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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE ARQUITETURA, ARTES, COMUNICAÇÃO E DESIGN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

PROCESSO SELETIVO 2024

PROJETO DE PESQUISA

O Silenciamento Midiático e as Construções discursivas sobre a pessoa autista no Jornal


Nacional

RINA RODRIGUES SALES - 3349856-3

NÍVEL PRETENDIDO

Mestrado (X)

Doutorado ( )

LINHA DE PESQUISA:

LP1 - Processos Midiáticos e Práticas Socioculturais ( X )

LP2 - Produção de Sentido na Comunicação Midiática ( )

LP3 - Gestão e Políticas da Informação e da Comunicação Midiática ( )

1º) PROF(A). DR(A) INDICADO(A): Profa. Dra. Michelle Roxo de Oliveira

2º) PROF(A). DR(A) INDICADO(A): Profa. Dra. Maria Cristina Gobbi

BAURU 2023
RESUMO
A mídia tem o poder de criar símbolos e estereótipos, de nomear, caracterizar e manipular
significados sobre temas, culturas, grupos. Partindo desse pressuposto, o objetivo desta pesquisa é:
analisar a construção discursiva da pessoa autista no Jornal Nacional. Para tanto, serão utilizados
dois métodos de pesquisa, a pesquisa bibliográfica que partirá do conceito de silenciamento
midiático, apresentado por Pierre Bourdieu (1996), numa abordagem qualitativa. Subsequentemente
os dados serão tratados a partir da Análise Crítica do Discurso, corrente teórica que promove a
investigação das manifestações linguísticas em contextos sociais e políticos, elucidando como o
discurso pode corroborar ou desafiar as relações de poder e ideologias ( FRANKFURT, 1989). O
processamento dos dados partirá da análise tridimensional do discurso: textual (gramática,
vocabulário), discursiva (construção de significados) e social (influência nas relações de poder).
Busca-se por meio desse processo alcançar a camada subjetiva do texto no intento de construir base
teórica para perceber as variáveis da nossa realidade multiforme e como tal pode estar interferindo
na vida de pessoas autistas. As matérias a serem analisadas serão coletadas diretamente no
aplicativo Globo play, de maio a outubro de 2022, período que gira em torno do debate e votação
sobre o rol taxativo, PL 2.033/2022, votado no dia 29 de agosto. Sendo possível acompanhar o
debate, a votação no senado, e pós-votação. Espera-se obter resultados que possam contribuir para
um debate mais informado e inclusivo sobre o autismo na mídia, levando em consideração que a
mídia cumpre, junto a outras instituições dominantes como a Igreja e o Estado, um papel de
construção, manutenção e atualização de estereótipos, influenciando diretamente em sua condição
histórica, social e política.

APRESENTAÇÃO DO TEMA COM FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


Em 1943, Kanner descreveu o “autismo infantil precoce” como uma condição distinta e
identificou características comuns, como dificuldades na comunicação e interação social,
comportamentos repetitivos e interesses restritos. No mesmo ano, o pediatra Hans Asperger
descreveu a síndrome de Asperger, que apresentava algumas semelhanças com o autismo infantil
precoce, mas sem atrasos na fala ou na cognição. Em 2013, a quinta edição do Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), subtituiu o TGD pelo “Transtorno do Espectro
Autista” (TEA) como uma única categoria diagnóstica, introduzindo também um novo sistema de
classificação, que usa níveis de suporte de comunicação social, permitindo um diagnóstico mais
preciso e individualizado. Essa medida reconheceu que cada pessoa com TEA é única e apresenta
diferentes necessidades de suporte. Não há cura para o TEA, e as suas necessidades de saúde são
complexas e requerem uma gama de serviços integrados que incluem promoção, cuidado e
reabilitação da saúde e colaboração de outras áreas, como educação, profissional e social.
Nos últimos anos, mais especificamente a partir do ano 2000, houve uma tendência
crescente nos debates em torno do autismo. Isso pode ser atribuído a diversos fatores, entre eles o
aumento da conscientização por parte do Estado resultando na criação de políticas públicas,
tornando o acesso ao diagnóstico mais acessível. De acordo com os Centros de Controle e
Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, o número de crianças diagnosticadas com autismo em
2000 tinha uma prevalência de 1 em cada 150 crianças. Em 2018, essa taxa aumentou para 1 em
cada 54 crianças. No Brasil, a prevalência é de aproximadamente 2 milhões, estando entre os cinco
primeiros países com maior percentual de autismo em relação à população.
Como resultado desse aumento foi possível ver personagens autistas nas telas com mais
frequência em filmes e programas de televisão, em debates sobre diagnósticos e, principalmente, foi
possível a criação de datas que marcaram a conquista de espaço para os autistas na sociedade. A
primeira data é 18 de junho, que marca o Dia do Orgulho do Autismo, criado em 2005 pela
organização norte-americana Aspies for Freedom e recebido pelo Senado brasileiro. A outra data é
2 de abril, Dia Nacional de Conscientização do Autismo, instituído pela Lei 13.652 de 2018 e
proposto pelo senador Flávio Arns (REDE-PR).
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento neurológico que afeta a capacidade de
socializar, comunicar e processar informações sensoriais, e para o qual a medicina desconhece a
causa específica. Atualmente, é visível que a maioria das histórias sobre autismo são contadas por
especialistas ou pais, lhes tirando essa voz, e indiretamente reforçando uma incapacidade dos
autistas de contarem suas próprias histórias, fazendo-nos refletir se há um esforço para incluir essas
vozes em suas histórias ou se a banalização precede a tentativa. Visto que ainda é comum a mídia,
ao tratar de pessoas autistas, focar em seu diagnóstico, muitas vezes até substituindo seu nome
próprio, o que pode tornar a condição mais evidente do que a própria pessoa, levando à
inferiorização e, revelando qual discurso é predominante apenas pela escolha das palavras.
Por esse motivo, alguns autores têm discutido a colocação e representação da pessoa autista
na mídia (COTTLE, 2011; MILTON, 2015), bem como sua relação com o silenciamento midiático
(BOURDIEU, 1996), objetivando compreender de que maneira narrativas inadequadas ou a
ausência delas pode prejudicar a percepção social desses grupos.
As representações do autismo foram moldadas por uma ampla gama de fatores culturais,
incluindo mudanças nos discursos científicos e médicos, mudanças nas atitudes em relação
à deficiência e formas culturais populares, como cinema, literatura e televisão. Essas
representações tiveram um impacto profundo nas formas como e em que as pessoas autistas
são percebidas e tratadas na sociedade (MILTON, 2015, p. 5).

O sociólogo Pierre Bourdieu (1996) argumenta que a mídia é controlada por grupos
dominantes da sociedade, que moldam a cobertura jornalística de acordo com seus próprios
interesses, ou seja, uma vez fora dos grupos dominantes, as pautas minoritárias serão sub-
representadas ou completamente excluídas da cobertura jornalística, reforçando a marginalização de
grupos sociais vulneráveis e perpetuando as desigualdades. Seguindo essa mesma linha Cottle
(2011), nos diz que as narrativas sobre o autismo são “[…] variadas e complexas, e é importante
reconhecer que essas narrativas não são simplesmente representações de uma realidade objetiva,
mas são mediadas pelas perspectivas e preconceitos daqueles que as produzem e consomem” (p.
179).
Para Santaella (2003, p. 24), os jornalistas são os “verdadeiros responsáveis não só por
moldar o pensamento e a sensibilidade dos seres humanos, mas também por propiciar o surgimento
de novos ambientes socioculturais”. Alimentando uma conjuntura já existente nas Teorias do
Jornalismo, em que os enunciados inerentes das práticas jornalísticas são um pressuposto da
realidade, longe de ser um espelho do real (PENA, 2007). Tuchman complementa que: “O
jornalismo não é simplesmente um espelho que reflete a realidade; é um conjunto de práticas e
técnicas que transformam a realidade em uma construção narrativa que é então apresentada ao
público como 'notícia” (1978, p. 8).
Isso implica dizer que os meios de comunicação têm um papel ativo na criação e difusão de
informações e que a realidade é construída socialmente por meio da linguagem e da cultura. No
entanto, dentro da mídia popular, Cottle (2011) afirma que “o autismo é frequentemente retratado
como uma tragédia ou um mistério, e os indivíduos autistas são frequentemente construídos como
um problema a ser resolvido ou um fardo a ser suportado” (p. 140).
A representação inadequada do autismo é um exemplo de como o poder simbólico da mídia
é exercido para manter o sistema de dominação existente na sociedade, reproduzindo as relações de
poder e hierarquia através da criação e imposição de significados, valores e crenças que são
internalizados e naturalizados pelos indivíduos, tornando-se parte da sua percepção de mundo. Isso
resulta em uma legitimação e manutenção das desigualdades sociais, segundo Bourdieu (2001) “O
poder simbólico é um poder que é exercido por meio da linguagem, da cultura, da educação e da
mídia, e que é tão difuso e onipresente que se torna difícil de identificar e resistir” (p. 16). Portanto,
para entender a relação entre a mídia e a sociedade, é fundamental compreender o papel do poder
simbólico.
Partindo dessa concepção teórica podemos analisar a representação do autista na mídia em
uma perspectiva retórica, que envolve tanto a seleção de temas e pontos de vista, considerando que,
o campo midiático é caracterizado por um jogo de interesses e poderes que determina o que é dito e
o que é silenciado (BOURDIEU, 1996). Em relação ao autista, essa marginalização pode resultar
em sua voz e perspectiva sendo apagadas ou distorcidas pela mídia, causando o que iremos tratar
nesta pesquisa como silenciamento midiático, termo cunhado por Bourdieu (1996).
O silenciamento midiático é uma das formas mais insidiosas de censura, pois muitas vezes é
invisível. A forma mais comum em relação ao autista é a representação estereotipada e caricata, que
reduz sua complexidade humana a um conjunto limitado de traços e comportamentos. Como
observa Temple Grandin, defensora do autismo, “a mídia costuma se concentrar nos aspectos mais
bizarros e extremos do autismo, ignorando o fato de que a maioria dos autistas é capaz de aprender
e contribuir para a sociedade” (2013, p. 11). A exclusão também acontece nas demais áreas da
comunicação, seja como protagonista de histórias e personagens ou como fonte de informação e
opinião. “Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: certos aspectos da realidade social são
esquecidos, ocultados, ou simplesmente não são reconhecidos como relevantes” (TUCHMAN,
1978, p. 11).
A partir desse cenário, percebe-se a necessidade de estudos que tragam para o debate
científico o papel fundamental do jornalismo na formação da opinião pública e na percepção de
mundo da sociedade, visto que o jornalismo é exaltado como um bem simbólico (o que é dito), em
que o profissional tem uma função social elevada na sociedade, de ser o representante da verdade e
mediador do interesse público (OLIVEIRA, 2004). Essa problemática será investigada e resolvida
em nível de mestrado tendo como objeto de pesquisa: matérias publicadas no jornal nacional que
tratam de autismo e pessoas autistas, no intervalo de tempo do debate e votação do rol taxativo.
Ao final da pesquisa, espera-se entender o que essas experiências revelam sobre as
oportunidades e mudanças (tanto simbólicas quanto materiais) no campo do jornalismo
contemporâneo, e como essas mudanças impactam a qualidade do conhecimento gerado pelo
jornalismo nas relações sociais das pessoas com deficiência.

PROBLEMA DA PESQUISA
Maia (2008) ao compreender uma esfera pública contemporânea, atualizando o conceito
habermasiano, afirma que o jornalismo é fundamental para o cidadão comum e é ele o formador da
opinião pública. Cottle (2015) complementa dizendo que: “A mídia pode ser uma ferramenta
poderosa para moldar as percepções e atitudes do público em relação à deficiência e à diferença, e
pode desempenhar um papel importante na promoção da inclusão social e no questionamento de
estereótipos e preconceitos” (p. 140). No entanto, a falta de abordagem qualitativa e humana leva a
lacunas preocupantes na discussão sobre diversos temas, inclusive o autismo.
No mesmo caminho, vai Bourdieu, (1992) afirmando que a mídia é controlada por um
campo cultural dominante que define o que é considerado normal e valioso na sociedade, o que
pode levar à invisibilização de vozes e perspectivas que não se enquadram nesse padrão. Isso pode
ser particularmente problemático em relação ao autismo, onde as características são muito diversas
e individuais, e a falta de representatividade na mídia pode perpetuar estereótipos e marginalização
da pessoa autista.
Sendo assim, essa pesquisa gira em torno do seguinte problema/questionamento: Como a
construção discursiva da pessoa autista no Jornal Nacional pode afetar a esfera pública,
influenciando na manutenção ou reversão do silenciamento midiático, perpetuando práticas nocivas
aos autistas, ao jornalismo e à sociedade?

OBJETIVO GERAL
Analisar a construção discursiva sobre a pessoa autista no Jornal Nacional.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

● Compreender quais fontes determinam o discurso predominante nas informações

veiculadas;

● Avaliar em que nível a representação na mídia influencia na percepção da sociedade

sobre o espectro;

● Avaliar o papel e a interferência das mídias na difusão e manutenção do discurso

veiculado em relação ao autismo, bem como sua responsabilidade social no tratamento


dessa temática.

● Refletir se o autista é limitado ao seu diagnóstico, ou se a mídia pode ampliar as

possibilidades de inclusão e valorização das pessoas autistas na sociedade.

JUSTIFICATIVA
Com o advento da era da informação e a democratização do acesso a ela, a sociedade tem
cada vez mais se questionado sobre o papel do jornalismo nesse novo contexto. A resposta a essa
questão reside em sua função social, que é fundamental na representação midiática. Através dos
trabalhos de representação, o jornalismo é capaz de registrar e discutir temas importantes e ainda
não consolidados na sociedade, como a diversidade de gênero, a inclusão social e a sustentabilidade
(TRAQUINA, 2012). O jornalismo é responsável por informar a população sobre os
acontecimentos do mundo, mas é importante ter em mente que ele não é neutro, uma vez que as
escolhas editoriais e a construção das narrativas são influenciadas por fatores externos, como
interesses políticos e econômicos (GRANDIN, 1987; LAGE, 2002). Segundo Tasmine Cottle
(2011), a mídia pode ser uma grande aliada na luta por direitos e inclusão de pessoas com autismo,
por meio da veiculação de matérias que busquem desmistificar o transtorno e mostrar a realidade
dessas pessoas e suas famílias.
Portanto, a justificativa inicial deste trabalho se dá pela influência que o jornalismo tem
sobre a sociedade e fundamentalmente sobre o autismo e as pessoas autistas. Sabendo (como
apontamos posteriormente) que há um processo de silenciamento midiático sobre essa comunidade
de pessoas, é fundamental uma pesquisa que descreva e compreenda os meandros desse fenômeno.
É importante também tirar as discussões sobre o autismo do âmbito clínico e trazer para o
debate social. Nesse contexto, a escolha do tema sobre o autismo na mídia é relevante e atual, uma
vez que ainda é pouco discutido e compreendido pela sociedade em geral, mesmo após marcos
importantes, como a sanção da Lei 13.861/2019, que visa incluir informações específicas sobre
pessoas com autismo nos censos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e instituiu a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro
Autista (Ciptea), facilitando o acesso dessas pessoas a serviços públicos e privados. A contribuição
da mídia e do jornalismo na construção social deve ser analisada e discutida criticamente, buscando
sempre promover a diversidade de ideias e perspectivas, e o tema do autismo na mídia se encaixa
perfeitamente nesse contexto.
Além disso, a mídia tem o potencial de pré-estruturar a esfera pública, promovendo um
diálogo público que informa e reconstitui os espaços de discussão não-midiáticos, mas é controlada
por um campo cultural dominante, tornando invisíveis as vozes e perspectivas que não se
enquadram nesse padrão. Dentro desse cenário, justificamos esse projeto também pela importância
de avançar na qualidade do jornalismo.

METODOLOGIA
A pesquisa em questão tem como objetivo explorar de forma qualitativa como ocorre a
construção discursiva sobre a pessoa autista na mídia brasileira, em um recorte temporal que
abrange um importante marco na história do autismo no país, que é a votação do rol taxativo. O
instrumento que irá nos amparar é a Análise Crítica do Discurso, (FAIRCLOUGH, 1989).
Nos estudos linguísticos existem dois grandes campos. O formalismo linguístico e o
paradigma do Funcionalismo na qual estão inseridas as análises do discurso, é nessa segunda
catergoria que se insere a Análise Crítica do Discurso (ACD) (FAIRCLOUGH, 2008), que
configura-se como uma abordagem teórico-metodológica que visa compreender como as práticas
sociais e ideológicas são reproduzidas e contestadas através da linguagem e como o sujeito mantém
essa relação biunívoca em que ora é formado, ora é formador.
Neste cenário existem várias concepções sobre discurso. Para fins deste trabalho, a
concepção de discurso utilizada foi a de Fairclough (2008).
Ao usar o termo ‘discurso’, proponho considerar o uso de linguagem como forma de prática
social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais. Isso
tem várias implicações. Primeiro, implica ser o discurso um modo de ação, uma forma em
que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros, como também
um modo de representação. [...] Segundo, implica uma relação dialética entre o discurso e a
estrutura social, existindo mais geralmente tal relação entre a prática social e a estrutura
social: a última é tanto uma condição como efeito da primeira. [...] O discurso é uma
prática, não apenas de representação o mundo, mas de significação do mundo, constituindo
e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH, 2008, p. 90-91).

A metodologia de ACD de Fairclough (1995) envolve três níveis de análise inter-


relacionados: “onde o propósito é mapear três formas separadas de análise em uma só: análise de
textos (falados ou escritos), análise da prática discursiva (processos de produção, distribuição e
consumo dos textos) e análise dos eventos discursivos como instâncias da prática sociocultural” (p.
2). Misoczky (2005) reforça esse caráter abrangente do discurso ao afirmar que:
Como um meio para a construção social dos significados, o discurso nunca é somente
lingüístico. Ele opera em conjunto com elementos vocais e visuais, no contexto de espaços
arquitetônicos plenos de significados, além da música e outros sinais extralinguísticos
(p.129).

A metodologia de ACD é fortemente utilizada em pesquisas que buscam compreender como


a linguagem é usada para perpetuar e desafiar as desigualdades sociais, incluindo questões de
gênero, raça, classe social e outras formas de opressão. É uma abordagem particularmente útil para
a análise de textos que têm um impacto significativo na formação de opinião pública, como é o caso
do jornalismo. Por meio da abordagem é possível identificar os atores sociais ouvidos, a abordagem
predominante, o tratamento jornalístico e elementos que possam indicar a presença de estereótipos e
práticas capacitistas no discurso. Além de dar suporte para tratar a questão do silenciamento
midiático em relação a minorias, como a pessoa autista e o jornalismo enquanto instituição
intermediadora entre os fatos e a sociedade e formadora de opinião pública, levando em conta que a
mídia é formada pelo meio, conforme Habermas (1962) e Lippmann (2008).
Ainda segundo Fairclough (2008) existem procedimentos metodológicos para chegar a um
resultado satisfatório, a saber:
Coletar o material de análise: O importante é que esse material seja relevante para a pesquisa
em questão. Esta parte da pesquisa é considerada uma das etapas primordiais para consecução de
uma investigação de cunho qualitativo (SARDINHA, 2000). De acordo com Sinclair (1991), Bauer
e Aarts (2002), a construção do corpus é critério tanto de confiabilidade quanto de validade nas
pesquisas sociais. Portanto, o corpus deste projeto será composto por matérias publicadas pela Rede
Globo de Televisão, mais especificamente no Jornal Nacional, em que sejam evidenciadas as
representações sociais de pessoas autistas pautadas em notícias. O recorte temporal gira em torno do
debate e votação sobre o rol taxativo, PL 2.033/2022, que foi votado no dia 29 de agosto. Para
compreender o processo do debate e analisar de forma crítica a construção e as implicações desses
discursos, vamos recortar seis meses, sendo de maio a outubro de 2022. Dessa forma
acompanhamos o debate surgindo, a votação no senado, e o debate após a votação. A emissora foi
selecionada por ser líder de audiência entre os canais de TV aberta, informativos genuinamente
brasileiros e que oferece acesso gratuito a todo o seu conteúdo.
O segundo é identificar as práticas discursivas, ou seja, as formas pelas quais a linguagem é
utilizada para construir significados e produzir efeitos sociais. Essas práticas podem incluir a
escolha de palavras, a organização do texto, a seleção de temas, entre outros elementos; o terceiro
passo é identificar as relações de poder que estão em jogo no discurso em questão. Isso pode ser
feito analisando como o discurso reproduz ou transforma as relações sociais existentes, e como ele
pode ser usado para legitimar ou contestar o status quo; o quarto passo é analisar o contexto social
em que o discurso foi produzido e circula. Isso pode incluir a análise de questões históricas,
políticas, culturais e econômicas que influenciam o discurso e as relações de poder que estão em
jogo; o último passo é avaliar os efeitos do discurso, ou seja, como ele pode afetar as pessoas e as
relações sociais. Isso pode incluir a análise de como o discurso pode reforçar estereótipos,
marginalizar grupos sociais ou promover mudanças sociais.
Por ser uma abordagem teórico-metodológica, muito do caminho da pesquisa depende do
desenvolvimento de suas fases, fazendo com que ela ganhe solidez a cada passo da pesquisa.

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Elaboração;
Cumprimento Levantamento e leitura e coleta do
Etapas Análise e qualificação Defesa da
de créditos de aprofundamento fichamento corpus de
meses descrição da Dissertação
disciplinas bibliográfico bibliográfico análise
Dissertação
1 semestre X X
2 semestre X X X
3 semestre X X X
4 semestre X X X

BIBLIOGRAFIA

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