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bras Psa, 47(7):961-268, 199 261 Escala obsessivo-compulsiva de Yale-Brown (¥-BOCS): critica a suas caracteristicas sicométricas érie Psicofarmacologia — 75 Leonardo Fontenelle, Carla Marques, Ivan Figueira, Anténio Egidio Nardi, Marcio Versiani Resumo: Objetivo: Analisar as caracteristicas psicomeétricas da.es- ala Y-BOCS com base na literatura. Método: Revisio dos estuclos sobre fidedignidade e validade da escala Y-BOCS ¢ relato de casos de pacientes atendidos no Subprogrania de Ob- sessdes e Compulsaes do Programa de Ansiedadee Depressio da LIFRJ. Resultados: Foi demonstrado queo Y-BOCS apre- senta bod fidedignidade intertoaliador; boa fidedignidare tes- te-reteste e bata fidedignidade de consisténcia interna, que umenta quando séo exclufdos os itens 4 (resistencia a obses- ses) ¢ 9 (resisténcia a compulsées) © & inclutdo o item 12 (evitagito). Observou-se boa validade convergente em relagio 40 CGI eao NIMH-OC scale, ao Physicians Global Rating, ‘40 Patient Global Rating, @ Lista de Compulsdes ea Incapa- cidade; ebaixa validade conver gente em relacao ao MOCI, a0 Inventirio Obsessivo de Leyton eao SCL-90. Demonstrou-se baixa validade divergente em relagio a depressto e ansiedade Conclusoes: A exclusio das itens 4 (resistencia aobsessies)¢ 9 resistencia a compulsées)¢ inclusto do items 12 (evitagto) pode melhorar o perfil psicométrico da escala, Nao existe, até © momento, escala de avaliagao ideal para a gravidade do transtorno obsessivo-compulsivo. E possivel que escalas mais abrangentes, como o CGI. possant se aproximar mais da reali- dade clinica do que escalas dicotémicas como 0 Y-BOCS. Unitermoss transtome obsessivo-compulsive; excalas psicométricas: Y-BOCS: metodologis, Subprogram de Obsessoes ¢ Compulsies do Programa de Ansedade ¢ Depestioistiata se Pagan UFR. Apoie CNy, CADES. CHPE-UFR Mi De Sede : vas © 1998 - an. Ediora Clentiica Nacional Lida, Escala Obsessivo-Compulsiva de Yale-Brown (Yale-Brown Obsessive-Compulsive scale: Y- BOCS) éum instrumento para ser preenchido elo clinico e objetiva avaliar a gravidade dos sintomas obsessivo-compulsivos em pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Foicriada por um grupo de pesquisadores das Escolas de Medicina da Universidade de Yale e da Universidade de Brown, em 1986 (Goodman e cols., 1989). Até sua criagao, os instru- mentos mais utilizados na avaliagao dos pacientes com TOC eram a Escala Obsessivo-Compulsiva do Instituto Nacional de Satide Mental (National Institute of Mental Health Obsessive-Compulsive Scale: NIMH ~ OC scale), 0 Inventério Obsessivo-Compulsivo de Maudsley (Mawsley Obsessional Compulsive Inventory: MOCD e 0 Inventdrio Obsessivo de Leyton (Leyton Obsessional Inventory). A avaliacao da eficacia dos diversos medica- mentos no tratamento do TOC encontrava-se compro- metida pelas limitagdes das escalas disponiveis. (Goodman e cols., 1986). Por exemplo, na NIMH - OC scale, informagées sobre a resposta de sintomas indivi- dluais sao perdidas, jé que esta escala possui apenas um tinico item com 5 subitens, do minimo ao maximo de gravidade. O MOCI nao é adequado para avaliar gravi- dade porque utiliza variaveis dicotémicas (respostas tipo sim ou no) e nao apresenta gradacao de gravidade dos sintomas. O MOCTe Inventario Obsessivo de Leyton se baseiam exclusivamente em auto-avaliagdes, misturam avaliagdes de “tragos” e “estado” e examinam somente certos tipos de obsessGes e compulsdes. A subescala Obsessivo-Compulsiva da Escala de Avaliagao Psicopatolégica Compreensiva nao foi elaborada para avaliagao do TOC, mas derivada da Escala de Avalia- 40 Psicopatoldgica Compreensiva, e contém sintomas nao especificos do TOC, como depressiio. O Y-BOCS foi desenvolvido para remediar estes problemas, fornecen- do uma medida especifica da gravidade dos sintomas de TOC nao influenciada pelos tipo (contetido) ou nui- mero de obsessdes ou compulsdes presentes, Para maximizar a especificidade para o TOC, bus- cou-se a exclusao de itens que correspondessem a sinto- mas de depressio ou ansiedade. Para maximizar asen- sibilidade a mudanga (melhora ou piora), itens que correspondessem a “estado” foram incluidos na parte principal da escala, enquanto itens que corres- ondessem a “tracos” (por exemplo, perfeccionismo) ram excluicios. O Y-BOCS foi elaborado como instru- mento aser preenchido por um entrevistador, de acordo com as evidéncias provenientes de estudos de outros transtornos que demonstram que auto-avaliagoes, par- ticularmente durante os estagios agudos das doencas, se correlacionam pouco com avaliacdes mais objetivas (Goodman ecols., 1989). A partir do Y-BOCS foram de- senvolvidas escalas que investigam caracteristicas ob- sessivo-compulsivas em outros transtornos, como por exemplo, o Transtorno Dismérfico Corporal (30D Y-BOCS, Phillips e cols., 1997), a Tricotilomania Stanley e cols., 1993) e 0 Abuso e Dependéncia do Alcool (Y- BOCS-heavy drinkers, Modell e cols., 1992) ‘A escala Y-BOCS € dividida em duas partes: a subescala de Obsessies e a subescala de Compulsoes. Os sintomas so avaliados de acordo com cinco varia~ veis (itens 1 a5 para obsessoes e itens 6 a 10 para obses- 86es), ou seja: 0 quanto as obsessdes ou compulsées ocu- pam 0 tempo do paciente, interferem com o funciona- ‘mento normal, causam desconforto subjetivo, o quanto © paciente resiste aos sintomas e o paciente controla os sintomas obsessivos e/ou compulsivos. Além dos itens 1a 10, os itens 11 a 16 formam uma outra parte do Y- BOCS, chamada componente investigativo, Estes itens avaliam insight, evitacao, indecisao, responsabilidade patoldgica, lentidao patolégica e duivida patologica, Se- gundo Goodman e cols. (1989), os escores destes seis Hens nao sao somados no escore final do Y-BOCS devi- doa evidéncias insuficientes de queelesmecam caracte- Histicas biisicas do TOC. Os autores acreditam que os itens 1b (tempo livre de obsessoes) , 6b (tempo livre de compulsées), e 12 (evitagao) podem fornecer informa- 90es sobre a gravidade dos sintomas obsessivo-compul sivos, mas isto ainda nao havia sido confirmado até a publicacio do Y-BOCS. Os itens 17¢ 18 foram adapta- dos do CGI (Impressao Clinica Global - Clinical Global Impression) para fornecer medidas do comprometimen- to funcional global associado com - masnao restringida =a presenca de sintomas obsessivo-compulsivos. A in- capacidade produzida por sintomas depressivos secun- darios pode também ser computada quando utilizamos esta escala. O item 19, que estima a fidedignidade da informacio fornecida pelo paciente, pode auxiliar na interpretacao dos escores de outros itens do Y-BOCS em alguns casos de TOC. ‘Ascaracteristicas psicométricas das escalas de avali- acdo de sintomas psiquidtricos sao fundamentais para definir sua utilidade. As principais caracteristicas psicométricas sao a fidedignidade e validade. Estas caracteristicas podem consagrar ou levar ao abandono uma determinada escala para uso em pesquisa ou na clinica. A fidedignidade e a validade do Y-BOCS ja fo- ram investigadas, demonstrando resultados por vezes pouco consistentes. A partir destes estudos, podem ser Propostas modificagdes da escala original que melho- Tem seu perfil psicométrico, Metodologia Revisdo dos estudos sobre fidedignidade e validade da escala Y-BOCS e relato de trés casos de pacientes atendidos no Subprograma de Obsessoes e Compu do Programa de Ansiedade e Depressao da UF FHUCHIOD -ovérto yo 1g6g000 DARIO De| SOUDHSAUCHADO - Votario’ = 10 OMT BUQnOS AGTaSeM~ AU fel. 58-1068 tific presente € ci 7 que. foi exib 382 © sora rosie 0 deAaneiro, 18 de Junho de 1998 WPI0 NIMES = Substitute - Ted - 10 0 do Fistalizagho ~ Total af0,90 estudos foram levantados a partir de pesquisa no MEDLINE de 1989 a 1998 (palavras chave: Yale-Brown evalidity; Yale-Browne reliability) e da revisao de estu- dos mais antigos. Resultados Fidedignidade Fidedignidade é a capacidade de um instrumento fornecer resultados consistentes. Fidedignidade inter- avaliador é a capacidade de um instrumento fornecer resultados consistentes quando utilizado por exami- nadores diferentes. Pode ser estabelecida a partir do Coeficiente de Correlacao de Pearson (CCP) ou Coefi- ciente de Correlacao Intraclasse (CCI). Fidedignidade de consisténcia interna ¢ a capacidade de um instru- mento fomecer resultados consistentes com seus dife- rentes itens, Pode ser estabelecida a partir do Coefici- ente alfa de Cronbach (CAC). Fidedignidade teste-reteste €a capacidade de um instrumento fornecer resultados consistentes quando utilizadoem momentos diferen- tes. Também pode ser estabelecida a partir do Coefici- ente de Correlacao Intraclasse (CCI). Goodman e cols. (1989a) estudaram um grupo de 40 pacientes com TOC incluidos em estudos comparativos com fluvoxamina e placebo e clomipramina ¢ placebo. Foram gravadas entrevistas com estes pacientes em video-tape. Quatro examinadores avaliaram indepen- dentemente as 40 entrevistas realizadas e cada exami- nador permaneceu cego para os escores resultantes da avaliagao dos outros tés examinadores até o final do tratamento. O cdiculo do CCI a partir dos escores dos itens individuais, subtotais e totais no Y-BOCS demons- trou concordancia entre os 4 avaliadores (CCI dos esco- res itens individuais= 0,86 a 0,97; CCI dos escores subtotais de obsess6es =0,97: CCI dos escores subtotais de compulsdes = 0,96 e CCI dos escores totais = 0.98), ou seja, boa fidedignidade interavaliador. O célculo do ‘CAC a partir dos escores obtidos nos itens individuais da escala Y-BOCS (1-10) de todos os pacientes, de acor- do com todos examinadores, demonstrou ser 0 Y-BOCS altamente homogéneo (CAC = 0,88 0,91), ou sej boa fidedignidade de consisténcia interna. Julgou-se desnecessaria a investigagao da Fidedignidade teste- reteste, uma vez que o TOC ¢ flutuante por naturezae a auséncia desta fidedignidade poderia nao ser relevante para a caracterizagio da escala, Estudando a fidedignidade do Y-BOCS, Kim e cols. (1990) encontraram boa fidedignidade teste-reteste. Fo- ram estudados 23 pacientes com TOC submetidosa tra- tamento abertocom clomipramina durante 14 semanas e avaliados com as escalas Y-BOCS e com o Inventario Obsessive de Leyton. A Fidedignidade teste-reteste das duas escalas foi mensurada utilizando-se as primeiras, trés avaliagdes semanais de cada paciente. Os escores totais, 0 escore do item resisténcia e 0 escore do item interferéncia doY-BOCS apresentaram boa fidedignida- de teste-reteste (CCI = 0,90, CCI = 0,90 e CCi= 0,89, res pectivamente). Utilizando um outro grupo de pacientes provenien- tes de um estudo farmacolégico duplo-cego, Kim ecols. (1992) replicaram seus achados iniciais sobre a fidedig- nidade teste-reteste do Y-BOCS. Foram estudados 28 pacientes com TOC, sem depressao clinicamente signi- ficativa, durante tratamento de 10 semanas, com ina ou placebo. Os escores do Y-BOCS obti- dos na linha de base e aps uma semana de tratamento foram utiizados para investigacao da fidedignidade teste-reteste, que demonstrou ter sido boa (CC1= 0,97). A fidedignidade teste-reteste do Y-BOCS foi estudada novamente por Woody e cols. (1995), que também inves- tigaram a fidedignidade interavaliador ea fidedignida- de de consisténcia interna da escala. Woody e cols. (1995) avaliaram 54 pacientes com TOC. Para investigar a fide- dignidade teste-reteste, 24 entrevistas gravadas com 0 Y-BOCS foram reavaliadas por um segundo examina- dor, apds 10 a 103 dias da primeira entrevista. Foi de- monstrada moderada fidedignidade teste-reteste para obsessdes, compulsdes e obsessdes e compulsdes con- juntamente (CCI dosubescore de Obsessoes = 0,64;CC1 do subescore de compulsdes = 0,56; CCI dos escores to- tais = 0,61), mas a fidedignidade teste-reteste foi baixa para alguns itens individuais, principalmente para o item 4: resisténcia a obsessdes (CCI do item 4 = ~ 0,09) Para investigar a tidedignidade interavalindor, 30 en- trevistas com 0 Y-BOCS foram audiogravadas & reavaliadas por um segundo examinador, Demonstrou- se haver concordancia entre os avaliadores (fidedigni- dade interavaliador) para os escores de itens individu- ais, subtotais e totais no Y-BOCS, através dos CCI (CCI dios escores itens individuais = 0,70 a 0,91; CCI dos esco- res subtotais de obsessdes = 0,94; CCI dos escores subtotais de compulsdes = 0,89 e CCI dos escores totais = 0,93). O estudo da fidedignidade de consisténcia in- terna demonstrou que 0 Y-BOCS nao foi homogéneo, como se pode observar pelos valores obtides com o item 9 (resistencia a compulsdes), que pouco se correlacionou com os escores totais (CAC = 0,09) e com os subescores decompulsdes (CAC =-0,10). O item 12 (evitacio), nao incluido nos escores final do Y-BOCS atualmente (mas citado no “componente investigativo"), demonstrou moderada_associagao com 0 escore total do Y-BOCS (CAC =0,51) ecom o subescore de compulsdes (CAC = 0,63), embora menor com o subescore de obsessoes (CAC 0,24). Tentando aumentar a homogeneidade da esca- Ja, os autores optaram por excluir o item 9 (resistencia a compuls6es) e 0 item 4 (resistencia a obsessées ~ um item problematico segundo Danykoe cols., 1993) e acres- centar 0 item evitacdo. Com esta modificacao, foi Fecalculado o CAC para o escore total do Y-BOCS, que subiu de 0,69 para 0,78, Em virtude destes achados, sti- geriu-se que os itens referentes a resistencia a obsessoes (item 4) e a compuisdes (item 9) fossem excluidos ¢ 0 item “investigativo” evitagao fosse incluido na conta- gem final de uma nova versaodo Y-BOCS. Problemas semelhantes aos encontrados por Woody cols. (1995) jd tinham sido observados por Kime cols. (1994), que estudaram a fidedignidade de consisténcia interna do Y-BOCS em 214 pacientes com TOC. Os pa- cientes foram submetidos a tratamento com a clomipramina (106 pacientes) ou 0 placebo (108 paci- entes) durante 10 semanas, em um estudo multicéntrico. As escalas de avaliacao utilizadas neste estudo foram © Y-BOCS, 0 Escala Obsessivo-Compulsiva do Institu- to Nacional de Satide Mental, o Patient Global Rating eo Physicians Global Rating. Os escores do Y-BOCS na li- nha de base e ao término do tratamento foram escolhi- dos para a avaliacao. Foi realizada uma andlise fatorial (rotagao onrimax) para investigar a relacao entre os 10 itens que formam o Y-BOCS. Uma solugio de dois fato- res (Fator 1 = obsessdes e Fator 2 = compulsées) foi utilizada para observar se os itens 1 a 5 (obsess6es) tinham representacéo mais forte no Fator 1 ¢ os itens 6 10 (compulsdes) tinham representacao mais forte no Fator?. Uma soluciode ts fatores fi utilizada pare observar se algum item de 1a 10 tinha uma representa- a0 mais forte em uma escala independente, sendo a escolhida a resisténcia. Cada anélise fatorial foi conduzida para a clomipramina e 0 placebo, antes e apés o tratamento. Dos itens 1a 5 (obsessoes) no fator 1, o item 4 (resisténcia a obsessdes) demonstrou a me- nor representacao na linha de base, no grupo em uso de clomipraminae no grupo em uso de placebo (0,117 © 0,211, respectivamente). Apés 10 semanas de trata- mento, os itens 1, 2, 3 e 5 no fator | apresentaram a8 maiores representacdes, no grupo em uso de clomipramina e no grupo ém uso de placebo, com 0 item 4 demonstrando a menor representacao entre os itens obsessivos no grupo em uso de clomipramina (0,314) eno grupo em uso de placebo (0,211). Dos itens 6 a 10 (compulsdes) no fator 2, 0 item 9 (resistencia a compulsdes) demonstrou a menor representacao na li- nha de base, no grupo em uso de clomipramina e no grupo em uso de placebo (0,274 0,175, respectivamen- te). Apds 10 semanas de tratamento, os itens 6, 7,8 ¢ 10 no fator 2 apresentaram as maiores tepresentacdes, no grupo em uso de clomipramina e no grupo em uso de placebo, como item 9 demonstrando a menor represen- lacio entre os itens compulsivos no grupo em uso de clomipramina (0,350) e no grupo em uso de placebo (0,340). Dos itens 1 a 10 no fator 3 (resisténcia), os itens 4€9 (resistencia a obsessGes e compulsées, respectiva- mente) demonstraram a maior representacao na linha de base, tantono grupo em uso de clomipramina (item 4= 0870 e item 9 = 0,689) quanto no grupo em uso de placebo (item 4 = 0, 838 item 9 = 0,804), tendéncia que permaneceu aps 0 término do periodo de tratamento, com a clomipramina (item 4 = 0,883¢ item 9 = 0,879) ¢ © placebo (item 4 = 0,898 e item 9 = 0,856). Os dados apresentados sao compativeis com boa consisténcia in- ternaentre 8 itens do Y-BOCS (itens 1, 2,3,5,6,7, 8 10) na linha de base e ao final do tratamento. Apenas os dois itens de resistencia a obsessdes e compusoes litem 4e item 9, respectivamente) pareceram contribuir para mudanca na estrutura fatorial apés o tratamento. Em outras palavras, os itens 4 e 9 apresentaram pouca con- sisténcia interna em relagao ao restante do Y-BOCS. A exclusao dos itens de resisténcia a obsessées ¢ compulsies do Y-BOCS poderia trazer um padrao mais consistente de representagdes e estabilidade da estru- tura fatorial. A partir destes estudos sobre a fidedignidade do Y- BOCS, conclui-se que a fidedignidade teste-reteste (Kim ecols,, 1990; Kim ecols., 1992) e a fidedignidade inter- avaliador (Goodman e cols,, 1989a; Woody e cols., 1995) da escala sao bem satisfatGrias, O ponto de maior fra- queza € a baixa fidedignidade de consisténcia interna (Goodman e cols., 1989a; Kim e cols., 1994; Woody e cols., 1995), que parece melhorar, quando sao excluidos 05 itens 4 (resisténcia a obsess6es) e 9 (resisténcia a compulsdes) e éincluido o item 12 evitagio) (Kime cols., 1994; Woody ecols., 1995). A seguir apresentamos trés casos de TOC, diagnosti- cados ¢ tratados no Programa de Obsessoes & ‘Compulsoes da UFRJ, que demonstram a baixa fidedig- nidade de consistencia interna da escala, oma) Quastero ce Psiquatna po 1998 vol 47 n° 70) 368 Caso 1 Anténia, 44 anos, engenheira civil desempregada. Aos 40 anos, de modo stibito, passou a ter idéias de que po- deria causar um incéndio nos lugares de onde saia. Ve~ rificava repetidamente cinzeiros, buscando cigarros ace- 808; botdes de gas; interruptores de luz etc, Em virtude deste comportamento, se atrasava em até uma hora para us compromissos. Ha dois anos, passou a apresentar ssessio de contaminacao com veneno em po compulsdes tipo rituais mentais (repete mentalmente “minha mao nao esté suja”), de lavagem (banhoe lava- gem das maos) e de verificacao (verifica o rotulo dos Sabonetes que usa até 15 vezes, para certificar-se de que nao é veneno). As obsessdes consumiam mais de 8h/ dia, causavam interteréncias incapacitantes e levavam a paciente a um sofrimento constantee incapacitante. A Paciente resistia muito as obsessées mas tinha pouco controle sobre as mesmas (subescore de obsessies ~ 16), As compulsées também consumiam mais de 8 h/dia, causavam interferéncias incapacitantes e levavam a Paciente a um sofrimento constante e incapacitante. A Paciente cedia freqiientemente as compulsoes e tinha Pouco controle sobre as mesmas (subescore de compulsdes = 18). Seu escore total no Y-BOCS era 34 Apos dois meses de seguimento, seu transtorno se agra. vou. A paciente passota sair de casa somente acompa nhada do irmao ou da mae, com medo de ter um perisa. mento absessivo, a compulsao de se lavar e perder o controle: “Prefiro ficar em casa do que sair e achar que tudo esta sujo de veneno” (evitacao grave). Nao fornin observadas alteragdes significativas das obsessoes (subescore de obsessies = 16), mas a paciente passou a gastar menos tempo com as compulsoes (menos de 8 hy dia) (subescore de compulsoes = 17). Seu escore total no Y-BOCS foi 33, Caso 2 Cristina, 39 anos, dona-de-casa. Aos 12 anos, de modo insidioso, passou a apresentar obsessdes violentas (pen samento de que a mae ia morrer, imagem da mae no caixao), repeticio de rituais ( ir da sala até a cozinha ¢ da sala até o banheiro até 100 vezes e tirar e colocar 4 mesma roupa até 30 vezes) acompanhadas de pensa- mento magico ("se nao repetisse as coisas, achava que minha mae podia morrer”)e compulsdes de verificaczo (Bas e fogao). Estes sintomas persistem até hoje. Ha tres anos apresenta Transtorno do Panico, com ataques de Panico noturmos, quase que diariamente. Aos 23 anos, apresentou primeiro episédio de Depressi Maior, que ressurgiut ha poucos meses, No inicio do tratamento. as obsessdes consumiam mais de 8 h/dia, causavam pre- juizo importante e levavam a paciente a um sofrimento constante e incapacitante. A. paciente cedia fregiientemente as obsessdes e tinha pouco controle so- bre as mesmas (subescore de obsessbes = 18). As compulsdes também consumiam mais de 8h/dia, cau~ savam interferéncia incapacitante e levavam aum softi- mento grave. A paciente cedia freqientemente compulsdes e nao tinha nenhum controle sobre as mes mas (subescore de compulsdes = 16). Seu escore total no Y-BOCS era 4. Apés trés meses de seguimento, set trans. toro se agravou. A paciente passou a ficar deitada pran- de parte do dia: “Prefiro ficar na cama porque ai na0 Easto tempo indoe vindo" (evitacao grave). Nao foram observadas alteracdes significativas das obsessoes 3840 Jomal Srasiere de Psiquatna jno 1986 vol 47 ne 7 (subescore de obsessdes = 18), mas a paciente passou a gastar menos tempo (menos de8 h/dia) ea sofrer menos com as compulsdes. Deitada, a paciente estd fazendo algum esforco para resistir e tem um maior controle (controle moderado) sobre suas compulsdes (subescore de compulsdes = 13). Seu escore total no Y-BOCS pas- sou a ser 31. Caso 3 Maria, 57 anos, dona-de-casa. Aos 31 anos, apés a morte do filho, passou a apresentar compulsoes de or- denacio e arrumacao (como rearrumar diversas vezes as gavetas, as roupas do filhoesua \penteadeira),lava- gem /limpeza (como tomar banihos de 2 horas, lavando a Vagina até escarificagéo e sangramento; e levantar e balangar o pé da cama para que a poeira pudesse cair Sem que a paciente sujasse as mos), repeticao de rituais (como tirar e colocar a roupa e o chinelo 10 vezes)¢ veri- ficagao ( “de fechaduras, até 20 vezes”). A paciente nio apresentava obsessdes. Todo dia, sé dormia se toda a casa fosse rigorosamente arrumada. Hi trés anos pas soua se queixar de tristeza, anedonia, apetite aumenta- do, insénia e fadiga. Estes sintomas persistem até hoje. Noinicio do tratamento, as compulsoes consumiam en tre 3 e 8 h/dia e causavam interferéncia e sofrimentos moderados. A paciente cedia freqiientemente e tinha Pouco controle sobre as compulsdes. Seu subescore to- tal de compulsdes e escore total no Y-BOCS foram 13, Apés trés meses de tratamento, seu transtorno melho. rou A paciente passou a gastar menos tempo com as compulsoes (menos de 1h/ dia), sem nenhumna interfe réncia em seu funcionamento social e ocupacional, com. um sofrimento apenas leve. No entanto, quando tomada pelo impeto de ritualizar, a paciente permanecett ce dendo freqientemente e com pouco controle sobre as compulsdes, tanto quanto no inicio do tratamento ("nao consigo resistir nem controlar, é mais seguro verificar”) Seu subescore de compulsdes e escore total no Y-BOCS Passaram a ser 8. Validade Validade ¢a capacidade de um instrumentomensurar aquilo que se prope a mensurar. Validade de constructo €a capacidade de um instrumentomensurar oconstructe te6rico que se propoe a mensurar. As técnicas utilizadas Para investigar a validade de constructo incluem com- Paracio dos escores do teste com escores obticios de ot, {ros testes utilizados para mensurar o mesmo construclo (validade convergente) ou um diferente constructo (va. lidade divergente). De acordocom as varidveis estuda das, as validades convergente e divergente podem ser obtidas a partir do Coeficiente de Correlacao de Pearson (CCP) e do Coeficiente de Correlagdo de Ordem (Spearman rho), entre outros. Quanto maior a validade convergente maior a correlacao dos escores obtidos a partir do instrumento em questao com os escores obti- dos a partir de um outro instrumento que mensura o mesmo constructo. Quanto maior a validade divergente menor a correlagao dos escores obtidos a partir do ins. trumento que mensura um constructo com os escores obtidos a partir de um outro instrumento que mensura outro constructo, Goodman e cols. (1989) estudaram trés coortes de Pacientes com TOC: um grupo de16 pacientes, a maioria deprimidos; um grupo de 45 pacientes, cerca de 50% deprimidos; eum grupo de20 pacientes, nenhum depri- mido. Para investigar a validade convergente, 0s esco- res do Y-BOCS foram correlacionados com as seguintes escalas: Escala Obsessivo-Compulsiva do Instituto Na- ional de Satide Mental (NIMH-OC scale; somente no grupo de 20 pacientes nao deprimidos), uma versdo modificada do CGI para gravidade global do TOC (CGI- ‘OCS- nos trés grupos de pacientes) e o Inventario Ob- sessivo-Compullsivo de Maudsley (MOCT- nos trés gru- pos de pacientes). Foi demonstrada uma boa validade convergente do Y-BOCS em relagio ao CGI-OCS e a NIMH-OC scale, ie. 08 escores totais do Y-BOCS de- monstraram boa correlacao com 0 CGI-OCS nos trés gru- pos de pacientes ena amostra inteira (CCP =0, 85, 0,60, 0,55 e0, 74, respectivamente) e com 0 NIMH-OC scale no tinico grupo em que as duas foram aplicadas conjun- tamente (CCP = 0,67). Foi demonsirada uma baixa vali- dade convergente do Y-BOCS em relacio ao MOCL ie., 8 escores totais do Y-BOCS nfo demonstraram boa cor- relacao com 0 MOCI nos grupos de 16 pacientes, maio- ria deprimidos (CCP =0,47) ¢ 20 pacientes, nenhum de- primido (CCP=-0, 40). Para investigar a influéncia do tipo de sintomas ob- sessivo-compulsivos nos escores do Y-BOCS e do MOCI, 05 pacientes foram divididos em grupos com predomi: nio de sintomas sobre contaminagao e pacientes com predominio de sintomas que nao fosse de contaminacio. Através dos escores do MOCI, foram encontradas dife- rengas significativas entre 0 grupo de contaminagao (média do escore = 20,9) e 0 grupo de sintomas que nto contaminagao (media do escore 14,8). Através dos esco- res do Y-BOCS, nao foram encontradas diferencas entre 0 grupo de contaminacao (meédia do escore = 26, 7) ¢0 grupo de sintomas que nfo contaminacao (média do es- Core 24,8). Isto demonstra que oescore final do Y-BOCS émenos dependente do tipo de sintomas do que oescore final do MOCI, que é maior quando sintomas do tipo contaminacao éstao presentes Para investigar a Validade divergente, os escores do Y-BOCS foram correlacionados com os escores das Es- calas Hamilton para Avaliagao de Ansiedade e Depres- sdo(HAM-A e HAM-D, respectivamente). Foi demons- trada uma oa validade divergente do Y-BOCS em rela~ a0 4 HAM-D nos grupos de 45 pacientes, cerea da me- tade deprimido, e 20 pacientes, nenhum deprimido, i. e., 08 escores totais do Y-BOCS demonstraram uma baixa correlagio como HAM-D no grupo de 5 pacientes cer ca da metade deprimido (CCP= 0, 38) e 20 pacientes, nenhum deprimido (CCP =0,38). Observou-se uma bai- xavalidade divergente do Y-BOCS em relacioa HAM-D no grupo de 16 pacientes, a maioria deprimido, i.e, os escores totais do Y-BOCS demonstraram boa correlacio com 0 HAM-D nos grupos de 16 pacientes, maioria de- primidos (CCP = 0,70). Portanto, a menor discriminacao entre o Y-BOCS 0 HAM-Docorreu no grupo com mais depressao secundaria. Foi demonstrada uma boa vali- dade divergente do Y-BOCS em relacdo a HAM-A nos grupos de 45 pacientes, cerca da metade deprimido, i.e., 08 escores totais do Y-BOCS demonstraram uma baixa correlacao.com 0 HAM-A no grupo de 45 pacientes, cer- cada metade deprimido (CCP =0,11). Encontrou-se uma baixavalidade divergente do Y-BOCSem relacao’a HAM- Ano grupo de 16 pacientes, a maioria deprimido, ie., 08 escores totais do Y-BOCS demonstraram boa correlacao como HAM-A nos grupos de 16 pacientes, maioria de- primidos (CCP = 0,63). Portanto, a menor discriminacao entre o Y-BOCS e o HAM-A também ocorreu ne grupo ‘com mais depressio secundaria. Boa validade convergente, quando 0 Y-BOCS foi com- parado a escalas de avaliagao clinica geral, nao especifi- cas para sintomas obsessivo-compulsivos, e baixa vali- dade convergente quando Y-BOCS foi comparado ao Inventdrio Obsessivo de Leyton, foram demonstradas por Kim e cols. (1990). Foi investigada a validade con- vergente em 28 pacientes com TOC submetidosa trata- mento com clomipramina durante 14 semanas. Compa- rou-se 0s escore do Y-BOCS, na linha de base, ao Inven- tario Obsessivo de Leyton, e durante o tratamento, a0 Physician Global Rating e ao Patient Global Rating Scale. Quando o escore total do Y-BOCS foi comparado ao es- Core total do Inventario Obsessivo de Leyton, a correla~ a0 foi baixa (rho = 0,38). Quando 0 escore total do Y- BOCS foi comparado aos escores das subescalas de re- sisténcia einterferéncia, individualmente, as correlacdes foram ainda menores, respectivamente 0,01 ¢ 0,43. Isto demonstra pouca validade convergente do Y-BOCS em relacao ao Inventério Obsessivo de Leyton, em especial com relacdo a subescala de resisténcia. Isto pode se jus- tificar pelas diferentes definicées de resistencia no Y- BOCS eno Inventério Obsessive de Leyton: no Inventé- rig Obsessivo de Leyton, quanto mais uum paciente resis- teas obsessdes e/ou compulsdes, maior seu escore. No Y-BOCS, quanto mais um paciente resiste as obsessies e/ou compulsdes, menor seu escore. Quando 0 escore total do Y-BOCS eo Inventario Obsessivo de Leyton fo- ram comparados ao escore total do Physician Global Rating e a0 escore total do Patient Global Rating Sale as correlac6es entre a mudanca dos escores do Y-BOCS eo Physician Global Rating e Patient Global Rating Scale fo- ram significativamente majores (tho = 0,73 erho=0,54, respectivamente) do que das correlagoes entre as mu- dancas no Inventario Obsessive-Compulsivo de Leyton eas mudaneas no Physician Global Rating e Patient Global Rating Scale (rho = 0,32 e rho = 0,28, respectivamente) Portanto, quando comparados ao Physician Global Rating e a0 Patient Global Rating Scale, o Y-BOCS demonstrou maior validade convergente do que o Inventario Obses- sivode Leyton. ‘OY-BOCS também demonstrou boa validade conver- gente quando comparado ao Physicians Global Rating € 30 Patient Global Rating Scale, de acordo com Kim e cols. (1992), Assim como em relagao ao Inventario Obsessivo de Leyton no estudo prévio (Kim e cols., 1990), Kime cols. (1992) observaram baixa validade convergente do Y-BOCS quando comparado a SCL-90 (subescala obses- sivo-compulsiva). Boa validade convergente do Y-BOCS ‘quando comparado a Escala Obsessivo-Compulsiva do Instituto Nacional de Sauide Mental (NIMH-OC scale) foi observada no mesmo estudo. Foram estudados 23 pacientes com TOC, sem depressao clinicamente signi- ficativa, durante tratamento duplo-cego de 10 semanas, com clomipramina ou placebo. Estes pacientes foram avaliados com o SCL-90, 0 Y-BOCS e a Escala Obsessi- ‘vo-Compulsiva do Instituto Nacional de Satide Mental. As escalas Physicians Global Rating e Patient Global Rating foram administradas no final do periodo de tratamento. OY-BOCS demonstrou boa validade convergente como Physicians Global Rating (tho = 0,82), 0 Patient Global Rating (tho = 0,72) e a Escala Obsessivo-Compulsiva do Insti- tuto Nacional de Satide Mental (rho = 0,70 na linha de omal Brasieko de Psiqvatia juno 1908 vol 47 n# 7CI 385 base e rho = 0,80 apés 0 tratamento). Os escores do Y- BOCS obtidos apés 10 semanas de tratamento com a clomipramina foram utilizados para investigar a vali- dade convergente. O Y-BOCS demonstrou pouca vali- dade convergente quando comparado ao SCL-90 (subescala obsessivo-compulsiva), tantona linha de base (ho = 0,17) quanto aps o tratamento (rho = 0,41), © Y-BOCS também demonstrou baixa validade con- vvergente quando comparado ao Teste de Evitacao doCom- portamento (Behavioral Avoidance Test), mas boa validade Convergente em relacao a Avaliacio de Sintomas Alvo (Target Symptom Rating) ea MOCI (Woody e cols.,1995). Foram estudados 54 pacientes com TOC. Para investigar avalidade de constructo, os pacientes foram entrevista- dos antes e apés o tratamento, que consistiu de 16sessbes de exposicao e prevencao de respostas seguidas por 4 sessdes de manutengao. O periodo total de tratamento foi ded meses. Para investigat a validade convergente do Y- BOCS, os escores obtidos com esta escala foram compara- dos com os escores do Inventario Obsessivo-Compulsivo de Maudsley (MOCI), com 0 SCL-90 (Lista de sintomas- 90), com a Avaliagao dos Sintomas Alvo (Target Symptom Rating) © com o Teste de Evitacao do Comportamento(Behavioral Avoidance Test). O Teste de Evitago do Comportamento é um teste feito in vivo que consiste na realizacio de trés tarefas, as quais.o paciente julga impossiveis ou muito dificeis de fazer sem ansieda- ie ou rituais, com o registro da ansiedade resuiltante. O escore total do Y-BOCS se correlacionou significativamen- tecom o MOCI (Coeficiente =0, 43; p<0,005);naosignifi- cativamente com a Avaliagio dos sintomas aivo-medo/ evitacdo (Coeficiente = 0,26) significativamente com 0 Teste de evitacao do comportamento (Coeficiente =0,38; P<0,05). Aposo tratamento, a correlacao do escore total do Y-BOCS com MOCI permaneceu significativa (Coeficente = 0,55; p <0,005), a correlagao doescore total do Y-BOCS com Avaliagio dos sintomas alvo - medo/ evitacao tornou-se significativa (Coeficiente = 0, 64; p < 0,0005) e a correiacao do escore total do Y-BOCS com 0 ‘Teste de evitacao do comportamento tornou-senao signi ficativa (Coeficiente = 0,37).Comoja comentado, a corre- lacao entre o Y-BOCS eo MOCI pode nao ter sido maior devido aos sintomas de contaminagio, mais enfatizados no MOC! do quenoY-BOCS, queé mais amplona avalia- sA0 dos diversos sintomas obsessivo-compullsivos. A cor- relacdo nao significativa entre o subescore de Obsessoes €a Avaliacao dos sintomas alvo~medo/evitacio, parti- cularmente antes do tratamento, pode ser atribuida a0 fato de a maioria dos pacientes tenderemaa se considerar muito doentes na Avaliacao dos sintomas alvo-medo/ evitacao (instrumento preenchido pelo paciente),o que nao corresponde necessariamente ao escore no Y-BOCS. Ainstrumento preenchido pelo examinador).Com o trata mento, os pacientes apresentam graus variaveis de me- hora e passam a reconhecer melhor a sua pravidade cli- nica, levando a uma maior variabilicade dos resultados da Avaliacao dos sintomas alvo ~ medo/evitagao, que passa a se correlacionar melhor com osescores n0 Y-B Acreditamos que Teste de evitacdo do comportamento pode nao ter se corrclacionado com osescores totais do Y- BOCS apés o tratamento devido a natureza “desafiado- 1a’ do teste, Mesmo os pacientes com melhora clinica e educao dos escores do Y-BOCS podem desenvoiver an- siedade significativa quando enfrentando seus antigos temores. 380 0 dora Brstoro oe Psiquatna juno 1808 vol 47m 7 Nakagawa e cols. (1996) compararam 0 Y-BOCS com a Lista de Compulsces, as variaveis Rituais Alvo, Ob- sessdes Alvo, Evitacao, Incapacidade, Impressao Clini- ca Global (CG e um Fator Latente derivado destas cin- covariaveis, Estes autores utilizaram dados provenien- tes de um estudo de 46 pacientes, submetidosa terapia comportamental por 8 semanas. O Y-BOCS apresentou boa validade convergente com todas estas varidveis, em especial com a varidvel Incapacidade (Coeficiente =0,70; P<0,001). Para investigara validade divergente, Woody e cols, (1995) compararam os escores do Y-BOCS com as subescalas de Ansiedade geral e Depressio do SCL-90, antes e apés 0 tratamento. A Ansiedade geral correlacionou-se significativamente com os subescores de obsessao tanto antes (CCP = 0,33; p < 0,05 ) quanto apés o tratamento (CCP= 0,43; p < 0,05). A Depressio correlacionou-se significativamente, antes e apos o tra- tamento, com subescores de obsessdes (CCP antes do tratamento = 0,33; p< 0,05; CCP apés o tratamento = 0,48; p< 0,05), compulsoes (CCP antes do tratamento= 0,35; p< 0,05; CCP aps o tratamento =0, 46; p < 0,05) e os escores totais do Y-BOCS (CCP antes do tratamento = 0,42; p<0,05;CCP apés o tratamento =0, 51; p <0,05). A partir destes resultados, é sugerido que o Y-BOCS tem boa validade convergentee pobre validade divergente, néo distinguindo entre os constructos de TOC e depres- sao e de obsessao e ansiedade. O problema de pouca validade divergente entre TOC e depressio nao parece ocorrer devido a co-morbidade, uma vez que, com a ex- clusao dos pacientes com co-morbidade depressiva, 08 resultados mantiveram a mesma tendéncia. Em resumo, uma boa validade convergente do Y-BOCS foi demonstrada em relagao ao CGleao NIMH-OC scale (Goodman e cols,, 1989b, Kim e cols. 1992), ao Physicians Global Rating (Goodman e cols., 1989b; Kime cols., 1990; Kim e cols; 1992), a0 Patiet Global Rating (Kim ¢ cols., 1990; Kim e cols., 1992), a Avaliacdo dos Sintomas Alvo (Target Symptom Rating) (Woody e cols., 1995), & Lista de Compulsées e & varidvel Incapacidade (Nakagawa e cols.,1996). Uma baixa validade convergente foi demons- trada em relacio ao Inventario Obsessivo de Leyton (Kim ecols., 1990), a0 SCL-90 (Kim e cols., 1992) € ao Teste de Evitacio do Comportamento(Behavioral Avoidance Test) (Wooxy ecols., 1995). 0 Inventario Obsessivo de Leyton considera a resistencia a obsessGes/compulsdes como indicacao de maior gravidade, a0 contrario do Y-BOCS, e isto pode justificar este achado. O Teste de evitacao do comportamento(Behavioral Avoidance Test) deve suscitar ansiedade significativa mesmoem pacientescom melho- ra clinica, pois neste teste os pacientes enfrentam sit ‘coes outrora impossiveis, eisto pode justificar este resul- ado. A validade convergente em relacdo ao MOC foi descrita como baixaem um estudo (Goodman e cols., 1989) eboa em outro (Woody e cols., 1995).O MOCI da enfase a sintomas de contaminacao, que sao apenas mais um tipo de sintomas no Y-BOCS. Dafa baixa validadie convergen- te do Y-BOCS em relacio a0 MOCI (Goodman e cols., 1989). A boa validace do Y-BOCS em relacao ao MOCi (Woody e cols., 1995) nao foi maior devido ao perfil do MOCI, que supervaioriza sintomas de contaminacao. Observou-se baixa validade divergente em relagao a0 HAM-D e HAM-A (Escala Hamilton para avaliacao de depressao e Escala Hamilton para avaliacao de ansieda- de), em especial em pacientes deprimidos (Goodman e cols., 1989); e em relacio ao SCL-90 e em relagio as subescalas de Ansiedade geral e Depressio do SCL-90 (Woody e cols., 1995), em pacientes deprimidos ou nao. Discussao Foi demonstrado que o Y-BOCS apresenta boa fide- dignidade interavaliador (Goodman ecols,, 1989; Woody ecols., 1995); boa fidedignidade de consistencia interna (Goodman e cols., 1989), especialmente quando sao ex- cluidos os itens 4 (resisténcia a obsessoes) € 9 (resisten- cia a compulsoes) (Woody ¢ cols., 1995); boa fidedigni- dade teste-reteste (Kim e cols., 1990; Kim e cols., 1992) Observou-se boa valiciade convergenteem relagaoaoCGi @ a0 NIMH-OC scale (Goodman e cols., 1989), 20 Physicians Global Rating (Goodman e cols., 1989; Kime cols., 1990; Kim e cols; 1992) e ao Patient Global Rating (Kim e cols., 1990; Kim e cols,, 1992); e baixa validade convergente emrelacdo ao MOCI (Goodman e cois., 1989: Woody e cols., 1995), a0 Inventario Obsessivo de Leyton (Kim e cols., 1990) e ao SCL-90 (Kim e cols., 1992). De- monstrou-se baixa validade divergente em relacao ao HAM-De HAM-A (Escala Hamilton para avaliagao de depressao e Escala Hamilton para avaliagao de ansie~ dlade) em especial em pacientes deprimidos (Goodman © cols,, 1989) e aos subitens de ansiedade geral e depres- sio do SCL-90 (Woody ecols,, 1995), Os casos Antonia e Cristina apresentam um TOC onde o subitem 12, comportamento evitativo, original mente nao incluido na soma dos escores finais do Y- BOCS, acompanha os escores obtidos com os outros subitens, medida gue 0 TOC se agrava. Com a atual estrutura do Y-BOCS, apesar do quadro das pacientes se agravar, seus escores podem se reduzir. Quando a3 pacientes apresentam um comportamento evitativo, gas- fam menos tempo e exercem uma especie de controle, nao salutar, sobre seus sintomas obsessivo-compulsi- vos. Isto implica na redugiio de seus escores totais no Y- BOCS, dependentes do item tempo gasto cont os sintomas, resistencia e controle, entre outros. Portanto, reducao no escore total do Y-BOCS pode estar relacionada a piora clinica se surgir comportamento evitativo importante Deve-se considerar esta possibilidade na analise does core final do Y-BOCS de pacientes com TOC. caso de Maria é um exemplo onde a resisténcia as obsess6es nao acompanha a melhora observada no es. core total do Y-BOCS e em seussubitens. A paciente apre~ sentou uma reducao geral dos sintomas, mas na presen- 2 do impeto para realizar compulsdes, nao conseguia resistir ao fenomeno. A auséncia de resistencia a este sintoma permancceu praticamente inalterada apesar da melhora desta paciente. Por outro lado, a avaliagao do item resistencia por parte do examinador nos parece complexa. Assim como Woody e cols. (1995) observa- ram, uma parte significativa de nossos pacientes nio consegue distinguir corretamente resistencia a obsessoes ecompulsdes de controle de obsessées e compulsées. Isto compromete a avaliacao dos pacientes com TOC. A exclusdo dos itens 4 (resistencia a obsessdes) ¢ 9 (resistencia a compulsoes) e inelusio do item 12 (evitagao) melhora 0 entendimento e avaliagao da gra- vidade do paciente com TOC. Estas modificacées si0 adequadas na maioria dos pacientes, como os casos apresentados demonstram. A busca por um instrumento com grande fidedigni- dade suscita alguns questionamentos. Se 0 Y-BOCS é uma escala que avalia gravidade eos subitens devem ter boa fidedignidade intraclasse, por que nao utilizar um Ainico item ao invés de varios subitens que mensuram 0 mesmo constructo ? Pensando desta forma, nao haveria sentido em utilizar uma escala como 0 Y-BOCS, com varios subitens que devem resultar em escores semelhan- tes, mas uma escala de gravidade global, com um tinico item (como o CGD. Esta conduta pode nao ser interes- sante em pesquisa, mas parece ser mais apropriada para oclinico. ‘Como nao hd exames que possam confirmar o diag- néstico nem avaliar a gravidade do TOC, a validade con- vergente do Y-BOCS foi investigada comparando-se a ‘mesma com escalas mais antigas, como o MOCTe 0 In- ventario Obsessivo de Leyton. Estas escalas sao falhas em muitos aspectos. Se baseiam em varidveis icotémicas (sim/nao), O MOCI supervaloriza sintomas do tipo verificacdo e limpeza (Yaryura-Tobias ¢ Nezirogiu, 1997) ¢ 0 Inventirio Obsessivo de Leyton nao, foi desenvolvido para pacientes com TOC, nao apresen- tavalidade e fidedignidade estabelecidas, nao investiga determinados sintomas (como lavagem de maos esinto- mas bizarros), mistura “tracos”com “estado” e conside- ra a resistencia a obsess0es/compulsoes como indica- {ao de maior gravidade (Yaryura-Tobias e Nezirogiu, 1997). Estas diferencas entre as escalas tém impacto na validade do Y-BOCS. Nao é surpresa observar baixa validade convergente do Y-BOCS nestas circunstancias, e isto nao significa que o Y-BOCS seja um instrumento ruim, e sim que aborda aspectos mais amplos do TOC. nao inclufdos em outras escalas. Foi demonstrada também a baixa validade divergente do ¥-BOCS em relacioa depressio e ansiedade. Oacha- do de correlacées significativas entre o Y-BOCSe o HAM- D, o HAM-A ee assubescalas de Ansiedade Geral e De~ pressio do SCL-90 nao ésurpreendente (Goodman ecols., 1989b; Woody ecols., 1995). Nenhum destes instrumen- tos éliagnéstico e capaz de distinguir um grupo diag- néstico do outro com base somente nos escores totais. Muitos itens investigados no HAM-Dnaosao exclusivos da Depressio Maior e pacientes com TOC podem apre- sentar diminuigdo da energia, da concentragao e altera- es co sono como conseqiiéncia de seus sintomas obses- sivo-compulsivos. Isto justificaria a baixa validade con- vergente do HAM-D, em pacientes com TOC deprimidos (Goodman e cols., 1989), e do SCL-90, em pacientes com TOC deprimidos ou nao (Woody ¢ cols., 1995), Pacientes com TOC freqiientemente apresentam sintomas de de~ Pressio e ansiedade. A relacao entre TOC, depressao ¢ ansiedade pode refletir ndo s6 comorbidade, mas tam- bbém sofrimentoe debilitacao associadas com 0 TOC gra- ve. Longe de ser uma escala ideal, Y-BOCS ainda éa es- cala mais utilizada em ensaios clinicos de pacientes com TOC e€superior as suas antecessoras. O aprimoramen- toda sensibilidade e especificidade do Y-BOCS ainda aguardam estudos de fidedignidade e validade com metodologia mais rigorosa. Summary Objective: To describe Y-BOCS psychometric characteristics and propose modifications in its structure Methods: Review of the studies about Y-BOCS reliability ‘and validity and report of cases attended in the Obsessions and Compulsions Research Program of Federal University of Jomal Basiere oe Psiquavia juno 1908 vol 47 ne 70) 387 Rio de Janeiro (UFRD). Results: The studies demonstrated that the Y-BOCS has good inter-rater relay god test retest reliability and low internal consistency reliability that increases when items 4 (resistance to obsessions) and 9 (resistance to compulsions) are excluded and item 12 (avoidance) is included. Y-BOCS demonstrated good convergent validity when compared to CGI, NIMH OC scale, Physicians Global Rating and Patient Global Rating, Compulsion Checklist and Disability; and low convergent vlidity when compared to MOCI, Leyton Obsessive lrventory and SCL-90. Also, Y-BOCS demonstrated low divergent validity fo anxiety and depression. Conclusions: ‘The excluston of items 4 (resistance toobsessions) and 9 (resistance to compulsions) and inclusion of item 12 (avoidance) can improve Y-BOCS psychometric profile. There is not an idea! evaluation scale for severity of Obsessive-Compulsive Disorder (OCD). It is possible that more global scales, like CGI could better meet the clinical reality than dicotomic scales like the Y-BOCS. Uniterms: obsessive-compulsive disorder; rating scales; Y- BOCS: methodology. Referéncias 1. DANYKO SJ, McKAY DR, NEZIROGLU FA - Factor Structure and Construct Integrity of the Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale. (Meeting of the Association for Advancement of Behavious ‘Therapy ~ Atlanta ~Georgia, 1993), # 2a, GOODMAN Wi PRICE LH, RASMUSSEN SA, MAZURE C, FLEISCHMANN RU, HILL CL, HENINGER GR, CHARNEY DS The Yale-Brown Obsessive Compulsive Seale. 1: Development, use, and reliability. Arch Gen Psychiatry, 46(11): 1006-1011, 1989, » 26 GOODMAN WR. 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