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ACÚSTICA

ARQUITETÔNICA

Silvana Laiz Remorin


Conforto acústico
em edificações
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir conforto acústico e suas principais características aplicadas


nas edificações.
 Reconhecer os principais elementos que influenciam na obtenção
de espaços sonoramente confortáveis.
 Identificar as normas técnicas relativas ao conforto acústico e seus
principais regramentos.

Introdução
Neste capítulo, você vai perceber que estudar e planejar um projeto
pensando na acústica e em como ela vai interferir em ambientes como
bares, restaurantes, cinemas e teatros é fundamental, embora ainda
seja um aspecto pouco levado em consideração na construção de uma
edificação para moradia. Esse assunto, muitas vezes, é esquecido, seja por
falta de conhecimento ou por economia. Porém, nada justifica a ausência
de uma solução para qualquer espaço, mas leva em consideração o
bem-estar e a qualidade de vida dos habitantes.

Principais características do conforto acústico e


aplicação em edificações
A palavra “acústica” normalmente remete ao som de instrumentos musicais
ou algo relacionado à sonorização. Porém, no âmbito da arquitetura, a acús-
tica é uma necessidade para que os projetos possam adequar o espaço a cada
tipo de situação encontrada. A acústica é a ciência que dedica o estudo do
som/ruído e a sua propagação, podendo ocorrer em meio líquidos, gasoso ou
sólidos, e as suas relações com o ser humano. O som é a variação de pressão
2 Conforto acústico em edificações

atmosférica que o ouvido humano capta. Podemos também definir como som
algo agradável como músicas e vozes, e ruídos, com sensações indesejadas
(CHING; BINGGELI, 2014). Tavares, Silva e Souza (2017) citam que o conforto
está relacionado às questões psicológicas, como a identificação e a satisfação
com o local, assim como assim como às condições físicas de temperatura,
umidade, ventilação, iluminação e acústica. Temos, portanto, que o estudo do
conforto acústico lida com a subjetividade e a percepção de cada indivíduo,
valendo-se então com a avaliação humana.
A palavra conforto se relaciona com o conceito de bem-estar, uma questão
psicológica, e varia de pessoa a pessoa, dependendo também das características
individuais. É mais facilmente percebido quando a execução de alguma tarefa
é interrompida em razão da falta de concentração do indivíduo por causa do
ruído que o cerca.
Para Ching e Binggeli (2014), a acústica é o ramo da física que trata do
controle, da transmissão e da recepção dos efeitos do som, e que, em espaços
internos, é necessário preservar sons desejados e eliminar sons que interfiram
nele.
Baseado em uma convivência em um local de trabalho ou de lazer, onde
se encontram cada vez mais pessoas que se sentem prejudicadas pela poluição
sonora, podemos verificar que as pessoas têm aceitado que esse é um “pro-
blema” de todas as cidades. Sendo assim, a maneira como o indivíduo percebe
e interpreta as sensações do ambiente é individual, variando da relação dos
usuários e do ambiente (CHING; BINGGELI, 2014).
O som, de acordo com Ching e Binggeli (2014), pode ter diversas definições,
dependendo da área:

 de senso comum: som é o que ouvimos;


 para a física: é uma energia que se propaga;
 para a psicologia: som é uma sensação individual;
 na fisiologia: a via como o som percorre até o cérebro.

Hirashima e Assis (2017, p. 8) argumentam que:

[...] quando o nível sonoro é inferior a certo valor, 70 dB(A), com o aumento do
nível de pressão sonora equivalente contínuo, não há mudanças significativas
na avaliação de conforto acústico, enquanto a avaliação dos níveis sonoros
muda continuamente.
Conforto acústico em edificações 3

De acordo com Ching e Binggeli (2014), em um recinto fechado, primeiro


vamos ouvir o som diretamente da fonte e depois com a série de reflexões
que o som produz no ambiente. O que significa que sons refletidos também
podem gerar eco e reverberação no ambiente.

O ruído é considerado um som indesejável que exerce influência negativa sobre a


saúde e, principalmente, sobre a qualidade de vida das pessoas. Conforme descrevem
Hirashima e Assis (2017, p. 9), é um “som inútil e sem informação relevante”, que começou
a ser contemplado recentemente nos projetos urbanos.

Hirashima e Assis (2017) e Ching e Binggeli (2014) defendem que muitos


fatores, como tempo de duração do ruído, intensidade, repetições, variação e
sensibilidade individual, influenciam no desconforto causado. Podemos então
compreender que mensurar a percepção de conforto se tornou um trabalho
que dependia de uma pesquisa de opiniões. Santana, Maués e Picanço (2016)
comentam que essas pesquisas de opinião foram realizadas pelo Acoustical
Society of Japan (ASJ), analisando o efeito do isolamento dos indivíduos e a
comparação de resultados. Santana Maués e Picanço (2016) mencionam que
50% dos entrevistados se incomodam com o ruído em alguma forma e que
30% se incomodam moderadamente. O ruído que mais perturba é o ruído de
obras e reformas.
Na realidade, hoje já temos a norma de desempenho de edificações que
exige que as construtoras realizem tratamentos que corrijam as interferências
de som entre as unidades autônomas, mas exclusivamente para edificações
residenciais. Porém, poucas estão aplicando essa normativa pela falta de
fiscalização e também de conhecimento da população. Com a edificação já
construída, alterar a base estrutural como paredes ou janelas dessa edificação
seria pouco provável, então, pode-se pensar em algumas formas de como
driblar os ruídos externos (HIRASHIMA; ASSIS, 2017).
Santana, Maués e Picanço (2016) citam que o desempenho de uma edifi-
cação é o conceito a que vai se utilizar esse imóvel e deve-se limitar o que é
essencial, como conforto, segurança e durabilidade. Porém, os autores citam
que o conforto acústico não recebe a devida importância e é sentido apenas
após o início do uso do imóvel, do espaço.
4 Conforto acústico em edificações

Conforto acústico para o dia a dia inclui observar os limites de decibéis


permitidos, respeitando vizinhos, familiares e a própria saúde. Controlar o
número de decibéis dentro de casa ajuda a evitar alguns problemas como
desconforto, irritação, falta de concentração e até mesmo insônia (CHING;
BINGGELI, 2014).
Para conhecimento, vamos aos efeitos dos decibéis descritos por Correia
(2009):

 35 dB: interferências nas conversas em ambiente fechado.


 55 dB: distúrbios do sono.
 70 dB: limite do considerado seguro.
 75 dB: irritação e desconforto.
 80 dB: aumento dos batimentos cardíacos.
 90 dB: danos no sistema auditivo.
 110 dB: danos permanentes à audição.

Baseado nisso, podemos utilizar uma série de materiais para o controle


do ruído e a classificação de um material absorvente, por exemplo, varia de
acordo com a espessura, a densidade, a porosidade e a resistência ao fluxo
de ar. Se você analisar um material fibroso, vai perceber que ele permite a
passagem do ar, porém suas fibras vão absorver a energia do som, o que nos
mostra, então, que é um bom material acústico. Amorim e Lincarião (2005)
citam como exemplos fibra de vidro, lã de rocha, tecidos, espumas e aglome-
rados. Os mesmos autores citam que há tipos de barreiras a serem utilizadas
no conforto acústico:

 Barreiras reflexivas: sólidos homogêneos, como a madeira e o concreto.


 Barreira absortiva: poroso e geralmente opaco, como fibra de madeira,
concreto granulado e lã mineral, revestidos por materiais robustos.
 Barreiras reativas: material opaco com cavidade, deixando o som pe-
netrar por pequenas aberturas.

Pensar em outras formas de controlar o som em paredes e pisos também


é uma boa estratégia para o conforto acústico. Porém, você deve analisar
com cautela a escolha desses elementos. Painéis revestidos com tecido e
carpetes são os acabamentos que mais absorvem o som, limitando também
o ruído de passos ou sons que possam vir de outros pavimentos (AMORIM;
LINCARIÃO, 2005).
Conforto acústico em edificações 5

Os mesmos autores ainda comentam que, ao entrar em um restaurante, pode


haver música ambiente, mesmo que com o volume baixo. Você já percebeu
que esse som ambiente traz mais conforto, quando é, por exemplo, utilizado
em locais que poderiam ser barulhentos? Esse som ambiente, chamado de
som branco, é colocado no espaço de forma proposital, para mascarar ruídos
que poderiam ser indesejáveis.

Espaços sonoramente confortáveis


A acústica arquitetônica é pensada para locais onde a exigência de controle de
som seja necessária, como um ambiente com uma máquina barulhenta, por
exemplo. Porém, em um ambiente comum de trabalho, como um escritório,
pensar e planejar o espaço pode tornar o dia a dia de cada indivíduo melhor.
A acústica arquitetônica se volta para dois campos, de acordo com Amorim
e Lincarião (2005):

1. defesa de ruídos (eliminar ou tratar que ruídos externos não entrem no


ambiente, com isolamento acústico);
2. controle do som (controlar para que o som do ambiente seja controlado,
garantindo a qualidade e evitando ecos).

Para o entendimento de uma conversa, se o som chegar ao ouvido antes


de 0,05 segundo, aumenta a sensação auditiva, o som será claro e audível. Se
o intervalo que o som chega até o ouvinte em um intervalo for maior que 5
segundos, causa confusão em razão da reverberação, pois o ouvido bloqueia
antes desse tempo.
Som é uma onda mecânica que depende de quatro fatores, segundo Amorim
e Lincarião (2005):

 fonte (emissor do ruído);


 meio de propagação (caminho do som, isto é, sólido, líquido ou gasoso);
 receptor (quem recebe o som);
 superfície (produz as vibrações do som).

Pode-se também trabalhar com materiais isolantes, que não permite que
o som reverbere no espaço ou ambiente. A seguir, são descritos tipos de
isolamento.
6 Conforto acústico em edificações

Isolamento aéreo: consiste em usar materiais pesados e densos a fim de evitar


a propagação do som. Materiais com mais resistividade devem ser utilizados
nesses casos, assim como as paredes duplas. Essa é uma técnica que não
permite a passagem de um som de um ambiente para o outro, como podemos
perceber em um auditório, onde são criados diversos obstáculos para o som.

Isolamento de impacto: ruído propagado por sólidos como em apartamentos,


prédios ou indústrias. O uso de tecidos, feltros, lã de vidro ou pisos flutuantes
separando os ambientes pode ser uma boa escolha, pensando e planejando de
acordo com a necessidade de cada ambiente. São formas de adequar o espaço
de acordo com as normas.
O ouvido humano reage de forma instintiva ao som, geralmente com uma
resposta agradável para sons pouco intensos, pois sons elevados podem nos
transmitir dor e desconforto, chegando até mesmo a danos irreversíveis, por
exemplo, efeitos psicológicos como tensão e ansiedade.
Como os sons são transmitidos por meio do ar e dos materiais sólidos, é
indicado que sejam, sempre que possível, isolados das suas fontes. Analisar
eficiência e funcionalidade e balancear custo e benefício antes de qualquer
decisão é fundamental.

Há materiais separados por classificação, variando de acordo com a ação que se deseja
para cada ambiente, de acordo com Catai, Penteado e Dalbello (2006).
 Materiais convencionais: materiais de uso comum na construção e com a vanta-
gem do isolamento acústico. São exemplos, blocos cerâmicos, blocos de concreto,
madeira e vidro.
 Materiais não convencionais (inovações): materiais especialmente desenvolvi-
dos e com vantagens térmicas: lã de vidro, lã de rocha, espumas e fibra de coco.

Em projetos, é necessário estudar sobre a localização da edificação no


terreno e então tomar medidas que possam diminuir e reduzir impactos de
ruídos externos (quando não há controle sobre a fonte geradora) (CATAI;
PENTEADO; DALBELLO, 2006). Veja a Figura 1.
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Figura 1. Princípios da acústica e a sua reflexão em diferentes superfícies: (a) superfícies


refletivas paralelas podem causar ecos e oscilação aerostática; (b) superfícies oblíquas podem
fragmentar sons; (c) superfícies côncavas focalizam sons e as convexas difundem os sons.
Fonte: Adaptada de Ching e Binggeli (2014).

Superfícies planas e lisas refletem muito o som, enquanto materiais fibrosos


e porosos têm a capacidade de absorver o som. Para ruídos externos, devem
se tomar medidas como a implementação de obstáculos para que o ruído não
chegue até o interior do prédio. Sendo assim, evitar colocar janelas para a
área com ruído, paredes com materiais pesados e com revestimentos porosos
também auxiliam. Outra forma natural de evitar ruídos externos é a disposição
de árvores e painéis vivos com vegetação, potencializando o obstáculo para a
propagação do som (GABRIEL, 2016). Isolamento acústico em tetos e paredes
e vidros duplos nas janelas também são bons aliados quando consideramos
uma edificação multifamiliar. Se pensarmos em um edifício, com vizinhos
ao lado, com divisórias internas, o isolamento interno entre as unidades,
realizado com materiais de qualidade, é uma ótima solução para manter a
privacidade (GABRIEL, 2016).
A má acústica nos ambientes internos de edificações é uma das principais
causas de insatisfação dos moradores, pois ambientes ruidosos interferem no
dia a dia, na satisfação, no descanso e no sono dos moradores. É importante
pensar que algumas fontes de ruído estão além da nossa capacidade de controle
e que, nesses casos, as implementações de soluções de isolamento acústico
no prédio contribuem para a promoção do bem-estar. Janelas acústicas por
exemplo, são ótimas para que o som externo não entre no ambiente. Já o uso
do papel de parede também pode ser um aliado, desde que o espaço permita,
de acordo com Ching e Binggeli (2014). A combinação de materiais pode
8 Conforto acústico em edificações

contribuir para a diminuição da propagação do som, como aliar forros, pisos


e paredes com divisórias pode trazer um resultado satisfatório aos moradores,
contribuindo para a diminuição do som indesejado.
Veja, a seguir, como a tranquilidade em um ambiente, em relação ao ruído,
também pode ser sentida se algumas instruções forem seguidas (SILVA, 2016).

 Tapetes e carpetes abafam sons de pessoas andando, principalmente


com salto.
 Vedações de aberturas com borrachas ou feltros ajudam a diminuir o
desconforto, pois diminuem a entrada de som no ambiente.
 Equipamentos que produzem barulho, como geladeira e frigobar, quando
afastados da parede, ajudam a propagar menos o som, pois não são
refletidos diretamente nas paredes que o cercam.

Ching e Binggeli (2014) mencionam que há uma redução de ruídos quando a pressão
entre dois espaços for diferente, podendo ser por:
 absorvência do espaço receptor;
 perda de transmissão em razão da parede, do piso e do teto;
 nível do som ambiente, diminuindo a percepção de sons que nos perturbam.

Perda na transmissão é uma medida do desempenho de um material de


construção ou de uma estrutura na prevenção da transmissão de sons aéreos à
medida que passam por tal material ou estrutura (CHING; BINGGELI, 2014).
Os materiais de construção podem ser classificados pelos seguintes fatores
que enfatizam a classificação de perda na transmissão:

 Massa: em geral, quanto mais pesado e denso um corpo, maior sua


resistência à transmissão de sons.
 Separação em camadas: a introdução da descontinuidade no material
interrompe o percurso por meio do qual os sons estruturais podem ser
transmitidos de um espaço a outro.
 Capacidade de absorção: materiais absorventes ajudam a dissipar tanto
os sons refletidos quanto os transmitidos em um recinto.
Conforto acústico em edificações 9

Observe a Figura 2.

Figura 2. Tipos de materiais.


Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 283).

Ao pensar na parte interna do escritório onde o desafio seja um ambiente


para isolar ao máximo os sons, a combinação de parede e teto e o layout do
espaço podem ajudar bastante nessa tarefa. Hoje vemos muitos ambientes em
que a divisória não vai até o teto e ficam muito próximas, o que dificulta o
arranjo do espaço. Parte do ruído é refletida pelo forro, e a aplicação de placas
acústicas absorverá o ruído. Utilizar materiais acústicos nas divisórias, a fim
de absorver o ruído, também pode auxiliar nessa tarefa, conforme Ching e
Binggeli (2014). Veja a Figura 3.
10 Conforto acústico em edificações

Figura 3. Arranjo físico em um ambiente de trabalho, evitando a dissipação do som.


Fonte: Ching e Binggeli (2014, p. 286).
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Normas técnicas referentes ao conforto acústico


Controlar o ruído é fundamental para a qualidade de vida e o bem-estar da
população. Para isso, pode-se contar com as normas técnicas para que ruídos
fiquem dentro de padrões de aceitação, tornando qualquer ambiente um bom
local para concentração, passeio ou produtividades dos colaboradores.

Se você precisa pensar em uma indústria, onde há muitos equipamentos e muitos


ruídos, a medida protetiva para um conforto acústico do ambiente poderá ser também
um equipamento de proteção coletiva, levando em consideração a Norma Regula-
mentadora 15, que comenta sobre o tempo de exposição e a frequência, que devem
ser controlados, a fim de evitar danos.

Mateus (2008) afirma que normas europeias chegaram ao nosso país, o que
contribui para o aparecimento de novas legislações sobre prevenção e controle
de ruído, incluindo também sobre o conforto acústico no interior dos edifícios.
Para esses controles, podemos contar com algumas normas e leis que têm suas
especificidades voltada para cada consideração, conforme listadas a seguir.
A NBR 15575 — Desempenho de edificações habitacionais (ASSO-
CIAÇÃO..., 2013) traz critérios de uso dos imóveis, baseada em estudos das
edificações, limitando o que é considerado conforto acústico pelos usuários.
Essa norma, que visa a proporcionar bem-estar para todos, está em vigor
desde 2012 e estabelece requisitos máximos de ruídos para cada edifício,
estabelecendo níveis e atendendo às necessidades humanas, beneficiando a
qualidade de vida dos moradores das edificações. Com a revisão e a aprovação
em 2013, essa norma entra em uso para todas as novas edificações em todo
o país. Ela chega como um marco na construção civil, passando a obrigar
que as construtoras se adaptem e coloquem em prática, nas obras, o nível de
desempenho específico para cada projeto, atendendo às indicações da norma.
Os moradores, consumidores desses espaços, são os beneficiados pela norma,
que garante a diminuição da poluição acústica e a proteção contra incêndios.
Para a construtora, essa norma agrega maior qualidade dos espaços oferecidos
à população, com vedação externa para isolamentos acústicos.
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A norma ABNT NBR 15575 contém seis partes:


 requisitos gerais (NBR 15575-1);
 sistemas estruturais (NBR 15575-2);
 sistemas de pisos (NBR 15575-3);
 sistemas de vedações verticais internas e externas (NBR 15575-4);
 sistemas de coberturas (NBR 15575-5);
 sistemas hidrossanitários (NBR 15575-6).
Sobre os itens indicados na norma:
 tempo de reverberação adequado, no caso de ecos;
 distribuição balanceada de energia sonora nas faixas de frequências, como curvas
NC;
 proibição de tonais audíveis, como roncos, assobios e zumbidos;
 eliminação de variações bruscas de nível perceptíveis ao longo do tempo, como
passagens de motos, elevadores e aviões;
 distribuição uniforme de som ao longo do espaço.

Baring (2007) critica o governo pelas tentativas de regulamentar e eviden-


ciar a necessidade para a criação de uma norma que estabeleça e evidencie
parâmetros para uma melhor fiscalização, proporcionando melhor qualidade
de vida em relação ao conforto acústico para a sociedade em lares, ambientes
de trabalho, escolas, etc. O mesmo autor também explica que os automóveis,
hoje, são mais confortáveis para os usuários, mesmo em relação a ruído e
vibração, se comparados aos de duas décadas atrás, isso porque a entrada
de carros importados no mercado trouxe mais conforto à experiência sem os
ruídos externos ou internos.
A NBR 10151, que entrou em vigor em julho de 2000 e teve a sua última
errata em junho de 2003, tem como objetivo fixar as condições de avaliação
aceitável do ruído em comunidades, indiferentemente de reclamações. Traz
ainda os métodos para a medição de ruído e métodos para correções. O método
de avaliação conta com a medição do nível de pressão sonora em decibéis e
a norma também fala sobre a avaliação do ruído em áreas habitadas, visando
ao conforto da comunidade. Também determina procedimentos e valores de
referência para avaliação da pressão sonora e projetos acústicos de ambientes
internos, dependendo da finalidade de uso. Essa norma ainda insere um quadro,
mencionando o nível de decibéis em diversas áreas. Veja o Quadro 1 a seguir.
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Quadro 1. Tabela de limites de decibéis por região

Tipos de áreas Diurno Noturno

Áreas de sítios 40 35
e fazendas

Área estritamente 50 45
residencial urbana ou de
hospitais ou de escolas

Área mista, 55 50
predominantemente
residencial

Área mista, com 60 55


vocação comercial
e administrativa

Área mista, com 65 55


vocação recreacional

Área 70 60
predominantemente
industrial

Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000).

A medição dos sons é fácil de ser executada. Um decibelímetro com um


microfone capta a pressão sonora e pode informar as amplitudes geradas nos
espaços, os decibéis. A precisão varia um pouco de acordo com a qualidade
do equipamento, porém, com as tecnologias modernas, essa precisão é cada
vez melhor, de acordo com Peixoto e Ferreira (2013).
Podemos analisar a NBR 10152 — Acústica: níveis de pressão sonora em
ambientes internos a edificação (ASSOCIAÇÃO..., 2017) e verificar que ela
regula os níveis de ruído para que sejam compatíveis com conforto acústico,
em diferentes tipos de ambiente. Essa norma nos traz como foco principal
um padrão internacional a ambientes em que são necessários os cuidados
com a acústica. Ao consultá-la, temos acesso a uma tabela (atualizada em
2015) na qual encontramos os níveis de ruído recomendáveis a cada tipo de
edificação, além do procedimento detalhado para a medição de ruído (tempo,
posicionamento dos microfones, entre outros).
Outra norma aliada a quem estuda a acústica é a NBR 12179 — Tratamento
acústico em recintos fechados (ASSOCIAÇÃO..., 1992), que tem como obje-
14 Conforto acústico em edificações

tivo os critérios para a execução de tratamentos acústicos em locais fechados


e há indicações de documentos complementares. Essa norma estabelece que
o tratamento dado ao recinto permita uma boa qualidade auditiva às pessoas
presentes no espaço.
Além das normas já citadas anteriormente, podemos contar também com
as Leis nº 5.354/98 e nº 5.909/01.
A Lei nº 5.354/98 fixa os horários e os limites permitidos para a emissão
de sons e ruídos, variando os locais como indústria e residência, até sons dos
geradores, variando ainda de ambientes internos ou externos.
O art. 3º dessa Lei traz a seguinte informação:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, os níveis máximos de sons e ruídos, de


qualquer fonte emissora e natureza, em empreendimentos ou atividades re-
sidenciais, comerciais, de serviços, institucionais, industriais ou especiais,
públicas ou privadas assim como em veículos automotores são de:
I ‐ 60 dB (sessenta decibéis), no período compreendido entre 22:00h e 7:00h;
II ‐ 70 dB (setenta decibéis), no período compreendido entre 7:00h e 22:00h.
Parágrafo único. Quando os sons e ruídos forem causados por máquinas,
motores, compressores ou geradores estacionários os níveis máximos de sons
e ruídos são de 55 dB (cinquenta e cinco decibéis), no período compreendido
entre 7:00h e 18:00h e 50 dB (cinquenta decibéis), no período compreendido
entre 18:00h e 7:00h (SALVADOR, 1998, documento on-line).

Podemos perceber que as normas entraram em vigor para que sejam re-
gulamentados os níveis de ruídos. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
prevê que o ruído recomendável, sem prejuízo à audição humana, é de 50 dB,
sendo que a maioria percebe como se 30 dB fosse algo silencioso e mais de 65
dB fosse um ruído que passa a ser incômodo, prejudicando a concentração.
Se o ruído for acima de 85 dB, já pode levar a algum problema de audição ou
insônia. Em contrapartida, ficar em um ambiente muito silencioso pode ser
algo cansativo e monótono, podendo gerar sonolência.
Sabemos, então, que o conforto acústico, além de ser uma percepção pessoal
de indivíduos, deve ser planejado de acordo com as normas e leis existentes,
para o bom convívio e a tranquilidade entre as pessoas. Dessa forma, é possível
criar ambientes que respeitem o conforto acústico e as individualidades.
Conforto acústico em edificações 15

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Leituras recomendadas
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BARRY, P. Desempenho Acústico em Edifícios: grandezas, métodos, normas e critérios.
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ROAF, S.; CRICHTON , D.; NICOL, F. A adaptação de edificações e cidades às mudanças
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SALVADOR. Lei nº 5909 de 26 de janeiro de 2001. Modifica dispositivo da Lei nº 5.354 de
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será permitida sua emissão e cria a licença para utilização sonora. Salvador, 2001.
Disponível em: <https://cm-salvador.jusbrasil.com.br/legislacao/824270/lei-5909-01>.
Acesso em: 11 nov. 2018.
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