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RESUMO DO ARTIGO MEMÓRIA IMPLÍCITA E SUA CONTRIBUIÇÃO À

REABILITAÇÃO DE UM PACIENTE AMNÉSTICO

De acordo com o relato de caso estudado, mesmo pacientes severamente amnésticos


possuem a capacidade de aprender informações novas, quando estes são sustentados em
estratégias de memória implícita. No estudo foi descrito uma experiência de reabilitação
neuropsicológica num paciente amnéstico, portador de lesão cerebral por anóxia. Ele foi
submetido a treino para uso de computador, visando sua capacitação semi-profissional. O
treinamento ocorreu durante 14 semanas, tendo técnicas específicas de ensino utilizadas, como
a prática repetitiva e a aprendizagem sem erros. Como a intervenção, conseguiu cumprir as
tarefas propostas, o que o possibilitou um nível de aprendizagem no que diz respeito a utilização
de um editor de textos. Além disso, pôde manter o aprendizado após a passagem do tempo.
Contudo, o paciente recordava-se apenas indistintamente da situação de aprendizagem. Através
deste estudo pode-se verificar que a aprendizagem de conhecimentos específicos vem a cada
dia mais se mostrando eficiente para a reabilitação de pacientes que sofreram lesões cerebrais.

De acordo com o artigo, há uma diferenciação entre a memória explicita e a implícita.


A primeira diz respeito a lembrança consciente e voluntária de uma informação ou evento, que
pode ser declarada, isto é, trazida à mente como uma proposição ou uma imagem. A segunda é
a capacidade de adquirir habilidades percepto-motoras ou cognitivas, através da exposição
repetida a um estímulo ou atividade. Em relação a memória explícita, os pacientes amnésticos
apresentam prejuízo, sendo que em relação a memória implícita, apresentam capacidades
preservadas, o que pode ser observado por exemplo, através do efeito de pré-ativação, de
condicionamento, e de aquisição de habilidades.

Com isso, mesmo as pessoas que possuem um alto prejuízo na memória explícita, tem
a capacidade de preservar a condição de aprendizagem, mesmo que seja em um grau mínimo.
Mesmo com a incapacidade de recordar-se ou ter consciência das experiências, essas
experiências passam a exercer vasta influência no comportamento e no desempenho destas
pessoas.

Segundo Wilson, Baddeley e Cockburn (1989 apud BOLOGNANI 2008), pacientes


amnésticos podem ser treinados em tarefas complexas, como, por exemplo, utilizar uma agenda
eletrônica. Contudo, ressaltam que embora o treinamento de tarefas complexas seja possível,
existem problemas específicos da aprendizagem apoiada em memória implícita, os quais
dificultam o seu uso em reabilitação. Os pacientes tendem a persistirem nos erros, sendo esta a
incapacidade dos mesmos de monitorar e corrigir o seu desempenho, a incapacidade de
generalizar o conhecimento adquirido a outros contextos.

Na análise de caso, foi avaliado um paciente com 23 anos, estudante de nível superior
que foi submetido a uma cirurgia de Septoplastia Nasal. Durante esta cirurgia teve parada
cárdio-respiratória e anóxia cerebral. No pós cirúrgico, começou a se queixar de dificuldades
para lembrar-se de conversas, do nome de pessoas que viesse a conhecer e de fatos ocorridos
recentemente. Começou a fazer repetições seguidas de perguntas e de assuntos, dificuldade de
compreensão de textos, o que o fez parar o estudo e atitudes ingênuas, como por exemplo, não
entender comentários maldosos. Com todo esses sintomas, sua vida social foi drasticamente
impactada, visto que seu círculo de amizades diminuiu.

O mesmo passou por exame neurológico, porém, não foi identificado déficits motores
ou sensitivos, nem alterações cerebelares ou de pares cranianos. A Ressonância Magnética não
detectou qualquer alteração, mas o SPECT cerebral indicou hipoperfusão em regiões parietais
e temporais. A partir daí, o paciente foi submetido a avaliação neuropsicológica com o objetivo
de traçar um perfil de funcionamento cognitivo para que se pudesse programar a estratégia de
intervenção clínica. Nesta avaliação de memória pré-treinamento, foi possível observar
dificuldades de memória para recordação livre de nomes e de histórias, reconhecimento de
figuras familiares e execução de tarefa previamente combinada. O desempenho foi melhor no
reconhecimento de faces desconhecidas, na recordação de atos prévios, na aprendizagem de
sequência motora e na orientação.

Após a avaliação psicológica, ele passou por um treinamento no computador, com


objetivo de ensinar ensiná-lo a operar um editor de texto confeccionando papéis personalizados
(receituários, anotações, cartas etc) e cartões de visitas. O treinamento teve duração de 14
semanas, com frequência média de 3 sessões semanais de 50 minutos de duração. As técnicas
de ensino utilizadas foram a prática repetitiva e a aprendizagem sem erros, que segundo
Baddeley AD e Wilson BA (1994 apud BOLOGNANI 2008), se consiste na execução sucessiva
de uma tarefa, obedecendo a etapas pré-estabelecidas e utilizando-se regras constantes. A
primeira objetiva contornar a persistência dos erros observada em pacientes amnésticos,
visando estruturar a situação de treinamento e fornecer o máximo de pistas necessárias para que
o paciente não cometa erros, fortalecendo a emissão de respostas certas.

As tarefas ensinadas no computador foram divididas em dois tipos de procedimentos:


1) básicos e 2) específicos. Os procedimentos básicos eram os necessários a qualquer atividade
no editor de textos, e foram treinados através de cópia de pequenos textos, além de outros
exercícios; os procedimentos específicos eram aqueles que possibilitavam concluir o papel
personalizado ou cartão de visitas. Os procedimentos eram compostos por séries de comandos,
também divididos em dois tipos, de acordo com sua complexidade, sendo elas fundamentais e
adicionais. Os comandos fundamentais eram os primeiros a serem ensinados e sem eles a tarefa
não poderia ser cumprida; os comandos adicionais não eram indispensáveis à conclusão da
tarefa, mas eram mais refinados e dependiam do domínio de informações adicionais.

Durante as 3 primeiras semanas trabalhou-se apenas com os procedimentos básicos.


Depois, outros procedimentos e comandos foram acrescentados, mas os básicos continuaram a
ser utilizados durante todo o treinamento. Desde a 4 até o final da 8 semana, ele aprendeu e
praticou a confecção de papel personalizado. Após uma pausa de duas semanas, voltou a fazer
esta tarefa por mais 4 sessões nas quais avaliou-se o seu desempenho. A partir da 8 semana ele
iniciou a confecção de cartões de visitas, praticando até o final do treinamento.

Após o treinamento, o paciente passou por outra avaliação. Nesta , pode-se verificar que
o desempenho geral do paciente não variou em relação à primeira avaliação, mas houve
oscilações nos dois momentos em várias tarefas, pois conseguiu realizar melhor algumas delas,
enquanto que em outras ele foi pior. Nas atividades cotidianas foram observados dados
qualitativos que corroboram as oscilações verificadas no teste, como por exemplo o fato dele
lembrar-se ou não do nome das terapeutas ou do número do andar da sala de atendimento.

Os resultados obtidos no processo de treinamento de computador mostraram que o


paciente teve grande evolução no seu desempenho ao longo das semanas, conseguindo realizar
as duas tarefas (papel personalizado e cartão) de forma satisfatória. Glisky e Schacter (1989
apud BOLOGNANI 2008), sugerem, que a reabilitação de pacientes com problemas de
memória deve ser focada no ensino de informações, tarefas e habilidades que possam ser
diretamente aplicadas em um âmbito particular da vida diária do paciente. Através de
intervenções adequadas, é possível que um paciente amnéstico adquira habilidades que tenham
utilidade prática e imediata em sua vida.
REFERÊNCIAS:

BOLOGNANI, SÍLVIA A. PRADO, GOUVEIA, PAULA A. R., BRUCKI, SONIA M.


D., & BUENO, ORLANDO F. A.. (2000). Memória implícita e sua contribuição à reabilitação
de um paciente amnéstico: relato de caso. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 58(3B), 924-
930. https://dx.doi.org/10.1590/S0004-282X2000000500023.

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