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14 Todos os animais sdo iguais Peter Singer Beter Singer tem escrito sobre reproducao assistida, direitos dos animais, B infanticidio, meio-ambiente e alivio da fome. Por causa de suas crencas con- Syersas, a indicagéo de Singer, em 1999, para a Princeton University, criow ma tumulto publico reminiscente a 1940, quando o City College of New York icou Bertrand Russel, um dos maiores fildsofos do século XX, para um ano Eomo professor. No caso de Russel, o clamor culminou em uma decisio judicial Bee cancelou a indicacio da universidade estadual. Comentando o caso, Albert Einstein disse: “Grandes espiritos sempre encontraram a oposigio violenta dos Beedioctes” Visto que Princeton é uma universidade privada, aprovacio de ger ficou fora dos tribunais. © tratamento de animais néo humanos tem sido tradicionalmente visto 10 uma questao trivial. Até recentemente, quase todos os eticistas que escre- sobre 0 assunto providenciaram algum argumento para excluir 0s ani ‘da preocupagdo moral. Aristoteles disse que, na ordem natural das coisas nais existem para servir aos propdsitos humanos. Os cristios tradicional- Bente acresceram que s6.0 homem foi feito ishagem de Deus e que os animais, Sao tem alma. Immanuel Kant disse que os animais nao sao autoconscientes, de Tel forma que nés nao podemos ter deveres em relacio a cles. (s utilitaristas tomaram uma visio diferente, sustentando que nés deve- Bbos considerar os interesses de todos os seres, humanos ¢ néo humanos. Peter Singer (1946-) tomou esse argumento em meados dos anos de 1970. Bitaido de Peter Singer, Animal Liberation: The Definitive Classic ofthe. (arper Perennial Modern Classics, 2009). Reproduzido com a permissio de Peter Singer 132 __James Rachels & Stuart Rchels F [A presente selegio é tirada da segunda edigao do livro de Singer, Liberta ao animal. Atualmente,o Professor Singer divide seu tempo entre Princeton University, nos Estados Unidos, ¢a Melbourne University, na Australia EEE “Libertagio dos animais” pode parecer mais como uma parédia de outros movi- mentos de libertagio do que como um objetivo sério. A ideia de “Os direitos dos aanimais” realmente foi uma ver utilizada para parodiar 0 caso para os direitos ddas mulheres. Quando Mary Wollstonecraft, uma precursora das feministas de hoje, publicou o seu Vindication of the Rights of Woman, em 1792, suas visbes foram largamente vistas como absurdas. Em pouco tempo apareceu tuma publi cagdo anénima intitulada A Vindication ofthe Rights of Brutes. Q autor dessa obra satirica (que agora se sabe ter sido Thomas Taylor, um distinto fildsofo de Cam- bridge) tentou refutar 0 argumento de Mary Wollstonecraft, mostrando que ele poderia ser levado um passo além, Se o argumento fossesélido quando aplicado ds mulheres, por que ele nao poderia ser aplicado a cdes, gatos e cavalos? O argu: mento parecia se aplicar para esses “brutos” também, porém, sustentar que brutos tinham direitos era manifestamente absurdo, Portanto, o argumento pelo qual essa conclusfio havia sido obtida tinha de ser frdgile, se frégil quando aplicado a Dprutos, tinha de ser frégil também quando aplicado as mulheres, visto que exata- mente os mesmos argumentos tinham sido usados em um caso e outro. "Tendo em vista explicar a base do caso para a igualdade dos animais, serd de ajuda comecar com um exame do caso para a igualdade das mulheres. Va- ios assumir que desejamos defender o caso dos direitos das mulheres contra 0 ataque de Thomas Taylor. Como deveriamos responder? ‘Um modo pelo qual nés podemos responder ¢ dizendo que o caso para a igualdade entre os homens ¢ as mulheres nio pode validamente ser estendido para animais nao humanos. Mulhered tem direito de votar, por exemplo, porque Mo exatamente tio capazes de tomar decisées racionais sobre o futuro como so os homens. Cachorros, por sua vez, so incapazes de entender o significado de votar, portanto, nio podem ter esse direto. Ha muitos outros modos Sbvios pelos quais homens e mulheres se parecem reciprocamente de forma muito préxima, fo asso que humanos ¢ animais diferem grandemente, Portanto, seria possivel ier, homens ¢ mulheres sio seres similares ¢ devem ter direitos similares, 20 asso que humanose no humanos so diferentes e nio devem ter direitos iguais © argumento por tris dessa resposta a analogia de Taylor & correto até certo ponto, mas néo vai longe o suficiente. Hé obviamente diferengas impor tantes entre humanos e outros animais, de modo que essas diferengas tém de faver surgir algumas diferengas nos direitos que cada um tem. Reconhecer esse fato evidente, contudo, nio ¢ impedimento para o caso de estender 0 principio Disico da igualdade a an homens e mulheres so] Dertacio das mulhereses direitos diferentes. Muits aborto sob demands, Ng tarem lutando pela igual ‘odireito dos homens de pode abortar, é sem sem Indo podem votar, é sem: ‘qual tanto a libertagao d fenvolver em tal absurda grupo a outro nio impli Imente do mesmo mods ‘9s grupos. Se devemos | dois grupos. O princi fdéntico, Ele requer ign pode levar a tratamento Portanto, hé umm fodiar o caso para os di Sbvias entre os seres hu {lo da igualdade e conc Basico da igualdade se ag So pode parecer estranl Altima sobre a qual repo $o sexo, veriamos quee ‘exgir igualdade para ng ‘negissemos igual consi amos ver, primeiro, por izemos que todos 05s {io iguais, o que estama BBierérquicas, desiguats, He que escolhamos, sim Sao iguais. Goste-se ou: formas e tamanhos dif ides intelectuais diferent Sensibilidade as necessi sfetivamente e capacida imo, sea demanda pori ‘bumanos, deveriamos oP oy wert ® Bes a = = de so = = ma De = - Fe _ CRRIRPEAPERER FE Acoisacertaafarer 133 Disico da igualdade a animais nio humanos. As diferencas que existem entre Fhomens e mulheres sio igualmente inegéveis, sendo que 05 apoiadores da li- bertacio das mulheres estao cientes de que essas diferencas podem fazer surgir ireitos diferentes. Muitas ferinistas sustentam que as mulheres tem direito a0 aborto sob demanda. Nao se segue que, haja vista essas mesmas feministas es- farem lutando pela igualdade entre homens e mulheres, elas tenham de apoiar ‘edireito dos homens de terem também um aborto. Visto que um homem no pode abortar, é sem sentido falar de ele ter esse direito. Visto que cachorros fio podem votar, é sem sentido falar do seu direito de votar. Néo hi razio pela {qual tanto a libertagao das mulheres quanto a libertacio dos animais devam se envolver em tal absurdo, A extensio do principio basico da igualdade de um {grupo a outro néo implica que nds tenhamos de tratat ambos os grupos exata mente do mesmo modo, ou garantir exatamente 08 mesmos direitos a ambos ‘es grupos. Se deveros fazer isso vai depender da natureza dos membros dos ois grupos, © principio bisico da igualdade nao requer tratamento igual ou déntico. Ele requer igual consideracao. Igual consideragdo por seres diferentes pode levar a tratamentos diferentes e a direitos diferentes. Portanto, ha um modo diferente de responder a tentativa de Taylor de pa. odiar o caso para os direitos das mulheres, um modo que ndo nega as diferencas {byias entre os seres humanos e néo humanos, mas que vai mais fundo na ques: fo da igualdade e conclui por ndo haver nada absurdo na ideia de que o principio Bisico da igualdade se aplica aos chamados brutos. A essa altura, uma tal conclu: So pode parecer estranha, porém, se examinarmos mais profundamente a base {a discriminacio com base na raga ow Slkima sobre a qual repousa nossa oposica ‘no sexo, veriamos que estariamos sobre fundamentos pouco firmes se fOssemos ‘exigirigualdade para negros, mulheres e outros grupos de humanos oprimidos e tnegissemos igual considera¢o aos néo humanos. Para tornar isso claro, necessi- amos ver, primeiro, por que exatamente racismo ¢ sexismo sio errados. Quando dizemos que todos os seres humanos, qualquer que seja sua raca, credo ou sexo, io iguais, o que estamos afirmando? Aqueles que quiseram defender sociedades Irierrquicas, desiguais, frequentemente apontaram que qualquer que seja o tes fe que escolhamos, simplesmente nao ¢ verdadero que todos os seres humanos So iguais. Goste-se ou nao, temos de enfrentar 0 fato de que os humanos tem formas e tamanhos diferentes. Eles tém capacidades morais diferentes, habilida- des intelectuais diferentes, quantidades diferentes de sentimento benevolente e de sensibilidade as necessidades dos outros, habilidades diferentes de se comunicar fetivamente e capacidades diferentes para experimentar prazer e dor. Em res smo, se a demanda por igualdade fosse baseada na igualdade real de todos os seres Fhumanos, deveriamos parar de demandar por igualdade, 134 James Rechels & Stuart Rachels Pode-se, ainda, agarrar-se a visio de que a demanda por igualdade entre cs seres humanos é baseada na igualdade real de sexos e racas diferentes. Muito cembora se possa dizer que os humanos diferem como individuos, ndo haveria dliferencas entre as racas ¢ 0s sexos como tais. Do mero fato de uma pessoa s negra ou ser mulher niio podemos inferir 0 que quer que seja sobre as capaci- dades intelectuais e morais. Bis por que se pode dizer que o racismo € 0 sexis ‘mo sio errados. O racista branco sustenta que os brancos séo superiores aos rnegros, mas isso é falso. Ainda que haja diferencas entre os individuos, alguns rnegros so superiores a alguns brancos em todas as habilidades e capacidades que poderiam ser concebivelmente relevantes, Os oponentes do sexismo diriam ‘o mesmo: 0 sexo de uma pessoa no é um guia para suas habilidades, sendo essa a razao pela qual é injustificdvel discriminar com base no sexo. Contudo, a existéncia de variacies individuais que atravessam as linhas da raga e do sexo nio nos fornece defesa alguma contra um oponente mais sofisti- cado da igualdade, alguém que proponha que, digamos, 0s interesses de todos com Ql abaixo de 100 sejam menos considerados do que os interesses daqueles com indices acima de 100. Aqueles com pontuages abaixo dessa marca pode riam, talvez, em tal sociedade, ser feitos escravos daqueles com padres mals, altos. Seria uma sociedade hierarquica desse tipo realmente melhor do que uma baseada na raga ou no sexo? Eu penso que nao. Contudo, se ligarmos o prinet- pio moral da igualdade a igualdade fatual de sexos e racas diferentes, tomados como um todo, nossa oposicio ao racismo e ao sexismo nao nos forneceria ‘qualquer base para objetar contra esse tipo de defesa da desigualdade. Ha uma segunda razio importante pela qual nao devemos basear nos- sa oposigao ao racismo e a0 sexismo em qualquer espécie de igualdade fatual ‘mesmo aquela limitada que afirma que as variagdes em capacidades ¢ habilida: des sio distribuidas uniformementerentre as diferentes ragas e entre os sexos: ‘no podemos ter garantia absoluta de que essas capacidades e habilidades sio realmente distribuidas uniformemente entre os seres humanos, a despeito da raga e do sexo, Tanto quanto as habilidades reais forem consideradas, parece ha- ver certas diferencas mensuraveis entre as raas e entre os sexos. Essas diferen- a6 ndo aparecem, naturalmente, em cada caso, mas somente quando a média é tomada. Ainda mais importante, nds no conhecemos até agora quantas dessas diferencas sao realmente devidas& dotagao genética diferente das diversas ragas fe sexos e quantas sio devidas a escolas pobres, moradia pobre e outros fatores que sao resultado de discriminagées passadas e presentes. Talvez, seja possivel que todas as diferencas importantes sejam devidas realmente a0 meio ambiente e nao & genética. Qualquer um que se oponha ao racismo € ao sexismo, cer tamente, tem esperanca de que seja assim, pois isso tornaré a tarefa de findar ieom a discriminagio me Keas0 contra 0 racismo € Setivas tenham origem m8 {gue tomam essa linha nak Pebilidades viessem a set |araca, o racismo poderia Felizmente, nao hi Galtado particular de al Bgueles que defendem & Hes entre as racas ou em Kezenca de que a explicag ‘ir evidéncias contrérias Bue a pretensio & igual orca fisica ou questdesé Bama assercio de fato. N IG fatual das habilidade I@uantidade de consider Dprincipio da igualdade ¢ Beualdade fatual entre o eres humans. Jeremy Bentham. ors, incorporou em se Hpor meio da frmula: 4 ‘outras palavras, os inte omados em conta e dat outro ser. Um utilitarist Jodo: “O bem de qual He vista (se eu puder di Mais recentemente, as & Rraram uma grande dos uposigio fundamental Ino sentido de dar aos i Kesses escritores, em get [mais bem formulada. Esse principio da Snossa prontidio para {como eles se parecem fecupacio ou considera fs caracteristicas daqual fe entre ; Muito haveria ss0a ser capac p sexis- pres acs yalguns pidades \diriam do essa phas da sofist f todos aqueles B pode es mais peum2 princi- fmados peceria fatual Acoisacerta fazer 135 om a discriminagio muito mais facil. No entanto, seré perigoso repousar 0 ‘aso contra o racismo ¢ 0 sexismo na crenca de que todas as diferencas signifi ‘ativas tenham origem no meio ambiente. Os oponentes, digamos, do racismo ‘que tomam essa linha nio terdo como evitar conceder que, se as diferengas nas Ihabilidades viessem a ser provadas como tendo alguma conexdo genética com fraca, o racismo poderia, de algum modo, ser defensavel Felizmente, nao ha necessidade de prender 0 caso pela igualdade ao re sultado particular de alguma investigagio cientifica. A resposta apropriada Agueles que defendem ter encontrado evidéncia de diferengas em habilida- des entre as racas ou entre os sexos baseadas geneticamente nao é a firmar a trenca de que a explicagio genética tem de ser errada, pois dela poderao ad- vir evidéncias contririas. Em vez disso, devemos tornar absolutamente claro ‘que a pretensio a igualdade nao depende de inteligéncia, capacidade moral, orca fisica ou questées de fato similares. A igualdade é uma ideia moral, nao Juma assergio de fato, Nao hé razo que compila a assumir que uma diferen- 2 fatual das habilidades entre duas pessoas justfique qualquer diferenca na uantidade de consideracio que damos a suas necessidades e interesses. O (principio da igualdade dos seres humanos ndo é a descrigio de uma alegada fualdade fatual entre os humanos: é uma prescrigao de como devemos tratar eres humanos. Jeremy Bentham, o fundador da escola de filosofia utilitarista reforma dora, incorporou em seu sistema de ética a base essencial da igualdade moral por meio da férmula: “cada um conta por um e néo mais do que um’. Em tras palavras, os interesses de cada ser afetado por uma agio devem ser fomados em conta e dado o mesmo peso que se da aos interesses de qualquer outro ser. Um utilitarista posterior, Henry Sidgwick, colocou a questao desse ‘modo: “O bem de qualquer individuo nao ¢ de maior importancia do ponto e vista (se eu puder dizer isso) do universo do que o bem de qualquer outro” Mais recentemente, as figuras centrais da filosofia moral contemporanea mos- fraram uma grande dose de concordancia na especificagao de que uma pres- Suposicio fundamental de suas teorias morais seria alguma exigéncia similar ‘no sentido de dar aos interesses de todos uma consideragio igual - ainda que esses escritores, em geral, nfo concordem em como essa exigencia poderia ser mais bem formulada. Esse principio da igualdade implica que nossa consideracao pelos outros nossa prontido para considerar os seus interesses nao devem depender de {como eles se parecem ou de quais habilidades eles dispdem. O que nossa pre- ‘ocupacio ou considerasao requer que nds fagamos pode variar de acordo com as caracteristicas daqueles que sio afetados pelo que nos fazemos: a preocupa- 136 James Rachels & Stuart Rachels ao pelo bem-estar das criangas que crescem nos Estados Unidos requer que se ensinemos a ler; a preocupagdo com bem-estar de porcos pode requerer srao mais do que os deixar com outros porcos em um espago que tena comida adequada e espago para correrlivremente. Contudo, o elemento bisico = ter em Conta os interesses do ser, uaisquer que possam ser taisinteresses ~ de acordo ‘com o principio da igualdade, tem de ser estendido a todos os seres, negros ou brancos, masculinos ou femininos, humanos ou nao humanos. “Thomas Jefferson, que foi responsivel por escrever os principio da igual dade dos homens na declaragio americana de independéncia, percebeu esse pponto, Ele fi evado a se opor& escravidéo mesmo sendo incapar dese libertar pai mesmo completamente do seu passado escravista, Ele escreveu uma carta ava as notaveis realizagdes intelectuais dos ne- sm capacidades 40 autor de um livro que enfati gros com vistas a refutar 0 entio senso comum de que eles tinha intelectuais limitadas: pessoa vivente quer mais sinceramente do que smpleta das dividas que eu mesmo mantive € rdimento atribuido a eles pela natureza e des tudo, seja qual foro seu grau de talento, Tim razio de Sir Issac Newton ter sido 0 foi, em razio disso, senhor das Esteja certo de que nenhuma ceu quero ver uma refutagdo cor cexpressei sobre o grau de entent cobrir que eles si0 iguais a nés...cont isso nio € a medida de seus direitos. superior aos outros em entendimento, ele n propriedades ou pessoas dos outros. .do nos anos de 1850 o movimento pelos direitos De forma similar, quan: ‘uma notavel feminista negra, cha- das mulheres ocorreu nos Estados Unidos, ‘mada Sojouner Truth, defendeu o mesmo ponto em termos mais robustos em uuma convengio feminista: como eles chamam isso? [“Intelecto' Eles falam com essa coisa na cabega: tem a ver com os direltos sossurrou alguém por perta|£ isso. 0 que isso dos negros e das mulheres? Se o meu copo nao suporta sendo meio litro €o {fe voets um litt, voeésquereriam dizer que ndo me defariam ter minha pequena metade cheia? ‘0 caso contra o racismo e contra o sexismo deve des- E sobre essa base que! te nés podemos chamar cansar. £ de acordo com esse principio que a aitude au “especism’, em analogia com racismo, também tem de ser condenada. Especis- sno-_a palavra no éatrativa, mas nao consigo pensar em melhor termo = é um preconceito ov aitude ou predisposigdo em favor dos interesses de membros {te sua propria espécie e contra os membros de outras espécies. Deve ser dbvio {que as objegdes fundamentais contra o racismo ¢ 0 sexism feitas por Thomas Jefferson ¢ Sojouner Truth se alto grau de inteligéncia ndog iprios fins, como pode isso pe ‘mesmo propsito? Muitos fildsofos ¢ outs Sideracio de interesses, em Bisico. Contudo, nao muitos tanto a membros de outras ipoucos que pensou isso. Ems fqual negros escravos foram tinios britanicos ainda cont fos animais, Bentham escreve Poder chegar 0 di aqueles direitos que dda tirania, Os fran razio pela qual um pricho de um algag mimero de pernas todas razses igual ‘a0 mesmo destino: § culdade da razio os uum eachorro é, em conversivel, do que de idade, Mas supa no é Poder cles Nessa passagem, Bent [earacterstica vital que da de sofrer ~ ou mais estritam Esomente outra caracteris smatemitica. Bentham no nsuperivel” que determin Sscolheram a caracteristi Tnteresses de todos 0s sexe tham nio exclui de consid = como faz aquele que a razio ou da linguagen Simplesmente um pré-rega Satisfeita antes que poss Ser absurdo dizer que nol Acoisacertaafaer 137 Jeferson e Sojouner Truth se aplicam igualmente ao especismo. Se a posse de {Sito grau de inteligéncia nao permite que um humano use outro para seus prs- [pris fins, como pode isso permitir que humanos explorem nao humanos para Smesmo propésito? Muitos filésofos e outros escritores propuseram o principio da igual con- ideracio de interesses, em uma forma ou outra, como um principio moral Bisico. Contudo, nao muitos deles reconheceram que esse principio se aplica Santo a membros de outras espécies quanto @ sua, Jeremy Bentham foi um dos BPoucos que pensow isso. Em uma passagem visionaria escrita em um tempo no Equal negros escravos foram libertados pelos franceses, muito embora nos do- Seinios britinicos ainda continuassem tratados do modo como agora se tratam SSsanimais, Bentham escreveu Poderé chegar o dia em que 0 resto das criaturas animais poderé adquirir Aaqueles direitos que nunca poderiam ter sido retirados deles eno pela mao dda tirania. Os franceses ja descobriram que o negrume da pele nio é uma razao pela qual um ser bumano possa ser abandonado, sem reparos, 80 ca pricho de um algoz, Pode ser que um dia venha a ser reconhecido que 0 nimero de pernas, a velosidade da pele ou aterminacio do os sacrum sejam todas razdes igualmente insuficientes para abandonar uma criatura sensivel 20 mesmo destino, © que mais poderia tracar a linha insuperdvel? Seria a fe culdade da razio ou talvezafaculdade do discurso? Mas um cavalo adulto ou ‘um cachorro é sem comparaglo, um animal mais racional, bem como mais conversivel, do que uma crianga de um dia, uma semana ou mesmo um més de idade, Mas suponha que fosse diferente, qual seria 0 proveito? A questio rio é Podem cls raciacinar? nem Podem eles falar, mas Podem eles sofer? [Nessa passagem, Bentham aponta para a capacidade de sofrer como uma ‘caracteristica vital que dé a um ser 0 direito a igual consideracao. A capacidade Be softer ~ ou mais estritamente, para softer e/ou desfrutar da felicidade ~ nao E-somente outra caracteristca como a capacidade para a linguagem ou a alta Gratemitica. Bentham nio esta a dizer que aqueles que tentam marcar “a linha psuperivel” que determina se 0s interesses de um ser devem ser considerados scolheram a caracteristica errada. Ao dizer que n6s temos de considerar os Tnteresses de todos os seres com capacidade para o sofrimento ou 0 gozo, Ben- tham nio exclui de consideragio, arbitrariamente, nenhum interesse que seja © como faz aquele que estabelece a linha demarcatéria por referéncia & posse 4a rario ou da linguagem. A capacidade para o softimento ou para 0 go20 Simplesmente wn pré-requisito para ter interesse, uma condigdo que tém de ser Satisfeita antes que possamos falar de interesses de um modo significativo. Pode Ser absurdo dizer que nio foi interesse da pedra ser chutada ao longo da estrada 138 James Rachels & Stuart Rachels por um garoto de escola, Uma pedra nao tem interesses porque ela nao pode so: fret. Nada do que nés possamos fazer a ela poders fazer alguma diferenca para seuhem-estar. A capacidade de sofrimento ou de gozo é,no entanto, no somente necesséria, mas suficiente para dizermos que um ser tem interesses ~ um minimo absoluto seria um interesse em nao sofrer. Um camundongo, por exemplo, ter interesse em nao ser chutado na estrada porque ele ird sofrer com isso. ‘Apesar de Bentham falar em “direitos” na passagem que citei, o argumen- to é realmente sobre igualdade em ver de sobre direitos. De fato, em uma pas: sagem diferente, Bentham, reconhecidamente, descreveu os “direitos naturais” ‘como “absurdos” e “direitos naturais e imprescritiveis” como “absurdos sobre pernas de pau’ Ele falava dos direitos morais como uma forma abreviada de se referi As protegdes que pessoas e animais devem ter moralmente, Contudo, 0 peso real do argumento moral nao descansa sobre a assersao da existéncia do direito, pois isso, por seu turno, tem de ser justificado na base das possibilidades para o sofrimento e para a felicidade. Desse modo, podemos defender a igual dade dos animais sem sermos envolvidos em controvérsias filosdficas sobre a natureza tiltima dos direitos. Em tentativas mal conduzidas de refutar os argumentos desse livro, alguns fildsofos tiveram muitos problemas desenvolvendo argumentos para mostrar que 0s animais nao tém direitos. Eles sustentaram que para ter direitos um ser tem de ser auténomo, ou tem de ser membro de uma comunidade, ou deve ter ahabilidade de respeitar os direitos dos outros, ou deve ter um senso de justiga. Essasalegagdes sio irrelevantes para a libertagio dos animais. A linguagem dos direitos é uma simples conveniéncia politica. Fla é ainda mais valiosa na era dos clipes de trinta segundos das noticias de TV do que foi nos dias de Bentham, porém, para 0 argumento que visa uma mudanga radical de nossa atitude em relagio aos animais, ela nao é necesséria. Se um ser sofre, nao pode haver justiicagdo moral para recusar tomar tal sofrimento em consideragao, Nao interessa a natureza do ser, o principio da igualdade requer que seu sofrimento seja contado igualmente em relaglo a so {rimentos semelhantes de qualquer outro ser ~ na medida em que comparagdes aproximadas podem ser feitas. Se um ser nao for capaz de sofrer, ou experimen tar gozo ou felicidade, nao hi nada a ser levado em consideracio. Portanto, 0 limite da sencitncia (usando o termo como uma conveniéncia, muito embora no seja uma abreviagdo acurada para a capacidade de softer e/ou experimentar 070) é tinicafronteira defensével pela consideracio dos interesses dos outros. Marcar essa fronteira por alguma outra caracteristica como inteligéncia ou ra-

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