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Prefácio ........................................................................................................ 13
PARTE UM
O LEGADO ISRAELITA
1. Cristianismo e judaísmo .......................................................................... 29
A separação dos caminhos ............................................................................. 29
O cristianismo e o cânone hebraico da Escritura ........................................ 40
O cristianismo e a interpretação judaica da Bíblia ....................................... 50
O cristianismo e a pré-história de Israel ....................................................... 57
A interpretação cristã da história de Israel ................................................... 77
2. Uma herança compartilhada ................................................................... 77
Deus é um ........................................................................................................ 77
O ato divino da criação ................................................................................... 87
A imagem de Deus no homem ...................................................................... 91
A natureza do pecado e do mal ...................................................................... 94
A eleição e a redenção .................................................................................... 99
PARTE DOIS
A PESSOA DO PAI
3. Deus como Pai ........................................................................................ 111
O judaísmo e a paternidade de Deus .......................................................... 111
As concepções não judaicas da paternidade divina .................................. 117
Jesus e seu Pai ................................................................................................ 120
O Pai como o princípio da divindade ......................................................... 125
O Deus-em-si todo-poderoso e não gerado .............................................. 128
O Pai e o Criador ........................................................................................... 134
4. O Pai e seus filhos ................................................................................... 149
Uma nova relação com Deus ....................................................................... 149
Um novo entendimento da Escritura ......................................................... 153
PARTE TRÊS
A OBRA DO PAI
5. A reconciliação do mundo ...................................................................... 169
A obra do Pai de uma perspectiva judaica .................................................. 169
A obra do Pai de uma perspectiva gentia .................................................... 174
A doutrina cristã da criação ......................................................................... 183
6. A providência e a predestinação ............................................................. 195
A imagem de Deus e a semelhança com ele ............................................... 195
O chamado à santidade ................................................................................ 202
7. A obra do Pai e a Trindade ..................................................................... 209
O Pai e sua criação .... 209
A hierarquia divina .... 221
O eclipse do Pai .... 228
PARTE QUATRO
A PESSOA DO FILHO
8. O desafio da encarnação ......................................................................... 233
A igreja confronta o mundo romano .......................................................... 233
Jesus e seus contemporâneos ...................................................................... 243
Jesus no ensinamento cristão primitivo ..................................................... 247
Adocionismo ................................................................................................. 250
9. O Filho de Deus ...................................................................................... 257
Arianismo ..................................................................................................... 257
O caminho para Niceia ................................................................................ 273
O resultado de Niceia ................................................................................... 279
Uma novo rumo na cristologia .................................................................... 285
O triunfo de Atanásio .................................................................................. 294
A síntese trinitária ......................................................................................... 301
10. O vocabulário teológico cristão ............................................................. 323
Hebraico, grego e latim ................................................................................ 323
O que é Deus? ............................................................................................... 331
Como Deus é? .............................................................................................. 343
Quem é Deus? ............................................................................................. 348
11. O Filho do homem ................................................................................ 357
A palavra divina na carne humana .............................................................. 357
Nestorianismo .............................................................................................. 364
A definição calcedônia ................................................................................. 386
A definição de humanidade ......................................................................... 403
A vontade de Cristo ...................................................................................... 424
O retrato de Cristo ........................................................................................ 434
Retrospecto e prospecto .............................................................................. 440
PARTE CINCO
A OBRA DO FILHO
12. O corpo de Cristo .................................................................................. 447
O homem do céu .......................................................................................... 447
A água e o sangue .......................................................................................... 453
A semelhança da carne pecaminosa ........................................................... 464
O segundo Adão ........................................................................................... 474
13. A morte de Cristo .................................................................................. 479
O único sacrifício pelo pecado .................................................................... 479
O custo da reconciliação .............................................................................. 488
A centralidade da ceia do Senhor ................................................................ 501
O memorial do sacrifício de Cristo ............................................................. 512
O sistema sacramental ................................................................................. 527
A invenção do purgatório ............................................................................ 546
A justificação dos pecadores ....................................................................... 563
A glória da cruz ............................................................................................. 581
Profeta, sacerdote e rei ................................................................................. 593
14. A vinda do reino de Cristo .................................................................... 601
O reino eterno de Cristo .............................................................................. 601
A crise de autoridade .................................................................................... 613
O reino celestial ............................................................................................ 633
A nova aliança ............................................................................................... 649
PARTE SEIS
A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO
15. A pessoa esquecida da Trindade? ......................................................... 671
A estrada menos usada ................................................................................. 671
O Espírito de Deus na Bíblia ....................................................................... 676
O paracleto e a pessoalidade ........................................................................ 682
O Espírito Santo nos credos antigos .......................................................... 685
16. Espírito do Pai, Espírito do Filho ........................................................ 703
Dupla processão? ......................................................................................... 703
Agostinho e o Espírito Santo ...................................................................... 710
As origens da controvérsia .......................................................................... 717
Anselmo e o Espírito Santo ......................................................................... 741
O curso da controvérsia ............................................................................... 748
A separação do Oriente e do Ocidente ...................................................... 769
A questão do Filioque hoje ............................................................................ 783
PARTE SETE
A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
17. A presença de Deus ............................................................................... 799
De glória em glória ....................................................................................... 799
O poder de Deus habitando em nosso íntimo .......................................... 805
18. A inspiração da sagrada Escritura ....................................................... 813
A palavra profética de Deus ........................................................................ 813
A regra de fé .................................................................................................. 823
O guia da vida cristã ...................................................................................... 829
19. A preservação da igreja ........................................................................ 843
A mente de Cristo ......................................................................................... 843
A sabedoria das eras ..................................................................................... 854
A fonte da verdade ........................................................................................ 873
20. O caminho para o céu ........................................................................... 887
Os anjos e os arcanjos .................................................................................. 887
A paz que transmite entendimento ............................................................. 899
A imitação de Cristo ..................................................................................... 912
21. O corpo místico de Cristo ...................................................................... 925
O dom da justiça ........................................................................................... 925
A verdadeira igreja ........................................................................................ 938
A vida no Espírito ......................................................................................... 957
O escopo da aliança ...................................................................................... 984
A extensão da expiação de Cristo ............................................................... 997
A garantia da salvação ................................................................................ 1020
A comunhão do Espírito ........................................................................... 1040
A vida devotada .......................................................................................... 1055
A missão pentecostal .................................................................................. 1081
PARTE OITO
UM DEUS EM TRÊS PESSOAS
22. A doutrina clássica de Deus ................................................................ 1093
A síntese patrística ...................................................................................... 1093
O Deus dos filósofos ................................................................................. 1099
A mudança radical resultante da Reforma ............................................... 1109
O surgimento do unitarismo ..................................................................... 1118
23. O eclipse da teologia ........................................................................... 1133
O culto da razão .......................................................................................... 1133
A reconstrução da teologia ........................................................................ 1157
A crise de autoridade: catolicismo-romano ............................................. 1213
A crise de autoridade: protestantismo ...................................................... 1231
A crise de autoridade: ortodoxia oriental ................................................. 1254
24. O reavivamento trinitário .................................................................. 1275
O mundo protestante ................................................................................. 1275
A igreja católica-romana ............................................................................ 1317
A tradição ortodoxa oriental ..................................................................... 1330
25. O desafio de Deus hoje ........................................................................ 1339
Um Deus sofredor? .................................................................................... 1339
A credibilidade da teologia ........................................................................ 1352
Onde estamos agora? ................................................................................. 1358
Lista cronológica de pessoas ..................................................................... 1363
Lista cronológica de eventos ..................................................................... 1361
Prefácio
Até o século XIX não existia algo como a “história da doutrina cristã”.
As próprias doutrinas estavam contidas nos credos e confissões da igreja, mas
raramente se examinou a forma como elas vieram à existência. Os protestantes
tinham consciência que houve desenvolvimentos ao longo do tempo, uma
vez que do contrário a Reforma do século XVI seria incompreensível. Se não
fosse possível haver qualquer tipo de mudança, a Reforma teria sido rejeitada
como uma inovação incompatível com a verdade revelada de forma eterna,
o que é exatamente o argumento de seus adversários católicos-romanos.
Os papas e seus apoiadores, reivindicando a autoridade de Pedro como o
sucesso designado de Jesus e o primeiro bispo de Roma, assumiram que o
que acreditavam e ensinavam viera diretamente do Senhor.
As igrejas ortodoxas orientais nunca aceitaram a jurisdição papal sobre
elas. Elas, no todo, concordavam com Roma a respeito do conteúdo da teolo-
gia da igreja, mas não quanto à natureza da autoridade que a definira. Para as
igrejas ortodoxas orientais, Roma não só reivindicava um poder que Jesus
não dera a Pedro, mas, no processo, também corrompera os ensinamentos
da igreja. Essa era a relevância de acrescentar a palavra Filioque (“e [de] o Fi-
lho”) à declaração do Credo Niceno de que o Espírito Santo procede do Pai
(Jo 15.26). Será que o papa tinha poder para autorizar um acréscimo como
esse sem o apoio de um concílio universal (“ecumênico”) da igreja? Roma
disse que tinham autoridade para isso, mas o Oriente respondeu que Roma
não tinha. Cada um dos lados acreditava que o outro interpretara a Bíblia de
forma equivocada, em particular as palavras de Jesus em Mateus 16.18,19:
E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la. Eu lhe darei as chaves
do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e
o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus.
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Foi o uso feito dessa declaração para sustentar o poder papal que separou
a igreja. Em 1054, o emissário papal excomungou o patriarca de Constanti-
nopla porque este não se submetera à autoridade de Roma, e no século XVI,
Roma fez a mesma coisa com os protestantes, que também rememoravam o
século XI como o período em que as coisas começaram a andar seriamente
erradas na igreja.
Logo ficou evidente que a rejeição protestante da autoridade papal não
era como a rejeição das igrejas orientais, mas ninguém pensou em recorrer à
história como uma explicação para essa diferença. As mudanças e desenvol-
vimentos ocorridos ao longo do tempo eram entendidos de forma indistinta,
mas a relevância deles não foi avaliada do modo correto. Martinho Lutero,
por exemplo, não hesitou em dizer a seus alunos que a epístola de Paulo
para os Gálatas era de especial relevância para eles porque os alemães e os
gálatas eram ambos de descendência céltica e, por isso, era apenas esperado
que os problemas da Galácia da Antiguidade pudessem ser paralelos com
os da Alemanha contemporânea! Só no século XIX, esse desenvolvimento
histórico foi usado para explicar as divisões ocorridas ao longo do tempo e o
surgimento das doutrinas que as diferentes igrejas defendiam, quer em comum
quer em oposição umas às outras. Uma vez que nenhuma dessas doutrinas foi
claramente afirmada no Novo Testamento, começou a aumentar a suspeita de
que o próprio conceito de doutrina evoluíra nos tempos pós-bíblicos e fora
imposto à igreja por um sacerdócio determinado a garantir o próprio poder.
Para os homens que acreditam que a fé cristã tem de ser fundamentada
só na Escritura (sola Scriptura), isso veio a significar que a teologia (ou “dog-
ma”, como eles em geral preferiam denominá-la) era uma deturpação da fé
primitiva. Eles acreditavam que se o dogma fosse marginalizado ou até mes-
mo excluído, os cristãos poderiam se unir de novo, não nas igrejas (porque
elas eram em grande parte o produto dos desvios pós-bíblicos), mas em seu
coração. Os cristãos que demonstrassem o espírito de Cristo em sua vida
tinham mais probabilidade de persuadir os outros da verdade da mensagem
do evangelho que as instituições que impunham suas próprias ortodoxias às
pessoas que não entendiam o que elas significavam.
Essa era uma percepção unilateral, é claro, mas a noção de que aquilo que
a[s] igreja[s] ensinava[m] era relevantemente diferente do que seria encontrado
na Bíblia criou raízes e deu origem ao que denominamos agora a “história da
doutrina cristã”. É claro que de modo algum todos concordam com a tese
de que os desenvolvimentos pós-bíblicos eram deturpações do ensinamento
original de Cristo. Essa interpretação foi promovida principalmente entre os
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protestantes liberais, embora ela, ao longo do século XIX, tenha vindo a ser
predominante no mundo protestante.
Os católicos-romanos, em contrapartida, acharam de início difícil
reconciliar suas crenças com a noção de desenvolvimento doutrinal, mas,
depois da proclamação da infalibilidade papal, em 1870 (que era claramente
uma inovação que deixava muito a desejar), a ideia foi assumida e usada
para explicar por que o papado podia introduzir essas aparentes inovações e
torná-las partes obrigatórias da crença cristã. Aos olhos católicos-romanos, a
doutrina se desenvolvia sob a orientação do Espírito Santo, que operava por
intermédio do papa a fim de confrontar e acabar com os erros da época. Eles
concordavam com os protestantes liberais que alguns de seus ensinamentos
eram desconhecidos nos primeiros dias do cristianismo, mas argumentavam
que isso ficara claro para a igreja em resposta à mudança das circunstâncias
históricas. A história da doutrina cristã, portanto, tinha de ser entendida
não como uma corrupção da mensagem original do Novo Testamento, mas
como uma obra do Espírito Santo, adaptando e trazendo à perfeição com o
tempo a revelação que fora concedida de uma vez por todas em Jesus Cristo.
Os protestantes conservadores e, no fim, as igrejas ortodoxas orientais
vieram gradualmente a aceitar o conceito do desenvolvimento histórico da
doutrina com linhas muitíssimo semelhantes à percepção católica-romana,
mas eles interpretavam a obra do Espírito Santo de modo muito diferente.
Para eles, a história da doutrina cristã era uma luta para manter a verdade do
evangelho contra predadores de diferentes tipos — os papas, é claro, mas
também os hereges da Antiguidade e os liberais dos tempos modernos.
Hoje, essas posições do século XIX foram muitíssimo modificadas, se
não foram totalmente abandonadas, por todos os lados do debate. Ninguém
acredita agora que a doutrina cristã é uma deturpação do ensinamento de
Jesus, mesmo que ainda seja muitíssimo proclamado que boa parte dela é
diferente de qualquer coisa que ele poderia reconhecer. Da mesma maneira,
pouquíssimas pessoas afirmam agora que o que sua igreja ensina é a absoluta
verdade com a exclusão de tudo o mais. O conceito de ortodoxia doutrinal
ainda existe e é defendido pelos conservadores com históricos muito di-
ferentes, mas todos reconhecem que ele é com frequência formulado pela
política e por outros fatores externos cuja influência tem de ser transcendida
se for para recuperarmos o sentido de unidade que repousa sob a superfície
de nossas divisões. Se essa recuperação levará à reunião das igrejas é duvi-
doso porque a força da tradição e o poder de resistência das instituições
militam contra isso, mas, com certeza, é possível dizer que agora há um tipo
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vez que a autoridade do que uma pessoa faz depende de quem essa pessoa
é, embora seja possível argumentar que os cristãos primitivos viram o que
Deus estava fazendo em seu meio e só mais tarde compreenderam como cada
uma das pessoas divinas estava envolvida na ação. Não obstante, é necessário
primeiro entender quem Deus é para poder ter uma avaliação apropriada
do que ele faz, uma ordem que nasce pela maneira como a teologia cristã se
desenvolveu de fato.
Jesus, quando proclamou sua relação com o Pai, introduziu uma mudança
sutil, mas relevante, na imagem judaica de Deus, que agora tinha de permitir
um relacionamento Pai-Filho que abraçasse tanto a encarnação divina quanto
a eterna transcendência do ser supremo. Ainda assim, os cristãos primitivos
deram prioridade ao Pai que estava em direta continuidade com o Antigo
Testamento, e a revelação do Filho não acarretou qualquer afastamento de
seu monoteísmo transcendente. Esse era o princípio organizador do qual tudo
o mais dependia, mas a confissão do Filho como Senhor tornou necessário
determinar qual era a relação dele como o único Deus. Acontecia a mesma
coisa com o Espírito Santo. Será que ele tinha de ser considerado como
uma pessoa com o o Pai e o Filho, como uma personificação do ser divino
ou simplesmente como outro nome para o Pai? Será que se esperava que os
cristãos se relacionassem com Deus como um, como três ou como alguma
combinação das duas coisas, dependendo da circunstância?
Essas questões eram inerentes à revelação do Novo Testamento, mas
resolvê-las não era uma prioridade imediata para a primeira geração de cris-
tãos. A consciência da importância delas e da necessidade de lidar com elas
aumentou como tempo e acabou por se tornar urgente quando os falsos
mestres surgiram para tentar desviar a igreja ao equiparar o Pai com Deus e
negar a divindade do Filho e do Espírito Santo. Hoje, algumas pessoas argu-
mentam que essas questões deviam ser levantadas e que se elas não tivessem
ficado latentes, a igreja não teria se dividido da maneira como o fez, mas
isso é ingênuo e contrário ao ensinamento do Novo Testamento, no qual os
cristãos foram informados que deviam passar do leite da palavra para sua
carne (1Co 3.2; Hb 5.12,13). Isso significava lidar com problemas que não
estavam aparentes, mas ameaçavam destruir a mensagem do evangelho se
não fossem resolvidos. Estabelecer um alicerce firme envolvia ir além do
que era imediatamente visível, e foi isso que a igreja se viu obrigada a fazer.
Uma coisa levou à outra, e no curso da história da igreja diferentes aspectos
da doutrina cristã vieram à tona e exigiram solução. Os teólogos, de cada
vez que isso acontecia, tinham de olhar de novo sua herança e examiná-la de
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entendiam (que dirá de ter uma opinião sobre o assunto), mas ela dividiu a
igreja ocidental em dois grupos.
No entanto, as disputas entre as lealdades papais — que agora chama-
mos católicos-romanos e seus oponentes, os quais agrupamos como “pro-
testantes” embora esse termo originalmente se aplicasse apenas a Martinho
Lutero e seus seguidores imediatos — não foram de fato sobre a obra de
Cristo. Antes, era sobre a maneira como os efeitos de sua obra salvífica eram
recebidos na igreja, e esse recebimento era obra do Espírito Santo. Será que
o Espírito operava principalmente por intermédio de meios objetivos como
o papado, a igreja institucional, os sacramentos e assim por diante, conforme
afirmavam os católicos-romanos, ou ele operava de modo subjetivo no co-
ração e mente dos cristãos individuais, conforme insistiam os protestantes?
Para entender a diferença, faça a você mesmo a seguinte pergunta: “Quando
você se tornou cristão?” Um católico fiel responderia: “Quando fui batizado”;
mas nenhum verdadeiro protestante diria isso. Os protestantes, por mais
importante que o batismo seja, insistiriam que a água cerimonial não pode
tornar alguém cristão. O rito externo que denominamos “batismo”, sem a
obra interna do Espírito Santo, não tem valor intrínseco. O mesmo princípio
se aplica a tudo o mais. A vocação de um ministro é “válida” não por causa
de sua ordenação, mas por causa de seu chamado vindo de Deus. Qualquer
pessoa pode ser ordenada pelas autoridades da igreja, mas nem todas são
chamadas por Deus, tanto os protestantes quanto os católicos reconhecem
isso. Mas no ponto em que a maioria dos protestantes aceitaria o ministério
de uma pessoa independente como John Bunyan ou Billy Graham, quer
fosse apropriadamente “ordenada” quer não, eles estariam menos inclinados
a estar no ministério de um pregador imoral. Muitos católicos, por sua vez,
seriam provavelmente muito mais tolerantes com um mau sacerdote que um
evangelista feito por si mesmo porque, para eles, é a autoridade da igreja que
conta, e não a santidade pessoal de seus representantes.
Afinal, no mundo moderno, os antagonismos históricos entre os dife-
rentes grupos de cristãos têm de competir com algo bem diferente. Ou seja,
a suspeita de que ou não existe nenhum Deus ou que todas as fés religiosas
apontam para a mesma divindade transcendente. Do triunfo do cristianismo
no século IV até cerca de 1700, nenhum teólogo fora forçado a defender o
caso do monoteísmo do Novo Testamento — a crença que existe um único
Deus que revela a si mesmo nas três pessoas — a menos que ele estivesse
envolvido em um diálogo com os judeus ou os mulçumanos. Esses diálogos
aconteciam de tempos em tempos, mas eram raros e periféricos para o corpo
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útil para os que querem levar o assunto adiante. Os termos técnicos são
explicados em linguagem simples e são fornecidas informações de contexto
e segundo plano quando necessárias para o entendimento do assunto e que
provavelmente não fazem parte do conhecimento geral da média das pessoas.
Ao mesmo tempo, as fontes originais são fornecidas nas notas de rodapé, em
que se presume que os estudantes sérios conseguirão consultar as obras não
só em latim e grego, mas também em francês e alemão. As obras em outras
línguas (dinamarquês, holandês, romeno, russo e sueco) também são citadas
quando os desenvolvimentos teológicos nesses países estão em discussão.
No entanto, as traduções para o inglês, quando disponíveis, também são
mencionadas.
No principal corpo do texto, as citações de outras línguas foram tradu-
zidas para esta obra, e as referências bíblicas foram retiradas de uma forma
de texto com a qual o autor original da citação estava familiarizado, e não de
uma tradução moderna fundamentada em uma edição crítica.
Este livro ganhou vida no Moore Theological College, em Sidnei, uma
instituição de ensino superior que brilha como um farol em uma comunhão
anglicana que atualmente é assaltada pelas nuvens do cisma, da heresia e da
apostasia. Agradecimentos especiais ao ex-diretor John Woodhouse e sua
esposa, Moya, pela calorosa hospitalidade que sempre demonstraram com
o autor, e ao atual diretor Mark Thompson e sua esposa, Kathryn, em cuja
mesa da cozinha surgiram lentamente os primeiros esboços deste livro. As
diferentes partes dele foram escritas subsequentemente na Beeson Divinity
School, em Birmingham, Alabama; no Knox Theological Seminary, em Fort
Lauderdale, Flórida, e na Tyndale House, em Cambridge, todas elas foram
lares espirituais para mim ao longo dos anos. Além disso, agradeço aos meus
empregadores, o Latimer Trust, cujo apoio e encorajamento constantes tor-
naram esta obra possível.
O volume, como acontece, chegou a sua conclusão em uma visita de volta
ao Moore College, no qual uma equipe de críticos rapidamente reunida con-
cluiu o teste final de relevância para sua audiência pretendida. Agradecimentos
especiais para Joel Atwood, Matt Baker, Katherine Cole, Nick Davies, Matt
Dodd, Tom Habib, Hank Lee, Matt Simpson, Mike Turner, Luke Wagenaar
e Mike Weeks que fizeram o autor continuar o trabalho com toda atenção
e energia e fizeram muito para tornar este livro acessível para sua audiência
pretendida. É para eles e para os muitos homens e mulheres piedosos que
ao longo dos anos passaram pelo Moore College como professores, equipe
e alunos que este livro é humildemente dedicado como um pequeno símbolo