You are on page 1of 133

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BAURU-CEUB

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO


STRICTU SENSU EM DIREITO

OSWALDO KENJI KOTSUBO

Homeschooling: O desafio da educação domiciliar no Brasil frente à


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

BAURU/SP
2018
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BAURU-CEUB

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO


STRICTU SENSU EM DIREITO

OSWALDO KENJI KOTSUBO

Homeschooling: O desafio da educação domiciliar no Brasil frente à


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Dissertação de Mestrado / Tese de Doutorado,


apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Direito – (Área de Concentração: Sistema
Constitucional de Garantia de Direitos), do Núcleo
de Pós-Graduação do Centro Universitário de
Bauru, para a obtenção do título de Mestre /
Doutor em Direito, sob a orientação do Prof. Dr.
Luiz Nunes Pegoraro.

BAURU/SP
2018
K087 Kotsubo, Oswaldo Kenji
Homeschooling: o desafio da educação domiciliar no
Brasil frente à Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 / Oswaldo Kenji Kotsubo. -- 2018.
133f.
Dissertação (Mestrado) – Instituição Toledo de Ensino,
Centro Universitário de Bauru, Núcleo de Pós Graduação -
Bauru, 2018.
Orient. Prof. Dr.Luiz Nunes Pegoraro.

1. Direito Constitucional – Direitos e garantias


individuais
2; Princípio de vedação . 3. Homeschooling. 4. Educação
Domiciliar. I. Pegoraro, Luiz Nunes. II. Título.
CDD 342.085
OSWALDO KENJI KOTSUBO

Homeschooling: O desafio da educação domiciliar no Brasil frente à


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Dissertação de Mestrado / Tese de Doutorado,


apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Direito – (Área de Concentração: Sistema
Constitucional de Garantia de Direitos), do Núcleo
de Pós-Graduação do Centro Universitário de
Bauru, para a obtenção do título de Mestre /
Doutor em Direito, sob a orientação do Prof. r Dr.
Luiz Nunes Pegoraro.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________

_________________________________

_________________________________

Bauru/SP, ___de ____________de 2018.


Dedicatória

Este trabalho é dedicado á minha


amada esposa Renata e ao meu
querido filho Pedro Yuji que, com
muito carinho, apoio e compreensão,
não mediram esforços para qυе еυ
pudesse concretizar mais esta etapa da
minha vida.
Agradecimentos

Este estudo somente se tornou possível em virtude do auxílio inigualável de


uma série de pessoas, que, cada qual a sua maneira, permitiram o desenvolvimento
das ideias, a realização de pesquisas, a redação do texto e as conclusões finais.

Assim, de início, agradeço à minha esposa Renata, por todos os momentos


de apoio, carinho, companheirismo, compreensão e, principalmente, de paciência,
pelos conselhos e discussões, mesmo nas horas roubadas.

Agradeço ao meu filho, que embora de tenra idade, sempre compreendeu a


importância dos meus estudos, permitindo que as brincadeiras aguardassem a
conclusão dos trabalhos.

À minha família, que apesar da distância, sempre representou um abrigo


seguro e impulsionador dos meus esforços.

Agradeço ao meu querido Professor Orientador Dr. Luiz Nunes Pegoraro, por
ter ajudado a direcionar o presente trabalho até o texto final, sempre contribuindo
com inigualável conhecimento e experiência.

Aos professores Drs. Cláudio José Amaral Bahia, Flávio Luís de Oliveira, José
Roberto Anselmo, Pietro de Jesús Lora Alarcón, Vidal Serrano Nunes Junior, Walter
Claudius Rothenburg, Eliana Franco Neme e Cláudia Manzani Queda de Toledo
que, direta ou indiretamente muito contribuíram através do conhecimento
disponibilizado em sala de aula e em suas obras.

Às colegas de sala, com quem convivi durante os dois anos do curso de


Mestrado e por todas as conversas e atividades curriculares que foram imensamente
produtivas e que, por certo, auxiliaram-me a trilhar este importante caminho.
Ao Escritório JBM Advogados Associados, por meio de seus Sócios Reinaldo
Luis Tadeu Rondina Mandaliti, Rodrigo Tadeu Rondina Mandaliti e Renato Tadeu
Rondina Mandaliti e por meio de sua Diretora Jurídica, Karina de Almeida Batistuci,
que tornaram possível a concretização deste projeto e a todos os colegas do
escritório, cuja colaboração também foi essencial para a conclusão deste trabalho.

Enfim, e a Deus, pela oportunidade, e pelas forças nos momentos difíceis.


RESUMO

O fenômeno da Educação Domiciliar ou Homeschooling embora não seja algo novo


no sistema educacional nacional ou internacional, ressurgiu com grande aceitação
nos Estados Unidos da América a partir da década de 60. Não demorou muito para
que muitas famílias, levados por múltiplos fatores, também optassem pela adoção
da Educação Domiciliar no Brasil. O julgamento do RE 888.815 pelo E. Supremo
Tribunal Federal trouxe um novo desafio à Educação Domiciliar. O objetivo deste
trabalho foi buscar elementos para auxiliar na legalização da Educação Domiciliar no
Brasil, por se tratar de um tema controvertido e que ainda divide opiniões. Para a
elaboração deste trabalho optou-se pelo método exploratório-descritivo, com
abordagem qualitativa, através da análise sistematizada de artigos de periódicos,
dissertações, teses, livros, capítulos de livros e nas principais legislações Brasileiras.
A técnica de análise de conteúdo foi utilizada mediante a construção de categorias
definidas a partir dos objetivos do trabalho. Com base nestas informações elaborou-
se um breve escorço histórico do direito à educação no Brasil, com base nas
Constituições Brasileiras e nas principais Reformas Educacionais. Em seguida
buscou-se a formulação de um conceito de Educação. Para tratar do tema central
buscou-se, a priori, um conceito de Educação Domiciliar, passando pela educação
domiciliar nos Estados Unidos da América e nos principais países ao redor do
mundo, para, em seguida analisar a posição adotada pelo E. Supremo Tribunal
Federal no julgamento do RE 888.815. Ao final, concluiu-se pela necessidade de
construção de uma norma regulamentadora da Educação Domiciliar no Brasil.

Palavras chave: Homeschooling. Direitos Humanos. Direitos Fundamentais. RE


888.815.
ABSTRACT:

The phenomenon of Home Education or Homeschooling, although not something


new in the national or international educational system, has re-emerged with great
acceptance in the United States since the 1960s. It was not long before many
families, led by multiple factors, also opted by the adoption of Home Education in
Brazil. The judgment of RE 888.815 by the E. Supreme Federal Court brought a new
challenge to Home Education. The objective of this work was to find elements to help
in the legalization of Home Education in Brazil, because it is a controversial subject
that still divides opinions. For the elaboration of this work, we opted for the
exploratory-descriptive method, with a qualitative approach, through the
systematized analysis of articles from periodicals, dissertations, theses, books, book
chapters and the main Brazilian legislations. The technique of content analysis was
used by constructing categories defined from the objectives of the work. Based on
this information, a brief history of the right to education was elaborated in Brazil,
based on the Brazilian Constitutions and the main Educational Reforms. Next, we
sought to formulate a concept of Education. In order to deal with the central theme, a
priori, a concept of Home Education, through home education in the United States of
America and in the main countries around the world, was sought to analyze the
position adopted by the E. Supreme Federal Court in the judgment of RE 888.815. At
the end, it was concluded that there is a need to construct a regulation of Home
Education in Brazil.

Keywords: Homeschooling. Human rights. Fundamental rights. RE 888.815.


Homeschooling: O desafio da educação domiciliar no Brasil frente à
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Sumário

1. Introdução .............................................................................................................. 1

2. Comentários à história da educação no Brasil ................................................... 4


2.1. O domínio da educação jesuítica ...................................................................... 5
2.2. O início da educação pública e privada e da nova pedagogia ......................... 7
2.3. O início da pedagogia nova............................................................................. 13
2.4. A pedagogia nova e a atual Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional 18

3. Conceito de Educação ........................................................................................ 23


3.1. Educação como Direito Humano .................................................................... 28
3.2.. Educação como Direito Fundamental ........................................................... 36
3.2.1. Dignidade da pessoa humana...................................................................... 48
3.2.2. Vedação ao retrocesso ................................................................................ 55

4. Homeschooling ou Educação Domiciliar .......................................................... 58


4.1. Homeschooling no Brasil................................................................................. 77
4.2. Análise do Recurso Extraordinário n. 888.815 RG/RS .................................... 88
4.3. Regulação constitucional e legal .................................................................... 95
4.3.1. Proposta de Emenda Constitucional ......................................................... 97
4.3.2. Proposta de Projeto de Lei...................................................................... 100

Conclusão .............................................................................................................. 112

Referências Bibliográficas ................................................................................... 114


1

1. Introdução

Já ouviu falar em Homeschooling, Home Education, Ensino Doméstico,


Ensino Domiciliar, Educação Domiciliar ou Educação Não Formal?

Se a resposta for positiva, então esta leitura pode lhe trazer uma nova visão
sobre o tema. Se, por outro lado, a resposta for negativa, então esta leitura pode lhe
ser muito interessante!!

Não se desconhece que a educação dos filhos começa muito cedo, muito
antes mesmo de as crianças ingressarem no método massificado e tradicional de
educação.

Do primeiro choro até o ingresso em uma escola pública ou privada, as


crianças são, essencialmente, educadas pelos seus pais. É através dos pais que as
crianças aprendem as primeiras formas de comunicação, as primeiras palavras,
letras e números e até mesmo a leitura e a escrita. Por meio desta convivência a
criança aprende também os princípios e os valores que as famílias consideram mais
importantes para a vivência e convivência em sociedade.

Contudo, esta prerrogativa de educação é automaticamente interrompida


quando a criança atinge a idade escolar obrigatória, prevista na Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 e regulamentada pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional.

Por outro lado, inúmeras famílias têm optado por substituir o método
tradicional de educação imposto pelo Estado para adotarem o método de educação
denominado de Homeschooling, Home Education, Ensino Doméstico, Ensino
Domiciliar, Educação Domiciliar ou Educação Não Formal.

Este método de educação é aceito e regulamentado em todos os cinquenta


Estados dos Estados Unidos da América, sendo, atualmente, o país com maior
número de adeptos. Este método também está presente em outros países ao redor
do mundo, porém em números mais reduzidos.
2

Não se trata de um tema novo, mas mantém-se altamente controvertido


perante todos os níveis da sociedade brasileira, destacando-se os profissionais da
educação, do Poder Legislativo, do Poder Executivo e, principalmente do Poder
Judiciário.

Embora o entendimento adotado pelo E. Supremo Tribunal Federal no


julgamento do RE 888.815/RS, não implique na vedação à Educação Domiciliar no
Brasil, trouxe novos desafios para os optantes desta modalidade de educação.

Neste sentido, o presente trabalho justifica-se em razão da necessidade de se


abrir a discussão acerca do tema e de propor possíveis soluções jurídicas/legais.
Objetiva-se desenvolver um estudo com base na origem e na evolução do direito à
educação no Brasil, tanto no âmbito do Direito Interno, quanto no âmbito do Direito
Internacional, com vistas a demonstrar a necessidade de regulamentação do Direito
à Educação Domiciliar no Brasil, para que não haja mais qualquer tipo de
controvérsia ou restrição legal.

Destaca-se ainda o oportunismo do presente trabalho em razão de ter sido


elaborado paralelamente ao trâmite do Recurso Extraordinário de n. 888.815
RG/RS, que havia sido recebido com reconhecimento de repercussão geral e cujo
objetivo era a garantia do acesso ao direito à educação domiciliar.

Assim, propõe-se trazer elementos para a construção de um pensamento


crítico às posições até então vigentes e reiteradamente repetidas no âmbito do
Poder Legislativo, do Poder Executivo e do Poder Judiciário.

Para a elaboração deste trabalho optou-se pelo método exploratório-


descritivo, com abordagem qualitativa, através da análise sistematizada de artigos
de periódicos, dissertações, teses, livros, capítulos de livros e nas principais
legislações Brasileiras.
3

A técnica de análise de conteúdo foi realizada através da consulta e análise


de dezenas de obras literárias, mediante a construção de categorias definidas a
partir dos objetivos do trabalho.

Com base nestas informações o trabalho tem início com um breve escorço
histórico do direito à educação no Brasil, com base nas Constituições Brasileiras e
nas principais Reformas Educacionais. Este capítulo foi dividido em quatro períodos.
Partindo-se do monopólio da educação religiosa jesuítica, evoluindo pela
institucionalização do estudo público e privado no Brasil, passando pela criação da
primeira Lei de Diretrizes Básicas até chegar à concepção pedagógica crítico-
reprodutivista, com a conclusão do processo de regulamentação da nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação, que se deu com a aprovação do Plano Nacional de
Educação.

Em seguida, buscou-se a formulação de um conceito de Educação. Também


se buscou analisar a forma de proteção do direito à educação no direito interno e no
direito internacional.

Para tratar do tema central buscou-se, a priori, um conceito de Educação


Domiciliar, passando pela educação domiciliar nos Estados Unidos da América e
nos principais países ao redor do mundo, para, em seguida analisar a posição
adotada pelo E. Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 888.815.

Ao final, desenvolveu-se soluções jurídicas e legais, especificamente com o


condão de viabilizar a adoção do Homeschooling no Brasil, com base nos Princípios
que regem os Direitos Fundamentais e com base no Direito Internacional, em
especial a Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH e os Pactos
Internacionais de Direitos Humanos em que o Brasil foi signatário.
4

2. Comentários à história da educação no Brasil

A educação no Brasil passou por diversas fases e metodologias de ensino,


desde a chegada de Pedro Alvares Cabral até a promulgação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação.

De acordo com a historiografia apresentada por Dermeval Saviani (2013, p.


19), a educação no Brasil pode ser dividida em quatro períodos. O Primeiro período,
compreendido entre os anos de 1549 ao ano de 1759, é caracterizado pelo
monopólio da educação religiosa jesuítica. O segundo período, compreendido entre
os anos de 1759 ao ano de 1932, é marcado pela institucionalização do estudo
público e privado no Brasil e por diversas reformas educacionais. O terceiro período,
compreendido entre os anos de 1932 ao ano de 1969, é marcado pela criação da
primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O quarto e último período
é marcado pela configuração da concepção pedagógica crítico-reprodutivista, onde
há o predomínio da pedagogia tecnicista. Tem início em 1969 e se entende até
2001, com a conclusão do processo de regulamentação da nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, que se deu com a aprovação do Plano Nacional de Educação.

Destaca-se que, embora historicamente a educação no Brasil tenha início no


ano de 1500, com a chegada de um grupo de oito missionários franciscanos
juntamente com a esquadra de Pedro Alvares Cabral (SAVIANI, 2013, p. 39) adota-
se como marco inicial da educação no Brasil a chegada Companhia de Jesus1,
comandada pelo Padre Manoel da Nóbrega2, em razão da influência exercida pelos
jesuítas no campo da educação.

Cumpre observar ainda que a adoção da classificação apresentada por


Saviani se justifica em razão dos propósitos e fins do presente trabalho, o que não
exclui outras formas de periodização e classificação.

1
A Companhia de Jesus, também conhecida como Ordem dos Jesuítas, foi fundada pelo basco
Inácio de Loyola e aprovada oficialmente pelo Papa Paulo III, em 27 de setembro de 1540. Disponível
em: http://www.jesuitasbrasil.com/newportal/institucional/quem-somos/>. Acesso em: 19/12/2017.
2
Manoel da Nóbrega nasceu na região do Minho, em Portugal, em 1517. Estudou nas universidades
de Salamanca e Coimbra. Entrou para a Companhia de Jesus em 1544. Em 1552 saiu da Bahia e
veio para São Paulo, onde fundou o Colégio São Paulo na aldeia de Piratininga, a futura cidade de S.
Paulo. Faleceu no Rio de Janeiro em 1570. (GHIRALDELLI JR, 2001, p. 13).
5

2.1. O domínio da educação jesuítica

O primeiro período (1549/1759) é marcado pelo monopólio da educação


religiosa jesuítica. Tem efetivo início no ano de 1549, com a chegada do governador
Geral do Brasil Tomé de Souza3, acompanhado de quatro padres e dois irmãos
chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega.

A missão confiada ao padre Manuel da Nóbrega, pelo então Rei de Portugal,


Dom João III, consistia na conversão dos gentios, que eram todos aqueles que não
eram judeus, à fé católica através da catequização (SAVIANI, 2013, p. 25).

[...] 23 - Porque a principal cousa que me moveu a mandar povoar as ditas


terras do Brasil, foi para que a gente delas se convertesse à nossa Santa Fé
Católica, vos encomendo muito que pratiqueis com os ditos Capitães e
Oficiais a melhor maneira que para isso se pode ter; e de minha parte lhes
direis que lhes agradecerei muito terem especial cuidado de os provocar a
serem Cristãos; e, para eles mais folgarem de o ser, tratem bem todos os
que forem de paz, e os favoreçam sempre, e não consintam que lhes seja
feita opressão, nem agravo algum; e, fazendo-se-lhes, lho façam corrigir e
emendar, de maneira que fiquem satisfeitos, e as pessoas que lhos fizerem,
sejam castigados como for justiça. (REI DOM JOÃO III, 1548, p. 5)

Para atingir seu objetivo, criou escolas de ler e escrever e também elaborou
um plano educacional diferenciado.

O plano iniciava-se pelo aprendizado do português (para os indígenas);


prosseguia com a doutrina cristã, a escola de ler e escrever e,
opcionalmente, canto orfeônico e musica instrumental; e culminava, de um
lado, com o aprendizado profissional e agrícola e, de outro lado, com a
gramatica latina para aqueles que se destinavam à realização de estudos
superiores na Europa (Universidade de Coimbra). (SAVIANI, 2013, p. 43)

No ano de 1551, transformou a escola de ler e escrever no Colégio dos


Meninos de Jesus, sendo que, entre os anos de 1553 a 1570, fundou outros
colégios, dentre os quais se destacam os de Pernambuco, de Ilhéus, de Porto
Seguro, do Espírito Santo, do Rio de Janeiro, de São Vicente e de São Paulo de
Piratininga (SAVIANI, 2013, p. 97).

3
Tomé de Sousa nasceu na freguesia de Rates, em Portugal, em 1503. Militar e político português.
Como Primeiro Governador Geral do Brasil fundou a cidade de Salvador/BA, instalou o sistema
administrativo-político conhecido como governo geral. Distribuiu as capitanias hereditárias. Faleceu
em Lisboa, Portugal, em 1579. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/tome_de_sousa/>.
Acesso em 30/12/2017.
6

O modelo de educação criado por Nóbrega se estendeu até o ano de 1599,


quando a Companhia de Jesus finalmente publicou a versão definitiva da Ratio
Atque Institutio Studiorum Societatis Jesu, mais conhecido como “Ratio Studiorum”
ou Plano de Estudos da Companhia de Jesus, que representa o primeiro método
organizado de educação católica.

O código era composto por 467 regras, distribuídas em Regras do provincial;


Regras do reitor; Regras do prefeito de estudos superiores; Regras comuns a todos
os professores das faculdades superiores; Regras particulares dos professores das
faculdades superiores; Regras dos professores de filosofia; Regras do prefeito de
estudos inferiores; Regras dos exames escritos; Normas para a distribuição de
prêmios; Regras comuns aos professores das classes inferiores; Regras particulares
dos professores das classes inferiores; Regras dos estudantes da Companhia;
Regras dos que repetem a teologia; Regras do bedel; Regras dos estudantes
externos e Regras das academias.

Segundo Saviani (2013, p. 56), o Ratio possuía caráter universalista e elitista.


Universalista porque de adoção obrigatória por todos os jesuítas e, elitista porque
destinado à criação de uma elite colonial. E continua o autor:

[...] os Cursos de Filosofia e Teologia eram, na prática, limitados à formação


dos padres catequistas. Portanto, o que de fato se organizou no período
colonial foi o curso de humanidades (estudos inferiores), que tinha a
duração de seis a sete anos e cujo conteúdo reeditava o Trivium da Idade
Média, isto é, a gramatica (quatro a cinco séries). (SAVIANI, 2013, p. 56).

Nota-se, portanto, que neste período, a educação no Brasil se restringiu a


educação religiosa nas escolas de ler e escrever e nos colégios.

Este modelo educacional predominou até a expedição do Alvará datado de 28


de junho de 1759, por meio do qual “determinou-se o fechamento dos colégios
jesuítas introduzindo-se as aulas régias a serem mantidas pela Coroa” (SAVIANI,
2013, p. 82).
7

2.2. O início da educação pública e privada e da nova pedagogia

O Segundo período (1759/1932), é marcado por diversas reformas no campo


da educação.

Tem início com a denominada reforma Pombalina, por meio do qual o


Marques de Pombal4, influenciado pelas ideias iluministas promoveu, dentre outras
reformas, a dos estudos menores, referente ao ensino secundário, instituindo o
ensino público e as aulas de gramática latina, de grego e de retórica, as
denominadas aulas régias (SAVIANI, 2013, p. 82/88); a do ensino superior junto à
Universidade de Coimbra, acrescentando às faculdades tradicionais de Teologia,
Cânones, Direito e Medicina, as faculdades de Filosofia e de Matemática (SAVIANI,
2013, p. 90/91) e a dos estudos menores, referentes às primeiras letras, onde
instituiu o ensino privado ministrado por mestres nas próprias casas dos discípulos
(SAVIANI, 2013, p. 95).

[...]VII. Item Ordeno: Que aos particulares, que puderem ter Mestres para
seus filhos dentro nas proprias casas, como costuma succeder, seja
permittido usarem da dita liberdade; pois que dahi não resultará prejuizo á
Literatura, quando, como os mais, devem ser examinados, antes de
entrarem nos Estudos Maiores. (REI DOM JOÃO I, 1772. p. 4)

As reformas prosseguem com a vinda da Família Real Portuguesa, no ano de


1808, transferindo para o Rio de Janeiro a sede do reino português. Fato este que
provocou a criação da Academia Real de Marinha e do curso de Medicina e Cirurgia
no Rio de Janeiro (1808); da Academia Real Militar (1810); da escola de
serralheiros, oficiais de lima e espingardeiros em Minas Gerais; da escola de
agricultura e de estudos botânicos na Bahia e do laboratório de química no Rio de
Janeiro (1812); da escola de agricultura no Rio de Janeiro (1814); do curso de
química, que englobava as aulas de química industrial, geologia e mineralogia na
Bahia (1817) e do curso de desenho técnico na Bahia (1818) (SAVIANI, 2013, p.
113).

4
Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e, em seguida, transformado em Marquês de
Pombal (1699-1782), foi Primeiro Ministro de D. Jose I. Marcou o século XVIII e o absolutismo régio
através de uma política de concentração de poder com o objetivo de restabelecer a economia
nacional e resistir à forte dependência desta relativamente à Inglaterra. (GHIRALDELLI JR, 2001, p.
14)
8

Em continuidade às mudanças já realizadas, após a proclamação da


Independência do Brasil (07 de setembro de 1822), D. Pedro I outorga a primeira
Constituição do Império do Brasil, no qual consagra a educação primária e gratuita
como um direito subjetivo constitucional, porém, garantido apenas aos cidadãos
brasileiros (25 de março de 1824) (SAVIANI, 2013, p. 123).

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos


Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a
propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira
seguinte.
(...)
XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos.
XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos
das Sciencias, Bellas Letras, e Artes.

Visando a regulamentação do ensino público, em 15 de outubro de 1827, é


aprovada a Lei Geral de Ensino Elementar, que determina a criação de Escolas de
Primeiras Letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos e a criação de
escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas, com a utilização do método
de ensino mútuo5 para ambas as escolas.

No mesmo ano, por meio da Lei de 11 de agosto, são criados os primeiros


cursos jurídicos no Brasil ou Academias de Direito, um com sede em São Paulo e
outro em Olinda.

O curso de São Paulo foi instalado no Convento de São Francisco, em


março de 1828; o de Olinda no Mosteiro de São Bento, em maio desse
mesmo ano. Em 1854 passaram a denominar-se Faculdades de Direito e o
curso de Olinda foi transferido para Recife. (TOLEDO, 2008, p. 23)

Adentrando ao governo de D. Pedro II, a primeira reforma realizada é a


denominada Reforma Couto Ferraz6, que na qualidade de Ministro do Império baixou

5
O ensino mútuo, também chamado de monitorial ou lancasteriano, baseava-se no aproveitamento
dos alunos mais adiantados como auxiliares do professor no ensino de classes numerosas.
(SAVIANI, 2013, p. 128)
6
Luís Pedreira do Couto Ferraz, Visconde do Bom Retiro, nasceu no dia 7 de maio de 1818 no Rio de
Janeiro. Foi Ministro no período Imperial. Foi o responsável pela metodização e oficialização do
ensino primário, reforma do ensino secundário, das escolas de medicina, o conservatório de música,
a academia de belas artes, e criador do Imperial Instituto dos Cegos. Faleceu em 12 de agosto de
1886, no Rio de Janeiro. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Pedreira_do_Couto_Ferraz>. Acesso em 30/12/2017.
9

o Decreto n. 1331-A de 17 de fevereiro de 1854, que aprovou o Regulamento para a


reforma do ensino primário e secundário do Município da Corte, o qual buscava
alcançar a instrução pública provincial.

A principal característica desta norma é a obrigatoriedade da frequência


escolar de meninos maiores de sete anos.

Do ângulo das finalidades da escola, absorvia a noção iluminista do


derramamento das luzes por todos os habitantes do país, O que trazia como
corolário: obrigatoriedade aos “pais, tutores, curadores ou protetores que
tiverem em sua companhia meninos maiores de 7 anos” de garantirem “o
ensino pelo menos de primeiro grau” (artigo 64), implicando, por
consequência, a obrigatoriedade, para as crianças, de frequência às
escolas. (SAVIANI, 2013. p.132)

A segunda reforma realizada no governo de D. Pedro II é a denominada


Reforma Leôncio de Carvalho7, que na qualidade de Ministro do Império, baixou o
Decreto n. 7247 de 19 de abril de 1879, que reformou o ensino primário, secundário
e superior no município da Corte. Sua principal característica é a instituição do
ensino livre e do método de ensino seriado e simultâneo, em contraposição ao
método de ensino mútuo (SAVIANI, 2013, p. 134).

A passagem do Império para a República representou, na área da educação,


um grande retrocesso aos direitos e garantias dos cidadãos brasileiros. Isto por que
a primeira Constituição Republicana tratou a educação de forma bastante modesta,
pois não garantiu mais o acesso livre e gratuito ao ensino. Por outro lado, ela lançou
as bases para a descentralização da educação, passando a responsabilidade pelo
ensino primário aos estados e a responsabilidade do ensino secundário e superior à
União.

Art. 35 - Incumbe, outrossim, ao Congresso, mas não privativamente:


1º) velar na guarda da Constituição e das leis e providenciar sobre as
necessidades de caráter federal;
2º) animar no Pais o desenvolvimento das letras, artes e ciências, bem
como a imigração, a agricultura, a indústria e comércio, sem privilégios que
tolham a ação dos Governos locais;
3º) criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados;

7
Carlos Leôncio da Silva Carvalho nasceu no dia 18 de julho de 1847, na cidade de Iguaçu, no Rio
de Janeiro. Foi Ministro no Período Imperial. Foi o responsável pela introdução do ensino e da
frequência livre. Faleceu a 9 de fevereiro de 1912. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Le%C3%B4ncio_da_Silva_Carvalho>. Acesso em 30/12/2017.
10

4º) prover a instrução secundária no Distrito Federal.

No governo provisório do Presidente Manoel Deodoro da Fonseca8, a reforma


idealizada por Benjamin Constant9 (Decreto n. 981 de 08 de novembro de 1890),
promoveu a reforma da educação primária e secundária do Distrito Federal e do
ensino superior, artístico e técnico, em todo o País. Dentre as principais inovações
estava a substituição da predominância literária pela científica, a criação do exame
de madureza para o acesso ao ensino secundário (RIBEIRO, 1992, p. 69) e a
criação do ensino seriado nas escolas normais.

§ 3º As disciplinas que constituem o programma das Escolas Normaes


serão divididas em series, conforme a ordem logica de sua successão, e
para o respectivo ensino haverá em cada escola o numero de Professores,
substitutos e mestres que o Governo entender necessario.

Ainda de acordo com Ribeiro (1992, p. 67), “a reforma Benjamin Constant


tinha como princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como também
a gratuidade da escola primaria”.

Já no governo do Presidente Campos Salles10, a reforma idealizada por


Epitácio Pessoa11 em 1901, então Ministro do Interior (Justiça e Educação) resultou
na elaboração de uma lei Orgânica do Ensino que ficou conhecida como Código
Epitácio Pessoa (SAVIANI, 2013, p. 169) e promoveu a reforma do ensino superior e
secundário. Sua principal característica foi a equiparação “das escolas privadas às
oficiais, mediante rigorosa inspeção dos currículos e o fim à liberdade de frequência,
que havia sido instituída em 1879 por Leôncio de Carvalho” (SAVIANI, 2013, p. 169).

8
Marechal Deodoro da Fonseca nasceu no dia 5 de agosto de 1827, em Alagoas, hoje Deodoro, no
Estado de Alagoas. Filho do vereador e militar Manuel Mendes da Fonseca e de Rosa Maria Paulina
da Fonseca. Foi o primeiro Presidente da República do Brasil. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 23
de outubro de 1892. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/deodoro_fonseca/>. Acesso em
30/12/2017.
9
Benjamin Constant nasceu no dia 18 de outubro de 1833, em São Lourenço, Niterói, Rio de Janeiro.
Filho do português Leopoldo Henrique Botelho de Magalhães, primeiro-tenente em Portugal, e de
Bernardina Joaquina da Silva Guimarães. Foi Ministro da Guerra do Governo Provisório e General-
de-brigada. Faleceu no dia 18 de janeiro de 1891, em Jurujuba, Niterói, Rio de Janeiro. Disponível
em: <https://www.ebiografia.com/benjamin_constant/>. Acesso em 30/12/2017.
10
Campos Sales nasceu no dia 15 de fevereiro de 1841, em Campinas, São Paulo. Em 1998, foi
eleito Presidente da República. Faleceu em Santos, São Paulo, no dia 28 de junho de 1913.
Disponível em: <https://www.ebiografia.com/campos_sales/>. Acesso em 30/12/2017.
11
Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa nasceu no dia 23 de maio de 1865, em Umbuzeiro, Paraíba, Foi
Ministro da Justiça no governo do Presidente Campos Sales. Foi eleito Presidente da República em
1919. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de fevereiro de 1942. Disponível em:
<https://www.ebiografia.com/epitacio_pessoa/>. Acesso em 30/12/2017.
11

Seguindo-se às reformas, no governo do Presidente Hermes da Fonseca12, o


então Ministro da Justiça, Rivadávia Corrêa13, promove outra reforma no ensino
superior e no ensino fundamental. Nesta reforma, as escolas e as universidades são
desoficializadas, passando a ser tratadas como corporações autônomas, tanto do
ponto de vista didático, quanto do administrativo (art. 2º). Esta reforma também
excluiu a obrigatoriedade de frequência escolar e o exame de madureza. Portanto,
no governo do Presidente Hermes da Fonseca garantiu-se o direito à Educação
Domiciliar.

Porém, com o ingresso de Carlos Maximiliano14, uma nova reforma foi


instituída em 1915, por meio da qual o ensino secundário e o ensino superior foram
reorganizados. Nesta nova reforma, o ensino voltou a ser mantido pelo Governo
Federal, ou seja, foi reoficializado, e foi “introduzido o exame vestibular para
ingresso no ensino superior público a ser realizado nas próprias faculdades,
podendo a ele submeterem-se apenas os candidatos que dispusessem de diploma
de conclusão do curso secundário. Com isso tornou bem mais difícil o ingresso no
ensino superior” (SAVIANI, 2013, p. 170).

Segundo Palma Filho apud SILVA, (2010, p. 5), a reforma idealizada por
Carlos Maximiliano foi considerada a mais inteligente em toda a primeira República,
pois procurou manter o que era de melhor das reformas anteriores.

12
Hermes da Fonseca nasceu no dia 12 de maio de 1855, em São Gabriel, no Rio Grande do Sul.
Sobrinho do Marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente da República. Foi eleito Presidente
da República em 1910. Seu governo foi marcado por várias rebeliões políticas e sociais. Faleceu em
Petrópolis, no Rio de Janeiro, no dia 9 de setembro de 1923. Disponível em:
<https://www.ebiografia.com/hermes_da_fonseca/> Acesso em 30/12/2017.
13
Rivadávia da Cunha Correia nasceu no dia 9 de julho de 1866, em Santana do Livramento, no Rio
Grande do Sul. Filho de José Bento Correia e de Ana da Cunha Correia. Foi ministro da Fazenda no
governo de Hermes da Fonseca. É o criador do exame vestibular. Faleceu em Petropolis, no Rio de
Janeiro, no dia 9 de fevereiro de 1920. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Rivad%C3%A1via_da_Cunha_Correia>. Acesso em 30/12/2017.
14
Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, filho de Acelino do Carmo Pereira dos Santos e de D. Rita
de Cassia Pereira dos Santos, nasceu em 24 de abril de 1873, em São Jerônimo, província do Rio
Grande do Sul. Foi Ministro no governo de Wenceslau Braz. Convidado pelo Dr. Getúlio Vargas
aceitou o cargo de Ministro da Corte Suprema, sendo nomeado em decreto de 22 de abril de 1936.
Faleceu em 2 de janeiro de 1960, na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=230>. Acesso em 30/12/2017.
12

A última reforma no âmbito federal promovido na primeira república foi a


idealizada pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores, João Luiz Alves15, no
governo Artur Bernardes16. Foi o responsável pela edição do Decreto n. 16782 A –
de 13 de Janeiro de 1925, que estabeleceu o concurso da União para a difusão do
ensino primário, organizou o Departamento Nacional do Ensino e reformou o ensino
secundário. Dentre as principais características, está a “introdução do regime
seriado no ensino secundário” (SAVIANI, 2013, p. 170).

O ponto de destaque deste período, que se encerra com a Revolução de


1930, onde resultou na derrubada do governo de Washington Luiz, é a existência da
primeira Constituição Republicana, a Constituição da República dos Estados Unidos
do Brasil de 24 de fevereiro de 1891, que não mais garantia o acesso à educação
pública e gratuita e por duas reformas educacionais, a última no governo do
Presidente Hermes da Fonseca, que estabeleceu o estudo livre, ou seja, aquele
onde o ensino é realizado dentro das próprias casas dos discípulos.

15
João Luiz Alves, filho de João Luiz Alves e de D. Bárbara Horta Barbosa Alves, nasceu em 23 de
maio de 1870, na cidade de Juiz de Fora, província de Minas Gerais. Foi Ministro no governo de Artur
Bernardes. Em decreto de 8 de dezembro de 1924, foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal
Federal. Faleceu em Paris, no dia 15 de novembro de 1925. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=143>. Acesso em 30/12/2017.
16
Artur Bernardes nasceu no dia 8 de agosto de 1875, em Viçosa, Minas Gerais. Filho de Antônio da
Silva Bernardes e Maria da Silva Bernardes. Foi eleito Presidente em 1922. Faleceu no Rio de
Janeiro, no dia 23 de março de 1955. Disponível em: https://www.ebiografia.com/artur_bernardes/>.
Acesso em 30/12/2017.
13

2.3. O início da pedagogia nova

O terceiro período, que vai de 1932 a 1969, é dominado pela denominada


“Pedagogia Nova”, que questiona os métodos empregados pela pedagogia
tradicional, sugerindo uma nova abordagem, onde o professor seja apenas o
facilitador, e também por várias reformas no sistema educacional.

Tem início no Governo provisório de Getúlio Vargas17 após a nomeação de


Francisco Campos18 para ocupar a pasta de Ministro da Educação e da Saúde
Pública. Nesta qualidade, foi o responsável pela edição de sete Decretos que
ficaram conhecidos como Reforma Francisco Campos. Dentre as principais
inovações podemos destacar a criação do Conselho Nacional de Educação (Decreto
n. 19850 de 11 de abril de 1931); a reorganização do ensino superior (Decreto n.
19851 11 de abril de 1931); a reorganização da Universidade do Rio de Janeiro
(Decreto n. 19852 de 11 de abril de 1931); a reforma do ensino secundário (Decreto
n. 19890 de 18 de abril de 1931) e o restabelecimento do ensino religioso (Decreto
n. 19941 de 30 de abril de 1931) (SAVIANI, 2013, p. 195/196).

O fracasso da primeira Conferência Nacional de Educação, que buscava a


elaboração de diretrizes para um projeto educacional, resultou na publicação de um
documento que ficou conhecido como o “Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova”. O documento, que foi redigido por vários intelectuais da época, tratava-se de
uma crítica em relação à situação em que a educação se encontrava após todas as
reformas já realizadas, e também de uma reivindicação por “mudanças totais e
profundas na estrutura do ensino brasileiro em consonância com as novas
necessidades do desenvolvimento da época” (ROMANELLI, 1986, p. 150).
17
Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja (RS) no dia 19 de abril de 1882, filho de Manuel do
Nascimento Vargas e de Cândida Dornelles Vargas. Derrotado na eleição para o qual foi candidato a
presidente, comandou a “Revolução de 1930”, que derrubou o presidente Washington Luís e impediu
a posse de sucessor legal, Júlio Prestes, de quem havia acabado de perder as eleições. Fica no
poder entre 1930 a 1945 e entre 1951 a 1954. Getúlio Varga morreu no Rio de Janeiro, com um tiro
no peito na madrugada de 24 de agosto de 1954, dentro do Palácio do Catete. Disponível em:
<https://www.ebiografia.com/getulio_vargas/>. Acesso em 0101/2018.
18
Francisco Luís da Silva Campos nasceu no dia 18 de novembro de 1891, na cidade de Dores do
Indaiá em Minas Gerais. Foi nomeado Ministro da Educação e Saúde Pública no governo provisório
do Presidente Getúlio Vargas. Foi o responsável pela redação da Constituição brasileira de 1937, do
AI-1 do golpe de 1964 e dos códigos Penal e Processual Penal brasileiros. Faleceu em Belo
Horizonte no dia 1 de novembro de 1968. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Campos>. Acesso em 01/01/2018.
14

Ao final do governo provisório de Getúlio Vargas em 16 de julho de 1934 é


promulgada a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, onde, pela
primeira vez na história, a Constituição reserva um capítulo inteiro para tratar da
educação. O artigo 149 textualmente estabelece que a educação deve ser
ministrada pela família e pelos Poderes Públicos. Mante-se, assim, a tradição do
período Monárquico. Outras inovações trazidas são: a criação do Conselho Nacional
de Educação (CNE); de um Plano Nacional de Educação (PNE); a reforma do
ensino primário (integral; obrigatoriedade de frequência e gratuito); a instituição do
ensino religioso facultativo e o estímulo à educação eugênica19.

Francisco Campos, também foi o responsável pela redação da Constituição


dos Estados Unidos do Brasil de 1937 que instituiu o Estado Novo (SAVIANI, 2013,
p. 197).

No capítulo destinado à educação, estabeleceu que a educação integral da


prole é o primeiro dever e o direito natural dos pais. A este respeito destaca
Romanelli (1986, p. 153) que, “aquilo que na Constituição de 1934 era um dever do
Estado passa, na Constituição de 1937, a uma ação meramente supletiva.”

Embora esta Constituição também tenha mantido um capítulo reservado à


educação, excluiu do Estado a exigência de criação de um Plano Nacional de
Educação (PNE) e tornou a educação profissionalizante a prioridade do Estado (art.
129).

Com a saída de Francisco Campos, Gustavo Capanema Filho20 assume o


Ministério da Educação e da Saúde. Nesta qualidade, é responsável pela criação do
SENAI (Decreto-lei n. 4048 de 22 de janeiro de 1942) e das Leis Orgânicas do

19
Francis Galton definiu eugenia como “o estudo dos fatores físicos e mentais socialmente
controláveis, que poderiam alterar para pior ou para melhor as qualidades racionais, visando ao bem-
estar da espécie”’. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n2/v14n2a15.pdf>. Acesso em
12/01/2018.
20
Gustavo Capanema Filho nasceu em 10 de agosto de 1900 em Pitangui/MG. Filho de Gustavo
Xavier da Silva Capanema e Marcelina Júlia de Freitas Capanema. Iniciou sua vida política em 1927,
como vereador de Pitangui. Foi Ministro da Educação e Saúde no Governo de Getúlio Vargas.
Faleceu em 10 de março de 1985, no Rio de Janeiro/RJ. Disponível em:
http://mg.gov.br/governador/gustavo-capanema-filho>. Acesso em: 12/01/2018.
15

Ensino Industrial (Decreto–lei n. 4073 de 30 de janeiro de 1942); do Ensino


Secundário (Decreto-lei n. 4244 de 09 de abril de 1942) e do Ensino Comercial
(Decreto-lei n. 6141 de 28 de dezembro de 1943).

21
Após a deposição de Getúlio Vargas, José Linhares , na qualidade de
presidente do Supremo Tribunal Federal, assume a presidência da república e
finaliza a reorganização do ensino no Brasil com a edição das Leis Orgânicas do
Ensino: Primário (Decreto-lei n. 8529 de 02 de janeiro de 1946); Normal (Decreto-lei
n. 8530 de 02 de janeiro de 1946) e do Agrário (Decreto-lei n. 9613 de 20 de agosto
de 1946). Também é responsável pela criação do SENAC (Decretos-leis n. 8621 e n.
8622, ambos de 10 de janeiro de 1946).

Com o retorno da Democracia, o General Eurico Gaspar Dutra22 é eleito


Presidente do Brasil e em 18 de setembro de 1946 é promulgada a Constituição dos
Estados Unidos do Brasil. Dentre as principais inovações está a introdução da
educação domiciliar como um direito constitucionalmente garantido.

CAPÍTULO II
Da Educação e da Cultura
Art. 166 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola.
Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana.

Para atender ao disposto no art. 5º, inc. XV, alínea “d”, que estabeleceu à
União a competência para legislar sobre a diretrizes e bases da educação nacional,

21
José Linhares nasceu no dia 28 de janeiro de 1886, na fazenda Sinimbu, distrito de Guaramiranga,
município de Baturité, província do Ceará. Filho do Coronel Francisco Alves Linhares e D. Josefa
Caracas Linhares. Em decreto de 16 de dezembro de 1937, foi nomeado Ministro do Supremo
Tribunal Federal. Com a deposição de Getúlio Vargas, assumiu a Presidência da República em 30 de
outubro de 1945, permanecendo no cargo até 31 de janeiro de 1946. Faleceu em 26 de janeiro de
1957, na cidade de Caxambu, Minas Gerais. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=147>. Acesso em 22/01/2018.
22
Eurico Gaspar Dutra nasceu no dia 18 de maio de 1883, em Cuiabá, Mato Grosso. Filho de José
Florêncio, comerciante e ex-combatente na Guerra do Paraguai, e de Maria Justina Dutra. No dia 2
de dezembro de 1945, é eleito Presidente do Brasil (1946 e 1951). É responsável pela promulgação
da Constituição Federal de 1946. Faleceu no dia 11 de junho de 1974, no Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro. Disponível em: https://www.ebiografia.com/eurico_gaspar_dutra/>. Acesso em 12/01/2018.
16

o Ministro da Educação e Saúde, Clemente Mariani23, constituiu uma Comissão para


elaborar o anteprojeto da Lei de Diretrizes Básicas da Educação.

Sob a presidência de Lourenço Filho, foram constituídas três subcomissões:


do ensino primário, tendo como presidente Almeida Júnior e integrada por
Carneiro Leão, Teixeira de Freita, Celso Kelly e Coronel Agrícola da
Câmara Lobo Bethlem; do ensino médio, com Fernando de Azevedo
(presidente), Alceu Amoroso Lima, Artur Filho, Joaquim Faria Goes e Maria
Junqueira Schmidt; do ensino superior, com a participação de Pedro
Calmon (presidente, além de vice-presidente da Comissão Geral), Cesário
de Andrade, Mário Paulo de Brito, padre Leonel Franca e Levi Fernandes
Carneiro. Fernando de Azevedo não pôde assumir, mas contribuiu de forma
decisiva, elaborando o esboço preliminar do projeto juntamente com
Almeida Júnior. Anísio Teixeira, também convidado, não pôde integrar a
Comissão, mas colaborou com sugestões. (SAVIANI, 2013, p. 281/282)

Embora encaminhada à Presidência da República em 29 de outubro de 1948


o parecer preliminar foi arquivado e somente voltou à votação pelo Plenário da
Câmara em 29 de maio de 1957, (SAVIANI, 2013, p. 284) vindo a ser publicada
somente em 20 de dezembro de 1961 (Lei n. 4024).

A Lei de Diretrizes Básicas (LBD) estabeleceu o ensino pré-primário:


composto de escolas maternais e jardins de infância; ensino primário: obrigatório e
presencial a partir dos sete anos de idade; ensino médio: dividido em dois ciclos,
(ginasial e colegial) e ensino superior com a mesma estrutura já aplicada. Também
criou o Conselho Federal de Educação, o qual foi o responsável pela elaboração do
Plano Nacional de Educação (PNE) previsto no parágrafo 2° do artigo 92 da LDB.

No artigo segundo do Titulo II, ao tratar do direito à educação, a LDB repetiu a


primeira parte do texto expresso no artigo 166 da Constituição dos Estados Unidos
do Brasil, confirmando o direito fundamental da educação domiciliar.

Art. 2º A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola.


Parágrafo único. À família cabe escolher o gênero de educação que deve
dar a seus filhos.

23
Clemente Mariani Bittencourt nasceu no dia 28 de setembro de 1900 em Salvador, Bahia. Filho de
Pedro Ribeiro de Araújo Bittencourt e de Ana Clemente Mariani Bittencourt. Foi Ministro da Educação
e da Saúde no Governo do General Eurico Gaspar Dutra. Faleceu no dia 13 de agosto de 1981 em
Salvador, Bahia. Disponível em:
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/biografias/clemente_mariani>. Acesso em
12/01/2018.
17

Embora a elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE), a cargo


Conselho Nacional de Educação (CNE), estivesse previsto desde a Constituição de
1937, ela somente foi entregue em 12 de fevereiro de 1962.

Na vigência da lei, a primeira providência tomada foi a instalação do


Conselho Federal de Educação (CFE), o que ocorreu em fevereiro de 1962.
Para a composição do órgão, contou-se com a “clarividência de Anísio
Teixeira", conforme depoimento de Newton Sucupira. Também foi Anísio
quem cuidou, ainda em 1962, da elaboração do Plano Nacional de
Educação previsto no parágrafo 2° do artigo 92 da LDB. O Plano por ele
proposto foi aprovado pelo CFE em 12 de setembro de 1962 e homologado
pelo ministro Darcy Ri beiro em 21 do mesmo mês. (SAVIANI, 2013, p. 305)

De acordo com Romanelli (1986, p. 185/186), o Plano Nacional de Educação


(PNE) estabelecia apenas metas quantitativas e qualitativas para o período de 1962
a 1970. Destaca que dentre as metas estabelecidas estava a escolarização de 100%
da população da faixa etária de 7 a 14 anos, no ensino primário e nas duas
primeiras séries ginasiais, e de 50% da população de 13 a 15 anos, nas duas
últimas do ginásio, bem como 30% de escolarização para a faixa etária de 15 a 18
anos, nas séries colegiais. Destaca ainda que o Plano foi revisto em 1965 e 1966,
porém, manteve as mesmas metas.

Com o golpe de 1964 é restaurado o Regime Militar no Brasil, sendo que em


24 de Janeiro de 1967, é promulgada a Constituição da República Federativa do
Brasil onde se manteve a educação domiciliar como um direito constitucionalmente
garantido.

Art. 168 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola;


assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da
unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana.

Este período, que também foi marcado por grandes mudanças no campo da
educação, se estendeu até a edição da Lei n. 5540 de 28 de novembro de 1968, que
trata da reforma universitária. Nota-se que a principal característica desta fase é a
reafirmação do Direito Fundamental à Educação Domiciliar em todas as
Constituições do período analisado, ou seja, de 1934, 1937, 1946 e 1967.
18

2.4. A pedagogia nova e a atual Lei de Diretrizes Básicas da Educação

O quarto e último período é marcado pela configuração da concepção


pedagógica crítico-reprodutivista, onde há o predomínio da pedagogia tecnicista.
Tem inicio com a promulgação da Lei n. 5540 de 28 de novembro de 1968 que
promoveu a Reforma Universitária. Dentre as principais alterações estava
indissociabilidade do ensino superior da pesquisa e a sua concentração, nas
universidades e somente excepcionalmente em estabelecimentos isolados; a criação
de conselhos curadores nas universidades, com a finalidade de fiscalização
econômico-financeira; a especificação dos cursos a serem ministrados nas
universidades (graduação, pós-graduação, especialização e aperfeiçoamento e de
extensão).

De acordo com Saviani (2013, p. 373/374), este projeto pretendia responder a


duas exigências contraditórias: a primeira relacionada à demanda dos jovens
estudantes ou postulantes a estudantes universitários e dos professores e a
segunda relacionada à demanda dos grupos ligados ao regime instalado com o
golpe de 1964.

Em continuidade à implantação do ensino tecnicista, no governo do


Presidente Emilio G. Médici24 é promulgada a Lei n. 5692 de 11 de agosto de 1971,
que alterou a Lei n. 4024 de 20 de dezembro de 1961 e instituiu as novas diretrizes
básicas do ensino primário e do secundário.

O ensino de 1º grau, além da formação geral, passa a proporcionar a


sondagem vocacional e a iniciação para o trabalho. E o de 2º grau passa a
constituir-se, indiscriminadamente, de um nível de ensino cujo objetivo
primordial é a habilitação profissional. (ROMANELLI, 1986, p. 238)

Esta Lei ampliou a obrigatoriedade escolar do ensino primário de quatro para


oito anos e do ensino de segundo grau, que passa a ser profissionalizante, para três

24
Emílio Garrastazu Médici nasceu o dia 4 de dezembro de 1905, em Bagé, Rio Grande do Sul. Foi
presidente do Brasil, eleito pelo Congresso Nacional, exerceu o cargo entre 30 de outubro de 1969 e
15 de março de 1974. No seu governo, a economia brasileira teve um grande crescimento, foram os
anos do "milagre econômico". Faleceu no dia 9 de outubro de 1985, no Rio de Janeiro. Disponível
em: <https://www.ebiografia.com/emilio_medici/>. Acesso em 12/01/2018.
19

ou quatro anos, além de tornar obrigatórias as disciplinas de Educação Moral e


Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde.

Saviani (2013, p. 365) destaca ainda que “com aprovação da Lei n. 5692 de
11 de agosto de 1971, buscou-se estender essa tendência produtivista a todas as
escolas do país, por meio da pedagogia tecnicista, convertida em pedagogia oficial.”

Porém, a profissionalização do ensino secundário não atingiu os efeitos


pretendidos, o que levou na edição da Lei n. 7044 de 18 de outubro de 1982, que
revogou a obrigatoriedade do ensino profissionalizante do segundo grau. Nesta
“reforma da reforma”, o “termo qualificação para o trabalho foi substituído por
preparação no objetivo geral do ensino de 1º e 2º graus, conforme o parecer do
CFE” (CUNHA, 2014, p.19).

Com o fim da Ditadura Militar, em 05 de outubro de 1988 é promulgada a


nova Constituição da República Federativa do Brasil, denominada pelo Presidente
da Câmara Federal, Deputado Dr. Ulysses Guimarães25, de “Constituição Cidadã”.

No campo da Educação, a Constituição Cidadã inseriu a educação como um


direito social (art. 6º) e manteve a competência privativa da União para legislar em
matéria de diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV).

Estabeleceu também que a educação é um direito de todos e dever do Estado


e da família e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205).

Visando a regulamentação do disposto no inc. XXIV do art. 22 da Constituição


da República Federativa do Brasil, o Congresso Nacional, em 20 de dezembro de

25
Ulysses Silveira Guimarães nasceu no dia 6 de outubro de 1916, em Rio Claro, São Paulo. Filho do
coletor federal Ataliba Silveira Guimarães e da professora Amélia Correia Fontes Guimarães. Como
político brasileiro, foi um dos protagonistas da redemocratização do Brasil. Foi presidente do MDB, do
PMDB e da Assembleia Constituinte de 1988. Faleceu em um acidente de helicóptero, em Angra dos
Reis, Rio de Janeiro, no dia 12 de outubro de 1992. Disponível em:
<https://www.ebiografia.com/ulysses_guimaraes/>. Acesso em 21/01/2018.
20

1996, editou a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LBD (Lei n.
9394/96), conhecida como Lei Darcy Ribeiro.

Por esta nova norma, o atendimento de crianças de 0 a 6 anos passou a ser


denominado de Educação Infantil e os atendimentos de 1º e 2º graus passaram ser
denominados de Ensino Fundamental e Ensino Médio, respectivamente. Esta norma
também reduziu para dois os níveis escolares, o da educação básica (composta por
educação infantil, ensino fundamental e médio) e o da educação superior.

Outras modalidades de ensino, como a educação especial e a educação


indígena, também ganharam especial atenção dentro da nova forma de organização.

Atendendo ao disposto nos artigos 9º e 87 da Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional - LBD, em 09 de janeiro de 2001 entra e vigor a Lei n.10172, que
aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE), para o período de 2001 a 2010, com
vigência de dez anos, a contar de sua publicação. Tinha por objetivo a elevação
global do nível de escolaridade da população; a melhoria da qualidade do ensino em
todos os níveis e a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao
acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública e democratização da
gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios
da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico
da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares
ou equivalentes.

Em 25 de junho de 2014 passa a vigorar a Lei n. 13005 que aprovou o Plano


Nacional de Educação, com vigência por dez anos, a contar da publicação da Lei,
tendo por diretriz a erradicação do analfabetismo; a universalização do atendimento
escolar; superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da
cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; melhoria da
qualidade da educação; formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase
nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; promoção do
princípio da gestão democrática da educação pública; promoção humanística,
científica, cultural e tecnológica do País; estabelecimento de meta de aplicação de
21

recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, que
assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e
equidade; valorização dos (as) profissionais da educação e a promoção dos
princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental.

Por fim, em 20 de dezembro de 2017 é homologada a Base Nacional Comum


Curricular - BNCC que, de acordo com o Ministério da Educação e Cultura - MEC “é
um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de
aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das
etapas e modalidades da Educação Básica” (MEC, 2018).

Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB,


a BNCC deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades
Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas públicas
e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o
Brasil.

A Base estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se


espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica.
Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos traçados pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos propósitos que
direcionam a educação brasileira para a formação humana integral e para a
construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

Nesta última fase, com a promulgação da Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988 o direito à educação foi elevado à categoria de direito
fundamental, garantindo a todos os brasileiros, natos e naturalizados, bem como aos
estrangeiros, o direito subjetivo ao pleno acesso á educação pública e gratuita. No
entanto, a “Constituição Cidadã” ao tratar do direito fundamental à educação, optou
por não repetir os textos anteriores, relegando ao Legislador Ordinário a
competência para regulamentar o direito de acesso à educação.
22

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LBD (Lei n. 9394/96) ao


regulamentar o Direito Fundamental à educação no Brasil, garantiu o acesso gratuito
ao ensino fundamental e secundário, no entanto, se omitiu em relação à educação
não formal, deixando de regulamentar o direito dos pais a educação direta dos seus
filhos, dentro de seus lares, ao estabelecer a obrigatoriedade de matrícula a todas
as crianças com idade superior a quatro anos de idade e de frequência escolar
mínima, sob pena de reprova.
23

3. Conceito de Educação

Para a elaboração de um conceito de educação, parte-se do pressuposto


defendido por Immanuel Kant (1996, p. 11) segundo o qual “o homem é a única
criatura que precisa ser educada.”

Segundo o citado autor, esta necessidade se dá pelo fato de que, “ao


contrário dos animais, que não precisam de cuidados”, mas apenas de alimentação,
aquecimento e proteção, “o homem precisa formar, por si mesmo o projeto de sua
conduta.”

Saviani (2011, p. 11) ao tratar do tema também parte do pressuposto de que


todo indivíduo precisa de educação, destacando que “diferentemente dos outros
animais, que se adaptam à realidade natural tendo a sua existência garantida
naturalmente, o homem necessita produzir continuamente sua própria existência”.
Isto porque o homem não possui instinto, vem ao mundo em estado bruto,
precisando, portanto, de cuidados e de formação.

Nota-se que, portanto, que a educação, antes de tudo, é uma condição da


própria existência e perpetuação do ser humano.

Entretanto, não raras vezes, o termo educação está apenas associado à


influência cultural absorvida pelo homem, sem considerar o seu efetivo alcance e
finalidade.

É o que se observa ao se realizar uma consulta ao Dicionário Houaiss da


Língua Portuguesa (2009), onde a resposta apresentada é que o termo “educação” é
um substantivo feminino derivado do latim educatio, ônis e consiste na ação ou
resultado de educar(-se); na aplicação dos métodos próprios para assegurar a
formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano; no
desenvolvimento metódico de uma faculdade, de um sentido, de um órgão ou no
conhecimento e observação dos costumes da vida social; civilidade, delicadeza,
polidez, cortesia.
24

Contudo, o conceito de educação é muito mais complexo que uma simples


transmissão de conhecimento, pois, é somente através da educação que se atinge a
plena cidadania para a concretização dos direitos constitucionalmente e
universalmente garantidos.

De acordo com a etimologia do termo, educação deriva de “educare” e


“educere”. Segundo Claudia Mansani Queda de Toledo (2015, p. 18) o termo
“educare”, “compreende um processo de desenvolvimento da capacidade física,
intelectual e moral do ser humano em geral, visando sua melhor integração
individual e social” e possui o sentido de “criar, alimentar, subministrar o necessário
para o desenvolvimento da personalidade”. Já “educere”, esclarece, está ligada à
“capacidade interior do educando, cujo desenvolvimento só será decisivo se houver
dinamismo interno”.

A educação engloba a disciplina e instrução. Sendo que, a disciplina é o que


transforma o indivíduo, pois o impede de tornar-se um selvagem e a instrução é o
que agrega a cultura ao homem e o que o faz tornar-se um verdadeiro homem.

A respeito do tema Claudia Mansani Queda de Toledo (2015, p. 19) destaca


que “a educação traz em si, uma amplitude que engloba a instrução. Seu objetivo é
dotar o homem de integridade para que possa utilizar-se do cabedal técnico que
recebeu com competência.”

Para Alexandre Magno Fernandes Moreira, diretor jurídico da ANED,


educação se refere a todo o processo de transmissão e aquisição de conhecimento,
enquanto que instrução diz respeito à transmissão de conhecimento com a
finalidade de preparação ao trabalho.

A educação designa amplamente todo o processo de transmissão e


aquisição de conhecimentos, valores e hábitos, principalmente de uma
geração para outra. [...] A instrução, por sua vez, diz respeito à transmissão
de conhecimentos para possibilitar à pessoa atuar de modo produtivo no
mercado de trabalho. (MOREIRA, 2016, p. 47)
25

Destaca ainda que a instrução “é apenas um dos aspectos da educação, não


estando necessariamente vinculado à esta” e que a educação “é um processo que,
idealmente, ocorre durante toda a vida do indivíduo, que tem não apenas o direito,
mas o dever de se educar” (MOREIRA, 2016, p. 47).

Para Mario Sérgio Cortella (2016), informação e conhecimento também não


se confundem. Conhecimento está relacionado à aprendizagem, portanto, é seletivo
e inesquecível, enquanto que informação está relacionada á memorização é,
portanto, cumulativa e esquecível.

Educação também não se confunde com ensino. O ensino é um processo de


organização da atividade cognoscitiva, que se manifesta de forma bilateral.

Cabe distinguir ainda a educação informal da educação formal. A educação


informal é aquela que se apreende com o que se passa ao seu redor, seja através
da família, da sociedade ou do meio em que se encontre. Já a educação formal, é
aquela que se aprende dentro de um sistema institucionalizado e hierarquizado.

Para Rousseau (1979, p. 11), a educação consiste no ganho e no uso do


desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos e vem da
natureza ou dos homens ou das coisas.

Essa educação nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas. O


desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a
educação da natureza; o uso que nos ensinam a fazer desse
desenvolvimento é a educação dos homens; e o ganho de nossa
experiência sobre os objetos que nos afetam é a educação das coisas.

Para Emile Durkheim (2011, p. 49), o conceito de educação, também deve


levar em consideração “os sistemas educativos que existem ou que já existiram,
compará-los e identificar os aspectos em comum”. Esta necessidade se deve ao fato
de não existir nenhuma sociedade onde o sistema educacional seja idêntico para
todos. Isto em decorrência da própria diversidade existente entre os povos e dentro
dos próprios povos.
26

Partindo destes pressupostos, Durkheim (2011, p. 53/54) conceitua a


educação como “a ação exercida pelas gerações adultas sobre aqueles que ainda
não estão maturas para a vida social”, com o objetivo de “suscitar e desenvolver na
criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais exigidos tanto pelo
conjunto da sociedade política quanto pelo meio específico ao qual ela está
destinada em particular”.

Na Recomendação assinada em 19 de novembro de 1974 na Conferência


Geral da UNESCO, realizada em Paris, a educação foi conceituada como um
processo de aprendizado e desenvolvimento do conjunto das capacidades e
conhecimentos pessoais.

The word ‘education’ implies the entire process of social life by means of
which individuals and social groups learn to develop consciously within, and
for the benefit of, the national and international communities, the whole of
their personal capacities, attitudes, aptitudes and knowledge. This process is
26
not limited to any specific activities. (UNESCO, 1974)

Para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9394/96) a educação


também é um processo formativo que se desenvolve com e na sociedade.

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida


familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais.

Para Saviani (2011, p. 13), “a educação é o ato de produzir direta e


intencionalmente em cada individuo singular a humanidade que é produzida histórica
e coletivamente pelo conjunto dos homens”.

Nota-se ainda que a educação não é um fim em si mesmo, tem por objetivo a
preparação do indivíduo para a sociedade, para compreender e reagir
adequadamente ao ambiente e às circunstâncias na qual está inserido.

26
Tradução: A palavra "educação" implica todo o processo da vida social, através do qual indivíduos
e grupos sociais aprendem a desenvolver conscientemente, dentro e para o benefício das
comunidades nacionais e internacionais, todas as suas capacidades, atitudes, aptidões e
conhecimentos pessoais. Este processo não se limita a quaisquer atividades específicas.
27

[...] a educação consiste em uma socialização metódica das novas


gerações. Em cada um de nós, existem dois seres que, embora sejam
inseparáveis não deixam de ser distintos. Um ser é composto de todos os
estados mentais que dizem respeito apenas a nós mesmos e aos
acontecimentos da nossa vida pessoal: é o que se poderia chamar de ser
individual. O outro é um sistema de ideias, sentimentos e hábitos que
exprimem em nós não a nossa personalidade, mas sim o grupo ou grupos
diferentes dos quais fazemos parte; tais como as crenças religiosas, as
crenças e práticas morais, as tradições nacionais ou profissionais e as
opiniões coletivas de todo tipo. Este conjunto forma o ser social. Constituir
este ser em cada um de nós é o objetivo da educação. (DURKHEIM, 2011,
p. 54).

Para a Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 a finalidade da


educação é o pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo para o exercício da
cidadania e para a qualificação para o trabalho, ou seja, a educação surge como
instrumento de preparação do indivíduo para o pleno exercício da cidadania.

Portanto, o objetivo da educação consiste na produção de ideias, conceitos,


valores, símbolos, hábitos, atitudes, habilidades, ou seja, na produção do saber, e o
objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais
que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se
tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas
mais adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI, 2011, p. 12/13).

Partindo dos conceitos apresentados, a educação pode ser entendida como


uma ação humana, enriquecida histórica e coletivamente pelas gerações passadas e
transmitida às gerações futuras, com o objetivo de preparar os homens para o seu
pleno desenvolvimento, para o exercício da cidadania, para o trabalho e para se
submeterem às leis das humanidades e às suas consequências.
28

3.1. Educação como Direito Humano

Direitos Humanos, segundo a Organização das Nações Unidas no Brasil –


ONUBR (2018) “são direitos inerentes a todos os seres humanos,
independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer
outra condição” e “incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e
expressão, o direito ao trabalho e educação”, entre outros. São direitos, garantias e
liberdades fundamentais, inerentes a todos os seres humanos, simplesmente pela
condição de pertencerem à classe dos seres humanos.

Percebe-se, pois, que o fato sobre o qual se funda a titularidade dos direitos
humanos é, pura e simplesmente, a existência do homem, sem necessidade
alguma de qualquer outra precisão ou concretização. É que os direitos
humanos são direitos próprios de todos os homens, enquanto homens, à
diferença dos demais direitos, que só existem e são reconhecidos, em
função de particularidades individuais ou sociais do sujeito. (COMPARATO,
1997, p. 28)

O objetivo das normas de Direitos Humanos é a proteção de todo e qualquer


ser humano em relação às ações e omissões dos Estados.

The notion of human rights falls within the framework of constitutional law
and international law, the purpose of which is to defend by institutionalized
means the rights of human beings against abuses of power committed by
the organs of the State and, at the same time, to promote the establishment
of humane living conditions and the multi-dimensional development of the
27
human personality . (VASAK, 1982, p. 11)

Estes direitos, garantias e liberdades fundamentais foram materializados e


universalizados com a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos
– DUDH por meio da Resolução n. 217A (III) na Assembleia Geral da Organização
das Nações Unidas - ONU, em 10 de dezembro 1948, como um ideal comum a ser
alcançado por todos os povos e todas as nações.

Embora o processo de materialização e a internacionalização dos Direitos


Humanos seja recente ele é o resultado de um longo e demorado processo, uma vez

27
Tradução: A noção de direitos humanos enquadra-se no âmbito do direito constitucional e do
direito internacional, cujo objetivo é defender institucionalmente os direitos do ser humano contra
abusos de poder cometidos pelos órgãos do Estado e, ao mesmo tempo, promover o
estabelecimento de condições de vida humanas e o desenvolvimento multidimensional da
personalidade humana.
29

que os direitos humanos “não foram dados todos de uma vez e nem conjuntamente”,
tampouco de uma vez por todas (BOBBIO. 2004, p. 95).

Segundo parte da doutrina, do qual fazem parte, Bobbio (2004, p. 18) e


Piovesan (2013, p. 188), existem três concepções básicas acerca da origem dos
Direitos Humanos. A primeira concepção (Filosófica) defende que os primeiros
ensaios sobre direitos humanos surgiram a partir da moderna escola do Direito
Natural defendida por John Locke (1690), para quem, o verdadeiro estado do
homem não é o estado civil, mas o natural, onde os homens são livres e iguais. De
acordo com esta teoria os direitos à vida, à propriedade e à liberdade preexistiriam
independentemente do seu reconhecimento/positivação pelo Estado.

Os direitos fundamentais fariam parte de uma ordem de valores


preestabelecida (transcendente), que de algum modo condiciona a validade
do direito positivo. (ROTHENBURG, apud Perez Luño, 2014, p. 47)

A segunda concepção (Positivista) defende que os direitos humanos surgiram


quando os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à propriedade, à felicidade e à
segurança foram materializados pela primeira vez através da Declaração de Direitos
de Virgínia de 16 de junho de 1776; da Declaração de Independência dos Estados
Unidos da América de 04 de julho de 1776 e da Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão de 26 de agosto de 1789.

No momento em que essas teorias são acolhidas pela primeira vez por um
legislador, o que ocorre com as Declarações de Direitos dos Estados Norte-
americanos e da Revolução Francesa (um pouco depois), e postas na base
de uma nova concepção do Estado — que não é mais absoluto e sim
limitado, que não é mais fim em si mesmo e sim meio para alcançar fins que
são postos antes e fora de sua própria existência —, a afirmação dos
direitos do homem não é mais expressão de uma nobre exigência, mas o
ponto de partida para a instituição de um autêntico sistema de direitos no
sentido estrito da palavra, isto é, enquanto direitos positivos ou efetivos.
(BOBBIO, 2004, p. 18)

A terceira concepção (Universalista) defende que foi somente com a


Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada na Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de dezembro 1948, que os direitos
humanos surgiram.
30

Com a Declaração de 1948, tem inicio uma terceira e última fase, na qual a
afirmação dos direitos é, ao mesmo tempo, universal e positiva: universal no
sentido de que os destinatários dos princípios nela contidos não são mais
apenas os cidadãos deste ou daquele Estado, mas todos os homens;
positiva no sentido de que põe em movimento um processo em cujo final os
direitos do homem deverão ser não mais apenas proclamados ou apenas
idealmente reconhecidos, porém efetivamente protegidos até mesmo contra
o próprio Estado que os tenha violado. (BOBBIO, 2004, p. 19)

Já para uma parte da Doutrina, da qual faz parte Comparato (2010, p. 20),
Tavares (2012, p. 486) e Moraes (2011, p. 13), a origem dos Direitos Humanos seria
mais remota. Enquanto Comparato e Tavares nos remete ao período axial (600 e
480 a.C.), Moraes aponta para o período Egípcio e Mesopotâmico, onde surgiram
as primeiras manifestações de direitos comuns a todos os homens.

Não obstante esta divergência doutrinária quanto à origem dos Direitos


Humanos, todos os autores são unanimes em afirmar o seu caráter universal, uma
vez que os direitos previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos são
aplicáveis “a todas as pessoas de todos os países, raças, religiões e sexos, seja
qual for o regime político dos territórios nos quais incide.” (PIOVESAN, 2013, p.
203), pois “que se trata de direitos comuns a toda a espécie humana, a todo homem
enquanto homem” (COMPARATO, 2003, p. 32).

Os Direitos Humanos são caracterizados ainda pela: I) Historicidade: pois são


decorrentes de uma construção histórica e axiológica. São originadas de
circunstâncias, geralmente marcadas “por lutas em defesa de novas liberdades
contra velhos poderes, e de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez
por todas.” (BOBBIO, 2004, p. 9); II) Indivisibilidade, porque os direitos civis e
políticos são conjugados aos direitos sociais, econômicos e culturais, “a partir de
uma visão integral dos Direitos Humanos” (PIOVESAN, 2017, p. 27), e III)
Interdependência e Inter-relação: porque os direitos humanos estão todos
vinculados uns aos outros, e devem ser considerados “a partir de uma visão integral
dos Direitos Humanos” (PIOVESAN, 2017, p. 27).

De acordo com Bobbio (2004, p. 19), com a positivação dos direitos humanos
através da Declaração Universal dos Direitos Humanos, os direitos, garantias e
liberdades fundamentais nela expressos ganharam em concretude, porém,
31

perderam em universalidade, pois passaram a ser protegidos tão somente no âmbito


dos Estados-membros que os reconhecem em suas constituições.

Nessa passagem, a afirmação dos direitos do homem ganha em


concreticidade, mas perde em universalidade. Os direitos são doravante
protegidos (ou seja, são autênticos direitos positivos), mas valem somente
no âmbito do Estado que os reconhece. Embora se mantenha, nas fórmulas
solenes, a distinção entre direitos do homem e direitos do cidadão, não são
mais direitos do homem e sim apenas do cidadão, ou, pelo menos, são
direitos do homem somente enquanto são direitos do cidadão deste ou
daquele Estado particular.

Por outro lado, com promulgação da Declaração Universal dos Direitos


Humanos em 1948 pelos países fundadores da ONU, também começa a se
desenvolver o Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos ou Direito
Internacional dos Direitos Humanos, mediante a adoção de diversos instrumentos de
proteção internacional.

Este sistema internacional é integrado pelo Sistema Normativo Global e pelo


Sistema Normativo Regional. O Sistema Normativo Global é composto por normas
de caráter geral e de caráter especial. As de caráter geral são constituídas pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos; pelo Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais e o pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos. Já as normas de caráter especial contemplam os demais atos
internacionais28, geralmente direcionados a determinadas violações de direitos
humanos, v. g. violações de direitos humanos, como a tortura, a discriminação racial,
a discriminação contra as mulheres e a violação dos direitos das crianças.

Já o Sistema Normativo Regional é integrado, principalmente, pelo Sistema


Interamericano, Europeu e Africano de proteção aos direitos humanos.

Cada um dos sistemas regionais de proteção apresenta um aparato jurídico


próprio. O sistema interamericano tem como principal instrumento a
Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, que estabelece a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana. Já
o sistema europeu conta com a Convenção Europeia de Direitos Humanos
de 1950, que estabeleceu originariamente a Comissão e a Corte Europeia

28
Ato internacional é um acordo firmado entre países, regido pelo direito internacional. São como
“contratos” firmados entre pessoas jurídicas de direito internacional (Estados, organismos
internacionais, etc.) com a finalidade de regulamentar determinadas situações e convergir interesses
comuns ou antagônicos. (GOVERNO, 2012)
32

de Direitos Humanos. Com o Protocolo n. 11, em vigor desde novembro de


1998, houve a fusão da Comissão com a Corte, com vistas à maior
justicialização do sistema europeu, mediante uma Corte reformada e
permanente. Por fim, o sistema africano apresenta como principal
instrumento a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 1981,
que, por sua vez, estabelece a Comissão Africana de Direitos Humanos;
posteriormente foi criada a Corte Africana de Direitos Humanos, mediante
um Protocolo à Carta, em 1998. (PIOVESAN, 2013, p. 341)

Piovesan destaca ainda que o sistema global e o regional não são


dicotômicos, mas complementares.

Inspirados pelos valores e princípios da Declaração Universal, compõem o


universo instrumental de proteção dos direitos humanos, no plano
internacional. Nesta ótica, os diversos sistemas de proteção de direitos
humanos interagem em benefício dos indivíduos protegidos. Ao adotar o
valor da primazia da pessoa humana, estes sistemas se complementam,
somando-se ao sistema nacional de proteção, a fim de proporcionar a maior
efetividade possível na tutela e promoção de direitos fundamentais. Esta é
inclusive a lógica e principiologia próprias do Direito dos Direitos Humanos.
(PIOVESAN, 2001, p. 3)

No Brasil, a incorporação dos Direitos Humanos ao direito interno brasileiro foi


deflagrada juntamente com o próprio processo de redemocratização iniciado em
1985 e com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de
1988 que ampliou a cláusula de abertura constitucional com vistas a possibilitar a
integração de direitos e garantias decorrentes de tratados internacionais à legislação
interna (art. 5º,§ 2º) em que o Brasil seja signatário (PIOVESAN, 2013, p. 113).

Ainda de acordo com Piovesan (2010, p. 54) a Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988 “acolhe a ideia da universalidade dos direitos humanos,
na medida em que consagra o valor da dignidade humana como princípio
Fundamental do constitucionalismo inaugurado em 1988”.

Desde então inúmeros tratados internacionais foram ratificados e


incorporados ao Direito Interno Brasileiro. Dentre os principais tratados ratificados
pelo Brasil, destacam-se a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
Tortura de 20 de julho de 1989; a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos
Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 28 de setembro de 1989; a Convenção
sobre os Direitos da Criança de 24 de setembro de 1990; a Convenção Americana
de Direitos Humanos de 25 de setembro de 1992; a Convenção Interamericana para
33

Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher de 27 de novembro de 1995;


o Protocolo à Convenção Americana referente à Abolição da Pena de Morte de 13
de agosto de 1996; o Protocolo à Convenção Americana referente aos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador) de 21 de agosto de
1996; a Convenção Interamericana para Eliminação de todas as formas de
Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência de 15 de agosto de 2001; o
Estatuto de Roma de 20 de junho de 2002; o Protocolo Facultativo à Convenção
sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher de 28 de
junho de 2002; o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança
sobre o Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados de 27 de janeiro de 2004;
o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança sobre Venda,
Prostituição e Pornografia Infantis, também de 27 de janeiro de 2004; o Protocolo
Facultativo à Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes de 11 de janeiro de 2007; a Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo de 1º de agosto de
2008; o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos,
bem como do Segundo Protocolo ao mesmo Pacto visando à Abolição da Pena de
Morte de 25 de setembro de 2009 e a Convenção Internacional para a Proteção de
todas as pessoas contra o Desaparecimento Forçado de 29 de novembro de 2010
(PIOVESAN, 2006, p. 28).

No entanto, foi com a aprovação do Decreto Legislativo n. 226 de 12 de


dezembro de 1991, pelo Congresso Nacional, que ratificou os textos do Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e do Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais e com a edição dos Decretos Presidenciais de n.
591 e de n. 592, ambos de 06 de julho de 1992, que determinaram a execução e o
cumprimento dos direitos e obrigações exatamente como contidos nos referidos
Pactos, que o Direito a educação foi lançado à categoria de Direito Humano
Fundamental.

A partir deste momento a educação passou a ser considerado, não só como


um elemento fundamental para o preparo para o pleno exercício da cidadania e para
a qualificação para o trabalho, mas, principalmente, como um poderoso instrumento
34

de política pública voltada à proteção, promoção e defesa dos direitos, garantias e


liberdades fundamentais previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e
nos tratados internacionais ratificados pelo Brasil, capaz de redirecionar e influenciar
a construção e a consolidação da democracia, por meio do processo de
conscientização de pessoas, grupos ou comunidades tradicionalmente excluídos dos
seus direitos.

Passou a ser caracterizado ainda como um importante instrumento de


empoderamento, conferindo ao indivíduo maior autonomia para realizar suas
próprias escolhas e maior controle sobre o efeito das ações do Estado sobre si
(PIOVESAN, FACHIN, 2017, p. 25).

Outra importante garantia introduzida no direito interno brasileiro, através do


Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos, consiste na outorga, aos
pais, da prerrogativa na escolha do melhor tipo de educação a ser ministrada aos
seus filhos.

Artigo 26.
1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita,
pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O
ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser
generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a
todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e
ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as
nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o
desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção
da paz.
3. Os pais têm um direito preferencial para escolher o tipo de educação
que será dada aos seus filhos. (ONU, 1948)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, ao estabelecer esta


prerrogativa, estabeleceu aos Estados membros o dever de oportunizar aos pais, no
sentido mais amplo do termo, mais de uma maneira pela qual o direito à educação
possa ser satisfeito e que a opção pela escolha do tipo de educação cabe, sempre,
primordialmente aos pais e de acordo com as suas convicções.

Esta ampla prerrogativa impede que os Estados integrantes do sistema


internacional de proteção aos direitos humanos interfiram na autonomia da vontade
35

dos pais na escolha da forma; da metodologia didática e pedagógica, do conteúdo


curricular e, principalmente, do local onde os estudos serão ministrados, quando o
objetivo é atender, unicamente, aos melhores interesses da criança.

A opção pelo melhor método de educação, portanto, na forma estabelecida na


Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos Pactos Internacionais, além de
consistir em um direito humano, após o Decreto Legislativo e os Decretos
Presidenciais, passou a consistir também em direito fundamental dos pais, na forma
do art. 5º, §3º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
36

3.2. Educação como Direito Fundamental

Direitos Fundamentais (Grundrechte), segundo Rothenburg (2014, p. 41) é


uma expressão de origem alemã e “correspondem aos valores mais importantes
para a realização do ser humano, que se traduzem nas principais normas jurídicas
da comunidade”, bem como designam os direitos expressos no texto constitucional
ou a ele incorporados.

Para Carl Schmitt (1996, p. 170) os Direitos Fundamentais “en sentido propio
son, esencialmente, derechos del hombre individual libre, y, por cierto, derechos que
él tiene frente al Estado”.

Na concepção de Dimitri Dimoulis, Direitos Fundamentais são aqueles


materializados nas Constituições dos Estados.

“Direitos Fundamentais” são direitos público-subjetivos de pessoas (físicas


ou jurídicas), contidos em dispositivos constitucionais e, portanto, que
encerram caráter normativo supremo dentro do Estado, tendo como
finalidade limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade
individual. (DIMOULIS, 2011, p. 41)

Por fim, na definição de Sarlet, Marinoni e Mitidiero “inspirado na proposta


formulada por Robert Alexy”, o qual se adota para fins do presente trabalho, Direitos
Fundamentais são:

[...] todas as posições jurídicas concernentes às pessoas (naturais ou


jurídicas, consideradas na perspectiva individual ou transindividual) que, do
ponto de vista do direito constitucional positivo, foram, expressa ou
implicitamente, integradas à constituição e retiradas da esfera de
disponibilidade dos poderes constituídos, bem como todas as posições
jurídicas que, por seu conteúdo e significado, possam lhes ser equiparadas,
tendo, ou não, assento na constituição formal. (2015, p. 334)

Direitos Fundamentais são, portanto, o conjunto de normas que compõem os


direitos, deveres e garantias, individuais e coletivos, inerentes a todos os cidadãos e
aos estrangeiros e que se encontram materializados nas Constituições dos Estados.

No entanto, em não raras ocasiões, alguns autores tem utilizado as


expressões “Direitos Humanos”, “Direitos do Homem”, “Direitos Humanos
37

Fundamentais”, “Direitos Subjetivos”, “Direitos Subjetivos Públicos”, “Liberdades


Públicas” e “Direitos Individuais”, entre outros, para designarem os “Direitos
Fundamentais”.

A este respeito, cumpre destacar que a expressão “Direitos Humanos”, está


relacionada aos direitos naturais do ser humano consagrados na Declaração
Universal dos Direitos Humanos – DUDH de 1948, “por referir-se àquelas posições
jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente de sua
vinculação com determinada ordem constitucional” (SARLET, MARINONI,
MITIDIERO, 2015, p. 314).

Este entendimento é compartilhado por Rothenburg.

"Direitos humanos" é uma expressão que evoca uma fundamentação de


direito natural (jusnaturalista), segundo a qual existem tais direitos também
além das normas jurídicas promulgadas formalmente (que, na maior parte
das vezes, encontram-se nos textos jurídicos em vigor), ou seja, advindos
da "consciência" das pessoas, de uma moral universal, da "natureza das
coisas", de Deus. É a expressão frequente em língua inglesa (human rights)
e no Direito Internacional, por isso é usual a distinção entre os direitos
fundamentais como aqueles positivados internamente nas Constituições e
os direitos humanos como aqueles expressos em tratados, declarações e
outros documentos de âmbito internacional. (ROTHENBURG, 2014, p. 54)

Já a expressão “Direitos do Homem” tem origem na Declaração de Direitos do


Bom Povo da Virgínia de 16 de junho de 1776 e na Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão (Déclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen) de 26 de
agosto de 1789 e possui a mesma conotação de direitos humanos (ROTHENBURG,
2014, p. 54).

“Direitos Humanos Fundamentais" por sua vez, refere-se às normas de


Direitos Humanos materializados nas Constituições dos Estados.

"Direitos humanos fundamentais" é expressão que busca abranger a


fundamentação transcendental (jusnaturalista, moral) e a fundamentação
positivista de tais direitos, e talvez acabe soando repetitiva, pleonástica.
(ROTHENBURG, 2014, p. 54).
38

Também é a posição adotada por Jose Afonso da Silva para referir-se ao


conjunto de direitos formados pelos Direitos Humanos e positivados na Constituição
dos Estados.

Direitos fundamentais do homem constitui a expressão mais adequada a


este estudo, porque, além de referir-se a princípios que resumem a
concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento
jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas
prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma
convivência digna, livre e igual de todas as pessoas. (SILVA, 2014, p. 179)

Alexandre de Moraes (2011, p. 21) também se utiliza da expressão “Direitos


Humanos Fundamentais” para referir-se aos Direitos Humanos positivados nas
Constituições.

“Direitos públicos subjetivos” constituem um conceito técnico-jurídico e está


relacionado aos direitos individuais frente ao Estado liberal e “Direitos Subjetivos”
está relacionado às “prerrogativas estabelecidas de conformidade com as regras do
direito positivo” (SILVA, 2014, p. 178).

“Direitos Individuais” também é a expressão utilizada como sinônimo aos


Direitos Fundamentais, contudo, refere-se aos direitos do indivíduo isoladamente.
De acordo com Silva (2014, p. 178) embora a expressão esteja em desuso, ainda
continua a ser utilizado para “denotar um grupo dos direitos fundamentais,
correspondente ao que se tem denominado direitos civis ou liberdades civis”.

Quanto à expressão “liberdade pública” (no singular) ela aparece na França


no final do século XVIII, mais precisamente no art. 9º da Constituição Francesa de
24 de junho de 179329 e a expressão “liberdades públicas” (no plural), no art. 25 da
Constituição do Segundo Império de 14 de janeiro de 185230 (TAVARES, 2012, p.
497) e “são também expressões usadas para exprimir direitos fundamentais” (SILVA,
2014, p. 179). É a expressão adotada por Bulos (2014, p. 526) para a definição de
“Direitos Fundamentais”.

29
Article 9. - La loi doit protéger la liberté publique et individuelle contre l'oppression de ceux qui
gouvernent.
30
Article 25. - Le Sénat est le gardien du pacte fondamental et des libertés publiques. Aucune loi ne
peut être promulguée avant de lui avoir été soumise.
39

Sugerimos o uso de liberdades públicas em sentido amplo - conjunto de


normas constitucionais que consagram limitações jurídicas aos Poderes
Públicos, projetando-se em três dimensões: civil (direitos da pessoa
humana), política (direitos de participação na ordem democrática) e
econômico-social (direitos econômicos e sociais). (BULOS, 2014, p. 526)

Tavares ressalta, no entanto, a importância da distinção entre liberdades


públicas em sentido estrito e em sentido amplo.

Em sentido estrito seriam as liberdades públicas negativas, as que impõem


um dever de abstenção por parte do Estado, tal qual a própria terminologia
indica. Já as liberdades públicas em sentido amplo seriam as que conferem
direitos a prestações positivas pelo Estado, algo que, como se vê, vai um
pouco além do que as palavras escolhidas são capazes de comportar em
sua significação. (TAVARES, 2012, p. 498)

Contudo, dentre os termos adotados pela Doutrina, a expressão “Direitos


Fundamentais” é a que melhor traduz o conjunto de direitos e deveres, individuais e
coletivos, inerentes a todas as pessoas, que buscam garantir a convivência pacífica,
independentemente de qualquer condição e que se encontram resguardados pela
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Esta também é a expressão preferida por Rothenburg para designar os


“Direitos Fundamentais” previstos na Constituição.

Prefere-se a expressão "direitos fundamentais", porque melhor traduz o


aspecto normativo (direitos consagrados no ordenamento jurídico e, mais
especificamente, na - ou a partir da - Constituição) e histórico (é atual,
representa a perspectiva contemporânea do fenômeno jurídico e é
compreensiva de novas dimensões de direitos), bem como evita a
redundância do adjetivo da consagrada expressão "direitos humanos".
(ROTHENBURG, 2014, p. 44)

A este ponto, cumpre destacar que a Constituição da República Federativa do


Brasil foi a primeira a adotar a expressão “Direitos e Garantias Fundamentais” para
expressar o conjunto de direitos, deveres, garantias e liberdades fundamentais,
individuais e coletivos, sociais e políticos.

Uma breve mirada sobre a evolução constitucional brasileira mostra que a


Constituição Federal foi a primeira a utilizar as expressões Direitos e
Garantias Fundamentais como abrangendo as diversas espécies de
direitos, que, de acordo com a terminologia e classificação consagrada no
direito constitucional positivo brasileiro vigente, são os assim chamados
40

direitos (e deveres) individuais e coletivos, os direitos sociais (incluindo os


direitos dos trabalhadores), os direitos de nacionalidade e os direitos
políticos, os quais abarcam o estatuto constitucional dos partidos políticos e
a liberdade de associação partidária. (SARLET, MARINONI, MITIDIERO,
2015, p. 313)

Da mesma forma que não há um consenso na doutrina acerca da expressão


que corresponda aos direitos fundamentais garantidos nas Constituições dos
Estados, também não há um consenso quanto à sua origem.

Para uma parte da doutrina, dentre eles destacam-se Alexandre de Moraes e


Ingo Wolfgang Sarlet, a origem formal dos Direitos Fundamentais ocorreu na
Inglaterra, com a Magna Carta (Magna Charta Libertatum, seu Concordiam inter
regem Johannem et Barones pro concessione libertatum ecclesiae et regni angliae),
de 15 de junho de 1215, assinada pelo Rei João Sem-Terra e pelos bispos e barões
ingleses e com a Bill of Rights de 16 de dezembro de 1689, assinada pelo Rei
Guilherme III (Willian III) e promulgada pelo Parlamento Britânico.

É na Inglaterra da Idade Média, mais especificamente no século XIII, que


encontramos o principal documento referido por todos que se dedicam ao
estudo da evolução dos direitos humanos e dos direitos fundamentais.
Trata-se da Magna Charta Libertatum, pacto firmado em 1215, pelo Rei
João Sem-Terra e pelos bispos e barões ingleses. Este documento, embora
elaborado para garantir aos nobres ingleses alguns privilégios feudais,
excluindo, em princípio, a população em geral do acesso aos “direitos”
consagrados no pacto, serviu como ponto de referência para alguns direitos
e liberdades civis clássicos, tais como o habeas corpus, o devido processo
legal e a garantia da propriedade. (SARLET, MARINONI, MITIDIERO. 2015,
p. 319)

Para a outra parte da doutrina, da qual também se filia este pesquisador, a


origem moderna dos Direitos Fundamentais está nas Declarações Norte-Americanas
e na Declaração Francesa. De acordo estes autores, as Declarações Britânicas,
embora consistam em um grande marco na conquista de direitos e liberdades, bem
como na limitação do poder absolutista da Monarquia, não garantiu o direito à
liberdade a todos os homens, mas apenas para a elite formada por barões feudais e
a Igreja Católica.

En realidad, son regulaciones contractuales o legales de los derechcs de los


barones o burgueses ingleses, que si bien han tomado, en un proceso
insensible, el carácter de los modernos princípios, no tuvieron
41

31
originariamente el sentido de derechos fundamentales. (SCHMITT, 1996,
p. 164)

Jose Afonso da Silva (2014, p. 156), também destaca que “os textos ingleses
apenas tiveram por finalidade limitar o poder do rei, proteger o indivíduo contra a
arbitrariedade do rei e firmar a supremacia do Parlamento”, ao contrário das
Declarações Norte-Americanas e da Declaração Francesa, que “enunciam e
garantem direitos fundamentais” (DIMOULIS, 2014, p. 11).

Neste mesmo sentido os ensinamentos de Bulos (2014, p. 527), para quem,


os antecedentes das declarações de direitos estão nos pactos, forais e cartas de
franquia inglesas, “mas o primeiro instrumento que as assegurou foi a Declaração de
Direitos do Bom Povo de Virgínia (12 de janeiro de 1776), antes da Declaração de
Independência dos Estados Unidos da América.”

Todos estes processos de construção de uma sociedade livre, justa e


igualitária deram origem a três “gerações” de direitos fundamentais.

Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) - que


compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais - realçam o
princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos
econômicos, sociais e culturais) - que se identificam com as liberdades
positivas, reais ou concretas - acentuam o princípio da igualdade, os direitos
de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva
atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o
princípio da solidariedade e constituem um momento importante no
processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos
humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis,
pela nota de uma essencial inexauribilidade. (STF, Pleno, MS 22.164/SP,
Rei. Min. Celso de Mello, DJ, 1 , de 1 7- 1 1 - 1 995, p. 39206)

A primeira geração dos direitos fundamentais (Direitos Civis e Políticos)


funda-se no ideal de liberdade e tem como titular destes direitos, o ser humano
considerado individualmente em uma perspectiva universal e abstrata
(ROTHENBURG, 2014, p. 64).

Foram os primeiros a serem conquistados pela humanidade e positivados nas


constituições Norte-Americanas e Francesa. Marcam a passagem do Estado
31
Tradução: Na realidade, são regulamentos contratuais ou legais dos direitos dos barões ingleses
ou burgueses que, embora tenham adotado, em um processo insensível, o caráter de princípios
modernos, eles originalmente não têm o significado de direitos fundamentais.
42

autoritário para o Estado de Direito e tinham cunho predominantemente negativo.


São as chamadas “liberdades públicas negativas” ou “direitos negativos” (ARAUJO,
2017, p. 159), pois exigem um comportamento de abstenção por parte do Estado.

São, segundo as palavras de Bonavides (2004, p. 564), “direitos de


resistência ou de oposição perante o Estado”.

Nesta primeira geração estão os direitos individuais à vida, à liberdade, à


igualdade, à propriedade, à segurança e à resistência às diversas formas de
opressão, e os direitos políticos, que expressam os direitos de liberdade de
associação, de reunião, de formação de partidos, de opinião e de votar e ser votado
(TAVARES, 2012, p. 503).

A segunda geração dos direitos fundamentais (Sociais, Econômicos e


Culturais) funda-se no direito de igualdade e tem como titulares, os seres humanos
em “perspectiva coletiva (grupos)” (ROTHENBURG, 2014, p. 65).

Os direitos fundamentais de segunda geração, diferentemente dos direitos de


primeira geração, possuem cunho eminentemente positivo, ou seja, exigem um fazer
por parte do Estado.

A nota distintiva destes direitos é a sua dimensão positiva, uma vez que se
cuida não mais de evitar a intervenção do Estado na esfera da liberdade
individual, mas, sim, na lapidar formulação de C. Lafer, de propiciar um
‘direito de participar do bem-estar social’ (SARLET, MARINONI, MITIDIERO,
2015, p. 325)

O Estado, ao invés de abster-se, deve dotar o ser humano de condições


mínimas para o exercício de uma vida digna. (ARAÚJO, 2017, p. 160) Para
Bonavides (2004, p. 565) os direitos fundamentais de segunda geração possuem
conteúdo de garantias institucionais.

As primeiras constituições que reconheceram os direitos trabalhistas,


previdenciários, à saúde e à educação foram a Constituição Mexicana de 1917, a
Constituição Alemã de Weimar de 1919, a Constituição Espanhola de 1931 e a
Constituição Brasileira de 1934.
43

A terceira geração dos direitos fundamentais funda-se no direito de


fraternidade ou solidariedade e são concebidos sob uma perspectiva transindividual,
porque interessam a todo o gênero humano (ROTHENBURG, 2014, p. 66).
Referem-se a direitos coletivos e difusos, que abrigam o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e os direitos do consumidor (BARROSO, 2016, p. 188).

Os direitos de terceira geração se distinguem dos demais porque


transcendem o direito individual e acobertam toda a humanidade ou uma
coletividade, normalmente indeterminada. “São garantidos juridicamente por meios
processuais modernos, como a ação civil pública, mas também por institutos antigos,
como a ação popular, para ilustrar” (ROTHENBURG, 2014, p. 66).

Alguns autores apresentam, ainda, outras gerações de direitos fundamentais.


Segundo Bonavides, (2004, p. 570) os direitos fundamentais de quarta geração
estão relacionados à globalização, no sentido de universalizar os direitos
fundamentais no campo institucional e envolvem o direito à democracia, à
informação e ao pluralismo. Os direitos fundamentais de quinta geração fundam-se
na paz, de modo a punir o terrorismo, o criminoso de guerra, o torturador e manter
invioláveis as bases do pacto social.

Por fim, Rothenburg (2014, p. 68) destaca ainda a existência de direitos


fundamentais de sexta geração, que se fundam no direito ao acesso à água potável
para o ser humano.

Os direitos fundamentais são caracterizados pela: Fundamentalidade, pois os


direitos fundamentais são a base de um ordenamento jurídico, que correspondem
aos valores mais importantes de uma sociedade; Universalidade, pois os direitos
fundamentais são inerentes à própria condição humana, ou seja, contemplam todos
os seres humanos; Autonomia, pois o exercício do direito fundamental deve ocorrer
em conformidade com a livre manifestação da vontade de seu titular, embora essa
autonomia possa ser mitigada para proteger o sujeito contra situações sociais
opressivas e até contra si mesmo; Indivisibilidade, pois os direitos fundamentais
44

formam um conjunto sistêmico de direitos e garantias, de modo que todas as


categorias de direitos fundamentais devem ser respeitadas e desenvolvidas;
Historicidade, pois os direitos fundamentais são um produto da história, sujeitos a
avanços, retrocessos e descontinuidade; Positividade, pois os direitos fundamentais
são expressos por meio de normas que compõem o ordenamento jurídico,
preferencialmente na Constituição e no direito internacional; Sistematicidade, inter-
relação e interdependência, pois os direitos fundamentais formam um conjunto
organizado, em que interagem, se influenciam e podem depender uns dos outros,
complementando-se e desdobrando-se; Abertura e inexauribilidade, pois os direitos
fundamentais não se exaurem aos já reconhecidos, podendo expandir-se em
número e conteúdo; Projeção positiva, pois os direitos fundamentais reclamam
prestações governamentais para que ofereçam condições para seu desfrute;
Dimensão transindividual, pois os direitos fundamentais por vezes são de titularidade
coletiva ou difusa, podendo ser articulados por sujeitos de representatividade meta
individual (como o cidadão em nome da coletividade, as associações, os entes
públicos), com consequências que atingem todos e uma repercussão temporal que
ultrapassa a existência de uma geração; Aplicabilidade imediata, pois as normas
jurídicas em que são expressos os direitos fundamentais não necessitam de
integração normativa e podem ser aplicadas diretamente; Concordância prática ou
harmonização, pois havendo aparente conflito de direitos fundamentais, todos
devem ser levados em consideração e sopesados buscando-se o máximo de
aplicação com um mínimo indispensável de prejuízo dos direitos fundamentais
envolvidos; Eficácia horizontal ou privada, pois os direitos fundamentais devem ser
respeitados também nas relações entre particulares; Proibição de retrocesso, pois
os direitos fundamentais, uma vez reconhecidos, não podem ser abandonados nem
diminuídos, ou seja, o desenvolvimento atingido não é passível de retrogradação, e,
Maximização ou efetividade, pois os direitos fundamentais devem ser realizados de
verdade, na prática, e sempre da melhor maneira possível.

Dentre às características dos direitos fundamentais é importante destacar o


Princípio da Proibição de Retrocesso, que busca a proteção dos direitos sociais,
impedindo que novas ordens jurídicas suprimam direitos já assegurados.
45

Todavia, o fato é que, para a proteção dos direitos sociais, especialmente


em face do legislador, mas também diante de atos administrativos, ganhou
notoriedade, inclusive e de modo particularmente intensivo no Brasil, a
noção de uma proibição jurídico-constitucional de retrocesso, como
mecanismo de controle para coibir e/ou corrigir medidas restritivas ou
mesmo supressivas de direitos sociais. (SARLET, MARINONI, MITIDIERO,
2015, p. 639)

No Brasil, embora o direito universal à educação tenha sido reconhecido já na


Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934, foi somente com a
promulgação da Constituição da República Federativa em 1988 que ele foi elevado à
categoria de direito fundamental social.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,


a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição. (BRASIL, 1988)

O direito à educação, além de se tratar de um direito fundamental e garantia


de todo ser humano, é ainda um dever do Estado e de toda a sociedade com vista
“ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988) e para a redução das
desigualdades sociais.

Os direitos sociais, como dimensão dos direitos fundamentais do homem,


são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou
indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam
melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar
a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se
ligam ao direito de igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos
direitos individuais na medida em que criam condições materiais mais
propícias ao auferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona
condição mais compatível com o exercício efetivo da liberdade. (SILVA,
2014, p. 288)

Nesta prerrogativa de direito fundamental social ou prestacional de segunda


geração, o direito à educação impõe ao Estado a responsabilidade por dispor de
todos os meios necessários para que todos os indivíduos possam exercer a mais
plena cidadania.

Direitos a prestação em sentido estrito são direitos do indivíduo, em face do


Estado, a algo que o indivíduo, se dispusesse de meios financeiros
suficientes e se houvesse uma oferta suficiente no mercado, poderia
também obter de particulares. Quando se fala em direitos fundamentais
sociais, como, por exemplo, direitos à assistência à saúde, ao trabalho, à
46

moradia e à educação, quer-se primariamente fazer menção a direitos a


prestação em sentido estrito. (ALEXY, 2008, p. 499)

A prestação estatal pode ser meramente material, como por exemplo, com a
construção de escolas e creches; com o fornecimento de transporte gratuito, de
materiais escolares e de merenda, entre outros. Pode ser ainda meramente formal,
com a elaboração de normas que viabilizem o acesso e o exercício do direito à
educação.

Há ainda, hipóteses onde o dever do Estado se resume ao dever de não


intervenção, ou seja, de prestação negativa.

Os direitos sociais criados a partir do Estado de bem-estar são, em sua


maioria, direitos prestacionais. Diz-se em sua maioria, pois há direitos
sociais que têm natureza de liberdade negativa. Nesses casos, os direitos
sociais criam o dever de não intervenção nas escolhas e preferências
privadas do titular. (STRAPAZZON, 2012, p. 56)

Nesta hipótese, o Estado não pode interferir na escolha dos pais, pois ao
Estado cumpre apenas disponibilizar os meios necessários para que a opção dos
pais seja respeitada. É o que ocorre, por exemplo, com a escolha realizada pelos
pais pelo melhor tipo de educação a ser ministrada aos filhos.

Assim, é possível falar numa dimensão não-prestacional do direito à


educação, consistente no direito de escolha, livre, sem interferências do
Estado, quanto à orientação educacional, conteúdos materiais e opções
ideológicas. Nesse sentido, o Estado cumpre e respeita o direito à educação
quando deixa de intervir de maneira imperial ditando orientações
específicas sobre a educação, como “versões oficiais da História” impostas
como únicas admissíveis e verdadeiras, ou com orientações políticas,
econômicas ou filosóficas. Também cumpre a referida dimensão deste
direito quando admite a pluralidade de conteúdos (não veta determinadas
obras ou autores, por questões ideológicas, políticas ou morais).
(TAVARES, 2009, p. 9)

O direito fundamental à educação consiste ainda em um direito público


subjetivo. Isto quer dizer que o todo ser humano, residente, domiciliado ou
simplesmente de passagem pelo Brasil, tem o direito de exigir do Estado, todos os
meios necessários ao cumprimento da obrigação prestacional de educar. Obrigação
esta que, como já salientado, não se limita à mera disponibilização de escolas ou de
assegurar a matrícula em instituição de ensino, mas de ofertar de modo adequado e
suficiente, um ensino que efetivamente cumpra a sua função social, institucional e
47

constitucional. O Estado, portanto, é meio para que os indivíduos possam atingir


seus respectivos objetivos.

Por fim, é importante destacar que o direito fundamental à educação, como


bem definido no texto constitucional é um direito inerente a todos aqueles que
estiverem sob a sua égide, independentemente de raça, natureza sexual,
nacionalidade, credo ou idade, ou seja, o direito à educação é um direito garantido
àquele que usufrui do sistema educacional. Por outro lado, aos pais, enquanto
detentores do Poder Familiar tem o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, ou seja, é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais em relação
à pessoa e aos bens dos filhos menores de 18 anos.

Nota-se, portanto, que o direito fundamental à educação é um direito


complexo, que se consubstancia em uma garantia universal, porque inerente a todos
os seres humanos, independentemente de crença, raça, cor, gênero, idioma,
nacionalidade ou por qualquer outro motivo, cujo objetivo é a construção da
dignidade da pessoa humana. É ainda, um dever do Estado, a quem compete a
promoção de todos os meios, materiais ou formais, necessários ao pleno
desenvolvimento da pessoa, ao preparo para o exercício da cidadania e para a
qualificação para o trabalho. Por fim, constitui-se em um importante instrumento de
proteção, que impede que o Estado interfira na liberdade dos pais pela escolha do
melhor tipo de educação a ser ministrada aos filhos.

Contudo, após o julgamento do RE 888.815/RS pelo E. Supremo Tribunal


Federal o direito à Educação Domiciliar passou a ser considerado um direito não
vedado pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, porém, carente
de regulamentação legal para o seu pleno exercício.
48

3.2.1. Dignidade da Pessoa Humana

A Dignidade da Pessoa Humana, princípio fundamental da República


Federativa do Brasil e do Estado Democrático de Direito, cuja origem remonta ao
pensamento cristão da igualdade entre todos os seres humanos, se desenvolveu no
pensamento filosófico de Kant, antes de tornar presente na maioria das
Constituições dos Estados e nos documentos internacionais sobre Direitos Humanos
após o fim da Segunda Guerra Mundial (BARROSO, 2010, p. 5).

Embora a dignidade da pessoa humana tenha origem bíblica é a partir da


filosofia Kantiana que se desenvolve as primeiras “noções de razão e de dever, e
sobre a capacidade do indivíduo de dominar suas paixões e de identificar, dentro de
si, a conduta correta a ser seguida” (BARROSO, 2010, p. 16).

Segundo a teoria Kantiana, o sistema ético é formado por dois conceitos


fundamentais. A Autonomia e a dignidade. A autonomia “é a qualidade de uma
vontade que é livre. Ela identifica a capacidade do indivíduo de se autodeterminar
em conformidade com a representação de certas leis” (BARROSO, 2010, p. 71). Já
dignidade é algo que não se pode precificar. Não pode ser substituído por outro bem
equivalente.

No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma
coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como
equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto
não permite equivalente, então tem ela dignidade. (KANT, 2007, p. 77)

A partir da filosofia Kantiana, Barroso identifica a existência de três elementos


essenciais que formam o conteúdo mínimo da dignidade da pessoa humana: Valor
intrínseco, Autonomia da vontade e Valor social ou comunitário (BARROSO, 2014,
p. 72).

Grosso modo, esta é a minha concepção minimalista: a dignidade humana


identifica 1. O valor intrínseco de todos os seres humanos; assim como 2. A
autonomia de cada indivíduo; e 3. Limitada por algumas restrições legítimas
impostas a ela em nome de valores sociais ou interesses estatais (valor
comunitário). (BARROSO, 2014, p. 72)
49

Por “Valor Intrínseco” se entende todo aquele inerente a todo ser humano,
que os distingue dos outros animais.

Inicialmente, cumpre salientar — retomando a idéia nuclear que já se fazia


presente até mesmo no pensamento clássico16 — que a dignidade, como
qualidade intrínseca da pessoa humana, é irrenunciável e inalienável,
constituindo elemento que qualifica o ser humano como tal e dele não pode
ser destacado, de tal sorte que não se pode cogitar a possibilidade de
determinada pessoa ser titular de uma pretensão a que lhe seja concedida a
dignidade. (SARLET, 2007, p. 366)

Justamente por ser um valor intrínseco da pessoa humana, a dignidade “não


depende de concessão, não pode ser retirada e não é perdida mesmo diante da
conduta individual indigna do seu titular” (BARROSO, 2010, p. 23).

Do valor intrínseco decorrem dois postulados, um contra-utilitarista, segundo


o qual o homem é um fim em si mesmo, e não um meio de realizações de projetos
sociais, e um contra-autoritário, segundo qual o Estado existe para o indivíduo e não
o inverso.

O valor intrínseco, em razão da sua natureza está ligado a outros direitos


fundamentais, entre eles, o direito à vida, à igualdade e à integridade física, moral e
psíquica.

Já a “Autonomia da Vontade”, segundo Kant (2007, p. 85) é “aquela sua


propriedade graças à qual ela é para si mesma a sua lei (independentemente da
natureza dos objectos do querer).” A autonomia da vontade, portanto, está
relacionada à capacidade do ser humano de tomar decisões e de fazer escolhas ao
longo da vida, sem qualquer influencia externa.

Ainda segundo Kant (2007, p, 79), a Autonomia é “pois o fundamento da


dignidade da natureza humana e de toda a natureza racional.”

Por fim, “Valor Social ou Comunitário”, que é o limitador da autonomia da


vontade.
50

Aliás, consoante já anunciado, a própria dimensão ontológica (embora não


necessariamente biológica) da dignidade assume seu pleno significado em
função do contexto da intersubjetividade que marca todas relações
humanas e, portanto, também o reconhecimento dos valores (assim como
princípios e direitos fundamentais) socialmente consagrados pela e para a
comunidade de pessoas humanas. (SARLET, 2010, p. 370)

O valor social ou comunitário enfatiza “o papel do Estado e da comunidade no


estabelecimento de metas coletivas e de restrições sobre direitos e liberdades
individuais em nome de certa concepção de vida boa” (BARROSO, 2014, p. 88).

Da teoria filosófica Kantiana, a partir do século XX a dignidade da pessoa


humana passa a ganhar força normativa após figurar em Constituições de alguns
Estados, bem como em documentos internacionais de direitos humanos.

A primeira Constituição a incorporar a ideia de dignidade da pessoa humana


em seu texto foi a Constituição Mexicana de 05 de fevereiro de 1917, ao “atribuir aos
direitos trabalhistas a qualidade de direitos fundamentais, juntamente com as
liberdades individuais e os direitos políticos (arts. 5º e 123)” (COMPARATO, 2013, p.
107).

A Constituição da Alemanha ou Weimarer Verfassung de 1919 surge em


decorrência da derrota alemã sofrida na primeira grande guerra mundial. Embora
tenha tido curta duração (1919-1933) “exerceu decisiva influência sobre a evolução
das instituições políticas em todo o Ocidente”, pois representou “a melhor defesa da
dignidade humana, ao complementar os direitos civis e políticos - que o sistema
comunista negava - com os direitos econômicos e sociais, ignorados pelo liberal-
capitalismo” (COMPARATO, 2003, p. 115).

Comparato destaca ainda a importância que a Constituição Alemã deu em


relação à educação pública ao atribuir-lhe a qualidade de direito fundamental.

Mas foi, sem dúvida, pelo conjunto das disposições sobre a educação
pública e o direito trabalhista que a Constituição de Weimar organizou as
bases da democracia social. Consagrando a evolução ocorrida durante o
século XIX, e que contribuiu decisivamente para a elevação social das
camadas mais pobres da população em vários países da Europa Ocidental,
atribuiu-se precipuamente ao Estado o dever fundamental de educação
escolar. (COMPARATO. 2003, p. 117)
51

Com o fim da Segunda Grande Guerra em 1945 a dignidade da pessoa


humana passa a ser incorporada em diversos documentos internacionais de direitos
humanos, iniciando-se com a Carta da ONU de 1945 que estabeleceu a
Organização das Nações Unidas - ONU e reafirmou, no texto do seu preâmbulo, os
direitos fundamentais dos homens, com fundamento na dignidade e no valor do ser
humano, passando pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que,
também em preambulo, reconheceu a da dignidade como valor inalienável e
inerente a todos os membros da família humana, como fundamento da liberdade, da
justiça e da paz no mundo, e estendendo-se a diversos Tratados e Pactos
Internacionais envolvendo direitos humanos.

Apesar de constar em diversos documentos internacionais de direitos


humanos e também em diversas Constituições de outros Estados, não há um
conceito formado de dignidade da pessoa humana.

Embora traçado o conteúdo mínimo da dignidade da pessoa humana, não é


tarefa fácil firmar um conceito de dignidade da pessoa humana. Para Barroso, a
dignidade da pessoa humana “deve ser pensada como um conceito aberto, plástico,
plural” (BARROSO, 2010, p. 18), isto porque o seu conceito varia no tempo e no
espaço.

Por outro lado, inobstante uma indefinição por parte da doutrina, o conceito
formulado por Sarlet, o qual se adota para a elaboração do presente trabalho, é o
que melhor exprime o sentido e o alcance da dignidade da pessoa humana.

A dignidade da pessoa humana corresponde à qualidade intrínseca e


distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a
pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano,
como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma
vida saudável, além de propiciar e promover a sua participação ativa e co-
responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com
os demais seres humanos. (SARLET, 2001, p. 60)

No Brasil, a dignidade da pessoa humana foi assegurada apenas na


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, entretanto, dado à sua
52

essencialidade foi consagrado como Princípio Fundamental da ordem Republicana e


do Estado Democrático de Direito, colocando “a pessoa humana como fim último de
nossa sociedade e não como simples meio para alcançar certos objetivos, como, por
exemplo, o econômico” (BASTOS, 1999, p. 133).

Considerando que toda Constituição há de ser compreendida como unidade


e como sistema que privilegia determinados valores sociais, pode-se afirmar
que a Carta de 1988 elege o valor da dignidade humana como valor
essencial, que lhe dá unidade de sentido. Isto é, o valor da dignidade
humana informa a ordem constitucional de 1988, imprimindo-lhe uma feição
particular. (PIOVESAN, 2013, p. 87)

A sua importância como valor intrínseco não se dá somente em razão da sua


posição e disposição no texto constitucional, mas notadamente em razão da sua
qualidade de núcleo básico e informador de todo o ordenamento jurídico,
constitucional e infraconstitucional.

De sua natureza de princípio jurídico decorrem três tipos de eficácia, isto é,


de efeitos capazes de influenciar decisivamente a solução de casos
concretos. A eficácia direta significa a possibilidade de se extrair uma regra
do núcleo essencial do princípio, permitindo a sua aplicação mediante
subsunção. A eficácia interpretativa significa que as normas jurídicas devem
ter o seu sentido e alcance determinados da maneira que melhor realize a
dignidade humana, que servirá, ademais, como critério de ponderação na
hipótese de colisão de normas. Por fim, a eficácia negativa paralisa, em
caráter geral ou particular, a incidência de regra jurídica que seja
incompatível – ou produza, no caso concreto, resultado incompatível – com
a dignidade humana. (BARROSO, 2010, p. 37)

Sobre o tema, Piovesan também destaca o caráter centralizador da dignidade


da pessoa humana a orientar todo o sistema normativo, considerando-o, inclusive,
como um superprincípio constitucional.

Assim, seja no âmbito internacional, seja no âmbito interno (à luz do Direito


Constitucional ocidental), a dignidade da pessoa humana é princípio que
unifica e centraliza todo o sistema normativo, assumindo especial
prioridade. A dignidade humana simboliza, desse modo, verdadeiro
superprincípio constitucional, a norma maior a orientar o constitucionalismo
contemporâneo, nas esferas local e global, dotando-lhe de especial
racionalidade, unidade e sentido. (PIOVESAN, 2013, p. 89)

O direito fundamental à educação, por se tratar de um direito social, com a


finalidade do pleno desenvolvimento do ser humano e o preparo para a cidadania e
ao trabalho, também está intimamente ligada à pessoa humana, recebendo,
portanto, a mesma influência e proteção.
53

Dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de


todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida. [...] Daí
decorre que a ordem econômica há de ter por fim assegurar a todos
existência digna (art. 170), a ordem social visará a realização da justiça
social (art. 193), a educação, o desenvolvimento da pessoa e seu preparo
para o exercício da cidadania (art. 205) etc., não como meros enunciados
formais, mas como indicadores do conteúdo normativo eficaz da dignidade
da pessoa humana. (SILVA, 2014, p. 107)

Na qualidade de princípio informador, a dignidade da pessoa humana não


pode e nem deve ser comparada a outros Princípios fundamentais.

Então, a dignidade é pressuposto de todo direito fundamental, não sendo


correto "medir" algum direito fundamental com a dignidade da pessoa
humana (pois então a dignidade tenderia a sobrepor-se sempre), mas aferir
a intensidade de impacto de qualquer direito fundamental em relação à
dignidade, que funciona, assim, como uma espécie de "medida" dos direitos
fundamentais. (ROTHENBURG, 2014, p. 43)

Cumpre destacar também que a dignidade da pessoa humana, embora se


caracterize com Princípio geral informador de todo o sistema jurídico, ele não é
absoluto, podendo ser apreciado com maior ou menor grau de amplitude.

A relação de preferência do princípio da dignidade humana em face de


outros princípios determina o conteúdo da regra da dignidade humana. Não
é o princípio que é absoluto, mas a regra, a qual, em razão de sua abertura
semântica, não necessita de limitação em face de alguma possível relação
de preferência. O princípio da dignidade humana pode ser realizado em
diferentes medidas. O fato de que, dadas certas condições, ele prevalecerá
com maior grau de certeza sobre outros princípios não fundamenta uma
natureza absoluta desse princípio, significando apenas que, sob
determinadas condições, há razões jurídico-constitucionais praticamente
inafastáveis para uma relação de precedência em favor da dignidade
humana. (ALEXY, 2015, p. 114)

Neste sentido, a dignidade da pessoa humana pode ser afastada diante de


determinada colisão entre princípios, ou até mesmo, entre efeitos da própria
dignidade da pessoa humana, porém, a pessoa humana jamais poderá ser
rebaixada a um mero objeto, a mero instrumento, tratada como uma coisa.

Por fim, a dignidade da pessoa humana, em alguns países é aplicável


também nas relações privadas, o que corresponde à eficácia horizontal.
54

Uma última observação: a dignidade humana, em muitos países, é tida


como aplicável tanto às relações entre indivíduos e governo quanto às
relações privadas, o que corresponde à chamada eficácia horizontal dos
direitos constitucionais (drittwirkung). (BARROSO, 2010, p. 68)

Sarmento vai mais além e defende a aplicação da horizontalidade dos direitos


fundamentais entre as relações privadas no direito constitucional brasileiro.

Fala-se em eficácia horizontal dos direitos fundamentais, para sublinhar o


fato de que tais direitos não regulam apenas as relações verticais de poder
que se estabelecem entre estado e cidadão, mas incidem também sobre
relações mantidas entre pessoas e entidades não estatais, que se
encontram em posição de igualdade formal. (SARMENTO, 2010, p. 19)

Conclui-se, portanto, que o direito fundamental à educação é um direito social


e inerente à pessoa humana, portanto, sob a proteção e limitação do Princípio
fundamental da dignidade da pessoa humana e dos documentos internacionais de
direitos humanos, o qual pode, inclusive, influenciar as relações privadas.
55

3.2.2. Vedação ao Retrocesso

Outro princípio inerente aos direitos humanos fundamentais é o que


estabelece ao Poder Público a proibição de criação de normas que excluam ou
limitem, significativamente, o exercício de direitos fundamentais já implementados e
usufruídos pelos seus devidos legitimados. Trata-se do Princípio da Vedação ao
Retrocesso, princípio “segundo o qual não seria possível extinguir direitos sociais já
implementados” (MENDES, BRANCO, 2015, p. 644). É o chamado efeito cliquet dos
direitos fundamentais.

De acordo com este princípio, os direitos fundamentais se encontram em uma


constante escalada, onde o desenvolvimento atingido não é mais passível de
retrogradação, diluição, destruição ou negação, sem que haja alternativas ou
compensações (ROTHENBURG, 2014, p. 32).

Já para Canotilho o princípio que veda o retrocesso dos direitos fundamentais


sociais, também designado de proibição de contra-revolução social ou da evolução
reacionária, constitui-se em garantia institucional e um direito subjetivo.

A ideia aqui expressa também tem sido designada como proibição de


«contrarevolução social» ou da «evolução reaccionária». Com isto quer
dizer se que os direitos sociais e económicos (ex.: direito dos trabalhadores,
direito à assistência, direito à educação), uma vez alcançados ou
conquistados, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia
institucional e um direito subjectivo. (CANOTILHO, 1993, p. 468)

O princípio da vedação ao retrocesso cria obrigações e limites ao Estado e


assegura direitos e garantias fundamentais aos seres humanos. Disto resulta que, o
objetivo do princípio da vedação ao retrocesso é proteger o núcleo essencial dos
direitos fundamentais e garantias sociais assegurados historicamente pelas
Constituições dos Estados contra a ação do legislador contemporâneo.

Esta eficácia impeditiva traduz seus efeitos no plano normativo e no plano


concreto. No plano normativo, a vedação ao retrocesso impede a revogação das
normas que consagram os direitos fundamentais ou a substituição destas normas
por outras que não ofereçam as mesmas garantias ou garantias equivalentes. No
56

plano concreto, a proibição do retrocesso impede a implementação de políticas


públicas de enfraquecimento dos direitos fundamentais (ROTHENBURG, 2014, p.
33).

Segundo Mendes e Branco (2015, p. 644) o núcleo essencial do princípio da


vedação ao retrocesso é composto por elementos que se fundamentam no princípio
dignidade da pessoa humana e no princípio do estado democrático de direito.

Já Sarlet, Marinoni e Mitidiero defendem que o princípio da vedação ao


retrocesso está intimamente relacionado aos Princípios da Segurança Jurídica e do
Estado Democrático de Direito.

Além disso, a proibição de retrocesso social guarda relação com o princípio


da segurança jurídica (consagrado, entre outros, no Preâmbulo da
Constituição Federal e no caput dos arts. 5.º e 6.º) e, assim, com os
princípios do Estado Democrático e Social de Direito e da proteção da
confiança, na medida em que tutela a proteção da confiança do indivíduo e
da sociedade na ordem jurídica, e de modo especial na ordem
constitucional, enquanto resguardo de certa estabilidade e continuidade do
direito, notadamente quanto à preservação do núcleo essencial dos direitos
sociais. (SARLET, MARINONI, MITIDIERO, 2015, p. 640)

Quanto ao destinatário do princípio da vedação ao retrocesso Mendes e


Branco destacam a existência de duas posições. A primeira posição defende que o
princípio da garantia do direito adquirido tem por destinatário o legislador ordinário.
Já a segunda posição defende que a garantia do direito adquirido foi concebida
também em face do legislador constitucional (MENDES, BRANCO, 2015, p.
131/132).

Não obstante a existência de posições contrárias, a posição adotada pela


segunda corrente, da qual este pesquisador se filia, parece ser a mais acertada. Isto
porque, embora o legislador constituinte originário não esteja vinculado a qualquer
limite, a integridade política de Ronald Dworkin (1999, p. 262) o qual se refere ao
compromisso de que o governo aja de modo coerente e fundamentado em princípios
com todos os seus cidadãos, a fim de estender a cada um os padrões fundamentais
de justiça e equidade.
57

Portanto, o Estado, seja na edição de Normas Ordinárias ou na edição de


Normas Constitucionais, deve sempre respeitar o princípio da vedação ao
retrocesso, o qual impede a supressão ou a inviabilização de acesso a direitos e
garantias fundamentais já implementados e usufruídos.
58

4. Homeschooling ou Educação Domiciliar

A educação, no mundo, e, principalmente no Brasil, conforme já destacado


em linhas passadas, passou por diversas fases desde a sua implantação, com a
finalidade de conversão dos gentios à fé católica, até os dias de hoje.

Nesta escalada histórica, é possível constatar que houve substancial


evolução quanto ao seu conceito, conteúdo, forma de aplicação, responsáveis,
destinatários e, principalmente, quanto à sua finalidade.

Na atualidade, a garantia constitucional ao Direito à Educação é


regulamentada pela Lei n. 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LBD. De acordo com esta norma, a educação, que abrange os processos
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais, tem por finalidade o
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.

Em contraposição a este método formal de educação, inúmeras famílias


brasileiras, motivadas pelos mais diversos fatores, vêm readotando um método de
ensino que recentemente foi extinto no Brasil, contudo, é aceito e regulamentado em
diversos países ao redor do mundo.

Trata-se do Homeschooling, Home Education, Ensino Doméstico, Ensino


Domiciliar, Educação Domiciliar ou Educação Não Formal, o qual consiste em um
método educacional onde todo o conteúdo pedagógico é ministrado diretamente ao
aluno pelos seus próprios pais ou responsáveis no âmbito do seu lar, em
contraposição ao método tradicional.

O termo homeschooling, de língua inglesa, usual nos Estados Unidos da


América, é usado internacionalmente para identificar uma modalidade de
educação específica que é organizada e implementada pelos próprios pais
como alternativa de escolarização de seus filhos em casa e não na escola.
É traduzido, normalmente, para o português, por Educação Domiciliar, em
59

uma tradução literal da junção da palavra home (casa, ou lar), com a


palavra school (escola). (ANDRADE, 2014, p. 20)

O Homeschooling é uma prática onde a educação pode ser ministrada de


forma direta ou indireta, ou seja, diretamente pelos pais ou responsáveis ou por
delegação a terceiros, como tutores, curadores ou pedagogos particulares.

Assim, o que chamaremos livremente ora de homeschooling/home


education, ora de educação não escolar, de educação domiciliar/domestica,
ou de educação em casa/no lar, será a pratica de pais ou responsáveis
legais educarem, direta ou indiretamente (com delegação a terceiros ou
não), os filhos ou tutelados em idade escolar fora de escolas regulares, e
por mais tempo dentro do lar do que fora dele. (VIEIRA, 2012, p.12)

Para a Associação Nacional de Educação Domiciliar – ANED32, a melhor


forma de conceituar o Homeschooling é definir, justamente, o que não é educação
domiciliar.

Bem, talvez a melhor maneira de responder a essa pergunta seja pela via
contrária. Então, primeiro vamos tentar definir o que não é Educação
Domiciliar.
E para começar, Educação Domiciliar não é...
…um método de ensino;
…a utilização de um material didático específico;
…o simples ato de tirar uma criança da escola;
…uma ideologia/filosofia fechada;
…foco no conteúdo;
…saber tudo para poder ensinar tudo;
…superioridade do currículo sobre o aluno;
…divisão rígida em séries e nem o ensino de matérias
compartimentalizadas;
…utilizar as mesmas técnicas e equipamentos da escola;
…escola em casa. (ANED, 2018)

Edson Prado de Andrade apud COLLOM e MITCHELL defende que o


Homeschooling é tanto um método educativo, quanto um movimento social
alternativo:

Homeescolaridade é um movimento cujos aspectos mais específicos são


pouco conhecidos?: “é tanto um meio de educar as crianças de acordo com
os padrões dos pais quanto um movimento social alternativo que busca
abraçar um único conjunto de normas e valores culturais. [...]
Homeschoolers são, com certeza, uma população heterogênea, com uma

32
A ANED – Associação Nacional De Educação Domiciliar – é uma instituição sem fins lucrativos,
fundada no ano de 2010, por iniciativa de um grupo de famílias. A principal causa defendida pela
ANED é a autonomia educacional da família. Fonte: https://www.aned.org.br/pages Acesso em
01/07/2018.
60

variedade de razões para dar esse passo significativo.” (ANDRADE, 2014,


p. 24)

Portanto, conceitualmente, Homeschooling é um método de ensino onde os


pais ou responsáveis assumem por completo o controle do processo educacional
dos seus filhos, sem a necessidade de realização de matrícula em escolas públicas
ou privadas ou de registro de frequência.

Importante destacar que o Homeschooling não se confunde com o


Unschooling. No primeiro método educacional/movimento social há apenas a
assunção, pelos pais, da responsabilidade pela educação dos seus filhos no seio do
lar, sem a alteração do currículo escolar. Já no segundo método
educacional/movimento social, a autonomia da educação é toda da criança, que
escolhe o que, quando e onde estudar.

Não devemos confundir o objeto do presente estudo com o fenômeno do


unschooling, que nega a instituição escolar e coloca a própria criança como
agente diretivo do aprendizado, escolhendo o que estudar, quando estudar
e até mesmo se quer estudar. O homeschooling, por sua vez, não nega os
currículos escolares e, na sua vertente majoritária, deseja que as crianças e
adolescentes possam receber educação em casa, mas em parceria com as
instituições do Estado, tanto na autorização do processo, quanto na
avaliação do aprendizado. (ALEXANDRE, 2016, p. 4)

A este respeito, Alexandre Magno Fernandes Moreira também destaca a


diferença entre Homeschooling e Unschooling.

a) Escola em casa (school-at-home): consiste basicamente na transposição


da rotina escolar para a casa. Os pais adotam livros didáticos, fazem
avaliações e registros. Geralmente, os pais adquirem um sistema on line,
seguindo-o rigidamente. Isso pode incluir a matrícula dos filhos em escolas
a distância que fornecem suporte para os pais;
b) Unschooling (educação natural ou educação dirigida pelas crianças):
considera que as atividades escolhidas pelo aprendiz são o principal meio
para o aprendizado. Assim, as atividades educacionais são determinadas
pelos próprios interesses das crianças, sem a utilização de um currículo
fixo. O termo foi criado por John Holt e baseia-se na concepção de que não
há diferença entre viver e aprender, sendo prejudicial à criança a separação
artificial entre essas atividades. (MOREIRA, 2016, p. 50)

A origem do Homeschooling é incerta, contudo, estudos demonstram que


desde o século XVIII, nos Estados Unidos, já havia famílias que educavam os seus
filhos em casa.
61

Dentre as personalidades mais conhecidas que foram educadas através do


método do Homeschooling Vieira destaca que estão alguns dos presidentes dos
Estados Unidos.

A forca da homeschool nos Estados Unidos encontra raízes profundas no


prestígio que a prática gozava entre foundind fathers do país: George
Washington, Abraham Lincoln, Thomas Jefferson e Benjamin Franklin foram
todos educados em casa. (VIEIRA, 2012, p.16)

Originalmente, o Homeschooling ou Educação Domiciliar era adotado apenas


pelas camadas mais nobres e ricas da sociedade.

A partir do século XVIII, na Europa Ocidental, a educação doméstica


realizada nas camadas abastadas da população vai deixando de ser
privilégio apenas das crianças nobres para se tornar uma prática recorrente
entre ricos comerciantes, altos funcionários e famílias de elite que se
espelhavam nos hábitos da aristocracia. (VASCONCELOS, 2007, p. 25)

Com a evolução da sociedade este método de ensino acabou sendo adotado


em praticamente todas as classes sociais até meados do século XIX, quando houve
o surgimento da massificação das escolas.

Antes de a escola tornar-se um fenômeno de massas no decorrer dos


séculos XIX e XX, a educação era quase sempre provida integralmente em
casa, de modo mais informal, com o aprendizado do ofício paterno pelos
filhos das famílias mais humildes, e de modo mais formal, com a
contratação de tutores e preletores para a educação dos filhos das famílias
mais prósperas. (MOREIRA, 2016, p. 58)

Este processo de massificação da escolarização, ou seja, a expansão


quantitativa da escolarização em cada um dos níveis do sistema educacional,
embora tenha garantido o acesso das camadas mais pobres à educação em sua
forma escolar, também provocou a insatisfação de vários pais e de profissionais da
área da educação.

Esta insatisfação, aliado ao movimento de reforma da educação defendido


pelo professor e escritor norte americano John Holt veio a desencadear, na década
de setenta, nos Estados Unidos, o ressurgimento do Homeschooling.

Segundo a Associação Nacional de Educação Domiciliar:


62

[...] influenciado pelas ideias de John Illich, o professor Holt defendia a ideia
de que as escolas necessitavam se transformar em espaços de
aprendizagens lúdicos, variados e cheios de estímulos, onde as crianças
fossem capazes de se desenvolver de acordo com sua própria curiosidade,
e com as experiências que lhes fossem vivenciadas. No final dessa mesma
década, Holt acabou desistindo das tentativas de transformação da prática
escolar, e passou a defender a ideia de se educar as crianças em casa,
longe dos problemas e vícios presentes nas instituições escolares. (ANED,
2018)

De acordo com o sociólogo André Holanda Padilha Vieira (2013, p 35), ao


participar de audiência pública realizada em 12 de junho de 2013 na Câmara dos
Deputados, a “educação em casa é legalmente admitida em pelo menos 63 países
no mundo.”

Nos Estados Unidos, onde o Homeschooling é regulamentado há mais de


duas décadas em todos os seus cinquenta estados, existe o maior número de
Homeschoolers no mundo, contando atualmente com mais de 2,3 milhões de
estudantes.

There are about 2.3 million home-educated students in the United States (as
of spring 2016). This is up from one estimate that there were about 2 million
children (in grades K to 12) home educated during the spring of 2010 in the
United States (Ray, 2011). It appears the homeschool population is
continuing to grow (at an estimated 2% to 8% per annum over the past few
33
years). (NHERI , 2018)

Em razão da autonomia estatal, cada um dos Estados Norte Americanos


possui legislação própria em relação ao Homeschooling.

33
O NHERI realiza pesquisas em homeschooling, é uma central de pesquisas para o público,
pesquisadores, homeschoolers, a mídia e os formuladores de políticas e educa o público sobre as
descobertas de todas as pesquisas relacionadas. O NHERI executa, avalia e dissemina estudos e
informações (por exemplo, estatísticas, fatos, dados) sobre educação escolar em casa (isto é,
educação domiciliar, educação domiciliar, educação domiciliar, escola domiciliar, educação em casa,
desescolarização, desescolarização, uma alternativa educação), publica relatórios e o periódico
acadêmico revisado por pares Home School Researcher, e atua em consultoria, testes de
desempenho acadêmico e testemunha especializada (em tribunais e legislaturas). Disponível em:
<https://www.nheri.org/>. Acesso em 15/07/2018.
63

Estados que não exigem notificação


Estados com baixa regulação
Estados com moderada regulação
Estados com alta regulação

Conforme levantamento realizado pela Home School Legal Defense


Association – HLSDA (2018)34, os Estados que possuem mais exigências ou de alta
regulação são: Nova York, Pensilvânia, Vermont, Massachusetts e Rhode Island.

No Estado de Nova York, todas as crianças, a partir do ano em que


completam seis anos, devem frequentar a escola ou cumprir as leis do
Homeschooling. Aqueles que optarem pelo Homeschooling devem: a) enviar uma
notificação de intenção ao Superintendente Distrital juntamente com um Plano de
Instrução Inicial Individualizado; b) cumprir currículo escolar exigido, c) arquivar
relatórios trimestrais e d) realizar a avaliação anual do estudante. (HLSDA, 2018)

34
A HSLDA é uma organização de advocacia sem fins lucrativos criada para defender e promover o
direito dos pais de orientar a educação de seus filhos e proteger as liberdades familiares. Foi fundada
por Michael Farris em 1983 com o propósito de defender as famílias de homeschooling. Disponível
em: <https://hslda.org/content/about/>. Acesso em: 10/07/2018.
64

No Estado da Pensilvânia todas as crianças entre oito a dezessete anos


devem frequentar a escola ou cumprir as leis do Homeschooling, mas aqueles que
optarem pelo Homeschooling tem quatro opções legais entre os programas de
Homeschooling. (HLSDA, 2018)

Caso optem pela legislação do Homeschooling, os pais devem certificar-se


que possuem as qualificações necessárias, registrar uma declaração, cumprir o
currículo escolar exigido, manter um portfólio e realizar a avaliação anual do
estudante.

Caso optem por contratar um professor particular é necessário arquivar uma


cópia da certificação do professor.

Se a opção for inscrever os seus filhos em um programa satélite de uma


escola religiosa35, há a obrigação de cumprir o currículo escolar exigido, apresentar
uma declaração formal e relatar os nomes e residências de todos os estudantes
matriculados. Por fim, é possível inscrever os seus filhos em um programa satélite
de um dia ou escola credenciada.

No Estado de Vermont, todas as crianças devem estar matriculadas a partir


do dia em que completam seis anos. Para aqueles que optarem pelo Homeschooling
é necessário: a) enviar um aviso de inscrição por escrito e b) uma narrativa; c) obter
o reconhecimento de conformidade, d) cumprir o currículo escolar exigido e e)
avaliar o estudante anualmente. (HLSDA, 2018)

No Estado de Massachusetts, primeiro Estado Norte-americano a adotar a


frequência obrigatória em 1852, todas as crianças devem frequentar as escolas a
partir do ano em que completam seis anos de idade. Aos que optarem pelo
Homeschooling é necessário: a) enviar uma notificação de intenção anual ao distrito
escolar; b) cumprir o currículo escolar exigido; c) manter bons registros e d) avaliar o
estudante conforme a necessidade. (HLSDA, 2018)

35
Em um programa satélite um administrador é nomeado para manter todos os registros e os
professores são os pais. A escola é dividida em tantos lugares quanto forem as casas dos alunos.
65

Por fim, no Estado de Rhode Island, todas as crianças devem estar


matriculadas a partir dos seis anos de idade. Aos que optarem pela legislação do
Homeschooling os pais devem: a) enviar uma notificação de intenção; b) obter a
aprovação; c) fornecer o período de instrução necessário; d) cumprir o currículo
escolar exigido; e) manter um registro de presença e f) cumprir com todos os
requisitos impostos pelo distrito local. (HLSDA, 2018)

Os Estados que possuem regulação moderada, ou seja, que exigem que os


pais cumpram currículos, enviem notificações, resultados de testes e avaliação de
progresso do aluno de acordo com a HSLDA (2018) são: Washington, Carolina do
Norte, Carolina do Sul, Colorado, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Flórida, Hawaii,
Louisiana, Maine, Maryland, Minnesota, New Hampshire, Ohio, Oregon, Tennessee,
Virginia e West Virgínia.

Na visão deste pesquisador, o grupo que possui restrições moderadas traz as


melhores soluções para regulamentação da Educação Domiciliar no Brasil.

No Estado de Washington os pais possuem duas opções. Caso optem pele


legislação do Homeschooling, os pais devem: a) ser supervisionados ou possuir
qualificação mínima para instruírem seus filhos; b) arquivar uma notificação de
intenção; c) cumprir o currículo escolar exigido e d) realizar uma avaliação anual.
(HLSDA, 2018)

Caso optem pelo Homeschooling através de uma escola privada ou


denominacional, os pais devem: a) inscrever-se como um programa de extensão de
uma escola aprovada e b) cumprir com os requisitos da escola privada para os seus
programas de extensão.

No Estado da Carolina do Norte, todas as crianças entre sete e dezesseis


anos devem frequentar uma escola. Caso optem pela legislação do Homeschooling,
os pais podem optar ainda por dois tipos diferentes de escolas não públicas: a) uma
escola não pública qualificada ou b) uma escola não pública religiosa particular ou
uma escola de escritura religiosa.
66

Em ambos as hipóteses os requisitos são os mesmos. Exige-se: a) uma


notificação de intenção; b) uma qualificação mínima do educador; c) o cumprimento
de carga horária de no mínimo nove meses ao ano; d) a manutenção de registros de
atendimento ou imunização e e) a aplicação de uma prova anual. (HLSDA, 2018)

Caso os pais não queiram mais manter o Homeschooling ou saíam do


Estado, eles devem encerrar formalmente a sua escola doméstica.

No Estado da Carolina do Sul, a frequência escolar é obrigatória a partir dos


cinco anos de idade até terminarem o ensino médio ou completarem dezessete
anos. Para aqueles que optarem pelo Homeschooling é necessário cumprir uma
carga horária mínima de cento e oitenta dias e o cumprir o currículo escolar exigido
e escolher entre três tipos diferentes de legislação. (HLSDA, 2018)

Os pais podem optar pela legislação do Homeschooling. Neste caso os pais


precisam obter a aprovação do Conselho de Curadores; cumprir o currículo escolar
exigido; manter registros; enviar um relatório semestral de progresso e, e) aplicar
uma prova anual. Podem optar ainda Associação de Escolas Domésticas
Independentes da Carolina do Sul, e, por fim, os pais podem optar por uma
Associação de Homeschooling. Neste caso é necessário inscrever-se em uma
associação de Homeschooling com mais de cinquenta famílias/membros e cumprir
os requisitos da associação de Homeschooling.

No Estado do Colorado os pais possuem três opções de Homeschooling.


Caso optem pela legislação do Homeschooling do Estado do Colorado, os pais
devem notificar o distrito escolar; indicar qual dos pais será o responsável pela
educação; cumprir o currículo escolar exigido; manter registros; aplicar uma prova
anual. Se a opção for por uma escola independente, os pais podem ensinar o seus
filhos, porém, supervisionados por uma escola independente de Homeschooling.
(HLSDA, 2018)
67

Podem ainda educar os seus filhos mediante a contratação de um professor


certificado. Nesta hipótese, os pais ficam dispensados de enviar notificação, realizar
avaliações e outros procedimentos.

No Estado de Dakota do Norte é possível adotar a legislação do


Homeschooling ou se os pais possuírem a qualificação necessária, a forma de
escola particular. Em ambas as hipóteses é preciso que os pais: a) registrem uma
declaração de intenção; b) cumpram o currículo escolar exigido; c) mantenham
registros e d) apliquem uma prova anual. (HLSDA, 2018)

Caso o educando tenha alguma incapacidade de desenvolvimento também é


possível adotar o Homeschooling mediante o envio de formulário específico,
acompanhado de uma declaração de intenção; uma cópia do diagnóstico do
educando; um plano de educação e o envio de relatórios.

No Estado de Dakota do Sul, para aqueles que optarem pelo Homeschooling


é necessário: a) notificar um funcionário da escola local mediante formulário
específico; b) cumprir o currículo escolar exigido; c) cumprir a carga horária exigida;
d) aplicar e enviar o resultado das provas ao distrito escolar e, e) manter registros.
(HLSDA, 2018)

No Estado da Flórida os pais possuem três opções para a prática do


Homeschooling. A primeira sob a legislação do Homeschooling. Neste caso é
necessário que os pais arquivem uma notificação de intenção; mantenham um
portfólio; apliquem uma prova anual e arquivem uma declaração de rescisão caso
saiam do sistema. (HLSDA, 2018)

A segunda opção se dá através de uma escola particular que esteja


registrado no Departamento de Educação da Flórida. E a última opção, se dá
através da contratação de um professor particular, onde o requisito exigido é o
cumprimento da carga horária pré-estabelecida e a manutenção de registros.
68

No Estado do Hawaii é possível adotar o Homeschooling com base no


Estatuto do Homeschooling do Hawaii mediante o envio de uma notificação de
intenção; aplicação do currículo escolar exigido; manutenção de registros de
apresentação de relatórios anuais de progresso.

Também é possível adotar o Homeschooling como um programa educacional


alternativo. Neste caso, é necessário que os pais possuam diploma de bacharel;
obtenham aprovação do Superintendente; apliquem o currículo escolar exigido e
apresentem um relatório anula de progresso. (HLSDA, 2018)

No Estado de Louisiana o Homeschooling é legalizado sob duas formas. Na


primeira hipótese, ou seja, sob a legislação do Homeschooling é preciso solicitar
uma aprovação do Conselho de Ensino Fundamental e Médio da Louisiana; cumprir
a carga horária exigida; cumprir o currículo escolar exigido; estar imunizado e
renovar o pedido de aprovação anualmente. Na segunda hipótese, ou seja, através
de uma escola domiciliar particular, é preciso fornecer uma notificação anual de
participação e cumprir a carga horária exigida. (HLSDA, 2018)

No Estado de Maine, o Homeschooling também é legalizado sob duas formas.


A primeira sob a legislação do Estado de Maine. Neste caso é preciso que os pais
arquivem um aviso único ao superintendente da escola local; enviem uma carta
anual ao superintendente da escola local; aplicar o currículo escolar exigido e aplicar
uma avaliação anual. A segunda forma como se fosse uma escola particular.
(HLSDA, 2018)

No Estado de Maryland existem três formas para a adoção do


Homeschooling. A primeira sob a opção de portfólio. Neste caso é preciso o registro
de um formulário de aviso de consentimento com o superintendente. A segunda
através de um programa educacional fornecido por uma Igreja onde é preciso
participar de um programa oferecido por uma igreja; enviar um aviso de
consentimento ao superintendente; a supervisão do ensino pela igreja e verificar o
progresso no estudo e a terceira através de um programa educacional aprovado
69

pelo Estado, o qual exige o registro de um aviso de consentimento junto ao


superintendente e a verificação do progresso no estudo. (HLSDA, 2018)

No Estado de Minnesota, o Homeschooling é reconhecido pelo Código de


Educação de Minnesota, sendo necessário que os pais que utilizem o currículo
escolar exigido; mantenha registros; realizem uma avaliação anual e notifiquem o
distrito escolar local que o educando está estudando no lar. (HLSDA, 2018)

No Estado de New-Hampshire a frequência em escolas é obrigatória a partir


dos seis anos de idade até os dezoito anos de idade. Os praticantes do
Homeschooling devem encaminhar uma notificação apropriada às autoridades
educacionais; aplicar o currículo escolar exigido, aplicar provar anuais e notificar o
departamento de educação caso o educando vá se formar antes de completar
dezoito anos. (HLSDA, 2018)

No Estado de Ohio, o Homeschooling também é legalizado sob duas formas.


A primeira sob o Estatuto do Homeschooling, onde os pais necessitam enviar uma
notificação anual ao distrito escolar para que o educando seja dispensado da
frequência obrigatória; aplicar o currículo escolar exigido; aplique a carga horária
exigida; aplicar uma avaliação anual. Na segundo hipótese os pais podem optar por
uma escola não fretada ou não financiada por impostos. (HLSDA, 2018)

No Estado do Oregon, caso os pais optem pelo Homeschooling devem o


distrito de serviços de educação e testar os filhos no final do 3ª, 5ª, 8ª e 10ª séries.
Caso o educando possua alguma deficiência é necessária que ele seja avaliado por
um progresso educacional satisfatório de acordo com o método recomendado no
Plano de Educação Individualizado (IEP). (HLSDA, 2018)

No Estado do Tennessee é possível adotar o Homeschooling matriculando os


educandos em três tipos de escolas. Através de Escola doméstica independente
onde é necessário enviar uma notificação de intenção; comprovar a imunização,
cumprir a carga horária exigida; manter registros e testar os filhos ao final do 5º, 7º e
9º grau, através de um teste padronizado e administrado pelo comissário de
70

educação, por alguém designado pelo comissário ou por um serviço de teste


profissional aprovado pela Local Education Agency - LEA. (HLSDA, 2018)

Pode se dar ainda através de uma Escola relacionada a uma Igreja.

Segundo a HLSDA (2018), uma escola relacionada à igreja (CRS) é uma


escola operada por uma organização denominacional, paroquial ou outra
organização genuína da igreja e credenciada pela Associação de Escolas Cristãs do
Tennessee, pela Associação de Escolas Cristãs Internacionais, pela Associação de
Escolas Independentes do Tennessee, pelo Southern Associação de Faculdades e
Escolas, a Associação de Escolas Acadêmicas Não-Públicas do Tennessee, a
Associação de Escolas Relacionadas à Igreja do Tennessee, a Aliança Escolar das
Escolas Relacionadas com a Igreja do Tennessee ou uma escola afiliada à
Accelerated Christian Education, Inc.

O Homeschooling pode se dar também através da Escola de ensino à


distância de categoria III. Estas escolas são escolas não públicas, devidamente
credenciadas e que tem o dever de informar as frequências dos educandos ao
diretor do sistema de ensino público.

No Estado de Virgínia a frequência é obrigatória dos cinco anos de idade até


os dezoito anos de idade. Os pais que optarem pelo Homeschooling possuem quatro
opções para a prática. (HLSDA, 2018)

A primeira com base na legislação do Homeschooling. Neste caso os pais


precisam possuir instrução mínima; enviar um aviso anual ao superintendente da
escola e aplicar uma avaliação anual.

A segunda com base na convicção religiosa. Neste caso, é necessário que os


pais enviem uma carta de pedido de isenção religiosa para o conselho da escola e
obtenham a resposta positiva à carta de isenção religiosa.
71

A terceira através de um tutor certificado. Neste caso, uma pessoa com uma
licença atual de professor da Virgínia pode pedir ao superintendente escolar para
aprová-lo como tutor e, uma vez aprovado, a pessoa pode orientar qualquer criança
que ele queira, incluindo a sua própria.

E a quarta e última através de uma escola particular. Isto porque a legislação


da Virgínia permite que alunos matriculados em escolas particulares Homeschooling
não precisam estar presentes fisicamente na escola se houver o cumprimento do
currículo exigido.

Por fim, no Estado de West Virgínia os pais que pretenderem adotar o


Homeschooling terão duas opções. A primeira através de aprovação do conselho
escolar, onde os pais deverão cumprir uma carga horária de cento e oitenta dias por
ano; prestar informação, sempre que solicitado, a respeito do atendimento, instrução
e progresso e aplicar prova anual de avaliação. A segunda através do envio de uma
notificação de intenção ao conselho da escola ou ao superintendente. Nesta
hipótese os pais precisam, além de enviar uma notificação, avaliar anualmente o
educando e submeter os resultados da avaliação ao superintendente ao final do 3º,
5º, 8º e 11º grau. (HLSDA, 2018)

Ainda, segundo os critérios da HSLDA (2018), os Estados de Alabama,


Arizona, Arkansas, Califórnia, Geórgia, Kansas, Kentucky, Mississipi, Montana,
Nebraska, Nevada, New México, Utah, Wisconsin e Wyoming, possuem baixa
regulação, ou seja, exigem apenas o cumprimento de poucos requisitos, tais como o
envio de notificação de intenção pelos pais e o cumprimento de currículo escolar
mínimo. Este grupo, embora facilite o acesso á Educação Domiciliar não traz
segurança quanto aos avanços e resultados.

Alguns Estados exigem ainda o cumprimento de alguns requisitos específicos.

O Estado do Alabama apresenta três opções de Homeschooling. A primeira


ligada a uma instituição religiosa. A segunda ligada a uma escola particular
Homeschooling e a terceira ligada a um professor privado. (HLSDA, 2018)
72

O Estado da Califórnia também apresenta três opções de Homeschooling. A


primeira ligada a uma escola particular de Homeschooling. A segunda ligada a um
programa de escola particular via satélite e a terceira mediante a contratação de um
professor particular. (HLSDA, 2018)

O Estado do Kansas apresenta duas formas de Homeschooling. A primeira


ligada a uma escola privada não credenciada. A segunda como uma escola satélite
ligada a uma escola particular de Homeschooling. (HLSDA, 2018)

O Estado de Utah também apresenta duas opções de Homeschooling. A


primeira sob a legislação do Estado e a segunda ligada a uma escola particular de
Homeschooling. (HLSDA, 2018)

O Estado do Wyoming também apresenta duas opções de Homeschooling. A


primeira com base na legislação do Estado e a segunda ligada a uma instituição
religiosa. (HLSDA, 2018)

Por fim, os Estados de Alaska, Connecticut, Idaho, Illinois, Indiana, Iowa,


Michigan, Missouri, New Jersey, Oklahoma e Texas, não exigem qualquer tipo de
notificação, apenas o cumprimento de um currículo mínimo de horas e conteúdo e a
manutenção de registro de aulas. (HLSDA, 2018)

Dentre os Estados mais informais, os únicos que possuem requisitos


específicos são o do Alaska e o de Michigan. O primeiro exige o envio de notificação
de intenção apenas na hipótese de os pais optarem pelo Homeschooling através de
uma escola religiosa particular. O segundo exige o envio de notificação de intenção
apenas na hipótese de os pais optarem pelo Homeschooling através de escola não
pública. (HLSDA, 2018)

Embora os Estados com baixa regulação ou nenhuma regulação não exijam a


manutenção de registros, a HSLDA sempre recomenda que os pais mantenham o
73

registro de todas as atividades realizadas para evitar qualquer tipo de


questionamento pelo Estado.

A importância da manutenção de registros


Você pode encontrar os requisitos específicos de registro de dados da
Geórgia, se houver, acima. Independentemente do estado em que você
mora, a HSLDA recomenda que você mantenha registros detalhados de seu
programa de educação domiciliar. Esses registros podem ser úteis se você
enfrentar uma investigação sobre sua educação escolar em casa ou se seu
aluno precisar fornecer prova de educação.
Esses registros devem incluir registros de frequência, informações sobre
livros didáticos e livros usados, amostras do trabalho escolar de seu aluno,
correspondência com funcionários da escola, portfólios e resultados de
testes, e quaisquer outros documentos que mostrem que seu filho está
recebendo uma educação apropriada em conformidade com a lei. Você
deve manter esses registros por pelo menos dois anos. Você deve manter
os registros do ensino médio de seu aluno e prova de conformidade com as
leis de educação em casa durante os anos do ensino médio (incluindo
qualquer tipo de aviso de educação em casa que você arquiva com
funcionários estaduais ou locais) arquivados para sempre. A página do
ensino médio da HSLDA tem informações adicionais sobre a manutenção
de registros do homeschool. (HSLDA, 2018)

Dentre as modalidades de Homeschooling existentes nos Estados Unidos


este pesquisador se identifica com os requisitos exigidos no Estado de Washington,
pois entende que a matrícula em estabelecimento de ensino regular é necessária,
bem como a existência de supervisão, o cumprimento de carga horária mínima, a
observância de currículo geral mínimo e a realização de avaliações regulares são
imprescindíveis para o correto acompanhamento da evolução da criança e do
adolescente.

É importante frisar que, embora o Homeschooling seja praticado com maior


intensidade nos Estados Unidos, a Suprema Corte dos EUA jamais chegou a julgar
um caso Homeschooling.

Nesse país encontramos o maior número de pesquisas sobre o assunto,


conforme nos informam Kunzman e Gaither (2013, p.31), certamente em
razão de que é nele que se encontra o maior número de homeschoolers no
mundo. Segundo os autores, a Suprema Corte dos EUA ainda não chegou
a julgar um caso homeschooling, mas os que defendem o direito dos pais à
sua escolha como alternativa à escolarização obrigatória afirmam
repetidamente que se trata de um direito protegido pela primeira emenda e
também pela décima quarta da Constituição Federal daquele país.
(ANDRADE, 2017, p. 174)
74

O único caso registrado na Suprema Corte Americana diz respeito à


comunidade Amish (Caso Wisconsin v. Yoder, 406 U.S. 205), onde foi reconhecido o
que a Lei do Estado de Wisconsin infringia a liberdade de religião dos pais.

A Suprema Corte dos Estados Unidos (Supreme Court of the United


States) manteve a decisão. Considerou que o interesse do Estado em
oferecer educação universal precisa ser sopesado quando interfere em
outros direitos fundamentais, como aqueles especificamente protegidos pelo
direito de liberdade, da primeira emenda, e pelo interesse natural dos pais
de oferecer educação religiosa aos filhos. (STF, 2018, p. 19/20)

Vários países ao redor do mundo também reconhecem o Homeschooling.


Dentre os principais países estão a África do Sul, Albânia, Austrália, Áustria,
Azerbaijão, Bélgica, Bielorrússia, Canadá, Colômbia, Dinamarca, Eslovênia, Estônia,
Filipinas, Finlândia, França, Geórgia, Hungria, Índia, Indonésia, Inglaterra, Irlanda,
Irlanda do Norte, Islândia, Israel, Itália, Letônia, México, Nova Zelândia, Noruega,
País de Gales, Peru, Portugal, Qatar, República Tcheca e Rússia (HLSDA, 2018).

Países como África do Sul e Austrália exigem que os pais registrem seus
filhos perante as autoridades de educação.

Já países como Inglaterra e Finlândia estabelecem a obrigatoriedade de


matrícula em uma instituição educacional, porém, não estabelecem a
obrigatoriedade de frequência escolar.

Por outro lado, ainda existem países que vedam o direito ao Homeschooling.
Entre eles estão a Alemanha, Bulgária, China, Croácia, Cuba, Espanha, Holanda,
Grécia, Lituânia e Suécia.

A Alemanha é o país europeu mais restritivo quanto à educação domiciliar:


a educação é regulamentada em nível federal, e cada estado prevê a
escolaridade obrigatória, quer na Constituição, quer nas leis mais
importantes, cuja matéria trata de educação. [...] A Holanda é outro dos
poucos países europeus onde a educação domiciliar não é uma forma
aceitável de cursar o ensino obrigatório, e a educação escolar é o único
modelo permitido. (ANDRADE, 2017, p. 178/179)

Segundo a jurisprudência coletada pelo E. Supremo Tribunal Federal, o


Tribunal Constitucional Federal Alemão expressamente repeliu o pedido de uma
75

família que buscava o direito de educar os seus filhos em casa no regime de


Homeschooling.

O Tribunal Constitucional Federal da Alemanha


(Bundesverfassungsgericht ou BverfG) não admitiu a ação. Considerou que
a lei estadual era formal e materialmente constitucional. Ao editar o
dispositivo penal, o legislador federal não regulou a matéria de forma
conclusiva e, portanto, não impediu o uso do regramento estadual em
matéria de competência legislativa concorrente. As disposições penais
protegem bens jurídicos diferentes. O dispositivo do código penal protege o
desenvolvimento físico e psicológico de jovens menores de 16 anos. Por
outro lado, o dispositivo da legislação estadual tem como objetivo o
cumprimento da frequência escolar obrigatória. (STF, 2018, p.12)

Em outro processo o Tribunal Constitucional Federal Alemão considerou que


a ordem que determina os pais a realizarem a matricula de seus filhos na escola
pública ou privada não viola o direito fundamental dos recorrentes.

O Tribunal Constitucional Federal da Alemanha


(Bundesverfassungsgericht ou BverfG) decidiu que os pais deveriam
matricular seus dois filhos na escola, pública ou privada. Considerou que
essa determinação não viola o direito fundamental dos recorrentes, porque,
no que se refere à educação, a missão do Estado se equipara ao papel dos
pais. A educação escolar é um meio usado pelo Estado para garantir que as
crianças se tornem cidadãos responsáveis, capazes de participar do
processo democrático em uma sociedade plural. O ensino em casa não é
capaz de promover esse resultado. (STF, 2018, p.12)

A Corte Constitucional Espanhola em análise a recurso interposto contra a


decisão que determinou aos pais a matrícula de seus filhos em instituições de
ensino, considerou que os pais podem optar pela educação domiciliar com base em
suas convicções religiosas, contudo, não há liberdade de ensino quando de trata de
educação domiciliar.

A Corte Constitucional da Espanha (Tribunal Constitucional de España)


rejeitou o recurso. Analisou-se duas questões: (i) se o direito à educação
abrangeria a possibilidade de educar em casa e se (ii) a obrigatoriedade de
matrícula em instituição de ensino prevista na legislação era constitucional.
Segundo o Tribunal, por um lado, o direito constitucional à liberdade de
ensino habilita os pais a educar seus filhos fora do horário escolar e a criar
centros de ensino regularmente homologados com projetos pedagógicos de
sua preferência. Por outro lado, o direito à educação permite que os pais
ofereçam aos filhos educação de natureza religiosa e moral conforme suas
convicções, o que não foi o fundamento apresentado pelos recorrentes para
demandar o direito ao ensino em casa. Uma interpretação sistemática da
norma constitucional espanhola e dos dispositivos dos instrumentos
internacionais permite concluir que há liberdade de ensino quanto às
convicções religiosas ou morais, mas não quanto à educação em casa, uma
vez que essas normas também preveem a obrigatoriedade do ensino.
76

Sobre a constitucionalidade da obrigação de matrícula em instituição de


ensino, a Corte Constitucional esclareceu que tal dever não é uma
decorrência necessária do direito constitucional. (STF, 2018, p. 17)

Nestes países, assim como no Brasil, os pais são obrigados a realizar a


matrícula dos seus filhos em instituições formais de ensino e os educandos são
obrigados a frequentar as aulas. A inobservância destas regras pode levar à
aplicação de graves penalidades em relação aos pais que buscam educar os seus
filhos em casa. Estas penalidades podem variar desde multas até a perda da
custódia de seus filhos.

Nos países em que a educação domiciliar e proibida, ha casos de pais


multados, presos e que perderam a custodia dos filhos. Na Alemanha, em
que há cerca de 400 famílias homeschoolers – a maioria, cristã – dezenas
de relatos de condenações e prisões ocorridas nos últimos dez anos
mobilizaram pais e organizações locais e internacionais de proteção dos
direitos parentais, como a Schulunterricht zu Hause (em português,
Instrução Escolar em Casa), International Human Rights Group (IHRG),
Home School Legal Defense Association (HSLDA) e Home School
Foundation (HSF). (VIEIRA, 2012, p. 13/14)

Vieira (2012, p. 14), ressalta ainda que, “também há registros de famílias


processadas pelo governo na Suécia, Botswana e Brasil.”

Nota-se, portanto, que o ressurgimento da prática do Homeschooling, embora


seja mais intensa nos Estados Unidos, onde é aceita em todos os seus cinquenta
Estados, também é um movimento crescente ao redor do mundo, inclusive no Brasil.
77

4.1. Homeschooling no Brasil

No Brasil, como em outros países ao redor do mundo, o Homeschooling não é


um fenômeno recente. Legalmente, o Homeschooling foi admitido no Brasil desde o
seu descobrimento até a retomada da Democracia, com a promulgação da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

De forma semelhante aos Estados Unidos, a Educação Domiciliar no Brasil


era uma prática reconhecida e adotada principalmente pela classe dos nobres, que
possuíam condições financeiras para custear a educação de seus filhos,
preparando-os para o trabalho.

No Brasil, tais práticas vão se afirmar durante o Oitocentos, fazendo com


que as classes mais favorecidas, que podiam prover a educação de seus
filhos, utilizassem a educação doméstica não só para a educação
elementar, ou seja, para o ensino da leitura, escrita e contas mas também
para a continuidade da formação dos jovens, com conhecimentos
específicos. Dessa forma, a educação era dirigida pelo poder privado e
estava sob sua estrita responsabilidade. (VASCONCELOS, 2007, p. 25)

A partir do século XVIII, a educação domiciliar acabou se popularizando entre


as classes mais ricas, constituídas por altos funcionários do governo e por ricos
comerciantes e fazendeiros, que queriam dar aos seus filhos a mesma educação
que era dada aos filhos dos nobres.

Nessa perspectiva, faz-se notar que a educação pretendida pelas elites


aspirava não só a instrução, mas também uma educação intelectual que já
sinalizava a possiblidade de destaque de uns sobre os demais.
(VASCONCELOS, 2004, p. 29)

Neste período, o conhecimento passa a ser valorizado pela sociedade,


consistindo, em muitos casos, requisito fundamental para atuação no campo da
politica ou da economia. Com esta finalidade, as famílias brasileiras mais abastadas
passaram a contratar os serviços de professores particulares (mestres) que eram
responsáveis por dar as lições nas casas dos alunos e que podiam ou não morar
nas casas onde ministravam a educação.

Os professores particulares, também chamados de mestres particulares ou


mestres que davam lições “por casas”, eram mestres específicos de
primeiras letras, gramática, línguas, música, piano, artes e outros
78

conhecimentos, que visitavam as casas ou fazendas sistematicamente,


ministrando aulas a alunos membros da família, ou agregados,
individualmente. Não habitavam nas casas, mas compareciam, para
ministrar as aulas, em dias e horários preestabelecidos. Eram pagos pela
família pelos cursos que ministravam. Os preceptores eram mestres ou
mestras que moravam na residência da família, às vezes, estrangeiros,
contratados para a educação das crianças e jovens da casa (filhos,
sobrinhos, irmãos menores). Os mestres preceptores caracterizavam-se
pelo fato de viverem na mesma casa de seus alunos, constituindo-se,
assim, dentro da realidade da educação doméstica, naqueles que parecem
ter tido o maior custo para as famílias, sendo encontrados nas classes mais
abastadas. Havia, ainda, encarregados da educação até mesmo o padre
capelão, que ministravam aulas no espaço da própria casa, não tendo custo
algum e atendendo apenas às crianças daquela família ou parentela.
Apesar da nomenclatura e das circunstâncias diferenciadas de educação,
todos eram tratados por “mestres”. (VASCONCELOS, 2004, p. 28)

A opção dos pais pela educação doméstica era fundamentada, muitas vezes,
na necessidade de complementação da educação recebida nas escolas ou para o
aprendizado de alguma atividade especifica.

À elite, a educação doméstica parece ter sido uma prática imprescindível,


considerando-se, nesse período, um diferencial social, a educação passar
pela casa. Dessa forma, mesmo aqueles cujos filhos freqüentavam algum
colégio, ou aqueles que educavam, eles próprios, os filhos, em determinado
momento, necessitavam dos serviços de professores particulares ou
preceptores, seja para completar a educação recebida ou para a
aprendizagem de alguma atividade específica. (VASCONCELOS, 2007, p.
30)

No decorrer do século XIX, o Homeschooling no Brasil ainda era uma prática


comum, porém, não estava mais restrita apenas às elites políticas e econômicas
brasileiras. As camadas mais humildes da sociedade também passaram a ensinar os
seus filhos dentro de suas casas.

A partir do final da primeira metade do século XIX, vão, progressivamente,


multiplicando-se os anúncios de educação doméstica e, consequentemente,
tornando-se essa prática mais acessível não apenas às elites que dela já
faziam uso, mas às classes intermediárias que, também podiam dispor
desses serviços. (VASCONCELOS, 2004, p. 108)

A Educação, no entanto, não era aplicada de forma idêntica entre as classes


existentes. Na verdade, havia significativa diferença entre as finalidades do estudo
entre estas classes existentes.

Antes de a escola tornar-se um fenômeno de massas no decorrer dos


séculos XIX e XX, a educação era quase sempre provida integralmente em
casa, de modo mais informal, com o aprendizado do ofício paterno pelos
79

filhos das famílias mais humildes, e de modo mais formal, com a


contratação de tutores e preletores para a educação dos filhos das famílias
mais prósperas. (ANDRADE, 2014, p. 58)

No século XIX o Homeschooling era ministrado através de dois métodos


distintos. O primeiro consistia no método individual, onde cada aluno era atendido
individualmente pelo professor.

O método individual foi, sem dúvida, o mais usado na educação de


Oitocentos, e como não poderia deixar de ser, o mais adequado à educação
doméstica. Nele cada aluno era atendido individualmente pelo professor,
não só no que tange a conhecimentos ensinados, mas também na
observação de seus progressos e recuos, bem como, na aplicação das
“sabatinas” e “tomadas de lição ou ponto”. (VASCONCELOS, 2004, p. 128)

O segundo método consistia na educação compartilhada ou simultânea, onde


um único professor era responsável pela educação de vários alunos.

O método simultâneo consistia em um só professor encarregar-se de um


número proporcional de alunos, fazendo com que eles trabalhassem
associadamente, mesmo que estando em graus diferentes de
aprendizagem. Nesse caso, o professor atendia a cada um dos alunos,
disponibilizando e determinando aquilo de que cada um necessitava. Esse
método era considerado vantajoso, pois permitia o “espírito de associação
no trabalho, a harmonia e a concorrência de seus esforços, o espírito da
ordem e de emulação”. No entanto, não poderia ser aplicado a muitos
alunos e sua desvantagem era atribuída a que, estando os alunos em graus
de progresso diferentes, “necessariamente os mais adiantados ficarão
estacionários á espera dos mais atrasados”, ou então os mais atrasados
ficariam “embaraçados” à espera do professor. (VASCONCELOS, 2004, p.
128)

No século seguinte, várias reformas educacionais marcaram profundamente o


ensino no Brasil. Durante o período, que se estendeu de 1932 a 1969, várias
reformas foram realizadas visando a modernização da educação.

A Reforma idealizada Francisco Campos criou o Conselho Nacional de


Educação (Decreto n. 19850 de 11 de abril de 1931); reorganizou o ensino superior
(Decreto n. 19851 de 11 de abril de 1931) e a Universidade do Rio de Janeiro
(Decreto n. 19852 de 11 de abril de 1931). Reformou também o ensino secundário
(Decreto n. 19890 de 18 de abril de 1931) e restabeleceu o ensino religioso (Decreto
n. 19941 de 30 de abril de 1931).
80

Neste período também foi apresentado o primeiro Plano Nacional de


Educação (PNE), o qual estabelecia metas quantitativas e qualitativas para o
período de 1962 a 1970. O PNE estabelecia como meta, a escolarização de 100%
da população da faixa etária de 7 a 14 anos, no ensino primário e nas duas
primeiras séries ginasiais; de 50% da população de 13 a 15 anos, nas duas últimas
do ginásio e de 30% de escolarização para a faixa etária de 15 a 18 anos, nas séries
colegiais.

Uma das consequências deste processo de modernização foi o


estabelecimento da educação integral e gratuita, bem como da obrigatoriedade da
frequência escolar.

Embora este processo de modernização buscasse a erradicação do


analfabetismo e das desigualdades sociais, este processo também levou à
massificação do sistema educacional e ao declínio do Homeschooling no Brasil.

Com o aumento da infraestrutura das escolas, o governo pôde agir


maciçamente na divulgação da escola como o principal e quase que único
método de aprendizado, criando constituições que ignoravam
completamente uma realidade tão viva como a da educação domiciliar que
foi, aos poucos, ou sendo praticada apenas em áreas muito remotas ou se
extinguindo, pois, na “nova cultura escolar”, a escola tomou para si o direito
de educar. (VIEIRA, 2012, p.25)

O Estado impôs a obrigatoriedade do estudo público fundamentado na


necessidade de universalização da educação no Brasil e para equiparar o nível de
educação com outros países do mundo tomados como referência.

Inicialmente, é na afirmação da instrução pública como empreendimento


hercúleo e unicamente capaz de colocar a nação em condição de igualdade
aos países tomados como referência que o projeto do Estado ganha
adeptos, por vezes, convictos de que o ideal da instrução pública se
destinava, de fato, a uma perspectiva de progresso e de distribuição do
conhecimento a toda a população. (VASCONCELOS, 2007, p. 36)

O fim do regime militar em 1985 criou uma nova ordem jurídica no País e
também deu início ao processo de redemocratização brasileiro, o qual resultou na
promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
81

A “Constituição Cidadã”, como ficou conhecida, trouxe uma nova visão acerca
da educação no Brasil carreando ao Estado a obrigatoriedade pela prestação do
serviço educacional de forma integral e gratuita.

Por outro lado, o novo texto constitucional também resultou em um duro golpe
ao Homeschooling no Brasil. Isto porque, ao invés de repetir a norma disposta no
artigo 168 da Constituição Federal de 1967 e no artigo 176 da Emenda
Constitucional n. 1 de 17 de outubro de 1969, bem como nas Constituições
brasileiras anteriores, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
optou por excluir do texto constitucional a possibilidade de a educação ser dada no
lar, relegando às instituições educacionais a exclusividade na prestação do serviço
educacional.

Dessa forma, a instrução pública passa a ser demonstrada como uma


dimensão exclusiva das escolas, caracterizadas como instituições
educativas do Estado ou subordinadas a ele em suas licenças, autorizações
e certificações. (VASCONCELOS, 2007, p. 37)

A Lei n. 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LBD,


criada para regulamentar o direito fundamental à educação também reafirmou o
texto constitucional e estabeleceu que o direito à educação, o qual abrange os
processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana,
no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais, constitui-se em
direito social subjetivo e de acesso gratuito dos quatro anos aos dezessete anos,
nos níveis básico, fundamental e médio.

Estabeleceu ainda os níveis e as finalidades da educação e do ensino; os


profissionais habilitados para o exercício da arte de educar; a origem e a destinação
dos recursos financeiros necessários á manutenção sistema público de ensino e a
competência de cada um dos entes participantes para a organização do sistema
nacional de educação.

Por fim, estabeleceu o currículo escolar nacional referente a todos os níveis e


categorias de ensino. Entretanto, em contrariedade à tradição até então mantida,
82

estabeleceu que a frequência escolar é obrigatória de, no mínimo, setenta e cinco


por cento do total de horas letivas, sob pena de reprova.

Ocorre que, ao estabelecer como principais requisitos para o acesso à


educação, a obrigatoriedade dos pais em efetuar a matrícula de seus filhos em
instituição de ensino público ou privado e a obrigatoriedade de frequência mínima
aos alunos matriculados na rede de ensino, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional suprimiu praticamente por completo a possibilidade de aplicação do
Homeschooling no Brasil.

Por outro lado, o movimento do Homeschooling, que havia entrado em


decadência anos antes do processo de redemocratização do Estado Brasileiro, mas
ainda era praticado de forma isolada por algumas famílias, pois muitos pais
“entendiam estar na sua vontade dar ou não instrução aos filhos, especialmente,
quando a idéia de instrução pública estava identificada com a freqüência a uma
escola estatal” (VASCONCELOS, 2007, p. 38), segundo a ANED (2018), vem se
fortalecendo e ganhando novos adeptos a partir dos anos noventa.

Os motivos apresentados pelos pais são os mais variados, que partem desde
a insatisfação com o conteúdo didático ou com as condições materiais das escolas,
passando pelos históricos de bullying, violência física e emocional, chegando até a
incidentes mais graves, como a convivência com drogas lícitas e ilícitas.

A fragilidade do ensino público é notória. Não são poucas as noticias de


violência escolar veiculadas nas principais mídias sociais, digitais e impressas, que
divulgam a precariedade do ensino público.

A falta de vagas nas escolas ainda continua sendo um dos maiores desafios
da educação no Brasil. Faltam vagas em todos os níveis e em todas as esferas de
competência. A deficiência na infraestrutura, que envolve desde a falta de
profissionais da educação, até a de escolas é outro grande desafio da educação.
Faltam escolas não só nas grandes metrópoles, mas principalmente nas cidades
83

interioranas situadas nos estados do norte e do nordeste do Brasil. Os baixos


salários também influenciam nos dados negativos da educação no Brasil.

Desta forma, muitos pais têm optado por deixar de matricular os seus filhos
nas escolas públicas ou privadas passando a ensiná-los em suas próprias
residências.

A pesquisa empírica realizada por Andrade entre os anos de 2012 a 2014


(2014, p. 88/125) para subsidiar a sua Tese de Doutorado intitulada “A educação
familiar desescolarizada como um direito da criança e do adolescente: relevância,
limites e possibilidades da ampliação do direito a educação” e submetida a
apreciação por cinquenta e sete famílias, apurou que os cinco principais motivos
para o ressurgimento do Homeschooling no Brasil são:

a) Compromisso com o desenvolvimento integral dos filhos:


De acordo com os resultados obtidos por Andrade, a principal preocupação
dos pais está relacionada à qualidade da educação e o desenvolvimento em todos
os sentidos.

O Movimento Social pela Educação Familiar Desescolarizada é um


Movimento de pais profundamente comprometidos com o bem-estar e o
futuro de seus filhos, e que leva em conta não apenas a instrução de seus
filhos, com vistas ao alcance destes objetivos, mas o desenvolvimento deles
em toda a sua integralidade. (ANDRADE, 2014, p. 89)

Ainda de acordo com o Andrade (2014, p. 90), “a preocupação dos pais não
se concentra apenas no aspecto instrucional, mas que os valores morais e
espirituais estão presentes no processo educacional que querem implementar.”

b) Instrução cientifica e preparação para a vida adulta:


Segundo apurado por Andrade, noventa e cinco por cento dos entrevistados
se declararam capacitados e preparados para educarem os seus filhos e para a
prepará-los para a vida adulta.

Os pais homeschooling acreditam que são capazes de instruir seus filhos de


modo mais eficaz do que o sistema escolar vem fazendo, levando em conta
a instrução científica e a preparação para a vida adulta. Isto está claro não
84

apenas na forma pela qual esses pais, comprometidos com o futuro de seus
filhos, se empenham em enfrentar o Estado para promoverem por si
próprios a instrução da criança, como também em razão do valor que
atribuem à própria educação que promovem. (2014, p. 92)

Andrade (2014, p. 102) observou ainda que a maioria dos pais, embora
preocupados com a qualidade do ensino de seus filhos, não possuíam nenhum
método avaliativo para “mensurar estes resultados em termos de ensino
aprendizado.”

c) Valores e princípios religiosos:


Segundo resultado da pesquisa realizada por Andrade, oitenta e dois por
cento dos entrevistados se preocupam com os princípios e valores que procuram
transmitir a seus filhos.

O Movimento Social do Homeschooling é um Movimento que, de modo


geral, acredita que os valores tradicionais da civilização cristã ocidental são
bons e devem ser respeitados, e muitos não abdicam, de maneira alguma,
do que entendem ser sua prerrogativa de direito natural perante o Estado ou
a Sociedade Civil, qual seja, de educar seus filhos segundo seus próprios
princípios, valores e crenças. (ANDRADE, 2014, p. 102)

Andrade apurou ainda que, das cinquenta e sete famílias entrevistadas,


cinquenta e cinco se declararam cristãs em alguma de suas formas e duas
declararam possuir outra religião.

d) Proteção:
O quarto fundamento mais apontado na entrevista conduzida por Andrade
para os pais optarem pelo Homeschooling está no receio dos pais com relação à
integridade física, moral, psíquica e espiritual dos seus filhos.

No âmbito do Movimento Social pela Educação Familiar Desescolarizada há


um número significativo de pais que acreditam firmemente que a escola,
dito de maneira geral e considerando todo o sistema de ensino, tornou-se
um lugar de risco à integridade física, moral, psíquica e espiritual de seus
filhos, e que ela perdeu quase que completamente, se não completamente,
o seu caráter original de formação integral da pessoa humana e de
socialização salutar. (ANDRADE, 2014, p. 112)

Os relatos levantados por Andrade demonstram que os pais não se sentem


seguros em encaminhar os seus filhos para as escolas. Há relatos de que os filhos
85

ficam expostos à violência física e moral, ao tráfico ilícito de entorpecentes e até de


abusos sexuais.

Ainda segundo o apurado, a preocupação dos pais com a integridade física,


mental e espiritual de seus filhos supera o interesse primário de que seus filhos
sejam graduados pelo Estado.

Para estes pais, é importante:


 Filhos que respeitem a seus professores e a eles mesmos;
 Que sejam cumpridores das leis, entendidas estas como leis
razoavelmente justas;
 Que saibam se portar publicamente, não tomando a cena em todo e
qualquer lugar;
 Que saibam ouvir um não e aceitarem um fato;
 Que desenvolvam a sua sexualidade de forma natural, sem estimulação
precoce ou violação dela;
 Que aprendam a ler muito, sempre, e dos mais variados gêneros de
literatura, mas levando em conta a idade e o desenvolvimento mental e
moral;
 Que saibam fazer o que é necessária efetivamente para viver, valorizando
o trabalho e o esforço necessários para ganhar o direito e sustentar a si
próprios e a suas famílias;
 Que saibam valorizar a família tradicional, o matrimônio cristão, a
maternidade neste contexto, e as diferenças naturais evidente e existentes
entre os sexos, homem e mulher;
 E que possuam fé, desenvolvendo uma capacidade crítica que lhes
permita entender o mundo segundo uma cosmovisão de unidade, e não de
caos. (ANDRADE, 2014, p. 118)

e) Exercício de um Dever-Direito Fundamental:


O último fundamento utilizado pelos pais para adotarem o Homeschooling
está na necessidade de preservação dos direitos fundamentais que a Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988 reconhece aos seus filhos e que
reiteradamente vem sendo desrespeitados.

O Movimento Social Homeschooling é um Movimento que, além de querer


preservar a integridade física, mental e espiritual de seus filhos, entende
que é dever dos pais, além de um direito, preservar os direitos fundamentais
de seus filhos, os quais reconhecem que vêm sendo desrespeitados
sistemicamente pelas escolas e pelos sistemas escolares. (ANDRADE,
2014, p. 118)

Já para a ANED os fundamentos utilizados pelos pais para adoção do


Homeschooling partem do desejo em proporcionar a preservação dos princípios
morais da família; em uma socialização mais ampla, com indivíduos de todas as
86

idades; um melhor ambiente de estudo, onde o indivíduo tenha igual acesso ao


suporte pedagógico, emocional e à disciplina. Decorre ainda da insatisfação com a
qualidade do ensino escolar e do ambiente escolar; da discordância quanto à
postura de determinados professores e da falta de uma educação de qualidade para
os filhos, que explore ao máximo todo o potencial dos mesmos.

De acordo com relato de Vieira na Audiência Pública realizada em 12 de


junho de 2013 para debater a modalidade de ensino intitulada “Educação
Domiciliar”, até o ano de 2012 existiam de seiscentos a dois mil pais educadores no
Brasil, que educavam cento e dezessete crianças e adolescentes, espalhados por
onze Estados e o Distrito Federal.

Aqui eu já parto para a minha pesquisa, feita no ano passado com 62 pais
educadores, em um universo, estimando pela Aned e por outros estudiosos,
de 600 a 2.000 pais educadores no Brasil, pais que educavam em casa 117
crianças e adolescentes. Os pais estavam espalhados por 11 Estados e o
Distrito Federal, em todas as regiões do País; mais ou menos cerca da
metade em Minas Gerais. (CAMARA DOS DEPUTADOS, 2014, p. 38)

Na atualidade, o direito à educação domiciliar ou Homeschooling foi apreciado


pelo E. Supremo Tribunal Federal através do Recurso Extraordinário de n. 888.815
RG/RS36 na data de 12 de setembro de 2018.

O Recurso Extraordinário n. 888.815 RG/RS, que teve a repercussão geral


reconhecida em 15 de maio de 2015 e suspendeu o andamento de todas as ações
com o mesmo objeto, era resultante de um Mandado de Segurança impetrado por
V.D., representada por M.P.D., que buscava o direito de receber a educação no seio
de seu lar através de seus pais.

Este recurso foi julgado no dia 12 de setembro de 2018, onde o E. Supremo


Tribunal Federal, pela maioria dos votos dos ministros, não acolheu o pedido
formulado no recurso, ao fundamento de que, embora a Constituição da República
Federativa do Brasil não vede a Educação Domiciliar no Brasil, ainda não há

36
Recurso Extraordinário n. 888.815 RG/RS. Origem RS. Relator Atual. Min. Luís Roberto Barroso.
Reclamante: V.D. representado por MPD. Reclamado: Município de Canela/RS. Disponível em:
<https://www.nheri.org/>. Acesso em 15/07/2018.
87

legislação que regulamente preceitos e regras aplicáveis a essa modalidade de


ensino.
88

4.2. Análise do Recurso Extraordinário n. 888.815 RG/RS

V.D., representado por M.P.D. ingressou com Mandado de Segurança contra


ato da Secretaria Municipal de Educação de Canela/RS, o qual foi autuado sob o n.
0002311.59-20012.8.21.0041 e tramitou perante a Vara Cível da Comarca de
Canela/RS.

A Impetrante, então com onze anos de idade, alegou que estava insatisfeita
com os aspectos educacionais proporcionados pela Municipalidade de Canela/RS,
razão pela qual requereu junto a ela, o direito de ser educada em casa, pelos seus
pais, pelo método conhecido como Homeschooling, no entanto, o seu pedido foi
indeferido, com recomendação para que a matrícula fosse realizada imediatamente
na rede regular de ensino, com o compromisso de frequência escolar.

Alegou que a existência de conflitos morais e religiosos e que, tanto a


Constituição Federal, quanto as Leis Ordinárias não vedam o direito ao
Homeschooling, que também é um direito dos pais.

A inicial foi instruída com documentos que comprovam a habilitação de um


dos pais, com formação em Letras pela Universidade Católica de Brasília – UCB,
para o ensino da Impetrante.

Ao final pleiteou o afastamento do ato ilegal, permitindo à Impetrante o direito


de estudar em casa por todo o ensino médio.

No entanto, o Mandamus teve a inicial indeferida com base no então artigo


295, incido I, do Código de Processo Civil anterior, combinado com o artigo 10, da
Lei n. 12016/09, ao fundamento o pedido é juridicamente impossível e que o mundo
não é feito de iguais, e que, portanto, o convívio social é imprescindível para o
desenvolvimento da alteridade, necessário ao convívio social.

[...] Portanto, a exordial é inepta por conter pedido juridicamente impossível.


Isto posto, INDEFIRO a inicial do presente mandamus, forte no artigo 295,
inciso I do Código de Processo Civil combinado com o artigo 10 da Lei
12.016/09.
89

Destacou a inexistência de direito líquido e certo que ampare o pedido, tendo


em vista que o direito à educação está amparado no artigo 205 da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, que estabeleceu a divisão do ensino em
infantil, fundamental, médio e superior e na jurisprudência do E. Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios.

Embora opostos Embargos de Declaração, estes foram rejeitados ao


fundamento de que o juízo não está obrigado a manifestar em relação a todos os
pontos se a questão for resolvida por outro fundamento.

Insatisfeita com os contornos delineados, a Impetrante ingressou com recurso


de Apelação onde voltou a invocar a existência de direito líquido e certo.

A Procuradoria da Justiça, às fls. 123/129v do processo opinou pelo


improvimento do recurso de apelação fundado na inexistência de direito líquido e
certo. Redistribuído o feito à Oitava Câmara Cível o recurso foi improvido por
votação unânime, mantendo-se inalterada a r. sentença primária em todos os seus
termos.

O Acórdão restou assim ementado:

APELAÇÃO CÍVEL. ECA. DIREITO À EDUCAÇÃO. DIREITO LÍQUIDO E


CERTO AO SISTEMA EDUCACIONAL DOMICILIAR. INEXISTÊNCIA.
Inexistindo previsão legal de ensino na modalidade domiciliar, não há no
caso direito líquido e certo a ser amparado na estrita arena do mandamus.
Manutenção do indeferimento da segurança. APELAÇÃO DESPROVIDA.

Em relação ao Acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do


Sul, a Impetrante interpôs Recurso Extraordinário com fundamento no artigo 102, III,
a, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, alegando violação aos
artigos 205, 206, 208, 210, 214 e 229, todos da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. Sustentou que restringir o significado da palavra
educar simplesmente à instrução formal numa instituição convencional de ensino é
não apenas ignorar as variadas formas de ensino, como afrontar um considerável
número de garantias constitucionais, cujo embasamento se dá, entre outros, pelos
90

princípios da liberdade de ensino e do pluralismo de ideias e de concepções


pedagógicas, tendo-se presente a autonomia familiar assegurada pela Constituição.

O Recurso Extraordinário não foi admitido na origem ante o não recolhimento


de custas judiciais, o que ensejou a interposição de Agravo.

Ao receber o recurso o Min. Luís Roberto Barroso, entendeu que a relevância


da matéria era suficiente para superar o óbice imposto na origem e conheceu do
Agravo para convertê-lo em Recurso Extraordinário.

Recebidos os autos pelo Plenário o Min. Relator Luís Roberto Barroso


destacou que, embora não se trata de matéria corriqueira no âmbito do Supremo
Tribunal Federal, a questão supera o interesse das partes na solução da
controvérsia.

8. O caso em questão, apesar de não ser frequentemente judicializado,


não está adstrito ao interesse das partes que ora litigam. Segundo a ANED
(Associação Nacional de Educação Domiciliar), após o reconhecimento pelo
MEC da utilização do desempenho no ENEM como certificação de
conclusão de ensino médio, em 2012, o número de adeptos do
homeschooling no Brasil dobrou e atingiu 2.000 famílias
(http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2015/02/1594329-exalunos-
contam-experiencia-de-ensino-domiciliar-que-cresce-nopais.shtml).

Destacou ainda as considerações tecidas pelo sociólogo André Holanda


Padilha Vieira na audiência pública realizada em 12 de junho de 2013 na Câmara
dos Deputados.

9. Vale citar, ainda, as considerações do sociólogo André Holanda


Padilha Vieira, ao participar de audiência pública realizada em 12.06.2013
na Câmara dos Deputados, em razão da tramitação naquela Casa de
projeto de lei para regulamentação do ensino domiciliar
(http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/17101):

“(…) A educação em casa é legalmente admitida em pelo menos 63


países no mundo. Esse é um dado da associação americana, HSLDA (do
inglês Home School Legal Defense Association), que acompanha a educação
em casa no mundo todo.
Em muitos países, é um fenômeno emergente e crescente. Nos
Estados Unidos, para vocês terem uma ideia, o número de estudantes
domiciliares cresceu 75% desde 1999. Os estudantes domiciliares já
compõem 4% da população em idade escolar nos Estados Unidos, país que
tem a maior população de estudantes domiciliares.
(…)
91

Aqui eu já parto para a minha pesquisa, feita no ano passado com


62 pais educadores, em um universo, estimando pela Aned e por outros
estudiosos, de 600 a 2.000 pais educadores no Brasil, pais que educavam
em casa 117 crianças e adolescentes. Os pais estavam espalhados por 11
Estados e o Distrito Federal, em todas as regiões do País; mais ou menos
cerca da metade em Minas Gerais.
O perfil demográfico dos pais. Em média, eles têm 37 anos, são
casados, cristãos – a grande maioria, mais de 90% –, têm o nível de
escolaridade e renda familiar acima da média. Os pais – 80% – têm 12 anos
ou mais de estudo, os pais que participaram da pesquisa. Também não se
pode generalizar isso. E eles têm uma renda familiar de cerca de 3.700 reais.
Isso também tem um problema metodológico para se estimar, mas é mais ou
menos o dobro da média da renda familiar brasileira. Eles têm mais de uma
motivação, como eu falei. Caráter, moralidade e socialização são as
principais delas. Vou mostrar outro gráfico mais à frente. E defendem a
existência da escola pública.
(…)
Mais dados. Os pais que educam em casa no Brasil e que
participaram da minha pesquisa gastam 183 reais por mês com educação em
casa. É bem menos do que o custo da escola privada no Brasil e um pouco
menos hoje do que o custo da educação básica pública brasileira. Em maio, o
MEC atualizou o valor do gasto mínimo por aluno na educação básica para
2.222 reais. Por mês, são 185 reais. É mais cara do que a educação em casa
praticada pelos pais que participaram da minha pesquisa, hoje. À época, era
mais caro educar em casa, pelo menos para os pais que participaram.
Outro dado é que os pais estão combinando as abordagens da
educação: 30% dos pais que participaram da pesquisa disseram que
consideram a abordagem, o método que eles aplicam, eclético. Ou seja, eles
estão tentando a educação clássica, a aprendizagem natural, unschooling,
aprendizagem estruturada, vários métodos da educação em casa. E 84% dos
pais disseram que educam em casa e que seguem uma aprendizagem
estruturada com pelo menos 4 horas por dia de atividades planejadas por
eles. Ou seja, é uma abordagem mais ou menos próxima daquela agenda de
estudos da escola convencional.”

Por fim, destacou a relevância social, jurídica e econômica do tema objeto do


Recurso Extraordinário opinando pelo reconhecimento da repercussão geral.

10. Por fim, o debate apresenta repercussão geral, especialmente do


ponto de vista social, jurídico e econômico: (i) social, em razão da própria
natureza do direito pleiteado, tanto que previsto no art. 6º, caput, c/c art.
205, da Constituição, como direito de todos e meio essencial ao exercício
da cidadania e à qualificação para o trabalho; (ii) jurídico, porque
relacionado à interpretação e alcance das normas constitucionais que
preveem a liberdade de ensino e o pluralismo de ideias e concepções
pedagógicas (art. 206, I e II, da CRFB/1988), bem como à definição dos
limites da relação entre Estado e família na promoção do direito
fundamental à educação; e (iii) econômico, tendo em conta que, segundo os
estudos acima citados, o reconhecimento do homeschooling poderia reduzir
os gastos públicos com a educação.

Embora o Min. Teori Zavascki tenha opinado pelo não reconhecimento da


repercussão geral ao fundamento de que o recurso não atacou especificamente os
fundamentos da decisão agravada o Plenário, por maioria de votos, reconheceu a
existência de repercussão geral.
92

A Procuradoria Geral da República, representada por Rodrigo Janot Monteiro


de Barros, ao receber os autos após o reconhecimento da repercussão geral,
também opinou pelo desprovimento do Recurso Extraordinário ante a inexistência de
direito líquido e certo.

[...] Ante o exposto, o parecer é pelo conhecimento e desprovimento do


recurso extraordinário, tendo em vista reconhecer que, embora seja
constitucionalmente possível a adoção de algum modelo de eleição do
ensino básico domiciliar no Brasil, desde que resguardado o projeto
constitucional de socialização e formação plena do educando, essa solução
depende exclusivamente de lei que venha a ser aprovada pelo Congresso
Nacional.
Portanto, quanto ao pedido da recorrente V D., representada por M. P. D.,
manifesta-se a Procuradoria-Geral da República pela confirmação do
acórdão recorrido, o qual entendeu pela inexistência de direito líquido e
certo ao sistema de educação domiciliar .

Em 5 de setembro de 2018 o julgamento foi retomado e o Ministro Luís


Roberto Barroso abriu a votação dando provimento do recurso. O ministro
considerou constitucional a prática de ensino domiciliar a crianças e adolescentes,
em virtude da sua compatibilidade com as finalidades e os valores da educação
infanto-juvenil, expressos na Constituição de 1988.

Contudo, o Min. Barroso, propôs que, até a criação de norma especifica, os


pais e responsáveis devem (i) notificar as secretarias de educação acerca da opção
pela educação domiciliar; (ii) os educandos domésticos devem ser submetidos as
mesmas provas e testes que são submetidos o alunos matriculados na rede regular
de ensino; (iii) as secretarias municipais de educação devem indicar qual escola a
criança irá realizar as avaliações periódicas, sendo de preferência aquela que se
encontre mais próxima ao local da residência da criança em educação domiciliar; (iv)
as secretarias de educação municipais podem compartilhar as informações do
cadastro com as demais autoridades públicas, como forma de monitoramento, e, (v)
em caso de comprovada deficiência na formação acadêmica, caberá aos órgãos
competentes a notificação dos pais, sendo que, caso não haja a melhora no
rendimento, a matricula na rede regular de ensino deverá ser realizada.

O Min. Alexandre de Moraes abriu a divergência no julgamento votando pelo


desprovimento do recurso extraordinário. Segundo o Min. o texto constitucional não
93

veda o Homeschooling utilitarista, ou seja, aquele que permite fiscalização e


acompanhamento. Destacou, contudo, que para ser colocada em prática, deve
seguir preceitos e regras, que incluam cadastramento dos alunos, avaliações
pedagógicas e de socialização e frequência, até para que se evite uma piora no
quadro de evasão escolar disfarçada sob o manto do ensino domiciliar.

O Min. Edson Fachin acompanhou parcialmente o voto do Min. Relator,


reconhecendo a constitucionalidade do direito à liberdade da educação domiciliar,
contudo, entendeu que não há mora legislativa, razão pela qual estabelece um prazo
máximo de ano para que o órgão competente discipline a forma de fiscalização, de
execução e de avaliação.

O Min. Luiz Fux e o Min. Ricardo Lewandowski também divergiram do voto do


Min. Relator, entendendo pela inconstitucionalidade do direito à educação domiciliar
em razão da incompatibilidade com outros dispositivos constitucionais. De acordo
com o Min. Fux há o dever dos pais de matricular os filhos nas instituições de ensino
regulares e da frequência à escola. Já para o Min Lewandowski a legislação
brasileira é clara quanto ao assunto, afastando a possiblidade de individualização do
ensino no formato domiciliar.

O Min. Gilmar Mendes e Min. Marco Aurélio, também votaram pelo


desprovimento do recurso, destacando que a realidade normativa atual não permite
a adoção do Homeschooling. sendo certo ainda que não há direito líquido e certo,
pois inexiste norma infraconstitucional regulamentando a matéria.

Por fim, os Ministros Rosa Weber, Dias Tóffoli e Carmen Lúcia, seguiram o
voto do Min. Alexandre de Moraes, para negar provimento ao recurso ao
fundamento de que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 não
veda o Homeschooling, contudo, é necessário que o Legislador Ordinário
regulamente a matéria.

Após a análise detalhada dos votos, conclui-se que o E. Supremo Tribunal


Federal acertou ao negar provimento ao Recurso Extraordinário com base no voto
94

divergente aberto pelo Min. Alexandre de Moraes. Isto porque, embora não haja
vedação constitucional ao direito á Educação Domiciliar é imprescindível que o
direito á Educação Domiciliar obedeça requisitos mínimos pré-estabelecidos para a
sua fruição.

Entende este pesquisador, que todos têm acesso à educação domiciliar,


contudo, ela não pode ocorrer de forma livre, como no Unschooling, pois devem ser
observadas a articulação, supervisão e avaliação periódica da aprendizagem pelos
órgãos próprios dos sistemas de ensino, nos termos das diretrizes gerais
estabelecidas pela União e das respectivas normas locais.

Entende ainda que, para a fruição do direito à educação domiciliar deve haver
a obrigatoriedade de matrícula do estudante em escola regularmente autorizada pelo
Poder Público; a manutenção de registro oficial das famílias optantes pela educação
domiciliar; a observância de currículo com conteúdo mínimo, de modo a assegurar a
formação básica comum nacional; a participação do estudante em exame anual
final, vinculado à escola onde se encontra matriculado, para aferição de grau de
conhecimento; a participação do estudante nos exames realizados nacionalmente e
exames do sistema estadual ou sistema municipal de avaliação da educação básica
quando houver; a previsão de inspeção educacional, pelo órgão competente do
sistema de ensino, no ambiente em que o estudante estiver recebendo a educação
domiciliar e a vedação de qualquer espécie de discriminação entre crianças e
adolescentes que recebam educação escolar e aquelas educadas domiciliarmente.
95

4.3. Regulação constitucional e legal

De acordo com a historiografia apresentada, o direito fundamental à educação


no lar constituía-se em garantia fundamental até a promulgação da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988.

Embora não estivesse vedada nas Constituições de 1824, 1891, 1934 e 1937
o exercício da Educação Domiciliar esteve expressamente garantido aos pais nas
Constituições de 1946, 1967 e na Emenda Constitucional n. 1 de 1969.

Por outro lado, a par da existência de garantia Constitucional, o direito


fundamental à Educação Domiciliar também foi reconhecido universalmente na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, onde o Brasil foi um dos signatários.

Artigo 26.
4. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita,
pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O
ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser
generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a
todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
5. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e
ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as
nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o
desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção
da paz.
6. Os pais têm um direito preferencial para escolher o tipo de educação
que será dada aos seus filhos. (ONU, 1948)

Direitos estes incorporados a Constituição da República Federativa do Brasil


de 1988 através do Decreto Legislativo n. 226, de 12 de dezembro de 1991, que
ratificou os textos do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e do Pacto
Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e dos Decretos
Presidenciais de n. 591 e de n. 592, ambos de 06 de julho de 1992, que
determinaram a execução e o cumprimento dos direitos e obrigações exatamente
como contidos nos referidos Pactos.

Destaca-se ainda, conforme classificação apresentada por Rothenburg, os


direitos fundamentais são caracterizados pela: Fundamentalidade, Universalidade e
internacionalização, Autonomia, Indivisibilidade, Historicidade, Positividade,
96

Sistematicidade, inter-relação e interdependência, Abertura e inexauribilidade,


Projeção positiva (prestacional), Perspectiva objetiva, Dimensão transindividual,
Aplicabilidade imediata, Concordância prática ou harmonização, Restringibilidade
excepcional, Eficácia horizontal ou privada, Maximização (otimização) ou efetividade
e Proibição de Retrocesso. Sendo que, pelo Princípio da Proibição de Retrocesso,
em sentido amplo, uma vez assegurado e exercido um direito fundamental, este
mais poderá ser suprimido do cidadão.

Com efeito, no que diz com as garantias dos direitos sociais contra
ingerências por parte de atores públicos e privados, importa salientar que,
tanto a doutrina, quanto, ainda que muito paulatinamente, a jurisprudência,
vêm reconhecendo a vigência, como garantia constitucional implícita, do
princípio da vedação de retrocesso social, a coibir medidas que, mediante a
revogação ou alteração da legislação infraconstitucional (apenas para citar
uma forma de intervenção nos direitos sociais), venham a desconstituir ou
afetar gravemente o grau de concretização já atribuído a determinado direito
fundamental (e social), o que equivaleria a uma violação da própria
Constituição Federal e de direitos fundamentais nela consagrados.
(SARLET, MARINONI, MITIDIERO, 2015, p. 639)

Sarlet, Marinoni e Mitidiero destacam ainda que, embora não expressamente


textualizado na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Princípio
da Vedação ao Retrocesso está submetido ao regime dos limites dos direitos
fundamentais.

De qualquer sorte, independentemente do reconhecimento, ou não, de uma


proibição de retrocesso social (já que há quem critique a utilização de tal
expressão), o fato é que, na condição de direitos fundamentais, os direitos
sociais não se encontram à disposição plena dos poderes constituídos.
Embora não sejam (assim como os demais direitos fundamentais) direitos
absolutos, visto que passíveis de restrição, os direitos sociais encontram-se,
todavia, submetidos ao regime dos limites e dos limites aos limites dos
direitos fundamentais (ou seja, dos critérios que devem observar as
medidas restritivas de direitos fundamentais), guardadas as peculiaridades,
especialmente no que concerne aos limites da liberdade de conformação
legislativa, além de estarem (no sentido adotado neste Curso) albergados
contra o poder de reforma constitucional, consoante já frisado. (SARLET,
MARINONI, MITIDIERO, 2015, p. 639)

Portanto, tendo o Legislador Constituinte de 1988 suprimido garantia


fundamental já exercitada por Brasileiros, mostra-se plausível a apresentação de
uma proposta de emenda para alteração do disposto no caput do artigo 205 da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
97

4.3.1. Proposta de Emenda Constitucional

A Proposta de Emenda Constitucional tem o objetivo de corrigir a supressão


do direito fundamental à Educação Domiciliar que a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 causou ao repetir o texto até então vigente na Emenda
Constitucional n. 1 de 1969.

Trata-se de medida não somente adequada, mas estritamente necessária


para salvaguarda de direitos humanos fundamentais, na medida em que, embora já
tenham sido reconhecidos por meio de tratados internacionais em que o Brasil é
signatário, ainda causam divergências de interpretação entre os profissionais da
educação e no Poder Judiciário.

Neste sentido, segue abaixo texto de sugestão de Proposta de Emenda à


Constituição para que o direito à educação possa ser dado na escola ou fora dela.

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº , DE 2018.

Altera o art. 205 da Constituição Federal para inserir no texto constitucional


que a educação, direito de todos e dever do Estado e da Família, poderá ser dado
na escola ou fora dela.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do §


3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda à Constituição:

Art. 1º Esta Emenda à Constituição dispõe que, à educação, direito de todos e


dever do Estado e da família, que poderá ser dada na escola ou fora dela, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
98

Art. 2º O art. 205 da Constituição Federal passa a vigorar com o seguinte


texto.

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, que


poderá ser dada na escola ou fora dela, será promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.

Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICATIVA

O artigo 205 da Constituição Federal que trata da educação estabelece que a


educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, verbis:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.

Apesar das constantes discussões sobre a educação em nosso país, o


fracasso escolar continua sendo um constante problema institucional. Pesquisas
demonstram o quadro insatisfatório de pais e profissionais da educação quanto aos
rumos do ensino, principalmente, em relação ao ensino público.

É importante observar que a fragilidade do ensino público, centrado na


obrigatoriedade de matrícula e frequência escolar mínima, não se mostra mais
adequado e suficiente para suprir as necessidades dos pais e dos alunos da rede
pública de ensino. Não se trata de garantir um mínimo existencial, mas de promover
o futuro de toda uma nação.

Todavia, ao contrário do texto constitucional revogado pela Constituição da


República Federativa do Brasil de 1988, o novo texto suprimiu a garantia de que a
educação, direito fundamental e humano, possa se dar fora do ambiente escolar, ou
seja, no método do Homeschooling.
99

Por outro lado, os Direitos Fundamentais uma vez expressos no texto


constitucional não podem mais ser suprimidos em razão do Princípio que veda o
Retrocesso dos Direitos Fundamentais Sociais. A supressão do direito à educação
domiciliar, ou seja, aquela ministrada fora do ambiente escolar fere outros Princípios
Constitucionais, dentre eles o da Segurança Jurídica, do Estado Democrático de
Direito e da Dignidade da Pessoa Humana.

O sistema educacional precisa organizar-se em função da aprendizagem do


aluno, do seu bem-estar e de todos os envolvidos no processo de aquisição do
conhecimento e não em volta de um sistema que já se mostrou ineficaz.

É responsabilidade do Estado ajudar o aluno a constituir-se como sujeito de


direitos em todas as suas dimensões. É também, dever e responsabilidade da
sociedade cobrar os direitos das crianças e zelar pelo seu bem estar.

Ante o exposto, rogo o apoio à elaboração e aprovação da presente emenda


constitucional aos meus nobres pares.

Sala das Sessões, em de de 2018.


100

4.3.2. Proposta de Projeto de Lei

Independentemente de modificação do texto constitucional o direito à


educação domiciliar ou Homeschooling pode ser regulamentado através de Projeto
de Lei para alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Atualmente se encontram em trâmite, três projetos de Lei junto à Câmara dos


Deputados. A primeira proposta é o Projeto de Lei n. 3179/2012, de autoria do
Deputado Lincoln Portela.

PROJETO DE LEI Nº 3179/2012


(Do Sr. LINCOLN PORTELA)

Acrescenta parágrafo ao art. 23 da Lei nº 9.394, de


1996, de diretrizes e bases da educação nacional, para
dispor sobre a possibilidade de oferta domiciliar da
educação básica.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º O art. 23 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a


vigorar acrescido do seguinte parágrafo:

“Art. 23
§ 3º É facultado aos sistemas de ensino admitir a educação básica domiciliar,
sob a responsabilidade dos pais ou tutores responsáveis pelos estudantes,
observadas a articulação, supervisão e avaliação periódica da aprendizagem
pelos órgãos próprios desses sistemas, nos termos das diretrizes gerais
estabelecidas pela União e das respectivas normas locais.”

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO

A Constituição Federal estabelece a educação como um dever do Estado e


da família (art. 205). Determina também a obrigatoriedade da educação
básica, dos 4 aos 17 anos de idade (art. 208, I).
É fato que, na realidade brasileira, a oferta desse nível de ensino se faz
tradicionalmente pela via da educação escolar. Não há, porém,
impedimento para que a mesma formação, se assegurada a sua qualidade
e o devido acompanhamento pelo Poder Público certificador, seja oferecida
no ambiente domiciliar, caso esta seja a opção da família do estudante.
Garantir na legislação ordinária essa alternativa é reconhecer o direito de
opção das famílias com relação ao exercício da responsabilidade
educacional para com seus filhos.
Mesmo que a matéria de que trata a solicitação já tenha sido objeto de
proposições apresentadas em legislaturas anteriores e tais projetos foram
recorrentemente rejeitados, o respeito à liberdade inspira a reapresentação
do presente projeto de lei, sem descuidar do imperativo em dar acesso, a
cada criança e jovem, à formação educacional indispensável para sua vida
e para a cidadania.
Estou seguro de que a relevância da proposição haverá de assegurar o
apoio dos ilustres Pares para sua aprovação.
101

Sala das Sessões, em de de 2011.


Deputado LINCOLN PORTELA

A segunda proposta é o Projeto de Lei n. 3261/2015, de autoria do Deputado


Eduardo Bolsonaro.

PROJETO DE LEI Nº DE 2015.


(Do Sr. Eduardo Bolsonaro)

Autoriza o ensino domiciliar na educação básica,


formada pela educação infantil, ensino fundamental e
ensino médio para os menores de 18 (dezoito) anos,
altera dispositivos da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, e da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Fica autorizado o ensino domiciliar na educação básica, formada pela


educação infantil, ensino fundamental e ensino médio para os menores de
18 (dezoito) anos.
Art. 2º O inciso III, do artigo 5º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, passa a vigorar
com a seguinte redação:

“Art. 5º (...)
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola para os
estudantes matriculados em regime presencial e pela frequência em
cumprimento ao calendário de avaliações, para os estudantes matriculados
em regime de ensino domiciliar.” (NR)

Art 3º O artigo 6º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que


estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, passa a vigorar com
a seguinte redação:

“Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na


educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade, inclusive quando
optarem pelo ensino domiciliar.”

Art. 4º O artigo 21 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que


estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, passa a vigorar
acrescido do seguinte parágrafo único:

“Art. 21 (...)
Parágrafo único. Nos termos da regulamentação dos sistemas de ensino, fica
autorizado o ensino domiciliar nos níveis de que trata o inciso I do caput
deste artigo.” (NR)

Art. 5º Os incisos VI e VII do artigo 24 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro


de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 24 (...)
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, para os alunos em
regime presencial, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do
respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco
por cento do total de horas letivas para aprovação e, para os alunos
102

previamente matriculados em regime de ensino domiciliar, a frequência em


cumprimento ao calendário de avaliações;
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares,
declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão
de cursos, com as especificações cabíveis, inclusive aos previamente
matriculados em regime de ensino domiciliar.” (NR)

Art. 5º O artigo 55 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre


o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências, passa a
vigorar com a seguinte redação:

“Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de proporcionar a seus


filhos ou pupilos o ensino relativo aos níveis de educação nos termos da Lei.”
(NR)

Art. 6º O inciso V, do artigo 129 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que


dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 129. (...)


V - obrigação de matricular o filho ou pupilo na rede pública ou privada de
ensino:
a) optando pelo regime presencial deverá acompanhar sua frequência e
aproveitamento escolar;
b) optando pelo regime de ensino domiciliar deverá garantir sua frequência
em cumprimento ao calendário de avaliações.

Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO

O presente projeto de lei tem por objetivo autorizar o ensino domiciliar na


educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e
ensino médio, para os menores de 18 (dezoito) anos.
A iniciativa não é nova, ao contrário, já conta com proposições
apresentadas, algumas arquivadas e outras, mais recentes, ainda em
tramitação no Parlamento Federal.
Em 1994, o Deputado João Teixeira apresentou o Projeto de Lei 4.657,
fazendo referência ao tema, autorizando a “prática do ensino domiciliar de
1º grau.” Posteriormente foram apresentados o PL 6.001, de 2001, pelo
Deputado Ricardo Izar, dispondo sobre o “ensino em casa” e o PL 6.484, de
2002, pelo Deputado Osório Adriano, que objetivava instituir a “educação
domiciliar no sistema de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.”
No ano de 2008 os Deputados Henrique Afonso e Miguel Martini, por meio
do PL 3.518, sugeriram inovação na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(Lei 9.394 de 1996) para “admitir e reconhecer a modalidade de educação
domiciliar no nível básico.”
Apenso a este tramitou o PL 4.122, apresentado pelo Deputado Walter Brito
Neto direcionando para o Ministério da Educação a regulamentação do
“regime de educação domiciliar.” Todas foram arquivadas, pois tiveram
pareceres favoráveis à sua rejeição acolhidos pela Comissão responsável
pela avaliação do mérito das propostas.
No entanto, a par da manifestação contrária da Câmara dos Deputados, a
necessidade de regulamentação da prática do ensino domiciliar
apresentava-se cada vez mais latente.
O ensino doméstico é legalizado nos Estados Unidos, Inglaterra, Áustria,
Bélgica, Canadá, Austrália, Dinamarca, Finlândia, França, Noruega,
Portugal, África do Sul, Rússia, Itália, Israel, Nova Zelândia, dentre outros
países, que reconhecem e legitimam o que se convencionou chamar de
“Homescooling”.
103

No Brasil, a cada ano, cresce o interesse de pais e responsáveis por


crianças e adolescentes em proporcionar, segundo suas convicções, o
ensino domiciliar.
Mais recentemente, em 2012, o Deputado Lincoln Portela apresentou o PL
3.179, para dispor sobre “a possibilidade de oferta domiciliar da educação
básica”.
De modo diverso às proposições anteriormente mencionadas, o novo
projeto teve parecer favorável, no mesmo ano, firmado pelo Deputado
Maurício Quintella Lessa que, ao final, destacou: “...somos favoráveis à sua
aprovação ressaltando aqui que caberá sempre o controle por parte do
Poder Público com relação à qualidade e efetividade do ensino domiciliar
ministrado.”
Posteriormente a matéria foi distribuída a nova Relatora, a Deputada
Professora Dorinha Seabra Rezende que, em seu parecer, também se
manifestou favoravelmente ao mérito da matéria, ofertando, inclusive, um
texto alternativo possibilitando a oferta domiciliar da educação básica
autorizada e regulamentada por órgão competente, sendo exigidos
requisitos específicos para tal.
Ainda que se tenha avançado e, satisfatoriamente, mudado ao menos o
parecer para a aprovação para se viabilizar o “Homescooling” no Brasil, a
matéria permanece no âmbito da Comissão de mérito.
Nesse sentido, temos por escopo nos somar a essas iniciativas buscando a
melhor construção legislativa para normatizar a possibilidade de pais ou
tutores, responsáveis por estudantes menores de 18 anos, terem outra
opção para fornecer os conhecimentos relativos aos níveis de ensino
definidos no país.
Ao buscar mais informações sobre o tema, tivemos acesso ao estudo
elaborado pelo Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados, Emile
Boudens, no ano de 2001, sob o título “Homescooling no Brasil”, onde são
abordados os aspectos legais, a situação atual e a legislação estrangeira.
A Internet dispõe de uma série de informações sobre o assunto,
amplamente difundido em vários países e com uma demanda considerável
no Brasil. Em matéria intitulada: “Um Alívio para os Pais que Praticam
Homeschooling”, o site que trata de educação domiciliar (Disponível em: )
relata palestra ocorrida durante o 1º Encontro Regional de Educação
Domiciliar, promovido em Porto Alegre, RS.
A BBC Brasil, em artigo publicado, afirma que ensinar os filhos em casa
ganha força no Brasil e apresenta as polêmica sobre o assunto. (Disponível
em: ) A revista da educação, publicada no site UOL, afirma que cresce o
número de pais que preferem educar os filhos fora do ambiente escolar por
considerá-lo "pobre" e "ineficaz" e faz referência ao Projeto de Lei que
pretende regulamentar a prática no Brasil, ainda em tramitação na Câmara
dos Deputados. (Disponível em: )
Em Minas Gerais um casal foi condenado pela justiça por manter seus filhos
fora da escola, em ensino domiciliar (Disponível em:) e, em decorrência de
sua opção, criaram uma Associação para defender o que intitulam
“liberdade de decisão dos pais” em oposição ao que consideram “imposição
do Estado”.
Entre outros casos similares, onde os responsáveis legais pugnam pelo que
consideram “direito” ao escolherem o modelo de ensino a ser direcionado
ao estudante, nos deparamos com um Mandado de Segurança impetrado
na Comarca de Canela, no Rio Grande do Sul.
Após a negativa da pretensão na justiça estadual, a parte interessada,
representada por seus pais, interpôs Recurso Extraordinário ao Supremo
Tribunal Federal (RE 888.815 – RS) que se encontra para ser relatado pelo
Ministro Roberto Barroso que o submeteu à análise plenária da repercussão
geral, “tendo em vista a excepcional relevância da matéria de fundo e o
interesse público na sua definição.”
As questões postas na lide ilustram bem os pontos principais que
emolduram a questão, seus aspectos favoráveis e desfavoráveis, os
104

questionamentos de ordem jurídica e, sobretudo, a necessidade premente


de pacificação da controvérsia.
Isto posto, cabe destacar aquilo que consideramos substancial ao debate,
para justificarmos a proposta que ora apresentamos e, principalmente,
auxiliar a solução mais harmoniosa para o caso.
Preliminarmente, no que diz respeito aos aspectos legais, vamos procurar
pontuar alguns dispositivos da Constituição Federal e outros relacionados
da legislação infraconstitucional.
A Carta de 1988, ao dispor sobre os Direitos e Garantias Fundamentais,
relevou no inciso VI do artigo 5º, a liberdade de consciência e crença como
invioláveis.
Especificamente sobre educação, as premissas constitucionais estão
presentes nos seguintes dispositivos:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. (...)
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para
todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria. (...)
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela freqüência à escola.

Ao que parece, nos dispositivos destacados e nos demais estabelecidos na


Constituição Federal, não há proibição expressa para que a legislação
possa admitir o ensino domiciliar.
Mesmo ao fazer a previsão sobre a frequência escolar, obrigatória para os
educandos do ensino fundamental, não há a imposição de que deva ser em
comparecimento regular para o cumprimento.
Pode a legislação, para fins de avaliação e consequente expedição de
certificados comprobatórios de conclusão de séries e níveis escolares, após
realizada a matrícula, exigir a frequência para exames.
A opção de pais e responsáveis pela adoção de ensino domiciliar
perpassam por vários motivos, sejam ideológicos, sociais, morais, éticos, de
crença entre tantos outros, os quais são postulados como direito
fundamental e que, por isso, não deveriam ser mitigados pelo Estado.
A simples convivência em ambiente escolar multisseriado, com a presença
de crianças e adolescentes de variadas idades, por si só, enseja
preocupação e inquietude em questões relacionadas a violência, drogas,
sexualidade precoce, bullying, valores culturais e religiosos etc, dos quais,
muitas vezes, notoriamente o Estado não consegue tutelar os alunos na
medida desejada pelas famílias.
Dentre os pontos apontados como contrários ao ensino domiciliar se
destaca a falta de socialização com outras crianças e, embora tais críticas
sejam, em certa medida, pertinentes, há relatos, sobretudo nos Estados
Unidos onde a prática é comum, que a sociabilidade se dá de forma
orientada pelo núcleo familiar na participação comunitária e social.
Mesmo a convivência em sociedade, inequivocamente carreada de
aspectos positivos, não pode ser imposta pelo Estado em ambiente diverso
ao desejado por quem detém o pátrio poder.
O que propomos é garantir às famílias a opção de fornecer ensino domiciliar
e a convivência social em círculos eleitos por cada uma delas, objetivando a
garantia da educação para o desenvolvimento da pessoa humana.
Ademais, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo
26.3, assegura que “os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero
de instrução que será ministrada a seus filhos.”
Na mesma linha, a Convenção Americana dos Direitos Humanos, conhecida
como Pacto de São José da Costa Rica, no artigo 12.4, garante que “os
105

pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus filhos e pupilos
recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com sua
próprias convicções.”
Imperioso rememorar que direitos e garantias expressos na Constituição
não podem excluir outros decorrentes dos princípios por ela adotados, ou
dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte, consoante o § 2º, do artigo 5º, como é o caso dos acima
mencionados. Necessário, parece, apenas o aperfeiçoamento da legislação
infraconstitucional em vigor para conformar as necessidades das famílias
que escolherem o ensino domiciliar e as exigências do Poder Público para a
certificação da capacitação dos educandos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, instituída pela Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, impõe ao Poder Público o
acompanhamento da frequência escolar, onde opinamos pelo primeiro
ajuste necessário:

“Art. 5º (...)
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola para os
estudantes matriculados em regime presencial e pela frequência em
cumprimento ao calendário de avaliações, para os estudantes matriculados
em regime de ensino domiciliar.”
(Nova redação proposta em destaque)

com alterações trazidas pela Lei nº 12.796, de 2013, inova na previsão


contida no artigo 6º para dispor:

“Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na


educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade, inclusive quando
optarem pelo ensino domiciliar.”
(Nova redação proposta em destaque)

Aqui propomos o acréscimo na redação do caput para admitir a opção pelo


ensino domiciliar, possibilitando ao Estado recensear o aluno e vincular sua
unidade de avaliação.
O artigo 21 delimita os níveis escolares, onde propomos a inclusão de
previsão expressa para permitir, nos termos da regulamentação dos
sistemas de ensino, o modelo domiciliar nos níveis de que trata o inciso I:

“Art. 21. A educação escolar compõe-se de:


I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e
ensino médio;
II - educação superior.
Parágrafo único. Nos termos da regulamentação dos sistemas de ensino, fica
autorizado o ensino domiciliar nos níveis de que trata o inciso I do caput
deste artigo.”
(Nova redação proposta em destaque)

Quanto aos regramentos comuns também se faz necessária a inovação nos


seguintes termos:

Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada
de acordo com as seguintes regras comuns:
(...) VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, para os alunos em
regime presencial, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do
respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco
por cento do total de horas letivas para aprovação e, para os alunos
previamente matriculados em regime de ensino domiciliar, a frequência em
cumprimento ao calendário de avaliações;
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares,
declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão
de cursos, com as especificações cabíveis, inclusive aos previamente
matriculados em regime de ensino domiciliar.”
(Nova redação proposta em destaque)
106

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei nº 8.069,


de 13 de julho de 1990, em seu artigo 55, exige a matrícula na “rede regular
de ensino”, onde propomos a seguinte alteração:

“Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de proporcionar a seus


filhos ou pupilos o ensino relativo aos níveis de educação nos termos da Lei.”
(Nova redação proposta em destaque)

Mais adiante no que se refere às medidas pertinentes aos pais ou


responsável legal, especificamente no inciso V, do artigo 129, do ECA, novo
ajuste deve ser implementado, para alcançar o objetivo da proposta

“Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:


V - obrigação de matricular o filho ou pupilo na rede pública ou privada de
ensino:
a) optando pelo regime presencial deverá acompanhar sua frequência e
aproveitamento escolar;
b) optando pelo regime de ensino domiciliar deverá garantir sua frequência
em cumprimento ao calendário de avaliações.
(Nova redação proposta em destaque)

Com as propostas aqui trazidas, acreditamos fornecer subsídios legais que


permitam aos pais ou responsáveis poderem prestar, mediante seu
entendimento, o ensino domiciliar, paralelamente ao currículo estabelecido
pelo Poder Público.
No mesmo sentido cria-se previsão legal para situação hoje tipificada, em
tese, como crime contra a assistência familiar, definido como abandono
intelectual, no artigo 246 do Código Penal Brasileiro:

“Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em
idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.”

Diante de tudo exposto, apresentamos novo Projeto de Lei no escopo de


contribuir com o debate e apresentar alternativas para as inovações
legislativas necessárias e, em razão do primeiro mandato que
desempenhamos como parlamentar eleito pelo Estado de São Paulo, não
pudemos contribuir com o tema nas oportunidades anteriores mas, dentro
do que foi possível, procuramos alcançar as pretensões que o assunto
requer.
Contamos com a tramitação conjunta com o Projeto ora em tramitação na
Comissão de Educação, o PL 3.179, de 2012, e com o apoio dos nobres
pares para seu aperfeiçoamento e aprovação.
Sala das Sessões, em de outubro de 2015.
EDUARDO BOLSONARO
Deputado Federal – PSC/SP

A terceira proposta é Projeto de Lei n. 10185/2018, de autoria do Deputado


Alan Rick.

PROJETO DE LEI Nº , DE 2018


(Do Sr. ALAN RICK)

Altera a Lei nº 9.394, de 1996, de diretrizes e bases da


educação nacional, e a Lei nº 8.069, de 1990, o Estatuto
da Criança e do Adolescente, para dispor sobre a
possibilidade de oferta domiciliar da educação básica.

O Congresso Nacional decreta:


107

Art. 1º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com as


seguintes alterações:

“Art. 5º
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola e, no caso
do disposto no art. 23, § 3º, pelo adequado desenvolvimento da
aprendizagem do estudante.

Art.23
§ 3º É admitida a educação básica domiciliar, sob a responsabilidade dos
pais ou tutores responsáveis pelos estudantes, observadas a articulação,
supervisão e avaliação periódica da aprendizagem pelos órgãos próprios dos
sistemas de ensino, nos termos das diretrizes gerais estabelecidas pela
União e das respectivas normas locais, que contemplarão especialmente:
I – manutenção de registro oficial das famílias optantes pela educação
domiciliar;
II – participação do estudante nos exames do sistema nacional e local de
avaliação da educação básica;
III – vedação de qualquer espécie de discriminação entre crianças e
adolescentes que recebam educação escolar e aquelas educadas
domiciliarmente;
§ 4º É plena a liberdade de opção pela educação domiciliar ou escolar dos
filhos, podendo ser exercida a qualquer tempo, sem sujeição a qualquer
espécie de requisito ou condição;

Art.24
VI – para os estudantes matriculados em regime presencial, o controle de
frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e
nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação;

Art.31
IV – para os estudantes matriculados em regime presencial, controle de
frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência
mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas;

Art.32
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância
utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações
emergenciais, ou domiciliar, nos termos do disposto no § 3º do art. 23 desta
lei. (NR)”

Art. 2º A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a


seguinte alteração:

“Art. 129
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e
aproveitamento escolar, de acordo com o regime de estudos, se presencial
ou domiciliar; (NR)”

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO

A educação domiciliar é uma realidade em vários países. No Brasil, muitas


famílias têm buscado praticar essa opção. Ela, contudo, não é
explicitamente admitida na legislação vigente ou em normas que a
interpretam.
É o caso do Parecer nº 34, de 2000, da Câmara de Educação Básica, do
Conselho Nacional de Educação. É fato que nele se manifesta
compreensão com relação ao “anseio dos pais quando julgam ‘que chegou
a hora de buscar o reconhecimento estatal dessa modalidade de educação’,
a da educação exclusivamente no âmbito familiar (que nos Estados Unidos
tem sido chamado “Home Schooling’)”. Analisando, porém, a legislação
vigente, o Parecer conclui que “à vista dos dispositivos legais enunciados
108

neste parecer, não vejo como o procedimento possa ser autorizado. Sua
adoção dependeria de manifestação do legislador, que viesse a abrir a
possibilidade, segundo normas reguladoras específicas”. (grifo nosso).
Ao longo do tempo, a matéria tem sido objeto de diversas iniciativas
legislativas. Está também por receber manifestação do Supremo Tribunal
Federal.
Não há dúvida que o aproveitamento dos estudantes submetidos ao regime
domiciliar de estudos é significativo. É preciso, porém, em nome da devida
proteção do Estado às crianças e adolescentes, em colaboração com as
famílias, estabelecer regras autorizativas que consagrem essa cooperação,
assegurando àqueles o direito à educação em equivalência ao garantido
nos espaços escolares.
Por tal razão, apresenta-se o presente projeto de lei que, ao lado de inserir,
na legislação educacional, essa opção de estudos, lista alguns requisitos
que mantêm a articulação entre a família e o sistema de ensino, para
benefício dos estudantes.
Estou seguro de que a relevância da iniciativa haverá de angariar o apoio
dos ilustres Pares para sua aprovação.
Sala das Sessões, em de de 2018.
Deputado ALAN RICK

O Projeto de Lei n. 3179/2012, passou pela análise da Deputada Professora


Dorinha Seabra Rezende, que, após reexaminar a matéria, apresentou algumas
alterações ao texto original, sugerindo a aprovação dos Projetos de Lei n. 3179, de
2012, e n. 3261, de 2015, na forma do Substitutivo, abaixo transcrito, in literis.

SUBSTITUTIVO AOS PROJETOS DE LEI Nº 3.179, DE 2012, E Nº 3.261,


DE 2015

Altera a Lei nº 9.394, de 1996, de diretrizes e bases da


educação nacional, e a Lei nº 8.069, de 1990, o Estatuto
da Criança e do Adolescente, para dispor sobre a
possibilidade de oferta domiciliar da educação básica.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com as


seguintes alterações:

“Art.23
§ 3º É admitida a educação básica domiciliar, sob a responsabilidade dos
pais ou tutores responsáveis pelos estudantes, observadas a articulação,
supervisão e avaliação periódica da aprendizagem pelos órgãos próprios dos
sistemas de ensino, nos termos das diretrizes gerais estabelecidas pela
União e das respectivas normas locais, que contemplarão especialmente:
I - obrigatoriedade de matrícula do estudante em escola regularmente
autorizada pelo Poder Público;
II- manutenção de registro oficial das famílias optantes pela educação
domiciliar;
III- participação do estudante nos exames realizados nacionalmente e
exames do sistema estadual ou sistema municipal de avaliação da educação
básica quando houver;
IV- previsão de inspeção educacional, pelo órgão competente do sistema de
ensino, no ambiente em que o estudante estiver recebendo a educação
domiciliar;
V- Vedação de qualquer espécie de discriminação entre crianças e
adolescentes que recebam educação escolar e aquelas educadas
domiciliarmente. (NR)
109

Art.24
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no
seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida
frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
aprovação, ressalvado o disposto no § 3º do art. 23 desta lei;

Art.31
IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a
frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas, ressalvado
o disposto no § 3º do art. 23 desta lei;

Art.32
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância
utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações
emergenciais e ressalvado o disposto no § 3º do art. 23 desta lei.”(NR)

Art. 2º A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a


seguinte alteração:

“Art. 129
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e
aproveitamento escolar, ressalvado o disposto no § 3º do art. 23 A Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996;” (NR).

Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.


Sala da Comissão, em de novembro de 2017
Deputada Professora Dorinha Seabra Rezende Relatora

Ao analisar-se o conteúdo dos três Projetos de Lei apresentados e atualmente


em trâmite é possível identificar que, embora tratem do mesmo tema, todos foram
omissos em relação a algum ponto importante. Fato este bem assimilado pela Dep.
Relatora Dorinha Seabra Rezende ao propor o texto substitutivo.

Contudo, nota-se que os Projetos de Lei em votação não se preocuparam


com o conteúdo programático a ser ministrado, ou seja, a exigência de currículo
mínimo, e a forma e periodicidade de avaliação do aluno. Questões estas que se
mostram pertinentes e necessárias quando se busca a qualidade da educação como
processo de pleno desenvolvimento e de preparação para o exercício da cidadania e
para o trabalho.

Neste sentido, sugere-se o modificativo do texto para que passe a constar


como abaixo descrito.

SUBSTITUTIVO AOS PROJETOS DE LEI Nº 3.179, DE 2012, E Nº 3.261,


DE 2015.
110

Altera a Lei nº 9.394, de 1996, de diretrizes e bases da educação nacional, e


a Lei nº 8.069, de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, para dispor sobre a
possibilidade de oferta domiciliar da educação básica.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com as


seguintes alterações:

Art.23
§ 3º É admitida a educação básica domiciliar, sob a responsabilidade dos
pais ou tutores responsáveis pelos estudantes, observadas a articulação,
supervisão e avaliação periódica da aprendizagem pelos órgãos próprios
dos sistemas de ensino, nos termos das diretrizes gerais estabelecidas pela
União e das respectivas normas locais, que contemplarão especialmente:
I - obrigatoriedade de matrícula do estudante em escola regularmente
autorizada pelo Poder Público;
II- manutenção de registro oficial das famílias optantes pela educação
domiciliar;
III- observância de currículo com conteúdo mínimo, de modo a assegurar a
formação básica comum nacional;
IV- participação do estudante em exame anual final, vinculado à escola
onde se encontra matriculado, para aferição de grau de conhecimento;
V- participação do estudante nos exames realizados nacionalmente e
exames do sistema estadual ou sistema municipal de avaliação da
educação básica quando houver;
VI- previsão de inspeção educacional, pelo órgão competente do sistema de
ensino, no ambiente em que o estudante estiver recebendo a educação
domiciliar;
VII- Vedação de qualquer espécie de discriminação entre crianças e
adolescentes que recebam educação escolar e aquelas educadas
domiciliarmente. (NR)

Art.24
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no
seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida
frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas
para aprovação, ressalvado o disposto no § 3º do art. 23 desta lei;

Art.31
IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida
a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas,
ressalvado o disposto no § 3º do art. 23 desta lei;

Art.32
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância
utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações
emergenciais e ressalvado o disposto no § 3º do art. 23 desta lei.”(NR)

Art. 2º A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte


alteração:
111

“Art. 129
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e
aproveitamento escolar, ressalvado o disposto no § 3º do art. 23 A Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996;” (NR).

Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Sala da Comissão, em de julho de 2018.


112

Conclusão

Produzir o presente trabalho de pesquisa foi de suma importância para


ampliar os conhecimentos sobre um tema tão atual e presente na realidade
profissional.

Independentemente das posições externadas por profissionais da educação e


do direito, se favoráveis ou contrárias à adoção do modelo apresentado, todos os
argumentos apresentados pelas partes envolvidas mostram-se pertinentes para a
sustentação de suas finalidades.

Trazer os principais aspectos relacionados à educação, partindo da evolução


do direito á educação, desde a introdução da educação no Brasil, ainda no ano
1549, através da missão confiada ao padre Manuel da Nóbrega, pelo então Rei de
Portugal, Dom João III, passando pelas diversas reformas educacionais, até a
promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e a edição
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foi imprescindível para a
compreensão do atual sistema educacional, principalmente quando o assunto é a
Educação Domiciliar ou Homeschooling.

A análise do Direito Internacional, em especial a Declaração Universal dos


Direitos Humanos e os Pactos Internacionais de Direitos Humanos, bem como os
mecanismos de integração destes direitos, aliados ao estudo do Direito Nacional,
relativo às características dos Direito Fundamentais assegurados pela Constituição
da República Federativa do Brasil, também foi de substancial importância para o
desenvolvimento do presente trabalho.

Ao final, conclui-se que o Direito Fundamental a Educação Domiciliar ou


Homeschooling, ao invés de uma inovação Norte Americana, trata-se em verdade do
ressurgimento de uma modalidade de ensino que sempre fez parte da história da
educação brasileira, inclusive em suas Constituições Republicanas de 1946, 1967 e
na Emenda Constitucional n. 1 de 1969.
113

Conclui-se ainda que o direito fundamental a Educação Domiciliar ou


Homeschooling encontra-se devidamente garantido a todos, independentemente de
origem, raça, cor, religião ou nacionalidade, com fundamento no Sistema
Internacional de Proteção aos Direitos Humanos da qual o Brasil é signatário e nos
Princípios inerentes aos Direitos Fundamentais, em especial o Princípio da Vedação
de Retrocesso, que impede a supressão de direitos e garantias fundamentais já
implementados e usufruídos.

Contudo, adequando-se à posição adotada pelo E. Supremo Tribunal Federal


sugere-se a elaboração de Projeto de Emenda Constitucional com a finalidade de
incluir ao texto constitucional, a garantia de acesso à educação fora do ambiente
escolar tradicional e a elaboração de um Projeto de Lei visando a regulamentação
do direito á educação domiciliar ou Homeschooling.

Reforça-se, portanto, a importância do assunto apresentado neste trabalho,


não só para os pais e famílias que buscam informações a respeito do tema, mas
também para todos os profissionais da área da educação e aos operadores do
direito.
114

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGOSTINHO, José Francisco António Inácio Norberto. Lei de 6 de novembro de


1772. Portugal 1772. Disponível em:<http://www.ige.min-edu.pt/upload/docs/Lei-6-
11-1772.pdf>. Acesso em: 30/12/2017.

ALARCÓN, Pietro de Jesús Lora. Ciência Política, Estado e Direito Público. 2. ed.
São Paulo. Verbatim. 2014.

ALEXANDRE, Manoel Morais De Oliveira Neto. Quem tem medo do


homeschooling? o fenômeno no Brasil e no mundo. Brasília: Câmara dos
Deputados, Consultoria Legislativa, 2016. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesquisa/estudos-e-notas-
tecnicas/areas-da-conle/tema11/2016-14308_quem-tem-medo-de-
homeschooling_manoel-morais>. Acesso em: 09/03/2017.

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio da Silva. 2. ed. 4.
Tiragem. Ed. Malheiros. 2015.

ANED. Associação Nacional de Educação Domiciliar. [s.d.]. Belo Horizonte.


Disponível em “http://www.educacao-domiciliar.com”. Acesso em 12/01/2015.

ANDRADE, Édison Prado de. Educação familiar desescolarizada e o direito da


criança e do adolescente: relevância, limites e possibilidades na ampliação do
direito à educação. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação da Universidade
de São Paulo, São Paulo. Fonte:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-10112014-111617/pt-
br.php>. Acesso em 09/03/2017

______. Educação Domiciliar: encontrando o Direito. 2017. Disponível em:


<http://www.scielo.br/pdf/pp/v28n2/0103-7307-pp-28-2-0172.pdf>. Acesso em
15/07/2018.

ANGERAMI, Emília Luigia Saporiti e MAI, Lilian Denise. Eugenia negativa e


positiva: significados e contradições. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rlae/v14n2/v14n2a15.pdf>. Acesso em 12/01/2018

ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito
Constitucional. 21. ed. São Paulo: Verbatim, 2016.

ARAUJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional das pessoas portadoras


de deficiência. 4. ed. Brasília. 2011.

BARBOSA, Luciane Muniz Ribeiro. Ensino em casa no Brasil: um desafio à


escola?. 2013. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-07082013-134418/pt-br.php.
Acesso em: 12/01/2017.
115

BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: Os


conceitos fundamentais e a constituição do novo modelo. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2015.

______. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional


contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência
mundial. Trad. Humberto Laport de Mello. 3. reimpr. Belo Horizonte: Fórum, 2010.

______. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional


contemporâneo: natureza jurídica, conteúdos mínimos e critérios de aplicação.
Versão provisória para debate público. Mimeografado, dezembro de 2010.
Disponível em: <https://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-
content/uploads/2010/12/Dignidade_texto-base_11dez2010.pdf>. Acesso em:
15/07/2018.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 20. ed. Saraiva. São
Paulo, 1999.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Carlos Nelson Coutinho. 7.


Tiragem. Elsevier Editora Ltda. 2004.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 15. ed. Malheiros. São


Paulo, 2004.

BOUNDENS, Emile. Ensino em casa no Brasil. Consultoria legislativa da câmara


dos deputados. Brasília. 2002. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/documentos-e-pesquisa/publicacoes/estnottec/arquivos-
pdf/pdf/200417.pdf: Acesso em: 12/01/2017

BRASIL. Constituição Política do Império do Brazil, de 25 de março de 1824.


Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso em:
30/12/2017.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro


de 1891. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em:
30/12/2017.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos Do Brasil, de 16 de julho de


1934. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm>. Acesso em:
31/12/2017.

BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946.


Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/Constituicao/Constituicao46.htm>. Acesso em:
02/01/2018.
116

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 24 de Janeiro de 1967.


Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm>. Acesso em
03/01/2018.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em 03/01/2018.

BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. Manda crear escolas de primeiras letras em


todas as cidades, villas e logares mais populosos do Imperio. Rio de Janiro, RJ.
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-38398-15-
outubro-1827-566692-publicacaooriginal-90222-pl.html>. Acesso em 30/12/2017.

BRASIL. Decreto n°. 1331-A, de 17 de fevereiro de 1854. Approva o Regulamento


para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Côrte. Disponível
em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1331-a-17-
fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292-pe.html>. Acesso em: 30/12/2017.

BRASIL. Decreto n°. 7247, de 19 de abril de 1879. Reforma o ensino primario e


secundario no municipio da Côrte e o superior em todo o Imperio. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-7247-19-abril-1879-
547933-publicacaooriginal-62862-pe.html>. Acesso em: 30/12/2017.

BRASIL. Decreto nº. 981, de 8 de novembro de 1890. Approva o Regulamento da


Instrucção Primaria e Secundaria do Districto Federal. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-981-8-novembro-
1890-515376-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 30/12/2017.

BRASIL. Decreto nº. 16.782-A, de 13 de Janeiro de 1925. Estabelece o concurso da


União para a diffusão do ensino primario, organiza o Departamento Nacional do
Ensino, reforma o ensino secundário e superior e dá outras providencias. Disponível
em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-16782-a-13-
janeiro-1925-517461-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 30/12/2017.

BRASIL. Decreto nº. 19850, de 11 de abril de 1931. Crêa o Conselho Nacional de


Educação. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-
1939/decreto-19850-11-abril-1931-515692-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso
em: 30/12/2017.

BRASIL. Decreto nº. 19851, 11 de abril de 1931. Dispõe que o ensino superior no
Brasil obedecerá, de preferencia, ao systema universitario, podendo ainda ser
ministrado em institutos isolados, e que a organização technica e administrativa das
universidades é instituida no presente Decreto, regendo-se os institutos isolados
pelos respectivos regulamentos, observados os dispositivos do seguinte Estatuto
das Universidades Brasileiras. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19851-11-abril-1931-
505837-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 31/12/2017.
117

BRASIL. Decreto nº. 19852, de 11 de abril de 1931. Dispõe sobre a organização da


Universidade do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19852-11-abril-1931-
510363-republicacao-85622-pe.html>. Acesso em: 31/12/2017.

BRASIL. Decreto nº. 19890, de 18 de abril de 1931. Dispõe sobre a organização do


ensino secundário. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-
1939/decreto-19890-18-abril-1931-504631-publicacaooriginal-141245-pe.html>.
Acesso em: 31/12/2017.

BRASIL. Decreto nº. 19941 de 30 de abril de 1931. Dispõe sobre a instrução


religiosa nos cursos primário, secundário e normal. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19941-30-abril-1931-
518529-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 31/12/2017.

BRASIL. Decreto-lei nº. 4048 de 22 de janeiro de 1942. Cria o Serviço Nacional de


Aprendizagem dos Industriários (SENAI). Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-4048-22-janeiro-
1942-414390-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 31/12/2017.

BRASIL. Decreto–lei nº. 4073 de 30 de janeiro de 1942. Lei orgânica do ensino


industrial. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-
1949/decreto-lei-4073-30-janeiro-1942-414503-publicacaooriginal-1-pe.html>.
Acesso em: 31/12/2017.

BRASIL. Decreto-lei nº. 4244 de 09 de abril de 1942. Lei orgânica do ensino


secundário. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-
1949/decreto-lei-4244-9-abril-1942-414155-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso
em: 01/01/2018.

BRASIL. Decreto-lei nº. 6.141 de 28 de dezembro de 1943. Lei Orgânica do Ensino


Comercial. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-
1949/decreto-lei-6141-28-dezembro-1943-416183-publicacaooriginal-1-pe.html>.
Acesso em: 01/01/2018.

BRASIL. Decreto-lei nº. 8529 de 02 de janeiro de 1946. Lei Orgânica do Ensino


Primário. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-
1949/decreto-lei-8529-2-janeiro-1946-458442-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso
em: 01/01/2018.

BRASIL. Decreto-lei nº. 8530 de 02 de janeiro de 1946. Lei Orgânica do Ensino


Normal. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-
1949/decreto-lei-8530-2-janeiro-1946-458443-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso
em: 01/01/2018.

BRASIL. Decreto-lei nº. 9613 de 20 de agosto de 1946. Lei Orgânica do Ensino


Agrícola. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-
1949/decreto-lei-9613-20-agosto-1946-453681-publicacaooriginal-1-pe.html>.
Acesso em 01/01/2018.
118

BRASIL. Decreto-lei nº 8621, de 10 de janeiro de 1946. Dispõe sobre a criação do


Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial e dá outras providencias. Disponível
em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-8621-10-
janeiro-1946-416555-norma-pe.html>. Acesso em: 02/01/2018.

BRASIL. Decreto-lei nº. 8622, de 10 de janeiro de 1946. Dispõe sobre a


aprendizagem dos comerciários, estabelece deveres dos empregadores e dos
trabalhadores menores relativamente a essa aprendizagem e dá outras
providências. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-
1949/decreto-lei-8622-10-janeiro-1946-416558-norma-pe.html>. Acesso em:
02/01/2018.

BRASIL. Lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da


Educação Nacional. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-
1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em:
02/01/2018.

BRASIL. Lei nº. 5540, de 28 de novembro de 1968. Fixa normas de organização e


funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-
5540-28-novembro-1968-359201-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em:
03/01/2018.

BRASIL. Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o
ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692-11-agosto-1971-357752-
publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 03/01/2018.

BRASIL. Lei nº. 7.044, de 18 de outubro de 1982. Altera dispositivos da Lei nº 5.692,
de 11 de agosto de 1971, referentes a profissionalização do ensino de 2º grau.
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-1987/lei-7044-18-
outubro-1982-357120-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 03/01/2018.

BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases


da educação nacional. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 04/01/2018.

BRASIL. Lei nº. 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de


Educação e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/leis_2001/l10172.htm>. Acesso em:
04/01/2018.

BRASIL. Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de


Educação - PNE e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm>. Acesso
em 04/01/2018.

BRASIL. Base nacional comum curricular. Disponível em:


<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 15/03/2018.
119

BRASIL. Decreto Legislativo nº. 226 de 12 de dezembro 1991. Aprova os textos do


Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e do Pacto Internacional sobre
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos aprovados, junto com o Protocolo
Facultativo relativo a esse último pacto, na XXI Sessão (1966) da Assembléia-Geral
das Nações Unidas. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1991/decretolegislativo-226-12-
dezembro-1991-358251-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em 18/05/2018.

BRASIL. Decreto n . 591, de 6 de julho de 1992. Atos Internacionais. Pacto


Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Promulgação.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm>.
Acesso em 18/05/2018.

BRASIL. Decreto n . 592, de 6 de julho de 1992. Atos Internacionais. Pacto


Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Promulgação. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm>. Acesso em:
18/05/2018.

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 8. ed. São Paulo:


Saraiva, 2014.

CANOTILHO, Jose Joaquim Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Livraria


Almedina Coimbra, 1993.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 7. ed.


São Paulo. Saraiva. 2003.

______. Fundamento dos Direitos Humanos. 1997. IEA. Disponível em:


<http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/comparatodireitoshumanos.pdf>. Acesso
em: 13/04/2017.

______. O Princípio da igualdade e a escola. 1999. IEA. Disponível em:


<http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/comparatoigualdadeeescola.pdf>. Acesso
em: 13/04/2107

CORTELLA, Mario Sérgio. A era da curadoria - o que importa é saber o que


importa. 2016. Disponível em: <http://www.institutocpfl.org.br/2016/05/09/a-era-da-
curadoria-o-que-importa-e-saber-o-que-importa-com-mario-sergio-cortella-integra/>.
Acesso em 17/02/2018

CUNHA, Luiz Antonio. Ensino profissional: o grande fracasso da ditadura,


Cadernos de Pesquisa (São Paulo), v. 44, n. 154, outubro/dezembro 2014.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v44n154/1980-5314-cp-44-154-
00912.pdf>. Acesso em 21/01/2018.

Declaração de direitos do bom povo de Virgínia, de 16 de junho de 1776. Disponível


em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-
%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-
at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-bom-povo-de-virginia-1776.html>.
Acesso em: 15/05/2018.
120

Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, de 04 de julho de


1776. Disponível em: <https://www.wdl.org/pt/item/109/>. Acesso em: 15/05/2018.

Declaração dos direitos do homem e do cidadão, de 26 de agosto de 1789.


Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-
anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-
Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-
cidadao-1789.html>. Acesso em: 15/05/2018.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro,


Ed. Objetiva, 2009.

DIMOULIS, Dimitri. Teoria geral dos direitos fundamentais. 5. ed. Atlas. São
Paulo, 2014.

DOM JOAO III. Regimento que levou Tomé de Souza governador do Brasil. 1548.
Disponível em: <http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemaad.fflch.usp.br/files/2018-
04/1.3._Regimento_que_levou_Tom__de_Souza_0.pdf>. Acesso em 16/04/2018.

DURKHEIM, Emile. Educação e Sociologia. Tradução de Stephania Matousek.


Petrópolis, RJ. Vozes, 2011.

DWORKIN, Ronald. O direito como integridade. Tradução de Jefferson Luiz


Camargo. 3. ed. Martins Fontes. São Paulo, 1999.

EDUCAÇÃO. In Dicionário online Caldas Aulete. Disponível em:


<http://www.aulete.com.br/educa%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 30/12/2017.

ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. Trad. Lúcia Mathilde Endlich Orth. 7. ed.
Vozes, 1985.

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução: Paulo


Quintela. Edições 70. Portugal, 2007.

______. Sobre a Pedagogia. Tradução Francisco Cock Fontanella.: 2º. ed. Editora
Unimep. Piracicaba-SP, 2006.

MENDES, Gilmar Ferreira. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito


Constitucional. 10. ed. Saraiva. São Paulo, 2015.

MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral,


comentários aos arts. 1º a 5º Da Constituição da República Federativa do
Brasil, doutrina e jurisprudência. 9. ed. Ed. Altas. São Paulo, 2011.

MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. Homeschooling: uma alternativa


constitucional à falência da Educação no Brasil. Brasilia-DF: Clubjus, 26 ago. 2008.
Disponível em: <http://www.midiasemmascara.org/artigos/educacao/7100-
homeschooling-uma-alternativa constitucional- a-falencia-da-educacao-no-brasil.html>.
Acesso em 25/03/2017.
121

______. O direito à educação domiciliar. Disponível em:


<https://www.researchgate.net/publication/303551238_O_direito_a_educacao_domicilia
r>. Acesso em: 12/01/2017.

ONUBR. Declaração universal dos direitos humanos. Disponível em:


<http://www.onu.org.br/img/2014/09/DUDH.pdf>. Acesso em: 15/05/2018.

______. O que são direitos humanos. 2018. Disponível em:


<https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/>. Acesso em: 15/05/2018.

PALMA FILHO, João Cardoso. A República e a Educação no Brasil: Primeira


República (1889-1930). Disponível em:
<https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/106/3/01d06t04.pdf> Acesso em
27/12/2017.

PIOVESAN, Flávia. FACHIN, Melina Girardi. Educação em Direitos Humanos no


Brasil: desafios e perspectivas. Revista Jurídica da Presidência Brasília v. 19 n.
117 Fev./Maio 2017 p. 20-38 Disponível em: <file:///C:/03%20-
%20MESTRADO/PIOVESAN%20-
%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20E%20DIREITOS%20HUMANOS%20%20-
%20DESAFIOS.pdf>. Acesso: 15/05/2018.

PIOVESAN, Flávia. A Proteção dos Direitos Humanos no Sistema Constitucional


Brasileiro. In: Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. Centro de
Estudos. Janeiro/Dezembro 1999.

______. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14. ed. São


Paulo. Saraiva, 2013.

______. Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos. Texto


produzido para o I Colóquio Internacional de Direitos Humanos. São Paulo, Brasil,
2001. Disponível em:
<http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/textos/a_pdf/piovesan_sip.pdf>. Acesso em
16/06/2018.

RIBEIRO, Maria Luísa Santos. História da educação brasileira: a organização


escolar. 12. ed. São Paulo: Cortez, 1992.

ROMANELLI, Otaíza Oliveira. História da educação no brasil. Petrópolis: Vozes,


1986.

ROTHENBURG, Walter Claudius. Direitos fundamentais. São Paulo. Método.


2014.

ROUSSEAU, Jean Jacques. Emílio ou da Educação. Tradução de Sérgio Milliet. 3.


Ed. Difel, 1979.

SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações privadas. 2. ed. 3. tiragem.


Ed. Lumen Juris. Rio de Janeiro, 2010.
122

SARLET, Ingo Wolfgang. MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Curso de


direito constitucional. 4. ed. São Paulo. Saraiva, 2015.

SARLET, Ingo Wolfgang. As dimensões da dignidade da pessoa humana:


construindo uma compreensão jurídico-constitucional necessária e possível. Revista
Brasileira de Direito Constitucional – RBDC n. 09 – jan./jun. 2007

______. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição


Federal de 1988. Livraria do advogado. Porto Alegre, 2001.

SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no brasil. 4. ed.


Campinas/SP: Autores Associados, 2013.

______. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 11. ed. Campinas,


SP: Autores Associados, 2011.

SCHMITT, Carl. Teoría de La Constitución. Presentación de Francisco Ayala. 2.


ed. Alianza Editorial. 1996.

SILVA. José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. São
Paulo: Malheiros, 2014.

STRAPAZZON, Carlos Luiz. Constituição e direitos fundamentais estudos em


torno dos fundamentos constitucionais do direito público e do direito privado.
Livraria do advogado. Porto Alegre, 2012.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Boletim de jurisprudência internacional.


educação domiciliar. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaBoletim/anexo/homeschoolingatual
izado.pdf>. Acesso em 22/07/2018.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de segurança nº. 22.164/SP.


Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=1606388>.
Acesso em: 10/06/2018.

TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo.
Sraiva, 2012.

______. Direito fundamental à educação. Disponível em: <http://www.anima-


opet.com.br/pdf/anima1/artigo_Andre_Ramos_Tavares_direito_fund.pdf>. Acesso
em 15/07/2018.

TOLEDO, Claudia Mansani Queda de. Educação: uma nova perspectiva para o
estado democrático de direito brasileiro. São Paulo. Verbatim. 2015.

______. O ensino jurídico no brasil e o estado democrático de direito - análise


crítica do ensino do direito penal. 2008. 143 f. Dissertação (Mestrado)- Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Disponível em:
<https://tede2.pucsp.br/handle/handle/8407>. São Paulo, SP, 2008.
123

UNESCO. Recommendation concerning Education for International


Understanding, Co-operation and Peace and Education relating to Human
Rights and Fundamental Freedoms. 1974. Disponível em:
<http://portal.unesco.org/en/ev.php-
URL_ID=13088&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html>. Acesso em:
15/05/2018.

VASAK, Karel. The international dimensions of human rights. Traduzido para o


ingles por Philip Alston. UNESCO.1982.

VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. A educação doméstica no Brasil de oitocentos.


Revista Educação em Questão. v. 28, n. 14, jan./jun. 2007. Departamento e
Programa de Pós Graduação da UFRN. Disponível em:
<http://www.revistaeduquestao.educ.ufrn.br/pdfs/v28n14.pdf>. Acesso em:
16/06/2018.

VIEIRA, André de Holanda Padilha. "Escola? Não, obrigado": um retrato da


homeschooling no Brasil. 2012. 76 f. Monografia (Bacharelado em Ciências
Sociais)—Universidade de Brasília, Brasília, 2012. Disponível em:
<http://bdm.unb.br/bitstream/10483/3946/1/2012_AndredeHolandaPadilhaVieira.pdf>
: Acesso em 13/04/2017.

You might also like