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PRODUCAO TEX TUAL na universidade Desirée Motta-Roth Graciela Rabuske Hendges EDITOR Marcos Marcionilo CONSELHO EDITORIAL: ‘Ana Stab Zilles [Unisinos) ‘Angela Palva Dionisio (UFPE] Carlos Alberto Faraco [UFPR) Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP] Henrique Monteagudo (Universidade de Santiago de Compostela] José Ribamar Lopes Batista Jr. (UFPUCTF/LPTI Kanavillil Rajagopalan [UNICAMP] Marcos Bagno [Un8] Maria Mara Perera Scherre (UFES) Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP] Roberto Mulinacei [Universidade de Bolonha] Roxane Rojo [UNICAMP] ‘Salma Tannus Mucha [PUC-SP] Siri Possenti [UNICAMP] Stella Maris Bortoni-Ricardo [Un8} Capa ‘Avotea Cis1000 Projto oafica: Taaa5.C. Ovens Imagem dacapa: soc Revisto: Marcos Bac ion Mote Ret, Obra — Hendges, Grace H Prodoo testa a uniesdade/ sine Nota Roth: Graciela Hendoes abuse.” So Paul: Parable Eto 2010. (Eeatagie se rine 20) rca ileprata ISBN o7a.85 7930-0253, LUnguita. 2 Produits 3 Portugues LT 8 Peds textual na univesidage Sere roa, copsa0so0 5003 Dieitos reservados 3 PARABOLA EDITORIAL ua Dr. Mati Vicente, 394 ~Ipanga (04270.000 Sio Paulo, 5? pabxc{11] 5061-9262 | 5061-8075 | fox [11] 2589-9263 home page: wivw.parabolaeditrialcom.br e-mail parabolaeparabolaeditriaicom br Teo jewados. Neahuma pare desta obra pode Set tereediecal tenerilck o> alee tore olu/uaioyer as (eetnico eu mecnia ining fexacepla e gavaao) ou aauteds fem qualquer stems ou banca de dado tm perio por eco de Paro Er do 15aN:970.85-7934-025-3 1 edicio,6'reimpressio: fevereiro de 2017 © do texto: Déside Mota-Roth e Graciela Rabuske Hendges ‘© da edigio brasileira Parsbola Editorial, io Paulo, setembro de 2010 SUMARIO Nota do Editor. Apresentacio Publique ou perega, Resenha B Projeto de pesquisa. Artigo académico: introdugio evisio da literatura.. Axtigo académico: fa Arrigo académico: metodologia ... Artigo académico: anilise e discussio dos resultados. Bi AbstractiResumo académico 151 Referéncias dos exemplos .. 163 165 Bibliografia NOTA DO EDITOR roducdo textual na universidade & um projeto que vem sendo gestado em nosso editorial desde que tomamos conhecimento de uma publicaséo autoeditada pela autora, Désirée Motta-Roth, intitulada Redasfo acadé- ‘mica — principios bsicos,vitias vezes reimpressa sob demanda pelo Laboratdrio de Leitura e Redagio (LabLeR] da Universidade Federal de Santa Maria, A autora produzia e divulgava o livro em congressos por todo o pais atendia a solicitages feitas diretamente a0 LabLerR, mas 0 livro aparecia muito menos do que merece parecer. No momento em que muitas edigées sio pensadas para circular sob deman- da, nds resgatamos um titulo dessa condigao, seguros de que seu piiblico é m maior do que aquele que a ele teve acesso até agora. Em colaboragdo com Graciela Rabuske Hendges, Désirée Motta-Roth elegeu como interlocutores estudantes universitérios de um grande ntimero de éreas do conhecimento, ao exemplificar a produgio textual em cursos tio distintos quanto arquitetura, administracéo, agronomia, biologia, economia, educagio, linguistica aplicada, medicina, sociologia, satide puiblica, quimica, zoorecnia. O que interessa aqui é 0 texto académico, sua produgio, sua leitura. Sempre dissemos a Désirée Motta-Roth que os estudantes universitérios poderiam se valer, em escala nacio- nal, do trabalho que ela desenvolve no LabLeR, porque, & semelhanga de nossa colegio Leitura © Produgio de Textos Técnicos ¢ Académicos, este € um livro “pritico” embasado em excelente teoria, com vistas a cnsinar os alunos, com di- namismo ¢ leveza, a enfrentar e a vencer suas dificuldades de produgéo textual. APRESENTAGAO Salvador Dal “Crianga geopoliticaassistindo ao nascimento do novo homem” (1943) ste material didético resulta de uma “reflexdo pritica’ ou da intima relags centre reflextio tebrica e aplicagio prética. A reflexito tedriea tem sido desen- /volvida ao longo dos anos na pesquisa individual de cada autora eem conjunto ‘com nossos orientandos de iniciacio cientifica, mestrado e doutorada. Além disso, a Icieura do trabalho de colegas tem sido uma eterna fonte de reflexio e inspiracio. Por outro lado, a aplicagdo pratica de principios tebricos da andlise de géne- ro e do ensino de linguas para fins académicos tem sido feita, desde 1994, inicial mente na forma de um semindrio para produgao de textos académicos em inglés, ministrado pela primeira autora como a oficina “Academic Writing”, na XVII PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE Semana de Letras da Universidade Federal de Santa Maria e, mais tarde, ja em sua forma atual em portugués, para acompanhar cursos e palestras sobre redacao académica, ministrados em programas de pés-graduacio em diferentes teas ¢ em vvirias instituig6es. Além disso, as idcias desenvolvidas aqui tém sido expostas em trabalhos apresentados em diferentes instituigées universitérias e congressos de lin- guistica aplicada e durante anos foram vendidas como material didético, intitulado Redagio académnica: prineipos bavcos, O presente volume é uma versio ampliada ¢ atualizada desse material, especialmente produzida para a Parébola Editorial. Tentamos reunir parte das informag6es que consideramos relevantes para a redagio do projeto, do resumo académico (abstract), do artigo académico (ram- bém chamado de artigo cientifico) e da resenha académica, géneros frequente- mente utilizados na divulgacao de pesquisas e no avango do estado da arte das diversas discipli as que formam o que comumente é chamado de “academia”. Este material didlético cumpre dois objetivos. Primeiramente, oferecer a ¢s- ctitores iniciantes subsidios que os auxiliem no processo de produgio de textos académicos no contexto de pesquisa comumente experimentado na universidade. Além disso, tentamos atender & necessidade de professores de leitura e redacio académica de contar com um material sistematizado para desenvolver as habilida- des comunicativas de alunosfescritores. Muitos ticulos sugestivos como Redagito técnica, Como escrever textos ou Como fazer uma monografia sio publicados a cada ano no Brasil. No entanto, a aborda- gem do presente volume tende a se concentrar nao apenas na forma dos textos, mas também no seu contetido ¢ na retérica (nos efeitos que se pretende causar no Icicor). Diferentemente de outros materiais, adotamos uma abordagem socioin- teracionista do letramento cientifico, ao nos concentrar no desenvolvimento de competéncias escritas do aluno para interagir com o mundo na posigio de escritor ¢ leitor de textos cientificos. Nossa pedagogia esté focada no uso da linguagem para determinada “agéo académica” de avaliar, relatar ou descrever informagdes € dados gerados em pesquisa, para influenciar o leitor ¢, consequentemente, a Pratica académica subsequente de pesquisa ¢ de publicagao. O primeiro capitulo apresenta uma breve discussio sobre aspectos da pro- dusio de textos associados & pritica de pesquisa cientifica, como estilo, publico- ~alvo e qualidade da leitura. Os capitulos subsequentes exploram em mais detalhes 08 objetivos, a Fangio e a organizagio textual de diferentes géneros do discurso académico. APRESENTAGAO Nossa prtica de pesquisa ede ensino de quase duas décadas tem nos mos- trado que a abordagem sociorretérica dé uma contribuicio efetiva ao desenvolvi- ‘mento do letramento cientifico, possibilitando a elaboragio de uma abordagem pedagégica voltada para 0s géneros discursivos e para a produgio textual no con- texto académico. / ‘Tanto a reflesio tedrica quanto a prética pedagégica referidas aqui foram construidas sobre as bases do trabalho pionciro de John M. Swales sobre géneros discursivos académicos ¢ensino de linguas para Fins académicos na Universidade de Michigan nos Estados Unidos. No entanto, gostarfamos de dedicar este livro a José Luiz Meurer, que sempre compartilhou generosamente seu saber, esclare- iéncia da linguagem ¢ oferecendo incentivo a seus alunos, cendo principios da dentre os quais nos incluimos. Por fim, gostarfamos de agradecer a nossos oxientandos e demais membros do Grupo de Pesquisa NP “Linguagem como prética social” dx UFSM, bem como aos alunos que passaram pelo curso de redagio académica, desde sua pri- meira edigio em 1994, pelos valiosos comentarios que produziram sobre © mate- rial, As falhas que persistem se devem a nossa total incapacidade de seguir & risca bons conselhos. Desiree Morta-Rorn, GracteLa RABUSKE HENDGES Itaara/Santa Maria, RS, 2010 PUBLIQUE OU PERECA Pablo Picasso: “Guernica” (1937) 1.1 Por que produzir textos académicos? ‘ sistema universitatio brasileiro, a politica de Ainanciamento de bolsas N« niciagao cientifica, de bolsas de pés-graduacio e de projetos de pes- quisa se baseia no conhecido ditado “Publique ou perecal” (Publish or perish) das universidades americanas. Essa pressio para escrever e publicar tem levado alunos, professores ¢ pesquisadores universitérios a um esforgo concen- trado na elaboragao de textos de qualidade na forma de artigos para periddicos académicos ¢ livros para editoras como meio de assegurar espago profissional. Desse modo, na cultura académica, a produtividade intelectual € medida pela produtividade na publicacao. Por muito tempo, diferentes dreas questionaram © valor de uma politica de publicagao pautada pela quantidade em decrimento de uuma andlise mais atenta da qualidade das publicagées. Mas, para mudar o siste- ima, é preciso conhecé-lo participar dele'. Este livro, portanto, tem por objetivo tum a CAPES (Co UGAO TEXTUAL WA UNIVERSIDADE trazer informagées sobre a pritica académica de publicasio, enfocando os géneros discursivos mais comumente adotados no contexto universitario, Neste primeiro capitulo, gostarfamos de explorar questoes que nos parecem centrais para a redagio de géneros académicos: a preparacio para a producio tex- tual (aselego da literatura de referéncia e a qualidade da leitura dessas referéicias) € 0 processo de produgio textual (a fungao de diferentes génetos académicos, 0 estilo a adorar, a definicio do piblico-alvo, o ciclo de escrever, revisar ¢ editar), 1.2 Redagdo académica Na redagao académica, ¢ importante atentar para alguns farores que, por um lado, podem ajudar a delinear o formato e 0 contetido de nosso texto na fase de preparacio da escrita e, por outro, podem ajudar durante o processo de escrita¢, mais tarde, na fase de revisio e edigdo do texto. Os fatores que discutimos a seguir foram sistematizados com base no trabalho de Swales ¢ Feak (1994, 2000, 2004)? sobre redacéo académica para alunos de pos-graduacio. 1.2.1 Tépico Para definir o tépico de um texto (sobre 0 que vamos escrever), a leitura é fundamental. A atividade de leitura alimenta a escrita, portanto devemos selecio- nar bibliografia relevante (em forma e contetido) sobre possiveis topicos dentro da ‘rea de estudo, Nao ha uma ordem espeeifica na definigéo do tépico e na leitura do material disponivel na tea. As vezes, detectamos um problema a ser estudado a partir de nossa pritica no laboratério, em aula, na observacéo da midia etc. Em seguicla, visicamos bibliotecas e navegamos na internet em busca de publicagées (artigos, resenhas, livros, dissertag6es ¢ teses) que relatem pesquisas experimentais ou reflexdes tedricas sobre 0 mesmo tépico. Em outras ocasiées, nao temos ideia sobre o que escrever e, a0 lermos algumas dessas publicagdes, detectamos tima érea que carece de estudos mais aprofundados, pois 0s problemas relativos a ela ainda nio foram totalmente explorados ou solucionados. a valia capicitsi em ie de prada) pas procera um aishamento do Qual pts de de ees Qualis Chaput capesgoxte/webquls) ¢ uns hae de dad da CAPES. ddan 3 clashes gusbnana ro pedoiong ra ivlggio d produit em oda a desc conheciment. Em coeds dea nobagae facade non prin pare o Quan aes ae deer nin asin qu pec, porate pts ec carpe de pie, Assocs comple dab decs aus final do volume do nda iingafi20 PuBLIQUE ov PEREGA A selegao da literatura de referéncia ¢ talvez 0 passo mais importante na reda- ‘io de nosso texto, pois definiré a perspectiva te6rica adotada para estudarmos 0 t6pico. A qualidade dessas referéncias € medida por cr * a qualidade da fonte de onde extraimos os textos escolhides: no caso de artigos académicos, fatores que definem qualidade sio (1) 0 fator de impacto’; (2) no Brasil, o Qualis-CAPES; (3) a indexagao‘. Periddicos com alto fator de impacto, Qualis A ou B e indexados sao ge- ralmente avaliados mais positivamente que aqueles sem fluxo atualizado de publicagao; + aimportincia dos autores na érea: pesquisadores conhecidos, com mui- tas publicagées individuais ¢ em coautoria, tém mais chance de ter um trabalho consistente em vista do didlogo que mantém com seus pares, do {que autores que raramente publicam e apenas individualmentes + arecéncia desses trabalhos: geralmente se buscam textos publicados nos liltimos cinco anos. Utilizar artigos extraidos de periédicos atualizados ¢ indexados demonstra um esforgo de sua parte em se atualizar com 0 saber na area. A tendéncia na academia ¢ trabalhar com textos recentes como forma de garantir atualizacio, a nao ser em disciplinas especifi- cas, como filologia ou histéria, que apresentam uma visio diacrénica do conhecimento. E importante ler com cuidado os artigos e livros que escolhemos como re- feréncia tedrica do nosso trabalho. A qualidade dessa leitura estd nas anotagbes € no resuumo de trechos que, mais tarde, poderéo ser usados como base para nosso préprio artigo, absrracr ou resenha. fet oo 180 - ele fred do agin i sc qu cep seen capes come apa patsinnearorum mi Se prsoglrt vs sebide 50,000 cgisem 2008 2009 pul 0 acti. de apace da Sree 2010 50.0030 ‘srern indetads aque quectbe um mime den oes memo! decode prin Pats (clogs nv mis piesa el ame ne ey oe ponds av cen se dors dee mane om pedal or oes una steno Siena ara PRODUCKO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE 1.2.2 Audiéncia A redagio académica demanda que tenhamos uma imagem precisa de nosso pui- lo, © qual, provavelmente, conhece o assunto ¢ end o texto em busca de infor- ‘magio nova. Devemos encontrar o tom apropriado para projetar as expectativas que temos sobre o leit, bem como os objetivos eo conhecimento prévio que o leitor traré para a tarefa de leicura. Devemos definir como nos relacionaremos com nossa audién- cia para poder explicitar nossos objetivos: um especialsta escrevendo para iniciantes (objetivos pedagégicos) ou um membro da disciplina (especialista ou nao) escrevendo para epecialista (objetivo de demonstrarfamiliaridade e conhecimento na rea). 1.2.3 Estratégias de apresentacao Hi virias estratégias para demonstrat seu ponto de vista e dar confiabilidade a0 relato de sua pesquisa, tais como (@) articular seu texto com a literatura jé publicada na érea; (b) estabelecer relagbes com pesquisas anteriores; (© inserir sua pesquisa num contexto mais amplo por meio da citagéo de vrias pesquisas relacionadas entre sie com seu trabalho; (4) apontar falhas em sua prépria pesquisa, conforme os exemplos a seguir. (@ articular seu texto com a literatura publicada na drea Resumo de Informacées de Pesquisa Exemplo 1.1° Mal Tais fatos podem estar refletindo a influéncia da adogéo de algumas medidas de atengio a saiide, como 0 programa de controle das infeccoes respira- CGrias agudas, a terapia de reidratacao oral e 0 incen- tivo 4 amamentagio, entre outros, conforme jas inalados em estudo anterior (Paim, Costa, 1993) (On extn to xcs so usndos coma exemple nt ne sh nme stn del ira que todo owes emda rer ea M inkl da lin) cum mien Asi, oct pe ence at ree cole ime texto cdo co medicna no Expo, procurando po eto Mla ial den copia on fea de bop, tila ka 8, parsing rs ai por dam). munLiaue ou PERECA (0) conectar informagéo nova (obrida na pesquisa reportada no artigo, indicada em cinza no exemplo 1.2) com informacio dada (obtida em pesquisa anterior, indi= cada em preto): Exemplo 1.2 Bal Bromélia antiacantha ocorreu basicamente nas 20- nas FPP ¢ MPI, A presenca de individuos desta es- pécie na zona FPP sugere maior tolerancia & alta salinidade, (0) conectar 0 assunto tratado no texto com a crea de pesquisa, Para ranto, pode- mos contextualizar o estudo, dando informagies acerca do assunto, detectando lacunas ‘no conhecimento existente na drea: Exemplo 1.3 Bal ‘As restingas recobrem cerca de 80% da costa brasi- | Iecira (Lacerda etal., 1993), onde se estendem desde | | _orientamotetore ‘I : contestualizam 0 tpico estreitas até extensas faixas de areia, como no litoral wae Informagies que norte do Estado do Rio de Janeiro (Martins et al. 1993). O bioma de restinga possui uma vegetagio caracteristica devido a uma combinacio de faxores fisicos e quimicos dessas regi6es, tais como elevada temperatura, salinidade, grande deposicio de sal- sugem e alta exposicao 8 luminosidade (Ormond, 1960; Franco et al., 1984; Henriques et al., 1984), Nas imediagées de fontes de gua, como lagoas bragos das mesmas, a vegetagio torna-se mais den- sa, formando florestas (Araujo ct al., 1998). AAs comunidades vegetais das restingas da costa bra sileira sG0 conhecidas quanto a sua composigio floristica e as formagées vegetais nelas encontradas PRODUGKO TEXTUAL WA ONIVERSIDADE uMLIQuE ou rEREGA (ex: Pfadenhauer, 1978} Araujo & Henriques, 19845 | (Soa uaa 1.2.4 Organizagao Silva & Somner, 1984; Henriques et al., 1986; Arau- conhecimento sobre 2 jo 8 Oliveita, 1988; Pereira & Araujo, 1995; Araujo ‘otpeo Una estrutura textual clara facilita a leitura de informagoes, uma vez que ctal., 1998), [aan © leitor pode antecipar padrées de organizagao textual comumente encontrados . 8 : Henriques al. 1984, Waechter 1985, Zaluar 1997), leitor, de modo que cle possa antecipar o tipo de informacéo presente no texto. Observe abaixo algumas passagens retiradas de um artigo da dea de medicina BT (Ormond 1960, em textos do mesmo género. Exemplo disso é 0 uso de subtitulos para orientar o Veja como os subtitulos indicam 0 tipo de informagio que se seguiré: (d) admitir ow discutir fathas no estudo realizado: Exemplo 1.5 Mal IintagSes doeudo Inerodugao para oes ere contextualzar 0 ‘estado Vale salientar que, por se cratar de uma anilise de agregados, este estudo esté sujeito As limitagées de certa forma jé apontadas anteriormente, tais como a heterogeneidade intra-agregados, a mobilida- de intergrupos, a dependéncia da escala utilizada, entre outras, que, de acordo com a epidemiologia, constituem-se em sérios impedimentos para a in- feréncia causal. Todavia, ndo € demais esclarecer nio ter sido este 0 propésito do presente trabalho, mas, sim, oferecer subsidios para o planejamento e a avaliagio da oferta de servicos e para monitorar as Cet etn ee ier ee tudo, do tipo ecoldgico e de base populacional SMI eer enEiiN:s 75 zonas de condigoes de satide infantil. Assim, em que pesem as restrig6es apresentadas, o estudo da mortalidade informasio (ZI) de Salvador, que correspondem a 5 infantil considerando-se sua distribuigao no espa- Areas da cidade definidas pela Companhia de De- | | , APresentciodos 0 geografico entendido como produto de trans- senvolvimento da Regiéo Metropolitana (CON- ro estudo formagées exercidas pelo homem (Santos, 1979) Seo eee eee nio s6 permitiu a identificagio de areas da cidade Pigeon ree RS CRU Re onde residem grupos submetidos a um maior risco, BEEN Compatibilizados com os setores censité- como também contribuiu para evidenciar a manu- tios da Fundagio Instituto Brasileisw de Geografia tengio das desigualdades soci ¢ Escatistica (IBGE). terreno contidos no ed-rom produzido pelo Ministérlo da Saiide (MS, 1998). (.) Essas estratégias servem para dirigir a atencio do lcitor para determinados aspectos da pesquisa relacada no texto, ajudando-o a organizar a informagéo ¢ recuperar o ponto de vista do autor. PRODUGAD TEXTUAL NA UNIVERSIDADE Anpresentacso dos resuitados dos Interpretagio dos resultados cencontrados Discussao Jo declinio que vinha sendo observado na mortalidade infancil em Salvador (SESAB, 1995; Lima & Costa, 1999). [i Jessa queda nio foi con- tinua e apresentou uma varibilidade muito grande, 5 Estilo O cstilo que vocé assume em seu texto pode ser equacionado com o “tom” com que voct aborda seu répico e com a audiéncia que vocé tem em mente quando co- ‘mega a escrever, Em redacao académica, hi um formalismo geral no tom, aleangado por intermédio de certas estratégias, tais como escolher alternativas mais precisas e formais quando selecionamos o vocabulétio a ser usado (Swales, Feak, 1994, p.15): Informal -impreciso [Formal espectico ‘encontrados Exemplo 1.6 Oautor| [que 0 conceito de género é pro- dutivo na andlise do discurso da ciéncia. Os resul- tados de dos projetos tém sido ‘no que tange ao desenvol- vimento region: 1.2.6 Desenvolvimento da informagao A evolugio clara e légica de uma ideia a outra, concctadas progressivamente, possibilita que o leitor acompanhe 0 desenvolvimento do texto (idem, p. 21). O PUBLIQUE OU PEREGA uso eficiente de palavras que desempenham a funcio de conectores — por exemplo, “portanto”, “assim”, “entretanto” e “porque” — como o uso de pontuacéo adequada podem ser de grande valia no estabelecimento de uma progressao gradativa da infor- ‘magio. Note, no exemplo abaixo, que a expresso “enquanto” estabelece um contras- te entre “o niimero de estudantes de doutorado” e “o niimero de bolsas disponiveis”: Exemplo 1.7 ‘O nndimero de estudantes que buscam os programas de dosoreda en crac wralmens nce dite | so) mos anos, EMERY Tamer de bolas dispoat = veis manteve-se constante. Gime resulta da | (/ *ferencta storice atual politica do governo federal, palavra de sentido eral queresume 3 ‘echo anterior Veja também que, no exemplo, a expressdo “essa situagao” resume todo o trecho precedente a ela. O emprego de elementos anaféricos de coesio tais como pronomes demonstrativos (“esse"/ “essa") acompanhados de um substantivo ana- frico® (“situagao") mantém o desenvolvimento constante da informacéo e orienta © leitor na interpretagio do texto. Se voce substituir a palavra “situagio” por “tra- édia” no exemplo acima, obtém outra perspectiva da relagio bolsa-aluno: Exemplo 1.8 ‘O nitimero de estudantés que buscam os programas de doutorado tem crescido gradualmente nos tilt mos anos, BMI o niimero de bolsas ‘eferénciaanaferica comouso de ume palavra de setido espacifce queresume ‘otrecho anterior veis manteve-se constante. resulta da atual politica do governo Federal. A expressio “essa tragédia’ refere-se a0 trecho precedente no texto, resumin- do 0 que foi afirmado anteriormence. Note o efeito causado pela substituigéo do substantivo anaférico “situagéo” por outro como “tragédia”. Anafrc- que see 2m eco meno anes Pr example, Sento gs de ag Aula senso he de pe 20 mst vensce Canali pcs is ani dee to ower Domes moa eA (picha Fla éde Sant Mari onabanena Ana secigerao, mas ada ola ponte africa PROBUGAO TEXTUAL MA UNIVERSIDADE 1.2.7 Apresentacdo final do texto A palavra-chave para a qualidade de qualquer texto ¢ “revisto” a cada ver~ sao do texto e, de modo especial, na versdo final. E fundamental que voce aprenda a ler seu proprio texto com distanciamento ¢ espirito critico, Uma boa estratégia para isso é deixar o texto “descansar” por algumas horas (¢ até mesmo um dia inteiro) para que depois vocé possa retomé-lo sem estar com ma leitura “viciada”. Ao revisar, tente lero texto em voz alta, como se fosse para outra pessoa. Isso ajuda voce a entender a organizacéo da informagio e a identificar aqueles pontos que ainda nio estao claros. Leia o texto cuidadosamente ¢ assinale erros de gra- itica, ortografia, estructura, estilo ete. Sobretudo, esteja atento ao modo como voct se posiciona no texto como membro de uma disciplina académica enquanto comunidade. Para tanto, leve em conta a cultura disciplinar de sua dca e as priti- cas de redagio adotadas por seus pares. Atente, por exemplo, para 0 modo como, na discussio dos resultados da pesquisa, elementos nio verbais como tabelas € grificos s4o utilizados ou se & importante fornecer uma avaliagio essencialmente qualitativa dos resultados obtidos. Ou ainda, se ha necessidade de definir deta- thadamente os conceitos de base na drea ou se a drea trabalha com conceitos bem estabelecidos, mas com procedimentos inovadores que devem ser explicados em pormenores. Nao hesite em reestruturar idcias ¢ reorganizar seu texto, mesmo que sua redacio, a seu ver, seja “quase uma obra de arte”. Peca aos colegas e professores para lerem seu texto antes de dé-lo por terminado, Criticas poderio contribuir paraa melhoria do manuserito. Seu futuro leitor ficard eternamente grato por set. esforco na fase de revisio. 1,3 Géneros académicos Redigir, no contexto da universidade, é produzir textos académicos com ob- jetivos muito especificos. Um artigo académico’, um abstract, uma monografia, uma disserta¢ao, uma resenha ou um livro tém Fungées diferentes. Cada um des- Nowe volume, watemos expen “arg cadence” em lag do sn atin secs" pre dsgna todos o sips de ag publicadon em peta cei nae ita ap Els pe sr de sare oo come de PuoLiguE ou rencea ses géneros pode ser reconhecido pela maneira particular com que é construfdo, pelo menos, em relagéo a: * tema e objetivo do texto (o que queremos realizar ao publicar o texto, como avaliar um novo livro, relatar um expetimento ou comprovar a eficiéncia de uma nova droga); + piiblico-alvo para quem escrevemos (para alunos de graduagio, alunos de doutorado, pesquisadores experientes, priblico leigo?): * natureza e organizagio das informagées que incluimos no texto (adota- remos segées para cada etapa da pesquisa como a revisio da literatura, a metodologia ¢ os resultados, como no artigo académico experimental?) Assim, podemos nomear trés géneros centrais no meio académi artigo, 0 abstract © a resenha. © artigo é publicado em periddicos académicos de dife- rentes dreas como Revista de Saiide Piblica, Reviea Brasileira de Biologia, Brazilian Journal of Chemical Engineering, Nature, Journal of Speech and Hearing Disorders, Journal of Political Economy, Angewandt Chemie, Reeweil des Travaucs Chimiques des Pays-Bas. Essas publicagbes tém periodicidade que varia entre semanal, quinzenal, ‘mensal e trimestral ¢ sio encontradas em bibliotecas de universidades ou em sites na internet como 0 do Seielo ou o dos periddicos da C: que dio acesso a periddicos académicos disponiveis on-line. (Os artigos contidos nesses periédicos correspondem ao género mais usado atualmente na academia como meio de produgio e divulgagio de conhecimento gerado na atividade de pesquisa. Em geral, artigo estende-se por 10a 20 paginas, incluindo uma ou duas paginas de referéncias a outros artigos ¢ livros relevantes para a discussio do tpico em questao. Comumente se publicam artigos com o objetivo de divulgar, discutir ou apre- sentar dados referentesa um projeto de pesquisa experimental sobre um problema especifico (artigo experimental) ou apresentar uma revisio dos livros e artigos publicados anteriormente sobre 0 t6pica (artigo de revisio) dentro de uma dea de conhecimento especifica. Em qualquer caso, o autor demonstra habilidade em: (1) selecionar referéncias bibliogréficas relevantes ao assunto em foco; (2) refletir sobre estudos anteriores na drea; (3) delimirar um problema ainda néo totalmente estudado na area; (4) elaborar uma abordagem para o exame desse problema: PROOUGKO TERTUAL NA UNIVENSIDADE (5) delimitar ¢ analisar um conjunto de dados/fontes de referencia represen- tativo do universo sobre o qual se quer alcancar generalizag6es; (© apresentar ediscutiros resultados da andlise desses dados/dessas referéncias; (7) finalmente, concluir por meio de generalizagées sobre os resultados ob- tidos no estudo, conectando-as aos estudos prévios dentro da area de conhecimento em questio/reformulando conceitos conhecidos ou apon- tando futuros desdobramentos tedricos na area. abstract é um resumo do artigo ¢ serve para dar ao leitor uma ideia do que ele vai encontrar ao ler o texto integral. Normalmente precede 0 artigo, loca- lizando-se na metade superior da pagina de um periddico académico. O abstract funciona como um chamariz para o leitor interessar-se em ler 0 artigo completo. Nesse sentido, ’s vezes, 0s resultados ¢ as conclusécs sio as tinicas informagées realmente obrigat6rias nesse texto-sintese do artigo (Ayers, 2008). Como suges- to, um absorace pode ser construido com as respostas As seguintes quests: ‘Justificativa: por que o estudo foi realizado? = Perspectiva tedrica: que conceito(s) & (so) centrais ao trabalho? + Metodologia: como o estudo foi realizado? * Resultados: que resultados foram obtidos? * Conclusdo: qual a significacao desses resultados para a érea? limite de palavras a serem usadas no abstract é definido pelo periddico ao qual vocé deseja submeter seu artigo. Entretanto, a capacidade de sintese € importante, Para tanto, a escolha dos termos a serem usados é de fundamental importincia. A resenha é publicada em periddicos académicos, em secio diferente daquela «em que os artigos aparecem, pois os objetivos de ambos os géneros diferem. A resenha & um texto que resume e avalia um livro. Geralmente, o livro resenhado foi publicado recentemente ¢ constitui uma contribuigso relevante para a érea, resenhador, entio, da referéncias sobre esse livro, seu autor, conteiido e orga nizagao, avaliando a importincia do livro para a area ¢ a qualidade ¢ a inovagio da contribuicao dada por ele. O vocabulério usado na resenha inclui palavras que refletem a avaliagio (mais ou menos) positiva ou negativa do livro, explicitando a visio particular do resenhador sobre o livro, ‘Ter uma ideia clara desses géneros e do modo como eles normalmente sio utilizados em nossa drea sio condig6es primordiais para que possamos produzir textos académicos eficazmente. Numa drea como a quimica, por exemplo, artigo académico tem sido tradicionalmente o tipo de texto mais comumente publicado. Mais recentemente, o artigo de quimica vem perdendo certo espaco para a “comu- nicagi0” (short communication) — um resumo, mais longo que o abstract, de uma pesquisa em andamento. Além de ser um documento de menor extenséo (uma média de quatro paginas) em relagio ao artigo, a contunicaso serve para publicar trabalhos de determinada natureza (por exemplo, um método novo que demanda apenas duas etapas) que nao renderiam um artigo completo. Além disso, alguns laboratdrios no tém condigées de desenvolver todas as etapas de um experimen- to devido a limitagSes infraestruturais ¢ suas opgées de publicagio se limitam a0 género comunicagio. Na drea de letras, por outro lado, alunos de graduacio e pés-graduagio fre- quentemente buscam orientagio sobre outros géneros além do artigo, tais como 0 ensaio © a resenha. Assim, o primeiro passo para produzir um texto académico € verificar quais os géneros mais usados na drea em questao ¢ como esses géneros se configuram. RESENHA pee RESENHAR OU a oe ( NAO RESENHAR, ORA, ORA me =~} Els A QUESTAO! © QUE SERIA UMA |< X RESENHA? SS Frangois-Auguste-René Rodin: “© pensador” (1880) 2.4 Qual é o objetivo de escrever uma resenha? omo o pensador na ilustragio acima, todos nés, em algum momento, ( durante nossa trajetSria na universidade, nos questionamos sobre 0 que é uma resenha. Esse género discursivo € usado na academia para avaliar ~ clogiar ou criticar— o resultado da produgio intelectual em uma area do conhe- sse produto intelectual pode tera forma, por exemplo, de um livro, um filme, uma exposisio de pinturas, um cp de mitsi cimento. um software de computador © €avaliado sob o ponto de vista da ciéneia naquela disciplina. Por meio da avaliagio de novas publicagées, o conhecimento na disciplina {as teotias ¢ os autores em voga, 0 saber partilhado entre os pares, as abordagens adotadas, os valores consagrados) se reorganiza e as relagies de poder, de status académico se reacomodam. A resenha é um género discursivo em que a pessoa que cae ae re |) on ee een eee ee 1é e aquela que escreve tém objetivos convergentes: uma busca e a outta fornece tuma opinio critica sobre determinado livro. Para atender ao leitor, o resenhador basicamente descreve e avalia uma dada obra a partir de um ponto de vista in- formado pelo conhecimento produzido anteriormente sobre aquele tema. Seus comentarios devem se conectar com a drea do saber em que a obra foi produzida ‘ou com outras disciplinas relevantes para olivro em questao. Assim, 0 ponto de referéncia no elogio ou na critica a uma obra literiria sobre ‘© Cinema Novo (Figueiroa, 2004), por exemplo, pode set 0 que se sabe sobre: (a) esse movimento cultural; (b) 0s livros anteriormente publicados pelo mesmo autor ou sobre o mesmo (©) 0 impacto do Cinema Novo em outras areas como a miisica ou as artes plisticas. E importante ressaltar que o género resenha poder ser usado com maior ou menor frequéncia de acordo com os interesses de cada drea. Na érea de letras, a linguistica aplicada tem uma tradigao de resenhar livros significativamente maior do que outras reas como, por exemplo, a fisica, tea em que o livro foi radical- mente substituido pelo artigo académico como forma de producio e divulgacio de conhecimento (Chen, 1976; Becher, 1987). No inicio da década de 1990, dos periédicos mais citados' em linguistica, 70% publicavam resenhas, enquan- {0 acontecia o mesmo apenas em 35% dos periddicos em quimica ¢ 40% em economia (Motta-Roth, 1996, p. 114-115)*. Assim, para alunos de letras, saber resenhar livros talvez.seja uma habilidade fundamental. Para tentar auxiliar alu- nos universicérios a produzir textos com ma atengio na resenha académica de livros. seguranga, concentraremos nossa 2.2 Qual é a estrutura retérica basica de uma resenha? A anilise desse género nos indica que, ao resenhat um livro, desenvolvemos ‘quatro etapas em que realizamos as agoes de: (0+ psidos mascara cencadoe pl Sime Chaton Inde po Srl See tion Ide Jona Cation ips Carel 199} pelos de impact cn wine repens ‘Boa enc dos inguin pro is ela em compe pelt doer Frere free a um tio um lv camo melhor quanto ards abe er quest fr cape de dfn ema ‘ecesdaes dese plc (Mts Roth, 1995: 9.239, Em geral, essas ages rendem a aparecer nessa ordem © podem variar em extensio, de acordo com 0 qué ¢ 0 quanto o resenhador deseja enfatizar em sua anilise do livro, ou podem variar em frequéncia, de acordo com as caracteristicas da obra ou o estilo do resenhador (se tende a ser mais descritivo ou mais avaliativo «em seu texto), Assim, se o autor do livro recebeu um prémio Nobel, o resenhador poderi dedicar maior espago no texto a0 curriculo desse autor (atendendo assim a ‘um provivel interesse do piiblico) do que se estivesse apenas iniciando sua carreira académica, Por outro lado, dependendo do estilo do resenhador, a descrigio ¢ a avaliagio de partes especificas do livro aparecem juntas, sintetizadas no mesmo trecho e, 3s vezes, na mesma sentenga. importante frisar que 0 uso dos quatro cestigios textuais, indicados acima, foi uma tendéncia verificada em pesquisa ante- rior, junto a cditores ¢ autores de resenhas em periddicos internacionais (Motta- -Roth, 1996). Portanto, a descrigio do género nesses termos deve ser tomada como uma constatagio* de como as pessoas escrevem resenhas em determinado \s internacionais em ingles) € espaco geogrifico (resenhas publicadas em periédi temporal (década de 1990), e no uma norma a ser seguida cegamente. ‘Vejamos um exemplo de resenha, retirado da internet do site da Com.ciéncia , em que a rese- nhadora apresenta um livro sobre sociologia em uma perspectiva interdisciplinar: Exemplo 2.1 SH Emergéncia. A dindmica de rede em formigas, cérebros, cidades e softwares Steven Johnson Jorge Zahar Editor, 2003. Por Patricia Mariuzzo A gigante do comércio eletrénico Amazon.com en- via mensagens autométicas para os usuétios avisando sel ae cae nase de ried em un ere de 189 exo publics ngs 8 pe VROCULAS TERTENSIN eH venevenae sobre novos langamentos que combinam com 0 perfil do usuario. O sistema consegue “acertar” nas dicas, pois usa informagies de compras anteriores, que funcionam para tracar um perfil do ususrio e gerar um tipo de propaganda personalizada. Siste- ‘mas como 0 usado pela Amazon sio baseados em inteligéncia emergente. Emergéncia explica os fend- ‘menos emergentes, como surgiram ¢ como podem transformar a televisio, a propaganda, o trabalho, a politica ¢, antes de tudo isso, @ tecnologia. O autor mistura biologia, historia, literatura ¢ matemética para explicar o que sio esses sistemas. Charles Dickens, ‘Marshall McLuhan; James Joyce; Fermand Braudel ¢ Charles Darwin sio algumas das referéncias usa- das por Johnson, cuja formacio & em semidtica € literatura inglesa. (SERIES «gcse rem > mum colénias de formigas, o cérebro humano, gran- des cidades ¢ software? ‘Todos usam, em menor ou maior grau, sistemas auto-organizados, nos quais 6 dispensada a presenga de controle centralizado. Nos sistemas emergentes, também chamados bottom-up (de baixo para cima), agentes que residem em uma escala comegam a produ cxjo padréo reside em uma escala acima deles: for- migas criam colénias, cidadaos criam comunidades, uum software simples de reconhecimento de padres aprende como recomendar novos livros. © movi- mento das regras de nivel baixo para asofisticagao do Apresentar | nivel mais alto €0 queo autor chama de emergéncia. O sistema s6 é emergence quando todas as interagées locais resultam em algum tipo de macrocomporta- mento observivel. Deve ainda ter os seguintes com- ponentes: interacio entre vizinhos, reconhecimento de padroes, feedback e controle indireto. A existéncia desse mito explicaria a dificuldade que as pessoas tém em accitar a hipdtese bottom-up, um mundo sem lideres ou os fendmenos coletivos. O estudo das coldnias de formigas demonstra que nfo ha nada de hierirquico na mancira como ela funciona. A rainha néo é uma figura de autoridade, cla nao decide 0 que cada operitia fae. O compor- tamento das formigas — proteger a rainha, buscar | alimento etc. ~ proviria de uma instrugio genética, cujo objetivo & a preservacio da colénia. Nao é a ‘matriarca que treina as operiias, a evolugao fez isso. Nas cidades, da mesma maneira, haveria um tipo de organizagio espontinea, independente de plane- jamento ou de uma lideranca, Isso conferiria a elas ‘uma “personalidade”, que se auto-organiza por meio de milhées de decisées individuais, uma ordem glo- bal construida a partir de uma intera¢ao local que 0 autor chama de “nivel da rua", O que ocorre € a re- petigio de padres que “ficam guardados na textura dos quarteirées..” para usar as palavras de Johnson. Segundo ele, desse mecanismo viriam as separagées de bairros ricos ¢ pobres, comerciais ¢ residenciais etc. Prevendo a estranheza do leitor depois de tal afirmacao, admite que também padroes nas cidades ditados via top-down, como as comissGes de planejamento ou as leis de zonca- tem diversos mento. Porém, forsas bottom-up desempenhatiam SS ae ce ee ‘um papel fundamental na formagio das cidades, criando comunidades distintas ¢ grupos demogré- ficos nio plancjados. Para isso, bastam milhares de individuos e regras simples de interagio. tees modelos emergentes artifciais, A primeira descricao pritica cde um programa de software emergente data da dé- cada de 1940. 0 objetivo era ctiar processos capazes de aperfeicoarem-sea si mesmos eassim conseguirem reconhecer padrées que nao podiam ser determina dos por antecipagio. A partir dai, torna-se concreta a possibilidade de criar programas onde as intera- ‘goes dos componentes desencadeiam consequéncias no sistema como um todo ao serem repetidas mi- Ihares de vezcs. Aqui o exemplo é SimCity (Simu- lation City, Cidade Simulada), jogo letronico cuja primeira versio, surgida em 1990, tornou-se camped de vendas. No jogo, 0 autor usa um truque de pro- gramagio que permite que a cidade evolua de forma semelhante a um ser vivo. Com a série SimCity, os sistemas bottom-up deixam de set objeto de estudo para se tornarem um produto comercializavel. Ape- nas dez. anos depois, 0 mundo dos sistemas emer- agentes estd em lojas on-line, que dele se uilizam para reconhecer gostos como no exemplo dado no inicio deste texto; em sites da web que ajustam comunida- des on-line; no marketing, que o utiliza para detectar padres demogréficos no piblico ete. A ligio & que, ‘embora nossa primeira reagao seja procurar por lide- res, estamos aprendendo a pensar bottom-up. sobre como esses sistemas aprendem. As cidades aprendem, 0 corpo humano aptende, as formigas aprendem, sempre a partir da interagio com vizi- nnhos, por meio de feedbacks positivos © negativos, que determinam as modificacées © adaptaées no sistema. Mas, “a web também esti aprendendo?”, pergunta Johnson. Existe a chance de as grandes re- des de computadores se tornarem autoconscientes? A diferenga é que os sistemas emergenciais, na cidade e no cérebro, tém conexies e organizacio, gerando espontaneamente estruturas medida que aumentam de tamanho. A web, no entanto, néo esta se tornando organizada, ao contritio, é um espaco em que a desordem cresce com o aumento do volu- me total. Yahoo ¢ Google sio sistemas criados pelo homem para funcionar como um antidoto, para dar sentido a um sistema que nao gera organiza¢io por si mesmo. Uma tentativa de aperfeigoar esse modelo 0 Alexa, soffware que usa um tipo de tecnologia de fileragem colaborativa para construir conexées entre sites baseadas no tafego de usudtios, A ferramenta acompanha 0 usudrio enquanto ele navega na inter- net, aprendendo padres de trifego. © mundo da programagio esti se tornando cada vex. mais darwinista e menos criacionista, Se antes a boa programacio era aquela em que havia total controle do autor, hoje avanga de uma forma mai obliqua, na qual os desenvolvedores fazem 0 pro- grama amadurecer, um resgate dos conccitos da sclegio natural. Nos jogos baseados em inteligén- cia emergente, programar as regras faz parte do jogo e tomaré um tempo considcrivel do jogador. Para ele, crian- «as familiarizadas com jogos emergentes podem se HOSUR AG VENTURE MW UNIVERSTORUE’ tornar mais rolerantes com a fase exploratéria que precede 0 jogo em si, e na qual nem os objetivos nem as regras ainda esto claros. mas questées sobre o futuro da emergéncia artifi- cial. O que aconteceré quando as experiéncias em midia € os movimentos politicos forem delineados por forgas bottom-up ¢ nao top-down? A emergéncia segue na diregio de melhorar cada ver mais aplic bes de sofware capares de desenvolver uma teoria sobre nossas mentes. Os programas que fazem um, levantamento dos nossos gostos ¢ interesses si0 0 ‘comeco de um mundo em que poderemos interagir mais regularmente com a midia, pois o sofitaare re- conhecerd nossos habitos, anteciparé nossas neces- sidades e se adapeard As nossas mudancas de humor. Osher asim ono ceria scicpa | ( construir estados mentais, quase leitores de mentes. (ERE, fica clara a visio otimista de Jonhson e sua crenga em um mundo onde a ligica bottom-up se espalha por todos os cantos. Algo que parece questionzvel, pois se os sistemas emergentes ‘estio presentes na légica de desenvolvimento das ci: dades, com a eficiéncia para organizar e estrucurar a vida dos homens no eaos urbano, por que essas cida- des nunca abandonaram as formas top-down de orga- ‘A propaganda, o trabalho e a politica ganham ‘outra face influenciados pelo modo bottom-up. Como nesse exemplo, resenhas, em geral, s4o textos mais curtos (comumen- fe, no muito mais do que 1.500 palavras) se comparados com outros géneros como 0 artigo académico (comumente, até 10 mil palavras) ow a tese de doutora- do (que pode incluir mais do que 80 mil palavras). No exemplo 2.1, a resenhadora constrdi trés dos quatro estgios textuais an- teriormente mencionados. Em primeiro lugar, o livro é apresentado; em seguida, descrito ¢ avaliado. Nao hi uma recomendacio final clara para que 0 piblico compre 0 livro, mas como as avaliagées so positivas ¢ a resenhadora ressalta acen- tralidade do tema do livro (“std se expandindo pouco a pouco para ocupar varias, sendo todas, as instincias das nossas vidas”), a recomendacio fica subentendida, Para construir, de modo persuasivo, cada um dos trés estagios indicados no exemplo 2.1, a resenhadora avanga, passo a passo, utilizando estratégias variadas De inicio, estabelece um pano de fundo para sua discussio sobre o tema do livro, 20 chamar a atengio para o modo como a Amazon.com se utiliza de novos sistemas de informagio como o de inteligéncias emergentes. Ela utiliza esse recurso de exempli- ficagio para contextualizar o livro resenhado e definir de que maneira ele traz uma nova contribuicZo para o “estado da arte”, isto é, 0 atual estado do conhecimento nos estudos das organizagées sociais. Esse estégio estabelece 0 cendtio contra o qual a resenhadora buscard descrever (as partes do livro) e avaliar (os melhores ou piores aspectos do mesmo). Ela conecta esse contexto ao livro pelo seu titulo: “Emergéncia explica os fendmenos emergentes, como surgiram ¢ como podem transformar a televisio, a propaganda, o trabalho, a politica e, ances de tudo isso, a tecnologia”. Na apresentagio da obra, so definidos os campos teéricos mobilizados para ex- plicar 0 tema do livro: “O autor mistura biologia, histria, literatura e matematica para explicar 0 que sio esses sistemas". Além disso, para situaro Ieitor, a resenhadora apela para a fama de autores usados como referéncias na obra ¢ para as eredenciais do autor: “Charles Dickens; Marshall McLuhan; James Joyce; Fernand Braudel e Charles Darwin sio algumas das referéncias usadas por Johnson, cuja formacio é em semidxica ¢ literatura ingles”. O estigio seguinte serve tanto para dar uma visio geral do livro (cnumerando suas partes) como também para detalhar alguns pontos especifics. A resenhadora: (a) da uma visio geral do livro ~ Exemplo 2.2 /organizagao (onexo ‘entre om cferentes elementos dotitulo pelo tem aglutinador: Emergencia) S#l O tittle & provocative: o que poderiam ter em co- ‘mum coldnias de formigas, o cérebro humano, gran- des cidades e sofiwares? Todos usam, em menor ou maior grau, sistemas auto-organizados, nos quais é dispensada a presenga de controle centralizado, (b) explica 0 t6pico de cada capitulo ~ Exemplo 2.3 Se ers © que chama de "mito da formiga rai- PRM re tec Cc noha’. (..) ERED modelos emergentes artificiais, Werner ec YEE 0 fucuro da emergéncia artificial. (..) (0) avalia pontos especificos — Exemplo 2.4 (. | ca Pontos S#l ressaltados sobre como esses sistemas aprendem., (. oe a emergén- cia esté se expandindo pouco a pouco para ocupar virias, sendo todas, as instancias das nossas ‘Ao fazer comentétios avaliativos sobre os temas abordados no livro, a resenthadora, chama para si o papel de especialista (autoridade) frente ao leitor que, por sua ver, se constitui como membro (aspirante ou especialista) de uma comunidade académica O estilo do texto é formal eo tom é persuasivo para influcnciar o piblico a ler (ou nao ler) o livo, © objetivo da autora da resenha, portanto, parece ser demonstrat autori- dade dentro da disciplina, enquanto membro capaz de avalir criticamente uma nova publicagio, rendo como pano de fundoa literatura prévia na disciplina; sua habilidade em fazer julgamentos plausiveis e coerentes, fornecendo evidéncias para tanto. Resenhas comumente trazem também descrigéo de material extra que vai na forma de apéndices, anexos, , listas de referéncias e indices além do texto principal de cada capitulo do livr tabelas, gréficos, figuras, dados, exercicios, gloss remissivos. O tipo e a frequéncia desses materiais adicionais variam de rea para area e dentro de cada érea, dependendo do assunto tratado no livro. Serio men- cionados sempre que isso for relevante para a avaliacio do livro ou para as préticas de publicagao da disciplina. = Em determinadas areas, a qualidade da impressio das imagens ou a pre- cisio e extensio do favorivel da obra. dice remissivo podem ser lembradas numa avaliacéo Como vimos, no exemplo 2.1, a resenha se encerra com uma recomendagio final velada, mas de tom persuasivo, que ressalta a importincia e a atualidade do livro: “ -2 emergéncia esta se expandindo pouco a pouco para ocupar vitias, senao todas, as instncias das nossas vidas". No entanto, frequentemente, a0 rccomen- dar uma obra, resenhadores aconselham explicitamente o leitor a ler (ou talver, ‘io ler) 0 livro, ressaltando o impacto significativo da obra (ou a falta dele) para a disciplina como um todo (Mocta-Roth, 1995, p. 45). ‘Vejamos outro exemplo de resenha retirado do site do periédico da rea de letras, Linguagem & Ensino : Exemplo 2.5 L#1 Linguagem & Ensino, Pelotas, vol. 11, n° 1, p. 237-261, jan./jun. 2008 Aratijo, Jélio César (org,). Internet & ensina: novos generos, outros desafis Rio de Janeiro: Lucerna, 2007, 288 p. Resenhado por Rogéria Lourengo dos Santos © uso de ferramentas tecnolégicas no ambito do ensino vem crescendo significativamente nos iiltimos anos. A internet é uma das ferramentas que mais se destaca nesse contexto, pri cipalmente no ensino de linguas, tuma vez que se configura por variados recursos mididticos, textos multi- modkis ¢ géneros textuais, Com 0 intuito de abordar questées voltadas ao ensino de linguas materna € estrangeira no contexto virtual, 0 livro Jnternet & ensino ~ noves géneros, outros desis. organizado por Jélio César Araijoy traz sugestées de pri ticas pedagégicas que incluam o ambiente virtual, Professores de diversas instituig6es de ensino do Brasil apresentam suas pesquisas e propostas no livro que retine dezesseis capitulos, os quais tem como palavras-chave Séneros discursives, internet e ensinolaprendizagem de trangeina. a prim sio apresentados géneros como chat, homepage, weblog as em sala de aula © € foruns, algumas propostas pedagégicas desenvol propostas mais tedricas, de andlise descritiva, ambas com o objetivo de explorar os géneros virtuais como objeto de ensino. A visio adotada pelos autores é a de que os géneros virtuais sio parte integrante dos eventos comunicativos sociais e que, por isso, mezecem tanta atengio quanto os sgeneros encontrados no meio nao digital gunda p alunos ¢ leitores adotam no mundo virtual e sobre 0 uso dos recursos EE. sio abordadas questées sobre os perfis que professores, oferecidos pela internet (letramento digital), tendo como foco propostas pedagégicas de mediagao de ensino-aprendizagem. O papel da escola en- quanto instituigso responsivel por essa mediagio € visto, pelos autores, como fundamental para possibilitar a socializacio, a construgéo ¢ 0 com- partilhamento do conhecimento. (SET lio César Araiijo e Nonato Costa apresentam a organizagio composicional do chat aberto, constatando a existéncia de cinco “movimentos interativos” nesse género digital, quais sejam, “marca automatica do provedor, indicando que o internauta entrou na sala’, “saudagao inicial”, “conversagio", “despedida” ¢ “marca automitica do provedor, indicando que o internauta saiu da sala” (p. 24). Tais movi- mentos mostram que 0 género char apresenta uma organizagao estru- tural, embora 0s tépicos conversacionais possam variar no decorrer do bate-papo. Roberta Caiado, SRSMMOREGHE, clara uma pesquisa cujo género de estudo é 0 weblog. A autora traz uma discussio sobre as supostas influén- cias do internetés (nome dado & escrita utilizada na internet) na escrita escolar, O uso de abreviagées, 0 alongamento de consoantes ¢ vogais ¢ as palavras nao acentuadas, caracterfsticas comuns da escrita digital, so considerados, pela autora, como linguagem nao normativa e nio como “erro”, uma vez que poucas “transgressées” foram, de fato, verificadas nos textos escolares analisados. Essa constataco desmistifica a crenga de pro- fessores que acusam a internet como a responsével pelos erros ortogrificos dos alunos em redagées escolares. (EERE. Viviane Leal, coloca em discussao 0 bate-papo enquanto instrument pedagégico de ensino a distancia. Nesse contexto, © professor € visto como mediador que deve estimular ¢ permitir que 6s alunos interajam entre si de forma colaborativa (em busca de obje- tivos comuns ao grupo) ¢ cooperativa (buscando objetivos pessoais). A utilizagao do bate-papo para fins pedagégicos, segundo a aurora, deve ser sempre planejada e, para tanto, requer propésitos pré-delineados pelo professor, para se evitar 0 uso inadequado da ferramenta. Maria do Carmo Fonces, SRM, «rata de um recurso tipico da comunicacio digital: 0 emorizon. O uso de caracteres que representam expres- ses facias € comportamentos emocionais como riso, piscadela ou tristeza foi frequente em aulas virtuais de lingua inglesa. A auséncia do contato visual centre 0s participantes foi compensada pelo uso dos emoticons, responsiveis por auxiliar na construgio das relagées interpessoais no ambiente virtual. Retomando 0 género chat aberto, Jilio César Aratjo ¢ Bernadete Biasi- Rodrigues propoem-sc, IEE EREREERR, analisar os recursos est desse género digital. Entre tais recursos, destacam-se: sam expressar sentimentos; a repeticio de letras e sinais de pontuacio, cujo objetivo é marcar ou enfatizar a entonaco; 0 uso da letra k em substituicio 0 digrafo /qu/, letra “c" enquanto fonema /k/ e4 representacio de risada (kkklckke); e marcas nasais como “aum’, tragos todos que aproximam a escrita digital da oralidade. Os autores apontam para a importincia de considerar a linguagem além do ambiente escolar ¢ todas as variagbes que cla possui, sem preconceitos linguisticos, uma vez que a lingua é flexivel €, portanto, adapra-se a eventos comunicativos que lhe sejam peculiares icos 1s emoticons, que vi- QURRTE de Aurea Zavam, aborda os e-zines — edigoes eletroni- cas informativas de carter independente, amador e alternativo — em sua forma discursiva como um meio de se manifestarem voz. sujeitas a instituigdes. Por isso, os e-zines tém seus textos discursivamente construidos de modo mais irreverente, sem sofrerem a censura da midia que nao esto normativa. Quanto ao ethos, os e-zines caracterizam-se por possuirem “um ethos jovem, contestador, revoluciondrio, livre das amarras sociais” (p. 105), Zavam sugere a inclusio de textos “marginais’, como os e-zines, nas priticas pedagégicas, por sua linguagem aproximar-se do discursa jovem, paginas www, a homepage. No sétimo capitulo, Benedito Gomes Bezerra pagi ‘page: i TOES Ne Vanna ST eeNe len ae caracteriza a homepage como género introdutério e faz uma andlise de seus propésitos comunicativos, dos movimentos feitos para alcangar esses propésitos e das estratégias retéricas envolvidas nesses movimentos. O autor aponta a necessidade de a teoria de géneros passar por uma atual Gio, de forma a atender ais necessidades de anilise dos géneros digitais. no oitavo capitulo, Désirée Motta-Roth, Susana dos Reis e Débora Mar- shall colocam em discussio uma proposta de ensino implementada em um curso de ILE (WebEnglish), desenvolvida com alunos de inglés como lingua estrangeira. Tal proposta uniu a produgio de paginas pessoais & aprendizagem da lingua inglesa, com o objetivo de trabalhar a construcio do género “pégina pessoal”, as estruturas do idioma estrangeiro e as ha- bilidades de escrita nesse idioma. As autoras acreditam que a pedagogia com géneros digitais possa contribuir para a transformacéo da internet em uma “midia realmente pluralistica e democratica” (p. 141). GREER 2: 2 aplicacio de um conceito proposto por Goffman a0 género digital chat. Vera Lticia Menezes de Oliveira e Paiva e Adail Se- bastido Rodrigues Junior analisam o footing, ou seja, a postura assumida por participances de um momento interativo, neste caso, usuarios de dois foruns educacionais on-line. Pela observagio dos tragos retdricos € dis- ccursivos, os autores focalizam a atitude de uma professora enquanto mo- deradora da interagio. Mudancas de postura discursiva manifestaram-se, em diferentes momentos, como critica, elogic incentivo, avaliagio ete, A proposta de anilise mostrou que, mesmo no ambiente virtual, 0 foo ting adotado nas interagées configurou-se de modo que os part oe assumissem posturas adequadas a cada “evento social” on-line. SMUT Mics Mins ici eos Aratjo, relata uma pesquisa feita em aulas de informatica com criangas da IF série do ensino fundamental. Com o objetivo de aprender a interagir com os computadores e desenvolver 0 conhecimento sobre 0 género di- gital endereco eletrdnico, os alunos tinham a tarefa de acessar sites infantis, como Turma da Ménica, atentando para sua escritura, Dessa forma, os alunos foram capazes de aprender a usar os enderecos elettOnicos para acessar as paginas desejadas. Com os erros cometidos na digitagio dos enderecos eletrdnicos e, logo, o aviso na pagina de que nao havia sido possivel encontrar 0 endereco solicitado, os alunos conscientizaram-se da importincia da atengao ao ler e escrever, da releitura e da reescrita. (ENTE 0 {que se preocupa com a reflexio critica do uso da tecnologia digital no en- sino, Segundo a autora, 0 acesso ao conhecimento no meio virtual permite mais socializagio, sendo que dois caminhos sio possiveis no mundo ciber- nético: por meio da inclusio social, 0 conhecimento passa a ser compart: Ihado, e os grupos periféricos passam a participar ativamente da construgio do conhecimento; ou pode haver um dominio maior dos que tém acesso & internet, havendo a exclusio dos menos favorecidos, aumentando assim 0 distanciamento social. Com esse pensamento, a autora relata uma pesquisa por cla desenvolvida, a qual envolveu trés grupos distintos — universtirios, professores de cursinho pré-vestibular e membros de uma entidade cultural « social (Casa de Cultura Taina) -, que interagiram na produgio de sites. Socorro Claudia Tavares de Sousa tata das des linguisticas cxistentes no meio cletronico c das estratégias de rade hipertextos. A autora sugere que a escola deva adotar uma postura de | incluir a linguagem virtual na aprendizagem da lingua materna, por meio de projetos pedagégicos que visem diminuir o preconceito linguistico, ge- ralmente dado as variedades da norma culta, ¢ aumentar a inclusio soci Ricardo Augusto de Souza, apresenta a abor- dagem de aprendizagem de linguas denominada Tandem, utilizando computador como seu instrumento. Tal abordagem permite a aprendiza- gem de linguas entre falantes nativos de localidades diferentes, pela troca de informagées on-line, ou scja, quem aprendc a lingua alvo ensina a lingua materna. O autor enfatiza que o uso da internet no regime Tandem faz do processo ensino-aprendizagem algo eficar, uma ver.que os recursos eletrénicos, como e-mail, chat e féoruns permite a troca de informac6es ‘em tempo real ou quasc imediato. de Ana Elisa Ribeiro, traz uma retomada s0- bre leitura ¢ escrita nos ambitos “real” c virtual, sobre internet ¢ sobre a importincia de 0 professor e a escola ambientarem-se com 0 uso dessa | fetramcnta para instigar a Icitura ca produgio textual. A aurora também. cenfatiza a importincia de o professor desenvolver suas habilidades e com- peténcias, utilizando a internet para escrever (por exemplo, em blogs), para ler ¢ para interagir com seus alunos, a fim de se envolver de forma ativa no contexto virtual, tornando-se apto para transitar entre 0 mundo da escrita e da leitura tanto na sala de aula quanto no meio digital. a Venn Tee eee Iiita Lerche Vieira discure o perfil do leitor virtual, suas preferéncias de leitura e a forma de ele ler, a partir de uma Pesquisa feita com ususrios de internet, abrangendo alunos que estio en- tre as tiltimas séries do ensino fundamental e o 1° ano do ensino superior © seus professores. A autora destaca a necessidade de as instituigdes de censino desenvolverem estratégias de leitura préprias para o meio virtual ¢ uma orientagao de leitura de hipertextos, visando & compreensio do texto € 8 construgao de sentido no processo da leitura. Else Martins dos Santos, 0 qual traz a discussao de um problema muito comum em sala de aula, o “copia € cola’. A autora sugere que o uso da internet como fonte de pesquisas dé-se a partir de uma orientagio pedagégica. Esta deve servir como guia para que os alunos sejam capazes de desenvolver a habilidade de pesquisar textos on-line com vistas & criacéo de seus préprios textos, evitando o pli- gio ea falta de leitura ¢ conhecimento do tema a ser pesquisado. A autora acredita que através de uma pesquisa orientada, em que 0 aluno discuta ¢ reflita sobre os textos encontrados na web, ele seja capaz de produzir seu proprio conhecimer exemplificar casos em que 0 uso da internct auxiliou consideravelmente tanto na aprendizagem de alunos de diferentes niveis escolares, como no ensino pelo professor de énfase @ inclusio digital na escola, como forma de incluso social, uma vez que, no momento em que se constroem indivi- duos capazes de interagir em variados ambientes, constroem-se também consciéncias mais criticas, mais aptas a participarem ativamente da socie- dade. importincia atribuida se considerarem as variagdes linguisticas como formas de interacio, con- textualizagio e comunicagio, diminuindo-se assim o preconceito relative a lingua. 0s interessados no ensino de lin- guas, que, conscientes da importancia das vatiedades linguisticase discur- sivas e do ensino dessas variedades em contextos que lhes seiam peculiares, buscam na tecnologia uma ferramenta pedagégica para que a lingua seja, de fato, apreendida como um instrumento dinamico, sociale interativo, Diferentemente do exemplo 2.1, 0 texto do exemplo 2.5 inclui um trecho especifico, onde a resenhadora avalia a contribuigao especifica do livro, além de fazer uma recomendacéo final da obra. As expressbes destacadas nesse exemplo funcionam como marcadores dos estagios de apresentagio (1), descrigao (2), ava- liagao (3) ¢ recomendagao (4). A linguagem usada em resenhas frequentemente inclui verbos no presente do indicativo para descrever a atualidade e a relevancia do tema do livro (“O uso de ferramentas tecnolégicas no ambito do ensino vem crescendo significativamente nos tltimos anos. A internet é uma das ferramentas que mais se destaca nesse con- texto, principalmente no ensino de linguas, uma ver. que se configura por variados recursos midiéticos, textos multimodais e géneros textuais”) e para descrever a or- ganizagio do livro (‘A obra divide-se em duas partes", “O livro se encerra com um capitulo de”) ¢ para avalié-lo (“Uma das contribuigées do livro esté em”, “O livro é recomendado a todos’). A linguagem € densamente avaliativa ¢, muitas vezes, inclui exemplos ou excervos do livro para ilustrar eriticas ou elogios. A alta frequéncia com que esses movimentos ret6ricos (apresentagio, descri- 40, avaliagio e recomendagio) aparecem em resenhas nos permite construir uma descrigio esquemitica para o género, conforme demonstrado na figura 2.1: 1 APRESENTAR O LIVRO Passo 1 informar o t6pico geral do livro efou Passo 2 definir 0 piiblico-alvo efou Passo 3 dar referéncias sobre o autor efou Passo 4 fazer generalizacdes efou Passo § inserir o livro na disciplina 2 DESCREVER O LIVRO Passo 6 dar uma visio geral da organizacao dolivroe/ou Passo 7 estabelecer 0 tépico de cada capitulo elou Passo 8 citar material extratextual 3 AVALIAR PARTES DO LIVRO Passo 9 realcar pontos especificos 4 (NAO) RECOMENDAR O LIVRO Passo 10A desqualificar/recomendar o livro ou Passo 108 recomendar o livro apesar das falhas indicadas Figura 2.1: Descrifo esquematica das estratéglas retéricas usadas no género resenha (MottaRoth, 1995, -143) er eI Conforme vimos nos exemplos, em cada um desses quatro estégios textuais ~ apresenta, descrever,avaliar ¢ recomendar ~, 0 resenhador pode empregar essas estratégias retéricas, escolhendo usar uma dessas alternativas ou todas. ‘Vimos também que, embora a avaliagdo seja a funcio que define o género re- senha, ela nao é seu tinico componente. Uma pesquisa anterior junto a editores de resenhas (Motta-Roth, 1998) revelou que ha uma expectativa quanto 4 descrigéo detalhada do contetido ¢ da organizacio do lito Logo, o género é, 20 mesmo tempo, avaliativo ¢ informativo, entretanto esse teor avaliativo varia entre as disciplinas, pois cada rea tem seus prdprios critérios de avaliagao. Em quimica, por exemplo, a recéncia ¢ 0 objetivo do livro devem ser explicitados. {editor de quimical ‘Um livro que traga novas informagées ou jogue luz sobre velhas questdes. Ele- ‘mentos como indices sio importantes em um livro cientifico (Motta-Roth, 1998, p. 137), A data das referéncias ¢ 0 material visual (como indice, tabelas, gréficos), que geralmente ajudam os leitores a pegar a informagio mais répida e eficazmente, sio importantes em quimica, Além disso, quimicos desejam saber a amplitude do tratamento do assunto (superficial ou detalhada). Em linguistica, é importante que o resenhador informe o valor do livro para © piiblico-alvo ¢ estabelega sta contribuigio para inovar a dea e responder as expectativas dos leitores: [editor de linguistica} Novo e interessante para os leitores da revista, apresentando um novo modo de olhar o assunto, com uma visio clara dos argi clara dos argumentos presentes no livro (idem), Em economia, hd um crescente interesse pela matemética nas tilkimas dé- cadas em funcéo de que talvez, para um economista, “argumentos verbais néo sejam tio contundentes ... como argumentos mateméticos’ (Motta-Roth, 1995, p- 103-106). [editor de economia] ‘A ideia de um bom livro em economia é um livro escrito claramente, bem argumencado, organizado por topicos... Algo que nao é uma releitura de mate- rial antigo. Pelo fato de a drea ter se tornado mais matemética, os livros esto trazendo mais tabelas e grificos, com mais material visual (Motta-Roth, 1998, p. 137) A avaliagao de resenhadores, portanto, é afetada por diferentes questées, tais como a natureza dos assuntos tratados, 0 tratamento dos dados ea velocidade com ‘que os programas de pesquisa avangam em cada disciplina. Em suma, podemos considerar que 0 género discutido neste capitulo serve para incrementar 0 didlogo académico entre pesquisadores, seja numa relagto de simetria entre resenhador dirigindo-se a seus pares, ou numa relagao descendente ‘em que o resenhador se coloca como um especialista opinando para um piiblico-— -alvo de nao iniciados. Una relagio de assimetria entre 0 autor do livro e 0 rese- nhador é outro fator que afeta o tom da avaliagao feita, Para o editor de quimica, “muitas pessoas que normalmente resenhariam um livro em um dado assunto no querem resenhar um livro se ele for de um prémio Nobel, por exemplo. Elas nao querem ficar na posigio de ter de fazer alguma critica”. Relagdes de simettia, por outro lado, podem resultar em textos mais explicitamente avaliativos com menos termos de mitigacéo como “talvez", “parece”, “possivelmente” em oposigo a ter- mos de énfase (“certamente”) Resenhadores em quimica tendem a adotar uma visio mais ampla do livro sem avaliagées exaustivas, enquanto economistas ¢ linguistas tendem a produzir uma argumentagZo mais extensa ¢ elaborada (Morta-Roth, 1995, p- 263-265), com um discurso mais “literdrio” (MeCloskey, 1981) com re- cursos metaféricos (Klamer, 1987). Essas estratégias diferentes de descrever ¢ avaliar evidenciam que cada disciplina tem maneiras particulares de usar 6 mesmo género para a comunicacéo profissional. Novas publicagées 40 criticadas em relacio aos valores constituidos na disciplina correspondente. resenhador, a0 se comportar como membro de uma disciplina, refere-se a esses valores e, dessa forma, contribui para a formagio de um sentido de comunidade em sua drea de atuagio (conforme jé apontado, no pasado, por Kuhn ([1962]1970, p. 184). eS ns ore SUGESTAO DE ATIVIDADES aonsonociescounseeseoensbonisitisisnicissistensisnee 4. Colete resenhas de seu interesse para fazer os exercicios a seguir em plata- | formas de periddicos como ou em periddicos como _ ou ainda entre no Google e pesquise a palavra-chave “resenhas”. © Google he dard opcées de Outros sites que trazem exemplares do género. -_Depois de escolher a resenha de seu interesse, leia-a e tente definir os esté- gios do texto. 3+ Verifique como 0 resenhador analisa o livro em termos de “certezajincer- teza no comentario”, “boa/ma qualidade”, “maior/menor importancia” da obra (Hunston, 1994). 4. Verifique os recursos da linguagem empregados pelo resenhador para sina-_ lizar estagios textuais diferentes: quando ele descreve e quando avalia 5. Compare esses textos a descricdo esquemiatica de resenha académica re-_ Produzida anteriormente e tente dentificar pontos comuns entre eles. 6. Procure periédicos que tenham seco de resenhas e analise esses textos | Para ter uma ideia de como se resenha livros na sua érea. Escolha um livro para analisar. Defina as partes do livro de que vocé gosta ‘mais e menos, selecione alguns termos de elogio e critica para comentar - sas partes, tente encontrar uma vantagem e uma desvantagem do livro, pense em qual seria sua recomenda¢ao final sobre a obra. Tente pensar nas | raz6es que 0 (a) levaram a escolher o lvro. 8. Escreva uma resenha de um livro. imprima, leia, revise e edite seu texto. 9. Crlecoragem! imprima c6pias de sua resenha para dstribuir para os colegas, alunos e professores. Peca uma leitura critica de seu texto. Depois de revisar mais uma vez 0 seu texto, submets-o & publicacao por uma revista cientifca._ 10. Procure também criar, com outro colega, uma dinamica de leitura reciproc: de textos. Isso o(2) ajudard a desenvolver habilidades de revisio que sergo preciosas quando vocé estiver produzindo seu préprio texto. 11. Observe a resenha do exemplo 2.6 e desenvolva as atividades de nimeros 2 a5mencionadas acima. Exemplo 2.6 s#2, Rey. Bras. Polit. Int,, vol. 44 n°I Brasilia Jan./June 2001 Pio Penna Filho Saraiva, José Flivio Sombra (org,). Comunidade dos Paises de Lingua Por- stuguesa (CPLP): solidariedade e agao politica. Brasilia: Instituto Brasileito de Relagoes Internacionais, 2001, 203 p. A obra organizada pelo professor José Flivio Sombra Saraiva, reconhecido estudioso das relagbes internacionais do Atlantico Sul, representa um primei- ro ensaio publicado no Brasil sobre esse relevante tema, Oferecendo ao leitor uum primeiro balango da infanta instituicao, criada em Lisboa em 1996, 0 livro tem como caracteristica marcante “a qualidade didética de seus textos’, conforme lembra o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, ao prefacié-lo. Saraiva expressa, na introducio da obra, certa vontade apostélica de con- tribuir para a melhor compreensio, por parte da opinio piblica bra- sileira, do papel que a CPLP vem procurando desempenhar desde sua ccriagio. Nesse sentido, os capitulos que compéem a obra foram talhados por diferentes especialistas, escolhidos quer pela experiéncia na coope- ragio com 0s paises africanos e no exercicio de fangées voltadas para a aproximagio do Brasil a Portugal, na pritica diplomatica ou na gestéo de projetos especificos, quer pela experiéncia de reflexio acumulada sobre as is do Brasil com a Africa, relagdes internacic Hi em comum o fato de os autores terem vinculos académicos, diplo- miticos ¢ afetivos com o mundo da lingua portuguesa e com os paises que carregam esse patrimdnio comum, elemento essencial na formacéo nacional ¢ na afirmacao internacional de todos os paises comunitirios. A CPLP — composta por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mo- cambique, Portugal e Sao Tomé ¢ Principe — esta retratada como uma obra em construgio, como um projewo em cuiso € vom uta possibi- lidade de relangamento, de forma mais horizontal e sem o prisma do colonialismo, de relagbes do Brasil e de Portugal com a Africa. Os autores rejeitam a imagem de um passado comum dos povos de lingua portu- guesa, no contexto do Atlintico Sul do fndico, marcado apenas pela afetividade nacural. Se Se Aoobra éaberta com o capitulo de Juliana Soares Santos. Ao indagar acer- 2 das condigoes de criagao da CPLP.incluindo suas motivagées politicas, toricas ¢ culturais, a autora aborda, em especial, a desvinculacio dos interesses brasileiros na Africa das relagdes especiais que sempre anima- ram o relacionamento do Brasil com Portugal. Mas nao deixa de perceber que a oficializasao ¢ a relevancia da lingua portuguesa na Africa, em con- sequéncia da independéncia, mantiveram os paises que expressam essa lingua naquele continente como membros potenciais da futura CPLP.O arcabougo institucional c os mecanismos de funcionamento da CPLP sio igualmente explorados pela autora. Saraiva, no capitulo atinente 4 dimensio politico-diplomética da CPLP, explora a possibilidade de tal instituigdo vir a transformar-se em platafor- ‘ma operacional para uma nova concertagio entre seus Estados- membros, © autor propée que a CPLP deva explorar a condigio de ser formada por paises pouco dotadas de excedentes de poder em escala global para se conformar em forum supletivo & promissora insergio internacional do conjunto de paises que assinaram sua Declaragéo Constitutiva, organizador da obra nucre esperanga de que a CPLP possa vir a desem- Penhar um papel um pouco mais ativo no concerto das nagoes. A mesma posigéo é compartilhada por Enilde Faulstich, no sew argumento central sobre o valor politico da lingua portuguesa, Argumentando que a CPLP € um lugar de falas miiltiplas, a escudiosa observa, em especial, a evolucio das discussdes para a formagio do Instituto Internacional da Lingua Por- tuguesa e para a aprovacao do Acordo Ortogrifico. Aos pilares da concertasio politico-diplomatica e da valorizagio da lin- gua portuguesa no mundo, agrega-se, na obra, a dimenséo da cooperacéo econdmica, cientifica, educacional e tecnolégica no ambito da CPLP. Na abordagem de Irene Gala, Alice de Abreu ¢ Marcio Fernandes, a CPLP ver ganhando forca por meio dos caminhos que se abrem no plano da cooperacao, especialmente diante da possibilidade inédita do trabalho conjunto entre Brasil e Portugal no aprofundamento de agoes em rela- $40 aos paises africanos de lingua portuguesa. Nessa mesma linha, o economista angolano José Goncalves analisa o tema das relagoes econémicas no contexto da CPLP. Discutindo em especial as condigdes precirias com as quais os paises afticanos tém de lidar no inicio da nova década, Gongalves enfatiza a necessidade do desenvolvimento de uuma politica mais ativa no campo material da CPLP Em conclusio, a obra organizada por Saraiva alcanga seus objetivos fun- damemtais. Articula a informagio com a aguda percepsio critica das oportunidades que se abrem para 2 CPLP no seio da sociedade interna- ional. Demonstra, ademais, 0 quanto o Brasil poderia fazer mais para que essa nascente instituigao, dotada de personalidade jurfdica interna- ional, possa deslanchar como parte de um projeto de relangamento da relativamente abandonada politica afticana do Brasil. PROJETO DE PESQUISA ‘Marcel Duchamp: “Roda de Bieleleta"([913]1951) 3.1 0 que é um projeto? Qualquer atividade humana pode ser vista como uma conjugacéo de agoes organizadas em corno de um objetivo, que dependem de uma série de passos a serem desenvolvidos em uma ordem preferivel, cavelvendo determinados objetos € pessoas, ‘Tragar objetivos, prever os passos necessérios & realizagéo das ages que nos levario a alcangar os objetivos, decidir a ordem preferivel em que esses passos devem ser desenvolvidos ¢ identificar os objetos e pessoas necessdrios & realizagio das agGes sio todos elementos de um(lGBG}SRTEES. A a idade de pesquisa €uma PAGEURRG TEXTURE RA UNIVERSIOAGE das atividades humanas que mais dependem de um planejamento prévio para que Comumente @iplainejainene 06) objetivo(s) projetado(s) seja(m) alcangado(s) As informagSes a serem inclufdas em um projeto podem variar de acondo com a drea do conhecimento, a instituicéo a que desejamos submeter nosso pro- jeto, seja cla um érgio ou programa ou documental. O projeto também variard dependendo se a pesquisa é de campo, laboracorial ou bibliogrifica. Assim, nao entraremos no mérito da questéo se a pesquisa é qualicativa ow quantitativa, se € exploratoria, descritiva ou explicativa, se € uma pesquisa experimental, estu- do de caso, pesquisa-acio. Este capitulo tem o objetivo de fornecer orientagdes gerais para a claboragio de um projeto de pesquisa. A partir de um roteiro geral que oriente um pesquisador iniciante para a prética de pesquisa como um todo, podem-se definir as especificidades de cada projeto. Todas as informagoes apre- sentadas aqui devem ser adequadas aos interesses do autor ¢ do foco da pesquisa, bem como do drgéo 20 qual o planejamento de pesquisa sera submetido. De modo geral, é possivel reconhecer um projeto (como qualquer outro gé- nero como a resenha ou 0 artigo cientifico) por algumas @RGEHSHES como: @ o contetido de referéncia ao campo da ciéncia (irens lexicais que identifi- cam conceitos, objetos e arores sociais relativos a uma determinada area de conhecimento, como os itens sintoma, vacina ¢ paciente que identifi- cam a area de medicina); @ 0 tom formal da linguagem, geralmente contendo termos técnicos e/ou abstratos ¢ suas definigbes, auséncia de interpelagao do leitor por estru- turas injuntivas (que interpelam o leitor, como “Sim, leitor, voce vai se surpreendet!”); © &cstrutura do texto, geralmente organizado em partes que compéem a proposta da pesquisa: + identificagéo ou dados do projeto (titulo, érea de pesquisa etc.) ¢ do seu autor (nome, instituicio etc.); + problemas, hipdteses ¢ perguntas; + justficativa; oneal i para depois encaminhar para aprovacio do co- mité de ética de sua instituigio. Comumente se elabora um “consentimento livre € esclarecido” para que as pessoas envolvidas na pesquisa assinem ¢, assim, consintam ‘coma divulgagao dos resultados para fins de divulgacio do conhecimento cientifco. Além disso, elabora-se um “termo de confidencialidade”, em que o pesquisador assu- me 0 compromisso de utilizar os dados apenas para fins de pesquisa e de preservar a confidencialidade do material com informagées sobre 0s sujeitos. A investigagao deve ser executada de acordo com 0 projeco aprovado, portanto. ‘qualquer altcragao que possa afetar a garantia dos direitos ¢ liberdades do individuo deve ser comunicada ao comité de ética antes de ser implementada (idem, p. 99). 3.8 Resultados e/ou impactos esperados No projeto, a secio de resultados e discussio (ver capitulo relative a isso neste volume) também é das mais argumentativas, pois visa convencer o leitor de que os resultados e/ou impactos esperados na pesquisa serdo benéficos, importantes, ites, enfim, de relevancia social, educacional, cultural, financeita etc. para determinado, segmento social ou para o avango da ciéncia em determinada area. eee an QuisA, ‘Cabe ressaltar aqui as publicagdes que resultario do projeto, as orientagées de alunos de pés-graduacio ¢ graduacao envolvidas, as dissertagGes e teses que serio dlefendidas, as patentes que serdo geradas/registradas, os produtos culturais que serio criados, entre outros resultados da pesquisa. 3.9 Cronograma Para finalizar 0 projeto, as atividades a ele concernentes devem ser listadas, obedecendo a uma ordenagao que corresponda is etapas de execugao do mesmo, dentro do prazo de vigéncia do projeto como um todo. E importante que 0 pesquisador identifique claramente, no projeto, cada eta- a da pesquisa (estudos piloco ou preliminares, pré-testes, formacio do pessoal da equipe, coleta e anilise dos dados, redacio do relatério, divulgacéo dos resultados) € ue precise 0 tempo necessitio para efetuar cada uma delas (Contandriopoulos etalii, 1999, p. 94). Uma das estratégias visuais mais eficazes & a utilizagio de uma tabela que combine a explicagao das tarefas (no cixo vertical) ¢ 0 tempo dedicado a cada uma delas (no cixo horizontal), conforme o exemplo da tabela 3.1. Ao demonstrar o desenvolvimento cronolégico da pesquisa a cada etapa, lembre-se de prever certa margem de tempo para poder lidar com imprevistos (Idem, ibidem).. Periodo de tempo Tarefa ttafala}sfelr]-|a Levantamento da literatura relevante,leturas teéricase fichamento ae Goleta formate do corps em arguros Bliee Andlse qualitative [TT Andlise quantitativa x OrganizacSo e interpretagao dos resultados x|[x|x Redagio e apresentacso de comunicages em ‘congressos para divulgagio dos resultados da x} x] x posquiss Redacao de artigos para publicagSo em Periécicos da area ‘Organizacao da documentacSo necesséria ao relatcrio e Redacao do relatrio Tabela 31-Cronograma do projeto Para o(s) assistente(s) de pesquisa, quer seja(m) contemplado(s) com bolsa de pesquisa ou néo, deve-se elaborar uma seco do projeto, inticulada (ARO (G@GRAMB, na qual a participagio do(s) mesmo(s) ¢ explicada em relagao a cada uma das referidas etapas. Cada tarefa deve ser explicada em fungio dos objetivos a serem alcangados ¢ sua adequagao cronolégica demonstrada quanto ao desenvol- vimento previsto no corpo do projeto. 3.10 Orcamento A previsio orgamentiria para um projeto compreende os recursos pata sta implementagdo ¢ a identificagzo das fontes financiadoras (Contandriopoulos et alii, 1999, p. 95), que devem ser detalhados conforme seu tipo ¢ em rubricas di- ferenciadas: equipamentos ¢ material permanente, material bibliogrifico, material de consumo, passagens e diftias (para participacio em eventos), entre outros: * material de consumo (por exemplo, papel para impressio, cartucho de impressora, filme, tecido, tinta etc.); # pagamento a pessoa fisiea (pro labore): = pagamento a pessoa juridica (revelacao de filmes, hospedagem, alimenta- ao, xérox etc.); + didrias (indicar quantidade c valor); * passagens (tipo de transporte, quantidade, trajeto e valor); * material permanente na forma de equipamentos (computador, gravador, filmadora, instrumentos musicais etc.). Os custos devem ser calculados segundo um cronograma de desembolso para cada fase da pesquisa ETT icf i EGET CST STOLE. CASRARETPROIED Além disso, atente para as diretrizes de cada edital em termos do montante maximo de dispéndio em cada rubrica e para a aceitabilidade de certas categorias de despesa (idem, ibidem) 3.11 Bibliografia Ao final do documento, todas (e apenas) as referéncias que aparecem citadas 20 longo do projeto (especialmente aquelas da seco de revisio da literatura) de- vem ser identificadas e listadas em ordem alfabética. i PENEPPP Sere OE SSSQUI No que diz respeito & apresentagio propriamente dita dessas referéncias, a norma adotada na instancia de avaliagio do projeto deverd ser observada?. Voce deverd formatar suas referéncias de acordo com as normas adotadas pelo drgio a0 qual ira submeter seu projeto. Lembre-se de que cada tipo de fonte consultada (livro, capitulo, artigo em periédico, sites etc.) é referenciado de uma maneira especifica, Para finalizar este roteiro, vale relembrar: (1) 0 itens constantes do projeto e sua extensio em nimero de paginas de- penderao das normas estabelecidas pela instancia avaliativa; (2) € preciso ler com atengao cada edital publicado para se adequar ao limite de datas; @) é fundamental manter sempre seu Lattes' atualizado. Faca sua proposta de pesquisa e nfo desanime se seu projeto nao for aprovado ow accito para financiamento. O esforgo de pesquisa envolve virias tentativas nas suas diferentes cincias, A seguir, insetimos cxcmplos de roteiro de projero, termo de consentimento livre ¢ esclarecido (rei) ¢ termo de confidencialidade ou termo de compromis- so, retirados do sitio eletrBnico da Pr6-Reitori de Pés-Graduagio e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria , Exemplo 3.1 ——— ROTEIRO DE PROJETO Estrutura do projeto de pesquisa 1= Capa (com cabecalho, titulo, nome dos pesquisadores responsdveis e colabo- radores, data) 2+ Sumario 3+ Resumo (300 palavras, com introduc, justifcativa, objetivos, métodos) 4>Introdugdo e revisdo da literatura 5° Justificativa | 6- objetivos (geral e especificos) ms Unieade Federal de Sinn Maa deeds edivlggi olne dpa forma Latesd9 CNPq crews 7+ Métodos 7.1- Desenho do estudo 7.2-Amostra/populagio alvo 7.3 - Critérios de incluso e exclusio 7-4 -Andlise estatistica 7.5 - Aspectos éticos (procedimentos de abordagem do sujeito de pesquisa, riscos e beneficios da pesquisa, autonomia do sujeito de pesquisa, confiden- cialidade e privacidade das informacdes) 8+ Orgamento e fonte(s) de financiamento 9- Cronograma 10~ Referéncias bibliograficas tt Anexos 11.1- Termo de consentimento livre e esclarecido (TcLe) 11.2-Termo de confidencialidade 113 - Instrumento de coleta de dados ‘TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) Definigao Orespeito devido a dignidade humana exige que tod pesquisa se processe apés con- sentimento live ¢ esclarecido dos sujeitos,individuos ou grupos que por si elou por seus representantes legals manifestem a sua anuéncia & participagaio na pesquisa. Forma e estrutura © documento deve ser redigido em linguagem clara e acessivel (evitar termos ‘técnicos) aos sujeltose necessta inclur os seguintes elementos: ts (2) cabegalho com informagées sobre a instituigéo promotora e identificago do pesquisador responsdvel, telefone e endereco para contato; (b) titulo, ustifcativa e objetivos da pesquisa; r (©) descreveros procedimentos adotados (questionérios, testes, gravagdes etc: @ (e) descrever os desconfortos e riscos possiveis e os beneficios esperados; os métodos alternativos existentes, quando se tratar de estudos de méto- dos diagndsticos ou terapéuticos; = (f) descrever a forma de acompanhamento e assisténcia, assim como seus responséveis, no caso de estudos de intervencao terapeutica; (©) citara garantia de esclarecimentos ao suieito de pesquisa, antes e durante © curso do estudo, com 0 CEP ou o pesquisador responsével; (h)_Incluira liberdade de o sujeito se recusar a participar ou retirar seu con- sentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalizagao alguma e sem Prejuizo a0 seu cuidado; E (2 garantia do sigilo que assegure a privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa; MOsETO DE PESQUIEA () citar as formas de ressarcimento das despesas decorrentes da participa- 0 na pesquisa, caso seja necessério (exemplo: refeicdes, transporte), (&)_s formas de indenizagao diante de eventuals danos decorrentes da pes- quisa, se aplicavel; (0 pome, assinatura e data do sujeito de pesquisa ou responsaivel; nome, as- sinatura e data do pesquisador responsdvel pela aplicacéo do termo de consentimento; e (m) endereco completo do CEP da institui¢go. = TERMO DE CONFIDENCIALIDADE ou TERMO DE COMPROMISSO Defnigao Termo elaborado pelo pesquisador responsavel nas situagSes de impossiblidade de obtencio do termo de consentimento informado dos sujeitos de pesquisa, Utilizado nas pesquisas de bases de dados, de registros de prontusrios © de pes, Guisas com material biolégico. Deve conter informagGes sobre o local, tempo e © responsével pela guarda dos dados, além do destino final do material armaze- nado. Deve garantir que os dados serdo utilizados especificamente para aquela Pesquisa, com garantia de privacidade e confidencialidade. Forma e estrutura ‘TERMO DE CONFIDENCIALIDADE (Mdelo de termo de compromisso do pesquisador para utilzagao de dados ¢ reserve do material com informacdes sobre es sujetos) Titulo do projeto: Pesquisador responsavel: Instituicao/Departamento: Telefone para contato: Local da coleta de dados: Ospesquisadores do presente projeto se comprometem a preservar a privacida- de dos pacientes cujos dados sero coletados. [emprontuarios e bases de dados, através de gravacao, filmagem - especificar conforme o aso] da (elinica ou local). --vsne Concordam, igualmente, que essas informacdes sero utiizadas Unica e exclusivamente para execucio do presente projeto. As infor, maces somente poderso ser divulgadas de forma andnima ¢ serao mantidas No (2)... (lOCal onde sero armazenados os dados) par um periodo d (meses/anos) sob a responsabilidade do (a) St. (8) amu ApOs este period, os dados serao destruidos. Fste projeto de pesquisa foi revisado e aprovado pelo Comité de Etica em Pesquisa da UFSM em... com o némero do CAAE L (Cidade), {Nome (ou carimbo), Cl, Registro Profissional (se houver) e assinatura do pesqui- sador responsavel] de. ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO Pablo Picasso “A Rfelcio” (1953) 4.1 O que é um artigo académico? artigo é um texto, de aproximadamente 10 mil palavras, produzido com © objetivo de publicar, em peribdicos especializados, os resultados de tuma pesquisa desenvolvida sobre um tema especifico. Esse género serve como uma via de comunicacéo entre pesquisadores, profissionais, professores © alunos de graduacao e pés-graduagio. Na atualidade, 0 conhecimento gerado na atividade de pesquisa é primor- dial para 0 avango das varias profiss6es que compéem a sociedade. A atividade

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