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460+ John Ruskin ese lembra de coisas esquecidas, de coisas que a gente nun ‘ca soube, mas que estavam dentro de nés, no sei. ‘Ao exaltar aquilo que é essencial na arquitetura ‘colonial brasileira — 0 “verdadeito espirito de nossa gen- te” — em detzimento do decorativismo que atribufa 40 artista mineiro, Laicio Costa investiu corajosamente con tra 0 tinico fedne entéo reconhecide da arquitetura eo Jonial brasileira: Fé assim que a gente compreende que ele [0 Aleijadi- ‘nho} tinha espfrito de decorador, no de arquiteto. Q arqul> subordina 0 detalhe ao todo, ¢ ele #6 via @ teto v8 0 eonjunto, Jbrigava a solu- detalhe, perdia-se no detalhe, que as veves 0 ol «ges imprevistas,forgadas, desagradéveis Ora, suas eriticas ao Aleijadinho tém claras afi- nidades com a adverténcia, contida na “Lampada da Beleza” (Cap. IV,§ XXXIV, p. 135), sobre o perigo da sedugao do ornamento escultérico para arquiteto: [No momento em que 0 arqpiteto se permite dar Enfase 6 por 48s de imitao[os oma copiados do atures, ext wa hance de que ele pera de vista 0 dever do omamento, de se pax te con parte da compassion, esacifique os patos de soma lito pelo prazer da tala delicada. B ento ele esté pend. 0 desfavor das idéias de matriz ruskiniana fica, por ‘outro lado, evidente a partir das palavras do mesmo Tat- cio Costa, anos depois, quando, descartando seu envol- vimento com 0 neocolonial, tachou-o de “ruskit ALimpada da Meméria ¢ 47 tardado”, na conhecida passagem do artigo “Depoimen- to de um Arquiteto Carioca”, de 1951: Foi contra essa feira de cendrios arquiteténicos impro- visados que se pretendeu invacar o artificioso reviveseimento formal do nosso proprio passado, donde resultow mais um pseudo-estilo, © neocolonial, fruto da interpretagao errdnea dlas sabias ligdes de Aratjo Viana, e que teve como precursor Ricardo Severo e por patrono José Mariano Filho, no fundo, de um retardado ruskinismo, quan is, na 6poca, 0 desconhecimento do sentimento profundo implicito na industeializagdo, nem o me~ nosprezo por suas conseqiiéncias inelutéveis. Relembrada avulta a irrelevineia da querela entee o fal- 0 colonial e o ecletismo dos falsos estilos europens: era como se, no alheamento da tempesiade iminente, anunciada de vés- pera, acorresse uma disputa por causa do feitio do toldo para 6 “garden-party”. Apesar de desdenhar entao essa matriz comum — 0 pensamento romantico do século XIX em geral, e de John Ruskin em particular -, ndo seria surpreendente se estudos posteriores vierem a constatar que ela teve significacao maior do que o priprio Costa se mostrava disposto a admitir. Afinal, as idéias de Ruskin, filtradas pelo grupo Arts & Crafts, constituem parte dos funda- ‘mentos da propria arquitetura modema', 40, Canta, op. cp. 185, gio nose. 41, Lemania Benevalo considera «ano de 1862 ~ inicio das atvidades dk fia Moris, Faulkner, Maral & Co, idalinada por Wil Moms, pring seguidr de John Ruskin na Inlaters~ ern a ‘dos marcos fundadores da arguitetura moderna (tia da Arguit- ura Moderna, S80 Paulo, Perspectiva, 1976, p. 13) 4g Jobn Ruskin ‘Tarofa drdua, sem divida, a leitura e andlise de As Sete Lampadas da Arquitetura; extremamente inspira- dora, por outro lado, De qualquer forma, é inegavel que ‘obra apresenta um rico mananeial de reflexbes mio 6 obre a arquitetura e sua preservagio no século XIX, ‘mas ~ principalmente ~ sobre os rumos e dilemas atuais que nos cabe enfrentar, a respeito desses mesmos temas A Lampada da Meméria John Ruskin 1. Entre as horas de sua vida que este eseritor re~ memora com peculiar gratidao ~ por terem sido mar- ‘eadas por mais do que a habitual plenitude de alegria ou clareza de ensinamento ~, estd aquela passad, jé ha al- 4ins anos, perto do momento do por do sol, entre os ma- cigos irregulares de floresta de pinheiros que orlam 0 curso do Ain, sobre a aldeia de Champagnole, no Jura. E um lugar que tem toda a solenidade, mas nada da sel- vageria, dos Alpes; onde existe uma sensagao de um grande poder comegando a manifestar-se na terra, e de uma harmonia profunda ¢ majestosa no ascender das longas e baixas linhas das colinas de pinheiros: « primei- ra expresso daquelas poderosas sinfonias das monta- thas, que logo se elevario mais alto ¢ se despedaga- ce + John Raskin to de modo indémito contra as ameias dos Alpes. Mas + sua forga ainda esté contida; ¢ os cumes distantes de montanhas pastorais se sucedem uns aos outros, como & Tonga e suspirante ondulagao que move épuas trandill= Jas vindas de algum distante mar tempestuoso. E existe ‘uma profunda termura perpassando aque vasta mone Tonia, As forgas destrutivas e a expresso severa das ‘cadeias centrais encontram-se igualmente reeolhidas. Nenhum eaminbo de antiga geleira suleado pela geada tow obstrudo pela terra perturba as macias pastagens do Jura; nenhuma pilha esilhagada de eseombros interrom- pe as fileiras regulares de suas forests; nenhum Fo fae vono, entrincheirado ow pélido rasga seu pereurso rude pedras, Pacientemente, redemoinho e instavel entre suas por redemoinho, as claras correntes verdejantes Serpe Telam em seus leitos bem conhecidos e sob a quietude ‘ccura dos pinheiros impassfveis brota, ano apés ano, tl quantidade de flores alegres como eu nfo conheco igual ‘entre as béngaos da terra. Era primavera, também: ¢ to- ddas estavam desabrochando em eachos, apinhadas por puro amor; havia espago para todas, mas clas imprene m suas folhas nas mais estranhas formas, apenas 1s umas das outras. Havia a savat para ficarem mais préximas vrnemona dos bosques, estrela apés estrela, agrupantdo- ce aqui e ali em nebulosas; e havia a oxalidea, tropa. Pos tropa, como as procissbes virginais do Més de Maria, transbordando das escuras fendas verticais na pedra ‘caledria como se fosse neve pesadla, tovada pela hera nas pordas — hera tao delicada e adorével como a vinhas e, A Limpada da Meméria © 53 de ver em quando, um jorro azul de violetas, e primulas ‘em lugares ensolarados; ¢ nos espacos mais abertos, a ervilhaca, o contre, © mezereio, ¢ 0s pequenos botdes cor de safira da Polfgala Alpina, ¢ © morango silvestre, cia ia Oavensncin ou usa uno aalptnadlie™ meio & macieza dourada do musgo de uma cor de ambar quente ¢ profunda, Eu entao ating a beira do desfila- deiro: 0 murmiirio solene das suas dguas elevou-se su- bitamente de baixo, misturado com a cangio dos tordos entre os ramos de pinheiro: e, do outro lado do vale, que parecia emparedado por penhascos cinzentos de cal- caério, um gavitio voava lentamente sobre os eimos, qua se os tocando com suas asas, com as sombras dos nheiros adejando sobre a sua plumagem; mas com a escarpa de cem bracas sob 0 seu peito, ¢ 08 pocos en- cerespados do rio verde deslizando e cintilando verti nnosamente debaixo dele, suas bolhas de espuma moven- do-se com ele em seu véo. Seria dificil conceber uma ccena menos depencdente de qualquer outro propésito do que de sua propria beleza séria e erma; mas o autor se Jembra bem do repentino vazio e frieza que foram lan- cados sobre ela quando tentou, para identificar mais pre- cisamente as fontes de sua magnificéneia, imaginé-la por um momento como uma cena de alguma floresta nativa do Novo Continente. As flores imediatamente perderam seu brilho, o rio a sua mtisiea; as colinas tor- naram-se opressivamente desoladas; o peso dos Rico cole ae terior dependera de uma vida que nao era sua; quanto 54 * John Ruskin dha gloria da imortal — ou continuamente enovada er agao 6 um rflexo de coisas mais precisas do que ela para serem lembradas, em sua renovacae, Aquelas fo~ tes sempre a desabrochar ¢ ribeitGes sempre a correr tr ham sido tingidos pelas cores profundas da persisten- re da virtude humanas; © as eristas das cia, do valor ‘colinas escuras destacadas contra 0 eéu vespertino me receram uma veneragao mais profunda, porque suas vombras distantes se projetavam a Teste sobre a muralha dle fer de Joux, ¢ sobre a torre quadrada de Granson! 11 E-como centralizadora e protetora dessa influén- cin sagrada, que a Arquitetura deve ser considerada por n6s com a maior seriedade. Nés podlemos viver vem ela, ¢ orar sem ela, mas nfo podemos rememorar sein ela, Como é fia toda a histria, como é sem vida toda fantasia, comparada aquilo que a nagao viva es fore incorruptivel ostenta! — quantas duvidosos nio poderfamos més fe algumas pedras empilhadas reve, € 0 maérm paginas de registros dispensar, em troca dé ‘ima sobre as outras! A ambigao dos eonstrutores dt vatha Babel voltava-se diretamente para esse mundo: hi apenas dais fortes vencedores do esquecimento dos homens, Poesia ¢ Arquitetura; e a altima de algums forma inclui a primeira, ¢ € mais poderosa na sua rear Tidade: € bom ter ao aleance no apenas o que os hor Jo, Ruskin anil presen i “je vrs buenas ~ inst aa do Novo Continent 1. Ao mencionar a fortes de Grams sna nage ei impresnando~s Mieide sere ennai nstreza desl A Limpada da Meméria © 55 ‘mens pensaram ¢ sentiram, mas 0 que suas mi nusearam, e sua forga forjou, e seus olhos contem- plaram, durante todas os dias de suas vidas. A époe le Homero esi ii i. de He est envolta em escuridao, sua propria personalidade, em divida. © mesmo no acontece com «8 6poca de Péricles: e esta proximo o dia em que nés admitiremos ter aprendido mais sobre a Gréeia através Ee ices atmo Ie ras Sec aa a doces trovadores ou historiadores soldados, ee ee ft par 80 concent do prasad, oa = wma alegria na idéia de sermos lem- ee futuro, que possa fortalecer o esforco presente, ou dar alento a presente resignagao, hd dois deveres em relagto a nossa arqutetra nacional ewia importancia € imposstvel superestimar: o primeiro, tornar a arquitetura aaa pais € 0 segundo, preservar, como & mais pre- ciasa de todas as herancas, é s aguela das épocas passadas. IIL. E em relacao & primeira dessas duas orient ‘goes que a Meméria pode ser verdadeiramente = rada como a Sexta Lampada da Arquitetura; pois, € a0 se tornarem memoriais ou monumentais que os ediffefos civis e doméstics atingem uma perfeigao verdana © isso em parte por eles serem, com tal intento, eonstruidos de uma maneira mais sélida, e em parte por suas deco- rages serem conseqilentemente inspiradas por um significado hist6rico ou metafé 56 * John Ruskin Com relagto aos edificios domésticos, eostnlt ‘erta limitagdo para intengbes desse nos coragses, dos homens neamo assim 56 posso considerar como Um TAY pressée suas easas so constnufdas para lurar por uma geragao apenas. Existe unit santidade na vr de tum homer de bem que mo pode SF renovada ‘moradia levantada sobre as suas Tusnass © ‘em geral: sempre haver uma cf tipo nos poderes, assim como so para um povo quando fem qualquer sjredito que os homens honrados sentem 1550 «que, tendo vivido suns vidas feliz © hhonradamente, eles Ficariam desgostosos, ao fim de seus dias io terrestre, que testemunhou, © pareceu mesmo compartithar, $8 hhonra, suas alegrias, que esse lugar, com toa a histria ‘ede todas as coisas materials que 1 ,€ sobre as quais deixaram su houvesse lugar para jto seria demonstrado a0 pensar que o lugar do seu domietli ‘ou seu sofrimento, que revelava del cles amaram e possuiram marca — seria arrasado, assim que ‘cles 1o Wimalos que nenbum resp para com tal lugar, nenbima afeigio ‘conferida a ele, ne- raven bem a ser extraido dele por seus filo ae 6 se um monumento para eles nat fetes My bora houvess seu lar e mora- hhavia nenhum monument afetuoso em dia; que tudo o que sempre prezaram seria desdenhado, ce que os lugares que 0 Eu penso que um home wea iss; © que, mais ainda, um bom filhoy wm descen- ‘lente honrado, temeria fazer isso 8 cast de seu pai se os homens wivessem de reduzidos a p6 pons | Creio que, (ade ta (neato como homens, suas casas seriam A Limpada da Meméria © 57 pee ~templos que nds nunca nos atrevertamos re nsf sarees w os oe prim c neles; € que deve haver uma estranhs aaa feto natural, uma est ae eaetate a co a E tranha ingratidao para com tudo Be ppiciaram ¢ os pais ensinaram, uma estra- insciéncia de que nds nio fomos figis a honra de nossos pais, ou ae oss0s pais, ow de que as nossas prépias vidas dignas de tornar nossas moradias sagradas ee prs cen lias para nossos a en homem se resigna a construir para si pees duragaio de sua propria vida a ee para essas lastimdveis concregdes de cal a ila que brotam, precocemente emboloradas, dos a omprinides em volta da nossa capital ~ para i F ee fone Sr fndans il coca peer para essas fileiras esquailidas de mes- pavctemaiase semelhantes sem diferenca e sem so- pescmiols solitdrias quanto similares — ndvo apenas repugnancia indiferente da visto ofendida, nai apenas com pesar diante de uma paisagem pr fo ri E aed penoso pressentimento de que as ratzes de ssa grandeca nacional devem estar : “ es indamer comidas quando elas estao assim ae ce le cua io frouxamente cra~ a solo natal; de que essas habitagdes sem co ioe sem dignidade sao os sinais de um grande i: pea espirito de descontentamento popular; de que a ae ‘em que a aspiracao de cada homem & Bo cn eaine esfera mais elevada do que aquela que cnr que a vida passada de cada homem € set sprezo habitual; quando os homens constroem 58 © John Ruskin nna esperanca de abandonar os lugares que construtram, ¢ vivem na esperanga de esquecer os anos que viveram; quan- do 0 conforto, a paz, a religido do lar cessaram de ser sen tidos; ¢ as habitagdes apinkadas dle uma populacao com- bativa e inquieta 56 diferem das tendas dos drabes ou dos ciganos por serem menos saudavelmente abertas aos ares do céu, € por sua menos flis escolha de seu lugar na terra; pelo seu sacrificio da liberdade sem 0 ganho do repouso, ¢ da estabilidade sem o prvilégio da mudanga, IV. Esse no é um mal insignificante, sem conse- qiiéncias; € ameagador, infeccioso, e fértil em outros erros € infortiinios. Quando os homens nao amam seus lares, nem reverenciam a soleira de suas portas, é um sinal de que desonraram a ambos, ¢ de que nunea se deram conta da verdadeira universalidade daquele culto cristio que deveria de fato superar a idolatria do pagio, mas nio sua devogdo. Nosso Deus é um Deus do lar, tanto quanto do ¢éu; Ele tem um altar na mora- da de cada homem; que os homens estejam atentos quando destruirem-na levianamente e jogarem fora suas cinzas. Nao 6 uma questo de mero deleite visual, nado 6 questao de orgulho intelectual, ou de capri sofisticado e eritico, a maneira como, ¢ com qual as- peeto de durabilidade ¢ de perfeigao, as construgdes domésticas de uma nacdo devem ser erguidas. E um daqueles deveres morais que nao deve ser negligen- cciado mais impunemente — porque sua percepeio de~ pende de uma conseiéncia sutilmente afinada e equi- A Limpada da Memé Uibrada -, 0 de construir nossas moradias com cui Ke Paciéncia e amor, ¢ perfeigao diligente, : sua duracio ao menos por um perfod tal 0 usual dos ciclos nacionais, possa- dre até «completa alters de diegao ee en ses locais. Isso, no mfnimo; mas seria melhor s¢ a todas as instancias possiveis, a sus per em 5 homens construissem casas numa escala mais ¢ tis compattvel com sua situagdo inicial, do Te busta obra humana: registrando para seus eles foram, ¢ de ond fe eee le ~ se isso Ihes tiver sido permiti- dlo — eles ascenderam. E quando as casas foren assim Eonstrutdas, poderemos ter aquela verdadeira anquit tura doméstica, que da ae dloméstica, que da origem a todas as outras que nie desdenha tratar com respeito © consideracn Pequena habitagao, tanto quanto a grande, © aa i este com a dignidade da humanidade satisfeite « cn. tteiteza das circunstancias mundanas? <2 2 hou ii Pret, it a I ea nai og ee {25 te peed dae a moraine dee ie caponesn, don, as na ea lei ‘sua terra ancestral, — ser a do ter tdo conse wr al jem aaa. urge spar lige a i er econ publica: an Bnglend nd ty hous an, Cok As Iran, 1997, pp. 30 096 Oh 60 © John Ruskin V. Considero esse espirito de autodomtnio nobre, orgulhoso ¢ paetfico, essa plécida sabedoria da vida oMtafeita, como provavelmente uma das maiores fone tes de grande poder intelectual de todas as époeas €» vem dtvida, a fonte primordial da grande arquitetura “hy velha Italia e da Franca. Até hoje, a atragao de suas ‘nas belas eidades reside nilo na riqueza isolada de seus paléeios, mas na decoragao requintads ¢ cuida- “Tosa das menores moradias de seus perfodos de maior teaplendor. A mais elaborada pega de arquitetura ef Veneta € uma pequena casa no comeso do Grande Canal, consitindo de um piso térreo e dois andares superiores, com trés janelas no primeiro piso © duas who segundo. Muitos dos mais refinados eliffcios 6e vrncontram nos eanais mais estreitos, ¢ nfo tem dimen das mais interessantes pegas da 1o XV no Norte da Ttélia é uma pequena casa numa rua secundéria,alrés da praga do recado de Vicenza; ostenta a data de 1481, ¢ 0 lems Ti n'est rose sans épine?; também possui apenas um piso téereo e dois andares, com trés janelas em cad, lecoragdo floral, € com baledes, guia com asas aberias, ses maiores. Uma arquitetura do sécul pparados por uma rica dé fo central sustentado por uma dos laterais por grifos alados apoiados em comucépias. ‘A idéia de que uma casa precisa ser grande para pov dder ser bem construtda € de origem intelramente mo~ ddema, e tem paralelo na idéia de que nenhuma P 4h Em franets no orginal: No hd rosa sem expo (da A Lampada da Meméria * 61 peso ser histérica, exceto se seu tamanho admi- ir figuras maiores do que o natural a Gostaria, entdo, que nossas casas de moradia eee para durar e construfdas para " sto rieas e cheias de atrativo quanto possf- vel, por dentro ¢ por fora; com qual grau de semethanga entre si em estilo e m di ae s e maneira, direi em breve, em out Lopico'; mas, de todas as formas, com diferengas ae estejam de acordo com, ¢ expressem, 0 carat a a0 de cada homem, e a histra, Esse em, ¢ parte de sua historia, E: reito sobre a moradia, ereio, pert sane }, pertence a seu primeiro construtor ¢ deve fe ser respeitado por seus filhos; seria desejével deixar pedras sem inserigao em determina- dos lugares, para nelas inserever um resumo de vida e sua experiéncia, elevando assim a habitagao a uma espécie de monumento, desenvolvendo, de fi en eckrcarats eciral Gracias a Les universal, € que ainda permanece en- ins dos sugos e alemaes, de reconhe : . de reconhecer a gray BE Deve we praise pera conte © ponte ut refiigio sereno, em palavras tao doces que podem bem concluir nossa meng! Ce esa mengo a tais coisas. Copiei-as da fa- chada de um chalé construe chalé construfdo recentemente nas jens verdes vndelwatd tagens verdes que descem da aldeia de Grindelwald para a geleira inferior: 4.0 asst 6 rom © ante Rakin maine“ Ling rediencia", especialmente segdes VI ¢ VII. r 62+ John Roshi Mit heralichen Vertrauen Hat Johannes Mooter und Maria Rubi Dieses Haus bauen lassen. Der liebe Gott woll uns bewabren Vor allem Ungltck und Gefahren, Und es in Segen lassen stehn ‘Auf der Reise durch diese Jammerzeit Nach des himmlischen Paradiese, Woalle Frommen wohnen, Da wird Gott sie belohnen Mit der Friedenskrone ‘Zualle Ewigkeit. Vil. Em edificios piblicos a intengao histériea de- is precisa. Uma das vantagens da ar- veria ser ainda mai quitetura gética ~ uso o terme gético no amplo de oposigao genérica ao cléssico ~ € que fe uma riqueza de registros totalmente ilimitada. as e miltiplas sentido mais é que ela ad rit Suas decoragbes escult6ricas minucios proporefonam meios de expressar, seja simbélica ou li teralmente, tudo o que precisa ser conhecido do senti- mento ou das realizagdes da naglo. Mais decoragio, de fato, seré requerida do que 6 preciso para tao elevado fim; & muito, mesmo nos perfodos mais austeros, foi deixado & liberdade de imaginagdo, ou constituiu de afeoso confine / Johannes Mooter¢ 5. Em ale 0 orginal: Com z Morn Rubi Fiseram contuir eta casa. / Qurira noso aad Des sa es / ett feline «pigs /E mateo ces] are tng as dee ral de rina / Ao Para e- ab pda / Det repens a io on onda tere (da Tq gece asl 4 tec Eis nee Crp aan do tes len A Limpada da Mem 6 ‘meras repetigdes de algum sfmbolo ou emblema nacio- nal. EF, entretanto, geralmente insensato abdicar do poder e do privilégio da variedade que o espfrito da arquitetura gética admite, mesmo em meros omamen- tos de superficie; mais ainda em elementos importan- tes — capitis de colunas ou pedras-chave®,e frisos, e, naturalmente, em todos os baixos-relevos vistveis. prefertvel a obra mais rude que conta uma histéria ou registra um fato, do que a mais rica sem significado. Nato se deveria colocar um tinico ornamento em gran- des edificios efvicos, sem alguma intengdo intelectual. A representacdo real da histéria tem sido, em tempos ‘modernos, impedida por uma dificuldade, banal de fato, mas permanente; a da vestimenta indécil’: toda- via, através de um tratamento imaginativo suficiente- mente corajoso, ¢ franco uso dos sfmbolos, todos esses obsticulos podem ser vencidos; talvez no no gratt ne- cessério para produzir escultura satisfatéria por si s6, mas de qualquer modo para habilité-la a tornar-se um grandioso ¢ expressivo elemento da composig#o arqui~ tetdnica. Consideremos, por exemplo, o tratamento dos 6. Usualmente radusida por relevo, ou bossagem, « pala boss or- Binslmenteempresada aqui € definida com o significado especticn de pedra-chave por Augustus Welby Nerthmore Pugin, em The True Principles of Pointed or Christin Architecture, London, Henry G. Boke, 1858, p. 6 (N. da 7). NNo original, unmanageable costume. Ao que parcee, no contesto este parigrafo, Ruskin xe tefte & difculdae ~ tanto t ‘quanto expressiva ~ dos eseultres contemportneos seus no mento das roupts« pantjamenti (N. dT). 64 © John Ruskin capitéis do palacio ducal em Veneza. A histéria, proptia- mente dita, fora efetivamente confiada aos pintores de seu interior, mas cada capitel de suas arcadas foi earre- gado de significado. Aquele grande ~ a pedra angular do conjunto, préximo a entrada —, foi dedicado a simbo- lizar a Justiga Abstrata; sobre ele eneontra-se uma es- cultura do Julgamento de Salomao, notavel pela bela sub- missdo de seu tratamento a sua intengao decorativa, As figuras, se o tema fosse unicamente composto por elas, teriam interrompido de modo indbil a linha do angulo, & diminuido sua forga aparente; por isso no meio delas, in- mente sem relago com elas, e exatamente entre 0 carrasco e a mie suplicante, irrompe o tronco rugoso de uma volumosa érvore, que reforga € continua o fuste da coluna do dngulo, cujas folhas acima dominam e enri- quecem o conjunto. O capitel, absixo, porta entre sua fo- Thagem uma figura entronizada da Justiga, ‘Trajano fazen- do justiga a vidva, Aristételes “che die legge”, ¢ um ou dois personagens atualmente irreconhectveis devido & deterioragao, Os capitéis seguintes representam suces- sivamente as virtudes ¢ 0s vicios, mantenedores ou des- tuidores da paz ¢ do poder nacionais, terminando com a Fé, com a inscrigio “Fides optima in Deo est”. Vé-se uma figura do outro lado do capitel, adorando o sol. De- pois desses, um ou dois capitéis sto decorados de modo 8, Em italiano, com essa prafia no original textualmente, a express significa “Avstteles que deu a lei, no sentido de Avistéeles que formals, que enuncia, que ministra a Tei (N. da T., que agradece Licino Migliaceio e Simona Salvo pelos exclarecimentos). A Limpada da Meméria + 65 ‘maginoso com passaros (Prancha 5), e, entiéo, vem uma série representando, primeiro as varias frutas, a seguir os trajes nacionais, e, por fim, os animais dos vérios es- tados sujeitos ao dominio de Veneza, r VIL Agora, para nfo falar de outros edilfcis pu Hicos mais importantes, imaginemos a no 5 nos @ Nossa propri India House adornada dessa maneira, com coculie simbélica ou histérica: macigamente construfda, para comegar; depois esculpida com baixos-relevos sobre nossas batalhas indianas, e omada com entalhes de fo- Thagem oriental, ou com incrustacoes de pedras orien: {als; os mais importantes elementos de sua decoracdio compostos de grupos da vida e da paisagem indianas, destacando de modo proeminente os fantasmas do culty hhindu em sua submissao & Cruz. Nao seria uma tal obra melhor do que mil historias? Se, entretanto, nfo pos. Sufrmos a inventividade necesséria para tais Sa ou f° ive constitu provavelmente uma das mais nabrea lesculpas que n6s podemos oferecer par - Bolsa om nis ann tev nea ee falar sobre nés préprios, mesmo através do mérmore ‘lo que as nagées continentais, pelo menos nao temoc dlesculpa para qualquer falta de zelo nos aspectos que #sseguram a durabilidade do edificio, Como essa Muestdo é de grande interesse em suas relagdes quan- 0 & escolha das varias formas de eo is necessério abordé-la com certo detalhe. . 66 + John Roskin IX, 0s cuidados © propésitos benevolentes das massas humanas raramente se estendem para além da sua propria geragdo, Elas podem olhar para a posteri- “lade como uma audiéneia, podem esperar por sua allen do, e trabalhar para seu louvor: podem confiar em seu reconhecimento de méritos até entdo desapercebidos, ¢ exigir sua justiga pelos erros contemporaneos. Mas ‘udo isso € mero egotsmo € niio envolve o menor Tes peito ou consideragio pelos interesses daqueles cujo ‘nimero incluirfamos com prazer no cfrculo de nossos faduladores, e cuja autoridade nés de bom grado invor carfamos em defesa de reiv ‘indicagoes ora contestadas, Aron idéia de auto-renuincia em nome da ee geo | posteridade, de praticar hoje a econo [piniois—_|rmia em nome de credores que ainda do nasceram, de plantar florestas em cuja sombra pos sam viver nossos descendentes, ou de construir cidades para seem habitadas por fauras mages, mune cre? te Jnclui-se de fato entre os motivos de empenho publicamen- te reconhecidos. Todacia, esses nao deixam de ser nossos deveres; nem serd nosso quinhéto sobre a terra adequada- mente mantido, se 0 escopo de nosso pretendido e delibe~ rado proveito nao incluir apenas 08 companheiros, mas rambsém os sucessores de nossa peregrinardo. Deus "0s tmpresto. terra para a nossa vidas & uma grande res ponsabilidade. Ela pertence tanto aqueles que virdo de- pois cde nds, cus nome esto exits no lio de rar ‘0, como ands; ¢ no temos direito, por qualquer coisa que fagamos ou negligenciemos, de ‘envolué-los em prejut- A Limpada da Meméria © 67 20s desnecessérios, ou privd-los de beneficios cujo legado nos compete. E isso tanto mais, porque constitu’ uma das condigbes preseritas do trabalho humano que a plenitude da fruta seja proporcional ao tempo transcorrido entre 0 plantio das semenies ¢ a colheita; ¢ que geralmente, por- tanto, quanto mais distante colocarmos nossa meta, € Serio mesos asptarmia'c nmanaribortiie neem Be siado de now trabalho, tanto mat abvanget ea Bc media de nasnsicena. Os homens no to paces de beneficiar aqueles que esto com eles tanto quanto podem beneficiar os que virdo depois deles; e de todos os pillpitos a partir dos quais a voz humana se faz ouvir, de enum ela aloanca tao longe quanto do timulo, X. Nao hd, de fato, qualquer prejufeo para o pre- fe ‘a esse respeito, em favor do futuro. Toda a ago — ganha em honra, em graga, em toda a verda- leira magnificéncia, por sua consideragao pelas coi- sas que virdo. Fa visdo distante, a paciéncia serena BE cite, que, acima de todos os outros sributve, dis SRN ence cto Komemac\oraproxin do teat Cis! dor; nao existe agdo ou arte, cuja grandeza ndo possa ser medida por esse eritério. Assim, quando construir- ‘mos, lembremo-nos de que construfmos para sempre, Que nto seja para o delete present, nem para 0 uso Frets apcons ue set uma obra tal que nossos lescendentes nos sejam gratos por ela; que nds pen- semos, enquanto colocamos pedra sobre pedra, que -viré um tempo em que aquelas pedras sero consi- 8 © John Ruskin dJeradas sagradas porque nossas milos as tocaram, © que os homens dirdo ao contemplar ara a mati balhada, “Vejam! Nossos pais fizeram isso por nés” antl Pois, de fato, a maior gloria de um edificio "| no estd em suas pedras, ou em seu Ouro. ‘Sua gléria estd em sua Idade, e naquela profunda sen sagto de ressondncia, de vigildncia severa, de misterio sa compaixdo, até mesmo de aprovagdo ou cea que sentimos em paredes que hd tempos sao banha pelas ondas passageiras da humanidade, [Sua glsria] ‘até no seu testemunho duradouro diante das homens, hho seu sereno contraste com 0 cardter transitério de 1o~ das as coisas, na forca que — através da passagem ee testagdese das tempos, ¢ do delinio ¢ nascimento das rastias, ¢ da mudanca da face da terra, ¢ dos contornos ido mar ~ mantém sua forma esculpida por um tempo in- superdvel, conecta pertodos esquecidos ¢ sucessis ws ‘aos outros, e constitui em parte a identidade, por con centrar a afinidade, das nagies. E naquela mancha ‘dourada do tempo que devemos procurar a verdadeira tu, a cor eo valor da anquitetura; ¢ somente quando es edifici tiver assumido esse cardter — apenas ee fiver se imbuido da fama dos homens, e se santifie pelos seus feitos; apenas quando suas paredes fae presenciado 0 sofrimento, e seus pilares ascenlerem Ee sombras da morte ~ sua existencia, mais duradoura que «dos objtos naturas do mundo ao seu redor pode- wi ser agraciada com os mesmos dons de linguagem € de vida que esses possuem. A Limpada da Memérin * 69 XL Com vistas a tal duragdo, portanto, 6 que deve- mos construir; ni, certamente, recusando a n6s mesmos a alegria da conelusio oportuna do edificio, nem hesi- tando em conferir-Ihe aquelas caracterfsticas que depen- dem da delicadeza de execugio no mais alto grau poss{- vel de perfeigao, mesmo que saibamos que no eurso dos anos tais detalhes forgosamente desaparecerdo; mas eui- dando para que em obra desse tipo nenbuma qualidade duradoura seja sacrificada, e para que o efeito geral do edificio nao dependa de nada que seja perecedouro, Essa seria, de fato, a lei de boa composigao em qualquer circunstincia, pois a disposigao das massas maiores sempre uma questio mais importante do que o tratamen- to das menores; mas, em arquitetura, muito desse mes- ‘mo tratamento deve ser habilmente proporeional a justa considerago dos provéveis efeitos do tempo: (0 que ainda 6 mais importante considerar) hé uma beleza na- queles efeitos em si proprios, que nada mais pode subs- tituir, e que € sensato levar em consideragao ¢ ambicio- nar. Pois embora, alé aqui, estivéssemos falando do sentimento da idade apenas, ha uma beleza real em suas ‘mareas, tao grande que tem com freqiiéncia constitutdo © assunto preferido de certas escolas de arte, e que im- primiu nessas escolas o carder usual © vagamente ex- Sites cle temo “patnteace”, Hiineporiante, paratelniges 0 propésito atual determinar o verdadeiro significado dessa expressio, tal como é hoje geralmente usada: pois existe um prinefpio oriundo desse uso que, ao mesmo ‘tempo em que tem implicitamente constitufdo a base de 70 © John Ruskin muito do que 6 verdadeiro e justo em nosso julgamento de arte, nunca foi compreendido de forma a tornar-se verdadeiramente proveitoso até agora. ares nenhuma outra palayra da lingua (com excegdo de ex- ae ies) se tenha tornado o alvo de contro- vvérsia tao freqilente ou tio prolongada; mesmo assim, nenhuma permanece to vaga em seu significado; assim, parece-me de nao pouco interesse investigar a esséncia daquela idéia de que todos compartilham, ¢ (a0 que pa- rece) em relago a coisas semelhantes, mas da qual 0- das as tentativas de definigao resultaram, acredito, ou na mera enumeracao dos efeitos ¢ objetos aos quais 0 terme {oi aplicado, ou entao em ensaios de abstragio mais vaos do que quaisquer outras malfadadas investigagées meta- fisicas. Um erftico de Arte, por exemplo, hé poueo expos seriamente a teoria de que a esséncia do pitoresco con- siste na expressdo da “decadéncia universal” Sera cu- rioso vero resultado de uma tentativa de ilustrar essa idéia do pitoresco, numa pintura de flores aa a stragadas; igualmente curioso seria tragar 0 desenvol- Gee cei pa eea ria, explicasse o cariter mais pitoresco de um filhote de asno, quando comparado a um potrinho. Mas hé muitas desculpas para 0 completo fracasso de raciocinios desse tipo, uma ver que 0 assunto é, de fato, um dos mais obs- curos entre todos 0s que podem legitimamente ser sub- imetidos & razio humana; a idéia € ela pripria tao varia- da nas mentes de diferentes homens, conforme seus temas de estudo, que ndo se pode esperar que nenhuma A Limpada da Meméeia + 71 definigao abarque mais do que um certo mimero de suas infinitamente variadas formas, Xi Aquela caracteristica peculiar, entretanto, que neve 0 pitoresco das caracteristicas dos temas que Pertencem a esferas de arte mais altas (e isso é tudo o ‘tue € necessério defini, no momenta), pode ser expres- sa de forma breve © conclusiva. 0 pitoresco & nesse sentido, a Sublimidade Parasitéria’, Claro que toda a su. blimidade, assim como toda a beleza, é no sentido ot molégico simples, pitoresca, isto é prépria para se tor- nar 0 tema de uma pintura; e toda a sublimidade 6, ‘esino no sentido peculiar que tento desenvolver aqui, Pitoresca, em comparagiio com a beleza; isso quer dizer que 0s temas de Michelangelo sio mais pitorescos do ue 0s de Perugino, em relacio a prepondertincia do ele~ mento sublime sobre o belo. Mas aquela caractertstica, dist cuja busea excessiva se considera geralmente aviltar a ante, € a sublimidade parasiadria; ou seja, uma sublimi- dade que depende de acidentes, ou das earacterfaticas ‘menos essenciais, dos objetos aos quais pertence; o pi- foresco desenvolve-se inconfundivelmente na proporeao @rata de sua distancia do centro conceituad daqueles as- ectos de cardter nos quais a sublimidade é encontrada. % Embrapruco usual em portuguts, dense peferncia ap temo subl- Imidade~ ov “qualidade daquilo que € elie ~ soma tadagan I teal eiginal em inglés subiniy, pra maior fdelidade na ve So, De resto, ates de termo bastante sal na itraues agg Perfo, come por exemplo nos romances de Jane Austen (de) 72 + John Ruskin Assim, duas idéias so essenciais para o pitoresco ~ a primeira, aquela da sublimidade (pis « beleza pura no 6 nada pitoresca, e $6 assume tal carter na medida em jue o elemento sublime se mistura com ela); a segunda, posigao subordinada ou parasitéria de tal sublimida- de, Portanto, 6 claro que quaisquer eee de Tina, on sombra, on expresso, que proazam sublimi dade, produziraio também 0 pitoreseos quais sdo essa caracterfsticas € 0 que tentarei_demonstrar a damente, daqui por diante; mas, entre aquelas usual- mente reconhecidas, posso mencionar linhas angulares © quebradas, oposigées vigorosas de luz e sombra, ¢ co- res escuras, profundas, ou fortemente contrastadas; to- das essascaractrtticas produzirdoefeto em grau & ‘da maior, quando — por semelhanga ou associagao ~ elas nos relembrarem de objetos nos quais a sublimidade 2 dadeira e essencial existe, como rochedos € montanhas, uvens tempestuosas ou ondas. Agora, se essas earac terfstieas, ou quaisquer outras de uma sublimidade mais alta ¢ mais abstrata, forem encontradas no priprio Ama- go ¢ substincia daquilo que nés contemplamos ~ assim como a sublimidade de Michelangelo depende da ex- pressto da qualidade mental de suas figuras, muito mais do que das préprias linhas nobres de sua disposigio - a arte que representa tais qualidades nao pode ser cor retamente chamada de pitoresea: mas, se elas forem en- contradas nas qualidades acidentais ou externas, 0 re sultado seré o inconfundtvel pitoresco, A Limpada da Meméria © 73 XIIL Assim, no tratamento das feigdes da face hu- mana por Francia ou Angélico, as sombras ‘sao emprega- das apenas para tomar os contomos das feigdes claramen- te perebids;¢ para essas mesma feicdes que a atengaa do observador ¢ exclusivamente dirigia (i caracteristcas essenci isto 6, para as iais da coisa representada). Toda a forca e toda a sublimidade residem nelas; as sombras san usadas apenas para destaque das feigdes. Ao contrério, cm Rembrandt, Salvator, ou Caravaggio, as fe usadas por causa das sombnas;¢ a alengio € dirg 8 so ida, as- ‘im como a energia do pintor, para caractersticas de luz & Sombra acidentas, langadas sobre aquelas feigSes, ou em tomo delas, No caso de Rembrandt, enconta-sefreqten. femente, além do mais, uma sublimidade essencial em invenedo e expressio, e sempre um alto grau dela na luz © na propria sombra; mas se trata, hha maioria das yezes, da sublimidade parasitéria ou envi ertada em relagdo a0 ‘ema da pintura, ¢, nessa mesma medida, pitoresca, XIV. Por outro lado, no t tralamento das esculturas do Partenon, 4 sombra ¢ freqientemente empregada co- ‘mo um campo escuro sobre o qual as formas si d nhads. Esse € visivelmente o easo nas métopas, e deve ter sido praticamente 0 mesmo no frontao. Mas o uso da. uela sombra se destina inteiramente a mostrar os limi tes das figuras; 6 para as suas linhas, nao para as for- mas das sombras atrés delas, que a arte © 0 olho sao ‘oncebidas, tanto quanto possivel, em plena luz, auxiliadas por reflexos ditigidos. As proprias figuras so ¢ 14 + John Ruskin brithantes; sdo desenhadas exatamente como as figuras brancas sobre fundo escuro, nos vasos; € os escultores dispensaram — ou mesmo se esforgaram para evitar ~- todas as sombras que no fossem absolutamente neces- sérias para a-explicitagio da forma. Ao contrério, na es- cultura gética, a sombra toma-se ela prépria o objeto de atengio. F, considerada como uma cor escura, a ser dis- posta em determinadas massas agradéveis as figuras so muito freqlientemente executadas de forma subordina- da a disposigdo das suas éreas: seu traje € enriquecido ‘em detrimento das formas recobertas, para aumentar & complexidade e a variedade dos pontos de penumbra. Existem, assim, tanto em escultura quanto na pintura, duas escolas opostas, por assim dizer, das quais uma tusea como tema as formas essenciais das coisas, ¢ utra, as luzes e sombras acidentais sobre elas. Ha varios cestigios nessa oposigdo: graus intermediérios, como nas obras de Correggio, ¢ todas as gradagies de nobreza ou legradacio nas mais variadas formas: mas a primeira 6 sempre reconhecida como a escola pura, ¢ a outra, como a escola pitoresca. Partes de tratamento pitoresco serio encontradas em obras gregas, ¢ de puro e nio-pitoresco no gético; e em ambas hé inumerdveis exemplos, entre ‘os quais se destacam as obras de Michelangelo, nos quais as sombras se tornam valiosas como meio de ex- presslo e, portanto, alinham-se entre as caracterfsticas cessenciais, Sobre essas numerosas distingges ¢ excegies nfo posso alongar-me agora, desejando apenas provar a ampla aplicabilidade da definigo geral. A Lampada da Meméria © XY. Por outro lado, pode-se encontrar uma distin- ‘80, no apenas entre formas ¢ sombras como temas de escolha, mas entre formas essenciais e nilo-essenciais. Encontra-se uma das prineipais distingoes entre as es- colas de escultura dramstiea ¢ pitoresea no tratamento do cabelo, Este era considerado pelos artistas do tempo de Péricles uma exereseéncia, indicada por poucas rudes linhas, ¢ subordinada, em cada detalhe, as carac- terfsticas principais da pessoa. Quaio completamente essa era uma idéia artistica, ¢ ndio nacional, é desneces- sério provar. Precisamos apenas lembrar da atividade dos Lacedem@nios, relatada pelo espido persa na véspera da batalha das Termépilas, ou langar um répido olhar em qualquer descri¢ao homérica da forma ideal, para ver quiio puramente escultural era a norma que restringia a representacdo da cabeleira, afim de que, dadas as des- vantagens inerentes ao material, ela no interferisse na clareza das formas pessoais. Ao contrério, na escultura posterior, 0s cabelos recebem quase todas as atengdes do artfice; e, enquanto as feigées © os membros sio desajeitada e toscamente executados, 08 eabelos sito ca- cheados ¢ trangados, recortados em saliéncias audazes ‘© sombrias, e arranjados em massas omamentais elabo- radas: existe verdadeira sublimidade nas linhas e no ela- ro-escuro dessas massas, mas ela é, em relagdo 2 eriatu- ra representada, parasitéria, e portanto pitoresca. No mesmo sentido, podemos compreender a aplicagao do termo & moderna pintura de animais, que se tem distin- {Euido por uma peculiar atengo as cores, brilho, e textu- 76 © John Ruskin ra do pélo; nao € somente na arte que a definigao se pro- va adequada, Nos priprios animais, quando sua subli- tidade depende de suas formas ou movimentos museu- lares, ou de outros atributos necessérios e principais, como acontece prineipalmente com os cavalos, nao 08 denominamos pitorescos, mas os consideramos particu- larmente aptos a serem associades com temas puramen- te histéricos. Exatamente na proporgio em que seu ca- réter sublime se revela em excrescéncias ~ na juba, como tno Ied0; nos chifres, como no veaclo; na pelagem éspera, como no acima mencionado exemplo do filhote de asno: nas listras, como na zebra; ou na plumagem ~, eles se tomam pitorescos, e sio assim na arte exatamente na proporgao da proeminéncia dessas caracteristicas secu dérias. Muitas vezes, pode ser muito conveniente que sejam {80 proeminentes; com frequléncia hé nelas o mais alto grau de majestade, como nas caracteristicas do leo- pardo e do javali; e nas maos de homens como Tintoretto ¢ Rubens, tais atributos se tornam meios de aprofundar as mais altas e as mais ideais impressbes. Mas o sentido pitoresco de seus intentos ¢ sempre claramente reconhe~ civel como aderente a superficie, & caracteristica menos cessencial, ¢ desenvolvendo dat uma sublimidade diver- sa daquela da propria criatura; uma sublimidade que 6, de certa forma, comum a todos os objetos da eriagio, sempre a mesma nos seus elementos constituintes, se- jam eles procurados nas rugas e dobras das pelagens hirsutas, ou nos abismos e fendas das rochas, ou no vi- cejar do mato nas encostas das colinas, ou nas alter- A Limpada da Memirie + 72 nfncias de vivacidade e tristeza no colorido da concha, da pena, ou da nuvem, XVI. Agora, retomando ao nosso assunto princi georre que, em arquitetura, a beleza acesséria e aciden- {al 6 muito frequentemente incompativel com a preser- vacdo do caréter original [da obral; o pitoresco é assim Procurado na rufna, e supde-se que consista na deterio- racdo. Sendo que, mesmo buscado af, trata-se apenas da Sublimidade das fendas, ou fraturas, ou manchas, ou ve~ Setagao, que assimilam a arquitetura a obra da Nature 2a, ¢ conferem a ela aquelas particularidades de cor ¢ forma que sio universalmente caras aos olhos dos ho- mens. Na medida em que isso acarreta 0 desaparecimen- to das verdadeiras caracteristicas da arquitetura, trata- se do pitoresco, e o artista que presta mais atengio na haste da hera do que no fuste da coluna realiza com mais ousado atrevimento a preferéncia do escultor decadente pela cabeleira em vez do semblante. Mas na medida em ‘ue possa tornar-se compativel com 0 caréter inerente «la arquitetura, o pitoresco ou a sublimidade extrinseca {eré exatamente essa fungao, mais nobre nela do que em qualquer outro objeto: a de evidenciar a idade do edifi- Cio aquilo que, como jf foi dito, constitu’ sua maior gl6- tia; €, portanto, os sinais exteriores dessa gléria, tendo Poder e finalidade mais importantes do que quaisquer ‘ulros pertencentes a sua mera beleza sensfvel, podem Colocar-se entre suas caracterfsticas mais puras e essen- lais; tao essenciais, em minha opinito, que penso que Ta # John Ruskin nao se pode considerar que um edificio tena atingido sua plenitude antes do decurso de quatro ou cinco sé- cailos; e que todas as escolhas e disposigio de seus de~ talhes [construtivos] deveriam levar em conta sua apa~ réncia depois de um tal perfodo, de modo a no admit rnenhum que fosse suscetivel ao dano material necessa~ riamente imposto por esse lapso de tempo, seja pelas ‘manchas de exposigao as intempéries, seja pelo desgas- te mecdnico. XVI. Nao é minha intengao abordar nenhuma das questies que a aplicagdo desse principio envolve. Blas sao de um interesse e uma complexidade grandes demais para serem apenas tocados dentro de meus presentes li- mites; mas se deve genericamente notar que aqueles tilos de arquitetura, que sto pitorescos no sentido expli cado acima a respeito da escultura, isto é, euja decoracio depende da disposigdo dos pontos de sombra mais do que da pureza de contomo, nio apenas nao so prejudi- cados, como, ao contrério, geralmente se beneficiam de riquera de efeito quando seus detalhes sto parcialmen- te desgastados; por isso tais estilos, prineipalmente aqueles do gotico francés, sempre devem ser adotados quando os materiais @ serem empregados forem sujeitos a deterioracdo, tais como 0 tijolo, 0 arenito, ou a macia pedra ealedria; e os estilos dependentes em qualquer rau da pureza da linha, como o gético italiano, devem ser totalmente executados em’ materiais duros ¢ ndo degradaveis, tais como 0 granito, a serpentina e os mér- A Limpada da Meméria * 79 mores eristalinos. Nao pode haver diivida de que a na- tureza dos materiais dispontveis tenha influenciado a for- ‘magi de ambos os estilos; ¢ ela deveria determinar com mais autoridade ainda nossa escolha entre ambos. XVIIL. Nao faz parte de meu presente plano entrar em alongadas consideragdes sobre a segunda categoria de deveres que mencionei anteriormente: a preservago da arquitetura que possufmos!; mas algumas poucas pa- lavras podem ser desculpadas, por serem especialmen- =e am Bie necessdrias nos tempos modernos. aoe came realNem pelo puiblico, nem por aqueles en- de Deis. fare. dos monumentos piblicos, 0 verdadeiro significado da palavra restauragao é com- preendido, Ela significa a mais total destruigdo que um cedificio pode softer: uma destruigto da qual nao se salva nenhum vestigio: uma destruigio acompanhada pela fal- sa descrigao da coisa destruida"'. Nao nos deixemos en- ganar nessa importante questao; € impossivel, tao impos- sivel quanto ressuscitar os mortos, restaurar qualquer coisa que jé tenha sido grandiosa ou bela em arquitetu- 17a, Aquila sobre o que insist acima como sendo a vida do Conjunto, aquele esptrito que s6 pode ser dado pela mao ou pelo olhar do artifice, ndo pode ser restituido nunca. 10, Como se ve, Ruskin refere-te ainda ao Morismo 27; assim, tado @ oe std aor dt epi 3 rime enters de evr af sugerda, ito 6, tomar histriea &arqutetura eontempordnea one m nportnee (N Fal, também, como uma parédia, ~ mai odiosa forma de falsi- dade (Nota do Autor aerescentada edigao de 1830). 80 + John Roskin Uma outra alma pode ser-The dada por um outro tempo, € seré entdio um novo edificio; mas 0 esptrito do artifice mor- to nao pode ser invocado, ¢ intimado a divigir outras méos outros pensamentos. E quanto a cépia direta e simples, ela é materialmente impossével. Como se podem copiar su- perfivies que se desgastaram em meia polegada? Todo ‘acabamento da obra estava naquela meia polegada que se fois se voce tentar restaurar aquele acabamento, voce 0 “fox por conjecturas; se voc€ copiar 0 que permanece ~ ad- ‘mitindo ser posstvel a fidelidade (e que cuidado, ou pre- caipdo, ou despesa pode garantir isso?) - como pode a nova obra ser melhor do que a antiga? Havia ainda na ‘antiga alguma vida, alguma sugestdo misteriasa do que cla fora, e do que ela perdera; alguma dogura nas linhas suaves que a chuva e 0 sol lavraram. Nao pode haver ne- nhuma na dureza bruta da nova talha. Observe os ani mis que apresentei na Prancha 14, como um exemplo de obra viva, ¢ suponha que, tendo sido apagadas as mareas das escaras ¢ do pelo, ow as dobras da fronte, quem seria ‘cepaz de restaurd-las? O primeiro passo para a restaura~ (fo (jo testemunhei varias vezes ~ no Batistério de Pisa, na Casa d'Oro em Veneza, na Catedral de Lisiews;) € des- pedagar a obra antiga; 0 segundo, usualmente, &erguer initagdo mais ordindria ¢ vulgar que possa escapar & dhtecgito, mas em todos os casos, por mais cuidadosa, ¢ por mais elaborada que seja, 6 sempre uma imitagao, wn mo- delo frio daquelas partes que postem ser modeladas, com adicdes conjeturais: minka experiencia me aporda apenas tum rinico caso, aquele do Palacio de Justia de Rowen, no A Limpada da Meméria © al qual mesmo isso ~ 0 mais alto grau de fidelidade posst- el -, tenha sido atingido, ou sequer tentado. XIX. Nao falemas, pois, de restauragdo. Trata-se de uma Mentira do comego ao fim. Voc@ pode fazer um mo- delo de um edificio como também de um cadéver, € 0 sew ‘modelo pode conter 0 contorno das antigas paredes den- tro dele, assim como 0 seu molde pode conter o esqueleto, ‘sem que eu possa ver ow apreeiar qualquer vantagem nis- $0, Mas 0 antigo edificio estard destruido, de uma forma ‘mais completa e impiedosa do que se tivesse desabado num amontoado de terra, ou derretido numa massa de barro: mais pode ser resgatado da devastada Nineve do que ja- mais 0 seré da reconsiruida Milao. Mas, diz-se, poile ser necesséria a restauragio! Que seja. Encare tal necessi- dade com coragem, ¢ compreenda o seu verdadeiro sig- nificado, E uma necessidade de destruigao. Aceite-a como tal, arrase o ediffcio, amontoe suas pedras em can- tos esquecidos, transforme-as em eascalho, ou angamas- sa, se voe® quisers mas © faga franeamente, ¢ niio colo- ‘que uma Mentira em seu lugar. Eneare tal necessidade ‘com coragem antes que ela surja, ¢ voe® poder evité- Ja. O prinefpio vigente nos tempos modernos (um prinet= pio que, acredito, pelo menos na Franca, tem sido siste- ‘maticamente praticado pelos pedreiros, com 0 objetivo de -arranjar trabalho para si, tal como na abadia de St. Quen, que foi demolida pelas autoridades da cidade para dar ocupacdo a alguns vagabundos) é o de descurar dos edi- ficios primeiro, ¢ restauré-los depois. Cuide bem de seus 82° ¢ John Ruskin monumentos, e no precisard restaurt-los. Algumas cha- pas de chumbo colocadas a tempo num telhado, algu- mas folhas secas ¢ gravetos removidos a tempo de uma calha, salvardo tanto o telhado como as paredes da rut- na, Zele por um edificio antigo com ansioso desvelo; pro- teja-o 0 melhor possfvel, e a qualquer custo, de todas as ameagas de dilapidagao. Conte as suas pedras como se fossem as jias de uma coroa; coloque sentinelas em vol- ta dele como nos portées de uma cidade sitiadas amarre~ 6 com tirantes de ferro onde ele ceder: apdie-o com es- coras de madeira onde ele desabar; ndo se importe com a mé aparéncia dos reforgos: 6 melhor uma muleta do que um membro perdido; ¢ faga-o com termura, © com reve- réneia, e continuamente, e muitas geragbes ainda nas- cero ¢ desaparecerdo sob sua sombra. Seu dia fatal por fim chegaré; mas que chegue declarada ¢ abertamente, e que nenhum substituto desonroso e falso prive © mo- numento das honras fiinebres da meméria. XX. De destruigao mais arbitréria ou ignorante [do que a restauracdo] é imitil falar; minhas palavras nao atingirdo aqueles que as cometem", ¢ mesmo assim, ou- vido ou nao, nao posso deixar de declarar essa verdade: {que a nossa opcdo por preservar ou nao os edificios dos ‘tempos passados nfo é uma questio de conveniéncia ou 13, Nu, de fat — De paltth depertipdg does mia te longed vida op lng cut gas mai ncn een trv falar. Ete sino pardgfo do sso eaptlo€9 melhor, ern trois (Nta do Autor eligz de 180 A Limpada da Meméria © a3 de simpatia, Nés nao temos qualquer direito de tocd-los. Eles nao so nossos. Eles pertencem em parte aqueles que os construfram, ¢ em parte a todas as geragées da humanidade que nos sucederdo. Os mortos ainda tém seu direito sobre eles: aquilo pelo qual trabalharam, a exallagdo da faganha ou a expresso do sentimento reli- sioso, ou 0 que quer que exista naqueles edificios que {encionavam perpetuar, nao temos o ditvito de obliterar 0 que nos demolir; mas o direito sobre aquilo pelo qual outros ho- mens deram sua forca e riqueza e vida para realizar, no expira com a morte deles; menor ainda & 0 nosso direito de dispor daquilo que eles legaram. Essa heranga per- tence a todos os seus sucessores. Milhdes, no futuro, po= ddem lamentar ou serem prejudicados pela destruigto de edificios que nés dispensamos levianamente, em nome de nossa presente convenineia. Tal pesar, tal perla, nao temos o direito de infligir. Pertenceria a catedral de Avranches mais & plebe amotinada que a destruiu do que a n6s, que perambulamos com tristeza sobre suas fundacdes? Do mesmo modo, nenhum outro edificio per- tence a ralé que o violenta, Pois é de ralé que se trata, ¢ Sempre senf; ndo importa se enraivecida, ou em loucura deliberada; se agrupada em niimeros incontaveis, ou em Comissdes; as pessoas que destroem qualquer coisa de ‘maneira infundada sto ralé, e a Arquitetura sempre é destrufda de modo infundado. Um belo edificio sempre vale o terreno sobre o qual foi construido, & sempre va- lerd até que a Africa Central ¢ a América se tomem to 4 + John Ruskin populosas quanto o Middlesex: nao hd jamais qualquer motivo vélido para sua destruigio. Se alguma ver che- gou a haver, certamente ndio 0 serd agora, quando 0 lu- gar tanto do passado como do futuro se encontra dema- siadamente usurpado em nossas mentes pelo presente agitado e insatisfeito. A propria serenidade da natureza 6 gradualmente arrancada de nés; milhares [de pessoas] que, outrora, em viagens necessariamente demoradas, foram submetidos a influéncia do céu silenciaso ¢ dos ‘campos adormecidos, mais efetiva do que advertida ou confessada, agora carregam consigo, até mesmo lé, a fe~ bre incessante de suas vidas; ao longo das veias de ferro que atravessam 0 areabougo do nosso pais, batem e fluem os pulsos fgneos de seu esforgo, mais quentes mais répidos a cada hora. Toda a vitalidade se concen- tra através dessas artérias pulsantes em diregio As eida- des centrais; 0 campo é transposto como um mar verde por pontes estreitas, e somos jogados em multiddes cada vex mais densas sobre os portdes da cidade. Ld, a tiniea influéncia que pode de alguma forma tomar o lugar da- quela dos bosques ¢ campos, ¢ o poder da Arquitetura antiga. Nao a abandone em troca da praca formal, ou do passeio cereado ¢ ajardinado, ou da rua vistosa, ou do amplo cais. 0 orgulho da cidade nao esta af. Deixe-os para a multidio; mas, lembre-se de que certamente ha- vera alguém dentro do perimetro dos muros desassosse~ gados que preferiria outros lugares que nao esses para percorrer; outras formas para contemplar com familiari- dade: como aquele que se sentou com tanta freqéncia A Lampada da Meméria + 85 ‘onde 0 sol batia do oeste, para observar os contomos do domo de Florenga recortados contra 0 céu profundo, ou ‘como aqueles, seus Anfitrides, que se permitiam diaria- mente, dos aposentos de seu palicio, a contemplagao dos lugares onde seus antepassados descansam, nos en- contros das ruas escuras de Verona,

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