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Aprendizagem pelas consequéncias: o controle aversivo Objetivos do capitulo Ao final deste capitulo, espera-se que o leitor seja capaz de: 1 Definir, identificar e prover exemplos de contingéncias de reforcamento negativo, contingéncias de punicao positiva e contingancias de punigao negativa; Definir, identificar e prover exemplos de controle aversive do comportamento; Definir, identificar e prover exemplos de comportamentos de fuga, comportamentos de esquiva e contracontrole; Descrever e exemplificar os principals efeitos comportamentais do uso do controle aversive do comportamento; anwn Descrever © exemplificar as principais diferengas entre o uso dos procedimentos de punic&o, extingdo e reforgamento diferencial ‘Como ja sabemos, o comportamento operante aquele que produz modificagdes no ambiente e é afetado por elas. Chamamos ta imodificagdes no ambiente de consequéncias do comportamento, J4 vimos um tipo dessas consequéncias, as chamadas conse~ quéncias reforgadoras. Os exemplos apresentados até entdo ilustram um subtipo de consequéncias reforgadoras, denominadas consequéncias reforgadoras positivas, cujo processo comportamental, assim como 0 procedimento do qual elas fazem parte, & denominado reforgamento positive. O termo reforgamento & utilizado porque a apresentagio dessa consequéncia resulta no aumento ou na manutengao da probabilidade de 0 comportamento reforcado voltar a ocorrer. Jé termo positivo especifica que ¢ modificago produzida no ambiente & sempre a adig2o de um estimulo como consequéncia da resposta. Por exemplo, quando o rato pressiona a barra, uma gota de agua é adicionada ao seu ambiente; quando a crianga pede um doce, ela o recebe (ela néo tinha © doce, agora tem). Ambos os comportamentos, pressionar a barra e pedir doce, terdo sua probabilidade mantida ou aumentada em fungdo da adigdo de um estimulo ao ambiente do rato ¢ da crianga, respectivamente. Da mesma forma, nos demais exemplos de reforeamento positivo vistos no Capitulo 3, 0 organismo comportava-se em fungo do seu comportamento ter produzido a adigio de estimulos reforgadores em seu ambiente Neste capitulo, veremos que existem outros tipos de consequéncias do comportamento que também aumentam sua frequ (consequéncias reforcadoras negativas), bem como algumas que diminuem sua frequéncia (consequéncias punitivas positivas e negativas). Ao controle exercido sobre a probabilidade de ocorréncia do comportamento por esses tipos de consequéncias damos ¢ ae, neia Por que controle aversivo do comportamento? Antes de mais nada, precisamos esclarecer 0 que significa, em linhas gerais, o tetmo controle para a Anélise do Comportamento. ‘Na linguagem cotidiana, essa palavra tem diversos significados que sio diferentes do significado técnico que ela tem para a ciéncia da anilise comportamental. No linguajar do analista do comportamento, 0 ermo controle significa, de forma geral, que probabilidade de ocorréncia do comportamento depende das modificagdes que ele causa no ambiente. Se uma determinads onsequéncia altera a probabilidade de ocorréncia de um comportamento, dizemos que ela controla o comportamento que a produz. Como ja visto, consequéncias reforgadoras positivas aumentam ou mantém a probabilidade de o comportamento ocorrer pela adigo de um estimulo ao ambiente. Nesse sentido, dizemos que a consequéncia reforgadora positiva controla 0 comportamento. Por exemplo, quando uma adolescente convida uma amiga para ir ao cinema, e esta aceita, é muito provavel que a jovem volte a convidéela mais vezes no futuro. Nesse sentido, dizemos que o aceite do convite é uma consequéncia reforgadora positiva, ou seja, controla 0 comportamento de convidar, tornando-o mais provavel de ocorrer novamente. ‘AS consequéncias reforgadoras negativas e as consequéncias punitivas positivas ¢ negativas também so consequéncias do comportamento que exercem controle sobre ele. Elas alteram a probabilidade de ocorréncia do comportamento, Por esse motivo, dizemos que esses trés tipos de consequéncia do comportamento também o controlam. Tradicionalmente, em Anilise do Comportamento, 0 controle exercido por eles & denominado de controle aversivo do comportamento, ou, simplesmente, controle aversivo. As contingéneias de controle aversivo so corriqueiras: frear 0 carro préximo a um radar, cuja consequéncia é evitar uma multa de transito; manter a frequéncia as aulas, cuja consequéncia € no ser reprovado por faltas; deixar de consumir bebidas alcodlicas em excesso aps esse comportamento ter tido como consequéncia ressacas severas; parar de emprestar os jogos de videogame para ‘6s amigos que nunca devolveram os empréstimos anteriores, ¢ assim por diante. Apresentando de forma resumida, 0 controle aversivo diz respeito ao aumento na frequéncia do comportamento por reforgamento negativo e 4 diminuigo na sua frequéncia por punigdo positiva ou negativa. Vimos no capitulo anterior que estimulos que resultam na manutengo ou no aumento na probabilidade de © comportamento ocorrer novamente so denominados estimulos reforgadores. Quando eles cumprem sua fungio por sua adigdo contingente a ocorréncia de uma resposta, sio denominados estimulos reforgadores positives. Quando a manutengo ou o aumento ne Quando a probabilidade de ocorréncia de um comportamento é reduzida em fung’o da adigdo de um estimulo ao ambiente como sua consequéncia, denominamos esse estimulo consequente de estimulo punitive positive. Por fim, quando a probabilidade de ocorréncia de um comportamento é reduzida em fungdo da retirada de um estimulo do ambiente, denominamos o estimulo consequente de estimulo punitivo negativo Os estimulos reforgadores negativos e os estimulos punitivos positivos também sio chamados de estimulos aversivos (lembrando que estes, assim como os demais conceitos abordados até o momento, so definidos funcionalmente, isto &, a partir do feito que produzem sobre o comportamento). Nao existem estimulos eminentemente aversivos, ou seja, que serdo aversivos para todos os organismos ou em todas as situagdes. Por exemplo, uma misica sertaneja ou funk carioca podem ser estimulos extremamente aversivos para 0 comportamento de algumas pessoas, mas reforgadores poderosos para 0 comportamento de outtas. Contingéncias de reforgamento negativo 0 reforgamento nao se da apenas pela apresentagio de estimulos, como os aplausos para um solo de guitarra e a gua para a resposta de pressfo a barra, mas também por sua retirada, Por exemplo, se respostas de pressdio a barra forem seguidas da remocdo do choque eléttico no piso de uma caixa de Skinner, a sua frequéncia for alta quando 0 choque ocorrer, podemos dizer que a suspensio do choque esté reforgando o comportamento de pressionar a barra. Porém, o choque reforga esse comportamento por sua Temogio, € ndo por sua apresentagdo, como ocorre no caso da adigdo de égua, O mesmo raciocinio vale para o vizinho que frequentemente liga para o apartamento de cima pedindo para os motadores fazerem menos barulho. Se os vizinhos de cima param de fazer barulho apés a ligago, dizemos que a retirada do barulho reforga 0 comportamento de ligar ¢ pedir siléncio. Nesses exemplos, a contingéncia é classificada como de reforgamento, porque houve um aumento na frequéncia/probabitidade de um comportamento. Também ¢ classificada como de reforgamento negativo, porque sua consequéncia foi a retirada de um estimulo do ambiente. O estimulo retitado do ambiente ¢ chamado de reforgador negativo. No exemplo anterior, a retirada do barulho eta a consequéncia reforgadora negativa, o que, por sua vez, nos permite classificar o barulho como um estimulo reforgador negativo (ou ‘um estimulo aversivo). A seguir esto mais alguns exemplos de contingéncias de reforgamento negativo: 2. Passar protetor solar e evitar queimaduras é um comportamento mantido por reforgamento negative. As queimaduras se constituem no estimulo reforgador negativo evitado pela resposta de usar protetor solar. A contingéncia em vigor é a de negativo. 3. Caso uma garota brigue com seu namorado quando ele fuma, é possivel que ele passe a chupar um drops apés fumar um cigarro, Com isso, ele evita a briga se sua namorada no perceber que ele fumou, Nesse caso, a briga é um estimulo reforgador negativo evitado pela resposta de chupar um drops. Novamente, temos uma contingéncia de reforgamento negativo, em que a resposta de chupar um drops é reforgada por evitar a apresentago da briga. Por exemplo, podemos aumentar a probabilidade de um rato pressionar uma barra utilizando reforgamento positive ou reforgamento negativo. Veja o exemplo da Tabela 4.1 DSO ee ee Situagio Animal na caixa de Skinner privado de agua Animal na eaixa de Skinner recebendo choque elétrico Comportamento Pressionar a barra Pressionar a barra Consequéncia “Apresentago de gua Retirada do choque Modo de opera¢io Adicionar estimulo (gua) a0 ambiente Retirar estimulo (choque elétrico) do ambiente Classificagio do estimulo Estimulo reforgador positive (S**) Estimuto reforgador negativo (S®>) Efeito sobre o comportamento Aumenta a probabilidade de ocorréncia _ Aumenta a probabilidade de ocorréncla Notagdo (representagdo da eontingéncia) +» SR* Rsk © estudo do reforgamento negativo é de fundamental importincia para a compreensio do comportamento humano. Essa importincia se deve a0 fato de que varios de nossos comportamentos cotidianos produzem a supressio, 0 adiamento ou 0 cancelamento de estimulos aversivos do ambiente, € nao a apresentagdo de estimulos reforgadores positives. Esses tipos de consequéncias interferem, por exemplo, no modo como dirigimos (mantemos a velocidade permitida na via, cuja consequéncia & evitar multas), na precisdo de nossos relatos verbais (evitamos magoar alguma pessoa contando pequenas mentiras acerca do que pensamos dela), nas justificativas que damos as nossas ages (evitamos repreensdes a0 convencermos os outros acerca de por que agimos de determinada maneira), no modo que vivemos nossas relagdes amorosas (evitamos uma discussdo da relagdo quando evitamos olhar para a pessoa atraente que passa ao lado), entre outros. Além disso, grupos sociais formalizam contingéncias de reforgamento negative em leis, normas, estatutos, regulamentos, cédigos de ética, entre outros, como forma de controlar o ‘comportamento de seus membros. Comportamento de fuga e comportamento de esquiva Via de regra, dois tipos gerais de comportamento operante sto mantides por contingéncias de reforgamento negativo: comportamento de fuga ¢ comportamento de esquiva, Consideramos que um comportamento € uma fuga no momento em que determinado estimulo aversivo esté presente no ambiente e esse comportamento 0 retira do ambiente, como no caso de um adolescente usar um ereme para secar uma acne que ja esté em seu rosto. Nesse caso, a resposta de usar o creme é uma fuga, mantida pela retirada da espinha, que & um estimulo aversivo ja presente. J4 a esquiva é um comportamento que evita ou atrasa 0 contato com um estimulo aversivo, isto é, ocorre quando um determinado estimulo aversivo nao esta presente no ambiente. Porém, a resposta de esquiva acontece diante de outros estimulos que sinalizam a apresentago eminente dos estimulos aversivos. Emitir 0 comportamento de esquiva evita ou atrasa a apresentagao do estimulo aversivo. Por exemplo, o adolescente que costuma ter espinhas faz. uma dieta menos calérica ou passa um creme que reduz a oleosidade da pele e, assim, evita que elas aparegam. Nesse caso, as espinhas ainda nfo estio presentes, ¢ os comportamentos de fazer dicta ou passar o creme evitario a apresentacio do estimulo aversivo, constituindo-se em comportamentos de esquiva. A seguir esto mais alguns exemplos de comportamentos de fuga e de esquiva, 1. Arrumar 0 quarto: a. Fuga — Arrumar o quarto quando a mae comesa a brigar porque o quarto esta bagungado, tendo como consequéncia a mae parar de brigar. b. Esquiva ~ Arrumar o quarto logo quando acorda, evitando as reclamagdes da mae. 2. Mentir que o celular estava no silencioso: a. Fuga — Apés passar uma noitada com as amigas e no ter atendido os telefonemas do namorado, uma jovem se encontra no meio de uma grande discussdo com ele. Fla pode conseguir parar a briga dizendo que havia se esquecido de tirar 0 celular do silencioso apés sua aula na faculdade, de modo que nao ouviu as ligagdes. b. Esquiva — No futuro, em uma situagdo similar, ela j& pode enviar antecipadamente uma mensagem para 0 namorado, avisando que nio atendeu as suas ligagSes porque 0 seu celular estava no silencioso, Desse modo, pode conseguir evitar a discussio antes que comece. 3. Sair de perto de uma pessoa chata: a. Fuga — Alguém esta Ihe contando uma historia muito chata ¢ vocé diz: “Amigo, me desculpe, mas estou atrasado para um compromisso, tenho que ir..”, Sair de perto do “chato” é um exemplo de fuga, b. Esquiva ~ Se vocé “desconversa” e sai de perto do sujeito antes de ele comegar a contar histérias chatas, voce esti se esquivando. Cotidianamente, esses dois tipos de comportamento sio diferenciados da seguinte forma: a esquiva é tida como uma espécie de prevengdo, ¢ a fuga, como uma espécie de remediagdo. Ou seja, comportamentos de fuga ¢ de esquiva s6 sio estabelecidos e mantidos em contingéncias de refor¢amento negativo. Logo, nic observaremos fuga eesquiva em contingéneias de reforgamento postivo ede punig. Certos estimulos, por terem precedido a apresentagio de estimulos aversivos no pasado, tornam a resposta de esquiva mais provavel. Como o sol forte precedeu as queimaduras no passado, este se torna um estimulo que aumenta a probabilidade da emissio de um comportamento que as previne (no caso, a ocorréncia da resposta de passar protetor solar). Todavia, ¢ importante notar que o sol s6 adquiriu tal fungdio comportamental por ter precedido queimaduras no passado. Ou seja, tivemos que fugir das queimaduras no passado para aprender afungao aversiva do sol, es assim somos conduzidos a emiti uma resposa que evite as queimadura. Um experimento simples com um rato albino exemplifica bem a distingdo entre © comportamento de fuga e 0 de esquiva, O animal esté em uma caixa de condicionamento operante dividida em dois compartimentos, na qual a apresentagdo de um choque elétrico pode ser feita elettificando-se 0 piso. Um timer (temporizador) controla a apresentagdo da corrente elétrica. A cada 30 segundos, ele ativa 0 choque, que s6 & retirado (desligado) se o rato mudar de um compartimento pata o outro. Rapidamente o animal aprende 0 comportamento de fuga (Fig. 4.1), ou seja, assim que © choque é ativado, 0 rato muda de compartimento. Podemos, ainda, programar para que a mudanga de um compartimento para 0 outro “zere” o contador; ou seja, se © animal mudar de compartimento antes que se passem os 30 segundos, o contador do timer & reiniciado, e comega um novo intervalo de 30 segundos até que © choque seja apresentado. Nesse caso (Fig. 4.2), se rato mudar de lado um pouco antes da apresentagao do chogue, ele evita que o choque seja apresentado. Falamos, entio, em um comportamento de esquiva. Figura 41 ‘Comportamento de fuga. Quando 0 piso do compartimento no qual o animal se encontra é elettificado de acordo com o timer (1), 0 rato passa para 0 outro compartimento da caixa, no qual o piso no esta eletricado (2). O rabo levantado na Fotografia 1 indica que 0 piso da caixa esta eletificado. Figura 4.2 ‘Comportamento de esquiva. O rato aprendeu, depois de algumas fugas, que, se passar de um compartimento para 0 outro antes de 30 segundos, evita o choque. Em resumo, denominamos comportamento de fuga aquele que ocorre no momento em que um estimulo aversivo esta presente ‘no ambiente € cuja consequéncia seja a retirada desse estimulo, Chamamos de comportamento de esquiva aquele que ocorre ne ‘momento em que um estimulo aversivo ndo esti presente no ambiente e cuja consequéncia seja o adiamento ou o cancelamento de contato com tal estimulo. Para nio esquecermos, tanto o reforcamento positive como 0 negativo aumentam a probabilidade de o ‘comportamento voltar a ocorrer: a diferenga est apenas no fato de a consequéncia ser a adigdo ou a retirada/evitagio de um estimulo do ambiente: + Reforgamento positivo: aumenta a probabilidade de 0 comportamento voltar a ocorrer pela adigao de um estimulo reforgador a0 ambiente + Reforgamento negativo: aumenta a probabilidade de 0 comportamento voltar a ocorrer pela retirada de um estimulo aversivo do ambiente. Punigao Algumas consequéncias do comportamento tornam sua ocorréncia menos provavel. Essas consequéncias so chamadas de puni positiva e negativa. Punigio, em outras palavras, é um tipo de consequéncia do comportamento que toma a sta ocorréncia menos provavel, A distincao entre punigdo positiva e negativa consiste na mesma distingdo feita com relagdo ao reforgamento positivo © negativo: se um estimulo & acrescentado ou subtraido do ambiente. Tanto a puni¢do positiva quanto a negativa diminuem ¢ probabilidade de o comportamento que as produziu voltar a ocorrer. (0 termo punigo pode ser definido funcionalmente como a consequéncia que reduz a frequéncia do comportamento que ¢ produz, Por exemplo, se ingerirmos diferentes bebidas alcodlicas ¢ tivermos ressaca no dia seguinte, esse comportamento serd ‘menos provével no futuro, Dizemos, portanto, que tal comportamento foi punido pela ressaca do dia seguinte, Outra vez, 0 termo punigdo refere-se a uma relagao de contingéncia entre um comportamento © uma consequéncia, s6 que, nesse caso, 0 efeito da consequéncia é a reduedo da frequéncia ou da probabilidade de ocorréncia desse comportamento no futuro. O estimulo que for consequéncia dessa resposta denominado de estimulo punidor ou estimulo punitivo, o qual, nesse exemplo, foi a “ressaca’” E fundamental chamar atengao para o fato de que a punigio € definida funcionalmente; ou seja, para dizermos que houve uma punigio, & necessirio que se observe uma diminuigo na frequéncia do comportamento, Por isso, ndo existe um estimulo que seja punitivo por natureza, S6 podemos dizer que um estimulo ¢ punitivo caso sua apresentagdo ou remogo reduza a frequéncia do comportamento ao qual é consequente. f possivel pensar, por exemplo, que levar uma bronca da professora em sala de aula seja punitive para comportamentos de fazer bagunga de todas as criangas. No entanto, pesquisas t&m mostrado que a bronca da professora pode nao ter efeito punitive ou pode até mesmo funcionar como estimulo reforgador para o comportamento de fazer ‘bagunga de algumas criangas em sala de aula, Punigao positiva e punigao negativa equéncias reforgadoras, existem dois tipos de consequéncias punitivas: a positiva c a negativa. A puni¢io positiva € uma consequéncia que consiste na apresentagdo de um estimulo que reduz a probabilidade de ocorréncia futura do comportamento que a produziu, Por exemplo, uma pessoa alérgica a camaro passa mal ao comé-lo, A partir dessa reagdo, nao come mais camario. No caso, 0 comportamento de comer camario produziu a apresentagdo de sintomas aversivos, como dificuldade para respirar, manchas vermelhas na pele, coceira, ete. Como houve uma diminuigio na frequéncia desse comportamento, afirmamos que ele foi positivamente punido. ‘A punigdo negativa, por sua vez, & uma consequéncia que consiste na retirada (ou perda) de reforgadores de outros comportamentos. Essa consequéncia tornari o comportamento que a produziu menos provavel no futuro, Por exemplo, uma pessoa {que acessa sites nfo confidveis na internet pode danificar seu computador, de forma que ele deixe de funcionar. Assim, ela deixa de avessar esses sites. Nesse caso, a consequéncia do comportamento de acessar sites ndo seguros foi a perda dos reforgadores Aisponibilizados pelo computador funcionando. Como houve uma diminuigo na frequéncia do comportamento de acessar sites perigosos pela retirada dos reforgadores associados ao computador funcionando, concluimos que houve uma punigdo negativa, Alguns videogames bloqueiam certas fungdes do aparelho, como o acesso a internet pelo console, por exemplo, como consequéncia do uso de jogos piratas pelo usuario, Caso uma pessoa deixe de usar jogos piratas no seu videogame devido 20 bloqueio que o seu aparelho sofreu, dizemos que a perda do acesso as fungGes bloqueadas foi uma punigdo negativa, E importante enfatizar que a punicdo, seja positiva, seja negativa, resulta, por definigdo, na redugdo da frequéncia ou da probabilidade do comportamento, Os termos positivo © negative indicam apenas apresentagdo ou retirada de estimulos, respectivamente, Em Anilise do Comportamento, positivo nao é bom e negativo nao é ruim; simplesmente, positivo é apresentagao, e negativo é retirada: + unico positiva: diminui a probabilidade de 0 comportamento ocorrer novamente pela consequente adigio de um estimulo aversivo ao ambiente. + Punigo negativa: diminui a probabilidade de 0 comportamento ocorrer novamente pela consequente retirada de um estimulo reforgador (de outros comportamentos) do ambiente. Exemplos de punigao positiva ‘+ Um rato que tem 0 comportamento de pressionar a barra mantido pela liberago de gua passa a receber, além da égua, um choque quando emite esse comportamento, Em decorréncia do choque contingente ao comportamento de pressio a barra, este deixa de ocorrer. + Levar uma surra ao jogar bola dentro d sa, em decorréncia disso, ni jogar mais nesse local. ‘+ Ultrapassar o sinal vermetho, ser multado e nao infringir mais essa regra, + Dizer palavras de baixo calio, receber uma bronca e diminuir bastante a frequéncia desse comportamento. Exemplos de punigao negativa + Perder a mesada por fazer traquinagens e diminuir bastante a frequéncia desse comportamento, + Cometer um assalto, ser preso (perder a libetdade) e ndo cometer mais crimes, + Nao recel cr beijos da namorada por fumar e diminuir bastante © nimero de cigarros consumidos por dia. + Dirigir apés ter consumido dlcool, perder a carteira de motorista € ndo mais dirigir nessas condigdes quando recuperar a carteira, SuspensAo da contingéncia punitiva: recuperagao da resposta A punigo pode eliminar comportamentos inadequados, ameagadores ou, por outro lado, indesejaveis de um dado repertiio, com base no prineipio de que quem & punide apresenta menor possibilidade de repetir seu comportamento. Infelizmente, o problema nio ¢ tio simples como parece. A recompense (reforgo) ¢ a punigdo néo diferem unicamente com relagao aos efeitos que produzem. Uma crianga castigeda «de modo severo por brincadeiras sexuais nio ficaré nevessariamente desestimulada a continuar, da mesma forma que um homem preso por assalto violento nfo terd necessariamente diminuida sua tendéneia & violéneia. Comportamentos sujeitos a punigdes tendem a se repetit 'ssim que as contingéncias punitivas forem removidas, (Skinner, 1983, p. 50) Esse trecho, escrito por Skinner, aponta para alguns problemas relatives ao uso da punigZo como forma de controle do compertamento, os quais discutiremes a seguir. Um comportamento que vinha sendo punido pode deixar de ser punido na Por exemplo, uma jovem que namora um rapaz que implica com suas minissaias pode parar de usi-las. Assim, 0 comportamento de usar minissaia € positivamente punido pelas discussdes com 0 namorado, Caso ela trogue esse namorado por outro menos machista e ciumento, que no implique com suas roupas, seu comportamento de usar minissaia talvez volte a ocorrer. Nesse caso, teré havido uma suspensio da contingéncia de punigio. Ou seja, © comportamento de usar minissaia produzia discussdes e agora no produz mais, Consideramos que, nesse caso, ocorre uma recuperacao da resposta. Skinner (1938) tem um estudo classic sobre a suspensdo da contingéncia de punigdo, no qual dois grupos de ratos tiveram comportamento de pressionar a barra modelado e mantido pela liberagdo de alimento, O grupo experimental passou a receber um choque toda vez que pressionava a barra. Esse procedimento fez os animais rapidamente cessarem tal comportamento. Ji 0 grupo- controle, que no recebeu choques, continuou pressionando a barra, mantendo uma taxa constante de emissio dessa resposta. Entio, o choque foi desligado para o grupo experimental (i.c., houve a suspensio da contingéncia de punigZo), ¢ observousse um aumento na frequéncia de respostas de pressio 4 barra. Desse modo, a qucbra da contingéncia de puni¢éo produziu um restabelecimento na forga do responder, 0 que conhecemos por processo de recuperacao da resposta. A Figura 4,3, no quadro inferior, apresenta graficamente esse processo com dados hipotéticos. No quadro superior, & apresentado 0 processo andlogo de reforgamento ¢ extingdo. 100 Linha de base Reforcamento Extingao 1 1 1 75 ' ' ' \ 50 i 1 \ \ 25 100 Linha de base Punigdo Recuperacao Ntimero de respostas 7 50 25 0 Sessdes Figura 43 ‘Suspensdo da contingéncia. Quando ha quebra da contingéncia, a frequéncia do comportamento retoma ao seu nivel operante (frequéncia de respostas obtida na condigao de linha de base). Fonte: Adaptada de Catania (1999, Figura 6.1, p. 110). Um ponto importante a ser considerado é: a fim de que 0 comportamento volte a ocorrer com a quebra da contingéncia de punigdo, o reforgamento deve ser mantido, e, obviamente, o organismo deve ser exposto outra vez a contingéneia, Em outras palavras, se as respostas de pressio 4 barra dos animais do grupo experimental no estudo de Skinner deixassem de produzit alimento ¢, além disso, ndo ocorressem pelo menos uma vez apds a suspensio da punigdo, esse comportamento no teria a sua frequéncia restabelecida. Esse aspecto do comportamento é fundamental, por exemplo, para a pratica clinica em psicologia, ‘Muitas vezes, 0 psicélogo clinico se depara com clientes que tiveram certos comportamentos punidos no passado, os quais nii0 voltam a ser emitides mesmo com a auséncia da puni¢do na atualidade. Dessa forma, as novas contingéncias de reforgamento em vigor no tém como operar sobre o seu comportamento outrora punido. Punigao versus extingao ‘Um ponto que gera muita confusdo entre estudantes de Anilise do Comportamento é a distingdo entre extingdo e punigio negativa, Os dois casos so similares porque, em ambos, ndo se tem acesso a reforgadores outrora disponiveis. Entretanto, na extinggo, um comportamento produzia uma consequéncia reforgadora, e, por algum motivo, esta deixa de ocorrer — 0 que é diferente da puniga0 negativa, Por exemplo, o comportamento de telefonar para a namorada era reforgado por sua voz. do outro lado da linha quando ela fo atendia, Caso © namoro acabe ¢ a ex-namorada se recuse a atender aos telefonemas, 0 comportamento de telefonar estaré em extingdo. Ou seja, no produz mais a consequéncia reforgadora que produzia. 1é na punigdo negativa, um comportamento passa a ter uma nova consequéncia, que & a perda de potenciais reforgadores de outros comportamentos. Porém, a contingéncia de reforgamento que mantém esse comportamento permanece intacta. Retomando nosso exemplo, digamos que esse namorado era infiel c que algumas de suas traigdes foram descobertas pela namorada, ocasionando o fim da relagdo. Se, em namoros futuros, esse rapaz deixar de trair, teremos um exemplo de punigio negativa, pois o comportamento de ser infiel foi punido pela perda dos reforgadotes associados ao namoro. Essa consequéncia reduziu a frequéncia do comportamento de ser infiel, Note que as consequéncias que mantinham o comportamento de ser infiel permaneceram intactas, como, por exemplo, o relorgamento social advindo de seus amigos quando ele relatava os casos de traigio, Se o rapaz emitir novamente comportamentos de infidelidade, seus amigos ainda reforgardo 0 seu comportamento, Portanto, no podemos falar em extingio nesse exemplo. O que houve foi a apresentagdo de uma nova consequéncia: a retirada dos reforgadores contingentes a outros comportamentos relacionados a0 ‘Outra diferenca entre punigdo e extingdo refere-se ao processo: a punigdo suprime rapidamente a resposta, enquanto a extingdio produz uma diminuigdo gradual na frequéncia de ocorréncia da resposta. Imagine um rato em um esquema de reforgamento continuo (CRF). $0, 0 comportamento de pressionar a barra produz uma consequéncia reforgadora, a apresentagdo da égua, toda vez que € emitido. Como jf se sabe, se destigassemos 0 bebedouro, 0 comportamento de pressionar a barra no mais produziria a consequéncia reforgadora. Falamos, portanto, de extingo, ou seja, houve a suspensio da consequéncia reforgadora, a qual teria como efeito final no comportamento a redugdo de sua frequéncia de ocorréncia, Imagine, agora, que nao temos condig6es de desligar 0 bebedouro, mas temos que fazer o rato parar de pressionar a barra, Como poderiamos conseguir isso? Vocé acertou, poderfamos usar a punigao. E possivel, nesse caso, “dar” um choque no rato toda vez. que ele pressionar a barra. Se assim o fizéssemos, a frequéncia do comportamento de presso & barra reduziria, mesmo com a contingéncia de reforgamento em vigor. Note que, no segundo exemplo, ndo suspendemos a consequéncia reforgadora, ou seja, em momento algum a Agua deixou de ser apresentada quando o rato pressionava a barra. A punigo, nesse exemplo, & a apresentagdo do choque. Ao aludirmos & punigio, io nos referimos & suspensfo da consequéncia que reforga 0 comportamento, mas, sim, a outra consequéncia que diminui a probabilidade de sua ocorréneia (Fig. 4.4), (1) (2) Reforgamento Exting¢do R—> s R > s S? Reforgamento (1) SP Punicdo (3) Figura 4.4 Imagine, agora, 0 seguinte exemplo: quando Jodozinho fala palavrdes, seus colegas riem bastante com ele, A risada de seus amigos é uma consequéncia reforgadora para seu comportamento de falar palavrdes. A mae de Jodozinho quer que ele pare com isso; para tanto, ela retira sua “mesada”, e, em funglio dessa consequé para de falar palavrdes. Nesse caso, a mde de Josozinho puniu o comportamento ou 0 colocou em extingo? Para responder a essa pergunta, devemos fazer a seguinte andlise: + A frequéncia do comportamento aumentou ou diminuiu?

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