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“lovin Le Teka Aiqe 1 Presses Univertares de France “iad: Ann M, Gomes Siva Revie An Bros ope: FHA, agen de saga © Museo Archcclopco Nazionale di Notas ImagesFetahaneo ‘ Depts eas n> oie tonal de Porte ~ Catalogo ra Publearso Conia. Pee 10121866, ‘tear aio ~(0 gardens: 2) (cee PIERRE GRIMAL on O TEATRO ANTIGO MM reso ewe: en EDIGOES 70 L aga 2019988) | See moons | ISBN ds 2eqse 97244-1132 Dito eserados prado or aes eng prtuguess por Esies 70 EDIGOES 70, ma chances de Fgbes Aion, 5A _AvesidaEagebotoArantere Olver, 113°C 1900221 Lino Portia femal peraliedicesO ge wyredicoes70.pt sn br nt preity ser ep, noted cepa qualger be sj ome ins, lacuna foes sm evi aig do Ee ‘ler angen he dos Dios de Astor psi ‘de yoediecto jue. TEATRO ANTIGO chamam-se «portas dos héspedes» e diio para os aposentos dos hhdspedes. A fachada do palco compreende ainda varios pisos, perfurados de nichos, guamecida de colunas ¢ de diversos pavi- Ihdes. Estas fachadas constituiram um dos temas decorativos favoritos dos pintores romanos a partir da época de Nevo. Estes grandes cendrios permitiam espetéculos magnificos e atingiram 0 seu maior desenvolvimento numa época em que a tragédia © @ comédia «literérias» se encontravam em total decadéncia, mas em {que o mimo eas declamages acompanhadas de mtsica, afternando com eantos, arrastavam multiddes, Captruto I A Formagao dos Géneros Dramaticos ’ Os trés grandes géneros dramiticos, na Grécia e em Roma, foram a tragédia, a comédia e o drama satirico, este tiltimo usado quase exclusivamente na Grécia. Os trés nasceram no mundo helé- “nico e foi em Atenas que se representaram as pecas que levaram 05 trés géneros a0 mais alto grau de perfeicao. Gostarfamos de saber como se formaram ¢ conseguiram ser aquilo que conhece- ‘mos. Infelizmente, os primeiros tempos da sua hist6ria sé muito obscuros, e ficamos reduzidos a formular hipdteses que dao mais ‘menos conta dos factos conhecidos. Apesar de a tragédia, a comédia e 0 drama satirico formarem aparentemente um todo insepardvel, nao é de modo nenhum certo que tenham os trés uma mesma origem e que possamos justificd-los da mesma maneira. ‘Jéos Gregos, segundo Aristételes, nao estavam de acordo sobre ‘patria da tragédia, nem sobre a da comédia; as gentes de Mégara mavam a si a comédia, enquanto os Dérios do Peloponeso ‘ustentavam ter inventado a primeira, Embora Aristételes parega ‘ilo dar muita importancia ao que considera evidentemente uma disputa entre cidades rivais, € muito provavel que esta ‘tradig@o reproduza ao menos um aspeto da verdade. Nao é de modo nhum obrigat6rio que a tragédia e a comédia tenham nascido no “mesmo meio, que sejam, em certa medida, gémeas. Certos indicios permitem, pelo contrério, pensar que na sua origem tivessem fun- (es diferentes, no seio de sociedades diversas. Na época clissica, vemos as duas ~e ainda mais o drama satf- rico, que é uma espécie de tragédia burlesca, em que 0 coro € formado por sétiros, companheiros de Dioniso ao servigo deste deus. Mas é verosfmil que esta tenha sido uma evolugdo secundéria ou, pelo menos, que a tragédia e a comédia no sejam somente procedentes do ritual dionisfaco. Diversos testemunhos, um de Solon, outro de Herédoto, deixam yislumbrar que a primeira tragédia foi inventada nao em Atenas, mas em Sicion, no Peloponeso, que tinha por tema os infortinios de Adrasto, o her6i lendério que tinha um santuério na dgora da cidade, e que esta tragédia foi obra do poeta Arion (que viveu no século vit a. C), Fsta «tragédia» devia revestir uma caracterfstica altamente lirica, pois Arfon foi um dos primeiros poetas liticos da ~ Grécia; mas nao podia tratar-se dum puro e simples ditirambo, um chino» cantado por um coro. E licito supor ~ dado que Hérodoto fala de tragédia — que Arion introduzira no poema a personagem de Adrasto contando os seus inforttinios ou, talvez, dialogando com 0 coro, Terfamos aqui, j4, uma das tragédias com uma s6 personagem, como o seré ainda a tragédia de Esquilo, dois séoulos mais tarde. Herédoto conclui dizendo que 0 tirano de Sicion, Clistenes, «restituiu os coros a Dioniso». ‘Sejam quais forem 0s factos hist6ricos sugeridos, mais do que clucidados, por estes testemunhos, reconhecemos, desde esta época, ‘uma das caracteristicas essenciais da tragédia grega, a de ser a evoluco de um ou (mais tarde) varios herdis lendarios, que pare- em sair do mundo subterréneo para reaparecerem entre 0s VIVOS, durante a festa, Vemos também que a tragédia nascente compreende uma «mimésis» ~ uma parte mimada por um ator, que representa herdi em causa —e uma parte coral, cantada seguindo a tradigaio do ditirambo, Seré por acaso que Dioniso é o deus que visitou 0 Inferno e que 6 considerado como capaz de vencer a morte? E este ovaspeto sob 0 que o apresentard Arist6fanes, na comédia As Ras. 28 Poderemos imaginar que Dioniso, divindade da salvagio, tenha servido de patrono As verdadeiras evocagdes dos mortos que si ‘as tragédias? Sem diivida, uma tal razfo néo teria sido iat ‘iss suficiente. E Possivel que os ritos dionisfacos, com o que eles compreendiam de daneas e cantos, tenham atraido para si todas as celebragdes originalmente dedicadas a heréis nacionais. Mas, como ji foi notado, a tragédia nunca teria podido nascer, de algum ‘modo espontaneamente, dum ritual religioso: uma tragédia é i obra literdria, que nfo se destina a adorar um heréi, mas a apre- Sentar uma situaco humana, aumentada pela perspetiva faa Os elementos poéticos que a compoem foram-Ihe oferecidos pela lradigdo; a sintese que opera com eles é original e fecunda, ie Uma das caracteristicas essenciais, talvez a mais essencial, «da tragédia grega, tal como a conhecemos (isto é, ap6s uma evo- lucio j4 notével), reside no facto de ela utilizar, como temas, narrativas lendérias, mas no mitos. Nao é um teatro sagrado; as Personagens do drama sio mortais, ¢ 0 divino, quando intervém, ‘ocupa 0 lugar que Ihe € concedido na cidade. © tempo em que a ‘ago se passa € um tempo histérico. Mesmo Prometeu, na pega de ‘squilo, vive a sua imortalidade no tempo, e no no meio sem dimensGes percetiveis que € aquele em que se situam vulgarmente 08 mitos cosmogénicos. A maioria das vezes, as personagens da ragédia Pertencem a histéria humana: Edipo e os seus filhos, Atreu, Tiestes, Agamémnon e todos os combatentes do ciclo troiano io considerados pelos gregos como personagens hist6ricas. Ma simultaneamente, nao so mortais como 0s outros: fronsineats descendem de uma divindade, como o ensinavam os poetas épico: € so considerados os antepassados adorados por uma cidade ou © familia. Pertencem a raga dos reis e dedica-se-thes um culto, PRC, Possuem a sua grandeza, sem deixarem de ser (0 TEATRO ANTIOO Nao podemos, infeliamente, dar uma explicagao clara net satisfarria do termo tragédia, Nao basta notar que a palavra contém dois elementos, em que um é a palavra «bode> (iragos) ¢ 0 outs 1 palavre «canton (ode). Como encaixar estas duas palavras? £ pouco proviivel que se deva pensar que os coreutas da tragédia primitiva se vestissem com a pete de um bode, ou ve cestivesserm Hisangados de sétiros (que, segundo certastradigoes, $80 monstros svetade homens, metade bodes). A hipétese mais provével é a que tem sido defendida frequentemente desde a Antiguidade: 0Frag0%, dos seria 0 poeta concorrendo para ganhar 0 prémio da melhor tragédia; e este prémio era (pensa-se) um bode, que ¢ vencedor devia sacrificar imediatamente a Dioniso, para Ihe agradecer a Si8 “itéria, Sabe-se ~ isto pelo menos 6 seguro ~ que o bode ea 2 vitima preferida do deus. Wie, se assim é, esta palavra nfo pode ser primitiva; 3 pode datar da 6poca em que a tragédia foi integrada no ritual dionisiaco «como observou corretamente Jacqueline de Romilly (4 Tragédia Girega,p. 13 segs), isso 86 acontecen «quando as improvisagoes religiosas, donde ela acabaria por sair, foram entregues ¢ reorga- nizadas por uma autoridade politica apoiada no pov». Assim, @ inatituigao dos concursos de tragédias ¢ o advento do género em di no celo das festas da cidade seriam o resultado de cuas caus intertigudas: uma causa literdria, que foi a descoberta por um poeta genial (sem duivida, Téspis) das possibilidades do género ¢, 20 aero tempo, uma causa politica, 0 desejo dos titanos de dar go povo festas em que se forjaria.a unanimidade da cidade. "Os tiranos, por outro lado, s6 podiam ser levados a favorecer a tragédia isto é, um género que exaltava o poderio dos reise dava vim forma politica ao dialogo entre eles e 0s seus povos. De Facto, no hi quase nenhiuma tragédia grega que nao levante defacto 0% dos problemas do poder: 0 da sua legitimidade, Pot ‘exemplo, ou dda sua leitimagdo pela prética de uma virtude «nobre>. F assim © ser ainda para as tragédias de Séneca que apareceram = seré ova eoincidéncia? ~ numa Roma onde renascia uma realeza ‘A FORMACAO DOS GENEROS DRAMATICOS. Separados por sé Esqui Seo eae ae de Esquilo e 0 Agamémmnon ou © primeiro poeta trigico a quem este titulo é atribuido € um os chamada Téspis, originério, dizem-nos, de eit a Lesbos, que também era a pétria de Arion: ganhou ce ie a a tragédia, instituido pela primeira vez og pe eae naa gt Grandes Dionisfacas pe seat ree Palo em Atenas. Aparentemente, I ica casescoat tated cece aga et lum ator ¢ um coro (@ palavra grega para designar aot b ies saquele que responde») ¢ evocando uma lenda, isto i perspetiva antiga, um marco da hist6ria heroica. : FE “ aus por ter introduzido o costume de mascarar ete ceo lengli ese oa ‘ : Ivez 0 desejo d pets rin rosto ¢ assumir melhor a eae hinds Deets oe sngl ental re tana dc pele. ta mudanca de personali- i laa das Pontos que permitem estabelecer ca aoe ee cst primitiva e o ritual de Dioniso que, efetivamente, iE ‘ase € 0 esquecimento de si proprio, através d arc do arrebatamento da mésica e da danga. “4 ae fim, que Téspis, ator ambulante, ia de cidade coreutas, transportando numa carroga os ie irios As suas representagdes. A «carroga» de IR earn aa aco coe ‘Atenas. Mas a lenda envolven Tess Perak poi ; i ‘mel pais » pase Gen fruto da ee F et ‘Téspis era o tinico ator da tragédia que represen- ilo, introduziu um segundo ator, que the dava réplica, TEATRO ANTIGO 0 dislogo estabelecia-se entio nao s6 entre 0 coro e um 6 ator, mas também entre os dois atores. A partir de 449, houve trés atores. Isto no implicava que nfo houvesse mais de trés papéis, no méximo, numa tragédia; € que um mesmo ator interpretava varios, ‘que nfo levantava qualquer dificuldade, visto 0s rostos estarem escondidos por mascaras. Mas era necesséirio também que os ato- res, entre duas cenas, em que apareciam com papéis diferentes, tivessem tempo de executar a transformagdo (0 que faziam na ‘skene), Esta necessidade impunha ao poeta a submissao a deter minadas regras para a elaboragao da sua pega, assim como a introdugiio de jogos de cena, regrando convenientemente as entra- dase as saidas das personagens. f , Nao se pensaré, pois, que o poeta dramitico grego, trigico ou ‘cémico, $6 se tinha deixado levar pela sua fantasia e a insnast do seu génio. Ele é, antes de mais, um «artesdo>, um oe oficio que aplica receitas lentamente elaboradas, Mas 0 génio s6 € incompativel com a facilidade; nunca 0 foi com os constran- gimentos. ‘O drama satirico estd mais diretamente ligado ao cultoe & lenda de Dioniso porque 0s satiros fazem parte do seu séquito. Ima- ginamos facilmente que 0s coros de sitiros tenham podido entoar cnticos em honra do seu divino senhor; mas € talvez imprudente pensar que tais representagdes possam ser muito antigas e prece- dam a propria tragédia, A hip6tese inversa poderia muito bem estar ‘ais proxima da verdade. Se 0 que cremos reconhecer das origens da tragédia esté correto, € pouco provavel que esta seja um drama satirico em que 0s coreutas primitivos tenham sido substitufdos por simples mortais. O coro do drama satirico est muito perto do da comédia antiga, onde os coreutas (em Arist6fanes) ora so ves- pas, ora rs, ora aves, Por outro lado, a tragédia € um género sério, ‘A FORMAGAO DOS GENEROS DRAMATICOS enquanto 0 drama satirico apresenta um eardcter licencioso e parddico. As lendas que af sao tratadas so as mesmas que na tragédia, mas sio-no com um espirito completamente diferente, Qs heréis sao, no drama satirico, voluntariamente ridicularizados. $6 possuimos, é verdade, um Gnico drama satirico completo, Ciclope, de Euripides, mas chega, com mais alguns fragmen- tos de outras pegas, nomeadamente Os Rastejadores, de Séfocles, para nos dar uma ideia deste género. O Ciclope trata de uma lenda _ odisseica, a historia de Polifemo e de Ulisses, mas Euripides acrescentou-lhe varios pormenores divertidos; por exemplo, Sileno, que se parece, diz-se, com um «criado de comédia», mas um criado bébado. O coro nao deixa da denegrir a reputagao de Helena. Menelau é aqui tratado de «simplério». Ulisses aparece como um mentiroso ¢ uma «matraca sonora». E 0 poeta diverte-se com a glutonaria da personagem principal, o Ciclope, afinal joguete dos sétiros, uma vez que tinha perdido a vida, © drama satirico era representado nas Dionisfacas Urbanas (no més de Elafebdlion, correspondente a margo e principio de abril), como quarta pega de cada tetralogia. Uma tetralogia compunha-se de trés tragédias e de um drama satirico, cabendo a cada poeta a sentagio de uma. A tetralogia terminava entao, depois das pecas sérias, com a representaciio de uma peca divertida, que des- fazia a impressdo de tristeza ou de angiistia deixada pelas tragédias, im, somos levados a pensar que o drama satirico, introduzido “este modo nos festivais, em Atenas, foi, sendo inteiramente criado, ‘pelo menos, desenvolvido a partir das tragédias e segundo 0 seu lelo. E possfvel que os elementos de tais dramas tenham sido wecidos pelo ritual dionisfaco, pelos ditirambos que se apresen- vam como evocagdes do cortejo que acompanhava o deus; mas todos os ditirambos eram confiados a coreutas disfarcados de iros, Entre as tradigGes antigas relativas ao drama satirico, ha uma Ite atribui a sua invengdo ao poeta Quérilo, ou ao seu contempo- iiineo Pratinas de Flionte, Ambos viveram no tempo de Pisistrato (TEATRO ANTIGO € dos seus filhos, isto é, no fim do século v1 a. C., no momento preciso em que o tirano de Atenas organizava os concursos dra~ miticos. Na verdade, estes autores mais nfio s2o para nos do que nomes (apesar de Ateneu nos ter deixado dois pequenos fragmentos do segundo), mas nada nos permite dizer que estes contemporiineos dos prineipios de Esquilo tenham tentado levar as representagdes draméticas as «suas origens», manten —, «La Comédie Grecque», Actes du VIF Congrés de I'Association G. Budé, Paris, 1964, p. 333-348, Grimat, P, «Le Théatre & Rome>, Actes du IX Congres de 'Association G. Budé, Paris, 1975, p. 249-305, Learanp, Ph., Daos. Tableau de la Comédie Grecque pendant la Période dite Novelle, Lyon, 1910. Pickarp-Camnipce, A. W., Dithyramb, Tragedy and Comedy, Oxford, 1962. Racutr, G., La Tragédie Grecque, Pais, 1973. bs Romty, J, La Tragédie Grecque, Patis, 1970. =A Tragédia Grega, Edighes 70, 2013 Webster, T. B. L., Studies in Later Greek Comedy, Londres, 1950.

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