78
this transaction will be carried out. That is why the economic sociology74 From this perspective, the recognition of an intended liberty and of an
refers that in economic action, it no longer only matters “nuestro yo in- unlimited power of money is poorly accepted. After all, cultural and social
dividuales, sino también nuestro yo relacionales.”75 structures create unavoidable limits to the monetary process, introducing
Such a conception allows some conclusions in the scope of this research. controls and restrictions on the flow and liquidity of money.79 In fact, even
the valuation of an amount of money requires social estimates that imply
71. Of the most diversified types, these indications include from the form of the body itself up to the places
visted and the tastes of a certain person (BAUMAN, Zygmunt. A liberdade. Lisboa: Editorial Estampa, something more than mere rational calculations of the market. Simmel,
1989 [1988], page 123).
72. BOURDIEU, Pierre, La distinción: criterios y bases sociales del gusto. Madrid: Taurus, 2000.
for example, pointed out that money in high quantities would give a new
73. That is denounced by ZELIZER, Viviana A. Vidas económicas. Cómo la cultura da forma a la econo-
mía. Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas, 2015. page16.
74. Viviana A. Zelizer recalls that “no se puede negar que el estudio sociológico de los procesos económi- 76. In the writer’s wording “despite all the differences that there might exist between the Money and
cos tiene una larga estirpe. Karl Marx, Max Weber y Emile Durkheim fueron quienes abrieron camino. anything which value is measured by it, both have value, both shall coincide; and even if the value is
En la década de los cincuenta, en los Estados Unidos, Talcott Parson, Neil Smelser se enbarcaron en nothing but a subjective feeling by which we represent our impressions about the things, that quality
la tarea de sintetizar los enfoque económicos y sociológicos, pero sus esfuerzos fueron vanos y no which, although not identifiable, is the mean by which both influence in the human feeling of value, it
cristalizaron en una nueva especialidad. Lo que ahora se conoce como ‘nueva sociología económica’ has to be the same in both cases” (SIMMEL, Georg, Op. cit., page 118).
despegó en la década de los ochenta. La trayectoria de la sociología económica en Europa difiere de
la seguida en los Estados Unidos por dos razones principales: en primer lugar, la economía a la que 77. ZELIZER, Viviana. El significado social del dinero. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica,
responden los europeos es muy distinta en su enfoque, reflejando en mucha mayor medida el trasfondo 2011, page 34.
institucional, histórico y comparativo que la economía de los Estados Unidos. En segundo lugar, la 78. As illustration, Zelizer refers how surprised a person would be in view of “misuse” of Money in a
sociología económica conecta mucho más estrechamente con programas de reformas y aplicados en wrong circumstance or social relation, such as offering a 500 Euro bill to pay a newspaper or tip the
Europa que su homóloga estadounidense (Ibidem., page 26-27). owner of a restaurant (Ibidem, 35).
75. Ibidem, page 17. 79. Ibidem, 35.
338 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 339

meaning to its mere quantitative nature80, making this amount to be endowed the analyzed terms, does not prove sufficient to show the effectiveness of
with “infinite possibilities”81 that would transcend the figures. the monetary way in sanctioning. In fact, the distressing sense, by itself,
Note, however, that not only large fortunes have that possibility of does not refer to an exclusive type of sanction. There is distress not only in
departing from the objectivity of figures. Even sums of money of distinct legal-criminal systems, but also in those of extra-criminal nature. After all,
expression may have the same meaning. In this respect, it is sufficient to just as deprivation of liberty appears as a distressing manifestation, the same
recall those systems in which there is the character of punitive damages82, in applies to a forced civil execution, or even certain administrative restrictions
the sense of rules of civil liability that go beyond financial compensation, to of rights. This borderline between the different spheres is even more blurred
relieve, for example, the pain of a child’s loss resulting from practice of an when the question is analyzed from monetary bias, since there does not seem
unlawful act. They are systems that, therefore, choose to provide a symbolic to be any significant distressing difference between criminal fine, monetary
sum of money, representing a worthy equivalent to this affective loss.83 administrative sanction and compensation for non-property damages.
Applied to corporate liability of the legal entity, these reflections allow Precisely for this reason, it is necessary to add a second sense which
us to see how the restriction of goods and resources has the potential to in- allows identifying other practices that, gradually, may be composing a criminal
terfere with their ability to distinguish themselves from others. In this regard, sanctioning rule potentially effective for the scope concerned herein.
it is sufficient to take as an example the relevance of the corporate capital and It is within this context that the preventive and deterrence sense becomes
the economic and financial qualification of a particular legal entity in order important. In fact, it will be expressed through practices that will show that
to define its capacity to participate in specific bidding procedures.84 a particular measure is useful for the purpose for which it was proposed. It
Thus, everything indicates that there is a context that bans those should be noted, first of all, that this mention of usefulness must be under-
traditional prejudices about the inexistence of a distressing and retribu- stood in all its fullness.85
tive sense in monetary sanctioning institutes, since they are still based on In fact, in the criminal sphere, it cannot be forgotten that usefulness
eminently, if not exclusively, economic perspectives. It is to be assumed, refers, in the first instance, to the very justification of the sanctioning rule,
therefore, that within this sociological context, the monetary sanctions play presenting itself as one of the values ​​that make up its double foundation.
a more important role, given their ability to impact on a person’s financial Actually, invariably represented by the expression “legal protection”, that
possibilities, reducing and even nullifying their consumption capacity and, double foundation requires that any sanctioning rule be justified only by its
consequently, influencing their social position. usefulness, which, expressed through its preventive (general and special) effects
and within certain limits, will express an idea of ​​distributive justice typical of
2.2. THE DETERRENCE SENSE OF THE MONETARY SANCTION
the very state model prevailing in our environment.86 Thereby, it is admitted
Alone, however, the presence of a retributive content, according to that if, on the one hand, the justifying foundation for any penalty shall be
80. SIMMEL, Georg, Op. cit., page 327-329.
81. Ibidem, 517. 85. Regarding the density involved in the attempt of conciliating usefulness and effectiveness, refer to
82. For a brief approach on punitive damages, refer to KOZIOL, Helmut e WILCOX, Vanessa. Punitive BERMUDO ÁVILA, José Manuel. Eficacia y justicia: posibilidad de un utilitarismo moral. Barcelo-
damages: common law and civil law perspectives, Tort and insurance law. New York: Springer, 2009; na: Horsori, 1992.
GOTANDA, John Y. “Punitive Damages: A Comparative Analysis”, in Columbia Journal of Transna- 86. The only justification foundation of the criminal Law – and, therefore, also of the penalty – derives
tional Law, 42, n. 2. 2004. pages 391-444; and ALISTE SANTOS, Tomás Javier. “El origen histórico from an idea of protection instead of the principle of usefulness, while the principles that are linked
de los punitive damages como presupuesto de su rechazo procesal en los países de civil law, Práctica to the idea of distributive justice represent a limit of the intervention. In fact, according to COBOS/
derecho daños”: in Revista de Responsabilidad Civil y Seguros, 119, 2014. pages 20-28. VIVES, the legal protection is, first, a protection of goods and interests, which therefore incorporates
83. ZELIZER, V., El significado social…, 35. the idea of a justification of the penalty due to the principle of usefulness, i.e., for its beneficial conse-
84. This is the sense conveyed by §§ 1 to 5 of article 31 of Law no. 8.666/93 which, in the documentation quences. However, obviously, it is not any class of protection, but only a legal protection that cannot
to be presented for participating in bids the Management could demand, among others, “minimum ca- be obtained at any price, but it must also respect the rights of the charged party, due to the distributive
pital or minimum net worth... as an objective data to prove the economic-financial qualification of the principle, specific of any constitutional systems. Hence, the justification of the penalty for its capacity
bidders and for purposes of guaranteeing compliance with the contract...”, and also that “it might also to protect legal assets can only be accepted within the limits derived from the principle of prohibition
be required the list of the commitments undertaken by the bidder that entail reduction of its operating of excess or proportionality in a broad sense. Refer to COBO DEL ROSAL, Manuel e Tomás Salvador
capacity...”. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op. cit., pages 822 et seq.
340 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 341

represented in the notion of retribution, and its usefulness will assume the Obedience, from this perspective, comes to be seen as a practice that in-
condition of limit. And in spite of this concomitant reference to the foun- dicates the effectiveness of legal rules, giving rise to what Sociology usually calls
dation and to the limit of the penalty, one will not be faced with opposing “effectiveness as compliance”91. According to this conception, the effectiveness
ideas,87 but with a demonstration of what works positively in justifying the of a rule depends on the obedience it receives on the part of the addressees,
penalty and of what operates negatively, serving as a conceptual delimiter.88 giving rise to an intentional state on the part of the individuals who carry
This demonstrates the relevance given to value usefulness within the current out what the rule compels, precisely, by its mere existence.92 By this notion, a
state model, indicating that the problem of justification of the sanctioning rule can be more or less effective depending on the degree of compliance that
rule is not resolved by the full acceptance or rejection of a given point of it obtains, that is, the size of the range of people who obey it in relation to
view, but rather by “elaborando un modelo integrado, en el que la idea de the group of addressees and the number of acts of obedience generated by it.
utilidad juegue dentro de ciertos principios distributivos”.89 Under this bias, finally, the rule will be effective when fulfilled, that is, when
Anyway, should this justifiable conceptual perspective not be enough, its intent of fulfillment is satisfied.93
under the bias of the demonstration of the effectiveness of the monetary way This digression allows extracting that what will be interesting for the
in the scope of the liability of the legal entity, it is still worth mentioning evaluation of the preventive and deterrence sense of the efficacy of a rule refers
what has been just mentioned. That is to say, the existence of certain practices to the form of determining its “degree of obedience”. And for this, it will be
that express preventive effects and therefore, serve as indicators that a given necessary to observe acts of disobedience, since the greatest number of acts of
sanction can claim to be effective. disobedience, in principle, will correspond to a lesser degree of effectiveness.
As observed, the reference, now, relates to those activities that lead to That is why, rather than the effectiveness, reference should be made to a “cer-
obedience to the rule. The meaning of effectiveness thereby resumes its rele- tain degree of effectiveness”.94
vance, which is seen as derived from the correspondence between the content An expression that, to some extent, explains why Norberto Bobbio
of the rule and the acts carried out by its addressees, in the sense that a rule warned of the existence of rules that are universally followed spontaneously;
can only claim to be effective if it is to be generally obeyed by the addresses of those which are followed in most cases when provided with a kind of
and, if it is not complied with, the corresponding penalty will be applied.90 coercion; of those which are not followed despite coercion; and finally, of
some which are violated without even applying the corresponding coercion.95
87. Refer to ROXIN, Claus. “Sentido y límites de la pena estatal”, in Problemas básicos del derecho pe-
nal. Madrid: Reus, 1976 [1966], pages 11 – 36. Also referred by BERMUDO ÁVILA, José Manuel, This differentiation gains importance in awakening to the determina-
op. cit., page 215, “más que dos concepciones excluyentes son dos aspectos de problemático equilibrio
de la acción de la justicia”. tion of the reasons why a rule will have a higher or lower degree of effectiveness,
88. Also referred by VIVES, “ha de reconocerse que … la ‘justa proporción’ que reclama el principio
retributivo solamente puede establecerse sobre la base de valoraciones culturales, cambiantes e inse- a subject that leads to the study of the factors that contribute to the obedience
guras. De modo que, si bien la retribución ha de operar como límite máximo de la medida de la pena, of the rule. Specifically under a sanctioning aspect, this is a topic that ne-
en modo alguno cabe deducir de ella un límite mínimo a ésta. Hoy como ayer, la retribución es el único
fundamento de justicia que cabe hallar a la imposición de la pena. Pero se trata de un fundamento tan cessarily refers to the understanding of the process of acceptance of the law.
relativo y dudoso que no cabe deducir de él la necesidad de su imposición efectiva en todos los casos
en que parezcan concurrir sus presupuestos. De cualquier modo, pienso que es un fundamento insufi-
ciente para determinar la imposición de la pena allí donde ésta aparezca com inútil o contraproducente.
Si es injusto castigar cuando no se ha cometido delito, también lo es castigar el delito cometido cuando y derecho, in Revista de pensamiento jurídico, vol. 8, n.º Tirant lo Blanch. 2010. page 109. Even if
de ese castigo no se siga beneficio alguno ni al individuo ni a la comunidad. En ese sentido, los fines not ignoring that, under the terms of what has been accepted, we shall be using “el concepto más débil
de la pena deben también cumplir una función limitativa. Refer to VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, de eficácia”, we must, at least in part, agree with Pablo Navarro to whom it might perhaps be a vain
op. cit., pages 261-262. Also conciliating the two hypotheses, but under a different perspective, refer to effort to find “one” basic concept of effectiveness that may serve to render accounts of all the complex
MUÑOZ CONDE, Francisco. Derecho penal y control social. Jerez: Fundación Universitaria de Jerez. relations among rules and conducts (NAVARRO, Pablo E., op. cit. pages 26-27).
1985, page 51, which refers that “el derecho penal no solo es un medio de represión, sino también un 91. Refer to VILAJOSANA RUBIO, J. M., op. cit., page 106.
medio de prevención y lucha contra la delincuencia”.
89. The note is by COBO DEL ROSAL, Manuel e VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, op cit., page 822, 92. In this sense, HIERRO, Liborio, op. cit., page 15, recalls that “the intention of fulfillment of the rules
note 55, with clear source in RAWLS, John, Teoría de la justicia, México: Fondo de Cultura Econó- is part of its actual meaning”.
mica. 1979 (1971). pages 216 et seq., to whom “la decisión no es de todo o nada; es un problema de 93. Ibidem, page 17.
sopesar las pequeñas variaciones en la extensión y definición de las diferentes libertades”. 94. Refer to VILAJOSANA RUBIO, J. M., op. cit., page 107.
90. Similarly, refer to VILAJOSANA RUBIO, J. M. “Eficacia normativa y existencia del derecho”, Teoría 95. BOBBIO, N., Teoria da norma jurídica..., , pages 47-48.
342 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 343

In fact, the effectiveness of the sanctioning rule derives immediately from points to the intimidating potential that certain social sanctions may re-
the acceptance of the law, which for no other reason, under the sociological present, either through the mere disapproval of the conduct practiced or
bias, is considered as the most important factor contributing to an effecti- through the exclusion of certain spaces.103 Upon recognizing that a large part
ve rule.96 It is an acceptance that corresponds, in fact, to adherence to the of the cohesion of a social group results from the uniformity of behavior, it
rules, which may derive from spontaneous behavior (because the person is accepted that “the group’s reaction to the violation of the rules guaran-
understands that they must obey the rule and the public authorities)97 or a teeing this cohesion [would be] one of the most effective means of social
reflexive conduct (because the person believes that they must do it because control” which would make this type of sanction uncontroversial.104 In this
of the benefits provided by the rule). While the first form of acceptance sense, those practices that are anchored in the constraint become suggestive,
comes from a feeling, the second derives from a juridical conviction98, in and it can be admitted, at least in principle, that their use would be feasible
relation to which it will take into account the classic issues related to the as an alternative sanction.105
dissuasive nature of the sanctioning rule, suggesting the immediate question Under the scope of responsibility of the legal entity, however,
of knowing to what extent it is possible to exist a practice which involves the the challenge will be to verify how to ensure that the monetary values​​
monetary restriction and which has an intimidating effect. aimed at intimidation are not absorbed among the costs of the offen-
Well, within a sociological context of consumption, it seems reaso- sive conduct itself.106 It is a challenge that, as seen, involves the prior
nable to suppose that, in certain circumstances of offenses, the monetary determination of what, in fact, are the practices that should be used to
sanction may in fact present an effective intimidating component. After all, intimidate collective entities. 107
it is a social context aimed at differentiating, in which the acquisition of Whatever the case, what is certain is that acceptance of the law assumes
goods and properties aims to impact the ability to distinguish,99 expressing the condition of a factor that contributes to the effectiveness of the rules.
a symbolism and visual indications that enable the distinction among the And, thereby, the issue related to the credibility of law as an instrument of
members of a given social grouping.100 It is, in fact, a scenario in which conflict resolution becomes promptly relevant. In fact, considered as one of
the acquisition of goods occurs in view of approval within a social space, the social functions of Law,108 the adequate conflict resolution must be in line
enabling a differentiation of the each person’s position between consumers with the social perception of justice itself.
and non-consumers.101
If so, it is possible to admit that, at least in principle, this distinction 103. Concerning the social sanctions, refer to BOBBIO, N., Teoria da norma jurídica..., pages 157-159.
104. Ibidem, pages157-158, who even states that “there is no doubt that this kind of sanctions are effective”.
can effectively serve to intimidate in certain cases. Also because the distinc- 105. In this regard, mandatory references are the works by BRAITHWAITE, John. Crime, shame and rein-
tion between social positions has always been used as one of the elements tegration. Cambridge: Cambridge University Press, 1989; and SIMPSON, Sally, op. cit.
106. Regarding those aspects, without any intent of covering the comprehensive bibliography in this regard,
to be taken into account for the exercise of social control.102 initial references are the traditional works by COASE, Ronald Harry. “The Problem of Social Cost”, in
Journal of Law and Economics, 3/The University of Chicago Press, 1960. Pages 1-44 and, in the crimi-
Transferred to the peculiarities of the legal entity, this order of ideas nal scope, BECKER, Gary S. “Crime and punishment: An economic approach”, in Journal of Political
Economy, 76/The University of Chicago Press. 1968. Pages 169-217. Although frequently referred
to as the beginning of the study on the economic analysis of law, COASE’s article is far from being
96. SORIANO, Ramón, op. cit. PAGE 405. able to assume this condition. In this sense, POSNER, Richard A. El análisis económico del derecho.
97. Regarding the spontaneous adhesion, refer to BOBBIO, N., Teoria da norma jurídica..., pages 162- México: Fondo de Cultura Económica. 2000. Refers that the relation between law and effectiveness
165. is known at least “desde la discusión de Hobbes sobre la propiedad en el siglo XVII. David Hume y
98. SORIANO, Ramón, op. cit., 1997, page 405.
Adam Smith discutieron las funciones económicas del Derecho. La contribución de Jeremy Bentham
fue fundamental, tanto para extender el pensamiento económico a las conductas no comerciales cuanto
99. BAUMAN, Zygmunt, op. cit., page 137. en aplicarlo al Derecho penal. En el continente europeo, Max Weber realizó importantes contribucio-
100. Ibidem., page 145. nes para comprender el papel económico del Derecho”.
101. BOURDIEU, Pierre, op. cit., 2000. 107. Regarding the criminal dogmatic difficulties involved in the matter, observe, in this work SCANDE-
102. The fact that this element, many times, is deviated does not mean that it cannot exist. In this regard, LARI, Gustavo Britta; ANDRADE, Guilherme Oliveira de. “A prevenção geral positiva na sanção
among a too-vast bibliographic reference, refer to DE GIORGI, Alessandro. A miséria governada aplicável à pessoa jurídica: crítica e sugestões”, specially item 4, who soon acknowledge, with BAI-
através do sistema penal. Rio de Janeiro: Instituto Carioca de Criminologia e Revan, 2006; GAR- GÚN, in this scope that it is necessary to develop “specific agendas”, built from the “dysfunctions of
LAND, David. A cultura do controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de the economic and social formation” of the legal entities.
Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2008 [2001]. 108. In this regard, refer to REHBINDER, Manfred, op. cit. Pages 125-135 (126).
344 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 345

This requirement causes every reaction to the violation of a rule of for services received that assumed particular importance from a context of
conduct, in addition to seeking to avoid the loss of the trust entrusted to regulatory state which, with an increasingly broad and prosaic use of its ad-
it, to also have the purpose of remediation satisfaction.109 It is precisely at ministrative powers, began to weaken the social perception of the retribution
this point that the third sense becomes relevant which, in this space, still meaning included in the monetary sanctions.114
deserves being mentioned. It is important to note, however, that the reparation sense referred to
2.3. THE REPARATION SENSE OF THE MONETARY SANCTION here is not exclusively economic and compensatory in nature. After all, not
always the social satisfaction or the satisfaction of the offended party can be
The traditional idea of effectiveness
​​ of the rule “as compliance”, nowa-
expressed by money.
days, no longer exhausts all uses of this term.110 That is why it must be added
to the concept of effectiveness as evaluation of satisfaction expressed by the This aspect is evidenced, in particular, concerning the search for a pre-
recipients of a given public policy, fulfilling what sociology calls “social effec- tended satisfaction of the victim. As Winfried Hassemer had warned since
tiveness”.111 In other words, in order to be effective, it is also necessary that the the turn of the century, the victim no longer appears as a mere paper figure,
rule produces effects aimed at the social interests and, if applicable, the inter- but as a living person whose legitimate interests must also be considered by
ests of the individualized persons harmed by non-compliance with a given the sanctioning theory. Thereby, in observing the interests of the victim,
rule of conduct.112 Therefore, only when a practice that implies satisfaction is a retrospective view takes on new importance, taking into account what
evidenced this reparation sense will be considered present. has happened to establish an effect which is more for the sanction. It is, in
fact, an effect that goes beyond the mere abstract injury of the rule and is
Well, although under a sociological bias, this conception is as an argu-
related to the concrete case.115 As observed, this is a bias that assigns special
mentative complement to the traditional concept assigned to the expression
importance to the satisfaction of the victim, as the recipient of the criminal
effectiveness, in the scope of the state exercise of the punitive power, it is a
policy, allowing a more accurate assessment of the “social effectiveness”116
notion that could be perfectly extracted from the retributive conception of the
of the sanctioning rule, in the referred terms.117
sanctioning rule. After all, that original concept of retribution has long since
been overcome, and it must also, at the present time, be related to a sense of
lead to that consideration for the received services, i.e., that return which, in the case of positive servi-
remuneration or consideration.113 It was precisely this notion of consideration ces, would consist of a retribution and only in the cases of negative services in the “pago con la misma
moneda”, i.e., in punishments and retaliations. That is why, as said, there is an error in considering the
concept of retribution as personal revenge or derived from hate, which also opposes Kant (1797) when
109. In this regard, refer to Ibidem, pages 125-135 (128). stating that “ninguna pena, sea de quien sea, puede ser infligida por odio” (HÖFFE, Otfried. “¿Existe
110. This warning is also made by HIERRO, Liborio, op. cit., page 18. un derecho penal intercultural?”, in Derecho intercultural. Barcelona: Gedisa, 2000 [1999], page 15-
111. There are some writers who analyze the effectiveness of the rules based on two levels. At the first 161 [§10, 104-105]).
level, the effectiveness of the rules supposes the awareness of their immediate purposes and here it is 114. In fact, a practice is used which has always been very present in the public policies, but which seems
important whether the rules are or not observed by the recipients and if the operators of law enforce to have passed unnoticed.
their compliance. At the second level, effectiveness is focused on “social effectiveness”, which is a 115. HASSEMER, Winfried. “¿Por qué y con qué fin se aplican las penas? Sentido y fin de la sanción
perspective introduced by the functional focus and refers to the social, economic effects, etc. that deri- penal”, in Revista de derecho penal y criminología, 3/Uned. 1999. pages 317-334. In fact, “con la aten-
ve from the fact that the rule is complied with, i.e., refers to the social consequences of the rules effec- ción a la víctima se añade algo más al concepto normativo de los fines de la pena: la satisfacción o la
tiveness, Refer to ACOSTA, Rolando Pavó. “Las Iinvestigaciones sociojurídicas acerca de la eficacia reparación a la víctima no solo significa la reposición material del daño causado; con la reparación a la
y efectividad del Derecho: algunas alternativas metodológicas”, in Revista Internacional Consinter de víctima se hace referencia también a algo normativo; a saber, la rehabilitación de la persona lesionada,
Direito, II, 2016, pages 437-462 (443). Within the scope of the General Theory of Law, by different la reconstrucción de su dignidad personal, el trazado inequívoco de la línea entre un comportamiento
paths, certain studies also reach this same idea of effectiveness, considering that, in the routine political justo y uno injusto, la constatación ulterior para la víctima de que, efectivamente, ha sido víctima” (Íd.
discussion, the effectiveness should also be seen as “axis of the rule as instrument to reach a state of page 323).
good or desirable things” (HIERRO, Liborio, op. cit., page 20). 116. ACOSTA, Rolando Pavó. “Las Iinvestigaciones sociojurídicas acerca de la eficacia y efectividad del
112. Certain writers limit the idea of social effectiveness to the “cumplimiento de los objetivos volitivos Derecho: algunas alternativas metodológicas”, in Revista Internacional Consinter de Direito, II, 2016,
propuestos con su creación, es decir, cuando se logran los propósitos económicos, sociales y políticos pages 437-462 (443).
como derivado de hecho de que la norma se cumpla, obteniéndose los fines sociales previstos”. These 117. We are aware that this attempt to satisfy the interests of the victims through sanctioning rules is a great
same writers, however, do not take too long in considering that also the “conciencia jurídica” – unders- challenge. In this regard, observe the warning by DUFF, R. A. and MARSHALL, S. E. “Communi-
tood as a set of the individuals valuation about the legal system – somehow, ends up being one of the cative punishment and the role of the victim”, in Criminal Justice Ethics, 23, n.2, 2004, pages 39-50,
causes for the effectiveness and for the non-effectiveness of a rule; Refer to ACOSTA, Rolando Pavó, who promptly acknowledge that the challenge will exist for “any penal theory that claims to take
op. cit., pages 437-462 (447 e item 4). victims and their rights seriously” (Íd., page 41). Therefore, the purpose here was only to refer that the
113. According to Höffe, it cannot be disregarded that “Vergeltung” (remuneration) has the same root of sanctioning rule, intending to be effective, must present among its effects some type of victim interest
“Geld” (money), and refers to the basic form of human interchange. Therefore, remuneration would contribution.
346 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 347

This satisfactory goal, however, goes even further. In fact, in the cri- retributive conception, it can only be accepted when exercised from a limit-
minal law scope, aggressors and victim have long been considered as “no ing perspective derived from the very juridical rules conceived within a truly
están solos” (“they are not alone”), since society also appears as an affected democratic state governed by the rule of law. Although these limits are not
element.118 Hence it is assumed that the foreseeing of the consequences of always evident, there must be a continuous claim to seek their observance.
sanctions should also depend on a normative appreciation of social coexis- Anyway, these digressions lead to reflect on their reflexes for purposes
tence. That is why it is important to consider the social perception itself in of accountability of the legal entity through the monetary way. In fact, what
relation to the consequences to be foreseen for noncompliance with social we must first ask is to what extent, in this scope, it will be possible to verify
rules. In fact, in the same way that transparency in the application of the the existence of practices and activities that evidence a remediating effect
sanction is relevant for the subsistence of the rule of conduct violated, this produced by the monetary way that, to some extent, overcomes the mere
fact is also impacted by the evidencing that non-compliance with the rule economic content of the event caused, generating a social perception of sat-
will not be tolerated, nor approved, preserving it from any kind of denial. 119 isfaction from the applied sanctioning rule.
That is why, irrespective of the way of sanctioning, the occurrence thereof
In a first approximation, it seems clear that the current configuration of
is already something indispensable for the restrictions imposed on people’s
the Brazilian system of law is not endowed with an instrument that is able to
rights to remain binding.
fulfill this sense according to the referred terms. In that sense, just recall the
Several consequences derive from this digression and it is enough destiny that is invariably assigned to any of the monetary consequences that
to highlight the one that really matters hereto.120 In recognizing that the exist today. In fact, just as the criminal fine is far from providing any kind
application of the criminal sanction will only have meaning as a “public rep- of positive perception of disapproval for the perpetrated conduct,123 neither
resentation”, it becomes necessary to accept that the application of the rule, are the administrative fine and the civil monetary consequences felt as truly
in order to be effective, must have a clear and reliable meaning for society, satisfactory measures, and they are often considered as mere consequences of
“porque de otra manera se puede alcanzar una estabilización de la norma minor expression linked to routine accounts.
desde una perspectiva teórica, pero desde luego no en la realidad cotidiana”.121
In such a scenario, at least in principle, it is evident that, although
That is why it is said that the reference to satisfaction, either of the there is a significant potential of the monetary way to serve as an impor-
society or of the victim, should not be interpreted as only a reparation of an tant sanctioning instrument, its relevance has been underestimated since
economic order. It is a satisfaction that must be measured from a reparation the definition of the public policies related to this sanctioning power. The
sense, expressing social perception and, as the case may be, the victim’s perception corollary of this disregard is that, in practice, the use of these monetary
of the sanction applied in the specific case. consequences becomes quite frequent in an absolutely disproportionate
The risks of assuming such a stance are not ignored. For this reason, manner, as illustrated in our opening lines.
its legitimacy will require an unrestricted observance of the limits of state
CONCLUSIVE CONSIDERATIONS
punitive intervention. 122 In fact, since it is a feature that has its roots in a
This brief study aimed to verify to what extent the monetary way can
118. HASSEMER, Winfried, op. cit., pages 317-334 (323). be an effective sanctioning instrument in the scope of the criminal liability
119. Ibidem, pages 317-334 (324).
120. To consult the list of some of those consequences in the criminal-legal scope, refer to HASSEMER, 123. In this sense, just recall that, in terms of rules, the criminal fine is one of the resources composing the
Winfried, op. cit., pages 317-334 (324). For in-depth consideration of those aspects, observe the work National Prison Fund (Complementary Law no. 79/1994, article 2, V), therefore being separated even
by the same writer in HASSEMER, Winfried. ¿Por qué castigar? Razones por las que merece la pena of an economic and remediating bond to the society or to the victim. Even in the scope of the case law,
la pena, Valencia, Tirant lo Blanch, 2016 [post-mortem work]. there are many decisions handed down by the Higher Court of Justice acknowledging the possibility of
121. Ibidem, pages 317-334 (324). extinction of the criminal execution of the yet unpaid fine “when all the formal procedures aimed at its
122. Regarding the limits of this retribution character and the risks of deviation therefore, refer to MUÑOZ collection have already been concluded” (Higher Court of Justice, Motions of Divergence in Special
CONDE, Francisco; GARCÍA ARÁN, Mercedes. Derecho penal: parte general, 9ª ed. Valencia: Tirant Appeal no. 845.902/RS), or even when there has already been “only compliance with the deprivation
lo Blanch. 2015 pages 36-37 of liberty penalty” (Higher Court of Justice, Special Appeal no. 1.519.777).
348 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 349

of the legal entity. BECKER, Gary S. “Crime and punishment: An economic approach”, in Journal of Political Economy,
76/The University of Chicago Press. 1968.
At this point, it is possible to conclude that this question: (i) presup- BERGALLI, Roberto. “La forma-Estado social y el sistema penal. Experiencias municipales en Barcelo-
poses, necessarily, to accept a greater precision in the concept assigned to the na a través de sus servicios sociales”, in Sistema penal e intervenciones sociales. Barcelona: Editorial Hacer,
1993.
effective sanction; (ii) for that purpose, it must be admitted that effectiveness
BERLIN, Isaiah. Dos conceptos de libertad; El fin justifica los medios; Mi trayectoria intelectual. Madrid:
is also considered as one of the values ​​to be considered by any rule that seeks Alianza Editorial. 2001 [1969].
to contribute to the intent of justice; (iii) in this sense, value effectiveness must BERMUDO ÁVILA, José Manuel. Eficacia y justicia: posibilidad de un utilitarismo moral. Barcelona:
be extracted from those practices and activities that express senses that serve as Horsori, 1992.

parameters to demonstrate that the monetary sanction can intend to be effec- BETEGÓN, Jerónimo. “Sanción y coacción”, in El derecho y la justicia. Madrid: Trotta, 2000.
tive; (iv) there are practices related to the monetary way that, in fact, express BOBBIO, Norberto. Estado, gobierno y sociedad: por una teoría general de la política. México: Fondo de
cultura económica, 1992.
retribution, deterrence and reparation senses; (v) currently, however, the absence
______. Teoria da norma jurídica. Bauru: Edipro. 2001 [1958].
of this understanding has contributed to the non-observance of the p​​ rotection
______. “Scienza del direto e analisi del linguaggio”, in Saggi sulla scienza giuridica. Torino: Giappichelli.
scope that should be reserved for each of the monetary sanctioning consequences; 2011 [1950].
(vi) for this reason, as far as we can observe, there is room for a normative BOURDIEU, Pierre, La distinción: criterios y bases sociales del gusto. Madrid: Taurus, 2000.
improvement in criminal sanctions where the monetary way can effectively take BRAITHWAITE, John. Crime, shame and reintegration. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
a leading role in the scope of criminal liability of the legal entity. BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. São Paulo: Editora Atlas, 2015.

BIBLIOGRAPHICAL REFERENCES CANO CAMPOS, Tomás. “El concepto de sanción y los límites entre el Derecho penal y el Derecho
administrativo sancionador”, in Derecho administrativo y derecho penal: reconstrucción de los límites. Ma-
ACOSTA, Rolando Pavó. “Las investigaciones sociojurídicas acerca de la eficacia y efectividad del Dere- drid: Bosch. 2017.
cho: algunas alternativas metodológicas”, in Revista Internacional Consinter de Direito, II, 2016.
CID MOLINÉ, Josep ¿Pena justa o pena util? El debate contemporáneo en la doctrina penal española.
ALASTUEY DOBÓN, M. Carmen. La reparación a la víctima en el marco de las sanciones penales. Va- Madrid: Ministerio de Justicia, Secretaría General Técnica, Centro de Publicaciones, 1994.
lencia: Tirant lo Blanch, 2000.
COASE, Ronald Harry. “The Problem of Social Cost”, in Journal of Law and Economics, 3/The Univer-
ALENZA GARCÍA, José Francisco. “Las sanciones administrativas y penales en materia ambiental: sity of Chicago Press, 1960.
funciones y problemas de articulación”, in Derecho penal de la empresa. Pamplona: Universidad Pública
de Navarra, 2002. COBO DEL ROSAL, Manuel e VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Derecho penal: Parte general. Va-
lencia: Tirant lo blanch, 1999.
ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Translated by Carlos Bernal Pulido, Madrid: Cen-
tro de Estudios Políticos y Constitucionales, 1986. DE GIORGI, Alessandro. A miséria governada através do sistema penal. Rio de Janeiro: Instituto Carioca
de Criminologia e Revan, 2006.
ALISTE SANTOS, Tomás Javier. “El origen histórico de los punitive damages como presupuesto de su
rechazo procesal en los países de civil law, Práctica derecho daños”: in Revista de Responsabilidad Civil y DÍAZ, Elías. Sociología y filosofía del Derecho. Madrid: Taurus, 1993.
Seguros, 119, 2014.
DÍEZ RIPOLLES, José Luis. La racionalidad de las leyes penales. Madrid: Editorial Trotta, 2003.
ATIENZA, Manuel. Contribución a una teoría de la legislación. Madrid: Civitas, 1997.
______. “Las penas de las personas jurídicas en la regulación española”, in Direito Penal como crítica:
______. El sentido del derecho. Barcelona: Editorial Ariel. 2001. estudos em homenagem a Juarez Tavares por seu 70º Aniversário. Madri: Marcial Pons, 2012.
______. “Argumentación y legislación”, in La profliferación legislativa: Un desafío para el Estado de DUFF, R. A. e MARSHALL, S. E. “Communicative punishment and the role of the victim”, in Crim-
Derecho. Cizur Menor: Thomson Aranzadi, 2004. inal Justice Ethics, 23, n.2, 2004.
______. El Derecho como argumentación: concepciones de la argumentación, Madrid: Ariel. 2006. DWORKIN, Ronald. Justice in Robes. Harvard University Press, Cambridge (Mass.) 2006, translation
in Spanish by M. Iglesias Vila e Í. Ortiz de Urbina, La justicia con toga. Marcial Pons: Madrid. 2007.
______. Filosofía del derecho y transformación social. Madrid: Trotta, 2018.
ENRIQUE ALONSO, Luis. “Cultura y desigualdad: el concepto de consumismo en Zygmunt Bau-
BARRIENTOS ZAMORANO, Marcelo. El resarcimiento por daño moral en España y Europa. Salaman- man”, in Revista Anthropos, n.º 206. Barcelona: Anthropos Editorial, 2005.
ca: Ratio Legis, 2007.
EVAN, William M. Sociology of Law: A Social-Structural Perspective. New York: The Free Press,1980.
BAUCELIS I LLADÓS, Joan. “Sistema de penas para la delincuencia económica en derecho español”,
in La delincuencia económica: Prevenir y sancionar. Valencia: Tirant lo Blanch. 2014. FALCÓN Y TELLA, María José; FALCÓN Y TELLA, Fernando. Fundamento y finalidad de la sanción:
un derecho a castigar?. Madrid: Marcial Pons, Ediciones Jurídicas y Sociales, 2005.
BAUMAN, Zygmunt. A liberdade. Lisboa: Editorial Estampa, 1989 [1988].
FARALDO CABANA, Patricia. “¿Es multa una sanción apropiada para las personas jurídicas?”, in Pro-
350 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Alexey Choi Caruncho – Felipe Atet 351

ceso penal y responsabilidad penal de personas jurídicas. Cizur Menor: Thomson Reuters Aranzadi, 2017. KOZIOL, Helmut e WILCOX, Vanessa. Punitive damages: common law and civil law perspectives, Tort
and insurance law. New York: Springer, 2009.
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. La pena como institución jurídica: Retribución y prevención general.
Buenos Aires: Edisofer, 2014. LANDROVE DÍAZ, Gerardo. Las consecuencias jurídicas del delito. Madrid: Tecnos, 1985.
______. Retribución y Prevención General: Un estudio sobre la teoría de la pena y las funciones del Dere- MAPELLI CAFFARENA, Borja. Las consecuencias jurídicas del delito, 5ª ed. Cizur Menor, Navarra:
cho Penal. Montevideo: B de F, 2007. Thomson Civitas, 2011; RIGHI, Esteban. Teoría de la pena. Buenos Aires: Hammurabi, 2001.
FERRAJOLI, Luigi. Derechos y garantías. La ley del más débil. Madrid: Editorial Trotta, 2010. MARTÍNEZ BUJÁN PÉREZ, Carlos. Derecho penal económico y de la empresa. Parte general, 3 ed.
Valencia: Tirant lo Blanch, 2011.
FLEW, Antony G. N. “The Justification of Punishment”, in Philosophy, 29, n. 111, 1954.
MARTINSON, Robert. What works? Questions and answers about prison reform. The Public Interest,
GALAIN PALERMO, Pablo. La reparación del daño a la víctima del delito. Valencia: Tirant lo Blanch, 35/NYC. 1974.
2010.
MUÑOZ CONDE, Francisco. Derecho penal y control social. Jerez: Fundación Universitaria de Jerez.
GALÁN MUÑOZ, Alfonso. Fundamentos y límites de la responsabilidad penal de las personas jurídicas 1985.
tras la reforma de la LO 1/2015. Valencia: Tirant lo Blanch. 2017.
MUÑOZ CONDE, Francisco e GARCÍA ARÁN, Mercedes. Derecho penal. Parte general. Valencia:
GARCÍA VALDÉS, Carlos. Teoría de la pena. Madrid: Tecnos, 1985. Tirant lo Blanch, 2010.
GARLAND, David. A cultura do controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de Janei- ______;______. Derecho penal. Parte general, 9ª ed. Valencia: Tirant lo Blanch. 2015.
ro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2008 [2001].
NAUCKE, Wolfgang. Derecho penal: una introducción, Translated by Leonardo Germán Brond. Bue-
GRACIA MARTÍN. Tratado de las consecuencias jurídicas del delito. Valencia: Tirant lo Blanch, 2006. nos Aires: Astrea, 2006.
GOTANDA, John Y. “Punitive Damages: A Comparative Analysis”, in Columbia Journal of Transna- NAVARRO, Pablo E. La eficacia del Derecho: una investigación sobre la existencia y funcionamiento de los
tional Law, 42, n. 2. 2004. sistemas jurídicos. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 1990.
GUASTINI, Riccardo. Las fuentes del derecho: fundamentos teóricos. Lima: Raguel adiciones, 2016 ______. Dinámica y eficacia del Derecho: una análisis conceptual de la obediencia, México: D. F., Biblio-
[2010]. teca de Ética, Filosofía del Derecho y Política, 2017.
HABERMAS, Jürgen. Facticidad y validez. Sobre el derecho y el Estado democrático de derecho en términos NIETO MARTÍN, Adan; MUÑOZ DE MORALES ROMERO, Marta e BECERRA MUÑOZ, José.
de teoría del discurso. Madrid: Editorial Trotta, 2000 [1992]. Hacia una evaluación racional de las leyes penales. Madrid: Marcial Pons, 2016.
______. La constelación posnacional: ensayos políticos. Barcelona: Paidós, 2000. O’CONNOR, James. La crisis fiscal del Estado. Barcelona, Península, 1994.
HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Impero: il nuovo ordine della globalizzazione. Milano: Rizzoli, O’MALLEY, Pat. The currency of justice: fines and damages in consumer societies. Abingdon, Oxon; New
2001. York, NY, Routledge-Cavendish, 2009.
HASSEMER, Winfried. “¿Por qué y con qué fin se aplican las penas? Sentido y fin de la sanción penal”, PAREDES CASTAÑÓN, José Manuel. La justificación de las leyes penales.Valencia: Tirant lo Blanch,
in Revista de derecho penal y criminología, 3/Uned. 1999. 2013.
______. [pos-mortem work]): ¿Por qué castigar? Razones por las que merece la pena la pena, Valencia, PAVARINI, Massimo. Control y dominación: teorías criminológicas burguesas y proyecto hegemónico. Bue-
Tirant lo Blanch. 2016. nos Aires: Siglo Veintiuno Editores Argentina, 2002.
HASSEMER, Winfried e MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción a la criminología. Valencia: Ti- POSNER, Richard A. El análisis económico del derecho. México: Fondo de Cultura Económica. 2000.
rant lo Blanch. 2001.
TYLER, Tom R. Why people obey the law. Princeton: Princeton University Press. 2006.
HIERRO, Liborio. La eficacia de las normas jurídicas. Barcelona: Ariel, 2003.
RAWLS, John, Teoría de la justicia, México: Fondo de Cultura Económica. 1979 (1971).
HÖFFE, Otfried. “¿Existe un derecho penal intercultural?”, in Derecho intercultural. Barcelona: Gedisa,
2000 [1999]. REHBINDER, Manfred. “Las funciones sociales del Derecho”, in Revista Chilena de Derecho, 5. 1981.
______. A democracia no mundo de hoje. Translated by Titio Lívio Cruz Romão. São Paulo: Martins ROBINSON, Paul H. “Why does the Criminal Law care what the layperson thinks is just? Coercive
fontes, 2005. versus Normative crime control”, in Virginia Law Review. 86/N. 8, 2000, pp. 1839-1869.
______. Ciudadano economico, cuidadano del Estado, ciudadano del mundo: ética política em la era de la ROBINSON, Paul H. e DARLEY. John M. Justice, liability and blame: community views and the crimi-
globalizacion. Buenos Aires: Katz, 2007. nal law., New Directions in Social Psychology. Boulder: Westview, 1997.
JESCHECK, Hans-Heinrich e WEIGEND, Thomas. Tratado de derecho penal: parte general. Granada: ______; ______. The utility of desert, in Northwestern University Law Review 91. 1997.
Comares, 2010.
ROCA AGAPITO, Luis. El sistema de sanciones en el derecho penal español. Barcelona: J.M. Bosch Editor,
KENNEDY, David M. Disuasión y prevención del delito. Reconsiderando la expectativa de pena. Madrid: 2007.
Marcial Pons. 2016.
RODRÍGUEZ FERRÁNDEZ, Samuel. La evaluación de las normas penales. Madrid: Dykinson, 2016.
KELSEN, Hans. Teoría pura del derecho. México: Universidad Nacional Autónoma de México,1982
[1960]. ROLDÁN BARBERO, Horacio. El dinero, objeto fundamental de la sanción penal: un estudio histórico de
352 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

la moderna pena de multa. Madrid: Akal, 1983.


ROXIN, Claus. “Sentido y límites de la pena estatal”, in Problemas básicos del derecho penal. Madrid:
Reus, 1976 [1966].
SÁNCHEZ FERRIZ, Remedio, Estudios sobre las libertades. Valencia: Tirant lo blanch, 1995, p. 44.
SHAPIRO, Scott J. Legalidad, Colección Filosofía y Derecho. Madrid: Marcial Pons, 2014.
SIMMEL, Georg. Filosofía del dinero. Granada: Editorial Comares, 2003 [1900].
SECURITY MEASURES AS A LEGAL CONSEQUENCE
SIMONS, Kenneth W. “Understanding the Topography of Moral and Criminal Law Norms”, in Philo-
OF THE CRIME COMMITTED BY LEGAL ENTITIES
sophical foundations of criminal law. Oxford: Oxford University Press, 2011.
SIMPSON, Sally. Corporate crime, law and social control. New York: Cambridge University Press, 2002. Samuel Ebel Braga Ramos1
SIMPSON, Sally S., GARNER, Joel e GIBBS, Carole. “Why Do Corporations Obey Environmental
Law? Assessing Punitive and Cooperative Strategies of Corporate Crime Control”, in U.S Department Rodrigo J. Cavagnari2
of Justice. 2007.
SORIANO, Ramón. Sociología del derecho. Barcelona: Ariel, 1997.
ABSTRACT: The aim of this article is to promote a view on the hypothesis of applying
SOUTO, Miguel Abel. Teorías de la pena y límites al «ius puniendi» desde el estado democrático, Parac- security measures as a response to the crime committed by legal entities, enabling their
uellos del Jarama. Madrid: Dilex, 2006.
viability through the notion of hazard conferred on the companies. Therefore, there is no
STRATENWERTH, Günter. ¿Qué aporta la teoría de los fines de la pena?. Bogotá: Universidad Exter- obstacle to applying security measures for the legal entity, in the criminal sphere, as it is
nado de Colombia. Centro de Investigaciones de Derecho Penal y Filosofía del Derecho, 1996. possible to observe the hazard of the legal entity when it develops an instrument with the
TONRY, Michael H. Why punish? How much?: a reader on punishment. Oxford; New York, N.Y, Ox- intention of absorbing the wrongful act as a practice of operation in its area, as well as the
ford University Press. 2011. fighting and prevention of crime in the contemporary world.
VILAJOSANA RUBIO, Josep María. “Eficacia normativa y existencia del derecho”, Teoría y derecho, Keywords: Criminal Liability of the Legal Entity. Hazard. Security measures.
in Revista de pensamiento jurídico, vol. 8, n.º Tirant lo Blanch. 2010.
______. Las razones de la pena. Valencia: Tirant lo Blanch, 2015.
INTRODUCTION
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador, “Régimen penitenciario y Derecho penal (Reflexiones críticas)”, in
Cuadernos de política criminal, v. 3, 1977. The criminal liability of business entities still undergoes much discus-
______. Fundamentos del sistema penal 2ª. Valencia: Tirant lo Blanch. 2011. sion, despite the issue already being widely disseminated and accepted in
WEBER, Max. Economía y sociedad. Esbozo de sociología comprensiva, Translated by J. Medina Eche- countries with a common law tradition and on the European continent. In
varría et.. México: Fondo de Cultura Economica, 1964 [1922].
Brazil, criminal liability of the legal entity presents resistance in sectors of the
WELZEL, Hans. Introducción a la filosofía del derecho: derecho natural y justicia material, 2ª. Madrid:
Aguilar, 1971.
doctrine; however, it is not possible to resist, in terms of consideration, the
ZELIZER, Viviana. A. El significado social del dinero. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica, 2011
delicate proposal of applying criminal sanctions to the crimes committed by
______. Vidas económicas. Cómo la cultura da forma a la economía. Madrid: Centro de Investigaciones
companies, in response to the contemporary scenario of corporate criminality.
Sociológicas, 2015. The object of the study herein is to verify the hypothesis of applying
security measures as a consequence of the crime committed by legal entities,
allowing an initial consideration as to its viability through a conception of
dangerous conferred on the companies.
Initially, the work discusses the possibility of applying security measures
to business entities, supported by foreign legislation and with the diagnosis of
the lege ferenda being drafted in Brazil. In order to do so, when considering
1. Lawyer. Master in Law. Professor of Criminal Law at Faculdade de Educação Superior do Paraná –
FESP.
2. Lawyer. Professor at FAE Centro Universitário (Law Experience).
354 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 355

the assumptions, there is no ignoring of the limits and guarantees assured with the security measures used as a legal consequence to the offense in for-
when applying security measures in Brazilian legislation. In this path, we start eign criminal laws, at first, it is observed that the Brazilian legislature sought
a hypothesis of structuring the idea of hazard for legal entities, verifying the punitive forms (prohibition of participation in bids and contracts with the
bases of psychiatry and psychology in the concept of harm of individuals to public authorities – article 43, III) and was also concerned with the re-so-
then investigate the business conduct, cognitive biases and heuristics in the cializing nature (suspension and/or temporary interdiction of activity for a
idealization of dangerous behavior for business entities. term of one year, according to article 43, paragraph 1 and 2), as a form of
In this thinking, thus, considered as valid the legal entity’s capacity to reinsertion of the legal entity in its business activity.
commit criminal offense, it will be concluded that it is feasible to apply secu- Hence, in a first reflection on the security measures as a form of criminal
rity measures to legal entities that commit criminal wrongful acts as a form sanction applicable to legal entities, it is thought of a preventive character
of intervention in the company, aiming at the readjustment to the return to and with the future objective aimed at the return of the business activity once
their activities. exercised, than the justification of the sentence in itself, in a mere punitive
character and of retribution to the criminal wrongful act committed.
1. SECURITY MEASURES AND LEGAL ENTITIES LEGE LATA It can be seen, for example, that in this project, the country legislature
AND LEGE FERENDA – THE SENATE BILL NO. 236/2012 conceived as a penalty (article 43) some sanctions that were conceived as
Security measures have been used in foreign systems of law3, de lege lata, security measures in foreign legislations. Observe that in some cases the
as a form of criminal sanction for the offenses committed by legal entities. The measures are the same. However, is the penalty, in fact, the sanction that
most frequently adopted measures used are seizure of assets, cancellation of promotes greater guarantee to the legal entity? This work aims to instigate
operating license, publication of judicial decisions, impediment of financing this reflection in the members of the Legislative Branch and of the Judi-
and contracts with the public administration. ciary Branch, so that there shall be a technical-juridical discussion on the
Thereby, criminal laws have sought to address the need for a criminal form of criminal sanction that is more appropriate to legal entities in light
resolution to the offenses committed by legal entities, treating it as means of the world language in which they are inserted, and not from the world
for re-socialization (with a strong basis on general prevention), as well as language of the individual.
assuming that business organizations, in theory, are presented as a source Having verified the existence of alien laws that already authorize the
of danger and should be controlled and if possible eliminated4. With the use of the security measure in those cases, as well as the reading of the pro-
proposal of a reform of the Brazilian Criminal Code, the discussion of visions presented in the proposal for the reform of the Brazilian Criminal
the criminal law question in relation to the assumption of the previous Code, the technical and legal feasibility of using the security measures as
capacity of action of legal entities has its beacon overcome, according to a form of punishment for crimes committed by legal entities, under the
the provisions of its new wording5. In Brazil, some of these measures, de country’s system of law.
lege ferenda, were listed as penalty in the Senate Bill – PLS no. 236/2012,
in the wording proposed for articles 42 and 43. 2. ASSUMPTION: CRIMINAL HAZARD
However, in the analysis of the proposed provisions and in comparison Currently, in Brazilian legislation, the application of security measure
has double requirement: (i) the prior materialization of a typical wrongful act
3. The security measures for offenses practiced by legal entities can be found: (i) in the Turkish Criminal
Code (article 60); (ii) in the Law on Legal Entities Criminal Liability of the Republic of Montenegro (= type of action with intent to unlawfulness6); and, (ii) the hazard found in
(article 28); (iii) in the Law on Legal Entities Criminal Liability of the Republic of Serbia (article 23);
and, (iv) in the Law on Legal Entities Criminal Liability of the Republic of Croatia (article 15). the view of this perpetrated offense7.
4. In this sense, refer to, CAVERO, Percy García. Derecho Penal Económico: Parte Geral. 3ª ed. Lima:
Juristas Editores, 2014, page 202. 6. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 823 et seq.
5. According to provision in the caput of article 4 of the Senate Bill no. 236/2012. 7. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 826.
356 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 357

First, a condition for applying the security measure is the practice In a State Governed by the Rule of Law, the hazard is only justified as
of an offense, defined in the law as a crime8. The requirement of a fact a criterion if it is referred to a concrete prognostic judgment that the subject
defined as a typical wrongful act for the application of the measure results will carry out a criminal wrongful act in the future. As this provision cannot
both from the legal provision9 of the criminal conduct and from the rele- constitute a pretension of criminal law, criminal hazard is revealed solely
vance of the attack that the action represents to the victim’s legal assets10. upon performance of the typical wrongful act, which is the sole ground for
It must, moreover, be a legal wrongful act, an act contrary to the Law, the security measures19.
that no cause of justification excludes its anti-juridical character11. In view It should be emphasized that the dangerous state is a de facto situation,
of the practice of an offense, the person is legitimately placed under the and its existence must, in principle, be determined directly20. Hence, the state
State’s persecution and may be subject to security measures, according to of social maladjustment capable of substantiating considering the likelihood
the norms of Brazilian law. of the practice of a crime must be judged in each particular case21. There is a
Second, the security measure, considered an exceptional conse- certain context in which the action of the person is developed, certain par-
quence12, can only be applied when the criminal hazard of the person ticular circumstances of the fact, which, clearly, denounce the likelihood of
who has carried out the typical wrongful act is established. the person committing the crime again, so that the notion of the dangerous
Hazard can be conceptualized, in a broad sense, as the serious state state is therein materialized22.
of maladjustment of the person to the norms of social coexistence13 or, Consequently, it is case-by-case that the investigation, by technical
yet, as a more or less lasting subjective state of anti-sociability14. And, in a professionals or only by the judge, has to define the criminal hazard of the
legal sense, in the formula of the probability of offending in view of certain person23. Thus, once a typical wrongful act is found, without the presence of
indications15, or of the judgment of probability that this person will again criminal hazard or without evidencing in the subject a prognostic of like-
commit an offense16. lihood of an offense being committed in the future, the legitimacy to the
Observe that the system applies security measures to people who are imposition of a security measure falls apart24.
likely to practice new acts that the law defines as crimes17, and it is the hazard At this point, it is important to warn that the sanction that assumes
that justifies the application of this means of social defense against crime, the criterion of harm as a presupposition, unrelated to the criterion of
to prevent the realization into an act of the threat contained in the person18.

19. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 826.
8. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1. 14ª ed. São Paulo: 20. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, page 290.
Saraiva, 2009, page 745 et seq.
21. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, page 289
9. MESTIERI, João. Manual de Direito Penal, Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 1999, page 310. et seq. Juarez Cirino dos Santos makes his criticism indicating towards possible crisis of the security
10. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, page 299 measures. The writer affirms that the “crisis of the security measures derives from the inconsistency of
et seq. those grounds: first, no scientific method allows predicting the future behavior of anyone; second, the
11. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, page 299 security measure capacity of changing antisocial conduct from non-chargeable into adjusted conducts
et seq. of chargeable is not demonstrated.” In SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: Parte Geral. 3ª Ed.
12. BRANDÃO, Cláudio. Curso de Direito Penal, Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008, page 381. ICPC-Lumen Juris, 2008, page 654.
13. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, page 289 22. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, page 290.
et seq. The writer uses the expression criminal hazard in the text of the work. 23. Checking of legal entities harm will be studied in the subsequent topics of this work.
14. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1. 14ª ed. São Paulo: 24. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 826. In this
Saraiva, 2009, page 746. sense: “The real hazard consists of the finding by the judge and upon medical expert examination
15. FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal, Parte Geral. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, that the author has mental illness or has incomplete or retarded mental development. The practice of
1995, page 390. criminal offense by the subject, in one of those conditions, will determine the application of securi-
16. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1. 14ª ed. São Paulo: ty measure of asylum hospitalization or outpatient treatment (Brazilian Criminal Code, article 26,
Saraiva, 2009, page 746. sole paragraph, combined with article 97. Presumed harm is when the law determines that the person
that cannot be penalized due to mental illness or incomplete mental development (Brazilian Criminal
17. FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal, Parte Geral. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, Code, article 26) should be hospitalized in an asylum (article 97). While real harm is verified by the
1995, page 390. judge, presumed harm derives from the law.” In DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: Parte
18. BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Parte Geral. Tomo III. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, page 289. Geral. 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, page 772.
358 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 359

the practice of criminal wrongful acts, turns out to be illegitimate25. In and a minimum limit, that is, once hazard has ceased, the intervention is no
fact, in any system of Criminal Law that is based on the guarantees of the longer justified”.
State Governed by the Rule of Law, a criminal law of the fact is deduced, Once hazard has been delineated as a legal presupposition for the use of
as opposed to the characteristics of a hatred Criminal Law of the author26. security measures, it is now necessary to know whether the foundations listed
It is the reference to the objective fact (criminal wrongful act – type of by the traditional doctrine – in relation to the individual – are sufficient to
action with pretension of unlawfulness) that should serve as reference of serve as a basis for the analysis of hazard of the legal entity.
the criminal hazard of the author. The warning is justified because, as
pointed out by Busato, “it is possible that under a speech of effective criminal 3. HAZARD OF THE LEGAL ENTITY
policy, states of hazard may be constructed that in no way meet the criteria
Economic phenomena and technological advances have their own dy-
of criminal policy of necessity.27”
namics and have huge repercussions in society. Hence, their negative effect
Equally illegitimate is the use of hazard as a maximum limit, translated cannot be ignored and the consequent creation of new risks and threats to
into the idea that as long as the hazard persists, the measure must continue citizens, as well as to society as a whole31.
to be applied28.
Corporate delinquency shapes itself as a form of organized criminal-
According to the text of the Brazilian Criminal Code (article 97, §1), ity that exposes citizens and the State itself to these “new risks.” The new
the security measures will be for an indefinite period, lasting until medical legal-criminal realities must be examined, with the emergence of new legal
expert assessment ascertains cessation of the hazard. assets and the possible legitimation of their defense through Criminal Law32.
In the case-law, when it was requested to decide a quaestio iuris on this Business relations have economic and legal consequences when their
provision, the Federal Supreme Court, in the judgment of Habeas Corpus entrepreneurial activity and their competitive behavior become dangerous
no. 97.621 (Rapporteur Justice Cezar Peluso, judged on 06.02.2009), made not only to the concerned parties, but to community as a whole. It must be
uncontested the understanding that the security measure shall continue for considered that especially dangerous activities require state permission (and
as long as the agent’s hazard has not ceased, however, limited to a maximum intervention), for example, financial services, extractive companies and those
period of thirty years, as well as the maximum limit for the execution of penal- of large economic control33.
ties of deprivation of freedom, ex vi of article 75, caput, of the Criminal Code.
The legal entity presents itself as a new reality as a holder of a com-
In homeland doctrine, Bitencourt points out that, although not ex- plex institutional organization and developer of activities characterized as
pressly provided for in the Criminal Code, the security measure, based on
the assumption of hazard, cannot exceed the maximum limit of the penalty
abstractedly assigned to the offense, since that would be the limit of state 31. Refer to PAVARINI, Massimo. Castigar al enemigo: criminalidad, exclusión e inseguridad. Quito:
Flacso Equador, 2009; SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. A Expansão do Direito Penal: aspectos da po-
intervention in the freedom of the individual29. Busato30 says that hazard can lítica criminal nas sociedades pós-industriais. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013;
BECK, Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010.
never become a maximum limit: “if hazard can actually be a presupposition 32. In this sense: “Criminal Law is an instrument qualified to protect mainly important legal assets. Once
this point has been established, it seems mandatory to take into account the possibility that its expan-
25. In the same rationale: “Las medidas de seguridad sólo deben aplicarse como consecuencia de la comi- sion shall observe, at least in part, the emergence of new legal assets – of new interests or new valuing
sión de un hecho delictivo que revele la peligrosidad de su autor y ser, por tanto, post-delictuales.” In of pre-existent interests.” SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. A Expansão do Direito Penal: aspectos
MUÑOZ CONDE, Francisco; ARÁN, Mercedes García. Derecho Penal, parte general. 5ª ed. Valen- da política criminal nas sociedades pós-industriais. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
cia: Tirant lo Blanch, 2002, page 594. 2013, page 33.
26. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 827. 33. Regarding the criminologic aspects of the Economic Criminal Law, Klaus Tiedemann states that “Las
27. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 826. concepciones que parten de aspectos criminológico se basan, en parte, en las extensas repercusiones
28. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 826. que geran los delitos económicos. Based on the legal dogmatics, the writer states that “se aprecia hoy
en día la peculiaridad de los delitos económicos y Derecho penal económico, principalmente, en la
29. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral. Vol. 1. 14ª ed. São Paulo: protección de bienes jurídicos supraindividuales (sociales o coletivos, interesses de la comunidad).”
Saraiva, 2009, page 749. TIEDEMANN, Klaus. Derecho Penal Económico: introducción y parte general. Primera edición.
30. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 826. Lima: Editora y Lebreria Jurídica, 2009. pages 72-73.
360 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 361

collective and social risk34. Their hazard must be measured and the likelihood the writer, the risks of modernization are big businesses. They are the insa-
of committing crime can be analyzed and prevented. According to Feijoo tiable needs that economists have always sought. Hunger, Beck recalls, can be
Sánchez35, “modern legal-criminal dogmatic is being forced into evolving to sated, needs can be fulfilled, but civilization risks are a barrel of bottomless,
properly handle new phenomena of contemporary societies against which endless, infinite, self-producing needs38.
traditional responses are insufficient.” However, Beck states that there is economic cannibalization of the
As a consequence, assuming that certain business organizations reach risks that are triggered through it, industrial society produces threatening
levels of complexity that – likewise what happens with the psyche of the situations and the political potential of the venture society39. In this flow
human being – are showing characters of self-reference, self-conduction of thinking, the production of wealth in modernity is accompanied by the
and self-determination36, an assumption is opened for the construction of a production of risk. The process of industrialization and unceasing pursuit
notion of hazard for the legal entities. of profit by business organizations is inseparable from the process of risk
production, since the consequence of industrial scientific development, as
3.1. Business behavior and contemporary risk
well as the maximization of its results, is people exposure to risks.
The assertion that possible problems or tragedies arising from economic
These risks present social, economic and political side effects and
progress and the imperative way in which business societies behave in the
generate new side effects such as loss of market, capital depreciation, bu-
pursuit of profit maximization ends up finding shelter in the daily life of legal
reaucratic controls of business decisions, new markets and astronomical
entities, being faced as mere fatalities or ordinary adverse situations in the
costs with court proceedings and loss of goodwill. The political potential of
development of business activity.
catastrophes thus emerges in venture society. Prevention and management
However, the pursuit of profit and of business activity effectiveness at may require further reorganization of power and liability. Venture society
any cost does not resemble the way society currently understands how the is a catastrophic society. In it, the writer concludes, the state of exception
legal entity should be. The risks of the business activity must be measured and threatens to become normal40.
possible violations of the regulations can design the legitimation of Criminal
Law in such cases. 3.2. Is it possible for a legal entity to be dangerous?
On these risks, Ulrich Beck37 presents a perspective for understanding Under the perspective of human hazard and a possible risk behavior
the proportion of the consequences of scientific and industrial development, of companies, it is verified, in a preliminary hypothesis, that legal entities
which comprises a set of risks that cannot be contained in space or time. For may have conduct41 that is perceived as dangerous and some of its modes of
operation are consistent with the attitudes described in the medical litera-
34. “To denominate “criminal law of risk” a criminal law that must play a decisive role (or at least not ture regarding hazard. Hence, a response is sought for a possible criminal
being a passive spectator) in the task of securing the future of our society which is, due to the tech- penalty applicable to legal entities in view of perpetration of offenses and
nological progress (hence “risk” and not “hazard”) on the verge of self-destruction, and that needs to
be reformulated to meet this purpose.” PRITTWITZ, Cornelius. O direito penal entre direito penal their opportunity for correction, thus avoiding the practice of new typical
do risco e direito penal do inimigo: tendências atuais em direito penal e política criminal. Revista
Brasileira de Ciências Criminais, vol. 47/2004, pages 31-45, Mar-Apr, 2004. criminal wrongful acts.
35. In the original text: “La dogmática jurídico-penal moderna está teniendo que evolucionar para poder
tratar adecuadamente nuevos fenómenos de las sociedades contemporáneas frente a las que las res- In human psychopathic behavior42, characteristics such as lack of empa-
puestas tradicionales resultan insuficientes”. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José. Derecho Penal de
la Empresa e Imputación Objetiva. 1ª ed. Santiago: Ediciones Olejnik, 2017. page 132.
36. Refer to GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: teoria do crime 38. BECK, Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010, page 28.
para pessoas jurídicas. São Paulo: Atlas, 2015, page 72. To analyze the writer’s understanding of the 39. BECK, Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010, page 28.
business organizations as autopoietic systems, refer to GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. Autoorganiza-
ción empresarial y autorresponsabilidad empresarial: Hacia una verdadera responsabilidad penal de 40. BECK, Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010,
las personas jurídicas. in: Revista electrónica de ciencia penal y criminología, n. 8, 2006 and GÓ- pages 28-29.
MEZ-JARA DIEZ, Carlos. Modelos de autorresponsabilidad penal empresarial: Propuestas globales 41. Refer to BUSATO, Paulo César; PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e autorresponsabili-
contemporáneas. 1ª ed. Navarra: Editorial Aranzadi, 2006. dade penal de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão.
37. In his work named Risikogesellschaft – Auf dem Weg in eine andere Moderne, published in 1986. 42. Edwin Sutherland, for example, already indicated that white collar criminals do not see themselves as
362 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 363

thy, contempt for rules and the inability of self-analysis of the acts themselves the corporate entity, but seeking solutions to measures that affect rights in
are seen as traits for the recognition of an impaired behavior. By expanding order to contain hazard and avoid future offenses. Hence, as Patricia Ziffer
the verification for legal entities, some of these conducts currently expressed 45
points out, the measures are instruments of state coercion that are imposed
by legal entities, mainly upon the non-stop pursue for the increase of the on a person (assuming the possibility of the legal entity) in order to avoid
benefit expected to be achieved with the risk activity or the practice of pro- possible criminal actions by it. The grounds of the measures are the hazard
cedures in disagreement with the criminal legislation. of the author. Hence, security measures have proved to be possible in the
The legal entities eventually developed tools in order to cope with the crimes committed by legal entities. Forms of control can, in theory, repel
growing demands and uncertainties, incorporating risk calculation into the legal entity from the practice of crimes, being a reasonable form of
their decision-making process. Assessing the financial risks of their opera- prevention of future acts in opposition to the criminal regulations.
tions, it is not surprising that companies also, in certain cases, absorb the Once a proposal of analysis of the hazard for the legal entity has been
wrongful act as a practical way of operating in their areas. Thus, the search delimitated, the comparison of that idea with the principle of culpability
for the success of the activity makes the risk to become fully accepted, per- (limit) and the guarantees related to the security measures shall be subse-
meating the business company with its degree of harm, both in the risk of quently explored.
its activity, as well as the reprehensible facts produced by it.
3.3. The deviation of the company’s behavior as hazard
The hazard of the legal entity can be verified when applying a crim-
With the increase in criminality originating from legal entities and their
inal penalty that serves its purpose of preventing future criminal activities
different ways of aggression to the legal assets, it is possible to create an initial
and, fulfilling the purposes of special penalty prevention, reintegrating the
outline of the idea of ​​hazard for moral entities. Would it be possible to predict
company into its activities. With this analysis, security measures can be
or determine the potential for dangerous behavior from the company? A look
thought of as a response to the crime committed by business entities. The
at the hazard of the legal entity can be made through a parallel analysis of
security measures, according to Julio Leal Medina, are then inserted in the
psychopathy, criminal behavior and business activity.
criminal codes and in the preventive texts to point out a type of person for
whom the pen does not seem intimidating. Hazard started to be analyzed Psychopathic behavior is the one that reveals a tendency towards crim-
subjectively, as a set of personal and particular circumstances rooted in the inal practices, with a relapsing pattern46 and found in individuals showing
individual that make them predict that they will commit crimes43. Therefore, disturbed personality47. The psychopaths are fully aware of what they do and
the risk activity of the legal entity can be seen as an indication of its hazard why they do it, and their conduct is the result of their freely chosen choice48.
when analyzing its dangerous behavior towards society. Addressing the company’s crimes, Sutherland49 points out that these crimes
are not discreet and unintentional violations of technical regulations. They
It is not a matter of developing measures of deprivation of liberty44 for
are deliberate and have a relatively consistent unity.
belonging to the stereotype of “criminal” and develop reasoning projected to conceal their criminal Expansion of business power within society unleashed a different
acts. The writer concludes stating that the crimes practiced by the company are deliberated and organi-
zed, framing them into a criminal versatility listed in the analyzed forensic scale. Refer to SUTHER- 45. ZIFFER, Patricia S. Medidas de seguridad. Prognósticos de peligrosidad en derecho penal. Buenos
LAND, Edwin H. Crime do colarinho branco. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2016, page 341. Aires: Hammurabi, 2008, page 144.
43. MEDINA, Julio Leal. La historia de las medidas de seguridad: de las instituciones preventivas más 46. “Corporate criminality, like that of professional thieves, is persistent: a large part of the criminals is re-
remotas a los criterios científicos penales modernos. Pamplona: Editorial Aranzadi, 2006, page 22. current.” SUTHERLAND, Edwin H. Crime do colarinho branco. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2016,
44. On the security measures: “Se suele mencionar como objetivo de las “medidas” privativas de libertad, page 334.
a fin de justificarlas, la prevención de delito, colocando en el primer plano finalidades de prevención 47. ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. Avaliação de risco de violência. In: Abdalla-Filho E;
especial, positiva o negativa. Así, usualmente se distingue entre las “medidas curativas o de correcci- Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria forense em Taborda. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed,
ón”. Impuestas con el propósito de curar o de resocializar al afectado, y las “medidas de seguridad”, 2016, page 301.
dirigidas específicamente impedir que cometa nuevos delitos por medio de la coacción física, en los
casos en que se alcanzar ese objetivo por medio de la resocialización no parece un objetivo realizable.” 48. GARRIDO, Vicente. El Psicopata. Un camaleón en la sociedade actual. Barcelona: Editorial Círculo
In ZIFFER, Patricia S. Medidas de seguridad. Prognósticos de peligrosidad en derecho penal. Buenos de Lectores, 2001, page 41.
Aires: Hammurabi, 2008, page 65. 49. SUTHERLAND, Edwin H. Crime do colarinho branco. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2016, page 333.
364 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 365

outlook in the organization and constitution of legal entities, especially With a score of 0 to 2 for each item, adding the value of 30 points, the
in their highest positions: people with a great ability to manipulate, clever diagnosis of psychopathy is considered.
and without doubts as to distorting the acts that can lead them, to the Analyzing the 2054 items that compose the PCL-R scale, these prove
highest positions50. to be adequate for an initial thought of the way in which the corporate
In Brazil, mental health professionals – in particular, psychiatrists – use entity behaves and its possible hazard. Through this analysis and from an
risk assessment tools51 that base decisions on their recommendation reports individual perspective, the correlate is sought in the legal entity, verifying
for the application of a safety measure, with the HCR-20 (Historical Clin- the influence of the behavioral modifications and their consequences.
ical and Risk Management scale 20) being the one which is the most used Through the individual’s point of view, Sustein, Jolls, and Thaler recognize
scale in the world for assessing risk of violence, followed by the PCL-R that people exhibit limited rationality: they suffer from certain prejudices,
(Psychopathy Checklist-Revised). Both instruments are validated in Brazil such as excessive optimism and self-righteous conceptions; they follow
and are widely used in forensic psychiatry. heuristics55, such as availability, which lead to errors; and they behave
Analyzing the first instrument, the HCR-20 uses 20 items 52: 10 refer- according to the prospective theory56. People also have limited willpower;
ring to the past and the previous life of the examined party, 5 corresponding they can be tempted and sometimes they are short-sighted. They take
to factors present from a clinical point of view and the last 5 related to steps to overcome those limitations57.
future factors (risk management). The assessing experts are able to perceive Silva Sánchez and Lorena Varela present, under the prism of limited
a high risk of violence of the assessed party in the presence of a simple risk rationality developed by the thesis of behavioral law and economics, that any
factor. Psychopathy is described as item H7, related to the historical items
of the assessed party. 2016, page 302.
54. “Elements composing the PCL-R scale: 1. Loquacity/superficial charm; 2. Overestimate 3. Need for
The PCL-R (Psychopathy Checklist-Revised), in turn, according to the stimulation/tendency to boredom; 4. Pathological lying; 5. Swindling/manipulation; 6. Absence of
remorse or guilt; 7. Affective-emotional insensitivity; 8. Indifference/lack of empathy; 9. Parasitic
medical forensic literature, has been demonstrated to be a useful instrument lifestyle; 10. Out of control Behavior; 11. Sexual promiscuity; 12. Conduct disorders in childhood; 13.
Lack of realistic and long-term targets; 14. Impulsivity; 15. Irresponsibility; 16. Inability to take res-
for assessing the risk of violence, including the identification of probable ponsibility for one’s actions; 17. Many short-term marital relationships; 18. Juvenile delinquency; 19.
relapses. Thus, it has the merit of being both a diagnostic resource (identify Revocation of probation; 20. Criminal Versatility”. In ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T.
Avaliação de risco de violência. In: Abdalla-Filho E; Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria
individuals with psychopathy) and prognostic resource (evaluate the proba- forense em Taborda. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016, page 302.
55. By the analysis of psychology, heuristics is a rule in which the unconscious reformulates a problem
bility of relapse). PCL-R focuses exclusively on the individual’s personality, situation and changes it to something more simplified, which can be solved easily, almost automa-
tically, that is, it is a kind of mental artifice to facilitate the decision-making process. According to
unlike HCR-20, which includes external elements in the risk assessment53. Kahneman and Tversky, “The biases with which we are concerned, like perceptual errors and illusions,
are characteristic of the cognitive operations by which impressions and judgments are formed. These
cognitive biases are distinct from the better-known intrusions of emotional and motivational factors
50. GARRIDO, Vicente. El Psicopata. Un camaleón en la sociedade actual. Barcelona: Editorial Círculo into judgment, such as wishful thinking and the intentional distortions of judgment induced by payoffs
de Lectores, 2001, page 172. and penalties”. In KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. Judgment under uncertainty: Heuristic
51. “The HCR-20 (Historical Clinical and Risk Management scale 20) is the most used scale in the world and biases. Science, New Series, v. 185, n. 4157. September 27, pages 1124-1131, 1974, page 1130.
for assessing risk of violence, followed by the PCL-R (Psychopathy Checklist-Revised. Both instru- 56. “One of the main sources of differences between real judgments and unbiased predictions is the use
ments are validated in Brazil”. In ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. Avaliação de risco de of practical rules. As emphasized in the pioneering work by Daniel Kahneman and Amos Tversky,
violência. In: Abdalla-Filho E; Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria forense em Taborda. general rules such as availability heuristics – in which the frequency of an event is estimated by ju-
3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016, page 299. dging how easy it is to remember other instances of this type (such as “available”). “Such examples
52. “Historical items: 1. Prior violence; 2. Early age at the first violent incident; 3. Instability in rela- are” – lead us to erroneous conclusions. People tend to conclude, for example, that the likelihood of
tionships; 4. Problems at work; 5. Problems with the Use of Substances; 6. Important mental illness; 7. occurrence of an event (such as a car accident) is greater if they have recently witnessed an occurrence
Psycopathy; 8. Early malfunction; 9. Personality deviation; 10. Failure in prior supervision. Clinical of this event than if they had not. What is especially important in the work of Kahneman and Tversky
items: 1. Lack of insight; 2. Negative attitudes; 3. Active symptoms of important mental illness; 4. is that this shows that shortcuts and practical rules are predictable. Although heuristics are on average
Impulsivity; 5. Non-response to treatment. Risk Management Items: 1. Plans without viability; 2. useful (which explains how they become adopted), they lead to errors in certain circumstances. The
Exposure to unbalancing factors; 3. Lack of personal support; 4. Non-adherence to attempts of treat- model offered by Kahneman and Tversky, called the prospect theory, seems to do a good job of ex-
ment; 5. Stress”. In ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. Avaliação de risco de violência. In: plaining many characteristics of observed behavior.” In SUNSTEIN, Cass Robert.; JOLLS, Christine;
Abdalla-Filho E; Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria forense em Taborda. 3ª ed. Porto THALER, Richard H. A Behavioral Approach to Law and Economics, 50 Stanford Law Review, 1998,
Alegre: Artmed, 2016, pages 300-301. pages 1477-1478.
53. ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. Avaliação de risco de violência. In: Abdalla-Filho E; 57. JOLLS, Christine; THALER, Richard H. A Behavioral Approach to Law and Economics, 50 Stanford
Chalub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria forense em Taborda. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, Law Review, 1998, page 1545.
366 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 367

agent operates with cognitive limitations such as errors of perception, error with the Law, the non-assessment of personal behavior mismatches, the
of analysis and biased judgments, which are manifested, for example, in inability to assess the consequences of their actions, and their willingness
the existence of so-called heuristic shortcuts, which reflect distortions of to take liability61.
cognitive biases and, consequently, repetition of habits such as systematized The great expansion of entrepreneurial power has triggered the debate
patterns of conducts. Moreover, they may present themselves as a “limited about the hazard of business entities and the apparent lack of ethical behav-
willpower”, which indicates that the human agent has limited self-control, ior towards society. Thereby, the parallel of the forensic medicine and the
usually making decisions to increase short-term satisfaction, ignoring even- way the company behaves in the contemporaneity is verified, being possible
tual losses and long-term goals58 (similar to item 13 of PCL-R, Psychopathy the construction of the genesis of the hazard of the legal entity.
Checklist-Revised).
Assuming that the legal entities can be embedded with a capacity for 4. LIMIT: THE PRINCIPLE OF CULPABILITY
understanding and lucidity about their acts and rejection as a typical be- Culpability – as a principle of Criminal Law – is revealed in its function
havior59, the business entity, in a similar way, may be faced with deviations of political-guarantor of limitation to the punitive power62. It is a limiting
from cognitive operations – cognitive biases – by which impressions and reference to excess, because it serves: (i) to avoid excessive applications of
judgments are formed. In the context of the company, bias can present itself consequences of crimes; (ii) to prohibit purely objective criminal liability;
as errors of perception of reality and excessive trust in practices classified as and, (iii) to delimit the application of the security measure63.
criminal wrongful acts, without proper empathy or remorse for the pursuit
The principle of culpability, as a normative judgment of reprobation,
of the most beneficial outcome.
has already dissociated itself and has surpassed its founding idea, that is, the
In crimes committed by legal entities, it is observed that one of the free will64, being much closer today to the dual idea of ​​equality and propor-
main objectives is to maximize a profit or result to the detriment of ethical tionality. Culpability, therefore has full applicability in the scope of security
values, moral, beliefs and norms, and take advantage of the opportunities measure in the form of a principle limiting Criminal Law. In fact, it would
they face in everyday life to accomplish their objective60. The degree of the be illogical to see the criminal law system having limited response to criminal
company in the adjustment of its daily life can be measured as a way to facts carried out by people who are aware of contradicting the legal system
search the traces of behaviors considered problematic. The profile of crim- and, on the other hand, to see it respond unlimitedly to those who cannot
inality of the legal entity is coincident with some of the items listed, such understand or react according to that understanding. Thus, it is irrefutably
as the difficulty of taking liability for their own acts, manipulation and lack recognized that the principle of culpability also limits the application of the
of empathy. security measure, and that it cannot be more burdensome than the penalty
In analyzing those behaviors, it is possible, as an academic construction, to which the fact would correspond if the subject were chargeable65.
to verify the parallel between the modus operandi of the legal entity and that
of the classic psychopath described in the literature of forensic medicine: 61. BRENNER, Geraldo. Entendendo o comportamento criminoso: educação, ensino de valores morais
an overvaluation of the immediacy in obtaining results, the lack of concern e a necessidade de coibir o comportamento criminoso: uma contribuição da teoria econômica e um
recado para nossas autoridades. Porto Alegre: AGE, 2009, p 118.
62. MANTOVANI, Ferrando. Diritto Penale, Parte Generale. 9ª ed. Padova: CEDAM, 2015, page
286 et seq.
58. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA, Lorena. Responsabilidades individuales en estructuras de 63. BUSATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação.
empresa. La influencia de sesgos cognitivos y dinámicas de grupo. In: Fundamentos del derecho penal In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tri-
de la Empresa. 2 ed. capage V, Madrid: Edisofer, 2016, pages 248-249. bunais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, page 983 et seq.
59. Ver REINALDET, Tracy Joseph; DALMOLIN, Lucas. A culpabilidade pragmática das pessoas jurí- 64. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Sistema Penal. 2ª ed. Valencia: Tirant lo Blanch,
dicas. 2011, page 835 et seq.
60. BRENNER, Geraldo. Entendendo o comportamento criminoso: educação, ensino de valores morais 65. BUSATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação.
e a necessidade de coibir o comportamento criminoso: uma contribuição da teoria econômica e um In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tri-
recado para nossas autoridades. Porto Alegre: AGE, 2009, page 48. bunais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, page 983 et seq.
368 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 369

Reserves in admitting culpability as the limit of security measures lay of ​​proportionality, translated into legally fixed time limits, is also, to a certain
in two reasons. First, because the expression culpability can be confused with extent, an idea immanent to the idea of culpability.68” The fact of considering
an element of crime, where it is limited to cases related to chargeable authors. culpability as appropriate for the limitation of security measures is under-
Second, because, at the present time, questions are raised on whether culpability standable, since it approximates the idea of ​​identity between penalties and
would be a category within the scope of crime, since it is a very fluid concept security measures, which is being progressively required by the most modern
and admits the most different contours. Still, it seems preferable to refer to the doctrine69. On this approach Hassemer observes that “in practice, there is no
principle of culpability, since culpability here operates as a principle, not as a longer such a remarked difference theoretically described between penalties and
category of crime, and criticism of contemporary doctrine related to the latter66. measures [...] the execution of penalties and the execution of measures for a long
Moreover, it should be emphasized that the entire political-guarantor period of time move towards each other.70”
structure of the principle of culpability cannot simply be replaced by the ex- Hence, security measures cannot be neither more nor less burdensome
pression proportionality, since, ab initio, it is already incapable of generating or of a longer duration than the penalty that would be an individual or
semantic security, as it can be seen from the following inquiries. What is the legal entity. Indeed, a certain degree of reserve in admitting culpability as
proportionality referred to in the scope of the security measure? That the the limit of security measures is understandable. Still, it seems preferable to
measure is proportional to the crime or that its hazard points as possible in a speak of the principle of culpability as a limit of security measures, whene-
new criminal practice? To the perpetrated crime? To the degree of its hazard? ver the possibility of differentiating between a political-criminal meaning
It is observed that in the scope of the language the semantic insecurity repels of culpability that does not necessarily coincide with the strictly dogmatic
the use proportionality as a mere substitute of the principle of culpability in concept of culpability is admitted71. In short, the intent it the actual exercise
the function of guarantee of a sanction against an individual or legal entity. of the political-guarantor function of the principle of culpability as a form
In addition, it cannot be forgotten that the principle of culpability itself of limitation of the State’s power to punish72.
leads to the principle of proportionality, that is, the recognition of culpabi- Here, prima facie, it seems clear that the use of security measures as a cri-
lity already, in itself, determines the need for proportionality, and therefore minal sanction to the legal entity colors the political-criminal meaning of the
differentiating between culpability as principle and proportionality also as principle of culpability, being able to provide, in a more balanced way, a sanction
principle makes no sense, since the second is contained in the first. Thus, that transmits the sense of pretension of justice sought by the criminal norm.
the principle of culpability, as a more elaborate expression, where the idea
of ​​proportionality is contained, is more appropriate to serve as a limit to 5. ECONOMIC VIABILITY AND CRIMINAL USEFULNESS OF
all categories of legal consequences of practices of crime67. THE SAFETY MEASURE
At this point, the authors join the defenders of the hazard of the fact, Finally, it is important to note that in the business sphere the agent
with some terminological variants, such as, for example, Muñoz Conde, when has a high degree of rationality and calculates the amount of gain with the
he prefers to admit the principle of culpability as a limit to the imposition of
a security measure. He expresses that in the following terms: “I am inclined 68. MUÑOZ CONDE, Francisco. Hacia una Construcción Latinoamericana de la Culpabilidad. XI Con-
gresso Latinoamericano y III Iberoamericano de Derecho Penal y Criminología. Montevideo, 1999,
towards the meaning that the principle of culpability [...] may serve as a limit page 13.
for the imposition of a security measure, insofar as it is understood that the idea 69. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 830 et seq.;
BUSATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação.
In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tri-
66. BUSATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação. bunais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, page 983 et seq.
In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tri- 70. HASSEMER, Winfried. Introdução aos Fundamentos do Direito Penal. Translation by Pablo Rodrigo
bunais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, page 983 et seq. Alflen da Silva. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2005, page 318.
67. BUSATO, Paulo César; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação. 71. BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 831.
In: CLÈVE, Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tri- 72. MANTOVANI, Ferrando. Diritto Penale, Parte Generale. 9ª ed. Padova: CEDAM, 2015, page 286 et
bunais Superiores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, page 983 et seq. seq.; BUSATO, Paulo César. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018, page 831.
370 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 371

probability of being caught and condemned73. The marginal cost74 is often attorneys’ fees). Formal sanctions include fines, various forms of incarcera-
internalized by the company, performing its functions in a way that incor- tion, and so on. Sanctions related to social stigma caused by imprisonment
porates the possible cost of the penalty to be applied. and formal sanctions should be added. The nuisance associated with court
On the other hand, a criminal sanction for crimes committed by appearance and the reactions of the employer, family, and friends can have
legal entities – in an economic perspective – must also take into account its a stronger effect than traditional sanctions.
inhibiting character. A punishment should be related to the loss caused by Economists adhering to the School of Law and Economics suggest that
the commission of the crime. In this sense, Silva Sánchez observed that it a criminal sanction should be efficient, in addition to its inhibiting char-
would be necessary to make the costs of the penalty lower than the costs acter. It is true that crimes committed by the legal entity have the outlines
of tolerating the crime. According to him, the costs of the crime for the of a rational crime, that is, the rational decision maker78 takes the likelihood
offender are not given directly by the severity of the penalty. If this were of the penalty into account while completing the criminal act79. A form of
the case, the only element controlling crime rates would be the increase or criminal sanction that seems efficient in the criminal reprimand is then
decrease of that severity75. pursued, in view of the cost/benefit s employed in it.
The basic principle behind the economic view of legally imposed Under the economic bias, the security measures are possible since they
sanctions is to ensure that those who infringe the law internalize the ex- do not have high costs for their application. For instance, and in an initial
ternalities they impose on others. Several issues arise in this context: (1) view, it is considered that security measures applicable to legal entities such
what is the dimension of the externality, (2) on whom the penalty should as the impossibility to contract with the public authorities and the partial or
be imposed, and (3) whether the penalty should take the form of criminal total suspension of their activities, in theory, do not require the assignment
or civil penalties or possibly only through loss of reputation76. of considerable values ​​for their effectiveness, that is, they do not depend on
The costs of punishment77 include all formal and informal sanctions, high budget allocation or marginal costs, such as the construction of prisons
as well as monetary costs arising from legal proceedings (loss of income and and the burden on the custody of convicted offenders.

73. Regarding this rational practice verified within the legal entities, Silva Sanchez and Lorena Varela CONCLUSION
affirm that one must be careful and that care must be taken and attention should be paid to the decision-
-making of the decision-making center, thus avoiding the influence of cognitive biases and heuristics, From the perspective of the criminal reality, it is possible to raise the
competing for prudent acts through due care. In SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA, Lorena.
Responsabilidades individuales en estructuras de empresa. La influencia de sesgos cognitivos y diná- urgent need to discuss criminal liability of legal entities in Brazil, especially
micas de grupo. In: Fundamentos del derecho penal de la Empresa. 2 ed. Cap. V, Madrid: Edisofer,
2016, page 265. the application of criminal sanctions. Nowadays, most of the offenses to the
74. The rational criminal chooses the severity of the crime to maximize his net profit, which is the expec-
ted return with the commission of the crime minus the expected penalty. COOTER, Robert; ULEN, legal assets are committed by business entities and are endowed with enor-
Thomas. Direito & Economia. Porto Alegre: Booksman, 2010, page 478.
75. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. Eficiência e Direito Penal. Barueri: Manole, 2004, pages 38-39.
mous repercussion and costs to the society.
76. JUNIOR, John R. Lott. Corporate Criminal Liability. In Encyclopedia of Law and Economics. Bou- Considering the legal entity’s capacity to commit a crime, this paper has
ckaert, Boudewijn and De Geest, Gerrit (eds.), Volume I. The History and Methodology of Law and
Economics, Cheltenham, Edward Elgar, 2000, page 493. sought to check if certain business activities and certain behaviors are appro-
77. In order to deepen the topic, the Special Secretariat for Strategic Affairs, linked to the Presidency of
the Republic, published in June of 2018 the Report on the Scenario: Economic costs of crime in Brazil, priate in a conduct of risk, assigning to the corporate entities the contours
where it develops a methodology for estimating economic costs in the period between 1996 -2015. In
the scope of this report, the economic costs of crime can be summarized into six categories, each one
directly influenced by public policy design decisions: (a) public and private security costs; (b) incarce-
ration costs; (c) costs of property damage and insurance; (d) costs of productive loss; (e) costs of legal 78. COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito & Economia. Porto Alegre: Booksman, 2010, page 476.
proceedings; and (f) costs of medical and therapeutic services. The scope of this report does not include: 79. Under the economic bias, there is association between crimes and damages: “Since almost all crimes
the costs of military and intelligence agencies; the indirect effects on physical and human capital in- are also torts, there is really no such thing as a boundary between tort law and criminal law. The cor-
vestment; the intangible losses with pain, psychological suffering and quality of life. The main conclu- rect description of the separation between doctrines is that the categories of socially undesirable and
sions of this report are that the economic costs of crime rate are substantial, orbiting around 4% of the market- bypassing conduct describe areas in which tort and criminal law co-exist, while the category of
Brazilian GDP. Available at:<http://www.secretariageral.gov.br/estrutura/secretaria_de_assuntos_estra- potentially socially desirable conduct is one to which tort law alone applies.” HYLTON, Keith N. The
tegicos/publicacoes-e-analise/relatorios-de-conjuntura/custos_economicos_criminalidade_brasil.pdf/ Theory of Penalties and the Economics of Criminal Law. Boston University School of Law. Working
view>. Paper nº. 02-17, January 2005, page 184.
372 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Samuel Ebel Braga Ramos – Rodrigo J. Cavagnari 373

of hazard. In this investigation, based on the forensic medical literature and DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tri-
bunais, 2013.
behavioral psychology as theoretical sources in the construction of the legal
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José. Derecho Penal de la Empresa e Imputación Objetiva. 1ª ed.
entity as being endowed with hazard, the diagnosis was sketched whereby Santiago: Ediciones Olejnik, 2017.
certain business behaviors are aligned with traits of psychopathy and cognitive GARRIDO, Vicente. El Psicopata. Un camaleón en la sociedade actual. Barcelona: Editorial Círculo
behavioral deviations. de Lectores, 2001.
GRACIA MARTIN, Luis. La cuestión de la responsabilidad penal de las propias personas jurídicas.
In this scenario, the application of security measures for legal entities In: Responsabilidad Penal de las Empresas y sus Órganos y Responsabilidad por el Producto. Barcelona,
that commit typical criminal wrongdoing as a form of intervention in the J. Bosch, 1996.

company blossoms, aiming at the legal entity’s readjustment for its opera- GONZÁLEZ CUSSAC, José L.; BUSATO, Paulo César. O modelo espanhol de responsabilidade
penal das pessoas jurídicas do CP de 2010. Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol. 132. ano 25.
tional return, as well as preventing the commission of crimes in the future. pages 39-60. São Paulo: Ed. RT, Jun, 2017.
Finally, this paper has sought support in the foreign legislations that GÓMEZ-JARA DIEZ, Carlos. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: teoria do crime para
pessoas jurídicas. São Paulo: Atlas, 2015.
admit the security measures as a criminal sanction to legal entities, as a way
HASSEMER, Winfried. Introdução aos Fundamentos do Direito Penal. Translation by Pablo Rodri-
of approaching the proposal to amend the Brazilian legislation on the matter, go Alflen da Silva. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2005.
concluding that such measures are feasible as a means of facing the crimes JUNIOR, John R. Lott. Corporate Criminal Liability. In Encyclopedia of Law and Economics. Bouc-
committed by business organizations. kaert, Boudewijn and De Geest, Gerrit (eds.), Volume I. The History and Methodology of Law and
Economics, Cheltenham, Edward Elgar, 2000.
KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. Judgment under uncertainty: Heuristic and biases. Sci-
BIBLIOGRAPHICAL REFERENCES ence, New Series, v. 185, n. 4157. Sept. 27, pages 1124-1131, 1974.
ABDALLA-FILHO, E.; TELLES, L. E. de T. Avaliação de risco de violência. In Abdalla-Filho E; Cha-
MANTOVANI, Ferrando. Diritto Penale, Parte Generale. 9ª ed. Padova: CEDAM, 2015.
lub, M; Telles, L. E. de T. (Org.) Psiquiatria forense em Taborda. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
MEDINA, Julio Leal. La historia de las medidas de seguridad: de las instituiciones preventivas más
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Vol. 1: parte geral. 13ª Ed. São Paulo:
remotas a los criterios científicos penales modernos. Pamplona: Editorial Aranzadi, 2006.
Saraiva, 2008.
MUÑOZ CONDE, Francisco. A delinqüência econômica e o provérbio societas delinquere non
BECK, Ulrich. Sociedade de risco rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2010.
potest. Tradução de Rodrigo Sánchez Rios. Jornal do Estado do Paraná, 18 abr. 1993. Caderno Direito
BRENNER, Geraldo. Entendendo o comportamento criminoso: educação, ensino de valores mo- e Justiça, page 26.
rais e a necessidade de coibir o comportamento criminoso: uma contribuição da teoria econômica
MUÑOZ CONDE, Francisco; ARÁN, Mercedes García. Derecho Penal, parte general. 5ª ed. Valen-
e um recado para nossas autoridades. Porto Alegre: AGE, 2009.
cia: Tirant lo Blanch, 2002.
BUSATO, Paulo César. Responsabilidade Penal da pessoa juridica: fundamentos criminológicos,
_______. MUÑOZ CONDE, Francisco. Hacia una Construcción Latinoamericana de la Culpabi-
superação de obstáculos dogmáticos e requisites legais do interesse e beneficio do ente coletivo
lidad. XI Congresso Latinoamericano y III Iberoamericano de Derecho Penal y Criminología. Monte-
para a responsabilização criminal. Paulo Cesár Busato, Fábio André Guaragni. Curitiba: Juruá, 2012.
video, 1999, page 13.
_______. Fundamentos para um direito penal democrático. São Paulo: Atlas, 2013.
PRITTWITZ, Cornelius. O direito penal entre direito penal do risco e direito penal do inimigo:
_______. Projeto de Código Penal em Debate – Imputação da pessoa jurídica no projeto do novo tendências atuais em direito penal e política criminal. Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol.
CP. Available at: https://www.ibccrim.org.br/boletim_artigo/5401-Projeto-de-Codigo-Penal-em-De- 47/2004, pages 31 – 45, Mar – Apr / 2004.
bate-Imputacao-da-pessoa-juridica-no-projeto-do-novo-CP.
RIOS, Rodrigo Sanchez. Indagações sobre a possibilidade da imputação penal à pessoa jurídica no âm-
_______. Direito Penal, Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2018. bito dos delitos econômicos. In: Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio
da imputação penal subjetiva. Coordenação Luiz Régis Prado, René Ariel Dotti – 4. ed. – São Paulo:
_______; CAVAGNARI, Rodrigo J. Pena e Medida de Segurança: uma aproximação. In CLÈVE, Editora Revista dos Tribunais, 2013.
Clèmerson Merlin; KENICKE, Pedro Henrique Galloti (Coord.), Teses Jurídicas dos Tribunais Superi-
ores: Direito Constitucional I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, page 983 et seq. SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: Parte Geral, 3ª Ed. ICPC-Lumen Juris, 2008.
BRAZIL. Ministry of Justice. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. Série “Pensando o Direito. _______. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. In: Responsabilidade penal da pessoa jurídica:
nº 18/2009. Available at: http://www.justica.gov.br/seus-direitos/elaboracao-legislativa/pensando-odi- em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. Coordenação Luiz Régis Prado, René Ariel Dotti
reito/publicacoes/anexos/18pensando_direito_relatorio.pdf, p. 13. Accessed on 12.16.2017. – 4. ed. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
CAVERO, Percy García. Derecho Penal Económico: Parte Geral. 3ª ed. Lima: Juristas Editores, 2014. SCHÜNEMANN, Bernd. Cuestiones Básicas de dogmática jurídico-penal y de política criminal acerca
de la criminalidad de empresa. In: Anuário de Derecho Penal y Ciencias Penales. Madrid, tomo XLI,
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito & Economia. Porto Alegre: Booksman, 2010. fasc. 1, pages 529-58, enero/abril, 1988.
374 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Eficiência e Direito Penal. Barueri: Manole, 2004.


_______. A expansão do direito penal: aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais.
3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María; VARELA, Lorena. Responsabilidades individuales en estructuras de
empresa. La influencia de sesgos cognitivos y dinámicas de grupo. In: Fundamentos del derecho penal
de la Empresa. 2 ed. cap. V, Madrid: Edisofer, 2016, pages 247-283.
CRIMINAL LIABILITY OF THE LEGAL ENTITY AND
SUNSTEIN, Cass Robert.; JOLLS, Christine; THALER, Richard H. A Behavioral Approach to Law
and Economics, 50 Stanford Law Review, 1998. ACTION OF THE PUBLIC PROSECUTOR’S OFFICE:
SUTHERLAND, Edwin H. Crime do colarinho branco. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2016. HISTORY AND PRACTICE IN COMMON LAW
TIEDEMANN, Klaus. Derecho Penal Económico: Introducción y parte general. Primera edición.
Lima: Editora y Lebreria Jurídica, 2009. pages 72-73.
André Thiago Pasternak Glitz1
ZIFFER, Patricia S. Medidas de seguridad. Prognósticos de peligrosidad en derecho penal. Buenos
Aires: Hammurabi, 2008. Thayse Pozzobon2

Abstract: The article summarizes the history of the development of criminal liability of the
legal entity in the common law system, with emphasis in the United States and addresses
the practice of the United States Public Prosecutor’s Office to use consensual criminal
justice instruments with the purpose of promoting changes in institutional culture of
companies accused of committing crimes.
Keywords: Criminal Liability of the Legal Entity. Common Law. Agreements. Public
Prosecutor’s Office.

INTRODUCTION
The incremental proximity between the Law of Anglo-Saxon (common
law) countries and that of Continental Europe and Latin America (civil law)
is increasingly recognized.3 The phenomenon already surpasses that of mere
influence, presenting multiple cases of effective adoption of legal rules originally
conceived and developed in legal systems of common law by countries of Ro-
man-Germanic legal tradition, with the reciprocal condition also being true.4
In this tendency of mutual convergence since the mid-twentieth cen-
tury, several countries in Latin America and Continental Europe have been

1. The writer has a Master’s Degree in Laws (LL.M.) by Columbia Law School, USA/NY. He’s professor
of the Fundação Escola do Ministério Público (Public Prosecutor’s Office School Foundation) of the
State of Paraná (FEMPAR)and a Public Prosecutor in the Public Prosecutor’s Office of the same state.
E-mail:andreglitz@gmail.com.
2. The writer has a Master’s Degree in Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Especialist in Public
Law by the Escola da Magistratura do Paraná. Lawyer. Teacher of Criminal Law and criminal procee-
dings in universities. E-mail: tcpozzobon@gmail.com.
3. Beck refers to the effects of dissemination and incorporation of other features of the American society to
the other countries of the world as the “macdonaldization” phenomenon. BECK. Ulrich. O que é globa-
lização? Equívocos do globalismo: respostas à globalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999. Page 85.
4. Identifying this inter-penetration as a process for application of the Legal Policy: BUSATO, Paulo. A
Política Jurídica como Expressão da Aproximação entre o Common Law e o Civil Law. In: Reflexões
sobre o Sistema Penal do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. Pages 3-42
376 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 377

expanding the scope of consensual solutions of criminal cases5, with a more at identifying, in the United States reality, possible lessons about the use of
recent tendency in the legal systems of civil law reincorporating criminal agreements in cases of Criminal Liability of Legal Entities for the Brazilian
liability of the legal entity in their legal systems.6 The purpose of the article criminal-legal system, without neglecting the peculiarities of the latter.
is to present the possible effects of this combination, based on the US ex-
perience, where cases of criminal liability of legal entities are, in their vast PART I
majority, settled by agreements. Transplant or translation of foreign legal institutes? Criminal liability of
legal entities and consensual criminal justice
Part I will provide the reasons justifying the choice of the theme and
the United States as the reference country in the use of alternatives to full The interpenetration of laws, concepts and legal practices between
investigation and judgment of merit of criminal cases in situations of criminal different countries presents itself as a very complex phenomenon. Two char-
liability of legal entities. In turn, Part II will make a brief presentation of the acteristics are extracted from the studies on the subject that appear as relevant
historical development of the subject matter of criminal liability of the legal for this work. The first concerns the fact that, as a rule, migration takes place
entity, in the common law system, with emphasis on the United States. Part from the center to the periphery, that is, the countries considered as devel-
III will focus on the relatively recent phenomenon of the use of negotiated oping are those that end up incorporating laws from developed countries into
solutions in cases of criminal liability of legal entities, notably in US federal their domestic Law.8 The second, which can be considered as an effect of
courts, through the use of non-prosecution agreements and deferred-prosecu- the first, refers to the way in which this transposition takes place, opposing
tion agreements. In addition, the main reviews that have been developed about the reductionist metaphor of legal transplantation to the complex process of
the Department of Justice’s policy of holding legal entities liable in the criminal translation and transformation suffered by the concept or instrument when
sphere almost exclusively with the conclusion of non-prosecution agreements incorporated by a different legal system.9
or deferred-prosecution agreements will be presented. Part IV will address the These characteristics result into an inclination to criticism and contempt
influence of consensual criminal justice of the Anglo-Saxon system in Latin for experiences of Comparative Law by professors and scholars from developing
American criminal procedure, especially in Brazil.7 The last Part V will be aimed countries, mainly when the original system is of an Anglicism matrix. However,
even if some anti-imperialist romanticism can gather followers sympathetic to
5. By negotiated solutions, the theoretical reference of LEITE is taken as the basis about the expression
criminal consensual justice, encompassing “the agreements in which there is effective negotiation legal-intellectual xenophobia, responsibility and scientific maturity are crucial
among the parties participating in the process, as well as those in which the charged party adheres to
the proposal presented by the plaintiff, even if there are no direct contacts or counter-proposals”. The to avoid generalized repulsion, as well as uncritical acceptance of foreign laws.
remarkable typical note presented as relevant for this work is not the degree of autonomy of the parties
in the negotiation process, but that we dealing with a “(…) model of criminal process that assigns In the first bias, the jurist should not neglect the reality imposed by
more relevance to the will of the concerned parties – accusing entity, charged party and eventually the
victim – so that convergence of wills among them plays a decisive role in the judicial pronouncement the so-called risk society, in which the constitutionally consecrated values are
signaling the closure of the process or procedure”. LEITE, Rosimeire Ventura. Justiça consensual e
efetividade do processo penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2013. Pages 23-24 exposed to dangers and injuries in an environment of integral and real-time
6. Presenting the reasons for this gap and emphasizing that criminal liability of legal entities was set
forth in the Criminal Code of the Empire, of 1830, and in the special part of the Criminal Code of the
Republic, of 1890: BUSATO, Paulo César. Razões político-criminais para a responsabilidade penal sultado. Accessed on: December 09, 2018) and the consent decrees in cases of legal entities who were
de pessoas jurídicas. In: Seminário Brasil-Alemanha: responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Flo- the perpetrators of administrative malfeasance acts under Law 8.429/92 (article 1, §2, of Resolution 179,
rianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. Pages 39-48. In fact, PLS 236/2012, which instituted the Brazilian CNMP) evidence this movement and are instruments which, in Brazil, already present themselves with
Criminal Code, provides, in its text, the criminal liability of legal entities. In this regard, refer to: BU- potential for proximity with the United States reality, although they are not aimed for the Criminal Law.
SATO, Paulo César. Responsabilidade penal de pessoas jurídicas no projeto (e no texto substitutivo) 8. Affirming the tendency of reformist movements taking place from the center to the periphery, i.e.,
do novo Código Penal brasileiro. In: Reforma Penal: A crítica científica à Parte Geral do Projeto de from developed countries to developing countries, refer to: LANGER, Máximo. Revolution in Latin
Código Penal. (PLS 236/2012). Org. Alaor Leite. São Paulo: Atlas, 2015. Pages 159-188. American Criminal procedure: Diffusion of Legal ideas from the Periphery. The American Journal
7. That is not an exclusive tendency of the criminal process, but a procedural tendency as a whole, as ve- of Comparative Law, vol55, pages 617-676. Available at: https://www.researchgate.net/profile/Ma-
rified in the rule of article 90, of the Brazilian Code of Civil Procedure of 2015: “Article 190. When the ximo_Langer/publication/228189838_Revolution_in_Latin_American_Criminal_Procedure_Diffu-
proceeding refers to rights accepting self-composition, the fully capable parties are allowed to set changes sion_of_Legal_Ideas_from_the_Periphery/links/546f701d0cf2d67fc03113d8/Revolution-in-Latin-A-
in the procedure to adjust it to the specificities of the case and to agree upon their burdens, powers, pos- merican-Criminal-Procedure-Diffusion-of-Legal-Ideas-from-the-Periphery.pdf. Accessed on: October
sibilities and duties under the process, before or prior to its course”. In addition, both the leniency agree- 12, 2018.
ments celebrated with legal entities subjected to the liability under Law 12.846/2013 (as recorded, within 9. In this regard, refer to: LEGRAND, Pierre. The Impossibility of Legal Transplants. 4 Maastricht J. Eur.
the scope of the “Operação Lava Jato”- Car Wash Operation, 11 leniency agreements were celebrated. & Comp. L. 111 (1997). Available at: https://heinonline.org/HOL/LandingPage?handle=hein.journals/
Information at: http://www.mpf.mp.br/para-o-cidadao/caso-lava-jato/atuacao-na-1a-instancia/parana/re- maastje4&div=13&id=&page. Accessed on: November 14, 2018.
378 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 379

interactivity. It is a fact: we are all online, everywhere, worldwide and full Criminal Liability of the Legal Entity is an exclusive historical hiccup of continen-
time,10 in what is the posthumous stage of the industrial society, in which the tal Law, historically present throughout the development of Law and of common
risks to fundamental rights “no longer stem from natural events, but actually law and in most of the continental criminal Law.”15
from human creations, which, nevertheless, do not derive from close and clearly In Brazil, the Criminal Liability of the Legal Entity has been an in-
identifiable actions, but from mass and global technological measures which real creasingly frequent subject of discussions and reflections, also being one of
source is unknown or widespread”.11 the main novelties of PLS ​​236/2012, which establishes the new Brazilian
On the other hand, the automatic incorporation of alien laws is not Criminal Code.16 Under the political-criminal perspective, the Federal Con-
either recommended. The duly considered analysis and the well-founded stitution of 1988 and the federal legislature (Law 9.605/98, article 3) opted
review for legal transplantation are welcome, the “copy and paste” of concepts for the possibility of criminal intervention against legal entities.17 Under the
foreign to the legal system of destination that poses risks related to the actual case law, the Federal Supreme Court and the Superior Court of Justice have
functioning of certain instruments in structures conceived under different already recognized as legitimate the choice made by the original constitution
legal principles and social realities. In CARNELUTTI’s wise metaphor, a legislature, and also recognized as constitutional the legislative provision re-
legal system operates like clockwork, with the most subtle change in one of garding environmental crimes.18
its gears is, in itself, capable of compromising its entire operation.12 In the procedural scope, consensual justice has been legislated in Bra-
Thus, as this paper intends to address subject matters of Comparative zilian criminal procedure since the 1990s.19 Here, the country follows the
Law, based on the United States experience, it is important to state the ini- Latin American tendency to incorporate, from the second half of the 20th
tial warning that any “legal import” does not preclude a previous translation century, methods of consensual resolution for criminal cases. At this point,
process, re-reading of the law in the light of the legal system of destination.
15. BUSATO, 2018, page 63.
In the scope of Criminal
​​ Law and Criminal Procedure, the adaptation of new 16. Regarding regulation of the Criminal Liability of the Legal Entity by the Bill 236/2012 refer to BUSA-
gears demands duplicated caution in order to preserve the binomial serious TO, 2012, pages 53-86.
17. These are the texts of both provisions of the Federal Constitution of 1988 evidencing the political-criminal
interventions/maximum guarantees13 and the structuring and founding prin- option in favor of the Criminal Liability of the Legal Entity: Article 173, §5: “The laws, without impair-
ment of the individual liability of the legal entity’s officers, will set the responsibility of the legal entity,
ciples of the criminal system of each country. subjecting it to sanctions compatible with its nature, in the acts practiced against the economic and finan-
cial order and against popular economy”. Article 225: “Everyone is entitled to ecologically balanced en-
Curiously, the Criminal Law and Criminal Procedure of the countries vironment, an asset of shared use of people and essential to healthy life quality, with the Public Authority
and the society holding the duty of defending and preserving it to the present and future generations. (…)
with matrix originated of civil law are disciplines that have suffered constant § 3 The conducts and activities judged harmful to the environment will subject the offenders, individuals
or legal entities, to criminal and administrative sanctions, irrespective of the duty to remedy the damages
influxes of foreign experiences, particularly from the United States.14 This caused. Law no. 9.605/98 (Law on Environmental Crimes), in turn, provides in its article 3 that: “The
legal entities will be held liable in the administrative, civil and criminal spheres as set forth in this Law in
article will address the criminal liability of the legal entity in this context, the cases where the infraction is perpetrated by a decision of their authorized or contractual representative
not forgetting the warning by BUSATO about it not being a novelty for the or decision of its board, at the interest or benefit of their entity. Sole paragraph. The liability of the legal
entity does not exclude that of the individuals, authors, co-authors or participants of the same fact”.
Roman-German system: “much opposite to what is usually said, the absence of 18. Egregious Federal Supreme Court, Extraordinary Appeal no. 548.181/PR, Rapporteur Justice Rosa
Weber, judged on 08.06.2013. In the case law of the Higher Court of Justice, two judgments are para-
digms: the first one of the 5th Panel, Special Appeal no. 564.960/SC, Rapporteur Justice Felix Fischer,
10. MAGALHÃES, Vlamir Costa. O crime de lavagem de ativos no contexto do direito penal econômico judged on 04.17. 2007; the second one, also of the 5th Panel, the Appeal in Writ of Mandamus no.
contemporâneo: criminal compliance, delinquência empresarial e o delineamento da responsabilidade 39.173/BA, Rapporteur Justice Reynaldo Soares da Fonseca, judged on 08.06.2015. In opposition,
penal no âmbito das instituições financeiras. Porto Alegre: Núria fabris, 2018. page 33. several and qualified doctrine professors reject the Criminal Liability of the Legal Entity, indicating it
11. BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo global. Translated by Rosa S. Carbó, Barcelona: Paidós, 2007, as unlawful and unconstitutional. In this regard, refer to: GRECO, Luís. Por que é ilegítimo e quase de
apud BUSATO, 2012. page 35. todo inconstitucional punir pessoas jurídicas. In: Seminário Brasil-Alemanha: responsabilidade penal
de pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. pages 69-76.; LEITE, Alaor. Observações
12. CARNELUTTI, Francesco. Sistema de Direito Processual Civil. Translated by Hiltomar Martins Oli- provisórias sobre a responsabilização penal das pessoas jurídicas. In: Seminário Brasil-Alemanha: res-
veira. São Paulo: Classic Book, 2000. ponsabilidade penal de pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. pages 77-89; LUISI,
13. BUSATO, 2018, page 56. Luiz. Notas sobre a responsabilidade penal das pessoas jurídicas. In: Responsabilidade penal da pessoa
14. In the Brazilian criminal system, examples of the influence from the United States Law include the jurídica: em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. São Paulo: RT, 2001. Page 91.
Money laundering prevention system (Law 9.613/98); the so-called investigation special techniques 19. Law no. 9.099/095 introduced three instruments of negotiated criminal justice into the Brazilian sys-
(Law 12.850/2013) and the expansion of negotiated criminal justice environments (Law 9.099/95; tem of law, namely: civil settlement of damages (article.74); non-prosecution (article 76) and deferre-
Resolution 181/2017, CNMP and Anticrime Bill). d-prosecution (article 89).
380 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 381

the Anglo-Saxon systems present themselves as an undeniable source of in- Liability of the Legal Entity in the countries governed by the common law
spiration, challenging the normative adaptation of that instrument to the around the second half of the 19th century. Summing up the prevailing
criminal procedural systems structured on continental European bases. understanding that collective entities could not be perpetrators of crimes,
The perspective of the Brazilian legal system including the criminal re- BLACKSTONE said that only those beings endowed with freedom of will
sponsibility of the legal entity, therefore, presents challenges still not properly and capable of abusing it are punishable. This ability God has bestowed on
explored,20 especially on how the alternatives to full investigation and to the judg- man ... companies cannot commit crimes of treason, or any offense.25
ment of the merits of criminal infractions practiced by companies will be used. There was, therefore, a majority rejection for including the Criminal Li-
Therefore, the critical analysis of the way in which US prosecutors, ability of the Legal Entity in view of the historical and consolidated criminal
particularly in the Federal Court of that country, have acted in criminal cases liability of the common law, recognized from the evidence of two elements:
involving legal entities proves to be relevant. First, however, it is imperative actus reus and mens rea.26 The emergence and development of the Criminal Li-
to prepare a brief historical summary of the criminal liability of legal entities ability of the Legal Entity in Anglo-Saxon legal systems originated in English
under common law systems, with emphasis to the United States, until the case law, leveraged by the socio-economic transformations of the Industrial
current state of the art, embodied in the so-called strict vicarious criminal li- Revolution.27 Although there is mention to decisions recognizing it even in
ability21, enshrined in the decision of the Supreme Court in New York Central the 16th century – in cases of failure to comply with regulatory duties28 – it was
v. Hudson River Railroad Company v. United States (1909).22 only in the 19th century that a jurisprudential body was formed in England

Free translation of the writer. In the original: “Punishments are… only inflicted for that abuse of that
PART II 25.
free will, which God has given to a man”. “[a] corporation cannot commit treason, or felony, or other
crime”. (William Blackstone).
Criminal liability of the legal entity in the United States: a practice in 26. While the actus reus relates to the crime external element, or objective, as the result of the conduct and
action perpetrated by the agent, the mens rea is the internal element, of the soul. Regarding the latter,
search of a theory there are two basic references to identify and comprehend its content in the United States Law. The
first is its historical-case law construction by means of case studies, typical of the common law me-
Repulsion to the Criminal Liability of the Legal Entity by countries gov- thod. Here, the sense of the different expressions used to identify the subjective element almost always
diverges from the ordinary meaning of the words in the English language itself, creating some difficul-
erned by the civil law is a somewhat recent event and it is directly related to the ty to identify their content, varying according to the country, the judging body and the type of crime.
Thus, the one facing the challenge of extracting the senses from an extensive range of expressions
development of crime theory from an ontological conception of the concept of representing the mens rea such as corruptly, scienter, willfully, maliciously, fraudulently, wantonly,
feloniously, willful neglect, recklessly, negligently, wanton and willful shall not only memorize the
human conduct.23 The solid and consistent theoretical construction of a system concepts, but will have to prepare a contextualized and detailed historical study of their development
of criminal charge that overcomes this paradigm, therefore, is the greatest chal- and application. It is, therefore, no surprise that a second reference has appeared, by the legislated way
of the Model Penal Code. In a manner that is more similar to that of the civil law jurist, the CPM seeks
lenge to the countries of Roman-Germanic tradition that, urged by relevant to analytically systematize and provide concepts to the different categories of mens rea developed by
the case law of the common law. Therein, the subjective element of a crime will be evidenced when
political-criminal reasons, intend to hold the legal entities criminally liable.24 all the material elements of the offense (the actus reus: conduct, circumstance and result) have been
practiced through one of the following types of mens rea: “purpose”, “knowledge”, “recklessness”
Such theoretical obstacles permeated the discussion of the Criminal and “negligence”. To avoid reductions and mistaken translations of those concepts, it is important to
observe that the mens era does not correspond to the concepts of intent or guilt of the Brazilian Crimi-
nal Law. On the mens rea refer to: BONNIE, Richard J.; COUGHLIN, Anne M.; JEFFRIES, John C.;
LOW, Peter W. Criminal Law. 3 ed. New Tour: Thomson Reuters, 2010. Pages 233-343.
20. To read about some particularities of the criminal procedure in charges against legal entities, refer to, 27. The social-economic scenario leveraging this turnover was addressed by the United States Supreme
in Brazil: BRANCO, Fernando Castelo. A pessoa jurídica no processo penal. São Paulo: Saraiva, 2001; Court in judging the case Morissette v. United States (1952): “[The Industrial Revolution] Multiplied
GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. the number of people exposed to injury when dealing with complex and powerful machines, besides
In: Seminário Brasil-Alemanha: Responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Org. Paulo César Busa- causing uncontrolled population increase in the cities, which were crowded with people at places re-
to. Coord. Luís Greco and Paulo César Busato. Florianópolis: Tirant Lo Blanch, 2018. Pages 153-165. quiring health and social regulations unconsidered in former times. [In addition] the broad distribution
21. Which would be something like “objective criminal liability for third-party’s fact”. of goods and services became instrument for expanding risks of damages when those responsible for
food, beverage, medicine and securities did not observe the minimum standards of quality, integrity,
22. New York Central v& Hudson River Railroad Company v. United States 212 U.S. 481 (1909). information and care of the products. [Consequently, the State began implementing] increasingly more
23. In fact, yet in the Middle Age it was customary and frequent practice to enforce criminal reprimands aiming detailed and numerous regulations in order to sue those responsible for certain economic sectors with
at hindering the acts practiced by the legal entities. BRANCO, Fernando Castelo. Op. Cit. Page 41. potential to affect people’s security, health or wellbeing”.
24. Presenting the arguments of those who dismiss the Criminal Liability of the Legal Entity for dogmatic 28. BRICKLEY mentions judgment of the Case of the Langforth Bridge, 79 Eng. Rep. 919 (K.B. 1635).
reasons related to the concept of action, intent and guilt; and dismissing all of them: BUSATO, 2015. BRICKEY, Kathleen F. Corporate Criminal Accountability: A Brief History and Observation, 60
Pages 159-188. Wash. U. L.Q. 393 (1982).
382 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 383

in the sense of accepting criminal liability of companies, at least, initially, for company’s brains” to the collective entity did not apply “to the hands of the
the so-called public welfare crimes.29 company.” In fact, according to the theory, criminal conduct practiced by
In such public welfare crimes, the central point of the charge was an individuals in the lower spheres of companies, such as in the production lines,
omission in the fulfillment of a certain rule related to the business activity, did not authorize the liability of the collective entity.
so as to waive a mental element (mens rea), or an act committed by the In this sense, CELIA WELLS’s is clarifying in commenting on the
company. To some extent, the public welfare crimes sought to compensate decision in Tesco v. Nattrass:
for the absence of action and of mens rea with the provision of less severe The doctrine developed in Tesco v. Nattrass restricts the criminal liability of legal
criminal sanctions, such as small fines, incapable of affecting the operation entities to the extent that as only those individuals who control or manage the
or reputation of legal entities30. company are considered capable of, by their decisions, representing (incorporating)
the collective entity itself. The idea is that company employees can be categorized
In the late 19th century, the English common law admitted the criminal between those who act as the hands and those who act as the brain of the company,
liability of legal entities for acts committed by their agents.31 The growing the so-called anthropomorphic approach. The theory of identification essentially
number of collective entities and the fact that corporations engage in activi- means that the company would be held liable for a serious criminal offense only
ties with high potential of harm to the population – such as the exploration when one of its senior officers was also personally held liable.33
of railroads – led to the development of the so-called alter ego theory, which It is interesting to note how the Criminal Liability of the Legal Entity
recognizes a collective will, or corporate, corresponding to the individual one, in England developed gradually, and the alter ego theory remained almost
based on certain criteria established by the case law. unchanged, being consistently applied, until a series of accidents with serious
In England, the alter ego theory proved to be particularly useful so that consequences triggered a legislative amendment promoted by the English
criminal conduct of governing bodies, or of those individuals responsible Parliament in the year 2007.34 The Corporate Manslaughter and Homicide
for making decisions of the collective bodies, could be attributable to the Act, 2007, c. 19, § 1 (Eng.)35 expanded the possibilities of criminal liability
company itself.32 However, the extension of individual responsibility “of the of legal entities – at least towards the criteria that guided the alter ego theory
– by implementing a sort of liability for fault in the organization,36 although
29. VERÍSSIMO, Carla. Compliance: incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo: Saraiva, still somewhat linked to the individual conduct of the of the company’s officers.37
2018. page 30. According to SHECAIRA: “The first decision, derived from disobedience of public
order given by competent authority, was recorded in the case of Reg. v. Birmingham and Gloucester
Railway Co., in 1840. A railway company was convicted for disobeying the court order to demolish a 33. Free translation into Portuguese of the writer, with the original being “The relatively narrow doctrine
bridge built over a street and considered as causing nuisance”. SHECAIRA, Sérgio Salomão. Respon- developed via… Tesco v. Nattrass had as its governing principle that only those who control or manage
sabilidade penal da pessoa jurídica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, page 28. the affairs of a company are regarded as embodying the company itself. The underlying theory is that
30. As referred by the United States Supreme Court in Morissette, 342, U.S. page 256 and Staples v. United company employees can be divided into those who act as the hands and those who represent the brains
States, 511 U.S. 600, 616 (1994). However, the strict vicarious criminal liability of company’s officers, of the company, the so-called anthropomorphic approach. The identification principle essentially me-
subject to criminal liability due to their position of authority and responsibility in the corporate structure – ant that a company would be liable for a serious criminal offence (only) where one of its most senior
when prior knowledge of the violation is proven – based on the decisions of the Supreme Court in United officers had acted with the requisite fault”. WELSS, Celia. Corporations and Criminal Responsibility,
States v. Dotterweich 320 U.S. 277 (1943) and United States v. Park, 421 U.S. 658, 668 (1975), criminal 2. ed. Oxford University Press, 2001.
prosecutions by violation of the Food, Drug and Cosmetics Act (FDCA) have more recently substantially 34. On October 05, 1999 two trains collapsed in London, in the accident known as “Ladbroke Grove rail
affected individual rights, even in cases of non-proving the element of prior knowledge of the officer. In crash” or “Paddigton rail crash”, killing 31 people and injuring other 258. The case investigation found
this sense, refer to: United States v. Purdue Frederick Co., 495 F.Supp. 2D 569, 570 n.2 (W.D. Va. 2007). that several factors contributed to the accident: (a) inadequate training of the conductors; (b) poor main-
31. SHECAIRA identifies as remarkable in this sense the decision of the “Queen´s bench in 1846 in the tenance of the rails and signaling. Nevertheless, the English prosecutors were not successful in criminally
case Reg. V. Great North of England Railway Co., where a railway company had interrupted and chan- prosecuting the engaged companies for the homicides and injuries derived from the accident, due to the
ged, while building a bridge, a community street then used, resulting into major loss to all users of that prevalence of the alter ego theory in the case law. The case, just like others (e.g., the case of the shipwreck
street and putting public Peace at risk”. Op. Cit. Page 28. of the Herald of Free Enterprise ferry, English manufacture, which killed 193 passengers on March 6,
1987, at the port of Zeebrugge, in Belgium) generated the perception that the English Law should refor-
32. Lennard´s Carrying Company Ltd. v. Asiatic Petroleum Company Ltd. (1915); VERÍSSIMO highli- mulate the law applicable to the liability of legal entities, including those governed by public Law.
ghts that the English model “works with an idea of corporate mens rea, based on the guilty mental state 35. Available at: http://www.legislation.gov.uk/ukpga/2007/19/notes/contents. Accessed on: December
of a person acting in the name of the organization, in a high management position”. The same writer 10, 2018.
also cites the case Tesco Supermarkets Ltd. v. Nattras (1972) A.C. 153 (H.L.), which was the pioneer
in theorizing the managerial mens rea by absolving a supermarket from the charge of advertising 36. The idea of guilt by the Corporation, by TIEDEMANN, presented in Germany was accepted by the
products at prices below what was actually practiced, under the argument that the guilt of the manager Spanish Supreme Court in the first decision that held a company criminally convicted in 2016. Supre-
responsible for the offense could not be ascribed to the company, since: (i) there was not fault ascribab- me Court. STS 154, Feb 29, 2016.
le to the supermarket; (ii) the manager was not positioned in the high management of the supermarket, 37. The Corporate Manslaughter and Homicide Act authorizes the criminal liability of the company for
so that his failure could be considered as conduct of the company itself. the practice of homicides or personal injuries when, due to its activities, the company has the duty of
384 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 385

In other countries of the common-law matrix, BEALE identifies a sim- consecration of the Criminal Liability of the Legal Entity in the early 20th
ilar tendency of expansion, related to major incidents that have resulted in century.43 The logic is properly summarized by the words of Justice Antonin
repercussion in public opinion and social mobilization. The writer highlights Scalia in his vote in the case Citizens United v. Federal Election Commission,
Australia and Canada as exponents of this inclination, among common law 558 U.S. 310 (2010), in which he affirmed the right to freedom of expression for
countries, with important legislative changes occurred in 1995 and 2009, legal entities:
respectively, both facilitating the criminal accountability of collective bodies “all the provisions of the Bill of Rights set forth the individual Rights of men and
at the federal range.38 While in those countries the Criminal Liability of the women ... However, the individual right of a person to freedom of expression
Legal Entity only recently seems to have been assigned broader outlines, in includes the possibility of expressing themselves also when associated with other
the United States the movement was triggered earlier. individuals.”44

By 1850, American prosecutors39 faced the same academic and doctrinal It was natural, therefore, that the spaces of accountability of legal entity
skepticism about the Criminal Liability of the Legal Entity, which did not were also expanded, with a perception that is increasingly accepted and dif-
prevent them from adopting a bold and aggressive stance, charging crimes fused in the social body, that corporate offenses have potential enough to
to corporations both within the range of the States (common law) and at the significantly affect the lives of people, communities and nations, in addition
federal level (statutory law).40 It was the practice of these nineteenth-century to impacting the world economy.
prosecutors, sometimes received under the Judiciary Branch that would gain In New York Central v. Hudson River Railroad Company v. United States
density until it was approved by the United States Supreme Court in judging (1909)45, the United States Supreme Court recognized that if corporations
the New York Central v Hudson River Railroad Company v. United States (1909).41 took such a leading role in today’s society, maintaining an old theory that
The doctrine identifies some factors that would have contributed in this legal entities are incapable of committing crimes would eliminate the main
process that ended up in the decision of the Supreme Court in 190942, but it way for the State to correct (compensate) and avoid (prevent) their most
seems that it was the case law consolidation that a series of individual rights serious abuses. For the Court, the exploration of the activity and profit
would also be assured to the collective entities that laid the bases for the derived from it justify criminal punishment, which cannot be hindered by
any juridical or political theory.46
taking measures to assure people’s safety, in case there is evidence that its management or organization
has contributed to serious violation of that duty, resulting in death or injuries. The way by which the The civil doctrine of the respondeat superior was applied to the case,
corporation’s activities were managed or organized by its officers is a substantial element to determine
the existence of serious violation of duty by the collective entity. On this act, refer to the document “A which ascribes to the principal (in this case, the company) the responsibility
guide do the Corporate Manslaughter and Corporate Homicide Act 2007”, available at: https://www.
gkstill.com/Support/Links/Documents/2007-justice.pdf. Accessed on: December 10, 2018. 43. Referring to the preponderance of the theory of reality over theory of fiction, currently registered in the
38. BEALE mentions Bill C-45 (2009) in Canada and the Australian Federal Criminal Code (1995) as U.S. Code, by equating the legal entity to the individual in the U.S.C. §1. Available at: http://uscode.
examples of said expansion. BEALE, Sara Sun. A response to the critics of corporate criminal liability. house.gov/. Accessed on: March 06, 2019. That prevalence permeated the decisions of the Supreme
American Criminal Law Review. (2009), Vol. 46:1497-1500. Court: Dartmouth College v. Woodward, 17 U.S. 518 (1819) (acknowledged the companies’ right to
39. In the United States, the duty of accusing was gradually structured in the scope of the States Executive enter into agreements); Smyth v. Anes, 169 U.S. 466, 546 (1898) (the companies’ right to be compen-
Branches during the 18th Century, and today this activity is performed by agents elected at the local sated for any State measures affecting their property); First Nat`l Bank v. Bellotti 435 U.S. 765, 792
spheres (District Attorneys) or appointed by the Federal Executive Branch for one of the 93 U.S. At- (1978) (acknowledging the legal entities’ right to petition).
torneys Offices spread across the country. In this excerpt, the term ‘prosecutors’ refers to both. 44. The writer’s free translation. In English, in the original: “all the provisions of the Bill of Rights set
40. Since the decisions of the Supreme Court in United States v. Hudson & Goodwin, 11 U.S. 32 (1812) and forth the rights of individual men and women… But the individual person´s right to speak includes
United States v. Bevans, 16 U.S. 336 (1818) the understanding that federal crimes must be exclusively the right to speak in association with other individual persons”. Citizens United v. Federal Election
created by laws (statutes) produced by the United States National Congress has been consolidated. Commission, 558 U.S. 310 (2010)130 S. Ct. At 928 (Scalia, J., concurring).
41. DISKANT, Edward B. Comparative Corporate Criminal Liability: Exploring the Uniquely American 45. New York Central v. Hudson River Railroad Company v. United States (1909)212 U.S. 481 (1909). It
Doctrine Through Comparative Criminal Procedure, 118 Yale L.J. 126, 134-138 (2008). is worth noting that within the scope of the state justices the case law already recognized the Criminal
42. COFFEE, John. No soul to damn: no body to kick: an unscandalized inquiry into the problem of cor- Liability of the Legal Entity since the 19th Century, in cases such as People v. Corporation of Albany
porate punishment. Michigan Law Review, v.79, pages 386-459, January 1981 indicates the following (1834) and Susquehannah & Bath Turnpike Co. vs. People (1836), cited by BUSATO, 2018, page 18.
factors: (i) the capacity of the Criminal Law to operate a judgment of public censure judgment about 46. The decision affirmed the constitutionality of the federal law – Elkins Act (1903) – which expressly
the agent of the fact; (ii) the fact that the criminal cases are resolved faster than the civil cases, and provided the possibility of criminal liability to railway companies and to their contracting parties, for
the criminal conviction may result into refunding to the victims at a time closer to that of occurrence the conducts of offering and accepting discounts to carry cargo, violating regulation of the fares by the
of the infraction; (iii) the existence of a greater number of public agents working at the criminal law Interstate Trade Commission, considered unlawful at the time for affecting the (sic). The legislation
range – federal and state prosecutors – in comparison with the civil servants with civil/administrative expressly authorized punishment of the company, providing for imposition of fine as sanction for in-
duties – attorneys of regulatory agencies. fractions practiced by its employees, a provision which constitutionality was unanimously recognized.
386 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 387

for acts of its employees or agents, under the assumption that the collective And as the case law identified the content of those two elements, the
entity will be able to bear the damages, unlike the individuals. Therefore, fragility of the parameters set by the Supreme Court in 1909 became evident.
the grounds and assumptions of civil liability of legal entities were used to Concerning the first requirement, the decision in United States v. Potter,
support criminal liability:47 463 F3d 9, 25 (1st Cir. 2006) duly reflects the contours of what has come to
“Applying the principle governing [corporate] civil liability, here we have moved be considered as an action within the scope of the functions by the employee/
only one step farther in recognizing that the action of the employee, while exer- agent, for purposes of criminal liability of the legal entity:
cising the authority delegated to him to define the transportation rates, may be
controlled, in the interest of the public policy, by assigning the responsibility of “The legal rules for ascribing criminal liability to legal entities were built upon
his act to his employer, imposing sanctions upon the corporation in the name of analogous application of civil liability rules. For obvious practical reasons, in
which said employee is acting.”48 order to ascertain whether the employees’ conduct is covered by scope of their
functions, it cannot be required that there are specific from the [company’s] board
The unprecedented decision of the Supreme Court, admitting the crim- or board of directors; it is enough to have a mere authorization for the practice
inal liability of legal entities for the act of its employees/agents was based on of the individual conduct (sign a contract, drive a vehicle to make deliveries).
the federal law then questioned (Elkins Act), which expressly authorized the
(...) the case-law rejected arguments that legal entities can avoid [criminal]
criminal liability of companies. In fact, the 1909 consecrated thesis was used liability by adopting abstract guidelines that their employees refrain from
indistinctly for all federal criminal laws, although there was no express pro- entering into unlawful price-fixing agreements or that their drivers do not
vision in relation to collective entities, as the Elkins Act legislature had done. exceed the speed limit... Even specific guidance [of the company] or concrete
efforts to see its guidelines observed are incapable of automatically exempt-
According to GREENBERG, there was a distortion of the Supreme ing it from [criminal] liability for the wrongful acts of its employees.”50
Court’s decision in New York Central by the United States Federal Courts,
Regarding the employee’s/agent’s intention of favoring the company,
which, taking advantage of the lack of indication of the legal criteria for the
in addition to not requiring any concrete benefit to the legal entity, the fact
Criminal Liability of the Legal Entity in the 1909 decision, began to recog-
that the conduct entails damages to the collective entity, or the existence of
nize it independently of any legal provision similar to that of the Elkins Act.49
several individual motivations, are insufficient to dismiss the criminal liability
A strict vicarious criminal liability generally applicable to all US federal of the corporation.51
criminal law is then created, and the company is held liable whenever: (i) its
In practical terms, in this model of hetero-liability52, when the agent/
employee has acted within the scope of his functions within the company; (ii)
employee is held criminally liable, the company becomes automatically co-li-
the employee has acted with the intent, at least in part, to benefit the company.
able.53 This is a consequence of the absence of an autonomous theory for the

47. ORLAND, Leonard. The transformation of corporate criminal law. Availale at: https://brooklynworks. 50. The writer’s free translation, in the original: “The legal rules for imputing criminal responsibility to cor-
brooklaw.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1169&context=bjcfcl. Accessed on: November 15, 2018. porations are built upon analogous rules for civil liability. For obvious practical reasons, the scope of em-
GREENBERG observes that the Supreme Court of the United States was always reluctant in the un- ployment test does not require specific directives from the board or president for every corporate action;
restricted adoption of a vicarious criminal liability, i.e., to apply the civil theory without restrictions to it is enough that the type of conduct (making contracts, driving the delivery truck) is authorized. (…) case
also hold the legal entity criminally liable. The Court, therefore, interprets along the years the criminal law rejected arguments that the corporation can avoid liability by adopting abstract rules that no agent can
federal legislation of the United States, which is based on laws enacted by the National Congress in order make an unlawful price-fixing contract or no driver exceed the speed limit… Even a specific directive to
to acknowledge as insufficient the mere silence of the legislature regarding the need to have present the an agent or employee or honest efforts to police such rules do not automatically free the company for the
element of the mens rea to ascribe criminal liability to the company. There must be some express indica- wrongful acts of agents”. United States v. Potter, 463 F3d 9, 25 (1st Cir. 2006). Also refer to United States
tion that the American federal legislature, for that specific offense, waived the presence of the mens era. v. Singh 518 F.3d 236 (4th Cir. 2008) “A corporation may be responsible for the actions of its agents
In other words, there is a presumption in favor of the need of the mens rea, which must be dismissed to done or made within the scope of their authority; The term “scope of employment” refers to acts on the
acknowledge practice of the offense. GREENBURG, Joshua D.; BROTMAN, Ellen C. Strict vicarious corporation´s behalf in performance of an agent´s general line of work. To be acting within the scope of
criminal liability for corporations and corporate executives: stretching the boundaries of criminalization. his employment, those acts must be motivated, at least in part, by an intent to benefit the corporation; and
48. The writer’s free translation. In the original, in English: “Applying the principle governing civil lia- An agent may act for his own benefit while also acting for the benefit of the corporation”.
bility, we go only a step farther in holding that the act of the agent, while exercising the authority 51. According to the decisions in: Standard Oil Co. Of Tex. v. United States, 307 F.2d 120, 128 (5th Cir.
delegated to him to make rates for transportation, may be controlled, in the interest of public policy, by 1962) and United States v. Automated Medical Laboratories, 770 F.2d 399 (4th Cir. 1985).
imputing his act to his employer and imposing penalties upon the corporation for which he is acting in 52. Models in which the criminal liability of the legal entity is conditioned to the liabiliyt of individual
the premises”. New York Central v. Hudson River Railroad Company v. United States (1909)212 U.S. penalty, requiring double charge.
481 (1909). 53. From those conceiving them as fiction: (i) legal entities are fiction; (ii) civil liability is enough; (iii)
49. GREENBERG; BROTMAN, Op. Cit. page 84. objective criminal liability by third-party fact is extremely broad, allowing companies to be held cri-
388 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 389

criminal responsibility of legal entities, which sought its theoretical contours regulations and rules, which is the reason why they are even encouraged by the De-
in the Civil Law. partment of Justice, their existence, alone, is not enough to substantiate a decision
not to prosecute a criminal offense against a company due to misconducts practiced
However, some models of self-liability54 have been discussed in the by its departments, directors, employees or representatives. In addition, the nature
United States, based on ascribing criteria aimed at adapting and dissociating of certain criminal offenses (e.g., antitrust criminal law) imposes on the federal
the Criminal Liability of the Legal Entity from the criminal liability of the prosecutor the duty to prosecute the company, even if there is a compliance program.59
individual (vicarious liability). These are proposals that seek to work with The disregard of criminal compliance programs as an element of the
parameters related to the organizational structure of companies, replacing the Criminal Liability of the Legal Entity is criticized by some scholars as a
traditional mens rea of ​​the individual with a corporate mens rea. discouragement to its adoption, which effectiveness would be precisely rep-
FISSE lists the main trends of this attempt to construct a theory of resented by the detection of deviations in behavior that are brought to the
autonomous corporate criminal liability, based on a corporate mens rea.55 The attention of the authorities.60 It is argued that, thereby, companies implement
managerial mens era (managerial culpability) attributes to the company the and structure their compliance programs such as to observe regulatory as-
mental state of agent (s)/employee(s) responsible for making decisions on pects, relegating criminal compliance issues to the background.
behalf of the company, resembling the English theory of identification; the In fact, the US Supreme Court itself has limited the scope of civil liability
strategic mens rea (strategic culpability) considers the organizational policy of of companies for acts of their agents/employees for the purpose of compen-
the legal entity; the composite mens era (composite or aggregate culpability) is sation for punitive damages.61 According to the consolidated case law of the
obtained by the sum of the knowledge of several individuals within the scope Supreme Court, the legal entity has the right to present in its defense the ex-
of the organization; the reactive corporate fault takes into account the reaction istence of reasonably effective corporate guidelines to prevent certain conduct
of the company after detection of the wrongful act.56 by individuals, since otherwise the company would have wicked incentives.62
An important component of the corporate mens rea – especially in the WEISSMANN understands that this set of decisions must have effects
concept of reactive corporate fault – is the existence of an effective criminal in the criminal area, since:
compliance program adopted by the legal entity, a fact that in the current “It is precisely the discouragements faced by legal entities face in the current
US model is not able to exclude the Criminal Liability of the Legal Entity57, scenario of criminal liability, which criteria fail to create incentives for the im-
interfering only with the sentencing guidelines58 as inferred from the operating plementation of internal mechanisms capable of preventing deviations of conduct,
guidelines manual of federal prosecutors: since they do not distinguish companies that have effective compliance programs

compliance programs are aimed at detecting and preventing misconduct, ensuring


59. The writer’s free translation, in the original, in English: “Compliance programs are established by corpo-
that the corporate activities are carried out in accordance with civil and criminal rate management to prevent and detect misconduct and to ensure that corporate activities are conducted
in accordance with applicable criminal and civil laws, regulations, and rules. The Department encourages
minally liable without being culpable over the collective entity; (iv) punishments are excessive and such corporate self-policing, including voluntary disclosures to the government of any problems that a
reach innocent third-parties; (v) there are excessive powers granted to the US prosecutors in cases of corporation discovers on its own. See JM 9-28.900. However, the existence of a compliance program is
criminal prosecution of legal entities. not sufficient, in and of itself, to justify not charging a corporation for criminal misconduct undertaken
by its officers, directors, employees, or agents. In addition, the nature of some crimes, e.g., antitrust
54. Models in which the criminal liability of the legal entity is autonomous, not depending on any indivi- violations, may be such that national law enforcement policies mandate prosecutions of corporations
dual charges that may occur or not. notwithstanding the existence of a compliance program. Principles of federal prosecution of business
55. On the concept of mens rea refer to footnote no.31. organizations”. (9-28.800). Available at https://www.justice.gov/jm/jm-9-28000-principles-federal-
56. FISSE, Brent. Reconstructing corporate criminal law: deterrence, retribution, fault and sanctions. S. prosecution-business-organizations#9-28.800. Accessed on: November18, 2018.
Cal. L. Rev. n. 1141, 1982/1983. 60. ARLEN, Jennifer. The Potentially Perverse Effects of Corporate Criminal Liability, 23 J. Legal Stud.
57. In this sense: United States v. Automated Med. Labs., Inc., 770 F.2d 399, 406 (4th Cir. 1985); United 833, 836 (1994).
States v. Potter, 463 F.3d 9, 25 (1st Cir. 2006); United States v. Ionia Mgmt. S.A., 555 F.3d 303, 309 61. In Portuguese, the English expression punitive damages was received in Brazil based on the Theory
(2d Cir. 2009). of the Value of Discouragement, authorizing punitive compensation for non-property damage. On
58. Although the federal legislation does not adopt these possibilities of defense, the large US corporations this subject matter, refer to the work by FILHO, Rau Araújo. Punitive damages e sua aplicabilidade
have significantly invested in compliance programs, mainly focused on fulfillment of the complex no Brasil. Available at: https://ww2.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/Dout25anos/article/
regulatory aspects related to their activities. Thus, in the scope of federal criminal justice compliance view/1117/1051. Accessed on: March 06, 2019.
efforts impacting the criminal sphere end up incorporated to the sentencing guidelines and are taken 62. Kolstad v. American Dental Ass`n, 527 U.S. 526 (1999); Faragher v. City of Boca Raton, 524 U.S. 775
into account in the eventual sentencing, in order to allow significant reduction of the criminal sanction. (1998); Burlington Industries, Inc. v. Ellerth, 524 U.S. 742 (1998).
390 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 391

from those who do not.”63 entities governed by Public Law and private persons who render public
services, also without distinguishing between subjective and objective lia-
Therefore, for WEISSMANN, the decisions of the Supreme Court in bility, somehow characterizing that where the Constitution does not make
matters of civil liability of legal entities have altered, even implicitly, the scope a distinction it is admitting any kind of accountability.”65
of the Criminal Liability of the Legal Entity by act of its agents, since (a) the And the paths already taken by the Americans can be useful not only
company can present as a defense the existence of programs implementing to the criminal dogmatic, but also being relevant when analyzing the effects
guidelines that hinder certain illegal practices by its agents/employees; (b) of the combination thereof with a criminal process in which instruments of
there is a limitation of the company’s criminal liability for the conduct of its consensual criminal justice prevail.
agents/employees holding management positions.64
The conclusion of this summary that seeks to situate the reader on the PART III
way the Criminal Liability of the Legal Entity is structured and how some The age of pre-trial diversion agreements: the predominance of
relevant issues are being debated in the United States is that there is a certain agreements in cases of criminal liability of legal entities in the United
similarity with issues currently discussed in Brazil. Hence, it becomes clear States Federal Court
that the study of the United States Criminal Liability of the Legal Entity may Over the past few decades, the Department of Justice has drastically
serve to keep us alert towards simplifications or mere transplants of foreign changed the way of assigning criminal liability to legal entities, using con-
models that have already presented their limitations elsewhere, such as the sensual criminal justice instruments in most of the cases and for a singular
strict vicarious criminal liability. purpose. The time of change that now prevails in federal cases seems to have
If, on the one hand, the idea of an ​​ objective criminal liability may seem been the judgment that resulted in the conviction of accounting firm Arthur
absurd, insufficient or superficial theoretical developments on the criminal Andersen LLP, as a consequence of one of the largest and most complex
liability of legal entities may lead to serious mistakes, as inferred from the criminal cases involving legal entities in the United States history: the scandal
following excerpt of the judgment handed down by the Federal Supreme involving Enron, made public in October, 2001.
Court, recognizing the adoption of a criminal system of self-responsibility
Since then, federal prosecutors have all the institutional incentives to
of legal entities by the Federal Constitution of 1988:
avoid prosecution and judgment of legal entities in the United States Fed-
“(...) What we are going to decide here is a legal question almost in theory, which, eral Court. The use of agreements to resolve criminal cases still during the
I would say, concerns the objective liability or not of the legal entity, inde-
pendently of any subject. (...) The fact that article 225, §3, makes no specific investigation phase was the solution found by the Department of Justice to
mention of the exclusivity of the legal entity, or the possibility of liability being avoid the side effects of a criminal proceeding and a possible conviction that,
established without subjecting the fault on a person, is a wording, somewhat, sim- in practical terms, represent the death of the legal entity, likewise what has
ilar to that of Article 37, §6, which establishes the objective liability of legal occurred in relation to Arthur Andersen LLP.
63. The writer’s free translation; in the original, in English: “This is precisely the disincentive responsible In addition, the agreements end up removing from the Judiciary Branch
corporations face in the criminal context: the current criminal liability standard fails to properly incentivi- the decision on merits of the criminal case, like the decision of the United
ze internal deterrence by refusing to distinguish companies that actively engage in compliance from those
that do not”. WEISSMANN, Andrew; ZIEGLER, Richard; MC LOUGHLIN, Luke; MC FADDEN, States Supreme Court that reversed the condemnation in the case Arthur
Joseph. Reforming corporate criminal liability to promote responsible corporate behavior. Available at:
https://www.instituteforlegalreform.com/uploads/sites/1/WeissmannPaper.pdf. Accessed on March 1, Andersen.66 It should also be noted that the agreements that have been used in
2019.
64. However, whether as an element to be proven to hold a company criminally liable or as a defense cases of Criminal Liability of the Legal Entity do not consist of guilty pleas,
capable of suppressing the collective criminal liability, the subject matter of the criminal compliance
continues controversial. In this sense, refer to the comment by RICHMAN: “Consider that due dili- that is, even with the company’s recognition of guilt, there is no imposition
gence defense would absolve a corporation of liability by virtue of its having employed a compliance
program that failed to work. Factoring in compliance programs at the charging and sentencing phase,
by contrast, holds companies accountable for the actions of their agents, as well as for the failures of 65. Excerpts of the vote of Justice Luis Roberto Barroso in: Egregious Federal Supreme Court, Extraordi-
their compliance programs”. RICHMAN, Daniel; STITH, Kate; Stuntz, William. Defining Federal nary Appeal no. 548.181/PR, Rapporteur Justice Rosa Weber, judged on 08.06.2013.
Crimes. Wolters Kluwer Law & Business: New York, 2014. page 764. 66. Arthur Andersen LLP v. United States, 544 U.S. 696 (2005).
392 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 393

of penalty and convicting criminal sentence, which, in addition to impacting the English attorney general to present the order of nolle prosequi (FRIEDMAN,
the civil sphere reduces harm to the corporate image. 1985). The power of the prosecutor to exercise that authority has been supported
by the courts since the onset of the North American nation’s existence.”70
However, before detailing how this peculiar dynamic has worked in the
In addition, an interpretation of the Constitutional Principle of Sepa-
North American country, it is essential to highlight some basic characteristics
ration of Powers has been consolidated in the case law of the United States
of the United States criminal process.
Supreme Court, which hinders interferences by the Judiciary Branch with
The way in which the so-called adversary criminal proceeding has devel- the discretionary decisions of the Public Prosecutor’s Office and of the De-
oped historically, with the prominence of a culture of private charge in England fense.71 Consequently, the most of the criminal cases are settled by the parties
during the 17th and 18th67 centuries and, consequently, guided by a logic of involved in the adversary criminal proceedings, since the decisions taken in
absolute availability of disputed interests, has made assimilation of spaces of the first phase of criminal prosecution are broadly discretionary and immune
consensus to occur without major hindrances, almost somewhat naturally in from subsequent external controls.72
view of the operational incapacity of the instrumentalities in charge of criminal
In this context, since the 1990s, state and federal prosecutors have
prosecution to absorb a growing demand in numbers and in complexity.68
started proposing to companies the so-called pre-trial diversion agreements in
In the United States, still during the 18th century, the State assumed re- cases of Criminal Liability of the Legal Entity, agreements in which criminal
sponsibility for prosecution, a function performed by instrumentalities within prosecution is (deferred prosecution agreements) or not exercised (non-prose-
the Federal and State Executive Branches.69 Since 1789, federal prosecutors cution agreements). Thus, in addition to preserving business activity, avoiding
have fulfilled their duty to prosecute all criminal offenses committed against the side effects of a criminal proceeding or of a guilty plea agreement, the
the Federal Government, making it in such a discretionary manner that it is focus of the agreements became the adjustment of conditions capable of
possible for them to select cases and crimes which investigation and process- addressing the institutional causes related to the occurrence of the offense.
ing are of interest to the society and to the Federal Government.
“In a typical agreement, the Public Prosecutor’s Office agrees to waive criminal
The broad discretion for indictment is the hallmark of the criminal proceedings as long as the company assumes the practice of the offense; accepts to
prosecution of the United States Public Prosecution Office, whether in the cooperate with the investigations, also against its own employees; nears the pay-
Federal Court or in State Courts. YUE MA identifies, in the Judiciary Branch, ment of indemnities and monetary sanctions; implements improvements in its
control systems and compliance programs, reducing the chances of future miscon-
the leverage for the development of this culture of wide discretion:
duct related to its activities. In case the company fails to comply with any of the
“The United State prosecutors, however, are basically the only ones to have too obligations assumed in the agreement, the Public Prosecutor’s Office is authorized
broad and largely control-free discretion. (...) The authority of the United States to continue with the criminal prosecution.”73
prosecutor to make prosecution decisions, on the other hand, is not subject to either
judicial review or the victim’s defense. The United States judiciary branch has 70. MA, Yue. Exploring the origins of public prosecution.
71. The United States Supreme Court case law is prodigious in stating the impossibility of the Judiciary
adopted an extremely deferential approach to accusative decision making. The Branch supervising, in any form, the decisions of the District Attorneys and of the U.S. Attorneys
origin of this deferential approach can be traced back to the second half of the 19th Offices. In this sense, refer to: United States v. Nixon, 418, U.S. 683, 693 (1974); Heckler v. Chaney,
470 U.S. 821, 832 (1985); Greenlaw v. United States, 554, U.S. 237, 246 (2008).
century, when public prosecutors became prominent. The prosecutor’s authority of 72. LANGER presents two forms by which most of the criminal cases are solved in the United States:
not to file actions or to withdraw those already initiated derived from the power of (i) unilateral plea bargain – the Public Prosecutor’s Office has the leading role, ending up coercively
imposing its will over the defense and, ultimately, changes the unilateral decision of the prosecutor
into the adequate solution and final answer to that criminal case, materialized in a “deal” presented
67. LANGBEIN, John H. Understanding the short history of plea bargaining. Tale Law School Faculty to the Judiciary Branch (prosecutorial adjudication); (ii) bilateral plea bargain – there is balance be-
Scholarship. 1-1-1979. tween accusation and defense, translated into a deal which content is formed by mutual acceptances
68. Nowadays, in the American federal criminal justice system, about 95% of the cases are resolved by of both parties, so that the ultimate solution is the result from a set of decisions taken by the Public
deals. Data available at: https://www.bja.gov/Publications/PleaBargainingResearchSummary.pdf. Ac- Prosecutor’s Office and by the defendant and his technical defense (adversarial adjudication). LAN-
cessed on: February 15, 2019. GER, Maximo. Rethinking Plea Bargaining: The Practice and Reform of Prosecutorial Adjudication
69. In the United States, the duty of prosecuting was gradually structured within the States Executive in American Criminal Procedure. Am. J. Crim. L. Vol.33:3. pages 223-299.
Branches during the 18th century, and it is currently performed by agents elected in the local ranges 73. The free translation of the writer; in the original, in English: “In a typical agreement, the government
(District Attorneys) or appointed by the Federal Executive Branch for one of the 93 U.S. Attorney’s agrees to forgo prosecution if a company admits to wrongdoing; cooperates with any ongoing inves-
Offices spread across the country. tigation, including those against individual employees; pays monetary penalties and fines; and impro-
394 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 395

As mentioned, the use of such agreements grew exponentially after the of a company. The threat of criminal prosecution of the company is a mean to achieve
Enron case and the experience surrounding the trial of Arthur Andersen LLP. the objective of imprisonment of the individuals involved in the investigated facts,
since, without the first, the corporation would tend to protect the perpetrators of the
According to the database maintained by GARRET, a professor at Virginia Law
wrong doing, moreover when they are people in prominent positions business structure.
School, during the 20-year period between 1992 and 2002, 20 cases of non-pro- And a criminal proceeding will invariably be a signal that there is something wrong,
secution or deferred prosecution were registered, a number that in the next perhaps some recalcitrance by the legal entity that is considered by the Public Prose-
16 years between 2003 and 2019, would reach a total of 492 agreements.74 cutor’s Office as a lack of willingness to cooperate, or a signal that there is a culture, a
tolerance, towards wrongdoings within the organization”.75
The sharp growth in the number of DPAs and NPAs reveals that the
Therefore, the risks of major conflicts of interest between company and
United States Public Prosecutor’s Office has begun to reconsider the purposes
its employees are considerably greater and invariably end up benefiting only
of criminal prosecution of legal entities. From an exclusively retrospective
the former.76 In an important counterpoint, in his iconic work on the subject,
performance, it came to understand its criminal prosecution as a function
GARRET states that in 2/3 of the agreements studied by him no employee of
and also mainly prospective, of supervision and control not only of large
the concerned company was imprisoned, which is also problematic due to the
companies, some of them multinationals, but of entire economic sectors,
duty to cooperate being one of the bases for the conclusion of adjustments.77
subject to complex regulatory aspects.
Secondly, critics of the culture of agreements in Criminal Liability of
However, the pre-trial diversion agreements have divided the opinion
the Legal Entity cases question the role played by the Public Prosecutor in
of experts in the country. For a first group, the agreements enable a number
negotiations that end up establishing conditions for structural reforms of
of advantages: the Public Prosecutor’s Office is given the opportunity, given
multinational corporations and subject to complex regulatory aspects. There
the defined conditions, to deal with the institutional causes that allowed, or
are those who say that US federal prosecutors have become super-regula-
in some cases fomented, the occurrence of the wrongful act, besides imposing
tors, usurping functions of other sectors of the State and doing so without
heavy pecuniary sanctions capable of producing negative general prevention
adequate technical knowledge.
effects; there is saving of public resources and of time in complex processes
In this sense, Professor JENNIFER ARLEN, of the New York Univer-
derived from the criminal responsibility of companies; the side effects from
sity notes:
criminal proceeding, such as the loss of jobs and the value of the corporation,
“In general, members of the Public Prosecutor’s Office should not use deferred crim-
are minimized with a quick solution and with less exposure to public opinion.
inal prosecution and non-prosecution agreements to induce companies to adopt
There is, however, a second group which presents a number of criticisms structural reforms, such as compliance programs, since their contours involve dif-
of the policy of the agreements used in cases of Criminal Liability of the Legal ficult value judgments about when and to where the decision-making powers will
be centralized and how information will be collected and conveyed. In the business
Entity cases. First, the company’s obligation to collaborate with the Public
world there is huge variation about areas and if the benefits of compliance and cen-
Prosecutor’s Office would encourage the legal entity to expose the conduct tralization of decision-making and control powers exceed their costs. Members of the
of employees and agents and their involvement in the investigated wrongful Public Prosecutor’s Office rarely have sufficient experience of the corporate scenario,
acts. According to RICHMAN:
75. The free translation of the writer; in the original, in English: “Sending someone to prison is not the sine
“Although deprivation of liberty is not a necessary consequence of all criminal prosecu- qua non of criminal prosecutions, but it is the gold standard, and prosecutors would far prefer going
after individuals to seeking a corporate conviction. Threatening to prosecute the entity itself is a means
tions, it is still perceived as a synonym for success and accomplishment for members of to that end, for, without this threat, the entity would be far more tempted to protect the individuals and
the Public Prosecutor’s Office, who tend to prefer a prison to the criminal conviction indeed may still do so if the individuals have sufficient sway within the organization. But an actual
prosecution will generally be a sign that something has gone wrong – perhaps real or perceived re-
calcitrance by the corporation that the government takes as both a failure to cooperate and a sign of a
ves its compliance programs to better insure against future wrongdoing”. ABRAMOWITZ, Alkan; “culture” of wrongdoing within the organization”. RICHMOND, Richard. Decisions about coercion:
BOHRER, Barry A. The debate about deferred and non-prosecution agreement. N.Y.L.J. Nov.6, 2012. the corporate attorney-client waiver problem, 57 DePaul L. Rev. 295, 322-323 (2008).
74. BRANDON GARRET maintains the most updated and reliable database on cases of Criminal Liabili- 76. In the case of the United States v. Stein, 541 F.3d 130 (ed Cir. 2008) the Federal Justice acknowledged
ty of the Legal Entity and its outcomes, whether in the scope of the American Federal Government or as abusive the pressure exercised by federal prosecutors on the company KPMG so that it should not
of the States. According to the information. http://lib.law.virginia.edu/Garrett/corporate-prosecution- pay the fees of the defense of the partners that were not willing to cooperate.
-registry/index.html. 77. GARRET, Brandon L. Too Big Too Jail.
396 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 397

let alone specific and specialized knowledge of particular industry sectors, so that impelling the Department of Justice to set the parameters and a series of rules
they can make reliable decisions. On the other hand, federal authorities of regulates related to the process for election of those professionals, as well as regulating
sectors are more likely to have such expertise, at least in relation to the specific sectors
their form of interaction with the company and with the federal prosecutors
of their operation. In addition, members of the Public Prosecutor’s Office are subject
to few, if any, external control mechanisms of their activities when intervening in during the monitoring process.80
the companies’ business. Furthermore, those professionals do not have formal pro- In fact, the memorandums of the Department of Justice have been
cedures and protocols about the information gathering and analyzing process from instrumental in revealing the policy implemented by the Federal Govern-
different compliance programs, or how to assess their effectiveness. In contrast, regu-
ment in relation to criminal prosecution of companies by the United States
latory agencies are subject to greater oversight ... besides having the skills necessary to
assess compliance decisions. The conditions of these bodies in producing information federal courts. In 1999, the then Attorney General Eric Holder issued the
and collecting the population opinion reduce the risk of expensive and inefficient first document of this kind, named “Bringing Criminal Charges Against
control mechanisms being imposed by the federal authorities. Finally, regulatory Corporations”; in 2003, the one considered to be the most aggressive doc-
agencies are able to conduct more specific and specialized processes for structuring ument against business was issued, the “Federal Prosecutions of Business
compliance programs focused on the specificities of particular industry sectors and
ultimately determining the need for broader and deeper reforms.”78
Organizations” by the Attorney General Larry Thompson; in the sequence
in 2006 and 2008, two other memoranda were issued: McNulty Memo and
Criticism here becomes even more convincing when it is inferred that Filip Memo, respectively, which did not reverse the severity recommended
many agreements seek to implement structural reforms by imposing condi- to the federal prosecutors by the 2003 document.
tions that are not required by law or by regulation of the company’s industry.
Add to this circumstance, a natural consequence of the wide discretion and For the group that criticizes the policy adopted by the Department
lack of control over the activities of federal prosecutors, clauses that some- of Justice, when assessing the institutional and practical incentives of the
times cross the limits of reasonability and professional ethics.79 agreements in view of the extent of strict vicarious criminal liability, there
is an imbalance between the Public Prosecutor’s Office and investigated
It is common, due to the lack of expertise and the need to supervise legal entities. In other words, many agreements are not voluntary, being an
compliance with the conditions set out in the agreements, that experts are almost inevitable option for companies caught up in criminal investigations
appointed who act as company tax inspectors, appointed by the members of of United States federal prosecutors.
the Public Prosecutor’s Office responsible for the case. Over time, a number of
problems emerged in relation to this character, known as corporate monitors, The theme of the next part of this work is to what extent this combina-
tion interests us Brazilians, who are witnessing the expansion of consensual
78. The writer’s free translation, in the original, in English: “prosecutors generally should not use DPAs and criminal justice solutions in the country’s criminal proceedings.
NPAs to induce firms or adopt structural reforms, such as compliance programs, because compliance pro-
gram design involves difficult judgments about when and where to centralize decision-making and to col-
lect and channel information. Industries and firms vary enormously as to whether, and in what areas, the
compliance benefits of decision-making centralization and oversight exceed the costs. Prosecutors rarely
PART IV
have sufficient experience working in any business, much less adequate industry specific expertise, to The expansion of the spaces of consensual criminal justice in Brazil
make these decisions reliably. By contrast, civil federal regulatory authorities are more likely to have this
expertise, at least with respect to the industries they regulate. In addition, prosecutors are subject to little, In 1988, during the 11th Conference of the Ibero-American Institute
if any, external oversight when they intervene in internal corporate affairs. Moreover, prosecutors` offi-
cers do not have a formal process for assembling and evaluating data on different compliance programs of Procedural Law, professors Julio Maier (Argentina) and Ada Pellegrini
and monitoring plans to assess their effectiveness. By contrast, regulatory agencies are subject to grea-
ter oversight … and have the information-gathering abilities to assess compliance decisions. Agencies` Grinover (Brazil) presented the Model Code of Criminal Procedure for Ibe-
ability to gather information and collect public comments reduces the risk that federal authorities will
mandate expensive, but ultimately ineffective, measures. Finally, regulatory agencies are in a position ro-America. Inspired mainly by the Draft Code of Criminal Procedure for
to conduct more widespread, industry-specific, and formal assessments of compliance to determine if
any form-specific mandated reforms should be adopted on a more widespread basis”. ARLEN, Jennifer. the Republic of Argentina (1986)81 and by the German Code of Criminal
Removing prosecutors from the boardroom. In: Prosecutors in the Boardroom: Using criminal law to
regulate corporate conduct. New York University Press: New York 2011. page 62.
79. With the requirement included in the agreement with the company Bristol-Myers Squibb, which re- 80. Some of the measures, besides other suggestions, are detailed in the work by KHANNA, Vikrama-
quired the company to finance a department dedicated to lessons of professional ethics and corporate ditya. Reforming the Corporate Monitor? In: Prosecutors in the Boardroom: Using criminal law to
governance in the Seton Hall University School of Law, in which the federal prosecutor Chris Christie regulate corporate conduct. New York University Press: New, York, 2011. Pages 226-248.
had studied, and who had worked in the case, by the Department of Justice. 81. The Draft Code of Criminal Procedure for the Republic of Argentina presented by Julio Maier in 1986
398 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 399

Procedure (StPO), the proposal summarized the bases of the movement for relative, opening spaces to the so-called regulated opportunity/discretion.85
reformulation of the Latin American criminal procedure that became stronger In fact, theoretically, the power and discretion that were concentrated
as of the second half of the 20th century and served as an influence on other in the adjudicatory body migrate to the Public Prosecutor’s Office, which
codified legislations that emerged in the following years. assumes the leading role of the investigative phase, while structured and
In fact, between 1991 and 2014, sixteen new Codes of Criminal Pro- efficient public defenders arise, qualified to test the accusatory thesis in its
cedure were enacted in Latin American countries,82 with a certain consensus fullness. That change of power brought, with the reforms, instruments of
by a relevant part of the doctrine, of international organizations and of those abbreviated solutions for the criminal process, causing the compulsory rule
involved in the reform movements, that its central axis would consist of of full judgment for all cases to become relative.
abandonment of inquisitorial systems prevailing in the region for accusatory/ Although, with an apparent uniformity and singularity of the reforms
adversarial criminal prosecution systems.83 that presents strong characteristics of the Anglican criminal procedure, there
LANGER points to two factors central and common to the reformulation is no surprise the presence of dense and numerous references in the literature
movement. First, political transitions from markedly authoritarian Govern- to the United States influence in the movement. Indeed, while the Agency
ment regimes to more democratic models – embodying precepts of the Human for International Development (USAID) has fostered changes by funding the
Rights movement of the 1970s – have contributed to the acknowledgment that creation and maintenance of agencies such as the Centro de Estudios de Justicia
standards of due process of law were significantly low in the region.84 Second, de las Americas (CEJA), the United States State and Justice Departments creat-
particularly in the 1990s, delinquency rates (real or perceived) in Latin America ed a series of programs aimed at training operators to act as multipliers of the
indicated too high figures, making the efficiency of the criminal justice system conceptions of an adversarial criminal process in the Latin American continent.
part of the reformulations agenda of many countries. Although recent research has challenged this supposed uniformity and
In short, the changes would have the following main features: the the United States model as the original source of the inspirations that marked
abandonment of secret and written investigations and judicial processes the movement leveraged by BINDER, it is still recognized that there is a
for a model centered on public judgments marked by oral pronouncement common normative note to all the new legislations that emerge from the
and carried out before an impartial judge, in which the parties would have transformation drivers of the Latin American criminal procedure: the easing
the opportunity to actively and directly test the theses of their opponents. of the rule of mandatory public prosecution.86
Furthermore, the rule of mandatory (or legality) of public criminal action, In Brazil, despite the non-adoption of a new Criminal Procedure Code,
considered as a typical characteristic of inquisitorial systems, has become alternatives to compulsory education began to appear in legislation still in
the 1990s. The civil composition of the damages, the non-prosecution and
was inspired in the Code of Criminal Procedure of the Province of Córdoba (1939), by Sebastian Soler
and Alfredo Vèlez Mariconde, and on the so-called modern codes adopted in several Argentinian Pro- the deferred-prosecution (articles 74, 76 and 89 of Law no. 9.099/95) are
vinces, especially in the years 40s, 50s and 60s, of the 20th century. LANGER, Maximo. Revolution in
Latin American Criminal Procedure: Diffusion of Legal Ideas from the Periphery. Pages 18-25. Avai- the main representations of the so-called instruments of diversion, in which
lable at: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1026778. Accessed on: July 31, 2018.
82. Argentina (1991, adopting a new Código Procesal Penal de la Nación in December, 2014); Bolivia
there is a solution of the criminal case without any determination of fault.
(1999); Chile (the reform was gradual between years 2000 and 2005); Colombia (2004); Costa Rica
(1996); Dominican Republic (2002); Ecuador (2000); El Salvador (1996); Guatemala (1992); Hon- According to BRANDALISE:
duras (1999); Mexico (2014); Nicaragua (2001); Paraguai (1998); Peru (2004); Uruguay (2014, with
major changes in 2017); Venezuela (1999). 85. As an example, the monograph by GEMAQUE, referring to non-prosecution agreement: “There is
83. PULECIO-BOEK, Daniel. The genealogy of prosecutorial discretion in Latin America: a comparative and clear influence of the system of Common Law in the continental basis Law, being worth mentioning,
historical analysis of the adversarial reforms in the region. Richmomf Journal of Global Law and Business. as an example, in the cases of Criminal Procedure, the institution of the non-prosecution agreement,
Vol.13. page 77: “Several jurisdictions in Latin America over the past decades midified their Criminal Pro- and which has been spreading across the European countries”. GAMAQUE, Sílvio César Arouck. A
cedure codes in order to leave behind inquisitorial models and adopt adversarial schemes or structures”. necessária influência do processo penal internacional no processo penal brasileiro. Série: Monografias
84. In the same sense, stating that the criminal procedure reform is “a recurrent subject in the Latin-Ame- do Centro de Estudos Jurídicos. Brasília: CJF, 2011. page 37.
rican reality of the 90’s with the beginning of re-democratization in the countries that had undergone 86. PULECIO-BOEK, Daniel. The genealogy of prosecutorial discretion in Latin America: a comparative
authoritarian experiences of the 60’s, 70’s and 80’s”, AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi. A reforma do and historical analysis of the adversarial reforms in the region. Richmomf Journal of Global Law and
processo penal no Brasil e na América Latina. Método: São Paulo, 2001. Page 11. Business. Vol.13.
400 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 401

(...) the diversion is characterized as a form of resolution of criminal procedural All these diversion measures are types similar to those of pre-trial diversion
conflicts in which there is the withdrawal of charges or the discontinuity thereof agreements that have prevailed in the cases of Criminal Liability of the Legal
with the presence of warnings or imposition of conditions to be fulfilled by the
Entity in the Unites States Federal Justice, as already explained. In the event of
defendant. In general, it is applied in crimes of minor seriousness and, if the
conditions are fulfilled, will result in the conclusion of the process, without any the proposal for legal regulation of the non-prosecution agreement is approved,
condemnation. Especially in the systems influenced by the European continental differently from what is referred in relation to the criminal non-prosecution,
system, it is necessary to observe rules and conditions established by law.87 there is provision setting that it is possible to define conditions different from
In fact, it is not uncommon, that criminal offenses of lesser offensive those expressly set forth in the legal provision, to be appointed by the Public
potential are subject to one of the aforementioned diversion solutions pro- Prosecutor’s Office, with defined time period and provided that they are pro-
vided by Law no. 9.099/95 – notably the non-prosecution – in agreements portional and compatible with the charged criminal offense.89
between Public Prosecutor’s Office and corporations, especially in cases of Thus, at least prospectively, a space of consensus similar to that existing
environmental crimes (articles 29 to 69-A of Law no. 9.605/98). However, in the United States and with potential for application to legal entities that
perhaps because of being a criminal offense of less harmful potential, with the have committed criminal offenses appears, and there is also room for the
legislative limitations of imposing a penalty of restriction of rights or fine and Brazilian Public Prosecutor’s Office to adjust conditions aimed at the imple-
in the absence of recognition of guilt with a subsequent criminal conviction mentation of structural reforms within the scope of the company, related to
decision against the legal entity, little attention has been devoted to such cases. criminal compliance programs.
Similar consensual criminal justice tools are presented in Resolution no. Therefore, taking into account the reflections arising from the combina-
181/2017, of the National Council of the Public Prosecutor’s Office (CNMP) tion of a fragile system of ascribing of criminal liability of legal entities and the
and the so-called Anti-Crime Bill, recently submitted by the Federal Execu- unlimited discretion granted to members of the Public Prosecutor’s Office in
tive Branch to the National Congress. They are the non- criminal prosecution the United States for the celebration of agreements that have been the subject
agreements. By this type of agreement, according to the legislative proposal of intense debate on North American ground, consideration should be given
to insert an article 28-A to the text of the Brazilian Code of Criminal Proce- to studying and learning from that country.
dure, the Public Prosecutor’s Office and the investigated party may conclude
an agreement to avoid prosecution in crimes committed without violence or PART V
serious threat and which maximum penalty is less than four years. In those
Conclusion
cases, it is more likely that a future conviction shall correspond to the appli-
cation of a liberty deprivation penalty that may be substituted by one or more In conclusion, we hope that we have awakened the reader to the fact
penalty of restriction of rights, pursuant to article 44 of the Criminal Code.88 defenders of the formal unconstitutional condition of the criminal non-prosecution agreement since it
was created by a normative act of the CNMP and not by a law, strictly speaking, and it is the object of
87. BRANDALISE, Rodrigo da Silva. Justiça Penal Negociada. Curitiba: Juruá, 2016. Page 24. The same two Direct Actions of Unconstitutionality with the Eminent Federal Supreme Court: 5790 and 5793,
writer cites as examples of different types of diversion: (i) § 153 of the StPO or article 280 of the Por- proposed by the Association of Brazilian Judges and by the Brazilian Bar Association, respectively.
tuguese Code of Criminal Procedure would be the case of simple diversion, in which the proceeding is 89. Article 28-A. When the case is not to be closed and if the investigated party has circumstantially confes-
closed without any imposition to the investigated/defendant party; (ii) § 153a of the StPO ; article 281 sed perpetration of criminal offense, without violence or serious threat, and with maximum penalty of
of Portuguese Code of Criminal Procedure; the non-prosecution and the deferred-prosecution would less than four years, the Public Prosecutor’s Office may propose a non-criminal prosecution agreement,
be the cases of diversion with intervention, i.e., closing of the proceeding depends on the investigated/ provided that it is necessary and sufficient to reproach and prevent the crime, through the following con-
defendant party fulfilling certain conditions. There is also the covered diversion (punishment is extin- ditions, cumulatively or alternatively adjusted: I – remedy the damage or return the object to the victim,
guished after determination of acts to the investigated/defendant party, which lead to the impossibility except when it is impossible to do so; II – voluntarily waive goods and rights, indicated by the Public
of pressing charges) and diversion with reprehension in a mediation proceeding (presence of an arbi- Prosecutor’s Office as instruments, product or profit of the crime; III – render services to the community
trator who finds a conciliation solution for the concerned parties). or public entities for a period corresponding to the minimum penalty assigned to the offense, reduced
88. The measure is, in fact, basically identical to the criminal non-prosecution agreement instituted by from one to two-thirds, at a place to be appointed by the Public Prosecutor’s Office; IV – pay monetary
article 18 of Resolution no. 181/2017, of the National Council of the Public Prosecutor’s Office, with installment, to be defined pursuant to article 45 of the Criminal Code, to public entity or entity of social
some refining measures which implementation has become technically possible, now that it is tried interest to be appointed by the Public Prosecutor’s Office, and the installment shall be preferably assigned
through the legislative way. The most relevant difference related to the fact that the CNMP rule au- to the entities whose function is to protect legal assets equal to or similar to those apparently injured by the
thorizes the agreement in criminal offenses with minimum penalty of less than 4 years, while article offense; and V – fulfill, for a defined term, another condition informed by the Public Prosecutor’s Office,
28-A allows for the agreement in offenses with maximum penalty of less than 4 years. There are many provided that it is proportional and compatible with the charged criminal offense.
402 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 André Thiago Pasternak Glitz – Thayse Pozzobon 403

that it is essential to overcome the dusty theoretical bases that hinder the c) Third, coordinated and integrated action between the different Public
dogmatic understanding of Criminal Liability of the Legal Entity in Brazil, Prosecutor’s Offices in their various areas of activity, as well as, among them
and other State instrumentalities with duties of regulation, oversight and
without compromising constitutional principles.90 In the United States, the
accountability of activities developed by the legal entities under investigation.
eagerness to hold legal entities criminally liable eventually ran over the neces-
sary theoretical development, with case law lending criteria of accountability Bibliographical References
of collective entities from other branches of Law, which are of doubtful com- ABRAMOWITZ, Alkan; BOHRER, Barry A. The debate about deferred and non-prosecution agreement.
patibility with the Anglo-Saxon criminal legal system. N.Y.L.J. Nov. 6, 2012.
AMBOS, Kai; CHOUKR, Fauzi. A reforma do processo penal no Brasil e na América Latina. Método:
With fragile material bases, summed up with resounding failures in São Paulo, 2001.
emblematic cases that have had negative outcomes for both the processed ARLEN, Jennifer. Removing prosecutors from the boardroom. In: Prosecutors in the Boardroom: Using crim-
companies and the Department of Justice, a policy of agreements for cases inal law to regulate corporate conduct. New York University Press: New York, 2011.
of Criminal Liability of the Legal Entity has been made easier. As seen, the ______. The Potentially Perverse Effects of Corporate Criminal Liability, 23 J. Legal Stud. 833, 836 (1994).
practice is strongly contested by scholars who point to an imbalance in the BEALE, Sara Sun. A response to the critics of corporate criminal liability. American Criminal Law Review.
(2009).
criminal-procedural relationship between the parties, so that the company
BECK. Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo: respostas à globalização. São Paulo: Paz e
is coerced to avoid the proceeding and to accept proposals that it would not Terra, 1999.
agree upon under normal conditions. BONNIE, Richard J.; COUGHLIN, Anne M.; JEFFRIES, John C.; LOW, Peter W. Criminal Law. 3
ed. New Tour: Thomson Reuters, 2010.
In summary, a few warnings can be pointed out which arise from the
BRANCO, Fernando Castelo. A pessoa jurídica no processo penal. São Paulo: Saraiva, 2001.
study of the Criminal Liability of the Legal Entity in the United States and
BRANDALISE, Rodrigo da Silva. Justiça Penal Negociada. Curitiba: Juruá, 2016.
in the way by which the members of the Public Prosecutor’s Office have
BRICKEY, Kathleen F. Corporate Criminal Accountability: A Brief History and Observation, 60 Wash.
handled these cases: U. L.Q. 393 (1982).
a) First, there must be a concern in the dogmatic development of a system of BUSATO, Paulo César. Razões político-criminais para a responsabilidade penal de pessoas jurídicas.
criminal self-responsibility of legal entities, compatible with the constitution- In: Seminário Brasil-Alemanha: responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo
Blanch, 2018.
al principles that form and structure the Brazilian Criminal Law, including,
with prominence, that of guilt; _______. Responsabilidade penal de pessoas jurídicas no projeto (e no texto substitutivo) do novo Código
Penal brasileiro. In: Reforma Penal: A crítica científica à Parte Geral do Projeto de Código Penal. (PLS
b) Second, consensual criminal justice solutions must be translated into the 236/2012). Org. Alaor Leite. São Paulo: Atlas, 2015.
Brazilian legal system in order to: (i) be compatible with Brazilian criminal _______. A Política Jurídica como Expressão da Aproximação entre o Common Law e o Civil Law. In:
procedure, preventing coercive consensus and ensuring efficient means for Reflexões sobre o Sistema Penal do Nosso Tempo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
the internal and external control of the agreements; (ii) be compatible with CARNELUTTI, Francesco. Sistema de Direito Processual Civil. Translated by Hiltomar Martins Olivei-
the constitutional profile conferred on the Public Prosecutor’s Office by the ra. São Paulo: Classic Book, 2000.
Federal Constitution of 1988;91 COFFEE, John. No soul to damn: no body to kick: an unscandalized inquiry into the problem of corporate
punishment. Michigan Law Review, v. 79, (1981).
90. Similarly to what has been carried out by BUSATO, in redefining the bases of the Brazilian legal-cri-
minal dogmatic around the concepts of action and intent, superseding them based on the meaningful DISKANT, Edward B. Comparative Corporate Criminal Liability: Exploring the Uniquely American Doc-
or inter-subjective concept of action, no more considering it “as something that men do” to have it as trine Through Comparative Criminal Procedure, 118 Yale L.J. 126, 134-138 (2008).
“the meaning of what men do”, such as to shelter the possibility of legal entities being included as
authors of criminal offenses. In terms of guilt, the writer works with the possibility of applying secu- FISSE, Brent. Reconstructing corporate criminal law: deterrence, retribution, fault and sanctions. S. Cal. L.
rity measures to the legal entities. BUSATO, Paulo César. Razões criminológicas, político-criminais e Rev. n. 1141, 1982/1983.
dogmáticas para a adoção da responsabilidade penal de pessoas jurídicas na reforma do Código Penal
brasileiro. In: Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá, 2012, pages 31-53.
91. The way how these different forms of criminal sentence agreements have been translated into systems canizing” of the Roman-German criminal processes. To him, the American influence in the criminal
of the civil law has been the object of relevant research, with emphasis to the work developed by process of civil law countries – specially the plea bargaining -, did not cause an Americanization the-
MAXIMO LANGER, professor of Comparative Law and Director of the Transnational Programs of reof, but actually a fragmenting among the very systems of the civil law, which previously presented
Criminal Justice of the University of Los Angeles (UCLA). According to LANGER, although bearing some homogeneity among them. LANGER, Maximo. From Legal Transplants to Legal Translations:
common origin, the differences between the models for negotiating sentences in countries of the civil The Globalization of Plea Bargaining and the Americanization Thesis in Criminal Procedure. Harvard
law and the Anglo-Saxon plea bargain are so deep that it is not possible to declare that there is “Ameri- International Law Journal. Vol.45.
404 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

GAMAQUE, Sílvio César Arouck. A necessária influência do processo penal internacional no processo penal
brasileiro. Série: Monografias do Centro de Estudos Jurídicos. Brasília: CJF, 2011.
GARRET, Brandon L. Too Big Too Jail: How prosecutors Compromise with Corporations. Harvard Uni-
versity Press: Cambridge, 2016.
GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. In:
Seminário Brasil-Alemanha: Responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Org. Paulo César Busato. Co-
ord. Luís Greco and Paulo César Busato. Florianópolis: Tirant Lo Blanch, 2018. CHIEF COMPLIANCE OFFICER’S CRIMINAL
GRECO, Luís. Por que é ilegítimo e quase de todo inconstitucional punir pessoas jurídicas. In: Seminário Bra- LIABILITY: THE CRIMINAL INTERVENTION IN
sil-Alemanha: responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018. Pages 69-
76.; LEITE, Alaor. Observações provisórias sobre a responsabilização penal das pessoas jurídicas. In: Seminário
THE ORGANIZATION
Brasil-Alemanha: responsabilidade penal de pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018.
GREENBURG, Joshua D.; BROTMAN, Ellen C. Strict vicarious criminal liability for corporations and
Caio Fernando Ponczek do Prado1
corporate executives: streching the boundaries of criminalization.Am. Crim. L. Rev. 79 (Winter 2014 issue).
Ana Paula Kosak2
KHANNA, Vikramaditya. Reforming the Corporate Monitor? In: Prosecutors in the Boardroom: Using
criminal law to regulate corporate conduct. New York University Press: New, York, 2011.
LANGBEIN, John H. Understanding the short history of plea bargaining. Tale Law School Faculty Schol- ABSTRACT: The study aims to address the forms of criminal intervention in view of
arship. 1-1-1979. criminal liability of the compliance officer. Therefore, the text will encompass the analysis
of theoretical positions related to mediate authoring and co-authoring in corporate crimes,
LANGER, Máximo. Revolution in latin American Criminal procedure: Diffusion of Legal ideas from the
Periphery. The American Journal of Comparative Law, vol 55. in order to make a critical analysis of its effects on the distribution of liabilities within a
company and the effects of criminal charges to the compliance officer.
______. Rethinking Plea Bargaining: The Practice and Reform of Prosecutorial Adjudication in American
Criminal Procedure. Am. J. Crim. L. Vol. 33:3. Keywords: Criminal liability of legal entities. Models of charging. Forms of criminal in-
tervention. Distribution of liabilities.
LEGRAND, Pierre. The Impossibility of Legal Transplants. 4 Maastricht J. Eur. & Comp. L. 111 (1997).
LEITE, Rosimeire Ventura. Justiça consensual e efetividade do processo penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2013.
INTRODUCTION
LUISI, Luiz. Notas sobre a responsabilidade penal das pessoas jurídicas. In: Responsabilidade penal da
pessoa jurídica: em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. São Paulo: RT, 2001. The so-called compliance, which until the end of the last century im-
MAGALHÃES, Vlamir Costa. O crime de lavagem de ativos no contexto do direito penal econômico con- pacted almost exclusively the fields of asset management of United States
temporâneo: criminal compliance, delinquência empresarial e o delineamento da responsabilidade penal no
âmbito das instituições financeiras. Porto Alegre: Núria Fabris, 2018. companies and specific regulations of those companies industries, has in
ORLAND, Leonard. The transformation of corporate criminal law. Brook. J. Corp. Fin. & Com. L., 2006. recent decades presented great relevance in various legal sectors, mainly in
PULECIO-BOEK, Daniel. The genealogy of prosecutorial discretion in Latin America: a comparative and Criminal Law, wherein it was qualified as criminal compliance.
historical analysis of the adversarial reforms in the region. Richmomf Journal of Global Law and Business.
Vol.13 As it is well-known, the rise of compliance in criminal matters occurred
RICHMAN, Daniel; STITH, Kate; Stuntz, William. Defining Federal Crimes. Wolters Kluwer Law & in a context marked by serious corruption scandals involving some large
Business: New York, 2014. companies3; among the aforementioned scandals, the Siemens case is notably
RICHMOND, Richard. Decisions about coercion: the corporate attorney-client waiver problem, 57 DePaul the case with the greatest repercussion and paradigm of this approximation
L. Rev. 295, 322-323 (2008).
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 1. The writer is a criminal lawyer, has Master’s Degree in State Law by the Federal University of Paraná
(UFPR), he is a researcher at the Criminal System and Social Control Research Nucleus at UFPR,
VERÍSSIMO, Carla. Compliance: incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2018. researcher at the Jus Vitae at University Center Curitiba (UNICURITIBA), also being a researcher at
the Observatory of the Inquisition Mentality Research Group.
WEISSMANN, Andrew; ZIEGLER, Richard; MC LOUGHLIN, Luke; MC FADDEN, Joseph. Re- 2. The writer is a criminal lawyer, is master student in Law by the University Center International
forming corporate criminal liability to promote responsible corporate behavior. (UNINTER), specialist in Criminal Law and Criminology by Institute of Criminology and Criminal
Policy (ICPC/UNINTER), researcher at the Criminal System and Social Control Research Nucleus at
WELSS, Celia. Corporations and Criminal Responsability, 2. ed. Osford University Press, 2001. UFPR and at the Criminal Studies Nucleus at UFPR.
3. Among those corruption scandals, the ones involving the multinational companies WorldCom, Enron,
Parmalat and Siemens are prominent. On this subject matter, refer to: BERMEJO, Mateo G; PALER-
MO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e
Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons,
2013, pages 171-172.
406 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 407

between the compliance programs and the crimes committed in the scope cooperation and to identify the distribution of the CCO’s liability in all of
of large companies.4 them, but rather to explore one of the hypotheses, which, already stated here,
In this scenario, in view of the emergence of criminal compliance and will be the one involving the cooperation between individuals and legal entities.
its main character, the compliance officer5, some issues have become contro- Hence, the hypotheses of cooperation of people are subsequently pre-
versial in the horizon of criminal dogmatic, primarily concerning the criminal sented, and in the end the criterion most relevant for this study will be
intervention. That is to say, of the possibilities of holding the CCO liable pointed out when looking at the criminal liability of the CCO.
under the capacity of author, co-author or participant in corporate crimes,
2.1. POSSIBLE HYPOTHESES OF COOPERATION OF PEOPLE IN
as well as in relation to the limits surrounding such forms of intervention, CORPORATE CRIMINALITY
which is the object on which this text intends to draw some substance and At the outset, it must be taken into account that there are two models
prepare, to some extent, a critical analysis. of criminal liability of legal entities: that of direct, own and independent
Thus, this article aims to analyze the theoretical apparatus responsible charge (not linked to the actions of individuals); and the criterion of liability
for setting criteria of criminal liability of the CCO, in order to bring to for duty, derivative or by transfer (linked to the actions of individuals, who
the screen a critical view on how this character is positioned in the compli- are assigned criminal liability based on criteria of charging).8
ance programs. In that context, it can be promptly realized that, in order to identify
For that purpose, the study will start by showing which criterion will the liability of the compliance officer, the model of criminal liability must be
be explored throughout the text concerning cooperation of people; subse- taken into account, and it is also necessary to separate the forms by which
quently, it will address some6 theoretical stances on criminal liability within the subject can cooperate for the crimes.
the company, in order to, in conclusion, present critical considerations about Thus, the initial question to be posed is: can the conducts practiced by
the criminal liability of the CCO, based on the forms of assigning of account- individuals within the scope of corporate structures be also charged to legal
abilities suggested by the theories. entities? Such a definition certainly addresses the topic of the distribution of
competences inside the company9 and will serve to outline the liability of the
2. CONCERTED ACTION IN THE COMPANY SCOPE compliance officer, since the individual fact/collective fact distinction precedes
To seek eventual delimitation of the criminal liability of the chief com- the intentionally fraudulent fact/ reckless fact distinction10.
pliance officer in a corporate structure, it is first necessary to make some As already mentioned, there are two models of criminal liability that, as
considerations about the cooperation between individuals and/or legal en- it seems, reflect in the possibility of cooperation of people in crimes committed
tities. Actually, just like what is verified in ordinary crime7, a criminal fact within a company11. In Spain, a country that since 2010 has adopted a broad
within a company can be practiced both by a single individual and by coop-
8. On this subject matter, refer in that collection the article by Paulo César Busato and Ângela dos Pra-
eration of two or more persons, including the company itself. zeres named “Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade penal de pessoas jurídicas. Especial
referência ao fato de conexão”. Also refer to: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La evolución ideo-
Obviously, this study does not intend to address all the hypothesis of lógica de la discusión sobre la responsabilidad penal de las personas jurídicas. In: Derecho penal y
criminología. v. 29, n. 86-87, page 130.
9. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas.
4. KUHLEN, Lothar. Cuestiones fundamentales de compliance y Derecho penal. In: [Lothar Kuhlen, In: Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Aug. 2008, page 16.
Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. 10. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas.
Madrid: Marcial Pons, 2013, page 52. In: Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Aug. 2008, page 27.
5. Also abbreviated in this text as CCO (Chief Compliance Officer). 11. See, for example, the stance of Sérgio Salomão Shecaira, claiming the existence of necessary co-au-
6. Specially the stance of Claus Roxin, Francisco Muñoz Conde and Ricardo Robles Planas. thoring when referring to the Brazilian Law no. 9.605/98 which adresses the crimes against the envi-
7. DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral – 5. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora ronment and the criminal liability of legal entities. In: SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade
Revista dos Tribunais, 2013, p. 473: “[...] crime might result from a collecive fact. Perpetration of penal da pessoa jurídica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, page 168: “The company – alone – does not
the offense gathers two or more people who unite, at their option, for the best success of the criminal commit crimes. It does that through someone, objectively an individual. It is always through men that
action or necessarily, when the very legal act requires this cooperation of actions. The cooperation of the crime is committed. If one considers that there will only be criminal prosecution against the legal
people (pluri-subjects crime) is thus presented.” – original emphasis. entity if the act is perpetrated for the benefit of the company by an individual strictly linked to the legal
408 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 409

model of criminal liability of legal entities, and which inspired the drafting of countries. The actions consisted in the use of business companies to simulate
the new Brazilian Criminal Code (PLS 236/2012)12, the criminal liability of import and export operations of machines, which carried illicit drugs inside,
collective entities is partially pointed out as being by duty or transfer13, as well as in order to trade and supply narcotic substances to other countries.
the enforcement of fine in administrative matters in Germany.14 By that model, At the time, four individuals were convicted for committing a crime
the liability for the offense is transferred to the legal entity, since it is considered against public health (among others) and three legal entities for their par-
that the acts of the individuals are also acts of the legal entity15. ticipation as a legal instrument in the practice of the same crimes. One of
Within the scope of Supreme Court of Spain’s judgment 154/2016 (STS the companies was sentenced the penalty of dissolution, which was timely
154/201616), it is possible to observe solid criteria for configuring the coopera- reformulated on an appeal for revoking, at the Higher Court.
tion between individuals and legal entities, with manifestations in the sense that By judgment of the appeal (STS 154/2016), the Higher Court upheld
the Court addressed article 31bis of the CP as an autonomous criminal norm basically19 the whole of the judgment under appeal, and particularly regard-
charged to legal entities, which would be contrary to the model adopted by the ing the topic of liability of legal entities, the Court understood that there
Spanish Criminal Code17, and in the sense that the model of liability in Spain was liability specific of those collective bodies, meaning that the corporate
is still under construction, but that the sentence indicates that a model of the offense would be an offensive condition typified especially in article 31bis of
liability specific for the legal entity would be the most appropriate18. the Spanish Criminal Code.20
The analyzed case referred to a group of individuals and legal enti- Thereby, it was stated that for holding collective entity liable it would
ties, hierarchically structured and headed by an agent who planned drug be required that the offense was committed for the benefit of the company
trafficking operations after contacting criminal organizations based in other – understood as any kind of advantage for the legal entity 21- and that there
was evidence of a lack of a program with effective measures for prevention
entity, and assisted by the capacity of the latter, it will certainly be verified the existence of cooperation
of people. Without disregarding more complex cases, which might happen, we shall always have at and control of crimes inside the structure of the legal entity – which was
least the existence of two authors: there will be, hence, necessary co-authoring”.
12. GONZÁLEZ CUSSAC, José L. O modelo espanhol de responsabilidade penal das pessoas jurídicas
controversial22 at the trial.
do CP de 2010. In: Revista brasileira de ciências criminais. Ano 25, vol. 132, Jun/2017, page 40.
13. GONZÁLEZ CUSSAC, José L. O modelo espanhol de responsabilidade penal das pessoas jurídicas
Hence, according to the sentence, the affirmation of the relevance of
do CP de 2010. In: Revista brasileira de ciências criminais. Ano 25, vol. 132, Jun/2017, page 55: “It the action of the legal entity, for the purpose of determining its criminal lia-
is unquestionable that the model introduced by the 2010 reform corresponds to the one referred to as
of duty, either understood as vicarious liability or identification. And, in this sense, I understand that, bility, must be based on the analysis of whether the crime committed by the
whichever it is, proposes identical problems in relation to the principle of culpability, to the extent that
in both there is apparently the liability for facts of alien or for objective liability.”. Also refer to: CAS- individual was possible or facilitated by the absence of a culture of respect of
TELLANOS MORENO, Carlos. Comentario a la STS 154/2016, de 29 de febrero, primer pronuncia-
miento condenatorio del Alto Tribunal que aprecia la responsabilidad penal de las personas jurídicas. In: the Law (culture of integrity and even compliance programs).
Alliantia. Available at: http://www.aranzadi.es/sites/aranzadi.es/files/creatividad/alliantia/pdf/Comenta-
rio_STS_154_2016_Resp_penal_31_bis.pdf. Accessed on: February 23, 2019, page 06. Thus, it is seen that the crime committed by an individual may or may
14. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La evolución ideológica de la discusión sobre la responsabilidad
penal de las personas jurídicas. In: Derecho penal y criminología. v. 29, n. 86-87, page 131. not be in co-authoring with another individual – depending on the perpetrated
15. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La evolución ideológica de la discusión sobre la responsabilidad
penal de las personas jurídicas. In: Derecho penal y criminología. v. 29, n. 86-87, page 130.
16. Sentencia del Tribunal Supremo de España STS 154/2016, del Pleno de la Sala Segunda del Tribunal
Supremo. 19. Except for the exclusion of the penalty of dissolution, applied to one of the companies.
17. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. El delito corporativo en el código penal español: cumplimiento nor- 20. The statement is made in: FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. El delito corporativo en el código penal
mativo y fundamento de la responsabilidad penal de las empresas. 2. ed. Pamplona: Civitas, 2016, pa- español: cumplimiento normativo y fundamento de la responsabilidad penal de las empresas. 2. ed.
ges 100-101: “[...]I consider configuration of article 31 bis unfortunate as autonomous criminal norm Pamplona: Civitas, 2016, page 101.
different from that ascertained to the individual, i.e., as though it were a species of crime ascribed to 21. As explained in the Sentence: “For that reason, it must be herein clarified that the term “profit” (or
the Corporation consisting of the absence of proper control mechanisms. [...] It seems that what the “benefit”) refers to any kind of advantage, even the mere expectation or refers to aspects such as
sentence sets is that the individual will perform the corresponding type of the special part while the improved position in relation to other competitors, etc., relevant for profit or for the mere survival of
legal entity would be accountable for article 31 bis as a different type of crime” – The writers’ free the legal entity in which scope the crime of its representative, officers or hierarchical subordinate is
translation. committed” – The writer’s free translation.
18. VILLEGAS GARCÍA, María Ángeles. Hacia un modelo de autorresponsabilidad de las personas 22. This topic was controversial, since it had a diverging vote, registering that they do not agree with the
jurídicas. La STS (Pleno de la Sala de lo Penal) 154/2016, de 29 de febrero. Diario La Ley, nº 8721, understanding that the absence of a prevention and control program is the core of the typicality or that
Sección Doctrina, 14 de Marzo de 2016, page 10. it can be addressed as an autonomous element of the objective rule of article 31 bis of the Spanish CP.
410 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 411

offense and the duty of each one within the company23 – as well as in coopera- seeking internal control of the organization. Such functions are usually associated
tion with the legal entity itself, which was in the case indicated herein. with the design of a program; its implementation, as well as the internal control of
And, following this line, it is also totally possible the hypothesis of its compliance (which embeds the duties of surveillance and control).26
legal entities cooperating for perpetration of a crime, which is also seen in These duties aimed at preventing the practice of crimes within the
the example case, since international commercial operations were simulated company are originally held by the administrator, since they are part of the
between legal entities, in order to export machines with the narcotic inside business activity. However, those functions are delegated to the compliance
them. In addition, if it is possible to subcontract24 companies to carry out officer27 and if the latter anyhow acts in disagreement with his functions, in
activities which would in principle be performed by the contracting com- violation of his duty, it is possible to question whether it would be possible
pany, there is nothing to prevent subcontracting of companies for illicit to bring a criminal charge in conjunction with the legal entity itself.
purposes as well; that is, there may be an agreement between two legal Once it is evidenced that the liability of the CCO comes from a del-
entities to practice a crime that benefits both. egation, there must, therefore, be a limitation of that liability in order to
In conclusion, answering the initial question, the cooperation between identify to which extent he can be held liable without being treated as a true
individuals, between legal entities, as well as between individuals and legal en- administrator of the company.
tities in corporate crimes is possible, which is experienced by those countries Thus, for the study herein, the criterion to be adopted for the development
that adopt, more broadly, the criminal liability of legal entities. In addition, of the work will be that of possible liability in cooperation between individuals
the choice of the model of criminal liability interferes with the form of co- and legal entities, especially the figure of the CCO and the legal entity for which
operation upon assigning the liabilities. his work is developed. In addition, the model that will be used as the basis will
2.2. THE CRITERION TO BE STUDIED be that of independent charge, which does not link the action of the legal entity
The functions performed by the compliance officer within a company with that of individuals. And from this delimitation, it is necessary to consider
are not homogeneously defined; which is the reason why, depending on the the question about how the agents (CCO and company) can appear.
company, the duties may be different25.
3. THE DOMINION OVER THE FACT AND OMISSIVE LIABILITY
However, it is a fact that his functions are directly related to the purpose
It should be noted, at the outset, that the research herein is based on
of a compliance program, which has the characteristic of being preventive and
the analysis of the so-called Theory of the Dominion over the Fact, devel-
23. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas. In:
oped in the 1960s by the German jurist Claus Roxin28, to the extent that
Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, page 15: “Concerning the subject of the theory gave rise to the later development of a concept which Roxin
interest for us here, it should be noted that the level of trust allowed in the company’s range depends on
the level of movement of a particular person and the position held by them in the organization, such level and other writers would rename as the dominion over the organization
of confidence is not the same for everyone. This is a consequence of the fact that the duties generating
criminal liability depend on the position held in the company” – The writers’ free translation.
24. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas. In:
Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, pages 16-17: “Everything that was said 26. BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lo-
here concerning confidence of the company’s members can be transferred to the not at all strange problem thar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del
which is the practice whereby the company’s managers delegate or subcontract some portion of the activity Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, pages 182-183.
or their risk management in another company (for example, a beer manufacturing plant contracts another 27. BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lothar
company to install a sewage system that avoids water pollution, or a company contracts another company Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho
to manage its waste, or a company entrusts on another solvent-manufacturing company a study and a report Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, page 202. In the same sense, on delegation of duties: ROBLES
on the risks with installation of a company, or a civil construction firm subcontracts another one to install PLANAS, Ricardo. El responsable de cumplimiento (“Compliance Officer”) ante el derecho penal. In:
fireproof doors, elevators or the pillars of a building)” – The writers’ free translation. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. (Dir.)/MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel (Coord.), Criminalidad de
25. DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de garante del compliance officer por infración del “de- empresa y Compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona, 2013, page 321.
ber de control”: una aproximación tópica. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán. 28. The theory was developed by Roxin and published in 1963, but its creation is actually due to Welzel,
(directores). El derecho penal en la era compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013, pages 165- exponent of finalism and defender of the idea that every human action is addressed to a certain purpo-
189, page 168. Also refer to BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del se, which is the reason why the author should be the one having control over the criminal fact. Refer to:
compliance officer. In: [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] WELZEL, Hans. Derecho penal alemán. 4. ed. Translation by Juan Bustos Ramírez and Sérgio Yáñez
Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, page 181. Peréz. Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 1997. page 39-45.
412 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 413

(Organisationsherrschaft)29. three possibilities: it may be through coercion of the third party (instrument);
Based on that and on the liability for omission, other manifestations by means of the third party’s induction to error33, or yet by an apparatus of
are verified in the doctrine when dealing with the liability of legal entities, organized power34 – a form which is evidently more complex in the range of
which will serve to achieve the object of the study herein. the dominion over the will and which is of great interest in the study of the
criminal liability of legal entities.
3.1. THE DOMINION OVER THE ORGANIZATION IN THE
DOMINION OVER THE FACT Finally, there will be the so-called functional dominion over fact when
The proposal brought up by Roxin for the construction of a system of agents – two or more – act by division of tasks, each contributing to a relevant
authoring and participation in criminal law is guided by the notion that the act of the criminal norm, but each having dominion over the whole35. In such
author of a fact is verified in the central figure of the typical event30, whereas cases there will be co-authoring.
the participant would therefore have a side contribution, that is, secondary Under this structure, within the hypotheses of mediate authoring, the
to the criminal fact. dominion over will resulting from an organized power apparatus is the most
In this context, to identify the central figure of the crime in a partic- relevant category for the development of this study, since there is a wide
ular case, Roxin presents three manifestations of the idea of ​​dominion over debate about its application to corporate structures.36
the fact, namely: the dominion over the action (immediate authoring), the Thus, once the general theoretical assumptions about the dominion
dominion over the will (mediate authoring) and the so-called functional over the organization have been presented, according to Roxin’s proposal, it
dominion over the fact (co-authoring). is necessary to subsequently address some controversial points that end up
The purpose here is not to exhaust the explanation of each of these impacting the definition of criminal liability in business contexts, especially
manifestations of the idea of ​​dominion over the fact within the theory formu- in relation to the position occupied by compliance officer in that structure.
lated by Roxin, but only to present where the dominion over the organization 3.2. ASPECTS RELATED TO MEDIATE AUTHORING AND CO-
resides in this theoretical structure. AUTHORING
For the theory, there will be the dominion over the act and, therefore, As seen, the dominion over the organization is one of the forms of
the authoring will be immediate, in the hypotheses in which the agent per- mediate authoring within the scope of the dominion over the fact theory.
forms, by his own hands, all the elements of the criminal norm, although this Therefore, fundamental questions must be addressed about mediate author-
is done by will of another individual31. ing and co-authoring within corporate structures, as they raise some points
of contact when faced with criminal liability within an organization.
The dominion over the will of another, however, occurs when a third
person is reduced to mere instrument in the hands – longa manus – of the
person who exercises the dominion over the will, that is, of the mediate rano González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, pages 165-166.
33. At this point, Roxin proposes a hierarchical division of the several types of errors that can substantiate
author.32 In that context, the forms of dominion over the will are listed in the authoring. The ground supporting authoring is the knowledge of the person inducing the other in
error, using the agent perpetrator of the typical action as a mere instrument to reach his purpose and,
therefore, making it a sort of “puppet” upon practice of the crime.
29. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7. 34. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7.
ed.. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, by Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Serrano ed.. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Serrano
González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000. González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, page 166.
30. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th 35. According to Roxin, the relevant act would be in the phase of execution and not in the phase of pre-
edition.. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Ser- paration. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation
rano González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, pages 44-45. of the 7. ed.. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis
31. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th Serrano González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, pages 307-308.
edition. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Ser- 36. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de
rano González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, pages 151-152. empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí-
32. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São
edition.. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Ser- Paulo: Marcial Pons, 2014, page 101.
414 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 415

3.2.1. The dominion over the organization in business structures agent would not be acting according to the organized apparatus, but rather,
As it is well known, Roxin directs his theoretical construction to crimi- contrary to it44. That is why, according to Roxin’s argument, not all the re-
nal organizations structured in a way similar to corporations, like mafias, and quirements of the organization’s domain would be fulfilled45.
over organized power structures that occupied the case law in the post-war Especially on the requirement of disconnection of the legal order, Kai
period37, arguing that the dominion is characterized by the fact that the medi- Ambos does not exclude it, but considers it dispensable46, even though Ambos
ate author has at his disposal a personal “machine”, almost always organized does not affirm the possibility of legal entities being held liable for the appli-
and that assists him in the commission of crimes. cation of the dominion over the organization.
In that context, three requirements would be needed for the configura- Hence, it is observed that, as proposed by Roxin, the dominion over
tion of authoring as dominion over the organization38: (i) a vertically structured the organization is not suitable to include legal entities.
organization; (ii) dissociated from law and (iii) the fungibility of the executors39. However, in an attempt to find a balanced solution that respects the
In this regard, Greco and Assis40 argue that authors who use the dominion dogmatic distinction between authoring and participation, and at the same
over the organization to the companies usually deny the need for the requirement time solves the problem of defining the liability of agents in a company47,
of disconnection of the legal order or even the fungibility of executors. However, Muñoz Conde claims that the dogmatic ground for the liability of the officers
for Roxin41 and Schünemann42, only criminal organizations would suit the ap- shall not only be found in the company’s structure and mode of operation
paratus of organized power; thus, when the officer of a company (linked to the nut also in the very nature of the crime48.
legal order) orders something illegal that does not constitute coercion or error And it is possible to agree with that position, since it is undeniable that
(other hypotheses of mediate authoring), only the instigation would be present, business officers, as well as the very companies, have a liability that must be
and therefore, the issuer of the order would be a mere participant of the crime43. assumed, and not only delegated to the employees (such as the CCO), in
In fact, when the structure is not dissociated from the law, like the order to exempt the company itself or its officer49.
companies, and the issuer of the order acts in a manner unrelated to law, the 44. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th
edition. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serra-
no González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, page 277.
37. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th 45. ROXIN, Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría mediata. In: Revista
edition. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/ José Luis Ser- de Estudios de la Justicia. n. 7. Año 2006, page 21: “But here it is not possible to substantiate superior
rano González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, page 270. reports mediated authoring based on the rules of the dominion over the organization, which induce the
38. In more recent manifestations, however, Roxin defended the existence of four elements confirming the employees to commit crimes. From the four conditions of the dominion over the organization, at least
authoring mediated by apparatus of organized power: (i) the power of command of the authority that three are missing: the companies do not operate as a rule disconnected from Law, while the criminal
can pass the order; (ii) the disconnection from the legal system; (iii) the fungibility of the immediate activities are not since the onset thereof. There is also the absence of fungibility [Austauschbarkeit] of
executor and (iv) the high willingness to perform the fact, by the executor. Hence, if any of these requi- those who are willing to commit crimes. And it is not either possible to refer to a high level of availabi-
sites is not present, it would be unfeasible to refer to dominion over the organization. Refer to: ROXIN, lity for the practice of offenses by the company members because, as depicted in the reality, the prac-
Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría mediata. In: Revista de tice of crimes against the economy and against the environment results into major risk of punishment
Estudios de la Justicia. n. 7. Año 2006, pages 15-20. and also risk of loss of the positions at the company” – The writers’ free translation.
39. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th 46. AMBOS, Kai. Dominio del hecho por dominio de voluntad en virtud de aparatos organizados de poder.
edition. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serra- Available at: http://ley.exam-10.com/pravo/36794/index.html. Accessed on: August 21, 2018: “[...] the
no González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, pages 272-277. domain over the organization is solely dependent on the structure of the relevant organization and the
40. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de number of fungible perpetrators. Also: if the apparatus is not “out of the legal system” (as required by
empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí- the criterion of disconnection with the Law) but it is, alone, the legal order or part of it, the dominion
nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São over the fact by the man behind it is also greater than in the case of the apparatus disconnected from the
Paulo: Marcial Pons, 2014, pages 102-104. Law. [...] The disconnection from the law of those apparatuses does not need to be excluded, but it is not
41. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th a sufficient or necessary condition of the dominion over the organization. Therefore, it is unnecessary as
edition. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serra- a structural element of the domain over the organization “. – The writers’ free translation.
no González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, page 729. 47. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico, o
42. SCHÜNEMANN, Bernd. Responsabilidad penal en el marco de la empresa: Dificultades relativas a ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la realización
la individualización de la imputación. Anuario de derecho penal y ciencias penales, Tomo 55, Fasc/ de un delito en el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n. 09. Barcelona, 2002, page 61.
Mes 1, 2002, page 19. 48. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico, o
43. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la realización
edition. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serra- de un delito en el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n. 09. Barcelona, 2002, page 76.
no González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, page 729. 49. On this subject matter, refer to: CARO CORIA, Dino Carlos. Empresas criminales y autoría mediata.
416 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 417

Therefore, when a company delegates functions to a compliance officer, In vertical structures, however, in which there is a hierarchical superior
it does not extinguish the original duties50, and its liability is necessary, even and an executor of the order, the co-authoring would be doubtful. First,
if it is not within the dominion over the organization. Hence, it is important because the verticality existing in some cases (large companies, for example)
to analyze how co-authoring would take place in the business context. may evidence that there is a considerable distance between the one who gives
the command and the one who practices the crime. Thus, it would be difficult
3.2.2. Co-authoring in the business context to assert the existence of co-authoring, given the great chance of there being
For liability based on co-authoring, some writers51 seek to identify the no common plan or even a relevant contribution to the execution.54
liabilities according to the organization of the company, especially based on According to this position, it would not be possible to confirm co-author-
horizontal structures and vertical structures. ing in cases where there is no agreement of wills55, or when one of the agents
Using Roxin’s model, in horizontal structures, in which decisions are did not dominate the course of the typical event56, which is the reason why, in
made, for example, by several directors of the same hierarchy (depending, of a business context, to tacitly adhere to the plan drawn up by the hierarchical
course, on the functional organization of the company), co-authoring would superior, for example, would not be the same as deciding together with him57.
occur when the common plan and the relevant contribution of all agents are Under this interpretation of the model, it can be concluded that, if
verified, because in those cases the act would be carried out by “people acting the hierarchical superior does not participate in any way in the execution of
on the same plan, in principle deciding and executing”52. the crime, it would not be possible to establish co-authoring, for example,
In those cases, all the agents deliberating in a panel on a certain subject between a director and an employee.
matter, by the perspective of the theory of the dominion over the fact, would Thus, it is observed that co-authoring would not be completely ex-
be considered co-authors of the fact, due to each party’s contribution to the cluded simply because the executor is distant from the hierarchical superior;
decision and, consequently, to the performance of the offense53. depending on the structure of the organization, there may be no distance
In: BÖSE, Martin; SCHUMANN, Kay H.; TOEPEL, Friedrich (directores). Festschrift für Urs Kin- between those characters, which would facilitate the existence of a common
dhaüser. Baden-Baden: Nomos, 2019.
50. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas. In:
plan and the contribution to execution. However, most of the times, it is
Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, page 16: “The delegation of corporate much easier to see the criminal liability of the officer as a participant, or even
functions from the higher levels to the lower levels of the company does not extinguish the duties of the
former, but changes them. This change results from the tension between the residual maintenance of the as an author, not in an intentional way, but for the breach of a duty58.
functions of control, supervision and oversight and the specific responsibility of the subordinates in per-
forming their functions (there is no general duty to treat the subordinates as irresponsible people while having a differentiating profile, since it differentiates the penalty of the one who acts as the author from
they have minimum capacity to perform their functions)” – The writers’ free translation. the one who acts as a participant; thereby, it is possible or even necessary to resort to the theory of the
51. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina; dominion over the fact in order to apply the penalty. BUSATO, Paulo César. CAVAGNARI, Rodrigo. A
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios teoria do domínio do fato e o código penal brasileiro. In: Delictae, vol. 2, n. 2, Jan.-Jun. 2017, page 97:
de derecho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, “[...] the Brazilian Criminal Code adopts, in fact, a differentiating profile in a dualistic sense. The princi-
2016, pages 487-488. And, based on Claus Roxin, also GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que sig- ple is unitary, however, it is expressly recognized the need for qualifications and bipartitions that lead to
nifica a teoria do domínio do fato para a criminalidade de empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. considering the hypothesis of necessary differentiation between authors and participants”.
TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domínio do fato: estudos introdutórios sobre o 54. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de
concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São Paulo: Marcial Pons, 2014, pages 89-90. empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí-
52. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São
empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí- Paulo: Marcial Pons, 2014, page 91.
nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São 55. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th
Paulo: Marcial Pons, 2014, page 90. edition. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serra-
53. For Greco and Assis, comparing with the structure of the current Brazilian Criminal Code, which consi- no González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, page 316.
ders cause “the action or omission without which the result would not have occurred” (article 13, caput, 56. ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of the 7th
of the Criminal Code), the application of co-authoring according to the theory of the dominion over the edition.. Autoría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Ser-
fact would be more extensive. In fact, when the decision is not unanimous in a panel, but decided by sim- rano González de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000, page 320.
ple majority, any of the agents could invoke the article 13 of the Criminal Code and exclude their liability
to say that their vote was not the conditio sine qua non of the result. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. 57. GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de
O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domí-
Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domínio do fato: estudos introdutórios sobre o nio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São
concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São Paulo: Marcial Pons, 2014, page 90. At this Paulo: Marcial Pons, 2014, pages 92-93.
point, there is a position that the Brazilian Criminal Code, although based on a unitary principle, ends up 58. ROXIN, Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría mediata. In: Revista
418 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 419

Hence, it can be seen that the distance between the executor and the In fact, when, for example, a panel resolves on something, which is
hierarchical superior can determine whether it will be the case of co-authoring decisive for other persons to perform an illegal task, the decision (preparatory
or not, but that does not mean, however, that the hierarchical position per phase) is so closely linked to the execution that it must be valued as a whole,
se is decisive, since it will also depend on how the offense was perpetrated (if enabling the determination of co-authoring and excluding the need for the
there was definition of a common plan and contribution to its execution). requirements (common plan and contribution to execution63).
And yet, on this point, some variations of understanding are identi- Muñoz Conde, when proposing such an interpretation, is not dealing
fied in the doctrine, especially as to the superior’s non-participation in the with the compliance officer. However, it is possible to see manifestations64 in
execution of the fact and the positions held in the company, which shall be the sense that the CCO can be held liable as an author, even if he does not
subsequently addressed. intervene in the execution phase of the crime.
In fact, the criminal liability of the compliance officer would be limited
3.2.2.1. The absence of the superior in the execution
by the agreement entered into between him and the company, which would
Francisco Muñoz Conde has a different understanding about the cases allow identifying the duties of the CCO and that of the management65. That
in which the superior does not participate in the execution of the offense. The is, to the extent that the company delegates its functions to the CCO, he
criminalist bases himself on the understanding that concepts of authoring need acquires such competences by virtue of the assumption thereof.
to be reviewed and adjusted in order to adapt to the reality of corporate crime59.
However, it should be emphasized that the competence for decisions
Muñoz Conde teaches that there are interventions that are much more must be held by the administrator or board of directors (responsible for the
decisive for the accomplishment of the crime than those executive actions; that business activity) under penalty of totally exempting the company or its ad-
is to say, the “decision centers”, because they are decisive, can be more important ministrator from any unlawful act that is practiced and distort the function of
than the “execution centers”60. Thus, it would be necessary to revise the concept the compliance officer for making him the real administrator of the company.
of author to include therein the persons who have the primary liability61.
Thus, the determinant referred by Muñoz Conde may, as it seems, be at-
Thus, when it comes to the liability of those who deliberate but not tributed to the administrator or to the company itself, when it orders an action
execute, the writer understands that the dominion over the organization, that consists in the practice of an offense, although executed by an employee.
in the way proposed by Roxin, would not apply to business structures, but
Anyway, it is seen that the criminal liability of the CCO can be limited by
actually the co-authoring, as a functional dominion over the fact62.
the undertaking of competences in the agreement celebrated with the company.
de Estudios de la Justicia. n. 7. Año 2006, page 22: “I think it is more adequate to resort to the legal And, as a result thereof, the organization of the company will also influence the
concept I have developed on offenses committed by breach of a duty [Pflichtdelikte] and, assisted by
that, substantiate authoring to the managerial positions, since they are assigned a position of gua- definition of liability, a theme developed by Ricardo Robles Planas.
rantor to protect lawfulness of the company’s actions [Garantenstellung zur Wahrung der Legalität]”
– The writers’ free translation.
59. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico, o
¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la realiza- ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la realización
ción de un delito en el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n. 09. Barcelona, 2002, de un delito en el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n. 09. Barcelona, 2002, page 82.
page 75: “It seems, thus, that the legal-criminal dogmatic as the theory of the domain over the fact 63. Muñoz Conde considers that the requisites (agreement of will and joint execution of the crime) result
has managed to overcome the insufficiencies of the theory objective-formal to substantiate the direct from an objective-formal theory that ends up being insufficient to cover more relevant conducts in the
liability of the mediate author, there must also be made a review of the concept of authoring, mediate execution of the crime, like in the case of a panel’s resolution for the practice of a crime. MUÑOZ CON-
or co-authoring, adapting it to the reality of the criminal phenomenology of delinquency committed DE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico, o ¿cómo imputar a
within large groups or organizations” – The writers’ free translation. título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la realización de un delito en
60. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico, o el ámbito de la delincuencia económica? In: Revista Penal. n. 09. Barcelona, 2002, page 66.
¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la realización 64. BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lo-
de un delito en el ámbito de la delincuencia económica?. In: Revista Penal. n. 09. Barcelona, 2002, page 77. thar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del
61. The political-criminal need to hold officers liable is acknowledged by Roxin in other works: ROXIN, Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, pages 192-193.
Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría mediata. In: Revista de Estu- 65. BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lo-
dios de la Justicia. n. 7. Año 2006, page 21. thar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del
62. MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico, o Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, page 184.
420 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 421

3.2.2.2. The principle of competence which can only be practiced by guarantors. Therefore, we leave the sphere of
Ricardo Robles Planas66 considers the vertical and horizontal organiza- analysis of liability by commission, to analyze what is said about the omission
tion of an business structure based on a principle of competence67, resulting and the guarantor position of the compliance officer.
from the composition of such forms of business organization: by hierarchy Considering the duties usually assigned to the CCO (program design,
(in vertical axis), one can identify the administration body at its top and the implementation, monitoring and control), some writers70 affirm that this pro-
subordinates at the base of the structure – obviously there may be interme- fessional assumes a position of guarantor, at the same extent as that of the
diate positions, but the structure remains vertical -; and by the division of administrator, in relation to crimes committed within a company.
labor (in horizontal axis), the distribution of different competences within For such positions, when there is a defect in the compliance program
the same hierarchical level is observed, in this case with the division of tasks. that results in the practice of an offense by a third party inside the company,
The blending of those two principles would form a large network of the compliance officer can only be accountable if his omission allows the
work scopes, which would define the competence of each subject within a charging of the crime in the culpable modality. 71Otherwise, the compliance
company and, consequently, would outline the share of liability of each one. officer will only be accountable in willful misconduct modality when he has
From then on, the share of liability of each agent, including that of deliberately tolerated any conduct or even failed to act in order to allow a
the compliance officer, would be identified, whereas the infringement of crime to be committed by a third party. In addition, if the defect or insuffi-
individual competences68 would serve to guide eventual criminal liability. In ciency of the compliance program was due to lack of financial resources of
short, each level within a company has different competences, which creates the company, but not due to an inconsistent performance of the CCO, he
distinct grounds for criminal liability69. cannot be charged of the actual crime.72
In conclusion, in view of the positions brought, there is clear need to Yet, according to this position, regarding the receipt of internal com-
hold the company liable, as done by Muñoz Conde when interpreting Roxin’s plaints and the report, it is unfeasible to refer to accountability for a crime
theory. However, what we see is that the CCO, in assuming the responsibil- already consummated and which only later became known by the CCO. He
ities by delegation, places himself in a position where he can be held liable can only be held liable for omission in the event that his non-action tolerates,
as being the author, even though he has not practiced execution acts. As the enables or facilitates the practice of a future or ongoing crime. That is, there
point refers to an alleged omission and not commission, the question arises may be some action of the CCO to prevent the practice and only when he is
as to the CCO’s duty of guarantor. neglectful in that sense it will be possible to hold him accountable.
However, according to Atahuaman’s73 position, although he affirms the
3.3. LIABILITY FOR OMISSION AND POSITION OF GUARANTOR
existence of a duty as guarantor, he limits that burden to the duty of infor-
It is well known that the theory of the dominion over the organization,
mation and oversight – both delegated by the administrator of a company to
as brought by Roxin, is not applicable to improper offenses of omission,
the CCO – and the administrator remains as the original guarantor. Thus,
66. ROBLES PLANAS, Ricardo. El responsable de cumplimiento (“Compliance Officer”) ante el derecho
penal. In: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. (Dir.)/MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel (Coord.), Crimi- 70. DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de garante del compliance officer por infración del “de-
nalidad de empresa y Compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona, 2013, page 329. ber de control”: una aproximación tópica. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán.
67. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina; (directores). El derecho penal en la era compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013, page 174.
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios 71. DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de garante del compliance officer por infración del “de-
de derecho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, ber de control”: una aproximación tópica. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán.
2016, pages 487 and 488. (directores). El derecho penal en la era compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013, page 178.
68. Regarding the competences of the CCO, refer to: DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de 72. URBANO CASTRILLO, Eduardo de. La responsabilidad penal del “compliance officer”. In: Revista
garante del compliance officer por infración del “deber de control”: una aproximación tópica. In: AR- Aranzadi Doctrinal. num. 4/2016, Cizur Menor: Estudio Editorial Aranzadi, 2016, page 06.
ROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán. (directores). El derecho penal en la era compliance. 73. ATAHUAMAN, Jhuliana. La fundamentación de la responsabilidad penal del compliance officer a través de
Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013, pages 165-189. su especial posición de garante. A propósito de la ley que regula la responsabilidad administrativa de las per-
69. FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas. sonas jurídicas en el Perú. In: CARO CORIA, Dino Carlos (director) REYNA ALFARO, Luis Miguel (Editor).
In: Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Ago. 2008, page 17. Anuario de derecho penal económico y de la empresa n° 4. Ideas Solución Editorial, 2018, page 147.
422 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 423

the administrator delegates the control and oversight functions to the CCO, As an instrument of control and implementation of a culture of integ-
who will only detect the risks and inform them to the administrator. rity, the CCO should not be responsible for making decisions about cases
In this context, the CCO would not have decision making authority, involving the imminent practice of crime; therefore, he does not have the
which continues to be held by the company administrator. Therefore, if the duty to directly prevent a crime.
CCO fulfills his duty of reporting, he would be exempt from liability74. Considering that the CCO would receive all the liability, exempting the
In view of those stances, it can be seen that there is a real need to define administrator from liability for any crime, would correspond to a true use of
the extent to which the CCO would be accountable as a guarantor for crimes the CCO as scapegoat, when in fact the administrator is the main responsible
committed within the company. For what it seems, the duty of guarantor would party for the exercise of the business activity78 and who, therefore, has implicit
be supported by the contract signed between him and the employer, which would the duty to prevent the commission of crimes, whenever possible.
insert him in the rule of article 13, §2, b of the Brazilian Criminal Code75. Second, according to the elements of the objective norm of the omission
Thus, without entering into the discussion of the criticism that a con- rule79, the CCO could only be accountable as an author by omission in the
tract could not determine the duty of guarantee (material criterion) and, cases where: (i) there is a danger to the legal asset; (ii) the CCO can take con-
therefore, could not provide for the duty of avoiding a result, and bearing in crete action; (iii) he does not perform the commanded action; (iv) a typical
mind that the Brazilian Criminal Code adopts the opposite position, in the result occurs; and (v) he is the guarantor of the legal asset.
sense that the contract may be the source of the duty of guarantee (formal Here, the action of the CCO is centered on the idea of ​​information,
criterion)76, we must present some considerations on the topic. reporting, structuring and implementation of a compliance program aimed
First, upon receiving the powers of supervision and control, the CCO for the detection of unlawful acts – and here is the decisive point to define
would not exclude the administrator’s duty of original guarantor, who contin- the limitation of the CCO’s liability. In fact, when the CCO implements a
ues to hold the power of decision and supervision over the delegated party77. compliance program and nevertheless a danger to the legal asset is identified,
Thus, the implementation of a compliance program serves as a true instru- he will be exempt from liability when he has detected and informed the
ment for the control that the company and its administrator must have over management about the fact, so that, after the decision of the administrator,
the crimes committed therein, and it must be implemented to detect the the consummation thereof is prevented.
practice of crimes as much as possible. Therefore, only when omission of the information facilitates the prac-
74. ATAHUAMAN, Jhuliana. La fundamentación de la responsabilidad penal del compliance officer a
tice of crime will the CCO be accountable for the crime, and yet in the
través de su especial posición de garante. A propósito de la ley que regula la responsabilidad adminis- culpable modality, if any. And if he is neglectful with the conscience and
trativa de las personas jurídicas en el Perú. In: CARO CORIA, Dino Carlos (director) REYNA ALFA-
RO, Luis Miguel (Editor). Anuario de derecho penal económico y de la empresa n° 4. Ideas Solución willingness to allow the crime to occur, he will be accountable for the crime
Editorial, 2018, page 147: “For what has been said, since the business owner only delegates to the
officer his duty of overseeing compliance with the rules, we conclude that the compliance officers are under the willful misconduct form.
not guarantors of avoiding risks. Those can only be avoided by the original guarantor, to whom the
Compliance Officer will report. The directly responsible parties will be those delegating risk manage- Therefore, it can be observed that the duty of guarantor may enable the
ment, but if those actions were duly informed to the original guarantor by the compliance officer, we
would also be charging the latter. If the compliance officer fulfills his duty to inform, he will be simply criminal liability of the compliance officer. However, this duty of guarantor
exempt of liability”. – The writers’ free translation.
75. Criminal Code. Article 13 – The outcome, of which existence of the crime depends, can only be does not exempt the administrator or the legal entity itself, when they can make
charged to the one who caused it. Cause is considered to be the action or omission without which the decisions to avoid the practice of the crime, since they remain as guarantors.
result would not have occurred. (...) § 2 – The omission is criminally relevant when the neglectful party
should and could act to avoid the result. The duty of acting is incumbent upon who: a) has, under the
law, the obligation to care, protect or oversee; b) otherwise has assumed the responsibility of impeding And if by the Brazilian model the CCO can assume the duty of guarantor
the result; c) with their prior behavior, has created the risk of the result being realized.
76. CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito penal: parte geral. – 7. ed. rev. atual. e ampl. – Florianópolis: 78. LASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Antonio. La delegación como mecanismo de prevención y genera-
Empório do Direito, 2017, pages 206-207. ción de deberes penales. In: NIETO MARTÍN, Adán. (Dir.). Manual de cumplimiento penal en la
77. LASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Antonio. La delegación como mecanismo de prevención y genera- empresa. Madrid: Tirant lo Blanch, 2015, pages 146-147.
ción de deberes penales. In: NIETO MARTÍN, Adán. (Dir.). Manual de cumplimiento penal en la 79. CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito penal: parte geral. – 7. ed. rev. atual. e ampl. – Florianópolis:
empresa. Madrid: Tirant lo Blanch, 2015, page 145. Empório do Direito, 2017, page 202.
424 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 425

through a contract, the broader the powers of the compliance officer, the easier of the CEO (Chief Executive Officer) and of the CCO (Chief Compliance
it will be to observe his liability. Thus, reserving the duty of decision to the Officer) so that no mistakes are made concerning the competence of each one
administrator or to the panel, limiting the CCO’s performance to the duty within the company and, as a result, failures regarding the criminal liability
of reporting, the detection of risks and organization of a compliance program of each of these figures upon charging of a particular crime.
seems to be whatever is most adequate in order to maintain the competence In fact, while the CEO performs typical functions of the company’s
of the main responsible party for the operation of the company and its effects. management and, therefore, executive functions related to the company’s
business, the CCO has functions specifically related to prevent conduct that
4. THE DISTRIBUTION OF LIABILITIES AND THE COMPLIANCE
is contrary to external and internal regulations, there being clear that his
OFFICER
functions are, most of the time, of an advisory nature.
What seems most to be more relevant for the delimitation of the liabil-
Observe, the position of CEO is considered to be the highest position
ities within the company is the structural organization of the moral entity,
within a company, and its occupant is responsible for making the most im-
as well as the form of distribution of the liabilities, which would delimit the
portant decisions of the company, which is why, in some cases, the President
competence of the agents. In fact, the mere position in the company is not
may also assume the role of CEO, which is, however, risky, because not always
decisive for the identification of liabilities, but must be taken into account,
the President of a company will be a good Executive.
together with the liabilities undertaken or possibly delegated.
The compliance officer position, in turn, presents itself as the position
Therefore, it can be seen that the identification of co-authoring, mediate of director of the compliance department, being thus subordinated to the
authoring and liability for omission in companies must start from the way in figure of the executive officer, likewise what happens to the directors of the
which the company is structured; if not too much, at least it is an extremely other departments. The CCO is the one responsible for carrying out an or-
important point for identifying criminal liability. ganic restructuring of the company, so that it is, based on that, organized in
Thus, after making the previous notes on some of the controversies about accordance with the Law81.
mediate authoring, co-authoring, and liability for omission, we must now con- In view of the foregoing, the differentiation of these two figures is not only
sider the distribution of criminal liability in the business sector, in vertical, terminologically relevant, but is of particular importance to the extent that the
horizontal axes and by transfer, based on the position of the compliance officer. distribution of competences and legal responsibilities, especially those of a crimi-
4.1. THE POSITION OF COMPLIANCE OFFICER nal nature, require that the position held by each of the members of the company
First, it is important to make a brief exposition about the management be known, making it possible to know the limits of each one in these positions.
positions in the companies, in order to diagnose exactly where the compliance 4.2. VERTICAL DISTRIBUTION
officer is placed within an organizational structure. Concerning the vertical distribution, it must be assumed that top level
As it is known, in the recent global business scenario, it has become of the companies are the ones who hold liability for corporate crimes, after all,
common to adopt nomenclatures for the heading positions of large compa- it would not be credible – a prima facie – for a mere employee to be held liable
nies, especially the CEO (Chief Executive Officer), the CFO (Chief Financial for crimes committed in favor of the company. That is why it is understood
Officer), COO (Chief Operating Officer), CHRO (Chief Human Resources that those employees of the lower hierarchical levels of the company, like the
Officer)80, and numberless other nomenclatures assigned to the directors of workers, as a rule, are not held criminally accountable, taking into account
each of the company’s sectors. the limited scope of their competences82.
For the study herein, it is important to differentiate between the figures 81. COCA VILA, Ivó.¿Programas de cumplimiento como forma de autoregulación regulada? In: [Jesús
María Sánchez – dir.] Criminalidad de empresa y compliance: prevención y reacciones corporativas.
80. GROOT, Cornelis de. Corporate Governance as a Limited Legal Concept. New York: Wolters Kluwer Barcelona: Atelier, 2013. page 59.
Law & Business, 2009. page 58. 82. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina;
426 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 427

Based on this statement, it is clear that this changes as higher positions company86, it is clear that his criminal accountability will only occur in cases
within the company are analyzed. That results from the principle of competence where the offense has not been identified on due time, due to a failure or fraud
established for the professionals holding those positions; thus, in the example in the design of compliance, resulting from improper implementation or in the
of an employee who disposes of environmentally harmful waste, clearly the event that the CCO violates his duties of reporting to the board of directors
criminal liability will be held by the superior that assigns such activity to him. about a certain fact that could be avoided based on an administrator’s decision.
Alongside this understanding, the discussion about the business owners’ In fact, it would make no sense to consider imposing criminal liability for
position of guarantor or, in other words, to what extent they will be respon- an environmental crime, for example, on a certain company’s human resources
sible for the crimes committed by the company and its employees; currently, department director, as well as trying to charge a tax evasion offense to the ad-
it is necessary to consider the actual work positions and their functions, in vertising director, since each one of those professionals has his own competence
accordance with the principle of competence referred to by Robles Planas83. and operating range inside the company. And so does the compliance officer.
Thus, as it can be seen, the main focus of the vertical distribution of liabilities 4.4. DISTRIBUTION BY TRANSFER
is in relation to the position occupied by the individual in a given organizational
Concerning the distribution by transfer, there are major doctrinal con-
structure, as well as to the activities derived from that position, which factors are
troversies insofar as it refers to the field of delegation of duties – as already
closely related to the very hierarchic division within the company.
discussed on the position of guarantor – which, to a large extent, at least when
4.3. HORIZONTAL DISTRIBUTION referring to the compliance officer, ends up inevitably bringing some mistrust
In relation to the horizontal distribution, the principle of competence re- by the most critical doctrine.
ferred by Robles Planas manifests itself in a similar way to the vertical distribution, As Cornelius Prittwitz87 properly points out, the position of the guar-
with the difference that it seeks to contrast positions of the same hierarchy ac- antor of the CCO is indeed questionable, since, if on the one hand the State
cording to each of their duties of guarantee; in this sense, the writer emphasizes coerces companies into hiring compliance officers, with the aim of preventing
that what is incumbent on a guarantor is not incumbent on the others, even if crime in the company, on the other hand the State turns its punitive hand
the latter have obvious knowledge about the criminal activity of the former84. precisely towards those professionals, which, alone, makes clear the existence
Thus, it is evident that the compliance officer, as well as the other direc- of a problem around such delegations of duties and the presumed position of
tors, should only be liable for criminal offenses directly related to their activity85. guarantor of this professional.
Since the CCO’s activity is focused on the design, implementation and As previously mentioned, in such cases the CCO would eventually be
control of a compliance program structured according to the specificities of the accountable for criminal offenses, depending on how much he has submitted
himself to undertake the original delegations from the company’s directors.
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios
de derecho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Madrid: Editorial Universitaria Ramón Areces. Thus, the tendency is, in practice, to assume the duties of the manager and
2016, page 488: “Hence, using an already classical example of this issue, the employee of a chemical
company whose work consists of pouring containers on the river with the waste generated by the of the company itself, attenuating or even excluding their liabilities.
industrial activity shall not be accountable as a participant of an ecological crime, even though he is
aware of the harmful nature of those acts to the environment “ – The writers’ free translation. Based on this review, we resume the doctrinal controversy about the
83. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina; FEI-
JOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios de dere- CCO being a business creation carried out precisely with this intent. That
cho penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, 2016.
84. ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina; FEI- 86. ROBLES PLANAS, Ricardo. El responsable de cumplimiento (“Compliance Officer”) ante el derecho pe-
JOO SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios de derecho nal. In: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. (Dir.)/MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel (Coord.), Criminalidad
penal: Homenaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, 2016, page 493. de empresa y Compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona, 2013, page 320-321.
85. Based on the German dogmatic, the betriebsbezogenen delikten would be the offenses directly related 87. PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (en especial, posición de garante) de los compliance
to an activity, while in the opposite sense there would be the Exzesstaten. ROBLES PLANAS, Ricar- officers. In: [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance
do. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina; FEIJOO SÁNCHEZ, Bernar- y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, pages 211-212: “if they do not comply with
do José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios de derecho penal: Homenaje al their tasks as desired, they shall not only lose their jobs, but, eventually, they might also be submitted
profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, 2016, page 488. to criminal punishment” – The writers’ free translation.
428 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Caio Fernando Ponczek do Prado – Ana Paula Kosak 429

is, serving as a kind of “scapegoat” for committing offenses, by his direct or by the CCO, who, under the contract, would have a duty to prevent the
indirect superiors, as if any offense committed by the company and its em- commission of crimes. Therefore, the practice tends to place the compliance
ployees would result from a problem in the compliance program. officer as a “scapegoat” in the commission of crimes within the company.
It would be better that the competences be assumed such as to maintain The proposition, therefore, is that the compliance officer should only
the administrator and the company itself with the power to make decisions assume the competences to implement a compliance program aimed at a cul-
when faced with the perpetration of a crime, whereas the CCO would assume ture of integrity in the company, so that the possible sources of crime are quickly
the duty of implementing a compliance program aimed at the practice of identified, with the CCO holding the duty to report these subject matters to the
integrity within the company, as well as facilitating the flow of information management of the company, as an advisory condition. It can be said that the
to detect the imminence of a crime as soon as possible, reporting this infor- function of the CCO is that of the mean (preventive) and not that of the end.
mation to the company’s senior management. However, in case he does not fulfill his duties, he may be accountable
for the crime occurring in the company, should the typical elements for li-
5. FINAL CONSIDERATIONS ability for omission be fulfilled, including the possibility to act (inform the
Based on the substance of this study, it is possible to draw conclusions company’s management so that the latter can make a decision).
regarding the criminal liability of the compliance officer, inserted in the sub- Therefore, based on the study developed, some points should be taken
ject matter of criminal liability of legal entities. into account to start an actual delimitation of the CCO’s liability; such as
Initially, it was possible to verify that in countries that adopt the crim- that his liability be limited by the functions undertaken, but provided that
inal liability of legal entities in a broader manner, it is feasible to have the the original liability of the company or of its directors is maintained, and so
criminal conviction by the cooperation between individuals and legal enti- that the charging of the CCO is directly related to a violation of his duties.
ties, which allows affirming the possibility of holding the compliance officer
responsible in cooperation with a legal entity. BIBLIOGRAPHICAL REFERENCES
AMBOS, Kai. Dominio del hecho por dominio de voluntad en virtud de aparatos organizados de poder.
In this context, to verify the form of accountability of the compliance officer, Available at: http://ley.exam-10.com/pravo/36794/index.html. Accessed on: August 21, 2018.
the theory of dominion over the fact enabled drawing the outline of the research; ATAHUAMAN, Jhuliana. La fundamentación de la responsabilidad penal del compliance officer a
través de su especial posición de garante. A propósito de la ley que regula la responsabilidad administra-
we have found that it was not designed for the accountability of legal entities. tiva de las personas jurídicas en el Perú. In: CARO CORIA, Dino Carlos (director) REYNA ALFARO, Luis
Miguel (Editor). Anuario de derecho penal económico y de la empresa n° 4. Ideas Solución Editorial, 2018.
In comissive crimes, co-authoring between the company and the compli- BERMEJO, Mateo G; PALERMO, Omar. La intervención delictiva del compliance officer. In: [Lothar
ance officer was also considered, and it is possible to perceive that the company Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal.
Madrid: Marcial Pons, 2013, pages 171-205.
can be ascribed the liability as the author for a decision on a fact that consisted BUSATO, Paulo César. CAVAGNARI, Rodrigo. A teoria do domínio do fato e o código penal brasile-
in the commission of a crime, even if it did not participate in the execution iro. In: Delictae, vol. 2, n. 2, Jan.-Jun. 2017, pages 83-132.
thereof, being executed by the CCO or even by another assigned employee. CARO CORIA, Dino Carlos. Empresas criminales y autoría mediata. In: BÖSE, Martin; SCHUMANN,
Kay H.; TOEPEL, Friedrich (directores). Festschrift für Urs Kindhaüser. Baden-Baden: Nomos, 2019.
Regarding non-feasance crimes, considering that the Brazilian Criminal CASTELLANOS MORENO, Carlos. Comentario a la STS 154/2016, de 29 de febrero, primer pro-
Code allows undertaking the duty of guarantor by means of a contract, when nunciamiento condenatorio del Alto Tribunal que aprecia la responsabilidad penal de las personas
jurídicas. In: Alliantia. Available at: http://www.aranzadi.es/sites/aranzadi.es/files/creatividad/alliantia/
the duties contractually assumed by the CCO are broad (such as the power to pdf/Comentario_STS_154_2016_Resp_penal_31_bis.pdf. Accessed on: February 23, 2019.
make decisions to avoid the practice of a crime), the liability of the company CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito penal: parte geral. – 7. ed. rev. atual. e ampl. – Florianópolis:
Empório do Direito, 2017.
or of its administrators would be mitigated in practice. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autoregulación regulada? In: [Jesús
María Sánchez – dir.] Criminalidad de empresa y compliance: prevención y reacciones corporativas. Barce-
Thus, by identifying the commission of a crime, the company or even lona: Atelier, 2013.
the managers could charge the problem to the compliance program developed DOPICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. Posición de garante del compliance officer por infración del “de-
430 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

ber de control”: una aproximación tópica. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán.
(directores). El derecho penal en la era compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013, pages 165-189.
DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral – 5. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2013.
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. Autoría y participación en organizaciones empresariales complejas. In:
Revista de Derecho público. Universidad de los Andes. Aug. 2008.
FEIJOO SÁNCHEZ, Bernardo. El delito corporativo en el código penal español: cumplimiento normativo REVIEW OF CRIMINAL COMPLIANCE
y fundamento de la responsabilidad penal de las empresas. 2. ed. Pamplona: Civitas, 2016.
GONZÁLEZ CUSSAC, José L. O modelo espanhol de responsabilidade penal das pessoas jurídicas do
CP de 2010. In: Revista brasileira de ciências criminais. Ano 25, vol. 132, Jun/2017, pages 39-60. Fábio Augusto Tamborlin1
GRECO, Luís. ASSIS, Augusto. O que significa a teoria do domínio do fato para a criminalidade de
empresa. In: GRECO, Luís. LEITE, Alaor. TEIXEIRA, Adriano. ASSIS, Augusto. Autoria como domínio do
fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no direito penal brasileiro. 1. ed. – São Paulo: Marcial ABSTRACT: Little or none. This seems to be the space assigned to the compliance oc-
Pons, 2014, pages 81-122. cupancy in the scope of the criminal system. Despite the possibility of labeling integrity
GROOT, Cornelis de. Corporate Governance as a Limited Legal Concept. New York: Wolters Kluwer Law programs as a solution to various criminal problems, these instruments cause unbearable
& Business, 2009. tensions to public bias and criminal legality, further corroborating with a context of orga-
KUHLEN, Lothar. Cuestiones fundamentales de compliance y Derecho penal. In: [Lothar Kuhlen, Juan nized and selective irresponsibility.
Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Keywords: Compliance. Criminal system. Criminal issues. Legality. Organized
Marcial Pons, 2013.
irresponsibility.
LASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Antonio. La delegación como mecanismo de prevención y generación
de deberes penales. In: NIETO MARTÍN, Adán. (Dir.). Manual de cumplimiento penal en la empresa.
Madrid: Tirant lo Blanch, 2015. INTRODUCTION
MUÑOZ CONDE, Francisco. Problemas de autoría y participación en el derecho penal económico,
o ¿cómo imputar a título de autores a las personas que sin realizar acciones ejecutivas, deciden la real- The potential yield of compliance concerning the criminal system seems
ización de un delito en el ámbito de la delincuencia económica?. In: Revista Penal. n. 09. Barcelona,
2002. pages 59-98. to be directly proportional to its distance from the criminal environment.
PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (en especial, posición de garante) de los compliance of- Paradoxical as this statement might seem, the normative compliance structure
ficers. In: [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría may be a better political-criminal instrument of containment and prevention
del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013, pages 207-218.
ROBLES PLANAS, Ricardo. El responsable de cumplimiento («Compliance Officer») ante el derecho of offenses if it is not at the core of criminal prosecution, thus not occupying
penal. In: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. (Dir.)/MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel (Coord.), Crim- a prominent position in the criminal apparatus. Integrity programs must
inalidad de empresa y Compliance. Prevención y reacciones corporativas. Barcelona, 2013, pages 319-330.
ROBLES PLANAS, Ricardo. Principios de imputación en la empresa. In: BACIGALUPO, Silvina; FEIJOO
apply in an environment that is not criminal, with some point of intersection
SÁNCHEZ, Bernardo José (coord.); BASALDUA, Juan Ignacio Echano (coord.) Estudios de derecho penal: Hom- between them only in a secondary, reflex or indirect manner.
enaje al profesor Miguel Bajo. Editorial Universitaria Ramón Areces. Madrid, 2016, pages 487-504.
ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. 1. ed., Hamburg, 1963. Spanish Translation of 7. ed.. Au- To convince the reader of that, this paper will consider the inflows
toría y dominio del hecho en Derecho Penal, por Joaquín Cuello Contreras/José Luis Serrano González that the implementation of a compliance program, depending on the actual
de Murillo, Madrid: Marcial Pons, 2000.
ROXIN, Claus. El dominio de organización como forma independiente de autoría mediata. In: Revista
legislative option, may cause with respect to the criminal system as a whole.
de Estudios de la Justicia. n. 7. Año 2006, pages 11-22. In order to do so, the basic assumption is that the criminal liability of the
SCHÜNEMANN, Bernd. Responsabilidad penal en el marco de la empresa: Dificultades relativas a la legal entity, the adoption of a self-regulation model (regulated or not) and the
individualización de la imputación. Anuario de derecho penal y ciencias penales, Tomo 55, Fasc/Mes 1,
2002, pages 9-38. implementation of a code of normative compliance constitute three distinct
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. phenomena, none of which is consubstantiated as a necessary presupposition
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La evolución ideológica de la discusión sobre la responsabilidad penal for the existence of the other.
de las personas jurídicas. In: Derecho penal y criminología. v. 29, n. 86-87.
VILLEGAS GARCÍA, María Ángeles. Hacia un modelo de autorresponsabilidad de las personas jurídicas. First, some possibilities of regulation models will be exposed in order to
La STS (Pleno de la Sala de lo Penal) 154/2016, de 29 de febrero. Diario La Ley, nº 8721, Sección Doc-
trina, 14 de Marzo de 2016. clarify the speech of self-regulation, to subsequently defend the maintenance of
WELZEL, Hans. Derecho penal alemán. 4. ed. Translation by Juan Bustos Ramírez and Sérgio Yáñez
Peréz. Santiago: Editorial Jurídica de Chile, 1997.
1. Master’s Degree in Law from Universidade Federal do Paraná (UFPR).
432 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 433

hetero-regulation concerning criminal law. Next, the implications that might enjoying of their autonomy, are regulated in the way that best suits them,
arise by adopting a self-regulatory model coupled with the implementation of without being conditioned by external agents, adopting the risk management
an integrity program will be assessed, in relation to the legal-criminal situation. systems they understand to be most appropriate to them.
Initially, the work will focus on the challenges already faced by criminal 1.2. META-REGULATION
law embedded in the social risk paradigm and, later, based on the debates Another regulatory model that might be adopted is the meta-regula-
arising from the analysis of Brazilian legislation and international legal pro- tion. Through this regulatory type, the State would establish some general
visions regarding compliance and criminal liability of the collective entity. standards or guidelines to be adopted by the companies and, at a later
time, would grant incentives or benefits in order to draw the interest of
1. GROUNDS AND TENDENCIES FOR SELF-REGULATION
legal entities towards compliance with the general parameters established
There are several regulatory forms from which the relations between the
by the state entity5.
State and the business entities are developed. We can observe a tendency of
propositions aimed at increasing the freedom of private entities to the detri- In that context, the State would not carry out effective regulation,
ment of interference from public institutions2. In this sense, we can observe it would only present some general and abstract frameworks, with a wide
some speeches that aim to assign legitimation to this movement. margin of discretion assigned to the companies, so that, based on those guide-
lines, they could draw up their respective normative instruments in the most
There is the trend that is anchored in the autonomy of corporate citizens.
appropriate manner for them6.
Another trend, technocratic in nature, is based on the efficiency argument,
and, based on a utilitarian thought, asserts that state interference hinders 1.3. REGULATED SELF-REGULATION
economic development, mainly due to the technical inferiority of the state Another hypothesis refers to regulated self-regulation, or co-regulation,
entity when compared with the corporations, which are able to provide more a regulatory model in which the private entity enters the regulatory process,
efficient regulation. A third possibility is based on the democratic argument, while remaining, at least in theory, subordinated to the State and to the
since self-regulation would lead to the State return of the power to the private purposes pursued by it, with the public interest prevailing. Hence, the State
entities, thus achieving more democratic regulation mechanisms3. would play a leading role in the regulatory task, using companies to collabo-
By means of one of these legitimacy speeches, or even by virtue of the rate in the drawing up and enforcement of normative provisions7.
sum of part or all of the arguments summarized above, the main manifesta- This self-regulation can be delegated, when the State specifically del-
tions regarding the regulatory types that will be exposed in the work herein egates the possibility of regulation, but retains the authority of reviewing,
are developed starting on the following topic. supervising and sanctioning. It can also be classified as transferred self-regula-
tion, in which case the State transfers the authority of regulating, supervising
1.1. PURE SELF-REGULATION
and sanctioning, but retains the authority of reviewing. In addition, in a
In pure self-regulation, the companies draw up, by themselves, an
third possibility, the State works pari passu with the company in drawing
internal regulation system, aside from public authorities, that is, without
up regulation systems, with cooperation between the two segments of this
state interference. In that model, the State is excluded, both in drawing up
interaction between the public and the private8.
the regulations, and regarding supervision and sanctioning4. Companies, in
2. MAROTO-CALATAYUD, Manuel. Liberalismo vs. Neocorporativismo: los discursos de la autorre- 5. Ibidem. pages 50-51.
gulación como discursos legitimantes. pages 73-95 in Autorregulación y sanciones. 2. ed. Thomson 6. Idem.
Reuters Aranzadi. 7. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op. cit pages
3. MAROTO-CALATAYUD, Manuel. Liberalismo vs. Neocorporativismo... op. cit. pages 73-95. 50-51; SIEBER, Ulrich. Programas de ‘compliance’ en el Derecho penal de la empresa, in [Adán Nieto –
4. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada? in [Jesús org.] El derecho penal económico en la era de La compliance. Valencia: Tirantlo Blanch, 2013. Page 10.
María Silva Sánchez – dir.] Criminalidad de empresa y compliance: prevención y reacciones corpora- 8. COCA VILA, Ivó.¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op.
tivas. Barcelona: Atelier, 2013. page 49. cit. pages 51-52.
434 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 435

In view of the foregoing, for COCA VILA9 the models of regulated In fact, there is currently a mismatch between the complexity of the most
self-regulation would be the ones most capable of promoting the achievement varied social segments and the state’s ability to handle issues related thereto.
of a state interest in intervening at a distance, using the companies to fulfill BAUMAN and BORDONI16 observe this context from the analysis that neolib-
the purposes of the State. Thereby, either the private entity participates in the eralism appropriates a certain part of the state’s responsibility, favoring a gradual
process of regulation, or the State grants it greater freedom to act. process of privatization of activities performed by the government.
In fact, regulated self-regulation, under the perspective of the doctrine, In view of this loss of authority, there is a decrease in compliance with
seems to be the preferred type among a relevant part of the writers, or at least essentially economic public policies. That is, the State becomes incapable of
it is directed an optimistic look10. The apparent advantages of these regula- making decisions in the economic sphere and this vicissitude gives rise to gaps
tory models, as well as of the compliance programs, would clearly manifest and failures in the provision of social services. Therefore, the public entity in
themselves in a global and complex risk society11. According to SIEBER12, crisis fails to provide social welfare and becomes a type of parasite of society,
regulations derived from companies can often be considered better and more extracting from the social segments much more than their ability to supply,
effective in terms of the regulatory instruments of criminal law and adminis- being exclusively concerned with its own survival17.
trative law, for example. Through a functional interaction between the private In the current political game, the State operates a sort of control over
and state regulatory systems, it would be possible to improve the level of citizens without, however, taking responsibility for them, playing a role sim-
efficiency of corporate crime control13. ilar to neoliberal governance in a scenario in which power is managed by
One of the main arguments in favor of self-regulation is the state’s in- financial markets and groups. In this outlook, the ties between the State
ability to deal with the complex issues of a globalized and highly developed and citizens lose strength, and society, by losing cohesion, becomes liquid,
society in terms of the technological aspect. Those high levels of techni- uncertain and less solidary, due to the absence of bonds, which is typical of
cality also impact and support business structures. The specialization and the current global civilization volcano18.
professionalization of activities inherent to large organizations, as well as the Thus, the State largely succumbs to the economic power, adopting mea-
management models adopted by them, would make it impossible to have sures compatible with neoliberalism aiming at maintaining at least the status
general systems of hetero-regulation14. quo. This scenario gives rise to a state governance without a State, leaving aside
The above arguments are added by the claim that the social State is all the promises of the welfare state through a government without ultimate
undergoing deep crisis, lacking, for example, the financial capacity to bear responsibility towards citizens19.
the costs related to the processes of regulation, supervision and sanction15. The above-expressed phenomenon is clearly perceived when observing
that 69 of the world’s 100 largest economic entities, or yet 153 of the top 200
9. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op. cit.
pages 51-52. in the ranking, are corporations and not countries, considering the revenues
10. In this sense: GOMES-JARA DÍEZ, Carlos. La incidência de la autorregulación en el debate legis- related to the year 201520. It is also emphasized that this disparity is expand-
lativo y doctrinal actual sobre la responsabilidad penal de las personas jurídicas. pages 249-318
in Autorregulación y Sanciones. 2 ed. Thomas Reuters Aranzadi; SIEBER, Ulrich. Programas de ing and the tendency is for corporations to become even more prominent. It
‘compliance’ en el Derecho penal de la empresa, pages 63-110 in [Adán Nieto – org.] El derecho
penal económico en la era compliance. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013. SILVEIRA, Renato de Mello should be also noted that the aforementioned economic growth of business
Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, direito penal e lei anticorrupção. São Paulo: Saraiva,
2015. NIETO MARTÍN, Adan. Problemas fundamentales del cumplimiento normativo en el Dere-
cho penal in [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance 16. BAUMAN, Zygmunt; BORDONI, Carlo. Estado de crise. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. page 28.
y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. 17. Ibidem. Page 28.
11. SIEBER, Ulrich. Programas de ‘compliance’ en el Derecho penal de la empresa... op. cit. pages 22-23. 18. Idem.
12. Idem. 19. BAUMAN, Zygmunt; BORDONI, Carlo. Estado de crise... op. cit. pages 46-47.
13. Idem. 20. Criticisms and problems derived from this phenomenon are exposed in the documentary films “The
14. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op. cit. Corporation” and “Na rota do dinheiro sujo”. The informed data have been disclosed by Global Jus-
pages 45-46. tice Now. Available at: https://www.globaljustice.org.uk/news/2016/sep/12/10-biggest-corporations-
15. Ibidem. pages 46-48. make-more-money-most-countries-world-combined.
436 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 437

entities helps in understanding the profusion of speeches favorable to the legal effects that the public authority is willing to assign to the regulated entity.
increase of corporations’ freedom to the detriment of state interventions. In the risk society, the process of modernization becomes reflexive,
1.4. THE OPTION FOR HETERO-REGULATION transforming itself into a problem theme. In this context, there is a self-con-
frontation of the referred social model. Thus, reflexive modernity, the current
First, it is imperative to emphasize that the object of study of this
stage of the aforementioned social paradigm, means that self-confrontation
research permeates and passes through, specifically, criminal law. Thus, de-
with the risks arising from modernization, which can no more be addressed
bates, arguments and criticisms regarding regulatory models are described
in the same way and, therefore, other control mechanisms are used23. It is
and questioned under the perspective of criminal law, to the detriment of
precisely in that space that the debate on compliance as instrumental for
the economic bias, or even of other relevant legal issues from the perspectives
crime prevention gets stronger, assisting criminal law in the task of social
inherent in civil or administrative law.
control. In fact, as a consequence, the criminal apparatus may lose essential
Despite the exposition regarding the self-regulatory models, this work characteristics, as it will be subsequently explained.
is based on hetero-regulation, by means of a critical stance in relation to
self-regulation in the scope of criminal law21. Despite the difficulties faced by 2.1. PRIVATIZATION OF CRIMINAL LAW
the state model in regulating the most varied social areas, it is necessary to At first, the establishment of an ethical code by a certain company does
question whether the privatization of the State activities or the minimization not represent any inconvenience to the public authority, since this activity is
of hetero-regulation are the best or even the only possible alternatives. Turn- inserted in the scope of the private autonomy, being an exercise of voluntary
ing the spotlight towards the peculiarities inherent in global risk society and self-regulation. The problems would arise at the moment when the internal
the criminal inflows resulting therefrom, it is possible to envisage a different normative provisions incorporate certain legal effects which, as a rule, are
option. The next topic will seek to scrutinize issues related to this theme. assumed by the public authority.
COCA VILA24 states, however, that the acceptance of a private rule
2. DISTRESSES RELATING TO THE INTERSECTION OF as being determinant, or as co-determinant – for determining the criminal
INTEGRITY PROGRAMS WITH CRIMINAL LAW disapproval – represents a concealed assignment of legislative competence
This topic aims to expose and question distresses regarding the imple- to a private entity or group of entities, a situation that is irreconcilable with
mentation of a normative compliance program, mainly in terms of criminal notion of criminal law, and hence of State governed by the rule of law. This
law inserted in a context of regulated self-regulation. privatization also means the abandonment of state punishment, with the
According to COCA VILA22, the barriers imposed in relation to the consequent return to a private solution for criminal cases, which are the most
acceptance of said regulatory model are inversely proportional to the degree of serious conflicts in society. Beyond any doubt, that constitutes the legitimacy
State intervention. Thus, the greater the regulatory space occupied by the state deficit of regulated self-regulation in relation to criminal matters.
entity, most legitimized will be the form of regulated self-regulation. In addi- Criminal law is essentially public, in addition, the notion of penalty would
tion, the tolerable level of flexibility of the principle of legality depends on the be diluted in a system in which private subjects would decide what constitutes, or
not, a crime25. When considering compliance as a form of self-regulation, there
21. In a sense similar to the stance of writers such as: ORTIZ DE URBINA GIMENO, Iñigo. Compliance
y sanciones penales para La empresa in [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbi- are some normative problems. Firstly, there is uncertainty as to the legitimacy of
na Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013; KUHLEN,
Lothar. Cuestiones fundamentales de compliance y Derecho penal in [Lothar Kuhlen, Juan Pablo
Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Mar-
cial Pons, 2013; PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (en especial, posición de garante) de 23. BECK, Ulrich in BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: polí-
los compliance officers pages 207-218 in Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial tica, tradição e estética na ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2012. pages 18-22.
Pons, 2013. 24. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op. cit.
22. COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada?… op. page 52.
cit. page 52. 25. Ibidem. Page 69.
438 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 439

delegating state regulatory functions to private sectors. KUHLEN26, referring tion of containment dam of the State Governed by the Rule of Law31. In that
to an analogy made by SCHÜNEMANN, questions whether this would not context, attempts are made to provide solutions to new criminal problems
be similar to putting the fox to take care of the chicken coop. through the use of instruments that give rise to other questions. Therefore,
The consequences that compliance generates on the criminal justice such fundamental principles as legality, minimum intervention and respect
system are set out as relevant problems. Putting one of these programs into for procedural guarantees are stressed.
place would lead to a reduction, or even a withdrawal, of sanctions from the Reactive criminal law, aimed at repressing active conduct that produces
State and directed at companies. Another focal point concerns the results harmful results (damage) as a rule to individual legal assets, becomes an in-
obtained by the internal investigations carried out by the companies and to strument of social control that is predominantly concerned with preventing
what extent they could be used in criminal proceedings, for instance27. the occurrence of crimes, especially of danger (abstract or concrete), arising
Internal investigations conducted by companies, in addition to putting from often neglectful conduct (proper or improper) and which offend legal
workers in an even more vulnerable position, can be handled as a filter that assets of supra-individual nature32.
purges the ascertained content according to the interest of the corporation Blank criminal law, abstract danger, supra-individual legal asset, im-
and to the detriment of the public interest. Hence, only the information proper neglectful crime and culpable crimes are elements that promote an
that would somehow interest the private sector would be reported to the advance of the barriers of charging or, more clearly, of criminal intervention.
authorities, with the private sector carrying out a sort of “ex ante” criminal The level of this advance will be directly proportional to the number of these
selection28. In this context, there would be, concurrently, a kind of privatiza- dogmatic instruments visualized in a particular criminal type.
tion of criminal prosecution allied to an advance of this intervention, now
Compliance is one more piece on that board. However, at the present
promoted by the private entity and not observing all the rights and guarantees
stage of the discussion of criminal problems, it is occupying a central position,
of the individual, which are, as a rule, respected by the public entity, creating
for integrity programs are entrusted with a duty to appease a large part of the
a fertile environment to abuse and invasive actions.
criminal law problems. The criminal liability of the legal entity, the privatiza-
2.2. REMOVAL OF THE CRIMINAL APPARATUS CHARACTERISTICS tion of criminal prosecution, the eagerness for greater efficiency in relation
Debates about self-regulation and noise that may be caused by the im- to criminal intervention and the prevention of the occurrence of crimes are
plementation of an integrity program in the criminal justice system do not topics that seem to revolve around systems of normative compliance.
represent a point outside the curve. On the contrary, they are inserted in a However, it is important to emphasize that the supposed solutions, for
context in which criminal law is confronting itself, questioning itself in order which there is an exciting optimism, often give rise to other problems even
to adapt to the current stage of the social paradigm of risk29. more difficult to circumvent, corroborating the intensification of negative
The great narratives are undone and the points of reference are diluted, aspects. In this sense, the warning presented by MONTIEL FERNÁNDEZ33
corroborating with a net criminal law30 and hindering the exercise of the func- is relevant, stating that the misapplication of a compliance program could
have the same effect as putting out fire with gasoline, since faulty practices
26. KUHLEN, Lothar. Compliance y Derecho penal en Alemania,in [Santiago Mir Puig, Mirentxu Cor-
coy Bidasolo e Victor Gómez Martín – dir.] Responsabilidad penal de la empresa y compliance. Pro- could lead to an increase in criminal risk. The problem itself is not that
gramas de prevención, detección y reacción penal. Madrid-Buenos Aires-Montevideo: Edisofer-BdeF,
2014. pages 106-107.
27. Idem. 31. ZAFFARONI, Eugenio Raul. O inimigo no direito penal. Translated by Sérgio Lamarão. 2. ed. Rio
28. GÓMEZ MARTÍN, Víctor. Compliance y Derechos de los trabajadores in [Lothar Kuhlen, Juan de Janeiro: Revan, 2007. pages 172-177.
Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: 32. In this sense, refer to the works by MACHADO, Marta Rodriguez de Assis. Sociedade do risco e
Marcial Pons, 2013. pages 130-132. direito penal: uma avaliação de novas tendências político-criminais. São Paulo: IBCCRIM, 2005;
29. BECK, Ulrich in BECK, Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: políti- MENDOZA BUERGO, Blanca. El derecho penal en La sociedad del riesgo. Madrid: Civitas, 2001.
ca, tradição e estética na ordem social moderna... op. cit. pages 18-22. 33. MONTIEL, Juan Pablo. Autolimpieza empresarial: Compliance programs, investigaciones internas
30. BAUMAN, Zygmunt. Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi. Translated by Carlos Alberto Me- y neutralización de riesgos penales. [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gi-
deiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. pages 56-58. meno – eds.], in Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. pages 242-243.
440 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 441

instrumentality, but the level of discretion of collective entities and the lack or not), in which there is a transfer of state duties to the private entity, which
of control of corporate actions, as well as the classification of implementing attains a much larger scope of action, representing in a certain aspect, a kind of
a rules compliance program as a penalty exemption clause, which theme will privatization, although partial, of criminal justice, it is observed that compliance
be later addressed in more detail. will play a relevant role in terms of advancing the barriers of charging, since the
Therefore, criminal law seeking to fulfill its role as manager of part of the criminal system, or something used as that (internal investigations and sanc-
risks anticipates its action in order to avoid that the threats derived from the tions from the private entity instituting the regulatory compliance program),
current social model be materialized. In order to do so, the criminal apparatus will apply on an even more anticipated instance. This anticipation, as it will be
uses the aforementioned mechanisms by which it advances punishability in seen in the next point, is organized and directed to specific recipients.
order to improve its preventive bias to the detriment of the reactive aspect34. Since criminal law is a containment damn for the police State37, thus
This anticipation conflicts, to a certain extent, with the principles of le- ensuring the State Governed by the Rule of Law, it is appropriate to state
gality and minimal intervention, distorting the ultima ratio quality of criminal that, mutatis mutandis, the basic structures of law must be safeguarded and a
law. In addition, the border between the criminal and administrative spheres privatization of typically criminal and criminal procedure tasks has be avoid-
becomes incrementally less comprehensible, becoming a very tenuous line35. ed, aiming at maintaining criminal law as a barrier of protection against an
authoritarian State, as well as against a self-organized and sophisticated irre-
Therefore, limits must be imposed on the progress of the barriers to sponsibility of the corporate world38.
charging, in order to ensure that criminal law does not become an apparatus
In view of the above, it can be seen that compliance can play a secondary
of punishment ante factum, remaining as a post factum instrument, since an
role in improving the company’s control over itself, however it should not
inherent characteristic of the criminal system is to be in delay, that is, acting
be characterized as sovereign towards the State, nor can it be capable of dis-
after the occurrence of the injury or the danger of injury, under penalty of an
missing or replacing the State operation, since hetero-regulation is essential.
authoritarian criminal law being in place, based on probabilities and stigmata.
Compliance programs can not represent an excessive advance of barriers on
Integrity programs can be characterized as an instrument capable, in certain charging, nor should they play a leading role in operating spaces occupied
circumstances, of assisting in the prevention of unlawful acts, including criminal by the State, under penalty of violation of the principles of minimum inter-
facts. Thus, those structures corroborate with the preventive bias that permeates vention and legality, respectively.
the current criminal system36. However, there are two distinct ways of observing The next item will continue the analysis of the tensions related to the
compliance as a preventive mechanism. First, within the scope of a model of consequences, mainly criminal, of implementing a code of normative compli-
hetero-regulation it would act at a pre-criminal instance, i.e., “non-criminal” ance. However, the questions will be drawn from the legal provisions, or from
moment, not necessarily corroborating with an advance of punishment. the application assigned to them, at the national and international scope, in
Otherwise, assuming a presupposed model of self-regulation (regulated order to provide a greater level of concreteness to the debate.

34. BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Crimes de perigo abstrato e o princípio da precaução na sociedade de 3. THE INTEGRITY PROGRAMS INSERTED IN THE BRAZILIAN
risco. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013 pages 71-74.
35. FEIJÓO SÁNCHEZ, BERNARDO. Sobre a “administrativização” do direito penal na “socie-
LEGISLATIVE REALITY
dade do risco”. Notas sobre a política criminal no início do século XXI in Revista Liberdades, nº Unlike several systems of law, Brazilian legislation is still incipient
7, May-August, 2011. page 01. Available at: http://www.revistaliberdades.org.br/site/outrasEdicoes/
outrasEdicoesExibir.php?rcon_id=84 Accessed on: 02/01/2019. in terms of criminal liability of legal entities39. That is the reason why the
36. “The behaviors are criminalized not because they are socially inadequate, but shall become it. Instead
of response and return, the emphasis is on preventing future major disturbances. ‘It does not refer to
offsetting the injustice, but to preventing damage; it is not the case of punishing, but of controlling, it 37. ZAFFARONI, Eugenio Raul. O inimigo no direito penal. Translated by Sérgio Lamarão. 2. ed. Rio
is not the case of returning, but of producing security; it is not the case of the past, but of the future’”. de Janeiro: Revan, 2007. pages 172-177.
FEIJÓO SÁNCHEZ, Bernardo. Sobre a “administrativização” do direito penal na “sociedade do 38. BECK, Ulrich. Sociedade de risco mundial: em busca da segurança perdida. Edições 70, 2015.
risco”... op. cit. page 32. http://www.revistaliberdades.org.br/site/outrasEdicoes/outrasEdicoesExibir. pages 63-64.
php?rcon_id=84 Accessed on: 02/01/2019. 39. The United States, Italy, Chile and Spain are examples of countries in which systems of law there is the
442 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 443

charging of crimes to the collective entity is possible only in some specific requirements it is possible to achieve a reduction of the fine, for example.
cases of environmental crimes. In addition, no criminal law, or at least ex- In addition, through leniency agreements, it is possible to impose on the
pressly referred as such, is in force which refers to integrity programs. The company the initiation or enhancement of the respective integrity program.
discussion on these subject matters, under the criminal perspective, is more It is also perceived an engagement of the Federal Government Comptroller
diffused and in-depth in the doctrinal environment, being more restricted in General’s Office regarding the encouragement and development of integrity
terms of the legislative and case law perspectives. programs, especially from the perspective of the public administration43.
Bill no. 236/2012, proposed by the Federal Senate and still in prog- At the state level, the legislative acts of Rio de Janeiro44 and the Federal
ress in that legislative house, concerns a new Criminal Code which wording District45 deserve special mention. Both of them provided for the existence
provides for an expansion of the criminal liability of collective entities40, pro- of an integrity program in order for companies to contract with the Public
viding indications of a possible legislative change. Therefore, the proposition Administration under certain circumstances related to the modality of con-
defended in this work has a connotation of lege ferenda. tracting and the concerned amounts.
In recent years, there have been some legislative provisions, at least as Those legal, federal, state, or district regulations, while not regulating
far as compliance is concerned. The Anti-Corruption Law, in force since compliance programs from a criminal perspective, provide some relevant
2013, has included in article 7 the provision that the existence of internal indications. First, they provide for the reduction of the penalty and not the
mechanisms and procedures for integrity, auditing and encouragement of exemption from liability, as a result of the existence of an apparently efficient
complaint of irregularities and the effective application of codes of ethics and compliance and which fulfills the parameters established by the legislation. In
of conduct would be taken into account when sanctions were applied, within addition, likewise international documents, they emphasize that the commit-
the scope of the legal entity. ment of the high hierarchy is one of the main parameters for the achievement
Decree no. 8420/2015, which regulates Law 12846/2013, besides pro- of an efficient code of ethics.
viding a definition of “integrity program”41 lists sixteen parameters that should
that assure prompt interruption of detected irregularities or infractions and timely remediation of the
be evaluated at the time of dosing the penalty to be imposed within the actual damages; XIII – proper diligence to contract and, as the case may be, inspect third-parties, such
scope of the administrative liability of the legal entity42. By observing these as suppliers, service providers, mediating agents and associates; XIV – checking, during the processes
of merger, acquisition and shareholding restructure, of committing of irregularities or wrongful acts
or the existence of vulnerabilities in the concerned legal entities; XV – continuous monitoring of the
possibility of holding legal entities criminally liable. integrity program aiming at its enhancement in prevention, detection and fighting of occurrence of
40. BRAZIL. FEDERAL SENATE. Bill no. 236/2012. Available at: https://www25.senado.leg.br/web/ injurious acts set forth in article 5 of Law no. 12.846, of 2013; and XVI – transparency of the legal
atividade/materias/-/materia/106404. Accessed on: November 17, 2018. entity in terms of donations to political candidates and parties.
41. “Article 41. For the purposes of this Decree, the integrity program consists, within the scope of a legal 43. FEDERAL GOVERNMENT COMPTROLLER GENERAL’S OFFICE. Coleção Programa de
entity, of the set of internal mechanisms and procedures for integrity, auditing and encouragement of Integridade. Available at http://www.cgu.gov.br. Accessed on January 03, 2019. This effort of the
complaint of irregularities and the effective application of codes of ethics and of conduct, policies and Brazilian government is also part of a strategy aimed at the country’s entrance in the Organization for
guidelines aimed at detecting and curing deviations, frauds, irregularities and wrongful acts practiced Economic Cooperation and Development (OECD), which has been developed since Brazil became a
against the national or foreign public administration.” signatory of the Convention Against Corruption of Foreign Public Officials in International Business
42. I – commitment of the legal entity’s senior management, including the boards and councils, evidenced Transactions, concluded in Paris, on December 17, 1997, according to the decree 3678, of 2000, avai-
by the clear and undoubted support to the program; II – standards of conduct, code of ethics, integrity lable at: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3678.htm.
policies and procedures, applicable to all the employees and administrators, irrespective of position 44. Law no. 6112 of 2018, of the Federal District. Article 1 “It is hereby established the mandatory imple-
or function performed; III - standards of conduct, code of ethics and integrity policies extended, as mentation of the Integrity Program in all the companies that celebrate contract, consortium, covenant,
needed, to third-parties, such as suppliers, service providers, mediating agents and associates; IV – pe- concession or public-private partnership with the Public Administration of the Federal District, in all
riodic training on the integrity program; V – periodic risk assessment to promote the necessary changes spheres of Authority, which value thresholds are equal to or higher than those of the bidding in the
to the integrity program; VI – accounting records that reflect in a comprehensive and accurate manner price taking modality, estimated between BRL 80,000.00 and BRL 650,000.00, even if by means of
the transactions of the legal entity; VII – internal controls that assure prompt preparation and reliability electronic auction and the term of the contract is equal to or longer than 180 days.”
of financial reports and statements of the legal entity; VIII – specific procedures to prevent fraud and 45. Law no. 7753, from 2017 of Rio de Janeiro. Article 1 “It is hereby established the mandatory imple-
wrongful acts within the scope of bidding procedures, in the performance of administrative contracts mentation of the Integrity Program in all the companies that celebrate contract, consortium, covenant,
or any other interaction with the public sector, even though mediated by third-parties, such as payment concession or public-private partnership with the direct, indirect and foundation public administration
of taxes, submission to inspections or attainment of authorizations, licenses, permits and certificates; of the State of Rio de Janeiro, which limits, in value, are higher than that of the competition bidding
IX – Independence, structure and authority of the internal instance in charge of applying the integrity modality, with one million and five hundred Thousand Brazilian Reais (BRL 1,500,000.00) being
program and inspecting its compliance; X – channels for denouncing irregularities, open and broadly assigned for civil construction works and engineering services and six hundred and fifty thousand
informed to employees and third-parties and means aimed at protecting the good-faith denouncing Brazilian Reais (BRL 650,000.00) for purchases and services, even if by means of electronic auction
parties; XI – disciplinary measures in cases of violation of the integrity program; XII – procedures and the contractual term being equal to or longer than one hundred and eighty (180) days.”
444 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 445

The Australian regulations46 point out and the Brazilian legislation fol- that the first criminal rule regarding integrity programs came from the par-
lows in the same direction. The behavior of top management with regard to quet and not from the Brazilian legislation branch. In addition, in 2015, even
the integrity program is the first of the five main pillars listed by the Federal without the formalization of the aforementioned ministerial orientation, in the
Comptroller General’s Office47. In addition, it is the first principle contained plea bargaining instrument included in Petition no. 5624 (Supreme Federal
in Law 12846 of 2013 and the first parameter for assessment of an integrity Court), an ancillary penalty provided to the signatory was the implementation
program contained in the decree 8420 of 2015. This commitment cannot be and evolution of a compliance program, as well as governance principles, in the
contaminated by means of a system in which the search for a shield against business management of the companies UTC/CONSTRAN and subsidiaries.
the possibility of criminal charge becomes an assumption, since that nuance Therefore, it is concluded that the discipline of criminal aspects related to the
would deviate, from the onset, the purpose of setting an integrity program. relevant subject matter is increasingly more relevant.
In view of the international scenario, as well as the profusion of doctrinal After presenting this Brazilian scenario of legal provisions on the regu-
debates and laws governing the subject matter, especially concerning the admin- latory compliance structures, it is important to filter out some of the tensions
istrative law and civil law, the criminal discipline of this instrument is latent. arising from the application of criminal legal provisions related to integrity
That is, it is very likely that some aspect or effect of a criminal nature will soon programs, in the international scenario, which will be done subsequently.
be a regulated due to the structuring, or not, of a corporate integrity program.
4. SOME NOTES ON THE APPLICATION OF INTEGRITY
This is an increasingly evident reality. It is not out of nothing that one
PROGRAMS IN THE INTERNATIONAL SCENARIO
of the largest news portals in Brazil has released a story about companies that
“increase investments in ‘compliance’ with the objective of rebuilding reputa- First of all, it should be pointed out that some divergences existing in
tion, complying with leniency agreements requirements and proceeding with countries that already deal with the referred topic regarding criminal law will
business.48” In addition, one of those corporations approached RINA, one of be exposed, and there is no intent of carrying out a comparative law analysis.
the world’s largest certifiers, in order to obtain certifications regarding compli- In the Spanish reality, the debate is quite warm, because in 2015 Organic Law
ance with ISO 19.600/2014 and 37.001/2016 standards which, respectively, no. 1 added some topics to article 31 of the Spanish Criminal Code aimed
certify that the company has implemented compliance management and at regulating compliance issues. Article 31 bis states that legal entities shall
anti-bribery standard models49. be exempted from criminal liability if certain conditions are fulfilled. Those
requirements, together, demanded from the collective body, constitute the
This context is also corroborated by the fact that the Federal Public Prose-
existence of a compliance program.
cutor’s Office, within the scope of Joint Orientation no. 1/2018, which governs
the plea bargaining, recommended, in item 32.1, the inclusion of corporate The Spanish Supreme Court, by first convicting a legal entity, through
governance and compliance obligations as a kind of counterpart to be required the adjudication of Judgment no. 154/2016, gave rise to some discussions
of the signatory of the plea bargaining50. It is important to primarily emphasize regarding the judicial application of the legal provisions regarding criminal
liability of the collective entity and the establishment of codes of ethics51. The
46. Australian Standard 3806-2006. Available at: http://aeaecompliance.com/images/documentos/AS- dissenting vote of Cándido Conde Pumpido Tourón, accompanied by other
3806-2006-Compliance-Standard.pdf Accessed on January 12, 2019.
47. Available at: https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/manual-gestao-de-ris- judges composing the Spanish Higher Court, criticized some controversial
cos.pdf. Accessed on January 06, 2019.
48. Article published on July 09, 2017. Available at: https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/
para-virar-a-pagina-empresas-da-lava-jato-investem-em-planos-anticorrupcao.ghtml Accessed on: indirectly, issuance of periodical activities report, withdrawal from the business activities for a certain
11.16.2018. period of time, as well as monitoring and external audits approved by the Federal Public Prosecutor’s
49. Available at: https://www.construtoraqueirozgalvao.com.br/construtora-queiroz-galvao-brasil-adota- Office, at the expenses of the signatory.” Available at: http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr5/
-praticas-internacionais-de-gestao-anticorrupcao/ Accessed on November 12, 2018. orientacoes/orientacao-conjunta-no-1-2018.pdf. Accessed on: March 20, 2019.
50. 32.1. In the cases where the signatory holds the shareholding control over a legal entity engaged in 51. SPAIN. Supreme Court. Judgment no. 154 of 2016. Available at: http://www.poderjudicial.es/cgpj/es/
the acts, it is recommended and there might be included in the plea bargaining, corporate governance Poder-Judicial/Noticias-Judiciales/El-Tribunal-Supremo-aprecia-por-primera-vez-la-responsabilidad-
and compliance obligations, also in the other companies controlled by said shareholder, directly or penal-de-las-personas-juridicas. Accessed on: november 07, 2018.
446 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 447

points of that decision. That minority vote, because of the principle of legality, view of implementation of a theoretically effective integrity program57.
refuted the winning theory in which it was imposed that the existence of an That consequence would be greatly enhanced if the burden of proof
integrity program would be an element composing the core of typicality. That as to the existence, or not, of an effective compliance program fess on the
argument has an undue content of openness and indetermination, since there prosecution. At this scenario, the implementation of a normative compliance
is no express legal provision supporting it, and therefore the postulate of cer- structure would operate as a sort of insurance for the corporations against the
tainty inherent in criminal law, in legality and in typicality is not observed52. structure of criminal prosecution.
In that case, the matter of evidences was discussed, since according to Another concern expressed by the Spanish parquet concerns the certifica-
the winning vote, it would be incumbent upon the plaintiff, concerning the tions that provide for the suitability of the integrity program. Although it may
charged legal entities, to prove that there was no culture of efficient normative attribute a positive value to the compliance mechanism adopted by the collec-
compliance, establishing a kind of privileged model of exception, with the tive entity, such private documentation can only assist the judge in forming the
legal entities benefiting in terms of the matter of evidences. The reasoning for value judgment, not replacing the judicial analysis, nor meaning a presumption
this claim would rest on the fact that the absence of effective prevention and of veracity capable of corroborating with an inversion of the burden of proof58.
control measures, i.e., the lack of an effective integrity program would be the In a system of criminal liability of the collective entity based on the defect of
core of typicality, being an autonomous element of the objective type, which the organization, those documents can set up an ex ante penalty exemption,
burden of proof, therefore, would be incumbent upon the plaintiff side. since they would attest that a particular company is a good corporate citizen59.
Therefore, it is observed that the winning vote tries to change the posi- Even in a context where the issue is already more stable, such as in the
tion of compliance in the scope of the analytical concept of crime, removing US system of law, there are criticisms expressed60. The “sentencing guidelines”
it from the hypothesis of exclusion of criminal liability for an element com- provide for the parameters that should be observed by a compliance, and also
posing the criminal type53. Thus, in order to hold the legal entity criminally set out the quantifiers regarding the account for reduction of the criminal pen-
liable, it would be necessary to demonstrate that the integrity program is alty61. In the American reality, due to the structuring of an integrity program,
not efficient. However, according to the minority vote, compliance would there might be a reduction of the fine imposed on the collective entity, or even
appear as a kind of cause for acquittal and, like all the other possibilities the withdrawal of criminal prosecution by the Public Prosecutor’s Office, in
for exemption from criminal liability, streamlined with the prevailing case the latter case without any criminal proceeding. In view of the level of detail
law in the Spanish legal system, the burden of proof must be borne by the provided by that manual, there is the warning that many companies structure
person alleging it, that is, the company that is defending itself in the criminal “sub-optimal” codes of ethics in order to fulfill the requirements listed in the
proceeding54. That is the modus operandi in relation to individuals and there “Guidelines Manual” and, through that the benefits therein set forth, to the det-
is no provision to the contrary, legitimizing an inversion of this vicissitude55. riment of a compliance program truly focused on compliance with the rules62.
In addition, the Spanish Public Prosecutor’s Office, through Circular Letter
57. Ibidem. page 40. In the same sense as the diverging vote, related to Judgment no. 154 of 2016 of the
no. 1/2016, detailed several concerns regarding the criminal liability of legal enti- Spanish Supreme Court. pages 85-89.
ties56. First, it warned about the possibility of emptying of the subject matter due 58. SPANISH PUBLIC PROSECUTOR’S OFFICE. Circular Letter no. 1, of 2016. pages 51-53; 62-63.
59. MATUS ACUÑA, Jean Pierre “La certificación de los programas de cumplimiento”. in ARROYO
to the possibility of exempting the collective entity from criminal sanctions in ZAPATERO, Luis y Adán NIETO MARTÍN. El Derecho Penal Económico en la Era Compliance.
Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013. pages148-151.
52. SPAIN. Supreme Court. Judgment no. 154 of 2016. page 88. 60. WELLNER, Philip A. Effective compliance programs and corporate criminal prosecutions. pages
497-528.
53. Ibidem. Page 87. 61. UNITED STATES OF AMERICA. Guidelines manual. 2016. Available at: http://www.ussc.gov/sites/
54. Ibidem. pages 85-86. default/files/pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf, accessed on December 12, 2018. Other com-
55. SPAIN. Supreme Court. Judgment no. 154 of 2016. pages 85-86. ments on the “Guidelines Manual” are available in the article “A prevenção geral positiva na sanção
56. SPANISH PUBLIC PROSECUTOR’S OFFICE. Circular Letter no. 1, of 2016. Sobre la responsa- aplicável à pessoa jurídica: crítica e sugestões”, of this collection produced by Gustavo Gustavo
bilidad penal de las personas jurídicas conforme a la reforma del código penal efectuada por ley Britta Scandelari and Guilherme Oliveira de Andrade.
orgánica 1/2015. 62. WELLNER, Philip A. Effective compliance programs and corporate criminal prosecutions. Car-
448 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 449

Both the analysis carried out by the Spanish Public Prosecutor’s Office not be shielded, despite these nuances, from criminal intervention in case he/
and the arguments expressed in the votes of the Spanish Supreme Court in she practices delinquent conduct65. The maintenance of a criminal law of the
the judgment of sentence 154/2016 make it clear that the Brazilian legisla- fact must occur both for individuals and for legal entities, with a coherence
ture should be very cautious in bringing compliance issues into the scope of of the criminal system.
criminal law. Until the present time, the Brazilian legislation seems to follow In addition to the advancement of barriers to charging, already high-
an appropriate path, providing only for the possibility of reducing the penalty lighted above, the integrity program may still be the instrument used to
due to the existence of a normative compliance structure. achieve a criminal system in which the selective criminal irresponsibility 2.066
is in force, which for the criminal responsibility of certain scapegoats, through
5. PROPOSITION OF LEGE FERENDA diffusion of the understanding that the problem was a part and not the
In this topic, which closes this article, arguments about the effects that engine, when in fact the engine is constituted such as to bring forth certain
structuring a compliance system should not cause in the criminal environ- subjects in favor of the concealment of so many others67.
ment will be raised and, in the sequence, an attempt will be made to delimit
That selectivity can even be outsourced, since depending on the legal pro-
the ​​criminal law area or area of criminal law operation that can be occupied
visions the company can carry out the criminal selectivity and hand over the
by the integrity programs.
selection to the executioner criminal law to carry out the task left to it: punishing
5.1. ORGANIZED IRRESPONSIBILITY 2.0 the individuals against whom a transfer of criminal responsibility was enacted.
The exemption of criminal liability of the legal entity due to the im- The Compliance as excluding factor of criminal responsibility of the
plementation of an integrity program does not seem adequate in view of legal entity is consistent with this conjuncture of irresponsibility. Or rather, of
a criminal law of the fact. A good corporate citizen who practices a crime organized selective accountability, wherein certain scapegoats or rotten apples
should be held liable for the criminal practice63. The past of the corporation are inserted into the radar of public authorities, in favor of concealment of
should be taken into account, in observance of the principles of culpability some individuals and legal entities, consubstantiating a white figure.
and the individualization of penalties, for the purpose of penalty reduction.
In that context, there would be a more sophisticated lack of respon-
However, to exempt a company that sought to implement a corporate culture
sibility, through the false appearance of accountability of collective entities,
of compliance with the rules, but nonetheless has committed crimes, or to
since despite the legal admission of criminal charges against legal entities, a
punish a corporation that did not have the same care, which is not a careful
structured movement would be observed aimed at exempting punishment
corporate citizen, but, nevertheless, has not caused any material damage to
for the corporation that has adopted an integrity program which meets, at
criminally protected legal assets, would represent a return to the criminal law
least apparently, certain requirements.
of the author, in which criminal selectivity, injustice, authoritarianism and
figures, of the most varied nuances, are intensified64. Thus, it would be equipped and used as a shield in favor of legal en-
tities. In this seesaw of criminal liability, the heaviest side (corporation and
Consequently, that only assists in the understanding that the integrity
top management) will, as a rule, be immune to criminal sanctions, to the
programs, alone, cannot exclude criminal liability of the collective entity.
detriment of the more fragile side, i.e. employees who occupy lower spaces
Likewise, an individual who has a history of prudence and normative behav-
ior and obtains a doctor’s degree from a public or private institution, should 65. Ibidem. pages 150-154.
66. An updated version of the term used by Ulrich Beck.
dozo Law Review. New York, vol.27-1, page 497, October, 2005. pages 505-508. 67. On the white figure, refer to: PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (em especial, posición
63. MATUS ACUÑA, Jean Pierre “La certificación de los programas de cumplimiento”. in ARROYO de garante) de los compliance officers. pages 207-218 in Compliance y teoría del Derecho Penal.
ZAPATERO, Luis y Adán NIETO MARTÍN. El Derecho Penal Económico en la Era Compliance. Madrid: Marcial Pons, 2013. pages 209-2010; On the rotten apples, refer to: PRITTWITZ, Cornelius.
Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013. pages 148-150. A função do direito penal na sociedade globalizada do risco: defesa de um papel necessariamente
64. MATUS ACUÑA, Jean Pierre “La certificación de los programas de cumplimiento... op. cit. pages modesto, in AMBOS, Kai, BÖHM, María Laura. (coord.). Desenvolvimentos atuais das ciências cri-
148-150. minais na Alemanha. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. pages 64-65.
450 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 451

in the corporate hierarchy, as well as the compliance officer68. more serious nature, are essentially good, the doubt lies on what inflows both
can take depending on the value assign to them in the criminal law sector.
5.2. THE SPACE TO BE ASSIGNED FOR THE INTEGRITY
PROGRAMS Precisely to avoid the distortion of this structure of normative compliance,
this paper poses these aforementioned the questions and concerns.
SILVEIRA69 elaborates, and considers to be fundamental to understand
this subject matter, three questions that were answered throughout this article In view of the foregoing, it is concluded that it is better to keep integ-
and which conclusions will be summarized below. Normative enforcement rity programs away from criminal law. Obtaining an advantage over criminal
structures cannot substitute for state action regarding primary criminalization sanction may be a consequence of implementing a code of conduct, but
nor secondary criminalization, under penalty of unbearable violation of the never an assumption from which an apparent corporate culture of regulatory
definition and certainty that compose the principle of legality. compliance will be developed.
Criminal law is the ultima ratio of the system of law, since it cor- Corporations must also realize this advantage, even under the econom-
responds to the most severe instrument of intervention of the law, not ic bias, since at the present stage of the social paradigm of risk, we observe
accepting the outsourcing of the imposition of sanctions and criminal criminal law turned into a performance show. In that environment, there
prosecution. It is therefore an area of law
​​ in which the public nature is are negative instantaneous effects towards legal entities. That is, no matter
highlighted, not accepting privatizations of the State’s primary functions much they manage to shield themselves from criminal conviction through
concerning the application of this apparatus. Therefore, it can be seen that the formalization, probably certified, of a structure of suboptimal or apparent
the corporation cannot be assigned the possibility, or the burden, of setting normative compliance70, and, therefore, are able to evade fines and other kinds
an internal procedure similar or substitute to the criminal proceeding and of punishments, the symbolic and instantaneous penal effects typical of a
that imposes, to the employees or to the stakeholders, sanctions similar to civilization of the spectacle71, will have already been applied and disseminated
the penalty. In other words, the “regulated” self-regulation cannot corres- by the mass media, giving rise to financial and goodwill losses, which may be
pond to an anticipated and privatized criminal proceeding in which the reversible or not to public opinion, to the market and to consumers72.
due legal guarantees are not observed and which serves as a filter of what
will be assessed by the public authorities. CONCLUSION
Criminal law is a legal instrument of social control formulated for a The objective of this article was to delimit the criminal law influences that
public environment of hetero-regulation. Thus, it has little or nothing to could be derived from the implementation of an integrity program. Aiming
contribute to self-regulation, which is developed from a private logic, other at this purpose, we first exposed some of the main regulatory models listed by
than to clearly establish which conducts can activate the trigger of criminal the doctrine, opting for the maintenance and adaptation of a hetero-regulatory
intervention, so that companies, upon exercising the activity that is appropri- model to the detriment of self-regulation, even if regulated, based on the as-
ate and compatible to them, achieve the appropriate conditions for taking the sumption, as expressed in the introduction, that there is no necessary relation
measures they deem necessary for due compliance with the legislation in force. among criminal liability of legal entities, compliance and self-regulation.
Compliance is essentially good, and certifications, primarily those of a In the subsequent topic, some points of stress were discussed, especially
verified between the self-regulatory structures and the criminal law inserted
68. PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (em especial, posición de garante) de los compliance
officers... op. cit. pages 216-218.
69. Questions are made under the following terms “To what extent could the Criminal Law use the rules 70. WELLNER, Philip A. Effective compliance programs and corporate criminal prosecutions… op.
of behavior of the private corporate systems as complement for criminal rules? The second question cit. pages 505-508.
would refer to the actual substance of the specific sanctions of the self-regulating system and whether
they could, somehow, ensure compliance with their rules. Finally, the fundamental strategic question: 71. VARGAS LLOSA, Mario. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa
how would the (Criminal) Law operate to favor or improve self-regulation? Once these questions are cultura. Translation by Ivone Benedetti. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. pages 29-32.
answered, could there be or not a criminal logics in this self-regulation?”. SILVEIRA, Renato de Mello 72. BARRILARI, Claudia Cristina. Crime empresarial, autorregulação e compliance. São Paulo:
Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, direito penal... op. cit. Page 73. Thomson Reuters Brasil, 2018. pages 82-83.
452 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Fábio Augusto Tamborlin 453

in a system that privileges them. Privatization of a portion of criminal prose- CONSTRUTORA QUEIROZ GALVÃO. Available at: https://www.construtoraqueirozgalvao.com.br/
construtora-queiroz-galvao-brasil-adota-praticas-internacionais-de-gestao-anticorrupcao/
cution coupled with undue advance of barriers to charging are two probable
Accessed on November 12, 2018.
effects that corroborate the denaturalization of the basic foundations of crim-
SPAIN. Supreme Court. Judgment no. 154 of 2016. Available at: http://www.poderjudicial.es/cgpj/
inal law: legality and minimal intervention. es/Poder-Judicial/Noticias-Judiciales/El-Tribunal-Supremo-aprecia-por-primera-vez-la-responsabili-
dad-penal-de-las-personas-juridicas. Accessed on: November 07, 2018.
In the sequence, an attempt was made to expose some of the main de-
UNITED STATES OF AMERICA. Guidelines manual. 2016. Available at: http://www.ussc.gov/
bates verified in the international scenario regarding the integrity programs sites/default/files/pdf/guidelines-manual/2016/GLMFull.pdf. Accessed on December 12, 2018.
and the legal inflows, mainly criminal, that might derive from the installation FEIJÓO SÁNCHEZ, BERNARDO. Sobre a “administrativização” do direito penal na “sociedade
of those structures of internal control. Although in the Brazilian reality this do risco”. Notas sobre a política criminal no início do século XXI in Revista Liberdades, nº 7, May,
August, 2011. page 01. Available at:
discussion is still “lege ferenda”, it seems clear that it has been gradually losing
http://www.revistaliberdades.org.br/site/outrasEdicoes/outrasEdicoesExibir.php?rcon_id=84 Accessed
its latency status, due to the publication of several legal provisions, not yet of on: 02.01.2019.
a criminal nature, regarding the referred subject matter. FISCALÍA GENERAL DEL ESTADO. Circular 1/2016 sobre la Responsabilidad Penal de las
Personas Jurídicas conforme a la reforma del Código Penal efectuada por Ley Orgánica 1/2015.
The conclusion reached, by the end of this research, was that integrity Madrid, 22 de enero de 2016. Available at: https://www.fiscal.es/fiscal/PA_WebApp_SGNTJ_NFIS/
programs may have the criminal law effect of reducing possible criminal descarga/Circular_1-2016.pdf?idFile=81b3c940-9b4c-4edf-afe0-c56ce911c7af Accessed on: August
10, 2018.
sanctions imposed on the company, but they should not play a leading role
GLOBAL JUSTICE NOW. Available at:https://www.globaljustice.org.uk/news/2016/sep/12/10-big-
within the scope of criminal prosecution, under penalty of distorting the gest-corporations-make-more-money-most-countries-world-combined. Accessed on: November 08,
normative compliance structure, with the consequent development of a kind 2018.

of organized irresponsibility 2.0, even more sophisticated than the previous GOMES-JARA DÍEZ, Carlos. La incidência de la autorregulación en el debate legislativo y doctri-
nal actual sobre la responsabilidad penal de las personas jurídicas. p. 249-318 in Autorregulación y
one and permeated by a selective bias. Sanciones. 2 ed. Thomas Reuters Aranzadi.
GÓMEZ MARTÍN, Víctor. Compliance y Derechos de los trabajadores in [Lothar Kuhlen, Juan
BIBLIOGRAPHICAL REFERENCES Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid:
Marcial Pons, 2013.
AUSTRALIAN STANDARD 3806-2006. Available at:http://aeaecompliance.com/images/documen-
tos/AS-3806-2006-Compliance-Standard.pdf. Accessed on January 12, 2019. KUHLEN, Lothar. Cuestiones fundamentales de compliance y Derecho penal in [Lothar Kuhlen,
Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho Penal.
BECK, Ulrich. Sociedade de risco mundial: em busca da segurança perdida. Edições 70, 2015. Madrid: Marcial Pons, 2013.
_____;GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na _____. Compliance y Derecho penal en Alemania, in [Santiago Mir Puig, Mirentxu Corcoy Bidasolo
ordem social moderna. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2012. e Victor Gómez Martín – dir.] Responsabilidad penal de la empresa y compliance. Programas de pre-
BARRILARI, Claudia Cristina. Crime empresarial, autorregulação e compliance. São Paulo: Thom- vención, detección y reacción penal. Madrid-Buenos Aires-Montevideo: Edisofer-BdeF, 2014.
son Reuters Brasl, 2018. LASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Antonio. 2013 “Compliance, debido control y unos refrescos”. pag-
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi. Translated by Carlos Alberto Me- es 111-135. in ARROYO ZAPATERO, Luis y Adán NIETO MARTÍN. El Derecho Penal Económico
deiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. en la Era Compliance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013.

_____; BORDONI, Carlo. Estado de crise. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. MACHADO, Marta Rodriguez de Assis. Sociedade do risco e direito penal: uma avaliação de novas
tendências político-criminais. São Paulo: IBCCRIM, 2005.
BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Crimes de perigo abstrato e o princípio da precaução na sociedade de
risco. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. MAROTO-CALATAYUD, Manuel. Liberalismo vs. Neocorporativismo: los discursos de la autor-
regulación como discursos legitimantes. pages 73-95 in Autorregulación y sanciones. 2. ed. Thomson
BRAZIL. FEDERAL SENATE. Bill no. 236/2012. Available at: https://www25.senado.leg.br/web/ Reuters Aranzadi.
atividade/materias/-/materia/106404. Accessed on: November 17, 2018.
Article published on July 09, 2017. Available at: https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/
CGU. Available at: https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/manual-gestao- para-virar-a-pagina-empresas-da-lava-jato-investem-em-planos-anticorrupcao.ghtml Accessed on:
de-riscos.pdf. Accessed on January 06, 2019. 11.16.2018.
COCA VILA, Ivó. ¿Programas de cumplimiento como forma de autorregulación regulada? in [Jesús MATUS ACUÑA, Jean Pierre2013 “La certificación de los programas de cumplimiento”. in AR-
María Silva Sánchez – dir.] Criminalidad de empresa y compliance: prevención y reacciones corporati- ROYO ZAPATERO, Luis y Adán NIETO MARTÍN. El Derecho Penal Económico en la Era Compli-
vas. Barcelona: Atelier, 2013. ance. Valencia: Tirant Lo Blanch, 2013. pages 145-154.
454 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

MENDOZA BUERGO, Blanca. El derecho penal en La sociedad del riesgo. Madrid: Civitas, 2001.
MONTIEL, Juan Pablo. Autolimpieza empresarial: Compliance programs, investigaciones internas y
neutralización de riesgos penales in Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno
– eds. in Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013.
NA ROTA DO DINHEIRO SUJO. Netflix. 2018.
NIETO MARTÍN, Adan. Problemas fundamentales del cumplimiento normativo en el Derecho ANALYSIS OF THE MODEL OF LEGAL ENTITIES
penal in [Lothar Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y
teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. LIABILITY FOR ACTS OF CORRUPTION IN
ORTIZ DE URBINA GIMENO, Iñigo. Compliance y sanciones penales para La empresa in [Lothar BRAZIL BASED ON THE ITALIAN PARADIGM
Kuhlen, Juan Pablo Montiel e Iñigo Ortiz de Urbina Gimeno – eds.] Compliance y teoría del Derecho
Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013.
Roberson Henrique Pozzobon
PRITTWITZ, Cornelius. La posición jurídica (em especial, posición de garante) de los compliance
officers pages 207-218 in Compliance y teoría del Derecho Penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. Suzana Rososki de Oliveira
PRITTWITZ, Cornelius. A função do direito penal na sociedade globalizada do risco: defesa de um
papel necessariamente modesto, in AMBOS, Kai, BÖHM, María Laura. (coord.). Desenvolvimentos Abstract: Analysis of convergences and divergences between the Italian and Brazilian sys-
atuais das ciências criminais na Alemanha. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. tems legal entities liability for acts of corruption. Checking on whether the criticisms to the
SIEBER, Ulrich. Programas de ‘compliance’ en el Derecho penal de la empresa, p.63-110 in [Adán Legislative Decree no. 231/01, in Italy, in the sense of having a criminal and non-admin-
Nieto – org.] El derecho penal económico en la era compliance. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013. istrative nature, would apply to the Brazilian system, governed by Law no. 12.846/2013.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-Maria. Fundamentos del Derecho penal de la empresa. 2. ed. amp. Y ac- Keywords: Legal entities. Liability. Corruption. Brazil. Italy.
tual. IBdeF. 2016.
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, direito penal e lei anticor-
rupção. São Paulo: Saraiva, 2015.
1. Allegory of Lonetal and the legal fictions that come to life
THE CORPORATION. Direction: Joel Bakan, Jennifer Abbott e Mark Achbar. Production: Jennifer In 1939, in the German state of Baden-Württemberg, in the Hohlens-
Abbott and Mark Achbar. Canada: Big Picture Media Corporation, 2003. 145 min. Available at: www. tein-Stadel cave, located in the Lonetal river valley, the archaeologist Otto
youtube.com.
Volzing rescued a sculpture with more than 32,000 years of age, called
VARGAS LLOSA, Mario. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa
cultura. Translation by Ivone Benedetti. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. “lion-man” or “lion-woman”1 . As recalled by Yuval Noah Harari2, in his ce-
WELLNER, Philip A. Effective compliance programs and corporate criminal prosecutions. Cardo- lebrated work “Sapiens: A Brief History of Mankind”, that was the symbol
zo Law Review. New York, vol.27-1. October, 2005. chosen by Peugeot to adorn the hood of the thousands of vehicles manufac-
ZAFFARONI, Eugenio Raul. O inimigo no direito penal. Translated by Sérgio Lamarão. 2. ed. Rio tured by it, all over the world. And that was not by chance, since Peugeot,
de Janeiro: Revan, 2007.
_____; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 11 ed. rev. E
a car manufacturer which now employs more than 200,000 people across
atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. the globe and attains revenues of about 55 billion euros a year, began as a
family business in the village of Valentigney, about 300 kilometers distant
from Stadel’s cave, where the “lion-man” or “lion-woman” was found.
Peugeot, Harari continues, is not the thousands of vehicles manufac-
tured by it (all of them could be concomitantly destroyed in junkyards on
the same day, which would not prevent new ones being manufactured and
the company from continuing to exist); it is not the hundreds of factories,
machinery and showrooms it holds (all that structure could be sold and
1. Scholars diverge about the genre of the icon, with some saying that the statuette represents human
body with male lion head, while others say that it would be a female lion head.
2. HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Translation by Janaína Marcoan-
tonio. 5ª Ed., Porto Alegre: L&PM, 2015, pages 36-40.
456 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 457

replaced overnight and the company would not cease to exist); it is not On the other hand, at a global level, it is somewhat recent the joining
the thousands of its employees (they could be mass dismissed, to rehire of a greater number of nations to the movement that seeks recognition of the
others, and even in that case the company would not cease to exist); and legal entities’ capacity of to be held liable for crimes and offenses committed
neither are its shareholders (all its shares could be sold suddenly without by them5. Gradually, however, reality has shown that collective entities often
the company ceasing to exist)3. have injurious potential which is considerably greater in practicing offenses,
Particularly for what concerns the study herein, and that is why the rescue compared to individuals6.
of the allegory is justified, it should be pointed out that both the statuette of If legal entities, when operating properly, bring great usefulness to life in
the “lion-man” or “lion-woman” of Stadel, and the great car maker Peugeot, are society, it is also true that when they deviate from their duties and purposes,
no more than human representations, products of our imagination. Specifically they have a much greater harmful potential than individuals, mainly when
concerning Peugeot, it is a legal fiction of the “limited liability company” type, they are reserved in the system of law a place of relative irliability.
a category that in the United States is referred to as corporation. An irony, The recognition of this great harmful potential of the corporations
as Harari highlighted, since the term “corporation” derives from “corpus,” or guides the incrementally urgent need to identify and approve appropriate
“body,” in Latin, precisely what corporations do not have. legislative measures to address the phenomenon, in recent years7.
The absence of a body, however, did not prevent corporations from Therefore, this work intends to analyze whether the beacons placed
being born, growing and reproducing all over the world. Legal fictions created by the Brazilian system of law for holding the legal entities liable for acts
for the primary purpose of enhancing the lives of people made of flesh and of corruption, through Law 12.846/2013, qualify our model as eminently
blood in society, corporations have become giant actresses of modern life. administrative, as expressly declared by law, or as criminal.
Unlike individuals, who have their own conscience and dignity, holding Considering that the same examination has already been carried out
rights by the simple fact that they are human, legal entities, who depend on for almost two decades, according to the Italian system of law, which has
humans and exist to serve them, receive rights to better fulfill their purposes. allowed holding legal entities liable for acts of corruption by means of
Although being legal fictions, the corporations have gained “life” in the Legislative Decree no. 231/01, the guiding principle of this article will be
contemporary world and are in constant expansion. Since they have emerged the comparison of both regulations.
they have become increasingly important and present in social life, which is In that context, this work proposes an examination on whether the
the reason why they are gradually seeking to expand the spectrum of rights legislative option expressly declared in law in Italy and Brazil, to hold legal
they are entitled to. Therefore and due to the progressive increase in the entities administratively liable for acts of corruption, is in fact adequate to
quantity, autonomy and power of those legal entities across the world, it the reality of the regulatory provisions set forth there and here.
is increasingly difficult to find human rights that are not also extended to
For this purpose, the first two chapters will analyze the convergences
collective entities4.
and divergences between the Italian and Brazilian systems of holding legal
3. That also does not mean that Peugeot is invulnerable or immortal. As properly observed by the Israeli
writer, just a court order would be sufficient to wind-up the company so that, despite maintaining las do Superior Tribunal de Justiça. Ano 5. Vol. 17 (Mar. 2011). Brasília: STJ, 2011, pages 85-86.
its entire physical and personnel structure, it would cease to exist (in HARARI, Yuval Noah. Sa-
piens: uma breve história da humanidade. Translation by Janaína Marcoantonio. 5ª Ed., Porto Alegre: 5. ARBIA, Elisa. Dal brocardo societas delinquere non potest ala graduale responsabilizzazione dela
L&PM, 2015, page 37). persona giuridica. Sapienza Legal Papers, 53 (2012), page 53.
4. In Brazil, for example, the firm case law understands that legal entities can be subjected to non-pro- 6. Acknowledging to the legal entities the possibility of practicing wrongful acts in their own name
perty damage. In this sense, refer to precedent no. 227 of the Higher Court of Justice (STJ), published without allowing, at the same time, their being holding responsible for the wrongful acts eventually
in 1999, with the following substance: “The legal entity can be subjected to non-property damage”. practiced would correspond to setting a zone of privilegie and immunity that is obviously unjustifiab-
To acknowledge that a legal entity can be subjected to non-property damage, and, to that extent, be le. In “POSTERARO, Nicola; ROLLI, Renato Rolli. Responsabilita Degli Enti Dipendente da Reato
compensated for that, the STJ stated that there might be two types of honor: i) subjective, related to Analisi Sommaria dell’Apparato Sanzionatorio e del Suo Regime Prescrizionale, La, 3 Bocconi Legal
dignity, self-esteem, own respect and, therefore, inapplicable to legal entities; and ii) objective, related Papers 149 (2014), pages 152/154.”
to respect or consideration that individuals or legal entities have in a community. That rationale was 7. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas
explained in the adjudication of the Special Appeal no. 129.428-RJ (97.289818), in: Revista de Súmu- publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, page 265.
458 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 459

entities liable for acts of corruption, regulated in Italy through Legislative Italian system of law. This normative document established the possibility
Decree no. 231/01 and in Brazil through Law 12.846/2013, also known as of legal entities being held liable for the practice of certain types of crimes,
Anti-Corruption Law. including offenses of corruption and concussion.
Subsequently, and based on the symmetries (chapter 2) and asymme- However, it cannot be said that the approval of that Legislative Decree
tries (chapter 3) found between both legislative frameworks, the study will revealed Italy’s pioneering, in the world or in the European territory, in en-
verify whether the criticisms made to Decree no. 231/01, in the sense that it abling holding corporations liable. On the contrary, the approval of Decree
would have a predominantly criminal and non-administrative nature, would 231/01 occurred in a context in which Italy sought to purge its arrears to the
apply to the system of holding legal entities liable for acts of corruption in international community regarding regulation of the subject matter.
Brazil, regulated by Law 12.846/2013. Indeed, the fast increase of corporate crime rate in the world, which
The study, therefore, uses comparative methodology, but does not pro- repercussions often overflow national boundaries, plus the fact that many
pose to perform specifically an analysis of comparative law. countries in Europe had already established the possibility of holding legal
entities liable for such offenses (France, United Kingdom, The Nether-
2. Convergences between the Italian and Brazilian systems of lands, Denmark, Portugal, Ireland, Switzerland and Finland)10, and also
legal entities liability for acts of corruption the commitments undertaken by Italy to the international community11,
Both in Italy in 2001 and in Brazil in 2013, legislators opted for ex- culminated in the approval of Delegated Law 300, dated 09.29.2000. That
pressly stating in Legislative Decree no. 231/01 and in Law 12.846/2013, normative document, in its article 11, delegated to the Italian Government
respectively, that the nature of legal entities liability for acts of corruption the regulation of legal entities administrative liability12, which was carried
would not be criminal, but administrative. If in Italy it was expressly stated out the following year, through Decree 231/01.
in article 1 of Legislative Decree no. 231/018 that its purpose is to regulate The opportunity for the introduction of collective liability of legal en-
the “liability of the institutions for administrative infraction dependent on a tities in Italy was thus the ratification of several international acts that led to
crime”9, in Brazil, article 1 of Law 12.846/2013 set forth: “this Law provides the creation, through Decree 231/01, of an autonomous system that began
for the objective administrative and civil liability of legal entities for the prac- to regulate – substantially and procedurally – the liability of legal entities13.
tice of acts against national and foreign public administration.” Approval of Law 12.846/2013 in Brazil was also largely driven com-
As it will be explained later, despite the significant differences between mitments internationally undertaken by Brazil to address corruption14.
the Brazilian and Italian systems of holding legal entities liable for acts of The following are among the international treaties signed by Brazil on
corruption, the similarities between Law no. 12.846/2013 and Legislative 10. RUGGIERO, Rosa Anna. Cracking down on Corporate Crime in Italy, 15 Wash. U. Global Stud. L.
Decree no. 231/01 are not restricted to the nature of liability declared by law. Rev. 403 (2016), page 02.
11. Notably the Convention dated July 26, 1995 on protection of financial interests of the European Commu-
nities, the Convention on the fight of corruption attended by officials of the European Communities or
2.1. Congener genus officials of the European Union Member States, drawn up by the Council on May 26, 1997 and, lastly, the
OCDE Convention, dated November 17, 1997, related to the combating bribery of foreign public officials
On June 8, 2001, Legislative Decree no. 231/01 was enacted in the in international business transactions (in: SANT’ORSOLA, Fabrizio di; GIAMPAOLO, Silvia. Liability of
Entities in Italy: Was it Not Societas Delinquere Non Potest, 2 New J. Eur. Crim. L. 59 (2011), page 60).
12. Articles 11 and 14 of Law no. 300, dated September 29, 2000, delegated to the Italian government to
8. “Article 1º, 1. Il presente decreto legislativo disciplina la responsabilita degli enti per gli illeciti am- approve, within eight months, a legislative decree regulating the administrative liability of collective
ministrativi dipendenti da reato.” Available at: “http://www.camera.it/parlam/leggi/deleghe/01231dl. entities and societies, associations or organisms without legal personality that do not play cons-
htm”. Accessed on 09.20.2018. titutionally relevant functions. Available at: “http://www.parlamento.it/parlam/leggi/00300l.htm”,
9. Although the Italian legislature has not expressly set in the Legislative Decree no. 231/01 a system for accessed on 09.09.2018.
legal entities criminal liability, by creating an objective connection between the personal violation, by the 13. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas
corporation managers and its administrative liability, it promoted a mighty relevant change since, as it shall publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, page 266.
be subsequently detailed, the Italian system of law was, until then, to a large extent guided by the Roman 14. CAPANEMA, Renato de Oliveira. Inovações da Lei no 12.846/2013. In: NASCIMENTO, M. D. do
adage “societas delinquere non potest” (in SANT’ORSOLA, Fabrizio di; GIAMPAOLO, Silvia. Liability (Org.). Lei Anticorrupção Empresarial. Aspectos críticos à Lei 12.846/2013. Belo Horizonte: Editora
of Entities in Italy: Was it Not Societas Delinquere Non Potest, 2 New J. Eur. Crim. L. 59 (2011), page 60. Fórum, 2014.
460 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 461

the subject, that deserve being mentioned: the Inter-American Conven- so-called definitive interdiction sanctions, applicable to cases in which
tion against Corruption (OAS); the International Convention against the collective entity, for example: i) has profited from the crimes and has
Corruption (UN); the United Nations Convention against Transnatio- already been convicted for at least three times in the last seven years; ii)
nal Organized Crime (Palermo Convention), and the Convention on is permanently used for the sole purpose of allowing or facilitating the
Combating Bribery of Foreign Public Officials in International Business practice of infractions.
Transactions of the Organization for Economic Co-operation and Deve- The Brazilian Anti-Corruption Law, in turn, sets forth two spheres
lopment (OECD)15. of liability: administrative and civil (judicial). It establishes that, in the ad-
Notwithstanding the Brazilian system of law having long established ministrative sphere, two types of sanctions may be applied to corporations
three spheres of liability (administrative, civil and criminal) for individuals (article 6, of Law 12.846/2013): a) fine; and b) extraordinary publication of
engaged in corruption practices, there was no specific legal basis in Brazil the convicting judgment.
for legal entities liability, for such wrongful acts. In the judicial sphere, however, the following types of sanctions may
This gap in Brazilian anticorruption legislation drew a lot of attention be applied, individually or cumulatively, pursuant to Law 12.846/2013
from foreign authorities in 2010, while Brazil was under review by the (article 19): a) loss of assets, rights or values that
​​ represent an advantage or
OECD Working Group on Bribery. As a result, there was strong interna- benefit directly or indirectly obtained from the infraction; b) suspension or
tional pressure on the Brazilian Executive Branch to regulate the subject partial interdiction of its activities; c) compulsory dissolution of the legal
matter, which leveraged it to submit the legislative bill that was later appro- entity; and d) prohibition of receiving incentives, subsidies, grants, dona-
ved by Congress under no. 12.846/201316. tions or loans from public bodies or entities and public financial institutions
or those controlled by the public authority, for a minimum term of one (1)
2.2. Highly coincident sanctions
and a maximum term of five (5) years.
Legislative Decree no. 231/01 and Law no. 12.846/2013 are also largely
It is thus perceived that the sanctions provided for in the abstract
convergent concerning the sanctions that can be applied to corporations that
by the Italian Decree and by the Brazilian Anti-Corruption Law are quite
violate their provisions.
similar. For a better visualization of the coincidences, observe the follo-
Decree no. 231/01 lists, in its article 9, the following administrative wing table:
sanctions: a) monetary sanction; b) sanctions of interdiction; c) seizure; d)
publication of judgment. Subsequently, still in article 9, it specifies that Legislative Decree no. 231/01 Law no. 12.846/2013
(Italy) (Brazil)
sanctions of interdiction include: a) the interdiction of exercising the ac-
tivity; b) suspension or revocation of authorizations, licenses or operating Monetary sanction penalty Fine
concessions to the commission of the offense; c) the prohibition of con- Loss of assets, rights or values that
tracting with the public administration, except to obtain the services of a represent advantage or benefit di-
Seizure
public utility service; d) exclusion of facilitation, loans, grants or subsidies rectly or indirectly obtained from
the infraction
and the possible revocation of those already granted; and e) prohibition of
advertising of goods or services. Extraordinary publication of the
Publication of the judgment
convicting judgment
Article 16 of Legislative Decree no. 231/01 also established the
Sanctions of Interdiction of the exercise of Suspension or partial interdiction of
15. QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Responsabilização Judicial da pessoa jurídica na Lei Anticorrupção. In:
SOUZA, J. M.; QUEIROZ, R.P. de.; (org.). Lei Anticorrupção. Salvador, Bahia: JusPodivm, 2015, page 284. Interdiction the activity the activities
16. PRADO, Mariana Mota; CARSON, Lindsey; CORREA, Izabela. The Brazilian Clean Company Act:
Using Institutional Multiplicity for Effective Punishment, 53 Osgoode Hall L. J. 107 (2015), page 115.
462 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 463

Suspension or revocation of of the two normative documents, compared herein, they both established
authorizations, licenses or harsh sanctions for legal entities who are classified within this second category.
operating concessions to the _
commission of the offense If the Brazilian Anti-Corruption Law provides for the possibility of
Prohibition to contract with compulsory dissolution in cases where it is proven: “that the legal personality
the public administration, has been ordinarily used to facilitate or promote the practice of wrongful
except to obtain the services of _ acts; or has been constituted to conceal or disguise unlawful interests or the
a public utility service
Sanctions of identity of the beneficiaries of the practiced acts” (article 19, § 1, I and II), the
Interdiction Prohibition of receiving incentives,
subsidies, grants, donations or loans
Italian Decree established permanent interdictions for corporations classified
Exclusion of facilitation, under this kind of situations.
from public bodies or entities and
loans, grants or subsidies and
public financial institutions or those
the possible revocation of tho- 2.4. National records of the “background” of punished legal entities
controlled by the public authority, for
se already granted
a minimum term of one (1) year and Both the Decree Law no. 231/01, article 80, and Law no. 12.846/13, arti-
a maximum term of five (5) years
cle 22, provide for national register of companies sanctioned under their terms.
Prohibition of advertising of
- The Brazilian Anti-Corruption Law not only established in its article 22
goods or services
Compulsory dissolution of the the National Register of Punished Companies – CNEP, aimed to make public
_
legal entity the penalties applied to legal entities that have violated its provisions, but also
A clear asymmetry between the two normative documents concerns the made its use compulsory for all powers and spheres of government. In addi-
fact that the sanction of compulsory dissolution of the legal entity, a kind of tion to the identification data of the punished person, the CNEP shall include
death penalty for the corporation, was foreseen only in the Brazilian normative information about the type of sanction, the date of application, and expiration
document. Sanctions of suspension or revocation of authorizations, licenses or date of the limiting or preventive effect of the sanction, as the case may be.
operating concessions and prohibition of contracting with the public adminis- As highlighted by the Ministry of Transparency and the Federal Gov-
tration, on the other hand, were set forth only by Legislative Decree no. 231/01. ernment Office of the Comptroller General, such register, as a measure of
It is true, however, that in certain cases the suspension or revoca- active transparency, enables civil society to control compliance with Law no.
tion, definitive or not, of certain authorizations and licenses of the legal 12.846/13 itself18.
entity (e.g.: revocation of the operating license starting at 10:00 p.m. to a The Decree Law no. 231/01 establishes, in article 80, in a very similar
nightclub), or prohibition of contracting with the public administration way to the Brazilian Anti-Corruption Law, a national register of administra-
for a company that only participates in public biddings, can have the same tive sanctions in which the excerpts of convicting judgments handing down
practical effect as a compulsory dissolution. definitive administrative sanctions applied to corporations that have violated
their terms are to be recorded.
2.3. Focus on “recoverable” corporations
Both models of legal entities liability for acts of corruption, Italian and 2.5. Statutes of Limitations
Brazilian, were designed based on the corporations that used illicit arrange- The statutes of limitation established by Decree-Law no. 231/01 and
ments to pursue legitimate economic results and not on intrinsically illegal Law no. 12.846/2013, typical of the administrative law, are quite similar.
undertakings17. The Italian Decree establishes, in its article 22 a time-barring statute of
On the other hand, although it has not been the main angle of analysis 18. Lei anticorrupção: manual de responsabilização administrativa da pessoa jurídica. Ministério da
Transparência e Controladoria-Geral da União. Brasília, 2018. Page 94. (Available at: https://www.
17. BEVILACQUA, Marco. La Responsabilita Degli enti ex d.lgs. n. 231/01: Una Comparazione tra cgu.gov.br/Publicacoes/responsabilizacao-de-empresas/ManualdeResponsabilizaoAdministrativade-
Civil Law e Common Law, 4 Sapienza Legal Papers 47 (2015), pages 49. PessoasJurdicasMaio2018.pdf. Accessed on feb.09.2019).
464 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 465

limitation of five years for the administrative penalties provided for therein. It would only be “for the thinking man-subject, who can be freely determined.21”
also sets forth that the time barring statute of limitation shall be interrupted The antagonistic trend, in turn, argues that the correct interpretation of
when precautionary measures are applied or when there is a challenge to the article 27 of the Italian Constitution does not exclude the possibility of hold-
administrative offense. ing legal entities criminally liable, but simply stipulates that persons cannot
Law no. 12.846/2013, in its article 25, also set forth that the infrac- be held criminally responsible for acts of third parties. Those adepts of this
tions provided for therein shall be time-barred in five (5) years as of the date chain advocate that if the “theory of the body” allows the legal acts practiced
of awareness of the infraction or, in the case of a permanent or continuous in the interest of legal entities by their representatives to be attributed directly
infraction, of the day on which it ceased. Furthermore, it expressly stated in to legal entities, the same rationale should apply to the illegal acts (crimes)
the sole paragraph of article 25 that, both in the administrative and judicial practiced by them in the interest of corporations22.
spheres, the time barring statute of limitation will be interrupted with the The Brazilian Constitution has a provision similar to that established in
initiation of a proceeding aimed at the investigation of the infraction. article 27 of the Italian Constitution, namely article 5, item XLV: “no penalty
shall pass from the person of the convicted person, and the obligation to
3. Divergences between the Italian and Brazilian systems of repair the damage and the declaration of loss of property shall be, under the
legal entities liability for acts of corruption law, extended to the successors and against executed, up to the limit of the
Notwithstanding the similarities between the Italian and Brazilian sys- value of the transferred assets.”
tems of legal entities liability for acts of corruption reported above, there are also The Brazilian constitutional provision, likewise the Italian, provides that
notable differences among such systems. Some of them – the main ones, as far criminal liability will necessarily be personal, that is, that persons can only be held
as the objective of this study is concerned – will be highlighted in this chapter. criminally liable for their own acts. The way in which article 5, item XLV, of the
3.1. Clear difference between similar constitutional provisions Brazilian Constitution was drafted, however, does not even admit the anthropo-
centric interpretation defended by part of the Italian doctrine, in the sense that
The strong external incentive that compelled the Italians to approve the
criminal liability would be exclusive to individuals. This is confirmed by the fact
Delegated Law 300/2000, which later resulted in Decree 231/01, faced, at
that the Brazilian Constitution itself expressly stated, in its article 225, § 3, that
the beginning of this century, great nuisance among the legal operators and
“conduct and activities considered harmful to the environment shall subject the
scholars in that country about the possibility of legal entities criminal liability.
offenders, whether individuals or legal entities, to criminal and administrative
For a long period, the Latin maxim “societas delinquere non potest” echoed sanctions, regardless of the obligation to repair the damages caused.”
in Italy, synthesizing the understanding that legal entities could not commit
crimes. As mentioned by Maristela Amisano Tesi19, those rejecting this form 3.2. Different triggers of liability
of liability of collective bodies based themselves on article 27 of the Italian As mentioned above, both Legislative Decree no. 231/01 and Brazilian
Constitution, which establishes that “criminal liability is personal.20” According Anti-Corruption Law (Law 12.846/2013) have opted to expressly indicate in
to them the “personal” referred to in the aforementioned constitutional provi- their first articles that the nature of the liability of the legal entities envisaged
sion would be linked to the individual, which is the reason why legal entities therein is administrative (in the Brazilian case, it is also civil).
criminal liability would not be appropriate. In addition, they questioned the In addition, both Law 12.846/13, article 223, as well as the Decree Law
criminal liability of collective bodies based on the argument that criminal law
21. TESI, Maristela Amisano. A responsabilidade penal das pessoas jurídicas no sistema italiano. In Re-
vista de Direito Brasileira, 2012, page 305.
19. TESI, Maristela Amisano. A responsabilidade penal das pessoas jurídicas no sistema italiano. In Re- 22. RUGGIERO, Rosa Anna. Cracking down on Corporate Crime in Italy, 15 Wash. U. Global Stud. L.
vista de Direito Brasileira, 2012, page 305. Rev. 403 (2016), page 03.
20. Available at: “https://www.senato.it/application/xmanager/projects/leg18/file/repository/relazioni/li- 23. Article 2. The legal entities will be objectively held liable, within the administrative and civil ranges,
breria/novita/XVII/COST_PORTOGHESE.pdf”, accessed on 09.09.2018. for the acts set forth in this Law practiced at their interest or benefit, exclusive or not.
466 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 467

no. 231/01, article 524, established that, in order for the legal entity to be held the perpetration of crimes by their proxies or representatives. On the contrary,
liable, it is necessary that the wrongful act was practiced in its interest or benefit. it set forth in its article 2 that “legal entities shall be held objectively liable, in
On the other hand, despite the fact that both normative documents the administrative and civil spheres, for the harmful acts set forth in this Law
have opted for such an explanation, the requirements set forth by each of practiced in their interest or benefit, exclusive or not”, subsequently establishing
the laws for the incidence of the administrative liability of the corporations in its article 5 a series of acts harmful to the national or foreign public admin-
are quite different. istration that, offending public (national or foreign) property, the principles
of public administration or the international commitments assumed by Brazil,
In Legislative Decree no. 231/01, the Italians used the expression “liabil-
may be subject to administrative or civil liability of legal entities .
ity of institutions for administrative offenses dependent on a crime”, ascribing
the corporations administrative liability for crimes committed by individuals For the legal entities liability in Brazil for acts of corruption, therefore,
who acted in their favor, which is still a somewhat ambiguous option25. unlike what happens in Italy, it is not necessary that a crime has been commit-
ted, either by the legal entity itself, or by one of its proxies or representatives.
In Italy, therefore, liability arises through the connection between a
crime, included among those strictly indicated by the legislature in Legisla- If in Italy legal entities are administratively liable for “crimes [includ-
tive Decree no. 231/01, practiced an individual linked to the institution by ing crimes against public administration] committed in their interest or for
a functional relationship, which can be either representative (article 5, 1, “a”, their benefit”, in Brazil the legislature did not even make reference to the
of the Decree Law no. 231/01) and subordinated (article 5, 1, “b”, of the criminal types of corruption or other crimes against public administration
Decree Law no. 231/01)26. in the Criminal Code, but set forth specific conduct within the scope of the
Anti-Corruption Law (article 5) that may lead to corporate liability.
In order for a legal entity to be liable in Italy, therefore, it is necessary that
an offense be committed by a subject who fulfills certain qualifications, that That is a relevant difference between the laws. Note, for example, the dif-
is, who belongs to the categories listed in article 5 of Decree Law no. 231/01. ferences between the criminal type of active corruption, set forth in article 333
Those categories include the company’s top executives, individuals who for- of the Brazilian Criminal Code28, and the administrative infraction set forth in
mally perform representation, management and decision-making activities on article 5, item I, of the Anti-Corruption Law29. If for the materialization of the
behalf of the company, individuals who perform such actual control or man- crime of active corruption it is necessary that the promise or offer of an undue
agement functions. The Italian legislature, therefore, adhered to a functional advantage to the public agent was made with the special purpose of obtaining
and pragmatic approach in the identification of the top management of the from him an action, omission or delay of compulsory act, the legal entity may
corporation, including in that category not only the subjects formally vested in be held responsible, under the terms of the Anti-Corruption Law, by simply
those positions, but also those who perform them in practice27. promising, offering or giving an undue advantage to the public agent, regardless
of the possible benefits it wishes to attain with such payments.
The Brazilian anti-corruption law (LAC), Law no. 12.846/13, on the
other hand, did not link the administrative or civil liability of legal entities to The quadrature established by Law no. 12.846/13 so that an act of cor-
ruption by a corporation is considered to be practiced and, to that extent, the
24. Article 5. Responsabilita’ dell’ente 1. L’ente e’ responsabile per i reati commessi nel suo interesse o a 28. “Article 333. – To offer or promise undue advantage to a public official, to determine him to practice,
suo vantaggio. omit or delay a compulsory act:
25. RUGGIERO, Rosa Anna. Cracking down on Corporate Crime in Italy, 15 Wash. U. Global Stud. L. Penalty – reclusion, from one (1) to eight (8) years and fine.
Rev. 403 (2016), page 05. Sole paragraph. The penalty is increased by one-third if, due to the advantage or promise, the employee
26. BEVILACQUA, Marco. La Responsabilita Degli enti ex d.lgs. n. 231/01: Una Comparazione tra delays or omits a compulsory act, or practices it infringing the functional duty”.
Civil Law e Common Law, 4 Sapienza Legal Papers 47 (2015), page 49. 29. “Article 5 For the purposes of this Law, harmful acts to the national or foreign public administration
27. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am- area all those practiced by the legal entities mentioned in the sole paragraph of article 1 which are
missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Available harmful to the public national or foreign property, the principles of public administration or the inter-
at: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natu- national commitments assumed by Brazil, defined as follows:
ra-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti- I – to promise, offer or give, directly or indirectly, undue advantage to a public official or to a third
-dellente. Accessed on Feb.08.19. person related to him”.
468 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 469

corporation can be punished, is broader than the quadrature established by for the administrative liability of the company to subsist, it is sufficient that the
criminal law so that a crime can be charged to an individual who has acted in crime is committed by a representative of the company, without, however, the
its favor. Thus, in Brazil, there will be cases in which the legal entity may be representative’s identification and conviction being a requirement.
held liable under the Anti-Corruption Law without a crime being committed The autonomy between the spheres of liability of individuals and legal
by one of its representatives, a situation that is directly different from what entities registered by Law 12.846/13 in Brazil, on the other hand, is much
occurs in the Italian system of law. broader. The Brazilian Anti-Corruption Law expressly stated in its article 3 that
3.3. Objective liability X linked subjective liability “the legal entity will be held liable independently of the individual liability” of
individuals. In addition, the provision expressly proclaims that “liability of the
Italy and Brazil have adopted the system of legal entities liability for acts
legal entity does not exclude the individual liability of its directors or managers
of corruption based on the “theory of autonomous fact”, according to which
or any individual, author, co-author or participant in the wrongful act.”
the corporation will be held liable even in cases where it is not possible to
identify the offending individual30. They did so, however, to varying degrees. 3.4. Strict typicality there; here not as much
The Brazilian Anti-Corruption Law established that the administrative li- Among the basic principles of criminal law, there is the principle of
ability of legal entities for corruption is objective (article 2). The Italian Decree, legality and its corollaries, the principles of anteriority and typicality. As a
in turn, in spite of having recognized in its article 8 that the legal entity liability fundamental guarantee for the application of Law, especially Criminal Law,
will not cease to exist in cases in which the offender is not identified or is not the principle of legality is expressly provided for in the Brazilian Constitution
recognized as responsible31, set forth specific rules of waiver of liability of the (article 5, XXXIX), which provides that “there is no crime without prior law
corporation for crimes committed by its senior executives and employees. that defines it, nor penalty without prior legal registration.”
In cases where the crime was committed by a person holding a man- The application of the principle of legality in the criminal sphere requires
agerial position within the legal entity, for example, Decree no. 231/01 not only that there is a criminal law and that it is prior to the crime, but also that
establishes that the entity will not be liable if it proves that, prior to the crime this law has restricted (not allowing, for example, analogy with the purpose of
or violation, it has adopted and effectively implemented organizational and incriminating the defendant) and certain (the description of the crime cannot
management patterns adequate to avoid it (article 6 of Decree no. 231/01), be too vague to the point of being considered indeterminate) application.
or yet if shows that the relevant manager committed the crime in his or her From this perspective, it is of utmost importance in the criminal sphere
own interest or advantage (article 5, item 2, of Decree no 231/01)32. to establish criminal types, that is, precise abstract descriptions of prohibited
It should be emphasized, anyway, that on May 9, 2013, in judgment or permitted actions34.
no 20060/2013, the Court of Cassation of Italy ruled that the administrative Decree no. 231/01 and the Brazilian Anti-Corruption Law are consid-
liability of a Bank (Citibank) could not be automatically excluded as a result of erably different with respect to the accuracy of the description of the conduct
the acquittal of one of its managers, originally held liable. As expressly stated by they consider illegal. Decree no. 231/01 refers to the incriminating types of
the Court, the (administrative) liability of the bank “has an autonomous char- the Italian Criminal Code35, therefore quite strict. Law no. 12.846/13, in
acter and can therefore exist even in the absence of a concrete conviction of the
subordinate or the top management of the company.33” As stated by the Court, 34. TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. São Paulo: Saraiva, 1994, page 84.
35. In this sense, reference should be made to article 25 of Decree no. 231/01, with the following substan-
30. ARBIA, Elisa. Dal brocardo societas delinquere non potest ala graduale responsabilizzazione dela ce: “1. In relation to the practice of the crimes set forth in articles 318, 321 and 322, paragraphs 1 and 3
persona giuridica. Sapienza Legal Papers, 53 (2012), page 57. of the Criminal Code, fine of up to two hundred stocks applies. 2. Concerning the practice of the crimes
31. Available at: “http://www.camera.it/parlam/leggi/deleghe/01231dl.htm”. Accessed on 10.20.2018. referred in articles 319, 319, no. 1, 321 and 322, no. 2 and 4, of the Criminal Code, the entity shall be
applied monetary sanction of from two hundred to six hundred shares. 3. Concerning the practice of
32. SANT’ORSOLA, Fabrizio di; GIAMPAOLO, Silvia. Liability of Entities in Italy: Was it Not Societas crimes referred in articles 317, 319, worsened under the terms of article 319- bis,when the entity has
Delinquere Non Potest, 2 New J. Eur. Crim. L. 59 (2011), page 65. obtained significant profit, paragraph 319, paragraph 2, and 321 of article Criminal Code, the monetary
33. Corte di Cassazione, sentenza n 20060/2013. sanction from three hundred to eight hundred shares is applied to the institution”.
470 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 471

turn, which sets forth its specific types, stipulates concrete descriptions of The Brazilian Anti-Corruption Law, however, sets forth two rites that
more general and elastic conducts. It could be mentioned, for example, the may be adopted to hold legal entities liable for acts of corruption, one ad-
prohibited conduct described in article 5, IV, “d”: “to defraud public bidding ministrative and the other judicial, none of which are of criminal nature.
or contract arising therefrom”. The administrative procedure for determining the liability of a legal entity,
It is true that the criterion of security, which prohibits types from being too pursuant to article 8 of Law no. 12.846/13, shall be instituted, instructed
open in criminal law, is also sought within the scope of sanctioning administrative and judged by the highest authority of each body or entity of the Executive,
law. Celso Bandeira de Melo, for example, understands that the “configuration Legislative and Judiciary Branches. Article 21 of Law no. 12.846/13 estab-
of administrative infractions, to be valid, must be made sufficiently clear, so as to lishes that, when judicial, the procedure to be adopted is that provided for in
leave no doubt about the identity of the reprehensible behavior.36” Law no. 7.34/85, which regulates the public civil action39. This is a procedure
In fact, the accuracy of types in sanctioning administrative law is fun- carried out before a civil judge, therefore.
damental for the administered party to have the necessary, prior and secure In addition, it should be noted that, although the Legislative Decree
knowledge about which behaviors should be avoided or practiced in order no. 231/01 stated that the nature of its liability is administrative in nature,
not to commit an infraction and be punished. it stated, in its article 34, the provisions of the Code of Criminal Procedure
If both criminal law and sanctioning administrative law require preci- would be applicable, where compatible, to the procedure of legal entities
sion in their types, they do not require it in the same proportion. The degree liability set forth therein40.
of precision of the type required by the former is greater than that required Law no. 12.846/2013, in turn, did not expressly set forth the subsidiary
by the latter. According to Fábio Medina Osório, the Public Administration or complementary application of any normative criminal document.
can grant “generous spaces of movement”, using general clauses to prohibit
behavior, as long as it does not incur arbitration37. 4. Criticisms that, when crossing the ocean, lose life
3.5. Processing of wrongful acts in jurisdictions with different The systems of legal entities liability for acts of corruption in Brazil and
natures Italy, governed by Law no. 12.846/2013 and Legislative Decree no. 231/01,
A significant difference between the Italian and Brazilian systems of respectively, share the same proclaimed nature: administrative.
legal entities liability for acts of corruption concerns the jurisdictions where Notwithstanding the declared nature, there is a great division in Italian
liability proceedings must be processed. doctrine among those who argue that the nature of the liability brought by
The Decree Law no. 231/01 establishes in its article 36, 1, that the com- the Legislative Decree no. 231/01 is of an administrative nature in fact and
petence to prosecute administrative offenses practiced by legal entities is that those who defend that its nature is eminently criminal.
of the criminal Court that has jurisdiction to prosecute the crimes related to Those who defend the administrative nature of corporate liability based
it. In other words, it will be competent to prosecute and judge the legal entity themselves in the nature declared by law, as well as in the time statute of lim-
that has committed an act of corruption the same Criminal Court responsible itation system established by the Decree Law no. 231/01, article 22, typically
for prosecuting the individuals who committed the previous crimes, that is, of an administrative system.
the crimes for which the legal entity will be administratively processed38.
39. Lei anticorrupção: manual de responsabilização administrativa da pessoa jurídica. Ministério da
36. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 22a ed. rev. e atual. São Paulo: Transparência e Controladoria-Geral da União. Brasília, 2018. Page 50. (Available at: “https://www.
Malheiros, 2007. page 818. cgu.gov.br/Publicacoes/responsabilizacao-de-empresas/ManualdeResponsabilizaoAdministrativade-
37. OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 2a ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: PessoasJurdicasMaio2018.pdf”, accessed on FEB.09.2019).
Editora Revista dos Tribunais, 2005. page 277. 40. “Art. 34. Disposizioni processuali applicabili 1. Per il procedimento relativo agli illeciti amminis-
38. DE SIMONE, GIULIO. La responsabilità da reato degli enti: natura giuridica e criteri (oggetti- trativi dipendenti da reato, si osservano le norme di questo capo nonche’, in quanto compatibili, le
vi) d’imputazione, 2012, page 17. Available at: https://www.penalecontemporaneo.it/upload/ disposizioni del codice di procedura penale e del decreto legislativo 28 luglio 1989, n. 271” (Available
1351253564De%20Simone%20definitivo.pdf. Accessed on Feb. 16.19. at: “http://www.camera.it/parlam/leggi/deleghe/01231dl.htm”. Accessed on 01.20.2019).
472 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 473

They also argue that the recognition of the administrative nature of The first argument presented derives from the circumstance that the
corporate liability is adequate to article 27 of the Italian Constitution, which Decree Law no. 231/01 includes, in its provisions, typical guarantees of crim-
stipulates the principle of personal criminal liability41. They further recognize inal law, such as, for instance, the principle of legality and taxation (article 2)
that such constitutional interpretation of the Decree Law no. 231/01 is also and non-retroactivity (article 3), which are expressly provided for in articles
a way of protecting it from claims of unconstitutionality. An example of that 7 to 10 of the Italian Criminal Code45.
arises from article 6 of Decree-Law no. 231/01, which establishes, as already That argument, however, is pointed out by Italian doctrine itself as
mentioned in this paper, that the corporation can exempt itself from (admin- weak, since those principles are common to the general sanctioning law and
istrative) liability when it demonstrates the absence of fault. If the nature of not exclusive to criminal law. This is verified by the fact that, under Italian law,
liability were to be considered criminal, the rule would be unconstitutional, such guarantees are also contained in Law 689/1981, known as the “Decrim-
since it would be contrary to provisions of article 27 of the Italian Constitu- inalization Law”, in which a number of administrative offenses are set forth46.
tion, which establishes the principle of presumption of innocence42.
Without impairment of the important and very adequate counter-ar-
On the other hand, a part of the Italian doctrine argues, for the reasons gument, in fact the argument of the express invocation of principles or
that shall be set out below, that the Italian legislature, by expressly character- guarantees typical of criminal (or sanctioning) law by the Decree Law no.
izing the nature of liability of the Decree Law no. 231/01 as administrative, 231/01 is totally inadequate with regard to the Brazilian Anti-Corruption
used a “label fraud”43 to overcome the old problem expressed by the maxim: Law, since it did not expressly provide for such guarantees (legality, affirma-
societas delinquere non potest.44 tion, fence to retroactivity, etc.).
This article does not propose to assess whether in Legislative Decree There is also the argument for the criminal nature of the liability provided
no. 231/01 there was in fact a fraud in the qualification of the legal nature of for in Legislative Decree no. 231/01, in its article 36, which attributes to the
liability or, if that were the case, to investigate what the reasons for that. The criminal Court the competence to prosecute and judge crimes committed by
purpose of this work, instead, is just to point out some of the reasons invoked legal entities47. It is a strong argument for the criminal nature, but equally inap-
by the Italian doctrine to qualify the nature of liability of the Decree Law no. plicable to the Brazilian context, since none of the two rites expressly stipulated
231/01 as criminal, and then to verify if such presented motives would also by no. Law 12.846/2013, to be adopted for the legal entities liability for acts
be applicable, or pertinent to Law no. 12.846/2013, which also expressly of corruption, is conducted before the criminal Court. The procedure in the
declared an administrative liability of legal entities. administrative sphere is investigated and judged before the maximum authority
Thus, since a comparative analysis has already been carried out between of each body or entity of the Executive, Legislative and Judicial Branches. The
the two laws in the previous chapters, at this time it is adequate to consolidate judicial proceeding, in its turn, is carried out under the terms of article 21 of
what are the reasons presented by those who understand that the liability system Law no. 12.846/13, before a civil Court, according to the public civil action.
of the Decree Law no. 231/01 would be criminal and not administrative. Another argument that is brought in favor of the trend that defends
41. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas the criminal nature of the Decree Law no. 231/01 relates to the fact that the
publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, page 277.
42. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am- 45. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas
missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Available publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, page 277.
at: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natu- 46. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am-
ra-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti- missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Available
-dellente. Accessed on Feb.08.19. at: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natu-
43. DIVINCENZO, Mariele. Responsabilità degli enti ai sensi dell’art. 25-septies d.lgs. 231/01 e compiti ra-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti-
dell’organismo di vigilanza. Tesi di Laurea in Diritto e procedura penale degli enti, LUISS Guido -dellente. Accessed on Feb.08.19.
Carli, relatore Elisa Scaroina, 2015/2016, page 12. Available at: https://tesi.luiss.it/id/eprint/18688. 47. DIVINCENZO, Mariele. Responsabilità degli enti ai sensi dell’art. 25-septies d.lgs. 231/01 e compiti
Accessed on Feb.08.19. dell’organismo di vigilanza. Tesi di Laurea in Diritto e procedura penale degli enti, LUISS Guido
44. BRUNI, Glan Bruno. New Law on Direct Liability of Companies in Italy. International Business Carli, relatore Elisa Scaroina, 2015/2016, page 13, Available at: https://tesi.luiss.it/id/eprint/18688.
Lawyer, Abril/2003, page 71. Accessed on Feb.08.19.
474 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 475

Decree, in its article 34, proclaimed the application of the provisions of the whose assumption is a complete crime, with all its constituent elements51.
Code of Criminal Procedure, when compatible, to the procedure of legal That is a quite strong argument, but once again inapplicable to the Bra-
entities liability provided for therein48. zilian reality. For a legal entity to be held responsible for an offense, pursuant
The counter-argument is that such application of the Italian Code of to the Anti-Corruption Law, neither it nor any of its representatives has to
Criminal Procedure the procedure of Decree Law no. 231/01 would only be perpetrated a crime. As already mentioned above, Law no. 12.846/2013
occur when there was compatibility with the administrative liability system. In itself provides, in its article 5, description of the infractions by which, under
any case, the issue is also inapplicable to the system of Law no. 12.846/2013, its terms, the legal entities can be held responsible.
which did not expressly set forth the subsidiary or complementary application There are those who argue52 53 that the Anti-Corruption Law has facets
of any normative criminal code. of a criminal nature precisely because of a description of illegal acts that, ac-
The defendants of the criminal nature of Decree Law no. 231/01 also cording to them, would be close to the types of active and passive corruption
argue that the determination of recording the administrative penalties applied of criminal law54.
to legal entities in a national register (article 80) would, in fact, be a kind of In fact, the Brazilian Anti-Corruption Law describes certain offenses that
criminal background record of the corporations49. are also classified in the criminal code55, such as the one contained in its article
Such criticism is not very proper, since the fact of registers being in place 5, I, also provided for in article 333 of the criminal code. The wording, as men-
where punishments imposed on legal entities are registered cannot, in any way, tioned above are not identical and, even if they were, it would not be the first
qualify the nature of those sanctions, which may be criminal, administrative time that a conduct of the offender can be simultaneously qualified as crime and
or even civil. That can be confirmed by the fact that Law no. 12.846/2013 as an administrative infraction, which, considering the independence between
establishes in its articles 22 and 23 the use of two registers in Brazil, the Na- the instances is totally compatible with the Brazilian legal order56. The unani-
tional Register of Punished Companies – CNEP and the National Register of mous doctrine and case law of the Superior Courts is in the same understanding
Disqualified and Suspended Companies – CEIS. While the former is intended in the sense that the criminal and administrative spheres are independent, except
to record the sanctions imposed as a result of infractions of the Anti-Corruption for the hypotheses of acquittal by non-existence of the criminal fact.
Law itself, the latter is intended to make public the infractions of bidding rules Finally, another argument used by those who advocate that the nature
and contracts, undoubtedly of an administrative nature. of Decree Law no. 231/01 is criminal and not administrative is based on
Another particular feature that is pointed out to defend the criminal the seriousness of the penalties that may be applied to legal entities under
nature of the legal entities liability in Decree Law no. 231/01 stems from the the Decree, capable of significantly affecting the company’s activities. In this
fact that it requires, in Italy, that a crime was committed, for their benefit or
interest, by an individual linked to the corporation50. It would be nonsense, 51. DE SIMONE, GIULIO. La responsabilità da reato degli enti: natura giuridica e criteri (oggetti-
according to this line of reasoning, to classify as administrative an offense vi) d’imputazione, 2012, page 16. Available at: https://www.penalecontemporaneo.it/upload/
1351253564De%20Simone%20definitivo.pdf. Accessed on Feb.16.19.
52. GUARAGNI, Fábio André; CAMBI, Eduardo. Lei Anticorrupção. Comentários à Lei 12.846/2013.1ª
48. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am- Edição. São Paulo: Almedina, page 55.
missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Available 53. In that same sense, refer to: BOTTINI, Pierpaolo. A lei Anticorrupção como uma lei penal encoberta.
at: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natu- Consultor Jurídico.
ra-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti- 54. In contrary sense, refer to: VERÍSSIMO, Carla. Compliance: incentivo à adoção de medidas anticor-
-dellente. Accessed on Feb.08.19. rupção. São Paulo: Saraiva, 2018.
49. PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas 55. Under this aspect, it should be noted the verbs give, offer and promise, which are listed in the norma-
publica delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011, page 278. tive provisions.
50. RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e am- 56. Guaragni, on his turn, classifies the Anti-Corruption law as part of a third gender, declaring its “hibri-
missibilità di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Available dity”, a fact that, according to him, has already been observed in Brazil in the recent decades, with
at: https://www.filodiritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natu- the Law on administrative malfeasance and environmental crimes. (In: GUARAGNI, Fábio André;
ra-giuridica-e-ammissibilita-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti- CAMBI, Eduardo. Lei Anticorrupção. Comentários à Lei 12.846/2013.1ª Edição. São Paulo: Almedi-
-dellente. Accessed on Feb. 08.19. na. Page 47.
476 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 477

regard, it should be noted that the European Court of Human Rights has the Criminal Code, which in its article 1 classifies as criminal the criminal
more than once declared that the most important factor in defining the nature infraction punishable by imprisonment or detention, and may even be
of a penalty is not the qualification declared by the national legislature but cumulated with a fine.
the nature of the offense, in the classes and degrees of severity of the sanctions Thus, if there are diverse and various types of sanctions that may be
that can be applied as a result of it57. applied as a result of the practice of an offense (warning, fine, temporary sus-
This argument, unlike the previous ones, can also be directed to the pension of rights, deprivation of liberty, etc.) the legislature elected, at least
provisions of the Brazilian Anti-Corruption Law. As discussed in the previous regarding individuals, the penalty of deprivation of liberty as the sanctioning
item, the sanctions that can be applied to corporations through Decree Law kind that characterize crimes, distinguishing them from other types of infrac-
no. 231/01 are very similar to those that may be imposed under Law No. tions. Administrative and civil wrongful acts do not lead to the imposition
12.846/2013. Hence, the issue will be separately discussed in the next item, of penalty of imprisonment on their perpetrators.
in order to be better considered. For a simple reason, however, this criterion brought by the Law on
Introduction of the Criminal Code does not apply when the offender is a
5. Severity of penalties and nature of liability corporation: legal entities cannot be arrested.
The Constitution of the Republic of 1988 states that legal entities The most serious of the sanctions that can be imposed on an individual
may be held liable for unlawful acts in the criminal, civil and administrative in times of peace – the restriction of freedom – and which, precisely to that
spheres, in addition to being expressed regarding the possibility of criminal extent, can only be imposed by criminal liability, is inapplicable to legal entities.
liability of corporations for conduct harmful to the environment. Thus, Brazil
To that extent, it is necessary to investigate whether there is any other
adopts the system of independence of instances, so that a single conduct can
kind of sanction that, by its rigor, could only be applied to legal entities
justify more than one type of liability58. An unlawful act may, at the same
through the criminal route.
time, cause the person who has practiced it, both individuals and legal enti-
ties, to be held liable in the civil, administrative and criminal spheres. As mentioned in the previous item: i) the strictness of the penalties
stipulated by the Decree Law no. 231/01 is invoked as a reason to qualify the
The assumptions for liability of the offending agent in each of these
nature of the liability provided in it as criminal and non-administrative; ii)
spheres are different, although they may share some common assumptions.
the sanctions stipulated by the Decree Law no. 231/01 are largely coincident
Those different prisms of liability also differ in terms of possible sanctions, at
with those provided for in Law no. 12.846/2013.
least concerning sanctions applicable to individuals, since penalties restricting
freedom are only admitted in the Brazilian system of law when applied by In fact, both normative documents establish as possible sanctions that
the criminal route59. can be applied to legal entities the penalties of fines, loss of assets/seizure,
publication of a convicting judgment; suspension or interdiction of activities
In fact, this is what is understood from the Law on Introduction of
and prohibition of receiving incentives, subsidies or loans.
57. DIVINCENZO, Mariele. Responsabilità degli enti ai sensi dell’art. 25-septies d.lgs. 231/01 e compiti It is interesting to note that Law no. 9605/98, which regulates in Brazil
dell’organismo di vigilanza. Tesi di Laurea in Diritto e procedura penale degli enti, LUISS Guido
Carli, relatore Elisa Scaroina, 2015/2016, page 14. Available at: https://tesi.luiss.it/id/eprint/18688. the criminal liability of legal entities for environmental crimes60, also stipulates
Accessed on Feb.08.19. in its articles 21 and 22, penalties very similar to those set forth in Decree Law
58. JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito Administrativo. Editora Revista dos Tribunais, São Paulo,
2016. Page 1342. no. 231/01 and Law no. 12.846/2013: i) fine; ii) rendering of services to the
59. Aware of this classification, after the understanding of the Supreme Federal Court and of the Higher
Court of Justice was consolidated about the impossibility of civil imprisonment of the disloyal trustee,
the Brazilian system of law still has two hypotheses of imposition of sanction depriving freedom for an 60. Law no. 9.605/98, Article 3 The legal entities will be held liable at the administrative, civil and cri-
offense that is not a criminal offense (crime): i) the military administrative imprisonment; ii) the civil minal spheres according to provisions of this Law in the cases where infraction is committed by a
imprisonment of the debtor of alimony, set forth in Law no. 5.478/1968 and in the differents of Civil decision of their authorized or contractual representative, or of its board, at the interest or benefit of the
Procedure, article 528. entity.
478 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Roberson Henrique Pozzobon – Suzana Rososki de Oliveira 479

community; iii) partial or total suspension of activities; iv) temporary inter- facilitate or promote the practice of acts harmful to the public administration.
diction of facility, work or activity; and v) prohibition of contracting with the In the same sense, since 1976, the Brazilian Joint-Stock Companies Law
Public Authority, as well as of obtaining subsidies, grants or donations from it. (article 206 of Law no. 6404/76) authorizes the compulsory dissolution of a
In terms of severity, however, the Brazilian Anti-Corruption Law went legal entity “by decision of a competent administrative authority”.
beyond what was set forth both by Decree Law no. 231/01 and Law no. Among the reasons that may result in the dissolution of the legal
9.605/98. Law no. 12.846/2013 established the most serious of the pen- entity by the administrative authority there are: i) the finding of the im-
alties that may be applied to legal entities: of compulsory dissolution61. As possibility of fulfilling the activity that constitutes the contractual object of
the true “capital punishment” or “death penalty”62 of corporations, Law no. the company; ii) the exercise of an activity not included in its contractual
12.846/2013, article 19, §1, reserved its application only in cases where (i) object; and iii) inactivity of the company, which did not carry out any
the legal entity was constituted to conceal illicit interests or the identity of activity for two consecutive years.
the beneficiaries of the acts practiced; or ii) there is the habitual use of legal
Lastly, it must also be considered the fact that joint-stock companies
personality to facilitate or promote the practice of injurious acts.
can also be dissolved if they go bankrupt, that is, if they do not have sufficient
Does the fact that the Brazilian Anti-Corruption Law has foreseen as equity to honor the payment of all their creditors, which, in fact, renders
applicable to legal entities that have violated its rules the most severe of all impossible any objective it has proposed to achieve.
sanctions, that of compulsory dissolution, disqualifies its system of liability
If the company can be compulsorily dissolved, in the civil sphere,
as administrative and qualifies it as criminal?
because it does not have sufficient equity to honor its debts, it is not the
A better analysis of Brazilian law, which also contemplates other hy- provision of sanction of compulsory dissolution of corporations that have
potheses of extra-criminal compulsory dissolution of the legal entities, seems committed serious administrative infractions that will qualify the Brazilian
to suggest that it is not. Anti-Corruption Law as being of a criminal nature.
Observe, for example, that the Brazilian Civil Code itself establishes in Law no. 12.846/2013 and Decree Law no. 231/01 were normative doc-
its article 1.033, V, that a legal entity may be dissolved when it is “operating uments conceived and approved in similar contexts, driven by commitments
permit” is extinguished, according to the law. The Civil Code sets forth, undertaken – both by Brazil and Italy – to the international community in
still in its article 1.125, that the “Executive Branch is entitled, at any time, order to improve the fight against corruption in their system of laws. Both
to revoke the authorization granted to a national or foreign company that normative documents expressly declared, in addition, that the nature of the
violates a provision of public order or that performs acts contrary to the liability regulated by for is administrative.
purposes stated in its bylaws.”
The study herein made it possible to verify that the criticisms made in
Thus, if it is possible to dissolve, at the civil sphere, a company that vio- Italy regarding the administrative nature of liability declared by Legislative
lates a public order provision or practices “acts contrary to the purposes stated Decree no. 231/01 do not apply to Law no. 12.846/2013. This occurs both due
in its bylaws,” it does not make any sense to reserve to the criminal sphere the to the substantial differences between norms, and because of other peculiarities
possibility brought by the Brazilian Anti-Corruption Law to judicially dissol- of the national system of law. Therefore, the conclusion is that, in the Brazilian
ve companies established for concealing illicit interests or repeatedly used to normative reality, it is possible to attribute to the model of legal entities liability
61. OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. “O sistema brasileiro for acts of corruption, formally and materially, administrative juridical nature.
de combate à corrupção e a Lei no 12.846/2013 (Lei Anticorrupção)”. Revista Brasileira de Direito
Público – RBDP, Belo Horizonte, ano 12, n. 44, pages 9-21, Jan./Mar. 2014. Page 17.
62. Lei anticorrupção: manual de responsabilização administrativa da pessoa jurídica. Ministério da Bibliographical References
Transparência e Controladoria-Geral da União. Brasília, 2018. Available at: “https://www.cgu.gov.
br/Publicacoes/responsabilizacao-de-empresas/ManualdeResponsabilizao AdministrativadePesso- ARBIA, Elisa. Dal brocardo societas delinquere non potest ala graduale responsabilizzazione dela persona
asJurdicasMaio2018.pdf. Accessed on feb.09.2019, page 50. giuridica. Sapienza Legal Papers, 53 2012..
480 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

BEVILACQUA, Marco. La Responsabilita Degli enti ex d.lgs. nº 231/01: Una Comparazione tra Civil
Law e Common Law, 4 Sapienza Legal Papers 47, 2015.
CAPANEMA, Renato de Oliveira. Inovações da Lei no 12.846/2013. In: NASCIMENTO, M. D. do (Org.).
Lei Anticorrupção Empresarial. Aspectos críticos à Lei 12.846/2013. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2014.
DE SIMONE, GIULIO. La responsabilità da reato degli enti: natura giuridica e criteri (oggettivi) d’im-
putazione, 2012. Available at: https://www.penalecontemporaneo.it/upload/1351253564De%20Sim-
one%20def initivo.pdf. Accessed on feb.16.19. THE LEGAL ENTITY AS A DEFENDANT IN THE
DIVINCENZO, Mariele. Responsabilità degli enti ai sensi dell’art. 25-septies d.lgs. 231/01 e compiti
dell’organismo di vigilanza. Tesi di Laurea in Diritto e procedura penale degli enti, LUISS Guido Carli,
CRIMINAL PROCEEDING: ASCRIBING OF
relatore Elisa Scaroina, 2015/2016, Available at: https://tesi.luiss.it/id/eprint/18688. Accessed on Feb.08.19. PROCEDURAL GUARANTEES AND IMPEDIMENT
GIAMUNDO NETO, Giuseppe; GAROFANO, Rafael Roque; CASTRO E SILVA, Philippe Am-
brosio. “Considerações sobre a responsabilização objetiva da pessoa jurídica por atos de corrupção (Lei
OF SELF-INCRIMINATION
12.846/2013)”. In: Revista de Direito Administrativo, v. 2017, pages 02-23, 2017.
HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Tradução de Janaína Marcoantonio. Décio Franco David1
5ª Ed., Porto Alegre: L&PM, 2015.
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito Administrativo. Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2016. Abstract: In view of the current political-criminal context in which criminal liability
Lei anticorrupção: manual de responsabilização administrativa da pessoa jurídica. Ministério da Transpar- of collective entities becomes necessary, this paper intends to assist in the resolution of
ência e Controladoria-Geral da União. Brasília, 2018. Available at: “https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/ procedural problems related to the criminal charging of legal entities, with a specific
responsabilizacao- de-empresas/ManualdeResponsabilizaoAdministrativadePessoasJurdicas Maio2018. focus on the possibility of extending to the legal entities the guarantees arising from the
pdf ”, accessed on Feb.09.2019. fundamental rights of defendants in criminal proceedings. In addition to demonstrating
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 22a ed. rev. e atual. São Paulo: the academic and practical importance of the topic among current procedural problems,
Malheiros, 2007. this work proposes some solutions to the main instrumental hindrances related to the
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. “O sistema brasileiro de principle of non-self-incrimination. Hence, the article aims to assist in the assessment of
combate à corrupção e a Lei no 12.846/2013 (Lei Anticorrupção)”. Revista Brasileira de Direito Público the criteria and procedural instruments capable of promoting a criminal procedural rela-
– RBDP, Belo Horizonte, ano 12, n. 44, pages 9-21, Jan./Mar. 2014.
tion that respects procedural milestones of an accusatory and democratic system, limiting
OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 2a ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Edi- the research to the solution of the following question: “Is it possible to extend to the legal
tora Revista dos Tribunais, 2005.
entity the guarantees and the fundamental rights of defendants in criminal proceedings, in
PAVANELLO, Elisa. La responsabilità penale delle persone giuridiche di diritto pubblico: societas publica particular the right of non-self-incrimination?”. In order to solve the problem posed, the
delinquere potest. Padova: Padova University Press, 2011.
work departs from the significant matrix and its adequacy to the Theory of Corporation
PRADO, Mariana Mota; CARSON, Lindsey; CORREA, Izabela. The Brazilian Clean Company Act: to then demonstrate how the legal entities can be holders of fundamental rights and have
Using Institutional Multiplicity for Effective Punishment, 53 Osgoode Hall L. J. 107 (2015).
the criminal proceeding principles respected in their favor. As for the methodological
POSTERARO, Nicola; ROLLI, Renato Rolli. Responsabilita Degli Enti Dipendente da Reato Analisi Som- mechanisms, the article was written through a bibliographical research, using the deductive
maria dell’Apparato Sanzionatorio e del Suo Regime Prescrizionale, La, 3 Bocconi Legal Papers 149 (2014). method of approach and the indirect documentation as technique of collection.
QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Responsabilização Judicial da pessoa jurídica na Lei Anticorrupção. In:
SOUZA, J. M.; QUEIROZ, R.P. de.; (org.). Lei Anticorrupção. Salvador, Bahia: JusPodivm, 2015. Keywords: Legal Entities. Criminal Proceeding. Fundamental Rights. Nemo tenetor
sine detegere.
Revista de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça. Ano 5. Vol. 17 (Mar. 2011). Brasília: STJ, 2011.
RINALDI, Francesco Vittorio. La responsabilità degli enti ex D. Lgs. 231/01: natura giuridica e ammissibilità
di una costituzione di parte civile proposta direttamente nei confronti dell’ente. Available at: https://www.filo- 1. PRESENTATION OF THE THEME
diritto.com/articoli/2013/05/la-responsabilita-degli-enti-ex-d-lgs-2312001-natura-giuridica-e-ammissibili-
ta-di-una-costituzione-di-parte-civile-proposta-direttamente-nei-confronti-dellente. Accessed on Feb.08.19. The necessity to discuss the political-criminal, criminological and dog-
RUGGIERO, Rosa Anna. Cracking down on Corporate Crime in Italy, 15 Wash. U. Global Stud. L. Rev. matic grounds of the criminal liability of the legal entity arises as one of the
403 (2016).
SANT’ORSOLA, Fabrizio di; GIAMPAOLO, Silvia. Liability of Entities in Italy: Was it Not Societas
main themes in the spotlight about the definition of the limits, forms and
Delinquere Non Potest, 2 New J. Eur. Crim. L. 59 (2011). situations in which the allusive liability must apply2. As Paulo César Busato
TESI, Maristela Amisano. A responsabilidade penal das pessoas jurídicas no sistema italiano. In Revista de
Direito Brasileira, 2012, page 305. 1. Doctor’s Degree Student and Master Degree in Legal Sciences from Universidade Estadual do Norte
do Paraná (UENP). Master Degree in Criminal Law from Universidade de São Paulo (USP). Professor
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. São Paulo: Saraiva, 1994. of Criminal Law at FAE Centro Universitário (FAE). Criminal Lawyer. E-mail: decio@dfdavid.com
TOMAZETTE, Marlon. Curso de empresarial: teoria geral e direito societário. Volume 1. 9. ed., São 2. In a prominent event on economic criminal law, held in October, 1984, in the city of Cairo, the Interna-
Paulo: Saraiva Educação, 2018 [electronic book]. tional Association of Penal Law also expressed itself as favorable to criminal liability of legal entities,
in the final recommendations of the event. Recommendation no. 13: “Criminal liability of corporations
and other legal entities is recognized in an increasing number of countries as an appropriate way of
482 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 483

properly points out after overcoming the discussion about “if ” the charging focuses on the effective preservation of the principle of culpability, especially in
is necessary, we need to discuss “how” such implementation will be carried its guarantee of subjective liability (or culpability in the strict sense)8.
out3. Thus, before any further deeper study on the subject, it should be in- Thus, in addition to the various political-criminal and criminolog-
formed that the object of this work is the following question: Is it possible to ical grounds presented by the theme9, as well as, given the progress of
extend to legal entities the guarantees and fundamental rights of defendants the economic practices that justify a returning the discussion of the legal
in criminal proceedings, especially the right of non-self-incrimination?”. system to be adopted10, it is necessary to adopt the criminal liability of
The question arises from the need to recognize, in a Democratic State legal entities as an effective way for the control of economic and business
Governed by the Rule of Law, the application of procedural guarantees to all delinquency. Therefore, it is essential to carry out an in-depth and de-
the defendants. And in particular observance of the principle of nemo tenetur tailed analysis of the criminal and extra-criminal techniques that can be
se detegere, it is promptly understandable that a legal entity, as a defendant in used for this purpose. In fact, a significant part of the doctrine presents
a criminal proceeding, should not be compelled to produce evidence against criteria and safe grounds for such charging to occur, overcoming the
itself, such as “urged to prove who are its authorized representatives, nor to traditional criticisms regarding the impossibility of conduct, subjective
provide minutes of the meetings for the relevant decision-making, since such element and culpability to collective entities, noting that there is not yet a
elements form part of the charging structure”4. uniform proposal on how the charging should to occur11. In the Brazilian
Specific work on the procedural aspects of criminal liability of legal en- doctrine, respecting the structural and theoretical differences between
tities developed in the country is rare5. Certainly, the small number is due each of the proposals, the writings of Paulo César Busato12, Alamiro Vel-
to the fact that “most of the criminal doctrine repels the idea with rarely seen ludo Salvador Netto13, Sérgio Salomão Shecaira14, Tracy Reinaldet15, Fabio
vehemence”6. Corroborating this finding, it is verified (although from an ex-
8. On this subject matter, refer to: DAVID, Décio Franco. Fundamentação principiológica do Direito
clusively personal point of view) that the publication most used in academic Penal Econômico: um debate sobre a autonomia científica da tutela penal na seara econômica. 2014.
Dissertation (Master’s Degree in Legal Sciences) – Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jaca-
works in the country on the subject corresponds to a collective work organized rezinho, Paraná, pages 214-215.
by Professors René Ariel Dotti and Luiz Régis Prado, which has the purpose of 9. On this subject matter, refer to: LOUREIRO, Maria Fernanda. Necessidade político-criminal e supe-
ração dos obstáculos dogmáticos da teoria do delito para a responsabilidade penal das pessoas
refuting the implementation of criminal liability of legal entities7. Thus, initial- jurídicas. 2012. Dissertation (Master’s Degree in Law) – Centro Universitário Curitiba, Curitiba, Pa-
raná, pages 18-56.
ly, the debate from the perspective of the structural foundations of criminal Law 10. VIANA FILHO, Flávio. Responsabilização criminal da pessoa jurídica: justificação autopoiética. In:
FRANCO, Alberto Silva; LIRA, Rafael. Direito Penal Econômico: Questões Atuais. São Paulo: Re-
controlling economic and business offenses. Countries which do not recognize such criminal liability vista dos Tribunais, 2011, pages 201-234; GÓMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. A responsabilidade penal
may wish to consider the possibility of imposing other appropriate measures on such entities”. da pessoa jurídica: Teoria do crime para pessoas jurídicas. São Paulo: Atlas, 2015, pages13-70.
3. BUSATO, Paulo César. Razões criminológicas, político-criminais e dogmáticas para a adoção da respon- 11. Just for introduction, in addition to the works already cited above, ROTHENBURG, Walter Claudius. A
sabilidade penal de pessoas jurídicas na reforma do código penal brasileiro. in: BUSATO, Paulo César; pessoa jurídica criminosa. Curitiba: Juruá, 1997, pages 211-218; SALLES, Carlos Alberto de. Responsa-
GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá, 2012, page bilidade penal da pessoa jurídica e a proteção ao meio ambiente: finalidade e aplicação. Revista Brasileira
18. That serves to overcome the shallow arguments based on “because it’s yes” or (“because it’s not”) de Ciências Criminais, São Paulo, v. 9, n. 36, pages 51-67, Oct./Dec. 2001; CABETTE, Eduardo Luiz
when referring to this topic. Like, for instance, the eternal discussion of constitutionality of the liability of Santos. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: breve estudo crítico. Revista Brasileira de Ciências
the Legal Entity which, obviously, is more than overcome. On this matter, refer to TANGERINO, Davi Criminais, São Paulo, v. 11, n. 41, pages 152-178, Jan./Mar. 2003; QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Res-
de Paiva Costa. A responsabilidade penal da pessoa jurídica para além da velha questão de sua constitu- ponsabilidade penal das pessoas jurídicas. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 11,
cionalidade. Boletim IBCCRIM, São Paulo, v. 18, n. 214, pages 17-18., Sept. 2010. n. 45, pages 224-244, Oct./Dec. 2003; SARCEDO, Leandro. Compliance e responsabilidade penal da
4. COSTA, Helena Regina Lobo da. COSTA, Helena Regina Lobo da. Responsabilidade penal da pes- pessoa jurídica: construção de um novo modelo de imputação baseado na culpabilidade corporativa. 2014.
soa jurídica: Um panorama sobre sua aplicação no Direito brasileiro. in: IBCCRIM 25 Anos. Belo Thesis. (Doctor’s Degree in Criminal Law) – Universidade de São Paulo, São Paulo, pages 140-252.
Horizonte: D’Plácido, 2017, page 103. Provocation equally made by ESTELLITA, Heloisa. Aspectos 12. BUSATO, Paulo César. Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011,
processuais penais da responsabilidade penal da pessoa jurídica prevista na lei n. 9.605/98 à luz do pages 99-128 and pages 211-226; BUSATO, Paulo César. Razões criminológicas, político-criminais e dogmá-
devido processo legal. In: VILARDI, Celso Sanchez; PEREIRA, Flavia Rahal Bresser; DIAS NETO, ticas para a adoção da responsabilidade penal de pessoas jurídicas na reforma do Código Penal brasileiro. In:
Theodomiro (coord.). Direito penal econômico: crimes econômicos e processo penal. São Paulo: Revista Liberdades. Edição Especial: Reforma do Código Penal. São Paulo, 2012, pages 98-128.
Saraiva, 2008. (GVLaw). pages 203-248. 13. SALVADOR NETTO, Alamiro Velludo. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. São Paulo:
5. As verified in the following references. Revista dos Tribunais, 2018.
6. SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Autorregulação, responsabilidade empresarial e criminal com- 14. SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. 3. ed. Rio de Janeiro:
pliance. In: SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, Direito Penal Elsevier, 2010; SHECAIRA, Sérgio Salomão. A responsabilidade das pessoas jurídicas e os delitos
e Lei Anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2015, page 163. ambientais. In: Boletim IBCCRIM, nº 65. São Paulo: IBCCRIM, April 1998, page 3.
7. PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: Em 15. REINALDET, Tracy Joseph. A responsabilidade penal da pessoa jurídica. O exemplo brasileiro e a
defesa do princípio da imputação subjetiva. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. experiência francesa. Curitiba: IEA academia, 2014.
484 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 485

André Guaragni16 and Fernando Galvão17 deserve being mentioned. omission on the subject matter demonstrates a certain lack of concern with
However, emphasizing that the work herein has as a theoretical frame- procedural mechanisms for the liability of legal entities, resulting in extreme
work a significant system, which is structured in the binding perspective criticism, in the displacement of the procedural sphere to a second hand of
between law and language and is built in a dogmatic-critical perspective, it criminal Law21, which, obviously, cannot happen.
is noteworthy the achievement of the referred framework for the recognition Nevertheless, when dealing with procedural charging, it is never too
of the possibility of overcoming the criticisms traditionally presented for the much to remember that a considerable part of the doctrine has been dedi-
criminal liability of the legal entity18, especially when respecting the theoret- cated to defend the independence of the technical and doctrinal structure
ical assumptions of Corporate Law and Theory of Corporation19. of the criminal proceedings in view of the civil proceedings22. Such a stance
However, although there are great dogmatic proposals for a correct ma- deserves enormous recognition, since it aims to solve problems in a serious
terial criminal charging of legal entities, there is still major disregard of how way, instead of just doing “linguistic juggling, contortions for an impossible
such a proposal will materialize in the procedural sphere. Unfortunately, this adaptation”23.
omission denotes that procedural concern represents a remnant of what does The truth is that criminal proceedings do not revolve under the same
not deserve to be criminally explored. In other words, this theoretical and core as civil proceedings24. Its scope of action should be related to criminal
normative omission ends up relegating the criminal proceedings to the pro- Law. As Paulo César Busato properly points out, it is impossible to separate
visions of civil procedure in view of the express determination of article 3 of criminal Law from criminal procedural Law25. For this reason, he argues
the Code of Criminal Procedure. In addition to that inadequate insertion of that it is necessary to have the same level of concern with the defense and
civil procedural provisions (which procedural aim is the litigation, an element
that is inappropriate for criminal proceedings20), the procedural theoretical penalty and the function of the criminal Law as exercise of social control of the intolerable by selection
of legal assets, refer to: BUSATO, Paulo César. Por que, afinal, aplicam-se penas? In: SCHMIDT, Andrei
Zenkner. Novos Rumos do Direito Penal Contemporâneo – Livro em homenagem ao Prof. Dr. Cezar
16. GUARAGNI, Fábio André. “Interesse ou benefício” como critérios de responsabilização da pessoa Roberto Bittencourt. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, pages 511-523.
jurídica decorrente de crimes – A exegese italiana como contributo à interpretação do art. 3º da Lei 21. “The proceeding cannot be seen as a mere instrument at the service of the punitive power (Criminal
9.605/98. In: BUSATO, Paulo César; GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade Penal da Pessoa Law), but it performs a role of limiting of the power and guarantor of the individual submitted to it. It
Jurídica. Curitiba: Juruá, 2012, pages 93-131. should be understood that the respect to the fundamental guarantees cannot be confused with impunity
17. GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 4. ed. Belo Horizonte: D’Plácido, and that has never been defended. The criminal proceeding is a necessary path to, lawfully, reach the
2017. penalty. That is why its existence is only admitted when, along that path, the constitutionally assured
18. As verified in DAVID, Décio Franco; BUSATO, Paulo César. A empresa é capaz de ação? Uma proposta rules and guarantees are strictly observed (the rules of the due process of law)” (LOPES JR, Aury.
de discussão sobre a capacidade de rendimento da concepção significativa da ação no Direito penal empre- Direito Processual Penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, page 44).
sarial. In: LOBATO, José Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo Orsini; SANTOS, Humberto Souza 22. Specially COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. A lide e o conteúdo do processo penal. Curitiba:
(Org.). Comentários ao Direito Penal Econômico Brasileiro. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, pages Juruá, 1989, page 138; MELCHIOR, Antonio Pedro. A teoria crítica do processo penal. Revista Brasi-
19-44 and, specially, in: BUSATO, Paulo César. Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Loc. cit. leira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 25, n. 128, pages 27-64., Feb. 2017; LOPES JÚNIOR, Aury.
19. As verified in: DAVID, Décio Franco. Reflexões sobre os fundamentos teóricos da responsabilidade (Re)discutindo o objeto do processo penal com Jaime Guasp e James Goldschmidt. Revista Brasileira
penal da pessoa jurídica a partir da teoria da empresa. In: BUSATO, Paulo César (Org.). GRECO, Luís; de Ciências Criminais, São Paulo, v. 10, n. 39, pages 103-124., Jul./Sept. 2002; LOPES JÚNIOR, Aury.
BUSATO, Paulo César (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: seminário Brasil- (Re)pensando as condições da ação processual penal desde as categorias jurídicas próprias do processo
-Alemanha. Florianópolis: Tirant lo blanch, 2018, pages 133-152. penal. In: FAYET JÚNIOR, Ney. Ciências penais e sociedade complexa I. Organização de André Ma-
chado MAYA. Porto Alegre: Nuria Fabris, 2008. pages 79-100; LOPES JR, Aury. Direito Processual
20. On this subject matter, refer to COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. A lide e o conteúdo do pro- Penal. Op. cit., pages 49-51; ROSA, Alexandre Morais da. Decisão no processo penal como bricolage
cesso penal. Curitiba: Juruá, 1989, page 132. The criminal proceeding assesses a different conflict of de significantes. 2004. Thesis (Doctor’s Degree in Law) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
interests, arising from the claim of punishment, challenged claim, punitive duty or even the claim of the Paraná, page 266; SILVEIRA FILHO, Sylvio Lourenço da. O processo penal como procedimento
State’s duty of punishment. According to Víctor Rodríguez, besides the immediate function of protecting em contraditório: (re)discussão do locus dos sujeitos processuais penais. 2011. Dissertation. (Master’s
legal assets, the Criminal Law has two other mediated functions: the exercise of social control and the Degree in Law) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, page 85.
limitation of the “State’s Duty to punish” (RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. Fundamentos de Direito 23. COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Op. cit., page 142.
Penal Brasileiro: Lei penal e Teoria Geral do Crime. São Paulo: Atlas, 2010, pages 1-6). However, the
expression “Duty to punish” does not seem correct. After all, “The State is not, in fact, the bearer of rights. 24. “That is why it the intent of some writers to establish a general theory of process capable of covering
Nor could it be, since it is not an individual and does not perform the act of mutual coexistence. Only the the civil proceedings and the criminal proceedings is totally unfeasible. This concurrence is impossible
one that can demand, for himself, for his own interest, any attitude from the other can be the holder of ri- since while the civil proceedings aim at balancing the disputes of interests between individuals, the cri-
ghts. Everything that the State demands from each one is not of its own interest, but of interest to the other minal proceedings, like the incriminating criminal law and the criminal executions law, intends to set
individuals. Thus, the State does not hold rights, it is merely a manager of alien rights (of the individuals). a barrier against the State intervention in the individual’s life. Hence, the criminal proceedings share
Therefore, there is not a right to punish, since it is not the State who demands anything to itself. It is the principles with all the legal branches composing the criminal system and not with the other branches
other individuals who demand as their right that the State uses the means of social control of the criminal of the procedural system” (BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. 2. ed. São Paulo: Atlas,
Law. Thus, for the State there is only the duty to punish and never a right” (BUSATO, Paulo César. Di- 2015, page 39, footer 69).
reito penal. Op. cit., page 19). In addition concerning the need for unification between the function of the 25. BUSATO, Paulo César. Direito penal. Op. cit., pages 38-39 and pages 983-984.
486 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 487

enforcement of the procedural guarantees that is assigned in the scope of present reflection (Is it possible to extend to the legal entity the guarantees
substantive law26. In the same sense, George Fletcher explains, when dealing and fundamental rights of defendants in criminal proceedings, especially the
with the relation of proximity and difference between the substantive and right of non-self-incrimination?).
procedural Law, that the realization of the legal syllogism disregards the re- Hence, given the proposal of the II Brazil-Germany Seminar on Crimi-
lation between the substantive and procedural criminal Laws. According to nal Liability of Legal Entities, this work intends to collaborate, although only
him, the major assumption is defined by rules of substantive law, while minor on two procedural aspects (holding of fundamental guarantees and applica-
assumptions are a factual problem, which is established by procedural rules27. tion of non-self-incrimination), with new paths for an harmonized dogmatic
Following this argumentative line and identifying in the forensic prac- between the criminal and criminal procedure systems. Therefore, this writ-
tice the difficulties for the correct procedural implementation of the criminal ing is part of the theoretical delimitation of an accusatory and democratic
liability of collective entities, technical problems can be identified which need system29, which is the reason why, hereby, it is important to highlight the need
a due study, mainly by the complete absence of legal provision of procedural to respect the constitutional criminal procedural guarantees and procedural
nature for the referred liability28. This raises the problem that guides the principles inherent to the defendant, whether individual or legal entity30.

26. That concern is also present in the doctrine of Alexandre Morais da Rosa, to whom the correlation
between the substantial and procedural criminal knowledge must seek deep identification of purposes,
2. CHARGING OF THE LEGAL ENTITIES BASED ON THE
i.e., a true merger of horizons (ROSA, Alexandre Morais da. Direito e processo penal juntos? (des) THEORY OF CORPORATION
caminhos do ensino jurídico. Revista brasileira de direito processual penal, Porto Alegre, vol. 1, n.
1, pages 202-217, 2015).
27. FLETCHER, George P. Basics concepts of Criminal Law. New York: Oxford University Press, 1998,
Just to outline the outlook of world used as the basis for the reflection
pages 8-9. In the words of the writer: “Our reflections on establishing guilt under the law are summa- herein, it should be repeated that the significant model not only overcomes
rized in the following syllogism:
Major: Whoever intentionally kills another person is guilty of murder. the criticism about the capacity of legal entities to act, but also allows for a
Minor: On January 1, 1996, John Jones intentionally killed Bruce Barnes.
Conclusion: John Jones is guilty of murder. harmonization between the criminal and corporate legal spheres, according to
This is the “syllogism of legal guilt.” The major premise is defined by the rules of substantive law. The
minor premise is a matter of fact, and the facts are established by following the procedures laid down in the work presented by Décio Franco David as the conclusion of the debates
procedural rules, namely, the rules for conducting a fair trial” (FLETCHER, George P. Op. cit., page 8).
28. In this sense, the following questions still requiring solution can be pointed out: a) how should be the
of the First Brazil-Germany Seminar on Criminal Liability of Legal Entities31.
procedural subpoena of the legal entity? That problem derives from the need to, besides defining who Let us see the main points supporting the proposed model:
is the procedural representative of the legal entity, confirm a theory of the process that is harmonic
with the theory of procedural accusation. In other words, it is necessary to create adequate criteria to The change of paradigm occurred in the technical knowledge of com-
address the scope of the legal entity in a criminal proceeding, in view of the incompatibility of the civil
procedural provisions to the object of the criminal proceeding. Likewise, it should be recalled the rules
inherent in procedural subpoena in criminal matters, which requires, as a general rule, the personal
mercial Law, turning it into corporate Law, gave new directions to the debates
subpoena (article 351, of the Code of Civil Procedure). Similarly, it is necessary to have definition about the activities and actions produced by legal entities. If, previously, the
about who is the due procedural representative, the person that is registered on the date of the fact or
on the date of the act (The same question is posed by CHOUKR, Fauzi Hassan. Aspectos processu- paradigm was based on the French system of acts of commerce (objective
ais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Canal Ciências Criminais. Available at: <https://
canalcienciascriminais.com.br/aspectos-processuais-da-responsabilidade-penal-da-pessoa-juridica/>.
Accessed on: July 15, 2018). b) problems with charging: specially the clear and undoubted definition questions, it is worth mentioning the works with broader analysis by Ricardo Gloeckner (Aspectos
about individualization of the conduct of the legal entity’s agent in its favor. But, without enabling processuais penais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: BUSATO, Paulo César (Org.).
a case of crypto-charging as properly highlighted by Ricardo Jacobsen Gloeckner (GLOECKNER, GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: se-
Ricardo Jacobsen. Nulidade na imputação criminal: Operação Lava Jato e o art. 383 do CPP Revista minário Brasil-Alemanha. Florianópolis: Tirant lo blanch, 2018, pages 153-165) and, in quite critical
Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 24, n. 122, pages 281-307., Aug. 2016) and/or ge- and contrary sense the possibliity of holding legal entities responsible, Helena Regina Lobo da Costa
neric or duplicated indictments. Nevertheless, it is necessary to define regarding the charging when (COSTA, Helena Regina Lobo da. Op. cit., pages 91-108).
it occurs, pursuant to the currently adopted model of hetero-liability, about the fact that the manager 29. Defined as the one in which management of the proof is not in the hands of the judge but belongs only
becomes disabled or dies before the subpoena or in the course of the proceeding. Would the succession to the parties, as defended, among several writers, by Aury Lopes Jr.: “it is simplistic to think that it is
of partners or the partial or total winding-up of the legal entity enable proceeding continuity? c) pro- enough to have an indictment (initial separation of the functions) to constitute an accusatory procee-
blems with evidences: how should the legal entity be interrogated? And how should the conflict and ding. It is necessary to maintain the separation in order not to break down the structure and, therefore, it
duplicity of versions presented by the company’s manager or administrator be handled when the latter is a logical and undeniable result that the action of proving is (always) in the hands of the parties. Only
appears as co-defendant in the proceeding? In addition, what is the legal nature of the testimony of the that allows for the impartiality of the judge” (LOPES JR., Aury. Fundamentos do processo penal:
authorized representative in view of the company’s charging? Is he an informer? Is he means of proof introdução crítica. São Paulo: Saraiva, 2015, page 153).
or does he appear as witness of the fact? After all, depending on the procedural role performed by him,
there will be different legal meaning. d) problems regarding injunctions: which procedural measures 30. In the same sense, ESTELLITA, Heloisa. Loc. cit. COSTA, Helena Regina Lobo da. Loc. cit.
are compatible with the nature of the legal entity? Which do not became advancing of the penalty? 31. Once again, DAVID, Décio Franco. Reflexões sobre os fundamentos teóricos da responsabilidade
Which do not impede the activity to be performed, even if there is absolving., etc. Regarding these penal da pessoa jurídica a partir da teoria da empresa. Op. cit.
488 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 489

concept)32, nowadays, by the adoption of the theory of corporation (modern Therefore, the theoretical cut adopted is the significant theory of con-
subjective concept of Italian origin)33, it is understood that the business op- duct , through which the bases outlining the elements of the theory of crime
38

erations corresponds to the full exercise of economically organized activities are modified (traditionally organized in conduct, typicality, anti-legality and
of production or circulation of goods or services34. culpability), systematizing the crime39 in: 1) Claim of relevance (type of action);
However, it is observed that just as in Criminal law, in the corporate 2) Claim of unlawfulness40; 3) Claim of refutability (guilt)41; and, 4) Claim of
sphere the individual is maintained as the conceptual core of the rules that reg- Punishment42. The theoretical cut substantiation the theory is the Philosophy
ulate business activity. That, in the perspective of Coelho, gives rise to confusion of Language according to Wittgenstein, specifically the Philosophical Investiga-
between corporate entrepreneurs and their partners, and the problem is wid- tions, notably the idea of ​​language games as a formula for identifying the action
ened by the distance between the technical concepts of Law and the colloquial as an expression of meaning, as well as the conception of communicative action
language that produce terminological confusion35. Hence, it would be more (although not of the discursive method) of Jürgen Habermas.
appropriate to promote the “adjustment between the legal text and the reality For this work, it is enough to analyze the claim of relevance (or type of
that is intended to regulate, so that the general discipline of the corporation action), which is composed of two categories: a conceptual claim (called by
(that is, the exercise of business activity) would be related to the corporate en- Tomás Salvador Vives Antón as claim of intelligibility43) corresponding to
trepreneur, reserving a few special provisions to the individual entrepreneur”36. the proof that a certain conduct corresponds to a type and a claim of offense
That same adjustment should apply to all legal spheres, especially when trying corresponding to the proof that a criminal legal asset has been offended at a
to define the activities carried out by legal entities subject to criminal sanctions. sufficiently relevant level to trigger the criminal apparatus44.
The main example of this is that when dealing with legal entities within Brasil-Alemanha. Florianópolis: Tirant lo blanch, 2018, pages 133-140.
the corporate scope, it is necessary to abandon the conception of action in the 38. Proposal already previously defended: DAVID, Décio Franco; BUSATO, Paulo César. A empresa é ca-
paz de ação? Uma proposta de discussão sobre a capacidade de rendimento da concepção significativa
traditional forms of criminal Law, since a legal entity performs legally valued da ação no Direito penal empresarial. In: LOBATO, José Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo
Orsini; SANTOS, Humberto Souza (Orgs.). Comentários ao Direito Penal Econômico Brasileiro.
activity, which, in the current theoretical system adopted are expressed by the Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2017, pages 19-44.
39. The doctrinarian origin of this classification is found in Tomás Salvador Vives Antón, specifically in:
activities receiving the adjective corporate. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal. Valencia: Tirant lo Blanch, 1996,
pages 484-487. In Brazil, the precursor work is BUSATO, Paulo César. Direito Penal e ação signifi-
In this sense, the theoretical cut of the conduct traditionally presented cativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. Notwithstanding this book (corresponding to his Master’s
Degree dissertation), Busato develops more in-depth assessment of some elements of his proposal in
in criminal Law is insufficient to address the subject matter analyzed herein, his Doctor’s Degree thesis on the attempt: BUSATO, Paulo César. La tentativa del delito: Análisis a
partir del concepto significativo de la acción. Curitiba: Juruá, 2011, pages 40-44.
and it is necessary to overcome an ontic projection of conduct, like what has 40. The claim of unlawfulness is divided into objective and subjective. The objective claim of unlawful-
occurred with the very determination of the legal nature of the legal entity37. ness corresponds to the formal anti-lawfulness which includes the permissive normative instances. The
subjective claim of unlawfulness corresponds to the subjective aspects of unfair which are referred
by the criminal type, represented by the categories of willful misconduct and guilt (refer to VIVES
32. “Theory of the acts of commerce is summarized, strictly speaking, to a list of economic activities, ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., page 485).
without being possible to found any internal connection element across them, which results into 41. Consisting of the writer’s rejection of the type of action that should have acted in a different manner.
non-definitions about the mercantile nature of some of them” (COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de As properly remarked by Vives Antón: “Es uma consecuencia inevitable de postular, de uma parte, la
Direito Comercial, vol. 1. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, page 15). One of the main difficulties of validez de la norma y, de outra, de situarse ante el presunto infractor em acitude participativa, esto
this theory is defining what are acts of commerce, according to a comprehensive theoretical expo- es, de no considerarlo meramente como um objecto de manipulación, sino como persona” (VIVES
sition by Rubens Requião (REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1. vol. 29. ed. rev. e ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., page 487).
atual. por Rubens Edmundo Requião. São Paulo: Saraiva, 2010, pages 36-37) and also by Tomazette
(TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial, vol. 1: Teoria geral e direito societário. 7. 42. The claim of punishment corresponds to the need for penalty, therefore it is closely related to the
ed. São Paulo: Atlas, 2016, pages 10-12) constitutional principle of proportionality. (VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Loc. cit.). As properly
33. “The theory of Corporation is, beyond any doubt, the new model of private discipline of the economy, emphasized by Busato, this form of punishment “does not correspond to the strict concept of punish-
more adequate to the reality of the superior capitalism” (COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., page 18). In ment, i.e. the questions related to it placed at the precise instance of materialization of the incriminated
the same sense, REQUIÃO, Rubens. Op cit., page 39. conduct (objective conditions of punishment and personal causes for exclusion of the penalty) but ac-
tually to a broad concept, which includes not only those referred elements, but also the circumstances
34. Refer to COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit., page 63. that, although verified after the incriminated action – but before the convicting sentence – also cause
35. COELHO, Fábio Ulhoa. Loc. cit. imposition of penalty to be unjustified (such as all the grace measures set forth in the affirmative sys-
36. COELHO, Fábio Ulhoa. Loc. cit. tem of law and even those not expressly set forth in the legislation)” BUSATO, Paulo César. Direito
37. Refer to DAVID, Décio Franco. Reflexões sobre os fundamentos teóricos da responsabilidade Penal. Op. cit., page 579, original emphasis.
penal da pessoa jurídica a partir da teoria da empresa. In: BUSATO, Paulo César (Org.). GRECO, 43. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., page 484.
Luís; BUSATO, Paulo César (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: seminário 44. BUSATO, Paulo César. Direito Penal: Parte Geral. Op. cit., page s269-270; BUSATO, Paulo César.
490 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 491

With the model of meaning, attention ceases to be on the subjective need an action in an ontological sense, but actually in the sense of meaning.
aspect resident in the mind of man to project specifically on the social di- It is observed that this analysis aims at reinterpreting the debate on crim-
mension of human action45. The grounds of the meaningful concept of action inal liability of the legal entity based on the corporate Law, which is why it is
are found in the “idea of ​​the perception of action as something that conveys precisely in the understanding of the capacity of the legal entity that lays one of
meaning”46. That perspective stems from the insertion of the philosophy of its great dilemmas. There are harsh criticisms of the doctrine regarding the legal
language in dogmatic studies of criminal Law, initially developed by Vives entity’s inability to act, which, as it has already been said, are superseded by the
Antón and George Patrick Fletcher. proposal of meaningful action.51 But those criticisms, and also this statement
The communicative notion of language allows the development of a about the need to overcome the dilemma of conduct did not take into account
humanistic approach to the concept of action, so that it does not begin with a specific finding: the corporate legal entity performs activities, that is to say, it
the study of the agent’s intention, “but with the way in which we, as observ- does not practice conduct in the traditional sense of the term for criminal Law52.
ers, understand if the movement or if no movement constitute action”47. In As explained above, company means activity, so the structuring of the ex-
other words, the delimitation and understanding of the action take place ercise of the legal entity’s capacity must be linked to the object defined in its
in the same way in which the meaning of a word or phrase is understood. constitutive act as activity (company). The abandonment of the ontic matrix of
Words do not convey meanings in the abstract, but only in the context of the legal nature of the legal entity, in itself, enables understanding that the legal
human interaction48. The same applies for events that are defined as action. acts and legal businesses performed by it are interpreted as linked to the corporate
The theory of meaning abandons the understanding of action as an element activities performed by the legal entity53. This understanding overcomes even the
composed of a physical fact (bodily movement) added to a mental fact (vo- extensive debate in criminal Law on the will of the legal entity54. And, if they
lition) and begins to understand action not as something that men do, but escape this linkage, there might be the piercing of the corporate veil of the
as the meaning of what they do49. Thus, “action can only have legal sense
provided it is interpreted together with its surroundings”50.
51. Again, DAVID, Décio Franco; BUSATO, Paulo César. A empresa é capaz de ação? Uma proposta
Therefore, the claim of relevance corresponds to the correct assimilation de discussão sobre a capacidade de rendimento da concepção significativa da ação no Direito penal
empresarial. Revista Justiça e Sistema Criminal, v. 9, n. 16, pages 205-232, Jan./Jun. 2017.
of the theory of corporation as structuring of the business action, promoting a 52. Regarding the adoption of a technical concept of conduct linked to a day-to-day concept (laic), refer to:
dogmatic adequacy to the criminal liability of legal entities. After all, relevant ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro, v.
1: Parte Geral. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, page 353 et seq.
legal possibilities of damage to the legal asset and their meanings must be 53. In a close sense, substantiating and limiting the accountability to the acts framed as legally due to the
nature, refer to: TIEDEMANN, Klaus. Manual de Derecho Penal Económico: Parte general y espe-
analyzed according to the substantial requirements of legitimacy, which arise cial. Valencia: Tirant lo Blanch, 2010, page 178.
54. On the will of the legal entity, refer to: BUSATO, Paulo César. Reflexões sobre o Sistema Penal do nosso
from the very notion of claim of relevance (type of action) which does not tempo. Op. cit, pages 211-225. An identical meaning is found in the civil doctrine of Caio Mário da Silva
Pereira where he stated that “Realizing the human interests or the social purposes proposed by them, the
legal entity proceed, in the field of law, as beings provided with ostensive autonomy. It is then necessary to
La tentativa del delito. Op. cit., pages 40-41. acknowledge their own will, which is manifested through the issuances of volition of the individuals, but not
45. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., page 244 et seq. confused with the individual will of each one, but resulting from the will of all” (PEREIRA, Caio Mário da
46. BUSATO, Paulo César. Direito Penal e ação significativa. Op. cit., page 155. Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. I: introdução ao Direito civil; teoria geral de direito civil. 20. ed.
47. FLETCHER, George Patrick. The Grammar of Criminal Law: American, comparative, and interna- Atualizado por Maria Celina Bodin de Moraes. Rio de Janeiro: Forense, 2004, page 308).
tional, v. I. New York: Oxford University Press, 2007, page 282 In a close sense to that defended up to this part of the work, we find some considerations of Dimitri
48. FLETCHER, George Patrick. The Grammar of Criminal Law. Loc. cit. Dimoulis: “Comparing the legal entity to the individual, we notice that the range of the individual
rights and liabilities is broader. The legal entity cannot practice acts like the individual who marries,
49. MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. La ‘concepción significativa de la acción’ de T. S. Vives y su raises a Family and disposes of its assets through wills, it does not exercise political rights and cannot
correspondencia sistemática con las concepciones teleológico-funcionales del delito. Anuario da Fa- be held responsible based on subjective criteria. How would it be possible to say that the legal enti-
cultade de Dereito da Universidade da Coruña, n. 5. 2001, pages 1078-1079. Available at: <http:// ty had “willful misconduct” or “guilt”? This finding is only partially true. Certainly the legal entity
ruc.udc.es/bitstream/2183/2100/1/AD-5-51.pdf>. Accessed on November 30, 2015. An identical ex- cannot practice acts designed for individuals, like those related to the Family circle. However, for the
cerpt in: MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. La ‘concepción significativa de la acción’ de T. S. Vi- rest it is not different from the individual. Nothing impedes the holding of the legal entity responsi-
ves y su correspondencia sistemática con las concepciones teleológico-funcionales del delito. Revista ble. That occurs in several countries, including in Brazil for some crimes, like the crimes against the
Electrónica de Ciencia Penal y Criminología, v. 1, n. 1. 1999. Available at: <http://criminet.ugr.es/ environment (article 3 of Law 9.605, of 1998). In addition, the legal entities governed by public law
recpc/recpc_01-13.html>. Accessed on: November 30, 2015. The same note is found in: BUSATO, exercise political competences, expressing their will by negotiations and voting within the range of the
Paulo César. Direito Penal e ação significativa. Op. cit., page 156. international organisms” (DIMOULIS, Dimitri. Manual de introdução ao estudo do Direito. 6. ed.
50. BUSATO, Paulo César. Direito Penal e ação significativa. Op. cit., page 162. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, page 225).
492 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 493

collective body, as it has traditionally occurs in the different extra-criminal areas55. 3. THE LEGAL ENTITY AS THE HOLDER OF CRIMINAL
That perspective allows a correct adaptation and harmonization of the PROCEDURAL GUARANTEES
different legal areas of incidence on the theme analyzed here, respecting, Given the space and thematic delimitation of the work herein, it is
therefore, one of the central characteristics of the economic criminal Law imperative to reiterate that as long as the criminal substantial theoretical-
that is the overlapping typicality56. That normative overlapping of different -dogmatic field is widely supported to defend the liability of legal entities,
areas’ needs, we should repeat, to be harmonic, under the risk of confu- the criminal procedural dogmatic lacks a lot of support. Just to emphasi-
sions between different branches when dealing with the same theme. After ze the absence of adequate procedural mechanisms, it should be pointed
making the qualifications of systematization, it is necessary to understand out that in PLS 156/2012 (Criminal Procedural Process Reform Project)
better how the activities of a corporate legal entity grounds are presented. there are only a few references to the expression “legal entity”, and those
In order to do so, we start from the logical and natural consequence of the mentions refers to notifications in the Special Criminal Court procedure,
attribution of legal personality to collective entities, which is the institution personal precautionary and real precautionary measures60. In other words,
of their capacity. Thus, if they have “a generic capacity for acquiring rights in Brazil, today, there is no legal system for prosecution of legal entities
and contracting obligations, they must obviously be assigned the necessary in criminal matters61. This finding derives from the initial question of this
power, and, moreover, the specific ability to exercise them”57. But, unlike the article: Is it possible to extend to the legal entity the guarantees and fun-
full capacity inherent to the individual, the legal entity has capacity only for damental rights of defendants in criminal proceedings, especially the right
acts linked to the purpose for which it was created. Obviously, the sphere of non-self-incrimination?
of action of the legal entity is not restricted to property activities. Quite In order to answer such a question, it is necessary to respect the the-
the opposite, by “gaining life” through the registration with the competent oretical framework presented. Hence, the answer will also come from the
agency (board of trade), the legal entity is granted property, compulsory, theoretical matrixes of the model of meaning, with special emphasis on the
succession rights (it can acquire for causa mortis), receives name and protec- philosophy of language.
tion to its name, its image and honor, adopts domicile, acquires nationality
and all other features of personality58, duly compatible with its nature59, 3.1. THE PROCEDURAL GAME AS A LANGUAGE GAME
also, as it will be seen below, procedural guarantees. MATERIALIZING CRIMINAL PROCEDURAL GUARANTEES OF
THE DEFENDANT
55. There are definitions expressed in several areas of the national Law linking expansion of the corporate As it is widely known, since the 20th century, Philosophy adopts language
object, obviously adjusted to the political-regulatory objectives of each area, as understood from analy-
sis of the following provisions: a) article 50 of the Civil Code; b) article 28 of the Consumer Protection as one of its main objects of study, which later results in the so-called linguistic
Code (with secondary application to the Labor Law by the normative authorization of articles 8 and
769 of the Labor Laws Consolidation); and , c) article 135 of the National Tax Code. turn62. One of the main characteristics of this turn was the finding that language
56. ESTELLITA, Heloisa. Tipicidade no Direito Penal Econômico. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, is an inter-subjective activity63. This finding originates in the works of Ludwig
René Ariel. Direito Penal Econômico e da Empresa: Direito Penal econômico. Coleção doutrinas
essenciais; v. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, pages 153-174. Regarding a criminal punitive Wittgenstein, mainly because of the very turn that occurred in his works64.
structuring respecting the principle of minimum intervention with leveling of unfairness through types
overlapped according to the level of offense, refer to: DAVID, Décio Franco. Delitos de acumulação According to Wittgenstein, it is impossible to exist a linguistic reference
e proteção ambiental. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2017, pages 248-259 and 269-292. Regar-
ding the relation of checking the levels of unfairness between the civil and criminal Law, but addres-
sing the theme by the violation of the system of law, refer to: GALVÃO, Fernando. Op. cit., page 70.
57. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Op. cit., pages 310-311. Based on the recognition of the legal perso- 60. Articles 294 (summoning of legal entity); 533, VI and XV; 596; 605; 615; 635; 652 (precautionary
nality, there are effects inherent in the capacity of the legal entities (ownership of business, full owner- measures against legal entities).
ship of process and equity autonomy) refer to: COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, 61. Neither Law no. 9.605/1998 provides diversifying or autonomous procedural mechanisms.
vol. 2: Direito de empresa. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, pages 14-16). 62. DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Direitos Fundamentais e Teoria Discursiva: dos pressupostos
58. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004 (coleção direito teóricos às limitações práticas. Salvador: Editora JusPodvim, 2018, page 56.
civil; v. 1), page 264. 63. DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Loc. cit.
59. In the national doctrine, Fernando Galvão takes an identical stance: “The current solution of the Civil 64. On this subject matter, refer to: STEGMÜLLER, Wolgang. A filosofia contemporânea: introdução
Law to the issue of liability of the legal entity has to be taken into account by the Criminal Law in crítica. Tradução de Adaury Fioritti e Edwino A. Royer, et alii. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Univer-
construct its peculiar theoretical building” (GALVÃO, Fernando. Op. cit., pages 69-70). sitária, 2012, page 402 et seq.
494 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 495

independent of interpersonal relations (community and speakers65), that is, conclusion that “it is not the instruments used in the game that determine what
through the language games (Sprachspiele) and forms of life (Lebensform)66. it is, but the composition of its rules shared with the other players.75”
The “expression ‘language game’ should emphasize here that speaking a lan- The same can be extended to the criminal procedural linguistic game. If the
guage is part of an activity or a form of life”67, since “the whole language game Federal Constitution assigns a set of limiting rules of state performance towards
is based on the recognition of words and objects”68. Thus, when Wittgenstein a Defendant, those are the rules that characterize the game and, by changing the
refers to language as part of a form of life, he is suggesting that language in- rules, the game is changed. Therefore, if the criminal proceedings are instituted
volves not only speaking, but also other activities, such as body expressions, under the marquee of constitutional guarantees, it is not possible to refute them
facial expressions, observations, etc., like what happens, for example, with to any defendant, whether individual or legal entity. The adoption of a proce-
the Brazilian Sign Language (LIBRAS)69. dural rule conflicting with the Federal Constitution will necessarily require the
Thus, when speaking of language games, reference is made to the mul- change of the game76, which will require new players. To better elucidate this
tiple uses of language that make speech a meaningful speech70, while other question, it is enough to consider several teams of different modalities of the
activities or multiple uses correspond to aspects of the form of life71. That same sports association. It is observed that the basketball team, as well as that
entails recognizing that by “using the expression forms of life, Wittgenstein of handball and indoor soccer, has an athlete who plays the pivot function and
would be incorporating into language precisely these inter-subjective situ- who uses the same uniform in all three modalities (we can even assign him the
ations which, despite being multiple, would not yet be language, thus not same uniform number ). However, it cannot be stated that it is the same pivot
involving arguments,72” but the practices in which individuals share meanings. for the different modalities. After all, what characterizes each world picture or
That is best understood if one uses the same example of the Austrian every form of life (sports activity) is its own set of rules (language games).
philosopher concerning the game of chess73, so that if two players agree that in Therefore, if the registration of a legal entity with the Board of Trade
their match they will use other parts instead of the traditional ones, that will effectively assigns to it rights and duties, those will include the procedural
not hinder the game, after all, the rules will be maintained74. That leads to the guarantees, since, according to Gema Rosado Iglesias, the rights and “proce-
dural capacity is, in short, a consequence of holding rights and obligations
65. This relation individual x community is one of the structuring basis of language, as noted by Cleverson and have the necessary conditions to exercise them.77” This is an inherent
Leite Bastos and Kleber B. B. Candiotto: “A language is a system of value shared in group involving
psycho-social factors and values that must be subsumed by the individual, the primary condition for finding of the constitutional model of criminal proceedings instituted since
him to remain and belong to his linguistic group” (BASTOS, Cleverson Leite; CANDIOTTO, Kleber
B. B. Filosofia da Linguagem. Petrópolis: Editora Vozes, 2007, page 31). 1988 in Brazil. After all, if the model established by the Federal Constitution
66. That is why it is impossible to link Wittgenstein’s philosophy of language to Heidegger’s philosophy
of language, since for the latter language “is the dwelling of the being” (HEIDEGGER, Martin. Carta is that of a State Governed by the Rule of Law, such a model must necessarily
sobre o humanismo. In: HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. Translation by Enio Paulo Gia-
chini and Ernildo Stein. Petrópolis: Editora Vozes, 2008, page 326). be a State of democracy and fundamental rights78. That finding is reinforced
67. WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Translation by Marcos G. Montagnoli. 8. ed. by the theoretical basis of the philosophy of language presented above and
Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2013, page 27.
68. WITTGENSTEIN, Ludwig. Da Certeza. Edição bilíngue. Tradução: Maria Elisa Costa. Lisboa: Edi- also defended by the renowned criminal law academic Silvina Bacigalupo,
ções 70, 2012, page 277, aphorism 455.
69. “We only know that, somehow, to speak is to speak the language. ‘To language the language’. To make
who states that it is necessary to protect the rights of the legal entity by virtue
it obvious. In languaging the language the speaking, the gesture, the message, the interchange, the of being in the same situation as an individual79.
language and the idiom come true” (BONACCINI, Juan Adolfo. Breve Ensaio em Torno à Linguagem.
Princípios: Revista de Filosofia (UFRN), v. 2, n. 02, October 6, 2010, page 62).
70. “Saying that a proposition as form of information has a use is not yet to say something about the type of
use that it has” (WITTGENSTEIN, Ludwig. Anotações sobre as cores. Bilingual Edition. Translation 75. DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Op. cit., page 57.
by Filipe Nogueira and Maria João Freitas. Lisboa: Edições 70, 2018, page 195, aphorism 336). 76. As properly defined by Vives Antón, a criminal system that subtracts principles and guarantees beco-
71. VELLOSO, Araceli. Forma de vida ou formas de vida? Philósophos – Revista de Filosofia [S.I.], v. 8, mes a fraud (VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., page 668).
n. 2, Jan. 2008, page 164. Available at: <https://revistas.ufg.br/philosophos/article/view/3211/3195>. 77. ROSADO IGLESIAS, Gema. La titularidad de derechos fundamentales por la persona jurídica.
Accessed on: January 08, 2019. Valencia: Tirant lo Blanch, 2004, page 57.
72. VELLOSO, Araceli. Op. cit., page 182. 78. VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Op. cit., page 680.
73. WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Op. cit., pages 111-113, §§195-200. 79. BACIGALUPO, Silvina. Los derechos fundamentales de las personas jurídicas.Revista del Poder
74. Same finding in DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Op. cit., page 57. Judicial, Madrid, n. 53, 1999, page 51.
496 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 497

For this reason, it should be repeated: it is necessary to reiterate the In Germany, item 3 of article 19 of the Fundamental Law of the Republic states
need to respect the fundamental guarantees to any person who appears in the that “Fundamental rights are also valid to legal entities based in the country,
defendant side of criminal proceedings, whether individual or legal entity80. provided that, for their essence, they apply to them.84” Likewise, article 12,
According to Ada Peligrini Grinover, “the constitutional guarantees of the item 2, of the Constitution of Portugal states that “Collective persons enjoy the
process are unquestionably applied to what is intended against the legal entity, rights and are subject to duties compatible with their nature”85.
as generally applicable supra-legal norms.81” Still according to the memorable Luis Castillo-Córdova, in a specific article on the subject, exposes that
procedure academic: the ownership of fundamental rights by the legal entity derives from the
Although historically related to the protection of individuals subjected to other rights expressed in constitutional texts, recognizing that, as a rule, a
criminal prosecution, their value cannot be underestimated when criminal constitutional text indicates a minimum list of rights inherent to collective
liability of the legal entity is currently admitted, since if the simple prosecu-
entities, on which it is already possible to link ownership to legal entities86,
tion of criminal proceedings has always been one of the greatest dramas for
the human person, the repercussions that a criminal charge addressed to a an understanding shared by Angel Gomez-Montoro87. It is also worth noting
company can generate on the ordinary development of its activities are not that already in 1989, long before the Spanish legal system recognized, by
at all less and, above all, to its concept and that of its leaders and employees means of a legal provision (Article 31-Bis, Spanish Criminal Code), crim-
within the community. inal liability of legal entities, José Manuel Diaz Lema already pronounced
Moreover, it should be pointed out that such guarantees do not only represent himself about the need to recognize fundamental rights to the legal entity,
subjective public rights of the parties, in an individualistic perspective, but as long as they were compatible with its nature, which is the reason why he
rather constitute guarantees of a fair process, according to a publicist vision
also highlighted the need to start from rights already recognized to collective
that assigns relevance to the general interest in the justice of the decision.
groups and then to assign ownership of fundamental rights to legal entities88.
Hence it is not possible to distinguish, in this important field, the criminal
It is also verified that even before the reform of 2015, the Superior Consti-
process that we would call traditional, aimed at imposing punitive sanctions
on the individual, of a new type of process, which now aims at holding legal tutional Court of Spain, in the Appeal for support no. 83/1994, decided by
entities liable. Thus, presumption of innocence, due process of law, contes- Judgment no. 139/1995, recognized the ownership of fundamental rights by
tation, full defense, right to appeal, right to remain silent, etc. are guarantees legal entities, only qualifying the need for the right to be compatible with its
that apply to any situation in which the occurrence of a fact that might result nature as a collective entity, as it is verified in item 4 of the legal grounds of
in the application of a criminal penalty is ascertained.82
the decision, the conclusion for the recognition resulted from the existence
In the same vein, Jordi Gimeno Beviá argues that the fundamental rights of other rights previously set forth in the constitutional text89, keeping the
of an individual should be extended to defendants that are legal entities83; also
84. ALEMANHA. Lei Fundamental da República Federal da Alemanha. Available at: <https://www.
pointing out that such a provision is expressly provided for in other countries. btg-bestellservice.de/pdf/80208000.pdf>. Accessed on: August 01, 2018.
85. PORTUGAL. Constituição da República Portuguesa. Available at: <http://www.parlamento.pt/Le-
80. On this subject, Angel Gomez-Montoro correctly affirms that “Entre los derechos que claramente pa- gislacao/paginas/constituicaorepublicaportuguesa.aspx> Accessed on: August 01, 2018.
recen atribuibles a las personas jurídicas están, en primer lugar, los contenidos en el artículo 24, apar- 86. CASTILLO-CÓRDOVA, Luis. La Persona Jurídica Como Titular de Derechos Fundamentales. Ac-
ta-dos 1 y 2 (derecho a la tutela judicial efectiva con todo lo que ello implica, derecho al juez ordinario, tualidad jurídica: información especializada para abogados y jueces, tomo 167. Piura: Repositororio
a la defensa y asistencia letrada, a ser informadas de las acusaciones que se formulen contra ellas, a Institucional Pirhua-Universidad de Piura, 2007, pages 8-10.
un proceso público sin dilaciones indebidas y con todas las garantías, a la presunción de inocencia e 87. GOMEZ-MONTORO, Angel. Op. cit., page 54 et seq.
incluso a no declarar contra sí mismas y a no declararse culpables)” [GOMEZ-MONTORO, Angel. 88. DÍAZ LEMA, José Manuel. ¿Tienen derechos fundamentales las personas jurídico-públicas?
(2000). La titularidad de derechos fundamentales por personas jurídicas: (análisis de la jurisprudencia Revista de Administración Pública, no 120. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constituciona-
del Tribunal Constitucional español). Cuestiones Constitucionales. 2. 71, page 56]. les. Septembre-Decembre/1989, pages 79-126.
81. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Re- 89. “La Constitución española no contiene ningún pronunciamiento general acerca de la titularidad de
vista de Direito Ambiental. Ano 9, v. 35. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, July-September, derechos fundamentales de las personas jurídicas, a diferencia, por ejemplo, de la Ley Fundamental
2004, pages 9-25 (page 2 of the file available on the online RT system). de Bonn de 1949, en la que expresamente su art. 19.3 reconoce que los derechos fundamentales
82. GRINOVER, Ada Pellegrini. Loc. cit. rigen para las personas jurídicas nacionales en tanto y en cuanto, por su naturaleza, sean aplicables
83. GIMENO BEVIÁ, Jordi. Compliance y proceso penal. El proceso penal de las personas jurídicas. a las mismas. De todos modos, si bien lo anterior es cierto, también lo es que ninguna norma, ni
Madrid: Civitas, 2016, page 234. In the same sense, STEINMETZ, Wilson Antônio; PINDUR, Flávia constitucional ni de rango legal, impide que las personas morales puedan ser sujetos de los dere-
Letícia de Mello. A titularidade de direitos fundamentais por pessoas jurídicas. Direito e Democracia chos fundamentales. La Constitución, además, contiene un reconocimiento expreso y específico de
(ULBRA), v. 7-2, pages 281-289, 2006. derechos fundamentales para determinados tipos de organizaciones. Así, por ejemplo, la libertad de
498 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 499

same line of reasoning. fundamental rights that can be owned and exercised by legal entities92 and
In a legal case of absence of law identical to that existing in the national those that are not93, emphasizing that the procedural guarantees arising from
system of law, in 2006, the Peruvian Constitutional Tribunal manifested it fundamental rights are extended to legal entities. The writer’s exposition is
view favoring the ownership of fundamental rights by legal entities, although streamlined with the one defended in this article, since in the procedural re-
there is no provision in the Peruvian system of law foreseeing such an ex- lation the collective entity acts as a party, a legal figure that does not require
tension90, using as the matrix for solution the fact that “legal entities cannot structuring elements of an ontological matrix.
be considered an end in themselves, but as a means that makes it possible to Following the line of reasoning presented by the Peruvian Constitu-
achieve certain ends that are difficult or impossible to achieve individually.91” tional Tribunal, in order for recognition of procedural guarantees of the legal
Analyzing those grounds, and also those contained in other decisions of entity in criminal procedural matters to occur, it would be enough to mention
the Peruvian Court, Luis Castillo-Córdova presents a division between the article 5, LV, of the Federal Constitution, in which it is provided that “the liti-
gants, in judicial or administrative proceedings, and the defendants in general
educación está reconocida a los centros docentes (art. 27 C.E.); el derecho a fundar confederaciones
are guaranteed the contestation and full defense, with the means and resourc-
está reconocido a los sindicatos (art. 28.1 C.E.); la libertad religiosa se garantiza a las asociaciones
de este carácter (art. 16 C.E.) o las asociaciones tienen reconocido el derecho de su propia existencia
es inherent therein,” so that the linguistic expressions used apply perfectly
(art. 22.4 C.E.). Junto a este reconocimiento, expreso o implícito, de titularidad de derechos funda- to the legal definition of collective entities94. And even if some procedural
mentales a las personas jurídicas, el texto constitucional delimita una peculiar esfera de protección.
Nuestra Constitución configura determinados derechos fundamentales para ser ejercidos de forma provisions mention the term “nobody” (e.g. article 5, LVII, Federal Consti-
individual; en cambio otros se consagran en el Texto constitucional a fin de ser ejercidos de forma
colectiva. Si el objetivo y función de los derechos fundamentales es la protección del individuo, sea tution: nobody shall be judged guilty until a final sentence of conviction has
como tal individuo o sea en colectividad, es lógico que las organizaciones que las personas natu-
rales crean para la protección de sus intereses sean titulares de derechos fundamentales, en tanto y been handed down), the same shall apply to legal entities provided they are
en cuanto éstos sirvan para proteger los fines para los que han sido constituidas. En consecuencia,
las personas colectivas no actúan, en estos casos, sólo en defensa de un interés legítimo en el sen- compatible with their nature; after all, those are guarantees deriving from
tido del art. 162.1 b) de la C.E., sino como titulares de un derecho propio. Atribuir a las personas fundamental rights inherent in the position of party in the proceeding95.
colectivas la titularidad de derechos fundamentales, y no un simple interés legítimo, supone crear
una muralla de derechos frente a cualesquiera poderes de pretensiones invasoras, y supone, además, Unfortunately, in addition to the absence of express normative provi-
ampliar el círculo de la eficacia de los mismos, más allá del ámbito de lo privado y de lo subjetivo
para ocupar un ámbito colectivo y social. Así se ha venido interpretando por este Tribunal, y es sion in the Brazilian legal system, the Supreme Federal Court, as exposed by
ejemplo reciente de esta construcción la STC 52/1995 por la que se reconoce a la empresa “Amaika,
Sociedad Anónima”, dedicada a la difusión de publicaciones, el derecho a expresar y difundir ideas, Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy and Patricia Perrone Campos Mello96,
pensamientos y opiniones, consagrado en el art. 20.1 a) C.E. Sin embargo, la protección que los
derechos fundamentales otorgan a las personas jurídicas no se agota aquí. Hemos dicho que existe in precedents of the a similar matter, ended up not broadly recognizing rights
un reconocimiento específico de titularidad de determinados derechos fundamentales respecto de
ciertas organizaciones. Hemos dicho, también, que debe existir un reconocimiento de titularidad
a las personas jurídicas de derechos fundamentales acordes con los fines para los que la persona 92. Rights of equality, freedom of information, opinion, expression and diffusion of thoughts through
natural las ha constituido. En fin, y como corolario de esta construcción jurídica, debe reconocer- verbal or written word or image, by any means of social communication; right to information; right
se otra esfera de protección a las personas morales, asociaciones, entidades o empresas, gracias a to honor and to good reputation; right to inviolability of domicile; freedom of residence; freedom to
los derechos fundamentales que aseguren el cumplimiento de aquellos fines para los que han sido contract; right to property; right to due process of law and all the jurisdictional guarantees; freedom of
constituídas, garantizando sus condiciones de existencia e identidad. Cierto es que, por falta de una work (CASTILLO-CÓRDOVA, Luis. Op. cit., pages 13-14).
existencia física, las personas jurídicas no pueden ser titulares del derecho a la vida, del derecho
a la integridad física, ni portadoras de la dignidad humana. Pero si el derecho a asociarse es un 93. Right to life; right to identity; right to moral, mental and physical integrity and to free development and
derecho constitucional y si los fines de la persona colectiva están protegidos constitucionalmente well-being; freedom of conscience; right to personal and family intimacy; right to voice and image;
por el reconocimiento de la titularidad de aquellos derechos acordes con los mismos, resulta lógico right to remain in silence for their political, philosophical, religious or other convictions; right to ethnic
que se les reconozca también constitucionalmente la titularidad de aquellos otros derechos que sean and cultural identity; right to peace, tranquility, enjoyment of free time and rest, as well as to enjoy a
necesarios y complementarios para la consecución de esos fines. En ocasiones, ello sólo será posible balanced and adequate environment for the development of their life; right to self-defense; the right to
si se extiende a las personas colectivas la titularidad de derechos fundamentales que protejan -como personal liberty and security; right to marriage; right to health protection; the right to social security
decíamos- su propia existencia e identidad, a fin de asegurar el libre desarrollo de su actividad, en la (CASTILLO-CÓRDOVA, Luis, Op. cit., pages 12-13).
medida en que los derechos fundamentales que cumplan esta función sean atribuibles, por su natura- 94. Gema Rosado Iglesias states that through procedural instruments it has become feasible to recognize
leza, a las personas jurídicas”. (SPAIN. Superior Constitutional Tribunal. Judgment no. 139/1995, ownership of fundamental rights by legal entities in the Spanish system of law with the 1978 Constitu-
Room One, judged on September 26, 1995, legal ground no. 4). tion, mainly the right to the appeal for support (article 162, CE) and effective legal protection (article
90. “Siendo no excepcional que las personas jurídicas sean parte de distintos tipos de procesos o procedi- 24, CE), refer to. ROSADO IGLESIAS, Gema. Op. cit., pages 138-163.
mientos en sede judicial o administrativa, es razonable afirmar que en este ámbito les debe ser reconocido 95. Curiously, it should be noted that in civil procedural law, the application of those guarantees has never
el derecho al debido proceso y la tutela procesal efectiva. En tal mérito, resulta plenamente factible que been questioned.
una persona jurídica entable un proceso constitucional en tutela de sus derechos fundamentales, puesto 96. GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes; MELLO, Patrícia Perrone Campos. A titularidade dos direi-
que su reconocimiento exige que se cuente con mecanismos de defensa adecuados para su protección” tos fundamentais por parte de pessoas jurídicas. A empresa como agente de efetivação dos direirtos
(PERU. Peruvian Constitutional Tribunal. Decision no. 1567-2006-PA/TC, legal ground no. 9, page 8). sociais: notas introdutórias ao direito empresarial constitucional. Rev. Bras. Polít. Públicas (Online),
91. PERU. Peruvian Constitutional Tribunal. Decision no. 1567-2006-PA/TC, legal ground no. 7, page 7. Brasília, v. 6, nº 3, 2016 pages 99-119.
500 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 501

for legal entities, notably those linked to the exercise of fundamental rights, cannot be deprived of procedural instruments in a situation identical to the one
such as the sponsorship of political parties, the filing of an injunction, etc. considered here. The Chairman of the Panel, Justice Marco Aurélio, closes the
Regarding the extension of certain guarantees and freedoms97 to de- debate stating that it would be possible for the legal entity to resort to a writ of
fendant legal entities in criminal proceedings, the First Panel of the Supreme mandamus, a quite questionable stance. After all, the category of certain and
Federal Court expressed its opposition to the possibility of a legal entity firm right does not conform to the situation narrated by the Rapporteur Justice.
having standing to sue to file habeas corpus, as decided in HC 92.921/BA. Thus, certainly, the understanding that must prevail cannot be that of the
The rapporteur, Justice Ricardo Lewandowski, stated in his vote that the STF, since from the moment when criminal political stance of criminal prose-
case reflected “the perplexity of our criminal system which is not yet fully cution of legal entities is assumed, it would be obviously fair to extend them
equipped to recognize the criminal liability of a legal entity,” acknowledging, the procedural instruments, role of defendants in criminal proceedings, nothing
however, that it is “feasible to file for habeas corpus to remedy any illegality or more just as the procedural, even though they are not the most adequate instru-
abuse of power stemming from criminal proceedings in which the legal entity mental mechanisms, since the analogy can be used in favor of the defendant.
is included in the defendant side, especially considering the lack of adequacy In short, fundamental rights apply to any defendant in criminal pro-
of the procedural system to the new reality represented by the criminalization ceedings, regardless of whether being an individual or a legal entity. After all,
of the actions practiced by such entities”. the fundamental rights and guarantees apply to anyone who is subject to state
However, he was a defeated vote, and it is possible to summarize the actions or coercion, that is to say, those that appear as defendants in crimi-
votes of the other justices in the fact that the legal entity does not enjoy nal proceedings98. Therefore, the guiding principles of criminal proceedings
freedom of movement, which is why the writ would not apply to collective must also be extended to the legal entity, such as the right of non-self-incri-
bodies (grounds included in the manifestation of Justice Marco Aurélio). In mination99 and the presumption of innocence.
addition, for Justice Menezes de Direito, accepting that a legal entity files for
3.2. BRIEF COMMENTS ON THE FENCE OF SELF-INCRIMINATION
habeas corpus in its own favor would constitute an injury to the traditional AS A CRIMINAL PROCEDURAL GUARANTEE OF THE LEGAL ENTITY
doctrine of the writ, noting that “our case law has religiously accompanied the
The due process of law does not impose procedural rules only, but it ex-
idea that the habeas corpus should be limited to the defense against penalty of
presses itself as effective material (substantial) protection of guarantees of the
deprivation of freedom”. For Justice Carmen Lúcia, freedom is inherent to the
defendant100. This is the model adopted by 1988 Federal Constitution, so it
human being, and that ground was followed by Justice Carlos Ayres Britto,
is essential to note that “criminal proceedings must be read in the light of the
who also made a profound reflection on the terms contained in constitutional
Constitution and not the contrary”101, which creates its instrumental func-
provisions and their linking to individuals.
tion, that is, criminal proceedings must be at the “service of the realization of
Nevertheless, although the result was contrary to the considerations the democratic project.102” Hence the importance of respecting the principles
presented here, the point with the greatest consideration of the judgment is of criminal procedure and the fundamental guarantees and freedoms of the
the question raised by Justice Lewandowski at the end of the judgment: “The
only point that makes me somewhat overwhelmed – I want to point this out 98. “Acknowledging the legal entity as holding fundamental rights corresponds to acknowledging it as a
as my last words – is the following: A criminal action instituted without just subject of Law also in the sphere of the Fundamental Rights “ (BACIGALUPO, Silvina. Op. cit., page
51).
cause, obviously without just cause, exclusively against a legal entity will not 99. “Si la persona jurídica puede ser sujeto passivo del proceso penal, lo ha de ser a todos lós efectos, es
decir, com todos los derechos y garantías procesales. El derecho fundamental a no autoincriminarse,
find remedy in our system of law”. es absolutamente predicable por las socierdades em el proceso penal” (GIMENO BEVIÁ, Jordi. Loc.
cit.).
Justice Lewandowski’s question is of the utmost importance. A legal entity 100. Refer to BONATO, Gilson. Devido processo legal e garantias processuais penais. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2003, page 30 et seq.
97. In certain actions, it does not refer to fundamental rights of freedoms, like the freedom to movement in 101. LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. Op. cit., page 45.
the habeas corpus. 102. LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. Op. cit., page 50.
502 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 503

defendants. It is within this context that the principle of prohibition of self- to participate in recognition, confrontation or simulated reproduction of the
-incrimination (nemo tenetur sine detegere) – which in the national system of facts; 6) the right to be excused from interrogation; 7) the fence of captious
law has the hierarchy of supra-legal norm103 – shall be analyzed. or threatening questions; 8) the right not to undergo alcohol ingestion test;
But, is the referred fence extensible to the legal entity as a defendant in 9) the possibility of invoking the principle before any authority or court; 10)
the criminal proceeding? According to André de Carvalho Ramos, in the inter- the non-characterization of crimes such as false testimony or contempt and
national scope of Human Rights and Comparative Law, “fundamental rights disobedience; 11) the availability of collaboration in the form of the law; 13)
are recognized to legal entities in any case of e rights that, by their nature, can in spite of the right to silence, a duty to identify oneself in the first phase of
be exercised by them. Thus, the right to property, to the protection of objec- the interrogation; 14) the legality of non-invasive proofs108.
tive honor, to access justice, among others, are rights commonly exercised.104” It should be noted that such fragmentation of the effects of the principle
According to the writer, if that is not recognized, “the actual individuals who does not preclude the extension of its applicability to other circumstances,
organize themselves in associations, commercial legal entities, trade unions, such as the delimitation of the burden of proof, which derives from the
among others, would be unprotected at various moments of their lives.105” state of non-culpability109. In this sense, when analyzing the outcome of the
According to Paulo Queiroz, the principle of non-self-incrimination principle in the procedural probative field involving the legal entity, some
does not have only a negative aspect (the right not to be coerced into pro- reflections need to be made, but always based on the fundamental guarantees
ducing evidence against oneself ), but also a positive aspect, which presents extended to the legal entity, which is the reason why, it should be repeated
itself as the “right to produce and refute proof.106” Obviously, this positive that the legal entity has the guarantee of the presumption of non-culpabi-
aspect derives directly from the contestation and full defense and not just lity, which prevents the production of proof against oneself (nemo tenetur
from the considered principle. It is important to mention that the nemo se detegere) and the reversal of the burden of proof, mechanisms that can be
tenetur guarantees to the defendant, as a rule, an omission (not to self-in- practiced in other areas of Law, such as consumer relations (6, item VIII of
criminate), which does not correspond to the practice of illegal actions like the Consumer Protection Code).
destroying evidence or coercing witnesses107. Also, sheltered by the doctrine In particular attention to the burden of proof, Adán Nieto Martín
of Paulo Queiroz, it is possible to identify fourteen practical consequences of points out that several countries determine the reversal of the burden, espe-
the principles: 1) the right to silence; 2) the need to be informed in advance cially when a compliance program is in place and in operation110. According
about the guarantee to silence; 3) the privilege of not taking an oath or com- to the writer, the European regulations on criminal liability of legal entities
mitment to speak the truth; 4) the right to refuse to deliver documents and and their evidentiary rules end up producing a privatization of criminal inves-
to perform any active behavior that incriminates the defendant; 5) the refusal tigation in crimes against the economy111, which requires a reflection on the
108. QUEIROZ, Paulo. Op. cit., pages 120-121.
103. That principle is expressed in article 8.2, “g” of the American Convention on Human Rights and Proce- 109. According to Coral Aranguüena Fanego those guarantees are embedded in the form by how the Eu-
dural Guarantees, and in the Extraordinary Appeal no. 466.343/SP, the Supreme Federal Court decided ropean Convention on Human Rights handled the subject: “La jurisprudencia europea ha considerado
that international treaties on human rights in which Brazil is a subscriber have supra-legal normative que el derecho al silencio, a no declarar contra sí mesmo y a no declararse culpado, si bien no citados
status. On this subject matter, refer to: BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 3. ed. São Pau- expressamente en el art-6 CEDH, representan elementos esenciales de la noción de proceso justo
lo: Revista dos Tribunais, 2015, pages 33-38. It is important to note that for Maria Elizabeth Queijo, directamente vinculado a la presuncíon de inocencia y em tal sentido se ha recogido de manera ex-
the principle of the nemo tenetur has the status of fundamental guarantee of defendants in criminal pressa de la Directiva 2016/343/UE”(ARANGÜENA FANEGO, Coral. Proceso penal frente a persona
proceeding, refer to QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo: o jurídica: garantías procesales. Diritto Penale Contemporaneo: Rivista Trimestrale. Milano: 02/2018,
princípio ‘nemo tenetur se detegere’ e suas decorrências no processo penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, page 36. Available at: <http://dpc-rivista-trimestrale.criminaljusticenetwork.eu/pdf/aranguena.pdf>.
2012, pages 77-78. Accessed on: March 20, 2019.
104. RAMOS, André de Carvalho. O Direito da Concorrência e o privilégio contra a auto-incriminação: a 110. NIETO MARTÍN, Adán. Compliance, criminologia e responsabilidade penal de pessoas jurídicas. In:
experiência da União Européia e o Brasil. In: ROCHA, João Carlos de Carvalho; MOURA JÚNIOR, NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes (Co-
Flávio Paixão de; DOBROWOLSKI, Samantha Chantal; SOUZA, Zani Tobias de. (Org.). Lei Anti- ord. Brasileira). Manual de cumprimento normativo e responsabilidade penal das pessoas jurídicas.
truste 10 anos de combate ao abuso de poder econômico. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, page 20. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, pages 118-119.
105. RAMOS, André de Carvalho. Loc. cit. 111. NIETO MARTÍN, Adán. Op. cit., pages 119-122; NIETO MARTÍN, Adán. Investigações internas. In:
106. QUEIROZ, Paulo. Direito Processual Penal. Salvador: Jus Podivm, 2018, page 119. NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes (Co-
107. QUEIROZ, Paulo. Op. cit., page 120. ord. Brasileira). Manual de cumprimento normativo e responsabilidade penal das pessoas jurídicas.
504 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 505

scope of the fences and limits in investigation matters; notably regarding the for criminal action. Those evidentiary elements are identified based on data
delimitation between private and public sphere of production of evidence112. included in governmental investigations, so that an absolute fence on docu-
Notwithstanding the need to create mechanisms in order to adequately assess, ment delivery would not only impede fair investigations but would also create
in the judicial sphere, the evidence produced internally by the legal entities, huge confusion in other areas of governmental control. It seems to us that the
such as those produced in internal investigations and complaint channels113; solution would be the imposing of limits on the sharing of evidence for the
noting that such evidence cannot infringe fundamental rights114. criminal proceeding, a subject matter that cannot be analyzed at the moment.
For information purposes, it should be noted that in the United States, In summary, we repeat, therefore, the need to observe the procedural position
this fence to self-incrimination does not fully protect the legal entity. In a of a party and not if it refers to an individual or a legal entity. That considera-
thematic monographic work, Sandra Oliveira e Silva analyzes several US court tion would create a disharmonious system directed to a model of procedural
judgments which ascertained that the internal personnel of the legal entity system of the author.
had been impelled to deliver documents and materials115. The grounds of such In addition, by the nemo tenetur it is still guaranteed that the silence
determinations attempt to justify the measure by the fact that the nemo tenetur cannot be understood like implied confession, as affirmed by Vicente Greco
has a personal (ontological) characteristic, which does not seem correct to us. Filho117. As repeated throughout this work, it is once again stated that “all the
According to Coral Arangüena Fanego, this is the direction adopted by constitutional guarantees apply to criminal action prosecuted against the legal
the STC in Spain. However, the supporting ground is different. According to entity. Therefore, before entering into the theme of interrogation of the legal
the extensive doctrine and case law cited by the Professor of Derecho Procesal entity, it should be noted that it also, as a defendant, enjoys the guarantee of
Universidad de Valladolid, the STC does not recognize as an infraction of the right to silence.118” Thereby, we emphasize that because of the right to
the fundamental guarantee the duty to deliver documents arising from legal silence and the interrogation being intimately connected, “the interrogation
obligations from areas other than criminal proceedings, such as, for example, must be the outcome of the choice of the accused person (individual or legal
in duties of reporting for tax records116 or documents submitted in bidding entity) as a manifestation of free and conscious will.119”
processes. However, this brings to light the need to rethink a harmonized model Regarding the exercise of self-defense in interrogation, Ada Peligrini
of criminal and extra-criminal mechanisms for the exercise of social control. Grinover defended the need of the act being carried out the person of its admi-
One possible solution would be to prohibit the sharing of those documents nistrator120, not being possible the performance by a proxy121. However, greater
among the prosecution spheres, which is very difficult, notably when it refers problems arise in view of eventual conflicts of interest between the testimony of
to analyzing the evidences of fact and of law that materializes the just cause the administrator and the legal entity itself, so that a solution could be the inte-
resting proposition verified in French law of an administrator being appointed
Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, pages 324-325. for the process according to article 706-43 of the Code de procédure pénale122).
112. Refer to GRECO, Luís; CARACAS, Christian. Internal Investigations e o princípio da não auto-incri-
minação. In: LOBATO, José Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo Orsini; SANTOS, Humberto
Souza (Org.). Comentários ao Direito Penal Econômico Brasileiro. Belo Horizonte: D’Plácido,
2017, pages 787-819. José Raimundo Leite Filho states that in the private investigation range, the 117. GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, page 58.
nemo tenetur does not apply (LEITE FILHO, José Raimundo. Corrupção Internacional, criminal 118. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Re-
compliance e investigações internas: limites à produção e valoração dos interrogatórios privados. Rio vista de Direito Ambiental. Op. cit. (page 6 of the file available on the online RT system).
de Janeiro: Lumen Juris, 2018, page 230). 119. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Re-
113. NIETO MARTÍN, Adán. Investigações internas. Op. cit., pages 333-334; On the use of internal inves- vista de Direito Ambiental. Loc. cit.
tigations in the Brazilian criminal Law, refer to: BELTRAME, Priscila Akemi. Investigações internas. 120. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. In:
In: NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes GOMES, Luiz Flávio (coord). Responsabilidade penal da pessoa jurídica e medidas provisórias e
(Coord. Brasileira). Manual de cumprimento normativo e responsabilidade penal das pessoas jurídi- direito penal. Loc. cit.
cas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, pages 335-342. 121. GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Re-
114. BELTRAME, Priscila Akemi. Op. cit., pages 338-339. vista de Direito Ambiental. Op. cit. (page 11 of the file available in the online RT system).
115. SILVA, Sandra Oliveira e. O arguido como meio de prova contra si mesmo: considerações em torno 122. Article 706-43. L’action publique est exercée à l’encontre de la personne morale prise en la personne
do princípio nemo tenetur se ipsum accusare. Coimbra: Almedina, 2018, page 247 et seq. de son représentant légal à l’époque des poursuites. (FRANÇA. Code de procédure pénale. Available
116. ARANGÜENA FANEGO, Coral. Op. cit., page 37. at: <https://www.legifrance.gouv.fr/> Accessed on August 01, 2018).
506 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 507

However, Ricardo Jacobsen Gloeckner seems to be more reasonable in that there are incentives in Spanish legislation, as in other countries mentio-
stating that “the act of interrogation only makes sense in view of charges against ned by him, for collaboration agreements to occur127.
individuals, and there are not the slightest traces of adequacy regarding the pro- Finally, all the situations indicated herein are only considerations to sti-
cessing of the legal entity”123, which is the reason why re-interpretations of the mulate the debate on the subject, with a need for legislative constructions to
act are necessary. A third hypothesis could correspond to the restructuring of guide and harmonize the constitutional model128, since any and every means
the act for operation as verified in other procedural spheres, in the sense that the of coercion in the criminal proceeding “can only move within the limits al-
legal entity itself should appoint someone to speak on its behalf in the procedu- ready prescribed, in advance, by the nemo tenetur principle.129”
ral act within the limit of content deliberated by the shareholders’ meeting or by
the board of executive officers. After all, the will of the legal entity, in the terms 4. CONCLUSIONS
defended herein, corresponds to a result and not to a sum124. However, bearing 1. The criminal liability of legal entities is a firm path to criminal Law,
in mind that the interrogation corresponds to the exercise of self-defense, it which is the reason why it is necessary not only to identify the most appropriate
would be necessary an internal deliberation addressed to the exercise of defense theory, but also to propose procedural instruments to give effect to such liability;
in the best interest of the legal entity. So that the closest to this possibility should
2. The model with the theoretical framework most appropriate to the
be the legal determination that the interrogation be carried out in the person of
proposal is the system of meaning, since by observing the theoretical proposals
the manager or if there is a conflict of interest between the latter and the legal
of the legal business field, it reinforces the criminal sphere as the ultima ratio;
entity, that a regulation be established directing to the shareholders or to the
board of executive officers to appoint a qualified person to carry out the act or, 3. The legal entity, when becoming part of the defendant side of a cri-
yet, to do so in writing in a format similar to that already provided for in article minal action, must enjoy the fundamental rights, freedoms and guarantees
199, concerning confession outside the interrogation. After all, if such content inherent in any person who appears as a defendant in criminal proceedings,
is allowed for a form of self-defense (confession) it should be extended to every otherwise a non-democratic punitive mechanism will be structured;
form of manifestation in an interrogation. 4. The proposal of meaning, in using the philosophy of language of
Reflecting on this problem, José Luis Gonzáles Cussac analyzes a very the second Wittgenstein enables a correct understanding of the extension
peculiar situation: in case there is a confusion of interests between the mana- of the fundamental rights of the defendants to the legal entity through the
ger/administrator and the legal entity, not by differentiation, but by absolute delimitation of the world outlook and of the language games that identify
and substantial identity between the two persons, according to the Spanish a procedural party. The recognition that the legal entity may be the holder
writer, only the individual should be charged, in respect to personal liabi- of fundamental rights is already a reality in several systems of law, such as
lity125. An interesting qualification is made by Adán Nieto Martín, for whom Germany, Portugal, Spain and Peru;
conflicts of interest and versions about the facts can be better elucidated 5. In structuring a model that leverages fundamental guarantees, the
by the internal investigations that will later be brought to the judicial case Federal Constitution of 1988 has implemented as an instrumental charac-
records126, which would put an end to such conflicts. Nieto Martín also notes teristic of the process respect for fundamental rights and freedoms, so that
even if the theoretical proposal of the philosophy of language is refuted, it is
123. GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Aspectos processuais penais da responsabilidade penal da pessoa
jurídica. Op. cit., page 164. necessary to recognize the extension of the fundamental rights to the legal
124. On this subject matter, refer to: BUSATO, Paulo César. Vontade penal da pessoa jurídica: um problema
prático de imputação de responsabilidade criminal. Revista da Escola de Magistratura do Estado de entity, by the other rights indicated in the constitutional text to the collective
Rondônia, v. 08, n.8. Porto Velho: TJ/RO, 2001, pages 289-306.
125. GONZÁLES CUSSAC, José Luis. O modelo espanhol de responsabilidade penal de pessoas jurídicas. 127. NIETO MARTÍN, Adán. Investigações internas. Op. cit., page 322.
In: OLIVEIRA, William Terra de; LEITE NETO, Pedro Ferreira; ESSADO, Tiago Cintra; SAAD-DI- 128. Refer to TREVIZAN Flávia. A pessoa jurídica no processo penal. in: CÂMARA, Luiz Antonio (Co-
NIZ, Eduardo. Direito penal econômico: Estudos em homenagem aos 75 anos do Professor Klaus ord.). Crimes contra a Ordem Econômica e a Tutela de Direitos Fundamentais. Curitiba: Juruá,
Tiedmann. São Paulo: Liber Ars, 2013, page 390. 2009, page 170.
126. NIETO MARTÍN, Adán. Investigações internas. Op. cit., pages 327-328. 129. GRECO, Luís; CARACAS, Christian. Op. cit., pages 801-802.
508 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 509

groups or by virtue of a certain legal position (e.g. disputing party). Lumen Juris, 2006, pages 511-523.
BUSATO, Paulo César. Vontade penal da pessoa jurídica: um problema prático de imputação de res-
6. If the guarantees are extended to the legal entities, another logical ponsabilidade criminal. Revista da Escola de Magistratura do Estado de Rondônia, v. 08, n.8. Porto
consequence will be the need to respect the reporting principles of criminal Velho: TJ/RO, 2001, pages 289-306.
CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: breve estudo crítico. Re-
proceedings, including the fencing of self-incrimination (nemo tenetur) and vista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 11, n. 41, pages 152-178., Jan./Mar. 2003.
the presumption of innocence; CASTILLO-CÓRDOVA, Luis. La Persona Jurídica Como Titular de Derechos Fundamentales. Ac-
tualidad jurídica: información especializada para abogados y jueces, tomo 167. Piura: Repositororio
7. The nemo tenetur must delimit all forms of the State action over a legal Institucional Pirhua-Universidad de Piura, 2007.
entity who is a defendant in a criminal proceeding, and it is necessary to esta- CHOUKR, Fauzi Hassan. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Canal
Ciências Criminais. Available at: <https://canalcienciascriminais.com.br/aspectos-processuais-da-res-
blish boundary and adequate rules for the sharing of evidence derived from legal ponsabilidade-penal-da-pessoa-juridica/>. Accessed on: September 15, 2017.
duties of other areas of Law, such as tax determinations and bidding procedures. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 1. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
Clearly the debate is far from being concluded, however, if the article herein COSTA, Helena Regina Lobo da. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: Um panorama sobre sua
aplicação no Direito brasileiro. in: IBCCRIM 25 Anos. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, pages 91-108.
serves to expand the discussion and verticalize the theme in a systematized form
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. A lide e o conteúdo do processo penal. Curitiba: Juruá, 1989.
to the constitutional matrices, it will already have fulfilled its role. DALLA BARBA, Rafael Giorgio. Direitos Fundamentais e Teoria Discursiva: dos pressupostos teóri-
cos às limitações práticas. Salvador: Editora JusPodvim, 2018.
5. BIBLIOGRAPHICAL REFERENCES DAVID, Décio Franco. Delitos de acumulação e proteção ambiental. Belo Horizonte: Editora D’Plá-
cido, 2017.
ALEMANHA. Lei Fundamental da República Federal da Alemanha. Available at: <https://www.
btg-bestellservice.de/pdf/80208000.pdf>. Accessed on: August 01, 2018. ______. Fundamentação principiológica do Direito Penal Econômico: um debate sobre a autono-
mia científica da tutela penal na seara econômica. 2014.263. Dissertation (Master’s Degree in Legal
ARANGÜENA FANEGO, Coral. Proceso penal frente a persona jurídica: garantías procesales. Dirit- Sciences) – Universidade Estadual do Norte do Paraná, Jacarezinho, Paraná.
to Penale Contemporaneo: Rivista Trimestrale. Milano: 02/2018, pages 24-42. Available at: <http://
dpc-rivista-trimestrale.criminaljusticenetwork.eu/pdf/aranguena.pdf>. Accessed on: March 20, 2019. ______. Reflexões sobre os fundamentos teóricos da responsabilidade penal da pessoa jurídica a par-
tir da teoria da empresa. In: BUSATO, Paulo César (Org.). GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César
BACIGALUPO, Silvina. Los derechos fundamentales de las personas jurídicas.Revista del Poder Judi- (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: seminário Brasil-Alemanha. Florianópolis:
cial, Madrid, n. 53, 1999, pages 49-105. Tirant lo blanch, 2018, pages 133-152.
BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015 ______; BUSATO, Paulo César. A empresa é capaz de ação? Uma proposta de discussão sobre a capaci-
BASTOS, Cleverson Leite; CANDIOTTO, Kleber B. B. Filosofia da Linguagem. Petrópolis: Editora dade de rendimento da concepção significativa da ação no Direito penal empresarial. In: LOBATO, José
Vozes, 2007. Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo Orsini; SANTOS, Humberto Souza (Org.). Comentários
ao Direito Penal Econômico Brasileiro. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, pages 19-44.
BELTRAME, Priscila Akemi. Investigações internas. In: NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol);
SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes (Coord. Brasileira). Manual de cumprimento norma- ______; ______. A empresa é capaz de ação? Uma proposta de discussão sobre a capacidade de ren-
tivo e responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, pages 335-342. dimento da concepção significativa da ação no Direito penal empresarial. Revista Justiça e Sistema
Criminal, v. 9, n. 16, pages 205-232, Jan./Jun. 2017.
BONACCINI, Juan Adolfo. Breve Ensaio em Torno à Linguagem. Princípios: Revista de Filosofia
(UFRN), v. 2, n. 02, October 6, 2010, pages 60-75. DÍAZ LEMA, José Manuel. ¿Tienen derechos fundamentales las personas jurídico-públicas? Revista de
Administración Pública, no 120. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales. September-
BONATO, Gilson. Devido processo legal e garantias processuais penais. Rio de Janeiro: Lumen
-December/1989, pages 79-126.
Juris, 2003.
DIMOULIS, Dimitri. Manual de introdução ao estudo do Direito. 6. ed. São Paulo: Revista dos
BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
Tribunais, 2014.
______. Direito Penal e ação significativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.
SPAIN. Constitución Española . Available at: <http://www.lamoncloa.gob.es/documents/constitu-
______. La tentativa del delito: Análisis a partir del concepto significativo de la acción. Curitiba: Juruá, cion_es1.pdf>. Accessed on March 30, 2019.
2011.
SPAIN. Superior Constitutional Tribunal. Sentence no. 139/1995, Room One, judged on September
______. Reflexões sobre o sistema penal do nosso tempo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. 26, 1995.
______. Razões criminológicas, político-criminais e dogmáticas para a adoção da responsabilidade pe- ESTELLITA, Heloisa. Aspectos processuais penais da responsabilidade penal da pessoa jurídica prevista
nal de pessoas jurídicas na reforma do Código Penal brasileiro. In: Revista Liberdades. Edição Especial: na lei n. 9.605/98 à luz do devido processo legal. In: VILARDI, Celso Sanchez; PEREIRA, Flavia Rahal
Reforma do Código Penal. São Paulo, 2012, pages 98-128. Bresser; DIAS NETO, Theodomiro (coord.). Direito penal econômico: crimes econômicos e processo
______. Razões criminológicas, político-criminais e dogmáticas para a adoção da responsabilidade pe- penal. São Paulo: Saraiva, 2008. (GVLaw). pages 203-248.
nal de pessoas jurídicas na reforma do código penal brasileiro. in: BUSATO, Paulo César; GUARAGNI, ______. Tipicidade no Direito Penal Econômico. In: PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel. Direi-
Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá, 2012, pages 17-92. to Penal Econômico e da Empresa: Direito Penal econômico. Coleção doutrinas essenciais; v. 2. São
______. Por que, afinal, aplicam-se penas? In: SCHMIDT, Andrei Zenkner. Novos Rumos do Direito Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, pages 153-174.
Penal Contemporâneo – Livro em homenagem ao Prof. Dr. Cezar Roberto Bittencourt. Rio de Janeiro: FLETCHER, George P. Basics concepts of Criminal Law. New York: Oxford University Press, 1998.
510 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2 Décio Franco David 511

______. The Grammar of Criminal Law: American, comparative, and international, v. I. New York: MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ,Carlos. La ‘concepción significativa de la acción’ de T. S. Vives y su
Oxford University Press, 2007. correspondencia sistemática con las concepciones teleológico-funcionales del delito. Revista Electró-
FRANCE. Code de procédure pénale. Available at: <https://www.legifrance.gouv.fr/> Acessed on Au- nica de Ciencia Penal y Criminología, v. 1, n. 1. 1999. Available at: <http://criminet.ugr.es/recpc/
gust 01, 2018. recpc_01-13.html>. Accessed on: November 30, 2015.

GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 4. ed. Belo Horizonte: D’Plácido, ______. La ‘concepción significativa de la acción’ de T. S. Vives y su correspondencia sistemática con las
2017. concepciones teleológico-funcionales del delito. Anuario da Facultade de Dereito da Universidade da
Coruña, n. 5. 2001, pages 1075-1104. Available at: <http://ruc.udc.es/bitstream/2183/2100/1/AD-5-
GIMENO BEVIÁ, Jordi. Compliance y proceso penal. El proceso penal de las personas jurídicas. 51.pdf>. Accessed on November 30, 2015.
Madrid: Civitas, 2016.
MELCHIOR, Antonio Pedro. A teoria crítica do processo penal. Revista Brasileira de Ciências Cri-
GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Nulidade na imputação criminal: Operação Lava Jato e o art. 383 do minais, São Paulo, v. 25, n. 128, pages 27-64., February, 2017.
CPP. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 24, n. 122, pages 281-307, August, 2016.
NIETO MARTÍN, Adán. Compliance, criminologia e responsabilidade penal de pessoas jurídicas.
______. Aspectos processuais penais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: BUSATO, Paulo In: NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ, Eduardo; GOMES, Rafael Mendes
César (Org.). GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César (Coord.). Responsabilidade penal de pessoas (Coord. Brasileira). Manual de cumprimento normativo e responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Flo-
jurídicas: seminário Brasil-Alemanha. Florianópolis: Tirant lo blanch, 2018, pages 153-165. rianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, pages 61-122.
GÓMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. A responsabilidade penal da pessoa jurídica: Teoria do crime para ______. Investigações internas. In: NIETO MARTÍN, Adán (Coord. Espanhol); SAAD-DINIZ,
pessoas jurídicas. São Paulo: Atlas, 2015. Eduardo; GOMES, Rafael Mendes (Coord. Brasileira). Manual de cumprimento normativo e responsabi-
GOMEZ-MONTORO, Angel. (2000). La titularidad de derechos fundamentales por personas jurídi- lidade penal das pessoas jurídicas. Florianópolis: Tirant lo Blanch, 2018, pages 293-334.
cas: (análisis de la jurisprudencia del Tribunal Constitucional español). Cuestiones Constitucionales. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. I: introdução ao Direito civil; teoria
2. 71. geral de direito civil. 20. ed. Atualizado por Maria Celina Bodin de Moraes. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
GONZÁLES CUSSAC, José Luis. O modelo espanhol de responsabilidade penal de pessoas jurídicas. PERU. Peruvian Constitutional Tribunal. Judgment no. 1567-2006-PA/TC, grounds of judgment no. 9.
In: OLIVEIRA, William Terra de; LEITE NETO, Pedro Ferreira; ESSADO, Tiago Cintra; SAAD-DI-
NIZ, Eduardo. Direito penal econômico: Estudos em homenagem aos 75 anos do Professor Klaus PORTUGAL. Constitution of the Portuguese Republic. Available at: <http://www.parlamento.pt/
Tiedmann. São Paulo: Liber Ars, 2013, pages 379-391. Legislacao/paginas/constituicaorepublicaportuguesa.aspx> Accessed on: August 01, 2018.

GRECO, Luís; CARACAS, Christian. Internal Investigations e o princípio da não auto-incriminação. PRADO, Luiz Regis; DOTTI, René Ariel (coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: Em
In: LOBATO, José Danilo Tavares; MARTINELLI, João Paulo Orsini; SANTOS, Humberto Souza defesa do princípio da imputação subjetiva. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
(Org.). Comentários ao Direito Penal Econômico Brasileiro. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017, pages QUEIJO, Maria Elizabeth. O direito de não produzir prova contra si mesmo: o princípio ‘nemo
787-819. tenetur se detegere’ e suas decorrências no processo penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. QUEIROZ, Paulo. Direito Processual Penal. Salvador: Jus Podivm, 2018.
GRINOVER, Ada Pellegrini. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Revista de QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Revista Brasileira de
Direito Ambiental. Ano 9, v. 35. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, July- September, 2004, pages 9-25. Ciências Criminais, São Paulo, v. 11, n. 45, pages 224-244, October/December, 2003.
______. Aspectos processuais da responsabilidade penal da pessoa jurídica. In Aspectos processuais da RAMOS, André de Carvalho. O Direito da Concorrência e o privilégio contra a auto-incriminação: a
responsabilidade penal da pessoa jurídica. In: GOMES, Luiz Flávio (coord). Responsabilidade penal experiência da União Européia e o Brasil. In: ROCHA, João Carlos de Carvalho; MOURA JÚNIOR,
da pessoa jurídica e medidas provisórias e direito penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, Flávio Paixão de; DOBROWOLSKI, Samantha Chantal; SOUZA, Zani Tobias de. (Org.). Lei Anti-
pages 46-50. truste 10 anos de combate ao abuso de poder econômico. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, pages 1-36.
GUARAGNI, Fábio André. “Interesse ou benefício” como critérios de responsabilização da pessoa ju- REINALDET, Tracy Joseph. A responsabilidade penal da pessoa jurídica. O exemplo brasileiro e a
rídica decorrente de crimes – A exegese italiana como contributo à interpretação do art. 3º da Lei experiência francesa. Curitiba: IEA academia, 2014.
9.605/98. In: BUSATO, Paulo César; GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade Penal da Pessoa REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 1. vol. 29. ed. rev. e atual. por Rubens Edmundo
Jurídica. Curitiba: Juruá, 2012, pages 93-131. Requião. São Paulo: Saraiva, 2010.
HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. In: HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. RODRÍGUEZ, Víctor Gabriel. Fundamentos de Direito Penal Brasileiro: Lei penal e Teoria Geral do
Tradução de Enio Paulo Giachini e Ernildo Stein. Petrópolis: Editora Vozes, 2008. Crime. São Paulo: Atlas, 2010.
LEITE FILHO, José Raimundo. Corrupção Internacional, criminal compliance e investigações in- ROSA, Alexandre Morais da. Decisão no processo penal como bricolage de significantes. 2004. Tese
ternas: limites à produção e valoração dos interrogatórios privados. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018. (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná.
LOPES JR., Aury. Fundamentos do processo penal: introdução crítica. São Paulo: Saraiva, 2015. ______. Direito e processo penal juntos? (des)caminhos do ensino jurídico. Revista brasileira de direi-
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. to processual penal, Porto Alegre, vol. 1, n. 1, pages 202-217, 2015.
______. (Re)discutindo o objeto do processo penal com Jaime Guasp e James Goldschmidt. Revista ROSADO IGLESIAS, Gema. La titularidad de derechos fundamentales por la persona jurídica.
Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 10, n. 39, pages 103-124., Jul./Sept. 2002. Valencia: Tirant lo Blanch, 2004.
______. (Re)pensando as condições da ação processual penal desde as categorias jurídicas próprias do ROTHENBURG, Walter Claudius. A pessoa jurídica criminosa. Curitiba: Juruá, 1997.
processo penal. In: FAYET JÚNIOR, Ney. Ciências penais e sociedade complexa I. Organização de STEINMETZ, Wilson Antônio; PINDUR, Flávia Letícia de Mello. A titularidade de direitos funda-
André Machado MAYA. Porto Alegre: Nuria Fabris, 2008. pages 79-100. mentais por pessoas jurídicas. Direito e Democracia (ULBRA), v. 7-2, pages 281-289, 2006.
LOUREIRO, Maria Fernanda. Necessidade político-criminal e superação dos obstáculos dogmá- SALLES, Carlos Alberto de. Responsabilidade penal da pessoa jurídica e a proteção ao meio ambiente:
ticos da teoria do delito para a responsabilidade penal das pessoas jurídicas. 2012. Dissertation finalidade e aplicação. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 9, n. 36, pages 51-67.,
(Master’s Degree in Law) – Centro Universitário Curitiba, Curitiba, Paraná.
512 RESPONSABILIDADE PENAL DE PESSOAS JURÍDICAS - III SEMINÁRIO BRASIL-ALEMANHA – VOLUME 2

October/December, 2001.
SALVADOR NETTO, Alamiro Velludo. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. São Paulo: Re-
vista dos Tribunais, 2018.
SARCEDO, Leandro. Compliance e responsabilidade penal da pessoa jurídica: construção de um
novo modelo de imputação baseado na culpabilidade corporativa. 2014. Thesis (Doctor’s Degree in
Criminal Law) – Universidade de São Paulo, São Paulo.
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. 3. ed. Rio de Janeiro: El-
sevier, 2010.
______. A responsabilidade das pessoas jurídicas e os delitos ambientais. In: Boletim IBCCRIM, nº 65.
São Paulo: IBCCRIM, abril 1998, page 3.
SILVA, Sandra Oliveira e. O arguido como meio de prova contra si mesmo: considerações em torno
do princípio nemo tenetur se ipsum accusare. Coimbra: Almedina, 2018.
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Autorregulação, responsabilidade empresarial e criminal complian-
ce. In: SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compliance, Direito Penal e Lei
Anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2015, pages 25-239.
SILVEIRA FILHO, Sylvio Lourenço da. O processo penal como procedimento em contraditório:
(re)discussão do locus dos sujeitos processuais penais. 2011. Dissertation. (Master’s Degree in Law) –
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná.
STEGMÜLLER, Wolgang. A filosofia contemporânea: introdução crítica. Tradução de Adaury Fiorit-
ti e Edwino A. Royer, et alii. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
TANGERINO, Davi de Paiva Costa. A responsabilidade penal da pessoa jurídica para além da velha
questão de sua constitucionalidade. Boletim IBCCRIM, São Paulo, v. 18, n. 214, pages 17-18., Sep-
tember, 2010.
TIEDEMANN, Klaus. Manual de Derecho Penal Económico: Parte general y especial. Valencia: Ti-
rant lo Blanch, 2010.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial, vol. 1: Teoria geral e direito societário. 7. ed.
São Paulo: Atlas, 2016.
TREVIZAN Flávia. A pessoa jurídica no processo penal. in: CÂMARA, Luiz Antonio (Coord.). Cri-
mes contra a Ordem Econômica e a Tutela de Direitos Fundamentais. Curitiba: Juruá, 2009, pages
153-175.
VELLOSO, Araceli. Forma de vida ou formas de vida? Philósophos – Revista de Filosofia [S.I.],
v. 8, n. 2, January, 2008, pages 159-184. Available at: <https://revistas.ufg.br/philosophos/article/
view/3211/3195>. Accessed on: January 08, 2019.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte geral. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004 (coleção direito
civil; v. 1).
VIANA FILHO, Flávio. Responsabilização criminal da pessoa jurídica: justificação autopoiética. In:
FRANCO, Alberto Silva; LIRA, Rafael. Direito Penal Econômico: Questões Atuais. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2011, pages 201-234.
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal. Valencia: Tirant lo Blanch, 1996.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Translation by Marcos G. Montagnoli. 8. ed.
Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2013.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Da Certeza. Edição bilíngue. Translation by: Maria Elisa Costa. Lisboa:
Edições 70, 2012.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Anotações sobre as cores. Bilingual Edition. Translation by Filipe No-
gueira and Maria João Freitas. Lisboa: Edições 70, 2018.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro, v.
1: Parte Geral. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

www.tirant.com/br

You might also like