2710212028, 10:36 Necropoliica: a poltica da morte em tempos de pandemia, Aigo de Eduardo Gudynas - Instituto Humanitas Unisinas - IMU. ») HIMES ie ADITAL UNISINOS. Hitpsstwoninusunsinos.bv/78-noticias/60846-necropotica-a-politica-da-morte-em-tempos-de-pandemia-artigo-de-eduardo-gudynas. 182710212028, 10:36 ‘a poltica da morte em tempos de pandemia, Argo de Eduardo Gudynas - Instituto Humanitas Unisinos - IMU < 19 Abril 2021 AA “A presenga da necropolitica na América Latina esta diante de nossos olhos. A pandemia de covid-19 j4 tem um ano, no terminou e também no se evidencia que sera superada rapidamente. A nova normalidade prometida nunca chegou ¢ o normal é uma pandemia continua com seus vaivéns, com recuos ¢ novas ondas”, escreve Eduardo Gudynas, uruguaio, analista do Centro Latino-Americano de Ecologia Social - CLAES, em artigo publicado por ALAI, 16-04-2021. A tradugdo é do Cepat. Eis o artigo. O avango da pandemia pelo coronavirus nao apenas nao ¢ detido, como na medida em que se agrava, deixa em evidéncia um obscuro giro politico: a crever ao menos trés necropolitica. Esse conceito serve para de caracteristicas: ocorre em um contexto onde o estado de excecao passa a ser uma nova normalidade, a politica se concentra em decidir sobre o deixar morrer e repete uma narrativa de uma guerra perpétua contra todos os tipos de inimigos. A ideia de necropolitica foi cunhada anos atras pelo camaronés Achille Mbembe, para descrever a onda de violéncia global, a partir dos atentados as ‘Torres Gémeas, em Nova York, sem deixar de atender as particularidades da hitpsslwninusunisinos.bv/78-noticias/608461-necropoltica-a-politica-da-more-em-tempos-de-pandemi-atigo-de-eduardo-gudynas 2182710212028, 10:36 Necrope ‘a poltica da morte em tempos de pandemia, Argo de Eduardo Gudynas - Instituto Humanitas Unisinos - IMU co1onranaage nos paises Go sul (1). 10Je, empora esteyaMos em uM contexto diferente, todos esses componentes estio em primeiro plano. £ que a politica tradicional, que para além de suas falhas e contradigdes buscava assegurar a NQTICIAS BEKACIONARAS or uma que deixa morrer. & uma politica que diferencia entre vidas resgataveis ¢ outras que sdo descartaveis. na América Latina esta diante de nossos olhos. A mM um ano, nao terminou e também nao se islamente. A nova normalidade prometida nunca ~ normal 6 uma pandemia continua com seus vaivéns, com recuos € novas ondas. Hoje, vivemos sabendo que somos vigiados e controlados, cercados (or policiais € militares. Aplicam-se toques de recolher ou sao fechados bairros € ceitando-se, desse modo, a imposicao de enormes espacos de Esquerda e progressismo sao hoje duas coisas diferentes na América Latina, Entrevista especial com Eduardo Gudynas (epi “He Volam as medidas so disiplinados penalmente. Por exemplo,na_ Argentina, segundo o novo decreto que acaba de ser aprovado, quem descumprir as restrigoes sanitias pode receber pena de seis meses @GOis ANOS Somos liquidos,.. ou wise Eduardo. mas. : : Les Bad COM EOReS 1ATAR SES Bel p OHELR ceitados e inclusive oO sooo tee ey és Zygmunt Bauman criou uma metafor poderasa a ag descrayer as soci jedadles atuais como. “iq@BsP asad Ag Or Multos setores socials. Sua utilidade sanitaria ¢ duvidosa, pois a mandemia segue em marcha, mas sfio muito eficazes em construir esse ente necropolitico de uma espacialidade de confinamento. fa violéncia que se expressa na ssoas tém medo tanto do virus como dos Defgadenaie Apes atraroorefopnitjovpari soda obivaittineboweiganagatorista especial ‘Arkonada fenviados policiats ¢ guardas, como no Chile, que por sua vez reprimem com “rerun que andam nas ruas, aqueles que quase sempre so os mais pobres. de armas. Todas esta ituagdes, dos excessos policiais aos confinamentos de milhdes de nessoas. ficam imersos nas narrativas de wma enerra semnre nresente contra um hitpsstwwcinusunisinos.bv/78-noticias/60846-necropotica-a-poliica-da-more-en-tempos-de-pandemi-atigo-de-eduardo-gudynas. 3822710212028, 10:36 Necropolitica: a politica da morte em tempos de pandemia, Aigo de Eduardo Gudynas - Instituto Humanitas Unisinos - IMU inimigo que est em todos os lugares, nos objetos, no ar: o virus. A condicéio de excepcionalidade desaparece e ve naturaliza essa violencia, onde o inimigo nunca é derrotado e a guzrva, ent&c, torme-se eterna. Anecropolitica é a politica do deixar morrer. ff admitir que a meta de assegurar a vida fique relegada. As mortes se acumulam nao por decisdes expressas que as provoquem, mas em razo dos governos nao conseguirem superar a fragilidade dos sistemas de satide pablica, como ocorre no Peru, Equador ¢ Bolivia, ao passo que os mais endinheirados se refugiam em clinicas particulares. O caso extremo 6 Jair Bolsonaro no Brasil, cujo governo alcangou o climax necropolitica, justificando sua inago, qualificando a doenga como uma “gripezinha”. A necropolitica diferencia entre vidas defendidas e vidas descartaveis. Isto ficou evidente com os programas de vacinagio, que continuam sendo insuficientes em quase todos os pafses, o que faz. com que as grandes maiorias > sigam to indefesas como no ano passado. Mas as poucas vacinas que obtidas ficaram marcadas pelos escAndalos de serem administradas aos privilegiados no poder. Sao as vacinas VIP, como na Argentina, Peru e Equador, que mostram que hi eleitos que merecem ser salvos antes do que outros. Anecropolitica também deixa a Natureza morrer. Persistem os impactos ambientais em toda a regidio, sem que sejam interrompidos, e essa incapacidade agora é justificada invocando a crise pela pandemia. O exemplo mais recente éo0 desmatamento na Bacia Amazénica, que voltou a aumentar em todos os paises, aleangando os 2,3 milhées de hectares (as maiores perdas ocorreram no Brasil ¢ Bolivia). Todos os pafses, extrativismos para enfrentar o retrocesso econdmico, ¢ com isso estao se somando mais danos ambientais. E proprio da necropolitica as grandes escalas. Isto é evidente nos mimeros dos atingidos. Por exemplo, na América do Sul, somam mais de 22 milhdes de casos htps:tnrisnos 78-6084 1-ecropotc--plia-a-moren-tanpos-e-pandonio-arig-eoediardo-qvdnas 422710212028, 10:36 Necropoltica: a poltica da morte em tempos de pandemia, Aigo de Eduardo Gudynas - Instituto Humanitas Unisinas - IMU. e morreram mais de 600.00 pessoas. Os piores registros est’io no Brasil, com mais de 350.000 mortos, mas essas consequéncias sao igualmente graves em paises como Colémbia (mais de 66.000 mortos), Argentina (mais de 58.000) e Peru (mais de 55.000). Em proporeao a populacio, o saldo mais grave se da no Brasil e Peru. Tudo isto sem deixar de reconhecer que o impacto é certamente mais grave, dado que nao foram solucionadas dificuldades de registro e monitoramento. A marcha da pandemia nao se atenuou e, ao contrario, varios paises submergem em uma nova onda de contagios. Os atores politicos, sejam em governos como nos partidos, nao conseguiram gerir adequadamente a pandemia. Esta incapacidade ocorre com governos de visdes ideolégicas muito diversas. Tampouco se restringe a eles, pois os grupos politicos que esto na oposic&o repetem os mesmos males. Essa incapacidade se repete em paises como Colémbia ¢ Chile, ou como na Argentina ¢ Venezuela. Seja governo ou oposigao, cada um oferece todos os tipos de justificativas e perdem mais tempo em recriminagdes cruzadas do que em conseguir acordos nacionais para garantir solugées concretas. Entretanto, h4 populagGes inteiras que esto sendo dizimadas pela pandemia. Estamos nos aproximando da situagéio onde esse deixar morrer da necropolitica resultara em um genocidio dos povos indigenas no Brasil, e sem desconhecer a gravissima situac&o que se vive em paises vizinhos, como Peru, Bolivia e Colombia. Essa abordagem mostra que est4 em marcha uma modificacéo substancial da politica que conhecemos, propria da modernidade, e que se formalizou a partir de meados do século XIX, com tudo o que possa ter de bom e de ruim. Esta sendo substituida por uma necropolitica que discute a administragaio da morte. Hitpsstwoninusunsinos.bv/78-noticias/60846-necropotica-a-politica-da-morte-em-tempos-de-pandemia-artigo-de-eduardo-gudynas. 582710212028, 10:36 ‘a poltica da morte em tempos de pandemia, Argo de Eduardo Gudynas - Instituto Humanitas Unisinos - IMU As tensdes nessa guinada sfo observadas inclusive no Uruguai, o pais que conseguiu conter a pandemia por quase um ano, mas que agora sofre uma grave onda de contgios. Neste pais, nfo foram aplicadas restrigdes, nem quarentenas ao estilo da Argentina c do Chile, que se invocou a defesa das liberdades pessoais. Esse discurso, repleto de reminiscéncias do liberalismo europeu do século XIX, serviu para que o governo de Luis Lacalle Pou pudesse impor a ideia que se alguém se contagia é por sua propria culpa ou de alguém proximo que nao seguiu as indicacdes de biosseguranca. Esta 6 outra posicdo manifestamente necropolitica: “se vocé fica doente, a culpa é sua culpa e nao minha’, diz o Estado. O governo diz que atua somando mais e mais leitos de tratamento intensivo, em uma corrida contra o virus que nunca podera vencer. Mas, ao mesmo tempo, essa mesma narrativa serve para ele como desculpa, para negar auxilios econémicos significativos aos setores populares mais afetados e persistir em seus projetos extrativistas. £ que no Uruguai, assim como em outros paises, a necropolitica deixa as pessoas morrerem para manter, viva e saudavel, uma forma de economia. Isso repetidamente passa despercebido porque a atengao esta concentrada na auséncia de leitos ou oxigénio, ou em vacinas que nunca chegam. No entanto, a necropolitiea opera para preservar uma economia que descansa na apropriagdo em massa de recursos naturais para exportar, na desigualdade na riqueza, no apego ao risco pais e na fobia em financiar a assisténeia social. Isso explica que mesmo no inicio da pandemia, quando em 2020 os casos se intensificavam, foram feitas excegdes para que setores como 0 mineiro continuassem funcionando. Protegia-se essas empresas, mas nao os seus trabalhadores. Do mesmo modo, na realidade, os policiais e militares nao esto salvaguardando as pessoas, mas protegem tal tipo de economia. Feta interesse 14 nin se escande Fai accim ane a inrnal Fl Camereia na tiltima hitpsstwwninusunsinos.bv/78-noticias/60846-necropoltica-a-potica-da-morte-em-tempos-de-pandemi-atigo-de-eduardo-gudynas 2822710212028, 10:36 Necropoltica: a politica da morte em tempos de pandemia, Aigo de Eduardo Gudynas - Instituto Humanitas Unisinas - IMU. Jost HALLE Cue Je AAU OL LOUUISIO A UE OSHA ue U JUL AA 2am CRAM Wake) HAM ULL dia 9 de abril, intitulou que “a economia peruana resiste ao impacto da segunda onda”, e acrescentou que os “indicadores de fevereiro e marco melhoram até mesmo em relagio a 2019”. Os ministros da economia seguem contabilizando as exportagdes de recursos naturais, ainda que no se sabe se as mortes por covid tém uma expresso econdmica em suas planilhas de céleulo ou nao as afetam por serem gratuitas. Seguindo esses caminhos, a neeropolitiea abandona o mandato da justiga social para substitui-lo por agdes de caridade e cleméncia. Dinamita-se a concepgao da justia como uma questo com miiltiplas dimensdes para superar a pobreza e desigualdade, e que se institui em um mandato para a pratica politica. Em seu lugar, aplica-se a caridade, onde os que esto no poder, os sobreviventes, podem oferecer caridade e esmola a esses mortos vivos, para aqueles que so potencialmente descartaveis e nao sabem se seguirdo vivos no dia de amanhi. Esta é a utopia dos neoliberais. Notas [1] Una introduccién a este concepto en Necropolitica, A. Mbembe, Melusina, Santa Cruz de Tenerife, 2011. 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Entrevista com Achille Mbembe © O direito universal a respiraco. Artigo de Achille Mbembe © Achille Mbembe: “A era do humanismo est terminando” @ Comunicar erro Hitpsstwoninusunsinos.bv/78-noticias/60846-necropotica-a-politica-da-morte-em-tempos-de-pandemia-artigo-de-eduardo-gudynas. 3B