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Enquadramento histórico – objetivismo vs subjetivismo

Época medieval
O direito comercial surge fundamentalmente na idade média (sec. XII, XIII, XIV) em cidades italianas como
Florença, Génova, Milão. Surge da necessidade de um direito mais específico, diverso do direito comum.
Confunde-se com o surgimento de corporações mercantis medievais, de atos e ofícios diversos, que
disciplinavam o comércio ou a atividade, estabelecendo regras. Disciplinavam toda a atividade mercantil,
como um direito da classe, um direito criado dos comerciantes para os comerciantes. O direito comercial
começa assim por ter 2 características: ser especial e de classe. Alguns exemplos de direito especial passam
por haver uma maior importância da maior liberdade de forma no direito mercantil, a necessidade de o
crédito mercantil ter melhores garantias, estabelecer as figuras da agência ou comissário, criação das
sociedades em nome coletivo, criar sinais distintivos do comércio, o surgimento de seguros marítimos. Pela
mesma altura, estas corporações começam por ter os seus próprios tribunais (consulares) de modo a
aplicar o seu direito.
A visão subjetivista mostrava já alguns traços objetivistas como por exemplo, um clérigo ou nobre não
comerciante, se praticasse atos de comércio, poderia estar sujeito ao direito mercantil e não ao direito
comum ou eclesiástico.
Em Portugal, no fim da idade média, ainda não tínhamos direito mercantil, havendo meros disposições
muito sumárias aparentemente comerciais, como nas regras de criação das feiras ou regras sobre preços,
mas ainda muito arcaicas e mais com natureza administrativa do que propriamente comercial.
Época moderna e queda do subjetivismo
Com o surgimento da época moderna temos um fenómeno político relevante, com o peso do
intervencionismo do estado influenciado pelo absolutismo que reinava no velho continente, afastando os
mecanismo de autorregulação que caracterizava o direito comercial, feito pelos comerciantes para os
comerciantes e aplicado pelos mesmos, e com o crescimento do peso do lei sustentando o absolutismo,
levando a que o direito comercial se torne tendencionalmente objetivista, regulando os atos de comercio
independentemente da pessoa que pratica o ato. Surgiram as companhias comerciais, que deram origem
as sociedades anónimas atuais, com 2 características: não responsabilidade dos sócios e o capital dividido
em ações livremente transmissíveis.
Portugal mantinha-se bastante afastado desta realidade crescente, surgindo apenas as companhias
pombalinas e coloniais como merecedoras de menção relevante.
Revolução francesa e fim (formal) do direito comercial subjetivista
A próxima mudança significativa surge com a revolução francesa, trazendo consigo grandes princípios de
liberdade e igualdade, pondo formalmente fim ao direito comercial subjetivista. O primeiro código
comercial de 1807 é um código objetivista, ou seja, quem pratique um ato de comércio fica sujeito ao
direito comercial, seja comerciante ou não, não afastando a necessidade da existência de um estatuto de
comerciante nem de o classificar como tal. As corporações medievais acabam por ser abolidas, apesar de
mais tarde surgirem os “sindicatos”, não sendo mais do que corporações bem organizadas. Apesar de tudo,
e daí o fim do direito comercial subjetivista ser apenas formal, o código comercial alemão de 1897 é
substancialmente subjetivista.
O primeiro código comercial português de 1833, de ferreira Borges, é mais uma compilação de diplomas
mercantis do que um verdadeiro código. Logo de seguida surge o código de Veiga beirão de 1888; o art. 1º
deste refere que a lei comercial rege os atos de comércio de uma visão objetivista. Por outro lado, o art.
13º refere que comerciante é aquele que tem capacidade para praticar atos de comércio e faz dessa
atividade profissão, tratando subjetivamente e objetivamente a atividade comercial, não deixando assim
totalmente de lado a visão subjetivista.
O regresso ao direito subjetivista
O direito comercial nos nossos dias evoluiu para um direito subjetivista novamente. Quando olhamos para
o comércio assistimos a uma internacionalização e uniformização do comércio mundial, estabelecidos por
modelos de associações e organizações internacionais de comércio estabelecendo direito para os
comerciantes. Há todo um direito internacional, de usos e costumes, além de convenções internacionais e
modelos contratuais. Os grandes comerciantes, que fazem trocas entre diversos países, sujeitam-se aos
tribunais e direito internacionais. Estamos assim perante um direito subjetivista.

Direito Comercial
Alcance
O direito comercial não se cinge apenas ao comércio enquanto atividade económica (de comprar bens
para venda) mas cobre áreas como indústria, serviços (turismo, transporte, pesca) excluindo outros como
profissões liberais, artesanato, agricultura de autossubsistência (art. 230º CCom.).
Abrangendo todas estas atividades, estamos perante um direito dos atos de comércio, dos comerciantes e
fundamentalmente um direito à volta das empresas. Nem todas os empresários são comerciantes nem
vice-versa: há empresários na área jurídica que não são considerados comerciantes, visto que as profissões
liberais não entram neste campo; no mesmo sentido comerciantes com pequenas bancas não são
empresários. Apesar disto, o grosso do comércio é a volta das empresas.
O direito comercial é um direito privado especial, não sendo excecional ao direito civil. Há um regime geral
a todos os atos de comércio e algum especial dirigido a certos atos de comércio. Neste sentido, o art. 3º do
CCom. refere que questões sobre direitos e obrigações comerciais que não poderem ser resolvidas pela lei
comercial, espírito desta ou casos análogos, “serão decididos pela lei civil”, salientando que o direito civil é
comum ao direito comercial, complementando o regime especial do direito comercial no que este não
tutelar.
Particularidades do direito comercial face ao direito civil
O art. 100 do CCom. rege situações de pluralidade passiva, ou seja, se temos um contrato mercantil com
pluralidade de devedores, temos o regime da solidariedade, ao contrário do estabelecido no direito civil
pelo art. 513º do CC, que estabelece o regime regrada conjunção. Tem como finalidade proteger os
interesses do credor por toda a dívida.
Por outro lado, o direito comercial tem menos formalismos. No campo do mútuo, comparando-se o art.
1143º do CC e o art. 396º do CCom., enquanto no direito civil temos exigências exaustivas de forma no que
toca à prova, no mútuo comercial toda a prova desse empréstimo é possível independentemente do seu
valor.
A facilidade de transmissão de crédito com segurança no direito comercial através das letras, em que
basta o endosso da mesma para esta ganhar autonomia, independentemente do negócio jurídico de base,
é mais uma demonstração do facilitismo criado no direito comercial para não embaraçar o comércio.
No regime do vício das coisas, comparando o art. 471º CCom. com o art. 906º CC, retira-se mais um
exemplo de que o legislador procura sempre asfixiar o mínimo possível o movimento comercial; no direito
comercial estabelece-se 8 dias para invocar a nulidade do negócio (ou mesmo não ser possível além do
momento da entrega se o comprador examinar a coisa), enquanto no direito civil são 6 meses.
Quando se aplica o direito comercial
Quando estivermos perante ato comercial. Pode ser um contrato, em regra geral, mas pode incluir
negócios jurídicos unilaterais, simples atos jurídicos (interpelações por exemplos) ou factos ilícitos (como
abalroamento de navios). O ato tem de ser comercial e para assim o ser é necessário atentar a dois artigos:
os arts. 2º e 230º CCom..
Ato comercial
O art. 2º classifica o ato como objetivamente comercial ou subjetivamente comercial: “São considerados
atos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste código e, além deles, todos
os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário
do próprio ato não resultar”. Estes atos são comerciais independentemente se o indivíduo é ou não
comercial. Os diplomas que, entretanto, revogaram capítulos do código para o legislar de forma especial,
continuam a ser objetivamente comerciais. Há novas matérias que, do mesmo modo, são objetivamente
comerciais. Além disso, alguns atos de comércio que estão em diplomas que não são formalmente de
direito comercial, como por exemplo o arrendamento comercial que está presente no código civil, mas não
deixa por isso de ser matéria comercial. Podemos ter atos objetivamente comerciais por analogia como a
compra de coisa imóveis para arrendar, que são objetivamente comerciais por interpretação dos arts. 463º
e 481º CCom..
Já os atos subjetivamente comerciais, como estabelece o art. 2º CCom., assentam sobre alguns
pressupostos cumulativos:
1. “contratos e obrigações dos comerciantes”
Ser contrato ou obrigação, estando todos os atos dos comerciantes sujeitos ao direito comercial, por
princípio.
Quem pode ser qualificado como comerciante? O artigo 13º CCom. responde a esta questão:
comerciantes são aqueles que tendo capacidade para praticar atos de comércio (art. 7 CCom.) se dedicam
reiteradamente e profissionalmente à prática deste. O nº 2 refere-se de forma muito simples e clara às
sociedades comerciais.
A capacidade a que se refere o artigo reporta-se à capacidade de exercício. São incapazes de praticar atos
de comércio os menores, os impedidos e inaptos, podendo ser supridas por recurso aos institutos da
assistência e representação.
Que tipo de atos podem servir para atribuir ao sujeito a qualidade de comerciante? Este artigo reporta-se
apenas a atos objetivos, referidos na primeira parte do art. 2º CCom.. Desta forma só os atos comerciais à
luz da primeira parte do art. 2º servem para atribuir ao sujeito a qualidade de comerciante. Porém, nem
todos os atos atribuem ao sujeito a qualidade de comerciante visto que a natureza da norma releva que o
agente deva praticá-los como profissão.
2. “que não forem de natureza exclusivamente civil”
Institutos como o casamento por exemplo. Imagine-se que um comerciante, dono de uma empresa,
decide dar parte dos lucros aos seus empregados. Estamos perante uma gratificação mercantil com o
objetivo de manter a qualidade da empresa. Caso semelhante será o de patrocínios e promoção de
eventos. Constituem atos que não são exclusivamente civis. Excetuando os domínios da família e
sucessões, em princípio toda as outras áreas poderão ter natureza comercial. Deve averiguar-se se o tipo
negocial tem natureza patrimonial ou pessoal (se for uma compra e venda tem natureza patrimonial
afastando-se a natureza exclusivamente civil, ao contrário da natureza pessoal)
3. “se o contrário do próprio ato não resultar”
Procura-se averiguar se o resultado do ato não está conexionado com a profissão do agente, se há uma
ligação entre o ato e a atividade profissional do sujeito. Para isto, fazemos um juízo de prognose, de acordo
com o Homem médio, e de acordo com o que observou, se o ato tinha relação com a atividade profissional
do agente. Se resultar a perceção de que a compra está relacionada com a atividade profissional do
agente, está verificado o requisito e o ato é comercial, porém, se pelo lado contrário, assim não concluir,
não é comercial. Além disso pode, por face das circunstâncias, não ser possível retirar qualquer conclusão,
e neste caso o requisito está preenchido pois só quando resulta que não há ligação de conclusão é que o
ato não é comercial.
Por exemplo, alguém que compra 200 livros para colocar nas suas propriedades de alojamento local; o
declaratário, não tendo qualquer informação retira a conclusão de que não há ligação entre a compra dos
livros e a atividade profissional do declarante e, portanto, não se verifica o requisito e o ato é tido como
civil de forma legítima.
Empresas comerciais
Além do artigo 2º para classificação do ato como comercial, o art. 230º CCom. é também importante para
se perceber quando se aplica o direito comercial. Trata especificamente das empresas como comerciais e
pode ser analisado em 3 partes:

 “Haver-se-ão como comerciais as empresas singulares ou coletivas” (…)


As pessoas titulares dessas empresas podem ser singulares ou coletivas - não a própria empresa que é um
objeto e não um sujeito. O art. 230º CCom. trata das empresas como mercantis, sendo meramente
enunciativo e não taxativo. Além disso, é um auxiliar como classificação dos atos como comerciais visto
estabelecer as atividades das empresas e de quem as pratica como tal.

 A enunciação deve muitas vezes sofrer uma interpretação extensiva como, por exemplo, no 2º
ponto (fornecer géneros) estende-se aos casos da água, gás, etc. No ponto 6º deve-se estender a
estradas, aeroportos, etc. O parágrafo 7º deve-se alargar ao transporte aéreo.
 Os últimos 3 parágrafos classificam como não comerciais certo tipo de atividades como agricultura
de subsistência, artesanato e profissões liberais.
Devemos atentar a duas outras classificações dos atos
Atos de substancialmente comerciais ou formalmente comerciais
Atos que por si próprios são comerciais (como por exemplo o art. 463º CCom.). Quando estamos perante
fiança, depósito, penhor, é civil ou comercial? Só serão comerciais se forem acessórios de um ato
comercial – a fiança que se destine a garantir uma obrigação mercantil derivada de um ato de comércio,
será uma fiança mercantil. Deste modo é comercial por acessoriedade.
Há por outro lado, atos comerciais embora não tenham conexão com a matéria mercantil, nem as partes
são comerciantes. Por exemplo, atos como um estudante que tem um automóvel para uso próprio e vende
a outro estudante; estamos perante uma compra e venda civil, porém, se para a garantia do cumprimento
do crédito for utilizada uma letra sacada por outro estudante, estamos perante um negócio cambiário,
sendo um ato formalmente comercial e está submetido à legislação comercial.
Qualificação do ato como bilateralmente ou unilateralmente comercial (enfoque no art. 100 CCom.)
Um ato bilateralmente comercial é um ato comercial em relação a ambas partes do contrato, como por
exemplo, um concessionário vende o automóvel a outro comerciante que o irá usar no transporte de
mercadorias da sua empresa.
Porém se um estudante compra o mesmo automóvel para uso próprio, a venda é mercantil, mas a compra
é civil, sendo o ato unilateralmente comercial. E qual é o regime jurídico a que o ato está subordinado? Nos
termos do art. 99 CCom., nestes casos aplica-se por regra o direito comercial.
O art. 99º CCom. tem de ser dividido em 3 partes.
1ª parte: “Embora o ato seja mercantil só com relação a uma das partes será regulado pelas disposições
da lei comercial quanto a todos os contratantes”
2ª parte: “salvas as que só forem aplicáveis àqueles por cujo respeito o ato é mercantil”, significando que
só se aplica em relação aqueles a quem o ato é comercial, em relação a quem não é comercial não se
aplica o regime comercial, mas sim o civil
3ª parte: “ficando todos (…)” dá-se como não escrita.
Assim, podemos concluir pelo art. 99 CCom. refere que a lei comercial só se aplica aos quais o ato é
mercantil.
A classificação do ato como comercial ou não é relevante em relação a diversos tipos, para perceber o
direito que se aplica, comercial ou civil. Ao qualificarmos um ato como comercial em que difere o regime
jurídico?
Relevância substantiva da qualificação de um ato como comercial
A e B são estudantes e venderam um relógio a 2 comerciantes (C e D) que têm uma livraria. Teríamos um
ato subjetivamente comercial neste caso do lado passivo.
Porém imaginemos que os 2 comerciantes compraram o relógio para oferecer a E, resultando isso do ato.
E os estudantes compraram o relógio para revender. O ato é objetivamente comercial do lado ativo, não
do lado passivo, sendo um ato unilateralmente comercial. Nos termos do art. 99º CCom. este ato sujeita-se
ao direito comercial, excluindo disposições que apenas se apliquem àqueles cujo ato é comercial.
Ora, segundo o art. 100º CCom., nas obrigações mercantis, os coobrigados são solidários. A disposição
pode ser afastada pelas partes. Neste caso, A e B poderiam demandar C ou D pela satisfação da obrigação.
Ora, esta disposição, aplica-se aos comerciantes em relação a quem o ato é comercial e aplica-se aos não
comerciantes em relação a quem o ato é comercial (se os devedores fossem A e B inversamente), e aplica-
se aos comerciantes mesmo que o ato não seja comercial.
A e B, herdaram o relógio, por outro lado, e de forma a dividir o valor venderam-no a C e D para
oferecerem à sua irmã. Neste caso, este ato é civil em relação às duas partes.
Desta forma, torna-se errado o art. 100 CCom., visto que valoriza a atividade do agente e não apenas o
ato, tendo de se fazer uma interpretação corretiva: apesar de serem comerciantes o que importa é a
finalidade do ato, se não se destina a atividade mercantil o art. 100 CCom. Não se aplica, mas sim ao artigo
99º CCom. e a conjunção nos termos do direito civil.
De atentar que o art. 100 CCom. tem natureza supletiva.
Aula 03/10/2022
Exigências de forma e prova – particularidades do direito comercial face ao direito civil
No mútuo (1143 CC) acima de certo valor tem de ser escritura particulares e em elevados valor escritura
pública. Se for entre comerciantes qualquer meio de prova é admitido nem forma escrita, no bancário
basta escrito particular.
No quadro do penhor civil a regra é que o penhor implica a entrega da coisa enquanto no direito mercantil
não é necessário a entrega da coisa (num de estabelecimento não é necessária entrega do
estabelecimento).
No arrendamento para habitação basta documento particular, tal como no direito comercial
Na sociedade civil existem exigências formais mais elevadas do que na sociedade civil, estabelecendo uma
exceção à regra do regime comercial ser menos exigente
Prescrições presuntivas (art. 312º CC): passado algum empo presume-se o cumprimento da obrigação.
Devido às dificuldades de prova de pagamento estabelece-se esta presunção, visto que muitas vezes
envolve valores muito baixos. Quando estamos perante atos comerciais, pelo menos em relação ao
vendedor – art. 316º CCom. e 317º - o prazo de prescrição é muito curto, de 6 meses. Apenas exige que do
lado ativo estejamos perante um comerciante. O artigo seguinte estabelece prazo de prescrição de 2 anos
para outros casos que não estamos perante atividade mercantil em alguns deles.

Fiança (art. 101 CCom.)


É um ato acessório de outro ato mercantil. O fiador não tem de ser comerciante. a consequência e que se
a fiança é mercantil o fiador será solidário com o obrigado principal.
Temos um desvio ao benefício da excussão prévia presente no direito civil (art. 638º CC). qualquer cláusula
contratual que estabeleça um regime não escrito é nula (294º CC) por violação de uma norma de natureza
imperativa.
A obrigação do fiador responder de imediato é um regime solidário imperfeito; A é credor, B, C, D, e E são
devedores e H é fiador, estamos perante um empréstimo comercial. temos de a averiguar em primeiro
lugar se o contrato de mútuo é um ato comercial. se o ato é comercial então a fiança será mercantil e
aplica- se o artigo 101º CCom. o A poderá demandar o fiador imediatamente H caso os devedores não
cumpram a obrigação. Esta solidariedade é imperfeita, visto que ao ser demandado um dos devedores, e
cumprindo ele a obrigação por todos, este terá direito de regresso em partes iguais. Se o demandado for o
fiador, pode demandar a totalidade do valor aos devedores (a parte de cada um) visto que ele não é
devedor, sendo por isso imperfeito o regime da solidariedade.

Regime da divida no casamento


Nos termos do artigo 1691º do CC, estabelece-se as dividas comuns ao casal, com um conjunto de 4
requisitos cumulativos. Não é relevante para o direito comercial que o comerciante que contraia divida
seja casado, sendo mais importantes os interesses do comercio do que os do comerciante e do cônjuge,
protegendo o credor e os interesses do comercio, sendo mais fácil a obtenção do crédito, dado que se o
comerciante for casado num dos 2 regimes de bens que não a separação tem mais uma hipótese de obter
o regresso do seu crédito. Apesar disso não descurou completamente os interesses do cônjuge. Estabelece
assim 4 requisitos para a comunicabilidade da divida do comerciante ao cônjuge
1. Divida contraída sem o consentimento do cônjuge do comerciante
É necessário que estejamos perante comerciante em nome individual e que contrai a divida na pendencia
do casamento. Ainda que se venha a extinguir, se a divida for contraída na pendencia do casamento
mantém-se a comunicabilidade, ainda que o prazo de pagamento da divida se prolongue para além do fim
do casamento.
Imaginemos o arrendamento mercantil de um imóvel contraído na pendencia do casamento, por 10 anos,
ao fim de 5 o casamento termina. O arrendatário deixa de pagar as rendas quando o divórcio já foi
decretado e a sentença registada. Neste caso o cônjuge não fica responsável pelas dividas, porque cada
renda se vence de forma autónoma e, portanto, apenas se houver rendas na pendencia do casamento o
cônjuge é solidariamente responsável.
2. A divida tenha sido contraída em proveito comum do casal
Basta qualquer tipo de proveito comum do casal, seja económico, moral, etc, conceito muito amplo. A
finalidade da contração daquela divida tenha sido para interesse de ambos. Mos termos do 1691º/d) CC,
tem o ónus de provar quer a divida não foi em interesse comum do casal é o cônjuge do comerciante, o
credor apenas tem de provar que há divida, que o devedor é comerciante e que este é casado. Tudo o
restante o cônjuge do comerciante é que tem o ónus da prova.
3. Vigore um dos regimes de comunhão de bens
Regime de comunhão de bens ou de comunhão de adquiridos.
4. Que a divida tenha sido contraída durante a atividade do comerciante
Que a divida esteja conexionada com o exercício do comercio do comerciante. imaginemos que um
comerciante de arte contrai divida num hotel. Nada tem a ver com a atividade do comerciante, portanto
não há transmissibilidade da divida. O art. 15º do CCom., estabelece que as dividas comerciais do cônjuge
comerciante presumem-se contraída no exercício do comercio tendo de ser o cônjuge do comerciante a
provar que a divida contraída pelo comerciante nada tem a ver com a sua atividade mercantil.
Os efeitos patrimoniais que respondem são os bens próprios de qualquer um dos cônjuges – art. 1695º
CC.

Juros
Juros legais vs convencionais
Podem ter origem na lei ou no acordo entre as partes.
Temos juros remuneratórios, de remuneração do capital, moratórios, derivando de o devedor entrar em
mora, juros compensatórios, e indemnizatórios.
No direito comercial vigora o princípio da onerosidade (art. 102º CCom.). no art. 395º CCom., impõe que
haja sempre juros nos empréstimos mercantis, excetuando acordo em contrários entre as partes. Neste
sentido, o mandato é oneroso ao contrário (232º CCom.) do direito civil, tal como o depósito.

Juros moratórios
Temos os legais quando nada é estabelecido pelas partes, e caso exista temos os convencionais. Os juros
legais aplicam-se, portanto, quando o contrato nada diz. Se estamos perante empréstimos mercantis e o
devedor entrar em mora, o juro que se aplica se o contrato anda tiver:
o art. 102º nº 2 e 3 remete para o código civil. O paragrafo 3º refere que os juros legais e estabelecidos
sem taxa, são os fixados em portaria conjunta do MF e do MJ – portaria 277/2013 26 de agosto. A taxa de
juro estabelecida nesta portaria, supletiva, no art. 1º/a) é a taxa de juro aplica pelo BCE, acrescida de 7 ou
8 pontos percentuais, 8 em casos especais – art. 2º nº 1 DL 62/2013. Neste momento a taxa de
refinanciamento aplicável até ao final do ano é de 0% - Aviso 13997/2022, 30 de junho.
(CCom. – Refeito pelo decreto – portaria – portaria.)
Se nada for estabelecido entre as partes e o devedor entrar em mora, a taxa de juro é de 7% (juro
moratório legal). No direito civil, por exemplo é de 4% - portaria nº 291/03 de 8 de abril.
O decreto-lei 63/2013, de 10 de maio, transpôs a diretiva 7/2011, vem estabelecer certos prazos de
pagamento. A regra geral é de 30 dias e a taxa de juro aumentou. O art. 3º deste decreto refere o que é
uma transação comercial, um pouco distinto daquilo que é o entendimento do nosso país (1248º CC), tal
como aquilo que é uma empresa (inclui profissões liberais por exemplo). Excluem se vários atos no art. 2º
deste diploma. Em termos de mora no pagamento de transações comerciais, o 805º do CC, exige que
quando haja mora o devedor só fica constituído em mora quando interpelado para cumprir. Por outro
lado, o 806º nº 1, quando estamos perante mora, haverá juros e essa é a indemnização (corresponde ao
juro), em regra não há mais indemnização, salvo se se tratar de responsabilidade por facto ilícito ou risco).
O nº 3 deste artigo refere que o credor pode provar que a mora lhe causou mais danos do que o valor do
juro, podendo pedir indemnização complementar. O decreto 62/2013 de 20 de maio afasta-se destas
regras, estabelecendo um regime legal em que não é necessária interpelação, estabelece juros moratórios
mais elevados e prevê uma indemnização complementar desviando-se do art. 806º nº 3 CC.
Quanto ao vencimento automático dos juros quando o prazo de pagamento termina, a regra nos termos
do art. 4º nº 3 /a), o pagamento deve ser em 30 dias a contar da data que o devedor recebeu a fatura, não
sendo necessário interpelação, começando automaticamente a contar juros, sem ser necessário
interpelação para tal. Apesar disto é possível fixar outros prazos, nos termos do 8º/b), não sendo
excessivos face ao caso concreto, sob consequência e nulidade dessa cláusula.
Quanto a taxa de juro, estabelecendo o decreto-lei 63/2013 que alterou o código comercial (102º CCom.),
a taxa de juro referida no paragrafo 3 do CCom., não poderá acrescer mais de 8%. Deste modo, a taxa de
juro moratório seria de 8%, e não os 7% estabelecidos pelo código comercial e legislação avulsa.
A última novidade derrogar o artigo 806º nº 3 CC, estabelecendo uma indemnização por custos
suportados por cobrança da divida – art. 7º do decreto.

Juros moratórios convencionais


O art. 102º do CCom. refere que só pode ser fixada por escrito uma taxa de juro convencional. Caso não
seja escrito a taxa é nula art. 294º CC e aplica-se a taxa supletiva. O art. 102º nº 2 CCom. estabelece que se
aplica o disposto no art. 1146º do CC. Este refere, à contrariu sensu, que se existir garantia real a taxa de
juro pode ser mais 3 pontos percentuais e caso não exista garantia real pode aumentar 3 pontos
percentuais, podendo ser a taxa de 10% ou 12%, conforme exista ou não garantia real. é tido como
usurário a título de clausula penal pela mora a taxa de juro ultrapassar os 14% ou 16% (mais 7% ou 9%),
caso haja ou não garantia real – art. 1146º nº 2 CC. Se for fixada taxa mais alta, o art. 1146º nº 3 CC
estabelece que a taxa se considera reduzida aos máximos da taxa legal, não é fundamento de ilegalidade
do contrato.
Nas transações comerciais, mantem-se a regra do 1146º CC, podendo os juros moratórios alcançar os 14%
ou 16% conforme haja ou não garantia real, ou em termos de cláusula penal (15% ou 17%).

Aula Prática de 30/09/2022:

CASO 1

A, vendedor de automóveis e casado com B no regime supletivo, adquiriu a C um automóvel que pretende
oferecer à sua filha no dia em que ela fizer 18 anos.

De acordo com o contratualizado, o preço do automóvel deveria ser liquidado no prazo de 3 meses contados da
aquisição. Decorrido o referido prazo, A não procedeu ao pagamento voluntário do automóvel.

Que bens respondem pelo pagamento da dívida?

O objetivo é obter coercivamente o pagamento que não obteve voluntariamente, mas pretende também alargar o
espectro de garantia patrimonial, ou seja, em vez de ter à sua disposição para garantir o pagamento da divida
apenas o património do devedor, também pretende ter o património do cônjuge.

Essa possibilidade prende-se no cumprimento dos requisitos da alínea d) do 1691º CC.

O comerciante é casado e o regime de bens vigente não é o da separação, pelo que o credor comerciante para
beneficiar desta vantagem tem de cumprir aos requisitos desta alínea, ou seja a divida tem de ser contraída no
exercício do comércio e esta tem de ser contraída em proveito do casal.

Sabemos, todavia, que o credor do comerciante não esta obrigado à prova destes dois requisitos, apesar de terem
de estar verificados, eles são presumidos. O proveito comum do casal na alínea d) do art.º 1691º CC, e a dívida
contraída no exercício do comércio no art.º 15º CComercial.

Todavia, as presunções embora tenham a mesma natureza pois são duas presunções ilidíveis, a verdade é que não
são similares, isto é, o benefício da presunção do proveito comum é automático ao passo que o benefício da
presunção do exercício do comércio importa o esforço probatório por parte de quem dela quer beneficiar: Importa,
então, provar que o devedor é comerciante e que a divida é comercial.

Na hipótese prática, sim o devedor é comerciante à luz do art.º 13º CComercial. Adquire, portanto, a qualidade de
comerciante porque pratica reiteradamente atos objetivos de comércio (aqueles que estão previstos na lei
comercial) – a compra para revenda do art.º 463º CComercial.

Em relação há divida, esta não é comercial uma vez que o ato do qual a diverge não é um ato de comércio pois o
bem foi comprado para oferecer não sendo, portanto, um ato objetivamente comercial. Importa, agora, saber se o
ato pode ser subjetivamente comercial (se pode ser qualificado como comercial à luz da 2ª parte do art. 2º).
Verificamos, então, que o ato foi praticado por um comerciante, que é uma compra e venda com natureza
patrimonial e, portanto, não é exclusivamente civil e que resulta que há conexão, pois a aquisição foi feita no
exercício da atividade do outro. Logo o ato é subjetivamente comercial e a divida é comercial. Sendo assim, estão
verificadas as condições de funcionamento da presunção do art.15º CComercial.

O cônjuge do devedor poderia tentar ilidir qualquer uma das presunções, e se a ilisão da presunção do proveito
comum não era admissível, é evidente que ela poderia reunir a presunção do exercício do comércio pois é obvio que
a divida não foi contraída nesse.

Se conseguisse ilidir, afastava a presunção, o que afastaria também a comunicabilidade, logo a dívida seria da
responsabilidade de um dos cônjuges e os bens que corresponderiam pela mesma seriam os do art.1696º CC.
Se não conseguisse afastar a presunção, então a divida seria da responsabilidade de ambos os cônjuges e os bens
que responderiam seriam os do art.1695º CC.

Aula prática de 7/10:

Caso Prático 2:

A sociedade AConstruções, conjuntamente com a sociedade BConstruções em regime de consórcio,


contrataram a empresa BConstruções para lhes decorar o andar modelo de um prédio que edificaram

Decorrido o prazo de pagamento combinado, as devedoras incumpriram o compromisso assumido que, além
demais, tinha sido afiançado por D.

a) Pode o credor reclamar o pagamento na íntegra à empresa A?


A dívida é comercial porque veio de um ato de comércio – para ser ato de comércio tem de estar descrito no
art.º 2º CComercial. Para ser ato comercial tem de estar previsto no código comercial – parágrafo 6º do art.º
230º. Nas obrigações comerciais a regra é a solidariedade, pelo que se o A pagasse a dívida na totalidade
poderia pedir a parte em excesso aos restantes devedores.
b) Pode o credor reclamar o pagamento na íntegra ao fiador?
Solidariedade da fiança comercial – depois tem um direito de regresso sobre o remanescente.
c) Qual a taxa de juro aplicável?
É de 8% porque é uma transação entre empresas comerciais.

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