You are on page 1of 30

1

A APLICABILIDADE DE POLÍTICAS CRIMINAIS EM FACE DA –


RESSOCIALIZAÇÃO DO ACUSADO EM BENEFÍCIO DO ESTADO, SOCIEDADE
E USUÁRIO DO SISTEMA

THE APPLICABILITY OF CRIMINAL POLICIES IN VIEW OF THE


RESOCIALIZATION OF THE ACCUSED FOR THE BENEFIT OF THE STATE,
SOCIETY AND SYSTEM USER

Rhaissa Montenegro Mappes de Alencar1


Thiago da Silva Viana2

Resumo
O presente trabalho visa elucidar a sistemática das políticas públicas criminais, aplicadas por
meio do Estado para viabilizar melhorias aos usuários (acusado), bem como refletir em efeitos
positivos à sociedade e ao Estado. Assim, será exemplificada parte das melhorias inseridas na
classe carcerária. Contudo, o trabalho não será pautado apenas nas condições do cárcere
brasileiro, mas também na parte histórica, principiológica, na ressocialização e, claro, nos
números excessivos de presos no país de forma indevida ou em condições precárias. Desta
forma, será realizado um estudo que visa demonstrar a necessidade de haver mais políticas
públicas criminais para ensejar modalidades menos agressivas quando se houver a constatação
da desnecessidade de processamento da pena. Nesta síntese, será realizado um estudo em
cima das condições precárias das penitenciais, das formas de aplicação da pena e do efeito
reverso positivista em criar ações que evitem o aprisionamento de acusados, evitando com
que as cadeias transformem-se em escolas do crime. A problemática do tema está em aplicar
ou não politicas criminais, pois de fato a falta de aplicação faz com que gire a roda do crime,
ocorrendo a reincidência. Diferentemente ocorreria, se houvesse ressocialização aplicada em
um único investimento de métodos ressocializáveis, o que evitaria o retorno do criminoso ao
crime, trazendo menos gastos no futuro ao Estado, agiria positivamente ao preso e sua família,
que sofre com o aprisionamento, e é claro à sociedade que estaria livre de ser vítima
novamente.

Palavras-chave: Sistema Carcerário Atual. Políticas Criminais. Ressocialização.

1
Acadêmica do Curso de Direito pela Faculdade Católica de Rondônia. Cursando o 8° período. RA: 20171115,
com endereço eletrônico: <rhaissaalencar@gmail.com>.
2
Mestrando em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Possui graduação em Direito
(2005), Especialização em Direito Material e Processual Civil (2008), e Direito Material e Processual Eleitoral
(2008) - todos pela Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e Letras de Rondônia, Especialização em Direito
Processual Penal pela Universidade Gama Filho/RJ (2009), e Especialização em Direito Constitucional pela
Universidade Anhanguera/UNIDERP (2014). É professor universitário (Graduação e Pós-graduação) e
advogado. Com endereço eletrônico: <Thiago.viana@fcr.edu.br>.
2

Abstract
This work aims to elucidate the systematic of criminal public policies applied by the State to
enable improvements to users (accused), as well as to reflect on positive effects on society
and the State. Thus, part of the improvements introduced in the prison class will be
exemplified, however, the work will not only be based on the conditions of the Brazilian
prison, but also on the historical, principled part, on resocialization and, of course, on the
excessive numbers of prisoners in the country improperly or in poor conditions. Thus, a study
will be carried out that aims to demonstrate the need for more public criminal policies to
create less aggressive modalities when there is evidence that there is no need to process the
sentence. In this synthesis, a study will be carried out on the precarious conditions of
penitentials, the ways of applying the penalty and the positivist reverse effect of creating
actions that avoid the imprisonment of the accused, preventing them from becoming schools
of crime. The issue of the theme is whether or not to apply criminal policies, as in fact the
lack of application turns the wheel of crime with recidivism, unlike if there were
resocialization applied, a single investment of resocializable methods would pay for the
criminal's return to crime, bringing less spent in the future by the State, positively to the
prisoner and his family who suffer from imprisonment and, of course, society is free from
being victims again.

Key-words: Current Prison System. Criminal policies. Resocialization.

1. INTRODUÇÃO

O trabalho visa apresentar a ressocialização do criminoso, a fim de evitar maiores


danos e colapsos já existentes no sistema criminal brasileiro, trazendo benefícios positivos em
face ao acusado em realizar uma visão de dignidade e a chance de viver novamente; mas,
desta vez, realizando escolhas positivas saindo do mundo escuro da criminalidade.
Já no sentido positivo em prol do Estado, acaba por evitar gastos excessivos ao erário
estatal, diminuindo o efetivo público, neste caso a mão de obra do agentes públicos desde o
processamento até as cadeias, bem como espaços físicos e afins, tendo em vista que a devida
mudança em decorrência da ressocialização seria positiva em todos os ângulos, todavia não
observada na prática como deveria.
Ademais, a ressocialização traz inúmeros efeitos eficazes, respingando diretamente na
sociedade, a qual é vítima constante da marginalidade no estado brasileiro. Com a
ressocialização, acaba por deixar de maneira inteligente de ser vítima, mudança que acalma os
lares e locais públicos do país, voltando a paz e confiança social.
Mas, para que isso ocorra, faz-se necessário aplicar, de fato, políticas criminais que
tragam efeitos positivos de ressocialização e não apenas um modelo de lei no papel que não
possua engajamento e aplicabilidade certeira, como é o caso da Lei de Execução Penal.
3

É neste diapasão que serão apresentados dois projetos de ressocialização, um no


Estado de Minas Gerais e outro no Estado do Paraná, elucidando com números e imagens o
quanto é positiva ao Estado, sociedade e ao apenado a ressocialização. Tornar viral essas
pequenas atitudes seria o mais correto, mas ainda falta incentivo estatal para que a utopia
possa virar realidade.
Assim sendo, será explanada a problemática do sistema prisional brasileiro; isto posto,
serão elucidadas as hipóteses de resolução destas e tantas outras problemáticas que assolam o
país neste assunto.
Outrossim, será abordada a teoria dos substitutos penais, que visa aplicar as teorias
diversas da prisão, dando a possibilidade de o apenado cumprir pena de forma mais branda,
devendo o Estado também investir nesta modalidade com maior exatidão além da
ressocialização.
A metodologia aplicada na pesquisa foi a dedutiva e indutiva, já os métodos foram por
meio de plataformas virtuais, artigos, periódicos, livros, dados nacionais, entre outros,
aplicados dentro de uma formatação dentro das normas da FCR - Faculdade Católica de
Rondônia e, na omissão de alguma, as normas da ABNT - Associação Brasileira de Normas e
Textos, sob orientação constante de especialista da área; além disso, a pesquisa e texto foram
embasados na autenticidade.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Parte histórica e conceitual do direito penal e processual brasileiro

O Direito Penal e Processual Penal são áreas específicas que cuidam da parte
relacionada à última ratio3 do Estado em detrimento ao bem jurídico, seja à vida, ou um
objeto (bem material/patrimonial), moral (extrapatrimonial), entre tantos outros bens tutelados
pelo Estado em prol dele mesmo e em face da sociedade. Mas, para que isso ocorra, é
necessário haver leis e procedimentos a serem seguidos, e é claro que essa necessidade de
regulamentar limites de punir é necessária aos que ultrapassam preceitos sociais. Por isso que,
atualmente, existem normas, e é por conta disso que é de suma importância elucidar a parte
histórica e evolutiva desta espécie do direito, a fim de se entender como os regramentos
chegaram ao Brasil e se iniciaram suas primeiras aplicabilidades criminais. Serão apreciados

3
SIGNIFICADOS. Significado de Ultima ratio. Site Significados. Disponível em:
<https://www.significados.com.br/ultima-ratio/>. Acessado em: 10 março 2021.
4

até os dias atuais, pairando sob a problemática do caos da falta de eficácia nos resultados da
aplicabilidade das penas, trazendo uma visão reversa da não aplicabilidade e/ou
ressocialização.
Mas nem sempre foi assim o sistema penal brasileiro, antes de serem normatizadas leis
e realizada a organização do Estado para aplicá-las de forma igualitária a todos, havia uma
maneira não convencional aos dias atuais de punir alguém por transigir uma conduta que
deveria ser seguida na época.
Nas palavras de Rogério Sanches Cunha, In verbis:

Embora o Direito Penal tenha sua origem vinculada à própria organização do


homem em sociedade, não se pode considerar a existência de normas penais
sistematizadas em tempos primitivos. Nesse período, o castigo não estava
relacionado à promoção de justiça, mas vingança, revide contra comportamento de
alguém, abundando penas cruéis e desumanas. Era a fase da Vingança Penal,
dividida em: vingança divina, vingança privada e vingança pública.4

Séculos mais tarde, verificada a impossibilidade da continuidade deste tipo de sanção


é que foi iniciada a organização penal, trazendo as primeiras escolas penais na Grécia, Roma,
entre outras. Foi desta maneira que, com a colonização portuguesa no Brasil imperial, trouxe-
se este novo conceito de punir. Com a independência e muitos anos depois que se deu início
às primeiras normatizações penais existentes até os dias atuais.5
Nesta toada, o Doutrinador Cezar Roberto Bitencourt afirma como foi realizado o
surgimento do direito penal e o porquê da necessidade de sua existência:

indivíduos assumem determinadas proporções, e os demais meios de controle social


mostram-se insuficientes ou ineficazes para harmonizar o convívio social, surge o
Direito Penal com sua natureza peculiar de meio de controle social formalizado,
procurando resolver conflitos e suturando eventuais rupturas produzidas pela
desinteligência dos homens.6

Segue na mesma esteira o Doutrinador, conceituando o Direito penal como sendo:

O Direito Penal apresenta-se, por um lado, como um conjunto de normas jurídicas


que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções
correspondentes — penas e medidas de segurança. Por outro lado, apresenta-se

4
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Geral. Volume Único. 3° Ed. Salvador: Editora
JusPodivm, 2015, p. 45.
5
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. Volume 1. 19° Ed. Revista Atualizada e Ampliada.
Niterói, Rio de Janeiro: Editora Impetus. 2017, p. 46-50.
6
BITENCOUR, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Volume 1. 26 Ed. São Paulo: Editora Saraiva
Educação, 2020, p. 88.
5

como um conjunto de valorações e princípios que orientam a própria aplicação e


interpretação das normas penais. 7

Com o crescimento da sociedade e de diversas personalidades humanas, é impossível


mensurar as atitudes do ser humano, fazendo com que este muitas vezes torne o convívio com
o outro algo impossível. As leis, neste sentido, foram criadas com o intuito de trazer paz e
harmonia a todos, aplicando limites aos inconsequentes.
Corroborando com esta afirmação, o doutrinador Rogério Greco ilustra a seguinte
frase: “Definitivamente, o homem não nasceu para ficar preso. A liberdade é uma
característica fundamental do ser humano. A história da civilização demonstra, no entanto,
que, logo no início da criação, o homem se tornou perigoso para seus semelhantes.”8
Todavia, nem sempre a apresentação de uma legislação como sanção penal é fator
suficiente para colocar harmonia em sociedade, fazendo com que, na grande maioria, muitos
acabem por transigir estas normas, vindo a sofrer sanções adequadas para o delito cometido.
Para isso, atualmente, existe o Código Penal sancionado no ano de 1940, com Decreto
Lei 2.8489. Nesta legislação, é previsto todo tipo penal considerado crime e, em caso de
infringência a algum destes dispositivos que regula a proibição, o indivíduo deve ser
devidamente processado. Atualmente, no ano de 2021, o código contém 361 artigos, inúmeros
incisos e parágrafos.
Contudo, este não é o único dispositivo que apresenta leis penalizadoras em caso de
infringências delas, mas inúmeras outras espalhada por leis esparsas, como é o caso da Lei
Maria da Penha 11.340/200610, Lei de Drogas 11.343/200611, entre tantas outras criadas e a
serem criadas futuramente, a depender da necessidade da sociedade em conter atos
considerados distintos à moral e ao convívio em sociedade.
No entanto, para que haja todos estes tipos penais, perfaz-se a necessidade da criação
de um dispositivo com o intuito de organizar o procedimento aplicado a quem infringe estas
normas, chamado de Código de Processo Penal, disposto no Decreto Lei 3.689 de 1941 12. É

7
BITENCOUR, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Volume 1. 26 Ed. São Paulo: Editora Saraiva
Educação, 2020, p. 89.
8
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. Volume 1. 19° Ed. Revista Atualizada e Ampliada.
Niterói Rio de Janeiro: Editora Impetus. 2017, p. 46.
9
BRASIL. Decreto Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acessado em: 11 abril de 2021.
10
BRASIL. Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acessado em: 12 abril de 2021.
11
BRASIL. Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acessado em: 12 abril de 2021.
12
BRASIL. Decreto Lei n° 3.689, de 3 outubro de 1941. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acessado em: 13 abril 2021.
6

claro que existem alguns procedimentos especiais trazidos por algumas leis, mas a grande
maioria está disposto no CPP.
Todavia, em um sentido histórico, levaram-se anos para que se fossem criados tanto o
direito penal como o direito processo penal de maneira extensa, conduzindo todos os
movimentos e procedimentos possíveis e necessários do começo ao fim do processo. Desta
maneira, antes do CPP de 1940, houve as seguintes existências processuais na história:

a) Lei de 15 de outubro de 1827 criou os juízes de paz, dando-lhes atribuições civis


e atribuições policiais e criminais, como fazer o auto de corpo de delito nos casos e
pelo modo marcados em lei; quando indiciado o delinquente, deve ser conduzido
para interrogatório à vista de testemunhas etc.; b) Decreto de 20 de setembro de
1829 vedou a concessão de fiança pelo juiz de paz, por não ser juiz criminal, assim
como a atribuição de promover o auto de corpo de delito não é privativa do juiz de
paz; c) Lei de 30 de agosto de 1828: só poderão ser presos por crime sem culpa
formada: a) os que forem achados em flagrante delito; b) os que forem indiciados
em crimes em que a lei impuser pena de morte, prisão perpétua ou galés. Fora do
caso do flagrante, é preciso ordem escrita do juiz competente; dar-se-á ciência ao
preso dos motivos de sua prisão, nome do seu acusador e das testemunhas; d) Lei de
23 de setembro de 1828: em nenhum processo criminal se proferirá sentença
definitiva sem acusação por escrito, com contestação do réu e produção de provas. 13

Nota-se que na época não era suficiente, devendo haver uma única lei que
regulamentasse todos os procedimentos criminais. Assim, no dia 29 de novembro do ano de
1832, deu-se início ao surgimento do primeiro Código de Processo Criminal, no qual “havia
nova divisão para as Comarcas; inseriu-se o júri em todas as causas criminais; além de várias
normas de transição de competência”. 14
Após esta evolução, o CPP passou o último promulgado a vigorar com força no
sistema até a presente atualidade, logicamente com diversas atualizações, como o pacote
anticrime da Lei 13.964 de 201915, que alterou diversos dispositivos. Contudo, de modo
geral, ainda continua em vigor a lei de 1941.

2.2 Principiologia do direito constitucional, penal e processual penal

Os princípios nada mais são do que fontes complementadoras das leis, e, muitas vezes,
até bases para entendimentos diversos a elas mesmas; já que os princípios, em primeiro lugar,

13
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17° Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense,
2020. p. 244.
14
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17° Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense,
2020. p. 244.
15
BRASIL. Lei n° 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm>. Acessado em: 10 mai. de 2021.
7

são trazidos ao ordenamento jurídico a fim de respaldar direitos, preceitos básicos do ser
humano, em conjunto com a lei, mas em prol da pessoa/ser humano.
Miguel Reale conceitua princípio como sendo:

Princípios são, pois, verdades ou juízos fundamentais, que servem de alicerce ou de


garantia de certeza a um conjunto de juízos, ordenados em um sistema de conceitos
relativos à dada porção da realidade. Às vezes também se denominam princípios
certas proposições, que apesar de não serem evidentes ou resultantes de evidências,
são assumidas como fundantes da validez de um sistema particular de
conhecimentos, como seus pressupostos necessários. 16

Já Luís Roberto Barroso traz seu entendimento frente aos princípios como sendo: “o
conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus
fins. Dito de forma sumária, os princípios constitucionais são as normas eleitas pelo
constituinte como fundamentos ou qualificações essenciais da ordem jurídica que institui.” 17
Nesta senda, serão elucidados os principais princípios, iniciando com o princípio da
dignidade da pessoa humana e o da igualdade, os quais andam lado a lado. Considerado
princípio geral, constitucional e explícito disposto na própria letra de lei, o primeiro está
disposto no artigo 1°, inciso III – “a dignidade da pessoa humana;” e o segundo no caput do
artigo 5° e também inciso I, ambos da Constituição Federal.18

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I -
homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;19

Desta maneira, independente do delito cometido pelo acusado, todo ser humano deve
sim ser devidamente processado, recebendo todos os direitos inerentes ao processo, e, em
caso de condenação, receber o devido respeito de forma digna aos direitos básicos, como
higiene, trabalho, alimentação, saúde entre tantos outros, e findar com a precariedade e
insalubridade do sistema, pois todos estes direitos dos apenados e deveres do Estado estão
devidamente previstos na Constituição Federal, Lei de Execução Penal e Direitos Humanos.
Além disso, vale lembrar que todos os direitos emanam do princípio da dignidade da pessoa

16
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 11° ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p 60.
17
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática
constitucional transformadora. São Paulo, Saraiva, 1999, pág. 147.
18
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado em: 15 de abril 2021.
19
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado em: 15 de abril 2021.
8

humana, em ter o mínimo para sua existência/sobrevivência; todavia, infelizmente, isso não
costuma ser visto dentro dos presídios brasileiros.
Outro princípio de grande relevância é o da presunção de inocência, previsto no texto
constitucional, mas com aplicabilidade direta no direito penal, também disposto no artigo 5°,
inciso LVII: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória; (...).” 20
Este princípio traduz o diverso da realidade nos presídios brasileiros, onde a grande
maioria cumpre pena antes mesmo da condenação transitada em julgado, sendo esquecidos e
encarcerados. Com isso o efeito é só um, revolta contra o Estado e Sociedade, com o único
sentimento de vingança, no momento que for posto em liberdade, retornando à vida
criminosa, na grande maioria das vezes sendo reincidente; pois, para a prática do trabalho,
deveria ser abordada a ressocialização como alvo principal.
Já o in dubio pro reo é quando o órgão acusador possui a falta de elementos
probatórios suficientes para trazer uma clara autoria e, consequentemente, uma condenação
sem quaisquer tipos de dúvida. O termo vem do Latim e significa "na dúvida será dado a
favor do réu", ou seja, melhor um culpado solto do que um inocente preso.21

O in dubio pro reo não é, portanto, uma simples regra de apreciação das provas. Na
verdade, deve ser utilizado no momento da valoração das provas: na dúvida, a
decisão tem de favorecer o imputado, pois não tem ele a obrigação de provar que
não praticou o delito. Enfim, não se justifica, sem base probatória idônea, a
formulação possível de qualquer juízo condenatório, que deve sempre assentar-se –
para que se qualifique como ato revestido de validade ético-jurídica – em elementos
de certeza. 22

Por fim, vale salientar acerca do princípio da ampla defesa e do contraditório,


previstos também na constituição e aplicados em diversos institutos do direito. Já no direito
penal, estes princípios conferem, até mesmo aos que não possuam defesa particular, o
oferecimento deste direito por parte do Estado, seja por meio de um defensor público,
defensoria ou advogado dativo. Previsto no artigo 5° inciso LV da Carta Magna: “LV - aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”23
20
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado em: 15 abril 2021.
21
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume Único. 8° Ed. Revista Atualizada e Ampliada.
Salvador: Editora Juspodivm, 2020. p. 46.
22
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume Único. 8° Ed. Revista Atualizada e Ampliada.
Salvador: Editora Juspodivm, 2020. p. 46.
23
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado em: 15 abril 2021.
9

No que concerne à defesa pública, na falta de defensor particular, o Código de


Processo Penal prevê este direito no artigo 261: “Nenhum acusado, ainda que ausente ou
foragido, será processado ou julgado sem defensor. Parágrafo único. A defesa técnica, quando
realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação
fundamentada.”24
Outro princípio de grande relevância é o da individualização da pena, sobre o qual o
doutrinador Cleber Mason traz o seguinte enquadramento e conceituação:

Expressamente indicado pelo art. 5.º, XLVI, da Constituição Federal, repousa no


princípio de justiça segundo o qual se deve distribuir a cada indivíduo o que lhe
cabe, de acordo com as circunstâncias específicas do seu comportamento – o que em
matéria penal significa a aplicação da pena, levando em conta não a norma penal em
abstrato, mas, especialmente, os aspectos subjetivos e objetivos do crime. O
princípio da individualização da pena desenvolve-se em três planos: legislativo,
judicial e administrativo. [...]25

É de suma importância apreciar o princípio da adequação social, o qual, apesar de


existir tipo legal previamente disposto em lei, a situação fática não afronta diretamente à
sociedade, sendo considerada a exclusão da tipicidade não existindo aplicabilidade de crime.
Nestes termos explana Masson:

De acordo com esse princípio, que funciona como causa supralegal de exclusão da
tipicidade, pela ausência da tipicidade material, não pode ser considerado criminoso
o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o sentimento
social de Justiça. É o caso, exemplificativamente, dos trotes acadêmicos moderados
e da circuncisão realizada pelos judeus. 26

Em detrimento do assunto principal do presente artigo, o cárcere brasileiro, a


ressocialização do apenado, nada mais sensato do que elucidar o princípio da humanidade,
princípio este que preenche todos os requisitos que se busca na aplicação da pena, pois a pena
não deve ser sinônimo de desumanidade.
Nesta senda, elucida Fernando Capez, nos seguintes termos acerca deste princípio:

A vedação constitucional da tortura e de tratamento desumano ou degradante a


qualquer pessoa (art. 5º, III), a proibição da pena de morte, da prisão perpétua, de
trabalhos forçados, de banimento e das penas cruéis (art. 5º, XLVII), o respeito e
proteção à figura do preso (art. 5º, XLVIII, XLIX e L) e ainda normas
24
BRASIL. Decreto Lei n° 3.689, de 3 outubro de 1941. Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acessado em: 18 abril de 2021.
25
MASSON, Cleber. Direito Penal Parte Geral. 13° Ed. Revista Atualizada e Ampliada. São Paulo: Editora
Método/Forense, 2019. p. 127.
26
MASSON, Cleber. Direito Penal Parte Geral. 13° Ed. Revista Atualizada e Ampliada. São Paulo: Editora
Método/Forense, 2019. p. 130.
10

disciplinadoras da prisão processual (art. 5º, LXI, LXII, LXIII, LXIV, LXV e
LXVI), apenas para citar alguns casos, impõem ao legislador e ao intérprete
mecanismos de controle de tipos legais. Disso resulta ser inconstitucional a criação
de um tipo ou a cominação de alguma pena que atente desnecessariamente contra a
incolumidade física ou moral de alguém (atentar necessariamente significa restringir
alguns direitos nos termos da Constituição e quando exigido para a proteção do bem
jurídico).27

Além de todos estes princípios, existem muitos outros do processamento, seja do juiz
ou do promotor natural, prova ilícita e lícita, comunhão das provas, publicidade,
proporcionalidade, legalidade, entre outros.28
O intuito não é exaurir o tema princípios, mas explanar acerca de uma parte dos
principais que envolve o preso/acusado, influenciando diretamente a situação carcerária e a
falta de retornos positivos na ressocialização, trazendo hipóteses de aplicações de institutos
penais mais brandos, como é o caso das sanções diversas à prisão (teoria dos substitutivos
penais), políticas públicas ensejadoras para aprimorar as normais que existem, mas
principalmente de criar algo que seja efetivo à luz do direito, possibilitando ao condenado sua
ressocialização, fazendo com que respingue diretamente a ele, como também a toda sociedade
e ao Estado.

2.3 A situação carcerária brasileira

Tendo em vista como basicamente operam o direito penal e o processual penal, no que
tange às leis na evolução histórica, aplicabilidade de pena e parte principiológica; neste tópico
será abordada a situação carcerária brasileira, classe esta que não possui a aplicabilidade de
direitos e princípios suscitados no tópico anterior.
Os números espantam qualquer um que leia, sendo alarmantes, demonstrando que a
prisão restritiva de liberdade atinge por quase completo o público carcerário, tendo em vista a
grandiosidade da população prisioneira brasileira, muitos com pena transitada, muitos
provisórios, outros sem entender o porquê de estarem ali.
A revista Veja traz um estudo pautado em período de 19 (dezenove) anos, do ano de
2000 ao primeiro semestre do ano de 2019, dados estes trazidos pelo Depen – Departamento
Penitenciário Nacional. Isto posto, nenhum dado apresentado é esporadicamente citado sem

27
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 23° Ed. São Paulo: Editora Saraiva Educação, 2019,
p. 99.
28
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume Único. 8° Ed. Revista Atualizada e Ampliada.
Salvador: Editora Juspodivm, 2020.
11

fontes confiáveis; pelo contrário, sendo uma das fontes mais seguras até o momento junto ao
CNJ- Conselho Nacional de Justiça.
In verbis:

No ano 2000, o primeiro da série histórica do novo levantamento do Depen, havia


232.755 presos em todo o país, embora o número de vagas existentes nas
carceragens fosse de apenas 135.710. Até junho do ano passado, eram pouco mais
de 461.000 vagas para abrigar os quase 800.000 detentos. [...] A taxa de
aprisionamento, índice que mede a quantidade de pessoas presas a cada grupo de
100.000 habitantes, saltou de 61 em 1990 para 367,91 no primeiro semestre de 2019.
A cifra também é a maior da série histórica.29

Seguem ainda os dados elucidados pela Veja no seguinte sentido:

[...] o diretor-geral do Depen, Fabiano Bordignon. “O Brasil sempre foi muito


negligente na criação de vagas para colocar o preso. [Os governos] Não fazem e por
isso está igual o Rio de Janeiro agora”, a [...]. Em setembro de 2015, o Supremo
Tribunal Federal (STF) decidiu promover uma espécie de intervenção na
reordenação do sistema prisional brasileiro e determinou que a União fosse
impedida de contingenciar recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen). 30

Um dos recortes mais recentes elencados pela revista demonstram que cerca de
“758.676 pessoas estão em cadeias ligadas ao sistema penitenciário nacional ou estadual”, e
que o número de 348.371 estão cumprindo o regime fechado, e 126.146 no regime semi-
aberto, sendo que 27.069 cumprem em regime aberto. Todavia ainda sobrou um número
extremamente expressivo de presos, conforme o dado elencado, no total sendo de 253.963 o
número de detentos encarcerados em condições sub-humanas e de forma degradante, sem que
sequer tenha havido uma condenação definitiva - o trânsito julgado da sentença. É
aterrorizante um dado tão alto como este, quantas prisões sendo transigidas de forma ilegal, a
falta de políticas públicas para mudar esta situação, sem citar a falta de defensores públicos
para apurar as ilegalidades e pedir a soltura, pois a grande maioria sequer possui defensor
particular. 31

29
BORGES, Laryssa. População carcerária triplica em 20 anos; déficit de vagas chega a 312 mil -
Quantidade de presos atingiu 773.151 no primeiro semestre de 2019, diz Depen. Veja. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/brasil/populacao-carceraria-triplica-em-20-anos-deficit-de-vagas-chega-a-312-mil/>.
Acessado em: 19 maio de 2021.
30
BORGES, Laryssa. População carcerária triplica em 20 anos; déficit de vagas chega a 312 mil -
Quantidade de presos atingiu 773.151 no primeiro semestre de 2019, diz Depen. Veja. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/brasil/populacao-carceraria-triplica-em-20-anos-deficit-de-vagas-chega-a-312-mil/>.
Acessado em: 19 maio de 2021.
31
BORGES, Laryssa. População carcerária triplica em 20 anos; déficit de vagas chega a 312 mil -
Quantidade de presos atingiu 773.151 no primeiro semestre de 2019, diz Depen. Veja. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/brasil/populacao-carceraria-triplica-em-20-anos-deficit-de-vagas-chega-a-312-mil/>.
Acessado em: 19 maio de 2021.
12

Abaixo, observam-se as instalações de algumas das cadeias espalhadas pelo país,


espaços minúsculos, ocupando com o dobro, triplo ou até mais sua capacidade prevista por
lei; falta de dignidade, de salubridade, de higiene e muito mais.

Fonte da Imagem: 32

Segundo os dados do CNJ – Conselho Nacional de Justiça -, quase metade da


população carcerária, uma média de 41,5% das 812 mil pessoas presas, ainda não foi
julgada.33
Nesta toada, observa-se a figura abaixo, que demonstra o mapa da aplicação de
métodos para a ressocialização destes presos, como o estudo e o trabalho. Alarmantes são os
resultados:

32
Fonte: Imagens de presídio no Ceará feitas pelo Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura
durante inspeção em março deste ano. Foto: reprodução: VASCONCELOS, Caê. Com 812 mil pessoas presas,
Brasil mantém a terceira maior população carcerária do mundo. Ponte. Disponível em: <
https://ponte.org/com-812-mil-pessoas-presas-brasil-mantem-a-terceira-maior-populacao-carceraria-do-mundo/
>. Acessado em: 18 de maio de 2021.
33
VASCONCELOS, Caê. Com 812 mil pessoas presas, Brasil mantém a terceira maior população
carcerária do mundo. Ponte. Disponível em: < https://ponte.org/com-812-mil-pessoas-presas-brasil-mantem-a-
terceira-maior-populacao-carceraria-do-mundo/>. Acessado em: 18 de maio de 2021.
13

Fonte da Imagem: 34
Dentre estes dados, é importante observar a jurisprudência 35 no que concerne aos
resultados na mesma linha de consequências negativas advindas da má administração pública
nas cadeias, trazendo só a raiva por parte da população carcerária. Em um cenário deste, é
impossível falar ou fomentar maneiras de ressocialização e, o pior de tudo, são os efeitos
devolvidos ao Estado, em realizar constantemente o mesmo mecanismo com presos
reincidentes; à sociedade, vítima constante destas pessoas; e ao preso, pela perda do bom
senso e esperança de mudar de pensamento e vida, após ser encarcerado. É dever fundamenta,
trazido pela Lei de Execução Penal, a ressocialização, a volta a integrar a sociedade, a
inclusão, sem qualquer tipo de discriminação. A incógnita, em cenário absurdo que o país
enfrenta por anos, é como se fará para conseguir cumprir com o objetivo de ressocializar, ação
quase que impossível. Utopia seria dizer que as possibilidades são boas, e esta afirmação não
é uma crítica, é apenas um raciocínio lógico baseado em números oficiais trazidos nesta
pesquisa.
Nestes termos, relatando parte do resultado negativo de todas as críticas elencadas,
observa-se a própria jurisprudência que elucida os resultados da não ressocialização
carcerária:

34
GOMES, Marcos Antonio. Ressocialização: papel da sociedade no auxílio ao tratamento penitenciário.
Desenvolvimento do Potencial Humano. Ipog. Disponível em: <https://blog.ipog.edu.br/desenvolvimento-do-
potencial-humano/ressocializacao/>. Acessado em: 17 de maio de 2021.
35
SOUSA, Pedro Henrique Nogueira. SISTEMA PENITENCIÁRIO: ressocialização do preso no Brasil e
suas consequências para a sociedade. Trabalho de conclusão de curso. Curso de Direito UniEvangélica, 2018.
Disponível em: <http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/758/1/Monografia%20-%20Pedro
%20Henrique.pdf>. Acessado em: 15 de maio de 2021.
14

EMENTA: MORTE DE PRESO. SUPERLOTAÇÃO DE CADEIA PÚBLICA.


RESPONSABILIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS. DESCASO
ESTATAL COM A VIDA E COM A DIGNIDADE DOS PRESO. DIREITO À
REPARAÇÃO POR DANO MORAL E MATERIAL. A morte de Geraldo Amâncio
de Barcelos é uma comprovação inconteste da instituição da pena de morte nas
cadeias brasileiras. O lamentável e deplorável é que tal fato conta com a efetiva
participação do Estado, que negligencia, de forma manifesta, em tutelar a
integridade física e moral dos presos. A morte de Geraldo Amâncio de Barcelos -
mais uma de milhares, até quando? - decorreu da superlotação da Cadeia Pública de
Montes Claros, que possui capacidade para 60 presos e contava à época da morte
com mais de 180 presos. Destarte, o Estado de Minas Gerais deve, com base no art.
37, parágrafo 6º, da CF, ser responsabilizado civilmente, visto que, ao permitir a
superlotação da Cadeia Pública de Montes Claros, descumpriu não apenas o seu
dever legal de proteger os presos, mas violou, também, de modo grave à garantia
constitucional, prevista no art. 5º, inciso XLIX, que assegura aos presos o respeito à
integridade física e moral. O desrespeito a uma garantia constitucional não pode
ficar impune. A apelante faz jus ao ressarcimento integral dos danos morais e
materiais sofridos pela morte de seu esposo. APELAÇÃO CÍVEL/REEXAME
NECESSÁRIO Nº 1.0433.02.043053- 7/001 - COMARCA DE MONTES CLAROS
- REMETENTE: JD 1ª V FAZ. PUBL. REG. PUBL. FAL. CONC. COMARCA
MONTES CLAROS - APELANTE(S): 1ª) NEUZA GERALDA DA SILVA
BARCELOS, 2º) ESTADO DE MINAS GERAIS - APELADO(A)(S): OS
MESMOS - RELATORA: EXMª. SRª. DESª. MARIA ELZA.36

Dados trazidos pelo IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - demonstram


que as cadeias também não fomentam o básico de dignidade para que estas pessoas não se
sintam tão deslocados, apenas trazem o sentimento de descaso e discriminação, o que propicia
o mesmo ato reiteradas vezes, seja dentro do sistema carcerário ou fora dele.

Na prestação dos serviços de assistência material, nas unidades pesquisadas, não


havia fornecimento de kits de higiene pessoal e roupas de cama. Para suprir esta
necessidade, os presos, geralmente, dependiam de seus familiares. A alimentação
não era escassa, mas a comida aparecia como motivo de queixas, sendo sua má
qualidade apontada, inclusive, como razão de rebeliões. [...] Em razão da
precariedade da alimentação, os juízes de execução penal acabavam liberando a
entrada nas unidades prisionais de gêneros alimentícios levados por familiares, o que
gerava conflito com os agentes de segurança, na medida em que exigia maior
fiscalização. Também em razão disto era autorizado o funcionamento de cantinas,
locais onde os presos gastavam a maior parte de seu dinheiro. Em um dos casos, as
cantinas das unidades prisionais eram extremamente lucrativas e quem as controlava
eram considerados poderosos, pois detinham não apenas o monopólio do comércio
de gêneros alimentícios e produtos de higiene, como também de produtos ilícitos
como drogas, armas e celulares. 37

Como confiar em um sistema penal legislativo instável, com mal funcionamento nas
instalações, falta de recursos e políticas públicas de mudanças e, principalmente, de novas
36
SOUSA, Pedro Henrique Nogueira. SISTEMA PENITENCIÁRIO: ressocialização do preso no Brasil e
suas consequências para a sociedade. Trabalho de conclusão de curso. Curso de Direito UniEvangélica, 2018.
Disponível em: <http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/758/1/Monografia%20-%20Pedro
%20Henrique.pdf>. Acessado em: 15 de maio de 2021.
37
IPEA. Reincidência Criminal no Brasil. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/
150611_relatorio_reincidencia_criminal.pdf>. Acessado em: 19 abril 2021. p.14
15

medidas diversas da prisão (substitutivos penais), estudo, trabalho, entre outros, para que se
influencie o desejo do acusado na mudança, na ressocialização, trazendo benefícios em prol
dele, do Estado e, principalmente, da sociedade. Afinal, é esta que paga devidamente os
impostos revertidos na manutenção do sistema carcerário, a qual é precária. Com isso, acaba
por ocorrer um giro de erros sem um fim positivo, fazendo com que a marginalidade só
continue e aumente cada vez mais. Este é o atual cenário do cárcere brasileiro.

2.4 A ressocialização do preso no atual cenário brasileiro

A ressocialização do preso é algo necessário, pois é esta ressocialização que traz


benefícios ao apenado por propiciar o início uma nova vida em sociedade, sem cometer mais
ilícitos que prejudique a si e a terceiros; a ressocialização traz também um cenário positivo ao
Estado, diminuindo os danos ao erário que, via de regra, são exorbitantes, sofridos desde em
iniciar uma investigação em sede policial, processar, até oferecer em muitas das vezes
defensor dativo ou procuradoria/defensoria pública. Os gastos com os sistemas carcerários
entre outros são enormes; todavia, se houvesse a ressocialização, este círculo vicioso acabaria
com a primeira prisão e/ou modalidade de aplicabilidade diversa da prisão, surtindo efeitos
ressocializadores de verdade, não sendo recorrentes novas ações criminosas da mesma pessoa.
Não só isso, mas também traria paz a sociedade em viver em um local cada vez mais
calmo, seguro, com a diminuição da criminalidade se a ressocialização de fato surtisse efeito,
o famoso “retorno a sociedade” teria de fato sentido positivo a todos.
O presente tópico visa elucidar esta ressocialização pautada no atual cenário do
cárcere brasileiro, do qual foi explanado detalhadamente o caos em que vive nas últimas
décadas, por diversas falhas, seja da sociedade ou poder público, na forma de legislar, aplicar
medidas diversas sem efeito esperado de fato, na falta de aplicação de princípios e direitos e, é
claro, na má administração das cadeias espalhadas pelo Brasil.
“A ressocialização nada mais é do que reintegrar uma pessoa novamente ao convívio
social por meio de políticas humanística. Deste modo, tornar-se sociável aquele que desviou
por meio de condutas reprováveis pela sociedade e normas positivadas.”38

38
AZEVEDO, Ana Oliveira de. A ineficácia do sistema penitenciário brasileiro na ressocialização dos
presos. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Brasiliense de Direito Público. IDP. Brasília, Distrito
Federal, 2017. Disponível em: <https://repositorio.idp.edu.br/bitstream/123456789/2390/1/Monografia_Alana
%20Oliveira%20de%20Azevedo.pdf>. Acessado em: 25 de maio de 2021, p. 171.
16

Para a aplicabilidade do sentido da palavra ressocializar, dentro da área penal, remete-


se ao termo a ampla da nomenclatura, compreendendo-a como “reabilitação, recuperação,
readaptação, reinserção, entre outros léxicos correlatos.” 39
Destarte, uma reeducação social, amparada na readaptação do preso em sociedade,
bem como na aplicabilidade de recuperação, no sentido psicológico e educacional, tem o
intuito de coibir e inibir a reincidência criminal.40
Em uma síntese utópica, a ressocialização carcerária seria perfeita para evitar novos
crimes; todavia não é bem o que ocorre, sendo, realmente, apenas utopia social.

A “ressocialização” tem em seu bojo utópico o sonho de proporcionar, dentro de


uma prisão brasileira, a dignidade, a humanidade, o respeito, e tentar resgatar a
autoestima do apenado. Isso foi o que vimos na letra fria da lei. Na realidade não é
bem assim. O que temos hoje é punição vingativa da qual a justiça se afastou devido
fatores sociais que norteiam os julgamentos tal como preconiza. 41

Uma das principais formas de ressocialização é a integração positiva de mudança do


apenado. Seja preso de restrição de liberdade ou cautelar, a prisão serve para inserir o preso
ao mercado de trabalho; todavia, poucas são as prisões que fornecem trabalho, e as que
oferecem são mais em face de esforço do que um aprendizado de um oficio/profissão. Desta
maneira, não se pode dizer que o fornecimento de trabalho é algo cem por cento eficaz, o mais
aconselhável é a reintegração através de aprendizagem e exercício de um oficio (profissão).
Este é o meio para que o criminoso tenha uma válvula de escape, vendo-se integrado à
sociedade, com uma saída, um trabalho, uma profissão digna para poder pensar antes de
cometer um crime, sabendo que tem muito mais a perder. Ao se ter uma profissão, e apesar da
situação do mercado de trabalho estar difícil, é muito mais provável haver esperança do que
uma negativa, pois alguém com o devido estudo e com a capacitação correta de aprendizado
tem uma chance muito maior de conseguir um emprego ao voltar para a sociedade.
Nesta síntese, observam-se alguns dados acerca da explanação exarada a respeito do
trabalho (aprender um ofício) como meio positivo na ressocialização.

39
FILHO, Eleones Rodrigues Monteiro. O sistema penal e a ressocialização do preso no Brasil. apud
BECHARA, 2004. jus.com.br. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/41528/o-sistema-penal-e-a-
ressocializacao-do-preso-no-brasil>. Acessado em: 28 de mai. de 2021.
40
FILHO, Eleones Rodrigues Monteiro. O sistema penal e a ressocialização do preso no Brasil. jus.com.br.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/41528/o-sistema-penal-e-a-ressocializacao-do-preso-no-brasil>.
Acessado em: 28 de mai. de 2021.
41
LEMES, Thiago Morais de Almeida. A falaciosa ressocialização de presos no Brasil. apud BERISTAIN,
2002. Âmbito Jurídico. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/a-falaciosa-
ressocializacao-de-presos-no-brasil/>. Acessado em: 27 de mai de 2021.
17

A remição da pena pelo trabalho pode ser conceituada como: a possibilidade de o


preso abater, do cômputo temporal da pena privativa de liberdade, os dias
efetivamente trabalhados durante o seu encarceramento, na proporção, conforme o
art. 126, § 1º da Lei de Execução Penal, de três dias de trabalho por um de pena. 42

Na mesma toada segue, o entendimento de que: “Esse instituto se destaca em relação


aos demais benefícios tratados pela LEP; pois, além de possibilitar o encurtamento da
privação da liberdade, está vinculado ao trabalho, sendo este extremamente importante para a
reaproximação do presidiário ao convívio social.”43
Todavia, o direito de preso em trabalhar quando condenado está diretamente ligado ao
Estado em oferecer esta possibilidade. Ocorre que, muitas vezes, o sistema carcerário é tão
precário que nem o básico ocorre, como é o caso da higiene, que dirá realizar uma estrutura
para funcionamento de aprendizado de oficio e exercício de trabalho. 44
Na cidade de Minas Gerais foi dado início ao projeto “Novos Rumos”, que tem como
intuito a reintegração social. Realizado em conjunto com o Poder Judiciário, Executivo e
principalmente com o apoio da comunidade, o projeto foi algo de que fato trouxe esperança
de uma positividade nos resultados. Neste diapasão, pode-se dizer que houve “um índice
superior a 90% de reintegração, sendo que o sistema penitenciário tradicional, gastando três
vezes mais, possui um índice de apenas 15%”45
Assim, sem a ajuda da sociedade com olhar humanizado a estas pessoas, ficaria pior
do que se está; pois, apesar de criminosos, são humanos, dignos de respeito e uma segunda
chance. Deve-se ter apoio para que haja de fato um pontapé inicial, o auxílio do Estado
aplicado em diversos aspectos e, é claro, necessita-se instigar, com toda essa mudança e
estrutura, o preso ou cumpridor de medidas diversas a de fato pensar no futuro, e ver que tem
muito mais a se perder pelo caminho da reincidência. O mais sábio é ressocializar, mudar, sair
humano ao invés de revoltado, querendo descontar na sociedade, no Estado e em si mesmo,
como se não fosse digno de uma segunda chance. Este jamais é o melhor caminho; pois,
independente do que foi cometido, deve-se respeito à lei. Com isto, importa salientar que a

42
CABRAL, Luisa Rocha. SILVA, Juliana Leite. O trabalho penitenciário e a ressocialização do preso no
Brasil. apud ALVIM. 1991, p. 79. Pag. Artigo. 162 - Revista do CAAP, 2010 (1), Belo Horizonte, jan-jun 2010.
43
CABRAL, Luisa Rocha. SILVA, Juliana Leite. O trabalho penitenciário e a ressocialização do preso no
Brasil. Revista do CAAP, 2010 (1), Belo Horizonte, jan-jun 2010.
44
CABRAL, Luisa Rocha. SILVA, Juliana Leite. O trabalho penitenciário e a ressocialização do preso no
Brasil. apud LEAL, 2004 p. 65. Página do artigo 167-168. Revista do CAAP, 2010 (1), Belo Horizonte, jan-jun
2010.
45
CABRAL, Luisa Rocha. SILVA, Juliana Leite. O trabalho penitenciário e a ressocialização do preso no
Brasil. apud ANDRADE, 2009. Revista do CAAP, 2010 (1), Belo Horizonte, jan-jun 2010.
18

ressocialização não é banalizar o crime, mas cumprir com papel e intuito que a lei e os
princípios trouxeram, é executar a “ressocialização” no sentido literal do texto da LEP. 46

2.5 As políticas públicas criminais

As políticas públicas criminais nada mais são do que formas e maneiras de


aplicabilidade de modelos padrões para se atingir o objetivo central do cárcere, neste caso a
ressocialização do preso.
Apesar de terem sido suscitados os números exorbitantes de presos no sistema
prisional, sem qualquer tipo de dignidade, emprego, higiene, julgamento ou até mesmo já se
ter sido atingido a quantidade da pena para o livramento e/ou progressão de regime,
infelizmente nenhuma melhoria é aplicada. Pouquíssimo são os locais que seguem as
normativas com precisão, mas elas existem e com a ajuda da sociedade e Estado podem se
multiplicar, sendo modelos de políticas criminais de ressocialização prisional.
Neste contexto, serão abordados dois projetos, um no Paraná e outro em Minas Gerais,
bem como alguns relatos de uma Revista do IPEA, na qual são apresentadas confissões dos
presos e principalmente de funcionários do cárcere, explanando assuntos que vão desde saúde
à diretoria e afins, mostrando que os mesmos tentam sim trazer o básico de dignidade e
aplicação de componentes que poderiam ser motivos de ressocializar, mas que as barreiras
enfrentadas são gigantesca, sem se saber exatamente de quem é a culpa, e se constituindo uma
grande bola de neve.
O DEPEN do Estado do Paraná valoriza muito as políticas públicas de assistência
religiosa, educacional, trabalho, esporte, lazer e o ensino profissionalizante, que na verdade
não são regalias, mas o básico previsto na Lei 7.210 de 1994 a Lei de Execução Penal que
prevê tudo isso, mas raramente é aplicável. 47
A primeira foto é voltada ao trabalho, pontuada por ser um dos principais fatores no
processo de ressocialização. A dificuldade está voltada a encontrar a melhor forma para

46
LEMES, Thiago Morais de Almeida. A falaciosa ressocialização de presos no Brasil. Âmbito Jurídico.
Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/a-falaciosa-ressocializacao-de-presos-no-
brasil/>. Acessado em: 27 de mai. de 2021.

47
DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema Penitenciário do Paraná.
Secretaria da segurança pública e administração penitenciária. Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6%3E%20Acesso%20em:
%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de jun. de 2021.
19

aplicação do trabalho nos sistemas interno, a mão-de-obra segue sendo administrada pela
equipe da divisão ocupacional e de produção das unidades prisionais.48

49

Outra implantação é a educação dentro do cárcere como forma de desenvolvimento


global e da cidadania; a DEPEN do Paraná trata a educação do preso com a mesma relevância
da educação de pessoas soltas, com respeito e dignidade, dividindo-a em “duas dimensões:
educação formal e formação profissionalizante.”50
A educação formal nada mais é do que o estudo de 1° a 2° grau da educação normal
das escolas, já a educação profissionalizante consiste em cursos de capacitação de mão-de-
obra aos presos, para a inserção no mercado de trabalho após serem soltos. Cumpre salientar
que tudo é feito sempre com a ajuda de programas como: “SENAC, SENAI, SESC, SENAR e
UFPR”, que promovem cursos na área da construção civil, industrial e afins.
Abaixo podem ser observadas algumas imagens de estudo e capacitação promovidos
pela DEPEN do Paraná.

48
DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema Penitenciário do Paraná.
Secretaria da segurança pública e administração penitenciária. Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6%3E%20Acesso%20em:
%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de jun. de 2021.
49
DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema Penitenciário do Paraná.
Secretaria da segurança pública e administração penitenciária. Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6%3E%20Acesso%20em:
%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de jun. de 2021.
50
DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema Penitenciário do Paraná.
Secretaria da segurança pública e administração penitenciária. Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6%3E%20Acesso%20em:
%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de jun. de 2021.
20

Fonte das imagens:51


Outra maneira de ressocialização é fornecer e incentivar a assistência religiosa,
prevista na LEP e na Constituição Federal, havendo a participação, de forma voluntária, dos
presos. Dentre as religiões ofertadas no local, destacam-se a presença da “Igreja Católica,
Assembleia de Deus, Pentecostal Deus é Amor, Adventista, Espírita e Universal do Reino de
Deus.”52

Fonte da Imagem:53
Por fim, pode-se destacar o esporte, lazer e o contato com o mundo exterior para
finalizar os projetos realizados pela DEPEN do Paraná. Todavia, vale ressaltar que nem todos
conseguem ser aplicados em todas as penitenciárias, mas na grande maioria sim, tendo uma
grande relevância de êxito na ressocialização.
Dentre o esporte e lazer, destacam-se as atividades de leitura nas bibliotecas, salas de
vídeo e áudio, música, poesia, bem como campeonato de futebol e xadrez; já o contato com
mundo exterior fica por conta das visitas de familiares, palestras, o contato com advogados e
afins, restando claro que os apenados não são monstros, mas pessoas sociáveis com mundo
além muros, sentindo-se iguais e integrantes da sociedade na iniciativa da ressocialização. 54

51
DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema Penitenciário do Paraná.
Secretaria da segurança pública e administração penitenciária. Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6%3E%20Acesso%20em:
%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de jun. de 2021.
52
DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema Penitenciário do Paraná.
Secretaria da segurança pública e administração penitenciária. Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6%3E%20Acesso%20em:
%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de jun. de 2021.
53
DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema Penitenciário do Paraná.
Secretaria da segurança pública e administração penitenciária. Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6%3E%20Acesso%20em:
%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de jun. de 2021.
54
DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema Penitenciário do Paraná.
Secretaria da segurança pública e administração penitenciária. Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6%3E%20Acesso%20em:
%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de jun. de 2021.
21

Fontes das Imagens: 55


Dentro das demais formas de ressocialização, a AMPARE - Associação de Amigos e
Familiares de Presos - criticam as formas através das quais o Estado divulga os dados das
prisões, como sendo troféus do cumprimento da impunidade, mas esquece que apenas ter
números não é sinônimo da efetividade de ressocialização, já que a falta de políticas públicas
é fator predominante. 56
Nestes termos observa-se alguns destes dados:

Esses dados, na maioria das vezes, não se conversam para pensar políticas públicas
efetivas para combater o encarceramento em massa. Quando esses dados não
dialogam assim, eles são apresentados como uma resposta para a sociedade para
mostrar que efetivamente temos uma política que tem funcionado, que tem prendido
pessoas”, explica Fábio. “Se perguntarmos para qualquer pessoa qual é a sensação
dela de segurança, se perguntarmos para as pessoas ‘olha, o Brasil hoje tem 812 mil
pessoas presas, isso faz você se sentir mais segura?’, a resposta não vai ser
positiva.57
[...]
É uma política que alcança um grupo e sabemos que esse grupo é majoritariamente
composto por pessoas negras. Segundo esses mesmos dados, hoje, 63% das pessoas
presas no Brasil se autodeclaram pretas e pardas. São pessoas com diversas
situações de vulnerabilidade social, que as colocam em uma posição não de sujeitos
criminosos, mas de sujeitos que não foram alcançados pela cidadania que nos é
constituída em um processo de reabertura democrática. 58

Desta forma, verificasse que nem sempre o aprisionamento é sinônimo de resolução


positiva, e assim por diante.
Mas a aplicabilidade, de forma inteligente perante o Estado, em criar projetos e
políticas públicas de fato poderá salvar os delinquentes, almejando um futuro novo, como a
sociedade, em viver em paz, sabendo que a cada dia será uma nova mudança; e, claro, ao
Estado, em diminuir os processos, os valores de gastos mensais, efetivo público, entre tantos

55
DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema Penitenciário do Paraná.
Secretaria da segurança pública e administração penitenciária. Disponível em:
<http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6%3E%20Acesso%20em:
%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de jun. de 2021.
56
VASCONCELOS, Caê. Com 812 mil pessoas presas, Brasil mantém a terceira maior população
carcerária do mundo. Ponte. Disponível em: < https://ponte.org/com-812-mil-pessoas-presas-brasil-mantem-a-
terceira-maior-populacao-carceraria-do-mundo/>. Acessado em: 18 de maio de 2021.
57
VASCONCELOS, Caê. Com 812 mil pessoas presas, Brasil mantém a terceira maior população
carcerária do mundo. Ponte. Disponível em: < https://ponte.org/com-812-mil-pessoas-presas-brasil-mantem-a-
terceira-maior-populacao-carceraria-do-mundo/>. Acessado em: 18 de maio de 2021.
58
VASCONCELOS, Caê. Com 812 mil pessoas presas, Brasil mantém a terceira maior população
carcerária do mundo. Ponte. Disponível em: < https://ponte.org/com-812-mil-pessoas-presas-brasil-mantem-a-
terceira-maior-populacao-carceraria-do-mundo/>. Acessado em: 18 de maio de 2021.
22

outros recursos, enfatizando um retorno e não somente número de aprisionamento sem retorno
de mudança para as partes envolvidas neste círculo da criminalidade brasileira.
Existe, ainda, outro projeto chamado Carpe Diem, realizado e idealizado pelo Sr.
Márcio Coutinho, diretor no Centro de Detenção Provisória de Sorocaba, nascido da
necessidade de separar do ambiente prisional presos de delitos primários e reincidentes,
diminuindo a famosa frase “escola do crime” e fazendo fazer novos futuros positivos de
mudança.59

O principal objetivo é acompanhar esses presos que são chamados de “presos de


baixo potencial ofensivo” para que esses não voltem a cometer novas infrações, pois
a maioria dos presos que chegam ao CDP de Sorocaba são presos em flagrante, por
delitos de baixo potencial ofensivo como furto, receptação, porte ilegal de armas de
fogo e outros ilícitos.60

Além disso, o projeto visa realizar um tratamento aos presos de menor potencial
ofensivo - a diferença está na separação de ambos e nos projetos aplicados a estas pessoas,
dificultando a convivência e a aproximação com mentes mais criminosas (periculosidade).
Ademais, são aplicados no local métodos de ressocialização, pautados na psicologia
do preso e realizados cursos e afins.

O Projeto “Carpe Diem” cria mecanismos de recepção e permanência de presos


primários com aplicação de métodos de ressocialização baseados em cursos
laborterápicos e atendimento psicológico especializado. [...] Quando o preso chega
ao CDP de Sorocaba, são analisados os aspectos objetivos para sua inclusão, os
requisitos são: a) não ser reincidente; b) ser acusado pela prática dos seguintes
crimes: lesão corporal, furto, apropriação indébita, estelionato, receptação, porte ou
posse irregular de arma de fogo de uso permitido e/ou restrito. Logo após a análise
objetiva, são verificadas características pessoais e de comportamento que, se
condizentes, possibilitarão a inclusão do acusado no projeto. Em seguida o interno é
encaminhado ao alojamento de observação onde fica durante o período de sua
permanência, ou seja, até o final do trâmite do processo.61

Outra coisa importante são as sanções aplicadas ao preso que participa do projeto
Carpe Diem - em caso de qualquer tipo de infração em face das normas do local, este terá que

59
GUIDO, Gilzia Dias Payão. Sistema prisional e a ressocialização do preso. Trabalho de Conclusão de
Curso. - Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA, Assis, 2015. Disponível em:
<https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqTccs/1211400211.pdf>. Acessado em: 05 de jun. de 2021.
60
GUIDO, Gilzia Dias Payão. Sistema prisional e a ressocialização do preso. Trabalho de Conclusão de
Curso. - Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA, Assis, 2015. Disponível em:
<https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqTccs/1211400211.pdf>. Acessado em: 05 de jun. de 2021.
61
GUIDO, Gilzia Dias Payão. Sistema prisional e a ressocialização do preso. Trabalho de Conclusão de
Curso. - Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA, Assis, 2015. Disponível em:
<https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqTccs/1211400211.pdf>. Acessado em: 05 de jun. de 2021.
23

ser desligado automaticamente do programa, como se fosse uma falta grave aplicada dentro
das prisões, por meio do procedimento de RDD – Regime Disciplinar Diferenciado. 62
Já o atendimento psicológico, realizado de forma individual ao preso participante do
projeto, possui grande relevância e impacto positivo. Observa-se abaixo a seguinte explicação
acerca das atividades aplicadas no local:

Atendimento psicológico individual e em grupo que possibilita ao interno o resgate e


a construção de ferramentas para o autoconhecimento e a auto avaliação, visando
dar maior flexibilidade ao ego, voltado para a mudança e reestruturação intro e
interpessoal em atendimentos individuais e em grupo; atendimento social onde são
realizadas orientações sociais e encaminhamentos, de acordo com as necessidades
dos internos e seus familiares junto à Rede de Apoio Social da Prefeitura Municipal
de Sorocaba por intermédio da parceria – Mecanismos de Diminuição de
Vulnerabilidade – MDV. Grupo de orientação + tratamento – Pretende conscientizar
e sensibilizar o indivíduo na aquisição de comportamentos mais saudáveis, além de
possibilitar, através de 30 Centro de Detenção Provisória 38 processo de
aprendizagem, a aquisição de princípios e valores inerentes à condição de
convivência social sadia.63

Infelizmente não são em todos os lugares que se conseguem aplicar formas de


ressocializações de detentos diferenciadas, além das conhecidas e previstas na LEP. Se mal
aplicam a própria lei, difícil seria aplicar algo a mais que a norma.
Em um estudo trazido pelo IPEA, podem-se verificar algumas narrações lamentáveis
de como seria interessante a ressocialização, se houve o mínimo de educação, saúde - tanto
física quanto mental -, alimentos, local digno para repousar, entre outros. Tudo isso traria um
retorno da sociedade humana perdida dentro do detento, sendo uma possibilidade de
ressocialização; contudo, infelizmente, a realidade é outra.
Um juiz da vara de execução apresenta algumas falas neste estudo: “O ideal seria que
o Estado fornecesse toda a alimentação de maneira satisfatória, mas, como não acontece, eu
tenho que permitir a entrada de alimentos pelos familiares, até para suprir a carência do
Estado.”64
Já os internos possuem várias reclamações como:

62
GUIDO, Gilzia Dias Payão. Sistema prisional e a ressocialização do preso. Trabalho de Conclusão de
Curso. - Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA, Assis, 2015. Disponível em:
<https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqTccs/1211400211.pdf>. Acessado em: 05 de jun.2 de 021.
63
GUIDO, Gilzia Dias Payão. Sistema prisional e a ressocialização do preso. Trabalho de Conclusão de
Curso. - Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA, Assis, 2015. Disponível em:
<https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqTccs/1211400211.pdf>. Acessado em: 05 de jun. de 2021.
64
IPEA. Reincidência Criminal no Brasil. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/
150611_relatorio_reincidencia_criminal.pdf>. Acessado em: 08 de jun. de 2021. p. 15.
24

Não tem um tanto de dinheiro que o Estado manda para cada preso? Para gastar com
roupa, produtos de higiene? Tem quatro meses que eu estou aqui e esta (mostrando
uma escova de dentes que acabara de ganhar da assistente social) é a primeira
escova que eu ganho. Cadê esse dinheiro? A comida eu tenho certeza que você não
dá conta de comer ela.65

Para haver ressocialização, deve haver o reconhecimento da dignidade e humanidade


mínima do preso. Como ressocializar um ser humano e reintegrá-lo à sociedade, se este é
tratado como bicho ou pior pelo sistema prisional? Neste realidade, infelizmente a falta de
recursos ou a má aplicação deles geram o círculo vicioso de reincidência da criminalidade ao
invés de diminuí-lo.

2.6 A inserção de medidas menos agressivas à prisão em prol da ressocialização e


humanidade do preso, estado e sociedade

Após toda a análise acerca das cadeias superlotadas, dos princípios e direitos não
aplicados da maneira que deveriam, bem como de alguns dos projetos de ressocialização
disponíveis, todavia escassos; o presente tópico abordará elementos de aplicabilidade diversa
da prisão, importantes ao apenados, por se constituírem em maneira mais branda de aplicar
sanções ao crime. Caso sejam introduzidos projetos como os demonstrados no trabalho e
criadas políticas públicas, haverá uma grande chance de haver diminuição da reincidência e
um início da ressocialização do preso, fazendo com que este diminua o medo e raiva do
sistema e tenha mais respeito por ele.
Nestes termos, nas palavras de Juarez Cirino dos Santos apresenta a “teoria dos
substitutivos penais”, elucidando suas três ramificações - a teoria humanitária, como se
aborda neste trabalho a sociedade; a teoria científica que mostra os benefícios de o Estado, de
forma inteligente e científico, aplicar a pena; e, pôr fim, a teoria das críticas que seria a
apresentação da má qualidade da administração pública nos presídios brasileiros. Conforme
todo o exposto até aqui, verifica-se ser a melhor saída.66
Inicia-se a explanação da teoria humanitária (in verbis):

As explicações humanitárias fundamentam os substitutivos penais nos sentimentos


“naturais” de piedade do ser humano, propenso a perdoar e esquecer, que deplora a
desumanidade da prisão e suas consequências para o preso, sujeito a violências,
humilhações e degradação humana, em geral, e para a família do preso, submetida a
65
IPEA. Reincidência Criminal no Brasil. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/
150611_relatorio_reincidencia_criminal.pdf>. Acessado em: 08 de jun. de 2021. p. 15.
66
SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2021. p. 564.
25

privações materiais e afetivas, prostituição, marginalização e delinquência – em


suma, um conjunto de efeitos danosos evitados ou reduzidos pelos substitutivos
penais, que poderiam explicar sua adoção generalizada nas legislações
contemporâneas.67

Na mesma esteira, segue elucidando a teoria científica, nestes termos:

As explicações científicas fundamentam os substitutivos penais nas críticas de


penalistas liberais sobre as inconveniências práticas, morais, sociais e jurídicas da
execução de penas privativas de liberdade, sensibilizando políticos e legisladores
para a necessidade de métodos alternativos ou substitutivos da prisão. Assim, os
substitutivos penais seriam consequência do trabalho científico de penalistas e
criminólogos em congressos, conferências e textos, indicando os malefícios da pena
carcerária, como (a) supressão de direitos não compreendidos na privação da
liberdade, (b) instituição da ociosidade programada – o trabalho, apesar de
obrigação legal, é privilégio pessoal com remuneração irrisória, (c) efeitos
embrutecedores do isolamento celular, (d) violências contra a dignidade e
sexualidade do preso em celas coletivas superlotadas, (e) privação dos direitos à
intimidade e à vida sexual regular, (f) suspensão dos direitos políticos de votar e ser
votado, (g) precariedade de assistência médica, jurídica e social etc. 68

A teoria científica possui uma relevância na aplicação humanitária proveniente do


coração humano, isto porque, em pesquisas científicas realizadas, é possível verificar a falta
de fundamento e explicações infundadas para a desumanidade nos presídios, e a negação nos
substitutivos penais, mas que na realidade seriam a melhor saída.69
Por fim, sobre a teorias das críticas, abordada por alguns acerca da má administração
carcerária penal brasileira, versa-se:

As teorias críticas, desenvolvidas pela moderna teoria jurídica e criminológica sobre


crime e pena, produziram abordagens fundadas em outros argumentos como, por
exemplo, as explicações dos substitutivos penais baseadas em (a) superlotação
carcerária, (b) crise fiscal, e (c) ampliação do controle social. 70

A tese das críticas, que é novamente subdividida, possui amparo na crise fiscal que
assola o país, sendo um melhor custo/benefício a aplicabilidade de substitutivos penais
diversos da prisão, pois o auto custo que o preso possui leva isso muito em consideração.
Todavia, apesar de haver alto custo, os benefícios nem sempre chegam até suas celas, fazendo
com que estes se sintam desumanos e o efeito da ressocialização normalmente não ocorre. 71

67
SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2021. p. 564.
68
SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2021. p. 564 –
565.
69
SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2021. p. 565.
70
SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2021. p. 565.
71
SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2021. p. 567.
26

Outrossim, a aplicação de uma divisão entre os crimes de maiores e menores


potenciais ofensivos no mesmo espaço físico não é algo inteligente, bem como a prisão é tida
como a última ratio, para os chamados “casos mais duros”. Por conta disso, misturar presos
de diversos delitos não é uma maneira interessante de organização do sistema penitenciário. 72
Aplicar os substitutivos penais na maioria dos casos e deixar a prisão para último caso
faz com que esta não se enfraqueça e de fato cumpra com papel de ressocializar, não se
situando como um lugar de horror, pelo fato do Estado não conseguir cuidá-lo e administrá-lo,
já que perdeu totalmente seu controle há muito tempo. 73

Os substitutivos penais da legislação brasileira. A legislação penal brasileira prevê


dois substitutivos penais tradicionais, a suspensão condicional da pena e o
livramento condicional, ambos disciplinados no Código Penal e na Lei de Execução
Penal, e dois substitutivos penais novos, a transação penal e a suspensão condicional
do processo, criados pela Lei 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais
Criminais. 74CIRINO, P. 570.

Apesar da ressocialização de presos ser apenas uma prática teórica e não verdadeira, se
ela fosse posta realmente em prática traria mais benefícios - ao Estado, sociedade e ao próprio
usuário do sistema, ou seja, o preso - do que malefícios; pois, caso realizada sua adequada
implementação, ao invés de enfraquecer e quebrar algo que já se encontra neste estado,
realizaria o oposto, resolveria o problema atual.
“Um exemplo disso é a criação da Associação de Proteção ao Condenado (PAC), que
propõe um modelo humanizado de sistema penitenciário sem deixar de lado a finalidade
punitiva das prisões.” 75
Infelizmente, ter que ficar criando proteções quando se poderiam estar realizando
resoluções permanentes já é algo ruim, mas já é o início da tentativa de mudança.
As ações de ressocialização só ajudam a diminuir a incidência de reincidência sendo
positivas à sociedade e diretamente ao Estado. Sendo estes os beneficiários, não há porque
não investir nesta aplicação e visão de vida. 76

72
SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2021. p. 569.
73
SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2021. p. 570.
74
SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2021. p. 570.
75
GOMES, Marcos Antonio. Ressocialização: papel da sociedade no auxílio ao tratamento penitenciário.
Desenvolvimento do Potencial Humano. Ipog. Disponível em: <https://blog.ipog.edu.br/desenvolvimento-do-
potencial-humano/ressocializacao/>. Acessado em: 17 de maio de 2021.
76
NETO, Manoel Valente Figueiredo. MESQUITA, Yasnaya Polyanna Victor Oliveira de. A ressocialização do
preso na realidade brasileira: perspectivas para as políticas públicas. Âmbito Jurídico. Disponível em:
<https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/a-ressocializacao-do-preso-na-realidade-brasileira
perspectivas-para-as-politicas-publicas/>. Acessado em: 10 de jun. de 2021.
27

Aplicar a pena às vezes não é sinal de mudança na diminuição de criminalidade e não


reincidência; com isso, é dever do Estado manejar estratégias inteligentes de políticas
criminais para mudar a situação caótica criminal que assola o país.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa e trabalho redigido não buscam de forma alguma exaurir o conteúdo, isto
porque esta seria uma tarefa árdua e quase que impossível, tendo em vista a vasta e inúmera
fonte de dados e teorias sobre a inserção de medidas diversas da prisão, como os substitutos
penais, como forma de aplicar resolução sobre a superlotação do sistema carcerário do Brasil,
bem como a garantia de que a ressocialização dos apenados crescesse cada vez mais.
O presente trabalho teve como principal objetivo apresentar o que de fato está
ocorrendo sob os olhos da sociedade e Estado e nada está sendo feito para mudar; pelo
contrário, só está piorando a situação e assolando cada vez mais a realidade, propiciando o
aumento da decadência carcerária. Pessoas tratadas como animais, animais tratados como
gente, papeis invertidos, mas é apenas a realidade pura e atual.
O trabalho busca enfatizar que aumentar a pena, aplicar presos temporários, sem
sentença transitada, presos de baixa periculosidade com outros presos de alta e com sentença
transitada não é a melhor maneira de equilíbrio, de inteligência, trazendo revolta dos
familiares dos presos, trazendo superlotamento e o tratamento comum de “todos são ruins da
mesma laia” Isso não é política pública, não é uma política criminal, é uma burrice insana de
na forma de continuar conduzindo o sistema prisional brasileiro.
É necessária uma visão moderna para salvar do colapso, antes que seja tarde demais.
Substitutivos penais, centros de ressocialização, divisão de apenados conforme as penas,
reincidências, a aplicação de oficinas, trabalho, lazer, estudo, saúde visita é o mínimo para
não fazer o ser humano se revolver com a própria espécie e sair pior do que entrou.
Por isso o ditado “prisão escola do crime” soa tão forte, pois é a mais pura realidade.
Impossível sair um apenado ressocializado de local que foi tratado e permaneceu sob
condições sub-humanas sem que revolte e queira dar o troco em alguém. Se em um século
ainda não foi possível verificar que a forma de aplicação não está trazendo resultados
esperados algo deverá sim ser feito para que a situação mude.
Apesar do cometimento de crimes, mudar as formas de aplicação, abrir mais centros
de ressocialização, diminuir o público carcerário deixando apenas o necessário nestes locais,
trazer olhar consciente, dar uma segunda chance é ensinar um segundo caminho, ensinar uma
28

profissão, despertar desejo de estudo, preceitos básicos da LEP que não são aplicados. É por
conta disso que o presente trabalho visa apresentar e indagar críticas acerca desta
administração criminal e, de alguma maneira, demonstrar que ser brando e mostrar outras
hipótese, ao invés da prisão, não é ser imprudente; no atual cenário, é ser inteligente e mudar
o mundo com intuito de fazê-lo melhor.

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS

ANDRADE, Carla Coelho de. JÚNIOR, Almir de Oliveira. O desafio da reintegração social
do preso: uma pesquisa em estabelecimentos prisionais. IPEA. Brasília, maio de 2015.
Disponível em: < http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4375/1/td_2095.pdf>.
Acessado em: 16 de maio de 2021.

AZEVEDO, Ana Oliveira de. A ineficácia do sistema penitenciário brasileiro na


ressocialização dos presos. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Brasiliense de
Direito Público. IDP. Brasília, Distrito Federal, 2017. Disponível em:
<https://repositorio.idp.edu.br/bitstream/123456789/2390/1/Monografia_Alana%20Oliveira
%20de%20Azevedo.pdf>. Acessado em: 25 de maio de 2021.

BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição: fundamentos de uma


dogmática constitucional transformadora. São Paulo, Saraiva, 1999, pág. 147.

BITENCOUR, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Volume 1. 26 Ed. São Paulo:
Editora Saraiva Educação, 2020.

BORGES, Laryssa. População carcerária triplica em 20 anos; déficit de vagas chega a


312 mil - Quantidade de presos atingiu 773.151 no primeiro semestre de 2019, diz
Depen. Veja. Disponível em: < https://veja.abril.com.br/brasil/populacao-carceraria-triplica-
em-20-anos-deficit-de-vagas-chega-a-312-mil/>. Acessado em: 19 de maio de 2021.

BRASIL. Decreto Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Planalto. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acessado em: 11
de abril de 2021.

BRASIL. Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. Planalto. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acessado em:
12 de abril de 2021.

BRASIL. Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006. Planalto. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acessado em:
12 de abril de 2021.

BRASIL. Decreto Lei n° 3.689, de 3 outubro de 1941. Planalto. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acessado em: 13
de abril 2021.
29

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Planalto. Disponível


em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado em: 15
de abril de 2021.

BRASIL. Lei n° 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Planalto. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13964.htm>. Acessado em:
10 de maio de 2021.

CABRAL, Luisa Rocha. SILVA, Juliana Leite. O trabalho penitenciário e a ressocialização


do preso no Brasil. Revista do CAAP, 2010 (1), Belo Horizonte, jan-jun de 2010.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 23° Ed. São Paulo: Editora Saraiva
Educação, 2019.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Geral. Volume Único. 3° Ed.
Salvador: Editora JusPodivm, 2015.

DEPEN – Departamento Penitenciário. Programa de Ressocialização no Sistema


Penitenciário do Paraná. Secretaria da segurança pública e administração penitenciária.
Disponível em: <http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?
conteudo=6%3E%20Acesso%20em:%2028%20set.%202008>. Acessado em: 01 de junho de
2021.

FILHO, Eleones Rodrigues Monteiro. O sistema penal e a ressocialização do preso no


Brasil. jus.com.br. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/41528/o-sistema-penal-e-a-
ressocializacao-do-preso-no-brasil>. Acessado em: 28 de maio de 2021.

GOMES, Marcos Antonio. Ressocialização: papel da sociedade no auxílio ao tratamento


penitenciário. Desenvolvimento do Potencial Humano. Ipog. Disponível em:
<https://blog.ipog.edu.br/desenvolvimento-do-potencial-humano/ressocializacao/>. Acessado
em: 17 de maio de 2021.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Geral. Volume 1. 19° Ed. Revista
Atualizada e Ampliada. Niterói Rio de Janeiro: Editora Impetus. 2017.

GUIDO, Gilzia Dias Payão. Sistema prisional e a ressocialização do preso. Trabalho de


Conclusão de Curso. - Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA, Assis, 2015.
Disponível em: <https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqTccs/1211400211.pdf>. Acessado
em: 05 de junho de 2021.

IPEA. Reincidência Criminal no Brasil. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em:


<https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/
150611_relatorio_reincidencia_criminal.pdf>. Acessado em: 19 de abril de 2021.

LEMES, Thiago Morais de Almeida. A falaciosa ressocialização de presos no Brasil.


Âmbito Jurídico. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/a-
falaciosa-ressocializacao-de-presos-no-brasil/>. Acessado em: 27 de maio de 2021.

LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. Volume Único. 8° Ed. Revista
Atualizada e Ampliada. Salvador: Editora Juspodivm, 2020. p. 46.
30

MASSON, Cleber. Direito Penal Parte Geral. 13° Ed. Revista Atualizada e Ampliada. São
Paulo: Editora Método/Forense, 2019.

NETO, Manoel Valente Figueiredo. MESQUITA, Yasnaya Polyanna Victor Oliveira de.
A ressocialização do preso na realidade brasileira: perspectivas para as políticas
públicas. Âmbito Jurídico. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
penal/a-ressocializacao-do-preso-na-realidade-brasileira-perspectivas-para-as-politicas-
publicas/>. Acessado em: 10 de junho de 2021.

NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17° Ed. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2020.

REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 11° ed. São Paulo: Saraiva, 1986.

SANTOS, Juarez Cirino do. Direito Penal Parte Geral. 5° ed. Florianópolis: Editora
Conceito, 2021.

SIGNIFICADOS. Significado de Ultima ratio. Site Significados. Disponível em:


<https://www.significados.com.br/ultima-ratio/>. Acessado em: 10 de março de 2021.

SOUSA, Pedro Henrique Nogueira. SISTEMA PENITENCIÁRIO: ressocialização do


preso no Brasil e suas consequências para a sociedade. Trabalho de conclusão de curso.
Curso de Direito UniEvangelica, 2018. Disponível em:
<http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/758/1/Monografia%20-%20Pedro
%20Henrique.pdf>. Acessado em: 15 de maio de 2021.

VASCONCELOS, Caê. Com 812 mil pessoas presas, Brasil mantém a terceira maior
população carcerária do mundo. Ponte. Disponível em: < https://ponte.org/com-812-mil-
pessoas-presas-brasil-mantem-a-terceira-maior-populacao-carceraria-do-mundo/>. Acessado
em: 18 de maio de 2021.

You might also like