You are on page 1of 68
Revista teorica, polifica © de informagao @ iunho/89N° 17 NCz$ 3.50 O SOCIALISMO TRAIDO: A volta ao capitalismo, de Kruschev a Gorbachev, em dez artigos, de diferentes autores, sobre: os efeitos do revisionismo contempordneo no movimento revolucionGrio, o cardter de classe da perestroika, resultados da politica soviética no campo econdmico, institucional e cultural, a raiz dos conflitos enire as nacionalidades e outros aspectos da realidade atual da URSS. artigo que abalou a perestroika. A critica da professora universitaria soviética Nina Andreieva G politica de Gorbachev, veiculada originalmente no jornal “‘Sovietskaia Rosia’. INDICE: Com a peresiroike cai a mascara do regime Pagina 3 Joao Amazonas Nao podemos abrir méo dos principios”” Pagina 7 Nina Andreieva Os efeitos do revisionismo sobre a luta Pagine 15 revolucionaria José Reinaldo Carvalho Particularidades e cardter de classe do Pagina 23 revisionismo soviético Umberto Martins Soviets: um milhao de"vezes mais democréticos Pagina 31 Rogério Lustosa A perestroika ressuscitou 0 chauvinismo Pagine 38 grdo-russo Aldo Rebelo Perestroika: nova fase de integra¢éo no mercado Pagina 45 capitalista mundial Luis Fernandes A experiéncia da NEP e a farsa histdrica de Pagina 52 Gorbachev Agenor da Silva e Umberto Martins Gorbachev e seu ''moinho saténico’’ Pagina 56 José Carlos Ruy e Antonio Martins O renegado da rua Arbat Pagina 62 Carlos Pompe Priaaialas Revista tedrica, politica e de informacao Junho de 1989 NCz$ 3,50 Publicacao da Editora Anita Garibaldi Ltda. Rua Borordés, 51, 3° andar — Sao Paulo — SP CEP - 01320 — Tel. 278-3220 Diretor e jornalista responsavel Joao Amazonas Conselho Editorial Joao Amazonas Rogério Lustosa José Reinaldo Carvalho Umberto Martins Nuimero avulso: NCz$ 3,50 (inclusive atrasados) Enviar cheque nominal para Editora Anita Garibaldi Ltda. Atendemos também pelo Reembolso Postal io, Montagem, Fotolito: Editora Jornalistica Afa Ltda. José, 334 - Bela Vista - S40 Paulo Impresso Cia Editora Jorués rua Cardeal Arcoverde, 2.978 - Pinheiros - Séo Paulo Diagramacdo: José Luis Munuera Reyes (2 bascbutgistr- Dee te ‘caricalaen’ gina Le Maera pcpicda da Revista “eenpica", “2 23] Com a perestroika cai a mascara do regime Dedicamos esta edicéo da revista Princi- sionistas, procuram apresentar os aconteci- pios & anilise do revisionismo soviético, em mentos que hoje se sucedem naquele pais Particular do momento atual da URSSedo como uma verdadeira “‘revolucao”’ politi- movimento batizado por Gorbachey de ca, econdmica e social, de sentido progres- perestroika. A imprensa e os teéricos da sista e democratico. Atribuem a profunda burguesia, ent comum acordo com os revi- _e multilateral crise em que a Unidio Soviéti- ca esté mergulhada ao sistema socialista e a0 mesmo tempo apregoam que as reformas de Gorbachev na direcio de um capitalismo aberto ¢ classico é a unica alternativa de so- lucdo. A grande burguesia cobre de elogios o atual lider revisionista. Uma andlise rigorosa da conjuntura e da historia soviéticas, entretanto, evidenciam que 0s argumentos utilizados pela burguesia e pequena burguesia para enaltecer e justifi- car a perestroika sio falaciosos. Nao cor- respondem aos fatos, em primeiro lugar porque a crise que hoje dilacera a URSS ¢, na verdade, 0 coroamento da obra de res- tauragao capitalista iniciado pés a as- Jofio Amazonas Neste livro, em terceira edicdo, o leitor encontrara uma série de artigos e conferén- cias sobre 0 socialismo ¢ 0 papel do partido comunista na edificagao da nova sociedade. Exalta-se o socialismo cientffico e a impor- tancia da organizacdo de vanguarda da classe operéria. Nao se trata de propaganda A maneira capitalista para vender produtos ¢ idéias lancados ao mercado. Aqui a pro- paganda tem o sentido politico-ideoldgico de demonstrar a justeza das concepcOes de Marx e Engels acerca da inevitabilidade da liquidac&o do sistema capitalista eda instau- ra¢ao em todo o mundo do regime sociahs- ta, em transi¢ao para o comunismo. Entre a segunda edicHo e a terceira ocor- reram fatos gravissimos na Unido Soviética e nos denominados paises da democracia popular. Fatos que evidenciam o seu dis- tanciamento sempre maior da revolucdo proletaria. E sabido que no 20° Congresso do PCUS, realizado em 1956, adotaram-se decisSes que mudavam o rumo revolucio- nario da URSS. Nikita Kruschev desenca- deou esse processo malsdo. Foi substituido em 1964 € teve o seu posto ocupado por Leonid Brezhnev. Este seguiu o mesmo ca- minho do seu antecessor. Esforcou-se, po- rém, em camuflar as transformag6es capi- talistas que se vinham operando. Alguns anos depois, a Unido Soviética entrava em crise. Brezhnev morreu ¢ o poder acabou caindo nas m&os de Mikhail Gorbachev. Com ele, as mascaras desceram de vez. censiio de Kruschey _ a0 poder; e, em segun: do, porque as reformas de Gorbachev acen- tuam ainda mais 0 carater capitalista do re- gime, de onde inevitavelmente provém a cri- se. Os artigos contidos nesta revista defen- dem e ajudam a comprovar esta tese, levantada jd faz certo tempo pelos marxistas~eninistas -_e contribuem para a compreensao do revisionismo sovié- tico, Na abertura da publicagao reproduzi- mos 0 prefacio da terceira edigSo do livro “Socialismo, ideal da classe operaria, aspi- raciio de todos os povos’’, de Joo Amazo- nas, eserito pelo proprio autor. Apareceu no cenario politico a perestroi- ka, badalada pelo capital financeiro inter- nacional. Dai por diante pés-se em pratica abertamente o sistema capitalista. As anti- gas formas de estruturacdo da sociedade, que vinham da época de Lénin e Stalin, ja nao podiam acomodar o novo conteudo da orientacdo revisionista. Gorbachev encar- regou-se de abrir 0 jogo. Passou a predomi- nar a economia de mercado, o lucro voltou a ser 0 objetivo principal da producdo, ins- talaram-se grandes indtstrias do capital es- trangeiro que exploram a mais-valia dos operarios, o sistema de arrendamento de terras foi restaurado. Os sovietes, base da organizacZo estatal criada pelos trabalha- dores, converteram-se em parlamentos do tipo burgués. E o partido comunista, total- mente desfigurado, deixou de ser a forca dirigente da sociedade. Nada mais resta de socialismo proleta- tio, cientifico, na Unido Soviética. E um pais capitalista como outro qualquer, uma superpoténcia imperialista. A peresiroika € 0 esforco feito para consolidar o capitalis- mo. Através da renovacdo_do parque indus- trial, visa colocar a URSS em nivel de com- petitividade capitalista com as outras po- téncias da América, da Europa e da Asia. Gorbachev fala na paz ¢ prega a reducdo da corrida armamentista, por enquanto. Adiante, ingressara nos descaminhos da guerra,que é a légica da concorréncia impe- tialista. Utilizando o retrocesso verificado na U- nido Soviética, a burguesia faz intensa campanha contra o socialismo, pretenden- do confundir os explorados e oprimidos de todo o mundo. Com os meios de comunica- cdo de massa em suas m4os, tenta denegrir as idéias avancadas do proletariado revolu- ciondrio e ‘“‘convencer”’ o povo que o co- munismo fracassou. Tudo de grandioso que foi erigido na URSS, no tempo da dita- lura_ do proletariado, € amesquinhado, menoscabado. Os que se empenharam na constru¢ao herdica e vitoriosa da nova so- ciedade so apresentados como barbaros, que teriam sufocado a liberdade e assassi- nado milhées de pessoas. A burguesia pro- cura desmoralizar o poder da classe opera- ria que em sua opinido so cometerd desati- nos e atrocidades de toda a espécie. Quando nao podem negar as éxitos, os detratores do socialismo argtiem a falta de liberdade, que seria 0 supremo bem da vi- da.,.Mas a liberdade, como a democracia, é um conceito politico de classe. Na época do feudalismo, apenas ‘os senhores feudais se consideravam livres. No capitalismo, a ver- dadeira liberdade existe somente para os ri- cos, os donos do capital. Os operarios e os camponeses, em matéria de liberdade. mo- veMl-se No estreito circulo de ferro dasconve- niéncias burguesas. E diferente no socialis- mo. Os explorados ¢ oprimidos sfo eman- cipados, tornam-se libertos, conquistam o direito de defender seus interesses vitais que se confundem com os da humanidade pro- gressista. Usam esse “supremo bem” para lutar contra os exploradores e construir uma sociedade sem classes e sem Estado na fase do comunismo. A propaganda mentirosa dos capitalistas produz algum efeito. Pessoas ingénuas em politica deixam-se enyolver nas artimanhas da burguesia. Em especial a classe média, mas também setores do proletariado. Sem Pperspectiva, voltam-se para as solugGes que pregam o socialismo integrado no capitalis- mo. Batem palmas a peresiroika. Nao que- 6. ri rem ouvir falar de luta de classes, principal- mente no plano politico. Chegam mesmo a acreditar numa pretensa nova fase de de- senvolvimento do capitalismo...moribun- do. A vida, entretanto, tem demonstrado que esse socialismo pequeno-burgués nao passa de yariante da dominacao burguesa. Enquanto perdurar 0 capitalismo, os traba- Thadores sero sempre explorados e priva- dos de seus direitos fundamentais. Os ricos se tornam mais ricos e perdularios, esbanjam fortunas, enquanto os pobres, em niimero crescente, amargam uma exi: téncia de miséria e sofrimentos. Ai esté a realidade indesmentida. A si- tuacao da classe operdria e dos assalariados em geral, em todo mundo, é angustiante. Milhoes de pessoas vivem na extrema po- breza. O capitalismo de hoje assegura con- dig6es razoaveis de vida unicamente a uma parcela pequena da comunidade humana. O socialismo, porém, nao morreu, como apregoa a burguesia. Continua a ser sonho e esperanca dos proletarios de tados os pai- ses. Nao € uma invenco de idealistas, nem um acidente na historia da humanidade. E uma exigéncia da evolucdo contraditéria da sociedade de classes em que vivemos. Triunfou na Rissia de 1917, e provou, em quase quarenta anos, ser 0 elo historico da transicio do capitalismo ao comunismo. De pais atrasado, um dos mais atrasados da Europa, a Unido Soviética, com o socialis- mo, alcancou 0 mais avangado do mundo, os Estados Unidos. Chegou a ser a segunda. economia mundial. O primeiro a acabar com a exploracdo do homem pelo homem, a irmanar operarios ¢ camponeses no esfor- ¢o comum de construir o mundo novo. O pioneiro na exploragao do espaco. O inimi- go resoluto do fascismo e da guerra. O rea- lizador da uniao fraternal de nagdes e po- vos existentes em seu territério. Lénin afirmava que o socialismo triunf ria inevitavelmente em todo 0 mundo. Di. zia que “‘as relacdes de economia e de pro- priedade privada constituem enyoltura que ja nao corresponde ao contetido -a sociali zacao elevada da producao”’. E necessério superar essa contradic&o por meios revolu- cionarios. ‘‘Se se adia de maneira artificial sua supressdo (as relagGes de economia ¢ propriedade privada) elas permanecerdo em estado de decomposicao durante um pe- Gipies riodo relativamente largo (no pior dos ca- $08, se a cura do tumor oportunista se pro- longar_ demasiado). Sem duvida, porém, seréo inelutavelmente suprimidas’’. (V.I. Lénin - “‘O imperialismo, etapa superior do capitalismo). Precisas, as palavras de Lénin. O tumor oportunista se manteve ¢ adquiriu, com o revisionismo, carater ainda mais putrefato. Por meios artificiais a solugao radical vem sendo adiada. O resultado é a decomposi- cao prolongada do capitalismo que atinge todos os setores de atividade humana. A chaga do desemprego, a fome que se expan- de em toda a parte, o desamparo da infan- cia, a corrupedo, a marginalizacao de mi- Indes de pessoas, a pornografia, a crimina- lidade em progressao, o fascismo, o arma- mentismo absurdo, a inflacao continuada, © dominio esmagador de um punhado de parasitas do capital financeiro sobre a imensa maioria dos paises e povos- tudo is- so nao é sendo manifestacao brutal da de- composicao do capitalismo agonizante. Vencer 0 oportunismo, em suas diferentes formas, ¢ uma das grandes tarefas da epoca que vivemos, porque ligada a derrubada do sistema capitalista. Quem sustenta esse regime iniquo nao é principalmente a maquina repressiva e violenta da burguesia. Esta, os trabalhadores e os povos, em estado derevolucdo, _destruirao. O sustentaculo da ordem capitalista sAo os oportunistas que ajudam a burguesia a enganar os trabalhadores, a desvia-los da luta radical emancipadora. A ascens&o do revisionismo, que a forma mais descarada e perniciosa do oportunismo, envolvendo a Uniao Soviética, a China e outros paises, liqtiidou em muitos Jugares 6 partido revoluciondrio da classe operaria. Arrancou-lhe a alma, desfibrou-o. ‘Anatematizou 0 marxismo-leninismo, que ¢ a forca espiritual que educa, organiza e mobiliza os trabalhadores para a revolucao. Mas 0 capitalismo esta condenado. Os oportunistas néo poderao manté-lo in- definidamente. O movimento comunista revolucionario continua existindo e lutando a fim de transformar o mundo. Os auténticos partidos comunistas aumentam sua influén- cia sobre as massas. Os trabalhadores se rebelam contra a ordem vigente. Chegara 0 momento do triunfo definitive do socialismo. proletario, cientifico. Prmeigos “Nao é possivel abrir mao dos principios’’ 8 Exclusivo Este documento apareceu originalmente na edico de 13 de marco de 1988 do jornal soviético ‘‘Soyietskaia Rosia’’, como titulo “Nao podemos abrir mo dos nossos prin- cipios’’. Até agora permaneceu inédito na imprensa ocidental que dele s6 publicou Pequenos trechos e comentarios. A carta de Nina Andreieva, uma professora universita- ria de Leningrado, desencadeou acesa polé- mica na Unido Soviética, com muitas ma- nifestagdes de apoio de outros missivistas. Ha foi publicada quando Mikhail Gorbachev se encontrava na Iugoslavia em visita ofi- cial. Retornando 20 pais, o presidente da URSS deu ordens expressas para atacar de piblico a professora pela imprensa e man- dou cessar a discussao. A carta de a Andreieva, apesar das ressalvas que se pos- sa fazer a algumas de suas passagens, sim- boliza a existéncia de forte oposic¢éo a perestroika dentro da URSS e a tenta- tiva de setores da sociedade soviética de resgatar 0 marxismo-leninismo tornado le- tra morta desde o XX Congresso do PCUS, de 1956. Ao publicd-la com exclusividade Principios contribui para o debate multila- teral sobre o revisionismo sovietico. lina Andreieva Decidi escrever esta carta depois de muitas vacilacdes. Sou quimica eleciono no Instituto Tecnolégico de Leningrado, que leva o nome “Len soviet’. Como muitos ‘outros tenho sob meus cuidados um grupo de estudantes. Nos nossos dias 0s estudantes, depois de um periodo de apatia ‘social e parasitismo intelectual, aos ‘poucos comecam a se engajar na energia das __-mudangcas revolucionérias. Naturalmente, surgem discussdes sobre 03 caminhos da “perestroika”, sobre os scus aspectos econdmicos @ ideol6gicos. A “‘glasnost”, a aberiura, 2 eliminacdo de 4reas proibidas a critica, a exacerbagéo emocional na consciéncia das massas, especialmente entre os jovens, freqiientemente se ‘manifestam também na exposigao dos problemas que numa ou noutra medida foram “mur- murados” pelas radios ocidentais ou por aqueles nossos com- patriotas que vacilam em suas concepedes sobre a essincia do socialismo. E sobre 0 que ndo se falou? Sobre o sistema multipar- lidario, sobre 2 liberdade de propaganda religiosa, sobre 0 abandono do pais para morar no exterior, sobre o direito de tratar ‘0s problemas sexuais na imprensa, sobre a necessidade da descen- tralizaco na diregao do setor cultural, sobre a aboli¢ao do ser- vigo militar obrigatério. Sobretudo surgem muitos debates entre estudantes acerca do pasado do pais. Seguramente nds, pedagogos, devemos responder as perguntas mais agudas, 0 que exige, além de honradez, conhecimento, con- yiegao, horizonte cultural, julgamento sério, avaliacdes bem pesadas. Estas qualidades sao necessarias a todos os educadores da nova geracdo e nao apenas aos colaboradores das catedras de ciéncias sociais. Tendéncias niilistas e confusao ideolégica se manifestam hoje entre os estudantes. © meu lugar preferido para passear com os estudantes € 0 argue Peterhof. Passeamos pelos caminhos de neve, sentimos prazer com as belas pracas, com 0s monumentos ¢ discutimos. Discutimos! Os jovens estio sedentos para aprenier cada coisa complexe, para definir o seu caminho rumo 20 futuro, Obser- ‘Yo meus jovens e entusiastas in- terlocutores © penso: quanta im- portancia tem ajudé-los a encon- trar a verdade, a formar neles uma justa compreenséo sobre os problemas da sociedade na qual vivem ¢ que eles devem recon- ‘struir, definir para eles uma com- preensio justa sobre nossa velha nova historia. Onde esta 0 perigo? Eis um simples exemplo sobre a Grancle Guerra Patriotica, sobre 0 heroismo de seus participantes, coisa sobre a qual muito se Falou ¢ escreveu. Ha algum tempo em um alojamento dos estudantes do nosso ‘‘tecnolégico” desenvolveu- se um encontro com 0 herdi da Unizo Sovitica, 0 coronel refor- mado V.F. Molosiev. Entre outras coisas perguntaram a ele sobre as represses politicas no Exército. O ‘yeterano respondeu que nao viu represso, que muitos deles, que junto ao coronel comegaram a luta permanecendo nela até o fim, se tornaram grandes dirigentes militares. Alguns jovens ficaram desiludidos com a resposta. Sendo atual, o tema das repressdes foi inculado na percepeao de uma parte da juventude ao ponto de eclipsar um julgamento razoavel e objetivo sobre 0 pasado. Exem- plos como csse nao sao poucos. Seguramente, nos alegra muito 0 faio de que mesmo entre os ‘“tec- nologos” hé um vivo interesse sobre os problemas teoricos sociais. Mas de fato tém-se manifestado alguns fenémenos que eu no posso aceitar © com os quais nao posso conciliar. A proliferacdo de afirmares sobre © “terrorismo”’, 0 “‘servilismo politico do povo”’, sobre a “ma qualidade da vida social’, sobre a “nossa escravizacao espiritual’’, sobre 0 “medo gencralizado”, sobre 0s “‘prepotentes no poder’”... Precisamente com estes fios revela-se com parcialidade a historia do periodo de transicao para o socialismo em nosso pais. Por isto ndo devemos nos supreender com que, por exem- plo, em uma parte dos esiudantes se fortalecam as tendéncias niilistas, se manifestem a confusdo ideolégica, as orientagtes politicas ‘no sejam levadas em conta, por- tanto 0 envenenamento ideol6gico generalizado. Algumas vezes escutamos afirmacdes de que chegou o tempo de responsabilizar os comunistas que, supostamente, “‘desumanizaram’? a vida do pais depois de 1917. Na reuniao plenaria do comité central de fevereiro (1988) mais uma vez enfatizou-se a necessidade urgente de que ‘a juventude deve ser ensinada a ver Prineiatios ina Andreieva provocou com sua carta infensa polémica no pais e pds a nu as mazelas ideolégicas do revisionismo. © mundo com olhos de classe, a compreender a ligacdo dos in- teresses de classe com os de toda a sociedade, neste quadro também a compreensio da esséncia do Conjunto das mudancas que ‘ocorrem em nosso pais”. Uma tal visdo da historia ¢ da atualidade € incompativel com as anedotas politicas, com as caliinias vis, com as, fantasias, com temas agudos com os quais nos enfrentamos hoje nao raramente. Leio e releio artigos barulhen- tos. O que, por exemplo, podem dar a juventude, a nao ser desorientagto, as descobertas sobre a “contra revolucio” na Unifio Soviética durante 0s anos 30, sobre a “culpa” de Stélin pela chegada do fascismo ¢ de Hitler a0 poder na Alemanha? Ou a “mencio” piblica dos “stalinistas” entre diferentes geragdes e grupos sociais? Nos, Gidadios de Leningrado, vimos recentemente com interesse um filme documentirio sobre S. M. Kirov. Mas 0 texto que acompa- nhave as imagens em muitas segiténclas nlo apenas nfo estava adequado ao que o filme docu- Imentava, como © colocava em-- davida. Assim, as imagens mostravam a exploséo do entu- siasmo, do otimismo, do impul- so espiritual das pessoas que construiram 0 socialismo, en quanto 0 texto se referia as repressao, a desinformacao. Naturalmente, nao apenas @ mim chama a atengdo que as conclamagtes dos dirigentes do partido para yoltar a atencao dos “desmascaradores” também pa- ra as vit6rias reais em diferentes etapas da construcdo socialista, provocam explosdes cada vez mais novas de “desmacaramen- tos’. E, surpreendentemente, um fendmeno visivel neste terreno estéril sao os dramas de M. Shatrov. No dia da abertura do XVI congresso do partido tive ocasido de assistir a pega “Cavalos duros sobre a arva vermeliia”. Lembro-me da aspe- ra reacio da juventude a0 episédio em que 0 secretario de Lenin se esforgava para lavar a sua_cabega com’ ume cuia, confundindo-o com um modelo de escultura de argila inacabada. Enquanto isso, uma parte da juventude sau imbuida da mensagem, cujos objetivos, cla- ros ¢ previemente preparados, Jevam a que se enlameie 0 nosso passado € o nosso presente... Em “A paz de Brest’’ Lénin, ao sabor do desejo do dramaturgo e do diretor, se ajoetha diante de Trotski. Tal é a encarnacio simbélica da concepg%o do autor. Isto assume proporgies ainda maiores no drama “Mais além. mais além... mais além!"” Segu- ramente o drama nao é um tratado histérico. Mas também nas obras artisticas © verossimi- Jhanga deve ser respeitada pela posigzo do autor. Sobretudo quando se trata do teatro politico, ‘A posicfo do dramaturgo Shatrov é analisada positivamen- te ¢ com argumentos nas criticas dos cientistas hist6ricos publica- das nos jomais “Pravda” “Sovjetskaja Rosia’’. Quero ma- nifestar também o meu pensa- mento. Nao se pode negar que Shatroy distancia-se de maneira essencial dos principios atual- mente aceitos do reelismo socialista. Langando luz sobre 0 periodo com responsabilidade na historia de nosso pais, ele absolutiza 0 fator subjetivo do 10 Princes desenvolvimento social, ignora abertamente as leis objetivas da hhistéria que se manifestam nas atividades das classes e das massas. O papel das_massas proletérias, do partido dos bolcheviques, é apresentado num “cenério” onde se estendem atividades sem a responsabilida- de dos politicos. Os criticos, apoiando-se na metodologia ' marxista-leninista de estudo dos processos hisiéri- cos concretos, tem mostrado que Shatrov deturpa a histéria do socialismo em nosso pais. O objeto de oposi¢fio é o Estado da ditadura do proletariado, sem cuja contribuicao histérica nos hojé nao teriamos nada para reconstruir. Mas abaixo 0 autor acusa Stélin pelo assassinato’de Trotski_ ¢ de Kirov, pelo “bloqueio”” de Lénin enfermo, Sera possivel investir com acusa- bes tendenciosas na direcao das figuras histéricas sem considerar 0s fatos? Desgragadamente os criticos no puderam mostrar que em todas as suas pretensdes de autor, 0 dramaturgo nao é original. A mim me parece que, segundo a légica das avaliagves € dos argumenios, ele esié muito préximo das motivagées do livro de B. Suyarin, publicado em Paris no ano de 1935. No drama, Shatrovy colocou na boca dos personagens aquilo que é afir- mado pelos opositores do leni- nismo ligado com o desenvolvi- mento da revolucio, o papel de Lénin nele, as relacdes reciproces entre os membros do comité central ¢ as diferentes etapas da luta dentro do partido, Esta é a essinela da “nova de Lénin por Shratrov. Acrescento ‘que 0 autor do livro “Os filhos de rua Arbat”, (ver matéria nesta edicao), Anatali Ribakov, aceita abertamente que alguns’ temas especificos foram tomados de empréstimo por ele das publica- bes dos emigrantes. Mesmo sem ler o drama “Mais além... mais além... mais aléral” (nfo tinha sido publicado ev agora li criticas elogiosas sobre ele em algumas publicacdes. Que sentido tinha tal pressa? Depois vim a saber que também apressadamente se estava prepa- rando a encenacao do drama. Imediatamente depois do ple- no de fevereiro, foi publiceda no jornal “Pravda” a carta “Na nova regio’, assinada por oito de nossos destacados ativistas no campo do teatro. Eles advertiam para os obstaculos possiveis & encenacao do filtimo drama de Shatroy. Os autores da carta dizem por que qualificam os critics como “aqueles para os quais a patria nfo ¢ cara”, Maso que se pode dizer com relacao 20 seu desejo de que com “impeto e aixdo" se juleuem os problemas de nossa historia passada_e presente? Portanto, s6 se permite a eles que tenham pensamento proprio? Nas muitas discussies que se realizam agora, precisamente sobre todos os problemas da sociedade, eu, como pedadoga de uma instituig4o de ensino supe- rior, antes de tudo me interesso por aquelas questdes que influen- iam diretamente na educacao ideolégica e politica da juventu- de, no seu refor¢o moral, em seu otimismo social. Conversando Os ataques a Stalin se dirigem a toda complicada época de transi¢&io e heroismo com os estudantes, trocando com eles opinioes sobre problemas agudos, mesmo sem querer, chega-se a conclusdo de que entre nés se acumularam = muitas deturpagées ¢ raciocinios unilate- rais, 0s quais precisam ser corrigidos urgentemente. Eu gostaria de me deter especial- mente em alguns. Tomemos a questo do papel de J, V. Stélin na histéria de nosso pais. Precisamente com 0 seu nome est ligada toda a ofensiva dos ataques criticos, a qual, segundo minha opinizo, nio se dirige tanto & personali- dade histrica quanto a toda a complicada época de transicao, época que tem _relacdo com 0 herofsmo sem par de toda uma geragio dos homens soviéticos, 08 quais hoje vo aos poucos se afastando de toda aeao ativa do trabalho, da atividade politica e social. Na formula “eulto 4 personalidade” sao introduzidas de maneira forgada a_industrializagdo, a coletiviza- Ho, a revolugZo cultural, as guais levaram 0 nosso pais as fileiras das grandes nagdes do mundo. E tudo isto € colocado em diivida. As coisas chegaram até_o ponto em que dos “‘stalinistas” (eno numero deles, segundo queiram, pode se colocar quem queira) comegaram a exigir com insisténcia_o “arrependimento”...._ Apressa- ‘mente sio tidos em alta conta romances e filmes em que se critica a época da tempestace, apresentava como ‘“‘tragédia dos oyos" ‘Afirmo que nem eu nem os membros de minha familia temos qualquer ligaco com Stalin, com sua regio, seus proximos ¢ seus adoradores, Meu pat tor operario no porto de Leningrado, a0 passo que minha mae foi mecanica na usina Kirov. Também ali traba- Thou meu irmao mais velho. Ele, meu pai e minha irma foram mortos durante combates com os hitleristas. Um de meus préxi- mos foi acusado nos. processos ereabilitado depois do XX con- gresso_do. partido. Manifesto discordancia as _ represses, feitas durante os anos 30 e 40. Mas a razio sadia protesta com decisio contra a colocacao em um mesmo saco, que agora comesou a predominar em alguns Grgaos de imprensa, daqueles acontecimentos contra: ditério: ‘Apcio a conclamagio do partido para defender a honrae a Gignidade dos vanguardeiros do soeialismo. Penso que € precisa mente a partir destas posigoes de classe ¢ partidarias que devemos avaliar 0 papel historico de todos 0s dirigentes do partido e do pais, portanto também de Stalin Nessa oportunidade nao se deve teduzir as coisas a um aspecto “de corteséos”” ou & moralizacdo abstraia por parte daqueles que no viveram aquele perfodo tempestuoso, ov que ficaram longe daquelas pessoas as quais corresponde agora viver_ tabalhar. Agir com estes filtimos é ainda hoje para nés um exemplo inspirador. Para mim, assim como para muitas outras pessoas, 0 papel decisivo na avaliagao de Stalin é desempenhado pelos testemu- nhos yerdadeiros, com os quais se enfrentaram diretamente os nossos contempordneos, tanto do nosso lado da barricada como do outro. Estes iltimos ndo so sem interesse. Tomemos 0 exemplo mesmo de Churchil, que em 1919 se orgulhava da sua contribuigio a oT ““Devemos responder 2s perguntas agudas dos jovens”, pessoal na _organizagao da intervencao militar de 14 Estados estrangeiros contra a nova reptiblica soviética, ao passo que, depois de 40 anos, foi obrigado a caracterizar Stalin com estas palavras: “Um dos meus mais perigosos adversarios politicos’ “Ele foi uma figura destacada que se impds ao nosso tempo, aguele periodo no qual transcor- reu sua vida. Stalin foi um homem com erudigao e energia incomuns, com uma inabalavel forga de vontade, brutal, aspero, impiedoso tanto no. trabalho como nas conversagde: inclusive eu, educado no. parlamento inglés, nunca pude contesta-lo em nada... Em suas obras soava uma forya colossal. Esta forga era tio grande em Stalin que parece que ele é inigualivel entre 08 dirigentes de todos os tempos € povos... A sua influéncia sobre as pessoas era incontestdvel. Quan- do ele entrou na sala da Conferéncia de Yalta, todos n6s, como que respondende a um comando, pusemos-nos de pé. E, surpreendentemente, _ manti- mhamos as mos nas cinturas. Stélin tinha uma. inteligéncia profunda, légica e razio, privado de todo 0 panico. Ele era um mestre perfeito para encontrar nos momentos dificeis os cami hos para sair das situagdes mais dificeis. Ele era um homem que liquidava os seus inimigos com as mos dos seus inimigos, ele nos obrigou, a nds que ele chamava abertamente de imperialistas, a Tutarmos contra os imperialis- tas...Ele encontrou a Riissia com arado e a deixou equipada com armas atmicas.” impossivel atribuir uma tal ayaliagao por parte de um guarda fiel do império britinico & hipocrisia ¢ a interesses. de conjuntura politica, Os momentos principais desta caracierizagtio podem ser encon- trados nas memérias de De Gaulle, nas memérias © corres- pondéncia de outras personali- dades politicas da Europa e da América, que tiveram em Stalin tanto um aliado de guerra como inimigo de classe. material importante ¢ strio para pensar sobre esta questo sdo os nossos documen- 105, due podem ser utilizados por dos aqueles que desejam. ‘Tomemos, por exemplo, o livre de dois volumes “*Correspondén- Gia do presidente do Conselho de Ministros da Uniao Soviética como presidente dos Estados Unidos no periodo da Grande Guerra Patriética de 1941 a publicado pela Editora Politica em 1957. Esses docu- mentos com justeza despertam o argulho pelo nosso Estado, pelo nosso pais, seu papel no mundo tempestuoso, em mutagao. Lem- bro-me do resumo dos discursos, informes e ordens de Stalin nos anos da Segunda Guerra Mundi- al, com os quais se educava a geracSo herdica dos vitoriosos sobre 0 fascismo. Este material pode ser completamente reedita- do, incluindo os documentos gue entéo eram secretos, como ¢ a ordem dramatica mimero 227, em relagio a qual, com razao, insistem alguns _historiadores. Todos esses documentos sao desconhecidos de nossa juventu- de. Especialmente importantes para a educaco da consciéncia historica so es_memérias dos estrategistas Zhukov, Vasilieyski, Golovahov, Shtemienku, dos construtores dos avides Yacoviev, os quais conheceram de perto 0 Primciles_ Comandante e néo por ouvir falar dele. E jindiscutivel, 0 tempo era muito dspero, mas a verdade é¢ que a simplicidade pessoal que chegava ao ponto do ascetismo, nao fazia com que se envergo- nhasse de si mesmo, pois os milionérios soviéticos de ent’o tinham medo de serem mordidos no siléncio dos gabinetes do Estado ¢ nas bases comerciais. Além disso, nés nfo éramos tio diabélicos e pragmaticos, no preparavamos a juventude para explorar os bens materiais dos pais, mas para o trabalho e a defesa, sem danificar 0 mundo espiritual dos jovens com obras- primas importadas de além-mar nem com os primitivismos culturais. Das conversas longes ¢ francas com os interlocutores jovens tiramos conchisées tais que os ataques contra o Estado de ditadura de proletariado e aos dirigentes de ent&o iém nao apenas causas politicas, ideolégi- cas e morais, mas também base social. Nao sao poucos os interessados em ampliar 0 raio de agdo desses ataques, no apenas fora do pais. Ao lado. dos anticomunistas profissionais do Ocidente, que h4 muito tempo langaram @ palavra de ordem supostamente democritica de “antistalinismo”*, ainda vivem & esperam os descendentes das classes derrotadas pela Revolugdo de Outubro, que nao esqueceram © que pagaram material ¢ socialmente os seus avés. Aqui se incluem os herdeiros. espirituais de Dan e Martov, outros das instituigdes da social-democracia mussa, seguidores espirituais de Trotski e lagoda, os sucessores dos nepmans, 2 kulaks, derruba- dos pelo socialismo. Como se sabe, toda _ figura histirica se forma em condigoes coneretas sécio-econémicas © polftico-ideolégicas, condicoes que influem de maneira determi nada na selegdo subjetivo-objeti- va dos pretendentes engajados na busca de solugies para esie ou aquele problema social. Um tal pretendente, colocado no cenario da historia de modo a estar “por dentro’’, deve cumprir as exigén- cias da época e das estruturas dirigentes sociais e politicas, tealizar em sua atividade o desenvolvimento objetivo, depois de deixar de maneira inevitavel R “a marca” da sua individualida- de nos acontecimentos politicos. No final das contas, por exemplo, hoje as qualidades pessoais de Pedro, o Grande, dificilmente agradam as pessoas, mas todas sabem que no periodo do seu poder nosso pais ficou no nivel das grandes poténcias européias. © tempo condensou 0 resultado com base no qual se faz hoje a avaliagdo da personslidade hist6- tica de Pedro € as flores vigosas no seu sarcofago, na catedral do castelo de Petropaviov, simboli- zam.o respeito ¢ 0 reconhecimen- to de nossos contemporaneos, que n&o gostam da autocracia. Penso que, por mais contradi- téria ¢ complexa que seja esta ov aquela figura da historia soviéti- ca, 0 sen papel verdadeiro na construgio e na defesa do socialismo mais cedo ou mais tarde receberé uma tinica avalia: 0. objetiva. Compreende-se, nica avaliagio nfo no sentido da unilateralidade que evita de maneira eclética as manifesta- goes. contraditérias, coisa que permite que através de dizeres errados crie-se todo 0 tipo de subjetivismo: ‘desculpamos ou nao desculpamos”, “‘rejeitamo-lo ou o deixamos na historia’; avaliago tinica significa, antes de tudo, a avaliagao histérica concreta, fora de interesses con junturais, avaliacdo na qual, se- gundo 0 resultado histérico, re- flita a dialética da atividade do individuo com as_ leis fundamentais do desen- volvimenta. da sociedade. Se se segue a metodologia marxista-leninista de estudo da historia, entio, antes de tudo, segundo as palavras de M. S. Gorbachev, deve-se mostrar de maneira clara como vivem, como trabalham, em que acreditam milhes de pessoas, como se figam as vitérias ¢ as derroxas, (08 apertos eerros, o magnifico ¢ 0 tragico, o entusiasmo revolucio- nfrio das massas e a violaglo da Iegalidade socialista, e vez por outra os crimes. Para mim nao h4 divida de que na avaliagio da atividade de Stalin a orientacéo cientifica até ‘0s nossos dias permanece sendo 2 deciséo do comit® central do partido para a climinaco do culto A. personalidade € suas conseqiiéncias, aprovada em 1956, ¢ 0 discurso do secretério- geral do comité central na reuniao comemorativa do 10° aniversario da Grande Reyolugao Socialista de Outubro. Ha pouco tempo uma aluna me deixou em dificil situagdo com a imesperada constatacéo de que supostamente a luta de classes € uma no¢ao antiquada, assim como 0 papel dirigente do toletariado. Seria bom que isto fossc dito apenas por ela. Uma viva discusséo, por exemplo, surgiv com a declarag%o recente de um honrado académico de que supostamente as atuais relacoes entre Estados de dois sistemas socio-econdmicos diferentes per- deram conteido de classe. O académico nao considerou neces- sario explicar por que cle, durante décadas seguidas, escre- yeu precisamente o contr: que a cooxisténcia pacifica nao 6 outta coisa senao uma forma da Juta de classes na arena internacional. Agora 0 fil6sofo renunciou a isto. B que também as opinides mudam. Mas até onde eu entendo, a tarefa do filésofo eminente continua sendo esclarecer no minimo aqueles que aprenderam e aprendam dos seus livros: seré que hoje a classe operdtia internacional nao se ‘ope ao capital mundial, a seus orgiios estatais e politicos? O combate 4 ditadura do proletariado tem causas ideolégicas e também base social No centro das muitas discus- ses atuais, segundo _penso, permanece o mesmo problema — que classe ou camada da sociedade € a forga dirigente mobilizadora da “'perestroika? Sobre isso se falou parcialmente na_ entrevista do cscritor A. Prohanov no jornal “Leningrad Rabot”, de nossa cidade. Proha- nov parte do fato de que a particularidade da atual situaes0 da consciéncia social se caracie- riza pela existéncia de duas correntes ideolégicas, ou, como dizele, de “pilares allernativos”, os quais, em varios sentidos, tentam liguidar ‘0 socialismo construido nas batalhas” em nosso pais. Exagerando a impor tancia e a dureza da oposi¢ao reciproca entre esses dois “pila- res", 0 escritor, apesar disto, com justeza enfatiza que “eles s6 se unem para golpcar os valores do socialismo”. Mas, as duas partes, como dizem os seus Ideblogos, sto “pela perestri- a”. A primeira, que a corrente ideolégica mais poderosa © que surgiu durante a perestroika, pretende como modelo um certo socialismo da inteligéncia de esquerda liberal, como suposta expresso do humanismo “mais yerdadeiro” e “mais puro” das camadas sociais. Os seus apoie dores opdem a0 coletivismo pro- Ictério a “‘auto-avaliacao do individuo com tendéncias modernistas no cam- po da cultura, com tendéncias religiosas, {dolos tecnocréticos, preconizando as maravilhas “de- mocrdticas” do capitalismo atu- al, deturpando seus sucessos reais ¢ imaginérios. Os seus representantes afirmam que nds supostamente no constraimos 0 socialismo e que supostamente somente hoje “pela primeira vez na histéria criou-se a unifio da direc&o politica ¢ da inteligéncia progressista”. Num tempo em que milhdes de pessoas do planeta morrem de fome, das epidemias © das _aventuras militares do imperialismo, eles exigem a elaboraeio urgente de um “codigo juridico para a defesa dos direitos dos animais” atribuem 2 natureza uma capa. cidade extraordinaria, sobrena- tural e afirmam que a inteligén- cia nfo € uma particularidade social, mas biolbgicas, herdada geneticamente. Podem me expli- car 0 que significa tudo isto? Precisamente os defensores do “socialismo. dos liberais, de esquerda” criam a tendéncia de falsificar a hist6ria do socialismo. Eles querem nos convencer de que 0 gue é real no passado do pais so apenas alguns erros ¢ cri- mes, silenciando assim sobre as magnificas conquistas do passa- doe do presente. Pretendendo a plena verdade histérica, eles substituem os critérios sécio-poli- ticos do desenvolvimento da soviedede por categorias éticas- escolasticos. Desejo saber a quem © por que interessa que cada ‘dirigente do comité central do partido e do governo soviéticos, depois do seu afastamento do posto, seja desaereditado, em relacdo aos seus erros, inventados € cometidos, durante a solucdo dos problemas complexos nas encruzithadas histéricas” Onde encontramos nisto a paixdo para investir contra 4 autoridade, a Stalin entre jovens e crianeas dignidade dos dirigentes_ do primeiro pais socialista_ do mundo? Outra particularidade do pon- to de vista dos “liberais de esquerda” é a tendéncia cosmo- polita aberta ou camuflada, um certo “‘internacionalismo” nao nacional. Em algum lugar eu li que depois da revolugao, em Petrosoviet, chegou a Trotsky, que era judeu, uma delegacto dé comerciantes e fabricantes quei- xando-se das perseguicées por parte da guarda vermelha e ele declarou que “no sou judeu, mas internacionalista”, o que deixou em situago dificil aqueles que tinham indo para se queixar. ‘A nogio de “nacional” em Trotsky era uma certa avaliacao nao completa e limitada com relagdo ao “internacional”. E por isto cle enfatizava a “tradigao nacional”” de Outubro, escrevia sobre o “nacional em Lénin”, confirmou que o povo russo “nao teve nenhum tipo de heranga cultural” © outras coisas. Nos, insistimos em dizer gue precisamente o proletariado rus- 50, que os trotsquistas menospre- zaram como “‘atrasado ¢ incul- to", realizou, segundo as pala. yras de Lénin, “irés revolugdes russes”, que na yanguarda da batalha da humanidade contra 0 fascismo estiveram 0s povos. eslavos.. Seguramente, isto que dizemos ndo representa uma redugzo da contribuicao histérice de outras nagdes e nacionalidades. Isto, como se diz agora, apenas assegura a integridade da verda- de histérica. Quando os estudan- tes me perguntam como foi possivel acontecer o esvaziamen- fo de milhares de aldeias de Njecernozemjes ¢ da Sibéria, cu thes respondo que isto também foi um prego caro pela vitéria e pela recuperacdo da economia popular depois da guerra, assim como as perdas de uma massa de 2 imetmios eta W 13 monumentos da cultura nacional russa. E mais, estou convencida de que a reducdo do valor da consciéncia historiea faz nascer ‘uma crosdo pacifista da conscién- cia patridtica e de defesa, assim como 0 objetivo de que 2 menor manifestagio de orgulho nacio- nal grdo-russo seja marcada no livro do chauvinismo de grande Estado. Outra coisa me preocu- com 0 cosmopolitismo. Inconcilidvel liga-se agora a pratica dos refuzniks. (cidadtos que abandonam o pais) daque- les que abandonam 0 socialismo. Desgracadamente sé nos lem- bramos deles quando provocam escdndalos @ atiram lanfa sobre 0 Smolay os muros do Kremlin. E mais, aos poucos nos ensinam a encarar 0 abandono da Unido Soviética como uma certa mu- danga sem danos de “lugar de moradia”, e néo uma mudanca de cidadania e de classe das _pessoas, a maioria das quais concluiram cursos _universitérios © pés-universitérios com os recursos de todo o poo. Em geral alguns tendem a yer esta mudanga como uma ceria “manifestagao de democracia’” de “direitos humanos”, cujos talentos foram impedidos de florescer pelo “socialismo da estagnaeao'". Mas se também ali, no “mundo fiyre”, no dio valor a0 espirito viyo de iniciativa ¢ a “genialidade”, = 0 comércio de inteligéncia nfo apresenta inte- resse, sentem-se livres para voltar atrés... Como se sabe, Marx ¢ Engels, a depender do papel historico conereto, chamaram nagdes inteiras numa determina- da ctapa da histéria de “contra revolucionérias” — enfatizo: nao classes, nao camadas, mas nac6es inteiras. Com base no tratamento de classe, eles nao vacilaram em apresentar as caracteristicas distintivas de uma série de nagoes, russos, polone- ses, ¢ também 2 propria nacdo a qual pertenciam. E como se os fundadores da concepeao Gientifica do proletariado nos Jembrassem de que na comuni- dade fraternal dos povos soviéti- cos cada nagio € nacionalidade deve “guardar a honra”, a néo permitirmos provocé-las com tendéncias nacionalistas e chau- vinistas. O orgulho nacional e a dignidade nacional de cada povo devem se_liger organicamente com intemacionalismo da sociedade socialista, 14. Se os iberais” se orientam para _o Ocidente, 0 outro “pilar alternativo", para usar a expressio de Prohanov, os “‘defensores € tradicionalistas”” objetivam “liguidar o socialismo em nome de um retorno ao pasado”, em outras palavras, voltar as formas sociais da Riissia pré-socialista. Os representantes deste “socialismo original cam- ponés’? estéo magnetizados por este modelo. Segundo o seu pensamento, hé 100 anos foram perdidos os valores morais acumulados na escuridao secular da comunidade camponesa. Os “tradicionalistas” tém — mé- ritos indiscutiveis no desmas- caramento da corrupsi0, na justa solugio dos problemas ecolégicos, na luta contra o alcoolismo, na defesa dos mo- numentos histéricos, na luta contra a influéncia da cultura decadente, que eles com justeza ayaliam como pisicose da socie- dade de consumo. Ao lado disto, encontram lugar nos pontos de vista dos idedlo- gos do “‘socialismo camponés”” a io compreensao da importancia historica de Outubro para os destinos da patria, a avaliagio unilateral da coletivizacéo como “acho terrivel e arbitraria contra ‘0s camponeses””, opinides acriticas sobre a filosofia religioso-mistica ussa, velhos conceitos czaristas sobre a histéria nacional, 0 no reconhecimento da diferenciacao pés-revolucionaria ‘do campesi- rato, do papel revohicio- nario ca classe operdria. No que se refere a luta de classes no campo, por exemplo, nao raramente eles mencionam 95 comissérios “do campo”, os guais “enfiavam a faca nas costas do campesinato médio”. Em todo este grande pais, onde eclodiu a revolugo, | havia seguramente comissérios de to- dos os tipos, mas 0 caminho principal de nossa vida foi definido por aqueles comssArios alvejados pelos outros. Precisa- mente estes eram esfaqueados pelas costas, queimados vivos. "A classe atacada” acertou as contas nao apenas com os comissarios, com os chekfstas, com 0s boleheviques, com os lutadores dos comités do pobres, mas também com os primeiros tratoristas, com os corresponden- tes do campo, com os primeiros professores, com os membros dos Komsomol do campo ¢ assassina- rem dezenas de milhares ce outros anfnimos lutadores do socialismo. A dificuldade para educar 2 juventude aumenta também pelo fato de que, em conformida ‘com as idéias dos ‘“neo-liberais’ € dos “neo-cslavofilos” criam-se organizagées ¢ unidés niio oficiais. “corre que na sua diresdo esto elementos extremis- tas, tendentes as provocacies. Nos iiltimos tempos ‘observa-se 4 politizacdo dessas organizactes independentes, no espirito | do pluralismo nao socialista, fre- iientemente os dirigentes destas organizagdes falam sobre 2 “divisto do poder” com base no “regime parlamentar”, sobre “sindicatos livres”, sobre “publi cagies independentes” ete. Tudo isto, segundo minha opiniéo, Os principios nao os recebemos de presente. Conquistamos com sofrimento e luta. permite tirar a conclusao de que ‘a questo principal e cardinal das discussdes que se desenvolvem agora no pais é a quest4o de aceitar ow ndo o papel dirigente do partido, da classe operaria na construgao do socialismo e, por conseguinte, também na peres- troika”, compreende-se, com todas as conclusoes te6ricas ¢ praticas que daf emanam para os politicos, os economistas ¢ os idedlogos. Desse problema-cha ve da con- cepefio sécio-histérica emana também a questo do papel da ideologia socialista no desenval- vimento espiritual da sociedade soviética. Por falar nisto, esta juesto era enfatizada desde o fil di arg Ge 1007 bo, Kel ‘Kaustki, que declarou numa de suas brochuras dedicadas a Outubro que o socialismo distin- gue-sé por uma planificaca0 e cisciplina de ferro na economia e pela anarguia na ideologia ¢ na vida espiritual. Isto causou alegria nos mencheviques, esse- ristas € outros idedlogos peque- no-burgueses, mas _encontrou uma oposicao decidida em Lénin € seus colaboradores, os quais defenderam com conseqiiéncia “as posicdes-chave’’, como se dizia entao,da ideologia cientifi- ca do proletariado. Lembramos de quando Lénin desmascarou as manipulacées do conhecido sociélogo daquele tempo, Pitirim Sorok, nas Givistes estatisticas da populacao de Petrogrado e nos escritos religiosos do professor Viper (os quals em comparago com o fque se publica hoje parecem coisa gue nfo traz nenbum risco) e, explicando a saida de suas publicagdes com a falta de experiéncia dos entfo trabalha~ dores dos meios de comunicagao de massa, constatava que “a classe operaria na Riissia soube con- quistar o poder, mas ainda nao aprendeu a utilizé-lo”. Lénin acentuava, por outro lado, que estes professores e escritores, os quais no serviriam muito para a educagio das masses, poderiam servir como responsiveis das instituigbes do ensino para idades tenras. Assim, de 164 presos no final do ano de 1922, segundo listas oficiais, muitos mais tarde se transformaram e¢ serviram honradamente a0 seu povo, inclusive o professor Viper. ‘Ao que parece, hoje a questo do papel e do lugar da ideologia socialista assumiu formas muito agudas. Os autores de pequenos trabalhos conjunturais em defesa da “pureza” moral ¢ espiritual rompem as fronteiras eos critérios da ideologia cientifica; manipulando a ‘glasnost difundem o pluralismo extra-so cialista, que objetivamente im- pede a reestruturac&o na consi- éncia social. De maneira espe- cialmente dolorosa isto se reflete na juventude, coisa que, repito, sentimos profundamente nés, pedagogos, das _universidades, professores das escolas e todos aqueles que se ocupam com os problemas da jurentude. Como disse M. S. ‘Gorbachev no pleno de fevereiro do Comité Central do PCUS, ‘nés devemos agir tam- bém na vida espiritual e, possivelmente, __precisamente aqui, em primeiro ligar, agir guiando-nos pelos nossos princi- pios marxistas-leninistas. . Dos Principios, camaradas, nos nao devemos abrir mao por nenhum motivo". Somos ¢ seremos por isto. Os principios nfo os recebemos de presente, mas os conguistamos com sofrimentos e com as impetuosas viragens da hist6ria da patria,

You might also like