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A ruína de Jerusalém
Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa
libertação está próxima.
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NB — Os que interpretam o sermão por referência exclusiva ao fim do mundo negam, naturalmente, que se trate
V. 15. Quando, pois, virdes a abominação da desolação etc. A expressão é tirada de Dn 9,27:
e virá sobre o Templo a abominação da desolação, i.e. uma abominável desolação, uma
horrenda e ímpia profanação (gr. τὸ βδέλυγμα τῆς ἐρημώσεως, hebr. )ׁשקוצים מׁשמם. Cf. Dn 11,31
e 12,11, onde se leem também as mesmas palavras em prenúncio dos sacrilégios que se
haviam de perpetrar no tempo dos Macabeus (cf. 1Mc 1,54-59; 5,6; 2Mc 6,1-5) [2]. — Posta
(Mc ἑστηκότα, na Vg: stantem, i.e. de pé): a abominação é concebida como uma pessoa ou
efígie de homem posta no lugar santo (ἐν τόπῳ ἁγίῳ, sem art. = em lugar santo) onde não
devia estar (Mc), i.e. no Templo, como Daniel diz explicitamente.
Não se sabe ao certo quando ou como estas palavras de Cristo foram factualmente confirmadas. Alguns as
entendem em alusão ao levantamento da estátua de Adriano no lugar em que o Templo fora construído; o
problema é que isto foge ao escopo do sermão, porque não teria mais função de sinal. Outros, tomando a
locução no lugar santo em sentido lato, preferem entendê-las em alusão a toda a Judéia (a ‘terra santa’); nesse
sentido, a abominação anunciada por Cristo não seria mais do que a irrupção das legiões romanas na Judéia ou
o cerco da Cidade, conforme Lc v. 20: Mas quando virdes que Jerusalém é sitiada por exércitos, então sabei
que está próxima a sua desolação. Outros, enfim, julgam que o vaticínio alude aos crimes cometidos no Templo
pela seita dos zelotes (cf. Flávio Josefo, Bell. IV 30, 10; 5, 1; 6, 3).
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— Nos vv. 22.23b.24, Lc complementa com vários detalhes os outros dois sinóticos: dever-
se-á fugir porque dias de vingança (ἐκδικήσεως) serão aqueles, para que se cumpram todas
as coisas que estão escritas (alude-se, em especial, a Dn 9,26, onde se vaticina a destruição
de Jerusalém). Haverá grande angústia (gr. ἀνάγκη, lt. pressura) sobre a terra judaica, e ira de
Deus (ou dos inimigos?) contra este povo. Qual instrumentos da ira, ou justiça indicativa de
Deus, hostes numerosas ruirão sobre a Cidade, e muitos filhos de Israel cairão ao fio da
espada, alguns dos quais serão levados cativos a todas as nações, enquanto Jerusalém será
calcada (ἔσται πατουμένη) pelos gentios.
A história é testemunha de que isso se cumpriu à risca. De acordo com Flávio Josefo (cf. Bell II 9, 3), enquanto
durou o assédio, cerca de 1.100.000 homens pereceram, e o número total de cativos feitos ao longo de toda a
— Até se completarem os tempos dos gentios. Com efeito, as nações, i.e. os povos pagãos,
depois da destruição de Jerusalém, haviam de suceder o povo eleito, dando início a um novo
período na história da salvação (cf. Lc 20,16): o tempo da Igreja, ou da economia sacramental.
Nada se diz, porém, sobre o tempo preciso que irá durar esta nova era.
a) Não se sabe com certeza o que significa potestades dos céus. Para alguns, é o mesmo que estrelas (cf. Is
34,4 apud LXX); para outros, são as forças naturais que regulam o movimento dos corpos celestes (e.g. a
gravitação universal); para boa parte dos antigos, tratar-se-ia dos anjos, o que não parece adequado ao
b) À pergunta se há que interpretar literalmente essa passagem dão-se diferentes respostas: 1) de acordo com
São Jerônimo, Santo Tomás, Jansênio etc., o sol irá escurecer-se, ofuscado pelo esplendor e pela glória de
Cristo em sua vinda, e é nesse sentido que se deve entender a queda (metafórica) das estrelas e o abalo
(metafórico) das virtudes celestes; 2) Maldonado, Knabenbauer e outros pensam que estes acontecimentos
devem ser entendidos literalmente (embora Kanbenbauer, para quem potestades dos céus é sinônimos de
meteóros, explica o ofuscamento dos astros em termos de algum fenômeno atmosférico ocasionado pela
colisão com a Terra de inúmeros meteoritos); 3) alguns tomam o escurecimento do sol em sentido próprio, mas
a queda das estrelas em sentido impróprio (e.g. Orígenes, Caetano, a Lapide), e há quem o interprete ao revés,
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c) Escritores mais recentes creem identificar nessa descrição expressões características do estilo profético-
apocalíptico (cf. e.g. Is 13,10; 24,18ss; 34,4; Ez 32,7; Jl 2,10.30; Ag 2,21ss; Ap passim), como os quais se
costuma anunciar alguma intervenção divina poderosa e extraordinária (e.g. a ruína da Babilônia, do Egito, de
Edom), e não necessariamente um abalo cósmico. — De mais a mais, Lc evita tais expressões, preferindo
escrever em tom, por assim dizer, mais genérico ou indeterminado (v. 25): Haverá sinais no sol, na lua e nas
estrelas. Não obstante, ele é o único dos sinóticos a mencionar a ansiedade (συνοχή = angústia, consternação,
agonia) dos povos (ἐθνῶν), desorientados perante o veemente bramido do mar e das ondas, desfalecendo
(ἀποψυχόντων = expirando, ou sofrendo como que um delíquio) os homens de medo (ἀπὸ φόβου) e expectação .
V. 31 (Mc v. 27). E mandará os seus anjos com tuba e grande voz (μετὰ σάλπιγγος [φονῆς]
μεγάλης = lit. ‘com grande voz de tuba’, i.e. ao som de poderosa trombeta). A imagem inspira-
se nas reuniões públicas dos judeus, aos quais os homens eram convocados ao som de
trombetas; ou na guerra, onde é costume usar instrumentos de sopro não só para convocar
os soldados, mas também para incutir medo no inimigo; ou enfim no antigo costume de
anunciar a chegada de um rei ao estrépito de buzinas (uma espécie de corneta). São Paulo
afirma que os homens serão reunidos para o juízo ao som de trombetas (cf. 1Cor 15,52; 1Ts
4,16). — Juntarão os seus escolhidos dos quatro ventos, i.e. dos quatro cantos da terra, de
uma extremidade dos céus até a outra, de uma extremidade à outro do mundo, quer dizer,
onde a terra parece chegar até o céu (cf. Dt 4,32; 30,4; Sl 18,7). Entenda-se no mesmo
sentido Mc 13,27: desde o sumo (da extremidade) da terra até o sumo do céu. — Este v. trata
diretamente apenas da reunião dos eleitos, mas é certo os réprobos também serão
convocados para o juízo.
Lc, omitidas a tuba dos anjos e a congregação dos justos, conclui no v. 28: Quando
começarem, pois, a suceder estas coisas ditas até agora, erguei-vos (ἀνακύψατε = lit.
‘levantai ânimo’, i.e. enchei-vos de alegria), levantai as vossas cabeças, porque está próxima a
vossa redenção (ἀπολύτρωσις), palavras que só uns poucos associam à destruição de
Jerusalém (alude-se, portanto, aos sinais arrolados no v. 20ss), a maioria porém ao advento
de Cristo; o juízo supremo será para os fiéis cristãos a redenção ou libertação definitiva da
opressão dos ímpios e dos terrores da grande tribulação.
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Nota sobre a abominação da desolação. — “Assim como, em Dn 9,26, anunciada a morte do Messias, se passa
logo em seguida a falar da ruína da Cidade e do Templo que desta morte se há de seguir, assm também, em Dn
9,27, da cessação e abolição dos sacrifícios rituais judaicos se passa a falar da destruição e ruína perpétua do
Templo. Assim, pois, de modo manifesto e evidente a todos, se declara que estão abolidos e divinamente
extintos estes sacrifícios, uma vez que o único lugar de sacrifício que então existia jaz prostrado para sempre na
abominação e na maldição. As palavras em hebr. não carecem de dificuldade. Teodócio as traduziu como καὶ ἐπὶ
τὸ ἱερὸν βδέλυγμα τῶν ἐρημώσεων; do mesmo modo os LXX, e igualmente São Jerônimo. Daí que os antigos
tenham interpretado ּכנףem referência ao Templo e lido este termo em estado gramatical absoluto, e não, como
nos massoréticos, em estado construto (lit. ‘e sobre a asa [fastígio] das abominações’) . . . Os antigos
entenderam ָּכָנףem referência ao Templo . . . ; ora, a expressão significa ‘asa’, ‘orla’, ‘borda’ etc. (i.e. ‘extremidade’
em geral), e a interpretaram como cimo ou pináculo do Templo, de maneira que se trata da mesma noção que
πτερύγιον em Mt 4,5; ou também, a partir do significado de ‘asa’, como alguma parte lateral do Templo, algum
edifício anexo etc. . . . O sentido, portanto, é: ‘Sobre o cimo do Templo virão abominações horrendas’. Ora, dado
que ‘abominações’ (hebr. )ִׁש ּקּוִצ יםse diz frequentemente dos ídolos (cf. 1Sm 11,5.7; 2Sm 23,13 hebr; Jr 4,1; 7,30;
13,27; 16,18; Ez 5,11; 7,20 etc.), do culto de idolatria e dos próprios idólatras, abomináveis aos olhos de Deus
(cf. Os 9,10; Zc 9,7), por esta expressão podem entender-se não só os crimes com que, no tempo da guerra
judaica, os próprios judeus chamados zelotes profanaram o Templo, mas também as profanações dos romanos,
que introduziram sinais militares e imagens de ídolos num lugar outrora sagrado” (J. Knabenbauer, In Danielem
9,27).
Referências
1. Para eles, com efeito, que os vv. 15-20 de Mt e os vv. 14-18 Mc situem a tribulação
futura quase toda na Judéia (cf. v. 16) e em detrimento único dos judeus (cf. vv. 17s.20)
não implica, por si só, que Jesus esteja falando unicamente da destruição da Cidade.
Entre as razões alegadas, está o costume dos profetas de anunciar eventos futuros
de alcance mais global servindo-se de referências a elementos particulares mais
conhecidos, não raro de seu próprio povo, região ou cultura.
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