You are on page 1of 16
Trés Perguntas a Vygotskianos, Wallonianos e Piagetianos* Yves de La Taille Heloysa Dantas Marta Kohl de Oliveira AS PERGUNTAS: SOBRE A UNIVERSALIDADE, A AUTONOMIA Di SUJEITO E A FALSEABILIDADE DAS RESPEt a CTIVAS TEORIAS Dirijo minhas indagagGes a vy gotskianos, wal lonianos ¢ piagetianos, endo tanto és obras de Vygotsky, Wallon e Piaget. Mas por que a nuanga? Por uma razio bem simples. Uma teoria cientifica ou filoséfica nao vive apenas dos textos de seu autor. Uma vez publicada, ela se torna, justamente, publica, fonte de variadas inspiragdes e sujeita a diversas interpretagdes, Ora, a presenga e, sobretudo, o porvir de uma teoria dependem menos da coeréncia interna dos textos originais do que das inspiragdes ¢ interpre- tages que provocaram. Além do mais, ao lado da tarefa de compreensio fiel dos dizeres de um autor, hd outra: a de ir além, no sentido de fazer com que a teoria escolhida permanega no ciclo da evolugao do conhecimento. Eisto, sobretudo, quando o autor estd definitivamente ausente, como é 0 caso de Vygotsky, Wallon e Piaget. Portanto, nio a tradigdio que medirijo, Dirijo-me aqueles que fazem das teorias em tela um instrumento para criar. Por essa razo, as perguntas que imaginei talvez nao tenham respos- tas precisas fornecidas pelos préprios autores. Mas deles, certamente, podem ser retirados elementos para pensé-las ¢ respondé-las. A Questao da Universalidade Em primeiro lugar, é preciso sublinhar que, quando se fala ern universali- dade, esta-se, na verdade, pensando em um certo grau de universalidade. —___ - * Publicado originalmente em Cadernas de Pesquisa, Sio Paulo (76): 57-64, fevereiro de 1991. Oartigo detivou de mesa-redonda realizada durante a XX Reuniiio de Psicologia, da Sociedade de Psicologia de Ribeirio Preto (SP), em 1990. 101 Digitalizado com CamScanner Pouca gente ainda acredita que soja asst tel elahora ua t aplique a totali lade dos scres ou ee a i tata-se sem pre de uma classe de fenémenos ou de sujeitos. Além do nls, sabe-; €, hoje, id as tcorias sao provisdrias, sendo cada uma Progressivamente integtada g teorias mais abrangentes ¢ fortes. A universalidade niio pode, Portanto, ser compreendida como o que abarca tudo para sempre, A idéia de universalidade pressupde que determinado fenémeny psicolégico tenha um alto grau de estabilidade que o torna independente das peripécias dos diversos momentoshistéricos. Opée-se, portanto,didei, de especificidade cultural: o fenémeno psicolégico universal deveré ser encontrado nas diversas culturas, com tradugdes talvez diferentes em cada uma delas, mas possivel de set identificado por detris destas. Univeral opée-se também a particular ou individual: o fendmeno sera considerade universal quando for encontrado em todos os seres humanos (ou entio, em todas os seres humanos de mesmo sexo, de mesma faixa etitia ete), Importante notar aqui que universal néo significa normal, no sentido estatistico do termo; ou seja, é universal 0 que se encontra em todos, nig apenas na maioria, Isto posto, minha indagagao é: as diferentes teorias aqui discutidas admitem a presenga de fendmenos universais? E, em caso de resposta afirmativa, também pergunto: quais so os fendmenos universais e como é explicada a existéncia destes? Coria que se A Questo da Autonomia do Sujeito Inspiro-me, para formular a pergunta seguinte, em uma conferéncia profe- rida por Bérbara Freitag, da qual participei na condigaio de debatedor (Ciclo de Conferéncias sobre a Escola de Frankfurt, 30 de agosto 1990 — UNESP/Araraquara). Discutindo as teorias de Habermas e Piaget, Freitag elegeu como eixo de sua intervencdo justamente a questao da autonomia do sujeito. O periodo do Iuminismo, seguindo caminho ja aberto pelo Renasci- mento, estabeleceu a autonomia do homem, autonomia esta possivel pelo emptego da razio. Porém, assiste-se, a partir do século XIX, ao apareci- mento de varias correntes que questionam tal autonomia: o homem seria, na verdade, resultado ¢ prisionciro de estruturas sociais, as quais ele nao escolhe e das quais até desconhece os efeitos. Em uma palavra, o homem nao seria livre, pois sua razio sofreria determinagdes sociais e histéricas constantes ¢ irreversiveis, . Simplificando um Pouco, encontra-se esta interpretagaio na sociolo- sia de Durkheim, quando este afirma que & sempre o todo que explica a Parte, portanto, que é 0 social que explica o individuo, limitando-se, este, 102 Digitalizado com CamScanner Fr « semnalizar contetidos culturais cuja produgio sé pode ser explicitada por inter ‘os coletivos. A teoria marxista, embora empregada a servico da mneanisnt “oprimido, portanto do individuo, também define o homem liperdn jlado de um processo histérico sobre o qual, individualmente, como rem ‘ou nada pode fazer. Ele esta preso 4 consciéncia de classe, ou A dle a ja imposta pela classe dominante. Pensando agora numa teoria ideo ca, verificamos que obehaviorismo pouco espago dé a autonomia wi ato: seus comporlamentos so explicados por eontingéncias de stew a sociedade ut6pica descrita por Skinner em Walden HI prevé re adestramento, teoricamente capaz de levar o individuo, d sua wel para a felicidade. E até mesmo uma teoria do sujeito, como a jcandlise, também reserva a este a triste surpresa de aprender que sua Pereciénia é uma espécie de “mala com fundo falso”,fundo este repleto de razbes e desejos que ela propria desconhece. Minha pergunta refere-se a esta questo: em que medida cada uma das teorias em tela reserva uma parte, maior ou menor, de autonomia ao sujeito? Encontram-se, em cada sujeito, estruturas & mecanismos que lhe séo intimos? Que sao irredutiveis a fenémenos sociais introjetados? E que Ihe permitem, em algum grau, set independente em relagiio a seus contem- Jneos, a sua cultura? Que lhe permitem dizer ndo quando todos os ‘outros dizem sim? A Questo da Falseabilidade iro-me evidentemente em Popper para fazer uma indagagiio sobre a questio da falseabilidade. Todavia, minha preocupagio no é epistemol6- gica. Ela é bem mais simples do que isto. Quero apenas saber que dados ‘ou fendmenos, descobertos através de pesquisas ou até mesmo observados casualmente no dia-a-dia, surpreenderiam um piagetiano, um walloniano ou um vygotskiano (surpreenderiam no sentido de deixé-los sem poder explicar 0 fenémeno observado)? E claro que nfo estou me referindo a fenémenos que fujam as pretensdes explicativas ¢ dedutivas das referidas teorias. Penso naqueles que deixariam cada teoria em contradi¢ao, acarretando assim a necessidade de uma reformulagio. Vejo importancia nesta indagago hipotética por duas razées: 1) sua Tesposta pode nos dar preciosas informagdes sobre 0 que compde os hiicleos de cada teoria, e2) como a ciéncia somente progride reformulando Suas teorias, saber quais fendmenos seriam contraditérios com cada uma delas pode ser fonte de inspiragio para elaborarmos novas pesquisas. Y.LT. 103 Digitalizado com CamScanner A PERSPECTIVA VYGOTSKIANA icio minhas reflexGes com uma observagao a respeito da pertingnc;, apeagio inicial de Yves de La Taille sobre a importincia is saben didlogo aqui possivel se dé entre intérpretes contemporineos ae tears que, embora produtos plenos de seus autores, so inacabadas No sentido de que permanecem vivas ¢ sempre sujeilas a reinterpretagdes. Ocompromis. so com a fidelidade as idéias de um autor nfo significa 0 recurso a ~ conjunto fechado de idéias, disponivel a uma mesma compreensio por parte de qualquer individuo, em qualquer tempo ou lugar. Ao contratio, o valor sempre renovado de uma teoria esti justamente na possibilidade de que ela seja um instrumento, provavelmente entre outros, para uma com- preensao mais completa do objeto a que se refere. E como estudiosa do pensamento de Vygotsky ¢ como pesquisadora, pois, que desenvolvo estas reflexes, suscitadas pelas indagag6es propostas. A Questao da Universalidade Aabordagem vygotskiana, largamente conhecida como abordagem sécio- histérica do desenvolvimento humano, parece, de imediato, avessa a idéia de universalidade dos fenémenos psicolégicos. Dirigindo-se questio da construgdo das fungdes psicoldgicas superiores no homem, Vygotsky trabalha com 0 conceito de mediagiio na relagéo homem/mundo e com o papel fundamental do contexto cultural na construgio do modo de funcio- namento psicol6gico dos individuos. A contingéncia hist6rica, a especifi- cidade cultural ¢ a particularidade do percurso individual parecem ser, portanto, componentes essenciais da teoria vygotskiana, fazendo dela uma teoria aparentemente incompativel com a possibilidade de existéncia de fenémenos universais. Reconhego em Vygotsky, entretanto, para além do contingente, dois postulados basicos que tratam do universal no homem. Em primciro lugar, a pertinéncia do homem a espécie humana: o individuo tem limites ¢ possibilidades definidos pela evolugéio da espécie, que Ihe fornece um substrato biolégico estruturado como base do funcionamento psicoldgico. A ligagao dessa estrutura biologicamente dada com o papel essencial eee aos processos histéricos na constituigao do ser humano se da por Ge universal da espécie: a plasticidade do cérebro com> ee Bees mental. O cérebro é um sistema aberto que pode de um lugar callural), tom (que podem ser especificas de um ae ie ices no Gree fee en Te ean necessities transformagées mor! calla ens Universal esti na prépria importincia ee cultura. A mediagao simbd qualquer ser humano) nio existe dissocia ica, a linguagem 0 papel fundamental do outro 104 Digitalizado com CamScanner «1 na constituigaio do ser psicoldgico sao fatores universai: os a ago de formas culturalmentedadas de Tuncionamnene ea wre dos principais mecanismos a serem compreendidos no estudo goset humano. (oe : ‘Ateoria de Vygotsky nao poderia, enquanto teoria, menos universais. Trazendo a discussio para o mom vee queum relativismo radical é avesso ao préprio emy deci e,nesse sentido, 0 estudo do particular é sempre cempreensiO do. iniversal. Isso nos Temete um problema metodoldgico extremamente Serio enfrentado pelas ciéncias humanas atualmente: as varias abordagens que admit em ohomem como mais multifacetado e cheio devida do que 0 objeto das ciéncias fisicas, © que nos aproximam do “real humano” de uma forma antes 86 conseguida por outras vias de acesso ao conhecimento (arte, religido), podem ter-nos levado a um impasse em termos da propria idéia de ciéncia, Nao est claro como passaremos do sctimulo de descrigdes e explicagdes do especifico para a reconstrugio do caminho da generalizagao. deixar de admitir ento atual, consi- preendimento da um passo para a AQuestao da Autonomia do Sujeito Trés elementos da teoria de Vygotsky podem ser invocados para uma discussao da questo da autonomia do sujeito. Em primeiro lugar, a relagao enire o individuo e sua cultura. A cultura nao é pensada como um dado, um sistema estatico ao qual o individuo se submete, mas como um “palco de negociagdes” em que seus membros estéo em constante processo de recriagdo ¢ reinterpretacao de informagées, conceitos e significados. Em segundo lugar, a configuragao absolutamente particular da traje- t6ria de vida de cada individuo. Ao falar em “histético”, Vygotsky nifio se refete apenas a processos que ocorrem no nivel macroscépico. Ele fala em filogenético para a espécie, histérico para o grupo cultural, ontogenético para o individuo. E podemos, usando um termo contemporaneo, falar em microgenético, referindo-nos justamente A seqiiéncia singular de processos cexpetiéncias vividos por cada sujcito especifico. E, em tetceiro lugar, a natureza das fungdes psicolégicas superiores. Quando Vygotsky fala em fungdes psicoldgicas superiores, principal ob- Jetodeseu interesse, refere-se a processos voluntarios, agdes conscientemente controladas, mecanismos intencionais. No curso do desenvolvimento psi- Colégico essas fungdes sio as que apresentam maior grau de autonomia em telagao ao controle hereditario. Consciéncia ¢ controle (talvez metacogni- {40, em termos contempordneos) sé aparecem tardiamente no desenvolvi- Mento de uma fungio. A pattir desses trés elementos, podemos dizer que, para Vysotshy : ‘Stteita associagdo entre sujeito psicoldgicoe contexto cultural nao implica 105 Digitalizado com CamScanner ‘0, Ao contrario, cada individuo é absolutamente ¢ vis processos psicol6gicos mais sofisticados (que vontade ¢ intengao), constrdi scus significados ¢ inico ¢, envolvern Tectia sua determinist meio de sc consci répria cultura. . oes . ‘Sem postular um determinismo histérico, mas sem ter de tecotter a uma entidade extramaterial como 0 “livre-arbitrio”, Vygotsky estabeloce que 0 individuo interioriza formas de funcionamento psicolégico dadas culturalmente mas, ao tomar posse delas, torna-as suas ¢ as utiliza como instrumentos pessoais de pensamento e ago no mundo, A Questao da Falseabilidade Vygotsky nos fornece, em seus escritos, textos densos, cheios de idéias, numa mistura de reflexées filos6ficas, imagens literdrias ¢ dados empiticos que exemplificam as assergdes gerais que estio sendo colocadas. Em parte por seu estilo intelectual, em parte por sua morte prematura (que impediu maior desenvolvimento de suas idéias) e em parte pelo conjunto fragmen- tado de textos que chegou até nds, no temos de Vygotsky uma teoria articulada, um sistema tedrico completo que permitaa geracao de hipéteses especificas ou de estudos cruciais que possibilitassem a verificagao de suas proposigées gerais. Assim sendo, optei por mencionar aqui um dado de minha propria Pesquisa, com adultos em proceso de alfabetizagao, para pensar a questio da “surpresa de um vygotskiano”. Contrariamente as minhas expectativas, observei entre esses adultos a passagem pela seqiiéncia das fases de aquisigao de leitura ¢ escrita hipotetizadas por Emilia Ferreiro, bem como 4 presenga de outras caracteristicas especificas das concepgdes pré-alfabé- ticas sobre a lingua escrita (quantidade minima e variedade de caracteres, relagao entre enunciado oral ¢ texto escrito, idéia de palavra). Sendo os adultos analfabetos estudados seres humanos maduros, inseridosno mundo urbano e letrado da cidade de Sao Paulo, esperava encontrar entre eles, por um lado, maior incorporago do instrumental letrado disponivel em seu ambiente e, por outro lado, presenga mais clara de processos metacogniti- Vos no curso da aquisigao das habilidades de leitura c escrita. Esse resultado abre uma vertente rica de investi igagdo sobre o adulto analfabeto como objeto especifico, mas que se liga, num plano mais geral, a duas dimensbes, fundamentais das proposigdes vygotskianas: o processo de intemalizaga0, Pee individuo, de instrumentos e simbolos culturalmente desenvolvidos, “ga0 entre a aquisigfio de fungdes psicolégicas e o controle consciente sobre essas mesmas fungdes. MK.O Digitalizado com CamScanner pensPECTIVA WALLONIANA A A questo da Autonomia do Sujeito quests propostas por Yves de La Taille derivam seu grande interesse a ato de estarem postas em termos bem amplos. Daj resulta a necessidade de jnterpreti-las, o que ja é uma forma de responder. questo de sujeito, por exemplo, vista de uma perspectiva wallo- riana, apresenta-se como © proprio nucleo da teoria. Toda cla é uma jcogenese da pessoa, isto ¢ do sujeito. Toda cla consiste numa tentativa Re pisioriar © caminho que leva a indiferenciagio simbidtica inicial & crescente subjetivacao, com a objetivagao que Ihe é complementar. E a oes gd de-um processo de individuagao realizado através da contradigéo ‘com os outros Sujeitos. E pela interagdo que o sujeito se constréi, pela interagao| dialética, vale dizer, contraditéria. Isto se da dentro do quadro de uma dupla determinagao a que Wallon da o nome de “inconsciente biolé- ian e inconsciente social”. © sujeito individual & precedido por um eranismo estruturado de maneira a Ihe abrir possibilidades e a Ihe impor limites, eigualmente antecedido por um aciimulo cultural que estrutura sua consciéncia, pois comega Ihe impondo as formas de sua lingua. ‘A autonomia possivel ao sujeito oscila, assim, entre os limites colocados pela biologia e aqueles construidos pela histéria humana, fonte dos contetidos da mente. Ele serd sempre um sujeito datado, preso as determinagdes de sua estrutura biolégica ¢ de sua conjuntura histérica. Em relagdo a sua cultura particular, entretanto, ele pode até certo ponto transcendé-la, precisamente pelo acesso as demais culturas. Essa possibilidade de nenhum modo lhe é vedada no interior da teoria wallonia- na, A relagdo do sujeito com os outros sujeitos, ¢, por conseguinte, com seu produto cultural, seré sempre uma relacdo contraditéria, porsua propria natureza impelida 4 explosio. A idéia de conflito autégeno, de permanente tensio intra e interpessoal, confere a esta concepgao do sujeito um tom dinamico que é profundamente libertador. Na oposigao ao outro € a seus produtos o sujeito simultaneamente se constréi ¢ se liberta. A Questo da Universalidade Estas consideragdes ditecionam a resposta & outra questo, a da universa- lidade do sujeito. Na verdade, as duas podem ser encontradas como complementares, quase o reverso uma da outra: a universalidade dosujeito ©P6e-sea autonomia do sujeito e, neste sentido, a resposta afirmativa a uma cae aresposta negativa A outra. Universalidade opée-se af a histor le, a relativismo cultural e a individualidade. 107 Digitalizado com CamScanner no sujeito humano, nao ¢ histérico, nem culturalmente idualmente varidvel? Quase nada, dia cert °°! sua afirmago explicita de que “nada ha ‘eae . Oque, a 7 indi minado, nem Int walloniano, invocando: io humana”. ats. Boe na aati via que adotou, a andlise do pensamento discursivo, lingiiisticg mente determinado, nao seria possivel concluir outra coisa, A evolugao dy nsamento, que separa o sincretismo infantil da ‘capacidade categorial dg Peale, se di no sentido da diferenciagao conceitual cada vez mais fina, Esta, por sua vez, depende da maior ou menor quantidade de conceitos prontos que a cultura tenha a Ihe oferecer. Nao é possivel, desta f concluir seno pela importancia decisiva desta ultima, pela historicidade radical da fungio pensante. Certamente a escolha da matematica coms expressioe modelo darazio humana leva a outras conclusdes. Einevitave, aqui, o surgimento da indagagio em torno da necessidade de qualificar , pensamento em duas modalidades, uma operatéria © outra discursiva, desigualmente sujeitas 4 determinago cultural. Isto tomaria Proibitivo o uso do conceito de “pensamento” sem qualifica-lo, ilustrando. aqui mesmo a idéia walloniana de evolugao por diferenciagao conceitual, Se no plano dos processos cognitivos a universalidade, entendida como a-historicidade, fica afastada, resta entretanto outra dimensio do psiquismo, a afetiva, que, mais préxima das determinagdes do organism, tem a mesma universalidade que este. Torna-se necessario, porém, fazer um reparo. A concepeao wallonia- na do cérebro (que acredito ser a mesma de Luria) hierarquiza-o de tal maneira que as fungdes subcorticais sao mais rigidas e as fungdes corticais guardam um espago maior de indeterminagao. Chame-se a isto sistema aberto ou semiprogramagao, parece haver acordo quanto ao fato de que, quanto mais complexa uma fungdo, mais indeterminada, maior o espaco aberto 4 informagao cultural. Dever-se-ia, Portanto, concluir queas fungdes psiquicas mais primitivas seriam mais biologicamente determinadas e, neste sentido, mais universais, A Questao da Falseabilidade Quanto & questio da falseabilidade, é preciso ponderar que respondet dirctamente a ela, tal como esté formulada, equivale a submeter-se a um ctitério popperiano de verdade que pode, ele prdptio, ser questionado. Sua aplicagao rigorosa deixaria fora do campo do interesse cientifico toda @ Psicanilise, resultado, a meu ver, inaceitavel. 7 Certamente nao seria a um critétio deste tipo que uma concepyt0 materialista dialética como a walloniana iria se submeter. 108 Digitalizado com CamScanner _—— ‘Aquestio precisa, entio, ser recolocada nos termos de indagar qual adcig consistente com sua propria opgiio epistemoldgica. Este nao éum oetitéio one interior da teotia, eexige que o leitorseresponsabilize pela iematrale ossivel afirmar sem grande risco, porém, que, como materia- repost 0, seu crite de verdade 6 histérico, o que equivale a dizer lista Gir ¢ relativo. Nao pretende alcangar verdades definitivas, mas provisdr’ “ontibuir para oresiduo histérico do qual resulta o conhecimento, soscmente ator de verdade” deve ser avaliado em funglo de sua eapaci- dade heuristica, de seu potencial dinamogénico. Ela esté na medida, também, de sua maior ou menor felicidade na Gedo de questées, dentro da concepeao de que disto depende a propose de fazer avangar 0 conhecimento. No caso da teoria wallo- pepe, apergunta fundamental diz respeito & formago da “pessoa concre- ta’, sindnimo de “pessoa completa’ isto é, investigada em seu organismo. piclégico ¢ em sua ambientagao social. : ‘© “valor de verdade” deve ainda ser analisado em sua dimensio metodoldgica, poisadmitequeométodo empregado determina a “verdade” aser oblida e, por conseguinte, precisa adequar-se a seu objeto de investi- gagao. Qual 0 meétodo capaz de dar conta do estudo da pessoa completa? 86a observacio, responde, a observagiio histérica, genética. Ficaria assim reduzida a psicologia A psicogenética? Como investigar contextualmente opsiquismo adulto? Estaria a saida no rumo da “psicologia histériea"? £ este provavelmente o calcanhar-de-aquiles da teoria walloniana: seu propésito de jamais quebrar a inteireza da pessoa, que coloca exigén- cias metodoldgicas extremamente dificcis de atender. Para entrar um pouco no jogo proposto pela pergunta, poder-se-ia dizer que a teoria walloniana da emogao, por exemplo, seria desmentida pela ocorréncia de variag&es emocionais sem variagies ténicas, ou que sua psicogenética seria falseada pela presenga maior de comportamentos defi- nidos como cognitivos do que afetivos na primeira fase do desenvolvimen- to humano (0 primeiro ano de vida); ou pela presenga dominante de conceitos e procedimentos mentais bem diferenciados aos cinco anos de idade; ou ainda pela auséncia de comportamentos de oposigio e afirmagao do eu entre os dois ¢ os quatro anos de idade. HD. APERSPECTIVA PIAGETIANA A Questéio da Universalidade Nao ha diividas de que a teoria de Piaget ilustra uma busca da Vversalidade, Alids, é justamente para esta pretensio que as criticas a ae 109 Digitalizado com CamScanner Ver-se-do, por exemplo, autores afi feitas costumnam aponier. Ves do meiosocial para explicar Sie ue Piaget desPrt das eriangas. Vale dizer que, para eles, Piaget on Ni mento coEdividuo, justamente gragas a cerlas caracteristicas wna are seria de certa maneira incélume pelas diversas contingéncias histéticas is quais 6 obrigatoriamente submetido. E as pesquisas para contraper | ponto de vista procuram mostrar que, dependendo do meio em que viva sujeito se apresenta de uma forma ou de outra, Nio eabe discutir aqui a questio de saber se Piaget levou ou nig em conta a influéncia do meio social em sua teoria. Aliss, a questio sar melhor formulada se nos perguntissemos se ele avaliou tal influéncia ars vez que, em seus Estudos Socioldgicos, sua presenga é afirmada ambigiiidades. Acredito que discorrer um pouco sobre o que sio os fatores universais afirmados por Piaget pode, indiretamente, ajudar nesta discussne: Antes de mais nada, é preciso atentar para o objeto de estudo te Piaget: osujeito epistémico, ou seja, osujeito do conhecimento, pela prépria eleigio de seu objeto de estudo, dauniversalidade. De fato, osuj > Vé-se que, Piaget jé explicou sua buses ito epistémico é aquele que, teoricamente estaria em cada um de nés (Sujeitos psicologicos), permitindo-nos, ead, qual em sua cultura, portanto cada qual em meio as contingéncias Por que passa, construir conhecimentos (cientificos ou no). Vale dizer que, por detrds das diferentes estratégias de produgao destes, que variam de uma cultura para outra e até mesmo de um sujeito Para © outro, havetia mecanismos comuns, portanto, universais. Por conseguinte, é na explicagao destes mecanismos que se deve Procurar compreender a questio da universalidade em Piaget. Vamos comegar pela hipstese da equilibragdo, central para a episte- mologia genética. Como se sabe, Piaget inspirou-se na biologia para postular que o desenvolvimento é um caminhar rumo ao equilibrio, cami- nhar este caracteristico de todo ¢ qualquer indiv’ iduo, seja qual for seu sexo, idade ou cultura, A teoria da equilibragao deve set compreendida dentro de outra, a teoria de sistema, assumida por Piaget para explicar a inteligén- cia. Para ele, a inteligéncia humana deve ser entendida como um sistema cognitivo, sistema este ao mesmo tempo abertoe fechado; abertono sentido em que se alimenta, através da agao e da percepgiio do sujeito, de informa- ges extraidas do meio social e fisico, e fechado no sentido em que © sistema em questdo nao se confunde com uma pagina em branco, sobre ec qual as informagdes recebidas simplesmente se increveriam, mas é, sim, dotado de capacidade de organizacao (ciclos). O desenvolvimento cognitive Ocorre, entdo, pelo constante contato do sistema cognitivo com. informa: S6es vindas do meio, e pelo no menos constante processo de reestruurl: $40 que visa, justamente, fazer com que o sistema atinja o equilibrio en Permanega. Estas constantes reestruturagdes ou reequilibragoes 110 —! Digitalizado com CamScanner yr andes etapas (0s famosos estégios do desenvolvimento); Cee rer no opm cada sujeito: depende da igo do meio, a qual o sistema cognitivo ira”, construindo novas ¢ superiores estruturas mentais. “reas ipétese central da equilibragio associam-se conceitos que tam- pém sao considerados como descrevendo Pprocessos universais. 0 pritneiro deles é 0 conceito de reversibilidade, A reversibilidade das operagoes mentais pode ser simplesmente postulada pela Logica sem, rianto, maiores compromissos com afirmagoes de cunho epistemoldgico epsicologico. Com Piaget, porém, ela adquire uma explicagao causal que cPexplicar pot que é caracteristica sempre presente no pensamento adulto. Necessaria 4 eficdcia ¢ coeréncia do pensamento simbélico, por- sinto, necessétia a0 equilibrio do sistema cognitivo (permite evitar contra- sinaes)areversiblidade nfo é qualidade inata, nemsimples aprendizagem Jos eddigos lingiisticos: é construida ativamente pelo sujeito durante seu desenvolvimento cognitivo. Sua conquista ¢ sua presenga final sao, por- thato-# prova de que o sistema cognitivo caminha em diregio a0 equilibrio. ‘Sendo a reversibilidade das operagdes uma construgio do sujeito, dois outros conceitos explicitam o mecanismo desta construgao: regulagao ¢ compensagao, que traduzem 0 funcionamento do sistema em busca de seu equilibrio. Sera, portanto, universal o fato de uma crianga apresentar, no inicio de seu desenvolvimento, compensagées incompletas, notada- mente entre afirmagdes e negagdes (causa de irreversibilidade de seu pensamento pté-operatério). Decorrentemente, sera também universal ela caminhar, através de regulagdes ativas, para tais compensagoes ¢ atingir 0 pensamento operatétio (daf a importincia do conflito cognitivo, desequi- Iibtio momentaneo que mobiliza o sistema para a busca de um novo ponto de equilibrio). Finalmente, os conceitos de abstragao reflexiva ¢ generalizagao construtiva descrevem como um sujeito passa de um nivel X para um nivel superior Y. Eles descrevem como o sujeito constrdi novos conhecimentos, atingindo para isto niveis superiores de equilibrio cognitivo (equilibragao majorante). Emresumo, para Piaget, por detris das variadas formas que o espirito humano criou para construir suas diferentes culturas, encontram-se inva- tiantes funcionais, que acabamos de mencionar através de diversos concei- ‘os, Alids, foi justamente para procurar confirmar tal hipétese que Piaget © Rolando Garcia estudaram a historia das ciéncias (Psychogénése et Histoire des Sciences): para tentar verificar a presen¢a de tais invariantes. Conttariamente ao quese tem por vezessugerido, esta procura nao significa irmar que a ontogénese repete a filogénese: significa apenas dizer (ejaé ttuito!) que a construgao do conhecimento se processa através de certos Ml Digitalizado com CamScanner nismos, iguais pare todos os seres humanos, mecanis Aue, portanto, no — tum grau de independ ancin em relagio as variivels sécio-histériers A Questo da Autonomia do Sujeito Nateoria de Piaget, a autonomin do, sujeito é afirmada em alto ¢ tom! B certamente por esse motivo, alids, que vitrios apaixonadog pelo humanismo, ou seja, aqueles para os quais 0 ser humano B0za de Btande estima, sentem-se atraidos pela teotia construtivista, Diga-se de gem que cada um de nds cientistas humanos, via de regra, escolhemos seguir uma teoria tanto pela ética que ela traduz quanto pelos dados empiticos ¢ coeréneia conceitual que contém. . | Isto posto, vamos verificar que a autonomia do sujeito encontea. na teoria de Piaget, em dois dominios, ambos relacionados cot primeiro deles & a prdprin construgio desta razio. I sobre este ponto. Basta lembrar que, para a epistemolo; pensamento racional é, entre outras coisas, fruto da abstrac seja, do esforgo que o sujeito faz para pensar seu préptio pensar ou ¢ Vale dizer que una das fontes essenciais ao desabrochar da razio eneon: tra-se no proprio sujeito. Isto niio significa dizer que o sujeito é inde pendente do meio social onde vive, pois, sem a Solicitagio deste, a abstragiio reflexiva poderia no ser deseneadeada. Mas tal dependénelaran signifiea heteronomia, uma vez.que o processo de construgio deestrutune mentais é obra do sujeito, obra esta que ninguém pode fazer por elec cujos resultados traduzem as potencialidades nele inscritas. Em Tesumo, no que tange a construgiio da raziio, a autonomia explicita-se Pela patticipagio irredutivel ¢ indispensivel do individuo na elaboragio de novas formas de pensar e novos conhecimentos. Respondendo a uma das perguntas coloca. das, podemos portanto afirmar que, para Piaget, encontram-se, em cada sujeito, estruturas ¢ mecanismos que lhe sio intimos, pois sio irredutiveis a fendmenos sociais introjetados. E, embora Pinget tenha insistido na necessidade da cooperagiio, de troca de Pontos de vista entre pares para a busca de conhecimentos, seu conceito de abstragiio reflexiva nao deixa de lembrar o trabalho do sibio que se eleva acima de seus semelhantes pela auto-reflexiio, reflexio esta, no entanto, somente possivel a partir da agio sobre o mundo. O segundo dominio onde encontramos a afirmagio da autonomis do Sujeito niio diz mais respeito a construgiio da raziio, mas a sua fungio. neste dominio, inclusive, que Piaget usa explicitamenteo termo autonomi Comecemos por uma citagao: “Nao basta, para que se possa fet verdade racional, que o contetido das afirmagéesseja conformed realida rf & preciso, ainda, que este contetido tenha sido obtido por uma démarc! ativa da raziio, © que a raziio ela mesma seja capaz de controlar 0 4 MM A Fazio, Intl insste gia genética, 9 \GO reflexiva, oy 112 — Digitalizado com CamScanner —— jodescusjuizos com oh 1932, p- 325). _ Chee Pingel, cis a definigao da autonomia: gragas ao uso da razio, 0 ra Paget oy potanto 6, estaelecer suns certe7as liberando~ ato PF igho procura pura ¢ simplesmente impor as diversas Sho. nomiaintelectual é fruto dos poderes da razio que, a consciéncl nui a demonstragio. A autonomia moral é também fruto da vo dogma, opse a, justificagao racional. O “herdi” piagetiano é, ao are que pode dizet “mio” quando o resto, da sociedade, nto, AY" as tradigdes, diz. “sim”, contanto que este “nao” seja fruto PL ativa e nao apenas decorréncia de um ingénuo narcalidade” (Piaget, Le Jugement Moral ‘duo, tal como concebido por Piaget, é capaz, a Mo (ela mesma por ele construida) de se opor & autoridade, seja ne pais, das diversas instituigdes como os partidos, as escolas ou as ela is ahd uma condigio que Paget postula para a congusts de tal swtonomia:queoindividvopossa te aoportunidade de usuftuirderelagdes sociais de cooperagao (co-operagao, como costuma escrevet Piaget para sublinhar a origem etimoldgica do termo). Asrelagdes de coergio embotam SY egenvolvimento, roubando & crianga e ao adulto a possibilidade de se emanciparem intelectual, moral ¢ afetivamente. Somente as relagdes so- ciais que permitem o livre intercimbio de pontos de vista permitem a autonomia. E por isso que a filosofia piagetiana é, na verdade, militante: defende a democracia contra todas as formas de autoritarismo e de totali- tarismo. Para as possiveis aplicag6es da teoria piagetiana 4 Educacio, tal fato éde suma importincia: muito mais do que um método pedagdgico, uma técnica, da teoria de Piaget decorre uma atitude ética e politica. Neste sentido, aqueles que simpatizam com suas idéias devem ser, antes de tudo, amantes da liberdade, ¢ otimistas quanto a sua realizagao histérica. A Questo da Falseabilidade Pelofato de a teoria piagetiana ter obtido renome internacional, inspirando inimetos pesquisadores, nao faltam aqueles que procuram criticd-la ¢ desmenti-la, Tipos muito freqiientes de critica se traduzem por duas consideragoes ‘eae eae He A primeira consiste em mostrar que as criangas, notada- prea S, sto mais precoces do que Piaget imaginava. A segunda, ue io, acusa o otimismo de Piaget em relagdo as altas capacidades as do ser humano: alunos, jé na faculdade, mostrar-se-iam inca- 113 Digitalizado com CamScanner as envolvendo operagées hipotét . zes de resolverem Provo jesenvolvidos na drea coeniive " as, Ou aE alidade bem abaixo do esperado. ve riam A rigor, este duplo conjunto de critica nos reaproximaria de dois pélos de que Piaget quis se afastar: a precoci s levaria a Tepensar a hipétese inatista ¢o “atraso”, a hipétese ambientalista. Tais dados sobre precocidade ou atraso /surpreendem um piagetiano? Sem divida. Afinal, uma teotia deve permitir um certo grau de previsio, Mas, a nio ser que se volte a um dos pélos (inatismo ou ambientalismo), ahipétese de construgao: ainda merece atengao. Tratar-se-ia decompleté-la, de complexificd-la. Além do mais, a precocidade de alguns raciocinios, que parecem ser isolados, ainda nfo fere a idéia de estrutura: a crianga teria aprendido uma estratégia. E 0 atraso, além de previsto pela teoria (adapta. 40), deve ser cuidadosamente avaliado. Nocampo da moral ele é plausive] eho campo da légica, deve ser analisado em fungio da historia de vida dos sujeitos. Estes dados, portanto, mostrariam mais a incompletude da teoria de Piaget do que sua “falsidade”. Qual sed, entio, o ponto essencial? Aquele sem o qual a arquitetura toda da teoria correria o risco de implodir? Eu escolheria a hipétese piagetiana, j4 mencionada quando da res- posta 4 questiio da universalidade, segundo a qual a inteligéncia caminka para o equilibrio: — é 0 centro da inspiragao biolégica de Piaget; —éaexplicagao da presenga de estruturas mentais (operagGes reversiveis); — é opélo onde tomam sentido os conceitos de regulago, compensagio, afirmagao e negago (estes dois tiltimos permaneceriam apenas normati- vos, no interior da Iégica formal); — éaexplicagao da seqiiéncia dos estagios (os de Piaget ou outros que se definam). E qual seria um dado que levaria a suspeitar da validade da nogio de equilibrio? Certamente nfo é a precocidade nem o atraso, mas sim 0 caos. A teoria de Piaget reza que a mente gera organizacio, ou reconstréi aquela presente na cultura. Ora, imaginemos que encontrassemos situagdes iguais aestas: 1) uma crianga, ou um sujeito qualquer, que demonstre ter nogdo operaté- ria, mas que se mostre pré-operatério em provas de classificagao; 2) um sujeito que tenha duradoura falta de compensagao entre afirmagoes enegagdes em determinados casos, mas néio em outros de mesmo nivel de abstragio; 3) 0 fato de um método pedagégico, puramente explicativo ¢ baseado exclusivamente em modelos, ser mais eficaz do que outro que deixe 0 114 a — Digitalizado com CamScanner ular suas ages através da percepgiio de seus i, seri ala re anistno da equiibragio que estaria em seqeey’s a= Sera’0 pript Apresentei exemplos talvez. extremos. Mas 0 que é importante su- blinhar € que qualquer tipo de caos & fator complicador para a teoria onsiruivista (e para a afitmagio da existéncia de um sujeito epistémieo), De fato, se © processo de construgdo produzisse o caos, a desordem, seria atribuir tal produgio ao préptio sujeito. Melhor seria atribul-le aa meio. Alids, & a propria idéia de construgio que deixatia de fazer sentido, Por que, por exemplo, as descobertas de Ferteiro so condizentes com a tcoria piagetiana? Ora, Porque ela encontrou, antes de mais nada, organi- za¢do que, nao sendo tributivel ao ensino da alfabetizacao, é atribuida a uma capacidade do sujeito. Na verdade, a teoria piagetiana é uma teoria da forma, forma esta que deve assimilar os diversos contetidos. O caos seria a vitéria do contetido sobre a forma, inconcebivel na teoria piagetiana da assimilagao e da equilibracao, Y.L.T. 115 Digitalizado com CamScanner

You might also like