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77395-Texto Do Artigo-321003-1-10-20171019
77395-Texto Do Artigo-321003-1-10-20171019
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fas cotidianas antes destinadas ao ser huma- 1987) parece ser suficientemente clara quan-
no; influência esta que segundo Toffler (1980) do diz que a aventura esportiva é um enrique-
deverá acentuar-se nos próximos anos. cimento possivelmente insubstituível, porém
afirma que, os caminhos que conduzem aos
Munne e Codina (1992) entendem que pódiums e as marcas deveriam ser traçados
todo este contexto colabora para manter inati- sobre as bases de um patrimônio cultural-es-
vas fisicamente as crianças, ocasionando de- portivo-humanista respeitando ao adolescente
formações da coluna vertebral, aumentando com o fim de nunca esquecer ao menino ou
seus hábitos consumistas e sua passividade menina, futuros homem e mulher que estão por
perante as mensagens subliminares transmiti- trás do esportista.
das pela TV. Porém como diz Scully (1990), Em nossa tese
nossos corpos não estão adaptados a este ní- Diferentes autores e quase a totalidade doutorai que trata
vel de inatividade que a tecnologia do século dos professores de educação física coincidem sobre "Esporte e
XX nos permite desfrutar. na afirmação de que é durante as primeiras eta- Saúde" (VARGAS
pas do aprendizado esportivo que se deve es- NETO, 1995),
Para Cotta (em Hahn, 1988), em geral o tabelecer as bases do futuro rendimento, e ja- fazemos um apelo
esporte fomenta na criança e no adolescente a mais buscar o rendimento imediato. as autoridades
maturidade, o crescimento e o desenvolvimen- políticas e esporti-
to. Porém acrescenta, perigoso só é o esporte Como se pode ver, se trata de aplicar ao vas no sentido de
de alto rendimento específico realizado na ida- menor um modelo de esporte que não busque uma legislação
de infantil. É quase unânime o acordo no mo- o êxito pelo êxito, nem futuro nem imediato, e própria que regule e
mento de recomendar a prática esportiva na que esteja adaptado as necessidades, caracte- controle basicamen-
infância, ainda que muitos entendem que pode rísticas e possibilidades reais de seus pratican- te:
provocar problemas quando esta prática se ini- tes. Assim se pode afirmar que no esporte in- a) o número máxi-
cia muito cedo ou está totalmente voltada para fantil deve prevalecer o objetivo de contribuir mo de horas de
a competição. na formação integral da pessoa humana por treinamento de
meio da atividade esportiva. Ver quadro 1, a crianças;
A afirmação de Thomas (em Personne, seguir. b) a intensidade e os
objetivos deste
Quadro 1. Razões usualmente utilizadas por diferentes profissionais em relação
mesmo treinamen-
aos benefícios das atividades físico-desportivas (incluídos os pais).
to, e
Pais - uma necessidade psicofísica c) a formação e
- novas amizades
qualidade do ensino
- ambiente sadio
- afasta de atividades inadequadas da pessoa responsá-
vel por estas ativi-
Médicos - melhora a saúde de forma geral dades.
- combate a "degeneração hipocinética"
- como prevenção nas doenças cardiovasculares
Nutricionistas - coadjuvante no tratamento da obesidade
- manutenção do peso adequado
Fisioterapeutas - importante elemento rehabilitador nas doenças
do aparelho locomotor
Educadores - fomenta: a maturidade, o crescimento, o desenvolvimento
e a socialização
Psicólogos - elemento preventivo e terapêutico na ansiedade,
no estresse e na depressão
- produz efeitos sobre a cognição, a afetividade e
a agressividade
Professores de - aprendizado esportivo
Ed. Física - desenvolvimento das habilidades motoras
- desenvolvimento da capacidade física ou
condição biológica
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Duas conclusões podem ser tiradas des- Em nossa tese doutorai que trata sobre
tas citações: em primeiro lugar existe uma certa "Esporte e Saúde" (VARGAS NETO, 1995),
confusão conceituai em referência aos temas fazemos um apelo as autoridades políticas e
IEP e TEP pois ambas definem o mesmo pro- esportivas no sentido de uma legislação pró-
cesso ainda que não signifiquem a mesma coi- pria que regule e controle basicamente:
sa, e em segundo lugar entende-se pelas defi- a) o número máximo de horas de treina-
nições que outros diferentes e importantes as- mento de crianças;
pectos formativos, neste caso, são deixados de b) a intensidade e os objetivos deste mes-
lado ou na melhor das hipóteses são valores mo treinamento, e
secundários. c) a formação e qualidade do ensino da
pessoa responsável por estas atividades.
Martens em 1986, estudando a IE nos Seria igual ao que ocorre no controle
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por parte do estado de outros aspectos saúde de uma criança (Aucune medeille ne vaut
tais como: ingresso de menores no tra- la santé d'un enfant), recolhe um enorme nú-
balho, o número máximo de horas na mero de casos reais nos quais os esportistas -
escola, a segurança dos brinquedos e a todos eles submetidos no presente ou no passa-
higiene dos produtos alimentícios. do ao TEP- apresentam uma infinidade de pro-
blemas psicológicos, de saúde física e de
integração. Outro trabalho excelente é o de Cotta
(em Hahn, 1988) onde se pode verificar dife-
AS RAZÕES QUE TENTAM JUSTIFI- rentes patologias em praticantes de diversas
CAR A ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE modalidades esportivas como, halterofilismo,
saltos, remo, natação e outros; todos estes atle-
Alguns pesquisadores tem tentado encon- tas quando crianças haviam sido submetidos ao
trar as razões que buscam justificar a IEP e o TEP. Em um estudo de Mandei e Hennequet
TEP (ou especialização esportiva precoce (em Durand, 1988), 74% dos pediatras consul-
[EEP])2, Hahn (1988) concluiu que o adianta- tados considera não conveniente a prática es-
É normal observar-
mento da idade de máximo rendimento3, prin- portiva competitiva antes do final da puber-
cipalmente em determinados esportes, motiva dade; da mesma maneira no informe elaborado mos atletas de alto
a federações, clubes e treinadores a iniciar este por Delmas (em Personne, 1987), estudo en- nível que adquiri-
processo dirigido ao alto rendimento cada vez carregado pela Academia de Medicina da Fran- ram "automatismos
com maior precocidade. Observa-se que outra ça, é chamada a atenção sobre os efeitos nega- motores extrema-
das causas deste fenômeno, é o atual sistema tivos e portanto prejudiciais da EEP e do TEP. mente rígidos" que
esportivo infantil -basicamente competitivo- que lhes impede de
não está de acordo com as autênticas necessi- Destes trabalhos citados e de outros tan- executar movimen-
dades das crianças, pois é simplesmente um sis- tos já publicados, se pode concluir e entender tos novos e diversifi-
tema adaptado do modelo adulto. Um aspecto alguns dos prejuízos que a prática intensiva de cados.
importante a considerar, é também a busca do um esporte competitivo iniciado precocemente
êxito e vitórias (medalhas) a qualquer preço, na infância pode ocasionar, para facilitar o en-
isto motiva ministérios de esportes, federações tendimento dividimos os possíveis riscos em
nacionais e clubes a estimular a iniciação pre- quatro grandes áreas: riscos de tipo físico, psi-
matura. Um último aspecto decisivo talvez para cológicos, motrizes e riscos de tipo esportivo.
explicar este fenômeno, é a atitude dos pais que
freqüentemente buscam uma compensação, por
meio dos filhos, das vitórias e títulos esporti-
vos não conseguidos por eles mesmos. Riscos de tipo físico
Segundo nossa análise, observa-se que Neste bloco se faz referência aos riscos
de todos estes motivos expostos, nenhum de- que a prática esportiva competitiva iniciada pre-
les se ajusta aos interesses e necessidades re- cocemente pode ocasionar a saúde corporal das
ais das crianças, pois são todos argumentos crianças. Foram detectados problemas ósseos,
extrínsecos ao verdadeiro e principal ator des- articulares, musculares e cardíacos, dependen-
te jogo, a criança. do da especialidade esportiva, sobretudo aque-
las tecnicamente mais complexas que empre-
gam um grande número de repetições de gestos
técnicos visando a automatização e aperfeiçoa-
OS PREJUÍZOS DE UMA mento do movimento. PERSONNE (1987)
ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE comprovou que um praticante de ginástica olím-
pica pode realizar ao longo de uma temporada
De outra parte, inúmeros autores tem mais de 8.000 saltos (impacto altamente
apresentado trabalhos que destacam os prejuí- traumatizante para as articulações); um atleta
zos de natureza diversa de um TEP ou da EEP. de saltos ornamentais executa mais de 14.000
O mais importante trabalho nesta área é de um saltos; um arremessador de dardo, 6.000 arre-
francês, professor de educação física, Person- messos por ano. Preocupados com as campa-
ne, a obra datada de 1987 cujo título por si só é nhas que promovem as corridas de rua, nas quais
muito significativo. Nenhuma medalha vale a crianças e adolescentes são estimulados a par-
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. Aw 3 - AT 3 - m
Quadro 2. Tipos de riscos à que está exposta a criança quando da prática intensiva de uma
modalidade esportiva.
Riscos de tipo físico - lesões ósseas
- articulares
- musculares
- cardíacas
Riscos de tipo psicológico - níveis altos de ansiedade, estresse e
frustração
- sofrimento psíquico por fracassos e
desilusões
- relatos negativos de "infância não vivida"
e formação escolar deficiente
Riscos de tipo motriz - "pobreza motriz"
- "automatismos motores rígidos"
Riscos de tipo esportivo - a especialização sem as condições exigidas
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no futuro, pelo esporte escolhido
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7S
car esporte", e termina em seu décimo-primeiro NOTAS
artigo propondo que "toda criança tem direito
a não ser um campeão". 'Entendemos que dificilmente este treinamento é organizado e
planejado a longo prazo; quase sempre ocorre uma falta de pla-
nejamento, e quando este existe, normalmente é a curto prazo e
buscando resultados imediatos.
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BIBLIOGRAFIA Esta é outra terminologia que se junta as anteriores e que vem
a aumentar a já referida confusão de conceitos que tratam do
mesmo tema.
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tudo exploratório", apresenta detalhadamente este assunto e
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cionais de atletismo, categoria menores, e conseqüências da nores não determinam resultados iguais quando adulto" e pior,
especialização precoce desta modalidade: estudo exploratório. estes resultados podem nunca mais vir a repetir-se.
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