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Professor Matheus Carvalho

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AGÊNCIAS REGULADORAS E O CARGO DE DIREÇÃO


(INFORMATIVO 1030 STF)

Olá, pessoal, mais um tema recente para recapitularmos sobre Agências Reguladoras
analisado na ADI 6276/DF.

O Min. Fachin, destacou no julgado, que a criação das agências reguladoras no Brasil
decorre da adoção de um novo modelo de serviço público em que as entidades privadas se
encarregam de sua execução direta. Se deu com o Programa Nacional de Desestatização com o
objetivo de reduzir o déficit público. À Administração Pública incube a gestão e a regulação da
prestação de serviços, valendo-se dos princípios constitucionais que norteiam o direito
administrativo brasileiro.

Dessa forma, as Agências Reguladoras são criadas em regime especial para fiscalizar,
regular, normatizar a prestação de serviços públicos por particulares, evitando a busca desenfreada
pelo lucro dentro do serviço público. A doutrina aponta que o regime diferenciado dessas agências
decorre da maior independência e autonomia que esta entidade goza em relação aos entes da
Administração Direta, executando suas atividades com maior liberdade de atuação, embora ainda
sujeita à supervisão ministerial.

Diante dessa autonomia administrativa, a agência pode solicitar diretamente ao Ministério


da Economia autorização para a realização de concursos públicos, provimento dos cargos
autorizados em lei para seu quadro de pessoal, bem como alterações nos planos de carreira de seus
servidores.

Ademais as Agências Reguladoras possuem autonomia financeira, consoante entendimento


de Marçal Justen Filho1 que dispõe que “o modelo de agências reguladoras comporta a atribuição
de autonomia financeira, por meio de garantia de receitas vinculadas. Isso significaria a
possibilidade de manutenção de sua estrutura e de seu funcionamento sem dependência de
disputas políticas sobre a distribuição de verbas orçamentárias.”

Essa maior autonomia administrativa e liberdade também decorre de alguns preceitos


legais, definidos na lei 9986/00, como a nomeação diferenciada dos dirigentes. Com efeito, os
dirigentes das agências reguladoras possuem uma investidura especial. São nomeados pelo
Presidente da República, após aprovação prévia pelo Senado Federal (art. 52, III, “f”, CRFB), para
cumprir um mandato certo, ao contrário das demais autarquias em que os dirigentes têm mandato
de prazo certo, têm prazo fixo, que variará de acordo com a lei de cada agência reguladora e, em
caso de vacância, no curso do mandato, este será completado por sucessor investido nos mesmos
moldes da escolha do dirigente.

1 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. São Paulo: Editora Forum, 14. ed. 2009.
A garantia de cumprimento de mandato certo significa que o dirigente não será exonerado
livremente, por vontade do órgão de controle. Isso faz com que a agência tenha mais liberdade de
atuação e esteja menos dependente dos entes da Administração Direta.

No entanto, para a garantia da independência, imparcialidade e atuação técnica das


agências, é necessário a exigência de preenchimento de certos requisitos ou a previsão de certos
impedimentos, quando devidamente justificados, para que se ocupe vaga na direção. A
imparcialidade desse gestor é qualificada a fim de evitar conflitos de interesses. Marçal Justen
Filho2 diz que “exige-se do administrador da agência o requisito da imparcialidade, tal como se
passa com todos os demais servidores. No entanto, a relevância das atribuições reservadas às
agências acarreta a ampliação da importância desse requisito.”

No caso em tela, foi discutido sobre a vedação legal quanto a impossibilidade de indicação
para a direção das agências reguladoras de pessoa que exerça cargo em organização sindical ou
que seja membro de conselho ou diretoria de associação patronal ou trabalhista.

Isso porque o conselho diretor ou a diretoria colegiada das agências reguladoras,


diante da necessidade de tomada de decisões imparciais, devem ser isentos de
influências políticas, sociais e econômicas externas à própria finalidade dessas
autarquias. Desse modo, devem preservar suas administrações da captura de
gestão, compreendida como qualquer desvirtuação da finalidade conferida às
agências, quando estas atuam em favor de interesses comerciais, especiais ou
políticos, em detrimento do interesse da coletividade.

A norma visa, portanto, garantir imparcialidade e higidez técnica dos órgãos


deliberativos sem, contudo, violar o princípio da igualdade ou a garantia da
liberdade de associação, visto que a restrição é episódica e pontual a quem exerça
cargo no conselho diretor ou na diretoria colegiada das agências reguladoras (ADI
6276/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 17.9.2021).

Como exposto, há a justificativa racional de preservar a atuação técnica e impessoal das


agências. Estabelecer limitações no âmbito de tais órgãos, a fim de observar seus elementos
essenciais, obedece, e não o contrário, os princípios da razoabilidade e eficiência da administração
pública, consagrado no art. 37 da Constituição. Assim, o Plenário julgou improcedente o pedido
formulado na ação direta, declarando a constitucionalidade dos incisos III e VII do art. 8º-A da Lei
9986/2000 e mantendo o entendimento que “é constitucional dispositivo legal que veda a
indicação de pessoa que exerça cargo em organização sindical ou que seja membro de conselho
ou diretoria de associação patronal ou trabalhista para a alta direção das agências
reguladoras.”

Um forte abraço para todos!


Matheus Carvalho

2 JUSTEN FILHO, Marçal. O Direito das Agências Reguladoras Independentes. SP: Dialética, 2002, p.441

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