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ope © La Anes Se 207 Ss Lis Actos ; syn "Bap daa A Sina = SR etn: Ci res 20 sso 978-85.2001922 1 et Relgio Inés fica 1. Tle 0052096 95005 eu. 2594 itech CRB 76439 Masi lke Roda de Sours “adoonicscevadon ibid reproduc amzenament ou ans rans dee ve es de que co, sr va arias “Teoria gud novo Acard Ontos ds Lingua Portugues Dies dea goats pea mona civiuzaeio BEASILEIBA Ube Enrona ost one tro, Rouge 171 Rio dean, )~ 20921380 ~ Tel: (2 2585-2000. a Sere ee Rea i? Ali. etter comb ‘rete RS See pe a colin ved die lor oneaiconte Ar ruas pensar, tim ide 1 flosofia ereligio Como tal, mascem, rac, muda de carter. E, eventualmente, morrem. Joao do Ro, A.alma encantadora das ras O bar éa chave de qualquer cidade saber onde 1 poe beberceroeja é quanto basta Willer Benjamin, Rua de mio ti Osalve oso, salve a ecrle sale a lua Saran teu Trance Rua, gue é dono Da gira no meio da rua. Ponto do Eu Tranca Rua das Almas 2 -) TERREIRO DE SAO SEBASTIAO, OKE “Naquela estrada de areia Aonde a lua clareou Todos caboclos pararam Para ver a procissao De Sao Sebastiao.” — Ponto de caboclo AS RUAS desprezam este tipo de efeméride, mas para os ga- binetes oficiais a cidade do Rio de Janeiro comemora aniver- sdtio no dia 12 de margo. Foi para combater os tupinambés, reunidos na Confederacéo dos Tamoios, e os desejos france- ses de estabelecer uma coldnia no territério, que Estacio de S4, sobrinho do governador-geral, criou um arraial no sopé do Pao de Agiicar, em 1565. O episdio é consagrado pela historiografia oficial, cheia de pompas ¢ salamaleques, para comemorar a cidade. A fundagao, em certo sentido, escancara alguns dilemas que marcam os cariocas até hoje: bravos canociros, guerreiros 11 NTADO DAS RUAS o.corro ENCAT ores, foram ese 1m relegados a0 subsersineo da roi Arariboia,o chefe temimind que se com ceacabara yy cavaleiro da Ordem ce recebeu, pot ‘sesmaria do morto de Sio Lourenco, ‘No enigma da volta do mund derrotados que descem nas umbandas cariocas para sa banda, sho dara dacacaostupinambs, marco fundadordo Rio de Janito, podemosacescentaro horror da escuridiod de uezentos ana dechibaa. Estudos ene os séculos XVI e XIg, urna em cad tscrvzadas no mundo colocou os pés no cho da Guanabara. © vent cari, qu tra em suas aso brado lancinante dos tamois, sopra também os zumbidos dos chicotes nas cosas Tanhadas do ovo do Congo a melancolia de Eu poderia colocar pimenta no vatap4 do uismo, louvando o carioca maneiro e descolado, de bem com 4 vida, sorrio no rosto, Havaianas nos pés pele eutida de -Masacho que os tempos sio propcios também para outras smatuases. Enneste sentido que percebo, mirandoas cdades que formam 4 grande cidade, que uma pista para se pensar o Rio é aentar arta relago, aparentementeparadoral, entre as elites cariocas, © poder piblico eos pobres da cidade, 2 ‘TERREIRO DE SAO SEBASTIAO, OE Em certo momento centre o trabalho es ea Repiiblica, a cidade encarou os pobres como elementos das classes foi rgamente utilizada em documer 1e maculavam, do po ta da ocupacio e eordenagéo do expago urbai ttabalhadores urbanos que sustentavam —a0\ bragal que as elites nao co Coloquemos ainda, nes sobrevivendo, ousara rabo da cascavel e produazindo ct go bragal ea morte festcias e quizumbeiros de todos os matizese lugar Para muitos € dificil ad cores do que hi de mais forte na cidade do Rio de Janciro nio discutiam filosoia nas academias ¢ universdades, no escreveram tra dos, ndo pintaram os quadros do Renascimen convidados a frequentarbiblioecas, nao compuseram sinfonias, 3 © CORPO ENCANTADO DAS RUAS nao conduziram exércitos em grandes guerras, nao tedigiram as leis, nao fundaram empresas e s6 frequentaram os salées empedernidos para servir as sinhés. Os nossos grandes inventores rufaram tambores, chamaram Zambiapungo ¢ Olorum, riscaram 0 asfalto preenchendo de danga o intervalo entre as marcag6es do surdo, despacharam, as encruzas, subiram 0 Sao Carlos e as escadarias da Penha, bradaram revividos em seus santos-cavalos nas matas e cachoei- ras, celebraram os mottos na palma da mio. A cidade, aldeia de flor e faca, pernada e afago, gemido de amor e som de tiro, chibata e baqueta de surdo, incomoda, Desconfio sinceramente dos que acham que ela precisa ser con- sertada. O Rio de Janeiro precisa de um concerto. Uma letra e estd feita a diferenga: que a beleza dos nossos instrumentos, em suas miiltiplas percepgdes da vida, possa soar como inclusiva harmonia da gente carioca em sua arte de fazer insistentemente avida. No chao de aldeia tupinambé virada em cais do Valongo, a morte, convidada de honra que deveria campear soberana na nossa hist6ria, insiste, mas morre—sim, a morte morre—na rua, 14 q2.) AFRICAS “Ble veio de longe Do outro lado do mar Ele veio de longe Mas trouxe a terra pra cé.” — Ponto de preto velho AS RUAS que circundavam a praca Onze de Junho — 0 nome homenageia o dia da vitéria brasileira na Batalha do Riachuelo, na Guerra do Paraguai — e a regiao portudria da cidade eram como uma Africa fincada no coragéo de um Rio de Janeiro tensionado pelo sonho cosmopolita de suas elites. Essa ideia é consagrada nao s6 no imagindrio popular como também na produgo literdria e historiografica sobre a cidade. O apelido de “berco do samba’, tantas vezes usado para se referir 4 velha Praga € aos seus arredores, é exemplar disso. Apesar do indiscutivel relevo e centralidade da praga Onze, © estudo mais sistematico sobre a cidade ¢ o samba urbano mostra ser mais coerente falarmos de um Rio de Janeiro de 49 o conto ENCANTADO DAS RUAS a, Fern cons ve atm tum samba bonito do Monareo. ,convém comecar pela Fre- Tara pend fo deum to mua as principals 20nd bas cidade do Rio de Janeiro, produzindo frutas tropicais,cachagay de cnnrugio~ las etlos~ sds de at dia O abasecimento da to por am pesieno pao siuado na for dori, de onde a embar ‘ages descam até o canal do tio Meritie seguiam por outros potent ans que desaguvam na bala de Guanabar Acctise do trabalho esctavo desarticulou a economia aj ‘e marcou o declinio econémico de toda a regido. A partir da as grandes propriedades do Campo de Irajé foram loreadss ‘¢ ocupadas, sobretudo, por ex-escravizados e homens pobres exiundos deena eo d ale do Paraiba ‘Com as reformas urbanas do incio da Republica especial- meme sforma de Psa Pasos, pelos ids de 1904, ume’? no vale de Inhatima, € com o tei 30 ver mais Oswaldo Cruz aos barr viinhos, mais fortes, ea0 Centro, que se manteve co «da maior parte da populagio economicams (Os poucos relatos existentes sobre Os descrever uma regiéo rural, sem ig calgamento, As rua eram cortadas por 1 passagem dos habitantes, obrigados ase locomover apé ou a cavalo. Quando chovia, era um deus nos acids. O cométcio «a feito entre virioscurais ese resumia a alguns a do Cruz encanada, NTADO DAS RUAS fo corro ENCA : para atrapalhara turma que dears osestabeecimetos de Oswaldo Cr ‘ebotava a conversa e™ cra iniciada me Sica * a pee mi dato contTapo saropeus bere seembeleavaempadr Ose nade danga do jongo edo caxarbu, Paraiba, 0s moradores sncimento ¢ identidade. -onhecidos de Oswaldo Cruz se des- tacavam Napoleio José do Nascime Napoleio- pu de Ni gem marcante da his Mo jog d bicho ede todo o subibio catioes as nes de santo) d, Martina e d. Neném A ‘batia seus tambores out mos ene a cornunidade de descendentes de africa ‘Madalena Rica, mais conhecida como mie Madalena Xango de Ouro, As sgtadas girs de macumba conviviam com a profanas rodas de samba e os sambas de roda. ‘Seu Napoleo tnha uma irma d. Benedira, que morava ‘ua Maia Lacerda, no Esticio de Si, ¢ era amiga dos compo stores que, naquele momento, inventavam um novo tipo 4 samba, mais adequado ao desfile em cortejo do que 0 samba — vigorava no Rio de Janeiro: Ismael Sil, i ae io, Baiaco, Bide e outros iam a Oswaldo Cru ———s Benedita Normalmente, os bambas partic macumbsse depois comandavam as rodas de sam foi uma espé foi sambas ed uma mie de santo qh 32 = or -epop souains ovg “eu93sty ep S0r2{qo ogs opu rurqungns ertapezar & 9 assoursonb ep OUTED? Op snisof ouruayy 0 ‘owoyy x 0 wInbai0q op vmod o ‘oxrqummaeus 0 ‘opSesquiosse v ‘os11989[8 1189 ap sopernduss 0 “OxIsy>1q 0 Conese op ered 0 ‘wurqurojoo & ‘Quaid © “OqeI] OP oYTY 09 sno op vyy & exonSuepy ep easissed v ‘SEU EYUTUE © “erEEq be vanansoad & “ey & eUUseIUY O “OPe] OP LYUIZIA e e128 wp sopesseoey ‘sopesadsasap soauvure ‘SoxTD3Uny “Seasiques ‘sey -Iq ‘saxoyjnuy ‘seSuets9 ‘soonyeur :oydjourid wn wo epeiooue 9 qeuye ‘erg ‘opeuoxrede nos yenb Bad 2 OAasDsa ‘osinbsad anb BIZOISTY EP svd9101]qI seIIOPepsaA ‘soaINbse OWOD Ovs sya sy BIIUT[Ag 9Z Nas ap o1u0g — (c2eiuoo vad vuoasry eum ey, eavp 2[9 anb ossed ees, sequies 97 nag 014 ng vjondueyy ep O1ou! OU PT, Lt VLnasia wa sodu0o? - © CORPO ENCANTADO DAs RUAS Partindo dessa premissa ~ e particularmen falar da cidade do Rio de Janeiro - me confesso «spitito do carnaval e pelo aleance que a fe gente. O carnaval & per le dos corpos do projeto de desqualificagio das camadashiseny rerniaadas como produtoras de cul interes, fascia oe tem Peo rm Pata a 10 205 cle lca esagrados do cotdian dos pobre, dos de 1, dos descenden excraviades ede todos que resistem a0 confinamieno dan pose iam po bs di indevidh O corpo cama rgado, revelado, suado, sapateado, sinc oan 3.20 confine da cexitncia como projer de desencantoe mera espera da mane certa. O carnaval é 0 duelo. entre 0 corpo ¢ a morte. a Arctiosptenemene ane enteo Ri de ane e ‘carnaval quase nunca foi ac i como ceo dice enn c fs invengio do caric ats joa gu fer, O cara vena hi a pelo co sda clad como rum agucador de tense, = ariocasodeiam o carnaval. Aida ce seus denne dose ‘sn ina deme Um discus fcl dos que dete ula 0 carnaval 20 Brasil dos vga ¢2080e que vine ima, para a primeira * agabundo’s como se ninguém ree CORPOS EM DISPUTA os dias de Momo. Eu fico imaginando o que essa dos vendedores ambulantes, dos Funciondtios dos srabalhasse wet cscolas de samba, dos misices, cde Fantasias, motoristas de cartos apaom etc. A est, € aqui me perdoem por falar o dbvio bora jao na mesa da gente mais simples da ale. gene no rinca, cans de epetrioeesteaporgueavidaé pl: a turma fz iso porquea vida € dura, Sem o repouso nas “eras ci pra ns, ninguém seguro rojo. Nzo dou minima pura quem acha que no devemos te carnaval ¢, 20 mesmo tempo, nio embarco nes discursos que jusificam o carnaval teclusivamente pelo argumeato de que a sta €luraiva vai pgrarbillhes para a cidade. E imo que iso acontea € que © dinero entre, mas vou bora 4gus nese chope: desde quando Tuero? Desde quando iso € 0 carnaval existe apenas pata ciitéro fundamental para que tenhamos esa? ‘Do ponto devia pessoal, nciroa rato carnaval como um cspago para 0 eguecimento necessii. Por iso mesmo acho (ques traf carnavaesca dos résimos anos das mas ifs Ep ros que or aman do carnaval andam endo que deiblar ruladocs coveogefads, maria de propaganda de empress Geach quo cara apenas um momento dct do vento, celebridades duvidsas que usin a Frome fre compradoes de aba non uadosem firs sees de mascara am SAMBA { UM DESCONFORTO © feixe de luz que fechar,desnor invengio _quem no samba vai er ‘homer & meu senhor — Quem samba fica’, Tito Mororsta¢ Jamelio 18 RUAS sio mies do samba, ainda que multas vezes fencer a boa ‘mancar a erianga em casa. Percebo que fem wma ture ‘eredtando em uma dicotomia perigoa: ade que o samba é am ‘erro da nossa cowdialidade como povo eo funk éo erate de olentos misdgino e cruel, Um amigo acaba de me vex concordo que o samba rerata um Brasil mais carnavaleseo, io do sar apenas o perfil de misica % ~ aquele ve borda a Process gy Sa supe ‘mais do que género musical o © samba & elemento de referéncia de u tural que dele sa ea ee retorna, dina vivem saberes que ‘onstrugio de identidades comuni laos asso tambor~e sio tant é muito serio, Ba £ UM DESCONFORTO POTENTE (0 SAMB: ‘ge um olhar, © mulato calado que jé matou um € se do X-9 em Mangueira, os poderes do cum, obatizado do neguinho vestido de anjo em. ce racial no casa 0 do neguinho e da a8 por te 0 delegado Chico Palha enfiava em imbeio nos tempos da vadiagem, a navalha no nossa de entrar no século do progreso, a ado Foi exatamente 0 samba, sobre o qual reflo s mente, que me Fez perceber ¢ encarar um Brasil de complexi- um eachorro, gemendo feito um porco. dudes que nio comportam dicotomias red um desconforto potente para que o Brasil se reconhesa como produtor constante de horrore beeza. Eo filho mais duradouro Aosrumbeirs, em tudo que iss subversio, negociagio, resist afirmagio de vida e pulsio de mi ns

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