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2020 PNE 1 - Principais Doenças Pulmonares
2020 PNE 1 - Principais Doenças Pulmonares
1
Cap. FUNÇÃO RESPIRATÓRIA
INTRODUÇÃO E ANÁTOMO-HISTOLOGIA
Fig. 2
Após diversas bifurcações sucessivas, os brônquios originam os
bronquíolos – pequeninos condutos, com menos de 2 mm de diâmetro e
desprovidos de cartilagem e glândulas submucosas, porém com uma
acentuada camada muscular lisa. De cada bronquíolo terminal (1 mm
de diâmetro) forma-se um ácino – a unidade funcional respiratória.
VENTILAÇÃO PULMONAR
O lóbulo pulmonar é a estrutura anatômica que reúne três a cinco
A ventilação é o processo de entrada e saída de ar nos pulmões a cada
ácinos, sendo definido como a porção de parênquima pulmonar
ciclo respiratório, dividida em duas fases: a inspiração (entrada de ar nos
envolvida pelos septos de tecido conjuntivo, por onde passam vasos e
pulmões) e a expiração (saída de ar dos pulmões). Os responsáveis pela
nervos. O lóbulo pulmonar possui a forma de uma pirâmide cuja base
ventilação pulmonar são os músculos respiratórios, em especial o
está voltada para a superfície pulmonar. São esses lóbulos que dão o
músculo diafragma (o principal) e os músculos intercostais. Esta
aspecto de “colmeia” à superfície dos pulmões, como se nota na
musculatura esquelética recebe uma rica inervação, através do nervo
FIGURA 1A.
frênico, nervos intercostais e nervo vago. O controle da ventilação
espontânea é executado por centros neuronais localizados no bulbo,
mas que recebem influência de outros centros do tronco encefálico. A
nossa ventilação procede de forma involuntária (você nem se dá conta
de que está respirando...), controlada pelo centro bulbar, utilizando para
isso mecanismos de automatismo intrínseco, de arco-reflexo mecânico e
a influência das concentrações de CO2 e O2 no sangue arterial e no
liquor. Apesar de um efetivo controle involuntário, se quisermos,
podemos interferir voluntariamente em nossa ventilação...
MECÂNICA VENTILATÓRIA
2
Cap. ASMA
Este capítulo está dividido em quatro partes: (1) conceitos gerais; (2)
manejo de pacientes adultos, adolescentes e crianças com idade entre 6-11
anos; (3) manejo de crianças com idade < 6 anos; e (4) farmacologia das
drogas antiasmáticas. Faremos aqui uma compilação da literatura mais
recente sobre o tema, utilizando como referências os principais tratados de
medicina interna e guidelines internacionais.
VIDEO_01_Mozart_PNE1
INTRODUÇÃO
QUADRO DE CONCEITOS I para alívio sintomático... Como estes últimos não evitam o
remodelamento brônquico, os pacientes evoluíam com perda
progressiva da função pulmonar, sendo esta a verdadeira causa da
maior mortalidade!!!
A asma é caracterizada por um tipo especial de inflamação
crônica nas vias aéreas inferiores, de etiologia desconhecida,
que predispõe a surtos de broncoespasmo reversível,
FENÓTIPOS ASMÁTICOS
acompanhados de manifestações clínicas estereotipadas
(dispneia, sibilos, tosse e aperto no peito). Na ausência de
tratamento adequado, pode ocorrer remodelamento Não sabemos ao certo o que causa a asma, mas as evidências indicam
brônquico, levando à perda irreversível da função pulmonar. que diferentes mecanismos etiopatogênicos podem ser operantes, ou
seja, trata-se de uma condição heterogênea.
Isso faz com que sejam descritos grupos de pacientes com características
demográficas, clínicas e patológicas peculiares, os chamados “fenótipos
EPIDEMIOLOGIA asmáticos”. Todavia, até o momento, não há muita utilidade prática em
se enquadrar o paciente numa dessas categorias... Os estudos
A asma é uma das doenças crônicas mais comuns, afetando 1-18% da disponíveis não permitem traçar condutas diferenciadas em função do
população em diferentes países. Estima-se que existam cerca de 300 fenótipo, sendo as estratégias diagnósticas e terapêuticas essencialmente
milhões de asmáticos no mundo, com algo em torno de 250 mil óbitos as mesmas para a maioria dos asmáticos. O tratamento guiado pelo
anuais pela doença. No Brasil, provavelmente mais de 20 milhões de fenótipo parece ter alguma utilidade somente nos portadores de “asma
pessoas têm asma. refratária”, conforme será visto adiante.
A prevalência da asma aumentou nos países ricos nas últimas três Os principais fenótipos asmáticos são descritos na Tabela 1.
décadas, mas agora parece ter se estabilizado (p. ex.: nos EUA, 15% das
crianças e 10-12% dos adultos têm asma). Nos países em
Tab. 1
desenvolvimento a prevalência tende a ser mais baixa, porém, vem
aumentando em proporção direta aos índices de urbanização. Principais Fenótipos Asmáticos
Hormônios crises podem melhorar com a reposição persistente, leva ao remodelamento brônquico. Observa-se deposição de
de altas doses de progesterona. colágeno na membrana basal do epitélio, porém isto é apenas um
Disfunção tireoidiana (tanto hipo quanto marcador de infiltração eosinofílica, já que é igualmente encontrado na
hipertireoidismo) também pode agravar bronquite eosinofílica não asmática (condição caracterizada por tosse
PATOLOGIA
Já os linfócitos Th2 secretam IL-4, IL-5 e IL-13. A IL-5 recruta e Raramente a crise asmática causa insuficiência respiratória aguda! A
ativa eosinófilos, enquanto IL-4 e IL-13 estimulam a produção de gasometria arterial do paciente costuma mostrar apenas
IgE pelos linfócitos B (que após secretada se liga à superfície de HIPOCAPNIA, isto é, queda da pCO2, devido à hiperventilação
mastócitos e basófilos, tornando estas células hipersensíveis ao alveolar (alcalose respiratória aguda). Esta alteração é naturalmente
antígeno em questão). A resposta Th2 se traduz clinicamente nas esperada em qualquer paciente taquipneico...
síndromes alérgicas, e sua persistência resulta em doenças
crônicas caracterizadas por reações de hipersensibilidade, como a Por outro lado, se houver normo ou mesmo hipercapnia (pCO2 normal
asma. O sistema imune "virgem", como o das crianças pequenas, ou aumentada, respectivamente), temos um importante sinal ominoso,
possui uma tendência natural à resposta Th2. No entanto, seu indicando que o paciente está entrando num processo de fadiga
amadurecimento desfaz esse "viés", fazendo predominar a progressiva da musculatura respiratória, devendo ser intubado e
resposta Th1. Nas doenças alérgicas (atopia), devido a interações colocado em prótese ventilatória. A fadiga tende a aparecer de forma
entre fatores genéticos e ambientais, esse amadurecimento não mais precoce nas crianças asmáticas com menos de dois anos de idade...
acontece de forma plena...
FISIOPATOLOGIA DIAGNÓSTICO
Como vimos, a principal alteração fisiopatoló-gica da asma é a A confirmação do diagnóstico de asma em pacientes com idade ≥ 6
obstrução variável e reversível ao fluxo aéreo, que ocorre de forma anos envolve o reconhecimento clínico de um padrão sintomático com-
predominante na fase EXPIRATÓRIA da respiração. Isso acontece patível com a doença ASSOCIADO à demonstração objetiva de
principalmente devido ao broncoespasmo (contração da musculatura lisa obstrução variável e reversível ao fluxo expiratório. Observe a Tabela 5.
brônquica), mas também em consequência ao edema da mucosa e à
hipersecreção de muco no lúmen da via aérea.
Tab. 5
O parâmetro espirométrico mais afetado é o Volume Expiratório Sugerem Asma... Não Sugerem Asma...
Forçado no 1º segundo (VEF1), que diminui subitamente. A relação
VEF1/CVF (índice de Tiffeneau) se reduz, atingindo a faixa dos ● Mais de um tipo de ● Tosse isolada (exceto em
distúrbios obstrutivos da ventilação (< 0,75-0,80 em adultos ou < 0,90 queixa respiratória crianças).
em crianças). O Pico de Fluxo Expiratório (PFE), que pode ser medido concomitante (dispneia,
● Expectoração mucoide
com aparelhos portáteis (“fluxômetros”), também diminui, sendo, sibilos, tosse, sensação
crônica.
entretanto, um parâmetro menos fidedigno do que o VEF1 medido por de aperto no peito).
espirometria convencional. A resistência das vias aéreas aumenta, e ● Dispneia associada a
● Piora dos sintomas à
pode ocorrer hiperinsuflação pulmonar (aprisionamento aéreo), com parestesias ou lipotimia.
noite ou no início da
aumento do volume residual pulmonar. A pletismografia evidencia estas
manhã. ● Dor torácica anginosa.
últimas alterações.
● Variabilidade na ● Dispneia esforço-induzida
frequência e intensidade associada a estridor
Na asma grave, um aprisionamento aéreo muito intenso, com dos sintomas. inspiratório.
aumento desproporcional do volume residual, pode reduzir a
● Início ou piora dos
Capacidade Vital Forçada (CVF), fazendo a relação VEF1/CVF
sintomas após contato
ficar artificialmente "normalizada". Nesta curiosa situação, como
com desencadeantes
tanto o VEF1 quanto a CVF serão baixos, pode-se ter a falsa
típicos (ex.: IVAS,
impressão de um distúrbio restritivo da ventilação... Clinicamente,
alérgenos).
no entanto, em tais casos não costuma haver dúvida quanto ao
diagnóstico de asma, pois a história é geralmente típica...
Obs.: (1) A explicação para a piora dos sintomas durante a noite/início Faz-se isso diariamente, e em seguida realiza-se uma média ponderada
da manhã é a variação fisiológica circadiana do tônus broncomotor, com
predomínio do sistema colinérgico (broncoconstritor) durante o sono; (2) de todos os valores obtidos ao longo de 1-2 semanas. Recomenda-se que
Em crianças pode ocorrer a chamada “asma oculta”, manifestada o mesmo fluxômetro portátil seja utilizado, haja vista que aparelhos
clinicamente apenas por tosse mas com demonstração objetiva de
limitação reversível ao fluxo aéreo. diferentes podem fornecer valores significativamente discrepantes
(diferenças de até 20% no PFE).
A quantificação da obstrução reversível ao fluxo aéreo REQUER a
realização de exames complementares. Os principais métodos utilizados
e seus respectivos critérios diagnósticos encontram-se descritos na Quanto maior a variação do VEF1 ou do PFE, maior a
Tabela 6. confiabilidade do diagnóstico de asma! Por exemplo: no adulto,
um “ganho” de VEF1 após a prova broncodilatadora > 15% ou >
400 ml em relação ao basal torna o diagnóstico de asma
Tab. 6 essencialmente inquestionável.
Na prova broncodilatadora, ministra-se um agonista beta-2 adrenérgico Não obstante, a comprovação de que o paciente é alérgico à
inalatório de curta ação (ex.: salbutamol), medindo-se o VEF1 10-15 determinada substância pode vir a ser útil: uma anamnese cuidadosa
minutos depois. Se o paciente já estiver em uso de agonistas beta-2 ajuda a estabelecer um vínculo entre exposição ao alérgeno e ocorrência
adrenérgicos deve-se suspender a medicação pelo menos 4h antes (no de sintomas respiratórios. Nos casos positivos, sempre que viável, uma
caso dos agentes de curta ação) ou 12h antes (no caso dos agentes de estratégia de evitação do alérgeno deve ser recomendada! A decisão de
longa ação). pedir ou não exames para alergia, por conseguinte, deve se basear na
suspeita clínica individual.
Para cálculo da variação diária média do PFE deve-se medir o PFE duas
vezes ao dia (manhã e noite), aplicando a seguinte fórmula: - É PRECISO FAZER EXAMES DE IMAGEM?
PNE1_SIBILOS
nos estudos científicos, por serem mais detalhados (p. ex.: escores de peso durante a infância.
numéricos como o Asthma Control Questionnaire (ACQ) e o Asthma ● Ausência de uso de CI.
Control Test (ACT), entre outros). No entanto, a maneira mais simples
e recomendada pelos guidelines é esta que acabamos de descrever na
● Exposições continuadas: tabagismo, alérgenos/agentes
Tabela 7, chamada de GINA Symptom Control Tool (GINA = Global irritantes (ex.: asma ocupacional).
● Gravidez; Como você pode perceber, existe uma diferença entre “grau de controle”
e “gravidade” da asma...
● Uma ou mais exacerbações graves nos últimos 12 meses;
Tab. 11
Tratamento de
Como o Paciente se Controle
Apresenta? Inicialmente
Recomendado
Esta condição aparece em asmáticos e portadores de fibrose cística, 4. Uso atual ou recente de corticoide sistêmico (marcador de
devendo ser suspeitada em pacientes que necessitam de corticoide sistê- gravidade da crise atual).
mico para controle dos sintomas, principalmente quando estão
5. Não utilização de corticoide inalatório.
presentes bronquiectasias centrais e infiltrados pulmonares nos exames
de imagem (o fungo coloniza a superfície da via aérea dilatada, 6. Uso excessivo de SABA (> 1 frasco/mês).
produzindo uma reação ininterrupta de hipersensibilidade local). Os
7. Doença psiquiátrica ou problemas psicossociais.
níveis séricos de IgE total estão elevados (> 1.000 U/l) e pode-se
detectar altos títulos de IgE e IgG específica contra Aspergillus 8. Má adesão terapêutica.
fumigatus no soro. Os testes cutâneos também são positivos para
Aspergillus sp., confirmando a sensibilização alérgica. Diante deste
conjunto de critérios clínicos, radiográficos e imunológicos, pode-se
estabelecer o diagnóstico e dar início ao tratamento específico. Este é
TRATAMENTO DOMICILIAR COM PLANO
feito com corticoide oral por tempo prolongado (prednisona 0,5-0,75
ESCRITO DE AUTOMANEJO
mg/kg/dia, com redução da dose a cada 6 semanas, por um período
total de 6 a 12 meses). Muitos autores associam itraconazol (200 mg Pacientes bem instruídos e engajados que realizam automonitorização
2x/dia) à corticoterapia (nas primeiras 16 semanas). dos sintomas e da função pulmonar (ex.: diário de sintomas, confecção
de gráficos com os valores de PFE), em geral, são guarnecidos com
planos escritos sobre como identificar e proceder diante de uma
TRATAMENTO DAS EXACERBAÇÕES exacerbação da doença.
Neste plano (que geralmente é uma folha única com escrita simples e
Exacerbações da asma são episódios de piora progressiva dos
direta, dotada de recursos gráficos que aumentem a clareza e a
sintomas e da função pulmonar em relação ao estado prévio do
compreensão) estão contidas orientações quanto ao uso de drogas de
paciente importantes o bastante a ponto de justificar mudanças
resgate e critérios para aumento da terapia de controle, bem como
imediatas na conduta terapêutica.
recomendações acerca de quando o paciente deve ir ao hospital.
A evolução das exacerbações pode ser mais ou menos rápida, O primeiro passo é lançar mão da terapia de resgate (SABA inalatório)
manifestando-se, portanto, dentro de um espectro de gravidade, o que conforme a demanda. Se doses repetidas forem necessárias por mais de
permite individualizar a estratégia terapêutica. Quanto mais precoce for 1-2 dias, o paciente está autorizado a aumentar por conta própria o
seu reconhecimento e início do tratamento, melhores tendem a ser os tratamento de controle. Este também pode ser aumentado se o paciente
desfechos. julgar que os sintomas estão interferindo de forma significativa com
suas atividades diárias, ou se o PFE cair > 20% em relação ao basal por
mais de dois dias.
O aumento da terapia de controle pode ser feito dobrando-se ou
quadruplicando-se a dose do corticoide inalatório por um período de 7-
● Alterações do sensório (agitação, confusão, sonolência).
14 dias, dependendo da faixa de dose que vinha sendo utilizada. O ● “Tórax silencioso”.
objetivo é passar o CI (ou a combinação de CI + LABA) para a faixa de
dose considerada “alta” daquela medicação. Se iniciada precocemente, ● Só consegue pronunciar palavras isoladas.
tal conduta pode evitar a progressão da exacerbação e a necessidade de ● Uso de musculatura acessória (ex.: senta-se curvado para
corticoide oral/internação hospitalar. Evidentemente, a terapia de a frente, com os braços apoiados).
resgate deve continuar sendo feita conforme a necessidade, até que a
intensificação da terapia de controle produza seu efeito. ● FR > 30 irpm.
Pacientes que fazem tratamento de controle com a combinação ● SpO2 < 90% (em ar ambiente).
de budesonida ou beclometasona em baixa dose associado ao
LABA formoterol podem usar a mesma combinação como
● PFE ≤ 50% do basal.
terapia de resgate, uma vez que o formoterol, especificamente, “Tórax silencioso” = taquidispneia intensa com murmúrio vesicular
universalmente reduzido/abolido e AUSÊNCIA PARADOXAL de sibilos
apesar de ser um LABA, possui rápido início de ação, (indica broncoespasmo muito grave, sem ventilação eficaz).
promovendo alívio do broncoespasmo agudo (e de quebra isso
permite aumentar a dose do CI, já que ambas as medicações são
Enquanto se providencia a transferência desses pacientes (ex.: chamar
ministradas em conjunto). Deve-se, no entanto, respeitar a dose
ambulância), todas as medidas terapêuticas cabíveis e disponíveis devem
máxima de formoterol, que é de 72 mcg/dia.
ser aplicadas (ex.: SABA inalatório, corticoide sistêmico precoce, O2
suplementar, mo-nitorização contínua dos sinais vitais)...
Se o PFE estiver < 60% do basal, além das medidas citadas, deve-se
associar corticoide oral. O corticoide oral também deve ser iniciado Exacerbações asmáticas que não apresentem os critérios citados podem
caso não haja resposta clínica após 48h de intensificação do tratamento ser classificadas como leves ou moderadas. Se o paciente estiver no
de controle. O esquema consistede prednisona (ou prednisolona) 1 consultório/ambulatório e for possível fazê-lo, a conduta inicialmente
mg/kg/dia, máx. 50 mg/dia, por 5-7 dias para adultos e adolescentes, ou tomada deve ser idêntica àquela que seria adotada frente a este grau de
1-2 mg/kg/dia, máx. 40 mg/dia, por 3-5 dias para crianças com idade exacerbação caso o paciente estivesse no hospital, isto é: SABA
entre 6-11 anos. Sempre que o corticoide oral for iniciado, é mandatório inalatório em doses repetidas na 1ª hora, início precoce de corticoide
contactar o médico assistente. oral (dentro da 1ª hora) e, se disponível e necessário, suplementação de
O2. Observe a FIGURA 1
Por fim, os critérios para ir ao hospital imediatamente são: (1)
deterioração progressiva a despeito das medidas tomadas; (2)
desconforto respiratório súbito e intenso.
TRATAMENTO AMBULATORIAL
Fig. 1: Algoritmo de manejo da crise asmática leve ou moderada em
nível ambulatorial para pacientes adultos, adolescentes e crianças com
idade entre 6-11 anos. Obs.: pMDI = inalador dosimetrado
É realizado quando o paciente chega à consulta apresentando sinais e pressurizado.
sintomas de exacerbação, mas obviamente sem critérios de gravidade
que demandem o pronto encaminhamento para o hospital (Tabela 13).
VIDEO_06_Mozart_PNE1
Diferentemente do que já está estabelecido para a DPOC
Pacientes com exacerbação asmática que procuram o serviço de descompensada, não há evidências científicas suficientes que
emergência, em geral, são aqueles que apresentam crises graves. A demonstrem de forma inequívoca que o uso de VNI (Ventilação
gravidade da crise é facilmente determinada por meio de uma rápida Mecânica Não Invasiva) seja benéfico na crise asmática, tanto no
avaliação clínica (anamnese + exame físico) com ênfase nos sinais vitais sentido de reduzir mortalidade quanto no sentido de reduzir a
(incluindo a saturação periférica de O2, que hoje em dia é considerada necessidade de internação hospitalar e ventilação invasiva. Não
um sinal vital básico). obstante, pode-se optar pelo uso deste método de maneira
individualizada, respeitadas as suas contraindicações (ex.: paciente
agitado ou com redução do sensório).
SpO2 < 90% em ar ambiente é um sinal ominoso tanto em
adultos quanto em crianças, sinalizando a necessidade de Observe na FIGURA 2 o algoritmo de manejo da crise asmática no
tratamento agressivo. serviço de emergência em adultos, adolescentes e crianças com idade
entre 6-11 anos.
Não... O RX só deve ser feito se suspeitarmos de complicações do comprovadamente se beneficiam do acompanhamento conjunto por um
Tab. 14
Na Tabela 15 apresentamos o sistema proposto pelos guidelines mais
Critérios para o Diagnóstico Clínicode Asma em recentes para avaliação do grau de controle dos sintomas em crianças
Crianças < 6 anos com idade < 6 anos. Perceba que existem pequenas diferenças em
relação ao sistema utilizado em pacientes mais velhos (destacadas em
1. Padrão de sintomas compatível (mais de um sintoma negrito)... Cumpre ressaltar que também existem escores formais,
concomitante: dispneia, sibilos, tosse). comercialmente patenteados, que possuem este mesmo intuito, porém a
maioria deles só foi validada para pacientes com idade > 4 anos (ex.:
2. Os sintomas persistem de forma prolongada (> 10 dias) Childhood Asthma Control Test).
durante um episódio de IVAS.
6. História familiar de asma em parente de 1º grau. Uma análise dos riscos futuros também deve ser incluída na avaliação da
7. Melhora em resposta ao tratamento de controle empírico; criança asmática com idade < 6 anos. Nos pacientes mais velhos, tal
piora após a suspensão do mesmo. conduta necessita de dados espirométricos. Aqui, entretanto, teremos
que contar apenas com informações clínicas... Observe a Tabela 16
● Exposição persistente a fatores desencadeantes: O tratamento de manutenção da asma em crianças pequenas também
tabagismo passivo, poluição atmosférica, poluição do ar envolve medidas farmacológicas e não farmacológicas, sendo o tra-
intradomiciliar (ex.: queima de biomassa), aeroalérgenos tamento medicamentoso a base da terapia. A mesma lógica já descrita
comuns (ácaros, baratas, fungos, animais de estimação). O para pacientes mais velhos também se aplica aqui: utiliza-se uma
efeito de todas essas exposições tende a ser exacerbado ESCADA TERAPÊUTICA na qual a intensidade do tratamento de
na vigência de IVAS. controle é ajustada em função da resposta clínica (observada após três
meses de tratamento).
● Problemas psicológicos ou socioeconômicos na criança
e/ou sua família.
A decisão de “subir” ou “descer” os degraus dessa escada se baseia num
● Má adesão à terapia de controle, uso incorreto dos ciclo contínuo de: (1) avaliação da asma (grau de controle dos sintomas
inaladores. e riscos futuros); (2) prescrição do tratamento no passo adequado; (3)
reavaliação (resposta clínica obtida). Como a asma em crianças com
RISCO DE DESENVOLVER OBSTRUÇÃO FIXA AO FLUXO menos de seis anos de idade costuma entrar em remissão com razoável
EXPIRATÓRIO frequência, o paciente precisa ser acompanhado pelo médico com mais
regularidade do que os outros grupos etários (a cada 3-6 meses, no
● Asma grave com história de múltiplas internações. máximo). Se optarmos por tentar suspender o tratamento, uma
consulta de revisão deve ser marcada para no máximo 3-6 semanas
● Episódio prévio de bronquiolite.
depois...
aerossol liberada dentro do espaçador consiga ser inalada pelo paciente. Ministra-se 2 puffs de salbutamol via pMDI + espaçador, podendo-se
repetir essa mesma dose a cada 20min, por mais 2x. Na ausência de
resposta satisfatória (necessidade de > 6 puffs em 1-2h), a criança deve
A forma como o espaçador e a via aérea do paciente se conectam
ser levada ao serviço de emergência. Em geral, não se recomenda o
também é importante e varia em função da faixa etária. Crianças muito
início domiciliar de corticoide oral pelos parentes/cuidadores, sem que a
pequenas, imaturas demais para colaborar (0-3 anos), necessitam de
criança seja avaliada antes pelo médico.
uma máscara facial, que deve ser bem adaptada ao nariz e à boca pelo
parente/cuidador. O problema da máscara facial é que ela aumenta a
área de contato da pele do rosto com a medicação, o que pode trazer Na FIGURA 3 apresentamos o algoritmo de manejo da exacerbação
problemas como o já mencionado “rash do corticoide inalatório” (deve- asmática em crianças < 6 anos.
se lavar o rostinho do bebê após o uso). Crianças mais capazes de
colaborar (4-5 anos) podem usar uma peça bucal, em vez da máscara
facial.
PARTE 4: FARMACOLOGIA DAS DROGAS Os principais efeitos colaterais dos agonistas beta-2 adrenérgicos são
ANTIASMÁTICAS tremores e palpitações, ocorrendo principalmente em IDOSOS. Por
estimularem a entrada de K+ nas células, podem causar discreta
VIDEO_08_Mozart_PNE1 redução da calemia, em geral, sem repercussões clínicas.
Existem três representantes principais: (1) agonistas beta-2 O SAMA pode ser usado como adjuvante no tratamento agudo das
adrenérgicos; (2) antagonistas muscarínicos (anticolinérgicos); e (3) crises asmáticas graves, mas como seu início de ação é mais tardio que o
teofilina. dos agonistas beta-2 adrenérgicos, deve sempre ser associado a estes. O
LAMA pode ser associado ao tratamento crônico no paciente(> 12
anos) que não obtém controle da asma com o uso de CI + LABA. Seu
Os agonistas beta-2 adrenérgicos são as drogas de escolha, por terem
acréscimo melhora a função pulmonar e diminui a ocorrência de crises!
maior eficácia e início de ação mais rápido. Por serem específicos para o
Os paraefeitos também predominam em idosos: os principais são
receptor β2, têm poucos efeitos diretos sobre o coração (que possui
xerostomia (boca seca) e, mais raramente, retenção urinária e glaucoma.
receptores β1)... A preferência é pela via inalatória, já que a via
sistêmica (oral ou parenteral) acarreta mais efeitos colaterais. Podem ter
meia-vida curta (SABA) ou longa (LABA). As principais drogas em uso A teofilina de liberação lenta (Teolong ®) é uma droga de uso oral que
causa broncodilatação por inibir a enzima fosfodiesterase. Isso aumenta
clínico na atualidade estão descritas na Tabela 20.
os níveis de AMPc intracelular, produzindo relaxamento do músculo
liso. Infelizmente, as doses necessárias para promover broncodilatação
Tab. 20 costumam ser altas o bastante para induzir efeitos colaterais sistêmicos
(nível sérico entre 10-20 mg/l). Ademais, a teofilina é bastante inferior
Agonistas beta-2 adrenérgicosde Curta Ação ao SABA como agente broncodilatador...
(SABA)
Não obstante, foi descrito que a teofilina de liberação lenta em baixas
SUBSTÂNCIA MEIA-VIDA
doses (nível sérico entre 5-10 mg/L) parece exercer discreta ação anti-
®, inflamatória, por um mecanismo molecular diferente: silenciamento da
Salbutamol (Aerolin
expressão de genes pró-inflamatórios. Por isso ela passou a ser aceita
Bronconal ®)
como alternativa no tratamento de controle da asma, de preferência
Terbutalina (Adrenyl ®, como adjuvante à combinação CI + LABA nos portadores de asma
3-6h grave.
Bricanyl ®)
Fenoterol (Berotec ®,
Bromifen ®)
As principais indicações de sulfato de Mg2+ IV na crise asmática Na Tabela 22 listamos as drogas e doses recomendadas para crianças
são: (1) ausência de resposta ao tratamento inicial, com com idade ≤ 5 anos.
persistência da hipoxemia (ou não atinge VEF1 de pelo menos
60% do predito); (2) VEF1 < 25-30% do predito (neste caso, já
Tab. 22
pode fazer Mg2+ IV desde o início do tratamento). Alguns
trabalhos também sugerem que a crise grave tratada com SABA Crianças < 6 anos
+ ipratrópio por NBZ poderia se beneficiar da solução de MgSO4
como diluente, em vez do soro fisiológico. DROGA DOSE BAIXA (em mcg)(entre
parênteses a faixa etária mais
estudada)
CONTROLADORES DE INFLAMAÇÃO
Beclometasona (HFA) 100 (idade ≥ 5 anos)
salmeterol
O omalizumabe (Xolair ®) é um anticorpo monoclonal anti-IgE
indicado como adjuvante para pacientes com idade ≥ 6 anos que
Mometasona + Vannair ®, Zenhale ®
formoterol possuam asma alérgica refratária à combinação de CI + LABA na
vigência de níveis elevados de IgE no sangue. Pode melhorar o controle
Obs.: as duas primeiras combinações da tabela podem ser usadas como
tratamento de manutenção e resgate. da doença e reduzir exacerbações. É ministrado pela via subcutânea a
cada 2-4 semanas, e seu custo é muito alto.
Em relação ao uso sistêmico, já está provado que a via oral tem a mesma
eficácia do que a via intravenosa no tratamento das crises, sendo a O mepolizumabe (Nucala ®) e o reslizumabe (Cinqaero ®) são anticorpos
primeira, pela sua maior comodidade, preferível. Ambas levam cerca monoclonais anti-IL-5, enquanto o benralizumabe (Fansera ®) é um
de4h para começar a agir... Cerca de 1% dos asmáticos necessita de bloqueador do receptor de IL-5. Todos são de uso parenteral... Como a
corticoide oral crônico como terapia adicional para controle da doença. IL-5 é a citocina que recruta e ativa eosinófilos, tais drogas reduzem
A menor dose possível deve ser empregada (de preferência ≤ 7,5 mg/dia eosinófilos no sangue e nos tecidos, podendo melhorar o controle da
de prednisona), mas mesmo assim o risco de efeitos colaterais sistêmicos asma em pacientes refratários às demais medicações que apresentem
é significativo no longo prazo. contagens elevadas de eosinófilos no sangue e/ou escarro.
Mepolizumabe pode ser usado em crianças > 6 anos, mas o reslizumabe
Leucotrienos são mediadores inflamatórios com poderosa ação e o benralizumabe somente em pacientes > 18 anos. O custo é altíssimo.
broncoconstritora secretados por mastócitos e eosinófilos na via aérea
do portador de asma. O bloqueio de seu receptor cys-LT1 por drogas de VIDEO_09_Mozart_PNE1
uso oral como zafirlucaste (Accolate ®) e montelucaste (Singulair ®,
Piemonte ®) é eficaz e bem tolerado. A associação CI + LABA é
superior como terapia de controle da asma no longo prazo, porém
pode-se acrescentar um antagonista de receptor de leucotrieno em
pacientes que não atingem o controle da doença. A resposta é maior em
alguns indivíduos do que em outros e não existe uma explicação
definitiva para este achado, tampouco uma maneira de prevê-lo.
3
Cap. DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA
CRÔNICA (DPOC)
INTRODUÇÃO
VIDEO_10_Mozart_PNE1
Fig. 1
DEFINIÇÃO
Tabagismo e DPOC: o tabagismo é sem dúvida o principal fator de risco
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC – é definida para a DPOC, havendo uma história tabágica positiva em 90% dos
como uma síndrome caracterizada pela obstrução crônica e casos. Estima-se que 15% dos fumantes de um maço/dia e 25% dos
difusa das vias aéreas inferiores, de caráter irreversível, com fumantes de dois maços/dia terão DPOC futuramente se mantiverem o
destruição progressiva do parênquima pulmonar. Geralmente hábito de fumar. As substâncias do tabaco causam uma série de
estão incluídos nesta definição os pacientes com bronquite alterações nas vias aéreas: (1) estimulam a produção de muco e a
obstrutiva crônica e/ou com enfisema pulmonar, os dois hipertrofia das glândulas submucosas; (2) reduzem ou bloqueiam o
principais componentes da doença, ambos relacionados a movimento ciliar das células epiteliais; (3) ativam macrófagos alveolares
exposição à fumaça do tabaco. a secretar fatores quimiotáticos (especialmente o IL-8) que estimulam o
recrutamento alveolar de neutrófilos; (4) ativam neutrófilos, que passam
a produzir mais enzimas proteolíticas, como a elastase; (5) inibem a
EPIDEMIOLOGIA atividade da α-1-antitripsina, enzima inibidora fisiológica da elastase.
QUADRO DE CONCEITOS I
A quantificação do tabagismo é dada pela “carga tabágica”. Quando pesquisar a deficiência de alfa-1-
Esta é calculada multiplicando-se a quantidade média de
antitripsina?
maços consumidos por dia pelo número de anos de
tabagismo. Por exemplo, um paciente que fumou dois maços Enfisema em jovens (< 45 Forte história familiar de
por dia por 30 anos, possui uma carga tabágica de 60 anos). enfisema ou hepatopatia.
maços/ano. A maioria dos pacientes com DPOC possui uma
carga tabágica superior a 40 maços/ano, sendo a doença
Enfisema predominante em Doença hepática associada
incomum abaixo de 20 maços/ano.
bases pulmonares. inexplicada.
A deficiência de alfa-1-antitripsina é uma doença genética autossômica O tipo patológico mais comum é o enfisema centroacinar. O
recessiva que cursa frequentemente com enfisema pulmonar em alargamento e a destruição parenquimatosa encontram-se nos
pacientes jovens. Em 10% dos casos ocorre hepatopatia crônica que bronquíolos respiratórios, ou seja, na região central do ácino ou lóbulo
evolui para cirrose hepática. Os indivíduos homozigotos para o gene Z pulmonar. Esta é a forma relacionada ao tabagismo, por isso de longe a
(genótipo PiZZ em vez do genótipo normal PiMM) têm uma mais comum. O processo predomina nos lobos superiores dos pulmões.
concentração de alfa-1-antitripsina menor que 10% do valor normal. A O segundo tipo patológico é o enfisema panacinar, típico da deficiência
ausência da ação desta enzima deixa livre a elastase neutrofílica que vai de alfa-1-antitripsina. Neste caso, o processo mórbido distribui-se
degradando paulatinamente o parênquima pulmonar. uniformemente pelo ácino, na região central e periférica. Observe a
FIGURA 2.
O tratamento desses pacientes pode ser feito com a infusão venosa
semanal de alfa-1-antitripsina. Os pacientes heterozigotos (PiZM)
parecem ter um risco apenas levemente aumentado para DPOC, e não
se beneficiam do tratamento de reposição enzimática.
Fig. 2
QUADRO DE CONCEITOS II
EXAME FÍSICO
HISTÓRIA CLÍNICA
Nos casos mais avançados, o paciente pode mostrar-se pletórico, ou
seja, com um tom de pele avermelhado. O motivo é a policitemia reativa
A queixa mais marcante dos pacientes com DPOC é a dispneia aos
à hipoxemia crônica, mediada pelo aumento da eritropoetina renal. A
esforços. A evolução é insidiosa, progressiva, marcada por pioras
dessaturação da hemoglobina associada à eritrocitose leva à cianose. A
agudas desencadeadas por fatores descompensantes (ex.: infecção
mistura do tom avermelhado com o tom azulado da cianose dá o
respiratória). Com o avançar da doença, a dispneia acaba por ser
aspecto da eritrocianose. O aspecto do tórax pode revelar a
desencadeada com níveis cada vez menores de esforço, podendo evoluir
hiperinsuflação pulmonar, com aumento do diâ-metro anteroposterior –
para dispneia em repouso ou aos mínimos esforços. Eventualmente
“tórax em tonel”. Nos pacientes com cor pulmonale, o edema de
pode haver ortopneia e dispneia paroxística noturna (embora esses
membros inferiores e a turgência jugular patológica podem chamar
sintomas sejam mais sugestivos de insuficiência cardíaca) cujo
atenção. O baqueteamento digital não é um sinal do DPOC! Seu
mecanismo pode ser atribuído a dois fatores: (1) piora da mecânica
aparecimento deve levar à investigação de outras doenças, sendo a
diafragmática no decúbito dorsal; (2) aumento da secreção brônquica
neoplasia de pulmão uma das causas mais importantes nesse contexto...
pela hiperatividade vagal noturna.
*Gasometria arterial: como vimos no item fisiopatologia, a gasometria Os seguintes achados sugerem essa sobrecarga:
arterial pode estar cronicamente alterada na DPOC, geralmente nos
casos mais avançados de doença. O dado mais comumente encontrado é ● Onda P alta e pontiaguda, medindo mais de 2,5 mm na
a hipoxemia, que pode ser leve, moderada ou grave (PaO2 < 55 mmHg amplitude (P pulmonale): denota aumento atrial direito;
ou SaO2 < 88%). A hipercapnia com acidose respiratória crônica,
● Desvio do eixo do QRS para a direita;
marcada pelo aumento compensatório do bicarbonato e do BE ocorre
em 30% dos pacientes com DPOC – são os casos mais avançados da ● Graus variados de bloqueio de ramo direito;
doença. O pH não está muito distante da faixa normal, estando ● Relação R/S maior que 1 em V1.
discretamente baixo. Entretanto, nos estados de descompensação, pode
haver piora importante da hipoxemia e da hipercapnia, levando,
eventualmente, à acidose respiratória agudizada. São indicações de
solicitação de gasometria arterial: (1) a suspeita de
hipoxemia/hipercapnia aguda (ex.: DPOC com descompensação grave)
bem como (2) a presença de VEF1 < 40% do previsto, mesmo fora do
contexto de uma descompensação, e/ou (3) sinais de insuficiência do
ventrículo direito...
Fig. 6: Taquicardia atrial multifocal – paciente com DPOC e cor
pulmonale descompensado.
VIDEO_11_Mozart_PNE1
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE TÓRAX
EXACERBAÇÃO
traqueobronquite) ou inferiores (pneumonia) devem ser tratadas de da mesma idade por causa de dispneia ou
forma precoce e eficaz. Dados clínicos que sugerem infecção bacteriana Grau 2 necessidade de parar de andar por causa de
(ex.: traqueobronquite bacteriana) são o aumento do volume do escarro dispneia, mesmo andando em seu próprio
e a alteração do seu aspecto, tornando-se purulento. Na dúvida, sempre ritmo em nível plano.
mMRC (Modified Medical Research Council GOLD III: DPOC VEF1/CVF < 70% pós-pbd.
Questionnaire) Grave
VEF1 entre 30-49% do previsto.
Grau zero Dispneia apenas com esforços extenuantes. GOLD IV: DPOC VEF1/CVF < 70% pós-pbd.
Muito Grave
VEF1 < 30% do previsto.
Dispneia quando anda com pressa em nível
Grau 1 plano, ou quando sobe normalmente uma
leve inclinação.
Fig. 8 Fig. 8
Escore CAT
relação “dose-resposta” entre a intensidade do aconselhamento médico
e a taxa de abstenção, quer dizer, quanto mais o médico insistir, maior
será o número de abstenções conseguidas.
A abordagem terapêutica inicial se baseia na classificação integrada É importante ressaltar que somente pacientes verdadeiramente
descrita no guideline GOLD (grupos A, B, C e D), propiciando uma motivados a parar de fumar devem receber tratamento
prescrição individualizada de acordo com as necessidades de cada medicamentoso. Indivíduos que sequer cogitam interromper o
paciente. tabagismo não devem receber o tratamento, já que este
consegue apenas abrandar a “fissura” pelo cigarro, não sendo
capaz de convencer uma pessoa a parar de fumar... O paciente
A despeito das múltiplas opções disponíveis, somente três condutas
ideal para receber tratamento farmacológico é aquele que diz:
provaram aumentar a sobrevida do portador de DPOC: (1) abstenção
“gostaria de parar de fumar mas não consigo ficar sem cigarro”...
do tabagismo; (2) oxigenoterapia domiciliar em pacientes com hipoxemia
crônica e grave em repouso; (3) cirurgia pneumorredutora em pacientes
selecionados. Existe controvérsia se o corticoide inalatório e os As principais drogas são: (1) reposição de nicotina (por meio de variadas
antagonistas muscarínicos de longa ação (LAMA) também seriam formas, como goma de mascar, pastilhas, adesivo transdérmico, spray
capazes de aumentar a sobrevida... nasal ou inalador dosimetrado); (2) bupropiona (150 mg 12/12h); (3)
vareniclina (1 mg 12/12h). A bupropiona é um inibidor seletivo da
Começaremos falando sobre o tratamento de manutenção, ou seja, recaptação de serotonina, inicialmente desenvolvido para ser um
aquele indicado para o paciente com DPOC estável. Em seguida antidepressivo, mas que mostrou particular eficácia na manutenção da
abordaremos o tratamento das exacerbações. abstenção ao cigarro (diminuindo a sensação de “fissura”). A
vareniclina é um agonista parcial dos receptores nicotínicos de
acetilcolina no SNC, exercendo o mesmo tipo de efeito sobre a
TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO
“fissura”. Tais drogas podem ser ministradas em monoterapia, ou
combinadas no paciente com altos níveis de dependência (esta é passível
VIDEO_13_Mozart_PNE1 de avaliação por meio de escalas específicas).
ABSTENÇÃO DO TABAGISMO
O papel dos “cigarros eletrônicos” como alternativa terapêutica
ainda não está definido na literatura.
Os principais SABA são: salbutamol, fenoterol e terbutalina. Os O roflumilaste é um inibidor da fosfodiesterase-4 (PDE-4), de uso oral,
principais LABA são: formoterol, salmeterol, indacaterol e olodaterol. Os aprovado como terapia de adição para pacientes com obstrução
principais SAMA são: brometo de ipratrópio ou de oxitrópio. Os respiratória grave ou muito grave (GOLD 3 ou 4) que apresentam
principais LAMA são: tiotrópio, brometo de glicopirrônio, umeclidínio e bronquite crônica e exacerbações recorrentes a despeito do uso de
brometo de aclidínio. LABA + CI ou LAMA + LABA + CI. Apesar de inibir a
fosfodiesterase (enzima que degrada o AMP cíclico, principal
Comparando LABA com LAMA, os LAMA se mostraram mais mensageiro intracelular da cascata de estimulação adrenérgica), seu
eficazes em reduzir o risco de exacerbações, por isso são as drogas de efeito é eminentemente anti-inflamatório, e não broncodilatador.
escolha no paciente de maior risco...
Os antibióticos macrolídeos possuem ação anti-inflamatória direta na
via aérea, aparentemente independente de seu efeito antimicrobiano.
A teofilina de liberação longa, um broncodilatador de uso oral
Isso é mais proeminente com a azitromicina (250 mg/dia ou 500
pertencente à classe das metilxantinas (inibidores da
mg/3x/semana)... A literatura mostra que EX-TABAGISTAS que
fosfodiesterase), deve ser evitada no tratamento de manutenção
continuam apresentando exacerbações, apesar da terapia inalatória
da DPOC devido a sua elevada incidência de efeitos colaterais
otimizada, podem se beneficiar do uso de azitromicina oral por até um
(ex.: arritmias cardíacas), A NÃO SER QUE outras formas de
ano, reduzindo a frequência de exacerbações. Os principais efeitos
tratamento não estejam disponíveis ou não sejam praticáveis (por
colaterais são a seleção de cepas microbianas resistentes e o surgimento
questão de custo ou impossibilidade de uso de medicação
de disfunção auditiva.
inalatória, por exemplo).
GRUPO D
Os principais CI são: beclometasona, budesonida, mometasona e
fluticasona. Usar LAMA ou
LAMA + LABA (pp. se
GRUPO C escore CAT ≥ 20)
Usar LAMA ou
LABA + CI (pp. se
eosinófilos ≥ 300 e/ou asma
concomitante)
Para pacientes com hipoxemia apenas durante exercício, ou que
GRUPO A possuam níveis não tão pronunciados de hipoxemia crônica, NÃO HÁ
Usar algum broncodila- GRUPO B indicação de oxigenoterapia domiciliar contínua, pois esta não mostrou
tador inalatório (ação curta Usar algum broncodila- fazer diferença em termos de morbimortalidade no longo prazo!
para sintomas eventuais, tador inalatório de ação
ação longa para sintomas longa (LABA ou LAMA)
mais frequentes)
SUPORTE VENTILATÓRIO
Lembrar... Grupo A = pouco sintoma e baixo risco; Grupo B = muito O CPAP noturno é indicado para os portadores de DPOC que
sintoma e baixo risco; Grupo C = pouco sintoma e alto risco; Grupo D =
muito sintoma e alto risco. apresentam apneia obstrutiva do sono. O uso regular de qualquer forma
de VNI (ventilação não invasiva) em portadores de DPOC muito grave
VIDEO_14_Mozart_PNE1 porém estável é controverso.
Além do aconselhamento para abstenção do tabagismo, faz parte do rol A cirurgia de redução do volume pulmonar consiste num procedimento
de condutas não farmacológicas na DPOC a educação e o treinamento em que parte do pulmão é ressecada com o objetivo de reduzir a
do paciente com o intuito de fomentar a capacidade para o hiperinsuflação, melhorando a mecânica ventilatória, bem como o
automanuseio da doença. próprio distúrbio V/Q (já que as porções ressecadas tipicamente
apresentam mais perfusão do que ventilação, contribuindo para a
O termo “automanuseio” se refere genericamente: (1) às habilidades de hipoxemia).
uso correto das drogas inalatórias; (2) à eficiência na automo-
nitorização dos sintomas; (3) à capacidade de modificar Em geral se ressecam as regiões mais acometidas por enfisema
temporariamente a posologia (intensificação precoce do tratamento a (conforme observado por TC), não se ultrapassando > 20-30% do
fim de evitar a progressão de uma exacerbação inicial); e (4) à adoção de volume pulmonar total. O ideal é que a ressecção seja feita nos lobos
um estilo de vida saudável (dieta + atividades físicas). superiores. Este tipo de abordagem é indicado para pacientes
enfisematosos que apre-sentam hiperinsuflação pulmonar sintomática e
Outros componentes do tratamento não farmacológico são os refratária ao tratamento medicamentoso. Trata-se de uma das condutas
programas de reabilitação pulmonar (baseados em fisioterapia que comprovadamente aumenta a sobrevida na DPOC.
respiratória) – indicados para pacientes nos grupos B, C e D – e a
vacinação contra influenza e pneumococo, de acordo com as diretrizes
nacionais – indicada para TODOS os portadores de DPOC. A cirurgia pneumorredutora é contraindicada para pacientes com
enfisema difuso e VEF1 < 20% do predito, bem como para
pacientes com capacidade de difusão do monóxido de carbono
Por fim, um componente essencial da terapia não farmacológica é a
(DLCO) < 20%. A mortalidade pós-operatória é excessivamente
oxigenoterapia domiciliar (ver adiante).
alta em qualquer uma dessas situações.
■ OXIGENOTERAPIA DOMICILIAR
Pacientes que apresentam grandes bolhas de enfisema (especialmente
A oxigenoterapia domiciliar contínua (> 15h/dia) é uma das medidas quando estas são sintomáticas, causando infecções e/ou hemorragias
que comprovadamente aumenta a sobrevida na DPOC, quando bem recorrentes) podem ser submetidos à cirurgia de bolhectomia, isto é,
indicada. As principais indicações são: ressecção específica das referidas bolhas.
Obs.: as referidas alterações na PaO2 ou SaO2 têm que ser confirmadas A termoablação pulmonar broncoscópica tem como grande
após um período de três semanas com o paciente estável, mostrando vantagem o fato de permitir a eliminação de segmentos
que se trata de um problema crônico.
pulmonares (ablação mais restrita). Todos os demais
procedimentos broncoscópicos envolvem no mínimo lobos
O O2 é ministrado por cânula nasal em baixo fluxo (1-3 L/min), tendo
pulmonares inteiros.
como meta manter a SaO2 ≥ 90%. Após iniciar a oxigenoterapia
domiciliar contínua recomenda-se que o paciente seja reavaliado dentro
de 60-90 dias, a fim de definir se a mesma está sendo eficaz e se é
necessário mantê-la ou não.
Casos selecionados (doença muito avançada e refratária, sem Na prática, a presença de PURULÊNCIA DO ESCARRO significa
contraindicações ao procedimento) podem ser considerados para o participação de bactérias, indicando a necessidade de tratamento
transplante de pulmão. É importante salientar que o transplante NÃO antimicrobiano! Muitas vezes o quadro clínico como um todo é
aumenta sobrevida na DPOC! sugestivo de infecção respiratória viral (ex.: coriza, congestão nasal,
faringoamigdalite, conjuntivite), porém, o aumento da proliferação
bacteriana nas vias aéreas inferiores (facilitado pela própria infecção
TRATAMENTO DAS EXACERBAÇÕES viral) pode CONTRIBUIR para a piora aguda da inflamação
pulmonar, em função do maior “estímulo antigênico” promovido pelo
VIDEO_15_Mozart_PNE1 rápido crescimento da população de germes. Tal fenômeno promove
inflamação neutrofílica nas vias aéreas, justificando a purulência do
Uma exacerbação é definida como uma piora aguda dos sintomas
escarro. Estima-se que isso ocorra em > 50% das exacerbações. Os
respiratórios que requer tratamento adicional.
antimicrobianos, ao reduzirem a população bacteriana, propiciam uma
melhora mais rápida do insulto inflama-tório, encurtando a duração da
Sabe-se que exacerbações recorrentes aceleram a progressão da DPOC
exacerbação e prevenindo complicações.
(maior velocidade de queda do VEF1). O principal fator de risco para
exacerbação é a história de exacerbações no último ano (quanto maior
Outros fatores desencadeantes de exacerbações são a poluição
o número de episódios e/ou sua gravidade, pior). O aumento no
ambiental (intra ou extradomiciliar) e as mudanças na temperatura
diâmetro da artéria pulmonar (visto pela TC) mostrou ser um preditor
ambiente. Tais fatores podem ser os desencadeantes exclusivos do
de risco para exacerbações, espe-cialmente quando a relação dos
quadro, ou podem contribuir para a amplificação de quadros
diâmetros arté-ria pulmonar/aorta for > 1. Doença do refluxo
desencadeados por uma infecção.
gastroesofágico também é fator de risco (mecanismo pouco
compreendido). A mortalidade após um episódio de exacerbação grave
(com necessidade de internação hospitalar) é de 20% em 1 ano e 50% As exacerbações da DPOC são classificadas como:
em 5 anos.
● LEVES: necessitam apenas de broncodilatadores de curta ação para
As exacerbações são eventos complexos associados a um aumento da controle sintomático. Tratamento ambulatorial;
inflamação nas vias aéreas inferiores, acompanhado de maior produção ● MODERADAS: necessitam de broncodilatadores de curta ação +
de muco e piora do aprisionamento aéreo. antibióticos e/ou corticoide sistêmico. Tratamento ambulatorial;
Anamnese e exame físico (com foco na análise dos sinais vitais e exame
A piora da dispneia é devida à hiperinsuflação pulmonar “dinâmica”
do tórax), constituem a base da avaliação clínica inicial do paciente.
(aumento do volume residual em curto espaço de tempo), um evento
Pela história estima-se o grau de sintomas prévios e a magnitude do
que prejudica a mecânica ventilatória (ex.: maior retificação das cúpulas
atual aumento. Pelo exame físico define-se o estado mental e o grau da
diafragmáticas) e aumenta o esforço para respirar. Além disso, a
disfunção respiratória (frequência, uso de musculatura acessória,
inflamação (edema) e o excesso de muco intensificam a obstrução das
cianose). A ausculta costuma mostrar roncos e sibilos, mas também
pequenas vias aéreas, aumentando a resistência da árvore respiratória
pode identificar estertores focais (sugestivo de pneumonia) ou assimetria
ao fluxo de ar (podem surgir roncos e sibilos na ausculta). A piora da
do murmúrio vesicular (sugestivo de obstrução brônquica com
tosse e o aumento do volume de escarro, que pode se tornar purulento,
atelectasia ou pneumotórax).
também são explicados pela maior inflamação e secreção da mucosa
brônquica.
Em relação aos exames complementares, as principais orientações são:
(1) na presença de DPOC grave na fase estável ou crise aguda com
Diferentes fatores podem desencadear as exacerbações. Os mais
critérios de gravidade, bem como na presença de sinais focais no exame
frequentes são as infecções respiratórias, principalmente virais. Os vírus
do tórax, deve-se solicitar um método de imagem, que pode ser o Rx ou,
mais comumente implicados são os Rhinovirus (agentes causais do
de preferência, a TC de tórax; (2) na presença de DPOC grave na fase
resfriado comum). No entanto, é muito difícil afastar clinicamente a
estável ou crise aguda com critérios de gravidade, deve-se coletar
participação bacteriana...
gasometria arterial; (3) se houver suspeita de tromboembolismo
pulmonar (cujo risco está aumentado na DPOC) o método de imagem
deve ser a angio-TC de tórax.
BRONQUIECTASIAS
Fig. 1
Fig. 9
As exacerbações são tratadas com antibioticoterapia; os principais Nos pacientes com doença localizada e com controle sintomático ruim
germes envolvidos são o Haemophilus influenzae, a Pseudomonas com as medidas descritas, a cirurgia com ressecção do segmento
aeruginosa e o Streptococcus pneumoniae. Os antibióticos de escolha são acometido é uma opção. O transplante pulmonar pode ser indicado nos
as quinolonas respiratórias (ex.: levofloxacina) por 7-14 dias. Nos pacientes com doença difusa com falha da terapia medicamentosa.
pacientes críticos, pode-se optar pelo uso parenteral de duas drogas
antipseudomonas (ex.: ceftazidima e amicacina). A cultura e Gram do Os casos de hemoptise devem ser manejados inicialmente com a
escarro podem auxiliar na decisão terapêutica, com a coleta estando localização da lesão sangrante através de TC de tórax e de
indicada principalmente nos casos graves, não responsivos ao broncoscopia, com posterior embolização arterial brônquica do
antibiótico inicial ou com episódios recorrentes. O uso de antibiótico segmento acometido. Nos casos não responsivos, procede-se à ressecção
profilático também já foi avaliado nas bronquiectasias, com resultados cirúrgica do segmento que contém a lesão hemorrágica.
não definitivos. A reco-mendação atual é sua utilização nos pacientes
com exacerbações frequentes (> 3-4 vezes por ano), sendo geralmente
administrado um macrolídeo (ex.: azitromicina); sua grande limitação é
a resistência da Pseudomonas aeruginosa a esse fármaco. Havendo a
detecção dessa bactéria em alguma cultura de escarro e uma resposta
inadequada da terapia profilática com antibioticoterapia oral, pode-se
optar pelo uso crônico de anti-bióticos inalatórios (ex.: tobramicina).
4
da tosse e da expectoração e melhora da PFP.
Cap. EMBOLIA PULMONAR
INTRODUÇÃO
EPIDEMIOLOGIA
Tal fato ilustra nitidamente a baixa sensibilidade e especificidade do Mas quais são os pré-requisitos da trombose ve-nosa profunda? Você não
diagnóstico clínico... Veremos adiante que os exames complementares se esqueceu da “tríade de Virchow”, não é mesmo??? O famoso
mais modernos conseguem amenizar essa dificuldade, aumentando a patologista alemão do séc. XIX já havia percebido que na vigência de
acurácia do diagnóstico. O grande problema, porém, é saber exatamente qualquer um dos fatores a seguir teremos favorecimento da
em que situações devemos pedi-los... Portanto, vamos analisar a base trombogênese:
racional dos algoritmos de investigação do TEP, para que você tenha
mais firmeza na tomada de decisões clínicas!
1. Estase – gerando hipóxia intravascular;
Mais de 90% dos êmbolos pulmonares se originam de trombos em veias 3. Hipercoagulabilidade – hereditária (trombofilias) e/ou
profundas dos membros inferiores. Nessa topografia, a TVP com maior adquirida.
risco de embolia significativa é a iliofemoral (50% cursam com TEP), ao
passo que o risco de TEP com manifestações clínicas, na TVP de
Vale a pena conhecer um pouco mais a fundo o terceiro item da tríade,
panturrilha, é considerado extremamente baixo (porque tais êmbolos
pois sempre devemos nos perguntar se o doente não possui alguma (ou
são muito pequenos)!
algumas) das condições relacionadas...
QUADRO DE Pesquise trombofilia Observe na Tabela 1 os tipos de interferência que cada uma dessas
CONCEITOS I se... condições exerce sobre o resultado dos principais exames utilizados.
VIDEO_16_PNE1
SAIBA MAIS... Ressalte-se que clínica de TVP foi verificada apenas em 47% desses
O infarto pulmonar indivíduos, através da detecção de dor, edema, eritema e palpação de um
cordão venoso endurecido, tanto na coxa quanto na panturrilha
(tromboflebite).
TEP pequeno a moderado: pressão arterial normal, sem sinais de Insuficiência venosa crônica. Insuficiência cardíaca
disfunção do VD. Esta é a forma com melhor prognóstico, e o congestiva.
tratamento é satisfatório apenas com anticoagulação.
Linfedema. Pericardite.
Nos portadores de doenças cuja descompensação tenha quadro clínico
semelhante ao do TEP (ex.: pneumonia, ICC, DPOC, asma), uma gran- Tromboflebitesuperficial. Pleurite aguda (viral,
de pista diagnóstica, que deve nos fazer pensar na coexistência de um autoimune), pneumotórax.
TEP oculto, é a ausência de melhora com o tratamento padrão utilizado
(ex.: uma pneumonia que não melhora com antibióticos). Lesões musculares. Síndromes osteoarticulares
da caixa torácica.
DIAGNÓSTICO
É importante frisar que o julgamento clínico individual do médico
(especialmente quando estiver presente a famosa “voz da experiência”) Imobilização > 3 dias ou cirurgia nas quatro
1.5
jamais deixará de ser soberano na tomada de decisões clínicas!!! O grande últimas quatro semanas.
O escore mais amplamente utilizado é o escore de Wells, que avalia tanto Câncer (atual ou tratado nos últimos seis
1
a probabilidade de TVP quanto de TEP. meses).
TVP
● Baixa: < 4.
Hemoptise. VIDEO_18_PNE1
2
Westermark
Oligoemia focal.
(FIGURA 3A)
ELETROCARDIOGRAMA
VIDEO_19_PNE1
MARCADORES BIOQUÍMICOS
GASOMETRIA ARTERIAL
As troponinas cardioespecíficas (TnI e TnT) e o BNP não servem para o
A maioria dos pacientes com embolia para os pulmões apresenta diagnóstico de TEP (são insensíveis e inespecíficos), porém são muito
hipoxemia no sangue arterial, bem como hipocapnia (alcalose úteis na estratificação de risco dos paciente com TEP definido... Níveis
respiratória pela taquipneia). Entretanto, não é incomum que elevados da primeira provavelmente indicam a ocorrência de
indivíduos mais jovens, com boa reserva cardiopulmonar, tenham TEP microlesões miocárdicas na parede do VD, secundárias à sobrecarga
com níveis normais de oxigênio... Seja como for, um dos mais aguda dessa câmara. Valores muito aumentados conferem um mau
importantes estudos a respeito do diagnóstico de TEP (o PIOPED, prognóstico em curto prazo (primeiros 30 dias). O aumento do BNP
citado anteriormente), desfez o clássico mito de que a hipoxemia seria também está relacionado à dilatação ventricular, e quando combinado
um marcador diagnóstico importante! com altos níveis de troponina, constitui-se em poderoso instrumento de
avaliação do prognóstico (ex.: TnT > 0,07 mcg/L + BNP > 600 ng/L
estão associados a uma mortalidade em 40 dias de 33%, ao passo que se
A média de PaO2 dos pacientes com TEP comprovado por angiografia
o BNP estiver < 600 ng/L a mortalidade se aproxima de zero).
(70 mmHg) não mostrou diferença relevante com a média de PaO2 dos
pacientes onde o TEP foi excluído (72 mmHg). A hipoxemia é um
achado sensível, mas também bastante inespecífico! E como dissemos, Vale ressaltar que atualmente também tem sido bastante valorizada a
em cerca de 26% dos pacientes jovens com embolia pulmonar a PaO2 combinação de troponina elevada + disfunção de VD vista ao eco... Nos
grandes centros médicos esses dois exames são realizados em todos os
manteve-se acima de 80 mmHg... No TEP maciço, com choque
pacientes com TEP, para fins de estratificação do risco de óbito intra-
cardiogênico, é comum encontrarmos acidose mista (respiratória +
hospitalar. Em pacientes onde os dois marcadores são positivos (isto é,
lática, por causa do choque).
troponina elevada + disfunção de VD), é fortemente recomendado
considerar o emprego de drogas trombolíticas...
ECOCARDIOGRAMA
O d-dímero é um produto de degradação da fibrina (gerado pela
A disfunção de VD no ecocardiograma é um marcador de mau atividade fibrinolítica endógena) que se eleva em todas as vezes que
prognóstico: mesmo em pacientes normotensos, sua presença confere um houver um trombo no interior do organismo... Por causa disso, seus
risco duas vezes maior de mortalidade! O exame transtorácico é um níveis frequentemente são altos no TEV (> 95% dos casos). Já vimos
método prático e barato, e apesar de não fazer parte do algoritmo que a grande vantagem desse marcador é seu valor prediti-vo negativo
diagnóstico de TEP, deve estar presente na rotina de avaliação de todos (99,5% quando a probabilidade préteste é baixa)! Pacientes com d-
os casos. Sabemos de antemão que a maioria dos episódios de TEP dímero normal (< 500 ng/dl) certamente não têm trombose... Apesar de
cursam com eco normal... sua sensibilidade ser muito grande, este exame não pode, por si só,
confirmar o diagnóstico de TEV: também está elevado nos casos de
Já o eco-transesofágico pode ser usado para demonstrar a presença de sepse, pós-operatório, ICC...
trombos tanto no tronco quanto nos principais ramos da artéria
pulmonar. Em pacientes instáveis, cujo transporte intra-hospitalar seja
SAIBA MAIS...
de alto risco (ex.: até o aparelho de tomografia), o uso dessa técnica
permite uma comprovação mais fácil do diagnóstico, até porque são TEP no paciente intubado!
esses os doentes com maior probabilidade de apresentarem tal achado!
Doentes graves no CTI representam uma população com risco Para aumentar a especificidade do teste empregamos a cintigrafia de
altíssimo de TEP. Inclusive, esse risco é tão alto que mesmo com a ventilação, que consiste na inalação de xenônio radioativo (Xe 133). Se
utilização de profilaxia adequada o evento embólico ainda pode a cintigrafia de perfusão revelar a presença de áreas mal perfundidas,
ocorrer... Quando acoplados a uma prótese ventilatória obviamente devemos verificar se elas também estão sendo mal ventiladas (V/Q
devem permanecer sedados, o que torna impossível o matching). Se este for o caso, a baixa perfusão local é justificada por
conhecimento de suas queixas. Além do mais, tais pacientes uma doença do parênquima, e não por embolia. Por outro lado, se
frequentemente apresentam alterações em seus exames existirem áreas mal perfundidas, porém normalmente ventiladas (V/Q
complementares básicos (RX, ECG, gasometria, ecocardiograma, mismatching), temos o indicativo de que existe uma doença vascular
d-dímero, troponinas, BNP), as quais são causadas pela doença pulmonar, provavelmente embólica.
de base e pelo seu péssimo estado geral... EXISTE ALGUMA
PISTA PARA O DIAGNÓSTICO DE TEP??? Se houver suspeita Evidências comprovam que a radiografia de tórax pode ser usada no lugar
clínica, podemos calcular o espaço morto alveolar, que quando da cintigrafia de ventilação, sem prejuízo da acurácia, mas com custos bem
aumentado (acima de 20%), sugere oclusão na circulação arterial menores.
pulmonar (áreas bem ventiladas, porém mal perfundidas):
Uma cintigrafia normal virtualmente exclui a possibilidade de TEP, o
(PaCO2 – CO2 exalado) que dá por encerrada a pesquisa diagnóstica (elevado valor preditivo
PaCO2 negativo). A única situação em que devemos duvidar disso, e seguir
investigando, é quando a suspeita clínica for muito forte... Mas como
isso é possível??? Sabemos que alguns casos de TEP maciço, com
EXAMES ESPECÍFICOS êmbolos centrais (em sela), podem não causar defeitos de perfusão
localizados, pois na verdade todas as áreas pulmonares estão
comprometidas por igual!!! Tal fato ressalta a importância da
DUPLEX-SCAN DE MEMBROS probabilidade pré-teste – ela modifica a interpretação do exame...
INFERIORES
Uma cintigrafia de alta probabilidade é definida pela presença de dois ou
Também denominado ecodoppler, é o melhor exame para identificação mais defeitos segmentares bem ventilados (V/Q mismatching). Assim
de TVP iliofemoral. O principal critério ultrassonográfico de obstrução como ocorre na cintigrafia “normal”, o resultado “alta probabilidade”
venosa é a perda da compressibilidade vascular, reconhecida pelo não tem poder diagnóstico: no paciente com suspeita clínica de TEP, esse
colabamento do lúmen quando pressionamos o transdutor contra a pele resultado comprova a presença de embolia, e dá por encerrado o
do paciente. Algumas vezes visualizamos diretamente o trombo, que processo diagnóstico! Contudo, aqui também existe uma armadilha... É o
quando agudo tem aspecto hipoecoico e homogêneo. Outra manobra caso do paciente com TEP prévio, cujas áreas de V/Q mismatching
utilizada no exame, a compressão da panturrilha, é feita com o intuito de podem corresponder às sequelas de êmbolos antigos!!! O ideal é
aumentar o fluxo venoso (analisado pelo Doppler), o que não acontece compararmos o exame atual com exames prévios (FIGURA 5)...
nos casos de TVP importante...
ARTERIOGRAFIA PULMONAR
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
HELICOIDAL (ANGIO-TC) É o método padrão-ouro para o diagnóstico de TEP, realizado através
do cateterismo da artéria pulmonar, com injeção direta do contraste em
O grande diferencial desta técnica, em relação à TC convencional, é a seu lúmen. O TEP pode ser evidenciado pela presença de uma falha de
velocidade com que as imagens são obtidas. Os novos aparelhos multi- enchimento no leito arterial pulmonar, ou então a interrupção abruta de
slice realizam múltiplos “cortes” tomográficos simultaneamente, um vaso (cutoff).
enquanto o paciente é movimentado no interior do tomógrafo.
Modernos softwares propiciam uma reconstrução tridimensional da Qual é a grande indicação de arteriografia??? Atualmente, a principal
anatomia... A vantagem de se realizar um exame tão rápido é que ele indicação é como método confirmatório nos casos que receberão
permite visualizar, com mais nitidez, as estruturas arteriais no exato tratamento intervencionista endovascular (embolectomia por cateter). A
momento em que elas recebem uma carga de contraste. Por isso o outro arteriografia localiza o êmbolo com exatidão, permitindo ao médico
nome desse exame é angiotomografia... posicionar corretamente o cateter para fragmentação e aspiração do
material trombótico...
Nos dias de hoje, a angio-TC encontra-se amplamente disponível, e é
considerada o teste de escolha na investigação inicial do TEP. Sua A mortalidade do procedimento gira em torno de 1%, e a taxa de
sensibilidade gira em torno de 83%, e a especificidade também é boa (> complicações é de 5% (geralmente relacionadas ao sítio de punção). Em
90%). Inclusive, os novos aparelhos citados são capazes de delinear até a pacientes com cor pulmonale agudo, a injeção de contraste sob pressão
sexta geração dos ramos arteriais pulmonares, alcançando uma no interior da artéria pulmonar (a qual já estava hipertensa) pode dar
resolução comparável à da arteriografia... A sensibilidade tende a ser origem a uma série de complicações, como arritmias e ruptura da
maior, quanto mais proximal for a impactação do êmbolo. Contudo, artéria.
êmbolos subsegmentares têm sido mais frequentemente identificados,
após a introdução das referidas melhorias técnicas.
SAIBA MAIS...
TRATAMENTO
ANGIORRESSONÂNCIA
As modalidades terapêuticas no TEV incluem o uso de anticoagulantes, No caso específico dos portadores de câncer que desenvolvem TEP,
trombolíticos, filtro de veia cava e procedimentos invasivos (cirúrgicos atualmente as HBPM representam as drogas de escolha para
ou endovasculares). anticoagulação, devendo ser mantidas em monoterapia (sem tentativa
de transição para o warfarin) indefinidamente ou até que o paciente seja
curado da neoplas ia.
ANTICOAGULAÇÃO
Observe na Tabela 4 as principais HBPM:
Os pacientes que não morrem dentro das primeiras duas horas após o
TEP geralmente vêm a falecer mais tarde por causa de recorrência da
embolia! A recorrência tende a ser comum, sendo observada em grande Tab. 4
parte dos casos que não recebem tratamento. Já está mais do que
provado que a anticoagulação reduz a taxa de mortalidade em cerca de
Heparina Posologia
No TEP, é recomendável que o paciente evite a deambulação até estar Todavia, existem situações especiais onde estaria indicado um exame
plenamente anticoagulado. Na TVP isolada, tal medida não é para avaliar o efeito anticoagulante da HBPM. Que exame é esse? É a
necessária. A TVP pode ser tratada no ambulatório, mas o TEP, de uma dosagem do antifator Xa, que nada mais é que o próprio componente
forma geral, não. ativo da HBPM... E em que situações devemos dosá-lo?Por quê?
Observe o quadro a seguir...
As HBPM são comprovadamente superiores à heparina não fracionada INDICAÇÕES DE DOSAGEMDO ANTIFATOR Xa
para a anticoagulação de pacientes com TEP que se mantêm
hemodinamicamente estáveis. Logo, podem ser escolhidas para início do ● Obesidade mórbida (> 150 kg).
tratamento nesse contexto, quando se opta pela utilização de
● Baixo peso (< 40 kg).
cumarínicos em longo prazo... Em tal situação, ambas as medicações
são iniciadas ao mesmo tempo: HBPM + cumarínico. Atingido o efeito ● Gestantes.
anticoagulante do cumarínico, a HBPM deve ser suspensa (maiores
● Disfunção renal (aguda ou crônica).
detalhes adiante).
As HBPM são excretadas pelo rim, e sua posologia deve ser corrigida Nenhuma forma de heparina poderá ser usada de novo, e
ou pelo clearance de creatinina, ou pela dosagem do antifator Xa. obrigatoriamente teremos que usar outro tipo de anticoagulante (ex.:
Entretanto, o ideal é trocá-las por outro anticoagulante, na vigência de inibidores diretos da trombina de uso parenteral, como o argatroban ou
disfunção renal... Em todas as situações citadas no quadro anterior, a a bivalirudina ).
dose ideal de HBPM não foi adequadamente estudada, e não existe
consenso se as doses padrão devem ser mantidas nesses casos. Por causa Gestantes que são anticoaguladas por longos períodos com HNF
disso, a monitoração do efeito anticoagulante seria interessante... podem desenvolver osteoporose... A chance dessa complicação está
Dosamos o antifator Xa 4h após administrar a heparina, e ajustamos a aumentada a partir de uma dose cumulativa > 20.000 UI/dia por > 30
posologia segundo algoritmos próprios, com o intuito de manter seus dias! Em pacientes que precisam de > 40.000 UI/dia de heparina para
níveis séricos em torno de 0,6 a 1,0 U/ml. ajustar o PTTa, devemos considerar fortemente a possibilidade de
deficiência de antitrombina (trombofilia hereditária que funciona como
A HBPM possui alguma desvantagem em relação à HNF? Sim... A meia- uma espécie de “resistência à heparina”)...
vida da HBPM é maior que a da HNF (12h versus 6h). Nos pacientes
mais graves, a probabilidade de precisarmos realizar um procedimento
FONDAPARINUX
invasivo é alta, pois a qualquer momento o paciente pode descompensar
(ex.: punção venosa profunda, cirurgia de embolectomia). Se ele estiver
usando HNF, a reversão do efeito anticoagulante é rapidamente Trata-se de um pentassacarídeo sintético deri-vado da heparina, que
atingida após a suspensão da droga, o que não é observado no caso da promove uma interação seletiva entre a antitrombina e o fator Xa,
HBPM. Além disso, o antídoto das heparinas, o sulfato de protamina, inativando este último... Estudos iniciais indicam que sua eficácia no
neutraliza a HNF com muito mais eficácia do que a HBPM (devemos TEP provavelmente é semelhante à da HNF, constituindo uma
administrar plasma para uma rápida reversão de seus efeitos)... alternativa viável. Suas principais vantagens são: (1) não causa HIT; (2)
uso subcutâneo; (3) não precisa de monitoração laboratorial.
Entretanto, uma importante desvantagem precisa ser destacada:não
HEPARINA NÃO FRACIONADA existe antídoto contra essa droga... O fondaparinux também deve ser
evitado na disfunção renal!
A HNF é o anticoagulante de escolha para tratar os pacientes com TEP
que apresentem instabilidade hemodinâmica. A razão para tal fato é
muito simples: é a única droga que demonstrou reduzir mortalidade Doses:
nesses casos. Os estudos com HBPM sempre excluíram esses doentes ● Peso < 50 kg: 5 mg, subcutâneo, uma vez ao dia;
mais graves de seus protocolos e, portanto, não conhecemos seu
● Peso entre 50-100 kg: 7,5 mg, subcutâneo, uma vez ao dia;
verdadeiro impacto nesses casos.
● Peso > 100 kg: 10 mg, subcutâneo, uma vez ao dia.
A HNF deve ser feita em bomba infusora, ajustando-se a taxa de
infusão contínua de acordo com o tempo de tromboplastina parcial ativa-
do (PTTa), verificado de 6/6h. A dose inicial noTEP é 80 U/kg em bolus, WARFARIN (ANTAGONISTA DE VITAMINA K)
seguindo-se infusão de18 U/kg/h. De maneira genérica, o bolus é feito
com 5.000-10.000 UI, e a infusão contínua com 1.000-5.000 UI/h... A O warfarin pode ser iniciado junto com a primeira dose dos modernos
anticoagulação estará garantida quando mantivermos um PTTa 1,5 a anticoagulantes parenterais (HBPM ou fondaparinux), devendo ser
2,5 vezes acima do valor do controle (60-80 segundos), o que com usada em conjunto com essas drogas por um mínimo de 5-7 dias
frequência requer ajustes na dose. (momento a partir do qual, em geral, o efeito do warfarin encontra-se
plenamente estabelecida). Se a HNF for utilizada, recomenda-se iniciar
A necessidade de monitoração laboratorial vem do fato de que a o warfarin somente após se atingir a faixa alvo do PTTa... O efeito do
farmacocinética da HNF é totalmente errática... Ao contrário da warfarin é avaliado pela dosagem do INR (International Normalized
HBPM, a HNF se liga de maneira variável a uma série de moléculas e Ratio), que deve se manter entre 2-3 (alvo = 2,5). As drogas parenterais
superfícies celulares no organismo, o que costuma ser absolutamente podem ser suspensas após duas dosagens do INR dentro dessa faixa
imprevisível (e pode variar, no mesmo indivíduo, de um momento para (em dois dias consecutivos).
outro).
A dose inicial é geralmente 5 mg/dia. Indivíduos obesos podem precisar
Uma de suas complicações mais temidas é a trombocitopenia induzida de 7,5 a 10 mg/dia. Pacientes desnutridos ou que se submeteram a um
por heparina (“HIT” ou “Heparin Induced Thrombocytopenia”), que longo curso de antibioticoterapia devem receber 2,5 mg ao dia, pois é
costuma surgir a partir do quinto dia de uso... A fisiopatologia envolve a comum que apresentem deficiência de vitamina K. Em pacientes que
produção de autoanticorpos contra o complexo heparina – fator IV desenvolveram um primeiro episódio de TEP na vigência de fatores de
plaquetário, que se encontra exposto na superfície externa das plaquetas. risco transitórios (ex.: cirurgia), o tempo de anticoagulação deve ser de
A ligação antígeno-anticorpo promove intensa ativação plaquetária, e o três a seis meses. Já em pacientes com TEP idiopático, isto é, sem fator
paciente que estava sendo satisfatoriamente anticoagulado começa a desencadeante, ou TEP recorrente, a taxa de novos episódios em longo
apresentar tromboses arteriais e venosas... O grande sinal de alerta é a prazo é extremamente alta. Preconiza-se que esses indivíduos recebam
queda progressiva na contagem de plaquetas!!! É mandatório suspender a de seis a doze meses de anticoagulação, devendo-se reavaliá-los após esse
heparina quando essa contagem estiver abaixo de 100.000 cél/ml ou< período quanto à necessidade de anticoagulação permanente.
50% do valor basal...
O que é a necrose cutânea induzida pelo warfarin? Estreptoquinase: dose de ataque – 250.000 IU em 30min,
seguida de 100.000 IU/h por 24h.
Além de sangramento, o warfarin pode ocasionar a chamada Uroquinase: dose de ataque – 4.400 IU em 10min, seguida de
necrose cutânea induzida pelo warfarin. Muitos destes 4.400 IU/kg/h por 12 a 24h.
pacientes são heterozigotos para deficiência de proteína C... A t-PA: 100 mg em infusão contínua por 2h.
base para esta complicação consiste em uma redução muito
rápida da proteína C, pela ação do warfarin, que é mais
significativa em indivíduos já deficientes desta proteína, levando a
um estado de hipercoagulabilidade.
FILTRO DE VEIA CAVA INFERIOR
A heparina deve ser suspensa até o término da infusão do trombolítico. 5. Tromboflebite séptica de veias pélvicas
Após isso, se o PTT for inferior a duas vezes o limite superior da
normalidade, a heparina pode ser reiniciada sem dose de ataque. Caso
este valor seja superior, pedimos um novo PTT em quatro horas e TERAPIA INTERVENCIONISTA
reavaliamos.
RISCO INTERMEDIÁRIO
EMBOLIA PULMONAR MACIÇA
● Paciente que não deambula fora do quarto sem ajuda pelo
Qual é a conduta na embolia pulmonar maciça? Devemos suspeitar de menos 2x ao dia.
embolia pulmonar maciça, quando o paciente se apresenta com
● Processo infeccioso ou inflamatório sistêmico em atividade.
insuficiência respiratória, choque, dissociação eletromecânica ou
assistolia. A conduta inclui a administração de salina, aminas para ● Câncer atual.
suporte da pressão (dopamina e noradrenalina) e dobutamina para
● Grande cirurgia não ortopédica.
“estimular” o VD, uma vez que a maioria das mortes advém da falência
desta câmara. ● História de TEV.
● AVC.
A intubação orotraqueal e à ventilação mecânica são geralmente
realizadas e o emprego de trombolíticos recomendado. Para os pacientes ● Veia profunda ou PICC line (“cateter venoso profundo
com contraindicações à heparinização ou à trombólise, a embolectomia inserido perifericamente”).
intervencionista é a melhor conduta, e um filtro de veia cava deve ser ● Doença inflamatória intestinal.
instalado, para evitar recorrências.
● Imobilização > 72h no pré-operatório.
● Grande queimado.
PACIENTES CIRÚRGICOS
● Celulite.
contraindicações (ver adiante). A estratégia de primeira escolha na cirurgias de alto risco. O warfarin pode
atualidade consiste no uso de heparina de baixo peso molecular (ex.: ser administrado imediatamente antes
acompanhar a duração dos fatores de risco ou da internação... Cumpre cirúrgico, pois seu efeito anticoagulante
ressaltar que certos pacientes cirúrgicos de ALTO RISCO devem pleno só será atingido dentro de cinco a
continuar recebendo a profilaxia farmacológica em casa, mantendo-a sete dias... Apesar de pequenos
por um mês após a alta hospitalar, devido ao risco comprovadamente trombos distais poderem se formar nos
alto de desenvolver TEV neste período... Estes são: membros inferiores durante esse
período, ao alcançarmos
1. Artroplastia total de quadril; posteriormente o estado de
2. Osteossíntese de fratura de quadril; anticoagulação, inibiremos a extensão
do trombo, o qual será dissolvido pelo
3. Ressecção de câncer abdominal ou pélvico.
sistema fibrinolítico endógeno. Não é
um método empregado com frequência,
Vamos descrever agora as modalidades de tromboprofilaxia disponíveis até porque é inferior à heparina como
na prática (ver Tabela 7). profilaxia...
Câncer, história de TEV, imobilidade, Geralmente as gorduras neutras sofrem a ação da lipase, liberando
trombofilia laboratorialmente 3 pontos cada. ácidos graxos. Estes promovem uma vasculite disseminada, com
confirmada. extravasamento capilar nos pulmões, sistema nervoso central e vasos da
derme. O tratamento é de suporte e o prognóstico é variável.
Trauma ou cirurgia recente (≤ 1 mês). 2 pontos cada.
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Idade ≥ 70 anos, IAM ou AVC agudo,
infecção aguda, doença
1 ponto cada.
reumatológica,IMC ≥ 30, terapia de ABSOLUTAS RELATIVAS
reposição hormonal.
● Hemorragia aguda a ● Coagulopatia comINR >
partir de feridas, drenos 1,5.
ou lesões.
CONTRAINDICAÇÕES À HEPARINA ● Lesão ou neoplasia
PROFILÁTICA ● Hemorragia intracraniana intracraniana sem sangra-
nas últimas 24h. mento.
Observe a seguir as contraindicações ABSOLUTAS e RELATIVAS ● Trombocitopenia induzida ● Trombocitopenia< 50.000.
para o uso de heparina em doses profiláticas.
por heparina.
● Hemorragia intracraniana
● Trauma grave em crânio, nos últimos seis meses.
EMBOLIA GORDUROSA coluna ou extremidades.
● Hemorragia gastrointes-
● Anestesia epidural nas tinal ou geniturinária nos
O que é a embolia pulmonar gordurosa? A embolia gordurosa, uma causa
últimas 12h. últimos seis meses.
não trombótica de EP, é decorrente de politrauma com fraturas de ossos
longos. É a medula óssea gordurosa que “funciona como êmbolo”.
Uma síndrome que se inicia em torno de 24 a 48h após a fratura, sendo
caracterizada por:
● Confusão mental;
● Petéquias no abdome;
● Taquidispneia.
5
Cap. CÂNCER DE PULMÃO
DEFINIÇÃO
Tab. 1
Incidência
Homem Mulher
1º > Ca de próstata. 1º Ca de mama.
Mortalidade
Homem Mulher ETIOLOGIA
1º Ca de pulmão e 1º Ca de mama.
A principal causa de câncer de pulmão é o tabagismo, particularmente o
brônquios.
2º Ca de pulmão e hábito de fumar cigarros. Outras formas de tabagismo também se
2º Ca de próstata. brônquios. associam ao Ca broncogênico, porém, com menor intensidade. Cerca de
90% dos homens e 80% das mulheres que têm a doença são (ou foram)
3º Ca de estômago. 3º Ca de cólon e reto.
tabagistas! Antes da epidemia mundial de tabagismo no início do século
4º Ca de cólon e reto. 4º Ca de colo uterino. XX – pasmem – o câncer de pulmão era considerado uma DOENÇA
RARA...
5º Ca de esôfago. 5º Ca de estômago.
1º Ca de próstata. 1º Ca de mama.
A carga tabágica é um importante parâmetro diretamente relacionado
2º Ca de pulmão e 2º Ca de pulmão e
ao risco, e por isso sempre deve ser quantificada. É definida com o
brônquios. brônquios.
produto entre o número de maços consumidos por dia e a duração do
3º Ca de cólon e reto. 3º Ca de cólon e reto. hábito em anos (lembre-se que um maço contém 20 cigarros). Sua
unidade é o “maços/ano”, e considera-se como ALTO RISCO um valor
4º Ca de bexiga. 4º Ca de útero. > 20 maços/ano. No entanto, é válido frisar que não existe um limiar de
5º Melanoma. 5º Ca de tireoide. segurança... O tabagismo em qualquer grau eleva proporcionalmente o
risco de câncer de pulmão! Em média, fumantes têm risco 20x maior que
Mortalidade não fumantes de desenvolver Ca de pulmão no futuro.
Homem Mulher
Outras modalidades de tabagismo aumentam menos o risco de
1º Ca de pulmão e 1º Ca de pulmão e Ca broncogênico pelo fato de o indivíduo aspirar uma menor
brônquios. brônquios. quantidade de fumaça para satisfazer suas necessidades de
nicotina (sendo esta absorvida pela mucosa oral, já que se tratam
2º Ca de próstata. 2º Ca de mama.
de fumaças menos “tragáveis” – ex.: cachimbo, charuto).
3º Ca de cólon e reto. 3º Ca de cólon ou reto. Contudo, outras formas de câncer relacionado ao tabaco acabam
se tornando mais prevalentes nesse contexto, principalmente os
4º Ca de pâncreas. 4º Ca de pâncreas.
carcinomas das mucosas expostas (ex.: câncer de boca e lábios
5º Leucemias. 5º Ca de ovário. – estude a Tabela 3).
Esôfago. Pâncreas.
Nos últimos anos, a incidência de carcinoma broncogênico vem caindo
em homens (efeito das campanhas contra o tabagismo), ao passo que no
sexo feminino tal queda ainda não se concretizou (resultado do
aumento do tabagismo neste grupo algumas décadas atrás). Conforme
veremos adiante, grande parte dos casos poderia ser evitada, se o
tabagismo fosse definitivamente erradicado de nossa cultura.
O tabagismo passivo também eleva o risco de câncer de pulmão (em Conforme já dito, consideraremos aqui somente os carcinomas
cerca de 1,3x), justificando diversos casos em filhos ou cônjuges não broncogênicos, isto é, tumores malignos derivados do epitélio
fumantes de pais ou companheiros fumantes. A cessação do tabagismo respiratório inferior. Outras neoplasias que podem se originar no
reduz o risco com o tempo (efeito que, em geral, só se torna significativo pulmão (linfomas, sarcomas, mesoteliomas e carcinoides) não serão
passados 15-20 anos). Apesar de o risco realmente ser reduzido, é abordadas neste texto... Vejamos então as subdivisões histopatológicas
importante ter em mente que ele continua sendo maior em ex-fumantes dos dois principais grupos de carcinoma broncogênico.
do que em pessoas que nunca fumaram, e mantém relação direta com a
magnitude do tabagismo prévio!
CARCINOMA NÃO PEQUENAS CÉLULAS
Outras etiologias conhecidas do Ca de pulmão são a doença pulmonar
obstrutiva crônica (fator de risco independente), as pneumopatias CARCINOMA EPIDERMOIDE (ESCAMOSO OU
fibrosantes e a exposição a outros agentes ambientais (naturais ou ESPINOCELULAR)
ocupacionais). Os principais agentes exógenos (excluído o tabaco) são o
radônio e o asbesto, mas também existem outros (ex.: arsênico, haloéter, Representa o tipo histológico mais comum em nosso meio, responsável
cromo, níquel, gás mostarda, cloreto de vinila)... O radônio é um gás por até 2/3 dos casos, principalmente em homens. Em países
que emana do solo, oriundo do decaimento radioativo do urânio. desenvolvidos, o carcinoma epidermoide deixou de ser o subtipo mais
frequente, perdendo esta posição para o adenocarcinoma (ver adiante).
Há regiões da crosta terrestre que são ricas em urânio, o que explicaria Em geral tem localização central ou proximal e se apresenta como
maiores taxas de Ca broncogênico em não fumantes naquelas áreas. A tumoração brônquica exofítica facilmente visualizada à broncoscopia. É
exposição ao radônio também justifica um maior risco da doença em o tipo com maior chance de ser diagnosticado pela citologia do escarro.
mineiros... O asbesto por si só aumenta o risco, mas tal efeito é É também a causa mais comum de hipercalcemia paraneoplásica e
potencializado na coexistência de tabagismo (aumento de > 50x – há cavita em 10 a 20% dos casos.
sinergismo entre os dois fatores).
ADENOCARCINOMA
Hoje está claro que existe predisposição genética ao câncer de pulmão!
Uma história familiar positiva aumenta o risco em parentes de primeiro
Representa o tipo histológico mais comum em países desenvolvidos,
grau. Sabemos que a maioria dos portadores de Ca broncogênico é
assumindo a segunda posição em nosso meio. É o tipo predominante no
tabagista, porém, apenas uma MINORIA dos tabagistas desenvolve a
sexo feminino, nos jovens (< 45 anos) e nos não fumantes. Geralmente
doença (cerca de 10%)... Assim como ocorre em outros tipos de tumor,
de localização periférica, tem maior chance de ser encontrado na
a carcinogênese do Ca de pulmão é um processo demorado, que requer
citologia do líquido pleural e no aspirado nodular transtorácico. É a
acúmulo de sucessivas mutações genéticas para o surgimento do clone
causa mais comum de osteoartropatia hipertrófica paraneoplásica, e
neoplásico. Muitas dessas mutações já podem estar presentes no
possui pior prognóstico que o escamoso, quando comparado no mesmo
indivíduo, por herança genética, “encurtando” o caminho em direção
estágio.
ao câncer... As pesquisas mais recentes incriminam, em particular, genes
relacionados ao reparo do DNA e ao metabolismo/ativação de
carcinogênios (além daqueles implicados na dependência à nicotina). O Carcinoma bronquíolo-alveolar é um subtipo de adenocarcinoma,
Portadores de mutações herdadas nesses genes estariam mais propensos representando apenas 3% do total dos carcinomas broncogênicos. É
ao desenvolvimento de Ca de pulmão quando expostos ao cigarro e derivado das células alveolares e se apresenta como massa, lesão difusa
TIPOS HISTOLÓGICOS
Análises histopatológicas mais minuciosas sugerem que o carcinoma
pulmonar de grandes células na verdade seja um carcinoma
epidermoide ou adenocarcinoma tão indiferenciado (anaplásico) que
não pode ser classificado dentro de nenhum desses subtipos... Perfaz <
10% dos casos, sendo o subtipo menos frequente. Apresenta o pior
prognóstico dentre os carcinomas não pequenas células! De localização
mais periférica, comumente cavita.
SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS
As síndromes dermatológicas estão presentes em cerca de 1% ou menos O screening para Ca de pulmão agora é indicado em indivíduos
dos pacientes com câncer de pulmão. A dermatomiosite e a acantose assintomáticos com idade entre 55-80 anos que apresentam boa
nigricans são as principais. A caquexia é uma síndrome paraneoplásica saúde geral, carga tabágica ≥ 30 maços/ano e tabagismo atual ou
comum e possui causa multifatorial. A perda ponderal significativa (> cessado nos últimos 15 anos. O método preconizado é a TC
4,5 kg) por si só é um importante indício de mau prognóstico... helicoidal com baixa dose de radiação, que deve ser feita
anualmente.
DIAGNÓSTICO
Tradicionalmente, na ausência do screening, um diagnóstico precoce de
Ca de pulmão costumava ser fruto do acaso, graças à realização de
exames de imagem por outros motivos (menos de 15% dos pacientes
recebiam um diagnóstico precoce, mas espera-se que isso mude de agora
em diante)...
Muitos desses pacientes eram inicialmente identificados pela radiografia Deve ser anatômico e fisiológico. O primeiro determina a extensão da
simples do tórax. Vale lembrar que este método não é muito sensível doença, e orienta a melhor terapêutica a ser empregada. O estadiamento
(não detecta lesões pequenas, bem como lesões “escondidas” pela fisiológico, por sua vez, refere-se à capacidade que determinado paciente
silhueta cardíaca). Como regra, todo paciente com raio X “suspeito” tem de suportar o tratamento proposto (cirurgia, quimio e/ou
(ex.: nódulo pulmonar solitário, atelectasia) deve ser submetido a uma radioterapia). Neste caso, uma avaliação cuidadosa do status
tomografia computadorizada do tórax. A TC define melhor as cardiopulmonar possui importância fundamental...
características anatômicas da lesão (ex.: tamanho, bordos espiculados,
padrão de calcificação) além de permitir uma análise detalhada do
mediastino e das suprarrenais. Estadiamento anatômico – determina a ressecabilidade do
tumor, isto é, o tumor pode ao não ser totalmente removido por
uma cirurgia?
Seja como for, o próximo passo após suspeita de Ca de pulmão pelos
exames de imagem é a confirmação histopatológica. A citologia do
escarro possui sensibilidade de 60-70% para tumores de localização Estadiamento fisiológico – determina a operabilidade do
central, com menor acurácia para os tumores periféricos. Trata-se de paciente, isto é, o paciente suporta ou não um procedimento
exame pouco utilizado na prática, no entanto, dada sua alta cirúrgico?
especificidade, uma vez positivo confirma o diagnóstico!
dizer que exames como a RM de crânio (metástases no SNC), a T1: tumor ≤ 3 cm no maior diâmetro, envolto por parênquima
cintilografia óssea (metástases esqueléticas) e o PET-scan de corpo ou pleura visceral, na ausência de evidência broncoscópica
inteiro (qualquer metástase) NÃO devem ser feitos de rotina em todos os de invasão mais proximal do que um brônquio lobar (isto é,
doentes... Somente se houver sintomas específicos sugestivos de tumor não localizado no brônquio fonte).
comprometimento nos referidos locais é que deveremos solicitar tais
exames! Alguns autores consideram que a presença de perda ponderal T1a: ≤ 1 cm no maior diâmetro.
significativa (> 4,5 kg) é um forte indício de doença metastática, e por si T1b: > 1 cm e ≤ 2 cm no maior diâmetro.
só autoriza a pesquisa de metástases... Vale enfatizar que a TC de tórax
do portador de nódulo/massa pulmonar costuma ser entendida até o T1c: > 2 cm e ≤ 3 cm no maior diâmetro.
nível das adrenais (englobando também o fígado), o que já permite uma T2: tumor > 3 cm e ≤ 5 cm, ou então que possui qualquer um
avaliação pormenorizada dessas estruturas. dos abaixo:
N = LINFONODOS
M = METÁSTASE À DISTÂNCIA
VIDEO_22_PNE1
M0: ausência de metástase à distância.
M1c: múltiplas metástases extratorácicas em um órgão No estágio I, por definição, não há metástase linfonodal nem metástase à
único ou vários órgãos diferentes. distância. O que varia é o tamanho do tumor, o que, por si só, modifica
o prognóstico... O tratamento é primariamente cirúrgico, e oferece a
melhor chance de cura. O procedimento de escolha é a lobectomia ou
pneumectomia + ressecção linfonodal do mediastino. Tanto a quimio
quanto a radioterapia adjuvantes (pós-cirúrgicas) não mostraram
benefícios no estágio I... A sobrevida no estágio IA ressecado gira em
torno de 73%, e no estágio IB, 58%.
ESTÁGIO II
ESTÁGIO III
Como lembrete, a cirurgia de ressecção pulmonar estará contraindicada
se:
■ ESTÁGIO IIIA
● IAM nos últimos três meses;
Os pacientes dentro desse grupo são bastante heterogêneos, e o
● IAM nos últimos seis meses (relativo);
tratamento varia um pouco conforme o TNM de cada caso. Para piorar
● Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) menor que ainda mais a situação, existem controvérsias na literatura... Vejamos:
1 L;
O tratamento se baseia na quimioterapia. A QT no câncer de pulmão Tradicionalmente, o oat cell era dividido em apenas dois estágios:
atualmente é feita com duas drogas, sendo uma delas a cisplatina ou a doença limitada (1/3 dos casos) e doença avançada (2/3 restantes). Na
carboplatina. Diversos fármacos podem ser associados aos derivados da doença limitada, o tumor está confinado a um hemitórax e aos
platina (ex.: docetaxel, paclitaxel, irinotecan, vinorelbina ou linfonodos mediastinais e/ou supraclaviculares ipsilaterais. Na doença
gencitabina) e não parece haver diferenças com cada um deles em avançada temos extensão do tumor para além dos marcos citados
relação à sobrevida (todos resultam numa sobrevida média de 7-9 (sistema de estadiamento do Old Veterans Administration). Atualmente,
meses), sendo diferentes apenas seus perfis de toxicidade... Infelizmente, pode-se utilizar também o sistema TNM anteriormente descrito a fim
a sobrevida em cinco anos neste grupo é basicamente igual a ZERO... A de se obter um estadiamento mais pormenorizado.
quimioterapia deve ser feita em quatro ciclos (ou menos, caso haja
progressão da doença a despeito do tratamento). Se o paciente A terapia da doença limitada consiste em 4-6 ciclos de
apresentar um bom status de performance quando a doença progredir, quimiorradioterapia. O esquema de primeira linha é feito com cisplatina
recomenda-se lançar mão de esquemas quimioterápicos de segunda (ou carboplatina) e etoposídeo, com as sessões de irradiação torácica
linha (ex.: docetaxel isolado). A radioterapia pode ser empregada no começando precocemente, no primeiro ou segundo ciclo da QT. Uma
tratamento paliativo (ex.: irradiação de metástases ósseas, visando resposta completa é conseguida em 50-60% dos pacientes. A sobrevida
controle de dor e diminuição do risco de fratura). em cinco anos é observada em 15% dos casos.
INTRODUÇÃO
Existe controvérsia quanto ao papel da irradiação craniana profilática
em pacientes cuja doença atingiu a remissão completa inicial... Este
O Nódulo Pulmonar Solitário (NPS) é definido como uma densidade
procedimento prolonga discretamente a sobrevida, atrasando a recidiva
radiológica circunscrita cercada por parênquima pulmonar aerado
da doença no SNC (que ocorre em até metade dos pacientes que
normal, que apresenta formas diversas e tamanho variando de 0,8-3 cm
sobrevivem dois ou mais anos). Seu principal efeito colateral é a
(0,8-4 cm , para alguns autores). Sabemos que a maioria dos nódulos
disfunção neuropsicológica por lesão dos neurônios saudáveis. Todavia, a
com diâmetro superior a 4 cm são malignos e então são chamados de
maioria dos oncologistas indica a irradiação craniana profilática nos
“massa pulmonar”.
pacientes respondedores.
Sugestivos de Benignidade
– Tabela abaixo. As calcificações excêntricas podem ocorrer em lesões a 3 mm) é o melhor exame para se começar a avaliação de um NPS visto
Sugestivos de benignidade Nos pacientes que não preenchem os critérios acima (casos
indeterminados), ou quando há sugestão de malignidade (tamanho > 3
● Padrões de calcificação “benigna”: cm, idade > 65 anos, bordos espiculados, sinal do cometa) a abordagem
Calcificação difusa, ou laminar, ou central, ou “em pipoca” do nódulo deve sempre ser invasiva – com a obtenção de material para
(hamartoma). análise histológica. Esta pode ser realizada por:
1
elevado, representando a retenção de bases (bicarbonato) pelo
Apêndice INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
organismo. O paciente tolera muito bem a acidose respiratória crônica,
(enfoque para sdra e ventilação mecânica) mantendo-se lúcido e ativo. Agora, compare a gasometria acima com o
exame a seguir:
1. PaO2 < 60 mmHg; e/ou Paciente 3: pH = 7,15; PaCO2 = 120 mmHg; HCO3 = 42 mEq/L; BE =
+10 mEq/L.
2. PaCO2 > 50 mmHg (exceto para pacientes retentores crônicos
de CO2 ).
Esta é a gasometria do paciente 1 que acabou de descompensar a
função ventilatória. Trata-se de uma acidose respiratória “crônica
A função respiratória é dividida em dois componentes: a ventilação agudizada”. A PaCO2 aumentou rapidamente de 80 mmHg para 120
pulmonar e a troca gasosa nas unidades alveolares. Em função disso, mmHg, sem tempo hábil para os rins reterem mais base (o bicarbonato
podemos encontrar dois tipos diferentes de Insuficiência Respiratória continuou próximo a 40 mEq/L). Por isso, o pH sanguíneo despencou...
(IR): Como saber, olhando para esta gasometria, que se trata de uma acidose
crônica descompensada, e não uma acidose aguda? É só analisar o base
excess – se estiver elevado, é porque já havia retenção prévia de bases...
Tipo I: IR hipoxêmica;
resultado é uma diminuição da pO2 alveolar (PAO2). Assim como o ● Miastenia gravis.
aumento da pCO2 alveolar faz aumentar a PaCO2 (hipercapnia), se a ● Paralisia periódica hipocalêmica ou hipercalêmica.
pO2 alveolar sofre redução, a PaO2 diminui na mesma proporção. Daí a
● Polimiosite.
hipoxemia decorrente da hipoventilação pulmonar. Esta hipoxemia
pode ser corrigida pelo suplemento de O2, porém esta é uma conduta ● Distrofia muscular.
perigosa, pois ofertar O2 não corrige a hipercapnia e, em alguns casos,
pode até contribuir para a sua piora... Como veremos adiante, a Obstrução de vias aéreas superiores
hipoxemia da hipoventilação cursa com um gradiente alveoloarterial de ● Corpo estranho na traqueia.
oxigênio em níveis normais!
● Macroaspiração (conteúdo gástrico, hemoptise maciça).
● Traqueomalácia (colapso traqueal) ou laringomalácia.
CAUSAS DE INSUFICIÊNCIA VENTILATÓRIA
● Edema de glote.
Vamos analisar agora as causas de insuficiência ventilatória... Onde pode ● Tumor de traqueia ou laringe.
estar o problema? Pode estar, por exemplo: (1) no drive ventilatório
● Infecção submandibular (angina de Ludwig) ou do espaço
(controle bulbar involuntário da ventilação pulmonar); (2) na origem
retrofaríngeo.
medular dos nervos frênicos ou intercostais; (3) na própria inervação
diafragmática ou intercostal; (4) na musculatura respiratória; (5) na ● Difteria.
caixa torácica, que pode impedir a expansão dos pulmões; ou (6) nas
vias aéreas superiores, que podem encontrar-se gravemente obstruídas. Fadiga da musculatura respiratória
Em todos esses casos, o paciente cursará com redução do volume ● Crise asmática muito grave.
corrente e, algumas vezes, também com bradipneia. O resultado final é a
queda do volume-minuto e da ventilação alveolar. Todos os exemplos ● DPOC descompensada.
acima pertencem ao grupo denominado insuficiência respiratória ● Pneumonia grave.
extrapulmonar.
● Edema agudo de pulmão.
particularmente comum na DPOC descompensada e na síndrome de percentuais (não pode ultrapassar 100%). O resultado final é a mistura
Pickwick (obesidade + apneia do sono)... O centro respiratório desses de sangue com SaO2 de 100% com sangue de baixa SaO2 (80% por
pacientes se torna hipossensível à pCO2, e o drive ventilatório passa a exemplo), produzindo sangue hipoxêmico nas veias pulmonares...
depender mais da pO2. Assim, a hiperóxia pode desencadear Quanto maior o número de alvéolos mal ventilados e
normoperfundidos (baixa relação V/Q), mais grave será a hipoxemia!
hipoventilação e hipercapnia. Por conseguinte, retentores crônicos de
CO2 devem receber oxigênio sempre com um fluxo baixo (1-3 L/min),
visando manter a PaO2 na faixa fisiológica (entre 60-80 mmHg) ou uma
SaO2 entre 90-92%.
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
HIPOXÊMICA
Shunt arteriovenoso pulmonar: é definido pela passagem do sangue
venoso, proveniente da artéria pulmonar, por áreas do pulmão sem
nenhuma ventilação (relação V/Q = zero). Este sangue chegará às veias
pulmonares com pO2 e SO2 do sangue venoso (PvO2 em torno de 40
mmHg e SvO2 em torno de 75%), misturando-se ao sangue proveniente
das áreas pulmonares que receberam ventilação. Quanto maior a
quantidade de sangue shuntado, mais grave será a hipoxemia! Esta
começa a ocorrer com um shunt acima de 5% (mais de 5% do sangue
passando pelos pulmões sem receber oxigênio dos alvéolos). Um shunt
abaixo de 5% é considerado fisiológico. O shunt pulmonar pode ser de
dois tipos: (1) shunt parenquimatoso pulmonar; e (2) shunt vascular
pulmonar. O shunt parenquimatoso pulmonar é a causa mais comum de
shunt! É causado pelo preenchimento total de alguns alvéolos com
líquido, ou pelo seu colabamento, impedindo a entrada de ar (e,
portanto, oxigênio). As duas causas clássicas são o edema pulmonar
cardiogênico (edema agudo de pulmão) e a SDRA (Síndrome do
Desconforto Respiratório Agudo ou edema pulmonar “não
cardiogênico”). Esta última é caracterizada, entre outros aspectos, por
uma grave hipoxemia que não responde à administração de O2. O shunt
vascular pulmonar é provocado pela passagem do sangue por vasos que
comunicam diretamente artérias e veias pulmonares, by-passando os
alvéolos. Existem duas etiologias clássicas: as malformações
arteriovenosas (fístulas) pulmonares congênitas, como ocorre na
síndrome Osler-Weber-Rendu (telangiectasia hemorrágica hereditária); e
a síndrome hepatopulmonar (associada à cirrose hepática), na qual
pequenos vasos da base pulmonar se dilatam e permitem a passagem de
sangue sem contato com os alvéolos. Lembre-se da história típica da
síndrome hepatopulmonar: a dispneia piora na posição ortostática, e se
associa a uma queda da pO2 nesta posição (platipneia e ortodeóxia)...
Fig. 2
INVESTIGAÇÃO DO MECANISMO DE
HIPOXEMIA
até 150 mmHg para uma FiO2 de 100%. nem no coração nem no cérebro.
Dispositivos de baixo fluxo: são representados pela cânula nasal e pela 2. Instabilidade respiratória associada à instabilidade
máscara de Hudson. Esses dispositivos fornecem um fluxo constante de hemodinâmica.
O2, permitindo a mistura do ar “enriquecido” com o ar atmosférico. A
3. Obstrução de vias aéreas superiores (estridor, sibilos
FiO2 dependerá do volume-minuto do paciente: será menor se o inspiratórios).
paciente estiver hiperventilando (mais ar ambiente será misturado ao
4. Grande volume de secreção não adequadamente
O2 fornecido); e maior, se o paciente estiver hipoventilando.
depurado pelo paciente.
MODOS VENTILATÓRIOS
Dispositivos de alto fluxo: representados pela máscara de Venturi e pela
máscara com reservatório de oxigênio. A máscara de Venturi direciona o O termo “modo ventilatório”, quando aplicado ao estudo da ventilação
fluxo de O2 através de um tubo estreito que aumenta a velocidade do ar. mecânica, se refere ao método específico de suporte INSPIRATÓRIO
A pressão negativa gerada pela passagem do ar enriquecido por este que o aparelho fornece ao paciente. Vejamos os fundamentos dos
tubo constritor permite que mais ar seja “puxado” pelo paciente do principais modos ventilatórios disponíveis.
fornecimento de O2. De acordo com o tamanho do constritor, teremos
uma FiO2 conhecida para cada tipo de máscara. Em geral, a FiO2 pode Assisto-controlado: é o mais utilizado na prática, por ser aquele com
ficar na faixa entre 25-50%. O fluxo deve variar entre 2-12 L/min. A maior capacidade em garantir o repouso da musculatura respiratória. A
máscara com reservatório de oxigênio utiliza uma bolsa coletora de O2 cada ciclo, o aparelho fornece um fluxo inspiratório, determinando um
contendo uma válvula unidirecional. Esta válvula só permite que o ar volume corrente; quando cessa o fluxo, a expiração segue de forma
seja inspirado da bolsa, garantindo uma FiO2 bastante alta, entre 70- espontânea. Uma frequência respiratória mínima é ajustada, porém, se
90%. É o único dispositivo de suplemento de O2, excluída a ventilação a frequência própria do paciente for maior, esta irá comandar os ciclos
mecânica, capaz de fornecer uma FiO2 superior a 50%. ventilatórios (ventilação assistida), disparando o aparelho através da
pressão negativa nas vias aéreas (gatilho). O volume corrente deve ser
ajustado para 8-10 ml/kg (sem lesão pulmonar grave) ou 6 ml/kg (na
NOÇÕES DE VENTILAÇÃO MECÂNICA SDRA), e deve-se tomar o cuidado de não deixar a pressão de platô
ultrapassar 35 cmH2O, e a pressão de pico, 50 cmH2O. Se quisermos
alterar a relação I:E do aparelho, podemos ajustar o botão do fluxo
VENTILAÇÃO INVASIVA inspiratório (por exemplo: um aumento do fluxo reduz o tempo
inspiratório e reduz a relação I:E). O ideal é mantermos esta relação em
É a ventilação artificial aplicada através de um tubo traqueal torno de 1:2 na maioria dos pacientes, e de 1:3 no paciente com doença
(orotraqueal, nasotraqueal ou traqueostomia). Ao contrário da pulmonar obstrutiva (asma, DPOC).
ventilação pulmonar espontânea, a ventilação mecânica utiliza uma
pressão transtorácica positiva para fazer o ar entrar nos pulmões
durante a inspiração – ventilação com pressão positiva.
O modo assisto-controlado apresenta dois tipos básicos de ventilação:
PCV (ventilação com pressão controlada) e VCV (ventilação com Quais são as limitações dos dois modos ventilatórios
volume controlado). No PCV, o respirador insufla gás até atingir uma anteriormente citados? No PCV, não há como garantir o
pressão limite predefinida, gerando fluxo em direção ao pulmão, que será volume corrente a ser fornecido. Desse modo, se o paciente
tanto maior quanto maior for a complacência pulmonar. É importante apresenta um pulmão pouco complacente (isto é, um pulmão
compreender que este fluxo diminui progressivamente ao longo da mais “duro”), a pressão máxima permitida nas vias aéreas
inspiração (visto que o pulmão vai ficando “cheio” de ar). A ciclagem (pressão limite) é atingida mais rapidamente, reduzindo o
ocorre após ser atingido o tempo inspiratório predeterminado. No VCV, fluxo de ar fornecido pelo ventilador, o que faz com que esses
por outro lado, o respirador fornece um fluxo predefinido ao sistema, pacientes acabem recebendo menos volume corrente ao final
com a ciclagem acontecendo quando é atingido o volume corrente do tempo inspiratório programado. Já no VCV não há esse
predeterminado. Observe as figuras a seguir. problema, porém, na baixa complacência, o volume corrente
será atingido à custa de uma pressão elevada, submetendo o
paciente ao risco de barotrauma.
3. Há estabilidade hemodinâmica?
PEEP significa pressão positiva no final da expiração. Podemos
programar no respirador um determinado nível de PEEP, visando, por 4. Apresenta drive respiratório? (capacidade de iniciar um
exemplo, prevenir atelectasias, ao evitar o colabamento dos alvéolos no ciclo respiratório).
final do ciclo respiratório. Um PEEP entre 3-7 cmH2O é capaz de 5. Nível de consciência está adequado? (paciente tranquilo,
realizar esta função (PEEP “fisiológico”). Um PEEP entre 10-25 facilmente despertável).
cmH2O é denominado PEEP “terapêutico”, fazendo parte do protocolo
6. Possui tosse eficaz?
terapêutico da SDRA. Seu efeito é recrutar alvéolos que se encontravam
atelectasiados e redistribuir o líquido alveolar, para facilitar a troca 7. Está sem acidose?
gasosa (redução do shunt intrapulmonar). Seu benefício foi bem 8. Uma possível sobrecarga hídrica foi corrigida?
documentado. Podemos perceber nitidamente que, quando aumentamos
9. Os eletrólitos séricos estão normais?
a PEEP para estes níveis, a PaO2 e a SaO2 melhoram muito, permitindo
diminuir a FiO2 do aparelho (evitando, desse modo, a toxicidade do 10. Paciente sem previsão de intervenção cirúrgica?
excesso de oxigênio).
Etiologia da SDRA
A lesão histopatológica da SDRA é a DAD (Dano Alveolar Difuso). Os
Injúria pulmonar direta achados na biópsia pulmonar mostram as seguintes alterações: edema
● Aspiração do conteúdo gástrico (síndrome de Mendelson). intersticial e alveolar proteináceo, congestão capilar, hemorragia
alveolar, necrose dos pneumócitos tipo I e presença de membrana
● Infecção pulmonar (pneumonia) – bacteriana, viral, etc.
hialina revestindo a parede interna dos alvéolos. A membrana hialina é
● Trauma torácico grave (contusão pulmonar). derivada dos debris dos pneumócitos tipo I mortos, juntamente com
● Inalação de produtos tóxicos. proteínas plasmáticas (imunoglobulina, complemento, fibrinogênio),
que ganham o espaço alveolar através do endotélio lesado e da
● Afogamento. membrana basal rompida. A SDRA possui três fases evolutivas, com
● Eventos embólicos (líquido amniótico, embolia gordurosa, achados histopatológicos característicos: (1) fase exsudativa; (2) fase
embolia aérea). proliferativa; e (3) fase fibrótica.
com um paciente francamente taquidispneico, taquicárdico, cianótico e após um insulto clínico conhecido, ou o paciente deve ter
agitado, mas ainda com radiografia de tórax normal... Contudo, via de sintomas respiratórios novos ou progressivamente piores
regra, dentro das próximas 24h o infiltrado pulmonar aparece, como ao longo da última semana.
mostra a FIGURA 1. O infiltrado é obrigatoriamente bilateral, podendo ● Opacidades bilaterais, consistentes com edema pulmonar,
poupar algumas áreas pulmonares (principalmente os ângulos no RX ou TC de tórax. Tais opacidades não podem ser
costofrênicos, algo que não acontece no edema pulmonar cardiogênico) totalmente explicadas por derrame pleural, atelectasias ou
ou comprometer toda a extensão dos pulmões (“síndrome dos pulmões nódulos pulmonares.
brancos”). Sinais de esforço ventilatório logo se tornam patentes ● A falência respiratória não pode ser totalmente explicada
(batimento de asa do nariz, tiragem intercostal e supraclavicular,
por falência cardíaca ou congestão volêmica. Uma
respiração abdominal). Outros sintomas como febre alta, expectoração
avaliação objetiva da função cardíaca (ex.:
purulenta, sibilos, hipotensão arterial e choque não são decorrentes da
ecocardiograma) é mandatória se o paciente não possuir
SDRA propriamente dita, mas podem estar presentes em consequência
fatores de risco para SDRA.
às mesmas causas básicas (pneumonia, contusão pulmonar,
broncoaspiração, etc.). ● A relação P/F deve estar reduzida (≤ 300), sendo proposta
a seguinte estratificação de gravidade:
Tab. 6
Nitrofurantoína. Procarbazina.
Amiodarona. Metisergida.
Dasatinibe. Dantrolene.
Bromocriptina. Alcaloides do Ergot.
Metotrexato. Clozapina.
Obs.: derrame pleural causado por drogas costuma ter líquido rico em
EOSINÓFILOS.
As Tabelas 2 e 3 enumeram as principais etiologias do derrame pleural. HISTÓRIA. Derrames pleurais pequenos costumam ser assintomáticos.
Conforme será visto adiante, a diferenciação entre transudato e exsudato Nos pacientes que referem sintomas, as queixas mais frequentes são: (1)
é o grande divisor de águas na investigação do diagnóstico etiológico. dispneia; (2) tosse; (3) dor torácica tipo “pleurítica” ou “respirofásica”
Estatisticamente, a principal causa de derrame pleural na prática é a (dor que piora na inspiração profunda). Esse tipo de dor denota a
insuficiência cardíaca congestiva – um transudato. As principais existência de inflamação pleural (pleurite), e costuma desaparecer
etiologias de exsudato são o derrame parapneumônico e o câncer. O quando o acúmulo de líquido afasta as pleuras parietal e visceral,
tipo de câncer mais associado ao derrame pleural é o câncer de pulmão anulando seu atrito. Derrames muito volumosos podem causar a
(responsável por 1/3 dos casos), seguido pelo câncer de mama e pelo clássica trepopneia, isto é, dispneia em decúbito lateral com o lado que
linfoma (juntas, essas três doenças respondem por ~ 75% dos derrames contém o derrame voltado para cima (o decúbito para o lado oposto
pleurais neoplásicos)... alivia a dispneia). De um modo geral, a sintomatologia tende a ser mais
intensa em portadores de doenças cardiopulmonares prévias.
Tab. 2
Transudato Exsudato
EXAME FÍSICO. Derrames pleurais pequenos não possuem expressão Para que o derrame seja visível na incidência em perfil, são necessários
semiológica. Derrames volumosos costumam produzir uma síndrome de mais de 75-100 ml de líquido para “velar” o seio costofrênico posterior
derrame pleural: (1) macicez à percussão; (2) redução (ou abolição) do (FIGURA 2). Logo, a incidência em perfil é mais sensível do que a
murmúrio vesicular acima da área de derrame; (3) desaparecimento do incidência em PA para o diagnóstico de derrame pleural! Derrames
frêmito toracovocal. Se houver atelectasia compressiva do parênquima muito volumosos são facilmente identificáveis, pois produzem um
pulmonar subjacente, notaremos a clássica respiração brônquica (som aspecto inconfundível no RX: a famosa parábola de Damoiseau
alto e agudo, com nítida divisão – silêncio – entre as fases inspiratória e (FIGURA 3).
expiratória) e a egofonia (o paciente fala “i”, mas o médico ausculta “e”
– significa colabamento do espaço alveolar com brônquios pérvios). Um
derrame que ocupa todo o hemitórax costuma produzir abaulamento
dos espaços intercostais e desvio contralateral da traqueia. Nas pleurites
iniciais (ainda sem derrame significativo), pode-se perceber o atrito
pleural.
PNE1_ATRITOPLEURAL
EXAMES DE IMAGEM
DIAGNÓSTICO
A toracocentese diagnóstica é o exame mais importante para esclarecer a
etiologia de um derrame pleural. Diante de derrame pleural novo e sem Seroso Líquido pleural sui generis
causa aparente, devemos sempre realizar uma toracocentese! (amarelo-palha).
Tab. 4
● pH.
Aparência do Líquido Pleural ● Glicose (dosar também no sangue).
● Celularidade (contagem de células mesoteliais, hemácias e
Pus Empiema.
leucócitos com diferencial).
3
Um grupo grande de doenças pulmonares se caracteriza pelo
Apêndice acometimento difuso e bilateral dos septos alveolares, que se apresentam
PNEUMOPATIAS INTERSTICIAIS
inflamados na sua fase inicial e fibrosados nas fases mais avançadas.
DIFUSAS
Para este grupo, costuma-se utilizar a nomenclatura “Pneumopatias
(INCLUINDO AS PNEUMOCONIOSES)
Intersticiais Difusas (PIDs)”. Contudo, o acometimento das células
parenquimatosas desses septos é expressivo e, além disso, muitas das
patologias deste grupo também apresentam outros tipos de lesão
INTRODUÇÃO pulmonar, tais como o preenchimento alveolar (pneumonia) e lesão das
vias aéreas distais (bronquiolite). Por essa razão, alguns autores sugerem
o nome “pneumopatias parenquimatosas difusas”.
DEFINIÇÃO
Um outro ponto importante na definição deste grupo de pneumopatias
Os septos alveolares contêm as principais células do tecido pulmonar,
é o fato de se excluírem as causas infecciosas (tais como as pneumonites
como os pneumócitos tipo I, os pneumócitos tipo II e as células
intersticiais causadas por Mycoplasma pneumoniae, vírus, Pneumocystis
endoteliais, representando, portanto, aquilo que chamamos de
carinii, Mycobacterium tuberculosis) e neoplásicas (tais como o linfoma
parênquima pulmonar. O tecido conjuntivo que preenche o interior
BALT e a linfangite carcinomatosa), que podem levar a um
desses septos e a bainha que reveste os vasos pulmonares, brônquios e
acometimento muito semelhante do parênquima pulmonar. Na prática
bronquíolos representam o interstício pulmonar.
médica, entretanto, estas entidades devem fazer parte da investigação de
todo paciente com infiltrado pulmonar difuso!
PATOLOGIA
A lesão característica das fases iniciais é a alveolite (ou simplesmente,
pneumonite), definida como o acúmulo de células inflamatórias nos 1. Pneumoconioses (silicose, asbestose, etc.).
septos alveolares – FIGURA 1B, que se encontram espessados e 2. Induzida por drogas.
edemaciados. As células inflamatórias também extravasam para o
3. Radioterapia.
lúmen, formando exsudatos alveolares. O epitélio do alvéolo está
lesado, havendo degeneração dos pneumócitos tipo I (células planas) e 4. Aspiração de gases ou fumos.
proliferação dos pneumócitos tipo II (células cuboides). As células 5. Doença enxerto versus hospedeiro.
inflamatórias que predominam são macrófagos, linfócitos e/ou
neutrófilos e, em determinadas entidades, eosinófilos. Em um subgrupo 6. SARA residual.
de doenças, o infiltrado de macrófagos e linfócitos forma nódulos de 7. Pneumonias eosinofílicas de causa conhecida.
granuloma na parede dos alvéolos.
Padrão histopatológico:
Alveolite inespecífica, fibrose intersticial ± ocupação
alveolar
Fig. 1:
A: Histologia do parênquima pulmonar normal – observe os septos 1. Fibrose pulmonar idiopática.
alveolares finos. Observe também um brônquio cortado
longitudinalmente; 2. Pneumonite intersticial descamativa.
B: Alveolite – septos espessados, macrófagos no espaço alveolar.
3. Pneumonite intersticial aguda idiopática.
4. BOOP.
5. Colagenoses.
Diversas doenças incluídas neste grupo possuem a característica de não
se resolverem com a reconstituição do parênquima pulmonar. Em vez 6. Vasculites não granulomatosas.
disso, o infiltrado inflamatório acaba se convertendo em um processo 7. Síndromes hemorrágicas pulmonares.
fibrótico. A fibrose ocupa os septos alveolares e preenche os seus espaços
8. Síndromes pulmonares eosinofílicas idiopáticas.
aéreos, levando à destruição progressiva do parênquima. Formam-se
múltiplas áreas císticas com paredes fibróticas, que podem ser 9. Pneumonite intersticial linfocítica.
visualizadas na radiografia de tórax ou TC, sendo descritas como
10. . Linfangioleiomiomatose.
“pulmão em favo de mel” ou “faveolamento pulmonar”.
11. . Proteinose alveolar.
3. Beriliose.
Padrão histopatológico:
Fibrose intersticial ± alveolite inespecífica ±
ocupação alveolar
Padrão histopatológico:
Granuloma
Etiologia conhecida
Etiologia desconhecida
● Volumes estáticos: o volume total de ar nos pulmões após uma
1. Sarcoidose. inspiração máxima é a Capacidade Pulmonar Total (CPT), enquanto
2. Vasculites granulomatosas. o volume de ar que fica nos pulmões após uma expiração máxima é o
Volume Residual (VR). A Capacidade Residual Funcional (CRF) é o
3. Histiocitose X.
que fica nos pulmões após uma expiração não forçada – representa a
4. Granulomatose linfomatoide. posição de repouso máximo do ciclo respiratório.
Fig. 2
A infiltração e a fibrose parenquimatosa progressiva reduzem a
complacência pulmonar e os volumes pulmonares, revelando um padrão
restritivo na prova de função pulmonar. A capacidade vital e a
capacidade pulmonar total são os primeiros volumes a se reduzirem. Na
espirometria, o VEF1,0 reduz proporcionalmente à CVF, ou a CVF
reduz mais que o VEF1,0, mantendo normal ou elevado o índice de
VEF1,0/CVF. Os fluxos expiratórios forçados estão todos normais, se o
padrão for restritivo puro. Com a progressão da doença, todos os
volumes pulmonares podem se reduzir: volume residual, capacidade
residual funcional, capacidade pulmonar e, por fim, o volume corrente.
Nas fases avançadas, para manter o volume-minuto, o paciente torna-se
cronicamente taquipneico. Algumas PID, como a silicose e a sarcoidose,
geralmente revelam um padrão misto de comprometimento – obstrutivo
+ restritivo.
Principais:
Principais:
● Sarcoidose;
● Sarcoidose;
● Silicose;
● Pneumonite por hipersensibilidade;
● Beriliose;
● Silicose;
● Induzida por fenitoína (pseudolinfoma).
● Histiocitose X.
Infeccioso: Tuberculose;
Infeccioso: Tuberculose;
Histoplasmose;
Histoplasmose;
Criptococose;
Paracoccidioidomicose (peri-
Paracoccidioidomicose (peri-
hilar).
hilar).
Principais:
● Artrite reumatoide;
● LES;
● Asbestose;
● Pneumonite actínica;
● Induzida por nitrofurantoína;
● Linfangioleiomiomatose.
*História ocupacional: as pneumoconioses tornam-se os primeiros
Infeccioso: Tuberculose; diagnósticos sugeridos em caso de uma história positiva de exposição à
Principais:
*História medicamentosa: as principais drogas supostamente
● BOOP;
incriminadas na PID são: nitrofurantoína, metotrexato, amiodarona,
● Síndromes hemorrágicas pulmonares. bleomicina, ciclofosfamida, bussulfan, procarbazina, nitrosureias,
fenitoína, sais de ouro e os AINE.
Nos casos restantes, o diagnóstico deve ser obtido pela biópsia pulmonar
a céu aberto ou guiada pela videotoracoscopia. Doenças como a fibrose
pulmonar idiopática, a pneumonite intersticial descamativa e a BOOP
só podem ser diagnosticadas dessa maneira.
Vale dizer que hoje já está bem estabelecido que, para a maioria das Devemos excluir outras doenças que podem provocar alterações
pneumopatias intersticiais difusas, avaliações objetivas da capacidade semelhantes, como LES, artrite reumatoide, esclerodermia e asbestose.
funcional do paciente (ex.: medida da SpO2 durante esforço, protocolos O que pode trazer confusão é a positividade do FAN, presente em 20%
específicos de testes cardiopulmonares, como o “TC6” – teste da dos casos de FPI. O esclarecimento diagnóstico em casos duvidosos
caminhada em seis minutos) fornecem importantes parâmetros (aspecto tomográfico “não definitivo” de FPI) envolve a realização de
prognósticos, além de permitirem o acompanhamento evolutivo da uma biópsia pulmonar a céu aberto ou guiada por toracoscopia. O
doença e sua resposta ao tratamento. padrão histopatológico esperado denomina-se pneumonite intersticial
usual (UIP), que se caracteriza pela presença, numa mesma amostra
tecidual, de três padrões concomitantes (aspecto em “colcha de
PRINCIPAIS DOENÇAS retalhos”): (1) alveolite mononuclear; (2) fibrose alveolar; e (3) áreas de
faveolamento. Os tecidos brônquico e vascular são poupados.
presentes)
2. Alterações reticulares.
SARCOIDOSE
Dada a sua importância didática, esta doença será abordada em um
capítulo à parte.
SILICOSE
FIGURA 11, na qual ocorre fibrose maciça, marcada pela formação de constitucional. Raramente, nota-se adenomegalia hilar na radiografia.
conglomerados com diâmetro acima de 1 cm que vão coalescendo e se Esporadicamente, há calcificação dos linfonodos hilares, do tipo “casca
tornando grandes massas de fibrose, predominando nos lobos de ovo”. Curiosamente, o risco de tuberculose pulmonar está bastante
superiores. Os lobos inferiores podem apresentar hiperinsuflação aumentado!!! A associação silicose + tuberculose é chamada
As fibras de asbesto ou amianto são utilizadas na indústria de materiais O risco de carcinoma broncogênico também está aumentado em cerca de
isolantes. A construção de prédios ou a sua demolição, a fabricação de cinco vezes. A associação entre exposição ao asbesto e tabagismo
telhas e tubulações, a fabricação de freios, a construção naval e a aumenta em 50 vezes a chance de Ca de pulmão!!!
profissão de bombeiros encanadores podem trazer uma exposição
suficiente para causar a doença. Uma exposição por mais de quinze
anos geralmente é necessária. Os familiares de indivíduos expostos ao
asbesto em seu trabalho podem inalar as fibras presentes em suas
roupas.
BERILIOSE
A exposição ao berílio, um metal utilizado em indústria de alta A bronquiolite obliterante com pneumonia em organização (BOOP) é
tecnologia, na fabricação de lâmpadas fluorescentes e de armas uma entidade que sempre deve ser considerada como diagnóstico
nucleares, pode levar a uma reação de hipersensibilidade do tipo diferencial nos pacientes que apresentam um quadro febril e
granulomatosa, levando a um quadro muito semelhante ao da constitucional arrastado, associado a infiltrado pulmonar bilateral. O
sarcoidose ou da pneumonite por hipersensibilidade (adiante). Surge quadro pode se confundir com a tuberculose e até mesmo com uma
um infiltrado pulmonar difuso reticulonodular ou nodular e, pneumonia atípica. A radiografia de tórax revela infiltrado intersticial e
frequentemente, adenomegalia hilar bilateral. A sensibilidade aos sais de alveolar bilateral, com áreas de condensação. Alguns infiltrados podem
berílio deve ser confirmada para o diagnóstico, através do teste de ser migratórios. O padrão da TCAR é sugestivo: opacidades do tipo
transformação linfocitária ao berílio. O tratamento, além da parada da vidro fosco entremeadas a áreas de consolidação pulmonar e infiltrados
exposição ao agente, inclui o uso de corticoides sistêmicos nos casos nodulares. O diagnóstico deve ser preferencialmente confirmado pela
muito sintomáticos. Outros casos de pneumonite intersticial por biópsia pulmonar a céu aberto (ou videotoracoscópica), que mostra o
hipersensibilidade a metais pesados são: dióxido de titânio, pó de característico padrão de preenchimento alveolar por um tecido fibroso
alumínio, cromo, cobalto, tungstênio. de granulação (pneumonia organizada) associado à obliteração
bronquiolar pelo mesmo tecido. O diagnóstico presuntivo sem biópsia
pulmonar pode ser aceito em pacientes com alta probabilidade clínica
PNEUMONITES POR HIPERSENSIBILIDADE de BOOP e boa resposta à corticoterapia empírica... O tratamento é
feito com corticoide sistêmico (prednisona), havendo boa resposta. Vale
A exposição continuada a determinados agentes orgânicos (fungos, dizer que as recidivas são comuns, o que requer corticoterapia
bactérias termofílicas, proteínas animais) ou inorgânicos (isocianatos) prolongada (e maior probabilidade de efeitos adversos do tratamento).
pode propiciar uma alveolite granulomatosa por uma reação de
hipersensibilidade do tipo III (dependente de imunocomplexos) e IV
(tardia, mediada por linfócitos T helper). A exposição aguda a esses
agentes pode levar à febre, mal-estar, tosse e dispneia após cerca de 6-8h,
melhorando em alguns dias. A forma subaguda da doença necessita de
uma exposição mais prolongada, podendo evoluir para uma síndrome
febril associada à dispneia grave, com necessidade de hospitalização. A
recuperação pulmonar pode ou não ser completa nesses casos. A forma
crônica é a que mais se parece com a PID, evoluindo insidiosamente
com dispneia aos esforços, tosse e períodos de febre ou exacerbação do
quadro, após novas e repetidas exposições ao agente antigênico.
Curiosamente, o tabagismo reduz a chance de um indivíduo desenvolver
pneumonite por hipersensibilidade, por abrandar a resposta
imunológica alveolar.
Aqui se consideram duas entidades: (1) síndrome de Goodpasture; (2) Uma causa rara de PID, a pneumonite intersticial linfocítica está
hemossiderose pulmonar idiopática. A primeira é uma doença frequentemente associada a outras doenças, como a aids (geralmente em
autoimune, marcada pela presença de anticorpos antimembrana basal crianças), a hipogamaglobulinemia e a síndrome de Sjögren. Pode ser
alveolar e glomerular. A doença apresenta-se como uma síndrome idiopática. A evolução pode ser para piora progressiva, estabilização ou
pulmão-rim recorrente, com dispneia, hemoptise franca e resposta ao corticoide sistêmico. A granulomatose linfomatoide é, na
glomerulonefrite com insuficiência renal aguda. A anemia ferropriva é verdade, um linfoma de células T angiocêntrico, promovendo um
bastante comum. A doença acomete mais indivíduos jovens do sexo infiltrado granulomatoso no pulmão, pele e sistema nervoso central. O
masculino, e deve ser diferenciada das vasculites que cursam com linfoma BALT deve sempre ser considerado no diagnóstico diferencial
hemoptise e glomerulite, da pneumonite lúpica e da leptospirose. O com as PIDs. Caracteriza-se por um quadro oligossintomático
diagnóstico é feito pela biópsia renal, utilizando-se a associado a um infiltrado misto difuso bilateral. A adenomegalia hilar e
imunofluorescência. O tratamento é com plasmaferese, corticoides e mediastinal são incomuns neste tipo de linfoma. Trata-se de um linfoma
imunossupressores sistêmicos. A hemossiderose pulmonar idiopática é de células B de baixo grau de malignidade e boa resposta à
uma doença mais branda que a primeira, manifestando-se com quimioterapia.
hemoptises recorrentes e infiltrados alveolares bilaterais predominando
na faixa etária pediátrica ou adolescente. A anemia ferropriva está
quase sempre presente. A hepatoesplenomegalia ocorre em 20% dos
casos. Ao longo dos anos, o paciente evolui com um infiltrado
intersticial permanente, associado à fibrose progressiva do parênquima.
Os corticoides sistêmicos não interferem na história natural da doença.
PROTEINOSE ALVEOLAR
4
Apêndice SARCOIDOSE
O pulmão é o órgão mais afetado (> 90% dos casos – FIGURA 1), porém
qualquer parte do corpo pode ser atingida, particularmente a pele, os
olhos, linfonodos e o fígado.
Pelo fato de frequentemente acometer os pulmões, a pele e os olhos
(áreas expostas), acredita-se que a doença possa ser causada por algum
agente ambiental – infeccioso ou não – que seja transmissível pelo ar...
Diversos estudos associaram a ocorrência de sarcoidose com exposição
a inseticidas e ambientes contaminados por fungos (bolores).
Trabalhadores da construção civil e bombeiros possuem risco
aumentado de desenvolver a doença. Um dado interessante é que houve
um “surto” de sarcoidose nos indivíduos que participaram do resgate às
vítimas do 11 de setembro de 2001 (atentado ao World Trade Center)!!!
ETIOLOGIA
O grande marco histopatológico da sarcoidose é o surgimento 1. Diante das explicações acima, fica fácil deduzir dois fenômenos
cumulativo de GRANULOMAS NÃO CASEOSOS nos diversos interessantes: (1) na SIDA avançada, a queda na contagem de
tecidos. Um granuloma (FIGURA 2) é uma estrutura compacta, linfócitos T CD4+ faz a sarcoidose regredir espontaneamente, ao
composta por um agregado central de macrófagos circundado por uma passo que quando o paciente recebe terapia antirretroviral, com
coroa de linfócitos T CD4+ (linfócitos T helper), e, às vezes, linfócitos recuperação dos níveis de CD4, a doença retorna, fazendo parte da
B. É comum a fusão das membranas dos macrófagos centrais, o que “síndrome de reconstituição imune”; (2) portadores de sarcoidose
origina as células gigantes multinucleadas tipicamente presentes nos infectados pelo vírus da hepatite C NÃO devem receber interferon-
granulomas. Macrófagos mais periféricos assumem um formato alfa como tratamento, pois esta citocina exógena estimularia a
“epitelioide”, originando as chamadas células em paliçada (“paliçada” é formação de granulomas, piorando – e muito – a doença
um tipo de cerca com estacas de madeira). É nítido que a intenção do granulomatosa de base...
organismo ao formar um granuloma é literalmente conter, “enjaular”
2. Se injetarmos tecido homogeneizado de um portador de sarcoidose
um antígeno estranho! Se o processo for persistente, fibroblastos
no subcutâneo de outro paciente com sarcoidose, ocorrerá uma
circundarão o conjunto descrito dando início à formação de uma
reação denominada Kveim-Siltzbach. Esta difere de uma reação de
cicatriz fibrótica que distorce os tecidos vizinhos. Caso contrário, os
hipersensibilidade cutânea tardia pelo fato de levar de quatro a seis
granulomas podem desaparecer sem deixar sequelas...
semanas para se desenvolver, persistindo por vários meses (a reação
de hipersensibilidade cutânea tardia surge em torno de 72h).
Todavia, é preciso ressaltar que a reação de Kveim-Siltzbach é pouco
utilizada na prática! O motivo é a inexistência de kits comerciais
para a realização do teste, o que faz com que os extratos de tecido
elaborados por cada laboratório individual não possuam
padronização adequada, comprometendo a reprodutibilidade do
exame... A imunidade humoral do portador de sarcoidose também se
encontra exacerbada, e podemos observar em alguns casos:
● Anticorpos antinucleares;
OBSERVAÇÕES
A sarcoidose é uma doença multissistêmica, e como tal pode apresentar
sintomatologia variada, dependendo do paciente. Um aspecto marcante
é o fato de que os pulmões quase sempre estão envolvidos! Realmente, a
grande maioria dos pacientes se apresenta com queixas respiratórias,
sendo a tosse seca e a dispneia as principais!!! Infelizmente, por serem
achados inespecíficos, com frequência a doença não é reconhecida
quando de sua apresentação clínica, e em média demora até um ano
para que o diagnóstico seja feito. Quando a doença se inicia pela pele,
por outro lado, o diagnóstico de sarcoidose costuma ser dado em menos
tempo, geralmente nos primeiros seis meses...
FORMAS DE APRESENTAÇÃO
ASSINTOMÁTICA
AGUDA
Fig. 3: A síndrome de Heerfordt-Waldenström.
Em outros casos, a sarcoidose aparece com sinais e sintomas agudos,
com evolução de somente algumas semanas.
COMPROMETIMENTO DE ÓRGÃOS
ESPECÍFICOS
PULMÕES
LINFONODOS
PELE
A sarcoidose acomete a pele em cerca de um terço dos pacientes. As Granulomas da sarcoidose também podem se desenvolver em cicatrizes
lesões mais comuns são: cirúrgicas antigas e tatuagens. A sarcoidose cutânea raramente causa
maiores problemas, embora possa ser esteticamente desfigurante.
● Eritema nodoso;
RINS
SISTEMA NERVOSO
Qualquer porção do sistema nervoso (central ou periférico) pode ser
alvo da sarcoidose, e cerca de 10% dos indivíduos apresentam sintomas
neurológicos. Tais sintomas, por ordem de frequência, incluem: (1)
paralisias de nervos cranianos, principalmente do sétimo par (facial); (2)
cefaleia; (3) ataxia; (4) disfunção cognitiva; (5) fraqueza e; (6)
convulsões. A mononeuropatia ou polineuropatia dos nervos periféricos
provoca perda sensorial, parestesias e fraqueza motora. Pode haver
meningite linfocítica de instalação insidiosa – a meningite sarcoide –
importante diagnóstico diferencial com a meningite por BK.
Granulomas dentro do parênquima cerebral podem produzir sintomas
de lesão expansiva, como cefaleias, convulsões ou deficit focais. O
diabetes insipidus (por lesão hipotalâmica) é uma manifestação clássica
da neurossarcoidose! Em geral o portador de neurossarcoidose também
apresenta lesões oftalmológicas, e a presença de lesões em órgãos à
distância ajuda a fortalecer o diagnóstico... A ressonância é útil para o
diagnóstico e acompanhamento, uma vez que o tratamento deve visar à
resolução completa das lesões observadas por este método de imagem.
GLÂNDULAS ENDÓCRINAS
CORAÇÃO
● Pode haver osteoporose e formação de cistos (FIGURA 7).
Embora existam granulomas cardíacos em até 25% das necrópsias de
pacientes com sarcoidose, as manifestações clínicas são incomuns
(menos de 5% dos indivíduos – exceto, como já citado no início do
capítulo, nos pacientes japoneses, onde cerca de ¼ dos indivíduos
apresenta cardiopatia relacionada à doença). Quando ocorre
comprometimento cardíaco, este pode se manifestar de muitas formas:
bloqueios, arritmias, angina, aneurismas, derrame pericárdico e ICC. O
cor pulmonale é uma apresentação ainda mais rara, e costuma ser visto
em associação à fibrose pulmonar avançada. A biópsia endocárdica é
pouco sensível (os granulomas tendem a estar dispersos no coração) e o
diagnóstico pode ser dado pela RM com gadolíneo, ou mesmo pelo
PET-scan. Na suspeita de cardiossarcoidose é recomendável realizar um
ECG-Holter ou mesmo um estudo eletrofisiológico, pois o risco de
morte súbita arrítmica é significativo, a qual pode ser prevenida pelo
implante de um cardiodesfibrilador automático...
Fig. 7
Como já dito, na sarcoidose pode haver artrite aguda. Esta se manifesta ● Lesões grandes e conglomeradas podem estar presentes em
como poliartrite (por vezes migratória) das grandes articulações, como associação à retração hilar (diagnóstico diferencial com silicose);
tornozelos, joelhos, punhos e cotovelo. Habitualmente há regressão sem ● Os infiltrados parenquimatosos são por vezes algodonosos e
deformidades articulares.
apresentam um padrão alveolar;