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LECAO FILOSOFIA —UFMG tho —PUC-Rio Fernando Eduardo de Barres Rey Puente — UFMG. Fi -UNISINOS = FAIE lo Perine — PUC-SP. Ayo APUS T TTRODUGAO na de massa, E evidente, por outro lado, a deterioracio seméntica jermo nessa sua migracio incessante por tantas formas diferentes sobre Buea que se pretend filesdfico a definir assim, em aro suas investiga- Piimeira aproximacio, 6 abjeo 20 qu Be suas reflexdes, bem como a caracterizar a natureza e a ext jecer of limites do tipo de conhecimento a ser praticado no est a Elica, Essa a tarefa que nos propomos levar a cabo nesta _ Dnas questOes fundamentais aqui se nos apresentam: a primeira mais histérica, a segunda de cunho ao mesmo tempo his Ho) ¢ tbvca. A primeira dia respeto as origens lingisticas do te Biica, & sua wanscricio na p s6fica grega, ¢ ao rico cor Adicio. A segy oséfica or individual e social que passa a ser designad: p, © que desde os primeiros passos da cultura ocidental ESCRITOS DE FILOSOFIA Iv Interrogacio prévia sobre a possibilidade bu como pretendemos venha a ser o discurso deste livro. feces ese eons atta aces faa lolstent aisenoale canine fas sie eee sre Be i at ev atid pes Pel ens A penser pos ar ee titulos de rua valde teiricae de sua necessidade histoea nee von atuais, ae parece exprimir lum aspect diferente da conduta humana em suas da moralidade interior, a segunda significando 0 campo classico d ¢ticidade social e po a. ee Considerados, porém, em sua procedéncia etimol os casos, talvez seja preferivel m , ferivel manter ess sino- mia de origem e empregar inliferentemente os termos Een joral para designar © mesmo objet. A tentatva de conterinihes strom 4 separacio © geralmente, & cisio entre indiduo e sociedade ou entre vida no espago private ¢ vies no Examinemos mo Etica, herds da lingua grega. No uso vulgari- ca (ethike) € um adjetivo que qui ido de saber que Aristételes foi, de resto, o prime EXTROPUGAO ee “yo. definir com exatidio. Assi - pragmateia (Aristoteles usou ig} = Mel. Mi (alpha elatton), 1, 993 b “como o exerciio constante das vi gio da investigagao ¢ da refle surge a expressio aristotélica ethike ente 0 termo praktke philasophia, 98}, que podemos traduzir seja irudes morais, seja como 0 exerci- tddieas sobre os costumes (era) Posteriormente, a parti prOvavelmente ji da Primeira Academia (ee. WV ah, segundo 0 testemanho de Xenderates (fk 1), 8 ade [hos athe, loge e physke passam a qualificar cada wa as tes partes c é dWvidida a Filosofia concebida como ciéncia (episthene) as qu: i = ogica, Fisica © Etica (loge, plysite, etl), divsio que perdura até “© 6 século XVIII d.C. Lentamente adjetivo se substantiva, dando: | Nitlingun ootca prea, ate proce do subsantvo tho, que eceber duas grafias distintas, designando matizes diferentes da -gnesina realidade: ets (com eta inicial) designa o coujunto de cos | Ames normativos da vida de um grupo 10 passo que ethos “\com epsilon) refere-se & constincia do comportamento do indlividuo vida é regida pelo ethos-costume'. E, pois, a realidad historico- Jal dos costumes e sua presenca no comportamnente dos indivi ‘que € designada pelas duas grafias do termo ethos. Nesse set ind prevalecer na linguagem filos6fica, ethos (eta) € 2 trans jigem as disciplinas hoje conhecidas como Logica, Fisi que i¢ao metaforica da significacio original com que o vocab ppregado na lingua grega usual ¢ que denota a morada, covil {yrigo dos animais, donde 0 termo moderna de Biologia ou estado do comportamento animal. A transposico metaforica de ethos pat mindo humano dos costumes extremamente significativa € € bre as condi- oe = Frito de uma inwicdo profunda sobre a natureza e s fs de nosso agir (praxis), ao qual ficam confiadas a edificacao ¢ svagio de nossa verdadeira residéncia no mundo como seres Wieligentes ¢ lives: a morada do ethos cuja destruicio significaria 0 @ todo sentido para a vida propriamente humana. ‘ed, 1993, pp. 12-14. Observes, 1s diferentes no indo-europelt €no apresenta uma wologicamente corresponde a0 mais rica, loga A do termo ético (a). Ei a raiz de moralis € 0 substantive mos (mores) greyo atlas, mas é dotado de uma polissem Mas jé desde a época classica, morals, como substantive ou ad- jetivo, passa a ser a taducao usual do grego sthike’ © es transmitide ao lati tardio e, valecendo seu emprego tani partes da Filosofia’ ou qu: fi 4 fica com a expresso Philosephia moratis, hoje vulgarizada nas diversas I ocidentais, quanto simple: nossa linguagem corrente. ‘almente, a0 ‘nte como substantivo", como Moral em Yemos, assim, que a evolucio sen ica paralela de Eta © Moral no denota nenfiuma ciferenga Siniicatva enue eses dois ermos, ambos dsignando fundamen: imente 0 mesmo objeto, a saber, seja 0 cxtume socialmente onside. rad, seja 0. tuo de agir segundo o > pela sociedad. ap me estabe- de es, seguindo wn ode tad, dejo; b. condute, 3 i, contuetud), ver Tomas de Aquino, Referindo-se a ethite diz M. T. Cicero: sol det augentem linguam Ref as goes Einguam fatinarn sola 102, 4; Ep. 89): (Stee) phlaphive ies parts ea divert an. Santo Ags ico medi Lillo sta doce, quid edo INTRODUGEO ae A tent recente de atribuir matizes diferentes a Etica € ‘Moral para designar o estado do agit humano social e individual lecorse provavelmente do crescente teor de complexidade da socie- rderna c, nela, da emergéncia do individuo, pensado ori “Gigncia politica’, a filosofia moderna pressupde uma nitida distin- {elo ou mesmo tima oposicio entre as motivagdes que regem 0 agir “Go individuo, impelido por necessidades e interesses, € 08 objetivos dade politica, estabeleci ativo de sua ervagao, fortalecimento € progresso, Foi provavel- ectval formado sob a influéncia dessa distinea0 ‘ihe @ significagio do termo Moral refluiu progressivamente para 0 “iprreno da praxis individual, enquanto o termo Etca vit ampliarse iii campo de significacio passando a abranger todos os aspectos da social, seja em suas formas h empiricas, das quais se peupiamn ‘tnologia e Antropologia cultural); jsem sia estrutura teorica, da gual, segundo pensimos, deve ento hegeliano de unifiear, numa supe J Filosofia do Espirito objetivo, praxis individnal © praxis social © ifica, reintegrando num campo mais abrangente de si 4 © Meal, nao encontrou herdeiros & altura das suas ambicSes .de do agir, enquanto Fica aponta preferentemente para istérica ¢ social dos costumes’, Tal o matiz seméntico istinguir, na linguagem contemporanea especializada, | ia Nic, I, 2, 1004 a 25:27, ‘AS fonts do Sof (ts “aisiniemente plas PUF (ver bi conougio die theory, designac "0. No Lesion doy Ethik de O. Hoe ESORITOS DE FILOSOFIA IV Embora em nosso texto 0s dois rermos ocorram em sua sino- nimia original, damos preferéncia a0 termo Etica, em seu uso subs antivo out adjetivo, de acordo com a precedéncia histrica reivin- dicada pelas pr as do ico sabre 0 ethos que a wadicio consagrou com ¢ vocibulo Etica © termo. mora substantivo ou adjetivo, comparecera também em expresses jé fix das pelo uso, como "consciencia moral", “norma da moralidade’ Essa pequena incursio etimolégica permite-nos tentar, atenden- do. jo semantico do termo, uma primeira definigao da Erica, que se pretende apenas uma resposta & questio quid nominis. A wansicao da intencao significante de ethos do dominio animal para © doi ano teve lugar no curso da complexa transformagio da cultura grega arcaica, da qual se originou a cultura conhecida como ckissica, Podemos supor que um dos motivos te6ricos profun- dos dessa transicao foi a impossibilidade de abranger e compreen- der, & luz do incipiente logos demonstrativo, sob o mesmo conceit univoco de physis 0 mundo humano € o mundo das coisas. As pecu- liaridades do agit humano, designado com o nome especifico de praxis, nio permitem pensilo em homologia esirita com © movi mento dos seres dotados de uma physis especifica. Nesse sentido o termo ethos, transposto para a esfera da praxis, acaba por exprimir a versio humana da physis, ¢ assim 0 entendeu Aristoteles ao interpre- tar 0 «thos no homem como o principio que qualifica os habitos (hexeis) 0 les (areiai) segundo os quais o ser humano age de acordo com sua natureca racional’. A distingao essencial entre physis € ethos é a que vigora entre a necessidade que reina nos movimentos da physis ea freqiiéncia ou quasenecessidade que caracteriza, pot meio dos hdbitos, 08 atos de acordo com o ethos" Soave, v. bibliog) a qualidade da vida ica € denominada moralidade (O. Hiffe, pp. 225.228). 9. Ver 0 tratado sobre os hibitor em gral na Summa Theil, 1a 2a. 4,49; hte «nature (ID, q. 5L a. 1c); sobre O halite a virtue sen, Etca Nie, Uy ko comentivio de R.A, Gasbien]. ¥. J pp. S115, Diz Aristteles: “O Ditbito & cemelhante & naturcea (physe): a matureza & do ‘sempre’ (ae), 0 187007. Transposia, pois, para 0 mundo da pais humana, a pls ¢ ahs Nexstencia ido athos é uma evidéncia primitiva e indemonstravel | Gtornase, assim, principio primeiro da demonstracio na estera do [2 fg humano, ob a forma Io do “J iwnecimento pritico: Borum fa = ‘radu a natureza normativa ¢.prescritiva do ethos qv vila e arcena a bondade do agit do ponto de vista da sua necess | fia insercio num contexto historico-social Naprimeira tentativahist6rica de interpretar 0 ethas segundo os = anones da Razio, que teve lugar na filosofia grega cléssica, dois modelos teéricos se apresentaram, ambos send jinentes estruturais da cultura grega tal como vinha se formando a parr do perfodo arcaico: 0 ethos na sociedade sob a forma da ld = Ghirmas) ¢ 0 ethos no individuo sob a forma da virtude (arte). Dessas | has versoes do sthes proceciem as duas disciplinas ja bem definidas sy enciclopédia aristotélica e que até hoje part axis Ftica e Politica, unificadas, segundo Aristétele ” pela unidade objetiva do ethos. Jo expressio de com: phorado segundo regras ou segunel légica pecu jmeiro uso adjetivo do termo qualificava justamente, em Aris (ds, una forma fandamental de conhecimento,contraposta 205 yahecimentos tedrico € poiético. O objeto i idad We se apresenta a experiéncia com a mesma evidencia inquestionsvet m os seres da natureza. Realidade humana por dual € que, com profunda inti egos designaram com 0 € a ciincia que se Jéncia, 1¢ de ethos. A Etica, portanto, nominalmente defini nas, Nessa breve e simples defini¢do esto implicitos problemas Jexos, seja epistemoligicos, no que diz respeito a0 sujeta, isto € A 1094 2 2) oe TLC. Lima Vaz, Ector de Plowrfia It Btica e Cultura, op. cits pe: ca, V1 (2), 1, 1025 b $1026 a 83. ——__BScHITOS De FILOsoFTA ty ionciay seja ontol ixieos no que diz respeito ao objeta, isto 6, 20 ethos. Serio esses problemas que vio constitin alinal campo da inves tele: Teflexao e sistematizagio desse saber que a tradieao me de Etica on Moral | consagrou com 0 n AOS fildsofos gregos, Rar uulteio com os mais altos conceitos aos quals se elemes Razio, como o Fim, o Bem e o Ser, nao deixavem did, quanto wea ea Liat do saber ético. Na cultura contemporanen po rém, a tendéncia a conferir a Ltica 0 estannto de uma Ciéacia humana yeunds especifcamente para a descrigdo dos axpecton empiricos e implicam em seu contetido semantico 0 conceit fimdamental de jbem" (agathon), que sera o eixo conceptual em torno do qual se construirdo os grandes sistemas éticos da tradi¢ao ocidental. Sendo 0 ethos da cultura grega © que primeiro se presto a uma wansp. sao racional na forma de uma Erica, os termos basicos da linguagem étiea dos gregos passim a ser um indice heuristico importante para gue termos equivalentes se descubram na tinguagem dos ether de outras tradigdes, A experiéncia primeira do ethos revela, por outro lado, uma estrutura dual carateristica e constiuutiva: o ethos, inseparavel social © individual. E uma realidade séciorhistérica, Mas $6 existe, concretamente, na praxis dos individuos; é essa praxis que deixa seus tragos nos documentos € testemunhos que nos permitein o acesso 4 fisionomia prépria de um determinado «thos historico. Considcrado na evidéncia primeira c irrecusivel de um fend. meno fundamental da vida humana exprimindo-se numa forma otiginal de linguagem, o ethos oferece-nos uma primeira via de acesso & sun elucidacio racional mediante uma descrigio fenomenolégica que deve indicarnos o caminho para sua compreensio filosifica ou para a Etica propriamente dita. A fenomenclogid® apresenta-se, pois, 5, Ver M, Veget entende por “n inde ca” uma teoria cup cro & anibuida a iteles. Ver ig shaun, The Frogility of Goodness Luck and Bibs in Grek Te século XVUE (Lambert) - smentat Bu sou’, No caso, porém, ss intersubjetivas. wan A passagem do sab dic Eiea€ am evento cleral reat ote aot ¢ opera a ments tard em algumas chilagbese, esc sim, explicate doc jompanka © conhecimento dj e200 Cardo com 0 mentacamente por alguma forma de ose a ameagar 0 ethos daque- H ho agente, ie Ine € propria ea dstingve de las ci outras formas dé saber reflexo. Podemos descrevé-la sob £ necessirio, no entanto, ter presente o fata hist6rico indiscur que a Btica nasce do seio do saber ética, A tarefa que se do, ou a yoltarse do saber para Propsem os fundadores da Erica e, de modo exemplar Arisoreles, [4g] fom primeiro lugar, a rine, ov 9 wisens CO A A € a de encontrar uma nova forma ligica, uma nova estrutura ja intencion: atico que oc gnosioigica, © novos fundamenios racionais pata 0 saber dco ja codif cado no ethos da tradi¢ao. Mesmo o intento mais audaz de reestr turacio do saber ético tradicional, empreendido por Platio na Repl biica, permanece, como viu Hegel, em referencia constante a0 ethos dda polis grega; ¢ & a racionalidade nele imanente que é submetida presente : {io de fundamento do saber at eee eo cccebido em Séerates aprofundamento Gechi- como tal e 0 estabelece 1 na realizagdo do ethos. Em ‘a injuncao do Vaz, Antropolega Filosifica I, op. cit, pp. 160165 et Savon divin em La décvuwate de Usp fica “eonhecee a Hi mest cance, ap. Lloyd Bi 1996, pp. 112.181. Eis ignasein fgnois), thearin se het Antopelgi Pn J pp. 3335) qe peer ie, ey. 2). Ner M Neg, Lice deh fa sopiarne (temperana) sobre @ qual ver} Piepen 2c inion der Phitsophie ds Recs, pat. 185, nota (Wiehe 7, pp. 341-342), _NATUREZA B_ESTRUTURA DO CAMPO yo, ¢ vindo a constituir um dos primeiros cap Brica. O “conhece-te a ti mesmo” em sua versio é portanto, entre 0 sujeito portador do “habito” (hexis), ¢ 0 sujcito causa eficiente do proprio agir (prams), a relagdo eticamente especi- ficada da responsabilidade, cireunscrita a0 espaco intencional medido pelo metro do conhecimes ano e compreendendo as coisas gue estio a nosso aleance (ta eph’ hemin na expressio de Aristteles) ou 0s bens propriamente humanos (ta anthrapina), por nos “operé- veis™ (lo praitien) Permanecer no Ambito desse espaco do “operivel” humano, aberto pelo conhecimento de si mesmo, passa a ser uma das consig- nas fundamentais das tradicdes sapienciais ¢ objeto do “julgar sabia mente” (phronein)', que descobre o ‘justo meio” entre os excess0s. Aqui reside igualmente a origem da nogao de censciéncia moral que vir a ser posteriormente uma das categorias fundamentais da Ftica 0 segunde aspecto é como a outra face do primeiro € diz res peito & carateristica do conhecimento ético que decorre da natureza de seu objeto como bem, ou seja, 0 que convém € € 0 “melhor”, assegura ‘al’pela milenar experiéncia humana depositada na racionalidade imanente do «thas e prescrito autoritativamente por sua legitimidade social. E esse o aspecto que marca, talvez, mais profuncamente a experiéneia ética dos individuos, traduzindo-se na interrogacio sempre renascente sobre a necessidade do dever, sobre a natureza da obrigacio moral, enfim sobre a forca inata e misteriosa do juizo de obrigacio que nasce no mais intimo do sujeito ético: deomai, debeo, Eu devo, A relacao de conseqiiéncia moralmente neces siria entre © bem e o dever constitui justamente uma das estruturas fundamentais do saber ético e ira inspirar os dois grandes sistemas que dominam a histéria da Etica: a ética do Bem em Aristdteles ¢ ‘ica do Dever era Kant’ nocio fundamental na tradigio greg (DK, 68, B, 42): phronein a de *pensar o que convém” ou “fazer » Carmides, Yl b 5; Apo sala flsofa ratice, Bolonha, Dehoniane, 1987. NATUREZA B PORMAS DO SABER ETICO A consciéncia morale a olnigacéo, fenomenole radas, aparecem por outro lado como o terreno onde nascem alg- ras das mais carateristicas experiéneias éticas, analisadas magisir: Inente por Max Scheler, como as experiéncias do remorse, do arrepen- | dimento eda rgenaragi,inscpariveis do conhecimento do Ber como Minculo do individuo com 0 ethos (dean = o que lige; deontologia)®. Passemos agora a considerar as formas d dtico. Sendo © ethos coextensivo & cultura ¢ sendo a cultura essencialmente expresso da vida como vida propriamente humana, é licito concluir que a vida humana é j por esséncia, uma vida élica, © todas as suas expresses sio expresses do ethos como forma universal da vida (Letensformy®. Assim sendo, © saber ético se difunde por todas as for ‘mas da cultura, ¢ © vemos consubstanciado nas mais diversas mani- festacées culturais, constituindo propriamente a fradicdo ética dos varios grupos humanos. Antes de se especializar em determ ‘bes e, de modo exemplar, na wadicio ocidental, numa forma candnica de saber ientificamente organizado que se denominara Etiea, 0 saber a encontrar formas c 9 que privilegiadas de expresszo © transmissao que serio, de resto, as fontes primeiras da Btica e subsis: ‘io a0 longo do tempo com maior ou menor intensidade de pre- senea na vida ética da sociedade. Entre essas se apresenta em primeiro lugar, como sendo a mais antiga e cuja origem se confunde com a propria origem da cultura 8, Ver Max Sel France, 1954, pp. 27 Simon, Morale (bi ‘9.8 consencia mora Reue und Wiedergebut, ap. Gerommute Werk, V, Berna Repenir et Renaissance, Pati, 1936. E ainda . pp. 88, Wo do devertrazem conmigo, por: deve ‘esinae, cone preter 1 vale com respeito is ‘mento do dever, cod ‘Kaltusthih, Ver H.C. Lima Vaz, Eseries de Filosofia I: Filosofia « Cultura, op. Br-100. NATURE2A B ESTRUTURA DO CAMPO, r1C0 ral no seu sentido mais compreendendo as crengas, 08 ritos, as prescrigdes rituais, os interditos e as priticas regidas por normas proprias de conduta, O estudo das relagdes entre ethos ¢ rligido envol ye um grande niimera de problemas e c ia vasta bibliogra fia, sobretudo de Aqui nos restrin- Embora 0 saber é heca historicamente, sobret uma Tent ue 0 levaa separarse da expressio religiosa, sendo esse umm ddos fatores que infuirio 1a origem ci Etica (ver indieagdes bibliogté+ cas pa pagina 81), a rel até hoje como portadora logilente dle mensagens éticas, nio se conecbendo uma religido pu ramente ritualista, que acabaria confundindo-se com a magia, ¢ uma Lighio cyjas cren le uma for ina ou de outra, 0 fendmeno essen Ses entre 0 ethos como fendmeno cultural 0 © a expresso religiosa no sto linearmente simples m mesmo formas opostas que se manifestam na tradigi0 do mascimento da Etica’ No entan tiva quando determinado estilo ow resultado de uma m saber ético de iraclos na religiio, como & 0 caso da moral biblica no Antigo doa Mensching, tem lugar ainda quando uma profunda ia dtica prolonga-se em experiencia religiosa e aparece como ‘op. cit, pp. 23:54 J sing, morale chron, . ap. Die Relig ético para con 18 filésofos pré-socriticos como Xenéfanes ¢ Anaxigoras ou a sofistiea da religiio tradicio- anunciando 0 apareciment ‘de um saber 4 que Platio critica 0 comportamento dos ‘a0 mesmo tempo em que recebe com speito os mitos escatologicos de sa concepcio da justica, Mas € no clima filos6fico da modernidade = que a separacao entre Etica € Religiéo é explicitamente proposta, seja na afirmagic da ReligiZo, na distineio ¢ independéncia rec ~ do Sagrado e do Etico em F. Schleiermacher, dos estigios *religioso” da exist 1S. Kierkegaard, da autonomia do “valor * em Max Scheler ¢ N. Hartmann. Por outro lado, a pratica josa mostra-se indiscutivelmente como cri Gticas de vida, como mostra H. H, Schrey", que Jogi criando um ethos da vontade de estruturacio (Gestalt ‘como no Cris © de faga ¢ desprezo do mundo (contempi moral de aspirardo cortes foposto ¢ ilustrado elogiientemente por H, Bergson! ‘A outra forma privilegiada de expressao do saber ético é designs (Lebensweisheit) ou simplesmente “sabe- indo ao sentido primitive do termo grego sephia, da qual 0 “sibio” (sephas) & portador. A sabedovia da vide cor a Jorma de linguagem pr ico e, como a religiio e 0 proprio «thos, sua origem se perde no pasado m "grupos humanos que nela depositam os ensinamentos de sux ja e fazem dela a substincia da tradigdo ética ¢ 0 documen- “tw mais precioso da identidade cul 1A. Ver HL. H, Schrey, Kiyuhrung in die 15. H. Bergson, (Omeres Corps, é __NATURBZA E PSTRUTURA DO CAMPO K11CO cin da sabedoria da vida como forma do saber ético para a futura constimigzo da Eica vem do fato de que nela esti condensada « racionalidade imanente, depurada pela experiencia dos seculos que, sobretudo nas culeuras mais avancadas, confere 3 do tinico de ser atibuto do “animal possuidor do lo (soon logon echon) que & 40 mesmo tempo, razioe linguagen Ess racionalidade sera a fonte primeira e insubstituvel do diseurso ex: mente racional da Eten” A sabedoria da vide € tos, a raxdo € a lingwagem. mitida jusiamente nesses dois regis A raza, entendida como racionalidade pritica ow razoabilidade, encontra uma expressio concreta na figura do sdbio, paradigma ou exemplar da conduta ética que aparece sob os mais variados perfis, ‘© muitas vezes revestido dos véus da legenda, em praticamente todas as tradigdes culuurais, E le resto, um dos mais poderosos arqué- tipos do inconsciente coletivo ¢ veiculo provavelmente insubstit da transmissio do ethos. Decaido de sua alta fungo ética de outrora, nds 0 vemos perseverando obstinadamente nessas formas degenera- das que se mostram na “idolatria” dos stars do espeticulo e dos esportes, ¢ mesmo manipulado pelas ideologias politicas nessas sinis- tras figuras de ditadores totalitirios que m tragicamente a historia de nosso século. © oppositum per diametrum da nobre figura do sdbio das grandes tradigies lepresentacio viva da sabedoria da penha um papel social de fanda- fncia nas culturas do Oriente Médio e do Mediterré- s familiares e em cujo terreno ma documentacéo abundante nos é oferecida a la tanto da tradigio antiga greco-romana quanto da biblico-rista. Quanto a primeira basta acompanhar a evo- 10 do ethos grego arcaico desde Homero até velo personificado na legenda dos Scie Sabios, dos quais varias listas nos foram tans: s € cuja sabedoria em forma gnémica ov sentencial foi reco- ia por H. Diels e W. Kranz na colegio dos fragmentos dos Pré- Eatica. 16, Sobre a “sabedoria da vida" ver G. Harkness, The Sowres of Western Mon New York, Charles Secbner’s a. Son, 1954 2 NATURBZA B FORMAS DO SABER ET1CO peraticos"”. A tradicao grega dos sdbios', herdada pela filosofia a partir de Sécrates, o sibi 3, pelo exemplo do dente” (phrénimas), as carateristicas ica’ da "prudéncia” (phréess) tc”, unidos exemplarmente em $6 lidos por Arist6teles, 0 primeiro portador do conhecimento © segundo do conhecimento pritic, antes de se reunir nova- Jente nas éticas hiclenisticas como realizacio concreta da estrutura ‘Wiricoprdtica da Etica. A wadi¢io romana, por sua vez, ird integrat, a expressio literdria dos moralistas como M. T. Cicero e Séneca, 0% lores romanos dos mores maiarum ao ideal est6ico do "sébio™*. Nao nos significativa € a personagem do “sibio” na tradigio bfblico- | ris, desde os chamados livros “spienciis” no AI’ até a formagio _do-culto dos santos na Antigiiidade tardia, que faz da i mhodelos um topas clissico co ensinamento ético-espi seatdlico, ¢ cujo desaparecimento, em algumas das verses do Cristia- jsmo posReforma, € um indice incontestével da crise do antigo saber ico no clima cultural da nascente modernidade, Na tradicao i é, em face de um modelo singular € tinico, lador reconhecido pela sua autoridacle absoluta © normativa so- toda a tradicao € no qual transluz nao apenas a racionalidade de ‘hos histérico, mas sobretudo a transracionalidade de un le 0 fato Jesus Cristo, rico de inexaurivel significagio ético- | Beligiosa, apresentase como um evento decisivo na historia do saber | thico no Ocidente, enquanto a imitatio Christi deixa sem duvida 0 | filco ético mais profundo entre as conduras que marcam nosso «thos | hisiorico®. — Text, Leiden, B,J Br 18. Dentre a vata bibliogra la Grice erchaiqu, Basis, May Las Sawir gre, op. ci 19, Ver Brontr de 20. Ver a bibliografia citada em 21. No conhecido Haralbuch der hathalische NATUNBZA B ESTRUTURA DO CAMPO BIC to, a expressio privilegiada da saledoria da vida, pre- sas culturas em formas estilizadas tpicas, € a lingua gem, Juntamente com a linguagem do mito e do rito na conservacio sabeioria da vida na conser- obras de linguagem conservadas, em extraordinario paralelismo for- mal, pela multiforme tradicio dos mais diversos grupos jderada do ponto de vista de sua significacio social, a linguagem da sabedoria da vida 6 como a memdria ética das culearas, € por i880 a vemos perseverando tenazmente, a exemplo da constincia do etlios, através de tantas vicissitudes histéricas ¢ oferecendo-se como um dos campos mais ricos para a investigacao antropolégica sobre 0 ethos das varias cultura. Aqui também a perda da forga mativa dessa Tin- guagem em meio 4 multiplicacao das linguagens artificiais de nosso tempo, ¢ de sua instrumentalizacio ideologica sob © conceito ambi- guo de “cultura popular”, denota inequivocamente um progres apagarse da meménia ética de nossa civilizacao, com as conseqiigncias que comecam a ser dramaticamente sentidas, no terreno da sabederia da vida, como iremos ver, que a Etica 6 a wadicio grega que nos conserva os melhores paradigmas dessa expressio do sader ético, vindo desde o primeiro documento literario escrito da lingua grega, que sio os ho excepcional da sabedoria da vida nna cultura arcaica grega é proporcionado pelos Thabathos e Dias de Hesiodo (VII séc.), ja significando uma alternativa ao ethos aristocré- tico € guerreiro dos poemas homéricos®. No século VI, difundem- as fabulas de Esopo. O género literario das fabulas mostrase, de como uma das expresses mais eficazes do saber dco e, como tal, aparece como expressio universal diversas tradicbes No Ocidente, conhecera uma fortuna literiria ilustre, na esteira do velho Esopo, com Fedro na literatura latina e La Fontaine na litera- fa francesa. Outra forma consagrada de expresso do saber ético & i. A mesma perspe mental da Btica crs yada por Joo Paulo Ina ‘2. Vera obra clissca de W. Jaeger, Paideia: a formacéo do home gro, I Cap. 17 (uw. br, Brasia, UNB); JG, Mainbesger, Sein und Site im Mythos, ap. Seu und Bios, op. cit, pp. 3755 4 NATUREZA E FORMAS DO SABER ETICO altura sapiencial” que na Grécia assume sobretudo a ma gnmica, de sentencas ou provérbios, ilustrada, como vimos, il tradicao dos Sete Sabios. A literatura sapiencial floresce sobretu- _ Convém ainda observar que € como expressio universal da dona da vida que o fendmeno ético fundamental da reciprocidade mulado na chamada “regra de ouro™, im ica comutation (unicuigue sum), cuja forma positiva € cs Evangelhos: “Tudo o que quiserdes que os homens vos facam, j-o também a eles" (Mt 7,12; Le 6,31) | Essas duas expressdes universais, a religido ¢ a sabedoria da wida, € diretas do saber ético © yempo, Mas sendo ethos ¢ cultura coextensivos, todas as grandes 6es culturais sio expresses do saber e do ideal éticos de uma jedade. Em particular é conhecida rclagio entre ethos fie nas sociedades tradicionais, tema analisado agudamente por sel A Arte como expressio do salvr tice, de seus problemas e maa evolugio mostrase extremamente si dria, sendo a literatura notoriamente um dos espelhos mais figs ida ética de uma sociedade. A separacio recente e, mesmo, 0 ito entre artee moval revelam justamente a crise e fragmentacio 8 paradigmas éticos tradicionais na cultura da modetnidade. Por UU lado, a propria sociade, em sua organizacio, inst ques, nio é sendo o corpo histérico do ethos ¢ foi justamente mo cura da “enfermidade” — para falat como Platio" ~ desse spo na Atenas do século V que 1976, caps. 1916; cap. 27, ‘ie Eth, op. it, p. 127 G. W. F. Hegel, Vericungen ther die Aesthtdy Ei Fiche, 13, pp. 52-83) 26. Ver RS. Cushman, Terapia: Plato's Conyption of Philosophy, Chapel Hil, ity of North Carolina Press, 1957, M1, 23 (Ware, 55 CariTuLO DO SABER ETICO A ETICA A ago rn do saber étice. Ela nio @, em suma, senio © proprio saber ético de determinada tradicio cultural que, “yuna conjuntura especifica de crise do ethos, recebe uma nova ex ppressio tida come capaz de conferinihe uma nova e mais eficaz _ Jorea de persuasio, no momento cm que stas expresses tradicion f iligito © a sabedoria da vida, perdiam pouco @ pouco a nedibilidade. Essa nova expressio adorara uma nova forma de in 1 fem do logos demonstratioo ou da cigncia, que se junfante referencial simile em funcio do “nl pouco + pouco se reorganizava mundo da cultura. © asc J agate da Etica inserese, portanto, nesse grande movimento de trans. ra grega nos séculos V e IV que antecipa, de alg sno do mundo ocidental, Se considerarmos que 0 vird a comstituir 0 que mente a Logica, podemos dizer que a Erica teri wr fundamental a légica explicitada © formalizada da _nguagem do ster ice modernamentedeignaa come Metaética | 5 £m aplcagio a0 contd do mesmo sbe E esse um primeiro e decisivo passo a ser dado tendo em vista | reia compreenisio da nattreza da Ktica. Por sua propria Gnalidade “fle saber normativ, indicativo e preseritivo do agir humano, o saber Fico um saber antes vivido do que pensado nas indmneras vicisinudes | a vida humana, decantado no correr dos sculos pela longs expe- mens E esse saber que a fica se propoe pensar. Portan- NATUREZA rRUTURA DO CAMPO. ICO. iz to, 0 saber tivo recebido pela Btica no pode, como o saber da nar surexa ou 0 das puras formas, submeterse 20 sonho cartesiano de um novo e radical comeco. A bumanidade nio pode recomecar cada manha sua historia, nem refazer continuamente scus critérios de conseguiram ter vida, é clogiientemente conclusiva. ‘uschiana Umuertung de todos os valores prestamse a brilhantes ins literarios A margem da vida real mas, do ponto de vista de uma efetiva realizacdo hist6ricosocial, séo perfeitamente ‘00, mesmo, insensatos, € o que na verdade conseguiram foi agir na “desconsittucao” dos valores éticos consagrados pela experiéncia dos sécullos ou na “suspeicao” sobre cles lancada, abrindo o vazio ét em cyjo clima medra 0 nilismo de nossa cultura, Ora, a transcripio do saber dtico presente no ethos grego tradicio- nal para os codigos do novo saber demonstrative ou da nascente cléncia (episteme), dd lugar a uma das lectuais da historia. is fascinantes experiéncias Jénia do séewlo VI, como ciéncia da natu rea (physis),¢ foi a partir da natureza, observada na regularidade do seu vira-ser (genesis), que se formularam as primeiras regtas do dis- essidade ligica ligando 0 anteceden- logia com a necessidade causal ligando 10s. Aqui vemos surgir © primeiro esboco de leis da navureza (ciéncia) em correspondéncia com as leis do discurso (légica), Ora, a entrada no dominio da razio demonsttativa repre- senta para a interpretacio humana dos fenémenos n uma radical. O que era explicavel pela particularidade do mito, ido segundo as exigéncias da universalidade da raza, Eis ai a experiéncia intelectual que funda a ciéncia e que confere & ciéncia grega um privilégio nico, com as carateristicas de um hapax na his espirito humano, vindo a tornarse paradigmatica para todas 8 na Grbita do saber cientifico'. A ono qual B. Snell estuda a 10 dos conceitos da analise Hingulstica: La Ditouvere de 1Expmt, op. cit, DO SABER ETICO A ETICA. ravdo se mostra, por natureza, ess jente universal, € seu us0 $6 se torna possivel se a particularidade do fendmeno for assumida na _ universatidade de uma categoria, de uma lei ou de um principio, do ual parte o discurso demonstrativo. Tal a origem do conceito wn Fnal le natwren (physi) que se torna englobante de todos os fe menos segundo o pressiposto de sta inteligiblidade © de sua idade em seqliéncias causais que a logica permite transcre- nguagem da ciéncia, O nascimento da cénca da natura, - contemporineo ao aparecimento da matenética e da légica como ciéncias das formas, da origem, portanto, a uma profunda revolucio - episten ica na cultura humana que foi a formacio de _-nomes ¢ coneeitos gevais ou universais que a lingua grega, conforme | mostrou B. Snell, tornou possivel pelo uso do artigo definido. Sem it uma exper a partir da qual surgiré a Elica como cidncia do ethos. Essa experiencia tem diante de si, inicialmente, o desafio tebrico que € pensar o ethos segundo 0 método € a Tinguagem da ciéncia, isto é, tendo como ponto de partida do discurso termos ¢ conceitos universais dos quais, por necessidade ogica, decorrem as conclusées da ciéncia, Em outras ppalavras, ela se defronta inevitavelmente com a interrogacao pr ar: como pensar o ethos, que é analogicamente @ physis do mun- do humano, segundo os padrées de universalidade ¢ necssidade da | physis do mundo dos fendmenos?® ‘Tendo em vista a constituigx intransponiveis. Em primeiro lugar, 0 ethos é, por definicio, particu Tay, € 0 ethos de determinada cultura histérica como, por exemple 0 ethos greyo. Nao & wniversal como a physis, cujos fenémenos so os maesmos qualquer que seja 0 contexto cultural em que sio observa 2. Vor H.C. Lima Vaz, Ksetos de Filosofia I ica « Cultara, op cit, pp. 4848: Em seg |) humana concreta que, embora adquirindo pelo hibitocerta constan. ia e regularidade, procede da indeterminagao prévia da livre esco- (proairesis), irredutivel a qualquer determinismo légico ¢ natu- ral, Conciliar 0 universal © 0 particular, 0 necessério © 0 livre, tal & 0 primeiro desafio tedtico que se oferece no caminho da etiacao de uma Giéncia do ethos. E verdade que os termos aqui opostos © que hoje nos parecem, & distancia de muitos séculos, configurar nitida mente a situacio te6rica do ethas tradicional grego no clima intelec- lustraco ateniense do século V no se apresentavam com tal clareza aos pensadores que promaviam a nova cultura cientifica Mas as questdes entio suscitadas ¢ as solugdes propostas mostram que 0 grande problema posto entio em torno da possibilidade de ‘uma ciéncia do ethos dizia respeito & descoberta de um paradigma racional segundo 0 qual o ethos ea praxis ética fossem expliciveis em termos universais, isto 6, transcendendo a particularidade historica as culturas’ ¢ admitindo uma forma de nectssidade racional compa- vel com a indeterminacdo basica da praxis, igar, ethos é, como vimos, a forma da praxis Se pensarmos que 0 dominio da universalidade é 0 dor € vigoram, a0 menos na concepgio clissica, as kkis da razio, as quais compete 0 predicado da necesidade, veremos que comecam jé a emergir aqui os dois pélos em torno dos quais se desenrolara toda a histria posterior da Etica: a lei e a liberdade. Ora, nesse climax da hist6ria intelectual grega no qual nasceu a e que compreende a segunda metade do século V € 0 io propostos justamente os paradigmas destinados a concil ‘iniversal (necessidade) © 0 particular (contingéncia) ou a ki e€ a ‘iberads, paradigmas que, sob as mais diversas formulagdes te6ricas, ermanecem até hoje; nem se vé como possam ser suplantados por algo intciramente novo, pelo menos enquanto o ser humano for, nds, © “animal portador do logos" ou si ria de nos cultura ede novos pa “su ral importante pars o mondo grevo, © Mis adenuitar mais logientce 20 hsorlator Herddono ecco Mtoe nvr ito et sur aguante Toure Paks DO SABER ETIGO A erICA ___Esses paradigmas podem ser designados comodamente como 0 cinvencionalismo, © naturalismo, € © intelectualismo 0% normativismd iguilos facilmente se considerarmos como, em cada fin deles, se-apresentam as concepgdes da nevessidade ¢ da contingén- i ou da lei e da liberdade © convencionatismo, adotado com matizes diversos pelos prime Sofistas, formulase no clima da oposicio os decénios do século V entre a “naturez: jo? (noms). A convengao € um pacto social implicito aceito pelos iividuos ¢ ligado imemorialmente & propria origem do ethos & slo qual as exigéncias da nalurazasdo socialmente controladas pelos stumes, A convencio é, pois, o universal do ethos, particularizado diversas tradigdes e costumes. Ela é um limite social & lberdade, ‘ela fundando-se as leis (nomoi) que regem a vida da comunidade ysis) € a “conven | filpsis que se sobrepde 20 universal do nomos na medida em que esta a a do da sociedade e fesente no individuo anteriormente & const as suas Lis como, por exen "a “legitimidade da injustica” ete.; essas leis © 0 maturatismo passa a dominar -Piovavelmente a iiltima geracio dos Sofistas, deixando seu testemue fas, tem como consegiiéncia incvitével © naluralisna, e toda a Gtia da Erica confirma essa filiagao entre os dois paradigmas fin cfcito, se 0 etlus © a praxis ética no se fandamentam em algo sestvel do que a simples convmdo, sujcita sempre a0 consenso vir gree, op. it, pp. 133160. Thores inteodngaes que ci NATUREZA B ESTROTURA DO CAMPO ETICO io das liberdades, acaba buscando finalmente na necessidade da natureza a resposta & pergunta com a qual Socrates inaugura a reflexdo ética propriamente dita: como devo viver? A forma extrema no, na qual a satisfacao das exigéncias elementares da na Urania dos desejos ¢ no imperia lismo do poder, & proposta como tinica resposta razodvel A questiio do como viver aparece ja nos tiltimos Sofistas como Gorgias, Antifonte, ‘agem Cilicles do Gérgias, e na pritica dos descreve © historiador , Seja a0 naturalisme seja 20 convencionali 1 longa posteridade que chega até nés aparentemente mais vigorosa do que nunca, € 0 na turalismo recebe na Antiguidade um titulo insuspeitado de nobreza filos6fica ao ser adotado por alguns dos chamados Socriticos meno- res, ipo de Cirene, ° do hedonisme, A poderosa corrente do naturalismo es escava reservada iciad ‘aia-se ao longo das mais diversas manifestagoes da cultura antiga € dela recebem influxo as grandes éticas helentsticas como o Epicus rismo e 0 Estoicismo®. ura lei, as Ds costumes e, mediante regendo 0 exercicio das liberdades individuals, parecem nao encontrar expresso adequada no universo da razéo demonstrati- va, 0 ‘ategorias € coceitas que Ihes sejam préprios e uma légica cespecifica do agir que os articule em discurso coerente. Tal 0 desafio diante do qual se encontrou Sécrates, entre os extremos do convencio- nalisma e do naturalism, a0 ensaiar 2 tes do suber ético, paradigma que ird tornarse cfetivamente 0 modelo fundamental da eflexdo ética no Ocidemte. Esse paradigma intelectuatista ou norma Darakiy Une rigs samt Dine esa » La Décowerte, 1980, vrs O SABER £7160 A ETICA reduzem todos a0 convencionalismo ou a0 naturalismo, e mostrar erado o paradigma ético por exceléncia. ‘A tradicao do ethos grego trazia consigo uma interrogagio apa emente sem resposta a respeito do dominio do homem sobre set interrogagio se torna mais aguda com o advento da individuc- lirieos*: como pode a livre individua- idade co Destino (Moira)? A tuta da liber rodigiosa criacdo literdria da tragédia atica, wltimo passo no cami ‘tho que conduzira a criagao socratica da Erica. Com efeito, como uminosa da Razio, a primeira oprimindo ab extra 0 individuo segunda fazendo emergir ab inira o espaco de sua jberdade? Questio + Titica e mesmo da cultura antigas, ¢ & qual o Estoicismo | der com a paradoxal tentativa de unir Destino e Razio, los que se erg expago para 0 exercicio do auademinie ou da ikerdad, ha lugar para o pensamento ético. O outro obsti- ilo € correlativo a0 primeito € € mesmo a sua face laiizada ow despida do revestimento mitico. Tratase do deierninismo da physi, posto em cvidéncia pela leitara présocritica dos fenémenos e que leangara sua forma extrema no. a RS/Vaves, 1903, pp, 209217; © Mi suck and Ethice in Gros Tragedy and Philasophy, op. cit, pp. 2388. NATUREZA B ESTRUTURA DO CAMPO ETICO dois procedimentos da razio demonstrativa que permnitiram tracar com éxito um espaco razdvel para o agir humano e, por conseguinte, explicar rarionalmente a estrutura desse agir — individual € comuni- tirio — ¢ justificar as leis ou normas racionais que © devem reger Esses dois procedimentos, nos quais tem origem propriamente a Eica como. cincia do thas, tem em vista estabelecer de um lado a cigncia do finalismo do Bem como superacio da crenga na necessidade cega do Destino e, de outro, definir 0 Ambito das “coisas humanas"(¢a anthropina) que esti sob nosso arbitrio (ta eph’hanin) € que podem ser objet de nossa liberdade e responsabilidade ou, em outras palavras, de nosso agir ético, independentemente, em principio, dos xzares da Fortuna, A vertente soeriticoplaténica da Exica toma sobre si estabelecer racionalmente o Ginalismo do Bem, a vertente aristotéica ‘ocupase prioritariamente em circunscrever 0 mundo das humanas. © finalismo do Bem exprime a universalidade racional da Lei (nomos), © mundo das coisas humanas & o horizonte universal da Liberdade (fo ckousion). Cireunscrita pelo espago de tniversalidade que resulta da conjuncio da Lei ¢ da Liberdade & que a praxis ética poder exercerse racionalmente na particwlaridade das situagses © na singwlaridade das decisbes’ Ora, a proposicio que enuncia 0 universal objetivo como homé- logo A wniversalidade subjetiva ow ativa do logos enuinciante — como, por exemplo, 0 Bem ¢ o fim universal ou 0 Bem é a realidade a que todo ser aspira!® — supoe necessariamente a transgressio dos limites do empirico que & por definigao, particular Em outras palavras, 0 univer sal verdadeito € Iida, ¢ tal € 0 fim como Bem. Essa a demonstracio levada a cabo por Plato no Fédon © na Reptblica ¢ que assinala 0 termo da inquisigao socritica da definigao da virtude. O paradigma Atico fundado na universalidade do Bem como Idéia deve ser designa- do, pois, como normativo no sentido estrito pois a norma do Bem, transcendendo, coma principio tiltimo de retidio do agir ético, a par ficularidade do empirico, nio depende da conveneao social nem se identifica com o determinismo da plysis, representando, desta sorte, uma superasio radical do convencionatismo ¢ do naturatismo, Deve set 9, Essa dialética & apresentada igualmente sb outro Angulo em nosso texto 10. Arisoteles, Et Nie, I, 1, 1094 2 2 64 Do SABER SN1CO A ETICA BE. sob a norma do paradigma idenbnico, guisndoee por opées roricas distnias, segundo os grandes modelos clssicos, placonismo os ‘Nessa organizagao racional do saber dice, trés problemas funda ‘nentais irdo emergir, aos quais corresponderio trés grandes com- lexos categoriais que, através de toda a movimentada historia da D. O problema da existéncia ¢ natureza do sujeito ético, homélogo a0 universo dtico, participando, de alguma maneira, de sua uni versalidade transempirica e constituindo, como tal, © individu da comunidade ética. Esses trés problemas formulam-se, de fato, em torno dos valores \cipais que conferem tadigio do ethos grego sua fisionomia i: 0 valor do Bem (to agathon) ou do Melhor (to ariston) | pp. 447-448, | YY Sobre © primeito tema ver H.C. Lima Var, Plato revisiado: Fuca & Metatisica nar origens platinicas, Siete, 61 (1093): 181-197; e sobre o segundo, 1 Vaz, Estes de Plosofia I: Pibsfia Cultwaop. cit. pp- 164A 18. Esse tés wpicos sio estudados por L. Robin em sua excelente sinteve Lo rg Paris, PUF, 1947. 65 BZA E ESTRUTURA DO CAMPO BTICO descoberto objetivamente na ordem do universo (hosmos) ¢, correla- que Socrates virtade (areté) que ira con: iretriz da reflexdo ‘Tragadas, assim, as fronteiras do campo da Etica, no proprio terreno onde a experiéncia milenar da humanidade fez, tamente sta-nos nesta te, da est sca que abrange os trés aspectos: smetodolégico, epistemoligico e sistemtic, fem face da pra éculo V, fu idade pode ser aplicada 4 ordem dos costumes. ica deve comecar, ssa carefa a ref la por aqueles dois modelos, ora yondo-se como étiea cientifica, ora como simples téenica do agir ido convencdes so tracio hoje mais poderosa do que © advento da ‘ecnociéncia como eda mostra que, no cump! foi permanentemente 1. Ver H.C. Lima Vaz, Eusites de Blosfia I: Bion e Cu ‘op. cit, pp. 6-78 67 Jectual, a nosso ver conclusiva, da qual nascew a Etica e que teve como protagonistas Socrates, Platzo e Arist 0s que 0 caminho (méthodos) proprio da Exica pressupée, por um lado, que ela proceda como um saber de natn- reza filosifica ¢, de outro, que seu objeto formal a praxis aia ¢ veis a qualquer 0 tro tipo de fendmeno da natureza. Sobre a natureza filsifica da Exica fundamental ja nos explicamos na Intoducio. Restanos de- mente, em sua formalidade d é lica, 01 seja, a praxis que se exerce sempre na esfera do ethos, cujos ivamente organizados pela estrutura sistematica “O sujeito (« objeto) da flosofia joral € a operacao humana ordenada a um fim ou entSo © homem nquanto age voluntariamente em vista de 1 Nessa defini- Gho'o definientun, ou ej, 0 ojo da Etia, ¢ identificado logicamente Gu tem sua «onda manifesaca por diss notas constitutvas: a 2 peragdo humana eB sua ordenagao a um fim. Operatio €, aq traducdo latina de prasis, ato especifico do ser humanos ¢ a ordenacio dese ato a um fim por parte do agente caract como ato moral surgem a par distngue de outras formas da atividade h b. qual a natireza Ao consttutiva entre a praxis € 0 fim, que torna a praxis uma press etica on um agir moral? A resposta a essas das interrogacdes fornase condigie prévia e sine qua non para que poss set dada mite una resposta A questio socratica que esti na origem da Fticar como devenas viver de acordo com nossa natureza de seres mo praxis ética, Duas questdes fundamentais dessa definigio: a. qual a natureza da praxis que a imo prow 0 robs 2 13) conte {ado em Plato ¢ trata do objeto, do modo d Etica. Ver o comentario de F. Ditimeier, Nckomachche Eihk, op. nudes da redagio desse Prdlogo ver Gauthier} ica parte de ica estabelecicia a nocdo de um aperar humano como operat de _ er inteligente e livre; e a0 lidar com a nosio de fim a Essas sio, discurso coerente para a Etica que se pretenda filosfica 1. A reflexio sobre a natureza da praxis foi conduzida inicial praxis © tuchne. Com efeito, ambas $20 modos do operar humano © dirigidos intencionalmente para a producio de uma obra ( _ bedecendo a regras ou normas seja de aria no caso da praxis js bela obra de arte que ao ser humano é dado criar. A diferenga ‘aire os dois modos de operacio foi estabelecida de maneira det mo da praxis é voltado para a perfeicdo A techne para a perf ismos estio entrelacaclos lunidade complexa do operar humano que envolie sempre 0 mem todo: ass deve estar presente no thalho do ar fe em grege, podendo sign) dece a regras Assn no in NATUREZA E ESTRUTUNA DO CAMPO EFICO Em outras palavras, na praxis a perfeicdo ou a realizag20 do me thor, que € o fim do agente moral, é, em primeiro lugar, a perfeicio do priprio agente. Sua aco tem seu fim em si mesma, ¢ um movi mento que se completa na imanéncia (in-manere, permanecer ern. do sujeito que o causa, nele realizase a perfei caracteriza como tak: assim no ato de ver rei thar, segundo o exemplo de Aristteles'. Por sua vez, na téchne a perjeigdo que o ato de produzir tem em vista é a perfeigao da obra a ser produzida. O ato de produzir um movimento que se completa na exterioridade do produto, sendo, como tal, um movimento transiente (transi, passar além...). Essas duas propriedades funda- mentais definem os dois modos distintos do operar humano, delim+ c € do tnico. O enfraquecimento ‘ou mesmo o desaparecimento dessa distineio na cultura contempo- rinea signifiea, finalmente, a perda da especificidade ica de nossas ages ea tirania do produzir nas relaces humanas. A nitida distingao entre a praxise a techne ow poiesis fabricacio) i por sua ver a Aristoteles sistematizar definitivamente a divisio dos saberes em tedrico, pritico e poittico, divisao j4 esbocada em Platio ica e a Politica, ciéncias da praxis, sua especificidade na enciclopédia das ciéncias constituida desde a Antigtidade ¢ cujas linhas fundamentais permanccem até ho} _Na defini¢io da praxis como objeto proprio do saber prétice ou epgoes distintas, que se tornaram paradigmas 1a toda a histéria do pensamento ético, serio propostas por Platio, © Arist6teles. Segundo Platio, a pravis verdadeira ou segundo a vir ule é assumida imteiramente pela theoria que, como ci@ncia das Idéias ESTRUTURA CONCEPTUAL DA ETICA, “foroada pela cigncia ou intuigao (noess) da Idéia do Bem, deve reger aces humanas orientadas finalisticamente para 0 Bem. Desse modo, a Etica é primeiramente uma ciéncia teérica €, enquanto tal © passa a ser derivadamente (ou pedagogicammia, segundo a Reiblica) a ciéncia pritica, Platioadota, pois, uma concepeao univoca da 1a qual a eiéncia da prética & igualmente, por det io, uma ciancia pratica, ou seja, A ciéncia cabe reger inteiramente pritica, Essa concepcao é profundamente modificada por Aristoteles, za, dada a diferenga dos objetos @ que se aplica, uma Alivisio analdgica da razao cientifica, na qual a praxis rece seu or fica. A Etica passa a ser entio uma teoria da prasis (gen. subj.) que 0 mesmo tempo, una feria prtica, se assim se pode falar; ou seja ‘a prdtica que produz sa propria troria tencio em vista nfo apena , conhecimento (teoria) do Bem mas igualmente © proposito de jprnar bom o seu praticantet. Nesse sentido a Etica, segundo Aristé- tra uma correspondéncia estrutural com 0 saber éicn da m o has é um saber, co ‘ou da sabudoria da vida, que deve operar o “torn juele que o recebe ¢ pratica. De acordo com a perspectiva aristo- , que predominow longamente na tradigio do pensamento ético dental e readquire hoje uma surpreendente atualidade, 0 proble- | epistemolégico fundamental de uma ciéneia da praxis formulase ginente como problems de um stber no qual tora € price oscitivo, ), A segunda questio levantada pela definigdo tomfsica da Ei reapeito a relacio entre a praxis ou o livre agir hi A descoberta da nogio de jim (es) represencou Um t | | i NATUREZA B ESTRUTURA DO CAMPO TIC pensamento grego a partir do século V, no contexto de um novo modelo de concepeio da natureza, proposto a partir da idéia, intro- duzida por Anaxigoras, de uma Razio (Nous) ordenadora’. Mas 0 passo decisivo para o estabelecimento do pensamento teleolég encontramo-lo descrito na famosa autobiografia filosofica de Sécrates transmitida por Plato no Fédon". Ai @ posta em evidéncia a natura teleoligica do agir Lumano conseqiente ao estabelecimento da rela- tutiva da Alma (psyche) com as Idéias (cide). Ora, movida congenialidade (syngeneia) com as Tdéias, ma s6 pode ter como fim verdadeiro o melhor, ow seja, 0 Bem (agathon). A Idéia do Bem passa a ser, assim, a stella rectrix da nascen- te Brica, Todo o desenvolvimento posterior do pensamento ético em ma fundamental estabelecer qual ttimo, isto €, 0 Bem supremo do homem e, a partir desse Bem ia dos bens de cuja prossecucio deriva para 0 ser humano o préprio bem em sua face subjetiva, ou seja, © “viver no bem” (cw zen), 0 autocontentamento ou a felicidade (eudaimonia)”. © audaz gesto esp o de Platio! na aurora da Etica aponta a transcendéncia da Idiéia do Bem como finica resposta racionalmente satisfat6ria A interrogac2o sobre 0 fim na. reflexio sobre a praxis, a necessitia vineulagao da Exiea « a Metafisica. Assim como a reflexio sobre a natureza da praxis esta- beleceuse sobre © pressuposto de determinada concepea0 antrope. ligica, co sobre o fim como Bem, como mostrar toda a hist de Platio a Hegel ¢ além, deve finaimente levar em conta a amplitude analogica, quer dizer, trans- cendental ou metafisica da Idéia do Bem" ver W. Theiler, Zur Geuchicte der W. de Gruyter, 2 ed, 1965. ralnente o com favorivel Gin, pln 40. Aw anpecto subjetiva d Ver Esertos de Filosofia It Btzs « Cultura, op asda, pois realea apenas © ESTRUTURA CONCEPTUAL DA &7ICA | Por outro lado, aos olhos da Razio, 0 Bem, sendo 0 mathor Kossnriamente obriga ou liga o individuo que age racionalmente dade moral ou ica que, longe de oporse a liberdade, € sua ion, pois € na sua relacdo consticutiva com o Bem que a liber fais se realiza na sua vmdade como liberdade moval, Daqu das cataegorias fundamfentais da Etica, a categoria da abnigaro vofunda intuicao pl wsinalara a natureza vineulante do gH, indicando uma das articulagdes conceptuais fandamentais pensamento ético segundo a qual a relagio entre o finalismo aijtutivo da praxis ética e 0 c 0 define é uma fio absolutamente original na qual se entrelagam a necessidade € a lieiade do agit na aceitagio do fim, “Um terceiro aspecto fundamental pris ética 6 0 desdobramento da nogio de jrnsdes de imaninciae transcendéncia, Se o agir éico é urn ato ou iio (energeia) que tem em si pe No sendo poré ido Bem ou nao podendo rei 1 perfei¢io imanente do ato. Essa dialét déncia, que se articula entre a face subjetiva e a face obj Fim, oferece, por outro lado, aos grandes sistemas éticos uma le partem has doutrinais 9, assim, explicitado 0 objeto formal da Erica flosica que se sob dois aspectos fandamenais NATUREZA & ESTRUTURA DO CAMPO ETICO a. aspecto estrutural —a Etica tem por objeto a estrutura da praxis ‘ou do agir bumano em sua especificidade de agir de acordo com 0 «thes, A correspondéncia entre ethos © praxis prolongase pa constincia e continuidade éa praxis, dando origem no indi- viduo a forma do Aadbito ou da virtudz, permitindo a convivéncia dos individuos na esfera da moralidade ¢ tornando assim pos- sivel a formacio da comunidade ética b, aspecto teoligic € normatico — A praxis como objeto da Exica mostrase ordenada necessariamente a um sistema de fins sub neta a um sistema de nonnas que constitem o contetido objetivo do whos Daqui decorre essa ca lar'da Fiica como ciéndia do ethos segundo a qual, sendo ela uma reflexio explicitae sistemtica do sujet ético sobre sua propria praxis na esfera do thos, 6, 0 mesmo tempo e inseparavelmente, finda da acio © norma do agir ou é, pela propria natureza do Seu objeto formal, uma. eéncia pratca No correr do discurso dessa nossa Introducio & Ftica flosficn conjugamse, a cada paseo do desenvolvimento do texto, 08 dois Shpecton sstruturale tdeoligico normative da praxis dca, que Tepresen tam igualmente suas duas dimensdes subjlion e objeina, No entanto, maior lareza da ordem das razdes, pareceu aconselha- amente 0 aspecto esirutural do agir ético ou sua dimensio subjetiva se como agir do indeiduo seja, analogicamente, Come agit da comundade cia para, em seguida, expor 0 aspecto tebsigiconormative ov 2 dimensio objtica constitativa do universo ttico a0 qual o agit individual-comunitacio se refere ¢ no qual esto presentes tanto © individuo como a comunidad. A primeira patte Sora dedicada 0 estudo da praxis dca em sua esdéncia, em suas di mensdes constinutivas. Ela perinanece por conseguinte, do ponto de AistaUigico, num plano alsa. efetiva realizacio da praxis se dna vida iia conereta, como continidage dos alos que se estraturam tm habitos ou virtudesespecificamente distntas segundo a distingo de seus edjeas, ow scj, dos fins e valores a0s quais 0 ao se ordeta . ESTRUTURA CONCEPTUAL DA ETICA { segunda parte trataré, portanto, da existéncia ética concreta, a sa- ido exercicio ordenado das virfudes por parte do agente fila do organismo virmoso no individio € na comunidade gue j-em suina, nossa vida propriamente. humana. “A tgica interna de nossa exposigao obedecera & ordem namur jp discurso, O ponto de partida na exposicio de cada nove tema é pre © universal que, auravés da mediagio ou determinacio do cular, assume Finalmente o singular na esfera de sua inteligibi- thide, Na exposicio do agir étco, 0 momento do universal conjuga Jum lado 0 universal do sujeito —a inteligéncia ¢ a liberdade em 130 prtico —de outro, © universal do objeto — o fim como Bem. se tratando do movimento imanente da praxis, a passagem a0 cular nao se di por uma determinacao extinseca, mas pela nuto- srminacio da liberdade, tendo sido 0 “snjeito, nele interiorizado pela ass Bom que é, p ; Fao atual do sueito ¢, por outro, realizacio atualdo ethos. A mesma fenagio ligica se verifica na exposigio da existinda dea que & imento dialético de passagem do universal 20 singular pela me- 10 do particular, movido por uma necessidade simplesmente ia ou natural, Estamos aqui diante de jy shia expressio origindria, que traduz { praxis. Como categoria antropol6gica' (a outra € a inteligincia) do movimento de identidade reflesiva jo na medida em que se abre a0 ac b valor, Nesse movimento, portanto, a liberdade, ou meth “to lim, © autodtermina em vista de sua aceta B endo, pois, determinado por nenkuma difirenca ex Fab extva, 0 que seria c idgia de NATUREZA E ESTRUTURA DO CAMPO [5F1CO sim, que nos nentos da estrutura conceptual da jplicadas as duas pressuposicoes, » sa.@ aniropolé- zgica, que asseguram o fundamento e a coeréncia do discurso ético. ‘A primeira faz-se presente ma amplitude transcendental (coextensiva A nocao de set) dos conceitos que formam 0 arcabouco inteligvel do universo ético: Verdade, Bem, Fim, Lei. A segunda torna possivel a transcrigdo no discurso ético das categorias que articulam 0 discurso da Antropologia Filos6fica, culminando na categoria de pesson, na qual se entrecruzam o transcendental & 0 categorial

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