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Poesia Pau-Brasil Pauw PRavo A poesia “pau-brasi” ¢ 0 ovo de Colombo — esse ovo, toca cay inventor meu amigo, em gue ninguém acredt tava ¢ acabou enriquecendo o genovés. Oswald de Andrade, numa vlagem a Paris, do alto de um ateler da Place Clichy: Z-timbigo do mundo ~ descobriu, deslumbrado, « sua prépria terra, A volta & pétria confirmou, no encantamento das deco de smportagdo. Um dos aspectos curiosos da vida intelectual do Brasil é esse da literatura propriamente dita, ter evolutdo ‘ecompanhando de longe os grandes movimentos da arte do Pensamento europeus, enquanto a poesia se imobilizou no to ‘momo dos modeler cdscon rons, repctae som tr 67 fadonha monotonia, as mesmas rimas, metéforas, ritmoe ¢ ale- gorlas. Velo-Ihe sobretudo 0 retardo no crescimento do mal ro- ‘méntico que, ao nascer da nossa nacionalidade, infeccionou {10 Prof fe @ tudo ¢ a todos. Com a partida para jora cla. goldnia do leno de alcobaga ¢ da caixa de rapé de D. Joao V1, emigraram por largo tempo deste pais 0 bom senso terra ~aterra € a visio clara ¢ burguesa das coisas e dos homens. Em politica o chamado “grito do Ipiranga’ i a cars eee, en « nos faz viver num como sonho de que #6 nos acordars a ma catdstrofe benfeitora, Em Uteratura, nenhuma outra infles éncia poderia ser mais deletéria para o espirito nacional. Des- de 0 aparectmento dos Suspiros posticos ¢ Saudades, de Gont- glee de Mogalhdes, que as nossos poetas e excitores até os cheio de bow com que se embebedava Childe Harold nas orgias de Newstead. O liriemo puro, simples-e ingénuo, como um canto de péssaro, 96 0 exprimiram taloez dois poctas quase desprezados — um, Casimiro de Abreu, relegado a ad- ‘miracéo das melindrosas provincianas e calteiros apatxenados; outro, Catulo Cearense, trovador sertanejo, que a mania literd. fie id encenenou. Form esses, melanedicor, deslinhados ¢ sinceros, os dois tinicos intérpreies do ritmo profundo e ‘ntimo da Raga, como Ronsard ¢ Musset na Franca, Mocriken ¢ Uhland ‘na Alemanho, Chaucer e Burns na Inglaterra, e Whit man nos Estadoe Unidos, Os outros slo lustanos, frances, es Panhdis, ingleses ¢ alemées, versificendo numa lingua estra- tha que é 0 portugués de Portugal, exbanjando talento e mes. mo génlo num desperdicio lamentdvel e nacional. O verso cléssioo: ‘Sur des pensers nouveaux, faisons des vers" antiques esté também No sé mudaram as idéas i da velhos diciondrios, 0 pluralismo cinemdtico de nassa época, é ‘um anacronismo chocante, como se encontréssemos num Ford um tricérnie sobre uma cabega-empoada, ou num torpedo a tlta grasata de um dandl do tempo de Brunel, Outre sore Pos, outros poetas, outros versos. Como Nietzsche, todos exigi mos que not cantem um canto novo. A poesia “pau-brasil” &, entre nds, 0 prinetro esforgo or genizado pora @ Ubertacdo do verso brasileiro. Na mocidade Culta e ardente de nossos dias, £ outros iniclaram, com escdn- dalo ¢ sucesso. a campanha de lberdade e de arte pura ¢ viva, que € a condigio indispensével para a existéncia de wma lite ratura nacional. Um periodo de construgdo eviadora’ sucede agora ds lutas da época de destruigdo revolucionéria, das " pa~ lavras em liberdade”. Nessa evolugdo ¢ com os caracteristicos de suas individualidates, destacam-se os nomes jd consagra~ dos de Ronald de Carvatho, Mério de Andrade ¢ Guilherme de Almeida, nao falando nos rapazes do grupo paulista, mo- desto e © manifesto de Oswald, porém, dizendo ao piblico 0 que muitos agudsabem e praicah, tomo ménbo ie he ae Ciplina ds tentativas esparsas ¢ hesitantes, Poesia “pau-brasil”. Designacao pitoresca, incisiva ¢ caricatural, como foi a do con fetismo ¢ fawoismo para os neo-tmpressionistas da pintura, ou @ do cubism nestes iiltimos quinze anos, E um epiteto que nasce com todas as promessas de viabilidade. A mais bela inspiragao e a mais fecunda encontra a poe sia “pairbret!™ na oftrmagio. deste noconchincs que deve romper os lagos que nos aniarram desde o nascimento a vetha Europa, decadente e esgotada. Em nossa historia jé uma vex surgiu esse sentimento agressive, nos tempos turbados da re- volucto de $3, quando “pau-brasil” era o jaccbinismo dos Ti- radentes de Floriano. Sejamos agora de novo, no cumprimento de uma missio étnica ¢ protetora, jacobinamente brasileivos, Libertemo-nos das influéncias nefastas das velhas civilizagber em decadéncia. Do novo movimento deve surgir, fixada, a nova Tingua brasileira, que gers como esse “Amerenglish” que Cie tava o Times referindo-se aos Estados Unidos. Serd a’ reabi- tagdo do nesso falar quotidiano, sermo plebeiss que 0 pedan- tismo dos gramdticos tem querido eliminar da lingua escrita, Esperemos também que a poesia “pau-brasil” extermine de vex um doe grandes moles da raga —'o mal da elogiiéncia Co balofa e rogagante. Nesta época apressada de répidas real ides @tendoncia¢ toda potas expen re On ig sagdo € do sentimento, numa sinceridade total ¢ sintética “Le podte japonsis Essuie son couteau: Cette fois Yéloquence est morte.” dis o haicai japonés, na sua concisdo lapidar. Grande dia esse para as letras brasileiras. Obter, em comprimidos, minutos de Poesia. Interromper o balanco das belas frases sonoras e ocas, melopéia que nos aproxima, na sua primitividade, do. cante erético dos péssaros ¢ dos insetos, Fugit também do dlinamis ‘mo retumbante das modas em atraso que aqui aportam, coma © futurismo italiano, doze anas depois do seu eparecinento, decrépitas € tresandando a naftalina. Neda mais nocivo para « livre expansdo do pensamento meramente nacional do que a my , como,novidade, deseas {érmulas exdticas, que en velhecem ¢ murchain num ‘abrir e fechar de olhoe, nos cefés literdrios ¢.nos cabarés de Paris, Roma ou Berlim. Deus nos ore desse esnobismo rastacuérico, de tolos os “i sitas das idéias novas, ¢ sobretudo das duas dadeiro sentimento poético ~ a Literatura ¢ a Filosofia, A nova poesia ndo serd nem pintura, nem escultura, nem romance, Simplesmente poesia com P grande, bretando do solo natal, inconsciente, Como um planta. © manifesto que Oswald de Andrade publica encontraré nos que Iéem (essa infima minoria) escdrnio, indignacdo € mais que tudo — incompreenséo. Nada mais natural @ male raz0d. tel: estd certo. O grupo que se opde a qualquer idéla nova, a qualquer mudanga’no ramerrdo das opinides correntes ¢ sem ye 0 mesino: € 0 que vaiou o Hernani de Victor Hugo, 0 que condenou nos tribunais Flaubert e Baudelaire, 6 0 sue poteou Wagner, escarneceu de Mallarmé ¢ injuricu Rimbautl. Fol esse espitito retrégrado que fechou o Salon oficlal aos quadtos de Cézanne, para o qual Millerand pede hoje as honras do Pan. théon; fot inspiraddo por ele que se recusou una praga cle Parls rare 0 Belsac de Rowlin. £0 grupo dos novosices dia Ave, dos empregados piblicos da literatura, Académicos de fardao, 70 Génios das provincias, Poetas do “Diério Oficial” Eaves dee os suas 5 pertencem d maconaria de Camara dagem, mais fechada que a da politica; agarram-se as tdbuas desconjuntadas das suas reputagées: sdo os bonzos dos templos consagrados, os eantos das capelinhas lterérias. Outros, s30 3 ‘massa gregaria dos que ndo compreendem, na inocéncia da sua curtezd, ou no afastamento forcado das coisas do espirito. Des- tes falaca Rémy de Gourmont quando se referia a"ceux qul ne comprennent pas”. Deixemo-los em paz, no seu contenta- mento obtuso de pedra bruta, ou de muro de taipa, inabald- vel © empocirado. Para o gluvglu desses perus de roda, sé hd duas respostas: ‘ou a alegre combatividade dos mogos, a verve dos entusiasmos triunfantes, ou para 0 ceticismo e 0 aquoibonismo das 48 dee crentes e cansadoe, o refigo de que fala 0 mesmo Gourmont, ne Siléncio das Torees (das Torres de marfim, como s¢. desta) Maio, 1924. nm por ocasifo de descoberta do brasil* Histéria do Brasil PERO VAZ CAMINHA, @ descoberta Seguimos nosso caminho por este mar de longo Até a oitava da Piscoa ‘Topamos aves E liouvernos vista de terra os selvagens Mostraram-thes uma galinha Quase haviam medo E no queriam por « mio E depois a tomaram como espantados primeiro ché Depois de dangarem Diogo Dias Fea’ salto real as meninas da gare Eram tés ou quatro mogas bem mogas ¢ bem gentis Com cabelos mui prefos pelas espéduas E suas vergonhas tio altas e tio saradinhas Que de nés as muito bem olharmos ‘Néo tiabamos nenhuma vergonha 80 Postes da Light pobre aliméria © cavalo e a carroga Estavam atravancados no trilho E como 0 motorneiro se impacientasse Porque levava os advogados para os escritérios Desatravancaram 0 Sentados num banco da Amériea folhuda ° a menina Mas um sujeito de meias brancas Pasta No Viaduto de ferro erdim da luz Engaiolaram 0 resto dos macscos Do Brasil Os repuos desfalecem como velhos fos ‘Almofedinhas e soldados Geragées cor-de-rosa Pissaros que ninguém vé nas évores Instantineos e cervejas geladas Famflias 120 o fera Etlo sentado num banco de pedra Palido e polido Como a Cleépatra dos sonetos Exper as pequenasingtowas ‘Que passam de bragos De Jere frtusony do rere na Policia ‘Tem a consciéncia trangiila Dum legislador Ta fotégrafo ambulante Frrador de coragées Debaixo de blusas Album de dedicatérias Marquereau Tua objetiva pisca-pisca ‘Namore Qs sorrisos contidos Es a gloria ‘Gferenda, de pocsins as dies ‘Tripega louros piblicos Belo’ debaixo Ga amore ‘Canhao silencioso do sol a procissdo x chofers Ficam zangados Porque precisam estacar diante da pequena procitsfo Mas tiram os bonés e rezam Procisstio to na tio bonitinha Perdida num da cidade Bandeirolas 22 nacronismo © portuguls foou comovido de achar ‘Une mun ineper oa as Eines Batsdoy Unidos do Bea bringuedo Roda roda Séo Paulo Mando tiro tiro ld Da minha janela eu avistava Uma cidade pequena Pouca gente passava Nas ruas. Era uma pena Desceram das montanhs Carochinhas © pastoras Por dormir em meus olhos ‘Me levaram pra abrothos Os bondes da Light bateram Telefones na ciranda Os automévels correram Em redor da varanda Roda roda Sio Paulo Mando tiro tiro ld Roda roda Sio Paulo Mando tiro tiro Wi Depois entrou no brinquedo ares Foi o primeiro arranha-oéu Que rodou no meu fu Do quintal eu avistei Casas torres e pontes Rodaram como gigantes AAté que enfim parei Roda roda Sao Paulo Mando tiro tiro 1é, Hoje a roda cresceu see ae bateu no céu inde que roda ne ete 150 Poemas Menores erro de portugues Quando o portugués chegou. Debaixo duma bruta chuva Vesti 0 indo Que penal Fosse uma manhi de sol © indio tinha despido O portugués 1928 epitafio Eu sou redondo, redondo Redondo, redondo eu sei Eu sou uma redondilha Das mulheres que beifei Por falecer do ob! amor Das mulheres de minb’tha Minha caveira rid ah! abt ah! Pensando na redondilha 1925 ipl hipt hoover! MENSAGEM POETICA AO POVO BRASILEIRO ‘América do Sul ‘América do Sol ‘América do Sal it Do Oveano ‘Abte a jéia de tuas abras Gumabara Para receber 0s canhdes do Utah Onde vem o Presidente Eleito Da Grande Democracia Americana Comboiado no er Pel> véo dos aeroplanos E por todos os passacinhos Do Brasil ‘As corporagies ¢ as familias Essas jé sairam para as ruas ‘Na Ansia De o ver Hoover! E este pais ficou que nem antes da descoberta Sem nem um gatuno em casa Para o ver Hoover! Mas que mania A pollcia persegue os operirios A neste in Em que eles s6 querem Over Hoover! Pode ser que a Argentina Taha mals farofa oa Liga das Nagoes Mais crédito nos bancos Tangos mais cotubas Pode ser Mas digam com sinceridade Quem foi o povo que recebeu melhor Presidente Americano Porque, sew Hoover, o brasileiro ¢ um povo de sentim E 0 senhor sabe que o sentimento € tudo na vida Toquel 178, DANCAS Dona Baby Guilherme de Almeida (1s24) (Quem dirt que ndo vivo satiseito! Dana a posira no vendaval Raios solares balangam na poira Calor sabia pela praga presse apertos autombvels, bamboleios Pinchos arseos de gritos ‘Bondes sapateando nos trithos, ‘A moral nto ¢ oupa dideat ‘Sou bom s6 nos domingos edias-santos! 'S6 nas meias 0 diasanto "idiano! Vida ‘quidam ‘cama e panga! Viva adangat Danga vival Vivedouro de alegria! Eu dango! Milos e pés, misculos, céebro Muito de indistria me fi carece, Dei um sao aos meus pensamentos! Tudo gira, Tudo vir, Tudo salt, Samba, Vals, Canta, Rit ‘Quem foi que disse que no vivo satisfito? EU DANGO! im ‘Meu cigaro esta aceso © fume esguiche, © Fumo sobe, (© fumo sabe a0 bem ¢ a0 mal © bemeo mal, que c Riqueza é bem, ‘Tristeza é mal. Desastes sangue tiros doenga Dangat. srias! 0 clevador subiu as céus, ao nono andar, O clevador desce 20 subsolo, ‘Teamémetro das ambigses, 0 agar sobe. 0 café sob. Os fazendeiros vim do lat Eu dango! Tudo € subir. Tudo & descer. Tudo € dangae! 0 Esplanade grugrulha, Todos 0s homens vlo no cinema, Lindas mulheres nos camarotes, Loves mulheres a passer. [Nilo frequento cafés-concerts, Mas tenho as minhas aventura Desventurados os coidst A vida é fara, © mundo é grande. ‘Tem muito canto onde esconder! Subirbios Vejo sonémbulos ao uae Beijando mogas estiolads. Tolos! a poeirasobe no ar. (0 Fumo sobe e mort no ar. Eu vivo no ar! Dangarinat.. au Fh, tu sabes. que hei-defxzeet [és todos somos assim, Eu sou assim, ‘Tuds assim, Dangam os pronomes pessosis. "Nunea em minuetes! Nunca em furlanas! EU ELE Tu Nos FLES vos. Nio paro. Nio paras. SSucedem quadrilhas. Gatunost Assassinos! Ciganost Judoue! (Quebrasformiiveis! Riquezas fetos de cinco meses J velhas como Matusalém, Baixistas celvos, rotundos,glabros, ‘Truss de cana, rusts de arroz, ‘Agambarcadores de fljto-virado, A Bolsa reve, Reviramse as bolsas. ‘As letras entam. 0s oirossaem, Comte tombos vitérias deliios banguetes conquests, (Os homens dangam.. Dango também. "Nunca minuetes nem bacanas! Somos fardndolas? ‘Somos lanceiros? Somos quadithas? Que somos nést? Pronomes pessoais w 14 horas. Ftha tu vai dormir Eu te contemplo aborrecide. (Que fazesestreita na cama to larga? Porque te encolhes assim? Teus cabelos suados se esperdigam. “Tuas mos aziagastamborilam, ‘Teu compo estreito treme vibe. Poets, me deixe dormir! Bu te contemplo aborrecido,. Devo esconder-te meu sori’, 4 sei por que o sone nfo chega, Fila, comegas a dangar, neque! heque! quebra queima anga sangue sgosma. ‘Teus lébios dangam: —Porpiedade! [Nao domingo nem dia-santo! Fitha, tu dangas para dormie! ‘Tosses até que nfo podes mai Devo eweonder-te 0 meu soriso? v Aquele quar me sufoca, Prefiro ar livre, Nao votaei, At livre, ar leve que danga, dang! Dangam as rosas nos ross! ‘0 flores vermelhis ‘Sto botBes perfeitor Sto rosas aberas, tos de prazer! ‘So Paulo€ um rosall ‘to Paulo é um jardim! Morena, tm pena, ‘Tem pena de mim! A rost-rso danga nos tes libies vemelhos smerdidos. Volipiasslegres. (© mundo nao ve? és nos separamos. és nos ajuntames. 0 bonde pussou, O amigo prssou, (© mundo no ve! A vida € to curta! (Quem tem certeza do amanhil LLourengo de Medicis? Floreaga delta, Paris queima, Viena danga, Berti r, E'New York abengoa o jazz univers [Negros de cartola “Tureos de casaca ‘Montecerlo e Caldas © Copacabana Tudo € um eaxambu! EU DANCO! Danga do amor sem sentimento?? Dana das rosas nos rstis! vL Parceiro, tu sabes a danga do ventre ‘Mas eu vou teensinardanga milhor. (tha: 8 Tera € win bol A bola gira Girao univers. Os homens gram também, ‘Talo € gira, tudo € rodar. Soties acaso de amor sem volta? Porgué paraste no teu amor! ‘Choras que 0s outros no te compreendem? Fala francés que teentendero! Morr, duvidas, pensas?.. — Parceiro, ‘Tusé conheces a danga do vente, A canga do ombro é muito mithor! vu “Oh, como passas!™ “Bravo! enfim volar” Sto inimigos, ‘to morfindmanos, Virgens e honestos, Cedpatas vis, Salida todos, \Ninguém me extima, Dangam meus ombros, Eu sou fia! Eu sou feliz porque a Terra ¢ uma bola, A bola gira, Girao univers, Giro também, Sou Gira. Sou Loueo, Sou Oco, Sou homem! ‘Sou tudo 0 que voots quserem, ‘Mas que sou eu? ‘Meualfsiate tem mais fregueses [Nao hi canatha sem virtue, fio virtuosos sem deson iro nos teatros endo jor Converso pouco e escuto muito, Falo francs, Leio em vernéculo Tistram Shandy. conhego Freud e Dodoievsky Compro as revistas do Brasil E Prineipalmente Sei enramar meu ditiambo, Sei guspir um madeial? Depois dou de ombres, Meus ombros dancam.. ‘Sou patio da desombra universal? vu Hi terrasinsultasalém muito longe. Hi bichos teriveis nas terra indultas. Hi pissaros lindos nos jequitib O dia ora caro, ora ¢ escuro, Zumbidos de abethasfabrieando mel 10s bichos urram, Oras aves cantar, 1a € a flor que sbrotha, Oma drvore eat. (© céu se escurece. fa tormenta. Dangam coriseos no ou. Relimpagos wovies tum same hediondo, tum eandomble, As caiporas galopam nas ancas das anita, ‘Ananhas formigas sais e Jaci (0 vio da Davida passa a danga. A vitia-égia oscilabalougante nas aguas indecises. Ha terrasineultas além, ‘Mas quem que as vistou? ‘Ninguém, A confusto ¢ enorme! tu sabes..que rede fazer! Tudo € quadttha! Me pono a dangar! x EUDANGO! Eu dango manso, muito marso, 1Nio canso e dango, Dango e venga, Manipango. ‘6 no penso. Quando nasci eu nfo pensavae era feliz Quando nasei eu jé dangavs Dangava a danga de eriange, SSurupango da vinganga Danga do bergo Sim e Nic. Danga do bergo: Nio e Sim, |A Vida € assim... Eeu sou assim. ela dangava porque toss “Outros dangam de solugar. Eudango manso a danga do ombro.. Eu dango... Nao sei mais choral. LUNDUDDO EscRITOR DIFICIL, Eu sou un escrito difieil ‘Que a muta gente enguizila, Porém esia culpa ¢ fil De se acabar duma vez: E s6tirara cortina (Que entra luz nesta escure, ‘Cortina de brim eaipora, (Com tei caranguejiea E enfeiteuim de caipira, Fale fala brasileira Que voed enxerga bonito Tanta lznesta capoeira Tabe-qual numa gupiara, Misturo tudo num saco, Mas gaticno maranhense Que péra n0 Mato Grosso, Bate este angu de carogo Ver sopa de carurus A vida é mesmo um buraco, Bobo é quem nfo ¢ tatu! Eu sou um escrito dfieil, orém culpa de quem ¢! Todo dificil é facil, ‘basta agente saber. aj, pine chué, dh "xavie™ De tho ici virou fossil, dificil éaprender! Virtude de urubutings De emxerga tudo de longet [io carece vestir tanga Pra penetrar meu caganje! Voce sabe o francés "singe Mas no abe o que é guariba? —Pois é naceco, seu mano, Que 6 sake que é da estranja. ‘Canavan Carioca cases) Manuel Bandeira ‘Afornatha estrla em mascaradoscheltossiivos Buthas de corbruta aos trambolhoes Setins seas cassasfundidas no rso febri. Brasil! Rio de Janeiro! ‘Queimadas de verso! Bao longe, do tio do Corcovado a fumarada das nuvens pelo céu. Carnaval, Minha fieza de paulista Policiamentos interiores, ‘Temores da exesto. Eo excesso goliacé pardo selvagem! Cafrrias desakaladas Rutnas de linkes puras ‘Um negro dolsbrancos ts mulatos, despudores, (© animal desembesta aos botes pinotes desengoncos [No heroismo do prazer sem méscaras supremo natura ‘Trem de fio nes meus preconceitos eruditos ‘Ante o sangue erdendo do povo chibafrémitoe clangor Risadas dancas ‘Batuques maxixes Jeltos de micospiricicas Ditos pesados, raga popular. Ris? Todos riem, ( individuo ¢ caixeio de armarinho na Gamboa. (Cama de ferro curta por demais, Espelho mentiaso de mascate Eno cabide roupas ustrosas demas, Danga uma joca repinicada De gestos pinchando rdiculos no ax. Corpo gordo que nem matrona Rebolando embolado nas sain baianes, Brago de for, pelanca pulando no espaco Eno decote cabeludo cascavéissacoteando Destitmando a forgura dos musculos vis, Fantaslou-se de baiana, ‘A Bafa 6 boa tera sta feliz, Entoa atoa a toada safada Eno escuro da boca banguela (O halo dos beigos de carmim, ‘Vibragbes em redor. Pinhos gargalhadas assoblos Mulatos remeleitos e buduns. Palmas, Pandeiros- AY, balanal Baiana do coragio! Serpentinas que saltam dos autos em monéeulos curiosos, Este cachorro espavorido Guarda-civilindiferente, Fiscalizemos a piruetas. Entdo s6 eu que vit Risos. Tudo aplaude, Tudo canta ~A\,baiana faceira, Baiana do coragio! Ble tinha os beigos sonoros beljando se rindo ‘Uma ruga esquecida uma ruga longingua Como esgar duma angistiaindistntaignorante,. 6 eupude gozs-la talver a cama de ferro curta por demais. Carnaval. Atbalana se foi na religito do Carnaval Como quem eumpre uma promessa ‘Todos cumprem suas promessas de gozar Explodem roncos roucostrilos tchique-tchiques Eo falsete enguia esguia rebejando pelo aquério multicor Cordes de machos mulherizados, Ingleses evadidos de pruderie, ‘Argentinos mascarando a admiraco com desdéns superiores Desgringolando em lenga-lenga de milonga, Polacas de indiscutivel indole nago, Yankees fantasiados de norteameticanos, (Coiozada emproada se aturdindo turtuveando Entre os carnavalescos de verdade ‘Que pererecam pararacas em derengues meneios cantigas, [chinftim de gozar! ‘Tem outra raga ainda, (Omocinho vai fugando o manac4 naturalzado espanhola Ea se delxa bolinar na multidio compacta, Por engano. (Quando aproximam dos polclais (Como ela é pura conversando com as amigas! Pobte do solitério com chapeu caleai nos olhos! Naturalmente ¢ um poeta. Eu mesmo....u mesmo, Carnaval. ute levava uns olhos novos Para serem lapidados em mil sensagbes bonitas, Meus labios murmurejendo de comogao assustada Haviam deter purssimo destino. Eique sou poeta Ena banalidade larga dos meus cantos Fundir-se-do de maos dadas alegras etristuras, bens e males, “Todas as coisas finitas Em rondas aladas sobrenaturals, 0 ‘Asia herdica dos meus sentidos Pra acordar osegredo de serese coisas Eu colho nos dedos as rédeas que param o Inftene das vida, Sou o compesso que une todos os compassos Ecom a magia dos meus versos CCriando ambientes longinquos e piedosos ‘Transporto em realidades superiores ‘A mesquinher da realldade Eu bailo em poemas, multicoloridat Palhago! Mago! Louco! Juiz! Criancinhat Sou dangarine brasileiro! ‘Sou dangarino e dango! E:nos meus passos conscientes Glorifico a verdade das cosas existentes Fixando os ecos ¢ a8 miragens. Sou um tupi tangendo um alae Ea trdgica mixordia dos fendmenos terrestres Eu celestzo em euritmias soberanas, ‘Oh encantamento da Poesia imortal. (Onde que andou minha missto de poeta, Carnaval? Puxou-me a ventana Segundo circulo do Inferno, Rajadas de confetes Halitos diaboticos perfumes Fazendo rlar pelo corpo da gente ‘Semftamis Marfa Helena Clespatrae Francesca, Milhares de Julletast Domitlasfantasiadas de cow-girs, Isoldas de pijamas bem franceses, Alsacianas portuguesas holandesas, Gengrafa! h lberdade! Pagodelra grossa! Ebom goza:! Levou a breca o destino do poeta, Barree! meus labios com o carmim doce dos dela, n ‘Teu amor provinha de desejs iritados, Irvitados como.os morros do nascente nas primeiras horas da manha ‘Teubeljo era como o grito da araponga Me alumeava atordoava com o golpe esridente vii, ‘Tew abrago era como a noite dormida na rede (Que traz 0 dia de membros moles mornos de torpor. ‘Tepossuindo, eu me alimentel com o mel dos guapurus, Mel écido, mel que no sacia, Mel que dé sede quando as fontes esto muitasléguas além, (Quando a soalheira 6 mais desoladora Eo corpo mais exausto. camaval Porém nunca tive intencdo de escrever sobre ti ‘Morreu o poeta e um gramofone escravo Arranhou discos de sensagies.. 1 n Em baixo do Hotel Avenida em 1923 / amas puanecilzato do Brat Os negros smbando em cad “Tho sublime, to seat Amis mogabuleSo polio opulacdeslentas lentamente ‘Amor curvinim abre as asas de ruim papelao. ‘Amor abandonou as setas sem prestigio 12

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