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Com naan ocpennatias Se eecatae Antonio Carlos Xavier pyrighe © Antonio Carlos Xavier, 2010. Reservados todos os direi dlesta edigao. Reprodugio proibida, mesmo parcialmente, sem autorizaga Capa, Projeto Grdfico ¢ Diagramasdo Karla Vidal ¢ Augusto Noronha (Pipa Comunicagie - wos: pipacomunicacao net) Hustragdes Karla Vidal (Pipa Comunicacio - www: pipacomunicacao.net) Revisdo Autor, Elisandra Pereira ¢ Sueli Trev Impressio e acabamento Editora Réspel Praca ca Repiiblica, n” 06 - Sala 41 - 4° andar Centro - Catanduva - SP ww v:respeleditora,com.br Dados internacionais de gasdo na publicasé Xavier, Antonio Carles Como fazer e apresentar tabalhos clentificas em event [ciéncias humanas e socais aplicadas artigo, resumo, resenha, monograf, tse disseragso tc, projeto slide] / Antonio Caos Xavier lustracbes, Karla Vidal. Reif: Edltora Resp, 2010. Vp. academ inclu biog, 1. Metodologia.2. Pesquisa. 3 Redacio académica I. Titulo, org ou Red) 01.42 COD (22d) caczoie-3s Uma das maiores preocupagdes de todo estudante que ingressa cm um curso universitirio é aprender a “falar” a lingua da academia. A universidade & uma instituigio com quase dois mil anos de existéncia e por isso tem costumes, tradigdes, rituals, amente construidos que The modos de funcionamento histor conferem o prestigio de ser considerado 0 templo sagrado do saber humano. © conhecimento produzido nas universidades registrado e transmitido por meio de uma linguagem que busca preservar a cxaticlio maxima dos fenémenos naturais e humanos estudados que sio armazenados em suas bibliotecas, A credibilidade da Ciéncia, modo de explicagio dos acontecimentos humanos ¢ dos fatos naturais, depende muito da clareza ¢ objetividade da linguagem utilizada para revelar a sociedade os resultados de suas pesquisas, Esse saber, concentrado nos relatérios de pesquisa, resumos, resenhas, artigos, monografias, dissertagdes e teses, € codificado, catalogado ¢ sistematizado em forma de texto impresso ou digital, Por isso, hd uma grande preocupagio com a normatizagao desses dados, pois eles precisam traduzir a verdade das descobertas, ja que elas podem influenciar na vida e no comportamento de toda uma sociedade. A padronizacao da escrita e publicagao dos trabalhos cientificos tem como objetivo unificar os fornfatos de apresentagdo visual dos documentosacadémicos de modo que sejam rapidamente identificados como discursos produzidos por pesquisadores, participantes de uma comunidade especifica que compartilham um modus operandi de realizar sua atividade profissional. Livros ¢ periddicos cientificos em geral publicados de acordo com um mesmo modelo de organizagao facilitam a consulta, a avaliagao ea ratificagio ou retificagio do conhecimento ali divulgado, Quanto mais clareza na exposi¢ao da pesquisa, acredita-se, haverd menos divergéncias interpretativas entre os cicntistas. A transparéncia 10 de informacao cientifica gera mais seguranca na veiculak confiabilidade ao discur » da Ciéncia e, consequentemente, viabiliza 0 acesso ¢ 0 usufruto dos beneficios de scus avangos invengdes tecnoligicas. Ha muitas exigéncias técnicas, atengao a detalhes ¢ cuidados coma sobriedade verbal. Tudo isso dificulta um pouco aaquisigao da linguagem da ciéncia, Ela tem pormenores que s6 0 exercicio frequente da produgio de textos cientificos podera garantir ao cstudante universitario um bom dominio desta linguagem. Embora n 10 existam reccitas magicas que consigam transformar © estudante no usuario perfeito da linguagem académica em pouco tempo, a leitura atenta © a abservagio rigorosa as normas estabelecidas pela ABNT vio ajud-lo a incorporar mais rapidamente 0 “eito” de se portar linguisticamente ao escrever textos com reflexdes ¢ resultados de pesquisa para leitores de instituigdes cientificas Este livro esta dividido em duas partes, A primeira trata das questdes metodolégicas cm si ¢ dos tragos que caracterizam os géneros textuais académicos com cnfoque especial para as priticas de pesquisa ¢ reflexdes intelectuais realizadas nas 4rcas | de ciéncias humanas e sociais aplicadas. J4 a segunda parte da obra aborda formas de tornar mais interessantes as exposigdes orais ddos trabalhos cientificos em eventos promovidos anualmente por associacées e sociedades cientificas nacionais ¢ internacionais. Sabemos que na academia existem étimos tedricos, mas também ha péssimos expositores das proprias ideias, Objetivamos nesta segunda parte apontar caminhos que ajudem os pesquisadores a apresentar com mais clareva ¢ eficiéncia suas ideias, muitas delas até brilhantes, mas que sio compreendidas por falhas de claboracio do material comunicado ao piblico. Enfim, este livro pretende, além de comentar as regras da ABNT, mostrar exemplos de como aplicé-las na escrita de textos académicos em seus diversos géncros, desvendando scus segredos aos estudantes que precisam produzi-los no ambiente universitério, Para isso, utilizamos uma linguagem simples recheamos o texto de ilustragéies ¢ exercicios que vio facilitar a internalizago necesstria das normas de formatagao, permitir a elaboragao eficiente de tais géneros de texto e transformar as apresentagdes orais em eventos académicos muito mais agradaveis e atraentes. Convidamos voce, caro leitor, a embarcar conosco nesta aventura de aprender as técnicas de prodhucio de textos cientificos © 0s modos de apropriacio das tecnologias que podem tornar a linguagem académica mais inteligivel. Panrel A Produgio de trabalhos cientificos Senso comum “x” conhecimento cientifico Senso comum Asieude cientifica Comhecimeno filosfico Conhecimento religioso Comhecimemto artistico Conbecimento téenico cia, seus métodos ¢ classificagies © que é um mévodo de pesquisa? Classifieaso das cléncas Pesquisa puna Etapas de elaboragao de um projeto de pesquisa Escola do tema Elaborago do projeto Redagiio do texto Géneros textuais académicos Projeto de pesquisa 35 36 4 44 53 54 59 60 65 Resum 88 Resenha 96 Antigo cientfico Lot Monografia, Diserts ls 5 Modos de fazer citagio e referencia BI Tipos e formas de citar BL Parte I Apresentacio de trabalhos cientificos 19 1 Apresentagio de trabalhos em eventos académicos 143 Modatidades de apresentagao de trabalho ctentificos 44 Tipos de comunteagdo oral 44 Conferéne 45 Paleste 46 147 es 148 da individu 149 150 2 Tecnologias para a apresentagio de trabalhos cientificos 155 Tecnolegias de comunicagi 136 Vou ~ teen 156 Mierofone lel Gestox ~tecnol 163 Roupas ~ teen 164 165 173 Y Aprodugiode | trabalhos cientificos | Senso comum “x” conhecimento cientifico Capitulo 1 Senso comum “x” conhecimento cientifico “Toda pesquisa visa satisfazer & curiosidade humana, a sede de conhecer as coisas do mundo e tudo que nele ha. A pesquisa nasce do desejo de nos conhecermos a nés mesmos, nosso corpo, nossa mente, nossos comportamentos, nosso passado, nosso presente e até pela vontade de saber como sera nosso futuro. Em outras palavras, nds vivemos buscando respostas as nossas diividas e anseios fundamentais, Desde quando tomamos consciéncia de nossa existéncia, especulamos solugées para tais questdes, farejamos indicios ¢ pistas que apontem na diregio de respostas convincentes para os nossos dilemas. A Pesquisa sempre fez. parte do cotidiano humano. Mas, a busca por respostas de modo criterioso, sistematico ¢ racional ¢ florescimento da Ciéncia, ou, mais precisamente, depois da criagdo do método cientifico. Antes do nascimento da Ciéncia, a mitologia, as religides > emocional, nem mistico) apenas foi iniciada a partir do € 0 senso comum apresentaram suas tcorias explicativas para responder is principais questdes humanas. Porém, a Ciéncia s6 surgi na Idade Moderna, no inicio do século XVI. A palavra Cincia nos remete 4 outra palavra do mesmo dominio semintico: conhecimento, Entretanto, 0 que de 17 Come face uprasentan tuathes coifices em centasacadénlees fato conhecimento? Grosso modo, podemos dizer que cle representa a apreensio de um saber intelectual ou a aquisigo de uma informagio sobre um fato ou ato realizado pelos seres vivos ou pelas Forgas da natureza Hé varios tipos de conhecimento, mas dois deles se opsem diretamente. Trata-se do conhecimento popular, também chamado de Senso Comum ¢ 0 Conhecimento Cientifico. Para que a Ciéncia se estabclecesse no universo tomado por crengas, superstigdes ¢ opinides impressionistas, ela teve que se erguer sobre as “fragilidades” do chamado Senso Comum, Por isso, Parece-nos oportuno discutirmos aqui, ainda que de forma ripida, a diferenca entre ambas Senso comum Em tese, os elementos que fundamentam a construgio de conceitos e definigdes coletivamente compartilhadas pelos nao estudiosos da natureza e do comportamento humano sko as caracteristicas clencadas a seguir. Blas revelam a precipitacio humana quanto ao desejo de obter explicagdes simples ¢ ficeis acerca de fendmenos a primeira vista incompreensiveis, Listamos 18 ‘Antonio Carlos Xavier aqui apenas os quatro tragos mais evidentes que revelam 0 modo apressado para responder aos nossos questionamentos diante de fatos que nos deixam surpresos, ¢, por vezes, temerosos. As caracteristicas gerais do senso comum si, portanto: + Subjetividade © sujeito que vé ou se informa sobre determinados acontecimentos se baseia em suas préprias impressdes ¢ escala de valores para definir e lidar com tais fatos vistos por ele mesmo ow que Ihe foram dados a saber. Assim, uma mesma drvore sera percebida e definida de diferentes modos e conforme o interesse, sentimento visio de mundo do individuo que a percebe. Sc ele for um artista, perceberd a arvore como um objeto ser reproduzido por uma escultura, pintura, poesia, musica ete... Caso seja um marcenciro, vé-la-d como matéria-prima para seu trabalho, Jé se for um ecologista, cla ser4 um elemento de veneragio, ¢ assim por diante. Enfim, diferentes sujeitos concebem a drvore de acordo com as “lentes” recebidas por cada um deles. * — Relativismo Sabendo que a avaliagio de um determinado fato depende da subjetividade, ou soja, dos efeitos produzidos nos sentidos do sujeito-avaliador (doce, amargo, grande, pequeno, quente, fri, proximo, distante, triste, alegre etc.), como dissemos anteriormente, 0 conhecimento sera relativo, variével de um sujeito para outro. Em outras palavras, serd relativo ao sabor do gosto ¢ do humor de cada individuo, 19 ama fazer e apreentastrabathes cntificas em esntasccadémicas + Generalidade E tendéncia humana estabelecer relagdes diretas de causa © efeito para os fatos ao seu redor, Essa super simplificagio de respostas para quase tudo que acontece a sua vista se baseia na repeticao da experiéncia vivida pelo sujcito, As vezes, passou por uma dada situago apenas uma ver, mas a imagem que se formou em s 1a meméria sobre aquele fato ou objeto sera a primeira concepgao a ser ativada, Isso Ihe dé uma sensagio de dijavi, ou seja, ele pensa ja ter visto aquela cena antes e por isso conheceria scu final, Seguindo esse raciocinio, o sujeito que sente uma dor na barriga poderd atribui-la a ingestio de um alimento estragado, por exemplo, porque a causa da dor anterior na barriga teria sido infecgao alimentar, Ou scja, cle se guia pelo principio indicial “onde ha fumaga, ha fogo”. + Preconceitos jo nogdes prévias, conceitos imaturos ¢ opinides formadas sem qualquer prova ou evidencia concreta, A forga do habito gera uma forma de pensamento fixo sobre um fato, A tendéncia humana éser levado pelas aparéncias. Em geral, cle espera ser convencide por argumentos logicos ¢ experimentais. Se voce estivesse numa rua deserta ¢ pouco iluminada e avistasse dois homens caminhando em sua diregio, vindo um da sua esquerda c outro da sua direitas este mal vestido, com roupas rasgadas e pés dlescalgos, e aquele bem vestido e limpo, de qual dos homens voct teria medo? Do da dlireita ou da esquerda? Na resposta sincera da maioria das pessoas, 20 Antonio Carlos Xavier © temor recairia no homem da direita, com ma aparéncia, pois veladamente nuitos creem que pobre ¢ sindnimo de ladr3o. Nem todo pobre ou todo rico ¢ lado, Neste caso, é mais conveniente nio se lembrar do provérbio popular: “as aparéncias enganam”” Em contrapartida as caracteristicas do senso comum, a atitude cientifica, assim intitulada pelos préprios adeptos da Ciéncia, & constituida por um conjunto de tragos que aqui esumiremos s6 os cinco principais, embora haja uma dezena citados por fildsofos e historiadores da Ciéncia. A palavra atitude denota agio de um individuo. Ela significa agéncia, ou seja, aquele que se pretende cientista tem que se dispor a cumprir as exigéncias do trabalho cientitico sob pena de nao ser identificado como tal pela comunidade cientifica, Atitude cientifica Diferentemente do senso comum, aatitude cientifica pode ser caracterizada pelos seguintes aspectos: an Cama fae eaprsedas ales cles om ets acdc + Objetividade © pesquisador deve escolher como objeto de investigacio coisas ¢ fendmenos do universo factual, material, fisico & perceptivel por meio dos sentidos. Para isso, deve valer-se de instrumentos ¢ aparelhos que megam € atestem resultados Precisa verificar a adequagao das ideias e hipéteses a0 objeto observado, pois ele busca encontrar 0 mesmo funcionamento do fendmeno estudado em qualquer parte do universo. * Racionalidade E a utilizagio de raciocinios 16; cos, no processo de investigagao, por meio de procedimentos metédicos ¢ bem jados plan » pesquisador parte de inferéncias dedutivas para chegar ao funcionamento de sistemas organizados do fendmeno em estudo, Vale-se de quadros de ref réncia para se afastar das impressdcs sensoriais prematuras que podem cngand-lo, prejudicando as conclusdes; + Quantitative Ferramentas, aparelhos © equipamentos sio essenciais para garantir a medigio precisa, a quantificacio indubitavel dos dados para posterior comparacio ¢ andlise, Os resultados numéricos obtidos sio entabulados e apresentados em quadros com valores statisticos, Supde-se que, dessa forma, facilita-se a materializagao do raciocinio abstrato aumentando a chance de convencimento do publico, pois o resultado estaré demonstrado j 1 j i Caen ee “Antonio Carlos Xavier ¢ sua veracidade “comprovada”, Esta caracteristica reverbera a maxima ocidental, segundo a qual, “os niimeros falam por si". + Regularidade Todas as pesquisas que se julgam importantes tém a ambicao de encontrar leis gerais para explicar o funcionamento dos fendmenos naturais e comportamentais do homem. Por exemplo: A Lei da Gravidade é aplicivel a qualquer matéria presente na superficie terrestre, cujo peso seja menor que 0 do centro da Terra. Toda lingua obedece a dois principios inescapaveis que sio: a variagdo ¢ a mudanga, Todas elas variam ¢ mudam ao longo do tempo. O pesquisador sai em busca da frequéncia, da repeti¢ao da ocorréncia do fendmeno investigado, Assim, cle pode mostrar a validade de uma lei geral ¢ argumentar que extraordindrio é um caso particular do que ¢ ordinario, comum, normal. © Tedrico Refere-se ao que ndo é doutrinirio, nao definitive nem absoluto, No geral, intitular uma explicagio sobre 0 funcionamento de um dado fenémeno natural oucomportamento humano em sociedade significa que hi uma alternativa plausivel ¢ ‘erossimil que permite a compreensio do fato ou ato observado como objeto da pesquisa. A palavra teoria também tem a ver com a admissio de que uma determinada conclusio poder ser revista, corrigida e alterada, caso haja evidéncias de sua incompletude, Toda teoria utiliza como um dos procedimentos ee faze apresontas rabathes cntifcas om evontssacadénises principais a andlise. Ao decompor o fenémeno observado em virias partes, ¢ possivel entender melhor suas caracteristicas ¢ funcionamento, Outro procedimento importantissimo na construcao de teorias é a sintese, que consiste na recomposigao posterior do mesmo fendmeno para explicitar seu modo de funcionamento, Além do Senso Comum ¢ da Ciéncia, ha outros tipos de conhecimentos que auxiliam o homem a compreender © universo ¢ a se compreender enquanto ser biolégico, filoséfico, espiritual, técnico ¢ artistico, Na pritica, todos nés carregamos conosco porcdes de cada uma dessas faculdades que so adquiridas consciente ow inconscientemente em contato que mantemos com diversas instituigdes sociais, De acordo com nossa necessidade, afinidade ¢ interesse, direcionamos a atengio para um ou mais desses tipos de conhecimentos, No caso das instituigdes universitarias, hi uma supervalorizacio do conhecimento cientifico. Antes de conhecé-lo melhor, vejamos alguns tragos destes tipos de conhecimentos citados que acompanham a trajetéria humana desde seu surgimento. Entre os diversos tipos de conhecimentos produzidos, replicados ¢ preservados pela raga hum. na ha muito tempo, poderiamos dizer que os conhecimentos filoséfico, religioso, artistico e téenico seriam os mais comuns a nossa vida cotidiana. Como cada um deles se manifesta ¢ qual sua fungio social sio questdes cujas respostas veremos a seguir. Antonio Carlos Xavier Conhecimento Filoséfico ae { eat een E um conhecimento que questiona as coisas essenciais profundas da vida, tais como: Quem sou eu? Quem é voce (0 outro)? De onde viemos? Para aonde iremos? Por que estamos no mundo? © que é a verdade, o bom e o belo? Para responder a tais questies, 0 fildsofo usa a razdo, a logica ¢ as observagdes sensoriais para chegar a ccrtas conclusdes. O método aplicado 25 Come faces eapresentan trates cntifcss om cuntas academies pela Filosofia ¢ apenas a coeréncia Jégica sem qualquer experiéncia com instrumentos ¢ aparelhos de medigio para validar um determinado conhecimento Na base da formagio de todo conhecimento filosifico esto dois sistemas centrais, que foram e sio pontos de partida para este tipo de pensar desde a antiguidade clissica até hoje. Sa0 cles: © Idealismo, criado por Platio (427-347), © 0 Materialismo defendido por Aristoteles (384-322), De um lado, os problemas da aparéncia e da subjetividade preocupavam Platdo; de outro, Aristoteles ocupava-se da realidade empirica Posteriormente, 0 Idealismo Subjetivo ficou mais conhecido entre 0s cientistas por Racionalismo, elaborado pelo filosofo francés René Descartes (1596-1650). De acordo com este sistema de pensamento, o conhecimento brota de dentro da mente humana para o mundo exterior, As outras correntes de idade do experimento dos dados concretos para se chegar a conclusdes contfidveis tal pensamento em geral defendem a ne: como Aristételes com 0 seu Materialismo o fez Derivam das ideias aristotélicas varias outras correntes filoséficas como 0 Empirismo eo Positivismo. © primeiro tipo de materialismo aristotélico se opde diretamente ao Racionalismo Defenderam com maestria a corrente empirica os filésofos ingleses Thomas Hobbes (1588-1679), John Lock (1632-1704) © David Hume (1711-1776). O Positivismo com Auguste Comte (1798-1857) também foi bastante importante, , para alguns pesquisadores, hoje ainda o €. Também deriva do concepgao do materialismo aristotélico o Materialismo Dialético postulado por Karl Marx (1818-1883), Friedrich Engels (1820-1895) Mais contemporaneamente foi desenvolvido o Existencialismo, 26 ‘Antonio Carlos Xavier primciro com Kierkegaard (1813-1855) ¢ Heidegger (1889. 1976), ¢ posteriormente com Jean Paul Sartre (1905-1980). mento filoséfico 0 ponto de partida Em sintese, o conhe para toda a investigacao cientifica, além de servir muito bem para analisar as agdes, avancos, recuos c desafios da Ciéncia por meio do seu criterioso método com que aborda o fazer cientifico. Conhecimento Religioso Toda religiio busca satisfazer a necessidade mistica © transcendental imanente aos seres humanos. Atribuir a origem do universo © a responsabilidade de acontecimentos sobrenaturais a uma divindade onipotente sao atitudes comuns a todos os povos ¢ racas da Terra. Em geral, os ingredientes da religito se repetem, Ha sempre um proleta humano, um livro sagrado ¢ um grupo de fidis consagrados a causa religiosa. Esses devern acreditar dogmaticamente, isto é, sem questionamentos, nas promessas de vida num paraiso aps a morte ¢ obedecer em vida aos mandamentos contidos no livro sagrado. Todo e qualquer evento ocorrido ou que vir a ocorrer estaria sob a superviso € controle do divino, Ele responderia a todas as indagagdes essenciais do homem cujas respostas ja foram previstas e esto escritas no livro sagrado, os tinicos ¢ verdadeiros Anais que guardam os mistérios do universo A religiio parte do principio de que suas verdades sio inquestionaveis porque foram reveladas por uma divindade poderosa e infalivel. Para aderir a esse tipo de conhecimento, basta ao individuo ter fé, porque nao ha evidéncias empiricas da existéncia de tal divindade a quem 0 religioso devota sua vida. 27 Cama face eaprasntar oles contficas om woetss acadéices Esse tipo de conhecimento também é denominado de Mitico (da Mitologia) ou Teologico por delegar a logica de funcionamento do mundo as maos de um ser divino © Olimpo cra o lugar sagrado onde habitavam c de onde governavam os deuses da mitologia grega (Zeus, Afrodite, Apolo etc.). O paraiso é para as religiéies como Judaismo, Cristianismo, Islamismo e Budismo o destino dos fis apos a morte. Todas elas sio teologias que produzem conhecimentos ¢ explicagées sobre as causas dos fenémenos naturais e do comportamento humano como efeito da vontade de Deus. A existéncia das catastrofes naturais ¢ da maldade presente no seio das sociedades seria consequéncia direta do afastamento dohomem de Deus, por isso le precisa se “re-ligar”, reconciliar-se com Ele imediatamente Hi teorias religiosas as mais diversas para clucidar os indimeros fenémenos naturais, Masa teoria criacionista, guardadas as devidas peculiaridades de cada uma das r & sem diivida a teoria mais compartilhada pelo conhecimento Ligides acima citadas, teoldgico. Em outras palavras, as principais religides do planeta defendem que Deus é a origem ¢ a explicagao para a existéncia de todas as coisas, Tal como © conhecimento filoséfico, 0 conhecimento religioso no se harmoniza com o rigor ¢ a precisio da Ciéncia, principalmente por nao apresentar provas experiments sobre a existéncia de Deus em toro do qual gira todo o saber religioso. Conhecimento Artistico ‘Tem como ponto de partida a intuicio do sujeito ¢ sua .clinagio natural para realizar uma agio ou atividade cujo 28 ‘Antonio Carlos Xavier resultado é uma obra artesanal, Esse produto gera sensacdes © sentimentos tanto no produtor quanto no “consumidor”, O primeiro o faz por uma necessidade de expressio, uma forma de comunicagio ¢ interpretagao da realidade que 0 cerca. O segundo, reconhecendo a exceléncia da representacao simbilica ¢ estética, deseja possuir o produto artistico pelo prazer que nele desperta. A contemplagio leva-o & aquisigio. Ambos sio movidos pelaemogao. A intengao do artista da contornos visuais ou sonorosao seu modo de tratar o tema, é a mancira que tem de revelar suas impressdes da gue inconsciente, impulsiona o contemplador a compra, & posse da obra de arte. Trata-se de um tipo de conhecimento subjetivo © baseado na idealizacio ¢ compreensio de ambos (produtor consumidor) do que seja a realidade pintada, cantada, dangada, ce vises de mundo, A identificagio com tal visio de mundo, esculpida, poctizada, teatralizada ¢ filmada. Podemos dizer que este tipo de conhecimento também. nao se aproxima do conhecimento cientifico, j4 que a emogio & 0 critério para transformar algo em obra de arte. Por isso, € fundamental saber identificar os diversos cstilos artisticos © correlacions-los aos periodos histéricos de seu surgimento, haja vista que toda linha de arte reflete o contexto de sua existéncia, O efeito estético de fruigio é complementado com a informagiio de como 0 at sta traduriu com lucidez, precisio e sensibilidade 08 acontecimentos do seu tempo. Conhecimento Técnico ‘Trata do saber-fazer com o auxilio de uma ferramenta de apoio que permitira realizar um processo eujos limites do corpo 29 ome fase © apsesntas abate clfices om cules acai impedem sua realizagio, A este instrumento de apoio chamamos ‘tecnologia’. Todas as tecnologias so criagdes humanas cuja funsio principal é ampliar formas de atuagdo do homem no mundo, Para utilizé-las, é necessario adquirir um conhecimento técnico, procedimentos de uso que cxigem do sujeito aprendiz observagio atenta, intuigo agugada, cilculo mental refinado e muita presenga de espirito. Quanto mais se harmoniz esses elementos, mais técnico e profissional revela-se 0 sujeito A pratica constante leva a precisao da agao. m todos Assim, um carpinteiro experiente, com varias obras extraidas de suas mos, domina a técnica da carpintaria como poucos, porque usa movimentos primorosos com os instrumentos tecnolégicos da sua atividade. Um neurocirurgiio precisa de uma técnica acurada para, com 0 auxilio das teenologias cirirgicas, proceder exitosamente na mesa de operagio de um hospital. De que adiantaria ser um bom piloto de corrida sem um bom carro? Todos os bons profissionais precisam tanto de técnica quanto de tecnologia para agir com eficd todas as estratégias ¢ movimentos manuais delicados ndo podem ser realizados, Tanto os conhecimentos técnicos quanto os cia, Sem as ferramentas adequadas, instrumentos tecnologicos esto em evolucdo constante. Logo, devem 0s profissionais acordar para o fato de que o saber tem se tornado obsoleto em muito pouco tempo. ses sio, portanto, os conhei edade, na verdade, nfo concorrem com oconhecimento imentos mais recorrentes em, nossa soc cientifico; dirfamos que eles co-ocorrem, colaboram direta ou indiretamente para 0 aperfcigoamento da propria Citncia e da vida humana como um todo. Como ja disse o perspicaz socidlogo portugués Boaventura de Souza Santos acerca desta fusdo natural 30 ‘Antonio Carlos Xavier de saberes: “Todo conhecimento cientifico-natural é cientifico-social” (1987, p.37). No dia a dia, os conhecimentos se entrelacain e dialogam, Nao hi fronteiras claramente delimitadas entre cles. Nio sabemos ao certo quando acaba um € comega 0 outro. O que sabemos é que cada um deles tem sua importancia e compoe © complexo de saberes necessirios a uma vida justa e saudavel eae ‘Vamos pensar um pouce sobre o que foi estudado até aqui. As atividades 1 seguir deve ser efetuadas preferencialmente em dupla cuyjas respostas devem ser apresentadas e discutidas com tuda a classe. Responda: 1, A partir da indagac3o abaixo, descnyolva um pequeno texto argumentativo no qual voce defenda seu ponto de vista sobre a questio; ‘A escola privilegia a aprendizagem do conhecimento cientfico em dletrimento «los demais tipos de conhecimento, Voc acha que a sociedade nao precisa mais da sabedoria popular ¢ dos demais conhecimentos para resolver seus problemas cotidianos? : oe pd 2, Sintetize com suas palavras as caracteristicas do Sens Comum, 3, Sobre as caracteristicas da atitude cientifica, ha alguma delas que seja mais dificil de encontrar em uum projeto de pesquisa na area de ciéncias humanas ¢ sociais aplicadas? Justifique stia resposta, 3a Ciéncia, seus métodos ¢ classificagdes Capituls 2 Ciéncia, seus métodos ¢ classificaces A palavra cgnera, cm sentido amplo, significa ‘conhecimento” ‘ou qualquer tipo de ‘saber’. Em sentido estrito, ciéncia quer dizer conhecimento apreendido, registrado e demonstravel a partir da observagao, verificagao c experimentagio de fendmenos naturais ou fatos humanos do mundo real, Sendo assim, é preciso deixar clara a distingdo entre “Ciéncia” e “Conhecimento”, pois nem todo conhecimento € cientilico, conforme vimos no capitulo anterior, mas toda Ciéncia gera Conhecimento cientifico. AC culo XVI. Scu objetivo era e é dominar a natureza, descobrir :ncia Moderna tal como a conhecemos hoje nasceu no suas verdades sistematicas ¢ as leis que a governam. Até entao a abordagem do conhecimento era mais contemplativa do que propriamente experimental. Desejava-se controlar a natureza c para isso cla deveria ser conhecida em scus minimos detalhes, com a precisio de um relojociro, como diziam os primeiros cientistas naturais Para conseguir 0 dominio das leis naturais, o cientista necessita adotar uma série de procedimentos que devem ser aplicados com muito rigor na pratica cientifica. Sendo assim, podemos sintetizar a Ciéneia Moderna na seguinte equagao: Gam fuse eapresntastabathescatofcrs em contss accdemicas Experimentagio = Ciéneia Seguindo essa equagio 4 risca, seria possivel dar conta do fuxcionamento do ‘inundo maquina’ c controlar os mecanismos que regem as seres naturais, jd que a Ciéncia Moderna afirmaya cumprir esse objetivo, pois s6 a ela caberia + Estudar a natureza; oA + Revelar suas verdades near seus segredos; & sgredos; A Ciencia atribui-se a exclusividade na produgao de verdades sobre os fendmenos mundanos. $¢ ela teria condigdes epistemolégicas © metodologicas para descobrir ¢ revelar verdades, isto é, fatos universais, previsiveis ¢ imparciais Em outras palavras, apenas esse modo de conhecer seria capaz de chegar a realidacles repetiveis em qualquer parte do universo com previsibilidade de ocorréncia, porque utilizam rigorosanente métodos objetivos, sem a interferéneia cmocional do sujcito pesquisador. Nos séculos iniciais da Cigncia Moderna, 0s cientistas seguiam separadamente dois métadas diferentes em sua concepgao: 0 dedutive ¢ o induriro O que é um método de pesquisa? Método é uma forma de ordenar ¢ organizar etapas de lingir um objetivo espectico. Toda ago humana tem um métedo, um modo de farer, ainda que inconsciente, umaagio para 36 Antonio Carlos Xavier inconsistente ¢ pouco produtivo, Uns sie mais elaborados, mais sofisticados, mais complexos, outros, mncnes. Uns sfo cnsinados, outros sav aprendidosautonomamente, inyentados pelo sujeito. O fat é que até paraller este livro, precisamosaplicar um método de abordagem de leitura. © mais comum é seguir a erdem dos capitulos, iniciando pelas primeiras paginas até chegar As liltimas, Outra forma de ler este livro seria abordando capitalos especificos que mais interessam ao leitor. Fm uma acao investigativa, elaborar um metodo ¢ segui-lo € fundamental para obter sucesso na ci ipreitada académica A adogao de um método conscie te representa a lucidez do pesquisador em realizar movimentos estratégicos, organizados © plancjados com antecedéncia para executar um fazer com proclutividade ¢ transparéncia maximas. + Método Dedutivo © pesquisador inicta a pesquisa guiando-se por uma hipotese ou teoria sabre o funcionamento e caracteristices de um -guida observa, experimenta ¢ testa sua hipétese no laboratério ou ne campo determinado fendmeno natural ou humano, Fm se; de obsorvagio, Esses procedimentos confirmario a hipétese estabelecida antecipadamente pelo cientista ou a negario ao [inal da investigacio, * Método Indutivo © pesquisador inicia a pesquisa sem Tevar em conte qualquer hipotese ou tcoria sobre o funcionamento e caracteristicas de um detcrminaclo fenémene natural ou humana, A observagio, a7 Came fase exemplos de pesquisa empirico deseritiva: enquetes de opiniao, as de levantamento socioecondnico (Senso clo IBGE), as mercadol6gic s encomendadas por agéncias de publicidade, as psicossociais dos individuos. A grande maioria delas ¢ feita por institutes de lizados, para verificar muclangas no comportamento pesquisa espec + Pesquisa Explteativa B aquela que bus meio de anilise meticulosa, divisio do objeto investigado em detalhar os registros realizados por diversas partes, interpretacio fina das possiveis motivacdes € suas consequéncias, procurando relacionar os jatores determinantes para tais, Seu objetivo consiste em aprofundar a realidade observada para compreender seus pormenores, estando, por 4s60, mais sujcita a erros ¢ desvios interpretativos do pesquisador Ha fenémenos para os quais ndo existem explicagdes, Muitos cientistas insistem em forcar os dados a dizerem o que Thes interessam, 0 que Thes canvém, E preciso estar atento para nao cair nesta armadilha. + Pesquisa Experimental B aquela em que o pesquisador contrala ¢ manipula todas Antonie Carlos Xavior as varidveis sobre o fendmeno em observagao com a finalidade de imerpretar as reagdes ¢ modificagdes que podem ocorrer fere no objeto pesquisado, Neste caso, o investigador ins diretamente no fato ou no comportamento do sujeito. Lm geral, usa se outro fate ou sujeito como grupo de contrale que no sofre a intervenca um fato ou sujeito intacto para ser comparedo com o fato cu sujeito que receber as intervengdes do pesquisador. direta do pesquisador, Com isso mantém-se © Pesquisa-ACIO wz inteevengdes diretas E aquela em que 0 pesquisador na realidade social que se apresenta com algum problema. Ele interage de forma intensa com os sujeitos pesquisados ¢ com a realidade que o cerca, Além de constatar 0 problema ¢ suas causas, ele procura agir para soluciond-los de modo pratico © conscientizar os sujeitos envolvides sobre a melhor forma de evitar a ocorrGacia de tais problemas, Um bom exemplo para este tipo de pesquisa é o seguinte um professor detecta uma dificuldade de aprendizagem em seus alunos. Passa, onto, a observé-los até descobrir as causas. Em seguida, clabora e testa ele mesmo atividades pedagogicas que possam resolver a dificuldade dos aprendizes. Verificada a elicigncia das atividades propostas, 0 professor compartilha com seus colegas por meio de um relato oral de experidncia, da ta de artigo cientifico on até através de uma dissertagio de mestrado ¢ ou tese de doutorado, Neste tipo de investigacio, © cientista pesquisa enquanto age, propde mudangas que sio aplicadas por cle mesmo. a7 ome fuzere uproveter adele: cients m eontesneadinzes + Pesguisa Bibliognéfica E aquela forma de investigagia euja resposta € buscada cm informages contidas cm material grafico, sonoro ou digital estocadas em bibliotecas reais ou virtuais, O pesquisador faz um Jevantamento de trabalhos ji realizadas sobre um dleterminado tema e cataloga-osafim clerever, reanalisar, reinterpretare criticar procedimentos técnicos e pontos de vista tebricos considerados pelo autor da pesquisa ja “envelhecides” cu ineficientes. aa Antonio Carios Xavier hora de pensar un poueo sobre 0 que fol estidtado neste capisuto, As stividades 3 seguir devem ser cletmadae preferencialimante em dupla cujas respostas devem scr aprescntadas ¢ discutidas con toda a classe. g Responda: 1. Que € eo.que faz a Cidnelaé 2. Qual a importincis de métode ei acacémica? ntifice para ama pesguica 3, Qual « dilereocs cutee dedinean eopducony Ce ar ceemnplins jo induivo v outra sendo um de uma pesquisa que uulizow um que utilizou o metudy dedutive. “+, Relacione os ciferentes métodos as diferentes cienctas, 5. Comente a equacio: Precision + Previsio + Experimentacao Ciencia, De acordo com ela, como yout classifies seu campo de estude e sua pesquisa, caso youd j§ csieja deceavalvenda ou pretends desenvolver uma? : ene Pe Classificacla como pesquisa pura ou aplicala? Bor que? Aprisent caractoristioas da sua pesquisa que justifiquern sua dhusificagso como prs ot aplicada Be 6..\ preaquisa que voce pensa em farer-o 49 Frapas dle um projeto de pesquisa Capitube 3 Etapas de um projeto de pesquisa Quais scriam, nto, os passos para voc? comegar a fazer uma pesquisa? Quais as ctapas para se claborar um projeto? Essas sio questéies hem comuns ans estudantes universitérios de pradluagio © pés-praduacdo cujo desalioa enfrentar é empreender ‘uma investigagao cientifica mais cedo ou mais tarde. Blaborar um projeto de pesquisa nao é um bicho 180 fei quanto se pinta, Pesquisar pressupde organizar sistemuticamente aydes € procedimentos para obter um conhecimento determinado, Por sua vez, toda organizagio exige um planejamento ¢ este deve ser pensado por etapas. Fm goral, um projeto de pesqaisa segue trés etapas: excotha do tema, elaboragdo do projeto e a redagdo do texio. Depois de pronto, o projeto pode ser submetido aalguma selegao por instituigio publica ou privada a fim de viabilizar a empreitada inyestigetive com finandamento ¢ apoio Wenico para saa implementagao, Vejamos cada uma das partes da elaboragio de um projeto por vey para entendermos como montar uma pesquisa dentro das exigencias da Ciéncia Can faces eapsesntan tabatoscetices em evetes academics Escolha do Tema Tessa talver seja a etapa mais dificil de todas, porque serio necessdrias muita sensibilidade cientifica e uma aguyada perspicicia do pesquisador para eleger um tema diante de tantos que precisam ser pesquisados, Dentro de cada tema, @ pesquisador deve visualizar un problema que meresa uma investigagdo. Caberd a cle decidir qual dos diversos problemas dentro de um mesmo tema receberd sua atengio. Suponhamos que a rea de pesquisa seja educardo, o tema seja dificuldades de eprendizagem, cujo problema mais gritante soja a limitaya> dos alunos do ensino fundamentll e médio em lettara ¢ compresnsdo de texto. Observando os resultados apresentados pelos sistemas de avaliagdo do Ministério da Educayao nos iltimos anos!, 0 pesquissclor pereeberd que uma das dificuldades dos alunos destes niveis de escolaridade é a haiva capacidade de compreensco de texto. Sobie os sstemasctiias ce avalagde do Minster cs Euucagio Dreileio consular ote wnasmee gov 54 Antonio Carlo: Xavier Tanto o tema (dificuldades de aprendizagem), como 0 problema (limitacao no leitura © compreensdo de texto) si0 relevantes © merecem uma investigagao imediata. Nao basta encontrar ou descobrir um tema relevante, & preciso identificar um problema dentro dele, para realizar uma pesquisa de cunho cientifico, As vezes, o pesquisador iniciante gosta de um determinado tema, mas nao sabe exatamente enxergar dentro dele um problema, Enquanto nao for identificado um. problema a ser estudado dentro do tema, no hi motivo para cfotuar uma investigagao cientifica, Veja, por exemplo, © que fav um iavestigador da Policia. Em geral, seu tema é a vcorréncia de um crime, digamos, a morte de alguém. Para o policial, que deve ser um pesquisador nato, 0 problema sera descobrir se 2 morte foi natural ou provocada; se provecada, quema cometeu; se oi suicidio ouhomicidio, Sendoum homicidio, quais os implicados? Quem sio os provaveis suspeitos? Quais as razdes para o assassinate? Onde aconteceu? Como estava a cena do crime? Em que cixcunstincias 0 crime ocorren? A que horas? Tada isso deve ser levantado pelo investigador antes ¢ durante a investigayiio Para o policial o tema de sua investigaggo seré sempre uma ‘transgressdo a lei, Scu problema serd esclarecer as circunstancias e apontar os suspeitos de té-la cometido, Para isso, fard o cxame do lugar, do tempo ¢ de outras circunstincias om que o fato ocorreu a fim cle encontrar pistas ¢ indicios deixados pelo criminoso na cena do crime, coletando-os ¢ relacionando-08 a quem o crime esteja de alguma forma vinculado, Cabe a outros protissionais do sistema judiciério instaurar inquérito, protocolar dendincia-crime, solicitar a punigio, julgar o acusado ¢ executar a pena ou inacentar 0 1éu & (Gant fin seprooiten beatles sete on eronee edie © pesquisador académico deve-se deter aos temas de sua area de atuagio. Claro que podera sempre pedir ajuda a pesquisadores de outras areas, pois os temas esti naturalmente inter-relacionados. Quanto mais interdisciplinaridade, melhor Se o pesquisador é da area de educacio, por cxemplo, cle dovera procurar problemas a pesquisar clentro desta area, mas nio deve se limitar a esta area quando iniciar sua pesquisa. Deve buscar informagdes também em ourras proximas, Por exemplo, sendo.o pesquisador um professor de lingua materna ou estrangeira, devera voltar seu olhar para eventuais problemas com a aprendizagem desta, Deve também buscar subsidios de saberes ji descobertos ¢ publicadosem areas como psicologia (da aprendizagem), didatica, pritica de ensino, sociologia, histaria ete, ‘© material aser coletado dependeré do tema, do problema © do tipo de pesquisa escolhidos pelo pesyuisador, Em gerel, quando um problema surge dentro de um tema ¢ desporta © desejo no pesquisador de investigi-lo, caber’ a este, em primeiro lugar, fazer uma varredura bibliografica sobre livros, revistas especializadas, jormais, sites da Internet para ler tudo ou quase tudo que ja loi publicado sobre aquele tera ¢ problema, Fim segundo lugar, conhecendo 0 que jé foi dito sobre 6 tema © problema, 0 pesquisedor tera condigiies de saber se estard empreendendo uma pesquisa pioneira, inédlita sobre aquele tema c problema cu, se pelo menos, o enfoque, a perspectiva, o lugar, os sujeitos, o contexto sio diferentes ¢, por isso, mereceria uma nova pesquisa, Sé depois de ponderar a necessidade de realizar a investigayao sobre o tema ¢ problema jd investigado ouse souber que naa ainda foi examinado sobre a questo, 0 pesquisador podera colctarscu material no campo, lugar em que o fendmeno 56 etnias sexeeearentun mesa ‘Antonio Cantos xavier a scr examinado de fato ovorre, ou em banco de darlos arquivades analdgica, eletronica ou digitalmente, O que um pesquisador ndo pode fazer € “procurar chifre em caboga de cavalo”, isto &, enxergar problema onde ele nao existe ou ja se Lenham descaherta solugdes razoaveis e satisfatorias para cle, Outra coisa que o pesquisador nfo deve fazer & procurar descobrir “qual a cor branca do cavalo de Napoleio Bonaparte”, ou scja, nao deve investigar um problema cuja solugao esteja bem absixo do seu nariz ¢ s6 cle nao consegue vé-la, Neste caso, submeter o tema ¢ 0 problema a avaliagdo de pesquisadores experientes da area € ama atitude de humildade recomendavel iante que evitara yexame ¢ perda de tempo ao pesquisador i ow ingénvo. Porisso, a escolha do temac principalmente a identilicagio de um real problema de pesquisa merecem a maxima ateng 0 onitério do pesquisador a firm de que todo 0 investimento de tempo, recursos financeiros ¢ emocionais possam valer realmente a pena e justifiquem a realizagio de uma pesquisa cientifica Ademais, um pesquisador nio deveria se ocupar de tema 4 tratado por outre pesqnisador para no “chover no mothado” HA pesquisadores que pensam ter descoberto a pélvora quando escolhem investigar um problema sem antes ter verificado se jd fol pesyuisido por outros. © olhar de outros pesquisadores poderd indicar a nevessidade de corregio cm procedimentos metodoligicos © evitar equivocos conceituais nie pereebidos pelo pesquisador tio envolvide até mesmo emocionalmente com a produc o do seu projeto. Amesmaatitude de humildade vale paraaescrita de textos, E sempre bor ouvir com receptividadle as criticas verdadeiramente 87 Cams Janes apresentan eae cowices um euantes excdmkos construtivas que naturalmente vém do professor ou colega que realmente interessado em ajudar, No que toca ao projeto de pesquisa, antes de escolher 0 se mostre tema ¢ o problema para nossa investigacio, deveriamos adotar cinco atitude portantes, que nos poupardo constrangimentos faturos. Sao clas: + Avaliar a relevancia humana, social ¢ cientifica da pesquisa; * Verificarse otemac o problema ja foram examinados antes, por quem, como, onde ¢ quando; + Saber o enfoque que dara ao problema, caso 0 tema ¢ 0 problema jé tenham sido pesquisados por outros, mas com outro foce, em outro pais e hé muito tempo + Identificar a viabilidade ética, técnica ¢ financeira da pesquisa sobre o tema ¢ problema escolhidos; * Gostar do tema ¢ empolgar-se pela descoberta da “Solugie” para o problema de pesquisa identificado Como podemes perccber, 0 policial investiga problemas importantes que cle Jo procuta, enquanto © pesquisador acedémico procura por problemas relevantes a investigar. Ambos cumprem sua fungio social a saz maneira. A civilizagao contempordnea pr de ambos. ‘Antonio Carlos Xavier Elaboragdo do Projeto Fazer bem qualquer coisa na vida nos 8 trabalho, ou seja, exige nosso lhhor, grande estargo pessoal e muito suor do nosso. rosto, Quando falamos de projeto, entio, toda concentragio mental c fisica é pouca, Projetar quer dizer programar com detalhe arealizagio de ui desejo ou de um sonho. Assim, a elaboragio de umn projeto de pesquisa académico exigita muita determinagio, imaginagio e disciplina a fim de programar cada etapa e segui-la com atencio, mas também com Hleaibilidade, © projet ¢ 0 guia, ¢ 0 mapa do pesquisador durante scu percurso de navegagio investigativa. Entretanto, cle néo poder se prender rigorosamente as etapas previstas no projeto de modo anio mexer ou mucar o planejado, se necessivio for, quando ida sua execugio. fato ¢ que nenhuma investigacao deveria acontecer sem © suporte de um projeto de pesquisa que lhe dé sustentagio, que The sejaoroteiro, Por isso, solicitar aavaliagao de outros pesquisadores da area sobre a validade ¢ pertinéncia dos procedimentes tedrico metodolégicos propostos na pesquisa é de fandamental importincia para o sucesso da aco investigadora 59 ama fase esuasntin thats ctfians om cnstas acadimions Redasdo do texto Fata é atiltima ¢ decisiva parte da elaboragio de um projeto de pesquisa académico. A apresentagio do texto do projeto devera seguir rigorosamente a seguinte ordem: + Capa: titulo, subtitulo, arcac subarea da pesquisa, nome do pesquisador, nome do possivel orientador, local, més & ano; + Pagina 1: Intraducio com problematizago do tema, justiticativa e hipotese; + Pagina 2: Objetivos; goral especiticns + Paginas 3 ¢ 4: Fundamentagao tedrica ¢ relato de outras pesquisas sobre o tema; + Pagina 5: Mctodologias + Pagina 6: Cronogsama de uabalho; + Pagina 7: Reteréncias Antonio Carles Xavier ama face eapnesenten tabs cetificns em enetes asadimees \ one -Referendas ss ss + Lys, + Revistas centtcas: Dictonaris + Stes As advidades.9 seguir devern ser ena. preferencialmente em upla enjas 1 fepone ‘ever ser apresentadas ¢ discutidas com toda Cy «a Géneros textuais académicos Captule 4 Géneros Lextuais académicos Ha varios géncros textuais que podem ser classificados como académicos por estarem inseridos na universidade ou laboratérios de pesquisa, tals como: Projero de Pesquisa, Resumo, Resenha, Artigo Creatifico, Monografia, Dissertagito e Tese. Neste capitulo, vamos estudar como alguns deles sto constitiides o caracterizados linguisticamente, Vamos conhecer sua estrutura textual e sua forma de organizagio interna para aprender a produvi losadequadaceficientemente, Comegaremos pelo género textual Projeto de Pesquisa Género académico: Projeto de pesquisa Trata-se de um documento escrito que deve canter as diretrizes gerais ¢ as ideias principais de um estudo cientifico que se deseja realizar, Ele € 0 ponto de partida para a execugi da invostigag2o académica em niveis de graduagio © pos graduacio, fundamental ¢ medio mas tamhém pode ser produzide no ens igor Alem de funcionar como um script para o estudioso, © projeto é uma pega fundamental para solicitar com menor 85 Game frsere oprosentor tates ceatfice em ecntesccadimicas financiamento aos rgaos de fomento e materializar eletivamente a intengio de investigagao. Como vimos no capitulo anterior, sao itens obrigatérios no projeto de pesquisa: a) Dados de identificagdo: * Titulo » Subtitulos + Area da pesquisa; + Subirea da pesquisa; * Nome do pesquisador:; + Nome do possivel orientador; * Local, més ano; bj Justificativa Exposiggio dos motives que levam 4 realizagéo da pesquisa, explicitande a limitagao espacial e temporal do problema, bem como a descrigio da situagao 2 ser pesytisada A justilicativa responde @ pergunta; POR QUE realizar a pesquisaz Nesta parte do projet, 0 pesquisador deve apresentar as ragdes sociais, ccondmicas, politicas, historicas, educacionais entre outras que o motivaram alazé-lo, Duas coisas precisam ficar claras na justilicativa, pois responderdo 4s seguintes indagaydes: 1. Qual a importéacia nio académico da investigagio? 2. O que o cidadao comum e a sociedade em geral ganhardo com sua execugie? Antonio Carles kavier Tomemos como exemploo tema (dificuidade de aprendizagem) co problema (limiacio em leitura e compreensi de texto) relacionado as competéncias basicas de todo cidadao contemporinco, Para justilicar uma pesquisa com esse tema, o pesquisador devers lembrar que, embora haja pesquisas que tenham tratado desta temitica ¢ problema, ainda nao foi cncontrada uma solugio pritica ¢ detinitiva para ele. Ao realizar uma pesquisa sobre essa quest@o, © proponente deve mencionar que ¢hficuldades social ¢ cic comprecnsio provacam problemas de ordem econdmica para os individuos. Com pouca capacidade de discernimento ¢ interpretagio de informagies, as pessoas poderio sor facilmente enganadas por outras mais “espertas” ¢ te (o uma baixa produtividade cm suas afividades profissionais, Consequentemente, perderao com isso tanto individuo Limitedo cognitivamente quanto a suciedade na qual ele se insere A justilicativa do pesquisador buscara mostrar a necessidade urgente de aumentar as possibilidades de apreadizagem dos alunos por meio da ampliagio da sua capacidade do ler, compreender © interpretar cocrentemente os diversos textos verbais e nio. verbais que circulam nos espages sociais, Por conseguinte, melhores leitores poderao acelerar os processns de producao de bens matcriais ¢ simbdlicos ¢ gerar um volume maior de agoes ais civilizadas e racionais na sociedade em geral, __» Nioimporta a drcaa que ele esteja vineulado; todo projeto de pesquisa deve convencer seus leitores ¢ principalmente seus financiadores da importancia material de sua realizagao. Ainda que se trate de um projeto de pesquisa pura, € preciso construir um quadro, na justificativa, que permita a viswalizagao do sea valor social ¢ de seu papel na melhoria da vida humana. 67 Coma fazer aprevntas nals semtfins om eontes atin ¢) Objetivo Todo projeto cientilico pretende conkecer um fe fate ou comportamento, procura propar uma sohucan criativa e preferencialmente inovadora para um problema insurgent. Por meno, isso, 0 proponente do projeto tem que cxplicitar qual é 0 objetivo (0 os objetvos especificasa eral da pesquisa, alémm de detalhar quais s sevem aleangadus ap linal da jornada investigativa Assim, no objetivo, o pesquisador tentara responder & pergunta; PARA QUE realizar a pesquisa? Devem ficar evideneiadas nesta parte respostas as quests: Quai 0s ganhos reais quea area de estudo vai obter com a realizacao de tal pesquisa? + Quais as contribuigdes conceituais deixadas por cla ao final de sua execugio? + Quais serdo os avangos Ledrico-metodoldgicos visualizados pelo pesquisador com sua investigacao cientitica Listar os objetives especificos em forma de item devidamente enumerados facili pa 2.0 pexisador harmonizar cam as teorias que dario sustentago as anélises dos dads. [sso tambem permite que o leitor/financiador avalie com mais certeza arclevancia dos objetivos especiticos em relacgao ao objetivo geral ¢, principalmente, sua pertinéneia em relagae ae problema a ser solucionado pela investigagéo, No limite, 0 objetive de uma investigagio sera sempre resolver ov problema que a motivou. Se no solucionar problema, a pesquisa nio foi totalmente hem sucedida. 68 ‘Antonie Carlos Xavier d) Questdo de Pesquisa © probleme motivador citadoacima échamado tecnicamente de Questdo de Pesquisa, Ela é 0 foco de toda a investig permecia implicitamente todas as fases de execugio da pesquisa, aydo © Funciona como © maior desafio do pesquisador, que nao deseansara enqnanto nfo achat tuma resposta coerente, simples © convincente para cla Utilizando o mesmo exemplo de tematica ¢ problemstica jacitado, podemos dizer que a questao de pesquisa poderia estar assim elaborada: Como solucionar ow diminuir as limizagier em leitwra e comproonsio texital das alana? Cutra formulagio para esta Questo de Pesquisa poderia ser a seguinte: Que atividacles¢exercicios poderdo ser propostos para ajudar (0s alunos a compreenderem melhor os textos que lem? Certamente a formulagio da segunda questao de pesquisa intenciona atingir os mesmos propdésitos da primeira, mas apresenta-se mais detalhatla. Ambas identificam um problema Climitagdo em leiuuea ¢ compreensio de texto} ese referem indiretamente a0 como ele poderia ser solucionado. Na prépria formulagio da segunda, encontra-se uma proposta de solugio embutida, © «ue nio acontece cont a primeira questo formulada, A segunda pressupde que ha atividades pedagdgicas (exercicios) que podem ajudar, em alguma medida, os alunos a melhorar sua capacidade 6g Can fae peisentan tat ctfcas emcmntas aceon de compreensio de textos. Ja a primeira questio, pressupie a diminuigio dessa limitagio, admitinde ax poucas chances de se encontrar uma solugio definitiva para 6 problema: Note que a primeira formulagao da questan de pesquisa pressupde a existéncia do problema, mas nao tem ideia de como resolvé-lo, Logo, © pesquisador nao tem qualquer hipétese de respostaa questio, Durante o desenvolvimento da investigacio, cle podera ter insighes, isto &, boas suposigées de resposta, Nem toda pesquisa precisa apresentar uma hipdtese, mas sera nauito bom que a tenha Uma hipétese de trabalho depende de varios fatores, Um deles, como vimos, é come a questao de pesquisa é formulada Isso € o que acontece com a formulagio da segunda questo, Ela sugestiona que devem ser propostas atividades pedagogicas, ainda niio especilicadas. Elas poderao ser especilicadas na hipétese de trabalho, uma parte importante do projeto que comentaremos a seguir no item e Alertamos para 0 fato de que Questo de Pesquisa deve sempre estar explicita no projeto, ainda que diluida no texto da introdugio do trabalho, Uma vez identificada, ela ajuda o lettor/ avaliador a entender gual a motivacio agente quc valha ¢ pena realizar 0 projeto de pesquisa, Ela também recebe os seguintes nomes: Problema de pesquisa, Pergunta de pesquisa ¢ Problematizagao (do tema). Se 0 pesquisador optar por trabalhar corm a segunda questo de pesquisa formulada no exemplo anterior, o objetivo geral pode ganhar a seguinte claboragdo, considerando o tema cm tela: 70 Antonie Carlos Xavior Osjerv0 Grea Ferificar em que aspertos do proceso de compreensdo textual 0s alunos tém apresentado mais dificuldades © prepor atividacles pedagdgicas que oF ajudem a super las e) Hipstese Trata-se da proposta de solugo para a questao de pesquisa. Por ser uma pequena afirmagao (hipo + tese), ela deve ter 0 formato de suposicio, uma resposta nao definitiva, ja que sé depois dacxecugio do projeto é que o pesquisador poderd alirmar com certeza que sua hipétese foi comprovada, O contrario também podera acontecer, on seja, sta hipétese podera nao se comprovar e ele deverd ter honestidade cientifica suliciente para assumir 0 equivaco da sua hipdtese. Esse € um risen que correm todas as pesquisas e seus respectives proponentes. Lembremo-nos de que, ao objetito geral, © pesquisedor rrewalta por quc cle quer pesquisa o tema "X” que tem um problema “Y" a ser resolvido, Na hipatese, ele imagina uma solugio vidvel para tal problema, Fntio, a formulacio da hipdtese deve sempre estar no campo das possibilidades e nono das certezas. Yejamos um exemplo de formulagao de hipotese a seguir: A capacidade de compreensao textual dos alunos pode ser ampliada se as avividades pedagdgicas propostas em sala de aula pelo profesor explormem 9 enriquecimento do vocabulirio, por meio da leicura de cextes diversos, prodlugo de panifrase orale esrita de textos lids ¢ ouvidos, hem como enfatiar os processos de inferincia e retomadas de termos semanticamente correlatos no texto. Cums frzer caprsentac trabuthos cialis am evntesasealivcas Posta dessa forma, pesquisador, leitor ¢ avaliador do projeto terio dareza quanto 20 qne sor’ feito ¢ aonde padera o projeto chegar se cumpridas suas etapas obrigatorias, A hipdtese funciona como uma espécie de antecipagao de resultados ou resultados esperados, um. componente importante em projetos de pesquisa que pleiteiam financiamento 3 purta de algum orgio publica de fomento ou de uma empresa privada patrocinadora J) Fundamentagio Tedrica Refere-se ds Leorias relacionadas ao assunto ila pesquisa. Sio propostas de explicagao de determinados fendmenos defendidas por quem jd cealizou uma pesquisa sobre tema afim que poderio ajudar na shordagem ¢ vompreensio do problema ¢ auxiliar na busca de uma solugéo. O pesquisador, ao tratar da limitagdo om leitura compreensio de textos dos alunos (problema de pesquisa), poderd utilizar as teorias jé publicadas no “mereado acadéinico” sobre o tema, As teorias normalmente se consagram quando funciona como modelo de explicagio © compreensiv para certos fendmenos humanos ou naturais. Para o tema acima, o pesyuisador deve conhecer bem as diversas teorias ja propostas para clucidar © processamento da leitura, que vai da decoditicagio das lotas 4 produgio de Inferéncias, passando pela incvitavel relagdo entre palavras © assuntas inter-relacionados. Quem far pesquisa académica se informa bastante sobre as propostas Leéricas da ica que escolheu pesquisar. Ele tom que conhecer os resultados a gue chegaram outras investigagées similares que se valeram de experimentos cientilicos e fizeram andlises ponderadas préprias 72 Antonio Carios Xavier + Listar um levancamento bibliogratico em bibliotecas especializadas reais © virtuais; + Consultar livros, artigos cientifices, pesqnisas concluidas, monogralias, dissertagdes e teses finalizadas ¢ bancos de dados de érgios de fomento% + Navegar intensamente om websites ¢ videos disponiveis na Internet pustados por autores dedicados 20 assunto; + Procurar a orientagio de um pesquisador mais experientes + Elaborar resenhas com sinteses comentadas das teorias sobre v tema mais conhecidas ¢ respeitadlas pela comunidasle académmicas Seguir esses passos evitard que nés percamos horas preciosas pensando sobre qual seria a melhor teoria para auxiliar as analises dos nossos dados. Nés pesquisadores devemos decidir sobre que Worla(s) pretencemos usar na pesquisa antes mesmo de comeyarmos a coletar o corpus, Ler as reseubas das teorias contichs em artigos centilicos, monogralias, dissertagdes, teses vainos dar uma ideia do que ¢ e como devemos fazer afundamentagio teérica do nosso trabalho. > A Capes cispenibiisa un serige de divulgngso de elzzertagées © tess js defendidar © aprovadas, ler dectriga 9s Programas Pes Graéuacao ro tras a debnar acestvels em seu site todas os tatalhos procures los unos que estudaram no Programa 1a claborar a Fandamentagao Teériea, o pesquisidor deve Come facers opresnton abales sintfises am eusntes asad 4g) Metodologia Refere-se a am conjunto de procedimentos metodolégicos que revelam como, quand © com quem a pesquisa sera fovta, qual o universo da amestra a ser pesquisado, ou seja, quantos & quais os objetos ¢ /on sujeitos-informantes serdo investigados. Fla deve detalhar os instrumentos ¢ equipamentos tecnologicos que serio aplicados para realizar os testes ¢ coletar os dados. Nesta parte do projeto, © pesquisador com que prever quanto tempo, rd feita, bern delinir » espago fisico no qual a coleta dos dados s como cnumerar aquantidade de fendmenos ou sujeitos que serio abservados cientificamente Para isso, ele deve levar em conta as varidveis fixas & circunstanciais que atuam no lugar onde sera colctado o material ow os fatos que afetam os sujeitos investigados, Em outras palavras, todo projeto tem que antecipar a amostrayem de dados que dimensiona como suficiente para reccher a anilise, ainda que seja necessirio coleta-los novamente. Denominamos corpus tudo que lor tamado pelo pesquisador como objeto a ser analisado tonha ele materialidade ou nao. Isto é, os dados podem ter materialidade concreta com tamanho, dimensio, espessura, peso, volume, forma, cor, cheiro, tangibilidade tal como uma planta, um olho, um virus, um tomo ete. . Dados também podem ser ages abstuatas tais como comportamentos humanos em gestos ¢ discursos orais ou escritos que evidentemente precisarao ser registrados de alguma forma, scjp em desenhos, fatografias, videos, clescrigées escrita. Em uma palavra, corpus ou dades sto informacéies sobre © universe de amostra que estard sob 0 olhar clinico e criterioso do pesquisador. Antonio Carlos Xavier g-1) Existem dois vipos de universe de amestra em pesquisa cuemifica + Amostra Ampla-composta pela totalidade dos dados coletados: ¢ + Amostra Restrita — constituida por parte dos dados escolhidos pelo pesquisador para receber sua atengio total Vejamos alguns exemplos do que normalmente é coletado Em ciémias naturais, os exemplos mais comuns de objetos observados sio: dtomos, matéria, corpos colestes, mmnerais, vegetais, animais, agua, calor, tera, ar, teoremas, axiomas, formulas diversas, equacdes ligicas ete. + Em ciénciay aplicadas sdo: leis, programas de computador, pregos (valores) de produtos, relatérios financeiros ete. livros, docamentos escritos, lotograficos, depoimentos ¢ discursos registrados em video, audio ete. + Em cigncias humanas s prais, agdes g- 2) Intrumentos de coleta de dados pare a andlise, conforme a arca de conhecimento da pesquisa. Aescolha do que se vai coletar dentre os varios objetos cu sujeitos possiveis precisa ser combinada com os instruments para coleta-los. Pretender estudar o discurso de membros de uma banca no momento da deliberagio sobre o Labalho 78 sae caprerent teahathas denis ome antes ericas cicntifico apresentado pode ser inviabilizado pela falta de acesse de equipamentos de audio ¢ video no ambiente para captar as falas ali efetuadas, que serio os dadas a ser analisados, Fm outras palevras, toda pesquisa precisa de dados para analisar ¢ eles s6 sio coletados com instramentos adequadas para isso, Em ciéncias humanas, ha varios equipamentos que tém sido tradicionalmente uiilizados para realizar a coleta do corpus. Os mais comuns sav: g 2.1) Questionérioy com perguntay previamente formuladas pelo pesquisador ou elaboradas na casio, ao sabor da encrevista Deve so, neste caso, estaratente para nio perder o face ¢ tomar © questionario perdulario. Eles possibilitam a ampliacio do conhecimento gcral c especifico sobre o sujeite e tambem poderao explicar suas caracteristicas em face an contexto que o envolve Lembremos que as questaes da entrevista nd podem intimidar pricologicamente o informant relato espontineo que deixe pistas para 6 posqpisador trabalhar As perguntas devem permitir un sobre elas posteriormente, Assim, um questiondrio pode ser: + Estruturado, ou seja, elabora-se uma lista com questes cujas respostas previsias podem ser fechadas (sim, nio, ¢ alternativas a assinalar) ow abectasy + Semi Furmurade, isto 6, claboram. se apenas algumas questdes mais amplas ¢ outras si construidas ocasionalmente de acordo com as ostas do entrevistado, Ambos os tipos de questionirios deven ter cbsiamente come base res ocixo temitico da pesquisa; Amtonio Gerlos Kavier 4g. 2.2) Protocolos verhais ~ So registros escritos ou gravados em Audio € video das falas, ¢ dos comentarios do informante, enquanto realiza a agav solicitada pelo pesquisader. ‘Também sio registrados os movimentos corporais ¢ atitudes para explicar determinados acontecimentos no ambiente de coleta de dados 4g. 2.3) Anctayes de campo ~ So registros escritos da situacio geral (lamanho, comprimento, altura, largura, espessura, volume, temperatura, pressdo, lugar, tempo, modo, entre outros descritores do fendmeno em foco) em que a coleta do material se daray 4g: 2-4) Tostes—goralmente so aplicados para verificar reagbes lisicas instintivas ¢ naturals do objeto ou averiguar as atitudes comportamentais do sujeito reveladas por seus gestos e discursos falados ou escritos em diferentes situagdes vivenciadas por ele. Os testes também serve para permitir ao pesquisador conhecer 6 que acontere com o objeto out sujeite quando submetide a uma determinada condigao fisica, social, politica, ccondmica, psicologica. 4g. 2. 5) Expenmentagéo em eqtipamentos de stnulegdo em ambiente Virtual — Sahemos hoje que, com a evolugio tecnolégica, muitos experimentos podem ser feitos submetendo os informantes a situagdes simuladas em maquinas que replicam realidades. Uma boa vantagem desse tipo de experimenta €a auséncia do risco fisico para o informante, j8 que tedo é virtual, com a possibilidade de recriagao de momentos histéricos irreprodutiveis no mundo real, bom como a oportunidade de inventar situagées fisicamente improwiveis para certos acontecimentos, Ffcitas de computagio grifica podem simular maquetes dindmicas para reproduir as lasesatribuidas ans clementos quimicos supostamente envolvidos na origem do universo, de acordo com a’Teoria do Big 7 ome acess eprisintes tables coftes am antes accdiicos Bang. Os ambientes virtuais so ox “lugares” mais adequados para se procedera coleta de dados para pesquisas expecificas como, por exemplo, as sobre o fincionamento cerebral humano em situagies de dor, perigo, prazer etc, Nestes ambientes, o sujeito é levado a apenas pensar em agir de determinada forma, a maginar certas ay natureva virtual do espaco de teste: s, mas nio tém que concretizé-las realmente em razio da A performance de um piloto de corrida de automével pode muito bem ser avaliada em jogos cletrdnicos nos quais um acidente por impericia ndo 0 machueard nem haver’ qualquer dano material no carro, Muitas empresas tém utilizado ambientes virtuais para selecionar candidatos as suas vagas. Colocam-aos em situagées hipotéticas de gestio thenica e de relacionamento pessoal para, dessa forma, saber coma cles lidam com clas, Q erro nio provoca qualquer prejuizo 4 empresa, pois esto fazendo apenas ‘uma simulagao. Um professor, por exemplo, que anuncia a classe que vai colecionar os textos escritos por scus akmos para tomi-los como compas de uma pesquisa pader’ tirar'a espontancidade dos escritos deles. De outra sorte, um observador que usa o proprio filho como sujeito observado de sua investivagdo pode levar ao deserédito as conclusiies a que chegar em razao do alto grau de envolyimento afetivo entre observador c obs ervado, Este € 0 chamado panos doobservador, muito comum cm pesquisas de natureza sociolégica, antropolégica e linguistica. Um estudioso da relag 0 linguagem ¢ socieclade, o inglés Willian Laboy (1975), chamou a atengao para esse fato quando precisou coletar dados para suas pesguls socivlinguisticas Ele admitin o paradoxo, mas argumentou nao haver outra 78

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