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Prefácio e Saudação 1 Pedro
Prefácio e Saudação 1 Pedro
1 Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no
Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia,
2 eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a
obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam
multiplicadas.
Ação de graças
3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita
misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de
Jesus Cristo dentre os mortos,
4 para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para
vós outros
5 que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada
para revelar-se no último tempo.
6 Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais
contristados por várias provações,
7 para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o
ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na
revelação de Jesus Cristo;
8 a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais
com alegria indizível e cheia de glória,
9 obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.
10 Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais
profetizaram acerca da graça a vós outros destinada,
11 investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas,
indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho
sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam.
12 A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as
coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado
do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar.
E o autor faz lembrar de novo aos leitores a razão de eles terem sido salvos:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes o daquele
que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (2:9).
Esboço do conteúdo:
Prefácio e saudação (1:1–2)
1. Regenerados para uma viva esperança (1:3–12)
a. Nome.
Pedro é breve e direto ao apresentar-se. Ao invés de dizer que é Simão,
filho de Jonas (Mt 16.17), ou Simão, filho de João (Jo 1.42; 21.15–17),
ele usa o nome Pedro.
Esse foi o nome que Jesus lhe deu quando André o apresentou ao
Senhor. Jesus disse: “Tu és Simão, o filho de João.
Tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)” (Jo 1.42). Conforme
explica a nota de rodapé da New International Version, “Tanto Cefas
(aramaico) como Pedro (grego) querem dizer rocha”.
O nome que Simão recebeu de Jesus reflete seu caráter, talvez nem
tanto durante os anos de ministério de Jesus, mas certamente depois
que Pedro foi restaurado (Jo 21.15–23). Como líder da igreja de
Jerusalém, Simão passou a ser conhecido como Pedro ou Simão Pedro
(ver, por exemplo, as muitas referências em Atos). Coincidentemente,
apenas duas vezes no Novo Testamento “a forma semítica mais precisa
– Simão – é usada” (no grego, At 15.14; 2Pe 1.1).
b. Título.
Pedro expressa sua autoridade e influência usando o nome que Jesus
lhe deu quando se tornou discípulo de Cristo.
Ele é o único que tem esse nome e é reconhecido como líder da igreja.
Pedro também se autodenomina “apóstolo de Jesus Cristo”. Apesar
de pertencer ao círculo mais íntimo dos 12 discípulos durante o
ministério de Jesus aqui na terra, Pedro se coloca no mesmo nível que
todos os outros discípulos.
c. Destinatários.
Quem são aqueles a receber esta carta?
Antes de Pedro nos dizer onde vivem, ele os descreve espiritual,
social e politicamente.
Observe que Pedro não menciona algumas regiões. Deixa de fora, por
exemplo, os nomes Lícia, Frígia, Pisídia, Panfília, Licônia e Cilícia, mas
esses nomes são relativos à parte Sul da Ásia Menor. Pedro dirige sua
carta aos leitores nas províncias do Norte, Leste, Oeste e Central.
Supomos que, depois de ter sido libertado da prisão (At 12.1–17), Pedro
tenha levado o evangelho a essas regiões.
Nessa mesma época, Paulo evangelizou partes da Ásia Menor, mas o
Espírito Santo o impediu de pregar na província da Ásia e de entrar na
Bitínia (At 16.6,7). Paulo não pregava em áreas nas quais o evangelho
já era conhecido, pois recusava-se a “edificar sobre fundamento alheio”
(Rm 15.20). Pedro cita as cinco regiões na seguinte ordem: Ponto,
Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia.
A pessoa que entregou a carta, talvez Silas (5.12), foi primeiro a Ponto,
à beira do Mar Negro, então seguindo uma rota tortuosa, para a Galácia
e Capadócia. De lá, viajou para a Ásia e terminou sua viagem na Bitínia.
Por fim, Pedro se refere a regiões, e não a províncias romanas.
Em 64 a.C., Bitínia e Ponto tornaram-se uma única província sob
domínio romano. Apesar de o nome Galácia designar uma província,
também se refere a uma região.
B. Destinatários 1:2
O que é presciência?
É muito mais do que a habilidade de prever acontecimentos futuros. Ela inclui a
soberania de Deus em determinar e colocar em prática sua decisão de salvar o
ser humano pecador. A palavra presciência é usada no sermão de Pedro em
Pentecoste, no qual ele declara ao seu público judeu que Jesus foi “entregue
pelo determinado desígnio e presciência de Deus” (At 2.23). Pedro deixa
implícito que Deus agiu de acordo com seu plano e propósito soberano, os
quais havia preparado de antemão. Paulo também se refere à presciência em
Ao descrever Deus como Pai, Pedro deixa implícito que aqueles que fazem
parte do povo de Deus, ao qual Pedro chama de “eleitos”, são, de fato, filhos
de Deus. São imensamente privilegiados, pois tomam parte na aliança que
Deus fez com seu povo: “Serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas,
diz o Senhor Todo-Poderoso” [2Co 6.18]
Observe que os escolhidos de Deus foram “eleitos segundo a presciência de
Deus Pai”.
Como se dá essa eleição do ser humano? Ela é efetuada através do poder
do Espírito Santo, que purifica o eleito do pecado.
b. Santificação.
Pedro escreve sua epístola aos eleitos que foram escolhidos “através da obra
santificadora do Espírito”. Quando Pedro fala da obra santificadora do Espírito
Santo, ele determina a diferença entre o Deus Santo e o ser humano pecador.
O Espírito está em ação quando torna o ser humano santo e aceitável aos
olhos de Deus; o ser humano pecador, porém, não pode entrar na presença do
Deus santo a menos que Deus, através de seu Espírito, o santifique. Pedro não
é o único a ensinar a obra santificadora do Espírito.
c.Obediência e aspersão.
Por que o Espírito santifica os eleitos? Pedro diz que é “para a obediência a
Jesus Cristo e a aspersão por seu sangue”.
Ele repete sua referência à obediência em versículos subseqüentes desse
capítulo: “Como filhos obedientes, não se amoldem aos desejos perversos que
vocês tinham quando viviam na ignorância” (1.14); “Tendo purificado as vossas
almas pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal, não
fingido, amai-vos de coração uns aos outros ardentemente” (v. 22).
O autor da epístola aos Hebreus comenta que Jesus derramou o seu sangue
para tirar o pecado do povo de Deus (9.18–28; 12.24). Pedro declara que, por
meio da morte sacrificial de Jesus na cruz, ele redimiu e comprou os eleitos
(comparar com 1.18,19).
Assim, em resumo, o Deus Triúno deu-lhes três privilégios distintos: Deus o Pai
os conhece de antemão, Deus o Espírito os santifica e Jesus os purifica do
pecado por meio da aspersão de seu sangue. Apesar de Jesus Cristo ter
derramado seu sangue de uma vez por todas, seu significado tem um efeito
duradouro e é um processo contínuo. Jesus Cristo continua nos purificando do
pecado.
d. Saudação.
As palavras “graça e paz sejam com vocês em abundância” também
aparecem em 2 Pedro 1.2 (ver também Jd 2). A saudação é um tanto típica
dos autores do Novo Testamento que escrevem cartas. Com variações,
Paulo, Tiago, João, Judas e o autor aos Hebreus estendem saudações e
bênção no começo ou no final de suas epístolas. O termo graça é
abrangente: ele inclui os conceitos de misericórdia, amor e remissão do
pecado. A graça é aquilo que Deus oferece ao ser humano.
A paz, por outro lado, é um estado interior de felicidade que leva aquele que
a experimenta a expressá-la externamente para seu próximo. Num certo
sentido, os conceitos de graça e paz estão relacionados um ao outro como
causa e efeito, ou seja, o dom da graça de Deus resulta na paz. A expressão
“graça e paz sejam com vocês em abundância” é uma tradução literal.
Considerações doutrinárias em 1.1,2 Pedro, que era um pescador galileu
sem instrução (At 4.13) e havia sido líder da igreja de Jerusalém, escreve
uma carta aos cristãos que viviam na Ásia Menor. No início da epístola,
dirige-se a seus leitores com um discurso no qual ensina verdades
fundamentais do Cristianismo: a doutrina da eleição e a doutrina da
Trindade.
Pedro envia sua epístola aos “eleitos”.
Ele revela que a eleição é obra de Deus, que Deus quer o seu povo para si
e que o Deus Triúno cuida de seus eleitos.
A doutrina da eleição serve de verdadeiro consolo e grande encorajamento
para o povo de Deus. Ao eleger seu povo, Deus exige dele uma resposta de
gratidão. Espera que essas pessoas obedeçam aos seus mandamentos e
façam sua vontade. Apesar disso, ele conhece nossas fraquezas e
fragilidades e está ciente de que, por vezes, caímos em pecado. Assim, ele
colocou a nosso dispor o poder santificador do Espírito e o efeito duradouro
da aspersão do sangue de Cristo.
c. “Senhor”.
O v. 3 é a única passagem dessa epístola em que Pedro escreve o título e os
nomes Senhor Jesus Cristo. Com o pronome nosso, Pedro se inclui entre os
crentes que confessam o senhorio de Jesus Cristo. “Chamar Jesus de Senhor
é declarar que ele é Deus”. Além disso, na igreja primitiva, os cristãos
confessavam sua fé com a breve declaração Jesus é o Senhor (1Co 12.3).
O nome Jesus compreende o ministério do Filho de Deus na terra e o nome
Cristo se refere a seu chamado messiânico. Nesses três versículos (vs. 1 a 3),
Pedro usa o nome Jesus Cristo quatro vezes.
d.“Misericórdia”.
Pedro descreve nosso relacionamento com Deus o Pai ao dizer: “Em sua
grande misericórdia ele nos deu um novo nascimento”. Lemos quase as
mesmas palavras numa das epístolas de Paulo (“Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou… nos deu vida
juntamente com Cristo” [Ef 2.4,5]). Ao que parece, Pedro conhecia as epístolas
de Paulo (ver 2Pe 3.15,16). Assim como outros apóstolos, Pedro apresenta a
doutrina cristã da regeneração (ver, por exemplo, Jo 3.3,5).
f.“Esperança”.
O que é esperança? É algo pessoal, vivo, ativo e parte de nós. No versículo 3,
não é algo que diz respeito ao futuro (comparar com Cl 1.5; Tt 2.13). Pelo
contrário, ela traz nova vida aos eleitos de Deus que aguardam com paciente
disciplina a revelação de Deus em Jesus Cristo.
g. “Ressurreição”.
Qual é a base para nossa nova vida?
Pedro nos diz que, “por intermédio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os
mortos”, Deus nos deu vida e está nos dando esperança viva. Sem a
ressurreição de Cristo, nossa regeneração não seria possível e nossa
esperança não faria nenhum sentido. Ao ressuscitar dentre os mortos, Jesus
Cristo nos deu a segurança de que nós também ressuscitaremos com ele (ver
Rm 6.4).
Por quê? Conforme a pregação de Pedro em Pentecoste, “ao qual, porém,
Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível
fosse ele retido por ela” (At 2.24). Jesus é o primeiro a quebrar os grilhões da
morte, de modo que, por meio dele, encontramos nossa regeneração e nele
temos vida eterna (1Jo 5.12).
Pedro fala como testemunha ocular, pois teve a experiência singular de
encontrar-se com Jesus depois que ele se ergueu de seu túmulo. Pedro comeu
e bebeu com Jesus e tornou-se testemunha de sua ressurreição (consultar At
10.41).
a. Não perece. Nosso tesouro não está sujeito à morte ou destruição, não
pode jamais ser corrompido. Além disso, não está limitado pelo tempo, mas é
eterno.
b. Não se deteriora. Ele não pode ser estragado, corrompido ou poluído.
Permanece livre de qualquer mácula e é puro (comparar com Ap 21.27).
c. Não se desvanece. Que não pode se apagar. Quando uma flor passa do
auge, a sua beleza se perde. O mesmo jamais pode ser dito da herança que
está guardada para nós no céu. Os bens terrenos estão sujeitos a constantes
variações e mudanças, mas nossa herança eterna é guardada por Deus em
segurança no céu. Pedro declara que não apenas nossa salvação é mantida
segura, como também nós, os donos dessa herança, somos protegidos pelo
poder de Deus.
b. Persistência.
Enquanto Tiago escreve que “a provação da sua fé… desenvolve
perseverança” (1.3), Pedro compara o teste da fé ao processo pelo qual o ouro
é purificado. Ao longo dos séculos, o ouro é considerado um bem precioso e
estável. “Esse metal altamente valorizado é mencionado 385 vezes na Bíblia,
aparecendo com mais frequência do que qualquer outro metal”. O ouro serve
como referência para determinar transações monetárias (ver também 1Pe
1.18). Pedro afirma que a fé vale mais do que o ouro; a fé excede esse bem
universalmente valorizado, pois tem sua origem no céu e é uma dádiva de
Deus. A fé dura para sempre (1Co 13.13). O ouro, pelo contrário, acaba se
deteriorando com o uso e o desgaste. Esse metal precioso é refinado pelo fogo
para que todas as impurezas sejam removidas e só reste o ouro puro de 24
quilates.
Pedro, porém, observa que, mesmo que o ouro seja purificado pelo fogo, ele se
deteriora. Essa comparação tem como implicação evidente a pergunta: se o
ouro deteriorável é purificado, quanto mais não o deve ser a fé permanente na
vida do cristão? O crente expressa sua fé verdadeira ao confiar completamente
em Deus. Ele sabe que “o [seu] Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de
suprir em Cristo Jesus, cada uma das [suas] necessidades” (Fp 4.19).
a. Crer.
Pedro deixa implícito que viu o Senhor e que os leitores de sua epístola não
tiveram esse privilégio. Observe que Pedro usa a primeira pessoa do plural no
versículo 3: “Nosso Senhor Jesus Cristo que… nos deu um novo nascimento”,
mas no versículo 8 ele usa a terceira pessoa do plural, vocês: “Apesar de
vocês não o terem visto, vocês o amam”. Observe também o tempo passado
“não o terem visto”. Ele contrasta o tempo passado com o tempo presente na
declaração paralela: “Mesmo que vocês não o vejam agora, crêem nele”.
Todos esses pontos deixam implícito que Pedro viu o Senhor, que é
testemunha ocular do ministério de Jesus. Mais adiante na epístola, ele se
chama explicitamente de “testemunha dos sofrimentos de Cristo” (5.1). Devido
ao tempo e à distância, os leitores da carta de Pedro não haviam visto Jesus,
ainda assim, por causa do evangelho, eles o amavam e criam nele. Na
verdade, eram demonstração viva da bem-aventurança que Jesus disse a
Tomé: “Bem-aventurados os que não viram, e creram” (Jo 20.29). Eles
amavam Jesus e depositavam nele sua confiança, mesmo não tendo sido
capazes de vê-lo nesta vida aqui na terra. Os leitores o faziam tomando por
base a mensagem pregada pelos apóstolos (comparar com Jo 17.20). Como
disse Paulo, “Andamos por fé, e não pelo que vemos” (2Co 5.7; ver também
4.18). É possível que os apóstolos, que viram e ouviram Jesus, pensassem que
sua fé no Senhor não fosse tão grande quanto a fé daqueles que viriam a crer
sem ter visto Jesus? Essa possibilidade é real, primeiro porque Pedro estava
presente quando Jesus proferiu a bem-aventurança a Tomé (Jo 20.29). Em
segundo lugar, duas vezes Pedro lança mão de orações concessivas que, na
tradução, deixam subentendido “apesar de”: “não havendo visto” e “não vendo
agora”. Em terceiro lugar, ele enfatiza o advérbio de tempo agora. Em resumo,
Pedro elogia seus leitores por sua fé em Jesus Cristo.
b. Alegria.
“Crêem nele e estão cheios de uma alegria inexprimível e gloriosa”. Já nesta
vida presente, os crentes experimentam alegria indescritível, não precisam
esperar até deixarem o mundo. Mesmo agora, estão repletos de “alegria
inexprimível e gloriosa”. A ênfase nessa parte do versículo está na alegria que
enche o coração dos cristãos. Uma tradução literal transmite o conceito tanto
no verbo como no substantivo “vos alegrais com alegria” (NASB). Essa é a
segunda vez nessa primeira parte da epístola que Pedro trata da alegria. Ele
repete a palavra que usou anteriormente – “exultais” (v. 6). A palavra descreve
gritos de alegria que não podem ser contidos. Além disso, Pedro dá ao
substantivo alegria duas qualidades incomuns: “inexprimível” e “gloriosa”. A
primeira palavra, “inexprimível”, não aparece em nenhuma outra parte do Novo
Testamento. Pedro a utiliza para descrever a atividade de uma pessoa que
possui grande alegria. Essa pessoa não é capaz de expressar sua alegria em
termos humanos. Na verdade, ela não lida apenas com a incapacidade, mas
com a impossibilidade de transmitir a profundidade de sua alegria. A segunda
expressão, “gloriosa”, significa aquilo que foi e continua sendo glorificado. Sua
conotação é da presença de glória divina que caracteriza esse determinado
tipo de alegria (comparar com 2Co 3.10).
c. Receber.
O autor declara a razão dessa alegria. Diz: “recebendo o objetivo da sua fé, a
salvação da sua alma”. Apesar de muitos tradutores optarem pelo verbo
receber para transmitir o sentido do grego, a palavra significa “obter alguma
coisa que é devida à pessoa”. Nesse caso, a palavra significa que, por meio da
obra de Cristo, o crente obtém a salvação. Já nesta vida, o cristão se apropria
da salvação que Cristo oferece (ver 1Co 1.18). O que os crentes obtêm? Pedro
lhes dá uma resposta direta. Ele lhes diz que obterão “o objetivo da [sua] fé”,
conforme a New International Version. O texto, na verdade, diz “o fim da vossa
fé”. Porém, se pararmos nesse ponto, a resposta de Pedro deixa a desejar,
pois precisamos saber qual é o objetivo da fé. Pedro, porém, completa a frase
acrescentando a oração explicativa a salvação das vossas almas. As Escrituras
nos ensinam que a salvação já nos pertence em princípio. Nós nos
apropriaremos plenamente dela quando estivermos com Cristo para toda a
eternidade. As palavras do versículo 9, “a salvação da vossa alma”, estão de
acordo com o ensinamento de diversas passagens do Novo Testamento que
afirmam que nossa salvação em Cristo afeta nossa vida como um todo. Cristo
Jesus salva plenamente, de modo que cada crente pode dizer: Com seu
precioso sangue Ele pagou por todos os meus pecados e me libertou de todo o
domínio do diabo. Agora Ele me protege de tal maneira que, sem a vontade do
meu Pai do céu, não perderei nem um fio de cabelo. Além disto, tudo coopera
para o meu bem
a. Profetizado.
“Quanto a essa salvação, os profetas… falaram da graça que viria a vocês”.
Quem são esses profetas? Pedro não cita nomes, mas tem em mente todos os
profetas do Antigo Testamento, de Moisés a Malaquias. Eles são os profetas
aos quais Lucas se refere quando registra o diálogo entre Jesus e os dois
homens no caminho de Emaús: “Porventura não convinha que o Cristo
padecesse e entrasse na sua glória?” E Lucas acrescenta: “E começando por
Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito
constava em todas as Escrituras” (Lc 24.26,27). Guiados pelo Espírito Santo
(2Pe 1.21), esses profetas ensinaram a “graça que viria a vocês”. A expressão
graça é mais abrangente do que seu sinônimo, salvação. Ela inclui o reinado
divino cheio de graça no tocante à redenção do ser humano. Eis dois
exemplos: Jacó, em seu leito de morte, diz: “O cetro não se arredará de Judá e
nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os
povos” (Gn 49.10). Daniel, interpretando o sonho de Nabucodonosor, profetiza:
“Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será
jamais destruído… mas ele mesmo subsistirá para sempre” (Dn 2.44). Os
profetas compreendiam o que estavam profetizando? Pedro afirma que eles
“examinaram atentamente e com o maior cuidado”.
c. Investigado.
Ao invés do texto “estavam procurando saber qual a ocasião ou quais as
circunstâncias”, algumas traduções trazem: “investigando qual a pessoa ou
ocasião indicadas” (RSV, itálico nosso). Os profetas sabiam que o Messias
viria, mas não tinham conhecimento de quando ele iria aparecer ou quais
seriam as circunstâncias dessa aparição. Assim, indagavam sobre o “quando”
e o “como” da vinda do Messias. Em geral, os estudiosos preferem o texto
ocasião e circunstâncias ao invés de “pessoa ou tempo”. Os profetas haviam,
evidentemente, recebido a revelação de Deus sobre a vinda do Messias. Isaías
profetizou sobre seu nascimento (7.14; 9.6; 11.1), seu ministério (11.2–5; 35.4–
6; 61.1,2) e seu sofrimento e morte (52.13–53.12), e Miquéias previu o lugar de
seu nascimento: Belém (5.2). Quando profetizavam, esses homens estavam
repletos do Espírito de Deus.
d. Previsto.
Não eram os profetas, mas o Espírito Santo, que estava “apontando quando
predisseram os sofrimentos de Cristo e as glórias que viriam depois”. Pedro diz
que era o Espírito de Cristo que estava neles (ver At 16.7). Pedro indica que
Cristo existia antes de vir habitar entre os homens. Por meio de seu Espírito,
Cristo guiou os profetas e, assim, inspirou-os em seus escritos.
As palavras do texto revelam que havia uma constante interatividade entre os
profetas e o Espírito de Cristo, ou seja, os profetas estavam constantemente
investigando o significado de suas profecias, e o Espírito de Cristo, trabalhando
através deles, estava sempre apontando para a ocasião e as circunstâncias
reveladas nessas profecias.
O Espírito, portanto, revelou-lhes por meio de previsões o que Cristo teria que
suportar. Observe que, nessa passagem, sem sombra de dúvida, Pedro ensina
a preexistência de Cristo, quando escreve: “o Espírito de Cristo neles estava
apontando quando predisseram os sofrimentos de Cristo e as glórias que
viriam depois”. No grego, o tempo presente do verbo dar de antemão (como
particípio) indica a repetição dessa atividade. Cristo fez essas previsões
séculos antes de seu cumprimento. Observe que o Espírito de Cristo revela
essas previsões aos profetas na época do Antigo Testamento. Esses profetas
tomam sobre si a tarefa de indagar e inquirir sobre o significado dessas
profecias. Em resumo, chegamos à conclusão de que, nessa passagem, Pedro
ensina a doutrina da inspiração verbal.
O salmista e os profetas revelam os sofrimentos de Cristo (como, por exemplo,
Sl 22.7; Is 53.3). Pedro escreve o termo sofrimentos no plural para enfatizar a
magnitude e a variedade de dores e tristezas que Jesus teria que suportar.
Pedro, porém, contrasta os sofrimentos de Jesus com “as glórias que viriam
depois”. Observe o uso do plural “glórias”. O plural se refere à glória da
ressurreição de Jesus, à glória de sua ascensão e à gloria de sua volta.