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Juan E. Diaz Bordenave O QUEE COMUNICACAO 05.8157 ‘Diaz Bordenave Juan (0 que écomunicagi / Juan E. Diaz ‘to Paulo: Brasnse, 2005 «Col pastor 67) 31 reimpe da I ede 1982 ISBN 85-11-01067-X |. Comunicagi 2. Comunicago -Aspectas socioligicos 3. Comunicago de massas- Aspects socials [Titao. It Série cop. 3022 editora brasiliense 0 que é Comunicagéo 93 O PODER DA COMUNICACAO E A COMUNICACAO DO PODER proprio da comunicago contribuir para a modificagdo dos significados que as pessoas atribuem as coisas. E, através da modificagdo de significados, a comunicagio colabora na transformagéo das crengas, dos valores e dos ‘comportamentos. Daf 0 imenso poder da comunicagéo. Daf © uso que o poder faz da comunicagao. O poder da comunicagao No primeiro sentido, as pessoas em geral néo desenvolvem todo seu potencial de comunicagao, embora, certamente, poderiam elas, com um pouco de orientago e treinamento, aproveitar construti- vamente suas capacidades de expressio, relaciona- mento e participacao. Se a comunicagéo pode definirse como “a interaggo social através de mensagens”, por que no aprender a formular e trocar mensagens que eleven a qualidade da interagdo social? Se os meios de comunicacgo so verdadeiras “extensdes do homem”, por que néo aprender a usé-los desde a inféncia em um sentido construtivo de auto-expressio e de construcdo de uma nova sociedade mais justa e solidéria? Por que nao promover 0 acesso de toda a populacéo ao usufruto dos meios de comunicacdo “para que possam dizer sua palavra e pronunciar o mundo"? Ora, © aproveitamento timo do poder da comunicagéo para a expresso, 0 relacionamento © a participagéo, dentro de um projeto geral de transformaggo social, implica a tomada de uma série de medidas pela sociedade, comecando pela procura de novas formas de apropriagao e adminis tragdo dos meios, até melhores formas de capa- citagdo das pessoas no uso da comunicagao. No caso da educagao, novos modos de prepa- ragdo para a comunicaggo devem ser desenvolvidos a varios niveis, a saber: © Desde 0 pré-escolar até o segundo grau, a matéria Comunicaggo e Expressio deveria receber a maior énfase. Ela poderia até ser 0 Juan E, Diaz Bordenaye 0 que & Comunicago 95 eixo central de todo 0 curriculo, sobretudo nas primeiras séries. Usar-se-ia uma aborda- gem a partir de problemas reais. Através de “estudo situacional"” inicial, podem ser escolhides “nucleos geradores’’ que levem a uma melhor compreenséo da realidade gracas a diversas “leitures” da mesma: leitura den tativa, leitura conotativa e leitura estrutural. Nestas leituras entrariam, como auxiliares do conhecimento, todas as demais disciplinas: biologia, boténica, histéria, matemética etc. Na etapa final, 0 método ofereceria aos aprendizes a oportunidade de comunicarem CTiativamente suas propostas para 0 melho- ramento da realidade, observada e analisada dentro dos nacleos geradores. Tanto na investigagao da realidade como na apresentacdo dos projetos e propostas, os aprendizes_utilizariam todos os meios de ‘comunicagdo convenientes, tais como: Conferéncias Poesia Mesa-redonda Estudo de casos, Entrevista Sociodrama Painel de Oratér “conhecedores” Dinamica de grupos Simpésio Projecdes (filmes, Comisso diapositivos, informativa diaposonoras etc.) Reportagem Contos Slogans Jornal mural Desenhos Estorias em Cartazes quadrinhos Fotografias Fotomontagem Fotos seriados Fotonovela, Teatro vivo Teatro de fantoches Retroprojetor ‘© Na educacdo formal e néo-formal de adultos, © potencial de comunicagdo deve também ser desenvolvido. Na educagio formal dando mais importancia 3 capacidade de comunicar do que de absorver conhecimentos, isto é, de izar_o aprendido em beneficio da aplicago social da profissio ou ocupagio. Na educaggo néo-formal, tornando-a mais um processo de resolugdo de problemas que de adogio de préticas recomendadas. Com efeito, a educagdo ndo-formal de adultos tem se caracterizado até agora pela diretividade e pelo utilitarismo: assim, 0s extensionistas rurais 86 procuram transmitir tecnologia agropecudria; 0s educadores sanitérios 56 procuram transmitir préticas de saiide; os assistentes sociais s6 tentam transmitir proce- dimentos jurfdicos e trabalhistas. Sé recente- mente alguns agentes de mudanca se deram conta de que muito mais importante do que 96. Juan E. Bordenave adotar conhecimentos e préticas espec' desenvolver a capacidade de identificar problemas da realidade através da interagSo com os demais e com o meio, para depois articular estes problemas e buscar-lhes solugao (u, caso os recursos proprios do grupo sejam insuficientes, levé-los a0 conhecimento dos poderes piblicos pertinentes. Ora, tudo isto exige 0 desenvolvimento da capacidade de comunicar. A aquisigao do poder de reivindicagdo implica a coeso grupal, 2 autoconfianga ¢ a posse de habili dades de exposi¢do, argumentagao e persuasio da opiniéo publica, todas estes capacidades baseadas na comunicagdo. Paradoxalmente, um terceiro nivel onde o poder da comunicacgo pode ser desenvolvido pela educacSo so as faculdades e escolas de comunicagéo. Com efeito, a formacgo atual dos comunicadores sociais dé énfase ‘203 aspectos técnicos e administrativos do manejo dos meios, mas pouca atengio as estratégias de utilizagdo da comunicagao num sentido educativo e dinamizador das trans- formagées sociais. Os comunicadores saem da faculdade moldados pera o trabalho em meios do tipo comercial-empresarial e, orgu- Ihosos de seu profissionalismo, caem na tentagio de esquecer que a capacidade de ‘comunicar deve ser estendida a toda a popu- 0 que é Comunicagéo lagdo, desmistificando os meios, se se quer conseguir @ construcéo de uma sociedade Participative. Resumindo, 0 extraordinario poder da comuni- cago para 0 desenvolvimento da criatividade na auto-expressdo, da fraternidade na convivéncia e da forga politica na luta pela transformago das estruturas sociais esté ainda esperando ou uma teoria social que a valorize ou um método que aconcretize. A comunicagao do poder © inesperado desenvolvimento e difusio da consciéncia associativa e a multiplicacéo conse- qiiente de grupos ecolégicos, associagdes de classe, associagdes de bairro e de vizinhanca, comuni- dades eclesiais de base etc., mostram que foi quebrado — oxalé definitivamente — 0 antigo conformismo e passividade da sociedade civ Ante ela, ergue-se formidavel, toda uma tradi de monopélio e de manejo da comunicacgo pelas classes dominantes, disposts a perpetuar os padrdes de elitismo, privilégio, coereéo e explora- G0 que caracterizaram nossa historia. O uso da comunicagdo, evidentemente, foi apenas um dos meios empregados, junto a sanges econdmicas, 7 Juan B. Diaz Bordenave 0 que € Comunicasio 9 discriminag#0 educacional, nepotismo e, ainda, exilio, tortura e outros de triste meméria. Na’ manipulagéo da comunicaggo, as classes dominantes mobilizaram tantos tipos de medidas que sua enumeracdo seria impossivel. Entretanto, uma tentativa de classificagdo destas medidas distingue entre: Comunicagéo dirigida: consistindo na manipulagio da linguagem, obrigatoriedade de certos sig ficados, imposieSo de certos contedidos, proibi- 40 de outros (censura), utilizagdo de adjetivos laudatérios para as autoridades do momento. Comunicagéo limitada: envolve qualquer medida para a manutenggo das massas ni educac3o sendo orientada para forgar as classes baixas a manterem seus cédigos restritos, que no thes permitem articular seus interesses e participar do jogo politico. Comunicagao constrangida: os esforcos realizados por grupos privados e governamentais para estruturar e limitar a comunicaggo piblica com a finalidade de conseguir que prevalecam seus interesses: a obrigacao imposta pelo proprietdrio de um jornat no sentido de que todos os jorna- listas obedecam a linha editorial mesmo contra (os ditames de sua consciéncia; 0 controle da opinigo dos jornais através do monopélio estatal de distribuic¢do do papel; a manutenco de jornalistas e radialistas nas folhas de paga- mento oficiais para que veiculem matérias favordveis a0 governo; a influéncia das firmas anunciadoras na politica editorial dos meios comerciais etc. Hé ainda as téticas diversionistas do governo quando, para apartar a atengfo do povo dos problemas de base, fomenta filmes, programas de rédio e de TV isentos de qualquer valor educativo ou conscientizador, como os programas de calouros, os jogos competitivos, os concursos com prémios, as pornochanchadas, assim como também. os horéscopos, colunas sociais de mexe- ricos, suplementos dominicais de orientagio frivola e consumista etc. Nos programas de TV do tipo “pio e circo”, aplicam-se métodos de repeti¢go ritmica e ritual que condicionam as pessoas, embotando seu sentido critico e estético e evitando o desenvol- vimento de sua consciéncia critica. As criangas articipantes destes programas recebem forte dose de doutrinacdo consumista e mercantilista, ficando condicionadas a uma crescente dependén- cia dos reforgos e gratificagées oferecidos pela inddstria cultural 100 Juan E, Diaz Bordenave A comunicagao de resisténcia Havendo a sociedade civil constatado que 0 vasto poder da comunicagdo n&o esté sendo ut zado para promover o crescimento integral das pessoas de todas as classes sociais, sendo antes empregada como um narcético que oferece ao ovo “po e circo” em troca de sua desisténcia pela transformacdo da sociedade, a resisténcia contra este tipo de comunicagdo jé comerou. A luta tem adotado a forma de movimentos em favor de tipos de comunica¢do chamados: ‘© comunicacéo alternativa © comunicacao participatéria © comunicagio ‘© comunicagio popular © comunicagio de resisténcia © comunicagao folclérica ou tradicional Embora cada denominacdo expresse algumas diferengas de significado, a idéia comum permeando 08 diversos movimentos € a de que o homem social, até agora reduzido & qualidade de um parametro numa equa¢ao econdmica e submetido a um planejamento hierarquizado que ndo o consulta seriamente, hoje luta por uma sociedade Participative, igualitéria e antielitista. A transfor- magdo de uma soci numa sociedade participativa passa forcosamente 0 que é Comunicagao 101 pela participago pessoal, e esta passa forcosa- mente pela comunicagao, Deseja-se colocar 0 poder da comunicagéo a servigo da construgo de uma sociedade onde a participagdo e 0 didlogo transformantes sejam possives. (Os meios de comunicagao: verdadeiras extensdes do homem. 0 que é Comunicapao 103 INDICAGOES PARA LEITURA A escolha de leituras adicionais dependerd das erguntas que o leitor sinta levantarse em sua mente: Como evoluiu a comunicacéo e quais séo suas perspectivas? © FUTURO DA COMUNICAGAO, Da galaxia de Gutenberg a aldeia global de McLuhan, de R.A. Amaral Vieira, publicado por Achiamé, 28 edigdo, 1981, é a resposta. MUTAGOES EM EDUCACAO SEGUNDO MCLUHAN, de Lauro de Oliveira Lima, da Editora Vozes, 1973, é um excelente complemento. Qual & a natureza e a fungéo da comunicagso na sociedade? Embora ultrapassado em varios aspectos, o livro de Wilbur Schramm, PROCESSO E EFEITOS DA COMUNICACGAO DE MASSAS, continua itil © mesmo corre com as obras de Marshall McLuhan: A GALAXIA DE GUTENBERG {Editora Nacional, 1972); OS MEIOS SAO A MASSA-GEM (Record), OS MEIOS, EXTENSOES, DO HOMEM etc. O livo TEORIAS DE COMU- NICAGAO DE MASSA, de Melvin De Fleur, contém dados relevantes (Zahar_Editores), enquanto COMUNICAGAO DE MASSA, de Charles R. Wright, oferece uma perspectiva sociolégica_e muitos resultados de pesquisas. A TEORIA DA INFORMAGAO, de Marcello C. D'Azevedo (Vozes, 1971), desenvolve o ponto de vista da comunicagéo como transmissio de informacéo. Que ‘implicactes ideoldgico-politices tem a comunicagio? Uma excelente coleténea de autores escolhidos cuidadosamente por sua posigo progressista a respeito da comunicagdo € MEIOS DE COMU- NICAGAO: REALIDADE E MITO, de Jorge Werthein (org.), publicado pela Editora Nacional, 1979. O liveo COMUNICAGAO E PLANEJA: MENTO, de Juan Diaz Bordenave e Horécio Martins de Carvalho, critica os modelos vigentes de planificago e uso da comunicagdo na sociedade capitalista. COMUNICACAO E INDUSTRIA CULTURAL, de Gabriel Cohn (Ed. Nacional, 1977), situa a comunicagao no mundo empresarial que produz e vende mensagens. Paulo Freire, em sua obra EXTENSAO OU COMUNICAGAO?, 104 Juan E, Diaz Bordenave 0 que é Comunicagao 10s revela a violéncia antipedagégica da educagio ndo-formal diretiva. A Paz e Terra acaba de langar COMUNICAGAO DOMINADA, resumindo os modos de influéncia dos Estados Unidos nos meios latino-americanos de comunicacdo.. Quem puder conseguir um exemplar do relatério da Comisséo da UNESCO parao Estudo dos Problemas da Comunicacdo, que apareceu em espanhol com o titulo: ‘UN SOLO MUNDO, VOCES MULTIPLES. COMUNICACION E INFORMA- CION EN NUESTRO TIEMPO, publicado por Fondo de Cultura Economica en México, 1980, terd ante si uma viso global da situagdo e pers- pectivas da comunicaeSo no cenério mundial. Como & que a linguagem humana funciona realmente? Como se formam os significados na sociedade? Como afetam os comportamentos? Existem textos sobre Semiologia e suas trés grandes divisdes: a Seméntica, a Sintética e a Pragmitica, traduzidos para o portugués. Alguns deles sdo 05 seguintes: Ronald Barthes — ELEMENTOS DE SEMIO- LOGIA, Cultrix 1979. R._Jakobson — LINGUISTICA E COMUNI- CAGAO, Cultrix 1973. I” Hayakawa — A LINGUAGEM NO PENSA- MENTO E NA AGAO, Livraria Pioneira Editora, 1966. ‘Ainda néo traduzido mas excelente é 0 “paper- back” de M.A.K. Halliday LANGUAGE AS SOCIAL SEMIOTIC, The Social Interpretation of Language and Meaning, Londres, Edward Amold 1979. APRAGMATICA DA COMUNICAGAO HUMA- NA, de Watzlawick, Beavin e Jackson, focaliza a influéncia da comunica¢o sobre a personalidade ea conduta. E sobre Comunicagéo Alternativa, Popular, Participatoria, existem textos publicados em portugués? Lamentavelmente, com excesdo de FOLKCO: MUNICAGAO, a Comunicagao dos Marginalizados, de Luiz Beltro (Cortez Editora, 1980), no hd quase nada publicado em forma de livro. Jorge Werthein e Marcela Gajardo estéo preparando uma coleténea sobre Educacéo e Participagio, para a editora Paz e Terra, Esté também no prelo, na Paz e Terra, outra coleténea intitulada COMU- NICACAO E DEMOCRACIA NA AMERICA LATINA, organizada por Elizabeth Fox e Hector ‘Schmucler.

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