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3. Recorréncias Na primeira seccao introduz-se o conceito de relacéo de recorréncia ¢ discutem-se cinco exemplos de tais relagées. Com estes exemplos pretende-se dar wina ideia da variedade das relagaes de recorvéncia, Ha desde aquelas cujo (n+ 1)-ésimo termo apenas depende do termo anterior (exemnplos 1 ¢ 2), até dquelas que de- penddem de todos as termos anteriores (exemplos # ¢ 4); desde aquelas que tém origem em problemas de anélise algoritmica (exemplo 3), até aquelas que definem certos nsimeros importantes (exemplos 4 5). Nao hd uma mancira sistemdtica de resolver relagdes de recorréncia, embora hajam abordagens de grande wtilidade (c.g. 08 fungées geradoras do présimo capitulo), métodos sisteraéticos que fun- cionam em determinadas situagdes (.9., 0 método das rafzes caructerésticas da segunda seccao deste capitulo, usado para resolver recorréncias lineares de coe- ficientes constantes) ¢ uns quantos truques ad hoc. Na primeira seccio, somos assisteméticos no que toca a resolugdo ¢ estudo das relagdes de recorréncia, O principio da indugdo matemdtiea ¢ as suas variantes sio moeda corrente nestes estudos, No aneso a esta secedio justificam-se os usos de determinadas versdes do prinetpio da indugdo matemética. Como jé referimos, no caso de nos restringirmos a relagdes de recorréncia line- ares de coeficientes constantes, hi métodos sisteméticos de encontrar as solucdes. Na secedo “Recorréncias lineares de coeficientes constantes” estudamos 0 método das raizes caracteristicas. O caso em que hd ratzes caracteristicas mltiplas € um pouco delicado (ainda que a aplicagio do método nao o seja), pelo que deindmos para anezo 0 demonstragao do teorema fundamental referente a este caso. A secgdo termina com o caso néo homogéneo. Desde que o termo independente seja poli- nomial, esponencial ow uma combinagdo de ambos, também € possivel obter siste- maticamente todas as solugdes destas relagdes. Ossrcrivos 1. Compreender o que sao as relagdes de recorréncia e familiarizar-se com elas. Dominar 0 método da substituigéo de diante para trés. 2. Saber resolver relagdes de recorréncia lineares de coeficientes constantes pelo métoda das raizes caracteristicas. at 3.1. Relagées de recorréncia Consideremos 0 somatério onde a1,a2,... ;4@y sio mémeros reais. O primeira passo a efectuar para caleular esta soma ¢ ordenar as sua parcelas; por outras palavras, escolhemos a primeira sivamente. f subenten- parcela, a segunda parcela, a terceira parcela, ¢ assim st dido que, quando representamos a soma S usando a notagio-%, essa tarefa.j4 foi executada: a primeita p: cela é ay, a segunda a9, ¢ assim sucessivamente — como vemos, esta ordenagio é determinada pela varidvel de indexago do somatério, B agora? Se 0 nosso objectivo é somar, o que a experiéncia do dia a dia nos diz é que devemos somiar a; com az, depols o resultado ai +42 com ag, depois 0 resultado a: + a2 + ay — que, bem vistas as coisas, é (a: ++ a2) + as — com aa, © assim sucessivamente, até chegarmos & parcela final a,. Estamos a deserever, um a um, 6s passos de um algoritmo para efectuar esta soma... Em geral, no passo m, para 1l No fundo, pensamos em Sy, no como um niimero (real), mas como o termo geral de uma sucesso de miimeros reais Sp, $1, $2,.... Dizemos entdio que esta sucesso satisfas a formula de recorréncia By = Onl + On © que esté sujeita & condigao inicial (ou condigdo de fronteira) xp = ap. Aqui, 0) 1,2)... so varidvels reais que devem ser substituidas pelos termos da su- cessio So, $1, S2,.... Deve observar-se que a sucesso (S,) fica univocamente determinada pela formula de recorréncia e pela condig&o inicial imposta — 0 que nos permite identificar, de uma forma precisa, todos os termos da. sucesso. Como exemplo, a sucessio (2") determina, através da formula de revorréncia Ip = By 2" da condigdo inivial 9 = 1, a sucesso de somas (Sj), em que Sy = 2"! —1 para oH pt, S = 2" 13, todo ntimero natural n — em particular: Si hy =24 1 a7 eS 22-1 de recorréncia indicada 15. De facto, osta sucesso satisfar x rma, 142=3,342 =7, 742% = 15, em poral, Spar $2" ~1=S). 2" 1) +2 2-2-1 algoritmo sim. (do drate al-kharizmi) processo de cedloato, forma de geracdo de mimeros. De ora em diate, (an) abreviard e9,21502):-+ 8, quondo necessérie, escreveros (@n}n2m Par indiear que 0 sucessio em ‘causa comeca no tesa Obviamente porque para definirmos Sx Fecorremos a Spat 139 B nfo 6. 140 Por outras palavras, a sucessiio de termo geral 2° 1 @ uma sonueao da formula de recorténcia 24 = ear + 2" ¢ 6, de facto, a viniea sucessio de mimeros reais que, para além disso, verifica a condicao inieial zo = 1 Relagdes de recorréncia ocorem com relativa frequéncia en Matentética e, embora estejam intimamente relacionadas com somas, no 1s métodos que deserevemos na seccHo anterior devem servir para alguma coisa. fo exclusiva destas — afinal, De seguida, consideramos cinco exemplas com os objectivos de sugerir ao Teitor a vatiedade de problemas que podem ser formulados com relagées de vecorréncia. € de indicar diferentes tratamentos para o estado destas. Exemplo 1 (Um problema geométrico). Qual o mimero méximo de regides em que pode ser dividido um plano quando nele tragamos n rectas distintas? A resposta aeste problema foi dada pelo matemtica igo Jacob Steiner, em 1826, Para melhor nos entendermos, vamos denotar por a, © imero que pretendemos, B, para comecar, vamos primeito determinar dy quando n € paueno. 5 claro que a = 2 — uma recta divide qualquer plano que a contonha em das regies distintas! E também claro que a2 © leitor deve natar que as duas rectas ndo podem ser paralelas — caso contrério, | Pensemos agora em tragar uma © plano apenas ficaria dividido em trés regi nova recta, Com a ajuda de um pequeno desenho ¢ facil concluirmos que trés é 0 niimero méximo das quatro regides anteriores que podem ser divididas, cada uma das quais em duas subregibes: = 443 =a) +3 — note também que a2 = 4=24+2= Por conseguinte, as = ay +2, Em geral, quando tragamos a n-ésima recta (para n > 2), aumentameos o mime regides de an—1 para dy = any + 80, @ somente se, a nova recta “atravessa” exactamente k das regides jé obtidas, B isto acmitece se, e somente se, a nova reeka “cruza” exactamente k ~ 1 das rectas que jsf tragsimos em k ~ L pontas diferentes — um desenhio pode ajudé-lot Como qualquer par de rectas distintas se pode ‘cruzar quando muito num ponto, a n-ésima recta pode eruzar as n— 1 rectas ja tragadas no méximo em n~ 1 pontos. Assim k < ne, portanto, ay Sana +7. Para justificarmos que se tem a igualdade, notemos que 6 possivel tragar a n-6sima recta de forma a que no seja paralela a neuhuma das restantes (Intersectando-as assim a todas) e de modo a que ndo passe em uenhum dos pontos de interseecio jé obtidos (assim a nova recta intersecta as antigas em n — 1 novos pontos). Por satisfaws a conseguinte, ay = an—1 +n, ie, a sucessio de mimvros reais (an), formula de recorréncia Bq = tytn, Para que o problema fique com solugio determinada esta formula de recorréncia deve ser acompanhada da condigao inicial x, = 2. Sendo assim, o niimero méximo uy de regides do plano determinadas por n rectas desse plano pode ser obtido HECURSIVAMENTE por 2, natn, paran > 2. Por outras palavras, a sucessio (an)n>1 6 a tinica solucao da férmula de recorréncia, jal xy = 2, n= nai +n que satisfas a condigéo i Até agora, néio encontrdamos ainda uma “formula” para ag que dependa apenas den — e por isso 0 problema esti resolvido de uma forma indirecta. Essa formula pode ser obtida usando um pequeno truque e, também, algum conhecimento anterior. Com efeito, podemos somar os primeiros n termos da sucesso (am)n21 a= Vent) conde, por conveniéncia, favemos ag = 1 — de modo que ay = ag +1. Por con seguinte, DL, a - D2 Stowe ee meee a1 = Dy 4, ou eel, tanto, (0 mesmo resultado pode ser obtido usando win outeo método (bastante «itil, em- hora menos tigoroso), conhecido por MBTOBO DA SUBSTITUIGAO DE DIANTE PARA rads: On = Ont += dna (= 1) $n agg + (n-2) + (n= 1) +n Bes agtl+24--4+(n-24(n—-Den -Recutto é sindnimo de recorréncia ¢, portanto, que recorrentemente “Backward eubstitasion® rn Se séo discos, tim que ser circuleres! é quem nao aeredite esto histéria, mevecendo referéncia especial 0 matemtico belga M. Keaitehik. Ble notow que Claus” & wm anagrama de “hens “Li-Sou-Stia snograme de *Soint-Eowis", 0 bicew conde Lucas leccionave, we S114 2b tO 4 (r= Dtn=14 oe A mesma soma que obtivémos 1 4. MM}, Mas, como refe nal Assim, ay rimos, este métoda é menos vigoraso ¢ earece de um pequeno argumento indutivo — que no fundo est escondido na. cadeia de ignaldades indicadas. Nessa cadeia, houve uma certa adivinhagéo que, em situagbes menos claras, pode levar a resul- tados errados. Deste modo, para verificar 0 resultado obtido, devemos confirmé-lo com uma demonstra’ 14 HUH) 29 por indugio. O caso base € trivial: a © passo de indugio também é simples: gn +1) 2 an = ayy kn i Exemplo 2 (A Torre de Handi). Neste exemplo vamos tratar de um problema que foi formulado € resolvido pelo maternAtico francés Bdonard Lucas (1842-1891) em 1883, no terceiro volume da sua obra Réeréations mathématiques. O problema csté relacionado com um jogo que ficou conhecido como a ToRnE p& HAN6I e que consiste, muito simplesmente, num tabuleiro rectangular onde se dover fixar trés hastes verticais (cilindricas ¢ iguais) e em n discos circulares, nfo havendo dois discos com 0 mesmo diametro, Cada disco tem um pequeno orificio no centro de 10 do jogo, todos os discos devem ser enfiaclos na mesma haste por ordem decrescente, ficando 0 maior forma a poder ser enfiado em qualquer uma das hastes. No i na base da torre assim coustruida — cada disco pode, portanto, representar um andar da torre, 0 objectivo do jogo ¢ transferir todos os discos de forma a reconstruir 2 tore ‘numa (qualquer) das outras duas hastes, obedecendo as seguintes regras: 1, Em cada movimento s6 pode ser transferido um disco; 2. 0 jogador nunca pode colocar um disco sobre outro de menor didimetro. No seu livro, Lucas conta uma histéria curiosa em que afitma ter conhecido 0 Jogo da Torre de Handi através de N. Claus, um professor de Filosofia ¢ Cétculo no Colégio LiSou-Stian, na cidade de Bangkok, capital do reino indochinés do Sido, O préprio Claus soubera do jogo, por acaso, numa das imimeras viagens que cmpreendia pela Indochina a fim de recolher informagées sobre as muitas obras dispersas do genial matematico siamés Fer-fer-tam-tam. Nessa viagem, Claus teria visitado um templo riquissimo na cidade santa de Benares — que, para os hin- dus, se situa no Centro do Mundo ~- ¢ teria assim conhecido a Lenda do Fim do Mundo. Segundo the revelaram os czm monges do Templo de Benares, 10 | | | Principio do Mundo, o deus Brahma colocara, sob a cipula de e I da sala prin: cipal do Templo, na cidade de Benares, um tabuleiro de prata com trés hastes de diamante, Na haste central, o deus Brahma construfra uma torre, como indicdmos acima, com 64 discos de ouro puro — a que o monges chamavam a Torre de Brakma, E Brahma teria ordenado aos seus cem monges que reconstrufssem a ‘Torre numa das outras hastes, transferindo um disco de cada vex e formando em cada movimento uma torre semelhante & inicial, Quando a tarefa fosse conclulda, a Torre ¢ o Templo rniriam e 0 Mundo terminaria, Seria o Fim da Humanidade. Bom! Para sermos mais rigorosos, sora o Fim da Humanidade: a reconstrugao da. ‘Torre exige 18446 744073 709551 615 movimentos! Um miimero com vinte algari mos! Consegue Ié-lo? Se admitirmos que os monges efectuam um movimento por segundo (0 que é bastante improvavel), so necessérios 584 942.417 355 anos para terminar 0 jogo, 0 que excede em muito o “tempo de vida" previsto para o Sol. O deus Brahma foi realmente excepcionalmente benevolente. J4 aqui indicdmos o nimero de movimentos necessétio para terminar um jogo de ‘Torre de Handi com 64 discos. A resposta para qualquer jogo é dada na resolugdo do problema que aqui colocamos — e que nao é, de modo nenhum, o de jogar 0 jogo até ao fim. Pretende-se saber qual 6 0 mimero mfnimo de movimentos necessétios para completar um jogo de Torre de Hanéi? A primeira vista, no € claro que o jogo possa ser terminado. Contudo, se pen sarmos durante alguns segundos, chegamos & conclusio de que facto tal acontece — embora possa ser impossfvel chegar ao fim do jogo durante a nossa vida (se 0 inimeto de discos for suficientemente grande). Para isso, basta usar, de um modo bastante simples, 0 prinefpio de indugao matematica. Em primeiro lugar, é claro que 0 jogo termina quando consideramos apenas um disco, Suponhamos agora, por hipétese de indugio, que um jogo com n discos — sendo mum miimero natural no mulo arbitrariamente fixo — termina. Entéo, termina-se um jogo com n+ 1 discos através da estratégia seguinte: 1, Transferimos os n discos do topo da torre para uma haste diferente da original 2. Mudamos o disco da base —~ 0 maior — para a haste que sobra.e que, nesta, altura, é a tnica que se encontra “vazia” 3, Transferimos a torre de n discos, construfda no passo 1, para a haste onde se encontra 0 disco maior. leitor deve notar que os passos 1 ¢ 3 so possiveis pela hipétose de inducio. Deste modo, pelo principio de indugo, 0 jogo tem solucio qualquer que seja 0 mimero de discos considerado. Para resolver 0 problema proposto, designemos por dy 0 nimeto mfnimo de movi- ‘mentos para completar umn jogo com n discos e comecemos por determinar a1, ¢ € ay — para depois tentarmos generalizar os argumentos usados. fi claro que ay = 1 © que “Por-fertom-tara™ é sum orranjo com 0 nome de Permat, por quer Liwons tine grande admiragao, Assim, consideromos yan jogo com dois discos, Neste caso, 0 Ieitor pode eonveneer- -se, experimentanente, de que siio ne esirios pelo menos Leds: wovinnentos para reconstruir a torre mnna das outras hastes Se | 7 ae Quando a torre ¢ formada por trés perimentalmente, que sia necessérios pelo menos sete movimentos para reconstruir andares, 6 leitor pode convencer-se, tambéam ex- fa torre nuina das outras hastes — vepare que a estratégin seguida & precisamente a que indicimos acima. wantin ont @ Deste modo, 02 = 3 ¢ 03 =7. Ero geral, consideremas umn jogo com n discos, em que n 2 2. Seguindo @ es tratégia que indicémos acima, terminamos a partida depois de efectuarmos dn movimentos no passo 1, um movimento no passo 2 ¢, de novo, a1 movimen- tos no passo 3. Por conseyuinte, seguindo esta estratégia, efectuamos 24,1 +1 movimentos para. completar o jogo e, portanto, por definigao de an, Oy S 2aya +1. Porque ndo a ignaldade? Bom, ainda ndo justificdmos que a estratégia soguida é a, methor, Para isso, notemos que, pelas condigdes impostas, o maior disco da torre 86 pode ser colocado numa haste vazia, B, obviamenie, isto 86 & posstvel depois de termos comptetado o passo 1, Finalmente, 0 passo 3 tem que ser executado de qualquer meneira... Deste modo, s6 podemos completar 0 jogo com © menor niimero possivel de movimnentos desde que, nos passos 1 e 3, tenhamos efectuado também o menor mimero posstvel de movimentas, Deste modo, On = Bonen odemos assim definir (de modo indirecto) a sueessio ()y21 dizendo que a = 1 que dy = 2a, 41 sempre que n > 2. Por onteas palavras, esta sucessio satisfag a férmula de recorréncia y= Oty +h © est sujeita & condig&o inicial 2: © método de substituicdo de diante para trés permite-nos obter o valor exacto de ayy FL = Ady g +1) 41 Pann $241 P(2an—a +1) +241 = Bang + P4241 See ta Oe PEEL uF Vista soma ja n6s conhecemos: S285! 2! = 2"—1. Assim, o termo geral da sucesso BDA PED 1 a, =2" A verificagao rigorosa desta igualdade deve ser feita por indugio ¢ 6 deixada ao ruidado do leitor. Wy Vixemplo 3, Em Ciéncias da Computacio, estuda-se o algoritmo de ordenagao Quicksort, O mimero médio de comparagies Gn que este algoritmo efectua para sordenar uma lista. de n itens 6 dado peta seguinte relacdo de recorréncia: Co=0, Cy=nt1t2 9° Cea, paran2t a © problema consiste em explicitar Cp. Antes de resolver este problema, devemos observar que esta relagéo de recortén- vin difere das anteriores. O termo Cy nio depende somente do termo precedente Cy-ty depende — ao invés ~ de todos os terms anteriores Co, Cy, --+ 5 Gna B “sie s@ chama. uma RELAGRO DE RECORRENCIA COMPLETA, Por meio de alguns ‘onques, vamos reduzir esta relagio s uma outra mais fécil de calcular. Paran > 1, NC =n? 04250Cr-4 +, portanto, a (= VEpa1 naan 142501 snpre que n> 1. Sobtraindo as duas express, obternos mEq = (N= 1)C yaa = B+ 2p Tanto truguel signifia que 0 exemplo sinda no terminon. uo ©, portanto, Cy = (4 Cnt + 20 sempre que n > 1. Dividindo ambos os membros por n(n + 1), concluémos ae G, sempre que n > L Agora, vamos por a ece cn n+l para todo 0 nimero natural n. Para n> 1, vem 2 Op= Cnt aH ®, por computagao directa, Cf = 1 (porque Cy = 2). Esta relagio de recorréncia ‘6 mais fieil de abordar do que a original, pois é uma RELAGRO DE RECORRENCIA SIMPLES, Le., 0 termo C% apenas depende do termo precedente C3. Pelo método de substituigao de diante para trés ate 2 Be tha = a 2 Dey Sarre (a onde H, é 0 n-ésimo mimero harménico (definido na primeira seccio do capitulo anterior): Hn = Cfo b = 14 b+ }--- + 4. Conchui-se que n= (n+ 1)(Hnss — 0). ‘Vamos terminar este exemplo com uma verifieagao indutiva de que a formula a que chegémos esta correcta. © prinefpio de indugdo que estudémos no primeiro capttulo nao parece, porém, adequado para atingirmos o nosso objective. Por con- seguinte, vamos fazer um pequeno intervalo neste exemplo para falat do Principio da Indugéo Completa. o prineipio de indugao, tal como o estudémos na segunda secgao do primeiro capitulo, € o seguinte: Prinefpio da Inducio Matematica (Indugio Simples). Se uina proprieda- de é verdandeira para 0 e se, sempre que é verdadeira para n, tombém 6 verdadeira para n+ 1, entdo & verdadeira para todos 08 mimeros maturais, Qualificémos esta forma de indugdo de simples para a distinguir da indugio com pleta, de cue vamos falar dentro em pouco. Na linguagem da Logica simbélica: PO) Yn(P(n) => Plt 1) VnP(n) A dinamica do provesso indutivo 6 muito simples. A propriedade P & verdadeira para 0 por hipdtese. Sendo verdadeira para 0, também o ¢ para 1 (pois P(0) = P(1)). Sendo verdadeiza para 1, também o 6 para 2 (pois P(1) =» P(2)). B assim sucessivamente, Observe que, quando estamos no passo em que concluimos que a propriedade é verdadeira para um determinado nimero n-+ 1, jé temos garantido que a propriedade é verdadeira para todos os mimeros precedentes m P(n+1)) YnP(n) lugao desta forma de indugio é a implicagéo PO)EPU)E... & Plu) > Pin +1), O paso d ou seja, para demonstrar este passo, temos de concluir P(n + 1) partir das premissas P(0), P(1), ..., P(n) (a hipétese de incugao completa). No principio da indugio simples, teinos que concluir P(n + 1) apenas a partir de uma Gnica premissa, a saber, de P(n). Em suma, o Principio de Indugdo Completa é uma versio fortalecida do Principio de Inducéo Simples. Continuagio do exemplo 3. Vamos utilizar o principio de indugio completa para mostrar que, para todo o miimero natural n, se tem a igualdade Gn = 20+ 1)(Hapa = 1). caso base da origem & igualdade Hy = 1). Vamos agora demonstrar a igualdade para o caso n +1, tendo como hipétese de indugao completa todas as igualdades para os casos m com m 3, 0 n-ésimo niimero de Fibonacci, que denotaremos por Fy, pode ser obtido como a soma dos dois mimeros de Fibonacci imediatamente anteriores: Fy = Fait Foot Assim sendo, a SUCESSAO DE FIBONACCI Fi, Fs, yy... satisfaz a formula de recorréncia nok Fyn © esta sujeita a duas condigoes iniciais: 2, = 1e 22 = 1. A expressio geral do n-ésimo mimero de Fibonacci Fy foi determinada pelo matemstico francés Jacques-Philipe-Marie Binet (1786-1856) e, por isso, 6 conhecida pela FORMULA be Biner: peo (4-0: 4) 2 z . Esta formula foi também obtida independentemente pelos matemticos De Moivre (1667-1754) e Daniel Bernoulli (1700-1782). Os mimeros de Fibonacci revelaram- -se de tal importéncia e motivaram tanta investigagéo matemética que, em 1963, © matemético americano Verner E. Hoggatt, Jr., criou na Universidade de Santa Clara, Califérnia, B.U.A., uma associagio, a Associagdo de Fibonacci, com 0 objec- tivo de divulgar e promover trabalhos de investigacéo sobre mimeros de Fibonacci. Para terminar esta breve digressio, referianos que os mimeros de Fibonacci podem ‘encontrar-se em intimeras dreas da Matemstica: Geometria, Teoria dos Numeros, ica, Probabilidades e Estatistica. E também em outras ciéncias nao mateméticas: Arquitectura, Biologia, Quimica, Combinatéria, Algebra Linear, Anélise Num Fisica, Engenharia, ¢ assim por diante... Bom, voltando ao curso natural do nosso texto, enunciemos e solucionemos 0 problema de Fibonacci, 0 Problema dos Coelhos. Um explorador deixou um casal de coclhos bebés numa ilha. Pretende-se saber quantos casais de coclhos existem na ilha ao fim de n meses, sabendo que: 1. apartir do segunda més de vida, cada casal de eoelhos gera, todos os meses, um um s6 casal de coelhos bebés; 2. nao ocorrem mortes. Para melhor visualizarmos o problema, consideramos os sete primeiros meses do ‘ano e supomos que primeiro casal de coelhos foi deixado na ilha em Janeiro — para crescer durante Fevereiro e poder reproduzir-se em Margo: Més | Janeiro | Fevereiro | Margo | Abril | Maio [ Junko | Julho Fl] 0 0 1[ife[s3fs ft 1 ais | ar oes |e en Expliquemos este quadro: cada bola negra representa um casal de coelhos adul- tos, cada bola branca representa umn casal de coelhos bebés, F, ¢ Fy designam, respectivamente, o nsimero de casais nascidos e o mimero total de casais existentes 153 Veja a présima secgéo. A formula de Binet é vendadetra para todo 0 iimero notural se definirmos Fy =0. Um ponto subls Aguarde! Por que rasio néo usémos indupdo simples? 154 no n-ésimo més. Da simples observagdo do quadto, 0 leitor pode constatar que Fa = Fly. Pelo menos para n <5. Esse facto deve-se a que, em determinado més, cada coelho bebé s6 pode ter sido gerado por um casal existente hé pelo menos dois meses. B, também por esta razio, é claro que @ igualdade indicada 6 vélida para qualquer mimero natural n, Ora, também & claro que, para. qual- quer n > 3, 0 mimero de coclhos existentes no n-ésimo més é a soma de todos os coelhos existentes no més anterior, ie., Fy-1, com 0 niimero de coelhos nascidos nese més, Le., Fi. Por conseguinte, Fy = Fat Ry = Fait Fog para n> 3, Obtemos assim a formula de recorréncia que, conjuntamente com as condigées iniciais F, = F; = 1, definem os mimeros de Fibonacci. Embora a expresso geral de Fy possa ser obtida por processos universais, que no envolvem qualquer tipo de adivinhagéo (que neste caso, temos de concordar, 6 praticamente impossivel), demonstrarémos de seguida a {Srmula de Binet (que completa a solugio do problema dos coelhos). Proposigao (Férmula de Binet). Para qualquer niimero natural n 2 1, 0 n- ésimo niimero de Fibonacci & dado por Fy 4 (e"-#) onde & = HVE ¢ § = 1=N5, Demonstragdo. Usamos indugéo completa, comegando em n = 1. Ore 1 (it+v5_1-v5 el aaa A, Ya\2 2 logo 0 caso base est provado. Para que a noss” indugdo funcione correctamente, devemos provar também que a igualdade pretendida 6 verdadeira para n = 2, Ora, um céleulo simples mostra que 4(C24)-(59)]-aet29 Agora, suponhamos que, para qualquer mimero natural n > 2, aigualdade é vélida para 1,2,...,n (cata é a hipétese de indugéo completa) com vista a provar que também é vélida paran+1, Ora, 6 = $478 = 14¥8 +1 = &+1e, analogamente, $? = $ +1. Assim, usando a hipétese de indugdo, deduzimos que Foti = Fut P= a (on) + J (ot) J (Oe +0 - HH +0) = Je (wet) passo de indugio esta provado e, portanto, a férmula de Binet & vélida para todo o mimero natural diferente de zero. 5 importante esclarecer o “ponto subtil” a que aludimos na margem do texto. Por que razio temos que verificar a igualdade para nm = 2? De acordo com o principio } | de indugio completa, hé duas hipéteses a verificar, Primeiro, hii que verificar a igualdade para n = 1. Segundo, para todo o mimero natural n > 1, hé que verificar a jgualdade para n + 1 a partir das igualdades para m 2, se tem a igualdade para n +1 desde que essa igualdade também valesse para todo m 2 4. Considere a sucessio (dy) definida por dy = 1 © por dy = dni +1, para nek (a) Mostre, por indugao, que dant od (b) Obtenha igualdade acima pelo método da substituigo de diante para tras. 5. Considere a seguinte relagio de recorréncia: Sion paren >. ‘ (a) Calcule 08 primeiros termos desta sucesso e conjectuire uma formula ex- plicita para 2p, (b) Verifique, por indugéo matemética, que a férmula que conjecturou na alinea, anterior est correcta. 6. Considere a sucesso dupla (tn,:)n,e definida por #0, = 0 e por Toatl, son2h, Pathe = " 0, sen 1 9. Considere a sucesso (C,) definida por C; = 0 e por Cn = Cg) +1, paran>2. (a) Mostre, por indugdo, que Cy» =m. (b) Mostre, por indugdo em n, que, se 2" 1, existe uma nica sequéncia bindria bybj,—1...b109 com by = 1 (aio hé zeros & esquerdal) tal que ns Soz! by 22? +o tO = Também se diz que @ sequéncia bb. bude—a «-babo)a. (a) Para aquecer, mostre que, sen = (bxbk-1-.-biby)a, onde n > 1, entdo UB) = (bade-a .--bobi)o (b) Considere a sucesso (C,) definida por Cy = 1 e por sbi 6a EXPANSKO BINARIA dene Ch = Op +n, paran>2 Mostre que, se 1 = (bubj—1...bubo)a, entéio 11, 0 niimero méximo de comparagdes M, que o algoritmo Quicksort efectua, ara ordenar uma lista de n itens satisfas. a relagéo de recorréncia 2 =0, By SNtl max (th + tpn), paran > 2 Mosire que - Ms fen) 3 para todo o aimero natural n > 1. Anexo sobre o Principio da Indugao Recordemos que, na linguagem da légica simbélica, 0 Pruncipio va Ixpugko Simpes tem a seguinte formulagio (onde P é uma propriedade dos nimeros naturais) PO) Yn[P(n) > Pin +1)] = ¥nP(n) enquanto o Principio pa INDUGAO ComPLETA & PO) Yn [P(0) & P(1) & ... & P(n) > P(n+V)) = “WnP(n) ‘Tem-se o resultado seguinte: Teorema. 0 principio da indugdo simples implica 0 principio da indugdo com- pleta. Demonstragao. Seja P uma propriedade dos mimeros naturais e admitamos que se tem: 1. PO); 2. para todo o niimero natural n, P(0) & P(l)& ... & Pn) > P(n +1). Defina-se uma nova propriodade Q da seguinte mancira: Qln) = PO) & PI)... & PO No caso 0, a propriedade Q(0) reduz-se a P(0). Logo, por 1, Q(0) vale. Por outro lado, tem-se Q(n) + Q(n+1). Com efeito, se Q(n) é dado, entao, por 2, podemos concluir P(n + 1). Ficamos, pois, com Q(n) e P(n +1). Mas @ conjungéo destas duas propriedades é, exactamente, Q(n +1) elo prinefpio da indugdo simples podemos concluir que, para todo 0 mimero natural n, se tem Q(n). Em particular, tem-se P(n), para todo 0 niimero natural n o ‘Uma forma importante do principio da indugdo 6 0 Princfpio Do Minimo: Principio do Minimo. Seja P uma propriedade de niimeros naturais. Se ex- iste um miimero natural n tal que P(n), entio existe 0 menor dos naturais com essa propriedade, i.., existe um ntimero natural no tal que P(no) € tal que, para nenhum natural m < np, se tem P(mn). Na linguagem da l6gica simbdlica: ePQ) ‘3 quer dizer “existe”. 7 Bno(P (it9) AVin fin < rig = >P(n) onde +P é a negacao da propriedade P. 163 164 ‘Teorema. 0 principio da indugdo completa implica o principio do minimo. Demonstracdo. Com vista a um absurdo, vamos admitir que existe um mimero ‘que verifica a propriedade P, mas que nao existe o menor desses niimeros. Ento, claramente, nao se tem P(0), i... temrse +P(0). Por outro lado, conjungio +P(0) &P(1) & ... & +P(n), entéo néo se tem Pfn + 1) pois, caso contrério, n+ 1 seria menor ntimero que verificava a propriedade P. Por outras palavras, provamos a implicagio AP(Q) & PC) & «.. & -P(n) = Pn +1) se tem a para todo o niimero natural n. Logo, pelo principio da. indugéo completa aplicado & propriedade +P, podemos coneluir que ¥n-P(n). Isto contradiz a hipdtese de haver pelo menos umn mimero ‘que verifica a propriedade P. o

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