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Dedicação:

Gratidão amado Mestre José Ângelo Gaiarsa.


Como você se definia como o Mestre que sintetiza assuntos em uma só linha eu
insisto:
Gratidão por você ser o que você foi... E ainda É.
Gratidão por esse ensinamento abençoado a todas nossas crianças.
Otávio Leal (Dhyan Prem)

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“O que se vê inicialmente é o quanto a escola real se encontra distante do ideal de
"jovens mentes despertas". A maioria dos professores adoraria despertar a mente dos
alunos, mas o sistema no qual trabalham frustra sistematicamente essa vontade,
insistindo em que todas as mentes devem ser despertadas na mesma ordem, usando
os mesmos instrumentos, no mesmo ritmo, conforme uma agenda estabelecida
previamente.”
Daniel Quinn

"O que as pessoas aprenderam no segundo grau ou nos cursos superiores não
importa muito, seja na vida privada, seja na profissional. Poucas delas precisarão
dividir frações, fazer análise sintática, dissecar uma rã, criticar um poema, provar um
teorema, discutir a política econômica de Jean-Baptiste Colbert, definir a diferença
entre os sonetos de Spencer e Shakespeare, explicar a tramitação de uma lei no
Congresso ou o inchamento do oceano nas extremidades opostas do planeta,
formando as marés. Se elas se formarem ignorando tudo isso, realmente não importa
nada. Em geral, quem faz pós-graduação encontra-se numa situação diferente.
Médicos, advogados, cientistas e pesquisadores acadêmicos, por exemplo, usam na
vida real o que aprendem na universidade. Para uma pequena parcela da população,
a escola realmente faz alguma coisa, além de manter os jovens fora do mercado de
trabalho.”
Daniel Quinn

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“O que a criança mais deseja é aprender. ” (Doman)

Estimulando adequadamente o cérebro de crianças desde o dia em que nascem


até os seis anos de idade, consegue-se fazer de praticamente qualquer criança um
gênio.
São crianças que se movem com a graça, a eficiência e a resistência de campeões
olímpicos; que fazem qualquer coisa com as mãos; que tocam razoavelmente ou
muito bem um ou dois instrumentos musicais; que sabem falar e ler em duas, três ou
quatro línguas, com um conhecimento de coisas que vai muito além, e tudo o que se
poderia aprender somando os programas dos 10 (dez) anos de todo o nosso "Ensino
Fundamental" - supondo que ele seja de primeira linha (o que raramente é). Otávio
Leal (Dhyan Prem)

Os ensinamentos e estímulos ensinados aqui são alegres, afáveis, cooperativos,


salientando-se onde quer que vão. Tudo pode ser aprendido em casa e certamente
em um tempo consideravelmente menor do que o consumido em qualquer outro
sistema pedagógico.
Mães e pais são os principais "professores" do Lar-Escola, sendo que essa
educação-estimulação consome um tempo surpreendentemente curto.
As mães - tidas pelos Institutos como suas principais e insubstituíveis
colaboradoras - além de se sentirem orgulhosas e felizes também vão aprendendo
muito mais do que suas mães jamais imaginaram que seria possível!
Sem contar a satisfação do dever familiar excelentemente cumprido - com amor e
alegria. Eu sei. Parece bom demais.
Mas é possível - não custa muito tempo, nem aprendizado demorado, nem alta
formação intelectual - nem muito dinheiro.

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Aquecimento por Gaiarsa e Otávio:

“- De tudo o que aprendeu na escola no ano passado, do que você se lembra?


- Quase nada, acho.
- Você acha que é diferente de seus colegas nesse aspecto?
- Nem um pouco.
- Portanto, a maioria não se lembra quase nada do que aprendeu na escola
quando passa de um ano para o outro.
- Isso mesmo. Claro que a gente sabe ler e escrever, e um pouco de aritmética...
quer dizer, a maioria sabe.
- O que prova meu argumento, certo? Ler, escrever e fazer as quatro operações
são coisas úteis na vida de vocês.
- Claro. Quanto a isso, não tenho dúvida.
- Eis uma questão interessante para você, Julie. Os professores esperam que você
se lembre do que aprendeu no ano passado?
- Não, acho que não. Eles esperam que a gente tenha ouvido falar no assunto. Se o
professor fala em "força das marés", ele espera que todos balancem a cabeça e
digam: "Já estudamos isso no ano passado".
- Você entende como agem as forças que provocam as marés, Julie?
- Sim, sei como elas são. Por que o oceano incha dos dois lados da Terra ao mesmo
tempo é uma coisa absolutamente sem sentido para mim.
- Mas você não confessa isso ao professor.
- Claro que não. Acho que tirei 9,7 na prova. Eu me lembro mais da nota do que da
matéria, sempre.
- Mas, agora, você está em condições de entender por que passa anos de sua vida
na escola aprendendo coisas que esquece rapidamente assim que termina a prova.
- É mesmo?
- É. Faça uma tentativa.
Tentei.
- Eles precisam nos dar alguma coisa que nos mantenha ocupados durante os anos
em que ficamos fora do mercado de trabalho. E isso precisa parecer legal. Tem de ser
uma coisa muuuiiiiiiiiito útil. Eles não podem deixar a gente passar doze anos
queimando fumo e ouvindo rock.
- Por que não, Julie?
- Porque não pareceria certo. Estaria tudo perdido. O segredo seria revelado.
Todos saberiam que estávamos ali apenas para matar o tempo.
(Daniel Quinn)

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Introdução: É importante, leia, reflita.
Revolução pedagógica (a nova criança e a revolução gentil)

Temos plena consciência do peso Histórico destas palavras, mas elas dizem
exatamente o que esse texto vai expor — e se bem compreendido ele será tanto ou
mais importante do que a maioria dos manuais de educação. Estão ocorrendo no
mundo, atualmente, duas revoluções à primeira vista independentes.
A mais falada e a mais evidente é a que se liga à Eletrônica, à extensão ilimitada da
comunicação instantânea, as redes sociais, à Internet. O potencial revolucionário
desta tecnologia mal começa a ser compreendido – e é particular seu efeito sobre as
novas gerações.
A outra, a de que vamos cuidar, refere-se à mais radical revolução pedagógica
jamais havida ou sonhada em toda a História da Humanidade.
Até hoje se acreditou que as crianças, os seres humanos nascem com aptidões
mínimas, completamente ignorantes e impotentes, e que só vai se tornando capaz de
aprender por volta dos quatro a cinco anos, na medida em que consegue lidar melhor
com as palavras. Só então passa a ser considerado candidato à socialização e a
participar da Mãe Cultura.
Se há a noção de que esta é a melhor época para se começar educá-los - em criar
Escolas para que ensinem a eles o que os adultos e a mãe cultura consideram
importante. A ser verdade é que o que aí está e já esbarramos em uma enorme
limitação da educação: a de que o principal da atividade escolar se refere ao
aprendizado do que pode ser dito, posto em palavras: Geografia, História,
Matemática, Ciências, línguas e demais "matérias".
Dados que já datam de cinco decênios, provenientes de estudos relativo a grande
número de crianças cuidadosamente estudadas, demonstram que desde o
nascimento até seis anos de idade que a criança humana apresenta a sua maior
capacidade de aprender. Essa capacidade daí para diante vai se reduzindo
consideravelmente.
Observe e reflita sobre as duas primeiras partes da Grande Revolução proposta por
nós: aprender vai muito além das palavras e todas as crianças humanas nascem
potencialmente geniais. Na tradição budista dizemos que as crianças já nascem buda
(consciências e potenciais iluminados)
O principal tópico da revolução pedagógica refere-se ao cérebro (e em seguida a
respiração correta que veremos mais à frente. De toda forma respire fundo agora e
diga ao seu filho o mesmo). De longa data se acredita que ele (cérebro) seja
importante para o aprendizado em geral. No entanto não sabemos de nenhum texto
pedagógico que tente ligar de modo consistente aprendizado e cérebro. (A
neurociência começa timidamente (2016) a pesquisar esse tema)
Os estudos que vamos apresentar e comentar dedicam muitas horas ao
desenvolvimento cuidadoso da motricidade e da visão, funções que ocupam a maior
parte da massa encefálica. (Dois terços da massa nervosa do cérebro servem aos
movimentos do corpo e metade do córtex cerebral serve à visão).
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Crianças de dias, meses e poucos anos de idade exibem grandes facilidade em
desenvolver competências motoras surpreendentes.
Estas aptidões motoras e intelectuais, porém, só se desenvolvem quando se dá a
criança uma atenção cuidadosa e esclarecida, com propósitos bem definidos - como
será ilustrado nesse texto.
Atenção: a exposição feita até aqui pretende deixar tão claro quanto possível que
estamos assistindo a mais fantástica revolução pedagógica já sonhada por alguém ou
já acontecida em nossa história. (Homo Sapiens e Sapiens Sapiens)
A criança humana aprende muito desde que nasce e a palavra está muito longe de
ser o principal da educação, e a atenção inteligente dedicada à criança permite que
seu cérebro alcance tudo o que já se imaginou de melhor para ela, para ele (cérebro)
- e para nós a raça humana planetária.
Insistimos: A palavra, ficar escutando palavras, é de longe o principal na educação
dos genios e seres plenos. A Criança é plenamente criança quando nasce, mas ao
longo do tempo pode se perder nos “tem que” e “deveria” sociais. (Mestre Jung que
inspira a nós dois insiste que a maior meta da vida é a totalidade, a plenitude.)
Ao dar essa atenção esclarecida à criança estamos realizando o mais abençoado
dharma (caminho), mais alta missão que os seres humanos podem cumprir: cultivar
até seu limite o órgão mais complexo criado pela natureza - o cérebro, ser pleno e
desenvolver valores humanos.

Preliminar:
Os valores humanos pelo Mestre Satya Sai Baba
“Definitivamente, nenhuma alegria pode se igualar à alegria de servir aos outros."
Assim como a natureza do Sol é aquecer e iluminar, a natureza da Chuva é molhar
e vivificar, e a natureza da Flor é perfumar e embelezar a verdadeira natureza do Ser
Humano é Verdade, Retidão, Paz, Amor e Não-Violência.
Um Ser Humano que não manifesta essas qualidades, é como um Sol sem calor
nem luz, como uma "Chuva que não molha". Não está sendo
verdadeiramente humano.
O homem vive na terra para aprender, antes de tudo, a arte de ser homem, e
depois a arte de ser divino. Vista assim, a vida é uma aventura, onde cada ação, cada
pensamento e cada palavra do homem pode manifestar a divindade que está latente.
O egoísmo do homem é a causa de todos os seus males....
Da mesma forma como duas asas são essenciais para um pássaro alçar vôo ao céu,
e duas rodas são necessárias para uma carroça mover-se, dois tipos de educação,
material e espiritual, são necessárias para que o homem atinja seu objetivo na vida.

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A espiritual destina-se à vida, enquanto a material a um meio de vida. É só quando
o homem é equipado com estes dois aspectos da educação que torna-se merecedor
de respeito e amor por parte da sociedade."
A necessidade de educação espiritual é urgente. Uma educação onde os Valores
Humanos estão ausentes contribui hoje para a construção de uma sociedade egoísta
e competitiva onde, apesar do progresso tecnológico, nunca se viu tanta injustiça e
violência. As pessoas vivem com medo, ansiedade, depressão e outros distúrbios
mentais, sem o menor conhecimento de suas causas e, menos ainda, de sua cura.
O sistema educacional moderno prepara consumidores de informação, e peças
para a engrenagem do mercado de trabalho. E o caráter dos estudantes? O que fazer
com toda essa informação? A educação do coração costuma ser ignorada.
Enquanto se ensina como resolver equações do segundo grau, será que não se
poderia ensinar também que "quanto mais pessoas você faz feliz, mais feliz você
fica"?”
Satya Sai Baba

Lindo ensinamento acima do mestre hindu Sai Baba.


Até hoje os costumes sociais dominantes colocavam o adulto poderoso no centro
da sociedade.
A revolução que vamos descrever aqui nos põem a serviço da criança. Levamos em
conta, que, todas as guerras, holocaustos, corrupção, desmandos, loucuras e
violência que constituem a história da humanidade civilizada, tudo feito por adultos,
podemos sonhar: dedicando-nos à criança talvez nos seja dado criar uma primeira
geração humana no terceiro milênio, capaz de realizar todos os melhores sonhos já
sonhados pela humanidade.

“Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta
de amor. Um é a sombra do outro. ” - Carl Jung

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CAPÍTULO 1
A educação no mundo hoje

Primeiro tempo: panorâmica


Talvez não esteja mais em nós educar nossos filhos - isto é, procurar passar para
eles o que acreditamos ser nossa experiência de vida, nossos valores e significados
tradicionais (seja lá o que quer dizer isso). "Nosso mundo, nossa experiência de vida"
significa, aqui, maiores de 30 anos - só para gerar um paradigma; e crianças são as
que contam de zero a 20 anos. Entre estes dois mundos a distância é incomensurável
(não tem limites e medidas comum) - em muitos níveis e formas. Hoje com os
avanços das redes sociais estamos bem perto de sermos duas espécies diferentes!
Vendo eu Otávio com 53 anos, minha mãe com 76 anos e minha filha com 22 as
diferentes espécies ficam claras. Quanto menos tentarmos ensinar a eles, tanto
melhor. (Se tivermos que ensinar melhor será com nosso exemplo, nossas atitudes).
Até porque eles mal e mal nos ouvem - seja no Lar, seja na Escola... (Gaiarsa e Otávio
Leal concordam plenamente aqui.)
Depois porque neste último meio século a Humanidade civilizada vem passando
pela maior revolução de toda a sua História passando da velocidade do avião (mil
quilômetros por hora e unidirecional), para a velocidade das ondas eletromagnéticas
(trezentos mil quilômetros por segundo - em todas as direções) ...
Desde o começo da nossa História (agricultura) e das mudanças dos sistemas
tribais (a partir de 5.000 A.C) até o presente, incluindo o colonialismo não tão antigo
e, enfim, abrindo qualquer jornal de hoje ou num portal de notícias em qualquer
página, obtemos um retrato deveras terrível da humanidade. Guerras sem fim, isto é,
assaltos coletivos subsequentemente glorificados nas escolas e pelos livros de
História Mentiras sem fim para "justificar' atos perversos e egoístas! Note:
atualmente os melhores negócios do mundo se referem à indústria e comercio de
armas, tóxicos (inclusive os psicotrópicos e o álcool), à prostituição e o petróleo.
Em relação ao petróleo são bem sabidas as guerras intermináveis - que estão
acontecendo em torno dele e a profunda influência das mesmas na Economia
Mundial (isto é, no bolso - e na vida) de cada um de nós - e de todos nós. O que
aconteceu até hoje com a humanidade - isto é, o que nós, adultos fizemos - ou não
impedimos- ou aceitamos - não é nada animador nem capaz de despertar orgulho, ou
para despertar esperanças em nós - os adultos, que nós temos na conta de
conscientes, responsáveis, conhecedores da realidade.... No entanto, praticamente
todo sistema educacional do mundo está baseado na noção implícita de que nós -
adultos - temos muito o que ensinar - transmitir - de bom, de sábio, de ético e
ecológico para nossos filhos. E bom deter-se um pouco aqui e perguntar-se: será que
nós temos mesmo tanto o que ensinar para as próximas gerações?
Será que é bom tentar transmitir para eles os nossos assim chamados Sagrados
Valores Tradicionais da civilização*, todos eles coniventes com todas as negociatas
do mundo, por força das quais há, hoje, um número cada vez menor de pessoas cada
vez mais ricas e um número cada vez maior de pessoas cada vez mais pobres?

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*Valores sobre impostos, “corrupção, competição, consumismo sem limites e
antiecológico?
E hoje é apenas um exagero de ontem - e de sempre - com 1% de bilionários ditam
regras e criam suas leis, 29% da classe média dividida em alta média e baixa e 70% de
pobres, escravos, camponeses, operários e soldados rasos...
Será que as dificuldades escolares e familiares de hoje nada têm a ver com estes
fatos que aos poucos, por força da mídia (a internet principalmente) estão se tomado
conhecidos por um número cada vez maior de pessoas?
Exemplo: a descrença dos jovens em relação ao Velho Mundo de seus...maiores
líderes (serão maiores?). Será injustificada? Teria sentido?
O que os adultos estão fazendo com o planeta e que mundo vamos deixar para
eles? * Haverá um mundo para eles? Haverá um mundo para as várias espécies que
aqui habitam?
Pensamos e lamentamos na depredação do planeta, nas montanhas de lixo, na
extinção acelerada de espécies, nas extensões infinitas de monoculturas, na
depredação descontrolada do mar, na aceleração delirante da Pesquisa e da
Produção de novidades - ao mesmo tempo estimulando pelo consumismo sem
limites, sintoma gritante de nosso infinito descontentamento, que cria gerações de
seres depressivos, melancólicos e agressivos. E no aquecimento global...
Na verdade, pouco se fala dessas coisas na escola, mas hoje tudo isso está na
televisão - Escolas Universais com muito lixo mas também com boas informações.
Sempre as mentiras estabelecidas: "Ensinar Ecologia" é ensinar de como cuidar dos
bichinhos que estão desaparecendo e de reciclar lixo. (Nada se fala da pecuária como
causa maior da destruição planetária.) E ainda nada se diz sobre a espécie mais
ameaçada de auto extinção, que somos nós - os que estamos ensinados!
Podemos estar certos de que as crianças estão reagindo a tudo isso, mesmo sem
consciência clara a respeito. E que sua reação de rebeldia, mais do que justificada,
pode ser até salvadora da espécie! Frente a esses fatos, em vez de continuar falando
na autoridade e na "Sabedoria" dos pais (e dos professores, e dos Ministérios de
Educação) seria melhor, na relação entre adultos e crianças, adotar propostas de
Roberto Shinyashiki – as de Gaiarsa.” Somos todos (pais e filhos) companheiros em
uma permanente viagem rumo ao desconhecido";

*É importante diferenciar o homem tribal adulto (xamãs, pajés) que transmitia


valores sobre sobrevivência e cooperação aos jovens da sua tribo do homo sapiens o
homem tribal viveu (150.000 anos antes da vida civilizada). O homem civilizado surge
a 5.000 D.C atrás onde hoje é o Iraque.

(*Otávio Leal (Dhyan Prem) diferencia por completo os valores da civilização e os


tribais. Sugiro pesquisas nos textos de Daniel Quinn como “Ismael” e “Meu Ismael” e
em algumas citações nesse livro).

Vamos pensar em trocas de experiência em vez de tentar ensinar "o que é certo" e
"o que é errado”; vamos dizer muitas e muitas vezes "não sei" e " o que você acha"?

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Vamos tentar nos convencer de que elos pessoais verdadeiros só se estabelecem e
se aprofundam quando conseguimos dar atenção inteira um para o outro -de ouvidos
e olhos; (E que dar "atenção inteira" não é fácil);
E o quanto seria bom evitar pré-noções de superioridade preconceituosa, atitudes
é maneira de autoridade, de quem sabe com o são as coisas, de Pai, de Mãe, de
Professor, de Ministro...elas provocam respostas de falsa submissão ou de rebeldia. -
de repulsa e protesto em vez de aceitação.

“Temos, ao mesmo tempo, um "grilo" com as rotinas que se cristalizaram nas


escolas tradicionais e que se transformaram em normas. São muitos os que sentem o
mesmo. Bruno Bettelheim, já velho, lembrando-se de suas experiências de criança
disse que na escola os professores tentavam ensinar-lhe o que ele não queria
aprender da forma como eles queriam ensinar. Roland Barthes foi outro a sentir o
mesmo. Escreveu um delicioso ensaio sobre a preguiça e declarou que ela, a
preguiça, pertence essencialmente às rotinas escolares porque nas escolas os alunos
são obrigados a fazer o que não querem fazer e a pensar o que não querem pensar.
Ah! Como é doloroso fazer os deveres de casa! Bem diz a palavra que são "deveres"!
Imposições de uma autoridade estranha. A verdade é que se a criança pudesse ela
não faria os deveres. Preferiria fazer outras coisas. Mas o ditado popular afirma:
Primeiro a obrigação, depois a devoção. O aluno, sem querer, mas obrigado, arrasta-
se sobre o dever que lhe é imposto. O corpo e o pensamento resistem. Essa
resistência que faz corpo e pensamento se arrastarem é a preguiça... Mas existirá
uma razão por que a "obrigação" e a "devoção" devem ser inimigas? Quem, que
poder, que sujeito determinou que deva ser assim? A curiosidade é a voz do corpo
fascinado com o mundo. A curiosidade quer aprender o mundo.
A curiosidade jamais tem preguiça! Por amor às crianças - e ao corpo - não seria
possível pensar que o nosso dever primeiro seria satisfazer essa curiosidade original,
curiosidade que faz com que a aprendizagem do mundo seja um prazer? Ficamos,
então, a partir das nossas próprias experiências de aprendizagem, a pensar que deve
ser possível uma experiência de aprendizagem baseada na curiosidade e não imposta
pelos programas.” - Rubem Alves

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CAPÍTULO 2
Segundo tempo: Pedagogia intencional apresentando o cérebro

Buckminster Fuller - o famoso arquiteto, amigo pessoal de Glenn Doman (adiante


vamos conhecê-lo bem) resumiu: "A Natureza nos fez gênios e a Sociedade nos torna
medíocres". (Lembrando nascemos budas e somos educados para nos tornarmos
estúpidos) O fato que mais me espantou no que se refere ao desenvolvimento do
cérebro é este - bem pouco divulgado e pouco comentado: nascemos com 100
bilhões de neurônios (mais do que o número de árvores da floresta Amazônica...) e
ao longo dos primeiros anos da vida vamos perdendo metade deles - na certa por
falta de uso. E bem conhecido em biologia o processo de Apoptose - morte celular
por falta de uso.
Todas as células do corpo levam escrito em seu DNA: "se você não tem o que
fazer- mate-se" - e então no interior destas células se desatam processos
autodestrutivos - e ela morre. Há um ditado mais ou menos assim: Não estudar, não
aprender e se desenvolver é investir em ignorância.
Já vimos o fato (dos cem bilhões) citado de formas diferentes. Alguns o descrevem
acontecendo na vida intrauterina, o que seria o mais incompreensível dos processos
biológicos. Outros - nós inclusive - temos certeza de que o processo ocorre desde o
nascimento e ao longo de toda a vida. "Educar"- diz o texto erudito sobre pedagogia -
"consiste em criar condições para que a criança desenvolva ao máximo todas as suas
potencialidades”. Sempre as palavras bonitas impedindo - escondendo - a visão do
que acontece. O que acontece mesmo?
Em família - em todas as famílias - a palavra "não “é dita de 10 a 50 vezes por dia-
no mundo inteiro! Cada "não" produz uma parada de movimento. Uma imobilização
corporal e um congelamento do interesse, da curiosidade, da busca, da experiência.
E logo a angústia de todos pergunta (e acusa): "mas crianças não podem fazer tudo
o que querem. Seria uma anarquia" Ninguém sabe com o seria porque nunca
aconteceu - e sobre o mundo maravilhoso dos adultos que as crianças perturbariam
já disse o que chega.

Reflexões do Mestre Gaiarsa:


“Até os seis anos a criança aprende tudo. E um pouco mais...”

“Nestes últimos anos, várias vezes fiquei pensando que eu era um gênio. Hoje isso
ainda me passa pela cabeça, de vez em quando, mas na realidade tenho certeza que
eu só tenho uma grande qualidade: consigo ver o óbvio. Mas por que as outras
pessoas não conseguem ver o óbvio, que é tão óbvio?”
“Dois terços de nosso cérebro têm como função única ou básica, pelo menos,
cuidar de nossos movimentos. E um terço do córtex cerebral é usado apenas para a
visão. Então, nossa base de sobrevivência, como acontece com todos os animais, é o

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movimento e a visão. Observe qualquer bicho: se ele for lerdo, se for desatento ou se
enxergar mal, suas chances de sobrevivência são mínimas. E conosco acontece a
mesma coisa, embora a sobrevivência diga mais respeito a ser bem-sucedido, a ser
equilibrado física e emocionalmente, enfim, a ser feliz. ”

“Mas ninguém vê isso. Freud, por exemplo, não queria saber de olhar para o
paciente. Só ouvir. Com isso o analista perde um mundo de informações que o
analisado passa pela sua postura, pelo rosto, pela forma como respira. O som, as
palavras passam algumas informações, mas muito menos do que o corpo. O corpo
não sabe mentir. ”

“Você quer ver uma coisa? Você sentou aí na minha frente, está me olhando atenta
e abertamente, e eu estou fazendo o mesmo com você. Claro que você está me
analisando e eu a você. Então, nós estamos em contato, humano, energético, o que
você quiser. Não sei o que você está vendo em mim, mas eu estou vendo um cara
interessado, que presta atenção no que estou dizendo e que está entendendo. Já dei
muitas entrevistas na vida, muito poucas foram assim. O jornalista parece estar
sempre com pressa, faz cara de paisagem, não tem expressão nenhuma e parece não
estar entendendo nada. Com esse nosso contato, eu estou sendo obrigado a pensar, a
refletir e estou rendendo bastante. Estou gostando desta entrevista. ”

“Claro que Freud não sabia tudo; ninguém sabe, mas por que os seus seguidores
ficaram parados, praticamente onde Freud chegou? Por que ninguém avança quase
nada? E isso não acontece só com os freudianos, claro. O Reich foi mais longe que o
Freud no estudo do corpo, mas também parou num ponto. E os reichianos também
não foram mais além, ou foram quase nada. Por que isso? Escolhe-se um “Mestre’ e
pronto, apenas repetimos o que o mestre falou? ”

“Nos institutos de Doman com uns dois meses de vida, pouco mais, pouco menos,
eles colocam o nenê no chão para olhar e rastejar. E comprovam que o movimento
depende da visão e vice-versa. E que essas duas capacidades aumentam juntas e
levam consigo também a audição, a habilidade manual, o tato e a linguagem. Com
um ano, pouco mais, a criança aprende matemática, como brincadeira e não usando
números, porque aí já são códigos que não fazem sentido para as crianças; e logo
depois aprendem a ler, sempre palavras inteiras e ligadas a objetos que eles
conhecem, porque letras também não fazem sentido para criancinhas. ”

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“Assim, o Instituto forma crianças física e mentalmente esplêndidas até os 6 anos
de idade. E eles acreditam, e eu também e totalmente, que esses seres humanos vão
ter chances muito maiores de se realizarem e serem felizes. ”

“Ora, as criancinhas aprendem tudo e elas têm uma vontade incrível de aprender
tudo e bem rápido, pela imitação. Ou seja, elas vão aprender a ser exploradoras ou
exploradas, se não mudarmos o aprendizado dos primeiros anos de vida. ”

“E você acredita que todas as mulheres estão naturalmente dotadas para serem
mães? Que elas sabem tudo intuitivamente? Vamos parar com isso. A criança
pergunta para a mãe, por exemplo: Mãe, por que a senhora está brava comigo? E a
mãe responde: COMO QUE EU ESTOU BRAVA COM VOCÊ? AS MÃES NUNCA FICAM
BRAVAS COM SEUS FILHOS! A criança percebe que a voz e principalmente o rosto e os
gestos não têm nada a ver com o que foi de fato falado. E o que fica é a impressão do
tom da voz, da expressão do rosto e os gestos...”

As dimensões da educação.
Visão do Mestre de Otávio Leal, Mestre Osho.
Osho deu o nome Dhyan Prem a Otávio Leal
“A educação que prevaleceu no passado é bastante insatisfatória, incompleta,
superficial. Ela só cria pessoas que conseguem ganhar o seu sustento, mas não dá a
elas uma visão sobre a vida em si. Ela não só é incompleta como é prejudicial também
— porque é baseada na competição. Qualquer competição, no fundo, é violenta e cria
pessoas pouco amorosas. Todo o esforço é para que sejam conquistadoras — de
renome, de fama, de todos os tipos de ambições. Obviamente elas terão que lutar e
entrar em conflito para fazer essas conquistas. Isso destrói sua alegria e sua
afabilidade. Parece que todo mundo está brigando contra o mundo inteiro. A
educação até agora tem sido voltada para o cumprimento de objetivos: o que você
aprende não é importante: o importante é o exame que você fará um ano ou dois
anos depois. Ele torna o futuro importante — mais importante do que o presente. Ele
sacrifica o presente em prol do futuro. E isso se torna o seu próprio estilo de vida; você
está sempre sacrificando o momento por algo que não está presente. Isso cria um
imenso vazio na vida. Na minha visão, a educação terá cinco dimensões. Antes de
começar a tratar dessas cinco dimensões, algumas coisinhas precisam ser
mencionadas. Uma é que não deverá haver nenhum tipo de exame como parte da
educação, mas uma observação diária, feita de hora em hora, por parte dos
professores. Essas observações feitas ao longo do ano decidirão se o aluno deverá ou
não permanecer na mesma classe. Ninguém fracassa, ninguém passa — a questão é
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apenas que algumas pessoas são mais rápidas e outras são um pouquinho mais
preguiçosas. A ideia de fracasso cria uma ferida profunda de inferioridade, e a ideia
de ser bem-sucedido também cria um tipo diferente de doença: a da
superioridade. Ninguém é inferior e ninguém é superior. A pessoa é simplesmente ela
mesma, incomparável. Portanto, não haverá espaço para exames. Isso mudará toda a
perspectiva do futuro para o presente. O que você está fazendo neste momento será
decisivo, e não cinco perguntas no final de cada ano. O aluno passará por milhares de
coisas a cada ano e cada uma delas será decisiva. Por isso a educação não será
voltada para os exames. O professor ocupou um papel de imensa importância no
passado, pois ele sabia que tinha passado em todos os exames, tinha acumulado
conhecimento. Mas a situação mudou — e esse é um dos problemas: a situação
mudou, mas nossas respostas continuam as mesmas. Agora a explosão de
conhecimentos é tão grande, tão imensa, tão rápida, que você nem pode escrever um
livro muito extenso sobre nenhum tema científico, porque quando o livro estiver
completo já estará ultrapassado; novos fatos, novas descobertas, terão tornado o seu
livro irrelevante. Agora a ciência precisa depender de artigos, de periódicos, não de
livros. O professor se formou trinta anos atrás. Em trinta anos tudo mudou, e ele vai
repetir o que lhe ensinaram. Ele está ultrapassado, está tornando os seus alunos
ultrapassados. Portanto, na minha visão, a velha ideia de professor não tem lugar. Em
vez de professores, haverá orientadores, e é preciso entender a diferença: o
orientador lhe dirá em que lugar da biblioteca é possível encontrar as últimas
informações sobre um assunto. O ensino não deverá ser administrado da maneira
antiga, pois a televisão pode fazer isso de um jeito melhor, pode trazer as últimas
informações sem nenhum problema. O professor precisa atrair os seus ouvidos; a
televisão atrai os seus olhos e o impacto é muito maior, pois os olhos absorvem
oitenta por cento das situações da vida — eles são o mais vivo de todos os seus
sentidos. Se você puder ver algo, não há necessidade de memorizar nada; mas, se
ouvir algo, precisará memorizar isso. Quase noventa e oito por cento da educação
pode ser administrado pela televisão; e as perguntas dos alunos poderão ser
respondidas pelo computador. O professor deve ser apenas um guia para mostrar o
canal certo, para mostrar como usar o computador para encontrar o livro mais atual.
Sua função será completamente diferente. Ele não transmitirá conhecimento, só
tornará o aluno consciente do conhecimento contemporâneo, do conhecimento de
vanguarda. Ele é só um orientador. Com essas considerações, eu divido a educação
em cinco dimensões. A primeira é informativa, como história, geografia e muitas
outras matérias que podem ser administradas por meio da televisão e do
computador. A segunda parte deve ser as ciências. Elas podem ser administradas pelo
computador e pela televisão também, mas são mais complicadas e o orientador será
mais necessário. Na primeira dimensão também estão as línguas. Todas as pessoas
do mundo deverão aprender pelo menos duas línguas; uma é o seu idioma natal e a
outra é o inglês, como veículo internacional de comunicação. Elas também podem
aprender línguas com mais eficácia por meio da televisão — a pronúncia, a
14
gramática, tudo pode ser ensinado mais corretamente pela televisão. Podemos criar
no mundo uma atmosfera de fraternidade: a língua conecta pessoas e também as
desconecta. Não existe atualmente nenhum idioma internacional. Isso se deve aos
nossos preconceitos. O inglês é perfeitamente apropriado, porque é conhecido por
mais pessoas ao redor do mundo em escala mais ampla — embora não seja a língua
falada pela maioria das pessoas. O que falta atualmente na educação é a arte de
viver. As pessoas acham que sabem o que é amor. Elas não sabem... e, quando
descobrem, é tarde demais. Toda criança deveria receber ajuda para aprender a
transformar sua raiva, seu ódio, seu ciúme, em amor. Uma parte importante da
terceira dimensão também deveria ser o senso de humor. Nossa assim chamada
educação faz com que as pessoas fiquem tristes e sérias. Se um terço da sua vida é
gasto numa universidade, em ser triste e sério, isso fica enraizado. Você se esquece da
linguagem do riso — e a pessoa que se esquece da linguagem do riso se esqueceu
muito da vida. Portanto, o amor, a risada e o conhecimento da vida e das suas
maravilhas, seus mistérios... os passarinhos cantando nas árvores, não deveriam
passar despercebidos. As árvores e as flores e as estrelas precisam ter uma conexão
com o coração. O nascer do sol e o pôr do sol não são apenas coisas externas, eles são
internos também. A reverência à vida deve ser a base da terceira dimensão... Uma
grande reverência pela vida deve ser ensinada, pois vida é Deus e não existe outro
deus que não seja a própria vida, e a alegria, o riso, o senso de humor — em resumo,
um espírito dançarino. Outro estudo deve ser das artes e da criatividade: pintura,
música, artesanato, cerâmica, alvenaria, qualquer coisa que seja criativa. Todas as
áreas da criatividade devem ser permitidas: os alunos podem escolher. Só algumas
poucas coisas devem ser obrigatórias — por exemplo, uma língua internacional; uma
certa capacidade para ganhar o próprio sustento; uma determinada arte
criativa. Teremos uma educação completa, integral. Tudo o que é essencial deve ser
compulsório, e tudo o que é não essencial deve ser opcional. A pessoa pode lazer suas
opções, que serão muitas. E, depois que o básico for preenchido, então você precisa
aprender algo de que gosta: música, dança, pintura — você tem que saber algo que o
leve ao seu interior, a se conhecer. E tudo isso pode ser feito muito facilmente, sem
nenhuma dificuldade. Eu mesmo fui professor e me demiti da universidade com a
seguinte nota: isso não é educação, é uma completa estupidez; vocês não estão
ensinando nada de significativo.
Osho - do livro "Transformando Crises em Oportunidades: O Grande Desafio Para
Criar um Futuro Dourado Para a Humanidade – Ed. Cultrix"
A ESCOLA
De cada dez pessoas, nove tem lembranças bem desagradáveis da escola: sentado
três horas e depois mais três, ouvindo coisas bem pouco ou nada interessante de um
adulto muitas vezes bem pouco interessado.... Valia pelo recreio que trazia a
sensação de liberdade corporal, de esticar, de ser solto. - Pelas amizades - por um ou
outro professor. Valia - demais - pelo início do relacionamento social dos jogos de

15
sedução para o primeiro beijo, os primeiros romances e amores. Mas a Escola mal
falava disso! Para nós a criança "começará a aprender" quando entrar na Escola - lá
pelos 6 os 7 anos.
Onze anos ditos pomposamente de Ensino Fundamental o Ginasial! Digamos, 8
meses de 20 dias por anos, 4 horas por dia: 7.000 horas O que sobra desta...tortura?
Dez por cento é uma estimativa extremamente otimista. Extremamente!
Sobra também, nas crianças, uma descrença profunda no aprendizado, na
Inteligência, na palavra, na cultura, nos educadores - na verdade... Até na Realidade.
Quando é que os “altos” Ministérios da Educação começarão a se dar conta destas
coisas trágicas e da infinita perda de tempo e de recursos usados de forma tão
absurdamente contraproducente? Porque o Ministério não pede e a opinião -
honesta! - Dos professores sobre o que acontece nas salas de aula? E porque não
publica o resumo destas opiniões? A sugestão nasce disso que a maioria das pessoas
- que vive de palavras - ainda acredita que "A Escola" está servindo para alguma
coisa, brigam para que seus filhos estejam em uma e que frequentar a escola é muito
importante.
(A pouco tempo ainda se tinha aulas de música nas escolas. Que benção seria isso:
música, teatro (muito teatro), artes marciais não competitivas, Yoga, alongamento,
meditação, jardinagem.)
Em 2014 pesquisa da Harvard (Eu acho) publicou as profissões mais felizes e a
número 1 foi a jardinagem e a mais infeliz foi banqueiro. Ao final desse capítulo os
resultados da pesquisa.

ESPERANÇA - NO CÉREBRO!
Adiante citaremos extensamente Glennn Doman e as experiências realizadas em
seu Institutes for the achievement of human potential. Lá mostraremos quanto pode
aprender uma criança desde o dia em que nasce até os seis anos. Daí para a frente
aprenderá cada vez com mais dificuldade! O que é profundamente adaptativo: a
criança precisa aprender depressa como é o mundo — ou terá poucas chances de
sobreviver - nas condições primitivas nas quais o cérebro se desenvolveu. Muito do
que se fala sobre o cérebro está ligado mais à patologia e ao laboratório
experimental do que ao seu desenvolvimento normal - se existir isso.
Não estranhe nossas dúvidas, leitor. Logo adiante apresentamos uma lista das
muitas diferenças anatômicas entre os cérebros das pessoas e por isso deixamos em
aberto a questão da normalidade do cérebro

Na maior parte dos estudos sobre o cérebro omite-se o fato principal: o cérebro e
o mais fantástico órgão de adaptação do ser vivo ao seu ecossistema (ou ao contexto)
- em todos os momentos e em cada momento. São duas adaptações bem diferentes:
uma ao ecossistema estável, que permanece mais ou menos igual a si mesmo
durante muito
A outra é a adaptação a cada momento - ao famoso aqui-e-agora (Gestalt ou Zen).
Em condições primitivas, esta segunda adaptação pode fazer a diferença entre a vida
e a morte - daí a exigência do aprender depressa. Aprender a ver - e a reagir
organizadamente. Tudo isso pode - e deve - ser considerado "educação"...primária!
16
O cérebro não "se desenvolve" - sozinho - segundo um plano único, bem
estabelecido, como tantos livros e escolas dão a entender - mas sim e apenas
respondendo a estímulos, isto é, a situações, personagens, ameaças e promessas de
tudo o que o cerca. A maior contribuição da Psicanálise clínica à psicologia - e à
Ciência - foi mostrar como e quando o indivíduo é fruto de todas as experiências que
viveu, desde o nascimento até o presente, de seu relacionamento com todas as
pessoas com as quais se relacionou e de todos os ambientes (ecossistemas) pelos
quais passou.

De um modo ou de outro, tudo o que foi vivido deixou sua marca - e tanto posso
dizer que a marca ficou na Personalidade, no Inconsciente ou na memória (Freud),
como dizer que ela ficou no Cérebro (Doman) ou no corpo (Reich, Bérgson, Gaiarsa
Otávio Leal): nas atitudes, posturas, movimentos (ou não movimentos) gestos e
expressões faciais - e vocais!

Tudo isso pode - e deve - ser considerado "educação" e vai muito - muito - além do
ensino verbal. O cérebro é concreto - é o retrato de nossa relação vital com a
realidade. A personalidade e a inteligência são conceitos - abstratos. Escolha!"

EDUCAÇÃO E CÉREBRO
A introdução ao tema já ficou nas linhas precedentes. Agora pormenorizamos. É
estranha a ausência de quaisquer noções sobre o cérebro nos livros de pedagogia.
Afinal, é universal, histórica e até popular a noção de que a inteligência, o saber, o
aprendizado e o pensamento "estão na cabeça”. Mas a pedagogia parece ignorar
este fato fundamental. (Parece que em 2016 se estuda um pouco de neurociência na
educação, mas ainda de forma diminuta.)
No entanto, como este texto inteiro procura mostrar, "educar", "aprender" e até
"desenvolver-se" significam: explorar ou cultivar ao máximo tudo o que nosso
cérebro contém em potencial e que só se desenvolve se for cultivado e estimulado -
adequadamente. (De novo ser e viver pleno)
Em termos gerais - de discurso! - Esta afirmação mal pode ser contestada, mas
como irei mostrando passo a passo, "desenvolver o cérebro" (que é sinônimo de
educar) é uma arte muito desconhecida. Pior: até hoje quase tudo o que se faz com a
criança está bem próximo de ser precisamente o contrário disto. Se o mundo tem
tanto de errado, porque a educação não seria parte disso?
Veremos: desde seu primeiro dia neste mundo a criança é “educada" (por
omissão) para ser paralítica - impotente e dependente.
Os "Altos" poderes que efetivamente nos governam não sabiam disso (da teoria!),
mas sabiam e sabem disso muito bem na prática!
Até hoje se acreditou que o adulto sabe o que está fazendo, é consciente,
responsável e bem formado (ou formatado pela mãe cultura vigente) e que a criança
- coitadinha — não sabe nada. Não sabe mesmo. Porém, o que não era sabido é que
a criança é capaz de aprender a uma velocidade inimaginável, aprender qualquer

17
coisa e quantas coisas se queira ensinar para ela - fora as que ela aprenderá por
conta própria.
Lei do desenvolvimento cerebral (da facilidade em aprender rapidamente): a
facilidade em aprender é máxima logo após o nascimento e a partir de então vai
diminuindo rapidamente podendo-se considerar os seis anos como a idade limite da
facilidade em apreender. No entanto, para nossa Pedagogia, é aos 5 ou 6 anos que as
crianças entram na Escola ou que iniciam a maior parte do aprendizado.
Claro, outrossim, que a redução da capacidade é gradual e que em alguma medida
ela continua a existir durante a vida toda. Aliás, esta é a marca da Humanidade:
poder aprender a vida toda, capacidade praticamente ausente em qualquer outra
espécie animal. Mas essa regra tem como fundamento esta outra: o ambiente
humano (o ecossistema sócio técnico) vai variando continuamente, enquanto que o
espaço vital dos animais é bastante limitado - e nele eles permanecem a vida toda.
De outra parte é bem sabido e nada é mais verdadeiro em matéria de educação do
que isso: “Educação é imitação". "Só o exemplo ensina". "Só a prática ensina".

No entanto, as pessoas continuam a creditar que "educar" é quase sinônimo de


"ensinar" e que ensinar tem quase tudo a ver e só tem a ver com falar, explicar - em
palavras, com palavras e de novo sempre a mesma coisa, (mais do mesmo).
Na verdade, repetir palavras - porque saber se a pessoa compreendeu ou não ao
que ela repete é bem difícil! Diz o físico e escritor Fritjof Capra: "saber o nome não é
saber a coisa".
E agora o fato (e o fundamento) cerebral desta afirmação - pouco conhecido e
raramente lembrado:

Dois terços da massa cerebral servem a nossos movimentos, a todos os nossos


movimentos e a nada mais do que a nossos movimentos - que são inumeráveis. Que
são, além disso, a forma primária da inteligência: só se aprende fazendo - ou
imitando - e "ser inteligente" é ser capaz de estabelecer ligações entre ideias: o que
se liga ao que, e o que influi sobre o que. O pensamento...se move! Ou se repete...”
“Gaiarsa”

Parece-nos uma boa ideia essa de dizer que compreendemos os movimentos de


todas as coisas em paralelo com nossa capacidade única de nos mover - de "articular"
ou de "compor" movimentos (na inteligência) de forma análoga aos movimentos de
nossas articulações movidas por nossos músculos.
Considerando a riqueza de nossa motricidade, essa afirmação torna- se plausível.
(O mover-se é tão fácil que jamais as pessoas pensarão em quão complexo é nosso
equipamento neutro-motor.).
O neurologista Sheraton, mestre na pesquisa e no esclarecimento dos mecanismos
motores da medula nervosa disse: "Se você quer saber como o cérebro funciona,
observe pessoas em movimento".
Ao pormenorizar, adiante, as técnicas dos Institutos de Glenn Doman, essa
complexidade e suas múltiplas funções se tornarão evidentes.

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APÓS MOTRICIDADE VEM A VISÃO
No cérebro, considerando áreas e volumes de substância nervosa envolvida em
cada função, a visão vem em segundo lugar ocupando quase metade do córtex
cerebral. O ato de ver é de uma complexidade e profundidade inimaginável – não
sendo semelhante ao processo fotográfico com o qual costuma ser ingenuamente e
erroneamente comparado.
A imagem vista pela retina sofre uma análise fração milésima de segundo. Enfim, o
controle da direção do olhar idos movimentos dos olhos) está presente em todo o
cérebro—como é preciso. Dado um estímulo exterior qualquer, o que é necessário
fazer em primeiro lugar é olhar para sua origem. Só assim a motricidade - os
movimentos - poderão se organizar em função dessa origem - naquela direção!
Sempre que necessário!
Tudo claro e evidente depois que a vida se tornou a lei do mais forte, quando seres
vivos começaram a se alimentar de outros seres vivos. Iniciou-se entre os eles a
corrida armamentista que nos é tão terrivelmente familiar nas guerras sem fim! O
mais alerta, o mais rápido, o mais forte e o mais ágil sobrevivem - assim como seus
descendentes.
A “evolução” chegou até o guepardo (120 km/ hora), o falcão peregrino e seu
mergulho a 400 km/hora - e o recorde humano de 100 metros em 9 segundos...E os
ataques fulminantes dos predadores - até centésimos de segundo - camaleão,
martim-pescador, louva-Deus.
Em relação a movimentos somos os mais versáteis entre todos os animais. Cada
um em seu gênero é admirável, mas jamais um animal conseguirá imitar outro animal
enquanto nós podemos imitar qualquer um deles - assim como imitar mil outras
coisas e ações. Otávio pratica Kung-fu a 35 anos por sua beleza, plasticidade e por
imitar vários animais como tigre, serpente, garça branca, leopardo, águia. Nossas
capacidades mímicas, teatrais, circenses e esportivas são tão numerosas e diversas
quanto nossa capacidade verbal. Ainda considerando movimento e visão, lembramos
Freud e o quanto ele nos disse sobre o processo de identificação (fazer igual, Imitar)
e como essa é uma das maneiras mais básicas e fundamentais de desenvolver a
personalidade - ou de impedi-la de se desenvolver. Quem permanece na imitação - é
supostamente mais seguro fazer sempre igual, ser como uma múmia e continuar
sempre o mesmo. Neurose é isto. Porque esta distribuição de neurônios entre
movimento e visão? Porque ela resume tudo o que podemos chamar de "realidade".
Realidade é o que eu posso ver, pegar, mover - ou que resiste ou se opõem à minha
intenção.
"Intensão"="em tensão", "pronto para", como o arco um instante antes do disparo.
Todo o corpo - toda a musculatura - pronto para entra em ação. Aqui e agora. Desejo
organizado! “Contenção" = "segurar", impedir - reprimir. Certas educações são todas
para conter as crianças: Não, Não, Não.

A CRIANÇA HUMANA E O CÉREBRO.


O cérebro do recém-nascido pesa pouco mais de 20% do peso do seu corpo,
consome 2 a 3 vezes mais oxigênio enquanto os neurônios se multiplicam, enquanto
crescem e se conectam - ou não!
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Para isso sua Circulação é três e depois duas vezes mais abundante do que a do
adulto e vai se... "normalizando" depois dos 6 anos. Comparando: o cérebro do
chimpanzé, apesar dos 98 % de DNA igual ao nosso, não chega a pesar a metade e
termina seu desenvolvimento aos 3 anos. O nosso não parece ter limites e se
estimulado não tem.

Aos 3 anos o cérebro alcançou 90% de seu peso. "Criança" - pequena! - “É feita"
para aprender. Uma das percepções mais geniais do grupo de Doman foi esta: o
"tempo" da criança - como tudo nela - é de longe mais acelerado do que o nosso. Por
isso ao ensiná-las - exibindo figuras e nomeando-as, por ex. - é imperativo exibir a
imagem e dizer a palavra a ser ensinada durante um a dois segundos - não mais. Se
mais, a criança "desliga". Aprendeu em um segundo tudo o que havia para aprender.

Daí que uma "aula" para crianças de poucos anos - ou até de alguns meses! - É
constituída de 5 a 10 imagens em sucessão bem rápida; A "aula" dura meio
minuto...Bom repeti-la 4 a 5 vezes por dia - 5 minutos. Note-se a vantagem - inclusive
econômica -dessa escola, em relação ao que nós chamamos da escola normal.
Podemos compreender essa aptidão biologicamente: filhote que não aprende
depressa é comido. Nossos "filhotes" também - se não perceberem e fugirem podem
ser apanhados (pensando nas eras passadas). Daí o brinquedo de esconder-se e
aparecer de repente para uma criança - o que a excita - assusta. E o brincar de
"acusado".

Por isso também o cérebro é visão-motor: assim os filhotes aprendem depressa -


por imitação: é ver-fazer igual - sem explicações - sem palavras - que demoram! Sem
escola...

Doman e seu pessoal foram aprendendo e aproveitando todos estes fatos e aos
poucos irei descrevendo e elucidando tanto os fundamentos quanto as técnicas desta
equipe. Estudam como favorecer o desenvolvimento do cérebro infantil há meio
século - com resultados mais do que surpreendentes. Começaram tentando
recuperar funções cerebrais em crianças com sérias lesões neurológicas. Estimulando
o que restava de integro no cérebro conseguiam resultados surpreendentes em uma
época na qual "lesão cerebral" significava o irremediável.
(Pesquise na internet ou em livros maiores detalhes sobre a vida, obras e ideias de
Doman.)

NOVAS NOÇÕES SOBRE A CRIANÇA HUMANA


O repertório motor e a capacidade sensorial de um recém-nascido são mínimas -
inclusive sua capacidade digestiva e sua competência respiratória (alguns morrem
dormindo - por asfixia). Se não nos preocuparmos em organizar sequências de
estímulos em certa ordem (a ser especificada logo mais) o cérebro do neonato
desenvolve-se ao sabor do que acontecer à sua volta e em função do tratamento que
receber, podendo inclusive não se desenvolver. A neurose é a consequência desta

20
desordem pedagógica - da inconsciência - ou da ignorância - dos educadores: Família,
escolas, governos e Ministérios
E conhecida a história terrível de uma criança que permaneceu amarrada e isolada
em um só aposento durante anos. Não desenvolveu nem as mais simples aptidões
animais. E mostrou-se irrecuperável. Há um livro sobre várias dessas crianças
chamado “O Homem que vivia com os Lobos” de Shaun Ellis, Editora Record.
A influência da experiência sobre o desenvolvimento cerebral vem se fazendo cada
vez mais clara e a consequência pode ser lida na seguinte citação:
"Nossos cérebros são tão diferentes quanto nossos corpos - até mais. O diâmetro
da comissura anterior (feixe de fibras nervosas) pode variar de 1 a 7 em vários
indivíduos. A "massa intermédia" (núcleo de neurônios) nem sequer existe em uma de
cada 4 pessoas. A área visual do córtex cerebral pode variar em extensão de 1 até 3.
Até a amídala (afetiva!) Pode variar de 2 para 1 em volume - o mesmo acontecendo
com o hipocampo. O córtex pode variar de um para o dobro - conforme a pessoa".
(John Robert Skoiles).

Claro: tais e tantas diferenças só podem ser devidas ao número e variedade de


experiências vividas pelas pessoas. Cada um é único em si.
Hoje pode-se, em certa medida, favorecer o desenvolvimento ou provocar a
atrofia em áreas cerebrais experimentalmente, impondo ao animal de experiência
um grande número de repetições de padrões de movimentos ou, ao contrário,
impedindo-o de fazer tais e quais movimentos.
(Esperamos que o leitor se lembre desses fatos quando mais adiante
apresentarmos as teorias e as técnicas dos Institutos de Filadélfia.) O que a criança
aprende quando a observação nos diz que ele parece um débil mental?
As crianças aprendem muito e muito mais depressa do que nós, e só nossa
cegueira preconceituosa (e a organização patriarcal de parte da sociedade) nos
impediram de perceber esse fato. Uma criança quando vem ao mundo pode ser
comparada a você sendo deixado em um país estranho e sem saber a língua. Na
verdade, sem saber falar! E sem dinheiro! E meio paralítico...

Reflita que lindo o texto abaixo:


“Tudo que eu deveria saber aprendi no Jardim de Infância.

Tudo que eu preciso mesmo saber sobre como viver, o que fazer, e como ser,
aprendi no jardim-de-infância. A sabedoria não estava no topo da montanha mais
alta, no último ano de um curso superior, mas no tanque de areia do pátio da
escolinha maternal.
Vejam o que aprendi:
– Dividir tudo com os companheiros.
– Jogar conforme as regras do jogo.
– Não bater em ninguém.
– Guardar os brinquedos onde os encontrava.

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– Arrumar a “bagunça” que eu mesmo fazia.
– Não tocar no que não era meu.
– Pedir desculpas, se machucava alguém.
– Lavar as mãos antes de comer.
– Apertar a descarga da privada.
– Biscoito quente e leite frio fazem bem à saúde.
– Fazer de tudo um pouco – estudar, pensar e desenhar, pintar, cantar e dançar,
brincar e trabalhar, de tudo um pouco, todos os dias.
– Tirar uma soneca todas as tardes.
– Ao sair pelo mundo, cuidado com o trânsito, ficar sempre de mãos dadas com o
companheiro e sempre “de olho” na professora.
Pense na sementinha de feijão, plantada no copo de plástico: as raízes vão para
baixo e para dentro, e a planta cresce para cima – ninguém sabe como ou por quê,
mas a verdade é que nós também somos assim.
Peixes dourados, porquinhos-da-índia, esquilos, hamsters e até a semente no
copinho plástico – tudo isso morre. Nós também. E lembre-se ainda dos livros de
histórias infantis e da primeira palavra que você aprendeu, a mais importante de
todas: Olhe! Tudo que você precisa mesmo saber está por aí, em algum lugar. A regra
de ouro, o amor e os princípios de higiene. Ecologia e política, igualdade e vida
saudável.
Escolha um desses itens e o elabore em termos sofisticados, em linguagem de
adulto; depois aplique-o à vida de sua família, ao seu trabalho, à forma de governo de
seu país, ao seu mundo, e verá que a verdade que ele contém mantém-se clara e
firme. Pense o quanto o mundo seria melhor se todos nós – o mundo inteiro –
fizéssemos um lanche de biscoitos com leite às três da tarde e depois nos
deitássemos, sem a menor preocupação, cada um no seu colchãozinho, para uma
soneca. Ou se todos os governos adotassem, como política básica, a ideia de
recolocar as coisas nos lugares onde estavam quando foram retiradas; arrumar a
“bagunça” que tivessem feito.
E é verdade, não importa quantos anos você tenha: ao sair pelo mundo, vá de
mãos dadas, e fique sempre “de olho” no companheiro.” - Robert Fulghum

O Instituto de Doman publicou um livro (e um CD) fundamental sobre como


favorecer o aprendizado motor da criança: “How to teach your baby to be physically
superb" e adiante esquematizamos os... "exercícios" que eles propõem.
Pais e mães assistam e pratiquem.

PENSAMENTO E INTELIGÊNCIA
Repetindo: de há muito se diz que a inteligência tem muito a ver com "A cabeça" -
com o cérebro. Mas em nenhum dos muitos contatos que tivemos com a Educação
ouvimos coisa alguma sobre o cérebro!
Nem nos preclaros mestres europeus, começando com Edgard Morin ("Cabeça
Feita") e chegando ao "Um tesouro a ser descoberto", onde mais de uma dezena de
grandes educadores europeus se manifestam sobre educação. Para hoje — terceiro
22
milênio - note-se. É o que diz o início desse livro... A verdade é que nem sequer ao
corpo eles se referem - quanto menos ao cérebro! Muito menos à visão - ou a
emoções - ou a cooperação. Palavras, palavras, palavras. Mal se referem à
informática.
Piaget e Wallon tentaram dizer coisas remotamente parecidas. Sabemos pouco
sobre eles, afora o limitado de suas experiências e técnicas de Piaget de ludoterapia
que usamos em nosso grupo terapêutico de Animasoma que Otávio Leal ministra. Já
os achados dos Institutos são avassaladores tanto em quantidade quanto em
qualidade, excluindo qualquer objeção...acadêmica. Aceita-se - nos textos - que
palavras podem ensinar tudo 0 que é preciso aprender para se orientar no mundo! E
o mestre permanece impávido na Cátedra do Conhecimento... Verbal
Prefiro consultar Newton - o da gravidade da maçã, mesmo. Segundo ele, a
"FÍSICA" consiste em investigar e conhecer os movimentos de todas as coisas. 'Em
"descobrir" como o movimento começa, o que determina sua velocidade, direção,
aceleração, como ele passa de um objeto para outro. Como se propagam as
influências...Dizer que a realidade é criação continua é dizer que tudo o que está
acontecendo é movimento.
Mas nem ele se deu conta de que tudo isso está em nossa motricidade (em nosso
corpo), que nós. Podemos sentir força, fazer força e por isso compreender as forças.
Fazer e sentir em nós e depois abstrair e aplicar às coisas. Como seria se não fosse
assim?
Bilhões de anos antes de alguém "pensar" em movimento a natureza viva já se
movia - e como! E quanto! E que variedade! Na verdade, muito da famosa "seleção
Natural" tem a ver com a capacidade de movimento dos seres vivos. Sobrevive o mais
móvel! Versatilidade motora, vivacidade e esperteza costumam ir junto. Sem o
campo gravitacional da Terra (condição essencial de toda a mecânica) a vida seria
completamente diferente do que é.

Pesquisa das profissões mais felizes do planeta.

Profissão: Porcentagem que concorda que é feliz


Floristas e jardineiros 87
Cabeleireiros e esteticistas 79
Encanadores e especialistas em hidráulica 76
Profissionais de marketing e relações- públicas 75
Cientistas e pesquisadores 69
Profissionais do ramo de turismo e lazer 67
Profissionais do ramo da construção 66
Médicos e dentistas 65
Advogados 64
Enfermeiros 62
Arquitetos 62
Profissionais que trabalham com 60
crianças e jovens
23
Professores 59
Contadores 58
Profissionais do ramo de automóveis e mecânica 57
Eletricistas 55
Profissionais do ramo de catering 55
Profissionais de rh e gestão de pessoal 54
Profissionais do ramo de informática e 48
telecomunicações
Banqueiros 44

24
CAPÍTULO 3
O que de fato fazemos com as crianças?

Diz a Pedagogia Tradicional:


"Educar consiste em cultivar ao máximo as aptidões da criança" Como se faz isso
no lar isso se faz dizendo "não" 50 vezes por dia (no mínimo - durante vários anos),
"corrigindo" a toda hora, ensinado com ar professoral ou maternal "com se faz",
"como é certo", "com o se deve", "como é normal"...
"Quem ama, educa" diz o livro bem-sucedido, "põem limites". Põem os limites que
a pessoa sofreu e transmite sem refletir. A maior parte deles são costumes sociais
antes que individuais. Paradoxo: os limites convencionais - os "bons costumes" - são
tido com limites...naturais - "iguais para todos". Depois ninguém compreende porque
as crianças são tão rebeldes...
Quem ama da liberdade de movimento.

OPRESSÃO, RESPIRAÇÃO E ANGÚSTIA


(Como educar uma criança para ser neurótica)
A seguir um texto longo e inesperado para um livro sobre pedagogia.
A justificativa para o paradoxo é o predomínio, no mundo de hoje da ansiedade ou
angustia, das crises de pânico, da depressão e das doenças psicossomáticas.
Além disso, para que se possa compreender as toneladas de psicotrópicos que
ocupam as prateleiras das Farmácias, em volume muito maior do que o dos tóxicos
ilegais. Todas as perturbações citadas têm muito a ver com restrição respiratória e
me pareceu essencial começar a propor esta questão na lista das prioridades
pedagógicas.
Além disso muito desses males tem a ver — surpreendentemente - com as nossas
formas de educação familiar e escolar, e não seria tão difícil sanar esta omissão de
tão serias consequências se estas conexões fossem melhor conhecidas.
Para tanto será imperativo trazer para o texto alguns dados sobre a respiração. A
restrição de movimentos corporais exigida na escola (pouco “recreio” e pouca
educação criativa e física) e no Lar (pouco espaço de locomoção, apartamentos que
mais parecem celas) – e pela sociedade (trabalhar 40 anos sentado antes de se
aposentar e ver TV sentado) - tem alguns efeitos psico-fisiológicos insuspeitados, mas
evidentes (depois que se aprende a ver - e a sentir). Poucos - se alguém - se dão
conta deste fato. Porque todos sofremos o mesmo processo. Poucos desenvolvem a
capacidade de perceber como respiram. Recolocando o ensino: educar não consiste
em ensinar coisas falando, explicando. Na realidade, consiste em restringir
gradualmente os movimentos - em modelar o comportamento, e isso acontece
completamente à margem das palavras que são ditas na aula...

O que se diz (palavras!) é sempre muito bonito - até edificante; o que se faz (ação,
movimento) é outra coisa – por vezes totalmente diferentes e a questão dos muitos
"nãos". É mumificar o corpo.

25
Mais precisamente: educar - nas escolas - consiste na gradual restrição dos
movimentos da criança que vão se fazendo cada vez mais repetitivos e mais
"característicos" de cada um, na medida em que a criança vai adquirindo sua
"personalidade" - seus modos e gestos próprios, poucos e repetidos (por isso a
caracterizam - "é o jeito dele").
Em casa não é muito diferente e implicitamente se espera que a criança aos
poucos "tome jeito" - comece a fazer mais ou menos como os adultos - a ser
previsível - a "deixar de ser criança”.

Notar: Estamos falando do que se vê e não do que se diz. Estamos falando de


caras, posições e gestos - e não de explicações.
As pessoas percebem, mas não fazem perguntas a respeito: a criança aos poucos
vai perdendo a graça da criança. E porque nasceu o mito da "criança feliz" e da
"infância que não volta mais"?
E "a idade" ou é a educação repressiva que vai liquidando com a infância feliz?

Pausa: Gaiarsa Ensina Sobre a qualidade de vida e sobre e importância da


respiração.
“Mexa-se muito e respire bastante. É o que eu faço todos os dias: eu danço. Ponho
uma música e danço. Não é ginástica. A coisa é mexer o corpo inteiro, sempre
respirando, quanto mais, melhor. Aliás, essa é uma técnica de vitalização
permanente. Na realidade, as pessoas morrem por rigidez de movimentos e
sufocação gradual. É isso que favorece o aparecimento de doenças. Como antídoto a
essa morte anunciada, um conselho prático: mexa-se, e respire bastante. ”
(…) “A técnica é apenas uma: muita respiração, do seu jeito. Não existe modo certo
de respirar. Apenas fique de pé e respire bem mais do que costuma, cerca de cinco
minutos já são suficientes. Vá respirando e, se o corpo se mexer, acompanhe o
movimento, pois é o corpo querendo se desamarrar. Nosso corpo é como um bicho
mantido preso. Se você dá oxigênio, ele começa a despedaçar as amarras. Chamo isso
de técnica de exorcismo: coloque-se de pé e, por alguns minutos, respire bastante,
estando bem presente ao corpo, deixando ele se mexer.
Agora, é importante uma ressalva aqui: existe um risco. Por causa da oxigenação a
que a pessoa não está acostumada, às vezes podem aparecer bichos sérios, como, por
exemplo, muito medo ou muita raiva. Assim, se quiser fazer esse exercício, é bom ter
um amigo ao lado que lhe sirva de apoio numa situação difícil. Com o tempo, se
adquire familiaridade. Mas, no começo, eu diria que é uma técnica altamente
eficiente, mas ligeiramente perigosa. Assim, vá devagar e tenha uma assistência. ”
(Na Respiração de Renascimento é dado esse acompanhamento por um profissional
habilitado a ajudá-lo a lidar com as questões que surgirem). ”

26
(…) Minha definição é esta: “Espírito é o invisível, todo-poderoso, que me dá vida”.
Ou seja, o espírito é o oxigênio do ar. Aliás, não é à toa que as palavras “respiração” e
“espírito” têm a mesma origem etimológica, a raiz spir – a conexão entre as duas
coisas é total, ambas falam do invisível que nos dá vida. ”
Resposta de Gaiarsa sobre a afirmação de Carl G. Jung: “O ESPÍRITO É A
EXPERIÊNCIA INTERIOR DO CORPO”:
“Assino embaixo. O Jung é meu pai espiritual. E o que é que ele está falando? Dê
atenção a seu corpo; não se transforme numa estátua de imobilidade; não se
mumifique. Uma múmia ou uma estátua não têm espírito, não têm vida. E a vida só
acontece quando eu troco influências, quando me envolvo, plenamente,
comigo mesmo e com o outro. Como já escrevi: “Quem não se envolve não se
desenvolve”. ”
Uma observação atenta mostraria que a criança vai perdendo a leveza e a
espontaneidade e ficando meio quadrada, angulosa, repetindo atitude e gestos que a
identificarão: "ela é assim mesmo". Posso dizer que, oprimida, reprimida,
pressionada, "corrigida" de vários modos, a criança vai sendo "modelada", vai ficando
"bem-educada" e de novo falo do que se pode ver e não do que se fala. Poucas ou
nada se lê sobre isso. Todo esse processo é tido como "natural" e inevitável. Na
verdade, desejável- até obrigatório.
Se fizeram isso comigo devo fazer o mesmo com meus filhos — ou estarei criando
crianças "fora do normal" - diferentes das demais. Nessa descrição sumaria se
contém quase tudo o que Freud denominou de inconsciente. São ações pouco
conscientes por parte dos pais e de efeitos de todo inconscientes para ou sobre a
criança. Note, leitor: é preciso ir muito além de Freud, é preciso chegar ao cérebro (O
Mestre Reich das terapias corporais e couraças chegou perto).

Tudo o que estou descrevendo resume-se a isso: os movimentos das crianças vão
sendo limitados. Repito: os movimentos! (Os dois terços do cérebro - lembre).
A respiração da criança vai se restringindo na mesma medida em que ela vai se
contendo - ficando "bem educada", "bem adaptada" -"normal".

Insistimos lembrar as crianças de respirar tudo da forma completa. Para


compreender esse fato – tido à primeira vista como descabido - precisamos
compreender melhor a respiração.
Na escola aprende-se que a respiração é feita no tórax (intercostais e no abdômen
(diafragma) – Mas o fato é que todos os músculos da raiz da cintura escapular
(braços) podem influir sobre a respiração, auxiliando-a ou restringindo-a. Nós
respiramos com amplitudes diferentes conforme os movimentos que fazemos
(muitos ou poucos) e conforme a posição em que estamos. Só como exemplo: eleve
os braços verticalmente para cima e respire (a posição facilita a expansão do tórax);
debruce-se para frente aproximando o tórax dos joelhos e perceba: assim é quase
impossível respirar. Estes exemplos são didáticos; a realidade é muito mais variada e

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mais complexa. Na Yoga temos mais de 80 técnicas de respiração no livro Tantra, de
Otávio Leal (Dhyan Prem).
Você sabe (mas não pensa): o volume de ar respirado por minuto pode ser de 5-6
litros até mais de 100 litros (nos esportes competitivos). Por isso os músculos
potencialmente respiratórios são tantos. Mas o centro da questão é esse: ao
contrário de todas ás demais funções vegetativas, os movimentos respiratórios são
feitos - todos - por músculos estriados, isto é, são - ou podem ser - voluntários. Posso
respirar bem pouco ou respirar muito "por querer”. Não posso fazer isso com o
coração, o estômago, os rins e demais órgãos. De outra parte, posso "esquecer" da
respiração - como fazemos quase que o tempo todo - e ela continua a se fazer
"sozinha".

Pausa:
Reflita nesse texto assustador da revista Veja sobre ansiedade e note que em
momento algum se fala em respiração correta.

“Por que as crianças estão cada vez mais infelizes?


Especialistas em saúde infantil chamam a atenção para uma epidemia silenciosa
que afeta a saúde mental das crianças que, ainda pequenas, precisam lidar com as
pressões da sociedade moderna
Uma em cada onze crianças com mais de oito anos de idade está infeliz, segundo
um estudo divulgado em janeiro deste ano pela Children's Society, organização
centenária de proteção infantil. Apesar de a pesquisa trazer à tona uma realidade das
crianças entre 8 e 16 anos do Reino Unido, especialistas brasileiros em saúde infantil
afirmam que esse não é um problema exclusivo das crianças britânicas. No Brasil, a
realidade é parecida. Ana Maria Escobar, pediatra do Instituto da Criança do Hospital
das Clínicas, em São Paulo, conduziu uma pesquisa com os pais de cerca de 900
crianças de 5 a 9 anos que estudavam em escolas particulares e estaduais.
De acordo com os resultados do estudo, os pais disseram que 22,7% das crianças
apresentavam ansiedade; 25,9% tinham problemas de atenção e 21,7% problemas de
comportamento. "No início do estudo, esperava encontrar queixas como asma, mas
não ansiedade", diz Ana. Apenas 8% tinham problemas respiratórios e 6,9% eram
portadoras de asma. O estudo foi concluído em 2005, mas Ana Maria acredita que se
a pesquisa fosse feita hoje, "os níveis de ansiedade e de problemas de
comportamento certamente seriam ainda mais altos."
Mais do que infelizes, as crianças brasileiras também estão ansiosas, estressadas,
deprimidas e sobrecarregadas. "Elas estão desconfortáveis com a infância. Esse
desconforto aparece de várias formas: como irritabilidade, desatenção, tristeza e
falta de ânimo. Muitas vezes, é um comportamento incomum em relação à idade
delas", diz Ivete Gattás, coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e
Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Saul Cypel, membro do departamento de Pediatria do Comportamento e
Desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria, traz dados preocupantes: "A
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impressão que eu tenho é a de que o número de crianças com queixas
comportamentais cresceu muito nesses últimos dez anos." Neste período, segundo
Cypel, houve uma transformação do perfil da clínica: se antes as queixas sobre o
comportamento infantil correspondiam a 20% dos pacientes, agora são responsáveis
por 85% do total de seu consultório de neurologia.
Com uma agenda recheada de atividades extracurriculares, que vão desde aulas de
idiomas como inglês e mandarim até as aulas clássicas como balé e futebol, as
crianças estão sem tempo para se divertir e descansar, acreditam os médicos.
Segundo Cypel, a antecipação de atividades para as quais o indivíduo não está
preparado pode desencadear o stress tóxico, que ocorre quando há uma estimulação
constante do sistema de resposta ao stress, trazendo prejuízos futuros para as
crianças.
"A família introduz uma série de treinamentos, atividades e línguas novas. Na
medida em que a criança não consegue dar conta disso, a sensação de fracasso se
torna frequente", explica Cypel. "Com o stress tóxico, ao invés de favorecer o
desenvolvimento da criança, os pais acabam limitando-a e desmotivando-a." Entre as
consequências diretas estão a diminuição da autoestima, alterações alimentares
(excesso ou falta de apetite), problemas de sono e apatia.
No início deste ano, a Academia Americana de Pediatria lançou um documento que
chama a atenção para as evidências de impactos negativos do stress tóxico, com
prejuízos posteriores para a aprendizagem, comportamento, desenvolvimento físico e
mental. O relatório também sugere que parte dos problemas mentais que ocorrem
nos adultos devem ser vistas como transtornos de desenvolvimento que tiveram início
na infância.
Ana Maria Escobar acrescenta que a exposição à realidade violenta do Brasil
também pode contribuir para uma sensação de ansiedade nas crianças. "Antes,
raramente uma criança ouvia falar de um ato de violência. Hoje, elas ficam mais
confinadas e têm medo de assaltos e sequestros. Isso com certeza provoca maior
stress e ansiedade, além de maior possibilidade de se sentir infeliz, principalmente
entre aquelas que vivem nas grandes cidades brasileiras", diz...
Sinais - O problema é agravado pelo fato de que muitos pais demoram a perceber o
que se passa com seus filhos. "Eles acham que o comportamento das crianças é
normal", diz Ana Maria Escobar. Além disso, a dificuldade em administrar o tempo
que dedicam à vida profissional e aos filhos muitas vezes impede que os pais
percebam os sinais de que algo está errado.
"Muitos pais priorizam a profissão e terceirizam a criação dos filhos. Mas é preciso
se questionar: quanto tempo eu passo com meus filhos? Quem são as pessoas que
estão criando eles?", afirma o psiquiatra Francisco Assumpção, da Sociedade
Brasileira de Psiquiatria.
Essa é uma preocupação constante na vida da publicitária Flora, que tem dois
filhos, Cecília e Celso, de 7 e 9 anos, respectivamente. As crianças, que estudam em
período integral na escola, têm uma rotina bastante atribulada. Celso faz aula de
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inglês, futebol, tênis e deve começar a aprender uma luta neste ano. Cecília também
faz inglês, natação e deve começar a praticar ginástica olímpica. "Primeiro,
experimentamos uma aula de inglês uma vez por semana, depois colocamos os dois
em um esporte", afirma. "Tem que sentir muito como a criança está lidando com isso.
Observar o comportamento para ver se ela está cansada e se o rendimento na escola
começa a diminuir", diz. Flora se preocupou em contratar uma professora de inglês
para que as crianças tivessem aulas em casa. Para ela, é melhor opção para evitar o
stress desnecessário no trânsito.
Apesar da preocupação, Flora fez alterações na rotina de Cecília. A pequena
começou a apresentar sinais de stress. Para descobrir o problema, Flora foi investigar
com a filha e percebeu que a natação estava causando o problema. "Ela chorava
muito e quando acordava dizia que não queria ir para a escola. Estava diferente do
que ela é normalmente", disse. Flora tirou a filha da natação no ano passado, mas ela
já pediu para voltar esse ano, segundo a mãe, que vai observar o desempenho da
criança.
Quando é depressão -De acordo com Ivete Gattás, da Unifesp, a depressão afeta
2% das crianças e até 5% dos adolescentes. Sabe-se ainda que a depressão na
infância e na adolescência pode influenciar negativamente o desenvolvimento e o
desempenho escolar, além de aumentar o risco de abuso de substâncias químicas e
de suicídio.
Somente 50% dos adolescentes com depressão recebem o diagnóstico antes de se
tornarem adultos. Gattás explica que o transtorno depressivo pode surgir a partir de
vários fatores: predisposição genética e associação de fatores ambientais, que podem
ser desencadeados pelo stress do dia a dia, sensação de vulnerabilidade, restrição ao
desempenho da criança e sobrecarrega de atividades.
Terapia -Estudos já mostraram que a ansiedade durante a infância, se não
contornada, pode se transformar em depressão durante a vida adulta. Por isso é
necessário prevenir qualquer sintoma, mesmo que ele não seja o suficiente para o
diagnóstico da depressão.
Texto: Natalie Cuminale
Fonte: Revista Veja”
Continuando: Supõem-se que ela esteja se fazendo normalmente, mas ela não
está; ela está contida pelos movimentos contidos. Enfim, é importante saber que
temos dois sistemas de controle respiratório: um para fornecer oxigênio para todas
as células do corpo e outro - bem diferente - para falar.
Ao falar a respiração se submete à necessidade - e às limitações - de produzir os
fonemas (os sons) que compõem as palavras. (Só podemos falar durante a
expiração). Essa restrição vale tanto para as palavras efetivamente ditas como para
os diálogos consigo mesmo.

30
Por isso, se meu corpo foi sendo "amarrado" aos poucos e meus movimentos
foram sendo restringidos, minha respiração também estará restringida. Falando
posso respirar, mas bem menos do que se apenas respirasse. Falar é uma defesa
contra a ansiedade, mas uma defesa precária: ao mesmo tempo em que a alivia, a
eterniza.

Temos ensinado que para curar ou atenuar a ansiedade, depressão, síndrome de


pânico sem aprender a respirar profundo e conscientemente é um processo difícil.
Ansiedade, agitação, stress... Por isso as pessoas falam tanto — e com tão pouca
oportunidade ou necessidade. Nove décimos do que é dito no mundo são repetições
de palavras pouco e nada ligadas ao que quer que seja. Gaiarsa desde os anos 80
aponta sobre a neurose de fofoca e Otávio Leal cita a superficialidade das conversas
sejam ao vivo, ou nas redes sociais. Milhões de celulares no Brasil Notar: se a criança
- ou o adulto - fizer movimentos rápidos e intensos (recreio, esportes), os controles
respiratórios vencem qualquer barreira - durante e logo depois dos exercícios, mas
na maioria das situações habituais, vemos pessoas paradas ou fazendo poucos
movimentos respiratórios, eles são bem limitados e então vale tudo quanto estamos
dizendo. Dizemos das pessoas vendo TV, nas redes sociais, lendo, na escola, no papo
do bar ou da balada, no trabalho de escritório, na condução. Na maior parte do
tempo estamos falando (para fora ou para dentro) e sub respirando. Basta conter a
respiração um pouco mais e começamos a ficar ansiosos aí liga-se o celular, o
facebook. Whatsapp...
Toda ou quase toda ansiedade está ligada a uma restrição respiratória que a
pessoa não percebe porque está "pensando" - atenta a suas ideias e inconsciente de
sua respiração e até de sua situação no momento...

Pausa: Respiração pelo Mestre Osho


“Estamos respirando continuamente desde o momento do nascimento até o
momento da morte. Tudo muda entre esses dois pontos. Tudo muda, nada
permanece o mesmo;
Somente a respiração é algo constante entre o nascimento e a morte.
A criança se tornará um jovem; o jovem envelhecerá. Ele ficará doente, seu corpo
se tornará feio, doente; tudo mudará. Ele será feliz, infeliz, em sofrimento; tudo
continuará mudando. Mas o que quer que aconteça entre esses dois pontos, a pessoa
tem que respirar. Seja feliz ou infeliz, jovem ou idoso, bem-sucedido ou não – o que
quer que você seja, isso é irrelevante – uma coisa é certa: entre esses dois pontos do
nascimento e da morte você precisa respirar.
Respirar será um fluxo continuo; nenhum intervalo é possível. Se mesmo por um
instante você esquecer de respirar, você não será mais. Eis porque não é exigido de
você respirar, porque então seria difícil. Alguém poderia esquecer de respirar por um
momento, e então nada poderia ser feito. Assim, realmente, você não está

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respirando, porque você não é necessário. Você está bem adormecido, e a respiração
continua; você está inconsciente, e a respiração continua; você está em coma
profundo, e a respiração continua. Você não é solicitado; o respirar é algo que
continua apesar de você.
Esse é um dos fatores constantes na sua personalidade – essa é a primeira coisa. É
algo que é muito essencial e básico para a vida – essa é a segunda coisa.
Você não pode viver sem a respiração. Portanto, respiração e vida se tornaram
sinônimos. Respirar é o mecanismo da vida, e a vida está profundamente relacionada
com o respirar. Eis porque na Índia chamamos isso de prana. Temos dado uma
palavra para ambos: prana significa vitalidade, vivacidade. Sua vida é a sua
respiração.
Terceiro, sua respiração é uma ponte entre você e seu corpo.
Constantemente, a respiração está interligando você com o seu corpo, lhe
conectando, lhe relacionando com o seu corpo. A respiração não é somente uma
ponte para o seu corpo, é também uma ponte entre você e o universo. O corpo é
apenas o universo que veio até você, que está mais perto de você.
Seu corpo é parte do universo. Tudo no corpo é parte do universo – cada partícula,
cada célula. É a abordagem mais próxima para o universo. A respiração é a ponte. Se
a ponte for partida, você não está mais no corpo. Se a ponte for partida, você não
está mais no universo. Você se move para alguma dimensão desconhecida; então
você não pode ser mais encontrado no espaço/tempo. ” - Osho, The Book of Secrets

Contemos a respiração quando apressados ou impacientes, quando em


expectativa (de exame, de sinal de fim de aula, de sinal de transito, de espera em fila,
de gol), conter emoções. Ao ser obrigado a ficar onde não nos interessa - na aula, no
sermão, no trabalho monótono e sem criatividade, no discurso... (Nosso animal nossa
sombra ou id (Freud) "quer ir embora" e nós o seguramos). As pessoas percebem
pouco e mal sua respiração e todas as medidas pedagógicas são de "comporte-se -
contenha seu corpo - segure-se". Segure suas vontades, seus desejos, suas emoções.
"Controle-se"!
Com isso contemos a respiração - prejudicando o funcionamento cerebral (ver
adiante) - e este é com certeza um dos processos ou situações (aula!) que vão
matando nossos neurônios - por hipóxia crônica (baixa oxigenação cerebral crônica) e
vão levando a uma vida infeliz e sem sentido.
São dois fatores convergentes: comporte-se - contenha seus movimentos - o que
acarreta restrição respiratória (mas esta segunda parte é de todo ignorada). Restrição
de vida pois respirar é vida.
Isso é pouco percebido pelos neurologistas, por psicólogos e pelos pedagogos.
Nem mesmo por Mestre Doman e seus institutos notam isso. A Psicanálise nada diz
da respiração.
Tão pouco é percebida pelos pais - que passaram pelo mesmo processo.
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Outro efeito da restrição motora crônica - do desenvolver atitudes e gestos quase
sempre iguais —é esse: "sinto que não posso dar tudo o que tenho", que estou
"amarrado" e por isso com medo (ansioso). Em condições naturais - na selva - um
animal amarrado - mesmo que parcialmente - seria presa fácil. Por isso sentiria muito
medo e....baixa-estima com o está na moda dizer ou narcisismo (Big Brother).
Para nós; medo e ansiedade são a mesma emoção. No medo, há uma ameaça
evidente no ambiente; na ansiedade não - e essa é a única diferença entre medo e
ansiedade.
Para bem compreender os efeitos desastrosos desse duplo processo - restrição da
mobilidade corporal* e restrição respiratória - vejamos como eles contribuem
poderosamente para a absurda atrofia dos neurônios citada no começo. Essa atrofia
é tida como "normal" - ou inevitável - ou que até hoje não pode ser evitada (nem
sequer é conhecida fora de círculos especializados).

O CÉREBRO E O OXIGÊNIO
Nenhum órgão é tão sensível à falta de oxigênio (e de glicose) do que ele e sua
circulação mostra várias características condizentes com essa finalidade. Pormenores
sobre a questão - de pura fisiologia - figuram em anexo no final do livro na página,
mas esses fatos têm tudo a ver com a ansiedade. Dir-se-ia que o cérebro - como se
fosse uma pessoa - se sente ameaçado de asfixia - "estrangulado"... E se o cérebro
periclita, não pulsa, não vive, todo o corpo - e toda a pessoa - está sem pulsar, pois é
ele - o cérebro - que organiza todas as defesas!

*(Existem esportes que apesar dos movimentos rápidos são repetitivos, criam
contração. As artes orientais como Aikido, Tai-Chi, Yoga as várias formas de dança
inclusive as tribais são remédios para a vida plena)

CAPÍTULO 4
Só as crianças podem nos salvar (O Ecossistema)

“Só as crianças entram na casa de Deus”

Se começarmos a lhes dar ouvidos - a prestar atenção ao que elas dizem - desde o
começo (dois a três anos) e daí para a frente, não sei até quando. Aí já estão bem
sem > semelhantes a nós - por imitação (mesmo que ninguém lhes diga nada.
O pressuposto deste conselho inesperado é o desenvolvimento acelerado do
cérebro nos primeiros anos da vida e surpresa: ao fato delas mal saberem falar.
Por isso não irão repetir todas as nossas tolices. - nem perder-se em nossos
labirintos verbais.
Apoiadas pelo nosso interesse amoroso, cultivarão seu modo de ver e responder
ao Mundo, muito. Mais..."realista" do que a nossa descrição/explicação verbal do

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mesmo. Não esqueça: o cérebro é dois terços motor e o córtex cerebral é metade
visual
A realidade visou-motora é ...a realidade verdadeira, aquela sobre a qual podemos
agir diretamente. A realidade que se vê e se pode pegar e fazer alguma coisa por ela,
ou com ele - até contra ela – e não aquela sobre a qual se fala, fala, fala... “Fala
demais por não ter nada a dizer” Os jornais, os policiais, as conversas sobre futebol,
as fofocas... De outro ângulo: todas as palavras com algum sentido têm sentido
porque baseadas na percepção visual (ou sensorial) e em tudo e apenas no que
podemos fazer com essa realidade sensorial. O "resto" são palavras vazias, faladas
para atenuar ansiedades – como estou tentando mostrar. Mas o drama é mais amplo
e mais profundo.
Sabemos como e quando as crianças são pressionadas a falar - quanto mais cedo
melhor, e o fato parece trazer um alivio considerável para as mães - para os adultos
em geral.
Ninguém parece se preocupar em saber se o que a criança fala tem o mesmo
sentido que suas palavras têm para nós.
Na medida em que começam a falar as crianças passam a ser assimiladas
(engolidas!) pela cultura adulta. Vão perdendo sua visão pessoal e única do mundo e
entrando no mundo de..."todo mundo", na normose.

Começando a falar como todos, elas entram naquele jogo fatal: se todos dizemos
as mesmas palavras, então estamos todos pensando as mesmas coisas - ou do
mesmo modo. Portanto, estamos todos na mesma realidade... Unidos na verdade
comum!
Na realidade ilusória do "pensar igual", o que contribui poderosamente para a
negação da visão pessoal. Para tanto se faz necessário negar a comunicação não
verbal, segundo a qual é evidente que cada um diz as "palavras iguais" a seu modo.
Ou seja, com significado diferente ao de outra pessoa ao dizer "a mesma" palavra.
Era preciso negar a visão para reforçar a ilusão de solidariedade - falsa - gerada e
mantida pelo fato de todos dizermos as "mesmas" palavras.

Pausa: NORMOSE Professor de Yoga Hermógenes

“O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável e bem-sucedido. Quem não se


"normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós
gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não
enquadramento.

A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de
comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles
não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim
ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença"
através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei
que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se
preocupar em ser você mesmo.
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A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a autodepreciarão e a ânsia de
querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer
em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar? Não é
necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias.
Um pouco de autoestima basta.

Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras
bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram
com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a
fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser
original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E
uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu não sou filiado, seguidor fiel, ou discípulo
de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a
remover obstáculos mentais e emocionais e a viver de forma mais íntegra, simples e
sincera.

Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens
e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.”
(Professor Hermógenes) ”

2º Pausa: A Nova Criança pelo Mestre Osho.

“Cada criança nasce com possibilidades tão grandes, com tanto potencial que se
tiver permissão e for auxiliada a desenvolver a própria individualidade sem qualquer
impedimento vindo dos outros, teremos um mundo lindo, teremos muitos Budas e
muitos Sócrates e muitos Jesuses, teremos uma tremenda variedade de gênios. O
gênio acontece muito raramente, não porque gênios nasçam raramente, não; o gênio
acontece raramente porque é muito difícil escapar do processo de condicionamento
da sociedade. Somente de vez em quando uma criança consegue, de alguma forma,
escapar de suas garras.
Se você ama, você não interfere e você diz: “Sim, vá com minhas bênçãos. Procure,
busque a sua verdade. Seja tudo aquilo que deseja ser. Eu não vou ficar no seu
caminho. E não vou incomodá-lo com minhas experiências. Você não é eu. Você pode
ter vindo através de mim, mas você não deve ser uma cópia de mim.
Você não deve me imitar. Eu vivi a minha vida – você viva a sua. Não vou
sobrecarregá-lo com minhas experiências não vividas. Eu não vou sobrecarregá-lo
com meus desejos não satisfeitos. Eu farei com que permaneça leve. Eu o auxiliarei –
seja tudo o que quiser ser, com todas as minhas bênçãos e com toda a minha ajuda.
Os filhos vêm através de vocês, mas eles pertencem à Criação, pertencem à
totalidade. Não os possua. Não comece a pensar que esses lhes pertencem. Como
podem lhes pertencer? Uma vez que essa visão aflore em você, então não haverá
mais crueldade. Agora seja consciente. Busque a felicidade. Descubra como ser feliz.
Medite, ore, ame. Viva apaixonada e intensamente! Se você tiver conhecido a
felicidade, você não será cruel com ninguém – não poderá ser. Se você tiver

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saboreado algo na vida, jamais será destrutivo com ninguém. Como pode ser
destrutivo com seus próprios filhos?
Você não pode ser destrutivo com pessoa alguma.
Assim não posso lhe dar a chave de como evitar – eu posso apenas lhe dar um
“insight”. O “insight” é: seus pais foram infelizes – por favor, você seja feliz. Seus pais
foram inconscientes – você, seja consciente. E essas duas coisas – consciência e
felicidade – não são realmente duas coisas, mas dois lados da mesma moeda.
Eu gostaria que vocês tivessem respeito pelas crianças. As crianças merecem todo o
respeito que você for capaz de dar porque elas são tão frescas, tão inocentes, tão
próximas da divindade. Está na hora de respeitá-las, e não de forçá-las a respeitar
todos os tipos de corruptos – astutos, trapaceiros – simplesmente porque são velhos.
Eu gostaria de inverter a coisa toda: respeito para com as crianças porque elas estão
mais próximas da fonte, você está distante. Elas ainda são originais, você já é uma
cópia carbono. E você é capaz de entender o que pode ocorrer se você tiver respeito
pelas crianças? Através do amor e do respeito você pode protegê-las, evitando que
tomem caminhos errados – não por medo, mas a partir do seu amor e respeito.” -
Osho

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CAPÍTULO 5
"Os institutos" (Glenn Doman)

Nos textos eles se referem a si mesmos desse modo - farei o mesmo. A matriz foi o
“Instituto para o desenvolvimento do potencial humano" sediado em Filadélfia
(EE.UU.), Pensilvânia, e funcionando sem intenção de lucro há mais de meio século.
Ai reunia-se - e continua a se reunir - uma equipe de especialistas: médicos,
neurologistas, neurocirurgiões, psicólogos, fisioterapeutas. Originalmente
procuravam saber se era possível fazer alguma coisa pelas crianças com lesões
neurológicas. Naquela época nada era feito com elas. Aceitava-se coletivamente que
eram irrecuperáveis.
Aos poucos, por tentativas e erros (e compaixão, teimosia e esperança!) foram
descobrindo, ampliando e depois sistematizando métodos de estimulação motora e
sensorial (do cérebro) das crianças.
Resultados limitados, mas promissores alimentaram a esperança e aos poucos
foram obtendo resultados mais do que surpreendentes - com o auxílio tenaz e
desesperado de pais inconformados com a fatalidade, Daí foram transitando quase
que insensivelmente para a "educação “do Sistema Nervoso à custa de métodos
simples - conquistando mães e pais para a função de professoras - domésticos! - do
seus filhos. Não cansam de elogiar a cooperação de mães e casais em suas conquistas
E tocante o encantamento de Domam com seus inumeráveis filhos, o amor e o
respeito que dedica a eles e a profunda admiração pela facilidade com que aprendem
— qualquer coisa!

SOBRE A CAPACIDADE DE APRENDER DA CRIANÇA - DESDE QUE NASCE.


A descoberta fundamental dos Institutos foi essa: o que se considerava atenção
dispersiva da criança, incapaz de se "concentrar", na verdade estava dizendo para
quem soubesse ver que ela aprende tudo instantaneamente.
É neste fato que se baseia todo o sucesso das técnicas de ensino e aprendizado
dos Institutos. (Hoje classifica-se ou rotula-se como TDHA (Transtorno de Déficit de
Atenção hiperativa) muitas crianças que não tem essa capacidade de concentrar*)
Atenção: “Mantenha sempre as promessas que você fizer
Como você tem um respeito infinito pela tua criança, será inevitável que ele
retribua na mesma moeda. Se você mantiver a palavra em todas as coisas, o tempo
todo, ele respeitará você.
Se você não mantiver o que diz, ela pode até continuar a te amar, mas não
respeitará você.
Na Humaniversidade escola de Otávio Leal e Gaiarsa os contratos de ensino são
baseados na “palavra de honra” e no exemplo.
Que vergonha privá-lo de Tal alegria!"
("How to give your baby Ancyclopedic Knowledge", Glenn e Janet Doman e Susan
Eisen, pg.240.Square One Publ. N.York, 1005). Foi tocante e comovente para nós o
modo como estas pessoas se referem à criança, mostrando ao longo de toda a
exposição e a cada página este amor, este respeito e esse encantamento pelo brilho
37
da luz que acenderam e que agora os ofusca. E que já começa a iluminar um mundo
que parecia sem remédio, sem cura.
Não sei de quantos textos de pedagogia se pode dizer algo parecido... Amor,
respeito e encantamento por criança.
Insistindo: trata-se de uma equipe completa de estudiosos e, segundo transparece
nos textos, são pessoas apaixonadas pelo que estão fazendo e até espantadas com os
resultados. Seus 7 livros - todos sobre "como fazer"- já venderam milhões em todo o
mundo e já existem centenas de milhares de crianças que já se beneficiaram destas
noções e práticas.
Enfim, estas noções e práticas nasceram há quase meio século e vêm se
aperfeiçoando desde então. Difícil exigir idoneidade melhor comprovada e
fundamentação científica de melhor qualidade.

Resumindo os resultados:
Estimulando adequadamente o cérebro de crianças desde o dia em que nascem
até os seis anos de idade, consegue-se fazer de praticamente qualquer criança um
gênio.
São crianças que se movem com a graça, a eficiência e a resistência de campeões
olímpicos; que fazem qualquer coisa com as mãos; que tocam razoavelmente ou
muito bem um ou dois instrumentos musicais; que sabem falar e ler em duas, três ou
quatro línguas, com um conhecimento de coisas que vai muito além - muito além - de
Tudo o que se poderia aprender somando os programas dos 10 (dez) anos de todo
o nosso "Ensino Fundamental" - supondo que ele seja de primeira linha.
São alegres, afáveis, cooperativas, salientando-se onde quer que vão. Tudo pode
ter sido aprendido basicamente em casa e certamente em um tempo
consideravelmente menor do que o consumido em qualquer outro sistema
pedagógico.
Mães e pais são os principais "professores" do Lar-Escola, sendo que essa
educação-estimulação consome um tempo surpreendentemente curto.
As mães - tidas pelos Institutos como suas principais e insubstituíveis
colaboradoras - além de se sentirem orgulhosas e felizes também vão aprendendo
muito mais do que suas mães jamais imaginaram que seria possível!
Sem contar a satisfação do dever familiar excelentemente cumprido - com amor e
alegria. Eu sei. Parece bom demais.
Mas é possível - não custa muito tempo, nem aprendizado demorado, nem alta
formação intelectual - nem muito dinheiro
"O que a criança mais deseja é aprender" (Doman)
De nossa parte sentimos, também, encantados e fascinados pelos resultados e,
além disso, por todas as respostas a perguntas que eu (Gaiarsa) me fazia sobre o
funcionamento e maturação do Sistema Nervoso. Sobretudo sobre os 50 bilhões de
neurônio mortos por falta de uso.

Neurose: viver dos velhos valores tradicionais os quais- se persistirem - podem


acabar com a Humanidade (Otávio Leal). Sobretudo agora, quando esses valores
estão sendo seriamente abalados pela revolução nas comunicações. O único modo
38
de acabar com eles é iniciar uma nova Sociedade da qual o centro seja a Criança - c
não o Velho. Passo a exemplificar algumas das técnicas de estimulação desenvolvidas
pelos Institutos, mas conhecimento efetivo e pormenorizado das mesmas só pode
ser encontrado - e avaliado - pela leitura de pelo menos um dos 7 volumes da
coleção,
Estes livros são de leitura fácil, descrevem as técnicas em pormenores, a duração
de cada exercício, quantas vezes por dia e sua intensificação gradual com o correr do
tempo. Todos com a explicação das funções neurológicas que estão estimulando, isto
é, desenvolvendo.
Há 7 livros que já foram traduzidos para 20 línguas diferentes com milhões de
exemplares vendidos. Quatro foram traduzidos para o português (ver no final) e há
muitos textos e vídeos (youtube) na internet. A somatória da influência deste
novo...Evangelho, tem o nome oficial de "The Gente Revoluteio" - (A Revolução
gentil) - e pode ser encontrada em um site da WWW com esse nome, assim como no
Google sob o nome de Glenn Doman.

*(Eu, Otávio Leal fui diagnosticado com TDHA pois fui e sou incapaz de me
concentrar em coisas chatas, maçantes, repetitivas ou nada dou de atenção a “papo-
furado”, mas sou capaz de ler um bom livro em ambientes barulhentos ou a me
concentrar em meditação (Zazen ou dinâmicas) por horas...

Reflexão:
“Há cento e cinquenta anos, quando os Estados Unidos ainda eram uma sociedade
agrária, não havia razão para manter os jovens fora do mercado de trabalho depois
dos oito ou dez anos, e não era incomum que as crianças abandonassem a escola
nessa idade. Apenas uma minoria ia para a faculdade aprender uma profissão.
Porém, com o crescimento da urbanização e da industrialização, houve uma
mudança. No final do século XIX, oito anos de escola tornaram-se regra e não
exceção. Conforme a urbanização e a industrialização se aceleraram nas décadas de
20 e 30, doze anos de escola tornaram-se a regra. Depois da Segunda Guerra
Mundial, sair da escola antes de doze anos de estudo passou a ser desencorajado com
firmeza, e disseram que os quatro anos de faculdade não deveriam mais ser
considerados privilégio da elite. Todos deveriam receber formação superior, mesmo
que fosse por apenas dois anos, certo?
Ergui a mão.
-Uma pergunta. Tenho a impressão de que a urbanização e a industrialização
deveriam provocar o efeito contrário. Em vez de manter os jovens fora do mercado de
trabalho, o sistema deveria tentar colocá-los dentro do mercado.
Ismael balançou a cabeça.
-É verdade. À primeira vista isso parece razoável. Imagine, porém, o que
aconteceria hoje se os educadores decidissem subitamente que o segundo grau não
seria mais necessário.
Meditei por alguns segundos e disse:

39
-Estou vendo aonde quer chegar. Haveria, de repente, vinte milhões de jovens
competindo por vagas que não existem. A taxa de desemprego cresceria uma
barbaridade.
-Seria uma catástrofe, literalmente. Veja bem, Julie: não se trata apenas de manter
os jovens de catorze anos fora do mercado de trabalho. E essencial mantê-los em
casa, como consumidores sem renda própria.
-Que você quer dizer com isso?
-Os jovens dessa faixa etária exigem uma quantidade enorme de dinheiro —
estimada em duzentos bilhões de dólares por ano — dos pais para comprar livros,
roupas, jogos eletrônicos, novidades, CDs e produtos similares, criados especialmente
para eles e mais ninguém. Muitas indústrias gigantescas dependem dos consumidores
adolescentes. Você deve ter noção disso.
-Acho que sim. Só que nunca pensei nesses termos.
-Se os adolescentes se transformassem subitamente em trabalhadores assalariados
e não tivessem mais liberdade para arrancar bilhões de dólares dos bolsos dos pais, as
indústrias voltadas para a juventude desapareceriam, despejando outros tantos
milhões de pessoas no mercado de trabalho.
-Estou entendendo. Se os adolescentes tivessem que ganhar a vida, não gastariam
o dinheiro em tênis Nike, jogos eletrônicos e CDs. ” - Daniel Quinn

40
CAPÍTULO 6
Como "treinar" um futuro campeão olímpico
A PARTIR DO SEU PRIMEIRO DIA DE VIDA.
"Fazemos tudo para suprimir a mobilidade da criança"! (Para criar...múmias)! Na
verdade, na crença implícita de que movimentos não têm importância alguma ou,
senão, que eles se desenvolverão "sozinhos".
Instruções.
Não enrole o recém-nascido em roupa de mais e não o coloque no berço de costas
como sempre se faz, como até se acredita que seja "natural". Diz Doman: desse jeito
ele parece uma tartaruga com as patas para cima... Qualquer movimento que faça
será sem sentido, não servirá para nada - despertando na certa a sensação de
inutilidade, de "não posso fazer nada por mim". E seu complemento: "preciso dos
Outros para tudo Pode-se resumir: esse uso tido com o "normal" é uma ótima técnica
para despertar e intensificar a sensação dependência. Doman recomenda: faça o
nenê rastejar muito desde o primeiro dia de vida. De preferência, a rastejar o tempo
todo em que ele não ' estiver no colo de alguém.
Faça-se uma "pista de rastreamento" em toda a volta da cama do casal (cama
baixa, facilitando o contato e a vigilância). Trata-se de uma canaleta posta no chão,
de madeira, com 40 centímetros de largura, bordas elevadas de 15 centímetros. Toda
a canaleta (centro e bordas) será revestida de espuma de borracha fina mais um
tecido macio e fácil de limpar. (Invista nisso. Será um valor bem investido)
A "pista", pois, tem o comprimento de duas laterais mais o da largura (dos pés) da
cama de casal (em torno de 7 ou 8 metros ao todo).
Desde o primeiro dia da criança, com roupa que não "amarre" movimentos, será
posta e permanecerá permanentemente de bruços na pista e em horas ou dias ela
começará a rastejar - a se locomover. E bem capaz que ao fim de um mês ela já seja
capa de fazer todo o percurso da canaleta - ou mais - por dia. E talvez ao fim do mês
ela comece a dirigir o olhar para certos pontos esforçando-se para "chegar lá"!
Depois de iniciar a ativação da motricidade (rastejar) ocorre o primeiro sinal de
maturidade do aparelho visual - fazer a convergência dos globos oculares.
E a raiz cerebral da noção de "alvo", objetivo, propósito, intenção... O rastejar é o
primeiro... passo! - dos mais importantes - para que a criança comece a desenvolver
a sensação de "posso fazer alguma coisa por mim" e depois, aos poucos, até "posso ir
para onde eu quiser"... Alguém logo dirá: "mas rastejar! O tempo todo de bruços?"
Nossos guias notam astutamente: temos a noção do nené gorduchinho como
saudável, mas o fato é que ele é obeso e pelas mesmas razões que se aplicam aos
adultos: bem alimentados e com muito pouco movimento e quase nada de
movimentos criativos e não robóticos. Os nenés de Doman não acumulam gordura
mas desenvolvem músculos! De bruços inclusive para dormir. Crianças se mexem
mais durante o sono do que quando acordadas - na certa para exercitar
espontaneamente movimentos - como já faziam no útero.
Não usar andador nem deixar a criança no cercadinho – sossego para a mãe, mas
desespero — e paralisia - para a criança. Os costumes antigos eram ótimos para

41
cultivar a dependência. Mais tarde obedeceríamos passivamente a qualquer líder
carismático e provavelmente corrupto como se a força fosse dele. Na verdade, é a
nossa fraqueza! O limite da paralisia era o uso da faixa - de múmia! Bem mais adiante
direi alguma coisa sobre as raízes sociais inconscientes - mas eficientes e poderosas -
relativas à Organização Autoritária da Sociedade, e como tudo contribui para mantê-
la - principalmente a educação, desde o primeiro dia da vida! Confirmando a técnica:
vimos uma sequência de fotos mostrando um Neo nato que, posto sobre o abdome
da mãe, foi se torcendo e escorregando e rastejando até chegar ao mamilo! E pense:
filhote de mamífero que não consegue chegar à teta da mãe morre de fome.
Quadrúpedes não têm jeito de pegar nenê no colo... E filhote que não aprende a
se mexer depressa é comido - e não deixa descendência!
Faz parte da filosofia dos Institutos jamais criar condições de competição,
comparação ou fazer testes. Na escola de Otávio Leal, a Humaniversidade também
não se usa competição e sim cooperação, pensa-se no grupo e não só no indivíduo.
Elas apenas comprometem a sensação de confiança e de...fé da criança no adulto
estimulando nela insegurança e dúvida sobre as próprias aptidões. Claro que não
poderemos aqui resumir tudo o que os Institutos recomendam.
Podemos apenas oferecer tira-gostos assegurando o leitor que todos os textos da
Revolução Gentil são— repetindo - fáceis de ler, claros, específicos e pormenorizados
em relação a todos os exercícios propostos. Trazem esclarecimentos sobre o que
pretendem e quais as estruturas neurológicas estimuladas.

Os autores manifestam um contínuo pasmo e encantamento frente a tudo o que a


criança pode aprender e à espantosa velocidade com que ela aprende tudo a que se
queira ensinar - com uma curiosidade e uma alegria inesgotáveis. Repetindo: “O que
as crianças mais desejam é aprender". Na verdade, é o que mais precisam - para
aumentar suas chances de sobrevivência.

Deveras uma profunda lição de fé na Humanidade - tanto dos educadores quanto


das crianças.
Seres humanos bem cuidados e bem atendidos desde o nascimento podem
alcançar alturas inimagináveis - concretizando todas as previsões e expectativas já
sonhadas pela Humanidade. Cada capítulo do livro é ilustrado pela mesma
reprodução esquemática do Sistema Nervoso, onde está assinalado o segmento ou
região que será estimulado com as técnicas daquele capítulo, de que modo e com
que finalidade. Fazem coisas de arrepiar os cabelos. Claro, com instruções precisas e
o máximo cuidado. Ainda com a criança de poucos meses recomendam que sejam
feitos rodopios e balanços os mais variados em todas as direções - parecidos com
alguns que os titios faziam jogando o sobrinho para o alto! Otávio Leal em várias
viagens a tribos no Mato Grosso e no Amazonas viu os mesmos rodopios e balanços.
Trata-se de estimular núcleos vestibulares do mesencéfalo - essenciais para o
futuro equilíbrio do bípede. Os cuidados com a segurança nos movimentos mais
arriscados não são poucos e os conselhos para garanti-la são dados a cada poucas
páginas. (Em tribos as crianças sobem em árvores)

42
Estes exercícios imitam tudo o que um macaquinho pode sentir quando, agarrado
a mãe, esta parte para as suas acrobacias pelas árvores em busca de alimento—ou
em fuga ou buscando contato.
E sempre espaço e tempo para continuar o rasteja mento que passará
espontaneamente - depois de dois ou três meses - para o engatinha mento
homolateral primeiro (perna e braço do mesmo lado avançando juntos), evoluindo
para o engatinha mento heterolateral: "braços e pernas movendo-se em X" -
preparando a correlação sinérgica fundamenta entre os dois hemisférios cerebrais e
os quatro membros.
Ao mesmo tempo, cultiva-se o "agarramento" ("Grasping reflex"): faça a criança
agarrar com cada mãozinha um dos teus 2 indicadores (ou os dois polegares) apostos
"em linha" à sua frente e bem próximos de seu rosto, e convide-a para que se eleve
usando o "galho" que você está oferecendo.
Cada vez um pouco mais - sempre atento à regra de ouro dos Institutos: pare
sempre um momento antes da criança se desinteressar.
O agarramento será repetido várias vezes por dia e durará cada vez um pouco
mais, com a criança se elevando de cada vez um pouco mais até conseguir que ela
fique de todo pendurada nos dedos do pai durante um tempo cada vez maior.
Esta cultivo continuará logo mais com a braquiação - o "andar" nos degraus de
uma escada horizontal. O exercício é altamente prezado pela equipe. Equivale ao
modo básico de locomoção dos macacos quando passeiam pelos galhos das árvores -
usando principalmente os braços-mãos. Envolve um "agarrar-soltar" as mãos muito
preciso, sob controle voluntário cada vez mais fino e, ao mesmo tempo um "golpe de
vista" ele também cada vez mais preciso (afinamento da correlação óculo-manual).
Em etapas avançada eles solicitam das crianças que façam todas as voltas e
balanços possíveis quando pendurados pelos pulsos nas mãos de papai ou mamãe
assim como cambalhotas de frente e de costas (assistidas).
A braquiação contínua - com distanciamento crescente entre os degraus -
produzirá com certeza uma ampliação da arcada costal - do tórax - além de uma
excelente formação dos músculos da cintura escapular - raiz do braço e da mão.
Os dois efeitos repercutirão com certeza na ampliação da capacidade respiratória
e no controle cada vez maior e melhor das mãos A braquiação progride, com suporte
cada vez menor do adulto, até se conseguir que a criança vá e volte sem auxilio
nenhum. O comprimento da escada (horizontal - não esqueça), o número dos
degraus e a distância ente eles vão crescendo chegando aos 5 metros aos 4 anos,
com espaço de 30 centímetros entre os degraus. Enfim, que ela faça verdadeiras
"manobras" na escada, girando, trocando de mão e "andando" (pendurada) de vários
modos. A equipe aconselha que se dê à criança caixinhas com coisas para pôr e tirar,
encaixar e outros objetos que exijam habilidade manual, independente para as duas
mãos.
Quando a criança começa a andar, os Institutos solicitam dos pais que as façam
andar em terrenos variados, lisos e com irregularidades, subidas e descidas,
equilibrar-se/andar sobre faixas pintadas no chão e depois sobre vigas de madeira a
alguns centímetros do chão.

43
Espera-se que os braços aos poucos atenuem gradualmente sua função de
equilibrar o corpo durante a marcha, afim de poder gozar de movimentação
independente e cooperativa. Depois, que passem gradualmente a participar da
corrida como impulso adicional - como se faz nas corridas atléticas. Enfim, correr
longas distâncias - inclusive subidas para ampliar gradualmente a capacidade
respiratória. Até que aos 4 anos a criança consiga correr - sem desorganizar a
respiração - por três milhas(!).
Eles garantem que as crianças adoram correr. E que correm tudo isso com
facilidade. Sempre respeitando a vontade da criança, sempre acompanhando-a e
sempre com muitos elogios, abraços e demonstrações de alegria. (Eles insistem
muito nestas manifestações da...audiência!) Nada melhor para elevar a Autoestima!
Aos 4 anos espera-se que a criança tenha desenvolvido até o limite a corrida com
alternância perfeita dos membros e o controle total das mãos - habilidades motoras
que só o nosso cérebro permite. A rigor, só o nosso córtex motor permite. Na última
etapa pretende-se desenvolver a habilidade desigual, mas cooperativa entre as duas
mãos.
Esta é a condição para se aprender a tocar instrumentos musicais. Os Institutos
têm preferência pelo violino e descrevem artistas excepcionais com 4 anos de idade.
Esta é uma panorâmica sumária da estimulação-organização motora dos quatro
primeiros anos. Quando firmes de pé e capazes de correr longa distância, as crianças,
continuando as outras rotinas, passam para orientadores especiais de ginástica com
várias especialidades e modalidades, atléticas a de dança.
Em relação a todas as etapas, há instruções precisas sobre quanto tempo para
cada atividade, quantas vezes por dia, como ir acrescentando tempos e como ir
reduzindo o auxílio dos adultos, quase sempre necessários no início da realização de
uma técnica. Repito: cada capítulo se destina ao desenvolvimento de cada nível
neurológico bem marcado nas ilustrações e bem qualificado no texto.
Enfim, cada capitulo mostra como avaliar o progresso da criança
comparativamente. Por exemplo: tal conjunto de movimentos estará bem
desenvolvido em crianças de quantos meses (os melhores), dos cinco meses (os
"normais") e seis para os mais lentos.

Reflexão: Educar a Alma por Roberto Crema e Unipaz – Universidade da Paz de


Brasília.

“Uma educação que queira facilitar a arte de conviver terá de se lançar na


revolucionária proposta de uma alfabetização psíquica. Trata-se da tarefa ousada e
imprescindível de colocar a alma nos bancos escolares, desde o pré-primário até as
universidades, facilitando que o aprendiz desenvolva a inteligência psíquica.
Sobretudo com o desenvolvimento das funções básicas, pesquisadas por Jung:
pensamento, sentimento, sensação e intuição. A educação convencional apenas tem
se ocupado, de forma fragmentada, com o pensamento e a sensação. Incluir em
nossos currículos o tema do sentimento e da intuição, harmonizando-as e integrando-
as com as demais, é uma tarefa de grande alcance e pertinência, visando o resgate de

44
uma consciência mais vasta, de integridade e de inteireza. Educar a alma é
desenvolver, também, a inteligência emocional. Sabemos que há emoções naturais,
que representam verdadeiros mecanismos homeostáticos, que ajudam o organismo
na sua sobrevivência individual e coletiva. Necessitamos de uma pedagogia do afeto,
que facilite o desenvolvimento de vínculos afetivos. A alegria é uma lição
fundamental, na escola da existência. A tristeza é uma estratégia saudável, no
contato com as perdas. Aprender a lidar com a raiva é imprescindível, na relação com
o mundo. E o medo é outra lição que precisa ser trilhada, no confronto com o
desconhecido. Quando o aprendiz não tem acesso ou reprime a expressão emocional
das emoções autênticas, um disfuncional repertório emotivo substitutivo é adquirido.
Na análise transacional, conhecemos bem o que são denominados disfarces, emoções
distorcidas que encobrem as naturais, que estão interditadas. Os mais típicos
disfarces são a ansiedade, depressão, fobia, inadequação, culpa, vergonha,
ressentimento, ódio, inveja, ciúme, vingança, triunfo maligno, entre outros. Por outro
lado, é necessário o desenvolvimento da inteligência onírica. Este é um capítulo muito
importante na nova educação. Sonhar constitui um nível de realidade que tem a sua
lógica própria, complementar à da vigília. Estudar o Livro dos Sonhos, registrando,
cuidando e aprendendo a aprender com os sonhos nossos de cada noite, é uma tarefa
básica para o autodesenvolvimento. No Ocidente, o sonho tem sido objeto de
pesquisa científica há mais de um século, a partir da escuta analítica e psicoterápica
até os complexos laboratórios. Sabemos que o sonho exerce uma função
compensatória, corrigindo a unilateralidade da consciência de vigília. Equivalente aos
pensamentos, os sonhos representam valiosas amostragens existenciais, reportagens
do processo de individuação. Apontam direções criativas, soluções inesperadas,
advertências, também vinculando-nos ao inconsciente coletivo. Às vezes, são
verdadeiras parábolas, plenas de múltiplos sentidos. Aprender a cuidar dos sonhos e a
honrá-los no cotidiano, ampliando a arte interpretativa, faz parte de um existir lúcido,
com qualidade psíquica. Já há escolas, como a Casa do Sol, da Unipaz-Brasília, onde
as crianças iniciam a jornada diária partilhando os seus sonhos, como em certas
culturas tribais, onde a alma é valorizada e, também, educada. Os antigos
Terapeutas da Alexandria estudavam as escrituras também para se qualificarem na
arte de interpretar os sonhos. E pesquisavam-nos, para se aperfeiçoarem na arte de
compreender os textos sagrados, as crises e as doenças. Uma tarefa bastante nobre
de uma educação integral é a de facilitar a abertura de visão e de escuta para o
exercício de uma inteligência hermenêutica, que habilite o educando a interpretar e
compreender os sonhos, pesadelos, tombos, encontros e desencontros da jornada
existencial. Finalmente, uma alfabetização psíquica solicita, também, o
desenvolvimento da inteligência relacional. Carl Rogers afirmava que o grupo foi a
maior descoberta do século XX. Neste século, foram criadas e aperfeiçoadas técnicas
e dinâmicas de grupo, variadas e sofisticadas. Por que não empregá-las no cotidiano
escolar? Como aprender a conviver sem o exercício do envolvimento grupal e
comunitário, com uma facilitação competente, de forma a se adquirir competências
atitudinais diante dos conflitos, dificuldades e impasses do coexistir? Uma educação
profilática é a que facilita a aquisição de responsabilidade, ou seja, habilidade em
responder. Assim, a educação exerceria a sua função preventiva, diante de tantas
45
mazelas, a nível individual, social e ambiental, derivadas da ignorância psíquica, do
desconhecimento dos recursos da alma. Entretanto, se o nosso pressuposto for
meramente psicossomático, estaria totalmente inviabilizada a pedagogia iniciática.
Para aprender a conviver, necessitamos do resgate da consciência psíquica.”
(Roberto Crema)

46
CAPÍTULO 7
Um dos mistérios da minha vida esclarecido pelo exercício de Mr. Doman

Surpresa final: na penúltima etapa do desenvolvimento Doman exagera: faz uma


lista de trinta exercícios, brinquedos e ginásticas todos eles capazes de estimular a
sensibilidade e as reações do corpo, caso seu equilíbrio seja comprometido. Vou citar
só alguns: andar carregando um objeto com algum peso, subir (ladeiras, escadas,
arvores), salto de altura e salto em distância, pular corda, plantar bananeiras, fazer
piruetas, balançar, dar saltos ornamentais, patinar e surfar. Você pode imaginar
muitos outros.

ESCREVER E DOMINÂNCIA CEREBRAL


A última fase dos exercícios destina-se a estimular a dominância cerebral,
tornando-a definitiva e competente. Sabe-se que os hemisférios cerebrais têm
funções parcialmente distintas, mas em inúmeras ações eles têm que agir
simultaneamente, mas participando em intensidades e em formas diferentes. Têm
que participar ambos em uma ação única, de forma desigual, mas complementar.
Modelos:
Manejo do arco (mão esquerda) e da flecha (mão direita) - com o olho direito no
alvo.
- Escrever: mão direita com a caneta e olho direito na ponta da mesma.
Disparar uma carabina: mão esquerda apoiando a arma, o indicador direito no
gatilho e o olho direito no alvo.
Chute: perna direita no impacto e esquerda no apoio. Podemos dizer que toda a
tecnologia do artesão tem, na base, a chamada correlação óculo-manual: a mão
direita fazendo - a esquerda apoiando e os olhos...supervisionando!
Até há pouco estivemos estimulando atividades que exigem cooperação análoga -
mas simétrica - entre os dois hemisférios cerebrais - a marcha, a corrida, a natação
estilo "crawl “por exemplo. Elas exigem cooperação simétrica e alternante entre os
quatro membros. A coordenação cerebral "assimétrica" é a mais alta realização do
cérebro humano — e só dele.

COMO ENSINAR TEU FILHO A LER (UM OU VÁRIOS IDIOMAS)


(Com menos de um ano) os educadores daqui para a frente ensinarão (ou
deveriam ensinar) tudo - tudo - à custa de cartazes com palavras (ver-lhe), pequenos
círculos vermelhos (matemática) e depois imagens e palavras (escritas),
acompanhados de palavras (faladas) - a serem ditas quando a imagem é apresentada
à criança (em meio a um segundo para cada cartaz - não mais!). Segundo os vários
estudos, esta técnica estimulará sistematicamente as vias óticas e acústicas - como é
obvio.

Notar enfaticamente: ver uma imagem é muito mais - em relação à inteligência -


do que apenas ouvir uma ou mais palavras.

47
O "saber" visual nos dá uma noção real da coisa - o que a palavra não dá a palavra
é só uma palavra. Se vejo, quase sempre saberei o que fazer - se for necessário fazer
alguma coisa. A palavra, de sua parte, só permite replicar com palavras.

Este apontar, mostrar justifica, além disso e logo de saída, porque os Institutos
aconselham ensinar uma criança com um ano de idade a ler - e muitas outras
atividades - mostrando imagens e dizendo a palavra que designa a coisa mostrada
Mesmo quando, como no caso da leitura, o que é mostrado são palavras (e não
letras isoladas) - como logo especifico. Na verdade, estamos estimulando sua visão e
sua audição - e é claro que de momento ela nem entenderá o que está sendo
mostrado, nem conseguirá dizer as palavras que lhe estão sendo mostradas (não tem
idade para falar)
Mostra-se para ela um retângulos de cartão de 50 centímetros na horizontal e 15
na vertical, com letras de 7 centímetros de altura e palavras escritas em minúsculas,
bem separadas, iguais em todos os cartazes em traço grosso de cor vermelha (mais
tarde, pretas). Inicialmente o vermelho é mais atraente para a criança. Crianças
pequenas enxergam mal - ou ainda não sabem ver. Frente a frente com a criança - a
menos de 50 centímetros de distância - a mãe terá no colo um maço de 5 cartões
com palavras diferentes. A cada um a dois segundo, ele retira um cartão de trás do
maço que está em seu colo e o exibe para a criança, pronunciando claramente a
palavra escrita no cartão. Fará o mesmo com os restantes cartões. A "aula" dura 5
segundos ou menos e se repetirá 5 vezes ao dia, dez dias.
Os autores insistem muito na rapidez da apresentação e, conforme pudemos ver
no vídeo demonstrativo, é difícil acreditar que a criança perceberá alguma coisa do
que está sendo apresentado para ela nessa velocidade.
Começa-se com uma só palavra no cartão, mais tarde duas, depois três até chegar
a frases. O livro exemplifica e sugere muitas destas palavras, as que se referem ao
cotidiano e ao entorno da criança. Pormenorizei essa primeira etapa, mas não cabe
aqui expor todo o método com suas variantes e complicações do tipo quantas vezes,
quantas palavras, como ir substituindo as palavras e mais. Até chegar a fazer um livro
com as muitas palavras bem sabidas (entre os dois e três anos)!
O livro foi traduzido e a indicação consta no final deste resumo. Reparo
importante: o leitor, que sofreu a escola com o eu, perguntará - "mas não é mais
certo começar com o alfabeto - depois a silabação (o famoso "be-a-bá") - até chegar
às palavras?" Só estudiosos da língua e só programadores de escolas pensam assim.
Tradição cultural enrustida. Mãe cultura a Memética (Dalkins). O alfabeto é fruto
de um alto nível de abstração em relação à fala e à leitura. E mais do que sabido que
a invenção de escritas - portanto, das letras - aconteceu várias vezes na História e
sempre muitos séculos depois de a língua estar sendo usada, dos hieróglifos ao
cuneiforme, ao grego, ao latim até aos fenícios. Portanto, não há a menor dúvida
sobre isso: uma criança que aprendeu a ler não tem a menor consciência de que as
palavras são compostas de letras! Mesmo no caso dela ter aprendido segundo a
técnica que expusemos (cartazes com as palavras escritas). Só ao começar a escrever
é que a criança poderá começar a perceber a equivalência audiovisual, isto é, a
relação entre a palavra falada e a palavra escrita.
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Depois desta experiência e apenas depois dela é que terá sentido falar em alfabeto
- mas nem sei se a essa altura importa falar a respeito do alfabeto!

“O Gilberto e eu, vivendo em épocas e situações diferentes, tivemos experiências


escolares semelhantes. Não nos interessava aquilo que os programas diziam que
tínhamos de aprender. Assim, não aprendíamos. Fomos empurrando a escola com a
barriga, arrastando-nos, tirando más notas, passando vergonha, possuídos pela
preguiça. Ah! A suprema felicidade de quando um professor adoecia e não aparecia
para a aula! E a suprema felicidade dos feriados e das férias! A felicidade começava
quando a escola terminava! Mas o problema é que havia um acordo tácito no
julgamento que se fazia sobre nós, julgamento sobre o qual concordavam pais e
escolas. Todos estavam de acordo: éramos maus alunos.
Eu vivia nas maiores angústias pessoais: de imagem, de não ser nada, de não valer
nada, de ser feio - eu era gordo. Também me lembro do professor de educação física.
Ele entrava, aquele peito enorme, cintura fininha... O que se fazia na educação física
não era nada. A coisa mais importante das aulas de educação física eram as
mensurações do desempenho atlético de cada aluno: salto em altura, salto em
distância, corrida de 50 metros, corrida de 200 metros, subir numa corda. Para mim
era uma humilhação porque eu era gordo e mole. O professor anotava
cuidadosamente todas as marcas. Nunca compreendi a utilidade daqueles números.
Nunca atinei com o que o professor ia fazer com aqueles números. Mas acho que ele
não pensava sobre isso. Era sua obrigação. Fazia como autômato. Bom mesmo era
quando eu estava na turma do fundo. Hoje, pensando retrospectivamente, tenho dó
dos professores. Alguns deles se esforçavam. Mas havia aqueles que desconfiavam e,
repentinamente, nos faziam a pergunta terrível: Qual é o seu número? Sim, não nos
perguntavam o nome. Éramos identificados pelo número.”
Rubem Alves

49
CAPÍTULO 8
Como passar para a criança um conhecimento
enciclopédico e matemático

O título parecer pretensioso demais (lembre, estamos falando de crianças com


dois, três até seis anos de idade). Mas é de todo verdadeiro e a técnica é de todo
eficaz. Substitui tudo o que costuma ser ensinado no chamado aprendizado básico.
A técnica continua a mesma, mas os autores dedicam muitas páginas do livro
descrevendo, em forma bem classificada, uma enciclopédia audiovisual (figuras e
palavras) que vão passando gradualmente para o aluno.
Ensinam em pormenores quem queira fazer a sua coleção de figuras. Oferecem as
feitas nos Institutos para os que quiserem. Palavras de início, uma palavra para cada
figura (cartaz) bem distinta e isolada. Em outra rodada, frases curtas com a mesma
figura e com informações adicionais sobre ela em complexidade crescente. Difícil
resumir. O livro já foi traduzido. E possível ter uma ideia melhor assistindo ao vídeo
com o mesmo título. (Como passar para uma criança conhecimento enciclopédico e
matemática)
Este é um bom momento para recordar a "fase dos porquês" das crianças. Doman
assinala o quanto essas perguntas são inteligentes e surpreendentes demonstrando
assim o interesse e a curiosidade da criança pelo mundo que a cerca.
E de novo os adultos demonstram sua total incompreensão pela inteligência
infantil. Poucos levam a sério as perguntas, muitos dão respostas ridículas, alguns
chegam a se irritar pela insistência da criança (que demonstra para eles o quanto eles
não sabem...). Conselho: se você não tem uma resposta razoável olhe bem pra
criança e diga "não sei". Se você tiver tempo e meios convide-a para procurar a
resposta junto com você. Ela ficará muito feliz.

COMO ENSINAR MATEMÁTICA PARA A CRIANÇA


De novo, os Institutos fizeram uma descoberta genial. Nada de números - que são
como alfabeto - abstratas de mais. Sempre os mesmos cartões, grandes (30x30) e em
uns pequenos círculos vermelhos (vou chamá-los de bolinhas) - todos iguais - com 3
centímetros de diâmetro.
Mostra-se o cartaz e diz-se o número de bolinhas que estão nele - em menos de 1
segundo. Sem ordem!
De início, 5 cartazes — como para as palavras. A sequência, como lá, e aleatória,
podendo ter mais do que dez bolinhas por cartaz e vai se complicando aos poucos
até dez cartazes por vez. Os números podem ir até 100 a serem apresentados
gradualmente ao longo de um ou dois meses- mas não em série.
Mais adiante passa-se para as 4 operações, uma por vez. A técnica consiste em
apresentar - digamos - dois cartões, um com 5 bolinhas e um com 3.Ao mesmo
tempo o instrutor diz claramente;"5 mais 3 é igual a oito" e muitos somas são
apresentadas deste moldo com números cada vez mais altos (até 100) mas não em
ordem. O mesmo se fará com a subtração, a multiplicação e a divisão - sem usar os
50
símbolos clássicos. Estes só serão usados bem m ais tarde. O aprendizado prossegue
com equações aritméticas que mais tarde podem ser bem complicadas.
Claro, no livro onde estas coisas são expostas, constam quantos quadros por vez,
quantas vezes por dia, durante quanto tempo, em que ordem substituí-los.
Esse é o modelo básico, mas mesmo ele pode ir longe, mostrar até somas e outras
operações com várias dezenas de bolinhas! E espantoso como crianças com 2 anos
olham para os cartazes e dão sinais bem claros de compreensão frente as operação
mostradas - e se as "contas" estão certas - ou não!
Esse é outro que pode ser compreendido melhor com o vídeo. Existe ainda um
livro que se refere à natação, com crianças incapacitadas, ou não é o que se refere ao
desenvolvimento da inteligência - e da esperteza!
Não conhecemos - não creio que exista - nenhuma outra forma de educação - do
corpo e da mente - comparável a essa. Nem a Escola Waldorf, igualmente admirável,
mas com valores muito diferentes dos Institutos, e nem de longe tão atenta ao
desenvolvimento motor (e cerebral) - para mim a base da personalidade.
Dois terços do cérebro não podem deixar de ser o fundamento da personalidade,
principalmente depois que conhecemos Mestre Reich e a partir dele nos
aprofundamos tudo o que a motricidade significa - e tudo, quase sempre,
solenemente omitido, ignorado - ou negado. Tudo sempre a favor da palavra, da
verbalização, da fala interminável da qual se espera a solução para todos os
problemas da pessoa, da Sociedade - e do mundo.
O Osho ensinava que quanto mais pregação há no mundo, quanto mais
pregadores mais violência e guerras.
Basta compreender ou explicar e o resto acontece sozinho... Considere, leitor, a
inexplicável distância - ou ignorância - das pessoas em relação à importância de
nossos movimentos - condição para tudo o mais.
Já 4 livros dos Institutos foram traduzidos para nossa língua - e muito bem
apresentados - mas o que se refere aos movimentos ainda não!
A "culpa" talvez seja dos próprios Institutos. Ao livro sobre a educação motora
deram um título pouco refletido: "Como ensinar teu filho a ser fisicamente soberbo"
Triste - não é? "Como fazer de teu filho uma criança bem integrada" seria bem
melhor.

E, bom de verdade seria acrescentar um subtítulo: "Como proteger seu filho da


neurose".

MAS...
"Nada é perfeito neste mundo" como disse o Pequeno Príncipe.
Tudo o que os Institutos afirmam, descrevem e cultivam são atividades físicas ou
mentais básicas de valor indiscutível. Seu respeito frente ao cérebro e o
conhecimento que têm sobre ele ímpar. Sua gratidão pela colaboração dos pais e sua
admiração pelas crianças é tocante. Nada obstante, deixaram de lado alguns outros
aprendizados não menos essenciais. Veja no próximo capitulo COMO CULTIVAR OU
COMO NÃO IMPEDIR O DESENVOLVIMENTO.

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Rubem Alves – “Na escola, os pensamentos devem aparecer nas horas certas. Há
uma hora para pensar matemática. Passada a hora, soa uma campainha. É hora de
pensar história. Passada a hora, soa uma campainha. É hora de pensar ciências... Mas
o pensamento não funciona com hora marcada! ”
Gilberto Dimenstein — “É como se fosse um controle remoto: você muda de canal,
vai mudando de canal. Aí quando a escola diz para prestar atenção no vovô viu a uva,
ou nas Guerras Púnicas, ou em Tróia, ou, então, na história do Brasil, que era um
amontoado de datas, nos afluentes do Tocantins, nos afluentes do Rio Amazonas...”
Rubem Alves — “Juruá, Tefé, Purus, Madeira, Tapajós, Xingu... Você sabe disso? ”
Gilberto Dimenstein – “Quando a escola vinha com isso, dizendo que eu tinha de
saber os afluentes do Tocantins, do Amazonas, eu só dizia assim: Eu não consigo.
Depois de uma certa idade foi que descobri que quando eu falava não consigo, tinha
uma voz dizendo, mas por que deveria conseguir? Eu não tinha condições intelectuais
para essa pergunta. Não era dado ao aluno o direito de questionar. Fui descobrir que
não conseguia porque aquilo não tinha significado. Quando comecei a tomar
conhecimento das teorias construtivistas, senti como seja tivesse todas aquelas
teorias dentro de mim, porque já sabia que o aprendizado deve seguir o ritmo do
aluno. Como comunicador, fazia o que vim a fazer depois como educador,
desenvolvendo projetos experimentais: a informação só tem relevância se tiver
significado para o leitor, o que exige intuir sobre o que ele já tem de bagagem, além
da contextualização da notícia. Na verdade, acabei descobrindo que o comunicador é
o professor sem sala de aula, e o professor é o comunicador que vê, cara a cara, seus
leitores. Quando estou escrevendo livros didáticos ou elaborando currículos, tudo é
centrado no aluno, porque são centrados em mim, ou seja, vejo aquele menino
encantado pelo saber, mas desencantado pela escola. Vivemos uma eterna ditadura
do currículo. E quem fixa o currículo? O currículo é arbitrário. As pessoas fixam o
currículo na suposição de que aquilo vai ser usado no futuro para alguma coisa.”
Rubem Alves – “O currículo não é arbitrário, não. Ele tem muita lógica. Você tem de
pensar que o currículo é feito por burocratas escolhidos. Cada um é profissional de
uma disciplina. E quando eles preparam o currículo, preparam para as suas
disciplinas. Ê a lógica do burocrata. Para o burocrata tem um sentido. Só que não tem
o menor sentido do ponto de vista do aluno.”

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CAPÍTULO 9
Sensualidade e sexualidade da criança

COMO CULTIVAR -
OU COMO NÃO IMPEDIR -
O DESENVOLVIMENTO:

Da sensibilidade-sensualidade, do erótico e da sexualidade. Muito estranho:


nenhuma palavra sobre estas questões em nenhum dos 7 livros.
Doman viajou bastante procurando conhecer o que era feito com as crianças em
muitos países civilizados e tribais (inclusive tribos de índio brasileiras).
Viu com certeza crianças nuas "coladas" às mães - igualmente nuas ou quase.
Soube de ambas dormindo juntas na rede e da liberdade das crianças de se tocarem
à vontade - ou de tocarem umas às outras. Vejo muito disso em meu contato com as
tribos (Otávio Leal). Ele talvez não saiba (pouco provável!) que temos dois metros
quadrados de pele com 500.000 pontos sensíveis (tacto, dor, temperatura -frio/calor
- distintas) e 8 milhões de glândula sudoríparas
Que a pele é o indiscutível limite do ego - do eu ou do "mim". O que me toca - o
que toca minha pele - me toca; o que não me toca - não toca minha pele - não me
toca...
E que, portanto, há milhões de sensações de contato, de carícia, de prazer sensual
ou sexual - e de agressão!
Todos essenciais para a minha delimitação e integridade psicológica.

Sentimos qualquer toque na pele e dependendo de relação pessoal com quem nos
toca, da forma do toque e das circunstâncias, temos um número infinito de
sensações variadas, desde as que parecem contato com coisas (inanimadas), até as
mais prazerosas (sensualidade), delicadas e profundas. Estas podem caminhar na
direção do erótico até chegar à excitação sexual.
No extremo oposto, as sensações de dor - até as insuportáveis.

Doman insiste muito no festivo, no entusiasmo, no "hugging" (abraços e até beijos)


entre a "professora"(mãe") e a criança, mas tudo no limite do afetivo ou carinhoso
familiar, e certamente não no sensual e menos ainda no erótico.
Mas não sabemos se as crianças fazem estas distinções especiosas sobre se pode
ou não pode sentir prazer deste ou daquele jeito, distinções geradas pelos nossos
preconceitos sociais de distância de pele.
Alguma coisa nos diz que evitar o sensual é uma perda lamentável no contato com
a criança. A meu ver (é só ver!) a criança é extremamente sensorial/sensual. Uma
tentação...
Nos perguntamos se ela não precisa de nossa aprovação, presente em nossos
gestos e em nosso contato,' afim de poder sentir o que ela sente.
53
Ou seja, que ela pode sentir prazer em nossas carícias - tanto quanto nós sentimos
ao acariciá-la.
Dito de outro modo (a questão é muito importante - e totalmente ausente em
Doman): entrando em contato com a criança, se nossos gestos não forem de carícias
gostosas ela não desenvolverá o contato sensorial/sensual...gostoso!
Sabemos que muitas mães sabem disso, mesmo que sem saber falar a respeito -
ou guardando o que sabem para si mesmas. Creio que elas (muitas delas) fazem com
as crianças gestos muito mais cariciosos do que os que conseguiriam fazer em
qualquer outra pessoa.
Crermos, enfim, que nestes gestos deliciosa e inocentemente prazenteiros que nos
animamos fazer com as crianças, estamos nós - os adultos - aprendendo com elas -
prazer sem culpa nem pecado... Essa é uma entre as muitas coisas que as crianças
podem nos ensinar - ou permitir que aprendamos.
Talvez este trecho fique mais claro se ao que foi dito somarmos os costumes
primitivos de criança "colada" na mãe durante muitos meses, ambas com bem pouca
roupa e dormindo na mesma rede.
Para cultivar a sensibilidade cutânea e a propriocepção da criança, não conheço
nada melhor do que a
Shantala - Técnica tradicional da índia no cultivo da relação mão-filho. Existe um
excelente modelo de Shantala gravado em DVD, falado em português, realizado por
Cristina Balzano Guimarães em sua filhinha e lindamente filmado. Não conheço nada
melhor.
Esclarecendo o termo: a propriocepção é nosso sexto sentido - sempre omitido. E
a sensibilidade ou capacidade de perceber a posição e os movimentos do corpo a
cada instante - e em todos os instantes. Sem ela não saberíamos nos mexer. Como
posso ir daqui até ali se não sei (se não sinto) como está meu corpo...aqui?
Incidentalmente: Doman omitiu também esse nosso sexto sentido, embora ele esteja
implícito em toda a modelagem da motricidade proposta por ele.

Tudo isso faz parte do que nos chamaríamos educação afetiva, difícil de separar do
contato físico. Assim - e só assim - consegue-se desenvolver na criança a mais
profunda segurança emocional, Nenhuma revolução mais suave do que está.

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SEXO, SEXUALIDADE
Aos 7 meses de vida fetal o garotinho exibe uma ereção a cada hora e meia,
enquanto seu cérebro manifesta atividade de sonhos.
Esse ritmo de hora e meia de congestão pélvica acompanhada de um sonho,
continua a vida toda tanto no homem como na mulher. São dados
incompreensivelmente omitidos em estudiosos tão presentes, atentos e sensíveis a
todos pormenores do desenvolvimento neurológico da criança. Pouco nos importa
aqui interpretar essa omissão. Importa-nos preencher o que falta. O tabu contra a
sexualidade começa com o mito da mão que não tem genitais – nem atividade
sexual- glorificando no Dogma (no Mito?) da Imaculada Conceição de Nossa senhora:
a maior de todas as mães era e na certa continuou sendo virgem por toda
eternidade...
O mito da grande mãe nasceu provavelmente no paleolítico ou antes dele quando
os povos ignoravam a participação do macho na reprodução. “A mulher expelia a vida
de dentro de si.”
A gravidez parecia então um milagre inexplicável - tornava-se - de certo modo
lógico atribuir poderes divinos a mulher. Muitas culturas eram matriarcais como o
Tantra no qual Otávio Leal (Dhyan Prem) é professor.
Mas hoje...
É preciso insistir: quando vem se tornando convicção popular que a repressão
sexual “já era” –que ela não existe mais – mãe continua sem genitais.
E assim o amor – ou o corpo – fica dividido ao meio: a metade de cima - nutrição,
calor, acolhida, aconchego – é maravilhosa, mas a metade de baixo fica desligada. É o
lugar dos “baixos instintos”, da paixão, da carne e do pecado - ainda hoje é assim em
varia culturas e povos.
Mãe continua virgem e, se não, temos mais o pesado palavrão da língua...
Mãe jamais se masturbaria e pai também não – e filha adolescente tão pouco. E
não falemos disso.
É de mau gosto!
Ninguém sabe que cara fazer ao falar destas coisas...em família. Fora da Família de
regra as caras são péssimas - e as palavras pior ainda. Como mudar esta noção tão
ambígua, tão negativa - além de tão falsa?
Que os pais falem eventualmente das próprias relações sexuais com a naturalidade
que conseguirem. Inclusive se foram ou são aprazíveis ou se há dificuldades. Que
falem das próprias experiências antes do casamento, que perguntem com jeito para
filhos e filhas, que tentem ouvi-los sem reações negativas. Que se acentue o que há
de íntimo e prazenteiro nas relações e como é bom realizá-las em ambiente propício,
com calma e tempo. Que na Escola (secundário) se fale de masturbação (se algum
professor se julgar capaz de enfrentar o tumulto na classe!)
Temos a utopia que nas famílias e na escola se troquem massagem 2 a 2 ou em
grupos: Shiatsu, Do-in, Ayurvédica.
Que se ensine como trocar carinho - carinhoterapia criações de nossas amigas
Wania e Adriana.
No anos 70 se dizia: “Você precisa se tocar" a "se toque meu"
Toque com intimidade, toque com afeto.
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Que no Lar as portas estejam todas sempre abertas, inclusive o banheiro.
Que a nudez não seja um escândalo - ou uma vergonha. Que os gestos
masturbatórios das crianças - nada raros e não raro quase inconscientes - sejam
acolhidos com sorrisos de cumplicidade, o sorriso de quem diz: "gostoso - não é"? É
líquido e certo que as crianças sentem o caráter prazenteiro das regiões genitais e
busquem mexer "lá" com as mãos, ou encostando e esfregando o púbis em alguma
saliência. Que tão pouco se banalize estas coisas ou que elas sejam usadas para fazer
graça, dizer coisas grosseiras ou piadas perversas.
O corpo é gostoso, o contato é gostoso, caricias são prazenteiras e não têm que
levar necessariamente a relações sexuais. Esperar "naturalidade" dos adultos ao
"explicar" coisas sexuais para as crianças - como se diz nas revistas - é uma tolice.
Quase ninguém consegue ter essa naturalidade - depois de tudo o que sofreu e de
tudo o que continuamos fazendo. O desafio agora é o seu leitor.
Enfim, um excelente costume que pouco a pouco vem se generalizando: que a
família deixe a filha ou o filho namorar - dormir junto - na casa da família. Ouvimos
uma experiência que pode ser inspiração para soluções.
Em algum pais nórdico, como parte do currículo do primário, há uma "aula" onde
as crianças de poucos anos ficam uma ou duas horas nuas, podendo se examinar e
tocar livremente, com um adulto presente apenas para impedir agressões.
Enfim, é bom lembrar essa coisa meio esquisita no nome: "Amor". Expande-se a
pratica do "ame a quem você estiver amando", casado ou solteiro,' ele ou ela, um ou
mais - tudo cercado de respeito pessoal, de respeito aos sentimentos e aos desejos -
e nada escondido.

As carícias e o iluminado (por Gaiarsa)


“Chega de viver entre o medo e a Raiva! Se não aprendermos a viver de outro
modo, poderemos acabar com a nossa espécie.
É preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro
todas as coisas boas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque "não fica
bem" mostrar bons sentimentos! No nosso mundo negociante e competitivo, mostrar
amor é.... um mau negócio. O outro vai aproveitar, explorar, cobrar... Chega de
negociar com sentimentos e sensações. Negócio é de coisas e de dinheiro- e pronto! O
pesquisador B. Skinner mostrou por A mais B que só são estáveis os condicionamentos
recompensados; aqueles baseados na dor precisam ser reforçados sempre senão
desaparecem. Vamos nos reforçar positivamente. É o jeito - o único jeito - de
começarmos um novo tipo de convívio social, uma nova estrutura, um mundo melhor.
Freud ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim; mas é
fácil ver que nós escondemos também tudo que é bom em nós, a ternura, o
encantamento, o agrado em ver, em acariciar, em cooperar, a gentileza, a alegria, o
romantismo, a poesia, sobretudo o brincar - com o outro. Tudo tem que ser sério,
respeitável, comedido - fúnebre, chato, restritivo, contido...
Há mais pontos sensíveis em nosso corpo do que as estrelas num céu invernal.

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"Desejo", do latim de-sid-erio, provém da raiz "sid", da língua zenda, significando
ESTRELA, como se vê em sideral, relativo às estrelas.
Seguir o desejo é seguir a estrela - estar orientado, saber para onde vai, conhecer a
direção...
"Gente é para brilhar", diz mestre Caetano.
Gente é, demonstravelmente, a maior maravilha, o maior playground e a mais
complexa máquina neuromecânica do Universo conhecido. Diz o Psicanalista que
todos nós sofremos de mania de grandeza, de onipotência.
A mim parece que sofremos de mania de pequenez.
Qual o homem que se assume em toda a sua grandeza natural? "Quem sou eu
primo..."Em vez de admirar, nós invejamos - por não termos coragem de fazer o que a
nossa estrela determina.
O Medo - eis o inimigo.
O medo, principalmente do outro, que observa atentamente tudo o que fazemos -
sempre pronto a criticar, a condenar, a pôr restrições - porque fazemos diferente dele.
Só por isso. Nossa diferença diz para ele que sua mesmice não é necessária. Que ele
também pode tentar se livre - seguindo sua estrela. Que sua prisão não tem paredes
de pedra, nem correntes de ferro. Como a de Branca de Neve, sua prisão é de cristal -
invisível. Só existe na sua cabeça. Mas sua cabeça contém - é preciso que se diga -
todos os outros que, de dentro dele, o observam, criticam, comentam - às vezes até
elogiam!
Por que vivemos fazendo isso uns com os outros - vigiando-nos e obrigando-nos -
todos contra todos - a ficar bonzinhos dentro das regrinhas do bem-comportado -
pequenos, pequenos. Sofremos de megalomania porque no palco social obrigamo-nos
a ser, todos, anões. Ai de quem se sobressai, fazendo de repente o que lhe deu na
cabeça. Fogueira para ele! Ou você pensa que a fogueira só existiu na Idade Média?
Nós nos obrigamos a ser - todos - pequenos, insignificantes, inaparentes,
"normais"- normopatas diz melhor; oligopatas - apesar do grego- melhor ainda.
Oligotímicos - sentimentos pequenos - é o ideal...
Quem é o iluminado?
No seu tempo, é sempre um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Ele
sofre, principalmente, de um alto senso de dignidade humana - o que o torna
insuportável para todos os próximos, que são indignos.
Ele sofre, depois, de uma completa cegueira em relação à
"realidade"(convencional), que ele não respeita nem um pouco. Ama
desbragadamente - o sem vergonha. Comporta-se como se as pessoas merecessem
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confiança, como se todos fossem bons, como se toda criatura fosse amável, linda,
admirável.
Assim ele vai deixando um rastro de luz por onde quer que passe.
Porque se encanta, porque se apaixona, porque abraça com calor e com amor,
porque sorri e é feliz.
Como pode, esse louco?
Como pode estar - e viver! - Sempre tão fora da realidade - que é sombria,
ameaçadora; como ignorar que os outros - sempre os outros - são desconfiados,
desonestos, mesquinhos, exploradores, prepotentes, fingidos, traiçoeiros, hipócritas...
Ah! Os outros...
(Fossem todos como eu, tão bem-comportados, tão educados, tão finos de
sentimentos...) O que não se compreende é como há tanta maldade num mundo feito
somente de gente que se considera tão boa. Deveras, não se compreende.
Menos ainda se compreende que de tantas famílias perfeitas - a família de cada
um é sempre ótima - acabe acontecendo um mundo tão infernalmente péssimo.
Ah! Os outros.... Se eles não fossem tão maus - como seria bom...
Proponho um tema para meditação profunda; é a lição mais fundamental de toda
a Psicologia Dinâmica:
Só sabemos fazer o que foi feito conosco.
Só conseguimos tratar bem os demais se fomos bem tratados.
Só sabemos nos tratar bem se fomos bem tratados.
Se só fomos ignorados, só sabemos ignorar.
Se só fomos odiados, só sabemos odiar.
Se fomos maltratados, só sabemos maltratar.
Não há como fugir desta engrenagem de aço: ninguém é feliz sozinho.
Ou o mundo melhora para todos ou ele acaba. Amar o próximo não é mais
idealismo "místico “de alguns.
Ou aprendemos a nos acariciar ou liquidaremos com a nossa espécie.
Ou aprendemos a nos tratar bem - a nos acariciar - ou nos destruiremos.
Carícias - a própria palavra é bonita.
Carícias ... Olhar de encantamento descobrindo a divindade do outro - meu
espelho!

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Carícias... Envolvência (quem não se envolve não se desenvolve...), ondulações,
admiração, felicidade, alegria em nós - eu e os outros.
Energia poderosa na ação comum, na cooperação. Na comunhão.
Só a União faz a força - sinto muito, mas as verdades banais de todos os tempos
são verdadeiras - e seria bom se a gente tentasse FAZER o que essas verdades nos
sugerem, em vez de críticos e céticos e pessimistas, encolhermos os ombros e
deixarmos que a espécie continue, cega, caminhando em velocidade uniformemente
acelerada para o Buraco Negro da aniquilação.
Nunca se pôde dizer, como hoje: ou nos salvamos - todos juntos - o nos danamos -
todos juntos.”

E NA HORA DE NASCER?
Lembrar que desde a concepção tudo o que aconteça com o filhote (e com a mãe)
pode e deve ser considerado parte de sua educação. Ficará impresso nele até o fim
de seu dias (Imprinting!). Os Institutos nada dizem sobre as cuidados com a gravidez
ou as condições do parto, mas é evidente que estas horas são muito importantes.
Desenvolvendo a noção de uma nova educação, acredito que faria parte dela o
muito que já se disse sobre "Parto sem medo", "Nascer sorrindo" (Leboyer) e ampla
preparação física e psicológica para o parto.
Fundamental defender com unhas e dentes o contato precoce e tão frequente
quanto possível entre mãe e filho. Como pode a Medicina ignorar tão absurdamente
a biologia elementar separando um do outro logo após o parto? Como nós admitimos
essa prática absurda? Como exemplos: entre animais que se reúnem aos milhares na
época de reprodução, se o filhote se separar da mãe logo após o parto sua mãe
jamais o encontrará.
Recordar que nas tribos que em toda a evolução do Homo Sapiens (Sapiens) que
somos todos nós a criança permanece em contato continuo com a mãe durante
anos, acompanhando-a onde quer que ela vá, dormindo na mesma rede, mamando
quando lhe apraz.
Este tipo de procedimento foi estudado por equipes medicas europeias que foram
à África (Uganda) afim de verificar as condições do parto e do que acontece depois. O
relato final é impressionante e de novo recorda dados dos Institutos. A criança desde
o terceiro ou quarto dia mostra-se muito presente e interessada no mundo, é
sorridente. Dorme e chora pouco, e a taxa dos hormônios do estresse do parto
baixam em três a quatro dias. (Nas crianças europeias esses hormônios demoram até
dois meses para se normalizar)
Eu sei. É difícil combinar estas coisas com a vida moderna nas cidades. Mas é
importante não esquecer delas e pensar em como isso poderia ser feito - sempre que
se pensa na Criança do Futuro.

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Gilberto Dimenstein – “Engraçado que a palavra pedagogo vem do grego. E o
escravo que conduz criança. De alguma forma, isso voltou. Porque, pelo salário que o
professor recebe, pelo pouco tempo de preparo de aula que tem, ele voltou a ser o
escravo que conduz criança. Não é isso? ”
Gilberto Dimenstein – “Está na escola, trancado, tem de dar 40 horas de aula. Por
mais que a gente tenha uma visão utópica da educação, acho que existem meios-
termos. Agora, sabe o que descobri dando aula para professor? Que a coisa mais
difícil é educar professor. Quando se tem um projeto, na escola, geralmente é
superficial, desconectado das demais matérias. ”
Rubem Alves – “Eu estou convencido, pelo menos por enquanto, de que a
curiosidade e a aprendizagem acontecem quando estamos lidando com um objeto. O
corpo refuga diante de abstrações. As abstrações não são objetos erotizantes, isto é,
elas não têm o poder, por si mesmas, de provocar o pensamento. Um exemplo
simples: uma maçã. Uma maçã - símbolo paradisíaco da primeira provocação da
curiosidade! - pode ser um objeto mitológico, literário, artístico, gastronômico,
botânico, físico, químico, econômico, erótico. Um objeto é um centro de curiosidade a
propósito do qual as mais variadas perguntas podem ser feitas. Os saberes, entidades
abstratas, só têm sentido quando ligados a um objeto. Em si mesmos, desligados de
objetos, falta-lhes o poder erótico de sedução. Um objeto ou um projeto é um lugar
por onde cruzam os mais diferentes tipos de saber. Aqui acontece a
interdisciplinaridade — que o próprio objeto ou projeto exige. Quando o ensino se
baseia num programa, os professores das diferentes disciplinas se tornam detentores
do saber. Eles sabem o que vão ensinar. Mas quando a aprendizagem acontece em
torno de um objeto ou projeto, o professor deve estar preparado para o seu próprio
não-saber. O professor se vê, de repente, diante do não conhecido. Terá de aprender
a dizer: "Isso eu não sei". Aqueles que não suportam a insegurança, é claro, preferirão
continuar a dar os programas de sempre.”
“Gilberto Dimenstein - Quando se estudam personagens da história, qual é o foco?
Pessoas de sucesso, os heróis. Errar não é visto como uma coisa educativa, mas só se
aprende, errando. Todo mundo sabe que só se aprende fazendo bobagem. Para
trabalhar essa noção do professor aprendiz, é preciso dizer o seguinte: Por favor, erre,
erre, erre. Só não repita o erro, mas erre. Lá na Cidade Escola Aprendiz eu digo o
seguinte: Olha, pessoal, erre, erre. Vamos aprender com o erro. Existe uma ideia de
que o erro nos diminui. Estava lendo uma frase de Shakespeare que diz o seguinte: As
grandes quedas são o prelúdio das grandes ascensões e os grandes erros são o
prelúdio, também, dos grandes acertos.”
(Gilberto Dimenstein / Rubem Alves- Fomos Maus Alunos Ed.Papirus)

60
CAPÍTULO 10
A respiração. Educar é sufocar?
O livro de Doman sobre "Como ensinar seu filho a nadar" há um pequeno trecho
onde parece que se recomenda a natação nos primeiros dias após o parto e
acentuam a importância deste fato como estimulo para a organização e o
desenvolvimento da função respiratória. O que tem ótimo fundamento nas condições
precárias da respiração no recém-nascido humano em suas primeiras semanas de
vida.
De outra parte, vimos no esquema do desenvolvimento motor o quanto Doman
insiste na corrida, visando explicitamente ampliar a competência respiratória
(aeróbica!).

Para Doman (1989, pp. 121 e 128-129) a respiração das crianças com problemas
neurológicos de extrema importância, pois para além das limitações de prestação que muitas
vezes implica, é ainda propiciadora de problema ao nível da saúde do aparelho respiratório
que, para além de preocupantes, condicionam a aplicação do Programa de Organização
Neurológica.
A função neurológica precede todas as outras, sendo assim a base para uma boa
fisiologia orgânica (Véras, 2006, p.79)
É obvio, ainda, que a tão recomendada braquiação tem muito a ver ela também,
com ampliação da metade superior do tronco. Mas neste contexto os Institutos nada
dizem (e na certa não pensaram)'sobre as relações entre respiração e a meditação de
um lado e, de outro, sobre respiração, emoções e ansiedade (ou angústia). Já disse
algo a respeito, mas o tema merece compreensão a mais ampla possível.
Os muitos "nãos"- as muitas proibições - impostos às crianças pela "boa educação"
têm como consequência uma restrição crônica dos movimentos. É o mesmo princípio
das prisões ou de enjaular os animais.
Educar não é só nem principalmente ensinar coisas, é modelar atitudes e como
sempre não se percebe que estas frases, vistas (e sentidas) no corpo, envolvem uma
redução crônica das expansões torção-diafragmáticas que fazem a respiração. Educar
é sufocar.... Enquanto o ideal seria mostrar carinhos, apontar boas escolhas ver
exemplos positivos sempre. A restrição respiratória é. Compensada pela verbalização
interminável, para fora ou para dentro (falar sozinho). Falando, temos que respirar
(só emitimos sons na expiração) mas, ao mesmo tempo, limitamos a respiração ao
ter que modelá-la pelas exigências fonéticas!
E grande o número de pessoas que respira bem menos do que seria bom, e por
isso sofrem de ansiedade crônica. Vivem "preocupadas", com a sensação persistente
de que lhes falta alguma coisa importante, ou a sensação de que precisam fazer
alguma coisa - igualmente urgente - sem saber o que.
Ansiosamente preocupadas com quem devia fazer o que e de quem < a culpa - ou
se não são culpadas... Enfim, de que precisam falar - urgentemente! - com alguém...
E falam com quem estiver por perto. E fofocam, fofocam, fofocam... Falando de
educação e respiração é bom lembrar alguma coisa do Método Montessori (que
61
envolve muito silêncio) do Zen, da Yoga, Tai Chi Chuan e meditação- ambos
absolutamente conscientes da posição central da respiração (e do silêncio) para a
personalidade e para a vida.

Respiração pela nossa amiga e Mestre Zen Monja Coen

"Se quiser conhecer a si mesma, a respiração é a corda que leva ao fundo do poço"
- ouvi essa frase repetidas vezes durante minhas aulas semanais de Yoga.
"Respirar é preencher espaços" insiste sempre, minha professora Walkiria Leitão.
Ela foi aluna do professor Shimada, de dona Inês, do professor Garoti e de tantos
outros mestres e mestras de Yoga, Filosofia, Espiritualidade, Fisiologia.
Para ser instrutor, instrutora de Yoga ou do Zen Budismo, é preciso conhecer corpo-
mente-espírito com grande intimidade.
Estar em contato com a respiração é estar em contato com nossa maior
intimidade, com a essência que nos faz ser. Interser.
Minha superiora no Japão, a Abadessa do Mosteiro Feminino de Nagóia, Aoyama
Shundo Docho Roshi costumava dizer que são necessários dez anos para se formar
uma monja, vinte anos para se formar uma professora monja e trinta anos para se
formar uma mestra zen. Não é assim mesmo? Muitas vezes queremos transpor
etapas, procuramos atalhos, mas essa ansiedade apenas nos afasta do próprio
Caminho, que não é curto nem longo. É apenas, assim como é.
Inspirar e expirar conscientemente. Pausa.
Inspiração. Pausa. Expiração longa, lenta, devagar.
Vai-se tornando sutil e profunda. Leve.
Não significa apenas que durante o Pranayama respiremos mais oxigênio. Pode ser
o contrário. Mas criamos condições para que durante todo o dia possamos respirar
melhor e oxigenar melhor as células de nosso corpo.
Vontade de respirar e não vontade de respirar.
Vontade de pensar e não vontade de pensar. Diferente de vontade de não
pensar. Diferente de vontade de não respirar.
Depois de alguns exercícios de Pranayama, Marcos Rojo me surpreendeu com essas
frases. Estávamos no encontro anual de Yoga e Budismo, em Ubatuba, nos feriados
de Corpus Cristie.
Com que simplicidade profunda os ensinamentos sagrados eram transmitidos.
Suas palavras esclareciam aquilo que o fundador da minha ordem religiosa no
Japão, Mestre Eihei Dogen (1200-1253) escreveu há tantos séculos:
"Existe o pensar, existe o não pensar e além do pensar e do não pensar."
Sempre achei difícil explicar em palavras o que isso significa. De repente, na aula de
Yoga, lá estava, palpável, a experiência pura.
Inspirávamos, retínhamos o ar e expirávamos lentamente. E onde estavam os
pensamentos? E a vontade de respirar ou de pensar?
O som da sala era o som das ondas do mar.
Muitas pessoas acreditam que meditar é silenciar a mente, evitar todo e qualquer
pensamento, e assim se esforçam para não pensar. Quanto mais se esforçam mais
difícil fica a meditação verdadeira, o samadhi profundo. Cria-se uma ideia, um

62
conceito de samadhi. Há muitas pessoas que desistem de meditar porque não
conseguem passar a barreira sem barreira, o portal sem portas do Zen.
Fiquei me lembrando de um retiro que fiz há cerca de trinta anos. Um dos meus
primeiros sesshin (retiro zen silencioso). Eram muitas horas por dia sentada em
zazen. O corpo reclamava da postura, a mente tentava romper a torrente de
pensamentos, reclamações, resmungos. Estávamos já no terceiro ou quarto dia do
sesshin. A dor nas pernas era insuportável. Resolvi seguir uma partícula de
oxigênio. Estaria mesmo a seguindo? Respirei suavemente pelas narinas, percebi
essa molécula entrando nos pulmões, passeando pelas artérias, chegando a meu pé
direito, dobrado sobre a coxa esquerda. Depois fazendo a troca e o gás carbônico
saindo, lenta, suavemente pelas narinas. Foi um momento mágico. Onde estava a
dor? Onde ficaram os pensamentos?
Noutro momento aconteceu algo também extraordinário: percebi que se inspirasse
e retivesse o ar e depois o soltasse lentamente, o abdômen se contraia e havia
momentos em que parecia não precisar respirar. Sem esforço.
Como se meu próprio corpo me ensinasse princípios do pranayama.
Naquela época eu não conhecia nada do Yoga.
Continuo conhecendo muito pouco.
Mas, desde a minha primeira aula senti que havia encontrado um caminho
maravilhoso. Caminho que completa e se ajusta à vida monástica, aos ensinamentos
de Buda, ao conhecimento de mim mesma.
Mestre Zen Eihei Dogen (1200-1253) também escreveu:
"Estudar o Caminho de Buda é estudar a Si mesmo. Estudar a Si mesmo é
esquecer-se de si mesmo. Esquecer-se de si mesmo é ser iluminado(a) por tudo que
existe. É abandonar corpo e mente- seu e dos outros. Nenhum traço de iluminação
permanece e essa iluminação é colocada a serviço de todos os seres, de toda a
existência"(do texto chamado Genjokoan- A realização na vida diária)
Inspirando. Não inspirando.
Expirando. Não expirando.
Pensando. Não pensando.
Além, muito além, o yogui e o budista se encontram no topo da montanha mais
alta, no mais profundo dos oceanos.
Parecem apenas pessoas simples, comuns. Mas, como são leves...
Mãos em prece
Monja Coen

Estranhamente, enquanto o Oriente sabe muito e usa demais a respiração, Freud


um dos paradigmas do Ocidente e os doutores da educação a ignoram totalmente. O
homem ocidental nem sequer tem tórax. Avalie-se por ai a extensão da omissão
desta função primordial na educação ocidental.

Reflexões: Ensine seus filhos a respirarem afim de não criar neuróticos ansiosos no
futuro. O planeta precisa de pessoas saudáveis, centradas e amorosas. A educação
deve formar e não deformar.

63
Estas contensões pedagogicamente impostas são percebidas vagamente como
amarras, restrições de movimento e, por isso, sensação de "não estou na posse de
todas as minhas forças". Essas sensações nada têm de ilusórias: as amarras consistem
de tensões musculares crônicas que de fato restringem mecanicamente a liberdade
de movimentos: Couraças musculares.
Além disso, as pessoas mostram posturas mal organizadas (que elas não
percebem). As posturas - recordo - são as bases automáticas dos movimentos
intencionais, e "atitudes" são formas corporais de se pôr - fáceis de observar:
orgulhoso, desconfiado, autoritário, exigente, humilde... Posturas e atitudes
dependem da motricidade e se está se desenvolver de forma ideal, as restrições não
se estabelecerão. Enfim, o equilíbrio das pessoas "amarradas “é precário - de novo,
em função das posturas mal compostas. Notem os "lideres" políticos que sempre tem
a mesma cara e a mesma postura corporal, de múmia (Exceção talvez de Pepe Mojica
do Uruguai). E o equilíbrio precário é sentido como...insegurança — claro! Para o
psicanalista tudo isso está "no inconsciente"; para Reich e para nós, elas estão no
aparelho locomotor - do qual a pessoa tem pouca ou nenhuma consciência, e
controle mais do que precário. No entanto, é possível ver estas coisas nas pessoas e
sentir estas coisas em si mesmo.
O leitor deve estar percebendo: estou de novo no tema da má educação que era e
continua sendo o padrão ainda hoje, padrão que a atenção dada pelos institutos aos
movimentos atenua, ou não permite que se formem. Que se deformem diria melhor.
Observando com atenção pessoas na praia, é triste ver o desfile de atitudes mal
compostas.
Mas a respiração continua um problema porque ela varia continuamente em
função das trocas celulares e do estado de repouso ou de atividades das pessoas.
Pior: o volume respiratório - a cada momento - varia também em função da
posição do corpo. Em suma não existe um modo certo de respirar. A solução oriental
na yoga, tai chi consiste em experimentar bem conscientemente muitas formas,
amplitudes e ritmos respiratórios. Assim se desenvolve aos poucos uma sensibilidade
peculiar: a de perceber quando a respiração está prejudicada - e a capacidade de
corrigir a deficiência.
O melhor e mais simples que se pode recomendar é o de lembrar periodicamente
às pessoas para que respirem - esperando que se habituem a perceber a respiração
sempre que ela se altera. Em muitas ou todas as "aulas" dos Institutos, eu
acrescentaria muitos "respire!". Faremos isso no grupo AnimaSoma que dirigimos na
Humaniversidade. Sob a aparente simplicidade do "respire!" Há todo um mundo de
emoções, desejos, temores, raivas, sonhos, pesadelos. Todos eles alteram a
respiração – cada um a seu modo.

JUNTANDO OS FATOS
Recordo a perda de metade de nossos neurônios ao longo dos primeiros anos da
vida, a falta de estímulos adequados para que se desenvolvam e as mil proibições -
cujo efeito é o mesmo.

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Cruamente - para que as pessoas despertem: o tipo usual de educação tanto
familiar quanto escolar consiste em deixar metade de nossos neurônios morrerem
por falta de estimulação, por inibição de comportamentos e proibição de fazer
experiências. Ainda, pelo fato de concentrarmos tudo o que chamamos de
conhecimento ao que pode ser dito em palavras - e nada mais.
Sob outro ângulo: convém aos altos poderes que supostamente nos governam (e
exploram) - hoje nem tão ocultos - que as pessoas permaneçam impotentes e
ignorantes apesar dos grandes discursos e projetos educativos.
Não sei se isso é feito com plena consciência e total deliberação dos poderosos
mas - mistério! - é assim que acaba acontecendo. Falar pode - dentro de certos
limites - mas fazer é perigoso!

(Fato: A maior parte dos líderes são incultos quando não são analfabetos.)

65
CAPÍTULO 11
Palavras e conhecimento
Tem se falado demais sobre a excelência da palavra e o quanto ela contribuiu pra o
desenvolvimento da Humanidade. De outra parte fala-se pouco - muito pouco - sobre
as infinitas complicações, desentendimentos e enganações criadas por elas. O
pressuposto otimista e pouco critico diz (repetindo): "todos falamos as mesmas
palavras e com elas estamos dizendo as mesmas coisas - e, pois, estamos todos na
mesma realidade". Toda palavra - todo conceito - todos os significados - são
estatísticos, sofrivelmente claros quando se referem a substantivos concretos ou
ações usuais. Mas mesmo aí...
Será que "a casa" que eu tenho em mente quando falo a palavra, será igual à casa
que você tem em mente ao me ouvir? Já quando são substantivos abstratos, ou
mesmo adjetivos, as possibilidades de desentendimento crescem exponencialmente.
Justiça, amor, honestidade, liberdade, igualdade, maldade, bonito, feio, grande,
longe... Quanto às palavras desta categoria vale o que se dizia no passado recente:
"Cada cabeça cada sentença".
Sob este ângulo é fundamental compreender o quanto os Institutos se dedicam a
fazer com que a criança saiba do que está falando, ligando imagem e palavra (quase
sempre). São minuciosos ao exigir que as figuras nos cartazes sejam nítidas, isoladas
e típicas. E mais: cuidam bem de desenvolver a capacidade de ver - as funções do
aparelho ocular - mas não ligam explicitamente imagens à motricidade! Nove vezes
em dez a direção e o controle dos movimentos está sob regência ocular!

CRIANÇAS E COMPUTADORES
Este tópico hoje tão falado não é comentado pelos Institutos. No lugar deles
lembramos com grande prazer este outro educador primoroso Don Tapscott e seu
"Gowing up Digital"(Mc Graw Hill, N.York, 1988), Basta dizer que o livro apresenta
centenas de balões - como os de histórias em quadrinhos - com opiniões sobre a
Internet - de crianças e jovens de 8 a 20 anos. O autor mantém contato com cerca de
300 jovens de muitas partes do mudo e está decididamente ao lado deles, com
reparos incisivos contra conservadores irrefletidos. A objeção mais plausível que se
ouve contra o uso de computadores pelas crianças é o fato delas permanecerem
paradas o tempo todo - e sozinhas.
Mas se desenvolvermos o processo de cultivo da motricidade conforme ele foi
descrito, a objeção perde o sentido. A criança sentirá falta de movimento e fará o
necessário para se mexer A seguir, alguns trechos só para dar uma ideia (mas o texto
tem 300 páginas).
"Genericamente, ainda quando nos falte muito a conhecer, parece que as opiniões
dos pessimistas sobre os efeitos psicológicos da Rede sobre as crianças não têm
cabimento...Parece que eles estão desenvolvendo melhor sua cognição, intelecto e
habilidades. Segundo nossas pesquisas as crianças da era digital parecem espertas,
curiosas, capazes de aceitar reveses, auto assertivas, confiantes, com alta autoestima
e orientação global. A evidência sugere que eles elaboram informações de modo

66
diferente do nosso; dispõem de novos instrumentos para o próprio desenvolvimento
e para progredir na adolescência", (pg. 104)
"Na verdade, toda a discussão sobre habilidades sociais chega a ser irônica...A
maior vítima do tempo dedicado ao computador, a vídeo- games e à Internet é a
Televisão. Os garotos começaram a trocar a assistência à TV, passiva, não social e
isolada, pelo uso ativo de interativo da mídia digital" (pag. l07). Em outros trechos o
autor compara a TV autoritária, invasora e deixando o espectador sempre em posição
passiva, indefeso, com a Internet, interativa e, pois, inerentemente democrática.
"Computadores na escola podem ter um impacto positivo sobre o aprendizado e,
pois, sobre o desenvolvimento intelectual. Computadores são melhores
"professores"...pois permitem ao estudante seguir seu ritmo e suas preferências, em
oposição à "medida igual para todos “das escolas...Parece que assim as crianças
conseguem aprender e memorizar muito mais...E logo mais teremos tecnologia para
que crianças com 3 anos ou menos possam se aproveitar de sua grande capacidade
de aprender... (págs. 100-101)
"Só por volta dos 7 anos é que as crianças começam a compreender que as
imagens da TV não são reais - que elas são produzidas "de propósito", inventadas.
Por isso o efeito da TV é muito perigoso enquanto convida a identificações com tudo
o que está sendo mostrado (pg. 99)
''A sabedoria convencional nos diz que as crianças, pelo fato de, no computador,
saltarem de uma atividade para outra - têm uma capacidade muito reduzida de
prestar atenção. Mas a pesquisa não apoia esta noção. Outra ironia: as pessoas que
criticam a "falta de atenção" das crianças, são as mesmas que as criticam pelo fato de
ficarem no computador tanto tempo!"(pág. 108).
Emerge aos poucos a noção de que as crianças aprendem muito depressa - com
Doman percebeu - e aproveitou. Estes fatos tornam muito duvidosa a "DDA -
Distúrbio de Déficit de Atenção" de certas crianças. Chega-se a receitar medicação
para que ela fique...retardada! OU para que ela reduza sua velocidade à dos adultos.
SOBRE O COMPUTADOR - E OS VIDEOGAMES
Nem sempre se diz o obvio: o quanto eles ensinam a escolher rapidamente entre
um número incalculável de alternativas - a interpretar e responder depressa a um
número de ícones maior do que o alfabeto chinês... E em sequência rápida - e a cada
decisão o computador abre uma nova lista de alternativas... Diziam os Escolásticos
que distinguir entre significados é a mais alta forma de inteligência...
Escolher e decidir são duas das funções tidas como das mais importantes na vida,
nunca são simples e de regra são sequenciais. Popularmente se acredita que decisões
são poucas — e ...decisivas, mas o fato é que não correr de um dia temos que decidir
continuamente, se levanto da cadeira, se vou ao telefone, se tomo banho, se sento
no computador, se como alguma coisa... O apego dos jovens ao computador pode
estar confirmando Mestre. Doman quando este fala sobre a rapidez de percepção
das crianças. Enfim: qual a velocidade de nossos pensamentos?
Discípulo brasileiro
Há quase meio século atrás, um médico brasileiro - Raimundo Veras - formou-se
nos Institutos e voltou ao Brasil, mas pouco se dedicou à educação, cuidando
exclusivamente de crianças lesionadas cerebrais.
67
Não existe apenas uma forma certa (Daniel Quinn)
“Depois que você reconhece isso, fica absolutamente claro que essa é a história que
foi vivida aqui durante os três ou quatro primeiros milhões de anos da vida humana.
E, evidente que há uma sensação intensa de que o nosso é apenas um caso especial
de uma história muito maior, escrita na própria comunidade dos seres vivos desde o
começo, há uns cinco bilhões de anos: Não existe uma forma certa de viver para
NENHUM SER VIVO.
Não existe apenas uma forma certa de articular uma mandíbula.
Não existe apenas uma forma certa de construir um ninho.
Não existe apenas uma forma certa de desenhar um olho.
Não existe apenas uma forma certa de movimentar-se embaixo d'água.
Não existe apenas uma forma certa de reproduzir-se.
Não existe apenas uma forma certa de criar filhos.
Não existe apenas uma forma certa de modelar uma asa.
Não existe apenas uma forma certa de atacar uma presa.
Não existe apenas uma forma certa de defender-se de ataques.
Foi assim que os seres humanos vieram de lá até aqui, vivendo essa história, e as
coisas deram sensacionalmente certo até dez mil anos atrás, quando a nossa cultura
muito esquisita nasceu obcecada pela ideia de que existe uma única forma certa de as
pessoas viverem - e, na verdade, uma única forma certa de fazer praticamente
qualquer coisa.”

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CAPÍTULO 12
Vida plena e o drama da humanidade

Preparando nossos filhos para o terceiro milênio


Renacionalizando a Instituição Familiar.
Reestruturando a Sociedade.

Insistimos: Nunca até hoje foi criado um sistema pedagógico tão amplo de
educação como o proposto pelo "Instituto para o Desenvolvimento do Potencial
Humano", de Filadélfia, sob inspiração de Glenn Doman.
O sistema foi testado com centenas de milhares de crianças em várias partes do
mundo, envolvendo, de regra, a participação direta das mães como educadoras
primárias.
O sistema está baseado na estimulação sistemática e gradual do cérebro em
etapas sucessivas, seguindo a ordem da complexidade funcional crescente, o mais
simples primeiro e o mais complicado depois: rastejar, engatinhar, andar...
E simples compreender e aplicar as técnicas. Tanto que não é necessária a
formação de professores especializados. Além das crianças que se desenvolveram
sob a supervisão direta do Instituto, a publicação de 7 livros sobre o método
venderam milhões no mundo todo, sendo impossível determinar quantas crianças
estão sendo educadas pelos métodos citados. O texto a seguir foi inspirado pela
leitura destes livros que acreditamos ter compreendido em toda a sua profundidade.

O DRAMA DE HUMANIDADE
Até hoje vivemos "para traz", respeitando demais e dedicando quase todos os
recursos, Leis e costumes para a proteção das instituições arcaicas essencialmente
Autoritárias (Patriarcais); e dedicando recursos, atenção e Leis de menos para as
crianças - uma verdadeira inversão da mais profunda direção da Natureza. As leis
quando feitas as restringem, limitam, cercam. A mais profunda intenção da Natureza
é a de melhorar continuamente as espécies, tornando-as cada vez mais aptas a
sobreviver - a fazer cada vez mais e tudo cada vez melhor.
A Natureza não conseguiu o desenvolvimento contínuo dos indivíduos pois estes
são mortais e então criou e seu complemento, o instinto de reprodução - geração de
novos indivíduos, de novas possibilidades de desenvolvimento.
Foi refinando ao mesmo tempo todos os processos de proteção da prole que é o
degrau seguinte na série de desenvolvimentos. Da produção de milhões de ovos
soltos ao leu, Ela chegou até o feto humano único, com 9 meses para ser produzido;
e seu cérebro com cem bilhões de neurônios e capaz de alcançar níveis inimagináveis
e ilimitados de excelência e poder. Esses conhecimentos são hoje tão concretos que
foi possível operacionalizá-los, isto é, favorecer esse desenvolvimento de forma
deliberada, sistemática - e até fácil!

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Nenhum ideal mais elevado do que o de vivermos - os pais (os adultos) e a
Sociedade - em função das crianças, para que elas nos superem — façam melhor do
que nós. Talvez até salvem o ecossistema!

Porque nós estamos perdidos. E cada vez mais perdidos - como cima tentei
mostrar e agora amplio
A Educação - não só, mas principalmente no Brasil - é um absoluto fracasso.
Vultuosos recursos "jogados fora" para resultados pouco mais do que nulos. Técnicas
obsoletas que ignoram ou omitem qualquer conhecimento razoável sobre as crianças
e sobre os potenciais ilimitados do cérebro.

Projetos ambiciosos, de "alto nível" cultural e completamente fora de qualquer


realidade ou possibilidade de realização. Competição já de longa data perdida para a
TV - antes dela para o cinema - e agora para os computadores, os videogames e toda
a estirpe velozmente crescente da eletrônica. Que eles - as crianças - dominam muito
melhor do que os adultos. E a Família?

Um desespero - com sempre foi, mas até há pouco bem disfarçada com eternos
discursos sobre a nobreza da instituição, a santidade da
Mãe, a sabedoria do Pai e outras frases feitas - bilhões de vezes repetidas - nem
por isso verdadeiras.
Até a Santa Madre Igreja diz que se Deus te deu a graça de ter um filho, então o
Espírito Santo te ensinará tudo o que é necessário para que ele chegue à gloriosa
maturidade - consciente, responsável, conhecedor das coisas como você!
Nenhuma confissão mais clara de impotência e ignorância frente às dificuldades da
Educação, negando o quanto ela custa em incertezas, dúvidas pungentes, dinheiro e
sofrimentos sem conta para a mãe, para o filho e até para o Pai. E para todos.
E jamais - jamais! - ouvi ou tive notícia - de País algum, da menor referência à
necessidade de uma Escola de Família. Viver com um desconhecido do sexo oposto,
no mesmo ambiente limitado durante dezenas de anos, e saber o que fazer para
favorecer o desenvolvimento de uma (ou mais) crianças, são as duas tarefas mais
difíceis e complicadas da vida e ao mesmo tempo as mais importantes para a
sociedade.
No entanto, parece que jamais alguém se perguntou como podemos, todos nos
desempenhar "bem" destas funções complexas - sem nenhum preparo - afora a
experiência pessoal vivida - e sofrida? Ademais, País algum exige atestado algum para
conceder a quem quer que seja esse direito - o de casar, ter quantos filhos quiser e a
fazer com eles o que lhe aprouver. A iniquidade social completa-se com o costume
estabelecido: não critique jamais o que mãe ou pai estiverem fazendo com o filho na
tua presença. Mãe sabe o que faz. Pai sabe o que faz.
Vamos ver então um projeto de educação usando todos os dados citados na
primeira parte deste ensaio: os achados e as práticas dos Institutos, a Shantala, uma
gradual abertura para a sensualidade e a sexualidade, os cuidados amorosos durante
a gravidez, o parto estilo

70
"Nascer Sorrindo", a ligação das crianças com a informática, a consciência e o
controle ampliados da respiração. Vamos examinar algumas das consequências da
aplicação destas técnicas e conhecimentos para a educação.
Primeiro, a gradual extinção do curso primário e do secundário, com todo o seu
equipamento de prédios, professores, leis sobre educação e ao mesmo tempo a
reformulação radical do Ministério correspondente.

Atenção: (Leitor, antes de começar a objetar peço encarecidamente a você que


continue a leitura até o fim, sei muito bem que cada parágrafo deste texto pode dar
lugar a inúmeras duvidas e objeções).

As funções pedagógicas destas instituições passarão em sua maior parte para a


família, a mãe de modo especial. A escola que continuará existindo será para
esclarecer e treinar as mães nos "cursos" sobre o que e como elas ensinarão a seus
filhos, em estreita e continua colaboração afetiva e corporal com eles. Será
importante que as mães diminuam seus horários fora de casa afim de atenderem a
seus filhos.
Que ninguém se escandalize ou nos considere conservadores ou interessados em
fazer com que a mulher volte para o lar fique no lar. Não é nada disso embora seja
exatamente isso! Mas a mulher da qual estou falando neste texto tem muito pouco
da mãe antiga.
Leituras e opiniões avançadas sobre o feminismo põem seriamente em dúvida a
vantagem de a mulher deixar o lar para se fazer tão escrava quanto o homem,
contratada para serviços noventa por cento monótonos, por serem gananciosos e
sem ética planetária modestamente pagos e muita aflição pela distância em relação
aos filhos. Parece antes uma nova forma sutil de exploração capitalista - como ter
mais operários baratos à disposição. Sem falar na dupla jornada: depois das oito
horas estupidificantes de trabalho automático (linha de montagem) ela ainda precisa
se desincumbir das atividades domesticas.
E ser aquela mãe maravilhosa de que todas as revistas sobre família falam. A
economia oficial resultante da eliminação de todo o aparato pedagógico tradicional
permitirá que o estado pague as mães pelas novas tarefas pedagógicas do Lar Escola.
Para a maior parte das mães o maior contato com os filhos e as atividades
pedagógicas com eles certamente será bem-vinda. Note-se, a mais, que estas
atividades, em termos muito gerais, dificilmente consumirão mais do que duas horas
por dia. Vimos: todas as técnicas dos Institutos sublinham a rapidez das "aulas".
Além disso, as mães terão oportunidade única de passar, elas também, por um
extenso processo ré educativo aprendendo junto com os filhos.
Ainda, realizando aquele que é certamente o maior sonho de quase todas as mães:
a certeza de estar sendo uma educadora excepcional e dando a seu filho a melhor
formação imaginável. Enfim, como se sublinha nas instruções dos Institutos, é muito
importante que todo trabalho decorra num clima de alegria, de afeição e, portanto,
de intensificação dos laços afetivos entre a mãe e seus filhos. Dada a natureza das
técnicas, essa alegria e entusiasmo surgirão espontaneamente.

71
Deixamos claro também que a despesa com materiais pedagógicos é bastante
modesta e que não exige renovação anual. Os pais em função das folgas e do
temperamento, poderão participar do processo na medida de seu interesse e do seu
tempo disponível. Os pais interessados terminarão se apaixonando pelo processo e
se aproximando muito tanto da criança quanto da esposa, na tarefa comum de criar
um novo habitante para o velho mundo. E sentindo nascer em si a esperança bem
fundada de estar contribuindo efetivamente para a criação de um mundo melhor -
para seu filho e para si mesmo.

A FALTA DE EDUCAÇÃO E NEURÓSE


A Família é a oficina de produção artesanal de normopatas e escravos para o
Sistema - assistida de perto pela Escola onde pouco se aprende - sentado (Imóvel,
mumificado) 5 horas por dia ou mais, estudado sentado em casa ou um minúsculo
apartamento.
Despropositado e até absurdo falar em educação sem considerar a família,
indiscutivelmente a primeira escola da imensa maioria das pessoas.

Por isso eu Gaiarsa abri esse título - e agora o desenvolvo, apelando para minha
experiência de psicoterapeuta que nada tem de específica: durante meio século, 8
horas por dia, ouvi queixas das pessoas e 90% delas (das queixas) referiam-se à
família, a tudo o que ela "devia" ser ou ter feito e que não havia sido - nem feito.
Porque jamais alguém será um Pai ou uma Mãe tão bons e tão perfeitos com o pai e
a mãe "deveriam" ser, segundo a irrefletida e descabida Mitologia relativa à família -
ao mesmo tempo popular e Universal.
Segundo relatório da UNICEF, relativo a 1999, só na América do Sul, 80.000
crianças morreram como decorrência de maus tratos familiares
Nada melhor do que uma criança indefesa e dependente para servir de bode
expiatório para a pobreza ou para os desentendimentos insanáveis tão frequentes
em família.
Repetimos, então: falta uma Escola de Família e falta a exigência de alguma
espécie de preparação formal para que os cidadãos sejam legalmente autorizados a
ter filhos.
O Mito - ou o Preconceito - invade inclusive quase todas as teorias
psicopatológicas. Ao relatar casos clínicos aponta-se invariavelmente a Família como
a principal "causa" dos distúrbios do paciente, mas o implícito diz assim: esta pessoa
teve a infelicidade de ter um pai assim ou uma mãe assim, o azar de viver em uma
família "desestruturada". O contexto social (a estatística) é completamente silenciado
e resta a noção de que A Família (quase todas) são maravilhosas, "normais" e "bem
estruturadas".

FREUD, REICH E SKINNER.


Imagino que os leitores estranharão a presença destes personagens num livro
sobre educação.
No entanto as teorias psicopatológicas desenvolvidas por esses três personagens
eminentes têm tudo - deveras tudo — a ver com pecados pedagógicos. É sabido que
72
a psicanálise centra quase toda psicologia em torno do famoso complexo de Édipo
que quer dizer Pai, Mãe e Filho - e tudo o que acontece entre eles.
Curiosamente a psicanálise confirma a seu modo a descoberta dos Institutos de
Doman: tudo o que a criança experimenta nos primeiros anos de vida permanecerá
atuando nela até o fim de seus dias. Um dos ideais da terapia psicanalítica é
recuperar até onde possível todas as recordações que a pessoa guarda da sua
infância. O paralelo é evidente.
Doman diz exatamente o mesmo: tudo o que se fizer com a criança ficará com ela
até o fim de seus dias. Notem nossa responsabilidade com os pais. De outra parte é
claro que se organizarmos com cuidado a experiência da criança estaremos fazendo a
mais convincente e radical profilaxia da neurose.
Estaremos impedindo a erotização das próximas gerações. Difícil, mas não
impossível. Estaremos ao mesmo tempo contribuindo para que pai e mãe tenham
consciência do que estão fazendo, aprendam o que é efetivamente melhor para a
criança, atenuando assim uma parte, pelo menos, das experiências prejudiciais que
eles mesmos sofreram.
E deixando de fazer a mesma coisa com seus filhos
“Numa praia tranquila, junto a uma colônia de pescadores, morava um escritor.
Todas as manhãs, ele passeava pela praia, olhando as ondas. Assim ele se inspirava
e, à tarde, ficava em casa, escrevendo.
Um dia, caminhando pela areia, ele observou um vulto que parecia dançar. Chegou
mais perto e viu que era um jovem pegando, na areia, as estrelas-do-mar, uma por
uma e jogando-as depois de volta ao oceano.
- E aí? – disse lhe o jovem num sorriso, sem parar o que fazia.
- Por que você está fazendo isso? – perguntou o escritor, furioso.
- Não vê que a maré baixou e o Sol está brilhando forte? Se estas estrelas ficarem
aqui na areia vão secar ao sol e morrer!
O escritor até que achou bonita e louvável a intenção do garoto, mas deu um
sorriso cético e comentou:
- Só que existem milhares de quilômetros de praias por este mundo afora, meu
caro. Centenas de milhares de estrelas-do-mar devem estar espalhadas por todas
essas praias, trazidas pelas ondas. Você aqui, jogando umas poucas de volta ao
oceano, que diferença faz?
- Pra esta, eu fiz diferença.
Naquela tarde, o escritor não conseguiu escrever. De noite, mal conseguiu dormir.
De manhãzinha, foi para a praia.
O jovem pegava as primeiras ondas do dia com sua prancha. Quando saiu do mar e
foi para a areia, encontrou o escritor. Juntos, com o Sol ainda manso e começando a
subir, começaram a jogar estrelas-do-mar de volta ao oceano”. ( A MAGIA DA
COMUNICAÇÃO, Dr. LAIR RIBEIRO, Editora Moderna, São Paulo, 1997)

E mestre Reich - como estará ele ligado a esta nova forma de educação?
Podemos até considerá-lo junto com mestre Skinner: os dois falaram muito em
motricidade e comportamento. Isto é, organização motora do corpo e sua

73
importância na organização da personalidade. Foi disso que falamos o tempo inteiro
ao nos referirmos às propostas dos Institutos.
Nesta área posso me mover com facilidade. Vivi, eu Gaiarsa, 60 anos de
Psicoterapia, com meus pacientes e comigo. E eu Otávio Leal 23 anos em 2016
dirigindo trabalhos corporais e grupos de plenitude. De outra parte os Institutos nada
sabem - ou nada dizem a respeito, nem se propõem a dizê-lo. Nem se deram conta
de que poderiam dizer. Mestre Freud, que inspira muitos educadores, sistemas de
educação, influência, ignorou tudo o que se pode ver da pessoa principalmente o
corpo e a face (nada viu de seus movimentos). Da comunicação não-verbal ele só
manteve a música da voz mas perdida na rede das palavras, dos significados e das
interpretações.
Na sua teoria, ele ignorou a função do olhar ao solicitar do paciente que se
pusesse no divã - longe dos olhos. Ignorou completamente a respiração mesmo
quando acreditava estar explicando quase todos os mecanismos neuróticos como
defesas contra a ansiedade. (Se a ansiedade ou a angustia não morarem no
peito e na restrição respiratória, não sei onde poderemos encontra- lá). "No
inconsciente", diria ele, mas sabe o que é ou como é o inconsciente). Nota que
inclusive é só uma palavra.
E, é claro, ignorou completamente a motricidade. A descoberta desta t foi o
grande achado e a grande contribuição de mestre Reich segundo o qual é bem pouca
a diferença entre o inconsciente e a motricidade - de todas as expressões não-verbais
da personalidade. É dele a noção de "Couraça Muscular do Caráter", bastando o
nome para que se perceba de imediato o papel da motricidade.
Em velhos tempos falaríamos em "formação do caráter". Recordando mestre
Bérgson, é por demais conveniente - e verdadeiro - falar em duas memórias: a de
imagem e a de movimento.
Acrescento por minha conta a memória de palavras A de imagens é a que eu
lembro com o se fossem de um sonho. A de movimentos é a que está escrita no meu
corpo, em meus modos, gestos, expressões faciais, atitudes. Meu corpo guardou - e
mostra! - todas As reações que já realizou, sofreu e controlou. O problema consiste
em ver - o que ele mostra.
A criança não recorda apenas palavras e imagens; ela "recorda" também gestos,
caras, jeitos e atitudes de muitos personagens com os quais conviveu - e imitou.
Freud limitou-se à de imagem e de palavras (tudo o que a pessoa pode recordar e
relatar verbalmente de sua vida passada). Reich apoiou-se teórica e praticamente na
memória de movimento, isto é, tudo o que a pessoa viveu permanece estampado no
corpo, na postura, nos gestos, nas expressões faciais, nos tons de voz. Skinner com
metodologia completamente diferente, experimental, a meu ver confirmou
extensamente o que Reich dizia. O comportamento das pessoas é por demais
automático, isto é a motricidade funciona, sem que a pessoa perceba, despertado e
dirigido - ou inibido - por sinais sensoriais ou verbais, de regra bem distantes das
razões que a pessoa dá para o que faz - ou para o que deixa de fazer.
Um terrível exemplo mil vezes acontecido na história da Humanidade: o número
de pessoas que foram mortas porque o Deus delas era diferente do Deus dos que as

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matavam. Será que doutrinas tinham alguma coisa a ver com essa carnificina? Será
que Deus - qual deles? - tinha alguma coisa a ver com isso? Mesmo?
De novo: com as técnicas dos Institutos podemos prevenir todas estas
perturbações do comportamento, levando-se em conta que comportamento e
motricidade são duas formas de nos referirmos à mesma realidade.
Convém dizer: trata-se da realidade que se vê e pode-se até tocar (Reich e Skinner)
e não a realidade da qual só se pode falar (Freud). Nada impede que algumas
palavras ajudem - apesar de tudo! Freud falava em "desejos" algo vago, sem direção,
podendo-se aplicar a palavra a realidades interiores bem diferentes - a tudo o que
move...
Falemos de "intenção" e fica mais claro: intenção é "em tensão", como o arco um
instante antes de ser disparado, "pronto para agir", desejoso de fazer.
Mas facilmente o corpo lembra de um dos mil "nãos" ouvidos na infância e aí
ocorre uma contra ação (uma ação contra): em vez de mover, a força imobiliza -
paralisa. O mesmo sistema que arma a ação contém a ação - e sua atuação pode ser
vista e ser sentida, excluindo o difícil conceito de 1 Inconsciente. Se a
Motricidade foi bem desenvolvida e assumida, então será difícil sofrer de "ações
contidas" - de inibições.

Couraça Muscular do Caráter (Gaiarsa)

Todos criamos cascas protetoras, para nos defender dos outros. Bichos cascudos
têm pouca mobilidade, e machucam os outros. Uma velha tradição diz que o ser
humano faz tudo para ter prazer na vida, e evitar a dor. Verdade?

Normalmente não procuramos demonstrar o amor que sentimos, quando amamos.


Amor é ruim? Feio? Dói?

Também evitamos o choro, mesmo quando a vontade é grande. Choro é feio? Dói?

A mulher e o homem apaixonados se encontram. Tem vontade de pegar um na


mão do outro, afagar o cabelo, abraçar, olhar nos olhos, puxar o nariz, brincar de faz
de conta, manifestar ternura, contentamento, alegria, felicidade. Mas em geral não
fazem nada disso. Tolhem os gestos mais espontâneos e ingênuos, que não são feios
nem doem. Dariam prazer?

De fato (e INFELIZMENTE) na hora das coisas boas ficamos cheios de dedos. Não
sabemos senti-las, muito menos nos entregar a elas. E usamos desculpas para
esconder nossa incapacidade. Dizemos: - Não estava na hora.

- Ele não é a pessoa certa.


- O lugar não era adequado.
- O que iriam pensar?
- Não devo, não sou dessas.

75
Verdade que procuramos prazer e evitamos a dor?

Acho que acontece o contrário; defendemo-nos de coisas excelentes, fabricando


uma casca protetora, verdadeira couraça. Os psicanalistas a chamam de defesa
psicológica ou mecanismo de fuga ou proteção? Toda casca faz do indivíduo um
especialista? Ele sempre responde as incertezas do mesmo jeito. Por isso, torna-se
muito capaz numa direção, e incapaz na outra.

Alguns exemplos: o desdenhoso sabe desdenhar espetacularmente, mas sua


habilidade termina aí. O orgulhoso é especialista em colocar-se acima das coisas, e
incapaz de vivê-las. O gozador tem grande capacidade em rir de tudo, porém, não
sente nada de importante, já que tudo é risível. O sério julga o mundo sério demais e
achata a vida. Não sabe rir.

O displicente não leva nada a sério, então, não há nada que lhe interessa. A
ingênua diz com espanto nos olhos que tudo é novo, mesmo acontecimentos velhos
de muitos anos. E não se enriquece com acúmulo das experiências. O cobrador vive
exigindo que as pessoas cumpram sua obrigação, com isso elimina a possibilidade (e
risco) das respostas espontâneas.

O desconfiado está sempre desconfiado e afasta as coisas boas que interpreta


como malévola.
A eterna vítima é técnica em queixar-se, portanto não se arrisca a viver uma
situação agradável. O Don Juan transforma a vida numa caçada à mulher, porém é
incapaz de amar alguém.

O falador interminável teoriza sobre tudo e não vive, a vida é um dicionário. Esses
são só alguns exemplos de cascas. Pois há tantas…e todas dificultam a vida. Como se
fossem óculos escuros, impossibilitando a visão do arco-íris.

O cavaleiro medieval, armado de imponente armadura, investe contra o índio nu.


Casca e não casca. Quem vai ganhar?

Se for preciso passar por uma ponte estreita (ou seja, por um momento difícil) é
quase impossível manter o equilíbrio com a armadura. O índio ganha se surgir um
perigo inesperado; como é que o cavaleiro se defenderá? Ele só sabe fazer as coisas
de um jeito (é um especialista). O índio ganha. Se acontecer um empurrão (isto é, se
as pressões sociais forem muitas), o cavaleiro não resiste e cai. O índio ganha.

Além disso, durante todo o tempo da luta, o encouraçado tem a respiração


deficiente. Em consequência disso, ele pensa, sente e se mexe mal, pois a casca feita,
na verdade, por tensões musculares que prendem, como uma roupa apertada, inibe
todas as expansões.

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Voltando aos exemplos, como o cavaleiro encouraçado, o desdenhoso, a vítima, o
orgulhoso e os outros cascudos, especializados em suas defesas se movem, respiram,
se sentem mal, vivem mal. Todo bicho muito cascudo, tartaruga, besouro, morre
quando cai de costas. Seria bom aprender esta lição. A casca oprime, limita e sufoca.
Nos torna burro em todas as reações que fogem a nossa especialidade. Nos deixa
tenso e sem reações de forma que deixamos a vida passar sem realmente vivê-la,
como se passa o tempo.
Autor: J.A. Gaiarsa
(Wilhelm Reich) Editora Ágora/ Edição 4 / 1984”

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CAPÍTULO 13
Anexos a quem gosta de ler, sobre ciência e cultura.

O essencial sobre nossa motricidade. Ao longo de eixo cérebro-espinhal temos


300.000 Unidades Motoras constituídas de um neurônio Alfa - o mais excitável dos
neurônios. Ele pode gerar - e emitir - até. Mil impulsos por segundo (de zero até mil
— note-se).
Só eles entram em contato e podem exercer influência sobre feixes de fibras
musculares, determinando sua contração - ou relaxamento. O impulso nervoso
percorre o axônio do neurônio alfa a pouco mais de 100 metros por segundo (a maior
velocidade de condução do Sistema Nervoso).
Enfim, pensando em dez frequências distintas de impulsos, temos dez graus de
tensão muscular distintos disponíveis para cada neurônio Alfa, e então chegamos a
essa conclusão espantosa: dispomos de um potencial de diversidade de movimentos
constituído da possibilidade de combinar 3 milhões de alternativas. Ou: somos
movidos potencialmente por três milhões de micro- vetores (de micro esforços ou de
micro forças distintas - que podem se somar ou se subtrair).
Claro que eles nunca atuam de uma vez, mas sim em números bem variados, em
conjuntos que atuam em uma direção ao mesmo tempo em que outros conjuntos
atuam em outras direções, somando-se de acordo com a regra de composição de
vetores. Além disso, são tão possíveis as excitações que desatam movimentos
(excitante) quanto as que inibem movimentos (inibidoras).
Em relação ao equilíbrio do corpo - longamente comentado - tenho a dizer que o
principal órgão responsável por ele é o Cerebelo. O cerebelo tem mais neurônios do
que o cérebro. A título de curiosidade, cada célula de Parking (o principal neurônio do
cerebelo) recebe duzentas mil mensagens de outros neurônios antes de decidir o que
fazer (esta é uma linguagem figurada - é claro). Enfim: todos os nossos movimentos
são pendulares - envolvem giros de duas ou mais alavancas em torno de um eixo.
Pense um pouco...
Mas são mais de 200 alavancas e nunca uma junta funciona isoladas.

RESPIRAÇÃO E CÉREBRO
O metabolismo (a atividade) do neurônio, ao lado do da fibra muscular, é o mais
alto em relação ao de qualquer outro tipo de célula do nosso corpo. Isto é, seu
funcionamento eletroquímico se faz com grandes transformações de energia.
Ou: basta que a o aporte de oxigênio mais glicose sofra, mesmo que seja uma
pequena redução, e sua função fica prejudicada. Além disso o cérebro nunca
repousa, consumindo, dia e noite, 20% de todo o oxigênio que inalamos.
Foram feitas experiências de interrupção da circulação cerebral com muitas
pessoas. Ajustava-se um manguito de pressão em torno do pescoço e bastava apertar
um botão para que ele "estrangulasse" a pessoa instantaneamente. Nestas condições
temos sete a oito segundos de consciência. Mas é preciso acentuar: esta forma de
impedir a circulação cerebral não é radical. Se fosse, não sei se teríamos mais de dois
ou três segundos de consciência.
78
Quem já viajou de avião sabe: ainda antes da decolagem, a primeira instrução
ouvida da aeromoça é sobre a máscara de oxigênio e surpresa: "Primeiro coloque a
máscara em você e depois na criança se houver".
Como falamos muito sobre respiração e oxigenação cerebral, vale a pena conhecer
a sequência de sintomas ligados à falta de oxigênio (hipóxia) para o cérebro.
O primeiro é o gradual escurecimento e fechamento do campo visual chegando à
cegueira completa. O segundo é a dificuldade dupla de entender palavras e de
conseguir dizer palavras. A terceira é a dificuldade de realizar movimentos delicados
ou complexos. A quarta é a dificuldade de tomar alguma decisão diante de uma
situação complexa. A quinta, enfim, é a dificuldade de manter o equilíbrio - se a
pessoa estiver de pé. A última é o desmaio - perda da consciência. Esta sequência
liga-se bem claramente aos graus de complexidade das funções nervosas
correspondentes. Noções sobre a Fisiologia da Circulação Celebra
Acostumados a ver a figura do cérebro inteiro fica nas pessoas a impressão de que
ele sempre funciona...por inteiro. O que é falso.
Lembrando, como exemplos, o centro respiratório e as pequenas regiões do córtex
cerebral que controlam a posição e movimento de cada dedo, compreendemos que
o cérebro é um vasto conjunto de regiões relativamente independentes, com
estrutura microscópica e funções distintas. Claro, estes "órgãos" estão ligados por
feixes de fibras e funcionam coordenadamente, mas não sei se em alguma
eventualidade o cérebro funcionará por inteiro. Creio que não.
Uma das maneiras de controlar o funcionamento isolado de uma ou outra destas
regiões é regular o volume de sangue que nutre esta região; é, dito de outro modo
através de sua circulação sanguínea. Sempre que determinada área ou núcleo se
prepara para entrar em função, a primeira coisa que acontece é o aumento local de
sua circulação - do aporte de oxigênio e glicose para ela. As técnicas atuais de
mapeamento da atividade cerebral se baseiam nisso: qualquer que seja a função
solicitada do cérebro, o que acontece instantaneamente - basta "ter a intenção" - é o
aumento da circulação sanguínea nas regiões envolvidas na atividade solicitada. Se
dissermos ao sujeito: "cerre a mão direita", mal ele entende a ordem, imediatamente
a circulação aumenta (vasodilatação) nas áreas motoras envolvidas no movimento
solicitado. As artérias do cérebro são quase terminais, isto é, se obstruídas, o'
território que elas nutrem e oxigenam pode morrer - como no coração.
Em outras partes do corpo, as artérias maiores trocam ramos colaterais entre si
(anastomoses) e então, mesmo que uma seja obstruída, outras irrigam a região.
Tudo nos leva a crer que o mesmo acontece nas regiões em desenvolvimento - que
se a circulação não nutrir o processo ele não se fará ou será deficitário. Recorde-se o
volume da circulação no cérebro da criança: três vezes mais abundante do que no
adulto nos primeiros meses da vida, diminuindo gradualmente depois.
A título de complemento cito dados de Doman no seu livro "Como Multiplicar a
Inteligência do seu Bebê" Pág. 98. A cabeça do recém-nascido tem 35 cm de
circunferência, aos dois anos e meio ela mede 50 cm e aos vinte e um anos...55!
Enfim, o endotélio (paredes) dos capilares cerebrais também é especial,
permitindo ou não a passagem de produtos do sangue para o cérebro - ou ao
79
contrário - conforme o momento funcional. Esta autonomia da circulação cerebral
ajuda a compreender o desenvolvimento maior ou menor de certas regiões - como
dissemos bem no começo. Quando a pressão sistêmica cai, a do cérebro se mantém
(até certos limites) — outro indicador de autonomia local de controle circulatório.
O cérebro foi o órgão que mais evoluiu (que mais aumentou) na História da Vida,
nos últimos três ou quatro milhões de anos. As áreas ligadas à agressão estão
diminuindo e as ligadas ao prazer estão aumentando - por mais que isso possa
surpreender. Para nutrir uma grama de substância cinzenta, são necessários 180
centímetros cúbicos de sangue por minuto. Estima-se que a área endotelial (capilar)
do cérebro meça cerca de 20 metros quadrados de superfície.
Em suma, os neurônios não morrem "à toa"- porque no feto eles se multiplicaram
"demais". Seria um estranhíssimo fenômeno biológico: produzir bilhões das células
mais complexas do corpo (neurônios) no embrião para depois eliminar metade delas.
Eles morrem por não serem usados, ao que se soma a hipóxia (baixa oxigenação)
crônica do...bom comportamento, como estivemos dizendo "tantas e tantas vezes" -
como mamãe dizia Coisas que Doman provavelmente não sabe.
Uma é sobre a Couraça Muscular do Caráter. O desenvolvimento assistido e
sistemático da motricidade pode impedir ou dificultar a sua formação. Algo parecido
pode ser pensado em relação às identificações! Será?
Alternativa para os quadros: a tela grande do computador. De regra são quadros
complexos. Hoje será fácil fotografar objetos em fundo neutro. Programas feitos de
propósito para a TV? Doman mostra muito bem a correlação verbo-visual mas isto
pode favorecer a alienação, a retirada ou o isolamento da imagem-nome de seu
contexto e de sua conexão motora, com o que se pode fazer com ela, de sua
operacionalidade. Só preconceitos podem tê-lo levado a isso, à separação entre a
visão- audição e a ação. Na sua forma original, primeiro ver-ouvir-ler e só bem depois
pensar em movimento gera nova forma de alienação! Seu livro sobre movimentos foi
bem mais tardio do que os de ler, conhecimento enciclopédico e matemática...
"Physically Superb" também é dissociado - "o corpo" bem desenvolvido - isolado!
Preciso escrever para ele!

Espiritualidade para as crianças:

10 PENSAMENTOS QUE PODEM MUDAR A EDUCAÇÃO DE NOSSOS FILHOS


BASEADOS EM OTÁVIO LEAL E ECKHART TOLLE.
“As pessoas não percebem que agora é tudo o que é, não existe passado ou futuro
exceto como uma memória ou antecipação em nossas mentes. ” - Eckhart Tolle

1) O momento presente o agora é a coisa mais preciosa que existe. Estar presente é
carisma, é saúde.
O agora é tudo o que É, não existe passado ou futuro exceto como uma memória
ou antecipação em nossas mentes.

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O passado te dá uma identidade e o futuro mantém a promessa de salvação ou de
preenchimento na forma que for. Em ambos os casos o que temos é ilusório.
O tempo não é precioso de maneira alguma, porque é uma ilusão. O que você
percebe como precioso não é o tempo mas o único ponto que está além do tempo:
agora. Isto é de fato precioso. Quanto mais você estiver focado no tempo — passado
ou futuro — mais você vai perder o agora, a coisa mais preciosa que existe.
Não deixe um mundo doente dizer pra você ter sucesso em outra coisa que esteja
além do momento presente.
A maioria das pessoas nunca está presente completamente no agora, porque
inconscientemente as pessoas acreditam que o próximo momento deve ser mais
importante do que este. Mas assim você perde a vida inteira, que nunca é não-agora.
Assim que você começar a honrar o momento presente, toda a infelicidade e luta se
dissolve e a vida começa a fluir com contentamento e facilidade. Quando você age a
partir da consciência do momento presente, o que quer que você faça fica imbuído
com um sentimento de qualidade, cuidado e amor — mesmo a mais simples ação.

2) Sempre diga sim para o momento presente, diga sim para o que se é.
A aceitação pode parecer um estado passivo, mas na realidade ela traz algo
inteiramente novo para este mundo. Esta paz, esta vivência, é consciência.
Aceitar não é apoiar.
Aceite — depois aja. O que quer este momento presente contenha, aceite como se
você tivesse escolhido. Sempre trabalhe com o momento e não contra o momento.
Sempre diga sim para o momento presente. O que pode ser mais fútil, mais insano
do que criar uma resistência interna ao que já é? O que poderia ser mais insensato do
que se opor à vida ela mesma, que é agora e sempre agora? Se renda. Diga sim para
vida — e veja como a vida instantaneamente começa a trabalhar para você ao invés
de contra você.

3) Quanto mais você se ligar às coisas de uma maneira negativa, mais obcecada
com as coisas negativas sua mente e seu ego vão se tornar.
As pessoas tendem a focar mais nas coisas negativas do que nas coisas positivas.
Então a sua mente se torna algo obcecado com as coisas negativas, com
preconceitos.
Culpa e ansiedade são produzidas por pensamentos a respeito do futuro e por aí
vai.

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4) Quando você reclama, você se coloca no papel de vítima
Reclamar inutilmente é sempre uma não-aceitação do que é. E o que é, é. Quando
você reclama, vocês se transformma em uma vítima. Também note que quando você
fala alto, você está no poder. Então mude a situação e tome alguma atitude, ou deixe
a situação ou aceite-a. Tudo mais é provavelmente uma loucura.
Honrar o passado, mas não se perder nele.
Deixar ir o passado, dar-se conta que tudo é impermanente requer força e muita
coragem. Muitas vezes deixar as coisas ir é um tipo maior de grandeza do que se
defender ou agarrar-se à situação.

5) Você é um Ser e não um ser-fazendo


Pensamos demais, desejamos demais, buscamos demais e esquecemos de apenas
apreciar o ser, o agora, o presente.
(Respire para isso.)

6) Pare de se julgar, definir e definir os outros


Pare de se definir — para você mesmo ou para os outros. Se abra à vida. E não se
preocupe com que os outros possam julgar você. Quando eles julgam, eles estão
limitando a si mesmos.
Uma vez que você esteja identificado com alguma forma de negatividade, você
talvez não queira deixar de ir (as coisas negativas) em um nível inconsciente profundo,
você não quer uma mudança positiva. Isto poderia ameaçar a sua identidade como
uma pessoa deprimida, uma pessoa com raiva ou difícil de lidar. Você então vai
ignorar, negar ou sabotar os aspectos positivos de sua vida. Este é um fenômeno
comum. É também algo semelhante a uma loucura.

7) Aonde houver muito pouco espaço para o Ego.


Um relacionamento real é aquele que não é dominado pelo ego com a sua busca
incessante de criar uma imagem e uma definição dos outros. Em um relacionamento
genuíno, existe o estado de abertura, de atenção alerta para a outra pessoa na qual
não existe nenhuma busca realmente.

8) O que você lutar contra, vai aumentar e o que você resistir, vai persistir

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Oferecer não-resistência à vida é estar em um estado de graça, de facilidade e de
brilho.
Esse estado então é não-mais-dependente das coisas ficarem de um certo jeito,
bem ou mal.
Pode parecer paradoxal, mas no momento em que sua dependência da forma vai
embora, a condição geral da sua vida, as formas externas, tendem a melhorar
enormemente. As coisas, as pessoas, as condições que você pensava que precisava
para sua felicidade agora chegam até você sem luta ou esforço da sua parte, e vocês
está livre para apreciar — enquanto durarem.
Todas essas coisas, é claro, vão passar, ciclos vão começar e terminar, mas sua
não-dependência tratará de não trazer mais medo ou perda. A vida flui com
facilidade.

9) O que quer que você lute contra nos outros, você vai fortalecer em você
Qual quer coisa que você recente luta fortemente contra em um outro encontra-se
também em você.

10) Todo e qualquer vício começa com dor e termina com dor
Qualquer vício começa a partir de uma recusa inconsciente para enfrentar e lidar
com sua própria dor. Todo e qualquer vício começa com dor e termina com dor.
Qualquer que seja a substância que você é viciado em — álcool, comida, drogas legais
e ilegais, ou uma pessoa – você está usando algo ou alguém para encobrir a sua dor.
11) Busque viver autenticamente
Interações humanas autênticas se tornam impossíveis quando você perde a si
mesmo em um papel.
Viver para manter uma imagem que você tem de você mesmo ou uma imagem que
os outros tem de você é viver uma vida inautêntica.

12) Desejar é a antítese da felicidade


Não deseje a felicidade.
Se você desejá-la, você não vai encontrar, porque desejar é a antítese da felicidade.
Existe uma diferença entre a felicidade e a paz interior? Sim.
A felicidade depende das condições que são percebidas como positivas; e a paz
interior não depende dessas condições.
83
13) A mente é um instrumento incrível se usado corretamente
A mente é um instrumento incrível se usado corretamente.
Se usada incorretamente, entretanto, se torna muito destrutiva.
Para dizer de uma maneira mais clara, não é muito como se você usasse a sua
mente erroneamente —você geralmente não a usa de maneira alguma. Ela que te
usa. Esta é a doença. Você acredita que você é sua mente. Esta é a ilusão. O
instrumento tomou conta de você.

14) A preocupação é uma perda de tempo.


A preocupação parece necessária mas não serve a propósito algum.

15) Você é mais do que a sua mente


Em nível profundo você já está completo.
Quando você percebe isto, existe uma energia prazerosa por trás de tudo que você
fizer.

Estar identificado com sua mente é estar preso no tempo: a compulsão de viver
quase exclusivamente através da memória e da antecipação.
Conhecer a si mesmo como ser por baixo do pensador, a calma por baixo do
barulho mental, o amor e o prazer por baixo da dor, é liberdade.
Tédio, raiva, tristeza, medo não são estados seus, não são pessoais.
Eles são condições da mente humana. Eles vêm e vão. Nada do que vem e vai é seu.
Você também começa a perceber que todas as coisas que realmente importam —
beleza, amor, fertilidade, contentamento, paz interior — aparecem além da mente.
Você começa a acordar.
Eckhart Tolle”

A ESCOLA
De cada dez pessoas, nove tem lembranças bem desagradáveis da escola: sentado
três horas e depois mais três, ouvindo coisas bem pouco ou nada interessante de um
adulto muitas vezes bem pouco interessado.... Valia pelo recreio que trazia a
sensação de liberdade corporal, de esticar, de ser solto. - pelas amizades - por um ou
outro professor. Valia - demais - pelo início do relacionamento social dos jogos de
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sedução para o primeiro beijo, os primeiros romances e amores. Mas a Escola mal
falava disso! Para nós a criança "começará a aprender" quando entrar na Escola - lá
pelos 6 os 7 anos.
Onze anos ditos pomposamente de Ensino Fundamental A Ginasial! Digamos, 8
meses de 20 dias por anos, 4 horas por dia: 7.000 horas O que sobra desta...tortura?
Dez por cento é uma estimativa extremamente otimista. Extremamente!
Sobra também, nas crianças, uma descrença profunda no aprendizado, na
Inteligência, na palavra, na cultura, nos educadores - na verdade... Até na Realidade.
Quando é que os “altos” Ministérios da Educação começarão a se dar conta destas
coisas trágicas e da infinita perda de tempo e de recursos usados de forma tão
absurdamente contraproducente? Porque o Ministério não pede e a opinião -
honesta! - Dos professores sobre o que acontece nas salas de aula? E porque não
publica o resumo destas opiniões? A sugestão nasce disso que a maioria das pessoas
- que vive de palavras - ainda acredita que "A Escola" está servindo para alguma
coisa, brigam para que seus filhos estejam em uma e que frequentar a escola é muito
importante.

Terminamos esse livro com um texto do Naturalista Daniel Quinn para sua reflexão:
“Como qualquer escritor, imaginei que, quando chegasse a hora, eu teria um final
maravilhoso para este livro - címbalos batendo, um raio de luz pura filtrando-se por
entre as nuvens (você sabe) -, mas nada disso aconteceu.
Não há final nenhum neste livro... Porque é cem por cento começo... Mas isso
significa apenas que nenhum final maravilhoso vai aparecer aqui. O final maravilhoso
está do outro lado desta página e do lado de fora da capa do livro, onde a revolução
de fato vai ocorrer. O final maravilhoso é você quem vai escrever.” - Daniel Quinn

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