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J QD, xy ©) C3 ew ere ero tered & ETYMOLOGIA — DE — Algumas palavras indigenas a et O territorio do Ceara era, antes de colonizado, habitado por numerosas tribus indigenas, que se gru-, pavam em duas nagdes distinctas pelos caracteres phy- sicos, pela linguagem e pelos usos e costumes Os colonos definiam-nas, chamando a uma—indios da lingua geral e a outra, indios da lingua travada. A lingua geral era falada pelos tupis, dos indige- nas os primeiros, em geral, que tiveram relagdes eom os§ portuguezes porque habitavam, sobretudo, 0 litoral. Esses indins deominavam quasi toda a costa da Brasil e bem assim os valies dos grandes rios, as ser- tas mais productivas, as zouas mais amenas. As terras mais aridas, as regides menos providas pela natureza eram occupadas por indigenas de outro typo: os ta~ puyas. A extensdo de territorio occupada pelos tupis, as relagdes com os colonizadores, a sonoridade e elegan- cia da lingua que esses povos falavam explicam, ao par da grande uniformidade desta no espaca, o facto de se ier tornado a /ingua geral, a mais talada em todo o Brasil, com féros e privilegios especiaes, Effectivamente, a lingua dos tupis, o ineiengatt (*) (*) No sui, o Guarany. DO_INSTITUTO NO _CB4RA _ 200 (lingua b6a), rapidamente penetrou nos sertées com os bandeirantes, com os commerciantes e traficantes, que, ou falavam esse idioma, ou se faziam acompa- nhar de numeroso trogo de indios tupis. Eram estes que serviam de guia, de ciceroni, e, nessa funcgdo, iam dando nomes de sua lingua aos accidentes geographi- cos. ‘ Desta arte, todo vu paiz soffreu, ja em época post- columbiana, uma como infiltragdo do tupi. . Entretanto, nao raro, no interior, sobretudo, ou- vem-se palavras de cunho diferente; palavras da lin- gua travada. As pess6as que se ddo ao trabalho de descobrir origens de palavras indigenas devem ter bem em vista essa circunstancia, para evitar a lastimavel confusdo de interpretar nomes tapuias como se fos$em tupis. Dessa inobservancia resultam as mais disparatadas in- terpretagdes, no.mais perfeito desacordo com o real valor descriptive do vocabulo. Quando Pero Coetho veio ao Ceara em 1603, en- controu olittoral habitado em grande parte por tupis das tribus do Pitiguara, Jaguariguara etc.,e naserra «Ibia- paba» a numerosa tribu do Tabajara ou Tabaiaras, No interior ,dominavam os Taptiias, quasi todos tiliados 4 grande nagdo dos Cariris ou Kiriris, que ha- bitavam os sertées desde o rio S$. Francisco alé o Ceara. Duas, portanto, eram as linguas indigenas que se falavam aqui, pelo tempo da conquista: a lingua tupi e a Kirirf. Naturalmente, diferencas dialectaes de pouca monta existiam de tribu a tribu. As denominagdes topographicas, mesmo em re- giées outrora habitadas pelos Cariris ou outras tribus liliadas a esses, sdo quasi todas em tupi. E’ assim que, por exemplo, nos sertdes do Alto Curti, ao sul da ba- cia do Caxitoré, onde viviam os indios Genipapos ou Canindés, da lingua travada, vemos nomes genuina- mente tupis, Existe ali um serrote escalvado chamado Cabartitinga (Cabard = cavallo -- tinga = branco). No 210 REVISTA TRIMENSAL Cariri, a serra principal chama-se Araripe (Arara+- ypy=terra ou lugar de arara). Nao é sé: as proprias tribus taptiias se denomi- navam por palavras tupis, como os jucds {matadores), os Caratits (batata de tit), os Canindés etc. Nao é, portanto, de estranhar encontrarmos grande copia de palavras tupis a par de vocabulos Cariris em todas as regides do interior, onde viviam os ta- puias. Tendo em vista esta circunstancia, sempre que se * nos depara uma palavra indigena, procuramos primei- ramente uma interpretagdo como se fosse tupi. Sd de- pois de nos desenganarmos de acha-la, recorremos ao Cariri. Algumas vezes, € possivel, pela simples estru- ctura do vocabulo, saber si é elle tupi ou Cariri, + > Evidentemente, ha um certo parentesco entre as duas linguas; alids, todas as linguas americanas tém certos caracteres communs. Este facto tem levade os entendidos a ver nas linguas americanas um grupo unico, bem definido. Effectivamente, todas as lingwas Americanas co- nhecidas séo agglutinativas, como certas linguas asia- ticas e quasi todas as africanas. A diversidade que existe na phonetica daquellas linguas impressiona tanto como a extraordinaria analo- gia de estructura grammatical. Este facto é gerai e se applica a todas as linguas americanas, com excepgao apenas das que usam os esquimés. Note-se que o numero das linguas americanas, mais ou menos definidas, sdbe a algumas centenas. Para justificar com largueza as nossas opinides no estudo que se segue, conviria expor algumas nocées essenciaes das linguas tupf e Cariri. Nao o faremos, entretanto, agora; aguardamo-nos para trabalho mais extenso, em elaboracdo. A lista que se segue compreende apenas 0S .vo- cabulos cuja etymologia parece nao ter sido ainda achada, ou aquelles sobre cujas origens, j& publica das, temos duvida ou reconhecemos falsas. DO _INSTITUTO DO cEARd 211 Ji n&o s4o poucos os estudiosos que, com grande competencia, tém abordado o assumpto.. Mesmo aqui no Ceara, conhecemos os trabalhos de Paulino No- gueira e Jasé de Alencar. Em muito pequena escala occuparam-se tambem deste thema o coronel Jodo Brigido e Antonio Be- zerra. Fora daqui, a etymologia de muitos termos in- digenas, usados no Ceard, tem sido esclarecida pelo dr. von Martius, Baptista Caetano e outros. Mas nenhum abordou o assumpto com mais pro- ficiencia do que o dr. Theodoro Sampaio, rio seu mag- nifico trabalho , Carié- cord serd, pois: Cari gue ronca. Carnotim—Serrota sécca, no N. do Estado, Ca- ravd (carnaiba)+/i (branca). Catingura—(olho d’agua da) perto de Vicosa. Caating—(caatinga, matto branco ou ralo ou aber- to)--wéa por yéa (arvore, pau}=arvore da Catinga. A Caatinga, como se sabe, é um sitio floristico bem ca- racterisado. Caxaré--Antiga denominacdo de uma lagéa, perto do rio Banabuit. Caa (matto)-aca (varar)+-ré (diffe- rente). Ceagaré, Caxaré, varar matto differente, ve- reda, atalho. Caxiloré—Rio, aftiuente do Cu. A antiga gra~ phia era: Quéxotoré. No caso desta ser a graphia mais consentanea, o vocabulo Se interpretara: Quixd (arma-. dilha para caca pequena)-+éoré por peré (effeito)= effeito da quix6; quixd efficiente. Preferimos, porém, a analyse feita sobre a graphia actual: Cae (matto)+ ci ou qué (tenro)+m4, por topé (revestir, cobrir, en+ volver)=cobrir com matto tenro. Zoré péde- ser cor-

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