You are on page 1of 9

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

Fichamento do livro:

Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição


Federal de 1988 – Ingo Wolfgang Sarlet

Salvador

2023
ALICE FREITAS DE OLIVEIRA EVANGELISTA1

Fichamento do livro:

Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição


Federal de 1988
Ingo Wolfgang Sarlet2

Este fichamento, apresentado à


disciplina Direitos Fundamentais e
Direitos Humanos, do Programa de
Pós-Graduação em Direito da
Universidade Federal da Bahia, como
requisito parcial de avaliação da
disciplina.

Professor: Dirley da Cunha Jr.

Salvador
2023

1 Aluna do Mestrado em Direito da Universidade Federal da Bahia.


2
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal
de 1988. 4º ed. Ver. Atual. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed., 2006.
Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição
Federal de 1988

A obra Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição


Federal de 1988, de Ingo Wolfgang Sarlet, é dividida em quatro capítulos.
O primeiro capítulo, intitulado "Considerações Preliminares", apresenta uma
introdução ao tema da dignidade humana, destacando sua importância no direito
constitucional brasileiro.
O segundo capítulo, "Conteúdo e Significado da Noção de Dignidade da Pessoa
Humana", discute a evolução histórica e o significado jurídico da dignidade humana. Essa
seção é dividida em duas partes: "Antecedentes" e "A Noção de Dignidade da Pessoa na
Perspectiva Jurídico-Constitucional".
O terceiro capítulo, "Dignidade da Pessoa Humana como Norma Fundamental na
Ordem Jurídico-Constitucional Brasileira", aborda a importância da dignidade humana
como norma fundamental do direito brasileiro. Essa seção é dividida em duas partes:
"Algumas Considerações sobre a Normatização Jurídico-Positiva da Dignidade no
Âmbito do Direito Constitucional" e "Dignidade da Pessoa Humana como Norma Jurídica
(Princípio e Regra) e Valor Fundamental".
O quarto capítulo, "Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais: Alguns
Pontos de Contato", analisa a relação entre a dignidade humana e os direitos
fundamentais. Essa seção é dividida em quatro partes: "Dignidade da Pessoa: Unidade
Axiológica", "Legitimidade da Ordem Jurídico-Constitucional e do Sistema dos Direitos
Fundamentais", "Os Direitos Fundamentais como Exigência e Concretizações do
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana" e "A Abertura do Catálogo Constitucional
dos Direitos Fundamentais e o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana como Norma
dos Direitos Fundamentais".
A obra se encerra com as considerações finais, que resumem os principais pontos
abordados ao longo do livro.
Dignidade da pessoa humana como norma fundamental - O autor Ingo Wolfgang
Sarlet defende a ideia de que a dignidade da pessoa humana não é um direito natural
metapositivo, mas sim uma concretização constitucional dos direitos fundamentais. No
contexto brasileiro, essa posição é fundamentada no artigo 1º, inciso III da Constituição
Federal de 1988, que estabelece que a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos
da República Federativa do Brasil.
Segundo Sarlet, esse artigo não é uma norma programática, mas sim um
supraprincípio constitucional de amplitude e dimensão da dignidade da pessoa humana.
Isso significa que a dignidade humana é um princípio fundamental que orienta os demais
princípios e regras do ordenamento jurídico brasileiro.
Dessa forma, a dignidade da pessoa humana pode ser utilizada como um limite à
atuação do Estado. Ela protege a liberdade humana e evita o autoritarismo, garantindo os
direitos do cidadão. Além disso, a dignidade humana também é um parâmetro
hermenêutico importante para a interpretação da Constituição.
Nas Considerações Preliminares do seu livro, Sarlet ressalta a interconexão entre
dignidade, vida e humanidade. Ele enfatiza que o ser humano é tanto sujeito quanto objeto
do Direito.
A concepção de dignidade humana como um atributo intrínseco e inseparável do ser
humano foi desenvolvida por Immanuel Kant. Sarlet avança no âmbito jurídico,
defendendo a aplicação efetiva da previsão constitucional da dignidade da pessoa humana
em casos de violação desse princípio.
Os antecedentes da concepção de uma vida humana digna remontam à evolução do
pensamento ocidental. O valor intrínseco da pessoa humana é encontrado desde os tempos
do pensamento clássico, com a influência do ideário cristão. Tanto no Antigo quanto no
Novo Testamento da Bíblia, encontramos a premissa de que o ser humano foi criado à
imagem e semelhança de Deus.
A dignidade da pessoa humana como norma fundamental - O autor Ingo Wolfgang
Sarlet examina a distinção crucial entre vida e uma vida digna. Ele explora as diferentes
abordagens presentes no pensamento estóico, filosófico e político, que enfatizam a
importância da autonomia ética e da liberdade individual.
Sarlet também defende a perspectiva de que a dignidade da pessoa humana é uma
produção cultural, influenciada pela filosofia de Hegel. Nesse contexto, ele contextualiza
o pensamento jusnaturalista dos séculos XVII e XVIII como parte do processo de
racionalização e secularização.
Ao analisar a perspectiva jurídico-constitucional sobre o tema, Sarlet destaca a
dificuldade em conceituar de forma definitiva a dignidade da pessoa humana. No entanto,
ele estabelece que o papel do Direito reside na proteção e promoção dessa dignidade, não
na criação.
Sarlet analisa a relação entre o Estado e a vida humana digna, enfatizando que a
atuação do Estado é subsidiária, não prestacional, uma vez que a dignidade é intrínseca à
própria natureza humana.
Por essa razão, o autor explora a Dignidade da Pessoa Humana como uma norma
fundamental na ordem jurídico-constitucional brasileira. Ele enfatiza que a Constituição
Federal dedica um título específico aos princípios fundamentais, anteriormente aos
direitos fundamentais.
Nesse contexto, a disposição legal brasileira segue a evolução histórica ao longo do
século XX, refletindo a tendência internacional de consagração do princípio da dignidade
humana. Apesar de sua origem no pensamento jusnaturalista, essa previsão está agora
integrada no direito positivo, consolidada principalmente pelo texto constitucional.
Ao abordar a dignidade da pessoa humana como norma jurídica, o autor Ingo
Wolfgang Sarlet ressalta a influência das tradições jurídicas alemã, portuguesa e
espanhola no direito brasileiro. Isso resultou na posição da dignidade da pessoa humana
no Brasil como uma norma fundamental, plasmada na Constituição Federal de 1988.
Como norma fundamental, a dignidade da pessoa humana desempenha um papel
duplo: ela atua como uma salvaguarda defensiva contra violações da dignidade da pessoa
humana e também justifica a implementação de ações positivas por parte do Estado e da
sociedade para promover a dignidade da pessoa humana.
No capítulo mais destacado da obra, Sarlet explora a relação entre a dignidade da
pessoa humana e os direitos fundamentais. Ele rastreia a origem axiológica dessa temática
até o artigo 16 da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789,
considerando-a como um elemento fundamental para a legitimidade da atuação estatal.
Sarlet ilustra essa premissa ao destacar a incorporação da dignidade da pessoa
humana na Constituição Federal de 1988 como um pilar da interpretação sistemática. Sem
a dignidade da pessoa humana, a interpretação dos textos infraconstitucionais torna-se
inviável.
De maneira notável, Sarlet estabelece que a dignidade da pessoa humana é o
elemento que confere coerência e legitimidade a uma determinada ordem constitucional.
Isso ocorre porque qualquer sociedade que não reconheça e não assegure a dignidade da
pessoa não pode ser considerada como possuindo uma Constituição.
Em resumo, o autor Ingo Wolfgang Sarlet conclui que não é possível estabelecer um
padrão internacional único para a dignidade da pessoa humana, devido à diversidade
cultural existente. Ele reconhece que o direito e a política compartilham algumas
semelhanças, mas têm trajetórias distintas, com um foco particular na administração da
justiça pelo Estado.
Sarlet utiliza discussões doutrinárias e decisões do Supremo Tribunal Federal para
exemplificar como os direitos fundamentais são aplicados como requisitos e
concretizações dos princípios da dignidade da pessoa humana. Ele defende a necessidade
de manter aberto o catálogo constitucional dos direitos fundamentais e considera o
princípio da dignidade da pessoa humana como uma norma fundamental de direito.
No entanto, Sarlet alerta para o perigo do uso excessivo dessa temática, alinhando-se
com a visão do constitucionalista alemão Peter Haberle. Ele se preocupa com o risco de
"panjusfundamentação", expressão cunhada por José Casalta Nabais, que denota o
reconhecimento de novos direitos fundamentais de maneira excessiva.
Para resolver questões que chegam ao Judiciário, o princípio da dignidade da pessoa
humana não deve ser utilizado de maneira indiscriminada e suprimir os demais direitos
expressos ou implícitos na Constituição Federal. Sarlet propõe uma solução prática diante
de situações concretas, enfatizando que o Judiciário deve, inicialmente, examinar o direito
fundamental específico aplicável.
Sarlet eleva a dignidade da pessoa humana à posição de limite e responsabilidade que
recai sobre o Estado, a comunidade e os indivíduos. Ele conclui que a proteção pela
dignidade deve ocorrer dentro dos limites dos direitos fundamentais.
A seção final da obra de Ingo Wolfgang Sarlet, "A dignidade da pessoa humana como
norma fundamental", aborda a questão dos limites da dignidade da pessoa humana. O
autor defende a ideia de uma teoria dos limites dos limites, que visa estabelecer critérios
para a aplicação da dignidade da pessoa humana em situações conflituosas.
A teoria dos limites dos limites parte do pressuposto de que não existem direitos
absolutos. Todos os direitos fundamentais estão sujeitos a restrições, seja por meio da lei,
seja por meio de outros princípios constitucionais.
Sarlet afirma que os limites à liberdade são determinados apenas por meio da lei. Os
direitos fundamentais, por outro lado, estão protegidos pelas cláusulas pétreas da
Constituição Federal. Quando há um conflito direto entre as dignidades de diferentes
pessoas, a solução sugerida por Sarlet é a otimização dos bens em conflito. Isso significa
que o Estado deve buscar a solução que maximize o respeito à dignidade de ambas as
pessoas. A teoria dos limites dos limites é uma proposta inovadora que busca conciliar a
necessidade de proteção da dignidade da pessoa humana com a realidade dos conflitos
sociais. Assim, nas palavras de Sarlet (2012, p. 118-119):
A Constituição de 1988 [...] consagrou a idéia da abertura material do
catálogo constitucional dos direitos e garantias fundamentais [...] para
além daqueles direitos e garantias expressamente reconhecidos como
tais pelo Constituinte, existem direitos fundamentais assegurados em
outras partes do texto constitucional (fora do Título II), sendo também
acolhidos os direitos positivados nos tratados internacionais em matéria
de Direitos Humanos.

Além disso, Ingo Wolfgang Sarlet enfatiza um parâmetro hermenêutico importante


para a interpretação e aplicação do direito: mesmo que alguém viole a dignidade de outra
pessoa, ele não perde sua própria dignidade. No entanto, qualquer restrição à dignidade
da pessoa humana, mesmo que justificada pela preservação de direitos fundamentais ou
pela proteção da dignidade de terceiros, é considerada uma violação. Portanto, a
relativização é admissível, desde que o núcleo essencial da dignidade seja respeitado.
Nas Considerações Finais de sua obra, Sarlet retoma os pontos discutidos
anteriormente e destaca o papel da dignidade da pessoa humana como uma norma-
princípio que se harmoniza com outros princípios e direitos fundamentais. Ele enfatiza a
dupla dimensão, negativa (de proteção) e positiva (prestacional), da dignidade da pessoa
humana. Nesse contexto, todas as entidades privadas e os indivíduos são diretamente
vinculados por esse princípio, o que implica a existência de deveres de proteção e respeito
também nas relações entre particulares.
Em sua análise final, Sarlet defende a contínua busca por uma proteção eficaz da
dignidade da pessoa humana, independentemente de quem seja o indivíduo. Ele
argumenta que o indivíduo que desrespeita a dignidade de outra pessoa paradoxalmente
não perde a sua própria dignidade, uma vez que ele não deixa de ser um ser humano com
direitos inerentes à pessoa humana, que são indivisíveis, intransferíveis e irrenunciáveis.
A obra de Sarlet continua sendo relevante e atualizada no contexto do estudo
constante e em constante discussão da Constituição Federal de 1988. Dessa forma, a obra
influencia novas pesquisas sobre o tema da dignidade da pessoa humana e dos direitos
fundamentais, não apenas pelo autor, mas também por outros juristas e academicistas.
Em resumo, a análise da temática realizada por Sarlet é uma valiosa contribuição
para o estudo da doutrina sobre a dignidade humana. A obra é de interesse tanto para
estudantes de Direito, em níveis de graduação e pós-graduação, quanto para profissionais
da área jurídica, incluindo magistrados e advogados. Isso se deve às frequentes
referências a esta obra nos votos emblemáticos proferidos pelos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, como no caso da constitucionalidade da Lei Maria da Penha no Brasil,
bem como nas ações apresentadas nos Tribunais de Justiça brasileiros relacionadas a
diversos temas dos direitos fundamentais.
Tanto na doutrina quanto na jurisprudência, o tratamento da dignidade da pessoa
humana como um supraprincípio constitucional e suas implicações são mencionados com
referência direta aos fundamentos apresentados nesta obra, que se baseia na Constituição
Federal de 1988.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na


Constituição Federal de 1988. 4º ed. Ver. Atual. – Porto Alegre: Livraria do Advogado
Ed., 2006.

You might also like