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PROJETO DE PESQUISA
NÍVEL PRETENDIDO
Mestrado (X)
Doutorado ( )
LINHA DE PESQUISA:
BAURU 2023
RESUMO
A mídia tem o poder de criar símbolos e estereótipos, de nomear, caracterizar e manipular
significados sobre temas, culturas, grupos. Partindo desse pressuposto, o objetivo desta pesquisa é:
analisar a construção discursiva da pessoa autista no Jornal Nacional. Para tanto, serão utilizados
dois métodos de pesquisa, a pesquisa bibliográfica que partirá do conceito de silenciamento
midiático, apresentado por Pierre Bourdieu (1996), numa abordagem qualitativa. Subsequentemente
os dados serão tratados a partir da Análise Crítica do Discurso, corrente teórica que promove a
investigação das manifestações linguísticas em contextos sociais e políticos, elucidando como o
discurso pode corroborar ou desafiar as relações de poder e ideologias ( FRANKFURT, 1989). O
processamento dos dados partirá da análise tridimensional do discurso: textual (gramática,
vocabulário), discursiva (construção de significados) e social (influência nas relações de poder).
Busca-se por meio desse processo alcançar a camada subjetiva do texto no intento de construir base
teórica para perceber as variáveis da nossa realidade multiforme e como tal pode estar interferindo
na vida de pessoas autistas. As matérias a serem analisadas serão coletadas diretamente no
aplicativo Globo play, de maio a outubro de 2022, período que gira em torno do debate e votação
sobre o rol taxativo, PL 2.033/2022, votado no dia 29 de agosto. Sendo possível acompanhar o
debate, a votação no senado, e pós-votação. Espera-se obter resultados que possam contribuir para
um debate mais informado e inclusivo sobre o autismo na mídia, levando em consideração que a
mídia cumpre, junto a outras instituições dominantes como a Igreja e o Estado, um papel de
construção, manutenção e atualização de estereótipos, influenciando diretamente em sua condição
histórica, social e política.
O sociólogo Pierre Bourdieu (1996) argumenta que a mídia é controlada por grupos
dominantes da sociedade, que moldam a cobertura jornalística de acordo com seus próprios
interesses, ou seja, uma vez fora dos grupos dominantes, as pautas minoritárias serão sub-
representadas ou completamente excluídas da cobertura jornalística, reforçando a marginalização de
grupos sociais vulneráveis e perpetuando as desigualdades. Seguindo essa mesma linha Cottle
(2011), nos diz que as narrativas sobre o autismo são “[…] variadas e complexas, e é importante
reconhecer que essas narrativas não são simplesmente representações de uma realidade objetiva,
mas são mediadas pelas perspectivas e preconceitos daqueles que as produzem e consomem” (p.
179).
Para Santaella (2003, p. 24), os jornalistas são os “verdadeiros responsáveis não só por
moldar o pensamento e a sensibilidade dos seres humanos, mas também por propiciar o surgimento
de novos ambientes socioculturais”. Alimentando uma conjuntura já existente nas Teorias do
Jornalismo, em que os enunciados inerentes das práticas jornalísticas são um pressuposto da
realidade, longe de ser um espelho do real (PENA, 2007). Tuchman complementa que: “O
jornalismo não é simplesmente um espelho que reflete a realidade; é um conjunto de práticas e
técnicas que transformam a realidade em uma construção narrativa que é então apresentada ao
público como 'notícia” (1978, p. 8).
Isso implica dizer que os meios de comunicação têm um papel ativo na criação e difusão de
informações e que a realidade é construída socialmente por meio da linguagem e da cultura. No
entanto, dentro da mídia popular, Cottle (2011) afirma que “o autismo é frequentemente retratado
como uma tragédia ou um mistério, e os indivíduos autistas são frequentemente construídos como
um problema a ser resolvido ou um fardo a ser suportado” (p. 140).
A representação inadequada do autismo é um exemplo de como o poder simbólico da mídia
é exercido para manter o sistema de dominação existente na sociedade, reproduzindo as relações de
poder e hierarquia através da criação e imposição de significados, valores e crenças que são
internalizados e naturalizados pelos indivíduos, tornando-se parte da sua percepção de mundo. Isso
resulta em uma legitimação e manutenção das desigualdades sociais, segundo Bourdieu (2001) “O
poder simbólico é um poder que é exercido por meio da linguagem, da cultura, da educação e da
mídia, e que é tão difuso e onipresente que se torna difícil de identificar e resistir” (p. 16). Portanto,
para entender a relação entre a mídia e a sociedade, é fundamental compreender o papel do poder
simbólico.
Partindo dessa concepção teórica podemos analisar a representação do autista na mídia em
uma perspectiva retórica, que envolve tanto a seleção de temas e pontos de vista, considerando que,
o campo midiático é caracterizado por um jogo de interesses e poderes que determina o que é dito e
o que é silenciado (BOURDIEU, 1996). Em relação ao autista, essa marginalização pode resultar
em sua voz e perspectiva sendo apagadas ou distorcidas pela mídia, causando o que iremos tratar
nesta pesquisa como silenciamento midiático, termo cunhado por Bourdieu (1996).
O silenciamento midiático é uma das formas mais insidiosas de censura, pois muitas vezes é
invisível. A forma mais comum em relação ao autista é a representação estereotipada e caricata, que
reduz sua complexidade humana a um conjunto limitado de traços e comportamentos. Como
observa Temple Grandin, defensora do autismo, “a mídia costuma se concentrar nos aspectos mais
bizarros e extremos do autismo, ignorando o fato de que a maioria dos autistas é capaz de aprender
e contribuir para a sociedade” (2013, p. 11). A exclusão também acontece nas demais áreas da
comunicação, seja como protagonista de histórias e personagens ou como fonte de informação e
opinião. “Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: certos aspectos da realidade social são
esquecidos, ocultados, ou simplesmente não são reconhecidos como relevantes” (TUCHMAN,
1978, p. 11).
A partir desse cenário, percebe-se a necessidade de estudos que tragam para o debate
científico o papel fundamental do jornalismo na formação da opinião pública e na percepção de
mundo da sociedade, visto que o jornalismo é exaltado como um bem simbólico (o que é dito), em
que o profissional tem uma função social elevada na sociedade, de ser o representante da verdade e
mediador do interesse público (OLIVEIRA, 2004). Essa problemática será investigada e resolvida
em nível de mestrado tendo como objeto de pesquisa: matérias publicadas no jornal nacional que
tratam de autismo e pessoas autistas, no intervalo de tempo do debate e votação do rol taxativo.
Ao final da pesquisa, espera-se entender o que essas experiências revelam sobre as
oportunidades e mudanças (tanto simbólicas quanto materiais) no campo do jornalismo
contemporâneo, e como essas mudanças impactam a qualidade do conhecimento gerado pelo
jornalismo nas relações sociais das pessoas com deficiência.
PROBLEMA DA PESQUISA
Maia (2008) ao compreender uma esfera pública contemporânea, atualizando o conceito
habermasiano, afirma que o jornalismo é fundamental para o cidadão comum e é ele o formador da
opinião pública. Cottle (2015) complementa dizendo que: “A mídia pode ser uma ferramenta
poderosa para moldar as percepções e atitudes do público em relação à deficiência e à diferença, e
pode desempenhar um papel importante na promoção da inclusão social e no questionamento de
estereótipos e preconceitos” (p. 140). No entanto, a falta de abordagem qualitativa e humana leva a
lacunas preocupantes na discussão sobre diversos temas, inclusive o autismo.
No mesmo caminho, vai Bourdieu, (1992) afirmando que a mídia é controlada por um
campo cultural dominante que define o que é considerado normal e valioso na sociedade, o que
pode levar à invisibilização de vozes e perspectivas que não se enquadram nesse padrão. Isso pode
ser particularmente problemático em relação ao autismo, onde as características são muito diversas
e individuais, e a falta de representatividade na mídia pode perpetuar estereótipos e marginalização
da pessoa autista.
Sendo assim, essa pesquisa gira em torno do seguinte problema/questionamento: Como a
construção discursiva da pessoa autista no Jornal Nacional pode afetar a esfera pública,
influenciando na manutenção ou reversão do silenciamento midiático, perpetuando práticas nocivas
aos autistas, ao jornalismo e à sociedade?
OBJETIVO GERAL
Analisar a construção discursiva sobre a pessoa autista no Jornal Nacional.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
veiculadas;
sobre o espectro;
JUSTIFICATIVA
Com o advento da era da informação e a democratização do acesso a ela, a sociedade tem
cada vez mais se questionado sobre o papel do jornalismo nesse novo contexto. A resposta a essa
questão reside em sua função social, que é fundamental na representação midiática. Através dos
trabalhos de representação, o jornalismo é capaz de registrar e discutir temas importantes e ainda
não consolidados na sociedade, como a diversidade de gênero, a inclusão social e a sustentabilidade
(TRAQUINA, 2012). O jornalismo é responsável por informar a população sobre os
acontecimentos do mundo, mas é importante ter em mente que ele não é neutro, uma vez que as
escolhas editoriais e a construção das narrativas são influenciadas por fatores externos, como
interesses políticos e econômicos (GRANDIN, 1987; LAGE, 2002). Segundo Tasmine Cottle
(2011), a mídia pode ser uma grande aliada na luta por direitos e inclusão de pessoas com autismo,
por meio da veiculação de matérias que busquem desmistificar o transtorno e mostrar a realidade
dessas pessoas e suas famílias.
Portanto, a justificativa inicial deste trabalho se dá pela influência que o jornalismo tem
sobre a sociedade e fundamentalmente sobre o autismo e as pessoas autistas. Sabendo (como
apontamos posteriormente) que há um processo de silenciamento midiático sobre essa comunidade
de pessoas, é fundamental uma pesquisa que descreva e compreenda os meandros desse fenômeno.
É importante também tirar as discussões sobre o autismo do âmbito clínico e trazer para o
debate social. Nesse contexto, a escolha do tema sobre o autismo na mídia é relevante e atual, uma
vez que ainda é pouco discutido e compreendido pela sociedade em geral, mesmo após marcos
importantes, como a sanção da Lei 13.861/2019, que visa incluir informações específicas sobre
pessoas com autismo nos censos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e instituiu a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro
Autista (Ciptea), facilitando o acesso dessas pessoas a serviços públicos e privados. A contribuição
da mídia e do jornalismo na construção social deve ser analisada e discutida criticamente, buscando
sempre promover a diversidade de ideias e perspectivas, e o tema do autismo na mídia se encaixa
perfeitamente nesse contexto.
Além disso, a mídia tem o potencial de pré-estruturar a esfera pública, promovendo um
diálogo público que informa e reconstitui os espaços de discussão não-midiáticos, mas é controlada
por um campo cultural dominante, tornando invisíveis as vozes e perspectivas que não se
enquadram nesse padrão. Dentro desse cenário, justificamos esse projeto também pela importância
de avançar na qualidade do jornalismo.
METODOLOGIA
A pesquisa em questão tem como objetivo explorar de forma qualitativa como ocorre a
construção discursiva sobre a pessoa autista na mídia brasileira, em um recorte temporal que
abrange um importante marco na história do autismo no país, que é a votação do rol taxativo. O
instrumento que irá nos amparar é a Análise Crítica do Discurso, (FAIRCLOUGH, 1989).
Nos estudos linguísticos existem dois grandes campos. O formalismo linguístico e o
paradigma do Funcionalismo na qual estão inseridas as análises do discurso, é nessa segunda
catergoria que se insere a Análise Crítica do Discurso (ACD) (FAIRCLOUGH, 2008), que
configura-se como uma abordagem teórico-metodológica que visa compreender como as práticas
sociais e ideológicas são reproduzidas e contestadas através da linguagem e como o sujeito mantém
essa relação biunívoca em que ora é formado, ora é formador.
Neste cenário existem várias concepções sobre discurso. Para fins deste trabalho, a
concepção de discurso utilizada foi a de Fairclough (2008).
Ao usar o termo ‘discurso’, proponho considerar o uso de linguagem como forma de prática
social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais. Isso
tem várias implicações. Primeiro, implica ser o discurso um modo de ação, uma forma em
que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros, como também
um modo de representação. [...] Segundo, implica uma relação dialética entre o discurso e a
estrutura social, existindo mais geralmente tal relação entre a prática social e a estrutura
social: a última é tanto uma condição como efeito da primeira. [...] O discurso é uma
prática, não apenas de representação o mundo, mas de significação do mundo, constituindo
e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH, 2008, p. 90-91).
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Elaboração;
Cumprimento Levantamento e leitura e coleta do
Etapas Análise e qualificação Defesa da
de créditos de aprofundamento fichamento corpus de
meses descrição da Dissertação
disciplinas bibliográfico bibliográfico análise
Dissertação
1 semestre X X
2 semestre X X X
3 semestre X X X
4 semestre X X X
BIBLIOGRAFIA
BOURDIEU, P. The Rules of Art: Genesis and Structure of the Literary Field. 1992.
____________. The rules of art: genesis and structure of the literary field. Cambridge, UK, Polity Press [ed.
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