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Os DECANOS

Os Fundadores, Mestres e Pioneiros da Umbanda

Coordenadores

Rubens S

Mestre Xaman
Há muitos anos, o médium Rúbens Saraceni, que tem uma grande quantidade de livros
psicografados e dezenas deles publicados, recebeu um pedido dos Mestres da Luz, Guias de Lei
e de Umbanda, no qual solicitavam que as informações reveladoras, por eles transmitidas, não
fossem apenas para seu bel prazer, e sim para que. por meio dele, o conhecimento se
multiplicasse. Com isso, Rubens começou a ministrar o curso de Teologia de Umbanda, um
curso simples e teórico, visando a uma melhor formação do médium umbandista em relação
aos Fundamentos da Umbanda. Desse convívio, Rubens se deu conta do valor do que havia
recebido, pois há muitos anos praticava a Magia Divina ensinada por seus Mentores, que se
mostrou fundamental na proteção daqueles que o procuravam. Foi quando os Mestres da Luz
ressaltaram a importância de consolidar-se no lado material um Colégio nos moldes dos
Grandes Colégios Astrais, que sustentam toda a formação daqueles que se assentam à direita
e à esquerda dos Sagrados Orixás, Tronos e Divindades de Deus. Daí surgiu o Colégio de
Umbanda Sagrada Pai Benedito de Aruanda, para dar formação e sustentação, Religiosa e
Mística.

Rubens é também o fundador do Colégio Tradição de Magia Divina, colégio este que se
destina a dar amparo aos formados nas magias abertas ao plano material e espiritual.
OS DECANOS

Os Fundadores, Mestres Pioneiros da Umbanda

Coordenadores:

Rubens Saraceni & Mestre Xamã

OS DECANOS

Os Fundadores, Mestres e pioneiros da Umbanda

MADRAS

© 2003, Madras Editora Ltda.

Editor: Wagner Veneziani Costa

Produção e Diagramação: Eight Point Comunicação Ltda.

R. Desembargador Guimarães, 119 — Perdizes — São Paulo — SP Tel./fax: (0_11) 3865-5242

Produção da Capa: Equipe Técnica Madras

Revisão: Elaine Garcia EdnaLuna Neuza Alves

Tiragem: 3 mil exemplares

ISBN 85-7374-628-9

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, sem permissão expressa
do editor (Lei ne 9.610, de 19.02.98).

Todos os direitos desta edição reservados pela MADRAS EDITORA LTDA.

Rua Paulo Gonçalves, 88 — Santana 02403-020 — São Paulo — SP Caixa Postal 12299 — CEP
02013-970 — SP Tel.: (011) 6959.1127 — Fax: (011) 6959.3090 www.madras.com.br
índice

Prefácio...................................................7

Introdução.................................................9

Capítulo Um

Zélio de Morais.......................................... 17

Capítulo Dois

Os Orixás Representam a Natureza. O Ser Humano

faz Parte da Magia entre os Fenômenos.....................29

Capítulo Três

Félix Nascentes Pinto.....................................47

Capítulo Quatro

Receitas e Mirongas.......................................51

Capítulo Cinco

Pai Jaú — O Grande Mártir da Umbanda......................55

Capítulo Seis

Sucos Terapêuticos —Tônicos.............................. 61

Capítulo Sete

Pai Sebastião Campos......................................67

Capítulo Oito

Federações................................................77

Capítulo Nove

Pedro Furlan..............................................87

Os Decanos

Capítulo Dez

Banhos.....................................................91

Capítulo Onze

Depoimentos: Frases que Marcaram...........................99

Capítulo Doze
Hilton de Paiva Tupinambá..................................111

Capítulo Treze

Rituais de Todos os Tempos.................................117

Capítulo Catorze

Pai Mário Paulo — “O Cavaleiro de Oxóssi”................. 127

Capítulo Quinze

Benzeduras................................................ 133

Capítulo Dezesseis

Pai Aguirre............................................... 145

Capítulo Dezessete

Reportagens e Notícias.................................... 153

Capítulo Dezoito

Jamil Rachid.............................................. 191

Capítulo Dezenove

Pai Joãozinho 7 Pedreiras................................. 199

Capítulo Vinte

Ronaldo Linhares............................................203

Capítulo Vinte e Um

O Decano Juventino — Oba Oujualá...........................213

Capítulo Vinte e Dois

Pontos e Cantos

217
Prefácio

DECANO: o mais antigo ou mais velho dos membros de uma classe, instituição ou corporação.

Há homens que honram o seu tempo. E que, assim procedendo, tornam-nos orgulhosos de
sermos seus contemporâneos. Na religião de Umbanda, num ciclo de 40 anos, temos o
privilégio de haver convivido e ainda, graças ao Pai Oxalá, conviver com irmãos sacerdotes que
constituem os pilares do grande edifício da religião redentora do Terceiro Milênio: esta
Umbanda de todos nós.

A lacuna que existia na formação da memória de nossa religião, pela visão de Mestre Xaman
e de Rubens Saraceni, apoiados pela Madras Editora, por meio do irmão Wagner Veneziani
Costa, com a edição deste livro Os Decanos vem a ser preenchida, abrindo as portas para a
posteridade às gerações futuras dos exemplos daqueles que, superando todas as dificuldades
e circunstâncias de suas épocas, puderam cumprir e continuar cumprindo com sua missão
luminosa, como medianeiros do astral superior à prática da caridade cristã. Os autores, com
sua sensibilidade, procuraram transmitir para estas páginas a vibração de cada relato, de cada
lembrança, de cada momento, de cada passagem, algumas alegres, outras tristes e dolorosas...
Este trabalho torna-se o marco inicial que deverá continuar a ser desenvolvido para formar o
referencial, o acervo e a memória da religião de Umbanda, que, cumprindo sua santa missão,
estrutura-se para ser o horizonte deste mundo que se debate no desespero e na dor. Exemplo
e paradigma para as gerações novas que estão sendo preparadas para assumir o vácuo dos
desbravadores que já partiram e dos que estão sentindo já o peso do tempo em suas matérias.
Esses verdadeiros baluartes nos dão a lição sempre presente de Euclides Barbosa, o Pai Jaú,
Zélio de Moraes, Sebastião Campos, Pedro Furlan, que no serviço do Pai Oxalá não há remate
enquanto se vive. Com certeza, dentro deste campo vibratório, há o silencioso aplauso de um
General Nelson Braga Moreira, Estevam Montebelo, Renato Dib, Nilton Fernandes, Abrumólio
Vainer e muitos outros que já passaram para o plano superior e deram, também, de si na
sustentação dessa religião sagrada de Umbanda. A religião — roupagem do espírito — não faz
a alma. O sofrimento, a dor, as experiências amargas, o sentimento de amor ao próximo, o
desejo sincero de buscar a verdade, sim, são essas as coisas que elevam, que enobrecem e
divinizam o ser humano. Esse é o valor do contexto desta obra, que transmite a experiência de
vida e a mensagem alvissareira do dever cumprido que nos levam esses pioneiros. Nós, que
somos humildes trabalhadores na seara do Pai, sentimo-nos jubilosos pela oportunidade de ter
merecido a honra de prefaciar, sem pretensões, este livro, pedra fundamental da memória e
do acervo desta santa religião de Umbanda.

JOÃO BAPTISTA MENEZES LADESSA Presidente do Superior Órgão de Umbanda do Estado de


São Paulo
Nota dos Coordenadores.

Dr. Menezes infelizmente não chegou a ver o lançamento do livro que prefaciou com tanto
carinho e respeito. No dia 23 de julho de 2002foi juntar-se aos Decanos que fazem parte do
Grande Conselho Espiritual Eterno. Dedicamos esta obra a esta figura insigne, que durante
mais de 25 anos dirigiu os caminhos do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo
(Souesp).

Introdução

Quando criei a cerimônia “Grandes Figuras Religiosas”, minha intenção era a de prestar uma
homenagem aos sacerdotes e sacerdotisas que dedicam suas vidas ao cumprimento da missão
que lhes foi confiada. Partindo do princípio de que homenagens devem ser prestadas em vida,
homenageamos algumas figuras especiais que em 1994 se destacaram por seu trabalho
filantrópico e religioso.

O que notei é que realmente poucas pessoas já haviam sido homenageadas pelo trabalho
heroico e dedicado que praticam, e que na maioria das vezes não deixam herdeiros, sendo
suas casas completamente abandonadas no caso de sua partida para o outro lado da vida.

Sempre motivado pela pesquisa e o porquê das situações, comecei muito cedo a desvendar
mistérios, acompanhando decanos como Pai Jaú, Pai Sebastião Campos, Pai Sebastião Pena,
Pai Mário Paulo, que em São Paulo eram praticamente os patriarcas.

Estar ao lado deles significava aprender a todo momento, da mesma forma que os iyaos
precisam beber dos conhecimentos de seus babalorixás. Dos quatro Decanos que mencionei,
apenas um deles tinha conseguido uma vida estabilizada, Dr. Sebastião Pena; era advogado e
praticava a religião por vontade própria e dedicação ao ser humano. Como poderão ver pelos
relatos contidos neste livro, a maioria dos sacerdotes focalizados teve e ainda tem uma vida
comparável não aos 12 apóstolos que acompanharam o mártir da igreja católica, Jesus: eles
são os Cristos dos séculos XX e XXI.

Querendo prestar um tributo inesquecível a estes incríveis sacerdotes, comecei a elaborar


uma forma de fazer com que todos pudessem participar desta iniciativa. Da conversa com o
irmão Rubens Saraceni veio a ideia de eternizá-los em uma obra literária. Surgia a
oportunidade do grande sonho de muitos sacerdotes que já haviam passado para outra vida
de mostrar seus trabalhos e deixar que as pessoas pudessem aprender um pouco do que
fizeram durante essa vida. Começamos uma maratona que durou cerca de um ano, na qual
enfrentamos muitas dificuldades; a maioria provocada pelos próprios parentes dos Decanos
focalizados já falecidos. O que pude constatar é que os sacerdotes em questão viviam sua vida
religiosa à parte da convivência com a família, que não comungava da mesma crença religiosa.
Amigos e filhos espirituais ou se recusaram a prestar depoimentos ou simplesmente ignoraram
a importância de estar contribuindo para este documento-verdade que seria o livro, o qual
chamamos de Os Decanos.

Em contrapartida, tivemos a participação de pessoas que admiravam os seus mentores e se


esforçaram para conseguir recortes de jornais, escritos e tudo o que pudesse ser mencionado
de seu Decano pai.
Quanto aos Decanos que ainda estão na ativa, independentemente da idade ou de qualquer
outro impedimento, conseguimos reuni-los em um dia que ficou na história, pois tais
sacerdotes, apesar de estarem lutando paralelamente nesses últimos 40 anos, nunca haviam
estado todos juntos.

Durante cerca de seis horas, pudemos apreciar e participar da presença desses homens que
carregam consigo a magia espiritual somada à experiência humana, que, temos certeza,
dificilmente será repetida em outra ocasião.

Lá estavam reunidos para um almoço informal e para acertarmos os detalhes do livro, no qual
eles seriam parte viva dos protagonistas.

Reunião com os Decanos

“São 12 sacerdotes que serão eternizados como Decanos. A homenagem é uma forma de se
fazer um marco dentro da Umbanda. Cada Decano tem 40, 50 anos de vivência, é um tesouro
guardado que temos; e se não fizermos nada para resgatar toda essa experiência, ela vai ser
enterrada junto com cada um. Esta obra literária será um Catecismo da Umbanda, com direitos
autorais distribuídos entre os Decanos ou seus descendentes.”

Mestre Xaman

“OBJETIVOS: As outras religiões têm acervo grande, que constitui o seu valor: sem um acervo,
sem memória, uma religião não existe. A biografia vai ser escrita de próprio punho pelos
senhores. Na Umbanda não temos esse acervo. Precisamos pensar no futuro, ter um
referencial.

Que o livro Os Decanos seja o primeiro passo nesse sentido; para que daqui a 100/200 anos
tenhamos um acervo grande para pesquisas de historiadores. Para que no futuro, possa-se
estudar, pesquisar o que fez, quem fez e ver que muitas pessoas antes já passaram por tudo e
conseguiram vencer, porque perseveraram.

“Temos de pensar na perpetuação de uma casa. Quando uma casa fecha, os médiuns não
encontram outra igual e acabam indo para outra religião. Muitos Umbandistas, por exemplo,
são vistos em casas Esotéricas. Religião que tem valor atrai pessoas, fazendo eventos nas suas
federações, não tanto visando a lucro, mas sim à parte cultural — ‘o acervo’ fazendo com que
os filhos tenham orgulho de suas casas, de seus pais.”

Rubens Saraceni

“Em 1968, o terreiro era nos fundos da casa, num espaço mínimo, havia umas 15 pessoas
interessadas. O médium pensava que estava louco, que podia ser o primeiro sintoma da
loucura; antigamente eles não tinham nenhum tipo de informação, uns perguntavam aos
outros o que sabiam sobre a Umbanda, o que era, de onde vinham as imagens, altares, seria
um ritual metade indígena, metade africano? Não tínhamos resposta para nada.”

Revista da Umbanda — reportagem — Eu fundei a Umbanda — Gen. Nelson Vargas Moreira


“Quem abriu a primeira casa de Umbanda no Rio foi Gusmão, conversei com o Abrão na
época. A Umbanda nasceu 30 anos antes no Rio de Janeiro/RJ e Rio Grande do Sul/RS, mas
ninguém explicava nada. Acabei indo até Cachoeiras de Macacu, e encontrei o Zé. Ele era
parecido com Chico Xavier. Todo material que eu tinha entreguei para o Superior Órgão de
Umbanda e eles me expulsaram de lá. Não encontrei nada até hoje mais antigo. Nos Estados
Unidos, Zélio de Morais era conhecido; os americanos já tinham vindo, pesquisado e também
não acharam o início. A família do Zé era rica, o pai era importante oficial da Marinha, ele
incorporava Caboclo, Preto-Velho. Ele mesmo no início pensou que era loucura; era ainda um
garoto, mas depois começou a deixar mesa posta para qualquer entidade que quisesse se
manifestar — Pioneirismo do Zé. Naquela época não existiam atabaques, batia-se os pés no
chão e palmas. A rotina de hoje é a mesma que encontrávamos antigamente.

Um dia o Zé se sentiu mal, encostou-se na derrubada, tirou o cachimbo e morreu.

Umbanda histórica — Zélio não inventou a Umbanda, foi o pioneiro — O pai dele dizia que
preferia ter um filho espírita do que um filho louco.”

Ronaldo Linhares

“Será impossível focalizar todos os que já se foram e todos que estão trabalhando hoje; nós
vamos estar mencionando aqueles que marcaram sua passagem pela terra com atos e atitudes
em prol de outras pessoas, fizeram e estão transformando seus atos em documento de
consulta de raízes e de memória. UMA DATA ESPECIAL, UM DIA HISTÓRICO! A Umbanda será
conhecida, antes e depois deste encontro. Para os mais novos seguirem um exemplo, verem
que os mais velhos se reuniram, mencionaram o seu dia-a-dia, com algum trabalho feito, ervas
e magias que usaram, e como tudo foi acontecendo. O que acaba acontecendo é que os filhos
de determinada casa não conhecem suas raízes; se o pai morre, tudo acaba. Se alguém disser
que é filho de fulano, se perguntarem quem é, quem foi, o que fez, não saberão responder. Se
quisermos algo mais sólido, mesmo tendo como provar, não teremos nada de concreto — com
este livro vamos ter algo de concreto. Pai Jaú por diversas vezes foi preso e em algumas foi
torturado por policiais; para provar se ele estava realmente incorporado, enfiavam palitos de
fósforo acesos nas unhas dele.

Uma de minhas preocupações sempre foi em relação aos mais velhos — raízes indígenas, se
não há árvore, não há frutos. Fundadores, Patronos e Mestres da Umbanda, queremos a
opinião dos senhores: se colocamos os que já se foram como Fundadores ou como Patronos
da Umbanda. Queremos que os senhores nos ajudem, que o livro saia de acordo com a opinião
dos senhores.”

M. Xaman

“Terreiros, só depois dos anos de 1960 é que começaram a funcionar; antes vinha a polícia e
prendia. A FIANÇA para soltar era de 5.000 cruzeiros, era um vexame, correria.”

Mário Paulo
“Os senhores é que vão passar para a gente; a ideia é enaltecer e não melindrar ninguém. O
livro tem que ter consistência forte.”

Rubens Saraceni

Nomes como Tenente Eufrásio, Dario, Natalino, Dr. Acioly, D. Almerinda, mesmo que não
sejam focalizados totalmente, devem ser citados. Tenda S. Benedito — Freitas e Beatriz eram
filhos de Santo do Zélio de Morais. A Tenda era na Mooca. Em 1951, desenvolveu a Umbanda
Branca; depois que Zélio morreu abriram uma filial que era Casa Oxalá, na Vila Gustavo; depois
que Freitas morreu, o terreiro foi se desfazendo. Naquela época, os terreiros não podiam
passar das 22 horas. Eu tive o prazer de conhecer as doutrinas Kardec, Candomblé, Umbanda.
Devo tudo que sou a eles, estou muito à vontade, muito satisfeito para falar sobre Zélio de
Morais.

“O Decano MÁRIO PAULO incorporou uma entidade pela primeira vez em 1947, quando deu
por si, estava nu na cama.”

Pai Juventino de Xangô

“Demétrius Domingues tem 51 anos de Umbanda.

Naquele tempo, Umbanda era coisa de preto e de pobre; quando Zélio começou, era coisa de
escalões mais inferiores da sociedade; hoje ocupa movimentos de raça-correntes, antes eram
excluídos por eles; hoje os terreiros são mais frequentados por brancos do que por negros.”

Ronaldo Linhares

“A princípio pensei em fazer somente com os Sacerdotes negros. Pesquisando com os mais
velhos, é que chegamos ao escopo principal da obra.

Raízes da Umbanda, como ela é? Qual a opinião dos Decanos? O importante hoje é estar com
os senhores. Será um livro obrigatório nos terreiros. Passaremos a ter raízes — saber a
importância de cada um — procurar a base, sempre a base. Pai Jaú foi convidado para ir ao
Terraço Itália receber uma comenda, ficou tão nervoso, pensando em receber uma
homenagem, que teve dor de barriga. Depois que contou uma pequena passagem de sua vida,
todos vieram abraçá-lo, falar com ele e a dor de barriga passou. É preciso ir na Essência:
quando os mais velhos sentam-se ao lado dos mais jovens, estão passando conhecimento, que
fica eterno, ver fonte de pesquisa dessas situações que cada um já passou — seguir intuição —
passagens contadas. Dois escritores reunidos em uma obra — os senhores estão aqui, nunca
conseguiram reunir tantos líderes num mesmo lugar — O exemplo vem dos senhores.”

M. Xaman

“Mário Paulo e eu somos como dois irmãos; o que mais alegra a gente é saber que estamos
juntos.

Depois de 12 anos batendo Umbanda, fui fazer preparação no Candomblé. Tenho 28 anos de
Candomblé, conheço os dois. A Umbanda tem frequência boa, tem bastante gente; já no
Candomblé tem meia dúzia de pessoas, todos querem ser Pai-de-Santo.”
Pai Juventino

“Esse livro vai cobrar valores, onde houver dúvidas, basta abrir o livro e lá estará a resposta.

Félix Nascente Pinto: Se não encontrarmos material, não irá sair no primeiro escalão. Félix
morreu; a filha e a mãe morreram no mesmo mês. Mãe Cida estava com medo: ‘por que essa
sequência de mortes? o Primado encolheu, vem minguando; nosso receio é que não tenha
ninguém que dê sequência; os senhores são importantes para dar sequência, fazer algo’. Se
nossos dirigentes têm alguém que prossiga, que ele (o livro) leve para frente.”

Ronaldo Linhares

“A Umbanda acolhe a todos, sem distinção de cor, raça. Vamos mostrar para o mundo o que
somos, damos amor ao próximo.”

Tenente Aguirre

Tudo está interligado a estas 12 figuras expressivas que focalizaremos em nosso livro,
fundamentos, magias, mirongas, mandingas, banhos, federações, cursos, entidades,
cerimônias, segmentos: a Umbanda Afro-Brasileira, Umbanda Afro, Umbanda Brasileira,
Umbanda Tradicional e a Umbanda Nova Era. Respeitando a vontade de cada um, estaremos
apenas reproduzindo situações e ensinamentos que nos foram passados e autorizados a
publicar. Antes mesmo de sua publicação, Os Decanos já estava sendo chamado de a Bíblia da
Umbanda, com a diferença que neste livro são focalizadas 12 vidas. Nossos leitores poderão
constatar que realmente poderá tornar-se um livro obrigatório em todos os lugares onde haja
magia espiritual.

Sete Cores em que a Maioria dos Decanos se Baseia para suas Magias

Branco: significa frio, imobilidade, silêncio e criação.

Preto: representa a cultura, o conhecimento, a terra e os mortos.

Vermelho: significa sangue, guerra, fogo, atividade sexual, geração, movimento. É uma cor
que alerta contra os perigos.

Marrom: podem ser atribuídos os mesmos significados.

Amarelo: é uma cor benéfica, que invoca a riqueza, a inteligência, a fecundidade e a


fertilidade.

Azul: O Azul-escuro representa agressividade e está associada à terra e ao ferro. O Azul-claro


está relacionado à suavidade, destreza.

Verde: simboliza a vegetação, a natureza, o mistério das florestas, o poder das folhas e a
transformação da matéria.
Capítulo Um

Zélio de Morais

Existe um questionamento quanto à precisão de quem tenha iniciado o culto de Umbanda no


Brasil.

As histórias são muitas, as definições se perdem no tempo, pois a Umbanda não tem uma
codificação e também não tem padrões preestabelecidos. Algumas narrativas dão conta de
que o início do culto tem mais de 300 anos. Outras, que derivou da desistência de sacerdotes
africanos, que para fugir da escravidão adaptaram os rituais nativos aos da igreja católica, e
mais tarde seguiram padrões do espiritismo europeu. Uma versão do início do século XX tem
uma coerência sobre o nome Umbanda: a ruptura entre dois sacerdotes escravos africanos
deu origem a duas vertentes brasileiras dos cultos afro.

Quimbanda e Umbanda eram sacerdotes de regiões diferentes da África, que aqui se


encontraram no mesmo cativeiro. Umbanda optou por adaptar seus conhecimentos aos rituais
católicos, evitando assim que seus companheiros sofressem castigos e ao mesmo tempo
pudessem praticar seus rituais camuflados (enterravam os símbolos dos deuses africanos
debaixo dos altares católicos e faziam suas rezas e cantos tocando o solo com as mãos e a
testa, para reverenciar os símbolos enterrados). Esta prática foi descoberta, mas os católicos,
em vez de tentarem acabar com estas cerimônias, foram encontrando santos com as
características lendárias dos orixás ou deuses africanos e foram sincretizando um a um, numa
prática que até hoje permanece muito enraizada em nossos cultos, impedindo que se defina
uma religião. Quimbanda preferiu manter a tradição africana em que se trabalha com as linhas
mais pesadas da espiritualidade, nas quais se manipulam os deuses revoltados com pólvora e
sacrifícios de animais.

Em busca da verdade, um sacerdote repórter foi atrás do primeiro templo de Umbanda


registrado no Brasil. Aqui transcrevemos a narrativa emocionante do também Decano Ronaldo
Linares.

Como Conheci Zélio de Morais

“Para mim, ele, sem dúvida nenhuma, é o Pai da Umbanda.”

Ronaldo Linhares

Em julho de 1970, eu estava numa das minhas viagens ao Rio de Janeiro, com fragmentos de
uma informação que havia colhido de uma conversa com o Sr. Demétrios Domingues, segundo
o qual a mais antiga Tenda de Umbanda seria a de Zélio de Morais. Eu me encontrava em São
João do Meriti/RJ, já de saída para São Paulo, quando decidi que procuraria essa pessoa — se é
que ela realmente ainda existia. Após me informar de como chegar a Cachoeiras de Macacu,
atravessei a ponte Rio-Niterói e, tomando a estrada para Friburgo, consegui chegar, depois de
várias informações erradas. Caía a tarde naquela cidade. Era dia de jogo do Brasil na copa do
mundo, o que serviu para complicar meu trabalho. Em todo local que pedia informações,
todos estavam com olhos grudados na televisão. Meu carro, embora novo, tinha um mau
contato no rádio e a minha companheira Norminha passou metade da viagem dando tapas
embaixo do painel, para ouvir o jogo. Várias vezes ela me disse que aquilo era uma loucura e
que o melhor era voltarmos ao Rio de Janeiro, mas eu estava determinado a esclarecer o
assunto de uma vez por todas. Ao entrar na cidade, que é muito pequena, dirigi-me primeiro a
um bar, pedindo as primeiras informações, pois contava encontrar uma pessoa muito popular
na cidade. Fiquei muito surpreso com o fato de que ninguém soube dar-me nenhuma
informação, nem quanto à figura de Zélio nem quanto à sua Tenda. Essa pessoa que eu
procurava, se ainda estivesse viva, devia ser um ancião e, assim pensando, procurei uma
farmácia, pois nessas pequenas comunidades os velhos quase sempre frequentam
regularmente a farmácia. Nova decepção: ninguém conhecia Zélio e nem havia ouvido falar de
sua Tenda. Cheguei a procurar a Igreja local e indaguei ao padre, apresentando as minhas
credenciais de repórter. Este também declarou nada saber a respeito de quem eu procurava
(mais tarde vim a saber que a família Morais não só era conhecida do padre, como participava
financeiramente das realizações sociais da igreja). Já quase desistindo, parei numa padaria, em
uma das travessas da cidade, e foi lá que encontrei o “louco”. Demo-lhe este nome porque
durante a nossa conversa ele pareceu não ser um indivíduo equilibrado. Afirmou conhecer
Zélio e disse-me que ele tinha um bar em Boca do Mato. Contestei imediatamente, pois as
informações que eu tinha diziam que Zélio morava em Cachoeiras. Depois de muitas
explicações, fiquei sabendo que Boca do Mato era um bairro desse micromunicípio, com
praticamente uma única rua que terminava na mata, daí o nome que lhe deram: Boca do
Mato. Um tanto temeroso ainda, convidei o “louco” para que nos levasse até o local.
Norminha estava apavorada com a minha atitude, achando que estávamos sendo conduzidos a
uma emboscada. O cair da tarde era frio e garoava muito, lembrando uma tarde de inverno
paulistano. A região serrana talvez propiciasse esse clima. Ao voltarmos à estrada, o “louco”
apontava para a propriedade mais bonita e dizia: “Eu vendi para o deputado, para o gerente
do Banco do Brasil, etc”. Se era fato ou não, o certo é que jamais ficaremos sabendo.
Finalmente uma curva na estrada, nenhuma casa aparente, ele nos pede para entrarmos à
direita. Só a menos de dez metros da entrada é que eu consegui enxergar a saída. O receio
transformou-se em medo. Apesar de tudo, fomos em frente: uma rua sinuosa, várias pontes,
algumas casas esparsas, nenhuma casa de comércio aberta. Paramos e ele disse: "É aqui”. A
casa estava fechada. Bati palmas várias vezes; numa casa vizinha uma janela se abriu e uma
senhora de meia-idade, muito atenciosa, perguntou: “Vocês estão procurando quem?”
Mostrei-lhe as credenciais e expliquei tudo. “Sou repórter e preciso encontrar Zélio.” Ela então
me esclarece: “Seu Zélio está muito doente e não há ninguém em casa”. Finalmente alguém
confirmou que “seu” Zélio existia. Perguntei onde o encontrava e ela disse: “Ele está na casa
da filha, em Niterói”. Senti como se tivesse pisado num alçapão, pois havia passado por Niterói
e levei duas horas para chegar até ali. Teria de fazer todo o caminho de volta. Perguntei se ela
teria o endereço. Ela, muito educada, respondeu: “Não sei exatamente onde eles moram, mas
tenho o telefone da filha”. Depois de assegurar-me de que realmente o apartamento ficava em
Niterói, despedi-me. O “louco” estava eufórico, a informação era correta. Paramos em
Cachoeiras de Macacu e eu o gratifiquei. Ele agradeceu e saiu correndo com o dinheiro em
direção ao primeiro bar, “como um louco”. Voltei para Niterói. Norminha dizia que o louco era
eu por continuar naquela busca inútil, mas me acompanhava, apesar de tudo. Já não se falava
mais em futebol, somente se encontraríamos ou não o sr. Zélio. Chegamos em Niterói por
volta das 19 horas. Assim que deixei a estrada, cruzei algumas ruas e cheguei a uma farmácia.
“Cariocamente”, estacionei o carro na calçada, desci, apresentei minhas credenciais e pedi
para usar o telefone. Logo, à minha volta estava estabelecida a confusão. “O senhor é
repórter? Foi crime? Onde foi? Quem morreu?” Tentando ignorar as perguntas, consegui
completar a ligação. Do outro lado da linha uma voz de menina atendeu-me. Eu disse apenas
que era de São Paulo, que queria entrevistar o sr. Zélio e que havia sido informado de que ele
se encontrava naquele telefone. A mocinha pediu-me que esperasse um instante. Eu a ouvi
transmitindo as informações que lhe dera. Outra voz no aparelho, desta vez a de uma senhora;
explico os objetivos da minha visita (em nenhum momento declinei meu nome). Ouço a
pessoa com quem estou conversando dirigir-se a outra e explicar:

— Papai, há um senhor de São Paulo ao telefone, que veio entrevistá-lo. O senhor pode
atendê-lo?

E, para minha surpresa, ouço lá no fundo uma voz cansada responder:

— É Ronaldo, minha filha, que estou esperando há muito tempo. É o homem que vai tornar o
meu trabalho conhecido em todo o mundo.

Eu ouvia e não acreditava. Eu não havia dito a ninguém o meu nome e, no entanto, ele sabia
de tudo, como se estivesse informado. Pedi o endereço, trêmulo e emocionado. Não me saía
da cabeça como ele sabia quem eu era. Agradeci ao farmacêutico e saí “pisando fundo". Na
Avenida Almirante Ari Pereira, perguntei a um, a outro e, finalmente, estava defronte ao
prédio. Um tanto receoso, encostei o veículo. Passam os andares e finalmente o elevador pára.
Tive a impressão de que meu coração havia parado também. Descemos, e à nossa frente havia
duas portas. Bati à porta da direita. Ela abriu-se. Era a mocinha gentil que me atendera da
primeira vez:

— Sr. Ronaldo?

— Perfeitamente!

— Um momentinho. A porta da sala é a outra e dona Zilmeia vai atendê-lo.

O espaço que separava uma porta da outra não ultrapassava três metros. Com quatro passos
estava diante da outra, que já começava a abrir-se. Diante de mim, uma senhora sorriu muito
educada e perguntou:

— O senhor é Ronaldo?.

Confirmei e apresentei Norminha, minha esposa.

A sala era um “L” e, no canto direito, um velhinho, usando pijama com uma blusa de lã por
cima, sorriu para mim. O apartamento era modesto; havia um enorme aquário numa das
pernas do “L”. Ao ver a frágil figura do velhinho, veio-me à cabeça que aquele deveria ser, no
mínimo, irmão gêmeo de Chico Xavier, tal a sua semelhança física com o famoso médium
kardecista. Tomado de grande emoção, aproximei-me do senhor Zélio. Ele sorriu e disse,
brincando:

— Pensei que você não chegaria a tempo.

Não sei por que, mas aproximei-me, ajoelhei-me diante daquela figura simpática e tomei-lhe
a bênção. Ele tomou minhas mãos, fez-me sentar ao seu lado e repreendeu a Norminha,
dizendo-lhe:

— Por que você não queria vir para cá?

Quando consegui falar, disparei uma “rajada” de perguntas. Eu estava totalmente abalado, o
homem parecia saber tudo sobre mim e procurava acalmar-me, dizendo:
— Sei perfeitamente o que você quer saber e não há motivo para que esteja tão nervoso.

Sua presença me acalmava. Dona Zilmeia, depois de conversar conosco por 15 minutos,
explicou que era seu dia de tocar os trabalhos e desculpou-se, dizendo que precisava sair.
Pedi-lhe o endereço da Tenda e, depois de tudo anotado, ela retirou-se e fiquei na companhia
do senhor Zélio. Ele realmente tinha todas as respostas às minhas perguntas e, na maior parte
do tempo, antecipava-se a elas. Coisa que até hoje não consigo compreender. Eu estava diante
de alguém como nunca havia visto antes; Finalmente eu encontrara o “homem.

Zélio de Morais e as Primeiras Manifestações Espirituais na Umbanda

Quando do primeiro contato de Ronaldo Linares com Zélio de Morais, este lhe narrou como
tudo começou:

Em 1908, o jovem Zélio Femandino de Morais estava com 17 anos e havia concluído o curso
propedêutico (equivalente ao Ensino Médio atual). Zélio preparava-se para ingressar na Escola
Naval, quando fatos estranhos começaram a acontecer-lhe. Ora ele assumia a estranha
postura de um velho, falando coisas aparentemente desconexas, como se fosse outra pessoa e
que havia vivido em outra época; e, em outras ocasiões, sua forma física lembrava um felino
lépido e desembaraçado, que parecia conhecer todos os segredos da natureza, os animais e as
plantas. Este estado de coisas logo chamou a atenção de seus familiares, principalmente
porque ele estava preparando-se para seguir carreira na Marinha, como aluno oficial. Este
estado de coisas foi se agravando e os chamados “ataques” repetiam-se cada vez com mais
intensidade. A família recorreu, então, ao médico dr. Epaminondas de Morais, também da
família, diretor do Hospício de Vargem Grande e tio de Zélio. Após examiná-lo durante vários
dias, reencaminhou-o à família, dizendo que a loucura não se enquadrava em nada do que ele
havia conhecido, ponderando, ainda, que melhor seria encaminhá-lo a um padre, pois o garoto
mais parecia estar endemoninhado. Como acontecia com quase todas as famílias importantes
da época, também havia na família um padre católico. Por meio desse sacerdote, também tio
de Zélio, foi realizado um exorcismo para livrá-lo daqueles incômodos ataques. Entretanto,
nem esse nem os outros dois exorcismos realizados posteriormente, inclusive com a
participação de outros sacerdotes católicos, conseguiram dar à família Morais o tão desejado
sossego, pois as manifestações prosseguiram, apesar de tudo. A partir daí, a família passou a
correr atrás de toda e qualquer melhora, ou melhor informação, que lhe trouxesse a
esperança de uma solução para seu filho querido. Um dia, alguém sugeriu que isso era coisa de
espiritismo e que o melhor era encaminhá-lo à recém-fundada Federação Kardecista de
Niterói, município vizinho àquele em que residia a família Morais, ou seja, São Gonçalo das
Neves. A Federação era então presidida pelo Sr. José de Souza, chefe de um departamento da
Marinha chamado Toque Toque.

O jovem Zélio foi conduzido, em 15 de novembro de 1908, à presença do Sr. José de Souza.
Estava num daqueles chamados ataques, que nada mais eram do que incorporações
involuntárias de diferentes espíritos; e lá chegando, o Sr. José de Souza, médium vidente,
interpelou o espírito manifestado no jovem Zélio e foi aproximadamente este o diálogo
ocorrido:

Sr. José: “Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?”

O Espírito: “Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.”


Sr José: “Você se identifica como caboclo, mas eu vejo em você restos de vestes clericais.”

O Espírito: “O que você vê em mim são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu
nome era Gabriel Malagrida e, acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Inquisição
por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas, em minha última existência
física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.”

Sr "José: “E qual é seu nome?”

O Espírito: “Se é preciso que eu tenha um nome, digam que sou o Caboclo das Sete
Encruzilhadas, pois para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda, uma
religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos.”

No desenrolar desta “entrevista”, entre muitas outras perguntas, o Sr. José de Souza teria
perguntado se já não bastariam as religiões existentes e fez menção ao espiritismo então
praticado, e foram estas as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas: “Deus, em Sua infinita
bondade, estabeleceu na morte o grande nivelador universal: rico ou pobre, poderoso ou
humilde, todos se tornam iguais na morte. Mas vocês homens preconceituosos, não contentes
em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo
além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do
espaço, se, apesar de não haverem sido pessoas importantes na terra, também trazem
importantes mensagens do além? Por que o “não” aos CABOCLOS e PRETOS-VELHOS? Acaso
não foram eles também filhos de Deus?”

A seguir, fez uma série de revelações sobre o que estava à espera da humanidade.

“Este mundo de iniquidades mais uma vez será varrido pela dor, pela ambição do homem e
pelo desrespeito às leis de Deus. As mulheres perderão a honra e a vergonha, a vil moeda
comprará caracteres e o próprio homem se tornará afeminado. Uma onda de sangue varrerá a
Europa e quando todos acharem que o pior já foi atingido, uma outra onda de sangue, muito
pior do que a primeira, voltará a envolver a humanidade, e um único engenho militar será
capaz de destruir, em segundos, milhares de pessoas. O homem será uma vítima de sua
própria máquina de destruição.”

Prosseguindo diante do Sr. José de Souza, disse ainda o Caboclo das Sete Encruzilhadas:
“Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer
entidade que queira ou precise se manifestar, independentemente daquilo que haja sido em
vida, todos serão ouvidos e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e
ensinaremos àqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos
não, pois esta é a vontade do Pai.”

Sr. José: “E que nome darão a esta Igreja?”

O Caboclo: “TENDA NOSSA SENHORA DA PIEDADE, pois da mesma forma que MARIA ampara
nos braços o filho querido, também serão amparados os que se socorrerem da UMBANDA.”

A denominação de “Tenda” foi justificada assim pelo Caboclo: “Igreja, Templo, Loja dão um
aspecto de superioridade, enquanto que Tenda lembra uma casa humilde.”

Dessa forma, em São Gonçalo das Neves, vizinho a Niterói, do outro lado da Baía de
Guanabara, na sala de jantar da família Morais, um grupo de curiosos kardecistas compareceu,
no dia 15 de novembro de 1908, para ver como seriam estas incorporações, para eles
indesejáveis ou injustificáveis. O diálogo do Caboclo das Sete Encruzilhadas, como passou a ser
chamado, havia provocado muita especulação e alguns médiuns, que haviam sido
escorraçados de mesas kardecistas, por haverem incorporado caboclos, crianças ou pretos-
velhos, solidarizaram-se com aquele garoto que parecia não estar compreendendo o que lhe
acontecia e que de repente se via como líder de um grupo religioso, obra que deveria durar
toda a sua vida e que só terminaria com a sua morte, mas que suas filhas Zélia e Zilmeia
prosseguem com o mesmo afã.

A Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Piedade existe até hoje. Seu patrono segue sendo o
Caboclo das Sete Encruzilhadas.

A história se encarregou de mostrar e provar a exatidão das previsões do Caboclo das Sete
Encruzilhadas. As duas primeiras guerras, as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki e a
grande degeneração da moral, que, em certos países do mundo, permite que possam se unir
em matrimônio até mesmo seres do mesmo sexo. O poder do dinheiro e o total desrespeito à
vida humana são provas incontestáveis do poder e da clarividência do Caboclo das Sete
Encruzilhadas.

Uma comprovação da existência do Frei Gabriel Malagrida pode ser feita no livro de Henrique
José de Souza, Eubiose: A verdadeira Iniciação, 4ª ed. Rio de Janeiro: Associação Editorial
Aquarius, 1978.

Segundo Henrique José de Souza: “Gabriel Malagrida, ancião de 80 anos, foi queimado por
Verdugos (Inquisição), em 1761”(págs. 250-251).

Existe, na Biblioteca de Amsterdã, uma cópia do seu FAMOSO PROCESSO, traduzido da edição
de Lisboa. Malagrida, com efeito, foi acusado de feitiçaria e de manter pacto com o Diabo, que
lhe havia revelado o futuro.

A profecia comunicada pelo “inimigo do gênero humano” (Quer dizer das profecias
comunicadas aos Santos da Igreja, inclusive Santa Odila, que profetizou até a última guerra) ao
pobre Jesuíta Visionário está concebida nos seguintes termos: “O Réu confessou que o
demônio, sob a forma da Virgem Maria, lhe tinha ordenado a escrever a vida do Anti-Cristo;
que havia de existir, a bem dizer, três anti-Cristos sucessivos, e que o último nasceria em
Milão, da sacrílega união entre um frade e uma freira, etc. E por aí outras tantas coisas que
obrigaram a confessar.”

A Tenda Nossa Senhora da Piedade é reconhecida hoje como a primeira Tenda de Umbanda e
a data de 15 de novembro de 1908 é reconhecida como a data de fundação oficial da
Umbanda.

Ronaldo Linhares fez seu primeiro contato com Zélio de Morais em 1970. Antes disso, em
1969, o pesquisador norte-americano David St. Claire fez a mesma descoberta em sua estada
no Brasil.

Raízes do Ritual Umbandista

Quando Ronaldo Linhares efetuou os primeiros contatos com Zélio de Morais, indagou sobre
a origem do ritual umbandista e ele fez os seguintes esclarecimentos:

“O rito nasceu naturalmente, como consequência, principalmente, da presença do índio e


pela presença do elemento negro, não tanto pela presença física do negro, mas sim pela
presença do preto-velho incorporado, e, para ser mais preciso, no mesmo dia e pela primeira
vez houve a incorporação de Pai Antônio, naquela que haveria de ser a primeira Tenda de
Umbanda do Brasil — A Tenda Nossa Senhora da Piedade. Segundo relato de Zélio de Morais,
o Caboclo das Sete Encruzilhadas havia avisado que subiria para dar passagem a outra
entidade que desejava se manifestar. Assim se manifestou, no corpo de Zélio de Morais, o
espírito do velho ex-escravo, que parecia demonstrar sentir-se pouco à vontade frente a tanta
gente e que, se recusando a permanecer na mesa em que se dera a incorporação, procurava
passar despercebido, humilde, aparentando muita idade e o corpo curvado, o que dava ao
jovem Zélio um aspecto estranho, quase irreal. Essa entidade parecia tão pouco à vontade, que
logo despertou profundo sentimento de compaixão e de solidariedade entre os presentes.
Questionado então porque não se sentava à mesa, com os demais irmãos encarnados,
respondeu:

“Negro num senta não, meu sinhô. Negro fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco i
negro deve arrespeitá.”

Era a primeira manifestação desse espírito iluminado, mas a morte não retoca seu escolhido,
mudando-o para o bem ou para o mal. Não havia afastado desse injustiçado o medo que ele
tantas vezes havia sentido ante a prepotência do branco escravagista e, ante a insistência de
seus interlocutores, disse:

“Num carece preocupá não, negro fica nu toco, que é lugá di negro.”

Procurava, assim, demonstrar que se contentava em ocupar um lugar mais singelo, para não
melindrar nenhum dos presentes.

Indagado sobre seu nome, disse que era “Tonho” e que era “PAI ANTÔNIO”. Surgiu, assim,
esta forma de chamar os pretos-velhos de “PAI”.

Ao responder como havia sido sua morte, disse que havia ido à mata apanhar lenha, sentiu
alguma coisa estranha, sentou-se e nada mais se lembrava.

Sensibilizado com tanta humildade, alguém lhe perguntou respeitosamente: “Vovô, o senhor
tem saudade de alguma coisa que deixou ficar aqui na terra?”

Este respondeu: “Minha cachimba, negro qué pito que deixou no toco... manda mureque
buscá.”

Grande espanto tomou conta dos presentes. Era a primeira vez que algum espírito pedia
alguma coisa de material, e a surpresa foi logo substituída pelo desejo de atender ao pedido
do velhinho. Mas ninguém tinha um cachimbo para ceder-lhe.

Na reunião seguinte, muitos pensaram no pedido e uma porção de cachimbos, dos mais
diferentes tipos, apareceu nas mãos dos frequenta-dores da casa, incluindo-se alguns médiuns
que haviam sido afastados de centros espíritas kardecistas, justamente porque haviam
permitido a incorporação de índios, pobres ou pretos como aquele e que, solidários, buscavam
na nova casa, a Tenda Nossa Senhora da Piedade, a oportunidade que lhes fora negada em
seus centros de origem.

A alegria do velhinho em poder pitar novamente o seu cachimbo logo seria repetida quando
os outros médiuns já mencionados também passaram livremente a permitir a presença de
seus caboclos, de seus pretos-velhos e demais entidades consideradas não doutas pelos
kardecistas de então, pobres tolos preconceituosos que confundiam cultura com bondade.
Foi dessa maneira que foi introduzido na “mesa” espirita o primeiro rito. Outros lhe seguiram,
como, por exemplo, quando houve a informação de que os índios tinham o hábito de fumar e
que foram eles que primeiro descobriram as propriedades dessa planta que eles enrolavam
num enorme charuto, que era usado coletivamente por todos os participantes de seus cultos
religiosos, sendo desta forma uma espécie de planta sagrada.

Desde que haja moderação e cautela, negar o pito ao preto-velho seria hoje uma grande
maldade. Entretanto, deve-se sempre ter em mente que o seu uso deve ater-se somente ao
rito e evitar-se os abusos e as deturpações que testemunhamos constantemente, não raras
vezes, tocando as raias do absurdo e do escândalo, para o desprestígio desta religião que
nasceu sob o signo da paz e do amor. Atualmente, sabe-se que o uso do fumo pelas entidades
incorporadas tem o efeito purificador quando elas atendem alguma pessoa com problemas
espirituais. A fumaça age como um desagregador de maus fluidos, atingindo o perispírito dos
espíritos obsessores. Por extensão destes hábitos incorporados ao terreiro, passou-se a
oferecer doces às crianças incorporadas e, às vezes, a promover festas infantis. Contudo, o que
é usual nestes casos, e naturalmente influindo desta ou daquela forma nas demais maneiras
de incorporação, sempre com o objetivo de tratar os incorporantes (espíritos) como velhos e
queridos amigos a quem recebemos com grande satisfação.

Com a “liberdade” trazida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, as pessoas afugentadas da
elitizada mesa kardecista de então passaram a frequentar a nova religião. Uma boa parcela
dessas pessoas era de raça negra (no Rio de Janeiro). Isso fez com que a Umbanda passasse a
contar com uma boa parte de médiuns de raça negra, que se sentiam muito à vontade pela
ausência de preconceitos.

Estes médiuns começaram a enriquecer o ritual umbandista com práticas de Candomblé,


conhecidas por eles, sincretismo dos Orixás com os Santos Católicos, etc.

Foram introduzidos, assim, comidas de santo, atabaques, agogôs e outros instrumentos


musicais, etc. Este fato ocorreu com as Tendas nascidas da Tenda Nossa Senhora da Piedade,
pois nesta nunca foram utilizados atabaques ou palmas. Outro fator determinante da raça
negra no Candomblé são as oferendas (obrigações aos Orixás). Os africanos tinham o hábito de
fazer oferendas aos seus Orixás, como o vinho de palma, por exemplo. Na situação de
escravos, não tinham permissão para cultuar os Orixás africanos e tampouco fazer tais
oferendas. Alguns escravos, que demonstraram dotes mediúnicos, eram escolhidos pela
comunidade para serem iniciados nos mistérios de sua religião. Esses escravos eram retirados,
à noite, das senzalas para serem iniciados no interior da mata, na natureza. O escravo iniciado
deveria fazer uma oferenda ao seu Orixá. Na ausência do vinho de palma, o escravo era
obrigado a “tirar” algo de valor do senhor branco (geralmente bebidas vindas de Portugal,
como o vinho, a aguardente, etc.) para oferecer ao Orixá. Desta forma evitava-se a delação,
todos os envolvidos eram cúmplices na prática do culto “oculto” e no furto da oferenda.
Ninguém poderia acusar ninguém, pois, se o fizessem, todos seriam punidos. Justifica-se assim,
as obrigações dadas pelos médiuns aos seus Orixás, obrigações dadas na natureza (matas,
cachoeiras, pedreiras, mar, rio, etc.) geralmente à noite, em função da tradição do elemento
negro.
Capítulo Dois

Os Orixás Representam a Natureza. O Ser Humano faz Parte da Magia entre os Ffenômenos

As Entidades que Nortearam e Norteiam nossos Decanos

Além dos arquétipos de cada orixá, pessoas nascidas no mesmo dia da semana apresentam
certas características semelhantes, conforme a grande experiência dos Decanos no decorrer de
suas vidas.

São filhos de Iansã, Obaluaiê ou Iemanjá os nascidos às segundas-feiras.

Apresentam fortes tendências místicas, dom de cura pronunciado. Consideram-se “bem-


resolvidos”, “donos do próprio nariz”. São responsáveis e sabem responder por seus atos;
apesar disso, são humildes, pacientes, estudiosos e prestativos, embora teimosos. Acreditam
no potencial das pessoas.

São filhos de Ogum, Oxumaré, Ossâin ou (raramente) Nanã pessoas nascidas às terças-feiras.

São práticos, rápidos e objetivos. Não têm tempo a perder, são líderes natos, com grande
capacidade de iniciativa. Possuem um certo ar de mistério, boa memória e forte individualismo
que os tornam egocêntricos.

São filhos de Xangô, Iansã, Obá ou Ewa pessoas nascidas às quartas-feiras.

Embora extremamente justos e corretos, jamais esquecem uma ofensa. Falam somente o
necessário, não perdendo tempo com futilidades. São ambiciosos, visionários e gostam de
deixar todas as situações muito bem esclarecidas.

São filhos de Oxóssi, Ossain ou Logun os nascidos às quintas-feiras. São criativos, sonhadores
e românticos. Versáteis, mostram-se também um pouco indecisos: mudam de opinião várias
vezes sobre o mesmo assunto. Extremamente joviais e simples, são ainda comunicativos,
expressando seu intelecto pelo dom da oratória.

São filhos de Oxalá os nascidos às sextas-feiras. Inteligentes, tranquilos e serenos.


Disciplinados, pensam muito antes de agir. São modestos e têm um ar de bondade,
manifestando carinho com as pessoas e os animais. Falam só o necessário.

São filhos de Oxum ou Iemanjá os nascidos aos sábados. São maternais, intuitivos e
carinhosos. Sabem como agradar às pessoas. Ficam presos a lembranças do passado. Estão
sempre prontos a dar uma palavra amiga. São bons comerciantes e amadurecem
precocemente.

São filhos de Oxalá, Oxum ou Logum e podem ter características de Ibêji os nascidos aos
domingos. Generosos e alegres, estão sempre conversando com um jeitinho maroto. Adoram
doces e chocolates. Parecem irresponsáveis, mas é só aparência. São afetuosos e nascem com
muita sorte; compete a eles saber utilizá-la.

Ogum— (Gun: “Guerra”)

Dia da semana: terça-feira


Cor: azul-escuro (cor do metal quando aquecido na forja)

Saudação: Ogunhê (“Olá Ogum”)

Número: 4

Elemento: metais (ferro)

Domínio: todas as ligações que se estabelecem em diferentes lugares; a estrada de ferro

Vela: azul-escuro (atrai tudo o que é limpo, verdadeiro, próspero)

Instrumento: espada de ferro

Divindade masculina iorubana, filho mais velho de Odudua, o fundador da cidade de Ifé,
considerada a capital religiosa dos iorubanos. Ogum é o orixá da guerra, deus do ferro,
divindade que usa a espada e forja o ferro, transformando-o em instrumento de luta. É o
patrono da força produtiva que trabalha a natureza; é, portanto, o protetor dos militares e dos
combatentes em geral.

Irmão mais velho de Exu, ele teria muita coisa comum com este; além de um caráter instável
e arrebatador, Ogum também tem ascendência sobre os caminhos.

Os lugares consagrados a Ogum ficam ao ar livre, na entrada das casas e terreiros.


Geralmente são pedras em forma de bigorna nas árvores. Ogum é representado também por
franjas de palmeira ou dendezeiro desfiadas, chamadas mariwo, que, penduradas nas portas
ou janelas, representam proteção, cortando as más influências e protegendo contra pessoas
indesejáveis.

O culto a Ogum é bastante difundido tanto no Brasil como na Nigéria. Sem sua permissão e
proteção, nenhuma atividade útil, tanto no espaço urbano como no campo, poderia ser
aproveitada. Deve ser invocado logo após Exu ser despachado, abrindo caminho para os outros
orixás. Como na África, ele é representado por sete instrumentos de ferro pendurados em um
haste de metal.

Arquétipos

O filho de Ogum é prático, seguirá mais a cabeça que o coração; raramente muda de opinião
pelos sentimentos. Avesso à crítica, pode ser egoísta no que se refere a dividir um lugar de
destaque. Tem uma constituição forte e raramente adoece. Adora praticar esportes incomuns:
caça submarina, alpinismo, corrida de carros são seus preferidos. Estabelece seus ideais muito
cedo. Orgulhoso, muito franco, intransigente, sente desprezo pela fraqueza dos outros. É
imponente, algo pedante, mas também cuidadoso, metódico e consciencioso. Constrói as
coisas para que sejam permanentes, principalmente no que se refere a assuntos amorosos.
Casa-se tarde, somente quando tem certeza da idoneidade do cônjuge. A palavra “traição” não
existe em seu dicionário; ama a estrutura familiar, adora crianças. Seu sucesso é construído
por seus próprios méritos; não espera receber gratuitamente qualquer coisa da vida. Guarda
bem seus segredos em se tratando de confidências, mas é especialista em jogar o verde para
colher maduro. No que se refere aos assuntos do coração, é um romântico. Tende a ser
possessivo e exageradamente briguento quando enciumado. Não se deve esperar ouvir um
“eu te amo” de um filho de Ogum. Autoconfiante, vivaz, enérgico, ele gosta de vestir-se bem,
adora perfumes estrangeiros e diferentes, chegando a ser extravagante. Reage com rapidez
aos impulsos, é um inconformista. Gosta de estar onde há movimento. Exige muito, mas cede
pouco, principalmente no que diz respeito à sua liberdade.

Adora receber elogios; egocêntrico por natureza, gosta que seu lar gire em torno de si. Tenta
mudar o ponto de vista de todo mundo. Arquiteta, dinamiza e soluciona objetos complicados.
Nunca estará sem um grupo de admiradores à sua volta. Tem uma multidão de amigos, que, a
cada dia, aumenta mais, embora tenha aprendido a não confiar em nenhum deles. Demonstra
certa dificuldade em trabalhar com o sexo oposto, principalmente se estiver no papel de
patrão: viverá sedento por uma palavra de elogio e se sentirá prejudicado depois. Os trabalhos
manuais com a terra aliviam suas tensões. Compete com ele mesmo; nunca ninguém por perto
pode fazer algo melhor ou tão depressa. Ele é uma locomotiva! O lar é seu porto de
amarração, bem localizado, limpo e equilibrado. Nunca se apegará aos trabalhos domésticos.
Adora refugiar-se em seu quarto.

Os instrumentos musicais eletrônicos agradam-no bastante. Seu espírito aventureiro se


reflete em sua aparência: exteriormente, ele é a síntese da autoconfiança e da agressividade,
mas o íntimo pode ocultar um conservador.

Tipo Físico

Estatura mediana/alta Magro

Ombros largos Têmporas largas Dentes grandes Corpo atlético Lábio superior grosso Pescoço
comprido Rosto expressivo Queixo pontudo Cabelos crespos e cheios

Saúde

Os filhos de Ogum têm constituição robusta e são bem resistentes às doenças. Os nigerianos
costumam dizer que eles possuem azeite-de-dendê nas juntas e, por isso, nunca ficam velhos.
Quando doentes, recuperam-se rapidamente graças à automedicação. As doenças que mais
trazem problemas para os filhos de Ogum são as relacionadas ao sistema nervoso, o que torna
sensível seu aparelho digestivo. A manipulação de objetos cortantes merece cuidados. As
pernas são sensíveis, mas seus pontos realmente fracos são a cabeça e o estômago. É comum
apresentarem sinais de pontos cirúrgicos em razão de acidentes ocorridos na infância ou
adolescência. Os de personalidade depressiva buscam alívio trabalhando no campo, com
agricultura ou animais. O contato com a terra ou mar alivia suas tensões. As articulações,
especialmente o pulso, merecem atenção. Não suportam produtos químicos, que podem
causar alergias; devem optar por produtos naturais ou neutros. Na adolescência, é comum se
queixarem de dores nos ombros.

Trabalho

Os filhos de Ogum são amantes dos desafios e desenvolvem melhor seu potencial quando
trabalham em atividades nas quais precisam utilizar sua força física. São exigentes; é difícil
satisfazê-los, pois seu trabalho requer alta remuneração e não deve ser monótono um dia
sequer.

Os colegas de profissão acham difícil conviver com um filho de Ogum, que é sempre metódico
e um líder nato. O raciocínio rápido faz valer a sua verdade sobre a de todos os outros, o que
pode tornar penoso o relacionamento diário no campo profissional. É um excelente
estrategista em virtude de sua personalidade extremamente lógica e resoluta. As profissões
mais indicadas aos filhos de Ogum são relativas a: Administração comercial e rural Comércio
exterior Computação e informática Mecânica Alimentos Jardinagem Educação física
Arquitetura

Engenharia aeronáutica

Oceanografia

Mineração

Indústria petroquímica ou de plásticos

Aeronáutica, Exército ou Marinha

Odontologia ou prótese dentária

Direção de cinema e TV

Comissário de bordo

Tênis

Futebol

Análise de sistemas

Processamento de dados

Agronomia e agricultura

Fazendas

Biologia

Eletrônica

Paisagismo

Engenharia de produção Barbearia

Engenharia metalúrgica

Polícia civil ou militar

Oftalmologia

Artesanato

Pilotagem de avião

Ciclismo

Remo

Oxalá (Oxá, “Luz”, Alá, “Branca”)


Dia da semana: sexta-feira

Cor: branco

Saudação: Epa, babá! (“Salve, pai”)

Número: 10

Elemento: ar

Domínio: ar (céu), a criação

Vela: branca (pureza e paz)

Instrumento: paxoró (espécie de cajado)

Oxalá, o mais importante e elevado dos deuses iorubanos, foi o primeiro a ser criado por
Olodumaré, o deus supremo. Representa o céu, o princípio de tudo, e foi encarregado por
Olodumaré de criar o mundo. De sua união com Iemanjá resultou o nascimento dos orixás e a
linha do horizonte, dividindo o céu e o mar. É considerado o pai de todos os orixás da cultura
iorubana.

Em algumas lendas, Oxalá apresenta-se como um orixá feminino, ou mesmo andrógino em


outras.

Uma característica marcante de Oxalá é a aura de respeito que existe em torno do seu nome,
pois, após a criação, foi para seu reino com a esposa.

Oxalá se apresenta sob diversas formas; as mais conhecidas seriam a representação de um


moço — Oxaguiã — e um velho — Oxalufã, que carrega o paxorô (cajado) como forma de
apoio.

Seus adeptos usam colares brancos e roupas claras às sextas-feiras, em sinal de respeito.

Existe uma versão da lavagem com as águas de Oxalá, que acontece todos os anos, na Bahia,
representando a limpeza e a devoção em relação ao orixá.

O respeito a Oxalá é demonstrado principalmente nos terreiros. Independentemente do orixá


de cabeça de cada elegum, quando chega o momento da sua dança, em sinal de respeito, o
orixá Xangô vem cumprimentá-lo e até mesmo carregá-lo, já que Oxalá anda arqueado e sem
força.

Arquétipos

Sob uma aparência modesta, porém correta, o filho de Oxalá abriga uma mente lógica e
resoluta. Sua inteligência e habilidade estão encobertas por uma fachada reservada e pouco
expansiva. É basicamente introvertido. Tranquilo, calmo em excesso, lento nos movimentos,
adora ser inventor, desde criança; qualquer brinquedo é motivo para ser desmontado e
remontado. Este é seu desafio: entender como as coisas funcionam nos mínimos detalhes. Sua
tranquilidade, dignidade e forte moralidade o impedirão de recorrer a meios desonestos para
atingir seus objetivos. Sua autoconfiança é tão grande que você poderá ter de implorar para
que ele aceite um benefício seu. Detesta pedir ajuda aos outros. Desde criança, gosta de se
isolar. Tem certa dificuldade em ficar em lugares com muitas pessoas; isso o deixa
extremamente irritado. O sol não o agrada, em virtude da sensibilidade de sua pele,
geralmente muito fina e branca. Tem maneiras impecáveis. Raramente usa palavras ásperas e
jamais recorre a vulgarismos ou a uma palavra obscena para se fazer entender.

É muito fácil encontrá-lo: sua forma física leva-o a diferir dos outros pela altura; geralmente
também é magro. Parece um pouco desligado da alimentação. Abastece-se apenas do
suficiente.

Observador, vigilante e compreensivo, tem por objetivo defender causas sociais dignas; sua
moral é da mais elevada ordem. Anota mentalmente todos os seus erros e progressos; esta
característica o torna muito popular e estimado. Faz poucos inimigos e raramente se mete em
confusões.

Entrega-se totalmente ao amor. Atencioso, não sabe disfarçar suas emoções. Não corta
nunca as relações com a mãe; está sempre voltado para casa. Jamais esquece festas,
aniversários e ocasiões especiais. Geralmente não comparece, mas sempre manda um
presente. Seu maior defeito é não saber dizer “não”. Busca a harmonia universal. Dotado de
incrível paciência, trabalha firmemente uma coisa de cada vez. Organizado, detesta discussões.
É asseado física e mentalmente, toma banhos demoradíssimos; pode trocar de roupas várias
vezes ao dia. O relacionamento sentimental é de muito equilíbrio, não demonstrando paixões
fugazes. Gosta de sexo e sabe fazer disso uma arte. Credibilidade e sinceridade são seus
predicados mais valiosos. Os filhos de Oxalá acreditam muito em milagres, que acabam mesmo
acontecendo.

Apesar de muito pacientes, os filhos de Oxalá, quando perdem a calma, não aceitam nenhum
tipo de argumento. Os animais sempre estarão por perto de seus filhos. Eles adoram uma boa
música e tem muito bom gosto.

Tipo Físico

Estatura média/alta Queixo comprido Grandes pálpebras Corpo bem-feito Testa grande e
redonda Sobrancelhas marcadas

Saúde

Na Nigéria, os albinos são considerados filhos de Oxalá; no Brasil, a sensibilidade ao sol e à


claridade fazem com que seus filhos evitem o contato direto com ele. Sua parte mais sensível
do corpo é a cabeça, reforçando uma tendência a distúrbios de visão, rinite e sinusite sempre
presentes. Os dois últimos sintomas podem levar ao uso incontrolável de remédios
descongestionantes. Os filhos de Oxalá, apesar de aparentarem tranquilidade, por dentro são
explosivos e seu sistema nervoso é muito sensível, por isso buscam no isolamento o seu meio
de repouso. Não são adeptos de esportes e necessitam dormir muito para que suas energias
sejam carregadas. Apresentam uma tendência a leves anemias; no homem, é comum a
inflamação da próstata. Cuidados especiais para coluna vertebral. Predispostos a resfriados e
gripes, devem evitar temperaturas baixas. Em filhos de Oxalá, é muito comum surgirem
gastrites e úlceras.

Trabalho

Com uma forma totalmente especial e com paciência e clareza de um verdadeiro mestre, os
filhos de Oxalá estão sempre exercitando a mente. Discretos e de pouca fala, destacam-se em
atividades em que as palavras são usadas o mínimo possível. Falta-lhes um pouco de astúcia;
somente o tempo e a prática cobrirão essa lacuna. Sua ascensão profissional será acelerada
após os 37 anos.

Bons companheiros de trabalho, estão sempre dispostos a ajudar os outros. Sua ambição não
consiste em vencer na vida, mas em vivê-la apenas. Bom gosto e muita precisão são
características do seu trabalho. As profissões mais indicadas aos filhos de Oxalá são relativas a:
Artes gráficas Computação gráfica Desenho industrial Química

Desenho de projetos Desenho de quadrinhos Editoração (jornais e revistas)

Astronomia

Pediatria

Cátedra (professor — universitário)

Educação sexual

Bioquímica

Física

Matemática

Vídeo

Ciências

Redação (escritores)

Livrarias (livreiros)

Religião (sacerdote)

Pedagogia

Teologia

Diplomacia

Oxóssi (Oxó: “Caçador”; Ossi: “Noturno”)

Dia da semana: quinta-feira

Cor: azul-turquesa (cor do céu no início do dia)

Saudação: O Kiarô (okaaro: “bom dia”, em iorubá)

Número: 6 Elemento: ar Domínio: matas e caça

Vela: azul-clara (afasta a tristeza e atrai o dinheiro)

Instrumento: ofá (arco e flecha)

Oxóssi é filho de Oxalá e Iemanjá, irmão de Ogum e Exu. Na África, é o orixá responsável pela
caça. Tradicionalmente, é associado à Lua, por ser a noite o seu melhor momento para caçar.
Irmão de Exu e Ogum, é um guerreiro solitário; não lidera ou comanda exércitos como Ogum,
mas luta pela sobrevivência da tribo, pois dele depende seu sustento. Seu símbolo é o arco e a
flecha, geralmente de ferro, e o erukerê (rabo de cavalo, usado só pelos reis). Como orixá, sua
responsabilidade em relação ao mundo é garantir a vida dos animais, que somente são
sacrificados por absoluta necessidade de alimentação. O culto a esse orixá é bastante
difundido no Brasil, mas pouco lembrado na Nigéria, o que se deve ao fato de Oxóssi ter sido
cultuado basicamente na cidade de Keto (terra dos panos vermelhos), onde foi consagrado
como rei. No século XIX, graças ao tráfico negreiro, a cidade foi praticamente destruída pelos
saques das tropas do rei Daomé. Os filhos consagrados a Oxóssi foram vendidos como
escravos no Brasil, Antilhas e Cuba. É o orixá que cultua o próprio individualismo, tendo
determinação para qualquer combate.

Arquétipos

O arquétipo dos filhos de Oxóssi é associado às pessoas joviais, rápidas, espertas, tanto
mental quanto fisicamente. São carismáticos, emotivos, intuitivos, carinhosos, românticos,
nervosos e inseguros. A lógica não os atrai muito. Imaturos, acreditam em todos e em tudo.

Não seja avarento ao proporcionar conforto a um filho de Oxóssi: ele faria duas vezes mais
por você, caso a situação se invertesse. Muito místico, acredita que existe algo além do
materialismo. Adora ouvir palavras de sabedoria, agarrando com unhas e dentes, em princípio,
qualquer conselho ou palavra bondosa, embora isso não queira dizer que irá aceitá-la.

Suas maiores fraquezas são a precipitação e a indecisão; se ficar no caminho do meio, poderá
ter enorme sucesso. Faz várias coisas ao mesmo tempo e nunca termina nada. É o próprio
caçador de si. Adora o público. Ator notável, criativo e requisitado, é o centro das atenções.
Imponente, pode seguir qualquer carreira que o coloque diante do público. Vive apaixonado.
Veste roupas práticas; jeans e camisetas são seus favoritos, e não gosta de usar sapatos. Os
cabelos geralmente são curtos. Alimenta-se principalmente de sanduíches; não tem paciência
de esperar o almoço ficar pronto. É magnífico para expressar-se, seja falando ou escrevendo;
às vezes, aumenta um pouco as coisas. É versátil e conhece todos os assuntos, mas
dificilmente completará uma faculdade. Amável com os amigos, é sincero em seu desejo de
ajudar os outros. É um pouco preguiçoso, adora dormir e mostra-se suscetível aos elogios ou
às ilusões de grandeza. Detesta que entrem em sua privacidade, não é de muita intimidade.
Livra-se de responsabilidade com diplomacia. Tem facilidade em ganhar dinheiro, mas gasta
tudo na primeira loja que encontra. Não tem muita segurança nos relacionamentos, mas não
se importa muito com isso. Pode perder tudo com facilidade ao mergulhar numa paixão. É um
homem do mundo, um andarilho. Adora dar presentes. Se tiver um objeto de adorno e este for
apreciado por alguém (pode ser até uma joia valiosa), ele se desfaz do ornamento para
agradar à pessoa. São minuciosos, verdadeiros e francos.

Tipo Físico

Estatura mediana/alta

Tórax largo e bem desenvolvido

Voz aveludada

As mulheres têm pernas bem-feitas e gostam de andar depressa

Pele delicada

Fascínio muito forte e expressão magnífica


Saúde

A sensibilidade dos filhos de Oxóssi reside no aparelho digestivo, provocada pela ingestão de
alimentos que não são mastigados corretamente, castigando o estômago frágil. Comumente,
estão sujeitos a cáries dentárias e gengivites, tanto pela ingestão demasiada de alimentos
doces como pela má assepsia bucal; problemas no maxilar inferior merecerão cuidados na
infância.

Também são extremamente sensíveis nos pés, razão pela qual não é aconselhável nenhum
tipo de operação corretiva, embora joanetes sejam frequentes em seus filhos; as mulheres
devem optar por usarem sapatos baixos, para não prejudicar a coluna vertebral.

Imprudências e excessos de todo tipo tornam os filhos de Oxóssi propensos a uma vida curta.
Quando crianças, apresentam problemas de inflamações e infecções na garganta,
principalmente nas amígdalas. Também lhes custa falar, em alguns casos, isso ocorre somente
após os 4 anos. Na idade adulta, podem sofrer de rouquidão, já que suas cordas vocais
constituem outro ponto bastante vulnerável. Devem ser zelosos quanto a alimentos
estragados, que costumam ingerir sem levar em conta a qualidade ou o prazo de validade dos
mesmos.

Trabalho

Para os filhos de Oxóssi o dinheiro entra com certa facilidade, mas escorrega pelas mãos mais
facilmente ainda. Por isso, não são indicados como administradores. Distraídos e
desorganizados, parecem não ter paciência com nada. Além disso, tendem a fantasiar o que
não conseguem tornar realidade. Precisam ser encorajados pelos familiares constantemente,
pois têm dificuldade de enfrentar o mundo real, principalmente diante de quaisquer
obstáculos. Assim, as melhores profissões para os filhos de Oxóssi relacionam-se a:

Antropologia Jornalismo Teatro (ator/atriz)

Veterinária Desenho Modelagem Criação artística Literatura e poesia Natação Mergulho


Educação artística Rádio e TV Modelo ou manequim Agropecuária Marketing Turismo (guia)

Área de vendas Balé

Obaluaiê (ccRei” — e Senhor da Terra”)

Dia da semana: segunda-feira

Cores: branco (paz e cura), preto (absorção de conhecimento) e/ ou vermelho (atividade)

Saudação: Atotô! (Oto, “Silêncio!”)

Número: 13 Elemento: terra Domínio: saúde (doenças)

Vela: branca (paz, limpeza) e preta (conhecimento) Instrumentos: xaxará (espécie de bastão
mágico)

Deus originário do Daomé, Obaluaiê ou Omulu, sua forma mais velha, são nomes que
substituem o Xampanã, deus da varíola, das doenças contagiosas e da peste, aquele que pune
os malfeitores, enviando-lhes todos os tipos de doenças. Sua origem, assim como a de sua
mãe, Nanã, está na cultura daometana, assimilada pela cultura iorubá num lento processo de
aculturação.

Alguns pesquisadores supõem que o culto aos deuses daometanos é anterior à idade do
ferro, pois em certas partes da África e aqui no Brasil não são realizados sacrifícios com o
emprego de instrumentos de ferro. As pessoas consagradas a este deus usam um colar
chamado la-guidibá, feito de pequenos anéis de chifre de búfalo. Nanã era considerada a
deusa mais guerreira do Daomé. Um dia, ela foi conquistar o reino de Oxalá e se apaixonou por
ele. Mas este não queria se envolver com outra orixá que não fosse sua amada esposa
Iemanjá. Por isso explicou tudo a Nanã, mas ela não se fez de rogada. Sabendo que Oxalá
adorava vinho de palma, embriagou-o e ele ficou tão bêbado que se deixou seduzir por Nanã,
que acabou ficando grávida. Mas, por ter transgredido uma lei da natureza, deu à luz um
menino horrível; não suportando vê-lo, lançou-o no rio. A criatura foi mordida por
caranguejos, ficando toda deformada; por sua terrível aparência, passou a viver longe dos
outros orixás. De tempos em tempos, os orixás se reuniam para uma festa. Todos dançavam,
menos Obaluaiê, que ficava espreitando da porta, com vergonha de sua feiúra. Ogum
percebeu o que acontecia e, com pena, resolveu ajudá-lo, trançando uma roupa de mariwo —
uma espécie de fibra de palmeira — que lhe cobriu todo o corpo. Com esse traje, ele voltou à
festa e despertou a curiosidade de todos, que queriam saber quem era o orixá misterioso.
Iansã, a mais curiosa de todos, aproximou-se; nesse momento, formou-se um turbilhão e o
vento levantou a palha, revelando um rapaz muito bonito. Desde então os orixás vivem juntos,
e é por isso que a segunda-feira é consagrada a eles, que têm o poder de reinar sobre os
mortos.

Arquétipos

Seus filhos têm uma memória excelente e demonstram curiosidade em relação a todos os
assuntos, principalmente os místicos. Peritos em autopreservação; reservados, guardam para
si qualquer tipo de ambição ou ideal. Discretos, são dignos de confiança. Conseguem tudo pela
fé, mantida por orações. Estudiosos, dedicados, tendem a seguir profissões nas quais se
prestem a ajudar os outros. Não se adaptam a mudanças e costumam ser muito caseiros.
Raramente cometem erros em assuntos importantes. São reservados em questões financeiras.
Dinheiro nunca faltará para eles; sempre têm uma reserva, caso seja necessária para alguma
coisa imediata. São excelentes juízes do caráter humano e muito prestativos a qualquer hora,
dia ou noite. Peça e eles o atenderão com amor. São sempre humildes no que se refere a
ajudar os outros. Uma vez conquistada a sua lealdade, eles terão absoluta fé e darão seu apoio
sincero. São excelentes nos trabalhos manuais e no trato com animais. Podem suportar seu
trabalho sem desmoronar. Os filhos de Nanã/Obaluaiê não gostam de desagradar àqueles a
quem amam; são supersensíveis e dados à autopiedade. Por serem um pouco conservadores e
tradicionalistas, terão preferência por namoros longos. Precisam de tempos para desenvolver
sentimentos ligados à intimidade e, para revelá-los, mostram-se desajeitados na arte do
namoro. De vez em quando podem encontrar um filho exageradamente crítico e rabugento,
um descobridor de erros alheios. Guardam ressentimentos e injúrias por muito tempo. Têm
memória duradoura e exata. Quando aborrecidos, reagem num trabalho fatigante, aliviando
seu sofrimento. Os sentimentos dos filhos de Nanã ou Obaluaiê são genuínos. Sempre têm
uma contribuição valiosa a oferecer. Qualquer coisa feia deixa-os deprimidos; são sensíveis à
beleza e ao equilíbrio. Seu estado de ânimo é governado pelo ambiente que os cerca; precisam
de pessoas fortes e leais para apoiar-se. Insultar ou acusar alguém resulta inútil perto deles,
para quem é inconcebível falar tais coisas na ausência do acusado. São cuidadosos em exibir
bom comportamento; polidos e dignos. As palavras-chave em suas vidas são fé e confiança.
Geralmente aparentam mais idade e um certo ar de preocupação. Andam cabisbaixos, às vezes
resmungando. Qualquer presente que se dê a eles será visto pela última vez: em vez de ser
usado, será muito bem guardado numa caixinha.

Tipo Físico

Estatura mediana/baixa

Rosto anguloso

Boca grande; membros inferiores mais curtos em relação ao tronco

Musculatura pouco desenvolvida

Nariz largo

Sobrancelhas grossas e marcadas

Saúde

Os filhos desse orixá apresentam perfil e características muito semelhantes, como lentidão
nas reações motoras e mentais. Alguns são muito introvertidos, podendo demonstrar
problemas de relacionamento. Estão ainda sujeitos à retenção de líquidos e a apresentarem
estômago dilatado. Hipovitminoses (deficiência de vitaminas no organismo) causadas pela má
alimentação são comuns, acarretando doenças de pele. Também o fígado e o pâncreas
merecem cuidados e atenções redobrados. Sujeitos a esgotamento nervoso, caso não durmam
o suficiente; os filhos de Nanã ou Obaluaiê tiram habitualmente uma sesta após o almoço.
Outros problemas dizem respeito a disfunções circulatórias, reumatismos, dores ciáticas.
Correm riscos de luxações e dores nos ossos; os processos de descalcificação aparecem
frequentemente. São mais suscetíveis a problemas agudos — mais rápidos e simples que
crônicos; resistem bem às doenças e têm vida longa.

Trabalho

Seus filhos são econômicos e não gostam de trabalhar com especulação financeira. Dão-se
muito bem quando trabalham na administração de bens e propriedades de familiares.
Dispensam o luxo, não gostam de desperdícios e podem tornar-se avarentos. Por sua natureza
desconfiada, criam atritos infundados. Rendem mais quando trabalham isolados.

As profissões mais favoráveis aos filhos de Obaluaiê estão relacionadas a:

Ortopedia

Parapsicologia

Arqueologia

Agência funerária

Farmácia

Pugilismo

Dermatologia
Psiquiatria

Psicanálise

Esoterismo

Biomedicina

Xangô

(Aquele que se Destaca pela Força e Revela seus Segredos)

Dia da semana: quarta-feira

Cores: vermelho (ativo), branco (paz), marrom (ativa o chacra sexual e a terra, para “manter
os pés no chão”)

Saudação: Kaô Kabiesilê (“Venham ver nascer sobre o chão”)

Número: 8

Elemento: terra (pedras)

Domínio: rochas que o raio quebra

Vela: vermelha (traz dinamismo e força)

Instrumento: oxé (machado de pedra de lâmina dupla)

Autoritário e poderoso, é o orixá cujo domínio está nas rochas, principalmente as que foram
destruídas por um raio. Xangô reinava soberano sobre a cidade de Oyó, transferindo-se para
Kossô, onde não foi aceito por seu caráter violento e autoritário. Decidiu retornar para Oyó,
onde reinava Dadá, seu irmão mais velho, que foi destronado e permaneceu exilado em
Igbono durante sete anos. O símbolo de Xangô é o oxé, um machado de duas lâminas que seus
filhos, quando estão em transe, têm na mão. O orixá é viril, atrevido, violento e extremamente
justiceiro. Tem Iemanjá como mãe e três divindades como esposas: Iansã, Oxum e Obá.

Iansã era esposa de Ogum e foi seduzida por Xangô. Oxum vivia com Oxóssi e também foi
seduzida pelo orixá, que usava argolas de ouro nas orelhas, uma longa trança e uma roupa
repleta de búzios, os quais eram, na época, a moeda corrente. Obá, apesar de ser uma deusa
mais velha, também foi esposa de Xangô. As cerimônias para Xangô, na África, duram 5, 9 ou
17 dias. O elegum do orixá, em transe, vai ao mercado para ser admirado e também aos
lugares que, quando vivo, visitou e sobre os quais reinou. Só evita visitar o palácio onde,
segundo certas lendas, enforcou-se em uma árvore de obi — por isso sua aversão à morte e
aos eguns (mortos).

Sua importância no Brasil é tamanha, que chegou a originar cultos específicos em


Pernambuco e em outros Estados do Nordeste. Tem o poder de determinar o que é certo e
errado, além de uma disposição inabalavelmente imparcial, visando, acima de tudo, à verdade.

Xangô era rei de Oyó, terra de seu pai; já sua mãe era da cidade de Empê, no território de
Tapa. Por isso, ele não era considerado filho legítimo da cidade. A cada comentário maldoso,
Xangô cuspia fogo e soltava faíscas pelo nariz. Andava pelas ruas da cidade com seu oxé, que o
tomava cada vez mais forte e astuto. Onde havia um roubo, o rei era chamado e, com seu
olhar certeiro, encontrava o ladrão onde quer que estivesse. Para continuar reinando, Xangô
defendia com bravura sua cidade; chegou até a destronar o próprio irmão, Dadá, de uma
cidade vizinha, para ampliar seu reino. Com o prestígio conquistado, Xangô ergueu um palácio
com cem colunas de bronze no alto da cidade de Kossô, para viver com suas três esposas: Oyá
(Iansã), amiga e guerreira, Oxum, coquete e faceira, e Obá, amorosa e prestativa. Para
prosseguir com suas conquistas, Xangô pediu ao babalaô de Oyó uma fórmula para aumentar
seus poderes; este entregou-lhe uma caixinha de bronze, recomendando que só fosse aberta
em caso de extrema necessidade de defesa. Curioso, Xangô contou a Iansã o ocorrido e ambos,
não se contendo, abriram a caixa antes do tempo. Imediatamente começou a relampejar e
trovejar; raios destruíram o palácio e a cidade, matando toda a população. Não suportando
tanta tristeza, Xangô afundou terra adentro, tornando-se um orixá.

Arquétipos

Reservado, artístico e bom político, o filho de Xangô possui grande capacidade de julgamento.
Brilha nos campos da lei, da economia ou da administração. Sabe tratar dos negócios como
ninguém, sendo extremamente afortunado nas transações financeiras. Sua aguda sagacidade
comercial garante-lhe ascensão em qualquer carreira. Desperta toda espécie de emoções nas
pessoas, exceto indiferença. Tem o Dom de convencer; sempre acha que está certo. Pode ser
considerado avarento, mas, na verdade, é muito econômico. Seu maior obstáculo é a ambição
exagerada. Tenta agir demasiadamente cedo. Em consequência disso, precipita-se e dissipa
energias. Líder nato e disciplinado, tende a ser rígido demais com os outros e consigo mesmo.
Às vezes, torna-se intratável e inflexível. Jamais admite que está errado. Tem porte militar. Vai
a extremos para desacreditar seus inimigos. É famoso por sua habilidade na oratória e no
domínio de multidões. Tem certa aversão a hospitais e doentes. Muito explosivo, não aceita a
ideia da morte. Pode ser hipocondríaco. Inspira lealdade a todos os seus subordinados,
porque, para ele, nenhum trabalho desmerece a pessoa. Adora ser o centro das atenções.
Inquieto e arrojado por natureza, está sujeito a oscilar ou tomar decisões precipitadas ou
apressadas. Gosta de esquematizar tudo no papel. Acha difícil confiar nos outros. É
egocêntrico. Quando contrariado, pode se transformar no tirano mais despeitado e mesquinho
que já se viu. Apaixona-se facilmente e perde o pique para essa relação com a mesma
facilidade. Sabe, como ninguém, pechinchar. Adora bons vinhos, de preferência os importados.
É conservador ao extremo, escolhendo cuidadosamente seus sapatos. Apresentam certa
tendência a engordar graças ao seu prazer em deliciar-se com qualquer tipo de comida ou
doces. Sua atividade sexual é intensa e ele ama os prazeres que a vida pode oferecer. Mostra
facilidade em relacionar-se com o sexo oposto. Tende a relacionamentos extraconjugais. Deixa
o lar bem cedo, começa a trabalhar e fazer carreira desde muito jovem. Ele precisa de uma
fase em sua vida na qual expandir-se é o lema. Consegue colocar em andamento todos os
projetos fantásticos que esboçou para si mesmo. Ou você fica encantado com ele e passa a
admirá-lo ou não suporta sua presença.

Tipo Físico

Estatura mediana Pescoço curto Mãos grandes Pele resistente Corpo robusto Ombros largos
Ossatura sólida Queixo volumoso

Saúde

As doenças que afligem os filhos de Xangô referem-se ao sistema cardiovascular. Podem


aparecer ainda problemas de hérnia, hipertensão, estresse, ansiedade e impotência.
Hipocondríacos ao extremo, abusam de remédios alopáticos. Quando caem doentes, detestam
ir a hospitais, pois acreditam que estariam sujeitos a infecções hospitalares. Gourmets
exigentes, costumam ingerir alimentos saturados, com altas taxas de colesterol. A pressão alta
é uma constante e pode ocasionar derrame cerebral. O número de infartados é grande; por
isso, é recomendável respeitar o período de férias para descanso. Também são suscetíveis a
doenças venéreas por não escolherem seus parceiros sexuais.

Trabalho

A melhor opção para os filhos de Xangô é o trabalho em grupo, principalmente relacionado a


atividades políticas, porque são líderes natos e ótimos oradores. Por seu espírito
independente, as atividades autônomas são as mais indicadas. Possuem um grave defeito:
gostam de impor sua opinião, sem discuti-la. Como principal qualidade, destaca-se o grande
poder de organização mental e prática. Os filhos de Xangô detestam a mediocridade e
nasceram para ser respeitados. As profissões mais indicadas relacionam-se a:

Administração de empresas Administração financeira ou pública Magistratura (juiz)

Promotoria e procuradoria Procuração para terceiros Magistério (professor)

Análise política

Empresário (executivo ou artístico) Médico cardiologista Barbearia ou padaria

Economia

Direito

Contabilidade Matemática Política Alfaiataria Fiscalização Casas noturnas Área de vendas


Hotelaria.
Capítulo Três

Félix Nascentes Pinto

 1/4/1900 – 20/9/2975

Félix Nascentes Pinto nasceu em 'º de Abril de 1900, em Macaé, no Estado do Rio de Janeiro.
Em 1911, mudou-se para o então Distrito Federal. Aos 25 anos, sentiu sua primeira
manifestação mediúnica, procurou então o sr. Benjamim Gonçalves Figueiredo, que possuía
uma Tenda de Umbanda na Rua São Paulo. Começou ali, na Tenda Espírita Mirim, seu
desenvolvimento como médium e umbandista. Assim amparado, e com muita vontade de
trabalhar e pesquisar, começou seu estágio. Em virtude da grande perseguição que naquela
época sofria a Umbanda no Distrito Federal, achou Benjamim que o noviço Félix deveria ir para
a Bahia. Foi então para Salvador, ficando com José da Silva Costa, da “Nação Angola”, e que
era também conhecido como José do Mocotó, em virtude de morar na rua do Mocotó, no
bairro de Praia Grande. Félix confessa: “Onde José da Silva Costa põe o pé, eu não coloco a
mão. Gostaria de ser um José do Mocotó. A ele rendo minhas homenagens e respeito.”

Durante quase um ano, Félix ficou ali, até sua “feitura de cabeça”. Após a revolução de 1930,
transferiu-se para São Paulo, aí encontrando também bastante dificuldade e acirradas
perseguições aos umbandistas, mas a sua fé era inabalável, e continuou seu trabalho graças à
proteção dos Guias. Félix queria saber mais sobre Umbanda e, voltando para o Rio de Janeiro,
cursou com aproveitamento a Escola de Formação de Chefe de Terreiro (CCT), na Tenda
Espírita Mirim, no período de 1937 a 1940 (conforme certificado exposto na sede do Primado
de Umbanda). Voltando para São Paulo, encontrou, no bairro de Vila Anastácio, um casal que
muito às escondidas praticava a Umbanda, e aí Félix juntou-se a eles, continuando a praticar o
culto. Passaram-se os anos, Félix percebeu que já estava na hora do Culto Umbandista impor-
se. Em 1950, fundou sua própria Tenda, a Tupã Oca do Caboclo Arranca Toco, só quando
recebeu “alforria” — o “axé do Santo”, a ordem para montá-la —, a qual até hoje funciona,
dentro dos princípios e ensinamentos deixados por Ele.

Em 1952, apesar das perseguições e outras perturbações, resolveu levar a Umbanda para a
rua, fazer uma grande festa pública. Com muito sacrifício, essa festa foi feita no Senac, na rua
Galvão Bueno, no bairro da Liberdade. Era em homenagem a Oxóssi.

Foram convidadas 11 Tendas do Rio de Janeiro e algumas de São Paulo. A delegação carioca
era comandada pela pessoa que guiou seus primeiros passos, Benjamim Gonçalves Figueiredo.
Quando, nesse mesmo ano, foi fundado no Distrito Federal o Primado de Umbanda, sob a
presidência de Benjamim Gonçalves Figueiredo, Félix foi convidado a criar, em São Paulo, uma
Delegacia do Primado do Rio. Assim, reuniu várias tendas em São Paulo, registrando-as no
Distrito Federal. O crescimento da Delegacia, entretanto, fez com que logo depois, em 1960,
ele fundasse o Primado de Umbanda do Estado de São Paulo. Já havia, então, 70 tendas
filiadas. Hoje já passaram cerca de 2 mil tendas pelo primado, que continua com a mesma
finalidade: congregar, defender e promover a Umbanda. Daí para a frente, Félix aprimorou-se
dentro da Umbanda, na preparação de médiuns, pois, segundo suas próprias palavras: “Trata-
se de algo muito complicado e profundo, mexer com a cabeça de quem tem ‘santo’ de modo
errado, causa grande dano”. Preparou em sua vida cerca de 400 médiuns “confirmados” e
muitos estão com suas tendas abertas, praticando a Umbanda e transmitindo os ensinamentos
aprendidos.
Entre as muitas alegrias que teve no transcorrer de sua vida, a que marcou profundamente
este homem foi relatada por ele a uma revista chamada Umbanda, da Editora Alves Ltda., em
1973: “Já tive várias alegrias, mas, modéstia à parte, o que mais me alegrou aconteceu em
uma festa de aniversário da Tenda Mirim: participavam dessa festa todas as filiais dessa tenda,
umas 50, todas feitas por Benjamim, e cada qual com sua sede própria. Eu, na qualidade de
dirigente de tenda aqui em São Paulo, chamando-o de pai como o chamo até hoje, tive a
primazia, coisa que me comove até hoje, quando o Caboclo Mirim, que é o guia chefe daquela
organização, passou para mim o comando da festividade. Essa foi uma das maiores emoções
que já tive na Umbanda, porque, francamente, eu não merecia receber tantas honrarias como
recebi diante do chefe. Outras alegrias e emoções vieram através de manifestações de
espíritos em forma de caboclos, pretos-velhos, exús, etc., que em um ato de magia têm
realizado coisas maravilhosas. Eu me sinto felicíssimo nesses 47 anos de Umbanda.”

Participou em sua vida de vários movimentos em prol da Umbanda:

• Em 1953, realizou a primeira festa em homenagem a Iemanjá na Praia Grande, com um


grande número de tendas e médiuns.

• No dia 8 de fevereiro de 1969, na Rua Maria Marcolina, n2 495, em São Paulo, “sede do
Primado de Umbanda” e sede provisória do Souesp, foram aprovados os estatutos em
assembleia geral do Souesp. Posteriormente, em 27 de junho do mesmo ano, a entidade foi
registrada no livro A-19, no cartório do Primeiro Ofício de Registro de Títulos e Documentos,
sob o nu 19.571, sendo este órgão fundado como I Congresso Umbandista do Estado de São
Paulo, posteriormente, Comissão Executiva Permanente do I Congresso Umbandista do Estado
de São Paulo. O Primado de Umbanda foi uma das entidades que organizaram este congresso,
no qual o Sr. Félix foi nomeado tesoureiro, tendo como presidente o coronel Nelson Braga.

• Em março de 1968, representou o Souesp no Almoço de confraternização da família


Umbandista do Vale do Paraíba.

• Deu nome ao bairro Vila Mirim do município da Praia Grande, em homenagem ao Caboclo
Mirim, entidade de seu Pai Benjamim.

• Foi um dos primeiros umbandistas a realizar festas em Ginásio, em que se reuniam um


número muito grande de umbandistas. Inclusive, a revista Acontecimentos de Umbanda, em
11/ 1965, o chamou de “o realizador”, em referência à festa em homenagem a Oxóssi
realizada no dia 19 de setembro de 1965, em comemoração ao 52º aniversário do Primado.

• Em 12/1976, com “seu”Félix jáfalecido, ganhouumaruacom seu nome. Foi o primeiro


Umbandista a receber esta homenagem. No dia 6 de novembro de 1976, o Diário Oficial do
Município publicou o Decreto 13.871, assinado pelo prefeito Olavo Egidio Setúbal, cujo artigo
1º diz:

“Fica denominada Félix Nascentes Pinto a avenida Quatro, no Jardim Helena, em São Miguel
Paulista (começa na rua Dr. José Artur da Nova, entre as Ruas Cinco e Oito)”.

No artigo 2º, diz: “deverá constar na placa: “UMBANDISTA — 1975”.

• Em 1970, dentro das dependências do Primado de Umbanda foi criado o Hino da Umbanda,
de autoria de J. M. Alves, o qual era frequentador da casa, e o Hino foi gravado pela curimba
da tenda do Sr. Félix, que gravou outro disco em 1973.
Enfim, participou de vários encontros de dirigentes, seminários, debates na televisão, fundou
órgãos de defesa da Umbanda, jamais escondeu sua condição de Líder Umbandista.

A Tupã Óca, do Caboclo Arranca Toco, é uma escola para médiuns, que trabalha, pesquisa,
procura esclarecer. Por meio de catecismos, livros, palestras, todos aprendem o que são Linhas
de Vibração Espiritual, as Lalanges, a expressão de cada Orixá, sincretismo, recebem
orientação sobre como se apresentar para uma incorporação perfeita, bem como cumprir os
deveres e as obrigações da nossa Umbanda.

Palavras usadas por Félix Nascentes Pinto, ouvidas de seu Pai Benjamim: “Umbanda é coisa
séria para gente séria”, e ainda, com suas palavras: “Umbanda prega amor e caridade sem ter
covardia. Se formos atacados, nós nos defendemos através dos Orixás, Caboclos, Pretos-
Velhos e assim por diante. Todos os Umbandistas moram no meu coração e merecem o meu
respeito; assim, faço com que eu também more em seus corações. Não considero ninguém
mau; alguns agem erradamente por ignorância ou falta de conhecimento, sem falar nos
aventureiros, que infelizmente estão infestando nosso meio. Eles se aproveitam do rótulo de
Umbanda para fazer uma série de patifarias. Os católicos se dizem irmãos em Cristo, e nós
somos irmãos em Oxalá, que tem como representação a imagem de Jesus Cristo. O verdadeiro
Umbandista deve tratar a todos e aceitar a todos sem nenhum preconceito de raça, cor ou
posição social.”

Félix viveu uma vida em prol da Umbanda; ao desencarne, completava 50 anos de estudos e
prática de Umbanda e Candomblé (embora só praticasse a Umbanda). Fez sua “grande
viagem” no dia 20 de setembro de 1975, deixando uma lacuna jamais preenchida dentro dos
corações de quem com ele conviveu. Seus ensinamentos estão vivos nas mentes em que foram
semeadas.

Numa lição de amor, humildade, caridade e abnegação (pois nem na doença ele se afastou de
seus “filhos”), ensinou a todos os umbandistas de verdade o quanto é difícil permanecer fiel ao
sentimento nobre e puro de servir aos irmãos necessitados sem se envaidecer ou endeusar. Na
verdade, muitos são os que pretendem subir a íngreme montanha da Umbanda pura, porém
são raros os que não desanimam no meio da escalada, ou não optam por caminhos mais
fáceis. “Muitos São Chamados, Porém Poucos Os Escolhidos.”

“Todo aquele que se propuser a continuar a espinhosa tarefa de orientador ou médium, e


não se acercar de humildade e uma forte dose de autocrítica, jamais conseguirá atingir o lugar
de — ‘ILUMINADO’.”

Félix Nascentes Pinto

Texto pesquisado por Mareio Licastro Citro.


Capítulo Quatro

Receitas e Mirongas

Antes de serem Sacerdotes, nossos Decanos carregam consigo a tradição das Bênçãos e
Benzeduras — cada um tem sua magia, portanto juntamos algumas das mais usadas.

XAMPU PARA MATAR PIOLHO Ingredientes:

1/2 barra de sabão de coco 500 ml de água

2 colheres de sopa de folhas picadas de artemísia, losna ou arruda 2 colheres de sopa de


folhas picadas de boldo ou melão-de-são caetano

Modo de preparar:

Derreter, em banho-maria, 100 gramas de sabão de coco em 500 ml de água; preparar um


chá com as ervas em meio litro de água; quando o chá esfriar, juntar o sabão derretido.

PARA EVITAR DERRAME OU SEQUELAS Chá:

1 colher de sopa de erva-doce 1 colher de sopa de camomila 1 colher de café de seme 1


pitada de noz-moscada ralada 1 pitada de pixurim ralado Tomar em jejum

PARA EVITAR DERRAME OU SEQUELAS Chá de erva-doce, com uma colher de café de
aguardente Alemã. Tomar em jejum.

GRIPE

Estando a criança com febre e defluxo, cozinhar 3 folhas de guiné, adoçar a gosto, dar 3x de
copo, que a febre abaixará, não necessitando de remédios de farmácia.

ÚLCERA

Ingredientes'.

1 punhado de folhas de cambará (também conhecido por assa-peixe)

1 punhado de folhas de confrei 3 pedaços de quina-quina

Modo de preparar:

Cozinhar os três ingredientes, até formar um caldo grosso. Coar e levar ao fogo. Engrossando
a massa, dilua aos poucos com pó de alvaide (pintura). Quando estiver pastoso, adicione
vaselina e beladona. Numa pedra em pia, com auxílio de uma espátula, bater a massa até ficar
um tipo de pomada. Ao aplicar, deve-se lavar a ferida com água e sabão, enxugando com gaze.
Aplicar a pomada em duas tiras de gaze e colocar em cima do ferimento, prendendo com
esparadrapos nas pontas. Deixar pelo tempo de 24 horas, depois lavar com água e sabão,
limpar com água oxigenada e após, aplicar a pomada, conforme já foi descrito. Acredita-se que
a ferida esteja curada antes de 14 dias.
GRIPE —TOSSE

Ingredientes:

1 folha da folha da costa '/2 litro de mel

Modo de preparar:

Bater no liquidificador. Tomar 1 colher de sopa, de 3 em 3 horas. COLÍRIO PARA CONJUTIVITE

Pegar algumas folhas de arruda, amassá-las e coar. Aplicar 2 gotas em cada olho afetado 3
vezes ao dia.

PÁLPEBRAS ARRIADAS

Colocar em um copo de água 3 folhas de arruda

3 pavios de alho

3 pedaços de quina-quina

3 pedaços de carvão

Modo de preparar:

Colocar no sereno e, no dia seguinte, passar, com um lenço, nos olhos. As pálpebras voltarão
ao normal.

COLESTEROL

Tome chá de gervão de flor azul, tome caldo de cana, chá de bugre ou cafezeiro do mato,
folhas de batata-doce, alcachofra, couve crua, dente-de-leão, cenoura.

BAIXAR A PRESSÃO

Acácia, agrião, alfavaca, amora branca, alecrim, chuchu (folhas e frutos), cana-de-açúcar,
cavalinho, guaxuma, maracujá, limão.

PRESSÃO MUITO ALTA

Corte a cebola em rodelas, coloque 3 rodelas em cada sapato, sem meias, e caminhe.
Capítulo Cinco

Pai Jaú — O Grande Mártir da Umbanda

* 15/12/1906 - 26/12/1988

“Um apelido como qualquer outro” era a resposta que Euclides Barbosa dava quando lhe
perguntavam de onde ou do que havia surgido o apelido Jaú.

Evitava falar de sua vida e das mulheres que sempre povoaram sua existência de alegrias e
muitos dissabores. Apenas dizia que, como filho de Ogum, estava seguindo à risca os
ensinamentos de seu pai.

De fato, o cidadão Euclides Barbosa, que ficou conhecido como Jaú, sempre foi um líder,
desbravando territórios que ainda não haviam sido tocados por nenhum outro brasileiro.

Sua espiritualidade, como a de todos os seres que são contemplados com este tipo de missão,
surgiu nos primeiros anos de sua vida, mas a visita a algumas benzedeiras da época retardou a
explosão espiritual, que se deu após encerrar sua brilhante carreira como jogador de futebol.

“Sou uma pessoa que tem três pesos e três medidas: sou da raça negra, umbandista e
corintiano.”

Sábias palavras de quem tinha um parco conhecimento das letras, mas um infinito instinto de
sobrevivência e de garra para não se deixar derrubar por nada neste mundo.

Suas façanhas no futebol foram cantadas em versos e prosa; a mais conhecida foi num jogo
de vida e morte do “Coringão”.

Jaú, em uma dividida de bola, acabou tendo um ferimento grave na cabeça. Sua presença era
essencial para que o time conseguisse vencer o adversário.

Foi nesse instante que recebeu, pela primeira vez, uma mensagem espiritual, e a levou a sério.

Jaú estava deitado na maca, fora das linhas do campo, o médico dizendo ao técnico que ele
não poderia voltar ao jogo, pois o sangue não parava de jorrar e, provavelmente, ele havia
sofrido uma contusão cerebral; somente um milagre faria com que ele se levantasse. Quando
olharam para o lado, Jaú estava de joelhos, olhando para o infinito, como se estivesse ouvindo
instruções, e passou a mão no gramado, arrancou um chumaço de grama, colocou no
ferimento, e, ainda seguindo as instruções, enfaixou a cabeça. Depois, solenemente encostou
a testa na terra e levantou-se, como que impulsionado por uma mola, entrando vitorioso no
campo, sob os aplausos da torcida e a perplexidade do médico e do técnico.

Mais tarde, este gesto de tocar o solo do gramado com a testa passou a ser marca registrada
do grande jogador e tinha tanta influência entre os colegas que ninguém se atrevia a colocar
os pés no gramado sem que houvesse o toque da sorte, como passou a ser conhecido.

Quando Jaú pendurou as chuteiras e passou a dedicar-se inteiramente à sua missão religiosa,
teve realmente de ter o mesmo espírito de luta que sempre lhe acompanhou nas disputas
esportivas.

Sua religião era mais discriminada do que ser da raça negra ou então ser corintiano.
Mesmo sem jogar, continuou fazendo, no Pacaembu, toda vez que o Timão fosse jogar, suas
“mandingas” no campo para dar sorte aos jogadores.

O radialista Estevam Sangirardi imortalizou a figura de Jaú nos programas que eram
apresentados após cada jogo e ninguém reclamava, pois realmente era uma homenagem
merecida ao grande guerreiro.

Na religião, não teve tanto reconhecimento, ao contrário, foi o mais discriminado, o mais
criticado e o mais perseguido pela polícia, que juntava a bronca de Jaú ter sido um grande
jogador corintiano com o fato de sua magia ainda ajudar nas grandes partidas.

Foi preso diversas vezes, sob alegação de estar praticando feitiçarias. Passou por muitas
torturas, como ficar horas e horas ajoelhado no milho; dias e noites sem comer, recebendo
apenas alguns goles de água. “Se ele recebe mesmo os espíritos, não precisa comer nem
beber”, satirizavam os carrascos. Por fim, acabavam libertando-o, pois os fi-lhos-de-santo se
aglomeravam defronte à delegacia e, cantando pontos de Umbanda, pediam a libertação de
Pai Jaú.

Uma das torturas mais cruéis ocorreu quando o Timão estava disputando uma final e Pai Jaú,
ao acabar de fazer sua mandinga de sorte, disse ao técnico que o zagueiro deveria ficar mais
solto, pois o gol da vitória estaria em seus pés. Não deu outra e o Timão foi o campeão
daquele ano. Não mencionaremos o nome do time adversário para não causar
constrangimento, pois temos certeza de que o ato praticado por alguns indivíduos não era a
vontade de todos os torcedores.

À noite, Pai Jaú estava fazendo seu trabalho espiritual, quando seu pequeno terreiro foi
invadido por policiais, que alegaram ter recebido uma denúncia de que no local estavam
promovendo uma orgia pela vitória do Timão. Pai Jaú foi arrastado para o camburão e levado
para a delegacia, não na mesma de sempre, o que dificultou aos filhos localizarem
prontamente e pedirem sua soltura.

Até que fosse encontrado, na noite seguinte, Pai Jaú passou pela humilhação de ficar no
“pau-de-arara”, levando choques e foi jogado entre marginais de outros times, que o
espancaram.

Não satisfeitos, os policiais separaram dez palitos de fósforo, fizeram pontas bem finas e
enfiaram, bem devagarinho, entre as unhas das mãos de Pai Jaú, que nesse momento invocou
a proteção do Sr. Ogun. foi atendido, quando os carrascos acenderam os palitos ele começou a
ver, nas chamas, uma espécie de luz, formando uma figura de índio. De seus olhos escorreram
lágrimas, não de dor e sim de pena daqueles sujeitos que acharam que estavam lhe fazendo
um grande mal. Estavam lhe proporcionando passar por um grande milagre espiritual.

FUTEBOL E UMBANDA DE LUTO: MORRE O PAI JAÚ

Os policiais foram afastados a bem do serviço e nunca mais Pai Jaú foi perseguido pela polícia.

Até os 82 anos, idade em que faleceu, Pai Jaú atendia pessoas todas as quartas-feiras. Todos
admiravam seu caboclo, pois sempre vinha do mesmo jeito, independentemente da idade ou
da saúde do velho guerreiro. Na incorporação, seu corpo estirado se elevava mais de um
metro do chão e, ao tocar no solo, o caboclo batia a cabeça no chão, no gesto característico do
grande Decano.
Como já aconteceu com muitos sacerdotes, por não deixar por escrito sua vontade, após sua
morte, no que diz respeito a cerimônia e legados, Pai Jaú sofreu a discriminação e o
desrespeito. Seus filhos-de-santo não puderam fazer nada, pois a família, com exceção de seu
filho Jair, que nunca havia participado de sua vida, proibiu qualquer cerimonial umbandista e,
no dia seguinte ao enterro, sua filha evangélica desmontou o congá, jogou tudo na rua e
colocou fogo, sob os olhos atônitos dos vizinhos, que não puderam ou não quiseram interferir.

Terminava assim a trajetória de um homem que honrou seu tempo, seus amigos e seus filhos
espirituais, mas que recebeu muito pouco ou quase nada em troca, a não ser sua própria luz
na eternidade.

Ao Velho Pai Jaú, por seu Dia de Glória

Guarulhos/SP —- 27 de maio de 1984 — domingo de sol brilhante em praça de esportes


apinhada de amigos e companheiros de ontem, hoje e sempre, todos ávidos por abraçar
aquela figura simples e humilde, que irradia amor e respeito. A gratidão dos ali presentes se
manifesta no riso e nas lágrimas, no abraço fraterno e nas reminiscências.

Uma partida de futebol em sua homenagem, à volta, em torno do gramado sob os aplausos
comovidos, pois presente estava, bem junto de nós, aquele garoto que confortou e cuidou dos
hansenianos, que transmitiu aos seus contemporâneos de outrora a palavra de incentivo à
prática esportiva, formadora de homens de corpo e mente sãos, haja vista que, com seu
comportamento digno, fazia chegar às consciências os exemplos de uma vida sem mácula,
dedicada ao trabalho e ao auxílio fraterno a quantos o procuravam; muita caridade, muita fé e
trabalho, sem esmorecimento e sempre olhando para frente. Ali presente; o menino da
várzea, o rapaz do campo do matadouro, onde fundou seu primeiro clube esportivo no
município; o homem que capitaneou e honrou as cores da camisa do selecionado brasileiro de
futebol; o Babalorixá que durante todos esses anos vem praticando e prestando a caridade a
todos os irmãos em humanidade, e que no passado a incompreensão e a perseguição
inquisitorial algum dia afastou por breves anos daquele município.

Mas, alguns anos são nada diante da eternidade e, neste domingo de sol e reconhecimento
do povo, dos amigos e das autoridades ao nosso venerando Pai Jaú, sentia-se nele a felicidade
e o prazer ao correr a vista à sua volta e rever o cenário, algo modificado pelo tempo e pelo
progresso, todavia, aqueles mesmos locais, os companheiros já também encanecidos pelo
tempo, e divisava-se em cada rosto a alegria festiva de rever, naquele homem simples e bom,
a árvore frondosa que não só deu sua sombra, mas, e principalmente, os frutos de uma
existência digna, exemplo vivo do cidadão eterno, quer em sua vida particular, quer na sua
vida pública, mais ainda com o emérito sacerdote de uma Umbanda que a cada dia vê crescer
em número e representatividade. Ainda hoje as suas palavras são de amor e respeito às
crianças e aos idosos, de incentivo aos que temporariamente encontram-se no desespero e,
primordialmente, de união entre os seus irmãos de fé e para a humanidade, a fim de que
cheguemos todos à paz.

“A nós outros, que temos a felicidade e o privilégio de poder compartilhar os passos de Pai
Jaú, fica indelevelmente gravado em nossas mentes suas palavras e ações, sua vida, nomes e
acontecimentos que não caberiam em um único livro, mas o exemplo maior de infinita
caridade e amor, distribuídos à mancheias que a nossa pequenez permite apenas e mui
palidamente tentar imitar. Que Oxalá o abençoe e guarde hoje e sempre. Sua bênção, Pai Jaú.”

Rui N. Chagas
Festa de São Jorge — 1986 — Euclides Barbosa (Pai Jaú) Presidente da Liga Umbandista do
Estado de São Paulo
Capítulo Seis

Sucos Tferapêuticos — Tônicos

Os sucos terapêuticos e tônicos compostos de frutas e ervas deveriam ser largamente


utilizados em países tropicais, como o nosso, e em grandes centros urbanos, contribuindo
muito para o equilíbrio físico e mental de todos nós.

SUCO TERAPÊUTICO N. 1 — TÔNICO

Componentes:

01 punhado de abacaxi sem casca e picado

01 punhado de hortelã (aproximadamente 30 a 35 folhas)

01 punhado de capim cidreira picado

1,5 litro de água filtrada

3 a 5 pedras de gelo

Preparo e modo de usar: Bater tudo no liquidificador e ingerir até 3 copos ao dia, de
preferência à tarde, usando o horário vespertino, pois é um suco que recebe influência lunar.

Se quiser adoçar, faça-o com até 100 ml de mel de jataí, mas saiba que, mesmo assim, estará
perdendo de 30% a 35% do seu efeito terapêutico. Se utilizar açúcar comum, a perda será de
40% a 45% da eficiência do suco. Pessoas diabéticas devem substituir o mel por adoçante e
diminuir a quantidade a ser ingerida, para 1 copo por dia.

Finalidades:

• Atua no equilíbrio mental, agindo sobre a ansiedade e depressão;

• Corrige a insônia;

• Atua de maneira positiva nas cistites, inflamação das vias urinárias e nos casos de cálculos
renais;

• Age sobre pequenas inflamações do fígado, causados por má alimentação, com excesso de
gorduras;

• Regula as funções intestinais (atua sobre a prisão de ventre);

• Tem efeito calmante e relaxante muscular;

• É um filtro para o organismo: expurga toxinas (ocasionadas pela má alimentação) da


corrente sanguínea, pela urina e pelas fezes, melhorando o tratamento de espinhas e
problemas de pele;

• Propicia a desobstrução das artérias que irrigam as pernas do joelho para baixo, que sofrem
com a má postura ao sentar-se;
• Tira a vontade de fumar e elimina o álcool do organismo, se tomado várias vezes ao dia;

• Atua sobre a hipertensão arterial, regulando a pressão do sangue.

Este tônico não substitui a água, que deve ser ingerida diariamente

(aproximadamente 3 litros).

Em casos de depressão, ingerir pelo menos um copo, logo pela manhã.

Contra-indicação: Este suco não é aconselhável para pessoas que têm pressão arterial baixa,
nem deve ser usado em grandes quantidades pelos diabéticos.

Durabilidade: 15 horas se colocado na geladeira e 6 horas em temperatura ambiente.

SUCO TERAPÊUTICO N2 2 — TÔNICO

Componentes:

3 galhos com bastantes folhas de hortelã (mais ou menos 35 folhas)

3 limões rosa

3 limões taiti

3 colheres de sopa de capim cidreira picado

100 ml de mel de jataí ou açúcar escuro (mascavo)

1,5 litro de água filtrada

Preparo e modo de usar. Usar somente as folhas de hortelã; descascar e retirar as partes
brancas (pele) e sementes dos limões. Picar o capim cidreira, que deve ser in natura. Colocar
tudo num liquidificador, adicionar a água e o mel ou açúcar natural (escuro). Acrescentar
algumas pedras de gelo, se quiser, e bater bem. Ingerir até 3 copos ao dia, de preferência ao
final da tarde ou início da noite. É um suco que recebe influência lunar.

Funções Terapêuticas:

• Atua sobre as aftas e acidez da boca;

• Cura o vômito;

• É depurativo no sangue;

• Excelente para o bom funcionamento gástrico e hepático;

• Favorece a expectoração;

• É relaxante muscular;

• Auxilia o bom funcionamento intestinal;

• Combate e ajuda a eliminar vermes;

• Auxilia no bom funcionamento dos rins, com efeitos diuréticos;

• Combate a insônia.
• Atua como relaxante do sistema nervoso central.

Observação: Em razão de sua ação como relaxante, não deve ser ingerido pela manhã, mas
sempre à noite, antes de dormir. Não ingerir este tônico se for dirigir ou desempenhar alguma
função que exija reflexo rápido e atenção.

Durabilidade: 15 horas se colocado na geladeira e 6 horas em temperatura ambiente.

SUCO TERAPÊUTICO N. 3 — TÔNICO

Componentes:

1 frasco de clorofila ou 10 folhas de couve manteiga Vi maçã argentina, com casca e bem
vermelha 7 folhas de hortelã 12 morangos

Opcional: 1 colher de sopa de mel com própolis e guaco (ou adoçar a gosto)

1,5 litro de água filtrada

Preparo: Colocar tudo no liquidificador e bater bem, até liquefazer. Se quiser, acrescentar
gelo. A maçã deve ser bem vermelha, por ser a cor mais próxima do sol e irradiar energia.

Funções Terapêuticas:

• Purificar o sangue, carregando os produtos tóxicos para fora da circulação sanguínea;

• Ativa a circulação;

• Excelente no tratamento de artrite, reumatismo e gota;

• Ajuda a desobstruir as artérias, prevenindo um possível infarto;

• Auxilia no bom funcionamento do metabolismo digestivo: fígado, pâncreas e vesícula biliar;

• Normaliza a pressão arterial alta (baixando apenas a máxima, não alterando a mínima).

Observações: Não apresenta contra-indicação para quem tem pressão baixa; caso se tenha a
pressão mínima alta também, acrescentar ao suco um punhado de capim cidreira picado.
Diabéticos podem usar adoçante; o ideal é não adoçar o suco, para proveito máximo de suas
funções.

TÔNICO PARA EXPECTORAÇÃO DOS BRÔNQUIOS Componentes:

7 dentes de alho 7 colheres de mel 7 limões (somente o suco)

Preparo e modo de usar: Descascar os 7 dentes de alho, espremer os 7 limões. Colocar o alho,
o suco dos limões e o mel no liquidificador e bater bem. Ingerir uma colher de chá a cada 2
horas, até desaparecerem os sintomas.

Funções Terapêuticas:

• Desobstruir os brônquios;

• Aliviar a tosse causada por gripes e resfriados;


• Dissolver o muco que adere às paredes das vias respiratórias;

• Limpar a voz e eliminar a rouquidão.

TRATAMENTO PARA VERMINOSES

Há crianças que, por diversos fatores, são infestadas por lombrigas, chegando a expeli-las
pela boca e pelo nariz. Elas têm graves dores abdominais e até convulsões.

a) Para Acalmar Convulsão

Componentes:

1 xícara de café de vinagre 1 dente de alho

1 punhado de folhas de hortelã graúda

Preparo e modo de usar: Macerar o alho e a hortelã, misturando-os no vinagre. Molhar um


chumaço de algodão, dando para a criança cheirar. Como o caso exige rapidez no
atendimento, pode-se usar a própria mão, molhando-a nesta mistura e aproximando-a do
nariz da criança. Logo ela se acalmará, voltando ao normal.

b) Para Cólicas Abdominais

Componentes:

1 colher de azeite 1 dente de alho

1 punhado de folhas de hortelã graúda

Preparo e modo de usar. Macerar o alho e a hortelã, colocar no azeite, levando para aquecer.
Massagear o abdômen da criança até que ela demonstre não estar mais sentindo dores.

Observação: Ambos os tratamentos favorecem com que posteriormente a criança venha a


expelir as lombrigas por vias normais.

c) Vermífugo

Componentes:

10 folhas grandes de erva de Santa Maria

1 copo com água

Preparo: Pegar um pano branco, preferencialmente um guardanapo de saco alvejado, colocar


as folhas bem lavadas e acomodá-las como uma trouxinha. Com um martelinho de cozinha,
macerá-las e ir molhando a trouxinha na água do copo, espremendo-a até que todo o sumo da
erva tenha sido retirado. Para melhorar o sabor, pode-se adoçar levemente.

Modo de usar: Tomar este elixir em jejum, pelo período de sete dias. É indicado tanto como
preventivo da verminose quanto para expelir os vermes.

TRATAMENTO PARA CONTUSÃO


Sintomas: Lesão traumática superficial, com ou sem hematomas.

Componentes:

21 folhas de erva de Santa Maria

2 colheres de óleo de amêndoa

1 faixa de tecido

Preparo e modo de usar: Macerar as folhas com o óleo até formar um cataplasma. Colocar
esse cataplasma sobre o local afetado e enfaixá-lo. Realizar esse procedimento até que
desapareçam os sintomas.
Capítulo Sete

Pai Sebastião Campos

22/08/1909 - 22/05/1991

Sebastião Manoel Campos, filho de Vicente Manoel e Elisa Campos e filho espiritual de Pai
Gerônimo, de Estácio de Sá, sacerdote Umbandista, Comandante Chefe de Terreiro — Templo
Rei dos Reis.

Presidente da Associação Brasileira dos Umbandistas e Candomblecistas do Estado de São


Paulo, Funcionário Público Municipal, foi casado com Olinda Moratori. Pai de quatro filhos:
Marcos Campos (seu herdeiro espiritual) casado com Edilene Cristina Evangelista Campos,
Antonio C. Campos, Mário César Campos e Renato Campos (Campinho). Não chegou a
conhecer a neta Gabriely Cristini Ayedun de Campos. Completam o clã de Pai Sebastião os
irmãos: Maria José Caetano, Benedita de Campos, João de Campos, Henrique de Campos e
Jacira de Campos. Em mais de 60 anos de missão espiritual, acumulou centenas de filhos,
netos e afilhados.

Duas maneiras de trabalho nortearam a vida do Decano Sebastião Campos: as curas


espirituais e o trabalho incansável em favor de assistência social. Conhecia, como ninguém, as
mandingas e feitiços; especialista em problemas de impotência sexual do homem, receitou
muitas garrafadas feitas com a raiz nó-de-cachorro.

Em julho, as ruas vizinhas à sede da Associação, no Jaçanã, tinham um acontecimento


peculiar: pessoas vestidas de branco e entoando cânticos emocionados. Era a procissão de
Nanã, idealizada por Pai Sebastião para mostrar ao bairro que sua fé não se restringia às
paredes do templo e que todos deveriam saber do poder de Nanã.

SALVE A RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA "SALUBA NANÔ

“Somos irmãos na 16 e, precisámos acreditar em homens que cultivam o espírito da


fraternidade humana’'.

Os Decanos

II Encontro de Chefes de Terreiro Souesp — 1973

Em dezembro, se desdobrava para descer até o litoral paulista (Praia Grande) na primeira
quinzena, juntamente com seus templos filiados, o Souesp e demais federações de São Paulo
que festejam Iemanjá. Costumava levar seus filhos para fazer a passagem do ano nos festejos
da Rainha do Mar, no bairro do Leblon-RJ. O trajeto de várias horas seguia rigidamente um
ritual: o patriarca, sentado no primeiro banco do ônibus; os médiuns tinham que viajar em
silêncio, para poder acumular energia e bons fluidos e uma senhora, com mais de 70 anos na
época, viajava em pé todo trajeto.

Nas águas do mar, Pai Sebastião passava horas e horas lavando as guias de seus filhos.

Todos os anos, no inverno, fazia doações de agasalhos, que eram arrecadados junto aos
frequentadores do templo. No final do ano, doava brinquedos para as crianças carentes e
cestas básicas para famílias de todo bairro, independentemente de religião.
No mês de setembro, realizava uma das maiores Festas de Cosme, Damião e Doum. A
princípio, na sede da Associação, mas o espaço acabou ficando pequeno para abrigar tanta
gente, então Sebastião Campos reuniu a Diretoria e acharam por bem fazer as festas num local
maior.

II Encontro de Chefes de Terreiro Souesp — 1973

Foi no dia 25 de Setembro de 1977 que a Associação Brasileira dos Umbandistas do Estado de
São Paulo viveu seu dia de glória, ao realizar a quarta festa de Cosme, Damião e Doum.

Por intermédio do também saudoso Olívio Michetti, vice-presidente da Associação,


conseguiram o antigo Cine Tucuruvi, que estava para ser demolido, mas foi cedido para a
Associação fazer a festa, que contou com vários nomes da política e autoridades do Estado de
São Paulo e a presença de mais de 50 Templos.

Depois desse ano, a festa passou a ser feita no salão do João, “antigo Cine Fidalgo”, na
avenida Guapira, 146, no bairro do Tucuruvi. Esta festa fazia parte do Calendário do Superior
Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo. As imagens de Cosme, Damião e Doum, que têm a
altura de 1,2 m, eram transportadas por uma viatura do corpo de bombeiros, com grande
cortejo até o local da festa. Apesar de contar com mais de 50 pessoas trabalhando para que
tudo corresse da melhor forma, Pai Sebastião e sr. Olivio ficavam à beira de um enfarto, tanta
era a preocupação para que nada saísse errado. Só descansavam quando a festa terminava.

Sebastião Campos esteve sempre junto do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São
Paulo, desde sua fundação, pois tinha muito amor a esta entidade, e se orgulhava de fazer
parte da Diretoria Executiva e também do Conselho Consultivo, junto com Mário Paulo,
presidente da Organização Ycaraí, e outros.

Sebastião Campos participou do primeiro Congresso Paulista de Umbanda, em dezembro de


1961. Em 1962, com o Primeiro Encontro de Chefes de Terreiro.

Primeiro Seminário Umbandista do Estado de São Paulo, nos dias 27 e 28 de 1965, quando
foram elaborados os Rituais de Batismo, Casamento e Fúnebre. Este seminário teve a
presidência do senhor Jamil Rachid, secretariado por Domingos Lofredo e a Coordenação de
Demé-trio Domingues.

O último Templo que Sebastião Campos frequentou para tomar obrigações foi de Pai
Gerônimo, no Rio de Janeiro, no bairro de Estácio de Sá.

Situações que lhe deixaram muito triste:

• Não conseguir a sede própria para a Federação;

• Falecimento do Pai Gerônimo, no Rio de Janeiro;

• Cobrança de taxas para a Festa de Iemanjá;

Situações que lhe deixaram muito alegre:

• Feitura de Orixá de seu filho Marcos Campos;

• Reconhecimento e gratidão de alguns filhos-de-santo;


• União entre as Federações.

A Peregrinação

Pai Sebastião dava muitas consultas com Exu Tiriri. Ele tentou unir, com sinceridade, todos os
templos religiosos. Não o fez por falta de humildade de muitos sacerdotes. Gostaria de deixar
perpetuados os rituais de batismo e casamento, que demonstram amor e compaixão pela
religião. Abominava as marmotagens. Sincretismo fez parte de seu segmento, sempre o
aceitou. Por sua idade, raça e religião, foi muito discriminado, mas sempre contornou a
situação, pregando a religião até os últimos instantes. Nunca teve problema com polícia ou
outras religiões. Começou a praticar a Umbanda ainda muito jovem, por motivo de doença, na
cidade de Niterói, antiga capital do Estado do Rio de Janeiro. Entrava em transe com o Caboclo
Itamarati, Pai João de Portugal, Ogum da Areia, na esquerda Exu Tiriri.

Seu primeiro terreiro de Umbanda foi a Tenda de Umbanda Rei dos Reis, ficando nessa casa
por quatro anos. A partir daí foram vários os terreiros de Umbanda percorridos, numa
caminhada muito longa. Sebastião Campos destacou-se e teve mais entrosamento na cidade
de Gramacho, no Rio de Janeiro, e no bairro de Madureira, onde permaneceu por longo
tempo.

Em São Paulo, por volta de 1927, frequentou a Tenda de Pai Benedito, na Rua Domingos de
Morais, até o ano de 1934. Passou a frequentar a Tenda de Umbanda Nossa Senhora
Aparecida, no bairro da Ponte Pequena, até o ano de 1939, quando fundou a Tenda de
Umbanda Rei dos Reis, na Rua Lateral, n. 81, na Vila Nova York, São Paulo. Em 1955, passou a
ter seu Templo, filiado do Primado de Umbanda do Estado de São Paulo.

Pela sua dedicação, passou a fazer parte da Diretoria do Primado, chegando a ser presidente
do Conselho por mais de sete anos.

Em 16 de Agosto de 1966, Sebastião Campos fundou a Associação Umbandista da Zona Norte


e Guarulhos. Algum tempo depois, esta ampliou-se, com a denominação Associação Brasileira
dos Umbandistas da capital do Estado de São Paulo. Destacamos alguns terreiros, dirigidos por
filhos de Pai Sebastião: Templo de Umbanda Nossa Senhora Aparecida; Templo de Umbanda
Três Irmãos; Templo de Umbanda Pai João de Portugal; Templo de Umbanda Mãe Eulálta;
Templo de Umbanda Pai Joaquim de Aruanda; Templo de Umbanda Pai Tibúrcio; e muitos
outros...

A Luta Incansável

Pai Sebastião Campos fundou a Associação dos Umbandistas do Estado de São Paulo,
decidido a lutar pela nossa religiosidade, nossa cultura e nossa sociedade. Investiu recursos
nunca antes aplicados para esse fim. Tomou frente em muitas decisões, chegando muitas
vezes a falar mais alto do que qualquer autoridade, porque seu objetivo sempre foi nosso
fortalecimento, e transformou suas ações sociais, religiosas e culturais em importantíssimo
desenvolvimento, especialmente com trabalhos junto às crianças e aos jovens das regiões mais
carentes e violentas da capital do Estado e no subúrbio carioca. Lutou por todos os lados. Não
media esforços. Lecionava aos seus filhos iniciados e afiliados da Federação, apostando seguro
na requalificação dos iniciados na Religião.
Em momento algum foi egoísta e preparou passo a passo seu filho carnal Marcos Campos
para dar continuidade ao seu trabalho. A política de Pai Sebastião se faz sentir hoje em todas
reuniões e encontros da nossa Associação Brasileira dos Umbandistas e Candomblecistas do
Estado de São Paulo, resgatada e funcionando ativamente em São Paulo, interior e outros
Estados, com grandes propostas. Pai Sebastião foi um grande guerreiro, sempre
impressionando a todos. Tomando para si a tarefa de quebrar conceitos arraigados, como a
discriminação religiosa. Deu a volta por cima e divulgou ao máximo a Religião, deu muito
incentivo a todos que o rodeavam. Ainda hoje a Associação Brasileira vem oferecendo cursos a
seus afiliados.

A Herança Espiritual

Um novo momento começou com o falecimento de Pai Sebastião Campos. Tudo o que foi
implantado pelo saudoso Sebastião Campos até 1991 é a própria Religião como instrumento
para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. São Umbandistas, Candomblecistas e
Esotéricos participando ativamente, sempre em comunhão, cultivando o que nosso Decano
Sebastião Campos plantou e fazendo novas plantações. A história nos permitiu conhecer e
identificar os talentos de Pai Sebastião e hoje nos oferece a oportunidade de desenvolver e
divulgar suas realizações, religiosas, culturais e sociais.

Os Ensinamentos do Velho Decano

Não é nosso desejo mostrar sabedoria ou fazer literatura, mas, sim, tentar mostrar o que a
Umbanda, o Candomblé, os homens bons e conhecedores têm de grande, sublime
religiosidade, e também ser útil aos estudiosos. Pai Sebastião Campos pregava uma base sólida
para o aperfeiçoamento de seus filhos e afiliados. Sempre reconheceu o valor da tradição;
mas, também, reconhecia a grande lei da evolução e que temos de acompanhar o progresso,
pois os antigos tinham o carro de boi e nós, atualmente, temos de nos adaptar ao avião.

Era desejo de nosso Pai Sebastião que a Umbanda e o Candomblé tivessem, no plano físico, a
mesma grandeza que têm no plano astral, mental e espiritual. Ele dizia sempre para mim, seu
filho Marcos, que o bom êxito de todo trabalho depende do seguinte: da fé, confiança,
convicção, certeza e firmeza que o praticante tem em si e nas forças espirituais que executam
ou fazem o trabalho; dos conhecimentos necessários dos rituais, ofertas, meios e processos,
como também do conhecimento das forças espirituais que vai utilizar; de saber o que as forças
favorecem e os trabalhos a que os espíritos melhor se prestam; dos dias e horas favoráveis aos
trabalhos mágicos que tiver de fazer. Uma vez que o sacerdote, devidamente iniciado, tenha
perfeito conhecimento de tudo o que acima foi dito, está apto a fazer bons trabalhos, isto é,
dentro das possibilidades, e também segundo as forças e poder de cada pessoa, pois o poder é
relativo a cada homem, segundo a sua evolução e grau espiritual, isto é, não é igual para
todos, portanto, uns podem mais e outros podem menos. Dizia ainda que, em geral, o êxito de
todo e qualquer trabalho espiritual importante depende do seguinte: de dar a oferta ao Exu
correspondente ao que se deseja conseguir; de fazer oferta, preces, etc., em benefício dos
espíritos de nossos ancestrais; beneficiar os espíritos sofredores, para ser beneficiado pelos
espíritos superiores; de fazer benefício a uma pessoa pobre; quem não faz benefícios aos
outros, também não tem direito de ser beneficiado.
“Dá para poder receber, disse Jesus’, portanto, quem quer ser beneficiado, cumpra a lei da
compensação. E, filho, logo que forem feitos e cumpridos esses preceitos, então poderá
trabalhar com nossas amadas entidades, pois se o trabalho for para fim bom, justo e de
merecimento, a pessoa consegue o que deseja.”

Meu pai lembrava das palavras de seu zelador de Orixá: “Nunca aplique e utilize leis e forças
sem ter conhecimento e saber como deve aplicá-las e utilizá-las, e também, quando duvidar da
sua ação e eficácia. Portanto, filho, tratemos de fortificar o trabalho iniciado com as ações,
afirmações, pedidos ou preces; assim como o lavrador fortifica a semente, regando-a e
adubando-a constantemente; tendo fé, confiança e paciência, no devido tempo se colherá o
fruto desejado.”

Dizia ainda Pai Sebastião que nossas doenças e sofrimentos, tanto físicos como morais, são
consequências dos nossos vícios e defeitos presentes ou passados. Basta a pessoa se corrigir
ou se regenerar e fazer o pedido de boa sorte, por meio do ebó certo, pois Orixá é
prosperidade.

Todas as forças são espirituais, porquanto, sem o espírito não é possível a manifestação de
qualquer espécie de força, atividade ou vida. Entretanto, denomino especialmente forças
espirituais às forças que se manifestam por meio do homem consciente de sua essência real,
de sua imortalidade e existência fora do corpo físico. O homem que reconhece a existência das
forças espirituais e aprende a recebê-las do infinito reservatório existente no universo
desenvolve sua vitalidade, uma diretriz segura na escala do progresso e da
felicidade.Enfatizava bem quanto ao fato de não se fazer uma fábrica de iniciados, todo dia
tirando filho recolhido iniciado. “O que importa é a qualidade e não a quantidade”. Os antigos
mestres não lançavam a semente na terra sem ela estar primeiramente preparada para
receber a dita semente; isto quer dizer que eles não iniciavam o homem que não estivesse
primeiramente preparado física, moral e espiritualmente, em condições de receber a luz iniciá-
tica. Sempre afirmava que a fé é um elemento que entra infalivelmente em todas as grandes
causas da vida. Quando a fé é grande, como grande ela é realmente em todos os triunfadores,
significa que se possui um poder espiritual, para ver mentalmente, com a maior lucidez, aquilo
que a grande massa das gentes apenas pode vislumbrar.

Todo aquele que tiver esta fé possui uma espécie de dom ou poder profetizador. Em qualquer
negócio ou empresa que exijam métodos novos de exteriorização ou que tenham de trilhar
caminhos fora do comum, seu inventor ou instigador profetizou a si próprio o êxito, pois a
superior clarividência do seu espírito o coloca em condições de ver o lado exequível da
empresa e ainda de ter certeza do triunfo, melhor e mais lucidamente do que todas as outras
pessoas que possam intervir no mesmo assunto. A fé é uma espécie de “inteligência
espiritual”. É uma inteligência ou conhecimento muito diferente do adquirido por intermédio
de sistemas de educação.

É um conhecimento que o espírito adquire, enquanto vive em seu mundo próprio, dos
elementos invisíveis. E não é só conhecimento, é também um poder que tem influência
imediata sobre os acontecimentos e as pessoas. Todos nós possuímos em embrião certas
espécies de sentidos mais poderosos e de muito maior alcance que os nossos sentidos físicos,
do olfato, paladar, tato, visão e audição. Já sabemos quão limitados são todos estes sentidos,
pois o alcance da vista, por exemplo, é limitadíssimo. Possuímos uma vista espiritual, que é
infinitamente mais poderosa e à qual nada se pode ocultar. Estes sentidos espirituais são os
que constituem, na verdade, a parte mais elevada da nossa mente, ou antes, a nossa
“inteligência superior”. Pai Sebastião queria dizer com tudo isto que a nossa fé pode ir
aumentando continuamente por meio da prece, pois a nossa prece incessante ao Poder
Supremo iluminará e fortalecerá de dia para dia a nossa mente; desse modo, nos colocaremos
em via de utilizar cada vez mais e com maior precisão os nossos poderosos sentidos espirituais,
cada vez se tornará mais firme a nossa Religião, da sua realidade e utilidade, até que, por
último, confiaremos nela como hoje confiamos nos sentidos físicos, para todos os atos da
nossa vida material. A querida Umbanda se consagrou, e por fazê-lo com honestidade, carinho,
dedicação, humildade, e, antes de tudo isso, estudando-a a fundo, praticando-a com
empenho, analisando os mínimos detalhes e aspectos, viu sua realização.

Pai Sebastião era constantemente homenageado nos templos filiados, o que constituía para
ele motivo de satisfação incrível, de alegria imensa, e também, por que não dizer, de vaidade.
Era, como todos os humanos, vaidoso. Não dessa vaidade condenável, que leva as criaturas a
olharem as demais, ou seja, os seus semelhantes, como inferiores, mas na verdade, dessa
vaidade característica dos homens que, não desfazendo dos demais, se reconhece como, pelo
menos, de um pouco de utilidade aos outros com quem conviveu ou com quem teve relações
de amizade. Sentia-se, portanto, feliz. Sentia-se vaidoso, e especialmente por que, desde
quando foi iniciado e no percorrer de sua vida, muitos e mais preciosos conhecimentos
adquiriu dessa maravilhosa e inigualável Religião de Orixás, Guias, Caboclos, Encantados,
Entidades, Ancestra-lidade. Tinha a satisfação de, perante sua consciência, sentir-se tranqui-lo,
uma vez que tendo se dedicado sem reservas a seus afazeres religiosos e particulares, via seus
ideais se concretizarem e seus filhos o respeitarem e também se dedicarem, do fundo do
coração, com a ideia primacial de levar-lhes um pouco mais de Luz a respeito de nossa querida
Religião. Muitas pessoas poderão estar entrando em contato com a Umbanda pela primeira
vez por intermédio deste livro. E podem se considerar pessoas abençoadas por terem em
mãos ensinamentos tão simples, mas grandiosos e maravilhosos, que já ajudaram inúmeras
pessoas, sem muito esforço, sendo empregados muita humildade, dedicação e amor.

Pai Sebastião Campos ouviu muitas pessoas dizendo: “Deus não atendeu minhas preces”,
“Não possuo tudo o que necessito”, ou “Estou num beco-sem-saída”. Mas sempre alertava
seus consulentes de que essas sentenças são proferidas erroneamente. Deus é nosso Pai. Orixá
é força divina e se manifesta nos momentos oportunos. Se isso não acontece é porque existe
uma “barreira” impedindo a sua manifestação. Se suas orações não são atendidas, é porque há
um pensamento materialista nela. Os Orixás nos concedem tudo, graças a Deus. Se
aparentemente há problemas, entregue-os a quem tem Sabedoria Divina, e não tente resolvê-
los pela inteligência do “pequeno eu”. É importante refletirmos sobre nossos atos e
pensamentos, pois muitas vezes eles próprios impedem a manifestação positiva em nossa
vida, ou podem até estar refletindo em nosso lar e familiares.

Excelente conselheiro, pregava sempre: “Vamos colocar as crianças dentro dos cultos”. Era a
favor de que se realizassem os cultos em horários em que as crianças pudessem estar
presentes, que a comunidade pudesse observar e tirar suas dúvidas, sem incômodos noturnos.
A criança é espelho da mente dos pais. O estado do filho é reflexo da mente dos pais,
principalmente da mãe. Isso porque o pai, concentrando-se no seu trabalho, ou trabalhando
fora de casa, não está constantemente em contato mental com o filho. Mas a mãe geralmente
fica em casa, em contato direto com o filho, cuidando dele com amor e preocu-pando-se com
ele o tempo todo. Se a mente dessa mãe “se esquece de respeitar a quem deveria respeitar,
não coloca em primeiro lugar aquilo que deveria vir em primeiro lugar”, então o estado mental
dela se reflete no filho, impedindo o funcionamento normal de sua evolução. Mas sempre há
tempo: “junte as mãos em posição de oração, feche os olhos e reverencie o Orixá em silêncio.
Repita, mentalmente, pedindo que ele perdoe por não o ter respeitado até agora, e procure
visualizar com os olhos da mente a perfeição da Imagem Verdadeira dele. De olhos fechados,
reverencie-o de todo o coração, e peça que lhe conduza para o Templo, onde poderá passar a
reverenciá-lo. Quem cultua Orixá com amor verdadeiro vê desaparecer doenças e
infelicidades. “O egoísmo é um estado mental de maior infelicidade. Considero que a origem
da infelicidade de todas as pessoas do mundo é o egoísmo. Uma pessoa egoísta encara o
próximo de maneira extremamente restrita, colocando a si e os outros em posição de
rivalidade, considerando os demais como inimigos que podem usurpar seus ganhos.” “Ao orar,
devemos orar ao Espírito. Contudo, muitas pessoas oram para a matéria. Na maioria das vezes,
oram porque desejam algo material. A mente dessas pessoas está preenchida pelo
pensamento materialista, e não pelo pensamento espiritualista. Consequentemente, tais
pensamentos materialistas não entram em sintonia com o Orixá. Em outras palavras, esses
pensamentos não chegam a Deus.” A fé em um Orixá nos traz tranquilidade, alegria,
sentimento de gratidão. É tal qual o sabor: sentimos que algo é delicioso sem nos indagarmos
o porquê, nem em que condição; apenas sentimos que é delicioso. Existe somente a real
percepção de que o que acabamos de comer é delicioso. Constitui fé quando abandonamos
todas as nossas conveniências. Se sentimos descontentamento, é porque nos apegamos às
conveniências. Ao devolvermos e nos entregarmos ao mundo espiritual, tudo às mãos de
nossas Entidades, Guias, Orixás, tudo se transforma e se realiza. E sendo uma vida em que os
verdadeiros sacerdotes com certeza estão sempre amparados por uma Federação, tornando
uma comunhão e segurança melhor aos novos iniciados, com a bênção de Deus, tudo se
harmoniza naturalmente. Quando entendemos que tudo que existe está ligado ao mundo
espiritual, sentimos gratidão incondicionalmente. As religiões de matrizes africanas trazem a
doutrina da grande harmonia; devemos sempre reverenciar o Orixá. Com a propagação da
Umbanda, do Candomblé e seus ensinamentos, este mundo torna-se uma família verdadeira
da paz, do amor, da fraternidade e da gratidão. A verdadeira gratidão é aquela em que
agradecemos por tudo, assim como se apresenta. Para aquele que gosta de ficar fazendo
comparações de tudo, não existe satisfação nem gratidão. Não existindo aquilo com que
comparar, desaparece o descontentamento.

Compreendendo que tudo recebemos de nossa dedicação ao Orixá, desaparece o


descontentamento, porque deixam de existir comparações. A inexistência de
descontentamento constitui satisfação. Quando compreendemos verdadeiramente o
ensinamento da Umbanda, do Candomblé, e este é vivificado em nosso dia-a-dia, é evidente
que se manifeste naturalmente nossa aproximação de Deus. Porém, só o homem pode fazer
uso consciente e empregá-la em maior quantidade, pois se acha numa escala superior de
evolução. Esta obra mostra que a força espiritual é a essência de todos os seres e que todos
fazem uso dela. Todavia, há grande distância entre o homem comum e o super-homem, que
faz uso consciente das forças espirituais. Estamos ainda no princípio do caminho que nos
conduzirá à consciência completa dessas admiráveis forças. Podemos, porém, desde já,
começar a gozar de seus benéficos efeitos, se seguirmos os conselhos dados pelo nosso
Decano, saudoso, Pai Sebastião Campos. “São Paulo perdeu um de seus expoentes máximos da
religiosidade. Pai Sebastião sempre deu muita importância para a Umbanda e/ou Candomblé,
e isso faz com que sua biografia compense muitos maus iniciados.”

Marcos Campos Filho


Amigos: Dr. Menezes Ladessa, Mário Paulo, Jamil Rachid, Joãozinho 7 Pedreiras, Dr. Pena,
Demétrio Domingues, Varela, Tupinambá, Walmir, Wlademir e muitos outros...
Capítulo Oito

Federações

O Decano Zélio de Morais pode não ter sido o fundador direto da Umbanda, mas seu templo
foi o primeiro a ser registrado em um cartório, dando assim personalidade jurídica a um local
onde se praticaria a religião invocando a proteção dos espíritos. Na sequência, outros templos
foram sendo registrados, pois esse procedimento diminuía a perseguição sistemática que era
desencadeada quando algum sacerdote um-bandista se arriscava a abrir suas portas para
trabalhar. Ainda era preciso mais força e união e, juntando-se 10 templos, surgiria a primeira
federação, que daria a seus associados respaldo judicial, social e espiritual. Com exceção do
Decano Zélio de Morais, todos os Decanos focalizados fundaram, participam ou participaram
de federações, que, nesses últimos anos, chegam a quase 50, no Estado de São Paulo, isto é,
voltamos à estaca zero em matéria de união. A cada federação que é aberta, hoje sem os
critérios rígidos de antigamente, mais um grupo se separa e enfraquece o todo.

Federação Organização Tear aí

As Mensagens de Amigos, Associados e Filhos 1996 — No registro dos 40 anos de vida da


Federação Organização Ycaraí, fica marcada, de forma indelével, a fibra e a ação de um líder —
Mário Paulo.

No transcorrer desse tempo — quase uma vida — a Umbanda fincou ainda mais suas raízes,
cumprindo a missão da caridade e espelhando as luzes de seus guias mentores. E na insipiência
do começo, a Ycaraí foi se firmando, graças ao trabalho firme e corajoso de seu presidente, o
insigne umbandista Mário Paulo, vencendo a etapa do tempo, nos proporcionando a
oportunidade deste registro. Com a alegria de poder desfrutar do contato quase diário com
esse irmão maravilhoso, parabenizamos o Corpo Diretivo e todos aqueles que colaborarem
com o engrandecimento da Ycaraí, desejando ao líder Mário Paulo a paz, a saúde e o ânimo
para continuar levando adiante a luminosa missão a que foi destinado. Tantos anos de
dedicação e luta pela Umbanda! É uma verdadeira lição de vida para todos nós. Parabéns,
Ycaraí. Parabéns, Mário Paulo — Soucesp.

Pres. João B. Menezes Ladessa

A Tenda de Umbanda Pai Oxóssi e Mamãe Oxum deseja que a Federação Ycaraí cresça cada
vez mais, na Fé, na Esperança, na Sociedade, e que complete mais 40 anos com o Sr. Mário
Paulo à frente.

Carlinhos de Oxóssi

Federação Organização Ycaraí, Mário Paulo, presidente:

A boa árvore se conhece pelos frutos. Aí a constatação desta grande verdade em que nós,
amigos e companheiros na fé, nos sentimos honrados de compartilhar este momento raro na
religião, em que uma entidade federativa completa 40 anos de atividades ininterruptas em
prol da Umbanda e de todos nós. Parabéns, presidente Mário Paulo. Parabéns Federação
Organização Ycaraí. Que Oxalá e todos os Orixás iluminem e guardem, fazendo resplandecer
sobre todos a sua luz.

Rui Chagas

Em 06/01, dia consagrado aos Reis Magos Baltazar, Belchior e Gaspar, guiados pelos anjos de
Zambi, representados pela estrela brilhando no firmamento, chegaram ao local onde nasceu
Jesus. Os Reis Magos adoraram e ofereceram incenso, mirra e ouro. Sr. Mário Paulo, ao fundar
a Federação Ycaraí, em 6/1/56, foi guiado pela estrela brilhante de seus Orixás. Com muita
dedicação e carinho, vem desenvolvendo um excelente trabalho neste últimos 40 anos, em
prol da Comunidade Umbandista e Candomblecista. Sempre com paciência e conhecimento de
um preto-velho, a força e a coragem de um caboclo, a alegria de uma criança, segue, irmão,
confiante em Zambi e nos Orixás. Segue em frente, bravo guerreiro! Ergue seu bodoque, atira
a flecha no espaço; ao atingir o firmamento, espalha luzes radiantes para os filhos de Zambi!

Milton Santos

Ao ensejo das comemorações dos 40 anos de aniversário da Federação Organização Ycaraí,


congratulo-me com todos e parabenizo, especialmente, seu pioneiro, Sr. Mário Paulo, pelo
exemplo de fé, denodo, perseverança e dedicação.

Nelson Plotek (Neco)

Declarações de Amigos

Entrei na Federação Ycaraí em 1985, após ter tido minha segunda filha, Thais, que hoje está
com 16 anos. Minha pressão estava altíssima e não abaixava com dieta nem medicamentos.
Tinha uma dor de cabeça incrível e, ao passar com o Caboclo Urutu, guia de trabalho do Pai
Mário Paulo, ele me disse que eu tinha que voltar a pôr branco e fazer minhas obrigações para
chefe de terreiro, que havia chegado o tempo. Fiz exatamente o que ele orientou e não tive
mais aqueles sintomas que tanto me incomodavam. Tomei as obrigações e, após sete anos, em
8/ 12/1992, registrei minha casa, o Grupo Umbandista Cristão Yonuaruê. Hoje sou também
vice-presidente da Federação Ycaraí e tudo devo a esta casa e a seu presidente. Os mais
antigos, durante esses 16 anos, nos contavam suas histórias; hoje quase todos já estão
desencarnados, como Dona Brasilina, Seu Juca, Cleuza, Dona Hermínia. Eles contavam que
quando foi comprado o local da sede atual, tudo era mato e terra, e que eles trabalhavam
durante o dia, à noite se reuniam para a construção e nos finais de semana o trabalho era
ininterrupto. Todos ajudavam: mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos. E o presidente
Mário Paulo sempre tomando a frente de tudo, trabalhando dia e noite.

Em 1986, a compra da linha telefônica foi outra grande conquista, pois naquela época era um
valor alto. Assim aconteceu, agora nos meus tempos, com mais uma determinação de nosso
presidente Mário Paulo: a sede campo da Federação Ycaraí, em Mairiporã.

Hoje, construída, com boas instalações, é um grande sonho realizado desse nosso presidente,
para o qual ele trabalhou e, de fato, colocou a “mão na massa”, como sempre, deixando sua
energia, seu suor e sua alegria em tudo que realizou e conquistou, com determinação, fé e
coragem. Sofreu um acidente automobilístico terrível, em que ficou imobilizado, com sérios
danos no braço e na perna, mas após alguns dias no hospital, assim como aconteceu agora,
com uma cirurgia delicada de coração, ele, nas visitas, já ia passando as orientações espirituais
e o que devia ser feito, pela casa, por ele, pelos filhos, pelas tendas filiadas, pelos associados e
frequentadores.

Se fôssemos relatar esses 16 anos de convivência e todos os detalhes desse legítimo filho de
Oxóssi, o grande provedor de comunidades inteiras e toda a sua rotina, ocuparíamos todas as
páginas dessa brilhante obra. Foram provas, testemunhos e convivência com um grande
médium, de grande conhecimento dos mistérios, da magia, das ervas, das mirongas, da
caridade, da compaixão.

Suas festas de Cosme, Damião e Doun, no Clube Paulistano da Glória, na Liberdade, são um
grande marco da nossa religião. Houve um ano em que fizemos para 4 mil crianças. Foram
enviados dez ônibus para favelas, comunidades carentes e realizada a festa, foram distribuídos
doces, refrigerantes, lanches, brinquedos. Assim como Oxóssi, sempre suas saudações, festas e
homenagens são feitas com grande fartura.

Sua dedicação nas obrigações e trabalhos espirituais; ele próprio fazendo tudo, vigiando tudo,
preparando tudo, dia e noite, sem parar para dormir, comer ou descansar. Um grande pai, nos
momentos bons e maus, tristes e alegres.Um grande ser, humildade e fraternidade são
sinônimos de Mário Paulo. Sempre respeitando a todos os guias, médiuns e casas, por mais
simples que sejam.

Sempre ensinando cada um a acreditar e ir em frente, primeiro rezando, louvando àquilo que
carrega, ou seja, seus próprios Orixás, guias, mentores e protetores, pedindo primeiro para
estes e depois para os outros. Grande devoto de todos os Santos e Orixás, recebeu uma linda
homenagem quando fez o Jubileu de Ouro (50 anos) de trabalhos espirituais. Sempre com sua
voz forte, determinada, sem medo de nada e sempre falando: “Quem pode mais é Deus, e os
Exus não são nada disso que vocês pensam; se Deus é bom, o Diabo não é ruim (fazendo
alusão de que os Exus não são a versão do Diabo Cristão)”. O que sou hoje e o que tenho devo
ao Pai Mário Paulo. Muito obrigada.

Márcia Pinho Pontalti Fiúza de Andrade

A postura de nosso irmão Mário Paulo é um exemplo a ser seguido por aqueles que estão
iniciando seu caminho e pretendem dedicar-se à vida espiritual com amor, carinho e
perseverança. Tal e qual vem sendo feito por nosso companheiro e amigo Mário Paulo, por
meio da Organização Ycaraí.

Federação de Umbanda e Candomblé do Brasil

A União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil, na pessoa de seu presidente,


Babalorixá Jamil Rachid, e a sua diretoria, parabenizam a Organização Ycaraí por seus 40 anos
de Fundação, sob a presidência do Babalorixá Mário Paulo. Para nós, umbandistas, é
gratificante ter a Organização Ycaraí como uma das representantes da Umbanda em nosso
Estado.
União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil

Um histórico de uma das entidades federativas com maior infra-estrutura do Brasil.

União de Tendas Espíritas de Umbanda do Estado de São Paulo (1955)

Fundadores: Dr. Luiz Carlos de Moura Accioly, Tenente Eufrásio Firmino Pereira, Benedito
Chagas, Abrumólio Wainer, Francisco Sinésio (Jornalista), Jamil Rachid, Fernando Kazitas,
tenente José Vareda e Silva e José Gabriel da Rocha Mina (Juquita).

Sede: R. Santa Efigênia, 176, Centro — São Paulo/SP.

Seu presidente começa a organizar os Terreiros de Umbanda pelas visitas, ocasião em que
colocava aos presentes a importância de se ter o terreiro registrado em cartório, constituindo
assim uma entidade religiosa de fato. Não podemos esquecer que nessa época (1955), a
Umbanda sofria muita perseguição por parte da polícia, sendo uma religião desconhecida e
considerada pela maioria como constituída de rituais de curanderismo ou macumba. Em 1957,
no mês de setembro, em sua sede à Rua Santa Efigênia, 176, Dr. Luiz Carlos de Moura Accioly
reúne os fundadores da União e mais alguns integrantes, como Antônio Primili, Sebastião
Veloso do Nascimento, Armando Dias Costa e Carolina Souza Oliveira e Jamil Rachid, para que
fosse elaborado o Primeiro Ritual de Umbanda Oficializado. Uma unificação na abertura e
encerramento de trabalhos, nos rituais de Mata, Cachoeira e Mar, que deveria ser implantado
nas tendas filiadas à União. Esse ritual foi transmitido aos guias espirituais para ser aprovado
principalmente pelas leis espirituais. Na época, foram feitas várias cópias e entregues às
delegacias da capital de São Paulo.

No decorrer dos tempos, o ritual oficializado sofreu várias modificações, mas sempre
respeitando a sua base de origem. A União de Tendas Espíritas de Umbanda do Estado de São
Paulo expandiu-se, com isso a Umbanda foi conhecida e se organizou como religião. Criaram-
se postos médicos, gabinetes dentários e assistência jurídica. Eram feitas palestras para os
médiuns e assistentes, para melhor esclarecer os fundamentos e objetivos da religião. Foi
implantado o atendimento aos necessitados por meio da distribuição de mantimentos e
roupas aos mais carentes.

Daí por diante, as autoridades policiais não tiveram mais dificuldades em distinguir o “Joio do
Trigo”, e assim a União continuou seu crescimento.

Em 1958, com a morte de Dr. Accioly, assumiu a Presidência a sra. Almerinda Fraga Abarassu,
que muito lutou e trabalhou pela grandeza da Umbanda, na capital e no interior do nosso
Estado.

Em 1967, por problemas de saúde, a sra. Almerinda, em Assembleia Geral, passou a


Presidência ao Babalorixá Jamil Rachid. A sede da União é transferida para a Rua Alves
Guimarães, 940, no bairro de Pinheiros. Novos horizontes são abertos para a Religião,
incluindo agora os cultos afros, passando a chamar-se União de Tendas de Umbanda e
Candomblé do Estado de São Paulo.

A mensagem da Umbanda é levada aos quatro cantos do território nacional, pelas visitas do
Babalorixá Jamil aos estados brasileiros. Em 1973, a Umbanda brasileira chega até Roma,
numa entrevista do babalorixá Jamil Rachid com o Papa Paulo VI.
O presidente da União percorre Argentina, Uruguai e Paraguai (1974), sempre divulgando a
religião. Em 1975, na sede da União, é realizado o Primeiro Seminário Umbandista do Brasil,
com a presença de presidentes de várias federações. Neste seminário oficializam-se os Rituais
de Batismo, Casamento e Ritual Fúnebre, com certidões (batismo e casamento) expedidas pela
federação. Em 1985, expandia-se a União, com subsedes em Manaus, sob o comando da sra.
Maria do Carmo Queiroz Rodrigues (Mãe Carminha), em Belém do Pará, sob o comando da sra.
Celina Soares da Costa (Mãe Celina), em Porto Velho, sob o comando do sr. Carlos Alberto em
São Luiz, no Maranhão, ligada ao Tribunal de Ogum, sob o comando do sr. José Ribamar de
Castro. Sendo as subsedes utilizadas como escolas para alfabetização de crianças carentes,
além de prestar outros serviços ao público. Em Assembleia Geral e por unanimidade, passou a
chamar-se União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil. Com o trabalho incansável de
seu presidente e o apoio de seus diretores e filiados, dá continuidade ao ideal, plantado em
1955 pelo dr. Luiz Carlos de Moura Accioly, promovendo a divulgação e o crescimento da
religião de forma organizada.

A Festa de São Jorge — Orixá Ogum, realizada no Ginásio do Ibirapuera, oficializada pela
Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, é a forma mais expressiva de crescimento
organizado. Na ocasião se reúnem adeptos da Umbanda e do Candomblé de todos os estados
brasileiros, da capital e interior do estado. Tendo a participação das autoridades, federais,
estaduais e municipais, bem como representantes de outros países e de nossos vizinhos da
Argentina, Uruguai e Paraguai. Temos a presença de cônsules e embaixadores, que admiram a
simplicidade e a beleza de nossa religião e se comovem com nossa homenagem ao Patrono
dos Umbandistas. Essa festividade faz com que a Umbanda e os cultos afros sejam divulgados
aos quatro cantos do mundo, até mesmo em países que nunca ouviram falar de nossa religião.

Em 1983, a União de Tendas e a Associação Paulista de Umbanda, por meio de seus


Presidentes Jamil Rachid e Demétrio Domingues, assumem a administração do Vale dos Orixás,
passado por seu idealizador, sr. João Paulo, que, na época, por problemas jurídicos e pessoais,
não podia dar continuidade ao projeto. O Vale, um local privilegiado pela natureza, com 20
alqueires, possui todos os requisitos naturais para os trabalhos espirituais de fortalecimento
dos Pais e Mães espirituais, bem como para os médiuns. Foram muitos anos de luta, com a
colaboração de seus associados e o trabalho contínuo de seu presidente e coordenador, para
que não fosse perdida a área rica em natureza e vibração espiritual. O Vale veio em uma época
certa, em que já não havia tantas matas e cachoeiras disponíveis e que fossem seguras para se
trabalhar. No Vale dos Orixás é possível trabalhar com segurança e tranquilidade necessárias
para aproveitar a vibração de um local ecologicamente perfeito.

Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo — Soucesp

Uma grande batalha foi travada entre o Decano Tupinambá e o Superior Órgão de Umbanda
durante os anos de 1960.

Em 28/3/1958, Fundação da Tenda Espírita de Umbanda Tupinambá, na cidade de Taubaté,


sito à Rua Monteiro Lobato, 747, no bairro de Estiva.

Em 12/6/1958, o prefeito de Taubaté, Jaurez Guisard, decretou que colocassem o nome do


diretor da entidade, João Eugênio Carvalho, numa das ruas do Jardim Monções e outra no
mesmo Jardim: Mãe Tereza — “Guia Espiritual”.
Em 28 /3/1960, foram introduzidas várias modificações, tais como:

a) As portas do templo permanecerão abertas durante os trabalhos no Vale do Paraíba.

b) Foram suprimidas as imagens católicas do altar, sendo substituídas por uma cruz, um vaso
de flores e um castiçal, com uma ou duas velas.

Em 13 /7 /1969, as tendas de Taubaté, inclusive a Tenda Espírita de Umbanda Tupinambá,


reúnem-se e fundam a União Regional Um-bandista, “U.R.U”, e logo de imediato pedem
filiação ao Souesp.

Na região do Vale do Paraíba, só existe uma organização filiadora reconhecida pelo Superior
Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo (Souesp), e esta é a Federação Umbandista do Vale
do Paraíba (Fuvap), que tem sua sede provisória na Rua Augusto de Paula Arante, nB 262,
fundos, em Pedregulho (Guaratinguetá).

Toda e qualquer iniciativa referente à comunidade do Vale do Paraíba só terá validade


quando saída do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo e distribuída pela Fuvap,
que é a sua representante legal nesta região.

Em setembro de 1969, a Tenda Espírita de Umbanda Tupinambá pediu demissão do Fuvap.

Em 11/4/1970, recebemos do sr. dr. Estêvão Montibello, vice-presidente do Souesp, o ofício


s/n, dizendo: “Em reunião dos componentes do Souesp, o pedido foi rejeitado”.

Em 23/4/1970, a URU entrou com o pedido de reconsideração de ato ao Souesp.

Comunicado

À COMUNIDADE UMBANDISTA DO VALE DO PARAÍBA O Superior Órgão de Umbanda do


Estado de São Paulo (Souesp), na qualidade de Entidade Máxima, no controle das organizações
Um-bandistas do Estado, por este comunicado, adverte, a todas as tendas ou centros de
umbanda e aos umbandistas em geral, sediados na região do Vale do Paraíba, que somente
reconhece como sua representante legal na referida região para tratar dos assuntos atinentes
à Umbanda, a Federação Umbandistas do Vale do Paraíba (Fuvap), que tem a sua sede em
Guaratinguetá, e como Presidente atual o sr. Adylon de Oliveira Freitas, que é também o
coordenador do Souesp no Vale do Paraíba.

Toda e qualquer outra organização filiadora, com outro nome qualquer, que exista ou venha
a existir, dentro do perímetro compreendido entre Jacareí e Bananal, é, por nós, considerada
ilegal. Assim, todas as tendas e centros de Umbanda que a ela filiarem-se estarão em idênticas
condições e, desta forma, sem a nossa devida proteção.

São Paulo, 19 de julho de 1969 — Souesp — General Nelson Braga Moreira — diretor-
presidente

SÃO PAULO, 11 DE ABRIL DE 1970 SR. PRESIDENTE E DEMAIS MEMBROS DA DIRETORIA DA


UNIÃO REGIONAL UMBANDISTA —TAUBATÉ Em resposta ao ofício em referência a nós
enviado em 2 de março de 1970, em que solicitaram que fosse solucionado o pedido a nós
feito em junho de 1969, referente à filiação do órgão do qual V. S35, são dirigentes, tenho a
informar que em reunião realizada em 21 de março do corrente ano, o pedido fora rejeitado
por unanimidade de votos. Outros-sim, fazemos ciente a V. S115, que o superior Órgão de
Umbanda do Estado de São Paulo continua a prestigiar as Uniões Municipais Umbandistas que
se criarem no Vale do Paraíba, bem como assim em outras regiões do Estado.

Pelo Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo —

dr. Estêvão Montebello limo. sr. Benedito Martins — MD presidente da URU —

Taubaté/São Paulo

Federação Umbandista do Vale do Paraíba — a todas as tendas do Vale do Paraíba

I — A Federação Umbandista do Vale do Paraíba, por intermédio de sua Diretoria, vem por
esta circular comunicar aos presidentes de tendas, filiadas ou não a nós, que a organização
recém-criada em Taubaté, com denominação de “União Regional Umbandista” (URU), mesmo
estando registrada em Cartório, conforme fora comunicado por sua Circular n“ 01, de 19 de
agosto de 1969, não é, até a presente data, reconhecida pelo Superior Órgão de Umbanda e
Candomblé do Estado de São Paulo; desta forma, aquela organização não tem poderes para
incutir nas tendas do Vale do Paraíba esta ou aquela NORMA de procedimento, sobre os
trabalhos de Umbanda. Portanto, as preces distribuídas e por eles tidas como padronizadas
são somente atribuídas ao Primado de Umbanda, na capital do Estado, não foram oficializadas,
pelo Soucesp. Não existe nenhuma prece aprovada até o presente momento.

II — Solicitamos aos Senhores Presidentes de Tendas, principalmente das que forem filiadas a
nós, comunicar-nos, com urgência, toda e qualquer interferência, seja de qual for a
organização que se apresente em sua tenda.

III — Na região do Vale do Paraíba, só existe uma organização filiadora reconhecida pelo
Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo (Soucesp), e esta é a Federação
Umbandista do Vale do Paraíba (Fuvap), que tem sua sede provisória na Rua Augusto de Paula
Arantes, 262, fundos; Pedregulho (Guaratinguetá).

IV — Toda e qualquer iniciativa referente à comunidade umbandista do Vale do Paraíba só


terá validade quando saída do Superior Órgão de Umbanda e Candomblé do Estado de São
Paulo e distribuída pela Fuvap, que é a sua representante legal, nesta região.

Guaratinguetá, 18 de setembro de 1969 Adyllon de Oliveira Freitas

Após todos estes entraves, o Decano Tupinambá acabou filiando-se à Souesp, e depois, por
não conciliar seus valores, desligou-se, fundando o Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé
do Estado de São Paulo, entidade que atualmente conta com cerca de 6 mil templos
Associados e dezenas de Sedes Regionais.
Capítulo Nove

Pedro Furlan

1º/9/1924 - 06/9/1997

Nascido em Vinhedo (SP), filho de José David Furlan e Jacinta Balão Furlán.

Por ser de família pobre, Pedro Furlan trabalhou na lavoura até os 15 anos. A partir dos 16
anos, mudou-se com sua família para a cidade de Osasco (SP) e começou a trabalhar nas
indústrias, como Frigorífico Wilson, Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, e aos 22 anos
conheceu a senhorita Maria Casteluci, com quem constituiu família e teve dois filhos, Vera
Lúcia e José David.

Após o nascimento de seus filhos, Pedro Furlan entra para o mundo ESPIRITUAL, tinha então
24 anos de idade. Por ser de família católica apostólica romana, Pedro não tinha conhecimento
do que significava o Espiritismo.

Sua mediunidade se manifestou pela dor, pois já havia algum tempo que andava
extremamente nervoso e foi conduzido por alguns amigos a um centro espírita.

Lá se manifestou sua entidade de cabeça, o grandioso “Caboclo Pena Branca”. Em razão de


Pedro estar frequentando um centro de mesa branca, os seus dirigentes não aceitaram a
incorporação do seu caboclo, argumentando que se tratava de mistificação e que caboclos não
baixavam em mesa branca.

Em 1948, Pedro Furlan, de acordo com a orientação espiritual de seus mentores, fundou o
primeiro terreiro de Umbanda existente na zona oeste da Grande São Paulo.

No início, frequentavam-no apenas três ou quatro médiuns, mas em 1997 seu terreiro
contava com aproximadamente 600 médiuns.

Uma frase de “seu” Pedro dizia: “Se juntarmos todos os médiuns desenvolvidos em nosso
terreiro, não caberiam todos juntos no estádio do Maracanã”.

Em sua última entrevista, Pedro Furlan declarou que se sentia realizado em seu trabalho
espiritual, por ser uma pessoa muito respeitada por todos, pois a mediunidade foi a maior
dádiva que Deus lhe deu.

O Sr. Pedro Furlan é o fundador da “Igreja Espiritual Cristã Maior de Presidente Altino —-
Tenda Santo Antonio”, e também fundador da “União Regional da zona oeste da Grande São
Paulo”, fundada em 1973.

Pedro Furlan é um dos grandes responsáveis pela realização da 1ª Festa em Homenagem a


nossa grande Mãe Iemanjá, na baixada santista e que até hoje reúne grande quantidade de
terreiros que a reverenciam em dezembro, e é responsável também pela 1ª Festa em
homenagem ao senhor Ogum, realizada todos os anos no mês de abril, na cidade de Osasco, e
que hoje faz parte do calendário turístico dessa cidade.

Pedro Furlan foi grande defensor da emancipação da atual cidade de Osasco, foi o primeiro
vereador a assumir sua postura de sacerdote umbandista.
Por seus relevantes serviços prestados à comunidade, foi condecorado pela Polícia Militar de
São Paulo, com o título de comendador.

A Igreja Espiritual Cristã Maior de Presidente Altino — Tenda Santo Antonio, tem sua sede
própria à Av. Lourenço Colino, 302, Presidente Altino (Osasco).

Hoje e sempre rendemos nossas homenagens a este grande homem.

Salve Pedro Furlan!!!

Texto pesquisado por Belmiro D. Martins

A Igreja Espiritual Cristã Maior de Presidente Altino foi fundada em 09/12/48, tendo como
objetivo praticar e divulgar a Umbanda. Seu diretor espiritual e fundador é o sr. Pedro Furlan.
A orientação espiritual é de responsabilidade de duas entidades: Caboclo Pena Branca, da linha
de Oxóssi, e Pai José de Angola, da linha de Angola, dos Pretos-Velhos.

A Umbanda surgiu no Brasil como decorrência dos movimentos africanos ligados ao


Candomblé. Em 15 de novembro de 1908, o médium Zélio de Moraes incorporou o Caboclo
das Sete Encruzilhadas, fundando a Umbanda, uma religião brasileira.

Em nossa igreja, praticamos a Umbanda Branca do ano 2000; sem fumo, sem bebida, sem
comida e sem pólvora. Segundo a orientação espiritual que recebemos, os Guias de Luz não
necessitam desses materiais para realizarem seus trabalhos.

Em nossos trabalhos também não incorporamos os Exus. Esses espíritos, que fazem a ligação
com o mundo do ast inferior, são grandes e bons ajudantes. Existem muitos espíritos nessa
linha que estão em busca de evolução e de luz e colaboram, dando a firmeza e combatendo os
espíritos maus, que procuram atrapalhar o andamento dos trabalhos e a vida das pessoas. O
trabalho com esses espíritos, porém, é realizado pelos Guias de Luz, independentemente do
conhecimento dos médiuns.

O objetivo deste manual é dar uma visão geral da Umbanda, dos trabalhos realizados na
Igreja e das responsabilidades dos médiuns antes, durante e depois dos trabalhos.

Conhecendo a Estrutura da Nossa Igreja

HISTÓRICO DA IGREJA Pedro Furlan, o fundador da Igreja Espiritual Cristã Maior de Presidente
Altino, como a maioria dos médiuns que têm uma missão a cumprir, tem um história longa. De
família profundamente católica, sua reação inicial às atividades espirituais era de rejeição
total. Seu irmão mais velho, que era médium e também foi fundador dessa Igreja, trabalhava
em mesa branca, na linha kardecista. Pedro, após muita relutância, começou também a
trabalhar na mesa branca. Um dia, o chefe da mesa mandou que ele se retirasse, pois, dizia
ele, Pedro estava mistificando, ou seja, fingindo que estava incorporado. Nesse momento,
Pedro Furlan e algumas outras pessoas se retiraram e decidiram fundar esta Igreja.

No início, os trabalhos eram feitos nas casas das pessoas ou em locais alugados. Devemos
sempre lembrar que isso aconteceu em 1948 e, nessa época, ser umbandista era ser
“feiticeiro, macumbeiro, mexer com as coisas do mal” e outros adjetivos piores. O sofrimento
e a perseguição foram grandes, mas deram frutos!
A primeira incorporação do Caboclo Pena Branca se deu em 7/9/1948, assumindo então a
direção dos trabalhos e a responsabilidade pelos filhos de fé.

Muitas lutas foram travadas nesses anos todos. Graças à generosidade de um homem, o
deputado Carlos Kerlakian, associada com o trabalho da comunidade, foi possível construir o
prédio atual da Igreja, que é, sem dúvida, um dos maiores no gênero. Até chegar ao prédio
atual, que foi inaugurado em 21/4/1960, foram gastos 12 anos.

Atualmente, a Igreja conta com cerca de 600 médiuns, em diversas faixas de experiência.
Muitos já tem mais de 20 anos de trabalho, só nesta Igreja. Se fossem contadas todas as
pessoas que foram atendidas em todos estes anos de trabalho, certamente daria para encher
um estádio de futebol... O reconhecimento público do trabalho realizado por Pedro Furlan e
sua equipe é um fato consumado. Graças a seus esforços, a Festa de Ogum, que acontece em
abril, está incluída no Calendário Turístico da cidade de Osasco desde 1972.
Capítulo Dez

Banhos

Banhos

Todos os Decanos, independentemente de seus segmentos, de alguma forma se utilizam de


banhos com finalidades específicas e com as ervas apropriadas às suas funções.

Banho Higiênico

É o principal deles e os médiuns devem tomar no mínimo três banhos de higiene por dia, pois
sua matéria deve estar sempre muito limpa para melhor comunicação espiritual.

Do médium iniciante até o grande magista, além de seus conhecimentos e da sua experiência,
é para todos imprescindível e benéfica a prática da higienização mediúnica, como descrita no
livro Umbanda — Luz que Clareia Nosso Caminho (Pai Joãozinho 7 Pedreiras) e aqui
novamente citada.

O médium não deve preocupar-se apenas com a higiene do corpo por meio de banho e
perfume. O verdadeiro médium tem sete higienes básicas a cumprir em sua vida cármica, as
quais se seguem:

Higiene Mediúnica Mental: O bom médium mantém o pensamento livre da vida dos outros, a
menos que seja para o bem do outro, para auxiliar. Caso contrário, pensa apenas na sua vida.

Higiene Mediúnica dos Olhos: O bom médium não deve olhar com inveja ou com maldade,
deve olhar com bons olhos, sempre na direção do bem. A força magnética desprendida com os
olhos pode ser muito benéfica, porém, também causa transtornos. Exemplo das pessoas que
só pelo olhar recebem o apelido de “seca pimenteira” ou de “olho-gordo”. Existem ainda os
olhares que julgam; se quiser julgar alguém, basta olhar-se no espelho.

Higiene Mediúnica das Mãos: Usar as mãos como mediadoras. As mãos são o grande canal do
fluido vitalizante e espiritual entre o guia e o médium. Por seu meio, salvamos e curamos.
Mãos que plantam a erva, que muitas vezes será colhida pela mãe para preparar um santo chá
que salvará seu filho. Mãos que, pelo passe espiritual, dão vida a muitos que não conseguem
mais viver.

Higiene Mediúnica do Coração: Felizes aqueles que higienizam seu coração com o perdão.
Um coração limpo de crueldade e de mágoa está pronto para atender e entender aquele que
precisa de ajuda. O bom médium hospeda em seu coração a paz e perdoa não apenas 7, mas
70 vezes.

Higiene Mediúnica Bucal: Não proferir palavras que poderão fazer com que se percam
amigos. Estamos unidos por uma missão. Aqueles que, pelas palavras falsas, mentirosas e
perigosas, perdem amigos, estão perdendo tempo nesta vida. Jamais, pelas suas palavras,
tente esparramar o que Deus juntou.
Higiene Mediúnica dos Pés: Antes da ação, existe a intenção. Quando você pensa em ir a
algum lugar, seja qual for o objetivo de sua ida, antes mesmo de você chegar, chegará a luz do
seu pensamento. Se este pensamento for bom, a luz será clara, iluminando seus passos e tudo
dará certo. Se o pensamento for ruim, com certeza você não irá prosperar.

Higiene Mediúnica dos Ouvidos: E necessário cumprir com fidelidade os deveres de médium,
propondo-se a ouvir o próximo com cautela e respeito. Lembre sempre que a queixa e a dor
trazidas pelo assistente são sigilosas. Aqueles médiuns que ouvem fofocas e maldades serão
contaminados e, com certeza, não conseguirão ouvir a voz dos Guias quando estes tentarem
preveni-los do erro que estão cometendo.

Banho de Descarrego

Ervas: espada de Ogum/espada de Iansã /lança de Ogum/arruda macho/arruda fêmea.

Finalidade: purificar a aura (campo eletromagnético) e o campo psicoespiritual, das larvas


astrais ou elementos negativos que a estejam impregnando.

Banho de Defesa

Elementos: sal grosso/guiné/alecrim

Finalidade: reforçar as energias áuricas (perispírito) no combate às más vibrações.

Banho Calmante

Ervas: melissa/erva-doce/camomila/erva-cidreira

Finalidade: recuperar o equilíbrio físico e mental. Para efeito mais rápido, deve-se tomar
também o chá de uma dessas ervas. Não é aconselhável adoçá-lo.

Banho Vitalizante

Erva: cipó-de-são-joão Finalidade: recuperar o vigor físico

Banho de Fixação

Ervas: flor de amica/erva-de-santa-maria

Finalidade: manter a energia espiritual por mais tempo no corpo, beneficiando o contato
espiritual das Entidades (Guias) com os médiuns.

Banho Harmonizante e também Refrescante

Erva: alfazema
Finalidade: harmonizante: manter ou trazer o equilíbrio psíquico e físico nos relacionamentos
afetivos; geralmente é aplicado ao casal. Refrescante: a alfazema refresca a matéria e
harmoniza o perispírito.

Banho Solar

É todo banho tomado durante o dia, mesmo que esteja nublado (sem sol). A energia solar
vitaliza e energiza.

Banho Lunar

É todo banho tomado à noite, desde que a Lua esteja descoberta (não pode haver nuvens).
Pode ser aplicado em qualquer lua.

São os que apresentam um aspecto magnético, frio, úmido e calmante. Por exemplo: quando
se está com infecção, toma-se o banho específico, na Lua minguante, a fim de minguar o
problema.

Banho de Cabeça

Lavar a cabeça com erva-sagrada.

São banhos específicos para cada pessoa. O banho de cabeça ou de coroa requer extremo
conhecimento de quem o prepara.

Banho de Assento

Apenas para as partes íntimas, com a finalidade de cura ou energi-zação, sendo utilizada erva
apropriada a cada caso.

Observações:

1 — Todo banho ou chá depende de orientação espiritual, pois tem receita especial, lua e
horário correto para ser aplicado ou tomado.

2 — O banho de sal grosso, que muitas pessoas usam quando não se sentem bem, pode ter
efeitos perigosos:

a) quando tomado indiscriminada e constantemente, enfraquece o espírito, desequilibra a


imantação de defesa normal do corpo.

b) se a pessoa estiver sendo alvo de demanda em que foi usado, por exemplo, um Exu do Rio,
e a água do banho escorrer pelo ralo, atingindo a rede pluvial, fortalecerá o trabalho feito
quando atingir o leito do rio.
c) o banho de mar é o mais apropriado para médiuns de Umbanda, tanto que dentro da
tradição são necessários sete anos seguidos de banhos de mar na mesma data para que o
médium possa considerar-se apto a receber entidades.

d) Todo tratamento espiritual, seja ele um banho, um chá terapêutico ou outro tratamento
qualquer, não exime o paciente, em caso de doenças, de procurar assistência médica, ou, se já
está sob tais cuidados, continuar a segui-los, posto que a espiritualidade favorece a
consequente cura, desbloqueando possíveis obstáculos.

Citamos a seguir algumas receitas de banhos:

Banho de Defesa Feminino

Sintomas: pessoa apresentando mal-estar físico, tendo sonhos negativos, queixando-se de


arrepios pelo corpo, apresentando sensações ou premonições de perigo, excesso de bocejo.

Material:

1 espada de Iansã cortada em 7 pedaços 7 folhas de quebra-demanda 7 folhas de guiné 7


pontas de alecrim 7 galhos de arruda 7 folhas de fumo

3 folhas de comigo-ninguém-pode

Preparo: Levar uma panela ao fogo, contendo 3 litros de água. Quando ferver, colocar as
ervas uma a uma. Tampar a panela e deixar ferver por 7 minutos. Desligar o fogo e deixar
amornar, tampado. Após um banho de higiene, com sabonete de alfazema, neutro ou sabão
de coco, aplicar o banho dos ombros para baixo. Essa mesma receita pode ser usada por
homens, desde que a erva espada de Iansã seja substituída por espada de Ogum.

Banho para Fortalecimento do Perispírito

São dois tipos de banho a serem tomados no prazo de 7 dias. Primeiro tomar o banho tipo A e
dois dias depois, o banho tipo B. Sintomas: olhos lacrimejantes, semblante caído, desânimo,
apatia, sonolência, tremor nas pálpebras ou nos lábios.

Material.

1º Banho — Tipo A:

3 litros de água

1 folha de comigo-ninguém-pode 7 folhas de hortelã 1 folha de pitanga 3 folhas de eucalipto

2º Banho — Tipo B:

3 litros de água 1 punhado de açúcar ou 1 colher de mel de jataí 21 pétalas de rosas brancas

Preparo. Levar uma panela ao fogo, contendo 3 litros de água. Quando ferver, colocar os
ingredientes um a um. Tampar a panela e deixar ferver por 7 minutos. Desligar o fogo e deixar
amornar, tampado. Após um banho de higiene, com sabonete de alfazema, neutro ou sabão
de coco, aplicar o banho dos ombros para baixo. Essa mesma receita pode ser usada por
homens e mulheres, desde que estas não estejam em período menstrual.
Banho de Descarrego Infanto-Juvenil (dos 7 até 13 anos de idade)

Sintomas: Sono agitado, com pesadelos, choro sem motivo aparente, queixas de dor de
cabeça e dor no corpo, irritabilidade, semblante caído.

Material:

3 litros de água 7 balas de mel 3 pétalas de rosa branca 7 folhas de tapete de Oxalá 1 folha de
levante 3 folhas de melissa

Preparo: Colher as ervas pela manhã, em dia de sol, nunca com chuva. Quando o caso for
mais grave, substituir a melissa por uma espada de Ogum Mirim. Aplicar o banho até às 18
horas.

Atenção: Levar as crianças aos médicos alopatas regularmente para fazer exames.

Banho de Descarrego Tipo Escalda-pé, Seguido de Benzedura

Este é um tipo especial de tratamento a ser aplicado em casos como: sensação de corpo
pesado, excesso de sono, dores de cabeça de fundo espiritual, quebrante, mau-olhado,
pesadelos seguidos e tonturas de origem espiritual.

Quando se usam os termos: “de fundo ou de origem espiritual”, significa que já foram
efetuados exames clínicos, nada sendo diagnosticado. Material.

1 bacia de alumínio água suficiente para cobrir os pés 7 galhos de alecrim 1 galho grande de
arruda macho

Preparo: Ferver 2 a 3 litros de água, com o alecrim, durante 10 minutos mais ou menos.
Esperar que a temperatura esteja suportável à pele das costas das mãos. Não misture água fria
para apressar o processo. Colocar o preparado, sem coar, na bacia. Em seguida, a pessoa
deverá sentar-se numa cadeira, colocar os pés no preparado e começar a descarregar-se com a
arruda, passando-a no corpo várias vezes, de alto a baixo e de todos os lados. Fazer o escalda-
pés até que a água comece a esfriar. Existem casos em que o necessitado se apresenta muito
carregado, com tremedeira e outros sintomas, no momento do escalda-pé. Neste caso, o
doador/benzedor deverá fazer o sinal-da-cruz com a mão no meio da testa da pessoa, fazendo
o mesmo com a arruda, pois, do ponto de vista espiritual, nessa região situa-se o centro de
captação e retenção energética, que corresponde a todas as manifestações nervosas do
indivíduo. O centro de força frontal aglutina, transmite e dissemina energias para todo o
corpo. A benzedura frontal irradia energias vitalizantes e normaliza as correntes magnéticas do
nosso corpo.

Banho Harmonizante

Sintomas: irritabilidade, inquietude, angústia, dores no corpo provocadas pelo sistema


nervoso.

Material.

7 folhas de hortelã graúda 7 folhas de melissa 7 folhas de erva-de-são-joão


1 colher de sopa de mel de abelha, de preferência de jataí Preparo: Macerar, num recipiente
de louça, todas as ervas citadas, juntas, até obter a maior quantidade de sumo possível.
Misturá-lo a seguir em 3 litros de água fria (temperatura ambiente); coar a mistura e por
último acrescentar o mel. Deixar por 7 minutos em descanso e aplicar em seguida.

Banho Contra Inveja

Sintomas: inquietude, bocejos constantes, corpo pesado, sonolência, insucessos nas


atividades rotineiras.

Material

13 folhas de erva-de-santa-maria 7 folhas de arruda

7 folhas de alecrim 3 folhas de levante 3 folhas de tapete de Oxalá

Preparo: Colocar as ervas num recipiente com 3 litros de água. Ferver por 7 minutos.
Aguardar a temperatura morna para aplicar o banho.

Observação: Todas as ervas usadas em banhos ou chás devem ser descarregadas,


preferencialmente, em água de rio, porém, se não for possível, devem ser embrulhadas e
queimadas, fora de casa. Todo banho deve ser prescrito por uma entidade espiritual (guia de
consulta) ou por um orientador espiritual (sacerdote), pois não deve ser tomado sem
orientação, porque cada caso deve ser analisado cuidadosamente, para elaborar o banho
certo, com as ervas certas, o número certo, dia e horários apropriados, para obter o resultado
esperado.
Capítulo Onze

Depoimentos: Frases que Marcaram

Decano Juventino de Xangô — Eu o convidei para o meu segundo casamento e perguntei:


“Meu pai, você vai ao meu casamento, pois meu noivo é evangélico?” Ele me respondeu:

— Filha, você é muito importante para mim e eu estarei com você sempre, nas tristezas ou
nas alegrias. Conte sempre comigo!

Para mim, ele não é a pessoa que me dá rosas e sim a que tira os espinhos.

Elizabeth S. Estevam (filha adotiva)

“A respeito de Fundamentos, na opinião dele, as pessoas têm de ter pé firme, porque o


médium ou Yaô deve ter característica de não pisar fora da meta de jeito nenhum. Mesmo
dentro da Umbanda ou Candomblé, até hoje ele vem segurando uma verdadeira barra. Tem
uma opinião que dentro da religião as pessoas não devem virar as costas para aqueles que
ajudam.”

Marcos Campos

“É por isso que acontecem fatos milagrosos dentro dessa Religião tão amada; dentro de
nosso templos, de nossa Federação. Sebastião Campos sabia o que era a Religião levada a
sério. A Abucesp é sua criação. Ele tinha uma preocupação que a Religião não fosse
massacrada. Infelizmente, Deus leva a todos nós.”

Olinda Moratori — esposa

“A Religião ganhou com sua visão, cercando-se de pessoas que acreditavam em seus ideais,
com destaque aos diretores de templos antigos, filiados à Abucesp, que o conheceram e que
ainda hoje lutam conosco em prol da Religião.”

Edilene Campos — nora

“É difícil especificar um único feito do Pai Sebastião Campos, pois ele atuou em todos os
lugares em que se falava sobre a Umbanda e o Candomblé. Mas vale ressaltar que,
especialmente em nossa Federação, ele deu muita ênfase à humildade.”

Pai Roberto cPOxum —filiado Abucesp

“O velho guerreiro conseguiu unir muitas pessoas regidas pelos piores valores, e colocou a
ordem e disciplina novamente num patamar de lucidez e dignidade. Além disso foi um
padrinho sincero e coerente.”
Marcos Antônio — sobrinho

“Sebastião Campos foi muito democrático; aquele que se preocupou com o todo, sem deixar
de lado nenhuma parte.”

Lourdes Evangelista —família Abucesp

“Eu acho que Sebastião Campos deu uma grande contribuição à Religião da Umbanda, sendo
um símbolo expressivo dentro da Associação Brasileira.”

José Paulo — diretor Abucesp

“Eu acho que as obras assistenciais estão aí e testemunham o interesse do Padrinho


Sebastião pelo tema, como é o caso das crianças. Padrinho Sebastião Campos foi um exemplo
extraordinário de como um sacerdote de Umbanda, de Candomblé, deve agir e abrir as portas
de seu Templo.”

Edmara Cilene —família Abucesp

“Pai Sebastião Campos, além de muitas realizações, ensinou administração aos atuais
diretores da Abucesp, que têm seriedade e apoio dos filiados e da comunidade.”

Elisabete Elena —família Abucesp

“O grande número de participações serviria para consagrar nosso Decano Sebastião Campos,
mas houve muito mais.”

Rita Pereira —filha-de-santo

"É só verificar a doutrina religiosa da Associação Brasileira, patrocinada por Pai Sebastião
Campos e hoje sustentada por seu filho Marcos de Campos, e constataremos o quanto aquele
trabalhou e este ainda trabalha.”

Mãe Nice —filiada

“Religião, Educação e Cultura: três componentes essenciais de formação da cidadania.”

Pai Pérsio — filiado

“Um dos sacerdotes que procuravam amparar a todo momento. Seu povo, seus filhos choram
sua orfandade.”

Waldemar — compadre
“A maior característica que ele nos deixa como exemplo é sua indiscutível firmeza de caráter
ético.”

Maria — irmã

“Pai Sebastião foi um grande amigo.”

Mãe Isabel —filiada

“Pai Sebastião Campos fez um belo trabalho em todo o Estado de São Paulo e interior. Ele
não admitia privilegiar apenas a capital. Sempre fez questão de levar a Religião para outros
Estados. Foi um homem guerreiro e sua ausência será sentida sempre.”

Pai Valter — RJ

“Sebastião Campos deixa saudades na Umbanda, no Candomblé e também na política. Ele


não foi apenas um bom sacerdote, foi também articulador político. Nunca teve medo de
trabalhar.”

Dr. Celso Arruda — amigo

“Farei essa declaração sobre o conhecimento a respeito do senhor Sebastião Campos.

Conheci-o em 1973, num templo de Umbanda que era do Caboclo Vira Mundo, dirigido pela
Baba Alice. Depois desse dia, trocamos uma amizade tanto material como espiritual, pois
passei a considerá-lo como se fosse o meu Pai-de-Santo. Nesse tempo, eu ainda não tinha casa
aberta. Nesse dia ele conheceu meu Caboclo, então, viu que eu merecia ser Zeladora de Santo.
Ele se esforçou para fazer o registro da minha casa e me deu os papéis de presente.
Primeiramente devo ao meu Caboclo Sete Cipó, pela força que ele demonstrou ter. Como o Pai
Sebastião era um homem observador da seita, me deu esta oportunidade, porque eu já era
feita em outro templo. Mas como naquela época era caro para fazer registro, eu não tinha
casa aberta. Pai Sebastião era uma pessoa maravilhosa, muito conhecedor da parte espiritual,
pois muito aprendi com ele, além do que já sabia. Ele era um homem enérgico e responsável
pela parte espiritual. Com ele era tudo na clareza, se não, não tinha oportunidade. Cuidava
muito da seita dele, dos terceiros dos quais era responsável. Sua federação era maravilhosa,
pois ele estava sempre presente, sempre ensinando às suas Babas como deveriam manter os
seus templos. Queria que ele estivesse na Terra para continuar aqueles ensinamentos
maravilhosos.”

Baba do Templo de Umbanda Sete Cipó e Preta-Velha Mãe Zeferina, Isabel Gonçalves de
Figueiredo

“Conheci meu Pai Espiritual, o Senhor Sebastião Campos, em 1974, quando ele tinha casa na
Avenida Luiz Stamatis, a qual passei a frequentar. Eu já era desenvolvida, pois já participava de
outra casa, e quando conheci meu Pai Sebastião, achei que devia pedir a ele que me acolhesse
em sua casa, o que ele fez com muita atenção e responsabilidade. Ele tinha muitos filhos-de-
santo, dos quais sempre cuidou com carinho e respeito. Acompanhei vários trabalhos
espirituais, nas matas, na praia, louvando nossa mãe Iemanjá. Então, meus Orixás pediram a
ele que queriam sua casa, pois acharam que já era hora de me preparar, o que meu Pai
Sebastião atendeu prontamente. Orientou sobre o que devia ser feito, fizemos todas as
obrigações e fiz meu recolhimento, com mais duas filhas. Tenho casa aberta na Avenida
Sanatório, 1211, há 24 anos, graças a Deus e ao meu Pai Sebastião Campos, que me ensinou
como orientar os meus filhos. Tudo corre bem; somos uma família. Agora procuro, da mesma
forma, colaborar com o sucessor do meu Pai, que é o senhor Marcos Campos e sua esposa
Edilene. Continuamos juntos na nossa Federação.”

Nize do Patrocínio Vilches — Diretora Espiritual do Templo de Umbanda Caboclo Sete Voltas

“Francisco Moles Guerra, conhecido como Babalaô Pai Francisco de Ogum, conversando com
Dona Clotilde, contou-lhe toda a sua história. Ela disse que iria levá-lo à Federação, da qual seu
Pai-de-Santo era presidente e chefe do Templo de Umbanda Rei dos Reis: seu nome era Tatá,
Pai Sebastião Campos. Chegando lá, foi apresentado a ele e por ele foi muito bem recebido.
Francisco contou-lhe sua história. Pai Sebastião perguntou o seu nome e disse-lhe: ‘Francisco,
enquanto você respirar, há vida, não vamos abandoná-lo, pelo contrário, vamos cuidar de
você’. Sua primeira providência foi fazer um tira-mão e disse-lhe: ‘Vamos cuidar do seu santo e
dar todas as obrigações’. No decorrer dos meses que se seguiram, foi dando suas obrigações
dos santos. Durante os primeiros sete anos, entre uma obrigação e outra, Francisco
acompanhava Pai Sebastião em suas viagens ao Rio de Janeiro, onde ele atendia seus filhos-
de-santo. Pai Francisco também o acompanhava em quase todos os seus trabalhos, sendo seu
braço direito, para poder tornar-se digno de uma chefia. Em 12 de setembro de 1984,
aconteceu sua saída de santo como chefe de terreiro, Babalaô Pai Francisco. Quando ele fez
seu juramento, dentro da camarinha, Pai Sebastião lhe disse que todo o seu fundamento teria
de ser levado até o dia de sua morte. Pai Francisco, grato por tudo que por ele havia sido feito,
não aceitou tal juramento, dizendo que não queria que todo esse juramento, que continha
seus ensinamentos e fundamentos, terminasse com a sua morte, ou seja, sua passagem, e só
juraria se fosse tudo isto passado de filhos para filhos, durando assim, uma eternidade. Pai
Sebastião aceitou e então todos os filhos que Pai Francisco faz a feitura do santo seguem este
mesmo juramento. E, assim, continuam fieis à sua memória até os dias de hoje.

Francisco Moles Guerra — Babalaô Francisco de Oguni

“Meu nome é Nelza Rosa Vieira de Oliveira. Pertenço ao corpo mediúnico do Templo de
Umbanda Caboclo 7 Pedreiras e sou uma das sócias-fundadoras do Templo. Conheço Pai
Joãozinho desde a adolescência, porém nosso relacionamento espiritual começou em 1971,
quando soube que ele era espírita, assim como sua família, pois a minha filha primogênita
estava hospitalizada, desenganada pela medicina, e eu precisava de um benzedor ou
benzedeira que fosse espírita para benzê-la, pois era a única esperança de salvá-la. Levada por
ele e por seu pai a uma benzedeira, num trabalho em que ele também incorporava, conheci o
Pai João do Congo, Preto-Velho que atualmente é o guia chefe na linha dos pretos-velhos em
nosso Templo.
Nessa época, eu nada sabia de espiritualidade e muito menos que Pai Joãozinho seria meu Pai
Espiritual. Hoje é, além de meu Mestre, Orientador Espiritual, meu melhor amigo e
conselheiro. Acompanhando-o por esses 25 anos, posso afirmar sobre a sua dedicação e
trabalho exclusivo para a Umbanda, no afã de ajudar o próximo. Não mede esforços, não tem
dia nem hora no cumprimento de suas obrigações espirituais ou para socorrer alguém, saindo
altas horas da madrugada para fazer uma “Obrigação de Santo”, para um filho ou pessoa que
lhe pediu socorro. E uma pessoa generosa e humana. A justiça é sua característica marcante.
Costuma tratar as pessoas com igualdade, não oferecendo privilégios ou regalias a quem quer
que seja, filhos de fé ou consulentes, assistentes que vêm ao Templo. Contudo, propicia
oportunidade de trabalho para evolução da pessoa, conforme seu potencial. Assim, aos seus
filhos espirituais não ensina apenas o que concerne à Religião, mas tudo que possa modificar
um indivíduo, levando-o a ser melhor. Trabalha o potencial de cada médium, desenvolvendo
sua capacidade intelectual de energia, de concentração, o que faz com que este tome-se
seletivo, escolhendo o que é para si ou não, inclusive possibilitando livrar-se de possíveis
perigos. Um comentário notório das pessoas que conhecem seus filhos espirituais é a
observação de que são pessoas brilhantes, iluminadas, competentes, isto posto como
resultado dos ensinamentos adquiridos e pela disciplina. Com certeza, se pudesse, cada
médium aqui escreveria sobre sua mudança como pessoa, de seu sucesso na vida familiar,
social, e da aplicação do aprendizado adquirido no setor profissional. Pai Joãozinho é uma
pessoa que está sempre muito além de onde estamos, sem ser visionário ou pensar em
utopias. E é dessa forma que administra toda a sua vida; está sempre chegando na frente,
inovando. Costuma dizer que o cérebro gosta de gravar o que é bonito; para um lugar ser
sempre agradável, ou para um relacionamento de qualquer espécie ser duradouro, ou para
uma rotina não ser monótona, é preciso colocar um colorido, detalhes que façam a diferença.
Não gosta de fazer propaganda de seu trabalho espiritual, não conta milagres, nem feitos de
vulto. Simplesmente os faz. Como tudo no universo fica registrado, o tempo e os fatos
incumbir-se-ão de fazer a fama de quem os fez. Por ética espiritual não citarei nomes, porém
centenas de pessoas tiveram sua vida preservada, ou conseguiram sucesso com seus negócios
profissionais, como vítimas de trabalhos de magia que foram por Pai Joãozinho desfeitos.
Muitas curas são conseguidas, pessoas que se restabeleceram sem passar por cirurgias. Um
fato também marcante são as previsões que costuma fazer, não só na passagem de um ano
para outro, mas constantemente. Citarei um caso acontecido comigo. Jamais esquecerei a
primeira previsão feita por ele sobre algo que me aconteceria. Isto há 24 anos. Eu, minha
família e uma amiga íamos para a Praia Grande, num sábado à tarde, após aula na E. M. Pai
João do Congo. Então, perguntei a ele se tudo correria bem. Pai Joãozinho respondeu que sim,
desde que, em vez de ir naquela tarde, fôssemos no dia seguinte. Inexperientes e achando ser
apenas uma sugestão, eu e minha amiga resolvemos seguir nossa própria decisão, e fomos. Ao
chegar próximo à Via Anchieta, o tempo escureceu e começou a chover. Com dificuldades,
chegamos em São Vicente, quando a chuva transformou-se em tempestade violenta com raios,
granizos, enchentes e desabamentos. O carro ficou parado numa enchente e, com muito
custo, conseguimos nos abrigar num posto de gasolina que, com a ventania teve seu telhado
arrancado. Trânsito em qualquer sentido era impossível; todas as saídas estavam fechadas por
inundações e barreiras. Concluindo: só chegamos ao destino no dia seguinte. Nada de pior nos
aconteceu, pois no carro havia três crianças e, por elas, fomos poupadas e protegidas pela
espiritualidade. Hoje, a palavra de Pai Joãozinho, para mim e todos que procuram segui-lo, é
uma LEI que nunca falha. Hoje, o planeta todo fala na preservação da água, que haverá falta de
água no mundo; Pai Joãozinho já havia previsto isso há anos, até mesmo dito aos seus filhos:
‘Vocês precisam aprender a colher água das pedras’. Eu agradeço a Deus, ao Universo inteiro
por pertencer a esta casa Santa e ter Pai Joãozinho como meu Mestre.”

“Meu nome é Akie Yamaoka, tenho 47 anos e 20 anos de Umbanda.

Em 1981, ti ve meu pai acometido por um câncer e, por recomendação de um colega, cheguei
ao Templo de Umbanda Caboclo 7 Pedreiras. Confesso que estava receosa, pois ouvia muitos
comentários negativos sobre a Umbanda, como maldade, demônio, macumba, etc.

Quando adentrei a sala da assistência, fiquei deslumbrada com as mensagens afixadas nas
paredes daquela casa tão humilde, mas com tamanha intensidade que, naquele momento, não
percebi, mas era o meu chamado. As mensagens eram as seguintes:

‘SE A TUA CURIOSIDADE AQUI TE CONDUZ, BEM-VINDA SEJA A TUA CURIOSIDADE.’

‘A MAIOR HERANÇA QUE OS PAIS PODEM DEIXAR AOS SEUS FILHOS É UMA FÉ FIRME EM
DEUS.’

‘PARA SUBIRMOS A MONTANHA DA ETERNIDADE, É PRECISO DESCERMOS O VALE DA


HUMILDADE.’

‘O QUE HONRA UM CARÁTER E O MANTÉM FIRMEMENTE LIGADO AO QUE É JUSTO, É


RECONHECER O ERRO QUANDO SE TEVEjA INFELICIDADE DE COMETÊ-LO.’

‘PARA QUEM CRÊ EM DEUS, NENHUMA EXPLICAÇÃO É NECESSÁRIA; PARA QUEM NÃO CRÊ
EM DEUS, NENHUMA EXPLICAÇÃO É POSSÍVEL.’

Como poderia a Umbanda.ser o que falavam se ali estavam escritas mensagens tão belas? Foi
o que primeiro me ocorreu. Fui atendida e recebida muito bem e aos poucos explicações
foram dadas e conheci pessoalmente o Pai Joãozinho.

Meu pai passou por uma longa cirurgia no dia de Ogum e, com os trabalhos espirituais
recebidos, ele se curou daquele mal, sobrevivendo mais 17 anos, muito felizes e saudáveis. O
que muitos não sabem é que pensamos que chegamos à Umbanda pelos outros, pela dor, mas,
na verdade, e com certeza, é por nós mesmos, que precisamos cumprir nossa missão
espiritual, que é a de aprender, aprimorar todos os conhecimentos, para poder auxiliar todos
aqueles que precisam de uma palavra, de um chá, de uma benze -dura, um passe ou um
trabalho espiritual. A Umbanda necessita de médiuns fortes, bem formados e Pai Joãozinho 7
Pedreiras prima pela seriedade, pela rigidez como nos conduz, seja no cumprimento de todas
as nossas obrigações ou na postura diante das adversidades da vida. Tudo isso faz com que a
nossa casa, nossos médiuns e os consulentes vibrem na mesma sintonia, pois uma casa
comandada por Xangô exige respeito e disciplina de todos quantos a ela cheguem. Acrescento,
ainda, que a formação ética e moral de Pai Joãozinho 7 Pedreiras faz com que o Templo de
Umbanda Caboclo 7 Pedreiras seja uma família organizada hierarquicamente, dando-nos bases
de respeito e educação. Pai Joãozinho trabalha também no desenvolvimento das pessoas
como um todo, visando o pleno desabrochar de todas as potencialidades, trabalhando todos
os medos, inseguranças e traumas, para que o aprendizado com todas essas experiências sirva
como bagagem e tome a pessoa forte, segura de si, podendo assim ter uma vida saudável e
feliz. Fui conduzida todos esses anos pelo meu Pai Joãozinho, que pacientemente foi me
mostrando o caminho e como percorrê-lo com sucesso. Afirmo categoricamente que ele é o
responsável pela pessoa que sou hoje, madura, segura, íntegra e feliz, pois foi aqui que
encontrei respostas para tantas dúvidas, consolo para tristezas e mente lúcida para lidar com
os problemas, obtendo apoio e solução para todos eles. Que Oxalá e todos os Orixás o
abençoem e o conservem, e que todos os seus filhos se orgulhem do Pai, Mestre e amigo que
temos.”

“Meu nome é Zuleide Baptista e sou médium e fundadora do Templo de Umbanda Caboclo 7
Pedreiras, presidido por Pai Joãozinho 7 Pedreiras. Iniciei minha vida religiosa no Catolicismo e
em 1976 tive meus primeiros contatos com a Umbanda. Sempre fui fascinada pelo que
considerava “folclore”, pelas giras que presenciava, na praia, durante minha infância e
adolescência, mas meus familiares não permitiam que eu me aproximasse, dizendo que era
muito perigoso! Porém, o destino e a missão se revelaram aos meus olhos quando, na
quaresma de 1976, conheci Pai Joãozinho por meio de alguns amigos. Presenciei a
incorporação do Caboclo 7 Pedreiras numa reunião familiar, realizada na casa de nossa
inesquecível ‘Dona Didi’, venerada e saudosa mãe de Pai Joãozinho.

A princípio, não entendi bem o que estava acontecendo em meu íntimo. Sentimentos de
medo do desconhecido e uma sensação de plenitude que jamais havia experimentado! A partir
daí, minha vida começou a mudar e a transformação era visível demais para passar
despercebida. Hoje, meus familiares me acompanham na missão assumida e amam a
Umbanda, crendo nela e respeitando-a como a grande Religião transformadora, que traz a
sabedoria do bem viver, pela harmonia e pela disciplina. Pai Joãozinho teve e tem grande
influência positiva na minha evolução. Suas atitudes, sempre coerentes e verdadeiras, seus
valiosos ensinamentos, a presença marcante como Pai Espiritual, amigo e irmão ao mesmo
tempo, fizeram dele o grande líder, que leva com profunda seriedade sua missão de Sacerdote
abnegado, que pauta sua existência na fé, no amor incondicional e na caridade. Pai Joãozinho
é, a um só tempo, um profundo conhecedor dos mistérios da Umbanda, um estudioso
incansável dos benefícios traduzidos pelo uso correto das ervas e alimentos em geral, detém a
sabedoria da influência das cores e das irradiações astronômicas na vida humana e na
natureza que nos cerca e manipula os elementos mágicos com facilidade e prudência. A
radiestesia e a radiônica, tão evidentes na atualidade, têm sido alvo das experiências de Pai
Joãozinho há muitos anos e, com sua aplicação científica, ele nos beneficia física e
energeticamente. No campo da Cura Espiritual, têm sido inúmeros os sucessos obtidos, com o
concurso amoroso de Espíritos de altíssimo grau de conhecimento, como seus mentores: dr.
Antunes Vieira da Cruz, dr. Heberton e dr. Brito, maravilhosos médicos do Astral.

Devo a eles curas de doenças gravíssimas em minha própria família, assim como muitos
outros, que contaram com seus benefícios em momentos de grande aflição! A psicologia
aplicada aos eventos Espirituais deram-lhe a facilidade em lidar com as energias dos campos
vibracionais que regem a Terapia Psicoespiri-tual. Trata cada pessoa como um indivíduo único
e especial, sem desprezar qualquer detalhe, por menor que possa parecer à nossa curta visão
humana. As crianças e os idosos têm sempre uma especial atenção e preocupação em seu
magnânimo coração.

Por esses motivos todos e por tudo que ele ensina a seus Filhos de Fé, pelas aulas na Escola
de Médiuns Pai João do Congo, posso afirmar, sem medo de errar, que fui abençoada por Deus
ao ser escolhida para participar novamente desse grupo em que há tantas vidas reunidas em
nome da evolução espiritual!

Para finalizar, um pensamento de Pai Joãozinho:


‘O tempo que rege a vida e nos permite trilhar pelos caminhos da espiritualidade é o mesmo
que tão docilmente nos permite excur-sionar pela imensidão da eternidade...

Ajudar o próximo mais próximo é, a um só tempo, dar-se e receber a si mesmo, na plenitude


do amor Divino..

“Meu nome é Elza Gaino, sou sócia do Templo de Umbanda Caboclo 7 Pedreiras há 22 anos.

Agradeço a Deus por ter me encaminhado a este Templo, onde conheci Mestre João Batista,
que carinhosamente chamo de Pai Joãozinho. Sinto-me muito bem, alcancei muitas graças.
Considero Deus, em primeiro lugar, e depois os Guias e o Pai João do Congo. Nos momentos
mais difíceis de minha vida, tive apoio muito grande de todos deste Templo, que me ajudaram
muito numa cirurgia que fiz, graças ao dr. Heberton, guia de cura, que trabalha com Pai
Joãozinho. Agradeço também o emprego que meu esposo conseguiu e que estava muito difícil,
e hoje ele está trabalhando. Na minha família, tenho uma sobrinha que sofria de ataque
epiléptico e graças ao trabalho nesta casa, chefiado por Pai Joãozinho, ela teve tratamento e
não tem mais ataques. Agradeço a Deus por ter encontrado uma pessoa maravilhosa. Tudo o
que tenho lhe pedido, com sua educação, faz sempre por onde atender, aconselhar, mostrar o
caminho certo. Nunca diz não, está sempre com as mãos estendidas para nos socorrer. Peço a
Deus que possamos estar juntos por muitos anos. Agradeço mesmo, do fundo do coração, por
ele existir, pois não só nos atende, como também todos nós filhos da casa o temos como
exemplo.”

“Eu, Eduardo Ranieri, e minha esposa e filha, freqiientamos este Templo como sócios há
quatro anos, em razão de uma mudança total em nossas vidas, tanto financeira como
espiritual. Indicados pela nossa amiga Rose, encontramos no Pai Joãozinho um mestre que nos
orientou, dando um rumo à nossa vida, o qual seguimos até hoje, podendo assim suportar os
momentos difíceis pelos quais estamos passando. Sempre nos deu um conforto espiritual em
todos os momentos de aflição, bem como encontramos nele um grande amigo. Encontramos
também no Templo pessoas sempre preocupadas em ajudar a quem as procura, dando uma
palavra de carinho e incentivo.”

“Ao iniciar estas linhas, é importante ressaltar a grande honra e privilégio que me foram
dados. Aqui estarei, falando de uma casa e de uma pessoa muito especiais. Meu nome é
Tereza Cristina R. Lacerda Moraes e há dois anos comecei a frequentar o Templo de Umbanda
Caboclo 7 Pedreiras e, a partir daí, muita coisa mudou em minha vida. O atendimento que
recebo de todos da casa é de grande e incomparável atenção. Sinto que a cada dia descubro a
verdadeira energia com que o poder espiritual nos faz enxergar e discernir o que é melhor
para cada um de nós.

Os problemas, as dificuldades e os obstáculos surgem para o nosso crescimento e aprendi


isso a partir do momento em que comecei a conhecer os ensinamentos de Pai Joãozinho. O
amor que ele recebe dos seus irmãos(ãs) e filhos(as) e o carinho que ele tem com todos é
formidável. Rogo ao senhor Jesus que abençoe e ilumine seus caminhos, pois ele é portador de
um dom maravilhoso, o dom de transmitir os ensinamentos do amor, da caridade e, acima de
tudo, do respeito ao próximo. Deixo aqui meu testemunho de pura gratidão a esta casa e em
especial ao Pai Joãozinho, que sempre tem uma palavra amiga para confortar os momentos de
aflição e desespero em que nos encontramos.

Um abraço fraterno a todos desta casa.”

Meus Três Mentores, Pais e Amigos (Elcio de Oxalá)

PAI SEBASTIÃO CAMPOS

Foi sem dúvida um grande líder religioso. Ele brigava com seu associado quando este fazia
algo de errado, pois levava muito a sério a Religião. Eu tive o prazer de conhecê-lo bem e
participar dos eventos, reuniões, realizados na sede da Federação Brasileira dos Umbandistas,
situada à Rua Calandra, na 5, Vila Mazzei. Lembro-me com saudade das festas de Cosme e
Damião realizadas por ele e também das procissões de Nanã, todo dia 26 de Julho, das
homenagens à nossa Mãe Iemanjá na praia do Flamengo (RJ), sempre no dia 31 de dezembro,
e também em Praia Grande nos dias 8 de dezembro. Ele quem levou o canto paulista para o
Rio de Janeiro, ao terreiro de seu Pai Jerônimo. Pela primeira vez eu tive o privilégio de
participar, cantando para meus irmãos cariocas. Sem dúvida esta personalidade deixou uma
lacuna difícil de ser preenchida.

SEU PEDRINHO

Pedro Furlan; grande batalhador incansável deste exército branco de Oxalá. Eu estava
começando minha carreira como cantor quando o conheci, tive o prazer de participar de vários
trabalhos na Igreja Cristã Maior do Brasil, logo comecei a participar dos eventos de Ogum lá no
Ginásio Liberato, do seu aniversário em 7 de setembro. Seu Pedrinho gravou comigo a prece
de Cáritas que está no novo CD — em Bragança Paulista — Indaiatuba, eu tive a felicidade de
ser aplaudido pelo sr. Pedro Furlan.

Os Decanos

PAI JAÚ

Quem foi Pai Jaú? -— Eu o conheci quando ele ainda atuava como goleiro. Ele jogou no
Esporte Clube Corinthians Paulista. Quando eu li no jornal “Jogador deixa de jogar futebol para
ser macumbeiro” eu achei graça.

Um ano depois eu estava ao lado deste grande Baluarte, Pai do Pai Jamil. Eu tinha um carinho
grande por ele, depois de sua passagem, eu prestei uma homenagem a ele, primeiro em vinil e
agora faz parte do meu CD Tributo a Pai Jaú.

ÉLCIO DE OXALÁ

Que também é considerado um Decano da música umbandista, nasceu em Varginha (MG),


veio para São Paulo em 1950. Dois anos depois, iniciou-se espiritualmente no Centro Espírita
Santo Agostinho, frequentou o Templo de Umbanda Padre José de Alencar e Templo de
Umbanda Caboclo Pena Branca. Deu obrigação de Ogã e é iniciado na Umbanda há mais de 25
anos. O primeiro cantor da Umbanda já gravou mais de 20 discos de vinil e 3 CDs. É
considerado o relações públicas da Umbanda e acumula os cargos de diretor do (Souesp)
Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo, da Escola de Corimba Elcio de Oxalá
(fundada por incentivo de Mestre Xaman), Federação de Centros Espíritas de Umbanda do
Estado de São Paulo e dirigente dos cultos de Umbanda da Casa de Detenção de São Paulo.
Capítulo Doze

Hilton de Paiva Tupinambá

1/11/1931 - 25/5/2002

O Cidadão: Natural da Cidade de Rezende (Rio de Janeiro). Filho de Oswaldo da Silva


Tupinambá e Rita de Paiva Tupinambá. Pai de 25 filhos, avô de 16 netos, bisavô de 4 bisnetos e
cerca de 162 parentes.

O Militar. Primeiro-tenente da reserva da Polícia Militar de São Paulo. Ingressou nas fileiras
da gloriosa Polícia Militar do Estado de São Paulo no dia 13 de maio de 1952, na cidade de
Taubaté, na graduação de soldado. Foi promovido a cabo em 1954, promovido a terceiro-
sargento em 1956, promovido a segundo-sargento em 1964, promovido a primeiro-sargento
em 1966, e, finalmente, promovido ao posto de segundo-tenente em 26 de janeiro de 1981;
posteriormente a primeiro-tenente, tendo passado para a reserva em 1983, aos 31 anos de
serviços prestados ao Estado de São Paulo.

O Religioso: Pai Tupi de Xangô — Digina: Taleoco — Feitura: 8/12/1939.

Cargos que ocupou durante sua vida: Foi um dos fundadores da Cruzada dos Militares
Espíritas de Taubaté, da Tenda Espírita de Umbanda Tupinambá em Taubaté, do Movimento
Umbandista de Taubaté e Vale do Paraíba, em 1953.

Ocupou o cargo de Presidente do Conselho Fiscal e outros cargos na União Regional


Umbandista de Taubaté.

Um dos fundadores do Conselho de Ética de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo,


Secretário da Sociedade Amigos dos Bairros da Zona Leste de São Paulo e Instrutor da Polícia
Mirim de Guaianases.

Vice-presidente do conselho Fiscal da Sociedade Amigos do Bairro de 15 de Novembro.

Fundador e presidente do Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo;


fundou 49 Federações de Umbanda e Candomblé no Estado de São Paulo, Paraná e Santa
Catarina, sendo seis federações inativas.

Presidente e fundador da União Regional Umbandista de São Paulo.

Secretário de várias Tendas de Umbanda e Candomblé.

Em 28/3/1984, Conselheiro Nacional da Confederação de Brasília de Associações de Imprensa


— filiada à Organização Internacional de Jornalistas (Genebra), Imprensa Remido.

Em 8/6/1981, pela ata na 74, de 10 de maio de 1981, do Conselho Geral, foi aceito como
conselheiro da Ordem dos Padres Missionários do Sagrado Coração de Jesus, e designado
presidente do Conselho Fiscal da Ordem.

Em 11/6/1984, foi aceito como Sócio Grande Benemérito da Confederação Brasileira de


Associações de Imprensa, filiada à Organização Internacional de Jornalismo — Genebra.

Em 19/12/1984, em reunião da Diretoria e do Conselho Deliberativo da Confederação


Brasileira de Associação de imprensa, passou a integrar, como Membro Nato, o Egrégio
Conselho de Grandes Beneméritos.
Secretário da Sociedade Amigos do Jardim São José, em Guaianases.

Vice-presidente do Conselho de Ética de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo.

Presidente do Clube Desportivo Municipal da Parada 15 de Novembro.

Presidente da Sociedade Amigos do Bairro de 15 de Novembro e Adjacências.

Em 12/4/1986, Secretário da Sociedade Amigos do Parque Guarani.

Em 15/3/1988, Presidente do Conselho Fiscal do Parque Guarani.

O Escritor Hilton de Paiva Tupinambá

Nestes 60 anos de convivência espiritual e de direção da Umbanda, editou dois almanaques e


vários livros, entre eles o Prece para sua Meditação e Sacramentos na Umbanda, editados em
1982.

O editor da Editora Palas, do Rio de Janeiro, sintetizou a obra do Decano Tupinambá com o
seguinte texto de abertura:

“Para fazer-se um livro que desse ao leitor meios para simplificar seu ato de contrição, este
escritor visitou templos, terreiros, pais-de-santo, curandeiros. Compilou estas páginas que
levarão o leitor a conseguir aquela paz interior. Nessas palavras resume a sua intenção e o
espírito que presidiu o seu lavor de compilação. Só que mais uma vez a obra superou o criador.
De sua modesta e despretensiosa coleta, na verdade, apresentamos as preciosas Aberturas e
Encerramentos dos trabalhos e oferece-nos, pela primeira vez, sem dúvida, os Rituais do
Batizado, do Casamento e das Encomendações na Umbanda. Não são todos os sacramentos da
Umbanda, mas já é por certo uma contribuição importante para os codificadores e para
aqueles outros ciosos de padronizar os ritos. Uma das características da Umbanda é o seu
ecletismo ou, até mesmo por histórica vocação, o seu sincretismo; eis que entre as preces e as
orações, deparam-se orações católicas, deparam-se orações de domínio universal e orações
espíritas, ao lado de rezas e crendices populares. O acervo histórico, desde que prenhe de fé e
piedoso, é então assimilado pelos praticantes da Umbanda, pois move-se-lhes, antes de tudo,
o fervor e a convicção de que o Eterno está entre nós, vivo no nosso quotidiano, muito mais
perto do que podemos supor, pronto a vir em socorro, desde que as nossas súplicas e pedidos
sejam puros, cheios de fé e esperança. Daí porque encontramos nestes livros, ao lado da
seriedade dos rituais e da elevação das aberturas e encerramentos de trabalhos, um sem-
número de preces singelas e ingênuas, até as do mais elevado espírito religioso, numa
heterogênea composição de misticismo e fé, que define na verdade a alma de nossa gente, de
inquebrantável religiosidade, da qual a Umbanda é mais fidedigno espelho.”

Homenagens e Medalhas

Em 13/2/1979, foi agraciado com a medalha “José de Anchieta”, outorgada pela Câmara
Municipal de São Paulo, pelo vereador Mário Nato, hoje Deputado Federal.

Em 7/1/1983, foi agraciado pela Sociedade Brasileira de Educação e Integração, com a


Medalha AnaNery.
Em 15/11/1985, pela Sociedade Brasileira de Artes, Cultura e Ensino, foi agraciado com a
“Medalha Carlos Gomes”, oficializada pela Prefeitura de Campinas pelo Decreto n2 4.506, de
11 de julho de 1974, em reconhecimento aos seus méritos.

Em 23/11/1984, pela Sociedade Cultural e Condecorativa do Brasil, foi agraciado com a


“Medalha Infante Dom Henrique”, Láurea Oficial da Câmara Municipal da Estância Turística de
Poá, conforme Decreto na 005/78, nos termos do artigo 27 dos seus Estatutos Sociais, pelos
relevantes serviços prestados à coletividade, com reconhecimento aos seus dotes morais,
cívicos, sociais e culturais.

Títulos Honoríficos', recebeu oito títulos, entre eles o da Academia Brasileira de Ciências
Políticas.

Comendas: entre outras seis comendas, figura a da Ordem dos Cavaleiros e Magos do
Emirado.

Diplomas de Honra ao Mérito: impossível citar todos os seus diplomas, chegam perto dos 50.

Amigos Contemporâneos

• Alfredo Marfins — Claudina de Paula Lino (Ialorixá) — Coronel Delfim Neves — dr. Ademar
Amorim da Silva (falecido)

— dr. Antônio Luiz Esmerim Rodrigues — Antônio Pereira de Mello (falecido) — dr. Antônio
Salim Curiati — dr. Jodir Seabra da Silva — dr. José Braziel de Queiroz.

• dr. Osvaldo Antônio Aranha (falecido) — dr. Paulo Salim Maluf

— dra. Zeila Mary de Oliveira.

• Elpídio Binoto (falecido) — general-de-exército dr. Álvaro Barrozo Júnior (falecido).

• Graciana Miguel Fernandes — fundadora da União Espírita Santista (falecida).

• ten. José Vareda e Silva (fundador do Círculo Umbandista do Brasil) — ten. José Benedito
Mendes de Faria — Laurentino Xavier Santos Filho — prof. José Frota de Almeida.

• sr. Taciano Mendes — presidente de honra e fundador da Associação Umbandista da


Grande São Paulo (falecido).

Obras Culturais de Tupinambá

• Jornal Vanguarda de Umbanda — alcançou recorde de 50 mil exemplares em uma edição.

• Prece para sua Meditação, em 1982 — Sacramento na Umbanda, em 1982.

• Almanaque do Umbandista, em 1992 — Almanaque do Umbandista, em 1998.

• No prelo: Vocabulário Tupi-Guarani.

Muito triste:

• A morte do índio Pataxó, em Brasília; fiz até uma matéria sobre o fato.
• Brasil, apesar de seus 500 anos, ainda luta por sua libertação, pois ainda somos
discriminados.

• Aumenta mais ainda a minha tristeza, quando analiso e observo que um país que tem a
Amazônia é o maior fabricante da FOME.

Muito alegre:

• A libertação dos escravos.

• Amanhecer do dia, com a luminosidade, clareando a consciência de cada cidadão no que diz
respeito a seus direitos.

• Eu, em vida, com a condição de viver e contemporizar a família e conhecê-la até a 4a


geração.

O que gostaria de ter feito e não fez?

Sigo aquele brocardo popular: “Só é feliz aquele que não deseja ter mais do que tem.”

Qual ritual gostaria de deixar perpetuado e qual o ritual que abomina?

Pelos primórdios dos tempos e, por sua maneira científica de ser a Umbanda, gostaria que
não usassem bebidas e charutos e que as portas dos templos não fossem fechadas durante os
trabalhos e, ainda, que não fosse de maneira nenhuma utilizada para o mal.

Gostaria que todos que têm a Umbanda como religião procurassem realizar rituais em
público, para tirar a impressão de que a Umbanda é utilizada para o mal e, conforme dizem,
que é seita e não religião.

O sincretismo faz parte de seu segmento. Aceita-o, não aceita, por quê?

Acredito que o sincretismo deveria, ao poucos, ser esquecido, pois é um fato histórico; porém
sabemos que não é realidade, pois o tempo do engenho não existe mais.

Foi discriminado por praticar sua religião?

No início, por desconhecerem a realidade do significado Umban-dista, cujo termo perde-se na


poeira dos tempos, pois um dos primeiros Umbandistas, como tantos outros, sofreu
perseguições. Até Jesus Cristo, que também foi discriminado e até crucificado por não
aceitarem a Sua pregação.

Teve algum problema com a polícia ou com outras religiões?

No governo da repressão, a Umbanda sofreu grande perseguição, pois a igreja, que sabe de
tudo, entende tudo, é a mandatária, só que São Gerônimo, que traduziu a Bíblia, é o nosso
Xangô da Justiça, e até agora ninguém provou o contrário. Fui perseguido, sim, por honrar e
defender uma das grandes e científicas religiões que é a Umbanda. Mas, na condição de Pai
Tupi, com o tempo tudo se normalizou. Hoje, permanece a vontade do nosso Pai OXALÁ.
Capítulo Treze

Rituais de Todos os tempos

Cerimoniais No início do século XXI, os segmentos da Umbanda começam a acordar para um


fator que achamos de maior importância dentro de uma comunidade que quer ver sua crença
respeitada e querida. Os sagrados sacramentos do Batismo, Casamento e Fúnebre começam a
ter verdadeiro significado para praticantes e sacerdotes contemporâneos, que, com essas
atitudes, vêm ao encontro do sonho de muitos de nossos Decanos, que já morreram e
infelizmente não puderam ver seus intentos realizados. O Candomblé tem estes rituais em
diversos segmentos, mas, nesse setor, a Umbanda não seguiu a mesma linha. É normal uma
criança nascer filha de um médium praticante e, entretanto, ser batizada em outras igrejas,
menos em seu segmento. Nada impede que seja batizada na igreja católica e depois complete
esta cerimônia confirmando o batismo na Umbanda. A mesma coisa acontece com médiuns
que vêm para a Umbanda desesperados por estarem sozinhos, e os guias acabam por lhes
arranjar até um companheiro e, na hora do casamento, vão se casar em outras igrejas. O valor
jurídico é igual para todas as religiões, portanto, por que não contentar os dois lados?

Mas, a cerimônia que causa maior constrangimento ainda é a fúnebre. Ao longo dos anos,
vivenciamos muitos problemas, principalmente com líderes e sacerdotes que dedicam a vida
inteira à Umbanda e, na hora do enterro, os familiares exigem a presença do padre, do rabino
ou qualquer outro servidor espiritual, menos do sacerdote umbandista. É uma situação que
poderá ser contornada, desde que o sacerdote ou o médium deríce por escrito, em documento
oficial, no templo, sua vontade de ser enterrado com a execução da cerimônia fúnebre de seu
segmento. Mais uma vez a culpa de todos estes entraves vem dos líderes que não assumem a
postura necessária para que estes sacramentos façam parte do cotidiano umbandista. Eles
próprios não são batizados, ou não se casam na Religião. Como podem querer que os filhos
sigam outro caminho?

Mas, independentemente desta situação, alguns decanos, contrariando a maioria, vêm


exercendo esta função dentro de seus limites. O mais ativo destes Decanos é Pai Aguirre, que
praticamente se tornou uma figura indispensável nas três cerimônias. Acontece que esta
missão não pode ser feita apenas por uma pessoa; cada sacerdote deve ser responsável por
seus filhos, ao nascer, casar e morrer.

Vamos transcrever apenas cerimônias fúnebres, pois as de batismo e casamento são feitas
conforme a formação de cada sacerdote.

Estes dois cerimoniais foram adotados, respectivamente, pelos alunos dos Cursos de Teologia
e Sacerdócio de Umbanda e pelos templos filiados à Organização Ycaraí, do Decano Mário
Paulo, que realmente faz do seu caminho um espaço para todas as religiões.

Cerimônia Fúnebre

Ritual de purificação do corpo e encaminhamento do espírito

Purificação do Corpo:

1. Purificação do corpo com incenso


2. Purificação do corpo com água consagrada

3. Cruzamento do corpo com a pemba branca

4. Cruzamento do corpo com óleo de oliva

5. Aspergir o corpo com essências e óleos aromáticos

Encomenda do Espírito:

1. Apresentação do falecido

2. Palavras acerca dos espíritos

3. Prece ao Divino Criador Olorum

4. Canto de Oxalá

5. Hino da Umbanda

6. Canto de Obaluaiê

7. Canto ao Orixá de Cabeça do falecido

8. Despedida dos presentes

9. Fechamento do caixão

10 . Transporte do corpo ao cemitério

11. Enterro do corpo

12. Cruzamento da cova onde foi enterrado

Purificação do corpo: como o sacerdote umbandista deve proceder

1 — Purificação do corpo com incenso:

O sacerdote deve incensar o corpo do falecido, proferindo estas palavras:

Irmão (fulano de tal), neste momento eu incenso seu antigo corpo carnal e peço a Deus que,
onde você estiver neste momento, que o seu espírito receba este incensamento e seja
purificado de todos os resquícios materiais ainda agregados nele, tornando-o mais leve e mais
puro, para que você possa alçar seu vôo espiritual rumo às esferas superiores da vida.

2 — Purificação do corpo com a água consagrada:

Irmão (fulano de tal), neste momento eu purifico o seu antigo corpo com a água consagrada,
para que, onde você estiver neste momento, o seu espírito receba esta purificação de todos os
resquícios materiais ainda agregados nele, tornando-o mais puro, para que você possa alçar
seu vôo espiritual rumo às esferas superiores da vida.

3 — Cruzamento com a pemba branca consagrada:

Cruzar a testa, a garganta e as costas das mãos, dizendo estas palavras:


Irmão (fulano de tal), neste momento eu cruzo o seu antigo corpo com a pemba branca
consagrada, para que, onde você estiver neste momento, o seu espírito fique livre de todos os
resquícios dos cruzamentos materiais ainda agregados nele, desobrigando-o de responder
àqueles que fizeram esses cruzamentos em você quando ainda vivia no plano material e com
isso torno-o livre, para que possa alçar seu vôo espiritual rumo às esferas superiores.

4 — Cruzamento com o óleo de oliva consagrado:

Untar o ori, cruzar a testa, cruzar as costas das mãos e o peito do corpo do falecido, dizendo
estas palavras:

Irmão (fulano de tal), neste momento eu unto o seu ori, anulando nele os resquícios das
firmezas de forças feitas em sua coroa e retiro dela a mão de quem as fez, purificando o seu
espírito e livrando-o de ter que responder aos chamamentos de quem quer que seja e que
ainda se sinta seu superior e seu responsável nos assuntos relacionados às suas antigas
práticas religiosas, e, com isto, torno-o livre, para que você possa alçar seu vôo espiritual rumo
às esferas superiores.

5 — Aspergir com essências e óleos aromáticos:

Aspergir com uma essência aromática, desde a cabeça até os pés, o corpo do falecido.

Borrifar com um óleo aromático, desde a cabeça até os pés, o corpo do falecido.

Durante esses atos devem ser ditas estas palavras:

Irmão (fulano de tal), onde quer que você esteja neste momento, que o seu espírito seja
envolvido por esta essência e este óleo, para que assim você possa alçar seu vôo espiritual
rumo às esferas superiores, envolto numa aura perfumada e com o seu espírito livre de
quaisquer resquícios materiais que nele ainda pudessem ter restado.

Encomenda do Espírito

1 — Apresentação do falecido:

O próprio sacerdote ministrante ou uma pessoa que conheceu bem o falecido deve neste
momento da cerimônia fúnebre dizer algumas palavras sobre ele aos presentes.

2 — Palavras acerca da missão do espírito que desencarna:

O sacerdote ministrante deve recitar algum texto escolhido por ele ou recitar de si mesmo
algumas palavras acerca da missão do espírito que desencarna e do que ele leva para o mundo
dos espíritos quando do seu retorno à morada maior.

3 — Prece ao Divino Criador Olorum (Deus):

Olorum, Senhor Nosso Deus e nosso Divino Criador, estamos reunidos à volta do corpo carnal
do seu filho (citar o nome do falecido), que cumpriu sua passagem pela Terra com fé, amor e
confiança, e não esmoreceu em momento algum diante das provações a que se submeteu
para que pudesse evoluir e aperfeiçoar ainda mais a sua consciência acerca da Tua Grandeza,
Senhor Nosso Pai!

Acolha seu espírito que já retornou ao mundo maior onde está a morada dos que O servem
com humildade, fé e caridade, Senhor Nosso Pai!
Envolva-o na Tua Luz Divina e ampare-o no Teu amor eterno, Senhor Nosso Pai!

4 — Canto de Oxalá:

O sacerdote ministrante ou a corimba devem puxar um ponto cantado de Oxalá e, após ele
terminar, deve dirigir algumas palavras a este Orixá maior na Umbanda, solicitando-lhe que
acolha o espírito do falecido, ampare-o e direcione-o para as esferas superiores do mundo
espiritual.

5 — Hino da Umbanda:

O sacerdote ministrante ou a corimba devem cantar o hino da Umbanda em homenagem ao


espírito do falecido, que durante a suapassagem pela Terra seguiu a Religião Um-bandista.

6 — Canto de Obaluaiê:

O sacerdote ministrante ou a corimba devem cantar um ponto de Obaluaiê e, após terminar,


devem dirigir algumas palavras a este Orixá, que é o Senhor das Almas e do Campo Santo para
que acolha o espírito do falecido e ampare-o durante o seu transe de passagem do plano
material para o plano espiritual, direcionando-o para o seu lugar nas esferas espirituais.

7 — Canto ao Orixá de cabeça do falecido:

O sacerdote ministrante deve proferir algumas palavras sobre o Orixá de cabeça do falecido,
pedindo-lhe que ampare o espírito do seu filho(a) durante seu retorno ao mundo dos espíritos.

8 — Despedida dos presentes na cerimônia:

Todos os presentes, começando por seus familiares, devem dar a volta no caixão em que está
depositado o corpo do falecido, despedindo-se dele e desejando-lhe uma vida luminosa e
virtuosa no mundo espiritual.

9 — Fechamento do caixão:

O caixão deve ser fechado pela pessoa responsável pela funerária encarregada do seu
enterro.

10 — Transporte do corpo ao cemitério:

Se esta cerimônia foi realizada no centro onde o falecido frequentava ou em sua casa, o
caixão deve ser carregado por seus familiares e amigos até o veículo que o transportará até o
cemitério onde deverá ser enterrado. Mas se esta cerimônia for realizada na capela do
cemitério onde será enterrado, então o seu transporte deverá ser feito desde a capela até o
seu túmulo pelo meio que for recomendado pelos responsáveis pelo cemitério onde ele será
enterrado.

11 — Enterro do corpo:

O caixão, após ser depositado dentro da cova, deve receber uma fina camada de pemba
ralada antes que seja coberto de terra.

12 -— Cruzamento da cova onde o falecido foi enterrado:

Após o túmulo ser coberto de terra e as flores serem depositadas sobre ele, o sacerdote
ministrante deve cercá-\a com pemba ralada, criando um círculo protetor à sua volta, e deve
acender quatro velas brancas, uma acima da cabeça, uma abaixo dos pés, uma do lado direito
e outra do lado esquerdo, formando uma cruz, e proferir estas palavras:

Divino Criador Olorum, amado pai Obaluaiê, amado pai Omolu, senhores guardiões do Campo
Santo, aqui eu selo e cruzo a cova onde (fulano de tal) teve seu corpo enterrado, impedindo
assim que ela venha a ser profanada e impedindo que seu espírito venha a ser perturbado por
quaisquer ações que possam ser intentadas contra ele a partir de agora.

Mentor Espiritual: Seiman Hamiser Yê (Ogum Megê Sete Espadas da Lei e da Vida)

Curso Ministrado por Rubens Saraceni

Ritual de Pompas Fúnebres

ABERTURA

Queridos irmãos de fé, parentes e amigos, o objeto destes trabalhos fúnebres é render a
última homenagem ao nosso irmão(a)., porque é hora em que as trevas mais densas estendem
o seu véu de luto sobre a natureza que aguarda a volta do astro vivificador.

INVOCAÇÃO

Ó Deus Pai, o Criador, potência infinita, fogo sagrado, que fecundas tudo quanto existe, ser
misericordioso e justo, que concebe, mas que não se pode definir, imutável autor das
incessantes transformações, tudo vi ve e respira em Ti e por Ti! A luz e as trevas são para Ti
iguais! Tu nos vês na morte, bem como nos vistes ao nascer! Para Ti são visíveis os segredos do
túmulo. Possa o nosso sempre chorado irmão(a)..............

viver para todo o sempre contigo, como ele viveu entre nós! Possa a sua morte ensinar-nos e
preparar-nos para gozar com ele, no teu seio paternal, da verdadeira imortalidade.

(E agora peço a todos que acompanhem pelo pensamento a prece que vamos fazer — Prece
de Cáritas ou de sua preferência.)

“Feliz aquele que morre; no Senhor ele descansa de seus trabalhos, porque as suas obras o
acompanham e o seguem.”

S. João

“Deus de Justiça, que ledes no fundo dos corações, neles conheceis as mais ocultas afeições.”
“Escudai o (a) nosso(a) irmão(a).

com o vosso amor, porque sois o protetor do homem que marchou no caminho da justiça e
da equidade.”

Salmo de David

“Deus Pai, o Criador, para os familiares, parentes e amigos que aqui ficam, fazei-nos marchar
sempre no caminho da virtude; instrui-nos Senhor, para que sejamos bons e justos, lançai
vistas compassivas sobre as nossas penas e trabalhos, e perdoai os nossos erros.”
Salmo

“Ó Pai Criador, dai descanso ao(a) nosso(a) irmão(a).............

e fazei brilhar sobre a sua face a Luz Eterna.”

“O homem nascido da mulher, pouco tempo vive; a sua carreira é semeada de perturbação, é
semelhante à flor, que apenas abre é calcada aos pés. Os seus dias fogem como a sombra, pois
que vós, o Eterno, marcastes o curso e o limite da nossa vida; dai agora ao(a) nosso(a)
irmão(a)...............cujo túmulo regamos com as nossas lágrimas, o descanso e a paz, assim
como dai ao lavrador o fim do dia e do trabalho.”

Jacob

“Queridos irmãos de Fé, parentes e amigos, nós que aqui estamos nestas Pompas Fúnebres,
possam chamar-nos ao cumprimento dos nossos deveres, ao exercício de todas as virtudes,
porque assim serão também, cortados os nossos dias quando for da vontade do Pai Eterno.
Nós deixamos este lugar terrestre; os olhos se fecharão à luz, e o nosso corpo, como o que
acaba de dar-se à sepultura, transportado como a tenda de um pastor de ovelhas, de campo
para outro campo.”

Canto de Ezequias MEDITAÇÃO

“Ó Deus Pai, o Criador, vós que sois o mestre dos mestres, o único regulador, e o ponto
geométrico de todas as perfeições, temos rendido glória e homenagem, permiti-nos chorar em
nossa dor; permiti que tributemos ao(a) nosso(a) irmão(a)...........aos despojos mortais, os
sentimentos da nossa amizade, antes que desçam ao seio da terra, a terra de miséria e de
trevas, onde habita a sombra da morte. Possa este incenso, que vamos oferecer-vos, subir em
holocausto até o trono da vossa glória.”

PURIFICAÇÃO: DEFUMAÇÃO

“Atendei às nossas vozes, ó ‘Senhor’, recebei em holocausto este ‘incenso’, e ouvi as nossas
súplicas.”

PURIFICAÇÃO: ALFAZEMA, O ÓLÉO, OU AMACI DE ERVAS

Que a alma do(a) nosso(a) irmão(a).............suba à sua celeste pátria, como o óleo em seu ori,
os perfumes deste incenso sobem para os céus!

Que vós, o Pai Criador, receba-a benignamente e lhe conceda a recompensa dos justos —
prestamos aos manes do(a) nosso(a) irmão(a).

o derradeiro tributo de um sacerdote.

(Obs: agora, peço a todos que façam uma prece universal, rezando um Pai-Nosso e uma Ave-
Maria.)

Assim como o sol, ao nascer, dissipa as trevas, assim também a esperança de que nosso(a)
irmão(a).............goze a glória dos
eleitos, dissipa a nossa dor e converte o nosso pesar em alegria.

Todos

Que assim seja! Amém

Pompas Fúnebres

Material Usado no Ritual

1 — Um pano preto 70 cm x 150 cm ou 70 cm x 100 cm —

nos pés do caixão — significa o luto.

2 — Um pano branco 70 cm x 150 cm ou 70 cm x 100 cm —

na cabeceira — significa glória e paz.

3 — Três velas brancas (significam as três fases da vida) — significando também os três
pontos cardeais da saudação Umbandista (por Olorum, por Oxalá, por Ifá), sendo uma na
cabeceira e duas nos pés, formando um triângulo, seguradas pelos familiares ou parentes, ou
colocadas em castiçal.

4 — Defumador nos pés do caixão — significa abertura dos caminhos ao topo da glória.

5 — Um copo com água e alfazema na cabeceira — significa a subida ao céu por caminhos
perfumados.

6 — Um cálice com óleo, ou azeite, na cabeceira — significa purificação do “ori”, passando a


cabeça do(a) irmão(a).........

7 — Um cesto com pétalas de flores ou ervas — também na cabeceira — significa o último


adeus.

Obs.: Na hora da purificação com incenso, defuma-se o caixão.

No momento da purificação com óleo ou azeite, amaci ou ervas, borrifar algumas gotas sobre
o caixão e, principalmente, na cabeceira, e passar na cabeça o óleo ou azeite, ou seja, “ori”.

O cesto com pétalas de flores ou ervas é distribuído entre os presentes para que sejam
depositadas na cova na hora do sepultamento; este é o último adeus.

Pesquisado e elaborado por José Walter Stefani — Grupo Anianã


Capítulo Catorze

Pai Mário Paulo “O Cavaleiro de Oxóssi”

O cidadão Mário Paulo: nascido em Pouso Alegre, Minas Gerais, no dia 8/10/ 1928, registrado
em 16/10/1930, funcionário público aposentado, viúvo, pai de 4 filhos, avô de 19 netos e
bisavô de 2 bisnetos. Sua numerosa família se completa com 5 irmãos e mais 160 parentes.
Filho de Dona Maria Laura Vitória e Paulo Roque da Silva, que faleceu aos 58 anos.

O sacerdote Mário Paulo: Iniciado no segmento espírita (Kardecismo), em 1932, consagrado


na Umbanda em 1945, tendo como pai espiritual seu avô paterno, sr. Antonio Roque da Silva
(viveu até os 105 anos) e confirmado para Oxóssi. Inaugurou a Tenda Ycaraí em 1953; em
janeiro de 1956, fundou a Federação Ycaraí e tornou-se seu presidente vitalício.

Simplesmente Mário Paulo — É o que se pode começar dizendo sobre este velho-moço que,
como tantos contemporâneos, foi escolhido pelos deuses espirituais para ser seu comunicador
e representante na Terra. Existe uma grande diferença entre quando somos escolhidos pela
sabedoria dos deuses e quando achamos que temos algo anormal e rotulamos como missão
espiritual, encobrindo quase sempre a inveja, o orgulho e a mediocridade espiritual.

Apesar de estar militando há mais de 57 anos na trilha da Umbanda, pouco pudemos arrancar
de sua própria boca, sobre sua vida praticamente toda voltada para a Religião, para a qual foi
empurrado, sem ter noção do que enfrentaria pelo resto da vida. Como aprendeu?

Apanhando, questionando, fugindo, voltando sempre ao começo da trilha, até que pudesse
segui-la sem errar um passo.

Não foi uma peregrinação programada. É muito gostoso ouvi-lo contar suas “experiências”:

“A entidade deixava recado, eu, muitas veis, escutava o que ela dizia na hora e depois,
quando voltava a mim, não me lembrava do que exatamente tinha escutado.”

Entretanto, ele sabia que de qualquer maneira deveria cumprir o que a entidade havia lhe
mandado fazer e, sem questionar, tentava entender o recado, muitas vezes anotado pelo
cambono, sem nenhum sentido. Gosta de citar que muitas vezes sabia que tinha um trabalho a
fazer na mata, e não sabia de quem ou para quem; então, juntava seus filhos, iam para a mata
e lá realmente acontecia o fenômeno: ao colocar os pés no verde, seus sentidos se
transformavam e começava a notar a planta que precisava para curar tal pessoa, o caminho
que deveria seguir para encontrar uma clareira ou uma cachoeira. Seus acompanhantes
ficavam pasmos, pois parecia que ele tinha vivido toda a sua vida naquele lugar. Então,
realmente ele chorava de alegria, porque o que parecia não ter nenhum fundamento tornava-
se real a seus olhos. Ele não entendia como acontecia, apenas sentia que, quando estava
naquele lugar, era um emissário dos deuses, e tudo ao redor parecia cobrir-se de uma magia
incrível.

“Às vezes, eu sentia que estava flutuando sobre as árvores e via as pessoas que me
acompanhavam lá de cima, então me assustava, fechava os olhos e só abria quando sentia
meus pés no chão.”

Dedicação: “Tive um enfarto há dois meses (dezembro 2001) e muitas pessoas não
entenderam quando disse que iria até Aparecida do Norte para agradecer. ‘Como, se é um
sacerdote da Umbanda?’ Como já disse, tenho minha passagem pelo Kardecismo, depois
definitivo pela Umbanda, e no meio do caminho aprendi muito sobre Quimbanda (que muita
gente pratica, até mesmo sem saber; basta que queime pólvora e estará praticando a
Quimbanda). Mas o caso com Nossa Senhora parece ser até uma ligação mais íntima, devido à
minha cor. Tenho meu pai que é Oxóssi e minha mãe Nossa Senhora Aparecida, e quem pode
dizer que estou errado? Graças a eles e nossas entidades, comandadas por Oxalá, estou
novamente em atividade, inclusive contra a vontade de muitas pessoas que me querem muito
bem, atendendo, uma vez por semana, algumas pessoas que precisam de minha ajuda. Meus
amigos não entendem que, quando começo a ajudar alguém, eu tenho de volta o dobro de
força que usei, e a ordem é tocar pra frente. Quantas pessoas saem de um enfarto e podem
estar, assim, felizes da vida?”

Ousadia...

“A gente formava uma boa dupla, eu e o Aguirre. O Juventino é mais velho que ‘nóis’, mas
entrou na turma depois.

Da mesma forma com que tinham disposição para andar vários quilômetros para chegar aos
bailes, também tinham para fazer seus trabalhos espirituais. Por muitas vezes tiveram que
correr da polícia, pois arrear trabalhos em encruzilhadas, cemitérios e até nas praias era
considerado uma forma de contravenção; eles precisavam tirar licença de funcionamento de
terreiros e dos trabalhos na Secretária de Diversões Públicas. Mas os jovens sacerdotes não
achavam correta esta postura.

Por que as outras religiões podem fazer tudo? O que existe de diferente se os nossos
objetivos são os mesmos? Portanto, vamos continuar praticando —, era um dos ‘refrães’ que
usavam nas vezes em que foram levados para delegacias para dar explicações do que estavam
fazendo.”

Inevitavelmente, o sincretismo para os mais velhos, às vezes, era uma opção até para atrair
mais pessoas ou então não ser perturbado pela polícia, ou vvzÁobos. Tanto é uma verdade,
que nosso Mário Paulo tem esta postura com relação ao Candomblé, outro segmento vindo da
África.

“Não entro muito em Candomblé, devido ao complicado e ainda não bem explicado ritual. Foi
revelado em São Paulo bem depois da Umbanda e é diferente demais do que conheço de
magia espiritual.” Antigamente os cartórios de São Paulo só aceitavam o registro de Tendas de
Umbanda; depois de 1975 é que começaram a aceitar o registro de tendas de Candomblé.

Nossas vitórias compensam as derrotas, nossas curas compensam as discriminações e o nosso


conhecimento em benzimentos e cura espiritual estarão sempre presentes por meio dos mais
de 1.400 filhos e afilhados que aprenderam com a gente no dia-a-dia e não precisaram de
diplomas para comprovar o aprendizado.”

“O que me comove mais é estar atuando com casa aberta e a Federação por todos esses
longos anos sem ter desistido. E outras partes mais, pertencendo ao espiritismo de Umbanda e
segredo da religião, somente devemos ensinar para os filhos mais velhos e de confiança e
algum sacerdote que acompanha a gente.”

“Estou atualmente com 57 anos de santo, sem contar o tempo que estive no Allan Kardec.
Amo minha religião, amo meus filhos-de-santo, amo meus filhos, meus irmãos. Não dou cursos
e nem orientação, somente para meus filhos e quem eu achar que devo. Não esqueço dos
meus irmãos. Chegando nesse ponto, todos nós tivemos que passar por provação, caso
contrário não podemos dar opinião. A Agua, o Sol e a Terra: para ela nós viveremos.”

“No decorrer desse tempo, tive contato espiritual com: Paulo Roque da Silva, Pai Sebastião
Campos, Antônio Roque da Silva, Pai Feliz Pinto, Odorico Barbosa, Pai Aguirre, José de Paula
(Vila Moraes), Pai Jamil, Mãe Tudinha, Pai Natalino (Jabaquara), Pai Demétrio, Pai Antônio
Pereira, Pai Alfredo Moura, Pai Jaú, Aparecido dos Santos, Desdeu de Oliveira, Isaura
Machado, Pai Ronaldo Linhares, tenente Ambrósio, Hilton Tupinambá, João N. da Silva, Pai
Gerônimo do RJ, Pai Camarguinho, Pai Moacir (Jacareí), Pai Pacheco, Pai Irineu (São João
Clímaco), Mãe Matilde, Mãe Paulina e muitos outros.

Política

Na eleição do mês de outubro de 1963, será candidato a Vereador nesta capital, sendo
escolhido pela maioria da Organização Ycaraí para o pleito eleitoral. Contamos com a
colaboração das Exmas. famílias e amigos de lutas do bairro do Ipiranga e demais bairros da
capital. Digamos, todos para o amigo e o amigo para todos. Nosso candidato a Vereador será
MÁRIO PAULO.

Entrevista com o Sr. Mário Ecmlo

Axé Brasil: O senhor considera que a Federação Ycaraí seja uma entidade rica?

Mário Paulo: Se falar “rica” em trabalho e problemas, sim. Agora, financeiramente, o único
patrimônio que conseguimos adquirir foi a sede própria, na qual funcionamos há mais de 20
anos!

AB: De onde vem a manutenção?

MP: Os filiados contribuem com uma mensalidade simbólica.

AB: Mas dizem que os presidentes das federações enriquecem facilmente, e que,
principalmente, se apoiam em políticos...

MP: Nunca soube de nenhum presidente que tivesse se tornado rico com renda proveniente
da federação. Quanto aos políticos, o que às vezes recebemos em troca de apoio é material
para nossas festas e, às vezes, encaminhamento para alguns casos.

AB: Cite alguns dos políticos que tenham comparecido às suas festas.

MP: Ao longo destes anos, as festas da Federação receberam visitantes ilustres como Ulysses
Guimarães, Mário Covas, Fernando Henrique, João Leiva, Juarez Távora, Ueb Resek. Os dois
últimos não ficaram numa única contribuição, todos os anos contribuem com balas, doces e
refrigerantes para nossa Festa de Cosme e Damião.

AB: Quais as festividades oficiais da Federação?

MP: Nossos filiados têm compromisso com a Federação em todos os eventos; Festa de Cosme
e Damião, a Festa de Oxóssi e de Iemanjá.

AB: O que lhe trouxe de bom ou ruim este ano que passou e o que pretende para o ano de
1996 para a Federação?
MP: O que aconteceu de bom foi podermos ajudar a quem precisa. De ruim prefiro esquecer,
só não vou esquecer que, na passagem do ano, fui pagando tudo e todos, emprestei dinheiro
para amigos e quando me dei conta, estava apenas com 1 real. Colei este real na parede para
eu tomar vergonha e aprender...

Em 1996, pretendo continuar sendo o pioneiro. A Federação deverá lançar o espaço Ycaraí e
outros empreendimentos.

Provação

Em 1988, o meio religioso se comoveu com o acidente automobilístico de que foi vítima
Mário Paulo. Após uma colisão com um ônibus na Via Dutra, foi obrigado a passar por cinco
cirurgias e ficou nove meses em estado de coma. Ninguém mais acreditava na recuperação do
presidente da Organização Espírita Ycaraí. Mas, como ele mesmo diz, “nunca segui à risca as
lendas e nem os destinos”; na Festa de Ogum, no Ibirapuera, ainda em cadeira de rodas,
adentrou o ginásio, provocando muita admiração e aplausos, numa comoção nunca vista em
homenagem a um líder religioso.

Personalidade

Quando foi informado que ao lado de sua história estaríamos publicando algo sobre Oxóssi,
como comparação, ele disse: “Eu sou filho do Oxóssi das Matas e de Nossa Senhora e afilhado
dos Exus, que sempre me nortearam e protegeram. Pode crer que pouca coisa será igual ao
que se fala por aí dos filhos de Oxóssi; eu sou um filho especial.”
Capítulo Quinze

Benzeduras

Aprender a benzer crianças e adultos não depende somente do grau de desenvolvimento


mediúnico ou do estágio espiritual em que se esteja; é necessário ser permanentemente bom
e equilibrado.

Existem pessoas que trazem o “Dom” transmitido por antepassados e outras precisam
aprender a lidar com as energias que envolvem as benzeduras.

É preciso despojar-se das imperfeições. É preciso estar bem consigo mesmo para poder doar.
É preciso estar equilibrado física, mental e espiritualmente. Higienizado em todos os sentidos,
de alma e coração. Não se pode ser maldoso, crítico, maledicente. Não se pode ter o hábito de
usar palavras de baixo calão (xingar ou dizer obscenidades).

Benzedura é coisa séria e deve ser tratada com seriedade. Se você se propõe a “benzer”
alguém, tem de ter a certeza de estar passando bons fluidos, energias que vão auxiliar e não
prejudicar o próximo.

Benzer: é fazer um sinal e imantação sobre a pessoa ou coisa, recitando certas fórmulas
litúrgicas, para chamar sobre ela os favores do Céu, pela vibração e fluido dos espíritos de luz
branca.

Benzedura: é o ato de benzer, acompanhado de rezas próprias e ervas sagradas.

Ervas mais Usadas em Benzeduras

Galho de arruda (é a mais usada e melhor ainda se for arruda macho)

Galho de oliveira Galho de guiné Galho de alecrim

Mau-Olhado: Qualidade que se atribui a certas pessoas de causar desgraças e problemas


sérios àqueles a quem olham.

Sintomas: Dores no corpo, dores de cabeça, fraqueza, vontade de chorar, insucesso nas ações
e nas atividades.

Quebranto: É o resultado que o mau-olhado de certas pessoas produz em outras, como:


fraqueza, abatimento, perda de energia, enfraquecimento psíquico e físico, bocejos
constantes.

Bucho Virado — Sintomas: A criança apresenta uma das pernas mais curta que a outra; pode
ocorrer por ocasião de um tombo, um susto ou uma vontade não declarada da criança de
comer algo visto anteriormente. Pode causar danos irreversíveis ao bebê, se não for verificado
e benzido rapidamente.

Outras Considerações
A maioria das benzedeiras responsabiliza o quebranto pela apatia, sonolência, melancolia,
inquietação, tristeza e agonia que causa nas pessoas. Trata-se de perturbações que são
atribuídas à projeção de fluidos de inveja, ciúme ou despeito, lançados pelas pessoas de mau-
olhado. Os fluidos etéricos são projetados pelas criaturas invejosas, ciumentas ou despeitadas.
Podem acumular-se no perispírito indefeso das crianças ou adultos e chicotear-lhes o duplo
etérico, perturbando o funcionamento normal dos chacras ou centros de forças etéricos.

O mau-olhado, voluntário ou não, tem a mesma intensidade.

O benzimento é o processo benfeitor que expurga ou dissolve essa carga fluídica gerada pelo
mau-olhado sobre as crianças e adultos (também sobre objetos, bens imóveis, plantas,
animais, veículos, eletrodomésticos, louças, vidros, talheres), que muitas vezes são exalados
por certas pessoas de forma até inconsciente, mas que causam enfermidade sobre os seres ou
as coisas.

Certa feita, em um bebê que sofria muito com dores pelo corpo e gritava ao ser tocado,
foram realizados inúmeros exames médicos e benzimentos, mas nada solucionava o caso.

Tudo era temporário e após algumas horas o mal voltava. Foi detectado que a própria mãe,
involuntariamente, colocava quebranto no filho, porque seu olhar estava totalmente
desvirtuado, necessitando de tratamento espiritual corretivo. O tratamento levaria algum
tempo e a forma encontrada para amenizar o problema do bebê foi receitar o uso de óculos
escuros (bem escuros mesmo) para a mãe, até o final de seu tratamento, que durou 14 dias. O
“excesso” do olhar materno foi corrigido, e o bebê não teve mais problemas.

O maior mistério nessa técnica terapêutica configura-se como o sucesso da benzedura, que se
deve ao fato do benzedor ou passista projetar sobre o doente seu magnetismo
hiperdinamizado por sua vontade e vigor espiritual, sendo imprescindíveis, contudo,
concentração e fé e que a matéria do benzedor não esteja impregnada por bebida alcoólica,
carne vermelha, nem pimenta ou outras coisas que possam contaminar o físico. Em outras
palavras, o benzedor precisa estar sentindo-se leve, física e espiritualmente.

Ao contrário do que se pensaria, o FUMO, embora não recomendado pelos malefícios que
causa ao fumante, não interfere nas benzedu-ras, porque, como sabemos, a fumaça resultante
da queima dessa erva funciona como uma defumação individual, atuando beneficamente
sobre as auras das pessoas.

Também a prática sexual não interfere, uma vez que contribui para o equilíbrio geral das
pessoas, tornando-as mais “leves” energeticamente.

Para se ter sucesso com benzedura, não basta que se tenha boa vontade; é preciso ter o
“Dom” da magia; é necessário revelar determinadas qualidades de ordem superior, certos
conhecimentos especializados e possuir:

1 — grande domínio de si mesmo;

2 — equilíbrio espontâneo de sentimentos;

3 — acentuado amor ao semelhante;

4 — alta compreensão da vida;

5 — fé vigorosa;
6 — profunda confiança no Poder Divino;

7 — aprender com seu Orientador Espiritual como se benze.

É preciso ter conhecimento de tudo o que se for fazer.

Por exemplo: quando se pretende fazer massagens em alguém, corre-se o perigo de ser
atacado por um espírito que esteja preso a um dos chacras da pessoa massageada, pois ao
tocar um ponto, vigorosamente e tentando ajudar, você estabelece um vínculo energético,
facilitando o desprendimento do espírito e ele fatalmente vai “pular” sobre você, causando
mal-estar físico, psíquico, emocional, espiritual, etc.

Algumas Observações

1 — Diversas ervas podem ser usadas para benzeduras, porém as mais comuns são: arruda,
alecrim, guiné.

Uma outra bastante eficiente é o ramo de oliveira, porém mais difícil de se encontrar.

Espadas de Ogum e Iansã, erva-de-santa-maria, tapete de Oxalá também podem ser usados,
desde que seja a benze dura dirigida especificamente para o mal já identificado.

Por exemplo: pessoa com dor no fígado: a benzedura com tapete de Oxalá (boldo-do-chile)
terá a energia canalizada para a erva, deslocando o princípio ativo do boldo para o órgão
afetado (fígado), atuando diretamente nas células, restabelecendo-as mais rapidamente do
que se fossem usadas outras ervas como arruda ou alecrim.

2 — Dependendo do tipo de benzedura que se vai aplicar e do problema a enfrentar,


recomenda-se acender um defumador, que tanto ajudará na anulação do olho-gordo e do
mau-olhado, como formará um círculo, isolando a área e impedindo a ação de maus espíritos.

3 — Determinados tipos de dores são de alguma forma ligados à ação de espíritos, como, por
exemplo, dor de estômago, que pode ser provocada por espírito que esteja querendo
“comer”com a pessoa, fazendo com que o organismo libere enzimas não-compatíveis. Isso
ocorre muito com espíritos de antepassados, que permanecem nos ambientes familiares, sem
perceber que os estão prejudicando. Quase sempre têm espírito de liderança e “esbarram” em
espíritos que estão acima, desrespeitando a hierarquia. A rebeldia não é aceita e só serão
resgatados e encaminhados quando se conscientizarem disso.

4 — A benzedura deve ser feita preferencialmente em luas que não sejam a minguante.

5 — Fatores psicológicos e atitude mental influenciam o que a pessoa sente, alterando o


resultado final que se espera de uma benzedura.

6 — Diferente da incorporação, em que a maior responsabilidade sobre o que é feito é da


Entidade, na benzedura é preciso ter certeza do que se vai fazer. Assim, temos:

a) No caso macho/fêmea das ervas para banhos, quando há incompatibilidade, é preciso que
haja neutralização por meio de outra erva junta.

Na benzedura essa compatibilidade é muito importante, pois não se podem neutralizar


efeitos.
Por exemplo: mulher benzida com arruda macho terá efeitos não muito satisfatórios: não
serão expurgadas todas as larvas astrais; se ela estiver em período menstrual (ou sete dias
antes ou sete dias depois), será ainda pior, porque pode haver suspensão do fluxo.

b) Não importa a mão (direita ou esquerda) que a benzedeira ou o benzedor vai usar para
segurar a erva no momento da benzedura, desde que observe sempre a compatibilidade entre
o gênero da erva e o sexo da pessoa a ser benzida.

7 — Não usar objetos de aço (tipo: relógio, chaves, correntes, etc.) e pedir que a pessoa a ser
benzida também os retire, porque o campo magnético que se forma ao redor dos objetos de
metal é incompatível com a benzedura.

(Nas benzeduras são notadas as maiores ligações com o catolicismo. As benzedeiras antigas
precisavam esconder seus Dons e se conformavam em colocar no lugar dos Deuses Indígenas
os santos e o Deus católico.)

Para anular olho-gordo e mau-olhado com galho de arruda

Oração: “Jesus quando andou no mundo para tudo, tudo Ele rezou, rezou para olhares de
quebranto, que desta criança vai saindo, varridos com galhos de oliveira ou arruda.”

Em seguida, reza-se um Credo, um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e uma Salve-Rainha,


acendendo-se um defumador.

Tipo 1: para quebranto e mau-olhado com galho de arruda

Oração: “Deus te fez, Deus te criou, Deus tira o mal, que no teu corpo entrou. Em louvor de
São Pedro, São Paulo e da Virgem Maria, que tire esse mau-olhado. Assim como Deus fez o
mar sagrado, assim Ele tire esse mau-olhado. Assim como Nosso Senhor foi nascido em Belém
e crucificado em Jerusalém, assim vá o mal desta criatura (dizer o nome) se por acaso o tiver.”

Em seguida, rezar sete Pai-Nossos e sete Ave-Marias (às vezes três são suficientes e, em
outros casos, são necessárias 21 orações).

Tipo 2: com óleo

Material:

1 prato branco com água

1 colher de sopa de azeite

Procedimento e Oração: Fazer o sinal-da-cruz em si mesmo. Fazer o sinal-da-cruz no paciente


e rezar: (nome do paciente), eu te benzo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Molhar o dedo médio da mão direita no óleo e deixar cair um pingo de cada vez, na água do
prato, no sentido de formar uma cruz

(4 pingos). Enquanto isso, rezar: um Pai-Nosso, uma Ave-Maria, um Glória-ao-Pai. Repetir


essa sequência por três vezes.

No final, colocar o polegar na água do prato, fazendo o sinal-da-cruz por três vezes e
misturando a água e o óleo. Ungir a testa do paciente, fazendo o sinal-da-cruz com o mesmo
dedo molhado de óleo.
Observação: Se, enquanto for feita a reza, o óleo se espalhar na água, foi feita a confirmação
do estado de quebranto e, dependendo da intensidade, a benzedura deverá ser repetida por
mais dois dias seguidos.

Tipo 3: com copo d’água e arruda

Material:

1 galho de arruda macho

1 copo tipo americano com água

Procedimento e Reza: O benzedor segura o copo na mão esquerda. Primeiramente, perguntar


o nome da pessoa a ser benzida. Fazer o sinal de imantação em si mesmo. Com o galho de
arruda na mão direita, fazer o sinal de imantação na pessoa, repetidas vezes, durante todo o
tempo da benzedura.

O benzedor pergunta: (nome do paciente), tem quebranto?

O paciente responde: — Tenho.

O benzedor reza: Dois quem pôs, três quem tira, um Senhor e uma Senhora e um Senhor São
João Batista.

Repetir três vezes essa mesma sequência de pergunta, resposta e reza.

A seguir, rezar um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e um Salve-Rainha ou cantar um ponto de sua


entidade protetora. No final, dar um pouco de água para a pessoa tomar.

Observação: Se o paciente for criança e não souber falar, o acompanhante responderá em


seu lugar (fazer preferencialmente de segunda a sexta-feira).

Colocar a mão direita no peito da pessoa (encostar mesmo).

Oração: “Que todo mal, olho-grande, inveja, quebranto, sejam cortados. Que este (dizer o
nome) seja benzido. Se te puseram olho-grande e mau-olhado, quebranto para te prejudicar,
eu te benzo para te curar. Com o poder de Deus, de Deus Filho, do Espírito Santo e da
Santíssima Trindade, amém”. Em seguida, rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria ou cantar um
ponto de sua entidade protetora (para quebranto, bucho-virado e mau-olhado).

Oração: Fazer o sinal de imantação e rezar:

“Deus, atendei ao meu pedido. Vinde em meu socorro. Vinde ajudar-me. Confundidos sejam
e envergonhados os que buscam a minha alma”.

Para bucho-virado

Diagnóstico: Colocar um cobertor dobrado no chão. Ajoelhar-se e deitar a criança de barriga


para cima, à sua frente. Juntar os joelhos da criança, esticando as pernas de forma que os
tornozelos também se juntem. Medir os dedões dos pés e, se estiverem desencontrados, a
criança está com bucho-virado.
Procedimento: Fazer o sinal de imantação em si mesmo e na criança. Descobrir o ventre e as
pernas da criança. Untar as mãos com azeite de oliva e, usando ambas, massagear o ventre e
as pernas da seguinte maneira:

1 — das laterais para o umbigo.

2 — da base do ventre e da boca do estômago em direção ao umbigo.

3 — descer das virilhas até as pontas dos pés, pressionando e puxando levemente com
igualdade os dois lados.

Enquanto faz essa massagem por três vezes na mesma sequência, ir rezando também por três
vezes: “Jesus, quando na Terra andou, muita doença Ele curou. Se teu bucho se virou, Maria
Mãe de Deus te amparou. Em nome de Jesus, Maria e José, eu te benzo e puxo teus pés.”

Voltar ao ventre da criança e, com a mão direita aberta, fazer três cruzes enquanto reza um
Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Ou cantar pontos para Oxum ou Iemanjá.

Enfaixar o ventre da criança, que deverá ficar em repouso até o dia seguinte.

Fazer o sinal de imantação na criança e em si mesmo.

Mironga forte para curar quebranto, inveja e mau-olhado

Essa mironga deve ser preparada em ambiente seguro, sem crianças por perto.

Pegar três pedaços pequenos de carvão e colocar no fogo, até ficar em brasa. Pegar um copo
com água.

Colocar um dos pedaços de carvão em brasa numa colher e fazer o sinal-da-cruz em si próprio
(com o carvão na colher). Em seguida, fazer o sinal de imantanção na pessoa, com o carvão na
colher, dizendo: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, cortai o quebranto de (nome
da pessoa)”.

Colocar o carvão na água e rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria ou cantar pontos para Iansã.
Deixar os outros dois pedaços de carvão virar cinzas, no próprio recipiente em que se
tornaram brasas. Pedir ao seu Guia: “Meu Guia protetor, leve todo esse mal embora e Nossa
Senhora (Oxum) abra o meu caminho”. No dia seguinte, descarregar a água e os carvões no
rio, sempre à noite.

Observações:

1 — Esta benzedura pode ser feita também contra mau-olhado e inveja.

2 — Quando a pessoa, o animal ou o objeto estiver com um desses males, e dependendo da


intensidade, o carvão afundará na água, podendo ocorrer imediatamente ou depois de algum
tempo.

Para lombriga assustada


Diagnóstico: A criança apresenta dores de barriga, ventre inchado, com movimentos que
indicam a existência de vermes, formando aglomerados de um lado ou de outro da barriga,
pele com manchas brancas, olhar esmaecido.

Procedimento: Fazer um braseiro que forme chamas. Apanhar um copo com água e um prato
de louça. Cortar uma linha branca, com o comprimento igual à altura da criança a ser benzida.
Dobrar a linha ao meio e novamente ao meio. Fazer o sinal de imantação com essa linha
dobrada na criança por três vezes seguidas, rezando: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, bicha assustada será acalmada”. Colocar a água do copo no prato e depositar a linha na
água. Dependendo da gravidade do caso, a linha se contorcerá na água.

Retirá-la, então, cortando com a tesoura, em vários pedacinhos, jogando-os para queimar no
fogo do braseiro. Repetir a benzedura por três dias seguidos.

Para dor de cabeça provocada por excesso de sol

Diagnóstico: Dores fortes em toda a cabeça, mal-estar geral, com arrepios percorrendo todo
o corpo e muita sede.

Material:

1 toalha de rosto

1 copo tipo americano, com água

Procedimento: Dobrar a toalha em quatro partes. Tampar o copo d’água com ela. De forma
rápida e sem derramar a água do copo, virá-lo com a toalha, colocando o conjunto no alto da
cabeça do paciente.

Reza: “Deus, quando no mundo andou, muito sol e calor ele apanhou. Encontrou Nossa
Senhora que lhe disse: — Eu te tiro o sol com um guardanapo de óleo e um copo de água fria.
Assim como falo verdades, torne o sol a seu lugar.”

“Vai Nossa Senhora pelo mar adentro, com um copinho de água fria. O mal que (nome do
paciente) tem no corpo e na cabeça tira-lhe Deus e a Virgem Maria, amém.”

Retirar, com cuidado, o conjunto: toalha e copo com água, da cabeça do paciente,
descarregando a água do copo em água corrente.

Benzeduras Especiais

Para hérnia de virilha

Diagnóstico: Rompimento do permeo na base do abdômen, do qual a musculatura se projeta


para fora, em forma de caroço sob apele.

Material:

1 faca grande ) cupinzeiro de terra

Procedimento: Procurar um local onde se encontre um cupinzeiro pequeno; por exemplo,


num pasto. Cortar o cupinzeiro em quatro partes, em, wmaparte, co\ocanào-a no paciente,
sobre o local da hérnia, rezando: “Em quatro partes cortei, com uma parte curarei. A hérnia
que aqui está, cortada será. Nenhuma parte neste corpo ficará.”

Retirar a parte do cupim colocada no paciente, jogando-a por sobre o ombro da pessoa, para
trás.

Retirar-se do local, sem olhar para trás. Repetir esta benzedura por três vezes, a cada sete
dias.

Com telha tipo colonial

Essa telha foi a primeira fabricada no Brasil e era moldada na coxa da perna do oleiro,
assumindo uma forma arredondada e apropriada ao formato dos membros inferiores.

Indicação: A benzedura com o uso deste material é indicada para inflamação dos nervos,
problemas nos ossos e tendinite.

Material: Preparar essa benzedura em local seguro, sem crianças por perto.

Carvão para fazer um braseiro

Telha tipo colonial, virgem

1 galho da erva cânfora

Procedimento: Aquecer a telha em temperatura suportável, sobre o braseiro.

Colocar a telha aquecida no local onde são sentidas as dores. (Atenção: a temperatura deve
ser suportável para não queimar a pessoa.)

Usar a cânfora para fazer o sinal-da-cruz, enquanto estiver benzendo o paciente, e traçando
movimentos descendentes em direção ao solo.

Oração: “Deus criou Adão do barro e do barro também viestes. Em nome de Deus (nome do
paciente), eu te curo, conduzindo à terra a dor de que padeces. Com os poderes de Deus, do
Espírito Santo e da Virgem Maria, sejas fortalecido e a tua saúde recuperada.

Salve os Santos Benditos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.”

Observação: Sugerir ao paciente a aplicação de uma das seguintes tinturas:

Tipo 1:

1 litro de álcool

1 caroço de abacate

7 folhas de eucalipto

Misturar esses ingredientes e deixar descansar por, no mínimo, 48 horas.

Aplicar, com massagens, sobre a área afetada.

Tipo 2:
1 litro de álcool

1 xícara das de chá de folhas verdes da erva cânfora

Misturar esses ingredientes e deixar descansar por, no mínimo, 48 horas.

Aplicar, com massagens, sobre a área afetada.

Com bagaço de cana

Diagnóstico: Paciente apresenta desânimo, suores frios, dores musculares por todo o corpo,
como se estivesse muito fraco, podendo até chegar ao ponto de desmaios.

Material:

1 bagaço de cana

Procedimento: Fazer o sinal de imantação na fronte do paciente. Com o bagaço de cana na


mão direita, ir benzendo a pessoa, direcionando os movimentos ao pâncreas, ou seja, lado
esquerdo, pouco acima do umbigo, enquanto profere a oração:

“São Cosme e São Damião, Querubins e Anjos do Céu, derramai vossa graça e vossa bênção
em (nome do paciente).

Que a Virgem Maria Santíssima, com sua bondade infinita, lhes permita tirar o mal e deixar o
bem. (nome do paciente), a tua fé te salvou, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
Amém”.

Finalizando, ainda com o bagaço da cana, emitir o sinal-da-cruz, de forma abrangente, em


toda a pessoa.

Observação: O bagaço de cana é um vegetal e como tal emite energias. É indicado para casos
de hipoglicemia. Nessa benzedura consegue-se a normalização da taxa de açúcar na corrente
sanguínea. O bagaço de cana só pode ser utilizado uma vez, devendo ser descarregado logo
após a benzedura.

Com sabugo de milho

Diagnóstico: O ponto máximo dessa benzedura é a prosperidade. Antes de realizar a


benzedura, é necessário analisar bem o caso do paciente, que deverá estar com problemas
relacionados à perda de dinheiro, desvalorização, não conseguindo benefícios em sua vida,
com aquilo que adquire ou ganha de uma forma constante e repetitiva (não é o caso de dívidas
assumidas). Caso contrário, o benzedor sofrerá a reversão da situação para si mesmo.

Material. Pegar uma espiga fechada, descascar, debulhar da ponta até mais ou menos um
dedo da base.

Procedimento'. Com o sabugo já preparado, fazer cruzes por toda a extensão do corpo do
paciente, de alto a baixo, em toda volta, direcionando a energia para a terra. A pessoa deverá
estar em pé.

Ao mesmo tempo, rezar:


“São Miguel Arcanjo, meu protetor e defensor, invoco vossa presença para esta ação que se
inicia.

Que os poderes a Vós conferidos por Deus, Nosso Pai, estendam-se a mim, em favor deste
nosso irmão (nome do paciente).

Que a magia, a mandinga ou mironga que o envolve seja dissolvida e desfeita, com os
poderes da Sagrada Família.

Que os grãos dourados, que um dia aqui habitaram, frutifiquem e se tornem bênçãos de
fartura para sua vida. Salve a Santíssima Trindade, em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, amém.”

Logo após, descarregar o sabugo de milho.

Postura para Efetuar as Benzeduras

1 — Identificar o melhor possível a pessoa que pede ajuda e o que ela está sentindo.

2 — Colocá-la sentada de forma a ter saída fácil para os maus fluidos (de frente e próximo à
porta aberta, se o ambiente for fechado).

3 — Colocar a mão direita sobre o ombro da pessoa enquanto conversa e observa, buscando
identificar o problema; enquanto isso, o braço esquerdo deverá ficar distendido e a palma da
mão ligeiramente voltada para trás, visando a facilitar a saída de energia, que estará saindo da
pessoa e percorrendo o corpo do benzedor.

4 — Fazer o sinal-da-cruz em si mesmo e na pessoa, ficando meio de lado. A mão esquerda do


benzedor agora deverá ser posicionada com a palma voltada para a pessoa a ser benzida e as
costas da mão sobre o plexo solar do benzedor, em posição de defesa para este e de emissão
de energia para quem está sendo benzido.

5 — Ao mesmo tempo em que se reza, ir fazendo “sinais-da-cruz” com a erva (arruda,


alecrim, etc.), iniciando a uns quatro dedos de distância e se aproximando aos poucos a cada
benzida, até tocar a pessoa, inclusive na testa.

6 — Ao final, perguntar como a pessoa está se sentindo, procurando dar-lhe ânimo e


otimismo. Servir-lhe um pouco de água e marcar outros dois dias para repetir a benzedura, se
necessário.

7 — Depois que a pessoa sair, ingerir um pouco d’água.

Tratamentos Terapêuticos com Tijolo de Barro Vermelho

Aquecer levemente o tijolo no forno por aproximadamente 5 a 10 minutos.

Aplicar o tijolo sobre o local da dor. Ao lado do tijolo (mais ou menos a meio metro de
distância), coloca-se um copo com água, para auxiliar no processo da cura. A evaporação da
água faz o resfriamento do tijolo. Esta benzedura é indicada para dores nevrálgicas nos ossos
(friagem) e deve ser aplicada enquanto persistir a dor.
Essa técnica não tem caráter espiritual e sim terapêutico, usando conhecimento para tirar
nevralgia óssea acompanhada de infecção. Deve-se procurar atingir o cérebro do paciente,
aguçando a energia de cura por seu psiquismo (crença no processo e no curador). O fator
psicológico influencia muito, não somente nesta técnica, mas em todo tratamento, quer seja
ele espiritual ou medicamentoso. É preciso fazer o doente acreditar no tratamento e a cura
virá mais rapidamente, pelo pensamento positivo, desencadeando toda uma reação interna do
organismo.
Capítulo Dezesseis

Pai Aguirre

O cidadão Milton Aguirre: nascido em 11/2/1932, filho de Laurentina Aguirre, divorciado, pai
de 12 filhos: Luiz Carlos; Mirtes Aparecida; Luciene; Milton; Júnior; Luiz Alberto; Rosângela;
Valéria Regina; Sibele; Shirlei; Acácia Irene; Roosevelt; Greides, avô de 34 netos, bisavô: 2
bisnetos; tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Depoimento sobre sua Vida Profissional

Iniciei minha vida profissional muito cedo (1940). Fui ajudante de balcão, auxiliar geral,
ajudante de feira, engraxate, ajudante de eletricista, entregador, confeccionador de pasta —
“pasteiro”—, ajudante de mecânico/funileiro, colocador de dutos. Em 1956, por meio do
anúncio no Programa de Manoel Nóbrega, na Rádio Nacional, fiquei sabendo que a Guarda
Civil de São Paulo havia aberto concurso para novos policiais para o recém-criado Corpo
Especial de Vigilantes Noturnos. Assim, em 15 de setembro desse ano fui incorporado. Após o
curso preparatório da Escola de Polícia do Estado de São Paulo, em 14 de novembro, participei
de uma apresentação, em frente ao Palácio de Campos Elíseos, de Tropa Pronta, para o
Governador do Estado de São Paulo, Dr. Jânio Quadros, e em 15 de novembro de 1956 teve
início em todo município de São Paulo a Primeira Tropa de Policiamento Noturno. Fui
apresentado à 16º Divisão de Policiamento, situada na Rua Miguel Estéfano, 114, tendo como
Comandante Inspetor Chefe de Divisão, sr. Cláudio Juncione, iniciando, assim, minhas
atividades no policiamento ostensivo, como policial, na Patrulha Volante da Vila Guarani. Fui
promovido a guarda civil de segunda classe, a guarda civil de primeira classe em 1965, eem
1970 houve a fusão das duas corporações e passei a terceiro-sargento. Em 1980, fui
promovido a Segundo Sargento. Passei para inatividade (1981) como segundo-sargento
(aposentado). Por força da Lei n. 5.455, fui apostilado (1985) como segundo-tenente da Polícia
Militar do Estado de São Paulo, tendo como governador do Estado, Dr. André Franco Montoro.

Hoje (2001), atuo como conselheiro da Associação de Socorros Mútuos dos Policiais Militares
do Estado de São Paulo.

A Busca por um Ideal Religioso

Nascido na Maternidade São Paulo, em 11 de fevereiro de 1932. De família católica, foi


batizado na Igreja Nossa Senhora da Penha, no bairro da Penha e frequentava as missas
dominicais na Igreja Nossa Senhora dos Remédios, na Praça João Mendes. Com o avô, sr. Lauro
Manoel Aguirre, aprendeu as primeiras orações, rezas e preces do catecismo. Apesar de todo o
ensinamento religioso do avô, não pôde comungar. Assim, estudou o catecismo e fez a
primeira comunhão na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, na Rua do Carmo. Em 1950, a
família mudou-se para a Vila Formosa, em São Paulo, e, por meio do convite de uma prima,
começaram a frequentar um Centro Espírita na Vila Diva, tendo como Mãe Espiritual dona
Odila. Em 1953, morando no bairro do Jabaquara, passou a frequentar, com sua tia Antônia
Aguirre e dona Maria Correia, o Templo de Umbanda Santa Rita de Cássia, sob a direção do Pai
Espiritual Durval dos Santos. Nessa época, descobriu que a Umbanda não tinha liberdade de
culto (não se podia abrir o Congá, aparecendo imagens), pois havia discriminação da religião e
também havia fiscalização policial ostensiva (Delegacia de Costume). Frequentaram o TU Santa
Rita de Cássia até sua mudança de cidade (Diadema). Em 1956, convidado por um colega de
farda, José Gutierres, foi conhecer o Templo Espírita de Umbanda Pai Xangô, com sede à Rua
Paracatu, 579, sob a direção de dona Aparecida Rocha e sr. José Rocha. Gostou e passou a
frequentá-lo, fazendo parte do corpo mediúnico, onde incorporou, desenvolveu e foi
preparado com o Caboclo Rompe Mato.

Nessa época, já tinha amizade com Mário Paulo, Pai Espiritual do Templo de Umbanda Pai
Ycaraí (Rua Jaiba, Alto do Ipiranga) e Presidente da Organização Federação Ycaraí (Rua da
Liberdade, 120, Liberdade). Nesse período, passou a fazer parte da Organização na Diretoria
Administrativa como fiscal e, na parte espiritual, uma ou duas vezes por semana acompanhava
os trabalhos na Mata, em Eldorado, na Estrada do Engenheiro. Em 1965, ao saber que o Pai
Durval estava com o seu Templo na Rua Dr. Vitor Eugênio do Sacramento, 236, Jd. Oriental,
voltou a frequentar, com a família, os trabalhos espirituais em seu Templo. Em 1970, mudou-
se para Vila Campestre e como o TEU Pai Xangô construiu sua sede própria na Rua Benigno
Carrera, 12 A (Vila Campestre), voltou a frequentar às quartas-feiras, sextas-feiras e domingos,
os trabalhos espirituais com a família.

No final de 1970, foi convidado por um amigo a ingressar na Maçonaria.

No dia 18 de março de 1971, foi iniciado na Maçonaria, na Loja Lotus Branco — 85.

Em 1973, após o falecimento de dona Aparecida, mãe espiritual do TEU Pai Xangô, iniciou em
sua casa o atendimento a pessoas com problemas espirituais, com sua esposa, Maria Eunice.

Em 1976, no dia 17 de janeiro, foi iniciado no Grau 4 da Maçonaria, sob o número de


Cadastro 7.864, na Loja Attila de Mello Cheriff IV.

Como o número de assistentes estava aumentando em casa, decidiram regularizar o Templo.


Foram à União de Tendas Espíritas da Umbanda do Estado de São Paulo (Rua Alves Guimarães,
940), sob a presidência de Pai Jamil Rachid, levando todos os documentos necessários e, em 02
de fevereiro, receberam o Diploma, os Estatutos e o Livro de Ata do Templo de Umbanda Pai
Xangô, com sede própria à Rua Lourenço Rodrigues Souza, 145, Vila Ramos, Freguesia do O.

Em março desse ano, foi convidado a fazer parte da Diretoria da União de Tendas Espíritas da
Umbanda do Estado de São Paulo como fiscal.

Em 11 de novembro de 1979, chegou à graduação máxima na Maçonaria — o Grau 33.

Em 1980, como Coordenador, participou da organização da Homenagem a Oxum realizada


em 10 de agosto pela subsede da União no município de Barra Bonita. Na ocasião, foi
convidado a ser vice-presidente da União de Tendas Espíritas da Umbanda do Estado de São
Paulo por seu presidente.

Recebeu o título de Comendador do Centro de Estudos e Pesquisas de Parapsicologia e


Psicologia Cristã, por mérito pelos serviços prestados à sociedade. Assumiu o cargo de
conselheiro do Superior Órgão de Umbanda.

Foi membro e fundador da Loja de Maçonaria Gênesis-229.

Começou a ministrar cursos de rituais de batismo, casamento e fúnebre.


Em 1981, empossou o cargo de vice-presidente da União de Tendas Espirituais de Umbanda
do Estado de São Paulo.

Em 1982, foi eleito para fazer parte da Diretoria Executiva como terceiro tesoureiro no
Superior Órgão de Umbanda.

Em 1986, assumiu como tesoureiro da Sociedade Beneficente Educativa e Recreativa da


Umbanda do Vale dos Orixás (é um local reservado para os cultos e as cerimônias umbandistas
e candomblecistas), localizada na Estrada do França, 200, Barra Mansa, em Juquitiba (SP), com
uma área de aproximadamente 20 alqueires, com mata, pedreiras e cachoeira.

Na Maçonaria, foi membro e fundador da Loja Hermes Trimegistro-323 (1987), Loja Akron-
359 (1989) e Loja Flor de Lótus-438 (1995).

Em 2001, dedica seu tempo aos carentes espirituais e sociais em companhia da sra. Nair
Ponqueli, Mãe Espiritual do Templo de Umbanda Caboclo 7 Flechas e Pai Jobá, com sede
própria à Rua Rafaela, 84, fundos, Vila Clara, com atendimentos às terças-feiras e cultos
cerimoniais aos sábados (entrada franca e convites especiais), participação e atendimento para
aproximadamente 120 pessoas por semana; ao cargo de primeiro tesoureiro do Superior
Órgão de Umbanda (Rua Rangel Pestana, 1988, 1º andar, Brás); à Maçonaria como membro e
fundador ativo da Loja Templários do Terceiro Milênio 524 GLESP; a realizar rituais de
casamentos, batizados e fúnebres, indo a diversos templos; a ministrar cursos sobre os rituais
de casamentos, batizados e fúnebres.

Convicção Religiosa

“Como o meu curriculum religioso e profissional demonstra claramente, depreende-se que


sou uma pessoa voltada para Deus, que procura cultivar e cultuar as obras Dele.

A minha religação pela religião, na busca de DEUS, faz com que entenda que TUDO É GRAÇA.
Nas práticas religiosas de invocação e gratidão, para mim e para todos aqueles que me
procuram, CLAMO, para que todos os pedidos sejam atendidos com a GRAÇA DE DEUS, pelos
Anjos, dos Arcanjos, dos Querubins, dos Serafins, dos Orixás, Correntes dos Caboclos, Pretos-
Velhos, Oriente, índios, Exus e todos os santos das Divindades Religiosas.

Uns serão atendidos e outros, não, de acordo com o merecimento de cada um, ditado pela
Engenharia Divina, que somente o Grande Arquiteto do Universo pode explicar — DEUS.”

Títulos e Honrarias

Medalha de Honra ao Mérito Polícia Militar — Diploma de Honra ao Mérito Fed. Org. Ycaraí.

Medalha de Comendador— Centro de Estudo de Parapsicologia e Psicologia.

Medalha — do Supremo Conselho do Grau 33 da Maçonaria.

Placa de Prata do Templo Flecha Branca — Da XXIX Festa “Vamos Saravá Ogum”.

Medalha Dourada de Honra ao Mérito “Vamos Saravá Ogum”.

Medalha de Honra ao Mérito do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo,


Medalha de Honra ao Mérito da Augusta e Respeitável Loja MESTRE AKRON-359 — 10 anos.
Troféu de Membro Perpétuo da Augusta e Respeitável Loja MESTRE AKRON-359.

Troféu — Homenagem aos Grandes Líderes Espirituais — 500 anos.

Projetos

São Paulo, 3 de outubro de 1986.

Pelo presente, vimos expor alguns aspectos considerados por nós, importantes para justificar
pedido de área tratado no Processo nfi PPI 92.136/1984, e que propomos seja a ele juntado.

Queremos crer que muitas das oposições feitas às nossas reivindicações devem-se ao fato de
ainda persistirem preconceitos com relação à ação espiritualista dos grupos ligados à
Umbanda, não nos referindo, evidentemente, ao governo do Estado, uma vez que tem como
objetivo assistir a todos os cidadãos, independentemente de seus credos. Portanto,
reafirmamos nesta declaração que o interesse em ocuparmos a referida área, em atendermos
às pessoas carentes da região, principalmente os menores, mesmo que os moradores do
entorno não se caracterizem como grupo necessitado de ajuda emergente, pois nossa ajuda
estará voltada para os menos privilegiados que residem nas proximidades. Pretendemos a
construção de creche para crianças de até 3 anos e salas para atendimento médico e
odontológico, além de ocuparmos o espaço remanescente livre para horta comunitária; para
tanto, mantivemos conversações com o Serviço Social do Palácio do Governo, que apoiará esta
iniciativa. Paralelamente às nossas justificativas, gostaríamos de informar que o abaixo-
assinado, constante do processo, foi utilizado inadequadamente neste caso, uma vez que seu
objetivo original era de reforçar solicitação de linha de ônibus para o bairro. Provamos tal
afirmação, se constatarmos que no referido documento encontra-se nossa assinatura e,
evidentemente, não iríamos assinar qualquer pedido contrário a nós mesmos. Assim, vimos
pleitear nova apreciação ao pedido formulado no processo, esperando, desta feita, merecer
parecer favorável, considerando-se os já firmados por PPL

Milton Aguirre

Amigos Contemporâneos

Como proclamou Salomão: QUEM TEM UM AMIGO TEM UM TESOURO.

“Ao longo da minha caminhada na vida, encontrei vários amigos que são verdadeiros
tesouros.

Nomeá-los é desnecessário, pois todos estão gravados no recôndito do meu coração e da


minha eterna gratidão.”

Milton Aguirre

“Nenhum povo ganha em iludir-se sobre sua própria etnologia, nem há sentimento mais
deprimente e atrofiante, para a nação como para o indivíduo, do que ter vergonha de si
mesmo. ”

Joaquim Nabuco
Capítulo Dezessete

Reportagens e Notícias

Nas décadas de 1970 e 1980, surgiram as primeiras notícias sem agressão sobre os eventos
da Umbanda, notadamente os relacionados aos festejos a Iemanjá, que começavam a dar vida
a uma nova cidade, centrada nas romarias em louvor a esse Orixá. Desde os primeiros passos,
a Umbanda e outras religiões da natureza foram sempre alvo de notícias tendenciosas e
sensacionalistas, que esgotavam edições inteiras em poucas horas. Pessoas inescrupulosas
chegavam a montar falsos templos ou arrear trabalhos em lugares escusos para poder dar
manchete. O Jornal Notícias Populares se tornou líder de vendagem graças a essas
reportagens.

Como sempre, nossos Decanos eram os mais visados, por estarem na vanguarda. Partiu deles
também a ideia de termos nossa própria imprensa, pois o contingente comportava esta
situação. Os pioneiros em programas de rádio, televisão, jornais e revistas foram: Jamil Rachid,
Demétrius Domingues, Ronaldo Linhares. Aproveitando a onda, surgiu o Jornal Integração
Umbandista e, baseado nele, surgiu o modelo de jornal que realmente viria ao encontro de
nossos religiosos e atingiria todos os participantes, tornando, de uma edição para outra,
ilustres desconhecidos em figuras de destaque na Comunidade religiosa. O Jornal Axé Brasil foi
o marco na distribuição em lojas. Na época foram cadastradas mais de 350 lojas em São Paulo.
Hoje estão reduzidas a cerca de 150 e com poucas chances de 50% sobreviverem até o ano de
2004.

Manchete — Jornal Notícias Copulares —

Terça-feira, 27 de Dezembro de 1955

Futebol e Umbanda de Luto: Morre o Pai Jaú O futebol brasileiro e a Umbanda estão de luto:
faleceu, ontem, às 16 horas, na Santa Casa de Guarulhos, Euclydes Barbosa, o “Pai Jaú”, onde
estava internado havia uma semana. Jogador da Seleção Brasileira que disputou a Copa do
Mundo de 1938, como zagueiro central, Jaú integrou, também, as equipes do Corinthians e do
Vasco da Gama. Considerado o Pai-de-Santo mais antigo de São Paulo, ele era presidente da
Liga Umbandista do Estado, que reúne mais de 500 terreiros, e faleceu vítima de insuficiência
respiratória. Fora do futebol e da Umbanda,

Pai Jaú já colecionou vários títulos, entre eles o de “Cidadão de Guarulhos”, a “Medalha
Anchieta” e o “Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo”, conferidos pela Câmara
Municipal da capital

Jaú, paulistano de nascimento, nasceu no dia 15 de dezembro de 1906, na Avenida Rebouças,


bairro de Cerqueira César. Seu corpo está sendo velado no Centro de Umbanda “Xangô
Menino”, na rua Olímpio Guilherme, Jardim Popular, Zona Leste, onde residia havia muitos
anos.

Este recorte do Jornal Folha da Tarde está afixado na sede da Associação, como um
verdadeiro troféu.
Jornal Folha da Tarde— São Paulo — segunda-feira, 21 de setembro de 1981 — pág. 7 Festa
de S. Cosme e Damião Reune 6 Mil no Tucuruvi O Superior Órgão de Umbanda do Estado de
São Paulo e a Associação Brasileira dos Umbandistas promoveram, ontem de manhã, a Festa
de São Cosme e Damião, com a participação de 6 mil pessoas, das quais 3 mil filhos de fé, e 39
terreiros de umbanda da capital.

A Festa foi realizada no antigo Cine Fidalga, na avenida Guapira, 52 (Tucuruvi), e consistiu da
incorporação da linha de crianças da Umbanda e distribuição de bolos, doces e guloseimas,
que, segundo os umbandistas, “representam a alegria de viver, a simplicidade, o amor e a
fraternidade na ação das crianças”.

A cerimônia foi coordenada por Sebastião Campos, presidente da Associação Brasileira dos
Umbandistas no Estado. Estiveram presentes autoridades da área governamental, entre as
quais o secretário de Obras e do Meio Ambiente do Estado, Válter Coronado Antunes, o
assessor especial da Secretaria, J. B. Menezes Ladessa, o administrador regional da Vila
Guilherme, Edgar Leite, e o representante da Prefeitura, engenheiro Mário Marchetti.

“Grandes Figuras Religiosas”

Jubileu de Ouro do sr. Mário Paulo, 50 anos de Umbanda

Um libriano nascido a 16/10/1930, que tem o número 7 como fator mágico, entre os animais
gosta do cavalo, é um dos mais antigos “cavalos” de Umbanda e se tivesse que voltar em outra
vida na forma de um animal, o cavalo seria o seu desejo. Como bom Umbandista, adora tudo o
que é verde. Afora a infinidade de “fios” que foi colecionado nestes 50 anos, guarda um
talismã com muito carinho — trata-se da Estrela de Salomão, presente dado por seu avô sr.
Antônio Roque, que morreu com 105 anos. Sua vida espiritual começou bem cedo; aos 4 anos
já tinha visões, intuições, etc.; aos 12 anos teve sua primeira incorporação com o Caboclo
Ycaraí. Mário Paulo conta emocionado: “ Só me lembro que estava deitado na cama e de
repente não vi mais nada; ao voltar a mim, estava completamente nu.” Com o passar do
tempo e as responsabilidades se acumulando, Mário Paulo abandonou sua missão e só
retornou a ela depois de muito sofrimento que a vida lhe impôs. No ano de 1956 fundou a
Tenda de Umbanda Caboclo Ycaraí, em seguida, com o incentivo do “Velho Barbosa (Tribuna)”
como ele carinhosamente o chama, e do Decano e saudoso Sebastião Campos, fundou a
organização Ycaraí, uma Federação na Zona Sul para dar assistência espiritual a terreiros. A
Organização Ycaraí conta atualmente com cerca de mil associados e com a Associação de
Umbanda (Sebastião Campos) foi pioneira nas festas de Cosme e Damião, que infelizmente
estão desaparecendo por falta de união. Entre os muitos casos, Mário Paulo destaca,
emocionado, quando chegou a ser preso e processado, em 1967, por discriminação religiosa
(época em que era proibida a Umbanda) e ao ir ao Tribunal para receber a pena de prisão, de
repente se viu livre, graças aos trabalhos do Povo da Agua e de seu Ogum 7 Chaves. Quando
pedimos uma mensagem final, com toda sua simplicidade, Mário Paulo disse que iria dar uma
mensagem que poderia não ser do agrado de muitos sacerdotes, mas que isso está engasgado
em sua garganta há muito tempo: “Pais e Mães-de-Santo devem-se preocupar em aprender as
orações fortes, que curam, e também a manusear as ervas. Não adianta nada ter diginas
bonitas e difíceis de serem pronunciadas ou entidades, se não tem o conhecimento das
orações fortes e das ervas, para quebrar as demandas e fazer as curas.”
O decano Hilton de Paiva Tupinambá possui, sem dúvida, um dos maiores acervos de livros e
reportagens inseridas em jornais, os quais fazem parte de uma biblioteca que brevemente
estará à disposição de todos.

Destacamos alguns artigos publicados, que poderão ser vistos na íntegra no site da Soucesp.

Umbandistas Homenageiam Dona Neusa Marin

A presidente do Fundo de Assistência Social do Palácio do Governo, Dona Neusa Marin,


recebeu, na sede do órgão, uma comitiva composta de representantes de terreiros de
Umbanda filiados ao Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo
(Soucesp). Na ocasião, os “ogans” prestaram uma homenagem à primeira-dama, repicando
seus instrumentos em ritmo de saudação. O Babalorixá Bezerra presenteou dona Neusa com
uma guia — que segundo ele, “servirá para lhe dar sorte e livrá-la de maus olhares”. Dona
Neusa mostrou-se bastante sensibilizada com a homenagem, afirmando que “as portas do
FASPG estão abertas para todos, não importando quais sejam a raça, o credo ou a cor daqueles
que nos procuram. Estamos aqui para atender a todos, com o maior carinho”.

Jornal Agora — 1ª quinzena de setembro de 1970 Umbanda Poderia Ser Mais Poderosa
Ainda, se Houvesse União

A Tenda Espírita de Umbanda Tupinambá foi fundada em 28 de março de 1958.

A Umbanda ainda não está em seu verdadeiro lugar como religião nacional pela falta de
federações. Reconhece-se que há desunião, uma certa desorganização dentro do movimento.
Dessa opinião também é Benedito Martins (39 anos), umbandistahá 10 anos, funcionário do
Sesi, presidente da União Regional Umbandista. A entidade que dirige tem 73 tendas filiadas
no eixo Guarulhos — Piquete e Campos do Jordão — Litoral Norte, com uma média de 50
associados cada uma, além de outra (tenda correspondente), localizada na Argentina,
província de Missiones, a Tenda de Umbanda São Jorge Guerreiro. A URU é nova, suas
atividades iniciaram-se há pouco tempo, depois que seus atuais integrantes se desentenderam
com alguns membros da Federação Umbandista do Vale do Paraíba, que tem sede em
Guaratinguetá. Alguns meses após iniciar suas atividades em Taubaté, a URU organizou uma
grande campanha em favor dos pobres, ocasião do Natal do ano passado. O êxito desse
movimento valeu o reconhecimento da Câmara Municipal de Taubaté, que a considerou como
órgão de utilidade pública pela Lei n. 1.211. Semanalmente, às quintas-feiras, a União Regional
Umbandista mantém (das 22 horas às 22h30), um programa pela Rádio Cacique de Taubaté, “A
voz Umbandista”, com um notável índice de audiência. Os cálculos extra-oficiais destacam que
existem, no Vale do Paraíba, embora sem registro na entidades maiores, cerca de mil tendas
de Umbanda. A evolução da Umbanda é automática. Benedito Martins: “Na Umbanda, quem
não vem pelo amor vem pela dor”. Ele vê nisso os grandes benefícios espirituais e físicos que a
religião espírita umbandista propicia aos seus seguidores, oferecendo-lhes as mais importantes
soluções para os mais diversos problemas.

Por ser um serviço espiritual de caridade, seu trabalho é gratuito, nada sendo exigido dos que
procuram as tendas (se alguém faz uma doação, em dinheiro ou em espécie, isso é anotado no
livro competente). Atualmente, o Movimento Umbandista do Brasil está passando por uma
fase de grande desenvolvimento, inclusive procedendo batizados, casamentos e outros atos
religiosos correspondentes aos de outras religiões.

Notícias Populares — quinta-feira, 02 de julho de 1970 1.200 Médiuns e 47 Tendas Coroaram


Princesas e Rainhas

Umbandistas Fizeram Festa no Sítio do Pica-Pau-Amarelo

Umbandistas de todo o Estado compareceram ao I Encontro Umbandista do Vale do Paraíba,


organizado pela União Regional Umbandista, com sede na cidade de Taubaté, em
comemoração ao primeiro aniversário de fundação, transcorrido no dia 13 de julho. Os
trabalhos contaram com a presença da senhora Graciana Miguel Fernandes, presidente da
União Espírita Santista; do Tenente José Varada e Silva, presidente do Círculo Umbandista do
Brasil, de São Paulo, do sr. Euclides Barbosa (Jaú), diretor da Liga Umbandista do Estado de São
Paulo, com sua diretoria e médiuns; sr. Demétrio Domingues, secretário do Superior Órgão de
Umbanda, srta. Solange Jansen, jovem norte-americana que nas Festas de Iemanjá, em Santos,
caracteriza-se materialmente em Iemanjá. Foi feita a outorga pelo Círculo Umbandista do
Brasil, da Ordem de Cavaleiro de Ogum, aos srs. Benedito Martins, Heitor da Cunha Giunta,
João Marcondes, Jurandir Ávila Bittencourt, Benedito Félix da Silva, Aírton Gomes de Macedo e
Hilton de Paiva Tupinambá, todos diretores da União Regional de Umbanda, que receberam
medalhas e diplomas.

Festa de Iemanjá

Uma organização federativa de Santos inventou um ritual que se reveste de todo o caráter de
profanação.

Guiomar Bussili

É lamentável, mas aconteceu e o acontecimento para nós configura-se uma heresia, um


vilipêndio à Igreja de Oxalá Guiam. Agora, como certas entidades não têm mais o que inventar,
no sentido de promover-se ou arrebanhar dinheiro dos órgãos do poder público, organizam
festas de caráter religioso, transformando-se em verdadeiras entidades de caráter recreativo
ou carnavalesco. Que o profano encare as manifestações umbandistas apenas como
demonstrações turísticas ainda é compreensivo; mas que dirigentes religiosos de tendas e
terreiros ou de órgãos federativos assim procedam é de ser reprovado com energia e vigor. A
Igreja Espírita de Umbanda tem o seu calendário religioso em épocas próprias, estabelecidas
pelo consenso geral, para tributar reverência aos seus Orixás. Tudo comedido e dentro do
maior respeito às divindades e nos limites da ritualística aceita e divulgada. Uma organização
federativa de Santos realiza suas festas de Yemanjá, a 15 de agosto, com características
próprias, contrariando toda a ritualística, que atinge as raias da sandice. Inventou um ritual
próprio, que se reveste de todo caráter de profanação. Neste ano, dia 6 de dezembro, uma
Tenda santista compareceu também à Praia Grande, em área cedida à Cruzada Federativa
Espírita de Umbanda do Estado de São Paulo, e encenou o mesmo ritual a um dos maiores
Orixás de Umbanda, a sublime Rainha do Mar. Fantasiou uma moça de Iemanjá e, além de
colocá-la no altar, em lugar da Imagem da poderosa Rainha das Aguas, ainda a elevou no altar
onde se postou, a fim de ser reverenciada obrigatoriamente. Assim aconteceu realmente,
todos foram obrigados a adorar a jovem travestida de Iemanjá. Era uma jovem em carne e
osso em lugar da imagem do Orixá. Diante dela desfilaram os irmãos de fé carentes de
esclarecimentos, subjugados à sandice de uma ialorixá irresponsável, entontecida pelas
ambições materiais e pelas oportunidades de enriquecimento fácil que a receptividade da
ignorância propicia.

Não nos move qualquer interesse de natureza pessoal ao fazer a presente denúncia. Apenas
dela utilizamo-nos para reforçar a tese que vimos defendendo há muitos e muitos anos, sobre
a necessidade de uma grande mobilização de dirigentes responsáveis diante da verdade
religiosa, para uma cruzada vigorosa e contínua de combate à mistificação, única responsável
pela discórdia e divisão imperantes no conturbado Movimento Umbandista. O caráter
evolucionista da Igreja Espírita de Umbanda não se coaduna com manifestações grosseiras de
natureza turística e carnavalesca como a presenciada pela população santista, promovida por
essa entidade federativa.

Finalmente, a dirigente religiosa dessa organização, se bem-intencionada na prática do Bem,


do Amor e da Caridade, tem obrigação de ser consciente das suas responsabilidades em
matéria de fé. Deveria estar convenientemente preparada para não deixar se envolver pelo
torvelinho dos apelos mundanos, que levam ao desrespeito aos princípios doutrinários da fé
que abraçou e desconsiderou aos sagrados Orixás da religião que se propôs seguir. Nunca
deveria colocar uma pessoa em lugar de uma entidade espiritual, numa festa religiosa. Se o
fato ocorresse numa representação teatral de tema religioso, ainda seria admissível
procedimento, em benefício da autenticidade na encenação artística. É um problema de
manifestação religiosa. Mas utilizar-se de um expediente artístico para uma manifestação
religiosa é um profundo desrespeito à própria religião. E uma heresia. E como tal, só pode
merecer a condenação da consciência religiosa dos umbandistas. Esta é a nossa posição. Por
detrás dessa promoção grotesca deve haver algum objetivo de natureza material. Não
queremos dizer que seja dinheiro ou promoção pessoal com finalidade política. Pode ser
transação de outra natureza. Quem sabe? Mas, de qualquer forma, é condenável e deve ser
combatida.

Luta Democrática, 16 e 17 de maio de 1971 Umbanda Interestadual

“Caminhando pelos caminhos do Mundo, encontrei o caminho que nos leva a Deus.”

Decelso

Estamos em falta com inúmeras tatas e ebames, babalaôs e ialorixás. Não tenho atendido a
todos os convites que chegam: tata Acarino e ebame Zilma desde o seu aniversário. Mas o
abaça de Oxaguian, Rua Itaiti 596, Colégio, é uma casa de Santo onde a alegria e simpatia da
Ebame nos acolhe, ao lado de seu esposo, o tata Acarino, do fura ronco e demais filhos: Miguel
Orozimbo da Vinha Aurélio, Tenda Filhos de Oxoce, rua Carlos Xavier, 97, Madureira; ialorixá
dona Diva Pôrto e Diva Rangel, esta com Casa de Santo em Realengo; os filhos de Miguel
Arcanjo e Tenda Miguel Arcanjo, Trabalhadores Humildes e Humildes de Jesus; Lourdes de
Oxum, os bons irmãos da Tenda Nanã Buruquê e Abaluaê, Rua Presidente Barroso, 130,
direção do confrade Joel Lopes.
Ainda que o Renatinho de Jacarepaguá nos ajude, a congregação, dona Iaiá e outros sempre
ficamos faltando a uma visita. Escrevam. Mandem seus convites. Suas críticas e sugestões. A
coluna é da Umbanda. Nosso bom Primax Benjamim Figueiredo, Mãe Maria Justina, Ialorixá d.
Georgina e tantos outros. Saravá. Nosso jornal não chega para os que o procuram. E, aliás, um
problema. Chegando no primeiro ônibus, logo acaba. Domingo último, nosso irmão Geraldo,
que festejava seu aniversário com todos os irmãos de Campos, na Federação, com a eficiente
colaboração da Odineia, de todos os diretores e demais irmãos, não conseguiu mais o seu
exemplar de LUTA DEMOCRÁTICA.

Campos

E por falar da Umbanda em Campos, eis a nova diretoria da Federação: Geraldo Alves,
reeleito presidente; Otiluo O. Castro, vice reeleito; José Ribeiro de Souza, secretário; Hélio
Barbirato; João Neto, bibliotecário e Claudionor Sousa, procurador. Domingo próximo daremos
os demais diretores. Nosso saravá ao Geraldo, por sua reeleição e aniversário. Ali esteve
representando-nos a irmã, dona Iaiá. Nosso saravá para Odineia e todos os irmãos de Campos.

Taubaté

A diretoria da Tenda Tupinambá, Av. Monteiro Lobato, está assim constituída: Hilton de Paiva
Tupinambá, presidente; Miguel A. Bassil de Albuquerque, vice; Cláudio Ciechi, secretário; e
Sebastião Maria dos Santos, 2º secretário; João Batista Teixeira e Maria J. Santiago, 1º e 2º
tesoureiros; Antonio F. dos Santos, procurador; diretor espiritual, Elpídio Binoto; Iakekerê
Maria Santiago; Cotas: Evani da Silva; Laura Faria; Ogãs: Joel; Antonio; Pedro Paulino; José e
Dovelhas. Os trabalhos espirituais se realizam: quartas-feiras e sábados das 20 às 23 horas. Dia
23, em Campos do Jordão, a União Regional de Umbanda realizará o III Encontro, no qual
tomaremos parte em nome da Umbanda da Guanabara, Campos, Belo Horizonte. Domingo
daremos o programa do III Encontro.

Noticiário

Da Congregação Espírita Umbandista do Brasil, Rua do Riachuelo, 373, sala 403, Tenda Oxum
Marê, Rua Gomes Lopes, 90, fundos, Rio Comprido, ialorixá dona Zélia de Almeida de Souza,
sessões às quartas-feiras e sábados, das 20 às 22 horas; Ilê de Ogum Megê e Oxóssi de Pedra
Preta, Rua Cordura, 900, Mesquita, babalaô Adilson de Oliveira, sessões aos domingos, 16
horas; Cabana Pena Preta de Oxóssi, Rua Tobias Monteiro, 35, Jd. Sulucap, direção de Antonio
Soares, sextas-feiras, das 19 às 22 horas; Centro Jesus de Nazareno, rua Alcântara, 18, Duque
de Caxias, babalaô Vivaldino Vilela; Tenda Afro Brasileira Senhor do Bonfim e Oxalá, Rua
Engenho de Mato, 492, Tomás Coelho, Gleide Cotrim Moura, terças-feiras e quintas-feiras;
Santa Bárbara, Av. Um, 836, Itaúna, São Gonçalo, ialorixá Lee Maria Fonseca Costa, sábados de
15 em 15 dias; Tenda Pai Manuel das Almas e Nossa Senhora da Conceição, Rua João Cândido,
429, direção de Maria de Jesus, sessões aos sábados das 20 às 22 horas; Tenda Caboclo Sete
Encruzilhadas, Rua Angatuba, 24, Brás de Pina, Laurita Maurell, segundas-feiras, quartas-feiras
e sábados, das 20 às 22 horas.
Umbanda Sem Cura Sem Marafo

Leiam domingo reportagem que fizemos na Tenda Pai Gerônimo, onde, contestando as
práticas do seita Sete da Lira, realizam curas sem uso de marafo. Umbanda é o novo
lançamento da Eco. Leiam No Jogo do Búzios, todos os dias neste jornal. Enviem suas cartas
para Decelso, usando o cupom publicado. Ouçam Noites de Umbanda com Boanerges e leiam:
Umbanda de Caboclos. Dia 30, nos Caminheiros a posse da Embaixatriz Aríete Motta.

O Rei dos Candomblés

Babalaô, escritor e professor, José Ribeiro esclarece os termos da carta, domingo publicada.
Diz ele: “Fui amigo e irmão de santo de João da Gomeia. Fomos da mesma casa de santo:
Menininha do Gantóis; ele era baiano e eu também sou. Ele, filho de Iansã e eu também. Ele
foi consagrado pelo povo, por sua dedicação ao santo; também eu, foi a Imprensa quem me
consagrou. João cantava e dançava e assim exaltou as belezas do Candomblé. Eu sou o filho de
terreiro que mais escreveu sobre a minha seita e tudo farei por ser digno do título que
Imprensa, amigos e filhos me reconheceram. Nada há mais para contestar. São Paulo também
me consagrou. Estou recebendo convites de outros Estados.”

Do Jornal Uruzinho, o nome antigo do Vanguarda de Umbanda de Taubaté, novembro de


1972 História da Nossa História

Em 13 de julho de 1969, por ocasião da fundação da União Regional Umbandista, vários


foram os projetos apresentados e apreciados pelos seus sócios fundadores naquela histórica
Assembleia Geral. Inicialmente, o da Constituição Estatuária da Sociedade, a sua Carta Magna.
Após, a eleição e a posse de sua primeira diretoria, depois estudos sobre a sua representação
oficial, ou seja, o brasão ou as suas armas. Foram apresentados pelo sr. João Marcondes,
secretário-geral da recém-criada sociedade, três desenhos em cartolina, coloridos nas cores
representativas das sete linhas da Umbanda. Objeto de criterioso estudo, entre os três, um foi
selecionado como o melhor e que mais simbolismo continha, aquele que melhor se adequava
às finalidades da sociedade, e a este, por sugestões várias, mormente dos srs. Heitor da Cunha
Giunta, Benedito Martins, Benedito Feliz da Silva, Jurandir Ávila Bitencouth, Benedito Martins
II, José Eduardo da Silva Brasil, Maria da Silva Brasil, Francisco Carlota de Oliveira, João Correia
da Silva e Joaquim Alves Fagundes, foram efetuados algumas alterações. Refeito o desenho já
com as alterações sugeridas, foi o projeto aprovado por unanimidade pela Assembleia de
fundação, devendo este ter presença obrigatória em todos os impressos e documentos da
sociedade, ficando assim constituído: dois triângulos entrelaçados, simbolizando o equilíbrio
das duas forças (divina e terrestre), a fim de elevá-las; tendo em seu centro o ponto riscado do
Orixá Xangô (São Jerônimo), simbolizando a justiça; tendo, na parte externa, (7) sete estrelas
de (5) cinco pontas, raiadas, representando as (7) sete linhas da Umbanda; e, finalizando, o
conjunto terá em sua parte externa (1) um círculo completamente fechado, contomando-o,
representando a união de todos os umbandistas e espiritualistas em geral.

Ainda na assembleia de Fundação, foram compilados inúmeros slogans, apresentados pelos


diretores presentes à assembleia, que se decidiu pelo “TRABALHO E JUSTIÇA PELA UMBANDA”
, de autoria de seu secretário João Marcondes, aprovando-o, pois que era o que dizia mais de
perto das finalidades da sociedade, bem como fazia menção ao Orixá escolhido para seu
patrono — XANGÔ. Também este passou a integrar o brasão, pois externamente era este
contornado pelo nome e slogan da sociedade. Algum tempo passou, e a sociedade sentiu a
necessidade de ter uma melhor representação para suas festividades públicas.

Daí então, cogitou-se em suas reuniões administrativas, a criação de um estandarte. Como na


época a sociedade estivesse com a situação financeira um tanto precária, sua Diretoria
deliberou que o estandarte seria o mais simples possível, devendo ser confeccionado em cetim
branco, contendo em seu centro o brasão da sociedade, encimado pelas inscrições “URU”, sua
sigla. Seria ainda o estandarte contornado por franjas amarelas e pintado nas cores originais.
Sua pintura coube ao procurador Ayrton Gomes de Macedo e a confecção à sra. Maria da
Conceição da Silva. Muito tempo foi ele utilizado nas representações da sociedade e ainda
continua em uso, muito embora tenhamos a nossa bandeira desfraldada em nossas
festividades. Nova temporada se passou, até que no início de 1972, quando menos se
esperava, em uma visita à sede provisória da sucursal de São Paulo, que era situada na rua Rio
Bonito, no Alto do Pari, foram-nos apresentados por um cooperador da Sucursal, sr. Edson
Bigaram da Silva, vários projetos de Bandeira para a URU, despertando assim nossas
consciências para o futuro e as necessidades de partir para uma nova luta. Trazidos para
Taubaté, foram os projetos apresentados à diretoria em reunião geral ordinária, na sede
provisória da matriz. Objeto de estudos, deliberou-se que os demais diretores fizessem seus
projetos por escrito, para uma melhor seleção. Calçado nos projetos apresentados, o
secretário-geral, sr. João Marcondes, elaborou o seu projeto, que se destacou devido à
alteração total da colocação das anteriores e um segundo pelo sr. Ayrton Gomes de Macedo.
Foi para a Diretoria em nova reunião, em que recebeu algumas críticas e novas sugestões
verbais, tanto para um quanto para o outro, sendo estes devolvidos aos autores. Noutra
reunião já com os subsídios anteriores condensados, novos desenhos foram apresentados
pelos srs. João Marcondes, Ayrton Gomes de Macedo e agora também pelo sr. Hilton de Paiva
Tupinambá. Novas discussões, novas sugestões e voltam eles às suas origens para novos
estudos, havendo alguns sido classificados em definitivo. Finalmente, em reunião datada de
junho de 1972, foram apresentados dois projetos finais, condensando todos os outros
anteriores, de autoria dos senhores João Marcondes e Hilton de Paiva Tupinambá, sendo
aprovado em definitivo o desenho da bandeira, aproveitando-se sugestões de ambos, inclusive
as inscrições a serem inseridas no interior da faixa sob brasão — “ENTIDADE FEDERATIVA DE
ÂMBITO NACIONAL”.

Restou tão-somente a sua coloração e para cuja determinou-se que fossem consultadas
várias obras antes da decisão final, visto que esta seria para a posteridade. Esta atribuição
coube ao sr. Hilton de Paiva Tupinambá, presidente da Sucursal de São Paulo, que após
dezenas de consultas a literatos umbandistas diferentes, e constando a heterogeneidade de
pensamentos e opiniões, optou pela que tivesse o maior número de literatos favoráveis, esta:

Para OXALÁ — Amarelo-Ouro ou Prateado;

Para OGUM — Vermelho-Fogo ou Escarlate;

Para OXÓSSI — Verde-Mata ou Verde-Musgo;

Para XANGÔ — Azul-Celeste;

Para IEMANJÁ — Amarelo-Canário ou Amarelo-Limão;

Para YORIMÁ — Violeta ou Roxo; e


Para IORY — Rosa-Claro.

Ainda sem aprovação final quanto à coloração, pela URU (Matriz), a sucursal de São Paulo,
por liberação unânime de seus diretores, aprovou-a para o seu uso imediato, e nas
festividades do terceiro aniversário da União Regional Umbandista, realizado em 16 de julho
de 1972, no Sítio do Pica-Pau-Amarelo, em Taubaté, às 15h47, quando da chegada da caravana
de sociedades nossas filiadas de São Paulo, esta foi apresentada ao público pela primeira vez,
confeccionada em tecido, tremulando em mastro próprio, adaptado sobre o veículo que
puxava a caravana grandiosa. Embora surpreso, o público que lotava as dependências do Sítio
do Pica-Pau-Amarelo recebeu jubilosamente a nossa Bandeira, muito embora esta não
estivesse totalmente aprovada. Após isto, os estudos quanto à coloração ainda persistiram e
somente chegou-se a uma conclusão final em 8 de outubro de 1972, quando, então, foi
aprovada em definitivo a bandeira da União Regional Umbandista, persistindo as cores
supracitadas.

A data de 8/10/72, com o advento de nossa Bandeira, marcará época na História de nossa
História.

Primeira Página do Jornal Vanguarda de Umbanda de novembro/dezembro de 1973

Comemorada e com Êxito as Festividades de lemanjá

Data inesquecível a de 9 de dezembro de 1973 e, em particular, para as organizações filiadas


à União Regional Umbandista. Desde a véspera que a URU estava com o espaço cedido pela
Prefeitura do Município de Praia Grande, completamente isolado para dar às tendas filiadas o
conforto e a assistência necessários durante sua permanência no setor que lhe fora reservado.
Por um tour de force, o presidente sr. H. Tupinambá conseguira levar diretamente ao local
água potável e mandara instalar duas fossas de emergência. No palanque, foi instalado um
potente serviço de som e qualquer anomalia verificada com as crianças era imediatamente
comunicada. A URU recebeu em seu local de concentração 220 ônibus das tendas filiadas.
Cabe ressaltar que este maravilhoso trabalho se deve à boa vontade e colaboração integral
que a URU recebeu da Prefeitura Municipal de Praia Grande, na pessoa do gentleman prefeito
dr. Leopoldo Estácio Vanderlinde, secundado dr. Jocir Seabra da Silva, Elizio Zácaro, Teodósio
de Agostine e Gilberto Santana dos Santos.

A URU recebeu o palanque instalado e a representação dos chefes de serviço que ficaram
com suas equipes de Salvamento; de Corpo de Bombeiros; de Assistência Social e Policiamento
Preventivo à disposição da massa humana constituída de milhares de fiéis que foram louvar a
Rainha dos Mares.

O dia-a-dia de Pai Edu em São Paulo e Santos, assistido pelo prof. N. Martins, vice-presidente
da União Regional Umbandista — Sucursal São Paulo.

Pai Edu em São Paulo — Santos

São Paulo, 23 de novembro Na noite de 23 de novembro, o Aeroporto de Congonhas viveu


momentos fora de rotina. Era a predominante presença de umbandistas e candomblecistas,
com seus trajes peculiares, aguardando a presença do Rei do Candomblé e Umbanda — Pai
Edu, que chegaria de Pernambuco para celebrar o casamento de Nilda e Orlando Oliveira E, em
Santos.
Às 23h15, pela Varig, chegava a São Paulo o maior xangôzeiro do Brasil. Centenas de pessoas
que estavam na gare, para embarcar ou recepcionar os amigos, misturaram-se com os Filhos
de Fé, aplaudindo aquele mulato alto, elegante, vestindo calça branca e pulôver azul-marinho,
ostentando sobre ele a guia de Oxossi-Obaluaê. Acompanhado de sua mãe pequena Terezinha
e do assistente espiritual Geraldo, Pai Edu adentrava o hall do aeroporto, sob palmas dos
presentes. Chefiando os Filhos de Fé, devidamente uniformizados, estavam os senhores Hilton
de Paiva Tupinambá e Prof. Nadyr Martins, respectivamente presidente e vice-presidente.
Abraçaram-se Pai Edu e prof. N. Martins, cuja amizade é de longa data. Depois de apresentado
ao sr. Tupinambá e à Yalorixá Jacy Feitosa Alves, os filhos cumprimentaram, no ritual, o Rei do
Candomblé e Umbanda. Formando um corredor, milicianos da gloriosa Polícia Militar em
serviço no aeroporto deram liberdade de movimento a Pai Edu e comitiva, até o seu embarque
nos carros que os aguardavam para seguirem até Santos, onde ficaram hospedados no Indaiá
Hotel.

Aguardando Pai Edu e comitiva, encontravam-se no aeroporto os noivos srta. Nilda e Orlando
de Oliveira F, acompanhados dos dirigentes do “CASUÁ DO MASSAPÉ”, sr. Anésio Nogueira e
esposa, que providenciaram a vinda do inconfundível umbandista-candomblecista para realizar
essa bênção nupcial.

Coluna: Umbanda e Candomblé n2 170 — abril de 1970 São Vicente Jornal — domingo, 7 de
dezembro de 1975 Em Praia Grande 300 Mil Pessoas na Festa de Iemanjá Desde a noite de
ontem, cerca de 300 mil umbandistas de São Paulo e de vários Estados do Brasil estão
concentrados em Praia Grande, participando dos festejos em louvor a Iemanjá, a maior festa
religiosa da região. De acordo com as estimativas da comissão organizadora designada pela
Prefeitura de Praia Grande, chegaram ao município mais de 4 mil ônibus de excursões,
trazendo os membros de aproximadamente 1.200 tendas de Umbanda, que estão espalhadas
pelos 34 quilômetros de praias do município, desde o Canto do Forte até a divisa com
Mongaguá.

As homenagens à Rainha do Mar começaram na noite de sábado, prolongando-se por toda a


madrugada, e na manhã de hoje os festejos ainda prosseguem em alguns locais. A Prefeitura
elaborou um mapa para localizar as 15 principais federações, que se instalaram nos seguintes
locais: Sociedade Federativa Espírita de Umbanda de São Paulo, da Avenida Rui Barbosa ao
Canto do Forte; Organização Ycaraí, em frente ao Hotel Águia Branca; Casa de Caridade Pai
Roberto, em frente ao Hotel Boqueirão; Federação Umbandista do Grande ABC, do Hotel
Boqueirão à Avenida Costa e Silva, União Regional Umbandista, da Costa e Silva até a Avenida
Guilhermina; Tenda de Umbanda Caboclo Timbira, em frente à Igreja do Boqueirão; Federação
Mãe Senhora Aparecida, entre as ruas Itararé e Ipanema; Escola de Candomblé e Umbanda,
campo de aviação; Federação dos Centros Espíritas e de Umbanda do Estado de São Paulo,
defronte à Vila Tupi; Tenda de Umbanda Cabocla Jurema, entre Cidade Ocian e Vila Tupiri;
Cruzada Espírita de Umbanda do Estado de São Paulo, em frente ao Ocian Praia Clube;
Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo, em frente à Vila Mirim; Templo de
Umbanda Caboclo Tupinambá, em frente ao Balneário Maracanã; Templo de Umbanda
Caboclo Humaitá, defronte à Vila Ipanema-Mirim, e Templo de Cultura Espiritual Xangô-Caô,
em Solemar. Entre as federações, destacam-se os esforços desenvolvidos pela Tenda de
Umbanda Caboclo Timbira, no sentido de se evitar o consumo excessivo de álcool por ocasião
dos trabalhos, evitando assim a ocorrência de problemas. Por sua vez, a União Regional
Umbandista realizou procissão às 21 horas de ontem, transportando a imagem de Iemanjá
desde a Praça 19 de janeiro até a praia, onde foi depositada no altar instalado na direção da
Avenida Costa e Silva. Durante o cortejo, os fiéis entoaram o seguinte hino a Iemanjá,
composto por Lenício Leite e José Barbosa:

IEMANJÀ SAI DO FUNDO DO MAR

“Iemanjá, sai do fundo do mar,

Que a mágoa que sinto quero te contar,

Mesmo que a dor assim me despedace,

Jasmim cheiroso trago-te agora,

Linda, açucena, flor que mal nasce,

Jogo no mar, ó minha senhora.

Brancas as rosas flores da vida,

Venho entregar-te o meu coração Que me protejas, ó mãe querida,

De todo mal de toda traição,

Tenho nas mãos os búzios da sorte Minh’alma te chama, ó Mãe Iemanjá,

Vem do horizonte rainha tão forte,

Com proteção do Pai Oxalá Iemanjá, sai do fundo do mar,

Que a mágoa que sinto quero te contar.”

A procissão foi acompanhada por grande número de fiéis, que, chegando na praia,
ofereceram diversos presentes a Iemanjá, seguindo o ritual da Umbanda. A mesma cerimônia
se desenvolveu nos demais pontos da praia a cargo das demais federações e tendas
umbandistas que participaram dos festejos. Na praia, a Prefeitura instalou diversos palanques,
contando com água potável e iluminação, enquanto as equipes do Serviço de Obras Sociais
(SOS) procurava encaminhar as crianças perdidas. Para isso, a entidade montou dez barracas
de camping na praia, além de três postos fixos, na sede do SOS, no Centro de Recuperação de
Paralisia Infantil e na casa do Prefeito Leopoldo Estásio Vanderlinde, em Cidade Ocian. O SOS é
presidido por Nilva Brasil Vanderlide, esposa do prefeito, e para este trabalho colaboraram
cerca de 200 pessoas, incluindo elementos da Fortaleza de Itaipu e dos Mirins de Praia Grande.
Além das crianças perdidas e das ocorrências policiais, a maior preocupação das autoridades
nestes dois dias é evitar os congestionamentos de trânsito nos pontos de maior concentração
de visitantes. Para isso, os ônibus foram todos desviados da praia e o contingente de trânsito
de Praia Grande foi reforçado por 120 elementos da Polícia Militar, sob o comando do capitão
João Akui. Ao mesmo tempo, o DER, a Dersa e a Polícia Rodoviária executaram a chamada
Operação Iemanjá, nas rodovias dos Imigrantes, Anchieta e Padre Manoel da Nóbrega,
ordenando o fluxo dos veículos e implantando mão única de direção.

Por sua vez, os comerciantes de Praia Grande aumentaram bastante seus estoques de
comidas e bebidas, prevendo o consumo excessivo nestes dois dias. Para a Prefeitura, os
benefícios da organização da Festa de Iemanjá ficam restritos ao setor do turismo, com a
possibilidade de que o município se torne mais conhecido em outras cidades, pela repercussão
dos festejos.
A Festa de Iemanjá em Praia Grande é promovida desde 1969, quando as tendas se
concentravam nas proximidades da Cidade Ocian. No entanto, com o tempo foi aumentando a
afluência dos visitantes, e os festejos se entenderam para os 24 quilômetros de praias do
município, transformando-se na maior festa religiosa do Estado.

Jornal Popular da Tarde — Rumo Certo no Esporte — segunda-feira — 18 de julho de 1977


Metrópole — Na Praia Grande,

A Festa das Regionais de Umbanda

Programadas pelo Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo, foram
realizadas, ontem, as solenidades em comemoração ao aniversário de várias Uniões Regionais
de Umbandistas, na área do Boqueirão da Praia Grande. O acontecimento atraiu ao local
grande número de entidades religiosas, inclusive 2.500 umbandistas, entre Ialorixás,
Babalorixás e Iaôs.

A festa, marcada para as 8 horas de ontem, na verdade começou às 18 horas de sábado,


quando chegaram os primeiros centros de Umbanda. Foi o caso, por exemplo, da “Tenda de
Umbanda Pai José e Caboclo Sete Flechas”, que, sendo a primeira a chegar, começou no
sábado os “trabalhos”, e os manteve até a madrugada. Depois, houve um breve período de
descanso para os participantes, que reiniciaram os cantos e as danças às 8 horas de ontem,
permanecendo em atividade até o encerramento de todas as comemorações. De uma maneira
geral, os horários não foram seguidos, como no exemplo acima — a Tenda Pai José — e o
presidente do “Supremo Órgão”, Hilton Paiva Tupinambá, explicou que “muitos vieram de
longe e não puderam chegar no horário, ou não conseguiram encontrar o lugar a tempo. Por
isso, eu não segui os horários previstos à risca, para não desapontar o grande número de
participantes”. Mas Tupinambá esclareceu que “alguns terreiros também chegaram bem antes
e começaram a trabalhar imediatamente. Isso, no final, fez com que a festa ficasse belíssima”.

Desta forma, cada terreiro que chegava se apresentava ao “palanque” — centro das
comemorações — e passava imediatamente a fazer seus trabalhos. Quando todos os terreiros
estavam trabalhando — cerca de 500 metros de praia foram quase totalmente envolvidos pelo
clima umbandista, já que cada terreiro possuía seus próprios “pontos” — cantos e até mesmo
um ritmo próprio. Cada terreiro tinha ainda uma cor própria, dedicada ao seu “santo”. Os
dedicados a Oxum, por exemplo, tinham o dourado como cor predominante. Os de “Oxóssi”
tinham verdes; os de Iemanjá, azul-claro; os de Ogum, azul-claro; os de Iansã, vermelho; e os
de Oxalá tinham o branco como cor principal.

Os terreiros diferiam ainda quanto ao culto em si. Alguns tinham um ritual bastante originário
do africano, enquanto outros já tinham um ritual bem mais à brasileira. Isso influía inclusive no
ritmo. Enquanto os primeiros possuíam um ritmo que lembrava muito um atabaque africano,
os outros cantavam seus “pontos” num ritmo já quase parecido com a batucada brasileira.
Entre os “abrasileirados”, destacavam-se o “Sultão da Matas”, que contava com cerca de 25
fiéis, com idade entre 18 e 30 anos. Para Hilton Tupinambá, essas diferenças são inerentes à
formação do terreiro; e o “Supremo Órgão”, embora congregue filiados pertencentes ao
Candomblé, à Umbanda, e a linha “Kardek”, entende que cada ritual deve ser respeitado, não
se misturando um com o outro.
Por isso, logo ao lado do “Sultão das Matas” estava a casa de Candomblé “Dandalunga Que o
Unzungui”, com um ritual bastante africa-nizado. Lá, por exemplo, todos os “pontos” eram
cantados em um dialeto de tribos angolanas, e quase nenhuma frase era pronunciada em
português. Seu ritmo e cantos eram “puxados” por um jovem que veio especialmente da
Bahia, e suas danças eram específicas. Entre os fiéis dessa casa se destacavam três “Iaôs”, ou
seja, três jovens que estavam ainda na fase de “iniciação”. Segundo o ritual do Candomblé, as
“Iaôs” ficam três meses com as joias do “santo”, sendo este período chamado do “quelê”. Esta
é a época da “feitura do Santo”, e nele, as “Iaôs” só se vestem de branco. O ritual é
complementado pelo corte de cabelo e, quando o novo cabelo nasce, ao prazo de três meses,
as jovens estão prontas para o culto. Não houve um horário rígido também para o
encerramento das comemorações. Cada terreiro, conforme ia acabando seus “trabalhos”,
juntava todas as oferendas que possuía e se dirigia ao mar, onde depositava tudo. O ritmo era
composto também de músicas e danças de cada terreiro, e as oferendas eram, em sua maioria,
velas (azuis), bebidas, flores de diversas cores e, ainda, dádivas (bolos, feijão branco, etc.). No
mar, tudo isso era depositado em oferenda a Iemanjá. Todos os terreiros — isso depois do
meio-dia — passavam novamente no palanque para despedir-se do organizador Hilton
Tupinambá e retomavam às suas cidades de origem. Estiveram presentes, no local, terreiros de
vários pontos do Estado.

Jornal Folha da Tarde — São Paulo, segunda-feira, 18> de julho de 1977

Na Praia Grande, Oferendas a Iemanjá

Santos — As fortes ondas que invadiram a praia não impediram que os adeptos do
Candomblé e da Umbanda fossem levar suas oferendas a Iemanjá, ontem, em Praia Grande,
comemorando o oitavo aniversário da União Regional Umbandista Central de São Paulo.
Sessenta e duas tendas, com milhares de adeptos das duas correntes, concentraram-se em
frente ao Boqueirão da Praia Grande, numa festa de confraternização. Flores, perfumes,
cantos marcados pelos atabaques, altares montados com os Orixás, Xangô, Iemanjá, Ogum,
Oxóssi, Oxalá, os Ibejis e lorimás (pretos-velhos) e os rituais variados atraíram milhares de
banhistas, que, mesmo com o mau tempo, concentraram-se na praia. Alguns chegaram a pedir
que fossem feitos “trabalhos” e outros que lhes dessem “passes” para se livrarem de qualquer
mal. O movimento da Anchieta e Imigrantes atrapalhou um pouco a festa, pois, embora o
encerramento estivesse previsto para as 12 horas, às 11 h30, muitos umbandistas ainda não
haviam conseguido chegar, vindos de São José dos Campos, Jacareí, Cachoeirinha, Cidades do
ABCD, Mauá, Carapicuíba, Moji-Mirim e Osasco.

O ponto alto da festa seriam as homenagens Às autoridades, que se realizariam às 9h, e que
não aconteceram. Neste mesmo horário, o prefeito Dorival Lória Júnior e seus acessores mais
diretos presidiam as solenidades de aniversário do distrito de Solemar.

Crescimento

Segundo o presidente Hilton de Paiva Tupinambá, a União Regional Umbandista foi fundada
em 13 de júlio de 1969, em taubaté, e pouco depois abriu filiadas em todo o estado. Por isso,
foi preciso criar-se um órgão descentralizador -o Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé do
Estado de São Paulo — que, hoje, une as duas correntes, embora cada uma siga seu próprio
ritual. Atualmente, existem 1.788 filiadas ao órgão supremo, o que, segundo Tupinambá,
chega a preocupar o Clero.
Adiantou ainda o presidente Tupinambá, que a entidade está estudando a padronização da
festa, em Praia Grande, para dividir um pouco a concentração do final de ano, em
consequência dos problemas que acarreta à cidade e aos participantes.

Jornal Folha da Tarde — 5 de dezembro de 1977

Iniciada Festa em Homenagem a Iemanjá

Santos — No primeiro dia das festividades em homenagem a Iemanjá, realizado ontem, em


Praia Grande, umbandistas e curiosos, procedentes de inúmeros municípios de São Paulo e até
de outras unidades da federação ocuparam toda a extensão da praia, desde o Canto do Forte
até a Cidade Ocian. Espera-se movimento bastante maior para o próximo fim de semana, pois
a data consagrada à “rainha das águas” transcorre no dia 8, quinta-feira. A concentração maior
ocorreu no Boqueirão e junto à estátua de Iemanjá, na Cidade Ocian. Apesar do forte calor, os
adeptos dos cultos de Umbanda e Candomblé conservaram suas vestes características (batas,
saias largas e rodadas e turbantes na cabeça), nas cores típicas de cada federação. Os
barquinhos de madeira, contendo em seu interior oferendas como perfumes, adornos
femininos, pentes e bebidas, envolvidos por decoração especial, foram levados ao mar.
Esquema de segurança foi formado pelo Corpo de Salva-vidas, Comissariado de Menores,
Prefeitura de Praia Grande, prontos-socorros e Polícia Militar. Em todos os quatro postos de
salvamento da praia permaneceram equipes de plantão, além das viaturas, que realizavam
rondas periódicas. No próximo fim de semana, segundo se informa, haverá um médico e uma
enfermeira em cada ponto, além de duas assistentes sociais. O Serviço de Promoção Social do
Município estará, também, em atividade, para auxiliar no trabalho de encaminhamento de
pessoas doentes, machucadas ou perdidas. Sessenta salva-vidas espalharam-se pelos 20
quilômetros de praias, entre o Canto do Forte e Mongaguá, com a ronda, por medida de
precaução, sendo feita inclusive à noite. Os ônibus e os veículos dos visitantes começaram a
chegar à Praia Grande no sábado, especialmente após as 14 horas, e as previsões para o
próximo domingo são de movimento acima das expectativas.

Conselhos

O sargento Maldonado dá algumas instruções aos participantes da festa, com o intuito de


evitar problemas, os quais poderiam acarretar graves consequências. “As pessoas que
estiverem com garrafas de bebidas, das quais a mais comum é o champanha, devem evitar
quebrá-las. Para o culto, é necessário apenas derramar o líquido, mas não quebrar o
vasilhame, podendo provocar, os cacos de vidro, cortes profundos.”

“O conselho final seria um só: procurar-nos sempre que houver alguma dúvida ou em caso de
necessidade, que procuraremos resolver da maneira que nos for possível”, concluiu o sargento
Maldonado. Estiveram de plantão, ontem, os Prontos-Socorros Central (Boqueirão) de Cidade
Ocian e da Vila Caiçara.

Participantes

Treze federações, cada qual com várias tendas, estão participando da festa: Associação
Umbandista Casa de Caridade Pai João da Porteira e Caboclo Pena Branca; Organização Ycaraí;
Associação Umbandista Mãe Senhora Aparecida; Federação Umbandista do Grande ABC;
Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo; Federação URU; Escola de
Candomblé e Umbanda Caboclo; Federação dos Templos Espíritas e Umbandistas do Estado de
São Paulo; Templo de Umbanda Caboclo Tupinambá; Cruzada da Federação Espírita de
Umbanda do Estado de São Paulo; Superior Órgão de Umbanda União de Espírita Umbandista
e Candomblé do Estado de São Paulo; Tenda Espírita Caboclo Boiadeiro Vovó Luzia; e Cabana
Pai Velho e Caboclo Jambura.

Esquema Especial para a Festa de Iemanjá

Praia Grande — do correspondente Graziella Dias — Os umbandistas que forem à Praia


Grande na próxima semana festejar Iemanjá encontrarão o município melhor preparado para
recebê-los, que em anos anteriores. Desta vez, os problemas acusados pela grande
concentração de pessoas deverão diminuir, de acordo com um esquema especial de segurança
elaborado pela Prefeitura.

A reunião foi realizada na última semana, no Paço Municipal, com representantes das
Federações e Confederações de Umbandistas. As entidades foram informadas de que os
ônibus que forem ao município no período de 4 a 12 de dezembro deverão estacionar — sem
exceção — na avenida Presidente Kennedy, e não na praia, como em outras ocasiões. Os 24
quilômetros da praia já foram demarcados para a instalação das diversas tendas. Trinta e cinco
homens da Polícia Militar farão o serviço de salva-vidas, e serão mobilizados destacamentos de
Cavalaria, Polícia Rodoviária, Guardas de Trânsito e Polícia Civil, especial-

banda, deverão cuidar das crianças perdidas. O Centro de Estudos Amazônicos de Praia Grande
já anunciou que, durante a semana, estará distribuindo 5 mil exemplares do folheto
“Umbanda: Folclore ou Religião” aos participantes.

Jornal Folha da Tarde — sexta-feira — 2 de dezembro de 1977

Iemanjá Movimenta Polícia de Santos Santos — Já foi definido pela delegacia seccional o
policiamento da Praia Grande a partir de hoje, em virtude da festa de lemanjá. Para fortalecer
o policiamento local, que não tem condições de atender ao grande número de fiéis que já
começam a chegar, de quase todos os distritos policiais da baixada irão investigadores.

Deverá ser esquematizado até o próximo dia 15 o policiamento durante as festas de fim de
ano.

Trânsito

O delegado Danilo Alonso Maestre Filho assume hoje, às 18 horas, a Delegacia de Trânsito de
São Vicente, que há meses estava sem o titular, desde a saída do delegado Alair de Almeida
Caçula, que foi designado para a delegacia do município de Guarujá. O delegado Luiz Carlos de
Toledo, titular da Delegacia de São Vicente, estava respondendo também pelo trânsito da
cidade.

Jornal Notícias Fopulares — sábado — 3 de dezembro de 1977 Cruzada Federativa

José Antonio Barbosa e dona Guiomar Bussili, presidente e secretária da Cruzada Federativa
Espírita de Umbanda do Estado de São Paulo, estão convidando os irmãos umbandistas e
adeptos da Umbanda para a tradicional homenagem e invocação religiosa a Iemanjá, Soberana
do Mar. A grande demonstração de fé será iniciada com a chegada da imagem de Iemanjá,
transportada de barco. Em seguida, cada tenda abrirá sua gira, em louvor aos Orixás. A festa
será dia 11, às 9 horas, na Cidade Ocian, na Praia Grande.

Diploma de Participação

A Comissão Permanente de Festejos de Santo André confere ao Tupinambá — União Regional


Umbandista de São Paulo este Diploma pela participação na Festa da Umbanda em
comemoração ao 425a aniversário de fundação de Santo André.

Dr. Lincoln Grillo, prefeito de Santo André, abril de 1978

Jornal A Gazeta — São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1972

Dois Mil Umbandistas, Reunidos na Praia Grande, Festejam seu Dia/Umbandistas


Comemoram Aniversário

Saias coloridas, flores, velas, batuques e danças ocupavam, ontem pela manhã,
aproximadamente 500 m de areia, em Praia Grande, como parte da comemoração do 8º
aniversário da União Regional Umbandista do Estado de São Paulo, reunindo cerca de 2 mil
religiosos de todo o Estado e de outros locais do Brasil, numa promoção do Supremo Órgão de
Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo. A festa foi aberta pelo Presidente do
Supremo, Hilton de Paiva Tupinambá, que agradeceu a colaboração da Prefeitura de Praia
Grande e dirigiu algumas palavras especiais aos participantes. O Prefeito Dorivaldo Lória Júnior
também falou aos umbandistas e candomblecistas, deixando-os à vontade para a festa.

Logo após a abertura, todos se dirigiram às suas tendas, aproximadamente 50, e iniciaram
suas homenagens aos santos (Candomblé) e aos orixás (Umbanda). Centenas de turistas foram
atraídos pelos festejos folclóricos, deixando o local bastante movimentado e colorido.

Notícias Populares — segunda-feira, 17 de julho de 1978

Umbandistas Comemoram na Praia Aniversário da União Integração Umbandista Órgão


Filosófico, Cultural, Religioso,

Independente a Serviço da Umbanda e Candomblé Todas as Religiões Têm uma Única


Finalidade: Aperfeiçoar o Homem e Levá-lo para Deus São Paulo — agosto de 1976. — N. 11
Praia Grande recebe o Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé

Carlos Alberto dos Santos

Levando à Praia Grande mais de dois mil umbandistas, representando as Uniões Regionais
Umbandistas filiadas, o Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo
comemorou, em data de 16 de julho último, seu 9º aniversário de fundação. A União Regional
Umbandista primitiva, que se transformou posteriormente em Supremo Órgão de Umbanda,
foi fundada em 13 de julho de 1969, na cidade de Taubaté, Estado de São Paulo, de onde se
irradiou por todo o território nacional e conta hoje com mais de duas mil tendas filiadas e
uniões regionais nas principais cidades do Estado. Está atualmente sediado à rua 15 de
Novembro, 360 — Parada 15 de Novembro, nesta capital. Com atraso de uma hora, em virtude
de os ônibus encontrarem dificuldades para chegar no horário previsto, segundo programa
previamente estabelecido pelo seu presidente, sr. Hilton de Paiva Tupinambá, às 10 horas foi
feita a abertura das solenidades, com a apresentação dos chefes de terreiros, a palavra das
autoridades presentes, canto do hino à Umbanda, prece dirigida aos Orixás, ponto de
saudação às sete linhas espirituais da Umbanda e em seguida houve trabalhos mediúnicos
livres a cargo de cada tenda. Aproximadamente 5 quilômetros de praia foram transformados
em um imenso terreiro, onde os irmãos de fé deram provas de devoção fervorosa a seus
orixás, guias e protetores, dançaram e cantaram ao som dos atabaques e ofereceram flores,
velas e presentes à Deusa das Aguas, nossa querida mãe Iemanjá, num espetáculo coreo-
gráfico deslumbrante de profunda religiosidade. Os terreiros ostentando a vestimenta própria
de seus rituais habituais deram demonstração de fé, entusiasmo e devoção, recebendo seus
caboclos, pretos-velhos, êres, baianos, o povo da água, saudaram e deram passagem aos guias
e protetores das linhas, como o fariam se estivessem em seus centros, inclusive dando passes
e atendendo a fiéis, banhistas e pessoas que assistiam à magnífica festa de confraternização.
Para atendimento e informação ao pessoal presente, o presidente da Federação contou com
o auxílio do dr. Jodir Seabra da Silva, advogado da Entidade e, na ocasião, foi nomeada a
senhora Marina Josefa de Moura, chefe de relações públicas na Praia Grande, sendo-lhe
entregue as credenciais do cargo. Esperava-se a presença do ex-secretário da Segurança
Pública, sr. cel. Antônio Erasmo Dias, o qual, por motivo de força maior, não pôde comparecer,
tendo o sr. Dorivaldo Lória Júnior, prefeito local, transmitido mensagem de saudação aos
umbandistas do Brasil, em seu nome. Além de outras autoridades notadas, destacamos a
presença do dr. Ademar Amorim da Silva, advogado do Supremo Órgão de Umbanda, dona
Layde Rodrigues Reis Lória, primeira-dama da cidade e do sr. Rafael Cardenuto. Por nosso
intermédio, o presidente do Supremo Órgão agradece a colaboração espontânea e dedicada
da sra. Dona Layde Rodrigues Reis Lória, que tudo fez e trabalhou entusiasticamente, como
diretora de administração da Prefeitura de Praia Grande, para que as festividades obtivessem
o êxito e o brilhantismo que alcançaram e que sempre marcam as datas festivas umbandistas
naquele próspero município.

Integração Umbandista - São Paulo, janeiro de 1979 - n.° 16 Iemanjá Dominou Praia Grande
Reunindo mais de um milhão de pessoas, vindas dos mais distantes lugares do Estado de São
Paulo, sul de Minas e norte do Paraná, que desceram a serra para homenagear a Rainha dos
Mares, como acontece tradicionalmente no mês de dezembro, os trechos praianos do
próspero município de Praia Grande se transformaram em imenso terreiro de Umbanda e
Candomblé, onde 13 federações registraram comparecimento maciço para cantar, louvar,
pedir e oferecer seu preito de gratidão a querida Mãe Iemanjá. O espetáculo é indescritível.
Tudo o que se falar é insuficiente para dar uma ideia, ainda que imprecisa, de uma das maiores
festas religiosas do mundo. Já no sábado de manhã, dia 9 de dezembro, grande era o
movimento que se notava para a complementação dos palanques e marcação dos espaços
destinados às tendas, que abrigaram as federações e terreiros. A tarde, chegaram os filhos de
fé, vestidos com os trajes multicoloridos característicos de seus trabalhos comuns, trazendo
imagens, flores, velas, barcos e outros presentes. À noite, cerca de 200 mil pessoas já se
movimentavam pelas praias, varando a madrugada em vigília a Iemanjá. Domingo, dia 10, o
movimento foi bem maior, pois além de ônibus, carros e caravanas trazendo filhos de fé,
também turistas, assistentes e banhistas lotavam os recantos à beira-mar, associando-se às
festividades, consultando guias, tomando passes, rezando, pedindo, oferecendo contribuições
à Orixá e transformando o município em autêntico formigueiro humano, com
aproximadamente 800 mil pessoas! A festa tradicional e constante do calendário umban-dista
de São Paulo e turístico de Praia Grande é efetivamente uma das mais lindas e concorridas no
Brasil; e as praias, numa extensão de quilômetros, se tornaram pequenas para abrigar tantos
chefes de terreiros, fiéis seguidores e até curiosos de um culto que preocupa sacerdotes de
outros credos, sociólogos, pela rápida expansão em todo o território nacional e penetração até
mesmo no estrangeiro. A magnífica exibição de fé e crença demonstrada pela tendas que se
esmeraram em cultuar a querida Orixá chega a impressionar dada a profundidade espiritual e
a beleza de sua ritualística coreográfica, baseada na mediunidade, dignas da mais autêntica
religiosidade devocional. Como não podia deixar de ser, muitos companheiros estiveram
presentes. Mas não nos foi possível percorrer todo o vasto território praiano, pela
impossibilidade de o fazer, para levar nosso abraço fraterno. Visitamos algumas agremiações e
pudemos constatar o esforço e o árduo sacrifício de seus dirigentes, em organizar da forma
mais requintada o transcorrer das manifestações, na parte que lhes coube.

Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé Tendo à frente o líder umbandista Hilton de Paiva
Tupinambá: presidente, como o maior órgão federativo de São Paulo, com cerca de 3.200
tendas, procurou dar autenticidade aos trabalhos e reunir o maior número de filiados, que
chegavam e partiam após a cerimônia, sendo substituídos por outros, vindos de todos os
recantos do Estado, para que pudessem caber dentro do espaço que lhes fora destinado. Seus
filhos primaram pela fé, ordem e entusiasmo.

Federação Umbandista do Grande ABC Liderada por seu presidente, Ronaldo Linhares, grande
radialista batalhador pela nossa causa, suas tendas se esforçaram pela decoração do local para
realce das cerimônias ritualísticas. Ofereceu aos filiados uma ornamentação de grande graça e
beleza, adequada a proporcionar concentração fervorosa e poder manifestar a devoção e o
sentimento religioso de cada um. Destaque à disciplina, fé e entusiasmo, qualidades que seus
filiados sempre souberam impor, mercê da orientação de seu presidente.

Primado de Umbanda

Comparecendo dia 17, dona Iracema Tavares Bastos Pinto premiou o povo que esteve
presente para assistir aos trabalhos de suas tendas, com um espetáculo digno de uma
federação que se esforça por dar apoio espiritual ao pessoal que congrega. Seus filiados
demonstraram estar compenetrados das obrigações devocionais e se esmeraram em suas
práticas religiosas com fé e dedicação. Não podemos deixar de consignar o agradecimento dos
umbandistas às autoridades do município, que souberam compreender o significado profundo
das manifestações e dar todo o apoio possível, para que a festa alcançasse o brilhantismo
invulgar que efetivamente alcançou. Que Iemanjá os cubra de bênçãos e felicidades são os
nossos desejos.

Jornal Notícias Populares — quinta-feira, 12 de março de 1979 Foliões do “Bafo da Onça” Iam
Zombar da Umbanda O Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo,
por seu presidente Hilton de Paiva Tupinambá, entrou com uma petição na 2ª Vara do Fórum
de Jacareí, no dia 23 de fevereiro, para impedir que foliões do Clube “Bafo da Onça”
desfilassem fantasiados, com imitações dos Orixás de Umbanda. O juiz de Direito mandou que
um oficial de Justiça fosse ao Clube e os diretores prometeram tirar todas as características do
culto umbandista.
O sr. Hilton de Paiva Tupinambá soube, então, de um fato lamentável: os diretores do Clube
Bafo da Onça justificaram-se, dizendo que tinham sidos orientados por pais-de-santo, que se
prestaram ao triste papel de ultrajar o culto religioso da Umbanda, o que é crime punível no
Código de Processo Penal.

Jornal Vanguarda de Umbanda em dezembro de 1930

Umbanda Ganha Destaque no “Governo Integração”

Dr. Newton Bastos

Com uma participação marcante na realização do “Governo Integração”, levado a efeito pelo
governador Paulo Salim Maluf e pelo prefeito Reynaldo de Barros, nas diversas Administrações
Regionais da capital, a Comunidade Umbandista, orientada pelo Supremo Órgão de Umbanda
e Candomblé do Estado de São Paulo, vem tomando forma e se consolidando como “Grupo
Social” emergente com características próprias e bem definidas. Inicialmente, sua participação
teve um caráter mais de comunidade religiosa, que se apresentava aos demais integrantes do
“Governo Integração” com aspecto folclórico-religioso. Entretanto, foi, pouco a pouco, e sem
desvincular-se de suas origens espirituais, alimentando-se como “Grupo Social” em sua
integração com órgãos do Governo, reivindicando, lado a lado, com Sociedades Amigos de
Bairros, Clubes de Serviços e Sociedades Beneficentes, melhorias e obras nos diversos setores
de serviços públicos, em favor da população carente da periferia. O povo umbandista ganha
em força e vigor com essa afirmação como “Grupo Social” que, à medida que ceda seu apoio
ao Prefeito e ao Governador, receba em troca prestígio e atendimento de reivindicações de
caráter eminentemente comunitário. Com este pequeno comentário deixamos nosso sincero
apelo aos irmãos umbandistas para que, conscientes desse acontecimento, que vem dando à
Umbanda um lugar de destaque na sociedade, continuem emprestando seu melhor apoio às
autoridades constituídas, pois, que esse é o caminho a ser trilhado para que alcancemos a
posição que realmente merecemos no seio da população que constrói essa imensa e
predestinada Nação, em que espiritualismo se revela em sua plenitude. Continuemos, ainda;
há muita luta pela frente, mas com a participação de cada umbandista, de cada tenda, de
nossa União Regional Umbandista e do Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé, haveremos
de conseguir finalmente um lugar ao sol.

Jornal Vanguarda de Umbanda — agosto de 1980 Líder Umbandista Agraciado Com a


Medalha Anchieta

Edson Orphanake

O presidente Hilton de Paiva Tupinambá, um dos mais destacados líderes umbandistas, foi
agraciado no dia do aniversário da União Regional Umbandista do Estado de São Paulo — nos
seus 11 anos de lutas intensas e notáveis atividades — com a medalha de Anchieta, outorgada
pela Câmara Municipal de São Paulo, pela iniciativa partida do exmo. sr. deputado federal,
Mário Hatto, como reconhecimento daquela Entidade aos relevantes e meritórios serviços que
vem prestando à causa umbandista e, consequentemente, à população paulista, com zelo,
interesse e dedicação, durante todos esses anos em que está à frente de tão importante órgão
federativo.
Reunindo as uniões regionais integradas ao Supremo Órgão, no amplo salão da Sociedade
Amigos do Bairro de Quinze de Novembro e Adjacências, na Parada 15 de Novembro, o
Soucesp realizou sua brilhante e tradicional festa de aniversário, uma das mais alegres e
concorridas, em que não faltaram as entusiásticas manifestações de carinho e consideração de
seus federados, irmãos de fé, assim como a simpatia de todos — autoridade, amigos e
convidados — que lotaram o recinto festivo, não faltando, outrossim, a animação e o ardor
religioso dos chefes de terreiros e dos médiuns, pelo importante evento, que assinala um
acontecimento ímpar para os cultos afro-brasileiros, razão por que demonstraram o mais vivo
respeito e admiração pelo muito que essa figura exemplar tem realizado pelas tendas e
terreiros, oferecendo-lhes todo apoio moral, material e espiritual, para realizarem a contento
a divina missão de caridade com tranquilidade e segurança, em benefício da coletividade
paulistana. Às 15 horas, com a chegada do exmo. sr. deputado federal dr. Mário Hatto, deu-se
início às solenidades, que constaram, primeiramente, do ato de entrega da comenda ao
presidente Tupinambá, precedido das palavras do ilustre legislador, que enalteceu a pessoa do
agraciado, justificando a merecida outorga. A seguir, o presidente agradeceu a medalha,
fazendo um balanço de suas atividades desde a fundação do Órgão, em favor de seus filiados,
e da própria Umbanda, recebendo, ao término do discurso, os abraços de amigos e
simpatizantes, bem como de todos os babalaôs e ialorixás presentes. Dando sequência ao
programa, usaram da palavra os srs. drs. Osvaldo A. Aranha, Jodir Seabra da Silva, advogados
da entidade, comendador Abrumólio Vainer, diretor do Superior Órgão de Umbanda do
Estado, Sr. João Alves Ferro, comerciante em São José dos Campos e vice-presidente da URU
(SP), sr. Edson Orphanake, diretor do jornal Integração Umbandista, que discorreram sobre a
atuação do agraciado e da Umbanda no cenário paulista e nacional. Após o presidente haver
recebido inúmeros ramalhetes de flores, a cerimônia restante esteve a cargo dos chefes de
terreiros, que realizaram trabalhos de de mediunidade e incorporação, dando um aspecto de
Integração e confraternização todo especial e peculiar à festa, que marcará época no
calendário festivo como uma das mais notáveis já registradas nos anais do órgão federativo.

Jornal Folha da Tarde — São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 1980 — pág. 2


Homenagem

Hilton de Paiva Tupinambá — presidente do Supremo Órgão de Umbanda e Candomblé do


Estado de São Paulo, pelos relevantes serviços prestados nos setores religiosos, altruísticos e
assistenciais que atendem 3.600 tendas de Umbanda na área de São Paulo, foi homenageado
por indicação do comendador dr. Osvaldo Aranha, e pelas pesquisas efetuadas por nossa
equipe jornalística. Ele foi condecorado com a expressiva e honrosa Comenda da “Ordem dos
Cavaleiros Magos”, no restaurante das Arcadas, tendo como paraninfo o vice-presidente da
Câmara Municipal de São Paulo, vereador Aurelino de Andrade.

Jornal Folha de São Paulo — domingo, 7 de dezembro de 1980 Divisão Prejudica a Festa para
Iemanjá

Santos — Divindades dos rituais de Umbanda tomaram conta das praias de Praia Grande,
desde Boqueirão até a divisa com Mongaguá, da manhã de ontem até a madrugada de hoje.

A tradicional festa de Iemanjá reuniu Oxalá, Ogum, Oxum, Caboclos e Pretos-Velhos.


Entretanto, a festividade, que se tornou uma das grandes atrações turísticas do município, não
recebeu o mesmo número de pessoas dos anos anteriores. E isto se deve à própria promotora
de festa — Cruzada Federativa Espírita de Umbanda do Estado de São Paulo -— que dividiu as
comemorações em duas etapas, uma realizada ontem e outra no próximo fim de semana.
Promovida com o apoio da Administração Municipal, a festa de Iemanjá atraiu este ano cerca
de 20 mil pessoas, entre adeptos de Umbanda e curiosos para assistir aos trabalhos.

Mil Ônibus — Poucas tendas de Umbanda estavam em atividade durante a manhã, pois
aguardavam a chegada de mais integrantes à tarde, quando o movimento nas rodovias
Anchieta e Imigrantes cresceu bastante. Segundo os funcionários da Dersa, cerca de mil ônibus
de excursão desceram a serra depois das 14 horas. Antecipando um possível
congestionamento nas estradas, a Polícia Rodoviária acionou a “Operação Iemanjá”, durante a
qual um grande contingente de policiais permaneceu de plantão durante todo o dia.

Foi acionada também, a partir das 18 horas de ontem, a “Operação Descida”, com inversão
de mão no trecho da serra da Imigrantes. A “Operação Retorno” será iniciada às 13 horas de
hoje. Caso o movimento de automóveis supere o esperado, a Polícia Rodoviária Implantará
mão única de direção na rodovia Manoel da Nóbrega.

Danças e Cantos — Algumas tendas de Umbanda, entretanto, logo entraram em plena


atividade, com seus integrantes dançando e entoando cantos. Era o caso, por exemplo, da
Tenda de Umbanda Senhor do Bonfim, de Guarulhos, que — segundo um dos integrantes —
começou anteontem a realizar seus rituais para evitar a confusão durante a demarcação dos
terreiros, normal no segundo dia da festa (domingo), quando cresce o movimento. Os hinos ao
som de atabaques, além das vestes brancas, atraíram a curiosidade de muitas pessoas. Elas
observavam com atenção a chegada dos orixás e outros ritos. Uns, mais ousados, entravam no
“terreiro”, para fazer pedidos, principalmente curas de doenças.

O Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo armou 200 tendas defronte à estátua
de Iemanjá, na Vila Mirim. Ali, 16 federações realizaram, desde as 18 horas, a “Noite de Vigília
à Rainha do Mar”, cujo encerramento está previsto para as 8 horas de hoje. De acordo com o
coordenador da entidade, Demétrius Domingues, a área foi escolhida justamente para dar
melhor acomodação aos terreiros de Umbanda procedentes do interior. Demétrius Domingues
lamentou, na festa deste ano, a falta das tradicionais caixas de água nos palanques, “por
absoluta falta de verbas da Prefeitura”, acentuou.

Ambulantes: Os ambulantes aproveitaram a oportunidade e invadiram a faixa da areia da


praia, estacionando seus veículos em vários pontos. A comercialização dos produtos, porém,
foi abaixo do normal, se comparada com os anos anteriores. Além disso, os altos preços
pedidos pelas flores (Cr$ 100), espigas de milho (Cr$ 40) e coco gelado (Cr$ 50) contribuíram
para a queda das vendas.

Esquema de Segurança: Setenta salva-vidas do Corpo de Bombeiros e mais o reforço de 20


homens trabalharam nos postos de salvamento, e 50 policiais militares foram mobilizados,
além de três juízes de menores, médicos e assistentes sociais. No trabalho destas pessoas
baseou-se o esquema de segurança armado pelas autoridades.

Até às 14 horas de ontem não fora necessária a interferência de nenhum deles. Também o
ambulatório médico instalado no posto 3 não tinha registrado qualquer acidente. Segundo o
tenente José Marques Trovão Neto, comandante da seção de Buscas e Salvamento Aquático,
os problemas devem-se acentuar neste domingo, com a chegada de mais pessoas.

Reproduzimos, a seguir, um trecho do seu livro Drum and Candle ('Tambores e Velas), editado
por Doubleda-y and Company lnc.\ G ardeu City, "New York (1971). Logo após, esse mesmo
trecho traduzido.

“The man usually given the credit for organizing Umbanda is Zélio de Morais. He was tall and
blond and white-skinned. He was raised a Catholic but constantly bothered with possessed by
the spirit of a Brazilian Indian half-breed named Caboclo of Seven Crossroads. Caboclo was
part Negro and part Indian. He was in direct communication with the African spirits of the
Candomblé and also on excellent terms with the spirits on the local Indians. The people who
came to Zélio for consultation believed everything said, for after all, he was one of them, he
was not the ghost of just dead half-breed but was a half-breed spirit in the tradition of the
African jungle spirits, he was a mixture of bloods. The brazilians who talked to him were also a
mixture of bloods. He knew their nation and witness their history. He spoke their language, not
some African tribal dialect. In short, the language was theirs. He was one of them. That was
terribly important. Zélio had heart about Kardek and had been to some of the macumba
meetings that were held in Rio à la Candomblé style, but Caboclo told him neither creed was
right and proceeded to dictate a brand-new set of rules, regulations, rituals, chants,
drumbeats, herbal cures, curses, dance steps, etc. Before Zélio could set up his “tent”, or
church, Rio police broke up the group. So he moved across the bay into the neighboring town
of Niterói. The police were easier on him there, and his congregation grew with each session.
People came to him for advice, for cures and to conforted. His assistants began to be
possessed by other native brazilians spirits, spirits who represented slaves and others Indians,
The Yorubá deities also came down and possessed his helpers, and did the spirits of the Roman
Catholic Church. In one session there would he whites, blacks and Indians rolling and chanting
dancing and shouting and all ready to be consulted and to help the poor and uneducated.
Where the word “umbanda” originates is also in doubt, but it could have come from the
Sanskrit (!!) Aum-bandha, which means “the limit of the unlimited” or “the divine principle”.
When Zélio inaugurated his church he did not it after either African or Indians spirits, but
chose to call “The Tent of Lady Piety”.

Texto Traduzido

“O homem a quem geralmente se atribui o crédito da criação da Umbanda é Zélio de Morais.


Ele era alto, loiro e de pele branca. Foi educado no catolicismo, mas era constantemente
molestado com a possessão de um espírito de índio brasileiro mestiço chamado Caboclo das
Sete Encruzilhadas. Caboclo é a denominação do ser mestiço de índio e negro. Ele estava em
comunicação direta com espíritos africanos do Candomblé e também em excelentes relações
com os espíritos dos índios locais. O povo que vinha até Zélio para consultas acreditava em
todas as coisas que o Caboclo dizia, por ser ele, antes de mais nada, um deles. Ele não era
apenas um fantasma de algum mestiço morto, mas era um espírito mestiço, na tradição dos
espíritos da selva africana. Ele era uma mistura de sangues. Os brasileiros que conversavam
com ele também eram uma mistura de sangues. Ele conhecia sua nação e havia testemunhado
sua história. Ele falava sua língua, não o dialeto de alguma tribo africana. Em alguns momentos
ele era um deles. Ele era um deles e isto era terrivelmente importante.
Zélio tinha ouvido sobre Kardec e havia estado em alguns encontros de macumba que
ocorreram no Rio, no estilo do Candomblé, mas o Caboclo disse a ele que nada do que se
criara estava certo, e ditou uma nova série de regras, regulamentos, rituais, cantos, toques de
tambor, curas por ervas, cursos, passos de danças, etc. Antes que Zélio pudesse levantar sua
“tenda” ou igreja, a polícia do Rio freou o grupo. Então ele cruzou a baía e moveu-se até a
cidade vizinha de Niterói. A polícia de lá foi maleável com ele, e sua congregação crescia a cada
sessão. O povo vinha a ele para obter conselhos, curas e conforto. Seus assistentes começaram
a ser possuídos por outros espíritos brasileiros nativos e outros índios.

Os deuses Yorubás também vinham e incorporavam em seus ajudantes, e também vinham os


espíritos da Igreja Católica Romana. Em uma sessão poderiam estar brancos, negros e índios,
girando e cantando, dançando e gritando e todos prontos para serem consultados e para
ajudar aos pobres e incultos.

De onde se origina a palavra “UMBANDA” é ainda uma dúvida, mas ela poderia ter vindo do
Sanscrito (!!) AUM-BANDHA, que significa “o limite do ilimitado” ou o “princípio divino”.

Quando Zélio inaugurou a sua igreja ele não colocou o nome de espíritos africanos ou índios,
mas escolheu chamá-la de “Tenda Nossa Senhora da Piedade”.

O Caboclo das Sete Encruzilhadas

O conceituado escritor Leal de Souza, redator-chefe do jornal A Noite, do Rio de Janeiro,


publicou uma série de artigos sobre espiritismo, no ano de 1932, no Jornal Diário de Notícias.

Em sua edição matutina de 8 de novembro de 1932, o referido jornal, da então capital


federal, anunciava:

Nota: Para maior fidelidade mantivemos a ortografia original.

“A larga diffusão do espiritismo no Brasil é um dos fenômenos mais interessantes do


reflorescimento da fé. O homem sente, cada vez mais, a necessidade do amparo divino, e vae
para onde o arrastam os seus impulsos, conforme a sua cultura e a sua educação, ou para
onde o conduzem as suggestões, nos Estados Unidos e na Europa, atacada nestes tempos, de
uma curiosidade delirante pela magia. Mas, em nenhuma região o espiritismo alcança a
ascendência que o caracteriza em nossa capital. É preciso, pois, encaral-o com a seriedade que
a sua diffusão exige.

No intuito de esclarecer o povo e as próprias autoridades sobre culto e práticas amplamente


realizadas nesta cidade, o «Diário de Notícias» convidou um especialista nesses estudos, o Sr.
Leal de Souza, para explana-los, no sentido explicativo, em suas columnas. Esse mysteriös, se
assim podemos chamal-os, só podem ser aprofundados por quem os conhece, e só os espíritas
os conhecem. Convidamos o Sr. Leal de Souza por ser eile um espírito tão sereno e imparcial
que, exercendo até setembro do anno próximo findo o cargo de redactor-chefe de «A Noite»,
nunca se valeu daquelle vespertino para propagar a sua doutrina e sempre apoiou com
enthusiasmo as iniciativas catholicas. O Sr. Leal de Souza já era conhecido pelos seus livros,
quando realizou o seu famoso inquérito sobre o espiritismo. «No mundo dos Espíritos»,
alcançando grande êxito pela imparcialidade e indiscrição com que descrevia as ceremonias e
phenomenos então quasi desconhecidos de quem não frequentava os centros. Depois de
convertido ao espiritismo, o Sr. Leal de Souza fez durante seis annos, com auxilio de cinco
médicos, experiências de caracter scientifico sobre essas práticas, e principalmente sobre os
trabalhos dos chamados caboclos e pretos.

O Sr. Leal de Souza, nos seus artigos sobre « O espiritismo e as sete linhas de Umbanda » não
vae fazer propaganda, porém, elucidação, mostrando-nos, as differenciações do espiritismo no
Rio de Janeiro, as causas e os effeitos que atribui ás suas práticas, dizendo-nos o que é e como
se pratica a feitiçaria, tratando não só dos aspectos scientificos como ainda da Linha de Santo,
dos Paes de Mesa, do uso do defumador, da agua, da cachaça, dos pontos, em summa, da
magia negra e da branca. Esperamos que as autoridades incumbidas da fiscalização do
espiritismo e muitas vezes desapparelhadas de recursos para differenciar o joio e o trigo, e o
povo sempre ávido de sensações e conhecimentos, comprehendam, em sua elevação, os
intuitos do Diário de Noticias.

Na próxima Quinta-feira, iniciaremos a publicação dos artigos do Sr. Leal de Souza sobre «O
Espiritismo, a Magia, e as Sete Linhas de Umbanda».

‘É a primeira série desses artigos, escriptos diariamente ao correr da penna, que constitui
este livro.’

Leal de Souza era um pesquisador muito sério do espiritismo e também ligado a Tenda Nossa
Senhora da Piedade e ao Caboclo das Sete Encruzilhadas. Do seu livro, reproduziremos, na
íntegra, o Capítulo XXIII: Se alguma vez tenho estado em contato consciente com algum
espírito de luz, esse espírito é, sem duvida, aquelle que se apresenta sob o aspecto agreste, e o
nome barbaro de Caboclo das Sete Encruzilhadas. Sentindo-o ao nosso lado, pelo bem estar
espiritual que nos envolve e sensibiliza, presentimos a grandeza infinita de Deus, e, guiados
pela sua protecção, recebemos e supportamos os soffrimentos com uma serenidade quasi
ingênua, comparável ao enlevo das crianças, nas estampas sacras, contemplando, da beira do
abysmo, sob as azas de um anjo, as estrellas do céo. O Caboclo das Sete Encruzilhadas
pertence à phalange de Ogun, e, sob a irradiação da Virgem Maria, desempenha uma missão
ordenada por Jesus. O seu ponto emblemático representa uma flexa atravessando um
coração, de baixo para cima; a flexa significa direcção, o coração sentimento, e o conjunto —
orientação dos sentimentos para o alto, para Deus.

Estava esse espírito no espaço, no ponto de intersecção de sete caminhos, chorando sem
saber o rumo que tomasse, quando lhe appareceu, na sua ineffavel doçura, Jesus, e
mostrando-lhe, numa região da terra, as tragédias da dôr e os dramas da paixão humana,
indicou-lhe o caminho a seguir, como missionário do consolo e da redempção. E em lembrança
desse incomparável minuto de sua eternidade, e para collocar ao nivel dos trabalhadores mais
humildes, o mensageiro do Christo tirou o seu nome do numero dos caminhos que o
desoorientavam, e ficou sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas. E a vinte e tres annos,
baixando a uma casa pobre de um bairro paupérrimo iniciou a sua cruzada, vencendo, na
ordem material, obstáculos que se renovam quando vencidos e derribados, e dos quaes o
maior é a qualidade das pedras com que deve construir o novo templo.

Entre a humildade e a doçura extremas, a sua piedade se derrama sobre quantos procuram, e
não poucas vezes, escorrendo pela face do médium, as suas lagrimas expressam a sua tristeza,
deante dessas provas inevitáveis a que as creaturas não podem fugir. A sua sabedoria se
avizinha da omnisciência. O seu profundismo conhecimento da Bíblia e das obras dos doutores
da Igreja autorizam a supposição de que elle, em alguma encarnação, tenha sido sacerdote,
porém, a medicina não lhe é mais estranha do que a theologia. Accidentalmente, o seu saber
se revela. Uma occasião, para justificar uma falta, por esquecimento, de um de seus auxiliares
humanos, explicou, minucioso, o processo de renovação das cellulas cerebraes, descreveu os
instrumentos que servem para observal-as, e contou numerosos casos de ferimentos que as
atingiram, e como foram tratados na grande guerra deflagrada em 1914. Também, para fazer
os seus discípulos, explicou a theoria das vibrações e a dos fluidos, e numa ascenção gradativa,
na mais singela das linguagens ensinou a homens de cultura desigual as transcendentes leis
astronômicas. De outra feita, respondendo a consulta de um espirita que é capitalista em S.
Paulo e representa interesses europeus, produziu um estudo admiravel da situação financeira
creada para a França, pela quebra do padrão ouro na Inglaterra. A linguagem do Caboclo das
Sete Encruzilhadas varia, de accordo com a mentalidade de seus auditórios. Ora chã, ora
simples, sem um atavio, ora fulgurante nos arrojos da alta eloquência, nunca desce tanto, que
se abastarde, nem eleva e mais, que se torne inaccessivel.

A sua paciência de mestre é, como a sua tolerância de chefe, ilimitada. Leva annos a repetir,
em todos os tons, através de parábolas, por meio de narrativas, o mesmo conselho, a mesma
lição, té que o discípulo, depois de tel-a comprehendido, comece a pratical-a. A sua
sensibilidade, ou perceptibilidade, é rapida, surprehendedo. Resolvi, certa vez, explicar os dez
mandamentos da Lei de Deus aos meus companheiros, e, à tarde, quando me lembrei da
reunião da noite, procurei, concentrando-me, comunicar-me com o missionário de Jesus,
pedindo-lhe uma suggestão, uma idéa, pois não sabia como discorrer sobre o mandamento
primeiro. Ao chegar à Tenda, encontrei o seu médium, que viera apressadamente das Neves,
no município de S. Gonçalo, por uma ordem recebida à última hora, e o Caboclo das Sete
Encruzilhadas, baixando em nossa reunião, discorreu espontaneamente sobre aquelle
mandamento, e, concluindo, disse—me: «Agora, nas outras reuniões, podeis explicar os
outros, como é vosso deseju». E esse caso se repetiu: — havia necessidade de falar sobre as
sete linhas de Umbanda, e, incerto sobre a de Xangô, implorei, mentalmente, o auxilio desse
espirito, e de novo o seu médium, por ordem de ultima hora, compareceu á nossa reunião,
onde o grande guia esclareceu, num allocução transparente, as nossa duvidas sobre a quarta
linha. A primeira vez em que os videntes o vislumbraram, no inicio de sua missão, o Caboclo
das Sete Encruzilhadas se apresentou como um homem de meia idade, a pelle bronzea,
vestindo uma túnica branca, atravessada por uma faixa onde brilhava, em letras de luz, a
palavra «Caritas». Depois, e por muito tempo, só se mostrava como caboclo, tanga de plumas,
e mais atributos dos pagés selvicolas. Passou, mais tarde, a ser visível na alvura da sua túnica
primitiva, mas há annos acreditamos que só em algumas circunstancias se reveste de forma
corporea, pois os videntes não vêem, e quando a nossa sensibilidade e os outros guias
assignalam a sua presença, fulge no ar uma vibração azul e uma claridade dessa côr paira no
ambiente.

Para dar desempenho à sua missão na terra, o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou quatro
Tendas em Nicteroy e nesta cidade, e outras fóra das duas capitães — e todas da Linha Branca
de Umbanda e Demanda.”

No dia 13 de outubro de 1975, o Jornal Notícias Populares, de São Paulo, publicava uma
reportagem sobre Zélio de Morais, com o seguinte título:

“Fundador da Umbanda Recebia um EX-PADRE”

Transcrevemos parte da reportagem:


“Poucos umbandistas de São Paulo foram ao enterro de Zélio de Morais, o fundador do
primeiro terreiro de Umbanda no Brasil. Ronaldo Linares, Presidente da Federação
Umbandista do Grande ABC e Norma Linares foram os únicos paulistas presentes no
sepultamento de Zélio de Morais, em São Gonçalo, Estado do Rio. O radialista de São Caetano
do Sul, Ronaldo Linares, que foi seu amigo durante muitos anos e que hoje preside a
Federação Umbandista do Grande ABC, gravou a última mensagem dada pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas, por meio do médium Zélio de Morais:

“Meus irmãos, sejam humildes. Tragam amor no coração para que vossa mediunidade possa
receber espíritos superiores, sempre afinados com as virtudes que Jesus pregou na Terra, para
que os necessitados possam encontrar socorro nas nossas casas de caridade. Aceitem meu
voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e carinho”.

Fato curioso ocorreu durante o sepultamento. O corpo do médium e fundador da primeira


Tenda de Umbanda do Brasil, Zélio de Morais, já alquebrado por 84 anos de luta, encontrava-
se gasto, magro e ocupava uma vaga comum. Todavia, para surpresa de todos, seu corpo não
coube na campa a ele destinada, embora também fosse uma campa comum. Foi necessário
aumentar a campa, demolindo-a parcialmente para dar passagem ao caixão. Até parecia que a
terra não queria recebê-lo ou não se sentisse digna de recebê-lo. Poderia ser também uma
prova do Caboclo das Sete Encruzilhadas a dizer: “Vede como é pequeno o vosso mundo para
receber tão grande homem”.

Grande Reunião Ecumênica em Prol da Paz na Organização das Nações Unidas — ONU

A assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) sediou, no final de agosto, a Conferência de
Cúpula da Paz Mundial para o Milênio. Um dos resultados concretos do encontro foi a
elaboração de um documento, no qual mais de mil líderes religiosos, vindos de países de todos
os continentes, em que a índia participou com 250 lideranças religiosas, propuseram formas
práticas de colaborar para a solução dos grandes problemas da Humanidade, a exemplo do
avanço da miséria e dos conflitos de natureza religiosa entre os povos.

A conferência teve seu início no dia 28 de agosto, com a apresentação do Shumei Taiko
Ensemble--------Os Tambores Japoneses, um es-

petáculo com belíssima coordenação em ritmo e dança. A seguir houve orações e cerimônias
realizadas por membros religiosos de diversas crenças. Na sequência, a palavra do secretário-
geral do Millennium World Peace Summit, sr. Bawa Jain, desejando boas-vindas aos
participantes. Em pronunciamento oficial, sr. Kofi Annam, Secretário-Geral da ONU, saudou os
líderes religiosos presentes.

Dias 28, 29 e 30, a programação teve seu início às 7:45 e término às 20 horas, na sede da
ONU, com meditações, conferências e apresentações de corais e orquestras, com intervalos
para as refeições, momento em que os participantes aproveitavam para se conhecer e trocar
material de suas religiões. Tive a oportunidade de encontrar irmãos maçons, de várias partes
do mundo, que fizeram parte desta grande conferência, na qual representei nossos irmãos
maçons brasileiros e também a Academia Paulista Maçónica de Letras, sob a Presidência do dr.
José Ebran.

O encerramento deu-se no dia 31, no The Waldorf Astoria Hotel, iniciando com meditações e
preces, conferências e terminando com a apresentação de Paul Winter.
Após o evento da Cúpula da ONU — cuja mensagem final da reunião entre líderes religiosos
coube ao representante da Legião da Boa Vontade nas Nações Unidas, o jornalista Luciano
Meira —, várias personalidades brasileiras e estrangeiras participaram, na sede da LBV, de um
encontro ecumênico oferecido pela entidade que na ocasião saudou os participantes.

Estiveram na confraternização, sr. Juvanir Borges, presidente da Federação Espírita Brasileira;


Marcos Terena, representante dos povos indígenas; Pai Jamil Rachid, presidente da União de
Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil; Pastor Nehemias Marien, da Igreja Presbiteriana
Unida Bethesda, do Rio de Janeiro; Nestor Mazotti, presidente do Conselho Espírita
Internacional; Rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista;
Divaldo Franco, conferencista espírita; Pastor Joel Câmara, diácono da comunidade Evangélica
de Brasília; Nana Apadeau, chefe da Nação Akana de Gana/África e Yehoran bem-Shadon,
presidente da Organização Jubillenium, entre outras personalidades.

Cabe acrescentar a maravilhosa organização do evento e constatar que o esforço para a PAZ
MUNDIAL torna-se nesse momento um fato de suma importância para a HUMANIDADE.

Diário de Oeaeco Regional Pedro Furlan, 49 anos de carreira

Há 49 anos, quando o lugar onde se ergue hoje Osasco era apenas um lugarejo pouco
desenvolvido e maltratado e poucas indústrias ainda estavam começando a florescer, os
problemas do povo da região eram bem diferentes daqueles que têm hoje. Não havia
iluminação pública, água ou esgoto, nem tampouco postos de assistência médica que tivessem
condições razoáveis de atendimento à população.

As pessoas que aqui residiam dependiam muito dos recursos de São Paulo, que nem sempre
tinha condições de atendê-las.

Tornavam-se necessárias pessoas que tivessem a consciência dessa situação de precariedade,


que se preocupassem com o bem-estar de seu próximo e tivessem a coragem de assumir a luta
em prol da causa popular. Em 1943, um homem sentiu um aviso ou um chamado, para atender
a necessidade de acompanhar mais de perto essa realidade, assumindo-a para si mesmo e nela
tentando despejar a fé e a esperança em um mundo melhor, ajudando sempre o próximo em
suas dificuldades, despertando nele a alegria de viver. O nome desse homem: Pedro Furlan.

Residente nesta cidade há 45 anos, Pedro Furlan assumiu o seu carisma em meio a todos
aqueles problemas, quando decidiu arregaçar as mangas para trabalhar naquilo em que
acreditava. Mas sabia ele a grandiosidade da obra que ajudaria a construir. Trabalhando sem
olhar dias ou horas de lazer e nem férias, durante esses anos, ele viria a ser o presidente-
fundador da Igreja Espiritual Cristã de Presidente Altino, hoje muito conhecida por toda a
cidade, recebendo frequência permanente de pessoas de todas as camadas sociais, que vão
buscar ali apoio e assistência moral e espiritual. Além disso, Pedro seria também presidente da
grande União Regional Umbandista da Região Oeste da Grande São Paulo, sendo reeleito cinco
vezes, mantendo-se por 25 anos, até os dias de hoje, neste importante cargo, graças à
dedicação, à sua fé e ao trabalho profícuo que tem desenvolvido, granjeando a confiança de
seus irmãos que ali o têm mantido.

Preocupado em atender pessoas com problemas de desemprego, doença, dificuldades


financeiras para comprar alimentos, a Igreja Espiritual Cristã de Presidente Altino procura
orientá-las, doutrinando-as e colocando-as em contato com um mundo de espiritualidade e fé
cristãs, livrando-as do desespero e revigorando suas energias na caminhada por um mundo
melhor. Essa Igreja dá também assistência material à população, alimentando 65 famílias com
gêneros de primeira necessidade.

Outra organização que está muito ligada a Furlan é a União Umbandista da Região Oeste da
Grande São Paulo, que hoje agrega cerca de 500 terreiros de todo o Estado de São Paulo, e até
mesmo terreiros de outros estados solicitam filiação à essa entidade. Nesses 25 anos de
presidência, Pedro Furlan nunca recebeu nada, sempre trabalhando com estoicismo e
dedicação, o que vem lhe proporcionando grandes vitórias, como, por exemplo, a elevação da
Festa de Ogum (que se realiza todo ano no dia 21 de abril), a qual consta do calendário
turístico do município e também do calendário turístico do Estado de São Paulo. Ela é
considerada a maior festa umbandista do país e por isso conta sempre com o prestígio dos
meios de comunicação, que acompanham sua realização. Com o decorrer do tempo e pelo
comportamento de Furlan e dos médiuns, a Igreja de Presidente Altino foi se tornando tão
conhecida pelas curas e pelas graças recebidas dos Orixás, que provoca constantemente visitas
de caravanas provindas de países como a Bolívia, Peru e Uruguai, além de convites para visitas
de seu presidente às mais variadas partes do Brasil.

Sempre dedicado, o líder umbandista afirma que no começo dessa sua trajetória ele sentiu os
efeitos de um preconceito existente com relação à religião umbandista, vindo de pessoas que
insistem em relacioná-la estereótipos quase sempre maldosos, como o de que Umbanda
significa magia negra ou “trabalhos de encruzilhada”. Diz Furlan que, graças ao trabalho de
divulgação, esse ao qual o pessoal da Igreja e da União Regional se dedicaram, hoje em dia
desapareceu aquela imagem, tanto que 80% do povo que frequenta ou conhece a Umbanda
sabe qual a diferença que existe entre ela, o Candomblé e a Quimbanda.

Todos esses anos de militância religiosa possibilitaram a Pedro Furlan conhecimento e


técnica, o suficiente para manter uma crônica que escreve há mais de 10 anos neste jornal,
que vai publicada toda terça-feira, informando nossos leitores sobre os últimos
acontecimentos na área daquela seita, e relatando mensagens e ideias de caráter cristão.

Por todos esses anos de vida humana e fraterna, Pedro Furlan deverá receber as homenagens
a que faz jus, pelos imensuráveis esforços para auxiliar as pessoas que com ele convivem. Está
de parabéns Pedro Furlan, que afirma ter esperanças de que a Umbanda está preparando
novos médiuns com vontade de servir ao próximo com dedicação, espiritualidade, muita fé e
muito amor, para que a comunidade acredite cada vez mais que ali, o que se recebe do Alto se
distribui ao semelhante na Terra, sem nenhuma exigência de retorno. “O que vem de graça, de
graça distribuímos aos nossos semelhantes”, concluiu o nosso entrevistado Pedro Furlan
(Francisco Taveira Sobrinho).

Filhos-de-Santo e políticos dão o último adeus a “Seo” Pedrinho

Sábado, 6 de setembro, faleceu o presidente da Federação Umbandista da zona oeste da


Grande São Paulo, sr. Pedro Furlan. Ele era Babalorixá da Igreja Espiritual Cristã Maior de
Presidente Altino.

Pedro Furlan foi vereador de Osasco, nos últimos anos transferiu seu prestígio político ao ex-
vereador Sasso, que foi a primeira pessoa a fundar a Umbanda em Osasco.

Pedro Furlan promovia todos os anos a festa de Ogum, realizada no Ginásio de Esportes José
Liberatti, que entrou para o calendário cultural de Osasco. Tinha um projeto para a construção
de um hospital que atenderia à população carente, e que mesmo com seu falecimento será
construído.

No domingo 7, seria realizada a festa de comemoração aos 49 anos de incorporação do


Caboclo Pena Branca por Pedro Furlan. A festa, que seria realizada na Igreja Espiritual de
Presidente Altino, deu lugar à tristeza no velório do senhor Pedro Furlan.

Ao velório compareceram vários amigos, entre eles algumas autoridades que foram
demostrar todos seus pesares aos familiares; o prefeito de Osasco Silas Bortolosso; o
presidente da Associação Paulista de Municípios (APM), Celso Giglio; o presidente da Câmara
Municipal de Osasco, Cláudio Pitteri; o ex-vereador Sasso e seu irmão Luiz Sasso, além de seus
filhos-de-santo.

O enterro foi realizado no Cemitério do Bela Vista, em Osasco, onde todos os presentes foram
tomados por uma grande comoção na hora do sepultamento.

Uma vida dedicada à Umbanda e a Osasco

Alguém que nunca tirou proveito de sua liderança espiritual para obter vantagens pessoais e
que sempre vivenciou plenamente a sua me-diunidade. Eis o mínimo que se possa dizer a
respeito do babalorixá Pedro Furlan.

No último sábado, 6, vitimado por um ataque cardíaco, Furlan deixou o nosso convívio. Fez a
passagem para uma outra dimensão, como diria a doutrina da sua religião. Mas a sua obra
material e também a espiritual continuarão nos falando dele, por todos os cantos da cidade.

Em 1972, fundou a União Regional Umbandista da zona oeste da Grande São Paulo, a qual
passou a presidir por vontade expressa de seus filhos de fé. Por meio dessa entidade, criou a
festa “Vamos Saravá Ogum”, que reúne anualmente milhares de umbandistas de todo o
Estado de São Paulo e faz parte do calendário turístico de Osasco.

Na década de 1980, Furlan mostrou-se ardente defensor da cultura negra, ao participar, com
os fiéis de sua igreja, das programações artísticas que eram realizadas anualmente em
homenagem a Zumbi dos Palmares.

Líder espiritual maior de uma religião até bem pouco tempo discriminada e pouco
reconhecida, sempre pregou a tolerância religiosa e a coexistência entre os credos.

Por força de seu exemplo e de sua capacidade de fazer amigos e influenciar pessoas, a
Umbanda em Osasco começa, finalmente, a receber o respeito que merece (RD).
Capítulo Dezoito

Jamil Rachid

Iniciou na Umbanda (1948), desenvolvendo-se, com Euclides Barbosa, nosso querido “Pai
Jaú”, ex-craque de futebol, o corintiano “Jaú”. Um verdadeiro pai, acolhia a todos os seus
médiuns e aqueles que o procuravam, nunca envaidecido por ser pessoa pública. Mantendo
em sua casa a mais rigorosa disciplina e seguimento às leis da Umbanda.

Em novembro de (1950), ratificada e comprovada a sua extraordinária mediunidade, fundou


o Templo Espiritualista e Confraternização de Umbanda São Benedito, tendo sua sede na Rua
Teodoro Sampaio, 774, no Bairro de Pinheiros. Em 1955, participa da Fundação da União de
Tendas Espíritas de Umbanda do Estado de São Paulo, assumindo a parte da fiscalização das
Tendas. Inicia-se na nação GêgeMarrin (1960), com Antônio Pinto — “Do Tatá Fomotinho”,
radicado em São João do Miriti, no Estado do Rio. Tatá Fomotinho, como era conhecido em
todo território brasileiro, era filho-de-santo de dona Maria Angorense (Gaiaku), da roça de
ventura, em Cachoeira de São Felix, Bahia. Em 1963, passa o Templo Espiritualista São
Benedito para sua sede própria, na Rua Alves Guimarães, 940, Pinheiros. Assume, em 1967, a
presidência da União de Tendas Espíritas de Umbanda do Estado de São Paulo, cargo que
exerce até hoje.

1976 e 1977— Assume a presidência do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo,
sendo eleito em assembleia, após o falecimento do general Nelson Moreira.

Em agosto de 2000, é indicado pela LBV para representar a Umbanda e os Cultos Afro-
Brasileiros na Conferência de Cúpula da Paz Mundial para o Milênio, realizado na Sede da
Organização das Nações Unidas.

1975 — Lançamento do Programa Umbanda no Universo — Souesp Da esquerda para direita


■— Jaime Alcantara, Jamil Rachid, dr. Estevam Monte Belo, General Nelson Braga Moreira e
Demétrio Domingues

José Gabriel da Rocha Mina (Juquita) — vice-presidente em reunião na União de Tendas

ONU — 08/2000 — Congresso Da esquerda para a direita — Luciano Meira (LBV), Henry Sobel
(presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista e Babalorixá Jamil Rachid na sede da
ONU

ONU 8/2000

Secretário para assuntos religiosos da ONU, sr. Bawa Jain, recebendo de Pai Jamil um diploma
e uma medalha enviada pelo Superior Órgão de Umbanda.

Membro Fundador:

• Das lojas Maçônicas — Gênesis — Hermes Trimegistus e Mestre Akron de vários templos de
Umbanda na Argentina, Paraguai e Uruguai

• Empresa Jornalística Aruanda Ltda


Condecorações:

• Medalha Anchieta —

Câmara Municipal de São Paulo

• Medalha de Honra da Loja Maçônica Gênesis 229

• Medalha de Honra da Loja Maçónica Mestre Akron 359

• Medalha do Mérito dos Cavaleiros de São Jorge — Roma, Itália

• Medalha Ordem Jurídico Social do Brasil

• Medalha de Membro Honorário da Internacional Association of Orders of Chivalery ofNew


York

Grau Cultural:

• Teosofia das Religiões Egito e Nigéria

• Os idiomas — Árabe e Africano — Líbano — Síria — Egito e Nigéria

Piramidologia e Esoterismo Orienta Egito

Em 2000, o Babalorixá Jamil Rachid é indicado pela LBV para representar a Umbanda e os
Cultos Afro-brasileiros na Conferência de Cúpula da Paz Mundial para o Milênio, realizado na
Sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, com a presença de centenas de
lideranças religiosas de todas as partes do mundo. Nessa oportunidade, foi distribuído material
de todas as religiões participantes, promovendo assim o conhecimento sobre cada uma delas.
Sem dúvida, um marco importante: a Umbanda e os Cultos Afro-brasileiros cerram fileiras com
as religiões milenares pela Paz Mundial.

The Millennium World Peace Summit of Religious and Spiritual Leaders

Cargos

Funções em Exercício

• Presidente da União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil

• Templo Espiritualista e Confraternização São Benedito, do vale dos orixás, do Conselho


Consultivo do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo

• Membro Titular do Parlamento Internacional Ecumênico da Fraternidade Humana, órgão


dirigido pela Legião da Boa Vontade

• Fundador e Membro do Conselho Consultivo da Academia Paulista Maçónica de Letras,


ocupando a cadeira de número 36 — de Allan Kardec
O Decano Jamil Rachid, entendendo a importância desta obra, faz questão que em seu relato
seja registrado algo sobre o surgimento do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São
Paulo.

Terceiro Congresso de Umbanda — ano de 1961

Em São Paulo, as federações de Umbanda reuniram-se com os Umbandistas do Rio de


Janeiro, Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, representado pelo grande líder Umbandista
daquele estado, o jornalista Moab Caldas. O objetivo era discutir o crescimento da Umbanda
no Brasil e uma forma de se organizar esse crescimento.

Ao final deste Congresso, tirou-se uma comissão formada por oito federações para que se
criasse o Superior Órgão de Umbanda em cada estado do Brasil. Uma sugestão idealizada pelo
irmão Demétrio Do-mingues. Em São Paulo foi convidado o cel. Nelson Braga Moreira, que
aceitou dar início ao Superior Órgão, como presidente, tendo Demétrio Domingues como
coordenador e demais diretores, todos presidentes de federações que pertenciam ao Superior
Órgão de Umbanda, usando como sede o local onde funcionava o Primado de Umbanda do
irmão Félix Nascente Pinto, presidente do Primado e Tesoureiro do Superior Órgão, na Rua
Maria Marcolina.

Ao aposentar-se, o coronel passou a general Nelson Braga Moreira, agora tendo mais tempo
para dedicar-se ao Superior Órgão.

Nessa época, delineou-se a diretoria, e o dr. Estêvam Monte Belo assumiu como vice-
presidente. Após empossada a diretoria, passamos a trabalhar com afinco. Foram realizados
vários simpósios (alguns na Câmara Municipal de São Paulo ou na sede da União) e várias
festividades

Jan/1960 — União de Tendas Jamil Rachid ao lado de seu Pai-de-Santo (Doté Fomotinho —
Antonio Pinto) após sua feitura

1966 — Jamil Rachid e Dona Almerinda Fraga Abarassu (presidente da União de Tendas
Espíritas de Umbanda do Estado de São Paulo) Pai Jaú

1975 — Seminário 1º Seminário Umbandista (para oficializar os rituais de batismo, casamento


e ritual fúnebre) na sede da União na capital e interior do Estado. Sempre com a preocupação
de promover o crescimento da Umbanda, foi realizado o Primeiro Congresso Paulista de
Umbanda, na Câmara Municipal de São Paulo, com a presença das Federações filiadas ao
Souesp, presidentes de templos e médiuns.

Com a morte do general Nelson Braga Moreira, assumiu a presidência dr. Estevam Monte
Belo; com sua morte, assumiu Jamil Rachid; na eleição seguinte, o sr. Olinto Marques; após
Renato Dib, seguido do dr. Sérgio Celeste e, atualmente, por três gestões, com o apoio
unânime de todas as federações, dr. João Baptista Menezes Ladessa, que tanto honra a nossa
Umbanda. O Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo encontra-se em sua sede
própria, na Av. Rangel Pestana, 1988, 7º andar, no bairro do Brás.

Federações que Atualmente Compõem o Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Faulo
(Souesp):
União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil Federação Organização Ycaraí
Federação Umbandista do Grande ABC Federação Umbandista Carapicuibana

Federação das Religiões Mediúnicas de Guarulhos — Feremeg União Municipal Umbandista


de Guarulhos — Umug Federação Umbandista da Grande São Paulo

Federação das Igrejas Reunidas de Umbanda e Candomblé do Brasil

Federação de Umbanda e Candomblé “Luz e Verdade” Associação Brasileira dos Umbandistas


do Estado de São Paulo Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo
Federação de Umbanda e Candomblé do Brasil

Federação Espiritualista Reino dos Orixás Federação de Umbanda Mãe Senhora Aparecida
Hino do Superior Órgão de Umbanda Escola de Corimba Félix Nascente Pinto

Hino do Superior Órgão de Umbandado Estado de São Paulo

Oxalá iluminou o mundo Iluminou as forças da Aruanda Iluminou as suas falanges Pra brilhar
os caminhos da Umbanda Ilumina, meu pai, ilumina O Superior Órgão de Umbanda Pra que
possa ensinar os caminhos Da corte de Aruanda Marchamos, irmãos umbandistas O Brasil
surgiu libertado Sobre a púrpura da fé Brilha a pátria brasileira Saravá, saravá o Superior
Superior Órgão da Umbanda Levamos a sua bandeira Com amor, fé e esperança.
Capítulo Dezenove

Pai Joãozinho 7 Pedreiras

Na vida civil, diretor de empresa, casado atualmente com Marilene Simão Khedi, pai de
quatro filhos e avô de um neto, nasceu em 27/07/1947, em Casa Branca (SP), filho carnal de
João Batista de Souza e Benedita Marcolino de Souza e Souza.

Sacerdote Umbandista, com feitura desde 1965, especializado em cura, magia, terapia e
psicoespiritual. Tem como pai espiritual o Orixá Xangô e cerca de 60 filhos ou afilhados
espirituais.

Eventos em Destaque — Noites de Autógrafos

Pai Joãozinho também é escritor. Sua primeira obra foi lançada em 1994, um livro didático
intitulado: Noções Elementares de Umbanda, destinada aos filhos de fé da Escola de Médiuns
Pai João do Congo, pertencente ao Templo de Umbanda Caboclo 7 Pedreiras, como também a
todos que queiram conhecer, por curiosidade ou não, sobre a Umbanda. Esta obra vem
desprovida de pretensões de falar sobre mistérios, polemizar conceitos ou ensinar fórmulas
mágicas. Sua segunda obra é o livro Umbanda — a Luz que Clareia Nosso Caminho, uma
complementação de conhecimentos abordados no primeiro livro.

A noite de autógrafos deste livro ocorreu em 28/4/2001, às 19 horas. Dela participaram,


como convidados, todos os médiuns, sócios, simpatizantes e frequentadores do Templo de
Umbanda Caboclo 7 Pedreiras, além dos convidados especiais, como figuras ilustres da cúpula
umbandista: dr. João Batista Menezes Ladessa — presidente do Superior Órgão de Umbanda
do Estado de São Paulo, Pai Mário Paulo — vice-presidente do mesmo órgão, entre outras.
Também presentes estiveram autoridades da comunidade onde se situa o Templo de
Umbanda. A organização do evento foi dirigida pela Mãe Pequena, Mãe Marilene, sua esposa,
que tratou com muito esmero de todos os detalhes, da confecção dos convites à decoração do
local, que foi o pátio da Obra Assistencial Mãe Florinda, singela, porém com um trato de
requinte. Pai Joãozinho lançou a primeira Cartilha de Umbanda, somente para crianças, pelo
Grupo Editorial Madras. Por este trabalho, considerado inédito até então, Pai Joãozinho
recebeu várias homenagens, basta registrar a sua notória preocupação com a infância e a
adolescência, haja vista que as crianças têm atendimento preferencial nos trabalhos
espirituais, além de participar dentro do “Terreiro”.

Templo de Umbanda Caboclo 7 Pedreiras

Projeto Realizado

Fundação da Obra Assistencial Mãe Florinda, instituição beneficente, sem fins lucrativos, com
já oito anos de atividades, situada à Rua Sete Barras, n. 16 A — Freguesia do Ó, São Paulo —
capital. Tem por órgão mantenedor a microempresa Alemari Comercial e doações da Diretoria
Administradora da Entidade, assim como de vários simpatizantes. O objetivo dessa instituição
são atividades pertinentes a obras de assistência e promoção social, especificamente a famílias
com problemas de subsistência, baixa renda, desempregados, com doentes impossibilitados
de trabalhar. Recebem como auxílio-benefício cesta básica mensal, vale-transporte. No dia
desta entrega é oferecido um almoço, cujo cardápio, variado mensalmente, visa a suprir as
necessidades básicas de nutrição, especialmente das crianças. Durante o transcorrer do ano há
campanhas com doações de roupas, calçados, cobertores. Os beneficiários contam também
com:

1 — Departamento de assistência social, cuja profissional presta orientação às famílias sobre


trabalho, encaminhamentos médicos, aquisição de documentos, problemas escolares e outros;

2 — Departamento médico, cujo profissional atende com consultas, prescrição de remédios e


aviamentos de receitas na possibilidade de doação do medicamento. Considerando a
necessidade da promoção social do indivíduo, a Obra Assistencial possui projetos para cursos
de pintura em tecidos e artesanato, como crochê. Em seu calendário de eventos que visam a
levar lazer, alegria às crianças, além de alimentação, pois são festas nas quais se oferecem
lanches, refrigerantes e bolo: temos a Festa da Páscoa, com doação de ovos de chocolate, a
Festa de Cosme, Damião e Doum e a Festa de Natal, em que sempre há Papai Noel distribuindo
brinquedos. Esta instituição é a menina-dos-olhos de Pai Joãozinho, pois por intermédio dela
dá sua contribuição para com a comunidade carente, minimizando o sofrimento de muitas
pessoas, sendo “gente que faz”. Pensando nos “velhinhos desamparados”, ainda auxilia alguns
asilos com o que não é consumido pela Obra Assistencial.

O Decano Responde

• Minha melhor amiga, que está a meu lado em todas as situações, é minha esposa, Marilene
Simão Kehdi.

• A cada dia que acordo é um novo dia; penso e vivo pela renovação.

• Orações, simpatias, mais usadas e eficazes são todas aquelas ditadas pelos mentores
espirituais no início das giras de Preto-Velho, endereçadas às pessoas que naquele instante
necessitam de alento, alívio, palavra de conforto e otimismo. Cada caso, um caso; cada caso,
uma oração.

O que gostaria de ter feito e não fez? Por quê?

Tudo o que me foi possível, realizei. Não planejo utopias.

O sincretismo faz parte de seu segmento, aceita-o, não aceita, por quê?

Sim, faz parte, porque o sincretismo são as raízes da Umbanda.

Foi discriminado por praticar sua religião?

Graças a Deus, nunca.

Teve algum problema com a polícia ou com outras religiões?

Com a polícia, não. Outras religiões são frequentes em nosso templo.


Capítulo Vinte

Ronaldo Linhares

Quando recebi o convite do Rubens Saraceni e Mestre Xaman para fazer parte desta obra,
fiquei ao mesmo tempo agradecido, envaidecido e preocupado. Agradecido, pois não é
comum em nosso meio vermos reconhecido um bom trabalho realizado, e acredito
sinceramente ter realizado até agora um bom trabalho, sobre o qual falaremos mais adiante.
Envaidecido, porque sou humano e, como tal, sensível. Não aquelas falsas homenagens
nascidas do desejo de agradar para pedir algo em troca, mas, sim, por ver nesta obra única na
Umbanda o desejo sincero de seus autores de colherem depoimentos daqueles que, por
pisarem nesse caminho, já afastaram ou apreenderam e ensinaram a contornar obstáculos
mais difíceis de ser superados e, principalmente, porque quem fez primeiro, quem chegou
primeiro, tem mesmo obrigação e dever de ensinar. Ter sido um desses doze primeiros me
envaidece e preocupa. “Preocupado” porque depois de mais de 50 anos de frequência quase
constante na Umbanda e no Candomblé, é preciso pensar muito, refletir bem e, se possível,
falar pouco, para não ser mal interpretado. Por isso não pretendo fazer deste uma
autobiografia, mas, sim, falar de alguns passos já dados nesta seara bendita. Algumas
experiências vividas, as figuras exponenciais de uma Umbanda que já não existe mais como era
30 ou 40 anos atrás. Para não cansar o leitor, tentei ser breve em cada assunto. Xaman e
Saraceni saberão com certeza, com seus melhores e mais atualizados conhecimentos, extrair
do arco-íris de luz a essência do branco; o branco, a cor da Umbanda, é importante frisar que é
a soma de todas as cores, portanto este só poderá ser, espiritualmente falando, um bonito e
colorido trabalho.

Ronaldo Antonio Linhares — Federação Umbandista do Grande ABC


www.santuariodaumbanda.com.br

Tudo Certo... pura Dar Errado

Ele tinha tudo, havia sofrido um sério acidente que lhe comprometera a coluna vertebral;
havia nascido num bairro pobre, habitado por italianos, incultos imigrantes; homens
acostumados à luta diária pela vida; que trabalhavam em quase tudo: de sapateiros a pintores
de parede, passando por pedreiros, feirantes, mecânicos, frentistas (os que decoravam a
fachada das casas). Por exercerem sempre trabalhos manuais, eram chamados de
“Carcamanos”. As tradições da velha Itália eram suas leis. Falavam alto, brigavam muito e, ao
mesmo tempo, eram muito alegres.

O outro contingente humano de seu local de origem era constituído de pretos, povo sofrido,
que não recusava trabalho e que morava em sua quase totalidade na favela do Cambuci.
Havia, ainda, no bairro, alguns imigrantes do interior do Estado e posteriormente vieram, aos
pouquinhos, os nordestinos. A tarantela, às vezes, misturava-se ao samba e, num porão de
sapateiros da Rua Silveira da Mota, nasceriam mais tarde dessa mistura os “Demônios da
Garoa”, que cantariam as músicas da época e, mais tarde, os sucessos do outro bairro similar
— o Bixiga, onde havia até samba italiano: Piove... Piove fa tempo que Piove ca Chichilo, e io
sempre io... — de Adoniram Barbosa, outro monstro da música popular brasileira, oriundo do
mesmo ambiente. Aliás, Cambuci, Mooca, Brás e Bexiga eram muito parecidos e eternos rivais.
Seu pai era um tipo também rude e difícil: “um ás do motociclismo”, eletricista de profissão,
pescador por convicção, teimoso como uma mula. Um dia, ele e o pai tiveram uma briga. Ele,
apesar de não passar de uma criança, tentou impor suas ideias e vontades ao pai, e ouviu
deste a seguinte frase em espanhol:

— “Mira usted, si já eres ombre para no oirme, entonces eres ombre para seguir solo su
camino”, ou seja, “se você já se acha homem para não me obedecer, também é homem para
cuidar sozinho de sua vida”.

No dia seguinte, com alguns trocados e uma nota de 20 cruzeiros no bolso, seguiu
arrastando-se, a pé, da Rua Luiz Gama — Carneiro Leão — Av. Rangel Pestana e Estação do
Norte. Próxima parada: Rio de Janeiro — como cantaria Caetano Veloso muitos anos depois:
“Sem lenço, sem documento”, ou ainda, como diriam os amigos do Cambuci: “Frito e
Enfarinhato”.

Ronaldo Antonio Linhares tinha realmente tudo certo para dar errado. Mas no Rio de Janeiro
veio a conhecer João Alves Torres Filho, mais conhecido como “Joãozinho da Golmeia”, o
primeiro e único “Rei do Candomblé”. Foi quando tudo mudou.

O Primeiro Encontro da Criança com o Espírito

Estávamos em 1944, na Rua Luiz Gama, n. 662, no Bairro do Cambuci, em São Paulo. Minha
avó Virgínia era tecelã e acabava de voltar da fábrica de tecidos que havia na Rua Ana Neri —
esquina com a Rua da Independência. Estava exausta e deprimida. Meu tio Silvério participava
da Campanha da Guerra na Itália e há muito tempo não tínhamos notícias dele.

O quarto que vovó morava tinha mais ou menos 25 m2 (5x5); duas janelas enormes, voltadas
para a rua, que se encontravam fechadas. A porta de entrada, que ficava na parede oposta e à
qual chegava-se por uma escada externa, era a única dependência da casa acima do nível do
solo. O Sol estava se pondo na direção dos fundos da casa, e sua luz iluminava o quarto,
entrando pela porta aberta. A tristeza de vovó me atingiu em cheio quando ela, com os olhos
cheios de lágrimas, abraçou-me, colocou-me em seu colo e, me apertando muito, disse, num
desabafo:

— “Ah! Ronaldo, será que nunca uma alma boa vai-se lembrar de nós?”

Quase que imediatamente, uma sombra se projetou sobre o chão do quarto. Levantando os
olhos, nós vimos, parado no umbral da porta, um homem alto, a mão esquerda se apoiava no
batente e a direita, aberta, estava voltada para nós, num gesto típico de pare ou espere. Não
disse uma única palavra. Não podíamos enxergar-lhe o rosto porque o sol vinha de trás dele,
ofuscando nossa visão. Todavia, dava para vermos que usava roupas simples, camisa clara, de
mangas compridas, botina de camponês e uma calça de listras escuras verticais, num tecido
que popularmente chamavam de “pano de colchão”. Acenou várias vezes a mão como se
dissesse “espera” e desapareceu diante de nossos olhos. Além de duas camas de solteiro e um
antigo guarda-roupas, havia na sala uma pesada mesa redonda, sobre a qual encontrava-se
uma fruteira de bronze e vidro, com dois andares. Na fruteira não havia frutas, mas apenas
algumas moedas de pequeno valor, chaves e alguns tocos de lápis. Quando o homem
desapareceu, a mesa começou a agitar-se e os objetos que havia na fruteira faziam um ruído
curioso ao se chocarem contra o vidro. Isto teve a duração de aproximadamente um minuto.
Eu e vovó, únicos ocupantes da dependência, estávamos a uns três metros de distância da
mesa. Vovó sentada na cama e eu, em seu colo.

Quando tudo cessou, vovó olhou-me assustada e perguntou:

— Você viu, menino? Você viu?

Confirmei imediatamente.

— Claro, vovó, quem era aquele homem?

— Não sei — respondeu vovó —, mas com certeza não era deste mundo!

Vovó me fez repetir tudo que eu tinha visto, para ter certeza de que não era apenas algo da
sua cabeça. Não, nós dois havíamos presenciado a mesma cena. No dia seguinte, o correio
trouxe um envelope pardo, com o símbolo da República no canto. Era uma carta do exército e
dentro do envelope, com a carta, outro envelope com data bem anterior, com a letra do “Tio
Vero”; ele dava notícias do fronte. Havia sido ferido, mas estava bem e voltaria em breve. Só
voltamos a vê-lo meses depois do fim da guerra. O encontro com o espírito, que havia se
manifestado quando vovó indagou: “SERÁ QUE NUNCA UMA ALMA BOA VAI SE LEMBRAR DE
NÓS?” marcou-me profundamente. Como toda criança, eu passei a contar para outras crianças
da minha rua e para suas mães o que havia presenciado. Isto gerou um número enorme de
críticas por parte dos adultos; riam de mim, dizendo que só loucos viam fantasmas. Fizeram
chacotas e, logo, as crianças passaram a rir de mim e a apontar-me como lunático que via
fantasmas. É impossível descrever o mal que isso me causou e, ao cabo de algum tempo, para
não ser ridicularizado, eu mesmo ria e fazia pouco de quem falava em fantasmas, ou alma do
outro mundo. Fui um aluno esforçado nas aulas de religião, que me eram ministradas pela
professora Ema Giordano, no Grupo Escolar Oscar Thompson (que saudade), e que muito me
valeriam mais tarde.

O Primeiro Centro Espírita

Foi também nesta rua e nessa época que pela primeira vez entrei num “Centro Espírita”.

O Centro, na verdade, era pouco mais que um grupo familiar e era conhecido apenas por
“Centro do ‘seo’ Fabrício”.

Ia ao Centro Espírita às quartas-feiras, mas não perdia uma aula de religião, nem deixava de ir
à missa aos domingos pela manhã. Aliás, aos domingos, missa às 8 horas e cinema às 14 horas
eram programas obrigatórios.

O Primeiro Feitiço

O primeiro feitiço, eu só conheceria alguns anos depois. Havia sido oficialmente inaugurada
no polígono compreendido pelas Ruas Luiz Gama, Silveira da Mota, Glicério e Av. do Estado,
uma “Favela Oficial”. Favela pré-fabricada. Eram inúmeros barracões de tábuas de pinho de
terceira qualidade, construídas num local que sempre alagava (era parte da Várzea do Carmo),
e sem piso, o que significava que, quando chovia, os moradores ficavam com dois palmos de
água em suas precárias casas. A inauguração foi uma festa com a banda de música da Força
Pública, muita gente de cartola, e um churrasco para as autoridades presentes. Nós, míseros
mortais, assistíamos à comilança do palanque, pelos vãos das tábuas da cerca e morrendo de
fome. Passado algum tempo, fiz amizade com alguns dos favelados — garotos como eu. A
favela era ocupada quase que exclusivamente por negros, e, um dia, Heitor (um de meus
amigos negros) me disse:

— Hoje eu aprendi um feitiço com minha avó!

— Feitiço? — perguntei.

— Feitiço para agarrar “muié”! — respondeu.

— E que feitiço é esse? — perguntei.

Heitor, com ar de professor: — Você vai no calipal, que tá anssim de anu. Você mata o anú,
tira o coração dele, enche de sal, põe no sor pra secá. Dispois ocê iscreve o nome da minina
qui ocê qué num papé e enrola no coração sargado. Amarra tudo numa fita vermeia, dispois
põe numa caixa de fósforo e em sete noite de Lua cheia, ocê abre a caixa, deixa a luz alumiá e
fala bem arto, num lu^ar qui só os isprito escuta, qui ocê ama i qué aquela minina. Ah! E dito e
feito. Ela vai ficá amarradinha nocê.

{Nota: Heitor havia chegado havia pouco tempo de Minas Gerais.)

Não Foi Fácil

Da Estação do Norte (Brás) à Central do Brasil, foram 12 horas de medo, angústia e


insegurança. Não conhecia nada nem ninguém no Rio de Janeiro. Estava em tratamento de um
acidente que havia esmagado o espaço entre as vértebras da região lombo-sacra. Usava
muletas. Tinha sérias dificuldades de locomoção e, com exceção de uma certa facilidade para
comunicação, não tinha ainda nem idade e nem profissão definida. Sonhava em vencer no
rádio, que já havia “paquerado” em São Paulo, mas como “boi em pasto estranho é vaca”, não
consegui nada no Rio de Janeiro. Nem rádio, nem comércio, nem botequim me quiseram. Não
tendo onde e nem com que me instalar, dormia na gare da Central, como outros tantos
deserdados da sorte. Arrumar o que comer não era tão difícil, mas casa já era outra história,
por isso, dormir cil aire scoperto — como diriam os italianos do Cambuci (que saudade) — na
amena temperatura carioca, até que não era mau, quando alguém me acordou e perguntou:

— O que é que você está fazendo?

— Dormia, até que você me acordou.

— Aí não é lugar de dormir, venha comigo.

— Aonde?

— Onde você vai estar melhor do que aqui.

Ela vestia uma saia muito curta, blusa decotada, estava atrevidamente pintada, trazia uma
bolsinha branca a tiracolo e sapatos altos. Não era difícil imaginar do que vivia.

Chamou um táxi, que na metade da Ladeira do Faria parou e o motorista anunciou:

— Daqui não passo, pague o meu que eu “tô” voltando! Descemos e ele voltou.
Terminar de subir a Ladeira foi penoso, depois as ruas se transformaram em vielas cada vez
mais estreitas. Finalmente, o barraco. Restos de tábuas faziam às vezes de parede e o telhado
de zinco evocava o “Chão de Estrelas”. Um fogão de tijolos num canto da porta; três caixotes
faziam o papel de mesa e cadeiras. Noutro extremo do mesmo ambiente, duas camas
“patente” de solteiro e, entre elas, um caixote, com uma tábua no meio, imitava um criado
mudo.

Havia num caldeirão negro como a noite alguns pedaços de linguiça e feijão-preto. Um
pedaço de pão duro e mais nada. Ela pegou uma garrafa vazia e saiu. Voltou logo depois, com
uma garrafa de “parati” e outra de cerveja. Sem perguntar se eu queria, serviu um pouco da
cachaça num copo desses de dose, surrupiado de algum boteco, e o restante numa xícara sem
asa. Olhou-me nos olhos, estendeu-me o copo, disse saúde e bateu com a xícara no copo como
se estivéssemos tomando champagne no Copacabana Palace.

Depois, perguntou de onde eu era, porque eu falava esquisito. Expliquei que era paulistano,
enquanto ela esquentava a comida. Tomamos mais uns dois goles. Isto ajudou a melhorar o
papo. Com o jantar servido em lascados pratos de ágata, ela abriu a cerveja —já sem gelo
nenhum — que tomamos em canecas de lata de leite condensado. Não foi preciso que eu
perguntasse o que ela fazia, mas mesmo assim ela explicou.

— Eu me viro, “bato bolsa” nos Arcos da Lapa, mas hoje vim mais cedo. Se você não se
importar, pode ficar por aqui até se arranjar. O Pinto é um bom lugar prá se morar (referia-se
ao Morro do Pinto — onde estávamos), mas... (disse ainda) e essas muletas... é de nascença?

Contei-lhe minha história, como havia me acidentado e como havia chegado até lá. Ficamos
conversando por horas, até o sono chegar.

Antes de dormir, ela esquentou um pouco de café, que já estava no bule, colocou na única
xícara ■— metade café e metade cachaça — ofereceu e eu não quis. Tomou, demonstrando
grande satisfação. Depois despiu-se totalmente e deitou-se. Cobriu-se com um velho e sujo
lençol! Apontou-me a outra cama, dizendo:

— Dorme aí. É melhor que na estação. Ah! Não esqueça de apagar o lampião.

Cachaça, cerveja e um último gole na boca da garrafa dão um sono danado de bom. Deitei-
me como estava — totalmente vestido e de sapatos — e dormi o sono dos justos, pela
primeira vez numa cama — ruim, mas de verdade — , desde que chegara ao Rio de Janeiro.

Passaram-se os dias, as semanas viraram meses, um “biscatinho” aqui, um “quebra-galho” lá.


As vezes, ela vinha de fogo e se apagava logo; outras, alegre, cantava madrugada adentro e, no
festival de miséria que era a favela, via-se, ouvia-se e se provava de quase tudo.

Minha saúde melhorava, mas não sarava. Um dia Maria, que já fora empregada doméstica de
um médico carioca, levou-me até ele. Dr. Nelson era otorrino, mas conhecia o caminho das
pedras e logo eu recebia um tratamento diferenciado com seus colegas traumatologistas. Um
dia, dr. Nelson me disse:

— Olha, já fizemos tudo o que a Medicina pode, você não quer arriscar alguma outra coisa?

— Qual coisa? — perguntei.

— Tenho um paciente meio fanho, que é Pai-de-Santo: dizem que ele faz milagres.
Foi um grande susto, mas, alguns dias depois, eu viria a ser apresentado ao “Pai Joãozinho”, o
Joãozinho da Golmeia. Muitos anos mais tarde, alcunhado de “Rei do Candomblé”, título
havido não porque viesse de nenhuma casa real, não era um príncipe de sangue, que se
tornara rei, mas um baiano simples que, à mercê de muito trabalho sério, receberia da
imprensa escrita, ou mais precisamente do repórter Davi Nasser, da revista O Cruzeiro, o título
real, que nunca foi contestado enquanto ele viveu. Sua autoridade era inquestionável; ele
trilhou o Candomblé do anonimato dos terreiros e se tornou personalidade importante. Até
mesmo o homem de confiança da Presidência da República, Gregório Fortunato, vez ou outra
lhe procurava. Pai Joãozinho era alto, mais ou menos 1,90 m, encorpado: a figura de um
homem impressionante, mas sua alma e seu coração nada tinham do seu tipo másculo. Sua
alma era feminina e gentil. Seu coração era de uma donzela, sua postura, a de uma mãe de
família, fiel e dedicada, enfim, era uma mulher plena de valores femininos, que queria e
buscava ser reconhecida como mulher, vaidosa, bonita, charmosa. Seu terreiro era conduzido
por uma mão de ferro e um coração de açúcar. E eu, um dos raríssimos brancos nessa
comunidade exclusivamente negra, gozei de inúmeros privilégios. Era quase um bichinho de
estimação que “Ilêci”, sua belíssima e bondosa mãe-pequena, cobria de mimos. Depois de
longa temporada, quando já havia sido raspado, cortado, catulado, sido feito no santo, enfim,
ainda tive o privilégio de reencontrá-lo em casa de Tota (Antonia) e Vicente, no Bairro do
Ipiranga, em São Paulo, quando namorava Ivone. Agô, meu pai, pelo que não ousei fazer.
Saudades, muitas saudades.

Das marcantes experiências vividas numa Roça de Candomblé, falarei posteriormente, em um


outro livro, brevemente.

“Akpalo” ou o Velho

Ele era velho, muito velho, tinha o negrume amarronzado típico dos de sua raça, e as palmas
das mãos quase brancas. Eu o descreveria melhor se dissesse que “tinha as palmas da mão de
cor de marfim”. Pouca gente se incomodava com ele; não era bom, mas também não era mau,
ele apenas era... diferente. Poucos sabiam do que era capaz, poucos acreditavam no que ele
dizia e, se uma garrafa de parati houvesse passado por seus lábios, chegava mesmo, às vezes, a
ser inconveniente, mas era por aí que se chegava até ele: por uma garrafa de parati e dois
dedos de prosa ele seria capaz de transportá-lo a um outro tempo, tão próximo e ao mesmo
tempo tão distante. Ele contaria apenas a quem ele quisesse histórias de arrepiar os cabelos;
fatos ocorridos num continente distante, com um povo livre... com seu povo, com homens que
obrigavam esse povo a embarcar em canoas enormes e que, em porões malcheirosos,
infectos, fizeram-nos cruzar o grande mar-oceano. Ele lhe diria sobre os costumes diferentes
de sua gente, e até lhe explicaria porque é que sabia das coisas antes dos outros. Era tão pobre
que morava na areia; sua cama, o fundo de uma canoa; seu teto, algumas folhas de palmeira;
aquele mocó característico, onde nossos caiçaras guardam suas canoas.

Quando o conheci, ele já não ia mais ao mar, mas ainda consertava redes, separava os peixes
que os companheiros haviam “matado” na noite anterior. Camarão pra cá, siri prá lá. Neste
balaio, a sujeira (peixe pequeno), naquele outro “os bão” (peixe graúdo). Quando as “minina
pedia” tirava a sorte nas conchas, os búzios... o ERÔ... O SEGREDO e acertava sempre. Ele fora
um babalaô —- ELE FORA? OU ELE ERA?

Pode-se deixar de ser BABALAÔ, o oráculo de Ifá?


Não consigo imaginar alguém deixar de ser aquilo que de mais importante já foi, mas na
verdade ele não tinha filhos-de-fé, não tinha barracão (terreiro, templo), ninguém o chamava
de “pai”. Era apenas e tão somente o véio... O “véio” que morava na areia, senhor de uma
memória extraordinária.

Pai João era famoso; como era Adé, gostava que o chamassem Joãozinho. Pai Joãozinho era
importante; seu terreiro era cantado em prosa e verso; seu retrato aparecia nos jornais; tinha
até programa de rádio; trabalhava pra quem lhe pagava, fosse para o bem fosse para o mal;
cavalo de Pomba-Gira, quando virava parecia “moça dama safada”, vivia no luxo. Pai Joãozinho
era perseguido, mas até quem o perseguia agora lhe procurava, e quantas vezes o carro
importante, com placa de estrela do maioral, não veio parar na sua casa, e aquele mulato
enorme, tão respeitado, trazia os recados, os pedidos do “homem”. E Joãozinho, também um
mulato forte, apesar de Adé, virando os olhos como menina, atendia prazeroso. Às vezes eu
me perguntava por quê? Por que sendo Pai Joãozinho tão importante, tão sabido, corria para o
“véio” toda vez que a coisa “tava preta”? Por que ir até São João, buscar o carro de praça
(sempre o mesmo) e depois tocar para o Curral Falso, e de lá para Pedra de Sepetiba, até a
praia onde morava o “véio”? Se Pai Joãozinho era tão sabido, por que procurava o “véio”? O
“véio” nem terreiro tinha! Bom, podia não ter agora, mas que sabia das coisas, sabia. E foi
porque o “véio” gostava de parati (cachaça famosa, da cidade do mesmo nome) é que, movido
pela curiosidade, eu fui me chegando. Se o maioral dos terreiros respeitava e dependia dele,
ele devia saber o que fazia. Foi assim que sem muito luxo, sem recomendações especiais,
tomei conhecimento sobre a verdade. “AO CAIR DOS BÚZIOS”. Nunca fiquei sabendo com
certeza, mas o “véio” não era daqui, não era carioca. Joãozinho não o conhecera na Bahia, mas
o seu Pai-de-Santo o recomendara. Parece que trabalhara num velho saveiro, que arribou por
essas bandas e nunca mais pôde ou quis voltar para Salvador, e porque um menino branco era
diferente na comunidade negra, eu era motivo de orgulho e curiosidade, era assim como
bichinho de estimação e foi assim que o menino pobre do bairro do Cambuci, “manquitola” e
só, acabou conhecendo ERÔ, o segredo dos búzios.

Graças ao “véio”, que morava nas areias de Sepetiba e que hoje talvez vire as conchas no céu,
eu aprendi a arte do jogo dos búzios. AGô, MEU PAI.
Capítulo Vinte e Um

O Decano Juventino — Oba Oujualá

Juventino B. de Lima, filho de José Bonifácio de Lima e Maria Josefa dos Santos, nasceu em
7/9/1922 e teve sua feitura espiritual em 23/4/1974.

Divorciado, tem seis filhos, dez netos, seis bisnetos, um irmão, vários primos e dezenas de
parentes. Tem cerca de cem filhos ou afilhados dentro do culto.

Funcionário público, hoje aposentado, tem o cargo máximo dentro da Umbanda tradicional:
Morubixaba.

Mantendo sempre latente sua formação religiosa inicial, aperfeiçoou, com muito trabalho,
sua mediunidade, não medindo esforços e respeitando sempre os preceitos passados pelos
mais velhos.

Um vidente chamado Antonio lhe ensinou pontos mágicos para trabalho e amor, que o
acompanham há mais de 40 anos, e os quais não revela para ninguém.

Até hoje trabalha diariamente, dando atendimento espiritual a pessoas e sempre usando seus
pontos mágicos, os quais se completam com a Ave-Maria e o Pai-Nosso.

Em suas narrativas, quando questionado sobre situações de tristeza em sua vida, seus olhos
se enchem de lágrimas e faz questão de relatar que sua primeira situação realmente triste foi a
morte de seu Pai-de-Santo, o saudoso e conhecido Pai Bobó. A segunda grande tristeza foi a
morte da mãe-pequena de sua casa, Beranisia Cirieca, e completa, quase não segurando a
emoção, o grande vazio que ficou em sua vida com a perda do filho carnal e ogã da casa,
Percival Bonifácio de Lima.

Como ele sempre diz, “quando falamos de algo triste, precisamos falar de algo alegre, para
equilibrar a natureza”.

Uma das situações que mais lhe trouxeram alegria foi a sua feitura espiritual, porque, no seu
entender, nasceu pela segunda vez.

Outra grande alegria foi a primeira participação em uma reunião do Superior Órgão de
Umbanda do Estado de São Paulo, cujo primeiro presidente foi o militar Nelson Braga Moreira,
ao lado dos grandes pioneiros Mário Paulo, Jamil Rachid, Demétrius Domingues, Tenente
Eufrásio, Pai Jaú, Sebastião Campos e muitos outros. Mas nenhuma situação no mundo lhe
trouxe e traz mais alegria do que poder sentir-se preparado e escolhido para exercer a função
de sacerdote, e com ela poder ajudar tantas pessoas que vinham à sua procura, tristes e
desanimadas, e saíam alegres e confiantes.

O que gostaria de ter feito e não fez: O que gostaria já estou realizando; esta reunião de que
estou participando para escrever um livro, que a meu ver será a “Bíblia da Umbanda” — no
qual ficarão registrados nossos passos e nossas memórias, agora quero ver o livro ir para a
frente — Já fiz tudo o que tinha vontade na vida.

Ritual perpetuado: A Umbanda bem praticada e a união entre Umbanda e Candomblé.


Ritual que abomina: Magia Negra.

Sincretismo: Aceita, o que vale é a fé.

Discriminação religiosa: Sim, muita!

Teve problemas com a polícia ou outras religiões?

Com a polícia não, pois era motorista na Secretaria de Segurança Pública e teve a alegria de
conviver com o dr. Joaquim de Moraes Novaes, que era umbandista e mandava defumar a
delegacia todos os dias. O Secretário também era. Os chefões do Detran — Degran, lhe
perguntavam: “Juventino, já defumou a delegacia, hoje?” — Nunca foi preso.

Uma história: Antes de entrar no Estado para trabalhar como funcionário público, eu e um
amigo (Domingos) recebíamos, cada um, um Preto-Velho. Um conversava com o guia do outro,
se consultava. Esse meu amigo me avisou do concurso público. O Preto-Velho de meu amigo
me avisou que ia faltar um candidato e que eu ia entrar. No resultado, havia 15 pessoas na
minha frente, eu era o 16ª. Chamaram os 15, eu não podia entrar, pois era o 16º. Mesmo
assim, fiquei esperando e, na última hora, faltou um e me chamaram. Aí comecei a trabalhar
como funcionário público. O Preto-Velho desse meu amigo chamava-se Jarbas. Não sei se o
Domingos está vivo.
Capítulo Vinte e Dois

Pontos e Cantos

Rituais

Em nenhuma outra religião serão encontrados tantos rituais e maneiras diferentes de se fazer
a mesma cerimônia, ou seja, propiciar aos espíritos de pessoas que já viveram nesta terra o
espaço e tempo para cumprirem seu destino.

A Umbanda assimilou e conserva o patriarcado e o matriarcado, cada qual a seu tempo e


lugar. Cada templo é uma família, um reino e uma comunidade, com suas próprias leis.

É um estilo de vida herdado dos antepassados índios e africanos, que infelizmente ainda
limita ações e coloca muitos sacerdotes em situações inusitadas, pois, normalmente, eles se
esquecem de que, segundo seus ancestrais, a linguagem dentro da casa é uma e a linguagem
na comunidade deve ser única.

Em pesquisas ao longo destes 30 anos, juntamos muitos rituais e estamos inserindo neste
capítulo a forma mais aproximada dos fundamentos básicos dos rituais da Umbanda.

Ritual Usado pelos Templos que São Filiados às Federações que Fazem Parte do Souesp

Apresentação

Caros irmãos, sejam bem-vindos ao Templo de Umbanda_______, sob a orientação espiritual


do (Pai ou Mãe)____________.

Vamos dar início a mais um trabalho para que os irmãos presentes possam receber a cura ou
solução dos seus problemas pessoais, pelos passes espirituais.

É importante explicar aos presentes qual a linha espiritual em que trabalharão, suas
entidades e, se possível, narrar alguma lenda ou passagem das próprias entidades da casa ou
de seus patronos orixás.

Defumação

Primeiramente, vamos proceder a defumação, para limpar e preparar a casa e todos os


presentes, para o início dos trabalhos espirituais.

A defumação é necessária porque as pessoas que chegam, da rua, trazem consigo seus
problemas. Portanto, estão carregadas de vibrações negativas.

Por meio da defumação essas vibrações negativas são eliminadas, assim a comunicação com
o plano astral torna-se mais perfeita, entrando em profunda harmonia com nossa aura
espiritual.

Isso facilita às entidades imantarem o corpo físico, eliminando as doenças de fundo espiritual e
material.
Atabaques

O som dos atabaques transmite ao campo espiritual as nossas preces, que são os nossos
cantos (pontos) em louvor às entidades ou orixás.

Essas entidades de luz enviam, do campo astral para os nossos templos, as falanges de
espíritos de luz que vêm para nos socorrer.

Essas falanges, enviadas pelos orixás, atuam em vários setores de nossas vidas.

As pessoas desempregadas são assistidas por determinada falange; pessoas enfermas, por
outras; pessoas com problemas de descontrole familiar são socorridas por outras falanges, e
assim por diante.

Mas todos são atendidos por esses guias de luz.

Pelas mensagens transmitidas pelos atabaques, conseguimos a imantação de nossos guias


espirituais.

Os atabaques são instrumentos sagrados para a religião umbandista.

Corpo Mediúnico

É formado por pessoas que têm o dom da mediunidade, pessoas escolhidas por Deus.

A iniciação e a preparação de um médium levam de quatro a cinco anos.

O médium incorporado transmite para as pessoas, por sua entidade, fluidos de grande
vibração astral, principalmente trabalhando em uma corrente formada.

As pessoas que estão em frente ao médium incorporado recebem imantação para a sua aura.

O corpo físico também é imantado; assim se procede a cura pelo passe espiritual.

São radiações de vibrações de várias cores, transmitidas pelos médiuns incorporados com
seus guias espirituais.

Gongá

Local sagrado onde os médiuns incorporam suas entidades. Um espaço de muita vibração
cósmica. Neste espaço são processadas as curas pelos passes espirituais.

Em razão de sua preparação espiritual, torna-se um local muito sagrado, de intensa elevação
astral. Portanto, é recomendável que as pessoas que vão tomar seus passes tirem os sapatos.
Estando descalças, facilitam às entidades ao dar o passe espiritual.

O chão representa a terra, descarregando as vibrações negativas, imantando com as


positivas, pelo passe espiritual. Um sistema de descarregar o corpo físico, deixando-o leve e
energizado.
As pessoas, ao terminarem de tomar seus passes no templo, devem dirigir-se diretamente
para suas casas. Assim estarão levando para seus lares toda a imantação positiva. Ao vir tomar
seus passes, as pessoas não devem ingerir bebidas alcoólicas.

Irmãos: a missão do dirigente espiritual é árdua e difícil e torna-se necessário o apoio de


todos os frequentadores, entrando como associados do templo e como doadores de quaisquer
donativos e com frequência constante.

1 — Os Pontos Cantados

Os pontos cantados, com suas letras singelas, são formas de oração que se entoam nos
trabalhos de Umbanda, com a finalidade de se obter uma harmonia de vibrações com as
entidades que se manifestam nos terreiros e também com os orixás.

A maioria dos terreiros possui um grupo de pessoas que formam a chamada curimba, que
comanda os pontos cantados no terreiro. Muitas dessas curimbas possuem os atabaques,
agogôs e outros instrumentos musicais. Esses instrumentos foram introduzidos nos terreiros
quando o elemento negro começou a frequentar os terreiros de Umbanda (no início do século,
após a libertação dos escravos), já que são instrumentos utilizados nos cultos africanos,
inclusive nos candomblés.

Na Tenda de Nossa Senhora da Piedade (o berço da Umbanda), até hoje os pontos são
cantados sem a utilização desses instrumentos, inclusive sem a utilização das palmas.

Para que se tenha uma ideia da importância dos pontos cantados, na Tenda Nossa Senhora
da Piedade entoam-se pontos desde o início até o fim dos trabalhos.

{Texto baseado no livro Iniciação à Umbanda, vol. 2, de Diamantino Fernandes Trindade, em


co-autoria com o Babalaô Ronaldo Antonio Linares.)

2 — Ajeum

É a comida preparada e oferecida aos orixás e/ou entidades nos dias de festas ou obrigações.

Os pontos devem ser entoados desde o início da colocação da toalha até que seja colocada a
comida. E para retirada da comida é o mesmo procedimento.

Obs.: Havendo conhecimento de outros pontos, podem ser utilizados.

3 — Coroação

São pontos entoados em batizados, obrigações, formaturas, entregas de guias e brajás de


búzios.

Obs.: Em uma coroação, podem ser cantados pontos de Oxalá, a exemplo do “Pombinho
Branco”.

4 — Encerramento
São pontos específicos e entoados ao término dos trabalhos.

5 — Firmeza

São pontos entoados antes da chamada das entidades, para firmeza da linha que vai
trabalhar.

6 — Sustentação

São pontos entoados após os cânticos de chamada, dando o apoio necessário durante os
trabalhos.

Obs.: Ambos os pontos são cantados no decorrer dos trabalhos.

7 — Agradecimento

São pontos entoados às entidades antes da sua subida.

8 — Descarrego

São pontos entoados para descarregar o ambiente e/ou pessoas com fluidos ou vibrações
negativas.

9 — Demanda

São pontos entoados quando há pessoas mal-intencionadas ou atrapalhando o desenrolar da


energia.

10 —- Atabaque

Instrumento de percussão, utilizado na Umbanda para chamada e saudação das entidades e


Orixás.

É pelos cânticos, que são nossas preces, que realizamos este trabalho.

11 — Respeito e Postura

O respeito com relação ao atabaque é primordial, já que se trata de um instrumento sagrado


na Umbanda.

A postura está ligada ao respeito, portanto, como um ato de submissão, JAMAIS deve-se
debruçar, apoiar ou manejá-lo com gestos bruscos e, sim, quando não estiver tocando,
manter-se em uma posição ereta e com as mãos para trás.
12 — Curimbeiro em seu terreiro

Considerado uma peça importantíssima, o curimbeiro e atabaqueiro tem de estar sempre


ligado em qualquer acontecimento dos trabalhos, pois com apenas um ponto (CÂNTICO)
poderá mudar a energia da corrente. Assim, é preciso estar sempre sintonizado com os
trabalhos e o mundo espiritual.

Obs.: É importante que realizem sua tarefa com muito amor, para que não se torne uma
obrigação!

13 — Hinário

No que diz respeito aos hinos, estes são entoados em cerimônias muito especiais, tais como
comemoração de aniversários de um terreiro, formatura de Babás e Babalaôs, em
apresentações públicas, em reuniões religiosas em que se encontram várias personalidades
civis da Umbanda, etc. No contexto desses hinos se expressa tudo aquilo que somos e
fazemos, de uma forma sublime e objetiva.

É a forma de expressar a força interior de cada ser humano. No que diz respeito às saudações,
nesta parte do hinário, estas são reservadas apenas às autoridades que estiverem presentes
no templo ou em lugares públicos.

14 — Visita

Os pontos de visitas são os apropriados para receber e despedir-se dos visitantes do terreiro
e para entrar e sair de um terreiro.

Dividem-se na seguinte frequência:

Recebendo a visita: São pontos entoados pelo terreiro visitado, para saudar a entrada das
pessoas, demonstrando o reconhecimento da presença e autorizando sua participação nos
trabalhos.

Entrada do visitante: São pontos entoados pelo visitante, para saudar o terreiro e significam o
pedido de licença para adentrar ao local ocupado pela corrente mediúnica.

“Feita estas duas saudações, existem, no desenrolar dos trabalhos, momentos em que se
canta para a Entidade da(s) pessoa(s) visitante(s), para que participem, de maneira
descontraída e harmoniosa, dos trabalhos espirituais.”

Despedida do visitante: Ao término dos trabalhos, os visitantes entoam um canto para se


retirar.

Despedida para a visita: O terreiro visitado entoa um canto de despedida para a visita que vai
embora.

15 — Saudação a Babá e Babalaô

São os pontos ou cânticos entoados quando queremos exaltar a figura importante e


indispensável de um dirigente espiritual: Babá — Babalaô — Babalorixá — Ialorixá—Pai-de-
Santo — Mãe-de-Santo — Pai e Mãe Pequenos, etc. Nestes pontos, expressamos, de forma
carinhosa, nossa gratidão por estas pessoas.

Obs.: Nesta parte da saudação podemos também fazer uma homenagem aos elementos com
cargos ou graus hierárquicos dentro da seara umbandista: cambonos, ataba-queiros, ogãs,
iaôs, etc.

16 — Chamada

São pontos utilizados para a chamada das entidades nos trabalhos espirituais.

Utilizamos pontos específicos para a entidade que comanda a Casa e pontos de ordem geral
para a chamada das entidades da corrente. Existe, porém, a chamada individual das entidades
que trabalham na corrente.

Importante: O momento da chamada é o que vem após a abertura dos trabalhos com todo o
seu ritual, e é preciso que se entoe o ponto determinado até que se encontre em Terra a
vibração espiritual.

17 — Subida

São pontos entoados no momento em que as entidades estão prontas a retomar ao campo
espiritual.

Da mesma forma que os pontos entoados para a chamada, podemos entoar um ponto para
cada entidade ou em conjunto.

Só se deve encerrar a entoação dos cantos quando as vibrações já não estiverem fazendo
parte da corrente espiritual.

18 — Bater Cabeça

São os pontos para o ritual umbandista quando os médiuns dirigem-se, um a um, ao Congá,
postam-se de bruços, diante da imagem de Oxalá, em sinal de submissão.

Neste momento, o pensamento é voltado a Deus, pedindo, cada um, que se torne
instrumento de sua vontade, para que possa desempenhar suas atividades no terreiro.

É comum em algumas casas ser entoado um ponto para o comandante bater cabeça, outro
para os médiuns e outro para os atabaqueiros.

19 — Defumação

São os pontos que acompanham o ritual umbandista envolvendo a casa ou o terreiro com
uma fumaça produzida por algumas ervas sobre brasa (tal fumaça serve para purificar o
ambiente e deixar a corrente pronta para a chamada das entidades).

Podemos nestes pontos envolver nomes de Orixás e Entidades, a gosto da casa espiritual (isto
só servirá para dar firmeza a este ato).
Podemos utilizar vários pontos nesta hora, principalmente quando uma casa espiritual
compõe-se de muitos médiuns, para que não se torne cansativo.

20 — Abertura

São os pontos entoados para dar início aos trabalhos espirituais.

É comum neste momento descerrar as cortinas que dão acesso tanto ao Congá quanto à
corrente dos médiuns.

É o momento em que todos se voltam ao Congá, pedindo a Deus e aos Orixás a proteção aos
trabalhos que se iniciarão — momento em que cada um, individualmente, pede para suas
entidades a devida proteção.

Hinos

Hino Nacional

Letra: Joaquim Osório Duque Estrada Música: Francisco Manoel da Silva

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

De um povo heróico o brado retumbante,

E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,

Brilhou no céu da pátria neste instante.

Se o penhor dessa igualdade

Conseguimos conquistar com braço forte,

Em teu seio, ó, liberdade,

Desafia nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Salve! Salve!]

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido

De amor e de esperança à terra desce,

Se em teu formoso céu, risonho e límpido,

A imagem do cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,

És belo, és forte, impávido colosso;


E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada Entre outras mil,

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada,

Dos filhos deste solo, és mãe gentil,

Pátria amada, Brasil.

Deitado eternamente em berço esplêndido,

Ao som do mar azul e à luz do céu profundo,

Fulguras, ó Brasil, florão da América,

Iluminado ao sol do novo mundo!

Do que a terra mais garrida

Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;

“Nossos bosques têm mais vida”,

“Nossa vida”, no teu seio “mais amores”.

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo

O Lábaro que ostentas estrelado.

E diga o verde louro desta flâmula —

Paz no futuro e glória no passado

Mas, se ergues da justiça a clava forte,

Verás que um filho teu não foge à luta,

Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,

Pátria amada, Brasil!


Hino da Umbanda

Autor: J. Alves

Refletiu a luz divina

Com todo seu esplendor

Vem do reino de Oxalá,

Onde há paz e amor

Luz que refletiu na terra

Luz que refletiu no mar

Luz que veio de Aruanda

Para tudo iluminar

Umbanda é paz e amor

É um mundo cheio de luz

É a força que nos dá vida

E a grandeza nos conduz

Avante, filhos de fé

Como a nossa lei não há

Levando ao mundo inteiro

A bandeira de Oxalá

Hino do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo

Escola de Curimba Félix Nascente Pinto

Oxalá iluminou o mundo Iluminou as forças de Aruanda Iluminou as suas falanges Pra brilhar
os caminhos da Umbanda

Ilumina, meu pai, ilumina O Superior Órgão de Umbanda Pra que possa ensinar os caminhos
Da corte de Aruanda

Marchamos, irmãos umbandistas O Brasil surgiu libertado Sobre a púrpura da fé Brilha a


pátria brasileira

Saravá, saravá, o Superior Superior Órgão de Umbanda Levamos a sua bandeira Com amor, fé
e esperança.
Hino aos Orixás

Autoria: Bete, do grupo musical Aruanã

Penso no dia que logo vai nascer E o meu peito se enche de emoção A esperança invade o
meu ser Eu sou feliz e gosto de viver

Pela beleza dos raios da manhã Eu te saúdo, Mamãe IANSÃ Pela grandeza das ondas do mar
Me abençoe, Mamãe IEMANJÁ

A mata virgem tem seu semeador Ele é OXÓSSI, Okê, Okê, Arô Na cachoeira eu vou me
refazer Nas águas claras de OXUM, aiê iê Se a injustiça faz guerra de poder Vale a espada de
OGUM, Ogum-nhê Não há doença que venha me vencer Sou protegido de ABALUAÊ

Eu sou de paz, mas sou um lutador A minha lei quem dita é XANGÔ A alegria já tem inspiração
Na inocência de COSME E DAMIÃO

Não tenho medo, vou ter medo de quê?

Tenho ao meu lado NANÃ BURUQUÊ

E essa luz que vem de OXALÁ Tenho certeza, vai me iluminar (BIS)

UNIÃO Como é bonito Como é bonito

Como é bonito ver a Umbanda combinar A Umbanda é uma força muito grande Pai Oxalá é
quem vem abençoar

Pontos

Saudação às Autoridades

Oi salve, Deus Salve, a Pátria Salve, os homens Salve, todos que estão aqui

Oi salve, Deus

Salve, a Pátria

Salve, os homens

Pai Oxalá é quem governa aqui

Apresentação da Escola

Autoria: Paula Gama de Castro

Boa tarde, meus senhores Boa tarde, minhas senhoras (BIS)

Para quem não a conhece Apresento nossa escola

É uma escola de Curimba De amor e união Agradece o convite (BIS)

Com alegria e emoção


Babaiaô

Na mata virgem tamborim tocou E Oxalá mandou saravá Babalaô (BIS)

Babalaô, meu Pai Babalaô

Sua Bandeira cobre os filhos de Oxalá (BIS)

Babá

Auê, auê Babá (BIS)

Eu vou saudar seu orixá

É com as ordens de Pai Oxalá Que eu vou saudar seu orixá (BIS)

Bate Cabeça

a) Quem é filho de fé Bate cabeça Aqui no Congá Pro Papai Oxalá ê ê Pro Papai Oxalá

Oh mamãe de Aruanda Me leva, me leva Pras ondas do mar Eu sou filho de fé (BIS)

Eu sou filho de fé E não posso faltar

b) Bate cabeça no chão Pedindo pelo amor de Deus Que Jesus Cristo

Tenha paciência (BIS)

Que todos nós Somos irmãos seus

Defumação

a) Defuma com as Ervas da Jurema Defuma com (BIS)

Arruda e guiné

Bejuim, alecrim E alfazema (BIS)

Defuma filho de fé

b) Corre gira Pai Ogum Filho querem se defumar

Umbanda tem fundamento E preciso preparar Com incenso e bejuim Alecrim e alfazema Eu
defumo essa Casa Com as ervas da jurema

c) Vamos defumar a Umbanda (BIS)

Com os nove anjos do céu

A Umbanda cheira rosa Rosa cheira a guiné (BIS)

d) Povo de Umbanda

Vem ver os irmãos seus (BIS)

Defuma esses filhos Nas horas de Deus (BIS)


Abertura

a) Abrindo nossos trabalhos Nós pedimos a proteção (BIS)

De Deus todo-poderoso

Nossa Senhora da Conceição (BIS)

Os trabalhos estão abertos...

b) Abre este terreiro Abre este Congá (BIS)

Salve os nossos guias Que vem trabalhar

Com a força do Divino Meu Pai Oxalá (BIS)

Trouxe a esta Casa Mamãe Iemanjá

Encerramento dos Trabalhos

a) Olha o meu Congá Olha o meu Congá Saudei meu Senhor (BIS)

Saudei meus Orixás

Ao encerrar os meus trabalhos

Eu peço a bênção

Aos orixás e aos guias deste Congá

E a todos os filhos que vieram nesta aldeia Que leve a paz e a proteção deste lugar (BIS)

b) Muito obrigado, meu pai Muito obrigado, sim Muito obrigado, meu pai

Mais uma vez

Vós olhou por mim (BIS)

c) Adeus, barra do dia Nossa banda vai fechar

Adeus, Umbanda, adeus Barra do dia vai raiar (BIS)

d) Eu vou pedir a Oxalá (BIS) Permissão para os trabalhos encerrar

Que Deus do céu me ajude Os meus caminhos clarear Que Deus do céu me ajude E que seus
filhos caminhem em paz

Oxalá

a) Oxalá é rei Oxalá é Pai

Oxalá é o rei Ele é o rei (BIS)

Dos Orixás
b) Firmeza de Oxalá nas 7 linhas (autoria: José Valdivino Ecue)

Eu vi

Meu Pai Oxalá Sentado na pedra Olhando pro mar E lá no céu...

O Sol fecundo Brilhava Em seu rosto Reluzia....

Os símbolos dos anjos de Deus A ordem de seus Orixás

E a glória da Virgem Maria Oh, meu Pai Oxalá Oh, meu Pai Oxalá

Ele é rei nos céus Ele manda na terra Ele manda no mar

Enviai as correntes divinas Com seus mensageiros Para nos ajudar Oh, meu Pai Oxalá Oh, meu
Pai Oxalá

c) Vamos com fé Vamos com amor

Dar as mãos umbandista, uns aos outros,

E pedir a Oxalá a proteção (BIS)

De vestidura branca,

Oxalá vamos louvar

E mostrar que temos fé em nossos Orixás

Vamos, vamos, vamos dar as mãos, irmãos Vamos, vamos, vamos dar as mãos, irmãos

d) Pombinho Branco,

Mensageiro de Oxalá, (BIS)

Leva essa mensagem De todo coração até Jesus Diga que somos Soldados de Aruanda
Trabalhando na Umbanda (BIS) Carregando a nossa cruz

e) No alto das Oliveiras

No alto das Oliveiras (BIS)

Eu vi uma pombinha voar Voou, voou Tornou a voar É uma pombinha (BIS)

Mensageira de Oxalá

Ogum

Firmeza/Sustentação

a) Eu tenho sete espadas Pra me defender

Eu tenho Ogum (BIS)

Em minha companhia

Ogum é meu pai Ogum é meu guia Ogum vai baixar Na fé de Zambi E da Virgem Maria

b) Ogum,
Faça a sua ronda Começou a gira Ouve os nossos cantos

É Ogum, Ogum-nhê, Ogum-nhê Salve, cavaleiro santo

Ogum, pela Luz Divina,

Rei dos Orixás,

Olha a nossa Umbanda (BIS)

Seja a nossa paz

c) Meu Pai Ogum, olha seus filhos de batalha Só o senhor tem a bandeira da paz

A sua espada brilha no raiar do dia (BIS)

Olha os seus filhos

Que eu também sou do Senhor

Foi Zambi quem lhe coroou

Foi Zambi quem lhe coroou

Foi Zambi quem lhe coroou, meu Pai Ogum

Foi Zambi quem lhe coroou

Sustentação/ Firmeza

a) Beira Mar Beira Mar auê Seu Beira Mar (BIS)

Da costa do mar azul

Sua espada brilha No clarão do dia Seu Beira Mar É filho da Virgem Maria

b) Eu vi raiar o dia

Eu vi estrela brilhar (BIS)

Eu vi seu Rompe Mato Ogum das matas Que mora (BIS)

Na beira mar

c) Lua, ô Lua nova Lua vem clarear

Clareia os caminhos de Ogum Ô Lua

Clareia seu Ogum Beira-Mar


Este curso é ministrado pela Escola de Curimba Aldeia de Caboclos Av. da Paz s/o — Utinga —
Santo André/SP

Leitura Recomendada

Guardião da Meia-Noite, O

.'Rubens Saraceni

O Guardião da Meia-Noite é um livro de ensinamentos éticos, envolvendo os tabus da morte


e dos erros vistos sob uma nova ótica. Nova porque somente agora está sendo quebrada a
resistência da ciência oficial, mas que é, realmente, muito antiga, anterior aos dogmas que
insistem em explicar tudo pela razão extraída nos laboratórios.

Iniciação à Escrita Mágica Divina

A Magia Simbólica dos Tronos de Deus Rubens Saraceni — Mentor Espiritual: Seiman

Hamiser Yê

Esta obra traz um assunto inédito no campo da magia. Trata-se do mistério das ondas
vibratórias transportadoras de energias divinas, cujos “modelos” geram símbolos, signos e
mandalas.

Nenhum outro livro de magia riscada simbólica mostra algo sobre elas já que era assunto
fechado do astral superior e totalmente desconhecido por todos os que usavam a magia
riscada.

Lúcios

O Encontro com a Luz Ortiz B. de Souza — pelo espírito Lúcios

Neste livro, temos a história de um espírito que anseia sua ascensão espiritual. Lúcios traz
não somente um relato de como percebeu o que é o amor, mas toda uma trajetória de
ensinamentos dentro de uma doutrina espiritual, mostrando o trabalho redentor da Umbanda
Sagrada, sem preconceitos nem distinção de credos, pois os mestres esclarecem que Deus é
um só para todos.

Mediunidade

Um mergulho no mundo oculto dos terreiros Vicente Paulo de Deus — Inspirado pelo espírito

Mário Azevedo

Ao ler este livro, você verá muito dos chamados cultos afros com seus segmentos, além de
histórias narradas pelo espírito Mário de Azevedo e seus mentores, que foram pautadas em
oitenta por cento do que existe hoje nos terreiros, tendas, choupanas ou choças.
Mediunidade

Um mergulho no mundo oculto dos terreiros. Vicente Paulo de Deus. Inspirado pelo espírito
de Mário Azevedo.

Leitura Recomendada

Orixás

Teogonia de Umbanda

Rubens Saraceni Inspirado por Pai Benedito de Aruanda

Em Orixás — Teogonia de Umbanda, você encontra comentários excelentes sobre divindades


como Logum Edé e Ewá, e de como a ciência dos orixás os explica cientificamente, entre
outros deuses.

Orixás Ancestrais A Hereditariedade Divina dos Seres Rubens Saraceni

Os ensinamentos aqui contidos partem da noção básica de fator, uma energia viva capaz de
desencadear a formação de alguma coisa nos planos mais sutis e sustentar desdobramentos
posteriores pela união a novos fatores; e de matéria, que se compõe de diferentes fatores mas
apresenta certas características predominantes, tornando possível a classificação dos fatores
que entram na sua formação.

Protetor da Vida

Viver a Vida: Um Ato de Fé Rubens Saraceni inspirado por Pai Benedito de Aruanda, M. L.

Este é um romance para ser lido com o coração; é uma obra que toca profundamente quem a
lê, que mexe com sentimentos íntimos e profundos, que traz à tona uma emoção sincera,
verdadeira, capaz de levar às lágrimas.

É Preciso Saber Viver

Nilton de Almeida Junior Inspirado pelo Caboclo Sete Montanhas

Tentando conquistar um amor não correspondido, Márcia envolve-se com poderosas


energias espirituais e conhece o desequilíbrio e a obsessão. Enquanto isso, tentando auxiliar a
amiga, Marcela aproxima-se da mediunidade e conhece a beleza e a alegria do serviço
mediúnico da Umbanda.

Leitura Recomendada

Umbanda, Sagrada,

Religião, ciência, magia e mistérios


Rubens Saraceni

Não é explicar a Umbanda devido às várias correntes de pensamento doutrinário e heranças


religiosas herdadas e adaptadas à nossa cultura tipicamente cristã; mas, ainda assim, Rubens
Saraceni o faz com maestria nesta obra!

Magia Divina das Velas, A

O Livro das Sete Chamas Sagradas Rubens Saraceni

Neste livro, você aprenderá: ativar velas de várias cores para resolver problemas; desmanchar
magia negra; ativar a Justiça, a Lei e a Cura Divina com folhas de arruda e vela branca; firmar
velas de várias formas; realizar magias para curar, anular negativismo, afastar inimigo
encarnado ou obsessor espiritual, descarregar energias negativas da casa, limpeza energética
de casas ou locais de trabalho, entre outras.

Magia Divina dos Gênios, A

A Força dos Elementais da Natureza Rubens Saraceni

Em A Magia Divina dos Gênios você verá a revelação dos mistérios desses seres da natureza e
começará a ter contato com alguns procedimentos magísticos para evocar os gênios e
favorecer-se do seu imenso poder.

Aprenda com essa leitura a trabalhar com as forças sutis da natureza e a beneficiar-se com
magias simples e fáceis de serem feitas.

Magia das Ervas e seu Axé, A

Angela Maria Carvalho e Antonio Navarro Júnior

O tema desta obra está relacionado diretamente à magia das ervas ervas, com seu uso
medicinal e energético. São descritos vários tipos de incensos e defumadores; banhos e suas
propriedades renovadoras para melhorar e neutralizar energias tanto positivas como
negativas; banhos que ajudam a minimizar os problemas humanos de acordo com seus
elementos catalisadores e energéticos; banhos para ajudar as pessoas em seus problemas
amorosos e de saúde, além de banhos estimulantes e relaxantes.

Leitura Recomendada

Guia Prático da Língua Yorúbá Em 4 idiomas: Português, Espanhol, Inglês e Yorubá

Fernández Portugal Filho

Guia Prático da Língua Yorúbá é um verdadeiro “manual” da linguagem utilizada nos ritos
afros. De forma prática e fácil, você vai aprender o significado de vários termos não só em
yorubá, mas também em espanhor, inglês e português.

Tarô do Cigano
J. DellaMonica

O mais completo editado no Brasil. Com cartas coloridas em belíssimo acabamento gráfico-
editorial. Para você, o melhor, sem sombra de dúvida!

Princesa dos Encantos, A

Sob o domínio da paixão

Rubens Saraceni inspirado por Pai Benedito de

Aruanda, M. L.

A Princesa dos Encantos é um romance que se passa há muito tempo e nos remete a uma
época mítica, impossível de ser detectada nos livros de História. Rubens Saraceni, inspirado
por Pai Benedito de Aruanda, nos mostra a lapidação de uma alma, tal qual um diamante
bruto, e a sua trajetória rumo à Luz!

Templos de Cristais, Os

A Era dos Grandes Magos Rubens Saraceni

A luta do bem contra o mal foi travada num tempo em que um grande Mago da Luz Cristalina
sustentou o bem e Leish Ambar Yê, ou senhora do poder âmbar, disseminou o mal através do
culto aos vícios. Foi uma época em que a Humanidade correu o perigo de ser lançada nas
trevas da ignorância para sempre... Mas como a lei evolucionista é perfeita, esta Era atual
aproxima-se do seu fim e dará lugar a outra, que conduzirá o ser humano rumo à sua
finalidade, que é viver em Deus em todos os sentidos!

Rubens Saraceni

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Este livro foi composto em Times New Roman, corpo 11/12.

Papel Offset 75 g - Bahia Sul Impressão e Acabamento Gráfica Palas Athena - Rua Serra de
Paracaina, 240 - Cambuci - São Paulo/SP CEP 01522-020 - Tel.: (0__11) 3209-6288 - e-mail:
editora@palasathena.org

Adirson da SiVva, o Mestre Xairian, é publicitário, escritor e Gran Mago Sacerdote, pai de 6
filhos. Foi produtor, diretor e apresentador de vários programas de rádio e televisão de 1963 a
1987. A partir de 1985 tentou conciliar seu trabalho artístico com o religioso, que se fazia
necessário cada vez mais. Em 1987, não foi mais possível exercer as duas funções e então
trocou o mundo artístico pelo mundo dos espíritos. Passou a se dedicar diuturnamente ao
xamanismo. Como na época não podia divulgar sua missão, juntou-se aos caminhos da
Umbanda e do Candomblé criando o primeiro curso de Tradições das Religiões da Natureza.

É fundador e presidente da Associação Brasileira Voluntários da Umbanda e de Candomblé


(A.B.V.U.C.); fundador e diretor dos jornais Grande São Paulo, São Paulo Centro, Axé Brasil e
Jornal Xainan; fundador e diretor das revistas Axé Brasil, Grandes Figuras Religiosas, Simpatia
<6 Axé e Magia & Axé. E autor dos livros: Umbanda 2001, O Pacto,

O Mestiço. E agora, com Rubens Saraceni, é coordenador de Os Decanos, que homenageia e


perpetua a memória dos doze sacerdotes pioneiros e fundadores da Umbanda.

Os Fundadores, Mestres e Pioneiros da Umbanda

Resultado de um intenso trabalho de pesquisa, esta obra homenageia os fundadores, mestres


e pioneiros da Umbanda. Cada um deles tem de 40 a 50 anos de vivência no meio religioso.
São 12 os que aqui foram eternizados como Decanos. São eles verdadeiros homens que
carregam consigo a magia espiritual somada à experiência humana.

Tudo está interligado a essas 12 figuras expressivas que são focalizadas neste livro, como
fundamentos, magias, mirongas, mandingas, banhos, federações, cursos, entidades,
cerimônias e segmentos: a Umbanda Afro-Brasileira, Umbanda Afro, Umbanda Brasileira,
Umbanda Tradicional e a Umbanda da Nova Era. Os Decanos — Os Fundadores, Mestres e
Pioneiros da Umbanda é rico em história e tradições dessa religião centenária. Sem acervo,
sem memória, uma religião não existe. Que esta obra seja, pois, o primeiro passo para que no
futuro se tenha um acervo grande para pesquisas de historiadores, para que se possa estudar,
pesquisar o que fez, quem fez e ver que muitas pessoas antes já passaram por tudo e
conseguiram vencer porque perseveraram.

Antes mesmo de sua publicação, Os Decanos já estava sendo chamado de “A Bíblia da


Umbanda”, com a diferença de que em suas páginas são focalizadas 12 vidas.

Com a leitura desta obra, você constatará que ela poderá tornar-se um livro obrigatório em
todos os lugares onde haja magia espiritual.

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