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Dissertação Regina Akama
Dissertação Regina Akama
INSTITUTO DE ARTES
MULTIMEIOS
CAMPINAS - 2008
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ARTES
MULTIMEIOS
CAMPINAS - 2008
iii
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
Título em inglês: “The formation of female identity: reconstructing the memory and the
history of life of Sao Paulo Saihou Jogakuin boarding school´s ex-students.”
Palavras-chave em inglês (Keywords): Female identity ; Visual anthropology ;
Photography ; Oral History ; Nipo-brazilian education ; Japanese immigration.
Titulação: Mestre em Multimeios.
Banca examinadora:
Prof. Dr. Etienne Ghislain Samain.
Profª. Drª. Maria Leila Alves.
Profª. Drª. Zeila de Brito Fabri Demartini.
Data da Defesa: 22-08-2008
Programa de Pós-Graduação: Multimeios.
iv
v
Ao meu esposo Edson Akama, companheiro e amigo,
com o qual compartilhei as maiores alegrias,
preciosos Jhun e Ken, filhos carinhosos
em todos os momentos desse caminhar.
vii
AGRADECIMENTOS
Aos Professores Doutores Ronaldo Entler, Maria Leila Alves, Michiko Okano e
Olga Rodrigues Von Simson, pelas ricas contribuições por ocasião do Exame de
Qualificação;
Aos familiares, que deram seu apoio e torceram pela realização de mais essa
etapa, em especial, aos meus irmãos, Milton e Cristina, presentes em todos os
momentos, com alegria e incentivo inabaláveis;
ix
Às extraordinárias mulheres que fazem parte dessa rede de depoimentos, Takiko
Ota, Sumiko Akiyoshi Yamasaki, Rutsuko Mochizuki, Kazuco Sakiara Miyasaka,
Kazuko Baba, Aiko Fujita, Mayumi Mizikami e Tyoko Shimano, por me receberem
com ternura em suas vidas, e dividirem o encanto de suas histórias e
conhecimentos;
Aos colaboradores das entrevistas, Nobuo Mizikami (in memorian), Shigeru Fujita,
Tomoko Otta, Mine Uchida e Kikuko Ogasawara por enriquecerem as narrativas
com suas participações especiais;
Aos amigos Marcos Corrêa, Santiago Júnior e Ricardo Rios, pelas discussões
densas e divertidas, que muito contribuíram nas reflexões aqui presentes;
À amiga Renata Teixeira, por sua carinhosa presença e também pela cuidadosa
leitura e revisão deste trabalho;
x
À Fundação Instituto Educacional D. Michie Akama, que abriu suas portas e
arquivos, possibilitando a descoberta de memórias e fatos marcantes em sua
história;
À amiga Eva Yamamoto, por sua paciência, apoio e ricas contribuições com seu
vasto conhecimento tecnológico.
Aos meus filhos Jhun e Ken, que me alegraram com o brilho sincero de seus
sorrisos, encorajando a conclusão desta pesquisa. Em especial, ao Edson, esposo
e companheiro dedicado, pelo incentivo, presença incondicional e, por muito mais,
que seria impossível traduzir em palavras.
xi
Nota sobre as traduções:
As traduções efetuadas neste trabalho foram elaboradas com a colaboração de Antonio Akama,
André Humemoto, Edson Akama, Michiko Okano e Silmara Eizo. A romanização do japonês para o
português seguem a grafia do Sistema Hepburn de Transcrição. Ao longo do texto, algumas
palavras ou expressões foram mantidas em japonês romanizado, por carregar a importância de um
sentimento marcante da cultura, por não encontrar um correspondente direto na língua portuguesa
ou por aparecer correntemente nas narrativas citadas e transcritas das depoentes. As respectivas
traduções encontram-se referenciadas em notas de rodapé (em sua primeira exposição), e
organizadas, seguindo ordenação alfabética, em um glossário ao final da disssertação. Podem
ainda, aparecer, eventualmente, no próprio texto, como explicação, logo após sua palavra
correspondente. Adotou-se a grafia em itálico como indicativo das palavras ou expressões
idiomáticas.
xii
“Como um ‘spectator’,
eu só me interessava pela Fotografia por ‘sentimento’;
eu queria aprofundá-la, não como uma questão – um tema,
mas como uma ferida: vejo, sinto,
portanto noto, olho e penso.”
Roland Barthes
xiii
Resumo
Palavras-chave: identidade feminina; antropologia visual; fotografia; história oral; educação nipo-
brasileira; imigração japonesa.
xv
Abstract
Research recovers the memory and history of life of Sao Paulo Saihou
Jogakuin boarding school’s ex-students, the importance of this institution on the
development of their female identity. This study is a visual-anthropological
approach that employs photographs of institutional and personal registers of the
deponents. In this study, image dialogues with two other resources of the human
condition which are the writing and the orality. The knowledge acquired at the
boarding school and the subjects explored by the teacher are compared to the
importance of the history of life of those ex-students, determining their behavior
concerning to ethics (and aesthetics) toward marriage, home, maternity and
occupation. The reconstitution of their history of life permitted to the ex-students to
situate them in relation to the present time, making comparisons with the female
perspectives (or of female role) of the society when they still were students of the
boarding school (elements of the remaining memory).
Keywords: female identity; visual anthropology; photography; oral history; nipo-brazilian education;
Japanese immigration.
xvii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………………..…….……1
a . A escolha do tema………….……………..………………………………………………………………1
b . Os objetivos e abrangência teórica……………………………………………….……………………..3
c . A organização da pesquisa……………………………………………………………….……………...4
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
“Vivências e reminiscências”………………………………………...……..…….………….…………67
3.1 As ex-alunas………………………...............................................................................................67
3.2 “Dousoukai”…………………………………………………………..………………………………….69
3.3 Suas imagens e histórias – companheiras inseparáveis…………………………………………...73
Takiko Ota…………………………………………………………………………………………..74
Sumiko Akiyoshi Yamasaki……………………………………………………………………….76
Rutsuko Mochizuki…………………………………………………………………………………78
Kazuco Miyasaka…………………………………………………………………………………..80
Kazuko Baba………………………………………………………………………………………..82
Aiko Fujita…………………………………………………………………………………………...84
Mayumi Mizikami…………………………………………………………………………………...86
Tyoko Shimano……………………………………………………………………………………..88
3.4 “O álbum”…………………………………………………………………………………………..…….91
xix
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................171
Primeiros alinhavos……………………………………………………………………………………..…171
Costurando os caminhos………………………………………………………………………………….178
Os arremates……..………………………………………………………………………………………...184
Glossário........................................................................................................................................189
Apêndice ……………………………………………………….………………………………………….195
Bibliografia…………………………………………………….…………………………………………..196
Anexos………………………………………………………….………………………..…………………205
Anexo 01: Transcrições das entrevistas…………….……………..………………………….205
Anexo 02: Traduções de textos da bibliografia de Michie Akama.....…………………….. 299
xx
Introdução A formação da identidade feminina
INTRODUÇÃO
O internato “São Paulo Saihou Jogakuin” tem uma estreita ligação com
sua mentora Michie Akama, idealizadora dos fundamentos, que serviram de base
para a constituição da filosofia educacional dominante na lembrança de suas ex-
alunas. Antes, porém, de mergulhar nas memórias dessas senhoras que
participam da rede de depoimentos, uma breve apresentação dos motivos que
deram origem a essa dissertação.
a. A escolha do tema
1
Introdução A formação da identidade feminina
2
Introdução A formação da identidade feminina
matriarca da família, dizendo: “minha mãe e/ou avó faz(em) questão que meus
filhos e/ou netos estudem nessa instituição, ela(s) diz(em) que foi aqui que…”, e
contam, assim, suas histórias, demonstram ainda, a importância que essa
matriarca tem na constituição familiar edificada. Em 2005, a fundadora do
internato “São Paulo Saihou Jogakuin” faleceu com quase cento e dois anos de
idade. Muitas edificações de vida merecem ser reconstruídas tanto pela
contribuição na educação formal quanto pela sua repercussão na sociedade nipo-
brasileira.
3
Introdução A formação da identidade feminina
c. A organização da pesquisa
2
Nikkei - todos os descendentes de japoneses que não nasceram no Japão (segunda, terceira...geração)
4
Introdução A formação da identidade feminina
as como “imagens que pensam”, dando vazão às narrativas, fluidas ou não, mas
que trazem à luz a memória guardada que se descobre viva nos corações das
depoentes. A aproximação junto às informantes foi bastante tranqüila, uma vez
que, ao saberem dos motivos da entrevista e o assunto ao qual se relacionava, se
dispunham, prontamente, ao encontro. É um período bastante representativo na
formação de sua identidade.
5
CAPÍTULO 01
7
Superior. Michie Akama, professora no Japão. 192_.
Central. Michie Akama, o esposo Jiuji Akama e o filho Antonio, constituindo família
no Brasil. 193_.
8
“Lá, do lado além,
Neir Ilelis
9
A imigração japonesa A formação da identidade feminina
CAPÍTULO 1
3
Shogun – governante, chefe de estado no Shogunato
4
Restauração Meiji: A Restauração Meiji propunha a queda do Shogunato - que mantinha o país em uma
forma de governo sob o comando ditatorial e praticamente mergulhado em um sistema feudal - para a
abertura do Japão para o mundo.
11
A imigração japonesa A formação da identidade feminina
5
Kasato Maru – todos os navios comerciais apresentam a terminação maru. Kasato é o nome da
embarcação, que, se fosse traduzida literalmente, seria algo como “porta”, “abertura”, mas não é usual fazê-la.
6
A companhia Mogiana da Estrada de Ferro, partia de São Paulo, seguindo em direção a Ribeirão Preto e
Franca, alcançando as margens do Rio Grande.
7
YOSHIOKA, R. Síntese histórico-evolutiva da emigração japonesa no mundo. In: O nikkei no Brasil, coord.:
HARADA, K. São Paulo: Editora Atlas, 2008.
12
A imigração japonesa A formação da identidade feminina
8
NOGUEIRA, A. R. Imigração japonesa para a lavoura cafeeira paulista (1908-1922). Tese de doutorado:
FFLCH-USP. São Paulo, 1971.
13
A imigração japonesa A formação da identidade feminina
14
A imigração japonesa A formação da identidade feminina
10
HANDA, T. O imigrante japonês: história de sua vida no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz, 1987, p. 16.
11
Brasil ni okeru nipponjin hattenshi (História da expansão dos japoneses no Brasil), editada pela Comissão
de Ediçao da História da Expansão dos Japoneses no Brasil, vol. I, p. 174-275.
15
A imigração japonesa A formação da identidade feminina
vez maiores, tinham na fuga noturna, por vezes, a única alternativa para se
livrarem de extorsões. Algumas famílias foram expulsas das fazendas após se
manifestarem, exigindo melhores condições.
12
SCHPUN, M. R. Imigração japonesa no Brasil. In: Resistência e integração: 100 anos de imigração
japonesa no Brasil. IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de Informações. Org. SAKURAI, C &
COELHO, M. P. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. p. 137-149.
16
A mulher nikkey A formação da identidade feminina
13
CAMPOS, Maria C. S. S. Histórias de familias (mulheres de diferentes classes sociais em São Paulo; a
família e a penetração no mercado de trabalho). In: SIMSON, Olga M. von (org.). (Re)introduzindo a história
oral no Brasil. São Paulo: Editora USP, 1996. p.179-196.
14
Nos últimos cem anos a cidade de São Paulo se transformou consideravelmente em conseqüência dos
processos de urbanização e industrialização, que se aceleraram a partir de 1930
15
BOURDIEU, Pierre. A propos de la famille comme catégorie réalisée, in: Actes de la recherche em sciences
sociales, n.100. Paris, 1993. p. 32-36.
17
A mulher nikkey A formação da identidade feminina
16
CAMPOS, Maria C. S. S. Histórias de familias (mulheres de diferentes classes sociais em São Paulo; a
família e a penetração no mercado de trabalho). In: SIMSON, Olga M. Von (org.). (Re)introduzindo a história
oral no Brasil. São Paulo: Editora USP, 1996. p.180.
17
O conceito de habitus surge com o sociólogo Pierre Bourdieu e é considerado como constituindo todas as
experiências passadas, matriz de percepções, apreciações e ações. É uma percepção interacionista da
sociedade e está inerente a cada ator social e, de certa forma, define-o, tal como aos seus gostos e estilo de
vida, estando associado a uma classe social, e tendo de ser ajustado quando existe mobilidade.
18
A mulher nikkey A formação da identidade feminina
18
Talcott Parsons foi um sociólogo norte-americano preocupado com o bom ordenamento da sociedade, sem
muita tolerância para com a desconformidade ou a dissidência dos que podiam manifestar-se contra ela. Sua
obsessão era determinar a função que os indivíduos desempenhavam na estrutura social visando a
excelência das coisas. Era um estudioso da Estratificação Social, não da mudança ou da transformação. O
funcionalismo é definido pelo dicionário de Ciências Sociais como a perspectiva utilizada para analisar a
sociedade e seus componentes característicos enfocando a mútua integração e interconexão deles. O
funcionalismo analisa o caminho que o processo social e os arranjos institucionais contribuem para a efetiva
manutenção da estabilidade da sociedade.
19
A mulher nikkey A formação da identidade feminina
19
CAMPOS, M. C. S. S., op. cit. p.189-190
20
DALBY, Liza. Gueixa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. p. 243
20
A mulher nikkey A formação da identidade feminina
implica inevitavelmente ter filhos e educá-los”. A mulher deve cumprir a sua função
social de progenitora.
21
Shujin é a maneira como a ‘boa-esposa’ deve apresentar seu esposo e tem o sentido de “meu senhor”, ou
ainda, “meu dono”. O esposo, por sua vez, apresentava a esposa como kannai, traduzido como “esposa” mas
com a característica de pessoa “de dentro”, ou seja, de casa, do lar, “a que fica dentro”.
21
A educação nipo-brasileira A formação da identidade feminina
22
DEMARTINI, Zeila B. F.et al. Dilemas da vivência em nova terra: a educação, o lazer e o consumo cultural
entre japoneses em SP na primeira metade deste século, in: SIMSON, Olga R. M. von. (org.).
(Re)introduzindo a história oral no Brasil. São Paulo: Editora USP, 1996. p.296-305.
22
A educação nipo-brasileira A formação da identidade feminina
23
o estudo valeu-se de consultas bibliográficas, documentação específicas, relatos orais coletados junto a
japoneses que viveram nestas cidades no período de 1908 a 1950, coleta e análise de fotos e documentos
dos depoentes: homens e mulheres de vivências diferentes, alguns já escolarizados do Japão, alguns
nascidos aqui, alguns residentes em áreas urbanas, tendo passado por longos períodos em atividades
agrárias
24
DEMARTINI, Zeila B. F.et al. Op. Cit. p. 298
25
Ibidem. p. 299
23
A educação nipo-brasileira A formação da identidade feminina
Um dos importantes pontos tratados por Demartini et. al., é sobre o fato
das crianças freqüentarem tanto escolas japonesas quanto nacionais, para se
adaptarem ao processo de inserção e sobrevivência na nova terra. A derrota do
Japão, na Segunda Guerra Mundial, e a interrupção dos projetos de ascensão
econômica fazem com que as famílias mudem os investimentos, não só no plano
econômico (juntar dinheiro para voltar), mas, em especial, no educacional,
passando a prioridade da educação japonesa, para a educação escolar nacional.
26
Ibidem. p. 303-304
24
A educação nipo-brasileira A formação da identidade feminina
Nosso único sonho era voltar para nosso país com uma boa situação
financeira, mas a reviravolta da história, com o término da guerra, mudou
drasticamente nossa disposição. A força de vontade, foi cruelmente
frustrada, e a residência permanente no país de migração, foi decretada.
No entanto, estes fatos foram positivos para nós, os isseis, no sentido de
que, em primeiro lugar, a vida foi se estabilizando, a administração dos
negócios e as estratégias foram bem definidas, e tratamos com uma
27
diferente e maior seriedade, a educação de nossas crianças.
27
AKAMA, M. O vestuário e a colônia. In: Katarigusa. São Paulo: Editora Paulista Bijutsu Insatsu Kabushiki
Kaisha, 1978.
25
CAPÍTULO 02
27
HANDA, T. Casarão Vergueiro. Original de arte, óleo sobre tela, 0,86 x 1,01 m.
1944.Coleção particular. (referências do artista na página 124)
28
“Todo o meu empreendimento científico se inspira na convicção
de que não podemos capturar a lógica mais profunda do mundo social
a não ser submergindo na particularidade de uma realidade empírica,
historicamente situada e datada, para construí-la”
Pierre Bourdieu
29
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
CAPÍTULO 2
31
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Casa de Travessa da R.
1933 Ensino de São Paulo _ Corte e
Corte e Atual R. Álvares Costura
Costura Penteado
Inclusão:
Curso
Escola de R. São Joaquim, Preparatório
1935 Corte e 216 _ para Exame
Costura SP de Habilitação
ao Magistério
Profissional
Escola
Particular R. São Joaquim, _ Inclusão:
1937 Akama São 216 Língua
Paulo Portuguesa
Inclusão: arte
1937 São Paulo R. São Joaquim, _ culinária,
Jogakuin 216 etiqueta,
música, arte
28
A formação da grade curricular será melhor delineada no item 2.2, neste capítulo.
29
Katei significa “família”; ka significa “setor”, “seção”, “curso”, etc. Era o curso equivalente ao primário do
Japão, com seis anos de duração e dividido em Hanagumi – “Flor” e Hoshigumi – “Estrela”.
32
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Núcleo de Inclusão:
1942 Ensino R.Vergueiro, 2625 R.Vergueiro, Jogaku-bu
Profissional (figura 04) 235 Jumbi-ka32
Vergueiro
Fundação
Instituto Inclusão:
1958 Educacional R.Vergueiro, 2625 R.Vergueiro, Jogaku-bu
D. Michie 235 Jumbi-ka
Akama
Fundação
Instituto R. Galvão Manutenção
1961 Educacional R.Vergueiro, 2625 Bueno, 212 dos mesmos
D. Michie cursos
Akama
_
Fundação Inclusão:
Instituto Av.Dr.Altino Pré-escola
1971 Educacional Arantes, 1098 1a série do
D. Michie (figura 05) Curso
Akama Primário
30
Shihan significa “mestre”, “professor”, “instrutor”. Era o curso de extensão ao curso Jogaku-bu (equivalente
ao curso médio do Japão)
31
Senkou-ka significa especialização. Com quatro anos de duração, era o curso de extensão do Shihan-ka
32
Jumbi significa preparatório. Era o curso intermediário entre Jogaku-bu e Katei-ka, ou seja, o curso
admissional ao Jogaku-bu.
33
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 01
34
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 02
Data: 1941
Local: Rua Tamandaré, 849
Fotógrafo: Kojima
Quantidade de fotos: 01
Características: preto e branco
Tamanho original 11,5X18 cm; papel fosco; conservada; pouco contraste
Armazenamento: avulso (arquivos da instituição)
Legenda (descrição): sede Tamandaré durante o período 1941-1942
35
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 03
Data: 1942
Local: Rua Vergueiro, 235
Fotógrafo: não-identificado
Quantidade de fotos: 01
Características: preto e branco
Tamanho original 12X18 cm; papel fosco; conservada; bom contraste
Armazenamento: avulso (arquivos da instituição)
Legenda (descrição): filial Vergueiro, mantinha os mesmos cursos da matriz (R.
Vergueiro, 2625), porém em regime de externato
36
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 04
Data: 1942
Local: Rua Vergueiro, 2625
Fotógrafo: não-identificado
Quantidade de fotos: indeterminada (02 no arquivo da instituição)
Características: preto e branco
Tamanho original: 17,5X22,5 cm; papel fosco; conservada; bom contraste
Armazenamento: avulso (arquivos da instituição)
Legenda (descrição): matriz Vergueiro, mantinha todos os cursos ministrados pela
instituição em regime de internato; foi o último endereço locado para sede principal,
saindo deste endereço direto para a sede própria na Av. Dr. Altino Arantes, 1098
37
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 05
Data: 1971
Local: Av. Dr. Altino Arantes, 1098
Fotógrafo: não-identificado
Características: preto e branco
Tamanho: 12X18 cm; papel brilhante; pouco contraste
Armazenamento: avulso (arquivos da instituição)
Legenda (descrição): alunas (em pé) e professoras (sentadas) em frente ao prédio próprio
da escola
38
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
A construção do prédio próprio na Av. Dr. Altino Arantes foi uma grande
conquista da fundadora Michie Akama. Como a Fundação estava sediada em um
prédio alugado na Rua Vergueiro, onde as instalações já não comportavam a
intensa atividade desenvolvida pela mesma, foi projetada a construção de um
prédio no terreno de três mil e duzentos metros quadrados doado por Michie
Akama, onde seriam instalados todos os cursos pertencentes à programação.
“Não é uma tarefa fácil pedir doação. O ato de pedir alguma coisa para
alguém, mesmo não sendo em benefício próprio, não deixa de ser uma
situação constrangedora. Ao mesmo tempo, ocorreu grande ansiedade,
lembrando as feições das ex-alunas com muita saudade, e imaginando o
momento do reencontro.
39
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Apesar disso, fui recebida pelas ex-alunas com alegria, pela visita
inesperada. Em certas regiões, fomos recebidas com jantar organizado
pelas ex-alunas e ficamos, à noite, confabulando sobre o passado. Até
pelos maridos ou pais dessas ex-alunas, fomos bem recebidas,
facilitando-nos as locomoções com carros à disposição. Fiquei muito
gratificada com a atenção que recebi, a ponto de juntar as palmas, num
gesto de oração, em agradecimento a Deus.
33
Takuhatsu - Um forma de provação de sacerdotes das religiões indianas , adotada também pelo budismo,
que consiste em pedir esmolas, para obter o mínimo de subsistência, com o objetivo de atingir o
aperfeiçoamento mental e físico.
34
AKAMA, M. Estado espiritual de mendicância. In: Katarigusa o otte. São Paulo: Toppan Press, 1995.
40
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 06
Data: 1965
Local: Av. Dr. Altino Arantes, 1098
Fotógrafo: não-identificado
Quantidade de fotos: 01
Características: preto e branco
Tamanho original: 12X18 cm; papel brilhante; conservada; bom contraste
Armazenamento: avulso (arquivos da instituição)
Legenda (descrição): terreno de três mil e duzentos metros quadrados onde seria
construída a sede própria da escola
41
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 07
Data: 1965
Local: Av. Dr. Altino Arantes, 1098
Fotógrafo: não-identificado
Quantidade de fotos: 01
Características: preto e branco
Tamanho original: 12X18 cm; papel brilhante; conservada; bom contraste
Armazenamento: avulso (arquivos da instituição)
Legenda (descrição): a obra em processo de construção
42
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 08
Data: 1970
Local: Av. Dr. Altino Arantes, 1098
Fotógrafo: não-identificado
Quantidade de fotos: 01
Características: preto e branco
Tamanho original: 12X18 cm; papel brilhante; conservada; pouco contraste
Armazenamento: avulso (arquivos da instituição)
Legenda (descrição): finalização da obra; a alguns passos da realização de um sonho
43
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Porém, logo após mudarem para a sede própria na Av. Dr. Altino
Arantes, outros fatores no quadro nipo-brasileiro impõem novas adaptações. Entre
eles, podemos citar a migração das famílias do interior para a capital paulista,
fazendo com que as alunas não mais necessitassem de moradia, podendo residir
com suas famílias e freqüentando apenas as dependências da instituição para
cursar as diversas atividades oferecidas.
44
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 09
180
160
140
formandas
120
100
formandas
80
60
40
20
0
1934
1938
1942
1946
1950
1954
1958
1962
1966
1970
1974
1978
ano
45
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 10
46
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
Figura 11
47
O internato – espaço e formação A formação da identidade feminina
35
Youtien – jardim da infância ministrado em lingua japonesa.
48
O internato – a grade curricular A formação da identidade feminina
Figura12
36
Ikebana – espécie de arranjo floral japonês onde se busca a beleza no equilíbrio e a harmonia da colocação
das flores
49
O internato – a grade curricular A formação da identidade feminina
intencional de cada “disciplina” (se é que podemos chamá-la assim), tinha mais o
intuito de orientação, no qual o corpo docente baseava-se para elaborar as aulas.
O objetivo que se pretendia alcançar está nos escritos datilografados e
organizados em pastas de documentos da época, selecionados por ocasião da
transformação em Fundação, para obtenção de verbas em prol da construção da
sede própria. A seguir, a transcrição das ementas dos cursos oferecidos:
50
O internato – a grade curricular A formação da identidade feminina
51
O internato – a grade curricular A formação da identidade feminina
52
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
2. 3 Orientação filosófico-educacional
37
AKAMA, A. Sobre a cultura da mulher. [s.n.t.].
53
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
Figura 13
Data: 1974
Local: Av. Dr. Altino Arantes, 1098
Fotógrafo: não-identificado
Quantidade de fotos: indeterminada
Características: colorida
Tamanho original: 18X22 cm; brilhante
Armazenamento: avulso
Legenda (descrição): Michie Akama em sua biblioteca, seu local preferido da casa, onde
apreciava o seu “hobby” (como chamava) predileto, a leitura.
54
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
38
O casamento com Jiuji Akama foi em 1928, portanto, dois anos antes da viagem ao Brasil.
55
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
prática, até mesmo burocrática, para efetivar a viabilidade dos planos traçados no
campo educacional brasileiro. Uma titulação (mais até do que qualificação)
necessária para a regulamentação e funcionamento das atividades segundo as
vigências legais na época.
39
Gakuin – Instituto Educacional
56
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
40
O capital simbólico é um valor agregado à uma coisa ou agente. Esse algo ou agente (no caso, o professor)
possui um valor que será tanto maior quanto mais capital simbólico for a ele agregado. Este capital funciona e
“age” num meio que podemos chamar de campo (digamos aqui, o campo educacional que envolve
educadores, educandos, pais de alunas). Isso não basta, é preciso ainda que esse valor agregado (a esse
professor) seja reconhecido pelos membros do mesmo campo. O agente (professor) terá maior poder de
influência num meio conforme o seu capital simbólico funcionar como um diferenciador dos demais agentes
do campo que, por sua vez, reconheçam a diferença. Quando isso acontece, ele pode deslocar as posições
dos outros agentes no campo, que passam também a atuar no mesmo, influenciando-o (a qualificação
profissional, por exemplo, pode ser uma forma de construção de um capital simbólico diferenciador).
57
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
2.3.1 Ayumi
58
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
59
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
41
Kanji - Ideograma japonês
42
AKAMA, Michie. “Burajiru seikatsu de no etiketto”. Tokyo: Teikoku Shoin, 1964.
60
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
43
AKAMA, Michie. “Kouen no tabi”. São Paulo: Toppan Press, 1999.
61
Orientação filosófico-educacional A formação da identidade feminina
62
CAPÍTULO 03
63
HANDA, T. Sala de aula. original de arte, óleo sobre tela, 0,52 x 0,59 m. 1953.
Coleção particular. (referências do artista na página 124)
64
A alma é uma coleção de belos quadros adormecidos, os seus rostos envolvido pela
sombra. Sua beleza é triste e nostálgica porque, sendo moradores da alma, sonhos, eles
não existem do lado de fora. Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto (ou
será apenas uma voz, ou uma maneira de olhar, ou um jeito da mão...)que, sem razões, faz
a bela cena acordar. E somos possuídos pela certeza de que este rosto que os olhos
contemplam é o mesmo que, no quadro, está escondido pela sombra. O corpo estremece.
Está apaixonado.
Rubem Alves
65
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
CAPÍTULO 3
“Vivências e reminiscências”
Antonio Akama
Figura 15
3.1 As ex-alunas
67
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 16
44
Versão ampliada em formato A3 ao final da dissertação.
68
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
3.2 “Dousoukai”45
“Aí fui ficando com elas e comecei a gostar, ambiente diferente, então aí
eu fiquei apegada a elas, às minhas amigas… até hoje somos amigas.”
(Tyoko)
Dousoukai é associação das alunas… “dou sou” quer dizer, “dou” igual,
“sou” - janela, que tem a mesma janela. Significa, ou melhor, simboliza a
escola. Janela tem a simbologia de sala de aula. Alunos que estiveram na
mesma sala, na mesma janela. “Dousoukai” é… Se for escrever, traduzir
ao pé da letra, seria isso: janelas iguais.
45
Dousoukai – dou é “igual”, sou , “janela” e kai é associação. Seria uma espécie de associação de colegas
de turma, “alunos de mesma sala, mesma janela”.
69
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Essa foi uma grande experiência que pude vivenciar em 2007 e na qual
brilharam verdadeiras “jóias” que passaram, desde então, a compartilhar suas
histórias em narrativas que serão posteriormente transcritas. A utilização da
70
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 17
71
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 18
72
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
73
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
74
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 20
Figura 21
Figura 22
75
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 23
Os pais de Sumiko vieram ao Brasil
em 1908 e foram trabalhar na
Fazenda Santa Rosa, nas
proximidades de Ribeirão Preto. A
mãe de Sumiko, Titoe, viúva de
Minoru Akiyoshi, casou-se, pela
segunda vez, com Shimekiti Nishi e a
família se mudou para Mairiporã.
Sumiko, ao casar-se com Toshio
Yamasaki, mudou-se para Porto
Alegre, Rio Grande do Sul, onde
nasceu sua primeira filha, Tizuka.
Mudando-se para Atibaia, em 1950, a
família passa a trabalhar na Fazenda
São João com o cultivo de batatas e
grande variedade de frutas. Apesar de
já terem se tornado proprietários da Fazenda São João, a comercialização de
produtos foi deixada de lado por falta de compradores. O esposo de Sumiko viajou
ao Japão, em 1953, e faleceu pouco tempo depois. Em 1957, viúva, Sumiko
inaugura a “Escola de Corte e Costura São João”, muito importante nas décadas
de 50, 60 e 70. O fato de ser formada pelo “São Paulo Saiho Jogakuin”, um
“símbolo de elite” como era considerado, contribuiu grandemente para o sucesso
da escola. Apesar de ter fechado sua escola nos anos setenta, ainda recebe
algumas alunas em sua residência. A sua filha Yurika que aprendeu o ofício de
corte e costura, se especializou em figurinos, tornando-se, posteriormente,
Diretora de Arte de uma das mais importantes emissoras de televisão, e esta é
mãe de Lissa e Pedro. A sua filha Tizuka Yamasaki, destacou-se como cineasta,
além de lhe dar mais três netos: Elia, Naina e Fábio.
76
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 24
Figura 25
Lembrança do tempo
em que foi professora do
Internato São Paulo Saiho
Jogakuin
Sentada junto ao corpo docente,
tem ao fundo, as alunas
Figura 26
Sumiko relembra os
momentos de responsabilidade
divididos com suas
“colegas” de profissão
77
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Rutsuko Mochizuki
Figura 27
(formanda de 47)
Nascida em dez de
setembro de 1928,
Hokkaido - Japão, imigrou
ao Brasil com seus pais
Soosaku (Shizuoka) e Mura
Mochizuki (Hokkaido) em
janeiro de 1933, ou seja,
aos quatro anos e meio de
idade. Concluiu o Jogaku-bu
no internato “São Paulo
Saiho Jogakuin” em 1947,
retornando à Campinas,
interior de São Paulo, onde
residiu com seus familiares.
Retomando os estudos,
formou-se em língua
portuguesa (Letras) em 1967 e, posteriormente em língua japonesa, 1970, ambas
pela Universidade de São Paulo. Aprovada em concurso público em 1977, atuou
como professora da rede estadual por vinte e cinco anos, aposentando-se. Nesse
ínterim, sempre em constante crescimento e aperfeiçoamento intelectual, concluiu
graduação em Pedagogia (1974), Habilitação em Administração Escolar (1980) e
Supervisão Educacional de Primeiro e Segundo Graus (1980). No campo
profissional, trabalhou também para as empresas Nikkatsu, Shotsiko, Doyei e
Toho, legendando filmes, de 1964 a 1988. Em 1998, colaborou na compilação do
Dicionário Japonês/Português organizado por Padre Jaime Coelho.
78
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 28
MARUBENI – jantar de
confraternização com o
Diretor Sr. Tsuneo Hoshino
e senhora, nos anos 60
Figura 29
Com aluna do
Redator Auxiliar da
EEPSG “Padre Anchieta”, onde
lecionou no Magistério e no
Colegial
Figura 30
O restante do grupo
do Redator Auxiliar,
em visita à uma empresa jornalística
79
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
46
4H (head, heart, hand e health – cabeça, coração, mão e saúde), direcionado para a formação de líderes
rurais, organizando os cursos de arte culinária, nutrição e execução de cardápios. clubes formados por
comunidades de jovens, voltados às questões ambientais, que discutem assuntos relacionados à liderança,
cidadania e competências de vida.
80
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 32
Reunião em família
para a comemoração do
aniversário de 80 anos
de seu esposo,
Shiro Miyasaka
Figura 33
Casamento realizado
no dia 18/02/1955
na região do Paraíso
em São Paulo
O “quartinho do sótão”
que compartilhou com
a amiga Toshiko Nakagawa
Figura 34
81
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
82
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 36
Formatura do Curso
Técnico de Contabilidade
pela Fundação
Escola de Comércio
Álvares Penteado
FECAP
Figura 37
Figura 38
Em sua mesa na
Caixa Econômica Federal
Figura 39
Voluntária da Rede Feminina de
Combate ao Câncer, promovendo um
bazar em prol do Hospital do Câncer
83
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
84
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 41
Figura 42
Figura 43
Reencontro de Aiko
com a ex-professora
Sumiko Akiyoshi,
no dousoukai promovido
em 2007
85
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
86
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 45
Figura 46
Recepção organizada em
Birigui para comemorar a
visita de Michie Akama,
que viajava pelo Brasil
encontrando as ex-alunas
praticando Takuhatsu,
recolhendo donativos para a
construção da sede própria
Figura 47
Recepção preparada
pelos
ex-alunos de Clementina,
para homenagear a
professora
querida, Mayumi Yoshioka
87
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
88
Vivências e reminiscências A formação da identidade feminina
Figura 49 Figura 50
Os passeios para estudo do meio são lembrados carinhosamente, “as belas palmeiras imperiais”
Promoviam a integração entre as alunas dos diversos cursos e criavam laços afetivos por toda vida
Figura 51
89
O álbum A formação da identidade feminina
3.4 “O álbum”
91
O álbum A formação da identidade feminina
Figura 52
92
O álbum A formação da identidade feminina
93
O álbum A formação da identidade feminina
48
Esses três níveis em meu trabalho, foram generosamente identificados pelo Professor Doutor Ronaldo
Entler, coordenador da mesa em que participamos por ocasião do I Seminário Imagem e Pensamento,
ocorrido entre os dias 28 e 30 de maio de 2008, evento promovido pelo GRIP - Grupo de Reflexão Imagem e
Pensamento (coordenado pelo Prof. Dr. Etienne Samain, Departamento de Multimeios do Instituto de
Artes/UNICAMP) , numa parceria UNICAMP-SESC.
94
O álbum A formação da identidade feminina
95
O álbum A formação da identidade feminina
Por trás da marcante presença imposta por esse imenso sobrado existe
uma história. O local onde se situava já era bastante conhecido, na época, por ter,
em seu passado, servido como “parada dos tropeiros”. Os cavalos que voltavam
da baixada santista, pelo Caminho do Mar, paravam ali para descansar e beber
água. Com o decorrer do tempo e mudanças no cenário por conta da evolução e
novos planejamentos arquitetônicos, passou a existir no lugar do bebedouro, uma
imensa árvore.
96
O álbum A formação da identidade feminina
97
O álbum A formação da identidade feminina
Duas fotos, duas personalidades. Mãe e filho, uma dupla que edifica,
em sua cumplicidade e parceria, uma instituição que marca as trajetórias de vida
de uma geração de mulheres consideradas “a elite feminina” na colônia nipo-
brasileira. Acima da foto, o cargo ocupado: Diretora Superintendente. Abaixo, o
nome: Michie Akama. O mesmo acontece com a foto ao lado: Diretor; Antonio
Akama.
Viúva aos trinta e seis anos de idade, teve em seu único filho, Antonio,
o maior e melhor companheiro. Mais que isso, encontrou nele a motivação e força
para perseverar sua luta e ideal. Com a intenção de oferecer-lhe a fina educação
japonesa, viajou ao Japão, em 1939, onde o matriculou na escola em Tokyo. Por
ocasião do falecimento do esposo Jiuji, regressou imediatamente ao Brasil,
trazendo consigo seu primogênito. A alternativa então, era procurar por algo
similar e que pudesse trazer a formação pretendida ao filho aqui mesmo no país.
Michie podia ter abandonado tudo e permanecer com sua família, uma vez que já
estava no seu país de origem, porém, seu senso de responsabilidade e respeito,
não permitiram deixar seu ideal e suas alunas, que tanto confiavam em sua
pessoa, sem a sua orientação. Em sua imagem, em seu olhar, a força e
determinação é algo realmente notável.
98
O álbum A formação da identidade feminina
Figura 54
Diretora Superintendente
Michie Akama
Diretor
Antonio Akama
Figura 55
99
O álbum A formação da identidade feminina
O Hino
Letra: Bansui Doi
Música: Kanichi Shimosa
49
AKAMA, Michie. Visita á Bansui Doi. In: Katarigusa o otte. São Paulo: Toppan Press, 1995.
100
O álbum A formação da identidade feminina
101
O álbum A formação da identidade feminina
サンパウ
サンパウロ女学院歌
土井晩翠 作詞
下総完一 作曲
一
二
東海遠きおほやまと
東海遠きおほやまと 聖なる美
なる美なるサン
なるサンパ
サンパウロ
O Japão ao longe, do mar do leste Neste São Paulo belo e sagrado
国 の 尊 き魂 を その名
その名を負える女学院
える女学院
Alma nobre do país A escola que leva este nome
こゝ南米の
南米の空の下 やまと撫子色
やまと撫子色も
撫子色も香も
Debaixo do céu da América do Sul O espírito japonês em todos os sentidos
(cor e aroma)
移し植えたるサンパウロ
えたるサンパウロ すぐれいみじく栄
すぐれいみじく栄えよと
Plantaremos e mandaremos para São Paulo Trabalhe e progrida
聖なる美
なる美なるサン
なるサンパ
サンパウロ 教えはぐくむ女学院
えはぐくむ女学院
Neste São Paulo belo e sagrado Esta escola que não mede esforços
三 四
その学院
その学院に
学院に朝夕に 朝夕に 東海及び
東海及び南米を
南米を
Da manhã ao entardecer O mar leste e a América do Sul
学ぶやまとの種
ぶやまとの種の子よ 結ぶ無形の
無形の愛の綱
Descendentes japoneses se esforcem Unidos por uma corda de amor invisível
紅染むる
紅染むる頬
むる頬の色 第二日本を
第二日本を移し植え
Enrubescendo a face Mudaremos e plantaremos o 2º Japão
紅き心の一筋に
一筋に こゝブラジルを
ブラジルを栄えしむる
E o coração em sintonia (linha reta) Fazer o Brasil prosperar
望み豊かにあゝ
かにあゝ励め 使命思いてあ
使命思いてあゝ
いてあゝ奮え
Estudem com bastante esperança Missão que nos deixa tremer de emoção
103
O álbum A formação da identidade feminina
Fileira superior, em pé, da esquerda para a direita: Tomiko Kimura / Ayako Mori /
Seiko Ikawa / Hisako Okawa / Alice Suguiyama / Tomoko Narita / Takeno Araki
104
O álbum A formação da identidade feminina
105
O álbum A formação da identidade feminina
106
O álbum A formação da identidade feminina
107
O álbum A formação da identidade feminina
“Era onde tinha a quadra de tênis!... Tinha um espaço grande pra reunir
todo mundo… quando vieram os furuhashi, os nadadores… tiramos
fotos… olha quanta gente que tinha!”
108
O álbum A formação da identidade feminina
109
O álbum A formação da identidade feminina
50
AKAMA, Michie. Preparando a mesa. In: Burajiru seikatsu de no etiketto. Tokyo: Teikoku Shoin, 1964.
110
O álbum A formação da identidade feminina
51
AKAMA, Michie. Deveres da dona de casa. In: Burajiru seikatsu de no etiketto. Tokyo: Teikoku Shoin, 1964.
52
AKAMA, Michie. Deveres da dona de casa. In: Burajiru seikatsu de no etiketto. Tokyo: Teikoku Shoin, 1964.
53
AKAMA, Michie. Minhas leituras. In: Katarigusa. São Paulo: Editora Paulista Bijutsu Insatsu Kabushiki
Kaisha, 1978.
111
O álbum A formação da identidade feminina
olhar para a fotografia, não encontramos apenas a imagem de uma mesa muito
bem disposta, com a professora ladeada por alunas devidamente sentadas em
momento de aprendizado e observadas atentamente pelas colegas, uma atenta
platéia.
É possível recorrer ao imaginário e, hipoteticamente viajando no tempo-
espaço, presenciar essa aula, absorvendo os ensinamentos ministrados durante
sua execução. Ao olhar essa imagem, além da gestualidade, começo a questionar
a atenção dedicada por cada aluna, aquilo que ultrapassa o visível e mergulha em
seus pensamentos. Quanto de sua “maneira de sentir” e “maneira de pensar” pode
interferir em sua “maneira de agir”? Teoria e prática caminham juntas na
orientação filosófico-educacional dessa instituição. Desta forma, faz-se necessário
tratar da cumplicidade entre os textos e as imagens na (re)construção dessa
formação.
“…nessa época, Akama-sensei dava a parte da etiqueta para as pessoas
de corte e costura que estudavam o dia inteiro e que após três meses
tiravam o diploma e iam embora. Todo mundo precisava saber o modo de
tomar chá, o modo de servir, essas coisas… todo mundo precisava fazer!
Então eu acho que quem formou lá, quem estudou lá… qualquer coisa
que aconteça, não fica afobado. Tanto corte e costura, tanto
comportamento, tudo… eu acho que não fica afobado. Pode cair mas
levanta limpo… Sabe levantar. “ (Mayumi)
54
AKAMA, M. Sobre Etiqueta .In: Kouen no tabi. São Paulo: Toppan Press, 1999.
112
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8cm Figura 62
Aula de boas maneiras pela Professora Akama
113
O álbum A formação da identidade feminina
AKAMA, Michie. O vestuário e a colônia. In: Katarigusa. São Paulo: Editora Paulista Bijutsu Insatsu
55
114
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 63
Aulas de português, francês e latim pela Professora Oshimoto
12 x 8 cm Figura 64
Aula de inglês do Professor Sugaya
115
O álbum A formação da identidade feminina
Figura 65 Figura 66
116
O álbum A formação da identidade feminina
117
O álbum A formação da identidade feminina
Data: 25/04/008
Formato: 1 Megapixel
Local: Fundação Michie Akama
Legenda: Kazuco Miyasaka exibe seu
bordado da época de aluna
Figura 68
118
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 69
Aula de trabalhos manuais da Professora Hamada
119
O álbum A formação da identidade feminina
Figura 70
120
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 71
Aula de matemática do Professor Yamamura
121
O álbum A formação da identidade feminina
56
MORIWAKI, R. Nihongo kyôiku rinen no hensen (a mudança nos princípios de ensino de japonês). São
Paulo: Centro de estudos nipo-brasileiros, 1998.
122
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm
Aula de Língua Japonesa
do Professor Hayashi
Figura 72
Figura 73
12 x 8 cm
Aula de língua japonesa
do nível primário
com a Professora Wakamatsu
Figura 74
12 x 8 cm
Aula de língua japonesa
do nível primário
com a professora Kimura
123
O álbum A formação da identidade feminina
Não seria pelo fato das pessoas terem a oportunidade de poder sentir as
coisas, por exemplo, mesmo que seja uma coisa pequena, o fato de
57
poder inventar algo, que sente alegria?
57
AKAMA, M. A minha distração. In: Katarigusa. São Paulo: Editora Paulista Bijutsu Insatsu Kabushiki Kaisha,
1978.
124
O álbum A formação da identidade feminina
12x 8 cm Figura 75
Aula de desenho do Professor Handa
12 x 8 cm Figura 76
Visita a uma exposição de pintura
125
O álbum A formação da identidade feminina
58
Vitamina no sensei – professor vitamina
59
Daikon - nabo
60
Yasai - verduras
126
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 77
Aula de nutrição
12 x 8 cm Figura 78
Aula de prática de conservação de produtos agrícolas
127
O álbum A formação da identidade feminina
“a minha iniciação em música clássica foi com ele… por isso que meu
ouvido ficou mais apurado…” (Kazuko Baba)
61
AKAMA, M. O vestuário e a colônia. In: Katarigusa. São Paulo: Editora Paulista Bijutsu Insatsu Kabushiki
Kaisha, 1978.
128
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 79
Aula de música com o Professor Sato
129
O álbum A formação da identidade feminina
62
Fukujinzuke – conserva de alimentos, elaborada com vegetais picados e temperados no estilo japonês.
130
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 80
Curso de arte culinária com a Professora Araki
131
O álbum A formação da identidade feminina
63
Ikebana – estilo japonês de arranjo floral.
64
AKAMA, M. Ikebana. In: Burajiru seikatsu de no etiketto. Tokyo: Teikoku Shoin, 1964.
132
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 81
Aula de “ikebana” com a Professora Kikuchi
133
O álbum A formação da identidade feminina
“Aqui, esse último quartinho aqui, esse de cima. É aquele lá, lá em cima,
aparece um telhadico lá em cima. Naquele telhadinho que eu dormia, que
vinham os morcegos visitar a gente. No começo, a gente ficava
assustado, mas no fim, ficou amigo.” (Kazuco M.)
134
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 83
Uma visita ao Dormitório do internato
135
O álbum A formação da identidade feminina
65
AKAMA, M. O caminho a ser seguido pelas mulheres. In: Katarigusa. São Paulo: Editora Paulista Bijutsu
Insatsu Kabushiki Kaisha, 1978.
66
AKAMA, M. Minha leitura. In: Katarigusa. São Paulo: Editora Paulista Bijutsu Insatsu Kabushiki Kaisha,
1978.
67
AKAMA, M. A minha distração. In: Katarigusa. São Paulo: Editora Paulista Bijutsu Insatsu Kabushiki
Kaisha, 1978.
136
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 84
Hora de estudo-livre das alunas internas
137
O álbum A formação da identidade feminina
“Tinha projeção de filme japonês… acho que, uma vez ou duas por mês,
a gente entrava em contato com o Consulado e pedia emprestado filme
japonês, ou então mesmo português, filmes bons… Aí eu participava!...”
(Tyoko)
138
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 85
Equipe de treinamento com Projetor de Cinema
139
O álbum A formação da identidade feminina
“(…)O tempo avança e a escola cada vez mais cheia. Embaixo no pátio
onde nos dias comuns correm e brincam alunas hoje repleta de visitas,
todos sentados nos bancos saboreando udon, oshiruko, etc. É uma
68
alegria para todos nós vermos os nossos trabalhos compensados.(…)”
“(…)Neste dia nós, alunas, chegamos à escola mais radiantes que nunca.
Em seguida, com seus distintivos correm para cá e para lá cumprindo as
suas obrigações. Dá-se a abertura e inicia-se a luta. As alunas cada qual
nos seus determinados lugares. Eu fui escolhida para ficar na secção dos
69
trabalhos manuais.(…)”
68 o
NIITA, K.A nossa exposição. In:”Boletim Ayumi”. São Paulo: 1956, n 13, p.01.
69
idem
70
idem
140
O álbum A formação da identidade feminina
141
O álbum A formação da identidade feminina
71
Y. S. Que faz a nossa escola. In: Boletim Ayumi. São Paulo, 15 de dezembro de 1956 – número 13 – capa
142
O álbum A formação da identidade feminina
143
O álbum A formação da identidade feminina
73
“[…]e tinha excursão também, à fábrica… Kengaku !... esse aqui
também… fábrica de penicilina, Penishirin koju…” (Tyoko)
144
O álbum A formação da identidade feminina
11 x 8 cm Figura 93
Visita de Estudo na fábrica de Penicilina
145
O álbum A formação da identidade feminina
146
O álbum A formação da identidade feminina
8,5 x 6 cm Figura 94
Visita de Estudos das alunas do curso de Língua Japonesa
22,5 x 9 cm Figura 97
Piquenique a Santos das alunas do curso de corte e costura
147
O álbum A formação da identidade feminina
Figura 98
11,5 x 8,5 cm
Piquenique ao Parque Japonês
das alunas do curso de corte e
costura
Figura 99
11,5 x 8,5 cm
Viagem das alunas do curso de
corte e costura a um navio japonês
Figura 100
12 x 8 cm
Viagem de estudos do curso de
língua japonesa do nível
secundário - Rio de Janeiro
149
O álbum A formação da identidade feminina
150
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 101
Festa para aniversariante do curso de língua japonesa do nível primário
151
O álbum A formação da identidade feminina
74
AKAMA, M. Vamos caminhar a favor da mente e do corpo. In: Katarigusa. São Paulo: Editora Paulista
Bijutsu Insatsu Kabushiki Kaisha, 1978.
75 o
IKAWA, Seiko. Saber Vencer. In:”Boletim Ayumi”. São Paulo: 1953, n 53, p.01.
152
O álbum A formação da identidade feminina
153
O álbum A formação da identidade feminina
A ginástica coletiva era uma prática habitual que pretendia, pela música
ritmada, “dotar as pessoas de saúde, perspicácia, decisão e força de vontade”.
76
Ofurô – espécie de banheira com água em temperatura muito elevada, antigamente, aquecida pelo carvão
154
O álbum A formação da identidade feminina
23 x 17 cm Figura 104
Vida da interna – execução coletiva de ginástica
155
O álbum A formação da identidade feminina
156
O álbum A formação da identidade feminina
12 x 8 cm Figura 105
Conferência do Professor Nagata
12 x 8 cm Figura 106
Conferência do Dr. Tamiya
157
O álbum A formação da identidade feminina
77
ISHIBUYA, C. O fim do ano. In: Boletim Ayumi. São Paulo, 28 de novembro de 1957, n. 17
158
O álbum A formação da identidade feminina
Figura 107
22,5 x 17,5 cm
Formatura do curso de corte e costura
(março de 1951)
Figura 108
22,5 x 17,5 cm
Formatura do curso de corte e costura
(setembro de 1951)
Figura 109
22,5 x 17 cm
Formatura do curso de corte e
costura (setembro de 1951)
159
O álbum A formação da identidade feminina
Figura 110
23 x 17,5 cm
Formatura do curso de corte e costura
(dezembro de 1951)
Figura 111
22,5 x 17 cm
Formatura do curso de língua
japonesa – nível secundário
(dezembro de 1951)
Figura 112
22,5 x 17 cm
Formatura do curso de língua
japonesa – nível primário
(dezembro de 1951)
161
O álbum A formação da identidade feminina
78
NOMURA, M. Impressões do festival. In: Boletim Ayumi. São Paulo, 10 de dezembro de 1955 – número 10
79
Transcrição de parte da conversa no encontro do dousoukai
162
O álbum A formação da identidade feminina
Figura 113
11,5 x 8,5 cm
Festival lítero-musical (01)
Figura 114
11,5 x 8,5 cm
Festival lítero-musical 02
Figura 115
11,5 x 8,5 cm
Festival lítero-musical 03
Figura 116
11,5 x 8,5 cm
Festival lítero-musical 04
163
O álbum A formação da identidade feminina
164
O álbum A formação da identidade feminina
“[…]O tempo em que eu estava estudando era o tempo que tinha mais
aluna… Acho que naquele tempo tinha cento e cinquenta alunas
internas… vinha do Mato Grosso, tudo de longe… bastante… Depois
entrou a guerra, aí foi mudando um pouco…(…)
“[…] 45, época da guerra, foi muito rigoroso o negócio japonês… então,
logo que eu cheguei, não tinha passado uns dez dias… a gente estudava
no dormitório… na mesa pequena… cada um escrevia no colo… nihongo,
a turma estava estudando assim, então de repente, veio uma amiga,
pegou minhas coisas e colocou tudo, pegou e levou tudo embaixo da
cama… eu não sabia por que que estava acontecendo isso, mas tocou a
campainha de emergência, porque quando vem o policial, toca a
campainha… no quarto… então quando vem, imediatamente a gente tem
que guardar as coisas escritas em nihongo e precisava logo, precisava
165
O álbum A formação da identidade feminina
80
Hassami - tesoura
81
Machibari – cesto onde as alunas depositavam os bordados
166
O álbum A formação da identidade feminina
167
“Minha alma é um bolso onde guardo minhas memórias.
Memórias vivas são aquelas que continuam presentes no corpo.
Uma vez lembradas, o corpo ri, chora, comove-se, dança”
Rubem Alves
169
Considerações finais A formação da identidade feminina
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primeiros alinhavos
171
Considerações finais A formação da identidade feminina
Figura 117
Local: sala de corte e costura do internato
Fotógrafo: não-identificado
Quantidade de fotos: 01
Características: preto e branco
Tamanho original 12X18 cm; papel fosco; conservada; bom contraste
Armazenamento: avulso (arquivos da instituição)
Legenda (descrição): Suzuki-sensei com as alunas em aula de corte e costura
Se as mudanças na sociedade da época decorriam da necessidade de
uma contribuição feminina no orçamento familiar, a possibilidade de trabalhar
profissionalmente com o corte e costura, permitia a essas moças aumentar a
renda sem deixar de cumprir seu papel de mãe e esposa, reafirmando o que
Campos (1996: 187) salienta, “desempenhar (…) uma atividade profissional,
desde que esta não prejudique sua função principal”. Mais que isso, o curso de
172
Considerações finais A formação da identidade feminina
corte e costura era um ideal de vida, como pode ser percebido em uma matéria
redigida por uma aluna para o Boletim Ayumi, intitulada “Meu ideal”.
“Tôda profissão é nobre, desde que seja digna. Muitas existem, mas é
bem certo que só há médico porque existe doente. Portanto, uma
profissão só existe em função de uma necessidade. Na escolha da
profissão que seguiremos, há fatores importantíssimos, como sejam: a
inclinação e o ideal. O ideal que acalento desde há muito, vejo-o agora
próximo a se tornar realidade. Esse sonho é o de me tornar professora de
corte e costura. Deste diploma, não usarei apenas como uma arma
profissional, mas sim para orientar centenas de jovens, para os místeres
do lar. Estou certa, a recompensa será a satisfação de ensinar e ser útil
ao próximo. Na conquista deste ideal, armo-me da mais firme energia
para vencer todos os obstáculos que se me depararem. Vejo quão árduo
é o caminho a percorrer mas é na conquista pelo esforço que repousa a
verdadeira glória. Lá, no fim do caminho pedregoso, rebrilha a moeda de
ouro que pagará todo o sacrifício que eu fizer para que meu sonho se
82
transforme em realidade.” (grifo nosso)
82 o
WATANABE, H. Meu ideal.In:”Boletim Ayumi”. São Paulo: 1954, n 5.
173
Considerações finais A formação da identidade feminina
Condição sine qua non para ser uma boa esposa, saber costurar e
cozinhar, encontramos na história de Takiko Ota, a confirmação de sua relevância.
Já com data marcada para o enlace matrimonial, é levada, pelo próprio noivo, à
São Paulo para cursar o “Saihou Jogakuin”, onde permanece em regime interno
por três meses, para aprender, principalmente, os “ofícios” de corte, costura e
culinária. Formanda na turma de trinta e nove, casa-se em novembro do mesmo
ano.
A seguir, parte da entrevista cedida por Takiko, com o apoio de sua filha
Tomoko nas narrativas e tradução simultânea. Edson, meu esposo, também
colaborou na entrevista e traduções.
83
Sensei – professor, mestre. Para o japonês, essa representação tem o poder de autoridade
maior.
174
Considerações finais A formação da identidade feminina
“Edson: Saiu de Aliança pra fazer o curso, se formar e voltar pra casar.
Ela estava contando que se formou em setembro para voltar e já casar
em novembro. Tinha data pra fazer tudo.
Setembro de kaete kara novembro ni mo casa shita no. Pelo que falou,
parece que o marido dela, o futuro marido já tinha escolhido a escola. (...)
Jyu hati, dezessete anos ela tinha.
Takiko: casei com dezoito anos.
Tomoko: Tinha dezoito anos, dezenove ela já era mãe!
Regina: Aí ele levou ela para se preparar pra aprender a cozinhar e saber
costurar…
Tomoko: Para saber cozinhar… porque o fato é que a minha mãe era
louca, imagina… Ela casou com um homem que era o primogênito de um
viúvo e tinha três cunhados mais velhos que ela. Você imagina naquela
época, né? E foi morar tudo junto. Você imagina o que ela não passou…”
84
OSHIDA, Y.A necessidade da aprendizagem da língua japonesa. In: Boletim Ayumi, São Paulo, 1 jun. 1961,
n. 22, p.1
175
Considerações finais A formação da identidade feminina
“[…] nós mudamos para São Paulo por causa do meu pai que começou
85
dar aula na Akama-san… então eu também larguei nihongo e fiquei
alguns anos sem estudar nihongo… aí estava esquecendo, perdendo…
meu pai falou “ah, não! Tem que aprender a falar nihongo!” então tem
que falar nihongo, aprender mesmo, vai lá no Akama-san, que sozinho,
santo de casa não faz milagre!... (risos)… Aí entrei nesse curso, Jogaku-
86
bu , por três anos…” (Tyoko)
“Quem incentivou pra mim ir na Akama-sensei foi meu avô… pai do meu
pai… interessante, né?... Ele que quis que eu fosse, não queria que eu
estudasse português. Ele queria que eu fosse na Akama-sensei em São
Paulo…não sei de onde que ele colheu essa idéia, mas ele queria que eu
fosse. Então todas, eu e minha irmã... Ficamos 5 ou 6 anos na Akama-
87
sensei. Estudamos lá… omoshiroi , né?” (Aiko)
“[…] aos quatro anos e meio, vim para cá. Depois, acho que eu tinha uns
doze anos vim pela segunda vez para São Paulo com a minha irmã.
Terminei o grupo escolar e a minha irmã achou que eu deveria cursar o
Akama Jogakuin, porque a escola era já famosa, sabe? … É… era
conhecido por hannainogakou, escola para futuras noivas… A escola era
famosa… e esse Jogaku-bu, que era o curso ginasial, se chamava
88
também Onnadaigaku … No Japão existiu… não sei se na idade de
Meiji, tinha uma escola Onnadaigaku. Mas deveria ser totalmente
85
Nihongo – língua japonesa
86
Jogaku bu – equivalente ao ginasial japonês
87
Omoshiroi - divertido
88
Onnadaigaku – faculdade para mulheres
176
Considerações finais A formação da identidade feminina
diferente da nossa aqui. Só que, como, na colônia, era uma escola sui-
generis , as meninas iam estudar essa parte que realmente era só para
meninos… então diziam também que ali, o Jogaku-bu era Onnadaigaku.
Ah!... era o máximo!... Para estudo de meninas, era o máximo! Nihongo,
né… é!...” (Rutsuko)
177
Considerações finais A formação da identidade feminina
Costurando os caminhos
89
Gaijin – estrangeiro (pessoa que nasceu fora do país, no caso, do Japão)
90
Nihonjin – japoneses (descendentes de forma geral)
178
Considerações finais A formação da identidade feminina
179
Considerações finais A formação da identidade feminina
japonesa… é uma idéia né?... esposa ideal… para nós, Japão novos… e
trabalhei. Trabalhei cinco, seis anos em São Paulo. Tive transferência,
fui trabalhar em Londrina e uma pessoa me apresentou… (aponta a
esposa Maria, sorridente) E ela estava pensando que marido tinha que
ser de Tokyo, porque pessoa de Tokyo fala nihongo standado… e eu
sou de Tokyo!”
Ela, por sua vez, numa condição de pertencimento a uma “elite” dentro
da colônia japonesa, tinha o “poder” da escolha:
“Todos falam japonês… Minha filha mais do que eu, porque ela mora no
Japão… tá melhor do que eu… nihongo… lá em casa, os meus filhos, os
meus netos só falam em nihongo, eu exijo. Fora… Saiu fora da porta…
Então lá em casa, a gente só fala em nihongo… eu queria assim… eu
acho tão bonito meus filhos todos falando em nihongo comigo, né?..
quando precisa já fala em nihongo. Quando a minha filha, quando foi para,
como é que é… (Bolsa de estudo…) Todos se admiraram, um sansei
falando em nihongo… porque eu insistia lá em casa. Depois casou lá.”
(Aiko)
180
Considerações finais A formação da identidade feminina
181
Considerações finais A formação da identidade feminina
uma hora mais tarde do serviço e, nesse meio tempo, ainda, fiz uma
faculdade de educação artística à noite. Depois que eu saía do serviço,
oito horas, nove horas eu ia pegar aula na PUCC de Educação Artística,
gostava muito dessa parte da arte também, aí fiz a faculdade de 4 anos
ainda. Acordar cedo, dormir pouco… Com esposo também é difícil, você
tem que controlar melhor ainda as coisas, pra não dar atrito nas coisas,
tem que se desdobrar. Em geral, o homem não quer saber muito, ele
quer mais é agrado e só...
Eu tinha o Lincoln, primogênito, fazia pouco tempo, aí minha mãe ajudava
muito, quando precisava, ela vinha e ajudava… pra amamentar, ela
levava até a escola, tomava um bondinho, morava em Campinas nessa
época. Tomava o bondinho, levava lá, amamentava, voltava. Só pra não
perder o tempo de sair, porque tem uma hora de amamentação, mas ela
que ia, levava e trazia assim pra casa… de bonde, tomava o bonde com
a sacolinha, vinha. Me ajudou bastante. Ela faleceu com noventa anos, e
depois que já estava tudo mais ou menos crescido que ela faleceu, e meu
pai faleceu com noventa e três anos e sempre os dois colaboraram
bastante... Mas eu tinha babás. Era assim: eu pegava uma pessoa que
queria estudar, do interior, inclusive teve uma que ficou, quantos anos…
Ela fez o ginásio em casa 4 anos, fez colegial mais 3 anos, mais 5 de
faculdade. Ela fazia um período e uma outra fazia outro período, fazia
uma troca.” (Kazuco Miyasaka)
182
Considerações finais A formação da identidade feminina
Aiko Fujita, que mantém ainda hoje, seu atelier de costura em atividade
na cidade de São Bernardo do Campo, atividade que conciliou com seu papel de
esposa e mãe, por toda trajetória pessoal.
183
Considerações finais A formação da identidade feminina
Os arremates
“A tarefa do professor: mostrar a frutinha. Comê-las diante dos alunos.
Provocar a fome. Erotizar os olhos, fazê-los babar de desejo.
Acordar a inteligência adormecida.
Aí a cabeça fica grávida: engordar com idéias.
E quando a cabeça engravida não há nada que segue o corpo.”
Rubem Alves
184
Considerações finais A formação da identidade feminina
Não sou antropóloga nem artista. Sei costurar, sei cozinhar… e não.
Não fui aluna do “São Paulo Saihou Jogakuin”. A última turma se formou em 1981.
Nasci em setenta. Não foi possível pertencer a essa reconhecida elite de moças.
Porém, tive o privilégio de conhecer a mentora, no alto de seus noventa anos de
idade e respirar parte desse ar que me serviu de inspiração. No contato com as
ex-alunas e nas relações carinhosamente estabelecidas com essas então
senhoras, realizadas em sua vida pessoal e profissional, a possibilidade de
recuperar uma história não mais perdida no tempo e espaço, mas agora,
registrada. “Moças” que me permitiram entrar em suas vidas e “beber” de suas
histórias. Delicadas, guerreiras, vitoriosas. Meu maior aprendizado para a vida.
Sempre.
Sou filha, sou nora, sou neta. Sou esposa, sou mãe… querendo
aprender a sê-lo.
185
Considerações finais A formação da identidade feminina
À guisa de conclusão:
Chegando lá, descobrimos que nossa tarefa se tornava cada vez mais
complexa na medida em que, além de (re)situar a Fundação e as diferentes
etapas pelas quais passou a instituição, com inclusões de novos cursos,
adquirindo maior abrangência curricular, tínhamos uma riqueza de relatos
advindos de um grupo seleto de informantes, ex-alunas do Internato, com suas
fotografias e memórias de seu quotidiano no educandário que remontavam
verdadeiros documentos que deveriam ser recuperados para uma reconstituição
histórica e social.
186
Considerações finais A formação da identidade feminina
187
Glossário A formação da identidade feminina
GLOSSÁRIO
Batyan – tia
Dousoukai – dou é “igual”, sou, “janela” e kai é associação. Seria uma espécie de
associação de colegas de turma, “alunos de mesma sala, mesma janela”.
Gaijin – estrangeiro (pessoa que nasceu fora do país, no caso, do Japão), não-
descendentes, os brasileiros. Trata-se de uma indicação lingüística do outro, do
que não pertence ao grupo.
Gofukuji – pano
189
Glossário A formação da identidade feminina
Katarigusa – katari: “contar” (contos); kusa: “planta”, “capim”; porém não existe
uma tradução literal para a palavra, pois a intenção da autora é dar um sentido
poético ao título. Deve-se para tanto, levar em consideração a origem japonesa da
autora, o que pode ajudar a compreender melhor a alusão à natureza, algo natural
da formação nipônica.
Katei significa “família”; ka significa “setor”, “seção”, “curso”, etc. Era o curso
equivalente ao primário do Japão, com seis anos de duração e dividido em
Hanagumi – “Flor” e Hoshigumi – “Estrela”.
Kokoro - coração
Kombu (Alga) sendo planta aquática vigorosa e procriadora significa ter muitos
filhos, garantindo a perpetuação da descendência.
190
Glossário A formação da identidade feminina
Mayoi hashi - quando a pessoa vacila para buscar quais pratos escolher.
Miai-kekkon - arranjo
Mokuroku – lista
Muko youshi – para manter o nome da família da noiva, quando essa é filha única,
ou não possui nenhum irmão homem, o noivo recebe o nome familiar da noiva
para dar continuidade.
Nakoudo - padrinhos
Omoshiroi - divertido
191
Glossário A formação da identidade feminina
Shakunin - noivos
192
Glossário A formação da identidade feminina
Tokonoma - nicho na parede com nível de piso um pouco mais alto, onde se
expõe uma pintura, ikebana – arranjo floral, ou alguma obra de arte japonesa
193
Glossário A formação da identidade feminina
“Tomoshiraga” (feixe de linhos) seus fios tem cor branca, significa longevidade do
casal até que os cabelos fiquem brancos.
194
Apêndice A formação da identidade feminina
APÊNDICE
1. O Sistema fonético da língua japonesa caracteriza-se pelo número reduzido de
fonemas. A língua japonesa é grafada por meio de três variedades de símbolos
gráficos: kanji – ideograma, e duas variedades de kana – fonograma. Kanji é a
escrita de origem chinesa, que representa diretamente uma idéia, ou seja, é
provida de significado. Hiragana é a variedade de kana criada através de
deformação de certos kanji, e é empregado na grafia de quase todos os elementos
da língua japonesa, exceto os de origem estrangeira, que não a chinesa. Katakana
é a variedade de kana criada pela extração de uma parte do kanji e é utilizada,
quase que exclusivamente, na grafia de vocábulos de origem estrangeira, exceto
chinesa e onomatopéias.
Os sistemas de romanização do japonês usados atualmente foram
desenvolvidos na segunda metade do século XIX. O primeiro sistema a ser
desenvolvido foi o sistema Hepburn, desenvolvido para o dicionário japonês do
autor e destinado ao uso por parte dos estrangeiros.
195
Bibliografia A formação da identidade feminina
BIBLIOGRAFIA
196
Bibliografia A formação da identidade feminina
197
Bibliografia A formação da identidade feminina
ILELIS, N. Arroz e café: o menino japonês. São Paulo: Ilelis Editora, 2007.
MILL, J. S. A sujeição das mulheres. Trad. GINZA, D. São Paulo: Editora Escala,
2006.
198
Bibliografia A formação da identidade feminina
SACKS, Oliver. Um antropólogo em marte. São Paulo: Cia. das letras, 1997.
199
Bibliografia A formação da identidade feminina
200
Bibliografia A formação da identidade feminina
Outros:
Vídeo / documentário:
Fotos:
Jornais:
201
ANEXO 01
Transcrições das entrevistas
203
Transcrições A formação da identidade feminina
S: Aí depois voltei para casa e aí fui pra São Paulo aprender tricô, aí que eu fui na
Akama-san…aí fiquei lá, voltei na casa, mas aí a guerra ficou feia né…os
camarada queria matar, andar com revólver, tudo né… a minha casa fica bem
perto da rua né, então esses camaradas que eram muito perigoso e eu era única
filha né? Então minha mãe mandou pra ir São Paulo, pra ficar em São Paulo, por
isso que entrei na Akama-san… desde esse tempo aí…ahhh então comecei
estudar nihongo, também lá foi tudo escondido…ahã… por causa da guerra.
R: Quem já conhecia a Fundação… a Akama-sensei?
S: Akama sensei…não… eu fui …assim conhecendo por pessoal que falava, aí eu
fui lá… ali na… como chama?... Joaquim…assim, São Joaquim parece…é
naquela esquina…fomos lá e ficamos ali… depois foi na Tamandaré, depois
Vergueiro, néé…
R: Ah! Passou por todas…
S: Todas… então… Tempo de Tamandaré, até ali tinha Tênis spoto… jogava
tênis… Depois no Vergueiro, começou aquela guerra… nossa!...era de esconder
livro, corre pra cá, corre pra lá… veio a polícia tudo né…naquela vez eu saí por
trás pra avisar Akama sensei, porque Akama-sensei tava lá na outra escola
né…no Vergueiro…quando eu saí os soldados tava tudo ali na frente,depois eu,
akama sensei, Sugano sensei passamos de bonde, de ônibus que…aí vimos
nossa ali na frente tudo aquele soldado, mas ai akama sensei foi falar com a
inspetora, não sei que…aí veio, aí foi tudo calmo né…até uma menina ficou
segurando rádio deitado, falando que ela tava doente… escondendo o rádio, se
pegasse né…sei que, no dia tava tudo levando livro na Ogasawara san para
esconder… pra levar pra lá, por isso que descobriram…né ? de noite tava levando
205
Transcrições A formação da identidade feminina
pra… deixando ali pra não descobrir… e descobrir… foi naquele tempo né…tempo
passou né?...é…
R: Na verdade, naquela época chegou a terminar, a concluir o curso lá mesmo?
S: Não… eu continuei né… entrei no Jogaku-bu, depois terminei lá no Vergueiro
em cima… na outra escola lá em cima…Depois akama san pediu pra ficar, pra
ajudar na costura, né…aí fiquei pra estudar…
R: é que tinham muitas escolas que tinham problemas mesmo, mas a Akama não
teve tanto problema legal, né…
S: Até ali na Vergueiro de baixo, pra estudar, a gente estava estudando, colocava
o piano na porta para o soldado não entrar, de repente se guarda, né…da polícia
entrar, a gente tirava tricô, trabalho, bordado… assim, isso né?...
R: Pra estudar nihongo…
Mas dá pra estudar… continuou estudando, assim né…ahã...hãhã… então tudo…
os pais obrigava as filhas estudar na costura,…mas no estudo não era tão
esforçado, né…mas na costura que precisava aprender, né…depois com muito
tempo que agora… porque,tava dando aula de costura aqui né…dei bastante
tempo, e chegou uns tempos que ninguém queria aprender mais costura…aí todo
mundo queria estudar, então como entraram bastante essa roupa feita né…então
ninguém quis saber de costurar, não é?...
É… aí… naquele tempo… no começo, se as moças não aprendiam costurar, não
podiam casar…precisava aprender cozinhar… tudo isso né?...Então todo mundo
vinha aprender costura. No começo tinha bastante aluna, né…depois chegou um
tempo que tudo precisou estudar, né… fazer alguma coisa, ne…ir pra frente né…
agora acho que as moças japonesas ninguém sabe costurar mais, ninguém sabe,
né?...hahaha….
Naquele tempo, sabendo costurar, sabendo cozinhar né… era uma boa esposa
né? E acho que naquele tempo a família era mais unida não é?...E os maridos
também se davam bem. Agora nem casamento tem!... Tudo ajunta, né?... Então
assim, não é… tá mudando tudo, não acha?... Agora porque as meninas, não
sei… estuda, estuda… agora eu posso viver sozinha, não precisa ter marido, né?...
Dá para viver assim… Maioria tá desse jeito… eu acho que é isso que tá…. Ah…
por isso agora procura não casar…se casa, não vai bem…melhor então não
casar…separa, né…É porque naquele tempo as moças não tinham estudo… era
obrigada saber cozinhar, costurando, cuidar do marido, das crianças tudo né,
tudo…e agora não sei… isso que tá fazendo a diferença, não é?
…..
O tempo que tava estudando era o tempo que tinha mais aluna…
Acho que aquele tempo tinha cento e cinquenta alunas internas…né….então vinha
do Mato Grosso, tudo…de longe, né…bastante… Depois entrou a guerra aí foi
mudando um pouco…
Mas faleceu… ela tá viva né…ela tá morta… também tá morta…ela tá viva…ela tá
morta… tá morta…né… É a turma da professora da costura…
Depois Oriori no sensei, depois Okara san, não… Ogasawara san…é irmã da
Akama sensei, né…É depois de cinquenta anos… todo mundo já….hãhãhã….
206
Transcrições A formação da identidade feminina
Maruyama sensei parece que tá viva… conhece Marcos? Ele parece que tá vivo,
né… Maruyama sensei…
Ai… já bem… acho que tem mais de 90, não?...haha…acho q sim…
É… eu tô achando esses dois…
Handa sensei…também morreu… E Sugano sensei… como está?...
Sugano?...
S: Isso aqui é tudo professora de corte costura… não sei… tem muitos que já
faleceu…ela faleceu, ela faleceu… ela não conheço…
Ogawa san também faleceu…faleceu…faleceu… acho que tem só…uma, duas,
três…, não, uma, duas, três…..acho que só três, hein?... O resto tudo faleceu
né…Uma lembrança mesmo, né?...
Essa aqui é… essa turminha é quando eu logo saí de lá né…eu fui para o Rio
Grande do Sul, né…aí teve menina… Tizuka….elas mandaram uma roupinha de
nenê, sabe…essa…e acho q é essa turma…hmmm…..
R. Colegas né…colegas de turma de internato, né?... Bom…
Desculpa…
R. Não, tudo bem…desculpa por trazer esse momento…
S: ... tudo nascido no Japão né, não tinha nissei né, então única acho que era
nissei, naquele tempo. Por isso que pôs no meu nome né, pra ser diretora.
R: Naquela época...
S: É naquela época, porque era tempo de guerra né.
R: Então, a senhora me contou uma passagem também da guerra, desse
momento...
S: Da guerra, então. O (...) ficava ali na Vergueiro, embaixo, perto da Liberdade,
depois tinha outro lá em cima na Vergueiro. Naqueles tempo né.
207
Transcrições A formação da identidade feminina
R: E como é que foi esse período, que a senhora contou uma época, como é que
aconteceu essa época do...
S: Então, quando tava lá embaixo, quer dizer, tava começando dava aula né, mas
mais eu tava estudando aquele tempo né, quando começou a guerra. Aquele
tempo quem tava lá era Abe-sensei. Nossa de repente tava levando tudo livro
coisa pra esconder na casa do ano Ogasawara-san né ali. Então todo mundo com
aquele embrulho levando acho que viram né, aí vieram de repente lá na escola né,
ai, aquela confusão, aí eu peguei saí por baixo, saí no portão de baixo pra avisar
Akama-sensei, Akama-sensei tava lá em cima, aqui embaixo só tava uma, duas
sensei e o pessoal né. Então eu saí, quando saí depois eu falei Akama-sensei
descemos, com Sugano-sensei né, sensei tudo assim com ônibus aí a gente viu
ali na frente tava cheio de polícia, aí de lá Akama-sensei foi chamar, como
chama? Não sei se é inspetora não sei nem lembro como chama, não é inspetora,
é outro em cima da inspetora.
R: Supervisora?
S: Não sei, uma coisa assim. Aí vai chamar ela, veio depois aí acalmou a polícia
foi tudo embora. É porque tava levando os livros tudo, né, pra esconder (risos).
R: Isso era na Vergueiro?
S: Na Vergueiro de baixo, é.
R: A de baixo que a senhora fala é...
S: Ali perto da Liberdade.
R: A menor.
S: A menor, de baixo né. Depois tinha Bunkyo que era lá em cima né, ali perto da
caixa d´água. Então quando tava em baixo eu já tava lá, no tempo que tava
estudando.
R: Que ano que era?
S: Primeiro era na Tambaré, Tamandaré né, depois foi na Vergueiro, na Liberdade
ali né.
R: E depois ele foi pra aquela outra Vergueiro.
S: Quer dizer, continuava duas escolas né, naquele tempo.
R:Que ano que foi isso?
S:Ah, nem sei. Nem sei viu, nem lembro.
R: Que turma que a senhora fez? Porque a senhora se formou lá...
S: Naquele tempo junto Kimura-sensei, no tempo acho que o mesmo tempo que
ela entrou tava lá.
R:Como aluna?
S: É. Naquele tempo tinha Yamane-san ainda ela não era sensei. Kato-sensei, aí
eu estudava com Kato-sensei né, Hatiya-san né aí como não tinha ninguém assim,
eu costurava tudo a roupa dela, Akama-sensei, tudo maioria eu que costurava.
Costurei bastante porque eu não tinha pra quem costurar né, precisava aprender.
S: Depois eu fiquei, por causa que tava em guerra né, não podia ir embora em
casa porque minha mãe ficou com medo né, camarada tava em cima.
R: Aí a senhora ficou nesse da Vergueiro grande.
S: Não, embaixo depois subi em cima. Aí quando subi lá em cima que tinha acho
que mais aluno né, naquele tempo internado né, tinha mais de 150 acho que mais
208
Transcrições A formação da identidade feminina
ou menos né, naquele tempo. Aquele tempo então, Namatomi-san, Uchida-san né,
Uchida-san, então, Kimura-sensei, Kato-sensei, depois, ai...nem lembro mais
(risos)...Obasan muito tempo né.
R: Também tinham muitos professores lá né.
S: Aquele tempo é... mas Kato-sensei, Hachiya-san, quando tava embaixo que
ela casou né, parece. Aquele tempo. E ela tava dando aula pra turma que ia fazer
exame de costura né.
R: De habilitação, né, tinha né, magistério. A senhora fez também né, passou
nessa turma.
S: Fez antes, bem antes
R: Aí deu aula bastante tempo né, depois do...
S: Eu fiquei bastante tempo lá sim, até 46 acho que mais ou menos.
R: Desde que formou já ficou?
S: Já fiquei lá direto. Naquele tempo, nossa, até na Vergueiro de baixo na
Liberdade eu dava aula à noite também, costura né, e de dia também.
R: A senhora dava aula em outro lugar ?
S: Não, não lá mesmo.
R: Tinha à noite também?
S: Tinha à noite, dava aula à noite também..
S: Aí eu saí de lá, quando casei e fiquei uns tempo, acho que pouco tempo assim...
R: Qual que era a cidade mesmo?
S: Atibaia mesmo. Depois eu fui pro Rio Grande do Sul.
R: Isso. A Tizuka foi nascida lá né?
S: Nascida lá.
R: E depois retornou pra cá.
S: Aí eu retornei.
R: E a época da escola...
S: Naquele tempo lá, nossa, naquele tempo não tinha nada lá, só gado, campo,
não tinha nada, plantava verdura, nem verdura ninguém sabia estaquear verdura,
nada, tomate era tudo assim no chão, ninguém conhecia verdura, tomate ninguém
conhecia, pessoal de lá. Lá era só aipim, aipim é mandioca. Vinha de longe,
aquele carro de boi cheio de mandioca né, trazer na cidade, viajava não sei
quantos dias assim, naquele tempo. Ah, quando tava lá, então, os, eles eram
assim, usavam aquela facona grande, todos os homens assim, quando queria
brigar eles cortavam o chão assim, começa a brigar. Então a gente não podia falar
quase nada né. Se falasse já procurava briga, o pessoal de lá.
R: Que ano que foi isso?
S: Naquele tempo né, então antes de , quando a Tizuka nasceu. Então, 58 ka?
Era bem mais atrasado que aqui, São Paulo né.
R: tanto é que muitas coisas parece que foram introduzidas pelos japoneses
mesmo né, na agricultura praticamente muita coisa foi trazida de lá. Inclusive elas
falaram um pouco sobre a questão do sensei que ensinava também né, era
Hayashi né?
S: Hayashi-sensei? Ah é , ele que ensinava, fazer tsukemono, plantava verdura ali,
a gente ia lá na Vergueiro ali na...
209
Transcrições A formação da identidade feminina
210
Transcrições A formação da identidade feminina
211
Transcrições A formação da identidade feminina
Plantar daikon, plantar tudo as coisas né, a gente terminava a aula e ia correndo
pra lá né., plantar yasai.
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Transcrições A formação da identidade feminina
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Transcrições A formação da identidade feminina
ano né?... Depois foi para Jogaku-bu, primeiro Vergueiro 235, lá no começo do
Vergueiro. Depois 46 eu vim no Vergueiro 2625, nessa escola… fiquei lá seis
meses. É… aí… hum, meu pai começou a trabalhar na Cooperativa e não tinha
quem tomar conta do gado, então meu pai me chamou e eu voltei para o interior.
Nessa época gakkou teve, teve a… não é bem briga… discussão do Tsikuchi-
sensei e Shibuya-sensei, porque um ganhava… acreditava na vitória, outro
acreditava na derrota. Tsikuchi-sensei era da derrota. Shibuya sensei era do…
então alunos também… aí ficou assim, meio separado… Então nessa época,
Akama-sensei deve ter sofrido bastante. Então nesse momento a senhora
estava… É, nesse momento eu afastei… 47 eu afastei… voltei para o interior. Aí
eu passei no interior até cinqüenta. Então… é… Depois… 50… então voltando um
pouquinho pra trás… 45, época da guerra, foi muito rigoroso o negócio japonês,
né… então, logo que eu cheguei, não tinha passado uns dez dias… a gente
estudava assim no dormitório né… na mesa pequena… assim cada um escrevia
no colo assim… nihongo, né… então… eu tava… a turma estava estudando assim,
então de repente… veio uma amiga… eu não tinha nem amigo direito… pegou
minhas coisas e colocou tudo, pegou e levou tudo embaixo da cama… eu não
sabia por que que estava acontecendo isso, mas tocou a campainha de
emergência que quando vem o policial, toca a campainha… quarto… então
quando vem, imediatamente a gente tem que guardar coisa escrita em nihongo e
precisava logo, precisava pegar material de corte e costura. E a gente fica
chuleando, fazendo alguma coisa… tem que ficar… é tem que disfarçar. Eu não
sabia. Depois é que bagunça acabou, aí essa amiga contou. Não é que eu fiz
mal… agora é assim, assim… eu, como uma caipira que primeira vez que nasceu
na Aliança, primeira vez que saiu no São Paulo, né… é uma caipirona que não
sabia fazer nada… então eu fiquei assustada, né… aconteceu isso. Partiu daí, a
gente já ficou sabendo, né? Então imediatamente precisava pegar o material de
corte e costura e… e a gente faz assim, ou disfarça e volta na sala de costura…
RA: o corte costura não teria problema, mas a escrita…
MM: Corte costura tudo bem… escrita assim, nihongo não podia. Então a gente, o
que estudava na escola, a gente rasgava a folha, levava em casa… em casa tinha
um caderno… e era assim. Porque folha rasgado, a gente levava dentro do
material, hassami, tesoura, essas coisas… coloca no machibari depois colocava
na lata de biscoito, então a gente colocava embaixo, dobrava e em casa fazia tudo
passar a limpo, fazia pra poder, poder estudar em casa… era… muito, muito…
Akama-sensei deve ter sofrido muito… Porque naquela época a gente não
entende, né… mas depois que a gente saiu na sociedade… quanto que ela
sofreu… pra manter aula, e… esconder da polícia e… outros professores, tudo
né… então foi assim. Então 46, então nessa época, eu não conheço muito bem a
interna. Porque eu ia na casa do (...) toraiba (...) no Jabaquara, atual quase é…
ponto final do metrô, né… de lá eu ia de ônibus e voltava à noite. Então nessa
época eu não conheço como é que era… Aí nos 50, eu tinha formado só nihongo,
mas não tinha formado costura, quando foi embora… aí eu fui embora mas,
aquela amiga… minha amiga… a Yojo-sensei, Yojo Tikue… mora no São Miguel,
ela é da Aliança também, e ela dava aula de corte e costura lá no gakkou, no
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Transcrições A formação da identidade feminina
Vergueiro, né… aí eu escrevi carta pra ela, eu não tenho diploma de corte e
costura… só tem do primário o diploma, né?... Então eu falei… eu quero estudar
mais… quero estudar em São Paulo, quero estudar em São Paulo… meu pai falou
“é… já tem vinte anos, que precisa ir pra São Paulo o que?!...” e não quis deixar…
eu escrevi carta pra ela dizendo não tem algum serviço pra mim trabalhar? Aí ela
acho que conversou com Akama-sensei, Akama-sensei falou… “na cozinheira que
é encarregada do gohan, né, é Harutian vai sair…” Haru, Haruko Ishihara… falou
que ia sair então precisava alguém pra ficar no lugar dela… Olha! Dentro de, nem
uma semana, eu recebi carta do Yamanaka-san, atual Yojo-san, né… Tikue… ela
mandou carta falando “olha, Akama-san tá falando assim, assim… você tem
emprego dentro da escola!” … que bom! Aí que eu contei pra pai… os pais que eu
queria ir que já tinha emprego… aí meu pai ficou bravo. Ele falou que “não tenho
em casa… não tenho o dinheiro pra mandar pra você…” dinheiro eu não quero
não… é só deixar ir… aí… assim eu saí de casa, né. Porque eu tenho três irmãos,
mas entre eu e o irmão mais velho tem diferença de seis anos. Então… sempre
serviço de homem, não tinha quem fazer, então eu fiz tudo serviço do homem
quando morava no sítio, então cavalo, arar terra, tocar boi, tudo isso eu fiz, né…
então quando saiu pra… veio pra Araçatuba, depois veio para Birigüi. Araçatuba
não tinha emprego do meu pai, e foi para Birigüi e quando surgiu essa oferta, de
eu resolver de ir pra escola, meus pais moravam no Birigüi… tinha uma peixaria.
Aí eu saí… 50 eu saí é… de janeiro… ainda gakkou estava de férias quando eu…
aí fiquei no lugar dela. Fiquei dois anos cozinhando, cuidando do gohan…
RA: Podendo também estudar…
MM: É… aí eu estudei… tirei primeiro de três meses… nihongo e português…
primeiro fez corte e costura, depois eu fiz o primeiro exame… acho que era abril
que tinha o primeiro exame do corte e costura, eu tirei o diploma do corte e
costura, depois eu comecei Jogaku-bu né?... Jogaku-bu… e Akama-sensei que…
é… como pessoa que morou na Aliança, falava muito bem japonês… lê muito…
então Akama-sensei disse que não precisa ser no primeiro ano… entra no
segundo… que você vai dar… aí eu entrei no segundo, Jogaku-ninen… né?
Porque Jogaku-bu eram três anos… aí fiquei na cozinha… depois fui estudando o
japonês, aí no… nesse ano… não… ano seguinte, 51, passou fazendo isso, no
gakkou cozinhando e Jogaku-bu junto, né… nessa época Kikutyan tava junto…
Kikutyan entrou também. Kikutyan depois é… filho do (...)-sensei, depois a… irmã
do Getúlio… aquele (…).
RA: Quando foi no segundo…
MM: É, segundo… segundo ano, né… quando foi no segundo ano, 51… 52 eu
continuei no nihongo e cozinha, né. Cozinha… trabalhando… aí no mês de férias,
julho, surgiu um concurso de é… professor de língua japonesa do Estado. Aí
Akama-san falou assim “vai prestar o exame… vai prestar o exame…”, mas como
eu não tinha o primeiro grau, atual do primeiro grau do português então primeiro
precisava fazer o exame do português… quem passava podia fazer o nihongo, né.
Aí no mês de férias, tinha uma pessoa, professora que ‘tava interno, aí ela falou
“não, eu vou te dar aula” e eu fiquei, estudei com ela todo dia, eu fiz primeiro o
português, raspando, mas eu passei! Aí eu fiz o nihongo, né… depois o nihogo…
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Transcrições A formação da identidade feminina
nihongo não foi muito difícil, né… passei… acho que aí… tinha vinte e quatro
candidato, inclusive quem fez junto a Kushiyama… da… aquele presidente do
Bunkyo, né… ele fez junto também. Parece que dentro do vinte e quatro passou
só metade… e eu passei. Aí saiu no jornal japonês que foi aprovado tal… saiu
nome, então lá no fundo do Birigüi, tem lugar que tem uma colônia que chama
Paineiras, né… lá tinha colônia japonesa e chefe de lá veio na casa do meu pai
que era Birigüi, então queria como professora lá na fazenda… isso foi no 52, né…
aí como era perto… perto, mas quarenta quilômetros, né, então meus pais
acharam que mais fácil, que mais perto de casa, então aí eu fui, né? Aí no 53, eu
fiz curso de culinária na primeira turma, terminou abril e nos meandros de abril eu
fui pra Clementina. Fui dá aula. Primeira vez que eu fui dar aula… (risos) Corajoso
né? (risos) Não sabia de nada, não tinha nenhum conhecido, foi… foi pegar… Aí
cheguei lá, não sabia que tinha, lá também tinha katigumi, makegumi da pessoa,
né… e quem contratou, tal de Takumi… Takumi Massaka, acho que é…
Matsuyama… sobrenome Takumi, ele que era chefão da fazenda e contratou eu,
né… aí eu fui… primeiro contato com a turma foi no dia 29 de abril, dia do
aniversário do Imperador Showa , né? Então, nesse dia, no interior sempre faz
undokai, tipo undokai … tinha… mas antes do undokai tem a comemoração da
festa… tudo. Aí… (risos)… Professora de primeira viagem, precisava fazer o
aisatsu, aisatsu koosu era à frente de tudo. Era um kaikan tão grande… kaikan,
kaikan era uma… acho que tinha uns trinta metros… não sei… largura de vinte…
não sei… era um kaikan enorme! Que era o primeiro do noroeste, kaikan maior do
noroeste, não é… aí eu subi lá no palco… (risos)… mas eu tremia tanto, eu tremia
tanto que, acho que se pessoa visse de trás… bumbum estava fazendo assim!
(gesticula movimentos de balanços com as mãos) (risos) Primeira vez, ainda! E
tem tudo mundo ainda, criança, aluno e tem seinenkai … tudo sentado na frente,
tudo desconhecido, não conheço ninguém! Aí eu preciso falar… eu falei no meio
do discurso, eu falei do Imperador atual, é… sofreu muito na guerra, né… e, mas
depois da guerra, como ele partiu junto com o povo, ninguém tem nó… eu escrevi,
usei essa palavra… ninguém tem nó… porque antigamente, a gente usava como
Deus, né?... Mas a partir daí, ele queria andar junto com o povo e tal… então eu
escrevi isso… depois eu desci, daí passou um pouco, esse tal de Takumi-san veio,
aí ele falou assim “agora pouco, a professora nova falou: ninguém tem nó, mas
não pode usar essa palavra!” Olha!... Ele…pá… deu cacetada! Mas eu tremia
tanto, tremia tanto… depois eu voltei na casa onde eu hospedava, tinha pensão
também, mas pensão no interior, vem muito viajante, tudo… eu não queria ficar na
pensão. Então uma família do Nagano, porque minha mãe é do Nagano-ken, né…
então essa pessoa do Nagano-ken falou “a mãe dela é do Nagano, eu vou ficar
com ela!” E eu fiquei hospedada numa família de fazendeiro, sabe? Aí na hora do
almoço, eu voltei pra casa, mas… só faltava chorar, mas eu fiquei segurando,
segurando… voltei pra casa, mas eu chorei tanto, chorei tanto… eu falei, não! Eu
acho que não posso ficar aqui. Vou embora. Eu vou pedir demissão, eu vou
embora, né? Aí nessa casa, tinha ojityan, obatyan e o filho mais velho era muito
assim decidido, né… falou “mas como que vai embora? Você falou verdade! Não
fica perdendo pra aquele ojisan, não vai perder não! A gente vai torcer por você!
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Transcrições A formação da identidade feminina
Fica, fica, fica! Nós vamos ajudar você!” Foi assim, sabe?! Aí eu criei coragem, eu
fiquei.
R: Tinha apoio né
Tinha apoio. Qualquer coisa, eles apoiavam. Então tinha apoio e eu acabei
ficando, acabei ficando três anos, toda hora gambarê, gambarê!... (risos) Fiquei
três anos… aí nisso, né… tem shojyokai, shojyokai é associação das moças, né?...
Tinha associação dos moços também. E associação das moças tinha uma
senhora de sessenta e poucos anos que tomava conta, então ela falava assim
que… é… mulher tem que ficar assim quietinha, né… comportar daquele jeito,
jeito antigo do nihonjin, né? Ou então, pra rapazes, que não deve conversar assim,
que o … então tinha um regulamento do sho… associação das moças, um dos
itens tinha, quando está junto com os rapazes, você não pode sorrir, não pode dar
sorriso, né… pra pessoa… eu falei “absurdo, né?!” essas coisas… eu falei, mas
que negócio é esse? Então eles conversar assim… no namoro, era uma coisa
proibido mesmo, né?... então todo mês… cada quantos meses, tinha fugitivos de
casal. Porque os pais não deixam namorar, então eles fogem! Tem um que fugiu
descalço até no Tupã! De Clementino até Tupã tinha não sei se tinha vinte ou
trinta quilômetros... Mas sabe por quê? Os pais guardaram o sapato dela no
quarto pra não fugir. Aí pulou a janela e fugiu descalço. (…) Então eu falei, não é
possível! Não pode ficar assim… fugindo, né? Como quando estava no gakkou
tinha… é… 4H… não sei se ouviu… yon iti…que veio Nakata sensei… pai, veio
entrando aqui no Brasil… 4 H é acho que… (…) coração e mão e… tudo em
inglês… coração, braço e a cabeça… e mais um o que que era mesmo?! Eu
esqueci… então, tinha esse curso e quando a pessoa estava no jogaku-bu, fazia
também, gakô-ni… gakô-de… Então no meio desse ensinamento tinha kage de
kotokoto shinaide ikou, né… escondido, faz escondido, faz kosokoso com gesto de
ladrão, não pode fazer, tinha esse… essa regra. Na época do gakkou, então eu na
hora, quando eu comecei participar com mocinhas, eu falava, olha gente, kage de
kotokoto shinaide ikou, se tem alguma coisa, quer falar alguma coisa, você não faz
coisa escondido não… conversa com alguém, né? Conversa com alguém que tem
confiança. Fez assim, né? Aí… (risos) na minha gestão, ninguém fugiu! (Olha! Um
valor, né?Foi passado um valor…) Né?! Então as moças ficaram contentes, né…
todo mundo ficou contente… aí um dia, fim do ano, no Natal as moças queriam
fazer baile e eu tinha a chave da escola. A escola era grande, né… mas não tem
luz, então tinha que fazer com lampião… baile, né… aí o seinenkai falou assim,
“será que pode fazer baile na escola? Sensei empresta a chave?” , eu falei… pode
sim!... (risos) Eu deixei a chave lá, voltei pra casa…(risos) Quando eu voltei na
aula, tomei a maior bronca da associação dos japoneses, “o que você fez? Escola
é um lugar muito sagrado…você emprestou pra fazer baile? Sem licença de
ninguém?” ah… eu fiquei… nem tinha pensado nisso… que eu tinha 23 anos, a
gente não pensa muitas coisas, né?... (risos) Aí tomei bronca outra vez. Mas aí, a
pessoa da casa, né, fazendeiro falou assim, “não!… deixa isso pra lá porque baile
não é coisa crime, nem nada… pode deixar!... deixa aí, não liga não e vai…” e foi
assim que eu fiquei batalhando né… então, os alunos, alunos e as alunas ficaram
muito agarrados comigo… então, pra essa prova eu tenho três alunos que moram
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Transcrições A formação da identidade feminina
no Hokkaido, agora… né… três. Menina, menino, depois tem outra menina… três.
Que estavam comigo… Olha quando for no Japão, telefona… ela falou assim
“olha, eu vou tirar férias, quando que a senhora vem?” Hospeda na casa dela… eu
no tratamento assim, ela faz tudo, tudo pra mim!... Dois dias livres, marido e tudo,
carro livre pra gente fazer o kanko pra lá pra cá!... Hokkaido… né?! Tem assim…
e aqui, aqui também tem aluno que, aqui tem fotografia do depois do 48 anos do…
48, 49 anos, eu tive uma vez aqui reunião no… aqui do escoteiro. Olha, tem aluno
que morreu, aluno que foi assassinado, têm muitos assim… mas a gente se reuniu,
a reunião foi muito gostosa… a gente não sabia quem é quem né… porque era
criança assim, né… olha, nessa reunião veio… primo seu…Mitchan,… Mitsuro-
san veio, mas eu não sabia que era Mitsuro-san. Depois que uma das meninas…
uma das moças que vieram, falou assim, “meu marido é do… sobrinho da Akama-
sensei”, eu falei, sobrinho da Akama-sensei… mas quem será?, né… Aí eu
pensei… Kohei-sensei foi sozinho… eu sei que tem quatro filhos, né… agora…
sobrinho… então são Kikutyan e Mityan… então falei Mityan! Por acaso Mitsuro-
san? Aí falou “é”!... Olha levou susto também! Aí foi encontrado com Mitsuro-san
lá na reunião… Ela chama Kinutyan, né?... Kinuko que chama? “Marta, né?” Não
sei… português não sei… Ela, quando eu estava lá, acho que era nenê ou não
tinha nascido… Então… quem deu coisa em mim foi ojityan dela!... Esse que falou
que eu falei coisa errado… Esse de quarenta anos atrás!... Olha como que esse
mundo vira… olha o que é que acontece! Então eu fiquei, fiquei assim… falei,
então sua cunhada é Kikutyan? “É!” Então eu voltei pra casa, telefonei pra
Kikutyan … Olha, eu não sabia que Mitsuro-san tava… ah… outra esposa, né…
Assim que era conhecida lá do interior… Então o mundo é muito misterioso, né?
Foi assim… então eu encontrei aqui… é… depois né… tem alguns alunos que não
sabia onde que estava e tudo, só que só tem um rapaz que ficou tenente da
salvação da aeronáutica… aí no Estado saiu: “capitão Teramoto”… aí meu marido
estava vendo fotografia, falou: “esse aí não é seu aluno?”… olhei assim, que tava
de farda, com chapéu, tudo… Uai!... Esse aqui é ? onde é que está? Telefonei pra
aeroporto, aí falou que só vinha à tarde… aí à tarde eu liguei, falei Washitachi-san
adivinha quem que está falando… aí ele pensou, pensou… essa voz não é
estranho… Pensou, pensou… “não vai dizer que é Mayumi-sensei?” eu falei, sou
Mayumi…aí ele falou que domingo ia visitar em casa, né… mas ele não passou,
não chegou até domingo não… antes ele veio… disse que saudades era muito,
ele veio visitar, né… então ele mora na cidade Ademar agora, né… e a esposa
dele é formada lá em Londrina, é professor de Química, né… e dava aula junto
com minha filha aí no estadual… Dom Duarte, no Socorro. Olha então fica… tudo
assim parece que é longe, mas não sabe onde que tá trançado, que volta, né… é
muito, muito… vida da gente é muito engraçado… (risos)
RA: Mayumi-san, sobre essa época, esse momento da senhora no internato,
tinham vários saberes, conhecimentos que Akama-san privilegiava, né… de
ensinar e passar para uma boa formação das moças… o que a senhora tem de
recordação dessa época?
MM: Porque… então é… nessa época, Akama-sensei dava… porque pessoa de
corte e costura… três meses, estuda dia inteiro, três meses tira diploma e vai
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Transcrições A formação da identidade feminina
embora, né… mas Akama-sensei, sempre… ela precisava ter a parte da etiqueta,
né?... Então todo mundo precisava modo de tomar chá, modo de servir, essas
coisas… todo mundo precisava fazer! Então eu acho que quem formou lá, quem
estudou lá… nesse ponto assim, é… saindo pra fora… qualquer coisa, não fica
afobado. Esse eu acho que garanto… tanto como corte e costura, tanto como
comportamento, né… tudo… eu acho que não fica afobado. Pode cair tudo… mas
levanta… levanta limpo… Sabe levantar. Eu acho que… acho que tem…
importância tudo, é.
RA: Ela passava também vários valores morais… o que era bom… como essa
associação que a senhora tinha… que a senhora participava no interior, tinha essa
associação feminina, tinha alguma coisa um pouco mais rigorosa até… tinham
alguns valores femininos…
M: É… então…
RA: do que ficava bom, do que ficava bem… isso tudo era envolvido na etiqueta?
M: É… acho que o modo de… como é que fala… bastante assim… negócio
de…sobre consciência, é, pessoa pouco a pouco, com ensinamento de Akama-
sensei, do modo de servir, essas coisas… dentro a gente vai percebendo que…
é… sempre terá a consciência limpa… esse daí eu sempre falei pros meus alunos
também, pode… falei, vocês não faz coisas que pode pesar na consciência.
Porque outras pessoas não estão vendo, mas por dentro cutuca, você fez coisa
errado, coisa errado… Então não faz a coisa que pesa na consciência… Essas
coisas, acho que dia-a-dia, com próprio comportamento da Akama-sensei, as
professoras… né… tudo. Naquela época tinha “bazar”, Sempre tinha no mês de
outubro, bazar. Então fazia udon, essas coisas… tudo, né… mas tudo hummm…
colaborando, né… cada um tem sua responsabilidade, cumprindo, acho que… no
dia-a-dia a gente adquiria sem sensei forçar… a gente adquiria. Eu acho que
serviço de Akama-sensei foi muito, muito é… valor pra formação humano, quer
dizer… as moças, né… eu acho. Porque hoje em dia também… eu acho… (risos)
não sei. (risos)
RA: Qual é o seu comparativo?
M: Acho um pouquinho diferente das outras pessoas… não sei se a gente puxa
mais pra… (risos) Mas eu sinto que tudo… tudo mundo tem diferença, saiu na
sociedade também, acho que tem muita gente assim que tá servindo na
sociedade… em serviço tudo… São Bernardo tem uma que lida com o Fujinkai do
nihongo… ela também é uma delas… então tem, nesse ponto eu acho que tem
bastante força da Akama-sensei.
RA: E pra senhora… família, profissionalmente… como é que isso aconteceu?...
Teve importância? Como isso pode ser visto, como isso refletiu na sua vida
pessoal, na sua formação de família? Esses valores pra formação da sua família…
M: Não sei… (risos)
RA: Foi realmente uma boa-noiva? (pergunta dirigida ao casal)
M: (risos) boa-noiva… acho que não… (risos) acho que bravo né?!
E: Eu só trabalhava (risos)… não sei nem…
M: Não sei… eu… acho que, é… por causa das coisas que aprendeu no gakkou
né… agora, todo mundo compra roupa feita… mas eu nem, nenhuma vez comrei
219
Transcrições A formação da identidade feminina
roupa feita… tudo, tudo… enxovalzinho… tudo bordado, tudo feito em casa…
meus quatro filhos, ninguém usou roupa feita… então a gente tinha a alegria de
saber bordado… porque gakkou tinha curso de bordado também… depois… ah…
não pode esquecer a aula do Sato-sensei também… Sato-sensei foi a… música,
né… Então ele dava a música clássico… a gente não entendia nada, mas ele
falou que esse é do Bach, esse é do Beethoven… não sei o quê… ele explicava,
né… Então parece que naquilo… na hora parece que era besteira… encheção…
mas depois que a gente sai na sociedade… quando escuta uma coisa assim…
“ahhh… esse eu tinha escutado no gakkou”… lembra, né… então isso foi muito
bom também!... E aula do Hayashi-sensei que tinha aula de culinária, não é…
noosankakou… noosankakou é a gente fazia as coisas, fazia e aprendia e no
bazar a gente vendia né… isso foi muito bom também… Porque a gente sabe…
sabe quando tem bastante abóbora… sabe aproveitar… quando em alguma
coisa… sabe aproveitar… não desperdiça nada, né? Então esse também foi do
gakkou… então gakkou foi praticamente completo pra minha vida também… Foi
muito bom!... Agora Sato-sensei… Sato-sensei que vai… deslocar um pouco na…
professora de culinária, né, mas ela também é muito assim… ensinava comida…
todo mundo falava assim, “ahh… vai na escola de culinária?... mas aqui no interior
não tem material…” Pessoa fala, primeira coisa, que não tem material. Não é que
culinária não é material… você sabe aproveitar na culinária, o que sabe aproveitar
o que tem na sua frente, o que tem ao seu redor. Esse é que é culinária. Não é
que você compra tudo e faz o… não é assim… Então Sato-sensei era uma pessoa
que ensinava muito… pra não desperdiçar as coisas, então até descascar a
berinjela, então corta esse daí, deixa secar na sombra… depois usa para
fukujinzuke, né… Fukujinzuke…agora fala fukujinzuke, mas antigamente, fala que
somatsusumfuminande, somatsusumfuminazuke, né…que não, não desperdiça.
Então casca pepino, casca de… é… sobras, né? Então, a gente jogava as
coisas… (risos)… ela ficava bravo. Não é… esse daí tem que usar pra… então vai
deixar pra secar! Sato-sensei dava… (gesto de bronca)… então… e ela falou
assim: vocês ficam sabendo que aquele ministro que tem bigode assim… assim…
(gesticula na frente do rosto formando o desenho de um bigode)…perante a
comida é kodomo, kodomo… igual criança… então vocês têm que saber cativar o
marido pela comida!... (risos)
RA: Pegar pelo estômago?...
M: é… Pegar pelo estômago. Então você saiba… saiba fazer… cozinhar, né? Ela
é…a gente dava risada, mas realmente… Sato-sensei não deixava desperdiçar
nada… Então Akama-sensei no ensinamento, Sato-sensei no ensinamento… os
dois, acho que ajudou muito a gente, né? Então, em casa quando vinha
empregada, empregada jogava lixo, descascava daikon jogava… Não! Não…
esse daí não é pra jogar!... Então toda vez ela falava Esse pode jogar, ou não
pode jogar?! … (risos)
RA: Ajuda na economia doméstica, né?
M: É… na economia doméstica também… né? É porque eu comecei a vida de
casal, sem nada, sem nada… nós começamos… quando começamos… na estaca
zero! Se fosse jovem de agora, não tinha casado não… Não tinha casado…
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Transcrições A formação da identidade feminina
Porque ele tinha… ele tinha uma indústria né… essa indústria foi tocado com o
irmão dele, mas o nome… tava no nome dele. Ele estudava aqui em São Paulo e
irmão tocava a indústria lá no interior, né… e na maior… na época de maior
dificuldade, veio geada no Paraná, o banco não emprestou dinheiro né, banco
fechou e não emprestou dinheiro…
E: É que teve crise… negócio de café… com a geada teve crise então o banco
echou tudo.
M: Aí a firma… foi pra fundo, né… E nessa época que tava a maior dificuldade,
irmão que tocava a firma, com trinta e sete?... Trinta e sete anos morreu de câncer
de estômago. Aí como é que fica? Nome tá dele! (aponta para o esposo), né…
irmão morreu. Agora quem que tem que tocar? Ele tava com vinte e três anos!
E: Vinte e cinco anos…
M: Vinte e cinco anos… Aí é… ele precisou de largar, serviço de São Paulo e foi
pro interior pra resolver. E tinha quase… firma, fábrica era grande… tinha bastante,
quase cem funcionários, tinha funcionário… e cada funcionário tinha cinco, seis
filhos… então tudo isso ia passar fome!... Então tinha que tocar… mas só dívida…
um atrás do outro… e ele não conseguia fazer nada… no fim, ele negociou com
um terreno em troca, mas ele entregou tudo pra… como é que é? Saikencho…
como é que fala… saikencho… Financiador? Financiador não…
E: Esse que tem empréstimo né…
M: Tem preço… é… pessoa que tinha empréstimo maior pra firma… então eles
ficaram com o terreno e ele saiu. Ele saiu sem nada, né… deixou emprego, tudo
pra eles e saiu sem nada. Isso foi no cinquenta e cinco, né… Cinquenta e cinco.
Então pra isso… porque eles têm família grande… Então ele pouco a pouco, foi
tirando um irmão pra cá, outro pra cá… assim vai tirando um por um pra São
Paulo, mandando pra São Paulo, cada um arrumar um emprego, né… e ele ficou
sozinho… nissan tava lá né?... Ele e irmão mais… mais...segundo irmão, ficou lá
no interior, isso foi no cinquenta e cinco…
E: Então, nessa época, ela era ainda noiva, né? Ficou três anos noiva… (risos)
M: Mas o… não tem dinheiro, não tem nada, então é… nós ficamos… eu ficava no
Clementina, quarenta minutos no fundo do Birigüi, e ele morava no Mirandópolis,
né… Aliança, aliança ele trouxe e deixou na casa da minha mãe! Aí minha mãe
falou, aliança tá aqui, volta aqui que aliança tá aqui!... (risos) Três anos?... Três
anos!... Turma fala que sou doida, né?... Se fosse agora, acho que ninguém casa,
não… dá pontapé! (risos) Mas eu agradeço meus pais… meus pais falavam
assim… a gente tem que ver a pessoa. Não vai casar com dinheiro. Então se
pessoa for direito, esse negócio do aperto, do serviço… aí da coisa, né… é… isso
acontece pra todo mundo. Então precisa ver, é… vendo a pessoa, né… Então tem
muita gente que veio falar pros meus pais que… é… você tá jogando… porque de
mulher eu sou única né… Tem três irmãos mas mulher, única… é você não vai
deixar… única filhar jogar dentro do fogo, e tal, né… aí meus pais falou, minha
filha não vai casar com dinheiro. Então meus pais falaram assim, olha, você vai no
casamento, só que não pode pensar nada de luxo não!... Não tem nada de… você
tem que batalhar! Então ficou assim… (risos) não tinha nada, mas… meus pais
tavam firme, por isso que casamento não quebrou também. Aí, no cinqüenta e
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Transcrições A formação da identidade feminina
cinco, meus pais mudaram pra… do Birigüi mudou pra São Paulo no Itaim, aí eu
dei aula até dezembro e eu vim pra cá (São Paulo), no mês de dezembro eu vim
com a família pra cá. Aí ele ficou no Mirandópolis (aponta para o esposo) e ele
veio pra cá. Aí meus pais já estavam cansados, porque antigamente quando
ficava noivo, dentro de dois, três meses, casava… já casava… meus pais já
estavam cansados de deixar noivado de muito tempo… Aí nesse cinqüenta e seis,
no Ano Novo, meu pai foi cumprimentar os pais dele e os pais já combinaram, dia
vinte e oito vamos fazer casamento!... (risos) Mas… ele tava no interior e eu tava
sozinha pra cá! Pra marcar no cartório não podia marcar… pra marcar na igreja
não podia marcar… eu não podia fazer nada sozinha! Aí meu pai falou assim,
manda telegrama, manda sair Nobuo lá do interior, vim pra cá! Mas ele precisava
fazer o resto… retoque do resto das dívidas tudo né… e ele ficou lá. Aí mandou
telegrama dia vinte e oito pra marcar… marcou casamento, os pais marcou o
casamento e dia quatorze que ele veio pra cá. Só tinha quatorze… duas semanas
né… Aí eu fui no cartório, fala não!... sem noivo não dá pra marcar!... Tá bom. Aí
foi na igreja… igreja era do Frei Bonifácio. Frei Bonifácio eu batizei, primeira
comunhão, tudo. Então ele falou assim, eu conheço você, então eu posso fazer o
casamento antes do cartório!... (risos) Faz o contrário, né?... Aí ele (o esposo),
morava no Colégio São Francisco, então o padre Takeuchi conhecia muito bem.
São Francisco lá do Ipiranga, né? Ele morava lá… colégio, né… Ele tava no
interno do Colégio São Francisco, então conhecia tudo padre e tinha um padre
que chamava Yochiura, atualmente acho que tá no Faculdade do… Faculdade da
Sofia… lá do nihon, ele tá lá… não sei se tá vivo… não sei… aí eu fui lá no colégio
sem ele… ele falou ah! Eu conheço Nobuo desde pequeno… pode casar hein!
Então ele deu atestado e nós casamos no dia vinte e oito! Casamos no… aí o
negócio do convite! Não tinha dinheiro nem pra fazer festa, né… aí obasan que
ficou madrinha, aí doou tudo prato de coxinha pra gente… Mas meu pai falou
assim, pessoa convida, não tem nem festa!... Naquela época, sem festa, ninguém
fazia, né… Então como é que vamos fazer?! Aí no jornal Paulista tinha o
conhecido, tal de Kono, era presidente do Jornal Paulista, ele falou assim, faz um
convite, escreve o nome do padrinho, né, fala assim, tal, tal dia, fulano casou… faz
esse tipo de cartão e manda pra pessoa, e convida só algumas pessoas… e ficou
assim, fez-se o casamento, mas cadê o dinheiro pra fazer o bolo? Não tem! Aí
Kikutyan falou que ia fazer pra mim. Aí Kikutyan fez… eu paguei só material
(risos)… ovo e açúcar… Kikutyan fez o bolo pra mim, né… e nós casamos…
então, colega do gakkou então eu convidei só Akama-sensei e Hayashi-sensei e
depois Hayashi-sensei no filha, Kikutyan, colegas foi… acho que convidei só
duas… e o resto só algumas parentes… dele, né… Nós casamos no dia vinte e
oito de janeiro de cinqüenta e…
N: Pior seu irmão, né?
M: É! Meu irmão tinha vindo do interior, né… dezembro que tinha vindo pra cá,…
morou no Itaim mas vinha na festa, mas ele não conseguiu achar a casa e foi
embora! Aí depois do casamento, a gente não tinha dinheiro, então não ia nem pra
lua-de-mel, nem nada… aí irmã dele falou: Vai! Nem que for até Santos!... Vai, vai,
vai, vai… Aí, até onde que vamos? Aí quando estava no gakkou turma foi
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Transcrições A formação da identidade feminina
passeando no Itanhaém, falou que Itanhaém estava muito bom, então eu não
conhecia, quando estava no gakkou, como eu era encarregada do gohan, então
alunas viajavam, passeava, piquenique, essas coisas… eu nunca fui… Isso
Akama-sensei depois falou assim: Puxa vida, devia ter pensado um pouco mais
em você… mas eu nunca fui… turma foi no Rio, Santos…foi Itanhaém, tudo…
mas eu nunca fui… nenhum lugar… mas a turma falava que Itanhaém tava tão
bom, tão bom, que então eu falei, invés de ser Santos, eu vou Itanhaém e a gente
foi sem conhecer nada, nada… andamos quase dois quilômetros, areião…(risos)
N: Ah, mas você que falou… ela falou que conhecia tudo lá!
M: Conhecia nada (risos)… falou que turma falou que Itanhaém é bom… então…
vamos lá! No ponto final do ônibus, hotel não tinha lugar lá… então a gente
precisava voltar, mas não tinha condução nenhuma…ele carregou a mala e eu…
(risos) tirou o sapato e… andando descalço e… até no hotel…da cidade né? Aí
ficamos, uma ou duas noites lá… foi assim, então nosso… casamento tudo…
R: e shashin?
M: Shashin?... Shashin é… sabe o que é que foi? Foi no fotógrafo Katayama-san,
aí o fotógrafo falou assim: olha, depois do horário da igreja, não tem vaga. Aí nós
tiramos fotografia… tudo ao contrário! Aí fomos pra igreja… Kikutyan que fez o
cabelo… Kikutyan que enrolou bobs, depois que penteou… aí eu fui… primeiro eu
fui no fotógrafo, depois foi na igreja, depois de duas semanas que nós casamos no
cartório. Foi assim… então tudo contrário. Então fotografia também, só tem uma
fotografia do casamento… depois veio aquele que vem tirar… sem, sem…
convidar… tem gente que tira, né… só esse fotografia que ficou… o resto não tem
nada… (risos) Só tem o que tirou no Katayama e o resto é… Katayama
atualmente tá no Koi-no-sono, né… depois que faleceu a esposa… ele falou que
não quer dar trabalho pro filho… ele tá lá… mas ele tá bem né?
I: Há pouco tempo atrás ele ia lá na escola tirar foto…
M: Ele sempre vinha tirar fotografia no gakkou também… mas depois que perdeu
esposa, ele falou que dar trabalho pra filho… e Koi-no-sono também, não tem
vaga… depois que fica de cadeira de rodas, não tem vaga… então Katayama
falou que antes que fica isso eu vou lá… e ele tá lá.
Então… minha vida é… isso… mas eu devo, sorte que tinha Akama-sensei e
Sato-sensei… depois ajudou bastante foi a Aida-san, a esposa também… do
banco América do Sul, né… cunhado do Tachibana-san… ajudou bastante… ficou
um ano e meio hospedado na casa dela… comia, dormia… e foi assim… então,
mas… é… gakkou enquanto estava no gakkou era muito divertido, porque eu fazia
gohan com aquela panela grande, né? Cada vez, usava duas latas de vinte litros
de carvão, carvão né… naquela época não tinha gás… então tinha um fogão
grande… dois… um feijão, e outro, gohan… a gente, depois que acaba de comer
gohan a gente pegava duas latas de carvão, jogava lá, né… e fazia gohan. Então
a brasa… como não dá pra diminuir o fogo, enquanto o gohan tá fervendo, a gente
precisa tirar a brasa. Pra tirar a brasa, aquele pá de pedreiro, que tinha um gancho
bem comprido, então meu pé aqui… pelo… não ficava nada… todo dia queima…
Então aqui tira a brasa e põe no lugar do feijão e da sopa, pra cozinha… (durante
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Transcrições A formação da identidade feminina
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Transcrições A formação da identidade feminina
Faleceu… acho que tá viva… ela, ela, acho que tá viva… esse não sei. Ela casou
com ele… não sei… Vitório Oshiman… Kohei-sensei, Kumada-sensei, Sato-no-
ojisan, Kimura-sensei… tá vivo, né? (…)
Sato foi pra Guaraçaí, foi na comunidade que fala shinse. Já foi, no shinse?...
Fui… eu fui lá (E.Akama) Então… Sato-no-ojisan foi lá… Esse daqui Kimura-
sensei… esse daqui… acho que tá vivo sim. Esse daqui é Ikawa-sensei. Esse tá
no Mairiporã. Ela faleceu, agora Sugiyama-san tá vivo. Ela também acho que tá
bem, Narita-sensei, acho que tá vivo né?... Não ouvi que faleceu. (…) Agora
obasan faleceu, Araki-san… esse daqui. acho que faleceu depois… acho que deu
trabalho no Kohei-sensei, né?... filho… então aqui já faleceu… acho que metade
tá falecido, viu?...
Ai… Inomi –san… não, Terutyan… conheceu eu… eu trabalhava na cozinha,
Tsutsumi-san conheceu eu por causa que eu confundi Sato-sensei com
Hiromityan, filho do Araki-san, cozinheira. Porque eu ia sair do Jogaku, aula à
tarde né, eu saía, logo eu precisava ir colocar carvão no… fogo no que cozinha
gohan e tinha… não sei… acho que anatatati não deve lembrar… não viu né… era
um assim… feito de cimento assim grande, tinha dois, e dentro tem um vazio pra
colocar dois latas de carvão. Depois colocar brasa e a gente colocava panela
grande, que nem ofurô grande né, e colocava lá, então lá, o arroz no balde,
carregava e despejava lá e depois a gente colocava água. Então, quando eu
terminava a aula, eu preciso correr pra colocar, pegar fogo, na manhã, não dá
tempo, né… então eu terminava aula e eu já, primeira coisa, deixava o material
pra colocar o avental e corria pra cozinha pra… obasan deixava em cima da pá,
deixava brasa já pronto, né. Então eu coloco brasa, e… quando eu subi, Sato-
sensei tava acendendo cigarro no… com brasa. Aí eu confundi com Hiromityan, foi
detrás… Sato-sensei era bravo, ninguém chegava perto… aí eu peguei assim no
ombro, falei “korakorakorakora…” Aí obasan falou nanni o … ela ficou brava né?
Ficou brava e deu risada. Aí eu tinha… fiquei lá e até Sato-sensei ir embora… não
saí. Todo mundo falou, aquela cozinheira, diz que corajoso, Sato sensei ni
korakorakora te né? Foi ver quem que era, nessa hora, Teru-tyan disse que
conheceu eu. Isso ela lembra… mas ela… (…) Ele era pequenininho mas era
bravo… Uma vez tava treinando coral, acho que aquela música do Mendelson…
aí o otte barito… disse que não cantava direito. Ele tirou o guarda pó e tacou no
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Transcrições A formação da identidade feminina
chão e foi embora. Todo mundo ficou… por isso que todo mundo tinha medo do
Sato-sensei. (…)
Handa-sensei era boa pessoa… e Yamamura-sensei também. Esse filho dele,
estudou junto com ele… Getúlio Vargas… esse, Ishii. Ele deu aula de… essa
época eu não estava no gakkou. Quando veio Furuhashi e o… aquele nadador…
Furuhashi é que era famoso. Esse é no Vergueiro. Outro era… Hashizume, né?...
Esse é… Vergueiro, mas onde tinha esse campo, a gente que… nós que
fizemos… era terra. Então no barranco nós quebramos, fez o campo de tênis,
quadra de tênis… e no lado tinha casa velha e aí que fazia ofurô. Ofurô, aquele
ofurô grande, fazia com carvão, né? Só que… numa casinha assim que… não
tinha forro, casinha. Tinha teto, mas não tinha… e no lado, tinha um abacateiro
grande, sabe? Aí… diz que um dia, não sei quem que tava tomando banho e disse
que tinha uma telha quebrado, diz que olhou assim, lavando assim, olhou pra telha,
aí diz que viu dois olhos lá no, lá do quebrado. Um brasileiro tava espiando. Subiu
no telhado, né… espiando. Aí, não sei quem que tacou água com bacia, aí… partir
daí, até consertar telhado, o Komoda-ojisan ficou lá em cima tomando conta, pra
ninguém subir, né? Komoda… aí, ele ficou resfriado, turma deu risada. Então
nesse campo que foi tirado. Ano Vergueiro no gakkou,ne… Atrás… no lado. Fazia
taissô… primeiro né, fazia taissô… então esse daqui, todo mundo carregou terra e
fazia…
Esse português do Toshinobu-sensei. Esse Akama-sensei… etiqueta, né… Então
como… modo de comer… pessoa não do Jogakubu, quem estudava japonês…
esse quem estudava corte costura… né… Akama-sensei ensinava como usar o
garfo, como usar a faca, assim, né…
Esse daqui, aula de português. Esse daqui já faleceu. Esse… ah… ela tem hotel
na Curitiba. Ohara’s Hotel. Tem dois, Ohara Palace tem lá… perto da… Hara’s
Palace Hotel, acho que. De esquina. Bem no centrão, onde tinha praça de frente.
Agora tem outro… esse Ohara’s Hotel. Kadomoto. Kadomoto o ima wa Hara,
sobrenome Hara. E esse daqui, esse daqui tá no Curitiba também. Ela virou
aquele religiosa do… como é que fala, na Vila Mariana, onde tem o… budista do
Ramen no Rorengekyo, Klabin… asoko no arengekyo. Tem igreja. Ela é prima
do… prima do marido da Terutyan. Hirai-san dake do ne. Etooo… ima na dakedo.
Como é que era o sobrenome dela, Hirai-san? Hirai-san no
sobrenome…nandata… Hirai é antigo, agora é… Komatsu djanai… Komatsu é…
Hirai-san…como é que é? Sobrenome dela? Mas esqueço…depois se lembrar eu
falo… ela tem… ela tá como… fez o curso lá no Japão, ficou bonza mesmo…
disse que está cabelo tudo raspado! Porque ficou… budista… não do
Namibutsuda… é do namiohorengikyo… é… nitiren… nitirenshyo… do… separou
do nitirenshyo. eu não sei como que fala. (…)
Fica numa esquina assim… tem bastante coisa… ele sai de vez em quando no
jornal, eles fazem bazar assim… doa pra vários entidades né? (…) e estudei
junto… só que nessa aula, eu não estou porque trabalhava na cozinha… não deu
pra pegar… ela é Shibuya-san… ainda tá… toda semana quase, eu falo com ela.
Esse aqui casou com aquele agrônomo… Hiroshi Ikuta, do Mogi das Cruzes,
famoso… Ikuta… casou com ela… Esse daqui chamava Negishi, mas a gente
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Transcrições A formação da identidade feminina
chamava de Neguinha… Ela faleceu já… tempo… agora esse aqui é o Hirai-san,
Arai-san… esse daqui mora lá na Vila Mariana mesmo. Arai… marido é agrônomo
e filho também é agrônomo. Arai mora lá no… perto do Afonso Celso… Descendo
da Afonso Celso, aquela deshita tokoroni ela mora… Arai-san… Terutyan acho
que conhece. E esse daqui tem… ah… nihon no gakkou… Nova Andradina…
Mato Grosso. Nova Andradina… Fez o curso de professora, um ano depois de
mim. Eu fiz no primeiro ano, depois, ano seguinte, ela foi. Ela… depois lecionou
um tempo lá em Marília, depois casou e foi pra Nova Andradina. Porque marido
dela é… como que chama… ah. fala… Sokurioshi… como é que fala? De
Andradina… (Topografia?) É… aí ele está… Andradina… foi no Mato Grosso,
trabalhar com… e lá foi, Nova Andradina. E o marido dela foi, e ela foi também.
Essa… nome antigo é Akama. Ima wa é Shi… Shiroma djanai… Shirota! Shirota
Miyoko!... Esse daqui é Aki Sereiko… ela deu aula de corte e costura também no
gakkou um pouquinho… ela não deu, não deu muito tempo não… Esse daqui é
uma inteligente… (Eu cresci vendo ela…). Estava trabalhando no nihon depois
tinha voltado. Aí em noventa e cinco eu falei que ia pro nihon né… Eu falei pra
Shibuya-san, “Vamos passear junto comigo?” Ela falou… “ah… vocês vão de
casal… eu vou junto casal… fica chato!” Eu falei, “não somos casado novo!
Vamos lá junto!”… né? Aí nós viajamos dois meses junto! Ela falou, olha, se não
tivesse aquela viagem…
E: O interessante foi a… ida…
M: Ida? Ida… eu dava aula de nihongo, eu tava muito ocupada, por que pra sair
pra viagem, eu precisava preparar muita coisa, ela telefonava, eu não estava, aí…
não deu pra combinar, não é?... Aí ela falou, “então tal dia você vai?”, “Vou!”… “E
como é que vai fazer o itinerário, né…” , “A gente combina dentro do avião…”, eu
falei assim. “Mas dentro do avião é grande, não dá pra encontrar, não é?”… Mas
no dia, choveu… nós saímos sete horas daqui… era meia noite, meia noite e
pouco lá no Guarulhos, não é… Nós chegamos quase uma hora lá no
Guarulhos… porque Rio Tietê tava inundado… tudo, tudo parado… Só que ela,
pegou radial, ela foi… diz que no aeroporto procurou, procurou… disse que não
achou, aí ela pegou, né?... Pegou o avião e foi… então se… ela chegou no Japão,
se eu não tô, né… ela fica apavorada, né? Então eu mandei… ela tinha deixado o
endereço lá do nihon né, aí eu mandei um fax pra lá, “eu atrasei mas dois dias
depois eu vou!”. Aí deu quase cinqüenta pessoas que perdeu o avião. Aí nós não
perdemos passagem, né… aí dia seguinte… vôo seguinte nós fomos. Aí atrasou
dois dias… em noventa e cinco… é… e foi, depois encontrou lá no nihon, aí ela
viajou comigo, né… então… só nós dois e ela… porque meu filho falou pra pai ir
passear porque eu tinha ido uma vez, mas ele nunca tinha ido, então meu filho
falou, “vai passear…”, e ele deu dinheiro, então nós fomos. Só que fomos na
época… pior época. O dólar estava… nihon no okane estava muito caro. Às vezes
era oitenta… um dólar era oitenta yenes, assim né… trocava dólar, chegava
pouquinho só. E nós fomos, encontramos no Tokyo, Aí depois nós fomos viajar
pra lado do sul, né… aí junta até… achou assim, Kumamoto assim… nós fomos
junto. Passou Hiroshima… tudo, ela andou junto. Depois quando… eu tenho aluno
no Hokkaido… no Sapporo né… tem três alunos que tá lá. Aí esse aluno falou pra
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Transcrições A formação da identidade feminina
vim, né. Aí Shibuya-san falou “ah… mas vai na casa de seu aluno… não, eu não
quero incomodar…”… “Mas elas são nissei não tem importância… vamos lá!”… E
ela falou que não ia, não ia… até um dia antes, né… Ela ficou falando que vai ou
não vai… e depois ela foi. E ela gostou… Hokkaido… ela… minha aluna, deu dois
dias de tudo carro à disposição e passeamos bastante…
Esse daqui era horário do bordado. Ah… essa sensei ensinava bordado… Essa
aula também eu… participei muito pouco. Essa aula, o português e o bandolim, eu
participei muito pouco… quem trabalhava não dava tempo de fazer essas coisas…
Essa aula do Suzuki sensei. Esse, Ito-san… Maria. Formou advogado, mas o… lá
na Avenida Indianópolis, pegou a “racha”… Dois rapazes… ela tava no meio,
pegou ela… matou na hora… Esse faz… quantos anos… cinco, seis anos… né…
ela morreu. Aí eu fui, fui quase meia noite, tava chovendo, ela tava coberto… tava
jogado na Avenida Indianópolis. Esse corte e costura da aula da Suzuki sensei…
Então algumas pessoas eu lembro, mas… não lembro muita gente aqui… Tinham
muitas máquinas… mas cada vez que uma pessoa costura, tem que tirar a linha,
cada um tem seu material… tem que tirar, né… Agulha e tudo é do gakkou né,
mas… (…)
Esse daqui… Sugai no sensei…
E: No Tokyo, nós fomos no Yoichi daigaku né?
M: Ah! Nós fomos na faculdade do… Sofia, né, do…
E: Um padre que é conhecido meu… era interno do Colégio São Francisco… e ele
estava lá né… depois ele foi pra Roma, tinha um moço aqui do Hokkaido… kumon
né… e já tá velho né… (risos)… ele andava com “ponto”…
M: com garrafa térmica, ele andava… “esse café é igual do Brasil, não é igual do
Japão!” Ele coava café e andava segurando… quando vem visita do Brasil, ele
servia!... E lá encontrei com bispo de Aparecida. Rochaves. nani?... Roko
syders… Lorscheiter (…) esse padre… nós encontramos lá no nihon. A gente
sabia que ele estava lá, né… esse também… Esse não é da nossa turma… Esse
Terutyan! Turma Terutyan… (…) Esse daqui é esposa do Nagao, lá do Mogi…
Granja Nagao. Agora tá… fazendo negócio lá do centenário do Mogi, tava
trabalhando junto com… Esse daqui morreu… Então, né, irmã dela, que morava
interna, então falou pra conversar com irmã dela… esse morreu… outro nesan,
né… Aí ela falou “eu tô gagá, já não pode…” (risos) Esse daqui… não sei onde
que tá…
M: Solteiro podia vir solteiro, mas a mulher não podia vir solteira, então precisava
ser adotiva de alguma casa.
R: Então conheceu seu pai aqui?
M: Aqui… Pode ser que conhecia… porque no Japão estudou rikokai… Rikokai é
uma associação que prepara imigrante, ensina português… assim então minha
mãe já sabia “gato”, neko…”cachorro” , inu né… essas coisas… já veio sabendo,
né… sabendo ler português também, né… lá acho que tem curso rápido desses
de seis meses, então quem candidata, entra lá e estuda e depois vem pra cá, né.
R: Em que ano que eles vieram pra cá?
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Transcrições A formação da identidade feminina
M: Ele veio no mil novecentos e vinte… não sei se vinte e sete ou vinte e oito. Meu
pai veio depois… pode ser mesmo ano… um ou dois navios depois, meu pai veio.
Minha mãe veio antes… acho que vinte e oito… eu acho.
(…)
R: Seus pais fizeram todo aquele trajeto? Foram para o interior… na agricultura…
a senhora nasceu aqui?
M: Nasceu aqui, mas lá na Aliança… aqui no Brasil mesmo. Aqui no Brasil. Ele
também (o esposo), só que ele… registro está errado, então, está um ano mais
velho… Porque casa dele, registro está tudo bagunçado! Registro da família dele
e em casa não tem nenhum bagunçado. Porque a família dele, veio bastante
gente, né… depois ficou sem registrar e quando acho que a prefeitura, prefeitura,
né?... no cartório…
Nobuo: É cartório. Veio tudo que estava lá registrou 1933, né… então até isso tava
sem registro… quem nasceu… porque não tinha cartório lá, né.O cartório era Alto
Pimenta.
M: Alto Pimenta… Eu sou do cartório de Araçatuba, mas Aliança como tinha,
nosso lugar tinha cooperativa, cooperativa ou assim, registro… tava tudo certinho.
Não tem nome errado. Também difícil. Mas lá onde eles moravam… acho que não
tinha cooperativa… Ka… Não sei… Não tinha né? (pergunta ao esposo) Acho que
casa dele veio com bastante gente… família grande, né? Então e depois essa
segunda mãe… é da primeira mãe… filho tinha… Porque meu sogro era viúvo,
né… e minha sogra casou, foi no lugar da irmã… e ele foi marido da irmã mais
velha e ela é irmã caçula, então casou com diferença de muita idade. É… minha
sogra sofreu bastante… Por isso que tem, com irmã mais velha com minha sogra,
diferença é muito pouca. Porque irmã mais velha que, acho que morreu no parto,
aí depois a minha sogra… acho que com dezesseis anos assumiu… Tinha muito
disso… Quando homem fica viúvo já era… assim antigamente. Minha sogra foi
assim… Então minha sogra acho que tinha quinze ou dezesseis anos, já foi lugar
que tem quatro, cinco filhos… então acho que… ela sempre fala… eu queria
estudar mais… Aí ela teve mais. Tem… ao todo tem… treze irmãos. Da minha
sogra, acho que tem oito! Antes tem… um ficou no nihon … eu fiquei com dó
desse que ficou no Japão… sozinho…porque ele falou assim que se militar
chamar… ele quer candidatar na marinha… mas se candidatar na marinha, pode
ser que navio perde o rumo, chega no Brasil pra gente poder encontrar com meus
pais… né?... disse que falava isso, né… Dá dó né? E ele morreu… Ele morreu…
Quando eu fui no Japão, a mãe de criação, obatyan tava vivo… ela contou pra
mim. Kawaisoo né?!
(…)
M: Aquele tracoma, antigamente era muito rigoroso, né? Tem um vizinho também
que mulher tinha tracoma e o filho com a mulher ficou lá no nihon, depois de sete
anos, ela veio pra cá.
N: Aquele filme…
M: Menina tinha tracoma. Meu neto, menino… tá lá no Japão, disse que gravou
todinho… depois vai mandar pra mim.
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Transcrições A formação da identidade feminina
(referência à novela “Haru to Natsu”, gravada tanto no Japão quanto aqui no Brasil,
utilizando as estruturas da Fazenda Tozan em Campinas, como acomodações dos
imigrantes japoneses no Brasil. A novela conta a história de duas irmãs, Haru e
Natsu, que, devido à imigração, são separadas, pois a onetyan – irmã mais velha
– não podia viajar por motivo da presença de tracoma – doença ocular. Separadas
por vários anos, somente se reencontram em idade avançada, com a vida e a
família constituída, netos, etc. No decorrer da novela, vão sendo mostradas as
trajetórias de vida seguidas por cada uma das irmãs, uma no Japão e a outra no
Brasil.)
M: Mas acho que tem muitos assim… casos… Tinha uma moça… eu não sei
direito, mas, tinha minha mãe, quando a gente era pequeno, sempre contratava
uma moça como… tomar conta de criança, tudo, né, e ela disse que era de uma
família rica do Tokyo. Tinha comércio grande e Tokyo teve terremoto bem… e
quebrou toda a loja e eles ficaram a zero… e parece que pai vendeu essa filha pra
pessoa que vinha pra Brasil, né. E a gente chamava onetyan, onetyan… Quando
mamãe passava muito apuro ela chamava…
(...)
M: Conheceu nihon? No Sendai? Akama-san falava muito no Sendai… Aí quando
Akama-sensei voltou, falou Ah!... Sendai… (ouvir novamente…) Nós fomos
geralmente cheio de estudante, nós fomos ver no… lá… Aquele homem que… ela
tem… ah… esqueço o nome… datemasan… e só enxergava só um lado… tem
estátua lá no…Sendai… depois foi ver a música que fez a música do Goka… Nós
fomos. Aí eu fui, depois eu comprei um doce do Sendai. Doce dali… eu levei pra
Akama-sensei…deki masu dayou… Aí ela ficou contente… Cidade de estudante
né… tá cheio de estudante!
Matsushima eu não fui… Eu fui Sendai… só fez turismo no centro e depois…
Shibuya-san no tanka, ne…
N: Dokoê… Sendai?
M: Sendai. Não sei se foi Shibuya-san… are wa… Fukushima no tanka ne…
Fukushima… acho que Shibuya-san foi também. Aí nós fomos, depois de
Sendai… Fukushima… Hokkaido… Nagano… depois Akita, eu fui também. Akita
no Tokyo, estação Shibuya, tem aquele cachorro do Hati. No Hati mare ta falou
cidade o date. No Akita-ken. Akita-ni. Estado do Akita, né. E Hati nasceu na cidade
que chama Oodate. E na estação, saindo da estação, estação tem uma cadela
com filho e tá amamentando. Tem a estátua lá. Então mãe do Hati, essa cidade.
Aquele cachorro que tá no Shibuya, né…
Cachorro que morreu esperando o dono não sei quantos anos…
E: Dez anos!
M: Então tem um… pequeno assim, mais pra interior, tem um lugar que chama
Komachi. Sokoni, tem a irmã de um professor lá no São Bernardo, mora lá…
Então ela falou assim… ah! O onityan… iko, iko… Eu fui. Eu fui duas vezes na
casa dele. Mas fizeram um banquete! Nossa! Gochisou não cabia naquela mesa,
nihon no zen né? Gohan, sopa, ficou tudo assim, lá embaixo… a gente comeu
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Transcrições A formação da identidade feminina
sentado mas acho que nem um terço… tinha um monte de gochisou e nunca vi
tanto gochisou …
M: Aí ela levou. Primeira vez que eu fui, foi na represa Toada. Acho que só tinha
quatro ou cinco pessoas, mas saiu aquele barco grande de passeio só pra nós.
Fez uma volta na represa Toada, né!. Tava muito bonito, mas, segunda vez wa
sangatsu shigati data, acho que foi abril, então toada… não tem graça… aí ela
levou que firma?... Mistubishi, isso… lugar turismo, buraco onde escavou…
escavou ouro e o bronze. Aquele Buda grande do Nara, disse que o bronze que foi
tirado lá, né? Então dentro do buraco assim, ano… tem… como é que chama
aquele negócio?... Aquele trem djanai ano senta… Carrinho… parece que tá
pendurado, a gente senta e coloca o… (fone) no ouvido então conforme vai
andando, vai andando… aí conta… aqui tinha isso, conta tudo… é muito bacana,
né… então a gente vai… vai indo assim… tem lugar que andou com aquilo, depois
andou a pé também, né? (primeiro nós andamos a pé) Depois soreni no te ashi
te… arui te tokana no nanta imo zaru oro to takana no… fiscal na zembu… fiscal
pra não levar… tem posto de fiscalização, tudo essas coisas… é.
E: lá também tem… lugar que fica trabalhando com solda e… quando a gente
passa lá, começa a movimentar…
M: Então solda sai faísca… tem boneco, massa, quando chega gente, tchi, tchi,
tchi… daquele sai faísca, parece que tá… boneco faz assim… então parece que…
boneco tem tamanho do homem, parece que homem que tá trabalhando. Passou
na frente do refeitório, onde tá servindo chá assim, com chaleira tá assim… outro
tá sentado, um tá comendo… parece que todo mundo tá sentado lá… muito
interessante, depois tinha um lugar que tinha pequeno cruz na frente do buraco,
né… aí disse que esse daí é… aquele fugitivo da Nagasaki, Nagasaki…
perseguição cristã, família fugiu, foi até Nakita, trabalhou na escavação a família,
né… então soko no hairuma to… então colocou pequeno cruz, antes de entrar no
buraco, família reunia, rezava e entrava. Então eles tem kokoni coloca um hano…
bolsa assim amarrado na cintura, né… e no… quando antes de entrar, esse daí,
bolsa, coloca o nanda… nomi wanata mo, nome nante yu… formão?
E: Não é formão… este que o pedreiro usa…
M: usa pra fazer o buraco na terra, né… então eles coloca aqui, trás tudo
ferramenta. Quando chega no buraco, eles tiram a ferramenta e esse daí fica
assim, ó!... Embaixo do oshiri… fica zabuton né… e sentado e coisa… falou que
era com trinta centímetros quadrados né? Mais ou menos… é um lugar pequeno!
Eles entram assim, cava e tira… buraco pequeno. Soko de dote… então tem
essas coisas… Tokyo ni… doko kara Tokyo made iku… distância… é uma
distância muito comprida esse buraco. Diz que tem bastante e… época que tirava
bronze assim, diz que ao redor de onde tirava… (E: bronze não… cobre…) Cobre
né… ao redor desse lugar, formou uma cidade e as meninas diz que eram muito
ricas… tudo mundo vestia roupa bom… muito bom. Depois diz que acabou né…
Ni tara soko ni tara… Eles vendem kinotya, kynotya wakani… coloca pouquinho
assim… então fundo ni… fica um pouquinho de ouro assim… Kinotya… tinha…
sonande… sokoni nós fomos, né… à noite tomar, fomos até lá, né…
(…)
231
Transcrições A formação da identidade feminina
M: Essa amiga aqui mora no São Bernardo, mas daqui a pouco diz que vai morar
na Vila Mariana… metrô… metrô Vila Mariana ela vai mudar e essa amiga, como
morou no Japão muito tempo e marido dela é químico, trabalhou numa firma
italiano e ele falou que sessenta e cinco anos eu aposento, eu vou para toda a
atividade… falou né… chegou no ano passado, acho que ficou… aposentou,
agora eles… outra vez eles foram no… não sei se foi… aonde que foi? Viajou
casal. Combina com amigo do Japão, aruko-kai… aruko-kai aquele aruko aruko…
da no… andani… caminhada soronande shyou? Nihon ni… agora vai pra África.
Dia oito elas vão encontrar… vai sair oito daqui, dia oito sai daqui, vai encontrar na
África, vai pra África encontrar com a turma do Japão. E kono mai wa, não sei se
Chile… acho que foi pra Chile… acho que foi né… então agora só, parou também
com toda atividade, só… eles tem… muito rico né… então tá… tá assim… Bom!
R: A senhora havia escolhido essas fotos aqui… gostaria que falasse um pouco
sobre essa que escolheu… porque eu vi algumas delas até no Boletim Ayumi. E
como a senhora havia escolhido essa foto, eu gostaria que a senhora falasse um
pouco dela pra mim…
M: Aqui foi quando Akama-sensei visitou… é… porque Birigüi tinha família dela
Awase… né? Um fazendeiro que tinha fazenda de gado né, eles tinham acho que
três pessoas estudando no gakkou. (Kawase?) Kawase… itiban chama Teiko,
faleceu acho que ano passado lá no Jacareí, ela amputou perna e diabético-te…
Kawase Teiko faleceu… Sore kara… ela é Mariko… Esse daqui Kawase Mariko, o
segundo esse daqui. Tá aí… Teiko não está aí… E… agora esse daqui eu não
conheço quem que é… não lembro quem era… agora esse… Maria Ito… Maria Ito
é… e essa senhora eu não sei também quem que é não… Essa pessoa é Goto. É
esposa do gerente Banco América do Sul, foi…
Agora esse daqui, Mori-san. Esse daqui tinha escola de corte e costura lá no
Birigüi. (…) É. Ela tinha escola de corte. Esse foi na casa dela, Mori-san, né… E,
agora, essa esposa do Banco América do Sul era formado, mas eu não sei que
época que se formou… e como é que ela chama, eu não sei… eu sei o nome só
do marido, Goto, né… Agora esse daqui… não lembro… Depois eu e… essa
daqui é… Nomakura Aiko. Bom… ela tinha escola de corte e costura também.
Baixinha… gordinha… ela mora em Santos agora. Essa daqui era prima… Maria
Ito era prima dela. Esse que morreu no desastre, né… (…) Pra falar a verdade,
Birigüi, eu morei… era pra ficar seis anos, mas eu fiquei muito pouco tempo…
depois eu mudei pra Birigüi fim do ano, e começo do ano, eu vim pra gakkou, né,
cinquenta e um. No interior do Birigüi, quarenta quilômetros mais ou menos, tem
um lugar que chama Clementina, né? Esse daqui é cidade do Birigüi. Da
Clementina, essas pessoas é da Clementina. É onde eu dei aula, né? Clementina
foi primeiro lugar que trabalhou… Aula era aqui… Pra mim foi só da aula de
nihongo. Clementina, né? Clementina, agora, estrada é asfaltada, vai num
instante… mas naquela época demorava duas horas e meia… porque caminho de
terra, no meio do cafezal… vira pra cá, vira pra lá… cheio daquela poeira
vermelho né… então eu não voltava… voltava só uma vez por semana… uma vez
por mês… ou cada duas vezes por mês que eu voltava pra Birigüi, né?
232
Transcrições A formação da identidade feminina
(foto birigüi) Essa reunião da Akama-sensei… visitou, acho que foi… visitou os
formandos… eu não sei… ima-no escola tateru mae dataka… eu não lembro não,
esse detalhe… ela foi visitar, só de visitar ou… tinha objetivo de construção…
porque Akama-sensei andou muito pra pedir ajuda, donativo né?... da construção.
Ela andou, foi pra Mato Grosso, foi pra Campo Grande… ahhh, andou muito!...
agora, essa vez, eu não lembro pra que, que reuniu. Esse (da foto), todo mundo
mora em Birigüi. Essa daqui mora no… eu dava aula no Clementina, e esse daqui
é do, morava no Fazenda seguinte, Santópolis… Eu nunca foi até Santópolis, mas
Santópolis depois, acho que saía pra Tupã. Entre mais ou menos, Araçatuba e o
Tupã, mais ou menos no meio, ficava Clementina e o Santópolis. Agora outras
pessoas, eu não sei quem que é…
Ninguém ainda estava casada… essa daqui passou solteira né… Esse daqui
casou com… é… Elas eram senseis? Acho que dava aula de corte e costura.
Mori-san também dava aula de costura… e agora elas… não sei não. Esse que tá
com criança, eu não sei quem que era. Não lembro quem era… Não lembro esse
daqui…
(…) Esse daqui Clementina… Esse aqui acho que morreu já… depois da reunião.
Alunos. Alunos e tem alguns que não é aluno. Esse senhor não é aluno, esse é o
alfaiate que eu trabalhei. Porque terminava três horas, eu terminava aula, né…
porque quatro horas made atara… porque quem mora cinco quilômetros assim
longe, fica escuro, então três horas precisava encerrar a aula. Então depois de
três horas, eu ficava livre. Aí eu fui trabalhar nesse alfaiate até sete horas mais ou
menos… era perto. Então eu trabalhei… primeiro fiz arremate, essas coisas,
ajudando, né? E depois ele ensinou cortar… não ensinou paletó, não aprendi, mas
calça, cortar no tecido, eu aprendi. Esse daqui tá morando no São Bernardo agora.
E… o resto… esse também não foi aluno. Casado com meu aluno… né… agora o
resto… o resto tuuuudooo… (…)
Esse daqui trabalha numa agência de carro… é… daita… trabalha no Honda.
Esse Mitchan-né… esse Mitchan desho?... Esse daqui, esposa não veio… né…
é… então o resto, ah. Esse daqui também não foi… filha dele. Agora esse daqui,
esse daqui mora perto do, perto do Pereira Barreto, veio só pra reunião! Yaiko
Suzuki, agora não sei que nome que é. Ela depois deu aula de escola estadual, né,
aposentou… ela veio só pra… então resto é tudo, tudo… Ela era muito brincalhão,
então até hoje, casada com brasileiro, mas ela é muito brincalhão até hoje. Esse
tá morando no Bauru. E… esse daqui que coordena sempre. Esse tá morando no
Santo Amaro. Esse tá em Campinas… e… esse daqui, esse era o aluno mais de
idade… e eu tinha vergonha de dar aula pra ele, que era grandão, moço, né…
esse é… capitão. Capitão de salvamento da aeronáutica. Aposentou e a… assim
tudo, o resto tudo, tudo aluno. Só tem três, quatro que não é aluno.
233
Transcrições A formação da identidade feminina
Dousoukai
Informantes: Kazuko Baba (KB), Kikuko Ogasawara (KO), Aiko Fujita (A) e
Shigeru Fujita (S), Mine Uchida (M), Rutsuko Mochizuki (RM), Tyoko Hayasi
Shimano (Ty), Tomoe Suzuki (To)
Pesquisadora: Regina Chiga Akama (R)
Data: 06 de outubro de 2007
Horário: 14h
Local: Residência de Mine Namatame Uchida
Duração da entrevista: 2 horas
Aiko Fujita
Pais: Jokichi Tabata e Shinae Tabata
Esposo: Shigeru Fujita
Filhos: Satoro Fujita
Neta: Eri Fujita
Emi Fujita
Kaoru Fujita
Netas: Rumi
Tamy
234
Transcrições A formação da identidade feminina
235
Transcrições A formação da identidade feminina
RM: Rutsuko, Rute. Rute… sou mais conhecida por Rute. É que o meu nome, ele
é ajaponesado, porque é do Velho Testamento, Rute, né? Meu pai foi uma pessoa
evangélica muito… de Rute… e ajaponesado…Rutsu…ko (ko é geralmente
utilizado em terminações de nomes femininos).
(…)
236
Transcrições A formação da identidade feminina
237
Transcrições A formação da identidade feminina
aquele Mori… (Kazuko: própolis…) nantoka… Mori…teyu doce nata deshyo, ame
no…Mori…
(S: Morinaga)…
KO: Interessante…
RM: então… que exportava pra lá…
S: Morinaga to Meizi to…
KO: Morinaga deshita.
RM: e depois de um tempo, eu voltei e entrei na Marubene. Tem uma firma
chamada Marubene, eu entrei lá porque eu sabia japonês, graças a Akama-
gakuin…
R: Marubene, lá também na região (campineira)?
RM: Não… aqui na Boa Vista, São Paulo. Na Rua Boa Vista…
S: Continua Marubene?
KB: grande ainda…
RM: Grande…e lá havia todos os departamentos, e ela começou a importar filmes
e aí o primeiro filme, eles não encontraram alguém que traduzisse e eu já como
tinha entrado na USP, né…falou: Você não quer começar a traduzir? … aí me deu
o primeiro filme e falou acho que funciona e a partir daí eu comecei a traduzir os
filmes…aí não parei mais de traduzir filmes, né… é eu fiquei acho que uns trinta
anos, até os cinemas fecharem eu continuei traduzindo, né filmes…
KO: Você fazia aquelas legendas?...
RM: É… as legendas.
R: Cursou japonês na USP, então?
RM: Não, na USP era português. Só depois que eu terminei o curso de português
que eu… porque o curso de japonês era incipiente… então entrei no curso de
japonês e fiz o japonês também… mas no começo não era grande coisa não… o
curso lá da USP…
KO: no começo, né?...
RM: é… não era grande coisa. Agora parece que está bom… mas no começo não
era grande coisa não. Aí eu fiz o concurso na parte de português e me tornei
funcionária pública, né… aí me aposentei. Continuo dando aula de português para
japoneses.
R: E de japonês pra brasileiros? Era bom… porque eu estava precisando…
Ainda tá dando aula?
RM: Tô… eu tenho aluno no Jornal Nikkey e tenho uma professora da Aliança que
está estudando comigo.
A: Bunkyo demo?
RM: Não, ela vem em casa. Eu dou aulas particulares.
(…)
238
Transcrições A formação da identidade feminina
Ty: então eu… entrei para Akama… vim com três anos , né… então… é foi um
pouquinho antes da guerra… logo depois começou a guerra… era um dos
últimos… é, eu cheguei em 38. 40 já começou guerra, né… então… assim, um
pouco antes da guerra, aí vim com meus pais, meu pai veio… bom como era
professor lá no Japão, ele veio pra fazenda mas ele não tinha experiência né de
café… nós fomos pra Aliança, interior, é de Mirandópolis. Aí, a família que acolheu
meu pai, né… mas ele não sabia fazer nada e aí, falava… Você melhor ser
professor mesmo!... Daí continuou sendo… é trabalhou pouquinho na lavoura, né,
um pouquinho, no café, no cafezal…mas como ele também, não tinha muita
experiência assim da… já era professor lá no Japão, não é, então continuou sendo
professor de nihongo lá no interior, na Aliança,né… por isso nós viemos para São
Paulo porque lá era muito quente e minha avó não se dava com o clima né… vivia
doente, então ele achou que ela ia morrer se ficasse no interior… veio para São
Paulo, que era mais fresquinho e… (…) 38, 39, por aí…39 já estávamos por aqui
em São Paulo, aí estudei no grupo escolar, como era na ocasião, depois eu …
pouco antes da guerra terminar, meu pai tava dando aula na Akama-san.
KB: Foi nosso professor!...
Ty: Ele começou a dar aula na Akama-san. Terminei o primário, depois tava no
ginásio… acho que segunda ou terceira série, se não me engano, aí meu pai: Ai,
você tem que aprender japonês… A gente fazia japonês no interior né, no interior,
tinha como obrigação fazer né, mas… ele falava, Ai precisa aprender japonês,
senão vai ficar falando só português… que eu tava no ginásio, comecei falar só
português, meus irmãos, tudo… aí falava: Não, vai lá na Akama-san…Aí eu fui
também na Akama-san, né.
Não ficava com interna, então…
Ty: Não. Ia e voltava, que eu fazia o ginásio também, aí ia lá na escola da Akama-
san estudar nihongo e mais nihongo, né… porque a parte de português eu não
precisava muito… aí, mal ou bem. eu… me formei, né com a turma da Kikutyan!...
R: Essa turma. né Uchida sensei… acho que essa turma…
Ty: … não é grande coisa…
KO: turma brava!...
Ty: a gente era muito levada. né? Sensei vivia brava, além de que meu pai era
também, ficava bravo, Sato sensei era outro professor, música, que iniciamos…
vivia implicando comigo… danada, eu era muito levada, né… de quatorze, quinze
anos… corte costura aprendi um pouquinho… alguma coisa… (risos) Minha mãe é
que botava lá, né… “vai aprender corte e costura…” Mas eu era meio rebelde…
não aprendi nada de corte e costura… nem… (risos) Então, aí… mas agora…
pensando… foi bastante útil mesmo… o Akama-san… o pouco que eu aprendia
né… (risos) ajudou bastante na minha formação também. Que depois que eu saí
da Akama-san né… era uma das… mesmo entrando na faculdade depois… era
uma das poucas que falava nihongo…então acho que só por “prensa” do pai não
adiantava, né… Tinha que conviver… conviver com as pessoas né? A convivência
239
Transcrições A formação da identidade feminina
com colegas, com amigas, aí que ajuda na formação né, de falar a língua, essas
coisas… Sabe… era um por… era unido, né? Grupo, era unido e a gente fazia
tudo junto, participava de músicas ou coral, ou então o bazar que tinha… sabe,
tinha bazar uma vez por ano, a gente ajudava, tudo em grupo assim. Aquilo foi
formando assim, é uma mentalidade assim de que tem que participar sempre das
atividades da escola, equipe. Equipe também era muito importante. Então a gente
fazia as coisas em equipe. Sabe, assim… é… viajar, também tinha viagem uma
vez por ano pra… Rio, Poços de Caldas… a gente fazia sempre em grupo, então
aquela mentalidade de fazer as coisas em grupo ajudou bastante na minha
formação. Senão, a gente ia ficar individualista ou egoísta… talvez… mas como fiz
essas atividades juntamente com outras amigas, colegas… a gente foi vendo
como é convivência em grupo. E acho que ajudou… pra minha formação, foi
ótima! Se eu não tivesse feito Akama-san acho que… essa hora eu não seria a
mesma… então eu agradeço… quer dizer, no início, fui obrigada freqüentar, né…
porque meu pai, como estava lá… mas depois… é… eu agradeço esse momento
que entrei na Akama-san e que fiz aprendizagem ‘forçada’… (risos)
(…) Tenho dois filhos. Um filho e uma filha. E aí eu incentivo eles também a fazer
nihongo né… também, quando eles estavam no ginásio, eu incentivei muito a eles
formarem… fazer nihongo né… tanto que o mais velho estudou jardim da infância
lá no Akama-san… Depois né… é! Também ajudou porque mais tarde, ele quis,
ele mesmo quis aprender nihongo, sabe? Meu filho… entrou no Bunka pra
aprender nihongo. Quer dizer… (risos) não aprendeu muito, mas, pelo menos ele
entrou, terminou lá né? No Bunka…e minha filha também. E mais tarde ela foi
no… ela foi adiante, né?... (…) Até ganhou bolsa de estudo… estudou no Japão
tudo, né… porque eu queria que fizesse nihongo né…
RM: Deixa eu fazer uma parte aí… Bunka você quer dizer… Aliança-cultural, né?
Ty: É! Aliança-cultural…
RM: Porque Aliança é da Aliança… e o Bunka não tem nada a ver com Aliança…
Uma parte da Aliança funciona dentro do Bunka… mas é Aliança-cultural.
Ty: É que antigamente ficava na São Joaquim…
RM: Continua… continua… tem na São Joaquim, tem na Vergueiro e tem em
Pinheiros.
Ty: É… eles fizeram curso assim, básico né… Não fizeram Akama-san nem…
foram pra frente… mas fizeram básico lá na Aliança, né. Aí então acho que a
gente passa isso pros filhos né? Como a gente aprendeu nihongo quer que os
filhos também aprendam. (R: A senhora trabalhou fora também?) Eu trabalhei
antes de casar, um pouquinho, né… dei aulas, essas coisas… mas depois que
casei não dei mais. Até… agora pouco que estou dando aula de ikebana… outra
coisa, né, mas… também ajudou bastante… (R: no internato tinha curso de
ikebana também… na época, não é?)
RM: Tinha!... Tinha sim… Tinha ikebana…
A: Eu fiz seis anos… eu fiz seis anos de ikebana…
KB: Seis anos? Nossa… lá no gakkou, é?...
R: Então tem sempre uma ikebana… sempre monta?
RM: às vezes… (risos)
240
Transcrições A formação da identidade feminina
241
Transcrições A formação da identidade feminina
(risos)
KO: …naquele tempo…
R: Bem… Uchida-sensei… agora vou precisar da tradutora oficial… (referência à
Rutsuko)
RM: Todo mundo ajuda…
KB: especializada!...
RM: ela também ajuda… (aponta para Kazuko)
M: ano… vinte anos no ni ne… vinte e dois anos… (…) ano vinte e dois anos de
São Paulo detekitano ne… yu koto wa osaigo narai oboetai to onaote kitandesu
keredo shiranaide ano saicho ano São Francisco gakuin de ni Jyosei gakkou ga
atan desu ne… demo ano… soko sotsugyo, forma shitandesu kedo ne… mo
Akama-san ni ano… Tamandaré no gakkou ni, nanika, tomodati issho ni itta toki ni
ne, mo Akama-san no, ano Nera-san gakkou no né, kirizu tadashii no sore desu
sukani soko ni hairitaku natte muri shite mata Akama-san ni haitan desu.
Osaiho naraou te né.
Sore ga (…) Akama-san nine.
Sorekara osewa ni natte zutto ima made naterun desu kedo ne.
Yota no wa quatro ano ne.
(Ela ficou 4 anos até casar.)
Ano kasa-suru, kekkon suru no de yamemashita kara.
Demo zutto mate Akama-san ni osewani natari Doo soo kai ni né. Mina san to
issho ni suru you ni natte. Zutto mate, ima made, ano, Akama-san to ne.
(E continua sempre em contato com a escola da Akama-sensei porque ela, até
hoje, continua sendo a presidente da comissão do Doo soo kai. Nunca terminou o
elo, né… com a escola, apesar de ter saído, nunca… sempre continuou o
contato.)
R: Qual o ano que entrou como aluna e permaneceu até quando como
professora?
RM: Nyugaku shita ano, nan nen ni nyugaku saretandesuka?
M: nan nen deshitakara…conta shinai to kya, vinte e dois anos datanda ne…
(Vinte e dois anos ela entrou como aluna…) Mil, novecentos e vinte e um.
Todas: 1921 ela entrou com vinte e dois…
Ty: então vinte e um mais vinte e dois...
RM: sorede sotsugyo sarete kara sugu sensei ni zuuto … datan deshyou? Yon nen
kan desu ne?
KO: quarenta e três… yon nen kan desu ne… nan nen ka gakkou oitan
desuka… nani gakkou ni ikimashita, yon nen to… saihou…
M: Sotsugyou shite sore kara mata hatarakashite moratte ne, dakara…
KO: gokei yonen kai imashita ne?
M: Gokei ne? Soku sei kai ni haitte sotsugyou shite Kato sensei ni oshiete moratte.
KB: Mas ela saiu em 47?
RM: Mas eu estava estudando em 48, ela estava.
KB: Estava…
RM: Sensei arimashita 48. watashi wa… sensei danno nishi sensei…
(…)
242
Transcrições A formação da identidade feminina
KO: Ela era parte dos “móveis e utensílios” da escola… Ela ficou cinqüenta anos
na escola…
Ty: era patrimônio da escola.
KO: “móveis e utensílios”… já tinha até etiqueta na perna! (risos)
KB: 48, 49… ela estava lá né?… então eu me lembro disso…
RM: eu saí… 48… 47, 46…
KB: Yon dju ku, ne…
RM: então 46 a 49… eu sei que eu estava lá, ela estava!... Kato-sensei… Kato-
sensei era nova ne…
KB: Kato-sensei… Ela foi nossa professora… Ela era a mais brava… nossa!...
Kato-sensei… que depois se tornou Hatiya.
Ty: Ah! Hatiya-san ne…
KB: Ela era brava… nossa senhora…
Ty: Eu aprendi um pouquinho o saihou com Uchida-sensei e ano Suzuki-sensei.
Uchida-sensei ne utini então ne… narai, narai… uti no narai, narai, dekikanai
kara… fui até na casa dela. Mokazu oshite ta ne sensei…
Minha mãe é que me botou lá… bri… não aprendi nada… (risos) mas sensei
fazia… sensei minashite kurete ne… eu ficava brincando com o gatinho dela.
RM: e sua mãe não sabia, né?
Ty: Minha mãe não sabia… ah jozo…
To: Minna so nano…
(…)
Ty: Hontoyo! Verdade… Isso é verdade… falo agora é verdade.
R: Tá registrando… (risos)
Ty: Ih! Tá registrando, nossa senhora… (risos)
Costura era uma negação!
KO: O que você quer saber dela? (Tomoe)
To: 1936 ni ne, tira diploma de corte e costura. Professora. Sore kara mo zutto
gakkou no sensei! 39 ni yamete eu casei! 40 ni kazashite… 40 ni soni natte eu
voltei São Paulo, sore kara mata… não tem filho… então até quanto… professora?
Quantos anos? Quanto?
To: 36 tira diploma, 39 yamete, casou. Rio … dois anos eu mora lá… guerra, eu
voltei São Paulo então outra vez, professora! Até agora… viu?
KO: nannen… nannen Saiho no sensei… nannen ka?
To: nannen naru no. 36 to, 39 sore kara, mada 42 até
KO: 42… nannen yameta no?
To: Yameta no? Kore wo totekkara…
KO: Ah… ela fez mastectomia. Itiagashira… dakara mo… 60 ano gurai… mo
sensei shu teru deshou…
Ty: 40 keredomo ne… 42 que ela… 95… 90. Mais de 50 anos ne…
To: mais… sessenta anos gurai. Sessenta anos professora eu. Kore tottekara…
mo minna yametya da desho… Kohei ga mo… titia mo yatenasai seito gamo
bakari kitte assudero nakara… titia wa genki harai ne? (risos) Então eu…
KO: o curso de corte e costura decaiu ne…
243
Transcrições A formação da identidade feminina
91
Batyan – tia. No caso específico, trata-se de referência à mãe de Kikuko.
244
Transcrições A formação da identidade feminina
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Transcrições A formação da identidade feminina
KO: Porque eu fiz jyuninomaki ne…Jyuninomaki depois fiz acima desse um,
primeiro livro, segundo livro, por isso que quando eu entrei no gakou, eu já ia no
terceiro… porque já tinha feito primeiro e segundo.
RM: Tinha o kotoga ga ne?
KO: É koto ga itinen, ninen, eu tinha feito em casa, particular. Mas era só…
RM: Era o ginásio no jogaku , um e dois, né?
KO: É. Então, por isso que quando eu entrei na escola eu entrei já no terceiro.
Mas eu aprendia só japonês… Não… só japonês e geografia… história eu
aprendia, com professor particular. Mas outras matérias pra mim era assim, um
desbunde… e também uma farra!
KB: A gente podia contar como que começou Dousoukai…
R: Assunto do doo soo kai… Eu queria saber sobre o que significa né, doo soo
kai… o Sr. Antonio deu uma explicação em termos de janela, dando idéia das
pessoas que estavam na sala de aula, mas eu queria saber de vocês o que
significa, quando foi criado, quem foi que idealizou…
KB: idealizou foi Akama-sensei, né, não foi? ela convocou… foram muitas ex-
alunas, não foram?
R: Quando foi isso?
KO: 1980. Eu me lembro muito bem, foi no dia do meu aniversário, a primeira,
nossa primeira reunião e no mês seguinte, eu fui mastectomizada, então gravei
muito essa época. Era meu, dia do meu aniversário a reunião…
KO: Nossa… Então que dia que foi?
KB: 15 de julho.
KO: 15 de julho de 1984?...
KB: 84, isso…
KO: Ahhh… Shitigatsu…
RM: Não era no Akama-sensei… no aniversário?
KO: Depois é que virou no aniversário…
R: Isso é na época da formação, não é?
K: Depois que virou aniversário… No ano seguinte,…
A formação foi em julho, (R: a primeira reunião, não é?) é, que aí que eu não
sei como é que foi a indicação da Comissão… quem teria… não me lembro…
KO: sensei… dousoukai ga dekkita no…doo yuu imi de dekitan desuka? Dare
ga… (professora...a criação do dousoukai - qual a razão da criação do
“doosookai”? Quem foi…)
RM: Do yuu do doki dedekkittan desuka?(Qual foi a motivo da criação?)
M: Are wa… ano… Akama-sensei ano…Sato Koichi sensei ga…shu ni natte are
shite hokken n… shite moratta no ne. Sato Koichi sensei . Ano shito ga daitai …
shito shirabete, yoi shite kudassatan no yo ne. Sorede renraku toka aiu koto
yappari ano Sato Koichi sensei ga Nihon ni … gakkou ni irashitakara sore de iron
na renraku wo shite moratandesuyo. Ishokenmei …sono tame ni ne. Moo
nakunarareta kedo. (…)(Aquilo foi... Professora Akama… Professor Kochii Sato,
idéia encabeçada e concretizada por iniciativa do Professor Koichi Sato. Foi por
ele, feito o estudo e elaborado o texto básico. A coordenação ou coisas para isso
246
Transcrições A formação da identidade feminina
o Professor Koichi Sato quando estava na escola no Japão... por isso deixamos a
cargo dele a coordenação e outras providencias.
para isso dedicou-se muito. Já falecido. (...)
247
Transcrições A formação da identidade feminina
Ty: Uma vez por ano né? Que tinha apresentação dos trabalhos dos alunos…
então tinha teatro, música, é… desfile de moda!... Desfile né, sensei?
KB: Desfile de modas!...
R: Todo mundo desfilou aqui?
KB: Eu desfilei! Que tinha o meu vestido de formatura, né, da Álvares Penteado,
foi feito pela aluna dela… namae-wa… dakedo… E eu desfilei com aquele vestido
na formatura!... Que eu já estava fora da Akama-gakuin na época…
Tyoko para Kikuko: Que você formou no Colegial naquela época…
KO: Então!... Eu desfilei de Maiko-san!... Maiko-san… Veio nihon karakitatta no
ne, wazawaza… ano Maiko-san né, né… de ano zembu, honto no Maiko-san no
fuku wo kite (“Então!...” Eu desfilei de “Maiko-san!...” (aprendiz de gueisha)
“Maiko-san!...” Veio do Japão… especialmente... Maiko-san... sim tudo,
vesti com roupa de verdade de Maiko-san )
To: Hotonto watashi ga yattano, desfile. (Quase todo o desfile foi preparado por
mim.)
Ty: Desfile de moda tinha, nessa apresentação dos alunos, das alunas, no fim do
ano sempre tinha, a gente fazia no teatro…
R: Ah!... Tinha coral, não tinha?
Ty: Desfile de moda, apresentação de coral, apresentação de teatrinhos, de
teatros e…
KO: Teatro era famoso! Aquele yuzuru ne, noossa!
Ty: Yuzuru… era do Miao-san…
KO: Nós fizemos o “mercador de Veneza”…
Ty: É mesmo!
KO: Eu fui advogada, quase me esfaquearam!... (risos)
Ty: É… isso mesmo!
RM: Mercador de Veneza é?
KO: É! Eu fui coxa… aquela merca… aquela advogada e… a Negona que era o
bandidão lá me esfaqueou lá no palco!... (risos)
Ty: …é verdade!... e a gente fez aquele outro… de William Tell…
RM: Da maçã? Na cabeça?
Ty: É mesmo… Se continuasse, acho que ia gostar do teatro… (no sentido de
atuar…)
RM: Mas aí voltando ao doosookai, a partir de então é que em todos os
anos…né…
R: Tá… de 84 para frente, anualmente fazia…
RM: e até hoje…
KB: … e nessa primeira reunião é que houve a indicação da Comissão que até
hoje…
R: Sim… e além de vocês, quem mais… porque eu sei que vocês são da
Comissão…
KO: Somos… da “começão”… (risos)
R:… e aí quem mais? Mayumi-san…
KB: Hatiya-sensei estava… me parece que faleceu…quem mais…
R: Mayumi-san também?
248
Transcrições A formação da identidade feminina
249
Transcrições A formação da identidade feminina
KO: Depois a biblioteca dela, tinha mais de dois mil livros lidos!... Isso é que era…
KB: Puxa…
KO: Né?! Akama no ban ni toshokai nisen ijyou arimashita, nisen ijyou satsu, hon,
zembu yonda mondes. Watashi shitotsu shitotsu are ni shimashita, dakara zembu
yondeimasu. (Não é?! Akama,…dez volumes, li todos. “Eu, um a um, separei, por
isso li tudo.)
M: Ano hon donatte shitano? (Como foi feito com aqueles livros?)
KO: Ano Kifu shimashita. (Foi feita doação.)
R: Mas os valores que ela trabalhava… porque eu tive acesso também àqueles
boletins Ayumi…
Kazuko: Ah! Sim…
R: e esse Ayumi tem muitas referências dela e, por aí a gente percebe que a
maneira que pensava era muito atual (muitas vezes…) Uma vida…
RM: Que pena… (no sentido de perda da pessoa)
KO: eu demorava pra ler…
Ty: Começava a folhear, né…
R: Como é que ficou… esses encontros hoje, como é que eles funcionam, eles
continuam?
KB Não… “O encontro” anual já não existe mais… Akama-sensei era que era o
elo… quer dizer, sem ela nós também achamos que nós não íamos nos reunir
também… mas ela pediu né? Lembra-se? Olha, mesmo depois que eu não esteja
mais aqui… eu quero que vocês continuem essa reunião… né… e talvez por ela,
quisesse fazer com todas as ex-alunas, mas, eu acho que sem Akama-sensei a
turma não viria… né Kikutyan?
RM Eu acho que não… sem ela não haveria a reunião…
KO: Ela quando fez cem anos, veio uma aluna de Brasília!...
R: Vieram quantas alunas pro Centenário?
RM: Centenário tinha um monte!!!...
KO: Veio do Rio, Brasília… veio gente de Brasília!...
RM: Paraná…
KB: Ah, mas eu chorei tanto, naquele dia… porque ela não estava presente… todo
mundo… nesse dia… ela não tava… eu chorei…
KO: Ela estava assim, muito irritada, sabe…
R: Ela meio que percebeu… então eu acho que…
KO: Muito irritada…
RM: Mas ela foi… apareceu…
KO: Foi!... Apareceu…
KB: … Houve um momento que Kikutyan conseguiu!...
KO: …mas ela estava muito irritada pra vesti-la, pentear… minna irashite ne.
RM: Como ela percebia…
KO: E depois queriam que entrasse de cadeira de rodas, trouxeram até uma
rampa… falei assim: Não! Ela vai entrar de bengala! Deixei a cadeira de rodas…
quando ela pegou a bengala, entrou!...
KB: Ela foi!...
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Transcrições A formação da identidade feminina
R: Olha!...
KO: Entrou…
KO: Se ela entrasse de carrinho ela não iria… Não! Ela vai entrar de bengala!
Porque eu sei… orgulhosa do jeito que ela é… ela pegou bengala… ano irai
iraishitte minna ga irashiteiru no ni. Festa ga dekiruka shirato omote. Unto shimpai
shitandesu, watashi. Soshite ano kurumaisu de porta made itte, kurumaisu de
hairu tsumorideshitano. Sorede watashi, não jibun de iku you ni shimashoute sono
tsuyuwo tsuitara mou tyanto shitanone. (Todas vieram, todas estavam presentes.
Pensei se era possível realizar a festa. Fiquei muito preocupada. Fui até a porta
com a cadeira de roda para entrar com cadeira de roda. Pois eu, não…)
KO: Foi ótima a minha idéia!
KB: Foi mesmo! Iluminada!
KO: Depois ela sentou… mina né…
KB: Todo mundo foi cumprimentar…
KO: Né… saicho mo hyaku sai de minna ga soba ni yottara, byoukiga dato omote,
yagateitandesuyou ne, kazoku ga. (Não é... reunindo todas, cem anos, e
pensando na doença...)
Né Kazuko-san? No começo não queriam que ficassem perto…
KB: Não queriam é…
KO: Eu falei, mas minna tooku kara kiteru kara não pode fazer isso ne? Tooku
kara wazawaza irashiteirunoni, obatyan no te o ne toritakata desuyo, ne,
tanjyoubide… (Eu falei, mas todas vem de longe, não pode fazer isso não é?
Todas vem especialmente de longe, quer cumprimentar não é...aniversário...)
Não pode fazer isso, né? Até
Eu falei, Não! Vamos fazer, aí…
Ty: Todo mundo deu abraço, né?!
R: Foi…foi importante pra…
KO: e ela assim, cumprimentou todo mundo numa boa… só que depois ela ficou
com pneumonia… mas… tudo bem…
Ty: Será que pegou de alguém…
Sorekara tyotto haien ni narimashita kedo mo ne. … (Depois teve pneumonia não
é…)
KB: Cansou né…
16’10’’(neste ponto a conversa fica muito agitada, e só é possível entender
algumas palavras entrecortadas, mas me deixam a impressão de estarem falando
de suas participações pessoais (das depoentes) quanto aos preparativos de D.
Michie Akama no dia do seu centenário, como por exemplo a confecção ou
montagem do vestido por Tomoe Suzuki, entre outros).16’26’’
Ty: É ela ficava brava… mas… homenagem né…
R: depois da cirurgia também, quando começava a dar bronca… falava assim: não,
começou a dar bronca, tá ótimo!
KB: Tá ótimo!
R: Enquanto ela estava lá… (parada) a gente falava, não é a obatyan!... Quando
começava a dar bronca, tá reagindo, é ela!...
KB: Verdade!...
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Transcrições A formação da identidade feminina
direitinho japonês, e às vezes lê, escreve também, né... mais ou menos igual a
japonesa...é uma ideal né?... esposa ideal... pra nós Japão novos, né... é... e
trabalhei... trabalhei é cinco, seis anos em São Paulo...depois tive transferência e
eu fui trabalhar em Londrina... aí uma pessoa apresentou essa... (aponta a esposa
Aiko, sorridente.) É... a idade aquela época, quase oldo miss, já... Porque já
passou 30 e eu também 30, mas é... quando vim para aqui foi citado Akama
gakkou... acho melhor pegar essa moça...
(risos)
A: até hoje está aguentando...(risos)...
R. é mas aí, não é “está aguentando”... aí correspondeu...
S: Sim!!!... e ela 'tava pensando que marido tem que ser de Tokyo. Porque pessoa
de Tokyo fala nihongo...é...nande... standado... ééé...
R: Polido?...
S. Não, não... é, olha... nihongo....
R. Porque no Japão tem muito dialeto... é isso?...
S: Mas cada região tem sotaque... mas de Tokyo...
R: É como falar do sotaque de São Paulo, por exemplo?...
S: Isso!....é,é... e, nos livros aparece mais ou menos, conversação de pessoa de
Tokyo...livros, é...é standado, né... em inglês.... ela pensava assim... e eu pensava
assim... (gestual indicando um – ela, e outro – ele)...aí... deu certo né, deu certo...
R: Ela queria de Tokyo ainda!... exigente...
S: e EU SOU DE TOKYO!...
R: Nasceu em Tokyo...
A: Tinha muito pretendente...E eu... (gestual indicando escolha, separação... com
a mão direita espalmada para fora, fazendo movimentos de exclusão...)
R: Exigente...
A: Eu era... e tinha só seis anos no Brasil...
R: Então foi ela que escolheu...
S: Coincidiu, né... coincidiu idéia...
A: Casamento a gente tem que pensar muito bem... é pra vida toda...
R: A gente pensa nisso como pra vida toda...
A: tem gente que casa e separa...por quê?...
R: Vocês tem quantos filhos?
A: Três... USPIANOS...
Ah é?!... Os 3 na USP... Algum casado já?.... Alguém já casou?...
S: Todos.
A: os 3 casados, só tem 3 netos... uma não tem, a menina né... o primeiro filho
tem uma só e o segundo filho tem duas filhas, então três netas... uma belezinha...
R: E eles escolheram bem? Vocês ensinaram a escolher também?...
A:... Todos... porque não escolheram gaijin92... não que eu queira...
R: ... é que é diferente um pouco?...
A: É diferente!!!... não pode ficar convivendo no meio... gaijin, você não acha...
92
Gaijin – não-descendentes, os brasileiros. Trata-se de uma indicação lingüística do outro, do que
não pertence ao grupo.
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Transcrições A formação da identidade feminina
japonês, né… não é como agora que já o pessoal de mais idade entende
português, né… então tinha que… todo o formulário tinha que ser feito em nihongo
pra poder pesquisar assim… levantamento… Então os japoneses procuravam,
vinham procurar trabalho lá na comissão. Inclusive esse que trabalhava, que era
amigo do meu marido, trabalhando ali… um dia precisou faltar, aí ele veio ajudar
no lugar dele. Falou assim… como a gente tinha que tabular dados, respostas que
vinham assim… a gente tinha que tabular tudo, naquele tempo a mão… não tinha
computador… tinha que ler e tabular resposta: sim… então quantos sim tem,
quantos “não” tem… quantos… tudo tinha que tabular… Tem livro. Estatística,
mais estatística, mas tem. Conheci, meu amigo apresentou, ficamos amigos, aí ele
estava querendo… falava muito pouco português… aí saiu da cooperativa de
Cotia, né, que ele não via muito futuro lá na Cooperativa… não pra ele, que já
tinha grande sonho de ser aquele criador de gado… ele acho que sonhava sabe,
esse “cowboy”, queria ser “cowboy”, andar montando num cavalo e tocando
gado… o sonho dele era… (risos) então por isso que veio. Lá não dá, não é? Aí
ele veio com aquele sonho e viu que lá na Cooperativa… Cotia era muito pequeno
assim… saiu e foi procurar emprego, né… outros lugares. Daí, como a gente tinha
casado, logo em seguida, também era um absurdo… que mau emprego ele tinha,
e a gente estava casando, né… Aí ele foi procurar emprego na indústria
farmacêutica, acho que Squib… antigamente tinha uma indústria farmacêutica
chamada Squib… ainda existe? Acho que não tem mais divisão veterinária mais…
acho que a parte de veterinária nem existe mais, meu marido estava falando… Ele
estava na parte veterinária, zootecnia, não parte humana, produtos veterinários,
não produtos humanos, remédios humanos… era mais pra gados, assim, criação.
Aí ele foi trabalhar nessa divisão, que não precisava falar muito português, então
entendendo assim, japonês e um pouco de inglês, dava pra… então ele trabalhou
e… até ele se tornar independente. Depois de cinco, seis anos, ele saiu de lá
também e quis montar uma firma pequena de veterinária. Queria fazer rações pra
gado, pra suínos, avi… mais pra avicultura. E até hoje, então está com essa firma.
Não foi tocar gado… não dele… tocava o dos outros!... (risos) É de produtos
veterinários mesmo… vacinas… faz também ração… quer dizer, complemento pra
ração, né, não ração em si mas complemento, vitaminas…
A gente tinha mais facilidade por causa da língua, senão era difícil poder…
comunicação… A gente se deu bem acho que por causa da facilidade da língua.
Aí nós nos conhecemos e depois de dois anos… 60 que nos casamos… é, depois
de dois anos que nos casamos… Meu padrinho, o amigo do pai dele aqui no Brasil
foi padrinho… falou “imagina… onde já se viu casar… mal chegou… não pode!”…
ele ficou tão bravo.
R: Tanto a senhora quanto a Kikuko tinham um vínculo com a escola e fez mas
não por opção… era filha de um sensei…
T: Meu pai dava aula de nihongo pra nível médio… que tinha naquela ocasião, era
Jogaku-bu, tinha a parte primária, nível primário que era 1, 2, 3, 4, 5… não sei…
tinha números… depois tinha a parte de ginásio, seria… português… nível
médio… aí meu pai dava no nível médio… Não sei quantos anos… acho que deu
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Transcrições A formação da identidade feminina
bastante… Entrou em… deixa eu ver… 47… acho que mais de dez… mais… acho
que vinte anos… acho que ele deu…
R: Tyoko-san falou que ele foi pra agricultura um tempo, mas acharam que ele…
T: Ah, é! Nós viemos também como imigrantes, né… quer dizer…pra fazenda…
Aliança, lá no interior, não é… no interior de São Paulo… aí… Chegamos lá, meu
pai… na verdade como já era professor lá no Japão também, ele dava aula na
escola, ele não tinha muita prática de agricultura mas acho que trabalhou um
pouco. Aí… “não… melhor você dá aula’, né… no interior sempre tem escola,
associação de nihonjin kaikan… associação japonesa, na Aliança então… tinha
mais ainda que lá era uma comunidade mesmo, Aliança. Mayumi-san era de
Aliança… veio pra escola… meu pai conheceu o pai dela lá no interior, Aida,
Mayumi-san, as primas… Aí fiquei… daí quando eu vim pra São Paulo, nós
mudamos pra São Paulo por causa do meu pai que começou dar aula na Akama-
san… então eu também larguei nihongo né e… fiquei alguns anos sem estudar
nihongo né… aí estava esquecendo já… perdendo… meu pai falou “ah, não! Tem
que aprender a falar nihongo!” então tem que falar nihongo, aprender mesmo, aí
eu… vai lá no Akama-san, que sozinho, santo de casa não faz milagre!...(risos)…
Aí entrei nesse curso, Jogaku-bu, três anos…
(…)
Trajetória diferente, puderam estudar
T: Porque eu pude estudar, não é… essas amigas, elas vinham do interior pra
estudar japonês, português ficava… português, quase que só ficava no primário,
não é… em geral faziam primário, depois paravam, aí ficavam mocinhas 15, 16
anos… aí vinham pra cá estudar… curso completo, assim, costura, arte culinária,
nihongo, bordado, ikebana, todas essas matérias necessárias para preparo para o
casamento, né?... que falavam… (risos)
Então como eu fui fazer esse curso, só que eu não tinha muito tempo que eu tinha
o colégio de manhã… e à tarde eu ia lá no Akama-san pra estudar só o nihongo…
porque eu não precisava fazer matemática, geografia, história… história até eu
fazia, história do Japão até eu fazia mas a Universal… eu gostava de assistir
quando era de história do Japão, alguma coisa assim…
Tinha projeção de filme japonês… acho que uma vez ou duas por mês a gente
entrava em contato com o Consulado e pedia emprestado filme japonês, ou então
mesmo português, filmes bons… Aí participava!... (risos) Eu fazia com a turma a
parte de japonês, de etiqueta, essas coisas… só não fazia português, porque
estudava na escola, matemática também não, geografia, essas matérias também
não fazia não… que tinha também geografia, história… na Akama-san… e aí fui
ficando com elas e comecei a gostar… ambiente diferente… então aí eu fiquei
apegada a elas, as minhas amigas… até hoje somos amigas… A kikutyan porque
é sobrinha de Akama-sensei… né, então… a gente tinha mais contato, né…
ficamos amigas e até hoje continuamos amigas mas nós, Kikutyan e eu, tivemos
uma trajetória diferente mesmo… realmente, porque nós pudemos estudar
português… naquela ocasião geralmente, moças não faziam… e nem curso médio
assim… ginásio nem colégio… aí como meu pai já tinha perdido a esperança de
voltar pra Japão, né… como todo mundo que vem com aquele ideal de sei lá…
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Transcrições A formação da identidade feminina
meu pai era um pouco diferente… ele não veio assim… ganhar dinheiro e ir
embora… porque meu pai queria era conhecer países novos, diferentes… assim
pra poder… mas ele tinha essa missão de ensinar nihongo… Nós fomos pra
Aliança… ele deu aula lá… Aí veio a guerra e ele não pôde mais exercer
nihongo… porque não podia nem falar japonês naquela altura, quando começou a
guerra… Segunda Guerra… Japão com Estados Unidos… Aí aula que ele fazia…
que dava, era escondido, era assim, de noite, geralmente à noite, dava assim em
Suzano, a gente reunia um grupo de jovens que queriam aprender e vinham
assim… faziam nas casas, geralmente… ou em casa, ou na casa de outras
pessoas, de noite, que reuniam assim pra estudar… mas tudo escondido… tudo
escondido assim, que não podia nem falar a língua que eles prendiam, não é?...
Aí nós mudamos pra São Bernardo que lá estava precisando de professor e nós
mudamos pra São Bernardo naquela colônia japonesa, mizuho…chama… onde
aquela Ikuko- san… não sei se esta aqui (aponta para as fotografias) uma delas
sempre está na reunião… turma de Kikutyan… Matsumoto! Ikuko Matsumoto…
era Aihara o sobrenome… Aihara… depois casou com Matsumoto… cuidava de
uma associação lá… Mizuho, era uma colônia japonesa, umas cem famílias…
tinha escola, assim pra primário, depois tinha do médio, meu pai dava aula de
noite… que de dia, eles trabalham… na lavoura… então de noite, dava pra esses
jovens…
Ainda existe, mas não é mais aquela colônia fechada… naquele tempo era só de
nihonjin, então ano novo… reuniam… tinha festa… então só tinha nihonjin…
Matsumoto-san que era… como um prefeito da comunidade local… sogro da
Ikuko-san, ele juntava todo mundo pra festas e assim… Undokai e bazar… reunia
muito só nihonjin, né… ele falava só nihongo também, né… aí meu pai foi
chamado pra dar aula lá, mas como, devido a guerra, ainda não podia dar assim…
oficialmente, né?... Então dava aula escondido de noite… aí Akama-sensei ficou
sabendo que meu pai estava lá… aí foi falar pra ele se não queria dar aula, ele
vinha assim… no início vinha umas duas vezes por semana só. Aí depois como
precisava pra todos os cursos, então não dava pra ele vir só duas vezes, tinha que
vir todos os dias, aí que nós mudamos pra cá… Bom eu já estava aqui porque
fazia ginásio, Liceu faz tempo, eu ficava na casa de uma prima, estudava aqui. Aí
meus pais mudaram pra cá aí eu fiquei em casa. Aí quando estava na terceira
série do ginásio né, naquele tempo chamava, depois do primário era o ginásio,
então entrei aqui aí foi até colegial né. Terminei Akama aqui quando estava no
segundo colegial… Foi muito bom, porque aí convivi, aprendi a conviver, com as
pessoas do interior né… conheci muita gente, foi uma experiência que valeu a
vida inteira viu… até hoje a gente tem amizade com a turma antiga, as minhas
amigas… a turma de Akama-san eu tenho… com os professores. Da escola assim,
do ginásio a gente não… não ficou ninguém, do colégio também acho que não…
uma pessoa ou outra né que tenho contato… da faculdade então tudo espalhado,
a turma do Akama-san não, sempre temos relação, temos convívio assim,
familiarmente, né?... Convívio assim, além da gente, a família toda, né? Nós
temos relações assim, familiares com as pessoas!
R: Os valores que foram passados também são os mesmos…
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Transcrições A formação da identidade feminina
grupo… e foi essa professora… acho que… não sei… que era essa sensei… acho
que não era da Akama-san, era amiga da Akama-sensei, acho. (…) Essa aqui era
uma pessoa que morava no Rio, levou a gente pra visitar certos lugares, assim,
turismo. Fez um pouco de turismo, porque nós fomos conhecer o Jardim Botânico,
o Zoológico, depois fomos pra Ilha de Paquetá… nossa! O grupo todo, andando
assim em grupo, nossa… chamava atenção!... Incrível viu, a viagem… marcou
mesmo!... Essa é do Jardim Zoológico… foi bem… é Jardim Zoológico não tinha
muita diferença que, do Rio e de São Paulo, mas assim mesmo é… o Parque
dentro é muito bonito, nós levamos lanche, comemos lanche na beira do lago que
era lá dentro, então foi muito interessante.
R: Aqui?
T: Aqui é Jardim Botânico, outro lugar… mas essas palmeiras imperiais são
impressionantes! São altas… eu achava tudo uma maravilha porque não conhecia
naquela ocasião não conhecia nada assim do Rio, nossa… achei uma maravilha!
Essa aqui era… havia entre… na escola, interno assim, havia competição, um
jogava mal… mas gente competia, nossa turma ganhou, nossa turma ganhou a
taça… foi a turma melhor, então nós fomos tirar foto na… tinha uma foto lá perto
da Akama-san, tinha uma foto… aí nós fomos, todo o grupo, tirar foto!...
Campeonato interno, né, mas a gente competia uma série com a outra… então,
nossa turma ganhou mas… algumas jogavam muito bem… essa, essa… essa
aqui, exímia jogadora,… eu não era muito mas… Essa faleceu… (senhora lembra
os nomes delas?) Lembro sim… essa chamava Tieko Ueno, jogava muito bem
tênis, Tieko Ueno… essa aqui era Fussano… Fussano Matsumoto, irmã
daquela… parece que esteve na reunião, na outra reunião. Essa aqui é a
Rosinha!... Rosinha Sassaki, lembro dela, encontrei quando teve festa pra Akama-
sensei, cem anos. Encontrei com ela depois de cinquenta anos… Ela não me
reconheceu, mas eu a vi assim, ela ficou um pouco diferente, um pouco mais
cheinha mas eu reconheci depois de cinquenta anos. Essa tem mesmo
sobrenome que Akama-san, Myoko Akama, chama-se. Não é parente nem nada.
Ela é também professora, dá aula de nihongo lá no Mato Grosso. Que lugar?
Dourados… Dourados, acho que… Suga, essa aqui é Suga Negishi… essa aqui
não lembro o nome… nunca mais encontrei com ela… essa conhece acho… filho
dela estudou aqui (Fundação Akama), é Alice Tarama. Alfredo!... Né? Ele
estudou… casou com um parente do príncipe, Alice, né? Alice que casou com um
príncipe, Tarao.
Alice Tarama… é Hanashiro, sobrenome dela de solteira. Hanashiro… Alice
Hanashiro. Essa aqui tá em Curitiba, ela tem hotel, é Tamako Kadomoto. (Então
ela é mãe do Alfredo?) Alfredo? Ah, sim… Ela era da minha turma do Jogaku-bu.
(…) Curitiba… Plaza Hotel, acho que é da irmã… elas casaram com dois irmãos
de Curitiba, né? Que chama… esqueci… Tinha uma irmã, a irmã dela, onessan
(irmã mais velha), tem hotel bonito, turístico, cinco estrelas. Dela é mais simples…
não tem nem estrela… (…)
Elza: Tem uma coisa diferente… Hoje é missa de Narita-sensei, sétimo dia.
T: Narita-sensei faleceu? Ah, é… eu nem sabia…
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Transcrições A formação da identidade feminina
Kimura-sensei… tinham várias… aquela… Margarida também não tá aí? Acho que
é ela… não, não… não tá aí… Tomoe-sensei tá. Ela era a cozinheira…
encarregada da cozinha… ela já faleceu… Mayumi-san ajudou também, mas ela é
que era encarregada da cozinha. (…)
Essa aqui eu trouxe, por causa dos pais da Kikutyan… ia mostrar pra ela… pai e a
mãe. Pai e a mãe, acho que era na casa dela, era uma reunião, alguma reunião
de alunas e mais membros, uma turma acho que de botânica, de grupos de
botânica… estudantes de ciências naturais… iam estudar assim, no sítio, então
era membro de… tinham muitos… essa aqui… não está mais… essa aqui também
era da aluna… foram fazer visita na casa da Kikutyan, ela morou lá no Jabaquara,
onde tem… acho que ponto final do ônibus, Jabaquara… lá era sítio ainda… ela
foi morar no sítio, numa certa ocasião, aí acho que foram lá, estudar botânica…
(…)
Hakubutsu-ken kiyoukai… e tinha uma turminha que tava no meio, meu pai
sempre levava pra… Hashimoto-san, aqui esse senhor… era novo… mais novo
que meu pai. Ainda é vivo, não é?... A data é de 1953, 4… Eu lembro que tinha
um grupinho assim… Naotyan, irmã… aquela que casou e foi morar no Nihon,
Kohei-san sabe, Kohei-san conhece… Naotyan no irmã… como é que é?
A: Sumiko-san?
T: Não, outra mais nova… não foi pro nihon?...
A: Foi… casou com jornalista japonês… Otachi…
T: Otta-san?... Ah é! Acho que era… (…)
T: Aqui foram os nadadores do Japão, equipe… Furuhashi, olímpico… que
ganhou medalha, primeira medalha do Japão na Olimpíada, não era no Japão…
foi em outro lugar… mas ganhou medalha de ouro!... (…) Então como foi uma
visita assim deles na escola, eles foram bem homenageados aqui na Akama-san
mesmo… fizemos uma homenagem, uma festa bonita… Eles estavam chegando,
aqui… estavam andando, não é? (Não sei por que tem tantas fotos deles viu,
Kohei-san… kono sashin… kore? Esse álbum era do Akama-san!... daqui!...)
Essa aqui, escola, olha!... como era bonita… Essa aqui é uma pena que não
existe mais… Era um casarão de pedras… olha que bonito!
R: Que pátio, hein?
T: Era no… onde tinha quadra de tênis!... Lá tinha um espaço grande pra reunir
todo mundo… quando vieram o furuhashi, os nadadores… tirar foto… olha quanta
gente que tinha! 1950, quando veio… é isso, 50.
T: Olha como era naquela ocasião os cursos… Esse aqui é de etiqueta, etiqueta
que Akama-sensei dava, pegar, como usar garfo, faca, que o pessoal vinha do
interior, muitas vezes não sabia como usar direito… só comia com ohashi, né?
Então, na prática…
Essa aqui era aula de português, de Oshimoto-sensei, essa… ela era advogada,
veio dar aula de português pra turma… curso de português… aqui bordado… olha
aqui, bordados!... pessoal fazendo bordados, esse daqui era… corte e costura
esse daqui!... máquinas, saiho…I essa é aula de inglês, essa aqui é aula de
matemática, essa aqui é aula de nihongo, meu pai… que dava aula… aqui é de
pintura, de desenho, Handa-sensei, pintor Handa… famoso!... também aprendi um
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Transcrições A formação da identidade feminina
.A prefeitura requisitou, achou que tinha jeito assim… ele é muito habilidoso não
é?... Então requisitou… ao invés de deixar ele trabalhando lá com Kenichi aí, ele
trabalha como aplicador assim, como tratamento de saúde dos maleitosos não é,
aí ele tava longe assim, tudo quanto é canto…
R: Ele nem chegou a ir pra lavoura então?
Kazuco: Foi no comecinho, mas depois quando teve esse surto muito grande, não
tinha quem trabalhar né… então ele foi requisitado, aí ele foi longe, indo bem pra
longe de onde eles moravam e não tinha como assim segurar pra trabalhar na
roça…
R: Que cidade que era?
Kazuco: No começo era num lugar chamado Matão, perto de Minas Gerais, depois
ele foi indo pra Minas também, né…
R: Na imigração ele foi pra Matão?
Kazuco: É… de Matão foi pra Conquista, pra um monte de lugares lá e no fim foi
parar perto de Jubaí, onde eu nasci… mas isso daí faz bem bastante tempo
depois… né…
R: Mas a sua mãe tava em que cidade?
Kazuco: Então, minha mãe tava no Matão… e depois o marido ficou com malária e
morreu. Aí ela ficou sozinha lá, mas tinha as famílias que vieram junto assim no
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Transcrições A formação da identidade feminina
navio e viu que ela tava sozinha, muito doente, tal… aí ela escreveu pro Japão,
eles mandaram dinheiro pra ela retornar pro Japão, porque tava viúva né… mas
por causa da doença não podia viajar, aí foi gastando, gastando o dinheiro e tal, aí
os amigos do mesmo navio… falou assim: olha, eu vou procurar o Shigeru né, que
tava longe assim… trabalhando assim pro Estado, assim né… aí no fim encontrou.
R: Ela não tinha filhos?
Kazuco: Não tinha filhos, não tinha nenhum filho e tava bem adoentada também, o
marido morreu e ela também ficou doente, acho que pegou assim, quase todo
mundo… era um surto mesmo de malária e meu pai não, sempre foi forte…
R: E que ano que eles vieram pra cá?
Kazuco: 1922.
R: Nossa! Uns dos primeiros mesmo…
Kazuco: É, quase né… é. 22, eles vieram.
R: Puxa, que bacana…
Kazuco: Aí depois combinaram assim, “Ó, ele é mais novo do que você, você tem
mais idade do que ele, mas você é alegre, tal”… meu pai era meio sisudão, né…
então falavam, “vai combinar”, não sei o que… Aí eles hesitaram assim por um
bom tempo e tal, mas eles ficou lá ajudando, aplicando os medicamentos… tal, em
Matão e tal… e no fim, fizeram o casamento. Casamento assim, entre eles lá, da
colônia, sem teto, sem nada… aí demorou… de 22, eu nasci em 28, seis anos
depois que eu fui nascer, né…
R: É onetyan então?
Kazuco: Onetyan e praticamente eu sou a primeira e a última, porque eu tive um
irmão mas ele faleceu também, né… sei que na época assim deu uma epidemia
assim de pneumonia e eu sei que as crianças todas nessa idade quase que
morreram todas… eu praticamente fiquei sozinha assim na região porque
amiguinhos assim… todos faleceram. É um surto mesmo assim que dava, assim…
de vez em quando né… e…
R: Mas a família é linda, né…
Kazuco: cinco filhos, onze netos e um bisneto.
R: Bisneto é pequenino?
Kazuco: Fez um ano agora…
R: Então fica uma família enorme quando reúne?
Kazuco: Fim de ano assim, é uma festa!
R: Delícia… agora…
(Kazuco retoma seu roteiro fotográfico particular, fio condutor de suas
memórias…)
Kazuco: Escola Industrial Carlos de Campos… depois dessa fui pra nutrição
(…)
Eu nasci no fundo… bem no meio do mato. Meu pai gostava de desbravar
florestas (…)
Começou tudo meio complicadinho assim, meu pai veio como filhado da família da
minha mãe… então teve muitos transtornos assim, pra depois quando eu nasci, foi
complicado pra registrar, porque meu pai tava assim como sendo filhado dela,
mas pela idade dá pra ver que não era filho, mas como no registro pra entrada deu
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Transcrições A formação da identidade feminina
como filhado, então complicou assim, quando teve filhos, assim pra registrar,
complicou bastante. Pra casar também a mesma coisa né…
R: Porque a filha que ele foi adotado era do seu avô então?
Kazuco: Não… era do meu avô… é marido da minha mãe… então como ele vinha
sozinho, não podia vir sozinho, eles também não tinham braçal assim pra trabalhar,
então precisava dele, né…
E: Então ele era como seu irmão?
Kazuco: É, na verdade era… na verdade, meu irmão… então complicou muito né
assim, no registro… então foi uma família meio complicada. Até minha filha falou
assim: “mãe, será que você é filha mesmo de verdade?” (risos) Falei, ah, não tem
importância né, o que é que tem isso… ser filha de verdade, não ser filha de
verdade… eles que me cuidaram… é de coração, me criaram assim… nunca
cogitei… muita gente falava isso daí, nunca levei em conta essas coisas não,
porque o que é que vale é o amor com que eles me criaram, né?
R: Com certeza…
Kazuco: Então foi uma família meio complicada, mas eles tinham sempre assim…
ele veio sozinho do Japão, nenhum da família quis vir, né… tinha dezenove anos
né… ele veio sozinho, filhado noutra família, mas ele tinha um espírito assim de
desbravar coisas, muito arrojado, no Japão também ele tinha um tio que era
pescador, ele gostava de ir no mar, fazer aquelas pescarias… que na verdade, a
família dele era de comerciantes, o pai dele tinha lojas de quimono assim, a mãe
era alta costureira de fazer os quimonos e o pai dele queria que ele continuasse
assim, né, a loja, mas ele, como tinha o irmão mais velho, ele não quis assim…
sabe, tomar o lugar do irmão, então ele meio que já, saiu assim de casa, desde a
adolescência, ia morar com tio, ia aprender outros ofícios… sempre… então
meticuloso… era uma pessoa que fazia de tudo… marcenaria… pescaria… então
aqui no Brasil, pra ele serviu muito não é? Porque ele sempre foi assim, pra não
tirar o lugar do irmão, ele sempre foi cedendo. Aí veio pro Brasil, da mesma forma,
foi lá pro Triângulo Mineiro, foi desbravar as matas, plantar arroz, né… e você
vê… vindo do Japão, ainda jovem, e foi morar no meio do mato, via cobra,
cascavel, à noite assim, a gente via os olhinhos dos bichos, porque a casa não era
casa bem fechadinha, era tudo de pau, feito assim de pau-a-pique no começo,
depois é que ele fazia argamassa pra fechar os buracos, né, mas no começo
morava na casa tudo esburacada assim né e… era assim. Aí eu também fui criada
assim bem corajosa, no meio de mato, não tem medo de nada, era bem igual o
Mogli!... (risos) Bem selvagem!... e foi assim minha vida de pequena. (…) Bem
alegre e o único amigo que eu tinha era um cachorro porque lembra que eu falei
pra você que deu um surto de tosse comprida, pneumonia assim, na época, então
matavam… e morreram quase todos os amigos né… então quem ficou era só eu
assim!... e depois as casas também não eram perto uma da outra… era bem
distante… então amiguinho mesmo, era gatinho e cachorro, não é? Não tinha
mais nada… Saía com eles e ia pras matas e tal, na lavoura do meu pai, né, e foi
uma infância assim, bem sadia, né. Aí quando chegou na idade de seis anos, meu
pai falou assim “ah, tá quase na idade de ir pra escola né? Melhor ir pra uma
cidade, não sei o quê…” Ai… aí eu comecei a ter umas alergias, sabe… de…
269
Transcrições A formação da identidade feminina
(pensar…) medo de ter que ir pra escola assim, né?... Olha, de fato, ficava assim
empipocada, sabe? Só da preocupação de ter que ir pra escola… Não queria. Pra
mim, a vida era lá assim… na natureza… gostava assim, gostava sempre do
verde, das matas, dos rios… era bem apaixonada assim por essas coisas… de
plantar, em volta das casas era tudo jardim assim… eu que plantava, aí depois,
teve o meu irmão, ele faleceu com três anos… mas ele já não era tanto… ele
gostava de arrancar o que eu plantava… eu brigava assim… eu lembro das brigas,
eu tinha um ano mais, mas eu brigava assim com ele, era temperamento
diferente… aí no fim, Deus me deixou sozinha… fiquei sozinha não é? Aí fui pra
escola e começou a dar esse problema de… da urticária, aí ia pro médico, falava
assim, “ó… você tem que tomar banho de leite…” Minas… no Triângulo Mineiro
tinha muito leite né? Então quando era pequena, tomava banho no leite né…
imagina?... (Hummm, nossa!... chique…) Chique né? (risos)… Igual Cleópatra…
tomava banho no leite assim… mas tinha que ferver o lençol todo dia assim… deu
um bruta trabalho pra minha mãe, não é? Eu não queria ir pra escola, sabe?... Ia
pra escola e ficava assim desse jeito, tudo empipocada. Aí eu sei que no fim… aí
a primeira viagem que eu fiz em Santos foi nessa época que eu tava assim meio
doente, acho que pra acalmar né… meu pai levou. “Ah, ela não conhece o mar né,
vou levar pra conhecer o mar!”… Aí fomos no mar assim… Ah! Eu adorei o mar,
comer nori essas coisas, lá naqueles cantos lá, não tinha nada disso… Adorei!
Falei, ah… que coisa boa! Coisa do mar, né?... Tudo que era do mar, adorei assim.
Aí, passamos assim, uma semana em Santos e depois como não tava dando a
escola, lá em Uberaba, próximo à cidade em que eu morava era Uberaba, lá não
deu certo, estudo assim, que eu ficava… assim… (empipocada?)… É…
empipocada… Santos não deu nada disso! (risos)
R: Tinha um contato maior com a natureza, né?
Kazuco: Natureza né? Aí passou tudo… “Acho que Uberaba que ela não
gostou…” Então resolveram ir pra Bauru.
R: Mas interiorzão também!
Kazuco: É. Aí fomos pra Bauru… aí lá… eu trouxe as fotografias… quiser ver…
um andei contando a história porque tudo está registrado… assim é mais fácil,
assim falo as coisas principais… Começo a delongar muito né… Não sei quanto
tempo você tem aí pra…
R: Não (se preocupe), fica à vontade…
Kazuco: Esse aqui é o começo… Não deu tempo nem de grampear!... Lembra que
eu falei que a minha filha veio pra São Paulo, ser operada né… então eu fiquei
todos esses dias correndo, não deu tempo de fazer nada… isso aqui… é as
florzinhas que eu plantava assim lá… não são essas, mas o tipo né? Gostava
muito de violeta, de amor perfeito, essas coisas, assim… mais era aquela
violetinha do campo, aí a minha amiga fez uma poesia aqui pra mim, da violeta,
né… Depois se você quiser, você lê… que vai demorar muito né?...
R: Eu vou sim, vou colocando aqui… vamos caminhando…
Kazuco: Então… aí ela me fez essa poesia da… falando assim da minha pessoa
né… É uma escritora lá de Ilhabela, que eu tenho casa em Ilhabela…
270
Transcrições A formação da identidade feminina
R: Sim!... A senhora falou que tem algumas coisas lá… que estão divididas né?...
Que lindo… (percebendo um certo interesse para que eu lesse a poesia, talvez
para também conhecê-la um pouco mais, uma vez que falava “da sua pessoa”,
debruço-me sobre as estrofes que seguem abaixo inscritas: )
É uma maneira de começar a conhecer…
Kazuco: Huhum…
R: Eu vou separar aqui, depois eu vou retomar…
Kazuco: Olha… aqui é quando eu nasci né… meu pai, minha mãe, eu… aqui é
quando eu fui pra Santos né? Esse vestidinho, minha mãe que fez… aqui é
quando eu fui pra Bauru, que eu tava contando agora, não é? Eu entrei num
colégio de freira… e lá então, as freiras eram muito boas, então não fiquei assim
com urticária, mesmo com tanta gente lá, não é, eu fiquei bem… aí depois entrei,
no mesmo tempo no nihongaku93 também né, lá de Bauru… Isso é em 1936.
R: Aqui era o nihongaku?
Kazuco: É… aqui é o nihongaku…
R: Grande…
Kazuco: Era grande né? O sensei foi preso… na época da guerra… Algumas
coisas… tristeza assim nessa época…
R: Não podia nihongo não é?
Kazuco: É…
I: Lembra um pouco aquele prédio que a Mayumi mostrou, primeiro lugar que ela
foi dar aula… de nihongo… em Aliança, não é?
Kazuco: Hummm… aí depois eu terminei o ginásio também e fui dar aula mista lá
no interior, aí tinha uns quarenta alunos assim… lá também… uma coisa que
marcou muito assim a minha vida… porque meu pai tava nessa época da guerra e
eles tinham um restaurante muito bem frequentado lá em Bauru, mas com a
guerra começaram a depredar tudo e um delegado de lá falou assim, é melhor
você mudar (mais) pro interior, e como não tinha dezoito anos, não podia ficar
perto… porque era perto da estação de Bauru, aí eles mudaram pro interior… mas
como ele gostava de pesca como eu falei, ele foi fazer pescaria no rio Tietê. No rio
Tietê pescava muito peixe… pescava dourado, pintado de trinta e tantos quilos
que… assim… eu ia também junto com ele, muitas vezes… e ele pegou malária…
Pegou malária das bravas mesmo… ficou adoentado, minha mãe também,
sozinha no interior… aí me convidaram pra dar aula na escola de… mista de…
fukuminchi94… Um dia, encontrei colega de Akama-san que foi dormir comigo… lá
no sótão da Vergueiro… Então, foi nessa época, logo depois do ginásio né… Aí,
eu fui dar aula… foi a salvação assim… pra minha família, porque eu ganhava
ordenado de um conto e duzentos que a professora ganhava também… eu
ganhava igualzinho que uma professora, aí deu pra… o ano que eu trabalhei, já
deu pra economizar, até pra eu fazer a faculdade. É… serviu bastante… foi assim,
uma providência divina mesmo… porque imagina, uma menina assim né, dando
aula, mas eu tive, o primeiro dia que eu fui dar aula, eu tive alergia e desmaiei!...
93
Nihongakkou – escola de língua japonesa
94
Fukuminchi -
271
Transcrições A formação da identidade feminina
Eu tava dando a lição assim pra quarta série, terceira série, segunda série… eu já
não conseguia ficar com o braço na lousa, escrevendo mais… aí eu ditava, mas
eu não ouvia a minha voz mais, aí quando eu vi, eu tava no chão assim caída
né… aí só enxer… a última coisa que eu enxerguei foi o buraquinho da fresta do
chão, essa escola do sítio ficava meio alto né? A fresta era o chão assim…
enxergava lá embaixo… tinha galinha assim né…
R: Passando embaixo…
Kazuco: Né? Passando por baixo, enxerguei isso… nada mais! Depois ouvia o
barulhão das crianças fugindo da classe, pápápá… assustados!
Primeiro dia de aula… Ainda eu tinha levado, tinha… levado assim, ikebana assim,
pus na mesa tudo bonitinho, né…
R: Mas chegou a desmaiar mesmo?
Kazuco: Desmaiei e não sei quantos minutos eu fiquei… que quando eu acordei,
tava com os pais tudo em volta… que vergonha!... (risos) Tudo assim em volta…
Aí eu… mas é coisa momentânea assim, sabe… esse negócio de alergia né. Uns
quinze minutos assim… depois passa. E fica assim… o dedo tudo inchado… o
relógio… fica tudo encoberto de tão grosseiro que fica. Aí eu expliquei o que que
era que eu tinha… negócio é assim… expliquei pra turma, tal né… Ah, mas… e
era uma escola famosa mas não parava nenhum professor lá, porque os alunos
eram assim revoltados, professores também, não sei se não eram assim, tão
carinhosos com os alunos… não sei o que era, mas eu sei que não parava um… e
as réguas eram todas quebradas, lousa quebrada, carteira quebrada, assim, de
revolta de alunos com professor… mas acho que eles assustaram tanto…
professor… (risos)
Kazuco: Olha… Chegavam… “Olha professora, a senhora gosta de peixe, a
senhora gosta de traíra, a senhora gosta de não sei o quê… gosta de ovos, gosta
de não sei o quê… no dia seguinte, a minha mesa já tava cheia assim de frutas,
verduras, de queijo…
R: Ficaram preocupados, né?
Kazuco: Vai ver até… (risos)
R: Então a estratégia era boa, aí todos os professores no primeiro dia de aula já…
Kazuco: Olha… eu fiquei assim envergonhada. Será que eu vou fazer? Levar tudo
isso pra minha casa? Que minha mesa estava assim, repleta!
Cada um trouxe uma coisa… não sei se combinaram não é? “Ah, mas nós vamos
levar pra senhora…” Da escola até minha casa são uns três quilômetros e ficava
aquela fila… parecia formiguinha carregando as coisas até minha casa, não é…
(Todos ajudando! Que lindo!!!) Nossa, mas que gratidão… que a gente não
esquece jamais, não é? E também salvou a minha família, não é… que meu pai
tava doente, não podia trabalhar, tal… e todo dia, todo dia. Mas não precisa fazer
isso… mas eles traziam, traziam, né… eram um amor assim de alunos… até entre
eles tem um que é médico, formado médico… dessa classe que eu dei. Chama-se
Tokuyuki Kanno. Não encontrei mais, mas só fiquei sabendo que ele formou aqui
em São Paulo. Tenho vontade assim um dia, quando tiver uma oportunidade, de
voltar pra lá pra procurar os alunos, né… como a gente tem saudades também da
272
Transcrições A formação da identidade feminina
Akama-sensei … que tinha as amigas assim… a gente não encontrou mais né…
Aí eu sei que aconteceu isso.
Essa aqui é a época que eu vim pra cá. Pra Akama-sensei. Tinha dezesseis anos
mais ou menos e essa aqui é a amiga que eu falei, que ficou doente, com
leucemia, né… que ficou acamada logo depois que eu saí do Akama-san, fiquei
mais com ela… Essa daqui é Toku Kassai, da família Kassai lá de Bauru, casou
com um senhor chamado Shimura né… até agora é amiga assim da gente, agora
ele é irmão dela…
R: Kozo…
Kazuco: Kassai, engenheiro civil né… casou com essa minha amiga também que
nós fomos padrinhos né, a gente que apresentou… Essa daqui trabalhava na
minha casa e também casou com engenheiro, não é… o vestido de noiva “fui eu
que fiz”…(que lindo!) a grinalda, o vestido de noiva, tudo eu que fiz… Aqui
também minha amiga, da livraria Miyamoto, não sei se é do seu tempo… É filha
também muito minha amiga, desde a infância… Essa daqui é irmã dela, também
da família Kassai… essas aqui são as colegas da USP, lá da Higiene… e com
elas, a gente encontra todo ano… Todo segundo sábado de dezembro, a gente
faz uma confraternização. Já fazem também… formei em cinquenta e um, então já
faz mais de cinquenta anos… cinquenta e sete anos que nós nos encontramos…
todo ano. Esse daqui eu terminei a Faculdade, depois fui trabalhar… Ah, aqui,
agora… é que entrou um pouco da faculdade, mas antes da faculdade tinha essa
passagem aqui, sessenta anos. Passaram daqui. Depois que eu saí daqui… foi
em quarenta e oito né? Sessenta anos né?
R: Sessenta anos, certinho…
Kazuco: Praia de Santos.
R: De Santos? Foi aquela excursão pra Santos…
Kazuco: pra Santos…
R: Olha!... Essa foto aqui… Tomoe… Michie…
I: duas irmãs…
R: É… e ela (Tomoe) faz essas “caras” até hoje, Kazuco-san… Essas risadas até
hoje… bem gostoso.
Kazuco: Aqui… ah, essa daqui que ele não achou também a ficha…
R: Ah, Toshiko?
Kazuco: Nakagawa…
R: Amiga do sótão… então… falou assim que dá até pra ver o quartinho na
pintura… (aponto para a pintura do prédio da Vergueiro, obra de Tomoo Handa)
Kazuco: Aqui tem… é aqui…
R: Ah, então vamos lá…
(…)
(Kazuco-san “navega” para outra imagem, agora de um passeio.)
R: Essa é tudo daquela excursão?
Kazuco: É, essa é tudo de Santos, de 1948.
R: E aqui, quem que é? Sensei?
Kazuco: É!... Não é Akama-sensei aqui? Ah, eu esqueci o nome dele, como é que
era mesmo?
273
Transcrições A formação da identidade feminina
I: Sugano?
Kazuco: É. Acho que é… Aqui tem o Frei Bonifácio, acho que é falecido, não é?
Não?
R: Frei Bonifácio…
Kazuco: Ele vinha dar aula de religião lá…
R: Tinha aula de religião? De…
Kazuco: Seiko-san que convidava, acho. Aqui não é Seiko? Ela ainda tá, tá bem.
Não conhece?
R: Acho que ela tá bem… não chegou a ir no doosookai (deste ano) mas elas
comentaram dela comigo… e ela que convidava o frei?
Kazuco: Acho que sim! Não sei muito bem, mas eu sei que a gente tinha assim,
aula…
R: de religião? Semanal?
Kazuco: Não sei bem que era semanal, mensal ou … tinha… todas cristãs assim,
no dia ia, né… Acho que era, não sei se uma vez por mês… não lembro muito
bem. Esse aqui é Ipiranga, aqui também, aqui também, e aqui no Pico do Jaraguá.
(nesse momento, percorro a montagem fotográfica preparada por Kazuco para o
encontro, onde a própria entrevistada elabora um percurso de imagens e legendas
para ajudá-la na reconstrução própria das memórias a serem melhor organizadas
na narrativa.)
R: Também saída, piquenique. E a subida pro Pico, parada. Também uma
paradinha…
Kazuco: É…
R: Aqui o Ipiranga… era outra…
I: O jardim na frente mudou tudo.
R: Mesmo porque aqui, dependendo… é avenida, acho que não tem mais esse
jardim.
Kazuco: Era bem amplo lá…
R: Essa escadaria também é famosa.
Kazuco: É!
I: Escadaria não mudou…
R: de fotos, de imagens… das pessoas tirarem no Museu. E cadê? Kazuco-san…
deixa ver se acho…
Kazuco: Acho que estou lá atrás.
R: Aqui né? Aqui?
Kazuco: É!
R: Essa é a turma toda?
Kazuco: De católicos, né?
R: Ah, de católicos…
Kazuco: É. A turma toda da escola não ia, né… só quem tinha interesse de ouvir.
R: Seiko Ikawa. Ah! Aqui a senhora sabe os nomes de todas…
Kazuco: Eu marquei, porque estava registrado atrás da foto.
R: A senhora era da turma do tênis também? Não?
Kazuco: Fazia parte.
274
Transcrições A formação da identidade feminina
R: Tyoko também fazia, também gostava de tênis. Ah! Kazuco Baba. Aqui, né? Ela
que foi da caixa econômica federal… está sempre no doosookai.
Kazuco, Ah é?! Hummm… essa daqui como é que chama? Era Mori né?... Mori.
Ela que é da daquela “termas de Agudos”? Não tem uma “termas de Agudos”?
Quilombo?... Quilombo, isso…
Não é ela que é dona de lá?
I: Não sei… não lembro o nome da dona de lá. Meu pai sabe, eu não sei não…
R: Depois a gente pergunta… Yoko Mori…
Kazuco: Com ela eu encontrei…
I: Era gostoso passear, passar umas férias lá…
R: Aqui era treino ou era competição?
Kazuco: Acho que era treino… Não sei se era competição, porque atrás tem um
outro que era de competição…
23’28’’
R: Essa era mais recente… aqui era…
Kazuco: Eu devo estar… porque senão acho que não ia ficar com a foto…
I: 86…
Kazuco: Vinte e dois anos atrás.
R: Aqui o Sato-sensei…
I: Que dava aula de coral, música…
Kazuco: Não sei se… qual poderia ser… essa daqui?
R: Aqui?
Kazuco: é, não é? Tá tão pequenininha…
I: Muita gente…
R: Mas acho que é sim… parece.
Kazuco: Porque eu não ia ter a foto se não estivesse aí…
R: É aqui, não é?
I: Pode ser…
R: 86…
Kazuco: Vinte e dois anos atrás…
I: Maria… “Tabatinha”…
R: Maria… Aiko. Aiko… São Bernardo.
R:- Ah...me conta desses cantinhos.
K: - Aqui é uma...
(..)
R: - Me fala desses cantinhos aqui, que eram esses cantinhos aconchegantes.
K: - Aqui é a parte aconchegante onde cada um contava das suas histórias, de
onde veio, de onde, tinha mais contato. Depois a gente formou uma turma tal
também pra ir num passeio lá em Itaquera. Aqui eu catei todas fotos assim e aqui
o corte costura né, um bazar, assim exposição né… que eles faziam né?
R: - Olha, aqui tem até vestido de noiva.
K: - É...
R: - Então, tinha desde os pequenos até...
K: - A gente fazia até paletó assim, gravata, me lembro que a gente fazia gravata.
Tinha uma gravata feita, mas não sei se acabei dando para alguém, também
275
Transcrições A formação da identidade feminina
sessenta anos né? Eu trouxe um bordado que eu achei lá, mas tinha um pouco
mais, ma já tá velho, coitado.
R: - Esse era da época daqui.
K: - É essa época daí. Quer ver, olha. Já tá até meio rasgadinho assim.
R: - Nossa preciso...
K: - Era um sensei que veio do Japão ensinar fazer esse bordado. Era tão gostoso,
eu gostava de...
R: - Que lindo isso.
K: - Manchadinho né.
R: - E esse aí são bordados com fio...de seda
K: - De seda. Esse aqui foi o segundo bordado. Tem a primeira que é feita assim
com linha de algodão então tá bem mais perfeito, agora esse aqui por ser de seda
já tá meia rustidinha. Agora, tinha uns outros assim bem mais bonito, mas um
pede, outro pede. Eu desenhava muito na época do Handa-sensei né. Eu não
fiquei com acho que nenhum! Procurei mas acho que...
R: - Nenhum desenho?
K: - Nenhum desenho. Fazia muito com Handa-sensei. Gostava assim de estilo
dele.
R: - É, disse que a senhora desenhava bastante.
K: - Desenhava e a turma pedia assim: - Ai dá um pra mim, dá um pra mim. Falava,
ah, tem que ficar na fila, porque não vai dar pra eu desenhar tão rápido assim,
mas eu fazia sim, vivia desenhando pra turma.
R: - E olha isso...
K: - Aqui já né, a linha já estragou né. Tava na moldura né, aí um dia eu peguei
tirei pra dar uma lavada assim porque tava muito sujo.
R: - Porque esse aqui é... são inclusive aqueles bordados, o estilo de bordados
que faziam em quimonos em roupas, não é isso.
K: - Mas é uma delícia, até agora eu gosto de bordar.
R: - Não é um bordado comum.
K: - Mas vale muito assim para fazer os bordados aqui ocidentais assim sabendo
bordar. Olha atrás também, não deixa muita sujeira né?
R: - É um estilo diferente esse, do bordado daqui .
K: - É gostoso bordar nossa. Bordado gostava muito. Ikebana também gostava,
mas acho que bordado eu gostava mais.
R: - Como que eram, esses cursos assim, era uma vez por semana, e aí vinha um
sensei pra isso?
K: - Acho que era uma vez por semana mais ou menos né.
R: - Quem dava esse aqui era só de bordado?
K: - Era só de bordado, ele dava só de bordado. Quem dava ikebana era só
ikebana.
R: - Porque o pai da Tyoko, Hayashi, era Hayashi? Pai da Tyoko Shimano… Ele
dava aula de nihongo, mas ele também ensinava algumas coisas, fazer conservas,
não é isso?
K: - Não sei, isso eu não aprendi não. No meu tempo não tinha não.
R: - Será que foi depois? Fazer fukujin-zukê... então acho que foi depois.
276
Transcrições A formação da identidade feminina
K: - Eu aprendi a fazer mas não foi lá. Na minha época acho que era época de pós
guerra, assim não tinha muito assim né, assim fartura pra fazer . Eu sei que a
gente comprava assim uns três litros de leite pra um monte de gente tomar, eu
lembro isso daí, em vez de comer pão era oniguiri, né. Era assim. O chá, fazia
bastante chá e pingava o leite assim pra dar um colorido assim né. Era mais ou
menos assim, não tinha muita fartura assim pra comida não.
R: - Essa época da guerra estava aqui então?
K: - Não, após a guerra né. Foi 46 né, então o meu era 46, então era assim bem
com economia né.
I: - As economias estavam começando a se recuperar.
K: - Não comia pão assim não, era só oniguiri.
R: - Oniguiri né?
K: - É oniguiri com chá e um pouco de leite assim.
R: - Nessa época Mayumi-san estava aqui na cozinha?
K: - Eu não sei, eu sei que a gente ajudava a cozinhar. Cada um, tinha o tooban
né, cozinhava e lavava. Tem uma parte aí de lavar louça lá. Acho que é depois
dessa.
R: - E aqui...
K: - Acho que é prêmio, né, ia dar o prêmio...
I: - Troféu do torneio de tênis...
R: - Ah esse é do tênis...
K: - Eu sei que era muito gostoso. Aqui, na cozinha aqui a gente tá. Essa aqui não
é a Tezukinha, essa da frente?
R: - Não conheço.
K: - Não sei se acho que o nome agora é diferente, né porque aí é o nome de
solteira né.
R: - Aí o sótão....
K: - Aqui quer ver ?
R: - Dá pra ver?
K: - Aqui esse último quartinho aqui esse de cima.
R: - Que lindo! Era nesse casarão da Vergueiro.
K: - É então é aquele ali ó tá vendo? É aquele lá, lá em cima aparece um telhadico
lá em cima. Aquele telhadinho que eu dormia, que vinha os morcegos visitar a
gente. No começo a gente ficava assustado, mas no fim ficou amigo.
R: - Já ficou tão acostumado... então inclusive aquele lá é do Handa né. E a Sra.
tinha falado que o Handa teve uma influência muito grande pra Sra. Que a Sra.
Gostava do desenho, não é isso?
K: - Eu já gostava de desenho antes de ir pra lá, aí com ele assim também,
sempre fixa, né.
R: - E depois ele um pintor de tanta projeção, né, na colônia.
K: - Aqui também é na casa desse moço assim, que a gente foi mas ele tinha
cultura de pêssego lá em Itaquera, aí a gente foi fazer o piquenique lá, mas eu
esqueci o nome dele.
I: - E por que “sim sim”?
K: - Ele falava qualquer coisa,”sim, sim, sim” , eu só gravei isso daí, “sim, sim”.
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Transcrições A formação da identidade feminina
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Transcrições A formação da identidade feminina
R: - Por que antes teria né, com as roupas era pro cerimonial?
K: - Porque minha prima também era filha única, quer dizer eu era também filha
única, então como fez pro outro filho, então ia fazer também pro meu pai, ia dar.
Agora deu pra minha filha, o kimono. Mas no fim ela não casou com kimono
também porque chegou atrasado. Acho que eles ficam ensaiando né. Eu ganhei
uma boneca três anos depois, sabe, chegou, a boneca, acho que ficaram com
emorso alguma coisa né, aí devolveram né. Mas assim naquela época, pra vir do
Japão demorava né? Aí o vestido da minha filha eu que fiz pra ela, o vestido do
casamento dela. Chegou depois, ninguém casou com kimono, o kimono dela tá
guardado, agora o meu não chegou né.
R: - Quer dizer ele chegou e não...
K: - É, não voltou pro Japão, ficou na mão dos alfandegários lá né.
K: - Aí a lua de mel, em Poços de Caldas, minha primeira casinha, que a gente
comprou já assim, com ordenado que a gente ganhava né, o meu e do meu
marido, foi a primeira casa, depois de um ano eu tive um sorteio lá no SESI, eu
ganhei, naquela época era um milhão, agora mil reais, deu pra fazer uma boa
reforma na casa, tive sorte.
R: - E aqui?
K: - Aí é a charretinha lá em Poços e Caldas, aí tem essa fonte dos amores, onde
a gente tem uma torneirinha que bebe água pra, tem uma his...
R: - Tem uma história?
K: - Tem uma história que fala que se beber água e tal fica feliz pra sempre, uma
coisa assim né?
R: - Então acho que funciona. Vamos ter que ir lá beber.
K: - Não é à toa que todo mundo que vai fazer lua-de-mel vai lá bebe água da
fonte dos amores aí.
R: - Então tem que... e tá registrado aí, tem que ficar feliz pra sempre.
R: - Olha!
K: - este aqui é nosso primeiro filho, Lincoln né. Do primeiro, aqui da segunda,
aqui a terceira Noemi, quarta..., aqui o último.
R: - Tudo bem perto né?
K: - Mais ou menos. Fiquei dez anos assim. Até o mais velho ao mais novo.
R: - Quase dois anos né?
K: - É, quase dois anos de diferença.
I: - Esse período todo foi em Campinas?
K: - Tudo em Campinas. Eu trabalhei lá 30 anos, no Serviço Social da Indústria né,
no SESI, que é um tipo de uma escola, assim, não como a atual Akama-san, mas
antigo assim, ensinava corte e costura, ensinava bordado, ensinava economia
doméstica, tinha aula de puericultura, tinha aula de educação sanitária, educação
sexual, tudinho assim, curso de noivos né, o noivo aprendia a parte assim,
conserta ferro , essas coisas miúdas.
R: - Tinha pra ele e pra ela.
K: - Curso de noivos, assim também dar banho no neném dava os dois assim
sabe, era uma escola assim, pra noivos mesmo né, era pra senhoras da indústria,
industriários é que tinham direito a freqüentar os cursos, então tinha crianças de
279
Transcrições A formação da identidade feminina
três até noventa anos. Tinha vó , neto assim freqüentando, tinha de todas faixas
etárias, diversos grupos né. Era bem agitado, tinha umas oitocentas alunas, eu
fiquei trinta anos nesse serviço.
R: - Nossa, e aposentou lá.
K: - Aposentei lá. Entrei solteira, saí avó. Você acredita?
R: - Que delícia !
K: - É é uma delícia. Era um lugar assim que me realizei bastante assim, fazia
tudo o que eu queria, era encarregada de lá né, era chefe lá.
R: - Saiu daqui e foi direto pra lá?
K: - Não. Saí do Akama-san depois fui fazer colégio técnico depois fui pra USP,
depois da USP é que eu fui trabalhar no SESI. Aí a gente quando saía da USP
naquela época , já tinha fila esperando os alunos né. Aí tinha umas duas três
ofertas e eu escolhi o que era mais ou menos assim ligado assim coisa não era de
indústria assim mais ligado com pessoas né, com ser humano assim, aí aceitei o
SESI que era , tava no terceiro lugar assim mais ou menos.
R: - E lá quais eram os cursos que a senhora dava?
K: - Não. Eu era encarregada né. Era chefe de tudo. Tinha oito professoras e duas
serventes, e aí tudo o dinheiro vinha pra mim né, por exemplo, não sei se era
quatro mil reais na época mais ou menos né, aí tinha que distribuir tudo pra todos
os cursos, pra todas as compras, todas as coisas né, então era encarregada disso,
e na falta de uma professora assim, também eu substituía né, na parte de nutrição,
de culinária, do que era possível assim né.
R: - Ah, então cuidava da coordenação.
K: - Da coordenação. Quer dizer, a gente era encarregada mas também tinha
função de orientar os professores né. Assim, foi uma época bem gostosa, trabalhei
trinta anos e quase todas as funcionárias ficaram durante o tempo que eu fiquei
também.
R: - Que bacana...
K: - E tinha em média oitocentas alunas, não o período inteiro, porque a aula era
assim de suas horas cada grupo então começava um grupo numa hora daqui duas
horas outro grupo, outro grupo, eram umas quatro ou cinco salas só, e tinha que
fazer aquele jogo de xadrez, quer dizer era minha função, de professor, de aula,
com salas de aula né. Não tinha à vontade assim, cada professor uma sala né.
Então tinha que remanejar assim, que é um joguinho de xadrez né?
I: - A Sra. era Diretora então.
K: - Era Diretora desse setor aí né.
I: - Tinha que organizar toda essa parte.
K: - É, toda essa parte.
R: - Mas acho que aí também essa vivência ajudava né, ou não, de saber esse
funcionamento todo porque de certa forma também tinha toda essa dinâmica é, lá
na...
: - Ah, mesmo não só na parte profissional , mas na parte de formação, né, eu
acho que ajudou bastante né. Pra ter assim compreensão com dez funcionários
sob né, a orientação tudo mais né. Não foi fácil, mas foi muito gostoso, assim
bem...bem gratificante né , de trabalhar com criança pequena assim
280
Transcrições A formação da identidade feminina
281
Transcrições A formação da identidade feminina
vão fazer uma historinha cada um, aí o meu netinho de 2 anos falou “ó vovó”, todo
mundo em silêncio ouvindo a historia, aí ele levantou assim e falou Vó, mas eu sei
dum bombeiro, levantou assim de pezinho assim. Os outros tem mais idade assim
né, ele é o caçulinha de todos. Eu sei o bombeiro apaga o fogo vovó, assim não
precisa de gotinha em gotinha, não dá, é mais rápido, apaga rápido os incêndios.
Todo mundo ficou meio assim né, e começou a dar risada dele. Aí o mais velho
começou a explicar, não mas o incêndio é na mata, lá não tem bombeiro assim na
hora né, aí ele ficou sossegado, mas também ele acompanha, sabe, tudo agora
ele fala, olha não pode jogar lixo porque vai sujar o rio porque vai não sei o que,
sabe ele fica falando pros outros amiguinhos também, contando as historias sabe.
Então ele gravou bem o que que é.
R: - Acho que vou levar meus filhos para ouvirem as históias da senhora, vou
juntar os netinhos, põe mais dois.
K: - Então, aí eu estou fazendo esse livrinho pra divulgar também né, aí cada um
fez um desenho, mas por incrível que pareça, cada um fez um tema diferente sabe,
um fez sobre o negócio do lixo, outro falou de derrubada de árvore, outro já falou
de incêndio, outro falou do esquimó, sabe, um dos netos, esse aí já tem 11 anos
né, falou do esquimó né que foi lá pros Estados Unidos, foi falar lá do que estava
acontecendo lá na geleira né, que tava derretendo que tinha muito peixe assim
morrendo, que tava sumindo, e aí caiu um bloco de gelo e foi parar lá nos Estados
Unidos, aí fez a conferência pra eles, e tal e foi apoiado né, e agora que a situação
tá melhorando, não sei o que, só uma coisa assim. Acho que mês que vem acho
que fica pronto o livrinho, aí eu...
R: - Depois eu quero, quero ver isso sim, mas acho que é tão bacana né porque a
senhora continua mantendo essa coisa da educadora né, que sejam com os netos.
Mas eu fico imaginando assim, que a senhora teve uma vida bastante ativa né,
profissionalmente era integral também não era? E a Sra. tem uma família grande,
daí eu fico imaginando como é que a Sra. conseguiu conciliar, naquela época,
esse lado de profissão, com esse lado de mãe de cinco né?
K: - Nossa, mas não tive um tempo de descanso assim, quase. Mãe de cinco e
ainda tinha minha mãe e meu pai né, porque eles eram dependentes de mim,
porque, eu filha única né, também um ficava doente, outro tal e tal, a gente tinha
que dar todo atendimento também. Ah me desdobrei bastante na vida, bastante
mesmo...
R: - E como que a Sra. conseguia isso. Ensina isso. Como é que a Sra. conseguia,
numa época mais difícil até assim né, que hoje até é uma coisa mais normal a
gente ver as mulheres tendo esse ritmo, mas naquela época...
K: - Mas assim, tinha assim o prêmio de não faltar ao serviço assim também.
Sempre chegava meia hora antes, ou uma hora antes, saía sempre mais tarde,
uma hora mais tarde do serviço e nesse meio de tempo anda fiz uma faculdade de
educação artística à noite, depois que eu saía do serviço, oito horas, nove horas
eu ia pegar aula na PUCC de Educação Artística né, gostava muito dessa parte da
arte também né, aí fiz a faculdade de 4 anos ainda (risos).
R: - E como que era isso assim, pra senhora família e pro seu esposo também né,
como é que era isso?
282
Transcrições A formação da identidade feminina
K: - Ah, acordar cedo, dormir pouco né. Com esposo também é difícil, você tem
que controlar melhor ainda as coisas né, pra não dar atrito né, nas coisas, tem que
se desdobrar.
(...)
K: - No geral, o homem assim, não quer saber muito né, ele quer mais é agrado só
(risos).
R: - … mas me conta como é que era esse lado do seu, do Shiro-san que não tava
aqui, como é que...
K: - Bom, no começo ele foi desempregado né pelo Jânio Quadros. Ele levou
aquela vassourada, agrônomo né, funcionário público. Aí ele levou uma
vassourada e tal, ficou sem emprego, aí, por sorte, a gente tava comprando
aquela casinha que eu te mostrei né. Então o ordenado dele era todo pra casinha
né e com o meu a gente levava o sustento. Mas como eu falei pra você, por graça
de Deus assim eu recebi aquele dinheirão assim que deu pra reformar a casa e tal
né, mas sempre tem uma mão de Deus assim, que ajuda sabe, sempre eu conto
assim numa hora mais difícil tem uma ajuda assim inesperada né, que ainda as
minhas colegas falaram assim, tem esse sorteio aí, você não fez? Eu tava
esperando meu filho né. Disse, não, não deu tempo de fazer. Falou hoje é o último
dia, vai lá fazer. Eu fiz, não é que eu ganhei! Ai eu ganhei o negócio, aí foi o que
ajudou também no sustento de tudo né. E antes eu tinha falado que era da época
da guerra que meu pai ficou doente e também né, meus pais estavam com
dificuldade aí o Estado veio me pedir para dar aula pra substituir professora, que
eu ganhava um conto e duzentos e tal que deu pra fazer minha faculdade e tudo
né. Serviu pro momento e ainda pra economizar, metade dava pra economizar, e
eu fui guardando e guardando e deu pra fazer tranqüilo sem precisar de nada , o
meu curso técnico né e o começo da faculdade. Aí na época o meu pai já tava em
Ilhabela, ele ganhava com nori, ele fazia nori lá, que ele aprendeu também quando
era mocinho assim lá no Japão né, ele fez o tear, ele mesmo sabe, manualmente
sem máquina sem nada, tudo no canivete, ele fez um tear pra fazer nori né,
porque tem que fazer um monte de esteiras, assim, pra secar o nori, né. É uma
esteirinha feito tear mesmo igualzinho máquina de tear perfeito assim. Você vê,
uma coisa assim de infância ele gravou né. Ele fez tudo no canivete assim, ele
tinha só canivete machado e enxada. Sem aparelhagem sem nada assim, tudo no
encaixe ainda, sem parafuso, sem prego sem nada, bem estilo japonês.
Marcenaria pura. Olha mas eu fiquei boba com aquele negócio lá. E não é que um
caseiro pôs fogo depois que não fazia mais isso aí. Ai, mas eu fiquei morrendo de
dó, porque tava guardado tudo, era uma relíquia né pra mim. Mas ai ai, pôs tudo
no fogo, porque não estava usando, estava lá acho que estorvando né. Eu fiquei
louca da vida. Bom, por que foi que eu fui falar isso daí? (risos)
(…)
R: - …então, porque aí depois a Sra. teve muita colaboração na verdade
K: - Foi uma colaboração divina mesmo, toda necessidade assim surgiu isso daí.
Aí teve esse sorteio, ganhei também, que me ajudou bastante, meu marido estava
desempregado, e arruma algum bico aqui e acolá, porque acho que 400
agrônomos foram varridos, então não achava emprego assim quase lugar nenhum
283
Transcrições A formação da identidade feminina
né. No fim depois ele foi recontratado assim por baixo assim, pra uma ajuda assim
né. Eu tinha o Lincoln pouco tempo, aí minha mãe ajudava muito também quando
precisava ela vinha e ajudava, porque filha única assim meu pai falava, vai lá
ajuda a sua filha que tá precisando né, na época tinha só o Lincoln, ela levava, pra
amamentar ela levava até a escola, tomava um bondinho, morava em Campinas
nessa época né. Tomava o bondinho, levava lá, amamentava, voltava assim sabe.
Só pra não perder o tempo de sair da minha casa, porque tem uma hora de
amamentação assim, mas ela que ia e levava assim e trazia assim pra casa né, de
bonde tomava o bonde com a sacolinha, vinha. Me ajudou bastante. Ela faleceu
com noventa anos, e depois que já tava tudo mais ou menos crescido que ela
faleceu e meu pai faleceu com noventa e três anos e sempre assim , os dois
colaboraram bastante, mas ...
R: - Porque assim, depois de dois em dois anos né, são muitas crianças pequenas
né?
K: - Mas eu tinha assim babás assim. Era assim: eu pegava uma pessoa assim
que queria estudar, do interior, inclusive teve uma que ficou, quantos anos… Ela
fez o ginásio em casa 4 anos, fez colegial mais 3 anos, mais 5 de faculdade. Ela
fazia um período e uma outra fazia outro período assim, fazia uma troca.
R: -Daí estudava...que bacana. Então era nihonjin também?
K: - Nihonjin. Tive brasileira também, no meio, teve umas duas assim no meio.
(...)
284
Transcrições A formação da identidade feminina
I: - Ela tava contando que ela se formou em setembro pra voltar e já casar em
novembro. Tinha data pra fazer tudo.
Setembro de kaete kara novembro ni mo casa shita no.
I: - Saiu de Aliança pra fazer o curso, se formar e voltar pra casar.
R: - Ele tinha ouvido falar
285
Transcrições A formação da identidade feminina
I: - Pelo que ela falou, parece que o marido dela, o futuro marido já tinha escolhido
a escola.
R: - Tem como perguntar?
I: - Não sei como perguntar muito bem isso daí.
R: - Ah tem guardado né?
Ta: - Tada terno wa costura nakatan kedo outro wa minna naratan no ne.
I: - Terno ,ela só não aprendeu a fazer terno.
R: - Ah, não deu tempo?
Ta: - Não, terno no hou wa ii yutte ne, não faz muito ne.
R: - Agora de criança, kodomo ...olha...manga, manga ne, e o caderno né
(...)
Ta: - Jya, Koohei-san, san nin kodomo matareru no.
I: - Hai, Kiyoshi wa oniitian, e Tadashi é irmão mais novo.
Ta: - Minna otokono ko no?
I: -Hai.
Ta: - Onna no ko wa inai.
I: - Inai.
Ta: - Koohei-san no okusan shiranai.
I: -Shiranai?
Ta: - Ateru ka mo wakaranai kedo, shiranai no.
(...)
I: - Nan sai deshitaka?
K: - Watashi jyu hati no toki
I: - Jyu hati, desessete anos ela tinha.
T: - casei com dezoito anos.
R: - Que novinha...
R: - Aqui são as colegas, são as amigas, turma
Ta: - Kore wa Sato sensei ne. Ato wa tomodati nanno
(…)
R: - A historia do seu pai leva-la né , de Aliança...
T: - Você vê que tarado!
R: - Então, mas ela casou novinha né, ela falou dezoito anos.
T: - Tinha dezoito anos, dezenove ela já era mãe!
R: - Mas aí ele levou ela pra preparar pra saber cozinhar e saber costurar.
T: - Pra saber cozinhar porque o fato é que a minha mãe, a minha mãe era louca
né, imagina. Ela casou com um homem que era o primogênito de um viúvo e tinha
três cunhados mais velhos que ela. Você imagina naquela época né. E foi morar
tudo junto. Você imagina o que ela não pastou né.
R: - Kawaisoo.
T: - É kawaisoo mesmo! (risos)
I: - Que o primogênito cuida do pai e ainda tinha três irmãos.
R: - Tinha três irmãos.
T: - Tinha três irmãos e tinha duas cunhadas, e os três eram mais velhos que ela.
I: - Cuidou de três famílias então.
T: - Três. Então você imagina né?
286
Transcrições A formação da identidade feminina
287
Transcrições A formação da identidade feminina
T: - Minha mãe foi ajudar, papai disse que pediu para segurar né, pra segurar o
ferido lá, aí disse que ela que desmaiou.
Ta: - Sore kara, ano kaete kara ne, ano visita shite kureta no.
I: - Na verdade o seu pai tinha uma pronúncia em Português boa? É isso que ela
tava falando?
T: - Em Japonês. Porque papai tinha cara de estrangeiro, não tinha cara de
nihonjin. Papai tinha cara de gaijin sabe, então minha mãe pensou que fosse gaijin,
aí não era. Então ela achou que ele tinha um sotaque bom né. Lógico né, ele era
japonês.
Ta: - Sore kara, visita shita mon dakara, watashi ga kaete kara ne, visita shite
kureta no. Sore kara conhece shita no. Sore kara asoko no Kasuda Totoro(?) itte,
Kasuda , are wa nan nittsu(?) data ka ne, medico data no ne, sono shito ga ne,
ano nankoodo(?) wo shita no, sore de casa shita no.
R: - Mas então não foi miai, então, não foi. Foi encontro mesmo, casual.
Ta: - Então, quando casa shite ne, Mirandópolis e itta no ne, sore de há wo narai
ni , ano há wo iroiro shitari ikitai, rikkou narai ni itta no ano Soire ban wo ne, de (...),
de haisha wo yatte ita no, moguri no. Totemo jyoozu atta rashii no ne, oozei kuru
no yo.
T: - Dentista prático.
R: - De lá, já.
T: - Não, lá em Aliança.
R: - Mas será que ele veio com isso do Japão?
T: - Não, não.
R: - Ah, aqui mesmo?
(...)
T: - O papai veio aqui pro Brasil porque disse que ele queria estudar. E daí, ele
sempre pensava assim, eles relacionavam América com Estados Unidos.
(...)
Ta: - Sore kara ano, gaijin to socio de yatara ne, diplomado ne, diploma no gaijin
de ikanaide, minna uti no shito ni kurun datte. Shitori de hataraite, gaijin ga
shinbun yondari, revista mite ita no. Sore kara yamete, mata yattara, outro no
onnade. Sore kara, ano sensou ni natte ne, sensou ni natara ne, doogo(?) minna
toraretyata no, haisha no.
I: - História diferente essa imigração do seu pai! Quer dizer, ele veio com um
sonho de ...
T: - Ele veio com um sonho de poder estudar.
I:- Achando que era uma coisa parecida com os Estados Unidos.
T: - Mesmo a Kuroda, Kuroda disse que ela veio pro Brasil porque disse que o
diretor da escola que ela estudava lá no Japão disse que gostava dela e disse que
perguntou pra ela se ela não vinha casar com o irmão dele que estava aqui no
Brasil. Então, disse que ela também pensou, falou assim, América né, então eu
posso continuar estudando, e disse que veio. Aí foi praquele meio, fim do mundo.
Olha, hoje Aliança é fim do mundo, você imagina aquilo lá setenta anos atrás.
Então era um fim de mundo mesmo assim sabe.
R: - E sem chance de muito estudo né.
288
Transcrições A formação da identidade feminina
T: - Nada! Foi se meter no meio de mato né. Aí no caso da minha mãe, a Kuroda-
san, então a mãe dela, elas eram três irmãs, e tem aquele negócio de ser a tutora
e a quela coisarada né, de japonês. Disse que ela pensou assim, que a mãe dela
não viria pra cá, e ela se senti muito só, sabe, então ela disse que escreveu pra
mãe da minha mãe, que era segunda, que disse que era bom, que era isso que
era aquilo. E o Jityan largou tudo lá e veio pra cá, aí se estabeleceram lá em
Aliança né. Quer dizer, tiveram que chegar, porque eles chegavam com contrato
de trabalho né.
R: - Sim, sim, tinha que chegar como todo mundo.
T: - Eu lembro que falei pro papai, que que o papai ficou tanto tempo lá, lá naquele
fim de mundo lá, que não vinha pra cá, devia ter saído de lá né?
R: - Tinha que cumprir né.
T: - Ele falou assim, eu tava lendo num desses livros do trabalho que eu estou
fazendo, que realmente eles traziam um contrato de trabalho que eles acreditavam
que era um compromisso que o governo japonês cumpria com o governo
brasileiro, então disse que eles não podiam desonrar esse contrato. Isso daí é que
segurou eles assim sabe. E no caso assim eles se ferraram mesmo né.
Cumpriram esse contrato e saíram sem dinheiro, ele perdeu tudo. Papai disse que
quando estava acabando o contrato dele, o fulano que era dono das terras, porque
eles tinham trazido dinheiro também, e depois então eles trabalhavam como
meieiros aqui, então disse que falou assim. Porque gente, Aliança era um lugar
assim, que demorava 24 horas pra conseguir chegar no banco mais próximo,
imagina o fim de mundo que era, o banco mais próximo eles levavam 24 horas de
jardineira, a pé, de trator, de sabe, caminhando la no meio do mato disse que
demorava 24 horas. Então papai falava assim, que que eu vou fazer com dinheiro
aqui? Ainda ia ser roubado né, então disse que eles deixaram com o patrão, falou
assim, a hora que acabar o contrato a gente pega o dinheiro e eles combinaram
com ele né. E quando tava acabando o homem morreu e a mulher chegou e
vendeu tudo que tinha de terras, porque eles não podiam comprar, mesmo com
dinheiro eles não podiam comprar, porque eles tinham que ficar 5 anos
trabalhando na terra, que era o contrato né, tinham que trabalhar na terra 5 anos,
pra depois ter o direito de comprar, então quer dizer que mesmo com dinheiro eles
não podiam comprar na época. E ele vendeu para outro e disse deu uns metros
quadrados lá pra ele, assim que disse que ela não conseguiu vender e foi embora
pro Japão. Ela sabia que diz que tinha o dinheiro né. Você acredita, Regina, que
depois de quarenta anos que esse homem morreu ela veio aqui, sabe, essa
mulher veio aqui disse que veio buscar a ossada do marido, aí eu lembro que o
papai perguntou assim, disse que ela escreveu sei lá o que pro papai,
perguntando se podia recebê-la né, então falou eu não, eu não quero ver essa
mulher nunca mais né, porque inclusive a minha vó, a mãe dele, morreu porque o
socorro demorou porque não tinha dinheiro para tratar, e minha vó tinha um
câncer sabe, e daí então demorou para conseguir o dinheiro para poder vir pra
São Paulo pra tratar, sabe, então papai tinha uma revolta muito grande com isso
né, sentimento de culpa, de raiva, de um monte de coisas assim né, e daí essa
mulher disse que chegou e queria vir em casa. Aí papai falou, eu não, não quero
289
Transcrições A formação da identidade feminina
receber uma pessoa dessas né. Aí falou assim, que queria colocar osenkou pro
ojitian e obaatian, porque não sei o que, e aquela coisa toda assim sabe, aí você
sabe que ela cercou os tios, chegou nos meus tios e meus tios começaram a fazer
pressão pro meu pai receber a mulher né. Aí eu lembro que, mamãe não sei nani
yutta ka ne, papai perguntou pra mim um dia ne, ele falou assim o que você acha?
(...) Eu falei pra ele assim, papai, o negócio é o seguinte, eu acho que você é
vencedor, que apesar de ter sido roubado desse jeito você sobreviveu, constituiu
sua família, você fez todo mundo estudar, você venceu né! Então apesar de tudo
você é vencedor. Ele falou, ah você pensa assim? Aí...não sei, só sei que um dia
essa mulher veio aqui, ela veio aqui conversaram, depois ela estava hospedada
numa casa né, que olha por coincidência, a casa onde ela estava hospedada era
vizinha da casa do meu professor que eu trabalhava com ele. Olha que
coincidência né? Aí eu sei que um dia minha mãe chegou e falou pra mim assim,
você conhece este endereço aqui? Me deu assim né de manhã. Eu conheço por
que? Ah então você passa lá para me pegar de noite, na hora que eu vinha
embora. Por que? Aí era a casa onde ela estava hospedada, essa obasan estava
hospedada, sabe. Aí eu lembro que eu cheguei, toquei a campainha pra dizer que
eu tinha chegado (...), aí ela falou assim, ah tada Takityan no ko data no ne, ela
falou assim, então era uma pessoa que eu entrava saía, bom dia, boa tarde, mas
nosso diálogo era esse né, aí essa mulher era colega de escola da minha mãe,
disse que eram colegas de escola.
R: - Que coincidência né?
T: - Você vê. Mas aí ficou por isso né. Claro que o papai não recebeu o dinheiro
né, mas ...
R: - Que mundo né, pequeno. Tem que andar direito né.
Ta: - Sore kara, haisha yatta kedo, yoku hayatta no ne, dakedo, tem que sustentar
bastante família né, ano gente ne, de shitori de hataraku dake dewa dame dayo te
ne, sore kara hoteru shita no. Eto ne, comprou hotel, ano aluga shite ne, sore de
yoku hayatta no, ano sensou no toki ne, ano há no doogu(?) minna toraretyatta
no,delegacia ga, nihonjin dakara ne, sorede shikata nai kara ne, nani shiou ka
yutteta toki, tyoodo hoteru yarou te, hoteru wo uteita no, ano aluga suru you ne,
sorekara soko de yatte, hoteru yatta no. Sono toki Akama-san ga korareta no, ikkai
gohan tabete itadaita.
I: - E esse hotel ficava em Aliança?
T: - Olha gente eu fui ver esse hotel com a minha mãe, outro dia né. Gente é um
muquifo, um puteiro.
R: - Lá, em Aliança.
T: - Aqui, aqui na Silveira Martins, ali na Silveira Martins com a Tabatinguera.
Gente aquilo lá é um puteiro hoje.
R: - Ela alugou.
T: - Eles tinham alugado e ficaram um ano e pouco né mãe?
Ta: - Soo ne. Sorekara, okyakusan oozei kuru no yo ne, sorekara fiscal ga kite ne,
ano aluga shite ne, cozinha to are ga ne, cozinha taira datta no, não pode datte,
cozinha wa are shite, azulejo hakaranakya ikenai. Dakedo, azulejo, nanka, aluga
shiteru, não dá pra fazer ne.
290
Transcrições A formação da identidade feminina
(...)
Ta: - Okyakusan ga ookiku nate, ookiku mietan no yo. Então fiscal ga kite, azulejo
hatte inai kara, iti conto ano, nanka, ni conto made multa datte, dooshitara ii ka te
yutta no, kore wo kure no yuu no. Yonhyaku totta no, de yonhyaku yatta no. Jya
concordou ne. Sore kara, tsugi no hi outro fiscal ga mata onaji koto wo, Yon nin no
fiscal ga mai tsuki kuru no, yonhyaku zutsu toru no.
I: - Cada um veio tirar 400 contos.
Ta: - Então, ano refeição ga ano toki yon mil data no yo. Sorede, yonhyaku mo
toraretara, mo não dá lucro nada ne. Vamo vender esse hotel, sore kara motto ii
no kaou te yutta no ne, sagashi ni ittara, roka no hotel minna uti yori pior nano, uti
no medio kurai de yokata nano. Dakedo, fiscal, inaka kara deta kara baka ni shita
no ne. Sore kara vende shita no yo. Sore kara Andradina e itte, ano Bosque da
Saúde ni yonkagetsu, nanka shigoto o sagasu ni, de wa Mirandópolis ni asobi ni
itte kuru te yutta no. Mukoo de Motomiya-san ga otooto ga bazer wo utteru kara,
serraria ga aitai , dakara uritai no. Movimento ga totemo ii no, calçada mo ippai
shito ga tooru no, doyou, nichi wa ...
I: - Comprou uma loja em Mirandópolis?
T: - Em Andradina.
Ta: - Sore kara bazar wo yatta no. Yoku hayattara ne, dono da casa ga pano ya
datta no, urenai mon dakara hi tsuketa no. Sore de uti no mise ga fecha ni (...)natta
no. Jya tsuite ne, sore kara, ano tatekaita toki yatte yoku itta no ne, sorekara,
amari bazar demo mendokusai yutte, kondo granja yarou te granja 8 anos yatta no.
R: - Não, mas isso que ano que foi então já?
Ta: - Mudou muito ne.
T: - A granja foi 59.
Ta: - Sorekara, mo granja mo amari ookiku nai kara motto ookinano yaritai te.
R: - Você nasceu onde?
T: - Eu nasci em Mirandópolis, a época que papai, mamãe tinha um hotel lá.
R: - Então, são quantos?
T: - Nós somos seis. Eu sou a número três.
Ta: - Sorekara São Paulo e itte, granja no motto ooki no shitai kara. Watashi,
granja ya yutta no, porque ele sempre asma data no. Neru no ne,
I: - Com pena de granja né.
Ta: - Sore de ne, mooshi São Paulo ni itte, watashi hataraku no wa ii kedo, tamago
wo uranakya ikenai, kaimono shinakya ikenai, tada São Paulo tiri mo shiranai de
granja wa mo ya yo. Nunca ano contra shita koto nai no ne. Sore kara jya, tokeiya
yarou, eto tokeiya yatta no. Sorekara tokeiya ni natta no. Musuko ga grupo, ano
ginasio e itteru toki kara, asobanai hou de nanka oboetara ii te Tokei ga suki de
tokeiya ni natta no. Sore kara tokeiya o hajimata no.
(..)
R: - Então sua mãe sempre trabalhou também, junto. Ela nunca parou para ficar
com o lar?
T: - Sempre.
Ta: - Trabalhei muito!
R: - São sempre coisas que ela estava junto né.
291
Transcrições A formação da identidade feminina
T: - Sempre.
T: - Na granja, nossa, ela que carregava sabe, ela carregava a granja.
I: - Seu pai fazia a parte comercial de vender. Sua mãe que tocava o dia a dia.
T: - Isso, relações...então comprar ração e preparar e essa coisa, e minha mãe é
que fazia tudo.
(...)
T: - Mas a minha mãe sempre trabalhou. Sempre, sempre ela carregou...
(...)
292
Transcrições A formação da identidade feminina
“Poder-se-ia dizer que “Akama Jogakuin” foi uma escola e mais que
isso, um órgão de recursos humanos na formação da colônia japonesa em todas
as áreas da primeira metade do século vinte. Na agricultura, como líderes das
associações femininas (Fujin-kai), nos escritórios de empresas japonesas, no
consulado japonês e nas escolas de língua japonesa.
Estudei na Akama Jogakuin nos idos de 46~47, quando a derrota
sofrida pelo Japão era recente. Dada a situação dos japoneses, o estudo da língua
japonesa era feito com reservas. A escola funcionava em uma mansão na Rua
Vergueiro. O curso de corte e costura era importante pois não existia indústria de
roupas feitas. Tudo era feito nos lares. Na época a Colônia era basicamente
agrícola. Saber costurar e cozinhar eram condições essenciais para as moças,
cujo futuro era o casamento. Também não havia opção para a maioria delas. Eram
outros tempos.
Após o término do curso, retornei a casa e me dediquei à lavoura com
os outros irmãos. Sempre que podia procurava aplicar os conhecimentos
adquiridos no Jogakuin. Após 2 anos, meu pai permitiu que retornasse a São
Paulo. Uma amiga do Kinroubu (esta é outra história interessante que vivenciara
entre 13 e 14 anos, no centro de São Paulo) apresentou-me o Sr. Osamu
Shiotsuki, distribuidor de fertilizantes aos agricultores da Colônia. Procurava
alguém que pudesse trabalhar na máquina de datilografar em japonês. Fui vê-la.
Um tablado repleto de tipos em kanji. Uma alavanca capta um tipo e acerta no
papel preso a um rolo na frente. É como “catar milho”. Trabalhei nesse escritório
durante dois anos. À noite cursava o colegial. O meu conhecimento de japonês
levou-me à multinacional Marubeni. Foi ali que tive a oportunidade de traduzir o
primeiro filme em japonês “A Noviça Raptada” da Nikkatsu. Já cursava letras na
USP nos anos de 60~70. Após 6 anos deixei a Marubeni para dedicar-me às
traduções. Já terminara a Faculdade.
Era uma fase de expansão da educação básica em São Paulo com
muitas extensões nas escolas estaduais. Uma amiga, a Shizu, de matemática,
293
Transcrições A formação da identidade feminina
294
ANEXO 02
Traduções de textos selecionados
da bibliografia de Michie Akama
295
BURAJIRU SEIKATSU DE NO ETIKETTO
Michie Akama
297
Apresentamos, a seguir, textos [[17-22], [40-42], [43-48], [58-65], [76-79], [80],
[105-108], [108-110], [143], [146-151], todos retirados e traduzidos do livro Burajiru
seikatsu de no etiketto do qual damos o índice geral.
1 - Prefácio………………………………………………...…………………………......1
2 - Formal e Sentimento…………….…………………..………………………………4
3 - Modo de se apresentar – Vestimenta……………..……………………………… 5
4 - Asseio………………………………………………..………………………………..9
5 - Atitudes………………..…………………………..…………………………….......11
6 - Cumprimentos…………………………………..…………………………………..12
7 - Apresentação………………………………….…………………………..…..[17-22]
8 - Como dirigir as palavras………….………………………………………………..23
9 - Como sentar numa cadeira………………………………………………………..29
10 - Ato de receber ou entregar objetos………………………………………………30
11 - Modo de usar o telefone……….…………………………………………………..33
12 - Comportamento no uso dos meios de transporte……………………………... 35
13 - No hotel….…………………………………………………………………………..38
14 - Caminhada na via pública…………………………………………………………39
15 - Na biblioteca………………………………………………………………………...40
16 – Visitas …………………………………...…………….………………………[40-42]
17 - O chá ……..……………………………………………………………………[43-48]
18 - Despedida - acompanhando até a porta ………………………..………………48
19 - Teatro……………………..…………………………………………………………49
20 - Na equitação…..……………………………………………………………………50
21 - Restaurante…………………………………………………………………………51
22 - banquetes com convidados especiais, importantes ou superiores…………..54
23 - Preparando a mesa………………………………………..…………………[58-65]
24 - Tipos de frios……………………………………………………………………….66
25 - Sobremesas (frutas) ………………………………………………………………68
26 - Vinhos……………………………………………………………………………….69
27 - Dever da dona de casa……….…………………………………………………[73]
28 - Culinária chinesa…..……………………………………………………………….74
29 - Culinária japonesa…..………………………………………….……………..[76-79]
30 – Chá/festa………………………………………………………………………... ...80
31 - Bailes………………………………………………………………………………...81
32 - Coquetéis……………………………………………………………………………83
33 - “Usucha” – variedade do chá .……………………………………………………84
34 - Fumo…………………………………………………………………………………84
35 - Cartas (Estilo Brasileiro) ………………………………………………………..…85
36 - Cartas (Estilo Japonês) ……………………………………………………………88
37 - Igreja…………………………………………………………………………………90
38 - Casamentos (Estilo Brasileiro) …………………………………………………...91
39 - Casamento oficial (cartório) ………………………………………………………94
40 - Na hora de ir à igreja………………………………………………………………94
299
41 - A recepção………………………………………..………………………………101
42 - A viagem de casamento (lua de mel) ………………………………………….103
43 - Casamento entre os divorciados……………………….………………………104
44 - Casamento tradicional japonês….………………………………………..[105-108]
45 - Tipos de casamento………………………………………………………..[108-110]
46 - Aniversário de casamento……………..…………………………………………111
47 - Celebração datas especiais e aniversários…………………………………....112
48 - Visita às pessoas doentes……………………………………………………….112
49 - Visita à parturiente…………………………….…………………...……………..113
50 – Testamento……..…………………………………………………………………116
51 - Enterro………………………...……………………………………………………116
52 - Funeral budista……………………………………………………………………120
53 - Funeral cristão………………………………………………………….…………122
54 - Missa de 7o dia da igreja católica……………………………………….………124
55 - Presentes de senso comum (usuais) ………………………………………….126
56 - A escolha do presente……………………………………………………………133
57 – Presentes para amigos do sexo oposto……………………………………….134
58 - Etiqueta no trabalho………………………………………………………………138
59 – Ikebana - arranjos florais……………………………………………………….[143]
60 - Anéis………………………………………………………………………………..144
61 - Leituras…………………………………….……………………………………….144
62 - Sobre hasteamento de bandeiras……………………………………………….146
63 - Cerimonial do chá…………………………………………………………………146
300
Apresentação [17-22]
Como Apresentar
No ato de apresentação
301
Quando for Presidente, “Sr. Presidente, Permita-me a honra de
apresentar-lhe o Sr.... etc.”
Sorrisos
302
Carta de Apresentação
Cartão de Visita
Muitos japoneses, que aqui visitam, portam cartões que enchem com
títulos, como: ex-deputado, ex-vereador, etc. Isto denota superficialidade, apego à
aparência. As pessoas que recorrem a este artifício para se auto-promover, não
303
merecem ser respeitadas. É falta de respeito para com o interlocutor o ato da
pessoa que guarda imediatamente o cartão no bolso.
304
Visitas [40-42]
- Recepção
305
- Assuntos da Conversa
306
O chá [43-48]
Uma festa de chá mais íntimo poderá reunir amigas para travar
conversas sobre assuntos mais diversos, ouvir músicas ou outras atividades
relativas a hobby.
307
Preparando a Mesa [58-65]
(estilo ocidental)
- Decoração do ambiente
Caso exista espelho na sala, deverá ser coberto com flores de forma
discreta. Em qualquer caso não se deve esquecer das flores para decorar o
ambiente. As flores da mesa não devem atrapalhar as comidas.
- Menu
308
francesa ou portuguesa, podendo ainda ser pratos regionais que representem a
terra natal da anfitriã. Às vezes, achamos bom incluir no cardápio produtos
brasileiros, mesmo que sejam no estilo francês ou inglês.
- A maneira de servir
Deverá dizer o nome do vinho “tal”. Sempre que for aberta a garrafa, o
vinho deverá ser provado pela “dona de casa”.
309
- Cuidados na hora de degustação
• Antigamente, comia-se usando a mão, diretamente. No século
XII surgiu o garfo, porque o punho e colarinho atrapalhavam. Por
isso, o garçom trazia bacias e toalhas para lavar as mãos.
• O jantar será iniciado quando a anfitriã anunciar. Siga o modo de
degustação de outras pessoas quando for prato desconhecido.
• Estando à mesa, evite apoiar os cotovelos na mesa, ou movimentar
as pernas exageradamente.
• Preste atenção com antecedência, quando o prato não for do seu
agrado. Se não quiser poderá declinar. É desrespeito deixar de
comer depois de servido.
• Retire de modo discreto no canto do prato, sem que o convidado ao
lado perceba, qualquer impureza que esteja presente no prato.
• Nunca limpe talheres com guardanapo, antes do início. Este ato é
ofensa à anfitriã.
• Num banquete, havendo convidado estrangeiro que não tem
conhecimento sobre o que está sendo servido, explique ou
pergunte sobre a comida.
• Existem pessoas que têm costume de cheirar. Isso não é
conveniente.
• Movimento excessivo no uso do garfo para misturar a comida no
prato, ou levar a faca à boca, causa má impressão.
• Mastigar a comida com a boca aberta ou falar com a boca cheia,
também não é conveniente.
• Se não gostar do tipo de sopa servida, tome apenas uma
quantidade mínima. Quando a comida é quente evite soprar ou
provocar ruídos.
• Segure a faca com os dedos indicador e polegar. Após o uso,
apóie-a na borda do prato. O sal pode ser colhido com a ponta da
faca.
310
• O pão não deve ser levado à boca banhado no ovo ou café.
• Os detritos devem ser postos no canto do prato. A casca do ovo
deve ser amassada.
• O guardanapo não deve ser dobrado e colocado sobre a mesa.
• Antigamente, não era habitual escovar os dentes. Por isso, recorria-
se ao uso de palitos. Hoje, não é mais usual, por não ser muito
estético.
311
Dever da Dona de Casa [73]
312
Culinária Japonesa [76-79]
Preparação da Mesa
95
Zenbu – bandeja com pratos completos, montados como antigamente
96
Oshibori – toalhinha úmida, que é oferecida antes do início da refeição, para higienização da mão.
97
Kayoi-zen - bandejas destinadas individualmente
98
Itijyuu sansai - cardápio básico da culinária japonesa, consiste em 1 sopa e 3 tipos de pratos diferentes; a
sopa, comumente é de “missoshiru”, caldo de soja
99
Tyawan - tigela de cerâmica que serve arroz
100
Owan - tigela de madeira cavada para servir sopa
101
Sashimi – fatias de peixe cru
102
Nimono - cozidos em geral
103
Sunomono – prato ao molho “vinagrete”
104
Kobachi - variedades de comidas em pratinhos
313
Yakimono 105 , grelhado de peixe, será servido após degustação do
sashimi. Há casos em que kou no mono106, conservas como tsukemono107, são
colocadas em vasilha cheia, acompanhadas de hashi 108 , talher ou palitos de
madeira. Outros detalhes serão arranjados seguindo o modelo apresentado, mas
evitando os pratos com paladares semelhantes ou de muitas variedades. Escolher
o cardápio, cujos ingredientes sejam típicos das estações do ano.
314
complementares, de prato em prato, sem comer o principal, que é o arroz. O
“mayoi hashi” é quando a pessoa vacila para escolher de quais pratos quer se
servir ;
Recepção do Convidado
Outras precauções
113
Tokonoma - nicho na parede com nível de piso um pouco mais alto, onde se expõe uma
pintura, ikebana – arranjo floral, ou alguma obra de arte japonesa
114
gueza – situação definida como de posição inferior.
115
Zashiki - sala no estilo da construção japonesa, cujo piso é forrado de tatami
116
Tatami – colchão de palha
117
Missoshiro – sopa à base de soja
315
receber de volta as tigelas, receba com as duas mãos e coloque sobre zenbu e,
em seguida, pegue o hashi.
3. O arroz deve ser revolvido, para que fique fofinho, e posto num
volume de 8/10 da tigela.
4. O prato de sashimi tem suas fatias dispostas da frente para trás. Por
isso não confundir o lado frente com o lado verso.
118
Kaishi – lenço de papel
316
Casamento tradicional japonês [105-108]
“Yuino121”
119
Miai-kekkon - arranjo
120
Ren-ai kekkon – escolha livre
121
Yuino – cerimônia de troca, oferta de presentes
122
Os principais objetos que constituem a lista de “Yuino” têm significado simbólico.
“Surume” (Lula seca) é alimento de longa duração. Tem propriedade de que quanto mais mastigar mais gosto
tem, sendo assim, representa relação longa de afeto entre o casal.
“Kombu” (Alga) sendo planta aquática vigorosa e procriadora, significa ter bastante filhos, garantindo a
perpetuação da descendência.
“Katsuobushi” (Peixe seco - Bonito) alimento de longa duração. Antigamente, era levado pelos guerreiros na
guerra. Significa a sorte no combate, representa virilidade do homem.
“Tomoshiraga” (feixe de linhos) seus fios tem cor branca, significa longevidade do casal até que os cabelos
fiquem brancos.
“Suehiro” (Leque) significa o sucesso progressivo como a abertura de leque de um extremo a outro extremo.
317
(1)
“Mokuroku”123
Gofukuji124 1 peça
Tai125 1 unidade
Surume126 1 maço
127
Kombu 1 maço
Katsuobushi128 1 conjunto
Tomoshiraga129 1 feixe
Suehiro130 1 par
Recepção
Todos estes objetos constituem padrão da lista de “Yuino”. Contudo, estes objetos poderão sofrer
variações, inclusive conter objetos de valor como “anel de diamante” ou mesmo valor em moeda.
123
Mokuroku - lista
124
Gofukuji – pano
125
tai – pargo, peixe
126
Surume – lula seca
127
Kombu - alga
128
Katsuobushi – peixe seco, “bonito”
129
Tomoshiraga – feixe de linho
130
Suehiro - leque
131
Sake – bebida com alto teor alcoólico
318
Data de Casamento
132
Butsumetsu – morte de Buda
133
Sanrinbo – mau agouro
134
Kokoro - coração
319
Tipos de Casamento [108-110]
135
Shinzen kekkon – casamento xintoísta
136
Katei kekkon – casamento doméstico
137
Kirisuto kekkon – casamento cristão
138
Butsuzen kekkon – casamento budista
139
Nakoudo - padrinhos
140
San san kudo - san, significa 3, ku, significa 9, do, significa vezes (multiplicador). Desde antigamente, o
número significa a felicidade, portanto, San San Kudo seria 3 × 3 = 9, felicidade multiplicada a 9.
141
Shakunin - noivos
142
Shinshu – sake sagrado, à base de arroz
320
zashiki que possua tokono-ma, os noivos se posicionam no jouza 143 e os
padrinhos ficarão na posição secundária, gueza 144 . As pessoas que vão servir
sake devem se situar na posição oposta do tokono-ma.
143
Jouza – local principal do zashiki, sala no estilo de construção japonesa
144
Gueza – posição secundária no zashiki
145
Otyou e metyou – pequenas garrafas de cerâmica com enfeites simbolizando, respectivamente, borboletas
masculina e feminina.
146
Sakazuki – taça adequada para o ritual san san kudo
147
Muko youshi – para manter o nome da família da noiva, quando essa é filha única, ou não possui nenhum
irmão homem, o noivo recebe o nome familiar da noiva para dar continuidade.
148
Youkyoku ou utai – canto bravo, que advém do tradicional teatro Nô
321
Posição das pessoas na fotografia
Na primeira Fila
⑦ ⑤ ③ ① ② ④ ⑥
Mãe do Noivo Pai do Noivo Padrinho Noivo Noiva Madrinha Pai da Noiva
Na segunda Fila
⑦ ⑤ ③ ① ② ④ ⑥
Irmã mais Irmão mais Irmã mais Tio do Irmão mais Irmã mais Irmão mais
nova do velho velha Noivo velho velha novo da
Noivo do noivo do Noivo da Noiva da Noiva Noiva
322
Ikebana – “arranjos florais” [143]
323
KATARIGUSA
Michie Akama
325
Apresentamos, a seguir, textos [41-44], [45-48], [86-88], [88-90]],
[95-96], [119-122], [137-140], [173-176], [178-182], [189-191], [191-196], [206-212],
todos retirados e traduzidos do livro Katarigusa de que damos o índice geral.
Conferências
327
30 - Problema entre o filho e a segunda esposa……………………………………135
31 – Sobre relação pré-matrimonial……............................ ........................[137-140]
328
O casamento é o acontecimento mais importante da vida [41-44]
329
As estudantes dedicavam-se, diariamente, apenas aos estudos, e, além
de serem muito jovens, a idéia sobre casamento para elas, ainda era cedo demais.
Ao aceitar o que pensavam, pensei nas alunas que já estavam formadas, mas
elas também se mostraram bastante ocupadas com o trabalho, e ainda, não
conseguia entrar em contato, ou recebia respostas vagas. Tanto as moças como
seus pais aparentavam não dar muita importância para o casamento.
São dados esses conselhos para as candidatas, para saber como estão
se empenhando para obter um bom parceiro, ao mesmo tempo em que, também,
servem como exemplo, para o lado masculino poder se empenhar em encontrar
uma boa parceira.
330
No ano passado, também na colônia japonesa, incluindo antigos e
novos imigrantes, tem aumentado o interesse no tema, cada associação das
províncias tem feito apresentações e, aos poucos, vem oferecendo consultoria
para casamentos. A Associação de Senhoras “Esperança”, também, há 2 ou 3
anos, vem prestando esse tipo de consultoria, na qual esses “escritórios” entram
em contato com ambas as partes, fazendo o possível para que a relação seja
concluída. Também acho necessário que existam encontros uma vez por mês
para diálogos para tirar as dúvidas dos jovens, e ficaria agradecida por isso.
Acho que os pais que têm filhos(as), devem utilizar esses órgãos, mas,
por enquanto, vejo que o número de inscrições é muito escasso. Será que os
japoneses por serem envergonhados, e, especialmente um povo orgulhoso não se
permitem tal situação? Por fim, acredito que, pela felicidade de suas filhas e filhos,
os pais deveriam agir mais favoravelmente a isso.
331
Minhas Leituras [45-48]
Outro dia, meu filho se casou e foi morar na casa vizinha. O quarto dele
ficou vazio. Pensei em recuperar os livros que li e os juntei até hoje.
332
O meu sonho era “Quando eu morrer esses livros vão ficar e o futuro
deles será a biblioteca da escola...” - eu, que sempre ficava brava com as pessoas
que não tomavam cuidado com o livro que tomavam emprestado de outrem,
mesmo que chorasse, não seria o suficiente, e nunca esqueceria o erro cometido
ao guardar os livros de qualquer jeito.
Aos olhos, os livros que são postos brilhando em uma sala de estar são
muito bonitos e tornam-se um enfeite para um lugar, na estante que guardo os
meus livros, depois de lidos por mim, vão de um para outro, e como já deram
várias voltas, vendo por qualquer ângulo, não são o tipo de livros que servem para
enfeitar um lugar, uma vista diferente, reto em um canto estreito. Quando volto,
repetidas vezes por semana, e quando entro nesse quarto, meu coração fica
calmo porque parece que ganhei milhões de amigos. A leitura é a bússola que nos
leva para mundos desconhecidos.
Por exemplo, por mais que uma estória seja simples, ali estão
escondidos vários tipos de acontecimentos na sociedade. Até o pensamento sutil,
que podemos aprender de uma pessoa, ao ler uma biografia, pode tornar-se uma
força dentro de nossas vidas.
A leitura não é focada apenas para assuntos de alto nível. Volta-se para
a nossa difícil realidade, visualiza coisas corretas para vivermos, boa esperança e
busca por uma maneira de não ficarmos perturbados. Acho que é útil para tudo
isso.
333
O fato de gostar de ler não quer dizer que fico observando a vida de
cima, parecendo ter mais conhecimentos. Podem pensar que quero me exibir,
mas sou a mesma senhora do alojamento, que continua a ter suas necessidades e,
mesmo agora, continuo subindo, lentamente, a íngreme ladeira.
(1965-Jornal de Críticas)
334
A minha distração [86-88]
Outro dia, fui à casa de uma das alunas formadas, em Santo Amaro,
uma pessoa de 74 anos de idade, que cuidava de dezenas de vasos de bonsai149
e, qualquer um desses pinheiros, tinha suas formas perfeitas, realmente fiquei
com um pouco de inveja. Posso dizer, que o ambiente familiar e o jeito desse tipo
de ser humano não é visto em qualquer lugar, de maneira que não pude deixar de
reparar.
149
Bonsai – árvore mantida em tamanhos reduzidos, por meio de podas e amarrações.
335
roupas prontas, comidas instantâneas para as refeições, e acabar entregando as
crianças na mão de empregadas, e, mesmo que o botão da roupa da criança caia,
não pregam firmemente. Se realmente estiverem sem tempo, temos que nos
conformar mas... não seria pelo fato das pessoas terem a oportunidade de poder
sentir as coisas, por exemplo, mesmo que seja uma coisa pequena, o fato de
poder inventar algo, que sente alegria?
336
O Significado de Trabalho [88-90]
Também fui ao alojamento das alunas, e ouvi falar que foi necessário
contratar uma pessoa para lavar a louça das alunas, pois muitas delas
reclamaram em fazê-lo, e isso não é um problema apenas do ato de lavar a louça,
mas sim, o declínio do caráter humano. Estudar também é importante, mas
dedicar os cinco ou dez minutos vagos depois da refeição, é também uma forma
de mostrarmos nossos bons corações, ajudando a fazer as coisas.
337
Vamos caminhar a favor da Mente e Corpo [95-96]
Há, aproximadamente, três dias atrás, recebi uma carta da estilista Tiyo
Tanaka, de Tokyo, pela condecoração que recebi. Dentro desta: “Nós também,
sobre todas as escolas de costura, como este cartão desenhado, construímos
uma escola profissionalizante em “Midori no Oka”, e como sempre, com muita
saúde e suor. Em sua próxima visita ao Japão, venha nos visitar, sem falta.”
A chamada Sra. Tiyo Okada, mesmo aos noventa anos, por conseguir
andar firmemente, foi admirada. O falecido Sr. Hidesada Okada, seu marido, por
ser professor de educação física ginasial, na época, ofereceu aulas de educação
física para os jovens da colônia.
338
ali, andando juntos com o professor, no “encontro de andar”. Naquela época, as
pessoas que vinham, não tinham a facilidade de adquirir um carro e muitas vinham
de muito longe andando.
339
Para constituir nipo-brasileiro digno [119-122]
Desta vez, a nova iniciativa do São Paulo Shinbun, é fazer uma página
especial para escolas, porque, até hoje, o que não era bem esclarecido, tais como,
nomes, endereços e especialidades das escolas, poderá ser conhecido por meio
desta, ajudando, assim, as pessoas da colônia.
Bem, comparando com outros países, será que existem muitas escolas
de japonês como no Brasil? Dizem que os japoneses são fervorosos pela
educação. Uma prova disso é que, quando eles chegavam ao Brasil, se
houvessem vinte famílias no mesmo local, logo nascia uma escola de japonês.
Isso, porque os pais queriam passar para seus filhos, as coisas boas do
Japão, e quando os caboclos, que não sabiam nada, perguntavam: “No Japão, há
locomotivas e trens?”, não havia argumentações. Ou, entre outras coisas, havia
dúvidas, em relação à situação de acúmulo de dinheiro e retorno breve ao Japão,
em como seria se os filhos não soubessem japonês? A ascensão escolar não
seria garantida, por isso, imagino que havia muita preocupação nesse sentido.
340
Logicamente que há vários motivos para que isso tenha acontecido.
Não podemos apenas criticar os lares. Mesmo assim, o lar é o plantio da
educação e não podemos esquecer que a disciplina e personalidade são criadas
dentro do lar. Os japoneses pensam que é só matricular seus filhos em uma
escola e tudo se resolve, ou então, pelo fato da mãe ser muito ocupada, mesmo
não sendo sua real intenção, entrega o filho para escola e vai deixando dessa
maneira mesmo.
Então, depois de escrever até aqui, o que devemos fazer daqui pra
frente? Penso que os professores devem falar detalhadamente com os pais. Às
vezes, ouço: “Meu filho vai muitos anos na escola de japonês e até hoje não fala
nada, acho que a maneira que o professor ensina não é boa...” e onde está o
motivo disso? Será que isso não é um importante motivo para ser discutido? É
como se, por mais que nós, nascidos no Japão, aprendamos a ler e escrever em
português, se não tivermos amizade com brasileiros, não falaremos português.
341
Sobre relação pré-matrimonial [137-140]
Pergunta:
Juntando toda a sua história, vejo que ele não tinha o menor interesse
em casar e, desde o começo, planejou o relacionamento. Ao conseguir atingir sua
meta, podemos dizer que fugiu o mais depressa possível. Depois disso, ela está
deprimida e, às vezes, durante o serviço, segura o choro, vejo que está sofrendo.
Ele finge que não aconteceu nada e, por isso, sinto pena dela. Não me conformo
que não haja nada que se possa fazer com este tipo de homem.
Resposta:
342
Por falar nisso, em relação à sua amiga, realmente, sinto muita pena
dela. Porque ela não conseguiu ver o real valor deste homem? Passear até tarde
sozinhos, ir até a residência dele, acredito que ela mesma atraiu esta situação.
Mesmo que dizemos que o Brasil é um país liberal, nos lares mais comuns é muito
normal se prevenir o máximo possível com as relações entre homens e mulheres.
A verdadeira liberdade não é ser libertino, mas sim ter autonomia.
343
Do jornal da escola – “Ayumi”
344
de minha motivação em fundar a escola, a política educacional, o clima de São
Paulo, meus ideais como imigrante, religião... Passaram-se rapidamente quatorze
anos, e os nossos destinos se separaram.
345
O vestuário e a colônia [178-182]
150
Nissei – descendentes japoneses, da segunda geração
151
Issei- imigrantes japoneses natos, da primeira geração.
152
Este ditado que, literalmente, em japonês, se diz: “TABI NO HAJIWA KAKISUTE”, dá a idéia de que a
pessoa que está, temporariamente, em determinado local, onde não conhece as pessoas em sua volta, e
ciente da brevidade de sua estadia, passa por uma vergonha momentânea, sem dar muita importância. Ou
seja, não se preocupa muito com a aparência.
346
Porém, o mundo está, extraordinariamente, mais próximo (pensando
nos relacionamentos sócio-econômico e políticos entre os países), e as
preocupações com o vestuário, alimento e moradia estão se tornando
internacionais. Eu acho que, aqueles que têm condições de viajar para outros
países, deveriam, no mínimo, se informar, antes de tudo, sobre os modos e
etiquetas comuns nos mesmos.
Segundo um médico: “Ter o nariz fino ou belos olhos, por si só, não
significa ser belo. A verdadeira beleza provém da saúde interior do coração e do
corpo”.
347
Estes foram os comentários, do ponto de vista de cada especialista,
sobre o que realmente significa a beleza. Mas eu acho que não teremos felicidade,
caso excluamos qualquer um destes pontos de vista.
Março de 1958.
348
A comunicação entre pais e filhos [189-191]
Se a mãe dele fosse mais sensata, mais forte, quem sabe, não poderia
tê-lo protegido desta fatalidade, mas, ao invés disso, aceitava, em todos os
assuntos, as opiniões do marido e até mesmo as insensatas. Nestas
circunstâncias, acho que é até natural que um filho fique triste pela situação
embaraçosa, tendo de buscar apoio em outras fontes.
Quem tenta resolver as coisas com ordens e gritos pode parecer forte
mas, na verdade, é um fraco. Apesar de ser possível resolver qualquer assunto
pela conversa, uma importante pessoa, no Japão, foi vítima deste tipo de
intolerância. As crianças, criadas em ambientes intolerantes, não apenas
apresentam dificuldades de entrosamento com os amigos, ao sair de casa, como
também são incapazes de cultivar uma boa amizade.
Nada é tão difícil, quanto ajudar este tipo de pessoa, que não consegue
aceitar ajuda. Na maioria das vezes, só um pouco de esforço, como a educação
escolar, não é suficiente para mudar a pessoa. Com certeza, todos os envolvidos
nesta profissão – docente, tem ampla vivência e concordam que, nesta questão, a
influência familiar é muito forte.
349
Parece que, no Japão pós-guerra, a tendência é para se resolver todos
os assuntos pelo diálogo. Devemos achar o caminho para aprofundar nossa
compreensão, da forma como expressar nossas opiniões e conversar, entre pais e
filhos, professores e alunos, jovens e idosos. Não seria isto, o mais importante,
independente do país ou época?
10 de junho de 1961.
350
Escolha do destino da mulher atual [191-196]
A expressão “Ela está na flor dos seus 23 anos!” parece perfeita para a
senhorita T., que é bela e deslumbrante. Seus pais, bem sucedidos produtores de
café no interior do Paraná, estavam acostumados a uma vida economicamente
favorecida, mas, para oferecer melhor educação para a senhorita T. e seu irmão
mais novo, Paulo, compraram uma casa e vivem, os quatro, em São Paulo, há uns
cinco ou seis anos. A senhorita T. se formou no Curso Científico, em uma escola
de formação católica. Depois de se formar, passava o dia costurando, cozinhando,
fazendo arranjo de flores e praticando os afazeres da dona de casa, pois não tinha
outra ocupação específica.
O que dizer da senhorita T., nestas ocasiões?... Parecia que tinha saído
direto das passarelas de um desfile de moda, chamando a atenção dos que
trabalhavam na fábrica com suas roupas vistosas. Além disso, ao chegar em casa,
continuava sonhando acordada com seu belo futuro, e com carinho, escrevia
cartas contando detalhadamente sua opinião sobre os filmes que via no cinema, e
até assuntos mais triviais, como um vestido novo que havia feito. Ele, porém,
respondia às cartas, mas sem se referir a estes assuntos. Falava sobre as
desafios da vida de casados e, inclusive, tentou lhe dizer de maneira bem discreta,
que não é possível viver somente de sonhos. Mas parece que isto, passava
despercebido, e a senhorita T. não compreendia o que ele realmente desejava. O
pior é que, tanto a senhorita T. como sua mãe, estavam tão certas de que este
noivado daria certo, que apenas ficavam aguardando ansiosamente a resposta,
que não mais chegava. Então quando, finalmente, perderam a paciência, mãe e
filha decidiram consultar a pessoa que havia intermediado o encontro. Para sua
surpresa, o jovem decidira acabar com o noivado.
153
Omiai - apresentação de uma jovem a um jovem e vice-versa com objetivo matrimonial, é um tipo de
casamento “arranjado”, no estilo japonês
351
O motivo foi o seguinte: ”Ela é mesmo uma jovem muito atenciosa, mas
creio que não é para um técnico de fábrica do interior como eu...”
Não a beleza exterior, mas não seria o verdadeiro amor, e uma atitude
responsável para com a maneira de se viver? Visto que ninguém é perfeito,
poderiam depois de se casarem, ao longo dos anos, se esforçar para
complementar um ao outro as qualidades deficientes e com certeza construir uma
família bem sucedida... Talvez, aos olhos do jovem H. que, durante seu
treinamento no exterior, viu as mulheres estrangeiras, a senhorita T. parecesse
apenas uma “boneca”.
Nos dias de hoje , acho que são poucos os que ainda têm o conceito
sentimental e acomodado de que “O homem vive pelo trabalho, e a mulher vive
pelo amor do marido”. Isto porque os acomodados ou que se acostumam a
depender dos outros não alcançam a verdadeira felicidade. Acho que a felicidade
das pessoas está exatamente em ter o coração e o corpo no mesmo ritmo, e ele
exigir isto da senhorita T., como sua futura esposa, é elogiável.
352
para confirmar a sinceridade do amor entre eles, neste caso, certamente, poderão
reconhecer que amadureceram enormemente!
Para ter uma vida familiar plena, no futuro, é importante que todos
tenham em mente, uma maneira de aproveitar os intervalos durante o trabalho
atarefado para aprender mais sobre algo interessante, e, até mesmo, usando isso
como uma recreação para relaxar, ao fim de um dia de trabalho.
Assim, como Cristo disse: “Que todas as obras cooperem para o bem...”,
se a senhorita T., não se deixar abalar por isso, mas administrar melhor seus
sentimentos, terá uma nova chance. A vida de casados pode ser como um mar de
rosas mas isso não garante que não haverá ondas e ventos fortes.
353
Visita à boukou (minha antiga escola) [206-212]
- Eu não!
Apesar de já ter ouvido falar, que os taxistas de Tokyo não eram muito
gentis, ficava nervosa, todos os dias, por me irritar com eles.
354
Receosa entrei pelo portão. Numa placa, estava escrito “Universidade
Tokyo Kasei”, e no jardim, havia uma proeminente estátua de bronze do professor
Watanabe Tatsugorou.
- Ah! Vinda do Brasil? Que ótimo você ter vindo nos visitar!, e, lendo a
lista de antigos alunos...”Ah! Aqui está!” fixou os olhos em meu nome, no livro.
- Sei que você está com uma programação apertada, mas já que veio,
por favor, almoce aqui e participe do memorial.
154
Ota era o nome familiar, enquanto solteira.
355
Como fez este convite, respondi:
- Bem, assim farei. Então pedi para usar o telefone para avisar o colégio
Takehaya, minha outra escola formadora, a qual estava para visitar naquela tarde,
adiando a visita para outro dia. Depois, dei à recepcionista a missão de me
mostrar o interior e exterior da universidade.
Ocupando uma grande área como a de um bairro, tem salas para cada
curso específico, e seus jardins com árvores variadas, estavam repletos de
grupinhos de três e de cinco moças, com seus cadernos nos braços e garotas com
as bolsas em seus ombros.
155
Hak ama – calça no estilo japonês
156
Soba – macarrão japonês
356
- Eu sou a Michie, Ota é meu sobrenome de solteira, que agora
administro uma escola no Brasil, que visto daqui, talvez, mais pareça uma
pequena casinha de templo. Em seguida, ocorreu um alvoroço, aqui e ali, na
platéia. Talvez, mesmo que por um instante, pensaram que eu havia vindo do
Brasil especialmente para a reunião de ex-colegas da escola. Então falei com
palavras similares a estas:
Depois disso, tiramos uma foto juntos e nos despedimos. Voltando para
a casa de meu irmão, contei o ocorrido desde a manhã, e minha cunhada ficou
muito espantada.
- Grave sua impressão sobre sua visita aqui, depois de trinta anos.
- Está bom!
357
- Como tenho outro compromisso, às onze e meia... - ele me falou:
Recusar foi em vão, então fui levada aos pontos de táxi, uma rua bem
distante da escola.
157
Emissora de televisão japonesa
358
KATARIGUSA O OTTE
Michie Akama
359
Apresentamos, a seguir, textos [29], [43], [125-128], todos retirados e
traduzidos do livro Katarigusa o otte de que damos o índice geral.
1 – Prefácio...............................................................................................................1
2 - Ida ao Japão para educação do filho...................................................................2
3 - Chegada ao Japão como esperado.....................................................................3
4 - Viagem turística com minha mãe a “Matsushima”...............................................7
5 - Visita a Universidade de “Mishima”.....................................................................8
6 - As mudanças ocorridas na Terra Natal.............................................................11
7 - Matrícula do “Kohei” na Escola Primária de “Minami Machi Shogakko”...........12
8 - Visita à senhora Shimanuki do “Rikkokai”.........................................................14
9 - Ida à exposição de Ikebana...............................................................................16
10 - Visita a Escola “Bunka Fukusso Gakuin”.........................................................18
11 - Visita “Gakushikaikan” ....................................................................................19
12 - Vista à sra. Shigure Hasegawa ......................................................................22
13 - Visita à Escola Feminina “Dress Maker” .........................................................24
14 - Visita à “Jiyu Gakuin” ............................................................... ......................25
15 - Visita ao General Inoue...................................................................................27
16 - Vista à Escola Doméstica “Tóquio” ..............................................................[29]
17 - Visita à viuva Masaomi Saka..........................................................................30
18 - Visita à será Toshiko Matsudaira....................................................................31
19 - Visita ao sr. Bansui Doi, autor da letra do Hino da Escola..............................33
20 - O Mundo como Casa.......................................................................................35
21 - Visita à Escola de Formação de Oficiais do Exercito de Salvação.................40
22 - Visita à Escola Municipal “Saguino Miya” e visita à Escola “Wamayaki”.........41
23 - Visita à Escola Feminina “Tosaka” ...............................................................[43]
24 - Notícia triste recebida da casa do meu marido no Japão................................47
25 - Correspondência da ex-aluna..........................................................................50
26 - Hereditariedade e ambiente............................................................................52
27 - A Colônia não morre........................................................................................55
28 - Viagem solitária à América do Norte...............................................................61
29 - A mudança da época......................................................................................74
30 - Encontro de 700 pessoas no festival de “Sukiyaki” ........................................77
31 - Eu e “Yookyoku” .............................................................................................84
32 - Lembrando o passado da minha amiga..........................................................87
33 - Sobre “Festa das Regiões”..............................................................................92
34 - Viagem à Argentina.........................................................................................95
35 - Observando as crianças do curso infantil......................................................110
36 - Confiar o ideal através da caneta..................................................................117
38 - Receber a oferta...................................................................................[125-128]
39 - Considerações finais.....................................................................................129
361
Visita a Escola Doméstica “Tóquio” [29]
É a segunda vez que visito esta Escola. O saudoso e antigo prédio não
deixou nenhum vestígio, sendo substituído pelo novo edifício, suntuoso parecendo
atingir o céu.
362
Receber a oferta [125-128]
Não é uma tarefa fácil pedir doação. O ato de pedir alguma coisa para
alguém, mesmo não sendo em benefício próprio, não deixa de ser uma situação
constrangedora. Ao mesmo tempo, ocorreu grande ansiedade, lembrando as
feições das ex-alunas com muita saudade, e imaginando o momento do
reencontro.
158
Takuhatsu - Um forma de provação de sacerdotes das religiões indianas , adotada também pelo budismo,
que consiste em pedir esmolas, para obter o mínimo de subsistência, com o objetivo de atingir o
aperfeiçoamento mental e físico.
363
senti instabilidade emocional na noite anterior à visita, lembrando-me de vários
momentos, com sentimento de reflexão e auto-censura.
Apesar disso, fui recebida pelas ex-alunas com alegria, pela visita
inesperada. Em certas regiões, fomos recebidas com jantar organizado pelas ex-
alunas e ficamos, à noite, confabulando sobre o passado. Até pelos maridos ou
pais dessas ex-alunas, fomos bem recebidas, facilitando-nos as locomoções com
carros à disposição. Fiquei muito gratificada com a atenção que recebi, a ponto de
juntar as palmas, num gesto de oração, em agradecimento a Deus.
“As pessoas que, mesmo que seja por um momento, deixarem de ser
avarentos, e praticando, por mais que seja insignificante, sua doação ao bonzo,
estarão praticando o Takuhatsu. Neste sentido, este ato, que o doador pratica, traz
o bem para si e para outrem (“Zenkoo Kootoku”, do budismo). O Takuhatsu
oferece a oportunidade de praticar “Zenkoo Kootoku”, isto é, o ato benevolente ao
próximo obtendo como resultado, o benefício para si.”
Entretanto, sou apenas uma mulher comum, que luta por um objetivo,
com sentimento de que, ao invés de salvar, estou incomodando as pessoas. Isso
faz pesar meu coração, mesmo que, não se resuma em buscar vantagens
próprias. Prevalece o desejo de que, um dia, possa transformar a Escola em
orgulho das ex-alunas, e que esta instituição atenda os anseios dos futuros
educandos. Dedico-me neste único objetivo, mas sinto que terei ainda um extenso
caminho de dificuldades.
No 35 do Boletim “Ayumi”
25 de novembro 1968
364
KOUEN NO TABI
Michie Akama
366
Apresentamos, a seguir, textos [52-61], [72-85], todos retirados e
traduzidos do livro Kouen no tabi de que damos o índice geral.
Índice do livro
“Kouen no tabi”
368
Palestra realizada por ocasião do “Segundo Seminário Para Senhoras”
[52-61]
Sobre Etiqueta
369
O que difere, na regra de cerimônia entre o Japão e o Ocidente, é que,
no Japão, tem-se como centro, o senhor feudal. A preservação do nome da família
é considerada como centro, em termos de cerimônia, enquanto no ocidente, a
etiqueta preza mais os direitos individuais. Porém, parece que houveram
mudanças consideráveis no Japão, após a guerra. Pelas leituras de diversos
livros, percebo que a regra se tornou menos formal.
Vendedor - “Vim aqui, para pedir um favor para a dona da casa, por
isso, queira anunciar a minha presença ”
370
Fico sem jeito em não poder lembrar o nome de cada ex-aluna quando
encontro-as, casualmente, na rua, não poder lembrar os nomes de todas as mais
de 4000 formandas.
371
alguém que utilize uma roupa cheia de aparatos ou use sapatos de salto alto num
piquenique na praia ou montanha.
Houve uma época, em que era moda usar casacos de pele animal.
Depois da guerra, principalmente entre os ricos, do estado do Paraná, quando
voltavam ao Japão, era comum adquirir esses casacos. Certa vez, fui ao aeroporto
para a despedida de um conhecido e me deparei com uma senhora com “casaco
de pele” e chapéu, transitando pelo aeroporto, portando a bagagem e andando de
sandálias. O uso da sandália é restrito para dentro de casa ou quando não utilizar
meias. Deduzi então, que esta senhora de casaco de pele não está acostumada a
usar o sapato dentro de casa, conseqüentemente, não se adaptaria a usar o
sapato de salto alto. Os japoneses, ao vê-la desta maneira, comentaram que “são
“caipiras” que vieram do Brasil”. A bolsa, chapéu, luvas ou broches são
assessórios utilizados para ressaltarem o vestidos. Portanto, não devem ser
usados inadequadamente, sobressaindo mais que o vestido.
372
Palestra realizada no Templo Budista “Hompa Honganji” sobre a temática
“Situação da mãe” [72-85]
Como todos sabem, desde que vim ao Brasil, durante 38 anos, venho
administrando uma escola. Vivi como se fosse o cavalo de uma carroça, fazendo
isso e aquilo, mesmo em condições precárias, fazendo o possível, dentro dos
limites, aplicando a língua japonesa, tendo como curso principal o corte e costura,
pretendendo sempre aperfeiçoar as mulheres.
Trinta anos atrás, pela intenção de educação, para que meu filho
tivesse o aprendizado japonês, depois de 10 anos voltei ao Japão. Durante esta
ausência, meu marido faleceu no Brasil. Meu avô, que havia se prontificado a
cuidar e educar meu filho, disse: “Não posso separar seu filho de você já que o pai
faleceu. Leve ele consigo”. Voltei ao Brasil, após apenas três meses de estadia no
Japão, com o coração triste e desapontada, já que o motivo foi corrompido. Meus
pais, no Japão, disseram: “Deixe sua casa no Brasil e volte para cá, já que agora
você está sozinha”. Foi com esta intenção que pisei em solo brasileiro.
Como todos sabem, durante vinte e sete anos vivi naquela escola da R.
Vergueiro, mas, além de ser uma casa alugada, não posso instalar tudo como
pretendo. Para uma pessoa como eu, que não tinha forças para administrar uma
373
empresa privada, edificar uma escola, entre outras coisas, seria muito difícil e, por
isso, há quinze anos atrás, tive a idéia de criar uma fundação e iniciar uma escola
para a sociedade.
374
envelhecendo. Porém, entre outras coisas, a vida dos descendentes japoneses,
em lugares mais afastados, se tornou rica, em toda casa tinha um caminhão e não
faltava um carro de passeio em qualquer casa que eu fosse. Porém, as crianças,
uma atrás da outra, saíam para estudar na cidade, os pais e crianças pequenas
ficavam na casa, e os filhos que estavam estudando ficavam se preocupando com
o que se tornariam no futuro. Acredito que, aos poucos, essa será a tendência.
Essa é uma história que ouvi, há mais de dois anos atrás, sobre um
casal no interior que cultivava verduras. A pessoa que era chamada de mãe, não
tinha muita escolaridade. Então dizia que, como ela não tinha muita escolaridade,
pelo menos seu filho teria a oportunidade de estudar até a faculdade, e
economizavam o possível para que seu único filho fosse para São Paulo, onde
ficaria estudando por um longo tempo. Um dia, ele trouxe uma namorada
brasileira para casa. A mãe recebeu-os com a roupa arrematada por um avental,
sem conseguir se trocar, com a visita inesperada. A namorada, além de se
assustar, sussurrou : “Porque japonês não tem vergonha de se apresentar com
essas roupas flagelas?” e, por isso, o filho também ficou incomodado. Foi para
São Paulo, casou-se sem informar aos pais e não deixou o endereço de sua nova
casa. Nesse tempo, o pai faleceu e a mãe acabou por viver sozinha.
375
anda de lado, porque não anda reto?”, e o filho caranguejo, responde: ”Papai,
ande reto, por favor, assim eu também andarei...”
376
Certo dia, ele sussurrou : “Ah, se meu pai estivesse aqui, também me
ensinaria tudo isso...” e sua mãe ao ouvir, soltou um “Ah...” com o coração
dolorido. Mesmo ouvindo isso, ela só entendia letras mais simples. E pensava,
todos os dias, “O que fazer para melhorar essa situação?”
Certo dia, Shinzoh viu que havia alguma coisa escrita na porta do lado
virado para a varanda. Estranhou e perguntou: “Mãe, o que está escrito naquela
porta, por quê? Quem escreveu aquilo?” Estava escrito: “Quando tu eras
pequeno...” .Foi a primeira vez que ela revelou que, na época em que ele estava
na escola, ela, com muito esforço ficava debaixo da janela e escrevia na porta de
seu quarto e enquanto via a porta, corrigia seus erros. Escorria lágrimas pelo
olhos de Shinzoh e comovido, pegou as mãos de sua mãe, agradeceu-a pelo
esforço e guardou o sentimento de gratidão dentro de seu coração.
159
Hiragana - é a variedade de fonogramas, empregada na grafia de quase todos os elementos da língua
japonesa, exceto os de origem estrangeira, que não a chinesa.
377