You are on page 1of 138

TERMOSDEUSO

Cursospar
aconcur
sos
DADISPONI BI
LIDADEDO CURSO
O al
unodeveobservaradisponi
bil
i
dadedoc ursoapósodiadacompra.Cada
cur
sopossuium pr
az oprópr
ioparaacesso.O i
níci
odac ont
agem doprazose
i
nic
iacom opri
meir
oac es
s oaaulaapósàautori
zaçãodacompra.
Apósoenc er
-
r
amentodesseprazo,vocênãoterámaisacessoaoc ur
so.

DADI SPONI BI
LIDADEDASAULASEM VÍ DEO
Cas oseuc ur
soc ontenhavídeos ,el
essãodi sponibil
izadosdeac ordoc om o
cronogr
ama.Asaul ass ãodivi
didasem bl ocosde25mi nutosec adav í
deo
poderáserassi
sti
dopeloalunoaté3( tr
ês)vezesdeac ordoc om adescri
çãocon-
t
idanoc urso,nohor ári
oquemel horlheconv i
er,nãos endopermiti
doqueas
aulassej
am baix
adasec opi
adaspar aarqui
v opes s
oal doaluno.

DOSREQUI SI
TOSDO SI STEMA
Éindi
cadoumai nt
ernetmí
nimade5Mb/spar
aaces s
oasaulasem al
t
ares
olu-
ção,s
endoquet ambém épossí
veloac
essocom i
nternetde2Mb/
sem res
olu-
çõesmenores.
DOACESSO
Asaul ases t
ar ãodi
sponívei
snos itewww. psi
c ol
ogi
anov a.com.bresomentepo-
derãos erut il
i
z adaspeloalunomat ri
c uladonoc ur
so,s endov edadaàc essãoa
t
er c
eiros.
Doi sac es s
oss i
mult
âneosfarãoc om queac onexãoc aia.
A Ps icologiaNov anãos erespons abili
zaporpr oblemasdeat ual
izaç
ãode
Flash,Jav a,nav egadores
,ouai nda,bl oqueiosporant i
vír
usouf ir
ewall
.Port
anto,
cert
if
ique- sec om ant
ecedênc i
aques uamáqui naenc ontr
a-s
eapt aparaoac es
so
aonos soc urso.

DOSCANCELAMENTOSERESCI SÕES
Cas ooc ursotenhai nici
ado,masnãof inal
izadasasf il
magens ,em c asodede-
si
s t
ênci
a,s erádes contadoov alorpropor ci
onalàsaul asjádisponibili
zadas ,as-
si
s t
i
dasounão,bem c omoincidi
rámul tar escis
ór i
ade30% ( tr
intaporc ento)
sobreototalpago.Cas otodasasaul ases tejam efetivamentedi sponíveis,não
serápossíveloc anc el
ament o.Ac r
it
ériodo( a)aluno( a),os al
doas err est
ituí
do
poderáserc onverti
doem bônuspar aabat i
ment oem f uturoscursosonl i
neof ere-
ci
dospeloPSI COLOGI ANOVA.
Em nenhumahi póteses erápos sí
velat rocadeum c urs
oc ontratadopel o(a)
al
uno(a)porout roc ursoonli
nehaj avist
aadi versidadedaquant i
dadedeaul as,
prof
essoresc ontr
atados ,disci
pl
inaslecionadas ,inves t
imentos,admi nistr
açãoe
despesasdaEs cola.
20. ASSERTIVIDADE E HABILIDADES SOCIAIS. 22. INTERDISCIPLINARIDADE E
MULTIDISCIPLINARIDADE EM ATENÇÃO PSICOSSOCIAL; 23. O PAPEL DO PSICÓLOGO EM
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR; ........................................................................................ 2
ASSERTIVIDADE E HABILIDADES SOCIAIS .................................................................................................... 2
EQUIPES INTERDISCIPLINARES: INTERDISCIPLINARIDADE E MULTIDISCIPLINARIDADE – ASPECTOS GERAIS .......... 6
ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NOS NÍVEIS PRIMÁRIO, SECUNDÁRIO E TERCIÁRIO EM SAÚDE. ................................... 8
PROMOÇÃO, PREVENÇÃO E REABILITAÇÃO................................................................................................ 9
PREVENÇÃO PRIMÁRIA (UNIVERSAL, SELETIVA E INDICADA) ........................................................................ 11
PARA FINALIZARMOS............................................................................................................................ 12

18
EXTRA: REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL, CLÍNICA DA SUBJETIVIDADE, COMPREENSÃO DO

1:
SOFRIMENTO PSÍQUICO E INTERDISCIPLINARIDADE. ................................................... 15

:2
22
CLÍNICA DA SUBJETIVIDADE E A COMPREENSÃO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO.................................................. 18

0
24. PSICOLOGIA JURÍDICA; ........................................................................................ 25

02
/2
HISTÓRIA DA PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL ....................................................................................... 29

01
PRINCIPAIS CAMPOS DE ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA ..................................................................... 32

2/
A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO FORENSE ................................................................................. 36

-0
26. PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS;..................................................................... 38

om
A ESTRUTURA HIERÁRQUICO-NORMATIVA BRASILEIRA ............................................................................... 38

l.c
ai
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS ........................................................................................... 39
gm
OS PRINCÍPIOS DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................................................ 43
@
PRINCÍPIOS E CONTEXTOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS ....................................... 44
na

Contexto Histórico .......................................................................................................................... 44


pi
ia

Pontos Importantes da DUDH ....................................................................................................... 47


ib
a.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................................. 49


an

PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS ....................................................................................... 54


ai
-l

PNDH -1........................................................................................................................................... 55
1

PNDH-2 ........................................................................................................................................... 56
-6
43

PNDH-3 ........................................................................................................................................... 56
.2

O QUE TODAS AS POLÍTICAS BRASILEIRAS ATUAIS TEM EM COMUM .............................................................. 60


10

POLÍTICAS DE MULHERES ..................................................................................................................... 60


.1
04

POLÍTICAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES .............................................................................................. 61


-0

POLÍTICAS DE IDOSOS .......................................................................................................................... 61


A

POLÍTICAS DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ............................................................................................... 61


N
PI

POLÍTICAS DE IGUALDADE RACIAL .......................................................................................................... 61


IA

POLÍTICAS LGBTTI ............................................................................................................................. 64


IB

CLÍNICA E QUESTÕES DE GÊNERO E RAÇA ................................................................................................ 67


AL
LE

DIFERENÇAS DE GÊNERO ...................................................................................................................... 67


27. VIOLÊNCIA, ABUSO E ALIENAÇÃO; 28. VIOLÊNCIA FAMILIAR, CONTEXTO DE RISCO E
A
N

PROTEÇÃO SOCIAL; 29. VIOLÊNCIA SEXUAL; 30. REDE DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA


IA
LA

CONTRA A MULHER; .................................................................................................. 73


VIOLÊNCIA ......................................................................................................................................... 74
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E URBANA ......................................................................................................... 81
VIOLÊNCIA SEXUAL NA FAMÍLIA ............................................................................................................. 81
CONSEQUÊNCIA DA VIOLÊNCIA PARA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE ............................................................. 84
ABANDONO E DELINQUÊNCIA INFANTO-JUVENIL ...................................................................................... 86
O PAPEL DA FAMÍLIA, DO PSICÓLOGO E DA JUSTIÇA................................................................................... 88
RESENHA: CRIANÇAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL (GABEL, 1998) ............................................................... 89
SERVIÇO DE PROTEÇÃO SOCIAL A CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA, ABUSO E EXPLORAÇÃO
SEXUAL E SUAS FAMÍLIAS: REFERÊNCIAS PARA A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ................................................... 97
REDE DE PROTEÇÃO À MULHER ................................................................................ 125

1
31. RELATÓRIOS E LAUDOS PERICIAIS PSICOLÓGICOS; .............................................. 127
QUESTÕES ............................................................................................................. 127
QUESTÕES COMENTADAS E GABARITADAS ................................................................ 131

20. Assertividade e habilidades sociais. 22. Interdisciplinaridade e


multidisciplinaridade em atenção psicossocial; 23. O papel do
psicólogo em equipe multidisciplinar;

18
1:
Assertividade e habilidades sociais

:2
22
Em qualquer caso ou situação o psicólogo deve ser assertivo. Para ser

0
02
assertivo, deve ter habilidades sociais. Enquanto as habilidades sociais são

/2
01
competências, a assertividade é um estilo de comunicação.

2/
A assertividade é uma forma de lidar com conflitos, é um estilo de

-0
comunicação. Segundo o casal Del Prette:

om
Uma classe de habilidades sociais de enfrentamento em situações que

l.c
ai
envolvem risco de reação indesejável do interlocutor, com controle da
gm
ansiedade e expressão apropriada de sentimentos, desejos e opiniões.
@
na

Ela implica tanto na superação da passividade quanto no


pi

autocontrole da agressividade e de outras reações não habilidosas.


ia
ib

(Del Prette & Del Prette, 2005, p. 1-5)1.


a.
an

A assertividade é um estilo de comunicação diferente da passividade e da


ai
-l

agressividade.
1
-6

Sobre isso, vale apena aprofundarmos:


43

Especificações do comportamento assertivo


.2
10

O comportamento assertivo é frequentemente contrastado com os


.1

comportamentos agressivo e passivo. Na literatura da terapia comportamental é


04
-0

muito comum encontrar definições desses comportamentos baseadas em suas


A

características topográficas. Assim, comportamentos assertivos tendem a se


N
PI

caracterizar por maior contato visual entre o indivíduo assertivo e seu interlocutor,
IA
IB

maior uso de afirmações dotadas de afeto, tom de voz audível, verbalizações de


AL

maior duração, uso adequado de características paralinguísticas da fala (como


LE

fluência, variabilidade de expressões, vivacidade) (cf. revisão de literatura realizada


A
N

por Rich & Schroeder, 1976). A postura corporal, os gestos utilizados, a distância do
IA
LA

interlocutor e as expressões faciais do indivíduo também são diferentes entre o


comportamento assertivo e os compor- tamentos agressivos e passivos. Segundo
Hull e Schroeder (1979), são características típicas do comportamento passivo: não
olhar o interlocutor diretamente nos olhos; usar um tom de voz suave, hesitante,
com uma pequena entonação que transmite vacilação; falar de maneira pouco clara
e se posicionar curvadamente, sem encarar o interlocutor. Já no comportamento
agressivo, de acordo com os autores, o indivíduo ‘tem um olhar fulminante’; usa um

1
Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2005). Psicologia das
habilidades sociais na infância: teoria e prática. Petrópolis: Vozes.

| 2
tom de voz que transmite raiva e ressentimento; fala muito alto e sem hesitação,
encara o interlocutor e fala imediatamente, quase interrompendo o interlocutor (cf.
Hull & Schroeder).
Apesar de caracterizações topográficas ajudarem na identificação daqueles
tipos de comportamentos, suas dimensões funcionais são reconhecidamente
relevantes. De um ponto de vista funcional, um aspecto importante a ser
considerado é que respostas assertivas/agressivas/passivas produzem

18
consequências variadas. Por exemplo, quando um indivíduo informa que está

1:
cansado demais para aceitar um convite para um passeio, essa resposta pode

:2
22
produzir tanto a evitação de um programa que seria aversivo naquele contexto,

0
como críticas de seus amigos e ameaças de não mais convidá-lo para nada. Alguém

02
/2
que, no mesmo contexto, aceita o convite, pode produzir a aprovação dos amigos,

01
mas, também, a condição aversiva de passear quando preferiria estar descansando.

2/
-0
Uma tentativa de classificar os tipos de consequências produzidas por

om
comportamentos assertivos/agressivos/passivos consiste em diferenciá-las quanto à

l.c
questão da aprovação social. Assim, em termos funcionais, pelo menos dois
ai
gm
conjuntos de consequências da assertividade/agressividade/passividade são
@

referidos na literatura: (a) as consequências de aprovação/desaprovação; e (b)


na
pi

outras consequências (adiante referidas como consequências reforçadoras ou


ia
ib

aversivas diversas). As consequências diversas “poderão ser entendi- das como


a.
an

satisfação de outras necessidades, consequências mediadas socialmente ou não,


ai

mas em sentido diverso àquele específico de aprovação/desaprovação” (Marchezini-


-l
1

Cunha, 2004, p. 3). Os dois conjuntos de consequências se combinam na


-6
43

manutenção de cada comportamento (assertivo, agressivo ou passivo). As


.2

combinações entre as consequências serão discutidas adiante.


10
.1

Antes de avançar na análise das consequências da


04

assertividade/agressividade/passividade para o indivíduo, será necessário


-0

considerar outra diferenciação importante. Por serem comportamentos que


A
N

ocorrem em situações interpessoais, os comportamentos assertivo, agressivo e


PI
IA

passivo envolvem necessariamente um interlocutor, sendo assim, produzem


IB

consequências também para o ambiente social com o qual o indivíduo interage. A


AL
LE

referência anterior à aprovação/ desaprovação social do comportamento pode,


A

desse modo, ser interpretada também como uma indicação do impacto do


N
IA

comportamento do indivíduo sobre o grupo.


LA

A produção de aprovação/desaprovação social pelos comportamentos


assertivo, agressivo e passivo foi investigada em diversos estudos (e.g. Epstein, 1980;
Hull & Schroeder, 1979; Kelly, Kern, Kirkley, Paterson & Keane, 1980; Schro- eder,
Rakos & Moe, 1983) por meio da análise de avaliações feitas por pessoas que
assistiram a ou vivenciaram situações que envolviam indivíduos emitindo essas
respostas. Nesses estudos, os comportamentos assertivo, agressivo e passivo
poderiam ser avaliados como agradáveis/desagradáveis, simpáticos/antipáticos,
passíveis ou não de seguimento, justos/injustos, amigáveis/não amigáveis, entre
outros. Comportamentos passivos receberam avaliações mais positivas (tais como

| 3
agradável, amigável, simpático) que os demais comportamentos (cf. Epstein, 1980;
Hull & Schroeder, 1979). Comportamentos assertivos também receberam avaliações
positivas (justo, passível de seguimento), embora tenham também recebido
avaliações negativas (como desagradável e antipático) (cf. Hull & Schroeder, 1979;
Kelly & cols., 1980; Schroeder & cols., 1983). Comportamentos agressivos receberam
avaliações predominantemente negativas (cf. Epstein, 1980; Hull & Schroeder, 1979).
Transpondo os resultados dos estudos de impacto social de comportamentos

18
assertivo/passivo/agressivo para a vida cotidiana, pode-se supor que o

1:
comportamento passivo produz aprovação social em maior escala que os demais

:2
22
com- portamentos, muito embora não seja eficiente na produção de consequências

0
reforçadoras diversas. Já o comportamento agressivo produz mais

02
/2
consistentemente desaprovação social, apesar de produzir também consequências

01
reforçadoras diversas de maior valor (ou mais prontamente) do que aquelas

2/
-0
produzidas pelos comportamentos assertivo e passivo. O comportamento assertivo,

om
por sua vez, é eficiente tanto na produção de consequências reforçadoras diversas

l.c
(embora menos que o agressivo) quanto na produção de aprovação social (ou
ai
gm
evitação da desaprovação social); em certos contextos, porém (por exemplo,
@

quando o indivíduo deixou de ser passivo e tornou-se assertivo), esse


na
pi

comportamento produz também a desaprovação social.


ia
ib

O que as avaliações sociais (positivas ou negativas) de cada um dos


a.
an

comportamentos analisados indicam é o tipo de consequências que os


ai

comportamentos do indivíduo produzem para o grupo. Comportamentos agressivos


-l
1

consistentemente produzem estímulos aversivos ou perda de reforçadores para o


-6
43

grupo, recebendo assim avaliações negativas. Por exemplo, que avaliação o grupo
.2

faria de um indivíduo que, ao receber um pedido de empréstimo, diz (gritando,


10
.1

gesticulando muito) algo como “Qual é, seu idiota? Está me achando com cara de
04

banco? Vá procurar outro trouxa!”? Esse comportamento produz para o indivíduo


-0

consequências reforçadoras diversas (ou evita a retirada de reforçadores), sendo,


A
N

portanto, eficaz desse ponto de vista. No entanto, a avaliação que o grupo faz de seu
PI
IA

comportamento é certamente negativa e as pessoas passam a evitar o contato com


IB

esse indivíduo, assim não se expõem às consequências aversivas produzidas por seu
AL
LE

comportamento.
A

Já comportamentos passivos produzem consequências reforçadoras para o


N
IA

grupo, ou no mínimo não produzem consequências aversivas e, assim, esses


LA

comportamentos tendem a ser avaliados positivamente pelo grupo. Em situa- ção


semelhante à descrita no exemplo anterior, um indivíduo que também passa por
dificuldades financeiras recebe um pedido de empréstimo, respondendo, em voz
baixa, olhando para o chão, algo como “É... humm... está bem, eu te em- presto...”.
Apesar da consequência aversiva produzida por esse comportamento – o indivíduo
ficará sem dinheiro para pagar as próprias contas – ele se mantém, muito provavel-
mente controlado pelas consequências de aprovação social. O grupo avalia
positivamente um comportamento como o do indivíduo do exemplo – “Ele sempre
está disponível, mesmo quando passa por dificuldades! É um ótimo amigo...”. Por

| 4
seu lado, o grupo mantém contato com o indivíduo passivo, uma vez que esse
contato é reforçado positivamente.
Comportamentos assertivos podem produzir tanto consequências aversivas
para o grupo, como reforçadoras. Uma maneira de o indivíduo prever as
consequências de seu comportamento assertivo (e tentar, a partir disso, emitir uma
resposta mais provável de ser reforçada) é discriminar e avaliar o contexto no qual
está inserido (cf. Falcone, 2001; Lewis & Gallois, 1984; McFall & Lillesand, 1971). Para

18
isso, o autoconhecimento e a empatia são importantes, na medida em que a

1:
discriminação dos próprios sentimentos, dos sentimentos do interlocutor e das

:2
22
variáveis das quais esses sentimentos são função facilita a emissão de respostas que

0
respeitem cada uma das partes, maximizando a produção de consequências

02
/2
reforçadoras (diversas e de aprovação social) para ambas e protegendo assim a

01
relação interpessoal.

2/
-0
É possível afirmar, portanto, que comportamentos agressivos são

om
controlados predominantemente por consequências reforçadoras diversas, de

l.c
maior valor reforçador (e assim pode-se apontar tanto a obtenção ou manutenção
ai
gm
de bens materiais como a esquiva de contatos sociais aversivos), enquanto
@

comportamentos passivos são predominantemente controlados por consequências


na
pi

de aprovação social, de maior valor reforçador (muito embora consequências de


ia
ib

outra natureza também possam ser produzidas, mas com um menor valor
a.
an

reforçador). Como observam Hull e Schroeder (1979), a avaliação positiva dos


ai

comportamentos passivos “sugere que pessoas passivas que desejam aprender a se


-l
1

comportar assertivamente são provavelmente mais motivadas por suas próprias


-6
43

insatisfações com seu comportamento [provavelmente ocasionadas pela baixa


.2

produção de reforçadores diversos] do que por avaliações adversas de outras


10
.1

pessoas” (p. 27).


04

Comportamentos assertivos poderiam, talvez, ser considerados como em


-0

desvantagem, com menor probabilidade de serem selecionados, porque podem


A
N

resultar em consequências reforçadoras diversas de menor magnitude, ou mais


PI
IA

atrasadas (comparativamente com comportamento agressivos), ou em menor


IB

probabilidade de aprovação social (comparativamente com o comportamento


AL
LE

passivo). No entanto, é possível que o comportamento assertivo seja mantido


A

também pela esquiva de consequências aversivas de maior valor (tanto


N
IA

consequências de desaprovação, que seriam produzidas por respostas agressivas,


LA

quanto consequências aversivas diversas, que seriam produzidas por respostas


passivas).
Pode-se ainda supor que indivíduos assertivos respondam dessa maneira sob
controle de contingências sociais adicionais àquelas referidas até aqui (de
aprovação/desaprovação). Nesse sentido, cabe uma análise de aspectos culturais na
determinação de comportamentos assertivos.
Fonte: V. Marchezini-Cunha & E.Z. Tourinho . Assertividade e Autocontrole:
Interpretação Analítico-Comportamental. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Abr-Jun

| 5
2010, Vol. 26 n. 2, pp. 295-304. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26n2/a11v26n2.pdf

A assertividade pode ser treinada. O treinamento de assertividade, por


exemplo, é uma prática adequada para ensinar empregados de determinado setor a

18
reduzir o estresse decorrente de demanda de trabalho considerada excessiva.

1:
Esse treino, no campo laboral, é indicado para a prevenção do estresse

:2
22
laboral. Para tanto, deve basear-se em um programa típico que instrui sobre

0
técnicas de relaxamento, habilidades para lidar com o estresse, capacidade de ouvir

02
/2
e métodos para lidar com pessoas difíceis, gerenciamento do tempo e assertividade

01
em si.

2/
-0
om
Equipes interdisciplinares: interdisciplinaridade e

l.c
ai
multidisciplinaridade – aspectos gerais gm
@
na

Interessa-nos, para fins de concurso, entender como essas equipes de saúde se


pi
ia

relacionam. Seu objetivo é claro: trabalhar com a saúde, mas quais as diferenças
ib
a.

entre elas? Para diferenciar, devemos ter em foco a interação e a composição. A


an

interação é interdisciplinar quando alguns especialistas discutem entre si a


ai
-l

situação de um trabalhador/paciente sobre aspectos comuns a mais de uma


1
-6

especialidade. É multidisciplinar quando existem vários profissionais atendendo o


43
.2

mesmo trabalhador/paciente (de maneira independente). É transdisciplinar


10

quando as ações são definidas e planejadas em conjunto. Na prática, poucos são os


.1
04

trabalhos que contemplam essa diferenciação. Independentemente do termo


-0

empregado, há expectativas de que profissionais da saúde sejam capazes de


A
N

ultrapassar o desempenho técnico baseado em uma única arte ou especialização.


PI
IA

Veja um quadro com distinções:


IB

Multidisciplinaridade Interdisciplinaridade Transdisciplinaridade


AL

- Envolve mais de uma - Envolve mais de uma - Representar um nível de


LE

disciplina disciplina integração disciplinar


A
N

- Cada disciplina - Adota uma perspectiva além da


IA
LA

envolvida mantém sua teórico-metodológica interdisciplinaridade


metodologia e teoria sem comum para as disciplinas - Etapa Superior de
modificações envolvidas integração onde não existe
- Não há integração dos - Promove a integração fronteira entre as
resultados obtidos dos resultados disciplinas
- Busca a solução de um - Busca a solução dos - Um sistema de disciplina
problema imediato, sem problemas através da inovado (supera o
explorar a articulação. articulação das disciplinas conceito de disciplina)
- Os interesses próprios de - Nenhum saber é mais
cada disciplina são importante que outro

| 6
preservados
Macete: MIT

A ideia aqui é entender que a visão interdisciplinar é mais amadurecida que a


visão multidisciplinar por apresentar um compromisso com a construção comum de
um arcabouço teórico para explicar o fenômeno estudado (mas sem perder a
individualidade de cada profissão). Mais especificamente, é importante saber que o

18
conhecimento do psicólogo deve ser considerado importante na construção do

1:
diagnóstico do médico do trabalho, por exemplo, no entendimento do processo de

:2
22
saúde.

0
02
Creio que ainda seja necessário fazer uma série de esclarecimentos adicionais

/2
sobre equipe multidisciplinar e equipe interdisciplinar. A primeira diz respeito

01
2/
apenas a variedade de profissionais em uma dada equipe: ela pode ser formada por

-0
profissionais das diferentes áreas: médicos, enfermeiros, odontólogos, etc. Contudo,

om
o conceito de interdisciplinariedade vai além disso segundo Japiassu:

l.c
a) a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das
ai
gm
trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no
@

interior de um projeto específico de pesquisa. [...] O fundamento do espaço


na
pi

interdisciplinar deverá ser procurado na negação e na superação das


ia
ib

fronteiras disciplinares. [...]


a.
an

b) “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das


ai

trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas”.


-l
1

c) “A interdisciplinaridade é o princípio da máxima exploração


-6
43

das potencialidades de cada ciência, da compreensão dos seus limites, mas,


.2

acima de tudo, é o princípio da diversidade e da criatividade (...) não


10
.1

podendo jamais ser elemento de redução a um denominador comum, mas


04

elemento teórico-metodológico da diferença e da criatividade”.


-0

d) O conceito de interdisciplinaridade fica mais claro quando se


A
N

considera o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo


PI
IA

permanente como os outros conhecimentos, que pode ser de


IB

questionamento, de confirmação, de complementação, de negação, de


AL
LE

ampliação, [...].
A
N
IA

Em resumo, pode-se dizer que para que a interdisciplinaridade possa ser


LA

posta em prática, é necessário que haja uma equipe formada por vários
profissionais. Mas, a existência dessa equipe não é garantia que essa troca intensa
de saberes característica do trabalho interdisciplinar aconteça.
Já que estamos entrando na área de saúde, qual a definição que devemos
utilizar? Recomendo trabalharmos com a da OMS:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como a
ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e
social. Essa definição, até avançada para a época em que foi realizada, é, no
momento, irreal, ultrapassada e unilateral.

| 7
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-
89101997000600016&script=sci_arttext

Em outras palavras, segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, a saúde


é vista como um estado harmônico e multidimensional composto pelo bem estar
físico, mental e social. Assim, o papel do psicólogo é relevante no processo de
compreensão dos fenômenos de saúde e doença no trabalho e sua atuação

18
interdisciplinar deve ultrapassar a mera consulta a outros especialistas, como

1:
ocorre no trabalho multidisciplinar, para articular constructos que proporcionem

:2
22
um entendimento mais realista das situações humanas nas organizações.

0
02
/2
01
Atuação do psicólogo nos níveis primário,

2/
-0
secundário e terciário em saúde.

om
l.c
ai
gm
É IBRAE gente, não vamos titubear aqui. Primeiro vou explicar alguns pontos
@
que sempre confundem aquele candidato que está há mais tempo nessa área e que
na

ainda mantém alguns vícios. Ação básica de saúde é a mesma coisa que níveis de
pi
ia

atenção à saúde e níveis de prevenção à saúde. O Ministério da Saúde passou a


ib
a.

adotar a terminologia de nível básico, de média complexidade e de alta


an

complexidade no início da década de 1990 em função da precisão dos termos


ai
-l

utilizados.
1
-6

Podemos fazer, então, a seguinte associação:


43
.2
10

Nível de atenção à saúde Ação Nível de assistência à


.1
04

saúde
-0

Prevenção primária Promoção e Prevenção Atenção básica


A
N

Prevenção secundária Diagnóstico e Tratamento Média complexidade


PI
IA

Prevenção terciária Reabilitação Alta complexidade


IB
AL

É fundamental que comecemos pelos níveis de assistência à saúde do ponto


LE

de vista do Sistema Único de Saúde – SUS. No SUS, o cuidado com a saúde está
A
N
IA

ordenado em níveis de atenção, que são a básica, a de média complexidade e a de


LA

alta complexidade. Essa estruturação visa a melhor programação e planejamento


das ações e serviços do sistema. Não se deve, porém, considerar um desses níveis de
atenção mais relevante que outro, porque a atenção à Saúde deve ser integral.
A atenção básica é o ponto de contato preferencial dos usuários com o SUS e
seu primeiro contato, realizado pelas especialidades básicas da Saúde, que são:
clínica médica, pediatria, obstetrícia, ginecologia, inclusive as emergências
referentes a essas áreas. Cabe também à atenção básica proceder aos
encaminhamentos dos usuários para os atendimentos de média e alta
complexidade. Uma atenção básica bem organizada garante resolução de cerca de
80% das necessidades e problemas de saúde da população de um município e

| 8
consolida os pressupostos do SUS: eqüidade, universalidade e integralidade. A
estratégia adotada pelo Ministério da Saúde, como prioritária para a organização da
atenção básica é a estratégia Saúde da Família, que estabelece vínculo sólido de co-
responsabilização com a comunidade adscrita. A responsabilidade pela oferta de
serviços de atenção básica à saúde é da gestão municipal, sendo o financiamento
para as ações básicas à saúde de responsabilidade das três esferas de governo.
A média complexidade compõem-se por ações e serviços que visam atender

18
aos principais problemas de saúde e agravos da população cuja prática clínica

1:
demande disponibilidade de profissionais especializados e o uso de recursos

:2
22
tecnológicos de apoio e diagnóstico terapêutico. A alta complexidade, por sua vez,

0
é um conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta tecnologia e

02
/2
alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços qualificados,

01
integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde (atenção básica e de média

2/
-0
complexidade).

om
Vejamos onde cada uma dessas ações se organiza originalmente.

l.c
Atenção básica à Saúde Média Complexidade Alta complexidade
ai
Programa de Saúde da Família e Ambulatórios gm Hospitais
@

Unidade Básica de Saúde


na
pi

(postos de saúde).
ia
ib

Atenção: O que está descrito na tabela retrata o local de atuação preferencial dos
a.
an

tipos de atenção à saúde. Perceba que um posto de saúde pode ter ações de
ai

reabilitação e de ação sobre a patologia em si, assim como os níveis de média e alta
-l
1

complexidade podem trabalhar com prevenção a agravos ou à instalação de


-6
43

doenças (apesar deste não ser seu fim precípuo).


.2
10
.1
04

Promoção, Prevenção e Reabilitação.


-0
A
N
PI

A prevenção é definida como uma ação antecipada, baseada no


IA
IB

conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior


AL

da doença. A prevenção apresenta-se em três fases. A prevenção primária é a


LE

realizada no período de pré-patogênese. O conceito de promoção da saúde aparece


A
N

como um dos níveis da prevenção primária, definido como “medidas destinadas a


IA

desenvolver uma saúde ótima”. Um segundo nível da prevenção primária seria a


LA

proteção específica “contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de


barreiras contra os agentes do meio ambiente”. A fase da prevenção secundária
também se apresenta em dois níveis: o primeiro, diagnóstico e tratamento precoce e
o segundo, limitação da invalidez. Por fim, a prevenção terciária que diz respeito a
ações de reabilitação.

| 9
18
1:
:2
22
Esquematicamente, podemos definir:

0
02
Promoção Prevenção Reabilitação

/2
01
Educação em saúde, bons No campo da As ações de recuperação à

2/
padrões de alimentação e proteção à saúde, saúde envolvem o

-0
nutrição, adoção de estilos são exemplos de diagnóstico e o tratamento

om
l.c
de vida saudáveis, uso ações: vigilância de doenças, acidentes e

ai
adequado e epidemiológica, danos de toda natureza, a
gm
desenvolvimento de vacinações, limitação da invalidez e a
@
na

aptidões e capacidades, saneamento básico, reabilitação. Essas ações são


pi
ia

aconselhamentos vigilância sanitária, exercidas pelos serviços


ib
a.

específicos, como os de exames médicos e públicos de saúde


an

cunho genético e sexual. Por odontológicos (ambulatoriais e hospitalares


ai
-l

meio dessas ações, são periódicos, entre A reabilitação à saúde


1
-6

estimuladas as práticas da outros consiste na recuperação


43

ginástica e outros exercícios parcial ou total das


.2
10

físicos, os hábitos de higiene capacidades no processo de


.1

pessoal, domiciliar e doença e na reintegração do


04
-0

ambiental e, em indivíduo ao seu ambiente


A

contrapartida, social e à sua atividade


N
PI

desestimulados o profissional. Com essa


IA
IB

sedentarismo, o tabagismo, finalidade, são utilizados não


AL

o alcoolismo, o consumo de só os serviços hospitalares,


LE

drogas, a promiscuidade como os comunitários,


A
N

sexual. visando à reeducação e ao


IA
LA

treinamento, ao reemprego
do reabilitado ou à sua
colocação seletiva, através de
programas específicos junto
às indústrias e ao comércio,
para a absorção dessa mão
de obra
Campanhas educativas no Identificação de Recuperação, readaptação e
trabalho problemas no reabilitação
trabalho

| 10
Prevenção primária (universal, seletiva e indicada)
Ainda dentro desse campo, precisamos definir os três tipos de prevenção
primária: universal, seletiva e indicada.
Sobre isso:

18
Nesse sentido, a prevenção e a promoção da saúde, em particular da saúde mental,

1:
:2
devem contemplar a avaliação da presença de fatores protetores/indicadores

22
positivos para além dos indicadores de risco e de doença (Jessor, Turbin & Costa,

0
02
1998; Iglesias, 2002; Substance Abuse and Mental Health Services Administration

/2
01
[SAMHSA], 2002; Keyes, 2006; World Health Organization [WHO], 2004).

2/
No que se refere à prevenção do consumo de substâncias psicoativas, o

-0
Institute of Medicine (IOM), com base nos modelos compreensivos e de influência

om
l.c
social, preconiza que a intervenção preventiva deve ser operacionalizada através da

ai
avaliação dos fatores de risco associados dos indivíduos, tendo proposto um
gm
modelo operacional para o desenho das intervenções que contempla os níveis:
@
na

universal, seletiva e indicada (IOM, 1994, 2009).


pi
ia

A Prevenção Universal é dirigida à população geral sem prévia análise do


ib
a.

grau de risco individual. Toda a população é considerada como tendo o mesmo nível
an

de risco em relação ao abuso de substâncias e como podendo beneficiar dos


ai
-l

programas de prevenção. Os programas de prevenção universal variam no tipo,


1
-6

estrutura e duração. Os seus componentes contemplam a informação e o


43

desenvolvimento de competências entre outros.


.2
10

A Prevenção Seletiva é dirigida a subgrupos ou segmentos da população


.1

geral com características específicas identificadas como de risco para o consumo de


04
-0

substâncias psicoativas. O risco é avaliado em função dos fatores que o grupo


A

apresenta em relação ao abuso de substâncias, não sendo avaliado o grau de risco


N
PI

individual. Os programas de prevenção seletiva são de média ou longa duração,


IA
IB

variam no tipo e estrutura e os componentes contemplam a informação e o


AL

desenvolvimento de competências, entre outros.


LE

A Prevenção Indicada dirige-se a indivíduos com comportamentos de risco,


A
N

que exibem sinais de uso de substâncias psicoativas ou que apresentam outros


IA
LA

comportamentos de risco ou problemáticos de dimensão subclínica. É avaliado o


nível de risco individual. Os programas de prevenção indicada são de longa duração,
variam no tipo e estrutura e os componentes contemplam tal como nos níveis
anteriores a informação e o desenvolvimento de competências, entre outros (IOM,
1994, 2009).
Prevenção Ambiental
Mais recentemente tem sido desenvolvida outra abordagem em prevenção,
designada Prevenção Ambiental, que visa a alteração das normas sociais, através de
estratégias globais que intervêm ao nível da sociedade e dos sistemas sociais. Estas
estratégias preconizam a transformação dos ambientes culturais, sociais, físicos e

| 11
económicos, que interferem com as escolhas individuais do uso de substâncias
psicoativas. Neste âmbito, inserem-se medidas legislativas nacionais e
internacionais relativas ao consumo e venda de substâncias psicoativas ilícitas e
lícitas, como por exemplo, a taxação fiscal de produtos como o álcool e o tabaco, a
exposição a mensagens publicitárias, o controlo da idade de venda dos mesmos ou
ainda medidas em contextos particulares, como o meio escolar, que regulamentam
o seu uso para toda a comunidade escolar (alunos, professores, profissionais e

18
responsáveis pelos alunos) (EMCDDA, 2011).

1:
Fonte: Prevenção. Serviço Nacional de Saúde de Portugal. Disponível em:

:2
22
http://www.sicad.pt/PT/Intervencao/PrevencaoMais/SitePages/Home%20Page.aspx

0
02
/2
Ainda sobre isso:

01
2/
O que é? Onde se aplica?

-0
Intervenção universal – são Intervenção universal – na comunidade,

om
programas destinados à população em ambiente escolar e nos meios de

l.c
ai
geral, supostamente sem qualquer comunicação. gm
fator associado ao risco.
@
na

Intervenção seletiva – são ações Intervenção seletiva – por exemplo, em


pi
ia

voltadas para populações com um ou grupos de crianças, filhos de dependentes


ib
a.

mais fatores associados ao risco de uso químicos.


an

de substâncias.
ai
-l

Intervenção indicada – são Intervenção indicada – em programas que


1
-6

intervenções voltadas para pessoas visem diminuir o consumo de álcool e outras


43
.2

identificadas como usuárias ou com drogas, mas também a melhora de aspectos


10

comportamentos de risco relacionados da vida do indivíduo como, por exemplo,


.1
04

direta ou indiretamente ao uso de desempenho acadêmico e reinserção social.


-0

substâncias, como por exemplo, alguns


A
N

acidentes de trânsito.
PI
IA
IB

Para finalizarmos....
AL
LE
A
N
IA

Sigerist (1946) definiu quatro tarefas como essenciais a medicina: promoção


LA

da saúde, a prevenção das doenças, a recuperação e a reabilitação. É necessário


esclarecer as diferenças entre promoção e prevenção. As bases conceituais do
movimento da medicina preventiva foram sistematizada no livro de Leavel e Clark
“Medicina Preventiva” (1976, com primeira edição em 1958). Os principais
fundamentos são:
a) A “tríade ecológica” que delineia o modelo de causalidade das doenças a
partir das relações entre agente, hospedeiro e meio-ambiente.
b) O conceito de história natural das doenças “todas as interrelações do
agente, do hospedeiro e do meio ambiente que afetam o processo global e seu

| 12
desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no
meio ambiente ou em qualquer outro lugar (pré-patogênese), passando pela
resposta do homem ao estímulo, até às alterações que levam a um defeito,
invalidez, recuperação ou morte (patogênese)” (Leavel e Clark 1976:15). - O conceito
de prevenção definido como “ação antecipada, baseada no conhecimento da
história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença” (Leavel
e Clark, 1976:17). A prevenção contaria com três etapas: primária secundária e

18
terciária A prevenção primária é a efetivada no período de pré-patogênese. O

1:
conceito de promoção da saúdem nesse contexto,consistiria em um dos níveis da

:2
22
prevenção primária, definido como “medidas destinadas a desenvolver uma saúde

0
ótima” . Uma segunda dimensão da prevenção primária seria a proteção específica

02
/2
“contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes

01
do meio ambiente”. A etapa da prevenção secundária também se apresenta em dois

2/
-0
níveis: o primeiro, diagnóstico e tratamento precoce e o segundo, limitação da

om
invalidez. Por fim, a prevenção terciária que diz respeito a ações de reabilitação

l.c
(,Leavel e Clark 1976).
ai
gm
Como se pode notar, propostas de promoção da saúde em Leavell& Clark
@

privilegiavam ações educativas normativas voltadas para indivíduos, famílias e


na
pi

grupos (Buss, 2003). O ideário da medicina preventiva acabou por reduzir os


ia
ib

aspectos sociais do processo saúde e doença, criando modelos a-históricos de


a.
an

explicação do adoecimento humano (Arouca, 1975). Assim, as ações de promoção


ai

da saúde, apresentadas como componente da prevenção primária, estão bem


-l
1

aquém da incisiva compreensão da relação entre saúde e sociedade propagada nos


-6
43

estudos de medicina social no século XIX.


.2

Em 1974, surgiu no Canadá o movimento pela promoção da saúde,


10
.1

divulgado através do documento O movimento de promoção da saúde surgiu no


04

Canadá, em 1974 “A new perspective on the health of Canadians”, também chamado


-0

de como Informe Lalonde. A realização deste estudo teve como base a verificação
A
N

dos os custos crescentes da assistência a saúde e o questionamento do modelo


PI
IA

medico-centrado no manejo das doenças crônicas, visto que as práticas em saúde


IB

usando esta perspectiva demonstravam resultados apresentados pouco


AL
LE

significativos (Buss, 2003). O Informe Lalonde deixava claro que o ambiente, o estilo
A

de vida e não apenas os aspectos biológicos estavam envolvidos na gênese na


N
IA

morbidade e mortalidade no Canadá. A divulgação desse documento possibilitou a


LA

realização da I Conferencia Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, em


1978, em Alma-Ata que teve ampla influência em quase todos os sistemas de saúde
ao redor do mundo (Buss, 2003). Em 1986, aconteceu a I Conferência Internacional
sobre Promoção da Saúde, que deu origem a Carta de Ottawa. De acordo com este
documento, “promoção da saúde e o nome dado ao processo de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo
uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de
completo bem-estar físico, mental e social (...) Nesse sentido, a saúde e um conceito
positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades

| 13
físicas. Assim, a promoção da saúde não e responsabilidade exclusiva do setor saúde
vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global”
(Carta de Ottawa, 1986, p.1).
Desde esta publicação, o conceito de promoção em saúde veio se
modificando e atualmente relaciona-se a valores tais como vida, saúde,
solidariedade, equidade, democracia, cidadania, desenvolvimento, participação e
parceria. Além disso, está associado também a ideia de “responsabilização

18
múltipla”, pois abrange ações do Estado (políticas publicas saudáveis), das pessoas

1:
(desenvolvimento de habilidades pessoais), do sistema de saúde (reorientação do

:2
22
sistema de saúde) e de parcerias intersetoriais (Buss, 2003). As ações preventivas pro

0
outro lado, dizem respeito a intervenções feitas no sentido de evitar doenças

02
/2
específicas, com objetivo de reduzir sua incidência e prevalência na população. Para

01
tanto, fundamentam-se no conhecimento epidemiológico sobre as doenças e outros

2/
-0
agravos específicos (Czeresnia, 2003). A prevenção compreende então, as ações de

om
detecção, controle e enfraquecimento dos fatores de risco de enfermidades, tendo

l.c
como foco as doenças e os mecanismos para tratá-las. (BUSS, 2003).
ai
gm
A recuperação e a reabilitação, por sua vez, não são medidas antecipatórias
@

aos agravos e doenças. Assim, são processos que ocorrem após a ocorrência destes.
na
pi

A Reabilitação é um processo de no qual há implantação de fins terapêuticos


ia
ib

específicos. Estes fins podem ser os mais diversos e desta forma, esta não é uma
a.
an

área de que seja exclusiva de qualquer profissional, e sim uma proposta de atuação
ai

multiprofissional voltada para a recuperação e o bem-estar bio-psico-social do


-l
1

indivíduo. A reabilitação ocorre para que a recuperação do indivíduo se materialize,


-6
43

ou seja, a recuperação pode ocorrer a partir das atividades executadas no processo


.2

de reabilitação. Tem por objetivo restaurar movimentos e funções comprometidas


10
.1

depois de uma doença, agravo ou acidente, para que o indivíduo se torne mais
04

funcional.
-0

Na reabilitação psicossocial, a equipe de saúde mental deve ter me mente


A
N

que há três aspectos básicos a serem considerados nesse processos: casa, trabalho e
PI
IA

lazer. Nesta perspectiva, a reabilitação consiste em um conjunto de estratégias que


IB

propiciam o resgate da singularidade, da subjetividade e do respeito à pessoa com


AL
LE

sofrimento psíquico, proporcionando lhe qualidade de vida mais elevada. Cabe à


A

equipe de saúde mental compreender o indivíduo de maneira integral. Para isso, é


N
IA

necessário construir um novo paradigma de saúde/doença mental que busque o


LA

desenvolvimento de uma relação saudável. Finalmente, pode-se afirmar que os


quatro processos (promoção, prevenção, reabilitação e recuperação) tem um fim
comum: o estabelecimento da saúde em todas as suas dimensões.
Fonte: Ministério da Saúde. Curso de Aperfeiçoamento em Implementação da
Política Nacional de Promoção da Saúde: Programa Academia da Saúde. Brasília –
DF. 2015.

| 14
EXTRA: Reabilitação psicossocial, clínica da subjetividade,
compreensão do sofrimento psíquico e interdisciplinaridade.
Não, reabilitação psicossocial não é um campo de interesse antigo na
humanidade. Na verdade: a reabilitação psicossocial do portador de transtorno
mental é um conceito forjado no interior do movimento brasileiro de Reforma
Psiquiátrica, tendo como referência, propostas da Psiquiatria Democrática,

18
1:
responsável pelo aprofundamento, na década de 1970, na Itália, da crítica aos asilos,

:2
dando vez à promulgação da Lei nº 180/78. Liderada por Franco Basaglia, a

22
0
Psiquiatria Democrática defendia a ruptura com o paradigma clínico, com a relação

02
linear causa e efeito, na concepção da loucura, e com o rótulo de periculosidade do

/2
01
doente mental, negando a instituição psiquiátrica e propondo uma alternativa nova

2/
-0
de tratamento2.

om
Mas, o que é reabilitação psicossocial? É um tratamento oferecido de forma

l.c
interdisciplinar que tem como objetivo fazer com que o sujeito regresse às

ai
gm
atividades funcionais da vida diária. Em outras palavras, é reintegrar o sujeito ao seu
@
grupo de origem com o menor prejuízo possível.
na

Na definição da International Association of Psychosocial Rehabilitation


pi
ia

Services seria o processo de facilitar ao indivíduo com limitações, a


ib
a.

restauração, no melhor nível possível de autonomia do exercício de


an

suas funções na comunidade. O processo enfatizaria as partes mais


ai
-l

sadias e a totalidade de potencialidades do indivíduo, mediante uma


1
-6

abordagem compreensi- va e um suporte vocacional, residencial,


43
.2

social, recreacional, educacional, ajustadas às demandas sin- gulares


10

de cada indivíduo e a cada situação de modo personalizado


.1
04

Fonte: Pratt W, Gil KJ, Barret NM. Psychiatric rehabilitation. London:


-0

Academic Express; 1999.


A
N

Mas, em que casos a reabilitação psicossocial é indicada? Segundo Santos


PI
IA

(2008, p. 71-723), a reabilitação aplica-se em três dimensões:


IB

A primeira, impairment, refere-se a uma alteração, deterioração e/ou


AL

diminuição da função psicológica, social, anatômica ou fisiológica,


LE

que seria determinada por algum dano orgânico ou funcional e as


A
N

formas de tratamento envolveriam medicamentos, psicoterapia,


IA
LA

fisioterapia e qualquer outra especialidade necessária.


A segunda, disabitily, seria a restrição ou carência de habilidades para
o desempenho de atividades socialmente necessárias advindas do

2
Fonte: Kinoshita RT. Uma experiência pioneira: a reforma psiquiátrica italiana. In: Marsiglia
RG, Dallari DA, Costa JF, Moura Neto FDM, Kinoshita RT, Lancetti A. Saúde mental e
cidadania. São Paulo (SP): Mandacaru; 1987. p.77-8.
3
Disponível em:
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/esporte/conceitos-para-
definicao-de-reabilitacao-psicossocial/42419

| 15
dano (impairment). As formas de tratamento seriam a laborterapia, o
treinamento em habilidades sociais e a reabilitação vocacional.
Já no caso do handicap, ou seja, das desvantagens advindas de uma
alteração (impairment) ou de desabilidades (disabitily), resultantes de
uma alteração de longo prazo do estado “normal” de uma pessoa, o
tratamento seria mais complexo e chegaria a envolver alternativas
residenciais e programas de suporte comunitário nas áreas de

18
trabalho, educação, transporte e lazer.

1:
:2
22
Esse tipo de trabalho conta com a ajuda de psicólogos, assistentes sociais,

0
médicos, enfermeiros e outros profissionais. A composição da equipe depende do

02
/2
tipo de reabilitação pretendida. Geralmente atuamos no campo da saúde mental

01
e sobre o sofrimento do paciente. Portanto, é preciso desenvolver uma clínica da

2/
-0
subjetividade, particularizando cada caso para o gerenciamento do sofrimento.

om
Em nossa rede de atenção à saúde mental, cabe ao CAPS trabalhar

l.c
primariamente com esse tipo de serviço. Nesses equipamentos a dicotomia
ai
gm
saúde/doença é superada e seu principal foco é a desinstitucionalização.
@

Segundo Oliveira (1999)4 o conceito de desinstitucionalização abrange não


na
pi

somente a desconstrução do manicômio, mas também seus saberes e estratégias,


ia
ib

mediante uma assistência pautada na noção de existência-sofrimento do paciente e


a.
an

sua relação com o corpo social. A complexidade desse conceito remete a um


ai

problema ético e de cidadania, enquanto noção básica do processo de reabilitação


-l
1

psicossocial. A ética surge como princípio norteador das ações de combate à


-6
43

exclusão, à violência e ao estigma do doente mental. A cidadania, por sua vez,


.2

compreende o processo que envolve a luta pelos direitos civis, políticos e sociais. É
10
.1

interessante destacar que a separação dos dois conceitos é meramente formal. Na


04

verdade, é a ética que oferece sentido às ações sociais. Por sua vez, a própria idéia
-0

de cidadania é balizada, eticamente, por aqueles que querem implementá-la. A


A
N

cidadania, não raro, é expressa como igualdade de oportunidades, em situações


PI
IA

básicas de desigualdade. Ainda, em outros contextos, o exercício de cidadania


IB

significa a busca de realização concreta de dispositivos assegurados pelo arcabouço


AL
LE

jurídico. No caso de o Estado afirmar, por exemplo, que todos devem ter acesso à
A

educação e à saúde, de qualidade, tal fato implicaria articular, politicamente, as


N
IA

ações dos grupos sociais excluídos, para obtenção da aplicação da lei, literalmente
LA

A reabilitação é um processo de reconstrução, um exercício pleno da


cidadania e também de plena contratualidade nos três grandes
cenários: habitat, rede social e trabalho com valor social.
Fonte: Saraceno B. Libertando identidades: da reabilitação
psicossocial à cidadania possível. Rio de Janeiro: Instituto Franco
Basaglia/ Te Cora; 1999.

4
Fonte: Oliveira FB. Reabilitação Psicossocial no contexto da desinstitucionalização: utopias
e incertezas. In: Jorge MSB, Silva WV, org. Saúde mental: da prática psiquiátrica asilar ao
terceiro milênio. Fortaleza (CE): INESP/EDUECE; 1999. p. 57.

| 16
A equipe, sempre multidisciplinar e atuando de forma interdisciplinar, vai,
através de um plano terapêutico, ofertar serviços e ações para a reabilitação
psicossocial.
Sabemos que
“Existe uma relação muito estreita entre saúde mental e fatores
psicossociais. Esses fatores estão correlacionados à origem de muitos

18
transtornos psíquicos, ao desenvolvimento de todos esses

1:
transtornos e à eficácia dos serviços de atenção psiquiátrica. Dessa

:2
22
forma, percebe-se que o usuário que apresenta esses transtornos

0
deve ser estimulado a restabelecer suas relações afetivas e sociais e

02
/2
reconquistar seu papel social dentro de sua comunidade”.

01
Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.

2/
-0
Coordenação Geral de Saúde Mental e Coordenação Geral de Atenção

om
Básica. Saúde Mental e Atenção Básica – O vínculo e o diálogo

l.c
necessários, 2003 (01).
ai
gm
@

Apesar disso, há uma grande imprecisão do termo e sua operacionalização:


na
pi

As principais divergências gravitam em torno de três eixos que


ia
ib

entrecortam as práticas de reabilitação orientando suas perspectivas


a.
an

teóricas e posicionamentos clínico-políticos. Tais eixos ou categorias


ai

de análise dizem respeito à função e alcance da reabilitação, à


-l
1

definição dos cenários reabilitativos e à conceituação e


-6
43

operacionalização do construto autonomia (Guerra, 2004). A


.2

articulação das repostas produzidas para essas categorias configuram


10
.1

os territórios a partir dos quais os diferentes modelos (1) concebem o


04

ambiente social do usuário e seu grau de influência no processo


-0

reabilitativo, (2) problematizam as interações entre o contexto de vida


A
N

do usuário, sua família e a relação terapêutica, estabelecidas na


PI
IA

reinserção social, bem como (3) identificam as linhas prioritárias de


IB

ação, as habilidades e competências a serem desenvolvidas e os


AL
LE

recursos terapêuticos para desenvolvê-las.


A

Fonte: Gruska, Viktor e Dimenstein, Magda. Reabilitação psicossocial


N
IA

e acompanhamento terapêutico. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 27,


LA

n.1, p. 101 – 122, 2015


O Ministério da Saúde afirma que:
As estratégias de reabilitação psicossocial são entendidas como um
conjunto de práticas que visam promover o protagonismo para o
exercício dos direitos de cidadania de usuários e familiares da RAPS
por meio da criação e desenvolvimento de iniciativas articuladas
com os recursos do território nos campos do trabalho/economia
solidária, da habitação, da educação, da cultura, da saúde,
produzindo novas possibilidades de projetos para a vida.

| 17
Em outras palavras, a reabilitação psicossocial é constituída de
ações de emancipação junto aos usuários e familiares no sentido da
garantia de seus direitos e da promoção de contratualidade no
território. É importante ressaltar que as estratégias de reabilitação
psicossocial e de protagonismo não se restringem a um ponto de
atenção ou ações isoladas, mas envolvem a criação de novos
campos de negociação e formas de sociabilidade.

18
Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/politica-nacional-de-

1:
saude-mental-alcool-e-outras-drogas/851-saude-mental/41175-

:2
22
estrategias-de-reabilitacao-psicossocial

0
02
/2
E qual seria o papel mais específico da equipe? Segundo Jorge e

01
colaboradoras (2006)5, a reabilitação psicossocial precisa contemplar três vértices

2/
-0
da vida de qualquer cidadão: casa, trabalho e lazer. Nesta perspectiva, a reabilitação

om
consiste em um conjunto de estratégias capazes de resgatar a singularidade, a

l.c
subjetividade e o respeito à pessoa com sofrimento psíquico, proporcionando-lhe
ai
gm
melhor qualidade de vida. Cabe à equipe de saúde mental compreender o indivíduo
@

em sua integralidade, para tanto, é necessário construir um novo paradigma de


na
pi

saúde/doença mental que busque o desenvolvimento de uma relação saudável. A


ia
ib

reabilitação é uma concepção que deve estar presente, não somente no dia-a-dia de
a.
an

todo profissional de saúde comprometido com sua profissão e solidário com


ai

portador de sofrimento psíquico, mas também nas ações que caracterizam o nosso
-l
1

sistema sócio-político e pelos diversos segmentos da sociedade, uma vez que, nesse
-6
43

processo, somos todos os agentes sociais. Assim, a pesquisa visa conhecer as ações
.2

dos profissionais da equipe de saúde acerca da reabilitação, trazendo contribuições


10
.1

para a prática.
04
-0

Clínica da subjetividade e a compreensão do


A
N
PI

sofrimento psíquico
IA
IB
AL

O foco aqui é a psicanálise. É a construção de discursos e narrativas para o


LE

entendimento do outro e a melhora da qualidade de vida do paciente.


A
N

Sobre isso:
IA
LA

Nos parágrafos seguintes vamos apresentar, resumidamente, a construção


do sujeito psicanalítico com bases na linguagem, o modo de fazer a clínica da
subjetividade e a concepção da análise como um processo de construção de um
sujeito (logo, construção subjetiva) em busca de uma verdade.
Sujeito Psicanalítico e Sujeito da Linguagem

5
JORGE, Maria Salete Bessa et al . Reabilitação Psicossocial: visão da equipe de Saúde
Mental. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 59, n. 6, p. 734-739, Dec. 2006 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
71672006000600003&lng=en&nrm=iso>. access
on 22 Nov. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672006000600003.

| 18
Em seu trabalho sobre as afasias, Freud (1977 [1891]) contrapõe as hipóteses
de Wernicke e Lichtheim, sobretudo na posição localizacionista desses autores.
Nesse texto, é apresentado um esquema de associações neuronais no qual
apareciam lesões causadoras da perda da capacidade de falar espontaneamente, e
esse esquema Lichtheim chamou de aparelho de linguagem. Segundo Garcia-Roza
(2001, p. 26-27), termo semelhante (aparelho da alma) já havia sido utilizado por
Meynert e Wernicke, embora não muito frequentemente.

18
Ao refutar o aparelho de linguagem de Lichtheim, Freud constrói o seu

1:
próprio modelo. A intenção não era dissociar o problema da fala de suas bases

:2
22
orgânicas, mas excluí-lo da concepção vinculada à lesão localizada (GARCIA-ROZA,

0
2001, p. 24-25). De tal modo, Freud propõe um modelo que servia tanto aos sujeitos

02
/2
lesionados quanto aos não lesionados. A capacidade de observação clínica

01
apontava que não é somente quando há problemas fisiopatológicos que ocorrem os

2/
-0
problemas de esquecimento, as fusões de palavras e as trocas de letras são,

om
também, quando há afetos confusos envolvidos na mesma representação da

l.c
palavra.
ai
gm
Ao avançar criticamente sobre a análise de um esquema do aparelho de
@

linguagem, Freud não refutou a existência de problemas relacionados à condução


na
pi

dos estímulos, nem às lesões localizadas, no entanto indicou que esses problemas
ia
ib

ultrapassavam os limites mecânicos do aparelho e afetavam o funcionamento


a.
an

global do sistema neurológico, determinando a gênese de problemas de natureza


ai

dinâmica ou, em outras palavras, de natureza psicológica (ligada às representações,


-l
1

às associações de estímulos e às intensidades). A observação nascida da prática da


-6
43

atenção clínica permitiu a ressalva de que sujeitos normais e patológicos – os


.2

afásicos – se aproximavam no resultado final da verbalização sintomática. Era


10
.1

preciso apresentar, a partir dessa notação, nova argumentação, uma arguição que
04

tratasse de ambos os casos, dos casos afásicos e dos parafásicos, definidos por
-0

Freud como:
A
N

Por parafasia devemos entender uma perturbação da linguagem em que a


PI
IA

palavra apropriada é substituída por uma outra não apropriada que tem no entanto
IB

uma certa relação com a palavra exata. [...] trata- -se (de parafasia)... quando troca
AL
LE

palavras que tem som semelhante, [...] quando comete erros de articulação, [...]
A

quando duas intenções verbais são fundidas, [...] (FREUD, 1977 [1891]. p. 9,10).
N
IA

Podemos identificar, entretanto, a definição de parafasia como a mesma das


LA

utilizadas nas descrições de atos falhos, chistes e esquecimentos. O que as difere,


linguisticamente, e isso é um corte radical, é o transporte de sentido (de afasia) do
nível da patologia anatômica para o nível da normalidade, dos casos corriqueiros,
esporádicos e banais. A segunda diferença é que esse mesmo esquema servido ao
esclarecimento dos problemas da fala é útil à interpretação dos sonhos. Por fim,
como balizamento, ressaltamos a articulação de palavras, ou de gestos, seguindo a
mesma lógica da linguagem falada e de seus desvios. Isso serve para apontar, então,
que aqueles que se expressam pelas linguagens de sinais também cometem atos
falhos e esquecimentos, e o corpo-linguagem envolvido nos processos de

| 19
comunicação verbal segue a mesma regência do sintoma corporal histérico, por
exemplo. Vale, em síntese, afirmar que de aparelho da linguagem o modelo vai
evoluindo, ampliando e ganhando complexidade, para tornar-se o aparelho do
pensar, termo tão caro a Bion.
O aparelho do pensar se identifica, portanto, com a linguagem desde o
princípio da clínica. Mas de que linguagem nós estamos falando? A máxima
enunciada pelos seguidores de Lacan é: "o inconsciente se estrutura na forma de

18
uma linguagem" ou "o inconsciente é, em seu fundo, estruturado, tramado,

1:
encadeado, tecido de linguagem" (LACAN, 1981, p. 135). Essa é a linguagem que nos

:2
22
constitui e que aqui focamos.

0
A estruturação do pensamento na forma de linguagem, em Freud (1980 [1896]),

02
/2
relatada na carta 52 a Fliess, com elaboração bem articulada de um gráfico, aponta

01
signos, traços mnêmicos e sistema inconsciente desenvolvidos a partir do registro

2/
-0
de simultaneidade de estímulos e da associação entre esses registros, percepções e

om
sensações. Mais tarde, outras noções foram compreendidas como o registro pela

l.c
negatividade e a reorganização desses registros de tempos em tempos.
ai
gm
O aparelho de pensar é um aparelho de memória e de linguagem, embora
@

não seja um aparelho sucessivo ou substitutivo um ao outro, advertimos serem


na
pi

todas essas identificações abstrações do mesmo aparelho, cuja elaboração foi


ia
ib

gradativa. Nessa linha, pensar é, quase sempre, lembrar, e a lembrança é o registro


a.
an

linguístico do que podemos acessar ou reconstituir pela via associativa (FRAYZE- -


ai

PEREIRA, 1999).
-l
1

Da mesma forma, não temos um aparelho de sonhar. Em "A Interpretação


-6
43

dos Sonhos" (FREUD, 1980 [1900]), é apresentada uma forma de interpretação


.2

baseada em uma escritura subjetiva, em um registro cujo próprio sonhador


10
.1

constituiu pelas percepções, memórias mnêmicas e sensações associadas que,


04

reprimidas no decorrer do dia, retornam em forma de imagens nos sonhos. Mas


-0

essas imagens são constituídas a partir de registros impressos no inconsciente.


A
N

O aparelho psíquico é, portanto, um aparelho cognitivo se tomado por esse


PI
IA

vértice, e pode servir de modelo para a interpretação não somente de sonhos e de


IB

desvios de linguagem, mas de todo o comportamento, considerando sua formação a


AL
LE

partir da estrutura que funda o próprio sujeito, a estrutura inconsciente.


A

Discurso: O sujeito e a linguagem


N
IA

Nossas tradições filosóficas nos conduzem a pensar em um sujeito possuidor


LA

de uma essência. Essa essência humana hipotética pode ser identificada em várias
correntes de forma bastante evidente. Para o homem grego pré-socrático, o homem
era uma substância formada a partir dos elementos básicos: água, terra, fogo e ar,
ou, um pouco mais à frente, formado por elementos básicos que se organizavam a
partir de uma inteligência cósmica chamada nôus. Para o homem socrático, a
natureza essencial estava ligada aos deuses. O "conhece-te a si mesmo" socrático
tinha o sentido de: conheça a centelha divina que te constitui. Para o homem
medieval, a natureza humana era espiritual, devido seu pecado o homem foi jogado

| 20
num vale de lágrimas e deveria peregrinar para se religar (religião) a Deus (NANCY,
2001).
Mais próximo a nós e ainda nos constituindo, na modernidade, a razão foi
tomada como essência humana. Desta forma, o racional era o humano, o irracional
era o animalizado, bestificado, louco...
Nas abordagens psicológicas mais frequentes, em nosso meio, também há a
presença de um sujeito essencialista – um sujeito antropológico –. Alguns exemplos

18
disso são: os arquétipos, a tendência ao amadurecimento, a genética, o corpo, o

1:
gênero, a mente e a espontaneidade. Mesmo aqueles que alegam a existência

:2
22
preceder a essência reafirmam haver algo essencial.

0
As abordagens da subjetividade não consideram haver uma essência

02
/2
humana, consideram, ao contrário, que o homem seja uma construção sócio-

01
histórica, constituído na linguagem e pela linguagem. Desta forma, é pela linguagem

2/
-0
que o sujeito se autodefine, se compreende e se configura na cotidianidade. Essa

om
concepção daria corpo à possibilidade da diversidade cultural humana.

l.c
Considerando haver uma cultura que concebe a maternidade como
ai
gm
possuidora de uma essência e que toda mãe naturalmente, essencialmente, cuida
@

de seu filhote, outra cultura vai mostrar mães abandonando seus filhos
na
pi

corriqueiramente, desmascarando a naturalidade da primeira. Se a cultura do amor


ia
ib

romântico aponta para a exclusividade do amor do casal monogâmico, outras


a.
an

culturas e outras épocas mostram a artificialidade dessa construção.


ai

Da mesma forma que o homem é constituído pela linguagem, a virada


-l
1

linguística, nome dado ao movimento fundado na filosofia da linguagem


-6
43

responsável por essa concepção, afirma ser o mundo constituído pela linguagem.
.2

Muito brevemente, podemos citar a afirmação de Amaral Dias (2003): o nome mata o
10
.1

objeto. Isso significa que ao nomear qualquer objeto este passa a uma categoria
04

linguística e a ele se agrega algo da linguagem e não de sua natureza. Dar um nome
-0

é também dar um significado, uma ordem, uma categorização. Nomear é pôr em


A
N

relação com outros objetos, gerar novos sentidos e gerar uma identidade.
PI
IA

Mas não é aqui que termina essa história, ao contrário, começa o problema a
IB

ser examinado. Os símbolos e os signos não são criadores do homem, mas criados
AL
LE

pelo homem, e não há uma ditadura da linguagem que nos condiciona a olhar o
A

mundo de um único modo. Como, então, elaborar o modo de subjetivação e o papel


N
IA

da linguagem nessa constituição do sujeito?.


LA

O exercício exigido para responder a essa pergunta é o do abandono de outra


forma de ver o mundo já naturalizada, com a racionalidade moderna – o positivismo
–. O positivismo permite ao sujeito a pretensão de viver em um mundo no qual as
variáveis sejam controladas, como se pode notar em todo o experimentalismo. O
problema aqui consiste em se pensar que o sujeito tem um acesso direto ao mundo,
um acesso não mediado pela linguagem. A concepção formalista da linguagem tem
a ver com isso, na medida em que propõe a leitura do mundo plena de significação e
sem equívocos. Desta forma, o objeto representado coincide exatamente com a
representação (A=A).

| 21
A linguagem, no entanto, pode ser compreendida de forma aberta, quer
dizer, ser um ponto de conexão entre objetos e sujeitos onde caibam a criatividade e
a imaginação. Considerando a linguagem como incompleta, como não plena ou não
positiva, a hipótese de sermos constituídos por uma falta ou por uma negatividade
ganha espaço em nossa abordagem.
Ser constituído pela falta implica na razão dos movimentos de eterna
insatisfação constitutiva humana. Para esse sofrimento não há cura. Esse sofrimento

18
nos joga à procura de algo mais, e sempre há um mais, sempre há algo a se

1:
compreender ou algo de incompleto e, então, nos momentos mais importantes da

:2
22
vida diremos: não tenho palavras para expressar !... pois as palavras jamais serão

0
suficientes para traduzir ou representar o mundo, não somente o mundo mental,

02
/2
mas também o mundo dos objetos materiais.

01
A subjetividade na Clínica: um sujeito em (re)construção

2/
-0
A subjetividade no diagnóstico

om
A concepção de diagnóstico está se massificando nos últimos anos, parece

l.c
que diagnosticar significa unicamente, agora, atribuir um código por meio de
ai
gm
identificação de sintomas disciplinares ou normativos, sem nada saber a respeito da
@

constituição histórica, da função e dos mecanismos presentes no curso de uma


na
pi

resistência aos diversos atravessamentos discursivos em uma vida (FIGUEIREDO,


ia
ib

MACHADO: 2000; FIGUEIREDO, TENÓRIO, 2002).


a.
an

Isso se deve ao fato de haver alguma confusão entre as concepções das


ai

ciências médicas e as concepções das ciências do sujeito, isto é, entre a Psiquiatria e


-l
1

a Psicopatologia. Até certo ponto, a judicialização dos comportamentos


-6
43

consequentes da sociedade disciplinar e da sociedade do controle direciona este


.2

processo (cf. FOUCAULT, 1987; DELEUZE: 1992). Mas, não podemos deixar de lado a
10
.1

força da indústria farmacêutica que promete a cura das dores psíquicas com a
04

administração das pílulas da felicidade (cf. ROSE, NOVAS: 2005; ROSE, MARTINS:
-0

2010) que somadas à tentativa de unificação das linguagens sobre o sofrimento


A
N

humano, na figura dos Manuais Diagnósticos, sejam da Organização Mundial da


PI
IA

Saúde (CID) ou da Associação Americana de Psiquiatria (DSM), são responsáveis pela


IB

captura do sofrimento humano e pela tentativa de tornar qualquer sofrimento um


AL
LE

problema médico.
A

Até o final da década de 1960, a psicanálise representava o saber mais


N
IA

apropriado para a compreensão do funcionamento psíquico e, por consequência, os


LA

Manuais Diagnósticos inseriam em sua nomenclatura termos como neurose e


psicose. Com a tendência à objetivação dos diagnósticos, a partir do DSM III, que
excluía a base teórica de uma abordagem psicológica, essas definições conceituais
da psicanálise foram banidas como categorias diagnósticas e apagadas dos seus
critérios. Mas a objetividade não tratava somente o sofredor como objeto positivo,
tratava-o, sobretudo, como destituído de subjetividade (RUSSO, VENÂNCIO: 2006).
Os manuais diagnósticos cumprem, então, o papel de atribuir a qualquer
portador de um sofrimento humano um código identificatório e um destino,
independentemente de sua história, de suas resistências e de seus desejos. Desta

| 22
forma, há uma psicopatologia sem sujeito e um diagnóstico sem histórico, nem
singularidade. A linguagem é codificada e inserida no universo digital dos controles
dos indivíduos.
Para ser singular, agora, o sujeito precisa de uma nova atitude, precisa
buscar um novo comportamento que não seja previamente classificado, mas
também que não seja algo muito assustador, sob pena de exclusão social. Daí surge
um novo comportamento, um modo razoavelmente transgressor do establishment,

18
uma singularidade visual, marcada no próprio corpo. Com suporte tecnológico, as

1:
drogas e as próteses corporais de todos os tipos (de escaras e tatuagens até as

:2
22
cirurgias plásticas) vêm preencher este espaço não possível, portanto utópico, de

0
busca de singularidade e expressão da insatisfação consigo mesmo.

02
/2
Tal qual um artista sem talento que ao filiar-se a uma escola de arte reproduz

01
determinadas linhas de expressão e seus traços, ao invés de tornarem-se uma

2/
-0
demonstração criativa de uma época, tornam-se uma repetição rígida e previsível do

om
mundo imediato, os profissionais do campo psicológico estabelecem diagnósticos

l.c
que nada dizem respeito ao (do) sujeito que sofre, dizem apenas de seus índices
ai
gm
normativos, de seus desvios da média e de seus neurotransmissores deficitários.
@

Com esse modelo médico, o poder médico-disciplinar controla o sujeito, enquanto


na
pi

no modelo das ciências da subjetividade o sujeito aprende algo sobre si e o poder


ia
ib

exercido sobre ele esmaece, tornando o diagnóstico, para além de uma avaliação
a.
an

classificatória, um ato de liberdade.


ai

A subjetividade na direção do tratamento


-l
1

No tratamento psicológico estão envolvidas diversas linhas de subjetividade


-6
43

e há disputas de poder (sobre si e sobre um saber) e, portanto, de resistência em


.2

todos os momentos. A psicoterapia não pode tornar-se mais uma ou até mesmo a
10
.1

poderosa linha de subjetivação da atualidade, nem enveredar-se pelos caminhos de


04

objetivação na direção do mercado dos saberes sobre o indivíduo. Por princípio,


-0

então, o psicoterapeuta não tem nada a dizer para o seu paciente e, retomando
A
N

Winnicott (1975), o papel do terapeuta é o de aprendizagem com seus pacientes, e


PI
IA

assim se manifestava na dedicatória de seus livros: agradeço aos meus pacientes


IB

por me pagarem para que eu aprendesse com eles.


AL
LE

Bion também se expressava de forma semelhante, afirmando que o paciente


A

só cresce se o terapeuta aprende algo novo com ele. A capacidade de reverie e de


N
IA

suportar a frustração torna o analista apto ao enfrentamento da realidade (BION,


LA

1991), e, desta forma, apto a auxiliar o paciente. O significado que tanto Bion,
quanto Winnicott dão à interpretação psicanalítica é o de que uma interpretação
tem validade apenas uma única vez, e se uma interpretação se repete, o terapeuta
está confundindo pacientes, no significado mais radical do termo "com-fusão", ou
dizendo de si e apagando a alteridade do paciente.
Na situação terapêutica tradicional estão presentes os sujeitos terapeuta e
cliente. Esses são construções circunscritas ao espaço, ao tempo e a um conjunto de
práticas discursivas e não discursivas. Esse cenário enunciativo impele o primeiro à
escuta, e o segundo à fala confessional. O discurso é performativo, do discurso nasce

| 23
o sujeito, ele próprio e, nessa relação, sobre a fala, o psicoterapeuta produz um
saber compartilhado e problematizado por ambos.
A subjetividade do terapeuta pode estar carregada de desejos, memórias e
teorias (compreensões) e, se isso ocorre, sua produção será sobre seu referencial
particular, sobre seu desejo, sobre sua história e, principalmente, sobre sua teoria e
sua filiação institucional. Por esse motivo, Bion (1991) afirma que o terapeuta deve
atuar sem desejo e sem memória.

18
Ainda, antes de abordar a subjetividade do paciente, cabe lembrar que o

1:
atendimento de Freud a Anna O., acompanhado de Breuer, foi motivo de um

:2
22
acontecimento valiosíssimo à história da psicanálise. A partir de determinado ponto

0
do atendimento, Anna O. manifestou afetos de desejo sexual em relação a Breuer, e

02
/2
ele, em resposta, suspendeu suas visitas à paciente, dando-a como curada e alegou

01
que se sua esposa soubesse do acontecimento, se aborreceria (BREUER, FREUD:

2/
-0
1980 [1885]). Sem o aprofundamento que merece este tema, deixando-o para outro

om
texto, vimos aí a mostra de que a subjetividade não nasce dos atravessamentos,

l.c
mas, sobretudo, das defesas. É ao dizer não a uma sedução, a um prazer, a uma
ai
gm
intensidade ou a um atravessamento qualquer que se delineia a subjetividade.
@

Encaminho o leitor à leitura de Birman (2005) que trata desse tema com
na
pi

profundidade e clareza.
ia
ib

O que se nota nessa passagem freudiana é que a subjetividade de Breuer, que


a.
an

certamente se achava merecedor desse afeto, emergiu com uma resposta do tipo:
ai

"já sou comprometido!" O que Freud compreendeu dessa passagem foi identificado
-l
1

como a presença da contratransferência que afeta o tratamento e, somente a partir


-6
43

daí, elaborou a transferência. Observa-se, na história da psicanálise, então, a


.2

presença da subjetividade do terapeuta antes mesmo de se elaborar a subjetividade


10
.1

do paciente.
04

Da mesma forma que a subjetividade do terapeuta está posta em prova em


-0

sua interpretação, a subjetividade do paciente pode ser reconstruída a partir de sua


A
N

fala. A busca da verdade de sua história, dos movimentos e consequências deles na


PI
IA

sua construção de si mesmo, de suas escolhas e vínculos, das repetições na forma de


IB

sintomas e de pensamentos rígidos, é a tarefa a se realizar. De nada adianta


AL
LE

substituir suas próprias crenças pela crença do terapeuta, pois o pensamento do


A

terapeuta sendo rígido, do ponto de vista da teoria ou mesmo das práticas, é,


N
IA

igualmente, um mecanismo de defesa contra a realidade, uma barreira de contato.


LA

A construção de si, a partir da reconstituição de sua subjetividade, implica


necessariamente em liberdade e na busca de restos deixados de lado por escolhas
passadas, mas que significaram alianças consigo e com outros de natureza desleal. É
neste sentido que dizemos, concordando com Birman (2001), que todo sintoma é
uma formação de compromisso e uma negociação que precisa ser analisada e
desfeita sob pena de não crescimento e ausência de liberdade subjetiva.

Considerações finais

| 24
A clínica da subjetividade é, enquanto prática terapêutica, uma experiência
cuja proposta se faz desde as origens da psicanálise. No entanto, hoje, encontra
fortes resistências devido ao discurso prevalente no meio profissional, seja do ponto
de vista do diagnóstico ou do processo clínico.
A emergência do sujeito como um fator de resistência à sociedade do
controle e aos discursos disciplinares, com toda sua sutileza, força o
enfraquecimento das posições subjetivas e favorece as resoluções objetivas,

18
pragmáticas e, como dispositivo de bem-estar, abastece o sujeito pela proposta do

1:
prazer estético, dificultando as práticas de introspecção, tidas como desnecessárias

:2
22
e prejudiciais por permitirem o contato do sujeito a uma dor incurável e à

0
insatisfação proveniente de sua falta constitutiva.

02
/2
As práticas de diagnósticos sindrômicos – baseados nos sintomas –

01
preconizadas pelo uso dos manuais diagnósticos refletem a ausência da

2/
-0
subjetividade como valor a ser desenvolvido na contemporaneidade e as

om
abordagens terapêuticas que são fundamentadas em métodos e práticas de

l.c
supressão de sintomas, seja via medicamentosa ou práticas de si, a despeito da
ai
gm
história e do significado desse sintoma, corroboram a exclusão da subjetividade na
@

clínica.
na
pi

Portanto, tal qual o sujeito emerge na sua resistência aos discursos, a prática
ia
ib

da clínica da subjetividade só pode se efetivar no enfrentamento das técnicas que


a.
an

propõem o controle dos comportamentos e das práticas utilizadas


ai

independentemente de quem seja o terapeuta ou o cliente. O desenvolvimento da


-l
1

clínica da subjetividade opõe-se ao tipo de intervenção que funciona na exclusão do


-6
43

saber subjetivo e que não funciona se um de seus elementos, terapeuta ou cliente,


.2

emerge como sujeito.


10
.1

Fonte: SATHLER*, Conrado Neves. A subjetividade na clínica psicológica: introdução


04

temática e histórica. Psicol inf., São Paulo , v. 17, n. 17, p. 107-121, dez. 2013
-0

. Disponível em
A
N
PI

<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
IA

88092013000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 nov. 2018.


IB
AL
LE
A
N
IA
LA

24. Psicologia Jurídica;


Inicialmente cumpre ressaltar que psicologia jurídica não é uma abordagem, com
teoria e técnicas próprias, mas um escopo de atuação. Uma área que se situa entre a
área de avaliação psicológica e a área social. É uma área interdisciplinar e convive
tanto com juízes e advogados quando com assistentes sociais e outros psicólogos. O
foco são alguns usuários específicos do sistema jurídico.
Existe uma celeuma na literatura sobre a definição do termo Psicologia Jurídica
e Psicologia Forense. De modo geral, o termo Psicologia Jurídica é o mais adotado.

| 25
Alguns defendem que o termo “forense” esteja mais circunscrito aos fóruns,
enquanto que “jurídico” é capaz de abarcar mais áreas e procedimentos:
a) ocorridos nos tribunais;
b) que são frutos da decisão judicial;
c) que são de interesse da área jurídico ou do Direito.

A Psicologia Jurídica, nesse contexto, pode caracterizar-se como uma área

18
que corresponderia a “… um instrumento auxiliar no exercício da Justiça nos

1:
processos que tramitam nas Varas da Infância e da Juventude e nas Varas de Família

:2
22
e Sucessões dos Foros Regionais, e nos Tribunais de Justiça dos Estados” (Silva,

0
2003, p.49).

02
/2
Sobre a definição da área forense:

01
2/
Conforme Camargo (1996), o termo forense é aplicado aos tribunais, ao foro e

-0
à Justiça, servindo também para classificar todas as tarefas e atividades de

om
prestação jurisdicional. Nesse sentido fala-se em prática forense, livraria forense e

l.c
ai
assim por diante.
gm
Fonte: http://www.psicologiananet.com.br/psicologia-juridica-e-psicologia-forense-
@
na

como-e-o-campo-de-atuacao-do-psicologo-juridico-ou-psicologo-forense/2504/
pi
ia
ib

Além disso, adianto que a Psicologia Jurídica em si NÃO é uma ciência nova
a.
an

(apesar de alguns autores dizerem isso), e que vem passando por inúmeras
ai

mudanças e adaptações às novas necessidades jurídicas. Nesse contexto, podemos


-l
1

identificar setores tradicionais e setores recentes da Psicologia Jurídica:


-6
43

Setores tradicionais da Psicologia Setores recentes da Psicologia


.2
10

Jurídica Jurídica
.1

• Psicologia Criminal • Mediação


04
-0

• Psicologia Penitenciária ou • Psicologia Jurídica e Ministério


A

Carcerária Público
N
PI

• Psicologia Jurídica e as questões da • Psicologia Jurídica e Direitos


IA

infância e juventude Humanos


IB
AL

• Psicologia Jurídica: investigação, • Psicologia Jurídica e Magistrados


LE

formação e ética • Proteção a testemunhas


A

• Psicologia Jurídica e Direito de • Vitimologia


N
IA

Família
LA

• Psicologia do Testemunho
• Psicologia Jurídica e Direito Civil
• Psicologia Policial/Militar

Segundo o Conselho Federal de Psicologia, as atribuições do psicólogo


jurídico são as seguintes:
Atua no âmbito da Justiça, nas instituições governamentais e não-
governamentais, colaborando no planejamento e execução de políticas de
cidadania, direitos humanos e prevenção da violência. Para tanto, sua atuação é

| 26
centrada na orientação do dado psicológico repassado não só para os juristas como
também aos sujeitos que carecem de tal intervenção.
Contribui para a formulação, revisões e interpretação das leis.

Detalhamento das Atribuições


1- Assessora na formulação, revisão e execução de leis.
2- Colabora na formulação e implantação das políticas de cidadania e direitos

18
humanos.

1:
3- Realiza pesquisa visando a construção e ampliação do conhecimento psicológico

:2
22
aplicado ao campo do Direito.

0
4- Avalia as condições intelectuais e emocionais de crianças adolescentes e adultos

02
/2
em conexão processos jurídicos, seja por deficiência mental e insanidade,

01
testamentos contestados, aceitação em lares adotivos, posse e guarda de crianças

2/
-0
ou determinação da responsabilidade legal por atos criminosos.

om
5- Atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais, justiça do trabalho, da

l.c
família, da criança e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e perícias a
ai
serem anexados aos processos. gm
@

6- Elabora petições que serão juntadas ao processo, sempre que solicitar alguma
na
pi

providência, ou haja necessidade de comunicar-se com o juiz, durante a execução


ia
ib

da perícia.
a.
an

7- Eventualmente participa de audiência para esclarecer aspectos técnicos em


ai

Psicologia que possam necessitar de maiores informações a leigos ou leitores do


-l
1

trabalho pericial psicológico(juízes, curadores e advogados).


-6
43

8- Elabora laudos, relatórios e pareceres, colaborando não só com a ordem jurídica


.2

como com o indivíduo envolvido com a Justiça, através da avaliação das


10
.1

personalidade destes e fornecendo subsídios ao processo judicial quando solicitado


04

por uma autoridade competente, podendo utilizar-se de consulta aos processos e


-0

coletar dados considerar necessários a elaboração do estudo psicológico.


A
N

9- Realiza atendimento psicológico através de trabalho acessível e comprometido


PI
IA

com a busca de decisões próprias na organização familiar dos que recorrem a Varas
IB

de Família para a resolução de questões.


AL
LE

10- Realiza atendimento a crianças envolvidas em situações que chegam às


A

Instituições de Direito, visando a preservação de sua saúde mental, bem como


N
IA

presta atendimento e orientação a detentos e seus familiares. 11- Participa da


LA

elaboração e execução de programas sócio educativos destinados a criança de rua,


abandonadas ou infratoras.
12- Orienta a administração e os colegiados do sistema penitenciário, sob o ponto
de vista psicológico, quanto as tarefas educativas e profissionais que os internos
possam exercer nos estabelecimentos penais.
13- Assessora autoridades judiciais no encaminhamento à terapias psicológicas,
quando necessário.

| 27
14- Participa da elaboração e do processo de Execução Penal e assessorar a
administração dos estabelecimentos penais quanto a formulação da política penal e
no treinamento de pessoal para aplicá-la.
15- Atua em pesquisas e programas de prevenção à violência e desenvolve estudos e
pesquisas sobre a pesquisa criminal, construindo ou adaptando instrumentos de
investigação psicológica.

18
1:
Nesta seara, um tipo de questão provável para qualquer concurso que cobre

:2
22
esse tópico é a diferenciação entre psicólogo perito e psicólogo assistente técnico.

0
02
Sobre isso:

/2
Na Psicologia Jurídica ou Psicologia Forense o trabalho de investigação e

01
2/
avaliação psicológica é realizado pelo Psicólogo que neste contexto pode ser

-0
Psicólogo Perito ou Psicólogo Assistente Técnico.

om
Amaral (1993, p. 23) conceitua a terminologia do perito:

l.c
ai
perito – do latim peritus, formado pelo verbo perior, que significa
gm
experimentar, saber por experiência – é uma pessoa que, pelos
@
na

conhecimentos especiais que possui, geralmente de natureza


pi

científica, técnica ou artística, colhe percepções ou emite informações


ia
ib

ao Juiz, colaborando na formação do material probatório para a


a.
an

convicção decisória.
ai

O perito psicólogo é, portanto, um profissional de total confiança do Juiz e


-l
1

que tem conhecimentos técnico-científicos para realizar esse trabalho. Tem que
-6
43

estar regularizado no órgão de classe competente que nesse caso é o Conselho


.2
10

Regional de Psicologia do seu estado. É um funcionário público não


.1

necessariamente dentro dos Foros Central e Regionais e dos Tribunais de Justiça


04
-0

dos estados brasileiros. O psicólogo jurídico é nomeado segundo critérios de provas


A

em concursos públicos e de títulos ou especializações, pós-graduação e experiência


N
PI

profissional (Silva, 2003). O Juiz nomeia um perito que é um psicólogo especializado


IA

na área jurídica e concursado para acompanhar as questões trazidas à Justiça. As


IB
AL

partes ou uma das partes do processo pode solicitar ou indicar um psicólogo que
LE

é denominado de assistente técnico, profissional igualmente habilitado, de sua


A

confiança para exercer funções idênticas às do perito e para auxiliar no


N
IA

esclarecimento e defesa dos seus interesses no litígio.


LA

O assistente técnico pode servir de consultor da parte, esclarecendo ou


interpretando os fatos da causa, para colaborar as alegações da parte ou para
melhor elucidar o juiz acerca de qualquer fato (Amaral, 1993).
Segundo Silva e Costa (1999), o assistente técnico é conselheiro da parte, ou
seja, está ligado diretamente com os interesses de um dos lados, não sendo bem
visto por aqueles que buscam a verdade imparcial e incontestável.
Ampliando esta conceituação, Neto (1998) aponta que o assistente técnico é
o auxiliar de uma das partes e através do seu parecer tem obrigação de acatar,

| 28
criticar ou complementar o laudo do perito oficial cabendo ao Juiz analisar seus
argumentos, podendo fundamentar sua decisão também nesse parecer.
Shine e Ramos (1994) afirmam que o assistente técnico é um psicólogo
contratado e autônomo, sendo pago pela parte contratante que quer reafirmar a
defesa da sua causa.
Silva (2003) ainda discute que a função do assistente técnico é de
desqualificar qualquer informação que contrarie o contratante. Por esse motivo o

18
psicólogo perito oficial normalmente tem um relacionamento distante do psicólogo

1:
assistente técnico por considerá-lo como uma ameaça. É necessário acrescentar

:2
22
que nem sempre isso acontece, principalmente se o laudo pericial estiver com

0
objetivo claro e bem definido, ético e conclusão coerente.

02
/2
Fonte: http://www.psicologiananet.com.br/psicologia-juridica-atuacao-da-

01
2/
psicologia-no-campo-do-direito-o-trabalho-do-psicologo-juridico/2610/

-0
om
Sobre a perícia que o psicólogo realiza:

l.c
ai
A perícia é semelhante a um exame de situações ou fatos, feito por um
gm
profissional gabaritado ou por algum que conheça a matéria que lhe é submetida.
@
na

Esse é denominado de perito, podendo então ser um psicólogo (Brandimiller,1996).


pi

Conforme Silva (2003) essa prática da perícia é conveniente ou necessário


ia
ib

para fornecer ao Juiz informações que passem despercebidos ao conhecimento


a.
an

jurídico ou senso comum. A dispensa do exame do perito só é feita quando o Juiz


ai

tem conhecimento do senso comum e assim a determina, ou quando o perito tem


-l
1

relação direta com o periciando.


-6
43

Para Greco (1994) a perícia documenta conhecimentos especializados,


.2
10

inclusive para exame em grau de recurso. Contudo, o Juiz permanece com o poder
.1

decisório, de criticar, comentar acolher ou não as informações compiladas.


04
-0

Segundo Barros (1997) a perícia estabelece o campo de atuação da Psicologia


A

Jurídica na busca da realidade dos fatos através da prova pericial. Normalmente


N
PI

essa verdade é oferecida aos autos sempre parcial e incompleta, não podendo obtê-
IA

la por completo, mesmo quanto aos conteúdos inconscientes que permanecem


IB
AL

inacessíveis à investigação ou pelo distanciamento entre o subjetivo e o objetivo do


LE

Direito e o discurso afetivo e subjetivo da Psicologia. Por esses motivos, o intuito da


A

Psicologia Jurídica é de indicar situações familiares que nortearão a atuação do


N
IA

psicólogo, do próprio advogado, do promotor e do Juiz.


LA

Fonte: http://www.psicologiananet.com.br/psicologia-juridica-atuacao-da-
psicologia-no-campo-do-direito-o-trabalho-do-psicologo-juridico/2610/

História da Psicologia Jurídica no Brasil


Delimitar o início da Psicologia Jurídica no Brasil é uma tarefa complexa, em
razão de não existir um único marco histórico que defina esse momento. Assim, o
objetivo deste artigo é apresentar e discutir alguns referenciais históricos
documentados que permitam relatar como a Psicologia e o Direito se aproximaram

| 29
na história brasileira. A seguir, serão apresentados os principais campos de atuação
do psicólogo jurídico, com uma sucinta descrição das tarefas desempenhadas em
cada setor. Objetiva-se, ainda, que o artigo possa ser utilizado como referência
bibliográfica para disciplinas de Psicologia Jurídica, pois seu caráter introdutório foi
delineado com esse propósito.
A história da atuação de psicólogos brasileiros na área da Psicologia Jurídica
tem seu início no reconhecimento da profissão, na década de 1960. Tal inserção deu-

18
se de forma gradual e lenta, muitas vezes de maneira informal, por meio de

1:
trabalhos voluntários. Os primeiros trabalhos ocorreram na área criminal,

:2
22
enfocando estudos acerca de adultos criminosos e adolescentes infratores da lei

0
(Rovinski, 2002). O trabalho do psicólogo junto ao sistema penitenciário existe,

02
/2
ainda que não oficialmente, em alguns estados brasileiros há pelo menos 40 anos.

01
Contudo, foi a partir da promulgação da Lei de Execução Penal (Lei Federal nº

2/
-0
7.210/84) Brasil (1984), que o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela

om
instituição penitenciária (Fernandes, 1998).

l.c
Entretanto, a história revela que essa preocupação com a avaliação do
ai
gm
criminoso, principalmente quando se trata de um doente mental delinquente, é bem
@

anterior à década de 1960 do século XX. Durante a Antiguidade e a Idade Média a


na
pi

loucura era um fenômeno bastante privado. Ao "louco" era permitido circular com
ia
ib

certa liberdade, e os atendimentos médicos restringiam-se a uns poucos abastados.


a.
an

A partir de meados do século XVII, a loucura passou a ser caracterizada por uma
ai

necessidade de exclusão dos doentes mentais. Criaram-se estabelecimentos para


-l
1

internação em toda a Europa, nos quais eram encerrados indivíduos que


-6
43

ameaçassem a ordem da razão e da moral da sociedade (Rovinski, 1998). A partir do


.2

século XVIII, na França, Pinel realizou a revolução institucional, liberando os doentes


10
.1

de suas cadeias e dando assistência médica a esses seres segregados da vida em


04

sociedade (Pavon, 1997).


-0

Após esse período, os psicólogos clínicos começaram a colaborar com os


A
N

psiquiatras nos exames psicológicos legais e em sistemas de justiça juvenil (Jesus,


PI
IA

2001). Com o advento da Psicanálise, a abordagem frente à doença mental passou a


IB

valorizar o sujeito de forma mais compreensiva e com um enfoque dinâmico. Como


AL
LE

consequência, o psicodiagnóstico ganhou força, deixando de lado um enfoque


A

eminentemente médico para incluir aspectos psicológicos (Cunha, 1993). Os


N
IA

pacientes passaram a ser classificados em duas grandes categorias: de maior ou de


LA

menor severidade, ficando o psicodiagnóstico a serviço do último grupo,


inicialmente. Desta forma, os pacientes menos severos eram encaminhados aos
psicólogos, para que esses profissionais buscassem uma compreensão mais
descritiva de sua personalidade. Os pacientes de maior severidade, com
possibilidade de internação, eram encaminhados aos psiquiatras (Rovinski, 1998).
Balu (1984) demonstrou, a partir de estudos comparativos e representativos, que os
diagnósticos de Psicologia Forense podiam ser melhores que os dos psiquiatras
(Souza, 1998).

| 30
De acordo com Brito (2005), os psicodiagnósticos eram vistos como
instrumentos que forneciam dados matematicamente comprováveis para a
orientação dos operadores do Direito. Inicialmente, a Psicologia era identificada
como uma prática voltada para a realização de exames e avaliações, buscando
identificações por meio de diagnósticos. Essa época, marcada pela inauguração do
uso dos testes psicológicos, fez com que o psicólogo fosse visto como um testólogo,
como na verdade o foi na primeira metade do século XX (Gromth-Marnat, 1999).

18
Psicólogos da Alemanha e França desenvolveram trabalhos empírico-experimentais

1:
sobre o testemunho e sua participação nos processos judiciais. Estudos acerca dos

:2
22
sistemas de interrogatório, os fatos delitivos, a detecção de falsos testemunhos, as

0
amnésias simuladas e os testemunhos de crianças impulsionaram a ascensão da

02
/2
então denominada Psicologia do Testemunho (Garrido, 1994). Atualmente, o

01
psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica, com objetivos bem definidos,

2/
-0
para encontrar respostas para solução de problemas. A testagem pode ser um passo

om
importante do processo, mas constitui apenas um dos recursos de avaliação (Cunha,

l.c
2000).
ai
gm
Esse histórico inicial reforça a aproximação da Psicologia e do Direito através
@

da área criminal e a importância dada à avaliação psicológica. Porém, não era


na
pi

apenas no campo do Direito Penal que existia a demanda pelo trabalho dos
ia
ib

psicólogos. Outro campo em ascensão até os dias atuais é a participação do


a.
an

psicólogo nos processos de Direito Civil. No estado de São Paulo, o psicólogo fez sua
ai

entrada informal no Tribunal de Justiça por meio de trabalhos voluntários com


-l
1

famílias carentes em 1979. A entrada oficial se deu em 1985, quando ocorreu o


-6
43

primeiro concurso público para admissão de psicólogos dentro de seus quadros


.2

(Shine, 1998).
10
.1

Ainda dentro do Direito Civil, destaca-se o Direito da Infância e Juventude,


04

área em que o psicólogo iniciou sua atuação no então denominado Juizado de


-0

Menores. Apesar das particularidades de cada estado brasileiro, a tarefa dos setores
A
N

de psicologia era, basicamente, a perícia psicológica nos processos cíveis, de crime


PI
IA

e, eventualmente, nos processos de adoção. Com a implantação do Estatuto da


IB

Criança e do Adolescente (ECA) Brasil (1990), em 1990, o Juizado de Menores passou


AL
LE

a ser denominado Juizado da Infância e Juventude. O trabalho do psicólogo foi


A

ampliado, envolvendo atividades na área pericial, acompanhamentos e aplicação


N
IA

das medidas de proteção ou medidas socioeducativas (Tabajaski, Gaiger &


LA

Rodrigues, 1998). Essa expansão do campo de atuação do psicólogo gerou um


aumento do número de profissionais em instituições judiciárias mediante a
legalização dos cargos pelos concursos públicos. São exemplos a criação do cargo
de psicólogo nos Tribunais de Justiça dos estados de Minas Gerais (1992), Rio
Grande do Sul (1993) e Rio de Janeiro (1998) (Rovinski, 2002).

Diante do exposto, percebe-se um histórico inicial da aproximação da
Psicologia e do Direito atrelado a questões envolvendo crime e também os direitos
da criança e do adolescente. Contudo, nos últimos dez anos a demanda pelo

| 31
trabalho do psicólogo em áreas como Direito da Família e Direito do Trabalho vem
tomando força. Além desses campos, outras possibilidades de participação do
psicólogo em questões judiciais vêm surgindo, as quais serão apresentadas e
discutidas na segunda parte deste artigo.
Fonte: LAGO, Vivian de Medeiros et al . Um breve histórico da psicologia jurídica no
Brasil e seus campos de atuação. Estud. psicol. (Campinas), Campinas, v. 26, n.
4, dez. 2009 . Disponível em

18
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

1:
166X2009000400009&lng=pt&nrm=iso>. acessos

:2
22
em 26 dez. 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2009000400009.

0
02
/2
01
2/
Principais campos de atuação da Psicologia

-0
Jurídica

om
l.c
Na Psicologia Jurídica há uma predominância das atividades de confecções

ai
gm
de laudos, pareceres e relatórios, pressupondo-se que compete à Psicologia uma
@

atividade de cunho avaliativo e de subsídio aos magistrados. Cabe ressaltar que o


na
pi

psicólogo, ao concluir o processo da avaliação, pode recomendar soluções para os


ia

conflitos apresentados, mas jamais determinar os procedimentos jurídicos que


ib
a.

deverão ser tomados. Ao juiz cabe a decisão judicial; não compete ao psicólogo
an
ai

incumbir-se desta tarefa. É preciso deixar clara esta distinção, reforçando a ideia de
-l

que o psicólogo não decide, apenas conclui a partir dos dados levantados mediante
1
-6
43

a avaliação e pode, assim, sugerir e/ou indicar possibilidades de solução da questão


.2

apresentada pelo litígio judicial.


10
.1

Contudo, nem sempre o trabalho do psicólogo jurídico está ligado à questão


04

da avaliação e consequente elaboração de documentos, conforme se apresenta a


-0

seguir. Os ramos do Direito que frequentemente demandam a participação do


A
N

psicólogo são: Direito da Família, Direito da Criança e do Adolescente, Direito Civil,


PI
IA

Direito Penal e Direito do Trabalho.


IB

Cabe observar que o Direito de Família e o Direito da Criança e do


AL
LE

Adolescente fazem parte do Direito Civil. Porém, como na prática as ações são
A

ajuizadas em varas diferenciadas, optou-se por fazer essa divisão, por ser também
N
IA

didaticamente coerente.
LA

• Psicólogo jurídico e o direito de família: destaca-se a participação dos


psicólogos nos processos de separação e divórcio, disputa de guarda e
regulamentação de visitas.
• Separação e divórcio: os processos de separação e divórcio que envolvem a
participação do psicólogo são na sua maioria litigiosos, ou seja, são processos em
que as partes não conseguiram acordar em relação às questões que um processo
desse cunho envolve. Não são muito comuns os casos em que os cônjuges
conseguem, de maneira racional, atingir o consenso para a separação. Isso implica
resolver o conflito que está ou que ficou nas entrelinhas, nos meandros dos

| 32
relacionamentos humanos, ou seja, romper com o vínculo afetivoemocional
(Silveira, 2006).
Portanto, o psicólogo pode atuar como mediador, nos casos em que os
litigantes se disponham a tentar um acordo ou, quando o juiz não considerar viável
a mediação, ao psicólogo pode ser solicitada uma avaliação de uma das partes ou
do casal. Processos de separação e divórcio englobam partilha de bens, guarda de
filhos, estabelecimento de pensão alimentícia e direito à visitação. Desta forma, seja

18
como avaliador ou mediador, o psicólogo buscará os motivos que levaram o casal

1:
ao litígio e os conflitos subjacentes que impedem um acordo em relação aos

:2
22
aspectos citados. Nos casos em que julgar necessário, o psicólogo poderá, inclusive,

0
sugerir encaminhamento para tratamento psicológico ou psiquiátrico da(s) parte(s).

02
/2
• Regulamentação de visitas: conforme exposto acima, o direito à visitação é

01
uma das questões a ser definida a partir do processo de separação ou divórcio.

2/
-0
Contudo, após a decisão judicial podem surgir questões de ordem prática ou até

om
mesmo novos conflitos que tornem necessário recorrer mais uma vez ao Judiciário,

l.c
solicitando uma revisão nos dias e horários ou forma de visitas. Nesses casos, o
ai
gm
psicólogo jurídico contribui por meio de avaliações com a família, objetivando
@

esclarecer os conflitos e informar ao juiz a dinâmica presente nesta família, com


na
pi

sugestões das medidas que poderiam ser tomadas. O psicólogo pode, ainda, atuar
ia
ib

como mediador, procurando apontar a interferência de conflitos intrapessoais na


a.
an

dinâmica interpessoal dos cônjuges, com o objetivo de produzir um acordo pautado


ai

na colaboração, de forma que a autonomia da vontade das partes seja preservada


-l
1

(Schabbel, 2005).
-6
43

• Disputa de guarda: nos processos de separação ou divórcio é preciso definir


.2

qual dos ex-cônjuges deterá a guarda dos filhos. Em casos mais graves, podem
10
.1

ocorrer disputas judiciais pela guarda (Silva, 2006). Nesses casos, o juiz pode
04

solicitar uma perícia psicológica para que se avalie qual dos genitores tem melhores
-0

condições de exercer esse direito. Além dos conhecimentos sobre avaliação,


A
N

psicopatologia, psicologia do desenvolvimento e psicodinâmica do casal, assuntos


PI
IA

atuais como a guarda compartilhada, falsas acusações de abuso sexual e síndrome


IB

de alienação parental podem estar envolvidos nesses processos. Portanto, é


AL
LE

necessário que os psicólogos que atuam nessa área estudem esses temas, saibam
A

seu funcionamento e busquem a melhor forma de investigá-los, de modo a realizar


N
IA

uma avaliação psicológica de qualidade.


LA

Pais que colocam os interesses e vaidade pessoal acima do sofrimento que


uma disputa judicial pode acarretar aos filhos, na tentativa de atingir ou magoar o
ex-companheiro, revelam-se com problemas para exercer a parentalidade de forma
madura e responsável (Castro, 2005). Portanto, nesses casos, a mediação não é uma
prática comum, dado o alto nível de conflitos existentes entre os ex-cônjuges e que
os fazem disputar seus filhos judicialmente.
- Psicólogo jurídico e o direito da criança e do adolescente: destaca-se o
trabalho dos psicólogos junto aos processos de adoção e destituição de

| 33
poder familiar e também o desenvolvimento e aplicação de medidas
socioeducativas dos adolescentes autores de ato infracional.
• Adoção: os psicólogos participam do processo de adoção por meio de uma
assessoria constante para as famílias adotivas, tanto antes quanto depois da
colocação da criança. A equipe técnica dos Juizados da Infância e da Juventude
deve saber recrutar candidatos para as crianças que precisam de uma família e
ajudar os postulantes a se tornarem pais capazes de satisfazer às necessidades de

18
um filho adotivo (Weber, 2004). A primeira tarefa de uma equipe de adoção é

1:
garantir que os candidatos estejam dentro dos limites das disposições legais e a

:2
22
segunda é iniciar um programa de trabalho com os postulantes aceitos, elaborado

0
especialmente para assessorar, informar e avaliar os interessados, e não apenas

02
/2
"selecionar" os mais aptos (Weber, 1997). Como a adoção é um vínculo irrevogável,

01
o estudo psicossocial torna-se primordial para garantir o cumprimento da lei,

2/
-0
prevenindo assim a negligência, o abuso, a rejeição ou a devolução.

om
Além do trabalho desenvolvido junto aos Juizados da Infância e Juventude,

l.c
existe também o dos psicólogos que trabalham nas Fundações de Proteção Especial.
ai
gm
Essas instituições têm como objetivo oferecer um cuidado especial capaz de minorar
@

os efeitos da institucionalização, proporcionando às crianças e aos adolescentes


na
pi

abrigados uma vivência que se aproxima à realidade familiar. Os vínculos


ia
ib

estabelecidos com os monitores que cuidam delas são facilitadores do vínculo


a.
an

posterior na adoção, uma vez que se estabelece e se mantém nos mesmos a


ai

capacidade de vincular-se afetivamente. As relações substitutas provisórias,


-l
1

representadas pelo acolhimento institucional que abriga os que aguardam uma


-6
43

possibilidade de inclusão em família substituta, são decisivas para o desenlace do


.2

processo de adoção (Albornoz, 2001).


10
.1

• Destituição do poder familiar: o poder familiar é um direito concedido a


04

ambos os pais, sem nenhuma distinção ou preferência, para que eles determinem a
-0

assistência, criação e educação dos filhos. Esse direito é assistido aos genitores,
A
N

ainda que separados e a guarda conferida a apenas um dos dois. Porém, a legislação
PI
IA

brasileira prevê casos em que esse direito pode ser suspenso, ou até mesmo
IB

destituído, de forma irrevogável. A partir desta determinação judicial, os pais


AL
LE

perdem todos os direitos sobre o filho, que poderá ficar sob a tutela de uma família
A

até a maioridade civil.


N
IA

O papel do psicólogo nesses casos é fundamental. É preciso considerar que a


LA

decisão de separar uma criança de sua família é muito séria, pois desencadeia uma
série de acontecimentos que afetarão, em maior ou menor grau, toda a sua vida
futura. Independentemente da causa da remoção - doença, negligência, abandono,
maus-tratos, abuso sexual, ineficiência ou morte dos pais - a transferência da
responsabilidade para estranhos jamais deve ser feita sem muita reflexão (Cesca,
2004).
- Adolescentes autores de atos infracionais: o Estatuto da Criança e do
Adolescente prevê medidas socioeducativas que comportam aspectos de natureza
coercitiva. São medidas punitivas no sentido de que responsabilizam socialmente os

| 34
infratores, e possuem aspectos eminentemente educativos, no sentido da proteção
integral, com oportunidade de acesso à formação e à informação. Os psicólogos que
desenvolvem seu trabalho junto aos adolescentes infratores devem lhes propiciar a
superação de sua condição de exclusão, bem como a formação de valores positivos
de participação na vida social. Sua operacionalização deve, prioritariamente,
envolver a família e a comunidade com atividades que respeitem o princípio da não
discriminação e não estigmatização, evitando rótulos que marquem os adolescentes

18
e os exponham a situações vexatórias, além de impedilos de superar as dificuldades

1:
na inclusão social.

:2
22

0
Psicólogo jurídico e o direito civil: o psicólogo atua nos processos em que são

02
/2
requeridas indenizações em virtude de danos psíquicos e também nos casos de

01
interdição judicial.

2/
-0
• Dano psíquico: o dano psíquico pode ser definido como a sequela, na esfera

om
emocional ou psicológica, de um fato particular traumatizante (Evangelista &

l.c
Menezes, 2000). Pode-se dizer que o dano está presente quando são gerados efeitos
ai
gm
traumáticos na organização psíquica e/ou no repertório comportamental da vítima.
@

Cabe ao psicólogo, de posse de seu referencial teórico e instrumental técnico,


na
pi

avaliar a real presença desse dano. Entretanto, o psicólogo deve estar atento a
ia
ib

possíveis manipulações dos sintomas, já que está em suas mãos a recomendação,


a.
an

ou não, de um ressarcimento financeiro (Rovinski, 2005).


ai

• Interdição: a interdição refere-se à incapacidade de exercício por si mesmo


-l
1

dos atos da vida civil. Uma das possibilidades de interdição previstas pelo código
-6
43

civil são os casos em que, por enfermidade ou deficiência mental, os sujeitos de


.2

direito não tenham o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil.
10
.1

Nesses casos, compete ao psicólogo nomeado perito pelo juiz realizar avaliação que
04

comprove ou não tal enfermidade mental. À justiça interessa saber se a doença


-0

mental de que o paciente é portador o torna incapaz de reger sua pessoa e seus bens
A
N

(Monteiro, 1999).
PI
IA

As questões levantadas em um processo de interdição incluem a validade,


IB

nulidade ou anulabilidade de negócios jurídicos, testamentos e casamentos. Além


AL
LE

dessas, ficam prejudicadas a contração de deveres e aquisição de direitos, a aptidão


A

para o trabalho, a capacidade de testemunhar e a possibilidade de ele próprio


N
IA

assumir tutela ou curatela de incapaz e exercer o poder familiar (Taborda, Chalub &
LA

Abdalla-Filho, 2004).
- Psicólogo jurídico e o direito penal: o psicólogo pode ser solicitado a atuar
como perito para averiguação de periculosidade, das condições de discernimento
ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento (Arantes, 2004).
Portanto, destaca-se o papel dos psicólogos junto ao Sistema Penitenciário e aos
Institutos Psiquiátricos Forenses.

Outros campos de atuação

| 35
Vitimologia: objetiva a avaliação do comportamento e da personalidade da
vítima. Cabe ao psicólogo atuante nessa área traçar o perfil e compreender as
reações das vítimas perante a infração penal. A intenção é averiguar se a prática do
crime foi estimulada pela atitude da vítima, o que pode denotar uma cumplicidade
passiva ou ativa para com o criminoso. Para tanto, a análise é feita desde a
ocorrência até as consequências do crime (Brega Filho, 2004). Além disso, a
vitimologia dedica-se também à aplicação de medidas preventivas e à prestação de

18
assistência às vítimas, visando, assim, à reparação de danos causados pelo delito.

1:
Psicologia do testemunho: os psicólogos podem ser solicitados a avaliar a

:2
22
veracidade dos depoimentos de testemunhas e suspeitos, de forma a colaborar com

0
os operadores da justiça. O chamado fenômeno das falsas memórias tem assumido

02
/2
um papel muito importante na área da Psicologia do Testemunho. Hoje, sabe-se que

01
o ser humano é capaz de armazenar e recordar informações que não ocorreram. As

2/
-0
falsas memórias podem resultar da repetição de informações consistentes e

om
inconsistentes no depoimento de testemunhas sobre o mesmo evento. É preciso

l.c
desenvolver pesquisas na área que possam contribuir para a elucidação dos
ai
gm
mecanismos responsáveis pelas falsas memórias e, assim, auxiliar o aprimoramento
@

de técnicas para avaliação de testemunhos (Stein, 2000).


na
pi

Uma área recente e relacionada à Psicologia do Testemunho que vem


ia
ib

ganhando espaço é o Depoimento sem Dano, que objetiva proteger


a.
an

psicologicamente crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais e outras


ai

infrações penais que deixam graves sequelas no âmbito da estrutura da


-l
1

personalidade. Esse projeto foi criado no Segundo Juizado da Infância e Juventude


-6
43

de Porto Alegre, em razão das dificuldades enfrentadas pela justiça na tomada de


.2

depoimentos de crianças e adolescentes (Cezar, 2007).


10
.1

Fonte: LAGO, Vivian de Medeiros et al . Um breve histórico da psicologia jurídica no


04

Brasil e seus campos de atuação. Estud. psicol. (Campinas), Campinas, v. 26, n.


-0

4, dez. 2009 . Disponível em


A
N
PI

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
IA

166X2009000400009&lng=pt&nrm=iso>. acessos
IB
AL

em 26 dez. 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2009000400009.


LE
A
N
IA

A avaliação psicológica no contexto forense


LA

Avaliação Psicológica nas perícias realizadas por profissionais nomeados pelo


Juízo.
A Psicologia Jurídica é a área da Psicologia que se relaciona com a Justiça,
desenvolvendo, entre outras atividades, a Avaliação Pericial nas mais diversas
esferas do Direito, desde o direito da família, cível, do trabalho, penal, criminal, etc.
A perícia psicológica na área jurídica tem se desenvolvido intensamente nos
últimos anos. Segundo Rovinski (2004), “a palavra perícia vem do latim (peritia), que
significa: destreza, habilidade. Como adjetivo se refere ao douto, versado, hábil,

| 36
experimentado, prático.(...)”. Na concepção genérica, podemos dizer que a perícia é
o “exame de situações ou fatos relacionados a coisas e pessoas, praticado por
especialista na matéria que lhe é submetida, com o objetivo de elucidar
determinados aspectos técnicos” (Brandimiller, 1996). Na medida em que é
realizada por um expert, são utilizados conhecimentos científicos para explicitar as
causas de um fato.
O psicólogo nomeado Perito de um caso deve desenvolver seu trabalho de

18
forma a responder ao que lhe é solicitado, o que em geral é exposto na forma de

1:
quesitos, formulados pelas partes que se encontram em litígio ou pelo juiz.

:2
22
Assim, sua atuação deve ser imparcial e deve buscar, de forma técnico-

0
científica, a elucidação dos quesitos explanados. Nesse caso é o perito de confiança

02
/2
do juiz e o auxilia em suas decisões.

01
Também outro papel que o psicólogo pode assumir num processo judicial é o

2/
-0
de Assistente Técnico de uma das partes, sendo assim parcial, pois é de confiança de

om
uma das partes. O Assistente Técnico tem por objetivo assessorar a parte no que

l.c
tange à questão técnica da Psicologia, analisando os procedimentos de avaliação e,
ai
gm
posteriormente, o laudo elaborado pelo perito. Assim, prevê-se, neste caso, a
@

condição de crítica ao trabalho de um colega.


na
pi

Para a consecução de um trabalho pericial, é necessário que o Perito tenha


ia
ib

proximidade com a área jurídica, com domínio dos processos e funcionamento


a.
an

desta área, pois, em sua prática, terá de lidar no dia-a-dia com os conhecimentos
ai

jurídicos, dos quais ele não poderá estar alheio.


-l
1

Quanto à metodologia da Perícia, Rovinski (2004), propõe os seguintes


-6
43

passos, aqui resumidos:


.2

Iniciação do caso
10
.1

Solicitar a cópia dos autos processuais, buscando identificar os fatos que


04

levaram a solicitação da perícia, assim como os quesitos e todos os dados relevantes


-0

ao bom funcionamento do trabalho (datas, honorários, etc.);


A
N

Preparação do expediente
PI
IA

Organizar o material do caso – documentos, anotações, cronologia, etc.


IB

Avaliação das necessidades e coleta de dados


AL
LE

Organizar os recursos metodológicos de forma a cobrir os quesitos que foram


A

formulados, ou seja, fazer o estudo psicológico dos autos. Definir os métodos e


N
IA

técnicas a serem utilizados;


LA

Seleção de estratégias
Não há modelo padronizado para as explorações periciais, sendo que o perito
deve estar atento às particularidades do caso e construir a metodologia mais
adequada para aquele caso;
O laudo pericial
O conteúdo deverá se adequar aos aspectos básicos do caso, respeitando-se
o aspecto da pertinência. Deve-se seguir o modelo do Conselho Federal de
Psicologia.

| 37
De forma geral, podemos concluir que o trabalho da avaliação psicológica no
contexto jurídico exige especialização nessa área, ou seja, o profissional psicólogo,
antes de aceitar a nomeação proposta, deve refletir a respeito das suas reais
capacitações para desenvolver esse trabalho com qualidade.
Como a formação acadêmica é ainda praticamente inexistente nessa área, e
as referências bibliográficas sobre esse tema são escassas, é preciso que o psicólogo
busque formações específicas, tais como especialização na área. As decisões a

18
serem tomadas a partir do laudo pericial envolverão o destino de diversas pessoas e

1:
devemos sempre estar atentos a essa responsabilidade.

:2
22
Fonte: Machado, Adriane Picchetto e Morona, Valéria Cristina. Manual de Avaliação

0
02
Psicológica - Coletânea ConexãoPsi. CRP-8, Curitiba, 2007.

/2
01
2/
-0
26. Psicologia e Políticas públicas;

om
l.c
ai
Políticas Públicas e Psicologia? O que é isso? Vamos traçar um pequeno roteiro:
gm
A estrutura hierárquico-normativa brasileira
@
na

Características dos Direitos Humanos


pi
ia

Os princípios dos direitos humanos


ib
a.

Princípios e contextos da Declaração Universal dos Direitos Humanos


an

Programa Nacional de Direitos Humanos


ai
-l

O que todas as políticas brasileiras atuais tem em comum


1
-6

Políticas de mulheres
43

Políticas de crianças e adolescentes


.2
10

Políticas de idosos
.1

Políticas de pessoas com deficiência


04
-0

Políticas de igualdade racial


A

Políticas LGBTTI
N
PI

Beleza? Vamos!
IA
IB
AL

A estrutura hierárquico-normativa brasileira


LE

Qual a estrutura normativa brasileira? Didaticamente, temos as seguintes


A
N
IA

normas (da mais forte até as mais fracas):


LA

a. Constituição Federal
b. Emendas Constitucionais
c. Leis Complementares
d. Leis Ordinárias
e. Medidas Provisórias
f. Leis Delegadas
g. Decretos Legislativos
h. Resoluções
i. Decretos Autônomos
j. Instruções Normativas

| 38
k. Portarias
l. Etc.

Não pretendo aprofundar na natureza e na melhor definição de posição de


cada um desses itens, apenas destacar alguns pontos fundamentais aos nossos
estudos. Inicialmente, cumpre ressaltar que todos esses instrumentos normativos
comportam versar sobre direitos humanos e que aqui temos a Supremacia da

18
Constituição, como lei maior que rege o Estado de Direito. Todos os outros

1:
ordenamentos devem estar de acordo com a Carta Magna de 1988 e com ela se

:2
22
harmonizar.

0
Apesar da discussão que envolve a existência de hierarquia entre as leis

02
/2
complementares e as leis ordinárias, adotamos a posição de Michel Temer, que

01
afirma que “não há hierarquia alguma entre a lei complementar e a lei ordinária. O

2/
-0
que há são âmbitos materiais diversos atribuídos pela Constituição a cada qual

om
destas espécies normativas” (Temer, 2010, p. 150).

l.c
ai
gm
Características dos Direitos Humanos
@
na
pi

Segundo Botelho (2005), as características dos direitos humanos são as


ia
ib

seguintes:
a.
an

1. Diminuir a área de atuação da soberania do estado por ser um campo onde o


ai
-l

estado não pode adentrar, interferir, restringir.


1
-6

2. Reciprocidade onde não pode haver desrespeito ou ameaça aos direitos humanos
43

quando da relação de reciprocidade existente entre os estados principalmente


.2
10

quanto ao aspecto político e econômico. Podemos ainda citar como características:


.1

ter aspecto ideológico bastante desenvolvido, por ser um direito politizado versando
04
-0

sobre a relação entre poder e pessoa caracterizando o poder como a necessidade de


A

proteção e a garantia, ao mesmo tempo, da liberdade do homem.


N
PI

3. Progressividade já que os direitos humanos exigem uma luta constante do


IA
IB

indivíduo com o estado, conseguindo lentamente e progressivamente seus direitos,


AL

um a um.
LE

4. Não violação dos direitos humanos quando do rompimento da paz mundial, é


A
N

uma característica extremamente importante para o direito internacional onde nem


IA
LA

mesmo a mais grave ameaça à ordem internacional pode suprimir os direitos


humanos.
As Normas que versam sobre direitos humanos são cogentes, imperativas. Há uma
obrigação geral, erga omines, de respeito a estes direitos.
Pode-se também citar como características dos direitos humanos, a autonomia, no
sentido de ser o direito que visa proteger o homem contra as atrocidades dos
estados, num plano interno e internacional. Por isso, os direitos humanos devem ser
entendidos não como simples limites impostos ao estado, mas, como “um conjunto
de valores para ação positiva dos poderes públicos.”

| 39
A última característica que pode ser apontada é a presunção de aplicabilidade direta
dos tratados de direitos humanos no âmbito interno. Deve ser entendida como a
faculdade de invocar estes direitos definidos internacionalmente
nos tribunais internos.
Fonte: Botelho, 2005.

Apesar dessa interessante perspectiva realizada pela autora, devemos

18
entender os Direitos Humanos pelas suas clássicas descrições. O estudo do direito

1:
constitucional e do direito internacional acerca dos direitos humanos nos permite

:2
22
afirmar que os direitos humanos apresentam as seguintes características:

0
02
a) Historicidade

/2
b) Universalidade

01
2/
c) Relatividade

-0
d) Essencialidade

om
e) Irrenunciabilidade

l.c
ai
f) Inalienabilidade
g) Imprescritibilidade
gm
@

h) Inviolabilidade
na
pi

i) Complementaridade
ia
ib

j) Efetividade
a.
an

k) Interdependência
ai

Essas características servem não só como parâmetros de organização da


-l
1

sociedade, como representam valores da não interferência estatal na esfera da


-6
43

individualidade, respeitando o valor ético da dignidade da pessoa humana.


.2

Vejamos detalhadamente cada um desses conceitos:


10
.1
04

Historicidade: os direitos humanos são frutos do processo histórico. Eles são


-0

construídos gradualmente e expandem sua base ao longo das décadas. Essa


A
N
PI

evolução histórica dos direitos humanos significa que os direitos humanos não
IA

foram criados apenas de uma vez, mas lentamente evolvidos para o que temos hoje
IB
AL

– essa historicidade é expansiva, não se admitindo a supressão de direitos já


LE

reconhecidos na ordem jurídica. A afirmação de grupos, por exemplo, tem forçado


A

leis e constituições a ampliarem o arcabouço jurídico acerca dos fundamentos da


N
IA

dignidade humana. Essa característica é a base para as gerações/dimensões dos


LA

direitos humanos, que veremos adiante.


Aprendizado para a sua prova:
1- É característica dos direitos humanos a sua temporalidade em
relação à historicidade de cada nação.
2- Efeito Cliquet: é a proibição de supressão de direitos (proibição
de retrocesso). Observe que a proibição de retrocesso proíbe a
supressão de direitos e não a restrição a direitos, afinal, de uma
maneira geral, os direitos comportam limitações.

| 40
Universalidade: a abrangência desses direitos engloba todos os indivíduos,
independente de nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político filosófica.
Representa o relativismo cultural, seja no sentido de que esses direitos se destinam
a todas as pessoas (sem qualquer tipo de discriminação), seja na abrangência
territorial universal (em todo o mundo). Desse modo, não há limitações territoriais à
proteção da dignidade humana. A característica da universalidade dos direitos
humanos significa que esses direitos deixaram de ser apenas internos para serem de

18
todos os povos, e essa questão mundial demanda atitudes da comunidade

1:
internacional. Nesse sentido fala-se em “Sistema Global de Proteção aos Direitos

:2
22
Humanos”.

0
Foi depois da Segunda Guerra Mundial, e da Declaração Universal dos

02
/2
Direitos Humanos que esse princípio ganhou mais força. Na Declaração Universal

01
dos Direitos Humanos os direitos universais são enunciados a todos que têm a

2/
-0
condição de humanos, sem nenhuma discriminação.

om
Temos problemas com essa definição? Sim, pois, apesar de acreditarmos na

l.c
universalidade dos direitos humanos e a sua busca pela dignidade humana, é
ai
gm
complexo e difícil promover tal conceito entre culturas diferentes. Assim, essa
@

concepção universalista dos direitos humanos costuma ser confrontada com o


na
pi

relativismo cultural: as vicissitudes culturais de cada país seria um entrave à


ia
ib

afirmação da validade de um mesmo grupo de direitos em todos os países. A


a.
an

Corrente Relativista alega que os meios culturais e morais de uma sociedade devem
ai

ser respeitados, ainda que em prejuízo dos direitos humanos dessa mesma
-l
1

comunidade. Nessa perspectiva, que enfraquece o universalismo, existe uma


-6
43

preponderância dos fatores culturais de cada povo na determinação de quais seriam


.2

os fatores universais da condição humana. Apesar das intermináveis discussões


10
.1

acerca de limites entre essas duas correntes, prevalece a ideia de proteção universal
04

aos direitos humanos acima do relativismo cultural - este não pode ser ignorado,
-0

tampouco justifica ou legitima condutas que atentem à dignidade humana.


A
N

Aprendizado para o seu concurso:


PI
IA

1- A cultura nacional não pode restringir os direitos de


IB

qualquer grupo humano (mulheres, negros, homoafetivos,


AL
LE

desquitados, etc.).
A
N
IA

Relatividade (limitabilidade): os direitos humanos podem sofrer limitações (podem


LA

ser relativizados) desde que seja para a adequação a outros valores coexistentes na
ordem jurídica quando estiverem colidindo. O exemplo mais banal dessa colisão de
direitos é a liberdade de expressão, que deve ser harmonizado com a proteção da
imagem e da vida privada. O conceito-chave aqui é a harmonização de direitos
humanos.
Aprendizado para o seu concurso:
1- Nem os direitos fundamentais são absolutos.
2- Pode ser exercido em regime de concorrência (cumulatividade
de direitos humanos), como, por exemplo, quando um jornalista

| 41
transmite uma notícia e expõe sua opinião (liberdade de informação,
comunicação e opinião).
3- Apesar de não haver direito absoluto (latu sensu), existem
direitos de caráter absoluto (strictu sensu) como o direito à proibição
de tortura como e o direito de proibição de escravidão.

Essencialidade: os direitos humanos são inerentes ao ser humano, tendo por base os

18
valores supremos do homem e sua dignidade (aspecto material), assumindo posição

1:
normativa de destaque (aspecto formal).

:2
22
0
Irrenunciabilidade: não é possível a renúncia dos direitos humanos, pois, como são

02
/2
direitos inerentes à condição humana, ninguém pode abrir mão de sua própria

01
natureza. Dessa característica surgem discussões importantes para a doutrina,

2/
-0
como a renúncia ao direito à vida e a eutanásia, o aborto e o suicídio.

om
l.c
Inalienabilidade: não é possível alienar direitos humanos – esses direitos não são
ai
transferíveis a qualquer título (gratuito ou oneroso). gm
@
na
pi

Imprescritibilidade: os direitos humanos não se defasam ou se perdem com o


ia
ib

decurso do tempo (não prescrevem).


a.
an
ai

Inviolabilidade: impossibilidade de desrespeito por determinações


-l
1

infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de


-6
43

responsabilização civil, administrativa e criminal.


.2
10
.1

Complementaridade: os direitos humanos devem ser observados não isoladamente,


04

mas de forma conjunta e interativa com as demais normas, princípios e objetivos


-0

estatuídos pelo legislador.


A
N
PI
IA

Complementar a essa classificação, Alexandre de Moraes (2005) ainda


IB

descreve duas características – ligadas ao contexto brasileiro:


AL
LE
A

Efetividade: a atuação do Poder Público deve ser no sentido de garantir a efetivação


N
IA

dos direitos e garantias fundamentais previstos, com mecanismos coercitivos, para


LA

tanto, uma vez que a Constituição Federal não se satisfaz com o simples
reconhecimento abstrato.

Interdependência: as várias previsões constitucionais, apesar de autônomas,


possuem diversas intersecções para atingirem suas finalidades. Assim, por exemplo.
A liberdade de locomoção está intimamente ligada à garantia de habeas corpus,
bem como a previsão de prisão somente em flagrante delito ou por ordem de
autoridade judicial competente.

| 42
Os princípios dos direitos humanos
Para Comparato (2001), os princípios fundamentais dos direitos humanos
classificam-se em duas ordens:
a) Os que dizem respeito aos valores éticos supremos
a. Liberdade

18
b. Igualdade

1:
:2
c. Fraternidade

22
b) Os que dizem respeito à lógica estrutural do conjunto.

0
02
a. Irrevogabilidade

/2
01
b. Complementariedade solidária

2/
Quanto aos princípios relacionados aos valores éticos supremos, destacam-

-0
se à chamada tríade da revolução francesa: os valores da liberdade, da igualdade e

om
da fraternidade (ou solidariedade). A ideia de liberdade faz referência à submissão

l.c
ai
de todos em face das normas por eles editadas. Como bem expressa o autor, uma
gm
“[...] sociedade livre é aquela que obedece às leis que ela própria estabelece e aos
@
na

governantes por ela escolhidos.” O princípio da igualdade faz referência à abolição


pi

dos privilégios, tratando todos de maneira isonômica perante a lei. Já a fraternidade


ia
ib

ou solidariedade prende-se as ideias que todos são responsáveis pelas carências ou


a.
an

necessidades de qualquer indivíduo ou grupo social.


ai
-l

Quanto aos princípios estruturais dos direitos humanos, o autor classifica-os


1
-6

em duas espécies: a chamada irrevogabilidade e a complementaridade solidária. A


43

irrevogabilidade tem como consequência à proibição de suprimir direitos


.2
10

fundamentais por via de novas regras constitucionais ou convenções internacionais,


.1

sendo uma vez os direitos humanos reconhecidos não é possível sua extinção. Com
04
-0

relação à complementaridade solidária, esta se justifica no postulado ontológico de


A

que a essência do ser humano é uma só, independe da existência da multiplicidade


N
PI

de diferenças, individuais e sociais, biológicas e culturais, que existem na


IA
IB

humanidade.
AL
LE

Resumo
A
N
IA
LA

| 43
Historicidade Universalidade Relatividade Essencialidade

18
1:
Irrenunciabilidade Inalienabilidade Imprescritibilidade Inviolabilidade

:2
22
0
02
/2
01
2/
Complementaridade Efetividade Interdependência

-0
om
l.c
ai
gm
@
na

Princípios e contextos da Declaração Universal


pi
ia

dos Direitos Humanos


ib
a.
an
ai

Antes de estudarmos os detalhes da Declaração Universal dos Direitos


-l
1

Humanos – DUDH, é válido adentrarmos no contexto histórico de sua produção e


-6
43

nos fundamentos que caracterizam sua existência. Ready?


.2
10
.1

Contexto Histórico
04
-0
A

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, ou Declaração Universal dos


N
PI

Direitos do Homem, foi adotada e proclamada pela Resolução 217-A (III) da


IA

Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, em Paris. A


IB
AL

Assembleia Geral das Nações Unidas faz parte da Organização das Nações Unidas –
LE

ONU e é o órgão intergovernamental (com função consultiva e deliberativa)


A

composto por todos os países membros da ONU. Nessa assembleia cada país tem
N
IA

direito a um voto. Além disso, essa Assembleia é um fórum político que, igualmente,
LA

supervisiona e coordena o trabalho das agências.


Atenção - O concurseiro deve estar atento é que a DUDH foi proclamada (anunciada,
aprovada, declarada) e não promulgada, instituída, aclamada e nem é um tratado.
Cuidado com confusões!
Existe algum motivo especial para a DUDH ter sido proclamada em 1948?
Sim, um motivo fundamental: o fim da Segunda Guerra Mundial. As atrocidades
cometidas nessa guerra fizeram com que os integrantes da ONU, através da
Assembleia Geral das Nações Unidas, buscassem um entendimento comum sobre os
direitos humanos. O documento é a base da luta universal contra a opressão e a

| 44
discriminação, defende a igualdade e a dignidade das pessoas e reconhece que os
direitos humanos e as liberdades fundamentais devem ser aplicados a cada cidadão
do planeta. Desse modo, a DUDH é uma norma comum internacional (entre os
signatários) a ser alcançada por todos os povos e nações e estabeleceu, pela
primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos.
Sobre o contexto da DUDH, o Ministério da Justiça publicou:
Quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos começou a ser

18
pensada, o mundo ainda sentia os efeitos da Segunda Guerra Mundial, encerrada em

1:
1945.

:2
22
Outros documentos já haviam sido redigidos em reação a tratamentos

0
02
desumanos e injustiças, como a Declaração de Direitos Inglesa (elaborada em 1689,

/2
após as Guerras Civis Inglesas, para pregar a democracia) e a Declaração dos Direitos

01
2/
do Homem e do Cidadão (redigida em 1789, após a Revolução Francesa, a fim de

-0
proclamar a igualdade para todos).

om
Depois da Segunda Guerra e da criação da Organização das Nações Unidas (também

l.c
ai
em 1945), líderes mundiais decidiram complementar a promessa da comunidade
gm
internacional de nunca mais permitir atrocidades como as que haviam sido vistas na
@

guerra. Assim, elaboraram um guia para garantir os direitos de todas as pessoas e


na
pi

em todos os lugares do globo.


ia
ib

O documento foi apresentado na primeira Assembleia Geral da ONU em 1946


a.
an

e repassado à Comissão de Direitos Humanos para que fosse usado na preparação


ai

de uma declaração internacional de direitos. Na primeira sessão da comissão em


-l
1

1947, seus membros foram autorizados a elaborar o que foi chamado de “esboço
-6
43

preliminar da Declaração Internacional dos Direitos Humanos”.


.2

Um comitê formado por membros de oito países recebeu a declaração e se


10
.1

reuniu pela primeira vez em 1947. Ele foi presidido por Eleanor Roosevelt, viúva do
04

presidente americano Franklin D. Roosevelt. O responsável pelo primeiro esboço da


-0

declaração, o francês René Cassin, também participou.


A
N
PI

O primeiro rascunho da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que


IA

contou com a participação de mais de 50 países na redação, foi apresentado em


IB
AL

setembro de 1948 e teve seu texto final redigido em menos de dois anos.
LE

Fonte: Ministério da Justiça


A
N
IA

Mas, finalmente, o que são os direitos humanos? Os direitos humanos são os


LA

direitos essenciais a todos os seres humanos, sem que haja discriminação por raça,
cor, gênero, idioma, nacionalidade ou por qualquer outro motivo. Eles podem ser
civis ou políticos, como o direito à vida, à igualdade perante a lei e à liberdade de
expressão. Podem também ser econômicos, sociais e culturais, como o direito ao
trabalho e à educação e coletivos, como o direito ao desenvolvimento. A garantia
dos direitos humanos universais é feita por lei, na forma de tratados e de leis
internacionais, por exemplo.
Segundo a ONU, desde sua adoção, em 1948, a DUDH foi traduzida em mais
de 360 idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as

| 45
constituições de muitos Estados e democracias recentes. A DUDH, em conjunto com
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos
Opcionais (sobre procedimento de queixa e sobre pena de morte) e com o Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Opcional,
formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos.
Os direitos humanos são essencialmente indivisíveis. Para alguns
doutrinadores, como Flávia Piovesan, a indivisibilidade dos direitos humanos está

18
representada pela sua unicidade e pela sua interdependência. Direitos indivisíveis

1:
são aqueles que não sofrem qualquer fracionamento. No caso específico dos

:2
22
Direitos Humanos, temos um conjunto de direitos, (sociais, culturais, econômicos,

0
etc.) que não têm prevalência ou referência um sobre o outro. Desse modo, os

02
/2
direitos humanos devem ser compreendidos como um conjunto, como um bloco

01
único, indivisível e interdependente.

2/
-0
Atenção: Os direitos firmados na DUDH possuem paridade hierárquica, não havendo

om
hierarquia de uns em relação a outros.

l.c
A necessidade de insculpir a indivisibilidade dos direitos humanos está na
ai
gm
histórica disputa entre os direitos liberais e sociais. Nos direitos humanos da DUDH,
@

tanto os direitos liberais como os sociais são reconhecidos como direitos humanos
na
pi

e, ainda que se reconheça que entre eles há diferenças de estrutura, é de se afastar a


ia
ib

ideia de que uns seriam dotados de maior categoria em relação aos outros.
a.
an

Sobre isso, Flávia Piovesan nos ensina:


ai

Além do alcance universal dos direitos humanos, a DUDH


-l
1

também inova ao consagrar que os direitos humanos compõe uma


-6
43

unidade indivisível, interdependente e inter-relacionada, na qual os


.2

direitos civis e políticos hão de ser conjugados com os direitos


10
.1

econômicos, sociais e culturais. Vale dizer, a Declaração rompe com as


04

concepções anteriores decorrentes das modernas declarações de


-0

direitos, que apenas ressaltavam ora o discurso liberal da cidadania


A
N

(Declaração Francesa e Americana do final do Século XVIII) ora o


PI
IA

discurso social (Declaração do Povo Trabalhador e Explorado da então


IB

República Soviética Russa do início do Século XX). Até então, os


AL
LE

valores liberdade e igualdade vinham divorciados. A declaração de


A

1948 vem a inovar prevendo, de forma inédita, que não há liberdade


N
IA

sem igualdade e não há igualdade e liberdade.


LA

Deste modo, traz uma concepção inovadora ao afirmar que os


direitos humanos compõe uma unidade indivisível, inter-relacionada e
interdependente.
Flávia Piovesan – Democracia, Direitos Humanos e Globalização
Econômica: Desafios e Perspectivas para construção da cidadania no
Brasil. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/flaviapiovesan/piovesan
_democracia_dh_global_economica_br.pdf

| 46
Pontos Importantes da DUDH

Aqui irei comentar os principais pontos da DUDH. São pontos que


comumente caem em concurso e que você já deve anotar em seu texto.
O primeiro ponto, danado de cair em provas, é a influência francesa no ideal
de direitos humanos. Além do ideário social e liberal, existe a tríade da revolução
francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Esses princípios axiológicos estão já

18
no primeiro artigo da DUDH e orienta todos os direitos fundamentais:

1:
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de

:2
22
razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de

0
fraternidade.

02
/2
Como você já sabe, a DUDH possui natureza jurídica de resolução e caráter

01
recomendativo. Isso significa que, apesar de ter seguido os trâmites da ONU para

2/
-0
aprovação em forma de resolução, suas recomendações não geram obrigação

om
vinculada dos países signatários. Em verdade, a DUDH não prevê mecanismos de

l.c
implementação dos Direitos Humanos e nem responsáveis pela implementação
ai
gm
desses direitos. Ou seja: não tem caráter compulsório, apenas recomendativo. Isso
@

ocorreu em função da Comissão de Direitos Humanos ter concebido a declaração


na
pi

originalmente como etapa preliminar à adoção posterior de um pacto ou tratado


ia
ib

internacional sobre o assunto.


a.
an

Atenção: A preocupação da Declaração subsistiu em reconhecimento formal de


ai

direitos, sem prever mecanismos de controle ou repressão diante a sua não


-l
1

observância. Assim, não há se falar em sanções econômicas, tampouco em


-6
43

intervenção humanitária.
.2

Isso significa que ninguém seguiu, correto? Errado, todos os países, em maior
10
.1

ou menor grau, buscaram desde então a implementação dos valores ali insculpidos.
04

O Brasil, por exemplo, seguiu os valores da DUDH na elaboração da Constituição


-0

Federal de 1988 – CF/88.


A
N

Outro ponto importante que você deve saber é que a DUDH reconhece uma
PI
IA

série de direitos sociais e liberais. Além disso, seu texto prevê direitos civis, políticos,
IB

sociais, econômicos e culturais, ou seja, contempla direitos de primeira e segunda


AL
LE

geração.
A

Atenção: A DUDH não abarcou os direitos de terceira geração.


N
IA

A seguir apresento um pequeno roteiro que você deve usar para acompanhar
LA

a leitura seca da DUDH (em seguida). Criei esse roteiro por observar que as questões
sobre a DUDH versam quase sempre sobre a literalidade da declaração ou sobre os
direitos/princípios ali previstos.
Confira o roteiro e as últimas pontuações antes de ler a DUDH.

Conceitos Artigo
Direito ao Meio Ambiente Não Consta
Direito à liberdade de pensamento, consciência e religião Artigo 2
Direito à liberdade e a segurança da pessoa Artigo 3

| 47
Proibição da escravidão e do tráfico de escravos Artigo 4
Direito à igualdade perante a lei (isonomia) Artigo 7
Remédios Jurídicos Eficazes Artigo 8
Devido processo Legal Artigo 9 e Artigo 10
Proibição da Tortura Artigo 5
Direito à ser protegido pela lei contra interferências na vida Artigo 12
privada

18
Direito à liberdade de locomoção (ir e vir) Artigo 13

1:
Direito ao Asilo Artigo 14

:2
22
Direito à nacionalidade Artigo 15

0
02
Direito de expressão Artigo 19

/2
Direito de consciência e religião Artigo 18

01
2/
Direito de reunião Artigo 20

-0
Direito a Liberdade (dimensão política) Artigo 21

om
Direito a Liberdade (dimensão Individual) Artigos 7, 16, 17, 18, 19 e 20

l.c
ai
Direito ao trabalho e à proteção contra o desemprego Artigo 23
gm
Direitos trabalhistas (contrato de trabalho, salário mínimo, Artigo 23
@
na

repouso, lazer e remuneração igual por trabalho igual)


pi

Direitos trabalhistas (limitação horária da jornada de trabalho Artigo 24


ia
ib

e as férias remuneradas)
a.
an

Direito à livre sindicalização dos trabalhadores Artigo 23


ai
-l

Direito à seguridade Social Artigos 22 e 25


1
-6

Direito à educação (ensino elementar obrigatório e gratuito, a Artigo 26


43

generalização da instrução técnico-profissional e a igualdade


.2
10

de acesso ao ensino superior)


.1

Princípio da democracia (único regime político compatível Artigos 21 e 29.


04
-0

com o pleno respeito aos direitos humanos)


A
N
PI

Necessito ressaltar três pontos significativos da DUDH antes da sua leitura.


IA
IB

Sobre o direito a liberdade é importante reconhecer que este possui duas


AL

dimensões, uma política e outra individual. Porém, essas duas dimensões são
LE

complementares e independentes.
A
N

Sobre o artigo IX, que fala que ninguém será arbitrariamente preso, detido ou
IA

exilado, é preciso fazer algumas breves pontuações. Lembre que a DUDH saiu surgiu
LA

a partir do contexto nazista da 2° GM. A prisão deve respeitar as normas jurídicas e


não a vontade daqueles que detém o poder. Nem o homem mais suspeito pode ser
preso arbitrariamente, detido ou exilado. É preciso um arcabouço jurídico
consolidado, anteriormente ao ato, que justifique a prisão. Lembro, também, que a
nossa própria CF/88 proíbe a pena de banimento.
No bojo do artigo IX está o artigo XIV, que fala sobre o asilo. Ele fala:
1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros países.

| 48
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos
e princípios das Nações Unidas.
Nesse artigo estão dois casos que excluem o direito de asilo:
a) perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum;
b) atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Por outro lado, não exclui o direito de asilo:

18
a) a alegação falsa ou simulada de crime comum ou ato contrário aos

1:
princípios das Nações Unidas;

:2
22
b) a alegação de crime comum, ou ato contrário aos objetivos das

0
Nações Unidas, quando o Estado que persegue não oferece qualquer

02
/2
garantia de julgamento justo e público do acusado.

01
Nas duas situações referidas pelo artigo, é indispensável que a perseguição

2/
-0
seja legitimamente motivada para impossibilitar o asilo.

om
Vamos à DUDH!

l.c
ai
gm
Declaração Universal dos Direitos Humanos
@
na
pi

A declaração pode ser conferida na íntegra nesse link:


ia
ib

http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm. Optei por


a.
an

colocar a DUDH seca em função de ser pequena e pela grande chance de ser cobrada
ai
-l

em sua literalidade. Como veremos nas questões a seguir, a banca tende a copiar ao
1
-6

pé da letra alguns artigos para perguntar sobre sua veracidade. Recomendo,


43

enfaticamente, que pegue a tabela-roteiro que vimos há pouco e acompanhe com


.2
10

seu marcador de textos a letra seca da DUDH.


.1
04
-0

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS


A
N
PI

Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III)


IA
IB

da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948


AL

Preâmbulo
LE

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


A
N

membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento


IA
LA

da liberdade, da justiça e da paz no mundo,


Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o
advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de
crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado
como a mais alta aspiração do homem comum,
Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado
de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião
contra tirania e a opressão,
Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas

| 49
entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé
nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e
na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o
progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em
cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e

18
liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,

1:
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da

:2
22
mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

0
02
A Assembleia Geral proclama

/2
A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a

01
2/
ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada

-0
indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se

om
esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e

l.c
ai
liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e
gm
internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e
@

efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os


na
pi

povos dos territórios sob sua jurisdição.


ia
ib

Artigo I
a.
an

Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São


ai

dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com


-l
1

espírito de fraternidade.
-6
43

Artigo II
.2

Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades


10
.1

estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça,


04

cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
-0
A

social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.


N
PI

Artigo III
IA

Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.


IB
AL

Artigo IV
LE

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico


A

de escravos serão proibidos em todas as suas formas.


N
IA

Artigo V
LA

Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,


desumano ou degradante.
Artigo VI
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como
pessoa perante a lei.
Artigo VII
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação
que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal

| 50
discriminação.
Artigo VIII
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam
reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo IX
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

18
Artigo X

1:
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e

:2
22
pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus

0
02
direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

/2
Artigo XI

01
2/
1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida

-0
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a

om
lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as

l.c
ai
garantias necessárias à sua defesa.
gm
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no
@

momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou


na
pi

internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que aquela que,
ia
ib

no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.


a.
an

Artigo XII
ai

Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no


-l
1

seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda
-6
43

pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.


.2

Artigo XIII
10
.1

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das


04

fronteiras de cada Estado.


-0
A

2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a


N
PI

este regressar.
IA

Artigo XIV
IB
AL

1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar


LE

asilo em outros países.


A

2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente


N
IA

motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos
LA

e princípios das Nações Unidas.


Artigo XV
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do
direito de mudar de nacionalidade.
Artigo XVI
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,
nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar
uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua

| 51
duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos
nubentes.
Artigo XVII
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo XVIII

18
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião;

1:
este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de

:2
22
manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela

0
02
observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

/2
Artigo XIX

01
2/
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito

-0
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e

om
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de

l.c
ai
fronteiras.
gm
Artigo XX
@

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas.


na
pi

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.


ia
ib

Artigo XXI
a.
an

1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país,


ai

diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.


-l
1

2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
-6
43

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade


.2

será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por


10
.1

voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.


04

Artigo XXII
-0
A

Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à


N
PI

realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a


IA

organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais


IB
AL

indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.


LE

Artigo XXIII
A

1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a


N
IA

condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o


LA

desemprego.
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por
igual trabalho.
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e
satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência
compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se
necessário, outros meios de proteção social.
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para
proteção de seus interesses.

| 52
Artigo XXIV
Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das
horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.
Artigo XXV
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a
sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança

18
em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos

1:
de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.

:2
22
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais.

0
02
Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da

/2
mesma proteção social.

01
2/
Artigo XXVI

-0
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos

om
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será

l.c
ai
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem
gm
como a instrução superior, esta baseada no mérito.
@

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da


na
pi

personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos


ia
ib

humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a


a.
an

compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos


ai

raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol


-l
1

da manutenção da paz.
-6
43

3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do gênero de instrução que


.2

será ministrada a seus filhos.


10
.1

Artigo XXVII
04

1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da


-0
A

comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus


N
PI

benefícios.
IA

2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiais


IB
AL

decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual


LE

seja autor.
A

Artigo XXVIII
N
IA

Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que os


LA

direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente


realizados.
Artigo XXIX
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita
apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de
assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de
outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do

| 53
bem-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos
contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XXX
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o
reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer
qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer

18
dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

1:
:2
22
0
02
Programa Nacional de Direitos Humanos

/2
01
2/
-0
A partir da Constituição de 1988, os direitos humanos foram definitivamente

om
assumidos como política de Estado no nosso país. Na materialização, ou tentativa,

l.c
dos direitos humanos, o Brasil editou três Planos Nacionais de Direitos Humanos:

ai
gm
a) Plano Nacional de Direitos Humanos – I. Lançado em 1996 no governo FHC.
@
b) Plano Nacional de Direitos Humanos – II. Lançado em 2002 no governo Lula.
na

c) Plano Nacional de Direitos Humanos – III. Lançado em 2010 no governo Lula.


pi
ia
ib
a.

Esses documentos podem ser encontramos nos seguintes links:


an

PNDH-I: http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh/pndh1.pdf
ai
-l

PNDH-II:
1
-6

http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh/pndhII/Texto%20Integral%20PNDH%20II.pdf
43
.2

PNDH-III: http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf.
10
.1
04
-0

A ideia de Programas Nacionais de Direitos Humanos surgiu na Conferência


A
N

Mundial dos Direitos Humanos, em 1993. Houve a recomendação que os países


PI

elaborassem programas nacionais para a promoção e proteção dos direitos


IA
IB

humanos. Esses programas são, acima de tudo, políticas de Estado e demonstram


AL

claramente a aplicação da proibição ao retrocesso em direitos humanos e a


LE

tendência a ampliação desses direitos.


A
N

Destaco que eles se sucedem no tempo e apenas o PNDH-3 tem eficácia


IA
LA

atualmente. Porém, é importante que conheçamos as semelhanças e diferenças


entre os mesmos. Como principais características comuns dos três programas,
temos:
a) Natureza suprapartidária.
b) Buscam superar as desarticulações entre as instâncias decisórias do aparato
estatal;
c) Promovem o alinhamento de prioridades entre poderes e níveis da
federação;
d) Convocam parcerias com o terceiro setor (Ongs);

| 54
e) Resultam da participação social. A sociedade foi consultada para a
construção desses programas, como as Conferências Nacionais de Direitos
Humanos ocorridas para subsidiar os dois últimos programas. No primeiro
programa foram realizados seminários para o acolhimento de propostas e
sugestões.
f) Compreendem metas de curto e médio prazo;
g) Possuem objetivos claros alinhados com ações;

18
h) Têm como objetivo final alcançar os direitos humanos consagrados na

1:
Constituição e em acordos internacionais.

:2
22
i) Dependem de edição de leis e até de mudanças constitucionais em alguns

0
casos.

02
/2
j) Versam sobre a liberdade de culto e de crença.

01
k) Combatem a intolerância religiosa, racismo e xenofobia.

2/
-0
om
Em breve síntese sobre as diferenças, podemos dizer que o PNDH-III é uma

l.c
continuação natural dos programas precedentes. Enquanto o PNDH-I enfatizou os
ai
gm
direitos civis e políticos e o PNDH-II incorporou os direitos econômicos, sociais,
@

culturais e ambientais, o PNDH-III avançou largamente temas como aborto, direitos


na
pi

homoafetivos e direito à memória.


ia
ib

Vamos aprofundar nas características principais de cada plano.


a.
an
ai
-l
1

PNDH -1
-6
43
.2
10

Foi criado em 1996, durante o governo FHC. Continha 228 propostas e foi o
.1

primeiro programa desse tipo na América Latina e um dos primeiros do mundo!


04
-0

Cuidou do combate a injustiças, do arbítrio e a impunidade, nomeadamente


A

daqueles encarregados de aplicar as leis. Além disso, se propôs a lutar contra a


N
PI

impunidade.
IA
IB

Esse plano tratou dos seguintes direitos: à vida, à liberdade, ao tratamento


AL

igualitário na aplicação das leis, das crianças e adolescentes, das mulheres, da


LE

população negra e indígena, dos estrangeiros refugiados e migrantes, das pessoas


A
N

portadoras de deficiências. Tratou, também, da educação para os direitos humanos


IA

e destacou a necessidade de ações internacionais para a promoção desses direitos.


LA

No campo da segurança pública, houve a transferência da competência de


julgar policiais militares acusados de crimes dolosos contra a vida da Justiça Militar
para a Justiça comum; tipificação do crime de tortura com a fixação de penas
severas; criminalização do porte ilegal de armas e criação do Sistema Nacional de
Armas (Sinarm); aprovação do Estatuto dos Refugiados; criação da Secretaria
Nacional de Direitos Humanos; regulamentação da escuta telefônica (art. 5º da CF);
gratuidade do registro de nascimento.
Por outro lado, o PNDH-1 não tratou de direitos de livre orientação sexual e
identidades de gênero, o que gerou protestos do movimento LGBT.

| 55
PNDH-2
Manteve os princípios do PNDH-1, compreendeu 518 medidas. Incorporou os
direitos de livre orientação sexual e identidade de gênero, assim como a proteção
dos ciganos. Versou com maior ênfase sobre a violência familiar, o combate ao

18
trabalho infantil e ao trabalho forçado, bem como a luta para a inclusão social de

1:
:2
pessoas portadoras de deficiências.

22
Incorporou os direitos econômicos, sociais e culturais (pouco claros no

0
02
PNDH-1) e direitos de afrodescendentes (pela primeira vez o Brasil reconhece a

/2
01
existência de racismo e aponta iniciativas para adotar políticas compensatórias).

2/
Tratou, também, de direitos à educação, saúde, previdência e assistência social, à

-0
saúde mental de dependentes químicos e portadores de HIV/Aids, ao trabalho, ao

om
acesso à terra, à moradia, ao meio ambiente saudável, à alimentação, à cultura e ao

l.c
ai
lazer. gm
Sobre o direito de afrodescendentes é importante salientar que o PNDH-2 estimulou
@
na

a adoção de medidas afirmativas desse importante grupo social para promover a


pi

igualdade de oportunidades. Entre essas medidas estão: a ampliação de acesso dos


ia
ib

afrodescendentes à justiça; cadastramento e identificação de comunidades


a.
an

remanescentes de quilombolas, preservação da memória e da cultura


ai
-l

afrodescendente; participação equilibrada desses grupos sociais nas propagandas


1
-6

governamentais e em matérias publicitárias em geral; e revisão dos livros didáticos


43

para resgatar a contribuição afrodescendente para a construção da identidade


.2
10

nacional.
.1
04
-0

PNDH-3
A
N
PI
IA

Esse programa foi considerado um avanço em relação aos programas


IB

precedentes. Porém, na época em que foi lançado, foi alvo de duras críticas. A
AL

oposição entendia que esse era um plano esquerdista – do PT – de direitos humanos


LE

no Brasil e que tinha inspiração antidemocrática e chavista.


A
N

Apesar das críticas, ampliou o elenco de direitos humanos. Tratou de temas


IA
LA

como segurança alimentar, igualdade racial, direitos da mulher, das crianças e


adolescentes, direito à habitação, meio ambiente, etc. Entre os PNDHs lançados, é o
que apresenta linguagem e sistematização mais peculiar. Quanto a linguagem
podemos notar a abordagem do tema mais direta e objetiva em relação aos Planos
precedentes.
O PNDH-3 tem mais de 500 metas (521 para ser mais exato), o que torna o
nosso trabalho de aprender toda a lei uma tarefa sobre-humana. O programa não
contém disposições de aplicação imediata, pois essas disposições dependem de
aprovação de projetos de lei. O PNDH-3 é, na verdade, um grande conglomerado de
diretrizes de políticas públicas que envolve toda a Esplanada dos Ministérios, além

| 56
de muitos órgãos da administração pública direta e indireta. Além disso, apesar das
propostas polêmicas, grande parte do plano traz sugestões genéricas demais, como
"proteger o idoso" ou "combater desigualdades salariais". Há outras, porém, bem
específicas. Uma traz recomendação ao Judiciário para que adote uma posição em
uma matéria sobre comunidades quilombolas. Outra propõe que os municípios
incluam, no Plano Diretor, espaços para acampamentos ciganos.
O PNDH-3 é estruturado nos seguintes eixos orientadores:

18
1- Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil;

1:
2- Desenvolvimento e Direitos Humanos;

:2
22
3- Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades;

0
4- Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência;

02
/2
5- Educação e Cultura em Direitos Humanos;

01
6- Direito à Memória e à Verdade.

2/
-0
Os 6 eixos são subdivididos em 25 diretrizes, 82 objetivos estratégicos e 512

om
ações programáticas. Além disso, apresenta as instituições responsáveis por cada

l.c
ação.
ai
gm
@

MACETE: as ações programáticas possuem um vocabulário comum: apoiar,


na
pi

fomentar, criar mecanismos, aperfeiçoar, estimular, assegurar e garantir, articular e


ia
ib

integrar, propor, elaborar, definir, ampliar, expandir, avançar, incentivar, fortalecer,


a.
an

erradicar, promover, adotar (medidas),desenvolver, produzir (informações,


ai

pesquisas), instituir (código de conduta), incluir, implementar.


-l
1
-6
43

O programa prevê ainda Planos de Ação a serem construídos a cada dois


.2

anos, sendo fixados os recursos orçamentários, as medidas concretas e os órgãos


10
.1

responsáveis por sua execução.


04

Sobre o PNDH-III é salutar destacar:


-0

A participação social na elaboração do programa se deu por meio de


A
N
PI

conferências, realizadas em todos os estados do Brasil durante o ano de 2008,


IA

envolvendo diretamente mais de 14 mil cidadãos, além de consulta pública.


IB
AL

A versão preliminar do Programa ficou disponível no site da SEDH durante o ano de


LE

2009, aberto a críticas e sugestões. O texto incorporou também propostas aprovadas


A

em cerca de 50 conferências nacionais, realizadas desde 2003, sobre tema como


N
IA

igualdade racial, direitos da mulher, segurança alimentar, cidades, meio ambiente,


LA

saúde, educação, juventude e cultura etc.


O tema da Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil abre o
Programa, de acordo com a ideia de que os agentes públicos e todos os cidadãos
são responsáveis pela consolidação dos Direitos Humanos no País. Para isso, o
PNDH-3 propõe a integração e o aprimoramento dos fóruns de participação
existentes, bem como a criação de novos espaços e mecanismos institucionais de
interação e acompanhamento, como o fortalecimento da democracia participativa.
A estratégia relativa ao tema Desenvolvimento e Direitos Humanos é
centrada na inclusão social e em garantir o exercício amplo da cidadania,

| 57
garantindo espaços consistentes às estratégias de desenvolvimento local e
territorial, agricultura familiar, pequenos empreendimentos, cooperativismo e
economia solidária.
O direito humano ao meio ambiente e às cidades sustentáveis, por exemplo,
bem como o fomento a pesquisas de tecnologias socialmente inclusivas constituem
pilares para um modelo de crescimento sustentável, capaz de assegurar os direitos
fundamentais das gerações presentes e futuras.

18
Já o tema Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades dialoga

1:
com as intervenções desenvolvidas no Brasil para reduzir a pobreza e garantir

:2
22
geração de renda aos segmentos sociais mais pobres, contribuindo de maneira

0
decisiva para a erradicação da fome e da miséria.

02
/2
O eixo Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência aborda

01
metas para diminuir a violência, reduzir a discriminação e a violência sexual,

2/
-0
erradicar o tráfico de pessoas e a tortura. Propõe ainda reformular o sistema de

om
Justiça e Segurança Pública ao estimular o acesso a informações e fortalecer

l.c
modelos alternativos de solução de conflitos, além de garantir os direitos das
ai
gm
vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas, reduzir a letalidade policial
@

e carcerária, dentre outros.


na
pi

O eixo prioritário e estratégico da Educação e Cultura em Direitos Humanos


ia
ib

se traduz em uma experiência individual e coletiva que atua na formação de uma


a.
an

consciência centrada no respeito ao outro, na tolerância, na solidariedade e no


ai

compromisso contra todas as formas de discriminação, opressão e violência.


-l
1

O capítulo que trata do Direito à Memória e à Verdade encerra o temas


-6
43

abordados no PNDH-3. “A memória histórica é componente fundamental na


.2

construção da identidade social e cultural de um povo e na formulação de pactos


10
.1

que assegurem a não-repetição de violações de Direitos Humanos, rotineiras em


04

todas as ditaduras, de qualquer lugar do planeta. O conteúdo central da proposta é


-0

afirmar a importância da memória e da verdade como princípios históricos dos


A
N

Direitos Humanos”, diz o texto do Programa.


PI
IA

“Jogar luz sobre a repressão política do ciclo ditatorial, refletir com


IB

maturidade sobre as violações de Direitos Humanos e promover as necessárias


AL
LE

reparações ocorridas durante aquele período são imperativos de um país que vem
A

comprovando sua opção definitiva pela democracia”, complementa o texto.


N
IA

No ano seguinte à publicação do PNDH 3 é aprovada a lei que institui a


LA

Comissão Nacional da Verdade, que vai apurar violações aos direitos humanos
ocorridas entre 1946 e 1988. Sancionada em 18 de novembro de 2011, a comissão
tem prazo de dois anos para colher depoimentos, requisitar e analisar documentos
que ajudem a esclarecer as violações de direitos humanos ocorridas no período que
inclui a ditadura militar. O órgão será composto por sete membros, nomeados pela
Presidência da República.
Fonte: http://www.brasil.gov.br/sobre/cidadania/direitos-do-cidadao/programa-
nacional-de-direitos-humanos-pndh

| 58
O PNDH-3 é o mais polêmico de todos. Sua construção incluiu desde temas
como a legalização do aborto, a proibição de símbolos religiosos em locais públicos,
a criação da Comissão da Verdade, a união civil homoafetiva, o direito de adoção
por casais homoafetivos, o controle da mídia e a adoção de mediação judicial nos
conflitos urbanos e rurais. A parte dos símbolos foi revogada (assim como a do
“controle da mídia”), a do aborto foi adotada de forma tímida – recomenda-se ao
Poder Legislativo a adequação do Código Penal para a descriminalização do aborto

18
– e a Comissão da Verdade foi criada.

1:
A descriminalização do aborto não estava presente no PNDH-1, estava

:2
22
timidamente abordado no PNDH-2 (dentro do conceito de saúde pública). No PNDH-

0
3 esse tema foi abordado pela diretriz de combate às desigualdades estruturais:

02
/2
01
Eixo III - Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades

2/
-0
[...]

om
Objetivo estratégico III - Garantia dos direitos das mulheres para o estabelecimento

l.c
das condições necessárias para sua plena cidadania
ai
[...] gm
@

g) Considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos
na
pi

serviços de saúde. (Redação dada pelo Decreto nº 7.177, de 12.05.2010).


ia
ib

[...]
a.
an

Recomendação: Recomenda-se ao Poder Legislativo a adequação do Código


ai

Penal para a descriminalização do aborto.


-l
1
-6
43

Sobre a livre orientação sexual, o PNDH-1 silenciou sobre esse tema, o PNDH-
.2

2 abordou o tema através das diretrizes:


10
.1

115. Apoiar a regulamentação da parceria civil registrada entre


04

pessoas do mesmo sexo e a regulamentação da lei de redesignação de


-0

sexo e mudança de registro civil para transexuais.


A
N

116. Propor o aperfeiçoamento da legislação penal no que se refere à


PI
IA

discriminação e à violência motivadas por orientação sexual.


IB

241. Implementar programas de prevenção e combate à violência


AL
LE

contra os GLTTB (gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais),


A

incluindo campanhas de esclarecimento e divulgação de informações


N
IA

relativas à legislação que garante seus direitos.


LA

O PNDH-3 reafirmou esses objetivos e ampliou os direitos ao abordar temas


como, por exemplo, a adoção por casais homoafetivos.
Sobre o controle da Mídia, o PNDH-3 propôs a elaboração de critérios de
acompanhamento editorial a fim de criar um ranking nacional de veículos de
comunicação comprometidos com os princípios de Direitos Humanos, assim como
os que cometem violações. Em 2010 essa ação foi, INFELIZMENTE, revogada.
Sobre o direito à memória, nem o PNDH-1 nem o PNDH-2 fizeram menção a
esse direito. O PNDH-3, por sua vez, incorporou esse tema e criou a Comissão da
Verdade. Essa comissão é suprapartidária, com mandatos e prazos definidos para

| 59
examinar violações de Direitos Humanos praticados durante a época da ditadura
militar.
O PNDH-3 foi além nesse tema e propôs o seguinte:
c) Fomentar debates e divulgar informações no sentido de que
logradouros, atos e próprios nacionais ou prédios públicos não
recebam nomes de pessoas identificadas reconhecidamente como
torturadores.

18
1:
:2
22
O que todas as políticas brasileiras atuais tem

0
02
em comum

/2
01
Galera, sem ideologismos aqui, beleza? O foco é concurso. Para que serviam

2/
-0
as políticas de direitos humanos anteriormente? Defender o cidadão do estado. E

om
hoje em dia? Proteger o cidadão de outro cidadão.

l.c
Isso é bom ou ruim? Não interessa, essa pergunta não cai na sua prova.

ai
gm
Isso funciona no Brasil? Não interessa, essa pergunta não cai na sua prova.
@
na

Mas, há um padrão em quase todas as políticas pedidas em nosso edital.


pi
ia

Quase todas elas:


ib
a.
an

1. protegem grupos específicos


ai
-l

2. conferem direitos aos seus grupos específicos


1
-6

a. Prioridade de atendimento, de acesso ou outro tipo de prioridade


43
.2

b. Proteção do Estado
10

c. Enaltecem a necessidade de proteção e diferencia da normatividade


.1
04

3. Conferem direitos e deveres


-0

4. Apresentam diretrizes, princípios e objetivos


A
N

5. Descrevem mecanismos de controle social da política pública


PI
IA

a. Conselhos
IB
AL

Essa lista que acabamos de apresentar é, por incrível que pareça, repetitiva e
LE

aplicável a praticamente 99% das políticas que iremos citar. É possível também que
A
N

caia em sua prova apenas algumas noções dos conceitos das políticas (destaque
IA
LA

para os conceitos usados nas políticas de igualdade racial).


A seguir irei apenas citar as principais políticas de cada uma das áreas. Caso
tenha interesse, clique nos links citados.

Políticas de mulheres
Como eu gostaria que o site do Ministério dos Direitos Humanos voltasse ao
ar. O site sucumbiu junto com o ministério. Ok... Brasil.

| 60
Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006):
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm

Políticas de crianças e adolescentes


Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm

18
1:
:2
22
Políticas de idosos

0
02
/2
01
Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003):

2/
-0
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm

om
l.c
ai
Políticas de pessoas com deficiência gm
@
na
pi

Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com


ia
ib

Deficiência) Lei 13.146/2015: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-


a.
an

2018/2015/Lei/L13146.htm
ai

Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do


-l
1

Espectro Autista (Lei nº 12.764/2012):


-6
43

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm
.2

Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Lei nº


10
.1

7.853/1989): http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7853.htm
04

Outras Legislações que tratam da Inclusão de Pessoas com Deficiência:


-0

http://www4.planalto.gov.br/ipcd/assuntos/legislacao?TSPD_101_R0=076720d09e0
A
N
PI

e00a85730d6b17ac8a697hTT0000000000000000364749b1ffff00000000000000000000
IA

000000005c154bc6009c2d267f08282a9212ab20006a2ff89737e46c92d23d123f74534c
IB

148d4565a4876d9221471a29e740345104081463e3b80a2800fe2b7bef57362150afd3f9
AL
LE

dcf14c55d9d270eb3dfd5405b4a39f501c84d22ee9ab804650aab1a73c
A
N
IA
LA

Políticas de igualdade racial


Temos a Secretaria Nacional de Políticas de Promoção e Igualdade Racial. Você
pode conhecer essa secretaria no link: http://www.seppir.gov.br
Neste site temos uma única parte que acredito que seja realmente
concursável:
1. O que são ações afirmativas?
São programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada
para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de
oportunidades.

| 61
Na definição da especialista em Direitos Humanos Dr. Flávia Piovesan (PUC/SP):
“As ações afirmativas constituem medidas especiais e temporárias que, buscando
remediar um passado discriminatório, objetivam acelerar o processo com o alcance
da igualdade substantiva por parte dos grupos socialmente vulneráveis, como as
minorias étnicas e raciais, entre outros grupos.” (Fonte: Piovesan, Flávia. “Ações
afirmativas da perspectiva dos direitos humanos” . Faculdade de Direito e Programa
de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.Cadernos de

18
Pesquisa, v. 35, n. 124,: Políticas Inclusivas e Compensatórias. Fundação Carlos

1:
Chagas, em co-edição com a Editora Autores Associados, jan./abr. 2005.)

:2
22
Na definição de Joaquim Benedito Barbosa Gomes, professor, jurista e magistrado

0
brasileiro: “Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um

02
/2
conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou

01
voluntário , concebidas com vistas ao combate à discriminação racial , de gênero e

2/
-0
de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes da discriminação

om
praticada no passado , tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva

l.c
igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação eo emprego {...} “Em
ai
gm
síntese, trata-se de políticas e de mecanismos de inclusão concebidas por entidades
@

públicas , privadas e por órgãos dotados de competência jurisdicional , com vistas à


na
pi

concretização de um objetivo constitucional universalmente reconhecido – o da


ia
ib

efetiva igualdade de oportunidades a que todos os seres humanos têm direito. “


a.
an

(Fonte: GOMES, Joaquim Benedito Barbosa. "Ação afirmativa & princípio


ai

constitucional da igualdade: o Direito como instrumento de transformação social. A


-l
1

experiência dos EUA". Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 67-69)


-6
43

Na definição da Lei nº 12.288/2010 - Título I - Disposições Preliminares, item VI:


.2

" ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo estado e pela
10
.1

iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da


04

igualdade de oportunidades"
-0

2. Quais são as principais políticas públicas de ações afirmativas hoje no Brasil?


A
N

Veja em Ações Afirmativas:


PI
IA

- Juventude
IB

- Educação
AL
LE

- Saúde
A

- Trabalho
N
IA

- Mulheres
LA

3. Qual a definição de povos e comunidades tradicionais?


Segundo o Decreto 6040/2007, são grupos culturalmente diferenciados e que se
reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que
ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução
cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos,
inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
Dentro desse conceito podem ser agrupados comunidades quilombolas, povos e
comunidades de terreiro ou comunidades de matriz africana, povos ciganos,
ribeirinhos, extrativistas, dentre outros.

| 62
4. Quais são as principais políticas públicas para povos e comunidades
tradicionais?
Veja em Comunidades Tradicionais:
- Comunidades Tradicionais de Matriz Africana
- Comunidades Quilombolas
- Povos Ciganos
5. O que é Discriminação Racial?

18
Segundo o Inciso I, do Parágrafo Único do Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº

1:
12.288, de 20 de julho de 2010) considera-se “discriminação racial ou étnico-racial:

:2
22
toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,

0
descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir

02
/2
o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos

01
humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social,

2/
-0
cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada”.

om
6. O que é Desigualdade Racial?

l.c
Segundo o Inciso II, do Parágrafo Único do Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº
ai
gm
12.288, de 20 de julho de 2010) considera-se “desigualdade racial: toda situação
@

injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades,


na
pi

nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem


ia
ib

nacional ou étnica”.
a.
an

7. Qual o objetivo da reserva de Cotas para negros no serviço público?


ai

O objetivo das cotas é a busca pela real participação dos negros nos cargos e
-l
1

empregos do setor público brasileiro, refletindo a sua representação no total da


-6
43

população (50,7% - IBGE). Atualmente, essa representação gira em torno de 31,0%.


.2

As políticas afirmativas de promoção da igualdade racial e as políticas de redução da


10
.1

pobreza têm objetivos diferentes, pois visam garantir oportunidades para parcelas
04

da população historicamente alijadas, e os negros se enquadram nesse perfil. Para o


-0

combate à pobreza, existem políticas sociais de caráter universal como o Programa


A
N

Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada.


PI
IA

8. A Lei de Cotas não trata as pessoas de maneira desigual?


IB

A política afirmativa trata desigualmente os desiguais exatamente para corrigir as


AL
LE

distorções observadas entre grupos diferentes. Nessa perspectiva, a cota funciona


A

como instrumento de uma política afirmativa para reduzir desigualdades raciais


N
IA

constatadas na sociedade brasileira. Ela pode ser adotada em diferentes esferas e


LA

incidências de forma a mitigar desigualdades históricas. No caso das cotas para o


serviço público, é preciso distinguir aprovação e classificação. Os concursos públicos
preveem que para serem aprovados, os candidatos devem atingir um determinado
desempenho, que os tornam aptos a ingressarem no serviço público. A lei não altera
o critério de aprovação, ou seja, os negros deverão atingir o desempenho previsto
no Edital. A lei altera o critério de classificação. Isto é justificável pela busca da
diversidade racial no âmbito do setor público.
9. A Lei de Cotas não vai aumentar a discriminação?

| 63
Há mais de uma década as políticas de ações afirmativas vêm sendo desenvolvidas
com êxito no Brasil, afastando temores tanto de radicalização de atitudes e ações
discriminatórias, quanto de reforço da estigmatização das pessoas negras
beneficiadas. Ao contrário, as ações afirmativas consolidam-se no período como
fatores essenciais à superação das desigualdades raciais. Sabe-se também que a
adoção de cotas para negros no serviço público não vai acabar com a discriminação
racial automaticamente. Essa transformação requer amplas mudanças de

18
mentalidades e de comportamentos das pessoas em todos os segmentos da

1:
sociedade.

:2
22
10. As cotas raciais ferem a meritocracia?

0
A meritocracia só pode existir onde existe igualdade de oportunidades. Ao julgar a

02
/2
constitucionalidade do sistema de cotas universitárias, em 2012, o ministro Marco

01
Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal, disse que “a meritocracia, sem que

2/
-0
esteja garantida a igualdade no ponto de partida, é uma forma velada de

om
aristocracia”. As cotas não eliminam o critério da seleção pela aprovação, pois

l.c
apenas atuam na classificação dos candidatos, permitindo que aqueles com
ai
gm
melhores condições materiais e subjetivas de competir não impeçam aqueles com
@

estigma histórico de entrarem para o serviço público federal.


na
pi

11. Quem define quem é negro no Brasil?


ia
ib

As pessoas têm o direito à autodeclaração de sua raça/cor ou de qualquer outra


a.
an

identificação de pertencimento e a implementação de uma política pública não


ai

pode ser questionada com base na possibilidade de fraude. Qualquer critério está
-l
1

sujeito a incompreensões ou à má fé, mas a crença na honestidade das pessoas deve


-6
43

prevalecer. Além disso, a lei prevê que, detectada a má fé, o candidato será
.2

eliminado do concurso.
10
.1

Fonte: http://www.seppir.gov.br/sobre/perguntas-frequentes
04
-0
A
N
PI

Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial – PNPIR (Decreto 4.886/2003):


IA

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4886.htm
IB
AL
LE
A
N
IA

Políticas LGBTTI
LA

Galera, não temos uma lei específica aqui, mas uma série de atos infra-
normativos que irá garantir que seus direitos sejam respeitados. De direitos
constitucionais até direitos legais.
Sobre isso:
O combate à discriminação contra lésbicas, gays, bissexuais e transexuais —
LGBT — e a defesa de seus direitos devem ser compreendidos não sob o equivocado
prisma da criação de novos direitos, mas sim sob a correta ótica da aplicação dos
direitos humanos a todos, indiscriminadamente. Trata-se da aceitação dos
princípios fundamentais sobre os quais todos os direitos humanos estão assentados:

| 64
a igualdade de valores e a igualdade de dignidade de todos os seres humanos.
Apesar dos avanços anotados ao redor do mundo no sentido do reconhecimento
dessas premissas, a Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay,
anunciou, com base em estudo recente, que mais de 70 países ainda criminalizam as
relações consensuais entre pessoas do mesmo sexo, havendo inclusive previsão de
pena de morte em pelo menos cinco países, com base no argumento de que a
identidade de gênero e a orientação sexual são conflitantes com certas tradições e

18
valores1.

1:
A história recente sobre a maneira como a homossexualidade vem sendo encarada

:2
22
no mundo ocidental é capaz de revelar como a questão é complexa e encerra

0
diversos problemas. A título de ilustração, pode-se mencionar que a Organização

02
/2
Mundial da Saúde — OMS — classificou a homossexualidade como transtorno

01
mental por mais de 40 anos e apenas em maio de 1990 sua Assembleia Geral

2/
-0
declarou que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem

om
perversão”. Essa nova postura passou a valer como premissa para os países-

l.c
membros das Nações Unidas somente em 1993, encerrando um ciclo de quase 2 mil
ai
gm
anos nos quais a homossexualidade foi tida, primeiro, como pecado, depois, como
@

crime e, por último, como doença.


na
pi

O caso conhecido como Toonem versus Australia, levado por um cidadão


ia
ib

australiano ao Comitê de Direitos Humanos da ONU2 em 19943, é considerado um


a.
an

divisor de águas, em nível mundial, na proteção contra a violação dos direitos de


ai

homossexuais. Tendo por base o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos4,
-l
1

o Comitê decidiu que as leis da Tasmânia, Estado onde residia o australiano


-6
43

Toonem, que criminalizavam relações homossexuais violavam as obrigações


.2

internacionais que a Austrália havia assumido ao assinar aquele tratado, bem como
10
.1

os direitos humanos de Toonem, ao expô-lo ao risco de ser preso ou criminalizado


04

por ser homossexual, e não heterossexual. O Comitê também entendeu que tais leis
-0

tinham um efeito ainda mais amplo e danoso ao reforçarem na sociedade o estigma


A
N

e o preconceito contra homossexuais. O Estado da Tasmânia retirou a lei de todos os


PI
IA

seus registros legais e a decisão do Comitê teve forte impacto, pois sinalizou para
IB

países com leis semelhantes o que poderia vir a acontecer, em escala mundial.
AL
LE

Desde então, mais de 30 países caminharam no sentido de abolir a ofensa à


A

homossexualidade de suas legislações e é possível notar, em várias atitudes


N
IA

públicas, mudanças marcantes em favor de uma maior aceitação da população


LA

LGBT. Além disso, o Comitê vem reafirmando essa sua posição por meio de outras
decisões semelhantes, consolidando o princípio de que nenhum país está
autorizado a cometer discriminação contra pessoas com base em sua sexualidade.
No entanto, a homofobia permanece em muitos lugares e lésbicas, gays, bissexuais e
transexuais continuam a ser alvo de espancamento, tortura, estupro e assassinatos.
No Brasil, há que se mencionar alguns marcos no que toca ao reconhecimento e à
defesa dos direitos LGBT, concretizados legal e judicialmente em particular desde a
promulgação da Constituição Federal em 19885, a qual determina, em seu art. 5º,
que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (caput) e

| 65
que veda, em seu art. 3º, qualquer preconceito, na promoção do bem de todos, em
virtude de “origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação” (inciso IV).
A criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos
Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais6 — CNCD-LGBT —, em
2001, é um desses marcos. Trata-se de órgão colegiado integrante da estrutura
básica da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República —

18
SDH/PR —, com a finalidade de formular e propor diretrizes de ação governamental,

1:
em âmbito nacional, voltadas para o combate à discriminação e para a promoção e

:2
22
defesa dos direitos do segmento LGBT. A referência para sua atuação é o Programa

0
Brasil sem Homofobia7, lançado em 2004 e coordenado pela SDH/PR, cujos objetivos

02
/2
são, entre outros: apoiar projetos de governos estaduais, municipais e de

01
instituições não governamentais que atuam na promoção da cidadania LGBT e no

2/
-0
combate à homofobia; disseminar informações sobre direitos e promoção da

om
autoestima LGBT; e incentivar a denúncia de violações dos direitos humanos da

l.c
população LGBT. Uma das ações do programa refere-se à implantação de centros de
ai
referência para o combate à homofobia gm
em todo o País.
@

A 1ª Conferência Nacional LGBT, em junho de 2008, foi evento referencial na luta


na
pi

pelos direitos humanos do segmento. Seu tema, “Direitos humanos e políticas


ia
ib

públicas: o caminho para garantir a cidadania LGBT”, propiciou espaço para a


a.
an

discussão dos rumos das políticas públicas voltadas para a população LGBT e
ai

subsidiou a elaboração do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos


-l
1

Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais8. O Plano contém 51


-6
43

diretrizes e 180 ações, baseadas exatamente nas propostas da Conferência, as quais


.2

contemplam antigas reivindicações e devem nortear toda a ação governamental e


10
.1

estabelecer políticas de promoção e proteção social para o segmento. A 2ª


04

Conferência foi realizada em dezembro de 2011.


-0

Vale mencionar que mais recentemente, em maio de 2011, o reconhecimento da


A
N

união estável para pessoas do mesmo sexo pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar
PI
IA

a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 42779 e a Arguição de Descumprimento


IB

de Preceito Fundamental (ADPF) 13210, representou grande conquista e veio, por


AL
LE

meio da judicialização da política, concretizar uma demanda há muito desejada.


A

Fonte:
N
IA

https://politicaspublicas.almg.gov.br/temas/lgbt/entenda/informacoes_gerais.html
LA

?tagNivel1=11465&tagAtual=11465

Ah!!!! Temos que definir uma última coisinha:


LGBT (ou LGBTTT) é a sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e Transgêneros, que consistem em diferentes tipos de
orientações sexuais.
A sigla LGBT também é utilizada como nome de um movimento que luta
pelos direitos dos homossexuais e, principalmente, contra a homofobia.
Inicialmente, o movimento era conhecido apenas por GLS (Gays, Lésbicas e

| 66
Simpatizantes), porém houve um grande crescimento e as pessoas começaram a
questionar as diferentes ramificações e identidades, fazendo com que o movimento
adquirisse outros tipos de orientações sexuais.
Aliás, o termo foi oficialmente alterado de GLS para LGBT em uma
Conferência Nacional, realizada em Brasília, no ano de 2008.
Infelizmente, o movimento LGBT ainda é carregado de preconceito e
conotações pejorativas, principalmente por núcleos mais conversadores da

18
sociedade e religiosos.

1:
De acordo com estas pessoas, as participações dos homossexuais nas

:2
22
paradas do orgulho LGBT são exageradas e despropositadas.

0
Por outro lado, os organizadores destes eventos dizem ser a Parada Gay

02
/2
(como ficou popularmente conhecida), um espaço de visibilidade do homossexual,

01
que é marginalizado na sociedade e deseja unicamente ter os mesmos direitos que

2/
-0
os heterossexuais (como o casamento de pessoas do mesmo sexo e a adoção, por

om
exemplo).

l.c
A Parada do Orgulho LGBT também tem o objetivo de conscientizar as
ai
gm
pessoas da diversidade que uma sociedade e construída, devendo todos saber
@

respeitar as diferenças.
na
pi

Existem diversas ONG’s (Organizações Não-Governamentais) que trabalham


ia
ib

em prol do movimento LGBT, para conscientizar a população e também os próprios


a.
an

membros, desde suporte para pessoas que enfrentam discriminação até conselhos
ai

sobre cuidados básicos contra doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo.


-l
1

Fonte: https://www.significados.com.br/lgbt/
-6
43
.2

Clínica e questões de gênero e raça


10
.1
04
-0

Há um claro retrato da desigualdade entre gêneros e raças no Brasil. Não


A

adentraremos na discussão do quanto isso é forte (é chover no molhado) nem de


N
PI

que só existe uma raça, a raça humana (é tese de doutorado). O racismo existe e o
IA
IB

machismo também. Enquanto alguns tem de começar do 0 (como foi o meu caso),
AL

outros tem de, infelizmente, começar do -10.


LE

Não há questão de nossa banca sobre o assunto e desconfio que também


A
N

não exista questão recente de qualquer banca em nossa área.


IA
LA

Mas, em resumo, qualquer traço de discriminação que o nosso paciente


esteja sofrendo deve ser considerado no contexto clínico.

Diferenças de Gênero
Tentarei ser o mais objetivo possível aqui, pois, como você sabe, as
discussões são intermináveis. Sabemos que os papéis de gênero variam com a

| 67
cultura e variam ao longo do tempo e a cultura é transmitida pelos pares (pelo grupo
social). Mas só isso não é suficiente para fazer uma boa prova.
Para Myers, o gênero é o conjunto de características biológicas ou
socialmente influenciadas pelas quais as pessoas definem-se como masculinas e
femininas. Para o senso comum, gênero é qualquer categoria, classe, grupo ou
família que apresente determinadas características comuns. Mas gênero é a mesma
coisa que sexo? Não.

18
Na realidade atual essas definições de “masculino” e “feminino” influenciam

1:
não só os papéis sociais e as relações de poder quanto os processos de constituição

:2
22
do sujeito. Apesar da diferença biológica entre machos e fêmeas, há muito mais em

0
jogo. Assim, classificar os indivíduos segundo a anatomia humana (sexo) é um erro

02
/2
na atualidade, pois desconsidera o gênero.

01
Um indivíduo é macho ou fêmea de acordo com os cromossomos expressos

2/
-0
em seus órgãos genitais. E quanto ao gênero? Na visão inicial dos estudos de gênero,

om
havia a concepção de que “gênero” significava definir “homem” e “mulher”.

l.c
Para não correr o erro de deixar de fora alguma classificação ou auto
ai
gm
classificação, optarei por não listar a variedade de gêneros possíveis6. No entanto,
@

destaco que qualquer banca dirá que classificar os gêneros humanos em


na
pi

“Masculino” ou “feminino” é um reducionismo bastante errado para a matriz


ia
ib

humana atual. Afinal, as características de gênero não são garantidas pela biologia,
a.
an

uma vez que muitos sujeitos apresentam características femininas ou masculinas


ai

em dissonância com sua anatomia.


-l
1

Sobre isso:
-6
43

O conceito de gênero é uma construção sociológica


.2

relativamente recente, respondendo à necessidade de


10
.1

diferenciar o sexo biológico de sua tradução social em papéis


04

sociais e expectativas de comportamentos femininos e


-0

masculinos, tradução esta demarcada pelas relações de poder


A
N

entre homens e mulheres vigentes na sociedade.


PI
IA

Embora biologicamente fundamentado, gênero é uma


IB

categoria relacional que aponta papéis e relações socialmente


AL
LE

construídas entre homens e mulheres. Na palavras de Simone de


A

Beauvoir, não se nasce mulher, torna-se mulher."


N
IA

Tornar-se mulher, mas tornar-se homem também, são


LA

processos de aprendizado oriundos de padrões sociais


estabelecidos, que são reforçados por normas, mas também por
coerção, e modificados ao longo do tempo, refletindo as
mudanças na estrutura normativa e de poder dos sistemas
sociais.

6
Apesar da Presidente Dilma criar a categoria “Mulher-sapiens”, não há tal gênero.
Talvez o gênero de ineptocracia, mas esse assunto não nos cabe aqui.

| 68
Fonte: A Questão de Gênero no Brasil - Maria Valéria
Junho Pena, Maria C. Correia, Bernice Van Bronkhost, Isabel
Ribeiro de Oliveira.

O conceito atual de gênero admite o seu entendimento por uma ideologia. É


uma construção que possibilita uma série de significados sociais que diferencia
indivíduos através de características psicológicas, sociais e culturais que são

18
fortemente associadas com as categorias biológicas de homem e mulher. Em termos

1:
mais simples, o gênero é uma categorização de indivíduos. É justamente a interação

:2
22
humana que permite e direciona a construção do gênero e da sexualidade.

0
Historicamente, como veremos a seguir, o conceito de gênero passou a ser

02
/2
utilizado pelos movimentos feministas na década de 1980. O feminismo, assim como

01
uma série de outros movimentos atuais, analisar as diferenças entre pessoas e o

2/
-0
reconhecimento de direitos. Discutir gênero implica não só falar em papéis sociais

om
como também em direitos! A partir dessa perspectiva, surgiram novas discussões

l.c
sobre relações de gênero. As relações de gênero7 constituem campo fértil de estudo
ai
sobre a forma como os gêneros se relacionam. gm
@

Vejamos um pouco da história da construção social do gênero e das relações


na
pi

de gênero com trechos do artigo de Praun:


ia
ib
a.
an

Histórico da construção de gênero


ai

As guerras mundiais da primeira metade do século XX trouxeram como


-l
1

consequência à escassez da população masculina, que se encontrava no campo de


-6
43

batalha ou fora vitimada em combate. Surgiu, então, a necessidade e a possibilidade


.2

de trabalho para as mulheres, ocasionando a configuração de uma nova realidade


10
.1

para elas, sobretudo as nascidas depois da década de 40. Até essa época, as
04

diferenças entre homens e mulheres apresentavam um significado equivocado: a


-0

mulher não tinha os mesmos direitos do homem, uma vez que lhe era inferior.
A
N
PI

(FRAZÃO e ROCHA, s/d). Os movimentos feministas e de emancipação da mulher,


IA

surgidos na segunda metade do século passado, tinham como objetivo a igualdade


IB
AL

de direitos entre os homens e as mulheres. Entre as causas defendidas por esses


LE

movimentos estavam o direito ao voto e à representação política, o acesso à


A

educação e ao mercado de trabalho, a liberdade sexual, a igualdade de


N
IA

oportunidades de trabalho e de salários, a independência. (FRAZÃO e ROCHA, s/d).


LA

No Brasil, a defesa do direito ao voto pelas mulheres começou, em 1910, com


a fundação do Partido Republicano Feminino, e terminou em 1932, com a
promulgação de decreto do Presidente Getúlio Vargas, estabelecendo o direito de as
mulheres votarem e serem votadas. Foram, portanto, 22 anos de manifestações
feministas em prol dessa causa. Nas décadas de 60 e 70 do Século XX, com a criação
do Movimento Feminista pela Anistia e do Centro da Mulher Brasileira, além do
surgimento dos jornais Brasil - Mulher e Nós Mulheres, o foco da atenção do

7
As relações de gênero também são construídas pelas sociedades.

| 69
movimento feminista deslocou-se para a redemocratização do Brasil. (OLIVEIRA e
KNÖNER, 2005). Surge, dessa forma, uma das mais significativas marcas do
movimento feminista: seu caráter político.
O movimento feminista defendia, também, que a diferença entre os sexos
não pode oportunizar relações de subordinação da mulher ao homem, nem de
opressão da mulher na vida social, profissional ou familiar. As feministas entendem
as qualidades ditas masculinas ou femininas como conquistas individuais e não de

18
um ou outro sexo. (OLIVEIRA e KNÖNER, 2005). A partir da eclosão dos movimentos

1:
feministas, as mulheres deixaram a posição apagada e de pouca expressão que lhes

:2
22
cabia na sociedade patriarcal para um estágio de maior visibilidade social e mais

0
acentuado progresso pessoal. Embora as mulheres tenham obtido avanços em suas

02
/2
tentativas de emancipação, a atual conjuntura ainda apresenta enormes desafios a

01
essa causa. (THEBAUD, 1991, apud NOGUEIRA, 2001). No ocidente, as mulheres

2/
-0
alcançaram um nível educacional superior, porém, ainda recebem salários menores

om
do que os homens têm menor poder social e assumem maiores responsabilidades

l.c
quanto aos filhos e outros dependentes. Embora algumas mulheres tenham
ai
gm
alcançado posições de destaque e de chefia nas suas profissões, o mundo público e
@

o poder institucional ainda mantêm como norma a dominação masculina. Acentua-


na
pi

se, no discurso dominante, a questão da maternidade para justificar a desigualdade.


ia
ib

(NOGUEIRA, 2001) Evans (1994), citado por Nogueira (2001), diz que as demandas do
a.
an

feminismo dos anos 80 ainda não foram efetivamente ganhas, embora algumas das
ai

formas de opressão feminina já tenham começado a se modificar. O mundo


-l
1

institucional, por exemplo, continua seguindo os padrões tradicionalmente


-6
43

masculinos de vida social. Dessa forma, o feminismo, que já conta com uma história
.2

de dois séculos, mais ou menos, ainda precisa ser discutido e considerado em seus
10
.1

avanços e necessidades. “Pode-se considerar que o objetivo principal do feminismo


04

foi e continua a ser a constituição de um espaço verdadeiramente comum aos


-0

homens e às mulheres, apelando para as teorias de igualdade.” (COLLIN, 1991, apud


A
N

NOGUEIRA, 2001, p. 8). Essa necessidade gerou uma grande quantidade de estudos e
PI
IA

de debates envolvendo as questões feministas. Muitos aspectos que afetavam de


IB

alguma maneira a vida das mulheres foram abordados nesses trabalhos e nos meios
AL
LE

acadêmicos. Assim, as mulheres, que durante muitos séculos estiveram ausentes da


A

história da humanidade, passaram a ter visibilidade, o que trouxe como


N
IA

consequência a problematização das questões de gênero e sexo. (NOGUEIRA, 2001)


LA

As diferenças entre homens e mulheres vão além da anatomia de cada


organismo, das aparências. Homens e mulheres são diferentes na maneira de ser,
embora não sejam desiguais no que concerne a seus direitos. Na busca pela
igualdade, porém, frequentemente as mulheres adotam como referencial o modelo
social masculino, como se a supressão das diferenças naturais fosse condição para a
igualdade de direitos. Assim, a busca pela igualdade de direitos entre homens e
mulheres ocasionou a confusão entre igualdade de direitos e igualdade de natureza
entre os dois sexos. (FRAZÃO e ROCHA, s/d). A consequência dessa confusão
acarretou entre as mulheres a insatisfação, expressa com clareza por Lima Filho

| 70
(2002, citado por FRAZÃO e ROCHA, s/d): um senso de esterilidade, vazio,
desmembramento e traição. Por terem abraçado a jornada heroica masculina,
apesar de bem-sucedidas, saíram-se dela exauridas e sofridas, tendo sacrificado
seus corpos e suas almas.
Além disso, por pensarem equivocadamente que homens e mulheres
possuem uma mesma natureza, buscaram uns nos outros as mesmas características
que encontravam em si mesmos. Isso não favoreceu a compreensão mútua nem

18
facilitou a comunicação. Pelo contrário, a supressão ou banalização das diferenças

1:
acarretou novas dificuldades e conflitos. (FRAZÃO e ROCHA, s/d). “Quando as

:2
22
diferenças entre feminino e masculino são suprimidas, impedimos a constituição de

0
uma identidade em consonância com a identidade de gênero, o que gera conflitos

02
/2
tanto intrapsíquicos quanto relacionais.” (FRAZÃO e ROCHA, s/d, p. 28). Esses

01
mesmos autores dizem ainda que, quando masculino e feminino são integrados,

2/
-0
ampliam-se nossas capacidades e nosso poder. Para Frazão e Rocha (s/d), vivemos

om
em uma sociedade que ainda tende a valorizar os aspectos masculinos em

l.c
detrimento dos femininos. Na verdade, a integração harmônica de ambos é
ai
gm
componente essencial ao processo de desenvolvimento e crescimento, enquanto
@

que a supervalorização dos aspectos masculinos trouxe, para algumas mulheres,


na
pi

implicações psíquicas importantes.


ia
ib
a.
an

As questões de gênero
ai

Temas que se enquadram atualmente nas questões de gênero, como os


-l
1

relacionados às diferenças sexuais, têm sido objeto de estudo da psicologia há


-6
43

quase um século. Questões psicológicas envolvendo raça e sexo estiveram abrigadas


.2

historicamente no campo da psicologia diferencial, por causa da dificuldade que


10
.1

esse tipo de variável representava para a perspectiva experimental. Na maioria das


04

explicações psicológicas desse campo, preponderou o pressuposto biológico,


-0

considerando naturais as diferenças constitutivas dos seres humanos. (LAGO et al.,


A
N

2008).
PI
IA

A análise da revista Psychological Abstracts, da década de 70, revela que o


IB

aumento do interesse pelos estereótipos, naquela época, se deveu quase


AL
LE

inteiramente aos estudos sobre estereótipos sexuais. Essa revista procurou estudar
A

o gênero, investigando os atributos masculinos e femininos da época. Para isso,


N
IA

analisou os tipos de comportamentos que a sociedade esperava encontrar nos


LA

homens e mulheres, ou seja, os estereótipos masculinos e femininos. Esses


estereótipos ressaltavam as qualidades consideradas masculinas e patologizavam
as qualidades femininas, ocasionando efeitos negativos nas mulheres que não se
adequavam ao padrão idealizado. Segundo o estereótipo feminino, as mulheres
continuavam sendo submissas, reprodutoras e invisíveis na sociedade. (AMÂNCIO,
2001, citado por OLIVEIRA e KNÖNER, 2005).
Amâncio (2001), citado por Oliveira e Knöner (2005), diz também que esses
estudos apontam os estereótipos sexuais como um fenômeno generalizado na
sociedade americana. Apesar das mudanças obtidas, esses estereótipos ainda

| 71
permaneciam praticamente inalterados. Os estudos apontavam, também, para os
efeitos que os estereótipos causavam na identidade das mulheres, provocando
baixa auto-estima, tendência ao insucesso ou ao fracasso. Esses efeitos incluíam,
ainda, a patologia, porque o modelo ideal de adulto mentalmente equilibrado era
baseado no estereótipo masculino, aos quais as mulheres recorriam para se
autodescrever. A tentativa, expressa pelo feminismo, de ultrapassar a opressão
feminina, impulsionou estudos sobre as causas das desigualdades sociais baseadas

18
nas diferenças de sexo/gênero, bem como das formas de melhor combater essas

1:
desigualdades. Como consequência, diferentes disciplinas sentiram o efeito desses

:2
22
estudos em seu domínio de conhecimento, entre elas a sociologia, a antropologia e

0
a psicologia. (NOGUEIRA, 2001)

02
/2
Com a constatação da igualdade intelectual entre homem e mulher,

01
buscaram-se novas possibilidades de justificar a divisão sexual do trabalho, na

2/
-0
identificação dos temperamentos masculinos e femininos. Associaram-se, então, à

om
mulher características subjetivas, como a afetividade e a docilidade, vinculando-se

l.c
ao homem a agressividade e a racionalidade. Foi legitimada a distinção entre as
ai
gm
duas formas de ser e de agir conforme o sexo biológico. O efeito dos processos de
@

dominação foi tomado, portanto, pela psicologia e pelas demais ciências, como a
na
pi

principal razão para a circunscrição do trabalho da mulher ao universo doméstico e


ia
ib

familiar. (LAGO et al., 2008).


a.
an

Essa perspectiva predominou até metade do século XX. Era utilizada para
ai

explicar por que, nos contextos urbanos industrializados, apenas os homens


-l
1

assumiam posições de destaque, cargos de maior responsabilidade poder e status


-6
43

social. No período depois da Segunda Guerra, considerava-se importante a presença


.2

feminina no lar para garantir a saúde mental das crianças, num momento histórico
10
.1

em que a ordem social precisava ser restabelecida. O afastamento da mulher em


04

função do trabalho apresentava-se como um problema social capaz de gerar


-0

distúrbios psicológicos infantis. (LAGO et al., 2008). Segundo Amâncio (2001, apud
A
N

LAGO et al., 2008), na década de 60, a psicóloga clínica feminista Betty Friedan
PI
IA

publica estudos criticando os mitos da feminilidade da cultura americana no pós-


IB

guerra. Para ela, esses mitos haviam sido criados para justificar a submissão da
AL
LE

mulher ao isolamento doméstico.


A

Esses estudos foram amplamente divulgados, servindo de embasamento


N
IA

para outros estudos que se opunham aos estereótipos sexuais. Amâncio ressalta,
LA

ainda, que as primeiras menções à categoria gênero surgem na psicologia em


estudos publicados na década de 70, abordando as características masculinas e
femininas relacionadas ao sexo biológico. Esses estudos foram importantes à
medida que representaram a primeira possibilidade de distinção entre sexo e gênero
nas pesquisas sobre identidade. (LAGO et al., 2008). Na segunda metade do Século
XX, a psicologia foi marcada pelo debate entre essencialização, que considera o
gênero um atributo do sujeito, uma propriedade estável da personalidade; e
socialização, cujo pressuposto se desloca da biologia para o contexto. A socialização
considera o gênero como resultado de processos sociais e culturais.

| 72
Destaca-se, nessa época, a teoria do papel social de Alice Eagly, para quem
os papéis sociais atuam sobre o comportamento das pessoas, disso resultando as
diferenças sexuais. Ao longo de seu desenvolvimento, as crianças se apropriam
desses comportamentos. (LAGO et al., 2008). Como a psicologia não é neutra, o
conjunto de determinantes sociais, históricos, políticos e filosóficos interfere na
formulação de modelos e conceitos da psicologia. Esses determinantes condicionam
a importância dos problemas e as interpretações mais adequadas a eles. Dessa

18
forma, a psicologia social, a partir de determinado momento, passou a estudar as

1:
mulheres, incorporando-as à ciência. Nogueira (2001) ensina que

:2
22
Desde os estudos acerca das diferenças associadas ao sexo de pertença,

0
passando pelas críticas a esses trabalhos, à apresentação de novas teorias

02
/2
(androginia, por exemplo) até à introdução do termo gênero nas pesquisas, toda

01
esta evolução se foi construindo pelo “entrelaçar” de diferentes teorias e

2/
-0
perspectivas provenientes, quer das teorias feministas, quer do debate ao nível da

om
construção do conhecimento e da epistemologia positivista característico de todo o

l.c
período da modernidade. (NOGUEIRA, 2001, p. 9)
ai
gm
A partir das críticas ao determinismo biológico e das críticas feministas do
@

movimento da segunda vaga, na psicologia o conceito de sexo foi substituído pelo


na
pi

conceito de gênero, utilizado atualmente. Essa mudança política tornou-se


ia
ib

importante porque deixa de compreender a diferença como determinada


a.
an

biologicamente, e por isso mesmo, imutável, passando a considerá-la do ponto de


ai

vista psicossocial e, dessa forma, como algo passível de mudança. (HOLLWAY, 1994,
-l
1

apud NOGUEIRA, 2001). É por meio do gênero que o sujeito se identifica. Dessa
-6
43

forma, a análise do sujeito se faz levando em conta o gênero em que ele está
.2

inserido. Para Azeredo (1998) citado por Oliveira e Knönen (2005), na psicologia,
10
.1

utilizar o gênero faz uma grande diferença, porque permite compreender o sujeito a
04

partir da ideia que ele faz de si mesmo, como homem ou mulher. Estudos realizados
-0

por médicos e psiquiatras ao final dos anos 60 mostraram que mudar o sexo
A
N

biológico de um indivíduo era mais fácil do que alterar o sentimento de


PI
IA

masculinidade ou feminilidade que esse indivíduo possuía, ou seja, seu sexo


IB

psicológico. Os resultados desses estudos revelaram a autonomia da identidade


AL
LE

psicológica em relação à anatomia fisiológica, conduzindo, assim, para a


A

emergência do conceito de gênero. (AMÂNCIO, 2001, citado por OLIVEIRA e KNÖNEN,


N
IA

2995).
LA

Fonte: Praun, Andrea Gonçalves. Sexualidade, gênero e suas relações de poder.


Revista Húmus. Jan/Fev/Mar/Abr. N° 1. 2011.

27. Violência, abuso e alienação; 28. Violência familiar, contexto


de risco e proteção social; 29. Violência sexual; 30. Rede de
enfrentamento à violência contra a mulher;

| 73
Violência
Do ponto de vista técnico, a violência pode estar presente em todo tipo de
relação social humana. Interessa-nos adentrar no modo psicológico como essa
violência produzida e quais as suas nuances. Não abordaremos, portanto, as
perspectivas sociológicas ou até antropológicas que também buscam explicar esse
fenômeno.
Antes de falarmos em processos psicológicos de vitimização, devemos

18
elucidar a violência em si e os seus tipos. Nesta seara, temos três dimensões:

1:
:2
a) Violência Física

22
b) Violência Psicológica

0
02
c) Violência Sexual.

/2
01
De acordo com Brasil (2002) A violência física pode ser definida como atos

2/
violentos, uso de força física de forma intencional, não acidental, praticada por pais,

-0
responsáveis, familiares ou pessoas próximas da criança ou do adolescente, com o

om
objetivo de ferir, lesar ou destruir a vítima, deixando ou não marcas evidentes em

l.c
ai
seu corpo. gm
Nesse aspecto, a violência contra a criança e o adolescente só pode ser
@
na

considerada quando esta tiver propósito lesivo para a vítima. São descartados
pi

aqueles casos ocasionados por algum tipo de acidente, ou ainda com a intenção e
ia
ib

punição educativa.
a.
an

Ainda de acordo com Brasil (2002) A violência sexual se define:


ai
-l

Em todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo


1
-6

agressor está em estágio mais adiantado que a criança ou o adolescente. Tem por
43

intenção estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter satisfação sexual.


.2
10

Apresenta sob a forma de práticas eróticas e sexuais impostas à criança ou ao


.1

adolescente pela violência física, ameaças ou indução de sua vontade. [...] Engloba
04
-0

ainda a situação de exploração sexual visando lucros como é o caso da prostituição


A

e da pornografia.
N
PI

Nos casos de violência sexual, nem sempre a vítima apresenta sinais


IA
IB

corporais visíveis. No entanto, esse tipo de violência só será notado quando houver
AL

penetração ou algo que subentenda o uso de força física, necessitando um maior


LE

auxílio do poder judiciário para obter provas concretas da ocorrência do abuso.


A
N

A violência psicológica constitui toda forma de rejeição, depreciação,


IA

discriminação, desrespeito, cobranças exageradas, punições humilhantes e


LA

utilização da criança e do adolescente para atender às necessidades psíquicas dos


adultos. (Brasil, 2002).
É certo que, essas formas de maus-tratos causam danos ao
desenvolvimento biopsicossocial da criança e do adolescente, afeta a sua estrutura
emocional, cognitiva e pessoal de encarar a vida. Esse tipo de violência é por sua
vez, um dos mais difíceis de serem identificados, pela falta de materialidade e
evidências que comprovem o fato.
Existe uma ilusão de que a sociedade realmente sabe como lidar com
situações de violência, devido ao intenso debate na imprensa, em livros, mas a

| 74
verdade é que se instalou uma perda do estranhamento diante das agressões
vividas ou presenciadas no dia a dia, e reside exatamente aí o perigo. Enquanto a
violência, seja a psicológica, física ou sexual, neste caso, contra crianças e
adolescentes, não chamar atenção das pessoas, não lhes causar indignação
suficiente para que denunciem os agressores, dificilmente será um problema que
poderá ser avaliado com bases em números reais de ocorrências, dificultando,
assim, sua resolução.

18
Ainda existe uma incerteza nas consequências precisas e causas universais

1:
da violência contra crianças e adolescentes. Cada caso tem suas peculiaridades e as

:2
22
definições de agressão variam entre pesquisadores da área. Fato certo, é que a

0
mudança de mentalidade com relação a proteção que deveria sempre ser esperada

02
/2
do ambiente familiar, ajudou a criar um alerta não só entre a população mas,

01
também, entre os profissionais e pesquisadores que tratam dessas crianças e

2/
-0
adolescentes que passam pelos diversos tipos de violência. Esta postura do familiar

om
como agressor da criança e do adolescente foi bem elucidada por Bock:

l.c
ai
A família, como lugar de proteção e cuidado, é, em muitos casos, um mito.
gm
Muitas crianças e adolescentes sofrem ali suas primeiras experiências de violência: a
@

negligência, os maus-tratos, a violência psicológica, a agressão física, o abuso


na
pi

sexual.
ia
ib

Fonte: Bock, 2002.


a.
an
ai

Considerar que as agressões sofridas podem ter como causadores os


-l
1

próprios pais, por exemplo, foi um fator que ajudou a traçar o perfil destes
-6
43

agressores e da própria vítima, de forma a contribuir com um método mais eficiente


.2
10

para diagnosticar a violência e assim, poder combatê-la e até preveni-la através da


.1

investigação mais específica de suas causas. Vale observar o que conclui Gonçalves:
04
-0

Quando a comunidade científica reconheceu que certos ferimentos


A

infligidos aos corpos das crianças tinham como origem a agressão paterna ou
N
PI

materna, rompeu-se o grande ciclo da civilização que fez da família o centro e o


IA
IB

núcleo da proteção à criança.


AL

Fonte: Gonçalves, 1999.


LE
A
N

A imprecisão nas conclusões acerca dos efeitos da violência, apesar dessas


IA
LA

pesquisas, ainda persiste. Por uma questão, inclusive, cultural, o que pode ser
considerado violência contra crianças em determinada comunidade, resultando em
sérias consequências psicológicas à criança, em outras comunidades pode não
passar de um ritual que não provocará danos graves e passará despercebido como
algo comum. Neste ponto, é importante que se faça uma definição do que pode ser
violência e o que vem a ser a vítima, de acordo com a realidade vivida e não somente
pautando-se no senso comum.
A violência pode obter uma definição generalizada, como é possível
perceber, segundo Velho (1996): “é o uso agressivo da força física de indivíduos ou
grupos contra outros.” Afirmando mais adiante que: “violência não se limita ao uso

| 75
da força física, mas a possibilidade ou ameaça de usá-la constitui dimensão
fundamental de sua natureza.”
Independente do contexto, a violência não é só uma qualidade de relação
interpessoal, mas um complexo sistema de agressor/vítima e de objetos que
sustentam ou tentam resolver essa violência. Estou falando dos aparatos
tecnológicos, jurídicos e sociais para lidar com a violência. Emerge mais
recentemente, por exemplo, o cyberbulling, surgem leis de proteção a grupos sociais

18
específicos, a sociedade passa a considerar crimes condutas discriminatórias acerca

1:
da orientação sexual, etc.

:2
22
Por outro lado, quando falamos de violência como fenômeno da sociedade,

0
não há como dissocia-la da delinquência. Além disso, todo crime é, em si, um ato de

02
/2
violência contra a humanidade.

01
No linguajar comum, violência é sinônimo de agressão. Porém, para nós

2/
-0
psicólogos, a violência é mais que a agressão. Enquanto o comportamento agressivo

om
é um comportamento adaptativo humano e necessário como habilidade no trato

l.c
social, a violência é um exagero da agressividade, a ponto de transgredir as regras
ai
gm
sociais e morais de um grupo de pessoas. É um atentado que pode ser físico e
@

psicológico.
na
pi

Atenção: a violência é exagerada agressão física e ou psicológica que ultrapassa o


ia
ib

aceitável socialmente.
a.
an

No caso específico da violência doméstica contra a criança e o adolescente,


ai

Minayo (2002) afirma que pode ser considerada como uma das formas de
-l
1

manifestação de violência, caracterizada como aquela que é exercida na esfera


-6
43

privada. A autora associa ainda a violência sofrida por crianças e adolescentes com
.2

suas condições de vida e com a atuação de jovens transgressores. Apesar do


10
.1

conceito exposto pela autora, outros estudiosos defendem a consideração, também,


04

de determinantes diversos, além dos sociais, visto que a violência doméstica não é
-0

exclusividade das classes menos favorecidas.


A
N

No Brasil, somente ao final dos anos 80 foi dado devido destaque para os
PI
IA

casos de violência contra a criança e o adolescente, e na Constituição Federal de


IB

1988 temos um exemplo disso:


AL
LE

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


A

adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à


N
IA

alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao


LA

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo


de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
Um dos critérios para caracterizar um ato como violento, no Brasil, é a
intencionalidade, ou seja, o propósito em realmente ocasionar a violência contra
alguém. Porém, algumas polêmicas diante destas definições são inevitáveis. A
grande questão seria a que ponto um tapa, que em algumas comunidades não é
considerado algo muito grave, por exemplo, poderá ser considerado um ato de
violência. Existem propostas para se mensurar o nível de cada tipo de agressão, a

| 76
exemplo do que é exposto por Emery e Laumann-Billings (1998) que afirmam existir
a violência em família leve, ou moderada classificada como “maus-tratos em
família” e a violência do tipo grave denominada “violência familiar”. Esta última
seria a de consequências mais profundas para a criança e o adolescente, com
traumas psicológicos, violação sexual e danos físicos.
O desafio observado, não só na realidade brasileira, mas em boa parte dos
países, é descobrir, de fato, os casos existentes de violência doméstica contra

18
criança ou adolescente. Os pais e familiares muitas vezes deixam a situação de

1:
violência “escondida” dos olhos da sociedade, principalmente quando a agressão

:2
22
parte daqueles que deveriam proteger a prole, circunstância que implica

0
constrangimento para a vítima e os demais familiares. Tal situação dificulta o

02
/2
trabalho de médicos, psicólogos, juízes, assistentes sociais e tantos outros

01
profissionais que vêm tentando ajudar as vítimas a superar estes acontecimentos

2/
-0
também afastando e punindo seus agressores.

om
Diante desta violência encoberta pela família, o método a ser utilizado para

l.c
facilitar o diagnóstico dos casos de agressão contra crianças e adolescentes é
ai
gm
baseado na busca por indícios, que são revelados através do depoimento dos pais e
@

familiares em geral (observando-se se há grande diferença entre o que é relatado


na
pi

entre eles e a vítima) e do próprio comportamento da criança de forma isolada e na


ia
ib

interação com os pais (se é distante ou não), além da investigação de lesões físicas
a.
an

repetitivas na vítima e até sua frequência escolar (se vem caindo e possui relação
ai

com alguma violência sofrida).


-l
1

As consequências da violência em família contra crianças e adolescentes


-6
43

podem ser das mais variadas, dependendo, inclusive do ambiente cultural no qual a
.2

família está inserida. Entretanto, de uma forma geral, segundo Gonçalves:


10
.1

A violência em família pode acarretar uma enorme gama de consequências


04

para a criança, e esses efeitos variam do físico- ferimentos externos ou internos – ao


-0

psíquico- distúrbios mais ou menos graves que podem envolver agressividade,


A
N
PI

ansiedade ou depressão.
IA

Fonte: Gonçalves, 1999.


IB
AL

Dentre as várias consequências psicológicas destacam-se o transtorno do


LE

estresse pós-traumático, altos índices de depressão, baixa autoestima, dificuldade


A

de relacionamentos interpessoais com crianças e adultos, ansiedade,


N
IA

amadurecimento sexual precoce, fobias.


LA

O espaço entre a violência e os seus efeitos também pode variar, em muitos


casos, demorando anos para aparecer, e acarretando, desta forma, uma dificuldade
para os profissionais, em relacionar a agressão com a consequência futura. Isto
interfere diretamente nos dados estatísticos, pela razão de que nem sempre dados
de mortes, por exemplo, são conectados com a intencionalidade de um ato violento
praticado muito tempo antes do óbito.
Diante desta observação geral sobre a violência familiar e seus efeitos, é
importante frisar a possibilidade de minimizar as consequências deste ato danoso
através de medidas simples: utilização da escola como um identificador de

| 77
mudanças no comportamento e como orientadora para a conduta dos agressores
(medida principal e estratégica); contar com o auxilio de profissionais
especializados, como psicólogos e assistentes sociais no acompanhamento à vítima
para seu retorno a uma vida normal; a intervenção dos profissionais do Direito na
função de encaminhar um tratamento adequado à vítima e a devida punição ao
agressor, garantindo que a violência não se repita. Também faz-se mister citar a
importância da família no processo de recuperação da criança ou adolescente,

18
devendo obter consciência diante dos fatos e apoiar a vítima, mesmo que se

1:
impossibilite a reintrodução do agressor no núcleo familiar, não transferindo

:2
22
sentimentos de culpa ao indivíduo que sofreu a violência e procurando

0
reestabelecer uma convivência saudável com os demais membros da família.

02
/2
Aqui preciso fazer algumas considerações sobre a violência doméstica e

01
suas consequências psicológicas. De acordo com Minayo (2002) a violência

2/
-0
doméstica contra a criança e o adolescente pode ser considerada como uma das

om
formas de manifestação de violência, caracterizada como aquela que é exercida na

l.c
esfera privada.
ai
gm
O fenômeno da violência doméstica contra a criança e o adolescente é
@

universal, atinge todas as camadas na sociedade, desconstruindo para a vítima a


na
pi

representação social da família, que outrora era um lugar de acolhimento, atenção,


ia
ib

cuidado e provimento de suas necessidades. A vítima perde o direito de ser criança e


a.
an

sente-se desprotegida no seio do seu lar.


ai

O destaque dado à violência na família e, em particular, contra a criança e o


-l
1

adolescente, tem seu fundamento pelo fato de se constituir no embrião da violência


-6
43

social de maneira geral. Enfatizando: na unidade familiar encontra-se o laboratório


.2

sórdido das perversidades, (Fiorelli,2011).


10
.1

E quanto as notificações da violência? Sobre esse tema, é digno destacar.


04

Apesar das determinações legais contidas no ECA, a subnotificação da


-0

violência é uma realidade no Brasil. Isso não surpreende, se considerarmos que o


A
N
PI

mesmo ocorre em países onde a legislação é mais antiga e os sistemas de


IA

atendimento mais aprimorados. Uma pesquisa realizada em trinta países em 1992


IB
AL

mostrou que apenas a metade das nações desenvolvidas e um terço dos países em
LE

desenvolvimento dispunham de registros centralizados; em países como Estados


A

Unidos, França e Alemanha, a coleta de dados é fragmentada e com escassa


N
IA

comparabilidade (Daro, 1992, apud Huertas, 1997).


LA

A similaridade parece indicar a presença de dificuldades técnicas


específicas do processo de notificar. Aqui também, apesar da obrigatoriedade e do
reconhecimento do valor da notificação, os profissionais têm dificuldades em adotá-
la como conduta padrão.
Tais dificuldades podem ser resumidamente agrupadas da seguinte forma:
A identificação da violência nos serviços de saúde é ainda carregada de
muitas incertezas. A questão não tem sido tratada na maioria dos currículos de
graduação (Almeida, 1998) logo, muitos profissionais não dispõem de informações
básicas que permitam diagnosticá-la com um mínimo de acurácia.

| 78
Fonte: Gonçalves e Ferreira (2002)

Segundo Fiorelli e Mangini (2102), o comportamento do agressor demonstra


impulsividade; quando alguma emoção negativa o domina (raiva, por exemplo),
experimenta imediata regressão a estágios primários do desenvolvimento
psicológico e prevalece o egocentrismo. Não há direitos para o outro. A expectativa
de punição inexistente ou insignificante funciona como motivador para que o

18
indivíduo não desenvolva qualquer autocontrole.

1:
Consequências da violência nas crianças:

:2
22
a) Sentimento de insegurança em relação ao convívio social;

0
b) Perda do sentido de proteção família;

02
/2
c) Ideias paradoxais a respeito de valores sociais como o sentido da sociedade,

01
justiça, etc.

2/
-0
om
Para a compreensão do fenômeno da violência, Viana (1999) enumera uma série

l.c
de variáveis que irão caracterizar esse fenômeno:
ai
gm
• Características da vítima (mulher, negro, criança, etc.)
@

• Características dos agentes (policial, delinquente, vigilante, etc.)


na
pi

• Local onde ocorre (campo, cidade, escola, rua, instituição, etc.)


ia
ib

• Forma como se realiza (simbólica, sexual, física);


a.
an

• Objetivos ( repressão, contenção, educação, punição);


ai

• Motivações inconscientes (reação, vingança, recreação, conquista,


-l
1

etc.)
-6
43

Não sou o Viana, mas além desses pontos descritos, eu adicionaria mais três:
.2

a estrutura cognitiva, intensidade/frequência da violência e a cultura. Sabemos que


10
.1

quanto mais frágil for a estrutura cognitiva da pessoa que sofre a violência, maiores
04

serão suas consequências. Assim também o é para a intensidade da violência,


-0

quanto maior sua intensidade, maiores seus efeitos. A cultura, por sua vez, não só
A
N
PI

legitima a violência em alguns casos, como também pode manter a violência


IA

contínua e agravar as suas consequências. Não foi há muito tempo que vivemos uma
IB
AL

fase onde a criança era propriedade dos pais e esses tinham o direito absoluto sobre
LE

ela, podendo usar de castigos físicos e psicológicos como forma de educação.


A

Felizmente, a cultura está mudando.


N
IA

Além desses conceitos, é salutar a referência à obra e ao trecho de artigo de


LA

Rosângela Francischini:
A prática de violência contra crianças e adolescentes (maus tratos, abandono e
negligência, abuso e exploração sexual comercial, trabalho infantil, dentre outras)
não é recente. Um olhar atento à trajetória histórica de crianças pobres no Brasil nos
mostra a procedência dessa afirmação. Sua visibilidade, no entanto, vem ganhando
novos contornos, principalmente, na proporção e extensão que vem ocorrendo nas
duas últimas décadas, no Brasil. A promulgação do ECA, com certeza, contribuiu e
vem contribuindo para que se torne visível uma condição, antes de tudo, de violação

| 79
dos Direitos Humanos, conforme Declaração Universal dos Direitos Humanos, da
ONU.
Vários são os fatores que contribuem para que essa prática seja observada e
mantida, dentre os quais destacamos: as relações de poder e de gênero
predominantes nas sociedades, as características do agressor e da vítima, questões
culturais, ausência de mecanismos seguros e confiáveis, medo de denunciar,
ineficiência dos órgãos de atendimento, certeza de impunidade, dentre outras.

18
Fonte: Rosângela Francischini e Manoel Onofre de Souza Neto. Enfrentamento à

1:
violência contra crianças e adolescentes: projeto escola que protege. Revista do

:2
22
Departamento de Psicologia - UFF, v. 19 - n. 1, p. 243-252, Jan./Jun. 2007. Disponível

0
02
em: http://www.scielo.br/pdf/rdpsi/v19n1/18.pdf

/2
01
2/
A seguir, listo os conceitos psicológicos teóricos mais comuns no

-0
entendimento da violência na visão de Fiorelli e Mangini (2012):

om
a) Mecanismo de defesa inconsciente: Winnicott sugere que a agressão pode

l.c
ai
ser percebida como reação à frustração. Na impossibilidade de ver realizado
gm
o seu desejo, o psiquismo reage e desloca a energia para a agressividade.
@

Trata-se, pois, de mecanismo de defesa, por exemplo, na forma de


na
pi

deslocamento ou sublimação.
ia
ib

b) Descarga de energia psíquica: Winnicott também sugere que a


a.
an

agressividade constitui uma fonte de energia do indivíduo; a intenção de


ai

realizar algo manifesta-se de maneira mais ou menos violenta. [...]


-l
1

c) Fenômeno da percepção: Já sob uma perspectiva gestáltica, a agressividade


-6
43

pode resultar da percepção inadequada dos comportamentos emitidos; o


.2

indivíduo não discrimina os detalhes que diferenciam um comportamento


10
.1

agressivo de outro socialmente adaptado; ao praticar reiteradamente os


04

primeiros, estes acabam constituindo-se na figura em sua percepção; ante


-0

qualquer estímulo, constituem a resposta de eleição. O indivíduo


A
N
PI

proveniente de um meio onde tais comportamentos são corriqueiros


IA

percebe-os como normais e desejáveis; não os discrimina de outros


IB
AL

igualmente adaptados. [...]


LE

d) Condicionamento operante por reforço positivo: o comportamento pode


A

ser aprendido. [...]


N
IA

e) Aprendizagem pela observação de modelos: [...] Trata-se, aqui, do conceito


LA

de aprendizagem social formulado por Bandura, onde são determinantes os


modelos. [...]
f) Efeito motivacional: A glorificação da violência e dos violentos,
intensamente praticada pelos meios de comunicação, desenvolve a
percepção para os benefícios da violência na conquista de status, um fator
motivacional de alto nível segundo a hierarquia de Maslow. [...]
g) Transformação de valores: os efeitos motivacionais não seriam tão extensos
se os valores sociais constituíssem uma “junta de dilatação” para suportar os

| 80
impactos desse convite brutal. [...] Valores, comportamentos e linguagem
induzem pensamentos que conduzem à prática da violência.
h) Expectativas: os mecanismos de detecção, punição e neutralização dos
comportamentos violentos disponíveis na sociedade variam entre o precário
e o inexpressivo. A impressão que se tem é que, apesar de todo o
aparelhamento legal, aquele que burla as regras não sente especial controle
e certeza de punição. As teorias em torno da expectativa para promover a

18
motivação funcionam, nesta situação, de maneira perversa. O indivíduo

1:
comporta-se de maneira inadequada e sabe que nada acontecerá; o “nada

:2
22
acontecer” constitui um reforço positivo vital para fortalecer a expectativa de

0
impunidade. [...]

02
/2
01
2/
-0
Violência Doméstica e Urbana

om
l.c
ai
Entre as faces da violência na família, estão: o assédio moral, o abuso sexual
gm
a violência física (incluindo a violência sexual), a violência psicológica, a violência
@
na

contra idosos, crianças, adolescentes, etc. Esse tipo de violência produz uma série
pi

de consequências nas vítimas não só pelo tipo de violência, mas pelo contexto em
ia
ib

que foi produzido. Falaremos mais sobre isso nos tópicos seguintes.
a.
an

Sobre a violência urbana, o fenômeno é diferente. Esse é um tipo de violência


ai
-l

percebido fora do ambiente de proteção da família e da casa. Boa parte dos teóricos
1
-6

que estudam esse assunto versam sobre como a violência urbana afeta os nossos
43

modelos de comportamento e percepção de justiça/impunidade.


.2
10

No entanto, a aprendizagem de modelos violentos não é exclusividade do


.1

ambiente externo. A violência praticada entre os cônjugues transmite aos filhos uma
04
-0

aprendizagem geral sobre os métodos de exercê-la e desenvolve uma percepção de


A

que tais comportamentos são válidos como forma de relacionamento interpessoal


N
PI

(Fiorelli e Mangini, 20120).


IA
IB
AL
LE

Violência Sexual na Família


A
N
IA
LA

No Brasil, apesar da intensificação de pesquisas que investigam a dinâmica e


os efeitos desta forma de violência, constata-se a necessidade de estudos sobre a
avaliação e a intervenção psicológica nesse contexto. Sobre a definição da violência
familiar e o papel do psicólogo, separei um excelente trecho de artigo:

Esta forma de violência pode ser definida como qualquer contato ou


interação de uma criança ou adolescente com alguém em estágio mais avançado do
desenvolvimento, na qual a vítima estiver sendo usada para estimulação sexual do
perpetrador. A interação sexual pode incluir toques, carícias, sexo oral ou relações

| 81
com penetração (digital, genital ou anal). O abuso sexual também inclui situações
nas quais não há contato físico, tais como voyerismo, assédio, exposição a imagens
ou eventos sexuais, pornografia e exibicionismo. Estas interações sexuais são
impostas às crianças ou aos adolescentes pela violência física, ameaças ou indução
de sua vontade (Azevedo & Guerra, 1989; Thomas, Eckenrode & Garbarino, 1997).
O abuso sexual também pode ser definido, de acordo com o contexto de
ocorrência, em diferentes categorias. O abuso sexual intrafamiliar ou incestuoso é

18
aquele que ocorre no contexto familiar e é perpetrado por pessoas afetivamente

1:
próximas da criança ou do adolescente, com ou sem laços de consangüinidade, que

:2
22
desempenham um papel de cuidador ou responsável destes (Cohen & Mannarino,

0
2000a; Habigzang & Caminha, 2004; Koller & De Antoni, 2004). Por outro lado, o

02
/2
abuso sexual que ocorre fora do ambiente familiar envolve situações nas quais o

01
agressor é um estranho, bem como os casos de pornografia e de exploração sexual

2/
-0
(Koller, Moraes & Cerqueira-Santos, 2005).

om
A experiência de abuso sexual pode afetar o desenvolvimento cognitivo,

l.c
afetivo e social de crianças e adolescentes de diferentes formas e intensidade (Elliott
ai
gm
& Carne, 2001; Runyon & Kenny, 2002; Saywitz, Mannarino, Berliner & Cohen, 2000).
@

O impacto da violência sexual está relacionado a três conjuntos de fatores: fatores


na
pi

intrínsecos à criança, tais como vulnerabilidade e resiliência pessoal; fatores


ia
ib

extrínsecos, envolvendo a rede de apoio social e afetiva da vítima; e, fatores


a.
an

relacionados com a violência sexual em si, como por exemplo, duração, grau de
ai

parentesco/confiança entre vítima e agressor, reação dos cuidadores não-abusivos


-l
1

na revelação e presença de outras formas de violência (Habigzang & Koller, 2006).


-6
43

Devido à complexidade e à quantidade de fatores envolvidos no impacto da


.2

violência sexual para a criança, esta experiência é considerada um importante fator


10
.1

de risco para o desenvolvimento de psicopatologias (Saywitz et al., 2000). Crianças e


04

adolescentes podem desenvolver quadros de depressão, transtornos de ansiedade,


-0

alimentares e dissociativos, enurese, encoprese, hiperatividade e déficit de atenção


A
N

e transtorno do estresse pós-traumático (Briere & Elliott, 2003; Cohen, Mannarino &
PI
IA

Rogal, 2001; Duarte & Arboleda, 2004; Habigzang & Caminha, 2004; Runyon & Kenny,
IB

2002). Entretanto, o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) é a psicopatologia


AL
LE

mais citada como decorrente do abuso sexual, uma vez que é estimado que 50% das
A

crianças que foram vítimas desta forma de violência desenvolvem sintomas (Cohen,
N
IA

2003; Saywitz et al., 2000).


LA

Além de transtornos psicopatológicos, crianças e adolescentes vítimas de


abuso sexual podem apresentar alterações comportamentais, cognitivas e
emocionais. Entre as alterações comportamentais destacam-se: conduta
hipersexualizada, abuso de substâncias, fugas do lar, furtos, isolamento social,
agressividade, mudanças nos padrões de sono e alimentação, comportamentos
autodestrutivos, tais como se machucar e tentativas de suicídio. As alterações
cognitivas incluem: baixa concentração e atenção, dissociação, refúgio na fantasia,
baixo rendimento escolar e crenças distorcidas, tais como percepção de que é
culpada pelo abuso, diferença em relação aos pares, desconfiança e percepção de

| 82
inferioridade e inadequação. As alterações emocionais referem-se aos sentimentos
de medo, vergonha, culpa, ansiedade, tristeza, raiva e irritabilidade (Cohen &
Mannarino, 2000b; Cohen et al., 2001; Habigzang & Koller, 2006; Haugaard, 2003;
Jonzon & Lindblad, 2004). O abuso sexual também pode ocasionar sintomas físicos
tais como hematomas e traumas nas regiões oral, genital e retal, coceira, inflamação
e infecção nas áreas genital e retal, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez,
doenças psicossomáticas e desconforto em relação ao corpo (Sanderson, 2005).

18
O abuso sexual no contexto familiar é desencadeado e mantido por uma

1:
dinâmica complexa. O agressor utiliza-se, em geral, de seu papel de cuidador, da

:2
22
confiança e do afeto que a criança tem por ele para iniciar, de forma sutil, o abuso

0
sexual. A criança, na maioria dos casos, não identifica imediatamente que a

02
/2
interação é abusiva e, por esta razão, não a revela a ninguém. À medida que o abuso

01
se torna mais explícito e que a vítima percebe a violência, o perpetrador utiliza

2/
-0
recursos, tais como barganhas e ameaças para que a criança mantenha a situação

om
em segredo. Estudos apontam que esse segredo é mantido, na maioria dos casos,

l.c
por pelo menos um ano (Furniss, 1993; Habigzang & Caminha, 2004; Habigzang,
ai
gm
Koller, Azevedo & Machado, 2005). A criança sente-se vulnerável, acredita nas
@

ameaças e desenvolve crenças de que é culpada pelo abuso, sentindo vergonha e


na
pi

medo de revelá-lo à família e ser punida. Dessa forma, adapta-se à situação abusiva,
ia
ib

acreditando manter a estabilidade nas relações familiares (Cohen & Mannarino,


a.
an

2000a). Outro fator freqüentemente associado ao abuso sexual, que dificulta que sua
ai

dinâmica seja rompida, é a presença de outras formas de violência intrafamiliar, tais


-l
1

como negligência, abusos físicos e emocionais. A violência gera um ambiente, no


-6
43

qual predominam os sentimentos de medo e de desamparo. Estes contribuem para


.2

que o abuso sexual seja mantido em segredo pela própria vítima e por outros
10
.1

membros da família que, em alguns casos conhecem a situação, mas não a


04

denunciam (De Antoni & Koller, 2000; Habigzang & Koller, 2006; Kellog & Menard,
-0

2003).
A
N

Fatores externos à família também contribuem para que o abuso sexual não
PI
IA

seja interrompido. Estes fatores estão relacionados com a relutância de alguns


IB

profissionais da saúde e da educação em reconhecer e denunciar o abuso, bem


AL
LE

como a insistência dos tribunais por regras estritas de comprovação do abuso para a
A

proteção da vítima e para a penalização do agressor. Alguns profissionais tendem a


N
IA

negar e a subestimar a severidade e a extensão do abuso sexual, devido ao fato de


LA

que esse significa a violação de tabus sociais, como o incesto (Furniss, 1993). Até
recentemente, a criança que fazia revelações de abusos sexuais era suspeita de
fantasiar (Thouvenin, 1997). Atualmente, os profissionais da saúde capacitados para
trabalhar com crianças vítimas de violência tendem, a saber, que são raros os casos
em que as crianças não dizem a verdade. A revelação é um momento crucial que
pode, por si só, representar um risco de trauma suplementar para a criança ou
adolescente. Dessa forma, a denúncia do abuso aos órgãos de proteção e o
acompanhamento do caso por profissionais da saúde são fundamentais e eles

| 83
precisam estar conscientes das implicações legais e éticas de suas intervenções ou
de sua omissão (Saywitz et al., 2000).
HABIGZANG, Luísa Fernanda et al. Avaliação psicológica em casos de abuso sexual
na infância e adolescência. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2008, vol.21, n.2 [cited 2013-
08-08], pp. 338-344 . Available from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
79722008000200021&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0102-

18
7972. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722008000200021.

1:
:2
22
Quem é o agressor?

0
02
/2
A violência sexual doméstica pode desencadear sérias consequências para

01
2/
crianças e adolescentes, além de sequelas físicas, comprometimentos emocionais

-0
na fase adulta, como distúrbios de caráter e do comportamento social, prostituição

om
e sintomatologia pré- delinquente, frigidez e aversão pelas relações sexuais, neurose

l.c
ai
aguda, reações depressivas com tentativas de suicídio e ciúme excessivo.
gm
Segundo o UNICEF (2000), em 90% dos casos conhecidos de violência sexual
@
na

contra meninas no Brasil o agressor é o pai ou o padrasto da vítima. Torna-se


pi

imprescindível atentar para a linguagem semi-silenciosa de uma criança ou


ia
ib

adolescente violentados sexualmente, no sentido de que, através da escuta, surja


a.
an

espaço para a expressão de seu sofrimento, para que seja possível elaborar o
ai

trauma e engendrar novas perspectivas de desenvolvimento.


-l
1

Fonte: Sandla Wilma de Barros Santos. Incesto e Sociodrama Familiar. Disponível


-6
43

em: http://www.asbap.com.br/producao/incesto_sociodrama_familiar.pdf
.2
10
.1
04
-0

Consequência da violência para a criança e o


A
N

adolescente
PI
IA
IB

Segundo Fiorelli e Mangini (2102), os adolescentes que sofreram maus tratos


AL
LE

familiares quando crianças:


A

- Sofrem mais episódios de violência na escola; [...]


N
IA

- vivem mais agressões na comunidade; [...]


LA

- Transgridem mais as normas sociais. [...]


Esses mesmos adolescentes:
- Vivenciam menor apoio social;
- Possuem autoestima mais baixa; [...]
- Têm uma representação de si mais depreciativa; [...]
- Quando vivenciam violência psicológica, têm menor capacidade de
resiliência, isto é, de seguir em frente a despeito das adversidades. [...]

| 84
São apenas essas as consequências? Absolutamente, não. Temos, por
exemplo, uma série de consequências emocionais ao abuso sexual familiar. Sobre a
definição de alterações emocionais, cabe uma definição:

As alterações emocionais referem-se aos sentimentos de medo, vergonha,


culpa, ansiedade, tristeza, raiva e irritabilidade. Entre as alterações
comportamentais destacam-se: conduta hipersexualizada, abuso de substâncias,

18
fugas do lar, furtos, isolamento social, agressividade, mudanças nos padrões de

1:
sono e alimentação, comportamentos autodestrutivos, tais como se machucar e

:2
22
tentativas de suicídio (Cohen, Mannarino, & Rogal, 2001; Haugaard, 2003; Jonzon &

0
02
Lindblad, 2004; Rosenthal, Feiring, & Taska, 2003). O abuso sexual também pode

/2
ocasionar sintomas físicos, tais como hematomas e traumas nas regiões oral,

01
2/
genital e retal, coceira, inflamação e infecção nas áreas genital e retal, doenças

-0
sexualmente transmissíveis, gravidez, doenças psicossomáticas e desconforto em

om
relação ao corpo (Sanderson, 2005).

l.c
ai
Fonte: HABIGZANG, Luísa Fernanda et al. Entrevista clínica com crianças e
gm
adolescentes vítimas de abuso sexual. Estud. psicol. (Natal) [online]. 2008, vol.13, n.3
@
na

[cited 2013-08-09], pp. 285-292 . Available from:


pi

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
ia
ib

294X2008000300011&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1413-


a.
an

294X. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2008000300011.
ai

Ainda sobre as consequências do abuso sexual, temos:


-l
1
-6
43

O impacto da violência sexual no desenvolvimento emocional e acadêmico


.2
10

A vítima de violência sexual está exposta a diferentes riscos, que


.1

comprometem sua saúde física e mental (Neves, Ramirez & Brum, 2004). As
04
-0

conseqüências da violência sexual são múltiplas, e seus efeitos físicos e psicológicos


A

podem ser devastadores e duradouros (Kaplan & Sadock, 1990).


N
PI

A literatura refere-se a alterações resultantes do impacto da vitimização


IA
IB

sexual que seriam úteis para a sua identificação. Depressão, sentimentos de culpa,
AL

comportamento autodestrutivo, ansiedade, isolamento, estigmatização, baixa auto-


LE

estima, tendência à revitimização e abuso de substâncias, queixas somáticas,


A

agressão, problemas escolares, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT),


N
IA

comportamentos regressivos (enurese, encoprese, birras, choros), fuga de casa e


LA

ideação suicida são sintomas que podem aparecer na infância e se estender pela
vida adulta (Boney-McCoy & Finkelhor, 1995; Finkelhor & Tackett, 1997; Williams,
2002).
As manifestações do TEPT na infância e adolescência são mais graves e
comprometedoras, uma vez que as funções afetivas e cognitivas do sistema nervoso
central não amadureceram e não foram ainda totalmente reguladas. Doenças
sexualmente transmissíveis, traumas físicos e ginecológicos, gravidez, transtornos
mentais e dificuldades no ajustamento sexual adulto são apenas algumas das

| 85
possíveis conseqüências físicas, emocionais, sexuais e sociais da violência
(Amazarray & Koller, 1998).
Dentre os indicadores mais relatados, encontra-se o comportamento
sexualizado, que não é exclusivo de crianças vítimas de abuso sexual, mas é
considerado como o que melhor as identifica (Williams, 2004). As brincadeiras
sexualizadas com bonecos, a introdução de objetos no ânus ou na vagina, em si
mesmo ou em outras crianças, a masturbação excessiva em público, o

18
comportamento sedutor, a solicitação de estimulação sexual e um conhecimento

1:
sobre sexo inapropriado à idade incluem-se nos comportamentos sexualizados.

:2
22
É consenso, entre muitos pesquisadores, que há um severo impacto da

0
vitimização por violência sexual no desempenho e na vida acadêmica da vítima.

02
/2
Alterações no desenvolvimento cognitivo, na linguagem, na memória e no

01
rendimento escolar, rebaixamento da percepção do próprio desempenho e

2/
-0
capacidade, agressividade e impulsividade têm sido freqüentemente relatados

om
(Amazarray & Koller, 1998; Ferrari & Vecina, 2002; Finkelhor & Tackett, 1997; Kaplan

l.c
& Sadock, 1990; Williams, 2002). No entanto, dados encontrados sugerem que as
ai
gm
vítimas parecem ser afetadas de diferentes maneiras e graus; enquanto algumas
@

parecem sofrer conseqüências mínimas, outras sofrem graves problemas sociais e


na
pi

psiquiátricos (Dattilio & Freeman, 1995), portanto, não se deve esperar um perfil
ia
ib

extremamente característico, pois isto limitaria o diagnóstico.


a.
an

O relacionamento entre agressor e vítima tem sido descrito como um dos


ai

fatores mais relevantes no agravamento do impacto da violência sexual. Outros


-l
1

fatores referentes à ação sexual em si, como a intensidade da violência sexual e não
-6
43

sexual, a força empregada, o número de agressores, assim como a freqüência e a


.2

duração da violência, também são apontados como agravantes que acentuam os


10
.1

danos e pioram o prognóstico (Williams, 2002). Ausência de figuras parentais


04

protetoras, de apoio social, ou a resposta negativa da família/pares/educadores à


-0

descoberta da violência acentuam o dano (Amazarray & Koller, 1998; Williams, 2002).
A
N
PI

Fonte: VIODRES INOUE, Silvia Regina and RISTUM, Marilena. Violência sexual:
IA

caracterização e análise de casos revelados na escola. Estud. psicol.


IB
AL

(Campinas)[online]. 2008, vol.25, n.1 [cited 2013-08-09], pp. 11-21 . Available from:
LE

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
A

166X2008000100002&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-


N
IA

166X. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2008000100002.
LA

Abandono e delinquência infanto-juvenil


Vocês não imaginam o quanto é difícil entender esse tema, pior ainda é
explicar esse mesmo tema para concursos. Digo isso, pois, de cara, não podemos
afirmar, em absoluto, que exista uma correlação positiva entre abandono e
delinquência infanto-juvenil. Uma coisa é pegar um grupo de menores delinquentes
e explicar como seus respectivos processos de abandono geraram comportamentos

| 86
socialmente delinquentes, outra é pegar todas as crianças abandonadas ou
negligenciadas emocionalmente e verificar os comportamentos de delinquência.
Nessa perspectiva, que eu claramente adoto, não podemos falar em crianças
e adolescentes infratores em função da ausência de pai, de mãe, de ambos, da
pobreza ou da falta de oportunidade de estudo e trabalho. Devemos falar, ao
contrário, em na delinquência entendida em seu contexto social (acima do
psicológico). Em função de inúmeros fatores que já tratamos, como a aprendizagem

18
social, a formação da cultura e da identidade social das crianças e adolescentes.

1:
Caso você tenha tempo para a prova, recomendo que pesquise um pouco a Teoria

:2
22
da Identidade Social. Foge um pouco do nosso contexto, mas é um excelente

0
assunto.

02
/2
Assim, se perguntarem em sua prova se a delinquência é consequência de um

01
ambiente precário ou do abandono, você terá de justificar que esse é, na verdade,

2/
-0
um fenômeno multifatorial e que não temos indícios suficientes para afirmar que

om
existe uma relação direta entre essas duas variáveis.

l.c
Mas, me conterei e falarei do que pode cair em sua prova caso a postura da
ai
gm
banca não seja a minha – e você tem de ficar muito atento para identificar a linha da
@

prova. Em sentido oposto, alguns autores da psicologia social e de fora dessa


na
pi

ciência, defendem que o adolescente marginalizado é, em grande parte, vítima de


ia
ib

desigualdade social, pois que não tem renda suficiente para usufruir de bens e
a.
an

serviços básicos, como saúde, educação, habitação e lazer. A consequência dessas


ai

visão é que o jovem fica ansioso quando se compara com o que assiste em sua
-l
1

televisão ou vê nas ruas. Ele não tem liberdade de usufruir do que os outros
-6
43

usufruem por não ter condições de acesso (dinheiro). A delinquência é, nessa


.2

simplificação de perspectiva, um protesto e também uma forma de adquirir o que


10
.1

ele não conseguiria pelas vias normais ou que demoraria para conseguir.
04

Porém, tenho de destacar, que a delinquência de crianças das classes A (alta)


-0

e B (média) aumentou vertiginosamente nos últimos anos. Como a perspectiva de


A
N

desigualdades sociais vê isso? Não vê. É mais um indicador que esse fenômeno é
PI
IA

multifatorial.
IB

Independente dessas duas correntes que tentei simplificar, o pai e a mãe não
AL
LE

podem ser olvidados desse processo (com as devidas ressalvas). É a família que
A

forma a primeira grande matriz de valores sociais da criança e do adolescente.


N
IA

Sobre o papel da família, e ai contemplando o tópico, a psicanálise fala:


LA

A ausência da função paterna, que representa a simbologia da lei, da


autoridade, tem sido constantemente relacionada com a violência infanto-juvenil. O
pacto com a Lei do Pai prepara e torna possível o pacto social.
[...]
A importância da presença materna e paterna para o desenvolvimento da
criança também é entendimento uníssono na doutrina. A criança vive
principalmente nas ligações afetivas e daí retiram o fortalecimento da própria
existência. Tanto que o abandono psíquico e afetivo, a não-presença do pai no

| 87
exercício de suas funções paternas, como aquele que representa a lei, o limite,
segurança e proteção. é considerado pior que o abandono material (PEREIRA, 2004).
A importância da mãe é amplamente admitida por diversas áreas do
conhecimento. A orientação da vivência feminina é demonstrada pela segurança
outorgada ao filho e na segurança que este tem de si próprio. Todavia para o filho
galgar e alcançar o mundo das vivências humanas e o do próprio ser precisa do
encontro com o pai e com a mãe.

18
Segundo Juristsch (1970), a ausência do pai restringe o campo de vivência

1:
infantil, uma vez que, permanecem inexploradas muitas possibilidades psíquicas

:2
22
que influenciarão em maior ou menor grau na conduta infantil. Isto porque lhe falta

0
a coragem e a segurança de si para encontrar-se com o mundo e com as outras

02
/2
pessoas.

01
Com a separação e/ou divórcio dos pais, permanecendo a guarda com a mãe,

2/
-0
ocorre um esmaecimento da imagem paterna, na medida em que o contato com o

om
pai torna-se restrito ou mesmo nulo.

l.c
Ao tratar da importância do pai para a formação e desenvolvimento do filho,
ai
gm
necessário se faz entender as linhas básicas da abordagem psicanalítica acerca do
@

assunto.
na
pi

Os teóricos psicanalíticos acreditam que a interação entre as características


ia
ib

inatas da criança e o ambiente desempenha um papel central na criação de


a.
an

diferenças de personalidade.
ai

Fonte: http://jus.com.br/artigos/9502/desagregacao-familiar-e-delinquencia-
-l
1

infanto-juvenil
-6
43
.2
10
.1
04

O papel da família, do psicólogo e da justiça


-0
A
N
PI

Sem dúvida, o papel da família, do psicólogo e da justiça é o de proteção


IA
IB

contra a violência urbana e doméstica. Sobre o papel da família, é válido destacar


AL

que muitas vezes diante da revelação de abuso sexual, a mesma nega o fato ou
LE

recrimina a criança. Por outro lado, existe uma patente impunidade dos que
A
N

agridem e os serviços psicológicos oferecidos ainda são incipientes.


IA
LA

Os profissionais e as instituições que constituem a rede de apoio social para


crianças e famílias vítimas de violência sexual encontram-se diante do desafio de
evitar formas traumáticas de intervenção sem incorrer, contudo, em uma postura
negligente (Ferreira & Schramm, 2000). A organização e a eficácia das redes de apoio
às crianças e aos adolescentes vítimas de abuso sexual foram avaliadas através de
uma pesquisa documental, na qual foram analisados todos os expedientes de casos
de violência sexual ajuizados pela Coordenadoria das Promotorias da Infância e
Juventude de Porto Alegre no período de 1992 a 1998. Foi constatado que, na
maioria dos casos, a violência sexual já era do conhecimento dos familiares,
entretanto a denúncia se efetivou por motivos diversos do ato em si. Em relação ao

| 88
atendimento efetuado pela rede, ficou evidente que o abuso sexual, foco da
denúncia, foi muitas vezes ignorado, sendo que as intervenções se deram em função
de outras violações. Desta forma, não houve acompanhamento, avaliação e
atendimento adequado aos casos. Os agressores, com poucas exceções, foram
punidos criminalmente. Na maioria dos casos analisados, as crianças foram
abrigadas e alguns pais agressores destituído(s) do pátrio poder. O estudo apontou
a necessidade emergente de criar serviços especializados de atendimento e

18
capacitar os profissionais que trabalham com essas crianças e com suas famílias,

1:
permitindo-lhes obter uma compreensão real dos casos, bem como conduzir uma

:2
22
intervenção adequada (Habigzang, Azevedo, Koller & Machado, 2006).

0
02
HABIGZANG, Luísa Fernanda et al. Avaliação psicológica em casos de abuso sexual

/2
na infância e adolescência. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2008, vol.21, n.2 [cited 2013-

01
2/
08-08], pp. 338-344 . Available from:

-0
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-

om
79722008000200021&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0102-

l.c
ai
7972. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722008000200021.
gm
@
na
pi

Resenha: Crianças Vítimas de abuso sexual (Gabel,


ia
ib
a.

1998)
an
ai
-l

Apesar do foco desse livro ser o abuso sexual, temos a definição de vários
1
-6

conceitos úteis para o nosso concurso. Esse é aquele livro que você tem de ter em
43
.2

sua biblioteca. Apesar do ano, e de se referir mais a dados franceses e americanos, é


10

uma aula compilada sobre o entendimento do abuso sexual. O livro começa com
.1
04

algumas observações preliminares que são retomadas ao longo de todo o texto


-0

(considerando que o livro é uma compilação de textos de vários autores, não é de se


A
N

estranhar a repetição de conceitos) e passeia por algumas poucas teorias


PI
IA

psicanalíticas, dados franceses, muitas pesquisas e algumas descrições de caso.


IB

No Capítulo IV (Violência e Abusos Sexuais em Instituições para Crianças e


AL

Adolescentes), por exemplo, Tomkiewicz faz uma interessante distinção que creio
LE

que seja interessante para começarmos a resenha desse livro.


A
N
IA

a) “Violência” implica o uso da força física (estupro, sevícias) ou


LA

psicológica (ameaças ou abuso de autoridade). Podemos incluir aí atos cometidos


contra menores cuja idade ou deficiência mental os tornem incapazes de
compreender seu significado.
b) “Abuso” implica, ao contrário, ausência de utilização da força. Nesse
caso, a satisfação sexual é obtida pela sedução; a lei inclui ai os atos cometidos com
certa cumplicidade e mesmo com o consentimento do menor. O caráter repreensível
dos atos varia segundo a suscetibilidade da época, do meio social, do juiz, do
moralismo. A meu ver, essa questão moral tende a confundir-se com o problema da
possibilidade de “consentimento esclarecido” da presumível vítima. Tais abusos, de

| 89
maior ou menor gravidade, ocorrem com frequência nas instituições para
adolescentes.

Etimologicamente “abuso sexual” indica a separação, o afastamento do uso


(“us”) normal. O Abuso é, ao mesmo tempo, o uso errado e um uso excessivo. O que
não significa, como dizem os que criticam esse termo, que houvesse um uso
permitido, pois abusar é precisamente ultrapassar os limites, e, portanto,

18
transgredir.

1:
De todos os aspectos dos maus-tratos, o abuso sexual de crianças é talvez

:2
22
um dos mais difíceis de delimitar, pois apoia-se na utilização abusiva da autoridade

0
sobre a criança que o adulto detém. Além disso, ela envolve não só a sexualidade do

02
/2
adulto, mas também a da criança, e, por isso, coloca sobre essa última o peso de

01
uma grande culpa. E, no entanto, não há certeza alguma de que os abusos sexuais

2/
-0
deixem, em todas as crianças, marcas tão profundas ou indeléveis: talvez sejam

om
mais a vulnerabilidade, a idade da criança, a repetição e o tipo de abuso sexual ou o

l.c
silêncio em torno da criança que fundamentam a gravidade do traumatismo.
ai
gm
O abuso sexual praticado contra a criança é uma das formas de maus-tratos
@

que mais se ocultam: a criança tem medo de falar e, quando o faz, o adulto tem
na
pi

medo de ouvi-la. No entanto, convém talvez distinguir os abusos sexuais cometidos


ia
ib

por adultos contra crianças dos que as crianças ou adolescentes cometem contra
a.
an

eles. Da mesma forma, impõe-se distinção entre os abusos sexuais cometidos dentro
ai

da família – e particularmente o incesto – e os que são cometidos fora dela.


-l
1

No Primeiro Capítulo (Há Algo de Podre no Reino de Édipo), usa-se da


-6
43

“etnopsicanálise” para, através da exemplificação de casos e do delineamento de


.2

outras culturas, mostrar que as relações edípicas e o que se entende por abusos
10
.1

sexual é entendido, e até vivido, de forma diferente para cada tipo de sociedade.
04

Lembremo-nos, finalmente, que na maior parte das sociedades tradicionais


-0

as crianças praticam uma sexualidade completa (inclusive o coito) a partir de seis ou


A
N
PI

sete anos, período que aprendemos a denominar no ocidente – e, aliás, de modo


IA

bastante impróprio - de “período de latência”.


IB
AL

...
LE

Se entendemos por “período de latência” uma “interrupção” do desejo


A

sexual, a observação das crianças em uma sociedade tradicional deverá nos levar a
N
IA

pensar que o “período de latência” é pura invenção de um século XIX puritano e,


LA

artificialmente, estudioso.
Fonte: Gabel (1998)

Sugere-se que o “incesto” seja cultural:


Observando-a superficialmente, a proibição do incesto talvez pareça
“natural”. Poderíamos pensar que se todos os homens, em todas as latitudes,
criaram explicitamente uma lei proibindo a lei incestuosa, é porque essa lei
correspondia – talvez mesmo após certos desvios lógicos – a um tipo de “natureza
humana”. Mas isso seria precipitar nossa análise. Pois uma série de fatos nos obriga

| 90
a abandonar tal hipótese ou a tornar mais complexo o nosso raciocínio: 1) Se a regra
de proibição de incesto está presente em todo luar, o mesmo acontece com suas
transgressões. A regra não é um fato! Porém, uma vez instituída, todos se organizam
em relação a ela; 2) A regra de proibição do incesto, repito, não concerne
prioritariamente às relações sexuais, mas, sim, às alianças matrimoniais.
Surpreendentemente, é entre os animais que encontramos mecanismos, às vezes
extremamente sutis, de evitar, aí sim, as relações sexuais incestuosas. Os animais

18
parecem, assim, proibir as relações sexuais incestuosas, enquanto que os homens só

1:
proibiram as alianças culturalmente definidas como incestuosas; 3) Sem dúvida, os

:2
22
homens das sociedade tradicionais associam toda forma de infelicidade à

0
transgressão do tabu do incesto.

02
/2
Fonte: Gabel (1998)

01
2/
-0
Desde o nascimento, a criança é vítima de forças pulsionais, fonte de

om
tensões e de excitações que ela só controla parcialmente. A mãe irá exercer um

l.c
ai
papel concomitante, de “anteparo da excitação” para que a criança só receba os
gm
estímulos externos que seja capaz de integrar. Em um “banho de afeto” as diferentes
@

zonas erógenas, ou seja, zonas-fontes de prazer, na intimidade das relações mãe-


na
pi

bebê, durante as atividades que pontuam a vida cotidiana (alimentação, troca de


ia
ib

roupa, banho, brincadeiras, etc.)


a.
an

Spitz já havia estudado, em 1964, o jogo genital nos primeiros meses de vida
ai

(jogo genital definido como atividade exploratória de suas partes genitais, pela
-l
1

criança ainda pequena), em função da qualidade da relação mãe-bebê. Ele ressalta


-6
43

o jogo genital como um indicador válido da qualidade da relação mãe-bebê: se a


.2

mãe e a criança têm uma boa relação, a criança brinca com seus órgãos genitais ao
10
.1

final do primeiro ano de vida; na ausência da relação mãe-bebê, os jogos genitais


04

não ocorrem.
-0

O livro começa a ficar interessante a partir da página 54, no tópico: Por que
A
N
PI

o Silêncio, o Segredo, a Negação? Nesse ponto nos é apresentado um modelo para a


IA

compreensão do abuso sexual em si. O autor referência aqui, um dos mais


IB
AL

importantes para a sua prova, é Summit. Segundo esse autor, a criança aparece
LE

duplamente como vítima: dos abusos sexuais e da incredulidade dos adultos.


A

As reações descritas por Summit como sendo as mais características da


N
IA

criança vão, de fato, reforçar os adultos e seus preconceitos. Elas são cinco. As duas
LA

primeiras, o segredo e o sentimento de impotência, estão ligadas à


“vulnerabilidade” da criança. As outras três são consequências dos abusos sexuais: a
criança cai na armadilha e se adapta; a revelação é tardia e não convence; a criança
vai se retratar.
Fonte: Gabel (1998)

Sobre a Síndrome de Adaptação, é válido citar:


Ferenczi, no seu artigo sobre a confusão de línguas (1993), fala da
Síndrome de Adaptação da Criança Vítima de Abuso Sexual: O primeiro

| 91
movimento da criança seria de recusa, o ódio e nojo, isso se não existisse um medo
intenso. As crianças sentir-se-iam física e moralmente indefesas, e este medo,
quando atinge o ápice, obriga-as a submeterem-se automaticamente à vontade do
agressor, adivinhando o seu menor desejo e identificando-se totalmente com ele.
Essa identificação seria a introspecção do sentimento de culpa do adulto. Ela viveria
uma grande confusão, é ao mesmo tempo, inocente e culpada, a sua confiança no
testemunho dos seus próprios sentidos está abalada. A criança torna-se um ser que

18
obedece mecanicamente, mas já não consegue dar-se conta das razões desta

1:
atitude.

:2
22
Fonte: http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2005018.pdf

0
02
/2
Convêm agora separar em tópicos, como os apresentados no livro, uma

01
2/
espécie de conceitos atrelados ao abuso sexual:

-0
(a) O Segredo: A realidade aterrorizante deve-se ao fato do abuso sexual

om
só acontecer quando a criança está sozinha com o adulto e esse segredo jamais deve

l.c
ai
ser partilhado com quem quer que seja. Esse terrível segredo tem de ser preservado
gm
pela ameaça, por exemplo, “não diga nada para sua mãe, senão ela vai me odiar”;
@

“se ela souber, vai matar você, vai manda-lo para o colégio interno”.
na
pi

(b) A criança vive uma relação de submissão à autoridade do adulto:


ia
ib

ensinamos as crianças a desconfiarem de estranho, mas, simultaneamente, a serem


a.
an

obedientes e afetuosas com todos os adultos que cuidam delas. A criança não
ai

provoca, não parece seduzir o adulto. É fato essencial: o indivíduo que comete o
-l
1

abuso, na maioria dos casos, é alguém conhecido que vai primeiramente


-6
43

estabelecer uma relação de confiança com a criança e certificar-se de que sua vítima
.2

não se queixará quando ele for longe demais.


10
.1

(c) A criança adapta-se a essa situação: “Se a criança não procurou


04

imediatamente ajuda e não foi protegida, sua única opção possível é aceitar a
-0

situação e sobreviver, ao preço de uma inversão de valores morais e alterações


A
N
PI

psíquicas prejudiciais à sua personalidade”. Ela sobreviverá por meio de uma


IA

clivagem – funcionando com se tivesse várias personalidades -, seja pela conversão


IB
AL

da experiência no seu oposto: o que era ruim será afirmado como bom; seja pelo
LE

mecanismo de identificação com o agressor.


A

(d) A revelação tardia e não convincente: Após anos de abuso, a própria


N
IA

criança/adolescente, tem dificuldades em entender o quadro que viveu. Em um


LA

outro ponto do livro, aparece a referência para o estado psicológico do momento da


revelação (não necessariamente tardia): “Paradoxalmente, é no momento da
revelação que se produzem graves descompensações: tentativas de suicídio, fugas,
prostituição, toxicomania ou manifestações psicóticas; a criança parecia adaptar-se
à situação, a coesão do Eu era mantida pela dominação do parceiro; no momento da
revelação, a criança encontra-se só, sem pontos de referência, exposta à confusão”.
Summit sublinha, no momento da revelação, a conveniência da presença do
advogado especializado em criança, e do psiquiatra e/ou psicólogo como

| 92
especialistas, com a condição de que eles próprios não incorram na síndrome de
adaptação.
(e) A retratação: a criança, em menor frequência o adolescente, tende a
retratar-se para reduzir a tensão causada pela sua revelação. Volta atrás no
depoimento dado ou silencia. Em função disso é fundamental o amparo emocional
de uma equipe preparada. Não digo, contudo, que a equipe estimule a produção de
informações (pesquise sobre o caso americano das memórias reprimidas), mas que

18
acolham a criança e deem condições para seu depoimento.

1:
No próprio capítulo são citadas três conclusões sobre o depoimento de

:2
22
agressores:

0
a) Os agressores sentem-se capazes de identificar as crianças

02
/2
vulneráveis e aproveitar-se dessa vulnerabilidade para abusar sexualmente delas.

01
b) A coerção é inerente ao abuso sexual

2/
-0
c) Os agressores empenham-se em dessensibilizar as crianças aos

om
contatos sexuais.

l.c
Essa última conclusão merece destaque. Os agressores desenvolvem uma
ai
gm
estratégia bastante sofisticada para a progressão do contato das regiões não sexuais
@

(pernas costas) em direção aos órgãos genitais. Essa evolução ocorre de tal modo
na
pi

que a criança pode sentir que deu seu consentimento. Se esse assunto não
ia
ib

despertasse tanto asco, arriscaria citar Wolpe, mas aqui, diferentemente de outras
a.
an

partes da matéria, não me permito gracejos.


ai

É preciso ensinar as crianças que elas podem voltar atrás nesse seu
-l
1

consentimento ou que consentir uma coisa não é consentir tudo. Dai a necessidade
-6
43

de mais informações sobre a maneira pela qual a criança percebe se está ou não
.2

autorizada a fazer certas coisas e sobre seu nível de responsabilidade sobre seus
10
.1

atos.
04

Na segunda parte do livro (As crianças vítimas, consequências a curto e


-0

médio prazo), Rouyer afirma que a maioria dos autores concorda em reconhecer que
A
N

a criança vítima de abuso sexual corre o risco de uma psicopatologia grave, que
PI
IA

perturba sua evolução psicológica, afetiva e sexual. Aqui, a gravidade do abuso será
IB

dado pelos fatores implicados. Assim, influenciam tanto a maturidade fisiológica da


AL
LE

criança quanto a psicológica: quanto mais cedo ocorreu o incesto, maior o risco de
A

que as feridas sejam irreversíveis, particularmente ao nível de identidade. Rouyer


N
IA

afirma que o abuso sexual cometido por familiares (incesto) é o tipo de abuso mais
LA

grave, por provocar na criança uma confusão em relação às imagens parentais.


Nas crianças e adolescentes, quando o abuso sexual é seguido de violência,
há sequelas visíveis: esquimoses, lacerações, infecções. Mas as sevícias afetivas são,
provavelmente, as mais graves e difíceis de avaliar: sentimento de culpa, angústia,
depressão, dificuldade de relacionamento e sexuais na idade adulta, etc.
O autor apresenta uma lista não exaustiva de consequências imediatas:
a) Estresse
b) Anestesia afetiva seguida por terror
c) Regressões

| 93
d) Manifestações psicossomáticas
e) Lesões genitais
f) Lesões corporais
O autor vai adiante:
As queixas somáticas são habituais: mal-estar difuso, impressão de
alteração física, persistência das sensações que lhe foram impingidas, dores nos
ossos.

18
A enurese e a encoprese são frequentes, sobretudo nas crianças menores e

1:
nas que sofreram penetração anal.

:2
22
As dores abdominais agudas sem substrato orgânico ocorrem em todas as

0
02
idades, sobretudo em adolescentes. Encontramos crises de falta de ar, desmaios ,

/2
problemas relacionados à alimentação – como náuseas, vômitos, anorexia ou

01
2/
bulimia – que, assumirão, em seguida, outro significado, a saber, a recusa da

-0
feminilidade e a destruição do corpo. Nesse estado, a anorexia e a bulimia podem

om
ser fenômenos de rejeição e de compensação transitórios.

l.c
ai
A interrupção da menstruação dá-se mesmo quando não houve penetração
gm
vaginal. À repugnância de si mesma podemos acrescentar os rituais de “se lavar”, as
@

dermatoses provocadas por lesões consequentes do ato de se coçar, que vão até o
na
pi

sangramento, sendo essa uma maneira de se reapropriar do corpo pela excitação,


ia
ib

pelo prazer e pelo sofrimento.


a.
an

As perturbações do sono são constantes e traduzem a angústia de baixar a


ai

guarda e ser agredido sem defesa; observa-se a recusa das crianças menores em ir
-l
1

deitar-se, agarrando-se ao adulto não implicado; do mesmo modo, observamos


-6
43

rituais de averiguação, de prevenção ao colocar em torno da cama objetos que


.2

possam fazer barulho caso alguém se aproxime; certas crianças dormem


10
.1

completamente vestidas. O despertar angustiado durante a noite também é muito


04

frequente e se manifesta na forma de pesadelos. Em geral, e menos


-0

temporariamente, ocorre o prejuízo das funções intelectuais e criadoras. A criança


A
N
PI

para de brincar, desinteressa-se dos estudos, fecha-se em si mesma, torna-se


IA

morosa ou inquieta.
IB
AL

As perturbações na criança de cinco a dez anos podem expressar-se por


LE

meio de desenhos estereotipados e precisos que demonstram conhecimentos


A

sexuais inadequados para a idade; neles aparecem, sem nenhuma simbolização,


N
IA

atributos sexuais e cenas de coito, que são bem diferentes daqueles que os pré-
LA

adolescentes desenham de si.


Os abusos sexuais que acontecem durante a adolescência, em geral,
provocam sintomas de início mais ativos e intensos, que se originam de tentativas
de suicídio e fuga. São possíveis causas de anorexia grave e dores abdominais
agudas.
Se o diagnóstico de abuso sexual não foi feito, e as pessoas não acreditam
na criança, os distúrbios são mais discretos.
Fonte: Gabel (1998)

| 94
Antigamente tinha-se a visão que as denúncias de abuso feitas por
adolescentes eram infundadas ou injustificadas. Isso se devia a compreensão que
jovens são sedutores por natureza (e teriam provocado o abuso) ou têm
características de naturais de mitomania (tendência a criar mentiras). Felizmente
essa imagem foi superada do imaginário social e aceita-se tais tipos de denúncia
com a mesma seriedade que as de agressão à crianças.
No entanto, destaco que no trabalho com adolescentes é importante que os

18
profissionais envolvidos não caiam em duas armadilhas (descritas na terceira parte).

1:
A primeira é a falsa acusação (causado pelo adolescente mitômano) e a segunda é a

:2
22
retratação.

0
02
Na maior parte dos casos, a vítima de abuso sexual continua a sofrer as

/2
sequelas muito tempo depois de ter vivido a violência. Em tal contexto de

01
2/
fragilização, uma jovem pode, com muito mais facilidade que outra, sentir-se

-0
ameaçada e até agredida, quando na realidade não há nenhuma evidência que

om
corrobore seus receios. Nessas condições, poderá fazer acusações graves, de boa-fé,

l.c
ai
sendo que o verdadeiro problema consistiria em numa “patologia seqüelar” diante
dos homens em geral ou de um indivíduo em particular.
gm
@

A retratação, após um primeiro relato de abuso sexual, é normalmente


na
pi

interpretado como prova a posteriori do caráter infundado ou fabricado da


ia
ib

acusação, e vem de certo modo corroborar essa odiosa mentira. A realidade não é
a.
an

tão simples. Durante a crise de revelação, e sobretudo nos casos de abusos sexuais
ai

intrafamiliares, subestima-se a ambivalência e a culpa da criança, da mesma forma


-l
1

com que se ignora quase sempre a série de pressões familiares contra as quais é
-6
43

muito difícil lutar. A retratação, na maior parte dos casos, visa, portanto,
.2

reestabelecer a aparente coesão familiar que precedia a descoberta. Nesse sentido,


10
.1

é um verdadeiro sintoma de adaptação, trágico, pensando bem, que deveria, a


04

priori, reforçar as suspeitas de abuso e não o contrário.


-0
A

Fonte: Gabel (1998)


N
PI
IA

Além disso, destaco que, via de regra, o depoimento da criança e do


IB
AL

adolescente sobre o abuso sexual sofrido é sine qua non para que o status quo seja
LE

mudado. Esse é um momento de ruptura, que deve ser compreendido no contexto


A

da história familiar e da história da criança e do adolescente. Porém, obter um


N
IA

depoimento e validar um testemunho ainda são problemas difíceis de resolver. A


LA

criança da qual se abusou sexualmente é ao mesmo tempo vítima e testemunha;


além disso, chamada a repetir suas versões dos fatos e confrontada com o autor, ela
está em uma situação que comporta riscos para si própria e para a validade do
próprio testemunho. É importante destacar, também, que o momento da revelação
é crucial por si só. Esse momento apresenta risco de trauma suplementar para a
criança ou adolescente. Pode significar um risco de violação na medida em que a
criança ou o adolescente esperava que a revelação trouxesse alguma realização
(que não veio).
Sobre a memória fiel dos fatos, é importante observar:

| 95
Os resultados de numerosos estudos sobre a memória da criança, evocados
por Van Gijseghem, justificam a necessidade de se evitar a implicação de
interrogatórios, como é de praxe:
- A lembrança diminui progressivamente com o tempo;
- A memória e a lembrança são contaminadas pela informação obtida
depois do acontecimento, efeito que pode ser induzido por perguntas sugestivas;
- A criança tem uma percepção do tempo diferente da que tem um adulto.

18
Ela não é sequencial, mas organizada em torno de detalhes significativos associados

1:
a acontecimentos que a tocam de perto; e

:2
22
- A memória de um fato diminui progressivamente em prol de um “enredo”.

0
02
Por ocasião de novos interrogatórios, a criança usará esse enredo para encontrar os

/2
elementos de suas respostas, em um processo que vai se intensificar com o tempo.

01
2/
Daí pode resultar, então, uma impressão de inconsistência e de dúvida para quem

-0
estiver fazendo a pesquisa.

om
Fonte: Gabel (1998)

l.c
ai
gm
Outro ponto significativo do texto é:
@
na

O trauma grave é acompanhado da impossibilidade de pensar. Um aspecto


pi

peculiar nessa conduta (o incesto) é que a criança é colocada diante do desejo de


ia
ib

assassinato, assassinato de si mesma enquanto criança. O psicanalista americano


a.
an

Shengold afirma que tais crianças sofrem um “assassinato da alma”.


ai
-l

...
1

Constatamos, às vezes com surpresa, que certas crianças e adolescentes


-6
43

conseguem manter um rendimento escolar satisfatório Elas o fazem às custas de


.2
10

clivagens e desestruturação em outros domínios.


.1

Fonte: Gabel (1998)


04
-0
A

Para lidar com o trauma do incesto, busca-se uma terceira pessoa confiável
N
PI

e a lei. As duas pessoas que deveriam ser confiáveis naturalmente (o pai e a mãe)
IA
IB

não se adequam a esse papel. Um agente externo acaba sendo a válvula de


AL

confiança necessária para a revelação e a expressão das angústias.


LE

É interessante destacar o resultado de um estudo exposto no livro sobre o


A
N

relacionamento de mulheres que foram abusadas sexualmente com as suas mães


IA
LA

ausentes. O resultado desse estudo (pág. 97) demonstra que essas mulheres
caracterizam seus relacionamentos com termos como “frieza e distância
emocional”. Em contrapartida, por terem um modelo materno insuficiente para se
identificar, sentem-se obrigadas a ser distantes com os próprios filhos, a conferir-
lhes excessiva autonomia cedo demais. Os autores sublinham que isso só faz
aumentar a demanda afetiva da criança em relação ao pai.
Na parte 4 (Os que Cometem Abusos Sexuais), é explicitada uma teoria dos
agressores (psicopatas) sexuais:

| 96
Nossa prática profissional com esses indivíduos mostrou que sua vida se
organiza em torno de um tríptico existencial que chamamos de “3D”: Denegação,
Desafio e Delito.
Denegação: modo de defesa onde o sujeito se recusa a reconhecer a
realidade, em especial, o trauma. Assim, no nosso contexto estudado, o agressor
psicopata é incapaz de reconhecer a sua responsabilidade ou sua causalidade
psíquica dos males que o oprimem.

18
Desafio: é o desafio aos outros e à lei. É uma ação que busca restaurar

1:
:2
a onipotência narcísica.

22
Delito: é a ação de abuso sexual em si.

0
02
E, por fim, após a análise de alguns casos e referências à personalidades

/2
perversas, psicopatas e do tipo borderline, é descrita a conclusão de um estudo, de

01
2/
Scherrer, que identificou traços comuns na biografia dos que cometeram delitos

-0
sexuais:

om
a) Suas mães teriam desempenhado, na realidade, o papel de pai

l.c
ai
primitivo;
gm
b) Esses sujeitos, em geral, apresentavam incapacidade de levar
@
na

relações objetais satisfatórias com o sexo oposto, o que se traduzia por uma
pi

problemática de impotência e a atuação de uma relação de força “primitiva com a


ia
ib

mulher”.
a.
an
ai

Serviço de Proteção Social a Crianças e


-l
1
-6

Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e


43
.2

Exploração Sexual e suas Famílias: referências


10
.1

para a atuação do psicólogo


04
-0

Esse é o nome da cartilha lançada pelo CFP em 20098.


A
N

Eis os principais pontos da cartilha:


PI
IA
IB

Psicologia e políticas públicas – formação e trans-formação


AL

[...]
LE

A formação profissional, portanto, deve acompanhar essas transformações,


A
N

implementando novos desenhos de práticas profissionais. É compromisso ético


IA
LA

desconstruir cristalizações técnicas e propor inovações diante das demandas atuais.


Temos essa responsabilidade, pois observa-se, entre muitas outras questões, que os
avanços na legislação brasileira no que se refere ao Sistema de Garantias e Defesa
de Direitos da Criança e do Adolescente, com destaque para o Estatuto da Criança e
do Adolescente, são de abrangência, complexidade e qualidade que devem ser
plenamente identificados e incorporados nas práticas dos profissionais

8
https://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2009/10/CREPOP_Servico_Exploracao_Sexual.pdf

| 97
responsáveis pela implantação e pela implementação de políticas públicas no Brasil,
inclusive os/as psicólogos/as.
[...]
O psicólogo, para dar conta das demandas atuais no seu trabalho, deve
refletir permanentemente sobre suas ações, reinventar suas intervenções e criar
outros fazeres, pautado sempre por uma atitude científica e por referenciais teóricos
consistentes.

18
Kastrup, apud Lazzarotto (2004, p. 67), destaca que “[...] a prática profissional

1:
não pode fazer com que se perca a condição de aprendiz. A formação e a aplicação

:2
22
não são dois momentos sucessivos, mas devem coexistir sempre.” Manter a

0
permanente problematização da prática é uma exigência do exercício profissional e

02
/2
um fundamento da ética profissional. “A ética demarca a fronteira entre a teoria e a

01
prática, entre o pensamento e a vida, entre a concretude da história e a abstração do

2/
-0
conhecimento.” (DRAWIN, 2003).

om
Nos contextos da assistência social, o psicólogo tem de ter toda cautela para

l.c
não contaminar as novas práticas profissionais com modelos assistencialistas,
ai
gm
tutelares e adaptacionistas, centrados em uma ação individualizada, que
@

desconectam o sujeito da sua realidade e contribuem para a legitimação de modos


na
pi

maquiados de exclusão social. Isso não significa que devemos desconsiderar a


ia
ib

singularidade e a experiência subjetiva de cada indivíduo, especialmente daqueles


a.
an

que apresentam sofrimento psíquico, mas nosso olhar deve fazer a leitura da
ai

realidade sempre de forma contextualizada.


-l
1

Atentos às diferentes formas de subjetivação, no contexto da assistência


-6
43

social, o psicólogo deve ser promotor de práticas emancipatórias e comprometidas


.2

com a transformação da realidade.


10
.1

O CREAS e o enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes


04

[...]
-0

A partir do redesenho da política de assistência social, as atividades


A
N

desenvolvidas pelos psicólogos não sofreram alterações substanciais com relação


PI
IA

ao momento da criação do programa Sentinela, exceto pela confusão instalada


IB

quanto à concepção do seu trabalho no âmbito do CREAS. Essa transformação não


AL
LE

se tem dado de forma tranquila em muitas localidades, e equívocos vêm sendo


A

identificados, especialmente porque outros serviços especializados passam a ser


N
IA

lotados também no CREAS.


LA

Em levantamento nacional realizado pelo Programa Escola de Conselhos da


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul com os operadores do Serviço
Sentinela, 19% deles afirmaram não conhecer a dinâmica de funcionamento do
CREAS, e 70% afirmaram conhecer superficialmente ou com alguma dificuldade.
(AMORIM; CONTINI; MEZA, 2005).
Já em 2007, os resultados da pesquisa realizada pelo CFP demonstram
avanço, indicando que vêm sendo operadas mudanças, apesar de quase 50% dos
entrevistados afirmarem conhecer apenas parcialmente o CREAS. Nesse sentido, os
psicólogos que atuam nessa área admitem maior conhecimento dos marcos lógicos

| 98
e legais, especialmente acerca do ECA, do Plano Nacional e da rede de
enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil.
O que se percebe é que os psicólogos têm buscado aprimoramento: 68%
declararam ter pós-graduação; 77% dos inseridos no Serviço de Enfrentamento têm
especialização na área; 18% têm mestrado, e 5% têm doutorado. Dessa forma, a
formação continuada tem sido estratégia de qualificação dos psicólogos para que se
sintam preparados para as exigências na implementação de políticas públicas da

18
assistência social.

1:
Limites e possibilidades de uma prática em construção

:2
22
Embora sejam inúmeras as possibilidades de inserção do psicólogo como

0
operador da Política Nacional da Assistência Social, neste material, destaca-se sua

02
/2
atuação no Serviço de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e

01
Adolescentes e suas Famílias.

2/
-0
A violência deve ser compreendida como produto de um sistema complexo,

om
de relações historicamente construídas e multideterminadas, que envolve diferentes

l.c
realidades de uma sociedade, assentadas em uma cultura, permeadas por valores e
ai
gm
representações (AMORIM, 2005). Essa multideterminação implica, portanto, que
@

voltemos nosso olhar para as diferentes realidades – familiar, social, econômica,


na
pi

política, jurídica – que estão assentadas em uma cultura e organizadas em uma rede
ia
ib

dinâmica de produção de violência.


a.
an

A violência contra crianças e adolescentes faz parte de uma cultura baseada


ai

em concepções de infância, adolescência, sexualidade e violência que não estão


-l
1

descoladas das relações econômicas, de gênero e de raça que configuram a


-6
43

estrutura da nossa sociedade. Embora muitas vezes se esteja diante de um indivíduo


.2

e, no máximo, de uma família, não se pode perder de vista que a violência é sempre
10
.1

fenômeno a ser contextualizado e considerado em sua complexidade.


04

É pertinente, nesse contexto, enfocar sinteticamente alguns marcos


-0

conceituais relativos especialmente à violência contra crianças e adolescentes. Esta


A
N

publicação não se detém apenas na violência sexual, mas em todos os tipos de


PI
IA

violência perpetradas contra crianças e adolescentes, isso porque, em consonância


IB

com o observado em outros estudos, este estudo identificou – a partir dos dados
AL
LE

apontados no Relatório Preliminar de Análise Qualitativa da Pesquisa (CEAPG/FGV,


A

2007) – que os serviços de proteção social às crianças e aos adolescentes vítimas de


N
IA

violência, abuso e exploração sexual e a suas famílias atendem também a outros


LA

tipos de violência, e não apenas a violência sexual.


A complexidade do fenômeno da violência contra crianças e adolescentes é
consenso, e muitos são os critérios utilizados para classificar os tipos de violência. É
importante destacar que qualquer classificação é tentativa de organização,
processo pelo qual fenômenos complexos são dispostos em categorias, de acordo
com alguns critérios estabelecidos. Há clareza de que nenhuma classificação esgota
a complexidade do fenômeno que abordamos, e devemos considerar que os
diversos tipos de violência não são excludentes.
Em linhas gerais, a violência contra crianças e adolescentes pode ser dividida em:

| 99
a) Intrafamiliar: quando existe laço familiar, biológico ou não, ou relação de
responsabilidade entre vítima e autor/a da violência. Quando ocorre no espaço onde
reside a família, é chamada também de violência doméstica.
b) Extrafamiliar: se o autor da violência não possui laços familiares ou de
responsabilidade com o violado. Embora, na violência extrafamiliar, o agressor
possa ser um desconhecido, na maioria das vezes, ele é alguém que a criança ou o
adolescente conhece e em quem confia.

18
Em relação às formas de apresentação, a violência contra crianças e

1:
adolescentes pode ser classificada como: negligência, violência física, violência

:2
22
psicológica e violência sexual.

0
a) Negligência

02
/2
Ocorre negligência quando a família ou os responsáveis pela criança ou pelo

01
adolescente se omitem em prover suas necessidades físicas e/ou emocionais básicas

2/
-0
para o desenvolvimento saudável. Consiste em falhas com os cuidados básicos e

om
com a proteção da criança ou do adolescente, e deve ser distinguida da carência de

l.c
recursos socioeconômicos.
ai
b) Violência física gm
@

Dentre os tipos de violência, esse é um dos mais presentes nos estudos


na
pi

científicos. Os nomes mais utilizados são: abuso físico, maus-tratos físicos e


ia
ib

violência física. Inicialmente, o fenômeno estava associado à Medicina e ligado ao


a.
an

espancamento de crianças pequenas; posteriormente, os estudos acerca da


ai

violência física passaram a ser encarados no nível transdisciplinar.


-l
1

c) Violência psicológica
-6
43

Também conhecida como tortura psicológica, abuso psicológico ou abuso


.2

emocional, é pouco reconhecida como violência pela maioria das pessoas. Só muito
10
.1

recentemente os estudiosos passaram a investigar essa modalidade.


04

Constitui-se, portanto, em violência psicológica: rejeição, humilhação,


-0

constrangimento, depreciação, ameaça de abandono, discriminação, desrespeito,


A
N

utilização da criança como objeto para atender a necessidades psicológicas de


PI
IA

adultos. Pela sutileza do ato e pela falta de evidências imediatas, esse tipo de
IB

violência é um dos mais difíceis de caracterizar e conceituar, apesar de


AL
LE

extremamente frequente. Cobranças e punições exageradas são formas de violência


A

psicológica, que podem trazer graves danos ao desenvolvimento psicológico, físico,


N
IA

sexual e social da criança. (ABRAPIA, 1997, p. 11).


LA

d) Violência sexual
Dentre as formas de violência contra crianças e adolescentes, a mais
perturbadora é, inegavelmente, a violência sexual, que, embora identificada com
fenômeno antigo, só passou a ser considerada problema social a partir do século XX,
quando foi inserida no contexto dos direitos humanos e considerada responsável
por sérias consequências, como o comprometimento do desenvolvimento físico,
psicológico e social de suas vítimas.
A violência sexual apresenta-se, em geral, pelo abuso e pela exploração
sexual. Como outras formas de violência contra a criança e o adolescente, não são

| 100
fatos novos. Há relatos bíblicos fazendo referência a essas práticas. Mesmo vindo de
longa data o reconhecimento da existência do abuso e da exploração sexual, essas
são práticas que só foram formalmente identificadas e estudadas a partir da década
de 1960 (AMORIM, 2005).
d. 1) Abuso sexual
De acordo com Azevedo (1997), violência sexual é todo ato ou jogo sexual,
relação hetero ou homossexual entre um ou mais adultos e uma criança ou um

18
adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente essa criança ou esse

1:
adolescente ou utilizá-los para obter estimulação sexual de sua pessoa ou de outra

:2
22
pessoa. O agressor pode se impor por força, ameaça ou indução da vontade da

0
vítima.

02
/2
O abuso sexual compreende uma série de situações que estão locali- zadas

01
em um continuum que muitas vezes dificulta o estabelecimento dos limites entre o

2/
-0
aceitável e o inaceitável, especialmente em uma cultura como a nossa, que

om
sexualiza a infância.

l.c
d. 2) Exploração sexual de crianças e adolescentes
ai
gm
A exploração sexual comercial de crianças e adolescentes é uma forma de
@

violência sexual que se caracteriza pela obtenção de vantagem ou proveito, por


na
pi

pessoas ou redes, a partir do uso (abuso) do corpo dessas crianças ou adolescentes,


ia
ib

com base em relação mercantilizada e de poder. Contextualiza-se em função da


a.
an

cultura, do padrão ético e legal, do trabalho e do mercado. É importante ressaltar


ai

que o fenômeno não ocorre somente nos setores mais empobrecidos da população,
-l
1

mas perpassa todas as classes sociais. O que difere, em função dos extratos sociais,
-6
43

“[...] é o controle social e a visibilidade dessas formas cotidianas de exploração.”


.2

(LEAL, 1999, p. 22).


10
.1

O fenômeno da exploração sexual de crianças e adolescentes é identificado


04

em todo o mundo, e essa constatação tem mobilizado diferentes atores da


-0

sociedade no sentido de identificar, compreender e enfrentar essa cruel forma de


A
N

violação de direitos.
PI
IA

Faleiros (2004) observa que, na sociedade brasileira, enquanto a violência


IB

sexual intra e extrafamiliar é considerada e nomeada como abuso, nem sempre a


AL
LE

exploração sexual comercial é identificada como violência sexual ou como abuso


A

sexual. O autor chama a atenção para o fato de que, independentemente de


N
IA

contexto, todas as formas de violência sexual constituem abuso.


LA

Faleiros (2004) sistematiza quatro modalidades de exploração sexual


comercial de crianças e adolescentes, em consonância com as deliberações
mundiais a partir do Congresso de Estocolmo. São elas:
Prostituição infantil
É definida como a atividade na qual atos sexuais são negociados em troca de
pagamento, não apenas monetário, mas que podem incluir a satisfação das
necessidades básicas (alimentação, vestuário, abrigo) ou o acesso ao consumo de
bens e de serviços (restaurantes, bares, hotéis, shoppings, diversão).

| 101
A utilização da expressão prostituição com referência a crianças e
adolescentes é bastante discutível, e a construção da expressão “exploração da
prostituição infantil” resolve em parte a questão. Crianças e adolescentes, por estar
submetidos a condições de vulnerabilidade e risco social, são considerados (as)
prostituídos(as), e não, prostitutos(as).
Existem variações na faixa etária de crianças e adolescentes nessa situação,
mas as idades entre 12 e 18 anos são as mais comuns. A maioria é afrodescendente e

18
migra internamente ou é enviada para fora do País (LEAL, 2002).

1:
Turismo sexual

:2
22
Caracteriza-se pelo comércio sexual em regiões turísticas, envolvendo

0
turistas nacionais e estrangeiros e principalmente mulheres jovens, de setores

02
/2
pobres e excluídos, de países do Terceiro Mundo. O principal serviço comercializado

01
no turismo sexual é a prostituição, incluindo nesse comércio a pornografia (shows

2/
-0
eróticos) e o turismo sexual transnacional, que acoberta situações de tráfico de

om
pessoas para fins sexuais.

l.c
O turismo sexual é talvez a forma de exploração sexual mais articulada com
ai
gm
as atividades econômicas, como no caso do desenvolvimento do turismo. A rede de
@

turismo sexual envolve agências de viagens, pacotes turísticos, guias, hotéis,


na
pi

restaurantes, boates, casas de shows, taxistas, etc. e inclui-se em uma economia


ia
ib

globalizada.
a.
an

Pornografia
ai

Trata-se de produção, exibição, divulgação, distribuição, venda, compra,


-l
1

posse e utilização de material pornográfico.


-6
43

Segundo o Projeto de Protocolo Facultativo à Convenção dos Direitos da


.2

Criança, citado por Leal,


10
.1

[...] por utilização de crianças na pornografia se entende


04

comercialização/tráfico ou difusão, ou a produção ou posse (para fins


-0

de comercialização/tráfico, difusão ou outro fim ilícito) de quaisquer


A
N

materiais que constituam uma representação de uma criança


PI
IA

realizando atos sexuais explícitos ou representando como


IB

participante neles (ou utilizando) em uma atividade sexual (explícita)


AL
LE

ou qualquer representação (ilícita) do corpo ou de parte do corpo, de


A

uma criança, cujo caráter dominante seja a exibição com fins sexuais
N
IA

(entre outras coisas, incentivar a prostituição infantil e a utilização de


LA

crianças na pornografia, inclusive no contexto do turismo sexual que


afeta as crianças). (LEAL, 1999, p. 12).
A rede mundial de computadores tornou-se território fértil de disseminação
de práticas pornográficas, especialmente as que envolvem crianças e adolescentes.
Devido ao fácil acesso, a enorme abrangência e as dificuldades operacionais e legais
no seu controle, a internet passou a merecer atenção especial de organismos
nacionais e internacionais de proteção à infância.
Tráfico para fins sexuais

| 102
A ONU, em 1994, definiu o tráfico de pessoas como o movimento clandestino
e ilícito de pessoas através de fronteiras nacionais, principalmente dos países em
desenvolvimento e de alguns países com economias em transição, com objetivo de
forçar mulheres e adolescentes a entrar em situações sexualmente ou
economicamente opressoras e exploradoras, para lucro de aliciadores, traficantes e
crime organizado ou para outras atividades (por exemplo, trabalho doméstico
forçado, emprego ilegal ou falsa adoção).

18
No Brasil, país em que foram identificadas inúmeras rotas nacionais e

1:
internacionais, o tráfico para fins sexuais é, predominantemente, de mulheres e

:2
22
garotas negras e morenas, com idade entre 15 e 27 anos. (LEAL, 2002).

0
A tipificação das diferentes formas de violência contra crianças e

02
/2
adolescentes é estratégia didática. Raramente encontra-se a ocorrência de apenas

01
um tipo de violência.

2/
-0
Refletindo sobre as causas e as consequências das múltiplas violências contra

om
crianças e adolescentes

l.c
Não é simples identificar a etiologia (causa) dos casos das múltiplas
ai
gm
violências impostas a crianças e adolescentes até porque, como dito anteriormente,
@

são fenômenos que envolvem fatores de diversas ordens – individuais, sociais,


na
pi

culturais, familiares, psicológicas, econômicas, etc. –, em geral inter-relacionados.


ia
ib

Dessa forma, qualquer abordagem profissional, seja de prevenção ou


a.
an

intervenção, deve ser considerada sempre de forma interdisciplinar, envolvendo


ai

diferentes olhares, segmentos e práticas profissionais, configurando verdadeira rede


-l
1

de proteção.
-6
43

Muitos aspectos devem ser levados em conta quando se pensa nas


.2

consequências das violências contra crianças e adolescentes, tanto do ponto de


10
.1

vista dos operadores das políticas quanto do ponto de vista dos envolvidos nas
04

situações.
-0

De modo geral, os danos são classificados como primários e secundários


A
N

(FURNISS, 1993). No primeiro grupo, estão aqueles decorrentes da própria situação


PI
IA

de violência e, no segundo, aqueles decorrentes de intervenções inadequadas ou de


IB

não intervenções da rede de atendimento e proteção.


AL
LE

Em relação à criança ou ao adolescente, as consequências da violência estão


A

relacionadas com fatores intrínsecos, tais como vulnerabilidade e resiliência


N
IA

(constituição psíquica, temperamento, resposta ao nível de desenvolvimento


LA

neuropsicológico) e com a existência de fatores de risco e proteção extrínsecos


(recursos sociais, rede de suporte social e afetiva, funcionamento familiar, recursos
emocionais dos cuidadores e recursos financeiros).
As sequelas deixadas pela violência podem ser evidentes ou imperceptíveis,
mais ou menos graves, mas sempre presentes. O grau de severidade dos efeitos da
violência varia de acordo com: tipo de violência, idade da criança, duração da
situação, grau de violência, diferença de idade entre a pessoa que cometeu a
violência e a vítima, importância da relação entre a vítima e o autor da agressão e a

| 103
ausência de figuras parentais protetoras e de apoio social (nesses casos, o dano
psicológico é agravado) e o grau de segredo e de ameaças contra a criança.
Entre as consequências mais comuns, são apontadas: lesões físicas, morte,
sentimentos de raiva e medo em relação ao autor de agressão, quadros de
dificuldades escolares, dificuldade para confiar em outros adultos, autoritarismo,
“morte da alma”, apatia, atitudes antissociais (delinquência), violência doméstica
quando adulto, parricídio/matricídio, abuso de drogas, quadros depressivos em

18
variável intensidade e transtornos graves de personalidade (quadros dissociativos,

1:
personalidade múltipla, etc.).

:2
22
O(a) autor(a) da violência

0
Contrariando muitas representações de que os(as) agressores(as) sexuais são

02
/2
pessoas estranhas às vítimas, dados demonstram que os agressores, em geral, são

01
pessoas próximas e de confiança da criança. Em cerca de 85% a 90% dos casos,

2/
-0
exceto em situações de exploração sexual, são pais, mães, professores(as), tios(as),

om
etc. No caso de violência física, a maioria é de mulheres (mães, cuidadoras,

l.c
professoras). No caso de violência sexual, a maioria são homens heterossexuais,
ai
gm
com idade entre 16 e 40 anos, e, quando ocorre na família, 44% são pais, 17%
@

padrastos, 10% tios (GABEL, 1997). Esses dados são corroborados pelas estatísticas
na
pi

brasileiras em inúmeros estudos.


ia
ib

Geralmente, os autores de violência parecem normais, sem características


a.
an

estereotipadas, ocupam lugar de provedor na família e não possuem vícios. É


ai

comum que os(as) autores(as) de agressão possuam história de violência em suas


-l
1

vidas.
-6
43

No caso do abuso sexual, este pode ser entendido de modo semelhante a


.2

qualquer adição (drogas, por exemplo) e, como tal, constitui quadro que interage
10
.1

com as características da criança e de toda a família.


04

Furniss (1993), ao descrever a síndrome da adição, destaca algumas


-0

características do(a) autor(a) de abuso sexual:


A
N

• As pessoas que abusam sexualmente de crianças e adolescentes sabem que o


PI
IA

abuso é errado e que constitui crime;


IB

• As pessoas que abusam sexualmente de crianças e adolescentes sabem que o


AL
LE

abuso é prejudicial à criança; apesar disso, o abuso acontece;


A

• Oabusosexual,comooutrasadições,nãocriaprimariamente uma experiência


N
IA

prazerosa, mas serve para o alívio de tensão;


LA

• O processo é conduzido pela compulsão à repetição;


• Os sentimentos de culpa e o conhecimento de estar prejudicando a criança podem
levar a tentar parar o abuso;
• O aspecto sexual egossintônico (em “sintonia” com o ego) do abuso sexual dá à
pessoa que abusa a “excitação” que constitui o elemento aditivo central;
• A gratificação sexual do ato sexual ajuda a evitação da realidade e apoia uma baixa
tolerância à frustração, denotando um ego frágil;
• As pessoas que abusam sexualmente de crianças e adolescentes tornam-se
dependentes psicologicamente dos atos, por aliviarem a tensão;

| 104
• As pessoas que abusam sexualmente de crianças e adolescentes tendem a negar a
dependência, para ela própria e para os outros, independentemente de ameaças
legais;
• A tentativa de parar o abuso pode levar a sintomas de abstinência como ansiedade,
irritabilidade, agitação e outros sintomas (FURNISS, 1993, p. 37).
Ainda que esse quadro de síndrome possa servir de referência para a
compreensão do processo que constitui a dinâmica do autor ou autora de violência

18
contra crianças e adolescentes, o cenário geral desse fenômeno indica que, ao se

1:
abordar a questão do autor ou da autora de violência, é preciso levar em conta uma

:2
22
série de fatores socioculturais que interferem na determinação de suas ações.

0
Elementos como a socialização de gênero e a cultura familiar adultocêntrica podem

02
/2
interferir fortemente na tomada de consciência por parte de quem pratica a

01
violência, dificultando a percepção de seu ato como um crime grave. Também uma

2/
-0
hierarquia familiar fortemente marcada pelo sexismo e pelo machismo pode facilitar

om
a formação de homens e mulheres abusadores(as).

l.c
No caso da exploração sexual, a demanda é predominantemente masculina –
ai
gm
quem se serve da exploração sexual são pessoas do sexo masculino, e a esse público
@

devem ser estrategicamente dirigidas as ações mobilizatórias.


na
pi

A pesquisa do CFP indica ainda que os psicólogos, embora reconheçam os


ia
ib

avanços, inclusive do ponto de vista da consciência social e do reconhecimento do


a.
an

seu papel, apontam dificuldades na sua prática pela ausência de padronização


ai

metodológica nos serviços. Esta publicação não se propõe a padronizar as


-l
1

atividades do psicólogo no âmbito do serviço, mas, no Eixo 3, estão contidas


-6
43

referências importantes para subsidiar o planejamento e a atuação profissional. Há


.2

de se considerar que a construção de referências se dá a partir da prática, e que a


10
.1

responsabilidade dos psicólogos nesse contexto é a de avaliar permanentemente


04

essa prática, criar novas referências e referendar outras, ou seja, a produção de


-0

conhecimento deve ser compreendida como dialética, e teoria e prática estão


A
N

sempre em mútua construção.


PI
IA

Enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes:


IB

aspectos teóricos, técnicos, metodológicos e éticos


AL
LE

[...]
A

Em síntese, no campo da assistência social, as ações do psicólogo,


N
IA

especialmente no Serviço de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e


LA

Adolescentes e suas Famílias, que podem ocorrer em âmbito individual ou no


grupal, requerem embasamento teórico bem definido (que possibilitem adequada
leitura da situação e dos sujeitos nela envolvidos), planejamento (que norteará as
ações em cada caso), registro (que possibilita o contínuo estudo das situações) e
avaliação sistemática (que visa a constatar a adequação das ações). (AMORIM, 2007).
[...]
Aos psicólogos que atuam nesse contexto, é imprescindível a apropriação
acurada de parâmetros profissionais, conforme apontam as Resoluções do CFP
referidas a seguir.

| 105
Da Resolução CFP no 10/2005, que institui o Código de Ética Profissional do
Psicólogo, do qual destacamos de seu preâmbulo:
[...] um Código de Ética profissional, ao estabelecer padrões esperados quanto às
práticas referendadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade,
procura fomentar a autorreflexão exigida de cada indivíduo acerca da sua práxis, de
modo a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente, por ações e suas conseqüências
no exercício profissional. A missão primordial de um Código de Ética profissional não

18
é normatizar a natureza técnica do trabalho, e, sim, assegurar, dentro de valores

1:
relevantes para a sociedade e para as práticas desenvolvidas, um padrão de

:2
22
conduta que fortaleça o reconhecimento social daquela categoria. Códigos de ética

0
expressam sempre uma concepção de homem e de sociedade que determina a

02
/2
direção das relações entre os indivíduos. Traduzem-se em princípios e normas que

01
devem pautar-se pelo respeito ao sujeito humano e seus direitos fundamentais.”

2/
-0
(CFP, 2005a).

om
Destacam-se também os seguintes princípios fundamentais:

l.c
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da
ai
gm
liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser
@

humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal


na
pi

dos Direitos Humanos.


ia
ib

II. O psicólogo trabalhará visando a promover a saúde e a qualidade


a.
an

de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a


ai

eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação,


-l
1

exploração, violência, crueldade e opressão.


-6
43

[...]
.2

Discutir o atendimento psicológico de crianças e adolescentes em situação


10
.1

de violência sexual no âmbito da política de assistência social não é tarefa simples.


04

Por isso, é importante refletir sobre algumas questões diretamente relacionadas ao


-0

lugar de onde se fala, às características do sujeito que se atende e aos pressupostos


A
N

teóricos e metodológicos em que está fundamentada a prática dos profissionais que


PI
IA

atuam nessa área.


IB

O atendimento psicológico deve compor a atenção psicossocial, que é


AL
LE

operacionalizada por um conjunto de procedimentos técnicos especializados, com o


A

objetivo de estruturar ações de atendimento e de proteção a crianças e


N
IA

adolescentes, proporcionando-lhes condições para o fortalecimento da autoestima,


LA

o restabelecimento de seu direito à convivência familiar e comunitária em condições


dignas de vida e possibilitando a superação da situação de violação de direitos, além
da reparação da violência sofrida.
O presente texto pretende subsidiar as ações dos profissionais envolvidos no
atendimento psicossocial especializado a crianças e adolescentes vítimas de
violência sexual, no âmbito do CREAS, mas deve ser encarado apenas como
direcionador, inspirador e motivador de reflexões que levem à consolidação de
práticas que conciliem as dimensões teórica, técnica, ética e política do
atendimento psicossocial. Para esse atendimento psicossocial especializado, não

| 106
existe receita pronta. As diretrizes ora apontadas devem servir de referência para a
equipe de trabalho procurar construir permanentemente conhecimentos que vão
subsidiar suas práticas.
O atendimento psicossocial
O objetivo do atendimento psicossocial no Serviço é efetuar e garantir o
atendimento especializado, e em rede, a crianças e adolescentes em situação de
violência e a suas famílias, por profissionais especializados e capacitados (BRASIL,

18
2006a).

1:
O atendimento psicossocial é um instrumento fundamental para a garantia

:2
22
dos direitos de crianças e adolescentes, que tem como referência básica os

0
princípios de prioridade absoluta, por ser sujeitos de direitos e em condição peculiar

02
/2
de desenvolvimento. Configura conjunto de atividades e ações

01
psicossocioeducativas, de apoio e especializadas, desenvolvidas individualmente e

2/
-0
em pequenos grupos (prioritariamente), de caráter disciplinar e interdisciplinar, de

om
cunho terapêutico – não confundir com psicoterapêutico –, com níveis de

l.c
verticalização e planejamento (início, meio e fim), de acordo com o plano de
ai
gm
atendimento desenvolvido pela equipe. Esse atendimento deve ser
@

operacionalizado, prioritariamente, pelos grupos de apoio às crianças e aos


na
pi

adolescentes e pelo grupo de apoio às famílias e de oficinas socioeducativas.


ia
ib

Sugere-se que o atendimento individual seja utilizado apenas nas entrevistas


a.
an

iniciais, como forma de avaliação preliminar e preparação da criança e do


ai

adolescente para a entrada nos grupos, ou quando, a partir dessa avaliação, ficar
-l
1

constatado que o trabalho em grupo não é indicado.


-6
43

Entende-se por atendimento a atenção física, jurídica, psicológica,


.2

econômica e social prestada a todas as pessoas envolvidas na situação de violência


10
.1

sexual. O atendimento deve ser entendido ainda como conjunto de ações internas
04

do CREAS e dos demais serviços da rede, e deve estar voltado, além da atenção
-0

emergencial para a redução de danos sofridos pelos sujeitos, para a mudança de


A
N

condições subjetivas que geram, mantêm ou facilitam a dinâmica e as ameaças


PI
IA

abusivas. As ações devem ser potencializadoras da autonomia, favorecendo a


IB

participação na rede social ampliada, compreendendo crianças e adolescentes


AL
LE

como sujeitos desejantes e de direitos.


A

No caso do profissional psicólogo, não é incomum que se confunda


N
IA

abordagem psicossocial com psicoterapia. A abordagem psicossocial, sem dúvida,


LA

pode e deve ter efeitos terapêuticos, mas ela se distingue da psicoterapia pela forma
de intervenção e pelos objetivos. A psicoterapia tem o seu lugar na atenção à saúde,
mais especificamente, nos serviços de saúde mental. Nem todas as crianças e nem
todos os adolescentes que passam pelos serviços da assistência social têm demanda
para a psicoterapia, e o psicólogo do CREAS deve avaliar adequadamente cada
situação, indicando a psicoterapia quando necessário.
Os profissionais envolvidos no atendimento psicossocial devem, portanto,
estar aptos a lidar permanentemente com o novo, sendo capazes de observar,
interpretar e compreender as situações que se apresentam. Para tanto, devem ser

| 107
instrumentalizados com sólido instrumental teórico (que permita leitura e
interpretação da realidade apresentada) e estratégias metodológicas e técnicas (que
possam ser utilizadas como referências de suas ações).
O compromisso fundamental é a interrupção do ciclo da violência. Para isso,
serão necessárias medidas jurídicas de responsabilização do autor da agressão,
medidas sociais de proteção às crianças e de reinserção escolar ou laboral, medidas
médicas de tratamento das consequências e medidas psicossociais.

18
O serviço deve desenvolver acolhimento, escuta, atendimento especializado,

1:
em rede, interdisciplinar, encaminhamento e acompanhamento de crianças,

:2
22
adolescentes e famílias em situação de violência sexual (inclusive os autores da

0
agressão sexual), criando condições que possibilitem a garantia dos direitos, o

02
/2
acesso aos serviços de assistência social, saúde, educação, justiça e segurança,

01
esporte, lazer, cultura, geração de renda e qualificação profissional, garantindo

2/
-0
compromisso ético, político e multidisciplinariedade das ações (BRASIL, 2006b).

om
Alguns conceitos importantes

l.c
Atendimento: ato ou efeito de atender; atenção sistemática prestada ao
ai
gm
grupo familiar e/ou à criança e ao adolescente pela equipe do Serviço de
@

Enfrentamento, por meio de atividades relacionadas à organização do processo de


na
pi

trabalho técnico de cada área do conhecimento envolvida; conjunto de atividades


ia
ib

desenvolvidas pela equipe multiprofissional com o objetivo de prestar apoio


a.
an

psicossocial e jurídico; processo de intervenção do técnico na dinâmica da criança,


ai

do adolescente e de sua família.


-l
1

Encaminhamento: ato de encaminhar; conduzir e dirigir as pessoas que estão


-6
43

sendo atendidas no CREAS/Serviço de Enfrentamento para outras políticas setoriais


.2

e/ou serviços da Rede de Proteção Integral; procedimentos que visam ao acesso de


10
.1

famílias, seus membros e indivíduos aos serviços.


04

Acompanhamento: monitorar os encaminhamentos realizados para outras


-0

políticas setoriais e serviços da Rede de Proteção Social; ato de acompanhar o


A
N

atendimento que está sendo realizado, por outros serviços e ações definidos no
PI
IA

Plano de Intervenção, para a superação da violação dos direitos.


IB

Segundo o documento editado pelo MDS no Módulo de Capacitação à


AL
LE

Distância de Gestores de Assistência Social, o acompanhamento é definido como:


A

O acompanhamento psicossocial tem como objetivo, ainda,


N
IA

proporcionar uma reflexão e avaliação permanente acerca das metas,


LA

objetivos e compromissos pactuados no Plano de Atendimento. Nessa


etapa, a partir de uma interação ativa, tem-se a possibilidade de
construir um conhecimento mais aprofundado sobre a família: seus
recursos, sua história, seus vínculos, suas redes sociais de apoio, o
contexto socio-histórico e cultural no qual está inserida, sua relação
com o mesmo, etc. Essa etapa tem como objetivo, portanto,
oportunizar espaços de escuta, diálogo e trocas que favoreçam: o
protagonismo das famílias e sua participação social; a reflexão crítica
e criativa sobre a realidade vivida; a reparação de experiências de

| 108
violação de direitos; a construção de novas possibilidades de
enfrentamento; e o fortalecimento/reconstrução de seus vínculos
afetivos familiares e comunitárias.
Atenção: conjunto de atos técnicos promovidos por profissional no campo da
assistência social, da saúde, da educação, da profissionalização e geração de renda,
da cultura, do esporte e lazer, etc., como escuta, atendimento, encaminhamento,
acompanhamentos, orientação, etc.

18
Planejamento da intervenção

1:
Atender a demanda tão complexa de promoção do desenvolvimento

:2
22
psicossocial de crianças e adolescentes em situação de risco pressupõe a inserção

0
de práticas de outros campos e o envolvimento de diversos profissionais, de áreas

02
/2
diferentes, promovendo prática transdisciplinar. Isso significa que cada caso é visto

01
como único, com suas especificidades e particularidades. Os profissionais intervêm

2/
-0
de maneira articulada, cada um em sua especialidade, mas atuam com vistas a um

om
objetivo comum, que é oferecer atendimento especializado que compreenda esse

l.c
sujeito em suas diversas dimensões.
ai
gm
O primeiro passo para o planejamento da intervenção consiste na
@

identificação do fenômeno. Segundo Azevedo e Guerra (2001), essa identificação


na
pi

pode ser sumária, em casos emergenciais que demandem ação imediata, ou


ia
ib

aprofundada mediante diagnóstico multiprofissional. O segundo passo a se levar em


a.
an

conta é o envolvimento de parceiros, profissionais e/ou institucionais, uma vez que a


ai

violência sexual é fenômeno complexo, que pressupõe diversos olhares e


-l
1

intervenções em vários níveis.


-6
43

Dessa forma, para que o planejamento da intervenção seja bem- -sucedido,


.2

torna-se necessário o envolvimento de toda a rede local de atenção à infância e à


10
.1

adolescência bem como o conhecimento do fluxo de encaminhamento e


04

atendimento/ acompanhamento a ser acessado.


-0

Como já referido anteriormente, é necessário adotar uma prática de


A
N

atendimento articulada e integrada com outros profissionais e com outros serviços


PI
IA

(saúde, educação, justiça), para os encaminhamentos que ajudem na resolução do


IB

problema. Nesse sentido, é fundamental reconhecer-se como parte de uma rede de


AL
LE

proteção que deve ser conhecida por quem faz o atendimento.


A

Além disso, os profissionais das diferentes áreas (advogado, psicólogo,


N
IA

assistente social e educador social) não devem atuar de maneira isolada. Toda a
LA

equipe tem acesso aos procedimentos adotados por seus membros de acordo com o
sigilo e a conduta ética de suas profissões. Dessa forma, a equipe busca identificar
necessidades individuais elaborando planos de intervenções singulares.
Um ponto de destaque para o atendimento a esse público em situação de
risco é que muitas vezes torna-se necessária a ultrapassagem de settings (espaços,
contextos) terapêuticos clássicos, ou seja, não se pode ficar engessado nessas
amarras, sob pena de não se conseguir efetivar o trabalho. O profissional deve levar
o atendimento até onde se encontra o sujeito, e, muitas vezes, o encontro
terapêutico se dá em ambiente diverso do que está convencionado, qual seja, a sala

| 109
de atendimento propriamente dita. É importante pensar em momentos
terapêuticos, que podem se dar no consultório, em uma visita domiciliar, em uma
consulta médica ou em uma saída para confecção de documentos. O mais relevante
nessa perspectiva é a formação de vínculos, a possibilidade de interagir com o
sujeito, acessar a sua subjetividade, estabelecer relação.
Atualmente, são aplicados diversos modelos de intervenção em casos de
violência contra crianças e adolescentes. Furniss (1993) traz à reflexão alguns

18
modelos de intervenção contemporâneos, que podem ser adaptados para os casos

1:
de violência sexual.

:2
22
A intervenção punitiva primária refere-se a toda intervenção cujo foco esteja

0
voltado para o autor da agressão com o objetivo exclusivo de puni-lo. Esse modelo

02
/2
compreende a violência como fenômeno monocausal, ou seja, a explicação se

01
concentra apenas nas características individuais do agressor.

2/
-0
A intervenção primária protetora da criança tem como foco a criança/ vítima,

om
com o claro objetivo de proteger seu desenvolvimento físico, emocional e moral.

l.c
Já a intervenção terapêutica primária considera a singularidade do sujeito e
ai
gm
o contexto em que está inserido; considera a família como o espaço privilegiado de
@

acolhimento e que a intervenção deve se dar com todos os seus membros.


na
pi

Esses três modelos refletem as perspectivas que podem ser adotadas no


ia
ib

enfrentamento à violência sexual. Os dois primeiros focalizam apenas um dos


a.
an

aspectos da situação (agressor vs. vítima), sem considerar a característica


ai

multifacetada do problema, e ainda se encontram muito presentes nas práticas de


-l
1

intervenção. O terceiro é o que mais se aproxima dos parâmetros de atendimento no


-6
43

qual o CFP acredita, pois concebe o sujeito atendido em contexto e ambiente


.2

familiar que precisam ser contemplados no atendimento.


10
.1

É sempre importante levar em conta que, além das medidas de atendimento,


04

se devem oferecer também medidas de acompanhamento e controle,


-0

acompanhamento para identificar eventuais falhas no processo de atendimento e


A
N

encaminhamentos, e controle para corrigir essas falhas. Os encaminhamentos à


PI
IA

rede não podem ser tratados como transferência de responsabilidade, pois cabe a
IB

todos os profissionais e instituições zelar pelo bem-estar da criança e do


AL
LE

adolescente e pelo compromisso de contribuir para o processo de interrupção do


A

ciclo da violência.
N
IA

Não se fala apenas de intervenções técnicas, mas também de articulação


LA

entre os membros da equipe (trabalho transdisciplinar) e entre os diversos setores


da sociedade (trabalho interinstitucional), ou seja, a construção de redes que
viabilizem ações concretas. Essa é a única forma de enfrentar a rede que sustenta as
violências sexuais contra crianças e adolescentes.
Estudo de caso
O estudo de caso é uma estratégia metodológica fundamental para a
realização das ações no CREAS e para o planejamento das ações. É a partir desse
momento que a equipe pode, de forma fundamentada, planejar as ações para cada
caso, além de criar condições de instrumentalização para situações similares. O

| 110
espaço das reuniões da equipe é importante também para o compartilhamento das
dificuldades e das angústias, considerando que o trabalho com a violência sexual é
complexo e afeta diretamente os profissionais.
Cada caso requer um planejamento específico; o desenvolvimento desse
planejamento acontece nas reuniões semanais de equipe. A partir da realização do
diagnóstico social e dos primeiros atendimentos, já é possível ter uma ideia das
necessidades e dos encaminhamentos que podem ser feitos. É importante salientar

18
que essas reuniões são extremamente importantes para a condução adequada dos

1:
casos e para as tomadas de decisão. O andamento dos atendimentos é avaliado em

:2
22
conjunto, e os passos, discutidos com os profissionais das diversas áreas da equipe.

0
Sugere-se que, a cada vez, um membro da equipe fique responsável por

02
/2
apresentar o caso a ser discutido e analisado por todos.

01
Roteiro de estudo de caso

2/
-0
1. Identificação do caso;

om
2. Histórico (resumo da história do sujeito, da situação de

l.c
violência vivenciada e do seu percurso institucional);
ai
gm
3. Profissionais envolvidos (quais profissionais da equipe estão
@

atuando diretamente no caso e qual o papel de cada um deles);


na
pi

4. Reflexão teórico-metodológica (de que maneira a teoria


ia
ib

respalda a atuação de cada profissional em relação ao caso


a.
an

específico, a metodologia utilizada é a mais adequada, que


ai

outras referências podem ser incorporadas à atuação da


-l
1

equipe);
-6
43

5. Questões importantes para o planejamento da ação;


.2

6. A criança ou o adolescente estão em segurança?


10
.1

7. Existe adulto de referência? Este tem condições efetivas de


04

garantir a segurança física e emocional da criança ou do


-0

adolescente?
A
N

8. A família tem acesso à rede de proteção social básica? De


PI
IA

que forma o serviço pode colaborar nesse sentido?


IB

9. As ações propostas levam em consideração a autonomia do


AL
LE

sujeito e da família?
A

10. Existe diálogo entre as ações psicossociais e jurídicas? Essas


N
IA

ações estão sendo desenvolvidas em paralelo ou de maneira


LA

articulada? 11. Os aspectos relacionados à saúde (física e


mental) da criança e do adolescente foram levados em
consideração no planejamento da ação?
12. A situação de violência interferiu no processo de
desenvolvimento da aprendizagem da criança ou do
adolescente?
13. Encaminhamentos;
14. Estratégias de acompanhamento dos encaminhamentos;

| 111
15. Situação das relações familiares – conflitos
transgeracionais, padrões violadores de relacionamento,
vinculações afetivas, aspectos favorecedores do
desenvolvimento, etc.
É importante que o estudo de caso aponte também a necessidade de
elaborar em conjunto com a família o plano de atendimento.
Operacionalização do atendimento

18
Os procedimentos operacionais implicam uma sequência de passos ou

1:
técnicas que descrevem em detalhes como determinada tarefa ou função deve ser

:2
22
realizada. Os procedimentos costumam detalhar as várias atividades que devem ser

0
realizadas para o alcance de determinado objetivo. Entretanto, não podem ser

02
/2
compreendidos como uma receita de bolo, como algo frio e distante do meio em

01
que é utilizado. Os procedimentos devem ser construídos na dimensão humana,

2/
-0
fundamentados em visões de mundo e no arcabouço teórico de referência.

om
Como já dito anteriormente, a prática do profissional de Psicologia no CREAS

l.c
deve estar comprometida com uma perspectiva emancipatória, promotora de
ai
gm
autonomia e consciência social, ou seja, deve proporcionar o empoderamento do
@

sujeito, o desenvolvimento de uma consciência crítica e sua efetiva participação na


na
pi

sociedade.
ia
ib

As responsabilidades em relação ao processo de atendimento devem ser


a.
an

compartilhadas com a criança, o adolescente e a família, pois isso fortalece o


ai

sujeito, estimula a cooperação, a solidariedade, o desenvolvimento do


-l
1

comportamento cidadão e a construção da autonomia, de acordo com o Módulo de


-6
43

Capacitação a Distância de Gestores de Assistência Social:


.2

O plano de atendimento, cuja elaboração deve se basear em uma


10
.1

metodologia participativa que envolva a família, deve conter as


04

estratégias direcionadas ao atendimento, pactuando responsabilidades


-0

e compromissos, levantando metas e objetivos e mobilizando os


A
N

recursos necessários para potencializar os recursos da família para o


PI
IA

exercício de sua função, fortalecer seu protagonismo e participação


IB

social e suas redes sociais de apoio na comunidade.


AL
LE

Considerando o que foi dito anteriormente, passaremos então a descrever


A

quais as estratégias têm sido utilizadas no atendimento psicossocial no âmbito do


N
IA

CREAS.
LA

Acolhimento e triagem
O primeiro atendimento tem como objetivo o acolhimento da criança, do
adolescente e de sua família, bem como o levantamento das suas demandas
imediatas, atentando-se para as situações de emergência e/ou ameaças que possam
surgir em alguns casos. O atendimento realizado com crianças e adolescentes para
os quais não tenha havido atendimento prévio do Conselho Tutelar deve ser
noticiado/comunicado imediatamente pelo CREAS ao Conselho Tutelar, em
observância ao disposto no artigo 13 do ECA.

| 112
Portanto, o atendimento no CREAS antes do Conselho Tutelar seria uma
exceção. Além dessa exceção do CREAS como primeiro serviço a ter contato com a
situação, é importante ressaltar, ainda, que, ao longo do atendimento, podem ser
identificadas novas situações que demandem a aplicação de novas medidas e, nessa
situação, também o Conselho Tutelar deve ser acionado. (BRASIL, 1990).
O acolhimento é fundamental, e constitui fator determinante para a
permanência ou não da criança/do adolescente na instituição, assim como para sua

18
adesão ao atendimento. O pedido inicial das crianças, dos adolescentes e de família

1:
é o de ser ouvidos e acreditados sem julgamentos. Segue-se a isso a necessidade de

:2
22
proteção, acolhimento e ajuda para lidar com os aspectos subjetivos advindos da

0
violência sexual. Deve-se levar em conta que o trabalho é desenvolvido com

02
/2
crianças, adolescentes e seus familiares, que estão extremamente fragilizados e em

01
risco pessoal e social. Um acolhimento inadequado pode deflagrar um processo de

2/
-0
revitimização e comprometer todo o atendimento.

om
O sigilo, a crença e o amparo social da fala da criança são inerentes a esse

l.c
tipo de trabalho. É importante atentar que, muitas vezes, a ida ao CREAS significa
ai
gm
um pedido de socorro, uma forma de buscar interromper o ciclo da violência e se
@

refazer após um acontecimento desse tipo. É preciso levar em consideração o quão


na
pi

difícil é para a criança estar ali, muitas vezes como denunciante, fragilizada e até
ia
ib

mesmo exposta a inúmeros procedimentos jurídicos e a pressões da família e da


a.
an

sociedade.
ai

Deve-se lembrar que os sujeitos em situação de violência sexual geralmente


-l
1

se encontram bastante fragilizados, podendo apresentar dificuldade de confiar em


-6
43

outras pessoas, por todas as características envolvidas nesse tipo de situação. Por
.2

isso, o profissional que realiza o acolhimento deve adotar uma postura que
10
.1

transmita segurança. Esse cuidado é válido também para os casos que não são de
04

competência do CREAS/Serviço de Enfrentamento e que serão encaminhados. Ao


-0

fazer o encaminhamento para a rede de serviços, é importante conhecer as


A
N

instituições parceiras, suas atribuições e competências e o perfil do público que


PI
IA

atendem. Além disso, faz-se necessário contato prévio com os profissionais da


IB

instituição para a qual está sendo encaminhado o caso para que, de fato, seja
AL
LE

garantido o atendimento.
A
N
IA

Entrevistas psicológicas iniciais


LA

Após o levantamento de dados na anamnese social, o caso é encaminhado


para o profissional de Psicologia para proceder às entrevistas psicológicas iniciais.
Quando se trata de criança e adolescente, a entrevista inicial pode ser realizada com
a mãe ou com o adulto responsável, com o objetivo de obter informações a respeito
dos danos emocionais decorrentes da violência, as reações da criança, do
adolescente e da família e principalmente a capacidade desse adulto de referência
ser um cuidador da criança.
Na entrevista com o adulto responsável, é importante buscar informações a
respeito do seu papel em relação à criança, do histórico de situações de violência na

| 113
família, como se lida com a sexualidade no contexto familiar, quais as possibilidades
da família para suportar o processo judicial, além da forma como são estabelecidas
as relações entre os membros da família.
Deve-se estar atento, principalmente na violência intrafamiliar, se a família
está envolvida em situações de crise (e de que tipo), se existe propensão para a
continuidade da violência. É importante verificar o risco de o abuso acontecer com
outras crianças da família e quais foram as situações que indicaram a ocorrência da

18
violência.

1:
É preciso estabelecer um contato empático e haver clima favorável para os

:2
22
responsáveis fornecerem todas as informações, procurando mostrar que o interesse

0
é ajudar a criança/o adolescente e a família como um todo, e não, proceder a

02
/2
julgamentos. Deve-se levar em consideração que, nos casos de violência sexual, a

01
eficácia da atuação é muito influenciada pelo nível de envolvimento das famílias e

2/
-0
pela abordagem inicial, pela qualidade do vínculo estabelecido.

om
Além desses aspectos, é preciso estar atento, pois, em alguns casos, em

l.c
situações de disputa pela guarda de uma criança, pode acontecer de um dos pais
ai
gm
manipular as crianças para que insinuem situação de abuso, a fim de prejudicar a
@

imagem do outro. Esses são casos que merecem atenção redobrada, embora a
na
pi

crença na palavra da criança continue sendo premissa básica.


ia
ib

No contato inicial com a criança ou o adolescente, cuidados importantes


a.
an

devem ser tomados.


ai

Ao receber a criança ou o adolescente, o psicólogo deve apresentar-se,


-l
1

perceber se ela sabe algo sobre o Serviço de Proteção Especial; caso ainda não
-6
43

saiba, conversar sobre o que é, o que faz, quem trabalha nele e como trabalha. Deve
.2

informar que outras crianças também frequentam esse espaço e deixar o


10
.1

entrevistado à vontade para perguntar e se apresentar. Esse contato inicial tem o


04

objetivo principal de estabelecer o vínculo necessário.


-0

Essa entrevista com a criança deverá ser conduzida de forma não diretiva e
A
N

em espaço adequado, que favoreça um nível de conversa mais espontânea e


PI
IA

apropriada a cada criança, respeitando seu desenvolvimento e sua história de vida.


IB

Nessas entrevistas, observa-se cuidadosamente o desenvolvimento da


AL
LE

criança e do adolescente para que se defina qual o grupo adequado para sua
A

inclusão.
N
IA

No momento do atendimento, a atenção deve ser dedicada exclusivamente


LA

para a criança e o adolescente, e a linguagem deve ser simples e clara. Deve-se


também respeitar o tempo de cada indivíduo. Às vezes são necessários meses para
que a criança ou o adolescente se sinta segura/o para falar de questões íntimas, e é
preciso compreender o ritmo de cada um.
A avaliação psicológica tem como objetivo compreender a situação de
violência, avaliando seus impactos sobre a criança/o adolescente e a família. Além
disso, possibilita ao profissional verificar qual a abordagem psicossocial e/ou
psicoterapêutica mais adequada para o caso, e se são necessárias outras avaliações,
entrevistas ou processos diagnósticos. A partir dos dados colhidos no processo de

| 114
avaliação psicológica, a criança/o adolescente poderá ser encaminhada/o para os
serviços que atenderão suas demandas psicológicas: apoio psicossocial, trabalho
em grupo ou outro acompanhamento no âmbito da saúde mental, inclusive
psicoterapia.
Sugere-se que a avaliação psicológica se dê em entrevistas individuais, com a
criança/o adolescente, por meio de sessões no mínimo semanais O processo de
avaliação psicológica muitas vezes não se esgota em um único encontro,

18
demandando-se pouco mais de tempo para se chegar a diagnóstico mais preciso. O

1:
atendimento às famílias poderá ser realizado de conformidade com as informações

:2
22
relatadas pela criança/adolescente sobre os vínculos e de acordo com o andamento

0
do atendimento e das avaliações procedidas.

02
/2
01
Atendimento psicológico

2/
-0
Compreende encontros sistemáticos de apoio e orientação referentes a

om
demandas psicológicas que podem ser trabalhadas no âmbito do CREAS. O papel do

l.c
psicólogo é proporcionar atendimento a crianças/adolescentes e suas famílias que
ai
gm
apresentem sofrimento emocional e psíquico decorrente da sua vivência na situação
@

de violência sexual.
na
pi

Essa atividade psicossocial deve ser uma prática comprometida com a


ia
ib

singularidade do sujeito, que necessita de um espaço em que seja ouvido e tratado


a.
an

como tal. O psicólogo deve propiciar uma escuta atenta, oportunizando a


ai

emergência de significados ocultos ou inconscientes. É o profissional que exercerá o


-l
1

trabalho com sentimentos e subjetividade de crianças/adolescentes vitimizados e


-6
43

suas famílias – criando ambiente favorável ao resgate da autoestima, à reconstrução


.2

de relações afetivas, à reconstrução de significados acerca da vivência, à


10
.1

compreensão acerca da dinâmica familiar, aos limites e cuidados na família, ao


04

desenvolvimento da sexualidade, etc. Diversos autores tratam da prática da


-0

violência, de sua revelação e da entrada de atores institucionais na dinâmica


A
N

familiar, fatores que podem repercutir nas relações afetivas, na dinâmica da família
PI
IA

e no desenvolvimento da criança/do adolescente.


IB

É importante que a equipe esteja atenta sobre a demanda de psicoterapia


AL
LE

que pode surgir em alguns casos. Esse trabalho é atribuição da política pública de
A

saúde, uma vez que os agravos provocados pela violência sexual devem ser
N
IA

atendidos também no campo da saúde mental; devem, portanto, ser encaminhados


LA

para as unidades de saúde especializadas no atendimento de crianças e


adolescentes ou para outros serviços disponíveis no município. Deve- se destacar
que o atendimento psicológico realizado no CREAS não constitui processo de
psicoterapia. O atendimento psicossocial deve ser realizado prioritariamente em
grupo, sendo o atendimento individual considerado apenas em casos excepcionais.

Fundamentação para o trabalho em grupo


O trabalho em grupo configura uma das técnicas possíveis do atendimento
psicossocial. A opção pelo grupo está sustentada pela afirmação de que este

| 115
consiste em um espaço de conscientização e participação, no qual o processo
interpessoal (participação em atividades grupais – relação com outros componentes
do grupo) é transformado em processo intrapessoal (fortalecimento da autoestima,
ressignificação de valores e percepções pessoais). O trabalho em grupo constitui um
dispositivo potente de produção de relações e experiências, colocando o sujeito
como ator principal do seu processo de desenvolvimento, em que vivencia e exerce
sua cidadania.

18
O grupo possibilita a interação, que, de acordo com Villardi (2001), se refere à

1:
afetação mútua, ou seja, uma dinâmica em que a ação ou o discurso do outro

:2
22
causam modificações na forma de agir e pensar. Além disso, proporciona a troca e a

0
busca por um objetivo comum, por meio do compartilhamento de informações,

02
/2
sentimentos e conhecimentos entre os participantes, resultando na construção do

01
saber, que, no nosso caso específico, é a superação da situação de violência, a

2/
-0
reinserção social e a autonomia. No trabalho em grupo, a diversidade, o diferente, é

om
visto como instrumento coletivo e de crescimento individual.

l.c
Objetiva-se, com o trabalho em grupo, proporcionar o espaço de convivência
ai
gm
e o compartilhamento de experiências com vistas a ampliar as possibilidades de
@

expressão do sujeito no mundo. São também objetivos do trabalho em grupo o


na
pi

resgate da corporeidade e a reconstrução de relações e vínculos afetivos com a


ia
ib

família, a comunidade e o grupo de pares.


a.
an

Como todas as modalidades de atendimento psicossocial, o trabalho em


ai

grupo também deve considerar a história do sujeito, seus recursos pessoais, os


-l
1

aspectos conflituosos e subjetivos para desenvolver, de forma coletiva, estratégias e


-6
43

projetos de vida. Nesse processo, o sujeito torna-se capaz de identificar os fatores


.2

que o levaram a vivenciar situações de vulnerabilidade e exploração, e, a partir da


10
.1

análise de suas condições atuais de vida e de outras realidades, avaliar os recursos


04

disponíveis e as oportunidades (educacionais, mercado de trabalho, etc.).


-0

No grupo, é preciso desenvolver atividades que promovam a construção e a


A
N

reconstrução da sua representação do mundo, transformando a si mesmo e ao


PI
IA

sonho de autorrealização em processo permanente de autoavaliação e autocriação


IB

(DOLABELA, 2003).
AL
LE

Dentre as atividades a ser desenvolvidas no âmbito do grupo, indicam- se as


A

oficinas temáticas como um dos recursos para trabalhar temas específicos, como
N
IA

direitos humanos, direitos sexuais e reprodutivos, violação de direitos, relações


LA

familiares, vínculos afetivos, retorno ao lar e políticas públicas, entre outros.

Grupos de apoio a crianças e adolescentes


Grupos de apoio são espaços privilegiados de escuta onde crianças e
adolescentes podem falar sobre a violência, seus medos, conflitos, dúvidas e
angústias. Esses grupos são conduzidos prioritariamente pelo profissional de
Psicologia, e devem, necessariamente, ocorrer no mínimo uma vez por semana.
Os grupos devem possibilitar o fortalecimento e/ou o restabelecimento dos
vínculos familiares e sociocomunitários, a elevação da autoestima e a retomada do

| 116
desenvolvimento emocional, afetivo, físico, sexual e social, protegido e a salvo de
toda e qualquer violência ou violação dos direitos individuais e coletivos.
Os grupos devem ser formados de acordo com a faixa etária, e sugere- se a
sua composição com oito participantes. Considerando as questões específicas do
abuso e da exploração sexual, é importante que se organizem, ao menos
inicialmente, separadamente por tipo de violência.
O CREAS deverá definir se esses grupos serão fechados ou abertos, ou seja, se

18
terão uma composição inicial dos participantes e seguirão nesse mesmo grupo até o

1:
encerramento do trabalho ou se estarão abertos para a entrada de novos

:2
22
participantes durante o processo.

0
Grupos de apoio às famílias

02
/2
Os grupos de apoio às famílias são formados por membros adultos das

01
famílias de crianças e adolescentes atendidos no serviço. Esses grupos têm o

2/
-0
objetivo de fortalecer os familiares para o enfrentamento das consequências da

om
violência e para o suporte emocional que a criança/o adolescente em situação de

l.c
violência sexual necessita.
ai
gm
Além do objetivo de acolhimento e de oferecer orientações para a família no
@

que diz respeito às questões advindas da violência, o grupo de apoio tem função
na
pi

pedagógica e política, uma vez que os participantes estão se instrumentalizando


ia
ib

para o exercício de sua cidadania e para a busca de seus direitos. É papel do grupo
a.
an

de apoio despertar a consciência de que a denúncia e a responsabilização dos


ai

autores da agressão sexual são de fundamental importância para romper o ciclo da


-l
1

violência e a consequente impunidade.


-6
43

O grupo também tem o papel de contribuir para a conscientização acerca da


.2

dinâmica familiar, para o desenvolvimento de novas estratégias para lidar com


10
.1

conflitos na família e para fortalecer relações afetivas e capacidade de cuidar da


04

família, conscientizando os membros de suas dificuldades e potencialidades. Esses


-0

aspectos são importantes, pois a violência pode ser praticada pela própria família.
A
N

Cabe, nesse sentido, a sugestão de organizar grupos de familiares segundo a


PI
IA

violência vivida pela criança/pelo adolescente: violência intrafamiliar e violência


IB

extrafamiliar. Para atingir os objetivos desse trabalho, é recomendado que os


AL
LE

encontros do grupo ocorram semanalmente, podendo, em casos excepcionais,


A

acontecer a cada quinze dias.


N
IA

A coordenação do grupo de famílias fica a cargo, prioritariamente, do(a)


LA

assistente social ou do psicólogo(a), podendo contar com a presença de outros


membros da equipe, sempre que necessário.

Entrevistas de revelação
Não é incomum que, especialmente nos casos de abuso sexual, o CREAS
receba casos onde exista somente suspeita da violência. A própria família pode
procurar o serviço ou algum órgão da Justiça e solicitar auxílio por meio da
elaboração de relatórios. A equipe do CREAS precisa estar preparada para realizar
entrevistas de revelação.

| 117
Por entrevistas de revelação, entendem-se aquelas entrevistas que podem
confirmar a existência da situação de violência sexual. Em muitos casos não há
queixa formalizada com uma situação definida. O objetivo da entrevista de
revelação é trazer luz aos fatos e tentar esclarecer o que está acontecendo com a
criança ou o adolescente e, assim, poder ajudá-los.
A entrevista de revelação é um processo, e exige, devido a sua complexidade,
mais de um encontro para ser finalizada. É necessário entrevistar os outros

18
membros da família, pois essas pessoas podem oferecer informações valiosas sobre

1:
a situação de abuso.

:2
22
A entrevista de revelação tem por objetivo:

0
02
/2
• Levantar evidências sobre a possível ocorrência do abuso-

01
vitimização sexual doméstica e sobre a sua natureza;

2/
-0
• Avaliar a possível gravidade do abuso sexual e de seu impacto sobre

om
a vítima e demais membros da família;

l.c
• Avaliar o risco psicológico decorrente do abuso para a vítima e para
ai
gm
outras crianças e adolescentes eventualmente existentes no lar;
@

• Junto com a equipe, avaliar quais as medidas mais adequadas de


na
pi

intervenção social, psicológica, jurídica e médica.


ia
ib

A maneira como é estabelecido o vínculo entre o psicólogo e a criança ou o


a.
an

adolescente é fundamental. É muito importante proporcionar um clima de


ai

confiança, disponibilidade e acolhimento. Na entrevista de revelação, o psicólogo


-l
1

deve avaliar o entendimento da criança ou do adolescente sobre o motivo pelo qual


-6
43

está sendo entrevistado. Isso ajuda a perceber se foram preparados por algum
.2

adulto para a entrevista.


10
.1

Existem pontos importantes a se considerar/avaliar durante o processo


04

(ABRAPIA, 1997):
-0

• Avaliação do desenvolvimento geral da criança/adolescente;


A
N

• Noções de conceitos como verdade e mentira;


PI
IA

• Conhecimento da criança/adolescente sobre regras e consequências


IB

da transgressão;
AL
LE

• Avaliar a compreensão da criança/adolescente sobre os diferentes


A

sentimentos e carícias/carinhos agradáveis e desagradáveis;


N
IA

• Inserir a questão do segredo e do medo e a importância de dizer a


LA

verdade;
• Averiguar os sentimentos da criança/adolescente em relação aos
familiares e adultos de seu convívio.
Os pontos acima servem para orientar a entrevista, cabendo ao psicólogo
buscar ampliar e fazer as adequações necessárias para cada caso. Cabe também a
utilização de teste e técnicas psicológicas caso o psicólogo julgue necessário, daí
ressaltamos mais uma vez a necessidade de sustentação teórica e flexibilidade
técnica a fim de subsidiar as ações profissionais.

| 118
No final do processo de entrevista de revelação, o psicólogo deverá elaborar
parecer psicológico sobre o caso, seguindo as normas estabelecidas pelo Conselho
Federal de Psicologia (CFP). Esse material poderá ser utilizado durante o processo
judicial, se solicitado.
Vale lembrar que a Resolução no 07/2003, do CFP, que institui o Manual de
Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, além de apontar as
formas de redação de documentos, indica o seguinte:

18
Torna-se imperativa a recusa, sob toda e qualquer condição, do uso dos

1:
instrumentos, técnicas psicológicas e da experiência profissional da Psicologia na

:2
22
sustentação de modelos institucionais e ideológicos de perpetuação da segregação

0
aos diferentes modos de subjetivação. Sempre que o trabalho exigir, sugere-se uma

02
/2
intervenção sobre a própria demanda e a construção de um projeto de trabalho que

01
aponte a reformulação dos condicionantes que provoquem o sofrimento psíquico, a

2/
-0
violação dos direitos humanos e a manutenção das estruturas de poder que

om
sustentam condições de dominação e segregação. Deve-se realizar uma prestação

l.c
de serviço responsável pela execução de um trabalho de qualidade cujos princípios
ai
gm
éticos sustentam o compromisso social da Psicologia. Dessa forma, a demanda, tal
@

como é formulada, deve ser compreendida como efeito de uma situação de grande
na
pi

complexidade. (CFP, 2003a).


ia
ib

Vale a pena destacar ainda o caráter confidencial referente a todos os laudos


a.
an

emitidos sobre aspectos da personalidade e da vida das crianças e/ou adolescentes


ai

atendidos, sendo garantida sua utilização de forma reservada e restrita ao trato


-l
1

profissional.
-6
43

É importante que o resultado da avaliação do caso final seja discutido pela


.2

equipe multidisciplinar para que a intervenção seja planejada e executada de


10
.1

acordo com a concepção de um trabalho que deve ser realizado de forma coletiva e
04

processual.
-0

O psicólogo do CREAS não deve se tornar um mero “investigador” das


A
N

situações de violência, encaminhados pela Justiça ou pelo Conselho Tutelar. Seu


PI
IA

papel fundamental é trabalhar na reconstrução de relações e no fortalecimento das


IB

possibilidades de continuidade de um desenvolvimento saudável, apesar da


AL
LE

violência vivida.
A

É importante ressaltar que o psicólogo do CREAS não deve ocupar o lugar do


N
IA

psicólogo ausente nas demais instâncias. Assim, do mesmo modo que não deve
LA

ocupar o lugar do psicoterapeuta, ausente na rede de saúde, não deve ocupar o


lugar do psicólogo da equipe de outros atores do Sistema de Garantia de Direitos
(art. 150, ECA).
O setor psicossocial e sua relação com o atendimento jurídico
Considerando o fato de o fenômeno da violência ser complexo e
multifacetado, outra dimensão a ser trabalhada é a jurídica. É imprescindível
considerar os aspectos relacionados à defesa e à responsabilização no atendimento
a crianças e adolescentes em situação de violência sexual, para que realmente se
ofereça uma atenção que compreenda a problemática em sua totalidade.

| 119
Tradicionalmente, o atendimento psicossocial e jurídico operam
isoladamente, o que, em muitas situações, ocasiona dano adicional ao sujeito, uma
vez que o fragmenta em dimensões distintas: punição do agressor e tratamento das
consequências. O atendimento articulado (jurídico e psicossocial) é a proposta do
CREAS, na perspectiva de um atendimento que considere o aspecto global, levando-
se em conta os aspectos criminal, de proteção e terapêutico.
O atendimento acompanhamento jurídico deve acontecer de forma

18
integrada e articulada com o atendimento psicossocial. O psicólogo trabalha as

1:
questões relativas aos aspectos psicológicos da violência e suas consequências

:2
22
psíquicas, sem perder de vista a importância do processo jurídico e da

0
responsabilização dos autores de agressão sexual. Ao oferecer atendimento

02
/2
psicossocial a crianças, adolescentes e suas famílias, o CREAS busca atingir não só

01
sua reconstrução como sujeitos, mas também fortalecê-los e instrumentalizá-los

2/
-0
para enfrentar o processo judicial, quando for o caso. Para alcançar esse objetivo é

om
preciso ver a criança não apenas como vítima de um processo jurídico, mas também

l.c
como um sujeito singular, inserido socialmente e que necessita de espaço para ser
ai
escutado e tratado como tal. gm
@

Ao fazer uma petição ou alegação, o advogado se baseia não apenas nos


na
pi

aspectos jurídicos mas também na dinâmica familiar, no comportamento da criança


ia
ib

e na repercussão da situação de violência para esse sujeito. Nesse sentido, a


a.
an

articulação entre psicólogo e advogado é fundamental.


ai

O psicossocial fornece, ao jurídico, subsídios para a condução da oitiva das


-l
1

vítimas e discute estratégias de trabalho com a família, especialmente no tocante às


-6
43

dúvidas sobre o processo de apuração e sobre a responsabilização dos agressores –


.2

a responsabilização muitas vezes é importante para se trabalhar com a reparação da


10
.1

violência vivida.
04

Um aspecto muito importante do trabalho do psicólogo no CREAS é o


-0

acompanhamento das crianças e dos adolescentes nas audiências. A presença do(a)


A
N

psicólogo(a), além de representar figura de confiança para a criança, facilitando seu


PI
IA

depoimento e tornando-o menos traumático, estabelece nova configuração no


IB

espaço jurídico, afinal é o técnico de um centro especializado que se encontra


AL
LE

presente, chamando-se a atenção para o fato de que crianças e adolescentes


A

merecem tratamento específico e cuidadoso. Nos casos em que a criança/o


N
IA

adolescente apresenta dificuldade de expressão, a presença do profissional de


LA

Psicologia ou Serviço Social durante a audiência facilita a revelação dos fatos, por
transmitir mais segurança ao sujeito. A presença do profissional de Psicologia tem
sido avaliada como de fundamental importância nessas circunstâncias.

Aspectos específicos do atendimento a crianças e adolescentes em situação de


exploração e tráfico para fins sexuais – sujeitos em situação de vulnerabilidade
com direitos violados
Em primeiro lugar, é preciso considerar o fenômeno com o qual se está
trabalhando. Conforme já referenciado anteriormente, esse tema deve ser abordado

| 120
a partir da perspectiva de esse fenômeno constituir uma violação dos direitos
humanos de crianças e adolescentes, direitos que estão descritos na Constituição
Federal, na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA): direito à saúde, à convivência familiar e comunitária, à cultura, à
educação e ao desenvolvimento biopsicossocial, dentre outros.
A violência sexual é produto de relações sociais desiguais, onde a interação
dos atores envolvidos se estabelece numa dinâmica em que o(a) autor(a) da

18
agressão tem alguma condição de vantagem, seja física, emocional, econômica seja

1:
social, sobre a vítima. Como afirma Chauí (1985), a violência é a transformação dos

:2
22
diferentes em desiguais e dessa desigualdade em uma relação de poder: do mais

0
forte sobre o mais fraco, do maior sobre o menor, do homem sobre a mulher, do

02
/2
adulto sobre a criança.

01
Em lugar de tomarmos a violência como violação e transgressão de normas,

2/
-0
regras, etc., preferimos considerá-la sob dois outros ângulos. Em primeiro lugar,

om
como conversão de uma diferença e de uma assimetria numa relação hierárquica de

l.c
desigualdade, com fins de dominação, de exploração e de opressão. Isso é a
ai
gm
conversão dos diferentes em desiguais e a desigualdade em relação entre superior e
@

inferior. Em segundo lugar, como ação que trata um ser humano não como sujeito,
na
pi

mas como uma coisa. Está caracterizada pela inércia, pela passividade e pelo
ia
ib

silêncio. De modo que, quando a atividade e a fala de outrem são impedidas ou


a.
an

anuladas, há violência. (CHAUÍ, 1985, p. 35).


ai

Além disso, essa violência está configurada em um contexto


-l
1

multidimensionado, com aspectos relacionados à sociedade, à cultura, à economia


-6
43

e às características psicoemocionais dos indivíduos envolvidos.


.2

Nesse contexto, é preciso considerar que os sujeitos submetidos a essa


10
.1

situação geralmente são pessoas afetadas por fatores de riscos que contribuem para
04

o processo de sua vulnerabilização. Considera- se que esses fatores são eventos que,
-0

quando presentes, impactam negativamente sobre o sujeito, aumentando a


A
N

probabilidade de a criança ou o adolescente apresentar dificuldades físicas, sociais e


PI
IA

emocionais. Separação dos pais, perda de entes queridos, acidentes e violência


IB

doméstica são exemplos de fatores de risco. Esses fatores isoladamente não têm o
AL
LE

poder de determinar a vivência de uma situação de violência, mas, quando se


A

apresentam de maneira associada, podem facilitar o processo de vulnerabilidade do


N
IA

sujeito.
LA

Sendo assim, a exposição a fatores de risco durante a infância e a


adolescência pode promover um processo de vulnerabilização, que dificulta que
crianças e adolescentes tenham condição de se estruturar de forma a dar respostas
adequadas a situações adversas, tornando- se mais suscetíveis à inserção em
situações como a exploração sexual, como exemplo.
Nesse sentido, ao pensar no atendimento a crianças e adolescentes em
situação de exploração sexual, deve-se considerar fundamental fazer o
levantamento da história de vida, a partir da fala da pessoa atendida, para avaliar o
grau de vulnerabilidade e risco a que a criança/o adolescente está sujeita(o). Esse

| 121
procedimento é muito importante para o planejamento da intervenção que indicará
as etapas necessárias para a situação apresentada.
Além dos fatores de risco, é importante também fazer o levantamento dos
chamados fatores de proteção. Esses fatores referem-se aos aspectos que podem
favorecer a resiliência. São recursos que auxiliam o sujeito a enfrentar as situações
estressoras e conseguir bons resultados, e estão relacionados a: 1) características
individuais, como autoestima e competência social; 2) apoio afetivo transmitido por

18
pessoas da família ou da rede social – os vínculos positivos, 3) apoio social externo,

1:
representado por pessoas ou instituições da comunidade com quem o sujeito pode

:2
22
contar – recursos materiais ou humanos que atuam como suporte ou fator de

0
proteção social. O apoio profissional consistente, durante o atendimento, insere-se

02
/2
justamente nesse terceiro aspecto, e pode ser fundamental como fator de proteção.

01
Nesse contexto de vulnerabilização de crianças e adolescentes sujeitos

2/
-0
especialmente à exploração sexual, dois aspectos centrais devem ser trabalhados no

om
atendimento: a sexualidade e a estigmatização relacionada à prática da prostituição

l.c
.
ai
gm
Com relação à sexualidade, é importante considerar a vivência que a
@

criança/o adolescente tem nessa área, quais os fatores de risco e de proteção. É


na
pi

fundamental trabalhar não só com a fala da vivência sexual mas também com a
ia
ib

forma como o corpo se apresenta e se relaciona com o mundo e as pessoas. O


a.
an

atendimento deve possibilitar a reflexão de que a violência sexual é violação da


ai

sexualidade, e que é possível vivenciar a sexualidade como um direito. Em


-l
1

complementação a esse trabalho de fala, é necessário trabalhar o corpo na


-6
43

perspectiva do projeto de vida em construção.


.2

No tocante ao estigma da prostituição, a exploração sexual envolve crianças


10
.1

e adolescentes em cenas de comercialização das relações sexuais, geralmente com


04

homens adultos, que lhes imprimem marca associada à figura da prostituta, o que
-0

interfere de maneira decisiva no processo de formação da identidade,


A
N

especialmente por se tratar de sujeitos em desenvolvimento. O atendimento deve


PI
IA

possibilitar a reflexão sobre essa vivência e sobre como ela afeta a identidade do
IB

sujeito atendido.
AL
LE

A abordagem sobre identidade é fundamental, pois cada pessoa é


A

constituída por uma identidade pessoal (a forma como ela se percebe) e por uma
N
IA

identidade social (aquilo que a sociedade lhe atribui a partir de sua inserção em
LA

determinada posição ou status social).


Crianças e adolescentes envolvidos em situação de violência sexual, pelo fato
de ainda se encontrar em processo de desenvolvimento, não conseguem distinguir
bem a identidade pessoal da social. O exercício da sexualidade pautado pela
violência poderá afetar diretamente a construção dessa identidade.
A vivência de estigmatização permanente pode configurar um dos aspectos
que possibilitam a manutenção da criança ou do adolescente na situação de
exploração sexual por inviabilizar outras formas de inserção social. Além disso, esse
aspecto constitui uma das grandes dificuldades apresentadas no desenvolvimento

| 122
de metodologias de atendimento psicossocial e, por isso mesmo, estas devem ser
levadas em consideração no planejamento de qualquer ação voltada para esse
público.
Atendimento aos autores de agressões sexuais
A incorporação do atendimento aos autores de agressões sexuais se torna
indispensável ao trabalho com crianças e adolescentes em situação de violência
sexual, principalmente pelo fato de todo o trabalho ter sido planejado considerando

18
a centralidade na família, em especial por ser esse um direito da criança ou do

1:
adolescente violado. Nesse sentido, os laudos endereçados ao sistema de Justiça ou

:2
22
de responsabilização devem demonstrar, sempre que possível, o alcance e a

0
importância de isso de fato se efetivar e sua repercussão no equilíbrio futuro da

02
/2
criança ou do adolescente.

01
É imprescindível que as redes locais constituam alternativas para esse tipo de

2/
-0
atendimento, especialmente no âmbito das políticas públicas da saúde, pois, em

om
sua grande maioria, os agressores revelam transtornos de personalidade, com

l.c
atitudes que indicam tratamento em saúde mental.
ai
O CREAS poderá realizar esse atendimento desde que: gm
@

1 – Priorize o atendimento de crianças e adolescentes;


na
pi

2 – Tenha efetivo de profissionais suficiente para atender tanto as crianças e


ia
ib

os adolescentes quanto para atender os autores de agressão sexual;


a.
an

3 – Estabeleça agenda, cronograma, que não coloque crianças e adolescentes


ai

em situação de constrangimento e risco (encontrar autores de agressão


-l
1

sexual no CREAS/Serviço de Proteção nos mesmos dias e horários, por


-6
43

exemplo). O atendimento à vítima e ao agressor deve ser bem diferenciado,


.2

com profissionais para cada atendimento. O fato de o atendimento ocorrer


10
.1

no mesmo local já é um entrave, e pior seria se acontecesse em horários


04

semelhantes; deve haver dias específicos para cada um, vítimas e agressores.
-0

Isso muda de perspectiva apenas nos centros que trabalham com


A
N

psicoterapia familiar. O não cumprimento desses cuidados mínimos pode


PI
IA

trazer constrangimento, medo e acabar não efetivando o vínculo necessário à


IB

terapia.
AL
LE

[...]
A

A complexidade e as especificidades decorrentes das situações de violência


N
IA

sexual exigem dos atendimentos a busca permanente do diálogo teórico com


LA

diversas áreas do conhecimento. Pinheiro (2006) chama a atenção para esse fim ao
declarar que diferentes profissões não podem mais abordar o problema
isoladamente, de maneira estanque. Os sistemas de saúde pública, de Justiça
criminal, de serviços sociais e de educação, as organizações de direitos humanos, os
meios de comunicação de massa e empresas têm interesse comum em eliminar a
violência contra a criança e podem identificar formas mais eficientes e eficazes de
alcançar essa meta se trabalharem juntos.
Para a concretização dessa tarefa, ganha relevância a atuação
interdisciplinar, que envolve questões histórico-culturais, sociais, comportamentais

| 123
e econômicas, que devem ser tratadas a partir de contextos que não prejudiquem o
desenvolvimento pleno da cidadania.
Segundo Paro e Machado (2001), a existência de equipe composta por
diversas áreas do saber favorece a leitura da realidade, pois, ao reunir vários
conhecimentos, amplia-se a visão do todo, evitando a fragmentação da realidade.
Nesse movimento de interlocução do conhecimento determina-se uma direção de
mudança, tanto na parte específica quanto na parte global de cada área.

18
Ao estabelecer claramente o objetivo de promover a efetivação da prática de

1:
atendimento, o ECA já pressupõe a existência de um sistema de garantia de direitos

:2
22
(SGD) que se apoia em três dimensões: a de promoção de direitos, a de defesa e a de

0
controle social, que constituem eixos estratégicos e complementares.

02
/2
Como é de conhecimento de todos, o SGD se materializa, na prática, por meio

01
de uma política de atendimento, resultado de um conjunto articulado de ações

2/
-0
governamentais e não governamentais na esfera da União, dos estados, do Distrito

om
Federal e dos municípios.

l.c
O desenho do SGD revela uma proposta cujo objetivo é ser capilar o
ai
gm
suficiente, com capacidade de acionar os serviços intersetoriais necessários. Por
@

isso, uma de suas diretrizes na política de atendimento é a integração operacional


na
pi

de órgãos como o Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública e as


ia
ib

Delegacias Especializadas.
a.
an

O Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente não é algo


ai

isolado da realidade, encontra-se profundamente inserido em um macrocontexto,


-l
1

passando por suas influências e limitações. Ele deve ser compreendido como
-6
43

conjunto de instâncias e seus respectivos órgãos, que se encarregam de assegurar a


.2

implementação das leis de proteção a esse segmento social. A própria concepção


10
.1

desse sistema contribuiu para assegurar um esboço de atenção em uma perspectiva


04

de rede de atendimento.
-0

Nesse sentido, ao tratar-se de atendimento que envolva situações de


A
N

violência, tem-se que os serviços devem basear suas ações em uma configuração de
PI
IA

rede, especialmente por ter como foco um fenômeno multideterminado, como é o


IB

caso da violação dos direitos sexuais da população infanto-juvenil.


AL
LE

Conforme Oliveira (2004), as Redes de Apoio e Proteção são formas de


A

organização social que vêm se estruturando, no Brasil, desde a década de 80, com o
N
IA

objetivo de socializar e propiciar funcionalidade às intervenções em favor de


LA

pessoas em situações de vulnerabilidade e risco. A complexidade das relações que


envolvem a violação de direitos de crianças e adolescentes exige que o sistema
funcione em sintonia com a sociedade no estabelecimento de interconexões
flexíveis e criativas. Assim, o trabalho em Redes de Proteção toma como estratégia-
chave a consolidação de parcerias.
Pfeiffer (2004) destaca que a rede não é um novo serviço, ou uma nova obra,
mas sim uma concepção de trabalho que dá ênfase à atuação integrada e
intersetorial, envolvendo todas as instituições que desenvolvem atividades com
crianças e adolescentes e suas famílias. O trabalho integrado cria possibilidade para

| 124
a efetivação de serviços, pois a articulação entre os vários serviços mobiliza as
equipes para a realização de atendimento mais qualificado e eficiente.

Rede de proteção à Mulher

18
Aqui temos uma importante publicação Rede de Enfrentamento à Violência

1:
:2
contra as Mulheres, da Secretaria de Políticas para as Mulheres / Presidência da

22
República (SPM/PR), de 2011. É bem curtinho:

0
02
/2
01
O conceito de rede de enfrentamento à violência contra as mulheres diz

2/
respeito à atuação articulada entre as instituições/ serviços governamentais, não-

-0
governamentais e a comunidade, visando ao desenvolvimento de estratégias

om
l.c
efetivas de prevenção e de políticas que garantam o empoderamento e construção

ai
da autonomia das mulheres, os seus direitos humanos, a responsa- bilização dos
gm
agressores e a assistência qualificada às mulheres em situação de violência.
@
na

Portanto, a rede de enfrentamento tem por objetivos efetivar os quatro eixos


pi
ia

previstos na Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres -


ib
a.

combate, preven- ção, assistência e garantia de direitos - e dar conta da


an

complexidade do fenômeno da violência contra as mulheres.


ai
-l

A fim de contemplar esses propósitos, a rede de enfrentamen- to é composta


1
-6

por: agentes governamentais e não-governamentais formuladores, fiscalizadores e


43

executores de políticas voltadas para as mulheres (organismos de políticas para as


.2
10

mulheres, ONGs feministas, movimento de mulheres, conselhos dos direitos das


.1

mulheres, outros conselhos de controle social; núcleos de enfren- tamento ao tráfico


04
-0

de mulheres, etc.); serviços/programas voltados para a responsabilização dos


A

agressores; universidades; órgãos federais, estaduais e municipais responsáveis pela


N
PI

garantia de di- reitos (habitação, educação, trabalho, seguridade social, cultura) e


IA
IB

serviços especializados e não-especializados de atendimento às mulheres em


AL

situação de violência (que compõem a rede de atendi- mento às mulheres em


LE

situação de violência).
A
N

Já a rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e serviços de


IA
LA

diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança


pública e da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do
atendimento, à identificação e ao en- caminhamento adequados das mulheres em
situação de violência e à integralidade e à humanização do atendimento. Assim, é
pos- sível afirmar que a rede de atendimento às mulheres em situação de violência é
parte da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres (vide quadro 1),
contemplando o eixo da “assistência” que, segundo o previsto na Política Nacional
de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, objetiva:
(...) garantir o atendimento humanizado e qualificado às
mulheres em situação de violência por meio da formação

| 125
continuada de agentes pú- blicos e comunitários; da criação de
serviços especializados (Casas-Abri- go/Serviços de
Abrigamento, Centros de Referência de Atendimento à Mulher,
Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor, Juiza-
dos de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,
Defensorias da Mulher, Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher); e da constituição/fortalecimento da

18
Rede de Atendimento (articulação dos governos – Federal,

1:
Estadual, Municipal, Distrital- e da sociedade civil para o

:2
22
estabelecimento de uma rede de parcerias para o

0
enfrentamento da violência contra as mulheres, no sentido de

02
/2
garantir a integralidade
CONCEITO DE REDE DEdo atendimento
ENFRENTAMENTO (SPM, 2007,
À VIOLÊNCIA p. AS
CONTRA 8).MULHERES

01
E DE REDE DE ATENDIMENTO ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
A rede de atendimento à mulher em situação de violência está dividida em

2/
-0
quatro principais setores/áreas (saúde, justiça, segurança pública e assistência

om
social) e é composta por duas principais categorias de serviços (vide quadro 1):

l.c
Quadro 1: Principais Características da Rede de Enfrentamento e da Rede de

ai
Atendimento às Mulheres em Situação de Violência gm
@

Rede de Atendimento
na

Rede de Enfrentamento
pi

Contempla todos os eixos da Política Nacional Refere-se somente ao eixo da


ia
ib

(combate, prevenção, assistência e garantia de direitos). Assistência /Atendimento


a.
an

Inclui órgãos responsáveis pela gestão e controle Restringe-se a serviços de


ai
-l

social das políticas de gênero, além dos serviços de atendimento (especializados e não-
1

atendimento. especializados).
-6
43

É mais ampla que a rede de atendimento às mulheres Faz parte da rede de enfrentamento
.2

em situação de violência. à violência contra as mulheres.


10
.1
04

- serviços não-especializados de atendimento à mulher - que, em geral,


-0

constituem a porta de não-especializados


serviços entrada da mulher de na rede (a saber,
atendimento hospitais
à mulher - que, gerais, serviços
A

de atenção básica, programa saúdede da família, delegacias comuns,


(a sa- polícia militar,
N

em geral, constituem a porta entrada da mulher na rede


PI

polícia ber,
federal, Centros
gerais, de Referência debásica,
Assistência Social/CRAS, Centros de
IA

hospitais serviços de atenção programa saúde da


IB

Referência Especializados de Assistência Social/CREAS, Ministério


família, delegacias comuns, polícia militar, polícia federal, Centros Público,
AL

defensorias públicas);
LE

de Referência de Assistência Social/CRAS, Centros de Referência


- serviços especializados de atendimento à mulher - aqueles que atendem
A

Especializados de Assistência Social/CREAS, Ministério Público,


N

exclusivamente a mulheres e que possuem expertise no tema da violência contra as


IA

defensorias públicas);
LA

mulheres.
serviços
No que tange especializados
aos de atendimento
serviços especializados, à mulher
a rede - aqueles
de atendimento é composta
que atendem exclusivamente a mulheres e que possuem expertise
por: Centros de Atendimento à Mulher em situação de violência (Centros de
no tema
Referência da violência contra
de Atendimento as mulheres.
à Mulher, Núcleos de Atendimento à Mulher em situação
de Violência, Centros Integrados da Mulher), Casas Abrigo, Casas de Acolhimento
No que tange aos serviços
Provisório (Casas-de-Passagem), especializados,
Delegacias a rede de atendi-
Especializadas de Atendimento à
mento é ou
Mulher (Postos composta
Seções por: CentrosdedeAtendimento
da Polícia AtendimentoààMulher),
Mulher em Núcleos da Mulher
nas Defensorias
situação de Públicas, Promotorias
violência (Centros Especializadas,
de Referência Juizados
de Atendimento à Especiais de
Violência Doméstica
Mulher, e Familiar
Núcleos contra a àMulher,
de Atendimento MulherCentral de Atendi-
em situação de Vio-mento à Mulher - 15
Ligue 180,
lência, Centros Integrados da Mulher), Casas Abrigo, Casas odeatendimento aos
Ouvidoria da Mulher, Serviços de saúde voltados para
Acolhimento Provisório (Casas-de-Passagem), Delegacias Espe-
cializadas de Atendimento à Mulher (Postos ou Seções da Polícia
| 126
de Atendimento à Mulher), Núcleos da Mulher nas Defensorias
Públicas, Promotorias Especializadas, Juizados Especiais de Vio-
casos de violência sexual e doméstica, Posto de Atendimento Humanizado nos
aeroportos (tráfico de pessoas) e Núcleo de Atendimento à Mulher nos serviços de
apoio ao migrante.
A rede de enfrentamento à violência contra as mulheres é marcada, portanto,
pela multiplicidade de serviços e de instituições. Esta diversidade deve ser
compreendida como parte de um processo de construção que visa abarcar a
multidimensionalidade e a complexidade da violência contra as mulheres. Todavia,

18
para que o enfrentamento da violência se efetive, é importante que serviços e

1:
instituições atuem de forma articulada e integrada. No âmbito da assistência, é

:2
22
fundamental que os serviços trabalhem a partir de uma perspectiva intersetorial e

0
que definam fluxos de atendimento compatíveis com as realidades locais os quais

02
/2
devem contemplar as demandas das mulheres em suas diversidades. A perspectiva

01
da intersetorialidade representa, portanto, um desafio na medida em que insta a

2/
-0
uma ruptura com o modelo ‘tradicional’ de gestão pública, que tende à

om
departamentalização, à desarticulação e à setorialização das ações e das políticas

l.c
públicas.
ai
gm
@
na
pi

31. Relatórios e laudos periciais psicológicos;


ia
ib
a.
an

Preciso que vocês acessem gratuitamente esse curso:


ai
-l

https://psicologianova.com.br/documentos-psicologicos
1
-6
43
.2
10
.1
04
-0
A
N
PI
IA
IB
AL
LE
A
N

TUDO o que vocês precisam está lá!


IA
LA

Questões
1. PUC PR – DPE PR – Psicólogo - 2012
Ao listar as explicações para as dificuldades interpessoais, os pesquisadores da área,
em especial Del Prette e Del Prette (1999), listam as seguintes:

| 127
I. Assertividade.
II. Inibição pela ansiedade.
III. Falhas no processamento cognitivo de estímulos sociais do ambiente.
IV. Déficits de habilidades no repertório do indivíduo.
Está(ão) CORRETA(S):
a) Apenas as assertivas II e IV.
b) Apenas as assertivas II, III e IV.

18
c) Apenas as assertivas I e IV.

1:
d) Apenas as assertivas II, III e IV.

:2
22
e) Apenas a assertiva III.

0
02
/2
2. PUC PR - COHAPAR - Téc Des Jr - 2011

01
O conjunto de competências interpessoais, relações humanas, assertividade no

2/
-0
trato com colegas, chefes e usuários de um serviço é conceitualmente nominado

om
como?

l.c
a) Empatia.
ai
b) Autorregulação. gm
@

c) Habilidades sociais.
na
pi

d) Persuasão.
ia
ib

e) Bullying.
a.
an
ai

3. CESPE - TJ – RO – Psicólogo - 2012


-l
1

Com relação à perícia, assinale a opção correta.


-6
43

a) Define-se perícia como a atividade essencialmente jurídica, desenvolvida por


.2

meio de procedimentos técnicos especializados e com base nas normas processuais


10
.1

e a regras pertinentes à realização do trabalho.


04

b) Questões técnico-operacionais do exercício da psicologia podem ser objeto de


-0

consideração pericial no processo judicial.


A
N

c) O diagnóstico que forme prova esclarecedora de determinada situação de conflito


PI
IA

consiste em estudo psicológico, e não em perícia.


IB

d) A perícia, meio pelo qual os profissionais verificam fatos e incidências inerentes à


AL
LE

causa, resulta em parecer a ser transmitido ao juiz.


A

e) Em nenhuma hipótese, a perícia poderá ser realizada extrajudicialmente.


N
IA
LA

4. CESPE - TJ – RO – Psicólogo - 2012


A atuação do psicólogo jurídico pode abranger
a) enquanto mediador, uma função interventora, no intuito de solucionar conflitos,
focalizando estabelecimento de acordo entre as partes, mesmo que o resgate do
canal de comunicação não ocorra.
b) a aplicação de questões psicodiagnósticas e a elaboração de laudos e pareceres
relativos às áreas criminal e civil, podendo o psicólogo decidir e opinar sobre o
andamento do processo judicial.

| 128
c) a criação de redes de assistência a famílias de alto risco, com o foco principal em
atendimento conjunto de crianças vítimas de abusos e abusadores, pois o trabalho
que envolva toda a família é sempre mais benéfico.
d) o desenlace das dificuldades com as quais o Poder Judiciário, frequentemente,
precisa lidar, desde que relacionadas a seu campo de atuação, sem intercâmbio de
conhecimento técnico com outros campos.
e) a organização do contexto de referência familiar, a fim de que a criança possa se

18
constituir como sujeito e se desenvolver de maneira saudável.

1:
:2
22
5. CESPE- CNJ – Psicólogo - 2013

0
A leitura dos autos e as entrevistas realizadas com o indivíduo que cometeu o

02
/2
delito norteiam a seleção dos exames e das baterias de testes que podem confirmar

01
ou refutar as hipóteses diagnósticas levantadas.

2/
-0
( ) Certo ( ) Errado

om
l.c
6. CESPE- CNJ – Psicólogo - 2013
ai
gm
Em matéria penal, ao redigir suas conclusões, o psicólogo deve elaborar um
@

relatório sucinto, evitando detalhar os resultados obtidos, mas explicitando


na
pi

instrumentos utilizados.
ia
ib

( ) Certo ( ) Errado
a.
an
ai

7. CESPE- CNJ – Psicólogo - 2013


-l
1

Em casos de crimes sexuais, é usual o auxílio de um perito que avalie as condições


-6
43

psiquiátricas e clínicas do indivíduo infrator, além de sua deliberação,


.2

voluntariedade e consciência no momento do crime.


10
.1

( ) Certo ( ) Errado
04
-0

8. CESPE- CNJ – Psicólogo - 2013


A
N

A perícia constitui uma tarefa técnica e subjetiva, em que o perito deve se


PI
IA

posicionar quanto à presença de patologias ou outras condições específicas que


IB

tenham levado o indivíduo a cometer o delito.


AL
LE

( ) Certo ( ) Errado
A
N
IA

9. FUNDEP - 2010 - TJ-MG - Psicólogo Judicial


LA

Em relação à atuação do psicólogo nos processos judiciais em Direito de Família,


a literatura sobre o tema se divide entre autores e pesquisadores que defendem o
exercício da função pericial por meio dos métodos e técnicas de avaliação
psicológica e aqueles que se posicionam contrários à atuação do psicólogo como
perito stricto sensu nesses processos.
Sobre esse tema, relevante para a atuação do psicólogo no Tribunal de Justiça,
analise as seguintes afirmativas.
I. Para os defensores da atuação pericial, a questão é conseguir
focalizar o objetivo do trabalho na demanda jurídica que é

| 129
endereçada ao psicólogo e avaliar as competências individuais e a
qualidade do relacionamento entre os membros do grupo familiar,
para emitir um laudo que possa contribuir efetivamente para o
deslinde da questão processual.
II. Os críticos da atuação estritamente pericial do psicólogo afirmam
que a perícia, segundo o Código Civil e o Código de Processo Civil e
seus mais importantes intérpretes na literatura brasileira, é

18
procedimento de produção de verdade que, em relação aos conflitos

1:
familiares transformados em processos judiciais, tende a definir e

:2
22
reproduzir padrões de comportamento idealizados, normatizando-os.

0
Por isso, esses autores entendem que no trabalho com as questões

02
/2
que emergem dos conflitos familiares, o objetivo deve ser intervir no

01
conflito apresentado e não simplesmente avaliar e relatar, pois dessa

2/
-0
forma estaria sendo considerado o sofrimento das pessoas envolvidas

om
e não somente a demanda jurídica.

l.c
III. As definições de funções do psicólogo que atua junto à Justiça
ai
gm
como servidor, por exemplo, a definição de funções da equipe
@

multidisciplinar nos artigos 150 e 151 do Estatuto da Criança e do


na
pi

Adolescente (Lei 8.069 e suas modificações posteriores) ou mesmo as


ia
ib

atribuições do cargo de psicólogo judicial definidas pelo Tribunal de


a.
an

Justiça de Minas Gerais, não restringem esta atuação ao


ai

procedimento de perícia tal como estabelecido pelo Código Civil e


-l
1

Código do Processo Civil.


-6
43

A partir dessa análise, pode-se concluir que estão CORRETAS


.2

a) apenas as afirmativas I e II.


10
.1

b) apenas as afirmativas I e III.


04

c) apenas as afirmativas II e III.


-0

d) todas as afirmativas.
A
N
PI
IA

10. CESPE – TJDFT – Psicólogo – 2015


IB

Com relação ao profissional de psicologia que atua com crianças e adolescentes em


AL
LE

situações de abuso sexual, julgue o item a seguir.


A

A oitiva de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade é um momento


N
IA

essencial de coleta de dados, está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente,


LA

e exige do profissional de psicologia conhecimentos acerca dos diferentes aspectos


do desenvolvimento infantil e das etapas de desenvolvimento da linguagem
simbólica.

11. CESPE – TJDFT – Psicólogo – 2015


A atenção psicossocial é operacionalizada com o objetivo de estruturar ações de
atendimento e de proteção à criança e ao adolescente e devem ser realizadas após o
afastamento desses indivíduos do contexto de vulnerabilização.

| 130
12. CESPE – TJDFT – Psicólogo – 2015
Com relação à alienação parental, julgue os itens subsequentes.
Os critérios de diferenciação entre abuso ou descuido e a síndrome de alienação
parental englobam as recordações dos filhos; a lucidez do genitor; situações
patológicas da vítima; características pessoais das vítimas do abuso; e a análise do
momento do abuso.

18
1:
Questões Comentadas e Gabaritadas

:2
22
0
02
1. PUC PR – DPE PR – Psicólogo - 2012

/2
01
Ao listar as explicações para as dificuldades interpessoais, os pesquisadores da área,

2/
em especial Del Prette e Del Prette (1999), listam as seguintes:

-0
I. Assertividade.

om
II. Inibição pela ansiedade.

l.c
ai
III. Falhas no processamento cognitivo de estímulos sociais do ambiente.
gm
IV. Déficits de habilidades no repertório do indivíduo.
@
na

Está(ão) CORRETA(S):
pi

a) Apenas as assertivas II e IV.


ia
ib

b) Apenas as assertivas II, III e IV.


a.
an

c) Apenas as assertivas I e IV.


ai
-l

d) Apenas as assertivas II, III e IV.


1
-6

e) Apenas a assertiva III.


43

Gabarito: B
.2
10

Comentários: Vejamos:
.1

No campo das habilidades sociais considera-se três conceitos chaves que


04
-0

articuladamente embasam os estudos e as intervenções com o foco nas relações


A

interpessoais: desempenho social, habilidades sociais e competência social. De


N
PI

acordo com Del Prette e Del Prette (2001, p.31),


IA
IB

o desempenho social refere-se à emissão de um comportamento ou


AL

seqüência de comportamentos em uma situação social qualquer [...],


LE

o termo habilidades sociais aplica-se à noção de existência de


A
N

diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do


IA
LA

indivíduo para lidar de maneira adequada com as demandas das


situações sociais [e] o conceito de competência social tem sentido
avaliativo que remete aos efeitos do desempenho das habilidades nas
situações vividas pelo indivíduo.
Dentre as principais hipóteses explicativas para as dificuldades interpessoais
estão (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005): o déficit de aquisição (ausência total de
habilidade requerida), déficit de desempenho (presença ocasional de habilidade
requerida) e o déficit de fluência (habilidade emitida sem a proficiência requerida
para produzir os resultados esperados), inibição mediada pela ansiedade (esquiva e
fuga de situações), inibição cognitivamente mediada (problemas de crenças,

| 131
expectativas, padrões negativistas ou perfeccionistas de pensamento), problemas
de percepção social (ausência ou alterações na decodificação de sinais sociais) e
problemas de processamento de estímulos do ambiente (demora na discriminação
de símbolos, déficit de atenção, decodificação de sinais sociais alterada por
estereótipos, falha na identificação de alternativas).
As habilidades sociais podem ser classificadas, ainda, em alguns conjuntos,
como (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001): habilidades sociais de comunicação

18
(exemplo: iniciar, manter e encerrar conversação), habilidades sociais de civilidade

1:
(exemplo: apresentar-se), habilidades sociais assertivas (exemplo: manifestar

:2
22
opinião), habilidades sociais empáticas (exemplo: expressar apoio), entre outras. A

0
amplitude de manifestações comportamentais das habilidades sociais coloca em

02
/2
destaque o seu papel central nas interações e comportamentos sociais como

01
reconhecidos indicadores de adaptação.

2/
-0
Fonte: Feitosa, F. B., Del Prette, Z. A. P., Del Prette, A., & Loureiro, S. R. (2011).

om
Explorando relações entre o comportamento social e o desempenho acadêmico de

l.c
ai
crianças. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 11(2),442-455.
gm
@

2. PUC PR - COHAPAR - Téc Des Jr - 2011


na
pi

O conjunto de competências interpessoais, relações humanas, assertividade no


ia
ib

trato com colegas, chefes e usuários de um serviço é conceitualmente nominado


a.
an

como?
ai

a) Empatia.
-l
1

b) Autorregulação.
-6
43

c) Habilidades sociais.
.2

d) Persuasão.
10
.1

e) Bullying.
04

Gabarito: C
-0

Comentários: Essa é a definição de habilidades sociais (lembre-se que os conceitos


A
N
PI

de assertividade e habilidades sociais andam juntos).


IA
IB
AL

3. CESPE - TJ – RO – Psicólogo - 2012


LE

Com relação à perícia, assinale a opção correta.


A

a) Define-se perícia como a atividade essencialmente jurídica, desenvolvida por


N
IA

meio de procedimentos técnicos especializados e com base nas normas processuais


LA

e a regras pertinentes à realização do trabalho.


b) Questões técnico-operacionais do exercício da psicologia podem ser objeto de
consideração pericial no processo judicial.
c) O diagnóstico que forme prova esclarecedora de determinada situação de conflito
consiste em estudo psicológico, e não em perícia.
d) A perícia, meio pelo qual os profissionais verificam fatos e incidências inerentes à
causa, resulta em parecer a ser transmitido ao juiz.
e) Em nenhuma hipótese, a perícia poderá ser realizada extrajudicialmente.
Gabarito: D

| 132
Comentários: A perícia é um procedimento possível por várias profissões, no nosso
caso, é um procedimento eminentemente psicológico (obviamente). Assim,
questões técnico-operacionais do exercício da psicologia podem devem ser objeto
de consideração pericial no processo judicial – não quer dizer que constem do laudo
final, mas que devem ser considerados. O diagnóstico que forme prova
esclarecedora de determinada situação de conflito consiste em estudo psicológico,
que é a perícia em si. E, por fim, realizamos perícia judicialmente e

18
extrajudicialmente. Lembra do papel do assistente técnico?

1:
:2
22
4. CESPE - TJ – RO – Psicólogo - 2012

0
A atuação do psicólogo jurídico pode abranger

02
/2
a) enquanto mediador, uma função interventora, no intuito de solucionar conflitos,

01
focalizando estabelecimento de acordo entre as partes, mesmo que o resgate do

2/
-0
canal de comunicação não ocorra.

om
b) a aplicação de questões psicodiagnósticas e a elaboração de laudos e pareceres

l.c
relativos às áreas criminal e civil, podendo o psicólogo decidir e opinar sobre o
ai
andamento do processo judicial. gm
@

c) a criação de redes de assistência a famílias de alto risco, com o foco principal em


na
pi

atendimento conjunto de crianças vítimas de abusos e abusadores, pois o trabalho


ia
ib

que envolva toda a família é sempre mais benéfico.


a.
an

d) o desenlace das dificuldades com as quais o Poder Judiciário, frequentemente,


ai

precisa lidar, desde que relacionadas a seu campo de atuação, sem intercâmbio de
-l
1

conhecimento técnico com outros campos.


-6
43

e) a organização do contexto de referência familiar, a fim de que a criança possa se


.2

constituir como sujeito e se desenvolver de maneira saudável.


10
.1

Gabarito: E
04

Comentários: Excelente questão. No primeiro caso temos a tentativa de caracterizar


-0

a função de mediação do psicólogo. O erro da questão está na impossibilidade da


A
N

obtenção do acordo sem comunicação entre as partes (não há de se falar em


PI
IA

mediação ai). A letra B é bem estranha, desde quando o psicólogo decidir e opinar
IB

sobre o andamento do processo judicial? A C nem merece atenção, juntar


AL
LE

abusadores com abusados terapeuticamente não é função do psicólogo. E, por fim,


A

há o intercâmbio de conhecimentos entre os diversos profissionais envolvidos,


N
IA

afinal, o trabalho é multidisciplinar.


LA

5. CESPE- CNJ – Psicólogo - 2013


A leitura dos autos e as entrevistas realizadas com o indivíduo que cometeu o
delito norteiam a seleção dos exames e das baterias de testes que podem confirmar
ou refutar as hipóteses diagnósticas levantadas.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: C
Comentários: Correto. É a partir do contato inicial com o caso (entrevista inicial ou
leitura dos autos) que montamos a bateria de testes.

| 133
6. CESPE- CNJ – Psicólogo - 2013
Em matéria penal, ao redigir suas conclusões, o psicólogo deve elaborar um
relatório sucinto, evitando detalhar os resultados obtidos, mas explicitando
instrumentos utilizados.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: E

18
Comentários: Lembra da Resolução 7/2003 do CFP? No laudo/relatório é preciso

1:
(obrigatoriamente) colocar os resultados obtidos, afinal, esse é o objetivo da

:2
22
avaliação psicológica!

0
02
/2
7. CESPE- CNJ – Psicólogo - 2013

01
Em casos de crimes sexuais, é usual o auxílio de um perito que avalie as condições

2/
-0
psiquiátricas e clínicas do indivíduo infrator, além de sua deliberação,

om
voluntariedade e consciência no momento do crime.

l.c
( ) Certo ( ) Errado
ai
Gabarito: C gm
@

Comentários: Correto! Esse é o trabalho, conforme estudamos, da perícia


na
pi

psicológica!
ia
ib
a.
an

8. CESPE- CNJ – Psicólogo - 2013


ai

A perícia constitui uma tarefa técnica e subjetiva, em que o perito deve se


-l
1

posicionar quanto à presença de patologias ou outras condições específicas que


-6
43

tenham levado o indivíduo a cometer o delito.


.2

( ) Certo ( ) Errado
10
.1

Gabarito: E
04

Comentários: Técnica e objetiva! Não caia nessa.


-0
A
N

9. FUNDEP - 2010 - TJ-MG - Psicólogo Judicial


PI
IA

Em relação à atuação do psicólogo nos processos judiciais em Direito de Família,


IB

a literatura sobre o tema se divide entre autores e pesquisadores que defendem o


AL
LE

exercício da função pericial por meio dos métodos e técnicas de avaliação


A

psicológica e aqueles que se posicionam contrários à atuação do psicólogo como


N
IA

perito stricto sensu nesses processos.


LA

Sobre esse tema, relevante para a atuação do psicólogo no Tribunal de Justiça,


analise as seguintes afirmativas.
I. Para os defensores da atuação pericial, a questão é conseguir
focalizar o objetivo do trabalho na demanda jurídica que é
endereçada ao psicólogo e avaliar as competências individuais e a
qualidade do relacionamento entre os membros do grupo familiar,
para emitir um laudo que possa contribuir efetivamente para o
deslinde da questão processual.

| 134
II. Os críticos da atuação estritamente pericial do psicólogo afirmam
que a perícia, segundo o Código Civil e o Código de Processo Civil e
seus mais importantes intérpretes na literatura brasileira, é
procedimento de produção de verdade que, em relação aos conflitos
familiares transformados em processos judiciais, tende a definir e
reproduzir padrões de comportamento idealizados, normatizando-os.
Por isso, esses autores entendem que no trabalho com as questões

18
que emergem dos conflitos familiares, o objetivo deve ser intervir no

1:
conflito apresentado e não simplesmente avaliar e relatar, pois dessa

:2
22
forma estaria sendo considerado o sofrimento das pessoas envolvidas

0
e não somente a demanda jurídica.

02
/2
III. As definições de funções do psicólogo que atua junto à Justiça

01
como servidor, por exemplo, a definição de funções da equipe

2/
-0
multidisciplinar nos artigos 150 e 151 do Estatuto da Criança e do

om
Adolescente (Lei 8.069 e suas modificações posteriores) ou mesmo as

l.c
atribuições do cargo de psicólogo judicial definidas pelo Tribunal de
ai
gm
Justiça de Minas Gerais, não restringem esta atuação ao
@

procedimento de perícia tal como estabelecido pelo Código Civil e


na
pi

Código do Processo Civil.


ia
ib

A partir dessa análise, pode-se concluir que estão CORRETAS


a.
an

a) apenas as afirmativas I e II.


ai

b) apenas as afirmativas I e III.


-l
1

c) apenas as afirmativas II e III.


-6
43

d) todas as afirmativas.
.2

Gabarito: D
10
.1

Comentários: Todas corretíssimas! Coloquei ela mais por curiosidade mesmo e


04

tenho certeza que você grifou a assertiva II. Correto?


-0
A
N

10. CESPE – TJDFT – Psicólogo – 2015


PI
IA

Com relação ao profissional de psicologia que atua com crianças e adolescentes em


IB

situações de abuso sexual, julgue o item a seguir.


AL
LE

A oitiva de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade é um momento


A

essencial de coleta de dados, está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente,


N
IA

e exige do profissional de psicologia conhecimentos acerca dos diferentes aspectos


LA

do desenvolvimento infantil e das etapas de desenvolvimento da linguagem


simbólica.
Gabarito: E
Comentários: Dois erros. Primeiro: a oitiva da criança não está no ECA. Segundo
erro: não necessariamente será um profissional de psicologia a realizar a oitiva.

11. CESPE – TJDFT – Psicólogo – 2015

| 135
A atenção psicossocial é operacionalizada com o objetivo de estruturar ações de
atendimento e de proteção à criança e ao adolescente e devem ser realizadas após o
afastamento desses indivíduos do contexto de vulnerabilização.
Gabarito: E
Comentários: A atenção psicossocial pode ser primária, ou seja, pode ser realizada
antes da quebra dos laços familiares e da integridade da criança e do adolescente.

18
12. CESPE – TJDFT – Psicólogo – 2015

1:
Com relação à alienação parental, julgue os itens subsequentes.

:2
22
Os critérios de diferenciação entre abuso ou descuido e a síndrome de alienação

0
parental englobam as recordações dos filhos; a lucidez do genitor; situações

02
/2
patológicas da vítima; características pessoais das vítimas do abuso; e a análise do

01
momento do abuso.

2/
-0
Gabarito: E

om
Comentários: Vejamos as dimensões para a diferenciação entre abuso e síndrome

l.c
de alienação parental.
ai
gm
Como diferenciar uma Síndrome de Alienação Parental de um caso de
@

abuso ou de descuido.
na
pi

Quando os filhos manifestam animosidade contra um de seus genitores,


ia
ib

acontece algumas vezes do outro genitor acusa-lo de abusar deles (fisicamente ou


a.
an

sexualmente) ou de não se ocupar deles normalmente, enquanto o genitor alienado


ai

acusa o genitor alienador de haver programado os filhos contra ele. É importante


-l
1

observar a diferença entre os dois casos. Na presença de abuso ou descuido grave, o


-6
43

diagnóstico da alienação parental não se aplica (GARDNER1, §4).


.2
10
.1

Critérios Caso de abuso o de descuido Caso de síndrome de Alienação


04

O filho programado não viveu realmente


-0
A

o que o genitor alienador afirma. Necessita


N
PI

mais ajuda para “recordar-se” dos


IA

O filho abusado se recorda acontecimentos. Além disso, seus cenários


IB
AL

1. As recordações muito bem do que se passou com têm menos credibilidade. Quando
LE

dos filhos ele. Uma palavra basta para ativar interrogados separadamente,
A

muitas informações detalhadas. freqüentemente os filhos dão versões


N
IA

diferentes. Quando interrogados juntos, se


LA

constata mais olhares entre eles do que em


vítimas de abuso. (GARDNER1, §50 y 51)
O genitor de um filho abusado
identifica os efeitos desastrosos
provocados pela destruição
2. A lucidez do O genitor alienador não percebe
progressiva dos laços entre os
genitor (GARDNER1, §59).
filhos e o outro genitor, e fará tudo
para reduzir os abusos e
salvaguardar a relação com o

| 136
genitor que abusa (ou descuida) do
filho.
Em caso de comportamentos
psicopatológicos, um genitor que O genitor alienador se mantém são nos
3. A patologia do
abusa de seus filhos apresenta outros setores da vida (GARDNER1, §65 a
genitor
iguais comportamentos em outros 67).
setores da vida.

18
Um genitor que programa seus filhos

1:
:2
Um genitor que acusa o outro de contra o outro geralmente se queixa

22
4. As vítimas do abuso com seus filhos, somente do dano que o genitor alienado faz

0
02
abuso geralmente também o acusa de aos filhos – ainda que a reprovação contra

/2
abuso contra si próprio. ele não deve faltar, já que houve

01
2/
separação (GARDNER1, §71).

-0
A campanha de desmoralização contra o

om
5. O momento do As queixas de abuso se referem
genitor alienado começa depois da

l.c
abuso a muito antes da separação.

ai
separação (GARDNER1, §74 y 75).
gm
Fonte: Podevyn, François. Síndrome de Alienação Parental. Disponível em:
@
na

http://www.apase.org.br/94001-sindrome.htm
pi
ia
ib
a.
an
ai
-l

Bons estudos! =]
1
-6

Professor Alyson Barros


43
.2
10
.1
04
-0
A
N
PI
IA
IB
AL
LE
A
N
IA
LA

| 137

You might also like