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1) Andou bem o legislador ao alterar o nome da Lei de Introdução ao Código Civil para

LINDB? Justifique.
A antiga Lei de Introdução ao Código Civil passou a se chamar Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro a partir da Lei 12.376/10. A mudança se justifica elo fato de ser a LINDB
norma jurídica autônoma, independente, e não mero apêndice do Código Civil. Sua
aplicabilidade estende-se a todo o direito, sendo universal, ressalvadas as normas específicas de
cada ramo autônomo. Esse entendimento se solidificou ainda mais com a Lei 13.655/18, que
incluiu 10 artigos na LINDB, todos dedicados à interpretação pelos agentes públicos.
A LINDB tem como objeto a aplicação das normas, regulando sua aplicação no tempo e no
espaço e, por isso, é denominada de Código de normas, código sobre normas, norma de
sobredireito ou lex legum.

2) Após a publicação a lei entra imediatamente em vigor?


3) O que é vacatio legis? É o período em que a lei, embora existente e válida, ainda não gera
efeitos.
4) Diferencie vigência e vigor. Vigência é uma qualidade temporal da norma, ou seja, é a
delimitação do período em que a norma possui validade. Vigor está relacionado com a
imperatividade da norma, com sua força vinculante. Por exemplo, o Código Civil de 1916, que
não mais tem vigência, por estar ab-rogado, possui ainda vigor. Se um contrato foi celebrado
durante a sua vigência e tiver que ser examinado hoje, quanto à sua validade, deverá ser
aplicado o Código revogado (art. 2.035 do CC/02, na sua primeira parte). Isso significa aplicar
uma lei sem vigência (revogada), mas ainda com vigor (determinado pelo art. 2.035). Trata-se
do fenômeno denominado de ultratividade da lei.
5) Como deve ser feita a contagem de prazo da vacatio legis? A LC 95/98 estabelece regra
diferenciada de contagem de prazo, tratando-se de lei especial em face da regra geral
estabelecida no Código Civil e no Código de Processo Civil. Deve-se incluir o dia da publicação
e o último dia do prazo na contagem, entrando em vigor a norma no dia subsequente,
independentemente de ser ou não dia útil.
6) o prazo pode deve ser estabelecido em dias ou poderá sê-lo em meses e anos?
A regra prevista no parágrafo segundo, do artigo 8º da LC 95/98 é a de que o prazo deve ser
estabelecido em dias. Entretanto, tal regra nem sempre é observada no Brasil. Ex.: Código Civil
e Código de Processo Civil. Ambos estabeleceram período de vacatio de 01 ano.
7) O que acontece se a norma for corrigida no período de vacatio legis? Havendo publicação
para correção do texto, haverá interrupção do prazo, que será reiniciado.
- Se a correção for parcial, haverá nova vacatio apenas para o trecho republicado. Isso porque, a
nova contagem é apenas para que a nova alteração obedeça ao prazo inicialmente estipulado.
8) E se a alteração ocorrer depois da vigência da norma, ou seja, após findado o período
da vacatio legis?
Nesse caso, nos termos do artigo 1, parágrafo 4º, somente lei nova poderá altear texto de lei em
vigor.
9) Como fazer com as normas parcialmente vetadas pelo Poder Executivo e,
posteriormente, colocadas em vigor pelo Poder Legislativo através da derrubada do veto?
Considerando a natureza suspensiva do veto, deve haver duas contagens de prazo:
- uma para o texto da lei que foi sancionado pelo presidente da república, desde a data da
sanção;
- outro para o texto da lei vetado pelo presidente, cujo prazo deverá ser contado a partir da
derrubada do veto, ocasião em que o texto passa a estar aprovado pelo legislativo.
10) Quando entram em vigor regulamentos e decretos administrativos?
Na data de sua publicação.
11) O que é eficácia normativa? Quais os tipos?
É a aptidão da norma para produzir efeitos. A eficácia normativa pode ser:
a) social: produção concreta de efeitos.
b) técnica: tem a possibilidade de produzir efeitos, mas não necessariamente produz, por
ausência de aceitação social. Ex.: lei soteropolitana que obriga o atendimento bancário em no
máximo 15 minutos. Norma vigente, porém, desprovida de eficácia social.
c) de bloqueio: a norma visa bloquear certas condutas, vedando comportamentos, sob pena de
punição. Ex.: normas punitivas e proibitivas.
d) de programa: são normas programáticas, que normas que visam à realização de um objetivo
do legislador.
e) de resguardo: normas que visam assegurar uma conduta desejada. Ex.: direito autorais.
11) Quais as espécies de eficácia em termos de concretização da eficácia (concretização do
reultado):
- eficácia plena: a função eficacial é imediatamente concretizada.
- eficácia limitada: há necessidade de outra norma para a realização da eficácia completa.
- eficácia contida: inicialmente com eficácia plena, que pode ser restringida posteriormente.
12) Uma vez em vigor, até quando a norma produz efeitos?
Uma vez em vigor, a norma submete-se ao princípio da continuidade ou permanência, ou
seja, produzirá efeitos até que outra norma a torne total ou parcialmente ineficaz, pelo
mecanismo da revogação, nos termos do artigo 2º da LINDB.
13) Quais leis não se submetem ao princípio da continuidade ou permanência?
As leis temporárias e circunstanciais. Ex: Lei 14.010/2020, RJET - Regime jurídico
Emergencial e Transitório das Relações jurídicas de Direito Privado, que produziu seus efeitos
até 30 de outubro de 2020. Já as leis circunstanciais vigem enquanto durar uma determinada
situação, como o congelamento de preços em períodos bélicos ou redução de IPI em tempos de
crise.
14) Quais são as Modalidades de revogação quanto à abrangência ou extensão?
a) Ab-rogação – revogação total. Ex.: Código Civil de 2002 ab-rogou o Código Civil de 1916,
retirando por completo a eficácia do estatuto anterior.
b) Derrogação – revogação parcial. Ex.: o Código Civil de 2002 derrogou a primeira parte do
Código Comercial de 1850, ou seja, foi retirada parcialmente a eficácia do Código Comercial de
1850.
15) Quais as modalidades de revogação quanto á Quanto a forma ou modo?
a) Expressa ou direta: quando há comando legislativo expresso na nova norma, retirando a
eficácia de uma norma anterior.
b) Tácita ou indireta: quando há incompatibilidade ou uma nova norma regula inteiramente a
matéria tratada na anterior, de forma colidente.
16) Diante do artigo 9º, da LC 98/95, que dispõe que deverá constar expressamente cláusula de
revogação indicando as leis ou disposições legais revogadas, admite-se no ordenamento jurídico
a revogação tácita?
Buscando-se interpretação conforme à realidade prática, afirma-se a permanência da
modalidade tácita de revogação, havendo, porém, preferência pela modalidade expressa, que
traz maior segurança jurídica. Assim, deve-se evitar a expressão: revogam-se todas as
disposições em contrário, devendo a nova norma indicar todas as leis que serão revogadas. Por
outro lado, é importante a manutenção da revogação tácita para que se evite a manutenção de
incoerências e inconsistências no ordenamento jurídico.
17) O que são antinomias de primeiro grau e como elas devem ser resolvidas?
Antinomia é a presença de duas normas conflitantes. Decorre da existência de duas ou mais
normas relativas ao mesmo caso, imputando-lhe soluções logicamente incompatíveis. Hrês
critérios devem ser levados em conta para a solução dos conflitos (I) critério cronológico (a
norma posterior prevalece sobre a anterior); (II) critério da especialidade (a norma especial
prevalece sobre a geral); (III) critério hierárquico (a norma superior prevalece sobre a inferior).
Quando o conflito de normas envolve apenas um dos referidos critérios, diz-se que se trata de
antinomia de
1º grau.
18) Quando ocorre antinomia de segundo grau?
Será antinomia de 2º grau quando o conflito entre as normas envolver dois critérios de resolução
de conflito. Nesse caso, o critério cronológico é o mais fraco, e o critério hierárquico o mais
forte. Esse raciocínio vai ao encontro da pirâmide normativa de validação e derivação, que
confere ao texto constitucional o paradigma de fundamento de validação das normas.

a) No conflito entre uma norma especial anterior e uma norma geral posterior, prevalecerá o
critério da especialidade, que é mais forte.
b) No conflito entre norma superior anterior e outra inferior posterior, prevalecerá o critério
hierárquico.
c) No conflito entre uma norma geral superior e uma norma especial inferior, prevalecerá o
critério hierárquico.
19) Lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, revoga
nem modifica a lei anterior?
Não. Para que nova lei revogue outra pelo critério da especialidade não basta que ela trate da
mesma matéria. É preciso que haja colidência entre a lei nova especial e a lei anterior. Se as
novas disposições estiverem ao lado (a par) das já existentes, ambas poderão coexistir.
20) A repristinação é admitida no Brasil? O que é o efeito repristinatório?
Em regra, a repristinação não é admitida no Brasil, nos termo do o artigo 2º, parágrafo 3º, da
LIND: §o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.
O efeito repristinatório ocorre quando uma norma revogada ressurge sem que uma nova norma
assim estabeleça. Ocorre nos casos em que há controle concentrado de constitucionalidade,
realizado pelo STF. Isso porque, se uma lei é considerada inconstitucional, ela não existe e,
assim sendo, não poderia ter revogado outra lei. Assim, a lei antes revogada ela norma
considerada inconstitucional ressurge no ordenamento jurídico.
21) Fale sobre obrigatoriedade das normas ou da eficácia geral do ordenamento jurídico.
Trata-se do disposto no artigo 3º, da LIND, que dispõe: Ninguém se escusa de cumprir a lei,
alegando que não a conhece”. Não se trata de presunção absoluta de conhecimento das normas,
o que seria impossível inclusive para os estudiosos do direito. O que se pretende é vedar a
possibilidade de escusa de cumprimento da norma em face do seu desconhecimento, o que
ocasionaria ineficácia do ordenamento jurídico.
22) Quais são as teorias que fundamentam a obrigatoriedade da norma no país e qual
delas é majoritariamente adotada?
Há três teorias, que fundamentam essa obrigatoriedade das normas:
• Teoria da Ficção: a lei trouxe a ficção de que todos conhecem as leis. Isso seria impossível,
como já dito, inclusive para os estudiosos do direito.
• Teoria da Presunção: há uma presunção de que todos conhecem as leis.
• Teoria da Necessidade Social (majoritária): há necessidade coletiva de que todos conheçam
as leis (Maria Helena Diniz e Zeno Veloso), por questão de segurança jurídica.
Assim, há no Brasil presunção relativa de conhecimento da norma, fato que justifica a
existência da vacatio legis para divulgação do texto normativo.
23) A presunção de conhecimento das normas é absoluta? Há exceções?
A presunção de conhecimento das normas é relativa, e, o próprio sistema jurídico traz hipóteses
expressas em que se permite a alegação de erro de direito. São casos excepcionais.
No Direito penal:
a) no artigo 8º da LCP, que afirma que em caso de ignorância ou de erada compreensão da lei,
quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada.
b) no artigo 66, inciso II, do CP, que traz como circunstância que atenua a pena o
desconhecimento da lei.
No Direito Civil:
a) casamento putativo, artigo 1561 CC. É o casamento nulo ou anulável cujos efeitos são
aproveitados para aquele que estava de boa-fé. Ex.: dois irmãos se casam, sabendo serem
irmãos, mas desconhecendo a vedação legal. Os efeitos do casamento podem ser mantidos até a
data da decisão de sua dissolução.
b) Erro de Direito, como uma das hipóteses de gerar a anulabilidade do negócio jurídico –
artigo 139, inciso III, do CC.
24) Em face do princípio da obrigatoriedade das normas, é necessária a comprovação da
existência e da validade das normas? Há exceção?
Em face do princípio da obrigatoriedade da norma jurídica, que traz presunção relativa de que
todos devem conhecer as leis, não é necessário que as partes comprovem a existência e a
validade das normas, pois o juiz é obrigado a conhecê-la. A exceção trazida pela LINDB diz
respeito às normas estrangeiras (Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir
de quem a invoca prova do texto e da vigência), estaduais e municipais, e a trazida pelo CPC às
leis municipais, estaduais e ao direito consuetudinário, nos termos do Art. 376. A parte que
alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a
vigência, se assim o juiz determinar.
25) O que diz o sistema da obrigatoriedade simultânea ou vigência sincrônica?
De acordo com o artigo 6º, da LINDB, A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados
o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. O sistema adotado pelo Brasil foi o
da vigência simultânea em todo o território nacional.
26) Diante da constatação de existência de lacunas na lei, o que se deve fazer?
Inicialmente, é importante lembra que o magistrado não se esquiva de julgar diante de lacuna na
lei, em face da vedação ao non liquet ou em face do princípio da indeclinabilidade, previsto no
artigo 140 do CPC - Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou
obscuridade do ordenamento jurídico.
Isso porque as lacunas são da lei, e não do direito ou do ordenamento jurídico, que é completo.
Assim, o ordenamento jurídico sempre traz uma solução para o caso. E isso pode ser obtido
através dos métodos de integração normativa, também denominados colmatação ou
autointegração.
Dispões o artigo 4º, da LINDB:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e
os princípios gerais de direito.
Importante frisar que o método deve ser utilizado diante de lacuna normativa, ou seja,
ausência de norma para o caso. Assim, o método não será aplicado em caso de lacuna
ontológica, ou seja, a norma existe, mas sofre ineficácia social, ou diante de lacuna axiológica¸
em que há norma regulando o caso concreto, ainda que seja insatisfatória ou injusta e, ainda, em
caso de conflito ou antinomia de normas, situação em que haverá mais de uma norma aplicável
ao caso concreto.
27) Os métodos de integração previstos no artigo 4º da LINDB são de enumeração
taxativa?
- Tradicionalmente, afirma a doutrina ser a enumeração preferencial, ou seja, deve
primeiramente o juiz utilizar a analogia, depois os costumes e, por fim, os princípios gerais de
direito. Tal afirmativa se baseia no ideal de vivenciar o Brasil o sistema de primazia da lei (Civil
Law).
- Entretanto, o dogma da preferência vem sendo objeto de duras críticas, em primeiro, pelo
argumento de não mais vivenciar o Brasil o sistema puro da Civil Law, o que se evidencia pela
adoção, por parte do sistema nacional, da Súmula Vinculante, aproximando-se cada vez mais da
Common Law. Além disso, sendo os princípios considerados normas, os princípios gerais de
direito não poderiam ser utilizados como método de integração, devendo sua aplicação ser
imediata, como a lei. Havendo norma-princípio, não há que se falar em ausência de norma. Ela
deve ser aplicada. E isso conflitaria com a ordem taxativa prevista no artigo 4º da LINDB (para
aqueles que a defendem), porque os princípios somente poderiam ser utilizados em caso de
impossibilidade de utilização da analogia e dos costumes.
Diante disso, os que defendem a ordem taxativa do artigo 4º, da LINDB afirmam que os
princípios gerais de direito ali mencionado são apenas as regras de justiça universal, como dar a
cada um o que é seu, ninguém pode ser vale da própria torpeza, etc., e não os princípios
constitucionais que, como já dito, encerram em si mesmos norma jurídica.
28) A equidade é um método de integração?
A equidade, segundo Aristóteles, consiste na justiça do caso concreto. É o uso do bom senso,
adaptação do razoável para aplicação da lei ao caso concreto.
- a equidade não está prevista no rol do artigo 4º da LINDB. Sua utilização, entretanto, poderá
ocorrer de forma excepcional, nos casos em que a lei expressamente a mencione, nos termos
previstos no artigo 140, parágrafo único, do CPC:
Art. 40. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do
ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
Exemplos:
1) na redução da cláusula penal abusiva ou quando a obrigação tiver sido parcialmente
cumprida, segundo o art. 413 do Código Civil;
2) quando houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, sendo possível
ao juiz reduzir, equitativamente, o valor da indenização, na forma da dicção do art. 944,
parágrafo único, do CC;
3) nas demandas trabalhista, de forma geral, como medida de tentativa nas demandas
trabalhistas, busca de uma justiça contratual ou equivalência material das prestações, consoante
o art. 8. da CLT.
29) O que é a analogia e quais são os requisitos para sua aplicação?
A anologia consiste na aplicação, a um caso não previsto na lei, de dispositivo legal previsto
para fato análogo, ou até mesmo de um conjunto de normas e princípios do ordenamento
jurídico que regulam temas conexos.
Requisitos para aplicação da analogia:
- ausência de previsão legal para o fato;
- semelhança entre o caso contemplado e o não contemplado em lei;
- identidade jurídica das situações.
30) Quais são as espécies de analogia?
a) legal ou legis: quando o magistrado utiliza apenas uma norma específica para integração do
caso concreto, diante da lacuna legislativa. Ex.: possibilidade da revisão de contrato prevista no
instituto da lesão (Artigo 157 CC) ao estado de perigo (artigo 156 do CC).
b) iuris ou jurídica: quando o magistrado utiliza um conjunto de normas e princípios do
ordenamento jurídico, e não apenas uma norma específica. Ex.: a união estável prevista no
Código Civil trabalha apenas com o caráter heterossexual. Entretanto, o STF determinou a
aplicação de todas as normas relativas à união estável à união homoafetiva, em analogia iuris.
31) O uso da analogia é ilimitado a todos os ramos do Direito?
A utilização da analogia é limitada.
- No Direito Penal e Tributário, por exemplo, só podem ser utilizados em bonan partem.
- no que tange aos negócios jurídicos gratuitos (benéficos) ela não é admitida, uma vez que
eles devem sempre ser interpretados restritivamente, na forma dos artigos 114 e 819 do CC e da
Súmula 214 do STJ.
32) Definição de costume e seus requisitos.
Entende-se por costume a prática repetitiva e uniforme, que se imagina ser obrigatória.
Possui, portanto, dois requisitos:
a) OBJETIVO: prática reiterada (em determinada localidade)
b) SUBJETIVO: entender ser obrigatório
33) Os costumes são no Brasil método de colmatação ou fonte do direito?
No Brasil, adepto da Civil Law, os costumes perdem espaço para a norma posta, sendo
utilizados apenas como meio de colmatação de lacunas. Nos países adeptos da common law, os
costumes são mais que método de integração, traduzindo a principal fonte do Direito. Também
no direito internacional gozam os costumes de grande importância, em face da escassez de
normatização, especialmente no que tange aos contratos internacionais.
34) Quais são as modalidades de costume? Todas podem ser utilizadas no Brasil?
a) secundum legem ou segundo a lei: são hipóteses em que o legislador, ao disciplinar o tema,
remete aos costumes, resolvendo a questão de acordo com os usos do lugar. Aqui não há lacuna,
mas opção legislativa de aplicar os costumes locais. Fala-se em subsunção, em vez de
integração. Ex.: artigo 113 do CC, que afirma que os negócios jurídicos devem ser interpretados
de acordo com a boa-fé e os costumes do local de sua celebração, e o artigo 569 do CC, que
estabelece que na falta de prazo estabelecido, o pagamento do aluguel deve ocorrer de acordo
com os costumes do local.
b) costumes praeter legem ou na falta de lei ou costume integrativo: ocorre quando há
omissão legislativa sobre o tema e o costume vem a regulá-lo. Aqui estamos diante de método
de integração. Ex.: cheque pré-datado, figura juridicamente inexistente no direito brasileiro,
uma vez que o cheque é ordem de pagamento à vista. Ele é reconhecido pela jurisprudência e
por toda a sociedade, acreditando-se ser obrigatório o respeito à data combinada. Há inclusive
uma súmula (370, do STJ) que impõe pagamento de danos morais em caso de apresentação
antecipada de cheque pré-datado.
c) costumes contra legem: não são admitidos no Direito Brasileiro, já que contrariam a lei.
Assim, não se admite o desuetudo, que traduz a perda da eficácia normativa em face da não
aplicação de uma lei (ineficácia social), nem o consuetudo ab-rogatório, que é a revogação da
lei pelo costume. Ex.: o fato de não se respeitar o prazo de 15 min para atendimento nas
agências bancárias não retira a eficácia normativa. Da mesa forma, o fato do jogo do bicho se
costumeiro no país não retira o seu caráter de ilicitude, continuando a consistir em contravenção
penal, prevista no artigo 50, da LCP.
O STJ já se pronunciou sobre a questão no REsp 1.787.274-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi,
Terceira Turma, em que afirmou que “na ausência de lacuna, não cabe ao julgador se valer de
um costume para afastar a aplicação da lei, sob pena de ofensa ao art. 4. da LINDB, conquanto
ele possa lhe servir de parâmetro interpretativo quanto ao sentido e alcance do texto normativo”.
O caso se referia a indivíduo que emprestou uma cártula de cheque a terceiro, pleiteando a
exclusão de sua responsabilidade pelo pagamento.
35) Classificação da interpretação:
Quanto aos seus agentes?
a) Autêntica ou legislativa: realizada pelo próprio legislativo, para explicar ato normativo.
b) Judicial: praticada pelos juízes e tribunais
c) Doutrinária: feita pelos estudiosos do direito
Quanto aos elementos utilizados?
a) gramatical ou literal: restrita apenas aos aspectos linguísticos. A busca é pelo sentido do
texto legal, analisando-se as palavras, a pontuação, a gramática, sendo a primeira etapa da
interpretação.
b) Lógica ou racional: procura-se apurar o sentido e a finalidade da norma, a intenção do
legislador, por meio de raciocínios lógicos, com abandono dos elementos puramente verbais.
c) ontológica: busca a ratio legis, a razão normativa. Podemos citar como exemplo o Código de
Defesa do Consumidor que tem como objetivo a proteção e a defesa deste.
d) Sistemática: considera a norma em seu contexto jurídico, considerando-se não existir norma
isolada.
e) Histórica: baseia-se na investigação dos antecedentes da norma, do processo legislativo,
através da análise da evolução histórica do instituto e exposição de motivos.
f) Teleológica ou sociológica: busca a finalidade da norma no contexto social, busca adaptar o
sentido ou finalidade da norma às novas exigências sociais (art. 5°, da LNDB).
Os elementos interpretativos se somam, e não se excluem. Por exemplo: um mercado diz que
não podem entrar cães e gatos de estimação e um garoto é barrado com uma iguana de
estimação. Claro! A norma visa preservar a higiene e conforto dos demais, não sendo indicada
apenas a interpretação literal, mas também a lógica. Todavia, o cego com um cão-guia treinado
poderá adentrar com o seu cachorro, em uma correta interpretação teleológica. Não poderá,
porém, nem o cego ficar com o cão-guia se a esterilização individual for impositiva, como em
centros cirúrgicos.
Quantos aos resultados interpretativos?
a) Ampliativo ou extensivo: quando o intérprete busca ampliar o alcance da norma e seu
campo de incidência. É a interpretação realizada, por exemplo, no que diz respeito aos direitos e
garantias individuais.
* Cuidado: interpretação extensiva é diferente de analogia. Aquela aumenta o campo de
aplicação da norma, enquanto essa é integração normativa, ou seja, aplicação de norma a caso
em que não haveria incidência.
b) Declarativo: quando o operador do direito busca aplicar a norma nos exatos termos de sua
criação parlamentar, como ocorre no Direto Administrativo, por força do princípio da
legalidade, em que o Estado deve fazer estritamente o que está previsto em lei.
c) restritivo ou limitador: o operador do direito busca restringir a aplicação normativa. Fala-se
em resultado restritivo para os negócios jurídicos benéficos (art. 114 CC), normas que veiculam
sanções ou privilégios, renúncia (artigo 11CC), fiança (artigo 819 CC e Súmula 214 STJ) e
transação (art. 843).
36) De acordo com o STJ, contrato de seguro deve ser interpretado de que forma? E o
contrato de fiança?

Ambos devem se interpretados restritivamente. Em relação ao contrato de seguro com cobertura


para furto e roubo, descabe indenização em relação ao crime de estelionato. No contrato de
fiança, a responsabilidade dos fiadores se resume aos termos do pactuado no ajuste original,
com o qual expressamente consentiram.
37) Quais são os filtros da retroação da lei?
Direito adquirido, que é aquele que já se incorporou ao patrimônio do titular. O direito
adquirido é essencialmente patrimonial e, por esse motivo, não há direito adquirido a regime
jurídico, no campo do direito administrativo.
38) Pode o Poder Constituinte Originário violar o direito adquirido? E o Poder
Constituinte Derivado?
De acordo com o STF, o Poder Constituinte Originário pode violar o direito adquirido, por ser
ilimitado. Já em relação ao Poder Constituinte Derivado, defende a doutrina majoritária que
não. Defendem os estudiosos que há sim direito adquirido contra Emenda à Constituição (Poder
Constituinte Derivado, de 2º grau, limitado), vale dizer, contra o Poder de Reforma, porque a
Constituição de l988, em seu art.5º, XXXV, assegurou o direito adquirido como uma garantia
individual e que a Emenda está sujeita a controle de constitucionalidade. E os direitos e
garantias individuais não podem ser abolidos através de emenda (art.60, § 4º, CF/88), ficando
clara a impossibilidade do Poder de Reforma (poder constituído, derivado, de 2º grau ou
limitado) violar tal preceito, por ser cláusula pétrea.
39) O que é a coisa julgada?
É a qualidade que reveste os efeitos que decorrem de uma decisão judicial, contra a qual não
cabe mais recurso. É uma criação do sistema para fazer com que a decisão que já não comporta
recurso, nunca mais seja atacada. Trata-se de uma garantia constitucional, para que o processo
não seja inseguro. A coisa julgada material só ocorre quando há apreciação de mérito.
40) Como fica a questão da coisa julgada em face do exame de DNA e de novas técnicas
científicas que possibilitam a identificação genética?
Inicialmente, o STJ consignou o DNA como a rainha das provas (REsp 397.013/MG, Relatado
pela Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 11.11.2003, DJ 09.12.2003),
afirmando:
a) se o exame de DNA contradiz as demais provas produzidas, não se deve afastar o laudo, mas
realizar novo exame, em laboratório diverso, com o objetivo de minimizar erro resultante da
técnica em si ou de falha humana na coleta e manuseio do material a ser examinado.
b) se o segundo teste confirmar o primeiro, devem ser afastadas as demais provas contrárias,
sendo a decisão no sentido do exame.
c) se o segundo teste afastar o primeiro, a decisão deve ser baseada com análise das demais
provas produzidas.

Esse entendimento acabou sumulado: Súmula 301 STJ: Em ação investigatória, a recusa do
suposto pai a submeter-se ao exame de. DNA induz presunção juris tantum de paternidade. Tal
súmula se baseia no próprio Código Civil, que dispõe em seu artigo 231: “Aquele que se nega a
submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa”.
- Posteriormente, o entendimento foi positivado pela lei 12.004, que dispõe em seu artigo 2º,
parágrafo único: “A recusa do réu em se submeter ao exame de código genético - DNA gerará a
presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.”
OBS: a presunção de veracidade só se aplica em caso de recusa em realizar o primeiro exame.
Caso o primeiro exame seja negativo, a recusa em realizar o segundo não pode gerar presunção
relativa de paternidade, pois ela já estaria afastada pelo exame inicial (REsp 777-435, rel. Min.
Sidnei Beneti, j. 15.12.2009, 3' T. Info 420.
Ainda em 2009, ratificando o posicionamento explicitado, o STJ (Informativo 388) referendou
que a negativa ao exame de DNA, por mais de 15 (quinze) anos, impossibilita o deferimento à
parte condenada, com base na presunção relativa de paternidade, do pleito de conversão do
processo em diligência para realização do exame. Tem-se, na hipótese, mais um belo exemplo
de nemo potest venire contra factum proprium (proibição do comportamento contraditório. De
fato, aquele que se nega ao exame e sofre condenação, após 15 (quinze) longos anos, não poderá
exercitar o direito ao recurso com base em novo exame. (REsp 914.429, rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 15.12.2009, 3. T. Info 420).
Defende o STJ, também, ser o exame de DNA fato novo apto a embasar ação rescisória art. 966,
VII, CPC.
Caso já estivesse ultrapassado o prazo para ajuizamento da ação rescisória, verberava o STJ a
possibilidade de propositura de nova ação, com base no exame de DNA, haja vista que a coisa
julgada deveria ser interpretada modus in rebus (REsp 22636/PR, Data da decisão: 28.06.2001,
Órgão julgador 4' Turma, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 04.02.2002 e
Informativo 354 do STJ) juízo em tela é de ponderação de interesses, sendo mitigado o
paradigma da coisa julgada em prol da promoção da dignidade da pessoa humana.
Entretanto, com o passar do tempo, tal entendimento que se reporta ao DNA como fato novo a
aparelhar ação rescisória ou, até mesmo, nova ação, começa a ser combatido no próprio STJ,
sob o argumento da segurança jurídica. Com efeito, como posto no Informativo 384, a cada
nova técnica (nova descoberta científica), não se pode rever tudo o que já foi decidido, pois tal
posição teria reflexos sobre a vida das pessoas que há muito seguiram suas vidas - investigantes,
investigado, descendentes, parentes, cônjuges etc. Deve-se preservar uma ordem jurídica
estabilizada pela coisa julgada, garantida na Constituição da República e leis do país.
Tal raciocínio tende a ganhar força em razão da ampliação do acesso à técnica. Além disso, há
preocupação com a relativização da coisa julgada abrir portas para a mitigação de garantias
fundamentais, em estímulo ao autoritarismo.
Para finalizar essa importante digressão sobre os limites da coisa julgada no exame de DNA,
lembre-se de que em nenhuma hipótese poderá a coisa julgada impedir o direito e a garantia
fundamental, integrante da personalidade, do cidadão buscar a sua origem genética, o que, não
necessariamente, vai gerar o reconhecimento de filiação. Sobre o tema, inclusive, há o
Enunciado 109 do CJF, que afirma que a restrição da coisa julgada oriunda das demandas
reputadas improcedentes por insuficiência de prova não deve prevalecer para inibir a busca da
identidade genética pelo investigando.
42) O que é o ato jurídico perfeito?
É aquele já consumado segundo as regras vigentes ao tempo e que se efetuou. Ex.: casamento
celebrado na vigência de determinada lei. Assim, caso uma lei nova proíba o casamento entre
pessoas com mais de 20 anos de diferença de idades, por exemplo, os casamentos já celebrados
nessas circunstâncias continuam válidos.
43) Fale sobre a classificação da retroatividade quanto aos seus efeitos.
Máxima: quando os efeitos atingem a coisa julgada, o ato jurídico perfeito e o direito adquirido.
Média: quando a nova norma alcança efeitos pendentes de atos jurídicos perfeitos verificado
antes dela.
Mínima: somente os efeitos dos atos anteriores, mas produzidos após a data em que a norma
entrou em vigor, são atingidos.
44) O que é o Estatuto Pessoal?
Denomina-se estatuto pessoal a situação jurídica que rege o estrangeiro pelas leis de seu país de
origem. Baseia-se ele na lei da nacionalidade ou na lei do domicílio.
45) No Brasil, qual é a regra de aplicação do estatuto pessoal?
De acordo com o artigo 7º, da LINDB, a do país em que domiciliada a pessoa determina as
regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
Ex.: um estrangeiro casado em seu país, é casado também no Brasil. Assim, ele não poderá
casar-se novamente no Brasil.
46) O Estatuto pessoal é aplicado ilimitadamente no Brasil ou encontra algum filtro?
Há situações que, por questão de interesse público nacional, aplica-se a lei brasileira, e não o
Estatuto Pessoal do Estrangeiro. Trata-se do limite da filtragem constitucional, que é o
respeito à soberania brasileira, para a aplicação do Estatuto pessoal. Assim, o estatuto
pessoal não será aplicado se ofender a soberania brasileira e a Constituição Federal.
47) Em relação ao casamento, já que se aplica a lei do domicílio da pessoa, aqueles que são
domiciliados em países que permitem a poligamia, podem ser casar com mais de uma
mulher no Brasil? A resposta é negativa, nos termos do artigo 7º, parágrafo primeiro, da
LINDB, que dispõe: Art. 7º, §1º Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei
brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. De acordo
com o dispositivo legal, será aplicada a lei brasileira no que tange aos impedimentos
dirimentes, hoje chamados apenas de impedimentos (art. 1.521 CC), e quanto às formalidades
da celebração. É a chamada lex loci celebrationis, ou seja, lei do local da celebração. Ex.: um
árabe vem para o Brasil, já sendo casado 3 vezes em seu país e, querendo se casar com uma
nova moça aqui, ele invoca o estatuto pessoal, dizendo que em seu país é possível casar-se com
várias pessoas. Ele não poderá se casar novamente no Brasil, pois, aqui, isso não é permitido, e
a soberania do Brasil deve ser respeitada.
47) Como pode ser celebrado o casamento de estrangeiros no Brasil? Dispõe a LINDB que
o casamento de estrangeiros, no Brasil, poderá ser celebrado perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes.
Art. 7º, § 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes.
48) Em relação ao casamento de estrangeiros no Brasil, qual lei deverá ser aplicada?
Será aplicada a lei brasileira no que tange aos impedimentos dirimentes, hoje chamados
apenas de impedimentos (art. 1.521 CC), e quanto às formalidades da celebração. É a
chamada lex loci celebrationis, ou seja, lei do local da celebração. Art. 7º, § 1º: Realizando-se
o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às
formalidades da celebração. Ex.: um árabe vem para o Brasil, já sendo casado 3 vezes em seu
país e, querendo se casar com uma nova moça aqui, ele invoca o estatuto pessoal, dizendo que
em seu país é possível casar-se com várias pessoas. Ele não poderá se casar novamente no
Brasil, pois, aqui, isso não é permitido, e a soberania do Brasil deve ser respeitada.
No que tange aos impedimentos impedientes, ou chamados de causas suspensivas, (artigo 1.523
CC), aplicar-se-á a lei do domicilio dos nubentes, por se tratar de questão de ordem privada
(patrimonial). Sendo diversos os domicílios, regerá o primeiro domicílio conjugal.
§ 3º Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do
primeiro domicílio conjugal.
Em relação ao regime de bens, as regras serão ao do local em que os nubentes tiverem
domicílio e, se diverso, as regras do primeiro domicílio do casal.
§ 4º O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
49) Como deve ser feito o casamento de brasileiros no estrangeiro, para que seja
reconhecido no Brasil?
Para que o casamento de brasileiros no estrangeiro seja reconhecido de plano no Brasil, é
necessário que seja feito perante as autoridades consulares brasileiras. Também o registro de
nascimentos e óbitos. Será hipótese de ato notarial nacional. O Consulado Brasileiro é uma
espécie de longa manus do território nacional.
50) Divórcio de brasileiros no estrangeiro e reconhecimento no Brasil.
De acordo com o dispositivo legal, o divórcio de brasileiros no estrangeiro somente será
reconhecido no Brasil um ano depois da data da sentença, salvo que tenha sido antecedido de
separação judicial por igual prazo, situação em que a homologação produzirá efeito imediato.
O parágrafo sexto enseja grande debate doutrinário, uma vez que a Emenda Constitucional
nº66/2010 alterou o artigo 226, §6º, da CF, passando a dispor:
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.
A redação anterior era:
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por
mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois
anos. (REVOGADO).
Assim, muitos defendem que:
- a alteração colocou fim ao instituto da separação judicial no direito brasileiro, o que levaria à
necessidade de releitura do artigo 7º, §6º, da LINDB. Entretanto, essa linha de pensamento
perdeu força quando o CPC/2015 expressamente se referiu ao instituto da separação, o que fez
com que o STJ reconhecesse a permanência do instituto no direito brasileiro.
- a EC 66/10 retirou os prazos mínimos para separação, divórcio e conversão da separação em
divórcio no Brasil. Assim, a posição majoritária no Brasil é a de que o prazo de um ano previsto
no artigo 6º deve ser superado, em uma interpretação conforme a Constituição. Esse, inclusive,
é o entendimento do STJ.
51) Separação e divórcio consensual de brasileiro no estrangeiro.
Registre-se que desde 2013 (Lei 12.874) são possíveis a separação e o divórcio consensual no
estrangeiro, mediante escritura pública lavrada pelo respectivo consulado. Para tanto, todos os
envolvidos haverão de ser maiores e capazes, far-se-á necessário o consenso e a presença de, ao
menos, um advogado. Outrossim, a dita escritura pública deverá versar sobre manutenção, ou
não, do sobrenome acrescido, alimentos e meação. Trata-se da aplicação internacional do já
consolidado divórcio extrajudicial, inserido no Brasil por meio da Lei 11.441/2007, hoje
regulado pelo art. 733 do CPC e devidamente regulamentado pela Resolução 35 do CNJ.
O Provimento 53 do CNJ, de 2016, possibilita a averbação direta, por Oficial de Registro Civil
das Pessoas Naturais, da sentença estrangeira de divórcio consensual, simples ou puro, no
assento de casamento, independentemente de homologação judicial. Na mesma linha caminha o
art. 961, § 5. do CPC, que firma a desnecessidade de homologação da sentença estrangeira
de divórcio consensual para que produza seus regulares efeitos no Brasil.
52) Qual a lei aplicada para abertura de sucessão de bens de estrangeiros?
De acordo com o artigo 10 da LIND, será aplicada a lei do domicílio do defunto ou do
desaparecido. Está em consonância com o Código Civil, que no artigo 1785 do CC, propõe a
abertura do inventário no último local de domicílio do morto.

53) Em relação à capacidade de suceder do herdeiro, qual lei será aplicada?


Será aplicada a lei do domicílio do herdeiro ou legatário. Art. 10, § 2º A lei do domicílio do
herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.
54) Por qual lei será regulada a sucessão de bens de estrangeiro situados no Brasil?
Caso o falecido deixe bens no Brasil, ainda que domiciliado fora do território nacional, a lei a
ser aplicada será a brasileira em relação a esses bens. Trata-se de rara hipótese de competência
territorial absoluta, prevista no artigo 12, §1º e artigo 23 do CPC.
Assim, nenhum outro Estado, ainda que contenha norma interna apontando para sua
competência, poderá proferir decisão que seja eficaz em território nacional (brasileiro). Com
efeito, para que decisão estrangeira possua efeitos no Brasil há de ser homologada pelo Superior
Tribunal de Justiça, o que não ocorreria, in casu, justamente por conta da barreira estabelecida
pelo art. 23 do CPC. Segundo Fredie Didier jr., a decisão estrangeira, nesse particular, seria "ato
sem qualquer importância", pois "não há como homologá-la no Brasil".
55) Qual lei será aplicada ao cônjuge (do brasileiro) e filhos brasileiros, quanto aos bens
situados no país?
Embora a sucessão (inventário e partilha) de estrangeiro que tenha bens no Brasil seja regulada
pela lei brasileira, a lei aplicável ao caso (no que tange ao direito material) será a mais benéfica
para o cônjuge e filhos brasileiros, seja a lei nacional, seja a lei estrangeira. Assim, no caso
concreto, deverá o magistrado avaliar qual a norma mais benéfica, cumprindo à parte, em caso
de legislação estrangeira, o ônus de sua comprovação em Juízo.
55) É possível cláusula de foro de eleição internacional que retire competência nacional
exclusiva?
A resposta é negativa. Embora o artigo 25, do CPC permita o foro de eleição estrangeiro
exclusivo, o parágrafo primeiro veda que isso seja feito em relação às hipóteses de competência
nacional exclusiva, exatamente para evitar que se burle essa regra.
56) E se o falecido for domiciliado no Brasil e o imóvel estiver situado no estrangeiro?
Em regra, deve ser aplicada a lei do domicílio do morto, nos termos do artigo 10 da LINDB
Entretanto, decidiu o STJ que essa não é uma regra absoluta, que pode ceder a outras como a da
situação da coisa, possibilidade concedida de escolha da lei aplicável, quando possível, ou à
questões de ordem pública (como a regra que determina que bens situados no Brasil sofrem a
aplicação da lei brasileira).
57) Qual a lei aplicável aos bens? E o penhor?
Art. 8º Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do
país em que estiverem situados.
A lei do local em que estão situados é a utilizada para qualificar os bens e regular suas relações.
Trata-se da lex rei sitae ou “lei da situação do bem”.
Art. 8º, § 1º Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens
moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
Em caso de bens móveis e transportáveis, aplica-se a lei do domicílio de seu proprietário.
Art. 8º, 2º O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se
encontre a coisa apenhada.
Em relação ao penhor, aplica-se a regra do domicílio (lex domicili) da pessoa na posse do bem
empenhado.
58) Obrigações internacionais são regidas pela lei de qual país?
São regidas e qualificadas pela lei do país e que forem constituídas, nos termos do artigo 9º da
LINDB.
59) E se a obrigação constitucional for constituída por carta ou e-mail, ou seja, pessoas não
presentes no local da celebração?
De acordo com o parágrafo 2º, do artigo 9, da LINDB, considerar-se-á constituída no lugar em
que residir o proponente. Tal regra, registra-se, não possui nenhuma antinomia com a do art.
435 do CC, que afirma que o contrato se reputa formado no local em que for proposto. Explica-
se:
enquanto o CC aplica-se ao contrato nacional, a LINDB tem incidência sobre o contrato
internacional.
60) É POSSÍVEL QUE UM CONTRATO INTERNACIONAL INDIQUE Q
LESGILAÇÃO QUE DEVERÁ SER APLICADA, EM CASO DE CONTROVÉRSIA?
POR EXEMPLO, EM CASO DE CONTROVÉRSIA, SERÁ APLICADA A LEI
ALEMÃ?
- a Doutrina majoritária responde que não, com base no caráter cogente do artigo 9, da LINDB,
que dispõe que “Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem”.
- Entretanto, corrente minoritária afirma que sim, sob o argumento de que deve-se respeitar a
autonomia da vontade dos contratos internacionais e, permitindo o artigo 78 do CC o foro de
eleição, deve ser permitido, também, a escolhe da lei a ser aplicada, desde que não haja afronta
a questão de ordem pública.
Assim, em posição interessante, porém minoritária, em uma intepretação sistemática do art. 93
da LINDB com o 78 do CC deve-se concluir que a regra é que para qualificar e reger as
obrigações
aplicar-se-á o locus regir actum - lei do local da sua constituição. Entretanto, no caso dos
contratos deve-se homenagear primeiro a autonomia, facultado a eleição de foro e lei, sempre
tendo como limite as questões de ordem pública. Caso, porém, as partes tenham silenciado
sobre o tema, aplicar-se-á a LINDB, supletivamente.
61) Sociedades e fundações obedecem à lei de qual Estado? E suas filiais?
Obedecem à Lei do Estado em que se constituírem, nos termos do Art. 11, da LINDB, que
dispõe: As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as
fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem.

Já a abertura de filias, agências ou estabelecimentos no Brasil, porém, demandam prévio


registro dos atos constitutivos e aprovação pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei
nacional. § 1º Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes
de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei
brasileira.
62) Governos estrangeiros podem adquirir propriedades no Brasil?
Os governos estrangeiros não poderão adquirir no Brasil, propriedades suscetíveis de
desapropriação. Poderão, porém, adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede
diplomática e agência consulares.
63) A quem compete o julgamento de réu domiciliados no Brasil? E o julgamento de ações
relativas a imóveis situados no Brasil?
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 1º Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis
situados no Brasil.
64) § 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a
forma estabelecida pela lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira
competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.
Em caso de diligências deprecadas por autoridade estrangeira, após a concessão do exequatur
pelo STJ, será dado cumprimento ao ato deprecado segundo a forma estabelecida pela lei
brasileira, observando a lei estrangeira quanto ao objeto das diligências.
65) Prova de fatos ocorridos no estrangeiro.
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar,
quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a
lei brasileira desconheça.
Em relação aos fatos ocorridos no exterior e o ônus probatório, será aplicada a lei estrangeira
(lex loci). Entretanto, não serão permitidas provas que a lei brasileira não admita.
66) Quais são os requisitos para que decisão estrangeira seja homologada no Brasil?
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no
lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Superior Tribunal de justiça.

Apesar dos requisitos previsto nos artigos 15 e seguintes da LINDB, importante tecer
algumas observações:
Desde a EC 45/04, a competência para homologação é do STJ, e não mais do STF apesar do art.
15 da LINDB, inadvertidamente, ter notícia do STF. Sobre o tema, basta conferir o art. 105, I, i
da CF/88. Logo, será o STJ o responsável pelo juízo de deliberação.
Ademais, apesar da LINDB exigir o trânsito em julgado da decisão no estrangeiro para sua
homologação, o tema sofreu sensível mudança por conta do CPC/2015. Com efeito, o art. 963,
III do CPC, diversamente da LINDB, não demanda que a decisão estrangeira tenha transitado
em
julgado, exigindo para homologação, apenas, que a decisão seja eficaz no país em que foi
proferida.
Nessa linha de pensamento, firma o Superior Tribunal de Justiça que não mais se exige que a
decisão judicial que se pretende homologar tenha transitado em julgado, mas, ao revés, que
somente seja ela eficaz em seu país de origem. Nestes termos, considera-se eficaz a decisão que
nele possa ser executada, ainda que provisoriamente, de modo que havendo pronunciamento
judicial suspendendo a produção de efeitos da sentença que se pretende homologar no Brasil,
mesmo que em caráter liminar, a homologação não pode ser realizada.
67) É possível a homologação parcial de decisão estrangeira?
Sim, nos termos do disposto no artigo art. 961, § 2°, do CPC.
68) Em face do artigo 15 da LINDB, que exige que as sentenças estrangeiras, para serem
cumpridas no Brasil, sejam homologadas pelo STJ, como fica a sentença de separação
judicial consensual proferida no estrangeiro?
A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil independentemente de
homologação pelo STJ, nos termos do artigo 960, §5º, nCPC.
69) É possível que uma sentença estrangeira de pena de morte seja cumprida no Brasil?
Além dos requisitos do artigo 15, o art. 17 da LINDB afirma a necessidade de, no ato da
homologação, ser realizada uma filtragem constitucional, ao passo que a decisão homologada,
ou o ato estrangeiro, não podem violar a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes. Justo por isso que não é possível a aplicação de pena de morte no Brasil, pois esbarra
em questão de ordem pública do direito interno.
Percebe-se que o juízo de deliberação não deverá adentrar no mérito da decisão estrangeira, em
respeito à soberania. A eventual contestação ao pedido de homologação, portanto, dar-se-á
apenas sobre os requisitos de homologação, não dizendo respeito ao mérito da decisão. É
procedimento tipicamente judicial e de cognição restrita.
70) Qual é a justiça competente para efetivar a decisão estrangeira no país?
Observados os requisitos supramencionados, será conferido o exequatur (cumpra-se) pelo
Superior Tribunal de justiça. Então, será a justiça Federal a competente para a efetivação da
decisão, na forma do art. 109, X da CF/88.
71) Há diferença de cumprimento de decisão estrangeira advinda de país pertencente ao
Mercosul?
Em relação aos países do Mercosul, o Protocolo de Cooperação e Assistência Jurisdicional -
apelidado de Las Lerias - trouxe procedimento mais simplificado. Lembram Cristiano Chaves
de Farias e Nelson Rosenvaldo que bastará que a sentença a ser executada em território
brasileiro seja remetida diretamente pela autoridade central da justiça do país de origem, por
meio de simples carta rogatória, para chancela da nossa Corte Superior, que determinará o
exequatur.
72) Analise:
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em
valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.
O art. 20 da LINDB tem por finalidade reforçar a ideia de responsabilidade decisória estatal
diante da incidência de normas jurídicas indeterminadas, que admitem diversas hipóteses
interpretativas e, portanto, mais de uma solução.
O dispositivo proíbe “motivações decisórias vazias, apenas retóricas ou principiológicas, sem
análise prévia de fatos e de impactos. Obriga o julgador a avaliar, na motivação, a partir de
elementos idôneos coligidos no processo administrativo, judicial ou de controle, as
consequências práticas de sua decisão.”
“Quem decide não pode ser voluntarista, usar meras intuições, improvisar ou se limitar a
invocar fórmulas gerais como 'interesse público', 'princípio da moralidade' e outras. É preciso,
com base em dados trazidos ao processo decisório, analisar problemas, opções e consequências
reais. Afinal, as decisões estatais de qualquer seara produzem efeitos práticos no mundo e não
apenas no plano das ideias.”
Esfera administrativa
Consiste na instância que se passa dentro da própria Administração Pública, normalmente em
um processo administrativo.
Esfera controladora
Aqui a Lei está se referindo precipuamente aos Tribunais de Contas, que são órgãos de controle
externo.
Esfera judicial
São os processos que tramitam no Poder Judiciário.
73) O artigo 20 da LINDB proíbe que se decida com base em valores jurídicos abstratos?
NÃO. Continua sendo possível. No entanto, todas as vezes em que se decidir com base em
valores jurídicos abstratos, deverá ser feita uma análise prévia de quais serão as consequências
práticas dessa decisão.
O art. 20 da LINDB introduz a necessidade de o órgão julgador considerar um argumento
metajurídico no momento de decidir, qual seja, as “consequências práticas da decisão”.
Em outras palavras, a análise das consequências práticas da decisão passa a fazer parte das
razões de decidir.
74) Qual o objetivo do legislador ao introduzir o artigo 20 na LINDB?
Para responder a essa indagação, importante relembrar algumas decisões proferidas com base na
força normativa dos princípios constitucionais, pelo Poder Judiciário, nos últimos anos, que
condenou o Poder Público a implementar uma série de medidas destinadas a assegurar direitos
que estavam sendo desrespeitados:
• Município condenado a fornecer vaga em creche a criança de até 5 anos de idade (STF. RE
956475, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 12/05/2016).
• Administração Pública condenada a manter estoque mínimo de determinado medicamento
utilizado no combate a certa doença grave, de modo a evitar novas interrupções no tratamento
(STF. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/6/2014).
• Estado condenado a garantir o direito a acessibilidade em prédios públicos (STF. 1ª Turma.
RE 440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013).
• Poder Público condenado a realizar obras emergenciais em estabelecimento prisional (STF.
Plenário. RE 592581/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015).
Todas essas decisões foram proferidas com fundamento em princípios constitucionais, ou seja,
com base em “valores jurídicos abstratos”. O que o legislador pretendeu, portanto, foi,
indiretamente, tentar tolher o ativismo judicial em matérias envolvendo implementação de
direitos.
É como se o legislador introduzisse uma condicionante para a força normativa dos princípios:
eles somente podem ser utilizados para fundamentar uma decisão se o julgador considerar “as
consequências práticas da decisão”.
75) Ao motivar a decisão tomada, o indivíduo que tomou a decisão precisa
apontar todas as possíveis consequências práticas da decisão? Se ele não apontou uma
consequência prática posteriormente identificada, pode-se dizer que ele descumpriu esse
comando legal?
Não necessariamente. O indivíduo, ao fundamentar a decisão proferida, deverá apontar o maior
número de consequências práticas que possa vislumbrar. Isso não significa, contudo, que outras
alternativas não possam ser cogitadas e que não foram mencionadas. Nesse sentido, veja o que
estabeleceu o Decreto que regulamentou os dispositivos da LINDB:
Art. 3º (...)
§ 2º Na indicação das consequências práticas da decisão, o decisor apresentará apenas aquelas
consequências práticas que, no exercício diligente de sua atuação, consiga vislumbrar diante dos
fatos e fundamentos de mérito e jurídicos.
76) Qual o significado da expressão “consequências práticas da decisão” prevista no artigo
20 da LINDB?
A expressão “consequências práticas da decisão” é bem ampla. No entanto, parece que a
principal intenção do legislador foi a de impor a exigência de que o julgador considere,
principalmente, as consequências econômicas da decisão proferida.
Trata-se da chamada “análise econômica do direito – AED”.
Ex: em tese, pela aplicação do art. 20 da LINDB, o juiz poderia deixar de condenar o Estado a
fornecer a um doente grave determinado tratamento médico de custo muito elevado sob o
argumento de que os recursos alocados para fazer frente a essa despesa fariam falta para custear
o tratamento de centenas de outras pessoas (“consequências práticas da decisão”).
77) Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida
imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa,
inclusive em face das possíveis alternativas.
1) Discorro sobre o requisito da motivação.
Todas as decisões, sejam elas proferidas pelos órgãos administrativos, controladores ou
judiciais, devem ser motivadas.
Isso significa que o administrador, conselheiro ou magistrado, ao tomar uma decisão, deverá
indicar os motivos de fato e de direito que o levaram a agir daquela maneira.
Novo requisito da motivação
O administrador, conselheiro ou magistrado quando for...
• impor alguma medida ou
• invalidar ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa
... deverá demonstrar que a decisão tomada é necessária e a mais adequada.
... explicando, inclusive, as razões pelas quais não são cabíveis outras possíveis alternativas.
Ex: em uma licitação na qual se descobre que houve fraude, o administrador que decidir pela
anulação do ato deverá demonstrar que essa medida é necessária e adequada para resguardar a
moralidade administrativa e que não é possível que seja feita a convalidação (possível
alternativa), considerando que houve superfaturamento e, portanto, prejuízo ao erário, por
exemplo.
3) Discorra sobre Necessidade e adequação:
Esses conceitos de “necessidade” e “adequação” foram emprestados do legislador da explicação
que a doutrina dá a respeito do princípio da proporcionalidade.
O princípio da proporcionalidade divide-se em três subprincípios:
a) subprincípio da ADEQUAÇÃO: no qual deve ser analisado se a medida adotada é idônea
(capaz) para atingir o objetivo almejado;
b) subprincípio da NECESSIDADE: consiste em analisar se a medida empregada é ou não
excessiva; e
c) subprincípio da PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: representa a análise do
custo-benefício da providência pretendida, para se determinar se o que se ganha é mais valioso
do que aquilo que se perde.
78) A Lei nº 13.655/2018 demonstrou uma preocupação muito grande com decisões que
acarretem invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa. Por
isso, inseriu na LINDB dois dispositivos para tratar sobre o tema: o parágrafo único do
art. 20 e o art. 21.
Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de
modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas.
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso,
indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e
sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou
perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.

Discorra sobre o tema.


O art. 21 “exige o exercício responsável da função judicante do agente estatal. Invalidar atos,
contratos, processos configura atividade altamente relevante, que importa em consequências
imediatas a bens e direitos alheios. Decisões irresponsáveis que desconsiderem situações
juridicamente constituídas e possíveis consequências aos envolvidos são incompatíveis com o
Direito. É justamente por isso que o projeto busca garantir que o julgador (nas esferas
administrativa, controladora e judicial), ao invalidar atos, contratos, processos e demais
instrumentos, indique, de modo expresso, as consequências jurídicas e administrativas
decorrentes de sua decisão.”

Regularização
A invalidação de um ato, contrato, ajuste, processo ou norma pode acarretar graves prejuízos
para a parte envolvida, para a própria Administração e também para terceiros. Pensando nisso, o
parágrafo único do art. 21 trata sobre o tema, assim como sobre a possiblidade de regularização
da situação:
Art. 21 (...)
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso,
indicar as condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e
sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou
perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.

Exemplo de aplicação do dispositivo: no caso de invalidação de contrato administrativo, a


autoridade pública julgadora que determinar a invalidação deverá definir se serão ou não
preservados os efeitos do contrato, como, por exemplo, se os terceiros de boa-fé terão seus
direitos garantidos. Deverá, ainda, decidir se é ou não o caso de pagamento de indenização ao
particular que já executou as prestações, conforme disciplinado pelo art. 59 da Lei nº 8.666/93.
79) INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS SOBRE GESTÃO PÚBLICA e PRIMADO DA
REALIDADE
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os
obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu
cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste,
processo ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que
houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente.

Uma das principais teses de defesa dos administradores públicos nos processos que tramitam
nos Tribunais de Contas ou nas ações de improbidade administrativa é a de que não cumpriram
determinada regra por conta das dificuldades práticas vivenciadas, em especial quando se trata
de Municípios do interior do Estado. Alega-se, por exemplo, que não se apresentou a prestação
de contas porque a internet no interior é ruim. Argumenta-se também que não se apresentou o
balanço contábil porque no Município não há contadores e assim por diante.
Em geral, tais argumentos não são acolhidos porque os Tribunais de Contas e o Poder Judiciário
entendem que essas dificuldades são previamente conhecidas e que os administradores públicos
já deveriam se preparar para elas.
Assim, o objetivo do dispositivo foi o de tentar “abrandar” essa jurisprudência pugnando que o
órgão julgador considere não apenas a literalidade das regras que o administrador tenha
eventualmente violado, mas também as dificuldades práticas que ele enfrentou e que possam
justificar esse descumprimento.
O grupo de juristas que auxiliou na elaboração do anteprojeto assim justificou a nova previsão
legal:
“(...) a norma em questão reconhece que os diversos órgãos de cada ente da Federação possuem
realidades próprias que não podem ser ignoradas. A realidade de gestor da União evidentemente
é distinta da realidade de gestor em um pequeno e remoto município. A gestão pública envolve
especificidades que têm de ser consideradas pelo julgador para a produção de decisões justas,
corretas.
As condicionantes envolvem considerar (I) os obstáculos e a realidade fática do gestor, (II) as
políticas públicas acaso existentes e (III) o direito dos administrados envolvidos. Seria pouco
razoável admitir que as normas pudessem ser ignoradas ou lidas em descompasso com o
contexto fático em que a gestão pública a ela submetida se insere.”
80) Quais os critérios a serem considerados na aplicação das sanções aos agentes públicos?
De acordo com o artigo 22, §2º, da LINDB, os critéiros são: a) Natureza e gravidade da infração
cometida; b) Danos causados à Administração Pública; c) Agravantes; d) Atenuantes; e)
Antecedentes.
Art. 22. Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e
as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo
dos direitos dos administrados.
§ 1º Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo
ou norma administrativa, serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem
imposto, limitado ou condicionado a ação do agente.
81) Qual a postura a ser tomada diante de mudança de interpretação ou orientação e
modulação dos efeitos da decisão
Se houver uma mudança na forma como tradicionalmente a Administração Pública, os
Tribunais de Contas ou o Poder Judiciário interpretavam determinada norma, deverá ser
previsto um regime de transição, quando indispensável.
Este regime de transição representa a concessão de um prazo para que os administradores
públicos e demais pessoas afetadas pela nova orientação possam se adaptar à nova
interpretação. É como se fosse uma modulação dos efeitos.
Art. 23. A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou
orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo
condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que
o novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e
eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais.
82) Quais são os requisitos previstos no artigo 23 da LINDB, para que um regime de
transição seja implementado diante de nova interpretação ou orientação administrativa?
a) A decisão administrativa, controladora ou judicial deve estabelecer uma interpretação ou
orientação nova. Considera-se nova interpretação ou nova orientação aquela que altera o
entendimento anterior consolidado (art. 6º, § 3º do Decreto);
b) Essa interpretação nova deve recair sobre uma norma de conteúdo indeterminado;
c) Por conta dessa interpretação, será imposto novo dever ou novo condicionamento de direito;
d) O regime de transição mostra-se, no caso concreto, indispensável para que o novo dever ou
condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente;
e) A imposição desse regime de transição não pode acarretar prejuízo aos interesses gerais.
Cabe ao órgão julgador a análise dos preenchimentos dos requisitos acima, sendo passível de
recurso caso o interessado entenda que deveria ter direito ao regime de transição.
83) Art. 24. A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado
levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança
posterior de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.

Decreto 9830/19, que regulamentou a LINDB:


Art. 5º A decisão que determinar a revisão quanto à validade de atos, contratos, ajustes,
processos ou normas administrativos cuja produção de efeitos esteja em curso ou que tenha
sido concluída levará em consideração as orientações gerais da época.
Algumas vezes demoram anos para que a Administração Pública (controle interno), o Tribunal
de Contas ou o Poder Judiciário examine a validade de um ato ou contrato administrativo (em
sentido amplo) que já tenha se completado. Nesse período, pode acontecer de o entendimento
vigente ter se alterado. Caso isso aconteça, o ato deverá ser analisado conforme as orientações
gerais da época e as situações por elas regidas deverão ser declaradas válidas, ainda qe em
desacordo com a orientação vigente na atualidade.

84) Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na
aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade
administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização
de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso
com os interessados, observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir
de sua publicação oficial.

O art. 26 da LINDB prevê a possibilidade de a autoridade administrativa celebrar um acordo


(compromisso) com os particulares com o objetivo de eliminar eventual irregularidade,
incerteza jurídica ou um litígio (situação contenciosa). Ex: determinado particular estava
desenvolvendo clandestinamente atividade econômica que exigiria prévia licença. Esta situação
é descoberta e o art. 26 permite que seja realizada uma negociação entre a autoridade
administrativa e este particular a fim de sanar essa irregularidade.
Para que esse compromisso seja realizado, é indispensável a prévia manifestação do órgão
jurídico (ex: AGU, PGE, PGM). Em alguns casos de maior repercussão, é necessária também a
realização de audiência pública.

Assim, na hipótese de a autoridade entender conveniente para eliminar irregularidade, incerteza


jurídica ou situações contenciosas na aplicação do direito público, poderá celebrar compromisso
com os interessados, observada a legislação aplicável e as seguintes condições:
I - após oitiva do órgão jurídico;
II - após realização de consulta pública, caso seja cabível; e
III - presença de razões de relevante interesse geral.

85) IMPOSIÇÃO DE COMPENSAÇÃO


Art. 27. A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial,
poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos
resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos.
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre
seu cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor.
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso
processual entre os envolvidos.

Veja a opinião da Sociedade Brasileira de Direito Público a respeito desse artigo:


“O dispositivo em questão visa evitar que partes, públicas ou privadas, em processo na esfera
administrativa, controladora ou judicial aufiram benefícios indevidos ou sofram prejuízos
anormais ou injustos resultantes do próprio processo ou da conduta de qualquer dos envolvidos.
O art. 27 tomou o cuidado de exigir que a decisão que impõe compensação seja motivada e
precedida da oitiva das partes. Há, também nesse caso, a possibilidade de celebração de
compromisso processual entre os envolvidos.”

86) Em quais situações o agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou
opiniões técnicas?
Somente em caso de dolo ou erro grosseiro, sendo esta considerada como culpa grave (situações
de o que inclui situações de negligência grave, imprudência grave ou imperícia grave).
87) Grande prejuízo, por si só, pode configurar o dolo ou erro grosseiro?
Não. Decreto nº 9.830/2019
Art. 12 (...)
§ 5º O montante do dano ao erário, ainda que expressivo, não poderá, por si só, ser elemento
para caracterizar o erro grosseiro ou o dolo.

88) Como devem ser analisadas as responsabilidades do parecerista e do decisor?


Devem ser analisadas de forma independente. O simples fato de o decisor ter decidido com base
em parecer técnico eivado de dolo ou erro grosseiro não lhe acarretará, automaticamente,
responsabilidade. Nesse caso, o parecerista pode ser responsabilidade nos termo do artigo 28 da
LINDB, se comprovado dolo ou erro grosseiro.
Para que o decisor seja responsabilizado será necessário que fique demonstrado que ele:
• tinha condições de aferir que o parecerista agia com dolo ou erro grosseiro; ou
• estivesse em conluiou com o parecerista.
Esse entendimento – que decorre da ideia de responsabilidade pessoal e subjetiva – foi
explicitado no Decreto nº 9.830/2019:
Decreto nº 9.830/2019
Art. 12 (...)
§ 6º A responsabilização pela opinião técnica não se estende de forma automática ao decisor
que a adotou como fundamento de decidir e somente se configurará se estiverem presentes
elementos suficientes para o decisor aferir o dolo ou o erro grosseiro da opinião técnica ou se
houver conluio entre os agentes.
Segundo a doutrina e o voto do Min. Joaquim Barbosa no MS 24.631/DF (DJ 01/02/2008),
existem três espécies de parecer:
Facultativo Obrigatório Vinculante
O administrador NÃO É O administrador é obrigado a O administrador é obrigado a
obrigado a solicitar o parecer solicitar o parecer do órgão solicitar o parecer do órgão
do órgão jurídico. jurídico. jurídico.
O administrador pode O administrador pode O administrador NÃO pode
discordar da conclusão discordar da conclusão discordar da conclusão
exposta pelo parecer, desde exposta pelo parecer, desde exposta pelo parecer.
que o faça que o faça Ou o administrador decide
fundamentadamente. fundamentadamente com nos termos da conclusão do
base em um novo parecer. parecer, ou, então, não
decide.
Em regra, o parecerista não Em regra, o parecerista não Há uma partilha do poder de
tem responsabilidade pelo tem responsabilidade pelo decisão entre o administrador
ato administrativo. ato administrativo. e o parecerista, já que a
decisão do administrador
Contudo, o parecerista pode Contudo, o parecerista pode deve ser de acordo com o
ser responsabilizado se ficar ser responsabilizado se ficar parecer.
configurada a existência de configurada a existência de
culpa ou erro grosseiro. culpa ou erro grosseiro. Logo, o parecerista responde
solidariamente com o
administrador pela prática do
ato, não sendo necessário
demonstrar culpa ou erro
grosseiro.

89) Se um servidor público, no exercício de suas funções, pratica ato ilícito que causa
prejuízo a alguém, ele poderá ser responsabilizado?
SIM. No entanto, essa responsabilidade é:
• subjetiva (terá que ser provado o dolo ou a culpa do servidor); e
• regressiva (primeiro o Estado terá que ser condenado a indenizar a vítima e, em seguida, o
Poder Público cobra do servidor a quantia paga).
Esse regime de responsabilidade está previsto na parte final do § 6º do art. 37 da Constituição:
Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

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