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Parecer Técnico Requeridos
Parecer Técnico Requeridos
SEC1
4. Após exame pericial, o Sr. Perito apresenta duas conclusões (vide Quadro Resumo):
8. Noutro giro, o segundo valor, de R$ 2.167.934,97, que nada mais é do que o pleito
original da Requerente com uma pequena correção de títulos já pagos, foi
simplesmente levado a mérito jurídico pelo Sr. Perito. “Se, todavia, o entendimento
jurídico for de pagamento dos títulos reclamados que estejam em aberto, o
montante equivale a R$ 2.167.934,97.” (fonte: Laudo Pericial, pág. 148)
10. Ou seja, com a máxima vênia, a revisão do Preço de Aquisição por conta do não
recebimento de alguns clientes foi submetida à perícia, cujo objetivo definido pelo
Sr. Perito acerca do pleito foi encontrar erro contábil (reitera-se: erro) e as
13. Retomando o caso pericial, um dos pleitos da Requerente para ajustar o Preço de
Aquisição, mencionado na alínea “1”, refere-se ao não recebimento de alguns
clientes (contas a receber). Em sua trilha investigativa, o Sr. Perito então definiu:
“Assim, para todos esses casos, esta perícia entende necessário investigar (i) se as
empresas vendidas tinham a prática de realizar Provisão para Créditos de Liquidação
Duvidosa (PCLD), como dispõem as Normas Brasileiras de Contabilidade, (ii) se houve
mudança de prática entre o Balanço Base e o Balanço de Fechamento, (iii) se os
3
títulos reclamados integraram a PCLD no período e (iv) se há informações sobre
ações tomadas pelos Vendedores, ou pelos Compradores, que demonstrem ainda
haver chance de recebimento dos títulos.” (fonte: Laudo Pericial, págs. 16-17).
14. Com exceção da alínea (iv), cujo objetivo é apenas entender os procedimentos de
cobrança e as chances de receber os títulos em atraso, toda a base da metodologia
se baseia na existência da PCLD e sua estimativa. Isso porque quando existem
dúvidas acerca do recebimento de determinadas contas a receber, o movimento
contábil deve ser a constituição de uma Provisão para Créditos de Liquidação
Duvidosa (PCLD, ou PECLD, ou PDD). Em seu laudo, o Sr. Perito constata exatamente
esse entendimento, conforme evidências a seguir: “A PCLD se refere a uma
‘...estimativa de perdas em contas a receber relacionadas ao valor que representa a
incerteza quanto ao recebimento’.” (fonte: Laudo Pericial, pág. 17).
15. Como resultado do exame pericial, para entender se as empresas vendidas tinham
a prática de realizar a Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa (PCLD), o Sr.
Perito assim concluiu: “(i) havia registro de PCLD no Balanço Base e no Balanço de
17. Com relação ao registro (alínea “14.a”), o Sr. Perito não apenas constatou em sua
conclusão de que “havia registro de PCLD no Balanço Base e no Balanço de
Fechamento”, como também respondeu no Quesito 15 da Parte Requerida:
“Quesito 15: Confirmar se a “Target” mantinha uma PDD em seus Balanços.” (fonte:
Laudo Pericial, pág. 170)
Resposta: “Positiva é a resposta [...]”. (fonte: Laudo Pericial, pág. 170)
18. Fica evidente que o registro contábil da PCLD tanto no Balanço Base quanto no
Balanço de Fechamento ocorreu e assim foi constatado. Essa era justamente a 4
prática contábil adotada pelos Vendedores. Neste contexto, importante destacar
então para que serve o registro contábil da PCLD, ou seja, qual efeito o registro
proporciona.
21. No caso, cabe reiterar o conceito da PCLD (ou PDD, ou PECLD), conforme o Quesito
4 da Parte Requerida, assim respondido pelo Sr. Perito:
22. O laudo pericial também traz o conceito em suas análises: “O conceito é inerente à
estimativa do valor recuperável do ativo, em que é valorizada a informação ao
usuário da contabilidade sobre o real valor que se espera no ativo, ou seja, os
benefícios econômicos futuros devem ser ajustados àquilo que realmente se tem a
expectativa de ser recebido.” (fonte: Laudo Pericial, pág. 17)
23. Em resumo, a PCLD é uma retenção de valores para ajustar o benefício econômico
futuro esperado de um ativo, neste caso de Contas a Receber de Clientes. Ou seja,
se existe expectativa de que clientes não lhe paguem no futuro, mediante critérios
legais existe a possibilidade de se subtrair do resultado da empresa aquilo que se
considera passível de inadimplência. Em outras palavras: existe a possibilidade de
a empresa aplicar um deságio em seu “contas a receber” com a estimativa de valor
que ela (empresa) considera que não vai receber no futuro. 5
26. Isso porque, estando no Balanço de Fechamento, utilizado para definição da Parcela
Variável do Preço de Aquisição, resta saber se o benefício econômico que a PCLD
proporciona foi então usufruído pelos Compradores (Parte Requerente). E a
resposta é positiva, conforme constatação do Sr. Perito em resposta ao primeiro
questionamento do Quesito 23 da Parte Requerida:
28. Assim, com a máxima vênia ao Sr. Perito, existe um equívoco grave em seu laudo,
pois apesar de a PCLD existir no Balanço de Fechamento e ter provocado um efeito
real e material na negociação, seu valor, e até mesmo sua existência, foram
totalmente desconsiderados em suas conclusões. A conclusão é evidenciada no
Quadro Resumo do laudo pericial:
29. Cabe destacar de antemão que a conclusão do Sr. Perito sequer possui respaldo
técnico-contábil, sendo recomendada a interpretação pelo mérito jurídico: “Se,
todavia, o entendimento jurídico for de pagamento dos títulos reclamados que
30. Destaca-se, nesse aspecto, que a perícia não foi conclusiva em evidenciar erro no
procedimento de provisionamento dos Requeridos, isso porque quando muito
apresentou meras recomendações contábeis, sem qualquer imperativo legal que
estabeleça critérios objetivos para tanto.
31. Muito pelo contrário, em suas considerações, o Sr. Perito menciona que de acordo
com a FIPECAFI, a mensuração da perda estimada pode variar dentre empresas,
pois cada empresa pode ter suas particularidades em relação aos clientes, modelo
e ramo de negócio, histórico de pagamento de cada cliente, ou da carteira como
um todo etc.
32. Assim, informou em seu laudo que tem sido prática comum e adequada levar em
consideração dois parâmetros para a definição da PCLD:
“a) determinar o valor das perdas já conhecidas com base nos clientes atrasados, em
concordata, falência ou com dificuldades financeiras; e 7
35. Ademais, além de outros equívocos acerca desse valor de R$ 2.167.934,97, que
serão expostos adiante, ele é pura e simplesmente a repetição do valor das
alegações iniciais da Requerente, com uma pequena correção acerca de títulos já
36. Com a máxima vênia, como pode haver a proposição de ressarcimento integral do
pleito, com alegação de que o valor de R$ 2.167.934,97 possui “representatividade
econômica real” (fonte: Laudo Pericial, pág. 27), sendo que sobre esta mesma base
já houve, em favor dos Compradores, um deságio material e com
representatividade econômica também real no importe de R$ 718.025,26?
37. Aliás, o que efetivamente seria uma representatividade econômica real, definida
pelo Sr. Perito?
38. Nota-se que o Sr. Perito tenta desconstruir a PCLD no Balanço de Fechamento em
31/12/2017, alegando que “A perícia deve considerar a inexistência de estimativa e
até mesmo de análise de provisão no exercício social de 2017.” (fonte: Laudo Pericial,
pág. 21). No entanto, em trechos já mencionados do laudo, confirma que a PCLD 8
estava registrada no Balanço de Fechamento e foi utilizada para descontar o valor
de R$ 718.025,26 do Preço de Aquisição por parte dos Compradores.
41. Apenas para fins didáticos, é como se a recomendação deveria ser, no máximo, R$
2.167.934,97 (-) R$ 718.025,26 = R$ 1.449.909,71. Caso contrário, como sugere a
mérito jurídico o Sr. Perito em seu laudo, os Compradores receberiam R$
2.167.934,97 (+) R$ 718.025,26 (já usufruídos no Preço de Aquisição) = R$
2.885.960,23. Ou seja, os Compradores receberiam mais do que pleitearam, o que
por si só é um absurdo! Reitera-se que valores sem atualização ou correção, apenas
para fins didáticos.
42. No ponto, por um dos entendimentos do Sr. Perito em seu laudo, a PCLD não
produziu efeito econômico para os Vendedores em 31/12/2017 (vide a alegada
9
“inexistência de estimativa e de provisão”). No entanto, talvez por equívoco, não
considerou que – mediante consentimento dos Compradores – produziu efeito
econômico imediato para os Compradores (vide que descontaram a PCLD do Preço
de Aquisição). Em outras palavras, se a PCLD deveria inexistir, ela deveria inexistir
para os Vendedores tanto quanto para os Compradores – devendo estes, então,
devolver (corrigido) aos Vendedores o deságio de R$ 718.025,26.
43. Portanto, sendo essa uma das conclusões propostas pelo Sr. Perito, seu laudo
minimamente deveria explicar tais efeitos, o que infelizmente não ocorreu.
44. Mas, seguindo com a máxima vênia, conforme antecipado na alínea “35” existem
outros equívocos acerca da conclusão do Sr. Perito em propor a indenização de R$
2.167.934,97 (sem correção) a mérito jurídico do Tribunal Arbitral.
45. Neste sentido, no quadro resumo elaborado pelo Sr. Perito no laudo pericial consta
o valor de R$ 2.167.934,97 como sendo “todos os títulos do pleito da Requerente em
aberto em 31/12/2017” (fonte: Laudo Pericial, pág. 182). Com o devido respeito,
existe aí um grande erro de interpretação do Sr. Perito, haja vista que ele mesmo
46. O valor que ainda não estava vencido, conforme apurado no laudo, é de R$
259.492,27, ou seja, o somatório dos títulos realmente vencidos (ou em aberto)
em 31/12/2017 é de R$ 1.908.442,72. Assim, ao concluir que todos os títulos em
aberto somam R$ 2.167.934,97, o Sr. Perito acresce ao valor de possível condenação
valores que sequer estavam vencidos e, portanto, não poderiam ser provisionados
como perda.
47. Basta analisar o “Aging List” elaborado pelo Sr. Perito na pág. 15 do laudo pericial,
conforme imagem a seguir:
10
Assim conclui o Sr. Perito em seu laudo: “Em relação aos títulos relativos ao cliente
Município de Guarapuava, verificou-se que, ainda que se tratasse de títulos com data
de emissão antiga – desde 2012 até 2017 – a informação de data de vencimento é a
mesma para todos os títulos, 02 de fevereiro de 2018, o que pode decorrer de
negociação realizada com esse cliente de títulos já em atraso.” (fonte: Laudo
Pericial, pág. 15)
49. Portanto, tem-se que os títulos foram negociados com os clientes e na data do
Balanço de Fechamento eles efetivamente representavam a expectativa de
realização de receita e sequer estavam vencidos. Ou seja, o lançamento contábil
estava absolutamente correto, não possui erro, e cumpria rigorosamente o que
determina a premissa para o Preço de Aquisição, conforme constatado pelo Sr.
Perito: “Assim, uma das premissas relevantes para a definição do Preço de Aquisição
refere-se à correteza dos dados contidos no Balanço de Fechamento, ou seja, que o
Balanço de Fechamento expresse a exata posição patrimonial e financeira das
empresas na Data de Fechamento.” (fonte: Laudo Pericial, pág. 8).
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50. Ainda sobre a possibilidade, levada a mérito jurídico, de indenização pelo valor
integral do pleito da Requerente, no importe de R$ 2.167.934,97, outra questão
deve ser levantada: a discussão deve se ater à data do Balanço de Fechamento, com
os dados da época. E ao se considerar o “Aging List” daquele momento, a própria
Requerente teria constituído sua PCLD em um valor muito menor do que esse
montante, de acordo com seu próprio critério de elaborar estimativa de perdas
apenas para títulos vencidos a mais de 180 dias:
51. Relembrando o conceito de PCLD trazido pelo Sr. Perito em seu laudo: “Portanto,
12
diante das variáveis expostas acima, tem-se que a existência de diferentes
avaliações/julgamentos acerca da constituição da PCLD irão existir. Neste caso, o
ponto de atenção que se entende necessário ressaltar é de que essas perdas
estimadas sejam razoáveis frente ao contexto da empresa no momento de sua
constituição.” (fonte: Laudo Pericial, pág. 18).
53. Tal valor, como antecipado anteriormente, ainda deveria ser objeto de desconto dos
títulos já provisionados em PCLD pelos Requeridos.
54. Mas apenas para fins didáticos: a sugestão do Sr. Perito, para apreciação do mérito
jurídico, de indenização por R$ 2.167.934,97 contempla, além dos demais
55. Há ainda outro fato relevante: o exame pericial constatou R$ 602.697,77 (fonte:
Laudo Pericial, pág. 25) oriundos de procedimentos de cobrança, judiciais ou
extrajudiciais, que abrangem parte dos títulos do pleito da Requerente. O Sr. Perito
assim constatou: “[...] ainda que em alguns casos haja decisão determinando o
pagamento dos títulos às Empresas-Alvo, o pagamento ainda não ocorreu.” (fonte:
Laudo Pericial, pág. 26). Neste sentido, supondo que a indenização pelo valor
integral de R$ 2.167.934,97 ocorresse em favor dos Compradores, havendo o
pagamento pelos clientes dos títulos em cobrança também em favor dos
Compradores, eles receberiam tais valores em duplicidade. E, para isso, também
não há qualquer menção nas conclusões do Sr. Perito.
“5. A “Target” é obrigada, por Lei, a deduzir de seu resultado as perdas por créditos
não recebidos de clientes? Se sim, qual amparo Legal?
Resposta: Positiva é a resposta, de acordo com a permissão contida na Lei n°
9.430/1996, Sessão III, Perdas no Recebimento de Créditos.” (fonte: Laudo Pericial,
pág. 165)
58. Com a máxima vênia ao Sr. Perito, mas a sua resposta já demonstra o equívoco e
deveria ter sido “Negativa é a resposta.”. Nota-se que a pergunta foi acerca da
obrigatoriedade e a própria resposta trouxe a possibilidade: “permissão”. A redação
60. Neste sentido, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) é ainda mais flexível
e assim descreve a Norma Técnica para as Pequenas e Médias Empresas (cujo
enquadramento para os Vendedores foi corroborado pelo Sr. Perito na pág. 164 do
Laudo Pericial): 14
1
Fonte: Lei nº 9430, de 27 de dezembro de 1996, Capítulo 1, Sessão III, Art. 9º, § 1º.
As leis fiscais são específicas, e os objetivos das demonstrações contábeis para fins
gerais diferem dos objetivos das demonstrações contábeis destinadas a apurar
lucros tributáveis. Assim, não se pode esperar que demonstrações contábeis
elaboradas de acordo com este Pronunciamento para PMEs sejam totalmente
compatíveis com as exigências legais para fins fiscais ou outros fins específicos.
Uma forma de compatibilizar ambos os requisitos é a estruturação de controles
fiscais com conciliações dos resultados apurados de acordo com este
Pronunciamento e por outros meios.” 2
61. Presume-se que os Compradores deveriam estar cientes dessa realidade – adquirir
empresa de médio porte, com enquadramento contábil mais flexível – no momento
15
das negociações.
62. Não à toa os Vendedores foram alvo de diligências por uma das maiores empresas
de auditoria do mundo, a Ernst & Young. E que, mesmo com o relatório da Ernst &
Young explicitando a recomendação de ajuste, como no caso da PCLD (PDD), os
Compradores não manifestaram qualquer interesse em proceder com o ajuste,
levando posteriormente a discussão ao mérito do Tribunal Arbitral.
64. Então, não existe obrigatoriedade em se baixar os títulos como perdas e, dentre
outras flexibilizações permitidas pela própria Norma Técnica Contábil às pequenas
e médias empresas, as demonstrações contábeis por elas preparadas “muitas vezes
são para o uso de proprietários-administradores” – como era justamente o caso da
Parte Requerida (vide Quesitos 1, 2 e 3, ou págs. 163, 164 e 165 do Laudo Pericial).
E, neste sentido, a Política de Cobrança dos sócios da empresa (Vendedores) era
expressa no sentido de se exaurir todas as possibilidades de recebimento de um
2
Fonte: Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), Pronunciamento Técnico PME. R1, REV 14. Pág. 3.
“14. Confirmar se a “Target” realizou baixa por Perdas de títulos a receber de clientes
considerados “incobráveis”, ou seja, se existia o procedimento de exaurir todas as
possiblidades de cobrança para então declarar a baixa por perda (perda incorrida).
Em caso positivo, identificar se essas perdas ocorreram, dentre outros, nos Exercícios
de 2016 e 2017, períodos de diligência da Compradora.
Resposta: Considerando as medidas judiciais para cobrança dos títulos tratada no
capítulo 2 deste Laudo Pericial, entende-se que a diretriz era de exaurir a
possibilidade de recebimento dos títulos em atraso.” (fonte: Laudo Pericial, pág.
169)
67. Restou concluído pelo Sr. Perito que, por parte dos Vendedores, “entende-se que a
diretriz era de exaurir a possibilidade de recebimento dos títulos em atraso”.
(fonte: Laudo Pericial, pág. 169). Já pela parte dos Compradores, que pleiteiam o
valor original de R$ 2.212.669,79 a título de não recebimento de clientes, existe
apenas uma única ação judicial de cobrança, contra a empresa MADEF S.A.
68. Para todos os demais títulos pleiteados pela Requerente como não recebidos dos
clientes, não houve qualquer diligência no sentido de conhecer a Política de
Cobrança dos Compradores e assegurar que tinham a prática de exaurir todas as
possibilidades de recebimento, como foi constatado pelo Sr. Perito em relação aos
Vendedores.
17
69. Por óbvio, uma vez que os Vendedores assumem a gestão do negócio (ocorrida em
janeiro de 2018, após o Balanço de Fechamento) assumem também os riscos
inerentes a qualquer negócio e respondem por suas políticas e ações. Imputar aos
Vendedores o pagamento de títulos em aberto que passaram para a custódia,
política de cobrança e gestão dos Compradores é, em tese, imputar a quem
vendeu uma responsabilidade que sequer é sua. Em outras palavras: imputar aos
vendedores a responsabilidade pela ineficácia dos procedimentos de cobrança dos
próprios Compradores. Em resumo: é a transferência do risco do negócio!
70. Até porque, como sempre defendido neste procedimento e, agora revelado no
laudo pericial, a Requerente sempre teve ciência da exata composição do Contas a
Receber, não tendo feito qualquer reserva no momento do fechamento.
71. Há que se ressaltar ainda que as ações de cobrança em relação aos clientes
inadimplentes respondem com bastante coerência à lógica da própria constituição
da PCLD dos Vendedores de acordo com o conceito trazido justamente pelo Sr.
Perito em seu laudo:
74. Por fim, sendo a prática dos Vendedores – corroborada pelo Sr. Perito – exaurir
todos os procedimentos de cobrança, os demais clientes em aberto não previstos
na PCLD estavam continuamente em negociações com a empresa (Vendedores)
para recebimento dos valores num curto período de tempo (de, no máximo, um
ano), muitas vezes sendo capitaneadas justamente pelos seus sócios – haja vista
serem empresas enquadradas como de Pequeno/Médio porte. Afinal, salvo melhor
77. Com relação ao registro, ficou evidente que a PCLD constou no Balanço de
Fechamento. E, mais ainda, foi consentida e usufruída pelos Compradores no 21
momento da composição da Parcela Variável do Preço de Aquisição, fato que, com
a máxima vênia, não foi sequer mencionado nas conclusões do exame pericial –
ainda que existindo quesito (23, primeira pergunta) especificamente sobre o tema.
78. Então, é fundamental se debruçar sobre uma das conclusões do exame pericial
acerca da PCLD: “sem que se tenha como conhecer qualquer método de estimativa
adotado”. (fonte: Laudo Pericial, pág. 24)
79. Neste sentido, com relação à estimativa adotada (respondendo às alíneas “16.b” e
“76.b”, ainda que alguns conceitos já tenham sido abordados neste trabalho, é
fundamental dar a devida atenção técnico-contábil para o tema.
Ou, de acordo com a Norma Técnica: “Mudança nas estimativas contábeis – Como
consequência das incertezas inerentes às atividades empresariais, muitos itens nas
demonstrações contábeis não podem ser mensurados com precisão, podendo
apenas ser estimados. A estimativa envolve julgamentos baseados na última
informação disponível e confiável. Por exemplo, podem ser exigidas estimativas de:
(a) créditos de liquidação duvidosa; [...].” (fonte: NBC TG 23 [R2]3).
82. Portanto, a PCLD se refere a uma estimativa de perdas e, em seu laudo, o Sr. Perito
constata exatamente esse entendimento, conforme evidências a seguir: 22
E, também: “Por se tratar de estimativa, tem-se que tratar de julgamentos que são
realizados acerca da possibilidade de ser recebido aquele ativo [...]”. (fonte: Laudo
Pericial, pág. 17).
83. Sendo a PCLD a resposta técnica para o pleito da Requerente de não recebimento
de clientes e, sendo a PCLD uma estimativa, importante destacar o que diz a Norma
Técnica sobre a definição de mudança de estimativa contábil:
3
Fonte: Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) TG 23 (R2), Pág. 7.
86. O fato é que mesmo diante das constatações diligenciadas a seu mando, a
Compradora sequer manifestou interesse em alterar oportunamente e
tempestivamente a estimativa da PCLD constante no Balanço de Fechamento. Não
o fazendo, a Compradora por consentimento acatou aquela estimativa e usufruiu
exatamente o benefício econômico que a PCLD proporciona, ou seja, abateu do
Preço de Aquisição o valor da PCLD, conforme evidenciado no exame pericial: “O
Anexo 1.3.3 - Capital de Giro Onseg, Onserv, Onservice que acompanhou o Termo de
4
Fonte: Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) TG 23 (R2), Pág. 2.
87. Em resumo: uma vez consentida pelos Compradores, a PCLD passou a produzir o
efeito exato que dela se espera – provocar um deságio no Contas a Receber – e o
Preço de Aquisição, então, sofreu um desconto justamente em favor dos
Compradores.
88. O objetivo então não é discutir se a estimativa existiu ou não existiu, afinal, é
impossível descontar de um preço ou transação algo que não existe!
92. Inclusive, a apuração de erro contábil foi explicitamente solicitada ao Sr. Perito pela
própria Parte Requerida através do Quesito 19, cuja resposta não apontou
objetivamente qualquer erro:
5
Fonte: Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), Pronunciamento Técnico PME. R1, REV 14. Pág. 40.
93. Cabe aqui uma correção na resposta do Sr. Perito: revisão de provisão para
créditos de liquidação duvidosa não constitui erro contábil. Estando a PCLD no
Balanço Base e no Balanço de Fechamento, conforme evidenciado pelo Sr. Perito, a
estimativa então estava lá (o valor, PCLD, existiu). Se o valor da PCLD no Balanço de
Fechamento deveria ser maior, menor, ou igual em relação ao Balanço Base é
exatamente uma questão de mudança de estimativa contábil – que, pelo pleito da
Requerente, supõe-se querer que este valor (PCLD) seja maior do que foi à época.
95. Sendo a questão levada a mérito jurídico pelo Sr. Perito, cabe ainda reiterar que
tampouco essa revisão é obrigatória, pela Lei 9.430/96.
96. Ora, se o objetivo do Laudo Pericial Contábil acerca desse pleito era encontrar erro
contábil, caso fosse então encontrado o erro ele deveria ser exposto juntamente
com a normativa legal que ampare tal alegação. E nas conclusões do Laudo Pericial
não existe qualquer direcionamento neste sentido.
99. Neste sentido, o laudo pericial ainda corrobora: “De acordo com a FIPECAFI, a
mensuração da perda estimada pode variar dentre empresas, pois cada empresa
pode ter suas particularidades em relação a seus clientes, modelo e ramo de
negócio, histórico de pagamento de cada cliente, ou da carteira como um todo
etc.” (fonte: Laudo Pericial, pág. 17)
100. Inclusive é exatamente assim que o próprio Laudo Pericial conclui: “Trata-se de
mero cálculo comparativo por critério matemático e não decorre de uma avaliação
econômica real da situação dos recebíveis das sociedades adquiridas. Assim, não 26
parece a esta perícia que essa solução tenha fundamento real.” (fonte: Laudo
Pericial, págs. 26-27)
101. Por fim, ficou constatado que a prática contábil de se realizar a PCLD, que por
definição é uma estimativa contábil, existiu e assim constou no Balanço Base e no
Balanço de Fechamento. Sua existência no Balanço de Fechamento é tão real e
material que produziu benefício econômico em favor dos Compradores, havendo
deságio no Preço de Aquisição objeto deste pleito. O que se discute é a mudança
nessa estimativa contábil, alegando-se que não houve revisão de valores, ou seja,
que os valores do Balanço Base e do Balanço de Fechamento eram os mesmos.
102. Fato é que também ficou constatado que essa revisão é uma mudança de
estimativa contábil, que por sua vez não é obrigatória, não representa erro e não
pode retroagir. Ou seja, legalmente e pela técnica contábil nada mais pode ser
feito em relação ao que se passou, quer se pleiteie que a PCLD deveria ter sido
maior, quer se pleiteie que a PCLD deveria ter sido menor, quer se pleiteie que a
PCLD deveria ter permanecido a mesma.
105. E, por todas essas constatações, entende-se que não existe qualquer
indenização respaldada contabilmente e juridicamente que seja devida pelos
Vendedores (Parte Requerida) em favor dos Compradores (Parte Requerente)
acerca do não recebimento de clientes.
27
Seção: “3. TEMA II: INDENIZAÇÃO POR PERDAS – QUEBRA DE DECLARAÇÕES E GARANTIAS”
106. Em seu pleito, a Requerente alega ter havido quebra de declarações e garantias
ocorridas por meio de aumentos salariais bruscos nas folhas de pagamento dos
meses de agosto de 2017 a fevereiro de 2018, além do pagamento de horas extras
por meio de vale alimentação.
107. Para isso, o exame pericial analisou se houve violação ao item (y) da cláusula 4.2
do Contrato de Compra e Venda: “Cláusula 4.2 Declarações e Garantias dos
Vendedores: Os Vendedores declaram e garantem à Compradora que (“Declarações
dos Vendedores”): (...) y) Legislação trabalhista. No conhecimento dos Vendedores,
as Sociedades não descumpriram ou descumprem a Legislação aplicável aos seus
negócios, em especial, mas não se limitando à legislação trabalhista e
previdenciária.” (fonte: Laudo Pericial, pág. 28)
6
Fonte: Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), Pronunciamento Técnico PME. R1, REV 14. Pág. 40.
109. Em seu laudo, o próprio Sr. Perito parece já responder objetivamente ao pleito:
“Não há no Contrato nenhuma definição própria em relação ao termo aumento
salarial brusco, tendo esta perícia interpretado que o sentido pretendido pela
Requerente para definir o termo seja relativo a um aumento salarial imprevisto ou
inesperado, uma vez que o evento não teria – segundo a Requerente – sido objeto
de revelação antes da assinatura do Contrato.” (fonte: Laudo Pericial, págs. 29-30)
110. Adiante, assim o Sr. Perito definiu: “Com isso, este exame pericial considerou,
para fins de aumento salarial significativo, o percentual de corte de 5%, pois é
superior ao dissídio e cujo impacto financeiro seria significativo.” (fonte: Laudo
Pericial, pág. 31)
111. De acordo com as próprias palavras do laudo, conclui-se que a análise do Sr. 28
Perito se baseou em “interpretação que o sentido pretendido” que, “segundo a
Requerente”, houve aumento salarial brusco e o percentual de 5% representaria
“impacto financeiro significativo”.
113. Mas, com a máxima vênia, na ausência de um pleito claro, objetivo e conciso
por parte da Requerente, entende-se pela impossibilidade da perícia técnico
contábil “interpretar que o sentido pretendido pela Requerente” e, com base nessa
interpretação, definir um percentual que, sob seu julgamento apenas e tão
somente, representaria “impacto financeiro significativo”. Ou seja, uma
proposição de indenização repleta de subjetividade.
118. Pela comparação com os salários médios praticados no mercado para cargos
similares e empresas de mesmo porte fica nítido que nenhum dos 11 colaboradores
recebeu um valor muito discrepante ao que se praticava naquele momento, ao
contrário, no geral todos estavam muito abaixo das médias de mercado. Ou seja,
se por qualquer motivo a Requerente tivesse que substituir algum destes
colaboradores possivelmente teria que oferecer um salário igual ou talvez maior
para preencher a mesma função.
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120. De fato, nota-se que além de poucos colaboradores (11) em um universo de
mais de 2.000 funcionários, as funções são bastante específicas, sendo em sua
maioria cargos de gestão – coordenação ou gerência, o que presume serem cargos
de confiança, sendo objetivamente peças-chaves no negócio.
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Site da Robert Half. Disponível em: <https://www.roberthalf.com.br/>, acesso em 26 fev. 2023.
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ROBERT HALF, Guia Salarial 2018.
123. E, por todas essas constatações, entende-se que não existe qualquer
indenização respaldada contabilmente e juridicamente que seja devida pelos
Vendedores (Parte Requerida) em favor dos Compradores (Parte Requerente)
acerca da quebra de declarações e garantias por aumentos de salários.
Seção: “5. TEMA IV: INDENIZAÇÃO POR PERDAS – CONTINGÊNCIAS TRABALHISTAS, FISCAIS,
CÍVEIS E PREVIDENCIÁRIAS”
125. No entanto, há que se reiterar que não se trata de contingência exigida por
terceiros e sim de despesa recorrente registrada nas peças contábeis da parte
Requerida no momento da venda das empresas, mais precisamente na conta
contábil “3.1.1.05.01.001.01.004 – INSS”.
126. Isso foi inclusive comprovado pelo Sr. Perito, vide resposta ao Quesito 34 da
Parte Requerida:
127. Há de se destacar inclusive que esta despesa com pagamentos ao INSS, ocorrida
de maneira recorrente na contabilidade dos Vendedores, constava explicitamente
no Balanço Base – anexo 4.2 (h) do Contrato – estava então totalmente à disposição
para a Ernst & Young, que realizou a “due dilligence”.
129. Ora, com a máxima vênia, se não é possível ao Sr. Perito afirmar que a “due
dilligence” foi efetiva ao analisar as peças contábeis, em especial o Livro Razão (e lá
identificar claramente o débito), não é correto desconsiderar o lançamento (que
reitera-se: lá estava!) e tratar a temática como “contingência exigida por terceiros”.
131. Assim, entende-se que não existe qualquer indenização que seja devida pelos
Vendedores (Parte Requerida) em favor dos Compradores (Parte Requerente)
acerca do Processo nº. 2008.71.17.000560-7/RS (5000689-32.2019.4.04.7117) –
INSS.
134. Ora, com a máxima vênia, mas comete o Sr. Perito um equívoco ao propor
indenização que sequer estava amparada pelo rito estabelecido no Contrato de
Compra e Venda entre as Partes, para nenhum desses processos judiciais.
135. Assim, entende-se que não existe qualquer indenização que seja devida pelos
Vendedores (Parte Requerida) em favor dos Compradores (Parte Requerente)
acerca de processos ativos do Anexo RTE 27.
138. O fato foi comprovado pelo Sr. Perito – “Em relação à comunicação a qual se
refere o item (b), 5.3 do Contrato, não foram identificadas notificações para os
processos encerrados do Anexo RTE 27.” (fonte: Laudo Pericial, pág. 135) – que
mesmo assim propôs indenização, configurando, com a máxima vênia, um equívoco.
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139. Nota-se que as notificações foram estabelecidas em contrato não por mero
capricho, mas porque possuem efetividade prática de disponibilizar à parte que
porventura tenha que indenizar eventual contestação, direito à defesa e ao
contraditório e, em última linha, que ao menos provisione e prepare o valor para
indenizar.
140. Assim, entende-se que não existe qualquer indenização que seja devida pelos
Vendedores (Parte Requerida) em favor dos Compradores (Parte Requerente)
acerca de processos encerrados do Anexo RTE 27.
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14. Queira o Sr. Perito informar quem era o responsável pela
contratação da Ernst & Young para realização da “due
dilligence”.
Atenciosamente.
ASSISTENTE TÉCNICO
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CONTADOR CRC SC-039641/O