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Relações Íntimas e Sexuais entre

Psicólogo e Cliente

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias


Escola de Psicologia e Ciências da Vida
3º Ano 2º Semestre
Ano Letivo 2022/2023

Unidade Curricular: Ética e Deontologia


Docentes: João Oliveira
Discentes:
André Luz a22003395
Bruna Martins a22006722
Gonçalo Pereira a22005860
Vasco Figueiredo a22008404

Nota de Autor: Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Ética e


Deontologia, lecionada pelo docente João Oliveira, no 3º ano da licenciatura de
Psicologia na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, localizada no
Campo Grande, 1749-024, Lisboa.
Relações íntimas e sexuais entre psicólogo e cliente

Resumo

Este trabalho tem como objetivo explorar a temática das relações íntimas e sexuais

na terapia, isto é, entre o/a psicólogo/a e o/a cliente, bem como as implicações e

consequências para ambos os polos na terapia. O dilema ético apresentado aborda esta

temática, e são indicados os princípios éticos postos em causa, com base no Código

Deontológico da OPP. No artigo de Copawana (2016), principal base bibliográfica para

este trabalho, é discutido as relações íntimas e sexuais na terapia, bem como os seus

danos, que vão desde o agravamento dos sintomas para o cliente até o possível fim de

carreira do psicólogo. Para intervir nestes casos, é necessário um bom conhecimento do

código ético e deontológico, bem como toda a literatura e prática necessária, e controlo

desenvolvido das suas emoções e sentimentos, tendo sempre o bem-estar do cliente como

centro da terapia.

Palavras-chave: Dilema Ético; Código Deontológico; Princípios Éticos; Relações

Sexuais/de Intimidade; Intervenção.

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Relações íntimas e sexuais entre psicólogo e cliente

Dilema ético

O dilema ético ocorreu quando o psicólogo tinha 23/24 anos, durante o seu

estágio, portanto a sua experiência era pouca. A paciente em causa era uma rapariga de

19 anos, cujo psicólogo descreveu como bonita e interessante, que afirmou estar

apaixonada por ele. O psicólogo reciprocou os sentimentos e sentiu-se encurralado, visto

que era o início da sua carreira e já estava com um problema desses entre mãos. No

entanto, após conversar com o seu supervisor de estágio, ambos chegaram à conclusão de

que estes sentimentos nutridos pelo psicólogo eram uma representação máxima das suas

inseguranças e receios, causadas pelo facto de estar a iniciar a sua carreira, e sentir que

não era capaz de levar a sua profissão a cabo. Ainda com a ajuda do supervisor, o

psicólogo foi aconselhado a explorar estes sentimentos na sessão, para tentar perceber o

seu significado e possíveis consequências, visto que a relação terapêutica se complicou

quando este sentimento veio ao de cima. O seu supervisor, cuja experiência o psicólogo

achou fundamental na resolução deste dilema, com a ajuda dos dados já adquiridos nas

sessões, colocou a hipótese de que ela poderia ter experienciado relações potencialmente

abusivas no seu passado, pois quando houve algo positivo na terapia, um limite qualquer

foi ultrapassado. O psicólogo e a paciente abordaram este assunto, e chegaram à

conclusão que ela estava a sentir que determinados limites estavam a ser ultrapassados e,

consequentemente, se essa situação persistisse, iriam ter de terminar o acompanhamento

e todo o trabalho já realizado. A partir daí, começaram a explorar as relações abusivas do

seu passado, e das principais aprendizagens do psicólogo neste dilema, foi que devemos

refletir sobre determinada emoção, isto é, sobre as suas funções, seus significados e

comportamentos derivados das mesmas, porque o que considerou que poderia ser uma

nova relação, foi “apenas” um desafio à relação já existente.

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Relações íntimas e sexuais entre psicólogo e cliente

Princípios éticos em causa

Após uma revisão do dilema, uma leitura do Código Deontológico da Ordem dos

Psicólogos Portugueses (OPP), visto que o psicólogo faz parte da OPP e a situação

ocorreu em Portugal, e ainda uma análise dos princípios no código deontológico da

American Psychology Association, é evidente que vários princípios éticos estavam em

causa. No entanto, os princípios que irão ser descritos, foram referenciados do Código

Deontológico da OPP, pelas razões mencionadas acima.

Começando pelos Princípios Gerais, estão em causa o princípio C, da

Responsabilidade; o princípio D, da Integridade; e o princípio E, da Beneficência e Não-

Maleficência. O princípio C é referente à responsabilidade, e afirma que é necessário que

o psicólogo tenha consciência dos diversos resultados e consequências que a sua atuação

poderá ter nas pessoas, bem como contribuir para que os seus métodos tenham bons

efeitos e resultados no paciente. Este princípio entra em conflito neste dilema, visto que,

se o psicólogo agisse em prol dos seus sentimentos, neste caso, amorosos, mas sejam eles

de que natureza forem, ia ter um efeito potencialmente prejudicial nos resultados da

terapia. O princípio D é referente à integridade, e afirma que os psicólogos devem seguir

os princípios de atuação da profissão, evitando conflitos de interesses, e, no caso do

surgimento dos mesmos, resolucioná-los da forma mais correta e de acordo com as suas

obrigações como profissional. O psicólogo procurou resolucionar o problema, recorrendo

à ajuda do seu supervisor, e não abandonando a terapia da paciente, cumprindo assim este

princípio. O princípio E é referente à beneficência e não-maleficência, que explicita que

os psicólogos devem centrar-se, sempre, nos melhores interesses do cliente, não devendo,

de qualquer forma, agir para o prejudicar. Neste caso, uma relação íntima poderia, como

comprovado pela literatura que irá ser explorada no decorrer deste trabalho, prejudicar

negativamente a sua cliente e agravar a sua situação.

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Relações íntimas e sexuais entre psicólogo e cliente

Relativamente aos princípios específicos, temos em causa o princípio 4, que está

relacionado com a avaliação psicológica, afirmando que a mesma tem de ser realizada de

forma compreensiva e diversificada, e deve reconhecer diferenciações entre resultados.

Ou seja, os/as psicólogos/as devem basear as suas interpretações em matéria científica e

fundamentos teóricos, fugindo de opiniões pessoais, estereótipos, juízos de valores. Posto

isto, este princípio está em causa, devido aos sentimentos/emoções sentidas pelo

psicólogo, sendo possível que suas ações e interpretações, fujam de uma perspetiva lógica

e científica, para uma perspetiva mais emocional e para “ganho pessoal”.

Em causa está também o princípio específico 5, relativo à prática e intervenção

psicológicas, que afirma que estas contam não apenas com métodos e técnicas, como

também todos os modelos teóricos cientificamente validados e com todos os princípios

mencionados, nomeadamente princípios como o princípio E ou a competência específica.

Este princípio, tal como os restantes princípios específicos, é dividido em vários pontos.

O princípio 5.4, referente a preocupações de isenção e objetividade na intervenção, o qual

afirma que os psicólogos devem ter consciência da importância das suas características

individuais para o processo de intervenção, pelo que devem assegurar isenção e

objetividade explicitando junto do cliente as limitações inerentes a esse mesmo processo.

O princípio 5.7, referente aos conflitos de interesse, explicita que o psicólogo deve

prevenir e evitar os conflitos de interesse, sendo que, no dilema deste trabalho, o conflito

de interesses seria os sentimentos mútuos de ambas as partes. O princípio 5.8, referente

às relações múltiplas, afirma que o psicólogo não deve estabelecer uma relação

profissional com um cliente com o qual tem ou tenha tido uma relação, e, neste mesmo

sentido, não deve desenvolver uma relação de qualquer outro tipo para além da relação

profissional. Em causa está a possibilidade do desenvolvimento de uma relação íntima

com a cliente, devido aos sentimentos de ambos. Num registo bastante semelhante está o

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Relações íntimas e sexuais entre psicólogo e cliente

princípio 5.9, referente a relações românticas ou sexuais, onde está escrito que os

psicólogos não se envolvem em relações românticas ou sexuais com os clientes. Tal como

no princípio 5.9, aqui está em causa a possibilidade do desenvolvimento de uma relação

romântica e/ou sexual, motivada pelo sentimento de ambas as partes. O princípio 7.1, não

causar danos, que afirma que a investigação e tudo o que está incluído na mesma, não

deve causar danos ao cliente, sejam eles físicos ou psicológicos. O envolvimento numa

relação com a cliente poderá causar danos à mesma. E, por último, o princípio 5.14, onde

se equaciona a conclusão da intervenção em casos de ineficácia da intervenção, ou ainda

quando se observa qualquer tipo de constrangimento à prossecução dos mesmos (tal como

no dilema, acontece com os sentimentos de cariz amoroso).

Apresentação do artigo científico

A temática do nosso dilema pode ser uma situação bastante complicada, tanto para

um psicólogo com experiência, como para um psicólogo com menos experiência, sendo

que envolvimento íntimo ou sexual com um cliente pode prejudicar ambas as pessoas

envolvidas na relação. Capawana (2016) no seu artigo Intimate attractions and sexual

misconduct in the therapeutic relationship: Implications for socially just practice,

explora, tal como indica o título, as relações íntimas e sexuais dos psicólogos, não só com

os seus clientes, como também com os supervisores e estudantes, e as consequências

dessa relação, sejam elas a nível profissional e pessoal, bem como as implicações que têm

no treino, na supervisão e na prática da profissão.

O artigo começa por nos dar os dados de prevalência desta situação, sendo que

nos EUA, 7-12% de profissionais da saúde mental se envolveram em comportamentos de

intimidade com os seus clientes, supervisores ou até mesmo estudantes. Nessa

percentagem, existe uma maior preponderância por parte dos homens a terem sentimentos

de intimidade, sendo que 9.4% são homens e 2.5% são mulheres (Celenza, 2007). Os

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Relações íntimas e sexuais entre psicólogo e cliente

comportamentos e sentimentos de intimidade, bem como a proibição do envolvimento

com os clientes, só foi formalizado pela APA em 1977, resultado de precedentes legais,

mais especificamente o caso Roy v. Hartogs (1975), no qual o psicólogo teve relações

sexuais com a cliente como forma alegada de terapia. A sintomatologia da cliente só

piorou e levou o psicólogo a tribunal, sendo a partir daí que se estabelecem os códigos

éticos atuais, tendo sido observados os possíveis danos da prática sexual no/a paciente.

Capawana (2016) identifica os vários códigos de ética da APA que referem, direta

ou indiretamente, o tema de relações sexuais entre terapeutas e indivíduos com quem

trabalham, sendo os princípios: 3.02, Assédio sexual; 3.04, Evitamento de dano; 3.05,

Relações múltiplas; 3.08, Relações de exploração; 7.07, Relações sexuais com estudantes

e supervisores; 10.01, Consentimento informado para terapia; 10.05, Intimidade sexual

com clientes/pacientes de terapia atuais; 10.06, Intimidade sexual com familiares ou

companheiros/as; 10.07, Terapia com parceiros sexuais anteriores; 10.08, Intimidades

sexuais com antigos pacientes/clientes de terapia. No dilema ético da nossa apresentação

e descrito anteriormente neste trabalho, os princípios mais envolvidos são o 3.04, o 3.05

e o 10.05, que são semelhantes, respetivamente, aos princípios 5.8, 5.9 e 7.1 do código

da OPP, mencionados no tópico anterior.

Agora entramos no tópico dos danos para os indivíduos envolvidos em intimidade

sexual. Pope (2001) observou que, para o cliente, as reações mais comuns à temática sexo

terapeuta-cliente eram uma maior incapacidade de confiar, raiva suprimida, disfunção

cognitiva, culpa e aumento da ideação suicida, sentimentos de vergonha, entre outros. Por

parte do psicólogo também existem diversos riscos, desde sanções no meio profissional

onde se insere (e.g. clínico), a uma má reputação entre profissionais e no campo da

psicologia, o que se poderá refletir, consequentemente, em multas legais, conflitos

familiares e problemas psicológicos (Koocher & Keith-Spiegel, 2008). No entanto, as

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Relações íntimas e sexuais entre psicólogo e cliente

questões éticas relativas a esta temática focam-se no conflito de interesses, mais

relacionado com o dilema apresentado e no abuso de poder, mais explicitamente, nas

relações de exploração.

Em relação à justiça social e multicultural, temos que a justiça social deseja

responder às desigualdades evidentes dos grupos mais desfavorecidos em terem acesso a

ferramentas de autodeterminação (Goodman et al., 2004). Em relação ao poder na relação

terapêutica, é de destacar o facto de que o cliente tende a ser a parte mais vulnerável,

podendo até ter implicada uma visão, em parte, mais feminista, que conta com a

construção de uma aliança igualitária, com o intuito da mesma não ser utilizada de forma

a influenciar o terapeuta, com base num desequilíbrio de poder; onde o terapeuta é o

responsável por prevenir danos e abusos tanto físicos como verbais. Segundo (Hill &

Ballou, 1998), se o poder for dividido de forma colaborativa, vai ter como efeito, no

cliente, um sentimento de empoderamento, isto é, dando ao cliente uma voz ativa que

fortalece as suas capacidades, como a tomada de decisão, autoconhecimento, etc.

Contudo, se esta relação terapêutica não contar com uma divisão colaborativa do poder,

temos como consequência um potencial de abuso, pois, com esta discrepância de poder,

existe um risco acrescido para a exploração da parte do terapeuta. Segundo a pesquisa de

Bajt e Pope (1989), identificou-se que cerca de 25% dos entrevistados identificaram

instâncias de intimidade sexual entre o psicólogo e menores, e que indivíduos com

experiências precoces de abuso demonstram uma maior probabilidade de vitimização na

terapia, devido a uma maior tendência traumática. Em relação às diferenças multiculturais

na psicoterapia, é de grande importância a compreensão da natureza do indivíduo, de

forma a compreender as diferenças de amor, atração e sexualidade que existem entre as

pessoas e culturas (Hayes, 2014).

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Relações íntimas e sexuais entre psicólogo e cliente

Prosseguindo, agora, para um foco na atração sexual na relação terapêutica,

segundo Welfel (2012), a atração sexual na terapia é uma situação que pode ser

considerada normal e que não é necessariamente antiético, desde que esta atração não

comprometa a competência ou a objetividade da terapia. É verificada, na literatura, a

escassez de dados sobre a atração sexual na terapia, principalmente no que toca à violação

ética da conduta sexual. É de reparar, de um modo curioso, na assimetria de opiniões em

volta deste dilema ético, no qual os investigadores consideram que é, de certa forma,

inevitável que a atração sexual não perturbe a intervenção psicológica, apresentando

diversos problemas como o facto de se pensar no cliente/paciente fora de um contexto

profissional, ou com foco em satisfazer necessidades pessoais, em vez de se focar nos

objetivos da terapia em benefício do cliente. Porém, segundo Rodolfa et al., (1994), cerca

de 50% de uma amostra de cinco mil psicoterapeutas, afirmam que sentimentos de atração

sexual pelo cliente, podem trazer benefícios para o processo terapêutico.

Para finalizar este capítulo, Pope (1986), afirma que é necessário que os terapeutas

possuam competências de controlo relativamente às suas emoções, sublinhando a

importância da prática e treino destas competências. Para compreender a motivação por

detrás da atração sexual por clientes, os psicólogos/terapeutas devem ter uma visão

positiva e objetiva em relação aos seus sentimentos, de forma a ser possível clarificar e

discutir a questão. Uma estratégia muito utilizada é a autorrevelação, na qual se revela,

de forma explícita e direta, os sentimentos pelo cliente. Esta abordagem tem demonstrado

efeitos positivos, sendo que os resultados terapêuticos são significativamente melhores

após a mesma (Gabbard, 1994). Nesta abordagem, é visto, também, que os ambientes em

questão têm um grande peso na equação, ou seja, o ambiente onde tanto o psicólogo como

o cliente lida/reconhece estes sentimentos tem de ser um ambiente seguro e confortável.

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Relações íntimas e sexuais entre psicólogo e cliente

O contacto sexual com um ex-cliente, de acordo com o código de ética, é

extremamente proibido, exceto em circunstâncias extremamente incomuns, tais como

encontros acidentais após um mínimo de dois anos de tratamento breve e/ou não

intensivo. Gabbard afirma que o código não deveria incluir esta exceção à regra,

justificando que mesmo sendo um acontecimento no futuro, essa aproximação representa

uma grande probabilidade de potenciar dano no “cliente”, desafiando o princípio relativo

à não-maleficência. Relativamente a consultas breves, podemos exemplificar com uma

paragem imediata de tabagismo, que a regra dos dois anos pode ter argumentos que a

atividade sexual é permissível, pois não era uma terapia intensiva. Não deixa de ser

relevante mencionar que a imagem e a reputação do psicólogo, tem uma grande

probabilidade de ser “manchada”, podendo ter consequências negativas futuramente,

como ser mal interpretado ou julgado tanto por clientes como colegas.

Concluindo o artigo, sentir uma atração sexual tanto por clientes, supervisionados

e alunos não é necessariamente uma violação ética, mas, ao ultrapassar o limite para o

contacto sexual, já cumpre os requisitos para uma infração grave. A literatura revela a

importância de se ter um conhecimento aprofundado do código, de forma a conseguir

lidar positiva e eticamente, consoante o dilema ético presente em qualquer altura da

carreira profissional. Psicólogos e outros profissionais de saúde, necessitam de aprender

e implementar autocuidado, autorrevelação e estar cientes das suas emoções e

sentimentos, de forma a entender qual a razão das suas motivações e pensar no dano

psicológico do cliente e suas proporções.

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Reflexão Crítica

Em suma, muitas das vezes não temos controlo sobre os nossos sentimentos ou

impulsos, sejam amorosos ou sexuais, e estes podem trazer-nos consequências positivas

ou negativas. No caso do psicólogo, mais consequências negativas estão associadas, tais

como foram ditas anteriormente, e casos como este que foi relatado acontecem diversas

vezes. É necessário saber intervir de uma forma ética, sem nunca atingir o cliente

negativamente. Por isso mesmo, achamos que esta temática do artigo apresentado é

essencial para lidar com esses problemas de cariz amoroso/sexual. Para este tipo de

situações, é extremamente importante um psicólogo saber controlar as suas emoções e

perceber que os seus sentimentos, muitas das vezes, são apenas inseguranças ou receios,

como o tal referiu na sua entrevista, sendo também essencial o próprio ter um

conhecimento aprofundado do código ético, como revela o próprio artigo. Técnicas como

a autorrevelação, citada do estudo, que depois iremos explorar mais à frente, são também

formas de ultrapassar este conflito ético e não pôr em causa a competência e o objetivo

da consulta. Logo sentimos a necessidade de explorar mais esta temática e perceber que

maneiras podemos resolver este dilema ético, como iremos falar a seguir.

Com base no artigo selecionado, são apresentadas diversas formas na tentativa de

resolver o dilema ético apresentado, sendo que a experiência é o principal fator de

proteção deste dilema, acabando por afetar mais jovens recém-formados. No artigo

apresentado, terapias como a terapia feminista para uma aliança igualitária e assim evitar

o desequilíbrio de poder, são aspetos utilizados para conseguir ultrapassar o dilema visto

que a autorrevelação do sentimento amoroso pode, também, trazer benefícios para a

avaliação terapêutica (Gabbard, 1994). No lidar com estes sentimentos amorosos, refere-

se que o ambiente tem um grande peso, sendo que se o contexto for de segurança e de

abertura, o trabalho em equipa será vantajoso para o psicólogo reconhecer melhor as suas

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emoções, que converge com as próprias ações do psicólogo, visto ter recorrido à ajuda do

seu supervisor. Conforme o código ético mostra e foi referido na secção "Princípios éticos

em causa”, vários princípios foram violados e colocavam em causa a relação do psicólogo

com a sua cliente. Umas das soluções para ultrapassar este conflito poderia ser, por

exemplo, a auto revelação referida acima, no entanto correríamos diversos riscos,

portanto a melhor alternativa para este dilema ético seria de acordo com o princípio D da

integridade, relembrar que o mesmo foi usado pelo psicólogo, assenta que os psicólogos

não se podem mover de acordo com as suas motivações, neste caso sentimentos pela

cliente, logo o melhor a fazer seria promover a discussão de diferentes perspetivas,

tentando sempre respeitar os princípios gerais da psicologia, como foi praticado pelo

psicólogo ao recorrer ao supervisor e abordar na terapia o caso abusivo que a cliente

passou. Após uma reflexão do grupo, com base na revisão dos artigos e do código

deontológico, concluímos então que o psicólogo agiu de forma correta e de acordo com

todas as implicações e princípios em causa, que com o tempo e experiência profissional

que o mesmo tinha, foi algo excecional.

A realização deste trabalho na sua íntegra, isto é, os relatos do psicólogo, a leitura

dos artigos, as inúmeras revisões do código e a complementação de conhecimentos dados

em aula, foi algo bastante elucidativo e importante para a nossa aprendizagem, bem como

para o nosso futuro como psicólogos. É importante conhecermos, também, as situações

consideradas menos comuns (não incomuns), para termos conhecimento da abrangência

de formas de intervenção e de resolução das situações em causa, sendo as relações íntimas

e/ou sexuais uma dessas. O artigo principal do trabalho, complementado pelos artigos

secundários, teve esse mesmo propósito, de nos dar a conhecer as diversas implicações

que esta temática poderá ter em diversos contextos e em diversas pessoas, e o impacto

significativo resultante das mesmas.

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Referências

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