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3 A Linguagem Escrita Nos Anos Iniciais Cenes
3 A Linguagem Escrita Nos Anos Iniciais Cenes
DISCIPLINA
A Linguagem e a Escrita nos Anos
Iniciais
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Sumário
Sumário------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
1 Panorama Histórico da Educação Infantil ---------------------------------------------------------- 4
2 Concepções de infância e concepções de Educação --------------------------------------------- 16
2.1 Concepções de desenvolvimento e de aprendizagem segundo Piaget e Vygotsky ------------------ 21
2.2 Concepções de pré-escola ------------------------------------------------------------------------------------------- 27
2.3 A importância da pré-escola ---------------------------------------------------------------------------------------- 30
2.4 Anos Iniciais do Ensino Fundamental----------------------------------------------------------------------------- 31
2.5 Aprendizagem----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 33
3 A necessidade de integração entre os currículos da Educação Infantil e das primeiras
séries --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 35
3.1 Colocando a alfabetização em perspectiva --------------------------------------------------------------------- 36
3.2 Os diferentes modelos de relacionamento entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental - 38
3.2.1 Preparando a criança para a escola ------------------------------------------------------------------------------------------ 38
3.2.2 Impasse ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 38
3.2.3 Preparando a escola para a criança ------------------------------------------------------------------------------------------ 38
3.2.4 A visão de um lugar de encontro ---------------------------------------------------------------------------------------------- 39
3.2.5 Como chegar lá? ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 39
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(...) o estudo do passado pode (...) suscitar reflexões que sirvam para
aqueles que trabalham com a infância e sua educação nos dias de hoje,
(...) as propostas para agora não podem ser pensadas com coelhos a se
tirar magicamente da cartola, mas precisam uma profunda ancorada
tanto na prática quanto nos resultados das pesquisas e na produção
teórica. (Moysés Kuhlmann Jr, 1998, p.13)
Pode-se afirmar que a ideia de educar crianças menores de seis anos já era tratada
por Comenius, onde propunha um nível inicial de ensino que era o “colo da mãe”. Ele
considerava que o processo de aprendizagem se iniciava pelos sentidos:
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passeios, quadros, modelos e coisas reais – segundo suas idades, de modo a auxilias
no futuro a fazer aprendizagens abstratas. (OLIVEIRA, 1994, p.13)
Já a creche, que foi criada na França em 1844, como instituição para crianças até três
anos, encontra mais força para sua difusão interna e internacional na década de 1870
– chegando ao Brasil – a partir das descobertas no campo da microbiologia, onde se
viabilizou a amamentação artificial.
Neste período, enquanto nos países europeus a creche foi proposta em função da
ampliação do trabalho industrial feminino, aqui no Brasil ainda não havia demanda
deste setor.
Para Kuhlmann Jr. (1998), a Lei do Ventre Livre trazia as donas de casa o problema da
educação das crianças de suas escravas. Assim, as creches populares foram criadas
com o objetivo não só de atender às operárias industriais, mas também às mães
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De acordo com Faria (1999), o Decreto 16.300 de 1923, que aprovou a regulamentação
do trabalho feminino no país (Brasil), protegia a mulher trabalhadora enquanto mãe e
entre suas determinações, encontra-se a obrigação da instalação de creches ou salas
de amamentação, próximas ao local de prestação de serviços.
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Esta obrigatoriedade foi regulamentada de forma mais precisa por outro Decreto, em
1932, o 2.417-A, que regulou as condições de trabalho das mulheres nos
estabelecimentos industriais e comerciais.
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internacionais, já previa que o atendimento da pobreza não deveria ser feito com
grandes investimentos. A educação assistencialista promovia uma pedagogia da
submissão, que pretendia preparar os pobres para aceitar a exploração social. (2000,
p.8)
Tal intervenção da Igreja na nova ordem social foi tratada pela encíclica Rerum
Novarum, elaborada pelo Papa Leão XIII em 1891. Segundo Kuhlmann Jr. (1998), os
religiosos tinham a Igreja como um sustentáculo da sociedade capitalista, onde
enfatizavam que a sua experiência secular na caridade não deveria ser desprezada.
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A inspetoria de Higiene Infantil, que foi criada em dezembro de 1923, passa a ser
substituída, em 1934, pela Diretoria de Proteção à Maternidade e à Infância. Já em
1937, o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública passa a se chamar
Ministério da Educação e da Saúde.
Segundo Faria (1999), isto foi: (...) produto das discussões sobre a vida nacional e uma
unidade cultural, e das consequentes reformas de ensino desenvolvidas nos anos 20
sob o ideário escolanovista. Este talvez seja um momento privilegiado da história da
educação brasileira, onde a educação e cultura, estando de tal forma integradas,
permitiriam que todas as crianças (inclusive as pequenas, em idade pré-escolar) que
estavam fora da escola não fossem esquecidas, assim como foram alvo de grande
interesse. (p. 124)
Em 1940, foi criado o Departamento Nacional da Criança (DNCr), dirigido por Olinto
de Oliveira, médico que participou do congresso de 1922. O DNCr ficou encarregado
de estabelecer normas para o funcionamento das creches, onde promoveu a
publicação de livros e artigos.
No mesmo período em que foi criado o DNCr, houve a criação, em Porto Alegre, de
jardins-de-infância, inspirados em Froebel e localizados em praças públicas, para
atender crianças de 4 a 6 anos. Em outros locais também estavam sendo construídos
jardins-de-infância.
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Aos poucos, foi havendo uma mudança ao considerar a escola maternal como aquela
dos pobres, em oposição aos jardins-de-infância. Passou a ser definida como a
instituição que atende a faixa etária dos 2 aos 4 anos, enquanto o jardim atenderia as
de 5 a 6 anos. Mais tarde, a educação infantil foi oferecida tendo a divisão das turmas
em instituições que atendem crianças de 0 a 6 anos: berçário, maternal, jardim e pré.
De acordo com Faria (1999), na ocasião em que Mário de Andrade era diretor do
Departamento de Cultura do município, durante a gestão do prefeito Fábio Prado,
foram criados os primeiros parques infantis (PIs) para crianças de 3 a 12 anos. Somente
em 1975, os PIs, que já tinham passado a receber apenas as crianças de 3 a 12 anos,
transformaram-se nas atuais Escolas Municipais de Educação Infantil – EMEI.
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Assim, os médicos do DNCr não se ocuparam apenas da creche, mas de todo o sistema
escolar, já que a educação e a saúde estavam integradas no mesmo ministério.
Somente em 1953 foram desmembradas, quando o DNCr passou a integrar o
Ministério da Saúde até o ano de 1970.
Segundo Kuhlmann (2000), Heloísa Marinho escreveu um livro em 1966, onde incluiu
um “Planejamento para a educação pré-primária do estado da Guanabara”, em que
propõe:
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Dessa forma, a educação infantil voltou-se para os mais variados fins: era um meio
agregrador da família para apaziguar os conflitos sociais, era um meio de educação
para a sociedade igualitária, era um instrumento para a libertação da mulher do jugo
das obrigações domésticas e ainda era uma superação dos limites da estrutura
familiar.
O programa dos Centros de Convivência Infantil, para atender os filhos dos servidores
públicos no estado de São Paulo, em várias secretarias; a conquista de creches em
universidades públicas; a reivindicação em alguns sindicatos operários e do setor de
serviços, como bancários, jornalistas, professores: eis alguns exemplos desse
reconhecimento da instituição. Anteriormente não se pensava em generalizar a
creche, destinadas apenas às mães pobres que precisassem trabalhar. Não se cogitava
de que mulheres de outra condição social pudessem querer trabalhar quando
gerassem crianças pequenas e, caso isto ocorresse, a solução deveria ficar no âmbito
do doméstico, do privado. (KUHLMANN JR., 2000, p.12)
No início da década de 1980, um dos aspectos que ganhou mais relevância foi a
expressão educação pré-escolar, sendo o atendimento anterior à escolarização
obrigatória, e passou a incluir também a educação das crianças de 0 a 8 anos.
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De outra parte, observa-se que ainda hoje há crianças pequenas que são submetidas
a uma disciplina escolar arbitrária em que, diferentemente de um compromisso com
o conhecimento, a instituição considera não ser sua função prestar os cuidados
necessários, e sim, controlar os alunos para que sejam obedientes à autoridade. (idem,
p.13)
Uma proposta educacional apenas para as crianças de 4 a 6 anos passou a ser refletida,
considerando esse como o período específico da pré-escola.
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Delineando a trajetória da infância, veremos que na Idade Média, por exemplo, não
existia um sentimento de infância que distinguisse a criança do adulto. Ela era
considerada um adulto de pequeno tamanho, pois fazia as mesmas atividades dos
mais velhos. Para a sociedade medieval, o importante era a criança crescer
rapidamente para poder participar do trabalho e de outras atividades no mundo
adulto. Nos colégios, reservados a um pequeno número de pessoas, o mestre apenas
se limitava a transmitir conhecimentos aos alunos não se interessando com o
comportamento deles fora da classe.
Mas, a concepção de natureza frágil da criança, no século XVII, era compartilhada pela
pedagogia tradicional, onde a educação disciplinar devia inculcar regras, através da
ação direta do adulto e da permanente transmissão de modelos.
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Mesmo tendo essa preocupação com a infância, a escola por muito tempo ficou
caracterizada por métodos repressivos e autoritários. Mas, foi ela também que
colaborou para o avanço da descoberta e da valorização da infância. Assim, foram
descobertas as diversas fases de crescimento da mente infantil e a infância mesma foi
reconhecida como um valor social, a quem é confiado o futuro da sociedade.
Faria (1999) nos lembra que: Apesar das especificidades do capitalismo no Brasil,
existem as características comuns, próprias dos diferentes processos de
industrialização: aumento da mão – de obra feminina no mercado de trabalho,
ambivalência da nova estrutura familiar, produto da invasão do capital na esfera
privada, a "familização" da fábrica, a necessidade de controle do tempo do não
trabalho, etc., portanto, tem-se também um novo papel para a infância. (...) então,
além de guardá-las e garantir-lhes a vida, cabe agora também educar as crianças para
o futuro, e é essa uma grande novidade trazida pelo capitalismo: esse outro jeito de
viver precisa ser ensinado e aprendido desde terna idade, já que se trata de uma nova
maneira de viver, onde o tempo do trabalho define uma nova mentalidade. (p.65)
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Assim, a infância deve ser considerada como uma condição da criança. É preciso (...)
considerar as crianças concretas, localizá-las nas relações sociais, etc, reconhecê-las
como produtoras da história. (KUHLMANN JR., 1998, p.31)
Neste sentido, pode-se perceber que de umas décadas para cá, há um esforço de
conhecer melhor as crianças, onde a questão da infância difundiu-se, diversificou e
têm-se mais projetos de ação e de investigação.
Nesse contexto entre infância e educação se percebe que é essencial procurar saber
sempre mais sobre as crianças pequenas, que estas se desenvolvem psicologicamente,
apresentando características próprias no decorrer do seu desenvolvimento, em vários
aspectos; e que apesar do avanço em relação à educação, chegando à concepção
voltada para a cidadania, muitas outras concepções ainda resistem em torno da pré-
escola.
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Figura 3 - pedagogiaaopedaletra.com/comparando-teoria-piaget-vygotsky/
As ciências que dedicaram seu olhar sobre a criança investigando como se processa o
seu desenvolvimento, afirmam a importância dos primeiros anos de vida para o
desenvolvimento e aprendizagem posteriores. E é se baseando nelas que a educação
formula seus propósitos e atuação a partir do nascimento da criança.
A psicologia, por exemplo, através de seus estudos, tem dado contribuições bastante
relevantes que nos permitem conhecer o desenvolvimento infantil nas diferentes
áreas: sensório motora, sócio-afetiva, cognitiva, simbólica e linguística. Nos permitem
também, compreender como as crianças constroem o seu conhecimento, o que elas
são capazes de descobrir e aprender a cada instante.
Por outro lado, a aprendizagem é considerada por Kohl (1993) como um processo
diferente dos fatores inatos e dos processos de maturação do organismo:
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Assim, para que ocorram tais processos, é preciso que haja a interação de vários
fatores determinantes.
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De acordo com Piaget (apud PADILLA, 1998), o fator de equilibração das ações é
fundamental para se explicar a ordem de tais períodos de desenvolvimento e para se
explicar a passagem de uma etapa de desenvolvimento mental para a seguinte, além
dos outros fatores básicos que também afetam o desenvolvimento: os fatores
biológicos, o amadurecimento do sistema nervoso, a experiência adquirida com os
objetos e os fatores sociais de coordenação interindividual. O fator de menor
relevância nesta teoria é a interação social.
No decorrer deste período, a criança irá fazer uma diferenciação progressiva entre o
seu eu e o mundo exterior.
Já o período pré-operatório (de 2 a 7 anos), o qual todo professor que atua na pré-
escola deve conhecer mais profundamente, é marcado pelo surgimento da linguagem,
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que irá acarretar mudanças nos aspectos intelectual, afetivo e social da criança. Esta
linguagem irá permitir que a criança disponha da possibilidade de ter esquemas
simbólicos. Assim, a criança transforma o real em função dos seus desejos e fantasias
(jogo simbólico); posteriormente, utiliza-o como referencial para explicar o mundo
real, a sua própria atividade, seu eu e suas leis morais. (BLOCK; FURTADO; TEIXEIRA,
1999, p.103)
Grande parte do repertório verbal da criança é usada de forma imitativa, ela não
domina o significado das palavras. E como ainda está centrada em si mesma, analisa
os fatos a partir do próprio ponto de vista, este é o pensamento egocêntrico.
Segundo estes autores (1999), é devido a este pensamento que torna impossível o
trabalho em grupo e esta dificuldade mantém-se ao longo do período, na medida em
que a criança não conseguir colocar-se do ponto de vista do outro. (p.103)
Quando se chega a esta etapa, o sujeito atinge o grau mais complexo do seu
desenvolvimento cognitivo. A tarefa, a partir de agora, será apenas a de ajustar,
solidificar e estofar as suas estruturas cognitivas. (idem, p.44)
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Este autor não concorda com as teorias acima, embora reconheça que aprendizagem
e desenvolvimento sejam processos distintos e interdependentes. Nesse
questionamento da interação existente entre estes dois processos, ele dá importância
ao papel da capacidade do homem de entender e utilizar a linguagem.
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Esse aprendizado se inicia muito antes da entrada da criança na escola, pois, desde
que nasce e durante seus primeiros anos de vida, encontra-se em interação com
diferentes sujeitos (adultos e crianças) e situações, o que vai lhe permitindo atribuir
significados a diferentes ações, diálogos e vivências.
Embora isso ocorra, este autor considera que o aprendizado escolar produz algo novo
no desenvolvimento infantil. Para ele, o aprendizado escolar induz o tipo de percepção
generalizante, desempenhando assim um papel decisivo na conscientização da
criança dos seus próprios processos mentais. (idem, p.115)
No entanto, Vygotsky (apud KOHL, 1993) chama a atenção para o fato de que,
Assim todo professor - incluindo, neste caso, o da pré-escola - deve conhecer o nível
de desenvolvimento dos alunos para atuar adequadamente.
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No entanto, o ensino deverá estar voltado não para etapas intelectuais já alcançadas,
mas sim, para estágios de desenvolvimento que ainda não foram incorporados pelos
alunos.
A pré-escola guardiã tinha como objetivo a guarda das crianças, liberando, assim, a
mão-de-obra feminina. Esta concepção predominou no Brasil escravagista, imperial e
no início da República. A assistência dada à criança era voltada à sua sobrevivência, à
prestação de cuidados básicos de higiene, saúde e alimentação, tendo em alguns
casos atendimento em período integral.
Dessa forma, a criança pré-escolar era vista apenas sob o ângulo da saúde física. Os
aspectos importantes para a educação desta criança como crescimento,
desenvolvimento e formação de hábitos permanecem estritamente ligados à saúde
física.
Com uma ideia mais relacionada à ''educação'' do que à assistência, uma nova função
passou a ser atribuída à pré-escola: a função preparatória.
Por um lado, a função de ''preparação'' era voltada à aceleração das crianças da classe
média, por outro, era voltada à compensação de carências das classes populares.
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Ainda hoje muitos educadores não superaram a ideia da função preparatória, onde a
pré-escola é vista tendo como objetivo a escolarização.
Diante desta ideia de pré-escola, Kramer (1997) coloca que não são levados em
consideração, a heterogeneidade social e o papel político que a pré-escola
desempenha no contexto mais amplo da educação e da sociedade brasileira. (p.28)
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De acordo com Kramer (1997), para que essa função se efetive na prática, (...) o
trabalho pedagógico precisa se orientar por uma visão das crianças como seres
sociais, indivíduos que vivem em sociedade, cidadãs e cidadãos. Isso exige que
levemos em consideração suas diferentes características, não só em termos de
histórias de vida ou de região geográfica, mas também de classe social, etnia e sexo.
Reconhecer as crianças como seres sociais que são implica em não ignorar as
diferenças. Os conflitos - que podem emergir - não devem ser encobertos, mas, por
outro lado, não podem ser reforçados: precisam ser explicitados e trabalhados com as
crianças a fim de que sua inserção social no grupo seja construtiva, e para que cada
um seja valorizado e possa desenvolver sua autonomia, identidade e espírito de
cooperação e solidariedade com as demais. (p.19)
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Ainda que se considere a expansão das vagas como condição fundamental para a
garantia do direito à educação, é no âmbito das práticas pedagógicas que a instituição
educativa pode tornar-se ela mesma expressão ou não desse direito. Para que esse
direito se cumpra, portanto, e para que se configure como promotor de novos direitos,
o acesso das crianças às instituições educativas e sua permanência nelas devem
consolidar-se como direito ao conhecimento, à formação integral do ser humano e à
participação no processo de construção de novos conhecimentos.
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Por tudo que argumentamos até aqui, gostaríamos de salientar que nove anos de
escolaridade obrigatória devem significar a ampliação do direito à educação não
apenas quantitativamente – mais crianças na escola e mais anos de escolarização para
cada uma delas – mas, sobretudo, qualitativamente – mais crianças, por mais tempo,
em uma escola de qualidade. Uma escola que respeite as crianças e que lhes assegure
o tempo da infância.
2.5 Aprendizagem
Hoje a escola básica brasileira encontra-se em uma nova etapa. Depois de passados
21 anos da promulgação da Constituição Federal, e 13 anos da aprovação da LDB,
vivemos um momento em que se apresentam novos desafios aos educadores, mas,
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por outro lado, ainda não foi possível superar muitos dos velhos problemas que
sempre afligiram a educação no país.
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Sabemos que os primeiros anos de vida são muito importantes do ponto de vista da
aprendizagem e da socialização das crianças pequenas. O desenvolvimento da
linguagem oral, o amadurecimento motor amplo e fino, as interações entre pares e
entre crianças e adultos, a noção de identidade, o reconhecimento do próprio corpo,
o conhecimento do mundo, a descoberta das múltiplas formas de brincar são alguns
entre muitos aspectos dessa etapa rica em possibilidades que as crianças vivem em
seus primeiros anos.
À medida que se aproxima dos seis anos de idade, a enorme curiosidade e vontade
de aprender da criança comporta uma programação mais dirigida às diversas áreas
do conhecimento, sem que isso signifique uma escolarização precoce nos moldes
tradicionais. O letramento e as primeiras noções de alfabetização, a iniciação
matemática, os conhecimentos sobre o mundo natural e o mundo da cultura, a
criatividade artística, as atividades físicas e lúdicas em espaços amplos, o trabalho em
grupo são importantes para ampliar as possibilidades de desenvolvimento e
expressão infantis. Assim, deveriam ser organizadas as atividades e rotinas da
Educação Infantil, em uma concepção de respeito ao direito à aprendizagem da
criança pequena.
Nesse processo, a criança pré-escolar aprende a ser aluno e a ser cidadã; não há
motivos para que sua passagem para a primeira série signifique um rompimento
brusco de um processo vivido intensamente por ela nos anos em que frequentou a
Educação Infantil.
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Quanto mais harmoniosa for essa passagem, mais condições a criança terão de manter
seu interesse em aprender.
No entanto, muitas vezes o acolhimento dos egressos da Educação Infantil não leva
em consideração essas experiências educativas anteriores. A escola de Ensino
Fundamental não só costuma tratar todos os novos alunos da mesma forma – tenham
eles ou não já sido alunos nos anos anteriores – como também parece que faz questão
de reforçar as rupturas entre as duas etapas iniciais da educação básica: sinaliza-se
claramente que acabou o direito à brincadeira, que a obrigação leva a melhor sobre a
motivação, que a aprendizagem é imposta e não construída, que todos devem seguir
no mesmo ritmo, independentemente de suas diferenças individuais, culturais ou de
nível de conhecimento.
Por sua vez, as instituições de Educação Infantil não gostam de preparar suas crianças
para o Ensino Fundamental. Esse futuro é muitas vezes tratado como um castigo,
como um destino não desejado, levando os educadores a uma atitude de
enclausuramento, com base em uma concepção pedagógica idealizada como algo
totalmente à parte do restante da educação básica. Em diversos contextos, essa
postura é encontrada mais no discurso dos adultos do que nas práticas cotidianas,
que pouco mudaram desde sua origem predominantemente assistencial e custodial.
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Já vivemos hoje em uma situação em que a maioria dos alunos permanecerá muitos
anos na escola. Existem diversas coisas para aprender na escola que não dependem
estritamente da alfabetização; por outro lado, várias experiências mostram que a
curiosidade e o gosto por aprender e por se expressar facilitam também o domínio da
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3.2.2 Impasse
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que os professores dos dois sistemas trabalhem juntos, de forma a evitar uma brusca
mudança para as crianças mais jovens que agora chegam à primeira série.
Segundo ele, nos exemplos mais bem-sucedidos, nota-se a importância atribuída aos
aspectos de “cuidado”, ao lado dos aspectos exclusivamente pedagógicos. Cuidado,
nesse contexto, refere-se a uma postura de respeito às necessidades integrais da
criança, o que inclui questões como conforto, alimentação, socialização e descanso,
mas também atenção às suas necessidades emocionais e características individuais,
assim como respeito à sua identidade racial, cultural e de gênero. Para outros autores
por ele citados, o cuidado é uma ética e como tal deve ser parte integral da educação,
independente do nível de ensino, pois crianças maiores, adolescentes e jovens
também precisam ser cuidados, nesse sentido que extrapola apenas os cuidados
físicos.
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desenvolve enquanto ser integrado e não apenas como uma cabeça que recebe
informações.
Afinal, a criança que chega agora com seis anos na escola fundamental é a mesma
que até há pouco estava na pré-escola ou ainda não tinha sido escolarizada. Suas
necessidades e sua fase de desenvolvimento são as mesmas. Assim como aquela que
acabou de completar sete anos não deixa de ser criança por isso. O direito à
aprendizagem, na primeira e na segunda etapa da educação básica, depende do
respeito ao direito de ser criança; não são requisitos incompatíveis, mas
complementares.
Neste texto, sem ignorarmos a relevância das demais dimensões, discutiremos uma
delas, que, por seu caráter complexo, multifacetado e precursor de novos
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Vale ressaltar, ainda, que, para uma proposta de ensino se tornar um referencial e se
materializar em uma prática de ensino adequada, ela deverá ser validada e
reconstruída a partir do conhecimento que se tem das crianças e também das
interações que se estabelecem entre os participantes do grupo escolar e deles com os
objetos do conhecimento. Dessa forma, a avaliação e o planejamento são fatores
determinantes para a consolidação desta prática.
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4.1 O Letramento
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A formação de novos usuários da língua escrita se faz por meio de um longo caminho
que exige prática constante e um olhar atento dos formadores para os interesses, as
curiosidades, os materiais de acesso, os hábitos e os modos de viver das crianças. À
medida que se avança nesse processo de formação, conquista-se familiaridade e
altera-se a forma de se relacionar com o mundo e com as pessoas. Pensar em uma
proposta pedagógica capaz de assegurar ao aprendiz a tecnologia da escrita e, ao
mesmo tempo, a apropriação desse sistema, impõe-nos algumas questões: Que tipo
de leitores e escritores se quer formar por meio da ação pedagógica na escola? Como
despertar o interesse das crianças pequenas para a leitura e a escrita? Como garantir
que a criança se torne capaz de relacionar símbolos gráficos a sons e vice-versa e, ao
mesmo tempo, desenvolver capacidades e habilidades que lhe permitam fazer uso da
linguagem escrita nas diferentes formas como ela se apresenta na sociedade? Como
assegurar às crianças a aquisição de capacidades e habilidades que lhes possibilitem
compreender e produzir diferentes tipos de texto, de acordo com suas características?
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brincadeiras nas quais a leitura e a escrita são objetos centrais. Todas essas são
maneiras de aproximar as crianças da cultura letrada.
Entretanto, além desse contato com o material escrito, as crianças precisam ter
oportunidades de observar e reelaborar suas representações sobre o “para que” e
“como” as pessoas leem e escrevem em suas atividades diárias. Para isso, é importante
que a ação pedagógica promova a participação das crianças em práticas autênticas
de leitura e de escrita, no cotidiano da sala de aula, nas quais elas possam sempre
interagir com esse objeto do conhecimento.
Mas o que ler e escrever para e com as crianças? A leitura de livros de literatura em
voz alta pelos professores pode ser um desses momentos em que se pratica a leitura
com a participação dos alunos. A cada livro lido pela professora, as crianças vão
incorporando novas referências sobre como se configuram os livros de literatura
(localização do título, do nome do autor, da editora, etc.) A leitura em voz alta desperta
o desejo e a curiosidade das crianças. Quando elas gostam da história que foi lida em
sala de aula, acabam buscando os livros em momentos livres de leitura. Portanto, a
leitura em voz alta para as crianças pode despertar o desejo de ser leitor. Vale ressaltar
a importância de se lerem outros materiais de leitura e buscar apresentar às crianças
variados gêneros textuais.
Além disso, vale ressaltar a importância das práticas de leitura e escrita que se
concretizam nos momentos em que a escrita torna-se mediadora das experiências
escolares, ampliando as relações e/ou regulando os comportamentos das crianças e
dos adultos no interior da escola. Estamos nos referindo aos eventos de letramento
que ocorrem quando os professores levam livros de literatura, jornais, artigos, etc.
como recursos de estudo de algum projeto de trabalho das crianças ou quando elas
são levadas a registrarem suas aprendizagens e alguns fatos da aula em um portfólio
ou diário de bordo, por exemplo. É preciso, ainda, criar espaços apropriados e prever
tempos na rotina escolar para que as crianças tenham contato com os materiais de
leitura.
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Figura 5 - http://silvanapsicopedagoga.blogspot.com/2015/04/entenda-por-que-o-letramento-precoce.html
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Nos contextos sociais em que os adultos fazem uso da língua escrita em suas ações
22 cotidianas, desde muito cedo as crianças começam a lidar com textos escritos por
meio da observação e do acompanhamento dessas situações de prática de leitura e
escrita. Elas começam, mesmo antes de terem domínio do sistema de escrita, a
conhecer as especificidades dos gêneros textuais, apreendendo não apenas o sentido
das atividades de leitura e escrita, mas também a maneira como os textos devem ser
interpretados.
Essa abordagem começa pela seleção dos textos que farão parte do repertório do
trabalho analítico. É preciso ter cuidado com o vocabulário e a extensão dos textos
trabalhados em sala de aula. As professoras devem realizar um reconhecimento das
habilidades já desenvolvidas por seus alunos por meio de uma avaliação diagnóstica
para traçar as metas de aprendizagem para a turma. Cabe assinalar que não é preciso
esperar que as crianças escrevam convencionalmente para realizar atividades que
visem desenvolver habilidades, estratégias e comportamentos de leitura e de escrita
de textos. No caso de a turma ou parte dela ainda não escrever convencionalmente,
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podem ser pensadas diferentes estratégias. Uma delas é a professora exercer o papel
de escriba da classe, produzindo os textos coletivamente, ou o papel de leitora, lendo
para todos o texto escolhido. Outra estratégia é permitir e estimular que as escritas
espontâneas sejam produzidas em sala. Também é possível aproveitar a diversidade
da turma e agrupar os alunos de forma que aqueles que já decodificam e codificam
possam servir de leitores ou de escribas para os colegas. Qualquer que seja a
estratégia adotada, a professora pode propor às crianças que:
• Reescrevam o texto com palavras mais simples para expressar seu conteúdo;
• Marquem partes dos textos lidos de acordo com a informação requerida ou
com o objetivo da leitura;
• Grifem palavras de acordo com o que se quer ressaltar;
• Façam resumos do que está escrito;
• Façam anotações sobre o texto;
• Realizem leituras individuais ou em duplas (um aluno que já se apropriou do
funcionamento do sistema de escrita pode ler para outro que ainda não o faz);
• Realizem leituras teatralizadas de textos ou de trechos de textos;
• Realizem leituras com pausas planejadas e contextualizadas, com perguntas
que orientem a interpretação das crianças;
• Realizem leituras seguidas de conversas orientadas por questões previamente
planejadas pela professora;
• Produzam textos em pequenos grupos ou em duplas (também se podem
agrupar as crianças de forma que aquelas que já são capazes de ler e escrever
se façam de escribas do grupo);
• Produzam textos com apoio de roteiros definidos pelo coletivo.
Há, ainda, as atividades que ampliam o trabalho com o conteúdo dos textos. Aqueles
trabalhos que são planejados como ampliação do momento de leitura e de escrita.
Em geral, essas atividades envolvem, dentre muitas possibilidades de trabalho, a
produção e a apresentação de peças teatrais, pesquisas e estudos de
aprofundamento, leitura de livros ou de outros textos sobre o mesmo assunto.
À medida que se vai trabalhando os textos com as crianças, é possível observar como
elas passam a considerar as orientações da professora no momento em que entram
em contato com novos textos. Por exemplo, quando vivenciam situações de
aprendizagem em que a professora destaca certos elementos textuais, estando diante
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Para as crianças de seis anos, a mediação dos professores é muito necessária. Não
apenas porque elas não conseguem ainda escrever e ler textos com autonomia, mas
também porque para elas a interação por meio da língua escrita é uma situação que
apresenta condições de produção ainda desconhecidas, como, por exemplo, a de ter
o interlocutor ausente no momento da produção. Por isso é importante que o
professor sirva de leitor e escriba em diferentes situações em sala de aula,
principalmente nas atividades específicas para o desenvolvimento das habilidades de
leitura e escrita de textos.
Outro aspecto dessa dimensão que merece atenção das professoras de crianças de
seis anos diz respeito à necessidade de se deixar claro o objetivo das atividades e
como elas deverão ser realizadas, ou seja, como as crianças devem proceder para
realizá-las. Ao conduzir as Situações de Aprendizagem que abordam o texto escrito
em classes de seis anos, a professora deve prever formas de fazer com que as crianças
fiquem atentas aos aspectos que são abordados nas propostas de leitura ou de escrita
dos textos, consequentemente, as crianças ficarão atentas também à forma como a
atividade será realizada.
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Essa aparência figural não é garantia de escrita propriamente dita, a não ser que se
conheçam as condições nas quais ela foi produzida. Conforme salienta Ferreiro (2003),
tradicionalmente, eram considerados, tanto por educadores, quanto por
pesquisadores, os aspectos figurativos da escrita infantil, ignorando-se os aspectos
construtivos. Os aspectos figurativos têm a ver com os elementos formais, tais como:
a qualidade do traçado, a distribuição espacial das formas, a orientação predominante
(da esquerda para a direita, de cima para baixo), a orientação dos caracteres
individuais (inversões, rotações), etc. Já os aspectos construtivos têm relação com o
que o sujeito quis representar e os meios que empregou para criar diferenciações
entre as representações. Não são, portanto, os aspectos figurais que designam se
houve ou não uma escrita. Quando ocorre essa intencionalidade por parte da criança,
ou seja, quando constatamos a presença de aspectos construtivos, é que
consideramos que houve uma produção escrita.
Em relação aos aspectos construtivos, como veremos a seguir, a escrita infantil segue
uma linha regular de evolução que, conforme comprovaram as investigações de
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Trocando em miúdos...
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Trocando em miúdos...
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Trocando em miúdos...
Trocando em miúdos...
As sílabas são unidades naturalmente isoláveis no contínuo da fala. Esse parece ser o
fator responsável pela elaboração de uma hipótese silábica anterior à hipótese
alfabética no processo de aquisição da língua escrita. A sílaba inicial parece ser mais
facilmente observada pelas crianças.
Trocando em miúdos...
Essas habilidades precisam ser consideradas em relação aos diferentes níveis das
unidades fonológicas com as quais a criança pode operar: as unidades
suprassegmentares – por exemplo, rimas e aliterações –, as sílabas e os fonemas.
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Partimos de uma visão de cultura como prática social. Como afirmam Moreira e
Candau (2007, p. 27), quando um grupo compartilha uma cultura, compartilha um
conjunto de significados, construídos, ensinados e aprendidos nas práticas de
utilização da linguagem. A palavra cultura implica, portanto, o conjunto de práticas
por meio das quais significados são produzidos e compartilhados em um grupo. Isto
é, um conjunto de práticas significantes.
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Nesta perspectiva, os autores discutem o currículo como escolhas, como uma seleção
cultural da escola. Portanto, um conjunto de práticas que propicia a produção, a
circulação e o consumo de significados. O currículo é, por consequência, um
dispositivo de grande efeito no processo de construção da identidade do(a) estudante
(id. p. 28). E não se pode desconsiderar a relação de poder e as tensões que se travam
neste processo seletivo da cultura: o currículo é um território em que se travam ferozes
competições em torno dos significados (Moreira e Caudau, 2007, p. 28).
Para Chevallard (1991, p.15), o processo didático é uma relação ternária entre um
docente, os alunos e o saber. Durante muito tempo, a didática preocupou-se com a
relação “ensinoaprendizagem”, esquecendo-se do saber. Ao levarmos em conta o
saber nestas relações e considerando a aquisição de conhecimento como um processo
interativo em que os sujeitos envolvidos não só se apropriam como também
produzem conhecimentos, surgem algumas questões: quais são os critérios de seleção
dos saberes escolares? Que saberes os professores possuem e tomam como referência
e quais os que eles produzem?
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E este desafio se coloca desde os primeiros anos da criança na escola. Nas seleções
feitas para cada faixa etária, em cada área de conhecimento, nas formas de
descontextualizar e recontextualizar os saberes, nas abordagens capazes de
problematizar e confrontar diferentes pontos de vistas, nas possibilidades de as
crianças expressarem de diferentes maneiras seus sentimentos, visões e formas de
significar o que está ao seu redor.
Uma educação de qualidade, afirmam Moreira e Candau (2007, p. 21) deve propiciar
ao (à) estudante ir além dos referentes presentes em seu mundo cotidiano,
assumindo-o e ampliando-o, transformando-se, assim, em um sujeito ativo na
mudança de seu contexto. Portanto, não cabe mais na escola a antiga e sempre
presente lógica de transmissão e reprodução de conhecimentos e também não cabe
mais pensar as áreas de conhecimento de forma fechada e restrita.
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Kramer (2011) argumenta que uma política democrática voltada para a infância deve
contemplar entre outros a destinação de recursos específicos para os anos iniciais,
possibilitando a pesquisa/produção de conhecimento, a concepção e manutenção de
programas e a formação de recursos humanos.
Percebe-se que é função social da escola criar projetos educativos numa perspectiva
transformadora e inovadora, onde os fazeres e práticas não estejam centrados nas
questões individuais, mas, sim, no coletivo. A escola deve ser um espaço de discussões
e decisões, onde a comunidade possa sinalizar suas necessidades e anseios, partilhar
e compartilhar saberes, valores e, assim, viabilizar as mudanças necessárias que
favoreçam a transformação social dos sujeitos e a qualidade na educação.
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Kramer (2011), quando se refere à Gestão democrática, afirma que a mesma deve
contemplar a garantia e o acesso da população às informações relativas ao
funcionamento e ao trabalho realizado nas creches e pré-escolas e assegurar a
participação da população e dos profissionais na formulação, controle e avaliação dos
serviços prestados.
Libâneo (2007) alerta que a escola deve ter uma proposta que contemple ao mesmo
tempo a formação cultural e científica e as exigências de respeito à diversidade social
e cultural visto que, a escola precisa ter claros seus parâmetros de organização e
Gestão, onde o trabalho pedagógico esteja calcado em intencionalidades políticas,
éticas, didáticas em relação às qualidades humanas, sociais, cognitivas esperadas
pelos alunos que passam por ela. Cabe a escola e seus gestores definir uma estrutura
de organização, bases normativas de convivência e normas de conduta dentro de uma
coletividade. Ainda: Constituem, pois, desafios à competência de diretores,
coordenadores pedagógicos e professores: saber gerir, frequentemente, conciliar
necessidades individuais e sociais, peculiaridades culturais e exigências universais da
convivência humana, preocuparem-se com as relações humanas e com os objetivos
pedagógicos e sociais a atingir, estabelecer formas participativas e eficiência nos
procedimentos administrativos (LIBÂNEO, 2007, p. 28).
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Neste contexto, Drabach (2011) afirma que o papel do diretor/Gestor escolar passa a
ter uma nova configuração, não mais aquela de detentor do poder de decisão, mas
sim, a de mediador, conciliador em que as decisões devem ser compartilhadas com
todos os sujeitos que fazem parte do processo educativo.
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Para Luck (2010 apud DRABACH, 2011, p. 74) “o conceito de liderança é entendido
como um conjunto de ações, atitudes e comportamentos assumidos por uma pessoa,
para influenciar o desempenho de alguém, visando à realização de objetivos
organizacionais”. A autora ainda destaca que existem diversos tipos de lideranças
como: a liderança compartilhada que se distingue pela tomada de decisão
compartilhada pelos participantes da comunidade escolar; a Coliderança que é
consequência de uma liderança compartilhada onde os integrantes da equipe da
Gestão Escolar exercem formalmente a responsabilidade pela liderança geral da
escola, buscando, assim, atingir os objetivos; Liderança Educativa tem como foco as
aprendizagens dos profissionais da escola e dos estudantes; Liderança Integradora ou
holística baseia-se no princípio que o trabalho educacional se realiza a partir de uma
teia dinâmica de eventos inter-relacionados, os gestores com esta característica de
liderança são capazes de ver o conjunto, situando os indivíduos de modo a garantir a
maior efetividade do trabalho desenvolvido.
Dos tipos de lideranças expostos, entende-se que um gestor pode apresentar mais de
um tipo de liderança, mas vale ressaltar que, a Liderança Educativa é a que melhor
descreve o objetivo da escola, visto que, o aprendizado é a sua finalidade.
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De acordo com Paro (2007, p. 102), “a figura do diretor de escola é ainda um dos
determinantes mais importantes da qualidade dos serviços desenvolvidos pela
instituição escolar”. É este profissional com sua liderança que agrega ao grupo
motivação, comprometimento, participação. É capaz de organizar os espaços de
convivência e as atividades propostas de forma que os sujeitos que por ali passam
fiquem marcados com os sinais do convívio democrático (PARO, 2007).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), em seu Artigo 12, inciso I,
prevê que “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as dos
seus sistemas de ensino, têm a incumbência de elaborar e executar sua proposta
pedagógica”, ficando registrado que é imprescindível a reflexão, na escola, acerca de
sua intencionalidade educativa. Sendo assim, percebe-se que a construção do Projeto
Político Pedagógico é um grande desafio para a escola, e deve ser um processo
coletivo, contínuo e dinâmico. Mobilizar os participantes para definir os objetivos em
comum, que fortalecerão a tomada de decisão é indispensável para que a ação
coletiva possa acontecer.
Neste sentido, Luck (2000, p. 16), quando se refere ao diretor de escola, afirma: [...]
um diretor de escola é um gestor da dinâmica social, um mobilizador e orquestrador
de atores, um articulador da diversidade para dar-lhe unidade e consistência, na
construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos.
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Referências Bibliográficas
Portanto, o gestor escolar, ao assumir sua posição enquanto diretor deve organizar,
compreender, construir, decidir, conhecer, planejar, avaliar, motivar, administrar,
comunicar buscar sempre a participação da comunidade escolar, visando o bem
comum. Deste modo, o diretor/gestor é quem mobiliza as mudanças nos processos
educacionais escolares, envolvem toda a comunidade escolar, e articula as relações
sociais de confiança e respeito que são de fundamental importância no processo
democrático.
Tendo em vista às múltiplas tarefas dos gestores, Luck (2000, p. 32) lembra sobre “a
necessidade de os sistemas de ensino adotarem uma política de formação continuada
de gestores, de modo a estabelecer unidade e direcionamento aos seus programas e
cursos”. Capacitando e fortalecendo os gestores com conhecimentos teóricos e
práticos, a árdua missão de promover uma educação de qualidade e democrática
poderá ficar mais suave e capaz de ser efetivada.
7 Referências Bibliográficas
BAPTISTA, M., MACIEL, F. & MONTEIRO, S. M.(coord.). A criança de seis anos, a
linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos. Brasília: Ministério da
Educação. (No prelo)
FERREIRO, E. Los niños piensan sobre la escritura. México: Siglo Veintiuno Ed., 2003.
1 CD-ROM.
FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. 4 ed. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1991.
FERREIRO, Emilia. Com todas as letras. São Paulo: Cortez, 2008. (15a ed.)
ARIÉS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
279p.
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São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 1-19.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Livraria Martins Fontes
Editora, 1992b.
HELM & BENEKE (orgs.). O poder dos projetos: novas estratégias e soluções para a
Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2005.
MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa, CANDAU, Vera Maria. Indagações sobre currículo:
currículo, conhecimento e cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
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VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 4a. edição,
1991.
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