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3.2. Recorréncias lineares de coeficientes constantes Na secgao anterior demos vatios exemplos de velagies de recoréncia e estadémo- -las caso a caso por métodos ad hoc. Na maior parte dos casos, as relagdes de odo 8 stemAtico para, recorréncia tém que ser estudadas assim, pois nao h4 un mu as resolver. Ha, porém, uma importante e vasta classe de relagdes de recorréncia para as quais ha, de facto, wm tal método sistemético. 1S a classe das RELAGOES (TES CONSTANTES, DE RECORRENCIA LINBARES, HOMOGENBAS © COM CoBFIC Batas relagies so dadas por uma PORMULA DE RECORRENCIA Bn = 1nai + Catinn boob Cbd em que & é um miimero fixo (indepondente de n) e c1, 62)... ex sho niimeros reais (também independentes de n), © por k CONDIGOES INICIAIS m= by TH ey et = bey onde bp, by, «.. , Bu-1 so mximeros reais previamente dados Uma soLuGho da relagéo de recorréncia acima é uma sucessio (infinita) de mi- eros reais (an) = (a9,a1,42,...) tal que ay bo, by. ae = Ded e tal que, para todo n> k, Bn = C1Ap-1 + Cry 9 b+ + Chink Para melhor entendermos estas definigdes, esmiucemos as palavras linear € ho- mogénea e a locugio coeficientes constantes, ‘Todas estas expressdes so comuns ‘@ muitos ramos da Matematica, De um modo (certamente) grosseiro, dizemos que uma dada expresso aritmética que envolve varidveis (a que também pode- mos chamar indeterminadas ou inedgnitas) 6 “linear” se néio envolve produtos das varidveis; dizemo-la “homogénea” se nao envolve parcelas sem varidveis ou, dito de outro modo, se a sua parcela (ou termo) independente ¢ nuila; finalmente, dizemo- Ja “com coeficientes constantes" quando 0 coeficiente de cada varigvel nao é.. varidvell 3.2.1, Caso homogéneo (raizes simples) De acordo com a definigao, uma relagéo de recorréneia linear, homogénea e com coeficientes constantes ¢ especificada por uma formula de recorréncia e pelas condigées iniciais. Estas tiltimas determinam os primeiros & valores da solug3o, enquanto a formula de recorréncia determina os restantes valores, dando cada um deles a partir dos k valores anteriores. Por si s6, a formula de recorréncia nao determina uma solugao tinica; somente esta formula cum condigdes iniciais o faz, Cum (lat), Com. Usado ora denctar una rnatureze combined, 165 Quais sao as condigses Iniciis que determinam sucessdo 1,6 9,25Frooe Ba sucessio 0,0,0,0,0,... # Porque nos permite sobrepor solugées, 166 Por exemplo, a frmula de recorréucl (0) ty = tem a sucessio de Fibonacci como solugio, assimn como a sucesso 1,4, 4,2, 4, nod nna ‘ou mesmo a sucesso constantemente igual a zero: 0,0,0,0,0,... Para especi fear cabalmente a relagao de recorréncia de Fibonacci, 6 necessério complemen: tar a férmula de recorréncia (0) com as condigées iniciais #9 = Oe 2 = 1 (ou 2 = 2 = 1 — vai dar ao mesmo!), No que se segue, o leitor deve dis tinguir claramente entre relagio de recorréncia e fSrmula de recorréncia, ¢ entre solucdo (bem determinada) de uma relagdo de vecorrénciae solugio (solugdes, visto que a unicidade necessita da imposigéio de condigées iniciais) de uma formula de recorvéncia. Por motivos de naturcea técnica, nfio vamos admitir apenas solugées constituidas por mimeros reais para as formulas do recorréncia: admitimos, om goral, solugdes constituidas por mimeros compleros (observe que, no caso das relagées de recorréncia, a solugio ¢ forcosamente constituida por mimeros reais, ‘visto que as condigies iniciais s20 nimeros reais e que a formula de recorréncia sgera mimeros reais a partir de mimeros reais). Bom, e que podemos fazer com estas relagdes de recorréncia lineates, homogéneas ¢ com coeficientes constantes? Em primeiro lugar, consideremos uma recorréncia, deste tipo para k = 1, em que a férmula de recorréncia & Bn = Cnn para algun numero real ¢. Usando o método de substituigdo de diante para tris, chegamos facilmente A conclusio que 20 para todo niimero natural n. Deste modo, as solugées dey = ern-1 880 de: terminadas pelas diferentes escolhas da. condigdo inicial, ie., pela escola do valor atribuido a ap. Que acontecerii quando k > 1? A abordagem que vamos segui envolve duas etapas: na primeira etapa, procuramnos identificar, de algu modo, uma familia especifica de solugdes da férmula de recorréncia; na segunda etapi tentamos encontrar uma maneira de juntar todas essas solugdes de forma a que #1 ‘possa obter uma solugéo bem determinada mediante a imposigao das condigdes i Ciais. Para que este projecto seja realizavel 6 conveniente convencermo-nos de qu existe alguma esperanca em sermos bem sucedidos com a tarefa da segunda etaps Ora, uma das maneiras, provavelmente a mais simples (¢ aquela em que toda a gente pensar), de juntar solugdes 6 somé-tas. Por felicidade (ou por bondade dos deuses), temos o resultado seguinte Proposigao (Principio da Sobreposicao). Sejam (an) € (bn) duas solugdes da mesraa formula de recorréncia linear, homogénea com coeficientes constantes: By = O1Eya toot On j | | Entdo, pare quaisquer wimeros reais ou complezos r ¢ 5, a sucessdo (ran + sbn) também é wma solugdo da mesma formula de recorréncia Demonstragao, Hasta efectuar alguns célculos simples: Tq + Sbp = PCy at ++ + CE k) + 8(CrDnaa oo + Cada t) =r (Pan1 + Sbaai) +--+ + ee(ray—k + shee) erdnas +2+-+ Gpdy—a Por exemplo, a sucesso (2") solugao da formula de recorréncia Bp = Bry + Orn Com efeito: 5-28! — 6.28? = 19-9"? G.2"-8 = 4.24 = 2", O mesmo se passa em relacdo & sucesso (3) (vorifiquel). Entio, o prinefpio da sobreposigao garante que, para quaisquer mimeros reais re s, a sucessio (r2" + s3") também 6 solugao da formula de recorréncia mencionada acima. De facto: 5r2"—1 — 672"? + 593°" — 659°? 5(r2"—? + 58") ~ G(r 2"? 4 93-2) = (10r — 6r}2"-? + (15s ~ 65)? = 42"? 4 95a"? = HD" 4 5B" © principio da sobreposigao generaliza-se a qualquer combinagdo linear de um conjunto finito de solucdes da mesma férmula de recorréncia linear, homogénea e com coeficientes constantes. Por outras palavras, se conhecermos sn solugdes Bs any PAP, eee da formula de recorténcia em causa, entio, para quaisquer miimeros reais ou com- plexos ry... sFmy a SUCESEAO (an) de termo geral oy = ral!) + ra) +o + ral” é, também, uma solugéo da mesma formula de recorréncia. Deste modo, formando combinagies lineares de solugdes conhecidas, podemos sempre abter novas solugées. Interessa, pois, encontrar certas solugdes base (ou antes: “fandamentais”) a partir das quais se possam determinar todas as outras. B essa a tarefa da primeira etapa. Antes, porém, observemos novamente que qualquer solugio fica cabalmente determinada pela imposigdo das condigées iniciais. Esta imposigao permite-nos completar © segunda etapa, pois ela determina os mimeros reais ow complexos Fis May +++ que aparecem como coeficientes da combinagio linear das solugées “fundamentais” Enfrentemos agora a primeira etapa, © segninte facto é fimdamental: 187 Sabia que, num certo sentido precise, nao ha férmuta resoluente para as ‘equagées do quinto gran? Isto é Metemsticat! 168 Proposigao. Seja Bn = Cn Pt Cant + eat uma formula de recarréncia linear, homogénea e com coeficientes constantes e sejx A um mimero real ow compleso tal que AF GME ey de = 0 ot, dito de outra forma, tal que dé raiz (real ou complexa) do polindmio a(t) tna indeterminada t. Entdo, a sucesséo (A") é uma solugdo da formula de recor véncia dada. myth) on oe st eg Demonstracdo. Suponhamos que \ 6 uma raiz do polinémio p(t). Entdo, Mead be teed ben ©, portanto, para n > k, temos AP = AMEN MCAT be tcp aN 4p) ATT etc PHH a cpa, ‘mostrando que a sucesso (A) é solugdo da férmula de recorréncia considerada, a © resultado anterior permite-nos obtor vérias salugSes para uma dada formula de recorréncia que seja linear, homogénea e com coeficientes constantes. Basta encontrar as rafzes de um certo polinémio que Ihe esté associado, A tarefa néo é, no entanto, sempre facil: como encontrar, por exemplo, as raizes de um polinémio de grau 57 Mas isso nfo tira importancia tedrica A proposig&o acima e, em muitos 2808, esta permite-nos explicitar na prétiea as solugées de relagdes de recorréncia Bis um exemplo (ja conhecido): Exemplo 1. B bem conhecida a FORMULA RESOLVENTE pata as equacdes de se- Bundo grau, 0 que nos permite obter solugdes para recorréncias do tipo da de Fibonacci, cuja formula de vecorréncia & Tn = Ona +o nna De facto, pela proposigio que acabsmos ce demonstrar, qualquer raiz do polinémio pit) 4-nos uma solucio para essa formule de recorréncia, Ora, p(A) = 0 se, ¢ somente se, A= HTH = LAF 6, portanto, as valves de p(t) s80: 0 mimero de ouro # = 148 © 0 seu conjugado & = 15¥8, Por conseguinte, a sucossio (a) 6 uma solugio daquela férmula de recotrénci Sendo assim, pelo prinefpio da sobreposigéo, qualquer combinagéo linear destas duas sueessies 6 também uma solugio da mesma férmula de recorréncia — dito de outro modo, dados quaisquer mimeros a eB, a sucesso (a8" + 8") 6 uma raat + 2n-2. A formula de Binet comeca assim como o é a sucessiio (8"), solugéo da formula de recorréncia 2, syorta a fazer algum sentido — nfo surge por artes inigicas. De facto, tomando 1 de eB = —dg, obtemos a sucessiio de Fibonacci... Porqué? Como sabemos ‘to? Bom, como jé observdinos anteriormente, uma solugao de qualquer formula dle recorréncia é univocamente determinada indicando condigées iniciais. No caso eh=0). Assim, temos que obter mimeros (reais ou complexos) a ¢ f tais que ab + 8% = 1 «ad? + 68? = 1. Ora, é facil ver que este sistema (de duas equagdes nas duas 4. Por «i sucessiio de Fibonacci, estas condigdes 880 Fy = F, = 1 (ou, Fy = incdgnitas @ © f) & possivel e determinado, com solugses a = eB conseguinte, 1 (gn ge n= a (on -#) A formula de Binet esté justificada, agora com maior clareza! i \ importancia do polinémio que surge na proposigao anterior leva-nos a registar suguinte definicao. Vefinigéo. O POLINGMIO CaRAcTERIsTICO da formula de recorréncia. (linear, lumogénea e com coeficientes constantes) Bn SOE Hot Chat nckbs FER ‘0 polindmio (na indeterminada ¢) Heth tat en An vaizes deste polinémio chamamos as RAIZES CARACTERIsTICAS daquela formula ds sevorréneia, ‘in torminologia que acabémos de introduzir, podemos afirmar que qualquer raiz ‘uracteristica de uma formula de recorréneia linear, homogénea e com coeficientes vomitantes, determina uma solugao “fundamental” dessa fOrmula de recorréneia i adm disso: Proposig&o. Sejam As,...,Ay todas as rafees caracteristieas da férmula de re- sonvéncia By =O1Enaa Hot ChAT bet TORE © aejum ony... 4p miimervs reais ou complexos. Bntio, a sucessio {an} definida mw Oy = aA $e ba At wna soluedo daqueta formula de recorréncia Demnonstragdo. Basta observar que cada sucessdo (X?) & solugdo da formula de éncia dada © que, portanto, qualquer combinagio linear destas solugdes ‘uonhém 6 solugo da mesma férmula de recorrénci, a ons pergunta surge agora naturalmente: seré que todas as solugdes da, f6rmula, vie vecorréneia Fy gan bob Cathy ked Fk k Pécitl? Tente! Nao se ve = 3 41. 160 © que é uma rais simples? Aguarde! Beta demonstragio ‘envolve algumas téenicas «qve soiem do dmbito destas notes, 0 poderé ser ignorada pelo leitor menes preparado. Vondermonde?! Onde & ue jd ows este nome#! 170 podem ser obtidas por este processo? A resposta & um sim parcial: isso € verdade se, € somente se, 0 seu polindinio caracteristico tem exactamente k rafzes (note que este polinémio tem grau k). Ou soja, se todas as raizes do polindmio caracterfstico slo simples, ‘Teorema (caso das raizes simples). Seja p(t) = th = eth — = cyt ep © polinémio caracteristico de uma formula de recorréncia linear, homogénea ¢ com | cocficientes constantes, © seje (aq) uma solugdo desta formula de recorréncia Suponhamos que p(t) tem exactamente k raises (reais ou compleras) distintas AivessAke Baldo, existe niimeros reais ou compleros cx, ..., ax tais que iq = AP ob RAE para toda o rsimero natural n. Demonstragio. Pela proposigo anterior, para quaisquer niimeros reais ou com- plexos ay, .-. Gx, a sucesso (aA? +---+ a4AZ) € solugio da formula de re corréncia considerada. Nesta conformidade, dado que qualquer solugio é univoca- mente determinada pelas condigées inicais, tomos que encontrar mimeros reais ou complexes 1, ... + a4 tais que a solugio (aa\f +--+ +axAf) satisfac as condigdes Iniciais 29 = ao, #1 = 41)... 5 24-1 = de-1 (que 80 deteriminadas pela solugo {a,))- Dito de outro modo, apenas temos que mostrar que existem niimeros reais ou complexos a1... 5 04 tais que ay tes tay = ay ad teak aM} eet aR) = ag Para garantir que estes mimeros existem, vamos socorrer-nos de alguns resultados de Algebra Linear. De facto, as & equagdes indicadas acima determninam um sistema de k equagées Fineares, em k incdgnitas yi, ... , yx, a saber: ti bob ye = a0 ga [at bate = ar AP te tA = oka A matriz simples deste sistema & m1 ae uma matriz quadrada de ordem A. O determinante desta matriz 6 conhecido por DETERMINANTE DE VANDERMONDE € 6 igual a Ar — Aan ~ Aad r ~ Aa) l= TT (a) [a2 = As) + a = And} + [keo2 ~ Ann) Aca ~ Ag)) Att ~ An): Como as raizes Ay, ..., Ax S80 todas distintas, conclnimos que [A] # 0, 0 que significa que o sistema S 6 possfvel e determinado. Por conseguinte, $ tem uma e uma 86 solugio, o que prova que os mimeros a1, ... , a4 (que procuranos) existem © sf tinicos. o Aqui esta (mais) una aplicacéo: Exemplo 2. Determinemos a solugio (an) da fSrmula de recorréncia By = 5itnat ~ 6 n—2 Oe a; = 1 —consequentemente, ao que esta sujeita As condigées iniciais ©a, =1. 0 polinémio caracteristico desta formula de recorréncia é pit) um polinémio de grau dois que tem duas raizes distintas: A= 2 ¢ p = 3 (as 5t+6, ‘quais podem ser encontradas facilmente usando a férmuls resolvente). Assim, pelo teorema anterior, existem nimeros (reais ou complexos) a ¢ i tais que On = 02" + 63" para todo o mimero natural n. Em particular, tomando n =0¢ n= 1, vem O=a9=a46 eb Resolvendlo este sistema (de duas equagdes nas incdgnitas a e 8), obtemos @ ¢ 8 = 1. Em conclusio: 2 a para todo o niimero natural n — e, portanto, (~2" +3") 6a solucto desejada. // Ao resolvermos uma equago polinomial nfo 6 de estranhar que nos aparegam raizes complexas e, neste caso, 6 por vezes conveniente representar essas raizes na forma trigonométrica, Pensamos que este assunto ¢ do conhecimento do leitor. ‘Todavia, vamos recordar rapidamente alguns conceitos, Na sua representagio usual, um néimero complexo tem 0 aspecto a + ib, onde a eb so niimeros reais € 1&0 niimero imagindrio i = YT. Qualquer mimero complexo 2 = a +i, coma © -b mimeros reais, pode ser representado na FORMA ‘TRIGONOMETRICA pcis6 = plcos6 + isend) VeFEF 6 0 MODULO de z — que também se onde p leno por [2] 6 =arctg! 60 ARGUMENTO PRINCIPAL de 2 — que tambéun se deuota por arg. Um exemplo em que ocorrem rafzes complexas ¢ 0 seguinte Exemaplo 3, Encontremos a tinica solugio (a,) da fSrinula de recorréncia Gn = Bent ~ na) Como ws, a ¢ 8 sé ‘univocamente determinados pols valores iniciis aq = 0 € a = 1. Se existe, ndo & imagindrio! B real! "ele" & mneménica para ‘eoeeno "1" sono”, m 1 {que est sujeita As condighes iniciais 9 = Le 1 = 0. O polindmio earactertstiey desta formula de yeeorvéncin 6 p(t) = 2 2642, 0 qual tem duns raizes simples: 1+ie4=1~i. Ooops! Duns ralzes complexas! A representagio tvigonomeétzica estas rates 1-+i = V3 (cos $ + isen $) © 1 —i = V2(cos§ ~ isen). Deste modo, a solucio geral da recorréncia em causa 6 dada por og = 6 [VB cos + tsen)]" + 8 [v2 (cos i200 7)] = (V9 [a (con +4500) + (cos —inen “)] = (v2)" {to +B) cos + i(a— 8) sen =| = B), de modo que Em vez de determinarmos a e fi, vamos determinar estas “novas” constantes Ora, as condigdes iniciais impostas obrigam a que (V2)°(a! cos0 + A sen0) = (V2)! (a cos ¥ +’ sen 4) = 0, donde vem a’ = 1 ¢ f” = ~1. Por conseguinte, « solugio que queremos tem termo geral 4 = (V3" (cos SE ~ sen a Nem todas as recorréncias so lineares, homogéneas e com coeficientes constantes. Por isso, 08 métodos que estudémos nfo sfio, de maneira nenhuma, suficientes para resolver todas as recorréncias que nos surjam pela frente. Todavia, muitas recorréncias nao lineares podem ser resolvidas usando esses métodos, desde que seja possivel reduzi-las a recorvéncias lineares, homogéneas ¢ com coeficientes con stantes. E essa a situagio que exemplificamos de seguida. Exemplo 4 (um problema de percursos). 0 governo de certo pais pretende construir estradas, em linha recta, ligando n + 1 cidades, que representamos por Ca, Cry «5 Cu As cidades esto construfdas sobre um tridngulo como € sugerido pela figura, Cn cs Cr a H——_1e, Pretende-se saber de quantas maneiras distintas 6 possivel construir as estradas de forma a que seja possivel viajar entre quaisquer duas cidades e néo existam circuitos fechados? Para resolver este problema, vamos designar por aq 0 ntimero que se pretende € procurar uma relagio de recarréncia que seja satisfeita pela sucessdo (On)a>1 Vara comegar, determinemos os tx@5 primeiros Lermos desta sucesso: a1, a2 © a Vara n = 1, existem duas cidades e, obviamente, s6 uma maneita de construir as estradas: Assimn ay = 1. Para n = 2, as possibilidades so: a lel Assim a2 = 3. E, para n = 3, temos as possibilidades: Assim ay = 8. Vom, para obtermos uma formula de recorréncia conveniente, fixemos a nossa ‘atengéo na cidade C, que esta situada no topo do tridngulo, Ora, se esta cidade no esta ligada por uma estrada & cidade Cp, tom que existir uma estrada ligando- 1 A cidade Cyr. Neste caso, o mimero possivel de construir as estradas como se petende é 0 mesmo que quando colocamos o mesmo problema considerando apenas Ws cidades Coy Cty «..4 Cnty ise € igual a a,-1. Por outzo lado, suponhamos ue é construfda uma estrada ligando C, a Op. Neste caso, duas situagies podem scontecer: ou no existe ligacao directa entre C,, € Cx, ou essa ligagio existe. No primeira caso, ficamos novamente com problema anélogo para as cidades Co, C1, 1 Cn-1 & portanto, existem ay—1 maneiras diferentes de construir as estradas ‘que faltam, No outro caso, no pode existir ligagdo directa entre as cidades C1 © Ch — caso contraio, existiria 0 eixeuito fechado Cy + Cn > Cra > Co. Assim, das duas uma: ou Cy—1 no esté ligada a Cho, ou est. Se néo esti, deparamos com o problema anilogo para as n~ 1 cidades Co, Cry... , Caz 6 povtanto, existem aq» maneiras de construir as estradas que faltam, No caso alternative. .. J4 estamos @ imaginar o que se passa! Basta repetir 0 argumento aulerior tantas veces quantas forem necessétias: no passo i, para 1 < i Gy Cea Desenbe uns bonecos! ae Resorda-se do niimero de Hmnunin! A recorréncia obtida nfo é linear — porque nao existe o nimero natural (constante!) que aparece na definigio! No entanto, um pequeno truque permite nos reduzit aquela recorréneia a outra com um aspecto mais agradivel: y= ya F Oyen Fun Ong bes ban + a ee er ee Fda Fay 2 + Baad Btn ~ Gnne — usando a identidade on-1 = ana + Ogg + Ogg cb oes-tay +1. Aaah! A recorréncia que obtivémos j4 € linear, homnoyénea e com cocficentes constantes O seu polinémio caracteristico é p(t) = @ — 3t +1 e este polinémio tem duas rales 1 = 2434 © j= 25x. Assim, polo tcorema anterior, existom mimeros reas (on complexes) ae Btais que ay = a (248)" + (25x8)" para todo 0 rnimero natural n> 1, Dstes nimeros, € so univocamente determinados pelos valores a = 1 ay = 3: 880 a tnicasolugao do sistema constitu‘ pelas equagées ata 1e ty a 4 Eye = 3. Resolvendo este sistema, obtemos a = Jee Por conseguinte, wall) C99) para todo 0 nimero natural n> 1. Esta expresséo faz lembrar os nimeros de Fibonacci, De facto fil verifcar que Bull = (1598) = a egun afl = (5}8)" = B2 Porcongunt a mca (an)nz1 tem termo geral Ea v5 ‘© 2n-ésimo ntimero de Fibonacci! i Om (9"- 8") =A, Muitas vezes podemos deparar com sueessbes que so definidas por formulas de recorréncia que, de certa forma, sao interdependentes. B essa a situagéo que consideramos no exemplo que se segue. Exemplo 5. Suponhamos que duas sucessdes (an) ¢ (bn) so definidas (recor rentemente) pelo sistema am = Abg—1 ~ 20n—1 bn = Ta — Sana Sabendo que a = 4 ¢ que by = 3, qual a expresso dos termos gorais ay € bn? Os primeiros termos de cada uma das sucessées so: 4,4, —4, —44, -196,..., para (an), @ 8,1, 18, ~71, ~277,..., para (bn). O leitor consegue resolver © problema considerando apenas estes termos? Bem, da primeira equagio resulta que by. $(n + 2ay-1) para todo n > 1, Substituindo na segunda equagdo, vem (ani + Pan) = 7 [Fan + 2en—1)] ~ 5ay—1 e, portanto, Ong = Say Gant para todo 0 utimero natural n. Obtemos, assim, uma formula de recor linear, homogénea ¢ de coeficientes constantes, O polinémio caracteristico desta ? — 5t-+ 6c este polindmio tem duas ralves distintas: 2 € 3. recoméncta € p(t) Por conseguinte, a2" + pa" para alguns mimeros reais (ou complexos) a ¢ 8. Substituindo, agora, na equago by = (a1 + 2am), obtemos = j daa" +599") by Har"! + A3™ 4202" + 203" Como ay = 4 € by = 3, obtemos as equagies a+ = 4 e a+ $9 = 3, que nos dio a= 86 f= ~4, Bm conclusio: 294.9" © by 235.3" 4, para todo o mimero natural n., “ No problema seguinte vamos ver como este tipo de sistemas de recorréncias pode ser ttil em questées de contagens, Uxemplo 6 (um problema de saltos). Sejam A e H vértices opostos de um ‘octégono regular: Um sapo comega a saltar no vértice A. Sabemos que de qualquer vértice do ‘netégono, excepto do vértice E, o sapo pode saltar para qualquer um dos vértices E, para. Qual o ntimero de caminhos ujacentes, Quando o sapo atingir 0 vert distintos que © sapo pode formar, sabendo que atinge 0 vértice H depois de n saltos? Hesignemos por ay o nimero pretendido. Analisando a figura acima, podemos coneluir que 0 ntimero de vértices percorridos em cada camino que ligue A a E é yr, partanto, 0 sapo néo pode atingir J com um mimero {mpar de saltos, Por vonseguinte, army = 0 pura qualquer mimero natural n, 118 n> 12! Porque? Por outro lado, 6 clare que ay = az = 0: © sapo sé pode atingiv H depois de pelo menos quatro salios. Além disso, A> BC 4 D+ HeA+H 4G F ~ B sao os jinicos caminhos diferentes entve Ae 8 formados exactamente coun quatro saltos. Logo, ag = 2. Para encontrar uma recorréncia que seja satisfeita pela sucessiio (aay), introdii os uuina sucesso auxiliar (bq): para cada niimero natural n, by 60 némero de caminhos de C (ou de @) a £ formados por exactamente n saltos. Bom, comegando em A, 0 sapo pode formar exactamente quatro caminhos com apenas dois salto AFB A ASH > A,A+B 4 CoA +H 4G. Oro, para atingir E depois de 2n saltos, 0 sapo tem, obviamente, que dar mais 2n ~ 2 saltos. Por definigdo de aa, existem exactamente ayy 2 maneitas de o fazer em qualquer una ddas duas primeiras situagies: A> B+ A ou A+ H + A. Por outro lado, por Aefinigéo de by, existem exactamente byy-2 maneitas de o fazer em qualquer wna das ontras duas situagies: A+ B+ C ou A+ HG. Por conseguinte, para n>, Ay = 2azna + 2bay-2 Agora, comecando em C, 0 sapo pode formar exactamente trés caminhos com apenas dois saltos, desde que o vértice E nao soja atingido: C+ B+ C, 0 -+ D+ CeC + B-+ A, Nas duas primeiras alternativas, existem precisamente Yona maneiras de atingir 0 vértice E (por definigao de b,). Na iiltima alternativa, existem procisamente azn—z maneiras de atingir esse vértice (por definigo de an) Por conseguinte, para n > 1, Para chegarmos & solucio do problema, devemos agora resolver o sistema Gan = Bay —2 + 2Ban 2 ban = 2ban-a + Oan—2 4y ~ d2n-2. Substituindo para n > 1. Ora, a primeira equagao dé-nos bzn—2 na segunda equagSo, obiemos }aan42 ~ @an = an ~ 2aay-2 + @an-a €, portanto, ficamos com ange = dn ~ 2a2n-2 para n > L. Fazendo d, = azn, esta equagio pode ser reescrita na forma dnt = dq ~ 2dy=t Para n> 1, Assim, a sucessio (dy)n21 6 uma solugéo da f6rmula de recorréncia linear, homogénea e de coeficientes constantes, que tem polinémio caracteri p(t) =? ~ 44-2. Este polinémio tem duas raizes distintas: 2-+V% e 2~ 3. Por consegguinte, dy = (2 + VB)" + 6 ~ V2" ule «ve 8 880 niianeros reais a determinar, Para isso, usantos as condigies inicinis I, = Oe dp =ay=2. Vem O= dh = a2 + V2) + 8(2 — V2) = a4 A) + V2a- A), mato dy = a(2 + V2)? + B(2 ~ V2)® = 6(a + 8) + 4V Ha — fi) ‘evwlvendo o sistema constituftlo por estas das equagdes (em ordem a a + fe <8), obtemas as equagées a += -1ea~ A =F = v2, que nos dio a luglio: a = 134 e 8 = ~14¥2, em conclusio: dag = ty = 1M 4 voy LEME. yayn jwra todo o ntimero natural n > 1. if 4 . Caso homogéneo (raizes mtiltiplas) Nout subsecg30, vamos debrugar-nos sobre 0 caso em que © polinémio carac~ ‘eristico de uma rocorréncia linear, homogénea e de coeficientes constantes, tem izes que no sao simples. Antes, recordemos que, dado qualquer potinémio p(t) (uy invleterminada ¢) ¢ dada uma sua raiz A, a REGRA DE RUPFINI permite-nos lividiv p(€) pelo polinémio t ~ A de modo a obter um polinémio a(t) tal que pit) = (€~ dale). Iiueanos ent&o que tA 6 umn FACTOR LINEAR de p(t) e, de facto, temos a € uma raiz de p(t) sse t—A é um factor linear de p(t). Agora, ou valencia: uma raiz do polindmio q(t), ou dé uma raiz de q(t) ¢, neste caso, t~ A Sno tun factor linear de g(t). No primeizo caso, dizemos que X é uma RAW SIMPLES Iv plt), enquanto, no segundo easo, dizemos que 2 é uma RAIZ MiLTIPLA de p(t) 'w netal, repetindo 0 processo deserito, se A for uma raiz de p(#), podemos sempre wonirar um mimero natural bem determinado m e um polinémio g(é) tal que e—d)"a(t) © g(A) #0 segunda condigio significa, obviamente, que \ ndo é uma raiz de q(t). Ao inimero natural m chamamos a MULTIPLICIDADE de A como raiz de p(t). O leitor deve motar que qualquer raiz simples tem multiplicidade um! No caso em que \\ umlliplicidade de 2 dois, dizemos que A é uma Raz DUPLA de p(t) e, no sine em que essa multiplicidade 6 tds, dizemos que \ é uma RAIZ TRIPLA de (1), toformalmente, o leitor pode imaginar a multiplicidade de uma raiz como vwlo 0 mimero de vezes que essa raiz se repete. Vamos ter a seguinte situagio vbyantes @ mimero de ratzes reais ow complexas de um polinémio — contando as ‘wultiplicidades — € igual ao grau do polindmio. Uste resultado conhecido por Jr ouniMaA PUNDAMENTAL DA ALGEBRA. ios, no caso em que A é uma raiz simples do polindmio caracteristico, bi vs; uina solugdo “fundamental” associada a A. Bia sucessin das potitneias de Geatmente, 0 Teorema Fundamental da Algetea ddemonstracse num curso de Andtise Complera ” (&=1) (=)? = Re -2)) = 8 ~ 1. Por consogninte, ay = (-I%(k- D+ (e-1)" para todo o mimero natural n > 3 W Exercicios 1. Determine as solugdes das seguintes relagdes de recorréncia: (a) tq = 3aq—1 — 22q-2, com to = 2e a = 3 #(0) te dan.2, com 29 (6) Sn = Gtq-1 ~ Wena + Grq-3, com 29 = $y 21 =1e m2 = *(d) tin = ~an—1 + 162-2 — 20%_-3, COM tp = 0, T) = 1 ete = {e) tq = 2ey—1 — 2en-2, com to = Le x, = 2, 2, Determine o termo geral das sucessées (an) © (by) definidas pelo sistema de recorréncias Oy = ~2aq-1 ~ Abn Dy = dina + Bhp sabendo que a9 = 1 ¢ by = 0. 3. Um organismo primitivo leva uma hora a atingir a maturidade. Ao fim da, segunda hora este organismo tem duas crias, sucedendo 0 mesino ein cada hora subsequente. Cada cria comporta-se da mesma maneita que o seu progenitor € no ha mortes. Comece com um destes organismos recém-nascidos na hora 2er0 € seja. an 0 miimero de organisms ao fim de n horas, (a) Mostre que an = an-1 + 2an-2 para todo n 2 2. (b) Explicite an. 4, 0 Professor Cabecudo costuma subir escadas de modo errético. Umes veues sobe 86 um degrau, outras vezes sobe dois degraus de uma s6 vee. Encontre uma formula para o mimero by de maneiras diferentes do Professor subir escadas com, in degraus. 5, Seja an 0 miimero de sequéncias distintas de comprimento n formadas com os algarismos 0, 1, 2 ¢ 3, nas quais 0 ocorre um niimero impar de veres. Determine uma relagdo de recorréncia que seja satisfeita pela sucessio (an) ¢ explicite o seu termo geral. [Sugestdo. Considere a sucesso (bn), ein que by € 0 mimero de sequéncias de comprimento n formadas com os algarismes 0, 1, 2 ¢ 3 nas quais 0 ocorre umn niimero par de vezes,) 6. Designe par a, 0 ntimero de maneiras distintas de pavimentar uma superficie rectangular de dimensies 2 por n com azulejos de dimensdes 2 por 2 (todos iguais) € 1 por 2 (também todos iguais). Determine uma relagdo de recorréncia para a sucesso (0 )apa @ use-a para explicitar a termo geral a. 1s7 ‘Tem que saber alguma coisa de determinantes ‘para resoluer este exeretciol 188 7. Cousidere o seguinte determinante de ordem n > 1 ita? a 0 Os 0 @ ita @ O - 0 An=| 0 a Ita a v0 : + yee 0 0 0 0 l+@ (a) Mostre que para n > 3, Ay = (1 +4?) An—1 — @?An—2 (b) A partir da igualdade da alinea anterior, conclua que, para a? # 1, ns *(6) Que acontece se a? = 1? 8, Determine as solugdes das seguintes relagbes de recorréncia: (@) fq = Tey—1 — W0zq-2 +3", com 4 = Oem = 1. (b) tp = ty1 + 3n2", com ay = 0. (0) tq = ~4_-2 +1, com ap = 002; = 1. 9, Bncontre as sucessdes que satisfazem a2 — 2a2_, = 1 com ao = 2. [Sugestao. Considere bn = a3.) "10. Encontre as sucessées que satisfazem nd, + (n—1)aq—1 = 2" com ag = 273. [Sugestdo. Considere by = nan} "11. Calcule a soma Sy = Sho? através da observacdo de que se tem Sy, = Spar +n? *12, Resolva as seguintes relagées de recorréncia: (8) Gq = eqn + Adnan = (n+ 1)2%, com ag = Oe a = 14/6. [Suges- téo, Obtenha primeiro solugées particulares das recorréncias ay — 4ay—1 + fanz = 2" € ay ~ 4dy—1 + Aan 2 = 2" € some-as,} (B) aq = Sanaa + Banna = +2", com ay = 7/4e ay = ~11/4. :

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