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Ética na Psicanálise

Professor Doutor Adilson Campos

Tudo que Você Precisa Saber


Quando criada, a psicanálise causou muita divergência entre médicos e
cientistas de sua época. No entanto, com o passar dos anos, as descobertas de
Freud junto com a ética na Psicanálise, auxiliaram muito no tratamento de
doenças psíquicas. Muitos afirmaram e afirmam que a psicanálise é uma área
de conhecimento à parte.
Uma nova ciência à parte da psicologia. Para muitos estudiosos da área,
a psicanálise apenas se torna possível em um mundo onde a ciência está
presente. Entretanto, outros afirmam que a psicanálise em si, atualmente, não
deve ser considerada como uma ciência. Isso também influi na questão da ética
na psicanálise.
Para se entender a questão da ética na psicanálise, entretanto, é
importante entendê-la na sociedade. Com as descobertas do mundo moderno,
a humanidade passou por diversas mudanças. Muitas das ciências levaram o
homem a diferenças concepções sobre si mesmo e sobre as suas crenças.
O que era considerado certo, perfeito, moral, para muitos homens passou
a ser visto com outros olhos. O discurso, que era centralizado pela Igreja, passou
a mudar de rumos e vir de outras áreas, campos ou ciências. O campo da ética,
então centralizado pelo discurso da Igreja, também entrou em crise com a
modernidade e suas descobertas.
A partir das descobertas de homens como Galileu e de Isaac Newton, a
ideia da não possibilidade de se criar uma ciência nesse mundo foi questionada.
O que era abstrato tornou-se mais tangível, mais provável. Conseguiu-se chegar
a resultados exatos com a nova física, que na época ainda era uma filosofia
natural.
A partir dessa época e, principalmente, a partir das descobertas destes
homens houve grandes mudanças no pensamento humano. Além de uma
separação radical entre dois campos de saber: a ciência e a ética. A ciência que
então passou a se referir ao conhecimento exato e a ética, à moral.

A Ética na Sociedade e o Surgimento da Psicanálise


Assim, para se entender a ética na psicanálise, vamos vendo as
alterações pelas quais ela passou em sociedade. Com todas essas mudanças
passadas pela humanidade, a ética também passa a ter novos significados para
o homem moderno.

Professor Doutor Adilson Campos – Psicanalista/Neurocientista


Quando o homem deixa de ser (ou de se ver como) o centro do universo,
suas certezas são colocadas em dúvida. Afinal, quem pode garantir que a ética,
a moral estão realmente corretas? Para Descartes, em sua obra “Discurso sobre
o Método”, ele duvida de tudo. Assim, sob esse prisma, para ele a dúvida passa
a ser fundamental ao homem moderno.
Nilismo: negação, declínio ou recusa.
A filosofia passa a ser pensada sempre sob a sombra do niilismo. Os
pensamentos dos homens estão, ao mesmo tempo, sob a sombra do nada e
também sob a sombra do infinito.
O homem se vê perdido, em busca de uma resposta, de um sentido ou
orientação. Além disso, o homem se vê perdido em si mesmo. Nesse momento
surge Freud e a psicanálise. Uma ciência nova que busca compreender mais
profundamente a mente humana e o comportamento humano.
Suas descobertas, a princípio, são bastante polêmicas, pois ele questiona
a moralidade reinante. Além disso, ele realiza uma nova revolução, colocado que
o centro da psique não é mais o eu, mas sim o inconsciente. O eu é apenas a
ponta das três partes em que se divide a mente: inconsciente, pré-consciência e
consciência. Assim, vamos entendendo o que é a ética na psicanálise.
Voltando na história, ao analisarmos a diferença entre ética e episteme,
podemos ver que a psicanálise não é uma ciência, mas uma forma de ética.
Mesmo que Segundo Freud, a psicanálise seria uma ciência natural, empírica. A
própria psicanálise acabou adentrando outras áreas de conhecimento e ciências.

A Ética na Psicanálise
Ainda que a Psicanálise possa não ser considerada uma ciência, para
muitos, nem por isso, ela é menos. Isso porque a análise e o método psicanalista
ajudam o indivíduo a descobrir a si mesmo. Seus medos, seus traumas e receios,
seus recalques. E assim, a psicanálise, auxilia o indivíduo a lidar com seus
sintomas.
Dessa forma, compreendemos a função da ética na psicanálise. Além
disso, podemos ver que ela pode ser situada no campo da ética e não no campo
da ciência. Como quisera seu próprio fundador. Não sendo por isso menos
importante para a humanidade.
Freud, e muitos de seus seguidores, procuraram fazer a psicanálise uma
ciência.
Muitos estudiosos atuais sugerem que a Ética é o que pode possibilitar a
existência da psicanálise na atualidade. É ela que pode legitimar a psicanálise,
dando-lhe significado.
O Psicanalista ou Analista, ao auxiliar seu paciente a descobrir seus
problemas, pode lhe instruir qual o melhor caminho a tomar. Não lhe sugerir, mas
lhe instruir sobre como buscar esse caminho. Um caminho que para ele seja

Professor Doutor Adilson Campos – Psicanalista/Neurocientista


correto, moral, ético e, principalmente, que trate de seus problemas. Eis uma das
principais funções da ética na psicanálise.
Assim, o paciente, aos poucos, passa de uma fase de desilusão. Ao
perceber que não é capaz de satisfazer seu analista, para o encontro de si
mesmo. O analista não tem a resposta pronta, dessa forma, o paciente percebe
que ele não é tão sapiente e poderoso como ele, a princípio, supunha.
Nesse momento a ética é que faz a diferença, junto do método ou modelo
psicanalítico a ser empregado. Além de propiciar autonomia à pessoa, para
buscar soluções e decidir como tratar os seus problemas. Vendo que é apenas
ela mesma que pode saná-los.
Mas a psicanálise, certamente, pode auxiliar nesse processo.
Trabalhando esses problemas ou doenças psíquicas. E, acima de tudo, a ética
na psicanálise, tem um papel fundamental, tanto por:
• orientar o caminho do analista, que precisa seguir estudando (teoria),
sendo analisado por outro Psicanalista e tendo seus casos clínicos
supervisionados por psicanalista mais experiente: isto tudo integra o tripé
da psicanálise;
• orientar a relação transferencial entre analista e analisando, aspecto
fundamental para que haja confiança e liberdade para o analisando livre-
associar.

O que é o bem para o homem?

Para responder esta questão utilizamos, como referencial teórico, a


Psicanálise sob a ótica de Sigmund Freud, o criador do método da associação
livre, usado para tornar conscientes os conteúdos in- conscientes, e de Jacques
Lacan, que atualizou os conceitos freudianos e avançou teoricamente com
conceitos novos. Portanto, quando falamos de Ética em Psicanálise, estamos
falando de algo que ultra- passa essa barreira do bem e do mal, estamos falando
de uma ação do sujeito que considera o seu próprio desejo. Falamos da ética
que está na prática, que está no modo de pensar daquele que pratica a
Psicanálise.
O que define a Ética na Psicanálise é o fato de que, nesse caso, se
considera o inconsciente e toda sua verdade. Verdade inaceitável para aqueles
que consideram apenas o campo da consciência. A verdade do sujeito é a de
que há um mal estar inerente à condição humana. Isso não deve nos aborrecer
ou enfurecer. Essa ideia freudiana deve ser entendi- da como um auxílio à
compreensão do psiquismo humano. O homem falha, no trabalho ou no amor,
não é rico o bastante, não é belo o bastante, e se fosse tudo isso, ainda assim
poderia dizer que não é feliz o bastante! Assim, a partir disso, é possível inferir:
as falhas fazem parte da constituição psíquica do homem, fazem parte do
cotidiano do homem.
Professor Doutor Adilson Campos – Psicanalista/Neurocientista
Dizemos que o homem falha, em suas es- colhas, em suas atitudes,
causando o mal, sendo injusto, apoiando o conceito nomeado por Lacan como
‘falta a ser’, a qual, por ser necessária e constituinte do humano, não pode ser
eliminada, pois, embora fantasiosamente o homem eleja objetos com o intuito de
burlá-la, sempre faltará algo ao homem. Isso não remete a uma perspectiva
infeliz, mas, nos conduz em direção a uma reflexão crítica sobre a “ética” na vida
humana.
Sobre a Ética na Psicanálise, Lacan (1997, pp.373-374), nos ensina que
ela “consiste essencialmente num juízo sobre nossa ação” e mais, “se há uma
ética da psicanálise é na medida em que, de alguma maneira, por menos que
seja, a análise fornece algo que se coloca como medida de nossa ação – ou
simplesmente pretende isso”. Ele diz que para medir a eficácia terapêutica é
preciso observar o efeito da análise sobre o gozo obtido pelo sintoma e a
construção de um saber pelo próprio sujeito a partir da análise.
A Ética na Psicanálise é mediada, de ponta a ponta, por um saber
“insabido”, por um saber que é da ordem inconsciente e que precisa ter vazão
na análi- se, através da escuta do sujeito. Este saber entra em cena quando
menos se espera e bifurca um discurso coerente e lógico. Como exemplos,
temos os lapsos de memória, os atos falhos e as apraxias.
O sujeito em Psicanálise é o suposto do que se articula como fala, e o
que depois é mobilizado através desta. É, também, um sujeito que fala, na
medida em que alguém ouve/escuta. Assim, o ser instituído como su- jeito, cada
vez que o outro (o ouvinte) o busca na palavra, e não no comportamento, pois
isso é capaz de revelar o seu desejo, que aparece em análise, mediado pelo
desejo do analista.

Bons estudos!!!

Professor Doutor Adilson Campos – Psicanalista/Neurocientista

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