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CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DA EDUCAÇÃO


Campus Murrópuè, Av. Julius Nyerere – 1613, Bloco I, Telef. 24216298, Fax: 24216058.

Guia de estudo de Ética, Diversidade e Inclusão (tema transversal)

Conceitos de Ética, Diversidade e Inclusão- Introdução

1. Pertinência do estudo

O tema Ética, Diversidade e Inclusão na Universidade Licungo aponta para a necessidade


de uma educação intercultural virada para a diversidade, promovendo o reconhecimento e
a valorização das diferenças como uma oportunidade e fonte de aprendizagem para todos,
no respeito pela multiculturalidade da sociedade moçambicana.

Por isso, pretende-se com este tema contribuir para moralização da sociedade
moçambicana, dos nossos estudantes na Universidade Licungo projectando a construção
de relações sociais mais harmoniosas e inclusivas, que atendem a diversidade dos sujeitos.

A UNESCO tem chamado atenção para a importância dos sistemas educacionais


valorizarem o pluralismo cultural; combinar as vantagens da integração e o respeito pelos
direitos individuais; contribuir para a promoção e integração dos grupos minoritários, etc.
De facto, o INDE/MINED (2007) assevera que muitas vezes acusa-se os sistemas
educativos formais de impor aos educandos os mesmos modelos culturais e intelectuais,
sem prestar atenção suficiente à diversidade

Neste sentido, a proposta de trabalho com este tema surge como uma forma de contribuir
para a valorização desta diversidade existente na sociedade moçambicana orientando-se
por princípios éticos, morais, democráticos e de cidadania.

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2. Aplicação da ética, inclusão e respeito à diversidade

Torna-se necessário elaborar planos e programas de estudo multiculturais e


plurilinguísticos, fundados na multiplicidade de pontos de vista e inspirando-se em
histórias e culturas de todos os grupos da sociedade.

Uma tal perspectiva, sensível à diversidade dos educandos, também deve prever medidas
especiais destinadas aos grupos vulneráveis ou marginalizados e à melhoria dos ambientes
educacionais e escolares, particularmente no que respeita a meninas, com o objectivo
último de contribuir para o reforço da autonomia por meio da promoção dos direitos
humanos, do aumento do espírito cívico e do fomento do desenvolvimento sustentável.
Alcançar uma educação que leve em conta a cultura requer indivíduos que possuam os
conhecimentos necessários e respeitem as diferenças culturais.

3. Sobre os conceitos de ética, diversidade e inclusão

3. 1. Objecto da ética geral: sua especificidade como disciplina filosófica e normativa

O mundo em que vivemos é um mundo marcado pelo relativismo, onde o certo e o errado
nunca foram tão banalizados. Para a maioria das pessoas, os padrões morais e valores
sociais ficam a critério de cada um. Por isso, vivemos num mundo altamente
individualista que prevalece nas relações sociais, educacionais, económicas, na religião e
no trabalho.

O Ser Humano é um animal racional; diferencia-se dos demais animais por ter a
capacidade de pensar. Por isso quando olhamos o mundo que nos cerca percebemos que
não existe propriamente “a ética’’, mas “éticas”, e os filósofos que vieram depois dos
gregos da era clássica aproveitaram-se daquelas reflexões, alterando-as conforme a época
em que viveram.

Nesta disciplina, pretendemos distinguir os diferentes significados que se podem atribuir


aos termos ética e moral, de acordo com os mais diversos contextos.

Por que estudar as diferentes teorias éticas? O estudo da Ética está associado à
necessidade de se estabelecer limites nos desejos e ambições individuais, dirigindo-os
para uma relação equilibrada com as necessidades sociais.

Muitas vezes utilizamos os termos ética e moral como sinónimos, ou seja, termos com o
mesmo significado. Para (Cortina & Martinez; 2005) o termo ética vem do grego ethos;
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tem o significado de “carácter”, “costume. Moral vem do latim mor, moris, significa
“maneira de se comportar regulada pelo uso”; daí relacionarmos o termo “moral” com
“costume”; moralis, morale, adjectivo referente ao que é “relativo aos costumes”.

Ora, a palavra costume se diz, em grego, ethos – donde, ética – e, em latim, moris –
donde, moral. Em outras palavras, ética e moral referem-se ao conjunto de costumes
tradicionais de uma sociedade e que, como tais, são considerados valores e obrigações
para a conduta de seus membros. Embora etimologicamente, os termos ética e moral
sejam sinónimos, conservam alguma diferença. ou seja, ética e moral só podem ser
considerados como sinónimos a partir do significado etimológico, mas conservam suas
diferenças.

Ética é o estudo dos juízos de apreciação que se refere à conduta humana susceptível de
qualificação do ponto de vista do bem e do mal.

Os costumes, porque são anteriores ao nosso nascimento e formam o tecido da sociedade


em que vivemos, são considerados inquestionáveis e quase sagrados (as religiões tendem a
mostrá-los como tendo sido ordenados pelos deuses).

Moral é o conjunto das regras ou normas, de conduta admitidas por uma sociedade ou por
um grupo de homens em determinada época. Assim, o homem moral é aquele que age
bem ou mal na medida em que acata ou transgride as regras do grupo. A moral, ao mesmo
tempo que é o conjunto de regras que determina como deve ser o comportamento dos
indivíduos do grupo, é também a livre e consciente aceitação das normas. Isso significa
que o acto só é propriamente moral se passar pelo crivo da aceitação pessoal da norma.
Conjunto dos costumes e juízos morais de um indivíduo ou de uma sociedade que possui
carácter normativo (regras do comportamento das pessoas no grupo).

Moral é um conjunto de regras que visam orientar a acção humana, submetendo-a ao


dever, tendo em vista o bem e o mal; Conjunto de normas livre e conscientemente aceites
que visam organizar as relações dos indivíduos na sociedade; Moral é um conjunto de
acções e decisões acompanhado de recompensas e punições que são aceites por um grupo
social.

Ética ou Filosofia moral, disciplina filosófica que se ocupa com a reflexão a respeito das
noções e princípios que fundamentam a vida moral. De acordo com Cortina(2005), essa
reflexão pode seguir as mais diversas direcções, dependendo da concepção de homem que

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se toma como ponto de partida, podendo ser vista ou percebida como: a) reflexão a
respeito das noções e dos princípios que fundamentam a vida moral; b) disciplina teórica
sobre a prática humana (o costume ou o comportamento humano).

A ética é uma filosofia prática, ou seja, uma reflexão sobre a práxis (acção prática) em
todos os sectores da vida humana. Ética estuda os valores morais e os princípios ideais da
conduta humana.

Assim, à pergunta “o que é o bem e o mal”, respondemos diferentemente, caso o


fundamento da moral esteja na ordem cósmica, na vontade de Deus ou em nenhuma
ordem exterior à própria consciência humana. Podemos perguntar ainda: Há uma
hierarquia de valores? Se houver, o bem supremo é a felicidade? É o prazer? É a
actividade? É o dever?

Portanto: Ética é princípio; moral são aspectos de condutas específicas; Ética é


permanente; moral é temporal; Ética é universal; moral é cultural; Ética é regra; moral é
conduta de regra; Ética é teoria; moral é a prática;

3. 2. Divisões da ética

A ética divide-se em três campos: meta-ética, ética normativa e ética aplicada. A ética
normativa pretende responder a perguntas tais como “O que devemos fazer?” ou de forma
mais ampla “Qual a melhor forma de viver bem?”. As respostas a estas questões são
dadas, seja através da determinação da ação ou regra correta, seja através da determinação
mais ampla de um caráter moral.

A meta-ética, diferentemente da ética normativa, não pretende determinar o que devemos


fazer, mas investiga a natureza dos princípios e teorias morais. Eles são objectivos? São
absolutos? Fazem parte daquilo que podemos conhecer? Podem ser verdadeiros num
mundo sem Deus?

Meta-ética refere-se aos autores da análise da linguagem. Ela é uma metalinguagem


ocupada em esclarecer os problemas tanto linguísticos como epistemológicos da ética. Ela
tenta discernir a cientificidade, a suficiência, os caracteres formais, a situação
epistemológica da ética.

A chamada ética aplicada é a aplicação de princípios retirados da ética normativa para


resolver problemas éticos quotidianos. Ela procura resolver problemas práticos de acordo

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com princípios da ética normativa. Usualmente, as correntes de ética aplicada têm-se


detido, não apenas em princípios de uma corrente, mas apresentam centralmente
princípios da ética utilitaristas como a consideração das consequências, conjugados com
princípios da ética deontológica, tais como a consideração da dignidade da pessoa e
respeito pela sua livre decisão.

Um dos desenvolvimentos da ética aplicada deu-se principalmente para resolver os


problemas relacionados à vida, recebendo o nome específico de bioética. A bioética trata
de assuntos tais como aborto e eutanásia, relações entre médico e pacientes, pesquisa com
seres humanos, manipulação genética etc. Além disso, a ética aplicada ocupa-se com
problemas relativos ao meio ambiente, aos direitos dos animais e às questões morais nas
trocas comerciais.

Podemos dividir as correntes da ética normativa em três grandes linhas: éticas teleológicas
e deontológicas e de virtudes.

As teleológicas determinam o que é correcto de acordo com uma finalidade (télos) a


atingir. São exemplos destas perspectivas éticas o utilitarismo, que promover maior bem
para o maior número, ou seja, o utilitarismo defende que objetivo da moral volta a ser a
felicidade identificada com o maior prazer para o maior número de seres vivos. É
necessário optar pela ação que proporcione a maior felicidade ao maior número. Já o
hedonismo entende que agir moral é a busca de felicidade entendida como prazer, como
satisfação individual.

As éticas de virtudes são baseadas no caráter moral ou virtuoso do indivíduo. Virtude tem
a ver com o equilíbrio entre o excesso e a falta e é a guia para a personalidade. Por
exemplo, a virtude da coragem é o equilíbrio entre a covardia e a temeridade.

As éticas deontológicas procuram determinar o que é correcto, não segundo uma


finalidade a ser atingida, mas segundo regras e normas para a acção. Uma das correntes
mais importante da ética deontológica é a ética kantiana ou ética do dever.

3. 3. Funções da ética.

•A ética tem uma tripla função: 1) esclarecer o que é a moral, quais são seus traços
específicos; 2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as razões
que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente; 3) aplicar aos

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diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas duas primeiras funções, de
maneira que se adopte uma moral crítica em vez da subserviência a um código.

3. 4. Os métodos próprios da ética.

A moral dogmatiza com seus códigos, enquanto que a ética argumenta criticamente. Não
há totalitarismo em exigir argumentação, mas é totalitário o dogmatismo da mera
autoridade, das pretensas evidências, das emoções e das metáforas. Filosofar é
argumentar. Este é o modo de proceder da filosofia moral. Os métodos para argumentar
podem ser muitos: empírico-racional (Artistóteles), empirista e racionalista (era moderna)
transcendental (Kant), dialético-absoluto (Hegel), dialético-materialista (Marx),
genealógico-desconstrutivo (Nietszche), fenomenológico (Husserl, Scheler), análise da
linguagem (Moore, Stevenson, Ayer), neocontratualista (Rawls).

4. Sobre a inclusao versus diversidade

O debate sobre a inclusão remonta na década de 90 e a partir daquela época a escola passa
a ser vista como o local de todos, segundo a Declaração Mundial de Educação para Todos.

Inclusão quer dizer a remoção de barreiras para a aprendizagem e participação de todos.


Pensar no outro, no diferente é pensar na possibilidade de reduzir e eliminar as barreiras
do preconceito, da discriminação e da desigualdade (Mantoan; 2003).

Constituem princípios da inclusão: a aceitação das diferenças individuais, valorização de


cada pessoa, convivência dentro da diversidade humana, aprendizagem através da
cooperação.

Quem não respeita o outro, o diferente, o estranho não respeita a diversidade; cria
estereótipos, o que leva a discriminação. O processo de inclusão é a construção de uma
sociedade para todos (Freire; 1987).

Pensar no outro, no diferente, na diversidade é pensar na possibilidade de conviver juntos


ainda que no grupo haja diferenças de género, de atitudes, de valores culturais, formas que
aquando da nossa convivência social aprendemos a conhecer o outro enquanto ser que
pertence à mesma sociedade.

As diferenças ajudam na aprendizagem, uma vez que não existe uma forma única nem
modelo de educação. O modelo de homem só pode vivenciado, percebido e

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experimentado através da dialogicidade. A inclusão requer mudanças de paradigmas; ela é


um produto de uma educação plural, democrática e transgressora.

O aluno de uma escola inclusiva é outro sujeito que não tem uma identidade fixada em
modelos ideais, permanentes e essenciais. De acordo com Sassaki (1997) a inclusão é o
processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais
gerais, pessoas com necessidades especiais, e simultaneamente estas se preparam para
assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral
no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar
problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos.
Desse modo, incluir é despojar de preconceitos, discriminações, aceitar as diferenças,
respeitar a diversidade. Incluir é garantir espaços, abrir horizontes, respeitar o outro, o
diferente, enfim, possibilitar que todos possam mesmo sendo diferentes gozar de direitos
sociais, políticos e culturais.

Pensar no outro, no diferente, na diversidade, é pensar na possibilidade de reduzir e


eliminar as barreiras do preconceito, da discriminação e da desigualdade. Neste contexto,
Oliveira (2006, p.70).) afirma que aceitar o argumento do outro supõe-se o aceitar o outro
como igual, e esta aceitação do outro como igual é uma posição ética, é o reconhecimento
ético ao outro como igual, quer dizer, aceitar o argumento não é somente uma questão de
verdade, é, também uma aceitação da pessoa do outro.

Referências bibliográficas

Cortina, A. & Martinez, E. (2005). Ética. S. Paulo, Edições Loyola.


Cortina, A. (2005). 10 palavras chaves em ética. Gráfica de Coimbra.
Cultrera, F. (1999). Ética e Política. São Paulo, Paulinas.
Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Mantoan, M. T. E. (2003). Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer?. São Paulo:
Moderna.
Mittler, P. (2003). Educação inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed.
Oliveira, I. A. de. (2006). A problemática da ética da diferença e da exclusão social: um
olhar dusseliano. In: Martins, L. de A. R. et. al. [orgs.]. Inclusão: compartilhando saberes.
Petrópolis: ed. Vozes. p.67-77.
Sassaki, R. K. (1997). Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro:
WVA.
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